estudo computacional da decomposição de energia em ... · de acordo com estes métodos, a parte...

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Índice Resumo i Abstract ii Résumé iii 1 Introdução 1 2 Métodos 8 2.1 Geral ...................................................................................................... 8 2.2 Decomposição de energia dentro do formalismo NDDO ............................... 12 2.3 Decomposição em componentes com significado físico no formalismo NDDO 19 2.4 Alcance da perturbação originada num processo de associação molecular ....... 27 3 Aplicações do Método 32 3.1 Reacções Químicas ....................................................................................... 32 3.2 Detalhes Computacionais ......................................................................... 36 4 Resultados e Discussão 41 5 Conclusões 62 Bibliografia 68

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Page 1: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

Índice

Resumo i

Abstract ii

Résumé iii

1 Introdução 1

2 Métodos 8

2.1 Geral ...................................................................................................... 8

2.2 Decomposição de energia dentro do formalismo NDDO ............................... 12

2.3 Decomposição em componentes com significado físico no formalismo NDDO 19

2.4 Alcance da perturbação originada num processo de associação molecular ....... 27

3 Aplicações do Método 32

3.1 Reacções Químicas ....................................................................................... 32

3.2 Detalhes Computacionais ......................................................................... 36

4 Resultados e Discussão 41

5 Conclusões 62

Bibliografia 68

Page 2: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

i

Resumo

Nesta dissertação é apresentado o trabalho realizado no formalismo de Carvalho e Melo

(2005). O formalismo, baseado no método de decomposição de energia introduzido por

Melo e Ramos (1999), tem como objectivo identificar as componentes energéticas

associadas a interacções físico-químicas fundamentais mais importantes nos processos de

associação molecular e a amplitude da perturbação gerada por uma associação deste tipo.

Este método de decomposição da energia de estabilização foi desenvolvido dentro de um

formalismo semi-empírico. Foram estudados diferentes sistemas: condensação de alcanos,

arginina-glutamato, lisina-glutamato, guanosina-citosina e o complexo da proteína inibidora

da tripsina da abóbora com o glicerol. Nas componentes fundamentais, o termo não ligante

revelou-se preponderante para o valor final da energia de estabilização em todos os

processos estudados. No entanto, a polarização e transferência de carga e o termo ligante

têm um papel importante para a compreensão a um nível mais detalhado. A extensão da

região perturbada foi determinada para minimizar apropriadamente o termo de alcance

curto de polarização e transferência de carga da região fracamente perturbada para obter

valores inferiores a 10 % do valor total da energia de estabilização.

Palavras-chave: decomposição de energia, métodos semi-empíricos, associações

moleculares, energia de estabilização.

Page 3: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

ii

Abstract

The present dissertation describes the research work proposed as the formalism of Carvalho

and Melo (2005). This formalism, based on the energy decomposition method early

introduced by Melo and Ramos (1999), aims to identify the energy components associated

with the fundamental physically meaningful components in molecular association

processes, and evaluates the range of the perturbation originated by one such association

process. This partition scheme was developed in a semiempirical formalism. Various

systems have been studied: a series of covalent association processes involving alkanes,

and interactions between the pairs: arginine-glutamate, lysine-glutamate, guanine-cytosine

and the squash trypsin inhibitor with glycerol. For all the processes studied, the non-

bonding energy is the most important component conditioning the value of the overall

stabilization energy. However, the bonding and the polarization plus charge transfer

components have an important corrective role for a more detailed level of understanding.

The extension of the perturbed region has been appropriately selected to minimize the,

short-range in nature, polarization plus charge transfer bulk term to obtain values smaller

than 10 % of overall stabilization energy

Keywords: energy decomposition, semiempirical methods, molecular associations,

stabilization energy.

Page 4: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

iii

Résumé

Dans cette dissertation, nous présentons le travail réalisé dans le formalisme de Carvalho e

Melo (2005). Ce formalisme, basé sur la méthode de décomposition de l´énergie introduit

par Melo et Ramos (1999), a comme but d'identifier les composants énergétiques associés

aux interactions physiques et chimiques fondamentales les plus importantes dans les

processus d'associations moléculaires et l'amplitude de la perturbation générée par une

association de ce type. Cette méthode de décomposition de l´énergie de stabilisation a été

développée dans un formalisme semi empirique. Nous avons étudié des différents systèmes:

la condensation des alcanes et les interactions des paires arginine-glutamate, lysine-

glutamate, guanosine-cytosine et de la protéine inhibitrice de la trypsine de citrouille avec

le glycérol. Parmi les composants fondamentaux, le terme non liant s'est révélé

prépondérant pour la valeur finale de l'énergie de stabilisation dans tous les processus

étudiés. Cependant, la polarisation et transfert de charge et le terme liant ont un rôle

important pour la compréhension dans un niveau plus détaillé. L'extension de la région

perturbée a été déterminée pour minimiser convenablement le terme de courte portée de

polarisation et transfert de charge de la région faiblement perturbée de façon à obtenir des

valeurs inférieures à 10% de la valeur totale de l'énergie de stabilisation.

Mots-clefs: décomposition de l'énergie, méthodes semi empiriques, associations

moléculaires, énergie de stabilisation.

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1

Capítulo 1

Introdução

Paul Ehrlich, prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina em 1908 (The Nobel

Foundation, 2004a), trabalhou com tintas que conseguem corar selectivamente bactérias

como balas dirigindo-se para o seu alvo. Introduziu o conceito de "Magic Bulet". Em 1939,

Gerhard Domagk recebeu o mesmo prémio por descobrir que a tinta vermelha "prontosil

rubrum" é um antibacteriano útil na terapêutica. Domagk encontrando a própria filha com

uma infecção por Streptococos, mortal na época, acabou por administrar a tinta vermelha, o

que salvou a filha (The Nobel Foundation, 2004b). O "prontosil rubrum" foi o primeiro de

um grupo de anti bacterianos ainda hoje usados na terapêutica, as sulfamidas. A ideia de

que existe uma "driving force" para além de colisões aleatórias entre as moléculas, atribui

maior importância aos trabalhos que procuram esclarecer as interacções que existem nas

associações moleculares.

Normalmente, uma correcta descrição dos sistemas químicos, moleculares e outros,

implica o uso de métodos quânticos, que tratam explicitamente os seus núcleos e electrões.

Acredita-se que a equação de Schrödinger H? =E? descreve correctamente o

comportamento dos electrões e núcleos e que a sua resolução permite derivar todas as

propriedades moleculares de interesse. No entanto, esta equação só tem soluções analíticas

para sistemas monoelectrónicos. Para a esmagadora maioria dos sistemas químicos de

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2

interesse, é necessário recorrer a métodos que permitam efectuar uma resolução

aproximada da equação de Schrödinger. A aproximação Hartree-Fock (HF) (Roothaan,

1951) resolve iterativamente o sistema de todos os electrões do sistema. Outro método

usado é a teoria do funcional densidade, com a designação anglo-saxónica mais popular

density functional theory (DFT), em que a função de onda associada aos N electrões do

sistema é substituída pela densidade electrónica ?(r). O DFT apresenta a vantagem de

incluir a correlação electrónica com o custo computacional semelhante ao dos métodos HF

(Nakajima et al., 2002).

Os métodos quânticos semi-empíricos, apresentam outras aproximações. Só são

tratados explicitamente os electrões de valência. É considerada a entidade cerne como o

conjunto dos electrões que não são de valência e o núcleo. A aproximação Zero Differential

Overlap (ZDO) onde muitos dos termos são desprezados e a parametrização do valor dos

integrais das orbitais atómicas de forma a reproduzir propriedades experimentais (Stewart,

1993) apresentam um grande ganho no tempo de cálculo nestes métodos.

Um sistema molecular pode também ser tratado por mecânica molecular (MM) mas

está limitado quanto a termos de permuta e transferência de carga. De acordo com o

formalismo da MM, o sistema molecular é encarado como um conjunto de massas e cargas

pontuais que é mantido coeso por forças clássicas (Allinger et al., 1989).

Um compromisso entre estes dois formalismos pode ser obtido pelos chamados

métodos híbridos. De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior

interesse é tratada com mecânica quântica, sendo mais conhecida a sigla anglo-saxónica

quantum mechanics (QM) enquanto o sistema restante é tratado por mecânica molecular.

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3

Dos métodos teóricos acima descritos o custo computacional dos métodos ab initio

é um factor limitante. Apesar da contínua progressão da capacidade de processamento dos

computadores o cálculo em proteínas com mais de 400 átomos apresenta-se excessivamente

oneroso. A mecânica clássica permite o estudo de sistemas muito grandes mas está limitada

quando a termos de permuta e transferência de carga. Assim os métodos semi-empíricos

apresentam-se como uma solução de compromisso interessante como pode ser facilmente

interpretado da tabela 1.1.

TABELA 1.1______________________________________________________________Representação da capacidade relativa entre mecânica molecular (MM) e métodos

quânticos, para cálculo de energias moleculares.

Mecânica QuânticaMMSemi-empíricos Ab initio

Nº de átomos *** ** *Custo Computacinal * ** ***

Qualidade * ** ***

Os métodos semi-empíricos têm sido usados em cálculos híbridos onde a reactividade

química se mostra importante sendo uma forma de ultrapassar as limitações da MM

(Lennartz et al., 2002). Os cálculos híbridos usando semí-empíricos na parte quântica

podem reproduzir resultados ab initio e com um custo computacional aceitável (Devi-

Kesavan et al., 2003). Também têm sido usados no cálculo de algumas propriedades

termodinâmicas como o calor de formação de moléculas orgânicas (Stewart, 1990). Neste

contexto os métodos Neglect of Differential Diatomic Overlap (NDDO) são os métodos

mais exactos (Stewart, 1993). São três os Hamiltonianos mais populares dentro deste

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método (Zerner, 1993). O Modified Neglet of Diatomic Overlap (MNDO) foi o primeiro a

surgir (Dewar e Thiel, 1977), para tentar corrigir a dificuldade de prever correctamente

pontes de hidrogénio apareceu o Austin Model 1 (AM1) com novas funções gaussianas no

Hamiltoniano (Dewar et al., 1985). Como o AM1 apresenta uma excessiva repulsão nuclear

apareceu uma nova parametrização com a designação Parametric Method Number 3 (PM3)

que apresenta melhores energias (Stewart, 1989).

A adição de um novo termo Pairwise Distance Directed Gaussian (PDDG) nos

hamiltonianos originaram dois novos Hamiltonianos PDDG/MNDO (MDG) e o

PDDG/PM3 (PDG) que apresentam erros inferiores com o mesmo custo computacional

(Repasky et al., 2002) como é visível na tabela 2.2. A escolha destes cinco Hamiltonianos

para o estudo computacional de energias de associação, apresenta-se como uma situação de

compromisso interessante entre custo computacional e a exactidão ou precisão no cálculo

das entalpias de formação.

TABELA 2.2______________________________________________________________Comparação do erro médio absoluto das entalpias de formação obtidas pelos métodos Ab

Initio e semi-empírico (kcal/mol).

Métodos Ab Initio PDDG/NDDO NDDOGrupos

demoléculas

G2 G3 G2(MP2) BLYP B3LYP PM3 MNDO PM5 PM3 AM1 MNDO

G2-1 1,0 0,7 1,3 5.2 1,7 4,0 6,5 8,1 6,0 6,8 7,3G2-2 1,4 0,7 1,9 8.1 2,4 3,0 5,1 4,6 4,2 5,2 7,1

A 1,3 0,7 1,8 7.4 2,2 3,2 5,4 5,4 4,6 5,6 7,2G3 0,9 7,2 3,2 4,6 5,1 4,4 6,2 7,3B 0,8 4,4 3,2 5,1 5,3 4,5 5,9 7,2

Os valores foram retirados de Repasky et al, (2002, página 1609). A e B correspondem a associações dos

grupos de teste de moléculas G2-1 (Curtiss et al., 1991), G2-2 (Curtiss et al., 1997) e G3 (Curtiss et al., 2000).

G2-1 e G2-2 para A e G2-1, G2-2 e G3 para B.

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A diferença da energia potencial entre os produtos e os reagentes, de uma associação

molecular, resulta na energia de estabilização. A decomposição da energia de estabilização

em componentes fundamentais, permite obter informações detalhadas para uma correcta

interpretação do reconhecimento molecular, ligação química ou reacção química. A

natureza e a importância relativa das diversas componentes fundamentais responsáveis pela

interacção molecular é um tema em aberto (van der Vaarta e Merz, 2002) e que tem

levantado alguma controvérsia (Cummins et al., 2002).

Neste trabalho, o método de decomposição de energia introduzido por Melo e Ramos

(1999) foi generalizado para permitir a decomposição da energia de estabilização em

componentes associados a interacções fundamentais. A energia de estabilização obtida em

processos de associação molecular é decomposta em componentes com significado físico

(rearranjo conformacional, não ligante, ligante e de polarização e transferência da carga).

Este método de partição foi desenvolvido dentro de um formalismo semi-empírico, que

permite uma decomposição aditiva da energia de estabilização nas componentes referidas.

O sistema molecular é também dividido numa região perturbada e numa região fracamente

perturbada, definidas como entidades flexíveis de tamanho variável. Este procedimento

permite avaliar o alcance da perturbação originado por um processo de associação

molecular. Com este procedimento podem ser identificadas as interacções de curto alcance

onde os efeitos quânticos são relevantes e as interacções de longo alcance que podem ser

reproduzidas através de potenciais clássicos. Habitualmente, estes potenciais incluem um

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termo electrostático do tipo Coulomb e um termo de van der Walls que pode ser descrito

pelo potencial clássico de Lennard-Jones (12-6). O termo de Coulomb foi calculado com

dois tipos de cargas: as cargas de Mulliken (1955) e as cargas de Besler-Merz-Kollman

(1990). Assim a região fracamente perturbada é definida como aquela que sofre menos

perturbações de curto alcance e cuja contribuição para a variação energética observada

durante o processo de associação é menos significativa.

Para o cálculo das energias moleculares foi usado o programa MOPAC. Programa de livre

acesso, com o código fonte disponível, podendo ser instalado em qualquer computador com

sistema Linux/Unix. O formalismo de decomposição da energia de estabilização foi

implementado numa sub-rotina usando a linguagem Fortran, de forma a ser compatível com

o programa MOPAC versão 6 (Stewart, 1983) e 7 (CCL, 2004). O formalismo de

decomposição da energia de estabilização prevê o uso de várias estruturas geométricas e

ficheiros de dados. Para automatizar o cálculo, foi escrito um shell script. A partir de um

ficheiro de dados com a geometria final de associação e o ficheiro de dados topológico da

decomposição pretendida, são gerados sequencialmente as diferentes estruturas, calculadas

as suas componentes de energia e escrito os resultados. Para simplificar a escrita dos

ficheiros de dados da decomposição pretendida foi desenvolvido um programa em C/C++

usando as bibliotecas do Visualization ToolKit, (VTK, 2004), para seleccionar os átomos

numa interface gráfica. Dois hamiltonianos (Repasky, 2002) foram implementados no

MOPAC. Foram estudados diferentes tipos de associações químicas: com carácter

predominantemente covalente, iónico ou com pontes de hidrogénio. Estudou-se também a

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7

proteína inibidora da tripsina da abóbora (CMTI -I) que pertence a uma família de proteínas

de grande interesse biológico (Carvalho e Melo, 2004).

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8

Capítulo 2

Métodos

2.1 Geral

O presente trabalho é baseado no formalismo de Melo e Ramos (1999). Basicamente, o

formalismo de Melo e Ramos é um formalismo de decomposição de energia desenvolvido

dentro dos métodos variacionais de Hartree-Fock e post-Hartree-Fock, uma vez que

partilham um formalismo quântico comum. Para estes métodos, o valor médio da energia

total do sistema molecular pode ser decomposto em energia de repulsão nuclear,

componentes monoelectrónicos e componentes bielectrónicos.

( ) ( ) ( )210 EEEE ++= (1)

O método de decomposição apresentado por Melo e Ramos em 1999 é baseado na

decomposição espacial das matrizes de densidade e densidade de par e no formalismo dos

integrais indistinguíveis. O método é baseado nos princípios seguintes:

a) O sistema molecular é decomposto em k fragmentos.

b) A densidade das populações é decomposta em componentes intrafragmento e

interfragmento:

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9

( ) ( )∑∑∑=

=

Γ

=

Γ =+k

A

A

B

k

A

nBAPAP1

1

11

, (2)

c) As populações de densidade de par são expressas como a soma dos componentes

intrafragmento e componentes interfragmentos (bicêntricos , tricêntricos e tetracêntricos):

( ) ( ) ( ) ( )∑∑∑∑∑∑∑∑∑∑=

=

=

=

Γ

=

=

=

Γ

=

=

Γ

=

Γ +++k

A

A

B

B

C

C

D

k

A

A

B

B

C

k

A

A

B

k

A

DCBADCBADBADAD1

1

1

1

1

1

11

1

1

1

11

1

11

,,,,,, (3)

d) As energias moleculares e de estabilização do sistema são decompostas em componentes

similares aos da população de densidade de par.

( ) ( ) ( )∑∑∑∑∑∑∑∑∑∑=

=

=

=

Γ

=

=

=

Γ

=

=

Γ

=

ΓΓ +++=k

A

A

B

B

C

C

D

k

A

A

B

B

C

k

A

A

B

k

A

DCBAECBAEBAEAEE1

1

1

1

1

1

11

1

1

1

11

1

11

,,,,,,)( (4)

( ) ( ) ( )∑∑∑∑∑∑∑∑∑∑=

=

=

=

Γ

=

=

=

Γ

=

=

Γ

=

ΓΓ +++∆=∆k

A

A

B

B

C

C

D

k

A

A

B

B

C

k

A

A

B

k

A

DCBAECBAEBAEAEE1

1

1

1

1

1

11

1

1

1

11

1

11

,,,,,,)( (5)

)()()( AEAEAE ∞ΓΓ −=∆ (6)

Γ representa o tipo de ligação. Os três tipos de ligação considerados são: fragmentos

isolados no estado inicial ( ∞ ), ligação não covalente (no) ou ligação covalente (ov).

Neste trabalho, a decomposição de energia é aplicada ao formalismo NDDO. Neste

formalismo semi-empírico, só os electrões de valência são tratados explicitamente e as

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funções de base são consideradas ortonormais. Consequentemente, a matriz densidade

reduzida e a matriz densidade de par apresentam as seguintes relações de conservação:

val

m

ppp nP =∑

=

Γ

1

(7)

( )∑∑= =

Γ −=

m

p

p

r

valvalpprr

nnD

1 12

1(8)

m é o número total de bases de funções atómicas e valn é o número de electrões de valência.

Usando o formalismo dos integrais indestinguíveis e as simplificações inerentes aos

métodos NDDO, os componentes da energia total descritos na equação (1) de um sistema

molecular com N átomos pode ser calculado em unidades atómicas como:

( ) ∑∑=

=

=N

X

X

YXYCE

2

1

1

0 (9)

( )

( )

++

++++

+

+=

∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑

= =

=

= = = =

==

=

= = =

=

X

X

Y

Y

X

X

Y

Y

Y

Y Y

X

X X

X

X

X

X X

m

np

m

nq

Ypq

Xpqpqpq

N

X

X

Y

m

np

m

np

Xpq

m

np

p

nqpq

Ypq

m

np

p

nqpq

Xpppp

Ypppp

N

X

m

np

m

np

p

nq

Xpqpq

Xpppp

VVTP

VPVPVPVP

hPhPE

2

22

2

2

1

1

11

1

11

(10)

( ) )|(21

)|(21

1

1

11

lim2 rspqfrspqfE

N

X

X

Y

m

np

p

nq

m

nr

r

nspqrs

N

X

m

np

p

nq

p

nr nrpqrs

X

X X

Y

Y Y

X

X X X X

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑ ∑ ∑=

= = = = == = = = =

+= (11)

rpserrpseq ≠=== lim;lim

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11

n? é a primeira função de base do átomo X, m? é a última função de base do mesmo átomo.

CXY é a energia de repulsão entre os cernes X e Y. Na equação (11), pqrsf é definido como:

pqrspqrspqrs Dnf = (12)

pqrsn é o número de integrais indistinguiveis associados aos indices (p,q,r,s) e pqrsD é o

valor médio dos elementos da matriz densidade par associados com o índices respectivos.

Os coeficientes pqrsn , para os diferentes tipos de quartetos são apresentados na tabela 2.1.

Tabela 2.1: Coeficientes npqrs para os diferentes tipos de quartetos dentro do formalismo dos

integrais indestinguiveis.

Tipos de quartetos (p,q,r,s) npqrs

(p,p,p,p) 1

(p,p,q,q) p≠q 2

(p,q,p,q) p≠q 4

(p,p,p,q) p≠q 4

(p,p,r,s) p≠r≠s 4

(p,q,p,s) p≠q≠s 8

(p,q,r,s) p≠q≠r≠s 8

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Nas equações 9,10 e 11 os integrais moleculares são calculados das equações:

Xpqpq

Xpq VTh += (integrais monoelectronicos totais) (12)

)1(21

)1( 21 qppqT χχ ∇−= (integrais monolectrónicos da energia cinética) (13)

)1()1( 1 qXpX

pq VV χχ= (integrais monolectrónicos da energia potencial) (14)

)2()1(/1)2()1()|( 12 sqrp rrspq χχχχ= (integrais bielectronicos ) (15)

xV1 é o operador da energia de interacção entre os cernes X e o electrão 1. r12 é a distância

entre os electrões 1 e 2.

2.2 Decomposição espacial dentro do formalismo NDDO

Do formalismo NDDO, resultam várias simplificações para a decomposição da energia. A

decomposição da energia da matriz densidade e densidade de par resultam nas seguintes

equações:

A equação (2) apresenta apenas as componentes intra-fragmento,

∑=

Γ =k

AvalnAP

1

)( (17)

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13

∑Γ

Γ=

ΓΓ =A

A

m

npppPAP )( (18)

ΓAn e Γ

Am são respectivamente a primeira e a última função de base do fragmento A no

estado do tipo Γ .

As populações electrónicas de par podem ser expressas como a soma de componentes

intrafragmento e componentes interfragmento bicêntricos.

( )∑ ∑∑=

=

Γ

=

Γ −=+

k

A

A

B

valvalk

A

nnBADAD

2

1

11 2

1),()( (19)

As energias moleculares e de estabilização podem ser decompostas em componentes

semelhantes:

∑∑∑=

=

Γ

=

ΓΓ +=k

A

A

B

k

A

BAEAEE2

1

11

),()( (20)

( )∑∑∑=

=

Γ

=

ΓΓ +∆=∆k

A

A

B

k

A

BAEAEE2

1

11

,)( (21)

Em geral, o termo energético interfragmento ( )BAE ,Γ pode ser decomposto em energia

ligante ΓE (A B) e não ligante )( BAE ↔Γ :

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14

( )BAE ,Γ = ΓE (A B) + )( BAE ↔Γ , (22)

ΓE (A B) e )( BAE ↔Γ estão respectivamente associados com interacções entre todos os

átomos dos fragmento A e B ligados covalente e não covalentemente.

Embora as equações (17) a (22) possam ser consideradas absolutamente gerais, equações

mais específicas podem ser obtidas para os componentes da energia da matriz densidade e

densidade de par dependendo da natureza do estado do tipo Γ .

Num estado não covalente em que os fragmentos se encontram a distância infinita (∞) ou

num estado não covalente que permita interacções significativas (no), as componentes

intrafragmento da densidade populacional são calculados como:

∑∞

∞=

==A

A

nnm

npApp

n qPAP ,)(cov/cov/cov/ n/cov = ∞ ou no (23)

∞An e ∞

Am são respectivamente a primeira e a última base de funções do fragmento A nos

dois estados não ligantes. cov/nAq é a carga electrónica do fragmento A. Num estado ligante

não covalente os fragmentos podem originar e sofrer efeitos de polarização e transferência

de carga.

Page 19: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

15

Num estado ligante deste tipo, a população de densidade de par associado com o fragmento

A é dada por

( )2

1

21

)(cov/cov/

cov/cov/cov/ −=== ∑ ∑∑ ∑∞

∞ ∞

∞ ∞ = == =

nA

nA

m

np

p

nr

npprr

m

np

p

nr

npprr

n qqDfAD

A

A A

A

A A

(24)

Sabendo que a densidade de sobreposição dos interfragmentos não é considerada no

formalismo NDDO, as únicas populações interfragmento (A-B) electrónicas de par são as

que pertencem ao fragmento A e as que pertencem ao fragmento B:

cov/cov/cov/cov/cov/

21

),( nB

nA

m

np

m

nr

npprr

m

np

m

nr

npprr

n qqDfBADA

A

B

B

A

A

B

B

=== ∑ ∑∑ ∑∞

∞ = == =

(25)

A principal diferença entre os estados não covalentes (∞ ou no), é a ausência de interacções

significativas entre os fragmentos no estado inicial em que os fragmentos se encontram a

distância infinita (∞). Consequentemente, a energia molecular do estado inicial é calculada

como a soma dos componentes intrafragmento,

∑=

∞∞ =k

A

AEE1

)( (26)

No estado ligante não covalente (no), os componentes bicêntricos associados às interacções

entre os fragmentos são incluídas,

Page 20: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

16

∑∑∑=

==

+=k

A

A

B

nok

A

nono BAEAEE2

1

11

),()( (27)

),( BAE no

é calculado com os seguintes componentes:

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑

= = = = = =

= =

== =

=

= = = =

++

+++=

A

A

B

B

X

X X

Y

Y Y

B

B

Y

Y Y

A

A

X

X X

A

A

B

B

A

A

B

B

M

NX

M

NY

m

np

p

nq

m

nr

r

ns

nopqrs

M

NY

m

np

p

nq

Apq

nopq

M

NX

m

np

p

nq

Bpq

nopq

M

NX

M

NY

m

np

m

np

App

nopp

Bpp

noppXY

no

rspqf

VPVP

VPVPCBAE

)|(2

1

22

),(

11

(28)

Para todos os estados não covalentes, os componentes intrafragmento podem ser calculados

pela seguinte equação:

( )

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑ ∑

∞ ∞

∞ ∞

∞ ∞

=

= = = = =

= = = = =

= ==

=

=

= = = =

=

= =

==

= = =

+

+

+++

+

++

+++=

A

A A

X

X X

Y

Y Y

A

A

X

X X X X

X

X

Y

Y

Y

Y Y

A

A A

X

X

Y

Y

X

X X

A

A

X

X X

A

A A

A

A

X

X

M

NX

X

NY

m

np

p

nq

m

nr

r

ns

npqrs

M

NX

m

np

p

nq

p

nr ns

npqrs

m

np

m

nq

Ypq

Xpqpq

npq

m

np

p

nq

Xpq

npq

M

NX

X

NY

m

np

m

np

m

np

p

nq

Ypq

npq

Xpp

npp

Ypp

npp

M

NX

m

np

p

nq

Xpq

npq

M

NX

X

NY

M

NX

m

np

Xpp

nppXY

n

rspqf

rspqf

VVTPVP

VPVPVP

hPhPCAE

1cov/

limcov/

cov/1

cov/

1 1cov/cov/cov/

1cov/

1cov/cov/

)|(21

)|(21

22

2

2)(

(29)

Page 21: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

17

Nas equações (28) e (29), ∞AN e ∞

AM são respectivamente o primeiro e o ultimo átomo do

fragmento A no estado inicial. ApqV é dado por:

)1()1( 1 q

M

NXXp

Apq

A

A

VV χχ ∑∞

∞=

= (30)

Num estado covalente ligante, novos termos monoelectrónicos são necessários

relativamente aos estados não covalentes. No estado covalente ligante podem ocorrer troca

de átomos, iões ou grupos de átomos entre os fragmentos. Assim, as populações da matriz

densidade e densidade par do fragmento A são dadas por:

)()( AqpAP ovm

np

ovpp

ov

ovA

ovA

== ∑=

(31)

( )2

1

21

)(−=== ∑ ∑∑ ∑

= == =

ovA

ovA

m

np

p

nr

ovpprr

m

np

p

nr

ovpprr

ov qqDfAD

ovA

ovA

ovA

ovA

ovA

ovA

(32)

ovAn e ov

Am são respectivamente a primeira e a última função de base do fragmento A no

estado covalente.

As populações interfragmento de densidade de par no estado de ligação covalente são dadas

por:

Page 22: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

18

ovB

ovA

m

np

m

nr

ovpprr

m

np

m

nr

ovpprr

ov qqDfABDovA

ovA

ovB

ovB

ovA

ovA

ovB

ovB

=== ∑ ∑∑ ∑= == =2

1)( (33)

A energia molecular, num estado de ligação covalente, é decomposta segundo a equação

geral (21):

∑ ∑∑=

==

+=k

A

A

B

ovk

A

ovov ABEAEE2

1

11

)()( (34)

Na equação (34), os componentes intrafragmentos são calculados como,

( )

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑ ∑

=

= = = = =

= = = = =

= ==

=

=

= = = =

=

= =

==

= = =

+

+

+++

+

++

+++=∞

ovA

ovA

ovA

X

X X

Y

Y Y

ovA

ovA

X

X X X X

X

X

Y

Y

Y

Y Y

ovA

ovA

ovA

X

X

Y

Y

X

X X

A

A

X

X X

ovA

ovA

ovA

ovA

ovA

X

X

M

NX

X

NY

m

np

p

nq

m

nr

r

ns

ovpqrs

M

NX

m

np

p

nq

p

nr ns

ovpqrs

m

np

m

nq

Ypq

Xpqpq

ovpq

m

np

p

nq

Xpq

ovpq

M

NX

X

NY

m

np

m

np

m

np

p

nq

Ypq

ovpq

Xpp

ovpp

Ypp

ovpp

M

NX

m

np

p

nq

Xpq

ovpq

M

NX

X

NY

M

NX

m

np

Xpp

ovppXY

ov

rspqf

rspqf

VVTPVP

VPVPVP

hPhPCAE

1

lim

1

1 1

11

)|(21

)|(21

22

2

2)(

(35)

E os componentes interfragmento são dados por:

Page 23: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

19

( )

∑ ∑ ∑ ∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑

∑ ∑ ∑ ∑∑ ∑ ∑

= = = = = =

= = = == =

=

= = =

== = =

++++

++++=

ovA

ovA

ovB

ovB

X

X X

Y

Y Y

ovA

ovA

ovB

ovB

X

X

Y

Y

ovB

ovB

Y

Y Y

ovB

ovB

ovA

ovA

X

X X

ovA

ovA

ovB

ovB

ovA

ovA

M

NX

M

NY

m

np

p

nq

m

nr

r

ns

ovpqrs

M

NX

M

NY

m

np

m

nq

Ypq

Xpqpq

ovpq

M

NY

m

np

p

nq

Apq

ovpq

m

np

M

NX

m

np

p

nq

Bpq

ovpq

App

ovpp

M

NX

M

NY

m

np

Bpp

ovppXY

ov

rspqf

VVTPVP

VPVPVPCABE

)|(21

22

2)(

1

1

(36)

2.3 Decomposição em componentes com significado físico no formalismo NDDO

Neste formalismo de decomposição de energia podem ser considerados dois tipos de

associção molecular, não covalentes e covalentes. Os processos não covalentes podem ser

descritos pela equação (37):

222111 BPLLPB + 222221 BPLLPB −− (37)

B1, P1, and L1 são grupos ligados covalentemente na espécie molecular B1P1L1 e B2, P2 e L2

são grupos ligados covalentemente na espécie molecular B2P2L2. Como a definição dos

fragmentos é totalmente flexível, os grupos (B1,P1,L1,B2,P2 e L2) podem formar fragmentos

individuais, ou podem ser combinados em fragmentos moleculares (B1P1L1 e B2P2L2) ou

não moleculares (B1P1 e B2P2).

Os processos covalentes envolvem quebra de ligações (por exemplo P1L1 e P2L2) e

formação de novas ligações (para L1L2 e P1P2):

Page 24: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

20

222111 BPLLPB + 212211 LLBPPB + (38)

Um processo geral de associação pode ser descrito por um mecanismo hipotético que

envolve dois passos. No primeiro passo, os fragmentos moleculares sofrem um rearranjo

conformacional assumindo as geometrias assumidas no dímero.

222111 BPLLPB + →∆ arrERe .)(111 rearrLPB + .)(222 rearrLPB

No segundo passo, os fragmentos rearranjados são associados preservando a geometria e

originando o dímero. Para um processo de associação não covalente, são considerados

efeitos de polarização e transferência de carga. A composição atómica (B1P1L1 e B2P2L2) é

mantida. Para um processo de associação covalente, nem a composição atómica nem a

carga electrónica é conservada.

A variação de energia, para uma associação não covalente pode ser representado por:

.)(111 rearrLPB + .)(222 rearrLPB →∆ 2E .)(111 rearrLPB -- .)(222 rearrLPB

E para uma associação covalente,

.)(111 rearrLPB + .)(222 rearrLPB →∆ 2E212211 LLBPPB +

Em geral, a energia de estabilização pode ser decomposta segundo a equação (39):

Page 25: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

21

ΓΓΓ ∆+∆=∆ 21 EEE (39)

Γ∆ 1E é o termo associado ao rearranjo conformacional descrito no primeiro passo:

)()( 2221111 LPBELPBEEE rearrrearrrearrΓΓΓΓ ∆+∆=∆=∆ (40)

( ) ( )111111111 .)()( LPBErearrLPBELPBErearr∞∞Γ −=∆ (41)

( ) ( )222222222 .)()( LPBErearrLPBELPBErearr∞∞Γ −=∆ (42)

Uma representação esquemática do termo de rearranjo conformacional é apresentada na

figura 2.1.

Os termos associados com o segundo passo ( Γ∆ 2E ) dependem da natureza do processo de

associação. Num processo de associação não covalente, apenas dois componentes são

considerados: a energia não ligante e o termo de polarização e transferência de carga.

nobondn

noCTpol

no EEE /2 ∆+∆=∆ + (43)

Page 26: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

22

FIGURA 2.1: Representação do rearranjo conformacional dos fragmentos. A alteração de elipse

para rectângulo representa o rearranjo conformacional.

O termo de polarização e transferência de carga ( noCTpolE +∆ ) é obtido pela variação

energética de termos conservados entre os fragmentos isolados rearranjados e os

fragmentos no estado final, como mostra a figura 2.2.

( ) ( ).)(.)()()( 222111222111 rearrLPBErearrLPBELPBELPBEE nononoCTpol

∞∞+ −−+=∆ (44)

Page 27: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

23

FIGURA 2.2: Representação esquemática dos fragmentos conservados num processo de

associação não covalente e que permitem o cálculo do termo de polarização e transferência de

carga. A forma geométrica exterior rectangular é a mesma mas a percentagem de cada fragmento é

diferente representando a redistribuição electrónica.

O termo da energia não ligante ( nobondnE /∆ ) está associado com interacções entre átomos não

ligados covalentemente que aparecem no dímero.

)( 222111/ BLPLPBEE nonobondn ↔=∆ (45)

Page 28: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

24

A energia de estabilização pode ser decomposta de acordo com a equação (46)

nobondn

noCTpol

norearr

nonono EEEEEE /.21 ∆+∆+∆=∆+∆=∆ + (46)

Se o processo de associação for covalente, o segundo termo ( 2E∆ ) da equação (39) engloba

três termos: polarização e transferência de carga , energia não ligante e energia ligante.

ovbond

ovbondn

ovCTpol

ov EEEE ∆+∆+∆=∆ + /2 (47)

O termo associado à polarização e a transferência de carga ( ovCTpolE +∆ ) é obtido pela

variação energética de termos conservados entre os fragmentos isolados rearranjados e os

produtos, como mostra a figura 2.3.

( )( ) ( )( ) ( )( ) ( )( )....

)()()()(

212211

212211

rearrLErearrLErearrPBErearrPBE

LELEPBEPBEE ovovovovovCTpol

∞∞∞∞

+

−−−−

+++=∆(48)

.)(11 rearrPB e .)(1 rearrL representam os fragmentos 11PB e 1L no fragmento

.)(111 rearrLPB . .)(22 rearrPB e .)(2 rearrL representam os fragmentos 22PB e 2L no

fragmento .)(222 rearrLPB .

Page 29: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

25

FIGURA 2.3: Representação dos fragmentos conservados num processo de associação covalente

e que permitem o cálculo do termo de polarização e transferência de carga. A forma geométrica

exterior rectangular é a mesma mas o volume e cada fragmento é diferente representando a

redistribuição electrónica.

O termo da energia não ligante ( ovbondnE /∆ ) está associado com interacções entre átomos não

ligados covalentemente que desaparecem nos fragmentos rearranjados isolados e aparecem

nos produtos como mostra a figura 2.4.

( ) ( )( )( ) ( )( ).)(..)(. 222111

212211/

rearrLrearrPBErearrLrearrPBE

LLEBPPBEE ovovovbondn

↔−↔−

↔+↔=∆∞∞

(49)

Page 30: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

26

FIGURA 2.4: Representação das interacções entre átomos não ligados covalentemente.

O termo da energia ligante ( ovbondE∆ ) está associado com as interacções entre átomos ligados

covalentemente que desaparecem nas espécies rearranjadas e aparecem nos produtos como

se pode ver na figura 2.5.

ovbondE∆ = ovE (B1P1 P2B2) + ovE (L1 L2)

∞− E (B1P1(rearr.) L1(rearr.)) ∞− E (B2P2(rearr.) L2(rearr.)) (50)

Page 31: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

27

FIGURA 2.5: Representação das interacções entre átomos ligados covalentemente quedesaparecem nas espécies rearranjadas (representadas a branco)e aparecem nosprodutos(representadas a preto).

A energia de estabilização é então decomposta segundo a equação (51)

ovbond

ovbondn

ovCTpol

ovrearr

ovovov EEEEEEE ∆+∆+∆+∆=∆+∆=∆ + /.21 (51)

2.4 Alcance da perturbação originada num processo de associação molecular

Propomos para avaliação do alcance da perturbação originada num processo de associação

molecular um formalismo onde se calcula o rearranjo conformacional,

Page 32: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

28

222111 BPLLPB + →∆ arrERe .)(111 rearrLPB + .)(222 rearrLPB

podendo ser representada a variação de energia , para uma associação não covalente,

.)(111 rearrLPB + .)(222 rearrLPB →∆ 2E .)(111 rearrLPB -- .)(222 rearrLPB

e para uma associação covalente,

.)(111 rearrLPB + .)(222 rearrLPB →∆ 2E212211 LLBPPB +

Definimos uma região perturbada (P1L1, P2L2) que inclui os átomos directamente

envolvidos na ligação química (L1,L2) e os átomos mais perturbados (P1,P2) e uma região

fracamente perturbada (R1,R2). Estas regiões são definidas como fragmentos flexíveis de

tamanho variável, onde a extensão escolhida pode variar com a natureza da interacção

molecular.

Neste contexto, a energia de estabilização pode ser decomposta em três componentes.

ΓΓΓΓ ∆+∆+∆=∆ bulkpertrearr EEEE (52)

Na equação (53), Γ∆ pertE é o componente da região fortemente perturbada.

Page 33: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

29

( ) ( ) ( ) ( ) ( )( ) ( )( )( )( ) ( )( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( ).,..,...

..,,,,

),(),()()()()(

221121

2112212211

21212121

rearrLrearrPErearrLrearrPErearrLErearrLE

rearrPErearrPELPELPELPELPE

LLEPPELELEPEPEEpert

∞∞∞∞

∞∞ΓΓΓΓ

ΓΓΓΓΓΓΓ

−−−

−−−+++

++++++=∆

(53)

Na mesma equação Γ∆ bulkE é o componente da região fracamente perturbada e está

associado com energias de estabilização de longo alcance como as interacções

Coulombicas.

( )( )( )( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( )( ) ( )( ) ( ) ( )( ).,..,.

.,..,..

.),(),(),(),(),(

),(),(),(),()()(

2211

22112

12212211112

2121221121

rearrLrearrBErearrLrearrBE

rearrPrearrBErearrPrearrBErearrBE

rearrBELBELBELBELBEPBE

PBEBBEPBEPBEBEBEEbulk

∞∞

∞∞∞

∞ΓΓΓΓΓ

ΓΓΓΓΓΓΓ

−−−

−−++++

++++++=∆

(54)

Na equação (53), os termos ( ) ( ) ( )212211 ,,,,, LPELPELPE ΓΓΓ e ( )12 , LPE Γ são nulos

quando se considera um processo de associação covalente. Na equação (54), os termos

( ) ( ) ( )212211 ,,,,, LBELBELBE ΓΓΓ e ( )12 , LBEΓ são nulos num processo de associação do

mesmo tipo.

A estabilização da energia no termo Γ∆ bulkE pode ser decomposta em interacções

fundamentais segundo a equação (55),

Γ∆ bulkE = Γ∆ polbulkE , + Γ∆ nbbulkE , (55)

Page 34: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

30

( ) ( )( ) ( ) ( )( ).,..,.

),(),(),(

2211

122121/,

rearrLrearrBErearrLrearrBE

PBEPBEBBEE ovovovovbondnbulk

∞∞ −

−++=∆(56)

),(),(),(),(),( 1221122121/, LBELBEPBEPBEBBEE nonononononobondnbulk ++++=∆ (57)

( )( ) ( )( ) ( ) ( )( )( ) ( )( ).,.

.,...

),(),()()(

22

1121

221121,

rearrPrearrBE

rearrPrearrBErearrBErearrBE

PBEPBEBEBEE ovovovovovCTpolbulk

∞∞∞

+

−−−

−+++=∆

(58)

( )( ) ( )( ) ( ) ( )( )( ) ( )( ) ( ) ( )( ) ( ) ( )( ).,..,..,.

.,...),(

),(),(),()()(

221122

112122

11221121,

rearrLrearrBErearrLrearrBErearrPrearrBE

rearrPrearrBErearrBErearrBELBE

LBEPBEPBEBEBEEno

nonononononoCTpolbulk

∞∞∞

∞∞∞

+

−−

−−−−

+++++=∆

(59)

para ser identificadas as interacções de curto alcance onde os efeitos quânticos são

relevantes e as interacções de longo alcance que podem ser reproduzidas através de

potênciais clássicos.

Γ∆ nbbulkE , é o componente não ligante da região fracamente perturbada. Neste trabalho este

termo foi parametrizado usando os parametros do AMBER 98 (Case et al., 2004). De

acordo com esta aproximação, uma componente do tipo EG(A,B) é calculado como a soma

de um termo electrostático e de um termo de van der Walls descrito pelo potêncial clássico

de Lennard-Jones (12-6).

Page 35: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

31

6,

12,),(

XY

YXM

NX

M

NY XY

YX

XY

YX

r

D

r

C

r

qqBAE

A

A

B

B

∑ ∑Γ

Γ

Γ

Γ= =

Γ −+= (60)

onde CX,Y e DX,Y são parâmetros do campo de forças. qx e qy são as cargas dos átomos X e

Y respectivamente. rxy a respectiva distância.

Page 36: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

32

Capítulo 3

Aplicações do Método

3.1 Reacções Químicas

Como é afirmado na introdução, este formalismo procura esclarecer as interacções que

existem nas associações moleculares. Desde o estudo da importância relativa de

componentes físicas fundamentais em ligações particulares, passando pelo estudo de

energias envolvidas numa ligação entre dois átomos até à racionalização da origem da

estabilização da ligação molecular entre uma molécula e uma proteína.

Neste trabalho, uma série de processos com associações covalentes envolvendo alcanos

foram estudados. Estas reacções podem ser representadas pela equação química seguinte:

(61)

Nesta série, a região fracamente perturbada corresponde ao grupo alquil (B1=R1 e B2=R2),

e a região perturbada ao fragmentos (P1=P2=C3H6 e L1=L2=H), são conservadas. Os

cálculos foram realizados usando os hamiltonianos MNDO, AM1, PM3, MDG e PDG..

Também foram estudados vários processos de associações não-covalentes. A formação do

complexo arginina-glutamato na sua forma de duplo ião (Arg+-Glu-) como está

representado na figura 3.1

Page 37: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

33

FIGURA 3.1:A - Representação CPK do complexo arginina-glutamato na sua forma de dupla ião.B - Representação das regiões perturbadas e fracamente perturbadas do complexo arginina-glutamato.

e na sua forma neutra (Argn-GluH) como está representado na figura 3.2, a formação do

complexo de lisina-glutamato (Lys+-Glu-) como está representado na figura 3.3 e o

complexo das bases do ácido desoxirribonucleico (ADN), citosina e guanina (C-G) como

está representado na figura 3.4.

A representação molecular nas diferentes figuras (identificadas como A) é feita segundo as

definições de Corey e Pauling, aperfeiçoadas por Koltun (1965) sendo vulgarmente

conhecida por representação CPK. O hidrogénio é representado a branco, o carbono a

cinzento, o azoto a azul, o oxigénio a vermelho e o enxofre a amarelo.

A B

Page 38: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

34

FIGURA 3.2:A - Representação CPK do complexo arginina-glutamato na sua forma neutra.B - Representação das regiões perturbadas e fracamente perturbadas do complexo arginina-glutamato.

Todos estes processos envolvem a formação de pontes de hidrogénio. Consequentemente, o

hamiltoniano PM3 foi usado nos cálculos porque é o hamiltoniano que tem conseguido

reproduzir melhor as energias deste tipo (Stewart, 1990). Todos os cálculos foram

realizados no programa MOPAC 6 (Stewart, 1983).

A B

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35

FIGURA 3.3:A - Representação CPK do complexo de lisina-glutamato.B - Representação das regiões perturbadas e fracamente perturbadas do complexo lisina-glutamato.

FIGURA 3.4:A - Representação CPK do complexo entre a Citosina-Guanina.B - Representação das regiões perturbadas e fracamente perturbadas do complexo citosina-guanina.

A B

A B

Page 40: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

36

Todos estes processos envolvem a formação de pontes de hidrogénio. Consequentemente, o

hamiltoniano PM3 foi usado nos cálculos porque é o hamiltoniano que tem conseguido

reproduzir melhor as energias deste tipo (Stewart, 1990). Todos os cálculos foram

realizados no programa MOPAC 6.

A proteína escolhida para aplicar este formalismo foi a proteína inibidora da tripsina da

abóbora (CURCUBITA MAXIMA) sendo também desiganda por CMTI - I. O arquivo

Protein Data Bank (PDB, 2004) disponibiliza estruturas cristalográficas de proteínas e o

arquivo 1LU0 apresenta a CMTI - I complexada com o glicerol com uma resolução 1,03 Å.

Esta proteína pertence a uma família com grande importância biológica (Carvalho e Melo,

2004). Para além de apresentar actividade biológica a proteína tem mais de 400 átomos o

que torna muito onerosa qualquer tentativa de decomposição da energia de estabilização

com métodos ab initio. Infelizmente mesmo para o MOPAC 6 e 7 apresenta dimensões

muito grandes para vários vectores definidos nesse programa. Para o cálculo da energia de

estabilização foi usado o MOPAC 2002 (Stewart, 1999)

3.2 Detalhes Computacionais

Basicamente, um shell script automatiza o cálculo de partição de energia. O shell script

EPart (Energy Partition), necessecita de dois ficheiros: Um ficheiro de dados com a

geometria final da associação, *.dat e o ficheiro que define a topologia dos fragmentos:

*.mon.

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37

Ao ficheiro de dados com a geometria final de associação, pode ser adicionada a

informação do tipo de átomo para o campo de força do AMBER (Case et al., 2004). O tipo

de átomo pode ser adicionado na última coluna de cada linha que caracteriza os átomos. A

informação do tipo de átomo só é usada para calcular o potencial clássico tipo van der

Wall, com os parâmetros do AMBER 98, sendo dispensável quando esta informação não é

pretendida.

O ficheiro que define os fragmentos, o ficheiro mon, é um ficheiro no formato ascii onde os

dados dos fragmentos são descritos. O programa MakeMon permite a selecção gráfica dos

átomos como é visível na figura 3.5. Programa escrito em C/C++ usa as bibliotecas gráficas

do VTK. Para cada fragmento é memorizado os átomos que o compõem. No final é escrito

o ficheiro mon. O ficheiro mon na primeira linha indica o número de fragmentos, na

segunda o número de átomos de cada fragmento e nas linhas seguintes são indicados os

números que identificam os átomos dos respectivos fragmentos pela ordem que foram

indicados na segunda linha.

Page 42: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

38

FIGURA 3.5: Imagem produzida pelo MakeMon onde a molécula está representada pelo padrão CPK e um fragmento está selecionado para posteriormente permitir a escrita do ficheiro mon.

O file2scf vai separar os fragmentos definidos no mon e renumerar os fragmentos gerando

um novo ficheiro da associação molecular e um ficheiro para cada molécula do complexo.

A renumeração permite flexibilidade na numeração do ficheiro inicial e eficiência no

cálculo do MOPAC.

Quando a associação é covalente o file2scf usa uma estrutura intermediária imaginária em

coordenadas cartesianas à qual é adicionado um átomo X com a distância d. Está

predefinido o átomo de Hidrogénio com a distância de 1,100 Å. No final do ficheiro mon

pode ser definido um átomo X com a distância d, sendo dispensável quando o átomo X for

hidrogénio. Quando a associação não é covalente esta informação não é considerada. O

file2scf transmite a informação do tipo de cada átomo para todos os ficheiros de estruturas

permitindo o cálculo de potenciais clássicos nos fragmentos.

Page 43: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

39

Depois de gerados os ficheiros a shell chama o MOPAC para calcular as energias dos

fragmentos no estado rearranjado.

De seguida a shell chama o file2opt. O file2opt vai preparar os ficheiros para a

optimização.

A shell chama o MOPAC para calcular as energias dos fragmentos no estado a distância

infinita (8 ) e finalmente chama o EnerCalc.

O Enercalc vai ler os ficheiros com os resultados e calcular a energia resultante de cada

fragmento, segundo o formalismo definido anteriormente.

Este esquema automatizado de realizar o cálculo de decomposição de energia de

estabilização pode ser mais facilmente interpretado na figura 3.6.

Page 44: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

40

FIGURA 3.6: Fluxograma do procedimento para calcular a decomposição de energia deestabilização segundo o formalismo apresentado neste trabalho.

Page 45: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

41

Capítulo 4

Resultados e Discussão

4.1 Resultados

Foi usada uma partição das moléculas de forma a evitar as interacções 1- 4 (átomos que se

encontram relacionados por um ângulo diedro entre a região Lx e a região Bx).

Na série de reacções de condensação de alcanos a definição dos fragmentos foi apresentada

na equação química 61 (página 32). Os valores da energia de estabilização, das

componentes fundamentais e espaciais foram calculados com os hamiltonianos MNDO,

AM1, PM3, MDG e PDG. Os resultados das componentes da decomposição estão

representados nas figuras 4.1, 4.2, 4.3, 4.4 e 4.5 respectivamente.

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42

0

10

20

30

40

50

60

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

pertbulkrearrTotal

FIGURA 4.1:Contribuição para a energia de estabilização das regiões perturbadas e fracamenteperturbadas usando o Hamiltoniano MNDO. (pert) indica contribuição para a energia deestabilização do fragmento perturbado. (bulk) indica a contribuição para a energia de estabilizaçãodo fragmento fracamente perturbado. (rearr) indica a energia dispendida no rearranjoconformacional. (Total) indica a energia total de estabilização das reacções consideradas. Adesignação n+m significa o n.º de átomos de carbono dos alcanos considerados em cada reacção.

Nos diferentes gráficos da decomposição espacial da energia de estabilização é possível

verificar a estabilidade das componentes para o mesmo Hamiltoniano. A componente da

região fracamente perturbada é sempre muito próxima de zero.

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43

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

pertbulkrearrTotal

FIGURA 4.2:Contribuição para a energia de estabilização das regiões perturbadas e fracamenteperturbadas usando o Hamiltoniano AM1. (Pert.) indica contribuição para a energia de estabilizaçãodo fragmento perturbado. (Frac. Pert.) indica a contribuição para a energia de estabilização dofragmento fracamente perturbado. (Rear. Conf.) indica a energia dispendida no rearranjoconformacional. (Total) indica a energia total de estabilização das reacções consideradas. Adesignação n+m significa o n.º de átomos de carbono dos alcanos consideranos em cada reacção.

A energia de estabilização negativa indica uma reacção exotérmica o que não tem

correspondência com a realidade desta reacção (Stewart, 1990). Assim os Hamiltonianos

AM1, PM3 e PDG apresentam-se com erro.

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44

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

pertbulkrearrTotal

FIGURA 4.3: Gráfico onde estão representadas as contribuições para a energia de estabilizaçãodas regiões perturbadas e fracamente perturbadas usando o Hamiltoniano PM3. (pert) indicacontribuição para a energia de estabilização do fragmento perturbado. (bulk) indica a contribuiçãopara a energia de estabilização do fragmento fracamente perturbado. (rearr) indica a energiadispendida no rearranjo conformacional. (Total) indica a energia total de estabilização das reacções consideradas. A designação n+m significa o n.º de átomos de carbono dos alcanos consideranos emcada reacção.

Para esclarecer o porquê da energia de estabilização negativa, a decomposição dessa

energia em componentes físicas fundamentais fornece justificações mais detalhadas como é

possível ver nos gráficos 4.6, 4.7, 4.8, 4.9 e 4.10 para os Hamiltonianos MNDO, AM1,

PM3, MDG e PDG respectivamente.

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45

0

5

10

15

20

25

30

35

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

pertbulkrearrTotal

FIGURA 4.4: Gráfico onde estão representadas as contribuições para a energia de estabilizaçãodas regiões perturbadas e fracamente perturbadas usando o Hamiltoniano MDG. (pert) indicacontribuição para a energia de estabilização do fragmento perturbado. (bulk) indica a contribuiçãopara a energia de estabilização do fragmento fracamente perturbado. (rearr) indica a energiadispendida no rearranjo conformacional. (Total) indica a energia total de estabilização das reacções consideradas. A designação n+m significa o n.º de átomos de carbono dos alcanos considerados em cada reacção.

O Hamiltoniano MDG juntamente com o Hamiltoniano MNDO parecem ser as melhores

escolhas para o estudo destes sistemas uma vez que são os únicos que apresentam energias

de estabilização positiva, próximos dos valores experimentais (Stewart, 1990).

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46

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

10

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

pertbulkrearrTotal

FIGURA 4.5: Gráfico onde estão representadas as contribuições para a energia de estabilizaçãodas regiões perturbadas e fracamente perturbadas usando o Hamiltoniano PDG. (pert) indicacontribuição para a energia de estabilização do fragmento perturbado. (bulk) indica a contribuiçãopara a energia de estabilização do fragmento fracamente perturbado. (rearr) indica a energiadispendida no rearranjo conformacional. (Total) indica a energia total de estabilização das reacções consideradas. A designação n+m significa o n.º de átomos de carbono dos alcanos considerados em cada reacção.

Como é visível os diferentes gráficos os diferentes Hamiltonianos atribuem importância e

valores diversos para as componentes espaciais. Para esclarecer a razão dessas diferenças é

necessário conhecer os erros associados a cada Hamiltoniano bem como as diferentes

características de cada um no formalismo de decomposição em componentes fundamentais

anteriormente apresentado.

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47

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

60

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

bondn/bondpol+CTrearr.Total

FIGURA 4.6: Gráfico onde estão representadas as componentes físicas fundamentais da energiade estabilização. As componentes foram obtidas com o hamiltoniano MNDO. (bond) indica aenergia ligante. (n/bond) indica a energia não ligante. (pol+CT) indica a energia envolvida napolarização e transferência de carga. (rearr) indica a energia dispendida no rearranjo conformacional e (Total) indica a energia total de estabilização da reacção. A designação n+m significa o n.º deátomos de carbono dos alcanos considerados em cada reacção.

O Hamiltoniano MNDO apresenta a energia ligante negativa o que reflecte a quebra duas

de ligações C-H e a formação de uma ligação C-C e H-H. A componente não ligante e a

componente de polarização e transferência de carga apresentam valores positivos o que

explica o valor desfavorável da reacção.

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48

-60

-40

-20

0

20

40

60

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

)

bondn/bondpol+CTrearr.Total

FIGURA 4.7: Gráfico onde estão representadas as componentes físicas fundamentais da energiade estabilização. As componentes foram obtidas com o hamiltoniano AM1. (bond) indica a energialigante. (n/bond) indica a energia não ligante. (pol+CT) indica a energia envolvida na polarização etransferência de carga. (rearr) indica a energia dispendida no rearranjo conformacional e (Total)indica a energia total de estabilização da reacção. A designação n+m significa o n.º de átomos decarbono dos alcanos considerados em cada reacção.

Com o Hamiltoniano AM1 a componente não ligante apresenta um valor surpreendente. O

valor da componente não ligante é muito próximo de zero. Como está próximo de zero não

compensa o valor da energia ligante, justificando assim o valor negativo da energia de

estabilização. Na figura 4.11 são apresentados para os diferentes Hamiltonianos as

componentes mais finas da componente não ligante para compreender o porquê de um

valor tão próximo de zero.

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49

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

40

50

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

bondn/bondpol+CTrearr.Total

FIGURA 4.8: Gráfico onde estão representadas as componentes físicas fundamentais da energiade estabilização. As componentes foram obtidas com o hamiltoniano PM3. (bond) indica a energialigante. (n/bond) indica a energia não ligante. (pol+CT) indica a energia envolvida na polarização etransferência de carga.(rearr) indica a energia dispendida no rearranjo conformacional e (Total)indica a energia total de estabilização da reacção. A designação n+m significa o n.º de átomos decarbono dos alcanos considerados em cada reacção.

Os Hamiltonianos PM3 e PDG apresentam o termo de polarização e transferência de carga

negativo. Esse dado juntamente com o valor da componente ligante no método PM3 explica

o valor negativo da energia de estabilização. Na figura 4.12 são apresentadas, para os

diferentes Hamiltonianos, as componentes mais finas da componente de polarização e

transferência de carga para compreender o porquê de um valor negativo.

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50

-20

-10

0

10

20

30

40

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

bondn/bondpol+CTrearr.Total

FIGURA 4.9: Gráfico onde estão representadas as componentes físicas fundamentais da energiade estabilização. As componentes foram obtidas com o hamiltoniano MDG. (bond) indica a energialigante. (n/bond) indica a energia não ligante. (pol+CT) indica a energia envolvida na polarização etransferência de carga. (rearr) indica a energia dispendida no rearranjo conformacional e (Total)indica a energia total de estabilização da reacção. A designação n+m significa o n.º de átomos decarbono dos alcanos considerados em cada reacção.

O Hamiltoniano MDG também apresenta uma componente da polarização e transferência

de carga negativa. Isto constitui uma surpresa, uma vez que a componente de polarização e

transferência de carga deve ser, na grande maioria dos sistemas, positiva. O valor positivo

deste termo é facilmente compreensível se tivermos em consideração do que é a

polarização. Basicamente, a polarização é a redistribuição electrónica por influência de

outros átomos. Isto é, o rearranjo electrónico para posições menos favoráveis relativamente

aos átomos do fragmento. Assim, só quando a transferência de carga é importante é que o

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termo de polarização e transferência de carga se revela negativo. Os alcanos são moléculas

apolares.

-70

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

3+3 3+4 4+4 3+5 4+5 3+6 4+6 5+5 3+7

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

bondn/bondpol+CTrearr.Total

FIGURA 4.10: Gráfico onde estão representadas as componentes físicas fundamentais da energiade estabilização. As componentes foram obtidas com o hamiltoniano PDG. (bond) indica a energia ligante. (n/bond) indica a energia não ligante. (pol+CT) indica a energia envolvida na polarização etransferência de carga. (rearr) indica a energia dispendida no rearranjo conformacional e (Total)indica a energia total de estabilização da reacção. A designação n+m significa o n.º de átomos decarbono dos alcanos considerados em cada reacção.

Como é visível para diferentes Hamiltonianos são obtidos diferentes valores das

componentes. No entanto as componentes são conservadas ao longo da série estudada

dentro de cada método.

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52

-250

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

M - MNDO

D - MNDO

Total

- MNDO

M - Am1

D - AM1

Total

- AM1

M - PM3

D - PM3

Total

- PM3

M - MDG

D - MDG

Total

- MDG

M - PDG

D - PDG

Total

- PDG

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

3+3

3+4

4+4

3+5

4+5

3+6

4+6

5+5

3+7

FIGURA 4.11: Gráfico das componentes mais finas para a determinação da componente físicafundamental da energia não ligante dos hamiltonianos, MNDO, AM1, PM3, MDG e PDG. Asdiferentes reacções de condensação de alcanos estão representadas pelo número de carbonos dosreagentes. A componente fundamental foi detalhada na contribuição do dímero (D) e nacontribuição dos monómeros (M).

O equilíbrio entre as componentes que desaparecem e as componentes que aparecem na

figura 4.11 resulta no valor próximo de zero no hamiltoniano AM1. Esse equilíbrio também

é resultado da determinação algébrica da componente não ligante. A componente não

ligante é determinada subtraindo a componente ligante reflectindo o erro do método na

determinação da energia do hidrogénio molecular e causando o valor próximo de zero da

componente fundamental não ligante. O calor de formação do H2 revela-se muito

importante, como é visível na Tabela 4.1.

Page 57: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

53

TABELA 4.1______________________________________________________________

Entalpias de Formação dos hamiltonianos MNDO, AM1, PM3, MDG e PDG.

Entalpia de Formação do H2 0 kcal.mol-1 0 kJ.mol-1

MNDO 0,72 kcal.mol-1 3,01 kJ.mol-1

AM1 -5,18 kcal.mol-1 -21,67 kJ.mol-1

PM3 -13,39 kcal.mol-1 -56,02 kJ.mol-1

MDG -0,71 kcal.mol-1 -2,97 kJ.mol-1

PDG -22,22 kcal.mol-1 -92,97 kJ.mol-1

Os métodos no cálculo do calor de formação apresentam erros significativos, que se

reflectem nas contribuições das componentes físicas fundamentais. Estes erros reflectem-se

no valor global da energia de estabilização que dentro do formalismo NDDO permite

estimar a entalpia de reacção padrão. De facto apenas os métodos MNDO e MDG

apresentam valores razoavelmente concordantes com os valores experimentais (Stewart,

1990). Além disso o método MNDO apresenta em geral valores mais concordantes com os

valores experimentais (43 kJ.mol-1 em média). Tendo em conta os valores apresentados

pela componente de polarização e transferência de carga, o método MNDO parece

descrever melhor os processos de condensação de alcanos. O termo não ligante controla o

balanço energético positivo neste processo de associação e é próximo ao total da energia de

estabilização. Este termo reflecte o balanço entre as interacções não ligantes mais fracas

(R1C3H6 ↔H e R2C3H6 ↔H), interacções que desaparecem nos reagentes e as interacções

mais fortes (R1C3H6 ↔H6C3R2) que aparecem nos produtos.

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-150

-100

-50

0

50

100

150

H - M

NDO

Alquilo

- MNDO

Total

- MNDO

H - AM1

Alquilo

- AM1

Total

- AM1

H - PM3

Alquilo

- PM3

Total

- PM3

H - MDG

Alquilo

- MDG

Total

- MDG

H - PDG

Alquilo

- PDG

Total

- PDG

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l -1)

3+3

3+4

4+4

3+5

4+5

3+6

4+6

5+5

3+7

FIGURA 4.12: Gráfico das componentes mais finas para a determinação da componente físicafundamental de polarização e transferência de carga dos hamiltonianos, MNDO, AM1, PM3, MDG e PDG. A componente fundamental foi detalhada na contribuição do hidrogénio e na contribuição dofragmento alquilo.

Na figura 4.12 também é de salientar a conservação das energias ao longo da série de

reacções de condensação dos alcanos para cada componente. A contribuição do hidrogénio

é sempre negativa e a contribuição do fragmento alquilo é sempre positiva. A contribuição

do hidrogénio nos métodos PM3, MDG e PDG é dominante reflectindo o erro do método

na determinação da energia do hidrogénio molecular e simultaneamente a contribuição do

alquilo é desvalorizada.

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55

Assim para as reacções de condensação de alcanos o Hamiltoniano MNDO apresenta-se

como a melhor opção, simplesmente porque este é o único método NDDO que calcula

correctamente as entalpias de formação para ambos: alcanos e hidrogénio.

Os resultados para as diferentes associações não covalentes são apresentados na tabela 4.3.

O comportamento do complexo C-G é de particular interesse. Os sistemas conjugados

ligados directamente com os grupos que interagem directamente foram incluídos na região

fortemente perturbada. Neste caso, a contribuição do termo da região fracamente

perturbada (-8.57 kJ mol-1) é de quase 19 % do total da energia de estabilização. No

entanto, isto reflecte essencialmente os efeitos de longo alcance associados com interacções

electrostáticas não ligantes entre os átomos fortemente polarizados na região de contacto do

complexo e os átomos da região fracamente perturbada. De facto, o termo não ligante é

dominante (-10.84 kJ mol-1) e é bem reproduzido pelo potencial clássico com as cargas de

Mulliken (-10.22 kJ mol-1) enquanto que o termo de polarização e transferência de carga de

curto alcance é muito pequeno (2.27 kJ mol-1).

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56

CC

CR

2C

CC

R1

CC

CC

R1

CC

R2

++

H2

TA

BE

LA

4.3_

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

____

___

Rea

cçõe

s de

con

dens

ação

de

alca

nos

envo

lven

do li

gaçõ

es c

oval

ente

s

e as

soci

açõe

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(kJ

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-1).

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B1

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z-K

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3+3#

HH

-37,

7652

,63

27,8

35,

2247

,91

42,4

30,

260,

33-0

,07

-0,3

00,

00

4+3#

CH

3H

-37,

8752

,82

27,9

55,

2348

,13

42,5

90,

310,

38-0

,07

-1,3

60,

01

4+4#

CH

3C

H3

-37,

2052

,75

27,5

85,

2548

,37

42,7

60,

360,

46-0

,11

-0,3

1-0

,03

5+3#

C2H

5H

-37,

6452

,76

27,8

15,

2748

,19

42,5

90,

340,

41-0

,07

-0,3

00,

00

5+4#

C2H

5C

H3

-37,

3452

,83

27,6

45,

2748

,41

42,7

50,

390,

330,

061,

40-0

,01

6+3#

C3H

7H

-37,

6552

,70

27,8

35,

3148

,18

42,5

60,

320,

39-0

,07

-0,3

00,

00

5+5#

C2H

5C

2H5

-37,

2852

,80

27,5

85,

3748

,46

42,7

00,

390,

46-0

,08

-0,0

20,

00

6+4#

C3H

7C

H3

-37,

3252

,83

27,6

45,

2648

,41

42,7

60,

390,

46-0

,08

-0,4

70,

00

7+3#

C4H

9H

-37,

2452

,63

27,5

75,

2948

,24

42,6

30,

330,

40-0

,07

-0,6

00,

00

Lys

++

Glu

-*C

2H5

CH

30,

00-6

46,9

910

9,37

27,5

3-5

10,0

9-4

81,0

6-5

6,55

-48,

82-6

,72

-9,1

8-7

,17

Arg

++G

lu-*

,§C

2H5

CH

30,

00-6

51,1

016

8,10

18,8

1-4

64,1

9-4

52,0

4-3

0,96

-25,

01-5

,95

-11,

38-5

,80

Arg

n+G

luH

*,§

C2H

5C

H3

0,00

-141

,29

112,

363,

53-2

5,40

-27,

70-1

,24

-1,2

1-0

,03

-0,0

2-0

,03

C+G

*3H

2H0,

00-2

45,0

118

9,78

10,5

4-4

4,70

-46,

67-8

,57

2,27

-10,

84-3

4,92

-10,

22

Rea

cção

Fra

gmen

tos

bulk

Γ∆

bulk

∆pe

rtE

Γ∆

rear

rE

Γ+

∆C

Tpo

lE

Γ∆E

Γ∆

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dE

Γ∆

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Glu

- : glu

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nina

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ões

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cova

lent

es f

oram

cal

cula

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a ne

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rgn,

Glu

H)

e ió

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(A

rg+, G

lu- )

é de

-516

.30

kJ m

ol-1

.

Page 61: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

57

Os resultados do cálculo da decomposição da energia de estabilização da proteína inibidora

da tripsina da abóbora com o ligando estão representados na tabela 4.4.

TABELA 4.4______________________________________________________________Associação não covalente entre a proteína CMTI - I e o glicerol. Componentesfundamentais da energia de estabilização (kJ mol-1). Hamiltoniano AM1.

Γ∆ bondnE /Γ

+∆ CTpolE Γ∆ rearrE Γ∆E

Proteína - 35,30 33,11 -

Ligando - 33,14 16,89 -

Total -147,50 68,45 50,00 -29,05

O complexo não covalente da associação entre a proteína e o ligando apresenta 453 átomos.

O método semi-empírico permitiu o cálculo em tempo útil e a avaliação do termo de

polarização e transferência de carga, tipicamente um termo de curto alcance onde as

características quânticas do método se podem revelar importantes. O principal responsável

pela energia dispendida no rearranjo conformacional e na polarização e transferência de

carga é a proteína. O termo não ligante é o termo predominante e está detalhado na figura

4.13 para determinar quais os resíduos que contribuem mais para a estabilização do

complexo.

Page 62: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

58

-90

-80

-70

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

Arginin

a -1

Valina -

2

Cisteína

-3

Prolina

-4

Arginin

a -5

Isoleu

cina -

6

Leuc

ina -7

Leuc

ina -8

Glutamato

-9

Cisteína

-10

Lisina

-11

Lisina

-12

Aspart

ato -1

3

Serin

a -14

Aspart

ato -1

5

Cisteína

- 16

Leuc

ina - 1

7

Alanina

- 18

Glutam

ato -1

9

Cisteína

-20

Valina -

21

Cisteína

- 22

Leuc

ina - 2

3

Glutam

ina - 2

4

Histidin

a - 25

Glicina

- 26

Tiros

ina - 2

7

Cisteína

-28

Glicina

- 29

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l-1)

a

b

c

d

e

FIGURA 4.13: Representação da contribuição dos resíduos dos aminoácidos para acomponente não ligante da estabilização do complexo proteína-glicerol. Osaminoácidos que se revelaram importantes nesta componente estão representados e aletra identifica o pico de energia correspondente.

A análise da contribuição dos resíduos para a componente não ligante revelou que os

resíduos 1, 3, 5, 28 e 29 são os mais importantes. O primeiro resíduo é uma arginina que

estabelece uma ligação com o carboxilato terminal do último resíduo da proteína, uma

glicina. Ambos estão próximos do glicerol e tem uma contribuição importante na

componente em causa. A proteína tem três pontes dissulfureto e duas cisteínas, os resíduos

3 e 28, envolvidas em pontes diferentes têm uma contribuição importante para a

a b c d e

Page 63: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

59

estabilização do glicerol. O resíduo 5 é o mais importante para a estabilização. Sendo uma

arginina livre apresenta uma contribuição de 84,56 kJ.

A determinação das contribuições dos resíduos de aminoácidos para a componente de

polarização e transferência de carga, como é visível na figura 4.14, também se revelou

importante.

-10

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

Arginin

a -1

Valina

-2

Cisteína

-3

Prolina

-4

Arginin

a -5

Isoleu

cina -

6

Leuc

ina -7

Leuc

ina -8

Glutam

ato -9

Cisteína

-10

Lisina

-11

Lisina

-12

Aspart

ato -1

3

Serina

-14

Aspart

ato -1

5

Cisteína

- 16

Leuc

ina - 1

7

Alanina

- 18

Glutamato

-19

Cisteína

-20

Valin

a - 21

Cisteína

- 22

Leuc

ina - 2

3

Glutam

ina - 2

4

Histidin

a - 25

Glicina

- 26

Tiros

ina - 2

7

Cisteína

-28

Glicina

- 29

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l-1)

h

if

g

FIGURA 4.14: Representação da contribuição dos resíduos dos aminoácidos para acomponente de polarização e transferência de carga na estabilização do complexoproteína-glicerol. Foram adicionados os aminoácidos que se revelaram importantesnesta componente ao fragmento perturbado. O aminoácidos estão representados e aletra identifica o pico de energia correspondente.

f g h i

Page 64: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

60

Estabelecemos como critério para definição das regiões forte e fracamente perturbadas a

energia do termo Γ+CTpolbulkE , relativamente à energia de estabilização. Este termo deve ser

inferior a 10%. Analisando os valores das contribuições dos resíduos de aminoácido

permitem encontrar uma região perturbada que satisfaça os critérios pretendidos. Para além

dos resíduos com contribuições importantes no termo não ligante os resíduos 20 e 27

também devem ser incluídos no fragmente perturbado. Os resíduos 2 e 6 também

apresentam uma contribuição significativa para a componente de polarização e

transferência de carga, sendo incluídos no fragmento perturbado. São resíduos com cadeias

laterais apolares, a valina e a isoleucina, e a sua contribuição deverá ser maioritariamente

estereoquímica.

Assim com o fragmento perturbado e fracamente perturbado definidos, os valores das

componentes são apresentados na tabela 4.5

TABELA 4.5______________________________________________________________Associação não covalente entre a proteína CMTI - I e o glicerol. Contribuição das regiões perturbada e fracamente perturbada para a energia de estabilização(kJ mol-1).Hamiltoniano AM1.

-29,05 50,00 -6,95 -72,10 1,75

Esta identificação da região perturbada e da região fracamente perturbada poderá revelar-se

muito útil para a construção de modelos híbridos. Outra possibilidade interessante é a

utilização dos dados das contribuições dos resíduos de aminoácido, como descritores, para

análises tipo Comparative Binding Energy (COMBINE) método descrito por Ortiz et al

Γ∆ pertEΓ∆ rearrEΓ∆E Γ∆ bulkE Γ+∆ CTpolbulkE ,

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61

(1995). Basicamente, o COMBINE é uma técnica que, baseando-se em vários complexos

proteína-ligando com actividade biológica conhecida, usa componentes de energia de

estabilização determinadas classicamente para prever actividades de novos compostos. As

componentes determinadas classicamente são usadas para fazer uma análise da relação

quantitativa das estruturas com as respectivas actividades biológicas, sendo mais conhecida

a designação anglo-saxónica quantitative structure-activity relationship (QSAR). Outros

descritores que facilmente se podem obter são as contribuições efectivas (soma da

componente de polarização e transferência de carga com a componente não ligante) para a

energia de estabilização de cada resíduo de aminoácido. Como é visível na figura 4.15.

-80

-70

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

20

30

Arginin

a -1

Valina -

2

Cisteín

a -3

Prolina

-4

Arginin

a -5

Isoleu

cina -

6

Leuc

ina -7

Leuc

ina -8

Glutam

ato -9

Cisteína

-10

Lisina

-11

Lisina

-12

Aspart

ato -1

3

Serina

-14

Aspart

ato -1

5

Cisteína

- 16

Leuc

ina - 1

7

Alanina

- 18

Glutamato

-19

Cisteína

-20

Valina

- 21

Cisteína

- 22

Leuc

ina - 2

3

Glutam

ina - 2

4

Histidin

a - 25

Glicina

- 26

Tiros

ina - 2

7

Cisteína

-28

Glicina

- 29

En

erg

ia d

e E

stab

iliza

ção

(kJ

.mo

l-1)

FIGURA 4.15: Representação da contribuição efectiva dos resíduos dos aminoácidos(soma da componente de polarização e transferência de carga com a componente nãoligante) na estabilização do complexo proteína-glicerol.

Page 66: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

62

Capítulo 5

Conclusões

Neste trabalho foi desenvolvido o formalismo Carvalho e Melo (2005), baseado no método

de decomposição de energia introduzido por Melo e Ramos (1999), com o objectivo de

identificar os componentes associados a interacções fundamentais mais importantes nos

processos de associação molecular e o alcance da perturbação gerada por uma associação

deste tipo. Este método de decomposição da energia de estabilização foi desenvolvido

dentro de um formalismo semi-empírico NDDO. O método foi aplicado a vários processos

de associação covalente e não-covalente. Para todos os processos estudados, o termo não

ligante foi preponderante para o valor final da energia de estabilização. No entanto, a

polarização e transferência de carga (para os processos de associação estudados) e o termo

ligante ( para associações covalentes) têm um papel importante para a compreensão a um

nível mais detalhado. O termo de rearranjo conformacional é sempre bastante pequeno. A

magnitude do termo não ligante aumenta com a separação de cargas observada no dímero

(não polar (alcanos) < moderadamente polar (Argn-GluH) < fortemente polar (C–G) <

iónico (Arg+-Glu- e Lys+-Glu-) ). A magnitude do termo de polarização e transferência de

carga aumenta com a mesma separação de cargas e com a presença de sistemas conjugados

ligados covalentemente com o fragmento que interage directamente na ligação. (não polar e

não conjugados (alcanos) < moderadamente polar e com sistemas conjugados pequenos

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63

(Argn-GluH) < iónico e moderadamente conjugados (Arg+-Glu- e Lys+-Glu-) < fortemente

polar e com sistemas conjugados grandes (C–G) ). No complexo proteína-glicerol a

decomposição energética para cada resíduo de aminoácido pode ter utilidade para análises

tipo COMBINE.

A decomposição espacial, em regiões fortemente perturbadas e fracamente perturbadas,

introduzidas neste trabalho constitui uma ferramenta muito útil para a modelização de

sistemas híbridos MQ/MM. Para esse fim, a extensão da região perturbada foi seleccionada

para minimizar apropriadamente o termo de alcance curto de polarização e transferência de

carga da região fracamente perturbada Γ+∆ CTpolbulkE , (para obter valores inferiores a 10 %

do valor total da energia de estabilização) e reproduzindo o termo, de longo alcance, não

ligante ( Γ∆ bondnbulkE /, ) por potenciais clássicos tipo AMBER. Foram obtidos bons modelos

deste tipo para todos os sistemas estudados, quando foram considerados os seguintes

princípios: (i) Não devem ser incluídas interacções 1-4 no termo Γ∆ bondnbulkE /, ; (ii) Todos

os sistemas conjugados ligados directamente com os grupos que interagem directamente

devem ser incluídos na região fortemente perturbada; (iii) A extensão da região deve

aumentar com a magnitude das interacções observadas no dímero.

Os resultados obtidos para a série de associações covalentes, que são apresentados na tabela

4.3, permitem concluir que a energia de estabilização e os respectivos componentes são

conservados na série estudada. A conservação dos valores reflecte uma região comum

fortemente perturbada, responsável por quase toda variação de energia observada. A região

Page 68: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

64

menos perturbada é muito próxima de zero e o termo não-ligante pode ser bem reproduzido

por potenciais clássicos usando cargas de Mulliken ou Besler-Merz-Kollman. Analisando a

decomposição em componentes com significado físico, fica claro que não há nenhum termo

preponderante que seja responsável pela variação de energia observada. O termo de

rearranjo conformacional é pequeno e, logicamente, positivo, o que reflecte a pequena

variação geométrica dos alcanos isolados para a sua forma associada. O termo ligante,

associado com a quebra de duas ligações C-H nos reagentes e com a formação da ligação

C-C e H-H nos produtos, é quase simétrico da energia de estabilização. Durante o processo

de associação, a densidade electrónica é redistribuída para favorecer ligações covalentes

mais fortes que aparecem nos produtos. No entanto, esta distribuição electrónica implica

um custo energético associado com um valor positivo no termo de polarização e

transferência de carga. O termo não ligante controla o balanço energético positivo neste

processo de associação e é próximo ao total da energia de estabilização. Este termo reflecte

o balanço entre as interacções não ligantes mais fracas (R1C3H6 ↔H e R2C3H6 ↔H),

interacções que desaparecem nos reagentes e as interacções mais fortes (R1C3H6 ↔H6C3R2)

que aparecem nos produtos.

Os resultados obtidos para as associações não covalentes também estão apresentados na

tabela 4.3 permitem-nos concluir que, para a partição espacial adoptada (ver figuras 3.1,

3.2, 3.3, 3.4 e 3.5), o termo de curto alcance da região fracamente perturbada

( Γ+∆ CTpolbulkE , ) é sempre inferior a 10% do total da energia de estabilização. Além disso, o

Page 69: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

65

termo não ligante correspondente ( Γ∆ bondnbulkE /, ) pode ser bem reproduzido por

potenciais clássicos usando cargas de Mulliken. Os valores obtidos usando as cargas de

Besler-Merz-Kollman não apresentam uma concordância tão boa com os cálculos

quânticos, especialmente para os sistemas mais fortemente interactuantes (Lys+-Glu-, Arg+-

Glu- e C–G).

Analisando a decomposição em componentes com significado físico, é claro que a variação

de energia negativa observada está associada com o termo não ligante. A magnitude deste

termo reflecte a separação de cargas observada nos complexos (Arg+-Glu- e Lys+-Glu-

(ionico) > C–G (fortemente polar) > Argn-GluH (moderadamente polar)). A forte

redistribuição electrónica observada neste tipo de associação está, marcadamente, associada

a valores positivos no termo de polarização e transferência de carga. Este efeito é ainda

mais significativo para os pares de ADN, C-G, do que para os complexos iónicos Arg+-Glu-

e Lys+-Glu-, que reflectem um número maior de pontes de hidrogénio (três vs. duas) e um

sistema conjugado maior no primeiro caso relativamente aos outros. O complexo neutro

Argn-GluH apresenta o efeito deste tipo mais reduzido, devido às pontes de hidrogénio

mais fracas envolvidas na sua estabilização e na ausência de um sistema conjugado no

grupo terminal alquilguanidínio. O termo de rearranjo conformacional é pequeno e,

logicamente, positivo, como observado para os sistemas covalentes.

Page 70: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

66

Deve ser esclarecido que a energia de estabilização não é um critério apropriado para

comparar a estabilidade energética de duas formas alternativas (Argn-GluH (neutra) e

Arg+-Glu- (duplo ião)) porque um estado inicial de referência ( ∞ ) é usado nos cálculos.

Para uma correcta avaliação da estabilidade, a diferença energética entre os monómeros

isolados, que reflecte a diferente afinidade do protão para a arginina e o glutamato, deve ser

incluída (Melo e Ramos, 1999). Se esta quantidade (-516,30 kJ mol-1) for adicionada à

diferença de energia de estabilização das duas formas (419,49 kJ mol-1), uma diferença de

energia de estabilização de -96,81 kJ mol-1 é obtida para a forma neutra relativamente à

forma de duplo ião. Isto é consistente com os resultados obtidos em métodos quânticos

mais exactos (Melo e Ramos, 1999).

O complexo da proteína com o glicerol revelou que os resíduos mais importantes para a

estabilização do complexo são os resíduos: Arginina - 1, Valina - 2, Cistéina - 3, Arginina -

5, Isoleucina - 6, Cisteína - 20, Tirosina - 27, Cisténa - 28 e Glicina - 29. A extensão da

região perturbada permitiu que a região fracamente perturbada tivesse uma contribuição de

(1,75 Kj.mol-1) no termo de curto alcance de polarização e transferência de carga da região

fracamente perturbada Γ+∆ CTpolbulkE , , 6,0 % relativamente ao valor total da energia de

estabilização (-29,05 Kj.mol-1).

Page 71: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

67

O formalismo apresenta estabilidade numérica com os diferentes Hamiltonianos estudados.

Para cada sistema estudado os valores das componentes devem ser aferidos com

decomposições efectuadas a níveis de cálculo mais elevados de tratamento quântico (ab

initio). Foi possível calcular a contribuição, para a energia de estabilização, dos vários

resíduos do complexo CMTI - I com o glicerol com 453 átomos. Está previsto a

decomposição da energia de estabilização entre os vários pares de resíduos de aminoácidos

com este formalismo e com um formalismo ab initio. Como trabalho futuro espera-se que

as componentes determinadas na decomposição da energia de estabilização possam vir a

servir de descritores para novos métodos de QSAR, ajudando a compreender as interacções

mais importantes que existem nas associações moleculares.

Page 72: Estudo computacional da decomposição de energia em ... · De acordo com estes métodos, a parte do sistema molecular com maior interesse é tratada com mecânica quântica, sendo

68

Bibliografia

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