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Velhos mestres Nos finais do sculo XIX, os efeitos da mudana cultural e poltica nas
cidades, nas pessoas e nos saberes.
Carl Schorske, professor do Departamento de Histria da Universidade de
Princeton, nos Estados Unidos, nasceu em Nova York e freqentou as
universidades de Columbia e Harvard. Lecionou nas universidades de Wesleyan
e Berkeley na Califrnia. Foi membro da Academia de Artes e Cincia
Americana.
Introduo p. 13
No Viena fin-de-sicle, Schorske comea por situar o leitor no tempo de seu
trabalho, o final do sculo XIX, em que, segundo o historiador, o moderno
chegou para
diferenciar nossas vidas e nossos tempos de tudo o que precedeu, de
toda a histria enquanto tal. A arquitetura moderna, a msica moderna,
a filosofia moderna, a cincia moderna todas se definem no a partir
do passado, e na verdade nem contra o passado, mas em independncia do
passado. A mentalidade moderna tornou-se cada vez mais indiferente
histria porque esta, concebida como uma tradio nutriz contnua,
revelou-se intil para ela. [p.13]
O historiador diz que se trata de uma evoluo. Aqui eu pontuo, era mudana
mesmo, evoluo ainda guarda a noo do passado, e Schorske parte da para
caminhar tateando, desmatando trilha, na filosofia, na msica, nas artes
plsticas e na poltica e nesse seu caminhar pelos ramos repartidos do
conhecimento, o historiador acaba por identificar uma ordem unificadora
dessa fragmentao, a partir da interao entre a poltica e a cultura.
So vrios ensaios independentes, entretanto, sua unidade mantida a
partir dessa interao entre poltica e cultura; cada parte aborda um
aspecto da cultura da cidade: a poltica, o sionismo, a literatura, as
artes plsticas, a msica.
Schorske passa a apresentar essa modernidade e suas caractersticas: o
questionamento da hegemonia da razo, a abertura para o interior, o
reconhecimento da unidade como compsita de elementos heterogneos em
conflito, e uma profunda busca de origens impulsionada por esse desamparo
na mudana. Schorske faz uma abrangente reflexo sobre a condio humana a
partir desses eventos polticos, culturais, filosficos e intelectuais; faz
tambm uma coleo dos registros arquitetnicos, mapas, projetos,
fotografias para compor o seu retrato. Nesse ambiente de desfazimento, toma
fora a idia do homem psicolgico (onipresente no livro); Schorske defende
que ele surge durante a crise poltica e cultural de Viena, na verdade que
ele impulsionado a agir exatamente por causa dessa crise.
Aquela definio do moderno, de superao-descarte do passado, o
historiador a aproxima ao entendimento de morte que tem a psicanlise.
ao nvel mais bvio p. 13
E era uma revolta no tanto contra os pais, mas contra a autoridade da
cultura paterna que lhes fora legada; uma crtica ubqua e simultnea, em
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todos os lugares de cultura e sociedade e ao mesmo tempo. O paradoxo que
esse esforo libertador dos grilhes do passado impulsionou a libertao da
imaginao, permitiu a proliferao de novas formas e novas
construes. Inversamente, a conscincia da rpida transformao na
histria presente enfraquece a autoridade da histria como passado
relevante. p. 14
Ainda na introduo, Schorske explica a difcil situao de seu prprio
trabalho [como historiador da cultura], que antes
dispunha de categorias descritivas abrangentes, usadas pelos
intelectuais do sculo XIX para mapear o desenvolvimento da sua poca:
racionalismo e romantismo, individualismo e socialismo, realismo e
naturalismo, e assim por diante. Por amplas e reducionistas que
pudessem ser, essas categorias serviram para montar um estrutura na
qual se poderia analisar e relacionar a um contexto histrico mais
amplo os esforos concretos, em suas particularidades dos produtores
da alta cultura europia para decifrar o sentido da vida p. 15
Esses cortes ou o desfazimento,
nos vrios campos acadmicos profissionais, a linha diacrnica, o fio
de conscincia que ligara as buscas atuais s preocupaes passadas de
cada campo, ou fora cortada ou estava se desfazendo. p. 16
Deixaram a idia de uma histria desacreditada ou, nos termos de definio
do moderno: intil. E isso escrito como um aprendizado ao prprio
Schorske, historiador no que eu vejo como um alerta lucidez.
eles desfizeram p. 16
Quando Schorske entende o que
necessrio, conhecer os mtodos crticos da cincia moderna para
interpret-la historicamente, da mesma forma preciso conhecer os
tipos de anlise empregados pelos estudiosos modernos de humanidades
para abordar a produo cultural no cientfica do sculo XX p. 17
Ele avisa o porqu de ter adotado o discurso e os mtodos analticos da
psicanlise, do enfrentamento do passado, da revolta edpica. Schorske
encontra elementos de apoio para suas reflexes a respeito do indivduo na
modernidade e a respeito de como os indivduos se reconheceram depois. Ele
admite aprender com as disciplinas especializadas e faz o paralelo com o
trabalho do tecelo. A sincronia e a diacronia, sendo que
o fio diacrnico a urdidura p. 17
Em meio a uma fragmentao generalizada [resultada da dana dos
princpios, numa expresso tomada a Schoenberg] parecia imperativo ao
historiador buscar apoio em outras disciplinas. Os novos crticos, na
literatura, voltaram-se para uma anlise atemporal, interna e formal das
obras. Depois do New Deal, na poltica, os rumos iam em direo a um
reinado ahistrico e politicamente neutralizador dos comportamentalistas.
Em economia, os tericos matemticos ampliaram o domnio sobre os
institucionalistas mais antigos e os keynesianos de orientao poltica. Na
msica, uma nova cerebralidade (inspirada em Shoenberg e Schenker)
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destruam as preocupaes histricas da musicologia. A filosofia, marcada
por seu carter e continuidade histricos, viu crescer a escola analtica
contestando a validade das questes tradicionais que interessavam aos
filsofos desde a antiguidade; visava uma operao mais pura, restrita nas
reas da linguagem e da lgica (Wittgenstein e Heidegger?). A nova
filosofia rompeu os laos com a histria em geral e o passado especfico de
sua prpria disciplina.
Schorske consegue escrever com essa complexidade, consegue perceber a
sutileza na mudana de seu enfoque historiador e ainda consegue tratar com
beleza e metfora o seu prprio trabalho entre os diversos movimentos e
elementos da sociedade vienense e sua mudana cultural, e ainda o faz em
outro tempo, muito mais adiante.
A partir da, Schorske fala da estratgia que adotou, a experincia social
como base de coeso e terreno prprio para a fertilizao dos elementos
culturais. quando o autor se volta para caractersticas humanas,
biografias. Ainda na introduo ele fala em falncia do otimismo, ondas de
pessimismo, dvida, sensao de impotncia, rigidez defensiva, capitulao,
refere-se aos intelectuais e ao enfraquecimento das premissas iluministas
sob os efeitos das mudanas polticas, que levou a intelligentsia a uma
crise que impunha uma mudana na perspectiva filosfica geral, que abrigava
as posies liberais ou radicais. Religio e sapientia aristocrtica se
tornaram atraentes a liberais antes indiferentes, e a intelectuais antes
mais interessados no racionalismo tico.
Seus contemporneos comearam a perceber que a busca e a compreenso dos
males que afligem a humanidade tenderam a se deslocar do domnio pblico e
sociolgico para o privado e o psicolgico. [p. 19]
Foi o interesse dos Estados Unidos nessa ustria pr-1918 que provocou a
investigao de onde se forjaram as idias, os problemas e as experincias,
no contexto social e poltico. Schorske queria entender o pensamento que
instigava seus contemporneos. E nesse lugar volta a situar a tarefa do
historiador, de que a anlise histrica,
pode, ao menos, revelar as caractersticas que a histria legou
concepo e ao nascimento dessa cultura. Ao elucidar a gnese,
significado e limitaes das idias em sua poca, poderemos entender
melhor as implicaes e significao das nossas atuais afinidades com
elas p. 20
O historiador delimita uma cidade como campo de trabalho
Viena como unidade de estudo condizia com o novo interesse nos
Estados Unidos, despertado por Freud e seus contemporneos. Finalmente
para manter intato o potencial sintetizador da histria, enquanto a
prpria cultura e respectivas anlises vinham se desistoricizando e
pluralizando, fazia-se necessrio delimitar uma entidade social
razoavelmente pequena, mas rica em termos de criatividade cultural p.
21
Na ustria, a classe mdia liberal teve ascendncia e crise em um perodo
muito curto, num clculo otimista, quatro dcadas (1860-1900). Mal
comemorou-se a vitria vieram os recuos e a derrota.
Numa expresso tomada a Hebbel, a ustria atrasada, em sbito trabalho de
parto, tornou-se como disse o seu poeta o pequeno mundo onde o grande
realiza seus testes. Em Viena, era slida a coeso entre toda a elite da
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alta cultura, nos sales e nos cafs. A correlao entre a alta cultura e a
transformao social e poltica ocorrida e foi o fio condutor do trabalho
de Schorske.
para essa investigao multidisciplinar em bases polticas, Viena
fin-de-sicle oferecia vantagens incomuns. Quase simultaneamente, rea
aps rea, a intelligentsia da cidade realizou inovaes, que viriam a
ser identificadas em toda esfera cultural europia como escolas
vienenses principalmente na psicologia, histria da arte e msica.
Mas mesmo nos campos onde as realizaes austracas tardaram mais a
obter o reconhecimento internacional literatura, arquitetura,
pintura e poltica, por exemplo , os austracos entregaram-se a
reformulaes crticas ou transformaes subversivas de suas
tradies, que foram reconhecidas pela sociedade como radicalmente
novas, quando no efetivamente revolucionrias. O termo die Jungen,
designao comum aos revoltes inovadores, difundiu-se entre as vrias
esferas da vida. Inicialmente empregado na poltica dos anos 1870, em
relao a um grupo de jovens revoltados contra o liberalismo austraco
clssico, a expresso logo apareceu na literatura (Jung Wien), e a
seguir entre os primeiros artistas e arquitetos a adotar o art nouveau
e lhe conferir um carter austraco prprio. [p. 21]
Ainda uma vez, a forma a biogrfica; Schorske elegeu os representantes
estratgicos dos diversos movimentos polticos e culturais na Viena do
final do sculo XIX, e por suas biografias retratou um quadro geral das
transformaes da sociedade vienense, apresentado enquanto se desenrolam a
descrio da mudana do pensamento e a vida desses personagens. Sua tnica
de informaes e buscas se concentra exatamente no perodo em que a crise
do liberalismo se agravou e gerou profundas transformaes na humanidade e
em todas as sociedades aps esse tempo.
Entre os produtores culturais selecionados esto os escritores e
teatrlogos Arthur Schnitzler e Hugo von Hofmannsthal, os arquitetos
Camillo Sitte e Otto Wagner; o pan-germanista e anti-semita radical Georg
von Schrer; o prefeito anti-semita vienense Karl Lueger; o sionista
romntico Theodor Herzl; o prprio Freud, o pai da psicanlise; o artista
plstico Gustav Klimt; o escritor Adalbert Stifter; o compositor Arnold
Schnberg e o artista Oskar Kokochka.
Cada um dos um ensaio autnomo, em si fechado e completo, desenvolvendo a
tese geral com recurso a dados especficos dos diferentes campos da arte.
I
Poltica e psique: Schnitzler e Hofmannsthal
A Valsa de Ravel.
Cada elemento arrastado, sua velocidade [] no caos da totalidade [p. 25-
26]
Homem, natureza do indivduo psicolgico [p. 26]
Crise da poca. Caractersticas particulares entre componentes moralistas e
estticos [p. 27]
Grupos sociais e poder aristocrtico (1860)
Partidos polticos (1880)
A cultura moral e cientfica da haute bourgoise [p. 28]
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A cultura tradicional (esttica) [p. 29]
Religio, fonte de sentido e alimento do esprito [p. 30]
Individualismo, narcisismo, sensibilidade, hedonismo e ansiedade [p. 31]
Arthur Schnitzler (1862-1931)
Tenso e entre-lugar, ambivalncia.
Como os temas de La Valse de Ravel, o verdadeiro eu de cada personagem
distorcido pelo turbilho frentico do conjunto. [p. 33]
O vazio de valores [p. 34]
Hugo von Hofmannsthal (1874-1929)
O sofrimento de Hofmannsthal [p. 36]
Arte, trabalho, natureza; pai, marido, amante; pintor grego, ferreiro,
centauro [p. 38]
Idlio sobre uma pintura de vaso antigo
A vida dos instintos [p. 39]
O poeta, um tanto semelhana do historiador, aceita a
multiplicidade das coisas em sua singularidade e revela a unidade de
sua interrelao dinmica. Da discordncia ele traz a harmonia, pela
forma.
Nesse primeiro captulo, Schorske discute a obra dos escritores Arthur
Schnitzler e Hugo von Hofmannsthal. A relao entre Schnitzler e Freud;
medicina e psicologia, psiquiatria. Schnitzler para a literatura e a
dramaturgia distanciando-se de Freud e aproximando-se de Hugo von
Hofmannsthal. A decadncia da sociedade.
II
A Ringstrasse, seus crticos e o nascimento do modernismo urbano
Construo urbanstica da Ringstrasse. A reverncia aos estilos
arquitetnicos historicamente consagrados: neo-gtico, renascentista,
barroco
O estilo modernista
Camillo Sitte e Otto Wagner
Comunitarismo e funcionalismo [p. 44]
Caridade e medicina [p. 44]
Contraste entre a cidade antiga: primeiro e segundo estados, o barroco
Hoffburg, palcios da aristocracia, catedral de Santo Estevo e a cidade
em construo planejada: na arquitetura, centros do governo e da alta
cultura. [p. 49-50]
Isolamento militar e insulamento sociolgico [p. 51]
Estilo e funo: a discrepncia
O arcasmo de Sitte e o futurismo funcional de Wagner [p. 78]
Felicidade esttica e impiedosas retas [p. 80]
A praa: interrupes da rua: teatro da vida em comum; gora, agorafobia,
medo de vastos espaos urbanos [p. 81 e 112]
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Liso, linear; dar direo e rumo, fluxo. Wagner.
Enfeite, emolduramento: traado e particularidade, luta contra a anomia,
quer o romper o fluxo, quer o movimento natural. Sitte.
O museu de Sitte: preservao, afastamento da cidade, cultura e potncia do
passado [p. 118]
O museu de Wagner: transformao, mergulho no fluxo do futuro, cultura e
inevitabilidade do futuro, dinmico [p. 119]
III
Poltica em novo tom: um trio austraco
Quem no viveu naquela poca vai achar difcil acreditar, mas o fato
que, mesmo ento, o tempo estava passando mais rpido que um camelo
de montaria. [...] Mas, naqueles dias, ningum sabia para onde ele
andava. Nem ningum conseguia distinguir entre o que estava em cima e
o que estava em baixo, entre o que estava indo para a frente e o que
ia para trs
Robert Musil escrevia sobre o fin-de-sicle austraco, no livro O homem sem
qualidades, de 1953. [p. 125]
Schorske se apia em Musil para destacar essas noes sociais e temporais.
Normalmente, essas mesmas noes de adiante, atrs, em cima e embaixo eram
ocupados por pessoas, idias e grupos bem definidos. Eventualmente, tudo
mudava de lugar, os lugares sociais e a histria. Nessa Viena do final de
sculo, a rapidez das transformaes era tanta que levou convivncia das
mentalidades da velha e da nova ordem social.
Os austroliberais p. 126
O panorama social liberal contra as classes superiores promoveu a exploso
das inferiores mas contra eles mesmos. O Nacionalismo alemo estimulou a
reivindicao da autonomia eslava. A atenuao desse mesmo germanismo
resultou na rotulao de traidores [os liberais] pela pequena burguesia
antiliberal. O laissez-faire levantou os revolucionrios marxistas. A
expulso do catolicismo opressor acirrou a ideologia camponesa estreita e
rgida; a relao entre o capitalismo e os judeus. A emancipao dos judeus
deu no sionismo, a fuga para um lar nacional.
Ao invs de unir as massas p. 127
Schorske vai se concentrar na natureza dos lderes que romperam com suas
origens liberais, organizaram e expressaram as aspiraes dos grupos de
baixo, bem embaixo. Filhos revoltados que aspiravam ocupar o lugar dos
pais.
Schnerer, Lueger e Herzl comearam suas carreiras, todos eles, como
liberais polticos e, a seguir, abjuraram para organizar as massas
negligenciadas ou rejeitadas pelo liberalismo em ascenso. Todos
possuam o dom particular de responder s demandas sociais e
espirituais dos seus seguidores com colagens ideolgicas colagens
compostas por fragmentos de modernidade, relances de futuridade, e
remanescentes ressuscitados de um passado semi-esquecido. Aos olhos
liberais, esses mosaicos ideolgicos eram mistificadores e
desagradveis, confundindo em cima, embaixo, adiante e atrs. [...]
essa trade de polticos esboou um conceito de vida e um modo de ao
que transcendendo o puramente poltico, fizeram parte da revoluo
cultural mais ampla que se introduziu no sculo XX. [p. 128]
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Os traos que mais aproximavam esse trio podiam ser generalizados: certa
postura aristocrtica; a rejeio do liberalismo; o rasgo teatral em suas
atuaes pblicas e desejos; e a confiana na capacidade realizadora da
vontade. [p. 166] Principalmente a ruptura do homem em pblico e do homem
em particular era caracterstica dos homens da crise vienense. [p. 181]
Da tradio cultural aristocrata prtica moderna da poltica de massas;
no mbito poltico, um trio austraco marcou em mim uma sugesto de
msica, no sentido que ela tem de envolvimento, de seduo; e no particular
destaque de Schorske capacidade oratria desse trio: de seduzir platias
e arrebanhar seguidores-fs-discpulos. Entre eles estar Adolfo Hitler.
George von Schnerer (1842-1921, 79 anos) o cavaleiro de Rosenau, o
cavaleiro Georg; anti-semita. Nacional-socialista radical. Marcado pelo
rancor contra a cultura liberal, destaca a insatisfao com o parlamento
pela indiferena com os problemas sociais e pela pouca resistncia aos
nacionalistas eslavos, descamba a uma democracia radical, reforma social,
nacionalismo; exige legislao em defesa da indstria domstica, do
trabalho honesto, do certificado de arteso.
Uniu em cima e em baixo, aristocracia e povo, defendia os interesses da
propriedade fundiria e dos braos produtivos, queria o que ia para trs,
o ideal grossdeutsch de 1842, do programa de Linz.
O anti-semitismo de Schnerer e as potencialidades disruptivas p. 137
Autodestruio p. 139-140
Karl Lueger (1844-1910, 66 anos) der schne Karl, herrgott von Wien; de
militante e agitador a prefeito de Viena. A velha direita catlica -> nova
esquerda do socialismo cristo. Num emprstimo a Hofmannsthal: poltica
magia, quem sabe invocar o poder das profundezas, a este seguiro,
Schorske definia Lueger. Sob autoridade materna, robustez e voluntarismo.
Sua pessoa pblica trazia todas as cores do seu eleitorado
multicolorido. Der schne Karl impunha aquela presena fina, quase
dndi que, como observou Baudelaire, surge como atributo eficiente da
liderana poltica em perodos de transio, quando a democracia
ainda no todo-poderosa e a aristocracia apenas cambaleante. Suas
maneiras elegantes, quase frias, exigiam respeito das massas, ao passo
que sua capacidade de falar a elas no caloroso dialeto popular de
Viena ganhava seus coraes. Volksmann com um verniz aristocrtico,
Lueger tambm tinha algumas qualidades que atraam para sua bandeira a
classe mdia vienense. Amava a cidade com verdadeira paixo e
trabalhou para lhe dar um maior destaque p. 150
Compositor do novo tom [...] juntou atrs e adiante, em cima e
embaixo, uniu os antigos e modernos inimigos do liberalismo num ataque
poltico [...] prpria cidade de Viena p. 141
Theodor Herzl (1860-1904, 44 anos) o reino de Sio, Wissen macht frei [o
conhecimento liberta]; Wollen macht frei [o desejo liberta]; utopia liberal
de tendncia criativa, a partir da premissa do desejo, da arte e do sonho.
A cultura esttica em substituio ao nvel social, uma aristocracia de
esprito.
Der Judenstaat, 1896. Altneuland, 1900.
Como o cavaleiro de Rosenau e der schne Karl, Herzl conduziu seus
seguidores para fora do mundo liberal em colapso, recorrendo s fontes
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de um passado reverente para satisfazer aos anseios de um futuro
comunitrio. O fato de ter adotado a poltica de novo tom, a fim de
salvar os judeus de suas conseqncias no mundo gentio, no elimina a
afinidade de Herzl com seus adversrios. Todos, s suas respectivas
maneiras. Foram filhos rebeldes da cultura austroliberal, uma cultura
que podia satisfazer aos intelectos, mas matava a fome as almas de uma
populao ainda apegada memria de uma ordem social paternalista p.
177
IV
Poltica e parricdio em A interpretao dos sonhos
Sigmund Freud
Um mergulho no mbito intelectual, sonhos e memrias. [p. 181]
A Interpretao dos Sonhos como uma psicologia antipoltica; o
parricdio.
Trs lugares romanos: a 3 Roma era a moderna, promissora e agradvel; a 2
era a catlica, pregava a mentira da salvao, era perturbadora e incapaz
de livrar o homem de sua prpria misria e de todas as outras que ele sabia
existirem; a 1 Roma era a da antiguidade, suscitava entusiasmo s em
adorar os restos humildes e mutilados do templo de Minerva. [p. 198]
Minerva, a deusa virgem p. 198
V
Gustav Klimt: pintura e crise do ego liberal
Schorske fala de Gustav Klimt como fala da sua vida inteira, da mudana por
que passa um homem em plena crise de meia idade, de como esse homem coloca
essa crise a servio de uma reorientao radical de seu trabalho
profissional. Klimt, de membro da alta cultura austraca, no liberalismo,
da revolta contra essa mesma alta cultura, em busca do moderno, e de como
o momento final, de recolhimento pessoal de dedicao arte decorativa.
Em comparao de Schorske, Freud e Klimt mergulharam em seu prprio eu e
seguiram numa voyage intrieur; espelho e parricdio; tentaram responder
enigmas explorando sua profundezas pessoais; expuseram-se e calaram-se.
Sofreram represso e resistncia de dois setores, principalmente: a
ortodoxia acadmica liberal e racionalista e os anti-semitas, mas
ironicamente, em dado tempo, o aoitamento a Klimt propiciou a promoo de
Freud.
O embate desses dois pensadores com a cultura vienense provocou sua
retirada da atuao profissional pblica para abrigarem-se em um crculo
pequeno, porm fiel, na tentativa de preservar o novo terreno intelectual
conquistado. [p. 201]
Schorske encontra nas obras de Klimt, principalmente nos murais da
Universidade, a figurao dos contextos polticos, sociais e artsticos do
artista e da arte na redecorao de Viena. Schorske reconhece que Klimt
enfrentou o reembaralhamento do eu, que partilhou da crise cultural e de
suas ambiguidades na busca narcsica do novo eu, talvez seja um dos mais
representantes.
A reunio dos artistas, polticos, arquitetos, dos eleitos pela competncia
para planejar a expanso da cidade de Viena deseja enormemente que a
expanso seja uma figurao da cidade, da entidade que conjuga o povo
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vienense. Esse cuidado com as coisas comuns supe o controle poltico;
escolha de artistas e obras emblemticas.
Os monumentos existentes [na tradio] formam uma ordem ideal entre
si, e esta s se modifica pelo aparecimento de uma nova (realmente
nova) obra entre eles. A ordem existente completa antes que a nova
obra aparea; para que a ordem persista aps a introduo da novidade,
a totalidade da ordem existente deve ser, se jamais o foi sequer
levemente, alterada: e desse modo as relaes, propores, valores de
cada obra de arte rumo ao todo, so reajustados; e a reside a
harmonia entre o antigo e o novo. [T. S. ELLIOT, Ensaios]
Essa reintegrao do novo ao tradicional que o reconhece que rearranja
toda a tradio. Cada obra pertencente ao cnone deve novamente reencontrar
seu lugar. Em Viena fin-de-sicle, o movimento da Secesso [art nouveau]
era a provocao inicial, o comeo desse rearranjo do tradicional frente ao
novo.
Segundo os comentrios de Ronaldo, a arte e a filosofia entendem que o
poder est nas mos dos homens, cuja espontaneidade pode sempre nos
surpreender. A arte a linguagem que subverte a ordem das lnguas,
liberta-as da mentira; a arte se torna socialmente indesejvel porque
desestabilizadora. Em se tratando de homens, obrigar algum a tratar outro
como superior, melhor ou mais dotado de perfeio e de beleza humilhar
essa pessoa, porque ela jamais poder questionar o outro, muito menos
pensar em super-lo. A espontaneidade humana ento fica reprimida na
situao de que a arte deva se render monumentalidade do passado.
A certeza de que toda sociedade conservadora age como um repressor a mais
a essa espontaneidade individual. Como efeito, a vontade poltica e social
de regular a natureza [a espontaneidade natural] podem resvalar para o
fascismo. Os secessionistas buscavam uma nova orientao de vida na forma
visual, artistas, literatos e afiliados ao liberalismo de esquerda.
Restaurar o passado desaparecido um indicador de revoluo; o ttulo da
revista dos secessionistas, Ver sacrum, um indicador de regenerao; os
secessionistas tinham a misso de salvar a cultura das mos dos mais
velhos, um indicador de que estavam mesmo dispostos [a no se apagar].
As obras de Klimt [o arteso-artista adquire tcnica e erudio e torna-se
o pintor filsofo, depois da represso poltica e crtica, recolhimento e
intensificao de seu trabalho]
Burgtheater, 1887.
Museu de histria da arte, 1891.
Organizao de Die Jungen, ca., 1891. rejeio da tradio realista
clssica dos pais na busca do verdadeiro rosto do homem moderno,
influncias dos impressionistas franceses, dos naturalistas belgas, dos
pr-rafaelitas ingleses e dos Jugendstilisten alemes. [p. 207]
Casa da Secesso. arte sua liberdade, poca sua arte. Proximidades
com a concepo de museu para Wagner. [p. 211]
Schubert, 1899 e Msica, 1898. Painis do salo musical Nikolaus Dumba,
entre o novo e o antigo, entre a representao e a alegoria, entre a
tradio e o instinto.
Nuda veritas, 1898, bidimensional. Vera Nuditas, 1898, pelos pbicos
vermelhos flamejantes.
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Sangue de peixe, 1898. Linhas em fluxo, xtase feminino, sexualidade, gua,
cabelo longo [Escobar enrolou-se e morreu] limites entre os corpos e o
impulso da gua, sereias.
Cobras dgua, 1904. Mulheres no meio viscoso em ameaa ao homem.
Judith, 1904. Salom, 1909. Mulheres ameaadoras, decapitao-castrao,
contraste das mos em garra com rosto firme e impassvel. Ansiedade dos
homens em sucumbir.
Os painis da Universidade [a contenda, uma questo ideolgica poltica,
a velha cultura tica contra a nova esttica; discusso sobre a funo da
arte moderna em Viena; O que o feio? [p.226]; a inteno e o propsito
da arte em todas as culturas, Kunstwollen, Riegl; progresso nem regresso,
mudana, uma apreciao da pluralidade na arte para alm de qualquer padro
esttico nico a priori. [p. 226]. Kunstvolk, um povo artstico.
O poder poltico liberal fomentou a arte moderna dos secessionistas, mas
diante da crise tirou o corpo fora: a ao poltica no deveria favorecer
tendncias, [...] a arte devia se desenvolver sem regulamentaes, segundo
[p. 229]
Filosofia, 1900. Filosofia enigmtica, onipotente e indiferente aos
sentimentos humanos, o homem impotente e est aprisionado no teatro do
mundo. Cu e inferno sobrepujaram a terra. A sacerdotisa intermediria
entre o espectador e a escurido csmica. A cano bria da meia-noite,
de Zaratustra, p. 220-222.
Medicina, 1901. Uma fantasmagoria da humanidade semi-sonhadora, mergulhada
numa semi-entrega aos instintos, passiva no fluxo do destino [...] a morte
ocupa o centro do rio da vida e seu vu negro gira entre os corpos
confundidos dos viventes. [...] Higia encara o espectador nesse outro
theatrum mundi, a figura sacerdotal entre o teatro e os observadores
proclama a ambiguidade de nossa vida biolgica, p. 231. Ofensa contra a
moral pblica, os costumes e a decncia: a mulher nua e a mulher grvida.
Jurisprudncia, 1903. Coincidente com a represso do sistema legal, da
norma, da censura e das crticas a Klimt. O tema inicial era a lei, mas
Klimt colocou no mural a expresso colrica de sua indignao e mgoa.
Mesmo das sugestes feitas pela comisso de avaliao Klimt fez uma
incorporao irnica.
Do primeiro esboo (1898) Do trabalho final (1903)
Cu e brisas de vero inferno secular
1 Caracterizao mais ntida
da figura central: a justia
virou a vtima indefesa da lei, de aumentado terror,
um homem encurvado e engolido pelos tentculos do polvo infernal
2 Calma no tom da pintura calma esttica e pegajosa
da cmara de execues da sociedade
3 Aperfeioamento correspondente
no vazio muito perceptvel da parte inferior
espetculo assustador da lei como punio
impiedosa a consumir suas vtimas
A verdade, a justia e a lei, belas, mas exangues, impassveis, abandonaram
o homem cena de terror, para ser engolfado pelo polvo infernal; no so
mediadoras como em Filosofia e Medicina, entre os mistrios e o homem
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observador. No h crime, s o castigo das frias serpentinas [novamente a
castrao]; so as trs frias do instinto.
O desamparo1 do homem conseqncia da destruio da tradio e do modo de
pensar poltico, um esfacelamento, uma grande fragmentao e, no plano
intelectual, a diluio do espao da liberdade e felicidade pblica, na
esfera social. Este desenraizamento do homem (e a posterior assuno do
totalitarismo) resultado da crise do prprio esprito humano, resultado
de uma ruptura com a tradio.
Kunstschau 1908, depois da crise, Klimt volta-se para a arte, narciso,
torna-se pintor e decorador do haute monde refinado de Viena; retratos
femininos, paisagens alegres de jardins bem cuidados. Art dco, formas
metlicas e cristalinas. Acredita que o nico caminho da arte para alcanar
as pessoas seja a exposio, no a execuo de tarefas artsticas pblicas.
Wittgenstein, 1905; Riedler, 1906; Bloch-Bauer, 1907.
Danae, 1907; a mulher ditosa e receptiva, retngulos flicos.
O beijo, 1907; o casal em harmonia, homem retangular e mulher ovular,
floral.
Morte e vida, 1916; a humanidade imersa na felicidade dos sentidos, no
fluxo com o amor, apartado da morte.
Coube aos espritos mais jovens do movimento expressionista a tarefa de
aprofundar as exploraes de Klimt.
VI
A transformao do jardim
Adalbert Stifter. Der Nachsommer.
VII
A exploso do jardim
Oskar Kokoschka e Schoenberg. Teoria da harmonia, influncias sobre
Theodoro Adorno.
1 Homelessness, conceito de ARENDT, Hannah. A dignidade da poltica. Rio de Janeiro: Relume
Dumar, 1993.