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ERNANI DAMASCENO COSTA
EDUCAÇÃO, CIDADANIA E PRECONCEITO
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar. Orientador: Prof. Dr. Gilmar Eduardo Costa do Couto
Manaus
2007
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COSTA, Ernani Damasceno
Educação, Cidadania e Preconceito. Manaus, 2007.
22 p.
Monografia (Especialização) - Universidade de Brasília. Centro de Ensino a Distância, 2007.
1. Educação 2. Exclusão 3. Cidadania.
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ERNANI DAMASCENO COSTA
EDUCAÇÃO, CIDADANIA E PRECONCEITO
Trabalho apresentado ao Curso de Especialização em Esporte Escolar do Centro de Educação à Distância da Universidade de Brasília em parceria com o Programa de Capacitação Continuada em Esporte Escolar do Ministério do Esporte para obtenção do título de Especialista em Esporte Escolar pela Comissão formada pelos professores:
Presidente: Professor Doutor Gilmar Eduardo Costa do Couto
Universidade Federal do Amazonas
Membro: Professora Doutora Keila Elizabeth Fontana
Universidade de Brasília
Manaus (AM), 27 de agosto de 2007.
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AGRADECIMENTO
Ao Ministério do Esporte pela oportunidade de participar de um curso de
especialização à distância.
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RESUMO
Educação, cidadania e preconceito são temas muito discutidos atualmente. São
geradores de desigualdades sociais, ao mesmo tempo que veículos de inserção social. Este
trabalho consiste na conscientização desses assuntos como meio de restauração da correta
aplicação da cidadania, da revolução do sistema educacional e do alerta à população sobre os
direitos e formas de inclusão social mascarados por uma ideologia imposta pelo poder. Antes,
a educação era usada como instrumento de reprodução de idéias; hoje a partir dessa noção, ela
é uma das maiores armas da minoria sobre a maioria através da política de influência. Esta,
alienante do contexto social, domestica os cidadãos no atendimento às necessidades básicas.
Os programas assistencialistas são usados como as principais estratégias de domínio. A escola
precisa libertar-se, pois possui aceitação plena e ferramentas de ensino; os educadores e
professores, a transformação da sociedade, pois estão juntos ao povo; e estes o dever de exigir
dos governantes a seguridade, a distribuição de renda e o máximo de democratização. Na
educação, a escola exerce, através do professor, a veiculação de idéias na sociedade, a
oportunidade de formar cidadãos críticos, além de esclarecê-los sobre a realidade. Através da
prática diária da educação e de pesquisas bibliográficas foi possível perceber estas
deficiências do novo sistema educacional e confirmar o preconceito manipulado ao longo do
tempo pela classe dominante.
PALAVRAS CHAVES: Educação. Cidadania. Igualdade.
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 09
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 11
3 MÉTODO ................................................................................................................... 20
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 21
5 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 22
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1 INTRODUÇÃO
Muito se discute sobre educação, cidadania e preconceito. Estes são assuntos antigos,
os quais centenas de milhares de autores têm discorrido. No entanto, o que importa não é
aceitá-los como geradores de desigualdades sociais, mas revolucioná-los a fim de torná-los
veículos de inserção social.
Após reconhecermos esses tópicos como falhas de caráter social, não necessitamos
mascarar a desigualdade social, nem tão pouco aceitarmos programas com efeitos
assistencialistas como se fossem promotores de emancipação social. Ao invés destes, são
necessários programas que proporcionem a participação das massas sociais, através do acesso
livre e digno à educação de boa qualidade, a salários que lhes permitam a auto-sustentação e
conseqüentemente a melhoria da auto-estima.
Quando nos referimos à cidadania, certamente nos referimos à ideologia que os
direitos humanos, através da Constituição Federal, disponibilizam para sociedade brasileira.
Essas leis supostamente teriam função social, ou seja, de garantir ao cidadão o direito de ter
suas necessidades básicas atendidas. Dentre estas podemos citar: saúde, educação, cultura e
lazer. Formalmente, temos todas as necessidades básicas atendidas. Através das leis que
regem nosso país, temos um “estado livre, democrático” e com muitos outros atributos
nobres.
Diante disso, poderíamos dizer que a lei brasileira é perfeita. Mas para que o país fosse
melhor, seria necessário que tudo que faz parte da democracia formal fosse colocado em
prática na democracia real. Em outras palavras, os princípios constitucionais precisam ser
respeitados e aplicados, e as garantias previstas para o cidadão necessitam sair do papel e se
tornarem direitos assegurados.
Quando nos referimos à cidadania negada, estamos nos referindo apenas a negação do
que é material? A questão enfatizada no seguinte trabalho é: através da educação é possível
formar cidadãos? Há inclusão social, quando existe segregação educacional?
A importância deste trabalho consiste na tentativa de nos tornar conscientes e atentos
diante das formas em que a cidadania foi e é negada aos brasileiros. Através desta forma de
conscientização, será possível perceber que ao longo dos anos algumas transformações
histórico-sociais aconteceram, no entanto não foram suficientes para revolucionar o sistema
educacional; somente através dessa revolução é que seremos capazes de desmascarar o mito
de que nos dias atuais existe igualdade social, racial, educação igualitária.
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Nesta linha de raciocínio, é possível esclarecer que a nossa história não compromete
apenas o passado, mas atua de maneira muito comprometedora em nosso presente. Ou seja,
aquilo que ocorreu no passado, tem conseqüências para o hoje, e o que ocorre hoje poderá
mudar a história do amanhã.
Em razão de vivermos numa sociedade que aceita ser manobrada, em troca de políticas
assistencialistas, resolvemos desenvolver essa pesquisa bibliográfica de vários autores
versando sobre o assunto, com o objetivo de conscientizar a respeito dos problemas
decorrentes do ato de educar, veículo poderoso nas mãos da minoria; da cidadania praticada e
negada em nosso país e do nosso preconceito que impede de enxergar criticamente a realidade
da maneira como ela é.
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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Sobre educação:
Durante um longo tempo, fomos condicionados a perceber a educação como
reprodução de comportamentos e pensamentos, os quais a sociedade aceita e estabelece como
corretos. No desenrolar da história do nosso país, muitas transformações de caráter social
ocorreram, dentre elas a maneira de se permitir “educar”.
“Hoje o conceito sobre educação já não é compreendido apenas como um processo de
ensino-aprendizagem, mas também como um elemento formador de novas concepções, que
normalmente são advindas do cotidiano de cada indivíduo”. (Chalita, 2001). Embora os
detentores do poder queiram manipular a grande maioria, já é possível observar uma parte da
população que sente a necessidade de sentir-se livre da didática instrumental.
A didática tradicional, que exaltava o método e a técnica de ensino era distante e
alheia ao ambiente em que era aplicado, além do que, seus defensores acreditavam na
neutralidade que a educação exercia, ou seja, ausência de qualquer intenção de manipular as
mentes de seus discentes. De acordo com Arroyo (2003, p. 74): Para equacionar devidamente o peso real da educação na cidadania teremos que prestar atenção aos processos reais de constituição e de formação do povo como sujeito político, que processos são estes e onde se dão.
Hoje, sabemos que o ato de educar é um ato político, que exerce influências sobre as
massas, no que diz respeito a construir pensamentos críticos.
2.2 Sobre cidadania:
Quando nos referimos a cidadania, estamos nos referindo a uma série de deveres e
atitudes relativas ao indivíduo, que através de um “acordo” estabelecido com os outros definiu
que para ter acesso aos serviços básicos, faria pagamentos (taxas e impostos). Conforme
afirma Pinsky (2003, p. 96), “Costuma-se dizer que a cidadania, como a liberdade, não pode
ser outorgada, mas sim conquistada”.
Por essa definição (mesmo apressada e meramente funcional), vê-se que cidadania
pressupõe sim o pagamento de impostos, mas também lhes confere o direito de sua aplicação;
o direito a condições básicas de existência (comida, roupa, moradia, educação, lazer e
atendimento de saúde), não o obrigando a aceitar as sobras que ao povo é destinada.
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Para assegurar a cidadania e o seu exercício Rodrigues (2003, p. 64) conclui: “No
cotidiano de cada um, seja criança ou adulto, o conhecimento dos direitos, o reconhecimento
dos deveres, a adesão legítima às riquezas das necessidades (mesmo as sociais, culturais e
políticos) garantem o princípio de liberdade de cidadania”.
2.3 Sobre preconceito:
Desde o início da formação da sociedade brasileira, a “educação” sempre fora tida
como uma política para poucos. Ainda nos dias atuais, a política educacional só é estendida à
população menos privilegiada quando atende aos interesses da minoria, dos grupos detentores
de poder, ou quando se precisam justificar gastos com cidadania, educação e saúde. Cabe a
nós enquanto educadores, cumprir o nosso papel de propagadores de cidadania e liberdade
combatendo as políticas “baratas” que o estado vem executando como “programas” de
inserção social, garantindo aos grupos excluídos “participação social”. Essas políticas, em
nada contribuem para solucionar os problemas sociais, são apenas estratégias de poder, as
quais mascaram a realidade das desigualdades sociais.
As divulgações sobre exclusão social ainda são mascaradas. Enquanto há tantas
formas de exclusão a serem desmascaradas, a população é ensinada que ser excluído é ser
desempregado, agredido é não ganhar as cestas básicas que o governo disponibilizou. Assim
somos ensinados a viver com as migalhas do estado, e somos incentivados a aceitar as várias
formas de segregação praticada dia-a-dia marginalizando ainda mais os grupos menos
favorecidos.
Na postura de educadores não podemos nos portar como se estivéssemos conformados
com a pobreza crônica que é ensinada em nosso sistema educacional. Aprendemos e
ensinamos a nossos alunos que: escola pública é gratuita, a qualidade do ensino necessita
melhorar e muitas outras frases que apenas servem para obter aplausos e adquirir votos em
período de eleição.
É fundamental através da escola, desenvolver pensamentos críticos, capazes de
libertar-se do vício do assistencialismo, de pensamentos conformistas no que tange a sorte do
pobre. Educação, cidadania e inclusão social não podem ser programas financiados por
migalhas, nem tão pouco estar a serviço de minorias, tendo em vista ser deles que grande
parte da população depende de maneira integral, ou seja, para que a população tenha direito à
cidadania precisa assegurar essas necessidades básicas. Somente através do acesso à educação
é que as grandes massas marginalizadas encontrarão a via de acesso para a inclusão social,
sendo, portanto, a verdadeira e única forma de libertação da população.
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Quando nos referimos ao preconceito e à exclusão social não nos damos conta de que
o assunto não se restringe a uma política assistencial, mas sim, da redistribuição da riqueza
acumulada por uns e da diminuição das migalhas dadas a muitos. Riquezas estas referidas não
só no sentido monetário, mas vale lembrar de deficiências que se referem à pobreza política,
de oportunidade cultural. O maior problema das classes marginalizadas não é a fome, mas a
falta de cidadania que os impede de se tornarem sujeitos e até mesmo de perceber que a fome
lhes é imposta.
Enquanto não admitirmos que ter acesso à cidadania é ter acesso às sobras do governo,
ajudamos a escamotear que, na relação entre os detentores de poder e os excluídos, existe uma
proporção inversa entre os recursos que são disponibilizados aos programas de combate às
desigualdades sociais com o crescimento das mesmas.
Na presente pesquisa, não queremos banir os programas assistenciais. Estes precisam
existir sim, porém, para beneficiar e assegurar a auto-sustentação da parte da sociedade ora
improdutiva como o grupo de idosos, deficientes e crianças e não para assegurar a exclusão
dos assistidos, que vão de forma tendenciosa, fazendo disso um modo de vida parasitário que
sem dúvida será um fator de discriminação social, pois estes estão sendo privados de
empregos, ao mesmo tempo se acostumam a viver desocupados e dependentes da assistência
do Estado.
Para que esse perfil seja modificado, é primordial que seja diferenciado a assistência
de auto-sustentação (aos idosos, deficientes, crianças), de assistência emergencial (destinadas
às calamidades). Assim se evitaria os gastos de maneira indevida, e estes seriam direcionados
para projetos sociais que de fato constituam cidadania, por exemplo: projetos educacionais
visando uma educação que liberta, e não uma educação que aprisiona seus alunos e suas
famílias. Não se pode vender educação em troca de Bolsa-Família, ou troca de merenda
escolar.
Afinal, se a educação está a serviço da cidadania, não se trata de tornar os excluídos
cada vez mais excluídos, mas sim de excluí-los da precariedade, protegendo-os de se tornarem
objetos do ganho e do lucro imediato. A existência e aceitação de programas meramente
assistencialistas como Bolsa-Escola ou a doação de cestas básicas, priva parte da população
do desenvolvimento de sua criatividade e exteriorização de suas potencialidades.
É necessário que a população cobre de seus governantes programas que possam ajudar
a direcionar seus problemas, e não que possam adiar ou aumentar seus sofrimentos. A
cidadania proposta em nossa Constituição Brasileira defende a igualdade, mas como falar de
igualdade, quando um país promove programas que alimentam as desigualdades sociais, com
programas que mascaram a venda da educação.
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Temos uma Constituição que ensina o direito da educação como “coisa igualitária”,
com estes programas em alta, não é possível ensinar que ter acesso à educação é um direito
que não se compra e não se vende porque é direito humano fundamental. É certo que até hoje nunca tivemos sociedade igual – provavelmente essa figura é utópica – mas podemos ter sociedades mais igualitárias, no sentido democrático, orientadas pela idéia de que o bem comum deveria prevalecer sobre apropriações individuais ou minoritárias (DEMO, 2004, p. 17).
De acordo com a declaração acima, podemos pensar ser impossível extinguir as
desigualdades, se trouxermos essa idéia para a realidade de nosso país, podemos torná-la real.
Mas o que seria certo e aceitável? Ter desigualdades na certeza de ter usado todos os
recursos para que chegássemos mais próximos da igualdade para a maioria, ou seja, ao menos
tentássemos democratizar o poder que alguns poucos detêm. Nessa busca de democratização
de poder, não podemos nos esquecer do papel que a educação desempenha, no sentido de
contribuir para o “controle democrático”.
A escola tem essa função por que é o maior veículo de fixação de idéias com a
garantia de aceitação plena. “O processo de aprendizagem foi se aprimorando a medida que a
espécie humana foi descobrindo que o destino pode ser mudado, pelo menos em parte, se
soubéssemos pensar e aprender” (DEMO, 2004, p. 27).
É lamentável que uma instituição (escola) com tanto “poder” tenha sido
banalizada e menosprezada; é corriqueiro saber que nossos governantes sempre procuram um
“jeitinho para ajudar” a educação do nosso país, por exemplo: proporcionam cursos rápidos,
quase que relâmpagos para capacitar professores que estão exercendo a função sem
capacitação escolar. Ora há muito atrás Sócrates já propagava a idéia de que se aprende na
condição de sujeito, nunca de objeto.
Quando aceitamos cursos de capacitação de professores, dessa natureza,
automaticamente nos permitimos ser objetos a serviço do poder e o pior de tudo isso, é termos
a missão de reproduzir inúmeros objetos (nossos alunos), porque vamos às salas de aula para
reproduzir técnicas medíocres de reprodução de idéias, sem termos a capacidade de ensinar a
liberdade e expressão. Isso é efeito de poder que, segundo Demo (2004, p. 44), significa: que o resultado oferece o contrário do que se havia prometido na partida: em vez de favorecer os desfavorecidos, favorece os donos do poder. Essa marca negativa advém de inúmeras circunstâncias, entre elas a oferta de “coisa pobre para pobre”, como seria a pedagogia inepta, tanto em termos teóricos (não crítica, mal formulada, pouco científica) quanto em termos práticos (não representa oportunidade real para os subalternos). Tal efeito pode ser visto tranqüilamente em nações ainda comum entre nós, segundo as quais, ao pobre basta sua linguagem própria, a título de respeito a sua identidade cultural.
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A forma de ensino que é praticada em nossas escolas quase sempre está a “serviço do
poder”, pois quase nunca proporcionaram a emancipação das idéias continuando assim a fazer
reprodução de pensamentos de dependência do governo, contribuindo para beneficiar as
políticas assistencialistas na medida em que tornam a população viciada nos benefícios
insignificantes e imbuilizantes (a quantia de dinheiro disponibilizada não soluciona a
dificuldade financeira, exemplo: R$ 15,00 da bolsa escola).
Podemos considerar, que essas idéias são apenas uma farsa de promoção de
autonomia, não vale o que propõem, ou seja, a verba que é destinada a esses programas, não
proporciona ao povo a autonomia que propõe, apenas concretizam a dependência da
população à aqueles que detém o poder (Demo, 2004). Segundo Popkewitz (2001) (apud
DEMO, 2004, p. 147), “a pedagogia reservada aos marginalizados tende a marginalizá-los
mais ainda”.
Entre linhas podemos perceber que a educação é freqüentemente usada em
políticas de manobras. Segundo Freire (2006, p. 12) escreveu: “País em que os analfabetos
constituem a metade da população, e são a maioria dos pauperizados por um sistema social
marcado pela desigualdade e pela opressão”.
Sabe-se então que a educação e a conscientização andam juntas, porém
formando consciências que interessam aos políticos, só permitindo as classes populares
apenas ver e pensar como bem lhes favorecer, o pobre é ensinado a pensar que é pobre por
falta de oportunidade, ou até mesmo por ter uma origem menos privilegiada, essa idéias são
sempre bem aceitas pelas classes dominantes. Do ponto de vista das elites, a questão se apresenta de modo claro: trata-se de acomodar as classes populares emergentes, domesticá-las em algum esquema de poder ao gôsto das classes dominantes. Se já não é possível a mesma docilidade tradicional, se já não é possível contar com sua ausência, torna-se indispensável manipulá-las de modo a que sirvam aos interesses dominantes e não passem dos limites (FREIRE, 2006, p. 25).
Em relação ainda aos programas assistencialistas, que são oferecidos em troca de
educação, vale questionar o objetivo da educação, num ponto de vista particular, acredita-se
em que a educação vendida por nossas autoridades, não tem a função de proporcionar a
liberdade de pensamentos, mas sim de formar cidadãos passivos, que não conhecem seu
potencial, acostumados sempre a serem objetos, a sujeitar-se à violência que é praticada no
assistencialismo, onde a passividade faz parte do processo natural, o que impede ainda mais
que a parte oprimida da sociedade perceba a sua realidade.
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Ao contrário dessa educação vendida, precisamos de uma que possibilite ao cidadão
coragem, atitudes que solucionem seus problemas, e os conscientize de suas necessidades
enquanto seres humanos, lhes dando assim a oportunidade de fazer e refazer a própria
história. “Do ponto de vista da nossa reflexão sobre educação, [...]. A luta social é mais
educativa, ou tem um peso formador maior, à medida que seus sujeitos conseguem entranhá-
la no movimento da história”. (GENTILI; FRAGOTTO, 2002, p. 132).
A correlação que existe entre comércio da educação e o poder político é muito visível.
“A dinâmica da exclusão social tem uma relação causa e efeito direta com a concentração de
poder que hoje se desenvolve e que não encontra paralelo na história da humanidade”
(GENTILI; FRAGOTTO, 2002, p. 70). Desde a nossa colonização até os dias atuais, muito
tempo se passou, e nós continuamos a aceitar que o poder esteja nas mãos da minoria.
Mas o que não pode ser esquecido no processo educacional, é que este também pode e
deve estar a serviço da cidadania. Para que isso ocorra de maneira natural, é necessário que
enquanto educadores, saibamos escutar, isso envolve ouvir para saber das necessidades de
nossos alunos. Só assim, através do ouvir é que vamos compreender os anseios da população
e viabilizar caminhos para que encontrem as soluções esperadas. A educação crítica e transformadora fortalece o sujeito enquanto agente do ato de educar e muda a sociedade. O aluno é um ser criativo, atuante sobre o processo social. Ao perceber que está mudando a si mesmo, verifica que está mudando a sociedade [...] (LAMPERT, 1999, p. 93).
Quando permitimos que a educação deixe de estar a serviço do autoritarismo,
permitimos então que esteja a serviço da cidadania, não há outro veículo capaz de
desmistificar o processo de desigualdades no nosso país, que não a educação, só ela é capaz
de ser integracional, sem desigualdades, no sentido do direito ao acesso educacional, sem
deixar de levar em consideração as dificuldades de aprendizagem de cada aluno.
As dificuldades de aprendizagem precisam ser compreendidas por professores e pelos
governantes como dificuldade cognitiva e não como de aceitação social. Alguns programas
chamados de “sociais”, têm ajudado a aumentar o processo de segregação social, contribuindo
para que a discriminação seja mascarada.
O programa de cotas para universidades (negro, índio e outros), não é o tipo de
educação que a população precisa, é necessária uma reversão na hierarquia de valores. É sabido que somente com uma reversão na hierarquia de valores, analisando-se o outro além das aparências, vendo-o pelo que é e como pode contribuir à humanidade e com uma mudança radical no paradigma político/econômico - possibilitando a todos, sem distinção de sexo, raça, idade e religião, o acesso e a permanência na educação básica e superior [...]. (LAMPERT, 1999, p. 62).
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Infelizmente o nosso sistema de governo propondo esses programas, tem colocado a
educação como agente de um processo de socialização que procura “adestrar” aqueles que se
encontram à margem da sociedade, para que estes possam aceitar a marginalização que lhes é
imposta como normal, e isso apenas contribui para reprodução de desigualdades sociais.
“Essa qualidade de convivência harmônica e democrática estrutura o “ethos” de
brasilidade, fundamentalmente calcada numa cultura brasileira espontânea, plural [...]”
(LOPES, 1995, p. 130). São citações como esta, que movem a emoção do povo e os torna
sensíveis, a ponto de acreditar que programas como estes (de cotas) são frutos de um Brasil
sem discriminação.
Seria fundamental para o processo das transformações históricas e sociais que os
professores fossem os agentes transformadores da sociedade, através dos recursos que a eles
são oferecidos (o poder de dirigir, ou formar novas correntes de pensamentos); é preciso que
nos empenhemos em formar cidadãos como autonomia de pensamentos, e não de reproduzir a
subordinação social, alguns professores preferem se ater apenas ao conteúdo programático de
sua disciplina, sem, no entanto, atentar para o contexto social.
Podemos considerar sim, a educação do país como um dos maiores fatores do caos da
ordem social, no entanto como já foi citado anteriormente, caos este que interessa aos
detentores de poder, e quando ignoramos essa realidade, não estamos apenas contribuindo
para a ignorância cognitiva, mas estamos confirmando que continuamos a serviço do poder. Essa ignorância pode não ser apenas cognitiva, mas de convivência, pois pode funcionar como mecanismo de comutação de culpa social, ou seja, mantendo minha ignorância garante o descompromisso com uma questão social das mais agudas e polêmicas em termos de envolvimento. (LOPES, 1995, p. 127).
Para fazer reforma educacional a serviço do povo e não do poder, é primordial que nos
preocupemos com a educação a serviço das classes populares, reconhecendo suas
necessidades e diferenças, tanto étnicas quanto culturais, respeitando as diferentes camadas
sociais e suas características. Atitudes como estas se tivessem origem nos educadores
diminuiriam a exclusão social, proporcionando acesso a educação sem discriminação, além de
limitar o poder “concedido” aos governantes, poder este que sempre lhe garantiu o direito de
julgar e permitir o nível de participação da população.
Inúmeras vezes tanto no século anterior, como no presente, a população é tratada
como imatura e despreparada para assumir comportamentos e reconhecer suas necessidades.
Logo, é correto afirmar que o pensamento que valoriza a liberdade e a educação para a
liberdade, segue a mesma vertente que tenta equacionar o poder e as relações entre as classes,
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uma vez que, os governantes mudam, mas seus métodos não se modificam apenas se repetem
de maneira similar.
Embora sejam conhecedores que a educação necessária é a que liberta, continuam a
praticar a educação que escraviza. É importante ressaltar que a relação entre educação e
política não é invenção de educadores ou dos políticos, mas trata-se de uma relação que faz
parte dos processos que constituem as sociedades, como exemplo dessas relações sociais
podemos citar os relacionamentos entre servidão e liberdade.
Quando tomamos conhecimento de que estas relações fazem parte do processo social,
é primordial entender que elas apenas fazem parte dos processos sociais, e não necessitam
fazer parte dos processos de formação de auto-estima individual, ou seja, não precisa
internalizar a idéia de que os menos privilegiados precisam ser cada vez mais inferiores.
Fazer parte da nossa cultura social a “servidão” é um fato, mas assumir a servidão
como sina, ou destino é incentivar e alimentar a segregação social. Precisa ser ensinada
educação como um processo de “salvação” individual, um processo que desenvolva um olhar
crítico pessoal, para então este aluno poder atuar exercendo uma “força” individual, esta
“força” se fosse desenvolvida por cada aluno que freqüenta bancos de uma escola, a educação
jamais estaria a serviço do poder, manipulando idéias, e mascarando a realidade educacional
do nosso país.
Ao contrário disto, a escola não é uma instituição que deve ensinar a neutralidade
social, mas é uma instituição com a função de esclarecer a realidade, para assim facilitar a
ação desses alunos frente às necessidades de suas comunidades, modificando assim o
panorama social.
Em linhas gerais, é perfeito afirmar que na escola não se aprende somente ler e
escrever. A ausência desse conhecimento é grave, mas eliminar a condição de massa de
manobra e superar a pobreza política é imprescindível, afinal de contas, população que sabe
refletir, não permite que seja roubada à luz do dia.
A população ao exercer seus direitos e deveres na prática da cidadania, precisa saber
distinguir argumento de autoridade e autoridade de argumento. O primeiro se refere a
convencer através de um bom argumento, utilizando a democracia; o segundo é por
imposição, é obscuro, nunca muito claro.
Este é o tipo de autoritarismo que o nosso país é acostumado a se submeter.
Porventura podemos como educadores ensinar para nossos alunos esse tipo de cidadania?
Essa democracia, jamais. É a liberdade de pensamentos que difere desta que os nossos alunos
necessitam.
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De acordo com Demo (2004), ser pobre não é apenas não ter, mas ser impedido de ter
o que desvela situação de exclusão injusta. Freire (2006) reforça essa idéia ao afirmar que
enquanto o pobre esperar a libertação do opressor, não tem qualquer chance, é imprescindível
que se flagre como objeto de manipulação, com a habilidade de ler a realidade. Temos então
duas afirmações de que a consciência crítica é vital para uma melhoria social.
Educação não envolve apenas o intelectual. Há um tempo atrás, Descartes afirmou que
mente, corpo e alma não se dissociam. A partir deste pensamento, compreendemos uma
associação natural e uma ligação entre eles que não há como acontecer. É a partir dos nossos
conhecimentos que vamos exercer o autocontrole da alma e do corpo que irão atuar exercendo
influência social.
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3 MÉTODO
Por considerar os temas de suma importância para a prática educativa, o embasamento
se deu através de pesquisa bibliográfica, buscando maior esclarecimento entre a realidade e
utopia de nossas escolas e nossa cidadania. Esta pesquisa foi realizada por meio da aquisição
de 18 exemplares constantes da referência para que pudessem dar sustentação às idéias, no
período de janeiro a agosto de 2007. Autores e livros que reuniram informações atinentes aos
assuntos deste trabalho com enfoques específicos dentro das áreas de educação, cidadania e
preconceito. Este último desmembrado em exclusão social e desigualdades.
Importante para todas as classes sociais, principalmente nas áreas escolares que
participam da iniciação da vida do estudante criança à formação do cidadão que luta pelos
seus direitos políticos.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste trabalho, procurou-se discorrer sobre educação, cidadania e preconceito a fim de
conscientizarmos de que só revolucionando-os podemos desmascarar a ideologia dominante e
opressora dos direitos da maioria. Formal porque temos a proposta disponível na
Constituição. Dominante porque a classe privilegiada da sociedade determina em sua
opressão e escraviza a população limitando-a a poucas sobras dos recursos a ela destinada. A
intenção dos detentores de poder sobre a educação não visa à formação crítica da população
em geral e sim no adestramento apassivador de modo a alienar da reflexão e solução dos seus
principais problemas.
Vimos também que a idéia de cidadania é ideologicamente negada, pois temos na
ordem estabelecida que os direitos básicos e fundamentais, igualdade entre outros, seriam
satisfatoriamente atendidos e aplicados, o que na realidade não acontece. Por outro lado, ser
cidadão implica na obrigação e dever ou imposição de pagamento de altos tributos para o
Estado sem a devida garantia da resolução dos anseios previstos.
Quanto ao preconceito, principal gerador de desigualdade social, devemos combatê-lo
a partir da escola, instituição poderosa, e importante formadora de opinião da sociedade, que
possui os meios para modificar o atual panorama social. Professores e alunos, detentores
ativos do conhecimento, representantes teóricos da comunidade, devem estudar suas
realidades criticamente para resolverem e reverterem as dificuldades e diferenças que
enfrentam no dia-a-dia.
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REFERÊNCIAS
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