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Revista Saberes da Faculdade São Paulo FSP Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 8, n. 2, jul./set, 2018. ISSN: 2358-0909. HANSENÍASE: TRATAMENTO E PREVALÊNCIA DAS SEQUELAS NEUROMOTORAS Adriana Vidal de Carvalho 1 Bruna Lorraine Vieira de lima 1 Fabiana Cristina Gomes Fonseca 1 Natalia Aparecida Ferreira Fernandes 1 Tatiane Santana da Mata 1 Jessica Jamali Lira 2 RESUMO: A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, de evolução lenta, caracterizada por sinais e sintomas dermatoneurológicos acometendo principalmente a pele e nervos periféricos, resultando em deformidades e incapacidades físicas. Causada pelo Mycrobacterium leprae também chamado bacilo de Hanse, a doença ainda hoje é considerada um grande problema de saúde pública no Brasil. Para a confirmação da doença utiliza-se o diagnóstico clinico e laboratorial. A patologia é transmitida por meio das vias respiratórias: tosse e espirro com o paciente não tratado, pois o indivíduo deixa de transmitir a doença assim que se inicia o tratamento. O trabalho abordou a importância do tratamento fisioterapêutico na hanseníase, destacando intervenções nas diversas disfunções causadas pela doença, e com ênfase na orientação para o hanseniano e seus familiares. Palavras-chaves: Hanseníase. Fisioterapia. Reabilitação. ABSTRAT: Leprosy is a chronic, slowly evolving infectious disease characterized by dermatoneurological signs and symptoms affecting mainly the skin and peripheral nerves, resulting in deformities and physical disabilities. Caused by Mycrobacterim leprae also called Hansen bacillus, the disease is still considered a major public health problem in Brazil. The clinical and laboratory diagnosis is used to confirm the disease. The pathology is transmitted through the respiratory tract: coughing and sneezing with the untreated patient, because the individual stops transmitting the disease as soon as treatment begins. The study addressed the importance of physical therapy in leprosy, highlighting interventions in the various dysfunctions caused by the disease, and with emphasis on the orientation of leprosy patients and their families. Keywords: Hanseniasis. Physiotherapy. Rehabilitation. 1 Discentes do 7º período do curso bacharel em fisioterapia da Faculdade São Paulo, [email protected]. ² Docente e coordenadora do curso de fisioterapia da Faculdade São Paulo, [email protected].

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Revista Saberes da Faculdade São Paulo – FSP

Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 8, n. 2, jul./set, 2018. ISSN: 2358-0909.

HANSENÍASE: TRATAMENTO E PREVALÊNCIA DAS SEQUELAS

NEUROMOTORAS

Adriana Vidal de Carvalho1 Bruna Lorraine Vieira de lima1 Fabiana Cristina Gomes Fonseca1 Natalia Aparecida Ferreira Fernandes1 Tatiane Santana da Mata1 Jessica Jamali Lira2

RESUMO: A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, de evolução lenta,

caracterizada por sinais e sintomas dermatoneurológicos acometendo principalmente a pele e

nervos periféricos, resultando em deformidades e incapacidades físicas. Causada pelo

Mycrobacterium leprae também chamado bacilo de Hanse, a doença ainda hoje é considerada

um grande problema de saúde pública no Brasil. Para a confirmação da doença utiliza-se o

diagnóstico clinico e laboratorial. A patologia é transmitida por meio das vias respiratórias:

tosse e espirro com o paciente não tratado, pois o indivíduo deixa de transmitir a doença assim

que se inicia o tratamento. O trabalho abordou a importância do tratamento fisioterapêutico na

hanseníase, destacando intervenções nas diversas disfunções causadas pela doença, e com

ênfase na orientação para o hanseniano e seus familiares.

Palavras-chaves: Hanseníase. Fisioterapia. Reabilitação.

ABSTRAT: Leprosy is a chronic, slowly evolving infectious disease characterized by

dermatoneurological signs and symptoms affecting mainly the skin and peripheral nerves,

resulting in deformities and physical disabilities. Caused by Mycrobacterim leprae also called

Hansen bacillus, the disease is still considered a major public health problem in Brazil. The

clinical and laboratory diagnosis is used to confirm the disease. The pathology is transmitted

through the respiratory tract: coughing and sneezing with the untreated patient, because the

individual stops transmitting the disease as soon as treatment begins. The study addressed the

importance of physical therapy in leprosy, highlighting interventions in the various

dysfunctions caused by the disease, and with emphasis on the orientation of leprosy patients

and their families.

Keywords: Hanseniasis. Physiotherapy. Rehabilitation.

1 Discentes do 7º período do curso bacharel em fisioterapia da Faculdade São Paulo, [email protected]. ² Docente e coordenadora do curso de fisioterapia da Faculdade São Paulo, [email protected].

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1 INTRODUÇÃO

A hanseníase é uma doença existente desde a mais distante antiguidade, a mesma foi

relatada há cerca de 3 a 4 mil anos na Ásia Oriental. No Egito, foram descobertos registros em

um papiro da época do grande faraó Ramsés II, desde 4300 anos a.C. Na antiguidade para os

hebreus, ela era designada uma maldição, ou castigo celestial e não como uma doença de caráter

corporal (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).

A hanseníase, doença infectocontagiosa é de desenvolvimento lenta, curável, causada

pelo Mycobacterium leprae, também conhecida como lepra. Acomete principalmente a pele e

os nervos, podendo afetar tanto a face como os membros superiores e inferiores, causando perda

da sensibilidade, fraqueza muscular e paralisia, causando incapacidades e deformidades físicas,

atingindo homens, mulheres e crianças, e é transmitida de pessoa a pessoa pelas vias aéreas

(AGUIAR; RIBEIRO, 2009).

Frequentemente, as pessoas com lepra são rejeitadas pelos amigos, pela família e pela

comunidade, tendo de enfrentar ostracismo social, isolamento, rejeição e discriminação

(HELMAN, 2009).

A hanseníase além de ser uma doença com agravantes inerentes às doenças de origem

gerada pelas deformidades e incapacidades físicas decorrentes do processo de adoecimento

ainda representa um sério problema de saúde pública no país. (BRASIL, 2008).

A descoberta precoce de casos é uma medida importante para prevenir as incapacidades

ocasionadas pela doença e para se obter controle dos focos de infecção (BRASIL, 2001).

Segundo Brasil (2008), diversos pacientes passam meses e até anos com sinais e sintomas,

consultando médicos que na maioria das vezes são dermatologistas e mesmo assim não são

diagnosticados.

O tratamento específico da pessoa com a doença, sugerido pelo Ministério da Saúde, é

a poliquimioterapia normalizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), devendo ser

efetuado nas unidades de saúde. A poliquimioterapia é composta pelos seguintes medicamentos

rifancina, dapsona e clofazimina, com ministração associada (BRASIL, 2002).

Atualmente, a hanseníase é classificada em duas categorias distintas Paucibacilares

(formas Indeterminadas e Tuberculoide) e Multibacilares (formas Dimorfas e Virchowiana),

com a distinção entre elas influenciando a forma de tratamento recomendada (NEVILLE et al,

2009).

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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA HANSENÍASE

A doença de Hansen é uma infecção com evolução lenta, se apresenta especialmente

pela manifestação de sinais e sintomas dermatoneurológicos podendo afetar a pele e nervos

periféricos provocando incapacidades físicas sendo capaz de causar deformidades, com isso

causando problemas de incapacidade de trabalho, limitando a vida social e abalando-se

psicologicamente o doente (BRASIL, 2002).

A hanseníase, amplamente conhecida pela designação de “lepra”, é uma doença muito

antiga, mencionada por Hipócrates, mais que encontra na bíblia, nos capítulos 13 e 14 do

Levítico, a sua conotação repugnante e terrível (QUEIROS; PUNTEL, 1997).

O bacilo foi descoberto em 1873, pelo médico Amaneur Hanser, na Noruega. Em

homenagem a seu descobridor, o bacilo é também chamado de bacilo de hansen (BRASIL,

2008).

A lepra aportou ao Brasil com os primeiros colonizadores portugueses, principalmente

açorianos, e para sua disseminação bastante contribuíram os escravos africanos. Entretanto,

outros povos posteriormente concorreram para a sua expansão. A lepra entrou por vários pontos

do litoral, sendo interessante notar que alguns focos se ampliaram enquanto outros muito se

reduziram e alguns mesmo desapareceram (BRASIL, 1960).

No Rio de Janeiro, os primeiros casos foram descritos por volta de

1600, e, em 1737, os dados mostraram a existência de 300 doentes. As

iniciativas para cuidar dos atingidos por ela começaram em 1714, em

Recife, com a fundação de um asilo para doentes e também, em 1763,

com a inauguração do Hospital dos Lázaros do Rio de Janeiro. O Hospital

dos Lázaros do Rio de Janeiro, atualmente conhecido como Hospital

Frei Antônio, localizado em São Cristóvão, na zona norte da cidade, foi

a primeira das instituições construídas com a finalidade de isolar e

cuidar (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).

No passado, pela inexistência de tratamento inadequado, as pessoas acometidas

tornavam-se vítimas de deficiências e incapacidade para o trabalho e a vida social e, geralmente

afastadas e segregadas em leprosários (AGUIAR&RIBEIRO 2009).

O uso da dapsona e seus derivados revolucionou o tratamento da hanseníase a partir de

1940 quando começa a ser utilizado em regime ambulatorial e torna o isolamento em leprosários

desnecessários. Com isso, desmistifica o tratamento que passa a ser encarada como um

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problema de saúde pública e seu tratamento indicado como atividade dos serviços gerais de

saúde (BRASIL, 2001).

2.2 EPIDEMIOLOGIA

A hanseníase é um grande obstáculo de saúde pública no Brasil e em muitos países do

mundo. A doença ocorre de forma endêmica nos países do terceiro mundo, como na Ásia, na

África e nas américas do Sul e central, locais onde se encontram os focos mais graves da doença

a nível Mundial. Entre esses países o Brasil ocupa lugar de destaque, estando atrás apenas da

Índia ao número de casos (BERNARD MACHADO,2004).

A organização mundial de saúde (OMS), afirma que a Índia é o pais mais afetado, com

mais de 127.000 casos em 2013, seguido do Brasil com 31.000 casos, Indonésia cerca de 17.000

e dois países africanos, Etiopia e República Democrática do Gongo, entre 3.500 e 4.000 novos

casos (BRASIL,2013).

O Brasil é o segundo país com maior quantidade de casos de hanseníase no mundo. Em

2011 apresentou 33.955 casos novos, com coeficiente de detecção de 17.65/100.000 habitantes

(BRASIL, 2012).

2.3 AGENTE ETIOLÓGICO

A hanseníase é ocasionada pelo Mycrobacterium leprae também chamado bacilo de

Hanse, que é um parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células da pele e por

células dos nervos periféricos, que se abriga no organismo da pessoa contaminada

(BRASIL,2002).

Mycrobacterium leprae. O organismo não cresce em meio bacteriológico ou cultura de

células. Ele pode ser cultivado nos coxins das patas de camundongos a 106/ g de tecido; em

infecções disseminadas do tatu de nove listras, ele cresce a 109 a 1010/ g (CHIN, 2002).

2.4 RESERVATÓRIO

Admite-se ser o homem o reservatório do bacilo e a única de infecção, embora o bacilo

tenha sido encontrado na natureza e em outros animais como tatu, macaco mangabei e

chimpanzé (AGUIAR & RIBEIRO,2009).

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Os seres humanos são os únicos reservatórios de significado comprovado. Os tatus

silvestres na Louisiana e nos Texas sofrem naturalmente de uma doença idêntica à lepra

experimental nesse animal e houve relatos sugerindo que a doença em tatus foi transmitida

naturalmente aos seres humanos. A lepra adquirida naturalmente foi observada em um macaco

mangabey e em um chimpanzé capturados, respectivamente, na Nigéria e em Serra Leoa

(CHIN, 2002).

O período de incubação é em média de 2 a 7 anos, podendo ir de meses a mais de 10

anos, de acordo com a intensidade da exposição e da resistência individual (AGUIAR;

RIBEIRO, 2009).

2.5 MODO DE TRANSMISSÃO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Para que aconteça a transmissão do bacilo é necessário ter um contato direto com doente

não tradado (BRASIL, 2011).

Brasil, 2011 ainda afirma que quando o doente inicia o tratamento quimioterápico, deixa

de transmitir a doença, pois as primeiras doses da medicação tornam os bacilos incapazes de

contaminar outras pessoas.

A doença é transmitida por meio das vias respiratória: tosse e espirro. A principal fonte

de transmissão da doença é a pessoa que ainda não recebeu tratamento medicamentoso. A

hanseníase não se passa por abraços, aperto de mão e carinho. Em casa ou no trabalho, não é

necessário separar as roupas, os pratos, os talheres e os copos (BRASIL, 2001).

Algumas vezes as lesões nodulares na pele provocadas pela hanseníase lepromatosa

ulceram. Mãos em forma de garras, artelhos em martelo, nariz em sela e lobos da orelha

pendulares são deformidades comuns (RUBIN, 2013).

2.6 DIAGNÓSTICO E FORMAS CLÍNICAS

O diagnóstico da hanseníase baseia-se nos sinais clínicos e nos sintomas característicos

da doença, ou seja, as lesões ou áreas da pele com alteração de sensibilidade e o

comprometimento dos nervos periféricos (BRASIL, 2001).

O diagnóstico clínico é realizado através do exame físico onde procede-

se uma avaliação dermatoneurológica, buscando-se identificar sinais

clínicos da doença. Antes, porém, de dar-se início ao exame físico,

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deve-se fazer a anamnese colhendo informações sobre a sua história

clínica, ou seja, presença de sinais e sintomas dermatoneurológicos

característicos da doença (BRASIL, 2002).

O quadro clínico inicial caracteriza-se pelo aparecimento de máculas hipocômicas na

pele com redução ou falta de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. (RAMIREZ;

MELÃO,2006).

Para o diagnóstico laboratorial utiliza comumente a baciloscopia que é o exame

microscópico do raspado intradérmico de fácil execução, pouco invasivo e de baixo custo, esse

exame é importante para auxiliar no diagnóstico diferencial com outras doenças

dermatoneurológica, casos suspeitos de recidiva e na classificação para fins de tratamento

(BRASIL, 2010)

A biópsia é um procedimento médico, consiste no exame de material coletado na borda

da lesão suspeita ou do nódulo (RAMIREZ; MELÃO,2006).

Hanseníase indeterminada (HI) é considerada a primeira manifestação clínica da

hanseníase e, após período de tempo que varia de poucos meses até anos, ocorre evolução para

cura ou para outra forma clínica (ARAÚJO, 2003).

Brasil, (2010) afirma que os achados clínicos na forma indeterminada são caracterizadas

por machas esbranquiçadas na pele (manchas hipocrônicas), únicas ou múltiplas, de limites

imprecisos e com alteração da sensibilidade, sem alterações de nervos, não havendo alterações

motoras ou sensitivas que possam causar incapacidades.

A lepra tuberculóide se inicia com lesões de pele avermelhada, localizadas e achatadas,

que aumentam e desenvolvem formas irregulares com margens hiperpigmentadas, endurecidas,

elevadas, e centros pálidos deprimidos. O envolvimento neural domina a lepra tuberculóide

(COTRAN; ROBBINS, 2010).

Cotran; Robbins, (2010), afirmam ainda que a degeneração causa anestesia da pele e

atrofia muscular, que tornam a pessoa propensa a traumas das partes afetadas, levado ao

desenvolvimento de úlceras crônicas de pele.

A forma virchowiana caracteriza-se, clinicamente, pela disseminação de lesões de pele

que podem ser eritematosas, brilhantes e de distribuição simétrica (BRASIL, 2001).

Segundo Brasil está forma constitui uma doença sistêmica com manifestações viscerais

importante especialmente nos episódios reacionais onde olhos, testículos e rins, entre outras

estruturas, podem ser afetados.

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Hanseníase dimorfa (HD) é caracterizada por lesões eritematosas, infiltrados,

edematosas e brilhantes, com centro claro ou com centro deprimido, sendo a borda interna da

lesão bem definida e a externa difusa (AGUIAR, 2009).

Aguiar (2009) diz que o comprometimento neurológico troncular é frequente, bem

como os episódios reacionais, que contribuem para um elevado potencial incapacitantes da

doença nesses pacientes.

Segundo Brasil (2002) a avaliação neurológica deve ser realizada no momento do

diagnóstico, semestralmente e na alta do tratamento, na ocorrência de neurites e reações ou

quando houver suspeita das mesmas, durante ou após o tratamento PQT e sempre que houver

queixas.

2.7 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO

A atuação do fisioterapeuta na hanseníase deve-se fazer parte de uma formação mais

ampla focada no cuidado integral ao paciente, conter a orientação sobre a doença ao doente, ao

comunicante e à população em geral; realização de diagnóstico precoce; prevenção de novos

casos; avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação de incapacidades físicas; e, por fim,

reintegração dos doentes à sociedade (DIAS, 2007).

Os principais nervos periféricos acometidos na hanseníase são os que passam:

Pela face- trigêmeo e facial, que podem causar alterações na face, nos olhos e no

nariz;

Pelos braços- radial, ulnar e mediano, que podem causar alterações nos braços e

mãos;

Pelas pernas- fibular comum e tibial posterior, que podem causar alterações nas

pernas e pés (BRASIL,2002).

Segundo Diaz et al. (2008) a facilitação neuromuscular proprioceptiva parece ser um

método mais eficiente para ganhar alongamento muscular e ADM de tornozelo e punho em

pacientes com sequela de hanseníase. Em complemento, sobre as condutas fisioterápicas que

se podem realizar com um doente de hanseníase, cita-se a cinesioterapia; educação em saúde;

estimulação da sensibilidade; eletrotermofototerapia (DIAS, 2007).

Ao concluir seu estudo de revisão Tavares et al (2013) descreveu, que o uso de técnicas

fisioterapêuticas como mobilizações ativas e/ou passivas, deslizamento tendinoso e

alongamento mioneural, agregado a um plano de exercícios favorecem a manutenção ou

melhora do trofismo, resistência muscular e reeducação da propriocepção de MMSS e MMII,

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além da confirmação de que a maioria dos pacientes referem melhora significativa e

consequente satisfação com os resultados.

Força Descrição Orientações

Forte 5 Realiza o movimento completo

contra a gravidade e com

resistência máxima

Não necessita de exercícios

Diminuída 4 Realiza o movimento completo

contra a gravidade e com

resistência parcial

Exercícios ativos com resistência

Diminuída 3 Realiza o movimento completo

contra a gravidade

Exercícios ativos com pouca ou

sem resistência

Diminuída 2 Realiza o movimento parcial Alongamento, exercícios

passivos

Exercícios com ajuda da outra

mão

Exercícios ativos sem resistência

Paralisado 1 Contração muscular sem

movimento

Alongamento, exercícios

passivos

Exercícios com ajuda da outra

mão

Paralisado 0 Paralisia (nenhum movimento) Alongamento, exercícios

passivos

Tabela 1- Descritivo para orientação de exercícios- Fonte: BRASIL, 2008

Brasil (2008) diz que os exercícios passivos são indicados para retração de tecidos moles

e paresias e paralisias, já os exercícios ativos são indicados para fraqueza muscular (paresia) e

os exercícios ativos assistidos são indicados para dedos em garra e fraqueza muscular (paresia).

Músculos Movimento

Interósseos dorsais e

palmares, abdutor do quinto

dedo e adutor do polegar

Afastar e aproximar todos os dedos simultaneamente em relação

à linha média da mão. Pode-se usar um elástico de borracha do

segundo ao quinto dedos para fazer resistência.

Lumbricais, interósseos,

abdutor curto do polegar e

oponente do polegar

Elevar os dedos a 90°, estando antes estendidos. Pode ser

realizado dedo a dedo ou em grupo, assim como pegar objetos

de tamanhos variados com a polpa dos dedos, formando pinça

ou então formar um cone com o polegar e os dedos (segundo ao

quinto).

Abdutor curto do polegar Elevar o polegar perpendicularmente à palma da mão. Pode-se

colocar um elástico ao redor da falange proximal do segundo e

terceiro dedos e falange distal do polegar para obter resistência

ao movimento.

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Extensores do punho e dos

dedos

Estender o punho, o polegar e os dedos simultaneamente.

Para articulações

interfalagianas (com ou

sem garra)

Fixar a falange proximal, estender e flexionar a falange média.

Repetir a manobra com a articulação distal, fixando a falange

média. Repetir em todos os dedos.

Para articulações

metacarpo-falangianas

Fixar os metacarpianos, flexionar e estender as falanges

proximais do primeiro ao quinto dedos.

Para a articulação rádio-

cárpica

Flexionar, estender e fazer desvio radial e ulnar do punho.

Tabela 2- Exercícios passivos, ativos e ativos assistidos para membros superiores (MMSS)-

Fonte: BRASIL, 2008

Músculos Movimento

Fibulares Realizar a eversão completa com força máxima.

Tibial anterior (para força

1)

Dorsiflexão do pé (sem gravidade).

Tibial anterior (para força

2)

Realizar dorsiflexão completa (com gravidade).

Tibial anterior (para força

3)

Realizar dorsiflexão completa com elevação gradual de

resistência

Intrínsecos do pé Realizar movimentos de flexão e extensão amassando massa de

modelar

Tibial anterior (tendão de

Aquiles)

Realizar o movimento ativo de dorsiflexão com força máxima,

para completar o movimento pode-se empurrar o pé para cima.

Indicação

Garras Apoiar nos metatarsianos, fazer mobilização passiva das

articulações do pé.

Tendão de Aquiles (pé

caído)

Flexionar o corpo e os cotovelos, sem tirar os calcanhares do

chão, mantendo a perna a ser tratada em extensão.

Tabela 3- Exercícios ativos e ativos assitidos para membros inferiores (MMII) e exercícios

para manutenção da mobilidade articular- Fonte: BRASIL, 2008

A incapacidade física é o resultado indesejado em indivíduos com hanseníase, que

indica um diagnóstico tardio da doença (CUNHA et al, 2007).

Neste mesmo sentido Oliveira (2008), afirma que as deformidades físicas em indivíduos

com hanseníase está associado ao diagnostico tardio.

Segundo Gonçalves, Sampaio e Antunes (2009) o diagnóstico de hanseníase na maioria

dos casos é tardio, pois as manchas são facilmente confundidas com várias doenças

dermatológicas, causando graves sequelas físicas limitando as atividades da vida diária do

paciente.

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O diagnóstico precoce da hanseníase é suma importância para o tratamento e evitar o

agravamento da doença e interromper a cadeia de transmissão (BRASIL,2008).

3 CONCLUSÃO

De acordo com analises teóricas realizadas foi possível perceber que apesar da

hanseníase ser uma doença infectocontagiosa crônica, tem grande importância para a saúde

pública devido à sua magnitude e seu alto poder incapacitante.

É necessário, após detectar de fato a doença, evitar a transmissão do bacilo por meio

das vias respiratórias, ou seja, secreções nasais, tosses, espirros, podendo infectar outras pessoas

suscetíveis. O bacilo de Hansen tem capacidade de infectar um enorme número de pessoas, mas

felizmente, poucas pessoas adoecem, porque a maioria apresenta capacidade de defesa do

organismo contra o bacilo.

É importante saber que a pessoa com hanseníase deixa de transmitir a doença assim

que inicia o tratamento, que pode durar entre 2 a 5 anos, então, não há nenhuma necessidade de

ser afastada do trabalho, nem do convívio familiar.

O apoio familiar e social é muito importante para o paciente com hanseníase, pois,

com o início do tratamento o indivíduo evidentemente terá quase uma garantia que não

transmitira mais a doença, isso porque quase 90 dos bacilos são eliminados com a primeira dose

do antibiótico.

O profissional de fisioterapia é de grande importância na reabilitação dos pacientes com

hanseníase, atuando na prevenção e tratamento de incapacidades físicas com os diversos

recursos que a fisioterapia disponibiliza, como alongamento, fortalecimento de musculaturas

acometidas pela patologia, podendo ser utilizados também os recursos da

eletrotermofototerapia e massagens manuais, e por fim reintegrar o doente à sociedade.

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4 REFERÊNCIAS

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Doenças Transmissíveis. 3 ed. São Paulo: Martinari, 2009.

ALVES, Elioenai Dorneles; FERREIRA, Telma Leonel; FERREIRA, Isaias Nery.

Hanseníase Avanços e Desafios. Nesprom, Brasilia DF, 2014.

ARAÚJO, Marcelo G. Hanseníase no Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina

Tropical 36(3):373-382, mai-jun, 2003.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de

Vigilância em Doenças Transmissíveis. Plano integrado de ações estratégicas de eliminação

da hanseníase, filariose, esquistossomose e oncocercose como problema de saúde pública,

tracoma como causa de cegueira e controle das geohelmintíases: plano de ação 2011-2015/

Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento Vigilância em

Doenças Transmissíveis . – 1. ed., 1. reimpr. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

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