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FATORES ECONÔMICO-FINANCEIROS: ESTUDO EM TIMES DE FUTEBOL DO BRASIL NO PERÍODO DE 2009 A 2012 ADRIANO DOS REIS LUCENTE - [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - JABOTICABAL PEDRO ERNESTO RUIZ BRESSAN - [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - JABOTICABAL ROBERTO LOUZADA - [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP ANTONIO SERGIO FERRAUDO - [email protected] UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - JABOTICABAL Resumo: O FUTEBOL POSSUI ASPECTOS CULTURAIS, SOCIAIS, ECONÔMICOS, E ATÉ POLÍTICOS, QUE O TRANSFORMARAM EM UM ESPORTE DE MASSA E COM SIGNIFICATIVA INFLUÊNCIA NO COTIDIANO DA POPULAÇÃO BRASILEIRA. PODE-SE AFIRMAR QUE NENHUMA OUTRA FORMA DE CULTURA POOPULAR APRESENTA UMA PAIXÃO PARTICIPATIVA ENTRE SEUS SEGUIDORES COMO A QUE SE TEM PELO FUTEBOL NO BRASIL. ESTE ESTUDO TEVE COMO OBJETIVO CARACTERIZAR, UTILIZANDO ANÁLISE DE COMPONENTES PRINCIPAIS, 18 TIMES DE FUTEBOL E A DINÂMICA DESSE PROCESSO NO PERÍODO DE 2009 A 2012, SEGUNDO TRÊS FATORES ECONÔMICO- FINANCEIROS QUE FORAM A RECEITA TOTAL, O VALOR DA MARCA E O ENDIVIDAMENTO. OS RESULTADOS MOSTRARAM QUE EXISTE UMA CONSTÂNCIA EM RELAÇÃO AO DESTACAMENTO DE ALGUNS TIMES DE FUTEBOL NO PERÍODO ANALISADO, O QUE PERMITE ACREDITAR EM UMA TENDÊNCIA DE GESTÃO EFICIENTE DA OBTENÇÃO DE RECEITAS E VALORIZAÇÃO DA MARCA EM ALGUNS E, EM CONTRAPARTIDA, DIFICULDADES PARA SUPERAR LONGOS PERÍODOS DE ENDIVIDAMENTO, EM OUTROS. Palavras-chaves: FUTEBOL; FATORES ECONÔMICO-FINANCEIROS; ANÁLISE DOS COMPONENTES PRINCIPAIS. Área: 3 - GESTÃO ECONÔMICA Sub-Área: 3.1 - ENGENHARIA ECONÔMICA

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FATORES ECONÔMICO-FINANCEIROS: ESTUDO

EM TIMES DE FUTEBOL DO BRASIL NO PERÍODO

DE 2009 A 2012

ADRIANO DOS REIS LUCENTE - [email protected]

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - JABOTICABAL

PEDRO ERNESTO RUIZ BRESSAN - [email protected]

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - JABOTICABAL

ROBERTO LOUZADA - [email protected]

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP

ANTONIO SERGIO FERRAUDO - [email protected]

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA - UNESP - JABOTICABAL

Resumo: O FUTEBOL POSSUI ASPECTOS CULTURAIS, SOCIAIS, ECONÔMICOS, E

ATÉ POLÍTICOS, QUE O TRANSFORMARAM EM UM ESPORTE DE

MASSA E COM SIGNIFICATIVA INFLUÊNCIA NO COTIDIANO DA

POPULAÇÃO BRASILEIRA. PODE-SE AFIRMAR QUE NENHUMA OUTRA

FORMA DE CULTURA POOPULAR APRESENTA UMA PAIXÃO

PARTICIPATIVA ENTRE SEUS SEGUIDORES COMO A QUE SE TEM

PELO FUTEBOL NO BRASIL. ESTE ESTUDO TEVE COMO OBJETIVO

CARACTERIZAR, UTILIZANDO ANÁLISE DE COMPONENTES

PRINCIPAIS, 18 TIMES DE FUTEBOL E A DINÂMICA DESSE PROCESSO

NO PERÍODO DE 2009 A 2012, SEGUNDO TRÊS FATORES ECONÔMICO-

FINANCEIROS QUE FORAM A RECEITA TOTAL, O VALOR DA MARCA E

O ENDIVIDAMENTO. OS RESULTADOS MOSTRARAM QUE EXISTE UMA

CONSTÂNCIA EM RELAÇÃO AO DESTACAMENTO DE ALGUNS TIMES

DE FUTEBOL NO PERÍODO ANALISADO, O QUE PERMITE ACREDITAR

EM UMA TENDÊNCIA DE GESTÃO EFICIENTE DA OBTENÇÃO DE

RECEITAS E VALORIZAÇÃO DA MARCA EM ALGUNS E, EM

CONTRAPARTIDA, DIFICULDADES PARA SUPERAR LONGOS

PERÍODOS DE ENDIVIDAMENTO, EM OUTROS.

Palavras-chaves: FUTEBOL; FATORES ECONÔMICO-FINANCEIROS; ANÁLISE

DOS COMPONENTES PRINCIPAIS.

Área: 3 - GESTÃO ECONÔMICA

Sub-Área: 3.1 - ENGENHARIA ECONÔMICA

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ECONOMIC AND FINANCIAL FACTORS: A STUDY

IN FOOTBALL TEAMS OF BRAZIL IN THE PERIOD

2009-2012

Abstract: FOOTBALL HAS CULTURAL, SOCIAL, ECONOMIC, AND EVEN

POLITICAL ASPECTS, WHICH TURNED INTO A MASS SPORT AND WITH

SIGNIFICANT INFLUENCE IN THE DAILY LIVES OF THE POPULATION.

IT CAN BE STATED THAT NO OTHER FORM OF POPULAR CULTURE

PRESENTS A PARTIICIPATORY PASSION AMONG HIS FOLLOWERS LIKE

WE HAVE FOR FOOTBALL IN BRAZIL. THIS STUDY WAS AIMED TO

CHARACTERIZE, USING PRINCIPAL COMPONENT ANALYSIS, 18

FOOTBALL TEAMS AND THE DYNAMICS OF THIS PROCESS IN THE

PERIOD FROM 2009 TO 2012, ACCORDING TO THREE ECONOMIC AND

FINANCIAL FACTORS WERE THE TOTAL REVENUE, THE BRAND VALUE

AND INDEBTEDNESS. THE RESULTS SHOWED THAT THERE IS A

CONSTANCY REGARDING THE POSTING OF SOME FOOTBALL TEAMS

IN THE ANALYZED PERIOD, WHICH ALLOWS A TENDENCY TO BELIEVE

IN EFFICIENT MANAGEMENT OF RAISING REVENUE AND BRAND

VALUE IN SOME TEAMS, HOWEVER, DIFFICULTIES TO OVERCOME

LONG PERIODS OF INDEBTEDNESS IN OTHERS.

Keyword: FOOTBALL; ECONOMIC AND FINANCIAL FACTORS; PRINCIPAL

COMPONENT ANALYSIS.

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1. Introdução

O futebol é um dos principais símbolos do Brasil, uma vez que provoca sentimentos de

igualdade e paixão, além de disputa, sendo capaz de unir em um mesmo objetivo indivíduos

de todas as camadas sociais. De acordo com Damatta (1994), essa relação entre povo e futebol

é tão profunda que muitos brasileiros ignoram que o futebol foi inventado na Inglaterra e

acreditam que ele, assim como o samba, é um produto tipicamente brasileiro.

Nas últimas décadas, várias mudanças ocorreram no ambiente das organizações

esportivas, exercendo influência na sua gestão, e de forma destacada no futebol, que passou a

atrair novos tipos de organizações, como instituições financeiras e empresas de marketing

esportivo, passando a movimentar cifras significativas. Assim, a implantação da lógica de

mercado possibilitou a inserção de elementos do ambiente empresarial e de seus negócios na

administração das organizações esportivas (GONÇALVES; CARVALHO, 2006).

Ainda de acordo com esses autores, o futebol passou a ser percebido como um negócio

extremamente rentável que, submetido à lógica de mercado, transformou atletas em ativos

financeiros e torcedores em consumidores.

A complexidade dessa estrutura pode ser traduzida por informações disponibilizadas

no site (www.fifa.com) da Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA) que mostram

que atualmente existem no Brasil aproximadamente 29.208 clubes de futebol e 2.141.733

jogadores registrados. Outros números relevantes são apresentados em Portal 2014

(www.portal2014.org.br) como o número de jogos profissionais por ano, que ultrapassam

5.000, a realização de mais de 100 competições, também anuais, e o registro de 61.000

árbitros. Além disso, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) realizou em 2013 um

cadastro nacional de estádios de futebol onde se pode constatar a existência de 739 estádios

para a prática do futebol espalhados por todo o território brasileiro (www.cbf.com.br).

Por tudo isso, pode-se afirmar que o futebol, de fato, transformou-se em um grande

negócio. Assim, estudos que contemplem a gestão econômica e financeira dos times tornam-

se essenciais para compreender as mudanças na natureza organizacional do futebol no Brasil.

Para Meyer e Rowan citados por Gonçalves e Carvalho (2006), a interpretação dos

modelos de gestão e os processos de tomada de decisão adotados pelas organizações somente

são possíveis a partir da análise do contexto em que estas estão envolvidas. Sendo assim, no

cenário do futebol, esse estudo mostra-se adequado na medida em que os contextos e valores

aos quais ele se subordina se alteraram profundamente nos últimos anos, migrando de uma

organização baseada em valores e tradições, para outra que enfatiza critérios de eficiência, de

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rentabilidade e de competitividade em fatores econômico-financeiros como a obtenção de

receitas, a valorização da marca e o controle do endividamento.

2. Revisão da literatura

De acordo com Santos (2011), as organizações, de modo geral, incluindo os clubes de

futebol, enfrentam desafios que surgem rotineiramente decorrentes do mercado dinâmico e

competitivo em que atuam. Alguns destes desafios se devem, em parte, à grande velocidade

com que as informações são geradas e à qualidade dessas em uma tomada de decisão. Os

administradores, nas últimas décadas, passaram a ter à sua disposição uma enorme quantidade

de ferramentas de análise, como por exemplo a Análise das Demonstrações Contábeis, que os

auxiliam na gestão de suas organizações e que possibilitam conhecer a situação econômica e

financeira em que as mesmas se encontram em determinado momento, além de proporcionar

informações rápidas, eficientes e de qualidade.

Os clubes de futebol, como qualquer organização, precisam de recursos para cumprir

com as suas obrigações financeiras, como por exemplo, com os salários do seu quadro de

profissionais e, dentre eles, o principal, que é o jogador de futebol. No Brasil, são poucos os

clubes que conseguem através de uma gestão profissional e eficiente, ao final de cada período,

obter resultados positivos (SANTOS, 2011).

De acordo com Peleias citado por Santos (2011), para avaliar o desempenho

econômico-financeiro de clubes de futebol, assim como em qualquer organização, há

necessidade de um referencial ou um parâmetro para compará-los entre si, contra o qual os

desempenhos serão confrontados.

Neste estudo, a análise consistiu em um exame dos dados financeiros e econômicos de

times de futebol e foram escolhidos como parâmetros os aspectos relacionados à Receita

Total, Valor da Marca e Endividamento, que foram disponibilizados pelos times de futebol no

período de 2009 a 2012. Deve-se ressaltar ainda, mas que não foram objeto de estudo deste

trabalho, a existência de outras condições endógenas e exógenas que também podem afetar

econômica e financeiramente os times.

Em relação à obtenção de receitas financeiras, de acordo com Rocha (2012), o futebol

brasileiro enfatiza a mudança ocorrida ao longo dos últimos 50 anos em várias organizações,

deixando de ser cada vez mais uma atividade meramente relacionada ao entretenimento,

passando a uma atividade com fins econômicos. Tais mudanças afetaram também as

modalidades de arrecadação financeira dos próprios times no Brasil e no mundo.

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Para o autor, a arrecadação com ingressos não é mais a principal fonte de receita dos

times. Atualmente, a maior parte do dinheiro tem outras origens como patrocínios, venda de

produtos e contratos de transmissão em TV. As bilheterias ainda constituem importante fonte

de renda para os times médios e pequenos, mas a maior parte da receita dos grandes é obtida

através da concessão dos direitos de transmissão das partidas pela televisão.

Cabe ressaltar, ainda, segundo Silva e Campos Filho (2006), que existem alternativas

que podem ser implementadas para ampliar as fontes de receita dos clubes, apesar de

problemas como as condições socioeconômicas do torcedor e da ameaça à área comercial por

fatores externos como a pirataria. Alguns exemplos são os acordos com prefeituras e a venda

de carnês antecipados. Além disso, uma maior negociação em conjunto dos clubes com a

televisão também seria relevante para que a receita oriunda da televisão fosse maior.

Essa ampliação das fontes de receitas não só aumentaria a base geradora de caixa dos

clubes como seria importante para a continuidade destes como organizações esportivas. O

futebol brasileiro permaneceria como exportador de jogador devido a sua qualidade em

revelar talentos e não como resultado de sua má gestão (SILVA; CAMPOS FILHO, 2006).

Quanto ao valor de marca de um time de futebol, pode-se dizer que o mesmo, à

semelhança do que acontece em outras organizações, se bem construído e gerenciado, pode

gerar ainda mais fidelização dos torcedores, o que proporcionará receitas adicionais através da

venda de outros bens e serviços associados ao time, dentro ou fora da arena de competição

(BURTON e HOWARD; GUSTAFSON citados por LUCENA; CASACA, 2013).

Assim, quantificar o valor da marca de um clube de futebol é um dado econômico

relevante, pois quanto mais força possuir uma marca associada a um time de futebol, haverá

um impacto proporcional no aumento das receitas obtidas pelos patrocinadores, nos direitos

de imagem do time e dos jogadores e na distribuição de serviços através da Internet e de

celulares, na venda de produtos relacionados ao clube e no desenvolvimento de acordos de

franchising para lojas oficiais (LUCENA; CASACA, 2013).

Em estudos realizados no Brasil para apuração do valor da marca de times de futebol,

além da força da torcida, o valor da marca considera outras variáveis como os hábitos do

torcedor e características do mercado local, fazendo com que o crescimento ou queda do valor

da marca não seja atribuído a um aspecto isolado (BDO, 2013).

Em relação ao endividamento, segundo Rezende et al. (2010), no contexto brasileiro,

tem-se observado um retrocesso da gestão, que tem ocasionado enormes crises financeiras e

esportivas nos clubes. Rezende e Custódio (2012) complementam esse ponto de vista, ao

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afirmar que, no entanto, o que se observa é uma falência ou decadência financeira, pois

muitos clubes brasileiros encontram-se com sérios problemas financeiros, o que demonstra

ainda o amadorismo praticado pelos dirigentes dos clubes brasileiros.

Para Brandão (2012), os clubes no Brasil normalmente encontram-se extremamente

endividados. Isto se deve, na maioria dos casos, à má administração, a falta de transparência,

à precária prestação de contas e, para agravar ainda mais a situação, o governo adotou

medidas, como foi o caso da Timemania, que possibilitou uma postergação a prazo

excessivamente longo (20 anos) das dívidas com tributos, com FGTS (Fundo de Garantia por

Tempo de Serviço) e com o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social).

Segundo o autor, há ainda outro problema, uma vez que na maioria dos clubes não há

uma clara separação entre o Departamento de Futebol e o Clube Social, o que acarreta a

utilização de “caixa único” e a possibilidade de se contrair dívidas que não seriam prioritárias.

3. Objetivos

Os principais objetivos deste trabalho foram caracterizar, utilizando análise de

componentes principais, 18 times de futebol segundo três fatores econômico-financeiros que

são a Receita Total, o Valor da Marca e o Endividamento e compreender a dinâmica temporal

desse processo no período de 2009 a 2012.

4. Metodologia

Para atender aos objetivos propostos classifica-se esse estudo como descritivo e

exploratório que, segundo Gil (1999), tem como principal objetivo descrever as características

de determinada população ou fenômeno ou estabelecer relações entre as variáveis. Em relação

aos procedimentos, a pesquisa é classificada como documental uma vez que utiliza-se de

materiais que ainda não receberam nenhuma análise aprofundada e procura selecionar, tratar e

interpretar a informação bruta, buscando extrair dela algum sentido e acrescentar-lhe algum

valor, contribuindo com os estudos acadêmicos a fim de que outros possam voltar a

desempenhar no futuro o mesmo papel (SILVEIRA, 2004).

O procedimento foi caracterizado pelo levantamento das informações sobre Receita

Total, Valor da Marca e Endividamento, compreendendo o período de 2009 a 2012, realizado

através do acesso aos relatórios disponibilizados pela consultoria BDO RCS e consultas às

Demonstrações Contábeis de 18 clubes de futebol brasileiros.

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A classificação do estudo quanto à abordagem do problema classifica-o como

quantitativo, com aplicação da técnica estatística ACP. Para Oliveira (2001), a abordagem

quantitativa procura quantificar dados, nas formas de coleta de informações, assim como

também com o emprego de recursos e técnicas estatísticas desde as mais simples, como

percentagem, média, moda, mediana e desvio padrão, até as de uso mais complexo, como

coeficiente de correlação, análise de regressão etc.

De forma resumida, segundo Marozini et al. citados por Lima Jr. et al. (2004), a

finalidade de aplicação da ACP é verificar se todas as variáveis contribuem para explicar o

sistema. O seu objetivo principal é obter um pequeno número de combinações lineares, os

componentes principais (CP), construídos com os autovalores da matriz de covariância que

retenham o máximo possível da informação contida nas variáveis originais. Os escores dos

componentes principais podem ser usados, no lugar das variáveis originais, nas análises de

regressões, análises de agrupamentos, etc.

Para este estudo foram selecionados dezoito times de futebol brasileiros pertencentes à

6 Estados brasileiros. Os 18 clubes selecionados e sua divisão por Estados apresenta a

seguinte distribuição:

- Estado de São Paulo: Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Santos, Portuguesa e Ponte

Preta;

- Estado do Rio de Janeiro: Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense e Botafogo/RJ;

- Estado do Rio Grande do Sul: Grêmio e Internacional;

- Estado de Minas Gerais: Cruzeiro e Atlético/MG

- Estado do Paraná: Coritiba e Atlético/PR;

- Estado de Santa Catarina: Avaí e Figueirense.

Não foram selecionados outros clubes por não constarem do relatório disponibilizado

pela consultoria BDO ou porque os mesmos não disponibilizaram as suas Demonstrações

Contábeis nos seus respectivos sites ou no Diário oficial dos Estados a que pertencem. Para

aplicar a técnica estatística ACP foram retiradas dos relatórios disponibilizados pela

consultoria BDO RCS e consultas às Demonstrações Contábeis dos times de futebol os dados

relacionados à Receita Total, Valor da Marca e Endividamento de 18 clubes de futebol

brasileiros no período de 2009 a 2012 que fizeram parte da amostra.

Foram calculadas, para cada variável, todas as estatísticas descritivas tais como média,

variância, valores extremos e para análise de componentes principais foi feita a padronização

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das variáveis (média nula e variância unitária). Todas as análises foram processadas no

software Statistica, versão 7. Optou-se por utilizar três fatores econômico-financeiros, a saber,

Receita Total, Endividamento e Valor da Marca, em razão da disponibilidade dos dados

documentais.

5. Resultados

Os dois primeiros componentes principais permitiram a construção de um gráfico

biplot que consta da Figura 1 que contém a distribuição dos times de futebol e das variáveis

consideradas. Esse gráfico responde por 94,5% da variabilidade contida nas variáveis

originais (61,72% em CP1 e 32,782% em CP2).

Para o ano de 2009, tem-se, no gráfico da Figura 1, que para os fatores Receita Total e

Valor da Marca são destacados os times Corinthians, São Paulo e Flamengo e para o fator

Endividamento os times Fluminense, Botafogo/RJ, Vasco da Gama, Atlético/MG e Flamengo.

FIGURA 1 – Distribuição dos times de futebol no plano bidimensional para o ano de 2009 – CP1xCP2. Fonte:

elaborado pelos autores.

Esse destacamento pode ser ainda observado no gráfico da Figura 2 onde, para o ano

de 2009, são mostrados os escores do primeiro componente principal.

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FIGURA 2 – Distribuição dos escores do primeiro componente principal para o ano de 2009. Fonte: elaborado

pelos autores.

No ano de 2010, apresentam-se como destaques, no Gráfico 3, para os fatores Receita

Total e Valor da Marca, os times Corinthians, São Paulo e Flamengo e para o fator

Endividamento os times Fluminense, Botafogo/RJ, Vasco da Gama, Atlético/MG e Flamengo.

FIGURA 3 – Distribuição dos times de futebol no plano bidimensional para o ano de 2010 – CP1xCP2. Fonte:

elaborado pelos autores.

No gráfico da Figura 4, são apresentados os escores do componente principal número

1 para o ano de 2010.

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FIGURA 4 – Distribuição dos escores do primeiro componente principal para o ano de 2010. Fonte: elaborado

pelos autores.

Para o ano de 2011, apresentam-se destacados, para os fatores Receita Total e Valor da

Marca, os times Corinthians, São Paulo e Flamengo e para, o fator Endividamento, o time

Atlético/MG, conforme gráfico da Figura 5.

FIGURA 5 – Distribuição dos times de futebol no plano bidimensional para o ano de 2011 – CP1xCP2. Fonte:

elaborado pelos autores.

Para o ano de 2011, no gráfico da Figura 6, tem-se os escores do CP1.

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FIGURA 6 – Distribuição dos escores do primeiro componente principal para o ano de 2011. Fonte: elaborado

pelos autores.

De acordo com o gráfico da Figura 7, para o ano de 2012, pode-se destacar, para os

fatores Receita Total e Valor da Marca, os times Corinthians, São Paulo e Flamengo e, para o

fator Endividamento, o time Atlético/MG.

FIGURA 7 – Distribuição dos times de futebol no plano bidimensional para o ano de 2012 – CP1xCP2. Fonte:

elaborado pelos autores.

O gráfico da Figura 8 mostra, para o ano de 2012, os escores do primeiro componente

principal.

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FIGURA 8 – Distribuição dos escores do primeiro componente principal para o ano de 2012. Fonte: elaborado

pelos autores.

6. Discussões e Conclusões

Esta pesquisa teve como objetivo analisar, aplicando a ACP, três fatores econômico-

financeiros de clubes de futebol do Brasil no período de 2009 a 2012. O resultado da pesquisa

permitiu concluir algumas situações quando comparados os anos de 2009 a 2012 como o fato

de que, para todo este período, os times de futebol Corinthians, São Paulo e Flamengo sempre

são destacados quando são considerados os fatores Receita Total e Valor da Marca.

Quanto ao posicionamento desses três times como os mais relevantes em relação ao

fator Receita Total pode-se considerar que uma grande contribuição para que isso aconteça

veio do aumento das receitas desses times de futebol devido às cotas maiores de televisão,

patrocínio e publicidade, bilheteria e licenciamento. Além desses aspectos, pode-se citar, de

forma específica, que o time de futebol Corinthians recebeu uma premiação pela conquista

dos títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes disputado no Japão.

O estudo de uma consultoria mostrou que, quando comparadas as fontes de renda,

algumas delas perderam peso em relação a outras. Cita-se, como exemplo, o impulso dado

pelos novos contratos de transmissão na receita que reduziram o impacto de itens como

patrocínio e publicidade e bilheteria.

Outro estudo publicado por consultoria conceituada mundialmente destacou os

recentes acertos desses três times brasileiros com fornecedores de material esportivo. De

acordo com esta consultoria, os acordos da Nike com o Corinthians, da Adidas com o

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Flamengo e da Penalty com o São Paulo alcançaram valores praticados pelas equipes que

ocupam o Top 20 mundial nesse tipo de contrato para obtenção de receitas.

Em relação ao Valor da Marca, uma possível explicação para essa continuidade de

posição, além da capacidade econômica destes três times, é a polarização entre torcedores

jovens. Segundo uma pesquisa, realizada por um jornal de grande circulação nacional em

dezembro de 2012, aproximadamente 52% dos torcedores brasileiros entre 16 e 24 anos seria

flamenguista, corintiana ou são paulina.

Outro aspecto relevante, especificamente em relação ao time Corinthians, no ano de

2012, foi a conquista dos títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes o que permitiu uma

excelente oportunidade para que houvesse um significativo estreitamento da relação

torcedores-consumidores por meio de ações de marketing como o famoso slogan “nunca vou

te abandonar”. Isso mostra que o relacionamento do clube com a torcida é um aspecto

importante na consolidação do valor da marca. Entre os anos de 2009 e 2012 o valor da marca

do time de futebol Corinthians passou de R$ 562 milhões para, aproximadamente, R$ 1

bilhão, o que significou um aumento de 78%.

Neste mesmo período, o time de futebol Flamengo, que há muitas décadas possui o

maior percentual de torcedores brasileiros, teve sua marca aumentada de R$ 568 milhões para

R$ 792 milhões, um crescimento de 39,5% que, comparada ao time de futebol Corinthians,

pode ser considerado modesto. O time de futebol São Paulo teve seu valor de marca, entre

2009 e 2012, elevado de R$ 552 milhões para R$ 771 milhões, mostrando um crescimento de

40% e situação muito semelhante à do time de futebol Flamengo.

O resultado da pesquisa também permitiu concluir que, para os anos de 2009 e 2010,

os times de futebol Fluminense, Botafogo, Vasco da Gama, Atlético/MG e Flamengo são

destacados quando considerado o fator Endividamento e, para os anos de 2011 e 2012, existe

uma evidência ainda mais significativa para o time de futebol Atlético/MG.

Uma das razões que pode explicar o resultado verificado para esses times de futebol

no período de 2009 e 2010 é o endividamento com a Timemania. Entretanto, pode-se

constatar que essa fatia está diminuindo, o que significa, de maneira geral, que os clubes estão

pagando o débito fiscal decorrente dessa loteria.

Ressalta-se, por outro lado, que os balanços indicam que muitos clubes estão

aumentando seus passivos tributários pós-Timemania, e isso normalmente decorre da

atualização por variação monetária e juros dos impostos não pagos novamente, após aquele

refinanciamento originário da loteria. Tal fato confirma a busca por novas negociações com o

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governo para refinanciamento dessa dívida ou até o perdão. Pode-se considerar ainda que um

agravante do time de futebol Atlético-MG em relação aos outros times é a constância em

acumular dívidas através de empréstimos.

Entretanto, o time de futebol Atlético/MG contestou as metodologias dos estudos

divulgados pelas consultorias ao afirmar que o valor de sua dívida estaria muito abaixo dos

valores que foram publicados. O time alegou que não deveria ser levado em conta o valor de

Impostos Diferidos Passivos, que correspondem a impostos que só seriam pagos em caso de

venda de suas propriedades. O time afirmou, ainda, que foi o único a incluir o item em seu

balanço, por ser esta uma recomendação das novas normas brasileiras de contabilidade.

Assim, segundo os responsáveis pela contabilidade do time, o cálculo correto deveria ser feito

com a subtração dos impostos da dívida total.

Por fim, pode-se concluir que muitas são as formas de analisar-se o desempenho

econômico-financeiro de um time de futebol e que muitos são os fatores que podem interferir

para que o resultado seja positivo. Este estudo foi elaborado com o propósito de analisar três

fatores econômico-financeiros de clubes de futebol do Brasil no período de 2009 a 2012

utilizando a técnica estatística Análise de Componentes Principais.

Como sugestão de pesquisas futuras, indica-se a realização da análise dos três fatores

econômico-financeiros considerados neste estudo em times de outras modalidades esportivas,

e caso, sejam necessários, incorporar outros fatores que se mostrem importantes para a

pesquisa.

Referências

- BDO. BDO RCS Consultoria. 6º valor das marcas dos clubes brasileiros – finanças dos clubes. Disponível em:

<http://www.bdobrazil.com.br/pt/index.php>. Acesso em 26/03/2014.

- BRANDÃO, A.R. O endividamento dos clubes de futebol no Brasil. Dissertação. Mestrado em Administração

de Empresas. Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2012.

- DAMATTA, R. Antropologia do óbvio – notas em torno do significado social do futebol brasileiro. Revista

USP, n.22, 1994.

- GIL, A.C. Método e Técnicas de Pesquisa Social. 5ed. São Paulo: Atlas, 1999.

- GONÇALVES, J.C.S.; CARVALHO, C.A. A mercantilização do futebol brasileiro: instrumentos, avanços e

resistências. Cadernos EBAPE.BR, v.4, n.2, FGV, 2006. Disponível em: <www.ebape.fgv.br/cadernosebape>.

Acesso em 01/04/2014.

- LIMA JR., R.L.; SCARPIN, J.E.; LIMA, M.L.H. Aplicação da técnica estatística da Análise das Componentes

Principais como mecanismo gerador de informações para a gestão pública: um estudo nas prefeituras dos

municípios do Estado de Santa Catarina. EnAPG / ANPAD - Encontro de Administração Pública e Governança,

Salvador, 12 a 14 de novembro de 2008.

XXI SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO As Demandas de Infraestrutura Logística para o Crescimento Econômico Brasileiro

Bauru, SP, Brasil, 10 a 12 de novembro de 2014

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