claudiafiloni felideos selvagens patogenos

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  • 5/24/2018 Claudiafiloni Felideos Selvagens Patogenos

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    CLAUDIA FILONI

    Exposio de feldeos selvagens a agentesinfecciosos selecionados

    So Paulo2006

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    CLAUDIA FILONI

    Exposio de feldeos selvagens a agentesinfecciosos selecionados

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduaoem Patologia Experimental e Comparada daFaculdade de Medicina Veterinria e Zootecniada Universidade de So Paulo para obteno dottulo de Doutor em Cincias

    Departamento:Patologia

    rea de concentrao:Patologia Experimental e Comparada

    Orientador:Prof. Dr. Jos Luiz Cato-Dias

    So Paulo2006

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    Autorizo a reproduo parcial ou total desta obra, para fins acadmicos, desde que citada a fonte.

    DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO-NA-PUBLICAO(Biblioteca Virginie Buff Dpice da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo)

    T.1729 Filoni, ClaudiaFMVZ Exposio de feldeos selvagens a agentes infecciosos selecionados /

    Claudia Filoni. So Paulo: C. Filoni, 2006.126 f. : il.

    Tese (doutorado) - Universidade de So Paulo. Faculdade de MedicinaVeterinria e Zootecnia. Departamento de Patologia, 2006.

    Programa de Ps-graduao: Patologia Experimental e Comparada.rea de concentrao: Patologia Experimental e Comparada.

    Orientador: Prof. Dr. Jos Luiz Cato-Dias.

    1. Felidae. 2. Doenas infecciosas. 3. Bactrias. 4. Piroplasmida.5. Vrus. I. Ttulo.

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    FOLHA DE AVALIAO

    Nome: FILONI, Claudia

    Ttulo: Exposio de feldeos selvagens a agentes infecciosos selecionados

    Tese apresentada ao Programa de Ps-graduaoem Patologia Experimental e Comparada daFaculdade de Medicina Veterinria e Zootecniada Universidade de So Paulo para obteno dottulo de Doutor em Cincias

    Data: ___/___/_____

    Banca Examinadora

    Prof. Dr. ______________________________

    Assinatura: ____________________________

    Instituio: _______________________

    Julgamento: ______________________

    Prof. Dr. ______________________________

    Assinatura: ____________________________

    Instituio: _______________________

    Julgamento: ______________________

    Prof. Dr. ______________________________

    Assinatura: ____________________________

    Instituio: _______________________

    Julgamento: ______________________

    Prof. Dr. ______________________________

    Assinatura: ____________________________

    Instituio: _______________________

    Julgamento: ______________________

    Prof. Dr. ______________________________

    Assinatura: ____________________________

    Instituio: _______________________

    Julgamento: ______________________

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    Aos meus filhotes, as lindas meninasLuciana, de sete anos eMarcela, de seis anos

    natureza brasileira em toda suadiversidade

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    GR DECIMENTOS ESPECI IS

    - ao Prof. Cato, no apenas como Diretor Tcnico-Cientfico da FPZSP e pelo livre acesso

    sua sala na FMVZ-USP durante todo o perodo do doutorado mas, principalmente, por

    sua orientao serena e competente que me descortinou o mundo cientfico e que me iniciou

    na arte de escrever cientificamente, pelo que sou profundamente grata;

    - Regina Hofmann-Lehmann e Hans Lutz que se interessaram pelo projeto, confiaram em

    mim e no mediram esforos para que todos os complexos trmites referentes minha viagem

    e ao transporte das amostras Vetsuisse Faculty, University of Zurich se efetivassem;

    - minha me Maria Fernanda, meu pai Luiz Carlos e minha av Anna que tambm no

    mediram esforos para que eu dispusesse de tempo e dos mnimos recursos para trabalhar

    no meu projeto de tese e de vida.

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    GR DECIMENTOS

    Registrar agradecimentos a todas as pessoas que colaboraram na execuo de um

    trabalho de quatro anos uma tarefa gratificante, mas essencialmente propensa a omisses

    involuntrias, pois foram muitas as pessoas e instituies com quem travei contato neste

    perodo, muitas das quais tambm tm o objetivo de contribuir para o processo

    conservacionista. Assim, correndo o risco de omitir algum que deveria figurar nesta lista,

    agradeo:

    - a todos que foram muito solcitos na Fundao Parque Zoolgico de So Paulo (FPZSP),

    como Dr. Paulo Magalhes Bressan, Dr. Joo Batista Cruz, Maria Jos Caldeirane , Jos

    Daniel Luzes Fedullo, Sandra Helena Ramiro Corra, Rodrigo Hidalgo Friciello Teixeira

    (atualmente de volta ao Zo de Sorocaba), Ariela Priscila Setzer, Mara Cristina Marques,

    Ktia Cassaro, Denise Martins Sanches e Haroldo Soares Barbosa;

    - todos os que conheci em com quem trabalhei no Clinical Laboratory, Vetsuisse Faculty,

    University of Zurich, como Gert Bay, Valentino Cattori, Marina Meli, Ravi Tandon,

    Yousef Ahmed, Maria Alice Gomes-Keller, E. Gnczi, T. Meili Prodan, Elisabeth e Edith,

    pela amizade e pela excelente assistncia tcnica.

    - o CENAPIBAMA e a todos os pesquisadores que colheram e depositaram as amostras

    utilizadas em seus projetos de campo por todo o Pas. Em especial, Rose Lilian Gasparini

    Morato e Otvio Borges Maia pela pronta disposio em ajudar na conduo de todas as

    licenas internacionais requeridas, Ronaldo Gonalves Morato, Rogrio Cunha de Paula e

    Rodrigo Silva Pinto Jorge pelo auxlio e prontido em providenciar amostras de material de

    feldeos de vida livre e em sanar diversas dvidas ao longo deste projeto;

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    - Cristina Harumi Adania, Claudia Yumi Hashimoto e a todos da Associao Mata Ciliar

    pela cesso das amostras de feldeos neotropicais mantidos em diversas regies do Pas, pela

    disponibilidade em fornecer as informaes requeridas sobre as amostras e confiana dada

    para a execuo deste projeto;

    - o Prof. Edison Luiz Durigon que permitiu a utilizao de seu laboratrio e materiais para

    o processamento de amostras durante os dois anos iniciais do projeto e continua mostrando-

    se disposto a apoiar novas pesquisas na rea;

    - o Prof. Dr. Jean Carlos Ramos Silva, Maria Fernanda Vianna Marvulo, caros amigos e

    Prof. Dr. Jos Soares Neto pela concordncia na utilizao de parte das amostras de

    feldeos selvagens mantidos em cativeiro no Brasil colhidas previamente em seus trabalhos;

    - as instituies Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior CAPES,

    Pr-Reitoria de Ps-Graduao da Universidade de So Paulo e ao International Relations

    Office, University of Zurich, Switzerland.

    - as pessoas vinculadas FMVZ-USP pelo seu apoio, como minha querida amiga agora

    recm Profa. Dra. Llian Rose Marques de S, to perspicaz, lcida e prestativa em suas

    muitas sugestes; o Prof. Dr. Marcelo Alcindo B. V. Guimares pelas nossas conversas na

    lanchonete e nas filas do cafezinho nos eventos da Faculdade, onde j tivemos boas idias

    que gostaramos de concretizar; Sandra Freiberger Affonso pela amizade desde nosso

    ingresso no Programa de Doutorado, em que sempre compartilhamos dificuldades nas nossas

    pesquisas; o Prof. Dr. Arthur Gruber, sincero e atencioso quando procurado por mim para

    solicitao de opinies sobre minha pesquisa; Silvia Sochiarelli, Dayse M. A. Flexa e

    Cludia Lima pela ajuda nos trmites burocrticos da Ps-Graduao; Elza M. R. B.

    Faquim, Maria Ins Chiarelli de Camargo e Elena A. Tanganini pelo auxlio na recuperao

    de informao bibliogrfica e disposio do trabalho dentro das diretrizes adotadas pela

    Faculdade;

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    - todos do Instituto Brasileiro para Medicina da Conservao TRADE, que apiam seus

    membros que precisam se afastar temporariamente das atividades do Instituto para

    conclurem seus trabalhos acadmicos;

    - o amigo Carlos Yamashita pelas muitas digresses sobre evoluo;

    - a carssima amiga de infncia, a policial militar Clia Regina Modollo Custdio pelo

    auxlio e incentivo na poca de concluso desta tese;

    - o Jeep Clube do Brasil, por ter disponibilizado as instalaes de sua sede rural para a

    redao da tese; e especialmente o Sr. Andr e famlia.

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    EPGR FESA histria chegou tarde a praticamente todos os encontros entre o homem e a

    vida selvagem. Quando Colombo fez a primeira vistoria da costa antilhana, mais de dez mil

    anos de ocupao humana j a haviam transformado de maneira incomensurvel at para os

    mais dedicados esforos arqueolgicos. Apesar disso, de todos os continentes tropicais, a

    Amrica do Sul foi o ltimo a ser invadido pelo homem, e o domnio humano de suas

    florestas foi muito menos intenso e duradouro que o da sia, frica e Austrlia. Por isso, os

    europeus em seu Novo Mundo encontraram uma natureza mais pura que a de outros pontos

    dos trpicos e, assim, uma parte muito maior do processo de degradao ocorreu em uma era

    de registros escritos. A Amrica do Sul , portanto, o campo de batalha mais recente para o

    historiador florestal, no qual todos os que tombaram ainda jazem insepultos e os vencedores

    ainda vagueiam por toda parte, saquando e incendiando o entulho.

    A histria florestal corretamente entendida , em todo o planeta, uma histria

    de explorao e destruio. O homem reduz o mundo natural a entornos domesticados,

    aparados e moldados para se adequarem a algum uso prtico ou esttica convencional (...).

    As intervenes humanas quase nunca realizam as expectativas humanas. Seus campos se

    empobrecem, seus pastos se tornam magros e lenhosos, suas cidades entram em colapso. O

    mundo natural, simplificado, em desacordo, com os desejos humanos, mas em resposta a seus

    atos, converte-se em uma enorme macega cosmopolita de luto. (...)

    A preservao de florestas deve (...) basear-se em algo alm do argumento do

    auto-interesse cultural, ambiental ou econmico; talvez em uma concepo de interesse que

    apenas se poderia definir por um autoconhecimento mais perspicaz e uma compreenso mais

    profunda e filosfica do mundo natural. Muitos prevem, com mal-estar, a iminente

    extino das florestas tropicais do planeta.

    Warren Dean

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    O especismo um pr-conceito ou uma atitude pr-concebida a favor dos interesses dos

    membros da sua prpria espcie e desfavorvel em relao aos membros de outras espcies. Os

    racistas violam o princpio de igualdade quando, ao surgir um conflito entre seus interesses e

    os dos representantes de uma outra raa, atribuem mais peso aos interesses dos

    representantes da prpria raa. Os sexistas violam o princpio de igualdade ao privilegiar os

    interesses de pessoas do mesmo sexo que eles. Da mesma forma, os especistas permitem que os

    interesses de sua prpria espcie sobrepujem os maiores interesses dos membros de outras

    espcies. Nos trs casos, trata-se do mesmo tipo de comportamento.

    Paul Singer

    Enquanto o programa dos ecologistas profundos assenta por inteiro na rejeio do

    antropocentrismo cartesiano ou utilitarista em nome dos direitos da ecosfera, a lgica de sua

    prpria postura leva-os a recair numa das mais extravagantes formas de antropomorfismo

    (...) No so eles mesmos antropocentristas quando pretendem saber qual o melhor para o

    meio ambiente natural? Ao imaginarem que o bem est inscrito no ser das coisas, eles

    acabam esquecendo que toda valorizao , inclusive a da natureza, obra dos homens, e que,

    por conseguinte, toda tica normativa , de algum modo, humanista e antropocentrista. (...)

    O projeto de uma tica normativa anti-humanista uma contradio em si. (...) Quereriam

    conservar a idia de valor e suprimir suas condies de possibilidade: esquecem, de passagem,

    que so eles, enquanto seres humanos, quem valoriza a natureza e no o inverso, que

    impossvel fazer abstrao deste momento subjetivo ou humanista para projetar no prprio

    universo um valor intrnseco qualquer. (...) nessa operao pela qual pretende abstrair a

    subjetividade que a filosofia da natureza cede s iluses do antropomorfismo. (...)

    Luc Ferry

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    RESUMO

    FILONI, C. Exposio de feldeos selvagens a agentes infecciosos selecionados.[ Exposureof wild felids to selected infectious agents]. 2006. 127 f. Tese (Doutorado em Cincias) Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2006.

    Este estudo avaliou a exposio de 12 espcies de feldeos selvagens de vida livre (n=22) e

    mantidas em cativeiro (n=210) no Brasil a 16 agentes potencialmente patognicos para

    membros da famlia Felidae, como herpesvrus felino 1 (FHV 1), calicivrus felino (FCV),

    parvovrus felino (FPV), coronavrus felino (FCoV), vrus da leucemia felina (FeLV), vrus

    da imunodeficincia felina (FIV), lentivrus de puma (PLV), vrus da cinomose canina(CDV), Bartonella henselae, Ehrlichia canis, Anaplasma phagocytophilum, Mycoplasma

    haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum, Candidatus Mycoplasma turicensis,

    Theileria sp e Cytauxzoon sp, atravs do emprego de IFA, Western blot, ELISA e TaqMan

    PCR e RT-PCR em amostras de soro, sangue, fezes e suabes orais, conforme as amostras

    disponveis para cada animal. A deteco direta de patgenos ou de anticorpos demonstrou

    que populaes de feldeos selvagens no Brasil esto expostas pelo menos ao FHV 1, FCV,

    FPV, FCoV, FeLV e lentivrus felinos, Bartonella henselae, Ehrlichia canis, Mycoplasma

    haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum e Cytauxzoon sp, ou agentesrelacionados, quais provavelmente contribuem em quadros no diagnosticados de morbidade

    e/ou mortalidade das populaes de feldeos selvagens no Pas. A presena de patgenos

    comuns de carnvoros domsticos em feldeos selvagens aponta para a necessidade de

    cuidadoso monitoramento destas infeces atravs de uma abordagem integrada e

    multidisciplinar.

    Palavras-chave: Felidae; Doenas Infecciosas; Vrus; Bactrias; Piroplasmida

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    ABSTRACT

    .

    FILONI, C. Exposure of wild felids to selected infectious agents. [Exposio de feldeosselvagens a agentes infecciosos selecionados]. 2006. 127 f. Tese (Doutorado em Cincias) Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia, Universidade de So Paulo, So Paulo, 2006.

    This study evaluated exposure of 12 nondomestic felid species, both free-ranging (n=22) and

    captive (n=210) in Brazil to 16 potential pathogenic agents for members of Felid family, as

    feline herpesvirus 1 (FHV 1), feline calicivirus (FCV), feline parvovirus (FPV), feline

    coronavirus (FCoV), feline leukemia virus (FeLV), feline immunodeficiency virus (FIV),

    puma lentivirus (PLV), canine distemper virus (CDV),Bartonella henselae, Ehrlichia canis,Anaplasma phagocytophilum, Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma

    haemominutum, Candidatus Mycoplasma turicensis, Theileria sp, and Cytauxzoon sp, using

    IFA, Western blot, ELISA, and TaqMan PCR and RT-PCR in serum, blood, feces and oral

    swabs, according to available samples for each animal. The antibody or agents detection

    demonstrated that Brazilian wild felid populations are exposed to at least FHV 1, FCV, FPV,

    FCoV, FeLV, puma lentivirus (PLV), Bartonella henselae, Ehrlichia canis, Mycoplasma

    haemofelis, Candidatus Mycoplasma haemominutum, and Cytauxzoon sp, related agents,

    which probably contribute to undiagnosed morbidity and/or mortality scenarios for theBrazilian populations of wild felids. The presence of common domestic carnivore pathogens

    in wild felids address the need of close monitoring of such infections throughout an

    integrative and multidisciplinary approach.

    Key words: Felidae; Infectious Diseases; Virus; Bacteria; Piroplasmida

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    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Mapa mostrando as reas geogrficas no Brasil em que as amostrasdos 22 feldeos de vida livre foram colhidas. So Paulo,2004.................................................................................................... 47

    Figura 2 - As amostras de cidos nuclicos (DNA e TNA) dos feldeos decativeiro foram agrupadas utilizando um equipamento robotizadoMagNAPure LC (Roche, Rotkreuz, Sua) de acordo com osesquemas de pipetagem explicitados nas figuras 2a e 2b pararealizao dos testes conforme demonstrado na figura 2c. So Paulo,2004........................................................................................................ 57

    Figura 3 - Representao grfica do percentual em que foram detectados

    anticorpos para FHV 1 (28,57%), FCV (28,57%), FCoV (4,76%),Ehrlichia canis (4,76%), Anaplasma phagocytophilum (0) eBartonella henselae (95,0%), atravs de testes de imunofluorescnciaindireta (IFA), nas 21 amostras de soro provenientes de feldeos devida livre no Brasil. So Paulo, 2004..................................................... 61

    Figura 4 - Representao grfica do percentual em que foram detectadosanticorpos para FHV 1 (19,04%), FCV (50,79%), FCoV (64,59%),FPV (69,84%), Ehrlichia canis (0,47%) e Bartonella henselae(48,29%), atravs de testes de imunofluorescncia indireta (IFA),nas amostras de soro provenientes de feldeos mantidos em cativeirono Brasil, tomadas em conjunto. So Paulo, 2004............................... 61

    Figura 5 - Representao grfica do percentual em que foram detectadosanticorpos para FCoV (72,10%), Ehrlichia canis (0) e Bartonellahenselae (48,29%), atravs de testes de imunofluorescncia indireta(IFA), nas 147 amostras de soro provenientes de feldeos mantidosna Fundao Parque Zoolgico de So Paulo (FPZSP). Tambmesto representados os resultados para o espcime de Oncifeliscolocolo, CAD 28505, que ainda no havia sido vacinado porocasio da colheita de material, o qual tambm se apresentousoronegativo para FHV 1, FCV e FPV. So Paulo, 2004.................... 62

    Figura 6 - Representao grfica do percentual em que foram detectadosanticorpos para FHV 1 (19,35%), FCV (51,61%), FCoV (46,77%),FPV (70,96%) e Ehrlichia canis (1,61%), atravs de testes deimunofluorescncia indireta (IFA), em 62 amostras de soro defeldeos provenientes de diversos zos no Brasil cedidas pelaAssociao Mata Ciliar (AMC). So Paulo, 2004............................... 62

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    LISTA DE QUADROS

    Quadro - 1 Testes realizados para 11 patgenos em amostras de material biolgico

    dos feldeos de vida livre. So Paulo, 2004............................................. 48

    Quadro 2 - Testes realizados para 14 patgenos em amostras de material biolgicodos feldeos mantidos na Fundao Parque Zoolgico de So Paulo(FPZSP). So Paulo, 2004....................................................................... 49

    Quadro 3 Testes realizados para seis patgenos em amostras de materialbiolgico dos feldeos mantidos em cativeiro cedidas pela AssociaoMata Ciliar (AMC). So Paulo, 2004...................................................... 50

    Quadro 4 Testes TaqMan PCR e RT-PCR realizados para 11 patgenos emamostras de material biolgico de seis feldeos de vida livre. SoPaulo, 2004............................................................................................... 56

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    LISTA DE TABELAS

    Tabela - 1 Nmero amostral e instituies cedentes de amostras de feldeos

    selvagens mantidos em cativeiro e de vida livre. So Paulo,2004........................................................................................................ 46

    Tabela 2 - Resultados dos testes sorolgicos realizados para as amostras defeldeos de vida livre, distribudos em funo dos mtodosempregados e dos patgenos pesquisados. So Paulo,2004........................................................................................................ 59

    Tabela 3 Resultados dos testes sorolgicos realizados nas amostrasprovenientes dos feldeos da Fundao Parque Zoolgico de SoPaulo (FPZSP), distribudos em funo dos mtodos empregados edos patgenos pesquisados. So Paulo, 2004....................................... 59

    Tabela 4 Resultados dos testes sorolgicos realizados nas amostras de feldeoscedidas pela Associao Mata Ciliar (AMC), distribudos em funodos mtodos empregados e dos patgenos pesquisados. So Paulo,2004....................................................................................................... 60

    Tabela 5 Resultados dos testes TaqMan PCR e RT-PCR realizados para seisamostras de feldeos de vida livre, distribudos em funo dasamostras utilizadas e dos patgenos pesquisados. So Paulo, 2004...... 60

    Tabela 6 - Resultados dos testes TaqMan PCR e RT-PCR para FeLV nos

    jaguarundis (Herpailurus yaguarondi) mantidos na Fundao ParqueZoolgico de So Paulo (FPZSP), distribudos em funo das provasefetuadas e das amostras utilizadas. So Paulo, 2004............................ 63

    Tabela 7 Resultados dos testes TaqMan PCR para bactrias e protozoriospiroplasmas realizados em amostras de sangue de 109 feldeosmantidos na Fundao Parque Zoolgico de So Paulo (FPZSP). SoPaulo, 2004............................................................................................. 64

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    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Instituies e organizaes

    AMC Associao Mata CiliarCENAP Centro Nacional de Pesquisas para Conservao de Predadores NaturaisCGEN Conselho de Gesto do Patrimnio GenticoCITES Convention on International Trade in Endangered Species- Conveno

    sobre o Comrcio Internacional de Espcies da Flora e Fauna Selvagens emPerigo de Extino

    FMVZ Faculdade de Medicina Veterinria e ZootecniaFPZSP Fundao Parque Zoolgico de So PauloIATA International Air Transport Association Associao Internacional de

    Transporte AreoPI 650 diagnostic specimen amostra diagnsticaIBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenovveisIUCN International Union for the Conservation of Nature Unio Internacional

    para a Conservao da NaturezaLAPCOM Laboratrio de Patologia ComparadaONG organizao no-governamentalSZB Sociedade de Zoolgicos do BrasilUSP Universidade de So PauloVPT Departamento de Patologia

    Agentes patognicos, amostras, unidades de medida e outras substnciasempregadas nos testes diagnsticos

    l microlitro16S subunidade de RNACAD nmero de cadastro individual dos animais na FPZSPCDV canine distemper virus - vrus da cinomose caninaCrFK crandell feline kidney cells- clulas de rim felino de CrandellDNA cido desoxirribonuclicoEDTA cido dietilenodiaminotetracticoELISA enzyme linked immunosorbent assayFCoV feline coronavirus coronavrus felinoFCV feline calicivirus calicivrus felinoFeLV feline leukemia virus vrus da leucemia felinaFHV 1 feline herpesvirus 1 herpesvrus felino 1FITC isotiocianato de fluorescenaFIV feline immunodeficiency virus vrus da imunodeficincia felinaFPV feline parvovirus parvovrus felinogp70 glicoprotena de peso molecular 70IFA imunofluorescncia indiretaIM intramuscularkg quilogramaMEM meio mnimo de Eaglemg miligrama

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    min. minutosn nmero amostral

    p12 protena de peso molecular 12p15 protena de peso molecular 15p24 protena de peso molecular 24

    p27 protena de peso molecular 27p58 protena de peso molecular 58PBS phosphate buffered saline solution- soluo salina fosfatada

    tamponadaPCR polymerase chain reaction - reao de polimerizao em cadeiaFECV coronavrus entrico felinoFIPV vrus da peritonite infecciosa felinaPIF peritonite infecciosa felinaPLV puma lentivirus lentivrus de pumaRNA ribonucleic acid- cido ribonuclicorRNA ribossomic ribonucleic acid- cido ribonuclico ribossmicoRT-PCR reverse transcriptase polymerase chain raction reao de

    polimerizao em cadeia submetida ao da transcriptase reversaSB studbook registro individual internacionalTGEV transmissible gastroenteritis virus -vrus da gastroenterite transmissvelTNA total nucleic acids - cidos nuclicos totaisPD - 5 linhagem de clulas de rim sunoG gammaglobulin - imunoglobulina tipo gamaH+L high pesada e light- leve

    Unidades da Federao Brasileira e outras unidades geopolticas

    AC AcreAM AmazonasCA California - CalifrniaDF Distrito FederalEUA Estados Unidos da AmricaGO GoisMG Minas GeraisMS Mato Grosso do SulMT Mato GrossoPA ParPE Pernambuco

    PR ParanRJ Rio de JaneiroRO RondniaRS Rio Grande do SulSC Santa CatarinaSP So PauloUK United Kingdom - Reino UnidoUSA United States of America - Estados Unidos da AmricaWA Washington

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    LISTA DE SMBOLOS

    C graus Celsius marca registrada Trade mark+ adio: diviso maior ou igual% percentagem

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    APRESENTAO

    Os ideais que embasaram esta tese foram constitudos nas ltimas dcadas do sculoXX, enquanto as questes ligadas conservao da natureza tomavam vulto. Entretanto, o

    sculo XXI se iniciou gerando um grande ceticismo de que a natureza viesse a ser mais

    respeitada e admirada que meramente espoliada.

    Agravaram-se a devastao, o descaso e a displicncia dispensados natureza.

    Aqueles que dirigem pases ainda no investem ou pensam em sustentabilidade scio-

    ambiental, mas concordam em modificar cruelmente os ambientes naturais em nome de

    interesses econmicos progressistas, acreditam erroneamente que a melhora da qualidade de

    vida humana est ligada explorao ilimitada dos chamados recursos naturais, no

    enxergam os problemas ligados ao crescimento urbano, e sequer se incomodam com o ritmo

    de destruio dos ecossistemas e do cerceamento de todas as reas selvagens da Terra.

    Quisera a sobrevivncia humana viesse a ser pautada pela lgica da sustentabilidade

    planetria, e no mais pela arbitrariedade econmica. Que os custos ambientais estivessem

    sempre presentes nas transaes comerciais. Que a humanidade, que foi capaz de realizar

    um salto tecnolgico to significativo em to poucas dcadas, qui fosse tambm capaz de

    voltar seu olhar para os demais componentes da natureza, ou, pelo menos, olhar para si

    mesma a longo prazo.

    Apesar deste panorama, existem pessoas dispostas a trabalhar em prol da

    conservao, como muitas daquelas que auxiliaram na execuo deste projeto. Assim,

    acredito que este trabalho seja til e interessante aos profissionais veterinrios e de reas

    afins que se interessam pela metodologia tcnico-cientfica empregada e pela problemtica

    que envolve a questo da preservao e conservao dos feldeos selvagens em seu meio

    natural e no cativeiro.

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    SUMRIO

    1 INTRODUO........................................................................................ 222 OBJETIVOS............................................................................................. 24

    2.1 OBJETIVOS GERAIS............................................................................... 24

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS..................................................................... 24

    2 REVISO DE LITERATURA............................................................... 26

    2.1 A FAMLIA FELIDAE.............................................................................. 26

    2.2 DOENAS E CONSERVAO............................................................... 27

    2.3 AGENTES VIRAIS................................................................................... 29

    2.3.1 Herpesvrus felino 1 (FHV 1) e calicivrus felino (FCV)...................... 302.3.2 Parvovrus felino (FPV)........................................................................... 32

    2.3.3 Coronavrus felino (FCoV)...................................................................... 33

    2.3.4 Vrus da leucemia felina (FeLV), vrus da imunodeficincia felina(FIV) e lentivrus de puma (PLV)........................................................... 34

    2.3.5 Vrus da cinomose canina (CDV)............................................................ 36

    2.4 AGENTES BACTERIANOS..................................................................... 38

    2.4.1 Bartonella henselae................................................................................... 38

    2.4.2 Ehrlichia canis eAnaplasma phagocytophilum...................................... 39

    2.4.3 Hemoplasmas: Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasmahaemominutum e Candidatus Mycoplasma turicensis.................... 40

    2.5 PROTOZORIOS PIROPLASMAS: Theileria sp E Cytauxzoon sp........ 41

    2.6 AS TCNICAS LABORATORIAIS......................................................... 42

    3 MATERIAIS E MTODOS.................................................................... 44

    3.1 ANIMAIS E OBTENO DAS AMOSTRAS......................................... 44

    3.2 PATGENOS PESQUISADOS................................................................ 48

    3.3 TESTES DIAGNSTICOS....................................................................... 50

    3.3.1 Testes sorolgicos..................................................................................... 51

    3.3.1.1 Reaes de imunofluorescncia indireta (IFA).......................................... 51

    3.3.1.1.1 Controle de qualidade das lminas para IFA............................................ 52

    3.3.1.2 Ensaios imunoenzimticos......................................................................... 52

    3.3.1.3 Western blot................................................................................................ 55

    3.3.2 Testes TaqMan PCR e RT-PCR.......................................................... 55

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    4 RESULTADOS......................................................................................... 585 DISCUSSO............................................................................................. 65

    5.1 AMOSTRAGEM....................................................................................... 65

    5.2 ANLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS PARA FELDEOS DEVIDA LIVRE............................................................................................. 67

    5.3 ANLISE DOS RESULTADOS OBTIDOS PARA FELDEOSMANTIDOS EM CATIVEIRO................................................................. 71

    5.4 CONSIDERAES FINAIS .................................................................... 73

    6 CONCLUSES........................................................................................ 76

    7 REFERNCIAS....................................................................................... 78

    APNDICES............................................................................................. 92

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    1 INTRODUO

    O estudo do papel das doenas constitui um eixo importante das estratgias para aconservao dos animais selvagens, seja em ambiente natural ou de cativeiro. Estudos

    ecolgicos reconhecem as doenas como fatores regulatrios de populaes naturais, embora

    os fatores envolvidos nestas cadeias regulatrias raramente sejam conhecidos. Animais

    mantidos em cativeiro so acometidos freqentemente por doenas de causa nem sempre

    elucidada, o que geralmente requer um diagnstico etiolgico para que medidas teraputicas

    e profilticas possam ser tomadas. Finalmente, as doenas que acometem animais selvagens

    tambm podem ser causadas por agentes zoonticos, que devem ser identificados para que

    medidas preventivas adequadas possam ser tomadas pelas pessoas que lidam diretamentecom os animais ou amostras de seus materiais clnicos.

    Considerando-se que toda a famlia Felidae encontra-se ameaada (NOWEL;

    JACKSON, 1996), que os hbitats reduzem-se progressivamente e que h um nmero

    considervel de feldeos mantidos em cativeiro, torna-se necessrio conhecimento acumulado

    e aplicabilidade imediata deste conhecimento para resolver questes referentes sade desta

    famlia de carnvoros para sua conservao. Embora j exista de fato conhecimento

    acumulado na literatura cientfica, tais dados ou relatos no so extensivos o suficiente para

    cobrir as diversas populaes ou permitir uma correta avaliao clnica em caso de doenas.Tratados individualmente ou como populaes, a abordagem clnica ou teraputica dos

    animais deve se fundamentar em dados epidemiolgicos e laboratoriais.

    Os feldeos selvagens so animais carnvoros de topo de cadeia alimentar que em

    ambiente natural percorrem extensos territrios em busca de alimentao e abrigo.

    Conseqentemente, esto expostos a uma ampla gama de patgenos presentes no ambiente ou

    provenientes de seus contactantes, sejam estes presas, outros competidores, elementos de sua

    prpria espcie e, muito recentemente em termos biogeogrficos e evolutivos, tambm a

    animais domsticos.

    Este estudo objetivou avaliar a exposio de 12 espcies de feldeos selvagens, tanto

    de vida livre quanto mantidas em cativeiro, a determinados agentes potencialmente

    patognicos para membros da famlia Felidae, atravs do emprego de um repertrio de

    tcnicas diagnsticas laboratoriais. O nmero amostral da populao de vida livre (n=22)

    analisada neste estudo foi menor que o de cativeiro (n=210) e as espcies de feldeos

    avaliadas, entre neotropicais e exticas, diversificadas. As variaes se estendem para as

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    idades dos animais, procedncias, estados clnicos e outras. Porm, a amostragem refletiu de

    forma consistente o universo populacional de feldeos selvagens disponvel no Brasil para

    acesso cientfico.

    Foram utilizadas tcnicas diagnsticas baseadas em deteco indireta e direta depatgenos. Foram utilizadas tcnicas indiretas sorolgicas, capazes de indicar se as amostras

    testadas apresentavam anticorpos especficos contra substncias antignicas constituintes de

    determinados patgenos, revelando desta forma se os animais haviam sido, em algum

    momento de suas vidas, expostos a tais substncias. Entre as tcnicas de deteco direta,

    foram utilizados procedimentos sorolgicos diretos, direcionados para deteco de

    substncias antignicas constituintes dos patgenos e por fim, tcnicas moleculares capazes

    de detectar fragmentos especficos de cidos nuclicos (DNA ou RNA) dos patgenos nas

    amostras.Um total de 16 agentes infecciosos foram pesquisados, entre os quais os agentes virais

    herpesvrus felino 1 (FHV 1), calicivrus felino (FCV), parvovrus felino (FPV), coronavrus

    felino (FCoV), vrus da leucemia felina (FeLV), os seguintes lentivrus: vrus da

    imunodeficincia felina (FIV) e lentivrus de puma (PLV), o vrus da cinomose canina

    (CDV); os agentes bacterianos: Bartonella henselae, Ehrlichia canis, Anaplasma

    phagocytophilum, os hemoplasmas Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma

    haemominutum e Candidatus Mycoplasma turicensis; assim como os protozorios

    piroplasmas:Theileria sp e Cytauxzoon sp.

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    2 OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVOS GERAIS

    Constituram objetivos gerais deste trabalho:

    1) avaliar a exposio de feldeos selvagens de vida livre ou mantidos em cativeiro no Brasil,

    mediante tcnicas diagnsticas laboratoriais adequadas, a 16 potenciais patgenos:

    a) virais: herpesvrus felino 1 (FHV 1), calicivrus felino (FCV), parvovrus felino

    (FPV), coronavrus felino (FCoV), vrus da leucemia felina (FeLV), os seguintes

    lentivrus: vrus da imunodeficincia felina (FIV) e lentivrus de puma (PLV), o

    vrus da cinomose canina (CDV);

    b) bacterianos: Bartonella henselae, Ehrlichia canis, Anaplasma phagocytophilum,

    os hemoplasmas Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma

    haemominutum e Candidatus Mycoplasma turicensis;

    c) protozorios piroplasmas:Theileria sp e Cytauxzoon sp;

    2) fornecer parmetros para a adoo de protocolos preventivos para o manejo de feldeos

    selvagens no Pas.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Constituram objetivos especficos deste trabalho:

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    1) investigar se doenas infecciosas causadas pelos patgenos pesquisados podem contribuir

    nos quadros de morbidade e/ou mortalidade das populaes de feldeos selvagens no Pas;

    2) verificar se patgenos associados a carnvoros domsticos circulam em populaes de

    feldeos selvagens;

    3) verificar se as populaes de feldeos selvagens no Pas representam risco para transmisso

    de zoonoses

    4) identificar patgenos que devem ser investigados durante procedimentos/situaes tais

    como translocaes, quarentenas, manuteno e monitoramento de feldeos selvagens.

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    2 REVISO DE LITERATURA

    Neste captulo, sero apresentadas a famlia Felidae, questes ligadas doenas econservao e os agentes patognicos e princpios gerais das tcnicas diagnsticas utilizadas.

    2.1 A FAMLIA FELIDAE

    A famlia Felidae pertence Ordem Carnivora e seus membros apresentam entre 1,3 a

    mais de 300 kg de massa corporal. A taxonomia do grupo tem sido debatida, ilustrando asinconsistncias filogenticas no resolvidas sobre o aspecto evolucionrio da famlia

    (NOWAK, 1999; WERDELIN, 1996). Estudos recentes utilizando anlises morfolgicas e

    moleculares esclareceram muitos aspectos dos relacionamentos evolucionrios dos feldeos,

    mas ainda no foram incorporados em novos esquemas taxonmicos (OLIVEIRA et al.,

    2001). Desta forma, o esquema taxonmico proposto por Wozencraft (1993) foi considerado

    por Werdelin (1996) o que melhor refletia a variao entre as espcies, tendo sido adotado

    pela Unio Internacional para a Conservao da Natureza (International Union for the

    Conservation of Nature IUCN) e tambm adotado no presente trabalho para referir-se sespcies de feldeos.

    As espcies selvagens que compem a famlia Felidae distribuem-se por cinco das

    seis regies zoogeogrficas da Terra, apenas no tendo ocupado naturalmente a Regio

    Australiana, determinados arquiplagos e Antrtica. As regies zoogeogrficas so divises

    da biosfera terrestre baseadas nas reas de distribuio geogrfica e relacionamentos

    filogenticos dos animais e so consideradas limites naturais para o estabelecimento de

    estudos regionais (DARLINGTON, 1957). A Amrica do Sul, Amrica Central (incluindo

    Antilhas) e parte tropical do Mxico compem a Regio Neotropical. A fauna neotropical de

    feldeos consiste de 10 espcies: ona-pintada (Panthera onca), suuarana ou puma (Puma

    concolor), jaguatirica (Leopardus pardalis), gato-do-mato-pequeno (Leopardus tigrinus),

    gato-maracaj (Leopardus wiedii), jaguarundi ou gato-mourisco (Herpailurus yaguarondi),

    gato-do-mato-grande (Oncifelis geoffroyi), gato-palheiro ou gato-dos-pampas (Oncifelis

    colocolo), kodkod (Oncifelis guigna) e gato-andino(Oreailurus jacobitus), sendo que apenas

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    estas duas ltimas espcies listadas no ocorrem naturalmente no Brasil. Contudo, apesar de

    amplamente distribudas, todas as espcies selvagens de feldeos encontram-se em algum

    grau ameaadas (NOWAK, 1999; NOWELL; JACKSON, 1996; OLIVEIRA; CASSARO,

    1997) e portanto, considera-se que todas devam ser alvo de medidas conservacionistas. Entreas 37 espcies de feldeos reconhecidas, apenas para o gato domstico (Felis catus), aspectos

    clnicos e padres fisiopatolgicos de doenas infecciosas so relativamente bem

    compreendidos. Por este motivo, o gato domstico, que apresenta evidncias de descender de

    uma subespcie de gato-selvagem africano e do sudoeste asitico (Felis silvestris lybica) e

    que posteriormente se miscigenou com o gato-selvagem europeu (Felis silvestris silvestris)

    (NOWAK, 1999) utilizado como parmetro para o estudo das enfermidades que podem

    acometem os membros selvagens da famlia.

    2.2 DOENAS E CONSERVAO

    Entre os principais fatores causais de ameaa aos feldeos de todo o mundo, esto a

    perda de hbitat, perseguio direta em forma de caa e reduo ou eliminao de suas presas

    naturais. No entanto, com a deteriorao ambiental, a ocorrncia de doenas tem emergido

    como um problema central na conservao de carnvoros (FUNK et al., 2001; NOWELL EJACKSON, 1996). As doenas infecciosas so tambm particularmente relevantes para a

    conservao de carnvoros porque muitas espcies ou populaes j esto seriamente

    ameaadas pela perda de hbitats e perseguio, e desta forma mesmo aquelas menos severas

    podem apresentar efeitos devastadores se ocorrerem em populaes j pequenas ou em

    declnio. Os efeitos das doenas podem ser agravados quando interagem com outros fatores

    comuns em populaes ameaadas, como m nutrio, estresse e endogamia (MURRAY et

    al., 1999). Conclui-se que a ocorrncia de doenas infecciosas em populaes naturais tende a

    aumentar medida que os hbitats diminuem e os animais se concentram em parques e

    reservas (DOBSON; GRENFELL, 1995).

    A maioria das doenas que exercem impacto negativo em populaes ameaadas tm

    origem infecciosa (MUNSON, 2000). Os patgenos causadores destas doenas podem

    ameaar de extino as populaes de hospedeiros de duas formas: ameaando diretamente a

    populao em funo de elevada mortalidade ou reduzindo sua resilincia ao induzir doenas

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    crnicas e persistentes que podem causar declnios atravs de efeitos negativos na

    fecundidade e recrutamento (CLEAVELAND et. al, 2003). No primeiro caso, situam-se as

    doenas infecciosas causadas por patgenos com perodos infecciosos curtos, que geralmente

    se disseminam atravs de contgio direto e que, se no forem letais, tendem a induzir em seushospedeiros imunidade de longa durao contra reinfeces; persistem apenas em populaes

    grandes e estruturadas de hospedeiros, que oferecem continuamente novos indivduos

    susceptveis atravs dos nascimentos para a manuteno do ciclo. No segundo caso, situam-se

    as doenas infecciosas causadas por patgenos que induzem doenas de decurso crnico, que

    se valem de diversas estratgias indiretas para disseminao e normalmente so causadas por

    patgenos mais complexos com grande variabilidade antignica que desta forma tendem a

    inibir a imunidade duradoura de seus hospedeiros. Tais patgenos no necessitam

    necessariamente de grandes populaes para persistirem, pois podem permanecer viveis noambiente por longos perodos e repetidamente reinfectar os hospedeiros (DIAMOND, 1999).

    Conseqentemente ao fato de que os patgenos que causam alta mortalidade no

    podem ser mantidos em populaes pequenas de hospedeiros, as populaes de feldeos

    ameaadas, tipicamente pequenas e isoladas, no so capazes de manter tais patgenos.

    Porm, estes podem atingir as espcies ameaadas se so mantidos em populaes mais

    comuns e numerosas, como populaes de carnvoros domsticos, que agem como potenciais

    reservatrios. O rpido crescimento populacional humano e a crescente mobilizao de

    humanos e animais domsticos no apenas ameaam diretamente os hbitats e as espciesvulnerveis, como tambm favorecem a disseminao e persistncia de doenas infecciosas.

    (CLEAVELAND et. al., 2003).

    Devido ao mecanismo de transmisso inter-especfica, os patgenos que apresentam

    risco maior para as espcies ameaadas so os generalistas, que podem infectar diversas

    espcies diferentes, e no aqueles mais especficos. (CLEAVELAND et al, 2003). O contato

    com gado (Bos sp), ces (Canis familiaris), gatos e outros animais domsticos abrem

    possibilidades de transmisso inter-especfica de agentes infecciosos (DASZAK et al., 2000;

    FIORELLO et al., 2004; MENDES-DE-ALMEIDA et al., 2003; MURRAY et al., 1999).

    Considera-se, a priori, que todas as espcies da famlia Felidae sejam susceptveis

    aos mesmos patgenos (FOWLER, 1986), ainda que muitos aspectos reprodutivos,

    hematolgicos e outros padres fisiolgicos ainda no sejam inteiramente conhecidos para

    todas as espcies de feldeos. problemtica, portanto, a considerao de que as populaes

    mantidas em cativeiro sejam particularmente afetadas de forma indesejada em funo disto,

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    pois so potencialmente expostas a uma grande variedade de patgenos, generalistas e

    especficos, uma vez que no ambiente de cativeiro feldeos das mais diversas origens

    geogrficas so mantidos prximos, em alta densidade populacional, comumente sob estresse

    (CLUBB; MASON, 2003) e em muitos casos em contato ocasional com gatos domsticos.Em situao de vida livre, a invaso dos hbitats por carnvoros domsticos, como ces e

    gatos, favorecem a disseminao e persistncia de patgenos nestas populaes, seja

    mediante contato direto, como por predao (JESSUP et al., 1993) ou contaminao

    ambiental.

    Apesar das implicaes das infeces na conservao de espcies selvagens serem

    difcieis de serem acessadas, amplamente aceito que o monitoramento destas infeces seja

    uma importante ferramenta de manejo para populaes ameaadas (DASZAK et al., 2000;

    MUNSON, 2000; MURRAY et al., 1999). O conhecimento sobre doenas infecciosas emfeldeos neotropicais muito pequeno, e o impacto de qualquer infeco nestas espcies

    desconhecido. Entre os feldeos neotropicais, as onas-pintadas, suuaranas e jaguatiricas de

    vida livre so melhor representadas em projetos de campo que lidam com carnvoros no

    Brasil; mas ainda assim h grande falta de informaes referentes ocorrncia de doenas

    nos animais monitorados (BRASIL, 2004). A obteno de informaes sobre a exposio de

    feldeos de vida livre a potenciais agentes infecciosos deve auxiliar projetos ecolgicos e

    conservacionistas, assim como fornecer informaes para programas de manejo in situe ex

    situ. Na dcada de 1990, o Grupo de Trabalho Especial idealizou o Plano de ManejoIntegrado para Pequenos Felinos Brasileiros (BRASIL, 1995), quando se iniciaram estudos

    sistemticos com felinos neotropicais mantidos em cativeiro. Foi verificado que muitas

    enfermidades relacionadas com feldeos neotropicais cativos em zos e criadouros no Brasil

    eram associadas com manejo, como condies sanitrias inadequadas e deficincias

    nutricionais (ADANIA et al., 1998; OLIVEIRA et al. 2001); entretanto, o estudo de doenas

    infecciosas nestas populaes ainda incipiente.

    2.3 AGENTES VIRAIS

    Os agentes virais tm sido implicados como a causa de diversos declnios em

    populaes de carnvoros. Vrus comuns em carnvoros domsticos foram relatados

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    infectando feldeos selvagens de vida livre e mantidos em cativeiro na frica, Europa,

    Amrica do Norte e Japo (ARTOIS e REMOND, 1994; DANIELS et al., 1999; FROMONT

    et al., 2000; HOFMANN-LEHMANN et al., 1996; LEUTENEGGER et al., 1999a;

    MOCHIZUKI et al., 1990; NISHIMURA et al., 1999; OLMSTED et al., 1992; OSTROWSKIet al., 2003; PAUL-MURPHY et al., 1994; ROELKE-PARKER et al., 1996). Dados

    referentes a infeces virais em feldeos neotropicais brasileiros so esparsos e se concentram

    principalmente em retrovrus felinos. Os vrus mais importantes que infectam gatos

    domsticos e feldeos selvagens so: herpesvirus felino 1 (FHV 1), calicivirus felino (FCV),

    parvovrus felino (FPV), coronavirus felino (FCoV), virus da leucemia felina (FeLV) e virus

    da imunodeficincia felina (FIV) (HOFMANN-LEHMANN et al., 1996). Feldeos selvagens

    tambm podem ser susceptveis ao vrus da cinomose canina (CDV) (ROELKE et al., 1996).

    2.3.1 Herpesvrus felino 1 (FHV 1) e calicivrus felino (FCV)

    Os principais vrus implicados no desenvolvimento de doenas respiratrias em

    feldeos so o FHV e o FCV. Apesar de pertencerem a diferentes famlias (FHV:

    Herpesviridae e genoma de DNA; FCV: Caliciviridae, genoma de RNA), determinam, em

    seus hospedeiros, sinais clnicos semelhantes, que incluem pirexia, depresso, espirros,hipersalivao, descargas oculares e nasais, conjuntivite, dispnia, e tosse, traquete,

    anorexia, letargia. Ocasioalmente, pode ocorrer pneumonia viral primria ou doena

    generalizada, particularmente em animais jovens e debilitados. Manifestaes mais raras

    incluem doena ocular, como ceratite intersticial e ulcerativa. lceras cutneas j foram

    descritas em gatos domsticos e em guepardos. Estudos experimentais sugeriram que os

    abortos, quando ocorrem, so resultado da natureza sistmica severa da infeco, e no de um

    efeito direto do vrus. (GASKELL; WILLOUGHBY, 1999). Salivao excessiva e lceras na

    crnea sugerem infeco por FHV 1, enquanto lceras na lngua, plato e faringe so mais

    comumente encontradas em infeces por FCV.

    O FHV 1 infecta apenas membros da famlia Felidae. O principal hospedeiro o gato

    domstico, mas foram obtidos isolados de feldeos selvagens, como os guepardos (Acinonyx

    jubatus)e h crescente evidncia sorolgica de infeco disseminada em feldeos de vida livre

    em diversas partes do mundo. (GASKELL; WILLOUGHBY, 1999) Estudos sorolgicos tm

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    indicado que o FHV se encontra disseminado em populaes de vida livre de lees, pumas e

    guepardos (PAUL-MURPHY et al., 1994). Igualmente, o vrus acomete populaes de

    feldeos mantidas em cativeiro. Cerca de metade dos gatos que apresentam doena

    respiratria tem infeco pelo FHV 1 e outra metade apresenta infeco pelo calicivrusfelino. Investigaes tm demonstrado que a presena de anticorpos para FHV 1 em colnias

    de gatos cerca de 70%, enquanto que para gatos domiciliados de menos de 50%.

    (GASKELL; WILLOUGHBY, 1999)

    O FHV 1 lbil no ambiente, so bastante sensveis desinfeco e no so

    conhecidos reservatrios que no os felinos. A disseminao horizontal, atravs de contato

    direto, fmites ou aerossis a partir de animais com infeco aguda ou mesmo de carreadores

    assintomticos. (GASKELL; WILLOUGHBY, 1999; MAGGS, 2005) Todos os herpesvrus

    so capazes de permanecer latentes em seus hospedeiros naturais; seus genomas latentesretm a capacidade de replicao e de causar doena quando reativados. A latncia difere da

    infeco crnica, uma vez que prognie no est presente. A capacidade de reativao

    diferencia a latncia da infeco abortiva. Em muitos animais, pode ocorrer recrudescncia

    dos sinais clnicos. O FHV 1 se replica rapidamente nas clulas epiteliais das membranas

    mucosas, especialmente na conjuntiva, e ascende por axnios dos neurnios sensoriais para

    estabelecer latncia nos gnglios trigmeos. (MAGGS, 2005), embora DNA viral

    eventualmente seja detectado em outros stios (neurolgicos, turbinados nasais, crnea,

    conjuntiva, cavidade oral, glndulas salivares e lacrimais, tonsilas e linfonodos sub-mandibulares). O estado de carreador caracterizado pela latncia, com episdios

    intermitentes de eliminao viral, situaes em que o animal representa uma fonte de

    infeco. A reativao pode ocorrer em qualquer momento, mas mais provvel que ocorra

    durante perodos de estresse, podendo ocorrer transmisso para novos hospedeiros

    susceptveis, sejam eles a populao residente no novo ambiente ou a nova gerao de

    filhotes. (GASKELL; WILLOUGHBY, 1999) A latncia permite que os herpesvrus sejam

    perpetuados at mesmo em pequenos grupos isolados de hospedeiros. Os testes diagnsticos

    laboratoriais baseiam-se na demonstrao de uma resposta imunolgica ao organismo ou

    deteco direta do agente. (MAGGS, 2005) Antigenicamente, todos os isolados so muito

    similares e constituem um nico sorotipo (GASKELL; WILLOUGHBY, 1999). O

    entendimento da patognese por FHV 1 estabelece um paradoxo com relao ao diagnstico.

    Gatos com infeco primria eliminam vrus em quantidades suficientes para a deteco

    viral. Entretanto, os sinais clnicos nesta fase so caractersticos e auto-limitantes, de forma

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    que neste caso o diagnstico definitivo menos impotante. Em contraste, nas sndromes

    crnicas associadas ao FHV 1, a presena de vrus elusiva, dificultando o diagnstico.

    Finalmente, gatos absolutamente normais podem eliminar grandes quantidades de vrus a

    qualquer momento. Isto tudo faz com que o diagnstico individual de FHV 1 seja um desafiono manejo das doenas crnicas relacionadas ao FHV 1. (MAGGS, 2005)

    O FCV ocorre mundialmente e todos os feldeos so susceptveis. Supe-se que a

    infeco por FCV em feldeos selvagens seja epidemiologicamente similar que ocorre em

    gatos domsticos. A transmisso natural ocorre via aerossol e fmites. Os vrus so liberados

    pelos gatos infectados em grandes quantidades; gatos convalescentes continuam a liberar

    vrus por muitos meses. O estresse pode precipitar a recrudescncia da doena e a liberao

    continuada. Linhagens diferentes de FCV variam em virulncia; algumas linhagens esto

    associadas principalmente com infeces brandas ou doena do trato respiratrio anterior;linhagens altamente virulentas regularmente produzem pneumonia, especialmente em

    filhotes. (HURLEY; SYKES, 2003)

    2.3.2 Parvovrus felino (FPV)

    Todos os feldeos so susceptveis infeco pelo FPV (BARKER; PARRISH, 2001;STEINEL et al., 2001; WACK, 2003). Levantamentos sorolgicos tm indicado a presena

    de FPV em pumas e bobcats (Lynx rufus) de vida livre nos Estados Unidos da Amrica

    (EUA), e em lees na frica do Sul. (BARKER; PARRISH, 2001). Entretanto, a maioria dos

    relatos de doena clnica associada a FPV em feldeos selvagens refere-se a animais mantidos

    em cativeiro.

    Freqentemente, ocorre uma gastroenterite aguda com diarria e linfopenia. Casos de

    FPV ocorrem eventualmente em instituies que mantm feldeos selvagens em cativeiro no

    Brasil, mas geralmente realizado apenas o diagnstico clnico presuntivo. A transmisso

    ocorre principalmente pela rota fecal-oral, atravs da ingesto de vrus presentes no ambiente

    e em fmites. A dose infectante baixa e as quantidades de vrus nas fezes de animais

    eliminando os vrus so muito grandes. Vrus so eliminados atravs de todas as excrees de

    animais infectados, permitindo tambm a transmisso direta. A transmisso vertical tambm

    pode ocorrer (BARKER; PARRISH, 2001; GREENE, 1998). Para feldeos selvagens na

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    natureza, a transmisso do FPV atravs de stios contaminados seria a principal forma de

    disseminao dos vrus, devido aos hbitos solitrios e densidades populacionais

    caracteristicamente baixas. O FPV tambm pode acometer outros carnvoros (BARKER;

    PARRISH, 2001).O FPV apresenta tropismo por clulas em diviso (ASTELL, 1999; PARRISH, 1999).

    Sendo assim, as doenas causadas pelos parvovrus envolvem citotoxicidade em tecidos com

    alta taxa mittica. Aps infeco oronasal, a replicao viral ocorre em clulas da orofaringe

    e tonsilas, linfonodos, timo, bao e Placas de Peyer em todo o intestino. Ocorre linfocitlise e

    depleo celular, com regenerao destes tecidos em animais que sobrevivem. Grande

    quantidade de vrus eliminada pelas fezes. (BARKER; PARRISH, 2001; PARRISH, 1999;

    STEINEL et al., 2001) Os sinais clnicos envolvem pirexia, anorexia, depresso, letargia,

    diarria, vmitos, desidratao, desequilbrio eletroltico e hipoproteinemia. Tipicamente,ocorre linfopenia ou panleucopenia. (BARKER; PARRISH, 2001) Porm, as infeces por

    parvovrus em carnvoros freqentemente so assintomticas ou os sinais so brandos. Pode

    ocorrer morte por desidratao ou endotoxemia ou na ausncia de qualquer sinal. (ASTELL,

    1999; PARRISH, 1999) Em gatos domsticos, existe uma forma hiperaguda da doena

    seguida de morte em menos de 12 horas, mimetizando intoxicao (HAGIWARA; ELIAS,

    2003). A eliminao dos vrus pelas fezes suprimida quando se desenvolve uma resposta

    imune; nestes casos geralmente no persistem seqelas, mas extensivo dano intestinal pode

    determinar diarria crnica (PARRISH, 1999).Uma pequena proporo das infeces por parvovrus em gatos refere-se parvovrus

    caninos (CPV-2a e CPV-2b); seqncias genmicas destes parvovrus caninos j foram

    detectadas em guepardos, em bobcatse em um tigre-siberiano (P.tigris altaica) apresentando

    sinais clnicos (BARKER; PARRISH, 2001; STEINEL et al., 2001).

    2.3.3 Coronavrus felino (FCoV)

    O FCoV, que pertence famlia Coronaviridae, um importante patgeno de feldeos

    domsticos e selvagens. O FCoV ubiqitrio e endmico onde h maior densidade

    populacional de susceptveis. (BENETKA et al., 2004) No Brasil, suuaranas, ona-pintadas,

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    gatos-maracaj e um gato-palheiro mantidos em cativeiro, assim como uma jaguatirica de

    vida livre apresentaram-se soropositivas para FCoV (SCHMITT et al., 2003).

    Os efeitos da infeco podem ser inaparentes ou pode haver um perodo transitrio de

    diarria ou acometimento respiratrio, podendo ocorrer tambm episdios severos de vmitosou diarria, levando perda de peso ou ainda culminar com a peritonite infecciosa felina

    (PIF), responsvel por alta taxa de mortalidade (EVERMANN; BENFIELD, 2001). A PIF

    uma doena imunomediada e fatal que acomete feldeos ocasionada pelo FCoV. So

    conhecidos duas variantes biolgicas de FCoVs: o vrus da peritonite infecciosa felina (FIPV)

    e o coronavrus entrico felino (FECV). Estudos sugerem que o FIPV se originou de uma

    mutao do FECV (BENETKA et al., 2004). O FCoV apresenta tambm dois sorotipos (I e

    II) baseados em caractersticas de replicao em cultura de clulas e antigenicidade; o

    sorotipo II associa-se mais freqentemente com sinais clnicos e desenvolvimento de PIF(KUMMROW et al., 2005)

    H fortes evidncias da existncia carreadores assintomticos que podem excretar o

    vrus por meses ou anos. Tais animais representam reservatrios para o vrus, constituindo

    um problema na preveno de FIP em ambientes de alta densidade de gatos. (BENETKA et

    al., 2004) Entre 5 a 10% dos gatos soropositivos desenvolvem FIP, mas h maior incidncia

    em guepardos e determinadas raas e linhagens de gatos domsticos, sugerindo uma

    predisposio gentica para a doena. (BENETKA et al., 2004)

    2.3.4 Vrus da leucemia felina (FeLV), vrus da imunodeficincia felina (FIV) e

    lentivrus de puma (PLV)

    O FeLV quanto e os demais lentivrus felinos, como o FIV e PLV, pertencem

    famlia Retroviridae; associam-se com uma variedade de sndromes, envolvendo tumores

    malignos de longa latncia, doenas de emagrecimento progressivo, desordens neurolgicas e

    imunodeficincias, e determinam altos coeficientes de morbidade e mortalidade em gatos

    domsticos no mundo todo (WORLEY, 2001).

    Na maioria dos estudos sobre FIV em feldeos selvagens, no foi relatada

    patogenicidade aparente atribuda ao vrus. No entanto, estudos recentes envolvendo lees

    mantidos em cativeiro concluem que, de maneira similar aos gatos domsticos, esses animais

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    atravessam um perodo assintomtico, sucedendo-se ento disfunes linfocitrias,

    imunolgicas e neurolgicas (KENNEDY-STOSKOPF, 1999).

    Acredita-se que exclusivamente para o gato-selvagem-europeu (F. silvestris

    silvestris), em que o FeLV consistentemente encontrado em populaes de vida livre, ovrus no apresenta alta patogenicidade. A alta prevalncia gatos-selvagens-europeus

    soropositivos sugere que o vrus mantido nestas populaes. A possibilidade de que a

    infeco por FeLV seja constantemente adquirida atravs de contato com gato domstico

    pouco provvel, uma vez que a prevalncia em gatos-selvagens-europeus constantemente

    maior que aquelas para gatos domsticos nas respectivas regies estudadas (HOFMANN-

    LEHMANN, comunicao pessoal; DANIELS et al., 1999; FROMONT et. al., 2000;

    LEUTENEGGER et. al. 1999a). Entretanto, o FeLV foi tambm associado com doena

    severa em um espcime de puma (JESSUP et al., 1993) e de guepardo (MARKER et al.,2003). Apesar de ser raramente encontrado infectando outros feldeos selvagens que no o

    gato-selvagem-europeu, se estabelecido nestas populaes, pode ter efeitos devastadores

    (ARTOIS; REMOND, 1994; WORLEY, 2001).

    Os retrovrus apresentam a capacidade de de se integrar no genoma das clulas

    hospedeiras, no ser detectados pela vigilncia imunolgica celular e humoral e desta forma

    estabelecendo infeces persistentes. Incorporados nas clulas hospedeiras, em forma de

    DNA, so chamados provrus. As partculas virais infecciosas so chamadas exgenas; so

    transmitidos vertical e horizontalmente, direta ou indiretamente, mas no atravs de clulasgerminativas. So muito lbeis no ambiente, sendo mantidos na natureza porque hospedeiros

    infectados podem viver e liberar vrus por anos. A transmisso do FeLV ocorre

    principalmente atravs da ingesto de partculas virais, na saliva e secrees nasais. A

    replicao viral inicial ocorre em linfcitos e macrfagos na orofaringe e linfonodos

    regionais. Nesta fase de viremia, uma resposta imune eficiente pode eliminar a infeco. Caso

    contrrio, o vrus se dissemina para a medula ssea e infecta clulas progenitoras mielides e

    eritrides, macrfagos e linfcitos circulantes. A inabilidade do sistema imunitrio em inibir

    a replicao inicial do FeLV leva ao estabelecimento de uma viremia persistente,

    caracterizada pela presena tanto de vrus livres quanto associados a clulas no sangue,

    quando o animal torna-se fonte de infeco. Tal estado geralmente progride para alguma

    doena relacionada a FeLV. Neste caso, a replicao contnua em tecidos hemolinfticos leva

    a um estado progressivo de imunossupresso. Outros animais, porm, contm a replicao

    viral atravs de resposta imune adequada. Alguns gatos tornam-se resistentes e conseguem

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    extinguir a infeco. No entanto, a maior parte dos animais desenvolve infeco

    autolimitante, albergando provrus latentes integrados em clulas da medula ssea, podendo

    haver resposta imune parcial. O risco de reativao espontnea e de desenvolvimento de

    doenas relacionadas ao FeLV, nos animais com este tipo de infeco, pequeno. Nessecaso, no h replicao e excreo de vrus, a no ser que o animal experimente um estado de

    imunossupresso. (FILONI; CATO-DIAS, 2005a; 2005b; GOMES-KELLER et al., 2006)

    A infeco por lentivrus relacionados ao FIV, em lees e pumas, na frica, Amrica

    do Norte e Europa, foi demonstrada por Olmsted et al. (1992) e Spencer e Morkel (1993),

    entre outros autores. O genepoldo vrus da imunodeficincia felina (FIV) obtido a partir de

    uma suuarana mantida em um zoolgico brasileiro foi seqenciado (CARPENTER et al.,

    1996). Antes disso, Brown et al. (1993) havia detectado anticorpos para FIV em um espcime

    de suuarana brasileira de vida livre. Adicionalmente, Leal e Ravazzolo (1998) detectaramprovrus de FIV em ona-pintadas, suuaranas, jaguarundis, jaguatiricas, gatos-maracaj,

    gatos-palheiro e gatos-do-mato-pequenos no Brasil. Em um estudo sorolgico conduzido em

    populaes de pequenos felinos neotropicais mantidas em cativeiro no Estado de So Paulo,

    no foram encontradas evidncias de exposio aos retrovrus FeLV e FIV (FILONI, 2001;

    FILONI et al., 2003a). Desde ento, foram encontrados trs espcimes de feldeos

    neotropicais virmicos para FeLV (um gato-maracaj e dois gatos-palheiros) em um

    levantamento conduzido em zoolgicos norte-americanos (KENNEDY-STOSKOPF, 1999).

    Foram encontrados, no Brasil, ona-pintadas, suuaranas, gatos-maracaj e um gato-palheiromantidos em cativeiro, assim como uma jaguatirica de vida livre, soropositivos para FeLV

    (SCHMITT et al., 2003). Mais recentemente, Carvalho et al. (2004) encontraram lees

    soropositivos para lentivrus felinos na populao de feldeos da Fundao Parque Zoolgico

    de So Paulo (FPZSP) (APNDICE D).

    2.3.5 Vrus da cinomose canina (CDV)

    Desde que o CDV foi isolado a partir de ces domsticos (Canis familiaris), em 1905,

    verificou-se que em pelo menos oito famlias de carnvoros terrestres (Canidae, Felidae,

    Hyaenidae, Mustelidae, Procyonidae, Ursidae, Ailuridae e Viverridae) foram notificadas

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    espcies susceptveis infeco pelo CDV (DEEM et al., 2000). O virus da cinomose canina

    (CDV) tem se mostrado um problema mundial afetando uma ampla gama de carnvoros. Uma

    ona-pintada foi infectada por CDV durante uma epizootia ocorrida em feldeos mantidos em

    cativeiro na Amrica do Norte (APPEL et al., 1994, CLEAVELAND et al., 2003; FUNK etal., 2001).

    Os feldeos em geral apresentam um comportamento de menor risco para a

    transmisso-interespecfica de patgenos. Entretanto, algumas espcies, como as suuaranas,

    podem ser encontradas tanto em reas preservadas quanto em reas periurbanas e rurais,

    podendo entrar em contato e mesmo predar animais domsticos, potenciais fontes de

    infeco. A susceptibilidade de gatos domsticos ao CDV foi demonstrada mediante infeco

    experimental, mas os gatos infectados apresentam apenas um discreto aumento de

    temperatura corporal e no eliminam vrus (APPEL; SHEFFY; PERCY, 1974). Por isso, pormuito tempo pensou-se que que o CDV no poderia provocar doena em feldeos. Embora

    atualmente haja indicativos de que a infeco por CDV possa contribuir para a ocorrncia de

    doenas respiratrias e hepticas em gatos domsticos ( IKEDA et al., 2001), foi somente

    quando uma uma epizootia por CDV acometeu diversas espcies de feldeos em zoolgicos

    norte-americanos, entre 1991 e 1992, que a importncia deste patgeno foi reconhecida para

    a famlia Felidae. Naquela ocasio, uma alta mortalidade se concentrou em grandes feldeos,

    como tigres (Panthera tigris), lees (Panthera leo) e leopardos (Panthera pardus), alm de

    uma ona-pintada, enquanto outras espcies, como suuaranas, bobcats , servais(Leptailurus

    serval) e gatos-maracaj apenas soroconverteram (KENNEDY-STOSKOPF, 1999). Em

    seguida a esta epizootia, houve outra epizootia com efeitos devastadores na populao de

    lees de vida livre no ecossistema do Serengeti, frica, que eliminou cerca de 30% desta

    populao em 1994 (ROELKE-PARKER et al., 1996). Os grandes feldeos do gnero

    Panthera evidenciam-se como mais susceptveis ao curso letal da infeco pelo CDV

    (APPEL et al., 1994; KENNEDY-STOSKOPF, 1999). Nestes casos, foi demonstrado que os

    morbilivrus responsveis por estas ocorrncias eram relacionados com os que circulavam em

    outros carnvoros selvagens e ces domsticos locais (BARRET, 1999; HAAS et al., 1996).

    No ambiente de cativeiro, pode haver contato com outras fontes de infeco, como carnvoros

    domsticos; j foi reportada infeco por CDV em filhotes de tigre que tiveram contato com

    ces (APPEL et al., 1994; KENNEDY-STOSKOPF, 1999).

    Os feldeos acometidos podem apresentar sinais neurolgicos, respiratrios e

    gastrointestinais, embora em cerca de 60% dos casos apenas os sinais neurolgicos se

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    manifestam, incluindo convulses, tremores, mioclonia, desorientao, fraqueza, ataxia,

    paraparesia, hiperreflexia e coma. A durao dos sinais clnicos varia de um dia a vrias

    semanas na maioria dos feldeos, mas j foi observado um caso de desenvolvimento de sinais

    neurolgicos progressivos ao longo de mais de um ano. Alguns animais podem apresentaranorexia, letargia, descarga nasal e ocular mucopurulenta, diarria sanguinolenta ou no.

    Lees de vida livre apresentam anemia, linfadenopatia, condies precrias corporal e do

    pelame e presena de mltiplos ferimentos. Feldeos acometidos podem apresentar alteraes

    comportamentais, podendo se mostrar deprimidos ou com aumento de agressividade.

    (MUNSON, 2001; ROELKE-PARKER et al., 1996) Os feldeos do gnero Panthera

    desenvolvem sinais mais severos e apresentem um prognstico pior. Apenas sinais

    gastrointestinais e respiratrios brandos foram observados em pumas, enquanto outras

    espcies de felinos menores, como bobcats, servais e gatos-maracajs apresentaram-sesoropositivos e saudveis. (APPEL et al., 1994)

    2.4 AGENTES BACTERIANOS

    2.4.1 Bartonella henselae

    As bactrias do gnero Bartonella causam infeces intraeritrocitrias crnicas em

    uma ampla variedade de animais, incluindo humanos, em que a B. henselae o agente

    etiolgico da doena-da-arranhadura-do-gato (cat scratch disease)(CHOMEL et al., 2004b).

    O patgeno B. henselae principalmente transmitido atravs de pulgas (Ctenocephalides

    felis) em gatos domsticos (CHOMEL et. al 1996), que se infectam ao se alimentar de

    animais bactermicos, e potencialmente transmissvel entre gatos domsticos e feldeos

    selvagens (CHOMEL et al., 2004b; JACOMO et al., 2002). Alm de pulgas, tem sido

    sugerido que carrapatos do gnero Ixodes sejam potenciais vetores para Bartonella sp

    (CHANG et al., 2001; CHOMEL et al., 2004a; SCHOULS et al., 1999). Em gatos

    domsticos, a bacteremia pode persistir por mais de um ano e em colnias de gatos em que

    pulgas so endmicas, mais da metade dos animais pode estar bactermica. Populaes de

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    gatos errantes apresentam soroprevalncias maiores que de gatos domiciliados

    (BREITSCHWERDT; KORDICK, 2000; JACOMO et al., 2002).

    Embora o patgeno possa permanecer como parte da microbiota intravascular de

    gatos saudveis, evidncias recentes sugerem uma associao deste patgeno commanifestaes insidiosas de doenas renais crnicas (GLAUS et al., 1997). Outras

    anormalidades relatadas em gatos infectados comB. henselaeincluem febre, discreta anemia

    transitria, eosinofilia, linfadenomegalia, colangite, difuno neurolgica, leses cardacas e

    falhas na reproduo (BREITSCHWERDT; KORDICK, 2000; ROTSTEIN et al., 2000).

    Estudos tm demonstrado a exposio de uma variedade de feldeos de vida livre e

    mantidos em cativeiro B. henselae, incluindo feldeos neotropicais mantidos em zoolgicos

    da Amrica do Norte (KELLY et al., 1998; MOLIA et. al, 2004; YAMAMOTO et al., 1998;

    PRETORIUS et al., 2004; ROTSTEIN et al., 2000). A soroprevalncia nestas populaes defeldeos selvagens so comparveis s encontradas para gatos domsticos

    (BREITSCHWERDT; KORDICK, 2000; ROTSTEIN et al., 2000). Um levantamento

    extensivo conduzido nas Amricas detectou suuaranas soropositivas atravs da maioria das

    reas de ocorrncia natural da espcie. (CHOMEL et al., 2004b); a soroprevalncia geral

    relatada em suuaranas da Amrica do Sul foi de 22.4%. O estudo incluiu amostras de 11

    suuaranas brasileiras de trs estados (So Paulo, Tocantins e Gois); porm no foram

    mencionados resultados individuais, reas exatas de colheita ou condies de vida dos

    animais.

    2.4.2 Ehrlichia canis eAnaplasma phagocytophilum

    Recentemente foi demonstrado que gatos domsticos so susceptveis infeco e

    doena causada por Ehrlichia canis e Anaplasma phagocytophilum. A erliquiose em gatos

    domsticos tem sido reconhecida cada vez com maior freqncia no mundo todo , inclusive

    no Brasil (ALMOSNY; MASSARD, 1999; DAGNONE et al., 2003; TARELLO, 2005).

    Classicamente, o diagnstico da infeco tem sido realizado a partir da demonstrao

    de incluses em clulas. Entretanto, o diagnstico realizado com mtodos moleculares tem se

    mostrado eficiente e demonstrou que h pelo menos duas formas de erliquiose felina: uma

    causada pela E. canis, com incluses em clulas mononucleares (BREITSCHWERDT et al,

    2002) e outra pelo A. phagocytophilum, este ltimo associando-se com incluses em

    neutrfilos e possivelmente apresentando implicaes zoonticas (BJOERSDORFF et al.,

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    1999). Os sinais clnicos so semelhantes para os dois agentes, incluindo anorexia,

    hiperestesia, letargia, perda de peso, dores articulares, dispnia, linfadenomegalia, anemia e

    hipergamaglobulinemia (TARELLO, 2005). As pulgas (C. felis)so consideradas potenciais

    vetores na transmisso destes agentes em gatos (LAPPIN et al, 2006), assim como carrapatos.Pouco conhecido sobre erliquioses de forma geral em animais selvagens,

    especialmente feldeos. Se em linces-eurasianos (Lynx lynx), um levantamento sorolgico

    realizado para populaes de vida livre no norte da Europa demonstrou uma prevalncia de

    4% (RYSER-DEGIORGIS et al., 2005), razovel supor que o clima quente e mido em

    pelo menos parte do ano no Brasil favorea a transmisso destes agentes pelos vetores e a

    doena esteja presente com alta morbidade em nosso meio sem ser reconhecida. Entretanto,

    de acordo com nosso conhecimento, no h relatos prvios de infeces por E. canis e A.

    phagocytophilumem feldeos neotropicais, seja em animais cativos ou de vida livre.

    2.4.3 Hemoplasmas:Mycoplasma haemofelis, Candidatus Mycoplasma

    haemominutum e Candidatus Mycoplasma turicensis

    O agente etiolgico da anemia infecciosa felina, antigo Haemobartonella felis, foi

    recentemente reclassificado dentro de um novo grupo de espcies hemotrpicas demicoplasmas, tambm chamados de hemoplasmas. O seqenciamento dos genes 16S rRNA

    de diferentes agentes isolados de felinos resultou no reconhecimento de trs espcies dentro

    deste grupo: Mycoplasma haemofelis (antigo Haemobartonella felis), Candidatus

    Mycoplasma haemominutum e, mais recentemente, Candidatus Mycoplasma turicensis.

    Estas espcies apresentam diferenas de patogenicidade em gatos domsticos. O M.

    haemofelis e o Candidatus Mycoplasma turicensis so associados com severa anemia

    hemoltica intravascular, enquanto o Candidatus Mycoplasma haemominutum usualmente

    no induz anemia, mas estabelece relao com insuficincia renal. Os mecanismos pelos

    quais os hemoplasmas felinos, especialmente oM. haemofelis, induzem hemlise no so

    bem compreendidos; tanto podem ser resultantes de dano eritroctico direto como pela

    remoo dos agentes de eritrcitos infectados que so seqestrados pelo bao. O curso da

    infeco pode ser letal em gatos domsticos, e outros sinais observados incluem anorexia,

    depresso, letargia, fraqueza, perda de peso, febre intermitente, palidez de mucosas, ictercia

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    e esplenomegalia. Co-infeces com os agentes virais imunossupressivos FIV ou FeLV

    podem favorecer a hemlise observada em gatos infectados. (HAEFNER et al., 2003;

    KEWISH et al., 2004; MESSICK, 2003; WILLI et al., 2005; 2006). Evidncias recentes

    demonstram a presena das trs espcies de hemoplasmas em diversas espcies de feldeosselvagens nos continentes europeu, africano e americano, sugerindo que todas as espcies de

    feldeos sejam susceptveis. (HAEFNER et al., 2003; WENGI et al., em elaborao).

    Pulgas (C. felis) e carrapatos so tidos como potenciais vetores destes

    microorganismos (LAPPIN et al., 2006). Foi demonstrado que infeces verticais intra-

    uterinas, durante o parto ou durante a lactao podem ocorrer em gatos domsticos, assim

    como transmisses horizontais iatrognicas, mediante transfuses sangneas e agulhas

    contaminadas (HAEFNER et al., 2003). Os animais infectados que so submetidos a

    antibioticoterapia ou que desenvolvem evidente resposta imune, provavelmente permanecemcomo portadores crnicos (MESSICK, 2003). O diagnstico etiolgico tradicionalmente

    baseia-se na identificao citolgica de esfregaos sangneos corados, juntamente com a

    anlise de hemogramas completos e sinais clnicos compatveis. Entretanto, o

    desenvolvimento dos mtodos moleculares facilitaram a identificao e quantificao destes

    agentes, de maneira sensvel e especfica, e a PCR considerada atualmente o mtodo de

    escolha para o diagnstico destas infeces (WILLI et al., 2005; 2006).

    2.5 PROTOZORIOS PIROPLASMAS: Theileria sp E Cytauxzoon sp

    As tcnicas moleculares baseadas em PCR tm ampliado o diagnstico de diferentes

    piroplasmas em novos hospedeiros, sugerindo que sua classificao taxonmica venha a ser

    revista. De acordo com a classificao adotada por Ketz-Riley et al. (2003), os gneros

    Theileria e Cytauxzoon so protozorios pertencentes famlia Theileridae, ordem

    Piroplasmida, filo Apicomplexa. As infeces por Theileria sp e Cytauxzoon sp em seus

    hospedeiros mamferos iniciam-se atravs da transmisso por carrapatos infectados,

    causando parasitemias que podem ser letais. O contato direto entre feldeos infectados na

    ausncia de carrapatos no constitui risco de transmisso. Aps a transmisso, os

    protozorios reproduzem-se assexuadamente (esquizogonia) em uma fase eritroctica e uma

    no eritroctica. Os esquizontes de Theileria sp se reproduzem em clulas linfocticas,

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    formam pequenas agregaes ou so nicos nestas clulas e induzem os linfcitos a se

    transformarem em linfoblastos, provocando contnua proliferao. Os esquizontes de

    Cytauxzoon sp, diferentemente, reproduzem-se em clulas fagocticas mononucleares e

    formam agregaes maiores. Os esquizontes desenvolvem-se como merozotas, que soendocitados por eritrcitos e, ao adquirir um aspecto pleomrfico, passam a ser referidos

    como piroplasmas (BONDY et al., 2005). As manifestaes clnicas das infeces por

    piroplasmas so inespecficas e similares aos de hemoplasmas, incluindo anorexia, letargia,

    ictercia, palidez de mucosas, dispnia, taquipnia, taquicardia, febre, esplenomegalia,

    hepatomegalia, e nos estgios finais da doena, hipotermia, vocalizao, convulses e coma.

    Em funo da similaridade dos sinais clnicos, mtodos diagnsticos moleculares so

    recomendados para o diagnstico e diferenciao destes agentes (BONDY et al., 2005;

    CRIADO-FORNELI, et al., 2003)A espcie Cytauxzoon felisinfecta exclusivamente feldeos, tendo sido diagnosticada

    desde os anos 1970 em gatos domsticos e diversas espcies de feldeos selvagens mantidos

    em cativeiro, como bobcats, guepardos, pumas e tigres (GLENN et al., 1983; KETZ-RILEY

    et al., 2003). Os bobcats da subespcie L. rufus rufus geralmente desenvolvem um curso

    clnico discreto quando infectados, e so tidos como reservatrios do agente na Amrica do

    Norte (BONDY et al., 2005). Mais recentemente, tambm foram diagnsticados

    morfologicamente em feldeos selvagens exticos e neotropicais no Brasil, como lees,

    onas-pintadas e gatos-do-mato-pequenos (SOARES, 2001). Um piroplasma relacionado masno identificado como C. felisfoi diagnosticado atravs de mtodos moleculares em gatos-

    de-Pallas (Otocolobus manul) capturados em vida-livre na Monglia em 2000 (KETZ-

    RILEY et al., 2003), sugerindo que devam existir outras espcies de piroplasmas

    relacionadas.

    2.6 AS TCNICAS LABORATORIAIS

    As tcnicas diagnsticas laboratoriais podem ser divididas em tcnicas indiretas e

    diretas. Enquanto as primeiras direcionam-se deteco de anticorpos especficos, as

    segundas so voltadas para a deteco direta dos patgenos. No presente trabalho foram

    utilizadas algumas tcnicas indiretas e diretas. Entre as tcnicas indiretas, foram utilizados

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    testes sorolgicos indiretos como o enzyme linked immunosorbent assay (ELISA) indireto,

    Western blot e imunofluorescncia indireta (IFA). Entre os testes de deteco direta, foram

    utilizados ELISA diretos e testes de reao de polimerizao em cadeia (PCR) ou reaes de

    polimerizao em cadeia submetidas ao da transcriptase reversa (RT-PCR) em tempo realTaqMan.

    Tambm foram utilizados testes sorolgicos imunoenzimticos comerciais,

    representados pelo o Snap Combo FeLV Antigen/FIV Antibody Test Kit (IDEXX

    Laboratories, Inc., Westbrook, Maine 04092, USA), que em um nico dispositivo combinam

    dois testes diferentes: um direto para o antgeno viral p27 do FeLV e um indireto para

    anticorpos contra lentivrus felinos.

    Os testes de deteco direta TaqMan permitem quantificao absoluta, so

    altamentes sensveis, confiveis, rpidos, fceis de manejar e permitem o processamento deuma grande amostragem com baixo risco de contaminao (GUT et al., 1999). So

    adequados para o processamento de amostras de animais com suspeita clnica de infeco por

    patgenos especficos, so teis para confirmao de resultados de outros testes de triagem,

    so excelentes opes para animais em quarentena ou aguardando o transporte e prestam-se

    ainda para levantamentos epidemiolgicos.

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    3 MATERIAIS E MTODOS

    3.1 ANIMAIS E OBTENO DAS AMOSTRAS

    Foram utilizadas amostras de material biolgico de 232 feldeos selvagens, sendo 22

    de vida livre e 210 mantidos em cativeiro. As espcies e nmero amostral utilizado podem ser

    verificados na tabela 1.

    As amostras dos 22 animais de vida livre foram fornecidas pelo Banco de Amostras

    Biolgicas do Centro Nacional de Pesquisas para Conservao de Predadores Naturais

    (CENAP), Centro Especializado do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos

    Naturais Renovveis (IBAMA), sendo provenientes de quatro biomas diferentes, e colhidasem 13 localidades situadas nas regies Norte, Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, entre

    1998 e 2004 (Fig. 1, APNDICE A). As amostras dos animais de cativeiro foram fornecidas

    pela FPZSP e pela organizao no-governamental (ONG) Associao Mata Ciliar (AMC).

    Entre 2002 e 2004, foram colhidas amostras de 125 feldeos mantidos na FPZSP; tambm

    foram includas amostras de um animal necropsiado em 2001 (animal CAD 19696,

    APNDICE B). Em 2004, a AMC cedeu amostras de 62 feldeos, as quais haviam sido

    obtidas entre 1996 e 2002, na vigncia do Programa de Identificao e Imunizao do Plano

    de Manejo para Felinos Selvagens Brasileiros. Estas ltimas foram provenientes de 22

    zoolgicos brasileiros e cinco centros de conservao (APNDICE C).

    O CENAP forneceu amostras de soro e sangue em cido dietilenodiaminotetractico

    (EDTA), provenientes de feldeos de vida livre e armazenadas a -80C ou em nitrognio

    lquido e que haviam sido depositadas no Banco de Amostras Biolgicas por pesquisadores e

    coordenadores de projetos de campo sobre ecologia e conservao de carnvoros selvagens in

    situ. No caso de um gato-do-mato-pequeno supostamente de vida livre, que veio a bito na

    cidade litornea de Ubatuba, SP (animal 20, Fig. 1, APNDICE A), o CENAP forneceu

    amostras de fezes e soro obtido de cogulos cardacos que haviam sido depositadas em seu

    Banco pelo Laboratrio de Patologia Comparada (LAPCOM) do Departamento de Patologia

    (VPT) da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de So

    Paulo (USP), onde foi realizada a necrpsia do animal. As amostras obtidas na FPZSP (soro,

    plasma, sangue total em EDTA, papa de leuccitos e suabes) ficaram armazenadas a -80C

    desde o dia da colheita at sua utilizao. As amostras de soro cedidas pela AMC foram

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    mantidas a -18C at o momento de sua cesso ao presente projeto, sendo que a partir deste

    momento at a utilizao ficaram armazenadas a -80C.

    Todas as amostras utilizadas foram transportadas obedecendo as instrues

    internacionais da Associao Internacional de Transporte Areo (International Air TransportAssociation IATA) como amostras diagnsticas (PI 650) e em completo acordo com

    licenas federais especficas como a Conveno sobre o Comrcio Internacional de Espcies

    da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extino (Convention on International Trade in

    Endangered Species CITES) (nmeros de licena 0112928BR e 1562/04), Conselho de

    Gesto do Patrimnio Gentico (CGEN) e Ministrio da Agricultura (CSI 1530/2004).

    As amostras dos feldeos de vida livre foram colhidas a campo no prprio local de

    captura, enquanto se realizaram exames fsicos completos e colocao de colares

    transmissores. Os feldeos de maior porte (suuaranas) foram capturados com a utilizao deces treinados, enquanto que para os pequenos felinos utilizaram-se armadilhas com presas

    vivas como iscas. Os animais foram quimicamente imobilizados com o auxlio de dardos e

    uma combinao 10 mg/kg IM de tiletamina e zolazepam (Telazol, Fort Dodge, Iowa,

    USA). Aps a recuperao anestsica, os animais foram soltos no local de captura para

    posterior monitoramento (MORATO, comunicao pessoal).

    Os animais mantidos em cativeiro foram imobilizados com uma combinao de 10

    mg/kg IM de cetamina (Ketalar, Ach Laboratrios Farmacuticos S. A, Parke-Davis;

    Ketamina 50, Holliday- Scott S. A., Happy Vet Farma, So Paulo, Francotar, Virbac doBrasil Ind. e Com. Ltda., So Paulo, Brasil) e 2 mg/kg IM de xilazina (Rompun, Bayer S.

    A. Sade Animal, Coopazine, Coopers do Brasil Ltda., Virbaxyl, Virbac do Brasil Ind. e

    Com. Ltda., So Paulo Brasil), aps um perodo de 24 horas de jejum. Na maioria dos casos,

    foram utilizados dardos, pus e caixas de conteno.

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    Tabela 1 Nmero amostral e instituies cedentes de amostras de feldeos selvagens mantidos em cativeiro ede vida livre. So Paulo, 2004

    Espcies Nomes comuns Procedncia

    Cativeiro Vida livre

    Neotropicais FPZSP1 AMC2 Sub-total CENAP3 Total

    Puma concolor suuarana 2 12 14 18 32

    Herpailurus yagouarondi jaguarundi 23 10 33 0 33

    Leopardus pardalis jaguatirica 6 10 16 2 18

    Leopardus tigrinus gato-do-mato-pequeno 33 10 43 2 45Leopardus wiedii gato-maracaj 10 10 20 0 20

    Oncifelis geoffroyi gato-do-mato-grande 13 10 23 0 23

    Oncifelis colocolo gato-palheiro 10 0 10 0 10

    Sub-total 97 62 159 22 181

    Exticos

    Panthera leo leo 30 0 30 NA4 NA

    Panthera pardus leopardo 4 0 4 NA NA

    Acynonyx jubatus guepardo 2 0 2 NA NA

    Panthera tigris altaica tigre-siberiano 13 0 13 NA NA

    Uncia uncia leopardo-das-neves 2 0 2 NA NA

    Sub-total 51 0 51 NA NA

    Total 148 62 210 22 232

    1 FPZSP = Fundao Parque Zoolgico de So Paulo.2 AMC = Associao Mata Ciliar.3 CENAP = Centro Nacional de Pesquisas para a Conservao de Predadores Naturais, Centro Especializado do InstitutoBrasileiro do Me