geografia histórica e ativismos sociais

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Texto de Glauco Bruce Rodrigues

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  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .241

    Glauco Bruce RodriguesProfessor Adjunto do Departamento de Geografia e do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal Fluminense - Campos dos [email protected]

    Geografia histrica e ativismos sociais1

    Resumo

    O artigo prope a articulao de dois campos de pesquisa relativamente negligen-ciados no Brasil, que so a Geografia dos Ativismos Sociais e a Geografia Histrica. Nessa perspectiva, propomos a constituio de uma Geografia Histrica dos Ativismos Sociais. Tal campo pode ser caracterizado pela centralidade da anlise da espacialidade de ativismos sociais a partir de um olhar que incorpora de forma profunda e consistente a historicidade e a temporalidade. Dessa forma, buscamos incorporar o referencial terico e metodolgico da Geografia Histrica, ao mesmo tempo em que se preservam as contribuies e formulaes tericas prprias das pesquisas relativas aos ativismos sociais.

    Palavras-chave: Geografia Histrica, Ativismos Sociais, Territrio, Espao.

    Abstract

    HISTORICAL GEOGRAPHY AND SOCIAL ACTIVISM

    The following article proposes the articulation of two often neglected research fields in Brazil, which are Geography of Social Activism and Historical Geography. Through this perspective, it is suggested the conception of a Historical Geography of Social Activism. Such field can be characterized by having the analysis of the spatiality of social activism at its core by means of the incorporation of historicism and temporality in a thorough and consistent inquiry. Therefore, it is intended to incorporate the theoretical and methodological framework of the Historical Geography while fully preserving the contributions and theoretical formulations of researches constituent of social activisms.

    Key-words: Historical Geography, Social Activism, Territory, Space.

  • 242. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    1. Colocando a questo

    O objetivo deste breve artigo colaborar para a articulao de dois

    campos de pesquisa e ao poltica: a Geografia Histrica e os ativismos

    sociais. Tais campos, em si, apresentam amplas possibilidades de produo

    de conhecimento crtico, assim como de insero poltica do gegrafo na

    dinmica das lutas sociais.

    Trata-se de um texto que possui um carter introdutrio e geral,

    que busca apresentar, de forma breve e sinttica, os elementos tericos e

    metodolgicos que julgamos mais pertinentes a cada campo especfico.

    A partir desta panormica, sugerimos a possibilidade de articulao de tais

    campos como uma forma singular de compreender o processo de produo

    e organizao do espao.

    A Geografia Histrica um campo que nos permite uma densa

    articulao entre tempo e espao na anlise da espacialidade social. Tal

    articulao deixa explcita a constituio daquilo que podemos chamar de

    complexos espaos-temporais, nos quais a espacialidade e a temporalidade

    so elementos indissociveis e no hierarquizados. Essa perspectiva nos

    permite superar, ou, ao menos, amenizar de forma significativa, a dico-

    tomia entre tempo e espao, quando tais dimenses so pensadas de forma

    autnoma, hierrquica ou com uma frouxa relao, fazendo com que se

    reproduzam anlises nas quais uma ou outra no passe de uma referncia

    distante ou burocrtica, o que nos leva aos famosos quadros geogrficos

    e contextos histricos, onde tempo e espao so molduras ou palcos, que

    pouco ou nada acrescentam anlise de determinada questo.

    A Geografia Histrica, nessa perspectiva, um campo de pesquisa

    caracterizado, fundamentalmente, no pelo estudo do passado, mas sim

    pela clara e explcita articulao espao-tempo na anlise dos processos

    sociais, nas quais as espacialidades de perodos histricos pretritos so

    privilegiadas pelas pesquisas. Tal articulao se d pela incorporao do

    que podemos chamar de elementos histricos anlise: as diferentes

    temporalidades que caracterizam uma historicidade (os eventos, as conjun-

    turas e a longa durao) e as periodizaes. Em outras palavras, o gegrafo

    deve incorporar as lies do historiador Marc Bloch, que define a Histria

    como a disciplina que estuda o homem no tempo, o que implica identificar

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .243

    e analisar as duraes e permanncias, as estruturas e conjunturas, os

    movimentos, as diferentes temporalidades da dinmica social.

    O campo de pesquisa e insero poltica efetiva dos ativismos sociais

    nos permite superar aquilo que Souza (2012, p. 21) chamou de olhar de

    sobrevoo, adaptando a expresso pensamento de sobrevoo, cunhada por

    Merleau-Ponty. Tal expresso refere-se ao predomnio da anlise centrada

    nas grandes estruturas socioeconmicas e polticas apropriadas de forma

    hegemnica pelas classes dominantes, negligenciando a capacidade de

    ao dos demais protagonistas sociais.

    Atribuir o carter de protagonista aos ativismos sociais nos coloca

    a pos sibilidade de outra perspectiva de produo do conhecimento. Quando

    consideramos os ativismos sociais como princpio da ao, estamos nos

    descolando do olhar de sobrevoo e partindo diretamente das formas con-

    cretas atravs das quais homens e mulheres vivenciam e experimentam

    as contradies e os conflitos.

    Essa experincia concreta nos remete s formas pelas quais homens

    e mulheres atribuem sentido e significado a suas vidas, produzem e ins-

    tituem valores que julgam justificar e legitimar suas identidades e modos

    de existncia. da experimentao concreta das condies objetivas e

    subjetivas de existncia que homens e mulheres formulam ideias e noes

    de direitos que acreditam ser legtimas de serem institudas e conquistadas.

    Dessa experincia concreta e cotidiana so construdos projetos polticos

    e identidades que dinamizam a ao social e impulsionam esses protago-

    nistas para o campo dos conflitos e lutas sociais, constituindo os ativismos

    sociais. desse processo crtico e conflituoso que surge a possibilidade

    do surgimento do novo, da realizao de transformaes conjunturais e

    estruturais nas relaes de poder e na organizao scio-espacial. Tais

    formulaes no so novas, j foram explicitadas por diversos autores,

    dentre os quais destacamos Ribeiro (1980, 1990, 1991), Thompson (1981,

    1998), Castoriadis (1982, 1983, 1985, 1992, 2002, 2004), Gonalves (1984,

    1999, 2001, 2003), Ribeiro e Machado da Silva (1985), Sader (1988), Zibechi

    (1999, 2003), Souza (1988, 2000, 2006, 2008, 2012) e Bernardo (2009).

    Quais seriam, concretamente, as vantagens e os avanos, ainda que

    modestos, para a Geografia, ao se articular esses dois campos de pesquisa?

    A articulao entre a Geografia Histrica e os ativismos sociais nos coloca

  • 244. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    a possibilidade de outra forma de se compreender o processo de formao

    do territrio e da produo social do espao. disso que se trata. Outro

    olhar, outra forma de se produzir conhecimento crtico que parte da ao

    dos ativismos e de suas territorialidades. Nessa perspectiva, partimos da

    ao concreta de homens e mulheres para compreender a produo do

    espao-tempo social a partir de um recorte especfico, que so os ativismos

    sociais, o que significa dizer que a centralidade da anlise est na dinmica

    dos conflitos e lutas que constituem a dinmica da sociedade, portanto, do

    prprio processo de formao territorial.

    fundamental ressaltar que tal centralidade da ao no significa

    negligenciar ou marginalizar outros sujeitos e agentes sociais, como o

    Estado e as classes dominantes; significa colocar como princpio de anlise

    os conflitos e as contradies sociais em estado vivo, latente. Trata-se,

    portanto, de atribuir aos ativismos um protagonismo que nem sempre

    foi devidamente valorizado e incorporado Geografia, mesmo aquela de

    carter crtico, principalmente marxista. Quando atribumos aos ativismos

    a centralidade do protagonismo, no podemos nos esquecer que no existe

    protagonista sem antagonista, logo, o conflito, as lutas e as contradies

    so os elementos centrais da anlise geogrfica, levando em considerao

    o movimento amplo e total da sociedade, explicitando as relaes de poder

    e a luta de classes. Nesse sentido, a articulao desses dois campos nos

    permite colocar em relevo a espacialidade dos conflitos sociais e a ao

    dos ativismos como chave conceitual central para a anlise do processo de

    formao do territrio, em uma perspectiva histrica. Assim, esperamos

    poder contribuir com uma forma de compreender a sociedade brasileira e

    seu processo de formao territorial a partir das lutas, dos conflitos e dos

    ativismos, retirando do Estado e das classes dominantes o monoplio da

    ao e, dessa forma, superando o olhar de sobrevoo.

    Passamos agora para a panormica relativa aos dois campos.

    Esperamos que o leitor possa visualizar as articulaes que propomos

    a partir dos apontamentos acima. No final do texto, apresentaremos um

    brevssimo exemplo de como viabilizar empiricamente uma pesquisa nesse

    recorte temtico.

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .245

    2. Ativismos Sociais e Geografia

    As dcadas de 1960 e 1970 foram caracterizadas pela emergncia dos

    chamados novos movimentos sociais. Nesse perodo histrico, surgiram

    diversas formas de ao coletiva, em diferentes pases, que colocavam em

    questo as bases societrias e civilizatrias do capitalismo e do socialismo

    real, alm de explicitar diversas formas de opresso. O surgimento de novos

    protagonistas, engajados em diversos tipos de lutas, suscitou a constituio

    de novas formas de organizao, questes e conflitos. Esse o contexto da

    emergncia contempornea dos movimentos ambientalista, feminista, da

    juventude, pacifista, indgena, negro, anti-homofbico, pela descolonizao

    da frica e da sia e contra as ditaduras na Amrica Latina.

    A temtica dos ativismos sociais se constituiu como um campo de

    pesquisa particular nas Cincias Sociais, exatamente nesse contexto,

    quando diversos intelectuais e pesquisadores incorporam a suas formula-

    es questes levantadas por novas formas de ao social que, at ento,

    eram significativamente marginalizadas e tinham pouca ou nenhuma

    visibilidade poltica no espao pblico.

    Inmeros intelectuais no restringiram sua ao ao plano acadmico,

    circunscrevendo suas atividades pesquisa. Diversos deles passaram a

    colaborar e, muitos, a militar diretamente junto aos ativismos, caracteri-

    zando uma insero de parte da intelectualidade na dinmica das lutas e

    dos conflitos sociais.

    A Geografia, por sua vez, no incorporou de forma significativa a

    temtica dos ativismos sociais. Balanos e anlises tm sublinhado um

    duplo aspecto: por um lado, sua dimenso espacial tem sido largamente

    negligenciada pelas Cincias Sociais em geral e, por outro, temos a reduzida

    ateno dada pela disciplina ao tema, assim como lacunas tericas e meto-

    dolgicas (NICHOLLS, 2007; SOUZA, 2008; PEDN, 2009 e SANTOS, 2011)2.

    O ponto de partida para a anlise da espacialidade dos ativismos

    sociais estabelecer a distino conceitual entre ativismos e movimentos,

    conforme proposto por Souza (1988, 2000 e 2006). Nesse sentido, vamos

    recuperar a formulao do autor, na qual prope uma diferena entre as

    diversas formas de organizao e mobilizao social, com o objetivo de

  • 246. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    analisar criticamente o potencial transformador, os limites e as insuficin-

    cias dos ativismos:

    proponho, assim, designarmos como movimentos, muito amplamente, os ativismos que, pela natureza das suas reivindicaes, e das experincias e dos sofrimentos de seus protagonistas, encarnam, a despeito da no-explicitao em programas e mesmo das contradies poltico-ideolgicas conjunturais, uma afronta ao status quo (SOUZA, 1988, p. 114).

    os ativismos sociais (ou ativismos, simplesmente, para evitar uma redundncia) so um conjunto mais amplo de aes pblicas organizadas, do qual os movimentos sociais seriam um subconjunto. Os ativismos sociais, como aes pblicas orga-nizadas e relativamente duradouras, diferenciam-se de aes coletivas efmeras e pouco organizadas ou desorganizadas, como quebra-quebras (vandalismo de protesto), saques e outras; e, como aes pblicas, em sentido forte, diferenciam-se tanto da criminalidade ordinria (mesmo organizada) e de organizaes terroristas, quanto de grupos de presso e lobbies, em sentido restrito, que tendem a atuar nos corredores do poder estatal, pressionando parlamentares ou administradores pblicos e articulando trfico de influncia, entre outras atividades que no pro-priamente pblicas. Os movimentos sociais, de sua parte, seriam uma modalidade especialmente crtica e ambiciosa de ativismo social, distinta de ativismos paroquiais. Estes encaminham reivindicaes pontuais, sem articul-las com questionamentos mais profundos, relativos a problemas nacionais e internacionais, e sem construir pontes entre a conjuntura, cujo domnio no ultrapassam, e as estruturas, que no chegam a tematizar. So, no raro, prisioneiros do ou contaminados pelo clientelismo (SOUZA, 2006, p. 278. Grifos no original).

    A constituio de um movimento social o resultado de um processo

    de construo coletiva de uma identidade, um discurso, estratgias e tticas

    de ao visando a determinados objetivos. Assim, um movimento social

    se constitui na experincia concreta das condies objetivas e subjetivas

    de existncia, na relao entre estrutura e conjuntura:

    Os homens e mulheres retornam como sujeitos, dentro deste termo [a experincia] no como sujeitos autnomos, indivduos livres, mas como pessoas que expe-rimentam suas situaes e relaes produtivas determinadas como necessidades e interesses e como antagonismos, e em seguida tratam essa experincia com sua conscincia e sua cultura (as duas outras expresses excludas pela prtica terica [de Althusser]) das mais complexas maneiras (sim, relativamente autnomas) e em seguida (muitas vezes, mas nem sempre, atravs de estruturas de classes resultantes) agem, por sua vez, sobre sua situao determinada (THOMPSON, 1981, p. 183. Grifos no original).

    Ponto fundamental para uma anlise geogrfica dos ativismos sociais

    a espacialidade da ao social. Em outras palavras, a preocupao com

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .247

    a anlise explcita da espacialidade dos ativismos sociais, enfim, da relao

    entre ao social e espao. Esta perspectiva, contraditoriamente, no

    devidamente valorizada ou apresentada de forma consistente, fazendo

    com que grande parte da produo geogrfica assuma um carter mais

    sociolgico ou econmico, do que propriamente geogrfico. Gonalves

    (1999) busca estabelecer uma relao entre o conceito de movimentos

    sociais e a espacialidade quando afirma que

    a expresso movimento social ganha, assim, para nossa compreenso das identi-dades coletivas um sentido geogrfico muito preciso: que o vemos como aquele processo atravs do qual um determinado segmento social recusa o lugar que, numa determinada circunstncia espao-temporal, outros segmentos sociais melhor situados no espao social pelos capitais (Bourdieu) que j dispem tentam lhe impor e, rompendo a inrcia relativa em que se encontravam, se mobilizam movimen-tando-se em busca da afirmao das qualidades que acreditam justificarem sua existncia (GONALVES, 1999, p. 69).

    A primeira questo que se coloca : o que, efetivamente, deve-se

    entender por espacialidade dos ativismos sociais? Na tentativa de preen-

    cher tal lacuna e contribuir para o debate, Souza (2008, p. 368-369), prope

    cinco pontos que as reflexes e as pesquisas empricas deveriam ser

    capazes de revelar:

    1. O espao de referncia identitria, ou seja, a identidade e a subje-

    tividade coletiva produzida com uma referncia explicitamente espacial

    que funda e constitui o prprio ativismo;

    2. O espao enquanto lugar, ou seja, os espaos vividos e percebidos,

    apropriados simblica e afetivamente;

    3. As estratgias espaciais, ou seja, as formas como o espao utilizado

    ttica e estrategicamente pelos ativismos durante suas lutas;

    4. A forma como o substrato espacial (a materialidade) influencia,

    condiciona ou determina as demandas ou questes que so a razo de

    existncia do ativismo (concentrao fundiria, carncia e deficincia dos

    bens de consumo coletivo, poluio, desmatamento, segregao scio-es-

    pacial etc.);

    5. As transformaes espaciais realizadas pelos ativismos a partir das

    relaes sociais e de poder produzidas de forma imanente. Novas relaes

    sociais e de poder engendram novas espacialidades. Em outras palavras:

    que nova organizao scio-espacial instituda pelo ativismo em questo.

  • 248. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    Os cinco pontos propostos por Souza nos permitem pensar, de forma

    explcita e efetiva, a espacialidade dos ativismos sociais, uma vez que

    ressaltam seus atributos fundamentais. Alm disso, nos oferecem diretrizes

    e balizamentos metodolgicos para organizar e orientar as pesquisas.

    Outra questo importante acerca da espacialidade dos ativismos a

    distino, proposta por Souza (2006), entre ativismos urbanos lato sensu e

    ativismos urbanos stricto sensu. Os primeiros dizem respeito aos ativismos

    que, apesar de possurem uma determinada espacialidade e utilizarem o

    espao urbano para suas manifestaes e reivindicaes (afinal, a cidade

    o locus do poder e da poltica), so animados por questes que no colocam

    a dinmica do espao urbano em questo ou que se referenciam apenas

    indiretamente espacialidade e remetem a questes como a luta contra o

    racismo, a homofobia, o machismo, por melhores condies de trabalho,

    pela melhoria de servios como a educao e a sade, por exemplo. Assim,

    ainda que tais ativismos utilizem de forma estratgica o espao urbano e

    estabeleam vnculos entre suas questes fundamentais com a espaciali-

    dade (racismo e segregao scio-espacial, distribuio espacial dos equi-

    pamentos de sade e educao, por exemplo), a questo da dinmica do

    espao urbano no funda ou constitui o cerne dos ativismos. Os ativismos

    urbanos stricto sensu so aqueles que colocam de forma direta e explcita a

    dinmica do espao urbano em questo, ou seja, so aqueles onde o espao

    assume uma centralidade, que funciona como o elemento catalisador

    da ao social, referncia para as identidades e vnculos, condiciona as

    estratgias e os objetivos da coletividade, afinal, a transformao de sua

    dinmica, ou, pelo menos, de parte dela, o objetivo final da mobilizao.

    So exemplos desse tipo de ativismo as lutas por moradia, melhorias

    nos bens de consumo coletivos, regularizao fundiria, meio ambiente

    urbano, contra a especulao imobiliria e a segregao scio-espacial etc.

    Ativismos urbanos em sentido estrito e forte giram muito ntida e explicitamente em torno de problemas diretamente vinculados ao espao social. A questo do acesso a equipamentos de consumo coletivo e, mais abrangentemente, as condies de reproduo da fora de trabalho assumem, aqui, importncia central. Trata-se de um tipo de ativismo que tem origem em um clamor pelo direito cidade: luta por moradia e por infraestrutura tcnica e social, luta por regularizao fundiria e desestigmatizao de espaos segregados, luta por maior acesso a equipamentos de consumo coletivo (...). Ativismos urbanos em sentido amplo e fraco, de sua parte, so aqueles que, embora tenham as cidades como seu palco preferencial (e,

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .249

    s vezes, quase exclusivo), se referenciam apenas indiretamente pela espacialidade urbana. Sua existncia gravita em torno de questes setoriais (melhores condies de trabalho e resistncia contra a explorao e a opresso na esfera da produo, luta contra desigualdades e injustias de gnero, etc.) (...) (p. 280-281).

    Apesar do autor centrar sua anlise na dinmica dos ativismos

    urbanos, podemos estender o raciocnio para outras formas de luta social

    que tenham no espao um carter central, como elemento que catalisa

    a ao (a luta pela terra, por exemplo) ou como um elemento ttico e

    estratgico fundamental para o desenvolvimento das lutas (o que nos

    remete ao uso poltico do espao e s estratgias de ao dos ativismos,

    como ocupaes, passeatas, bloqueios etc.).

    Apreender a espacialidade dos ativismos sociais implica realizar a

    anlise dos atributos que os constituem. A literatura acerca dos ativismos

    destaca uma grande diversidade de atributos que os constituem e que

    devem ser identificados e analisados (RIBEIRO, 1980 e 1991; GOHN, 1997;

    GONALVES, 1999, 2001 e 2003; CASTELLS, 2000[1972]). A partir dessas

    formulaes, destacamos os seguintes atributos:

    1. Os protagonistas - Quem so aqueles que esto se colocando em

    movimento? O que pensam sobre si e sobre o mundo em que vivem? Quais

    so as identidades produzidas (culturais, tnicas, polticas, espaciais etc.),

    qual a sua base social, sua formao enquanto classe?

    2. Os motivos e objetivos - Remetem s causas pelas quais as pessoas

    esto se mobilizando, seus objetivos e interesses. O que coloca as pessoas

    em movimento? Quais so as condies objetivas e subjetivas que mobi-

    lizam uma determinada coletividade? Quais so seus objetivos e projetos?

    3. As formas de organizao - Como determinado ativismo se organiza,

    como ele se estrutura para alcanar seus objetivos.

    4. Os tipos de manifestaes e estratgias de ao - So as prticas,

    aes e estratgias desenvolvidas pelos ativismos para alcanar seus obje-

    tivos. Quais so as estratgias espaciais utilizadas pelos protagonistas?

    5. As escalas - Possuem um duplo aspecto, de extenso, quando

    informa sobre a rea de abrangncia e/ou ao de um ativismo, e de

    qualidade, que se refere capacidade de articulao poltica e econmica

    e seu horizonte de luta poltica.

    A anlise de tais atributos, luz dos balizamentos propostos por

    Souza (2008), nos permite produzir uma matriz metodolgica cujo objetivo

  • 250. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    central apreender a anlise da espacialidade da ao social de forma

    indissocivel de sua historicidade. Da a importncia da Geografia Histrica

    em nos fornecer elementos slidos e substanciais na anlise das tempora-

    lidades deste tipo de ao social.

    3. Geografia Histrica: tentativa de definio e legitimao do campo de pesquisa

    Durante o III Encontro Nacional de Histria do Pensamento

    Geogrfico e I Encontro Nacional de Geografia Histrica, realizado na

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, em novembro de 2012, o pro-

    fessor Pedro Vasconcelos apresentou um trabalho sobre a constituio da

    Geografia Histrica como um campo de pesquisa especfico. Partindo de

    um abrangente levantamento bibliogrfico, o autor coloca como ponto

    de partida de sua reflexo a prpria definio do que seria a Geografia

    Histrica. Em outros termos, coloca a questo do recorte temtico que

    confere singularidade, coerncia e consistncia a esse campo de pesquisa.

    O autor chama ateno para a diversidade de definies e perspectivas

    encontradas ao longo do tempo, quando a Geografia Histrica foi definida,

    por exemplo, como a descrio de uma rea no passado (HETTNER,

    1898 apud VASCONCELOS, 2012, p. 1), o estudo geogrfico de qualquer

    perodo do passado (MITCHELL, 1954 apud VASCONCELOS, 2012, p.

    1), o estudo das mudanas geogrficas atravs do tempo (DARBY, 1954

    apud VASCONCELOS, 2012, p. 1), os estudos das geografias do passado

    (BUTLIN, 1993 apud VASCONCELOS, 2012, p. 1), toda a geografia conju-

    gada a toda histria, nas preocupaes e os mtodos mais variados dessas

    disciplinas (PITTE, 2005 apud VASCONCELOS, 2012, p. 1) e, finalmente,

    como o estudo geogrfico do passado, destacando (que) o interesse prin-

    cipal com as mudanas geogrficas atravs do tempo (BAKER, 2003

    apud VASCONCELOS, 2012, p. 2).

    O que nos interessa mais diretamente no a diversidade de propostas

    e perspectivas em si, mas os elementos em comum que existem e nos per-

    mitem identificar a singularidade (ou no) de um campo de pesquisa geo-

    grfico. Existe esse elemento em comum? A princpio, diramos que sim,

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .251

    ele existe de fato, no entanto, a forma como ele foi apropriado, analisado ou

    incorporado que apresenta diferenas, da a importncia de se sublinhar

    a diversidade. Que elemento esse? a articulao entre historicidade e

    espacialidade, ou, como coloca Cortez (1991, p. 12), a Geografia Histrica

    podra definir en primera aproximacin como a percepcin temporal de

    los problemas espaciales3. No entanto, o que podemos observar que tal

    articulao no possui a mesma consistncia ou densidade em todas as

    propostas ou perspectivas, principalmente se levarmos em considerao

    o atual estado da Geografia Histrica brasileira.

    O primeiro ponto a ser discutido remete densidade da articulao

    espao-tempo que orienta a perspectiva terica e metodolgica da pes-

    quisa. Para usar uma expresso cara ao professor Milton Santos, o campo da

    Geografia Histrica deve ser capaz de trabalhar com a relao indissocivel

    entre tempo e espao, temporalidade e espacialidade; neste campo, a

    Histria, o Tempo e a Temporalidade no so meramente instrumentos

    auxiliares que permitem uma vaga contextualizao ou moldura da anlise

    geogrfica, mas compem, tal qual a espacialidade, o centro da anlise.

    Queremos chamar a ateno para o fato de que no basta situar um evento

    ou processo no tempo ou utilizar um determinado perodo histrico como

    moldura para caracterizar um campo de pesquisa como Geografia Histrica.

    O perodo, a temporalidade e a historicidade devem estar organicamente

    articulados com a espacialidade para que seja possvel identificar com

    clareza os recortes ou complexos espaos-temporais e no constiturem

    meramente molduras e referncias que pouco ou nada contribuem para

    a anlise do processo em si.

    fcil identificar na Geografia uma quantidade significativa de traba-

    lhos, principalmente dissertaes e teses, nas quais o captulo do contexto

    histrico faz recuos e cortes no tempo que pouco ou nada contribuem para

    a anlise da questo central (remetendo ao mito das origens do qual nos

    fala Marc Bloch). Nesse sentido, no basta dizer que tal processo ocorreu

    na dcada de 1950 se esse perodo histrico no for devidamente articulado

    questo central, se sua temporalidade no for ressaltada, devidamente

    contextualizada e que tenha sua espacialidade explicitada, de forma que

    seja efetivamente possvel articular e compreender a contextualizao

    de tal processo espacial em determinado recorte histrico. Assim, como

  • 252. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    argumenta Erthal (2003, p. 30), a Geografia Histrica alm de se preocupar

    em recuperar as espacialidades pretritas que marcam as espacialidades

    atuais, busca metodologias apropriadas e esfora-se em refletir a categoria

    tempo, a fim de fornecer subsdios abordagem espacial e temporal.

    A densidade de tal articulao nos coloca outra questo: existe

    Geografia que no seja histrica? possvel uma produo intelectual

    no campo da Geografia que possa abrir mo da historicidade? difcil

    responder negativamente tal indagao quando devemos reconhecer que

    a Geografia um produto da histria (e essa, por sua vez, se faz por meio

    do espao). E, como sustenta Moraes (2000, p. 2), seja a geografia material

    objetivada no espao terrestre, seja o discurso geogrfico acerca de tais

    realidades, ambos constituem elementos do fluir histrico, sendo por ele

    explicveis. Logo, incluem-se na histria, no podendo se reportar a ela

    como um outro. Nesse sentido, impossvel prescindir da historicidade

    e da temporalidade dos processos, no entanto, importante ressaltar que

    existe uma significativa flexibilidade e diversidade nas formas de incor-

    porar as articulaes necessrias entre tempo e espao.

    Sem dvida, muito tnue a linha que nos permite circunscrever o

    campo da Geografia Histrica, no entanto, levando em considerao as

    principais referncias da temtica, nos parece que a densidade desta

    articulao espao-tempo que confere singularidade ao campo. Tal den-

    sidade conduz, necessariamente, a uma aproximao dialgica com a

    Histria seus conceitos, procedimentos metodolgicos e campos tem-

    ticos. Aproximao dialgica no significa a converso do gegrafo em

    historiador, tampouco o abandono das tradies e do corpo terico e meto-

    dolgico da Geografia, mas sim o enriquecimento mtuo, a apropriao

    de uma srie de formulaes e procedimentos prprios da Histria, que

    vo permitir uma produo consistente no campo da Geografia Histrica.

    A aproximao com a Histria nos permite reforar a linha que

    circunscreve o campo de pesquisa da Geografia Histrica, principalmente

    em relao metodologia. Se o elemento central que confere singularidade

    ao campo de pesquisa a densa articulao espao-tempo, ser necessrio

    o aprofundamento metodolgico para o desenvolvimento de pesquisas na

    rea. Nesse sentido, a vasta produo e o robusto acmulo metodolgico

    da Histria podem contribuir para fortalecer a singularidade temtica na

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .253

    medida em que um conjunto de procedimentos metodolgicos passa a

    ser imprescindvel para as pesquisas no campo da Geografia Histrica,

    particularmente no que diz respeito aos processos de periodizao4 e

    recortes histricos da pesquisa, levando em considerao a sincronia e/

    ou a diacronia (ESTAVILLE, 1991; VASCONCELOS, 1999; SILVA, 2012)

    e a seleo, a organizao, a sistematizao, o uso e a apresentao das

    diferentes fontes de pesquisa utilizadas, como documentos oficiais, censos,

    inventrios, testamentos, arquivos paroquiais e cartoriais, processos judi-

    ciais, mapas, fotografias, pinturas, dirios, entrevistas etc. (ABREU, 1987,

    1998, 2005a e 2010; NORTON, 1991; LOWENTHAL, 1998; BLOCH, 2001;

    CARDOSO; BRIGNOLI, 2002; PINSKY; LUCA, 2012).

    exatamente este dilogo crtico com a Histria que nos leva a

    rechaar algumas definies simplistas da Geografia Histrica como sendo

    o estudo das geografias do passado ou a descrio de uma rea em outro

    perodo de tempo. Quando buscamos na Histria o embasamento terico

    para lidar com questes sobre histria, historicidade e periodizao, por

    exemplo, encontramos formulaes como a de Marc Bloch, que critica

    a ideia de que a Histria simplesmente o estudo do passado (BLOCH,

    2001) e sustenta a formulao de que a Histria a cincia dos homens no

    tempo, cuja categoria fundamental a de durao, que remete diretamente

    s ideias de temporalidade e historicidade. Assim, se a Histria, segundo

    Bloch, no deve ser circunscrita ao passado, tampouco se define por esse

    horizonte temporal pouco preciso, por que a Geografia Histrica deveria

    ficar circunscrita ou ser definida, a priori, pelo estudo do passado? Se

    considerarmos seriamente o adjetivo histrico, devemos buscar seu

    significado mais profundo em seu campo disciplinar originrio, que a

    Histria. Nessa perspectiva, devemos considerar as palavras de um dos

    fundadores da Escola dos Annales que revolucionou a historiografia, junto

    com Lucien Febvre, libertando a Histria dos fatos do passado e colocan-

    do-a diante de problemas e questes. Para alm disso, fcil observar a

    ampliao do campo de pesquisa e atuao dos historiadores para o que

    convencionado chamar de presente.

    O debate acerca do estudo do presente e do passado ganha uma cono-

    tao singular quando lidamos com a relao entre Histria e Geografia.

    No texto Sobre a memria das cidades, o professor Maurcio de Almeida

  • 254. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    Abreu questiona uma determinada ideia, significativamente consolidada

    no imaginrio social, que determina uma diviso temporal do campo de

    atuao das disciplinas: a Histria trataria do passado e a Geografia do

    presente. O autor afirma que mesmo com o processo de renovao da

    Geografia a partir da dcada de 1970, sob a influncia do materialismo

    histrico, a disciplina no conseguiu

    revogar uma das leis frreas da geografia, escrita no se sabe por quem nem quando, mas certamente no por Kant no final do sculo XVIII, que impe despoticamente disciplina o estudo do presente, legando histria o estudo do passado. Uma lei nitidamente freudiana, que s pode ser explicada pela luta travada pela geografia para afirmar-se na diviso positivista do saber do final do sculo XIX, e que s lhe autoriza a tratar do passado se for para buscar nele o entendimento do presente ou a previso do futuro. Uma lei que, paradoxalmente ou pour cause, teve na geografia francesa, originalmente mais prxima da histria do que outras escolas nacionais (Claval, 1984), o seu maior guardio (ABREU, 1998, p. 92).

    A passagem acima retoma, a partir de outra perspectiva, a breve dis-

    cusso que fizemos anteriormente. Se, por um lado, a Geografia Histrica

    no deve ser somente reconhecida como um campo singular de estudos

    pelo fato de trabalhar com o passado, nada impede que este recorte tem-

    poral seja aquele privilegiado por este campo como uma forma de se

    contrapor presena hegemnica do presente na produo geogrfica.

    Assim, no h lei proibindo, e nada impede que a geografia estude o

    passado (ABREU, 1998, p. 93). No entanto, Abreu no defende a ideia de

    definir a Geografia Histrica simplesmente como um estudo do passado.

    Ele chama ateno para a necessria, indissocivel e densa articulao

    espao-tempo:

    Para estudar e interpretar os espaos do passado, o que fundamental ento definir quais so os conceitos e variveis adequados anlise do tempo que se decidiu estudar. Se o objeto uma cidade, o ponto de partida a recuperao do quadro referencial maior daquele lugar naquele tempo, ou seja, o seu enquadra-mento espao-temporal. Em outras palavras, temos que recuperar o tempo do lugar, isto , o conjunto de temporalidades prprias a cada ponto do espao, [que] no dado por uma tcnica, tomada isoladamente, mas pelo conjunto de tcnicas [amplamente definidas] existentes naquele ponto do espao [naquele momento do tempo] (Santos, 1994, p. 62) (ABREU, 1998, p. 94. Grifos e alteraes no original).

    A ideia da espacialidade do social nos permite pensar o desenvol-

    vimento dos processos sociais atravs da produo e da organizao do

    espao geogrfico. Nessa perspectiva, o tempo histrico entendido como

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .255

    processo social aberto e se realiza ao constituir uma determinada espa-

    cialidade. Assim, tempo e espao so imanentes entre si e s relaes

    sociais. Dessa forma, partimos da espacialidade e da historicidade das

    relaes sociais para realizar uma anlise onde no h hierarquia ou

    predeterminao de um sobre outro. Podemos falar da historicidade do

    espao geogrfico e da espacialidade do tempo histrico.

    A Geografia, nessa perspectiva, possui como objeto de anlise a

    espacialidade das relaes sociais ou, de outra forma, a espacialidade do

    processo histrico. Tal espacialidade pode ser apreendida em qualquer

    perodo histrico. Nessa perspectiva, possvel remeter formulao de

    Moraes (2000, p. 3), na qual o autor sustenta a existncia de uma deter-

    minada organizao espacial (geogrfica) das sociedades em qualquer

    perodo histrico, o que torna legtimo o interesse do gegrafo na pesquisa

    de outros perodos histricos que no tenham como horizonte temporal o

    presente. Nesse sentido, este autor argumenta que:

    Pode-se, portanto, dizer que qualquer perodo da histria e em qualquer sociedade existe uma geografia (material e discursiva) que compe a cultura de cada grupo social e de cada civilizao. A variedade destas geografias inerente variedade de culturas existentes na histria humana. Logo, h a necessidade de diferenciar e historicizar as culturas para bem contextualizar suas geografias.

    Portanto, no faz sentido limitar a anlise geogrfica ao presente,

    permitindo a existncia legtima de um campo de trabalho em Geografia

    denominado Geografia Histrica. Podemos pens-la como um campo de

    anlise da espacialidade das sociedades humanas em diversos perodos

    histricos. Na apresentao do livro Rio de Janeiro: formas, movimentos,

    representaes, Abreu (2005a, p. 4) coloca a questo da seguinte maneira:

    O principal objetivo da linha de pesquisa analisar, sob a perspectiva da Geografia Histrica, os percursos trilhados pela cidade atravs do tempo. Como no poderia deixar de ser, a dimenso espacial ocupa um lugar privilegiado nas investigaes, mas isso no quer dizer que a ateno se limite anlise e/ou reconstituio das formas morfolgicas de outrora, sejam elas naturais ou construdas. O que se objetiva discutir criticamente o processo histrico de produo do espao carioca, identificando, para cada perodo estudado, suas foras propulsoras, seus protagonistas, e agentes modeladores, suas contradies materiais ou simblicas e sua resultante espacial. O que se busca, em ltima anlise, estudar a relao entre processo social e forma espacial atravs do tempo.

  • 256. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    A partir de tais formulaes, inspiradas principalmente nas obras de

    Darby (1962), Norton (1984 e 1991) e Baker (2003), as principais refern-

    cias da Geografia Histrica brasileira (os professores Pedro de Almeida

    Vasconcelos, Maurcio de Almeida Abreu, Antonio Carlos Robert de Moraes

    e, mais recentemente, o professor Marcelo Werner da Silva), consolidaram

    uma posio na qual sustentam a singularidade da Geografia Histrica a

    partir do estudo dos lugares no passado. Nessa perspectiva, uma grande

    variedade temtica e de abordagens vai caracterizar o que j foi denomi-

    nado de geografias do passado. Segundo Abreu (2010), por exemplo, no

    h a necessidade das pesquisas deste campo em chegar at o presente,

    fazendo do passado seu campo prprio de pesquisa. Ao mesmo tempo, o

    autor argumenta, inspirado no historiador Pierre Nora, que no h a neces-

    sidade, tampouco a possibilidade, de se reconstruir ou recuperar o passado

    tal qual ele ocorreu, afinal, a histria construo sempre problemtica

    do que j no existe mais. Lowenthal (1985), por sua vez, nos alerta que

    o passado um pas estrangeiro, uma terra que nunca conseguiremos

    conhecer plenamente (ABREU, 1998, p. 88). Nesse sentido, a Geografia

    Histrica compartilha a mesma limitao da Histria, campo no qual o

    pesquisador pode se aproximar cada vez mais do passado, mas sem jamais

    conseguir realmente alcan-lo tal qual existiu: Um trabalho geogrfico em

    nada diferente daqueles que vimos produzindo para entender o momento

    atual, s que agora dirigido, mutatis mutandis, ao entendimento do passado

    de um lugar (ABREU, 1998, p. 94).

    Em artigo recente, Gomes e Machado (2013) buscam apresentar um

    panorama da Geografia Histrica brasileira contempornea a partir da

    anlise das obras de Maurcio de Almeida Abreu e Antonio Carlos Robert

    de Moraes, que, segundo as autoras, seriam os principais expoentes deste

    campo de pesquisa no Brasil (devemos acrescentar o professor Pedro

    Vasconcelos a esta lista). interessante a anlise proposta, pois identifica

    duas correntes ou formas de abordagem dentro da Geografia Histrica.

    No resumo do artigo, as autoras deixam explcitas quais seriam essas

    abordagens, vejamos:

    O eixo representado pela produo de Maurcio Abreu consolida e modela os estudos e debates em histria e poltica urbana, revelando a clara opo do autor pelo estudo das cidades. Suas investigaes fogem das tendncias s anlises morfolgicas urbanas puras e simples, para preocupar-se tambm com os processos que do contedo a essa morfologia. As obras do autor dedicadas cidade do Rio

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .257

    de Janeiro dos sculos XVI, XVII, XVIII e XIX constituem referncias, no apenas para a Geografia, mas tambm para a Histria e a Antropologia.O eixo representado pela produo intelectual de Robert Moraes, por sua vez, consolida um modelo de investigao fortemente associado geopoltica e gesto do territrio nacional, temas como a construo territorial do Brasil Colonial, zonea-mento ecolgico-econmico brasileiro e polticas territoriais, so alguns exemplos (GOMES; MACHADO, 2013, p. 2).

    Os dois grandes eixos da Geografia Histrica brasileira seriam, nessa

    perspectiva, a Geografia Histrica Urbana, cuja centralidade est em ana-

    lisar processos relativos dinmica urbana e, nesse sentido, no podemos

    deixar de recordar, evidentemente, a obra de Pedro Vasconcelos, que,

    juntamente com os esforos de Maurcio Abreu, inauguram e consolidam

    essa vertente temtica e analtica e, de outro lado, a centralidade das

    dinmicas territoriais associadas, prioritariamente, s aes do Estado e das

    diferentes fraes do capital. fcil perceber que no existe contradio

    ou ambiguidade em tais propostas, apesar de diferentes enfoques e aborda-

    gens, e sim complementaridade. Para alm das diferenas, principalmente

    relativas s escalas espaciais de anlise, o que h de mais importante em

    comum nas duas abordagens a densidade da articulao espao-temporal

    em termos tericos e metodolgicos.

    4. Articulando os dois campos: um exemplo emprico

    A concluso deste breve artigo ser na forma de um exemplo concreto

    para que o leitor possa visualizar de forma clara a proposta de articulao

    que estamos apresentando. O exemplo utilizado ser a experincia anar-

    quista durante a Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

    A questo geral que orienta nosso trabalho a espacialidade dos

    ativismos sociais ou, de forma mais ampla, a espacialidade da ao social.

    Nesta pesquisa, delimitamos um escopo mais especfico, que pode ser

    resumido da seguinte forma: que tipo de espacialidade se institui a partir

    de relaes sociais e de poder pautadas pela prxis libertria (anti-estatal,

    anticapitalista e autogestionria)? Quem so os protagonistas que em

    determinadas conjunturas e estruturas so capazes de engendrar processos

    de transformaes scio-espaciais calcados em outras relaes sociais e de

    poder, em outros modos de existncia?

  • 258. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    A partir da questo central comeamos a construir um objeto de

    pesquisa que pudesse servir, adequadamente, como campo de investigao

    emprico para a questo fundamental que nos orienta. O recorte emprico

    que delimitamos para desenvolver nossa questo central foi a experincia

    do movimento anarquista espanhol, que se desenvolveu durante a Guerra

    Civil Espanhola (1936-1939), tomando-a como exemplo de um processo de

    produo e organizao do espao geogrfico por parte de um movimento

    social de carter libertrio. Na pesquisa em tela, buscamos analisar a espa-

    cialidade imanente a um processo revolucionrio de carter libertrio.

    Nesse sentido, buscamos recuperar uma experincia que foi levada a cabo

    por trabalhadores urbanos e camponeses, aglutinados na Confederao

    Nacional do Trabalho (CNT), sindicato anarcossindicalista de carter revo-

    lucionrio e na Federao Anarquista Ibrica (FAI), demonstrando como

    possvel a instituio de novas relaes sociais e de poder baseadas em

    princpios libertrios e, consequentemente, em uma espacialidade distinta

    daquela produzida pelo capitalismo e pelo socialismo real.

    Creio que no h dificuldade para o leitor estabelecer as relaes

    entre a Geografia Histrica e os ativismos sociais nesse exemplo. De um

    lado, buscamos analisar a espacialidade do movimento anarquista espanhol

    luz dos balizamentos propostos por Souza (2008) e dos atributos apre-

    sentados anteriormente. Assim, buscamos caracterizar os protagonistas,

    seus objetivos, formas de organizao, estratgias de ao e suas escalas

    de atuao (o que nos levou a uma anlise multiescalar das aes). Esta

    anlise foi orientada pelos balizamentos nos quais buscamos identificar e

    analisar o espao de referncia identitria, as formas de uso e apropriao

    do espao (o lugar e o territrio), as estratgias espaciais da luta, a insti-

    tuio de um novo modo de existncia, a influncia do substrato material

    na constituio da ao e, por fim, as transformaes realizadas na espa-

    cialidade hegemnica a partir das ideias de refuncionalizao espacial e

    reestruturao territorial (SOUZA, 2006). Assim, centramos nossas anlises

    nos processos de coletivizao de terras, fbricas e servios (nos quais os

    trabalhadores se apropriaram efetivamente dos meios de produo), nas

    novas formas de organizao territorial a partir das coletividades e conse-

    lhos municipais, que reconstituram o territrio espanhol. Tais processos

    deram origem a uma nova espacialidade, ou seja, a novas formas de uso e

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .259

    apropriao do espao e da produo de novos territrios institudos por

    novas relaes de poder.

    A anlise da espacialidade anarquista foi indissocivel da historici-

    dade dos processos sociais, polticos, econmicos e culturais da sociedade

    espanhola. Buscamos estabelecer periodizaes, analisar as diferentes

    temporalidades dos processos sociais (eventos, contextos e estruturas),

    principalmente relativas s dinmicas poltica e econmica da Espanha,

    estabelecendo suas relaes com a espacialidade (por exemplo, a estru-

    tura agrria e urbano-industrial, distribuio da populao, infraestrutura

    tcnica, regionalismos etc.).

    Em relao metodologia, destacamos trs pontos fundamentais:

    1. as periodizaes; 2. as escalas; 3. as fontes.

    Estabelecemos um perodo histrico central (1936-1939), caracteri-

    zado pela Guerra Civil e que foi efetivamente nosso recorte emprico de

    investigao e analisado a partir da sincronia dos processos e eventos.

    Porm, para compreend-lo de forma adequada, foi necessrio estabelecer

    o que chamamos de perodos auxiliares. Esses perodos foram: a. de 1845

    a 1936, dedicado anlise do desenvolvimento do movimento anarquista,

    a partir de uma perspectiva diacrnica (estudo de um elemento ao longo

    do tempo) e b. de 1931 a 1936, caracterizado pela dinmica poltica e

    econmica da Segunda Repblica Espanhola, analisado a partir de uma

    perspectiva da sincronia dos processos.

    A complexidade da questo nos levou a uma anlise multiescalar dos

    fenmenos e processos. Em outras palavras, no estabelecemos, a priori,

    uma escala de anlise particular, mas operamos pela articulao e codeter-

    minao de uma escala sobre a outra. Assim, buscamos compreender de

    que forma processos que se davam em escalas distintas contriburam para

    a constituio da experincia anarquista durante a Guerra Civil Espanhola.

    Nessa perspectiva, articulamos elementos da escala europeia, relativa,

    por exemplo, geopoltica anterior Segunda Guerra Mundial, que teve

    influncia direta nos rumos do conflito, passando pela escala nacional

    (relativa, principalmente, s grandes estruturas socioeconmicas e pol-

    ticas da Espanha), passando pelas singularidades regionais at a anlise do

    lugar, materializado em coletivizaes, fbricas, campos e oficinas.

    Finalmente, no que se refere s fontes5, destacamos as seguintes:

  • 260. GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268

    a) Livros, artigos, teses e dissertaes, o que nos permitiu partir de

    uma srie considervel de dados sistematizados produzidos a partir

    de fontes primrias;

    b) Censos, relatrios e pesquisas produzidas pelos rgos oficiais do

    Estado espanhol que nos permitiram levantar informaes bsicas

    sobre a populao (tamanho, distribuio, renda, nvel educacional,

    expectativa de vida), recursos naturais (fontes de energia, gua,

    minrios) e infraestrutura. Ressaltamos que diversas informaes

    dessa natureza estavam disponibilizadas nas fontes listadas no

    item a;

    c) Documentos de diversas naturezas: leis, decretos, inventrios,

    atas, regulamentos, balanos financeiros, listas nominais de traba-

    lhadores, registros de filiao sindical etc. Os documentos foram

    produzidos pelas instituies estatais e pelas organizaes dos

    trabalhadores (sindicatos, milcias, coletivos autnomos);

    d) Peridicos editados pelas organizaes dos trabalhadores;

    e) Fotografias que nos permitem visualizar episdios relativos ao

    conflito e ao processo revolucionrio.

    Esperamos que este brevssimo exemplo possa ilustrar a articulao

    entre os dois campos de pesquisa. Buscamos realizar a anlise de um

    complexo espao-tempo a partir da experincia concreta dos trabalhadores

    espanhis, integrando os principais elementos constitutivos de cada campo

    em uma nica anlise na qual tempo e espao so indissociveis.

    Notas

    1 Este trabalho resultado de nossa pesquisa de ps-doutorado, realizado no Programa de Ps--Graduao em Geografia da UFBA, sob a superviso do Prof. Dr. Pedro de Almeida Vasconcelos. No tenho palavras para agradecer ao professor Pedro pela ateno, seriedade, cuidado e hospitalidade com que se disps a desenvolver esse projeto e pela carinhosa recepo que tive em Salvador. Estendo meus agradecimentos aos demais professores do programa de ps-graduao que me receberam na UFBA. O presente trabalho foi realizado com apoio do CNPq, Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico - Brasil.

    2 Conforme ressaltado por Souza (2008), a partir da dcada de 1990 pode-se observar uma estagnao da produo referente aos ativismos urbanos, enquanto h um crescimento daquela relativa aos ativismos sociais rurais, com destaque para as obras de Fernandes (1996, 2000a e 2000b), Oliveira (1988 e 1991) e Gonalves (1999, 2001, 2002 e 2003). Em relao aos ativismos urbanos, h um crescimento expressivo a partir do ano 2000, quando podemos destacar Souza (2000, 2006 e 2012), Rodrigues (2005, 2009, 2011 e 2012), De Paula (2005

  • GeoTextos, vol. 11, n. 1, julho 2015. G. Rodrigues. 241-268 .261

    e 2012), Teixeira (2009), Souza e Teixeira (2009), Grandi, Moreira e Almeida (2009), Grandi (2010), Almeida (2011 e 2012), Santos (2011), Ramos (2012) e Zilio (2012). Alm disso, devemos destacar o relativo aumento do nmero de trabalhos apresentados nas edies do Encontro Nacional dos Gegrafos, do Simpsio Nacional de Geografia Urbana e da Associao Nacional de Ps-Graduao em Geografia.

    3 Poderia ser definida em uma primeira aproximao como a percepo temporal dos pro-blemas espaciais (traduo nossa).

    4 O processo de periodizao, desta forma, pode ser definido como um exerccio intelectual e uma construo do pesquisador a partir das questes que coloca para a reflexo. fundamen-tal justificar, de forma clara e explcita, o uso e a construo de determinada periodizao. Nesse sentido, crucial que os elementos constitutivos e os critrios de periodizao, ou seja, aqueles que do consistncia e coerncia interna ao recorte histrico sejam explicitados e justificados. O que nos leva a outra questo: muitas vezes, uma nica periodizao no suficiente para dar conta da complexidade do tema que est sendo pesquisado, o que nos obriga a criar periodizaes auxiliares que nos permitam realizar uma anlise consistente de determinada questo, o que significa articular periodizaes e temporalidades distintas.

    5 Os principais arquivos para fontes primrias foram os seguintes: http://archivo.cnt.es/Do-cumentos e o Portal de Archivos Espaoles, mantido pelo Ministrio da Cultura Espanhol (http://pares.mcu.es/). O portal utilizado aglutina acervos importantes como o do Centro Documental de La Memoria Histrica, que administra o Archivo General de La Guerra Civil Espaola, localizado na cidade de Salamanca. Neste centro, podemos ter acesso ao Portal de las vctimas de la Guerra Civil y represaliados del Franquismo, base de datos de militares y miembros de las fuerzas de orden pblico al servicio de la Repblica, Los carteles de la guerra civil espaola. No PARES ainda temos acesso ao Archivo Fotogrfico de la Delegacin de Propaganda de Madrid durante la Guerra Civil, tambm conhecido como Archivo Rojo.

    Referncias

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    ________. A apropriao do territrio no Brasil colonial. In: CASTRO, In Elias; GOMES, Paulo Csar da Costa; CORRA, Roberto Lobato (Org.) Exploraes geogrficas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1997. p. 197-246.

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    Recebido em: 18/09/2014

    Aceito em: 11/11/2014