what the congressmen say and what they do about political reform

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1 What the Congressmen say and what they do about political reform? Andréa Freitas * Patrick Silva ** As manifestações que tomaram conta do Brasil em junho de 2013 começaram pedindo a redução das tarifas de ônibus 1 e terminaram por reivindicar maior mobilidade urbana, saúde, educação, maior seriedade na condução dos assuntos de governo, fim da corrupção, entre outros temas. Ou seja, de manifestações com uma pauta objetiva, as “revoltas de junho” acabaram caracterizadas pela dispersão e difusão de pautas, ainda que todas fossem movidas por uma insatisfação com a classe política e com as políticas por ela produzidas. Como resultado, a insatisfação acabou por transformar manifestações apartidárias em antipartidárias. De certa forma, ao final as demandas difusas foram convertidas em coro que entoava que os partidos não cumpriam seu papel no tocante a fazer um elo entre eleitores e eleitos. Novamente a solução apontada para todas as mazelas do país foi a reforma política a mãe de todas as reformas. Nesse ponto nenhuma novidade, uma vez que o desejo de reformar as instituições políticas do país esteve sempre presente 2 . Ainda que saibamos que o sistema político brasileiro é governável, que haja uma ampla taxa de sucesso do Executivo na aprovação de seus projetos, ainda persiste a sensação de que o sistema sofre de algum tipo de disfuncionalidade representada na figura dos partidos políticos, a percepção de que estes são fisiologistas e não representam os interesses da população, mas a si próprios. Apesar do aparente consenso na opinião pública e na esfera política sobre a necessidade de uma reforma política que reduzisse o número de partidos, a corrupção e os incentivos * Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e coordenadora do Núcleo de Instituições Políticas e Eleições do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). ** Mestrando do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo e pesquisador júnior do Centro de Estudos da Metrópole (CEM). 1 Em Junho de 2013, o aumento das passagens de ônibus em diversas cidades brasileiras desencadearam protestos pedindo a redução das tarifas. Esses protestos que começaram localizados e com objetivos claros, acabaram se espalhando pelo país, levando centenas de milhares de pessoas as ruas. 2 Em todos os períodos pós-independência é possível encontrar autores, com maior ou menos relevo, que defenderam alguma forma de modificação ao arcabouço político vigente. Durante o império temos Francisco Belisário de Souza (Souza, 1979) e José de Alencar (Alencar, 1868); na Primeira República (1889-1930), Assis Brasil (Brasil, 1895); na Segunda República (1946-1964), Affonso Arinos (Franco, 1965).

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1

What the Congressmen say and what they do about political reform?

Andréa Freitas*

Patrick Silva**

As manifestações que tomaram conta do Brasil em junho de 2013 começaram pedindo a

redução das tarifas de ônibus1 e terminaram por reivindicar maior mobilidade urbana,

saúde, educação, maior seriedade na condução dos assuntos de governo, fim da

corrupção, entre outros temas. Ou seja, de manifestações com uma pauta objetiva, as

“revoltas de junho” acabaram caracterizadas pela dispersão e difusão de pautas, ainda

que todas fossem movidas por uma insatisfação com a classe política e com as políticas

por ela produzidas. Como resultado, a insatisfação acabou por transformar

manifestações apartidárias em antipartidárias. De certa forma, ao final as demandas

difusas foram convertidas em coro que entoava que os partidos não cumpriam seu papel

no tocante a fazer um elo entre eleitores e eleitos.

Novamente a solução apontada para todas as mazelas do país foi a reforma política – a

mãe de todas as reformas. Nesse ponto nenhuma novidade, uma vez que o desejo de

reformar as instituições políticas do país esteve sempre presente2. Ainda que saibamos

que o sistema político brasileiro é governável, que haja uma ampla taxa de sucesso do

Executivo na aprovação de seus projetos, ainda persiste a sensação de que o sistema

sofre de algum tipo de disfuncionalidade representada na figura dos partidos políticos, a

percepção de que estes são fisiologistas e não representam os interesses da população,

mas a si próprios.

Apesar do aparente consenso na opinião pública e na esfera política sobre a necessidade

de uma reforma política que reduzisse o número de partidos, a corrupção e os incentivos

* Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e coordenadora do Núcleo de Instituições

Políticas e Eleições do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP). **

Mestrando do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo e pesquisador júnior do

Centro de Estudos da Metrópole (CEM). 1 Em Junho de 2013, o aumento das passagens de ônibus em diversas cidades brasileiras desencadearam

protestos pedindo a redução das tarifas. Esses protestos que começaram localizados e com objetivos

claros, acabaram se espalhando pelo país, levando centenas de milhares de pessoas as ruas. 2 Em todos os períodos pós-independência é possível encontrar autores, com maior ou menos relevo, que

defenderam alguma forma de modificação ao arcabouço político vigente. Durante o império temos

Francisco Belisário de Souza (Souza, 1979) e José de Alencar (Alencar, 1868); na Primeira República

(1889-1930), Assis Brasil (Brasil, 1895); na Segunda República (1946-1964), Affonso Arinos (Franco,

1965).

2

ao individualismo; e ao mesmo tempo em que aumentasse a accountability do sistema

político, e, principalmente, a representatividade, muito pouco foi modificado de fato,

ainda que o número de tentativas não tenha sido pequeno.

Esse trabalho busca apresentar como os congressistas têm lidado com o tema,

procuraremos relacionar as opiniões expressas pelos congressistas, com suas ações. Para

tanto utilizaremos os dados das sete ondas do Brazilian Legislative Survey conduzido

por Timothy Power e Cesar Zucco e do Banco de dados Legislativo do CEBRAP, do

qual analisaremos todos os projetos de lei e de lei complementar, bem como as

propostas de emenda à Constituição apresentados após a promulgação da Carta de 1988

que versaram sobre o tema da reforma política. Em poucas palavras, nosso intento é

verificar como, e se, as preferências declaradas pelos congressistas resultaram em

propostas de modificação do sistema vigente.

A fim de cumprir este objetivo este artigo está organizado em três seções, além desta

introdução e das conclusões. Na que segue, apresentamos de modo breve os argumentos

postos em defesa da reforma política e recapitulamos as transformações que o sistema

político brasileiro sofreu ao longo das últimas décadas; posteriormente, detalhamos os

dados e os procedimentos empregados na seção empírica deste artigo; por fim,

discutimos os achados empíricos e tecemos algumas considerações sobre o porquê as

grandes reformas não saem do papel.

A – Reforma Política no Brasil: As Críticas e ...

A Assembleia Nacional Constituinte de 1987-8 (ANC) é ponto de partida óbvio das

discussões sobre reforma política. Não só porque ela contém o marco legal que será

objeto de modificação nas propostas dos congressistas, mas também porque nos debates

da Assembleia estão presentes os argumentos que continuarão a se reproduzir até os

dias de hoje.

Os anseios de mudança entre os constituintes eram tamanhos, que muitos davam como

certo que as macro instituições políticas seriam modificadas, Ulysses Guimarães – que

seria eleito presidente da ANC – chegou a declarar para Revista Veja que “o voto

distrital [era] quase um fato consumado” (“A voz dos liberais,” 1987). O mesmo se

pensava sobre a opção pelo parlamentarismo. Mas apesar desse desejo a ANC não fez

modificações no sistema de governo – presidencialismo – e no sistema eleitoral –

3

representação proporcional–, macroinstituições políticas do regime democrático de

1946-64, que para muitos foram as causas da derrocada da democracia neste período

(Furtado, 1964; Santos, 1986; Soares, 1994).

Não cabe expor os pormenores das decisões dos constituintes, para nosso objetivo cabe

apenas destacar que as grandes mudanças que vez ou outra estiveram presentes e

tiveram chances reais de aprovação. Como mostram Simoni Jr., Silva e Souza (2009) a

previsão de Ulysses sobre a mudança do sistema eleitoral estava certa até o texto

constitucional chegar a Comissão de Sistematização3, onde o sistema distrital misto foi

preterido por uma maioria folgada em favor da manutenção da representação

proporcional. Por sua vez, as possibilidades do parlamentarismo sobreviveram até o a

fase do Plenário quando uma emenda em prol do presidencialismo saiu vitoriosa4.

Sabemos que a prevalência destas instituições não foi seguida por um contentamento

dos atores políticos e da opinião pública. Como afirma Medeiros (2013) logo após a

promulgação da Constituinte se disseminou uma visão que o arranjo institucional

definido traria entraves para governabilidade e consequentemente para a solução dos

problemas econômicos e sociais que acometiam o país. Foram diversos os prognósticos

pessimistas apresentados por acadêmicos ao longo dos anos 1990. O sistema político

brasileiro foi acusado de conduzir a paralisia decisória (Lamounier, 1992) de estimular

o comportamento individualista dos parlamentares (Ames, 1995a, 1995b, 2003), de

enfraquecer os partidos políticos (Mainwaring, 1999), de ter fortalecido excessivamente

os governadores (Abrucio, 1998) e de favorecer o comportamento plebiscitário do

presidente (Lamounier, 1994)

Após o plebiscito de 1993, no qual o presidencialismo recebeu 69,2% dos votos válidos,

e das análises conduzidas no final da década de 1990 e ao longo da de 2000 poucos são

os que ainda urgem contra o presidencialismo brasileiro. É consenso que as instituições

brasileiras funcionam e que a governabilidade não está em risco (Figueiredo &

3 Os trabalhos na ANC foram organizados de modo descentralizados. A princípio foram estabelecidas oito

Comissões Temáticas que se subdividiam em três Subcomissões. Cada uma das Subcomissões teve como

objetivo a elaboração de um anteprojeto que foi enviado a Comissão Temática, onde foi emendado e

aprovado. Os oito anteprojetos das Comissões foram enviados à Comissão de Sistematização que tinha

como tarefa a sistematização dos anteprojetos temáticos e a elaboração do Anteprojeto de Constituição

que seria enviado à apreciação do Plenário. 4 Nesse ponto cabe ressaltar que a falta de consenso sobre o tema levou a convocação do plebiscito, no

qual a opção parlamentarista acabou derrotada de forma definitiva.

4

Limongi, 1999; Melo & Pereira, 2013). Ou seja, a outrora apontada como a

“combinação perigosa”5 (Mainwaring, 1993) pode ser considerada bem sucedida.

Os avanços na questão da governabilidade não retirou a reforma política da pauta. Em

todos os governos pós-redemocratização, como mostraremos, é possível verificar

propostas de mudanças à legislação, especialmente no que compete aos tramites

eleitorais. Mesmo que a maior parte destas propostas não tenha obtido êxito, seria

equivocado afirmar que a agenda reformista não passa de mero debate e de apresentação

de propostas. Como mostraremos a seguir, após a promulgação da Constituição não

houve dois pleitos consecutivos para o mesmo cargo que tenham sido regidos pelas

mesmas regras.

Tais mudanças versaram, grosso modo, sobre os pilares das discussões atuais: as regras

de campanha e sistema eleitoral. No caso deste último, as alterações ocorreram nos

detalhes, isto é, não se alterou o cerne do sistema eleitoral, a saber: a representação

proporcional. Ou seja, as alterações nas regras do jogo político foram, em sua maioria,

pouco perceptíveis ao cidadão comum.

Na terceira seção apresentamos um balanço das propostas de modificação das regras do

jogo político no Brasil. Por ora relataremos algumas das modificações ocorridas ao

passar de 25 anos da Constituição.

... as modificações6

Antes de partimos para mudanças pelas quais passaram o sistema político brasileiro é

importante definir como estamos entendendo reforma política. A ideia contida no termo

reforma política pode parecer um tanto óbvia, quando se fala em reforma espera-se uma

mudança considerável seja no modo como se dá a competição política, seja nas

instituições que estruturam o sistema político. Logo vem a mente mudanças no sistema

de governo, ou no método de conversão de votos em cadeiras. Mas a vulgarização na

forma como se trata o termo reforma política acabou por dar ao termo uma forma fluída.

Quando se trata do termo reforma política em geral se aponta os resultados esperados,

ou seja, se fala em reforma política para tornar os partidos mais fortes, em tornar

processos mais transparentes, aproximar eleitor do eleito, ou mesmo diminuir a

5 Sistema proporcional de lista aberta e o sistema presidencialista de governo.

6 Agradecemos a Natália Vasconcelos (mestranda em direito pela Universidade de São Paulo e graduanda

em Ciências Sociais pela mesma universidade) pela ajuda nesta seção.

5

necessidade de se formar coalizões tão grandes. Esses resultados são associados as mais

diferentes mudanças no sistema, desde macro reformas, propostas de modificações

radicais no sistema de conversão de votos em cadeiras, até reformas menores, mais

pontuais, como mudanças no sistema de prestação de contas das campanhas políticas.

O ponto é pequenas mudanças podem ter grandes consequências7, se o que importa é o

resultado, então não é preciso uma modificação radical no sistema de governo, ou nas

regras eleitorais para, por exemplo, aumentar a força dos partidos políticos, ou mesmo

diminuir a distância entre eleitores e seus representantes.

Neste trabalho entenderemos como projetos de reforma política todo projeto dirigido a

modificações do sistema de governo e do sistema eleitoral. Nesse sentido não é preciso

que o projeto englobe modificações amplas ou radicais, mudanças pequenas e

localizadas em regras específicas e pontuais também são aqui classificados como

projetos de reforma8.

Nesse sentido se não foi aprovada até então uma grande reforma política não significa

que os atores políticos não tenham se esforçado em aprovar medidas mais pontuais que,

embora menos visíveis não deixam de ter um impacto significativo nos instituições

políticas do país. Vejamos, entre promulgação da Constituinte em 1988 e 2013 foram

apresentados 1441 projetos9 que versavam sobre eleições ou sistema de governo. Desses

consideramos macro reformas 248 projetos, os demais são reformas pontuais que caso

aprovados teriam consequências importantes sobre o sistema político, mas que não

modificam radicalmente as macroinstituições do sistema. Desses 1441 projetos somente

27 foram transformados em norma jurídica, sendo 510

projetos de macro reformas e os

outros 22 são micro reformas.

7 Para mais sobre isso ver Freitas (2008, 2012), nesse trabalho mostro como a mudanças pequenas nas

regras de distribuição do horário eleitoral gratuito afetam o comportamento dos parlamentares no

Legislativo brasileiro. 8 A classificação se justifica, primeiramente, como foi observado acima, a reforma política se pauta mais

pelo desejo de ver certos aspectos do sistema político modificado, do que pelo desejo de que algum

grande instituição do sistema seja modificado. Em outras palavras quando se propõem a eleição para o

legislativo se dê pelo método majoritário, o objetivo da mudança não é alcançar mais justiça a partir da

simples conversão do sistema, o que se pretende é diminuir o número de partidos e estreitar a relação

eleitores/eleitos. Dessa forma, mecanismos pontuais podem ter efeito similar. 9 Todos os tipos de projetos estão considerados na seleção, ou seja, estão incluídos nesse universo

Proposto de Emenda à Constituição, Projetos de Lei Complementar, Projetos de Lei Ordinária. 10

Entre estes projetos temos o que propõem a reeleição, o que regulamenta as eleições, que define casos

de inelegibilidade, que disciplina as coligações eleitorais e a lei dos partidos políticos.

6

Mas afinal, se as propostas são majoritariamente abandonadas ou recusadas pelo

parlamento brasileiro, quais foram as modificações ocorridas no período que afetaram o

sistema político?11

A primeira alteração por forma de emenda constitucional ocorreu em setembro de 1993

com a aprovação da EC 4/1993 que dispôs sobre o período de entrada em vigor de

modificações no processo eleitoral. A EC 4/1993 estabeleceu que mudanças no processo

eleitoral entrassem em vigor no momento de sua aprovação, excetuando quando a

norma é aprovada a menos de um ano da eleição. A primeira vista essa alteração parece

pouco relevante para o processo eleitoral, contudo se considerarmos que alterações no

cadastramento de eleitores e no período de filiação partidária são afetadas por este

dispositivo, esta alteração tem impacto no comportamento estratégico dos parlamentares

quando estes estão cotejando propostas de modificação do processo eleitoral.

Alvo de discussões acaloradas no interior da ANC (Limongi, 1988; Lopes, 1988), o

tamanho do mandato presidencial foi reduzido de 5 para 4 anos por meio da Emenda

Constitucional 5/1994. A modificação mais conhecida no sistema político brasileiro

também se deu na questão dos mandatos. Em 1997, às vésperas da data limite

estabelecida pela EC 4/1993 para a entrada em vigor de normas que modificam o

processo eleitoral, foi aprovada a EC 16/1997 que permite reeleição para os cargos

Executivos. É notável que, apesar de ser uma modificação nas regras do jogo, a

reeleição é desde sua aprovação um dos pontos de debate entre os que advogam por

uma reforma política.

Após a aprovação destas duas emendas constitucionais as modificações se deram por

meio de legislação infraconstitucional ou por jurisprudência do Tribunal Superior

Eleitoral (TSE). Excetuando a Emenda Constitucional 52 que teve como objetivo

derrubar a regra da verticalização instituída pela Resolução do TSE 21002/2002, as

demais modificações nas regras do jogo ocorreram por meio de legislação

infraconstitucional.

11

É importante destacar a proposta desta seção não é apresentar e comentar modificação a modificação

feita nas regras do jogo, pois isso demandaria um artigo dedicado a este intuito. Nosso objetivo é mais

modesto, apontamos apenas as mudanças que tomaram maior visibilidade, com ensejo de mostrar que

desde a redemocratização em todas em todos os períodos pré-eleitorais as regras do jogo foram

modificadas.

7

Apontada por diversos analistas (Ames, 1995b; Mainwaring, 1991) como um dos

problemas do sistema eleitoral brasileiro, a candidatura nata foi suspensa pelo o

Superior Tribunal Federal (STF) em abril de 2002. A decisão se deu em caráter liminar

após o relator do processo, Ministro Celso de Melo, decidir favoravelmente a Ação

Direta de Inconstitucionalidade (ADI) proposta pelo então procurador-geral da

República, Geraldo Brindeiro, que pedia a suspensão da candidatura nata. A decisão do

STF fez com que no final de abril o TSE enviasse a Resolução 21079/2002 para os

Tribunais Regionais comunicando a decisão.

É importante destacar dois pontos nesta decisão. O primeiro, diz respeito ao caráter

provisório da decisão. Ou seja, a despeito da candidatura nata estar suspensa desde as

eleições gerais de 2002, é possível que o dispositivo retorne se os ministros do STF

decidirem contrariamente a ADI quando esta for a julgamento no plenário da Corte. O

segundo ponto é quanto ao apoio dos partidos à decisão tomada pelo STF. Diferente do

que ocorrem com outras decisões (por exemplo, a questão da verticalização das

coligações), os partidos políticos, na figura de seus líderes, declararam apoio ao fim da

candidatura nata12

. A justificativa do apoio se deu em razão a interpretação de que a

medida fortalece os partidos em detrimento aos indivíduos.

O processo eleitoral, prazo de incompatibilização, tempo mínimo de filiação, regras de

distribuição do horário eleitoral gratuito, entre outros tantos temas, definidos pela Lei

das Eleições (Lei 9504/1997) só ganha um formato definitivo em 1997, até a sua

aprovação, as eleições foram reguladas por leis aprovadas no ano que precede as

eleições, tivemos então as Leis 7.773/1988, a Lei 8.713/93, Lei 9.100/95, todas

introduziram algum tipo de modificação que afetou a organização pré-eleitoral dos

partidos, principalmente no que diz respeito aos recursos que estes teriam disponíveis

em suas campanhas.

A Lei das Eleições (Lei 9504/1997), embora ainda em vigor, não ficou ilesa, três leis

ordinárias entre 2002 e 2006 fizeram alterações que merecem ser citadas. A primeira

delas, a Lei 10408/2002 modificou a chamada ao estabelecer normatizações contra

fraude eleitoral e garantir a integridade da urna eletrônica. Entre as providências, a Lei

estabeleceu que 3% das urnas por zona eleitoral (com o mínimo de 3 urnas por

12

“Líderes apoiam fim da ‘candidatura nata’, decidido hoje pelo STF”, Folha de São Paulo

24/04/2002.http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u31760.shtml

Acesso em: 25/11/2013

8

município) devem ter os votos impressos um dia antes das eleições por um juiz eleitoral

em audiência pública para garantir a integridade do equipamento. Em outro ponto,

instituiu-se o direito dos partidos e das coligações fiscalizarem todas as fases do

processo eleitoral.

Já a Lei 10740/2003 dispôs sobre alterações no registro digital do voto. Tal qual a

modificação anterior, esta norma teve como objetivo assegurar a invulnerabilidade dos

votos na urna eletrônica. Entre suas disposições, a Lei garantiu aos partidos políticos, a

Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e ao Ministério Público o direito de indicar

técnicos especializados para o desenvolvimento dos softwares utilizados na eleição; e a

garantia de uma demonstração para os partidos políticos e coligações do funcionamento

de tais softwares até 30 dias antes das eleições.

Em 2006 foi aprovada a Lei 11300/2006 que, dentre as três leis aprovadas entre 2003 e

2006, é a que proporciona mais visibilidade por alterar a regulamentação para o

recebimento de doações de campanha e para a prestação de contas. A Lei, dentre outras

coisas, estabelece que os candidatos devem informar o limite de gasto até o dia 10 de

julho do ano eleitoral; a forma como as doações devem ser realizadas; o que é

considerado gasto eleitoral; a obrigatoriedade dos partidos divulgarem duas prestações

de contas parciais durante a campanha na Internet; a proibição de uso de material de

campanha em bens de uso comum, tal como a multa para o descumprimento da Lei; e a

proibição da distribuição de “brindes” (camisetas, chaveiros, bonés entre outros) com o

nome ou o número do candidato e/ou partido.

As três modificações citadas tocam em pontos crucias defendidos pelos defensores da

reforma política, qual seja, garantem maior transparência ao processo eleitoral,

aumentado à capacidade de fiscalização dos partidos políticos, bem como criam regras

mais rígidas para prestação de contas do dinheiro de campanha. Sobre esse último

ponto, recentemente, foi aprovada no Legislativo a Lei nomeada de Minirreforma

Eleitoral, em uma tentativa de responder as manifestações de junho, que promove

modificações nas regras de financiamento de campanha, bem como introduz novos

mecanismos de controle dos gastos, entre outros fatores.

Ainda em 2006 foi aprovada a mudança que anularia a Resolução do TSE 21002/2002.

A Resolução do TSE, talvez a mais conhecida das jurisprudências do Tribunal,

estabeleceu que as coligações para cargos proporcional devessem manter a composição

9

das observadas para os cargos majoritários seguindo uma hierarquia entre os cargos para

o Executivo. Tal medida teve impacto no tamanho das coligações para o cargo de

presidente, como aponta Mesquita (2013) o número de partidos presentes nas disputas

para o cargo de Governador, mas ausentes das chapas presidenciais foi de 15 e de 17

para os anos de 2002 e 2006, respectivamente; enquanto que o número de partidos

ausentes foi de 8, 8 e 4 para os anos que a determinação não vigorou: 1994, 1998 e

2010, respectivamente. Em reação a esta determinação do TSE, a EC 52/2006 que

extinguiu a verticalização foi promulgada no dia 8 de março de 2006. Contudo, em

razão da norma ter sido aprovada a menos de um ano das eleições, a verticalização

ainda vigorou durante as eleições de 2006.

Apontada por parte da literatura (Desposato, 2006; Melo, 2000, 2004) com outro dos

pontos críticos do sistema político brasileiro por estimular o comportamento

individualista dos parlamentares em detrimento dos partidos políticos, a migrações

partidárias foram (e, ainda são) alvo constante de propostas de modificação e de

modificações efetivas. Esse caso explicita de forma adequada o argumento que tentamos

desenvolver desde o início, qual seja não são necessárias grandes reformas para atacar

os problemas apontados pelos críticos à formatação do sistema político brasileiro.

Apesar do grande número de trocas de legenda no Brasil, os congressistas a todo o

momento apresentaram projetos que tinham como objetivo acabar com elas. Eram

recorrentes discursos desconfortáveis que tratassem do tema. De fato nunca foi

aprovado um projeto que proibisse as trocas de legenda, mas dois projetos aprovados

tinham precisamente esse objetivo. O primeiro, a Lei das Eleições, citada acima, que

determinava entre outras coisas que o tempo de propaganda eleitoral gratuita a que terão

direito os partidos será distribuído conforme a com a distribuição das cadeiras nas datas

do primeiro dia da legislatura, esse artigo foi modificado pela Lei nº 11.300/2006 que

passa a determinar que o tempo seja distribuído conforme os votos que receberam os

partidos nas eleições proporcionais federais anteriores.

Como mostra Freitas (2012), a modificação realizada em 1997 visava retirar o benefício

que recebiam os partidos políticos com a entrada de novos filiados via migração

partidária e reduziu de significativamente as trocas de legenda no período pré-eleitoral,

período no qual os partidos aliciavam novos membros visando aumentar seu tempo de

televisão. Mas a Lei teve uma consequência imprevista, na medida em que ela

10

determinava que valesse para a contabilização o número de parlamentares de cada

partido no primeiro dia da legislatura, ela passou a estimular as trocas de legenda entre

as eleições e a data da posse. Por esse motivo foi proposta a Lei de 2006 que visa

justamente corrigir esse problema.

Ainda com o objetivo de reduzir as trocas de legenda os deputados em 2005 alteraram

regimento interno da Câmara dos Deputados através da Resolução nº 34, determinando

que os cargos legislativos passassem a ser distribuídos conforme o resultado eleitoral. O

que causou uma redução significativa nas trocas de legenda. O objetivo dos

parlamentares com essas duas modificações é bastante claro, acabar com quaisquer

recursos que pudessem ser motivadores de trocas de legenda, sem, no entanto,

impossibilitar trocas de legenda motivadas por questões ideológicas, por exemplo.

Ainda sobre as migrações partidárias, em 2007 o TSE se manifestou favorável aos

partidos após uma consulta realizada pelo Democratas (DEM; antigo PFL) sobre a

quem o mandato pertence. Segundo o TSE (Resolução 22610/2007), o mandato é do

partido, assim o parlamentar migrante perderia o mandato que passaria a ser ocupado

por um suplente do mesmo partido. Esta decisão teve dois efeitos: 1) os partidos

passaram a recorrer ao TSE a cada troca de legenda. Segundo levantamento do

Congresso em Foco, da data da decisão até 27 de janeiro de 2008, os partidos tinham

iniciado 8595 processos contra parlamentares migrantes13

; e 2) como efeito colateral

tem se observado a estratégia de criação de novas legendas para evitar a perda do

mandato. Exemplos desta estratégia são o PSD (2011), o PROS (2012), o PEN (2012) e

o Solidariedade (2013). Nesse caso a proibição pura e simples das trocas de legenda, ao

invés de fortalecer os partidos, acabou por multiplicar o número de legendas, tornando o

Congresso ainda mais fragmentado e gerando um grau de instabilidade só vista logo

após a transição para o regime democrático.

Dois anos depois da manifestação do TSE, foi aprovada a Lei 12034/2009 que

modificou partes da Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995), da Lei das Eleições

(Lei 9.504/1997) e do Código Eleitoral (Lei 4.737/1965). Entre as modificações a Lei

dos Partidos está a suspensão do repasse do Fundo Partidário em caso de desaprovação

total ou parcial da prestação de contas. Por sua vez, as principais mudanças na Lei das

13

“A relação de processos por estado”, Congresso em Foco.

http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/a-relacao-de-processos-por-estado/

Acesso em 25/11/2013

11

Eleições dispõem: sobre a possibilidade do diretório estadual, por meio de convenção,

decidir por não seguir a determinação do diretório nacional; sobre o registro de

candidaturas; sobre os procedimentos de doação de recursos por pessoa física a

campanhas; sobre novos procedimentos para a prestação de contas; sobre novas

proibições a práticas realizadas durante a campanha; e, por fim, sobre o direito de

resposta em propaganda eleitoral veiculada via Internet. Finalmente, as principais

modificações no Código Eleitoral versaram sobre: o direito de livre manifestação da

preferência partidária no dia da eleição; a definição do que não é considerada campanha

eleitoral antecipada; a proibição de propaganda eleitoral de candidatos a cargo

majoritário durante o horário eleitoral dedicado a candidatos a cargos proporcionais; e a

propaganda eleitoral na Internet.

Observa-se que dentre todas as Leis aprovadas após a promulgação da Constituição de

1988, esta foi a que mais modificou as regras do jogo. Contudo, também se nota que as

modificações abordaram, em sua maioria, pontos pouco visíveis à população. Ou seja,

apesar da Lei ter promovido uma “minirreforma eleitoral” para os partidos políticos,

quase nada teve impacto perceptivo para os eleitores.

Em 2010 foi aprovada a Lei da “Ficha-Limpa” (Lei Complementar 135/2010).

Originária de um projeto de iniciativa popular, a Lei modificou os critérios de

inelegibilidade para cargos eletivos objetivando impedir que indivíduos julgados

culpados se tornassem inelegíveis. O impacto da Lei pode ser observado o número de

recursos movidos no TSE por candidatos que tiveram suas candidaturas barradas pelos

Tribunais Eleitorais Regionais (TRE). Foram abertos 177 recursos após as eleições

municipais de 2012, dos quais 32 foram negados pelo TSE até outubro de 201314

.

A última modificação por forma de lei foi a Lei 12875/2013 que visou alterar as regras

da distribuição do Fundo Partidário e do tempo no horário eleitoral gratuito. O principal

impacto da mudança se deu na estratégia de criação de novos partidos. Como

apresentado, um dos efeitos da decisão do TSE em favor dos partidos em relação a

migração, foi a criação de novos partidos. Anteriormente a Lei 12875/2013, os partidos

recém-criados poderiam participar do rateio da parte do fundo partidário e do tempo no

horário eleitoral destinados a partidos com representação na Câmara dos Deputados.

14

“TSE já julgou 38% dos casos de candidatos barrados pela ficha limpa”. Portal G1.

http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/10/tse-ja-julgou-38-dos-casos-de-candidatos-

barrados-pela-ficha-limpa.html Acesso em 26/11/2013

12

Entretanto, após a Lei 12875/2013 os novos partidos passaram a ser excluídos da

distribuição da maior parte destes recursos mesmo que tenham representação na

Câmara. Isso ocorreu, pois nova Lei determinou que os votos obtidos na eleição anterior

fossem utilizados como critério de rateio desconsiderando mudanças de filiação

partidária.

B – Os Dados do Brazilian Legislative Survey e do Banco de Dados Legislativos do

CEBRAP

Existe diversos caminho para se analisar a reforma política. Por exemplo, é possível

estudar a reforma política a partir do exame documental da mídia (propostas, defesas e

simulações podem ser encontradas em jornais e revistas); ou utilizando os anais da

Câmara dos Deputados e do Senado Federal acompanhando as discussões feitas nas

diversas Comissões Especiais criadas para discutir a matéria. Neste artigo, optamos por

empregar duas estratégias distintas. Primeiro, utilizaremos os dados do Brazilian

Legislative Survey para verificar a opinião dos parlamentares sobre as macroinstituições

brasileiras. Posteriormente, empregamos os dados de propostas apresentadas que

versam sobre o tema e analisamos o comportamento dos respondentes do survey nas

votações nominais que corresponde aos temas perguntados. O objetivo, como apontado,

é verificar a relação entre as preferências reveladas por meio do survey e o

comportamento dos parlamentares.

O primeiro passo foi unificar as sete ondas do BLS conduzidas desde a

redemocratização e selecionar as questões presentes que versavam sobre o tema da

reforma política. Selecionamos cinco questões, a saber: a que versa sobre a preferência

sobre os sistemas de governo e eleitoral, sobre o tipo de lista, e a opinião sobre a

disciplina e a fidelidade partidária.

No que concerne às propostas legislativas, selecionamos todos os projetos de lei

ordinária (PL), de lei complementar (PLP), de Emenda a Constituição (PEC) e de

Medida Provisória (MPV) que versam sobre a reforma política. Cabe destacar

desconhecemos trabalhos que realizaram a análise de todos os tipos de projetos, o único

13

trabalho (Rocha & Silva, 2012) que empregou uma abordagem semelhante o fez a partir

das análises das PECs. No total foram classificadas 1441 propostas15

.

Gráfico 1 – Número de propostas relacionadas a reforma política por tipo de matéria

Consideramos como propostas de reforma os projetos que tratavam de alteração nas leis

eleitorais (p.ex. regulamentação e financiamento de campanha, horário eleitoral), na lei

dos partidos (p.ex. filiação, fundo partidário), no sistema de governo e no sistema

eleitoral. Deste modo, não foram incluídos os projetos que versavam sobre alterações na

relação Executivo-Legislativo e sobre o funcionamento dos Três Poderes.

Os projetos foram classificados em 13 grandes temas: sistema de governo, regras para o

título de eleitor, fidelidade partidária, domicílio e alistamento eleitoral, crime eleitoral,

justiça eleitoral, pesquisa eleitoral, direito ao voto, partidos políticos, sistema eleitoral,

regras de elegibilidade, normas para as eleições e normas para a campanha. Cada uma

das propostas também recebeu um subtema para detalhar o que a proposta pretendia

modificar. Ao todo, foram utilizados 130 subtemas diferentes.

A partir destas duas fontes de dados empregamos três estratégias na próxima seção. A

primeira consiste em examinar os dados isoladamente, isto é, o que os parlamentares

15

O número de alterações propostas é ligeiramente superior ao de propostas, pois alguns dos projetos

propunham mais de uma mudança.

1 10

355

968

107

0

20

040

060

080

0

1,0

00

mero

de P

rop

osta

s

MPV PEC PEC PL PLP Fonte: Banco de Dados Legislativos do CEBRAP

14

pensam sobre os macrotemas da reforma política e o que é proposto; já a segunda

consiste em cotejar as respostas dos parlamentares ao longo das sete ondas do BLS com

o que foi efetivamente proposto por eles; por fim, verificamos o comportamento dos

respondentes do survey nas nove votações nominais que ocorreram sobre o tema durante

a ANC 1987-8 e as respostas oferecidas na primeira onda do BLS realizada em 1990.

C – A reforma política: o que se diz...

Das cinco questões disponíveis acerca da Reforma Política disponíveis no BLS três

podem ser consideradas sobre macro instituições políticas brasileiras. Iniciaremos a

análise das respostas dos parlamentares por elas. A primeira questão se relaciona o

Sistema de Governo, no Gráfico 2, abaixo, são expostos os resultados do survey a cada

onda.

Gráfico 2 – Preferência sobre o Sistema de Governo por onda (1990-2013)

Observa-se que para todos os anos a maioria dos respondentes tem como preferência o

sistema parlamentarista de governo. Todavia, é notável a diminuição da dominância do

parlamentarismo. Enquanto no inicio da série 81% dos respondentes apontaram o

parlamentarismo como o sistema de governo ideal para o Brasil, no final da série

196

48

107

70102

53

87

48

83

35

88

46

73 66

050

100

150

200

050

100

150

200

050

100

150

200

Parlam. Presid. Parlam. Presid. Parlam. Presid.

Parlam. Presid. Parlam. Presid. Parlam. Presid.

Parlam. Presid.

1990 1993 1997

2001 2005 2009

2013Nú

mero

de r

esp

on

de

nte

s

Fonte: Brazilian Legislative Survey

15

temporal apenas 52% disseram preferir o parlamentarismo. Entre os partidos a maior

mudança ocorre no PSDB, até a 2009 o menor percentual de apoio ao parlamentarismo

– plataforma histórica do partido – foi de 80%, percentual que cai para 61% em 201316

.

Gráfico 3 – Preferência sobre o Sistema Eleitoral por onda (1990-2013)

A preferência sobre o sistema eleitoral apresenta uma trajetória semelhante: o sistema

misto (parte das vagas preenchidas pela proporcionalidade e outra pelo majoritaríssimo)

é o preferido pela maioria dos respondentes em todas as ondas. Mas o apoio à

representação proporcional cresce no final do período examinado. Verifica-se também

que, excetuando o ano de 2001, é praticamente constante o percentual de respondentes

que optariam pelo sistema majoritário como o modo de seleção para a Câmara dos

Deputados se coubesse a eles a escolha.

As respostas sobre o tipo de lista são expostas no Gráfico 4 (abaixo). Nota-se que apesar

das lideranças partidárias defenderem a lista fechada os respondentes do survey

aparentam discordar. Em todo o período os parlamentares são favoráveis à manutenção

16

Qualquer análise que utilize dados agregados e coletados em diversos pontos no tempo com amostras

diferentes ao longo do tempo sofre com o problema da inconstância entre as unidades observadas. Isto é,

mudanças nos resultados ao longo do tempo pode ser produto da mudança de amostra e não da mudança

de preferência, no caso, dos partidos. Estamos conscientes deste tipo de limitação, nosso objetivo aqui é

modesto: pretendemos apenas apresentar os dados de modo descritivo para observar se as preferências

declaradas no tempo se traduzem em propostas de modificação das regras do jogo político.

98122

28

70

107

4

55

89

14

45

77

1135

68

16

4867

15

61 66

17

050

10

015

0

050

10

015

0

050

10

015

0

RP Misto Maj RP Misto Maj RP Misto Maj

RP Misto Maj RP Misto Maj RP Misto Maj

RP Misto Maj

1990 1993 1997

2001 2005 2009

2013Nú

mero

de r

esp

on

de

nte

s

Fonte: Brazilian Legislative Survey

16

do status quo. Isto é, a lista aberta. O momento de maior equilíbrio se dá em 2001 e

2005 quando a preferência pela lista aberta fica abaixo dos 60%. Ao final da série,

apenas, 30% dos respondentes declararam preferir a lista fechada. Cabe destacar que

não há entre os partidos uma estabilidade nos percentuais de preferência, até mesmo os

parlamentares do PT oscilam no período. Por exemplo, em 2009, 65% dos respondentes

do PT eram favoráveis a lista aberta, enquanto em 2013 o percentual cai para 22%.

Gráfico 4 – Preferência sobre o Tipo de Lista por onda (1990-2013)

,

As duas últimas questões examinadas do BLS são sobre o que pensam os parlamentares

sobre a relação deles com os partidos. Nos Gráficos 5 e 6 é exposto o que os

respondentes pensam sobre a fidelidade e a disciplina partidária.

175

68

120

56

100

55

7754

6752

84

50

102

41

050

100

150

200

050

100

150

200

050

100

150

200

Aberta Fechada Aberta Fechada Aberta Fechada

Aberta Fechada Aberta Fechada Aberta Fechada

Aberta Fechada

1990 1993 1997

2001 2005 2009

2013Nú

mero

de r

esp

on

de

nte

s

Fonte: Brazilian Legislative Survey

17

Gráfico 5 – É favorável a Fidelidade Partidária

Gráfico 6 – É favorável a Disciplina Partidária

Os respondentes são, em maioria, favoráveis a fidelidade e a disciplina partidária.

Entretanto, para os anos inicial (1990) e final (2013) da série é notável o equilíbrio entre

os que são favoráveis a disciplina partidária e os que não são. Sendo que em 2013

ocorre um empate entre os favoráveis e os contrários. As opiniões sobre a fidelidade

132

106

132

43

106

50

101

32

84

32

97

35

94

51

050

10

015

0

050

10

015

0

050

10

015

0

Sim Não Sim Não Sim Não

Sim Não Sim Não Sim Não

Sim Não

1990 1993 1997

2001 2005 2009

2013Nú

mero

de r

esp

on

de

nte

s

Fonte: Brazilian Legislative Survey

116 113103

7084

67

7052

69

39

82

49

70 70

05

01

00

150

05

01

00

150

05

01

00

150

Sim Não Sim Não Sim Não

Sim Não Sim Não Sim Não

Sim Não

1990 1993 1997

2001 2005 2009

2013Núm

ero

de

re

spo

nd

en

tes

Fonte: Brazilian Legislative Survey

18

partidária, por sua vez, são inclinadas em favor da estabilidade do vinculo partidário. O

ano em que ocorreu maior equilíbrio foi em 2005 quando 44% dos respondentes

declararam ser contra a fidelidade partidária.

As respostas a estas duas questões são as que mais apresentam diferenças partidárias e

ideológicas. Enquanto os partidos de esquerda apresentam percentuais de aprovação à

disciplina e a fidelidade superior a 80%17

, os partidos de centro e direita possuem

percentuais que oscilam durante o período. O que aponta que a disciplina e a fidelidade

são valores mais presentes nos partidos de esquerda do que nos de direita.

... o que se faz

Os dados do BLS revelam que, grosso modo, o legislador brasileiro prefere o

parlamentarismo, o sistema misto de representação, a lista aberta e fidelidade e

disciplina partidária. Cabe questionar estas questões aparecem no que é proposto pelos

legisladores. No Gráfico 7 são expostos os projetos de reforma política segundo a

classificação apresentada na seção anterior.

Gráfico 7 - Distribuição temática dos projetos de reforma política

17

A exceção é o PC do B que tem o percentual de apoio à fidelidade de 0% em 2005. Contudo, neste ano,

apenas um parlamentar do partido respondeu o survey.

267

258

249

243

85

81

73

53

48

47

43

27

20

7

0 100 200 300

Nº de temas abordados

Normas para a campanha

Normas para as eleições

Elegibilidade

Sistema Eleitoral

Outros

Partidos Políticos

Direito ao Voto

Pesquisa Eleitoral

Justiça Eleitoral

Crime Eleitoral

Domicílio e Alistamento

Fidelidade Partidária

Título de Eleitor

Sistema de Governo

Fonte: Banco de Dados Legislativos do Cebrap

19

O tema mais frequente, com quase 20% das propostas, é o que propõe regulamentação

das normas de campanha, seguido pelo que estabelece normas gerais para as eleições.

Dos projetos que abordam os temas presentes no BLS o que recebeu mais atenção dos

parlamentares é o Sistema Eleitoral, seguido pelo de Fidelidade Partidária. Por fim, as

propostas que almejam modificar o Sistema de Governo são a minoria das propostas de

reforma.

O volume de propostas de reforma do Sistema Eleitoral pode parecer exacerbado a

principio, no entanto, o tema contempla diferentes dimensões do sistema. Por exemplo,

tipo de lista, estabelecimento de cota na lista e formas de contagem dos votos.

Gráfico 8 - Distribuição temática dos projetos de alteração ao Sistema Eleitoral

Os temas presentes no BLS são responsáveis por 25% das propostas relacionadas ao

sistema eleitoral. Destaca-se o número de projetos que dispõe sobre a modificação do

sistema de escolha dos representantes: 29 proposições possuem o objetivo de instituir o

sistema misto, enquanto 5 propõem alguma modificação no sistema proporcional ou

tenta estabelece-lo para o cargo de senador e 13 dispõem sobre alguma variação do

sistema majoritário.

43

34

30

29

26

21

13

11

10

9

5

3

2

1

0 10 20 30 40Nº de temas abordados

Quociente eleitoral/sobras

88

99

Sistema misto

Forma para a escolha de suplente

Coligações

Fixação do número de representantes

Mandato

Lista Fechada

Sistema majoritário

Sistema proporcional

Distritão

Lista Flexível

Sistema bi e trinomial

Fonte: Banco de Dados Legislativos do Cebrap

20

Tabela 1 – Número de propostas de modificação do sistema de seleção de

representantes apresentados por respondentes do BLS

Resposta do BLS

(Todas as ondas)

Tema do Projeto Apresentado

Sistema bi e

trinomial

Sistema

Majoritário

Sistema

Misto

Sistema

Proporcional

Total

Geral

Majoritário 0 0 2 0 2

Misto 1 3 8 3 15

Representação Proporcional 0 0 0 1 1

Total Geral 1 3 10 4 18

Fonte: Brazilian Legislative Survey e Banco de Dados Legislativos do CEBRAP.

Na Tabela 1 são expostas as propostas elaboradas por respondentes do BLS e as

respostas dadas ao survey18

. Dos 15 parlamentares que afirmaram preferir o sistema

misto, 8 propuseram a adoção do sistema. Ou seja, 7 parlamentares que se declararam

favoráveis ao sistema misto propuseram outro tipo de sistema. Também se observa que

nenhum parlamentar que declarou preferência pelo sistema majoritário tenha

apresentado propostas para implementa-lo. A despeito de não termos como apontar a

razão disso ocorrer, arriscamos uma hipótese. Os parlamentares conhecem a posição de

seus pares, isto é, sabem que os defensores do sistema majoritário são minoria na casa e

a fim de maximizar as chances de aprovação de um sistema mais próximo do que eles

consideram como ideal. Assim, a opção por apresentar proposições sobre o sistema

misto pode ser uma estratégia para aumentar a probabilidade de aprovação do projeto.

Por fim, um parlamentar que declarou preferência pela representação proporcional

apresentou um projeto com o intuito alterar o atual sistema para distritos de 8

representantes eleitos por meio da proporcionalidade.

Tabela 2 – Número de propostas de modificação do tipo de lista apresentados por

respondentes do BLS

Resposta do BLS

(Todas as ondas)

Tema do Projeto Apresentado

Lista Fechada Total

Lista Fechada 5 5

Total Geral 5 5

Fonte: Brazilian Legislative Survey e Banco de Dados Legislativos do CEBRAP.

18

Para esta e as demais tabelas que se seguem foram considerados apenas as propostas apresentadas na

mesma legislatura em que o survey foi aplicado. A escolha por limitar a legislatura se deu em razão de

permitir que os parlamentares mudem de ideia ao longo do tempo sem os penalizar.

21

O mesmo exercício é apresentado na Tabela 2 sobre a questão do tipo de lista. Observa-

se que foram apresentados 5 projetos que dispunham sobre a adoção da lista fechada por

parlamentares que disseram ter preferência por este tipo de lista. Ou seja, não há um

padrão inconsciente, ou estratégico, como ocorre com o sistema de seleção de

representantes.

Tabela 3 – Número de propostas de modificação do tipo de lista apresentados por

respondentes do BLS

Resposta do BLS

(Todas as ondas)

Tema do Projeto Apresentado

Parlamentarismo Total

Presidencialismo 1 1

Parlamentarismo 4 4

Total Geral 5 5

Fonte: Brazilian Legislative Survey e Banco de Dados Legislativos do CEBRAP.

No que compete ao sistema de governo apenas um parlamentar que optou pelo

presidencialismo apresentou uma proposta para a adoção do parlamentarismo. Não

obstante, é notável o baixo número de propostas com o intuído de transformar o sistema

de governo. Ao total foram apresentados 7 propostas para a adoção do parlamentarismo,

sendo que 4 delas foram apresentadas antes do plebiscito de 1993 e o último projeto

apresentado, em 2006, propôs a modificação do presidencialismo com criação do voto

desconfiança ao presidente.

Nossa hipótese, para explicar a aparente contradição entre a preferência declarada pelo

parlamentarismo em todas as ondas do BLS e o baixo número de propostas em prol do

parlamentarismo, é que após o Plebiscito de 1993 e da estabilização monetária

produzida pelo Plano Real as criticas mais fortes ao presidencialismo foram

suplantadas. Parlamentares podem considerar um risco a tentativa de alterar o sistema

de governo, pois de um lado a população rejeitou a alternativa parlamentarista, por

outro a estabilidade do sistema político torna ainda mais improvável uma mudança tão

radical. De maneira geral, não há uma grande inconsistência entre os projetos propostos

e as preferências reveladas no survey. Mas sobre alguns desses pontos é possível ir além

das proposições dos parlamentares. Como é no caso do tema fidelidade partidária, em

que podemos observar se os parlamentares que responderam que são favoráveis a ela,

trocam de legenda.

22

Tabela 4 – Opinião sobre a fidelidade X parlamentares que migraram de partido

Resposta do BLS

(Todas as ondas) Mudou de Partido Total

Fidelidade Partidária Sim Não

Sim 19,2 80,8 100

Não 34,7 65,3 100

Total 24,1 75,9 100

Fonte: Brazilian Legislative Survey e Banco de Dados Legislativos do CEBRAP.

Na

Tabela 4 observamos o cruzamento da pergunta sobre fidelidade partidária com os

dados de migração partidária. Neste são considerados migrantes, apenas os

parlamentares que trocam de legenda na mesma legislatura em que responderam o

survey. Aqui novamente, de maneira geral, o comportamento dos parlamentares é

coerente com suas preferências, a grande maioria dos que respondem favoravelmente à

fidelidade também não trocam de partido. Por questões de confidencialidade não é

possível explorar mais os dados de troca de partido, mas vale notar que parte dos

respondentes favoráveis a fidelidade partidária quando trocaram de partido o fizeram

por razões justificáveis.

Por meio das votações nominais também é possível verificar a consistência entre as

respostas ao survey e o comportamento manifesto dos parlamentares. Neste ponto

optamos por utilizar apenas as votações nominais que tocam efetivamente nas questões

do survey19

. Para tanto utilizamos as nove votações nominais20

que ocorreram durante a

ANC as quais decidiram o formato do sistema eleitoral e do sistema de governo.

19

Poderíamos extrapolar a análise para alguns dos projetos que tocam lateralmente nos temas do survey,

explicitamente no caso da votação do PL. 4470/12, que excluí da contabilização dos valores do Fundo

Partidário e do tempo do horário eleitoral gratuito as cadeiras adquiridas via trocas de legenda no decorrer

do mandato parlamentar inclusive para novos partidos, optamos não fazê-lo, pois nesse caso, o voto ‘não’

há medida não está diretamente relacionado a questão da fidelidade partidária. Uma vez que neste projeto

outras dimensões do jogo político estão envolvidas, o que certamente entra no cálculo dos parlamentares. 20

Foram utilizadas todas as votações ocorreram nas diferentes fases da Assembleia, ou seja, nas

subcomissões, comissões, comissão de sistematização e plenário. Os valores na tabelas representam os

votos agregados dos parlamentares que estavam presentes nessas instâncias e que responderam ao survey,

utilizamos nessas tabelas apenas a onde de1990.

23

Como apontado na introdução, era ponto pacífico entre os analistas que tanto o sistema

de governo parlamentarista, quanto o sistema eleitoral misto seriam aprovados pelos

constituintes. De fato, em especial no tocante ao parlamentarismo, todas as pesquisas

realizadas antes da votação desse tema em plenário revelaram que cerca de 60% dos

parlamentares eram favoráveis a essa medida ( Lamounier & Souza, 1991).

Os dados da onda de 199021

do BLS também apontam que a preferência da Constituinte

era pelo parlamentarismo. Como exposto no Gráfico 2, 80% dos entrevistados se

declaram favoráveis ao sistema parlamentarista. Não obstante, o presidencialismo saiu

vitorioso, a derrota, portanto, é produto da traição de parte dos “parlamentaristas” que

votaram contra sua preferência.

Na Tabela 5 apresentada a comparação entre comportamento dos parlamentares durante

a ANC e a preferencia declarada no BLS de 1990. Observa-se que 43% dos

parlamentares pró-parlamentarismo votaram contra sua preferência durante algum

momento da ANC. Também se pode observar que os parlamentares “presidencialistas”

foram mais coerentes, 90% deles votaram segundo sua preferência manifesta.

Tabela 5 – Comportamento dos respondentes da onda de 1990 em votações sobre o

Sistema de Governo durante todas as fases da ANC 1987-8

Resposta do BLS Votações Pró Presidencialismo Total

(Onda de 1990) Sim Não

Parlamentarismo 43,1 56,9 100,0

Presidencialismo 90,6 9,4 100,0

Total 52,9 47,1 100,0

Fonte: Brazilian Legislative Survey e Banco de Dados Legislativos do CEBRAP.

O ponto sobre o parlamentarismo foi amplamente debatido, não só entre os acadêmicos,

mas também pelos meios de comunicação. Menos debatida foi a votação que assegurou

a permanência do sistema proporcional de votação. Diferente da questão do sistema de

governo, segundo o BLS de 1990 as preferências sobre o sistema eleitoral eram bastante

divididas, ainda que o sistema misto fosse majoritário em cerca de 10 pontos

percentuais. Não obstante este equilíbrio e a confiança de Ulysses Guimarães na

aprovação do sistema misto, o que se observa é que aqueles que declaram preferir o

21

Ressaltemos que nessa onda os parlamentares entrevistados são os mesmo que escreveram a

Constituinte.

24

sistema misto acabaram por votar majoritariamente no sistema proporcional. Vale

ressaltar que o sistema majoritário nunca foi colocado em votação. A disputa, em todas

as fases da ANC, sempre foi entre sistema misto e sistema proporcional.

Tabela 6 – Comportamento dos respondentes da onda de 1990 em votações sobre o

Sistema de Governo durante todas as fases da ANC 1987-8

Resposta do BLS Votações Pró Sistema Proporcional Total

Onda - 1990 Sim Não Abstenção

Majoritário 46,9 53,1 0,0 100,0

Misto 52,0 45,7 2,3 100,0

Rep. Proporcional 86,5 11,9 1,6 100,0

Total 65,5 32,7 1,8 100,0

Fonte: Brazilian Legislative Survey e Banco de Dados Legislativos do CEBRAP.

Na comparação entre comportamento nas votações nominais e as preferências reveladas

temos a maior inconsistência. É provável que parte dessa inconsistência seja explicada

pelo comportamento estratégico dos parlamentares. Nesse sentido Simoni Jr., Silva e

Souza (2009) argumentam que a vitória da representação proporcional pode ser

interpretada em um arcabouço maior que envolveria a provação do parlamentarismo

como sistema de governo na Comissão de Sistematização. No entanto, como os autores

pontuam a mudança regimental provocada pelo Centrão22

e a inversão na ordem das

votações no plenário teriam afetado o acordo e, consequentemente, a aprovação da

representação proporcional e do presidencialismo.

Conclusão

Uma das perguntas que mais incomoda os analistas ocupados com o tema da reforma

política é como um tema que é tão consensual, cuja classe política (bem como a mídia e

a sociedade civil) a todo o momento se manifesta favorável não é aprovado no

Legislativo. Não temos a pretensão de responder essa questão, esse trabalho é

essencialmente exploratório. O objetivo principal era entender a relação entre as

preferências reveladas pelos parlamentares no tocante a reforma política e suas ações no

Legislativo. No entanto, talvez caiba levantar alguns pontos.

22

O Centrão foi um grupo suprapartidário que se articulou durante a fase da Comissão de Sistematização

para alterar o Regimento Interno da ANC 1987-8. Para mais detalhes sobre o Centrão e o impacto das

alterações no Regimento Interno ver: Gomes (2006), Medeiros (2013) e Freitas, Moura, & Medeiros

(2009).

25

Primeiramente, como mostramos, o Legislativo tem tentado aperfeiçoar as instituições

políticas, especialmente as eleitorais. Diversos projetos nesse sentido foram aprovados

desde 1988. Apesar disso nenhuma grande mudança foi aprovada, o que certamente

causa a sensação imobilismo alardeada pela impressa. Também não é verdade que não

tenham sido apresentados projetos, dos mais radicais aos mais minimalistas, inúmeros

projetos que tratam do tema reforma política foram apresentados e, muitos deles

continuam a tramitar nas Casas Legislativas.

Segundo, uma reforma eleitoral mais radical talvez nunca venha a ser aprovada, não só

porque os parlamentares no Legislativo foram eleitos pelo sistema vigente e se sintam

ameaçados com possíveis mudanças. Mas porque como toda reforma, seu caráter

multidimensional de grande vulto implica que muitos interesses são afetados e que as

consequências imprevistas podem ser bastante severas. Como argumentado por

Junqueira (2011) para o caso da incapacidade do Legislativo produzir uma reforma

tributária a despeito do consenso sobre sua necessidade: reformas que afetam interesses

de diversos atores e que possuem múltiplos pontos de veto talvez só saiam do papel

quando feitas de maneira incremental. Neste sentido, as modificações realizadas pelo

Congresso brasileiro ao longo das últimas duas décadas podem sinalizar que os

parlamentares sabendo disso realizam modificações as margens. Em outras palavras, em

pontos em que é possível chegar a um acordo.

Ademais, se por um lado existe um consenso sobre a necessidade da aprovação de uma

reforma política que contribua para melhorar a qualidade da política produzida no

interior de nossas instituições; por outro, não existe um consenso sobre quais são as

soluções que nos levariam a esse patamar tão almejado. Isso é evidenciado pelo número

de propostas apresentadas pelos parlamentares para resolver as “mazelas” do sistema

vigente. Por exemplo, sobre a questão das coligações existem tanto propostas que as

proíbem e como que as verticalizam. Ou seja, mesmo que o diagnóstico seja consensual,

o tratamento não é.

26

Bibliografia

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