xxi simpósio de história da imigração e colonização
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Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Júlio Bittencourt Francisco1
RESUMO
O presente trabalho descreve uma parte da história da imigração dos sírios e libaneses
no Brasil, no Estado do Rio Grande do Sul e na cidade de Porto Alegre. Relata as ações
associativas, espirituais e recreativas dos descendentes de sírios e libaneses em Porto
Alegre através do Clube social ‘Sociedade Libanesa’ e as suas festas e também a Igreja
maronita localizada na Capital. Descreve outros aspectos da cultura árabe da cidade
através de seus restaurantes e outras expressões culturais como a música e a dança.
Palavras Chave: Sírios e libaneses, imigração, festas e danças.
ABSTRACT
This paper accounts part of the history of the Syrian and Lebanese immigration to
Brazil, but also to the State of Rio Grande do Sul, and to its capital city of Porto Alegre.
Report various forms of ethnic gathering; spiritual, recreational and around the food,
music and dance. Describes several forms of Arabic motivations in Porto Alegre.
Through the parties of the club ‘Sociedade Libanesa' and also looking at the maronite
church located in the Capital, the paper describes other aspects of local Arab culture in
the city through its restaurants and other cultural expressions such as music and dance.
Key words: Syrian and Lebanese, immigration, parties and dance.
Introdução1 Professor assistente da FABICO/UFRGS, mestre em Memória Social e Documento pela UNIRIO/RJ e doutorando em História pela PUC/RS.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Embora a maioria dos sírios e libaneses que chegou ao Brasil fosse formada por
agricultores, a estrutura fundiária do país, baseada nas grandes propriedades e na
monocultura, a carência de terras disponíveis a baixos preços e os parcos recursos
financeiros trazidos por eles inviabilizaram sua fixação no meio rural. Como eles
também não se enquadraram na categoria de operários urbanos, ficaram à margem do
perfil idealizado pela política imigratória brasileira. Esses imigrantes concentraram-se
sim nos centros urbanos, mas nele desenvolveram atividades relacionadas ao comércio,
seja primeiro como ambulantes (mascates), ou mais tarde em negócios regularmente
estabelecidos. Contudo, a sua atuação profissional não estava restrita somente às
cidades, uma vez que a “população rural representava um importante contingente de
consumidores a serem atendidos” (ALMEIDA, 2000, p. 87). Desse modo, eles deram
uma importante contribuição no processo de ocupação do território nacional,
“funcionando como elementos dinamizadores dos mercados local e regional, integrando
regiões até então isoladas do mercado consumidor” (NUNES, 1986, p. 62).
Nos primeiros anos de atividade, os mascates, em visita às cidades interioranas e
principalmente às fazendas, levavam apenas miudezas e bijuterias. Mas com o passar do
tempo e o aumento do capital, começaram também a oferecer tecidos, lençóis, roupas
prontas, entre outros artigos. Conforme acumulavam os ganhos, os mascates
contratavam um ajudante ou compravam uma carroça; o passo seguinte era estabelecer
uma casa comercial. Foram eles que introduziram as práticas da alta rotatividade e alta
quantidade de mercadorias vendidas, das promoções e das liquidações.
Algum tempo depois, principalmente em São Paulo, onde se concentravam os
mais importantes comerciantes atacadistas, eles ingressaram no setor industrial. A
expansão de suas atividades econômicas na produção têxtil na década de 1920 coincidiu
com a ‘era dourada’ da fabricação de tecidos no Brasil. Após a Primeira Guerra
Mundial, as fábricas brasileiras de têxteis aumentaram em 50% a sua produção,
reduzindo assim a participação das importações inglesas no mercado nacional. O grupo
étnico que mais se beneficiou desta situação foram exatamente os sírios e libaneses que,
no final dos anos 1920, despontaram como uma poderosa força econômica em São
Paulo (TRUZZI, 1992, p. 66). Na década seguinte, era crescente a sua presença no
conjunto da indústria têxtil brasileira, destacando-se, sobretudo na produção de fibras
sintéticas.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Sírios e Libaneses e as estatísticas nacionais da 1ª metade do século XX
As estatísticas da Imigração Brasileira de 1880 a 1969 mostram que, enquanto
portugueses representavam 31% das migrações, italianos 30%, espanhóis 14%,
japoneses 5%, alemães 4%, os imigrantes do Oriente Médio totalizavam somente 3% e
iniciaram sua entrada no Brasil a partir do período de 1890 (LESSER, 1999, p.9).
Os dados numéricos sobre a entrada no Brasil dessa corrente imigratória são
muito imprecisos, sobretudo porque até 1892 todos eles (sírios, libaneses, palestinos e
mesmo turcos) foram classificados como turcos. Foi apenas a partir deste ano que os
sírios passaram a ser registrados separadamente. Como até 1920 – depois, portanto, do
término da Primeira Guerra Mundial (1914-1918) e início do mandato francês na Síria e
no Líbano – o Líbano foi considerado parte da Síria, por isso todos os libaneses foram
incluídos entre os classificados como sírios. Todavia, “tanto antes como depois de 1892
a imensa maioria dos imigrantes registrados como turcos eram, de fato, sírios e
libaneses” (PIMENTEL, 1986, p. 121). Ernesto Capello (2002) afirma basicamente o
mesmo, mas fornece outras datas. Segundo ele, as duas nacionalidades – síria e libanesa
– “foram incluídas numa única categoria pelas autoridades de imigração brasileiras até
1926, ano em que o Líbano se separou da Síria”. Na verdade, complementa o autor, até
1908 todos os imigrantes do Império Otomano eram classificados no Brasil como
‘turco-árabes’. Por conseguinte, diz ele, “é totalmente impossível ter à disposição dados
estatísticos confiáveis acerca do número de imigrantes especificamente sírios ou
libaneses” (CAPELLO, 2002, p. 34).
Contudo, é certo que nos períodos de 1895 a 1914, nos anos 1920 e no pós 1945
registraram-se as entradas mais expressivas desses imigrantes no país. Durante as duas
grandes guerras, o fluxo se reduziu de modo significativo ou praticamente cessou. No
conjunto, os dados disponíveis contabilizam o ingresso de 57.020 pessoas entre 1895 e
1914, de somente 2.693 entre 1914 a 1919 (no contexto da Primeira Guerra Mundial) e
de 42.210 de 1920 a 1930, totalizando 101.923 imigrantes (ALMEIDA, 2000, p. 14).
Nesse último período os ingressos anuais dos sírios e libaneses variaram entre mil e
cinco mil imigrantes, atingindo um pico de 7.308, em 1926 (NUNES, 2000, p. 60).
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
O que motivou a imigração dos levantinos2 foi um movimento espontâneo, sem
convites e incentivos dos governos. Os imigrantes sírios e libaneses arcaram com as
próprias despesas, desde passagem marítima até o estabelecimento no país de destino. A
maioria não viajou com intenção de se estabelecer na terra da imigração. Eles foram
‘fazer a América’ e pretendiam voltar para família, com dinheiro e prestígio social.
Muitos até conseguiram, mas tornaram a voltar a América por falta de oportunidades na
terra de origem.
O ano de 1930 marca o início das restrições imigratórias. Pelo Decreto 19.482,
de 12 de dezembro de 1930, o novo governo brasileiro (Getulio Vargas havia assumido
o poder pouco antes, através da vitória da Revolução de 1930), limitava a imigração aos
estrangeiros já domiciliados no Brasil, aqueles cuja entrada fosse solicitada pelo
Ministério do Trabalho e, sob certas condições, aos trabalhadores especializados
(PIMENTEL, 1986, p. 47). A subsequente adoção do sistema de cotas, somada à
depressão econômica, provocou uma redução substancial do fluxo imigratório em geral.
No caso específico dos sírios e libaneses, entre 1930 e 1940 a média de entradas no
Brasil ficou entre cem e quinhentos por ano. Com a Segunda Guerra Mundial, esses
números foram drasticamente reduzidos3 (NUNES, 1986, p. 89).
DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO SÍRIA E LIBANESA: PRINCIPAIS ESTADOS RECEPTORES
Estado 1920 1940
São Paulo 19.285 23.948
Minas Gerais 8.684 5.902
Distrito Federal/RJ 7.321 9.051
Rio Grande do Sul 2.565 1.903
Paraná 1.625 1.576
Pará 1460 8482 Não analisamos aqui os fatores de expulsão na origem como instabilidade política, obrigatoriedade do serviço militar no exército turco, alta densidade demográfica e perseguição aos cristãos, tão pouco os fatores de atração como uma economia carente de mão de obra e altamente monetarizada. 3 Cabe informar que o termo ‘imigrante’ foi redefinido pelo Decreto nº 24.215, de 9 de maio de 1934. Desse modo, imigrante passou a ser aquele que vinha ao Brasil para exercer um ofício ou profissão por mais de 30 dias; o não imigrante, por sua vez, era quem permanecia no país por até 30 dias. Essa definição foi considerada insatisfatória, e por conta disso, quatro anos depois a legislação foi novamente alterada, pelos decretos nº 406, de 4 de maio de 1938, e nº 2.010, de 20 de agosto de 1938, incluindo agora as categorias ‘permanente’ e ‘temporário’. Os classificados como temporários eram os turistas, viajantes em trânsito; os permanentes os que constituíam lar definitivo no país (KNOWLTON, 1961, p. 35, apud SIQUEIRA, 2000, p. 26-27).
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Mato Grosso 1232 1.066
Bahia 1206 947
Quadro 1 – quadro montado pelo autor. Fonte: Recenseamento do Brasil 1920, 1947, p. 123, apud PIMENTEL, 1986, p. 56.
Ainda de acordo com o Censo de 1940, o número de sírios e libaneses do sexo
masculino chegava a 27.689, enquanto as mulheres somavam 18.097. Os homens
também superavam em muito às mulheres em relação à naturalização: 4.163 contra
1.284. Todavia, no que concerne aos descendentes de segunda geração, registrava-se um
grande equilíbrio: 53.769 homens contra 53.307 mulheres (CORTES, 1958, p. 72).
Com um grande senso de cooperação e apoio mútuo os imigrantes árabes4 foram
os responsáveis por dinamizar o comercio no interior do Brasil, principalmente ao
levarem mercadorias da capital de maneira independente e autônoma, formando as
primeiras redes comerciais das primeiras décadas do século XX. Eles recebiam as
mercadorias de outros patrícios, que lhes entregavam os produtos em confiança e
facilitava o pagamento: um corte de tecido, roupas, calçados, aviamentos, tudo em
consignação para ser revendido no interior pelo imigrante recém-chegado. Muitas vezes
o mascate vendia suas mercadorias diretamente a senhora, dona da casa, em prestações,
que lhe garantia a volta ao local, e no caminho mais vendas através de indicação de
mais clientela.
Essas redes eram muito eficazes porque se alongavam até as aldeias de origem
dos imigrantes no Oriente Médio. Havia uma grande movimentação de pessoas e
dinheiro viajando entre a América e os portos Mediterrâneos em direção ao Líbano e a
Síria. Vilarejos inteiros no Oriente Médio fornecem imigrantes à América desde as
últimas décadas do século XIX.
A vontade de emigrar, de fazer a América, onde quer que esta fosse, precedia a determinação por
um destino específico. Na Síria, relatórios de missões presbiterianas notaram que ao longo da
última década do século XIX, a febre imigratória chegou a tornar-se uma mania (...) Um
analfabeto vai para a América e no curso de seis meses manda um cheque de $300 ou $400
dólares, mais do que o salário de um professor ou de um pastor em mais de dois anos (...) Quase
tudo é usado para pagar velhas dívidas, hipotecas, e para levar outros imigrantes além- mar. Dos
4 Usamos o termo árabe para definir os diversos grupos étnicos, de língua árabe, que habitam a região do Oriente Médio denominado: Levante. A região inclui a Palestina, o Líbano, grande parte da Síria até a fronteira da Turquia. Historicamente o termo árabe era usado para descrever povos nômades do deserto.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
relatos dos imigrantes só se ouvem louvores irrestritos à América. (TRUZZI, apud Knowlton,
1992: 289)
Muitos imigrantes cristãos, especialmente os libaneses, que, de uma forma geral
já se identificavam com o ocidente desde a terra de origem, aprovaram a tutela da
França5. Outros, entre eles muitos sírios, e imigrantes muçulmanos, eram favoráveis a
um estado árabe independente, secular, forte e unido. Eles eram partidários da chamada
‘Grande Síria’ que englobava num só país a Palestina, o Líbano e a Síria, que naquela
época incluía a Jordânia, Arábia Saudita e o Iraque. Está foi, aliás, a promessa feita por
Sir Lawrence (da Arábia) aos árabes que ajudaram o oficial inglês, infiltrado nos
exércitos árabes, durante a campanha contra o domínio otomano em 1916 na retomada
de Damasco das mãos dos turcos.
No Brasil, a maioria dos imigrantes que permaneceram optaram por esquecer os
problemas do Oriente Médio e criar suas famílias como brasileiras. Existem várias
histórias de imigrantes que mudaram ou traduziram seus sobrenomes para o português.
Uma opção mais simples, comum e fácil de pronunciar, além de não denunciar a
origem. A maioria jamais ensinou árabe aos filhos, na esperança que a próxima geração
se integrasse por completo a sociedade brasileira, sem nenhum tipo de desvantagem
possível ou preconceito étnico, como o que haviam sofrido na origem por serem
cristãos.
A imigração árabe no Rio Grande do Sul
Apesar das imprecisões do censo, o Rio Grande do Sul foi o quarto estado
brasileiro em número de ingressos oficiais de sírios e libaneses contabilizando 4.468
pessoas até 19406.
Repetindo o mesmo padrão de outros lugares, a atividade escolhida em peso
pelos imigrantes foi a da mascateação. Quase todos começaram a vida fazendo negócios
de porta em porta, levando pesada mala cheia de mercadorias nas costas, trazendo
notícias da capital, levando novidades ao interior. Eles estavam formando uma rede de
5 A França era chamada por muitos libaneses cristãos de “Mão Amiga”. O país já havia intervido em outros conflitos, sempre a favor dos cristãos, especialmente nas aldeias do Monte Líbano, durante o século XIX.6 Se considerarmos o DF, e o Estado do Rio de Janeiro como uma só unidade federativa.
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cooperação que se projetava acima de qualquer diferença econômica, pertencimento
étnico, colocação social ou convicções políticas.
A historiografia da imigração sírio e libanesa no Rio Grande do Sul conta com
um verbete no volume V da Enciclopédia Rio-grandense (1958) cujo organizador, Klaus
Becker, destaca algumas famílias árabes que se estabeleceram no sul Estado do Rio
Grande em fins do século XIX, especialmente em Rio Grande, Pelotas e Bagé. Essas
informações encontram apoio no trabalho de Cecília Kamel (2000) que indica que “a
entrada desses primeiros imigrantes no Rio Grande do Sul deu-se pelo porto de Rio
Grande, por via terrestre a partir do porto de Santos e, não raras vezes, também por vias
terrestres a partir da Argentina e do Uruguai”.
Com acesso aos quatro cantos do Estado, não é estranho, portanto, que os sírios e os
libaneses se encontrem disseminados por todo o Rio Grande do Sul, Embora algumas
localidades se tenham tornado grandes redutos desses imigrantes entre elas, Pelotas,
Alegrete, Santa Maria, Cachoeira do Sul, Bagé, Passo Fundo, Rio Grande, Caxias,
Erechim, São Gabriel e São Borja, além de Porto Alegre. Acrescente-se ainda, que além
da cidade de Rio Grande no interior do Estado, especialmente no trecho que vai de
Capão da Canoa, até São José do Norte, existem entre os moradores, um grande grupo
de sírios e libaneses inteiramente integrados à vida rural gaúcha. (KEMEL, Cecília,
2000, p.34)
Abaixo foto de Abílio de Nequete sentado ao meio (DULLES, 1977)
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Não obstante a atual presença semita nas cidades fronteiriças do Rio Grande
do Sul há que se destacar que tal fenômeno é relativamente recente tendo pouco mais de
meio século. No caso de Pelotas,
encontramos a foto7 ao lado que
testemunha a presença de
comerciantes sírios na cidade
durante as primeiras décadas do
século XX.
Características
importantes da imigração árabe no
Brasil e no Rio Grande do Sul: em
primeiro lugar: a dedicação ao
comércio e, depois, a presença
urbana. A mobilidade entre a
metrópole e o interior foi uma
marca desta imigração, quando
eles estabeleceram laços de
cooperação, levando mercadorias,
riqueza e notícias nos dois
caminhos, mas, sobretudo,
estabelecendo redes,
independentemente da origem ou pertencimento étnico religioso.
A presença sírio e libanesa em Porto Alegre.
No início do século XX, quando os primeiros imigrantes sírios e libaneses
começaram a se estabelecer e circular pela cidade de Porto Alegre, seus núcleos
residenciais e comerciais eram na Rua General Andrades Neves, e na Praça Parobé.
Com o passar do tempo expandiram os negócios para a Rua Voluntários da Pátria, no
Centro da Capital, conhecida por seu comércio de miudezas, tecidos e comércio
popular.
7 Instituto Delfos PUC/RS Fundo Beno Mentz Foto sem data
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Viviam inicialmente em cortiços, moradias populares com cômodos para alugar onde se
aglomeravam famílias inteiras em um reduzido espaço. Era peculiar o comercio praticado em
longos trajetos percorridos como vendedor ambulante de sotaque tão característico (AMRIK, S/D)
Posteriormente, ainda nas primeiras décadas do século, os irmãos Selaimen,
imigrantes libaneses, lotearam sua chácara no bairro São João (entre as ruas Benjamin
Constant e Sertório, na Zona Norte da Capital), atraindo muitos outros patrícios e
fazendo do bairro um reduto dos libaneses na cidade. (Schilling, 2007)
Em Porto Alegre, desde o início do século XX várias associações foram criadas
num clima de dissensões, incorporações e cismas entre os grupos de sírios e de
libaneses. A primeira foi a Sociedade Síria fundada em 1922, na Rua Riachuelo, Centro
histórico de Porto Alegre e, dois anos depois era fundada a União dos Jovens Libaneses
e a Juventude Maronita. Em 1925 criou-se o Clube Sírio e Libanês (Schilling, 2007)
“que funcionava primeiramente, dentro do Clube Caixeral, na Rua da Praia, e, após,
passou para a Rua Voluntários da Pátria”.
Pela impossibilidade em participar de sociedades brasileiras tradicionais, quer seja pela dificuldade com a língua, pelos costumes ou mesmo pela condição social, os sírios e os libaneses formalizaram as associações que já existiam informalmente em bares, restaurantes, lugares para conversar, beber, tomar café, ler jornais ou praticar gamão e xadrez, seu jogos típicos. (SCHILLING, 2007 p.28)
Na década de 1930, “por desentendimentos entre a diretoria e alguns sócios” foi
criado o Clube da Juventude Sírio-Libanesa. “Passaram a existir, então, dois clubes
distintos, em 9 de Setembro de 1934 foi fundada a Sociedade Sírio-Libanesa” (p.34)
Ainda de acordo com Schilling, (2007) mais adiante novos desentendimentos “e a partir
de 1936 foi fundada a Sociedade Libanesa, no bairro São João, criada pelos dissidentes
dos outros clubes, e pela Juventude Maronita” (p.35).
Em 1954 o clube é ampliado e, em 1982 muda-se para a sede atual no bairro Boa
Vista. Em 1995, após negociações iniciadas em 1960, a Sociedade Libanesa incorpora o
Clube Sociedade Síria, absorvendo seus sócios e a sede localizada no centro, que é
vendida. Em troca os sócios da Sociedade Clube sírio ficaram isentos por dois anos de
pagar as mensalidades de manutenção e um salão da sede social da Sociedade Libanesa
é homenageado com o nome da Síria.
A capital dos gaúchos conta com um importante contingente de descendentes de
imigrantes sírios e libaneses, mas, da mesma forma, as cidades vizinhas e periféricas da
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Capital como Viamão, Guaíba, Canoas, Osório, Sapucaia, Santa Rita entre outras,
possuem presença árabe e herança local tão antiga quanto às da capital. O mesmo
ocorreu por todo interior do Estado do Rio Grande do Sul. Com presença mais
acanhada, porém, as áreas povoadas por colonos alemães e italianos, também se pode
encontrar algumas famílias árabes.
Desde o início da imigração dos sírios em Porto Alegre, podemos citar alguns
nomes emblemáticos. O primeiro deles é o imigrante e barbeiro libanês Abílio
Nequete8, que, de forma surpreendente fundou, em Niteroi, em 1922, o Partido
Comunista do Brasil. Outros nomes de destaque entre os descendentes de Porto Alegre
são o do desembargador Elias Mansur, membro da mais alta corte federal, e o cirurgião
Ivo Nasralla, o primeiro a realizar transplantes de coração no Estado. Ambos têm em
comum serem filhos de mascates estabelecidos em Porto Alegre.
Entrevistamos um filho de imigrante libanês muçulmano, estabelecido desde
1910, em Vera Cruz, na época, distrito de Santa Cruz do Sul, município com forte
presença alemã no estado. Muhamad Baccar, nascido em 1932, conseguiu estudar na
capital no início da década de 1950. Formado Engenheiro Químico fez uma brilhante
carreira, contribuindo para o desenvolvimento inicial da Petrobrás.
Tirei o científico lá em Porto Alegre. Depois eu fiz o vestibular e passei para engenharia química
na UFRGS. Em Porto Alegre eu conhecia os amigos de meu pai, que era gente de muito dinheiro
e de muita importância lá. Eles eram árabes mesmo, da comunidade. Eram atacadistas de tecidos
muito fortes. Eu tirei o curso muito novo. E quando eu me formei, tinha 21 anos. Engenheiro
Químico9. (FRANCISCO, 2005)
Estas redes se estendem da capital para as periferias, e do Oriente Médio até o
Rio Grande do Sul. As redes de conexões árabes, embora modificadas e resignificadas,
estão bem visíveis, ainda hoje, inclusive na área metropolitana e da Grande Porto
Alegre.
As Festas e as formas de rememoração da comunidade
Povos muito emotivos os sírios e libaneses, e são muito parecidos com os
brasileiros neste aspecto. É claro que o sentimento de família também é muito profundo,
8 Chegou ao Brasil aos 14 anos, no início do século XX em busca do pai, também imigrante libanês. Aos 18 anos mudou-se para Porto Alegre.9 Entrevistas com Muhamad Baccar (1932-2011) realizada em 04/04/2004.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
sendo a Grande Família uma instituição consagrada no mundo árabe do Oriente Médio
colonial. Este sentido patriarcal de família foi transportado, enquanto um Ethos
comportamental10, para as gerações seguintes, inclusive aquelas que vieram ao Brasil.
Na origem, a grande casa patriarcal era uma tradição passada por gerações, onde
a família estendida, composta por netos, genros, filhos e noras, tios, primos, tias e
primas, viviam juntos, numa mesma grande propriedade, a qual pertencia a um
patriarca, que, em geral, era o parente varão mais antigo. Ele é o proprietário e herdeiro
de todos os bens e rebanhos. Normalmente seu prestígio se traduz em propriedade de
terra e número de agregados, o que poderia render-lhe algum poder junto às autoridades
otomanas que ocupam os países árabes do Levante no fim do século XIX. Casamentos
dentro da mesma família, entre primos, ou fechados no âmbito de duas ou três famílias
aparentadas é muito comum em todos os grupos pesquisados, contudo, tal prática foi
transplantada à terra da imigração, pelo menos se encontrou presente nas duas primeiras
gerações.
Neste contexto, as festas, quase sempre acontecem no ambiente da família ou da
aldeia, normalmente em meio a grande família. Essas celebrações sempre estiveram
presentes em acontecimentos como matrimônio ou datas familiares. Na mesma igreja
étnica, em casamentos, batizados e bodas. A fartura das colheitas e datas simbólicas
como a páscoa para os cristãos e o Ramadan para os muçulmanos, ou festividades
femininas como a festa da henna11.
Casamento não remete apenas à festa, mas também ao sacrifício, significa negociar aspectos
fundamentais que nortearão a vida das pessoas. Todas as histórias falam do peso da tradição, da
importância dos pais na escolha do cônjuge e do papel dos sujeitos ao transitar por esse código.
O modelo aparece nesse contexto como algo que rege a rede de relações sociais, garante a
coerência do grupo e as narrativas um significado. “A coerência do grupo não implica, de modo
algum, que os habitantes vivam em harmonia nem que todos partilhem dos mesmos valores”.
(PETERS, 2006 apud Fonseca, 2000, p.34).
10 Refiro-me aqui a maneira patriarcal de ordenar valores e comportamentos, onde o filho varão jamais deixa a casa quando casa-se com mulher árabe, já a filha dedica-se a família do marido.11 Tradicionalmente, a cerimônia de henna era restrita apenas às mulheres, cujo objetivo era homenagear a noiva e desejar-lhe saúde e riqueza enquanto se preparava para deixar a casa de seus pais e começar uma nova vida ao lado de seu marido. O vestido da noiva é de veludo, em cores fortes e vivas, para evitar o mau-olhado. Pedras e lantejoulas douradas e prateadas simbolizam a felicidade. O noivo veste a tradicional "djalabia", também com enfeites brilhantes que representam a luz que iluminará suas vidas. Na cabeça, usa um turbante vermelho. Sua nova casa é então enfeitada com veludo e com os tradicionais vasos e jarras de cobre.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Hoje, passados mais de cem anos do início da presença dos sírios e libaneses no
Rio Grande do Sul, verificamos entre poucos nomes árabes na lista de sócios da
Sociedade Libanesa, muitos outros sobrenomes: luso-brasileiros, alemães, italianos e
poloneses. Quase não há mais casamentos endogâmicos entre os descendentes dos
pioneiros. Na quarta geração em linha direta desde os primeiros imigrantes, o que foi
uma comunidade étnica síria e libanesa fechada, no início da imigração, é hoje uma
vasta mescla de pessoas de diversas procedências e costumes, que têm suas fronteiras
étnicas árabes bastante fluidas e flexíveis, entre os gaúchos de diversas origens.
A amplitude da memória do tempo passado terá um efeito direto sobre as representações de
identidade. A memória individual se desenvolve em um tempo privado, íntimo. Mas que
converge para o coletivo quando encontra apoio em acontecimentos vividos pelo grupo.
(CANDAL, 2014, p.100)
A recriação da identidade étnica dos sírios e libaneses em Porto Alegre se dá de
três formas principais: A primeira através da comunidade e da socialização através do
clube Sociedade Libanesa. Nessa dinâmica, a família assume um papel central nas
celebrações e na preservação da memória étnica. A segunda através da Igreja Maronita
Nossa Senhora do Líbano, inaugurada em 1964, no esforço da própria comunidade
libanesa de confissão maronita12, A Igreja maronita tem uma missa aos sábados, às
18h30minh, cuja parte da homilia é rezada em aramaico, língua da qual o árabe
moderno se originou. A igreja reúne alguns imigrantes e seus descendentes, mas
também brasileiros, sendo que alguns padres e freiras são libaneses maronitas. Por fim,
a identidade árabe também é rememorada nos diversos restaurantes de comida árabe da
cidade, mas também nas academias de dança oriental13 de Porto Alegre.
O Clube Sociedade Libanesa14 realiza duas festas étnicas por ano. Uma em
Setembro, quando se comemora a independência do Líbano, e a outra em Novembro,
para festejar o aniversário do Clube15. Em ambas as ocasiões há um jantar com comidas
12 Igreja fundada com o apoio da comunidade maronita portalegrense. A origem da Igreja Maronita remonta o século VII, e se deu em torno de São João Marun, que viveu nas montanhas do Líbano.13 Evitamos chamar de ‘dança do ventre’. Alguns estudiosos da cultura árabe consideram está uma terminologia inventada no ocidente, criada pela indústria do entretenimento.14 O Clube, fundado em 1936, teve sua primeira sede na Rua Leopoldina, bairro São João. Em 1954 passou por reformas de ampliação e, em 1982, foi construída uma nova sede, no bairro Boa Vista, Zona Norte da Capital, localização atual.15 A festa denominada “comenda do sheik” é uma tradição desde 1972. Os convidados comparecem ao jantar usando trajes típicos. Bailarinas contratadas, geralmente vêm de São Paulo para se apresentar especialmente no evento que é ansiosamente esperado por grande parte dos sócios todos os anos.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
típicas e um show de dança árabe com bailarinas vestidas a caráter, música e espetáculo
de folclore árabe com som e luzes. Nesta ocasião, depois de terminado o show, todos
que quiserem podem dançar o Dabiq, que é uma dança realiza em grupo, onde todos
juntos de mãos dadas, ensaiam passos como numa ciranda, perfazendo uma coreografia
em harmonia com a batida dos pés e a dobra do joelho, ao som da percussão.
Já os restaurantes árabes de Porto Alegre são cinco, sendo o mais tradicional o
Baalbek, localizado na Rua Dr. Timóteo, bairro Floresta. O restaurante que pertence a
uma família de descendentes de imigrantes libaneses tem uma tradição culinária de 25
anos ininterruptos. Os demais restaurantes são: Lubnannn, na Cristovão Colombo,
bairro Floresta, o Damash, localizado na Cidade Baixa, o Al Nur, na Rua Protásio Alves
em Petrópolis, e o restaurante da Sociedade Libanesa, chamado de Monte Líbano.
Alem do Clube Sociedade Libanesa, dos restaurantes árabes de Porto Alegre, o
que mais chama atenção sobre a referência árabe na capital é o elevado número de
escolas de danças orientais. Entre as diversas academias especializadas em danças
árabes com aulas particulares ou em grupo, existem aquelas que também oferecem show
com bailarinas, música e Buffet de comidas árabes, a domicílio, em clubes ou
restaurantes. Essas iniciativas se caracterizam por serem verdadeiras produções de
espetáculo onde o imaginário árabe aparece pronto para o consumo.
A bailarina e coreógrafa Nurah Said, libanesa de nascimento, mas radicada em
Porto Alegre, fundou o Centro Cultural árabe Maktub. O objetivo do Centro é promover
o mundo oriental através de palestras que mostrem a contribuição da cultura árabe ao
ocidente, mas também permita exibir a arte contemporânea, a dança moderna e
folclórica, além do teatro, estrelando peças que são inspiradas em contos árabes e
adaptadas para o gosto do publico brasileiro. De acordo com nossa informante, as
danças árabes são dividas em quatro grupos principais: As danças folclóricas, por
exemplo: Tah-tib que é praticada por dançarina com um bastão16, a dança do Said, que é
uma dança tradicional do Norte do Egito em que a bailarina dança com bastão ou
espada, o Khaleege17, cujo ritmo é o Soudi (folclórico) e o Dabiq que é uma dança
coletiva do tipo ciranda que é praticada por todos18. Ainda há a dança clássica árabe,
16 Alguns em formato de cajado, outros com gancho na ponta. A dança simula uma arte marcial popular entre os pastores que usam o cajado como instrumento de puxar e bater no adversário, na dança, ao final da apresentação, o gancho serve para que a dançarina puxe os convidados para a pista de dança.17 É dançada com um vestido (túnica) de tecido fino, todo bordado. A túnica é chamada de Galabya.18 A origem da dança sugere algum tipo de mutirão quando aldeões se reunião para pisar uvas, pisotear o piso de alguma casa ou cobertura de telhado que era feito de estuque.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
onde detalhes como movimentos das mãos e quadris são cuidadosamente observados, a
dança Takssim que se desenvolve ao som de instrumentos de sopro e cordas, e os solos
de Derback, tambor árabe cuja diversidade de toques já catalogou mais de duzentas
diferentes batidas e ritmos.
ConclusãoA atividade de memória que não se inscreve em um projeto de presente, não tem carga identitária, e com mais frequência equivale a nada recordar. (Joel Candal)
O orgulho da raça19 é algo comparável a uma alta estima coletiva. É a mesma
que, neste sentido, gozam alguns descendentes de italianos e alemães, que buscam nos
consulados e embaixadas a cidadania desses países, na esteira do prestígio que têm no
cenário internacional, mas também os filhos e netos de imigrantes japoneses, açorianos
e poloneses e até, em muitos casos, os afrodescendentes20. Observa-se, porém, no caso
dos descendentes de imigrantes sírios e libaneses em Porto Alegre, características únicas
e peculiares de um grupo de descendentes de imigrantes que se nega e se afirma, ao
mesmo tempo, tão claramente em relação ao seu pertencimento e orientalismo21.
Seus pais e avós chegaram jovens e pobres, na condição de apátridas, sendo que
suas identidades estavam ligadas a religião e a aldeia de origem. Aqui aprenderam a se
vestir, comer e falar de modo ocidental. Conduziram carreiras empreendedoras,
atividades dinâmicas que, embora oferecessem riscos, souberam ser contidos suficientes
para não perder nas crises, embora muitos tenham falido a maioria manteve seus
negócios e até cresceu lentamente com o tempo. O resultado disso foi terem
proporcionado à segunda geração a entrada definitiva num outro patamar econômico,
aonde até bem pouco tempo, apenas os luso-brasileiros e outros descendentes de
imigrantes chegados ao país sob outras condições em um tempo anterior, poderiam
alcançar.
19 A categoria ‘raça’ é usada para definir o racismo. Esta palavra deve ser compreendida nas Ciências Sociais como limitada, todavia pode auxiliar quando se trabalhar com identidade étnica e todas as suas implicações.20 A baixa estima e a pobreza andam muito próximas e se constitui como uma chaga nacional, porém, muitos são os grupos e pessoas que afirmam sua condição de negros, se empoderando, inclusive esteticamente frente a uma sociedade capitalista cuja lógica é anglo-saxão.21 O orientalismo moderno, de acordo com Edward Said é a maneira culta que os ocidentais veem e explicam o oriente.
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
Na história da Sociedade Libanesa observa-se que a memória é um campo em
disputas. Em Porto Alegre faltou regularidade e iniciativa da comunidade síria em
manter sua memória separadamente. Se assim tivesse ela feito, poderia negociar com a
Sociedade Libanesa o nome ‘síria’ no título do Clube, e não apenas e um salão nobre. O
que triunfou foi a comunidade maronita cristã, de origem libanesa. Em torno dela outros
grupos árabes se juntaram numa tácita aceitação de ‘libanizarem-se’, em outras
palavras, fazer concessões identitárias. Ao que se deve este fator? Talvez a forte
presença de alemães e italianos tenha dirigido as escolhas de muitos sírios a se
converterem em ‘libaneses’, mais próximos e mais parecidos com os ocidentais. Este
ponto de inflexão ficou claro durante os anos de 1920 e 1930, duas décadas de forte
movimentação associativa para os imigrantes e descendentes de sírios e libaneses em
Porto Alegre, quando o mandato Francês no Líbano e na Síria, como vimos, prevaleceu,
sobre uma visão de mundo “pan-árabe” como queriam muitos sírios. O estabelecimento
da Igreja maronita, algumas décadas mais tarde, consolidou o ‘território conquistado’.
Por outro viés podemos estudar a etnicidade através de outros símbolos, como,
por exemplo: a alimentação. Nas palavras de Woortmann, (1978), "o comer não satisfaz
apenas as necessidades biológicas, mas preenche também funções simbólicas e sociais".
Os alimentos da culinária sírio e libanesa unem tanto sírios quanto libaneses assim
como a língua, a arte e a dança árabe. Os alimentos são preparados de forma ritual e
demandam grande habilidade manual como moer, pilar, sovar e bater. Utiliza-se de
elementos frescos de uma cozinha tipicamente mediterrânea. Ingredientes como o trigo,
arroz e o grão de bico, juntamente com o azeite de oliva e hortaliças (quase todas têm
nomes árabes) além dos legumes que acompanham os pratos principais. Podem ser
servidos recheados, cozidos, crus ou assados. A carne preferida é a de carneiro e o leite
usado para coalhadas e iogurtes.
Os restaurantes árabes espalhados pela cidade propõe uma rememoração síria e
libanesa através de cheiros e sabores. Da suave pimenta síria, do pão árabe, da cebola e
da pasta de grão de bico. É através da cultura material, mas também de sua forma
intangível e imaterial, usando os sentidos, que se torna possível acessar um imaginário
ancestral disponível no dia-a-dia da cidade.
Estes produtos, ações e pessoas, agenciam os desejos de pertencimento,
movimentando uma fronteira étnica tanto de descendentes quanto de brasileiros, já
Festas, danças, família e rememorações: Sírios e libaneses em Porto Alegre
familiarizados com o imaginário oriental do quibi e da esfirra, como salgadinhos
nacionais, invertendo a lógica orientalista e arabizando um pouco mais o Brasil.
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