entrevista a rodrigo mergulhão

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O novo agregador do marketing. 6 Abril de 2010 Conversas no Tivoli www.briefing.pt Cristina Arvelos Jornalista Entrevista “Os jovens consomem mais media. Estão permanentemente online. Vêem TV, ao mesmo tempo que enviam sms e mails ou estão no msn. É uma revolução na forma como as marcas e os media têm de olhar para os consumidores”, afirma Rodrigo Mergulhão, que acredita que os televisores 3D vão invadir os nossos lares e 2010 vai ser um ano de crescimento para as áreas de tecnologia, media e telecomunicações Briefing | Acredita mesmo que 2010 vai já ser o ano dos televi- sores 3D? Rodrigo Mergulhão | O 3D foi um sucesso no cinema e pode ser le- vado até casa das pessoas. Exis- tem ainda alguns desafios a serem ultrapassados: o não existir uma tecnologia standard para a indús- tria; o não existirem conteúdos em quantidade; e o preço de produção em 3D, que é mais elevado. “Jovens estão sempre online” Rodrigo Mergulhão, responsável de Innovation & Growth da Deloitte Briefing | Apesar disso… RM | Acredito. Os media vão ter que gerir algumas expectativas dos consumidores, à conta de não exis- tir uma tecnologia standard. Mas, por outro lado, o 3D pode ser um canal publicitário de excelência. As marcas podem aproveitar o 3D para comunicar de forma inovadora. Os jogos para crianças, que já existem em 3D, são ainda outro factor que vai influenciar a compra do televisor. Ramon Mello

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03-Mai-2010 “Os jovens consomem mais media. Estão permanentemente online. Vêem TV, ao mesmo tempo que enviam sms e mails ou estão no msn. É uma revolução na forma como as marcas e os media têm de olhar para os consumidores”, afirma Rodrigo Mergulhão, que acredita que os televisores 3D vão invadir os nossos lares e 2010 vai ser um ano de crescimento para as áreas de tecnologia, media e telecomunicações.

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Page 1: Entrevista a Rodrigo Mergulhão

O novo agregador do marketing.6 Abril de 2010

Conversas no Tivoli

www.briefing.ptEntrevista

Cristina ArvelosJornalista

Entrevista

“Os jovens consomem mais media. Estão permanentemente online. Vêem TV, ao mesmo tempo que enviam sms e mails ou estão no msn. É uma revolução na forma

como as marcas e os media têm de olhar para os consumidores”, afirma Rodrigo Mergulhão, que acredita que os televisores 3D vão invadir os nossos lares e 2010 vai

ser um ano de crescimento para as áreas de tecnologia, media e telecomunicações

Briefing | Acredita mesmo que 2010 vai já ser o ano dos televi-sores 3D?Rodrigo Mergulhão | O 3D foi um sucesso no cinema e pode ser le-vado até casa das pessoas. Exis-

tem ainda alguns desafios a serem ultrapassados: o não existir uma tecnologia standard para a indús-tria; o não existirem conteúdos em quantidade; e o preço de produção em 3D, que é mais elevado.

“Jovens estão sempre online”Rodrigo Mergulhão, responsável de Innovation & Growth da Deloitte

Briefing | Apesar disso…RM | Acredito. Os media vão ter que gerir algumas expectativas dos consumidores, à conta de não exis-tir uma tecnologia standard. Mas, por outro lado, o 3D pode ser um

canal publicitário de excelência. As marcas podem aproveitar o 3D para comunicar de forma inovadora. Os jogos para crianças, que já existem em 3D, são ainda outro factor que vai influenciar a compra do televisor.

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Abril de 2010 7O novo agregador do marketing.

www.briefing.pt EntrevistaEntrevista

Briefing | São os filhos que deter-minam o consumo?RM | Os filhos influenciam sempre o consumo familiar. O consumo dos media pelos mais jovens é comple-tamente diferente. Os jovens con-somem mais media. Estão perma-nentemente online. Os jovens vêem TV, ao mesmo tempo que enviam sms e mails ou estão no msn, na Internet. É uma revolução na forma como as marcas e os media têm de olhar para os consumidores.

Briefing | Um estudo sobre ten-dências da Deloitte para as áreas de tecnologia, media e telecomu-nicações para 2010 revela uma série de boas notícias…RM | Ainda não existia o sentimen-to de crise em Portugal e já os me-dia estavam a sentir a diminuição das receitas publicitárias. Os media perceberam que iriam existir cortes dos sectores, das marcas, e opta-ram por uma atitude de prevenção. Agora que pode existir uma retoma, pode-se começar a pensar que os media podem recuperar, também com a antecipação de bons resul-tados por parte da economia, pois já não há a crise que existiu em 2008 e 2009.

Briefing | Tem indicadores de que já não há crise?RM | Nos últimos dois anos, a que-da do mercado foi grande. Agora, é mais difícil cair, do que não cair. Os grupos de media tiveram força para resistir a este impacto na quebra das receitas e, de alguma forma, vão ter de adaptar-se a um merca-do com menor dimensão, adequar as suas próprias estruturas, as suas organizações e a forma como olham para os conteúdos e os dis-tribuem para conseguir sobreviver a estes novos tempos.

Briefing | O estudo referido prevê para 2010 uma grande percenta-gem de conteúdos televisivos e de áudio em real-time…RM | Em 2010, a média de consu-mos de televisão linear está entre 20 a 30 horas semanais, bastante superior, se comparadas com uma a duas horas de consumo não line-ar – seja por DVD, Video on demand.

“Já ouço falar da morte da TV há 20

anos. A televisão vai continuar a fascinar

os jovens portugueses e, combinada com a

internet, vai sobreviver”

“A música foi uma parte fundamental da minha

educação. Ler música é como falar outra língua,

é uma coisa de outra dimensão”

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Está com 33 anos e assume ter uma série de dogmas que o marcam. “Sou católico e a religião é importante para mim”, diz. Tem um bom alfaiate e pouco cuidado com a alimentação. Almoça pouco ou não almoça e compensa-se em jantares com amigos. Já praticou equitação, vela, ténis e ski com alguma mi-litância. Agora não tem tido tempo. Identifica-se com o humor dos “Gato Fedorento” e revela-se um crente. “Acredito na famí-lia e acredito que as empresas podem caminhar para uma sus-tentabilidade sem serem ofensoras do ambiente. Acredito que podemos caminhar todos para a frente e com bons olhos, numa perspectiva optimista”.

Católico e com bom alfaiate

HÓBiS

Ainda: mais de 90 por cento dos conteúdos visualizados e mais de 80 por cento dos conteúdos áu-dio ouvidos serão consumidos em real-time. O directo permite que o consumidor tenha uma relação com o conteúdo, que implica uma emoção completamente diferente de uma transmissão em diferido. Os reality shows, por exemplo…

Briefing | Não estão a passar de moda?RM | Acha? Repare-se no exemplo recente de “Ídolos”. Toda a gente comentava quem era expulso, a vitória do Filipe. Se não é toda a gente, é grande parte do mercado.

Briefing | O programa “Ídolos” não é bem um reality show. É um concurso...RM | É um directo, algo cujo des-fecho as pessoas desconhecem, o que cria uma relação muito forte com o consumidor. O directo con-tribui ainda para a complementari-dade entre TV e Internet. A Internet é uma extensão da TV e a TV é um pouco o potenciador da Internet. As próprias marcas podem apro-veitar esta complementaridade para se aproximarem dos consumi-dores. Por exemplo: estamos a ver um anúncio de um serviço na TV, que encaminha os consumidores para o site, onde os consumidores

podem saber mais ou até comprar o produto, antes do programa re-começar.

Briefing | Os jornais de papel vão resistir?RM | Quando falamos de jornais de papel, estamos a falar de títulos, que hoje em dia não são só pa-pel. A edição online é tão ou mais importante quanto a impressa. O acesso a esses conteúdos onli-ne é geralmente grátis, excepção do “Expresso”, “Público” e “Diá-rio Económico”. Os grupos media noutros países estão a implemen-tar modelos de pagamento online de duas formas: pay alls, onde as pessoas pagam uma subscrição mensal ou anual para aceder ao conteúdo, e micro-pagamentos, em que pagam o que consomem. Para já, será mais fácil implementar o primeiro modelo, pois os custos de transacção para os micro-paga-mentos ainda são elevados. O pay all impede ainda a fuga dos leitores da imprensa para o online.

Briefing | Os jovens lêem jornais?RM | Os jovens lêem notícias na In-ternet.

Briefing | São consumidores dos noticiários nas TV?RM | Já ouço falar da morte da TV há 20 anos. A televisão vai conti-

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O novo agregador do marketing.8 Abril de 2010

Conversas no Tivoli

www.briefing.ptEntrevista

Briefing | O que o levou a interes-sar-se por esta área?RM | Trabalhar neste sector é um luxo. A comunicação (também en-quanto relacionamento entre pes-soas), a educação e o entreteni-mento têm a ver com os media. O facto de trabalhar neste sector foi uma escolha e um acaso. É uma paixão que está dentro de mim. Desde criança que gosto de ver TV, cinema, de ler livros e de ouvir música.

Briefing | Ainda se lembra do que via?RM | Via desenhos animados, tam-bém os seleccionados por Vasco Granja, e séries como Sherlock Holmes, Bonanza, Dallas. No cine-ma, o filme que mais me marcou foi o ET. Mais tarde, fui trabalhar para a Andersen, uma empresa de audi-toria e consultadoria e nesta área, por acaso. Começou aí o meu per-curso.

Briefing | Está na Deloitte desde 2008. Como é o perfil do homem Deloitte?RM | Ser um homem da Deloitte é um desafio. É representar uma marca muito forte nos sectores da economia, pois há uma perspectiva de níveis de qualidade e rigor bas-tante acima da média por parte dos clientes e dos parceiros. É ainda um desafio e um prazer trabalhar numa empresa que cresce todos os anos e consegue consolidar a sua posição nas várias áreas e sec-tores onde actua.

Briefing | A marca Deloitte é um passaporte? RM | Antes de vir para a Deloitte, fundei uma nova consultora em Portugal, com mais pessoas. Senti na pele o que era ir às empresas e falar de uma marca que as pessoas não conheciam. Mesmo com ideias inovadoras, havia por parte das pessoas uma dificuldade de aceita-ção por não existir por detrás uma marca e uma imagem fortes.

Briefing | Como é um dia seu?RM | O meu dia-a-dia é estar com clientes, ajudá-los a fazer negó-

nuar a fascinar os jovens portugue-ses e, combinada com a Internet, vai sobreviver. O tempo médio de visualização de televisão, cabo, ví-deos online, na Internet, de visua-lização de conteúdos no telemóvel aumentou. Tudo aumenta porque o consumidor está permanentemen-te online.

Briefing | O comando de TV é um objecto do homem?RM | O comando continua a ter im-portância na sala. A diferença, hoje em dia, é que as pessoas não estão só a olhar para a TV. Têm também a seu lado o telemóvel, o compu-tador, o netbook. Os consumidores estão permanentemente online.

Briefing | E o espaço da rádio?RM | A rádio encontrou o seu es-paço e, hoje, é também muito ou-vida pela Internet. Mas continua-se a ouvir rádio no carro, no trabalho. Quando acordadas, milhões de pessoas passam cerca de 40 por cento do seu tempo a consumir te-levisão ou rádio.

Briefing | Os media portugueses funcionam bem?RM | Existem grupos muito fortes que actuam de forma inteligente. A concentração de vários meios em vários grupos permitiu obter siner-gias na produção e distribuição de conteúdos para as várias platafor-mas.

Briefing | Os consumidores es-tão mais exigentes?RM | Estão mais exigentes e têm a capacidade de escolher, caso não gostem dos conteúdos. A capaci-dade de escolha é enorme, face à multiplicidade de plataformas e de meios que existem. Dezenas de milhões de net tablets serão vendi-dos no próximo ano (basta seguir o novo Ipad da Apple), e estimam-se vendas superiores a 1B€ nos 12 primeiros meses. O mercado do VOIP (voz sobre IP) poderá dar um salto de 50-100 milhões em 2009 para mais de 30 mil milhões nos próximos três anos. As vendas de eBooks poderão crescer cerca de 200 por cento.

cios, a vender mais. A minha vida rege-se por um equilíbrio entre a carreira, a família e a sociedade e os amigos. O difícil é conseguir este equilíbrio. Neste momento, o círculo carreira é o que tem um peso mais forte, pela com-petitividade, pelo mercado e por estar a evoluir. Mas sempre com uma preocupação com a família e amigos.

Briefing | Fora de Portugal, qual a realidade dos media que mais o atrai?RM | Diria que, nessa área, existem três países que me atraem: Reino Unido, Estados Unidos e Brasil. To-dos muito diferentes. O Brasil atrai--me pela criatividade do mercado na comunicação e nos conteúdos; os Estados Unidos por ter grupos de media muito fortes e um merca-do sempre em inovação; o Reino Unido pela forma diferente e iróni-ca, que os ingleses têm de estar no mercado.

Briefing | Tem um diploma de mú-sica tirado no Conservatório… Um menino que toca piano e fala francês!RM | Não falo francês e toco cada vez menos piano, pois não tenho em casa. A música foi uma parte fundamental da minha educação. Ler música é como falar outra lín-gua, é uma coisa de outra dimen-são. É um privilégio poder ter es-tudado música, tocar música. Os meus filhos, se Deus quiser, hão-de ter também esta parte. Estudar mú-sica é como estudar Matemática. Dá concentração e raciocínio.

Briefing | Quantos filhos tem?RM | Ainda não tenho. Mas estou com vontade.

Briefing | Que música ouve hoje?RM | Adoro ouvir todo o tipo de mú-sica: da clássica ao rap francês e Black Eyed Peas em alta definição. Vou tentar ir ao concerto no Está-dio Nacional, em Maio, e também gostava de acompanhar a selecção quando for à África do Sul. São tudo conteúdos, pontos importan-tes para a nossa vida.

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“O 3D pode ser um canal publicitário de

excelência. As marcas podem aproveitar o

3D para comunicar de forma inovadora. Os

jogos para crianças, que já existem em 3D, são ainda outro factor que

vai influenciar a compra do televisor”