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Rev. Saberes, Rolim de Moura, vol. 8, n. 2, jul./set, 2018. ISSN: 2358-0909.
HANSENÍASE: TRATAMENTO E PREVALÊNCIA DAS SEQUELAS
NEUROMOTORAS
Adriana Vidal de Carvalho1 Bruna Lorraine Vieira de lima1 Fabiana Cristina Gomes Fonseca1 Natalia Aparecida Ferreira Fernandes1 Tatiane Santana da Mata1 Jessica Jamali Lira2
RESUMO: A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, de evolução lenta,
caracterizada por sinais e sintomas dermatoneurológicos acometendo principalmente a pele e
nervos periféricos, resultando em deformidades e incapacidades físicas. Causada pelo
Mycrobacterium leprae também chamado bacilo de Hanse, a doença ainda hoje é considerada
um grande problema de saúde pública no Brasil. Para a confirmação da doença utiliza-se o
diagnóstico clinico e laboratorial. A patologia é transmitida por meio das vias respiratórias:
tosse e espirro com o paciente não tratado, pois o indivíduo deixa de transmitir a doença assim
que se inicia o tratamento. O trabalho abordou a importância do tratamento fisioterapêutico na
hanseníase, destacando intervenções nas diversas disfunções causadas pela doença, e com
ênfase na orientação para o hanseniano e seus familiares.
Palavras-chaves: Hanseníase. Fisioterapia. Reabilitação.
ABSTRAT: Leprosy is a chronic, slowly evolving infectious disease characterized by
dermatoneurological signs and symptoms affecting mainly the skin and peripheral nerves,
resulting in deformities and physical disabilities. Caused by Mycrobacterim leprae also called
Hansen bacillus, the disease is still considered a major public health problem in Brazil. The
clinical and laboratory diagnosis is used to confirm the disease. The pathology is transmitted
through the respiratory tract: coughing and sneezing with the untreated patient, because the
individual stops transmitting the disease as soon as treatment begins. The study addressed the
importance of physical therapy in leprosy, highlighting interventions in the various
dysfunctions caused by the disease, and with emphasis on the orientation of leprosy patients
and their families.
Keywords: Hanseniasis. Physiotherapy. Rehabilitation.
1 Discentes do 7º período do curso bacharel em fisioterapia da Faculdade São Paulo, [email protected]. ² Docente e coordenadora do curso de fisioterapia da Faculdade São Paulo, [email protected].
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1 INTRODUÇÃO
A hanseníase é uma doença existente desde a mais distante antiguidade, a mesma foi
relatada há cerca de 3 a 4 mil anos na Ásia Oriental. No Egito, foram descobertos registros em
um papiro da época do grande faraó Ramsés II, desde 4300 anos a.C. Na antiguidade para os
hebreus, ela era designada uma maldição, ou castigo celestial e não como uma doença de caráter
corporal (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
A hanseníase, doença infectocontagiosa é de desenvolvimento lenta, curável, causada
pelo Mycobacterium leprae, também conhecida como lepra. Acomete principalmente a pele e
os nervos, podendo afetar tanto a face como os membros superiores e inferiores, causando perda
da sensibilidade, fraqueza muscular e paralisia, causando incapacidades e deformidades físicas,
atingindo homens, mulheres e crianças, e é transmitida de pessoa a pessoa pelas vias aéreas
(AGUIAR; RIBEIRO, 2009).
Frequentemente, as pessoas com lepra são rejeitadas pelos amigos, pela família e pela
comunidade, tendo de enfrentar ostracismo social, isolamento, rejeição e discriminação
(HELMAN, 2009).
A hanseníase além de ser uma doença com agravantes inerentes às doenças de origem
gerada pelas deformidades e incapacidades físicas decorrentes do processo de adoecimento
ainda representa um sério problema de saúde pública no país. (BRASIL, 2008).
A descoberta precoce de casos é uma medida importante para prevenir as incapacidades
ocasionadas pela doença e para se obter controle dos focos de infecção (BRASIL, 2001).
Segundo Brasil (2008), diversos pacientes passam meses e até anos com sinais e sintomas,
consultando médicos que na maioria das vezes são dermatologistas e mesmo assim não são
diagnosticados.
O tratamento específico da pessoa com a doença, sugerido pelo Ministério da Saúde, é
a poliquimioterapia normalizado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), devendo ser
efetuado nas unidades de saúde. A poliquimioterapia é composta pelos seguintes medicamentos
rifancina, dapsona e clofazimina, com ministração associada (BRASIL, 2002).
Atualmente, a hanseníase é classificada em duas categorias distintas Paucibacilares
(formas Indeterminadas e Tuberculoide) e Multibacilares (formas Dimorfas e Virchowiana),
com a distinção entre elas influenciando a forma de tratamento recomendada (NEVILLE et al,
2009).
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2 DESENVOLVIMENTO
2.1 ASPECTOS CONCEITUAIS E HISTÓRICOS DA HANSENÍASE
A doença de Hansen é uma infecção com evolução lenta, se apresenta especialmente
pela manifestação de sinais e sintomas dermatoneurológicos podendo afetar a pele e nervos
periféricos provocando incapacidades físicas sendo capaz de causar deformidades, com isso
causando problemas de incapacidade de trabalho, limitando a vida social e abalando-se
psicologicamente o doente (BRASIL, 2002).
A hanseníase, amplamente conhecida pela designação de “lepra”, é uma doença muito
antiga, mencionada por Hipócrates, mais que encontra na bíblia, nos capítulos 13 e 14 do
Levítico, a sua conotação repugnante e terrível (QUEIROS; PUNTEL, 1997).
O bacilo foi descoberto em 1873, pelo médico Amaneur Hanser, na Noruega. Em
homenagem a seu descobridor, o bacilo é também chamado de bacilo de hansen (BRASIL,
2008).
A lepra aportou ao Brasil com os primeiros colonizadores portugueses, principalmente
açorianos, e para sua disseminação bastante contribuíram os escravos africanos. Entretanto,
outros povos posteriormente concorreram para a sua expansão. A lepra entrou por vários pontos
do litoral, sendo interessante notar que alguns focos se ampliaram enquanto outros muito se
reduziram e alguns mesmo desapareceram (BRASIL, 1960).
No Rio de Janeiro, os primeiros casos foram descritos por volta de
1600, e, em 1737, os dados mostraram a existência de 300 doentes. As
iniciativas para cuidar dos atingidos por ela começaram em 1714, em
Recife, com a fundação de um asilo para doentes e também, em 1763,
com a inauguração do Hospital dos Lázaros do Rio de Janeiro. O Hospital
dos Lázaros do Rio de Janeiro, atualmente conhecido como Hospital
Frei Antônio, localizado em São Cristóvão, na zona norte da cidade, foi
a primeira das instituições construídas com a finalidade de isolar e
cuidar (ALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2014).
No passado, pela inexistência de tratamento inadequado, as pessoas acometidas
tornavam-se vítimas de deficiências e incapacidade para o trabalho e a vida social e, geralmente
afastadas e segregadas em leprosários (AGUIAR&RIBEIRO 2009).
O uso da dapsona e seus derivados revolucionou o tratamento da hanseníase a partir de
1940 quando começa a ser utilizado em regime ambulatorial e torna o isolamento em leprosários
desnecessários. Com isso, desmistifica o tratamento que passa a ser encarada como um
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problema de saúde pública e seu tratamento indicado como atividade dos serviços gerais de
saúde (BRASIL, 2001).
2.2 EPIDEMIOLOGIA
A hanseníase é um grande obstáculo de saúde pública no Brasil e em muitos países do
mundo. A doença ocorre de forma endêmica nos países do terceiro mundo, como na Ásia, na
África e nas américas do Sul e central, locais onde se encontram os focos mais graves da doença
a nível Mundial. Entre esses países o Brasil ocupa lugar de destaque, estando atrás apenas da
Índia ao número de casos (BERNARD MACHADO,2004).
A organização mundial de saúde (OMS), afirma que a Índia é o pais mais afetado, com
mais de 127.000 casos em 2013, seguido do Brasil com 31.000 casos, Indonésia cerca de 17.000
e dois países africanos, Etiopia e República Democrática do Gongo, entre 3.500 e 4.000 novos
casos (BRASIL,2013).
O Brasil é o segundo país com maior quantidade de casos de hanseníase no mundo. Em
2011 apresentou 33.955 casos novos, com coeficiente de detecção de 17.65/100.000 habitantes
(BRASIL, 2012).
2.3 AGENTE ETIOLÓGICO
A hanseníase é ocasionada pelo Mycrobacterium leprae também chamado bacilo de
Hanse, que é um parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células da pele e por
células dos nervos periféricos, que se abriga no organismo da pessoa contaminada
(BRASIL,2002).
Mycrobacterium leprae. O organismo não cresce em meio bacteriológico ou cultura de
células. Ele pode ser cultivado nos coxins das patas de camundongos a 106/ g de tecido; em
infecções disseminadas do tatu de nove listras, ele cresce a 109 a 1010/ g (CHIN, 2002).
2.4 RESERVATÓRIO
Admite-se ser o homem o reservatório do bacilo e a única de infecção, embora o bacilo
tenha sido encontrado na natureza e em outros animais como tatu, macaco mangabei e
chimpanzé (AGUIAR & RIBEIRO,2009).
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Os seres humanos são os únicos reservatórios de significado comprovado. Os tatus
silvestres na Louisiana e nos Texas sofrem naturalmente de uma doença idêntica à lepra
experimental nesse animal e houve relatos sugerindo que a doença em tatus foi transmitida
naturalmente aos seres humanos. A lepra adquirida naturalmente foi observada em um macaco
mangabey e em um chimpanzé capturados, respectivamente, na Nigéria e em Serra Leoa
(CHIN, 2002).
O período de incubação é em média de 2 a 7 anos, podendo ir de meses a mais de 10
anos, de acordo com a intensidade da exposição e da resistência individual (AGUIAR;
RIBEIRO, 2009).
2.5 MODO DE TRANSMISSÃO E MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Para que aconteça a transmissão do bacilo é necessário ter um contato direto com doente
não tradado (BRASIL, 2011).
Brasil, 2011 ainda afirma que quando o doente inicia o tratamento quimioterápico, deixa
de transmitir a doença, pois as primeiras doses da medicação tornam os bacilos incapazes de
contaminar outras pessoas.
A doença é transmitida por meio das vias respiratória: tosse e espirro. A principal fonte
de transmissão da doença é a pessoa que ainda não recebeu tratamento medicamentoso. A
hanseníase não se passa por abraços, aperto de mão e carinho. Em casa ou no trabalho, não é
necessário separar as roupas, os pratos, os talheres e os copos (BRASIL, 2001).
Algumas vezes as lesões nodulares na pele provocadas pela hanseníase lepromatosa
ulceram. Mãos em forma de garras, artelhos em martelo, nariz em sela e lobos da orelha
pendulares são deformidades comuns (RUBIN, 2013).
2.6 DIAGNÓSTICO E FORMAS CLÍNICAS
O diagnóstico da hanseníase baseia-se nos sinais clínicos e nos sintomas característicos
da doença, ou seja, as lesões ou áreas da pele com alteração de sensibilidade e o
comprometimento dos nervos periféricos (BRASIL, 2001).
O diagnóstico clínico é realizado através do exame físico onde procede-
se uma avaliação dermatoneurológica, buscando-se identificar sinais
clínicos da doença. Antes, porém, de dar-se início ao exame físico,
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deve-se fazer a anamnese colhendo informações sobre a sua história
clínica, ou seja, presença de sinais e sintomas dermatoneurológicos
característicos da doença (BRASIL, 2002).
O quadro clínico inicial caracteriza-se pelo aparecimento de máculas hipocômicas na
pele com redução ou falta de sensibilidade térmica, dolorosa e tátil. (RAMIREZ;
MELÃO,2006).
Para o diagnóstico laboratorial utiliza comumente a baciloscopia que é o exame
microscópico do raspado intradérmico de fácil execução, pouco invasivo e de baixo custo, esse
exame é importante para auxiliar no diagnóstico diferencial com outras doenças
dermatoneurológica, casos suspeitos de recidiva e na classificação para fins de tratamento
(BRASIL, 2010)
A biópsia é um procedimento médico, consiste no exame de material coletado na borda
da lesão suspeita ou do nódulo (RAMIREZ; MELÃO,2006).
Hanseníase indeterminada (HI) é considerada a primeira manifestação clínica da
hanseníase e, após período de tempo que varia de poucos meses até anos, ocorre evolução para
cura ou para outra forma clínica (ARAÚJO, 2003).
Brasil, (2010) afirma que os achados clínicos na forma indeterminada são caracterizadas
por machas esbranquiçadas na pele (manchas hipocrônicas), únicas ou múltiplas, de limites
imprecisos e com alteração da sensibilidade, sem alterações de nervos, não havendo alterações
motoras ou sensitivas que possam causar incapacidades.
A lepra tuberculóide se inicia com lesões de pele avermelhada, localizadas e achatadas,
que aumentam e desenvolvem formas irregulares com margens hiperpigmentadas, endurecidas,
elevadas, e centros pálidos deprimidos. O envolvimento neural domina a lepra tuberculóide
(COTRAN; ROBBINS, 2010).
Cotran; Robbins, (2010), afirmam ainda que a degeneração causa anestesia da pele e
atrofia muscular, que tornam a pessoa propensa a traumas das partes afetadas, levado ao
desenvolvimento de úlceras crônicas de pele.
A forma virchowiana caracteriza-se, clinicamente, pela disseminação de lesões de pele
que podem ser eritematosas, brilhantes e de distribuição simétrica (BRASIL, 2001).
Segundo Brasil está forma constitui uma doença sistêmica com manifestações viscerais
importante especialmente nos episódios reacionais onde olhos, testículos e rins, entre outras
estruturas, podem ser afetados.
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Hanseníase dimorfa (HD) é caracterizada por lesões eritematosas, infiltrados,
edematosas e brilhantes, com centro claro ou com centro deprimido, sendo a borda interna da
lesão bem definida e a externa difusa (AGUIAR, 2009).
Aguiar (2009) diz que o comprometimento neurológico troncular é frequente, bem
como os episódios reacionais, que contribuem para um elevado potencial incapacitantes da
doença nesses pacientes.
Segundo Brasil (2002) a avaliação neurológica deve ser realizada no momento do
diagnóstico, semestralmente e na alta do tratamento, na ocorrência de neurites e reações ou
quando houver suspeita das mesmas, durante ou após o tratamento PQT e sempre que houver
queixas.
2.7 TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO
A atuação do fisioterapeuta na hanseníase deve-se fazer parte de uma formação mais
ampla focada no cuidado integral ao paciente, conter a orientação sobre a doença ao doente, ao
comunicante e à população em geral; realização de diagnóstico precoce; prevenção de novos
casos; avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação de incapacidades físicas; e, por fim,
reintegração dos doentes à sociedade (DIAS, 2007).
Os principais nervos periféricos acometidos na hanseníase são os que passam:
Pela face- trigêmeo e facial, que podem causar alterações na face, nos olhos e no
nariz;
Pelos braços- radial, ulnar e mediano, que podem causar alterações nos braços e
mãos;
Pelas pernas- fibular comum e tibial posterior, que podem causar alterações nas
pernas e pés (BRASIL,2002).
Segundo Diaz et al. (2008) a facilitação neuromuscular proprioceptiva parece ser um
método mais eficiente para ganhar alongamento muscular e ADM de tornozelo e punho em
pacientes com sequela de hanseníase. Em complemento, sobre as condutas fisioterápicas que
se podem realizar com um doente de hanseníase, cita-se a cinesioterapia; educação em saúde;
estimulação da sensibilidade; eletrotermofototerapia (DIAS, 2007).
Ao concluir seu estudo de revisão Tavares et al (2013) descreveu, que o uso de técnicas
fisioterapêuticas como mobilizações ativas e/ou passivas, deslizamento tendinoso e
alongamento mioneural, agregado a um plano de exercícios favorecem a manutenção ou
melhora do trofismo, resistência muscular e reeducação da propriocepção de MMSS e MMII,
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além da confirmação de que a maioria dos pacientes referem melhora significativa e
consequente satisfação com os resultados.
Força Descrição Orientações
Forte 5 Realiza o movimento completo
contra a gravidade e com
resistência máxima
Não necessita de exercícios
Diminuída 4 Realiza o movimento completo
contra a gravidade e com
resistência parcial
Exercícios ativos com resistência
Diminuída 3 Realiza o movimento completo
contra a gravidade
Exercícios ativos com pouca ou
sem resistência
Diminuída 2 Realiza o movimento parcial Alongamento, exercícios
passivos
Exercícios com ajuda da outra
mão
Exercícios ativos sem resistência
Paralisado 1 Contração muscular sem
movimento
Alongamento, exercícios
passivos
Exercícios com ajuda da outra
mão
Paralisado 0 Paralisia (nenhum movimento) Alongamento, exercícios
passivos
Tabela 1- Descritivo para orientação de exercícios- Fonte: BRASIL, 2008
Brasil (2008) diz que os exercícios passivos são indicados para retração de tecidos moles
e paresias e paralisias, já os exercícios ativos são indicados para fraqueza muscular (paresia) e
os exercícios ativos assistidos são indicados para dedos em garra e fraqueza muscular (paresia).
Músculos Movimento
Interósseos dorsais e
palmares, abdutor do quinto
dedo e adutor do polegar
Afastar e aproximar todos os dedos simultaneamente em relação
à linha média da mão. Pode-se usar um elástico de borracha do
segundo ao quinto dedos para fazer resistência.
Lumbricais, interósseos,
abdutor curto do polegar e
oponente do polegar
Elevar os dedos a 90°, estando antes estendidos. Pode ser
realizado dedo a dedo ou em grupo, assim como pegar objetos
de tamanhos variados com a polpa dos dedos, formando pinça
ou então formar um cone com o polegar e os dedos (segundo ao
quinto).
Abdutor curto do polegar Elevar o polegar perpendicularmente à palma da mão. Pode-se
colocar um elástico ao redor da falange proximal do segundo e
terceiro dedos e falange distal do polegar para obter resistência
ao movimento.
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Extensores do punho e dos
dedos
Estender o punho, o polegar e os dedos simultaneamente.
Para articulações
interfalagianas (com ou
sem garra)
Fixar a falange proximal, estender e flexionar a falange média.
Repetir a manobra com a articulação distal, fixando a falange
média. Repetir em todos os dedos.
Para articulações
metacarpo-falangianas
Fixar os metacarpianos, flexionar e estender as falanges
proximais do primeiro ao quinto dedos.
Para a articulação rádio-
cárpica
Flexionar, estender e fazer desvio radial e ulnar do punho.
Tabela 2- Exercícios passivos, ativos e ativos assistidos para membros superiores (MMSS)-
Fonte: BRASIL, 2008
Músculos Movimento
Fibulares Realizar a eversão completa com força máxima.
Tibial anterior (para força
1)
Dorsiflexão do pé (sem gravidade).
Tibial anterior (para força
2)
Realizar dorsiflexão completa (com gravidade).
Tibial anterior (para força
3)
Realizar dorsiflexão completa com elevação gradual de
resistência
Intrínsecos do pé Realizar movimentos de flexão e extensão amassando massa de
modelar
Tibial anterior (tendão de
Aquiles)
Realizar o movimento ativo de dorsiflexão com força máxima,
para completar o movimento pode-se empurrar o pé para cima.
Indicação
Garras Apoiar nos metatarsianos, fazer mobilização passiva das
articulações do pé.
Tendão de Aquiles (pé
caído)
Flexionar o corpo e os cotovelos, sem tirar os calcanhares do
chão, mantendo a perna a ser tratada em extensão.
Tabela 3- Exercícios ativos e ativos assitidos para membros inferiores (MMII) e exercícios
para manutenção da mobilidade articular- Fonte: BRASIL, 2008
A incapacidade física é o resultado indesejado em indivíduos com hanseníase, que
indica um diagnóstico tardio da doença (CUNHA et al, 2007).
Neste mesmo sentido Oliveira (2008), afirma que as deformidades físicas em indivíduos
com hanseníase está associado ao diagnostico tardio.
Segundo Gonçalves, Sampaio e Antunes (2009) o diagnóstico de hanseníase na maioria
dos casos é tardio, pois as manchas são facilmente confundidas com várias doenças
dermatológicas, causando graves sequelas físicas limitando as atividades da vida diária do
paciente.
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O diagnóstico precoce da hanseníase é suma importância para o tratamento e evitar o
agravamento da doença e interromper a cadeia de transmissão (BRASIL,2008).
3 CONCLUSÃO
De acordo com analises teóricas realizadas foi possível perceber que apesar da
hanseníase ser uma doença infectocontagiosa crônica, tem grande importância para a saúde
pública devido à sua magnitude e seu alto poder incapacitante.
É necessário, após detectar de fato a doença, evitar a transmissão do bacilo por meio
das vias respiratórias, ou seja, secreções nasais, tosses, espirros, podendo infectar outras pessoas
suscetíveis. O bacilo de Hansen tem capacidade de infectar um enorme número de pessoas, mas
felizmente, poucas pessoas adoecem, porque a maioria apresenta capacidade de defesa do
organismo contra o bacilo.
É importante saber que a pessoa com hanseníase deixa de transmitir a doença assim
que inicia o tratamento, que pode durar entre 2 a 5 anos, então, não há nenhuma necessidade de
ser afastada do trabalho, nem do convívio familiar.
O apoio familiar e social é muito importante para o paciente com hanseníase, pois,
com o início do tratamento o indivíduo evidentemente terá quase uma garantia que não
transmitira mais a doença, isso porque quase 90 dos bacilos são eliminados com a primeira dose
do antibiótico.
O profissional de fisioterapia é de grande importância na reabilitação dos pacientes com
hanseníase, atuando na prevenção e tratamento de incapacidades físicas com os diversos
recursos que a fisioterapia disponibiliza, como alongamento, fortalecimento de musculaturas
acometidas pela patologia, podendo ser utilizados também os recursos da
eletrotermofototerapia e massagens manuais, e por fim reintegrar o doente à sociedade.
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4 REFERÊNCIAS
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Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento Vigilância em
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_______ Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Politica Nacional de Atenção Básica / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
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_______ Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de
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