harmônica de boca sistemas, componentes e a

Harmônica de boca: sistemas, componentes e a

produção do instrumento musical

Mouth organ: musical instrument’s systems, components and production

Ferreira, Joana Knobbe; graduada; Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina [email protected] Martins, Conceição Garcia; Mestre; Universidade Fictícia do Brasil [email protected] Luiz, Fabrício Casarejos Lopes; Mestre; Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro [email protected]

Resumo

Este artigo é fruto da pesquisa em andamento sobre Design e Instrumentos Musicais, paralela ao desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso que consiste no projeto de uma harmônica de boca para a iniciação musical infantil em parceria entre o curso Superior de Tecnologia em Design de Produtos do CEFET/SC e a empresa Hering Instrumentos Musicais (Blumenau/SC). Para o desenvolvimento do projeto foi necessário entender o funcionamento, assim como os componentes, sistemas e processo de produção do instrumento musical, aqui relatados.

Palavras Chave: instrumento musical, design e música, processo de produção.

Abstract

This article resulted from the current research on Design and Musical Instruments, during the

course conclusion project that consists in an harmonica development for children’s musical

education. This project is a partnership between Graduate Course on Technology in Product

Design, at CEFET/SC and the industry Hering Musical Instruments (Blumenau/SC). For the

project development it was necessary to understand the harmonica’s operation, components,

systems and productive processes, reported here.

Keywords: musical instrument, music and design, productive process.

Harmônica de boca: sistemas, componentes e a produção do instrumento musical

8º Congresso Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento em Design

A Harmônica de Boca

A harmônica de boca, ou gaita, é um instrumento musical classificado dentro do grupo dos aerófonos, - instrumentos cujo corpo vibrante é aéreo –, como um instrumento aerófono de palhetas livres, cujo som decorre da vibração de palhetas metálicas que possuem apenas uma das extremidades fixa.

É utilizada sozinha, acompanhada de outras harmônicas e de outros instrumentos e é tradicionalmente utilizada na música folk, country, blues, jazz, na música clássica e na música popular brasileira.

As harmônicas podem ainda ser classificadas em dois tipos: as diatônicas (Figura 1) e as cromáticas (Figura 2). As diatônicas mais comuns possuem 10 orifícios e podem possuir diferentes afinações (C - dó, D – ré, E – mi, F – fá, etc)1, que nesse caso definem a escala, ou faixa de notas e a tonalidade em que o instrumento pode ser executado. Assim, elas possuem 8 notas de uma escala musical maior, chamadas de notas naturais e outras notas que podem ser “construídas”, com técnicas especiais de sopro e aspiração.

Figura 1 Modelo Free Blues Hering Harmônicas (gaita diatônica). Fonte: arquivo pessoal.

Figura 2 Modelo Deluxe Chromatic 64, da Hering Harmônicas (gaita cromática). Fonte: HERING

HARMONICAS, 2008. Já as gaitas cromáticas permitem tocar todas as 12 notas usadas na música ocidental.

Isso se deve a um botão deslizante que alterna as palhetas que são acionadas permitindo execução totalmente cromática, ou seja, com todos os acidentes da escala (bemóis e sustenidos). Elas podem ter 10, 12 ou 16 orifícios e diversas afinações, que definem a escala disponível para o músico (ASSALE, 2007).

O músico utiliza a harmônica segurando-a entre os dedos indicador e polegar esticados – geralmente da mão esquerda – e, dispondo a outra mão em forma de cuia, forma uma concha acústica, como mostra a Figura 3. Assim, os pontos de contato do instrumentista com o instrumento são as mãos e os lábios.

Figura 3 – Ilustração de uma empunhadura. Fonte: Saiba Música, 2007.

1 As letras A, B, C, D, E, F e G são utilizadas na nomenclatura musical para denominar as notas (e os acordes referentes à cada nota) Lá, Si,

Dó, Ré, Mi, Fá e Sol, respectivamente.

Título do Artigo de Iniciação Científica em Português


Histórico do instrumento

Segundo Ribeiro (2005, p. 304), a origem da harmônica é incerta, embora se acredite que derivou de outro instrumento chamado oboé e seu som, de pouca intensidade e um timbre “anasalado”, se assemelha ao do acordeão.

Resumidamente, Peter Krampert (1998, p. 09), apresenta um breve histórico cronológico da Harmônica em seu livro The encyclopedia of the harmonica. Segundo o autor, os primeiros instrumentos de palhetas livres foram desenvolvidos na China por volta de 3000 anos a.C. e espalharam-se por todo o Sul da Ásia. Na Europa, o princípio do funcionamento de palhetas se torna conhecido em 1636, com a chegada de um desses instrumentos, chamado Shêng, composto de tubos de bambu e palhetas de cobre (Figura 4).

Figura 4 - Quatro tipos de Shêngs. Fonte: http://www.ksanti.net/free-reed/history/sheng.html. Por volta de 1780, deu-se início a uma série de experimentos por toda a Europa,

utilizando a técnica de palhetas livres. Em 1816, Johann Buchmann, introduz o Terpodion: um instrumento de palhetas livres acionado por um teclado, predecessor tanto da harmônica de boca, quanto do acordeom.

A harmônica de boca como conhecemos hoje, é citada em diversas fontes como um descendente da Aura, patenteada por Christian Friedrich Ludwig Buschmann, em 1821.

A primeira gaita diatônica, de 10 orifícios (10-hole) e 20 notas (10 sopradas e 10 aspiradas), foi desenvolvida por Richter, cuja configuração se manteve até hoje, gerando o nome para o padrão de afinação típico dessa gaita: Sistema Richter, em 1879.

Estudo e definição dos sistemas, subsistemas e componentes

(SSC)

Para melhor compreender o produto, analisar as partes que o compõem e seu processo de montagem foi realizada a desmontagem de um modelo de gaita diatônica. O instrumento possui a configuração comum à gaita diatônica de 10 orifícios (10-hole), com afinação em C; indicada para iniciantes na prática do instrumento em qualquer idade e também utilizada profissionalmente.



Tabela1 – Definição dos SSCs

IMAGENS (fonte: arquivo pessoal)

DESCRIÇÃO

Gaita Diatônica 10-hole “Free Blues” (da Hering Harmônicas)

Ao retirar os dois parafusos e porcas laterais é possível separar a gaita em três partes:

• tampa superior (aço inox) • tampa inferior (aço inox) • corpo (plástico) + duas placa de vozes (latão)

obs: as tampas (inferior e superior) possuem

mesma forma, entretanto decoração é diferenciada.

vista inferior

vista superior

Conjunto corpo + placas de vozes (vista superior e inferior):

Placas de vozes fixadas por três parafusos ao corpo plástico.

Corpo e placas de vozes O corpo da gaita diatônica geralmente possui

forma semelhante a um pente, normalmente fabricado em plástico ou madeira.

Detalhe: aproximação da placa de vozes inferior composta por:

• uma chapa de latão • 10 palhetas • fixação das palhetas por rebites

Ao final da análise, foi possível definir os Sistemas, Subsistemas e Componentes

(AMARAL, 2006, p. 264-265) do produto:

Sistema: gaita diatônica 10-hole

Sub-sistemas e componentes: • caixa de ressonância • tampas (tampa superior e tampa inferior) • elementos de fixação (parafusos e porcas)

• Corpo

Título do Artigo de Iniciação Científica em Português


• corpo • elementos de fixação (parafusos)

• Placa de vozes • chapa inferior e chapa superior • palhetas • elementos de fixação (rebites)

Funcionamento do instrumento

A estrutura básica de uma harmônica consiste em uma série de palhetas livres, afinadas de acordo com uma escala musical, rebitadas a duas chapas metálicas estampadas (geralmente de latão) denominadas placas de vozes. Essas placas são, então, montadas acima e abaixo de um corpo (ou pente), com canais por onde o ar é soprado ou aspirado, fazendo vibrar as palhetas (OLSON, 1967, p. 142). Uma das placas de vozes possui as palhetas direcionadas de modo que sua vibração ocorra quando o usuário sopra a harmônica; e a outra placa de vozes é colocada de forma contrária, para que as palhetas vibrem quando o usuário aspira o ar pelo instrumento. Assim, em geral, em cada orifício do instrumento, é possível emitir dois tons de diferentes freqüências2. Essa estrutura é então revestida por uma tampa metálica ou plástica, que atua como a interface do objeto com o usuário. Sua função, do ponto de vista técnico, é a de propiciar a empunhadura do instrumento e a de evitar o contato das mãos e da boca do usuário com as placas de vozes, além de constituir em uma pequena caixa de ressonância, que influencia na propagação do som.

As palhetas constituem o elemento ativo na produção do som em uma harmônica. A produção do som se dá quando o fluxo de ar (constante), proveniente da cavidade bucal, provoca a vibração da palheta, que por sua vez, gera uma flutuação periódica de pressão nesse mesmo fluxo de ar (BAHNSON et. al., 1998, p. 2134). Assim, uma onda sonora é produzida e sua freqüência corresponde à nota musical desejada3.

As palhetas podem ser arranjadas em diversas seqüências tonais, sendo identificadas pela nota que caracteriza a escala em que está afinada (C - dó, F – fá, F# - fá sustenido, G – sol, A – lá, e assim por diante). As gaitas diatônicas comuns possuem 10 orifícios (10-holes), e possibilitam a produção de acordes quando sopradas ou aspiradas em 3 orifícios adjacentes. Assim, ao serem aspirados os 4 primeiros orifícios de uma diatônica, o som produzido será o acorde dominante da escala, por exemplo, na gaita afinada em C (dó), os 4 primeiros orifícios soprados produzem as notas dó, mi, sol (tríade) e dó (uma oitava acima). Dessa forma, qualquer som produzido a partir do sopro ou aspiração de orifícios subseqüentes será harmônico.

Uma gaita de 10 orifícios possui 20 palhetas (vozes) e compreende 3 oitavas na escala em que está afinada. Como cada oitava possui 8 notas, o total de notas deveria ser 21, sendo a primeira nota de uma escala equivalente à última nota da escala anterior. Entretanto, na configuração comum da gaita diatônica existe uma nota repetida (o segundo orifício aspirado 2 Existem ainda outras possibilidades de obtenção de tons por meio da gaita. 3 Por exemplo, a nota Lá produzida por um diapasão, utilizado na afinação de instrumentos, possui a freqüência exata de 440,0 Hz (CABRAL, LAGO; 2004, p. 331).



emite o mesmo tom que o terceiro orifício soprado), e 3 notas naturais não estão presentes. Assim, a gaita de 10 orifícios possui 20 vozes naturais, contemplando 17 notas musicais distintas (Figura 5).

Figura 5 - Disposição das notas na gaita diatônica de afinação em C (dó). Fonte: manual da gaita Free Blues,

Hering Harmônicas.

Considerações Finais

A partir do estudo e análise dos componentes e do funcionamento produto, foi possível compreender suas restrições técnicas para, assim, tornar possíveis as modificações e melhorias propostas por meio do processo de design. Dessa forma, foi projetado um novo modelo de harmônica, tendo em vista questões como: conforto ergonômico, estética, facilidade de compreensão e execução, e funcionalidade do instrumento.

Referências AMARAL, DANIEL CAPALDO et. al.. Gestão de desenvolvimento de produtos. São Paulo: Saraiva, 2006. ASSALE, CARLOS. Chromonicas, Echo Vampers e Blues Harps. In: Beatles Brasil - Fab Gear, 2008. Disponível em: <http://paginas.terra.com.br/arte/circusplace/beatles/instrumentos/harmonicas/harmonicas.htm>. Aceso em 15 abr. 2008 BAHNSON, HENRY T.; ANTAKI, JAMES F.; BEERY, QUINTER C.. Acoustical and physic dynamics of the diatonic harmonica. Journal Acoustical Society of America, vol 103, nº 4, p. 2134-2144, abr 1998. KRAMPERT, PETER. The encyclopedia of the harmonica. Arlington Heights, Tatanka Pubiclations, 1998. MARTIN, RICHARD. The harmonica: a mouthful of music. in. The Free-reed Journal: articles and assays featuring classical free-reed instruments and performers, 2008. Disponível em: <http://www.ksanti.net/free-reed/essays/mouthful.html>. Acesso em 20 fev. 2008. OLSON, HARRY F.. Music, physics and engineering. New York: Dover Publications, INC., 1967. 2. ed. RIBEIRO, JOSÉ ALEXANDRE DOS SANTOS. Sobre os instrumentos sinfônicos. Rio de Janeiro: Record, 2005.

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