evolução dos sistemas de classificação

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ADR – Ficha informativa n.º 4 Página 1 FICHA INFORMATIVA Nº 4 ADR AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DO CONCELHO DE MORA Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural Ciclo de Formação 2007/2010 Ano Lectivo 2008/09 EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO A história da Taxonomia (ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos) ao nível dos reinos é um bom exemplo dos processos de avanço da Ciência. Desde os tempos de Aristóteles até meados do século XIX, os biólogos dividiam os seres vivos em dois reinos: Plantae e Animalia. Depois do desenvolvimento do microscópio, tornou-se cada vez mais óbvio que esta classificação era insuficiente, pois alguns organismos não poderia ser facilmente incluídos nem nas plantas nem nos animais. Assim, à medida que as várias áreas de Biologia vão avançando, novos critérios vão sendo considerados e novos sistemas vão aparecendo, por forma a melhor poder abarcar a grande diversidade de seres vivos da Biosfera. Há mais de 24 séculos, os seres vivos foram classificados por Aristóteles e Teofrasto, um discípulo seu, em dois Reinos – o Reino Animal e o Reino Vegetal. No século XVIII, os trabalhos de Lineu reforçaram esta mesma ideia. Problemas: Em ambos os reinos teriam de ser incluídos seres unicelulares. A diferença era demasiado grande para poder ser aceite. Além disso, alguns seres não cumpriam todas as condições necessárias para fazer parte de um ou outro reino. É o caso de alguns seres vivos flagelados (com locomoção) e que são fotossintéticos. SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO EM DOIS REINOS No reino Plantae incluíam-se organismos fotossintéticos, sem locomoção e sem ingestão. As bactérias e os fungos, como apresentavam parede celular, eram também incluídas neste reino. No reino Animalia eram inseridos os seres não fotossintéticos, com locomoção e que obtêm alimentos por ingestão. Incluía também alguns seres vivos unicelulares (Protozoários), com locomoção e alimentação por ingestão.

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Evolução dos sistemas de classificação, desde os 2 aos 5 reinos e perspectivas futuras.

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Page 1: Evolução Dos Sistemas de Classificação

ADR – Ficha informativa n.º 4 Página 1

FICHA INFORMATIVA Nº 4

ADR

AGRUPAMENTO VERTICAL DE ESCOLAS DO CONCELHO DE MORA

Curso Técnico de Turismo Ambiental e Rural

Ciclo de Formação 2007/2010

Ano Lectivo 2008/09

EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO

A história da Taxonomia (ramo da Biologia que se ocupa da classificação dos seres vivos) ao nível dos reinos é um bom exemplo dos processos de avanço da Ciência. Desde os tempos de Aristóteles até meados do século XIX, os biólogos dividiam os seres vivos em dois reinos: Plantae e Animalia.

Depois do desenvolvimento do microscópio, tornou-se cada vez mais óbvio que esta classificação era insuficiente, pois alguns organismos não poderia ser facilmente incluídos nem nas plantas nem nos animais. Assim, à medida que as várias áreas de Biologia vão avançando, novos critérios vão sendo considerados e novos sistemas vão aparecendo, por forma a melhor poder abarcar a grande diversidade de seres vivos da Biosfera.

Há mais de 24 séculos, os seres vivos foram classificados por Aristóteles e Teofrasto, um discípulo seu, em

dois Reinos – o Reino Animal e o Reino Vegetal. No século XVIII, os trabalhos de Lineu reforçaram esta mesma ideia. Problemas:

• Em ambos os reinos teriam de ser incluídos seres unicelulares. A diferença era demasiado grande para poder ser aceite.

• Além disso, alguns seres não cumpriam todas as condições necessárias para fazer parte de um ou outro reino. É o caso de alguns seres vivos flagelados (com locomoção) e que são fotossintéticos.

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO EM DOIS REINOS

No reino Plantae incluíam-se organismos

fotossintéticos, sem locomoção e sem ingestão.

As bactérias e os fungos, como apresentavam parede

celular, eram também incluídas neste reino.

No reino Animalia eram inseridos os seres não fotossintéticos, com locomoção e que obtêm alimentos por ingestão.

Incluía também alguns seres vivos unicelulares (Protozoários), com locomoção e alimentação por ingestão.

Page 2: Evolução Dos Sistemas de Classificação

ADR – Ficha Informativa n.º 4 Página 2

No século XIX, Ernest Haeckel propôs um terceiro reino – o Reino Protista, onde incluía todos os seres vivos unicelulares, separando-os dos animais e das plantas. Contudo, continuava ainda a existir problemas:

• Não fazia a separação entre seres eucariontes e procariontes.

• O reino Protista incluía alguns seres vivos que apenas seriam lá inseridos porque as suas características não eram claramente de animais nem de plantas.

Mais tarde, Herbert Copeland introduziu um novo reino – o reino Monera, surgindo assim o sistema de classificação em quatro reinos:

- Reino Monera – seres procariontes - Reino Protista – seres eucariontes unicelulares - Reino Plantae - Reino Animalia.

Contudo, continuava a existir o problema dos fungos, que possuem características simultaneamente de plantas e de animais, nomeadamente: são heterotróficos como os animais, mas apresentam parede celular (embora de natureza diferente) como as plantas.

Em 1969, Whittaker propôs um sistema de classificação em cinco reinos, passando os fungos a constituir um reino independente. Deste modo, passam a existir os cinco reinos que actualmente são considerados: Monera, Protista, Fungi, Plantae e Animalia. Foi um sistema de classificação que continha algumas limitações, mas o próprio Whittaker apresentou mais tarde, em 1979, uma versão modificada do seu sistema de cinco reinos.

Um dos problemas era relativo à separação de alguns seres. Era o caso das algas, que são autotróficas e apresentam espécies unicelulares, coloniais e pluricelulares. Segundo o sistema apresentado em 1969, as algas teriam de ser incluídas no Reino Protista (que incluía apenas seres unicelulares) e no reino Plantae. Na sua versão corrigida o grupo foi definitivamente incluído, na sua totalidade, no reino Protista (que passou a incluir algumas excepções à unicelularidade).

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE COPELAND (QUATRO REINOS)

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE WHITTAKER (CINCO REINOS)

SISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO DE HAECKEL (TRÊS REINOS)

Page 3: Evolução Dos Sistemas de Classificação

ADR – Ficha informativa n.º 4 Página 3

Este sistema de classificação tem

a vantagem de se basear em vários critérios, tornando-se por isso mais próximo da realidade complexa dos seres vivos.

Os critérios de classificação

mais significativos são:

- nível de organização celular - modo de nutrição - tipo de interacção nos ecossistemas.

A tabela seguinte resume as características mais significativas de cada reino.

Critério Reino Monera Reino Protista Reino Fungi Reino Plantae Reino Animalia

Tipo de organização celular

Unicelulares Unicelulares na sua maioria (solitários

ou coloniais)

Pluricelulares

(com reduzida diferenciação)

Pluricelulares Pluricelulares

Tipo de células

(organitos) Procariótica Eucariótica

Eucariótica

Parede celular de quitina

Eucariótica

Parede celular de celulose

Eucariótica

Modo de nutrição

Autotróficos (fotossíntese e quimiossíntese)

Heterotróficos

(por absorção)

Autotróficos (fotossíntese)

Heterotróficos (absorção e ingestão)

Heterotróficos

(por absorção)

Autotróficos

(fotossíntese)

Heterotróficos

(por ingestão)

Interacções nos

ecossistemas

Produtores

Microconsumidores

Produtores

Macroconsumidores

Microconsumidores

Microconsumidores Produtores Macroconsumidores

Exemplos Bactérias Amiba, Paramécia, Euglena, Algas

Bolores, cogumelos Musgos, fetos, plantas com flor

Esponjas, insectos, répteis, mamíferos

Page 4: Evolução Dos Sistemas de Classificação

ADR – Ficha Informativa n.º 4 Página 4

Os três critérios básicos: 1 – Níveis de organização celular

• Estrutura celular procariótica – Reino Monera

• Estrutura celular eucariótica – os restantes Reinos

2 – Tipos de nutrição

• Reino Monera: inclui espécies fotoautotróficas, quimioautotróficas e heterotróficas por absorção . Não existe ingestão nas espécies deste reino. É o único onde existe quimiossíntese.

• Reino Protista: espécies que obtêm o alimentos por absorção, ingestão e fotossíntese (todos os tipos de nutrição, excepto quimiossíntese).

• Reino Plantae: fotossintéticos

• Reino Fungi: obtêm o alimento absorção

• Reino Animalia: obtêm o alimento por ingestão

3 – Interacções nos ecossistemas

• Produtores – São os seres autotróficos, que produzem a sua própria fonte de matéria orgânica e podem ser vistos como o início das cadeias alimentares. É o caso das plantas, algas e algumas bactérias.

• Macroconsumidores – São os seres heterotróficos, que ocupam as posições intermédias e de topo nas cadeias alimentares.

• Microconsumidores – São seres heterotróficos que decompõem a matéria orgânica, absorvem alguns produtos resultantes da decomposição e libertam substâncias inorgânicas para o meio. São também chamados decompositores ou saprófitos.

O sistema de classificação de Whittaker é uma tentativa para classificar a vida de uma forma que é útil e reflete a história evolutiva, e por isso mesmo continua a assumir uma importância muito grande nos dias de hoje. Contudo, novos estudos têm levado os cientistas a propor novos sistemas de classificação.

Carl Woese, em 1970, com base em critérios de análise molecular, propuseram que há fundamentalmente dois grupos distintos de procariontes: arqueobatérias e eubactérias, muito mais diferentes entre si (em termos metabólicos) que todos os eucariontes. Assim sendo, surge um novo sistema de classificação que propõe a existência de seis reinos. Este sistema usa um nível de classificação ainda superior ao reino, chamado domínio.

A figura seguinte representa esta nova forma de classificação. Enquanto que Whittaker inclui todos os procariontes num só reino, a classificação em três domínios reconhece dois reinos dentro dos seres procariontes, tão diferentes entre si que se incluem em dois domínios diferentes.

OUTROS SISTEMAS DE CLASSIFICAÇÃO – CARL WOESE

Page 5: Evolução Dos Sistemas de Classificação

ADR – Ficha informativa n.º 4 Página 5

Sistema de Classificação de Carl Woese – Propõe a divisão do Reino Monera. Passam a existir três domínios, dois que incluem seres procariontes e outro que inclui todos os eucariontes.

Contudo, é de referir que este não é o único sistema considerado actualmente. O debate continua aceso, e há propostas de classificação que vão dos 6 aos 12 reinos, dependendo dos critérios considerados.

Todas estas evidências levam a afirmar que a Taxonomia é uma ciência em constante evolução. Apesar de todas as propostas apresentadas posteriormente, o sistema de classificação de Whittaker em cinco reinos ainda se pode considerar como um dos mais consensuais.

Questões orientadoras:

1 – Explique qual o fundamento básico da divisão de seres em dois reinos.

2 – Explique a necessidade da criação de um terceiro e posteriormente um quarto reino.

3 – Qual a inovação introduzida por Whittaker no seu sistema de classificação (1969)?

4 – Explique a necessidade de alteração do sistema de classificação inicialmente proposto por Whittaker.

5 – Indique os critérios que serviram de base ao sistema de classificação em cinco reinos.

6 – Indique o tipo de critérios que têm servido de base às classificações mais actuais.

7 – Qual a principal inovação do sistema de classificação de Carl Woese?

Ideias-Chave

• Da classificação em dois reinos evoluiu-se para classificações em três, quatro e cinco reinos.

• Os principais critérios que serviram de base à classificação de Whittaker em cinco reinos dizem respeito aos níveis de organização celular, tipos de nutrição e interacções nos ecossistemas.

• De entre os critérios utilizados em Sistemática, recentemente têm sido particularmente úteis os dados moleculares.

• Muitos sistematas usam na classificação um nível superior ao reino, chamado domínio, considerando na classificação dos seres vivos três domínios que podem incluir, conforme os investigadores, vários reinos.