ex-votos - difusão, produção e consumo das imagens visuais

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    INTRODUO

    A produo de objetos visuais ao longo da histria foi influenciada porvrios fatores. A imagem foi utilizada, em diversos perodos, como forma depropaganda, de transmitir informaes, de exprimir devoo e vises de mun-do.3 Entre as imagens relacionadas s formas de devoo podemos citar o ca-so dos ex-votos, objetos visuais produzidos com a finalidade de agradeceruma graa alcanada. Estamos diante de uma forma de manifestao imag-

    Difuso, produo e consumo

    das imagens visuais: o caso dos

    ex-votos mineiros do sculo XVIII1

    Jean Luiz Neves Abreu2

    UNIVALE

    RESUMO

    Estudos sobre os meios visuais mostram

    que a anlise da arte no deve se pren-der aos seus aspectos formais. A hist-

    ria cultural tem procurado enfocar as

    condies sociais e culturais de produ-

    o e recepo das imagens. Essas ques-

    tes so endereadas no presente artigo

    aos ex-votos mineiros. Produzidos com

    a finalidade de agradecer um milagre al-

    canado, e relacionados ao universo dareligiosidade popular, esses objetos per-

    mitem abordar aspectos da produo e

    do consumo de arte na sociedade do s-

    culo XVIII.

    Palavras-chave: Ex-voto Produo,Con-

    sumo; Sculo XVIII.

    ABSTRACT

    Studies about visual means show that

    the analysis of art should not be basedonly on formal aspects. Cultural history

    has ought to focus on the social and cul-

    tural conditions of production and

    reception of images. These questions are

    addressed to the ex-votosfrom Minas

    Gerais in the present article. These ex-

    votosare produced to give thanks to a

    miracle that had been granted, and theyare related to the universe of religiosity

    of popular culture. These objects allow

    the approach to the aspects of produc-

    tion and consumption of art in the soci-

    ety of the eighteenth-century.

    Keywords: Ex-voto Production,

    Consumption; 18th Century.

    Revista Brasileira de Histria. So Paulo, v. 25, n 49, p. 197-214 - 2005

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    material, dos males dos membros e rgos de que os devotos se libertaramvem da mais alta antiguidade. Alm de se referir a ex-votos nos templos doEgito, Sria, Grcia e Roma, o viajante menciona tambm aqueles

    oferecidos a Netuno e propiciatrios de viagens seguras, a Serpis por sade,

    a Juno Lucina para crianas e partos felizes; quadros de pacientes no leito, e tam-

    bm olhos, cabeas, pernas, membros e um sem-nmero de pequenas tabuletas

    dirigidas a Esculpio e outros santos mdicos populares entre os pagos.8

    Comuns entre os pagos, os ex-votos foram assimilados pelos cristospor volta do sculo IV e, desde ento, passaram a representar a crena no mi-lagre.9 As formas de representar as ofertas votivas se mantiveram ao longo dotempo, permitindo que se fale da existncia de uma tradio de longa dura-o, ocorrendo a substituio das divindades pags pelas do catolicismo. Es-sas formas de representao se difundiram na Europa do perodo moderno,havendo inmeros santurios em que as ofertas votivas eram expostas.10 EmPortugal tambm foram inmeros os santurios erigidos para as ofertas voti-vas,11 sendo os portugueses os responsveis pela difuso dessa tradio, ligadaao catolicismo, no Brasil. A partir do relato de Ewbank possvel constatarque os ex-votos no Brasil dos sculos XVIII e XIX seguiam os prottipos dosex-votos produzidos na Europa. Quando visitava a igreja de Santa Luzia, noRio de Janeiro, Ewbank viu

    juntamente com os olhos ali colocados como ex-votos, representaes de ou-

    tros membros ou partes do organismo humano, o que vinha constituir uma pro-

    va de que a santa que presidia aquele templo no limitava sua clnica a uma ni-

    ca espcie de enfermidade. Havia ali cabeas, braos, mos, ps e um retrato de

    meio corpo, em alto relevo, tudo de cera.12

    Para alm das rplicas de braos, pernas e outros rgos do corpo feitosem madeira no sculo XVIII e, depois, em gesso e cera no sculo XIX, umadas formas mais comuns de representar os ex-votos eram as tbuas votivas.Segundo grafia culta, essas tbuas eram denominadas de Tabella picta, votiva,tabulaou tabella votiva.13 Em Portugal, em virtude da frmula inicial de sualegenda, ficaram conhecidas tambm por milagresou painis de milagres.14

    Nessas tbuas votivas eram retratados, geralmente, as cenas ou os motivosque originavam as promessas.

    Bluteau faz referncia s taboinhas de So Lzaro, ofertas votivas dos

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    naufragantes que traziam pintado o seu naufrgio, para mover a comisera-o.15 Encomendados pelos marinheiros para agradecer aos santos por teremsido salvos de tempestades e naufrgios, esses ex-votos martimos foram bas-

    tante usuais em Portugal.16

    Diversos exemplares dessas tbuas preenchiamtambm as paredes dos santurios brasileiros, sendo boa parte delas ofertasde portugueses que se aventuravam em contnuas viagens para o Brasil. A es-se respeito, h uma tabuleta [que] mostra a pintura de um navio afundandoe nos diz que foi alcanado por um furaco e quando a tripulao apelou pa-ra a Virgem, esta o salvou.17 No ano de 1770, Jos de Lima, partindo de Lis-boa para o Rio de Janeiro, viu-se s voltas com uma tempestade aos quinzedias de viagem. Apegando-se com Nossa Senhora da Conceio, o tempo se

    acalmou, o navegante teve sua vida salva e, em agradecimento, mandou fazerum ex-voto.18 Em uma tbua votiva de 1772, Jos de Souza Barros agradece omilagre que fez o Senhor da Vera Cruz por t-lo salvado de uma tempesta-de em uma viagem do Porto para Pernambuco.19

    Diante dos riscos que as travessias martimas ofereciam na poca da co-lonizao, consta que foi criada uma imagem especialmente para proteger osmarujos portugueses. Estando um navio prestes a afundar, teria aparecido aimagem de Nossa Senhora em pessoa e socorrido os marinheiros. Ao desem-

    barcarem, os homens ficaram surpresos ao encontrar uma imagem que era aexata reproduo da Virgem, como lhes aparecera junto ao mastro da proa. Aimagem era, segundo informaes de Ewbank, de Nossa Senhora do Cabo daBoa Esperana e pertencia aos Carmelitas. Era principalmente imagem da-quela santa que as tripulaes dos navios faziam seus votos em prol de umaboa travessia.20

    As tbuas votivas no representavam apenas naufrgios. Alm dos ex-vo-tos martimos, havia aquelas que reproduziam cenas de acidentes, catstrofese outras adversidades. Nesses quadros, geralmente a cena representava o queera descrito na legenda, havendo uma inteno de reproduzir o fato que ori-ginou a promessa. No caso das tbuas votivas referentes a enfermidades, po-de-se constatar a existncia de um esquema de confeco das imagens: pinta-va-se a imagem do enfermo em uma cama, em uma das extremidades os santos,geralmente visveis em nuvens, e algumas tinham como figuras obrigatrias afamlia ou a representao de autoridades religiosas ou mdicos.

    Esse esquema de representao parece ter sido recorrente em diversos ex-votos encontrados na Europa. Como exemplo, tem-se um exemplar do scu-lo XVII do territrio marselhs, no qual foram representadas diversas pessoasorando por o que aparenta ser uma criana e, na parte superior esquerda, a

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    imagem de um santo envolto em nuvens.21 Apesar de certas diferenas comrelao aos aspectos formais e da especificidade dos milagres representados,pode-se falar de um certo padro de representao presente nas tbuas voti-

    vas, continuidade de uma tradio europia e, sobretudo, portuguesa que vi-cejou tambm no Brasil, conforme se pode comprovar a partir de exemplosdessas imagens (Figuras 1 e 2). 22

    No Brasil, e de forma especfica em Minas Gerais, a pintura votiva se ex-pandiu durante o sculo XVIII, seguindo geralmente os prottipos portugue-ses e aplicando-lhes a tcnica da tmpera ou leo sobre madeira. Incorpora-da aos ritos do catolicismo brasileiro, a prtica de oferecer votos encontrouum frtil terreno no Brasil dos sculos XVIII e XIX, amalgamando-se s de-

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    Figura 1: Extrada do catlogo de ex-votos Estrias de dor, esperana efesta. O Brasil em ex-votos portugueses, XVII-XVIII. Lisboa: ComissoNacional para as comemoraes dos descobrimentos portugueses, 1998.

    Figura 2: Ex-voto (1798). Gravura extrada de CASTRO, M. de M.Ex-votos mineiros: as tbuas votivas do ciclo do ouro.

    Rio de Janeiro: Expresso e Cultura, 1994.

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    vel da circulao de livros entre os sculos XVI e XVIII. Coube imprensa di-fundir gravuras de toda a Europa, muitas das quais estavam destinadas s co-lnias das Amricas portuguesa e espanhola.24

    Um exemplo notvel da influncia dos modelos europeus na pintura co-lonial mineira o caso de Manuel da Costa Atade. Diversos painis atribu-dos ao pintor dentre os quais podemos citar A morte de Abrao,copiadade uma pintura de Rafael tiveram como fonte as ilustraes da chamadaBblia de Demarne. Essa bblia inspirou no apenas a Mestre Atade, comotambm outros artistas desconhecidos.25

    Se por um lado a existncia de modelos foi comum no processo artsticodo Brasil colonial, por outro, necessrio diferenciar as obras inspiradas em

    livros das pinturas votivas. No primeiro caso, as fontes em que se basearamos artistas faziam parte de uma tradio erudita, transmitida formalmente.Isto implicava a adoo de padres e mtodos de representao que perten-ciam a cdigos plsticos sancionados pela alta cultura, a exemplo de Ticiano,Rafael e Drer. J com relao aos ex-votos pintados, no se encontrou ne-nhuma referncia a obra ou livro que normatizasse sua elaborao. Conside-rando a informao de Bluteau de que as tbuas votivas eram quase imita-o do antigo costume,26 parece-nos bastante plausvel a tese de que elas

    obedeciam a esquemas consagrados por uma tradio informal e annima.Nesse sentido, o artfice no se inspirava em uma bblia ou missal parapintar uma tbua votiva. Na verdade, ele procurava reproduzir os mtodosde representao utilizados em outras imagens votivas consagrados pelo cos-tume e enraizados na longa durao. Da a dificuldade, seno a impossibili-dade, de se estabelecer uma genealogia desses cdigos, de modo a articul-losa um contexto histrico especfico. Assim, as tbuas votivas podem ser asso-ciadas ao que Peter Burke denominou de pequena tradio. Diferente dagrande tradio, transmitida formalmente em liceus e escolas, e identifica-da alta cultura, a pequena tradioconstitua uma tradio popular,trans-mitida informalmente, muitas vezes margem dos cnones estabelecidos pe-las elites.27 Ao contrrio dos movimentos artsticos associados a uma escolaou estilo especfico, a pequena tradio caracterizava-se precisamente pelalonga durao, ou seja, a persistncia de cdigos e padres de representao.

    Apesar de generalizantes em certos aspectos, as anlises de Peter Burkesobre a cultura popular na Europa da Idade Moderna servem como refern-cia para relacionar os ex-votos com a pequena tradio. Pode-se afirmar queo artfice reproduzia as tcnicas de pintura aprendidas em uma oficina, nose baseando necessariamente nos modelos presentes nos livros e bblias. Seu

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    modelo residia nas tbuas votivas vistas em igrejas e santurios. Explicam-seassim as pequenas variaes na forma de representar as cenas dos milagres ea repetio de uma dada composio. Conforme afirmou Peter Burke, a cul-

    tura popular pode ser descrita como um repertrio de gneros, mas tambm,num exame mais atento, como um repertrio de formas (esquemas, motivos,temas, frmulas).28

    ARTFICES E OFERTANTES NAS MINAS NO SCULO XVIII

    Quem eram os produtores das tbuas votivas? Tratava-se de especialistase de artfices reconhecidos? No fcil responder a essa questo, j que nose dispe de uma documentao que traga tais informaes. Alm de as pin-turas serem annimas, no h registros de contratos entre aquele que enco-mendava a imagem e o artfice que a confeccionava. Apesar das dificuldadesem avanar nesse problema, algumas hipteses tm sido esboadas por algunsautores no sentido de esclarecer a questo da produo dos ex-votos pintados.

    Yara Matos supe que as tbuas votivas eram produzidas por pessoas quepossuam habilidade para desenho ou por profissionais que ficaram conheci-dos como riscadores de milagres.29 Desse ponto de vista, haveria artfices es-pecializados na produo de ex-votos. Para o sculo XIX, Ewbank nos infor-ma que nem todos os artesos que faziam imagens de devoo para seremcomercializadas, confeccionavam ex-votos. Dos 21 comerciantes de velas eobjetos de cera no Rio ... somente sete fabricavam aqueles objetos.30 Ou seja,de acordo com esse viajante, haveria artfices especializados na confeco deex-votos, corroborando a tese de Yara Matos, aqui exposta.

    Entretanto, a hiptese de que a produo de ex-votos consistia numa ati-vidade especializada, exercida por poucos, no unnime. Leila Frota afirmaque muitos ex-votos seriam provavelmente encomendados a artfices maismodestos das corporaes, ou mesmo a populares curiosos, aprendizes in-formais das tcnicas artsticas.31 Jos Newton Coelho Menezes tambm com-partilha dessa opinio. Esse autor chama ateno para a diversificao da pro-duo de artistas leigos desvinculados das ordens religiosas, que podiam ouno ser profissionais que viviam da produo de imagens, reformas de santosou execuo de ex-votos.32 A mesma hiptese desenvolvida por FernandoMatos Rodrigues em relao aos ex-votos da regio de Arouca, em Portugal,que podiam vir a ser obra de algum santeiro.33

    Tendemos a concordar com os autores que defendem uma no especiali-

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    zao da pintura de ex-votos. Considerando que esses objetos integravam ouniverso do trabalho artesanal na sociedade mineira do sculo XVIII, legti-mo supor que os artfices responsveis por eles teriam aprendido as tcnicas

    gerais de pintura em uma oficina, habilitando-se a pintar desde ex-votos a re-tbulos, passando pelo reparo de painis ou confeco de santinhos. No setratava, portanto, de especialistas em ex-voto, j que suas habilidades podiamser utilizadas para outros trabalhos associados ao fazer artstico da sociedadecolonial.

    Nas Minas, como no mundo colonial, era na oficina que se forjava a ar-te. Os artistas eram frutos da formao tradicional da oficina, dirigida porum artfice mestre de ofcio. A oficina gerava uma arte annima e um artista

    annimo, pois pintores e entalhadores no assinavam suas obras.34

    Esse ano-nimato colocava os artfices de ex-votos no mesmo patamar dos oficiais me-cnicos. Isto no os impedia de gozar de certo reconhecimento social, a exem-plo de outros artesos. De acordo com Caio Csar Boschi, o preconceito dobranco em relao ao trabalho manual criou, na sociedade setecentista mi-neira, a possibilidade de mobilidade social para os escravos. Dessa possibili-dade se beneficiaram no s os mulatos, reconhecidos socialmente por seutrabalho artstico, como tambm os homens livres pobres.35

    Incorporado aos ofcios mecnicos, o fazer artstico em Minas era igua-lado a qualquer outro fazer. Conforme observou Raquel Pifano, artista, art-fice e arteso permaneciam sujeitos indistintos. Enquanto a elite letrada setorna a portadora da tradio considerada intelectual, escultura e pintura fi-cam a cargo de um grande nmero de trabalhadores, sendo esses em grandeparte escravos forros.36 Alm disso, a ausncia de uma corte ou de casas no-bres no mundo colonial patrocinando as artes dificultava a nobilitao do ar-tista pintor, observada em Portugal, deixando fluidas as fronteiras entre o ar-tista-arteso e o artista-pintor.37

    A diviso entre ofcios mecnicos e ofcios liberais foi transmitida de Por-tugal para o Brasil. Embora l, desde o sculo XVII, a pintura tenha sido ele-vada condio de arte liberal, continua a existir a distino entre os pinto-res de imaginria a leo e os pintores de tmpera, dourado e estofado. Deacordo com Oliveira Caetano, devido concorrncia do mercado de pinturano Reino, a soluo encontrada por muitos artfices foi a de se dedicarem execuo de pequenas obras, como a pintura de tbuas votivas, trabalhos quelhes possibilitavam a sobrevivncia cotidiana.38

    Estabelecendo um paralelo entre a produo artstica de Portugal e a doBrasil durante o sculo XVIII e tomando por base as anlises sobre o estatuto

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    do artista no mundo colonial, pode-se afirmar que poucos eram aqueles quese dedicavam a grandes trabalhos de pintura. Para a grande maioria dos art-fices que viviam nas Minas do sculo XVIII, restavam trabalhos menores, co-

    mo a confeco de pequenas imagens de santos ou tbuas votivas.Se por um lado, as informaes acerca dos artfices que pintavam tbuas

    votivas e faziam outros tipos de ex-votos no so fceis de rastrear, por outro,quanto aos consumidores desses objetos podem-se obter alguns dados maisconfiveis. Isto possvel graas a algumas legendas das tbuas votivas, nasquais possvel no s identificar o motivo da oferta, mas tambm a condi-o social do ofertante. esse o caso de um ex-voto em que se agradece a

    Merc que fez o Senhor Bom Jesus de Matosinhos, a dona Ana Barbosa de Ma-galhes, mulher do capito Joo Peixoto, estando gravemente enferma de umas

    diarrias de sangue e desenganada j de cirurgies e apegando-se com o dito Se-

    nhor e sua me logo em trs dias ficou boa.39

    A partir da breve histria narrada na legenda desse exemplar, possvelsaber, portanto, que Ana Barbosa era esposa de um capito. Por causa da re-ferncia patente de Joo Peixoto, pode-se presumir que se tratava de uma

    famlia que possua algumas posses, que possibilitavam, at mesmo, a assis-tncia de vrios cirurgies.

    possvel constatar tambm a existncia de ofertas votivas de escravos, aexemplo do Milagre que fez a Senhora Santa Ana a Aioa ... escravo ... que seachava enfermo e sem esperanas de vida,40 e o milagre que fez Santa Ana aum preto Luiz de Luiz Pereira.41 Outro exemplo o milagre que fez NossoSenhor da Agonia a Liandro escravo de Pedro ... estando desenganado comsuas convulses, do final do sculo XVIII.42 Um outro ex-voto relata o mila-

    gre que fez Nossa Senhora do Porto de Ave, nas Minas de Ouro Preto em es-cravo de Joo do Azevedo [que] esteve um ano doente sem esperana de vidae 9 meses sem falar.43 Pode-se citar ainda a tbua votiva em que Joo Amarorecorre a So Benedito para ser curado de uma febre.44

    Nos casos em que se indicava o nome dos senhores possvel que a ofer-ta votiva tenha sido feita por eles prprios, visando a melhora de seus escra-vos. Os ex-votos de escravos so indicativos da apropriao de prticas cultu-rais relacionadas ao universo do cristianismo. A incorporao da prtica votivapelos escravos, como a de outros ritos cristos, demonstra como no processode vivncia cotidiana da Colnia brancos, negros e mestios trocaram valo-

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    res, prticas e representaes culturais, levando a um processo intenso de hi-bridismo cultural e incorporao de valores de todas as partes.45

    Alm das ofertas votivas de senhores e de escravos, as camadas mais des-

    providas de recursos tambm faziam uso dessas imagens. Em nossa pesquisafoi possvel constatar, a partir de uma anlise do mobilirio e de outros ele-mentos como o vesturio representado nas imagens votivas, que grande par-te dos ofertantes se situavam nas camadas mais baixas da populao.46

    Prtica compartilhada por todas as camadas sociais, os ex-votos se desti-navam a vrias necessidades, o que explica a diversidade das ofertas votivas.No caso das Minas, alm das doenas comuns que grassavam na Colnia di-versas oferendas refletem as condies precrias a que eram expostos os es-

    cravos na minerao. o caso do escravo Luiz, que havia fraturado gravemen-te sua perna e esta foi encanadatrs vezes,sem que nenhuma delas adiantasse.O cirurgio ento abriu novamente sua perna e cerrou as pontas de seus os-sos. Em agradecimento, ele encomendou um voto a Santa Ana, cuja interces-so salvara sua vida.47

    Temendo que seus filhos morressem, pais faziam promessas para que ossantos os curassem. Uma tbua votiva de 1778 representa a Merc que fez oSr. bom Jesus de Matosinhos a D. Inacia, filha do Dr. Joo Antonio Leo, [que]

    estando gravemente enferma logo alcanou alvio na molstia, at que ficoutoda logrando sade.48 No que diz respeito a crianas doentes, era costumetambm encomendar rplicas de seus corpos em miniatura, tais como crian-cinhas, de dez a quatorze polegadas de comprimento.49

    A preocupao com a maternidade j se externava desde a gravidez, quan-do os perigos relacionados ao parto faziam que as mulheres recorressem aosseus santos de devoo. Maria Joaquina, estando enferma de um parto e semesperanas de vida, fez promessa a Santa Ana e logo alcanou melhoras.50 Ou-tro ex-voto representa o milagre que fez o Senhor de Matosinhos a VictoriaMora de Godois que estando com o mesmo problema, prometeu ao Senhorpintar o seu milagre logo que melhorou.51 As mulheres que protagonizaramessas histrias nem sempre obtiveram sucesso. Em 14 de dezembro de 1781,Anglica da Costa estava com uma criana morta no ventre j fazia oito dias,conseguindo coloc-la para fora em 22 de dezembro do mesmo ano.52

    Os ex-votos tornam-se, assim, testemunhos inequvocos do amor mater-no e das prticas piedosas individuais em torno do parto. Com relao s de-voes e crenas em torno do parto, Mary Del Priore enfatiza, por um lado, aincorporao da mulher na Colnia ao movimento reformista da Igreja Ca-tlica que teve incio na Europa e, por outro lado, a proliferao de frmulas

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    sinhos a partir do sculo X, perodo em que ainda a imagem miraculosa eravenerada no mosteiro de Bouas. Somente em 1550 a imagem do Senhor deBouas foi transferida para a atual matriz de Matosinhos, em Portugal.57

    Embora no sculo XVIII igrejas de diversas vilas da Capitania de Minastenham recebido oferendas votivas, um dos maiores centros de peregrinaoera o Santurio do Nosso Senhor Bom Jesus do Matosinhos. O surgimentodesse santurio no resultou de iniciativa da Igreja. Sua construo est asso-ciada a uma cura miraculosa e a uma oferta votiva de Feliciano Mendes, umreinol que viera para as Minas procura de ouro e se adoentou. Curado dadoena, Feliciano Mendes prometeu construir um santurio em agradeci-mento cura milagrosa, atribuda ao Senhor de Matosinhos.58

    A proeminncia assumida por essa devoo na Colnia pode ser com-provada pelo considervel nmero de ex-votos dedicados ao Bom Jesus deMatosinhos, em Congonhas. De acordo com dados levantados por Mrcia deMoura Castro, esse nmero chegava a 43,9% do total das ofertas votivas dossculos XVIII e XIX.59 Entretanto, na medida em que polarizavam as devo-es de todas as regies de Minas, as ofertas votivas do santurio de Congo-nhas testemunham tambm outras devoes. Tal era o fluxo de devotos quese dirigiam ao santurio que, em 1765, o ermito Custdio Gonalves de Vas-

    concelos construiu a casa de milagres, para nela se colocarem todas as rela-es e quadros de milagres operados pelo Senhor Bom Jesus.60 Quando visi-tou,no sculo XIX,o santurio do Bom Jesus de Matosinhos, o viajante francsSaint-Hilaire se surpreendeu com a quantidade de oferendas que se achavamna casa de milagres, construda de um dos lados do templo. Dizia o viajanteque tamanho era o nmero de oferendas e membros de cera, que no cabemais nada.61

    Durante o ano, os fiis faziam peregrinaes a essas capelas e levavamex-votos aos santos de sua devoo. Entretanto, tais demonstraes de devo-o nem sempre eram bem vistas pelos representantes da Igreja. Restriessimilares podem se observadas tambm na Colnia. Foi na tentativa de con-ter os abusos das peregrinaes que a Igreja delegou aos ermites respons-veis pelos santurios onde se reuniam os devotos, proibir que nas ermidas aspessoas comam, joguem, bailem, ou faam coisa semelhante.62 No sculoXVIII, D. Frei Domingos da Encarnao Pontevel condena o carter profanodas romarias, em que o divertimento, e a curiosidade, a romagem, e a mistu-ra de um, e outro sexo todo o mvel de semelhantes devoes.63 Da mesmaforma, D. Cipriano de So Jos mostrava-se intolerante s romarias ao San-turio do Senhor Bom Jesus de Matosinhos. Segundo ele, em dias de romaria

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    a vila mais parecia praa de touros que igreja de fiis.64 Conforme chamaateno Franois Lebrun, enquanto para a Igreja a peregrinao tinha um sig-nificado espiritual, gesto de piedade, penitncia e converso da alma, para

    grande parte dos fiis essas viagens eram atos que adquiriam significadosconcretos.

    Assim, aps terem alcanado o milagre por intermdio de suas splicas,homens ou mulheres cumpriam o ltimo ato da promessa: em um santurioou ermida, colocavam o ex-voto que tinham prometido, para que outros tomas-sem conhecimento da graa alcanada. Dessa forma, a prtica votiva pode serconsiderada tanto um rito inserido na vida privada na medida em que eraum gesto individual , quanto na esfera pblica na medida em que esta-

    vam associados peregrinao e expunham publicamente os milagres nos san-turios. Para ser considerado um ex-voto, era necessria no s a encomendado artefato a ser oferecido, mas tambm sua exposio em um santurio.

    ALGUMAS CONSIDERAES FINAIS

    A partir dos ex-votos mineiros do sculo XVIII possvel entrar em con-

    tato com um circuito de produo e consumo das imagens que se destaca pa-ralelamente arte produzida para os templos e igrejas barrocas. Ditada pelasnecessidades de devoo, os ex-votos so o exemplo de como a religiosidadefoi, nesse sculo, a propulsora do consumo de objetos visuais.

    Com base no contexto de produo artstica na Colnia foi possvel le-vantar algumas hipteses referentes produo dessas imagens, mostrandocomo ela ofereceu a alguns artfices a possibilidade de diversificarem sua pro-duo e sobreviverem de atividades que se desenvolviam paralelamente cons-

    truo das igrejas ou relacionadas a outros ofcios mecnicos. Quanto ao con-sumo,desenvolvemos uma hiptese de que se tratava de uma prtica difundidaentre os diversos nveis sociais e econmicos. Tais imagens se revestiam deum aspecto simblico na medida em que expressavam a materialidade domilagre e pragmtico na medida em que essa prtica respondia s ne-cessidades cotidianas.

    O anonimato das fontes e de seus produtores um aspecto que dificultaconcluses a partir de dados mais exatos. Entretanto, isso no inviabiliza umaanlise que procure deter-se em aspectos relevantes da circulao desses ob-

    jetos culturais que so os ex-votos. Fonte annima e silenciosa, sua existncia

    Jean Luiz Neves Abreu

    Revista Brasileira de Histria, vol. 25, n 49210

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    comprova algo irrefutvel: a crena no milagre nas Minas do sculo XVIII co-mo o principal aspecto que levou multiplicao das ofertas votivas.

    NOTAS

    1 Este artigo apresenta uma abordagem sobre o tema dos ex-votosa partir da pesquisa rea-

    lizada no Mestrado O imaginrio do milagre e a religiosidade popular: um estudo sobre a

    prtica votiva nas Minas do sculo XVIII. Belo Horizonte: UFMG, 2001. No presente arti-

    go, algumas modificaes foram introduzidas.

    2 Professor da Univale, doutorando na Universidade Federal de Minas Gerais UFMG.

    3 Para uma abordagem dos vrios significados que as imagens assumem na sociedade ver,

    entre outros, BURKE, P. Testemunha ocular. Trad. Vera Xavier Santo. Bauru (SP): Edusc,2004.

    4 Ibidem, p.225.

    5 ARAJO, A. M. Ex-votos ou promessas. Revistas de artes no Brasil, So Paulo, 1952,

    p.42-3.

    6 VOVELLE, M. Os ex-votosdo territrio marselhs In: Imagens e imaginrio na histria.

    Fantasmas e certezas nas mentalidades desde a Idade Mdia at o sculo XIX. So Paulo:

    tica, 1989, p.114.

    7 BLUTEAU, Pe. R. Vocabulario portuguez e latino. v.8, Tomo II, p.582. [1720-1728]

    8 EWBANK, T. A vida no Brasil ou dirio de uma visita ao pas do cacau e das palmeiras

    [1856]. Rio de Janeiro: Conquista, 1973, v.1, p.153.

    9 Sobre as remotas origens da prtica votiva ver, entre outros, SOUZA, L. de M. e. Os ex-

    votosmineiros. In: Norma e conflito: aspectos da histria de Minas no sculo XVIII. Belo

    Horizonte: Ed. UFMG, 1999, p.207.

    10 Para os estudos relacionados aos ex-votoseuropeus ver, entre outros, COUSIN, B. Le mi-

    racle et le Quotidien: les ex-voto provenaux images dune societ. Aix-en-Provence: Socie-ts, mentalits, cultures, 1983; BELLI, G. (Dir.) Lo straordinario e il quotidiano. Ex-voto,

    santuario, religione populare nei Bresciano. Trento: s.n., 1981.

    11 CAETANO, J. O. Duas ou trs reflexes sobre a diversidade da produo artstica em Por-

    tugal durante a Idade Moderna. In: Estrias de dor, esperana e festa: o Brasil em ex-votos

    portugueses XVII-XIX. Lisboa: Comisso Nacional para as Comemoraes dos Descobri-

    mentos Portugueses, 1989.

    12 EWBANK, T., op. cit., v.1, p.175, grifo do autor.

    13 BLUTEAU, R., op. cit, p.582.

    14 PINA, L. de. Arte popular. In: Vida e arte do povo portugus, s.l.: s.n., 1950, p.79.

    Difuso, produo e consumo das imagens visuais: o caso dos ex-votos mineiros...

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    Judith Martins. MARTINS, J. Dicionrio de artistas e artfices dos sculos XVIII e XIX em

    Minas Gerais. Rio de Janeiro: Iphan/MEC, 1974.

    33 RODRIGUES, F. M. Ex-votosda regio de Arouca: um corpusmgico da religio popu-

    lar, ou uma teraputica contra o mal. In: Rurlia: conjunto etnogrfico de moldes. Arouca(Portugal), s.n., p.43-53.

    34 Sobre a organizao da arte na colnia ver: TRINDADE, J. B., op. cit., p.7-8.

    35 BOSCHI, C. C. Os leigos e o poder: irmandades leigas e poltica colonizadora em Minas

    Gerais. So Paulo: tica, 1986, p.148-9.

    36 PIFANO, R. Q. O estatuto social do artista na sociedade colonial mineira, (LOCUS

    Revista de Histria, Ncleo de Histria Regional, Juiz de Fora, v.4, n.2, p.121-30) p.124-5.

    importante notar o descompasso entre a produo artstica na Europa e no Brasil. Na Eu-

    ropa, com o Renascimento a arte ter por pretenso imitar a natureza. O artista se colocadiante dela, com o intuito de super-la. a partir da que se afirma o reconhecimento da

    distino sujeito-objeto e surge a idia da subjetividade criadora do artista. Raquel Pifano

    considera que na Colnia o artista no existe enquanto sujeito criador, no podendo en-

    tender a arte como expresso do eu individual do artista, o que ocorreria somente no s-

    culo XIX.

    37 TRINDADE, J. B., op. cit., p.7.

    38 CAETANO, O. Duas ou trs reflexes sobre a diversidade da produo artstica em Por-

    tugal durante a Idade Moderna. In: ESTRIAS de dor, esperana e festa. O Brasil em ex-votos portugueses. XVII-XIX. Lisboa: Comisso Nacional para as comemoraes dos Des-

    cobrimentos Portugueses, 1998, p.15-6.

    39 EX-VOTO. Legenda. Santurio do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas (MG), 1771.

    40 EX-VOTO. Igreja de So Francisco de Assis, Ouro Preto (MG), 1732.

    41 EX-VOTO. Igreja de So Francisco de Assis, Ouro Preto (MG), 1758.

    42 EX-VOTO. Museu da Inconfidncia, Ouro Preto (MG), sculo XVIII.

    43

    EX-VOTO. Legenda. Pvoa de Lanho, Tade, Santurio de Nossa Senhora do Porto de Ave.Confraria de Nossa Senhora do Porto de Avi, sculo XVIII In: ESTRIAS de dor..., cit.

    44 EX-VOTO. Coleo de Pinturas do Museu da Inconfidncia, Ouro Preto (MG), sculo

    XVIII.

    45 Sobre o papel da escravido no universo cultural do sculo XVIII, ver: PAIVA, E. F. Por

    meu trabalho, servio e indstria: histria de africanos, crioulos e mestios na Colnia

    Minas Gerais, 1716-1789. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.

    46 Essa anlise foi fundamentada no estudo de Deolinda Carneiro. Com base na indument-

    ria representada nos ex-votosportugueses dos sculos XVIII e XIX, a autora constatou a re-presentao tanto de trajes usados por membros da elite, quanto de trajes que compunhamo vesturio das camadas populares. Tais aspectos indicam que os ex-votoseram consumidos

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    pelos diversos estratos da sociedade portuguesa. CARNEIRO, D.Aspectos do traje em Por-tugal no sc. XVIII tendo por fonte a pintura votiva, 1998. In: ESTRIAS de dor..., cit.

    47 EX-VOTO. Igreja So Francisco de Assis, Ouro Preto (MG), 1732.

    48

    ApudCASTRO, M. de M. Ex-votos mineiros: as tbuas votivas do ciclo do ouro. Rio deJaneiro: Expresso e cultura, 1994.

    49 EWBANK, T. A vida no Brasil ou dirio de uma visita..., cit., v.1, p.153.

    50 ApudCASTRO, M. de M. Ex-votos mineiros: as tbuas votivas do ciclo do ouro, s.l., s.n.,1994.

    51EX-VOTO. Legenda. Santurio do Bom Jesus de Matosinhos, Congonhas (MG), 1776.

    52EX-VOTO. Legenda, Museu de Diamantina, 1781.

    53 DEL PRIORE, M. Ao sul do corpo: condio feminina, maternidades e mentalidades nacolnia. Rio de Janeiro: J. Olympio, Braslia: Ed. UnB, 1993, p.276-84.

    54 A idia da religiosidade popular ligada s necessidades concretas foi abordada por: SOU-ZA, L. de M. e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiaria e religiosidade popular no Brasilcolonial. So Paulo: Companhia das Letras, 1986.

    55 LEBRUN, F. Les hommes et la mort en Anjou aux XVII et XVIII sicles. Essai de dmogra-phie et de psychologie. Paris: Monton, 1971, p.288.

    56 MASSARA, M. F. Santurio do Bom Jeus do Monte: fenmeno tardo barroco em Portu-gal. Braga: Confraria do Bom Jesus do Monte, 1988, p.31.

    57 FROTA, L., op. cit., p.33-4.

    58 RELAO cronolgica do santurio e Irmandade do Senhor Bom Jesus de Congonhasdo Campo no Estado de Minas Gerais pelo Pe. Julio Engracio. In: Revista do Arquivo P-blico Mineiro, Belo Horizonte, Ano VIII, fasc. I e II, jan.-jun., 1903, p.27-8.

    59 Consultar o quadro de freqncia temtica dos ex-votosem: CASTRO, M. de M., op. cit.,p.22.

    60 RELAO cronolgica do santurio..., cit., p.51.

    61

    SAINT-HILAIRE, A. de. Viagem s nascentes do Rio So Francisco. Belo Horizonte: Ita-tiaia, So Paulo: Edusp, 1975, p.93.

    62 CONSTITUIES Primeiras do Arcebispado da Bahia, Livro 3, Tit. 39, p.244.

    63 FIGUEIREDO, C. F. Religio, Igreja e religiosidade popular em Mariana no sculo XVIII.In: Termo de Mariana: Histria e documentao. Ouro Preto: Ed. UFOP, 1998, p.110.

    64 TRINDADE, Cn. R. Bispado de Mariana: subsdios para sua histria. Belo Horizonte:Imprensa Oficial, 1953, p.168.

    Jean Luiz Neves Abreu

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    Artigo recebido em 03/2005. Aprovado em 05/2005