ensinar o aluno com autismo

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AUTISMO

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Trabalho final de uma acção de formação

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Page 1: Ensinar o Aluno Com Autismo

AUTISMO

Page 2: Ensinar o Aluno Com Autismo

AUTISMO

“ Um muro muito alto, por vezes alto demais, difícil de trepar. Um muro de

palavras e silêncios, de gestos e impressões, de sons e de cheiros, de

imagens e de toques, de intenções e de códigos. Um muro que dá para um

mundo incompreensível para eles mas onde têm de viver e do qual fogem

sempre que podem, para o deles, o interior. Eles são as pessoas com

autismo. Cada um é um mundo. E nós tentamos lá entrar, ver o que há do

outro lado, saber deles e da perturbação que os faz diferentes, dos

porquês de nascer assim e dos efeitos que podem ter na família, da

melhor forma de lidar com eles e do que muda na adolescência, enfim,

perceber como deixá-los crescer e viver felizes.”Pires, C in Do outro lado do muro. Revista Noticias Magazine. Nº556 de 19-01-03

“O meu desenvolvimento não é absurdo ainda que não seja fácil de

compreender. Tem a sua própria lógica e muitas das condutas a que

chamam alteradas são formas de enfrentar o mundo segundo a minha

maneira especial de ser e perceber. Faz um esforço para me

compreender.”Adaptado – Angel Rivière, 1996

Page 3: Ensinar o Aluno Com Autismo

AUTISMO

Embora a expressão “cada caso é um caso” já esteja

velha e cansada de tanto uso, não há dúvida que continua

muito actual. Se, a partir de um caso pudéssemos fazer

generalizações, então tudo seria mais fácil pois teríamos

finalmente encontrado a receita pela qual tantas vezes

ansiamos.

Tudo isto para dizer que, embora não existam receitas

relativamente à melhor forma de lidar com crianças e jovens

com perturbações do espectro do autismo, existem algumas

estratégias que ajudarão a dar resposta às suas necessidades

educativas especiais.

Aquilo a que nos propomos como trabalho é, não só

fazer um levantamento das características desta anomalia do

desenvolvimento, mas também apresentar algumas sugestões

gerais que, em situações concretas, terão de ser ajustadas às

necessidades únicas de cada aluno.

Page 4: Ensinar o Aluno Com Autismo

AUTISMO - DEFINIÇÃO

Autismo é um transtorno de desenvolvimento que se

manifesta normalmente antes dos três anos de idade. Não pode

ser definido simplesmente como uma forma de atraso mental,

embora muitos quadros de autismo apresentem QI abaixo da

média.

Este transtorno compromete todo o desenvolvimento

psiconeurológico, afectando a comunicação (fala e entendimento)

e o convívio social.

O autismo manifesta-se de diferentes formas, variando do

mais alto ao mais leve comprometimento, e dentro desse espectro

o transtorno, que pode ser diagnosticado como autismo, pode

também receber diversos outros nomes.

Esta síndrome atinge principalmente pessoas do sexo

masculino, numa proporção de 4 homens autistas para uma

mulher com o mesmo diagnóstico.

Page 5: Ensinar o Aluno Com Autismo

AUTISMO - HISTORIAL

O termo autismo vem do grego “autos” que significa “de si mesmo”. Em

1906, Plouller introduziu o termo autista na literatura psiquiátrica. Mas foi Bleuler,

em 1911, o primeiro a difundir o termo autismo para se referir ao quadro de

esquizofrenia, que consiste na limitação das relações humanas com o mundo

externo

Em 1943, o psiquiatra americano Leo Kanner, descreveu um grupo de

crianças que apresentavam inabilidade para se relacionarem com outras pessoas e

situações desde o início da vida (extremo isolamento, falha no uso da linguagem

para comunicação e desejo obsessivo ansioso para a manutenção da mesmice).

Segundo Kanner, o autismo era causado por pais altamente intelectualizados,

pessoas emocionalmente frias e com pouco interesse nas relações humanas da

criança.

Em 1944, o pediatra austríaco Hans Asperger descreveu crianças que se

assemelhavam às descritas por Kanner, porém tinham linguagem bem preservada

e pareciam mais inteligentes.

Com a evolução das pesquisas científicas, concluiu-se que o autismo não

é um distúrbio do contacto afectivo, mas sim um distúrbio do desenvolvimento.

Em 1976, Lorna Wing relatou que os indivíduos com autismo apresentam déficites

específicos em três áreas: imaginação, socialização e comunicação, o que ficou

conhecido como “Tríade de Wing”.

Page 6: Ensinar o Aluno Com Autismo

ALGUNS ESPECTROS MAIS CONHECIDOS DO AUTISMO (1)

SÍNDROME DE ANGELMAN.

Caracteriza-se por um défice cognitivo muito grave, uma marcha de

boneca, desarticulada, uma face característica, descoordenação dos

movimentos voluntários do corpo e acessos muito intensos de riso não

intencional ou despropositado.

SÍNDROME DE ASPERGER.

As pessoas com este distúrbio possuem dificuldades qualitativas na

comunicação, interacção social imaginação. Não apresentam qualquer

atraso significativo de desenvolvimento da fala ou cognitivo, podendo

mesmo ser consideradas apenas pessoas “estranhas” para os padrões

típicos de comportamento.

SÍNDROME DO X FRÁGIL

A expressão deve-se a uma anomalia causada por um gene defeituoso

localizado no cromossoma X. Esta fragilidade provoca um conjunto de

sinais e sintomas clínicos. A principal manifestação dos problemas da

SXF (Síndrome do X Frágil) revela-se no comprometimento da área

cognitiva (atraso mental). Por serem semelhantes a outros casos de

atraso, os sinais ou sintomas da SXF necessitam de confirmação através

de exame genético com técnicas especiais.

Page 7: Ensinar o Aluno Com Autismo

ALGUNS ESPECTROS MAIS CONHECIDOS DO AUTISMO (2)

HIPERLEXIA

É constituída por três características básicas:

- capacidade precoce para a leitura;

- dificuldade no processamento da linguagem oral;

- comportamento social atípico.

Para esta criança qualquer mudança se torna difícil. Vive num

mundo à parte, desligado da realidade e manifesta pouca capacidade de

atenção.

SÍNDROME DE LANDAU KLEFFNER

De etiologia desconhecida, afecta crianças previamente normais

e é concebida como uma síndrome epiléptica, caracterizando-se pela

afasia adquirida (a criança deixa de falar).

DISTÚRBIO OBSESSIVO-COMPULSIVO

Os sintomas mais comuns são: obsessão de contaminar-se,

medo de ferir-se ou ferir os outros, medos sexuais e religiosos. As

pessoas que sofrem deste distúrbio acabam por adquirir comportamentos

ritualísticos ou repetitivos que aliviam os seus pensamentos obsessivos.

Page 8: Ensinar o Aluno Com Autismo

ALGUNS ESPECTROS MAIS CONHECIDOS DO AUTISMO (3)

SÍNDROME DE RETT

A Síndrome de Rett é uma doença de ordem neurológica e de

carácter progressivo, que acontece em maior proporção em crianças do

sexo feminino, acontecendo também em crianças do sexo masculino. Por

volta dos 6-18 meses de idade, os primeiros sinais clínicos aparecem,

estando associados à perda de aquisições motoras e aquisições

cognitivas, ou seja, perda das capacidades anteriormente adquiridas,

iniciando-se, portanto o curso da doença. O quadro clínico que mais está

presente nos casos de Síndrome de Rett está relacionado com a

desaceleração do crescimento craniano, perda da fala e das habilidades

motoras adquiridas, em particular o movimento activo da mão.

SÍNDROME DE PRADER-WILLI

As áreas mais afectadas são a aprendizagem e o comportamento

mas também são frequentes alterações oftalmológicas, dentárias,

cutâneas e genitais. No entanto são as alterações do comportamento que

mais perturbam a evolução destas crianças. As alterações do sono são

frequentes. O atraso do desenvolvimento é essencialmente motor. O

atraso cognitivo é menos significativo.

Page 9: Ensinar o Aluno Com Autismo

ALGUNS ESPECTROS MAIS CONHECIDOS DO AUTISMO (4)

TDA: TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO/HIPERACTIVIDADE

A característica essencial do Transtorno de Déficit de Atenção e

Hiperactividade é um padrão persistente de desatenção, hiperactividade e

alguns sintomas hiperactivo-impulsivos que causam prejuízo ao

relacionamento interpessoal.

A desatenção pode tanto manifestar-se em situações escolares,

quanto profissionais ou sociais. O trabalho dos portadores de Transtorno

de Deficit de Atenção e Hiperactividade frequentemente é confuso e

realizado sem método nem precisão adequada.

A hiperactividade pode manifestar-se por inquietação ou

remexer-se na cadeira, por não permanecer sentado quando deveria, por

correr ou subir excessivamente em coisas quando isto é inapropriado,

por dificuldade em brincar ou ficar em silêncio em actividades de lazer.

Page 10: Ensinar o Aluno Com Autismo

COMPORTAMENTOS DO INDIVÍDUO COM AUTISMO

USA AS

PESSOAS COMO

FERRAMENTAS

RESISTE A

MUDANÇAS

DE ROTINA

NÃO SE MISTURA

COM OUTRAS

CRIANÇAS

APEGO NÃO

APROPRIADO A

OBJECTOS

NÃO MANTÉM

CONTACTO VISUAL

AGE COMO SE

FOSSE SURDO

RESISTE À

APRENDIZAGEM

NÃO DEMONSTRA

MEDO DE PERIGOS

RISOS E

MOVIMENTOS

NÃO APROPRIADOS

RESISTE AO

CONTACTO

FÍSICO

ACENTUADA

HIPERACTIVIDADE

FÍSICA

GIRA OBJECTOS DE

MANEIRA BIZARRA E

PECULIAR

ÀS VEZES É

AGRESSIVO

E DESTRUTIVO

MODO E

COMPORTAMENTO

INDIFERENTE

E ARREDIO

Page 11: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (1)

PRESSUPOSTOS:

• As crianças autistas são educáveis;

• as suas características singulares de aprendizagem devem-se a

deficiências cognitivas básicas no processamento de informação;

• essas deficiências podem ser compensadas, em parte, por programas

educacionais cuidadosamente estruturados, com sequências

especificas de aprendizagem e intensificação de estímulos reforçada;

• os programas educacionais estruturados devem começar desde cedo,

tendo os pais como primeiros professores;

• os programas de educação especial para estas crianças são

plausíveis;

• a oferta de programas educacionais adequados a estas crianças não é

uma manifestação de generosidade pública mas uma tomada de

consciência do seu direito a uma educação adequada.

Page 12: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (2)

PRÁTICAS PEDAGÓGICAS:

• A criança com autismo pode aprender os padrões “normais” de

comportamento, adquirir conhecimentos e integrar-se de maneira

muito satisfatória na sociedade.

• Precisa de estabilidade e de bem-estar emocional.

• As mudanças, ainda que mínimas, e a incerteza são fonte de grande

ansiedade para estas crianças, sendo, por isso, fundamental criar-

lhes um ambiente marcado pela previsibilidade e segurança,

• Todas as actividades a desenvolver devem enquadrar-se no

programa curricular, utilizando as suas áreas fortes e emergentes.

• Pode ser muito útil mobilizar um colega mais sensível no sentido de

lhe dar um apoio especial quer no interior, quer no exterior da sala

de aula.

• Ajudá-las a compreender o sentido daquilo que lhes pedimos é

indispensável uma vez que para elas nem sempre é fácil

compreender as nossas instruções.

Page 13: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (3)

FACTORES QUE DIFICULTAM A APRENDIZAGEM:

• Considerável défice de motivação. Quando se empenham, numa tarefa

gostam de a fazer bem, embora nem sempre consigam. Por essa razão,

é fundamental que lhes demonstremos a nossa satisfação sempre que

concluam uma actividade com sucesso e que as ajudemos sempre que

não consigam realizá-las.

• Falta de Concentração. Colocar os alunos nas carteiras da frente. Usar

sinais não verbais.

• Limitado campo de interesses. Usar as fixações do aluno para alargar o

seu campo de interesses.

• Incapacidade em termos de memória pessoal. Possuem uma memória

semântica, armazenando episódios ou factos concretos que lhes

permitem enumerar factos, datas ou números de telefone.

• Competências de imitação pobres, tanto no que se refere à duplicação

do comportamento, como no assumir do papel do outro.

Page 14: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (4)

ALGUMAS SUGESTÕES DE ACTUAÇÃO:

• Encontrar estratégias que permitam uma aprendizagem menos

monótona para todos;

• Seleccionar objectivos, com a colaboração dos pais, para se atenderem

prioridades consideradas essenciais para a vida e harmonia familiar;

• Definir objectivos com base nas capacidades emergentes conhecidas

através das avaliações realizadas;

• Definir objectivos, tendo em conta o desenvolvimento da criança;

• trabalhar um comportamento de cada vez para que a criança sinta que

pode ter sucesso;

• Definir objectivos a três níveis: a longo prazo, a médio prazo (de três

meses a um ano) e imediatos;

• Não esquecer que estas crianças apresentam um ritmo de

desenvolvimento muito próprio que é fundamental respeitar sem

demasiadas angustias, nem ansiedades uma vez que elas são

sensíveis a este tipo de sentimentos;

Page 15: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (5)

ALGUMAS SUGESTÕES DE ACTUAÇÃO (CONT):

É importante que o professor verifique com alguma frequência

que o aluno está a acompanhar o assunto da aula. Além disto, é

aconselhável, também, que este aluno:

• Se sente o mais próximo possível do professor.

• Seja requisitado como ajudante do professor algumas vezes.

• Use agendas e calendários, listas de tarefas e listas de verificação.

• Seja ajudado para poder trabalhar e concentrar-se por períodos cada

vez mais longos.

• Seja estimulado a trabalhar em grupo e a aprender a esperar a vez.

• Aprenda a pedir ajuda.

• Tenha apoio durante o recreio onde, por exemplo poderá dedicar-se a

seus assuntos de interesse, pois caso contrário poderá vagar, dedicar-

se a algum assunto inusitado ou ser alvo de brincadeiras dos colegas.

• Seja elogiado sempre que for bem sucedido.

Page 16: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (6)

Critérios para escolher o modelo mais adequado para uma

criança com perturbações do espectro autista:

• Escolher escolas pequenas e evitar escolas excessivamente

barulhentas e despersonalizadas.

• Escolher escolas bem estruturadas e organizadas por forma a

conhecer antecipadamente como vai decorrer o dia escolar.

• É imprescindível uma colaboração entre o professor regular, o

professor de apoio e os técnicos que trabalham com a criança.

• É imprescindível a existência de apoio por parte de um psicólogo

com funções de orientação e de um terapeuta da fala.

• É importante e conveniente proporcionar aos colegas da criança

autista meios que lhe permitam compreender e apoiar as suas

aprendizagens e relações.

Page 17: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (7)

Critérios para escolher o modelo mais adequado para uma

criança com perturbações do espectro autista (cont):

• As crianças com Sindroma de Kanner ou Asperger necessitam de uma

integração em que cumpram objectivos académicos.

• No caso das crianças pequenas, o papel do professor é mais importante

do que a escola que frequentam. Muitas vezes um professor “envolvido”

cria laços fortes com a criança, influência muito o seu desenvolvimento

e poderá “abrir a porta” do mundo fechado da criança autista.

• Todos os professores que ensinam crianças com autismo necessitam de

apoio e orientação de especialistas pois é frequente a existência de

sentimentos de frustração, ansiedade e impotência nos professores que

não têm esse apoio.

• É imprescindível uma estreita colaboração entre a escola e a família.

Alguns estudos têm demonstrado que o envolvimento da família é um

dos factores fundamentais para o êxito dos programas educativos e

terapêuticos com estas crianças.

Page 18: Ensinar o Aluno Com Autismo

ENSINAR O ALUNO COM AUTISMO (8)

Tipos mais usuais de Intervenção:

• Natação (utilização da água com fins terapêuticos)

• Musicoterapia (utilização da música com fins terapêuticos)

• Equinoterapia (utilização de animais com fins terapêuticos)

• Golfinoterapia (utilização de golfinhos com fins terapêuticos)

• Método Tomatis (método de reeducação do ouvido)

• Método Teach (organização do ambiente físico através de rotinas)

• SI – Integração Sensorial

• AIT – Integração Auditiva

• FC – Comunicação Facilitada

• Relation Play (desenvolvimento do auto-conhecimento da criança)

• PECS – Sistema de Comunicação Através da Troca de Figuras

• ABA – Análise Aplicada do Comportamento

• O Computador

Page 19: Ensinar o Aluno Com Autismo

CONCLUSÃO

Apesar de não haver cura para a perturbação do espectro do

autismo, muita coisa se pode fazer por estas crianças e jovens. De

preferência, logo que sejam detectados os primeiros sinais deve ser iniciado

um plano de intervenção adequado às necessidades, características e

capacidades da criança. Neste plano, devem ser envolvidos os pais, a família

e os técnicos.

Os métodos a usar devem ter como base os modelos educativos

estruturados onde devem constar terapias comportamentais, da fala, físicas e

ocupacionais. Em idade escolar, alguns especialistas afirmam que o ideal é a

integração na escola regular, embora reconheçam que esta poderá não ser a

solução mais adequada para os casos mais graves.

A elaboração deste trabalho tornou-nos mais sensíveis a todas estas

problemáticas que nos podem surgir a qualquer instante e para as quais

devemos estar preparados.

Page 20: Ensinar o Aluno Com Autismo

Rosário Cabral

António José Ferreira

Francisco Nunes

Seia, Maio de 2006