CENTRO UNIVERSITÁRIO ADVENTISTA DE SÃO PAULO CAMPUS ENGENHEIRO COELHO
CURSO DE TRADUTOR E INTÉRPRETE
ALBERT DE OLIVEIRA SILVA
OS HOMÓGRAFOS DA LÍNGUA INGLESA COGNATOS DE VOCÁBULOS DA LÍNGUA PORTUGUESA: CONTRIBUIÇÕES PARA
O PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO E O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA
ENGENHEIRO COELHO
2010
ALBERT DE OLIVEIRA SILVA
OS HOMÓGRAFOS DA LÍNGUA INGLESA COGNATOS DE VOCÁBULOS DA LÍNGUA PORTUGUESA: CONTRIBUIÇÕES PARA
O PROCESSO DE INTERPRETAÇÃO E O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA
Trabalho de conclusão de curso de Tradutor e Intérprete do Centro Universitário Adventista de São Paulo - Campus Engenheiro Coelho, sob a orientação do prof. Ms. Neumar de Lima.
ENGENHEIRO COELHO 2010
Trabalho de Conclusão de Curso elaborado por Albert de Oliveira Silva,
para obtenção do título de Bacharel em Tradutor e Intérprete sob o título
“Os Homógrafos da Língua Inglesa Cognatos de Vocábulos da Língua
Portuguesa: Contribuições para o Processo de Interpretação e o Ensino
de Língua Inglesa”, apresentado e aprovado no dia 02 de dezembro por
banca composta pelos seguintes membros:
Prof. Ms. Neumar de Lima (Orientador)
Profa. Drª. Ana Maria Moura Schäffer (2ª Leitora)
Dedico este trabalho a meus pais, que
além de me ensinarem valores de caráter,
me ensinaram a acreditar em meus
sonhos e a persegui-los.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, acima de tudo, a Deus, que além de me conceder o inestimável
dom da vida, proveu-me de uma grande paixão por línguas. Dessa paixão,
nasceu este trabalho para o qual contei com a colaboração de algumas
pessoas. Destarte, desejo expressar meus sinceros agradecimentos a:
• Prof. Ms. Neumar de Lima, pela disposição em nossas acaloradas discussões
linguísticas, cujos insights, além de poder serem aplicados a este trabalho,
lançaram sementes para futuros trabalhos linguísticos aos quais pretendo me
dedicar.
• Profa. Drª. Ana Maria Moura Schäffer, pela sua incansável dedicação para
inteirar os alunos das melhores ferramentas para tradução e trazer exímios
palestrantes da área.
• Prof. Ms. Edley Matos dos Santos, à custa de quem aprendi a evitar o uso da
expressão “às custas de...” entre outros vícios de linguagem não admitidos
pela norma padrão da língua portuguesa.
• Prof. Hander Heim, que muito bem elucidou os fatos e mitos na tradução
vivida.
• Aos inúmeros autores de dicionários. Graças a eles, podemos saber
curiosidades pitorescas sobre as línguas que, de outro modo, levaríamos
anos a descobrir página por página como, por exemplo, que a língua inglesa
contém 286 verbos irregulares.
• E por fim, quero agradecer aos colegas de classe, cuja interação e
participação ao longo do curso fizeram-me perceber as dificuldades e
necessidades de quem procura se enveredar no estudo de línguas
estrangeiras.
RESUMO
Para ser um bom professor de inglês ou intérprete é imprescindível o bom
conhecimento do idioma. Paralelamente a esse conhecimento, os que utilizam a
língua dispõem do chamado conhecimento enciclopédico: um recurso valioso
empregado sempre que algum ruído interfira na percepção ou compreensão da
mensagem. Dentre esses ruídos, destaca-se o decorrente de interpretação
equivocada proveniente da desatenção à pronúncia correta dos vocábulos,
particularmente dos homógrafos ingleses que constituem cognatos na língua
portuguesa. Se tais ruídos fossem levados em conta e eliminados, o ensino de
língua inglesa e o processo de interpretação se beneficiariam. O objetivo deste
trabalho é levar o estudante ou profissional que lida com a língua inglesa a se
conscientizar da implicação desses ruídos no processo de percepção do significado
de vocábulos homógrafos ingleses cognatos de vocábulos do português e a
necessidade de eliminá-los a fim de otimizar seu desempenho linguístico.
Palavras Chave: Atividades de Perceptividade; Cognatos; Homógrafos.
ABSTRACT
In order to be an excellent teacher or interpreter of English is essential to have
a wide knowledge of the English language. In addition, those who study this
language can count upon the so-called encyclopedic knowledge. It is a valuable
resource employed whenever some interference takes place in the perception or
understanding of any message. Among these interferences, the one resulting from
misinterpretation due to mispronunciation of words, especially the English
homographs which are also cognates in the Portuguese language are focused upon.
If such interferences were taken into account and wiped out, English teaching and
the process of interpretation would be benefited. This paper aims at leading English
learners or professionals to be aware of the implications of these setbacks for the
process of perception of the meaning of those English Homographs which are
cognates with Portuguese words and the need to wipe them out to enhance their
linguistic performance.
Key Words: Consciousness-raising Activities; Cognates; Homographs.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 08
1.2 Objetivos ............................................................................................................ 10
1.2.1 Objetivo Geral ................................................................................................. 10
1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 10
3 METODOLOGIA .................................................................................................... 11
4 OS VOCÁBULOS HOMÓGRAFOS ....................................................................... 12
4.1 Os Homógrafos Ingleses: Semelhanças e Contrastes com o Português .... 12
4.2 O Problema da Terminologia ............................................................................ 14
5 OS VOCÁBULOS COGNATOS: VERDADEIROS OU FALSOS AMIGOS? ........ 15
6 HOMÓGRAFOS, COGNATOS E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PERCEPÇÃO DO ISIGNIFICADO .......................................................................................................... 17
6.1 Problemas de Interpretação devido ao Desconhecimento da Pronúncia .... 19
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 22
8 REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 24
ANEXO—A LISTA DE 369 HOMÓGRAFOS DE JOHN HIGGINS
8
1 INTRODUÇÃO
A língua é tão vasta e diversificada que temos a impressão de que sempre
nos falta uma descrição mais abrangente ou materiais didáticos mais elaborados
que tragam resultados mais produtivos aplicáveis ao seu ensino. No que se refere
ao estudo de línguas, como em qualquer outro campo científico, sempre há o que se
melhorar.
O estudo de línguas é uma das preocupações do homem desde a
Antiguidade clássica. Embora a linguística tenha se consolidado como ciência
autônoma somente a partir do início do século XX, na Antiguidade, os gregos já se
empenhavam na descrição de sua língua ainda que tal estudo não constituísse uma
ciência à parte.
Com o advento da linguística, o estudo de línguas vem melhorando e
alargando seu escopo cada vez mais, graças à contribuição de novas perspectivas.
Nas décadas de 70 e 80, as pesquisas sobre aprendizagem e ensino de língua
priorizavam a exposição em detrimento da instrução formal como a única maneira
para se aprender eficazmente um idioma. Segundo os adeptos dessa abordagem,
dada a exposição à língua, os estudantes não precisariam receber instrução, pois
acabariam por absorver os fatos linguísticos mecanicamente em decorrência dessa
exposição (KRASHEN; TERELL, 1983 apud WILLIS, Dave; WILLIS, Jane, 1996,
tradução nossa) 1
Essa abordagem logo perdeu prestígio para outras abordagens modernas,
pois ignorava o papel da instrução na discriminação dos fatos linguísticos e na
identificação e resolução de pontos problemáticos da língua verificados nesses
mesmos fatos. Essa mudança foi se consolidando com o surgimento de abordagens
que levavam em conta os aspectos cognitivos do aprendiz, seus conhecimentos
prévios e habilidades perceptivas. Entre essas novas perspectivas, queremos
destacar a abordagem metodológico-pedagógica conhecida como Consciousness-
raising activities, traduzida pelo autor do presente trabalho como Atividades de
perceptividade, visto não contarmos ainda com uma terminologia em língua
portuguesa.
1 Tradução, a partir do inglês, feita pelo autor do presente trabalho (KRASHEN, S. e TERELL, T. The
Natural Approach. Pergamon Press, 1983.)
9
Segundo Ellis (1993 apud Willis, Dave; Willis, Jane, 1996, p.64), as atividades
de perceptividade caracterizam-se pela:
1. Tentativa de isolar e chamar a atenção para um determinado fenômeno
linguístico. Da abundância dos dados linguísticos aos quais os estudantes são
expostos, identificam-se fenômenos de interesse especial despertando a
consciência do aluno;
2. Coleta de dados que ilustrem o fenômeno em questão. [...] Os dados são
retirados de textos produzidos com fins comunicativos. [...];
3. A exigência de que o aluno utilize esforço intelectual a fim de compreender
o fenômeno. Há um esforço em levar o aluno a formular hipóteses acerca dos dados
e em incentivá-lo a testá-los. (tradução nossa)2.
A autora ressalta ainda que
As atividades de perceptividade podem ser vistas como uma forma
orientada para resolução de problemas. Alunos e professores são motivados a perceber determinados aspectos da língua, a tirar conclusões do que eles mesmos observam e a ajustar sua visão de língua à luz dessas conclusões.
Compartilhando desse ponto vista, Lewis (1993 apud Willis, Dave; Willis,
Jane, 1996) sintetiza os princípios de Ellis considerando-os como parte de um
processo triplo: observação-hipótese-experimento (tradução nossa) 3.
Willis (1993 apud Willis, Dave; Willis, Jane, 1996) 4 observa que os fatos
linguísticos subdividem-se em dois grupos: Os que podem ser descritos por meio de
regras e os que não podem. Com relação ao segundo grupo, estes devem ser
percebidos e aprendidos separadamente. Esses aspectos formam um foco de
análise para as atividades de perceptividade.
As atividades de perceptividade, portanto, agregam práticas direcionadas à
percepção e resolução de problemas linguísticos. Neste trabalho, o foco dessas
atividades recairá no problema da percepção do significado correto em palavras
homógrafas da língua inglesa que concomitantemente são cognatas de palavras da
2 Tradução, a partir do inglês, feita pelo autor do presente trabalho (ELLIS, R. Second Language
Acquisition Research: How does it Help Teachers? An Interview with Rod Ellis. In ELT Journal,
vol.47, nº 1, pp. 3-11, 1993).
3 Cf. original: “Observe-Hypothesize-Experiment” (LEWIS, M. The Lexical Approach. 1993).
4 WILLIS, D. Syllabus, corpus and data-driven learning. In IATEFL Conference Report: Plenaries,
1993).
10
língua portuguesa, ou seja, serão analisadas palavras inglesas com semelhança
formal às da língua portuguesa, mas que representam, em inglês, pares distintos
com pronúncias distintas, uma vez que um dos significados/pronúncias menos
conhecidos podem induzir o estudante desatento a um equívoco na interpretação.
Diante do exposto até aqui, cabe-nos a pergunta: Seria possível reduzir a
probabilidade de erro na interpretação por meio de alguma informação prévia acerca
das formas ambíguas?
1.2 Objetivos
1.2.1 Objetivo geral
Demonstrar que tanto no processo de interpretação quanto nas práticas de
ensino de língua inglesa é possível apoiar-se não apenas no contexto verbal, mas
também no conhecimento prévio da pronúncia para a resolução de eventuais
ambiguidades.
1.2.2 Objetivos específicos
• Sensibilizar profissionais e estudantes que lidam com o português e inglês
acerca das dificuldades geradas pelo desconhecimento da pronúncia de
vocábulos homógrafos da língua inglesa que representam cognatos em
português;
• Demonstrar que esse conhecimento corrobora com o contexto verbal e agiliza
a apreensão do significado;
• Apresentar uma amostra de alguns vocábulos homógrafos da língua inglesa
considerando sua semelhança formal com o português.
11
3 METODOLOGIA
Para esta pesquisa, realizou-se uma consulta eletrônica preliminar para
auferir o maior número possível de palavras homógrafas da língua inglesa moderna.
A lista mais abrangente foi encontrada em Higgins (2003) que catalogou 584
conjuntos homógrafos, incluindo formas flexionadas (analyses→He analyses.../ The
analyses of...; lives→ He lives.../ Their lives...). Uma vez que estas formas
flexionadas são previsíveis anteriormente à aquisição do vocábulo, desde que se
tenha uma noção mínima de gramática (o que foge ao escopo deste trabalho),
decidiu-se retirá-los da contagem, reduzindo-se a lista, então, para 369 conjuntos.
Com base em sua significação em português, os conjuntos homógrafos foram então
divididos em dois grupos: os que contêm cognatos em língua portuguesa e os que
não contêm. No desenvolvimento do trabalho, elaborou-se uma amostra
representativa de 20 pares homógrafos5 e 3 exemplos para chamar a atenção ao
problema da ambiguidade.
Foram considerados homógrafos todos os vocábulos que exibissem formas
idênticas e pronúncias/significados distintos de acordo com o padrão de transcrição
fonética adotado por dois dicionários monolíngues amplamente utilizados no ensino
de inglês como língua estrangeira: o Oxford Advanced Learner’s Dictionary of
Current English e o Longman Dictionary of Contemporary English. Para fins de
praticidade, e levando-se em conta a enorme popularidade da variante norte-
americana do inglês, optou-se por considerar a pronúncia e transcrição desta
variante. Esta pesquisa constitui, portanto, uma análise sincrônica do léxico
homográfico da variante norte americana da língua inglesa com formas cognatas na
língua portuguesa.
5 Os demais pares não foram inseridos no corpo do trabalho, mas encontram-se relacionados no
ANEXO como contribuição ao leitor que desejar aprofundar-se no assunto.
12
4. OS VOCÁBULOS HOMÓGRAFOS
O termo homógrafo é composto de dois elementos gregos, homo = “igual” e
grafo = “escrita”. De acordo com Crystal (2000), em seu Dicionário de Linguística e
Fonética, e Ilari (2008), em seu Dicionário de Linguagem e Linguística, homógrafos
são todos os vocábulos que apresentam grafia igual, mas pronúncia/significado
diferentes. Podemos usar como exemplo em português as palavras sede /'sêdʒi/
“carência de água” em oposição a sede /'sédʒi/ “prédio principal” e, em inglês, bass
/beɪs/ “baixo – instrumento musical” em oposição a bass /bæs/ “robalo – tipo de
peixe”.
O estudo das palavras homógrafas, ou simplesmente homógrafos, pertence
ao campo da semântica, ramo da linguística que se dedica ao estudo da significação
das palavras. O oposto deste estudo é a homofonia6, ou seja, as palavras que são
escritas de modo diferente, mas que são pronunciadas de modo idêntico. Quando se
deseja falar indistintamente de homógrafos ou homófonos, usa-se o termo
homônimos.
4.1 Os Homógrafos Ingleses: Semelhanças e Contrastes com o Português
Como se pôde perceber, os pares amostrais exemplificados acima
apresentam tão somente relação formal entre si. Na língua portuguesa, essa é a
única relação existente entre os homógrafos. Além disso, a diferença de pronúncia
limita-se única e exclusivamente na oposição entre timbre aberto e fechado como
veremos a seguir:
PROPRIEDADES DOS HOMÓGRAFOS DA LÍNGUA PORTUGUESA
TIMBRE ABERTO SEDE /'sédʒi/ = prédio principal
ALMOÇO /auˈmósu/ = 2ª pessoa do verbo almoçar no
presente do indicativo
TIMBRE FECHADO SEDE /'sêdʒi / = carência de água
ALMOÇO /auˈmôsu/ = refeição do meio dia
6 Exemplo de par homófono em português: /kaˈsar/ cassar = suspender direitos ≠ caçar = apanhar
animais. Em inglês: /taim/ time = tempo ≠ thyme = tomilho (erva aromática originária da Europa)
13
Bem diferente disso, no inglês, Higgins (2003) mostra que os homógrafos
dessa língua apresentam um repertório de distinções: as mudanças de pronúncia
podem se manifestar na substituição de sons - vocálicos ou consonantais,
homorgânicos7 ou não - bem como no deslocamento da sílaba tônica. Todos esses
fenômenos também podem ocorrer simultaneamente8. Além disso, os homógrafos
ingleses podem pertencer ou não ao mesmo campo semântico.
PROPRIEDADES DOS HOMÓGRAFOS DA LÍNGUA INGLESA
SURDO X SONORO
(SUBSTITUIÇÃO DE SOM
CONSONANTAL)
EXCUSE /ɪkˈskjuːs/ (s.) desculpa
EXCUSE /ɪkˈskjuːz/ (v.) pedir desculpa
FORTE X FRACO
(SUBSTITUIÇÃO DE SOM
VOCÁLICO)
GRADUATE /ˈgrædʒueɪt/ (v.) formar-se (faculdade)
GRADUATE /ˈgrædʒuət/ (s.) formado (faculdade)
PAROXÍTONA X OXÍTONA
(MUDANÇA DE SÍLABA
TÔNICA + SUBSTITUIÇÃO DE
SOM VOCÁLICO)
CONFLICT /ˈkɑːnflɪkt/ (s.) conflito
CONFLICT /kənˈflɪkt/ (v.) entrar em conflito
PAROXÍTONA+SURDA
X
OXÍTONA+SONORA
(MUDANÇA DE SÍLABA
TÔNICA+SUBSTITUIÇÃO DE
SOM VOCÁLICO +
SUBSTITUIÇÃO DE SOM
CONSONANTAL
REFUSE /ˈrefjuːs/ (s.) refugo
REFUSE /rɪˈfjuːz/ (v.) recusar-se
De acordo com a lista formulada por Higgins (2003), a língua inglesa conta
com 369 conjuntos de palavras homógrafas. Parte desse léxico contém vocábulos
que não guardam nenhuma semelhança formal com a língua portuguesa. Outra
parte constitui-se de vocábulos “transparentes”, ou seja, que possuem equivalentes
com semelhança formal na língua portuguesa.
7 São os sons produzidos no mesmo ponto de articulação. Exemplo: /b/ em relação a /p/. 8 Higgins (2003) descreve essas oposições distintivas separadamente. Ele não menciona a coocorrência desses fenômenos.
14
RELAÇÃO FORMAL ENTRE OS HOMÓGRAFOS DA LÍNGUA INGLESA E SEUS EQUIVALENTES EM PORTUGUÊS 9
HOMÓGRAFOS COM UMA
FORMA SEMELHANTE EM
PORTUGUÊS
CONTEST /kənˈtest/
/ˈkɑːntest/
(v.) contestar
(s.) concurso
INCENSE /ˈɪnsens/
/ɪnˈsens/
(s.) incenso
(v.) enfurecer
HOMÓGRAFOS SEM
NENHUMA FORMA
SEMELHANTE EM
PORTUGUÊS
CLOSE /klous/
/klouz/
(adj.) perto, próximo
(v.) fechar
WIND /wɪnd/
/waɪnd/
(s.) vento
(v.) dar corda no relógio
Para os objetivos deste trabalho, conforme mencionado anteriormente,
analisaremos somente os pares homógrafos ingleses que concomitantemente são
cognatos de palavras da língua portuguesa, mas que podem constituir ruídos em
decorrência do desconhecimento de sua pronúncia correta.
4.2 O Problema da Terminologia
Como vimos anteriormente, há um contraste nítido entre as propriedades dos
homógrafos ingleses e portugueses. Tal fato, observado na língua inglesa, exige um
uso de terminologias apropriadas para a classificação dessas propriedades. Não
obstante o fato de a terminologia brasileira não dispor de termos próprios para
designar as diferentes propriedades dos homógrafos ingleses, a terminologia da
língua inglesa oferece termos adequados para tal. Com relação ao significado, os
homógrafos ingleses dividem-se em related ou unrelated (HIGGINS, 2003).
Como este trabalho parece constituir uma pesquisa inédita em língua
portuguesa, decidiu-se cunhar o que o autor sugere como equivalentes em língua
portuguesa para os termos ingleses acima. Seguindo a orientação científica que
prescreve o uso de formas combinatórias do grego ou latim para a geração de
termos técnicos, traduzir-se-ão os termos técnicos ingleses related homographs e
unrelated homographs por homógrafos homossêmicos (“com significado igual”)
e homógrafos heterossêmicos (“com significado diferente”), respectivamente.
Essas traduções serão adotadas ao longo deste trabalho.
9 As formas semelhantes e não semelhantes consideradas referem-se ao primeiro significado de cada
verbete.
15
5 OS VOCÁBULOS COGNATOS: VERDADEIROS OU FALSOS AMIGOS?
Outro conjunto lexical que merece atenção redobrada de quem lida com o par
inglês-português são as palavras cognatas ou, simplesmente, cognatos. Por
cognatos, entende-se palavras de línguas diferentes com etimologia comum
(CRYSTAL, 2000; ILARI, 2008); em outras palavras, os cognatos são palavras que
“nasceram juntas”, como a própria etimologia da palavra indica10.
Ao se compararem os léxicos do inglês e português, constata-se uma
incidência considerável de palavras com formas muito semelhantes entre si. Ao
deparar-se com essas formas semelhantes, o indivíduo tende instintivamente a
estabelecer uma correspondência literal e automática entre a forma observada e a
que mais se lhe assemelhe em sua língua nativa. De fato, a maior parte das
palavras oriundas das línguas clássicas incorporadas ao inglês aduzem o mesmo
significado em português.
EXEMPLOS DE PALAVRAS COGNATAS EM INGLÊS E PORTUGUÊS
TANK TANQUE
FORM FORMA
RESULT RESULTADO
CALENDAR CALENDÁRIO
Entretanto, uma parcela considerável apresenta significados diferentes,
induzindo o estudante/intérprete desapercebido a interpretar o significado
erroneamente.
Embora muitos materiais didáticos usem a designação “falsos cognatos” para
se referir aos vocábulos que constituem verdadeiras “armadilhas” no processo de
tradução do inglês para o português, tal designação não parece apropriada se
levarmos em conta o significado etimológico do termo “cognato”. Para deixar claro
esse ponto, observemos o caso de algumas palavras cognatas: dedicate (dedicar-
se), history (história), religion (religion) e result (resultado) significam literalmente o
que parecem. Palavras como essas são traduzidas com maior prontidão devido à
transparência com suas formas em português, o que economiza esforço cognitivo.
10 O termo cognato vem “do latim cognatum que é a junção de cum (= com) e natus (=nato) [...]” (SABINO, 2006, p. 252)
16
Essa facilidade, porém, não se mantém uniformemente em todas as palavras
como é o caso de alumnus (ex-aluno), exquisite (refinado, de muito bom gosto) e
sequestrate (confiscar). Essas, ao contrário do que muitos apregoam, não são falsos
cognatos. Embora não signifiquem o que parecem, sua etimologia é a mesma de
aluno, esquisito e sequestrar; portanto, “nasceram juntas”, o que torna questionável
o emprego do termo “falsos cognatos”. Embora tenham nascidas juntas, seus
significados em português e inglês tomaram rumos diferentes como consequência
natural de sua evolução histórica.
Com base nas distinções delineadas acima, torna-se necessário distinguí-los
terminologicamente. Mais uma vez, devido à escassez terminológica, o autor
reserva-se ao direito de cunhar termos técnicos que sejam adequados para nomear
suas descobertas. Em palavras como dedicate, history, religion e result, temos
cognatos homossêmicos, ou seja, palavras que nasceram juntas e continuam com
o mesmo significado em inglês e português; ao passo que em alumnus, exquisite e
sequestrate temos cognatos heterossêmicos11, ou seja, palavras que nasceram
juntas, mas assumiram significados diferentes nos dois idiomas.
Feitas estas considerações, conclui-se, por fim, que com relação à
semelhança formal, os léxicos do português e inglês exibem vocábulos:
TIPOS DE COGNATOS EM PORTUGUÊS
HOMOSSÊMICOS Dedicate (dedicar-se) → “BOM AMIGO”
HETEROSSÊMICOS Exquisite (refinado) → “FALSO AMIGO”
11 Conforme afirmamos, o termo heterossêmico é um neologismo cunhado pelo autor para esclarecer o assunto em questão. Todavia, nossas pesquisas revelaram que outros autores mostraram a mesma preocupação sobre o assunto. Cintra (1998) usa o termo cognato oculto e Sabino (2006) fala em cognato enganoso para expressarem o mesmo conceito. No link http://pt.wikipedia.org/wiki/Cognato, encontramos o termo heterossemântico, sem menção de autoria, com o propósito de distinguir os cognatos enganosos dos falsos cognatos. O uso do termo heterossêmico, neste trabalho, foi feito não com o propósito de plagiar este último termo, mas, sim, para manter a uniformidade do sufixo “-êmico” em relação a outros termos relacionados, como por exemplo, polissêmico e monossêmico.
17
6 HOMÓGRAFOS, COGNATOS E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PERCEPÇÃO DO SIGNIFICADO
Nesta seção, o termo “Interpretação” será empregado em sentido amplo
significando tanto a capacidade de processar informações recebidas atribuindo-lhes
um entendimento como a atividade profissional do intérprete de ouvir mensagens de
uma língua estrangeira e retransmiti-las na língua do público alvo.
Nas seções anteriores, investigamos as propriedades semânticas e
etimológicas que subjazem à semelhança formal verificada em muitas palavras do
inglês e do português. Nesta seção, analisaremos em que medida o conhecimento
ou desconhecimento dessas propriedades contribui para o processo de
interpretação da mensagem da língua de partida. Avaliaremos o peso da bagagem
cognitiva e a dependência do contexto em busca de estratégias que possam ser
aplicadas a fim de otimizar o desempenho comunicativo do intérprete ou professor
de inglês.
Sabe-se que para ser um bom intérprete, tradutor e, em certa medida,
professor de uma língua estrangeira, é imprescindível conhecer bem o idioma com
que se trabalha. Não obstante, somente esse conhecimento não basta. É preciso ter
um mínimo de cultura geral (incluindo aspectos culturais do país onde a língua é
falada) e alguma familiaridade com o assunto a ser tratado, sem mencionar, é claro,
um ótimo domínio da língua de chegada. Tudo isso para assegurar a transmissão de
uma mensagem fiel ao conteúdo original e adequada à circunstância comunicativa.
Somente conhecer o par linguístico envolvido não garante o sucesso na
interpretação. Vejamos um exemplo bem simples. Suponhamos que em algum
momento, alguém tenha de traduzir o discurso de um norte americano em viagem
pelo Brasil e em um dado momento esse americano diz “You see. I put on four
pounds on vacation” e o intérprete ou professor traduza “Olha. Eu ganhei quatro
libras nas férias”. Como muito bem colocou Malblanc (apud Campos, 1986, p.14),
“Uma tradução deve ser correta, e não exata”, a tradução acima feita literalmente
está exata, mas não correta. Embora o intérprete demonstre possuir um bom
conhecimento do idioma de partida, faltou-lhe a sensibilidade à diferença cultural
entre as duas línguas manifestada pela utilização de sistemas de peso diferentes. A
tradução literal de “four pounds” para “quatro libras” em português é inaceitável, uma
vez que poucos brasileiros, por razões bastante especiais, saberiam prontamente
que esse peso equivale a 1,816kg no sistema de pesos adotado no Brasil. Uma
18
tradução válida em português seria “Olha. Eu ganhei quase dois quilos nas férias.” A
primeira tradução apresentada “Olha. Eu ganhei quatro libras nas férias”, não está
errada, mas inadequada. A má qualidade dessa tradução deveu-se à necessidade
de um ajuste cultural facilmente perceptível. Há casos, porém, em que o intérprete
tem de mobilizar seu conhecimento enciclopédico ou bagagem cognitiva para lograr
êxito na interpretação. Vejamos um exemplo mais elaborado em que o intérprete
precisará mais do que o domínio da língua para detectar o erro na tradução:
“Martin Luther claimed the right to Liberty of all the people regardless of their race”.
“Martinho Lutero lutava pelo direito à liberdade de todas as pessoas
independente de sua raça”.
Essa tradução preliminar remete ao contexto de um evento histórico
importante que sacudiu a Europa no século XVI, a Reforma Protestante. O
movimento religioso, que tem em Martinho Lutero e João Calvino seus principais
expoentes, quebrou o monopólio religioso da Igreja Católica, dando origem a
diversas denominações. Entretanto, não é da Reforma Protestante que o texto em
inglês trata. De fato, no século XVI a Europa vivia sob um regime teocrático
comandado pela Igreja Católica que privava a população de liberdade em todos os
sentidos. Não obstante, os livros de história não mencionam que a liberdade
defendida por Lutero dizia respeito a uma raça específica, até porque a sociedade
europeia às vésperas das revoluções desencadeadas pela Reforma Protestante
achava-se dividida em três classes sociais, não raças: Clero, Nobreza e
Campesinato. Com essas informações, podemos concluir seguramente que não é
da Reforma que o texto fala. Embora Martin Luther seja o nome em inglês do
reformador alemão, esse antropônimo também se refere a outra figura histórica
importante, Martin Luther (King), pastor e ativista americano que lutava em prol da
emancipação dos negros nos Estados Unidos na década de 60, assassinado em
1968.
De posse dessas informações não explicitadas no texto, podemos concluir
agora que a presença da palavra race (raça) no texto original passa a fazer sentido.
A bagagem cognitiva envolvendo o conhecimento prévio de duas situações
históricas distintas (A Reforma Protestante do século XVI e a luta pela emancipação
dos negros nos EUA nos anos 60) mostrou-se crucial para o processo de
interpretação.
19
Concomitantemente, devemos atentar para a importância de se ter uma
pronúncia correta. Muitos que se enveredam no estudo de línguas supervalorizam o
conhecimento de vocabulário e gramática, mas se descuidam da pronúncia,
conformando-se com uma noção superficial. Embora não tenham dificuldades com o
vocabulário e gramática, esses indivíduos ainda apresentam uma forma de inglês
rudimentar. Pode parecer exagero, mas pode haver situações, entretanto, em que o
domínio da pronúncia poderá ser decisivo na apreensão do significado.
6.1 Problemas de Interpretação devido ao Desconhecimento da Pronúncia
Nesta seção, ilustraremos o problema da ambiguidade quando palavras com
a mesma grafia não são discriminadas na pronúncia. Primeiro, porém, mostraremos
uma pequena lista ilustrativa de 20 homógrafos cognatos da qual usaremos três
exemplos.
AMOSTRA DE HOMÓGRAFOS COGNATOS
AGAPE
/'ægəpɪ/ = (s.) ágape
/ə'geɪp/ = (adj.) boquiaberto
BARRAGE
/bǝˈrɑ:Ʒ/ = (s.) ¹repressão a tiros, ²saraivada de perguntas
/ˈbɑ:rɪdƷ/ = (s.) ³barragem
CONTENT
'kɑ:ntent = (s.) conteúdo
/kən'tent/ = (adj.) contente CONSORT /'kɑ:nsɔrt/ = (s.) cônjuge de monarca
/kən'sɔrt/ = (v.) associar-se a pessoas de má índole
CONTEST
/kən'test/ = (v.) contestar
/'kɑ:ntest/ = (s.) concurso
COMBINE
/'kɑ:mbaɪn/ = (s.) colheitadeira
/kəm'baɪn/ = (v.) combinar (somar-se)
GRAVE /grɑv/ = (adj.) (tom) grave
/greɪv/ = (s.) túmulo, sepultura
MINUTE
/'mɪnɪt/ = (s.) minuto
/maɪ'njut/ = (adj.) minúsculo
SYNDICATE
/'sɪndɪkət/ = (s.) sindicato
/'sɪndɪkeɪt/ = (v.) vender matéria para jornais e revistas
PROCEEDS
'proʊsidz = (s.) arrecadação, dinheiro arrecadado
prə'sidz = (v.) (3ª pessoa) proceder
ARTICULATE /ɑr'tɪkjʊlət/ = (adj.) eloquente
/ɑr'tɪkjʊleɪt/ = (v.) articular
CONSUMMATE /'kɑnsəmət/ = (adj.) exímio
/'kɑnsəmeɪt/ = (v.) consumar
CONCERT /kən'sɜrt/ = (v.) reunir, juntar esforços
20
/'kɑnsərt/ = (s.) concerto
CONVICT /kən'vɪkt/ = (v.) condenar, considerar culpado
/'kɑnvɪkt/ = (s.) condenado, presidiário
FERMENT /fər'ment/ = (v.) fermentar
/'fɜrment/ = (s.) febre (agitação nacional)
GALLANT /'gælənt/ = (adj.) intrépido
/gə'lænt/ = (s.) cavalheiro, galã
INCENSE /ˈɪnsens/ = (s.) incenso
/ɪnˈsens/ = (v.) encolerizar
INVALID /'ɪnvəlɪd/ = (s.) inválido (incapaz)
/ɪn'vælɪd/= (adj.) inválido (nulo, sem valor legal)
PROCESS /'proʊses/ = (s.) processo
/'proʊses/ = (v.) processar
/prə'ses/ = (v.) marchar em ou participar de procissão
REBEL /'rebəl/ = (s.) rebelde
/rɪ'bel/ = (v.) rebelar-se
Imagine que alguém assistindo ao noticiário internacional e, por alguma
razão, perde um fragmento do texto, mas ouve na mensagem seguinte: - The Agents
prevented the invaders from coming closer with barrage… (... Os agentes impediram
a aproximação dos invasores com ¿barragem¿... ). Novamente, o desconhecimento
das diferentes pronúncias da forma inglesa prejudica a interpretação da mensagem
desde que admitamos que a forma em questão fosse “repressão a tiros”
pronunciada /bǝˈrɑ:Ʒ/ e não “barragem” pronunciada /ˈbɑ:rɪdƷ/.
Outro vocábulo que merece atenção é process. O vocábulo pronunciado com
acento na primeira sílaba /'proʊses/ funciona ora como substantivo, significando =
processo, ora como verbo equivalente = processar. Todavia, process, como verbo,
também pode significar outro verbo bem diferente: participar de procissão. Nesse
caso, ele muda de pronúncia, deslocando a sílaba tônica para o final /prə'ses/.
Desconhecendo as propriedades dessa palavra, ao ouvir a frase (somebody)
processed throughout the city, o indivíduo poderá se perder ao interpretar a forma
process como processar, podendo, eventualmente, compensar essa dificuldade de
percepção com a ajuda do texto completo, o que exigirá um maior esforço cognitivo
que poderia ter sido atenuado.
21
Os exemplos acima ilustram situações passivas, em que o indivíduo recebe a
mensagem antes de processá-la. Inversamente, há também situações ativas, em
que o indivíduo elabora e transmite enunciados confusos. Nesse ponto, o emissor
que produz enunciados em língua estrangeira também deve estar atento a nuanças
de pronúncia ocultas em grafias idênticas. Imagine a situação cômica de um falante
brasileiro que precisou conversar com um falante nativo de inglês e tencionou usar o
conceito de “sem valor legal” ao usar a palavra invalid que, nessa acepção, é
pronunciada /ɪn'vælɪd/, mas pronunciou-a de forma que o conceito efetivamente
expresso foi o de “incapaz fisicamente”, pronunciado /'ɪnvəlɪd/?
A partir dessas situações hipotéticas, podemos arrazoar que o
desconhecimento das propriedades das palavras homógrafas tem grande chance de
levar o estudante, professor ou intérprete ou a cometer um erro de interpretação
imediato ou, pelo menos, exigir maior esforço cognitivo para analisar os itens lexicais
anteriores e posteriores para inferir a interpretação adequada.
Esses poucos exemplos já nos permitem refletir sobre a necessidade de se
dominar uma boa pronúncia que sirva para filtrar ideias e significados que podem
passar despercebidos sob a camuflagem de uma forma “cognata”. É razoável
assumir que situações como as ilustradas nos exemplos acima apresentem pouca
probabilidade de ocorrência. Entretanto, como reza o ditado popular “O seguro
morreu de velho”, não podemos vaticinar as situações pelas quais iremos passar.
O certo é que professores e intérpretes detestariam passar por situações em
que percebessem que parte do material com que trabalham foi mal traduzido por
ignorarem pormenores de pronúncia como os ressaltados neste trabalho. Só
teremos condições de avaliar de maneira imparcial a relevância desse conhecimento
ao dependermos dele numa dada situação.
22
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A língua é infinita. Por mais que a estudemos, de tempos em tempos surgem
novas abordagens apontando fenômenos novos e relevantes bem como o
tratamento específico que deve ser dado a eles. Entre essas abordagens,
destacamos as atividades de perceptividade que, como vimos na introdução, podem
ser resumidas em três etapas: identificação de um problema, uso de dados e
cooperação do aprendiz.
Neste trabalho, o fenômeno objeto de análise foi o problema (ignorado por
muitos) das palavras homógrafas inglesas que formam pares cognatos na língua
portuguesa. O assunto é delicado e complexo sobretudo devido às particularidades
das duas línguas: Enquanto em português os conjuntos homógrafos distinguem-se
na pronúncia exclusivamente pela mudança de timbre (aberto↔fechado), os
conjuntos ingleses apresentam uma gama de aspectos para discriminar vocábulos
com a mesma grafia:
1. oposição entre fonemas surdos e sonoros
2. oposição entre fonemas fracos e fortes
3. substituição de fonemas
4. mudança de sílaba tônica
Algumas das mudanças acima podem co-ocorrer com outras e, além disso, os
homógrafos ingleses podem pertencer ou não ao mesmo campo semântico. Todas
essas peculiaridades da língua inglesa não têm sido objeto de investigação
linguística no Brasil. Aqui, ainda se prefere compensar a negligência desse estudo
sobrecarregando o cérebro, fazendo-o depender ao máximo do conhecimento
enciclopédico e das inferências que o indivíduo pode fazer com base no contexto
verbal. Essas ferramentas valiosíssimas comprovam sua utilidade quando se
mostram como único recurso para desfazer ambiguidades em situações em que não
é possível discriminar a pronúncia.
Entretanto, existem situações em que a ambiguidade poderá ser eliminada
conhecendo-se previamente as pronúncias e significados possíveis de um mesmo
conjunto homográfico sem necessidade de se lançar mão do contexto verbal ou, ao
menos, minimizando essa dependência.
Essas constatações motivaram o presente trabalho que, sob o prisma das
atividades de perceptividade, procurou:
23
1-chamar a atenção de intérpretes, professores e estudantes de inglês e
português para o problema dos homógrafos da língua inglesa e suas
especificidades, alertando para os que formam conjuntos cognatos em português;
2-Coletar dados amostrais que ilustrem o fenômeno. Embora haja uma
discrepância entre o número de homógrafos cognatos existentes e o número
utilizado no trabalho, tal limitação não fere o objetivo do trabalho que foi o de usar
um número representativo de amostras para chamar a atenção daqueles que lidam
ou que terão de lidar algum dia com os pares inglês e português e não o de compilar
um dicionário de palavras homógrafas e explica-los exaustivamente (contudo,
aqueles que tiverem interesse em aprofundar-se no assunto poderão consultar o
ANEXO) e por último
3-incentivar professores, estudantes, intérpretes ou profissionais afins a se
esforçarem intelectualmente por descobrir dados novos e testá-los para que
aumentem sua competência linguística, o que refletirá em um melhor desempenho
de suas atividades.
Há inúmeros outros obstáculos a serem transpostos no estudo de línguas;
contudo, a percepção e o tratamento dos homógrafos ingleses cognatos de palavras
da língua portuguesa pode ser um obstáculo a ser explorado melhor em pesquisas
posteriores.
24
8 REFERÊNCIAS
CAMPOS, Geir. O que é Tradução. São Paulo: Brasiliense, 1986.
CINTRA, Geraldo. Cognatos: sistematização e implicações. Cadernos do Centro de Línguas, n. 2 p. 137 – 142, 1998 (São Paulo: Humanitas / FFLCH-USP). WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cognato.> Acesso em 06 de setembro de 2010.
CRYSTAL, C. Dicionário de Linguística e Fonética. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Jorge Hazar, 2000.
HORNBY, AS. Oxford Advanced Learner’s Dictionary of Current English. 7 ª Ed. Oxford: OUP, 2005
HIGGINS, John. List and Analysis of English Homographs: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Disponível em: <http://en.wikipedia.org/wiki/ List_of_English_homographs>. Acesso em 24 de agosto de 2010.
ILARI, R. Dicionário de Linguagem e Linguística. 2ª Ed. São Paulo: Contexto, 2008.
MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008.
PEARSON, ESL. Longman Dictionary of Contemporary English. 4ª Ed. Burmingham: Longman, 2005.
SABINO, Marilei Amadeu. Falsos Cognatos, Falsos Amigos ou Cognatos Enganosos? Desfazendo a Confusão Teórica através da Prática. Revista Alfa, 2ª Ed. Vol. 50, p. 251-263, 2006. São Paulo: WIKIPEDIA, The Free Encyclopedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Cognato.> Acesso em 06 de setembro de /2010.
WILLIS, Dave; Willis Jane. Challenge and Change in language Teaching. Oxford: Heinemann, 1996.
25
ANEXO
LISTA DE 369 HOMÓGRAFOS DE JOHN HIGGINS
Absent Abstract
Abuse
Accent
Addict
Address
Advert
Advocate
Affix
Agape
Agglomerate
Aggregate
Alloy
Ally
Alternate
Angers
Animate
Annex
Appropriate
Approximate
Articulate
Aspirate
Associate
Attribute
August
Axes
Aye
Baas
Bamboo
Bases
Bass
Baths
Beloved
Blessed
Bow
Bowed
Bower
Bowers
Bowing
Buffet
Cave
Certificate
Cleanly
Close
Coax
Collect
Combine
Commune
Compact
Compliment
Compound
Compress
Concert
Conduct
Confederate
Confines
Conflict
Conglomerate
Conscript
Console
Consort
Consummate
Content
Contents
Contest
Contract
Contrast
Converse
Convert
Convict
Coordinate
Corps
Co-star
Counterbalance
Crabbed
Crooked
Cursed
Decoy
Decrease
Defect
Defile
Degenerate
Delegate
Deliberate
Denier
Descant
Desert
Desolate Diagnoses
Dictate
Diffuse
Digest
Discard
Discharge
Discount
Discourse
Document Does
Dogged
Dove (US)
Downhill
Downstairs
Drawer
Duplicate
Elaborate
Entrance
Escort
Essay
Estimate
Evening
Excess
Excise
Excuse
Expatriate
Exploit
Export
Extract
Ferment
Filtrate
Finish
Flower
Forbear
Forearm
Fragment
Frequent
Furrier
Gallant
Gill
Glower
Graduate
Grave
House
Housewife
Impact
Implant
Implement
Import
Impress
Imprint
Inincarnate
Incense
Incline
Incorporate
Increase
Indent
Inebriate
Initiate
26
Inland
Inlay
Insert
Inset
Inside
Instinct
Insult
Inter
Interchange
Interdict
Intern
Intimate
Introvert
Invalid
Inverse
Invite
Jagged
Job
Layer
Lead
Leading
Learned
Lens
Lied
Lip-read
Live
Lower
Lowered
Lowering
Mandate
Manes
Minute
Misconduct
Misprint
Misread
Misuse
Moderate
Moped
Mouth
Mow
Mowed
Mowing
Multiply
Munch
Nancy
Natal
Nice/Nice
No Number
Object
Ornament
Outside
Overall
Overbid
Overcharge
Overflow
Overhang
Overhaul
Overhead
Overlap
Overlay
Overnight
Overprint
Overseas
Overstrain
Overthrow
Overweight
Overwork
Palled
Palling
Pasty
Pate
Path
Patois
Peer
Pension
Perfect
Perfume
Permit
Pervert
Polish
Poll
Pontificate
Prayer
Precipitate
Predicate
Prefix
Preposition
Presage
Present
Princess
Proceeds
Process
Processed
Processing
Produce
Progress Project
Prolapse
Prospect
Prostrate
Protest
Purport
Pussy
Put
Putting
Quadruple
Quadruplicate
Quite
Ragged
Rampage
Read
Reading
Real
Rebel
Rebound
Recall
Recap
Recapped
Recapping
Record
Re-count
Refill
Refit
Reform
Refund
Refuse
Reg
Regenerate
Rehash
Reincarnate
Reject
Rejoin
Rejoined
Rejoining
Rejoins
Relay
Relaying
Relays
Remake
Remark
Remount
Rendezvous
Replay
Reprint
Reproof
Reread
27
Suspect
Swinging
Syndicate
Tarry
Tear
Tier
Tinged
Tinging
Torment
Tours
Tower
Transfer
Transplant
Transport
Trier
Triplicate
Undercharge
Undercut
Underestimate
Underground
Underlay
Underline
Undertaking
Unused
Upgrade
Uplift
Upset
Upstairs
Use
Used
Valence
Wear
Wicked
Wind
Winding
Worsted
Wound
Rerun
Resent
Resume
Retake
Rethink
Reticulate
Retread
Rewrite
Romance
Routed
Routine
Routing
Row
Rowed
Rowing
Rugged
Sake
Sardine
Scone
Second
Seconded
Seconding
Segment
Separate
Sewer
Shower
Skier
Slough
Sow
Staffs
Subcontract
Subject
Subordinate
Supplement
Supply
Surmise Survey