foucault e deleuze

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“O controle do corpo e o poder exercido sobre ele pelas sociedades disciplinares foitema das teses de Foucault, no século XX. Para o filósofo “[...] os mecanismos do podernunca foram estudados na história. Estudaram se as pessoas !ue deti"eram o poder.[...] o poder em suas estraté#ias, ao mesmo tempo #erais e sutis, em seus mecanismos,nunca foi estudado$ %FO&'(&)*, +-, p. -/0. (ssim, o corpo submisso,

transformado, docili1ado e controlado em face de pr2ticas de poder foi ob3eto de estudodo filósofo, !ue mostrou, primeiramente e m Vigiar e Punir ( FO&'(&)*, 4//5 a0, !uea sociedade moderna, por meio de pr2ticas disciplinares, construiu um sistema depoder baseado no controle e na submiss6o dos corpos. 7os termos do filósofo, “8 peloestudo dos mecanismos !ue penetraram nos corpos, nos #estos, nos comportamentos,!ue é preciso construir a ar!ueolo#ia das ci9ncias humanas$ %:dem, p. +/0.

Para Foucault, nos séculos X;:: e X;::: inau#urou se, na sociedade, o momento das

disciplinas, !ue, de forma institucional, se ser"ia da "i#il<ncia nas pris=es, escolas,hospitais, !uartéis e outras or#ani1a>=es, fabricando corpos submissos, por meio de

uma su3ei>6o implantada nos indi"?duos !ue se sabiam obser"ados. Era um tipo depoder microf?sico !ue, nos termos de Foucault “[...] se exerce continuamente atra"és da "i#il<ncia [...]$ %FO&'(&)*, idem, p. +-@0.

O Panóptico, de AeremB Centham, foi a ar!uitetura escolhida para a "i#il<ncia e tinhacomo ob3eti"o “[...] asse#urar uma "i#il<ncia !ue fosse ao mesmo tempo #lobal eindi"iduali1ante separando cuidadosamente os indi"?duos !ue de"iam ser "i#iados.$%FO&'(&)*, 4//5 a, p.4+D0. eu modelo, em forma circular, ser"ia para a obser"a>6osistem2tica dos corpos nas "2rias :nstitui>=es. (o centro, uma torre de "i#ia, com 3anelas se abrindo para o lado inte rno, cu3o interior mantinha se in"is?"el sobser"a>=es externas. (o redor do panóptico, constru?amse celas, totalmente "is?"eisdo obser"atório e onde se coloca"a o indi"?duo a ser "i#iado.

7a torre poderia ha"er um "i#ia ou n6o. O importante é !ue o su3eito "i#iado 3amaistinha a certe1a disso. Ele sabia !ue poderia estar sendo "i#iado e isso era suficientepara mant9lo disciplinado. Foucault %4//5 a, p. 4+-0, escre"e !ue o panóptico representa"a “&m olhar !ue "i#ia e !ue cada um, sentindo o peso sobre si, acabar2 porinteriori1ar, a ponto de obser"ar a si mesmoG sendo assim, cada um exercer2 esta "i#il<ncia sobre e contra si mesmo$ %:dem, p. 4+-0. Hesse modo, o panóptico

representou, até o in?cio do século XX, um modelo de exerc?cio de poder, cu3a técnicadisciplinar #arantia a subordina>6o e o adestramento espont<neo do su3eito a um poder

!ue a#ia sobre ele.

O controle do indi"?duo no espa>o e no tempo também foi ob3eto dos estudosfoucaultianos. Foucault mostrou !ue a distribui>6o dos indi"?duos no espa>o eraorientada pela idéia de se ter cada su3eito em um lu#ar espec?fico. *al procedimentoteria a finalidade de e"itar a forma>6o de #rupos, facilitaria o controle das fre!I9ncias eaus9ncias, assim como determinaria a locali1a>6o exata de cada um na :nstitui>6o. Oprinc?pio da ordem, desse modo, estabeleceu cada su3eito em um lu#ar,hierar!uicamente controlado.

Juanto ao tempo, o filósofo obser"a !ue o controle também #arante a !ualidade dotempo utili1ado de modo a n6o ser desperdi>ado em ati"idade s n6o Kteis :nstitui>6o.

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Esse controle é #arantido por meio da presen>a cont?nua de fiscais e do afastamento detudo !ue pode ser"ir de distra>6o ao "i#iado.

 ( "i#il<ncia dos corpos e o controle do indi"?duo no espa>o e no tempo s6o, portanto,se#undo Foucault, estraté#ias utili1adas pelo poder para #arantir a docili1a>6o do

indi"?duo e torn2lo Ktil sociedade.

*re1e anos depois Heleu1e %+4, p. 4+ 4D0 ir2 formular a teoria de uma no"a ordemsocial !ue ele ir2 denominar de sociedade de controle. Para o teórico, foi na se#undametade do século XX L após a e#unda Auerra Mundial L !ue as sociedades

disciplinares deram lu#ar s sociedades de controle. (pós o término da e#undaAuerra Mundial, sur#iram for>as na sociedade !ue estabeleceram uma no"a ordem.Essas for>as estariam identificadas com mudan>as !ue aconteceram por todo o mundocapitalista, li#adas principalmente s ino"a>=es tecnoló#icas. O uso dessas no"astecnolo#ias para o controle social seria a mais no"a express6o do exerc?cio do poder na

sociedade moderna.

Os mecanismos de "i#il<ncia aprimoraram se e passaram de um car2ter institucionalpara o de uma "i#il<ncia #eral. ( prolifera>6o de c<meras de "?deo em muitos espa>ossociais, o uso de transponders, de aparelhos celulares, cart=es de crédito e dacomunica>6o pela :nternet facilitaram o exerc?cio de mecanismos de "i#il<ncia econtrole cada "e1 mais eficientes.

Embora esse paradi#ma de sociedade possa ser compreendido como uma deri"a>6o dasociedade disciplinar foucaultiana, dela se diferencia !uando o controle passa de umaesfera local, dos espa>os fechados das institui>=es, para todos os campos da "ida social.

7as sociedades disciplinares o poder disciplinador, simboli1ado pela ar!uitetura do panóptico, presentifica"ase no interior das :nstitui>=es, como as pris=es, os hospitais,as escolas, os !uartéis, com o ob3eti"o de instaurar a disciplina e, conse!Ientemente,um padr6o comportamental rotineiro. 7o modelo social de Heleu1e, o controle passa do<mbito local L restrito extens6o dos olhos e do ou"ido humanos L para um <mbitosupralocal, estendendose para todos os espa>os da "ida pKblica. 76o h2 mais umespa>o restrito para !ue o poder se fa>a sentirG pelo contr2rio, ele se fa1 presente emtodos os lu#ares. Por conse#uinte, é mais per"erso, mais controlador, por!ue sesustenta no aparato das no"as tecnolo#ias de informa>6o. O s?mbolo do controle a#ora

n6o é mais o panóptico, mas a web, a rede di#ital de comunica>6o mundial, !ueconcentra toda a informa>6o dos indi"?duos em bancos de dados. O princ?pio dadocilidade continua, no entanto, o mesmo, pois os indi"?duos entre#am "oluntariamente seus dados "i#il<ncia.

Perpetuase, dessa forma, modernamente, o princ?pio do panóptico como instrumentode subordina>6o ideoló#ica. O exerc?cio do controle, a#ora aperfei>oado pelo aux?lio datecnolo#ia e pelo uso de e!uipamentos minKsculos, !uase impercept?"eis ao olharhumano, torna se habitual no cotidiano das sociedades. O controle acaba sendointeriori1ado pelos indi"?duos, como necess2rio e absolutamente "ital. 8 o biopoder !ue

or#ani1a e controla a "ida em todos os campos sociais.

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 ( rede de comunica>6o mundial L web – nessa no"a perspecti"a, acaba exercendo afun>6o de um superpanóptico %C(&M(7, +0, controlando todo o ciberespa>o, ainforma>6o e o conhecimento, elementos estraté#icos para a manuten>6o do podernessa no"a sociedade informacional.

 (s estraté#ias desse poder controlador or#ani1amse em torno da import<ncia !ue oconhecimento e a informa>6o ocupam na sociedade mundial. O suc esso de !uais!uerati"idades, se3am de nature1a econNmica ou pol?tica, na atualidade depende muito dacapacidade do uso de informa>=es e dos conhecimentos !ue as sociedades conse#uema#lutinar.

Esse processo de distribui>6o de informa>=es pela rede de comunica>6o é mais umelemento estruturador da #lobali1a>6o, pois acaba interli#ando mercados e pa?ses, !uese comunicam permanentemente pela rede.

7e#ri e ardt %4//+, p. 54 L0 assim definem os dois paradi#mas sociaisQ

[...] a sociedade disciplinar é aquela na qual o comando social é construído mediante

uma rede difusa de dispositivos ou aparelhos que produem e regulam os costumes,

os h!bitos e as pr!ticas produtivas. "#a sociedade de controle$ os mecanismos de

comando "s%o$ distribuídos por corpos e cérebros dos cidad%os. &s comportamentos

de integra'%o e de eclus%o próprios do mando s%o, assim, cada ve mais

interioriados nos próprios s)ditos. & poder agora é eercido mediante m!quinas que

organiam diretamente o cérebro (em sistemas de bem *estar, atividades

monitoradas, etc.+ no obetivo de um estado de aliena'%o independente do sentido da

vida e do deseo de criatividade.

Estabelecemse, portanto, no"os mecanismos de "i#il<ncia e controle, amparados natecnolo#ia da informa>6o. Os muros !ue caracteri1a"am a sociedade disciplinar caem eo poder controlador se dissol"e em todos os espa>os, operando a#ora de maneira maissutil, por!ue é !uase impercept?"el ao olhar comum. O poder disciplinador continuaimpositi"o, embora n6o impli!ue pr2ticas de adestramento f?sico, mas fa1se presentena sociedade por meio da necessidade de se dominar a comunica>6o e a informa>6o nasrela>=es sociais e em todos os campos de trabalho, estruturando inclusi"e as condutas eos hor2rios a serem se#uidos.

:nau#uramse no"os mecanismos de re#ula#em da "ida, "inculados s m2!uinas deinforma>6o. O dom?nio de tecnolo#ias cada "e1 mais complexas e a capacidade deutili12las de maneira Ktil tornam se condi>6o para a obten>6o e manuten>6o dopróprio trabalho, cu3a caracter?stica cada "e1 mais imaterial, est2 "inculada ao dom?niodas modernas tecnolo#ias.

Juando se fala !ue, nas sociedades de controle, os muros declinaram, d2se uma falsaidéia de !ue a ideolo#ia do confinamento entrou em colapso com a !ueda destes. ParaHeleu1e %+4, p. 4450, entretanto, o homem confinado da sociedade disciplinar passoua ser o homem endi"idado, na sociedade de controle. Para o teórico, do confinamento

ao endi"idamento, os mecanismos de su3ei>6o permaneceram os mesmos. Oendi"idamento do trabalhador, na contemporaneidade, caracteri1a se como a mais

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no"a forma de internamento dos su3eitos, a#ora controlados pelo poder de forma maissutil.

Mecanismos como o sistema de "enda a crédito, utili1ados pelo comércio, a exi#9nciado pa#amento antecipado do alu#uel %!ue condiciona a mudan>a de resid9ncia0, o

sistema de poupan>a, de assist9ncia médicohospitalar, de aposentadoria, de :mpostode Renda, as modernas formas de empréstimos banc2rios, e a constru>6o de "ilasmilitares e oper2rias próximas aos locais de trabalho, s6o formas de endi"idamento ede controle do operariado. O controle é a? exercido de maneira branda, assumindo umaroupa#em libert2ria. Hesse modo, o indi"?duo assume uma hipoteca permanente com omercado e com as :nstitui>=es, permanecendo i#ualmente confinado no interior delas.

7as sociedades contempor<neas, o biopoder en"ol"e todo o corpo social, "alendose deuma tecnolo#ia !ue funciona a partir da sedu'%o. ( inten>6o n6o é mais explicar oucon"encer, mas sedu1ir ou con!uistar . Hessa forma, mesmo distante do ambiente de

trabalho, os su3eitos sedu1idos pelos aparatos tecnoló#icos, acabam le"ando o controlepara dentro de suas casas. 8 o princ?pio da sedu>6o do controle opondose coer>6odas sociedades disciplinares.

*oda"ia, mesmo reconhecendo os mecanismos !ue re#ulam as rela>=es entre ossu3eitos e o poder, Foucault %4//5 a, p. +D0 alerta !ue os su3eitos n6o s6o passi"os ssuas determina>=esQ “Samais somos aprisionados pelo poderQ podemos sempremodificar sua domina>6o e m condi>=es determinadas e se#undo uma estraté#iaprecisa$. (ssim, se#undo o filósofo, nenhum poder é permanente. E exatamente peloseu car2ter transitório, é su3eito a falhas, por “[...]onde é poss?"el a substitui>6o dadocilidade pela meta cont?nua e infind2"el da liberta>6o dos corpos.$ %AREAO):7,4//, p. +/+0.

Pensando nessa meta de liberta>6o dos corpos, contemporaneamente identificamos nasociedade di"ersas formas de resist9ncia, articuladas em torno de a>=es criati"as, deenfrentamento contra todas as formas de domina>6o social. Essas lutas acontecem portodo o espa>o da "ida cotidiana, em uma tarefa pol?tica incessante, na !ual todos est6oen"ol"idos. O ob3eti"o maior é a constru>6o de no"as rela>=es sociais e odesaparecimento de determinada forma de poder, normalmente opressi"a. (resist9ncia é, nesse sentido, a recusa do homem a permanecer em uma condi>6ohumilhante ou de#radante e a esperan>a na constru>6o de uma sociedade no"a onde os

saberes e os poderes este3am "oltados para o bem comum.T