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5. HIDROGEOLOGIA

A metodologia utilizada na elaboração domapa Hidrogeológico consistiu na caracterizaçãohidrogeológica das várias unidades geológicascartografadas, aí considerada, além da litologia,sua estruturação em subsuperfície.

A compreensão da paleomorfologia da área,mais especificamente no que se refere à posiçãodo topo do embasamento, foi possibilitada a par-tir das informações da geologia, da geofísica eperfis de poços tubulares. Tais informações sãode importância fundamental na separação e qua-lificação dos sistemas aqüíferos cartografados,uma vez que mais de 75% da área são domina-dos por uma cobertura sedimentar tércio-quaternária, principalmente aquela relacionadaao grupo Barreiras.

Além da análise do mapa Geológico (MoraesFilho, 1999), foram utilizados os dados da disser-tação de mestrado de Monteiro (UFBa, 1999),Eletrorresistividade Aplicada na Avaliação doPotencial Aquífero da Região de Porto Seguro-BA.

A interpretação foi reforçada com os dados docadastramento de poços tubulares, a grande maio-ria situada na região costeira ou ao longo da rodo-via Eunápolis/Porto Seguro.

Uma primeira inspeção no mapa Geológico(Figura 6) mostra que exposições do embasa-mento proterozóico ocorrem unicamente na meta-de ocidental da área, seguindo, preferencialmente,os talvegues dos vales. Na metade oriental, aflo-ram unicamente sedimentos terciários (grupo Bar-reiras) e quaternários continentais e marinhos.Essas observações, baseadas exclusivamente nosdados da geologia de superfície, e considerando atopografia quase uniforme da área, só mostrandoquebra acentuada ao longo da costa, levam a umaprimeira constatação: há aumento da espessura dacapa sedimentar de oeste para leste, ou seja, dointerior para a costa. Esse fato foi comprovadocom a análise dos dados geofísicos de eletrorre-sistividade, obtidos ao longo da rodovia BR-367,entre as sedes municipais de Eunápolis e PortoSeguro, respectivamente, extremos oeste e lesteda área. Esses dados resultaram no perfil geoelé-trico (Figura 7), que mostra uma variação desdepoucas dezenas de metros de sedimentos na regi-ão de Eunápolis até 235m na região de Porto Se-guro.

A análise dos perfis de poços tubulares ratificaas interpretações da geologia e da geofísica, mos-trando como informações adicionais:• Na área, o grupo Barreiras é constituído por

uma alternância de sedimentos argilosos e are-

noconglomeráticos, com espessura bastante va-riável, a depender da paleomorfologia do em-basamento, não ultrapassando, contudo, os80m de profundidade. Funciona, no geral,como aqüífero confinado, multicamadas, a su-perior livre.

• Presença, em subsuperficie, no setor leste daregião, de uma seqüência multicamadas entreo grupo Barreiras e o embasamento protero-zóico. Em poços localizados, são descritosnessa seqüência, além de arenitos, níveis defolhelhos, margas e calcários, litologias quena literatura seriam mais compatíveis com aformação Caravelas de idade terciária, for-malizada por Asmus et al. (1971) na baciaEspírito Santo-Mucuri. Esse aqüífero seriatambém do tipo confinado e com maior po-tencial que o grupo Barreiras, verificando-seem alguns poços que o atingiram vazões su-periores a 100m3/h.Na individualização e hierarquização dos prin-

cipais sistemas aqüíferos da área, foi estabelecidocomo critério principal a integração dos dadosgeológicos, geofísicos e de perfis de poços (litolo-gias, espessura de camadas produtoras, permeabi-lidade, porosidade, fraturamentos etc.), com ênfasena espessura total do pacote sedimentar e na razãoareia/argila.

Dessa forma, compartimentou-se a área estu-dada em dois blocos distintos:• o primeiro, onde ocorrem exposições do cris-

talino, abrange a metade ocidental da área ma-peada e corresponde, em um perfil vertical, aogrupo Barreiras, em alguns vales com aluviões,assentado diretamente sobre o embasamentoproterozóico; nesse bloco, quase nunca a es-pessura de sedimentos ultrapassa 80m, e as va-zões situam-se em torno de 7,0m3/h;

• o segundo bloco compreende a metade orientalda área, não apresenta afloramentos do crista-lino e mostra, em um perfil vertical, o grupoBarreiras, também, em alguns vales com alu-viões recentes, assentado, no mais das vezes,sobre uma outra seqüência multicamadas, aquiconsiderada como possível formação Carave-las. Nesse bloco, a espessura total do pacotesedimentar (aluviões + Barreiras + Caravelas?)pode atingir 215m.A separação em mapa dos dois blocos des-

critos foi efetuada de forma empírica, através deuma linha aproximadamente norte/sul, represen-tativa de uma descontinuidade a partir da qualacontece um aprofundamento do embasamento nosentido leste.

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Figura 6 Mapa Geológico.

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QUATERNÁRIO

FAIXA MÓVELNEOPROTEROZÓICO

PALEOPROTEROZÓICO(Protólitos paleoproterozóicos rejuveneci-

dos no Neoproterozóico)

GEOLOGIA/ LITOLOGIA

TERCIÁRIO

Depósitos colúvio-eluvionares parcialmente la- terizados

Depósitos arenosos mal selecionados resi- duais e/ou transportados

Depósitos arenosos e silto-arenosos ricos em matéria orgânica

Depósitos arenosos e argilo arenosos fluviais Unidades Continentais*

Recifes de corais e algas coralinas

Arenitos de praia finos a grossos com cimento carbonático

- gnaisses kinzigíticos com rochas calcissilicáticas subordinadas, me- tatexitos com mesossoma kinzigíticos e neos- soma granítico

Complexo kinzigítico

Depósitos argilo-siltosos de pântanos e man- gues atuais ricos em matéria orgânica

- quartzo xistos quartzitos, grafita-quartzo xistos e cianita silimanita xistos, biotita-muscovita xistos

Grupo Macaúbas

Areias litorâneas bem selecionadas com con- chas marinhas

- médios a grossos conten- do granada e/o muscovita

Biotita Granitóide

Unidades Marinhas*

- Arenitos imaturos, finos a granulosos, com níveis argilosos e conglome- ráticos

Grupo Barreiras

- biotita-mus- covita gnaisses, biotita gnaisses migmatíticos, biotita-hornblenda granitóidespofiróides, folia- dos

Complexo Gnáissico Granítico

* As unidades quaternárias não estão dispostas segundo ordem cronológicas

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A BSecção geoelétrica

Sondagem Elétrica Vertical

Descontinuidade inferida??

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Na separação dos sistemas aqüíferos, foramtambém considerados os estudos de neotectônicaconstantes do trabalho de Saadi, in Moraes Filho(1999), principalmente, aqueles referentes ao temaGrabens dos Baixos Cursos Fluviais. Esse autorinterpreta os baixos cursos dos rios João de Tiba,Buranhém e dos Frades como estruturas neogêni-cas tipo grabens. Com base em análise morfotec-tônica, essas interpretações foram justificadas comos seguintes critérios:• vales muito largos com fundos perfeitamente

planos e margens constituídas por escarpasverticais a subverticais;

• esses vales apresentam um traçado retilíneo emdistâncias de dezenas de quilômetros;

• essa morfologia é impressa em sedimentos dotipo arenitos argilosos, sem que o perfil das es-carpas tenha sido amenizado pela erosão e o tra-çado destas tenha sido festonado pela dissecação.Aliado a esses critérios, há o fato de esses tre-

chos de vales, contrariamente ao esperado, com-portarem-se como linhas dispersoras da drenagemsecundária. Seus fundos são ocupados por sedi-mentos holocênicos, de origem flúvio-marinha,denunciando uma provável subsidência contínua.Ao longo dessas estruturas, a espessura de sedi-mentos também aumenta de oeste para leste. In-formações verbais, obtidas de pessoas envolvidasna construção da rodovia que liga a BR-367 às lo-calidades de Trancoso e Arraial D’Ajuda, atestamque os furos de sondagem efetuados no vale do rioBuranhém, na altura do vale Verde, para constru-ção da ponte, perfuraram até uma profundidade de80m um pacote eminentemente pelítico, sem atin-gir o embasamento. Essa bateria de sondagens lo-caliza-se a leste da descontinuidade, interpretadacomo limite dos dois blocos, o que comprova oaprofundamento do embasamento no sentido dacosta atlântica.

Em essência, o mapa Hidrogeológico elabora-do tem por objetivo agrupar áreas de condiçõessimilares de ocorrência de águas subterrâneas, es-tabelecendo a geometria dos aqüíferos, limitesgeográficos e potencialidades. Como resultado,obtém-se uma representação onde cada unidadeserá constituída por um sistema mais ou menoscomplexo (um ou mais níveis aqüíferos associadosa níveis semipermeáveis e/ou impermeáveis), oqual é, em geral, sujeito a certas ações externas aosistema (bombeamento, recarga artificial e drena-gem). Na avaliação da dinâmica do funcionamentodos aqüíferos, tratou-se de obter a melhor compre-ensão possível dos mecanismos de recarga e des-carga e da resposta dos aqüíferos à explotação. Omapa Hidrogeológico apresenta, por superposiçãode símbolos e cores, uma classificação dos aqüífe-ros segundo os aspectos seguintes:

A) Tipos e características dos sistemas aqüífe-ros

São agrupados os tipos de aqüíferos segundoos parâmetros físicos de seu funcionamento:• poroso (permeabilidade, porosidade, espessura,

condicionamento estrutural etc.);• fraturado (densidade, extensão, intersecções de

fraturas etc.).Além disso, são consideradas as perspectivas

de quantidade e da qualidade natural das suaságuas.

B) Importância hidrogeológica relativa localA importância hidrogeológica relativa local

(negligenciável, muito pequena, pequena, mediana egrande) tem conceituação subjetiva, cujo objetivo éa definição das áreas segundo um confronto equili-brado entre a disponibilidade, a necessidade e aqualidade da água e explotabilidade (possibilidadestécnicas e econômicas de captação) do aqüífero.

Pontualmente, está representada a produtividadedos poços, sendo que a dimensão de sua simbologiavaria de acordo com a sua vazão, definida para umrebaixamento do nível d’água de 25m. A produtivi-dade dos poços foi fixada segundo estes limites:• inferior a 3m³/h• entre 3 e 10m³/h• entre 10 e 40m³/h• entre 40 e 100m³/h• superior a 100m³/h

Complementando as informações representa-das no mapa Hidrogeológico, foi avaliada a quali-dade química das águas subterrâneas para algunspontos d’água, sendo apresentados, no quadro deinformações sobre os poços, dois dos aspectos daqualidade química das águas subterrâneas:

A) PotabilidadeA determinação da potabilidade físico-química

de cada amostra de água foi efetivada com a utili-zação do diagrama de Schoeler, onde se aplicam osvalores dos cátions e ânions presentes na amostra,além dos valores de pH e resíduo seco.

B) Classificação para irrigaçãoA classificação das águas para eventual utiliza-

ção na irrigação foi efetuada a partir do diagramasugerido pelo Laboratório de Salinidade dos Esta-dos Unidos (United States Salinity Laboratory),que utiliza os valores da condutividade e do índicede adsorção de sódio para verificar o teor de salini-zação e o risco de sódio de cada amostra analisada,além do seu uso nos diferentes tipos de solos econdições de drenagem.

Na composição do mapa Hidrogeológico, pro-curou-se atender não só ao setor técnico especiali-zado, mas também ao usuário não-especializado,fazendo-se constar o maior número possível deinformações práticas (profundidades de captação,explotabilidade, usos da água, produtividade etc.).

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Os estudos hidrogeológicos se basearam, alémda geologia e geofísica, nos dados fornecidos por

97 pontos d’água, 32 análises químicas e 34 ensai-os de bombeamento.

5.1 Sistemas Aqüíferos

As condições de ocorrência, acumulação e cir-culação de água subterrânea em uma região estãocontroladas por suas feições litológicas, de relevo,estratigráficas, estruturais e climáticas, cujas ca-racterísticas determinam uma maior ou menor vo-cação no que concerne às possibilidades técnicas eeconômicas de exploração.

A área do projeto, com 3.935km2, é geologi-camente constituída por formações cenozóicas elitótipos pré-cambrianos, que incluem gnaisses,granitóides, quartzitos e xistos, submetidos a con-dições climáticas de transição entre a região costei-ra úmida e o interior subúmido.

Desse contexto, resulta um potencial de recur-sos hídricos subterrâneos bastante heterogêneo.

Foram individualizados sete sistemas aqüíferose uma zona sem importância hidrogeológica. Ten-do por base critérios geológicos, informações geo-físicas, perfis de poços cadastrados e a extensãogeográfica dos afloramentos, foram definidas áreasde características litológicas e comportamentoshidrogeológicos semelhantes, no que se refere àaptidão em armazenar e liberar os recursos hídricossubterrâneos. Assim, foram delimitados domíniosdistintos, de interesse imediato no planejamentodas atividades econômicas e administrativas. Cadasistema é caracterizado por um conjunto de parâ-metros físicos (transmissividade e permeabilidade)e geométricos (forma, espessura e limites) – quedeterminam o seu potencial de armazenamento eprodução –, e químicos, que determinam a quali-dade natural de suas águas. Em geral, estão sujeitosa determinadas ações externas ao sistema (bombe-amento, recarga artificial, drenagem, poluiçãoetc.).

Os sistemas aqüíferos cartografados (Figura 8)são a seguir relacionados.

Sistema aqüífero c: o mais importante de to-dos, abrangendo cerca de 76% da área estudada; érepresentado pelas extensas coberturas terciáriasdo grupo Barreiras, sendo subdividido em doissetores:• Sistema aqüífero c5: ocorre a leste da linha de

descontinuidade e corresponde ao grupo Bar-reiras assentado sobre outra seqüência multi-camadas, aqui considerada com reservas como

formação Caravelas(?), unidade não-aflorantena área; esse conjunto multicamadas aumentade espessura no sentido oeste/leste, em direçãoà costa oceânica.A análise do sistema mostra que ele apresenta,normalmente, condição bastante privilegiadano que diz respeito à ocorrência de água sub-terrânea, tanto em quantidade como em quali-dade. Compreende cerca de 1.347,8km2, o quecorresponde a 32,65% da área estudada.

• Sistema aqüífero c4: ocorre a oeste da descon-tinuidade e corresponde ao grupo Barreiras as-sentado diretamente sobre o embasamento pré-cambriano; abrange, aproximadamente,1.786,2km2, o equivalente a 43,27% da área.Sistema aqüífero g4: representado pelo do-

mínio das rochas pré-cambrianas (gnaisses, gra-nitóides, quartzitos e xistos), constitui no geralaqüíferos de baixas vazões; a presença de águanessas rochas está associada à presença de fratu-ramentos abertos (aqüíferos do tipo fissural);abrange cerca de 523km2, o que representa12,67% da área total.

Sistema aqüífero a3: ocupa aproximadamente348km2 da área estudada (8,43%), sendo repre-sentado por aluviões, depósitos residuais e/outransportados, areias litorâneas e depósitos colú-vio-eluvionares; são aqüíferos intergranulares des-contínuos, locais, livres, com espessura máxima daordem de 40 a 45m; ocorrem sobre aqüíferos dostipos b, c ou g.

Sistema aqüífero d1: formado por depósitosargilossiltosos com acentuada contribuição orgâni-ca (pântanos e mangues), situados em pequenasbaías e margens protegidas de rios, submetidos àinfluência de marés; constituem coberturas imper-meáveis ou semipermeáveis de pequena espessurasobre aqüíferos dos tipos a, b ou c, ocupando ape-nas 0,65% da área estudada.

Sistema aqüífero b: representado por depósitosaluvionares argilo-silto-arenosos, encaixados emestruturas neogênicas tipo graben, que acompa-nham os baixo-médio cursos dos rios Buranhém,dos Frades e João de Tiba. Esse sistema aqüífero, à

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semelhança do sistema aqüífero c, foi subdivididoem dois setores:• Sistema aqüífero b3: situa-se a leste da linha

de descontinuidade e corresponde a faixasonde o aqüífero tem espessuras superiores a60m; ocupa 1,73% da área mapeada.

• Sistema aqüífero b2: é observado a oeste dalinha de descontinuidade, onde o aqüífero temmenores espessuras, desde poucos metros até60m; ocupa 0,60% da área estudada.

Por fim, foi definida uma zona sem importân-cia hidrogeológica, representada pelos litótipossem ou com pequena vocação hídrica (recifes decoral, arenitos cimentados de praia), sem repre-sentatividade na área dos municípios, já que seposicionam a leste da linha do litoral.

A Figura 9 exibe a distribuição percentualdas áreas dos sistemas aqüíferos presentes naregião.

Figura 9 – Distribuição percentual das áreas ocupadas pelos sistemas aqüíferos.

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0,65%1,73%

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c5 (integranular multicamada)c4 (intergranular sobre fissural)g4 (fissural)a3 (intergranular inconsolidado sobre c, ou b, ou g)d1 (coberturas impermeáveis a semipermeáveis sobre a, ou b, ou c)b3 (intergranular subordinado a cursos d'água)b2 (intergranular subordinado a cursos d'água)

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5.1.1 Aqüífero c5 (intergranular multicamadas)

O domínio c5 (Figura 10) é o mais importantesistema aqüífero da região.

É representado por sedimentos do grupo Bar-reiras, sobreposto a uma outra unidade sedimentarnão-aflorante, aqui correlacionada, com reservas, àformação Caravelas. O conjunto repousa sobrelitótipos neo- e paleoproterozóicos.

O caráter multicamadas do grupo Barreiras eda formação Caravelas, com uma alta razãoareia/argila, confere ao sistema as melhores condi-ções de recarga, armazenamento e vazão da região.Esse conjunto forma um relevo de tabuleiros, cujasuperfície apresenta um leve caimento na direçãoleste, correspondendo, em subsuperfície, a um gra-dativo aumento de espessura do interior para o lito-ral.

A) Características litológicas e estruturais

Esse sistema aqüífero é caracterizado pela as-sociação de duas unidades geológicas sedimenta-res, multicamadas, que ocorrem sobrepostas aoembasamento proterozóico.

O grupo Barreiras é a unidade superior dessesistema aqüífero e apresenta uma espessura máxi-ma em torno de 80m. Litologicamente, é marcantea alternância de depósitos pelíticos e psamo-psefíticos, dando ao conjunto um aspecto grossei-ramente acamadado. Predominam, contudo, sedi-mentos arenosos, malselecionados, com baixamaturidade textural e mineralógica, evidenciandoque o transporte a que foram submetidos foi curtoe aparentemente torrencial. Suas principais litofá-cies incluem:• arenitos seixosos, de coloração creme a aver-

melhada, médio a grosseiros, aspecto maciço,essencialmente quartzosos;

• argilitos maciços, de coloração roxa, cremeesverdeada e avermelhada, contendo fraçãosilte, além de grãos e grânulos de quartzo;

• arenitos grosseiros, com pouca matriz, estrati-ficação pouco nítida, com níveis descontínuosseixosos;

• arenitos finos a médio, coloração creme a es-branquiçada, com boa seleção granulométrica;

• argilitos arenosos; com grânulos pingados dequartzo.Em termos hidrogeológicos, excetuando-se a

camada superior do sistema, que atua como aqüífe-ro livre, as demais camadas arenoconglomeráticasfuncionam como aqüíferos confinados superpostos,a maioria com boa porosidade e permeabilidade, oque confere ao sistema, como um todo, um bompotencial como aqüífero.

As multicamadas que compõem o grupo Bar-reiras foram consideradas por Medeiros & Ponte(1981) como originadas por um complexo de sis-temas aluviais e fluviais, o que lhes confere umagrande variação lateral e vertical de fácies, difi-cultando uma análise e correlação efetiva sobre aprodutividade de poços perfurados em sua área deocorrência.

A possível formação Caravelas (Carvalho &Garrido, 1965) é a unidade multicamadas inferiordesse sistema aqüífero, não aflora na área estudadae assenta diretamente sobre as rochas proterozóicasdo embasamento. Na região, os sedimentos dessaunidade se espessam do interior para a costa (Figu-ra 7), sendo o seu topo atingido a partir de 80m deprofundidade.

Um poço perfurado pela Cerb, na localidade deArraial D’Ajuda, município de Porto Seguro, mos-tra, entre 80 e 216m de profundidade (topo do em-basamento), uma seqüência constituída essencial-mente pela alternância de argilas e arenitos médiosa grosseiros malselecionados, com grãos angulosose subangulosos. Em outro poço, perfurado pelaGeosol, mais ao sul, na localidade de Ponta do Co-rumbau, município do Prado, é descrita, na seçãoentre 80 e 181m, uma seqüência de arenitos inter-calados a folhelhos, calcários e margas.

Todas as camadas arenosas dessa unidade fun-cionam como aqüíferos confinados e apresentam,no geral, uma grande potencialidade de recursoshídricos subterrâneos. A relação entre os aspectostopográficos, litológicos, estratigráficos e estrutu-rais desse aqüífero condiciona o aparecimento decondições bastante distintas, podendo apresentarníveis estáticos com mais de 40m, ou zonas de ar-tesianismo e surgência.

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B) Recarga, armazenamento, exultórios

A recarga desse sistema aqüífero ocorre di-retamente sobre as áreas aflorantes dos sedi-mentos do grupo Barreiras, em função princi-palmente da infiltração das águas pluviais. Asáreas que apresentam maiores índices de recargasão aquelas onde predominam as litologias are-nosas e areno-conglomeráticas da unidade, cujocaráter poroso e permeável, aliado ao relevopouco inclinado, favorece a infiltração daságuas. De um modo geral, a natureza tipicamentearenosa das porções superiores do grupo Barrei-ras condiciona uma taxa de infiltração relativa-mente alta.

A recarga relativa à formação Caravelas(?),subjacente, é principalmente pela drenança verticaldo grupo Barreiras.

O armazenamento de águas nessas duas cama-das de rochas que compõem o sistema aqüífero de-pende da sua porosidade primária intergranular.

Os principais processos de descarga natural dogrupo Barreiras estão relacionados a evapotranspi-ração, fontes naturais situadas nas interfaces are-nitos/pelitos e drenagem vertical para as unidadesinferiores. Em relação à formação Caravelas(?),mais inferior, sua própria conformação geológicaindica com principal exultório o oceano Atlântico.

C) Possibilidades de explotação

Na área do projeto existem dezenas de poçosperfurados por empresas privadas e pela Cerb, cu-jos objetivos de captação são distintos. Isto é, po-ços com características construtivas para o atendi-mento de pequenas vazões, como hotéis e pousa-das, e grandes vazões, como abastecimento públicode bairros e localidades. As captações cadastradasnesse sistema (43 poços tubulares) indicam que avazão específica do aqüífero é da ordem de1,70m3/h/m. Os níveis estáticos variam de mais de40m até níveis surgentes. As entradas d’água seconcentram entre 60 e 120m de profundidade, commédia de vazões em torno de 19m3/h.

A zona de maior potencialidade do aqüíferotende a ser aquela cuja espessura é maior, ondeacredita-se encontrar um número mais elevado dehorizontes produtores (camadas arenosas e/ou are-noconglomeráticas). As perspectivas de vazão, nafaixa litorânea, para poços com 150m, com locação

e características técnicas adequadas, é de aproxi-madamente 50m3/h. Para o interior, a expectativade vazão é menor que 19m3/h para profundidadesda ordem de 100m.

Foram interpretados os resultados dos testes debombeamento de 20 dos poços catalogados, utili-zando-se o método aproximativo de tem-po/rebaixamento residual (Jacob). A análise dosvalores da transmissibilidade (T) do sistema per-mite caracterizar a anisotropia e a permeabilidadedo sistema testado. Os valores de T mostraram va-riação entre 0,11 x 10-4 a 4,2 x 10-3.

Convém destacar que o sistema c5 é de grandeimportância hidrogeológica relativa local, conside-rando-se sua distribuição no espaço geográfico daárea, aliada ao fato de que as atividades econômi-cas e a população, em grande parte, dele se utili-zam para o suprimento de água.

5.1.2 Aqüífero c4 (intergranular sobre fissural)

O aqüífero c4 é o mais representativo emárea aflorante (Figura 11). É constituído por se-dimentos do grupo Barreiras (aqüífero do tipointergranular) sobrepostos diretamente ao domí-nio das rochas pré-cambrianas (gnaisses, grani-

tóides, quartzitos e xistos), que constitui umaqüífero do tipo fissural. A abrangência da áreaexposta e o caráter arenoso do grupo Barreirasconferem ao sistema boas condições de recarga,armazenamento e vazão.

A) Características litológicas e estruturais

Na área de exposição do aqüífero c4, o grupoBarreiras aflora na forma de tabuleiros, com boapermeabilidade, caracterizando-se pelo gradualaumento de espessura no sentido oeste-leste, quan-

do passa de poucos metros até a espessura máxima,em torno de 80m. Os aspectos litológicos são osmesmos descritos para o grupo Barreiras no aqüí-fero c5.

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Os principais alinhamentos estruturais, ob-servados a partir da rede de drenagem, apresen-tam as direções noroeste-sudeste, nordeste-sudoeste e, subordinadamente, leste-oeste. O

acentuado controle dos cursos d’água reflete aação de processos neotectônicos, que reativaramantigas linhas de falhas e fraturas do embasa-mento proterozóico.

B) Recarga, armazenamento e exultórios

A recarga do sistema aqüífero é efetuada dire-tamente pelas precipitações pluviométricas.

O armazenamento de água no sistema corres-ponde ao somatório da água armazenada no aqüífe-ro poroso e permeável (grupo Barreiras) e aquelaretida nos fendilhamentos abertos das rochas do

embasamento proterozóico, o que resulta num sis-tema hidrogeológico misto.

Em relação aos exultórios do sistema, a eva-potranspiração e as fontes nos sopés das encostasconstituem os principais processos de descarganatural.

C) Possibilidades de explotação

Foram cadastrados 10 poços tubulares nessesistema, que indicam vazão específica média doaqüífero da ordem de 0,60m3/h/m. As vazões obti-das variam de 2m3/h até 20m3/h, ficando a médiaem torno de 7m3/h.

Os setores com maiores possibilidades de ex-plotação do aqüífero c4 tendem a ser aqueles cujasespessuras e teor arenoso do aqüífero granular(grupo Barreiras) são maiores, e localmente, emzonas onde são previstos fendilhamentos e fratu-ramentos no aqüífero fissural (embasamento).

Registram-se, em poços perfurados ao sul daárea (dois testes de bombeamento), valores para atransmissibilidade (T) da ordem de 0,60 x 10-3.Destaca-se, porém, que esses poços apresentam

vazões da ordem de 15m3/h, acima, portanto, daexpectativa de vazão média do aqüífero c4.

Em nível de planejamento, recomenda-se aperfuração de poços, locados com critérios técni-cos, em zonas cuja espessura do grupo Barreirasseja superior a 40m. Para a profundidade dos poçosnesses sedimentos, vale a regra: os poços só devempenetrar no embasamento o suficiente tecnica-mente, até o máximo de 20m abaixo do contatocom o grupo Barreiras, já que abaixo dessa pro-fundidade não ocorrerão, provavelmente, entradasde água que não sejam salinizadas.

Nessas condições, há indicações da viabilidadede poços tubulares com 40 a 80m de profundidade,com vazões entre 3,0m3/h e 7,0m3/h.

5.1.3 Aqüífero g4 (fissural)

Representado pelas áreas de afloramentodas rochas proterozóicas, que incluem gnais-ses, quartzitos, granitóides e xistos (Figura12).

Essas rochas apresentam comportamento hi-drogeológico típico, com água armazenada nasfraturas abertas das rochas, o que origina um aqüí-fero do tipo fissural.

A) Características litológicas e estruturais

Litologicamente, esse sistema é constituído porum conjunto de rochas agrupadas em quatro uni-dades geológicas:• Unidade 13: Complexo Gnáissico-Granítico

(hornblenda-biotita-granitóides associados abiotita-muscovita-gnaisses e a biotita-gnaissesmigmatíticos).

• Unidade 12: Complexo Kinzigítico (gnaisseskinzigíticos com rochas calcissilicáticas subor-dinadas).

• Unidade 11: Grupo Macaúbas (cianita-silimanita-xistos, biotita-muscovita-quartzo-xistos, xistos grafitosos e quartzitos).

• Unidade 10: Biotita-Granitóide (biotita-granitóides contendo granada ou muscovita).Os estudos geológicos desenvolvidos na área

(Moraes Filho, 1999) revelam que, na região, asunidades proterozóicas afloram de modo restrito anoroeste, oeste e sudoeste. Nas duas primeiras áre-as, onde ocorrem litologias do grupo Macaúbas edos complexos Gnáissico-Granítico e Kinzigítico,

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os elementos estruturais mais marcantes são fa-lhas/fraturas com direções noroeste-sudeste e nord-este-sudoeste, algumas delas projetando-se no con-texto das coberturas terciárias do grupo Barrei-ras.As foliações medidas são raras. A oeste da área, elastêm direção preferencial noroeste-sudeste, commergulhos fortes para nordeste. Localmente, cercade 1km a oeste de Barrolândia, no extremo norte domunicípio de Santa Cruz Cabrália, em quartzitos dogrupo Macaúbas, pode-se observar o paralelismoentre essa foliação e o acamamento primário (SO),ambos em padrão assimétrico.

No extremo sudoeste da área, onde ocorremexclusivamente gnaisses kinzigíticos, as falhas e

fraturas exibem as mesmas direções nordeste-sudoeste e noroeste-sudeste. A foliação de planoaxial, quando observada, encontra-se paralelizadaao acamamento (SO), que é definido pela alternân-cia de bandas composicionalmente distintas (félsi-cas, quartzofeldspáticas e máficas, ricas em mine-rais ferromagnesianos), como também pela presen-ça de camadas de rochas calcissilicáticas. Na regi-ão, os traços de foliação desenham formas encur-vadas, que sugerem a presença de dobramentosmais recentes. Nesse domínio, uma análise estrutu-ral mais detalhada (densidade e intersecção defraturas) dos dados fica comprometida pela reduzi-da área de ocorrência.

B) Alimentação, armazenamento e exultórios

A alimentação do aqüífero g4 (fissural) tem suaorigem na parcela das águas pluviais que são retidaspelo processo de infiltração, diretamente, sobre asáreas de fraturas abertas, ou indiretamente, atravésde coberturas detríticas e material aluvionar.

O armazenamento de águas nessas rochas de-pende de uma porosidade secundária, formada apartir de fraturas e falhas, adquiridas devido àsdeformações de uma tectônica rígida, desenvol-vendo-se, nesses setores, um aqüífero livre des-contínuo. Localmente, podem existir boas condi-ções de armazenamento, quando se têm áreas derecarga associadas a tectonismo rúptil intenso. Aquantidade de água está condicionada principal-mente pelo índice de fraturamento, pelo grau deabertura das fendas, pela interconexão das fratu-ras e pela ligação do sistema de fissuramento dasrochas com as zonas de recarga em superfície. Asáreas com coberturas intemperizadas também

apresentam boas condições de recarga, podendofuncionar, em certas situações, como um aqüíferotípico de material inconsolidado. Deve-se levarem consideração, também, a importância dos de-pósitos aluvionares, que, por possuírem permea-bilidade elevada, reduzem a parcela de escoa-mento superficial, facilitando a infiltração nos“riachos-fenda”.

A evapotranspiração constitui o principal pro-cesso de descarga natural do sistema fissural, prin-cipalmente, nas zonas onde os níveis de água sãosuperficiais ou pouco profundos. Convém destacar,também como exutório natural, as descargas atravésde pequenas fontes, muitas vezes sazonais, existen-tes no sistema fraturado, quando as condições topo-gráficas permitem a interseção dos níveis de águalivre, nas fraturas com a superfície do terreno, aolongo dos eixos de drenagem e mantos aluviais.

C) Possibilidades de explotação

A prospecção das águas subterrâneas no siste-ma fissural requer, basicamente, a aplicação decritérios geológico-estruturais na identificação,através de mapas ou fotografias aéreas, de zonasafetadas por uma tectônica rígida. As áreas comexistência de “riachos-fenda”, associados a zonasque foram submetidas a esforços tectônicos, comproximidade de coberturas aluviais ou com presen-ça de elevações topográficas, que facilitam a rea-limentação do aqüífero, nos talvegues, constituem,em princípio, os domínios mais propícios para aexploração de águas subterrâneas nesse sistema.

O potencial do aqüífero fissural é geralmentebaixo, em torno de 2-3m3/h.

Nesse domínio, foram cadastrados apenas cin-co poços, que variaram de seco até vazões de12m3/h, valores que mostram o alto grau de incer-teza e variabilidade para a captação d’água no

aqüífero fissural. Destaca-se, portanto, a importân-cia da utilização de critérios técnicos adequadospara a locação dos poços nesse sistema, inclusivecom o apoio de métodos geofísicos.

Observa-se, tanto em nível regional (registradopela bibliografia), como nos poços cadastrados naárea, que 95% das entradas de água ocorrem até70m de profundidade. A partir daí, é reduzida aprobabilidade de existência de fraturas abertas,podendo-se concluir que esta é a profundidadeadequada dos poços nesse aqüífero, salvo em casosespecíficos. A perspectiva de vazão para a maiorparte dos poços situa-se em torno de 2,50m3/h, po-dendo-se obter, a depender da situação locacionaldo poço, vazões maiores.

Ressalta-se que o sistema g4 (apesar de, nogeral, mostrar baixa potencialidade) foi considera-do um aqüífero de mediana importância relativa

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local, face à constatação da escassez local e de quea população de algumas localidades se vale exclu-

sivamente desse aqüífero como fonte de abasteci-mento de água.

5.1.4 Aqüífero a3 (intergranular inconsolidado sobre b, c ou g)

O sistema aqüífero a3 (Figura 13) é constituí-do por sedimentos quaternários (aluviões, depósi-tos arenosos residuais e/ou transportados, areiaslitorâneas e depósitos colúvio-eluvionares) assen-

tados sobre aqüíferos dos tipos b, c ou g. Sãoaqüíferos intergranulares descontínuos, locais, li-vres, com espessura máxima da ordem de 40 a45m.

A) Características litológicas e estruturais

As litologias presentes no aqüífero a3 sãoconstituídas pelo agrupamento de unidades sedi-mentares quaternárias, a seguir caracterizadas.• Unidade 4: Formada por depósitos colúvio-

eluvionares inconsolidados, de coloração aver-melhada, compostos de material arenoargiloso,com seixos e matacões, apresentando, algumasvezes, cimento ferruginoso. Ocorre sobre rochaspré-cambrianas (aqüífero do tipo g).

• Unidade 3: Caracterizada por depósitos areno-sos, predominantemente residuais, ou ainda deorigem eólica. É composta por areias quartzosasde granulometria fina a grossa, com grânulos eseixos de quartzo subordinados, geralmente, combaixa maturidade textural; minerais pesados ehorizontes ricos em matéria orgânica tambémpodem ocorrer. Esses depósitos ocorrem fre-qüentemente no topo dos tabuleiros desenvolvi-dos sobre o grupo Barreiras (aqüífero do tipo c).

• Unidade 2: Composta essencialmente por de-pósitos fluviais arenoargilosos e subordinada-mente seixosos, que ocorrem nas calhas e nasmargens dos córregos e rios que drenam a área.Podem ocorrer sobre as rochas do Pré-Cambriano (aqüífero g) ou do grupo Barreiras(aqüífero c).

• Unidade 5: Corresponde aos terraços arenososcom ampla distribuição ao longo da costa. Sãosedimentos arenosos, compostos essencial-mente de grãos de quartzo e fragmentos deconchas. O topo desses depósitos varia de pou-cos centímetros até 4m acima do nível do mar.Em geral, ocorre sobre sedimentos do grupoBarreiras (aqüífero c5).

• Unidade 1: Depósitos fluviais arenosos, areno-argilosos e seixosos, que ocorrem nas calhas emargens das drenagens.

B) Recarga, armazenamento e exultórios

A alimentação desse aqüífero ocorre diretamentesobre as áreas aflorantes das suas unidades constituti-vas, através da parcela de infiltração das águas pluvi-ais e também em épocas de inundação fluvial.

O armazenamento e circulação de água nessesistema aqüífero depende de sua porosidade primá-ria, intergranular.

No que se refere aos exultórios do sistema, aágua armazenada nesses depósitos, de espessura

bastante variável, é dissipada em larga escala pelosprocessos de evapotranspiração, chegando muitasvezes ao esgotamento nas zonas de delgada co-bertura, nos anos de maior rigor climático. Cabedestacar que esse aqüífero representa uma dasprincipais fontes de alimentação do aqüífero g4(fissural) e também alimenta a descarga natural dosrios nos períodos secos.

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C) Possibilidades de explotação

Na área do sistema aqüífero a3 foram cadas-trados 35 poços tubulares, sendo que 34 na unidadegeológica correspondente aos terraços arenosos(unidade 5).

Os poços catalogados possuem profundidade emtorno de 95m, mostram níveis estáticos pouco profun-dos e posição das entradas de água, em 85% dos casos,situada abaixo de 45m. Essas informações indicamque, na maioria dos casos, a água está sendo captadaem aqüíferos subjacentes. Verifica-se, inclusive, naárea de exposição desse aqüífero, casos de poços sur-gentes que se relacionam ao aqüífero c5, sotoposto.

Nas proximidades do litoral, os perfuradoresexecutam, no geral, um isolamento do trecho inici-al dos poços (até 40-45m), com vistas a evitar acaptação de água desse horizonte, por questõessanitárias ou de má qualidade química da água.Nesses terraços arenosos é baixo o interesse hidro-geológico relativo local, sendo, contudo, viável o

aproveitamento de água para usos diversos, atravésde poços tubulares rasos, ou escavados de grandediâmetro.

Nas áreas onde predominam depósitos areno-sos (unidade 3), sobre o grupo Barreiras, os níveisestáticos são mais profundos, da ordem de 30 a35m, sendo grande parte da água infiltrada drenadaverticalmente para os aqüíferos c4 ou c5. Nesseslocais, é indicado o aproveitamento por poços tu-bulares um pouco mais profundos, que captem osaqüíferos subjacentes.

E, finalmente, nas áreas onde ocorrem depósi-tos colúvio-eluvionares (unidade 4) e nos depósitosaluvionares (unidade 2), que ocorrem sobre aqüífe-ros dos tipos b, c ou g, é indicado o aproveitamentopor poços escavados de grande diâmetro ou tubula-res rasos.

5.1.5 Aqüífero d1 (coberturas impermeáveis a semipermeáveis sobre a, b ou c)

Corresponde aos depósitos situados em peque-nas baías e margens protegidas de rios submetidosà influência das marés. São constituídos essenci-almente de material argilossiltoso, com acentuadacontribuição orgânica, que formam os terrenos depântanos e mangues. Constituem coberturas im-

permeáveis ou semipermeáveis de pequena espes-sura sobre aqüíferos dos tipos a, b ou c (Figura14). É de negligenciável interesse hidrogeológicorelativo local.

5.1.6 Aqüíferos b2 e b3 (intergranular subordinado a cursos d’água)

São constituídos por depósitos aluvionares ar-gilo-silto-arenosos encaixados em estruturas neo-gênicas do tipo graben, que acompanham os vales

dos rios João de Tiba, Buranhém e dos Frades. Es-ses depósitos constituem aqüíferos intergranulares,livres, subordinados a cursos d’água.

A) Características litológicas e estruturais

O sistema aqüífero b foi dividido em dois seto-res:• Aqüífero b3: Situa-se a leste da linha de des-

continuidade e representa zonas onde o aqüíferopossui espessuras superiores a 60m (Figura 15).

• Aqüífero b2: Observado a oeste da linha dedescontinuidade, onde apresenta menores es-pessuras (abaixo de 60m) (Figura 16).Apresentam permeabilidade variável, no geral

média a alta.

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B) Recarga, armazenamento e exultórios

A alimentação desse aqüífero ocorre direta-mente pelas chuvas, inundação fluvial e sistemasaqüíferos adjacentes.

No que se refere aos exultórios do sistema, aágua armazenada é consumida em larga escala pe-los processos de evapotranspiração, chegando

muitas vezes ao esgotamento nas zonas de delgadacobertura, nos anos de maior rigor climático. Res-salta-se que esse aqüífero representa uma das prin-cipais fontes de alimentação das rochas fraturadasdo embasamento e também alimenta a descarganatural dos rios nos períodos secos.

C) Possibilidades de explotação

Os aqüíferos do tipo b assumem uma pequenaimportância hidrogeológica local na área, em vir-tude da abundância de águas superficiais.

Nas regiões onde o aqüífero b2 assenta direta-mente sobre as rochas proterozóicas, quantidadesrazoáveis de água podem ser captadas e exploradas

a pequenas profundidades, através de poços esca-vados de grande diâmetro ou de poços tubularesrasos. No aqüífero b3, o aproveitamento é similar,sendo que os poços podem atingir maiores profun-didades.

5.1.7 Zona sem importância hidrogeológica – i

É representada pelos litótipos sem vocação hí-drica, como os recifes de corais, arenitos cimenta-

dos de praia e bancos de areia no litoral, que dis-pensam maiores comentários.

5.2 Qualidade das Águas

O estudo hidroquímico elaborado, devido aoreduzido número de amostras analisadas, temcomo objetivo fornecer informações de caráterpontual sobre a qualidade química das águas sub-terrâneas da região.

Além das amostras coletadas pela CPRM, fo-ram consideradas análises químicas realizadas pelaCerb, Embasa, FNS e empresas de perfuração queatuam na área, cujos resultados estão dentro doerro laboratorial permissível, segundo Logan(1965).

Algumas análises, principalmente aquelas depoços da CERB, não apresentavam determinaçõesde Na e K. Nestes casos, os elementos foram cal-culados pela diferença na soma de cátions e ânionsconstantes nas análises químicas, para que os da-dos não fossem totalmente perdidos.

Dentro do possível, procurou-se atingir, naexecução da amostragem, uma coleta bem distri-buída arealmente e que contemplasse de formaabrangente toda a região em estudo. Infelizmente,não foi possível alcançar as metas, ao se considerarprincipalmente:• distribuição irregular dos poços, concentrados

em áreas específicas;• coleta de pequeno número de amostras.

As análises físico-químicas foram realizadasno Centro de Pesquisas e Desenvolvimento daBahia (CEPED), sendo feitas as determinações depH, condutividade elétrica a 25°C em mi-cromhos/cm, alcalinidade e dureza totais em mg/lde CaCO3, resíduo seco a 110°C e dos íons cons-tituintes principais Ca++, Mg++, Na+, K+, Fe+++,HCO3

-, Cl-, SO4--, CO3

-, NO2-, NO3

-, F-, em mg/l.Os valores são apresentados no Catálogo Geral

de Pontos d’Água, que integra o apêndice desterelatório.

Na interpretação dos resultados, foi utilizadoprograma específico, no qual os valores dos cátionse ânions foram convertidos em miliequivalentespor litro, com obtenção do percentual do erro daanálise, bem como as classificações referentes apotabilidade, irrigação e tipo químico.

A qualidade da água foi determinada para con-sumo humano, agrícola e uso industrial.

Nos trabalhos de campo, procurou-se medir,sempre que possível, a condutividade elétrica, atemperatura e o pH das águas subterrâneas.

No Quadro 2, é apresentado o número de pon-tos de água com análises físico-químicas, classifi-cados segundo o sistema aqüífero e o tipo de cap-tação.

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Sistemas Aqüíferos Número de Análises Físico-Químicasc5 14 (12 poços tubulares e 2 poços escavados)c4 06 (poços tubulares)g4 02 (poços tubulares)a3 10 (poços tubulares)

b2, b3, d1 sem informação direta

Quadro 2 – Análises físico-químicas executadas

5.2.1 Tipos hidroquímicos

A determinação dos tipos hidroquímicos foiobtida a partir da relação de miliequivalência entreos elementos principais, na forma de cátions e âni-ons, utilizando-se a metodologia do diagrama tri-angular de Feré (1955).

As variações litológicas das rochas que cons-tituem os aqüíferos permitem que sejam definidos,

até para o mesmo sistema, mais de um tipo hidro-químico, mostrando, entretanto, uma predominân-cia de um ou dois tipos característicos.

A Tabela 2 exibe a classificação dos tipos hi-droquímicos por unidade aqüífera, onde é observá-vel a freqüência da distribuição dos tipos químicosda água por unidade aqüífera.

Classificação de Tipos HidroquímicosFreqüência Relativa (%)/Número de Amostras

Cloretada Bicarbonatada MistaUnidade Aqüífera

Sódica Cálcica Mista Sódica Cálcica Sódica Mista

c5 35,9/5 21,5/3 – 7,1/1 14,2/2 7,1/1 14,2/2

c4 33,3/2 33,3/2 – – – 16,7/1 16,7/1

g4 – – – – – 50/1 50/1

a3 30/3 – 40/4 – 10/1 10/1 10/1

Tabela 2 – Classificação de tipos químicos.

No contexto geral, as águas armazenadas emsubsuperfície mostram uma tendência para o tipocloretada, 60% (19) das 32 amostras , com predo-

minância dos íons sódio, 31,25% (10). Em segundolugar aparecem as mistas, 28,25% (9), e por últimoas bicarbonatadas, 12,50 % (4).

5.2.2 Consumo humano

A avaliação da qualidade da água para abaste-cimento humano foi determinada através do co-nhecimento de suas características físico-químicas.

As águas geralmente são consideradas potáveis,quando podem ser consumidas pelo homem semcausar prejuízo a sua saúde. No caso em exame, a

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potabilidade físico-química das amostras foi esta-belecida utilizando-se os padrões de potabilidadesegundo Schoeller (1965), onde se aplicam os va-lores de cátions e ânions presentes na amostra,além dos valores de pH e resíduo seco, os quais

indicam se a água é ou não adequada quimica-mente para o consumo da população. A Tabela 3exibe a classificação de potabilidade segundoSchoeller.

Potabilidade Resíduo Seco Na+K Mg + Ca12 20 Cl SO4

Boa 0 - 500 0 - 115 0 - 5 0 - 177 0 - 144

Passável 500 - 1000 115 - 230 5 - 10 177 - 355 144 - 288

Medíocre 1000 - 2000 230 - 460 10 - 20 355 - 710 288 - 576

PERMANENTE

Má 2000 - 4000 460 - 920 20 - 40 710 - 1420 576 - 1152

Momentânea 4000 - 8000 920 - 1840 40 - 80 1420 - 2840 1152 - 2304Fonte: Schoeller Valores em mg/litro.

Tabela 3 – Padrões de potabilidade para consumo humano.

A Tabela 4 exibe a classificação de potabilida-de físico-química para consumo humano por uni-dade aqüífera, de acordo com os padrões constan-

tes na Tabela 3. Podemos observar a freqüência dadistribuição dos tipos de potabilidade das águaspor unidade aqüífera.

Potabilidade para Consumo HumanoFreqüência Relativa (%)/Número de AmostrasUnidade Aqüífera

Boa Passável Momentâneac5 100/14 – –

c4 83/5 7/1 –

g4 100/2 – –

a3 80/8 10/1 10/1

Tabela 4 – Classificação de potabilidade para consumo humano.

No contexto geral da área, verifica-se que aságuas subterrâneas apresentam boa qualidade físi-co-química refletindo: fatores climáticos, alto índi-ce de recarga e renovação das águas dos aqüíferos.Localmente, observa-se, para alguns pontos d’águanos sistemas aqüíferos c5 e a3, que o teor do ferrosolúvel registra-se acima do limite máximo (0,3

mg/l Fe) recomendado pela Resolução Conama nº20, de 18.06.1986, que dispõe sobre os padrões dequalidade das águas Classe I (destinadas ao abaste-cimento doméstico). Tal situação aponta para anecessidade de um tratamento simplificado (aera-ção etc.) da água, antes de liberá-la para o consu-mo.

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5.2.3 Uso industrial

A determinação da qualidade da água para usoindustrial é, de certo modo, complexa, pois cadamodalidade de indústria e os processos de industri-alização exigem um certo número de especifica-ções, gerando necessidades diferentes de qualidadede água para cada utilização.

Atualmente, existem técnicas modernas detratamento que permitem, na maioria das vezes,que águas de composição diferente sejam utiliza-das para qualquer uso industrial. Porém, os custosde tratamento podem ser bastante onerosos, invia-bilizando o seu uso.

Segundo Custódio & Llamas (1976), os princi-pais parâmetros nocivos às indústrias são a agres-sividade e o poder incrustante de certas águas.Além disso, as matérias-primas utilizadas e a qua-lidade do produto final condicionam as caracterís-ticas da água a ser utilizada.

Assim, por exemplo, na elaboração de produ-tos alimentícios, exige-se que a água seja potável e,

na fabricação de papéis e tintas, uma condição éque não apresente coloração.

Alguns critérios de qualidade da água para usoindustrial são apresentados na Tabela 5.

Assim, de acordo com os limites aconselhá-veis para diversos usos industriais (Mathess,1982; Szikszay, 1993; Driscoll, 1986), con-frontando os valores de resíduo seco, alcalini-dade total, dureza e ferro obtidos das amostrascoletadas na área estudada, conclui-se que, parauma boa parte das amostras, alguns desses ele-mentos estão acima dos limites aconselháveispara grande parte das indústrias. Portanto, sãonecessários cuidados com a qualidade da águaprevista para determinadas indústrias, devendoser efetuados estudos detalhados sobre o as-sunto, com a especificação do sistema de trata-mento de água adequado.

Parâmetro Unidade 1 2 3 4 5 6 7 8 9pH – – – 7,5 – 6,5-7 – 8 – –Dureza mg/l de CaCO3 50 180 50-80 30-100 50-75 25 50 50 100Alcalinidade mg/l de CaCO3 – – 80-150 – – 128 135 – –Cálcio mg/l de Ca – – 500 20 200 – – 10 –Cloretos mg/l de Cl – 30 – 20 100 250 – 100 75Ferro mg/l de Fe 0,5 0,3 0,2 0,1 0,1 0,2 0,2 0,25 0,01Manganês mg/l de Mn 0,5 0,1 0,2 – 0,1 0,2 0,2 0,25 0,05R.S. mg/l – 500 850 – 1000 850 – – 200Nitrato mg/l de N – 30 15 – 10 – – – –Amônia mg/l de NH3 – traços 0,5 – – – – – –Sulfatos mg/l de SO4 – 60 – 20 – 250 – 100 –Fluoretos mg/l de F – – 1,0 – 1,0 1,0 – – –Magnésio mg/l de Mg – – – 10 30 – – – –

Fonte: Mathess (1982); Szikszay (1993); Driscoll (1986).Nota: 1 – Água de refrigeração; 2 – Ind. de laticínios; 3 – Ind. de conservas alimentícias; 4 – Ind. açucareira; 5 – Cerveja-ria; 6 – Ind. de bebidas e suco de frutas; 7 – Curtume; 8 – Ind. têxtil; 9 – Ind. de papel.

Tabela 5 – Critério de qualidade da água para a indústria.

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5.2.4 Uso na agricultura

Na avaliação da qualidade das águas para uso nairrigação, foi utilizada a classificação sugerida peloU.S. Salinity Laboratory (1954). Essa classificação sebaseia em um gráfico semilogarítmico, onde são plo-tados em abcissas os valores de condutividade (quetêm uma relação proporcional direta com a quantidade

de sais minerais presentes na amostra) em mi-cromhos/cm a 25°C, e em ordenadas a razão de adsor-ção de sódio (RAS – relação entre Ca, Na e Mg pre-sentes na amostra) calculado, conhecidos os teores emmeq/l de Na, Ca e Mg, através da expressão:

rNaRAS =

(1/2 rCa + rMg)

Todo o processo de cálculo do índice de adsor-ção do sódio e a plotagem do ponto corresponden-te, com a condutividade, foi feito numa planilhaeletrônica, que, para cada amostra, informava quala classificação da água para irrigação.

Os tipos de água são definidos para os diversostipos de solo e culturas que se pretenda irrigar. Nocaso dos municípios de Porto Seguro e Santa Cruz

Cabrália, estabelecidos os valores (32) de conduti-vidade elétrica e de RAS, foi definida a distribui-ção dos tipos de água por sistema aqüífero mostra-da na Tabela 6.

No contexto geral da área, a maior parte dasanálises químicas revelou águas classificadas nostipos C1-S1 (27) e C2-S2 (4), que podem ser usa-das sem maiores problemas na irrigação.

Classificação das Águas para IrrigaçãoFreqüência Relativa (%)/Número de Amostras

C1-S1 C2-S1 C5-S4UnidadeAqüífera • Águas sem restrições à

irrigação.• Pouco risco de salini-

zação.

• Águas com salinidademédia.

• Só devem ser usadasem solos com boa lixi-viação e drenagem.

• Águas com teores ele-vados de sais e sódio.

• Não devem ser usadaspara a irrigação, excetoem casos muito restri-tos.

c5 86/12 14/2 –

c4 100/6 – –

g4 100/2 – –a3 70/7 20/2 10/1

Tabela 6 – Classificação das águas para irrigação.


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