gestÃo do conhecimento no desenvolvimento de

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Programa de Pós-Graduação em Administração GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE: dimensões organizacionais da criação de conhecimento em empresa brasileira líder do setor Geraldo Magela de Oliveira Belo Horizonte 2010

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Page 1: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Administração

GESTÃO DO CONHECIMENTO NO

DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE:

dimensões organizacionais da criação de

conhecimento em empresa brasileira líder do setor

Geraldo Magela de Oliveira

Belo Horizonte

2010

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Page 3: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

Geraldo Magela de Oliveira

GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE SOFTWARE:

dimensões organizacionais da criação de conhecimento em empresa

brasileira líder do setor

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Administração da

Pontifícia Universidade Católica de Minas

Gerais, como requisito parcial para obtenção

do título de Mestre em Administração.

Orientadora: Marta Araújo Tavares Ferreira

Belo Horizonte

2010

Page 4: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Oliveira, Geraldo Magela de

O48g Gestão do conhecimento no desenvolvimento de software: dimensões

organizacionais da criação de conhecimento em empresa brasileira líder

do setor / Geraldo Magela de Oliveira. Belo Horizonte, 2010.

159f. : il.

Orientadora: Marta Araújo Tavares Ferreira

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração.

1. Gestão do conhecimento. 2. Software - Desenvolvimento. I. Ferreira, Marta

Araújo Tavares. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa

de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658.011.8

Page 5: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE
Page 6: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

A meus pais pelo carinho e exemplo, a minha esposa, Marília, pela

inspiração e a meus filhos pela paciência e compreensão.

Page 7: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me instigar a não aceitar simplesmente

as coisas como me foram apresentadas ao longo de minha vida, mas que

buscasse entendê-las, fazendo desse entendimento a base de sustentação

da minha fé.

À Fundação Dom Cabral por me permitir perceber que o conhecimento deve

ser a base de todo empreendimento.

À Professora Marta Araújo Tavares Ferreira, minha orientadora, pela

dedicação e paciência.

Ao Professor Sandro Márcio por me iniciar no estudo do conhecimento como

elemento estratégico.

A meus pais pelo incentivo e especialmente a meu pai, Sebastião Gonçalves

de Oliveira, que, apesar das poucas letras, me mostrou desde cedo que a

educação é o melhor caminho para a transformação da sociedade.

À Marília, minha amada esposa, pelo apoio incondicional a minhas aspirações

e decisões profissionais.

A meus queridos filhos, Matheus, João, Vitor e Isabella, pelo amor, carinho e

pela compreensão.

Aos amigos da Totvs, Laércio, Wilson, Wagner e Alfredo, ex-colegas de

trabalho, com quem compartilhei esforços, alegrias e frustrações, porém com

quem muito aprendi, e que me ajudaram muito neste projeto.

Finalmente, a meus amigos de mestrado, com quem compartilhei

conhecimentos, companheirismo e sonhos.

Page 8: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

“A arte suprema do mestre consiste em

despertar alegria, provocando curiosidade

pelo conhecimento criativo”.

Albert Einsten

Page 9: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Modelo SECI – Espiral do Conhecimento ...................................... 27

Figura 2 Modelo Cascata ............................................................................. 37

Figura 3 Modelo de Prototipagem ................................................................ 38

Figura 4 Modelo Incremental ........................................................................ 39

Figura 5 Modelo Espiral ............................................................................... 40

Figura 6 Componentes básicos da empresa criadora de conhecimento ..... 43

Figura 7 Ecossistema do conhecimento ...................................................... 52

Figura 8 Histórico de criação e crescimento da empresa ........................... 65

Figura 9 As quatro torres de sustentação do desenvolvimento de software 71

Figura 10 Detalhamento das torres ................................................................ 75

Figura 11 Princípios Institucionais da empresa .............................................. 78

Figura 12 Premissas da solução Totvs .......................................................... 80

Figura 13 Centro Desenvolvimento São Paulo .............................................. 94

Figura 14 TDN - Totvs Developer Network .................................................... 97

Figura 15 Comunidade TOTVS S/A no Orkut ................................................ 98

Figura 16 Youtube – mais de 340 vídeos com o termo Totvs ........................ 98

Figura 17 Relações Humanas ........................................................................ 103

Figura 18 Grade de competências - habilidades técnicas ............................. 104

Figura 19 Grade de competências - habilidades comportamentais ............... 105

Figura 20 Capacitação Técnico-Funcional ..................................................... 106

Figura 21 Portal do Aluno Totvs EAD ............................................................ 107

Page 10: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

Figura 22 Capacitação de Gestores de Alta Performance ............................. 108

Figura 23 Capacitação em Competências Essenciais ................................... 109

Figura 24 Avaliação de Desempenho ............................................................ 111

Figura 25 Programa Notáveis Talentos Microsiga ......................................... 112

Figura 26 Especificação Lógica ..................................................................... 115

Figura 27 Especificação Física ...................................................................... 116

Figura 28 Processo Planejamento ................................................................. 118

Figura 29 Processo Execução ....................................................................... 119

Figura 30 Monitoramento e Controle ............................................................. 121

Figura 31 Processo Encerramento ................................................................. 122

Figura 32 Diagrama PQ 2008-03 Processo P1 .............................................. 123

Figura 33 Detalhamento PQ 2008-03 Processo P1 ....................................... 124

Figura 34 Template Termo de Encerramento de Projeto ............................... 125

Figura 35 Portal do Analista ........................................................................... 127

Figura 36 Conceito de Ecossistema ............................................................... 128

Figura 37 Ecossistema de Conhecimento Totvs ............................................ 148

Figura 38 Coincidências em termos e conceitos ............................................ 150

Page 11: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Notas da avaliação de desempenho .............................................. 111

Quadro 2 Análise da dimensão Visão do Conhecimento ............................... 135

Quadro 3 Análise da dimensão Objetivo Direcionador .................................. 137

Quadro 4 Análise da dimensão Diálogos ....................................................... 139

Quadro 5 Análise da dimensão Prática .......................................................... 141

Quadro 6 Análise da dimensão Ba ................................................................ 144

Quadro 7 Análise da dimensão Ativos do Conhecimento .............................. 146

Quadro 8 Análise da dimensão Ambiente ...................................................... 149

Page 12: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

LISTA DE TABELA

Tabela 1 Pesquisa “O Presidente Quer Escutar Você" 2003 – 2005 .............. 100

Page 13: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

LISTA DE SIGLAS

ACR-e Atendimento Continuado e Relacionamento Externo

ADVpl Avanced Protheus Language

BPO Business Process Outsourcing

CD Centro de Desenvolvimento

CMMI Capability Maturity Model Integration

CQA Call Center Quality Assurance

DP Desenvolvimento de Produtos

EAD Educação a Distância

EAP Estrutura Analítica do Projeto

Ebitda Earnings before Interests, Taxes, Depreciation and Amortization

ERP Enterprise Resource Planning

FNC Ficha de Não-Conformidade

GC Gestão do Conhecimento

GDP Gestor de Desenvolvimento do Produto

IDE Integrated Development Environment ou Ambiente Integrado de

Desenvolvimento

IPO Initial Public Offering

KMS Knowledge Management Systems

MBA Master Business Administration

MDS Metodologia de Desenvolvimento de Sistemas

MGPS Metodologia de Gestão de Projetos de Sistema

Page 14: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

P&D Pesquisa e Desenvolvimento

PDS Processo de Desenvolvimento de Software

PMI Project Management Institute

PMP Project Management Professional

RAD Rapid Application Development

SAP Systeme, Anwendungen und Produkte in der Datenverarbeitung - Empresa

Alemã fornecedora de software

SECI Socialização Externalização Combinação e Internalização

SEI Software Enginneering Institute

SGBD Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados

SLA Service Level Agreement – Contrato de Nível de Serviço

SQA Software Quality Assurance

STEP Standard for Exchanging of Product Data

TDN Totvs Developer Network

TMS Transportation Management System

URA Unidade de Resposta Audível

XP Extreme Programming

Page 15: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

RESUMO

A Gestão do Conhecimento ganha importância na medida em que as organizações

precisam de meios mais adequados para gerenciar um recurso intangível, volátil e,

ao mesmo tempo, tão fundamental como o conhecimento e incorporá-lo a suas

estratégias e ações. No presente trabalho, analisou-se a aplicação de um modelo de

gestão do conhecimento chamado pelos seus autores de “modelo dinâmico de uma

empresa criadora de conhecimento”, que define sete componentes básicos ou

dimensões a serem trabalhadas pela organização que se quer geradora de

conhecimento: Visão do Conhecimento, Objetivo Direcionador, Diálogos, Prática,

“Ba1”, Ativos de Conhecimento e Ambiente. Essa análise foi feita em uma empresa

brasileira com cultura organizacional diferente das empresas japonesas de onde o

modelo se originou. A ampla base de clientes, a liderança no mercado nacional, a

alta representatividade na América Latina como um todo e o crescimento vertiginoso

da empresa, com a aquisição da maioria de seus concorrentes demonstram a

eficiência da empresa estudada na condução de seus negócios, que foi, por isso

mesmo, escolhida como objeto de análise. Concluiu-se que todas as dimensões do

modelo proposto se mostraram desenvolvidas na empresa, o que permite qualificá-la

como aderente ao modelo apesar de não ter se inspirado nele para implementar

suas práticas. Assim, apesar de não ser deliberadamente o motor estratégico da

empresa, o fato de todas as dimensões estarem presentes na empresa e a

importância dos fatores que o qualificam estarem presentes no processo justificam

dizer que o modelo explica a capacidade de geração de conhecimento e inovação

na empresa e também seu sucesso.

Palavras-chave: Gestão do conhecimento. Desenvolvimento de software.

Empresa Criadora de conhecimento.

1 Palavra japonesa mantida no original pelos pesquisadores Ikujiro Nonaka e Noboru Konno (1998)

por não ter uma correspondente nos idiomas ocidentais, segundo os autores. A palavra japonesa foi

mantida nesta pesquisa grafada entre aspas.

Page 16: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

ABSTRACT

Knowledge Management gains importance in that organizations need better means

to manage an intangible asset, volatile and yet so vital as knowledge, and

incorporate it into their strategies and actions. This study examined the application of

a model of knowledge management called by its authors of "dynamic model of a

knowledge-creating company" that defines seven basic components or dimensions to

be worked by the organization that wants to generate knowledge: Vision of

Knowledge, Purpose director, Dialogues, Practice, "Ba" Knowledge Assets and

Environment. This analysis was made in a Brazilian company with organizational

culture different from Japanese companies where the model was originated. The

broad customer base, leadership in the domestic market, the high representative in

Latin America as a whole and the company's rapid growth with the acquisition of

most of its competitors demonstrate the effectiveness of the company studied

conducting its business, which was therefore, chosen as object of analysis. It was

concluded that all dimensions of the proposed model proved developed at the

company allowing classifying it as an adherent to the model despite not having been

inspired by it to implement its practices. Thus, although not deliberately its strategic

engine, the fact that all dimensions are present in the company and the importance of

the factors that qualify it be present in the process, justify saying that the model

explains the capacity to generate knowledge and innovation in company and also its

success.

Keywords: Knowledge management. Software development. knowledge-

creating company.

Page 17: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................... 14 2 REFERENCIAL TEÓRICO .................................................................. 23 2.1 Conhecimento .................................................................................... 23 2.2 Conhecimento organizacional: gestão e criação ........................... 24 2.3 Geração de conhecimento e desenvolvimento de produtos ........ 29 2.4 Geração do conhecimento e desenvolvimento de software ......... 34 2.5 Condições organizacionais para criação e desenvolvimento do

conhecimento ....................................................................................

41 2.6 Elaboração do modelo de análise a partir da literatura ................. 53 3 METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................ 59 3.1 Estratégia, tipo e método de pesquisa ............................................ 59 3.2 Unidades empíricas de análise ........................................................ 60 3.3 Estratégia de coleta de dados .......................................................... 60 3.4 Estratégia de análise de dados ........................................................ 62 4 APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE NA EMPRESA ................ 64 4.1 Apresentação da empresa ................................................................ 64 4.2 Análise do processo de criação de conhecimento na empresa ... 76 4.2.1 Dimensão Visão do Conhecimento ................................................. 76 4.2.2 Dimensão Objetivo Direcionador .................................................... 79 4.2.3 Dimensão Diálogos ........................................................................... 83 4.2.4 Dimensão Prática .............................................................................. 88 4.2.5 Dimensão BA ..................................................................................... 93 4.2.6 Dimensão Ativos do Conhecimento ................................................ 101 4.2.6.1 Ativos de Conhecimento Sociais ..................................................... 102 4.2.6.2 Ativos de Conhecimento Conceituais ............................................. 114 4.2.6.3 Ativos de Conhecimento de Processos .......................................... 122 4.2.6.4 Ativos de Conhecimento Sistêmicos .............................................. 125 4.2.7 Dimensão Ambiente .......................................................................... 127 4.3 Análise do caso à luz da literatura ................................................... 132 5 CONCLUSÃO ..................................................................................... 152 5.1 Trabalhos futuros .............................................................................. 154 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 155

Page 18: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

14

1 INTRODUÇÃO

Desde a década de 80, teóricos da administração vêm preconizando a

importância crescente do conhecimento nas organizações, como Drucker (2000, p

14) que afirma que “na organização baseada em informações, o conhecimento se

situará sobretudo na base, na mente dos especialistas que executam as várias

tarefas e gerenciam-se a si próprios” e que “as empresas, principalmente as

grandes, têm pouca escolha, senão a de se converter em organizações baseadas

em informações”.

Por outro lado, desenvolver produtos é atividade em toda e qualquer

empresa, não só as industriais como também as comerciais e as de prestação de

serviços. Evidentemente, entende-se como “produto” tudo aquilo que uma empresa

“entrega” a seus clientes, o que engloba a prestação de serviços também como um

“produto”. Assim, oferecer o melhor produto de acordo com a necessidade do

público-alvo da empresa é base de toda a estratégia e fator determinante no

sucesso desta. Porém, cada vez mais, a qualificação do que seja o “melhor produto”

e “qual é a necessidade do público-alvo” têm-se mostrado tarefas razoavelmente

árduas.

Ressaltar o ambiente competitivo em que as organizações estão inseridas,

bem como suas constantes mudanças de ordem econômica, social ou tecnológica, é

um chavão repetido frequentemente. Para acompanhar e responder a todas as

mudanças e fazer desse ambiente de negócio mutante uma fonte de oportunidades,

as empresas utilizam-se de diferentes estratégias e planos de ação.

A competição tradicional entre empresas normalmente baseia-se em

melhorias de qualidade ou redução de custos. Essas melhorias podem trazer ganhos

momentâneos, porém não garantem sucesso contínuo. Produtos e serviços

inovadores são a base da estratégia das empresas que se destacam do “bando

formado pela concorrência” (KIM; MAUBORGNE, 1999).

Uma das linhas de trabalho dos estrategistas das empresas para responder a

essas questões (competitividade crescente, demanda por novos produtos, custos

menores e aproveitamento contínuo do conhecimento criado) tem sido qualificar a

inovação como um fator de geração de diferenciais competitivos, tanto na concepção

de produtos quanto na busca de novos mercados ou de encontrar respostas a

Page 19: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

15

questões abertas em antigos mercados. “Inove ou fique para trás”, afirmam Leonard

e Strauss (2000). Essa “inovação” deve ser objetivo de toda a empresa e não

somente da cúpula gestora, e sua importância obriga a empresa a olhar com novos

olhos para o capital intelectual, o relacionamento entre as equipes e o conhecimento

gerado por elas. Percebe-se, então, uma clara relação entre competitividade, gestão

do conhecimento, gestão de pessoas e desenvolvimento de produtos.

Assim, a informação e o conhecimento, bem como sua utilização de forma

estratégica, sob forma de novos produtos, e a busca de novos mercados e

processos inovadores tornam-se objetivos principais para as empresas que

realmente desejam vencer nesse mercado cada vez mais competitivo e globalizado.

O ambiente organizacional das empresas criadoras de conhecimento deve

ser criativo, favorecer o florescimento de ideias e insights expressivos e facilitar a

transmissão, entre pessoas e grupos, das informações mais importantes. Além

disso, os conhecimentos desenvolvidos ganham novos significados em diferentes

contextos na medida em que se difundem. A confusão resultante das discrepâncias

e diferenças de interpretação pode ser problemática, porém, “na verdade, essa

algaravia por vezes é fonte copiosa de novos conhecimentos – se a empresa souber

gerenciá-la” (NONAKA, 2000, p. 44).

Nesse contexto, o conhecimento passa a ser percebido como o mais valioso

ativo das organizações, não importando o setor e o ramo de atuação. Isso se aplica,

de forma especial, àquelas que se baseiam essencialmente no uso do conhecimento

como matéria-prima, como é o caso das empresas que atuam com desenvolvimento

de software, chamadas comumente de “software-houses”, em que o conhecimento

torna-se produto.

A Gestão do Conhecimento surge a partir da necessidade de as organizações

encontrarem meios mais adequados para gerenciar um recurso intangível, volátil e,

ao mesmo tempo, tão fundamental como o conhecimento, e incorporá-lo a suas

estratégias e ações.

Da mesma forma, os acadêmicos têm demonstrado crescente interesse pelo

tema, tendo desenvolvido diferentes propostas de definição do que seja a Gestão do

Conhecimento, além de proporem diferentes modelos a partir de diferentes

perspectivas de análise.

A gestão do conhecimento (GC) é um dos temas que, desde o início da

década de 1990, têm despertado maior interesse nos pesquisadores das áreas de

Page 20: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

16

administração, computação e ciência da informação. Estudo realizado por Wilson

(2002), a partir da consulta às bases de dados da Web of Science de 1981 a 2002,

constatou um crescimento exponencial de publicações com a expressão “knowledge

management” em seus títulos. Pode-se constatar que o termo aparece a partir de

1986, totalizando em torno de dez publicações na década de oitenta e menos de

vinte na primeira metade da década de noventa, saltando para mais de 140

publicações em 2002.

Mas será que a gestão do conhecimento veio para durar ou seu destino é o

mesmo da administração por objetivos, da análise transacional, da liderança

situacional, da grade gerencial, da reengenharia e de tantos outros modelos de

administração? Essa é uma questão que suscita debates. Sob uma perspectiva

temporal, Ponzi e Koenig (2002) argumentam que a gestão do conhecimento já

sobreviveu por mais tempo do que sobrevivem os modismos, aproximadamente

cinco anos. Portanto, sob esse aspecto, os autores defendem a noção de que a

Gestão do Conhecimento não é uma ideia efêmera como as demais.

Se, por um lado, a criação do conhecimento como elemento básico da

estratégia de sucesso das empresas parece ser razoavelmente aceita pela literatura,

por outro, existem fortes indícios de que a maioria das empresas não está

devidamente preparada para gerenciar adequadamente o processo de criação,

transformação e disseminação do conhecimento (SENGE, 1998; DRUCKER, 2000;

GARVIN, 2000). Mesmo entre as empresas que são citadas como referência nesse

aspecto (Honda, Canon, Sharp, GE, 3M, Xerox e outras), não existe um consenso

em relação às práticas que devem ser institucionalizadas para garantir que o ciclo de

aprendizado, assimilação e aplicação do conhecimento possa se transformar numa

opção estratégica largamente aplicável (GARVIN, 2000).

Destacam-se quatro propostas interessantes para facilitar a adoção da

Gestão do Conhecimento nas empresas: as organizações que aprendem (SENGE,

1998), a abordagem dos três M‟s (Meaning, Management e Measurement) (GARVIN,

2000), a abordagem da codificação versus personalização (HANSEN; NOHRIA;

TIERNEY, 1999) e a empresa criadora de conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI,

1997; NONAKA; TOYAMA, 2005).

A “empresa que aprende”, é definida como aquela

Page 21: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

17

[...] onde as pessoas ampliam continuamente a capacidade de criar resultados verdadeiramente desejáveis, onde se fomentam novos padrões de pensamento mais abrangentes, onde se libera a aspiração coletiva e onde constantemente se aprende a aprender em conjunto (SENGE, 1998, p.12).

Essa definição invoca a imagem de pessoas e grupos trabalhando para

melhorar a inteligência, a criatividade e a capacidade organizacional. Para tanto, as

organizações devem desenvolver cinco disciplinas para continuamente estarem em

processo de aprendizagem: maestria pessoal, relacionada com o autoconhecimento;

modelos mentais, que tratam de imagens que influenciam o modo como as pessoas

veem o mundo; objetivos comuns, que aborda as questões relacionadas à clareza e

ao compartilhamento de objetivos; aprendizado em grupo, relacionada ao

desenvolvimento de habilidades coletivas e de ações coordenadas; e pensamento

sistêmico, um modelo conceitual, formado por um conjunto de conhecimentos

ferramentas, que busca o aperfeiçoamento do processo de aprendizagem como um

todo (SENGE, 1998).

Por seu turno, Garvin (2000) propõe um modelo baseado em três pilares:

significado (Meaning), gestão (Management) e mensuração (Measurement).

Segundo o autor, as novas ideias são essenciais para o desenvolvimento do

aprendizado. Porém são incapazes de, sozinhas, criar o aprendizado organizacional

permanecendo como potencial de melhoria, caso não sejam efetivamente aplicadas

às atividades da empresa. Ou seja, o significado do aprendizado para a organização

deve se traduzir em resultados práticos. A preocupação com a gestão do

conhecimento na prática é o segundo pilar do modelo de Garvin (2000), que defende

que esta não pode ser idílica, no terreno das grandes aspirações e, sim, que se

traduza em orientações claras sobre aspectos operacionais. Por fim, o autor

sustenta que “carecemos de melhores ferramentas para avaliar a velocidade e os

níveis de aprendizado da organização, de modo a assegurar a conquista de ganhos

efetivos” (GARVIN, 2000, p. 53).

De acordo com a abordagem da codificação versus personalização, proposta

por Hansen, Nohria e Tierney, as organizações que são baseadas no conhecimento

devem adotar uma das duas estratégias de gestão do conhecimento, a saber:

estratégia de codificação e estratégia de personalização (HANSEN; NOHRIA;

TIERNEY, 1999). A estratégia de codificação é focada na utilização das tecnologias

de informação direcionadas para a codificação e o armazenamento da informação e

Page 22: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

18

do conhecimento que sejam considerados relevantes para a organização e possam

ser utilizados de forma efetiva por qualquer pessoa no momento em que se fizerem

necessários. A estratégia de personalização está relacionada às percepções e

inferências das pessoas envolvidas com as atividades da empresa e as múltiplas

formas de utilização desses pensamentos em ações, incluindo o desenvolvimento e

o compartilhamento de informações e o conhecimento com outras pessoas, em

contatos diversos, contribuindo para a geração de um aprendizado coletivo

(HANSEN; NOHRIA; TIERNEY, 1999).

Nonaka e Takeuchi (1997) consideram que o conhecimento pode ser

qualificado em tácito e explícito. Entendem como conhecimento explícito aquele que

é formalizado, articulado em linguagem formal, fórmulas e expressões. Já o

conhecimento tácito é difícil de ser articulado, envolve fatores como “crenças

pessoais, perspectivas e sistemas de valor”. Esses autores distinguem também

diferentes níveis de criação do conhecimento: do indivíduo, do grupo, da

organização e das organizações inter-relacionadas.

Na visão de Nonaka e Takeuchi, a partir do indivíduo e na conversão de

conhecimento tácito em explícito e vice-versa, opera-se a dinâmica da criação do

conhecimento, assim descrita: “A criação do conhecimento organizacional é um

processo em espiral, que começa no nível individual e vai subindo, ampliando

comunidades de interação que cruzam fronteiras entre seções, departamentos,

divisões e organizações” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 82).

A partir desses conceitos, Nonaka e Toyama (2005, p. 423) propõem um

“modelo dinâmico de uma empresa criadora de conhecimento”. Esses autores

descrevem sete componentes básicos ou dimensões a serem trabalhadas pela

organização que se quer geradora de conhecimento: Visão do conhecimento;

Objetivo direcionador; Diálogos; Prática; “Ba”; Ativos de Conhecimento e Ambiente.

Não por mera coincidência, a maioria dos estudos de casos que ilustram a

criação e gestão do conhecimento nas empresas está ligada ao desenvolvimento de

novos produtos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Existe uma estreita relação entre

desenvolvimento de novos produtos e criação do conhecimento, “porque o processo

de desenvolvimento de novos produtos é simplesmente a essência da criação do

novo conhecimento organizacional” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997 p. 270).

Nonaka e Takeuchi (1997) apontam três características necessárias para

gerenciar com sucesso o processo de desenvolvimento de produtos. Primeira, as

Page 23: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

19

empresas devem ter uma abordagem altamente flexível e adaptativa, citando como

exemplo dessa característica o setor de software. Segunda, deve utilizar-se de

equipes auto-organizadas e autônomas para supervisionar o processo de

desenvolvimento de novos produtos. Terceira, as equipes de desenvolvimento de

produtos são multidisciplinares, incluindo não-especialistas, o que acrescenta

variedade ao processo. “Assim, a criação do conhecimento organizacional é um

“derivativo” do desenvolvimento de novos produtos” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997 p.

270).

Diferentes autores propõem modelos de gerenciamento do desenvolvimento

de produtos em etapas como forma de melhor gerenciar as atividades (CLARK;

FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELRIGHT, 1993; ROZENFELD et al., 2006). As

principais etapas são: geração do conceito, planejamento do produto, engenharia do

produto, engenharia do processo e produção piloto (CLARK; FUJIMOTO, 1991).

Essas etapas podem ser conduzidas simultaneamente para que o processo

seja mais eficaz, reduzindo o tempo total do ciclo criativo (HAYES et al., 2004). Isso,

porém, implica integração harmônica entre as diversas funções e departamentos de

uma empresa (CLARK; WHEELRIGHT, 1993). Assim, são necessárias atividades

gerenciais como administração de projetos, coordenação de equipes, integração

com fornecedores, clientes e demais áreas funcionais envolvidas no processo para

garantir sua efetividade (ROZENFELD et al., 2006).

Belbaly (2006) reforça a ideia de que projetos de desenvolvimento de novos

produtos exigem estratégias e ferramentas eficientes para reduzir o tempo de

disponibilização para os clientes, o que pode determinar seu sucesso ou fracasso no

mercado. O autor acredita que a gestão do conhecimento, por meio de sistemas de

softwares específicos, chamados pelo nome genérico de KMS Knowledge

Management Systems, é a chave para reduzir o tempo de lançamento de novos

produtos no mercado pela agilização da criação, distribuição, armazenagem e

reutilização do conhecimento (BELBALY, 2006).

Cusumano e Selby (1995) exploram a maneira pela qual a Microsoft

desenvolve produtos e permanece competitiva, trabalhando com equipes

extremamente grandes, perfeitamente coordenadas, porém dando liberdade de

criação para designers, engenheiros, analistas de sistemas e pessoal de marketing.

Na visão dos autores, encontrar o perfeito equilíbrio entre coordenação e liberdade

Page 24: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

20

criativa é o dilema principal a ser encarado pelos gerentes de desenvolvimento de

produtos, tanto na indústria de software quanto em outras indústrias tradicionais.

Vários artigos publicados recentemente no VI Congresso Brasileiro de Gestão

de Desenvolvimento de Produto referem-se especificamente ao desenvolvimento de

software. Assim, Jugend et al. (2007) aplicam o conceito da Gestão da Melhoria

Contínua, Costa e Rozenfeld (2007) tratam da Gestão de Mudanças e Freitas et al.

(2007) tratam do Planejamento Estratégico de produtos e todos eles relacionam, de

alguma forma, o desenvolvimento do produto à criação e gestão do conhecimento.

Também Queiroz (2001) evidencia a importância da Gestão de Conhecimento

para empresas de software a partir da interseção de informações nos domínios da

Gestão do Conhecimento, da Engenharia de Software e da análise do perfil das

empresas de software brasileiras na área de qualidade.

Ainda na linha de pesquisa sobre a criação e gestão do conhecimento no

desenvolvimento de software, estudos de Tiwana e Mclean (2005) analisam como as

expertises individuais se propagam para toda a equipe de desenvolvimento de

sistemas de informação. Eles constataram, em pesquisa com 142 profissionais de 42

diferentes projetos de desenvolvimento, que a criatividade da equipe resulta da

integração das expertises individuais e do relacionamento próximo entre seus

membros. O desenvolvimento de sistemas de informação é um processo criativo por

natureza porque ele envolve a geração e a avaliação de novas ideias, designs,

soluções e artefatos. O ciclo de vida do desenvolvimento de sistemas envolve a

tradução de uma ideia abstrata de negócios em requisitos de projetos que são assim

usados para criar conceitos de projeto e especificações de sistemas e,

eventualmente, funcionalidades e opções na codificação de programas. Raramente

há uma “solução certa” para um problema de desenvolvimento de sistemas porque,

frequentemente, existe mais de uma possibilidade de solução para o mesmo fim.

(TIWANA; McLEAN, 2005, p.16). Assim, a pluralidade de conhecimentos traduz-se

em maior criatividade das soluções.

Esta pesquisa pretende analisar:

Como uma software-house brasileira é aderente ao modelo de empresa

geradora de conhecimento proposto por Nonaka e Toyama (2005)?

A análise será feita tomando por referência o processo de criação de

produtos, procurando-se observar as dimensões inerentes ao modelo de Nonaka e

Toyama (2005) em uma série de indicadores.

Page 25: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

21

Outra questão complementar relevante é:

Como pode ser instrumentalizada esta análise pelo uso de indicadores

organizacionais que melhor qualificam as dimensões do modelo da “empresa

geradora de conhecimento”?

Em várias linhas ou abordagens teóricas sobre Desenvolvimento de Produtos

(DP) e Gestão do Conhecimento (GC), expostas de forma resumida anteriormente e

que serão mais profundamente estudadas nos próximos capítulos, fica claro o papel

da última sobre a eficácia do primeiro. Considerando-se que o sucesso de uma

empresa está diretamente ligado e é diretamente proporcional ao desempenho de

seus produtos no mercado, é razoável supor que gerenciar adequadamente o

conhecimento criado em uma empresa traga ganhos diretos ao processo de

desenvolvimento de produto, permitindo que as organizações se posicionem de

forma mais competitiva.

O desenvolvimento de produtos é considerado um processo de negócio cada vez mais crítico para a competitividade das empresas, principalmente com a crescente internacionalização dos mercados, aumento da diversidade e variedade dos produtos e redução do ciclo de vida dos produtos no mercado (ROZENFELD et al., 2006, p. 234).

Assim, os temas competitividade empresarial, inovação, gestão do

conhecimento e desenvolvimento de (novos) produtos mostram-se intrinsecamente

ligados, relevantes e atuais.

A interligação entre os temas também pode ser observada pela análise das

abordagens teóricas que, a partir das diferentes perspectivas, conduzem a aspectos

comuns. Algumas linhas teóricas que partem da perspectiva do desenvolvimento de

produtos preconizam a melhoria do aprendizado e do trabalho com o conhecimento

(CLARK; WHEELWRIGHT, 1993). Por outro lado linhas que partem da perspectiva

da gestão do conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) mostram como este

influencia a busca de soluções e a tomada de decisões no desenvolvimento de

produtos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Dentre as muitas abordagens possíveis, optou-se por privilegiar o modelo

proposto por Nonaka e Takeuchi (1997) e Nonaka e Toyama (2005), observando-se

sua aplicação em uma empresa brasileira com cultura organizacional diferente das

empresas japonesas em que o modelo se originou. Essa escolha pode se justificar

por esse modelo ser uma abordagem mais abrangente do tema, contemplando

Page 26: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

22

aspectos direcionadores e elementos práticos mais facilmente observáveis.

Entretanto alguns elementos oriundos de outros modelos e temas aqui também

analisados foram usados para complementar a referida análise.

A empresa objeto deste estudo pode ser considerada importante por seu

porte, visto que é a líder em seu segmento de atuação e por atuar em todo o Brasil e

em vários outros países. Além disso, ela opera em uma indústria altamente

competitiva, em que estão presentes importantes competidores nacionais e

internacionais. Outra característica dessa indústria é o ciclo de renovação dos

produtos, os quais rapidamente se tornam obsoletos, exigindo que novos produtos

sejam continuamente lançados ou ampliados.

Um aspecto interessante é que, por ser o software um produto intangível,

produzido pelo intelecto humano, toda a capacidade produtiva reside nas mentes

dos programadores e engenheiros de sistema. Assim, mais do que em qualquer

outra indústria, o desenvolvimento de produtos e a gestão de pessoas mostram-se

como essenciais para o sucesso da empresa. Estabelecer um ambiente criativo é

condição primordial para garantir produtos novos, criativos, inovadores e garantir a

retenção dos melhores profissionais.

Outro aspecto específico da empresa estudada é que ela passou por um

processo recente de fusão e aquisição de antigas concorrentes. Isso obrigou a

empresa a estabelecer um programa de unificação de suas forças produtivas,

unificando também seus modelos de gestão de conhecimento, desenvolvimento de

produtos, gestão de pessoas e até mesmo de gestão estratégica.

Espera-se que essa pesquisa venha a contribuir para que as empresas

compreendam melhor o processo de criação do conhecimento e implantem

programas mais eficazes de gestão do conhecimento para apoiar sua atividade de

desenvolvimento de produtos.

Page 27: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

23

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Conhecimento

A busca de definição para o termo “Conhecimento” confunde-se com a própria

filosofia, mais especificamente com um de seus ramos, a epistemologia, também

chamada de teoria do conhecimento. Questões fundamentais como “O que é o

conhecimento?”, “Como nós o alcançamos?”, “Podemos conseguir meios para

defendê-lo contra o desafio cético?” são tão antigas quanto a filosofia, embora seu

primeiro tratamento explícito seja encontrado em Platão (427-347 a.C.), em

particular em sua obra Teeteto, que apresenta uma narração de Euclides para um

diálogo travado entre Sócrates e Teeteto. Uma definição que emerge desse diálogo

é a de que o conhecimento é “crença verdadeira justificada” (PLATÃO, 2008). Essa

definição, apesar de imperfeita em termos lógicos, parece plausível porque ela dá a

impressão de que para conhecer algo alguém deve, primeiro, acreditar nele;

segundo, a crença deve ser verdadeira; e, terceiro, a razão de alguém para acreditar

deve ser satisfatória à luz de algum critério, pois alguém não poderia dizer conhecer

algo se sua razão para acreditar fosse arbitrária ou aleatória (GRAYLING, 1996).

Existem, entretanto, sérias dificuldades e restrições a essa ideia,

especialmente porque “nossa crença na verdade de uma coisa não constitui nosso

verdadeiro conhecimento desta coisa, por isto existe uma chance, por menor que

seja, de que nossa crença esteja errada” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997 p.24). Outra

questão relevante é sobre a natureza da justificação requerida para a crença

verdadeira equivaler a conhecimento e sobre como o conhecimento é adquirido.

Duas abordagens principais divergem sobre o que constitui o meio mais importante

para obter o conhecimento. Uma é a escola "racionalista", que mantém que a razão

é responsável por esse papel. A referência de conhecimento para os racionalistas é

a matemática e a lógica, em que verdades necessárias são obtidas por inferência

racionais. A outra é a "empirista", que mantém ser a experiência, principalmente o

uso dos sentidos, ajudados, quando necessário, por instrumentos, responsável por

tal papel. A referência é a ciência natural, em que observações e experimentos são

cruciais para a investigação (GRAYLING, 1996).

Page 28: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

24

Assim, apesar das tentativas de síntese das ideias das duas correntes e suas

consequências, feitas por Kant, Hegel, Marx, Husserl, Heidegger, Sartre,

Wittgenstein e outros, o pensamento filosófico ocidental é baseado no dualismo

entre o sujeito (conhecedor) e o objeto (conhecido). “Comparar essa tradição

filosófica ocidental com a tradição intelectual japonesa, na qual a divisão entre

sujeito e objeto não tem raízes profundas, é uma excelente forma de entender os

métodos gerenciais ocidental e japonês atual” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 24).

Essa diferença básica entre a abordagem ocidental e a japonesa tem consequências

na forma como as empresas e os teóricos ocidentais enfocam a obtenção do

conhecimento, valorizando especialmente o conhecimento preciso e conceitual,

enquanto a abordagem japonesa tende a valorizar mais a incorporação da

experiência pessoal direta. As implicações dessas duas diferentes abordagens serão

tratadas nos próximos tópicos.

2.2 Conhecimento organizacional: gestão e criação

Cohen (1998) pôde observar diretamente as diferenças de abordagem entre a

cultura americana e japonesa durante um fórum sobre o conhecimento e as

organizações ocorrido na Universidade de Berkeley, tendo assim se manifestado:

Essas diferenças frequentemente, não sempre, se manifestam como contrastes na teoria e prática de japoneses e americanos. Nos Estados Unidos, o foco principal da prática de gestão de conhecimento é na coleta, distribuição, reutilização e medição do conhecimento codificado existente. Os praticantes frequentemente usam a tecnologia da informação para capturar e distribuir esse conhecimento explícito; as empresas medem o sucesso do investimento em conhecimento pelo retorno econômico de curto prazo. No Japão, a criação do conhecimento recebe maior atenção, com ênfase no desenvolvimento de condições que favoreçam a troca de conhecimento tácito entre indivíduos, um processo social pelo qual novos conhecimentos são desenvolvidos (COHEN, 1998, p. 23).

Nonaka e Takeuchi (1997) reforçam essas diferenças de abordagem fazendo

um apanhado de como o conhecimento é tratado pelas diversas teorias econômicas

e administrativas. Eles observaram primeiramente que os economistas clássicos

não estavam preocupados com a criação do conhecimento e não consideram a

Page 29: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

25

empresa como criadora do conhecimento. Chamam atenção para a escola

austríaca, representada por Frederick Hayek e Joseph A. Schumpeter, como sendo

uma das primeiras a considerar o conhecimento nos assuntos econômicos. Hayek

chama a atenção para o conhecimento implícito, específico ao contexto, enquanto

Schumpeter enfatizou a importância da combinação do conhecimento explícito.

Nonaka e Takeuchi (1997) citam também Edith Penrose, concluindo que a autora

considera a empresa como um repositório de conhecimentos, porém sem entrar em

detalhes de como os membros de uma empresa podem acumular conhecimentos.

Os autores observam ainda que a dicotomia nas abordagens científica e

humanista das escolas de Administração tem origem no dualismo entre o sujeito

(conhecedor) e o objeto (conhecido), característico do pensamento filosófico

ocidental. Assim, “de um lado está a linha „científica‟ de Taylor a Simon e a atual

preocupação com a „cientificação‟ da estratégia. Do outro lado está a linha

„humanista‟ de Mayo a Weik e a atenção recente à „cultura organizacional‟”

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 41).

Contrariando, entretanto, essa abordagem dicotômica, novas abordagens

sobre o conhecimento posicionam-se como conciliadoras, ou, pelo menos, tentam

estabelecer uma síntese entre as abordagens científica e humanista. Nessa linha de

pensamento está o Aprendizado Organizacional, corrente na qual os autores

propõem uma abordagem denominada “organização que aprende” (GARVIN, 2000;

SENGE, 1998).

Garvin (2000) afirma que uma empresa só é capaz de melhorar se aprender

coisas novas porque, na falta de aprendizado, as empresas e as pessoas repetem

as velhas práticas e os eventuais ganhos e melhorias são efêmeros. O modelo de

implementação proposto pelo autor baseia-se em três temas (3 M‟s): significado

(Meaning), gestão (Management) e mensuração (Measurement). O significado é a

definição fundamentada do conceito de organização que aprende que seja

conversível em ação e bastante aplicável. A gestão é o acompanhamento do

aprendizado, a partir de orientações claras sobre aspectos práticos. A mensuração

é o uso de ferramentas adequadas para medir os níveis de aprendizado e a

velocidade com que ele cresce na organização. A definição dada pelo autor é “[...] a

organização que aprende é a que dispõe de habilidades para criar, adquirir e

transferir conhecimentos, e é capaz de modificar seu comportamento, de modo a

refletir os novos conhecimentos e ideias” (GARVIN, 2000, p. 54).

Page 30: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

26

Ainda segundo Garvin (2000), as organizações que aprendem são

habilidosas em cinco atividades:

a) Solução de problemas: atividade baseada na filosofia e métodos da gestão da

qualidade, usando métodos científicos de diagnóstico de problemas, análise

de dados e ferramentas estatísticas;

b) Experimentação: busca sistemática e teste de novos conhecimentos. Um

exemplo dessa atividade é o uso experimental de novos materiais, novas

fórmulas e novos processos na busca de produtividade e redução de custos;

c) Aprendizado com as próprias experiências: as empresas devem analisar,

avaliar de maneira sistemática e registrar ensinamentos de seus sucessos e

fracassos;

d) Aprendizado com outros: nem todo o aprendizado deriva de reflexões e

autoanálises. O ambiente externo oferece novas perspectivas e ideias que

podem ser cruciais para uma empresa. O benchmarking é uma das formas de

aprendizado com os outros;

e) Transferência de conhecimentos: o conhecimento deve ser disseminado com

rapidez e eficiência por toda a organização. São práticas exemplares:

apresentações escritas, orais e visuais, visitas e excursões a outras

localidades, programas de rodízio de pessoal, programas de educação e

treinamento, além de programas de padronização e documentação.

A última parte é a mensuração do aprendizado, que deve ser feita

sistematicamente utilizando-se ferramentas eficientes. Na visão de Garvin (2000), os

instrumentos de medição mais comuns, as curvas de aprendizagem e de experiência

são incompletas. Esse autor sugere a utilização de outro instrumento denominado

“curva de meia-vida”, que mede o tempo necessário para atingir melhoria de 50%

em determinado indicador de desempenho.

Nonaka e Takeuchi (1997) apostam na síntese como elemento básico de seu

modelo, procurando conciliar o pensamento filosófico ocidental e a tradição

intelectual japonesa, os métodos gerenciais ocidentais e japoneses, o “preciso e

conceitual” e a experiência pessoal. O modelo propõe duas dimensões da criação do

conhecimento: a dimensão epistemológica, que distingue o conhecimento tácito do

explícito, e a dimensão ontológica, que reconhece os níveis de entidades criadoras

de conhecimento (individual, grupal, organizacional e interorganizacional). De acordo

com esses autores, o conhecimento só é criado por indivíduos e as organizações

Page 31: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

27

não criam conhecimento sem os indivíduos.

A distinção entre conhecimento tácito e explícito usada pelos autores foi

estabelecida por Michael Polanyi. O conhecimento tácito é pessoal, contextual, difícil

de ser formulado e comunicado. Já o conhecimento explícito ou codificado é

transmissível em linguagem formal e sistemática (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Ainda de acordo com Nonaka e Takeuchi (1997), esses dois conhecimentos

são mutuamente complementares e interagem um com o outro, realizando trocas

nas atividades daqueles que os possuem. Essa interação é um processo social entre

indivíduos chamado “conversão do conhecimento”. Esse processo de conversão, de

acordo com Nonaka e Toyama (2005, p. 422), ocorre de quatro diferentes modos,

definindo o chamado “processo SECI”, a saber: Socialização, Externalização,

Combinação e Internalização (Ver FIG. 1).

Figura 1: Modelo SECI – Espiral do Conhecimento Fonte: SILVA, 2002.

A criação do conhecimento tácito por meio do compartilhamento de

experiências é chamada de socialização. “A socialização é um processo de

compartilhamento de experiências e, a partir daí, da criação do conhecimento tácito

como modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas” (NONAKA;

Page 32: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

28

TAKEUCHI, 1997 p. 69). Um indivíduo pode adquirir conhecimento diretamente de

outro indivíduo como os aprendizes aprendem com os mestres pela observação. As

sessões de brainstorming e as interações diretas dos clientes com protótipos

também são formas de aprendizado por meio da socialização.

A externalização é um processo de conversão do conhecimento tácito em

explícito. Essa explicitação dá-se por meio de uma linguagem figurada, usando

metáforas, analogias, conceitos, hipóteses e modelos. “O modo de externalização da

conversão do conhecimento normalmente é visto no processo de criação do conceito

e é provocado pelo diálogo ou reflexão coletiva” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.

71).

“A combinação é um processo de sistematização de conceitos em um sistema

de conhecimento” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 75). Esse processo é a

transformação do conhecimento explícito em conhecimento explícito e acontece por

meio da troca e combinação de conhecimentos dos indivíduos em documentos,

reuniões, apresentações, redes de comunicação computadorizadas e outros meios.

Também pode ser representado pela educação e o treinamento formal dado nas

escolas, como um curso de MBA Master Business Administration ou de

especialização profissional.

“A internalização é o processo de incorporação do conhecimento explícito no

conhecimento tácito. É intimamente relacionada ao aprender fazendo” (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997, p. 78). O acesso às informações verbalizadas e diagramadas sob

forma de manuais, documentos e sistemas de informação permite que a experiência

do passado possa ser absorvida pelo indivíduo, permitindo criar novos modelos

mentais e novos conhecimentos tácitos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Os modos de conversão, isoladamente, teriam pouco valor. Porém, ao

criarem novo conhecimento, fazem-no com natureza e amplitude diferentes, além de

induzirem uma espiral na “interação contínua e dinâmica entre o conhecimento tácito

e o conhecimento explícito” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 79).

Na dimensão ontológica, o conhecimento tácito dos indivíduos constitui a

base da criação do conhecimento organizacional. Essa criação começa, então, pela

mobilização do conhecimento tácito individual pela empresa. O conhecimento tácito

mobilizado é ampliado pelos demais níveis ontológicos superiores em quatro modos

de conversão. Repete-se aqui a espiral anterior, porém agora em nova dimensão. A

essa espiral os autores chamam de “Espiral de Criação do Conhecimento

Page 33: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

29

Organizacional” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.82).

2.3 Geração de conhecimento e desenvolvimento de produtos

Segundo a definição de Clark e Fujimoto (1991), o desenvolvimento de

produtos (DP) é basicamente o esforço realizado por um conjunto de pessoas de

uma empresa na transformação de dados sobre oportunidades de mercado e

possibilidades técnicas em bens e informações para a fabricação de um produto

comercial. Esses mesmos autores destacam duas características intrínsecas do DP

e que, se adequadamente trabalhadas, resultam em produtos bem desenvolvidos: a

natureza cíclica de resolução de problemas (seguindo um ciclo de projetar, construir

e testar) e a harmonia e consistência no tratamento de detalhes.

Há diversos fatores em três níveis (mercado, corporação e empresa) que

afetam o desenvolvimento de produtos e suas características intrínsecas. Segundo

Amaral e Rozenfeld (1999), dentre esses fatores, os principais são: o grau de

inovação em que estão os produtos e processos da empresa; a complexidade do

produto; as estratégias competitivas que a empresa e a corporação adotam; o tipo

de inserção da empresa frente à corporação; o setor do mercado em que a

empresa/corporação atua; e como estão a concorrência e as perspectivas neste

setor. Esses fatores caracterizam o DP a partir do cenário ou ambiente em que está

inserido e, portanto, do qual sofrerá influência.

No sentido de melhor trabalhar o desenvolvimento de produtos e suas

características intrínsecas, reagindo-se e antecipando-se às mudanças nos fatores

que o influenciam, Rozenfeld et al. (2006), sintetizando algumas tendências atuais,

fazem as seguintes recomendações para estruturá-lo:

a) definir os limites entre o desenvolvimento de produtos e o desenvolvimento da

tecnologia, trabalhar com o conceito de plataforma e derivações, empregar

gestão de portfolio;

b) utilizar uma estrutura matricial para o desenvolvimento de produtos,

incrementar a aprendizagem organizacional no DP em programas de

educação e capacitação;

Page 34: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

30

c) utilizar padrões mundiais, como, por exemplo, o STEP (Standard for

Exchanging of Product Data), para as trocas de informações entre diferentes

sistemas;

d) integrar as técnicas, métodos, ferramentas e sistemas empregados no

desenvolvimento de produtos e customizá-las à realidade da empresa,

intensificando o uso integrado de sistemas de engenharia e de realidade

virtual e o emprego de técnicas de prototipagem;

e) empregar objetos distribuídos para a integração de sistemas/aplicativos com o

objetivo de facilitar o uso do conceito de computação colaborativa.

A necessidade de seguir essas recomendações ilustra o quanto o

desenvolvimento de produtos tem-se tornado complexo. Sua realização implica o

emprego coordenado de competências e habilidades provenientes de diversas

áreas, envolvendo várias noções gerenciais e baseando-se em uma visão sistêmica

e integrada do negócio (CLARK; WHEELWRIGHT, 1993).

Para que o desenvolvimento de produtos aconteça nesses moldes, um ponto

importante é gerenciá-lo, analisando-o de forma ampliada, considerando seu ciclo

completo, desde a fase inicial de planejamento estratégico dos mercados visados

com o novo produto até seu lançamento e previsão de descarte após o uso.

As fases em que se organiza o processo de desenvolvimento de produtos, de

acordo com Clark e Fujimoto (1991), são:

a) Conceito do produto: estágio de criação do conceito do produto em que são

avaliadas todas as hipóteses para a criação de um novo produto. Nesta

etapa, avaliam-se os objetivos e desejos dos consumidores, as possibilidades

e restrições tecnológicas e a viabilidade econômica do projeto. Esta fase gera

uma descrição ampla do produto a ser desenvolvido, além de definir aspectos

do mercado geográfico, segmentos de mercado, público-alvo, recursos

tecnológicos incorporados e outros;

b) Planejamento do produto: estágio em que se faz a ligação entre o conceito e

a engenharia por um maior detalhamento do desenvolvimento do produto.

Nesta fase, especificam-se os custos e as metas de desempenho, definem-se

componentes, estilo, acessórios agregados. O relacionamento com os

criadores do conceito é intenso para que se possa preservá-lo na medida em

que aparecem problemas de ordem prática;

c) Engenharia do produto: fase de implementação do projeto definido

Page 35: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

31

anteriormente, traduzido em termos de engenharia (desenhos e plantas,

materiais, equipamentos necessários, etc.). Compreende as etapas de:

projeto (produção de desenhos de componentes e sistemas), prototipagem

(construção de modelos plenamente funcionais) e testes (avaliação do

desempenho dos modelos criados);

d) Engenharia do processo: estágio em que se estabelece a ligação das etapas

anteriores com a linha de produção. Equipamentos, métodos e pessoas são

preparados para a produção;

e) Produção piloto: estágio final de pré-produção em que pequenos lotes são

produzidos para análise final de qualidade e desempenho dos processos e

equipamentos.

Sabe-se, porém, que nesse ciclo, na medida em que mais decisões vão

sendo tomadas na condução do desenvolvimento de produtos (em seu andamento

normal), mais encarecedora fica a necessidade de se efetuarem modificações

tardias (porque requer que muitas decisões e suas implicações sejam revistas). Ao

mesmo tempo, a dinamicidade dos contextos atuais em que o desenvolvimento de

produtos se insere torna, muitas vezes, inevitável que modificações ocorram durante

sua realização. O próprio desafio contemporâneo do desenvolvimento de produtos,

de contribuir para a “customização em massa”, isto é, a produção de produtos

personalizados em grande escala (PINE II; VICTOR; BOYNTON, 1993), requer uma

condução do desenvolvimento de produtos flexível e rápida no atendimento das

mudanças de projetos.

Assim sendo, a alternativa de condução desse ciclo em etapas sequenciais,

como tradicionalmente o desenvolvimento de produtos é realizado, apresenta sérias

limitações. Essa abordagem, ao especificar o produto somente com as pessoas das

etapas iniciais do ciclo, sem envolver as outras pessoas que participam das etapas

subsequentes, gera uma alta probabilidade de mudanças e modificações no projeto

quando as últimas etapas são atingidas. Além disso, é uma abordagem com pouca

flexibilidade e rapidez na realização dessas mudanças, e tal situação implica

incremento de custos e consideráveis atrasos devido a retrabalhos e reajustes.

Portanto, em resposta a essas restrições existentes na abordagem

sequencial, ganha espaço, desde os anos 90, uma abordagem que recomenda a

condução simultânea das atividades do DP (CLAUSING, 1994; PRASAD, 1996). A

Engenharia Simultânea (Concurrent Engineering) é o nome mais utilizado dentre as

Page 36: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

32

diversas denominações que se referem à condução simultânea das atividades do

desenvolvimento de produtos.

Nos laboratórios farmacêuticos, nas empresas de telecomunicações e na indústria de papel, a sequência tradicional de pesquisa, desenvolvimento, fabricação e marketing está sendo substituída pela sincronia: especialistas de todas essas funções trabalham juntos como uma equipe, do início da pesquisa até o lançamento do produto no mercado (DRUCKER, 2000, p. 14).

Os ganhos obtidos por essa sistemática dão-se pela redução do time-to-

market do produto e pela criação de conhecimento em espiral (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997).

Esse processo é exemplificado pelo desenvolvimento de produtos. A criação de um produto envolve uma comunidade interativa de indivíduos com históricos e modelos mentais diferentes. Enquanto o departamento de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento) focaliza o potencial tecnológico, os departamentos de produção e marketing estão interessados em outras questões. Apenas algumas dessas diferentes experiências, modelos mentais, motivações e intenções podem ser expressas em linguagem explícita. Portanto, é necessário um processo de socialização do compartilhamento do conhecimento tácito. Além disto, tanto a socialização quanto a externalização são necessárias para associar o conhecimento tácito ao conhecimento explícito dos indivíduos. [...] O produto criado por este processo coletivo e cooperativo será então analisado, verificando-se sua coerência com os conceitos intermediário e principal. É necessário outro processo em um nível mais alto para manter a integridade do todo, que levará a um outro ciclo de criação de conhecimento em um contexto mais amplo (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 83).

Considerando-se as definições e sínteses de vários autores, apresentadas

por Carter e Baker (1992), Clausing (1994) e Prasad (1996, 1997), pode-se afirmar

que os princípios fundamentais recomendados pela engenharia simultânea para o

desenvolvimento de produtos são:

a) trabalhar mais na especificação do produto no início do ciclo de

desenvolvimento de produtos, em que há menos restrições a mudanças, com

um custo de modificação menor;

b) empregar técnicas, métodos e ferramentas e aumentar a sinergia e

paralelismo nas atividades do desenvolvimento de produtos;

c) desenvolver uma maior interação entre diferentes áreas funcionais,

valorizando o trabalho em equipe, a comunicação e o acesso às informações,

a coordenação e a confiança entre os membros, e compartilhando objetivos

Page 37: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

33

acordados.

Existe, no entanto, um desafio que consiste na aplicação de todos esses

princípios de uma maneira integrada, dando-lhes uma valorização similar. Para isso,

é necessário que as pessoas que irão realizar a Engenharia Simultânea tenham uma

“visão holística” do DP (e também da empresa), o que equivale a ter uma “imagem

única”, sintética, de todos os elementos ou dimensões do desenvolvimento de

produtos, que normalmente podem ser relacionados a visões parciais, abrangendo e

inter-relacionando estratégia, atividades e informações, os recursos empregados e a

organização (ROZENFELD et al., 2006).

A grande contribuição de se possuir uma “imagem única” do desenvolvimento

de produtos evidencia-se quando se tomam decisões sobre problemas específicos

inseridos no DP, sem perder a visão de suas influências (ou consequências) no todo

(ROZENFELD et al., 2006).

Não é possível, entretanto, representar a “visão holística”. Pensar o

desenvolvimento de produtos como um processo de negócio (business process) é o

que mais se aproxima de um formalismo para a obtenção dessa visão. O emprego

da abordagem de processos de negócio no DP é frequentemente associado à

introdução parcial ou completa da filosofia de Engenharia Simultânea. Rozenfeld et

al. afirmam que:

[...] o processo de negócio representa o conjunto de atividades, associadas às informações que manipula, utilizando os recursos e a organização da empresa. Forma uma unidade coesa e está direcionado a um determinado mercado/cliente, com fornecedores bem definidos (ROZENFELD et al., 2006, p. 16).

Quatro aspectos têm sido considerados relevantes no desenvolvimento de

produtos de forma a integrar harmoniosamente todo o processo (CLARK;

FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993):

a) trabalho em equipe como forma de condução do projeto na organização;

b) desenvolvimento simultâneo e integrado;

c) capacidade da manufatura nas atividades de fabricação de protótipos,

ferramental e no início da produção;

d) envolvimento dos fornecedores durante as etapas de desenvolvimento.

Nessa mesma perspectiva, Jürgens (2000) apresenta aspectos que se

superpõem aos apresentados acima. Na visão desse autor, as áreas fundamentais

Page 38: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

34

para que a empresa alcance um rápido e integrado processo de criação de produtos

são: relação com fornecedores, organização formal, tecnologias de informação e

comunicação e desenvolvimento de recursos humanos e política de pessoal.

Também Nonaka e Takeuchi (1997) contribuem na ampliação desses

aspectos, acrescentando a participação do cliente no desenvolvimento de produtos.

“As interações com os clientes antes do desenvolvimento do produto e após seu

lançamento no mercado são, na verdade, um processo infinito de compartilhamento

do conhecimento tácito e criação de ideias para aperfeiçoamento” (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997, p. 71).

No próximo tópico, analisa-se o processo de desenvolvimento de produto

específico para o segmento de software. Observa-se que, devido à origem e

natureza comuns, o processo de desenvolvimento de software (PDS) em muito se

assemelha ao desenvolvimento de produtos de manufatura, não só na estruturação

do processo como em sua evolução e requisitos funcionais.

2.4 Geração do conhecimento e desenvolvimento de software

A Engenharia de Software é uma disciplina da engenharia que se ocupa de

todos os aspectos da produção de software. Esses aspectos englobam métodos,

ferramentas e procedimentos para o desenvolvimento profissional de software, que

inclui os programas e documentação associada. O processo de desenvolvimento de

software (PDS) pode ser definido como sendo um conjunto de atividades cuja meta é

gerar um novo produto de software ou fazer evoluir um existente (SOMMERVILLE,

2003).

Observando-se a organização das atividades em distintas fases, conforme

proposta por diferentes autores (SCHWARTZ, 1975; PRESSMAN, 1997;

SOMMERVILLE, 2003), pode-se estabelecer um processo genérico assim

constituído:

a) Especificação

Engenharia de Sistema: estabelecimento de uma solução geral para o

problema, envolvendo questões de tecnologia e equipamento;

Page 39: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

35

Análise de Requisitos: levantamento das necessidades do software a

ser implementado. A Análise tem como objetivo produzir uma

especificação de requisitos, que convencionalmente é um documento;

Especificação de Sistema: descrição funcional do sistema. Pode incluir

um plano de testes para verificar adequação;

b) Projeto

Projeto Arquitetural: nele é desenvolvido um modelo conceitual para o

sistema, composto de módulos mais ou menos independentes;

Projeto de Interface: nele cada módulo tem sua interface de

comunicação estudada e definida. Pode resultar em um protótipo;

Projeto Detalhado: nele os módulos em si são definidos, e

possivelmente traduzidos para pseudocódigo (instruções do

computador escritas pelo programador em linguagem simbólica);

c) Implementação

Codificação: a implantação em si do sistema em uma linguagem de

programação;

d) Validação

Teste de Unidade e Módulo: a realização de testes para verificar a

presença de erros e comportamento adequado relacionado às funções

e aos módulos básicos do sistema;

Integração: a reunião dos diferentes módulos em um produto de

software homogêneo, e a verificação da interação entre estes quando

operando em conjunto;

e) Evolução e Manutenção

Nesta fase, o software, em geral, entra em um ciclo iterativo que

abrange todas as fases anteriores.

A metodologia ou modelo de desenvolvimento é a maneira organizada pela

qual um software é produzido em uma empresa. A metodologia engloba o processo

a ser seguido, a nomenclatura utilizada, as regras que orientam a descrição de

rotinas, programas, módulos e sistemas. Modelos de processos diferentes oferecem

estratégias diferentes de coordenação das atividades e mecanismos próprios de

gerenciamento e controle do processo. Dessa forma surgiram várias propostas de

modelo de desenvolvimento de software. (SOMMERVILLE, 2003). A seguir, são

Page 40: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

36

apresentados alguns dos modelos mais conhecidos de desenvolvimento de

software: cascata, prototipagem, incremental, espiral e metodologias ágeis (XEXEO,

2004).

a) Modelo Cascata

O modelo cascata, que também é “ciclo de vida clássico”, foi proposto por

Royce, em 1970. Até meados da década de 1980, foi o único modelo com aceitação

geral. Este modelo foi derivado de modelos de atividade de engenharia com o fim de

estabelecer ordem no desenvolvimento de grandes produtos de software. O software

é desenvolvido em um longo processo e entregue ao final deste. O modelo sugere

laços de feedback, que permitem realimentar fases anteriores do processo, mas, em

geral, o modelo cascata é considerado um modelo linear (LEACH, 2000).

Comparado com outros modelos de desenvolvimento de software, esse é mais rígido

e menos administrativo. Conforme a Figura 2, sua abordagem para o

desenvolvimento de software é sistemática e sequencial, iniciando-se com a

especificação dos requisitos, seguindo para a criação do projeto, implantação e teste

da solução, culminando na manutenção progressiva do software em uso

(SOMMERVILLE, 2003)

Page 41: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

37

Figura 2: Modelo Cascata Fonte: SOMMERVILLE, 2003.

O modelo cascata é um dos mais importantes, porém, por sua inflexibilidade,

não se mostra capaz de responder às mudanças eventualmente requeridas pelos

clientes ao longo do ciclo de desenvolvimento. Mostra-se bastante eficiente quando

as especificações de requisitos são bem conhecidas e passadas para a equipe de

desenvolvimento (SOMMERVILLE, 2003).

b) Modelo de Prototipagem

O modelo de prototipagem possibilita que o desenvolvedor crie um modelo,

um protótipo, do software que deve ser construído idealmente. Esse protótipo serve

como um mecanismo para identificar os requisitos de software e é muito apropriado

em situações em que o cliente só define um conjunto de objetivos gerais para o

software, porém não identifica os requisitos de entrada, processamento e saída com

detalhes. Dessa forma, o protótipo auxilia o engenheiro de software e o cliente a

entenderem melhor o que deve ser construído quando os requisitos ainda estão

confusos (SOMMERVILLE, 2003). Segundo Leach (2000), o modelo de

prototipagem (FIG. 3) é iterativo e requer a criação de um ou mais protótipos como

Page 42: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

38

parte de um processo de desenvolvimento de software.

Pressman (1997) ressalta que, apesar da prototipagem poder ser usada como

um modelo de processo independente, ela é mais comumente usada como uma

técnica que pode ser implementada dentro do contexto de qualquer outro modelo.

Figura 3: Modelo de Prototipagem

Fonte: PRESSMAN, 1997.

c) Modelo incremental

Larman (2000) defende que “um ciclo de vida iterativo se baseia no aumento

e no refinamento sucessivo de um sistema através de múltiplos ciclos de

desenvolvimento de análise, de projeto, de implementação e de teste” (LARMAN,

2000, p. 86). O modelo incremental combina elementos do modelo cascata (aplicado

repetidamente) com a filosofia iterativa da prototipagem. Dessa forma, o objetivo

desse modelo é trabalhar de forma interativa com o cliente para descobrir seus

requisitos, de maneira incremental, até que o produto final seja obtido

(SOMMERVILLE, 2003).

Em cada incremento é realizado todo o ciclo do desenvolvimento de software,

do planejamento aos testes do sistema já em funcionamento (FIG. 4). Cada etapa

produz um sistema totalmente funcional, apesar de ainda não cobrir todos os

requisitos, e o primeiro incremento é frequentemente chamado de “núcleo do

Page 43: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

39

produto”. Cada incremento é entregue para avaliação, que poderá detectar,

inicialmente, problemas que poderiam ser de dimensões muito maiores se

detectados somente na entrega do produto final (PRESSMAN, 2005).

Para o desenvolvimento incremental, a fase de análise de cada incremento é

muito importante, devendo assim ser intensificada, pois é imprescindível que o

sistema seja bem projetado para que possa acomodar as mudanças posteriores.

Figura 4: Modelo Incremental

Fonte: PRESSMAN, 1997.

d) Modelo Espiral

Proposto no final da década de 80, o modelo espiral, em vez de representar o

processo de desenvolvimento de software (PDS) como uma sequência de atividades

com algum retorno de uma atividade para outra, o processo é representado na forma

de uma espiral (FIG. 5), em que cada loop na espiral representa uma fase do PDS

(SOMMERVILLE, 2003). Dessa forma, segundo Pressman (1997), o modelo espiral

combina a natureza iterativa da prototipagem com os aspectos controlados e

sistemáticos do modelo cascata.

Page 44: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

40

Figura 5: Modelo Espiral

Fonte: PRESSMAN, 1997.

e) Metodologias Ágeis

A pressão pela produtividade que as empresas sofrem no processo de

desenvolvimento de software gera interesse pelas novas técnicas com a finalidade

de acelerar o processo de desenvolvimento. Entre elas podem-se citar a própria

prototipagem, Rapid Application Development (RAD), Adaptative Programming,

Extreme Programming (XP) e toda uma gama de processos conhecidos como

metodologias ágeis (XEXEO, 2004).

O resultado do bom emprego dos conceitos de engenharia de software, por

sua vez, proporciona às empresas desenvolvedoras de software um aumento da

qualidade de seus produtos. Mas, mesmo contribuindo para o aumento da qualidade

de software, o principal problema com que se defronta a engenharia de software é a

dificuldade de medir sua qualidade. Para uma avaliação efetiva, um modelo de

qualidade deve ser claramente formalizado, estabelecendo quais os requisitos de

qualidade a serem considerados, e o processo de avaliação deve ser bem definido e

estruturado.

Devido à existência dessa dificuldade, a ISO/IEC 9126-1 (2000) fornece um

Page 45: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

41

modelo de qualidade de propósito geral, o qual define cinco categorias de

características de qualidade de software que são: funcionalidade, confiabilidade,

usabilidade, manutenibilidade e portabilidade. O modelo proposto pela ISO/IEC

9126-1 tem por objetivo servir de referência básica na avaliação de produtos de

software, que foram definidos pela ISO/IEC 12207-1(1995) como sendo programas e

procedimentos de computador, documentação e dados associados que foram

projetados para serem liberados para o usuário.

Por meio de suas pesquisas e de seus trabalhos, o Software Engineering

Institute (SEI), um departamento de pesquisas da Carnegie Mellon University,

situada em Pittsburgh, Pensilvânia, EUA, criou o Capability Maturity Model

Integration (CMMI), com o objetivo de estabelecer um modelo para medição da

maturidade e capacidade de uma organização no processo de desenvolvimento de

software. O CMMI fornece um guia para melhoria dos processos e da habilidade da

organização para gerenciar o desenvolvimento, a aquisição e a manutenção de

produtos ou serviços. Possibilita também que a organização avalie sua maturidade

ou a capacidade de áreas de processo, estabelecendo prioridades para a melhoria e

implantação dessas melhorias (CHRISSIS; KONRAD; SHRUM, 2003).

Esse modelo foi dividido em áreas de processo, que são coleções de

melhores práticas, e não existe uma correspondência biunívoca entre essas áreas

de processo e os processos da organização. Para que o modelo fosse compatível

com outros modelos, o SEI criou duas abordagens de implantação do modelo CMMI.

A primeira e mais conhecida das abordagens é o CMMI staged (por estágios) que

permite uma sequência de melhoria, a qual se inicia com práticas básicas de

gerenciamento e prossegue por meio de um conjunto predefinido de sucessivos

níveis, em que cada nível serve de pré-requisito para o próximo. Para que isso seja

possível, suas áreas de processo estão agrupadas por níveis de maturidade. O

conceito de níveis de maturidade de processo determina o quão maduro é o

processo de desenvolvimento de software ou parte dele. Dessa forma, o modelo

CMMI staged foi classificado em cinco níveis de maturidade. No nível 1, as

organizações são imaturas, e não há nenhuma metodologia implementada; no nível

2, o processo é gerenciado; no nível 3, o processo é definido; no nível 4, o processo

pode ser gerenciado empregando análises quantitativas; e, no nível 5, cada detalhe

do processo de desenvolvimento está definido, quantificado, acompanhado, e a

organização consegue até absorver mudanças no processo sem prejudicar o

Page 46: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

42

desenvolvimento (CHRISSIS; KONRAD; SHRUM, 2003).

A segunda abordagem é o CMMI continuous (contínuo), que proporciona

flexibilidade para que as organizações escolham quais áreas de processos serão

priorizadas para a melhoria, empregando o conceito de níveis de capacidade de

processo. Essa abordagem agrupa suas áreas de processo por categorias, que são:

gerenciamento do processo, gerenciamento do projeto, engenharia e suporte. Os

níveis de capacidade de processo foram categorizados como: no nível 1 –

executado, o processo satisfaz todos os objetivos específicos da área de processo;

no nível 2 – gerenciado, o processo é planejado, os recursos garantidos, as

responsabilidades atribuídas, as pessoas treinadas, as configurações gerenciadas,

os stakeholders importantes identificados e envolvidos, o processo monitorado e

controlado, a aderência avaliada objetivamente, o status revisado com alta gerência;

no nível 3 – definido, é estabelecido um processo definido (adaptado dos processos

padronizados), e informações de melhoria são coletadas; no nível 4 –

quantitativamente gerenciado, são estabelecidos objetivos quantitativos para o

processo, e o desempenho dos subprocessos é estabilizado; e no nível 5 – em

otimização, é assegurada a melhoria contínua do processo (CHRISSIS; KONRAD;

SHRUM, 2003).

2.5 Condições organizacionais para criação e desenvolvimento do

conhecimento

O “modelo dinâmico de uma empresa criadora de conhecimento onde o

conhecimento é criado por meio de interações dinâmicas com o ambiente”

(NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 423), que completa e dá continuidade ao modelo de

Nonaka e Takeuchi (1997), consiste de sete elementos representados na Figura 6.

Os autores consideram que Diálogos e Práticas são a essência do processo SECI

(Socialização, Externalização, Combinação e Internalização). Esse processo é

direcionado e impulsionado pela Visão do Conhecimento e pelo Objetivo

Direcionador e acontece em um contexto comum e compartilhado pelas pessoas,

chamado Ba, gerando Ativos de Conhecimento. O ecossistema em que os

elementos do processo de criação de conhecimento convivem e se tocam é

Page 47: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

43

chamado de Ambiente (NONAKA; TOYAMA, 2005). Assim, destacam-se essas

dimensões que são tratadas com mais detalhe em seguida:

a) Visão do Conhecimento;

b) Objetivo Direcionador;

c) Diálogos;

d) Prática;

e) “Ba”;

f) Ativos de Conhecimento;

g) Ambiente.

Figura 6: Componentes básicos da empresa criadora de conhecimento

Fonte: NONAKA; TOYAMA, 2005

a) Visão do Conhecimento

A visão orientada para o conhecimento de uma empresa nasce do confronto com a pergunta fundamental: „Por que existimos?‟ A missão e o domínio de uma empresa são definidos indo além dos lucros e perguntando: „Por que fazemos o que fazemos?’ (NONAKA; TOYAMA; 2005, p. 424).

Essa visão dá direcionamento para a criação do conhecimento por meio do

processo SECI; ela inspira a “paixão intelectual“ das pessoas encorajando-as a criar

Page 48: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

44

conhecimento. Também define um sistema de valores que serve para avaliar e

justificar o conhecimento gerado pela empresa (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Os autores citam algumas empresas como possuidoras de visões orientadas

para o conhecimento. A Olympus com seu conceito de “Social IN” propõe um

sistema de “valores para direcionar as condutas da empresa e, assim, garantir uma

vida mais saudável, feliz e significativa para a humanidade” (OLYMPUS, 2009). Esse

conceito se baseia em três “IN‟s”:

INvolvement: Envolvimento social;

INsight: Compartilhando Valores Sociais;

INspiration: Criando Valores Sociais.

A Olympus implantou, em seu organograma, grupos funcionais responsáveis

por garantir que a filosofia “Social IN” faça parte do dia-a-dia operacional e que

contribua para atingir seus objetivos de responsabilidade social empresarial. Na

opinião da empresa, essa visão guia suas ações e “reforma nossos hábitos mentais

e desafia o status quo”. Também “orienta nossa criatividade e atividade em direção

às necessidades dos clientes” (OLYMPUS, 2009).

A Honda propõe-se a realizar o valor expresso no slogan “a alegria de

comprar, a alegria de vender e a alegria de criar”. Na visão da empresa “the three

joys” – as três alegrias expressam o credo e o desejo da empresa de que cada

pessoa que ali trabalha ou entra em contato com a companhia, diretamente ou por

meio de seus produtos, deva compartilhar um senso de alegria nessa experiência.

Para os clientes, pela experiência da alegria de comprar, eles precisam receber

produtos que superem suas expectativas. A alegria de vender ocorre quando

aqueles que estão engajados na venda e prestação de serviços desenvolvem um

relacionamento com os clientes baseado na confiança mútua. Nesse

relacionamento, distribuidores e revendas experimentam orgulho e alegria em

satisfazer seus clientes. “A alegria da criação ocorre quando os associados e

fornecedores produzem produtos de qualidade que superam as expectativas dos

clientes e experimentam o orgulho de um trabalho bem feito” (HONDA, 2009).

A Eisai, uma empresa farmacêutica japonesa, também é citada por Nonaka e

Toyama (2005) como possuidora de uma visão orientada ao conhecimento. A visão,

representada pelo slogan HHC (Human Health Care), faz com que os empregados

reconheçam que a missão da empresa é estar ao lado dos pacientes e de seus

familiares e não dos médicos e farmacêuticos. “Este reconhecimento leva ao

Page 49: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

45

desenvolvimento de atividades que ajudem aos pacientes e suas famílias”

(NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 424). Muitos dos produtos desenvolvidos levaram em

conta as experiências vividas pelos funcionários junto aos pacientes e suas famílias,

sentindo as dificuldades de ministrar os medicamentos da empresa.

b) Objetivo Direcionador

Sem genuínos esforços para efetivá-la, a visão do conhecimento é pouco mais do que palavras vazias. [...] A empresa precisa de um conceito concreto, meta, ou padrão de ação para conectar a Visão com o processo de criação do conhecimento dos diálogos e práticas (NONAKA; TOYAMA, 2005 p. 424).

Assim, o Objetivo Direcionador da Visão de Conhecimento pode ser

reconhecido em conceito, meta ou padrão de ação, que direcionam o processo

SECI.

Ao questionar a essência das coisas, um objetivo direcionador dispara a

criação de conhecimento. Três exemplos, descritos a seguir, são citados por Nonaka

e Toyama (2005).

No projeto de desenvolvimento de um novo scooter, a Suzuki usa a frase “1

CC = 1000 yen”. Essa meta estabelece um desafio de produzir uma

motocicleta em um novo patamar de custo que não pode ser obtido pelo

simples corte de supérfluos. É necessário ir além, questionando a essência de

uma motocicleta e colocando nela somente as partes fundamentais. Isso não

significa instalar peças de baixo custo, mas, sim, racionalizar o projeto de

forma a reduzir o número total de peças, mesmo tendo que usar algumas de

tecnologia superior. Esse objetivo direcionador claramente orienta a empresa

como um todo, criando uma perspectiva comum para que as diversas áreas,

tais como Pesquisa e Desenvolvimento, Marketing e Fabricação, cheguem a

um acordo sobre suas eventuais diferenças.

O slogan da rede de lojas de conveniência Seven-Eleven, do Japão, é “cortar

perdas de oportunidade”. Tal slogan é usado pela empresa como objetivo

direcionador, e a proposta é evitar que os clientes venham às lojas da

empresa e não encontrem aquilo que desejam, evidentemente sem criar um

estoque exagerado em cada loja, o que geraria custos desnecessários. Nas

vésperas de datas e eventos específicos, os funcionários são encorajados a

Page 50: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

46

formular hipóteses de consumo de clientes potenciais nessas referidas datas.

Essas hipóteses são testadas pelos sistemas de gerenciamento de ponto de

venda da empresa e, a partir das simulações, é definida a reposição dos

itens. A empresa também atua junto aos fornecedores no sentido de agregar

as necessidades e os desejos dos clientes nos produtos ou desenvolver

novos produtos para atender a esses requisitos. Todas essas ações são

consistentes com a ideia proposta pelo objetivo direcionador.

A Cannon contribui com seu objetivo direcionador “fluxo de caixa”. Mais do

que apenas direcionar a organização para o lucro, tal objetivo direcionador se

propõe a fazer as pessoas na empresa a pensar como melhorar as operações

de forma a aumentar o fluxo de caixa.

O mais importante no objetivo direcionador é seu caráter atemporal além de

funcionar como um incentivo para que a empresa busque a melhoria constante rumo

à perfeição inatingível.

c) Diálogos: a síntese do pensamento

A criação do conhecimento é guiada pela síntese de contradições. O mundo está cheio de contradições; a dualidade é uma essência da realidade. Aceitando esta dualidade e sintetizando-a, pode-se ir além do “isto ou aquilo” e criar novo conhecimento para resolver contradições (NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 426).

Nonaka e Toyama (2005) consideram que a síntese das contradições e dos

diferentes pontos de vista pode ser obtida incorporando-se aspectos relevantes

dessas visões conflitantes e criando-se novos conhecimentos, em vez de

simplesmente contrapor razões ou escolher uma delas como sendo verdade

absoluta (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Um silogismo comum é usado para ilustrar o conceito. Com base nas

premissas de que “todo ser humano é mortal” e que “Sócrates é um ser humano”,

conclui-se que “Sócrates é mortal”. Apesar de ser verdade absoluta, essa lógica não

acrescenta novo conhecimento. Entretanto, ao se questionar a essência da

mortalidade (ou da imortalidade) e a contribuição do trabalho de Sócrates para a

humanidade, pode-se chegar a uma conclusão (nova) de que “o pensamento

filosófico de Sócrates é imortal” (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Page 51: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

47

Esse é o tipo síntese que pode ser obtida pelos diálogos, conforme proposto

por esses autores. O Diálogo é um método de entender ou aprender o ponto de

vista das outras pessoas, descartando preconceitos e abrindo a mente para

encontrar novas soluções para as contradições. Esse “pensamento aberto” é

fundamental para que o questionamento funcione como um catalisador para se

alcançar um nível mais alto de compreensão, aprofundando o compromisso

inspirado pela Visão e pelo Objetivo Direcionador (NONAKA; TOYAMA, 2005).

A Toyota e a Honda são citadas como exemplos de como os Diálogos são

essenciais no desenvolvimento de atividades de todos os setores da empresa.

Na Toyota, o Diálogo, entendido como uma síntese das contradições

aparentes, é incentivado pelo lema “Pergunte por que cinco vezes”. O objetivo é

buscar as causas profundas de um problema sem se deter nas causas imediatas ou

superficiais. Cada resposta obtida induz a um novo “por que” até que se entenda a

razão das contradições e, a partir daí, se encontre a solução dos problemas por

meio da síntese dessas contradições. Assim, aspectos contraditórios

(aparentemente) da produção como Custo e Qualidade podem ser compatibilizados

pela criação de um sistema de manufatura que possibilite à empresa obter um custo

de produção mais baixo, aumentando a qualidade dos produtos (NONAKA;

TOYAMA, 2005).

Na Honda, a síntese das contradições aparentes é obtida pelo modelo de

“três níveis de pergunta”. No primeiro nível, chamado “Nível A”, questionam-se as

especificações de um produto ou processo. Se, ao fazer esse tipo de

questionamento, alguma contradição aparente permanecer, como entre Potência X

Economia de Combustível para um motor, ou como entre Velocidade X Segurança,

o segundo nível de questionamento, chamado “Nível A0”, é acionado. Nesse nível,

os conceitos básicos são consultados de forma a definir o ponto entre as

contradições que melhor represente as especificações conceituais. Se ainda assim

as contradições não são resolvidas, um terceiro nível de questionamento, chamado

“Nível A00”, é acionado. Nesse nível a questão essencial é, na realidade, uma

questão existencial assim formulada: “Por que ou para que você faz isto?”. Esse

nível de questionamento pode se aplicar a um projeto de um carro específico ou a

toda a organização. Esse tipo de questionamento é feito diariamente nas operações

da empresa. Essas perguntas, altamente filosóficas e aparentemente pouco

operacionais, permitem fazer a melhor escolha entre as opções disponíveis, sem

Page 52: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

48

descartar aspectos relevantes das escolhas descartadas.

d) Prática: a síntese da ação

A Prática é um componente essencial do SECI, especificamente no que diz

respeito ao compartilhamento do conhecimento tácito pelo compartilhamento de

experiências (socialização) e à incorporação do conhecimento explícito em um

contexto novo ou particular produzindo conhecimento tácito (internalização)

(NONAKA; TOYAMA, 2005). Prática não significa simplesmente “ação”, mas, sim,

“reflexão na ação”, o que significa que o indivíduo precisa pensar profundamente

sobre o significado essencial de suas ações, entendendo-as dentro de um contexto

e, se necessário, modificando-as (NONAKA; TOYAMA, 2005).

As contradições que não forem resolvidas pela análise individual de objetivos, conforme proposto na dimensão Diálogos, podem sê-lo pela síntese de visões subjetivas e intuições adquiridas através da prática. Para tanto, é necessário eliminar noções preconceituosas para observar e experimentar a realidade como ela é (NONAKA; TOYAMA, 2005, p 427).

Um exemplo dado foi a mudança do conceito inicial de desenvolvimento da

bebida esportiva (sports drink) DAKARA pela empresa japonesa Suntory. O

conceito expresso pela frase “bebida esportiva para dar um empurrão a mais no

homem trabalhador” foi criado com base na análise do perfil de mercado

consumidor típico. Por meio da observação direta dos consumidores em bares e

restaurantes, a equipe de desenvolvimento concluiu que as bebidas esportivas eram

amplamente consumidas por pessoas esgotadas e estressadas, precisando mais de

recuperação do cansaço do que de “um empurrão a mais”. Assim o conceito original

foi mudado para “uma bebida da qual você precisa para se proteger quando as

coisas estão meio difíceis”.

Outro exemplo dessa dimensão Prática pode ser observado na Matsushita

durante o projeto de desenvolvimento da Home Bakery, uma máquina automática

de fazer pão. Para entender e experimentar o processo de fabricação de pão, uma

analista da equipe de desenvolvimento, Ikuko Tanaka, começou aprendendo com

um padeiro, depois trabalhou por um período junto com o padeiro-chefe do Osaka

International Hotel, aperfeiçoando “suas habilidades de misturar a massa através da

observação, imitação e prática” (NONAKA; TAKEUSHI, 1997, p. 116). Além dele,

outros engenheiros da Matsushita “foram levados ao hotel para misturar a massa e

Page 53: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

49

assar o pão, a fim de aprimorar sua compreensão do processo” (NONAKA;

TAKEUSHI, 1997, p. 116).

e) “Ba”

[...] definimos “Ba” como um contexto compartilhado em movimento, no qual o conhecimento é compartilhado, criado e utilizado. [...] Ba significa não só um espaço físico, mas também um tempo e lugar específicos, ou relacionamentos daqueles que estão neste tempo e lugar (NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 428).

Pode-se então afirmar que o “Ba” é um lugar metafísico em que o modelo

SECI acontece em indivíduos, grupos de trabalho, equipes de projeto, círculos

informais, encontros, newsgroups e contato direto com os clientes. Os participantes

trazem seus próprios contextos para compartilhar e criam novos significados pelas

interações (NONAKA; TOYAMA, 2005). Os autores usam o conceito de "Ba" como

um espaço de comunhão de experiências e conhecimento. Esse espaço pode ser:

físico, como é o caso dos escritórios centralizados ou descentralizados;

virtual, como é o recurso de acesso à internet e às teleconferências;

mental, que decorre do sentimento de partilha e de pertença a um grupo com

objetivos e ideais comuns;

ou uma combinação desses fatores de espaço.

O "Ba" atua como um espaço multidimensional de partilha e uma plataforma

em que a pessoa se reconhece integrada no todo, e participar num "Ba" significa

envolver-se e transcender as perspectivas limitadas e fronteiras que cada indivíduo

naturalmente cria. O conceito "Ba" vai permitir explorar a racionalidade e a intuição

num processo criativo.

Nonaka e Konno (1998) apresentam alguns exemplos de como as empresas

criam "Ba" e asseguram a transformação contínua deste. O "Ba" é gerado pela

capacidade da própria empresa com implicações sobre a concepção organizativa e

estratégica. Os autores utilizam a Sharp e a Toshiba como exemplos de "Ba" para

criar o conhecimento.

A Sharp, por exemplo, acumula conhecimento a partir de sua base de

clientes e depois as equipes de projeto desenvolvem propostas para criar novos

conceitos e melhorar a rapidez de desenvolvimento de produtos. A empresa criou o

conceito de "projetos urgentes", que são considerados estratégicos por envolverem

Page 54: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

50

ou terem impactos sobre toda a empresa. Desse modo, os projetos são

desenvolvidos fora do esquema tradicional da estrutura hierárquica.

A Toshiba recorre a agentes internos, por meio de grupos que são espécies

de divisões transcendentes. O grupo é responsável por criar o clima necessário

para que os conhecimentos dispersos se concentrem e se cristalizem em novos

produtos e negócios. A estratégia desses grupos passa por intensificar a velocidade

e a agilidade, mudar a forma de pensar, eliminando algumas das fronteiras mentais

dos indivíduos, e conseguir uma entrada oportuna em mercados emergentes.

A criação do conhecimento na perspectiva do "Ba" não é estática, mas um

processo dinâmico que exige da gestão de topo empenho e interesse, e da

administração da empresa visão, empenho pessoal, dedicação e poder para gerar a

mudança.

f) Ativos de Conhecimento

Os ativos de conhecimento, diferentemente de outros ativos, são intangíveis. São específicos de uma empresa e mudam dinamicamente. [...] Não são somente o conhecimento já existente, como know-how, marcas, patentes e tecnologias, mas também incluem o conhecimento para criar conhecimento como a capacidade organizacional de inovar (NONAKA; TOYAMA, 2005 p. 429).

Nonaka, Konno e Toyama (2000) identificam quatro tipos de Ativos de

Conhecimento:

1º) Ativos de Conhecimento Sociais: conhecimento tácito compartilhado:

competências e know-how de indivíduos;

cuidado, amor, verdade e segurança, características de uma equipe auto-

organizada, isto é, equipe de trabalho que, de forma autônoma, organiza e

distribui suas atividades entre seus membros. Uma equipe auto-organizada se

caracteriza pelos seguintes elementos:

- liderança: alta competência no gerenciamento de pessoas, definindo a

direção e solucionando conflitos;

- autonomia: capacidade de identificar e resolver problemas sem depender

de superiores hierárquicos;

- confiança entre membros da equipe: acreditar e confiar mutuamente nas

pessoas que compõem uma equipe de trabalho;

Page 55: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

51

energia, paixão e tensão criativa

2º) Ativos de Conhecimento Conceituais: conhecimento explícito articulado por

imagens, símbolos e linguagem comum:

conceito de produtos;

design;

valor de marca;

3º) Ativos de Conhecimento de Processos (Rotinas): conhecimento tácito rotinizado

e embutido em ações e práticas:

conhecimento das operações do dia-a-dia;

processos organizacionais formalizados;

“Kata”: rotina criativa, isto é, ir além da rotina formal, não a negando, mas,

sim, aplicando-a e melhorando-a continuamente, partindo sempre do princípio

que a criou e conservando a eficiência;

Cultura Organizacional;

4º) Ativos de Conhecimento Sistêmicos: conhecimento explícito sistematizado e

empacotado:

documentos, especificações, manuais;

bases de dados;

licenças e patentes.

Os ativos de conhecimentos são Entradas e Saídas do processo SECI. Isso

significa que o processo de criação do conhecimento usa os ativos de conhecimento

existentes e gera novos ativos incorporando o conhecimento criado em uma espiral

ascendente (NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 429).

g) Ambiente: ecossistema do conhecimento

O Ecossistema de Conhecimento consiste de um conjunto de Ba‟s multi-

camadas que existem dentro e através dos limites da organização evoluindo

continuamente. Empresas criam conhecimento pela síntese de seus próprios

conhecimentos e do conhecimento de vários agentes externos como clientes,

fornecedores, concorrentes ou universidades (NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 430).

Page 56: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

52

Figura 7: Ecossistema do conhecimento

Fonte: NONAKA e TOYAMA, 2005.

Pela interação com o ecossistema a empresa cria conhecimento e o

conhecimento gerado modifica o ecossistema. A organização e o ambiente podem

ser mais bem entendidos como se desenvolvendo em conjunto e não como

entidades separadas (NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 430).

Em vez de olhar para o ambiente externo como uma estrutura de indústria

(com suas oportunidades e ameaças), os gerentes devem entender esse ambiente e

vivenciá-lo para ele seja uma fonte segura de informações para tomada de decisões

estratégicas (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Existe um desafio a ser enfrentado pelas empresas que vivenciam esse

ambiente, porque, ao mesmo tempo em que elas precisam compartilhar seu

conhecimento com o ambiente em que estão inseridas para gerar novos

conhecimentos, elas precisam proteger seus ativos de conhecimento como fonte de

vantagem competitiva (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Page 57: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

53

2.6 Elaboração do modelo de análise a partir da literatura

Para analisar-se a capacidade de criação de conhecimento em uma software-

house, neste estudo toma-se por base o modelo de Nonaka e Toyama (2005). Para

complementar e facilitar a avaliação de aplicação do modelo, recorre-se a diferentes

autores que apontaram variáveis organizacionais (fatores) importantes para cada

uma das dimensões do modelo. Considera-se a existência e significância desses

fatores como indicadores do desenvolvimento de cada dimensão na empresa

pesquisada.

a) Dimensão Visão do Conhecimento

Nessa dimensão, as duas perguntas fundamentais de uma empresa são: Por

que existimos? e Por que fazemos o que fazemos? Essas perguntas são o ponto de

partida para definir a missão e a visão de uma empresa. Segundo Nonaka e Toyama

(2005), essa missão e visão devem dar direcionamento para a criação do

conhecimento por meio da espiral do conhecimento.

Assim, ao estudar-se uma empresa, sua ideologia deverá ser pesquisada

para identificarem-se aspectos que confirmem ou não esse direcionamento para a

criação do conhecimento. Os seguintes elementos deverão ser pesquisados,

segundo esses autores:

Missão: porque a empresa existe. Essa missão dá direcionamento para a

criação do conhecimento? (NONAKA; TOYAMA, 2005);

Visão: o que a empresa quer ser em um horizonte de médio prazo. Essa visão

inspira a “paixão intelectual“ dos membros da organização encorajando-os a

criar conhecimento? Essa visão dá direcionamento para a criação do

conhecimento em espiral? (NONAKA; TOYAMA, 2005);

Valores: princípios que direcionam os comportamentos dos membros da

empresa. O sistema de valores serve para avaliar e justificar o conhecimento

gerado pela empresa? (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Page 58: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

54

b) Dimensão Objetivo Direcionador

Como transformar a Visão em objetivos práticos? Mais importante do que

estabelecer um slogan é criar um processo sistemático de transformação da visão

em produtos e serviços que atendam às necessidades dos clientes e da empresa.

Para avaliar a existência de um objetivo direcionador, é possível analisar o

processo de planejamento estratégico da empresa visando encontrar elementos que

sintetizem um objetivo direcionador.

Nessa análise, podem ser avaliados os seguintes aspectos da estratégia

ressaltados por Amaral e Rozenfeld (1999): estratégias competitivas, isto é, as

opções estratégicas adotadas pela empresa; setor/mercado em que a corporação

atua, traduzidos em locais, nichos ou segmentos de atuação; portfolio de produtos,

analisado pela definição da carteira de produtos, quais devem ser criados e quais

devem ser descontinuados; inovação de produtos e processos, representada pelos

diferenciais apresentados por produtos e processos em relação ao que é oferecido

pela concorrência.

Conforme já discutido na seção 2.3, o Desenvolvimento de Produtos (DP)

exige o emprego de competências e habilidades provenientes de diversas áreas,

envolvendo várias noções gerenciais e necessitando uma visão sistêmica e

integrada do negócio (CLARK; WHEELWRIGHT, 1993), reforçando a necessidade

de se ter um Objetivo Direcionador, que oriente as ações da área. Analisando-se as

fases do processo de DP propostas por Clark e Fujimoto (1991), observa-se a

importância desse direcionamento principalmente nas fases de Conceito,

Planejamento e Engenharia do Produto.

Assim, busca-se nesses aspectos a tradução da ideologia da empresa em um

objetivo direcionador.

c) Dimensão Diálogos

O diálogo é uma forma efetiva de transformar o conhecimento tácito em

explícito (externalização) e de sistematizar o conhecimento explícito, aprofundar e

criar novo conhecimento (combinação) por meio da síntese das contradições

(NONAKA; TOYAMA, 2005).

O exercício da síntese de contradições nos Diálogos pode ser pesquisado no

processo de desenvolvimento de produtos (DP). Para tanto, observam-se quatro

Page 59: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

55

aspectos considerados relevantes no DP de forma a integrar harmoniosamente todo

o processo (CLARK; FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993) e um

quinto aspecto ressaltado por Nonaka e Takeushi (1997):

1º) Trabalho em equipe como forma de condução do projeto na organização

Eventualmente, as equipes podem se organizar de forma matricial que é a

estruturação de equipes multifuncionais, em que os membros podem responder

funcionalmente a um gerente e hierarquicamente a outro (CLARK; FUJIMOTO,

1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993).

2º) Desenvolvimento simultâneo e integrado

Permite a interação entre diferentes áreas funcionais: integração entre

departamentos e pessoas em uma empresa em torno de objetivos comuns (CLARK;

FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993).

3º) Capacidade da manufatura nas atividades de fabricação de protótipos,

ferramental e no início da produção (CLARK; FUJIMOTO, 1991; CLARK;

WHEELWRIGHT, 1993).

Esse aspecto relaciona-se melhor com a Dimensão Prática, analisada em

seguida.

4º) Envolvimento dos fornecedores durante as etapas de desenvolvimento (CLARK;

FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993).

5º) Interação com clientes antes do desenvolvimento do produto e após seu

lançamento no mercado (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 71).

d) Dimensão Prática

Como afirmado a Prática é um componente essencial da espiral de criação do

conhecimento (SECI), especificamente no que diz respeito ao compartilhamento do

conhecimento tácito pelo compartilhamento de experiências (socialização), e à

incorporação do conhecimento explícito em um contexto novo ou particular

produzindo conhecimento tácito (internalização) (NONAKA; TOYAMA, 2005). Assim,

esses dois elementos do ciclo criativo do conhecimento são pesquisados em suas

manifestações:

Socialização

Criação de conhecimento tácito por meio do compartilhamento de

experiências, por exemplo, brainstorming, aprendizado artesão/aprendiz e

compartilhamento de experiências (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 69-70);

Page 60: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

56

Internalização

Conversão do conhecimento explícito em tácito. “Para que o conhecimento

explícito se torne tácito, é necessária a verbalização e a diagramação do

conhecimento sob a forma de documentos, manuais ou histórias orais” (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997, p. 77-78). Isso pode ser facilitado no desenvolvimento de

produtos de software por meio de uma metodologia de desenvolvimento, que é uma

sistemática de trabalho englobando técnicas, métodos, ferramentas e sistemas

empregados no processo de desenvolvimento de software (SOMMERVILLE, 2003).

Essa metodologia, por sua vez, pode incluir uma ferramenta de prototipagem, que é

a elaboração de unidade de produto construída artesanalmente para fins de

verificação de requisitos (PRESSMAN, 1997; LEACH, 2000; SOMMERVILLE, 2003).

e) Dimensão Ba

Conforme ressaltado na seção 2.5, Nonaka e Toyama (2005, p. 428)

consideram que “o „Ba‟ é um lugar metafísico em que o modelo SECI acontece em

indivíduos, grupos de trabalho, times de projeto, círculos informais, encontros,

newsgroups e outras redes sociais virtuais e no contato direto com os clientes”.

A rede de informações ou base de conhecimento, que é o conjunto de

equipamentos, sistemas e conteúdo em que estão registrados documentos,

experiências e ferramentas à disposição dos técnicos de uma empresa, pode ser

enquadrada dentro dessa dimensão, pois, segundo esses autores, “a combinação é

um processo de sistematização de conceitos em um sistema de conhecimento”

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 75).

Nonaka e Toyama definem o “‟ba‟ como um contexto compartilhado em

movimento em que os participantes trazem seus próprios contextos para

compartilhar e criar novos significados por meio de interações” (NONAKA; TOYAMA,

2005, p. 428).

A construção do “ba", no dia-a-dia de uma empresa de produção de

softwares, pode ser avaliada por aspectos práticos como:

acesso às informações, que é a democratização de informações e

conhecimentos que podem ser usados no processo de produção de

conhecimento e produtos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997);

Page 61: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

57

computação colaborativa, que são trabalhos e projetos construídos em

conjunto usando sistemas de computador que permitem o compartilhamento e

a atuação simultânea (ROZENFELD et al., 2006).

Complementando esses dois aspectos, avaliam-se, a seguir, se a equipe, a

exemplo da Sharp, acumula conhecimento a partir de sua base de clientes e se esse

conhecimento é usado pelos times de projeto para desenvolver propostas para criar

novos conceitos e melhorar a rapidez de desenvolvimento de produtos. Da mesma

forma, avalia-se, ainda, o quanto os círculos informais, encontros, newsgroup e

redes sociais virtuais são instrumentos de compartilhamento e criação de

conhecimentos.

f) Dimensão Ativos do Conhecimento

Os ativos relacionados por Nonaka, Konno e Toyama (2000) foram

pesquisados na empresa a partir dos exemplos citados pelos autores, porém, mais

do que inventariá-los, a intenção da pesquisa foi identificar a importância que esses

ativos têm para a empresa e qual sua relevância no desenvolvimento de produtos.

Os elementos indicadores da dimensão podem ser identificados pelo conjunto

de ativos encontrados e por seu grau de importância no processo criativo. Assim, as

competências e know-how dos indivíduos colocados a serviço de uma equipe auto-

organizada que demonstre energia, paixão e tensão criativa poderão explicitar ativos

de conhecimento sociais (NONAKA; KONNO; TOYAMA, 2000) relevantes.

A forma como a empresa conceitua, desenha e desenvolve produtos pode se

mostrar um ativo de conhecimento conceitual (NONAKA; KONNO; TOYAMA, 2000)

que gere conhecimento explícito. Essas etapas podem ser conduzidas

simultaneamente para que o processo seja mais eficaz, reduzindo o tempo total do

ciclo criativo (HAYES et al. 2004). Isso, porém, implica uma integração harmônica

entre as diversas funções e departamentos de uma empresa (CLARK;

WHEELRIGHT, 1993).

O grau de formalização dos processos e o conhecimento das operações

podem ser utilizados de forma criativa ou burocrática, segundo Nonaka e Toyama

(2005). São buscados, na cultura organizacional, fatores que demonstrem a

utilização desses ativos de forma criativa, configurando os ativos de conhecimento

de processos (NONAKA; KONNO; TOYAMA, 2000).

Page 62: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

58

Também podem ser avaliadas as fontes de conhecimento explícito na forma

de documentação (manuais e bases de conhecimento eletrônicos), manuais e

softwares de apoio.

g) Dimensão Ambiente

Como ressaltado por Rozenfeld et al. (2006), são necessárias atividades

gerenciais como administração de projetos, coordenação de equipes, integração

com fornecedores, clientes e demais áreas funcionais envolvidas no processo de

desenvolvimento de produtos para garantir sua efetividade. Nessa dimensão são

analisados os relacionamentos da empresa pesquisada com outras entidades

externas relacionadas:

relacionamento com clientes: como a proximidade com clientes ajuda a

identificar aquilo que eles precisam ou esperam dos produtos de uma

empresa?

relacionamento com fornecedores e parceiros: como o estabelecimento de

parcerias e alianças estratégicas cria um ambiente propício para gerar novos

conhecimentos?

relacionamento com universidades: como o estabelecimento de convênios e

programas com escolas regulares para ensino do produto pode gerar

profissionais competentes para a empresa e o mercado?

relacionamento com concorrentes: Garvin (2000) também reforça que o

ambiente externo oferece novas perspectivas e ideias que podem ser cruciais

para uma empresa. O benchmarking é uma das formas de aprendizado com

os outros. Como o benchmarking e o trabalho conjunto com concorrentes

podem criar um ambiente adequado à criação de conhecimento?

Page 63: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

59

4 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Estratégia, tipo e método de pesquisa

Optou-se pela realização de uma pesquisa qualitativa do tipo descritiva. A

pesquisa qualitativa é a mais indicada quando o estudo é de caráter descritivo e o

que se busca é o entendimento do fenômeno como um todo (GODOY, 1995a).

Alguns aspectos essenciais identificam as pesquisas qualitativas (GODOY, 1995a):

a) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o

pesquisador como instrumento fundamental e tem como preocupação o

estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural;

b) a pesquisa qualitativa é descritiva: a palavra escrita ocupa o lugar de

destaque nessa abordagem;

c) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida é a preocupação

essencial do investigador. O pesquisador tenta compreender os fenômenos

estudados a partir da perspectiva dos participantes;

d) os pesquisadores utilizam o enfoque indutivo na análise de seus dados, isto é,

não partem de hipóteses estabelecidas a priori e sim de questões de

interesse amplo que vão se refinando ao longo do estudo. As abstrações são

construídas a partir dos dados. O quadro teórico é construído aos poucos, à

medida que o pesquisador coleta dados.

O método de pesquisa escolhido é o estudo de caso por ser o tipo de

pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. O estudo de

caso é o método utilizado em diversas situações dentro dos estudos organizacionais,

que contribui para a compreensão de fenômenos sociais complexos (YIN, 2001). O

pesquisador pode optar pelo estudo de situações não usuais (casos raros ou

excepcionais) ou situações típicas (similares a muitas outras de mesmo tipo)

(GODOY, 1995b). É bastante usado quando:

a) o pesquisador quer responder como e por que determinados fenômenos

ocorrem;

b) há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados;

c) o foco de interesse é um fenômeno atual.

Page 64: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

60

O método produz relatórios de estilo informal e narrativo, ilustrados com

citações, exemplos e descrições fornecidos pelos próprios participantes da pesquisa.

Pode ser complementado por desenhos, colagens ou qualquer outro material

iconográfico, além de eventuais dados quantitativos para aclarar aspectos

específicos do objeto de estudo (GODOY, 1995b).

3.2 Unidades empíricas de análise

Alguns aspectos foram observados para selecionar a unidade empírica de

análise. Entre eles destacam-se:

a) Trata-se de um caso raro ou extremo (YIN, 2001). O caso é raro porque,

apesar de a TOTVS S.A, empresa escolhida como objeto da análise, ser uma

software-house como muitas, alguns aspectos fundamentais a diferenciam, como o

porte e o domínio do mercado de softwares aplicativos, chamados de ERP –

Enterprise Resource Planning (o Brasil é o único mercado no mundo onde a

empresa alemã SAP Systeme, Anwendungen und Produkte in der

Datenverarbeitung, empresa Alemã fornecedora de software, não é a líder). Além

disso, a empresa passou por processos recentes de fusão e aquisição da

Logocenter, RM Sistemas e Datasul, suas maiores concorrentes nacionais, além da

SISPROS no México. Assim, apesar de ser um único caso, dentro dele serão

analisadas diferentes realidades, além de se ter oportunidade de observar os

esforços de unificação, que impactam diretamente no tema da pesquisa;

b) Houve acesso facilitado ao local onde o estudo foi realizado (GODOY,

1995b) e a todo o corpo diretivo da empresa. Por ter se relacionado com a empresa

por mais de 25 anos como cliente, funcionário, consultor e franqueado, o

pesquisador tem familiaridade com suas estruturas, seus processos e pessoas

responsáveis.

3.3 Estratégia de coleta de dados

O estudo de caso, como qualquer outro método qualitativo, estrutura-se

frequentemente contando como principal fonte de dados os depoimentos e as

Page 65: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

61

observações. Utilizam-se, porém, muitas outras fontes de dados, inclusive

quantitativas (BONOMA, 1985).

A observação tem papel fundamental no estudo de caso e pode ser de caráter

participante ou não-participante. Apesar de manter uma perspectiva de totalidade, o

pesquisador deve focar sempre seus objetivos, sob pena de coletar montanhas de

dados que não dizem nada ou quase nada sobre o assunto. Utilizam-se as

anotações ou gravações para registrar as informações e observações pertinentes

(GODOY, 1995b).

A entrevista é uma técnica amplamente usada em conjunto com a

observação. Yin (2001) descreve algumas formas de entrevista, tais como entrevista

espontânea, que permite a investigação de fatos e percepções do entrevistado

diante de um dado evento; entrevista focal, que tem também um caráter informal e

espontâneo, porém conta com um roteiro estruturado de questões; entrevista formal,

caracterizada por questões mais estruturadas.

Foram realizadas as seguintes entrevistas de forma a avaliar inicialmente os

indicadores listados na seção 2.5, confirmando-os e complementando,

eventualmente, a lista:

˗ Presidente;

˗ Vice-presidente de Desenvolvimento de Sistemas (VPDS);

˗ Gerente de Engenharia (GE) do Centro de Desenvolvimento Protheus São

Paulo;

˗ Gerente de Desenvolvimento de Produto (GDP) Materiais do Centro de

Desenvolvimento Protheus – São Paulo;

˗ Gerente de Inovação (GI) do Centro de Desenvolvimento Logix Joinville;

˗ Gerente de Engenharia (GE) do Centro de Desenvolvimento Corpore Belo

Horizonte.

A análise documental é uma técnica que se utiliza dos conteúdos escritos em

jornais, dissertações, redações e outros documentos, como fonte de informações.

Buscam-se descrições e interpretações do conteúdo de mensagens (MARTINS,

1994). Alguns arquivos foram pesquisados em busca de evidências sobre os fatores

relacionados neste estudo, entre eles:

˗ Pesquisas de clima “O Presidente quer Escutar Você” de anos anteriores;

˗ Documentação da empresa sobre estrutura, marketing, hierarquia, equipes,

etc.;

Page 66: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

62

˗ Metodologia de desenvolvimento;

˗ Livro Genoma Empresarial: Incluindo História e Trajetória Microsiga;

˗ Apresentações institucionais em arquivo.

A observação participante é

[...] um processo no qual a presença do observador, numa situação social, é mantida para fins de investigação científica. O observador está em relação face-a-face com os observados, e, em participando com eles em seu ambiente natural de vida, coleta dados (MARTINS, 1994, p.4).

Assim, a observação participante foi utilizada para verificar o funcionamento

de algumas estruturas identificadas anteriormente, tendo o autor participado de

alguns eventos para a coleta de informações tais como:

˗ reunião anual da equipe de desenvolvimento (ETM – Encontro Técnico

Microsiga);

˗ reunião mensal de equipes;

˗ reunião semanal de desenvolvimento;

˗ reunião para definição de conteúdo da “release”.

Com o uso desses três instrumentos citados acima entrevista, análise

documental e observação participante , foi avaliada a aplicabilidade de cada

conceito/aspecto listado nesta pesquisa, quando se buscou para cada um

evidências de seu uso e importância no contexto atual de desenvolvimento de

software na empresa pesquisada.

3.4 Estratégia de análise de dados

A pesquisa qualitativa produz uma grande quantidade de dados na forma de transcrições e notas de campo. A preparação e análise desses dados exigem tempo e trabalho intensivo, pois é necessário tomar dados de diversas fontes para refinar questões e estabelecer novas vias para o desenvolvimento da pesquisa (CASTRO, 2008).

Os dados desta pesquisa foram organizados segundo as dimensões e

indicadores discutidos na seção 2.6, que trata do modelo de análise e, para cada

indicador, identificaram-se as fontes de informação que geraram evidências a

Page 67: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

63

respeito dele. Na medida em que foram recolhidos e analisados, alguns fatores

foram recategorizados e alguns novos surgiram.

Page 68: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

64

4 APLICAÇÃO DO MODELO DE ANÁLISE NA EMPRESA

4.1 Apresentação da empresa

A empresa selecionada, a TOTVS S.A., foi fundada em 1983, tem 100% de

capital nacional e atua na área de tecnologia e sistemas de informação. A empresa

desenvolve, comercializa, implementa e presta consultoria em sistemas de gestão

empresarial (ERP) para empresas nacionais e internacionais, notadamente na

América Latina. É uma empresa presente nos principais países da região: Brasil,

México, Argentina, Paraguai, Porto Rico e Venezuela. No Brasil, tem a sede na

cidade de São Paulo, e filiais no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Joinville, Goiânia,

Vitória e Pernambuco. Além disso, possui uma rede de distribuição composta por

franquias, representações comerciais e agentes de negócio cobrindo todo o território

nacional.

A empresa é originada na Microsiga, empresa nacional fundada em 1983,

tendo recebido em 1.999 aporte de capital estrangeiro que permaneceu na

sociedade até 2005. Naquele ano, em fevereiro, em uma operação de um dia, a

participação do fundo americano Advent foi recomprada, o BNDESPAR foi admitido

na sociedade e a Logocenter, na oportunidade uma das maiores concorrentes da

Microsiga, foi adquirida, nascendo assim o grupo TOTVS. Em 2006 o grupo fez a

abertura de capital lançando suas ações no Mercado Novo da Bovespa, adquirindo a

RM Sistemas (outro grande concorrente direto) como parte de sua estratégia de

crescimento. Novas empresas foram constituídas ou adquiridas naquele ano e nos

seguintes, e hoje a companhia tem mais duas divisões especializadas em

Consultoria de Negócios (TOTVS BMI) e Infraestrutura (TOTVS Infra). Além disso,

estendeu sua atuação à área de televisão digital com a aquisição da Quality e a

criação da TQTVD, especializada no middleware, responsável pela interatividade da

TV Digital. No final de 2007, numa nova operação surpreendente, a maior

concorrente nacional, Datasul, foi também incorporada formando um grupo com

faturamento anual de quase 1R$bilhão (ver FIG. 8).

Page 69: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

65

Figura 8: Histórico de criação e crescimento da empresa

Fonte: Site da empresa pesquisada.

O grupo hoje é líder no segmento de software de gestão, detendo 39% do

mercado nacional desse setor, segundo dados da 20ª Pesquisa Anual do Mercado

Brasileiro de Informática e Uso nas Empresas, divulgados pela Fundação Getúlio

Vargas em 2009, e foi reconhecido como um dos maiores do mundo no mercado de

software de gestão empresarial (ERP), de acordo com ranking elaborado a partir de

um dos institutos de pesquisa em tecnologia mais

respeitados mundialmente. Essa classificação leva em consideração as vendas

mundiais de software, considerando as receitas com vendas de licenças de software

e serviços de manutenção. Segundo os dados do estudo de 2008, a TOTVS ocupou

o 8º lugar no ranking das maiores empresas de ERP do mundo, e a quarta posição

entre as empresas com sede fora dos Estados Unidos. Dentre as empresas que

atuam na América Latina, a TOTVS é a terceira maior fornecedora de ERP. O

levantamento revela também que a TOTVS foi o maior fornecedor de ERP entre as

companhias de países emergentes em 2006, à frente de empresas de outros países,

como China e Índia. Adicionalmente, a TOTVS registrou um crescimento de vendas

de software de 10 vezes e de 24 vezes do Ebitda (Earnings before Interests, Taxes,

Page 70: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

66

Depreciation and Amortization – Ganhos antes de Juros, Impostos, Depreciação e

Amortização).

As quatro principais empresas que formaram o grupo (Microsiga, Datasul,

Logocenter e RM) estiveram presentes por várias vezes na lista de “melhores

empresas para trabalhar”, divulgada anualmente pela Revista Exame. A partir de

2008, essas empresas desaparecem como entidades jurídicas independentes e a

TOTVS passou a ser vista pelo mercado como uma empresa única.

A TOTVS segmenta suas atividades em quatro diferentes negócios: Software,

Tecnologia, Consultoria e Serviços de Valor Agregado.

O negócio Software tem como objetivo desenvolver, comercializar e “entregar”

produtos com vistas a:

[...] organizar, disciplinar, definir e impor processos, armazenar dados, gerar informação e auxiliar a gestão de cada empresa, desde que esteja aliado a uma camada de serviços para sua correta implantação, treinamento de usuários e constante avaliação do desempenho operacional (TOTVS, 2007a).

O cerne desse negócio é o ERP TOTVS, qualificado pela empresa como um

produto que “elimina o uso de interfaces manuais e a redundância de atividades,

proporcionando integração de diversos departamentos, automatização e

armazenamento de todas as informações de negócios” (TOTVS, 2007a).

O negócio Tecnologia tem como objetivo criar produtos de software básico

tanto para uso pelo negócio Software como para uso direto pelos clientes. Nas

palavras da empresa, a proposta de valor da Tecnologia é “oferecer mobilidade,

flexibilidade, personalização e integração por meio de soluções empresariais de uma

plataforma tecnológica que utiliza linguagens (ADVpl, 4GL), sistemas operacionais e

bancos de dados múltiplos” (TOTVS, 2007b).

O negócio Consultoria tem por objetivo oferecer consultoria de gestão por

meio de:

[...] soluções que possibilitam que as empresas alavanquem os resultados por meio de consultoria em gestão empresarial, com a aplicação das melhores práticas de gestão de negócios, envolvendo estratégia, gestão, tecnologia, pessoas e os processos da empresa (TOTVS, 2006a).

O negócio Serviços de Valor Agregado tem por objetivo “prestar serviços que

contribuem de forma eficaz na operação de cada cliente, sem interferir na execução

Page 71: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

67

do seu negócio principal, por meio dos produtos BPO, Educação, Infraestrutura e

Service Desk” (TOTVS, 2007c). Esses serviços complementam as ofertas de

software, tecnologia e consultoria de forma a abranger todo o ciclo de gestão do

cliente. Com essa proposta, a Totvs posiciona-se como um “Operador

Administrativo” e com seu portfolio de produtos e serviços oferece ao cliente a

oportunidade de se concentrar em seu core business, deixando por conta da

empresa todas as operações ligadas à gestão e tecnologia.

A estrutura executiva da empresa é organizada a partir de um Presidente, que

responde ao Conselho de Administração, recebendo metas gerais desse, e propõe

as estratégias e ações com vistas ao atendimento dessas metas. O Presidente tem

cinco vice-presidências responsáveis pela implantação das estratégias e ações

definidas pela presidência, divididas por afinidades. Assim, a Vice-presidência

Financeira, além das atribuições típicas, tais como a gestão administrativa e

financeira da empresa, faz também o relacionamento com os investidores. A Vice-

presidência de Tecnologia responsabiliza-se pela pesquisa das tecnologias básicas

oferecidas no mercado, tais como linguagens de programação, frameworks,

protocolos de comunicação, sistemas operacionais, bancos de dados etc., definindo

o direcionamento e os rumos da tecnologia da empresa. Além disso, a área

desenvolve tecnologia própria para vários desses componentes sob os auspícios

dessa área. Pode-se afirmar que a área de Tecnologia constrói os tijolos e a

argamassa de que serão feitos os softwares pela área de Desenvolvimento. A Vice-

presidência de Desenvolvimento responsabiliza-se pelo desenvolvimento de todos

os softwares da empresa por meio dos três centros de desenvolvimento próprios e

da rede de parceiros (franquias e fornecedores). A Vice-presidência de Atendimento

e Relacionamento responsabiliza-se pela comercialização das licenças de uso e

prestação de serviços de consultoria e implantação dos softwares. Essa prestação

de serviços é comumente chamada na empresa de “entrega”. Finalmente, a Vice-

presidência de Estratégia e Serviços encarrega-se dos serviços agregados, assim

definidos aqueles que não se relacionam diretamente ao desenvolvimento e entrega

de software, tais como Business Process Outsourcing (BPO), Data Center,

Treinamento, Consultoria de Gestão, Marketing e Alianças. Além disso, essa Vice-

presidência tem um papel fundamental no processo de desenvolvimento de software

porque, além de definir as demandas e métricas do negócio, responsabiliza-se por

direcionar os produtos de forma a atender às expectativas do mercado. Os

Page 72: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

68

“evangelizadores” são especialistas em cada um dos segmentos atendidos pelos

softwares da empresa, com profundo conhecimento prático de suas áreas de

especialidade, oriundos e com relacionamento intenso com os respectivos

mercados-alvo. Essa Vice-presidência atua em conjunto com as Vice-presidências

de Tecnologia e Desenvolvimento para definirem o chamado Road Map, isto é, o

conjunto de ferramentas, funcionalidades e características a serem atingidas em

cada versão dos softwares da empresa.

A empresa oferece seus produtos e serviços agrupados em doze diferentes

segmentos:

a) Agroindústria, com soluções tecnológicas aplicáveis ao agronegócio,

especialmente o de produção de grãos e o sucroenergético;

b) Construção e Projetos, com soluções voltadas para construtoras,

incorporadoras, empresas de projetos de engenharia, design, montagem industrial e

serviços especiais;

c) Distribuição e Logística, com produtos e serviços voltados para a gestão dos

processos logísticos, especialmente para atacadistas, distribuidores, operadores

logísticos, embarcadores, recintos aduaneiros e transportadores em geral;

d) Educacional, abrangendo “uma plataforma completa de produtos e serviços

para ampliar a capacidade competitiva, otimizar processos, reduzir custos, aumentar

a captação de alunos e manter uma excelente qualidade de ensino” (TOTVS,

2007d). Atende tanto a escolas de educação básica quanto a de ensino superior;

e) Financial Services, abrangendo soluções especializadas na área de Crédito,

Financiamento, Cartões de Crédito de bandeira própria e Gestão de Investimentos,

desde o ambiente de negócios até a Contabilidade e Área Operacional, passando

pelos controles gerenciais, normas legais e regulamentares (Compliance). Atende a

bancos, financeiras, fundos de investimento, entidades de previdência

complementar, gestores de investimento e seguradoras;

f) Jurídico, com soluções especializadas para atender às exigências do

segmento jurídico, acompanhando a informatização do judiciário, o aumento da

concorrência entre escritórios e as pressões nos departamentos jurídicos das

empresas;

g) Manufatura, com produtos e serviços voltados para a indústria,

especialmente a de bens de capital, consumo, duráveis, extrativista, beneficiamento,

metal, mecânica, plásticos, papel, celulose, química e reciclagem;

Page 73: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

69

h) Saúde, com soluções especializadas para hospitais, centros clínicos,

cooperativas médicas, consultórios médicos, laboratórios e operadoras de planos de

saúde;

i) Série 3, que oferece ERP para pequenas empresas com processos de

negócio simples e objetivos, de forma a produzir resultados rápidos para indústrias,

empresas de serviço e varejo;

j) Série 1, também voltado para micro e pequenas empresas com menor custo

de aquisição e manutenção. Oferece produtos para manufaturas, empresas de

serviço, varejo, saúde, transporte e jurídico, todas de pequeno porte;

k) Serviços voltados especialmente para as empresas prestadoras de serviços,

englobando mídia (emissoras de rádio e TV, editoras, gráficas, agências de

publicidade e promotoras de eventos), provedores de serviço (segurança, limpeza,

Call Center, TI, assistência técnica, etc.), utilities (companhias de telecomunicações,

energia, gás, distribuição e tratamento de água, saneamento e concessionárias de

rodovias), além de viagens e transporte de passageiros (companhias aéreas,

marítimas, ferroviárias e rodoviárias para passageiros, operadoras, agências de

viagem e hotéis);

l) Varejo, que oferece a gestão completa de uma empresa típica de varejo, da

automação dos processos administrativos até o gerenciamento completo das lojas.

Oferece soluções específicas para concessionárias de veículos, drogarias, lojas de

departamento, materiais de construção e supermercados.

Esses segmentos são suportados por quatro softwares principais e vários

auxiliares. Entre os softwares principais, destaca-se, primeiramente, o Protheus, que

é o ERP criado na Microsiga, a empresa-mãe do grupo. Toda a tecnologia própria da

Totvs foi originalmente desenvolvida para o Protheus e depois estendida para o

Logix, e é a base da plataforma BY YOU, utilizada e comercializada pela Totvs.

Tem-se, em seguida, o Logix, que é o ERP desenvolvido originalmente na

Logocenter, utilizando linguagem 4GL e banco de dados Informix, tecnologias

substituídas posteriormente. O outro software, o Corpore, é o ERP desenvolvido

originalmente na RM Sistemas, usando tecnologia net da Microsoft. Por último, o

SEM, que é o ERP desenvolvido originalmente na Datasul.

Entre os softwares auxiliares podem ser citados o First, o 4transpor, o Gens /

PersonalMED, o Midbyte, o Próxima, o Softteam e o YMF/Tools, todos oriundos das

empresas adquiridas pela Totvs. Usualmente, cada empresa adquirida é

Page 74: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

70

“apadrinhada” por um Vice-presidente que vai integrando a estrutura adquirida aos

poucos ao padrão estabelecido pela Totvs. Uma empresa recentemente adquirida

(Midbyte) está em fase de integração e, quando esta estiver concluída, um novo

centro de desenvolvimento existirá em SP dedicado a softwares para empresas de

pequeno porte, a que a software-house chama de small business.

Todos os softwares são mantidos, isso é, atualizadas e desenvolvidas novas

versões em centros de desenvolvimento, e cada um deles tem um diretor

responsável. Os três principais centros de desenvolvimento estão localizados em

São Paulo, empregando aproximadamente 700 pessoas; Belo Horizonte,

empregando aproximadamente 600 pessoas; e Joinville, empregando em torno de

1.400 pessoas, entre engenheiros de software, analistas de sistemas,

programadores e técnicos em informática, além do pessoal de administração dos

respectivos centros.

Além desses três principais, existem outros centros de desenvolvimento

menores, como o de Porto Alegre, que emprega em torno de 300 pessoas, mas se

encontra em estágio de formação, visto que ele também é originado de uma

empresa adquirida recentemente e está em processo de formatação dentro do

modelo estabelecido pela Totvs.

Também devem ser ressaltadas outras duas estruturas importantes para o

desenvolvimento de software. Uma primeira estrutura representa as empresas

parceiras (como a NG Software, de Santa Catarina, e a Average Tecnologia, de São

Paulo), responsáveis pelo desenvolvimento de produtos de sua propriedade, porém

usando a tecnologia, comercializados, suportados e implementados pela Totvs,

recebendo royalties pela propriedade intelectual do software. A outra estrutura

representa as franquias de desenvolvimento, que são empresas associadas

responsáveis pelo desenvolvimento de produtos sob encomenda da Totvs. Essas

últimas são fábricas de software que não têm nenhum direito de propriedade sobre

os softwares produzidos.

Cada centro de desenvolvimento é dividido em quatro áreas chamadas pela

empresa de “torres”. Cada torre tem um gerente executivo e se especializa em uma

fase específica do desenvolvimento (ver FIG. 9). Os analistas alocados em cada

torre são organizados em equipes chamadas “núcleos de conhecimento”,

coordenados por um Líder. Destaca-se, porém, o trabalho do Gestor de

Desenvolvimento do Produto (GDP). O GDP tem uma atuação matricial e coordena

Page 75: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

71

o trabalho de todos os líderes cujas equipes atuam em um grupo de módulos afins.

Isso significa que sua atuação não se limita pela divisão das torres, perpassando

pelas de Inovação e Sustentação, de forma a abranger todo o ciclo de atendimento,

suporte, desenvolvimento e manutenção de um produto de software específico,

mantendo o foco e evitando eventuais conflitos (ver FIG. 10). O GDP é um

especialista nos módulos de sua responsabilidade. Um exemplo de módulos afins é

a área de Materiais, que engloba módulos tais como Faturamento, Estoque/Custos,

Compras, PCP e Fiscal. Outras áreas de afinidades entre os módulos definidos pela

empresa são Recursos Humanos, Controladoria, Business Intelligence,

Distribuição/Logística, Varejo e outras coordenadas por um GDP.

Figura 9: As quatro torres de sustentação do desenvolvimento de software Fonte: TOTVS, 2007a.

As torres que sustentam o desenvolvimento da empresa, bem como seus

respectivos objetivos e funções, são listados em seguida.

Page 76: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

72

a) Torre de Sustentação

O conjunto de profissionais desta torre encarrega-se da Manutenção dos

produtos. Entende-se por manutenção tanto a correção de erros de produto

identificados em Fichas de Não-Conformidade (FNC) quanto as atualizações

decorrentes de mudanças na legislação. Pequenas melhorias funcionais também

são desenvolvidas por essa equipe de maneira a fazer ajustes finos na utilização

dos softwares pelos clientes. Parte da equipe responsabiliza-se pelo Atendimento

Telefônico a clientes (Help Desk). As FNCs são abertas a partir das reclamações

feitas pelo cliente e são abertas quando a equipe do Help Desk constata a falha.

Assim, essa organização favorece o relacionamento direto entre os clientes, os

analistas de suporte e os de desenvolvimento, facilitando a colocação em prática

daquilo que sugere a missão declarada pela área, segundo a qual ela “visa à

excelência no atendimento e relacionamento com nossos clientes, a fim de minimizar

impactos de não-conformidades em seus processos e negócios” (Material interno da

empresa pesquisada).

b) Torre de Inovação

Esta torre define sua missão: “propiciar a inovação contínua das soluções,

utilizando novas tendências e tecnologias para o desenvolvimento dos produtos-

padrão e customizados a fim de atender às necessidades de nossos clientes”

(Material interno da empresa pesquisada). Entende-se por “produtos customizados”

os softwares desenvolvidos sob medida para os clientes, constituindo a chamada

“fábrica de software”. Os produtos-padrão são aqueles destinados aos clientes em

geral, constituindo-se principalmente de agregação de novas funcionalidades em

módulos ou o desenvolvimento de novos módulos. Ao conjunto de novas

funcionalidades e módulos novos lançados regularmente para garantir o

atendimento das necessidades de mercado dá-se o nome de “versão”. Cada versão

tem um Road Map, definido em conjunto pelas Vice-presidências de Estratégia,

Desenvolvimento e Tecnologia a partir de solicitações de clientes, avaliação de

produtos similares e necessidades identificadas pelos “evangelizadores”.

c) Torre SLA

Esta torre tem duas equipes distintas: a primeira, chamada SLA (Service

Level Agreement), é responsável pelo atendimento personalizado a clientes que

Page 77: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

73

tenham um contrato de nível de serviço diferenciado; a segunda equipe, chamada

Atendimento Continuado e Relacionamento Externo (ACR-e), é responsável pelo

atendimento a clientes em situação crítica, com vistas a resolver os problemas,

mudando a insatisfação destes com a empresa.

d) Torre de Engenharia

Responsável pela definição de métricas, processos, modelos e ferramentas

utilizadas no desenvolvimento de softwares, esta torre engloba as áreas de Quality

Assurance – Software, Quality Assurance – Atendimento, Documentação, Tradução,

Treinamento, Metodologia/Processos e Projetos, Apoio a Parceiros e Mercado

Internacional.

Entre as funções da área de Quality Assurance – Software (SQA), destacam-

se a criação de metodologia para testes das soluções Microsiga Protheus e seus

componentes; criação e manutenção do plano de teste do componente e seus casos

de uso; definição de metas e indicadores de qualidade do produto e desempenho

dos analistas de testes; criação e manutenção dos ambientes de cobertura dos

testes; análise de relatórios diários/mensais de indicadores de qualidade do produto

e desempenho dos testadores; auditoria aos testes e documentações geradas;

disponibilização de informações e sugestões para melhoria da qualidade do produto

e índice de satisfação do cliente; disponibilização do produto no Portal do Cliente.

Entre as funções da área de Quality Assurance – Atendimento (CQA),

destacam-se o desenvolvimento de metodologia e processos de atendimento;

padronização do atendimento técnico e comportamental e auditoria; gerenciamento

de indicadores/métricas de ligações e chamados; disponibilização de informações e

recomendações para melhoria da qualidade do atendimento e índice de satisfação

do cliente; gerenciamento de incidentes/problemas; gerenciamento de mudanças na

estrutura de atendimento; planejamento e dimensionamento de esforços; avaliação e

disponibilização de infraestrutura; coordenação da equipe de Assessoria Help Desk.

Entre as funções da área de Documentação, destacam-se o desenvolvimento

de metodologias para construção das documentações; criação de processos para

manutenção e entrega das informações; desenvolvimento de Boletins Técnicos;

construção dos Helps on-line; criação de Notas de Release e Revista Protheus;

assessoria ao desenvolvimento e revisão da documentação técnica – Parâmetros,

Page 78: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

74

Funções, Ponto de Entrada etc.; auditoria e monitoramento dos processos de

construção, atualização e disponibilização das informações.

Entre as funções da área de Tradução, destacam-se o desenvolvimento de

metodologia e processos de tradução; criação de glossários por idioma e segmento;

padronização de termos e modelo de tradução; tradução das soluções para os

idiomas espanhol internacional, inglês americano e português de Portugal, visando

adaptá-las aos mercados de distribuição; tradução de Boletins Técnicos, Helps on-

line, Notas de Release e Revista Protheus, bem como da documentação técnica

(Parâmetros, Funções, Ponto de Entrada etc.); tradução dos materiais de

capacitação (presencial e a distância).

Entre as funções da área de Treinamento, destacam-se o desenvolvimento da

metodologia de ensino; criação de processos para a construção/manutenção do

texto didático; assessoria didático-pedagógica às demais torres; desenvolvimento de

apostilas para cursos presenciais e de conteúdos para educação a distância;

disponibilização de bases de dados-padrão homologadas pela GDP às equipes de

treinamento; construção de cursos a distância.

Entre as funções da área de Metodologias, Processos e Projetos, destacam-

se a definição de metodologias para desenvolvimento de sistemas e gerenciamento

de projetos; criação de processos de trabalho unificados, segundo as melhores

práticas de mercado; auditoria das execuções dos processos predeterminados;

definição das melhores práticas de programação; criação de um banco de modelos

com padrões de código-fonte e imagens; criação de programa para melhoria

contínua de fontes e manipulação de códigos críticos; mapeamento de processos do

produto; direcionamento dos gerentes de projetos na aplicação da metodologia,

disseminando melhores práticas de gerenciamento; acompanhamento e auditoria

dos projetos, visando cumprir os objetivos da organização; criação e implementação

de métricas de avaliação dos projetos para controle dos prazos e custos; análise e

comparações entre os projetos, apresentando os resultados à organização;

manutenção do histórico dos projetos (“Lições Aprendidas”2).

Entre as funções da área de Apoio a Parceiros, destacam-se a transferência

do conhecimento relativo às práticas adotadas pelas equipes de Inovação e

2 É um termo usado pela empresa para designar aquilo que foi aprendido durante o desenvolvimento

de um projeto com vistas a repetir as boas práticas e eliminar as más.

Page 79: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

75

Sustentação para os parceiros de desenvolvimento; auditoria ao cumprimento das

metodologias e processos; sincronia permanente dos parceiros com as metas e os

objetivos estabelecidos pela organização; acompanhamento dos compromissos de

entrega.

Entre as funções da área de Mercado Internacional, destacam-se

centralização e controle das demandas de localizações; acompanhamento de

pendências junto aos GDPs; feedbacks sobre tempo de respostas e cumprimento de

prazos; análises de aderência dos softwares à cultura e legislação dos países de

atuação; especificações e análises para localização das soluções, virtual ou

presencialmente em cada país para dar subsídios às mudanças nos produtos;

garantia da competitividade do produto no mercado internacional; entendimento das

dificuldades do processo internacional, propostas e soluções; unificação da

comunicação entre as unidades e polo de desenvolvimento TOTVS; busca pela

melhor consultoria nos países em que a empresa atua.

Figura 10: Detalhamento das torres

Fonte: TOTVS, 2007a

Page 80: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

76

4.2 Análise do processo de criação de conhecimento na empresa

A criação do conhecimento na Totvs será analisada de acordo com o “modelo

dinâmico da empresa criadora de conhecimento”, segundo as dimensões propostas

na seção 2.5, buscando identificar as evidências lá listadas.

4.2.1 Dimensão Visão do Conhecimento

A Totvs autodefine-se como uma empresa igual às melhores software-

houses, sendo, porém, diferente dessas pela maneira como se desenvolveu, por

suas propostas de trabalho e por seus princípios. Nos dizeres da própria empresa:

A TOTVS é uma empresa que aprendeu a SER IGUAL, SENDO SEMPRE DIFERENTE e que desenvolveu negócios, pensando SIMPLES, promovendo RUPTURAS e sendo REFERÊNCIA, com o único objetivo de fornecer ferramentas e plataformas que possibilitam a todos os clientes tornarem-se cada vez mais COMPETITIVOS E INOVADORES, conseguindo SEREM IGUAIS no acesso às informações do mundo e SEREM DIFERENTES na compreensão e execução de suas missões e visões. (TOTVS, 2007e)

Destacam-se aqui as palavras grifadas pela própria empresa, ressaltando o

pensamento simples, a ruptura com o tradicional, a competitividade e a inovação

como elementos da empresa utilizados para promover também a inovação e a

competitividade dos clientes para que eles façam da tecnologia um instrumento de

diferenciação na execução de suas próprias missões. Essa preocupação com

inovação e simplicidade é recorrentemente lembrada a todos os colaboradores

nessa declaração de princípios estampada no site, nas apresentações institucionais

da empresa, nas peças publicitárias produzidas para a TV, outdoors, folders etc. Isso

tem efeito em todo o time da empresa, especialmente na equipe de desenvolvimento

de software, que, em última análise, é a responsável por produzir essa inovação com

simplicidade.

A inovação aparece ressaltada também na missão: “Ser a opção natural em

software, inovação, relacionamento e suporte à gestão”, conforme se pode ver na

Figura 11, bem como em um dos valores declarados: “Buscamos a Inovação como

Page 81: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

77

vetor de crescimento”. Essa declaração, reconhecida por todos por sua importância,

aparece em banners e nos quadros da qualidade, espalhados por toda a empresa.

Todos os entrevistados durante a pesquisa foram enfáticos ao falar da

inovação (às vezes usando também o termo “criatividade”) e da simplicidade como

duas características fortes da empresa que os orientam no trabalho do dia-a-dia. O

Vice-presidente de desenvolvimento de Sistemas (VPDS) afirma que a aquisição das

diversas empresas a partir da Microsiga demonstrou o quanto a empresa-mãe trazia

esse binômio (simplicidade e inovação) em seu DNA empresarial. Primeiro pela

constatação de que isso que se pensava comum a todas as concorrentes não era

tão comum assim e, segundo, por tornar-se necessário um trabalho inicial

imediatamente após as aquisições para estender esse pensamento às novas

empresas agregadas.

Tanto o gerente da torre de engenharia do centro de desenvolvimento (CD

CQA) de São Paulo, quanto o gerente de inovação do centro de Joinville e também

o GDP de Materiais fizeram afirmações semelhantes sobre como o incentivo à

inovação é uma constante no dia-a-dia da empresa. Esse incentivo à criatividade

pode ser visto tanto em programas específicos como foi o I9 (Inove), levado a cabo

em 2008 com o objetivo de que os colaboradores apresentassem boas ideias,

quanto no ambiente propício à inovação. Nas palavras do Gerente de Engenharia do

CD/SP:

A inovação faz parte do dia-a-dia. Criatividade/Inventividade é inerente ao programador talentoso. Ele não se contenta em matar “pau”. Ele quer criar e existe um ambiente propício na empresa (café, conversas em grupos), onde as ideias se materializam. Programador gosta de fazer coisas diferentes.

A empresa capitaliza isso, deixando o pessoal à vontade para tanto. Ninguém

é ridicularizado por uma ideia, por mais estranha que ela pareça. Nos programas

formais de incentivo, como o Inove, as melhores ideias são reconhecidas por meio

de menções, promoções e premiação financeira.

A simplicidade também é destacada nos valores prioritários (ver FIG. 11) com

a frase: “Entregamos Qualidade aliada à Simplicidade”, mostrando a importância

desse conceito dentro da empresa e, por conseguinte, sobre o desenvolvimento de

produtos.

Page 82: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

78

Assim como a inovação, a simplicidade é ressaltada por todos. Esse princípio

pode ser entendido como “fazer ficar fácil de usar”, como foi definido pelo VPDS.

Isso significa que, mesmo que seja uma questão tecnológica complexa, ela deve ser

traduzida por ferramentas fáceis de implantar e usar. Boa parte desse princípio vem

do grande número de pequenos e médios clientes a que a Totvs, desde quando era

somente a Microsiga, atende. Como afirma o VPDS, “tecnologia boa é a que todos

usam”, e os pequenos nem sempre dispõem de um corpo tecnológico com a devida

formação necessária a implantar softwares muito complexos. No mercado de

pequenos clientes, simplicidade é fundamental e, ao buscar também os grandes

clientes, o princípio estendeu-se.

Figura11: Princípios Institucionais da empresa

Fonte: TOTVS, 2007e.

O que se conclui é que esses princípios institucionais dão à empresa “um

absoluto, não um relativo, sistema de valores” (NONAKA, TOYAMA, 2005). Pode-se

perceber nos entrevistados um orgulho, uma “paixão intelectual” e inspiração

alimentada continuamente tanto pela ideologia quanto por ações diárias no sentido

de traduzir essa ideologia em produtos criativos, em métodos de trabalho

inovadores, em clientes mais competitivos, enfim, “superando os limites existentes”

Page 83: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

79

(NONAKA; TOYAMA, 2005). Nonaka (2000) usa uma frase que expressa bem esse

sentimento verificado junto aos entrevistados: “Nós fazemos isto porque nós

queremos fazê-lo, não porque todo mundo está fazendo” ou, como sintetizado pelo

VPDS: “A missão e a visão tentam expressar aquilo que nós acreditamos, porém a

criatividade e a inovação estão presentes no nosso DNA. Isto nos faz diferentes”.

4.2.2 Dimensão Objetivo Direcionador

Os principais exemplos desta dimensão, usados por Nonaka e Toyama,

costumam expressar esse Objetivo Direcionador por meio de um slogan, mas como

os autores afirmam, este objetivo “é um conceito, uma meta ou códigos de conduta

para sincronizar visão, diálogos e práticas” (NONAKA; TOYAMA, 2005 p. 424). Ao

serem questionados a este respeito, os entrevistados citaram alguns objetivos gerais

que norteiam a criação de produtos e, ao se pesquisarem os documentos na

empresa, foi encontrado um conjunto de premissas que coincidem com os objetivos

gerais relatados pelos entrevistados e que podem ser enquadrados como um

“código de conduta” no desenvolvimento de novos softwares. Essas premissas estão

mostradas na Figura 12.

Page 84: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

80

1. Portabilidade: poder ser executada nos principais sistemas operacionais de

mercado. Exemplo: Linux e Windows

2. Conectividade: poder ser executada nos principais bancos de dados do

mercado (SGDB). Exemplo: SQL, ORACLE e DB2.

3. Integração: poder ser integrada a softwares de terceiros, equipamentos de

hardware e principalmente entre seus módulos.

4. Escalabilidade: atender a pequenos, médios e grandes usuários, escalando

servidor, banco de dados e usuários sempre com alta performance.

5. Flexibilidade: permitir que nossos analistas de suporte, clientes e parceiros

homologados possam personalizar o sistema de acordo com seu negócio e

estratégia.

6. Respeito ao legado: permitir a evolução técnica do produto sem comprometer

o que já foi produzido nas versões anteriores do Protheus.

7. Pensamento simples: fornecer soluções simples e de fácil usabilidade para

qualquer nível de usuário.

Figura 12: Premissas da solução Totvs

Fonte: TOTVS, 2006b.

Essas premissas, mais do que direcionar o desenvolvimento dos softwares,

funcionam como regras gerais que servem para dirimir quaisquer dúvidas por mais

relevantes que elas sejam. Um fato acontecido na empresa em 1995 ilustra a

importância desses princípios e de como eles estão acima até mesmo dos

interesses econômicos. Naquele ano, a empresa estava diante de uma importante

mudança em termos de mercado: a troca dos sistemas orientados a texto para os

sistemas com interface gráfica no padrão Microsoft Windows. Para suprir essa

demanda do mercado, uma nova versão vinha sendo desenvolvida desde meados

de 1994 usando a linguagem Visual Objects, fornecida pela mesma empresa que

detinha os direitos da linguagem Clipper, com a qual a versão de interface texto

havia sido desenvolvida. A equipe de tecnologia, responsável por desenvolver as

bibliotecas básicas do sistema, não conseguia criar objetos equivalentes aos

existentes no ambiente texto, no novo ambiente gráfico, mantendo a compatibilidade

funcional e com o mesmo modelo de dados. Em razão disso, a equipe de

Page 85: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

81

desenvolvimento não conseguiria “respeitar o legado”, isso é, criar um produto novo,

sem comprometer o que já havia sido produzido em versões anteriores. Isso

obrigaria os clientes a um esforço bastante grande para atualizar a versão e faria

com que eles fizessem novos e pesados investimentos obrigatoriamente em

instalação, configuração, treinamento e consultoria para adotar a nova versão. Por

fim, como o princípio não podia efetivamente ser mantido, todo o esforço de

programação de um ano foi abandonado e a nova versão foi desenvolvida com a

ferramenta FiveWin, que permitiu a migração para o ambiente Windows, mantendo

integralmente as funcionalidades (telas, teclas, relatórios etc.), modelos de dados,

enfim, todo o restante, com exceção da interface, e garantindo a conservação do

investimento já feito. Isso certamente representou atrasos na entrega da versão,

perdas financeiras decorrentes de trabalho jogado fora, perda de potenciais novos

clientes até que a versão Windows estivesse pronta; porém o princípio foi mantido e

mostrou-se vantajoso pela conservação de toda a base de clientes e a consolidação

da carteira que, pela facilidade da migração, não optou pela troca de fornecedor, o

que uma nova versão incompatível com a anterior poderia ensejar.

Essa história, vivida pelo pesquisador, bem como outras relatadas no livro

Genoma Empresarial (COSENTINO; HABERKORN; SILVA, 2001) ilustram a

importância das premissas como objetivos direcionadores do desenvolvimento de

novos produtos na empresa. A obediência ao princípio da portabilidade levou a

empresa a criar uma tecnologia própria como alternativa às tecnologias JAVA e NET

(dot Net), atualmente mais usadas pelas software-houses. Dessa experiência,

nasceu a tecnologia Protheus, que já foi avaliada e certificada por parceiros da

Totvs, entre eles a Intel e a IBM, como equivalente daquelas duas citadas

anteriormente. Essa tecnologia, por sua vez, permitiu, primeiro na Microsiga e

posteriormente na Logocenter, a aplicação do princípio do “respeito ao legado” com

o desenvolvimento de um framework, sob o qual todos os programas existentes

permaneceram iguais, enquanto toda a interface, ambiente de instalação e

configuração foram mudados sem afetar o investimento feito pelo cliente, que

ganhou muito com a atualização da tecnologia e não perdeu nada.

O princípio da conectividade também tem um bom exemplo para ilustrar a

importância dessas premissas: a empresa investiu pesado numa tecnologia que

permitisse que o software pudesse utilizar os principais Sistemas Gerenciadores de

Banco de Dados (SGBD) do mercado indistintamente. O processo começou com o

Page 86: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

82

desenvolvimento por uma empresa chilena (que acabou sendo adquirida pela Totvs)

do Top Connect, um gateway que traduzia os comandos de acesso a dados

orientados a registro para a sintaxe SQL, típica dos bancos de dados relacionais.

Além da segurança de acesso e garantia de integridade dos dados oferecidos pelos

SGBDs, a tecnologia do Top Connect permitiu e continua permitindo que o cliente

escolha o gerenciador de sua preferência, cuja tecnologia ele domine. Permite,

inclusive, que o cliente troque o SGBD com o mínimo esforço de substituição.

A premissa da integração entre os módulos do sistema, hoje, é um lugar

comum entre os diversos ERP existentes no mercado. Entretanto, desde a fundação

da empresa ou mesmo antes (na época da SIGA, antecessora da Microsiga), ainda

na década de 70, quando ninguém falava em sistema integrado, essa premissa já

era forte e orientava a criação de softwares na empresa. Mais recentemente, ela

ganhou novos contornos com a aquisição e fusão de tantas empresas no grupo.

Tanto que será um dos elementos preponderantes na próxima versão dos produtos,

atualmente em fase de gestação, que terá na convergência entre os diversos

softwares oriundos das empresas agregadas uma forma revivida de integração.

A escalabilidade é um princípio fundamental que, com o crescimento da

empresa, ganha novos contornos. Esse princípio serviu para moldar muitas

características funcionais dos softwares da empresa que, por opção estratégica,

sempre concentrou sua atuação nas pequenas e médias empresas. Além de ser o

maior mercado em número de empresas, nele estão as melhores oportunidades de

crescimento para uma software-house brasileira, visto que o mercado de grandes

clientes é o mais visado pelas software-houses estrangeiras. Essa opção pelos

pequenos e médios, já apontada como indutora de inovação, criatividade e

simplicidade, também é a razão principal da importância da escalabilidade, pois os

pequenos se tornam médios, e os médios que se tornam grandes precisam dos

softwares para acompanhar a empresa em cada etapa de seu crescimento. Essa

escalabilidade também é fator determinante do mix de produtos, visto que, dada a

diversidade dos portes de clientes atendidos, é necessário que os softwares sejam o

mais abrangentes possível, oferecendo um grande número de módulos para cobrir

todas as necessidades de informações de uma empresa.

A flexibilidade é, talvez, a premissa que tenha se tornado o mais importante

fator crítico de sucesso da estratégia Totvs. Esse é o principal apelo comercial usado

pela linha Protheus originado na Microsiga, empresa-mãe do grupo e firmemente

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83

observado no desenvolvimento dos produtos. O grau de adaptação do produto às

necessidades do cliente vai desde a alteração de um parâmetro, até as

funcionalidades específicas criadas pelo cliente ou pela interação total por meio dos

“pontos de entrada”, permitindo mudar o próprio funcionamento-padrão do sistema.

Esse princípio exige cuidado especial no projeto e desenvolvimento de sistemas,

porque o programador deve tê-lo em mente o tempo todo durante a atividade de

codificação de programas, sob pena de criar um sistema rígido. Por outro lado, a

flexibilidade é limitada pela consistência obrigatória das funções oferecidas, isso é, a

flexibilidade não pode colocar em risco a integridade do sistema.

A premissa do pensamento simples é a expressão clara da simplicidade já

amplamente discutida na dimensão Visão do Conhecimento e que, de toda forma,

confirma os argumentos ali colocados acerca da importância dela na criação de

softwares na empresa.

4.2.3 Dimensão Diálogos

A síntese das contradições é a tônica da dimensão Diálogos, conforme

afirmam Nonaka e Toyama (2005). Em uma empresa de desenvolvimento de

software, muitos são os interesses conflitantes. A área comercial, por exemplo, tem

interesse em que os softwares oferecidos atendam aos mais diversos tipos de

empresa de diferentes segmentos de mercado, tipos de negócios dos clientes, áreas

de atuação, portes e formas de gestão. Essa diversidade de empresas adota

diferentes sistemáticas de gestão e demanda diferentes soluções de software.

Assim, pequenas empresas costumam adotar controles simplificados de seus

processos, e grandes empresas usualmente demandam controles complexos por

envolverem filiais, maior número de departamentos e mais níveis hierárquicos. Além

da complexidade dos controles, outro fator de diferenciação é a quantidade de

controles automatizados e manuais que variam de negócio para negócio.

Outros aspectos de natureza técnica também diferenciam os clientes, tais

como os equipamentos, sistema operacional, SGBD adotado, linguagem de

programação utilizada, o uso da internet e dispositivos remotos de acesso e

Page 88: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

84

captação de dados etc., que pode ser chamado genericamente de ambiente

computacional.

Para atender a essa diversidade de ambientes computacionais bem como de

negócios e, consequentemente, à abrangência e complexidade de controles, uma

gama extensa de programas precisa ser desenvolvida. Uma forma de atender a essa

diversidade de demandas é criar softwares específicos para cada cliente sob

medida, usualmente chamados de “software taylor made”. Nessa linha de solução, o

software adapta-se à empresa e é desenvolvido por uma equipe interna de

programadores. Como vantagens desse tipo de software, destacam-se o

atendimento perfeito à necessidade do cliente e a adequação perfeita a seu

ambiente computacional. Essa solução tem, porém, alguns inconvenientes, tais

como o custo e o tempo gasto no desenvolvimento específico, o custo de

manutenção e evolução do software para se adequar às novas tecnologias e

legislação pertinentes ao negócio, à maior suscetibilidade a falhas na especificação

das funcionalidades e à dependência da empresa em relação à equipe de

desenvolvimento.

Outra linha de solução é a aquisição de um software pronto, usualmente

chamado de “pacote”. Nesse tipo de solução, a empresa adapta-se ao software.

Como vantagens destacam-se o baixo custo de aquisição e manutenção, pouco

tempo necessário à disponibilização das funcionalidades aos usuários e

independência em relação a uma equipe interna. Por outro lado, ela apresenta as

desvantagens de baixa aderência às necessidades do cliente, rigidez na forma de

implementação dos processos de gestão e limitação dos ambientes computacionais

atendidos.

Para a área de desenvolvimento, por seu turno, em razão de limitações de

força de trabalho, dificuldades de programação, dificuldade de manutenção dos

softwares produzidos e dificuldade de domínio dos diversos ambientes

computacionais, seria preferível atuar em uma gama menor de produtos voltados

para um segmento específico de mercado e na linha de “pacote”, como definido

anteriormente.

Há aqui duas contradições, ou melhor, duas posições contraditórias: Sob

Medida X Pacote e Comercial X Desenvolvimento.

O exercício do diálogo entre as áreas Comercial e Desenvolvimento permitiu

que se encontrasse, na linha Protheus, uma solução para conciliar essas

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85

contradições. Essa solução pode ser expressa por um tipo de software que fica a

meio caminho entre o “sob medida” e o “pacote” e é caracterizada pela portabilidade,

conectividade, escalibilidade e flexibilidade. Como já explicado no capítulo anterior, a

portabilidade é a característica que permite o uso do mesmo software em diferentes

sistemas operacionais, a conectividade é a capacidade desse software de usar

diferentes SGBDs e escalabilidade é a possibilidade de uso tanto em ambientes de

baixa quanto de alta utilização de recursos computacionais. Assim, o Protheus pode

ser usado em ambiente Windows ou Linux, com os SGBDs SQL Server, Oracle,

DB2, MySql, PostGres além de Ctree e DBF, o que permite seu uso tanto pelas

pequenas quanto médias e grandes empresas.

A flexibilidade, também explicada anteriormente, é a maior estrela da solução.

A flexibilidade do produto pode ser verificada pelas seguintes características:

configuração de parâmetros, tabelas, dicionário de dados, pontos de entrada e

programas específicos.

A configuração de parâmetros é a escolha entre diversas formas de

funcionamento do sistema. Por exemplo, pode-se escolher entre a fórmula de

cálculo de custos dos produtos pelos métodos Médio Mensal ou FIFO. O método

Médio Mensal calcula um único custo médio por mês para cada produto e o método

FIFO valoriza as saídas pelo mesmo valor das entradas na ordem de acontecimento

destas. FIFO é a sigla para “First in, First out”, ou seja, o primeiro a entrar é o

primeiro a sair. Essa escolha é feita pela configuração de um parâmetro do sistema

Protheus. Assim como o método de custeio de produtos, várias outras seleções de

forma de funcionamento podem ser feitas com a configuração de parâmetros.

A configuração de tabelas é a possibilidade de atribuir características

específicas da empresa às entidades do sistema. Uma tabela que pode ser usada

para ilustrar esse tipo de configuração é a de Tipos de Produto. A tabela-padrão de

tipos de produto oferece as possibilidades de qualificação destes em MP – Matérias

Primas, PI – Produtos Intermediários e PA – Produtos Acabados. O cliente pode

adaptar essa tabela modificando e eliminando os tipos-padrão oferecidos, bem como

criando novos tipos não previstos originalmente, tais como: MR – Material de

Reposição, ML – Material de Limpeza, MC – Material de Consumo etc. Os tipos

criados são respeitados pelo sistema e mantidos mesmo em uma eventual

atualização da versão.

Page 90: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

86

O Dicionário de Dados permite a criação de novas tabelas específicas, novos

campos nas tabelas-padrão do sistema, criar “gatilhos”, criar validações específicas

para os campos, mudar a ordem e o nome de campos nas telas, associar consultas

a outras tabelas durante o preenchimento das informações, mudar o tamanho de

campos etc. Essas mudanças no Dicionário refletem-se nas tabelas criadas no

Banco de Dados automaticamente. A manipulação dos dados por meio do dicionário

permite que o software mude sua “cara” de forma a se parecer mais com a

necessidade do cliente, assumindo diferentes apresentações e formas de trabalho,

sem perder a consistência e a confiabilidade das informações.

Os Pontos de Entrada são “janelas” de interação dos programas-padrão do

sistema, chamados de kernel ou “núcleo”, com programas desenvolvidos para cada

cliente permitindo complementar sua atuação. Essa ferramenta torna o software tão

flexível e adaptável que faz com que algumas instalações atendam tão bem à

necessidade dos clientes como se o software como um todo fosse feito sob medida.

Por fim, os Programas Específicos complementam o arsenal de ferramentas à

disposição dos clientes para adaptar o software a suas necessidades específicas.

Podem ser relatórios, consultas, programas de entrada e transformação de dados ou

outros processamentos em geral. O Protheus oferece um ambiente de programação,

o Totvs Developemnt Studio (um IDE – Integrated Development Environment ou

Ambiente Integrado de Desenvolvimento), que suporta a linguagem ADVpl (Avanced

Protheus Language). Essa linguagem segue a sintaxe x Base, bastante conhecida

no mercado e de fácil aprendizado. Com a ADVpl, aliada ao dicionário de dados,

pode-se fazer do Protheus uma plataforma de sistemas de alta produtividade a partir

da qual o cliente pode criar programas para atender a qualquer necessidade

específica não disponível no software-padrão, complementando-o.

Esses exemplos demonstram como, na dimensão Diálogo, o conhecimento

tácito é transformado em explícito (externalização) pela participação dos clientes e

da equipe de implementação do software na adaptação desse de forma a atender a

diferentes realidades. Cada um dos participantes (clientes, desenvolvedores e

implementadores) contribui com perspectivas, ou melhor, contextos diferentes (que

representam conhecimento tácito) produzindo produtos diferentes (que representam

conhecimento explícito) a partir do original.

Também demonstram que é possível sistematizar o conhecimento explícito,

aprofundar e criar novo conhecimento (combinação) por meio da síntese das

Page 91: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

87

contradições de objetivos das diversas áreas envolvidas no desenvolvimento e

comercialização do software: clientes, área comercial, desenvolvedores e

implementadores. Como já afirmado anteriormente, essa atitude de “pensamento

aberto” é fundamental para que o questionamento funcione como um catalisador

para alcançar um nível mais alto de compreensão, aprofundando o compromisso

inspirado pela Visão e pelo Objetivo Direcionador (NONAKA; TOYAMA, 2005).

Alguns aspectos adicionais, ressaltados pelos autores pesquisados (CLARK;

FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993; NONAKA; TAKEUCHI, 1997)

por facilitar a externalização e a combinação, também foram observados no centro

de desenvolvimento responsável pelo produto Protheus:

˗ O trabalho em equipe é uma forma de condução do projeto na organização. O

modelo de gestão de equipe encabeçada pelo GDP é uma forma matricial de

organização da equipe de desenvolvimento, visto que sua responsabilidade

perpassa funções exercidas por profissionais de diferentes “torres” que

respondem hierarquicamente a diferentes gerentes. Isso facilita a

externalização porque permite que o GDP explore as perspectivas individuais

dos colaboradores envolvidos em todo o ciclo, catalisando as contribuições e

sistematizando o conhecimento tácito para todo o grupo;

˗ O desenvolvimento é simultâneo e integrado. O desenvolvimento inclui as

áreas de suporte telefônico a clientes (Help Desk), desenvolvimento, teste e

documentação que interagem sistematicamente. Também participam do

processo os clientes-piloto e a vice-presidência estratégica por meio dos

evangelizadores, o que permite a interação entre diferentes áreas funcionais:

integração entre departamentos e pessoas em uma empresa em torno de

objetivos comuns. O desenvolvimento simultâneo ilustra bem o processo de

combinação do conhecimento pela síntese de contradições de objetivos de

cada grupo participante em torno da definição do conteúdo das versões do

software;

˗ Para facilitar o entendimento das propostas de solução de problemas ou

atendimento a requisitos funcionais, utiliza-se a fabricação de protótipos,

funcionais a partir dos quais se decide pela melhor forma de desenvolvimento.

Como afirmado, esse aspecto relaciona-se melhor com a Dimensão Prática e

será retomado no próximo tópico;

˗ Esporadicamente, pode ser observado envolvimento dos fornecedores

Page 92: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

88

durante as etapas de desenvolvimento, ficando sua participação limitada ao

relacionamento com a vice-presidência estratégica, diretamente ou por meio

dos evangelizadores, pela proposição de sugestões de melhoria que podem

vir a fazer parte do Road Map da versão. Um caso citado de participação de

fornecedor no desenvolvimento foi o da empresa fornecedora de URA

(Unidade de Resposta Audível), quando, em uma conjunção de interesses,

visto que este fornecedor é também cliente, foi feita uma parceria para que o

software de Call Center explorasse mais os recursos da URA;

˗ Há interação com clientes antes do desenvolvimento do produto pela abertura

de Fichas de Não-Conformidade (FNC) de melhoria e, após seu lançamento

no mercado, pelas FNCs de correção de erros. Um exemplo prático da

participação de clientes na composição do portfolio de softwares é o módulo

de Licitações que foi originalmente desenvolvido como específico para um

cliente pela fábrica de software da torre Inovação.

Assim como o desenvolvimento simultâneo, esses dois últimos aspectos se

relacionam com o processo de combinação porque permitem que diferentes

perspectivas contribuam para a síntese das contradições, como as que

frequentemente a área de desenvolvimento se defronta.

4.2.4 Dimensão Prática

Se, na dimensão Diálogos, privilegia-se a criação do conhecimento explícito,

na dimensão Prática o modelo SECI de Nonaka e Takeuchi (1997) completa-se

privilegiando a criação do conhecimento tácito tanto pela socialização, no

compartilhamento de experiências, quanto pela internalização, na incorporação do

conhecimento explícito em um contexto novo ou particular.

A socialização pode ser observada na empresa por três práticas citadas por

Nonaka e Toyama (2005): o brainstorming, o aprendizado Artesão/Aprendiz e o

compartilhamento de experiências.

A prática do brainstorming pode ser observada no processo de transformar

uma especificação de requisitos contida no Road Map de uma versão na definição

de projeto físico e lógico de sistema. Isso funciona para os requisitos mais

Page 93: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

89

complexos da seguinte forma: os requisitos são separados por módulo do software e

assim direcionados ao GDP responsável por esse módulo; o GDP envia para o líder

da equipe de Inovação que cuida de um determinado módulo todos os requisitos

funcionais a serem atendidos por aquele módulo na nova versão; todos da equipe

responsável por aquele módulo são convocados para uma reunião para discutir cada

um dos requisitos a serem atendidos; usualmente as quatro regras do brainstorming

são relembradas: críticas são rejeitadas, criatividade é bem-vinda, quantidade é

necessária e combinação e aperfeiçoamentos são necessários; todos são instados a

opinar e dar ideias de implementação do requisito apresentado; as ideias são

registradas e avaliadas pelos analistas da equipe especialista em especificação de

projeto; as reuniões não duram mais do que uma hora; a melhor alternativa é

selecionada, porém partes de ideias descartadas são usadas para complementar a

solução final adotada.

O aprendizado Artesão/Aprendiz pode ser verificado na prática chamada na

empresa de “Anjo da Guarda”. Um colaborador recém-contratado, que não venha de

outros setores ou de experiências anteriores na própria empresa, passa por um

processo de integração conduzido pela área de recursos humanos (RH) com vistas

a ambientá-lo, esclarecer as regras e facilitar o relacionamento do novato com o

restante da equipe. Os novos analistas da área de desenvolvimento usualmente

passam por treinamentos técnicos nos sistemas da Totvs. NO CD/SP esse

treinamento inicial é conhecido pelo nome de SIT (Siga Integration Training), nome

dado por um dos sócios desde o tempo da Microsiga. Nesse treinamento inicial

abordam-se os conceitos básicos do sistema Protheus e seus principais

componentes (chamados módulos). Além disso, ele passa por cursos via Web. Esse

período inicial de preparação é chamado pelo GDP/SP de “imersão”. A partir daí,

entra em cena o “Anjo da Guarda”, que usualmente é o líder, ou eventualmente um

colega de equipe que “adota” um novo analista após o treinamento inicial desse. A

atuação do anjo da guarda vai além do treinamento técnico do pupilo pela prática de

“levar pela mão”, orientando-o também em relação ao ambiente. O Anjo da Guarda

“cuida do aprendiz” e, por exemplo, “dá o toque onde tem um restaurante bacana

pra comer, onde é o banco, como é a rotina diária do setor”, apesar de isso ser

documentado em manuais de conduta. Mas o principal apoio do anjo da guarda é no

ensino técnico específico a seu pupilo. Esse trabalho inicial dura em torno de um

mês ou dois, porém a ligação profissional dura muito mais tempo, até que o pupilo

Page 94: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

90

tenha desenvoltura suficiente para assumir sozinho os desafios típicos de sua

função. Nesse relacionamento, pode-se observar que “os aprendizes trabalham com

seus mestres e aprendem sua arte não através da linguagem mas sim através da

observação, imitação e prática” (NONAKA, TAKEUCHI, 1997 p. 69). A partir desse

período inicial de acompanhamento sistemático por parte do Anjo da Guarda, o novo

analista passa a atender a demandas mais simples que vão se complicando à

medida que ele corresponde aos desafios recebidos. Em média, depois de seis

meses, o analista está pronto para enfrentar a maioria dos desafios relativos ao

desenvolvimento de funcionalidades do sistema.

Outra prática comum na empresa que pode ser qualificada como

compartilhamento de experiências pode ser observada nos Núcleos de

Conhecimento. Como apresentado, os núcleos de conhecimento são as equipes de

profissionais especializadas em uma área específica da gestão que pode ser

representada por um ou mais módulos do sistema. Esses profissionais são

colocados em postos de trabalho próximos uns dos outros e essa proximidade

favorece a disseminação de conhecimento informal, primeiro pela afinidade dos

problemas de que tratam, segundo pela atividade social que usualmente é feita em

conjunto, como o intervalo de café, o almoço e até a convivência familiar. A

proximidade e a convivência de parte da equipe poderiam ser prejudiciais pela

formação de “panelinhas”, porém esse problema é minimizado pela troca sistemática

de funções (job rotation) entre os analistas das torres de Inovação e Sustentação,

principalmente. Essa mudança de equipe ajuda a reanimar e alimentar a criatividade

dos membros pela troca de papéis e responsabilidades no processo. Também

contribuem com a disseminação de conhecimento informal as conversas no Café

(kyukei), intervalo de quinze minutos que acontece duas vezes ao dia, uma pela

manhã e outra à tarde, além das conversas de corredor, incentivadas pela gerência

da área, nas quais frequentemente se exploram e se resolvem problemas pela troca

de experiências entre os analistas. Os novatos, principalmente, costumam usar esse

intervalo para discutir rotinas de programas, problemas e eventuais soluções com os

mais experientes. Também é comum, nos Núcleos de Conhecimento, a troca de

experiências em workshops organizados por iniciativa dos analistas, normalmente na

hora que antecede o início do trabalho. Esses workshops tratam de temas técnicos

diversos e visam compartilhar os conhecimentos dos especialistas com os demais

membros da equipe. Na visão do GDP do CD/SP, os workshops funcionam como

Page 95: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

91

“ticket de férias”, isso é, pela difusão de conhecimentos na equipe um especialista

prepara seus pares para garantir o direito de gozar férias, o que seria impossível se

somente ele dominasse o assunto.

A internalização pode ser observada na empresa pelo “aprender fazendo”

quando o conhecimento explícito é internalizado “nas bases do conhecimento tácito

dos indivíduos sob forma de modelos mentais ou know-how técnico compartilhado”

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 77). Essa internalização pode ser observada na

medida em que os analistas absorvem conhecimentos e progridem na carreira

tornando-se especialistas em determinada área de atuação. A empresa fomenta a

contratação de estagiários e trainees, garantindo a esses oportunidades de

aprendizado tanto pela convivência, como mostrado nos parágrafos anteriores,

quanto pelo acesso a conhecimentos verbalizados e diagramados “sob forma de

documentos, manuais ou histórias orais” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p. 78). O

próprio GDP do CD/SP começou sua carreira na empresa como estagiário. Outro

exemplo do “aprender fazendo” pode ser observado no desenvolvimento do módulo

Protheus de TMS (Transportation Management System). As funcionalidades básicas

do módulo seguiram o procedimento-padrão dos demais módulos a partir de uma

especificação de requisitos feitos por um especialista e a codificação desses

requisitos por uma equipe de programadores. O aprendizado de campo aconteceu,

porém, na fase de implantação do módulo em um cliente parceiro, grande empresa

de transportes, situada em São Paulo e atuando em todo o território nacional. O líder

do projeto vivenciava o dia-a-dia da empresa entendendo o funcionamento de cada

área e fazendo os ajustes no processo ou orientando os programadores a fazer

adaptações no sistema para que ele atendesse perfeitamente às necessidades do

cliente. Isso não significa que o sistema foi feito (ou refeito) para se adaptar à

empresa e sim que a prática vivenciada ensinou aos analistas, capitaneados pelo

líder de projeto, como funciona uma transportadora e, por consequência, como as

funcionalidades do sistema deveriam se comportar. Todos os profissionais

envolvidos no processo aprenderam muito sobre caminhões, manutenção, rotas,

cargas, coleta, abastecimento, motoristas e tudo aquilo que necessita de gestão em

uma empresa de transportes.

A experiência tem sido usada na história da Totvs para internalizar

conhecimento nos indivíduos seguindo o conceito de Nonaka e Takeuchi (1997, p

78) de que “a experiência que ocorreu no passado pode se transformar em um

Page 96: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

92

modelo mental tácito”. Assim como os autores citam o exemplo da Honda, em que

livros sobre a empresa ou seu fundador ajudam a propagar uma forte cultura

empresarial, também na Totvs livros como Genoma Empresarial (COSENTINO;

HABERKORN; SILVA, 2001) e Um bate-papo sobre Gestão Empresarial

(HABERKORN, 2007) procuram interpretar, analisar os fundamentos essenciais e a

disseminar o jeito de ser Totvs. Histórias, a maioria delas ligadas ao tempo em que a

empresa ainda era bem pequena, que já fazem parte do inconsciente coletivo da

empresa, são repetidamente contadas pelos mais antigos aos novos como forma de

reforçar essa cultura. Com certeza todos na empresa já conhecem a história do

almoço compartilhado pelo Laércio e o Ernesto, acontecido em 1983 e que marcou o

surgimento da Microsiga. Essa história reforça o empreendedorismo, a visão de

futuro, a persistência, o senso prático, a capacidade de negociação e outras

competências de seus líderes compiladas no genoma empresarial. Essa história,

além de contada nos dois livros citados, já foi assunto de um sem número de

matérias em revistas especializadas ou de negócios. Também já foi tema de

reuniões formais e informais como o “Café da Manhã com o Presidente”, evento em

que o presidente convidou cada colaborador nos idos de 1993, quando a empresa

mudou de sua sede original em Perdizes para Santana, e que marcou

definitivamente a empresa por mostrar sua força e capacidade de crescimento

constante acima da média. Histórias como essa fazem com que os indivíduos ao “ler

ou ouvir uma história de sucesso... sintam o realismo e a essência da história”

(NONAKA, TAKEUCHI; 1997, p. 78) transformando-se em um modelo mental com

impactos positivos na empresa e que resiste ao tempo e mesmo à expansão,

conservando uma cultura criativa e comprometida com os objetivos estratégicos.

Como ressaltado, a diagramação do conhecimento sob forma de documentos

e manuais é condição necessária para a transformação do conhecimento explícito

em tácito pela internalização. Assim, a metodologia de desenvolvimento de sistemas

com suas ferramentas, processo a ser seguido, nomenclatura utilizada, regras que

orientam a descrição de rotinas, programas, módulos e sistemas, bem como os

instrumentos de gestão do ciclo mostram-se como conhecimentos explícitos que

geram conhecimento tácito nos indivíduos que se submetem e usam essa

metodologia. A metodologia Totvs de desenvolvimento e suas ferramentas estão

detalhadamente descritas na subseção 4.2.6, “Ativos de Conhecimento”.

Page 97: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

93

Complementando a dimensão Prática, cabe ressaltar o papel da Prototipagem

como importante ferramenta de geração de conhecimento, por gerar uma base

comum a partir da qual diferentes pessoas podem interagir gerando e disseminando

conhecimento na empresa. O protótipo é uma versão com funcionalidades mínimas

que permite sua operação pelo cliente de forma a entender como será um software

depois de pronto. Ao interagir com um protótipo, o cliente experimenta o produto e

pode orientar o programador quanto aos pontos a serem melhorados de forma a

atender plenamente aos seus requisitos. Dessa forma, o programador pode

internalizar o conhecimento do cliente e compartilhar com ele suas perspectivas.

4.2.5 Dimensão BA

Os autores enfatizam que o "Ba" é mais do que um espaço físico onde as

pessoas possam trocar conhecimento. O “Ba” é um espaço metafísico em que as

interações entre os colaboradores de uma empresa acontecem, permitindo que

compartilhem seus contextos pessoais no nível dos grupos a que pertencem. O “Ba”

também acontece no compartilhamento de contextos desses grupos com outros

grupos internos ou externos. Dessa forma, o “Ba” extrapola os limites físicos dos

departamentos, dos setores, das áreas, das hierarquias, englobando todos eles em

relacionamentos intrincados e constantemente recombinados, criando novos

contextos e novos conhecimentos. Assim sendo, trata-se de uma dimensão difícil de

ser plenamente observada, porém pode-se facilmente observar os esforços para

criar, manter e conectar as múltiplas camadas que constituem o “Ba”. “Os Líderes

podem facilitar o “Ba” providenciando espaço físico, como salas de reunião, espaço

virtual com a rede de computadores, ou espaço mental como metas comuns...”

(NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 432). Esses aspectos podem ser mais facilmente

observáveis e, no caso da Totvs, estão fortemente presentes.

Fisicamente, a organização da empresa, de maneira geral, e a da área de

desenvolvimento, em especial, facilitam as interações entre os colaboradores.

Assim, somente o topo da hierarquia (Presidente, Vice-presidentes e Diretores) tem

direito a uma sala individual. Os demais níveis hierárquicos compartilham um mesmo

espaço aberto e amplo. Gerentes têm uma mesa individual, porém sem divisórias

Page 98: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

94

que os separem do restante da equipe. GDPs, Líderes, Coordenadores e Analistas

ocupam baias organizadas em filas duplas postadas frente a frente (ver FIG. 13) e

separadas por anteparos de vidro. Cada fila de baias (muitas vezes mais de uma

fila) é ocupada por um núcleo de conhecimento. Cada andar dispõe de pelo menos

uma sala de reunião para a realização de conversas formais ou informais, a qual

demande privacidade e que pode ser utilizada por todos mediante solicitação.

Figura 13: Centro Desenvolvimento São Paulo

Fonte: Foto fornecida pela empresa.

Essa organização física sem divisórias e composta de baias separadas por

vidro facilita e promove a interação pela proximidade profissional e pessoal. Essa

proximidade promove também maior compartilhamento de contextos pessoais, em

razão das oportunidades comuns geradas pela atividade social feita em conjunto,

como o intervalo de café e o almoço.

Além da proximidade, outro fator que favorece o compartilhamento de

contextos é a diversidade e complementaridade das funções e perfis de profissionais

que compõem um núcleo de conhecimento. Usualmente um núcleo é composto por

analistas de sistemas e programadores nas torres de Inovação e Sustentação,

engenheiros, analistas de software, testadores, documentadores e atendentes na

torre de Engenharia, analistas de negócio, programadores e atendentes na Torre de

Page 99: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

95

SLA. Esses diferentes profissionais com diferentes experiências pessoais trazem

contextos pessoais ricos e que se complementam com os demais participantes do

núcleo.

Para reforçar essa interação, até 2006 era comum ter pelo menos um

encontro anual de analistas de desenvolvimento com os analistas de serviço

chamado ETM – Encontro Técnico Microsiga. Dada, porém, a dimensão que a

empresa tomou a partir de então, isso se tornou inviável. Nas palavras do VPDS:

“isto tomou uma dimensão tal que a gente precisaria alugar o Pacaembu”.

Atualmente, cada centro de desenvolvimento faz, anualmente, seu encontro, cuja

dinâmica privilegia palestras institucionais e de direcionamento estratégico,

usualmente feitas pelo Presidente e Vice-presidentes, além de palestras

comportamentais ministradas por palestrantes externos contratados para reforçar

competências e comportamentos desejados pela empresa. Além disso, esses

eventos fomentam a ampliação do relacionamento entre os profissionais e

promovem o sentimento de orgulho pela empresa aumentando a “energia, paixão

profissional e tensão criativa”.

O contato direto com os clientes é outra iniciativa de compartilhamento de

contextos que pode ser qualificada na esfera física. Os clientes têm importante papel

na construção e no aprimoramento dos softwares da Totvs, seja pelas solicitações

de melhoria ou correção de erros feitas a partir do contato telefônico e registradas

em FNC (Fichas de Não-Conformidade), seja pela participação ativa no

desenvolvimento de novos módulos do sistema. Uma FNC é um documento

referenciado no sistema de gestão da qualidade da empresa e é usado para

registrar ocorrência de problemas enfrentados pelo cliente ao usar o software. Uma

FNC pode ser classificada como um erro, que, como tal, deve ser imediatamente

corrigido pela equipe da torre de Sustentação, ou classificada como uma melhoria e,

neste caso, será tratada pela equipe da torre de Inovação. Quando a melhoria é

solicitada pelo cliente, mas não é qualificada como “de interesse geral”, o cliente

pode contratar a equipe da fábrica de software da torre de Inovação para

desenvolvê-la sob medida. Também a equipe de Atendimento Continuado e

Relacionamento Especial (ACR-e) faz um trabalho de relacionamento com os

clientes, o que contribui bastante para o nível dos softwares produzidos pela

empresa. Essa interação com os clientes é fundamental para que o software seja o

mais abrangente e funcional possível, cobrindo ao máximo as diferentes realidades e

Page 100: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

96

necessidades do mercado. Essa interação é, ainda, comparável ao exemplo da

Sharp citado anteriormente, que acumula conhecimento a partir de sua base de

clientes e depois as equipes de projeto desenvolvem propostas para criar novos

conceitos e melhorar a rapidez de desenvolvimento de produtos.

O compartilhamento de contextos também é suportado virtualmente, usando a

Internet como mídia, por uma série de iniciativas da empresa e também algumas

externas que, no conjunto, são extremamente produtivas. A principal iniciativa virtual

da empresa é suportada no portal TOTVS UP, que permite o acesso em diferentes

áreas aos consultores externos, clientes, analistas e franqueados. Nesse portal

podem ser encontrados material para download, vídeos institucionais, promocionais

e de treinamento, manuais, atualizações e correções do software etc., bem como

material informativo técnico como o ITL (Informativo Técnico Logix) e o jornal

@TOTVS, usado para comunicação corporativa interna. Além dessas ferramentas, o

portal tem um blog usado pela empresa para se relacionar com toda essa

comunidade propondo temas de seu interesse e recebendo críticas e comentários.

Para a área técnica especificamente, uma ferramenta virtual que pode ser

qualificada como uma Rede de Informações ou Base de Conhecimento é o TDN

(Totvs Developer Network). O TDN (ver FIG. 14) é uma poderosa ferramenta de

consulta para usuários e desenvolvedores, que contém um amplo acervo de

conhecimento operacional e sistêmico do ERP Totvs. Nela, os analistas podem

pesquisar sobre o funcionamento das diversas rotinas do sistema, construção de

programas, rotinas, descrição de classes e métodos, enfim, tudo o que um

desenvolvedor precisa saber para desempenhar bem suas funções.

Page 101: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

97

Figura 14: TDN - Totvs Developer Network

Fonte: TOTVS, 2009.

A empresa também se utiliza de outras ferramentas de comunicação que

podem ser qualificadas dentro de um grupo geral que se chamam Teleconferências.

Nesse grupo, podem-se enquadrar iniciativas como o e-learning, as

videoconferências e vídeos on-demand. O e-learning, também chamado EAD

(Educação à Distância), engloba o ensino à distância usando a Internet como meio

de comunicação com os alunos. As aulas podem ser os workshops de assuntos

específicos, gravados pelos analistas ou cursos virtuais sobre módulos do sistema

ou ferramentas disponíveis. As videoconferências são usadas para treinamento

remoto, demonstrações de sistemas e reuniões virtuais. Os participantes da

videoconferência podem interagir com o palestrante por meio de chat ou de

conversa ao vivo pelo computador. Os vídeos on-demand são disponibilizados no

site para acesso pelos interessados e podem ser ao vivo ou material gravado. O que

diferencia um vídeo on-demand da videoconferência é a possibilidade de interação

com o palestrante, característica desta última. Vários dos entrevistados citaram essa

ferramenta como uma aliada na disseminação do conhecimento na empresa.

Também as redes sociais virtuais são usadas pela Totvs para divulgar

informações e permitir que seus colaboradores, clientes e fornecedores interajam. A

Totvs está presente no Facebook, Orkut, Twitter, Drimio e Youtube com páginas

oficiais. No Orkut, uma pesquisa pelo nome da empresa retornou mais de 1.000

Page 102: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

98

comunidades relacionadas, sendo a maioria de iniciativa não oficial. A comunidade

TOTVS S/A tem mais de 2.800 membros (ver FIG. 15). O Twitter e o Facebook têm

mais de 1.100 fãs ou seguidores, a maioria deles colaboradores atuais que recebem

informações da empresa sistematicamente por esses canais.

Figura 15: Comunidade TOTVS S/A no Orkut

Fonte: COMUNIDADE TOTVS, 2010.

Pelo Youtube, são postados vídeos de novidades com duração máxima de 10

minutos, usados para divulgar boas ideias, boas práticas, produtos e atividades da

empresa para a comunidade de interessados. Uma pesquisa pelo nome da empresa

retornou mais de 340 diferentes vídeos entre campanhas publicitárias, eventos,

festas, palestras e entrevistas com profissionais da empresa (ver FIG. 16).

Figura 16: Youtube - mais de 340 vídeos com o termo Totvs Fonte: TOTVS NO YOUTUBE, 2010.

Page 103: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

99

Entre as iniciativas virtuais externas merecem destaque alguns newsgroups

(SUPEERP, Help Fácil e outros), grupos virtuais formados por iniciativa de usuários.

Esses grupos têm por objetivo criar uma rede de relacionamento virtual, em que

alguns participantes postam dúvidas e problemas para que outros possam responder

e ajudar a resolvê-los. A Totvs participa extraoficialmente desses newsgroups de

maneira aberta ou velada, seja para ajudar a resolver as dúvidas apresentadas, seja

para se defender de ataques dos concorrentes ou desafetos que usam esses grupos

para expor problemas de relacionamento ou reclamar da Totvs pelos problemas

apresentados pelo software.

A empresa participa de fóruns eletrônicos externos de assuntos específicos,

como citado pelo GDP/SP que participa do fórum de Distribuição e Logística, do qual

a Totvs é um participante pago. Existem vários outros fóruns, de diversas outras

áreas do conhecimento de que os profissionais da Totvs participam, presentes no

portal Ning.com. O interesse da empresa é que esses profissionais se relacionem

com outros profissionais do mercado a que os softwares sob sua responsabilidade

se dirigem, assimilando a linguagem do segmento e sedimentando uma rede de

relacionamentos com pessoas e empresas atuantes na área. Esse relacionamento

direto com o mercado permite conhecer melhor os interesses desse mercado e

desenvolver softwares que atendam, o mais plenamente possível, a esses

interesses.

O Ba, entretanto, não é só um lugar, mesmo que composto por meios físicos

e virtuais de relacionamento. O Ba deve facilitar o compartilhamento dos contextos

individuais e grupais, fomentando a criação de conhecimento. Práticas comuns na

empresa reforçam o Ba mental, que decorre do sentimento de partilha e de pertença

a um grupo com objetivos e ideais comuns.

O Vice-presidente de desenvolvimento de sistemas (VPDS) chama a atenção

sobre acessibilidade à alta direção como uma característica cultural da empresa.

Essa facilidade de acesso faz com que os colaboradores se sintam amparados e

protegidos, reagindo positivamente às iniciativas da empresa em incentivar o

compartilhamento de conhecimento e experiências. Na realidade, a acessibilidade

dos colaboradores à alta direção aproxima as pessoas e as faz se sentirem parte de

um grande projeto de empresa. O Presidente realiza anualmente uma pesquisa de

clima interno chamada “O Presidente Quer Escutar Você”. Essa pesquisa é um

questionário enviado diretamente do presidente para cada colaborador e que pode

Page 104: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

100

ser respondido eletronicamente e sem identificação do autor das respostas. A

Tabela 1 contém algumas perguntas feitas nessa pesquisa e mostra o percentual de

respostas positivas obtidas em todas as unidades da empresa ao longo dos anos de

2003, 2004 e 2005. As perguntas relativas à confiança na empresa e ao orgulho

profissional de pertencer a seus quadros tiveram, em 2005, resposta geral positiva

superior a 90% e todas as demais questões relativas à satisfação em trabalhar na

empresa e suas unidades tiveram resposta positiva superior a 82%, o que evidencia

a confiança na empresa, o orgulho profissional e o senso de ideal comum (ver TAB.

1).

TABELA 1

Pesquisa “O Presidente Quer Escutar Você" 2003 - 2005

Questões 2003 2004 2005

Matriz Matriz Matriz

19. Você indicaria a um amigo a sua unidade da Microsiga como um excelente lugar para se trabalhar?

80% 78% 87%

20. Você sente orgulho em contar a outras pessoas que trabalha na Microsiga (nesta unidade)?

85% 84% 91%

21. Você se sente motivado com as oportunidades profissionais e de trabalho de sua unidade da Microsiga?

66% 66% 82%

22. De uma forma geral, você está satisfeito em ser um participante desta unidade da Microsiga?

80% 80% 87%

23. De uma forma geral, você tem confiança em sua unidade da Microsiga?

82% 80% 88%

24. A Microsiga proporciona um ambiente de trabalho estimulante e desafiador?

77% 76% 85%

25. A Microsiga incentiva e valoriza o trabalho em equipe e a cooperação entre as pessoas?

73% 72% 83%

26. Você indicaria a um amigo a Microsiga como um a excelente opção para se trabalhar?

80% 79% 88%

27. Você sente orgulho em contar a outras pessoas que trabalha na Microsiga?

85% 84% 90%

28. De uma forma geral, você está satisfeito em ser um participante da Microsiga?

81% 81% 88%

29. De uma forma geral, você tem confiança na Microsiga? 83% 81% 94%

Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

Outra iniciativa que fomenta o sentimento de pertença é a Gestão à vista,

conforme citado pelo Vice-presidente de desenvolvimento de sistemas (VPDS).

Indicadores e gráficos de produtividade por equipe, atualizados instantaneamente,

Page 105: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

101

são apresentados nos monitores colocados em cada centro de desenvolvimento.

Essa prática, apesar de alimentar alguma competição entre os grupos, na realidade

dissemina a troca de experiências fazendo com que o que é feito por uma equipe

seja imitado pelas demais com o intuito de melhorar seu desempenho. A ajuda

mútua é uma característica das genuínas equipes de alto desempenho.

“O Ba deve ser energizado para dar energia e qualidade ao processo SECI”

(NONAKA, TOYAMA, 2005, p. 432). As equipes verdadeiras, além da oportunidade

de manifestarem seus conhecimentos e compartilhar contextos profissionais, devem

também ter oportunidade de compartilhar contextos pessoais em eventos sociais.

Em uma esfera menos formal, pelo menos duas iniciativas destacam-se como

formas de energizar o Ba: o café em grupo que acontece duas vezes por dia,

conforme já relatado, e os encontros de integração, conforme citado pelo GDP/SP.

Esses encontros realizam-se no grêmio da empresa, que é uma área ao lado do

estacionamento da matriz, com quadras, churrasqueiras e outros equipamentos de

lazer. Às vezes, são feitos encontros razoavelmente informais que começam com

vídeos comportamentais, seguidos de discussões em grupo sobre o tema.

Geralmente, terminam com confraternização em um churrasco, tendo a intenção de

incentivar a integração e reforçar comportamentos desejados pela empresa.

Completando a análise dessa dimensão, cabe ressaltar o quanto as equipes

têm acesso às informações pela Intranet e Internet. Também fica claro o uso do

conceito de computação colaborativa, pois toda a base de programas e bibliotecas

de funções que formam um conjunto de ferramentas é compartilhada por todos. Para

garantir a integridade e gerenciar as configurações, usa-se o SourceSafe. A área de

tecnologia cria as ferramentas básicas (funções) disponibilizadas para todos, mas

cada um pode criar também funções que são documentadas e compartilhadas. Os

diversos programas de um módulo são construídos por diferentes profissionais a

partir de diretivas comuns e que se integram de forma a produzir um conjunto

coerente de funções.

4.2.6 Dimensão Ativos do Conhecimento

Page 106: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

102

Na dimensão Ativos do Conhecimento, além de relacionar as experiências e

práticas que demonstrem a existência e relevância de um Ativo do Conhecimento,

também se procura explicitar os mecanismos pelo quais esses ativos são usados

para produzir novos conhecimentos e como se faz para conservá-los. A

apresentação de tais ativos seguirá a classificação proposta pelos autores Nonaka,

Konno e Toyama (2000).

4.2.6.1 Ativos de Conhecimento Sociais

A Totvs sabe que uma empresa de software depende da competência e

know-how individual de seus colaboradores para produzir bons programas e

sistemas, conforme afirmação feita pelo Vice-presidente de Desenvolvimento de

Sistemas (VPDS). A empresa afirma ser, em seus princípios institucionais, “um

grupo baseado em pessoas”, pois ter nelas seu principal ativo é saber que, quando

um colaborador sai da empresa, ele está levando embora um pedacinho do negócio.

O termo RH, tradicionalmente reconhecido como “Recursos Humanos”, ganha na

empresa um significado mais amplo: Relações Humanas, e contempla não só os

funcionários, chamados pela empresa de “participantes” mas também todo o

universo de pessoas das empresas que se relacionam com a Totvs, universo

chamado de “ecossistema” e composto por clientes, fornecedores, parceiros e

potenciais clientes (ver FIG. 17).

Page 107: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

103

Figura 17: Relações Humanas

Fonte: Plano Estratégico Totvs 2007, material interno.

Os esforços para ter uma equipe de alta competência começam no

recrutamento e na seleção, passam pelo treinamento constante e pela retenção dos

talentos na empresa e podem ser reconhecidos na avaliação desses processos.

No processo de recrutamento e seleção, chamam atenção duas práticas da

empresa: a grade de competências e o teste sob pressão. A grade de competências

é um descritivo de cargos que relaciona as habilidades técnicas (ver FIG 18) e

comportamentais (ver FIG. 19) desejadas para tal cargo. A empresa utiliza uma

classificação de níveis júnior, pleno e sênior para qualificar os diferentes níveis de

experiência de seus profissionais, e a grade de competências é diferente para cada

nível de experiência de um mesmo cargo. Essa grade de competências foi definida

em comum acordo pelas áreas de RH e técnica e é um instrumento usado no

processo de recrutamento, pois define os requisitos do cargo e facilita a seleção de

candidatos, pois permite identificar quem mais se aproxima dos requisitos definidos.

Assim, a grade constitui um excelente instrumento para identificar talentos que

tenham perfil coerente com o desejo da empresa, diminuindo as chances de uma

escolha errada. O teste sob pressão, chamado comumente na empresa de

“inhanha”, é a etapa final do processo de recrutamento e seleção em que o

candidato é submetido a uma entrevista individual conduzida por um grupo de

entrevistadores tanto da área técnica quanto da área de RH. Nessa entrevista, são

feitas perguntas tanto sobre comportamento quanto questões técnicas para

Page 108: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

104

situações hipotéticas. Normalmente, essas situações hipotéticas são aproximações

de situações reais vividas com clientes ou no dia-a-dia da empresa. As situações

hipotéticas costumam ser aprofundadas, dependendo das respostas dadas pelo

entrevistado, procurando explorar o comportamento deste em situações críticas.

Além de testar o candidato, esse processo permite a aproximação do novato com a

equipe em que ele trabalhará, porque, usualmente, o questionamento técnico é

conduzido por alguém dessa equipe, criando uma familiaridade antes mesmo de o

candidato entrar para os quadros da empresa.

Cargo: Analista de Negócios Senior – 831: Função: Programação

Responsabilidades Ótimo Bom Regular Insuf.

- Executar complexas implementações solicitadas (desenvolvimento ou

manutenção), que necessitem de resolução rápida, estruturando os

programas de forma a garantir a Qualidade dos mesmos nas futuras

alterações, baseando-se em programas exemplos, regras, práticas e

convenções, bem como, ferramentas e técnicas definidas no Anteprojeto,

Projeto e Documentação Eletrônica Microsiga - DEM.

- Encaminhar esboço da documentação inerente a qualquer

desenvolvimento / implementação efetuada nos produtos de “software” -

MICROSIGA, sob sua responsabilidade.

- Registrar todo o desenvolvimento/ Alterações nos meios adequados

- Fazer levantamentos de necessidades conforme orientações do

Coordenador de Desenvolvimento;

- Atualizar versões, patches e atualizações diversas;

- Manipular o Dicionário de Dados com desenvoltura: - Criar

campos, validações, gatilhos, consultas padrões, pictures, etc.

- Conhecer a sintaxe SQL com profundidade e utilizar

ferramentas de Desenvolvimento SQL

- Dar manutenção em programas ADVPL complexos

- Conhecer profundamente as Ferramentas de BI (Workflow,

Integração, EIS, Cristal

Figura 18: Grade de competências - habilidades técnicas

Fonte: Transcrito de material interno da empresa.

Page 109: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

105

Cargo: Analista de Negócios Sênior – 831: Função: Programação

Habilidades Comportamentais Ótimo Bom Regular Insuf.

Atualização

Capacidade de Análise Objetiva

Comunicação

Energia Empreendedora

Espírito de Equipe

Integração

Motivação

Organização do trabalho

Orientação para a qualidade

Persistência

Figura 19: Grade de competências - habilidades comportamentais

Fonte: Transcrito de material interno da empresa.

No processo de treinamento, também é usada a mesma grade de

competências para identificar os pontos em que o colaborador precisa melhorar para

o bom desempenho de suas funções. Com base nos pontos de melhoria, é que são

definidos os cursos de que o colaborador deverá participar. O modelo de

capacitação baseia-se nos pilares: Capacitação Técnico-Funcional, Capacitação de

Gestores de Alta Performance, Capacitação em Competências Essenciais e

Capacitação Acadêmica e em Idiomas.

A Capacitação Técnico-Funcional tem por objetivo desenvolver conhecimento

de regras de negócio, funcionalidades e operação dos softwares, sistemas e

tecnologia Totvs. Essa capacitação dá-se em quatro níveis: Nível 1 – Graduação;

Nível 2 - Pós-graduação; Nível 3 – Especialização; Nível 4 - Específico (ver FIG. 20).

Page 110: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

106

Figura 20: Capacitação Técnico-Funcional

Fonte: Extraído de material interno Totvs.

Na graduação, o principal mecanismo de entrega é o e-learning, por meio de

cursos disponíveis no portal da empresa (portal Totvs Up). Nele, os alunos têm

acesso a uma ampla gama de cursos técnicos sobre produtos, sistemas e

metodologias da Totvs, em que eles podem se matricular, aprender e obter uma

certificação básica. Os alunos selecionam os cursos que desejam fazer, conforme a

carreira e conforme a grade de competências. O software de EAD (ver FIG 21)

controla o acesso, entrega o conteúdo, aplica e corrige as provas e, se o aluno

obtiver a nota mínima exigida, emite o certificado de conclusão do curso.

Page 111: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

107

Figura 21: Portal do Aluno Totvs EAD

Fonte: TOTVS, 2010.

Na pós-graduação, os cursos são presenciais ministrados por especialistas da

área com um calendário básico para atender à demanda geral do grupo e datas

adicionais para atender a demandas específicas. Eventualmente, usa-se o ensino à

distância por meio de teleconferência.

Na especialização, os cursos também são presenciais e usualmente

ministrados, sob forma de workshop, pelo maior especialista da empresa no tema,

chamado de “dono” pelo domínio inconteste da matéria, e provavelmente o

responsável pelo desenvolvimento do principal software da área de aplicação.

No nível 4 (específico), os cursos são sob medida tanto em conteúdo quanto

em calendário. Assim, não existe um calendário ou ementa previamente definidos e

a realização desses cursos depende da demanda tanto dos profissionais das

unidades da própria Totvs quanto de seus franqueados.

Page 112: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

108

A Capacitação de Gestores de Alta Performance (ver FIG. 22) tem por

objetivo preparar o líder na gestão de sua equipe de trabalho, com vistas a

transformá-la em Equipe de Alta Performance “composta por um pequeno número

de pessoas com conhecimentos complementares, compromissadas com propósito,

metas de performance e abordagem comuns, e pelos quais se mantêm mutuamente

responsáveis” (KATZENBACH; SMITH. 2001, p. 42). O líder de uma equipe de alta

performance tem “o perfil de gestor que valoriza as pessoas e os processos de

desenvolvimento próprio e dos outros, com o objetivo de capacitar a equipe para que

cresça profissionalmente” (MANDELLI, 2001). Esse é o perfil de gestor capaz de

garantir para sua equipe altos níveis de confiança e de autonomia, de forma a se

desocupar de atividades meramente operacionais, concentrando sua atuação no

que faz a diferença para a obtenção da alta performance, ou seja, o

desenvolvimento da equipe e a inovação de produtos e processos.

Figura 22: Capacitação de Gestores de Alta Performance

Fonte: Extraído de material interno Totvs.

Page 113: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

109

A Capacitação em Competências Essenciais tem por objetivo melhorar as

habilidades comportamentais da equipe, suprindo deficiências identificadas na grade

de competências. O modelo de entrega dessa capacitação é sempre por meio de

cursos presenciais ministrados por parceiros externos e aborda, entre outros temas,

a comunicação oral e escrita, a gestão do tempo, a organização pessoal e técnicas

de negociação.

Figura 23: Capacitação em Competências Essenciais

Fonte: Extraído de material interno Totvs.

A Capacitação Acadêmica Formal e em Idiomas é, na realidade, um programa

de incentivo em que os participantes recebem bolsas de estudo totais ou subsídios

para obtenção de graduação universitária ou domínio de línguas, especialmente o

inglês e o espanhol. No caso da graduação, a empresa faz também convênios com

escolas de ensino superior para facilitar o ingresso dos participantes nos cursos

desejados. No caso do estudo de línguas, a empresa, além de contratar professores

ou empresas para ministrar os cursos, cede suas instalações para que as aulas se

realizem no horário do almoço ou após o expediente de trabalho.

Além de oferecer um modelo completo de capacitação, a Totvs mede

sistematicamente o nível de conhecimento de sua equipe por meio de um sistema de

certificação dos profissionais chamado HCT (Homologação e Certificação Totvs).

Page 114: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

110

Entre os objetivos e vantagens do sistema destacam-se: certificar profissionais e

homologar canais Totvs quanto a seu conhecimento e capacidade de prestar um

determinado serviço; oferecer vantagens competitivas aos colaboradores e aos

canais; proteger a marca em atuações informais ou desqualificadas; incentivar a

evolução do conhecimento e do aprendizado; privilegiar a qualidade dos

profissionais. A certificação é composta por mais de 80 exames, distribuídos em uma

série de famílias, como, por exemplo, Manufatura, RH, Fiscal e outras, que, por sua

vez, são compostas por diversos módulos afins. Os exames são aplicados

virtualmente, sob a supervisão de um instrutor qualificado para garantir a lisura do

processo de qualificação. Todos os profissionais técnicos das áreas de

Desenvolvimento, Tecnologia e Consultoria devem se submeter a esta certificação.

Aqueles que se submetem aos exames são, ao final, considerados certificados ou

não. Caso não seja certificado, o profissional só pode se submeter a novo exame

depois de seis meses. A preparação para os exames pode ser feita pelos cursos

oferecidos pela empresa já citados anteriormente e também pelo autoestudo, não

sendo obrigatório o cumprimento de uma carga horária específica. O Vice-presidente

de Desenvolvimento de Sistemas (VPDS) reiterou a importância desse programa de

certificação na qualificação da equipe. Segundo ele, hoje, a área de

desenvolvimento tem aproximadamente 80% de seus profissionais certificados e o

compromisso dos gestores é elevar esse percentual para 100%. Essa certificação é

um dos fatores de avaliação de desempenho dos profissionais.

Finalizando esse importante aspecto do capital humano, cabe ressaltar as

políticas de retenção dos talentos da empresa. De nada adianta contratar bons

profissionais, treiná-los continuamente e perdê-los em seguida. Como já ressaltado,

parte do ativo da empresa extingue-se na medida em que o profissional se desliga.

Pior do que isso, eventualmente esse ativo vai engrossar o patrimônio de um

concorrente, reforçando sua atuação. A avaliação de desempenho, o

reconhecimento de talentos, a política de remuneração e benefícios, a oportunidade

de treinamento e a oportunidade de crescimento são as principais iniciativas para a

retenção dos talentos.

A avaliação de desempenho assim como a seleção de pessoas seguem a

grade de competências explicada. O processo de avaliação é feito pelo líder de cada

grupo, que atribui notas para as habilidades relacionadas ao cargo ocupado pelo

avaliado. As notas seguem a conceituação listada no Quadro 1.

Page 115: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

111

Ótimo (O) Conduz a atividade corretamente, sem qualquer dificuldade ou problema.

Bom (B) Conduz a atividade corretamente, com pouca ou nenhuma dificuldade.

Regular (R) Conduz a atividade de forma aceitável, porém com significativas dificuldades.

Insatisfatório (I) Conduz a atividade com grande dificuldade ou não consegue concluí-la.

Quadro 1: Notas da avaliação de desempenho

Fonte: Material interno da empresa pesquisada.

O avaliado também se atribui notas, segundo a mesma escala de conceitos e

em conversa direta com seu líder, discute as eventuais divergências até chegarem a

um consenso. Após a atribuição de notas, o líder também preenche a parte II do

formulário (ver FIG. 24) em que ele especifica as propostas de desenvolvimento, as

metas, os comentários e o feed-back a ser dado a cada colaborador. A partir dessa

avaliação é possível estabelecer promoções, aumentos salariais, metas e condições

para obtenção das promoções, enfim, dar ao participante uma clara visão de como

ele é visto e quais são suas perspectivas na empresa.

Figura 24: Avaliação de Desempenho

Fonte: Extraído de material interno Totvs.

Page 116: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

112

O reconhecimento de talentos pode ser observado de diversas formas na

empresa. Destacam-se os programas de premiação de talentos, o pagamento por

performance, a participação acionária e a oportunidade de crescimento.

O Programa de Premiação “Notáveis Talentos Microsiga” foi um desses

programas, realizado em 2005, na época em que a Totvs ainda se restringia à

empresa-mãe (ver FIG. 25). Considerando a base na tríade Perceber, Ser Percebido

e Tomar uma Atitude, características do talento Totvs, insistentemente reproduzida

no material estratégico interno como sendo a base para fazer a diferença, nesse

programa premiavam-se, com dinheiro e viagens, os participantes que se

destacassem em dois diferentes eventos. O primeiro evento, com o nome Prêmio

“Maratona do Talento Microsiga”, era composto por atividades e desafios mensais

em uma corrida individual pela Intranet da empresa. No segundo evento, com o

nome Prêmio “Talento Reconhecido Microsiga”, cada participante era indicado por

outro participante como sendo alguém que fazia a diferença na empresa.

Figura 25: Programa Notáveis Talentos Microsiga Fonte: Extraído de material interno.

O pagamento por performance ou resultados também foi e tem sido utilizado

pela empresa como forma de reconhecer e remunerar adequadamente seus

Page 117: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

113

talentos. O sistema de indicadores e métricas é amplamente discutido e negociado

com a equipe. Além disso, um sistema de gestão à vista, já citado anteriormente,

permite acompanhar o desempenho da equipe em tempo real, isso é, as

informações sobre o desempenho são continuamente atualizadas nos sistemas e

apresentados a todos nos centros de desenvolvimento pelos monitores. Uma parcela

dos ganhos do participante é por Remuneração Variável, e essa remuneração varia

de um departamento ou unidade para outra. Ela pode representar de 20 a 40% da

remuneração total de um funcionário.

Nos anos que antecederam a abertura do capital da empresa, ela ofereceu a

seus colaboradores e canais uma premiação especial sob forma de participação

acionária. Nesse programa, cinco por cento (5%) do capital da empresa foi

distribuído para funcionários e franquias que cumpriram as metas estabelecidas.

Após o IPO (Initial Public Offering – Oferta Pública Inicial), muitos funcionários

venderam suas ações no mercado, mas outros que permaneceram sócios

receberam suas ações pelo valor unitário calculado de R$30,00 (trinta reais), e estas

valem hoje em torno de R$105,00 (cento e cinco reais), o que representa um ganho

de 350% em cinco anos. Ter parte das ações da empresa gera no colaborador um

senso de “pertencer a algo maior” e o liga mais fortemente à empresa.

Ainda no quesito de reconhecimento de talentos, destaca-se na empresa a

prática de oferecer oportunidade de crescimento a seus colaboradores. Além das

oportunidades dadas a estagiários e trainees, anteriormente referenciadas, sendo o

próprio Gestor de Desenvolvimento de Produto do Centro de Desenvolvimento de

São Paulo um exemplo, vários profissionais construíram suas carreiras na empresa

e alguns deles chegaram a cargos destacados. O Vice-presidente de

Desenvolvimento de Sistemas começou a trabalhar na empresa como analista de

implantação, passou a gerente de projetos, gerente de operações, diretor de

operações, diretor de sistemas e, finalmente, vice-presidente. Essa política de

valorização das pessoas e de oferecer oportunidade de crescimento profissional a

quem se destaca é antiga na empresa. O próprio Presidente da empresa começou a

trabalhar na SIGA, antecessora da Microsiga e da Totvs como estagiário em 1977,

conforme relata seu sócio Ernesto Haberkorn: “ um senhor [...] meu amigo até hoje,

um dia me pediu para arrumar um emprego para seu filho, um estudante de

engenharia, de 17 anos. Seria um estágio para o garoto começar” (HABERKORN,

2007, p. 92).

Page 118: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

114

4.2.6.2 Ativos de Conhecimento Conceituais

Pode-se contabilizar como parte integrante desses ativos a forma como a

empresa conceitua, desenha e desenvolve produtos, o que pode ser entendido

como a gestão do ciclo de desenvolvimento de produtos.

A gestão do ciclo de desenvolvimento da Totvs é composta por três

elementos: as Metodologias de gerenciamento de projetos e desenvolvimento de

sistemas, os Processos de desenvolvimento e os Templates. Como ativos de

conhecimento conceituais detalham-se, a seguir, os elementos Metodologias. Os

demais elementos do ciclo serão tratados na subseção 4.2.7, “Ativos de

Conhecimento de Processos”.

O elemento Metodologias desdobra-se em duas partes que estabelecem as

regras e as fases do desenvolvimento. A primeira, chamada MDS (Metodologia de

Desenvolvimento de Sistemas), estabelece as diretrizes para a especificação de

requisitos e a segunda, chamada MGPS (Metodologia de Gestão de Projetos de

Sistema) estabelece a sistemática de gestão do ciclo.

A MDS divide a especificação de requisitos em três partes: a primeira é

chamada Especificação Lógica, a segunda Especificação Física e a terceira

Histórico de Alterações.

A Especificação Lógica divide-se em nove fases mostradas na Figura 26.

Essa etapa serve para detalhar a forma como o requisito será implementado, as

regras de negócio a que se propõe atender e as condições em que o requisito

deverá ser testado.

Page 119: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

115

Figura 26: Especificação Lógica

Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

A especificação física divide-se nas três fases apresentadas na Figura 27.

Essas definições são utilizadas para construir as bases de dados em que residirão

as informações produzidas pelo requisito de software implementado.

Page 120: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

116

Figura 27: Especificação Física Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

A parte chamada Histórico de Alterações tem apenas uma fase que acontece

ao longo de todo o ciclo em que devem ser informadas, de forma objetiva, as

alterações realizadas na especificação de requisitos durante o desenvolvimento do

componente.

A MGPS é a gestão do ciclo de desenvolvimento. Esse ciclo é tratado como

um projeto, dividido em cinco etapas ou grupos de processos: iniciação,

planejamento, execução, monitoramento e controle e encerramento. „

No processo de iniciação, devem ser cumpridas as tarefas de estudar a

viabilidade do projeto e elaborar o termo de abertura e gerenciamento da

configuração.

“Estudar a viabilidade do projeto” significa avaliar a importância e o esforço

necessário para o desenvolvimento do projeto sob forma do número de horas a

serem alocadas na construção do componente de software. A Totvs considera que

essa avaliação de esforço deve ser feita levando-se em conta as seguintes etapas e

percentuais relativos, transformados em horas, supondo-se um esforço de

codificação de componente de 750 horas:

Base de inovação ou desenvolvimento do componente funcional (1.000

horas):

Codificação do componente: 75% do tempo ou 750 horas;

Conferência técnica: 5% do tempo ou 50 horas;

Alpha Testes: 15% do tempo ou 150 horas;

Page 121: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

117

Preparação do Material: 2,5% do tempo ou 25 horas;

Capacitação Interna: 2,5% do tempo ou 25 horas;

Gerenciamento do Projeto e Especificação dos Requisitos (conforme MDS –

200 horas)

Gerenciamento de Projetos: 5% da Base de Inovação ou 50 horas;

Especificação de Requisitos: 15% da Base de Inovação ou 150 horas;

Documentação e Tradução (320 horas):

Auxílio à Documentação: 5% da Base de Inovação ou 50 horas;

Help On-line: 20% da Base de Inovação ou 200 horas;

Tradução Help On-line: 5% da Base de Inovação ou 50 horas;

Tradução ATUSX: 2% da Base de Inovação ou 20 horas;

Homologação (300 horas):

Testes Unitários – N4: 5% da Base de Inovação ou 50 horas;

Testes Integrados – N4: 15% da Base de Inovação ou 150 horas;

Plano de Testes Rational: 10% da Base de Inovação ou 100 horas.

Isso significa que, para 750 horas de codificação, consomem-se 1.820 horas

no ciclo total, considerando-se todo o projeto. Essas proporções definem índices de

produtividade que serão monitorados ao longo do ciclo, e os profissionais serão

cobrados pelas metas estabelecidas.

A etapa “Elaborar o Termo de Abertura” do projeto é preparar o documento no

qual a organização reconhece a existência de um projeto, designa e dá autoridade

ao gerente do projeto para utilizar recursos em sua execução e também relacionar-

se com as demais áreas envolvidas no processo para quaisquer necessidades que

venham a surgir. A nomenclatura de “Projeto Matriz” será utilizada sempre que

existirem vários projetos relacionados para atingir um objetivo comum; ou seja,

quando vários projetos estão contidos em um único termo de abertura. Projetos de

versão, release e localizações são considerados projetos matrizes.

A etapa “Gerenciamento da Configuração” tem por objetivo controlar as

diversas versões do software garantindo a integridade e a individualidade de cada

uma delas. A Totvs utiliza o software SourceSafe para fazer o controle de versões

dos programas que compõem seus produtos. O gerenciamento da configuração

também define quais nomenclaturas devem ser utilizadas nos documentos do

projeto e os locais em que são encontradas.

Page 122: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

118

No processo de Planejamento são cumpridas essas etapas apresentadas na

Figura 28.

Figura 28: Processo Planejamento Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

No “Plano de Gerenciamento do Projeto” deverão ser desenvolvidas e

documentadas as seguintes atividades: determinar a equipe de projeto; determinar a

matriz de responsabilidades; identificar o cronograma macro do projeto; definir a

declaração do escopo; identificar tempo e custo estimado; identificar e planejar

respostas a riscos; analisar qualitativamente os riscos e o plano de respostas;

determinar o plano de avaliação da qualidade do projeto e do produto, além da

auditoria de verificação.

“Desenvolver a EAP (Estrutura Analítica do Projeto) do projeto” significa

desdobrar o projeto em tarefas e atividades necessárias para a execução dos

objetivos propostos no escopo do projeto.

“Desenvolver o Cronograma do Projeto” é estabelecer a duração e a

sequência das atividades do projeto de modo a produzir o cronograma. Significa

determinar as datas de início e o fim de cada uma das atividades do projeto, uma

vez estando todas interligadas.

Page 123: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

119

Realizar a reunião de Kick-off é promover a reunião de abertura em que se dá

início à execução do projeto, apresentando as informações quanto ao planejamento

do projeto à equipe do projeto e ao patrocinador do projeto (sponsor).

No processo Execução devem ser cumpridas as atividades mostradas na

Figura 29.

Figura 29: Processo Execução Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

Executar o plano de gerenciamento do projeto consiste em desenvolver as

atividades necessárias para cumprir as tarefas de gerenciamento planejadas no

processo anterior.

Trabalhar para produzir o escopo do produto é o desenvolvimento

propriamente dito. Nessa etapa, devem ser criados os repositórios de dados,

codificados os programas, desenhadas as interfaces de usuários, etc.

Implementar as mudanças aprovadas significa controle de mudanças, função

executada desde o início do projeto até seu encerramento. É uma etapa em que

todas as recomendações de mudanças, as ações corretivas, as ações preventivas e

os reparos de defeitos são avaliados por todas as áreas de conhecimento e são

aprovados ou rejeitados. As mudanças são avaliadas pelo comitê de controle de

Page 124: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

120

mudanças para avaliarem o impacto e, assim, aprová-las ou reprová-las. Esse

comitê é composto pelos gestores de desenvolvimento, gestores de segmentos e o

patrocinador. Os participantes do comitê devem ser incluídos na matriz de

responsabilidades.

Realizar reuniões de andamento, no decorrer do projeto, tem por objetivo

avaliar a efetividade dos planos de gerenciamento para verificar se o que está

estabelecido como regra está sendo cumprido e se o plano necessita de

atualizações. O acompanhamento periódico do projeto permite que desvios sejam

identificados a tempo e ações corretivas sejam efetuadas, além de identificarem-se

ações preventivas que possam ser realizadas para reduzir a probabilidade de

possíveis consequências negativas. São realizadas reuniões trimestrais de

acompanhamento do projeto com a Vice-Presidência Estratégica. Reuniões

quinzenais são realizadas com a equipe de desenvolvimento e mensais, com os

parceiros.

Um Plano de Comunicação estabelece a forma que deverá assumir a

comunicação organizacional em projetos. Esse plano nos projetos de

desenvolvimento expressa-se em um documento que contém as seguintes

informações para uma comunicação efetiva: data de postagem do comunicado;

identificação dos assuntos a serem abordados em relação ao projeto; emissor da

mensagem acerca do projeto; destinatários da mensagem; qual a mensagem (e

respectivo conteúdo) que se pretende fazer passar de forma a atingir os objetivos

pretendidos. A comunicação realiza-se em documento denominado

“Comunicados.doc”, postado na pasta lógica “Documentos Gerais” de cada projeto.

São postados todos e quaisquer comunicados formais referentes aos projetos e há

um documento único por projeto, que acumula todos os comunicados durante a vida

útil deste.

No processo “Monitoramento e Controle” devem ser cumpridas as atividades

listadas na Figura 30.

Page 125: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

121

Figura 30: Monitoramento e Controle Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

Em “medir o desempenho do projeto”, a Totvs utiliza-se da técnica de valor

agregado para medir o desempenho em relação a suas linhas de base. Os

resultados de uma análise de valor agregado indicam um desvio potencial do projeto

em relação às linhas de base de custo e cronograma. O gerente do projeto deve

apurar os resultados do projeto para apresentá-los nas reuniões de andamento.

Em “controle integrado de mudanças”, após concluir que o projeto necessitará

ações corretivas ou mudanças, a solicitação é levada para o comitê de controle de

mudanças, para que se analise o impacto em todo o projeto e, assim, seja aprovada,

ou não, a mudança para sua implementação.

No Processo Encerramento devem ser cumpridas as atividades listadas na

Figura 31.

Figura 31: Processo Encerramento Fonte: Adaptado de material interno Totvs.

Page 126: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

122

Em “obter a aceitação formal do produto”, a aprovação formal indica que o

SQA considera o projeto concluído e o aceita por inteiro.

Em “documentar lições aprendidas”, o documento de lições aprendidas inclui

o que estava certo, errado e o que poderia ter sido feito de outra forma se o projeto

pudesse ser refeito. Além disso, relatam-se as causas dos problemas enfrentados no

projeto e a lógica por trás das ações corretivas implementadas. Uma cópia das

lições aprendidas é enviada à área de Engenharia de Projetos e servirá de histórico

para os próximos projetos e para melhoria contínua nas metodologias.

Em “realizar avaliação de desempenho da equipe”, a avaliação de

desempenho considera os critérios de cumprimento do cronograma, retrabalhos e

comprometimento com o Projeto. Ao gerente de projetos cabe avaliar o desempenho

dos Analistas de Projetos envolvidos, bem como do Analista Líder. Ao coordenador

de SQA cabe avaliar o desempenho dos analistas de SQA envolvidos. Ao

coordenador de documentação e tradução cabe avaliar o desempenho dos analistas

de documentação e tradução envolvidos no projeto. Nessa atividade, o avaliador

informa aos colaboradores envolvidos no projeto como sua performance foi medida e

avaliada, indicando os pontos fortes e fracos e também estabelece metas para

melhoria dos pontos fracos.

Em “elaborar o termo de encerramento do projeto”, o projeto só estará

concluído quando o encerramento for feito. O termo de encerramento define

formalmente seu encerramento, que se realiza em reunião formal pelo patrocinador.

4.2.6.3 Ativos de Conhecimento de Processos

Entre os ativos contabilizados aqui, destaca-se o conhecimento tácito

rotinizado e embutido em ações e práticas aplicáveis ao ciclo de desenvolvimento de

produtos, identificáveis pelos elementos “Processos de Desenvolvimento” e

“Templates”.

O elemento “Processos de Desenvolvimento” identifica os procedimentos da

qualidade (PQ), que detalham as atividades de desenvolvimento de produtos de

software. Tais procedimentos são parte integrante do Sistema de Gestão da

Qualidade Totvs, certificado segundo as normas ISO 9001:2008. Esse elemento

Page 127: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

123

documenta e descreve todos os processos e as atividades descritas anteriormente

no elemento Metodologias. Na Figura 32 pode-se ver um exemplo do diagrama e na

Figura 33, o detalhamento do subprocesso Concepção, parte do procedimento da

qualidade “PQ 2008-03 Processo P1 – Concepção, Construção e Entrega do

Produto de Software Protheus”.

Sim

Definir Termo de

Abertura do Projeto

Definir

Cronograma Macro

1 Sub-Processo - Concepção

INTELIGÊNCIA PROTHEUS

Termo de

Abertura

aprovado?

Não

Definir

Gerenciamento da

Configuração

Definir EAP padrão

GDP

Definir EAP padrão

Engenharia

Plano de

Gerenciamento

do Projeto

aprovada?

Definir Plano de

Gerenciamento do

Projeto

Desenvolver

Cronograma do

Projeto

Realizar reunião de

Kick-Off geral

Realizar reunião de

Kick-Off com a

equipe do Projeto

Sim

Não

Estudo de

viabilidade

Estimativas de

esforço e custo

Reunião Comitê

RoadMap

Sim

Cronograma Macro

Cronograma detalhado

2 Sub-Processo

Construção

Entradas Saídas

Obrigatoriedades de Legislação /

Solicitação de Clientes e Participantes /

Evolução e necessidades de Mercado

Realizar reunião

com o Marketing

Plano de

Gerenciamento

Publicar

comunicado de

abertura do projeto

Termo de

Abertura

Definir modelo de

Capacitação Interna

Gerenciamento da

Configuração

Publicar

comunicado de

Capacitação

Interna

Figura 32: Diagrama PQ 2008-03 Processo P1 Fonte: Transcrito de material interno da empresa.

Detalhamento 1º Subprocesso: Concepção (Continua)

Atividade: Estudar a Viabilidade do Projeto Descrição da Atividade: Realizar reuniões com a VPE (Vice Presidência de Estratégia) para desenvolvimento do roadmap. Neste subprocesso, os levantamentos iniciais para o escopo do produto são efetuados e avaliados em conjunto com as equipes VPD (Vice Presidência de Desenvolvimento) e VPE (Vice Presidência de Estratégia) gerando uma lista de requisitos que denominamos roadmap. A partir do roadmap são realizadas as estimativas de esforço e custo para conclusão do projeto utilizando as métricas definidas na metodologia. Essa atividade é executada pelo GP.

Atividade: Definir modelos para criação e aplicação das capacitações internas. Essa atividade é executada pelo GPP e Engenharia Treinamento.

Atividade: Definir o Termo de Abertura do Projeto seguindo o template padrão. Após o preenchimento, deve ser solicitada a aprovação do Termo de Abertura do Projeto Essa atividade é executada pelo GPP.

Atividade: Aprovar o Termo de Abertura do Projeto. Após assinado, o Termo de Abertura deve ser entregue à Engenharia de Projetos. Essa atividade é executada pelo GPP.

Page 128: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

124

Atividade: Publicar o comunicado da abertura do projeto relacionando todos os envolvidos.

Após a entrega do termo à Engenharia de Projetos, deve ser formalizada a abertura do projeto via e-mail para todos de IP. Essa atividade é executada pelo GPP.

Atividade: Publicar comunicado referente ao modelo adotado para as capacitações internas. Publicar comunicado de acordo com o plano de comunicação. Essa atividade é executada pelo GPP.

Atividade: Definir cronograma macro englobando todas as áreas do processo. Essa atividade é executada pelo GPP, Engenharia Documentação / Tradução / Treinamento e Engenharia SQA.

Atividade: Definir documento de Gerenciamento da Configuração do projeto seguindo o template padrão. Essa atividade é executada pela Engenharia de Projetos.

Atividade: Definir EAP padrão dos GDPs. Essa atividade é executada pela Engenharia de Projetos e GPP.

Atividade: Definir EAP padrão Engenharia. Essa atividade é executada pela Engenharia de Projetos, Engenharia Documentação / Tradução e Engenharia SQA.

Atividade: Definir Plano de Gerenciamento do Projeto seguindo o template padrão. Durante a definição do Plano de Gerenciamento do Projeto devem ser identificadas as atividades do projeto e desenvolvido o cronograma. Essa atividade é executada pelo GP.

Atividade: Desenvolver o cronograma do projeto com base no template do MS-PROJECT. Essa atividade é executada pelo GP, Engenharia Documentação / Tradução e Engenharia SQA.

Atividade: Aprovar o Plano de Gerenciamento do Projeto.

Essa atividade é executada pelo Sponsor e GPP.

Atividade: Reunião de kick-off geral do projeto.

A reunião de Kick-off deve ser registrada em ata para acompanhamento do projeto. Essa atividade é executada pelo Sponsor.

Atividade: Reunião de kick-off com a equipe do projeto.

A reunião de Kick-off deve ser registrada em ata para acompanhamento do projeto. Essa atividade é executada pelo GP.

Atividade: Reunião de alinhamento com o Marketing. A reunião de alinhamento tem entre seus objetivos encomendar a interface visual e definir a composição do kit final do produto. Essa atividade é executada pelo Gerente de Engenharia.

Figura 33: Detalhamento PQ 2008-03 Processo P1

Fonte: Transcrito material interno da empresa.

O elemento “Templates” é composto por todos os modelos de documentos

utilizados nos processos e atividades descritas anteriormente no elemento

Metodologias. Vê-se na Figura 34 um exemplo do template Termo de Encerramento.

Page 129: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

125

Figura 34: Template Termo de Encerramento de Projeto

Fonte: Transcrito de material interno Totvs.

4.2.6.4 Ativos de Conhecimento Sistêmicos

Os ativos de conhecimento sistêmicos são representados no ciclo de

desenvolvimento de sistemas Totvs, por meio das ferramentas e certificações, além

dos manuais e documentação eletrônica citados.

A metodologia completa-se pelo uso das ferramentas que apoiam o ciclo de

desenvolvimento de software na Totvs. São elas:

˗ Sistema Corporativo Microsiga, utilizando os módulos de registro de

chamados (Call Center/TMK), gestão de projetos (PMS) para controlar as

tarefas e controle de não-conformidades (QNC). Esse conjunto de

ferramentas é conhecido internamente por sistema SSIM;

˗ IDE: Ambiente de desenvolvimento Protheus. Essa ferramenta foi

desenvolvida pela área de tecnologia da Totvs;

Page 130: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

126

˗ Word/Excel: para documentação das tarefas executadas. Esses softwares

substituem algumas ferramentas de mercado que são caras e contribuem

pouco para o processo. O Vice-presidente de desenvolvimento de produtos

cita o Requisite Pro como exemplo de software para especificação de

requisitos, que é substituído com vantagem pelo Word porque aquele custa

uma fortuna e agrega pouco ao processo. Na opinião dele, “um documento

escrito em Word e gerenciado adequadamente produz o mesmo efeito”;

˗ Project: Gestão de projetos;

˗ Visual SourceSafe: gerenciamento de programas fontes;

˗ Help and Manual: software para gerar arquivos de Help reconhecidos pelos

programas;

˗ SDLX / Trados: Apoio à tradução;

˗ Robot: Software da Rational Systems para automação de testes de

programas.

Além da certificação do sistema de gestão da qualidade citada, a área de

desenvolvimento da Totvs está certificada pelo CMMi nível 3 para a Fábrica de

software e tem o certificado SAS 70. Essa atitude da empresa de se certificar por

meio de normas e organismos internacionalmente aceitos, além de validar o modelo

de gestão do processo de desenvolvimento e atestar sua qualidade, tem por objetivo

garantir a seu público-alvo a adequação da empresa a tais normas, eliminando

eventuais dúvidas quanto à sua capacidade de gestão do processo e produção de

qualidade. Em um mercado tão competitivo, caracterizado pela presença constante e

ameaçadora de concorrentes (players) de peso e renome internacional, essa

garantia é fundamental para o sucesso dos produtos de software e da empresa

como um todo. Também é considerado importante para a empresa que seus

profissionais da área de desenvolvimento, principalmente, líderes, GDPs e Gerentes,

certifiquem-se, segundo as normas do PMI (Project Management Institute) tornando-

se PMP (Project Management Professional), por que toda a metodologia de

desenvolvimento se assenta na gestão de projetos.

No quesito “Documentação Eletrônica” ou “Base de Conhecimento”, o TDN

(Totvs Developer Network) é o melhor exemplo. O TDN, conforme relatado (ver FIG.

34), é uma poderosa ferramenta de consulta para usuários e desenvolvedores, que

contém um amplo acervo de conhecimento operacional e sistêmico do ERP Totvs.

Nela, os analistas podem pesquisar sobre o funcionamento das diversas rotinas do

Page 131: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

127

sistema, construção de programas, rotinas, descrição de classes e métodos, enfim,

tudo o que um desenvolvedor precisa saber para desempenhar bem suas funções.

O Portal do Analista, por ser mais comumente usado pelos analistas da área

de consultoria como apoio em suas atividades, é também um bom exemplo de

documentação eletrônica que constitui um ativo de conhecimento sistêmico usado

para compartilhamento de contextos entre as equipes visto que, seu conteúdo é

gerado pela área de desenvolvimento. Nesse portal, além de abrir chamados

técnicos para busca de solução para dúvidas e problemas comuns, os analistas

podem baixar manuais, boletins técnicos, atualizações do produto, “patches”,

instruções de trabalho, enfim, um conjunto de ferramentas fundamentais para o bom

desempenho de suas funções (ver FIG. 35).

Figura 35: Portal do Analista

Fonte: MICROSIGA, 2010.

4.2.7 Dimensão Ambiente

Page 132: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

128

A dimensão Ambiente é amplamente conhecida e reconhecida pela Totvs. A

empresa já utiliza há tempos o termo Ecossistema para designar o conjunto de

empresas que se inter-relacionam, sejam eles clientes, fornecedores, parceiros,

participantes e outros, conforme pode ser observado por um convite de um evento

realizado em 2007 (ver FIG. 36). Também o conceito de compartilhamento de

contextos de conhecimento dentro desse ambiente pode ser observado na definição

da plataforma de tecnologia “By You” da empresa: um “hub de conhecimento

corporativo de uma empresa” que se integra em um “ecossistema de cada segmento

de mercado administrado pela Totvs [...], das relações institucionais envolvidas, do

conteúdo informativo e educacional, do relacionamento entre as entidades de classe

e seus associados e da geração de negócios” (Material interno da empresa

pesquisada). Os inter-relacionamentos de conhecimentos no ecossistema são a

base da dimensão Ambiente.

Figura 36: Conceito de Ecossistema Fonte: Extraído de documentos da empresa.

Page 133: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

129

Nessa dimensão são analisados os relacionamentos com clientes,

fornecedores, parceiros, universidades e concorrentes em busca de fatos que

comprovem a aplicabilidade do modelo.

O relacionamento com clientes, como forma de gerar conhecimento aplicado

aos softwares da Totvs, tem sido abordado em diferentes dimensões anteriormente

apresentadas. Os relacionamentos foram relatados conforme se apresenta a seguir.

O Help Desk identifica, constata e registra, em fichas de não-conformidade,

as falhas nos softwares a partir das reclamações feitas pelo cliente. O Help Desk

identifica também as melhorias solicitadas pelos clientes. Pequenas melhorias

funcionais solicitadas pelos clientes e correções de erros são desenvolvidas pela

equipe da torre de Sustentação, de maneira a fazer ajustes finos na aplicação. As

melhorias que exigem um esforço de programação maior são repassadas para a

Vice-Presidência Estratégica (VPE) como sugestão para integrar o escopo de uma

nova versão.

A fábrica de software, equipe da torre de Inovação, desenvolve produtos

customizados, ou seja, softwares sob medida para os clientes. Muitos desses

softwares passam a integrar total ou parcialmente o produto-padrão. Um exemplo

prático da participação de clientes na composição do portfolio de softwares é o

módulo de Licitações que foi originalmente desenvolvido como específico para um

cliente pela fábrica de software.

Cada versão de um software tem um Road Map definido em conjunto pelas

Vice-presidências de Estratégia, Desenvolvimento e Tecnologia, a partir de

solicitações de clientes, avaliação de produtos similares e necessidades

identificadas pelos “evangelizadores”.

A flexibilidade é o grau de adaptação do produto às necessidades do cliente.

No software Protheus, a flexibilidade vai desde a alteração de um parâmetro, até as

funcionalidades específicas criadas por cada cliente ou pela interação total por meio

dos “pontos de entrada”, permitindo mudar o próprio funcionamento-padrão do

sistema. Essa flexibilidade gera alto relacionamento entre cliente e Totvs porque,

pelo domínio da tecnologia, o cliente contribui com processos de trabalho diferentes

que podem ser contemplados pela flexibilidade nativa do sistema, o que promove a

interação no ecossistema.

Mesmo as ferramentas básicas do sistema, como o Dicionário de Dados, o

ambiente de programação, o IDE Totvs Developemnt Studio e a linguagem ADVpl

Page 134: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

130

(Avanced Protheus Language), são oportunidades de compartilhamento de

contextos com os clientes, que, ao usá-las, contribuem para seu aprimoramento,

disseminação do uso e formação de mão-de-obra.

O aprendizado de campo é outra oportunidade de interação, como a ocorrida

no desenvolvimento do módulo TMS (Transportation Management System) como foi

visto na seção 4.24. A vivência do dia-a-dia da empresa de transporte permitiu que o

analista pudesse entender o funcionamento de cada área e fazer os ajustes no

processo ou orientar os programadores a fazer adaptações no sistema para que ele

atendesse perfeitamente às necessidades do cliente.

A prototipação é uma prática comum no desenvolvimento de software que

permite ao cliente operá-lo de forma a entender como funcionará depois de pronto.

Ao interagir com um protótipo, o cliente experimenta o produto e pode orientar o

programador quanto aos pontos a serem melhorados de forma a atender

plenamente a seus requisitos. Dessa forma, o programador pode internalizar o

conhecimento do cliente e compartilhar com ele suas perspectivas.

Enfim, conclui-se que o contato direto com os clientes é uma iniciativa de

compartilhamento de contextos fundamental para a empresa. Os clientes têm

importante papel na construção e aprimoramento dos softwares da Totvs, seja pelas

solicitações de melhoria ou correção de erros feitas a partir do contato telefônico e

registradas em FNC, seja pela participação ativa no desenvolvimento de novos

módulos do sistema. Essa interação com os clientes é fundamental para que o

software seja o mais abrangente e funcional possível, cobrindo ao máximo as

diferentes realidades e necessidades do mercado.

Embora em menor grau do que o relacionamento com clientes,

relacionamento com fornecedores e parceiros também contribuem para compartilhar

contextos e gerar conhecimento sob forma de produtos de software.

As empresas parceiras (como a NG Software de Santa Catarina e a Average

Tecnologia de São Paulo), responsáveis pelo desenvolvimento de produtos de sua

propriedade usando a tecnologia Protheus, têm papel fundamental porque ampliam

a atuação funcional do produto, cobrindo melhor o leque de necessidades do

mercado. Da mesma forma, incluem-se as franquias de desenvolvimento, que são

empresas associadas responsáveis pelo desenvolvimento de produtos sob

encomenda da Totvs.

Page 135: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

131

O relacionamento da Totvs com esses parceiros é feito pela área de Apoio a

Parceiros, da torre de Engenharia, destacando-se a transferência do conhecimento

relativo às práticas adotadas; a auditoria ao cumprimento das metodologias e

processos; o acompanhamento de metas e objetivos estabelecidos pela

organização; o acompanhamento dos compromissos de entrega.

Os fornecedores podem se tornar alianças estratégicas importantes para a

empresa, como as feitas com a Intel e a IBM, facilitando o acesso a laboratórios e

tecnologias proprietárias.

Os parceiros exercem importante papel, ministrando vários cursos oferecidos

aos analistas da empresa em seu processo de capacitação em Competências

Essenciais, que tem por objetivo melhorar as habilidades comportamentais da

equipe, suprindo deficiências identificadas na grade de competências. O modelo de

entrega da capacitação realiza-se sempre em cursos presenciais ministrados por

parceiros externos e aborda, entre outros temas, a comunicação oral e escrita, a

gestão do tempo, a organização pessoal e técnicas de negociação.

Também já se relatou o Envolvimento dos fornecedores no processo de

desenvolvimento do software, ficando sua participação limitada ao relacionamento

com a Vice-Presidência Estratégica, diretamente ou por meio dos evangelizadores,

pela proposição de sugestões de melhoria que podem vir a fazer parte do Road Map

da versão. Um caso citado de participação de fornecedor no desenvolvimento foi o

da empresa fornecedora de Unidade de Resposta Audível, em que, numa conjunção

de interesses, visto que esse fornecedor é também cliente, foi feita uma parceria

para que o software de Call Center explorasse mais os recursos da URA.

O Projeto TOTVS Dá Educação é uma iniciativa do sócio fundador da Totvs,

Ernesto Haberkorn. O objetivo é disseminar conhecimento para a capacitação de

profissionais na área de Tecnologia da Informação. Presente em mais de 20 estados

brasileiros, o Projeto atua em escolas parceiras e universidades conveniadas. O

projeto oferece, sob forma de convênio, a disciplina “Gestão Empresarial com ERP”,

que tem por objetivo ensinar aos alunos como um software de Gestão Empresarial

pode ser utilizado na administração de empresas. O convênio é composto por

material didático (jogos interativos, planilhas, apresentações multimídia e exercícios

de fixação) e capacitação dos professores, para que eles ministrem a disciplina, a

partir de um roteiro de apoio ao professor. O site <www.totvsdaeducaçao.com.br>

(acessado em 6/4/10) listava mais de 20 universidades e mais de 15 escolas

Page 136: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

132

independentes conveniadas. O projeto divulga a empresa institucionalmente, além

de preparar os profissionais de TI em sistemas de gestão, formando mão-de-obra

especializada que poderá ser aproveitada pela Totvs ou por seus clientes.

4.3 Análise do caso à luz da literatura

Para avaliar as questões a que esta pesquisa se propõe a responder (a

aplicabilidade do modelo de empresa geradora de conhecimento proposto por

Nonaka e Toyama à empresa estudada e o quanto esse modelo explica a

capacidade de desenvolvimento de produtos inovadores da empresa), foram

construídos os Quadros 2 a 8

Nesses quadros estão representadas as seguintes colunas:

a) “Dimensão”: nome da dimensão;

b) “Significado da Dimensão”: definição do que é a dimensão e o que ela

significa para o modelo;

c) “Indicador”: elementos que foram pesquisados para verificar o

desenvolvimento da dimensão na empresa pesquisada;

d) “Como foi Observado”: técnicas de pesquisa que permitiram observar o

indicador na empresa;

e) “Aspectos observados”: evidências objetivas sobre o desenvolvimento da

dimensão na empresa.

A originalidade da empresa é ressaltada por sua história, por sua atitude

inovadora e pela eficiência com que ela tem executado sua estratégia. O

reconhecimento pelo mercado é, com certeza, a melhor forma de confirmar esse

sucesso. Dados atualizados relativos a 2009 já posicionam a empresa como a

sétima companhia no ranking mundial de empresas fornecedoras de software ERP,

subindo uma posição em relação ao ano anterior (Gartner – ERP Software

Worldwide ). A posição da empresa no

mercado nacional foi ampliada em 2009, tendo atingido o market share de 41,7%

(referente ao primeiro semestre de 2009), consolidando sua posição no Brasil, e

melhorou sua posição na América Latina, tendo alcançado uma participação de

20,4%, o que representou um crescimento de 2,3% contra uma perda de 2,1% de

Page 137: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

133

seu principal concorrente (IDC Latin America Semiannual ERM Applications Tracker

.

A história da empresa mostra uma trajetória de crescimento significativo pelo

sucesso nos negócios, representado por seus mais de 25.000 clientes (Material de

marketing fornecido pela empresa), pela ampliação de sua rede de distribuição e

pela presença cada vez maior no mercado mundial. O crescimento da empresa

também chama a atenção pela forma como foi realizada a aquisição de seus

principais concorrentes, que permitiu a fusão e a integração dessas culturas à

cultura original da empresa-mãe.

A atitude inovadora da empresa é demonstrada pela variedade de produtos

(são mais de 1.200 módulos no portfolio), segmentos e porte das empresas

atendidas.

A empresa mostrou-se muito aderente ao modelo dinâmico da empresa

criadora de conhecimento, tendo sido observadas todas as dimensões do referido

modelo. Dentre elas, ressalta-se o direcionamento estratégico, representado pela

missão, visão e princípios da empresa, consubstanciado nas premissas que

orientam a criação e o processo de desenvolvimento de produtos, desenhado para

gerar e compartilhar conhecimento.

A preocupação com a Visão do Conhecimento compartilhada mostrou-se

evidente nos princípios institucionais declarados pela empresa. Podem-se perceber

nos entrevistados um orgulho, uma “paixão intelectual” e uma inspiração alimentada

continuamente tanto pela ideologia quanto pelas ações diárias no sentido de traduzir

essa ideologia em produtos criativos, em métodos de trabalho inovadores, em

clientes mais competitivos, “superando os limites existentes” (NONAKA, TOYAMA,

2005). Segundo o Vice-presidente de Desenvolvimento de Sistemas (VPDS): “A

missão e a visão tentam expressar aquilo em que nós acreditamos, porém a

criatividade e a inovação estão presentes no nosso DNA. Isto nos faz diferentes”.

Assim, a inspiração, o orgulho e a paixão intelectual são alimentados pela ideologia

declarada e praticada pela empresa. A ideologia expressa pela missão, visão e

sistema de valores não é o “o que procuramos” e sim, o “onde devemos procurar”.

Inovação e simplicidade são os dois principais elementos ressaltados na missão, na

visão e nos valores, os quais orientam e encorajam a criação de conhecimento na

empresa. Pode-se afirmar que esses elementos criam o “modelo mental” comum a

todos na empresa, apontado por Senge (1998) como uma das cinco disciplinas

Page 138: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

134

necessárias ao aprendizado empresarial. Também se parecem com aquilo que

Garvin chama de “significado” (meaning), ou seja, “um conceito de organização que

aprende que seja conversível em ação” (GARVIN, 2000).

Page 139: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

135

Dim

en

são

Significado da Dimensão

Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Vis

ão d

o C

on

hec

imen

to A Visão do

Conhecimento orienta a empresa para a criação do conhecimento e inspira a paixão intelectual dos membros de maneira a encorajá-los a criar conhecimento

Missão SIM SIM SIM A Inovação é referenciada explicitamente na declaração de Missão da empresa e aplicada por meio de iniciativas como o Programa I9 (inove)

Princípios Institucionais

SIM SIM SIM

Ressaltam o pensamento simples, a ruptura com o tradicional, a competitividade e a inovação ("aprendeu a SER IGUAL, SENDO SEMPRE DIFERENTE").

Valores SIM SIM SIM

Entre outros aspectos fica evidenciada a importância que a empresa dá aos seguintes valores: Inovação Criatividade Simplicidade

Quadro 2: Análise da dimensão Visão do Conhecimento

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 140: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

136

O Objetivo Direcionador, necessário para que a visão inspiradora se traduza

em aspectos concretos que direcionem o processo de criação do conhecimento,

pode ser observado nas “premissas“ que norteiam a criação de produtos. Essas

premissas funcionam como um “código de conduta para sincronizar visão, diálogos e

práticas” (NONAKA; TOYAMA, 2005, p. 424). Elas orientam a definição das

estratégias competitivas, a definição de mercado, do portfolio de produtos e

traduzem o conceito de inovação em produtos. Assim, a empresa aposta nas

premissas do respeito ao legado, da flexibilidade e da escalabilidade como

direcionadores da estratégia de criação de produtos. Os doze segmentos e os

mercados de empresas pequenas, médias e grandes como foco de atuação são

determinados a partir das premissas de respeito ao legado, portabilidade e

conectividade. O portfolio de produtos representados pelos mais de 1.200 módulos

de cinco diferentes softwares ERP oferecidos pela empresa tem na integração e na

escalabilidade as premissas comuns. O conjunto de premissas ressalta a inovação

como objetivo geral da área de desenvolvimento de software, funcionando como um

“código de conduta” no desenvolvimento de produtos inovadores. Esse conjunto de

premissas também pode ser identificado como a disciplina “objetivos comuns”, uma

das cinco apontadas por Senge como necessárias às organizações para

continuamente estarem em processo de aprendizagem (SENGE, 1998) e completam

a visão do conhecimento na definição do “significado”, como proposto por Garvin

(2000).

Page 141: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

137

Dim

en

são

Significado da Dimensão

Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Ob

jeti

vo D

irec

ion

ado

r

Tradução da visão inspiradora em esforços práticos para torná-la realidade. Trata-se de um conceito, uma meta ou códigos de conduta para sincronizar visão, diálogos e práticas

Estratégias competitivas

SIM SIM SIM

O respeito ao legado define o portfolio de produtos A flexibilidade é o principal fator crítico de sucesso. A escalabilidade possibilita que, apesar da opção pelos pequenos e médios clientes, a empresa consiga atender também aos grandes

Setor/Mercado em que a corporação atua

NÃO SIM SIM

Respeito ao Legado permite conservar o investimento feito na implantação e treinamento de uso dos softwares. Portabilidade: a tecnologia Protheus simplificou a instalação em diferentes equipamentos Conectividade: o cliente escolhe o SGBD de sua preferência cuja tecnologia ele domine.

Portfolio de Produtos

NÃO SIM SIM

Integração: na década de 70, quando ninguém falava em sistema integrado, essa premissa já era forte e orientava a criação de softwares na empresa e convergência entre os diversos softwares oriundos das empresas e escalabilidade que é fator determinante do mix de produtos, visto que, dada a diversidade dos portes de clientes atendidos, é necessário que os softwares sejam o mais abrangente possível, oferecendo um grande número de módulos para cobrir todas as necessidades.

Inovação SIM SIM SIM As Premissas funcionam como “código de conduta” no desenvolvimento de novos softwares em produtos inovadores

Quadro 3: Análise da dimensão Objetivo Direcionador

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 142: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

138

A dimensão Diálogos, apresentada por Nonaka e Toyama (2005) como “a

síntese das contradições” que guia a criação de conhecimento, mostrou-se presente

pela necessidade em atender à diversidade de ambientes computacionais bem

como de negócios por meio da flexibilidade, portabilidade, conectividade e

escalabilidade que permitem ao software atender aos requisitos contraditórios de

Sob Medida X Pacote e Comercial X Desenvolvimento, sintetizando uma solução

abrangente e criativa na linha Protheus. Também pode ser observada em práticas

de Externalização e Combinação, como trabalho em equipe, desenvolvimento

simultâneo, fabricação de protótipos e interação com clientes. O trabalho em equipe

matricial (CLARK; FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993) pode ser

ilustrado pelo Gestor de Desenvolvimento de Produtos (GDP) que, tendo uma

responsabilidade que perpassa pelas gerências hierárquicas, explora mais

plenamente os diferentes contextos individuais fomentando o compartilhamento de

conhecimento tácito na equipe de desenvolvimento de produtos. O desenvolvimento

simultâneo (CLARK; FUJIMOTO, 1991; CLARK; WHEELWRIGHT, 1993) também

fica evidenciado pela própria equipe multidisciplinar formada pela Vice-Presidência

de Estratégia, evangelizadores, analistas, programadores, testadores,

documentadores e Help Desk trabalhando integrados numa nova versão do

software. A fabricação de protótipos (CLARK; FUJIMOTO, 1991; CLARK;

WHEELWRIGHT, 1993) e o envolvimento com os clientes (NONAKA; TAKEUCHI,

1997 p.71) também são uma constante forma de alimentar a criatividade e

abrangência do software, inclusive com o desenvolvimento de módulos inteiramente

novos. O envolvimento de fornecedores (CLARK; FUJIMOTO, 1991; CLARK;

WHEELWRIGHT, 1993) mostrou-se pouco presente nos processos de

desenvolvimento da empresa, mas nem por isto ele pode ser considerado como

pouco importante. É possível que ele seja menor em uma empresa de produção de

software porque esse tipo de negócio tem baixa dependência de fornecedores ou

pelo fato de a empresa ter optado por desenvolver sua própria tecnologia.

Page 143: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

139

Dim

en

são

Significado da Dimensão

Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Diá

logo

s

Síntese das contradições e dos diferentes pontos de

vista pode ser obtida incorporando-se aspectos relevantes dessas visões conflitantes e criando-se

novos conhecimentos, em vez de simplesmente contrapor razões ou

escolher uma delas como sendo verdade absoluta.

O Diálogo é um método de entender ou aprender o

ponto de vista das outras pessoas, descartando

preconceitos e abrindo a mente para encontrar novas soluções para as

contradições. Esse “pensamento aberto” é fundamental para que o

questionamento funcione como um catalisador para alcançar um nível mais alto

de compreensão, aprofundando o

compromisso inspirado pela Visão e pelo Objetivo

Direcionador

Externalização SIM SIM SIM A participação dos clientes e da equipe de implementação do software na adaptação deste de forma a atender a diferentes realidades.

Combinação SIM SIM SIM

O exercício do diálogo entre as áreas Comercial e Desenvolvimento permitiu que se encontrasse, na linha Protheus, uma solução para conciliar as contradições naturais. Essa solução pode ser expressa por um tipo de software que fica a meio caminho entre o “sob medida” e o “pacote” e é caracterizada pela flexibilidade, portabilidade, conectividade e escalibilidade.

Trabalho em equipe

SIM SIM SIM

O GDP é uma forma matricial de organização da equipe de desenvolvimento, visto que sua responsabilidade perpassa por funções exercidas por profissionais de diferentes “torres” que respondem hierarquicamente a diferentes gerentes.

Desenvolvimento simultâneo

SIM SIM SIM Help Desk, VPE, Evangelizadores, Analistas de Desenvolvimento, Testadores e Documentadores trabalham simultaneamente em uma nova versão do sistema.

Fabricação de Protótipos

SIM Não SIM Uso de protótipos na torre Inovação para interagir com clientes externos e internos

Envolvimento de Fornecedores

SIM Não Não Um único caso (URA) em que o fornecedor é também cliente ou esporadicamente pelo relacionamento direto com a VPE

Interação com clientes

SIM SIM SIM

Participação dos clientes na definição e adaptação do software Fichas de Não-Conformidade: Cliente ajuda a encontrar problemas Módulo Licitações: desenvolvido em conjunto com o cliente

Quadro 4: Análise da dimensão Diálogos

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 144: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

140

A dimensão Prática, conforme Nonaka e Toyama, diz respeito ao

compartilhamento do conhecimento tácito pelo compartilhamento de experiências

(socialização) e à incorporação do conhecimento explícito em um contexto novo ou

particular produzindo conhecimento tácito (Internalização). Prática, aqui, não

significa simplesmente “ação” mas sim “reflexão na ação”, o que significa que o

indivíduo precisa pensar profundamente sobre o significado essencial de suas

ações, entendendo-as dentro de um contexto e, se necessário, modificando-as. A

dimensão pode ser observada pela criação de conhecimento tácito pelo

compartilhamento de experiências (socialização) e pela incorporação do

conhecimento explícito em um contexto novo ou particular produzindo conhecimento

tácito (Internalização) (NONAKA; TOYAMA, 2005). Na empresa, a socialização pode

ser evidenciada por práticas tais como o brainstorming na especificação de

requisitos de software, o aprendizado Artesão/Aprendiz pelo “anjo da guarda” e o

compartilhamento de experiências nos núcleos de conhecimento, workshops e

almoço em conjunto. A Internalização foi evidenciada pelo aprender fazendo dos

estagiários e trainees, pelo desenvolvimento do módulo de Transportation

Management System (TMS) a partir das experiências vivenciadas em uma

transportadora e pela propagação da cultura empresarial em livros e reuniões

informais. Também as metodologias de desenvolvimento e o uso da prototipagem

(PRESSMAN, 1997; LEACH, 2000; SOMMERVILLE, 2003) pela torre Inovação para

interagir com os clientes são exemplos de práticas de Internalização.

Page 145: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

141

Dim

en

são

Significado da Dimensão

Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Prá

tica

A dimensão Prática diz respeito ao

compartilhamento do conhecimento tácito pelo

compartilhamento de experiências (socialização)

e à incorporação do conhecimento explícito em

um contexto novo ou particular produzindo conhecimento tácito

(internalização). Prática não significa simplesmente “ação” mas sim “reflexão na ação”, o que significa que o indivíduo precisa pensar profundamente

sobre o significado essencial de suas ações,

entendendo-as dentro de um contexto e, se

necessário, modificando-as.

Socialização SIM SIM SIM Brainstorming Aprendizado Artesão-Aprendiz Compartilhamento de experiências

Brainstorming SIM Não SIM Reunião GDP/Líder/equipe para transformar requisitos Road Map em projeto físico/lógico

Aprendizado Artesão/Aprendiz

SIM Não SIM Anjo da guarda ajuda os novos, tanto na integração como no aprendizado funcional

Compartilhamento de experiências

SIM Não SIM Núcleos de conhecimento: workshops, café e almoço em conjunto, job rotation

Internalização SIM Não SIM

Estagiários e trainees - progressão na carreira. GDP foi estagiário Desenvolvimento do módulo TMS: vivenciamento de problemas dentro de uma transportadora Práticas que ajudam a propagar uma forte cultura empresarial: livros de história da empresa (Genoma Empresarial e Um Bate Papo sobre Gestão Empresarial) e o Café da manhã com o Presidente.

Metodologia de desenvolvimento

SIM SIM SIM MDS: Metodologia de Desenvolvimento de Sistemas MGPS: Metodologia de Gestão de Projetos de Sistemas

Prototipagem SIM Não SIM Uso de protótipos na torre Inovação para interagir com clientes externos e internos

Quadro 5: Análise da dimensão Prática

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 146: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

142

A dimensão Ba é definida como a criação de um "lugar" em que o diálogo e a

prática acontecem de forma a implementar a visão do conhecimento por meio de seu

objetivo direcionador. Assim, "Ba" significa não só um espaço físico mas também um

tempo e espaço específicos, ou relações daqueles que estão nesse tempo e espaço

específicos. O “Ba” é um espaço metafísico em que as interações entre os

colaboradores de uma empresa ocorrem, permitindo que compartilhem seus

contextos pessoais no nível dos grupos a que pertencem. O “Ba” também acontece

no compartilhamento de contextos desses grupos com outros grupos internos ou

externos. Essa dimensão foi plenamente observada nos meios físicos, virtuais e

mentais. Como exemplo de meios físicos que facilitam a interação característica do

“Ba”, pode-se citar a disposição dos postos de trabalho sem divisórias, mantendo

juntos e facilmente acessíveis os membros dos “núcleos de conhecimento”, nome

pelo qual são conhecidos os grupos de trabalho na empresa. Os times de projeto,

formados por colaboradores de diversas áreas, inclusive da Vice-presidência

estratégica, trabalhando simultanea e complementarmente, também são exemplos

completos de como funciona o “Ba” na empresa. Além desses são exemplos os

círculos informais formados diariamente nos intervalos de café e almoço e os

encontros técnicos que reúnem, pelo menos uma vez por ano, os profissionais

técnicos para trocarem experiências e receberem orientação estratégica da área, e,

mais ainda, as trocas de conhecimento proporcionadas pelo contato direto com

clientes.

O “Ba” também se manifesta em espaços virtuais apoiados principalmente

pelo portal TOTVS UP, que permite o acesso em diferentes áreas aos consultores

externos, clientes, analistas e franqueados. O portal dá acesso a blogs e ao Totvs

Developer Network, uma rede de informações usadas pelos analistas para registrar

e recuperar informações técnicas relevantes. Por meio do portal, também podem ser

acessados as ferramentas de e-learning, videoconfências e vídeos sob demanda.

Completam a galeria de espaços virtuais os newsgroups mantidos por grupos de

usuários (SigaBr, SupeErp e Help Fácil), redes sociais virtuais como Orkut,

Facebook, Twitter, Drimio, Youtube e os fóruns mantidos no portal Ning.com.

O Ba mental pode ser constatado no sentimento de pertença, do orgulho

profissional e da competição saudável fomentada pela diretoria. A computação

colaborativa, promovida pelas ferramentas de suporte ao desenvolvimento, e o livre

acesso tanto às informações quanto à alta direção mostraram-se práticas

Page 147: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

143

facilitadoras das interações de contexto de indivíduos e grupos. “Movimentam” esse

Ba o relacionamento direto com os clientes que impelem continuamente a empresa

ao desenvolvimento de novas funcionalidades, ferramentas e módulos integrados ao

ERP e acumulados como conhecimento tácito e explícito pelas equipes que

vivenciam essa relação.

Page 148: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

144

Dim

en

são

Significado da Dimensão Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Ba

Criação de um "lugar" onde o diálogo e a prática acontecem de forma a implementar a visão do conhecimento por meio de seu objetivo direcionador. "Ba" significa não só um espaço físico, mas também um tempo e espaço específicos, ou relações daqueles que estão nesse tempo e espaço específicos. O “Ba” é um espaço metafísico em que as interações entre os colaboradores de uma empresa acontecem, permitindo que compartilhem seus contextos pessoais no nível dos grupos a que pertencem. O “Ba” também acontece no compartilhamento de contextos desses grupos com outros grupos internos ou externos.

Grupos de trabalho SIM SIM SIM Núcleos de conhecimento: proximidade da equipe alocada em um escritório sem divisórias

Times de Projeto SIM SIM SIM Help Desk, VPE, Evangelizadores, Analistas de Desenvolvimento, Testadores e Documentadores trabalhando conjuntamente em uma nova versão do sistema

Círculos informais SIM Não SIM Kiokey: Café em grupo Encontros de integração da equipe: treinamento e laser juntos

Encontros SIM SIM SIM ETM: Encontro Técnico Microsiga acontecia quando o número de técnicos era menor e, mais recentemente, os encontros anuais por Centro de Desenvolvimento

Newsgroups SIM Não SIM Mantidos por clientes de forma independente: Sigabr, SUPEERP, Help Fácil

Redes sociais virtuais

SIM Não SIM A Totvs mantém comunidades nas redes mais importantes e conhecidas: Facebook, Orkut, Twitter, Ning, Drimio e Youtube

Contato direto com os clientes

SIM SIM SIM

Fichas de Não Conformidade: clientes ajudam a corrigir e ampliar as funcionalidades do software Fábrica de software: clientes financiam novos módulos ACR-e: clientes críticos promovem a evolução da qualidade do software

Rede de Informações (Base de Conhecimento)

SIM SIM SIM Portal de conhecimento: Acesso através do portal Totvs Up no TDN e Portal do Analista Teleconferências: e-learning, conferência e on demand

Acesso às Informações

SIM Não SIM Acessibilidade à alta direção, a Pesquisa O presidente Quer Escutar Você, a Gestão à vista, Intranet e Internet

Computação colaborativa

NÃO SIM SIM

O trabalho de um analista pode ser usado por outros, por exemplo: ferramentas (Libs) geradas pela área de Tecnologia, as funções compartilhadas por meio do software Source Safe, que é o repositório onde essas funções ficam.

Quadro 6: Análise da dimensão Ba

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 149: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

145

Os Ativos do Conhecimento definidos como “... não são somente o

conhecimento já existente, como know-how, marcas, patentes e tecnologias, mas

também incluem o conhecimento para criar conhecimento como a capacidade

organizacional de inovar” (NONAKA; TOYAMA, 2005 p. 429) podem ser observados

em quatro tipos, classificados como sociais, conceituais, processuais e sistêmicos. A

competência e know-how da equipe são a base do capital intelectual da empresa

que, por isso, se preocupa continuamente com o processo de recrutamento, seleção,

treinamento e retenção de talentos. O objetivo é manter uma equipe auto-organizada

que irradie energia, paixão e tensão criativa na conceituação, desenho e

desenvolvimento de produtos, apoiada em Metodologias de Desenvolvimento de

Sistemas (MDS) e Metodologias de Gestão de Projeto de Sistemas (MGPS), na

formalização dos processos (PQ e Templates) e na Documentação (Manuais, TDN e

Portal do Analista).

Page 150: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

146

Dim

en

são

Significado da Dimensão

Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Ati

vos

do

Co

nh

ecim

ento

É o conjunto de conhecimentos criados nos diálogos e nas práticas do BA. É um bem intangível, muda dinamicamente e não pode ser comprado e vendido. Vai além de manuais, patentes, tecnologias e marcas, incluindo também a própria capacidade de geração e aplicação de novos conhecimentos (capacidade de inovar).

Competência e know-how

SIM SIM SIM

Uma empresa de software depende da competência e know-how individual dos seus colaboradores Recrutamento e Seleção: grade de competências e "inhanha" Treinamento: Capacitação Técnico-funcional, Capacitação de Gestores de Alta Performance, Capacitação em Competências Essenciais e Capacitação Acadêmica e Idiomas; HCT Retenção de talentos: avaliação de desempenho, reconhecimento de talentos, política de remuneração e benefícios, oportunidade de treinamento e oportunidade de crescimento; participação acionária

Equipe auto-organizada

SIM SIM SIM Capacitação de Gestores de Alta Performance Avaliação de desempenho

Energia, paixão e tensão criativa

SIM SIM SIM Programas de reconhecimento: Notáveis Talentos Microsiga Pagamento por performance e oportunidade de carreira Participação Acionária

Conceituação, desenho e desenvolvimento de produtos

SIM SIM SIM Metodologia de Desenvolvimento de Sistemas (MDS) Metodologia de Gestão de Projetos de Sistemas (MGPS)

Formalização dos processos

SIM SIM SIM Processos da Qualidade (PQ) para a área de desenvolvimento Templates

Documentação (Manuais e bases de conhecimento eletrônicos)

SIM SIM SIM

Sistemas de suporte da Metodologia: conjunto de ferramentas para suportar o trabalho de desenvolvimento Certificações: SAS70, CMMi e ISO 9000 Base de conhecimento eletrônicas: TDN e Portal do Analista

Quadro 7: Análise da dimensão Ativos do Conhecimento

Fonte: Elaborado pelo autor

Page 151: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

147

A dimensão Ambiente ou “ecossistema do conhecimento” é a integração do

Ba da empresa com os Bas de outras organizações como clientes, fornecedores,

concorrente, universidades e institutos de pesquisas. Conforme afirmam Nonaka e

Toyama (2005, p. 430), “empresas criam conhecimento pela síntese de seus

próprios conhecimentos e do conhecimento de vários agentes externos como

clientes, fornecedores, competidores ou universidades”. A maioria desses

relacionamentos criativos mostrou-se presente, e apenas o relacionamento com

concorrentes não foi observado na empresa. Usando de todos os meios físicos,

virtuais e mentais disponíveis relatados, os colaboradores constituem diversas

camadas do “Ba” que se relacionam dentro e fora dos limites da empresa. Assim, o

núcleo de conhecimento dentro de cada uma das torres dos centros de

desenvolvimento é a primeira instância do “Ba”. Um núcleo de conhecimento da torre

de Inovação relaciona-se com o núcleo de conhecimento correspondente na torre de

Sustentação. Um núcleo de conhecimento da torre de Sustentação interage com os

contextos dos profissionais de atendimento (Help Desk) e Analistas de Negócio da

torre de Engenharia. Os programadores tanto da torre de Inovação quanto de

Sustentação interagem com testadores e documentadores da torre de Engenharia.

O GDP é um profissional que coordena, cataliza e energiza essas interações. A

instância dos núcleos de conhecimento relaciona-se com várias outras instâncias

externas à área de desenvolvimento como os clientes que se relacionam com o Help

Desk e com os Analistas de implantação da área de serviços da empresa, ou com os

analistas da fábrica de software e ACR-e. A torre de Engenharia relaciona-se com os

parceiros por meio de testadores, documentadores e gestores de projetos. Esses

relacionamentos e os bons frutos colhidos pela empresa nessas interações

demonstram claramente a dimensão Ambiente do modelo (ver FIG. 37).

Page 152: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

148

Figura 37: Ecossistema de Conhecimento Totvs

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 153: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

149

Dim

en

são

Significado da

Dimensão Indicador

Como foi observado Aspectos observados

Entrevista Análise de Documentos

Observação Participante

Am

bie

nte

A dimensão Ambiente pode ser entendida como

o ecossistema de conhecimento que

consiste de um conjunto de BAs multicamadas que existem dentro e por meio

da organização, ultrapassando seu limite físico, estendendo-se e

interagindo com similares em clientes, fornecedores,

concorrentes e escolas.

Compartilhamento de contextos

NÃO SIM SIM

Convergência 2007: ecossistema para designar o conjunto de empresas que se inter-relacionam sejam eles clientes, fornecedores, parceiros, participantes e outros A tecnologia “By You”: define um “hub de conhecimento corporativo de uma empresa” que se integra em um “ecossistema de cada segmento de mercado administrado pela Totvs"

Relacionamento com clientes

SIM SIM SIM

Interação: FNC, Fábrica de software, ACR-e e Road Map da versão Flexibilidade do produto leva ao domínio da tecnologia e à interação com cliente pelo uso de ferramentas comuns (IDE/ADVpl) Desenvolvimento de novos módulos: TMS vivenciado no cliente Prototipação: permite troca de experiências com cliente

Relacionamento com fornecedores e parceiros

SIM Não Não

Parceiros desenvolvedores de software (NG/Franquias): Complementam o portfolio de produtos e agregam conhecimento específico Fornecedores de treinamento (IDORT. MUTTARE) Fornecedores de Tecnologia (IBM, Intel) Desenvolvimento de novos módulos: URA integrada ao Call Center

Relacionamento com universidades

SIM SIM SIM Projeto Totvs dá Educação: principal iniciativa da empresa para disseminar tecnologia e formar mão-de-obra.

Relacionamento com concorrentes

Não Não Não Não evidenciado na empresa

Quadro 8: Análise da dimensão Ambiente

Fonte: Elaborado pelo autor.

Page 154: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

150

Assim, pode-se concluir que o modelo de empresa geradora de conhecimento

proposto por Nonaka e Toyama aplica-se à empresa estudada, apesar de isso não

ser conhecido por ela. Isso significa que, apesar de aderente ao modelo, a empresa

não se inspirou nesse modelo para implementar suas práticas. Todas as dimensões

do modelo foram desenvolvidas por necessidade de mercado ou da organização

interna e, em conjunto, caracterizam a empresa como geradora de conhecimento.

Questionado sobre como ele chegou ao modelo de gestão adotado, o Presidente da

empresa revelou que realmente não se baseou formalmente em Nonaka e Toyama,

cuja obra desconhecia. Ele afirmou ter partido de conhecimento formal adquirido na

graduação e pós-graduação, mais o conhecimento obtido pelas experiências vividas

e observadas em outras empresas de sucesso. Chama a atenção essa coincidência

quando se avalia o material de marketing da empresa (ver FIG. 38), em que os

elementos básicos do modelo estudado, como o conhecimento tácito (representado

pelo termo Entendimento) e o explícito (representado pelo termo Conhecimento),

trabalhados no nível individual do grupo, das organizações e do ambiente, estão

claramente destacados.

Figura 38: Coincidências em termos e conceitos

Fonte: Extraído de material de marketing da empresa.

Page 155: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

151

A capacidade de desenvolvimento de produtos inovadores também é

inegável. A ampla base de clientes, a liderança no mercado nacional e a alta

representatividade na América Latina como um todo, o crescimento vertiginoso da

empresa com a aquisição da maioria de seus concorrentes demonstram sua

eficiência na condução de seus negócios. A base desse sucesso reside na

criatividade, praticidade e aplicabilidade de seus softwares, conforme declarou o

próprio presidente, condutor da empresa desde sua fundação.

Enfim, conclui-se que a empresa escolhida como objeto do estudo de caso,

exatamente por seu sucesso e suas soluções inovadoras, mostrou-se plenamente

aderente ao modelo de Nonaka e Toyama, tendo sido observadas todas as suas

dimensões. Como se sabe, o modelo proposto por Nonaka e Toyama foi elaborado a

partir da observação de empresas japonesas e, portanto, em um mercado e cultura

bastante diversos do brasileiro. A aplicabilidade do modelo em uma empresa

brasileira inovadora e de sucesso sugere que ele pode ser estendido a outras

realidades e gerar diferenciais para as organizações que o adotarem.

Page 156: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

152

5 CONCLUSÃO

Neste trabalho foram apresentadas algumas reflexões sobre a geração de

conhecimento como diferencial de competição entre as empresas, procurando

mostrar como a informação e o conhecimento, bem como sua utilização de forma

estratégica, na criação de novos produtos, a busca de novos mercados e a adoção

de processos inovadores, tornam-se objetivos principais para as empresas que

realmente desejam vencer em um mercado cada vez mais competitivo e globalizado.

Também se evidenciou o quanto o conhecimento se mostra como um dos

mais valiosos ativos para as organizações, não importando setor ou ramo de

atuação e, de forma especial, para aquelas que se baseiam no uso do conhecimento

como matéria-prima, como é o caso das empresas que atuam no desenvolvimento

de software, chamadas comumente de “software-houses”, em que o conhecimento

torna-se produto. Essa constatação aponta a importância da Gestão do

Conhecimento como um instrumento adequado para gerenciar um recurso

intangível, volátil e ao mesmo tempo tão fundamental como o conhecimento, e

incorporá-lo às estratégias e ações empresariais.

A importância acadêmica da gestão do conhecimento evidenciou-se pelo

crescente interesse despertado pelo tema, tendo sido desenvolvidas diferentes

definições e propostos diferentes modelos a partir de diferentes perspectivas. No

presente trabalho analisaram-se modelos que propiciam facilitar a implementação da

GC nas empresas: a organização que aprende (SENGE, 1998), a abordagem dos

três M‟s (Meaning, Management e Measurement) (GARVIN, 2000), a abordagem da

codificação versus personalização (HANSEN; NOHRIA; TIERNEY, 1999) e a

empresa criadora de conhecimento (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; NONAKA;

TOYAMA, 2005). O modelo de Nonaka e Toyama foi escolhido como base para o

estudo de caso desta pesquisa por ser mais abrangente e mais detalhado em suas

dimensões, o que o torna mais facilmente observável.

Na presente pesquisa, mostrou-se que a maioria dos casos que ilustram a

criação e a gestão do conhecimento nas empresas está ligada ao desenvolvimento

de novos produtos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) e que existe uma estreita relação

entre desenvolvimento de novos produtos e criação do conhecimento, “porque o

processo de desenvolvimento de novos produtos é simplesmente a essência da

Page 157: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

153

criação do novo conhecimento organizacional” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997 p.270).

Foram discutidas várias pesquisas acadêmicas que evidenciam a importância da

Gestão de Conhecimento para empresas de software.

A presente dissertação foi baseada em pesquisa qualitativa do tipo descritiva,

usando o método do estudo de caso, para avaliar o quanto uma software-house se

adapta ao modelo de empresa geradora de conhecimento proposto por Nonaka e

Toyama (2005). Nesta pesquisa também se verificou se o modelo é aplicável a uma

software-house brasileira e que indicadores demonstram essa aplicabilidade.

A unidade empírica de análise selecionada foi a TOTVS S.A., fundada em

1983, que atua na área de tecnologia e sistemas de informação. A empresa

desenvolve, comercializa, implementa e presta consultoria em sistemas de gestão

empresarial (ERP) para empresas nacionais e internacionais, notadamente na

América Latina. A empresa foi escolhida por se tratar de um caso raro ou extremo

(YIN, 2001). O caso é raro porque, apesar de a empresa ser uma software-house

como muitas, alguns aspectos fundamentais a diferenciam, como o porte e o

domínio do mercado de softwares aplicativos chamados de ERP (Enterprise

Resource Planning); e o Brasil é o único mercado mundial onde a SAP (Systeme,

Anwendungen und Produkte in der Datenverarbeitung - fornecedora de software

alemã) não é a líder. Além disso, a empresa passou por processos recentes de

fusão e aquisição de algumas de suas maiores concorrentes. Contribuiu para a

escolha o fácil acesso do pesquisador ao local onde o estudo será realizado

(GODOY, 1995b) e a todo o corpo diretivo da empresa, por ter se relacionado com

ela por mais de 25 anos como cliente, funcionário, consultor e franqueado. A

estratégia de coleta de dados baseou-se em entrevistas semiestruturadas, em

análise de documentos e observação participante.

Concluiu-se que todas as dimensões do modelo proposto por Nonaka e

Toyama se mostraram desenvolvidas na empresa, apesar de alguns fatores listados

não terem se mostrado relevantes. O modelo de empresa geradora de conhecimento

proposto por Nonaka e Toyama se aplica à empresa estudada. Apesar de aderente

ao modelo, a empresa não se inspirou nele para implementar suas práticas. Essas

foram implementadas por necessidade de mercado ou da organização interna e, em

conjunto, qualificam a empresa como geradora de conhecimento.

A ampla base de clientes, a liderança no mercado nacional, a alta

representatividade na América Latina como um todo e o crescimento vertiginoso da

Page 158: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

154

empresa com a aquisição da maioria de seus concorrentes demonstram sua

eficiência na condução de seus negócios tendo, por isto mesmo, sido escolhida

como objeto de análise de estudo.

Concluiu-se que, apesar de o modelo de Nonaka e Toyama não ser

deliberadamente o motor estratégico da empresa, o fato de todas as dimensões

estarem presentes na empresa e a importância dos fatores que o qualificam estarem

presentes no processo permitem estabelecer uma correlação do modelo com a

capacidade de geração de conhecimento e inovação na empresa e também com seu

sucesso.

Tais conclusões, entretanto, podem ser limitadas uma vez que foram

baseadas principalmente nas entrevistas com a alta gerência. As percepções

levantadas devem ser avaliadas quantitativamente em uma pesquisa junto ao corpo

de analistas para que sejam validadas. Esta análise complementar é sugerida como

um dos trabalhos futuros para complementação deste estudo.

5.1 Trabalhos futuros

Apesar de este trabalho ter alcançado os objetivos propostos, verificou-se que

alguns acréscimos podem ser elaborados a partir dos resultados obtidos. Sendo

assim, recomendam-se, como trabalhos futuros:

avaliar outras software-houses brasileiras para analisar eventuais diferenças

na aplicação do modelo, além dos resultados obtidos por elas;

pesquisar novos fatores que evidenciem as dimensões do modelo;

fazer estudo quantitativo para medir a percepção de funcionários e clientes

acerca do modelo e suas dimensões;

fazer estudo similar daqui a cinco anos ou mais para uma análise temporal

comparativa de aderência ao modelo e sustentação da competitividade;

desenvolver um instrumento de diagnóstico a partir do modelo de Nonaka e

Toyama.

Page 159: GESTÃO DO CONHECIMENTO NO DESENVOLVIMENTO DE

155

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