-
MARIANA KTIA RAMPAZO
QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA SADE DE
IDOSOS COM ARTROPLASTIA TOTAL DE QUADRIL:
utilizao de instrumentos genrico e especfico
CAMPINAS
Unicamp
2008
i
-
MARIANA KTIA RAMPAZO
QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA SADE DE
IDOSOS COM ARTROPLASTIA TOTAL DE QUADRIL:
utilizao de instrumentos genrico e especfico
Dissertao de Mestrado apresentada Ps-Graduao da
Faculdade de Cincias Mdicas da Universidade Estadual de
Campinas, para a obteno do ttulo de Mestre em Gerontologia.
Orientadora: Profa. Dra. Maria Jos DElboux
CAMPINAS
Unicamp
2008
iii
-
FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DA FACULDADE DE CINCIAS MDICAS DA UNICAMP Bibliotecrio: Sandra Lcia Pereira CRB-8 / 6044
Rampazo, Mariana Ktia R147q Qualidade de vida relacionada sade de idosos com artroplastia
total de quadril: utilizao de instrumentos genrico e especfico / Mariana Ktia Rampazo. Campinas, SP : [s.n.], 2008.
Orientador : Maria Jos DElboux
Dissertao ( Mestrado ) Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Cincias Mdicas.
1. Artroplastia. 2. Artroplastia de quadril. 3. Qualidade de vida. 4. Artroplastia de Substituio. 5. Idosos. I. DElboux, Maria Jos. II. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade de Cincias Mdicas. III. Ttulo.
Ttulo em ingls: Health-related quality of life of the elderly with total hip
arthroplasty: use of generic and specific instruments
Keywords: Arthroplasty
Hip arthroplasty
Quality of life
Arthroplasty, Replacement, Hip
Elderly
Titulao: Mestre em Gerontologia
Banca examinadora: Profa. Dra. Maria Jos DElboux
Prof. Dr. Sebastio Gobbi
Profa. Dra. Arlete Maria Valente Coimbra
Data da defesa: 17 - 12 - 2008
iv
-
v
-
Dedicatria
Aos meus pais, Edevar e Cleuza,
os professores mais importantes em minha formao,
amigos de toda a vida, exemplos de luta, honestidade e perseverana,
por todo amor e carinho que me deram sempre.
Alm de uma dedicatria, uma declarao de tamanha admirao
pela riqueza de suas vidas.
vii
-
AGRADECIMENTOS _________________________________________________________________________
minha orientadora Profa. Dra. Maria Jos DElboux, pelo ensino, pelo carinho e
pela dedicao, com admirao pela sua competncia e seu profissionalismo.
Aos meus pais, Edevar e Cleuza, meus tesouros, pelo incentivo e por todo apoio
dado a cada novo passo em minha vida e, sincera gratido, pela compreenso nesses anos
em que fiquei distante.
s minhas irms, Luciana e Fabiana, minhas companheiras, pela fora e torcida
transmitidas com muito carinho.
Ao meu namorado Eduardo, meu amor e minha felicidade, pela pacincia e
compreenso. Por todo apoio e incentivo dados carinhosamente em todos os momentos
desses anos e s suas preciosas sugestes e auxlios inesquecveis.
Aos colegas de mestrado, em especial a Giovana Sposito, Grace Gomes e Ricardo
Panizza, pela felicidade de compartilharmos a luta e o aprendizado.
amiga Denise Snego, por todo incentivo e colaborao no meu crescimento
cientfico e profissional.
A todos os professores que contriburam para minha formao, desde a bsica at os
dias de hoje.
Equipe dos Ambulatrios de Ortopedia do Hospital de Clnicas da Unicamp e do
Hospital Municipal Dr Mrio Gatti.
Ao Helymar, pela prontido e pela ateno nas anlises estatsticas.
Aos idosos, pela gentileza e afeto com que me receberam e possibilitaram esta
pesquisa.
ix
-
A glria tanto mais tardia
quanto mais duradoura h de ser,
porque todo fruto delicioso amadurece lentamente.
Arthur Schopenhauer
xi
http://www.pensador.info/autor/Arthur_Schopenhauer/
-
SUMRIO _________________________________________________________________________
Pg.
RESUMO.................................................................................................................... xxv
ABSTRACT................................................................................................................ xxix
1- INTRODUO GERAL...................................................................................... 33
1.1- Justificativa do estudo................................................................................... 35
1.2- Artroplastia total de quadril (ATQ)............................................................ 37
1.3- Qualidade de vida (QV) e velhice................................................................. 43
1.4- Medidas de avaliao da qualidade de vida relacionada sade (QVRS).....................................................................................................
46
1.4.1- The Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health
Survey (SF-36)....
50
1.4.2- Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index
(WOMAC).....
51
1.5- Avaliao funcional do quadril.................................................................... 53
2- OBJETIVOS......................................................................................................... 57
2.1- Objetivo Geral.............................................................................................. 59
2.2- Objetivos Especficos.................................................................................... 59
3- CASUSTICA E MTODOS.............................................................................. 61
3.1- Descrio do estudo...................................................................................... 63
3.2- Local da pesquisa......................................................................................... 63
3.3- Sujeitos.......................................................................................................... 63
3.4- Procedimento de coleta de dados................................................................ 64
3.4.1- Instrumentos de coleta de dados........................................................ 65
xiii
-
3.5- Estudo piloto................................................................................................. 70
3.6- Anlise dos dados......................................................................................... 70
3.7- Aspectos ticos.............................................................................................. 72
4- RESULTADOS..................................................................................................... 73
4.1- Artigo 1.......................................................................................................... 73
4.2- Artigo 2.......................................................................................................... 103
5- DISCUSSO GERAL.......................................................................................... 125
6- CONCLUSO GERAL....................................................................................... 131
7- CONSIDERAES FINAIS.............................................................................. 135
8- REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS............................................................... 139
9- ANEXOS............................................................................................................... 153
10- APNDICES........................................................................................................ 167
xv
-
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS _________________________________________________________________________
ADM Amplitude de movimento
AIMS Arthritis Impact Measurement Scale
ANOVA Anlise de varincia univariada
ATQ Artroplastia total de quadril
AVDs Atividades de vida diria
CEP Comit de tica em Pesquisa
FCM Faculdade de Cincias Mdicas
HAQ Health Assessment Questionnaire
HC Hospital de Clnicas
HHS Harris Hip Score
HMMG Hospital Municipal Dr. Mrio Gatti
ICSC Instrumento de caracterizao sociodemogrfica e clnica
IMC ndice de massa corporal
MANOVA Anlise de varincia multivariada
NHP Nottingham Health Profile
OA Osteoartrite
OMS Organizao Mundial da Sade
OPAS Organizao Pan-Americana de Sade
QV Qualidade de vida
QVRS Qualidade de vida relacionada sade
SF-36 The Medical Outcomes Study 36 itens Short-Form Health Survey
SAS Statistical Analysis System
xvii
-
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TVP Trombose venosa profunda
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
WHOQOL World Health Organization Quality of Life
WOMAC Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index
xix
-
LISTA DE TABELAS ARTIGO 1 _________________________________________________________________________
Pg.
Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas do total de sujeitos estudados.......... 72
Tabela 2 Caractersticas clnicas do total de sujeitos estudados............................ 74
Tabela 3 Dados relacionados ATQ do total de sujeitos...................................... 75
Tabela 4 Escores das dimenses do SF-36 e do WOMAC para os 88 idosos
com ATQ estudados................................................................................
77
Tabela 5 Mdia dos escores das dimenses do SF-36 neste estudo e em outras
pesquisas..................................................................................................
78
Tabela 6 Mdia dos escores das dimenses do WOMAC obtidos neste estudo e
em outras pesquisas.................................................................................
78
Tabela 7 Anlise descritiva dos efeitos cho(floor) e teto (ceiling) obtidos neste
estudo......................................................................................................
79
Tabela 8 Valores do coeficiente alfa de Cronbach do SF-36 e do WOMAC
obtidos neste estudo................................................................................
80
xxi
-
LISTA DE TABELAS ARTIGO 2 _________________________________________________________________________
Pg.
Tabela 1 Caractersticas sociodemogrficas, clnicas e funcionais do total de
sujeitos estudados....................................................................................
100
Tabela 2 Anlise descritiva das dimenses do SF-36 e do WOMAC dos 88
idosos com ATQ estudados.....................................................................
101
Tabela 3 Resultados da anlise de varincia multivariada (MANOVA) e
univariada (ANOVA) para o SF-36........................................................
102
Tabela 4 Resultados da anlise de varincia multivariada (MANOVA) e
univariada (ANOVA) para o WOMAC..................................................
103
Tabela 5 Comparao entre as mdias dos escores obtidos nas dimenses do
SF-36 e do WOMAC segundo as variveis estudadas............................
105
.
xxiii
-
RESUMO
xxv
-
_______________________________________________________________________________________Resumo
xxvii
Este estudo teve como objetivo avaliar a qualidade de vida relacionada sade (QVRS) de
idosos com artroplastia total de quadril (ATQ) por meio de um instrumento genrico e
outro especfico e investigar a influncia de variveis sociodemogrficas, clnicas e
funcionais desses sujeitos. Fizeram parte deste estudo 88 idosos com 60 anos ou mais, de
ambos os gneros, submetidos ATQ primria, unilateral, h no mnimo seis meses, em
dois hospitais de referncia do interior de So Paulo. Os dados foram obtidos por meio da
aplicao de quatro instrumentos: 1. questionrio para a caracterizao sociodemogrfica,
clnica e relacionada a ATQ; 2. questionrio de avaliao funcional do quadril Harris Hip
Score (HHS); 3. instrumento genrico de avaliao da QVRS The Medical Outcomes Study
36-item Short-Form Health Survey (SF-36) e 4. instrumento especfico Western Ontario
and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC). Os dados foram submetidos
anlise estatstica descritiva, efeitos teto e cho, de confiabilidade por meio do alfa de
Cronbach, de varincia univariada (ANOVA) e multivariada (MANOVA) e de comparao
por meio dos testes de Mann-Whitney e Kruskal-Wallis. A amostra estudada teve
predomnio das mulheres e a mdia de idade foi de 68,8(7,4) anos. Os escores dos
instrumentos de avaliao da QVRS demonstraram que as questes de natureza fsica
afetaram mais a qualidade de vida desses idosos. A confiabilidade foi satisfatria para
ambos instrumentos, com Alpha de Cronbach > 0,70, exceto na dimenso rigidez do
WOMAC. O efeito teto foi exibido em alguns domnios tanto do WOMAC quanto do SF-
36. De acordo com a MANOVA, a varivel funo do quadril, avaliada pelo HHS, foi a
varivel que apresentou influncia significativa na QVRS sob a perspectiva dos
instrumentos genrico e especfico. As variveis: uso de acessrios para a locomoo,
funo do quadril e satisfao com a cirurgia foram as variveis que apresentaram
diferenas significativas relevantes nas dimenses do SF-36 e do WOMAC. Os resultados
evidenciam que os instrumentos SF-36 e WOMAC so adequados para avaliar a QVRS
nesse grupo de idosos, porm apresentam algumas limitaes. Por fim, sugere-se que aes
que otimizem o status funcional possam contribuir para melhorar a QVRS dos idosos com
ATQ.
Palavras-chave: Qualidade de vida, artroplastia de quadril, artroplastia de substituio,
idosos.
-
ABSTRACT
xxix
-
__________________________________________________________________________________________________Abstract
xxxi
This study it had as objective to evaluate the Health-Related Quality of Life (HRQL) of
elderly with Total Hip Arthroplasty (THA) by means of a generic instrument and another
specific one and to investigate the influence of variable sociodemografics, clinical and
functional of these citizens. It had been part of this study 88 aged ones with 60 years or
more, of both the sorts, submitted the THA primary, unilateral, at least has six months, in
two hospitals of the interior of So Paulo. The data had been gotten by means of the
application of four instruments: 1. questionnaire for the characterization socio-
demographic, clinical and related the THA; 2. questionnaire of functional evaluation of the
hip - Harris Hip Score (HHS); 3. generic instrument of evaluation of the HRQL The
Medical Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36) and 4. the specific Western
Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC). The data had been
submitted to the analysis descriptive statistics, ceiling and floor effects, of trustworthiness
by means of the alpha of Cronbach < 0,70, variance univariada (ANOVA) and multivaried
(MANOVA) and of comparison by means of the tests of Mann-Whitney and Kruskal-
Wallis. The studied sample had predominance of the women and the age average was of
68,8 (7,4) years. The scores of the instruments of the evaluation of HRQL had
demonstrated that the questions of physical nature had affected more the quality of life
(QoL) of these elderly. The reliability was satisfactory for both instruments, with Alpha de
Cronbach > 0,70, except in the dimension stiffness of the WOMAC. The effect ceiling was
shown in some domains in such a way of the WOMAC as well of the SF-36. According to
MANOVA the variable function of the hip, evaluated for the HHS, was the variable that
presented significant influence in the HRQL under the perspective of the instruments
generic and specific. The variables: use of accessories for the locomotion, function of the
hip and satisfaction with the surgery had been the variables that had presented excellent
significant differences in the dimensions of the SF-36 and the WOMAC. The results
evidence that instruments SF-36 and WOMAC are adjusted to evaluate the HRQL of
elderly patients with THA, but present some limitations. Therefore, one suggests that
actions that optimize the functional status can contribute to improve the HRQL of the aged
ones with THA.
Keyworks: Quality of life, hip arthroplasty, arthroplasty, replacement, elderly.
-
1- INTRODUO
33
-
1.1- Justificativa do estudo
Com um novo perfil demogrfico, o Brasil, assim como outros pases da
Amrica Latina, adquiriu mudanas no seu perfil epidemiolgico. Embora o aumento da
expectativa de vida seja uma aspirao natural, medida que as pessoas vivem at idades
mais avanadas, aumenta a prevalncia das doenas crnicas. Os custos sociais e
econmicos delas decorrentes avolumam-se, tanto pelas incapacidades que provocam,
como pela sobrecarga na demanda por servios assistenciais.
Dentre as doenas crnicas, a osteoartrite (OA) uma das mais prevalentes e
estende-se a mais de um tero das pessoas com mais de 65 anos de idade (Fellet e Scotton,
2006). A OA de quadril uma das principais causas de morbidade e incapacidades,
especialmente entre as pessoas idosas. Sua prevalncia mais baixa entre os asiticos,
seguida dos negros norte-americanos e africanos e mais elevada em europeus brancos, em
torno de 7% a 25% a partir dos 55 anos de idade, de acordo com estudos realizados na
Europa (Gossec et al., 2005; Lievense et al., 2004).
Outro fator associado populao idosa o ndice elevado das fraturas do colo
do fmur. Estima-se que 1,3 milho de fraturas de fmur ocorreram mundialmente em
1990, sendo que, para 2025 espera-se uma duplicao deste nmero, chegando a 4,5
milhes no ano de 2050 (Rodriguez-Merchan, 2002). Aproximadamente metade dessas
fraturas so intracapsulares, ou seja, comprometem a articulao do quadril, ocorrem em
torno dos 80 anos e em 75% delas afetam as mulheres.
Em se tratando dessas duas situaes que acometem o quadril, a OA e as
fraturas do colo do fmur, um dos mtodos de tratamento cirrgico a substituio da
articulao do quadril por material prottico, denominada Artroplastia Total de Quadril
(ATQ), a qual tem a finalidade de devolver funo e eliminar a dor. Conforme afirmam
Wood e McLauchlan (2006) e Patil et al. (2008) esta cirurgia tem evoludo para tornar-se
uma das mais comuns e mais bem sucedidas operaes ortopdicas da atualidade, pois
promove grandes benefcios para a populao idosa.
_________________________________________________________________________ Introduo
35
-
Diante do exposto, a expectativa que a ATQ ser cada vez mais disseminada e
procurada. Na mesma proporo, Fujita et al. (2006) destacam a importncia de se estudar
resultados aps a ATQ. Muitos estudos tm enfocado o aspecto tcnico desta cirurgia, tais
como formatos diferentes de prteses, seus variados tipos de fixao (Sathappan et al.,
2007; Zhang et al., 2008; Parvizi et al., 2008), e suas complicaes, entre elas, infeces,
luxaes e soltura dos componentes da prtese (Suh et al., 2008; Sariali et al., 2008). No
entanto, autores, como berg et al. (2005) e Barrois et al., (2007) expem a importncia de
se investigar outras questes que os pacientes consideram relevantes. Destacam os
benefcios na qualidade de vida (QV), os ganhos funcionais, a diminuio das dores, a
possibilidade de retorno ao trabalho e as suas atividades cotidianas. Desse modo, aspectos
referentes funcionalidade do idoso e ao ps-operatrio, a idade e a presena de dor podem
influenciar a QV desses pacientes.
Em se tratando da rea da sade, a QV tem sido um aspecto de freqente
investigao, uma vez que, existe uma forte relao entre a doena e funcionalidade,
especialmente na velhice, e a QV. Para Meeberg (1993), a qualidade de vida relacionada
sade (QVRS), considera que a percepo de bem-estar dos pacientes to importante
quanto o seu tratamento, a sua cura e a manuteno da vida.
Visto a importncia da avaliao da QVRS, a literatura sugere a utilizao tanto
de instrumentos genricos como os especficos (Ware, 1993; Guyatt et al., 1997; Fayers e
Machin, 1998), ao considerar que cada instrumento possui caractersticas prprias e
avaliam diferentes aspectos da QVRS. Nesse sentido, notou-se a necessidade de analisar a
AVRS em idosos com ATQ por meio das verses brasileiras do instrumento genrico The
Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36) (Ciconelli, 1999) e do
instrumento especfico para osteoartrite de quadril e joelho Western Ontario and McMaster
Universities Index (WOMAC) (Fernandes, 2002) comparando ou considerando os
resultados destes em relao a variveis sociodemogrficas, clnicas e funcionais.
Esses dois instrumentos tm sido alvo de pesquisas internacionais na populao
com ATQ, com evidncias de alta responsividade (Nilsdotter et al., 2001; Quintana et al.,
2005; Wood e McLachlan, 2006; Garbuz et al., 2006).
_________________________________________________________________________ Introduo
36
-
Dessa forma, a investigao da QVRS por meio de um instrumento genrico e
de um especfico e a influncia de variveis sociodemogrficas, clnicas e funcionais
podero fornecer subsdios importantes que contribuiro para uma avaliao mais
abrangente do idoso com ATQ, visando o estabelecimento de intervenes que sejam
efetivas na otimizao de melhores resultados desta cirurgia.Este estudo, por sua vez,
permitir investigar o comportamento das verses brasileiras do SF-36 e do WOMAC em
um grupo de idosos aps a ATQ e conduzir novas pesquisas tanto no aspecto da opo de
instrumentos para avaliao da QVRS quanto no conhecimento sobre as condies e estado
de sade desse sujeitos.
Espera-se que o presente estudo oferea subsdios para beneficiar os idosos
submetidos a ATQ, na medida em que possibilitar a identificao de dados referentes
sua QV, escolha de instrumentos que melhor apontem as relaes com variveis
sociodemogrficas, clnicas e funcionais, tendo em vista o planejamento e a implantao de
estratgias de assistncia sade a essa clientela, visando seu bem-estar.
1.2- Artroplastia total de quadril (ATQ)
Desenvolvida no incio dos anos 60, a ATQ foi definida como a substituio das
superfcies articulares das estruturas sseas que compem a articulao do quadril, ou seja,
da cabea do fmur e do acetbulo. Este procedimento cirrgico est indicado para
pacientes idosos (acima de 60 anos de idade) que apresentam dor intensa e incapacitante
devido a alguma afeco no quadril, como por exemplo: osteoatrite (OA) de quadril, artrite
reumatide, osteonecrose, fratura da cabea e do colo do fmur e desenvolvimento de
displasia do quadril (Branson e Goldstein, 2003; Meldrum et al., 2008).
As artropatias (doenas articulares) esto associadas, em geral, a afeces
crnicas, de baixa mortalidade, e sua prevalncia diretamente proporcional ao aumento da
populao de idosos no Brasil. Entre as inmeras afeces crnicas e degenerativas, a OA e
a atrite reumatide so comuns nessa populao, e devem ento ser objeto de estudo na
geriatria e gerontologia (Machado, 2006).
_________________________________________________________________________ Introduo
37
-
De acordo com Machado (2006) a OA se destaca como uma das mais freqentes
doenas articulares, e sua elevada prevalncia faz dela causa de considervel morbidade
entre os idosos. Dados epidemiolgicos mostram que a prevalncia da OA aumenta de
forma significativa a partir dos 40 anos nas mulheres e dos 50 anos nos homens; afeta 50 %
das pessoas com 60 anos ou mais e 85% com idade igual ou superior a 75 anos (Machado,
2006).
Os pacientes acometidos por OA avanada de quadril apresentam deformidade
fsica, perda da funo, e incapacidade para realizar as atividades de vida dirias. No
quadril, um grau severo de OA causa dor e diminuio da mobilidade, alm de
comprometer o bem-estar psicolgico do paciente. Portanto, importante avaliar de
maneira vlida, segura e a longo prazo os benefcios advindos da artroplastia (Branson e
Goldstein, 2003).
Em virtude destes acometimentos severos, o tratamento conservador se mostra
ineficaz e os tratamentos cirrgicos, que envolvem osteotomias, desbridamentos
artroscpicos e as artroplastias, passam a ser a opo teraputica desejada, pois promovem
o alvio da dor e melhoram a funo articular do paciente (Hawker et al., 2001).
Outra questo relevante a fratura da poro superior do fmur, a qual
acompanhada de elevados ndices de mortalidade e morbidade na populao idosa, alm de
ter elevado custo financeiro. A incidncia da fratura do fmur aumenta com a idade, a partir
dos 50 anos e duas vezes mais freqente no sexo feminino. Calcula-se que 15 a 20 % dos
pacientes com fratura do fmur venham a falecer dentro do primeiro ano aps a fratura e
50% dos sobreviventes dependem de cuidado a longo prazo (Keisu et al., 2001).
Na descrio das fraturas da poro superior do fmur trs regies anatmicas
podem ser afetadas com maior freqncia: o colo, a regio entre os trocnteres
(transtrocanterianas) e a regio abaixo deles (subtrocanterianas). Dentre elas, a que tem
indicao para a ATQ, de acordo com a sua gravidade, a do colo do fmur. Cerca de 80 a
90% das fraturas do colo do fmur ocorrem em conseqncia de queda (Keisu et al., 2001).
_________________________________________________________________________ Introduo
38
-
Nas fraturas do colo do fmur intracapsulares, geralmente, h risco de
interrupo da irrigao da cabea do fmur e, conseqente, necrose assptica. Esta
complicao leva necessidade da substituio da cabea do fmur por uma prtese. O
tratamento cirrgico o eleito para idosos que apresentam fratura do colo do fmur, visto
que os perigos da cirurgia so menores que os riscos decorrentes da imobilizao
prolongada exigida pelo tratamento conservador (Culham, 2000) e, segundo Wazir et al.
(2006) nos idosos com esse tipo de fratura, a ATQ est associada a um melhor resultado do
que a fixao interna.
Tendo em vista estas duas situaes comumente encontradas no idoso, a OA de
quadril e a fratura do colo do fmur, a ATQ est sendo freqentemente realizada com a
perspectiva de ser cada vez mais utilizada como opo de tratamento.
A ATQ denominada de primria quando o paciente submetido a uma
interveno cirrgica para a substituio articular total pela primeira vez, e chamada de
reviso quando a articulao sinttica, substituda anteriormente, necessita ser reparada. Ao
ser nomeada artroplastia total faz-se referncia substituio tanto do acetbulo quando da
cabea do fmur, entretanto, existem as artroplastias parciais do quadril, que condizem
substituio apenas da cabea do fmur.
As prteses utilizadas tm um tempo de vida til projetado em torno de 20 anos,
confirmando, assim, sua indicao para pacientes acima de 60 anos. A taxa de
sobrevivncia a longo prazo tem sido relatada de 87,3% a 96,5% por um perodo de 15 anos
(Wickland e Romanus, 1991; Pratt e Gray, 2003). Diante do tempo de vida projetado para
uma prtese, candidatos mais jovens a ATQ podem requerer uma reviso da cirurgia aps
algum tempo (Meldrum et al., 2008).
Em sua essncia, a ATQ consiste em duas partes. Primeiro, o osso com
comprometimento articular e a cartilagem so retirados da cpula acetabular e uma nova
cpula de metal, com uma camada de revestimento plstico de polietileno, fixada no seu
lugar. Segundo, a cabea femoral removida e substituda pelo componente femoral,
constitudo por uma cabea e uma haste de metal, que presa no canal medular do fmur
(Pratt e Gray, 2003; Branson e Goldstein, 2003).
_________________________________________________________________________ Introduo
39
-
Alm dos vrios tipos de prteses, com vrios desenhos, h diferentes formas de
se fix-las ao osso. Os implantes podem ser fixados por meio de cimento sseo ou sob
presso no canal medular sem a utilizao de cimento.
Os implantes no-cimentados tendem a ser mais caros e tecnicamente mais
trabalhosos, entretanto, so mais fceis de reviso quando no so bem-sucedidos. Esse tipo
de fixao gera divergncias quanto sustentao de carga corporal parcial ou total
precoce, pois existem dvidas sobre a osteointegrao (unio implante/osso) ser alcanada
mais rapidamente com a descarga de peso precoce (Wolff et al., 1981; Meyer, 2003).
Houve uma tendncia, na dcada de 80, das fixaes no-cimentadas serem
mais utilizadas, entretanto, nos anos 90, os implantes cimentados retornaram a ser mais
freqentes, uma vez que, permitem carga total precoce, mas sua reviso mais difcil. O
consenso, por sua vez, est bem estabelecido quanto indicao do cimento, o qual deve
ser a melhor opo quando a qualidade ssea do paciente no suportar implantes no-
cimentados (Branson e Goldstein, 2003). Acrescenta Rapp (2003), que com a evoluo
contnua dos materiais dos implantes, a fixao no-cimentada tende a ser indicada para
todas as idades, desde que as condies sseas sejam satisfatrias.
Outro tipo de fixao a denominada hbrida, constituda pela fixao
cimentada do componenete femoral e no-cimentada do componente acetabular. Bierbaum
e Howe (2000), durante a ltima dcada, reportaram-se a essa fixao como o padro ouro
para a substituio total do quadril.
Dado que a ATQ uma interveno cirrgica de grande porte, algumas
complicaes esto sujeitas a acontecer. Incluem-se a ossificao heterotpica (tecido sseo
no seio de tecidos moles periprotticos), a trombose venosa profunda (TVP), a instabilidade
e luxao da prtese, as leses nervosas e vasculares e a infeco (Branson e Goldstein,
2003).
A ATQ est associada a um alto ndice de TVP devido, particularmente,
manipulao do quadril durante a cirurgia, o qual deslocado e luxado para poder ser
acessado, o que favorece a compresso venosa. J as luxaes das prteses esto
_________________________________________________________________________ Introduo
40
-
relacionadas s precaues de movimentos que esta cirurgia implica. O paciente submetido
ATQ dever evitar alguns movimentos como no cruzar o membro inferior alm da linha
mdia do corpo, no fletir o quadril exageradamente, no agachar, entre outras, para evitar
o risco de uma luxao (Pratt e Gray, 2003; Branson e Goldstein, 2003).
Por esse motivo, adaptaes domiciliares so necessrias a fim de manter essas
precaues nos movimentos impostas pela cirurgia. Na maioria dos casos, a elevao do
vaso sanitrio, do sof e da cama so as modificaes mais freqentes. Alm disso, o uso
de dispositivos de auxlio para a locomoo necessrio no perodo inicial do ps-
operatrio de ATQ. A partir dos seis meses aps a cirurgia, espera-se que a marcha esteja
recuperada, mas o uso desses dispositivos pode ser ainda necessrio, caso o paciente
apresente outras alteraes como desequilbrios, dficits na fora muscular, presena de dor
e insegurana (Ajemian et al., 2004).
O aspecto da obesidade no paciente com ATQ ganha importncia, uma vez que,
tem sido associado a complicaes ps-operatrias (Strmer et al., 2005). Estudos tm
demonstrado um aumento do risco de TVP aps a ATQ em obesos (ndice de Massa
Corporal - IMC 30kg/m2) (Namba et al., 2005; Andrew et al., 2008), alm do aumento do
risco das infeces no stio cirrgico (Patel et al., 2007). Em contrapartida o estudo de
Ibrahim et al.(2005) concluiu que um IMC 30kg/m2 no tem efeito nas complicaes ps-
operatrias ou na necessidade de reviso cirrgica a curto prazo.
Em adio, h evidncias de que os pacientes obesos com ATQ, em geral,
apresentam um bom resultado em termos de satisfao com a cirurgia e da funo do
quadril (Wendelboe et al., 2003; Stickles et al, 2001). Segundo Horan (2006), as diferenas
se revelam em pacientes com obesidade mrbida (IMC 40kg/m2). Portanto, estudos
relatam uma melhora considervel da QV em pacientes obesos, desde que tenham cincia
do aumento dos riscos cirrgicos (Stickles et al., 2001; Hamoui et al., 2006).
Uma situao pouco aprofundada na literatura, mas de importante repercusso no ps-
operatrio de ATQ a presena de dor articular no quadril submetido cirurgia ou em
outras articulaes. Estudos comprovam que dores com essas caractersticas podem ser
relatadas entre 2% a 40% dos pacientes com ATQ (Bourne et al., 2001; Brown et al., 2002).
_________________________________________________________________________ Introduo
41
-
No entanto, no estudo de Barrack et al.(2000), que avaliaram pacientes com
ATQ que apresentavam ou no dor na coxa, foram demonstradas diferenas no
significativas com relao funo do quadril entre os grupos. Acrescentam Lavernia et
al.(2005), que tambm investigaram grupos com e sem dores articulares aps ATQ, que a
dor no aparentava afetar severamente a qualidade de vida de pacientes com at dois anos
de ps-operatrio, mas algumas atividades funcionais como levantar-se, sentar-se e realizar
afazeres domsticos intensos, foram substancialmente influenciadas pela presena de dor
nos membros inferiores.
Apesar de ser considerado um tratamento severo, esta interveno cirrgica
melhora a funo e reduz a dor em praticamente todos os pacientes com doena
incapacitante. Lavernia et al. (2005) destacam em seu estudo, a preocupao em se avaliar a
satisfao do paciente aps a ATQ, j que um procedimento que gera muitas expectativas
quanto aos seus resultados. Em seu estudo, os autores relataram que o ndice de satisfao
de pacientes adultos e idosos com relao ao alvio da dor e melhora da funo foi de
98% dos casos, em at dois anos, aps a ATQ.
Com o propsito de restabelecer a funo e a independncia do paciente, a ATQ
promove melhor QV ao indivduo com mudanas positivas constatadas a curto e longo
prazo (berg et al., 2005; Linsell et al., 2006; Wood e McLauchlan, 2006; Rder et al.,
2007; Akker-Scheek et al., 2008).
Nesse sentido destaca-se o estudo de Linsell et al. (2006) que, ao avaliarem os
resultados da ATQ em idosos, identificaram melhor QV no ps-operatrio, com maior
influncia dos aspectos fsicos. Para Wood e McLauchlan (2006), o aspecto cognitivo foi
um outro fator que interferiu na QV de idosos com ATQ.
Garbuz et al. (2006) trouxeram ainda outra questo importante ao avaliarem o
tempo de espera para a cirurgia em relao aos resultados sobre a QV aps a ATQ.
Constataram que houve uma associao entre o tempo de espera e a probabilidade de um
melhor resultado funcional esperado. A chance de alcanar um resultado timo aps a ATQ
diminuiu 8% para cada ms de espera. Pacientes que aguardaram mais de seis meses
_________________________________________________________________________ Introduo
42
-
apresentaram menor probabilidade (50%) de melhores resultados funcionais e significativa
diminuio na QV comparada queles que aguardaram tempo menor.
Isto posto, nota-se que esta interveno cirrgica, com todos os seus benefcios e
riscos, traz consigo uma bagagem de aspectos importantes a serem investigados, os quais
podem interferir na QV dos pacientes.
1.3- Qualidade de vida (QV) e velhice
O conceito de QV pode variar entre os pases, entre as diferentes culturas, entre
as classes sociais e principalmente entre os indivduos (Paschoal, 2006).
A Organizao Mundial da Sade (OMS), representada pelo grupo WHOQOL,
publicou em 1994 o conceito de QV. Esse conceito a base para o desenvolvimento dos
seus instrumentos. Para a OMS, qualidade de vida a percepo do indivduo de sua
posio na vida no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele vive e em relao
aos seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes (The WHOQOL-Group, 1995).
O grupo de especialistas em QV da OMS considera que, embora no exista uma
definio consensual, h concordncia entre os pesquisadores sobre algumas caractersticas
do constructo, como a subjetividade, a multidimensionalidade e a bipolaridade (WHOQOL
Group, 1995).
Para esse grupo de especialistas, cada vez mais reconhecido o constructo QV
como subjetivo, levando-se em considerao as condies externas presentes no meio e nas
condies de vida e de trabalho, que a influenciam. Em relao a multidimensionalidade,
incluem-se pelo menos trs dimenses a fsica, a psicolgica e a social, sempre na direo
da subjetividade: como os indivduos percebem seu estado fsico, o cognitivo e afetivo,
suas relaes interpessoais e os papis sociais em suas vidas. A terceira caracterstica
consensual refere-se bipolaridade, uma vez que o constructo possui dimenses positivas e
negativas e enfatiza as percepes dos indivduos acerca dessas dimenses (WHOQOL
Group, 1995).
_________________________________________________________________________ Introduo
43
-
Paschoal (2006) apresenta outras duas caractersticas: complexidade e
mutabilidade. Por ser subjetivo, multidimensional e bipolar, o conceito torna-se complexo e
difcil de avaliar. Por outro lado, a avaliao da qualidade de vida muda com o tempo,
pessoa, lugar e contexto cultural.
No contexto da ateno sade, avaliaes de QV tornaram-se prtica freqente
e importantes em pesquisa, no acompanhamento clnico, no planejamento de aes e de
polticas, na alocao de recursos e na avaliao de programas, principalmente em pases
desenvolvidos. No Brasil, sua importncia surgiu mais recentemente e vem, pouco a pouco,
ganhando reconhecimento. De acordo com Paschoal (2006) o tema QV passou a ter
significado e importncia nas pesquisas da rea da sade, no Brasil, na ltima dcada (a
partir de 1992), quando a mdia de publicaes aumentou sete vezes, comparada aos dez
anos anteriores (entre 1982 e 1991).
A literatura tem mostrado que, se difcil definir qualidade de vida, mais difcil
ainda definir qualidade de vida na velhice, pois alm de tratar-se de um evento
multidimensional e multideterminado, acrescenta-se o fato de ser o envelhecimento uma
experincia peculiar, a qual cada indivduo conduzir de acordo com seus prprios padres,
seus valores e anseios.
No intuito de sistematizar o entendimento do conceito de QV na velhice,
Lawton (1983), prope um modelo, que busca avaliar a QV a partir dos seus aspectos
objetivos e subjetivos e sua multidimensionalidade numa perspectiva de curso de vida. O
autor entende a QV na velhice como um conceito bastante amplo, que deve considerar, no
s as condies de sade, mas tambm condies fsicas do meio ambiente, relacionamento
social e familiar, situao financeira e estilo de vida e, principalmente, a percepo que o
prprio idoso tem de sua qualidade de vida. Para Lawton (1983), QV na velhice uma
avaliao multidimensional referenciada a critrios socionormativos e intrapessoais, a
respeito das relaes atuais, passadas e prospectivas entre o indivduo maduro ou idoso e o
seu ambiente.
_________________________________________________________________________ Introduo
44
-
Segundo o autor, a avaliao da QV incide sobre quatro reas que se inter-
relacionam continuamente: competncia comportamental, condies ambientais, qualidade
de vida percebida e bem-estar psicolgico, das quais depende a funcionalidade do idoso.
As competncias comportamentais esto associadas aos domnios da sade, da
capacidade funcional, da cognio, do uso do tempo e do comportamento social. A
avaliao dessas competncias feita, comparando-se o indivduo com outros, segundo
critrios de idade, educao, gnero, etnia e classe social (Lawton, 1983).
Alm disso, a QV na velhice est intimamente relacionada existncia de
condies ambientais que possibilitem aos idosos desenvolver comportamentos biolgicos
e psicolgicos adaptativos. Essas prerrogativas esto ligadas autonomia funcional do
idoso, ou seja, se os indivduos envelhecerem, mantendo-se autnomos e independentes,
eles prprios podem tornar seu ambiente mais seguro, mais criativo e prazeroso (Lawton,
1983).
A QV percebida a dimenso subjetiva, que depende dos julgamentos do
indivduo sobre sua funcionalidade fsica, social e psicolgica e sobre sua competncia
comportamental. Tais julgamentos so influenciados pelas condies objetivas de sade
fsica, pela renda e pela rede de relaes sociais, considerando sua proximidade e funes.
Tambm dependem dos padres de comparao adotados pela pessoa, os quais so, em
parte, determinados pelo grupo (Lawton, 1983).
O bem-estar psicolgico reflete a auto-avaliao sobre as trs reas anteriores e
depende da capacidade do idoso de adaptar-se s perdas e de recuperar-se de situaes
estressantes, tais como doenas, morte na famlia, violncia, crises econmicas, e de sua
disposio para viver positivamente (Lawton, 1983).
Embora o modelo de Lawton (1983) possibilite uma abordagem
multidimensional da QV na velhice, sua operacionalizao em termo de medida de QV para
fins de pesquisa dificultada justamente pela complexidade que envolve os vrios
domnios.
_________________________________________________________________________ Introduo
45
-
Nos ltimos anos, a QV passou a ser investigada com maior freqncia na rea
da sade, dada a descoberta pelos pesquisadores de forte relao entre a doena e a QV.
Neri (2000) revela que ela aparece pela primeira vez no Index Medicus em 1985.
Segundo Padilla e Kagawa-Singer (1998), qualidade de vida relacionada sade
(QVRS) significa a avaliao dos atributos que caracterizam a vida das pessoas nos
momentos em que a sade, a doena e as condies de tratamento so relevantes. Nas
pessoas saudveis, a sade pode no apresentar relevncia na avaliao da QVRS e sim as
relaes sociais, o sucesso financeiro e a satisfao com o trabalho. No entanto, para os que
apresentam a sade ameaada por doenas agudas ou crnicas, possivelmente a QVRS ser
influenciada por conseqncias desses eventos, tais como, incapacidades, dor, limitaes,
entre outros.
Na QVRS, a abordagem multidimensional mantida, considerando-se os
aspectos fsicos, mentais e sociais mais claramente relacionados presena de sintomas,
incapacidades e limitaes causadas pelas doenas, acidentes e violncia (Seidl e Zannon,
2004).
Para Paschoal (2006), na medida do estado de sade deve-se partir do conceito
de sade, no qual sade deixou de ser ausncia de doena e est fortemente ligada a um
estado positivo de bem-estar.
No Brasil, a QVRS passou a ter significado e importncia na literatura de
cincias de sade a partir de 1992 (Paschoal, 2006). Apesar dos recentes estudos acerca da
QVRS em nosso pas, na literatura nacional e internacional observa-se uma crescente
importncia desse conceito e das investigaes pertinentes a essa temtica, bem como a
utilizao de diferentes medidas para situaes especficas de diversas afeces.
1.4- Medidas de avaliao da qualidade de vida relacionada sade (QVRS)
O crescente interesse em se quantificar a qualidade de vida foi reforado pelo
desenvolvimento de mtodos quantitativos em psicologia, economia e outras cincias
_________________________________________________________________________ Introduo
46
-
sociais. Estes mtodos tornaram-se possveis pelo aprofundamento em medidas e anlises
de dados, trazendo credibilidade s avaliaes quantitativas de fenmenos clnicos.
A medida de avaliao de QVRS inclui os domnios: fsico (capacidade
funcional e de trabalho), psicolgico (satisfao, bem-estar, auto-estima, ansiedade e
depresso), e social (reabilitao de trabalho, passatempos, interao familiar e social),
cada qual com uma diversidade de componentes. Alm disso, cada componente pode ser
expresso de diferentes maneiras, de acordo com a percepo subjetiva de cada indivduo,
resultando em uma avaliao diferente de QV, mas referenciada, sempre, a valores e a
expectativas sociais (Apolone e Mosconi, 1998).
Na evoluo das investigaes sobre a avaliao de QVRS, vrios instrumentos
surgiram para quantificar os estados de sade. Os mais recentes enfatizam os aspectos
subjetivos, como os funcionamentos fsico, emocional e cognitivo, principalmente para
avaliar a percepo do paciente sobre a sua doena, a sua incapacidade e o seu tratamento.
Em sua maioria, eles incluem uma ou mais perguntas que investigam a QV global (Fayers e
Machin, 1998). Os instrumentos de avaliao de QVRS tm sido empregados em pacientes
com diferentes afeces e so divididos em dois grupos: genricos e especficos (Fayers e
Machin, 1998; Ciconelli, 2003; Lopes et al., 2007).
Os instrumentos genricos foram desenvolvidos com a finalidade de refletir o
impacto de uma doena sobre a vida de pacientes em uma ampla variedade de populaes,
e avaliam aspectos relativos funo, disfuno, bem como ao desconforto fsico e
emocional. Podem ser subdivididos em dois modos de avaliao: perfil de sade, que avalia
o estado de sade, e medidas de utility, que traduzem a preferncia do paciente por um
determinado estado de sade (Ciconelli, 2003; Lopes et al., 2007). Esses instrumentos tm
a vantagem de comparar pacientes com doenas variadas, com outro paciente e com a
populao em geral. Por outro lado, os instrumentos genricos no tm seu foco
centralizado nas preocupaes dos pacientes com sua doena, e podem no apresentar
sensibilidade para detectar as alteraes decorrentes do tratamento (Fayers e Machin, 1998,
Lopes et al., 2007).
_________________________________________________________________________ Introduo
47
-
Dentre os instrumentos genricos mais comumente usados na avaliao do perfil
de sade, destacam-se o World Health Organization Quality of Life WHOQOL - (Whoqol
Group, 1995) e o The Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey - SF-36
- (Ware e Sherbourne, 1992), entre outros. Estes tm sido avaliados quanto sua validade e
reprodutibilidade.
Os instrumentos especficos so usados principalmente para medir ansiedade e
depresso, funcionamento fsico, dor e fadiga. Estes domnios so particularmente
importantes em pacientes com doenas crnicas ou avanadas (Fayers e Machin, 1998).
Para Ciconelli (2003), eles ... so capazes de avaliar de forma individual e especfica
determinados aspectos da qualidade de vida, proporcionando uma maior capacidade de
deteco de melhora ou piora do aspecto especfico em estudo (p.10). A principal
caracterstica desses instrumentos o potencial de sensbilidade s alteraes
(responsiveness), ou seja, apresentarem a capacidade para detectar alteraes aps uma
determinada interveno. Eles podem ser especficos para uma determinada funo
(capacidade fsica, sono e funo sexual), para determinada populao (idoso e jovens), e
para determinada alterao (dor) (Lopes et al., 2007).
Os instrumentos especficos existentes para a avaliao de pacientes com
osteoartrite so o Arthritis Impact Measurement Scale-2 AIMS-2 - (Meenan et al.,1980) e
o Western Ontrio and McMaster Universities Osteoarthitis Index WOMAC - (Bellamy
et al., 1988).
Guyatt et al. (1997) recomendam que tanto as medidas genricas como as
especficas sejam includas na avaliao da QVRS. Da mesma forma, segundo Fayers e
Machin (1998), para que uma avaliao do paciente possa ser chamada de qualidade de
vida, os instrumentos especficos devem ser utilizados com questionrios mais gerais.
O autor do instrumento SF-36, John Ware (1993), defende a existncia de
consideraes sobre a escolha entre medidas especficas e genricas que avaliam os
resultados de QVRS. Ele reconhece, ainda, que o uso em conjunto de medidas genricas e
especficas mostra-se mais til do que seu emprego individual (Ware, 1993).
_________________________________________________________________________ Introduo
48
-
Investigaes sobre a QVRS em pacientes submetidos a ATQ tm sido relatadas
na literatura (Kiebzak et al., 2002; Kawasaki et al., 2003; Xu et al., 2005; Caracciolo e
Giaquinto, 2005; Lettich et al., 2007). Com o objetivo de documentar o nus gerado pela
doena OA e os benefcios da substituio total articular do quadril, Kiebzak et al. (2002)
aplicaram o instrumento genrico de avaliao da QVRS, SF-36, em pacientes com esta
afeco, acompanhados desde o perodo pr-operatrio at 24 meses aps a cirurgia. Os
resultados mostraram que houve maior pontuao nas diferentes dimenses do SF-36 no
ps-operatrio, sendo que a melhora foi mais significativa aps os trs primeiros meses da
cirurgia e os escores das mulheres foram inferiores aos dos homens.
Outras vertentes de anlise so as pesquisas que analisaram a responsividade de
diferentes instrumentos de avaliao de QVRS na populao com ATQ (Nildsdotter et al.,
2001; Quintana et al., 2005; Wood e McLauchlan, 2006; Quintana et al., 2006; Garbuz et
al., 2006; SooHoo et al., 2007).
Destaca-se o estudo de Soohoo et al. (2007) que avaliou a responsividade dos
instrumentos WOMAC e SF-36 em 89 pacientes e sugerem que o uso isolado do SF-36
pode ser adequado para monitorar resultados aps ATQ. Entretanto, ressaltam que o uso do
WOMAC vantajoso na avaliao da QVRS em diferentes indicaes, modelos ou tcnicas
cirrgicas de ATQ, como tambm, em condies de tratamentos no cirrgicos de afeces
do quadril, uma vez que, este instrumento foi desenvolvido para pacientes com osteoartrite
de quadril.
Diversos profissionais envolvidos no tratamento de pacientes com ATQ, como
os ortopedistas, reumatologistas, fisioterapeutas, enfermeiros, nutricionistas, entre outros,
tm procurado avaliar no somente as funes e atividades de vida diria (AVDs), mas o
quanto esses pacientes vivem satisfeitos com a vida no aspecto psicolgico, mental,
emocional e social. Em outras palavras, h um crescente interesse na QVRS desses
pacientes (Kawasaki et al., 2003).
A partir do conhecimento das principais caractersticas de cada instrumento, a
utilizao de um instrumento genrico ou especfico vai depender do objetivo determinado.
_________________________________________________________________________ Introduo
49
-
Seu uso deve considerar a situao a ser analisada, o tipo de estudo a ser desenvolvido e a
populao ou a doena em questo.
1.4.1- The Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36)
O SF-36 foi elaborado com a finalidade de ser um questionrio genrico de
avaliao de sade, de fcil administrao e compreenso e de pequena extenso. um
questionrio auto-administrvel, multidimensional, formado por 36 itens que compem oito
dimenses: capacidade funcional, aspectos fsicos, dor, estado geral da sade, vitalidade,
aspectos sociais, aspectos emocionais e sade mental (Ware e Sherbourne, 1992).
A criao desse instrumento foi baseada numa reviso de diversos instrumentos
existentes na literatura que avaliavam alteraes e limitaes em vrias dimenses como:
capacidade funcional, aspectos sociais e percepo geral de sade (Ware e Sherbourne,
1992; Ciconelli, 1999). Sua confiabilidade, validade e sensibilidade tambm foram
demonstradas em idoso em hemodilise (Souza et al., 2005).
O SF-36 j foi traduzido e validado em diversos pases, tais como, Alemanha
(Bullinger, 1995), Sucia (Sullivan et al., 1995), Frana (Leplge et al., 1998), China (Lam
et al., 1998) e Austrlia (Sanson-Fisher e Perkins, 1998), com elevados valores nos testes
de confiabilidade.
Em 1999, o SF-36 foi traduzido e validado no Brasil por Ciconelli et al. (1999),
com uma amostra de 50 pacientes portadores de artrite reumatide. No estudo, foi realizada
uma comparao do SF-36 com outros instrumentos: o Nottingham Health Profile (NHP), o
AIMS-2 e o Health Assessment Questionnaire (HAQ). Os autores observaram que para
dimenses semelhantes, a correlao entre o SF-36 e os demais questionrios foram
estatisticamente significantes. Segundo Ciconelli et al. (1999) a verso brasileira do SF-36
revelou-se adequada para as condies socioeconmicas e culturais da populao estudada
e pode ser usado para estudo de pessoas portadoras de artrite reumatide ou de outras
doenas.
_________________________________________________________________________ Introduo
50
-
Na populao idosa brasileira, este instrumento foi aplicado em diferentes
situaes clnicas como: hemodilise (Souza et al., 2005), dor lombar crnica (Falco e
Diogo, 2006), insuficincia cardaca (Saccoman et al., 2007), aps acidente vascular
enceflico (AVE) (Cruz e Diogo, 2008). Com relao aos estudos internacionais em
populaes submetidas ATQ sua utilizao tambm freqente (Lavernia et al., 2005;
berg et al., 2005; Linsell et al., 2006; Lettich et al., 2007; Conlon et al., 2008).
No levantamento bibliogrfico realizado no foram encontrados estudos
nacionais sobre QVRS em idosos com ATQ primria, utilizando-se instrumentos genrico e
outro especfico.
1.4.2- Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC)
Em 1982, Bellamy iniciou um estudo na Universidade McMaster em Hamilton
no Canad, com o objetivo de instituir um instrumento de qualidade de vida que melhorasse
a avaliao de procedimentos na osteoartrite, e, em 1988, esse mesmo autor apresentou o
WOMAC, Western Ontrio and McMaster Universities Osteoarthritis Index, um novo
instrumento concebido como um questionrio especfico de qualidade de vida para pessoas
com osteoartrite (Bellamy, 1988).
Constitudo, a princpio, pelas dimenses dor, rigidez, atividade fsica, estado
emocional e atividade social, sua verso final foi composta apenas pelas trs primeiras
dimenses. Isto porque as dimenses estado emocional e atividade social apresentaram
ausncia ou baixa correlao com os outros instrumentos testados e foram retirados da
verso final. As demais dimenses apresentaram medidas consistentes de reprodutibilidade
e validade.
Medidas psicomtricas de validade, reprodutibilidade e responsividade do
WOMAC tm sido confirmadas em estudos com pacientes portadores de OA aps
procedimentos cirrgicos, como, as artroplastias (Sderman e Malchau, 2001; Garbuz et al.,
2006; Soohoo et al., 2007), em estudos farmacolgicos, com avaliao da resposta
teraputica OA (Bellamy et al., 1992, Day et al., 2000, Ehrich et al., 2000), e em estudos
_________________________________________________________________________ Introduo
51
-
que avaliaram resposta a procedimentos e intervenes de diferentes modalidades de
reabilitao para essa afeco (Young et al., 1991).
Este questionrio j foi traduzido e validado em vrios idiomas: alemo (Stucki
et al., 1996), espanhol (Escobar et al., 2002), sueco (Roos et al., 1999), hebraico (Wigler et
al., 1999) e no portugus do Brasil (Fernandes, 2002).
O WOMAC foi traduzido e validado para a cultura brasileira por Fernandes
(2002), com uma amostra de 80 pacientes portadores de OA de quadril e joelho e com
idade mdia de 65,4 anos. A validade do WOMAC foi testada por meio da correlao de
cada um de seus domnios com outros instrumentos utilizados na avaliao de pacientes
com OA. Assim, a dimenso dor foi correlacionada com a escala visual analgica de dor e
com a dimenso dor do ndice algo funcional para OA de Lequesne (Lequesne, 1980); a
dimenso rigidez articular foi correlacionada com a dimenso rigidez articular do ndice de
Lequesne; e a dimenso atividade fsica foi correlacionada com o HAQ e com a dimenso
atividade fsica de Lequesne. Todas as correlaes foram estatisticamente significativas de
acordo com coeficientes de correlao do Spearman. A correlao a mais forte foi
encontrada entre o domnio da atividade fsica do WOMAC e o HAQ - 0.935 (p < 0.01), e a
correlao a mais fraca entre o domnio fsico da funo do WOMAC e a escala visual de
dor - 0.425 (p < 0.05).
A avaliao da confiabilidade foi analisada pelo coeficiente de correlao intra-
classe com resultados estatisticamente significativos (p < 0.01). O coeficiente de
confiabilidade intra-observador variou de 0.9066 a 0.9745. O coeficiente de confiabilidade
inter-observador variou de 0.7328 a 0.9786.
Segundo Fernandes (2002) a verso do WOMAC para a lngua portuguesa um
instrumento reprodutvel e vlido e pode ser utilizado na avaliao da qualidade de vida de
pacientes com OA.
Com o uso difundido do WOMAC, como instrumento especfico de QVRS para
OA de quadril e joelho, sua utilizao tambm se disseminou entre os pacientes que foram
submetidos a ATQ (Nilsdotter et al., 2001; Quintana et al., 2005; Soohoo et al., 2007).
_________________________________________________________________________ Introduo
52
-
Assim tornou-se necessrio verificar o comportamento da sua verso brasileira nesta
populao.
1.5- Avaliao funcional do quadril
De acordo com seus principais benefcios, a ATQ, que tem como uma de suas
indicaes a perda da funo, possibilitar ao paciente o retorno s suas AVDs e at s suas
atividades laborais. Em conseqncia disso, torna-se extremamente importante a realizao
de avaliaes funcionais que enfocam questes sobre AVDs relacionadas ao quadril, como
tambm, a anlise dos movimentos realizados por essa articulao.
O aspecto funcional ganha crescente interesse nas investigaes sobre esta
interveno cirrgica, uma vez que, esse fator demonstra forte associao com a qualidade
de vida dos pacientes que realizaram ATQ. (Wazir et al., 2006; Lettich et al., 2007; Biant et
al., 2008). Segundo berg et al. (2005), os benefcios na qualidade de vida aps a ATQ
esto relacionados mais freqentemente ao aumento da mobilidade, melhora da funo no
trabalho e nas atividades domsticas, ao aumento das atividades de lazer e ao alvio da dor.
A maior expectativa gerada pela ATQ est relacionada aos resultados funcionais
que ela proporciona. O paciente portador de OA de quadril pode apresentar dor e algumas
deformidades nesta articulao que o impossibilitar de realizar sem dificuldades desde
atividades de autocuidado at uma marcha normal. Assim, esta cirurgia pode trazer
benefcios em nvel funcional, psicolgico, emocional e social (Kawasaki et al., 2003;
McGregor et al., 2004).
A nfase no aspecto funcional na ATQ tem sido investigada no perodo pr-
operatrio tambm. De acordo com Rder et al. (2007), o estado funcional pr-operatrio
influencia os resultados no ps-operatrio desta cirurgia. Os pesquisadores avaliaram a dor,
a marcha e os movimentos do quadril em 12.925 adultos e idosos no pr e no ps-
operatrio de ATQ. Os resultados apresentados sugerem que uma marcha ruim e prejuzo
no movimento de flexo do quadril so preditores de uma menor recuperao da funo no
ps-operatrio. Dessa forma, outros estudos tambm ressaltam a grande necessidade de se
_________________________________________________________________________ Introduo
53
-
implantar programas de reabilitao para essa populao, com uma viso multifatorial,
intervindo desde a preparao funcional do paciente para o processo cirrgico at o seu
retorno s suas atividades cotidianas (McGregor et al., 2004; Barrois et al., 2007; Rder et
al., 2007; Akker-Scheek et al., 2008).
Em decorrncia da importncia do aspecto funcional aps a ATQ, vrias escalas
foram propostas para investigar a dor, a mobilidade do quadril, a realizao de tarefas
cotidianas, alm de abrangerem a marcha.
Em 1954, dois pesquisadores, DAubign e Postel, desenvolveram uma das
primeiras escalas para avaliao funcional do quadril baseadas na dor, mobilidade e
capacidade de andar. Anos depois, a escala de Iowa (Larson, 1963) incorporou outros
aspectos na avaliao do quadril. Alm dos quesitos dor, funo em AVDs e a marcha,
acrescentou a avaliao de deformidades, medidas de amplitude de movimento (ADM) do
quadril e a graduao da fora dos grupos musculares que envolvem esta articulao.
Na seqncia, a escala de funo de quadril de Harris (1969) foi publicada e
tornou-se til para graduar o estado funcional do quadril antes e aps procedimentos
cirrgicos realizados no tratamento de afeces da articulao do quadril. Esta escala
usada mais freqentemente, pois, seu enfoque na dor e na funo, que so os principais
aspectos solucionados em indicaes cirrgicas. Na mesma vertente, Johanson et al. (1972)
desenvolveram uma escala numrica que relacionada capacidade do paciente em
executar tarefas aps uma cirurgia de substituio total de quadril. Sua relevncia
atribuda ao resultado segundo a perspectiva do paciente. Conforme Burton et al. (1979)
salientaram, a informao das expectativas torna-se mais importante que a informao do
sucesso.
Mais adiante o escore de funo de Mayo de quadril (Kavanagh e Fitzgerald,
1985) foi desenvolvido tambm com o propsito de ser empregado na avaliao de
artroplastias de quadril. Este instrumento fornece informaes funcionais do paciente, alm
de acrescentar a informao de dados radiogrficos a fim de predizer resultados sobre o
estado funcional do quadril a longo prazo.
_________________________________________________________________________ Introduo
54
-
O questionrio Harris Hip Score (HHS), foi desenvolvido por Harris (1969),
para avaliar vrios parmetros como dor, funo (marcha e atividades), ADM do quadril e
deformidades em pacientes com artroplastia de quadril. Embora o HHS seja freqentemente
utilizado para avaliar resultados de ATQ, sua traduo e validao para a cultura brasileira
no foram realizadas at o momento. Sua escolha justificada pelo fato de ser um
instrumento amplamente utilizado na prtica clnica entre os cirurgies e profissionais de
sade envolvidos no tratamento desses pacientes para avaliar os resultados funcionais pr e
ps-operatrios (Patrizzi et al, 2004; Biant et al., 2008; Lettich et al., 2007; Yamamoto et
al., 2007; Zhang et al., 2008).
Alm disso, ressalta-se o estudo de Sderman e Malchau (2001), que avaliaram
sua validade e confiabilidade em pacientes submetidos a essa interveno cirrgica. Estes
pesquisadores estudaram pacientes com substituio total de quadril, os quais responderam
ao HHS e dois questionrios de qualidade de vida: o especfico para osteoartrite de quadril
e joelho (Western Ontario and McMaster Universities (WOMAC) (Bellamy et al., 1988) e o
genrico The Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36) (Ware e
Sherbourne, 1992). Foram testadas a validade e a confiabilidade (consistncia interna e
interobservadores) e os resultados constataram validade e confiabilidade satisfatrias para o
HHS comparado ao WOMAC e ao SF-36.
Sua utilizao na literatura cientfica internacional freqente na avaliao dos
resultados de ATQ (Keisu et al., 2001; Alfonso et al., 2007; Zhang et al., 2008). Nota-se
tambm a associao deste instrumento com outros de avaliao de QVRS em alguns
estudos que constataram uma grande influncia do aspecto funcional do quadril sobre a
qualidade de vida desses pacientes (Kawasaki et al., 2003; Wazir et al., 2006; Lettich et al.,
2007; Biant et al., 2007).
_________________________________________________________________________ Introduo
55
Em virtude das indicaes clnicas da ATQ e seus benefcios, torna-se relevante
a investigao da funo do quadril como uma varivel independente na avaliao da
QVRS. O enfoque funcional aliado a QVRS desses pacientes foi relatado em alguns
estudos (Kawasaki et al., 2003; Wazir et al., 2006; Lettich et al., 2008), alm de se tratar de
um grupo constitudo somente por idosos, etapa da vida que j traz consigo alteraes
fisiolgicas que propiciam algum dficit funcional.
-
_________________________________________________________________________ Introduo
56
Acompanhada desta varivel, outras questes importantes devem ter destaque,
como a dor. Pesquisas relatam que sujeitos que referem dor no quadril operado apresentam
resultados funcionais e de QV inferiores queles que no mantm um quadro lgico aps a
cirurgia (Lavernia et al.,2005; Linsell et al., 2006).
Dados clnicos, como o IMC, devem ser investigados, pois a literatura mostra
que apenas a obesidade mrbida influencia a QVRS destes pacientes. O fato do paciente ser
obeso, implica no aumento dos riscos cirrgicos, mas alguns estudos no constataram
interferncia desse aspecto nas atividades cotidianas e na QVRS (Horan, 2006; Andrew et
al., 2008).
Em seqncia, dados sociodemogrficos, como idade e gnero, ocupam um
papel importante em investigaes que englobam idosos. Em se tratando de velhice, as
idosas vivem mais, porm apresentam maiores comprometimentos fsicos e maior
incidncia de doenas osteomioarticulares (Machado, 2006).
Por fim, a satisfao com a cirurgia, foi um dado incorporado nesta pesquisa, pis
estudos mostram que melhores nveis de satisfao esto relacionados a melhores
resultados funcionais e de QV (Kawasaki et al., 2003; McGregor et al., 2004).
-
2- OBJETIVOS
57
-
_________________________________________________________________________ Objetivos
59
2.1 Objetivo Geral
Avaliar a QVRS de idosos com ATQ por meio dos instrumentos genrico (SF-36) e
especfico (WOMAC).
2.2 Objetivos Especficos
- Analisar os efeitos teto e cho dos instrumentos SF-36 e WOMAC;
- Avaliar a consistncia interna dos instrumentos SF-36 e WOMAC, por meio do
coeficiente alfa de Cronbach;
- Avaliar a influncia das variveis: gnero, idade, IMC, dor, acessrios para
locomoo, funo do quadril, tempo ps-operatrio e satisfao com a cirurgia,
sobre as medidas de avaliao SF-36 e WOMAC;
- Comparar as mdias dos escores do SF-36 e do WOMAC com as variveis:
gnero, idade, IMC, dor, acessrios para locomoo, funo do quadril, tempo ps-
operatrio e satisfao com a cirurgia.
-
3- CASUSTICA E MTODOS
61
-
3.1- Descrio do estudo
Trata-se de um estudo descritivo, transversal, exploratrio.
3.2- Local da pesquisa
A pesquisa foi conduzida nos Ambulatrios de Ortopedia do Hospital das
Clnicas da Universidade Estadual de Campinas (HC - Unicamp) e do Hospital Municipal
Dr. Mrio Gatti (HMMG) de Campinas.
O Ambulatrio de Ortopedia do HC da Unicamp funciona, diariamente, em dois
perodos (manh e tarde) e possui diversas especialidades. s sextas-feiras, no perodo da
manh, este ambulatrio destina-se ao atendimento de pacientes com afeces de quadril,
numa mdia de 30 atendimentos por perodo. O Ambulatrio de Ortopedia do HMMG, por
sua vez, atende pacientes com caractersticas semelhantes s quartas-feiras, no perodo da
manh, com uma mdia de 25 atendimentos. A coleta de dados foi realizada em sala
indicada pelo servio para esse fim.
3.3- Sujeitos
Foram selecionados para o estudo 132 pacientes de ambos os sexos, com idade
igual ou superior a 60 anos, em acompanhamento nos ambulatrios de campos de pesquisa,
que foram submetidos cirurgia de ATQ primria unilateral, h no mnimo seis meses.
Deste total, 88 sujeitos foram avaliados.
Optou-se pela incluso de indivduos com idade igual ou superior a 60 anos,
uma vez que este o critrio adotado pela Poltica Nacional de Sade do Idoso, de acordo
com a Lei n 8.842/94.
______________________Casustica e Mtodos
63
___________________________________________________
-
O perodo mnimo seis meses de ps-operatrio foi escolhido, considerando as
evidncias das pesquisas como o tempo necessrio para o indivduo submetido ATQ
recuperar completamente a marcha e as atividades cotidianas (Ajemian, 2004).
Critrios de incluso
Foram includos neste estudo os sujeitos submetidos ATQ primria e
unilateral, h no mnimo seis meses, que apresentaram capacidade de compreenso e
comunicao verbal e que concordaram em participar, voluntariamente, por meio da
assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a
Resoluo 196/96 (Apndice 1).
Critrios de excluso
Foram excludos os pacientes que:
apresentaram limitaes que impossibilitaram a comunicao e expresso;
apresentaram dficits visuais que comprometam as AVDs, hemiparesia ou hemiplegia,
por tratar-se de acometimentos adicionais ATQ que poderiam interferir nas questes
funcionais e de QV;
realizaram cirurgia de artroplastia em outra articulao;
no concordaram em participar da pesquisa.
3.4- Procedimento de coleta de dados
A coleta de dados foi realizada pela pesquisadora, no perodo compreendido
entre junho de 2007 a maro de 2008, nos dias correspondentes aos atendimentos dos
ambulatrios, antes ou aps a consulta mdica, procurando atender preferncia dos
pacientes e do seu acompanhante/cuidador. Os sujeitos selecionados foram convidados a
participar da pesquisa e encaminhados para uma sala especfica destinada apenas a esse
fim. ______________________
Casustica e Mtodos 64
___________________________________________________
-
Foram empregadas as seguintes tcnicas de coleta de dados:
Registro de dados disponveis no pronturio para obteno de informaes que
permitiram a caracterizao clnica dos sujeitos envolvidos no estudo;
Auto-relato: por meio da tcnica de entrevista, realizada de forma individual para
obteno de dados relacionados caracterizao sociodemogrfica e clnica dos
participantes, instrumentos de QVRS e de funo do quadril.
Aps os esclarecimentos sobre os objetivos da pesquisa, o consentimento dos
sujeitos em participar e a assinatura do TCLE, foi iniciada a entrevista. Durante a
entrevista, a ordem de aplicao dos instrumentos foi definida por sorteio para evitar efeito
de ordem e repetividade.
3.4.1- Instrumentos de coleta de dados
Foram utilizados os seguintes instrumentos de coleta de dados:
A) Instrumento de caracterizao sociodemogrfica e clnica (ICSC)
Instrumento construdo com base em informaes disponveis na literatura e
constitudo por perguntas mistas, divididas em trs partes, o qual foi submetido validade
de contedo, por meio de avaliao, por um comit de juzes. Compem o instrumento
(Apndice 2):
Dados sociodemogrfricos: contm informaes sobre a identificao, estado civil,
idade, gnero, raa, escolaridade, composio familiar, ocupao anterior, renda pessoal e
familiar;
Dados clnicos: informaes sobre doenas auto-relatadas, ndice de massa corprea
(IMC), dores articulares, medicamentos, atividade fsica, etilismo, tabagismo, auxlios para
marcha. Os indivduos foram classificados de acordo com os pontos de corte recomendados ______________________
Casustica e Mtodos 65
___________________________________________________
-
pela Organizao Pan-Americana de Sade (OPAS) no projeto Sade, Bem-estar e
Envelhecimento (SABE) que pesquisou pases da Amrica Latina, incluindo o Brasil: baixo
peso (IMC 23kg/m2), peso normal (23 < IMC < 28kg/m2), pr-obesidade (28 IMC <
30kg/m2) e obesidade (IMC 30kg/m2) (World Health Organization, 2001);
Dados sobre a ATQ: motivo e data da cirurgia, tempo de acompanhamento clnico,
tipo de fixao da prtese, lado acometido, perodo de internao, complicaes ps-
operatrias, fisioterapia pr e ps-operatrio, necessidade de cuidador aps cirurgia,
adaptaes no domiclio e satisfao do paciente em relao aos resultados da cirurgia.
Para verificar a validade de contedo, o ICSC foi submetido avaliao por
cinco juzes (Apndice 3), com reconhecido saber em Gerontologia e na abordagem ao
idoso com ATQ, sendo um geriatra, um ortopedista, uma enfermeira e dois fisioterapeutas.
Este comit avaliou o instrumento quanto pertinncia, clareza e abrangncia de seus itens.
Aps sugestes dos juzes, o instrumento foi modificado e avaliado em estudo piloto.
B) Avaliao funcional do quadril
Harris Hip Score (HHS)
O questionrio Harris Hip Score (HHS) uma escala usada com o propsito de
fornecer um sistema de avaliao para vrias incapacidades do quadril e mtodos de
tratamento. Desenvolvido em 1969, por William H. Harris, um instrumento
freqentemente utilizado na prtica clnica com a finalidade de mensurar os resultados aps
as substituies articulares do quadril.
Foi validado internacionalmente por Sderman e Malchau (2001) para pacientes
submetidos ATQ, apresentando alta validade e reprodutibilidade. Estes autores defendem
que este instrumento o sistema de avaliao funcional do quadril mais largamente usado
na avaliao de artroplastias de quadril. A incluso deste instrumento no presente estudo,
deu-se em razo de sua freqente utilizao pela comunidade ortopdica local nas
avaliaes funcionais do quadril.
______________________Casustica e Mtodos
66
___________________________________________________
-
O HHS consiste em uma escala de pontuao de 0 a 100 (Anexo 1), que avalia
vrios parmetros como dor, funo, amplitude de movimento articular e deformidades do
quadril. Esses parmetros e suas respectivas pontuaes esto descritos a seguir:
- Dor: atribui-se at 44 pontos, e graduada conforme sua intensidade em nenhuma
, discreta, fraca, moderada, acentuada ou incapacitante.
- Funo: sua pontuao maior 47 pontos e avalia as AVDs e a marcha.
AVDs: possibilidade de 14 pontos e inclui a atividade de subir escadas (p
aps p sem corrimo, p aps p com corrimo, sobe de alguma forma,
incapaz de subir); uso de transporte pblico; permanncia na posio
sentada (uma hora em qualquer cadeira, meia hora em cadeira alta,
impossvel) e possibilidade de calar sapatos e meias (com facilidade, com
dificuldade, incapaz).
Marcha: pontua at 33 pontos. A avaliao da marcha dividida em trs
itens: claudicao, graduada em ausente, discreta, moderada e grave;
necessidade de suporte para a marcha que inclui as opes: nenhum auxlio,
uma bengala caminhada longa, uma bengala por maior tempo, uma muleta,
duas bengalas, duas muletas ou incapaz; e a distncia capaz de percorrer ao
caminhar (ilimitada, seis quarteires, dois ou trs quarteires, somente
dentro de casa, restrito a cama e cadeira.
- Deformidades: so atribudos quatro pontos para aqueles que apresentam ausncia
de deformidades no quadril, ou seja, no possuem uma amplitude articular completa devido
a uma anquilose j instalada nessa articulao. Os critrios adotados para definir a
instalao dessa deformidade, de acordo com a avaliao da goniometria articular so:
flexo fixa do quadril maior que 30 graus, aduo fixa do quadril maior que dez graus,
rotao interna fixa em extenso maior que dez graus e discrepncia dos membros maior
que 3,2 cm. Na presena de um desses itens nenhum ponto acrescentado.
- Amplitude de movimento (ADM): o escore mximo de cinco pontos e engloba a
avaliao da amplitude articular (em graus) dos movimentos especficos do quadril, atravs ______________________
Casustica e Mtodos 67
___________________________________________________
-
da goniometria. Os movimentos abordados so a flexo, abduo, aduo e a rotao lateral
do quadril e, de acordo com o grau de ADM alcanado, foram realizados clculos de
multiplicao com valores respectivos para cada movimento. Aps os clculos de cada
ADM avaliada, multiplica-se o valor por 0,05 para obter a pontuao final. Nesta etapa
tambm h a realizao do Teste de Trendelemburg, o qual avalia a fora muscular do
msculo glteo mdio que possui a funo de sustentar a pelve, mas no pontuado.
considerado um resultado funcional ruim se o escore total do HHS for menor
que 70 pontos, regular se escore entre 70 e 79, bom se pontuao entre 80 e 89 e excelente
para o intervalo de 90 a 100.
C) Avaliao da QVRS
The Medical Outcomes Study 36-item Short-Form Health Survey (SF-36)
O SF- 36 um questionrio genrico de avaliao da QVRS, desenvolvido por
Ware e Sherboune (1992) e validado no Brasil por Ciconelli (1999). composto por 36
itens reunidos em oito dimenses (Anexo2), descritas a seguir:
- Capacidade funcional: dez itens que avaliam tanto a presena quanto a amplitude
das limitaes relacionadas capacidade fsica, com trs nveis de resposta (muita
limitao, pouca limitao, sem limitao);
- Estado geral de sade: cinco itens escalares que variam de excelente a muito ruim, e
quatro itens do tipo falso e verdadeiro para a avaliao da sade;
- Sade mental: cinco itens que incluem as principais dimenses de avaliao de
sade mental e bem-estar psicolgico, tais como a felicidade, a tranqilidade e as alteraes
do comportamento ou descontrole emocional, tais como depresso, nervosismo e desnimo;
- Aspectos fsicos: quatro itens sobre limitaes no tipo ou quantidade de tempo de
dedicao ao trabalho ou a outras atividades, ou seja, quanto estas limitaes fsicas
dificultam outras atividades dirias do indivduo e o seu trabalho;
______________________Casustica e Mtodos
68
___________________________________________________
-
- Vitalidade: quatro itens sobre nvel de energia, vigor, vontade e fadiga;
- Aspectos emocionais: trs itens que focalizam limitaes no tipo ou quantidade de
tempo de dedicao ao trabalho ou em outras atividades devido a problemas emocionais,
como a depresso e a ansiedade;
- Aspectos sociais: dois itens que analisam a integrao do indivduo em atividades
sociais (famlia, amigos, vizinhos ou grupos);
- Dor: dois itens que avaliam a intensidade e a interferncia da dor nas atividades de
vida diria do indivduo.
Alm das oito dimenses citadas, o SF-36 inclui uma questo de avaliao
comparativa entre as condies de sade atual e aquelas de um ano atrs. Esta questo no
participa da anlise geral do questionrio (questo 2).
A avaliao dos resultados feita mediante a atribuio de escores para cada
questo (Anexo 3), os quais so transformados numa escala de 0 (zero) a 100 (Raw Scale)
(Anexo 4), onde zero corresponde a uma pior QVRS, e 100, a uma melhor QVRS. Cada
dimenso analisada separadamente.
Western Ontario and McMaster Universities Osteoarthritis Index (WOMAC)
O WOMAC um questionrio especfico de avaliao da QVRS para pacientes
com OA de quadril e de joelho, desenvolvido por Bellamy (1988) e validado no Brasil por
Fernandes (2002). composto por 24 itens (Anexo 5), divididos em trs dimenses
descritas abaixo:
- Dor: cinco itens que avaliam a intensidade da dor no quadril sentida nas ltimas
72 horas, em diferentes situaes como: caminhando em lugar plano; subindo ou descendo
escadas; noite, deitado na cama; sentando-se ou deitando-se e ao ficar em p;
______________________Casustica e Mtodos
69
___________________________________________________
-
- Rigidez articular: dois itens que se referem intensidade de rigidez no quadril
sentida nas ltimas 72 horas, logo aps acordar de manh ou no decorrer do dia;
- Atividade fsica: dezessete itens que abordam o grau de dificuldade, presente nas
ltimas 72 horas, para realizar alguns movimentos, como, subir e descer escadas, levantar-
se ou abaixar-se, andar no plano, entrar e sair do carro; e para realizar AVDs, como, calar
meias, entrar e sair do banho, fazer compras, utilizar o vaso sanitrio e fazer tarefas
domsticas pesadas e leves.
Cada questo consiste em cinco alternativas de resposta, em uma escala do tipo
Likert (nenhuma, leve, moderada, forte e muito forte), com as gradaes 0, 1, 2, 3 e 4,
respectivamente. Assim, zero representa a ausncia do sintoma e 4 o pior resultado quanto
quele sintoma. Os escores foram transformados em uma escala de zero a 100, com zero
representando o melhor estado de sade e 100 o pior estado possvel, assim, tm-se trs
escores finais, um para cada domnio.
3.5- Estudo piloto
Foi realizado um estudo piloto com 18 idosos submetidos ATQ em
seguimento ambulatorial no HC da Unicamp, que atenderam aos critrios de incluso e
nenhum de excluso estabelecidos para esta investigao. O estudo evidenciou adequao
dos instrumentos e dos procedimentos empregados na coleta de dados para a populao
eleita, permitindo a continuidade do estudo principal.
3.6- Anlise dos dados
Os dados coletados foram inseridos no programa SAS System for Windows
(Statistical Analyses System), verso 8.02. Com o apoio de um profissional da rea foram
realizadas as seguintes anlises estatsticas:
______________________Casustica e Mtodos
70
___________________________________________________
-
Anlise descritiva: confeco de tabelas de freqncia, medidas de posio (mdia,
mediana, mnima e mxima) e de disperso (desvio-padro) para as variveis
sociodemogrficas e clnicas, para o HHS e para as dimenses do SF-36 e do WOMAC;
Teste de normalidade (Shapiro-Wilk): para verificar se os dados apresentavam
distribuio normal;
Efeitos teto e cho: usada a proporo de 10% da melhor pontuao possvel para as
dimenses dos instrumentos (teto) e a proporo de 10% da pior pontuao possvel
para as dimenses dos instrumentos (cho) (Bennett et al., 2002).
Coeficiente Alfa de Cronbach: para verificar a consistncia interna dos instrumentos
utilizados, SF-36 e WOMAC. Foi considerado como critrio satisfatrio > 0,70
(Streiner e Norman, 1995);
Anlise de varincia: para analisar a influncia conjunta das variveis de interesse
(gnero, idade, IMC, dor, uso de acessrios para locomoo, tempo de ps-operatrio,
satisfao com a cirurgia e funo do quadril) nas medidas de QVRS do SF-36 e do
WOMAC) foi utilizada a anlise de varincia multivariada (MANOVA). Tambm foi
realizada a anlise de varincia univariada (ANOVA) para avaliar a influncia de cada
varivel de interesse nos escores de cada dimenso do SF-36 e do WOMAC.
Comparao: para a comparao entre as classificaes funcionais do quadril e os
efeitos teto e cho do SF-36 e do WOMAC foi utilizado o Teste Qui-Quadrado ou,
quando necessrio, o Teste Exato de Fisher (presena de valores esperados menores que
cinco). Foram utilizados os testes de Mann-Whitney (2 grupos) e Kruskal-Wallis ( 3
grupos), seguido do Teste post-hoc de Dunn, para comparar as mdias dos escores de
cada dimenso do SF-36 e do WOMAC entre as variveis de interesse (gnero, idade,
IMC, dor, uso de acessrios para locomoo, tempo de ps-operatrio, satisfao com a
cirurgia e funo do quadril), devido ausncia de distribuio normal.
O nvel de significncia adotado para os testes estatsticos foi de 5% (p < 0,05).
______________________Casustica e Mtodos
71
___________________________________________________
-
_________________________________________________________________________ Casustica e Mtodos
72
3.7- Aspectos ticos
O estudo foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa da Faculdade de
Cincias Mdicas (CEP-FCM) da UNICAMP (Parecer N 778/2006) (Anexo 6) e pelo
Comit de tica em Pesquisa do HMMG (CEP-HMMG) (Parecer N 002/08) (Anexo 7).
Todos os participantes que concordaram em participar do estudo assinaram o TCLE
conforme Resoluo 196/96 do Conselho Nacional de Sade.
-
4- RESULTADOS
73
-
Os resultados deste estudo esto apresentados sob a forma de artigos que sero
submetidos publicao em peridicos de veiculao internacional
Artigo 1. Qualidade de vida de idosos com artroplastia total de quadril:
confiabilidade de dois instrumentos
Artigo 2. A influncia de variveis sociodemogrficas, clnicas e funcionais sobre a
qualidade de vida de idosos com artroplastia total de quadril
_________________________________________________________________________ Resultados
75
-
4.1- Artigo 1 Ser submetido revista Osteoarthritis and Cartilage
QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS COM ARTROPLASTIA TOTAL DE
QUADRIL: confiabilidade de dois instrumentos*
Autores:
RAMPAZO, Mariana K. 1
DELBOUX, Maria Jos 2
* Este estudo apresenta resultados parciais da Dissertao de Mestrado: Qualidade de vida
relacionada sade de idosos com artroplastia total de quadril: utilizao de instrumentos
genrico e especfico
1 Fisioterapeuta. Aluna do Programa de Ps-Graduao em Gerontologia Nvel Mestrado
da Faculdade de Cincias Mdicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas
UNICAMP;
2 Enfermeira. Livre-docente. Professora Associada do Departamento de Enfermagem
FCM UNICAMP
Endereo para correspondncia:
Mariana Ktia Rampazo
Rua: General Osrio, 516 / Centro / Taquaritinga SP / CEP: 159