texto da disciplina
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Texto da disciplina:
Sistema e tratamento de Efluentes
André Luiz Ribeiro Valladão
AULA 1.
Introdução
Observa-se que o principal problema na atualidade está associado à falta de água
potável no mundo, devido a uma gestão inadequada dos recursos hídricos. A
contaminação da água, uma das principais questões a ser analisada nesta disciplina, tem
como causa a falta de saneamento básico e o lançamento de esgoto doméstico in natura,
a descarga de dejetos industriais sem o devido tratamento, e a contaminação por
produtos químicos provenientes de atividades agrícolas.
Sem dúvida, o consumo de água no mundo aumentou em razão do crescimento
populacional e a consequente maior demanda pela produção de alimentos, bem como a
necessidade de uma maior oferta de água frente ao crescimento dos centros urbanos. Se
levarmos em conta que a maioria dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento
lança as águas residuais nos rios, lagos e oceanos sem nenhum tipo de tratamento,
constataremos que é uma grave ameaça à saúde da população e o comprometimento do
acesso à água potável.
O aumento da industrialização também se torna uma ameaça, pois muitas
indústrias são altamente poluentes e grandes consumidoras de água, especialmente nos
países desenvolvidos. O cálculo apresentado pelas pesquisas é de que as indústrias
chegam a utilizar entre a metade e 3/4 de toda a água extraída do mundo, já que em
determinados processos produtivos, que chega a gastar toneladas de litros d’água e
produzir toneladas equivalentes de efluente contaminado. As grandes poluidoras a se
destacar são as indústrias de produtos químicos, polpa e papel, entre outras, em função
do processo que utilizam em suas atividades.
Visto, então, que se trate de um recurso básico para nossa sobrevivência e de alta
utilização, nada mais justo que tratemos os efluentes com a coleta e o tratamento de
esgotos, que atendam aos aspectos sanitários e legais para devolvê-lo à natureza da
forma mais adequada possível para que seja reaproveitado sem que contenha agentes
nocivos que a poluam e à proteção dos mananciais.
Fundamentos
Segundo a Organização Mundial de Saúde – OMU, Saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social, não apenas a ausência de doença ou
enfermidade. Através da análise dos dados históricos, temos que a questão da saúde se
encontra com as condições ambientais em que a comunidade se insere. Surge, então, a
Saúde Pública como a ciência e a arte de promover, proteger e recuperar a saúde,
através de medidas de alcance coletivo e de motivação da população, num esforço
organizado em prol da saúde tal como entendida pela OMS.
Deste modo, o Saneamento é o controle dos fatores do meio físico do homem,
que exercem ou podem exercer efeitos sobre seu bem-estar, enquanto conjunto de
medidas que tende a modificar o meio e quebrar o elo da cadeia de transmissão de
doenças com o propósito de promoção e proteção da saúde.
O saneamento adquire, assim, grande importância econômica na medida em que
reduz o número de enfermidades e de mortes de indivíduos e o gasto com internações
hospitalares. Com a construção de um sistema de esgoto sanitário numa comunidade,
procura-se atingir os seguintes objetivos:
melhoria das condições higiênicas locais e consequente aumento da
produtividade;
conservação de recursos naturais, especialmente das águas;
coleta e afastamento rápido e seguro do esgoto sanitário;
disposição sanitariamente adequada do efluente;
eliminação de focos de poluição e contaminação, assim como de aspectos
estéticos desagradáveis;
proteção de comunidades e estabelecimentos de jusante;
diminuição dos custos no tratamento de águas para abastecimento, que seriam
ocasionadas pela poluição dos mananciais;
redução de gastos públicos com campanhas de imunização e/ ou erradicação de
moléstias endêmicas ou epidêmicas.
Breve história do esgotamento sanitário
Os primeiros sistemas de esgotamento executados pelo homem foram projetados
para protegê-lo das vazões pluviais, pois não havia sistemas de recolhimentos de dejetos
subterrâneos, mas abertos, o que se tornava um problema quando da ocorrência de
chuvas.
Desde a antiguidade, quando consumimos a água, geramos vazões de águas
residuárias ou esgotos, que precisam ser devidamente coletadas e transportadas com
rapidez e segurança para regiões afastadas do núcleo comunitário, para passar por
processos de tratamento adequados antes do lançamento nos corpos receptores.
Historicamente, observamos que as civilizações primitivas não se destacaram por
práticas higiênicas individuais por razões sanitárias, mas por religiosidade, de modo a se
apresentarem puros aos olhos dos deuses a fim de não serem castigados com doenças.
Os primeiros indícios de tratamento científico do assunto, ou seja, de que as doenças
não eram exclusivamente castigos divinos, começaram a aparecer na Grécia, por volta
dos anos 500 a. C., com Empédocles de Agrigenco, que construiu obras de drenagem
das águas estagnadas dos rios no litoral sul da Sicília, visando combater uma epidemia
de malária. No entanto, a repercussão deste tipo de prestação de serviços foi prioridade
apenas em áreas nobres das cidades gregas e romanas, onde os moradores tinham de
pagar pelo uso do serviço, tornando-se um serviço para a elite.
Com a queda do Império romano, em 476, iniciou-se uma fusão de culturas
clássicas, bárbaras e ensinamentos cristãos, centralizando em Constantinopla grande
parte dos conhecimentos científicos, iniciando o Período medieval europeu – a “Idade
das Trevas”. Neste período, o conhecimento científico restringiu-se ao interior dos
mosteiros e as instalações sanitárias, como encanamentos de água e esgotamentos
canalizados, ficaram por conta da iniciativa eclesiástica, mas com clara defasagem com
relação às práticas mais antigas. Enquanto no século IX, a cidade do Cairo, no Egito, já
dispunha de um serviço público de adução de água encanada, por exemplo, apenas em
1310 os franciscanos concordaram em que habitantes da cidade de Southampton
utilizassem a água excedente de um convento que tinha um sistema próprio de
abastecimento de água desde 1290.
Com o constante crescimento das aglomerações humanas e a necessidade cada
vez maior de água de consumo e a consequente geração de efluentes, o transtorno de
poluir os corpos receptores e causar desequilíbrios ecológicos com danos ao meio
ambiente se torna cada vez mais evidente. O que se observa nas cidades que possuem
um sistema de abastecimento de água, mas não possuem um sistema de abastecimento
de esgotos, é que as águas servidas acabam por contaminar e poluir o solo, as águas
superficiais e lençóis freáticos, contribuindo para a disseminação de doenças.
As primeiras leis públicas de instalação, controle e uso de serviços de
esgotamento sanitário têm origem a partir do século XIV. A partir do século XVI, com a
crescente poluição dos mananciais de água, o maior problema era o destino dos esgotos
e do lixo urbanos.
No século seguinte, o abastecimento de água urbano teve largo desenvolvimento,
pois se passou a empregar bombeamentos com máquinas movidas a vapor e tubos de
ferro fundido para recalques de água, na Alemanha, juntamente com a formação de
empresas especializadas em fornecimento de água. Os estudos de John Snow, o
movimento iluminista, a revolução industrial e as mudanças agrárias provocaram
alterações no final do século XVIII, transformando o antigo panorama de ruas estreitas e
sinuosas em avenidas largas e alinhadas, pavimentadas, iluminadas e drenadas.
A distribuição de água encanada e das peças sanitárias com descarga hídrica fez
com que a água passasse a ser utilizada com uma nova função, a de afastar os dejetos e
outras sujeiras indesejáveis do ambiente de vivência. A evolução dos conhecimentos
científicos, inclusive na área de saúde pública, tornou imprescindível a necessidade de
canalizar as vazões de esgoto de origem doméstica e os efluentes domésticos e
industriais para as galerias de águas pluviais existentes, dando origem ao Sistema
Unitário de Esgotos, no qual todos os esgotos eram reunidos em uma só canalização e
lançados nos rios e lagos receptores.
Fatos como a epidemia de cólera de 1831/32 chamaram a atenção para a
necessidade de um serviço de saneamento nas cidades, pois evidenciou que a doença
era mais intensa em áreas urbanas carentes de saneamento efetivo, ou seja, em áreas
mais poluídas por excrementos e lixo. No final do século XIX, a construção dos sistemas
unitários propagou-se pelas principais cidades do mundo.
Nas cidades situadas em regiões tropicais e equatoriais, com índices
pluviométricos de cinco a seis vezes maiores que a média europeia, a adoção de
sistemas unitários tornou-se inviável devido ao elevado custo das obras, pois a
construção das avantajadas galerias transportadoras das vazões máximas
contrapunham-se às desfavoráveis condições econômicas. No entanto, a evolução
tecnológica e a necessidade do intercâmbio comercial forçavam a instalação de medidas
sanitárias eficientes, pois a proliferação de pestes e doenças contagiosas em cidades
desprovidas dessas iniciativas propiciavam aos seus visitantes os mesmos riscos de
contaminação, gerando insegurança e risco de contaminação da tripulação, causando
prejuízos da mesma forma.
No Brasil, os portos do Rio de Janeiro e de Santos temiam os efeitos deste
desastre econômico; assim, o imperador D. Pedro II contratou profissionais ingleses para
elaborarem e implantarem sistemas de esgotamento para o Rio de Janeiro e São Paulo,
na época, as principais cidades brasileiras, que pensaram um sistema diferenciado, no
qual eram coletadas e conduzidas às galerias, além das águas residuárias domésticas,
apenas as vazões pluviais provenientes das áreas pavimentadas interiores aos lotes
(telhados, pátios etc.). Criava-se, então, o Sistema Separador Parcial, cujo objetivo
seria reduzir os custos de implantação e as tarifas a serem pagas pelos usuários.
Sistema separador absoluto
Fonte: Adaptado de Von Sperling (2005)
Em 1879, o engenheiro George Waring foi contratado para projetar um sistema de
esgotos para a cidade de Memphis, no Tennesee, EUA, região onde predominava uma
economia rural e pobre. Waring, então, projetou em sistema coleta e remoção das águas
residuárias domésticas, excluindo as vazões pluviais no cálculo dos condutos. Estava
criado o Sistema Separador Absoluto, constituído de uma rede coletora de esgotos
sanitários e uma outra exclusiva para águas pluviais, que foi rapidamente difundido pelo
resto do mundo.
No Brasil, destacou-se na divulgação do novo sistema Saturnino Brito, cujos
estudos fizeram com que, a partir de 1912, o separador absoluto passasse a ser adotado
obrigatoriamente no país.
Elementos de um sistema de esgotamento sanitário
O Sistema de Esgotos Sanitários é o conjunto de obras e instalações destinadas a
realizar a coleta, o transporte e o afastamento, o tratamento e a disposição final das
águas residuais de uma comunidade, de forma sanitária adequada. O conjunto de
condutos e obras destinado a coletar e transportar as vazões para um determinado local
de convergência é denominado de Rede Coletora de Esgotos.
A coleta e o transporte das águas residuais, desde a origem até o lançamento
final, constituem o fundamento básico de um sistema de saneamento. Os condutos que
recolhem e transportam essas vazões são denominados de coletores e o seu conjunto
compõe a rede coletora. A rede coletora, os emissários e as unidades de tratamento
constituem o sistema de esgotos sanitários.
Para este estudo, cabe conhecermos alguns conceitos que embasam o
entendimento do sistema de esgotamento sanitário:
Bacia de Drenagem: área delimitada pelos coletores que contribuem para um
determinado ponto de reunião das vazões finais coletadas nessa área.
Caixa de Passagem (CP): câmara subterrânea sem acesso, localizada em pontos
singulares por necessidade construtiva e econômica do projeto.
Coletor de Esgoto: tubulação subterrânea da rede coletora que recebe
contribuição de esgotos em qualquer ponto ao longo de seu comprimento, também
chamado coletor público.
Coletor Principal: coletor de esgotos de maior extensão dentro de uma mesma
bacia.
Coletor Tronco: tubulação do sistema coletor que recebe apenas as
contribuições de outros coletores.
Corpo Receptor: curso ou massa de água onde é lançado o efluente final do
sistema de esgotos.
Diâmetro Nominal (DN): número que serve para indicar as dimensões da
tubulação e acessórios.
Emissário: canalização que deve receber esgoto exclusivamente em sua
extremidade de montante, pois se destina apenas ao transporte das vazões reunidas.
Estação Elevatória de Esgotos (EEE): conjunto de equipamentos, em geral
dentro de uma edificação subterrânea, destinado a promover o recalque das vazões dos
esgotos coletados a montante.
Estação de Tratamento de Esgotos (ETE): unidade do sistema destinada a
propiciar ao esgoto recolhido de ser devolvido à natureza sem prejuízo ao meio
ambiente.
Interceptor: canalização que recolhe contribuições de uma série de coletores de
modo a evitar que deságuem em uma área a proteger, por exemplo, uma praia, um
lago, um rio.
Ligação Predial: trecho do coletor predial situado entre o limite do lote e o
coletor público.
Órgãos Acessórios: dispositivos fixos sem equipamentos mecânicos (definição da
NBR 9649/86 - ABNT).
Passagem Forçada: trecho com escoamento sob pressão, sem rebaixamento.
Poço de Visita (PV): câmara visitável destinada a permitir a inspeção e trabalhos
de manutenção preventiva ou corretiva nas canalizações - é um exemplo de órgão
acessório.
Profundidade do Coletor: a diferença de nível entre a superfície do terreno e a
geratriz inferior interna do coletor.
Recobrimento do tubo coletor: diferença de nível entre a superfície do terreno e
a geratriz superior externa do tubo coletor.
Rede Coletora: conjunto de condutos e órgãos acessórios destinados à coleta e
remoção dos despejos gerados nas edificações, através dos coletores ou ramais prediais.
Sifão Invertido: trecho de conduto rebaixado e sob pressão, com a finalidade de
passar sob obstáculos que não podem ser transpassados em linha reta.
Sistema Coletor: Todo o conjunto sanitário, constituído pela rede coletora,
emissários, interceptores, estações elevatórias e órgãos complementares e acessórios.
Tanque Fluxível: reservatório subterrâneo de água destinados a fornecer
descargas periódicas sob pressão dentro dos trechos de coletores sujeitos a
sedimentação de material sólido, para prevenção contra obstruções por sedimentação
progressiva.
Terminal de Limpeza (TL): dispositivo que permite introdução de equipamentos
de limpeza, localizado na extremidade de montante dos coletores.
Trecho de coletor: segmento de coletor, interceptor ou emissário limitado por
duas singularidades consecutivas, por exemplo, dois poços de visita.
Tubo de Inspeção e Limpeza (TIL): dispositivo não visitável que permite a
inspeção externa do trecho e a introdução de equipamentos de limpeza.
Tubo de Queda (TQ): dispositivo instalado no PV de modo a permitir que o
trecho de coletor a montante deságue no fundo do poço.
(Fonte: http://www.ceap.br/material/MAT15052014142755.pdf)
Concepção de Rede de Esgotamento Sanitário
Para o estudo de concepção de sistemas esgoto sanitário, é necessários o
desenvolvimento de uma série de atividades, sendo as principais:
Dados e características da comunidade (localização; infraestrutura existente;
cadastro dos sistemas existentes: abastecimento de água, esgoto sanitário,
galerias de águas pluviais, pavimentação, telefone, energia etc. e condições
sanitárias atuais);
Análise do sistema de esgoto sanitário existente;
Estudos demográficos e de uso e ocupação do solo (dados censitários, pesquisas
de campo, análise socioeconômica do município, plano diretor da cidade, projeção
da população da cidade etc.);
Critérios e parâmetros de projeto (consumo efetivo per capita, coeficientes de
variação de vazão – k1, k2 e k3, coeficientes de contribuição industrial, coeficiente
de retorno esgoto/água, vazão de infiltração etc);
Cálculo das contribuições (doméstica, industrial e de infiltração ano a ano, por
bacia ou sub-bacia);
Formulação criteriosa das alternativas de concepção (estimativa de custo das
alternativas estudadas e comparação técnico-econômica e ambiental das
alternativas);
Estudo de corpos receptores (vazões características, cotas de inundação,
condições sanitárias e usos de montante e jusante atuais e futuros, aspectos
legais da Resolução 20/90 do CONAMA e das legislações estaduais e municipais).
Sistemas alternativos
As redes de esgotos representam cerca de 75% do custo de implantação de um
sistema de esgoto sanitário, os coletores tronco 10%, as elevatórias 1%, e as estações
de tratamento 14%. Devido ao alto custo da construção das redes, têm sido
apresentados alguns sistemas alternativos para coleta e transporte, visando a diminuição
dos custos das redes de esgotos, tais como Sistema Condominial de Esgoto ou Rede
Coletora de Baixa Declividade.
Sistema Condominial
O condominial foi desenvolvido no Rio Grande do Norte, espalhando-se para
outros estados brasileiros com pequenas adaptações. Esse sistema é uma forma de
concepção de traçados de redes, onde a ideia central de sua implementação é a
formação de condomínios, em grupos de usuários, em nível de quadra urbana como
unidade de esgotamento.
No aspecto físico, o ramal condominial, constitui uma rede de tubulações que
passa quase sempre, entre os quintais no interior dos lotes, cortando-os, no sentido
transversal. Intercalada nesta rede interna à quadra, de pequena profundidade,
encontra-se em cada quintal, uma caixa de inspeção à qual se conectam as instalações
sanitárias prediais, independentemente, constituindo um ramal multifamiliar.
No aspecto social, resulta da formação de um condomínio, ou de condomínios, na
quadra urbana, abrangendo o conjunto de usuários interligados pelo ramal multifamiliar.
O condomínio, informal, é alcançado através de pacto entre vizinhos, o qual possibilita o
assentamento dos ramais em lotes particulares e disciplina a participação dos
condôminos no desenvolvimento dos trabalhos. A execução das obras é realizada pelos
usuários do sistema com a ajuda do município ou empresa saneamento básico.
O traçado mais racional é discutido com os usuários e apresentado como padrão
do serviço, permitindo modificações, desde que sejam assumidos os ônus adicionais por
quem assim desejar. A operação e manutenção desse ramal é de responsabilidade do
próprio condomínio, com cada condômino assumindo sua parcela do sistema que integra
a rede coletora.
Rede Coletora de Baixa Declividade
Em áreas planas ou onde o terreno apresenta baixas declividades, a implantação e
operação de redes coletoras de esgoto sanitário podem tornar-se bastante onerosas.
Estas condições estão presentes, por exemplo, em um grande número de cidades
litorâneas da costa brasileira. Nestes locais há uma situação de áreas planas com solos
moles e lençol freático alto, exigindo disposições construtivas especiais, como
escoramento contínuo de valas, rebaixamento do lençol, fundações especiais para a
tubulação etc. Em consequência, a incidência dos custos relativos à escavação,
escoramento, reaterro e recomposição da via se situa na faixa dos 80 a 90 % do custo
total de implantação. O custo nessas áreas eleva-se também pelo emprego de estações
elevatórias de esgoto nestes locais.
A busca de soluções de menor custo de implantação e operação de redes
coletoras de esgotos para as situações antes descritas levou ao desenvolvimento das
redes coletoras de baixa declividade.
Trata-se de solução onde a rede é assentada a declividades drasticamente
reduzidas, bem menores que as resultantes dos cálculos propostos na normalização com
as vazões originais de dimensionamento. Para um coletor atendendo ao mesmo trecho,
porém com uma declividade muitíssimo menor, observa-se a montante do trecho a
presença de um dispositivo gerador de descargas (DGD) que através de suas descargas
de esgoto origina o escoamento requerido para o transporte da carga sólida depositada,
como na cidade de Guarujá, Estado de São Paulo.
Ligações prediais e vazões de esgotos
Os sistemas de ligações dos ramais prediais nos coletores de esgoto podem ser
principalmente de dois tipos: sistema radial e sistema ortogonal.
No sistema radial, dois ou mais ramais prediais são conectados em um único
ponto de ligação pré-definido, com o coletor. Neste sistema, o ramal interno e o ramal
predial geralmente não ficam num mesmo alinhamento. É frequentemente empregado
em áreas povoadas, com predominância de lotes estreitos (até 10 m de fachada) com
até dois pavimentos ou em arruamentos com construções geminadas.
No sistema ortogonal, diversamente do radial, para cada ramal predial haverá um
ponto de conexão no coletor. Normalmente os ramais prediais são perpendiculares ao
alinhamento da propriedade e no mesmo plano vertical do ramal interno. Este sistema é
mais frequente em loteamentos de grandes fachadas (mais de 10 m) ou em conjuntos
populares com construção simultânea de rede coletora convencional.
As vazões para dimensionamento dos trechos de uma rede coletora são
compostas por três parcelas:
Contribuições devido ao esgoto doméstico;
Contribuições concentradas;
Contribuição de águas de infiltração.
Contribuição de Esgoto Doméstico
Calculadas para início e final do Alcance do Projeto. A consideração para o início
do projeto é devido principalmente a condição mais crítica com relação a inclinação
mínima que deve ter um coletor de modo que não seja sedimentado o material sólido no
mesmo.
Os valores usualmente empregados no Brasil variam entre 0,75 a 0,85. A Norma
NBR 9649/86 recomenda-se adotar na falta de dados confiáveis C = 0,80. No entanto, o
coeficiente de retorno pode variar desde 0,60 até 1,30, sendo que quando este é maior
do que 1,0 indica que existem vazões provenientes de outras fontes de abastecimento
como consumo de água de chuva, abastecimento próprio de indústrias etc.).
As cidades brasileiras geralmente apresentam o traçado das ruas em forma de
xadrez com um padrão para o a qual a extensão das vias públicas por hectare varia
relativamente pouco. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a extensão das vias públicas
por hectare varia entre 150 e 200 metros, com um valor médio de 170m/ha.
Contribuições Concentradas
São devidas as áreas de expansão, indústrias, lavanderias públicas, clubes e
demais instalações que gerem vazões elevada concentradas. Calculadas também para
início e fim de projeto. Entram de maneira pontual e localizada em uma rede coletora de
esgotos.
Contribuição de Águas de Infiltração
A infiltração ocorre devido à entrada de águas em juntas mal executadas, fissuras
e rupturas nos coletores, entrada pelos poços de visita. Seu volume depende do nível
d’água, da natureza do subsolo, da qualidade de execução da obra, do material da
tubulação, tipo e distância das juntas etc. Na falta de dados, a NBR 9649/86 recomenda
que se utilize uma taxa de infiltração entre 0,05 e 1,00l/s.km.
Aspectos econômicos
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde afirmam que para cada R$ 1,00
investido no setor de saneamento, economiza-se R$ 4,00 na área de medicina curativa.
A importância da implantação do sistema de abastecimento de água, dentro do contexto
do saneamento básico, deve ser considerada tanto nos aspectos sanitário e social quanto
nos aspectos econômicos, visando atingir aos seguintes objetivos:
aumento da vida produtiva dos indivíduos economicamente ativos;
diminuir as despesas com o tratamento de doenças evitáveis;
facilidade para instalações de indústrias, onde a água é utilizada como matéria-
prima ou meio de operação;
incentivo à indústria turística em localidades com potencialidades para seu
desenvolvimento.
reduzir o custo do tratamento de água de abastecimento, pela prevenção da
poluição dos mananciais;
controlar a poluição das praias e locais de recreação com o objetivo de promover
o turismo;
preservação da fauna aquática, especialmente os criadouros de peixes.
Materiais empregados
Tubos Cerâmicos e/ou Manilhas Cerâmicas de Barro Vidrado: construídos
unicamente com ponta e bolsa nos diâmetros de 75, 100, 150, 200, 250, 375, 450, 525 e
600mm. As manilhas cerâmicas vidradas quase não são afetadas pelos ácidos ou
produtos de decomposição oriundos da matéria orgânica dos esgotos.
Tubos de Concreto (simples ou armados): construídos com diâmetros a partir de
150mm, passam a substituir as manilhas cerâmicas acima de 350mm. Cuidados especiais
devem ser tomados quando se utilizam tubos de concreto, pois se o esgoto que estiver
sendo veiculado possuir temperaturas elevadas e havendo quantidades consideráveis de
matéria orgânica e sulfatos, ocorre a formação de gás sulfídrico, que ataca o concreto
dando origem à formação do enxofre.
O enxofre é utilizado por determinadas bactérias aeróbias em seus processos
respiratórios, dando origem a formação de ácido sulfúrico que ataca o cimento do
concreto reduzindo sua resistência. Os tubos de concreto simples são fabricados nos
diâmetros 150, 200, 225, 250, 300, 375, 400, 450, 500 e 600mm. Para grandes
diâmetros é necessário o emprego de concreto armado que pode ser fabricado com 300,
350, 400, 450, 500, 600, 700, 800, 900, 1000, 1100, 1200, 1300, 1500, 1750 e 2000mm.
Os tubos de concreto são muito empregados em sistemas de águas pluviais, devido a
sua resistência à abrasão, disponibilidade em grandes diâmetros, grande resistência aos
impactos e geralmente baixo custo em relação aos demais.
Tubos de Cimento-Amianto: é durável e possui uma superfície lisa, mesmo sem
revestimento. Tubos para coletores por gravidade são fabricados entre 100 mm e
400mm.
Tubos de Ferro Fundido: são tubos de ponta e bolsa, acoplados com juntas
elásticas ou não elásticas. São disponíveis nos diâmetros 50, 60, 75, 100, 125, 150, 175,
200, 225, 250, 275, 300, 350, 400, 450, 500, 550 e 600mm. Possuem elevada resistência
às cargas externas. São empregados principalmente nas seguintes situações: instalações
elevatórias e linhas de recalque de esgoto, passagem sob rios, onde haja pequeno
recobrimento (em zonas de trânsito pesado), em grandes profundidades e em passagens
sob estruturas sujeitas a trepidação (pontes ferroviárias ou rodoviárias).
Os tubos de ferro fundido estão sujeitos à corrosão pelos esgotos ácidos ou em
estado séptico e por solos ácidos, devendo ser previstos revestimentos internos e/ou
externos de cimento ou de asfalto.
Tubos de Aço: são recomendados nos casos em que ocorrem esforços elevados
sobre a linha, como nos casos de travessias diretas de grandes vãos, pois devido à sua
grande flexibilidade resistem ao efeito de choques, deslocamentos e pressões externas.
Tubos de Plástico: os tubos plásticos mais usados nas redes coletoras são os de
PVC. Os tubos de PVC são fabricados em duas classes e principalmente nos seguintes
diâmetros 75, 100, 150, 200, 250, 300, 350, 400mm. Alguns fabricantes o produzem em
diâmetros maiores. O comprimento padrão é de 6 metros. São empregados
principalmente em ligações prediais e coletores secundários.
Conclusão
A implantação de estações de tratamento de esgotos (ETE) é o método mais
adequado a ser utilizado quando os corpos receptores das vazões esgotáveis
provenientes tanto de esgoto doméstico quanto industrial quanto a seu despejo ou
depósito no corpo receptor, pois o ambiente não possuir a capacidade de absorção da
carga orgânica ou química total do efluente. A capacidade das ETE será sempre
dimensionada de modo que o efluente contenha em seu meio uma carga orgânica no
máximo suportável pelo corpo receptor, ou seja, que não lhe cause danos irreversíveis
ao equilíbrio do ambiente como meio natural.
AULA 2
Estação Elevatória de Esgoto
Segundo a NBR 12208/92, são obras civis como poços de sucção e instalações
eletromecânicas responsáveis pelo transporte do esgoto sanitário do nível do poço de
sucção das bombas ao nível de descarga na saída do recalque propiciando assim o
recalque das vazões de esgotos coletadas a montante.
As estações elevatórias de esgotos são comuns em cidades de grande porte que
possuem áreas planas ou que existam declividades superficiais menores às consideradas
mínimas necessárias para seu devido funcionamento e, nestes casos, temos que na
evolução do traçado das tubulações coletoras elas vão constantemente se afastando da
cota superficial até alcançarem as profundidades necessitando então que se elevem as
cotas dos coletores a profundidades mínimas, porém é somente possível através de
instalações de recalque que, após, seguirá um novo coletor até o destino da linha ou
outro conjunto de recalque.
As estações elevatórias são comumente utilizadas no caso de interceptores muito
longos com atenção maior nos que estão localizados às margens dos corpos hídricos, nas
entradas das Estações de Tratamento de Esgotos ou nos emissários.
As estações elevatórias podem ser classificadas segundo a sua vazão e a altura
manométrica de acordo com a NB 569/89. Segundo a vazão, elas são consideradas
pequenas quando é menor que 50l/s, é média quando estão compreendidas entre 50l/s e
500l/s e são grandes quando são acima de 500l/s.
Pequena : Qr ≤ 50l/s (aproximadamente uma população de até
20.000hab);
Média : 50 ≤Qr ≤ 500l/s (população entre 20.000 e 200.000hab);
Grande : Qr ≥ 500l/s (população acima de 200.000hab).
Segundo a altura manométrica, elas são consideradas de baixa carga quando são
menores que 10 metros de coluna d´água (mca), são de média carga quando estão
compreendidas entre 10mca e 20mca e são de alta carga quando são superiores a
20mca.
Baixa : Hman ≤ 10mca;
Média : 10 ≤ Hman ≤ 20mca;
Grande : Hman ≤ 20mca.
As vazões máximas e mínimas desde o início até o final do projeto e as
informações do coletor ou do interceptor afluente são os parâmetros básicos de um
projeto de estações elevatórias.
Já a escolha da localização das instalações deve ter como parâmetros não só os
aspectos técnicos bem como os econômicos tais como acesso a rede elétrica de
distribuição, acesso para manutenção, custo da área onde serão instaladas bem como
menor desnível geométrico entre a captação e o fim do recalque e menor extensão;
abrigo contra inundações; distância das habitações; a possibilidade de eventuais
descargas dos esgotos em cursos d’água ou galerias se ocorrer eventuais paralisações do
sistema elevatório como também prevendo futuras ampliações.
O conhecimento das variações das vazões máximas e a topografia da região vão
determinar o tipo de projeto bem como todas as suas fases assim como o conjunto moto
bomba bem como para pequenas vazões, podem ser projetadas instalações
automatizadas.
As Estações Elevatórias de Esgotos são constituídas de:
Poço de Coleta ou Poço de Detenção, de Sucção ou Poço Úmido que é o local
destinado a receber e acumular os esgotos por um período de tempo.
Em caso de a vazão de bombeamento for superior à de chegada dos Esgotos
poderá haver a entrada de ar na bomba e seu funcionamento será comprometido.
Quando ocorrer a acumulação temporária dos esgotos num poço de coleta, é possível
fazer com que as bombas entrem em funcionamento ou se desliguem automaticamente
de acordo com o nível do esgoto com posições mais elevadas ou mais baixas no local.
Poço Seco ou Câmara de Trabalho é o local onde são instalados os conjunto de
geradores, moto bombas, válvulas de controle, exaustores, além das estruturas de
manutenção e transporte de equipamentos.
Dependências Gerais se localizam sobre o poço seco possuindo acomodação dos
operadores, equipamentos e os dispositivos necessários para a operação e manutenção.
Estação elevatória convencional
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/ES10_02.html
As condições para determinar o tipo de bomba são a altura manométrica local e
a capacidade da mesma. As bombas devem poder recalcar a quantidade de esgoto
afluente. A altura manométrica da bomba deve estar de acordo com a altura estática de
recalque que é a elevação entre o nível máximo de líquido no poço da descarga menos o
nível mínimo do líquido no poço de sucção. A chamada altura dinâmica consta da das
perdas de carga que ocorrem nas linhas de sucção e de recalque.
Os principais tipos de bombas utilizadas para recalques são as centrífugas com
velocidade fixa ou variável com eixo vertical ou horizontal. As verticais podem ser com
motor acoplado ou de eixo longo. Existem também os conjuntos moto bombas
submersíveis de eixo vertical.
As bombas devem trabalhar afogadas, ou seja, com carga na entrada já que
permite o funcionamento sem necessidade de escorvá-las que é a eliminação do ar
existente no interior da bomba e da tubulação de sucção. Além destas existem as
bombas tipo parafuso e as elevatórias com ejetor pneumático.
Bombas centrífugas
As bombas centrífugas para esgotos são do tipo aberto, possibilitando o
bombeamento de sólidos em suspensão no esgoto, com diâmetros até 5 cm. Nas
estações elevatórias utilizam-se bombas dos tipos:
a) De eixo vertical para instalação em poço seco;
b) De eixo vertical para instalação em poço molhado;
c) De eixo horizontal;
d) Conjunto moto bomba submersível.
As bombas de eixo horizontal são as mais utilizadas e as bombas de eixo
vertical possuem a vantagem de serem operadas por motores colocados em cota
elevada. A vazão de bombeamento, partindo do pressuposto possuindo somente uma
unidade em funcionamento, deverá ser igual ou pouco superior à vazão máxima de
chegada dos esgotos na estação, para que quando houver maior chegada, o nível do
líquido no poço de sucção será constante.
Bomba eixo vertical
Fonte: http://bhandariengg.com/product/sewage-sumbrsible-pump
Bomba eixo horizontal
http://pt.made-in-china.com/co_yzsuhua/product_Split-Casing-Sewage-Centrifugal-Submersible-Water-
Pump-OMEGA-_hrguhyeeg.html
Para a altura manométrica total, deverá somar-se a distância vertical medida
entre o nível do esgoto no poço de coleta e o nível de chegada no ponto de lançamento
e, como o nível de sucção varia, para efeito de cálculo pode ser usado o nível médio ou
seja, a média entre os níveis máximos e mínimos.
Para o funcionamento de uma só bomba por vez observa-se que a sua
capacidade deverá ser um pouco superior à vazão máxima, evitando que o poço
transborde e refluxos na tubulação de chegada.
Para as elevatórias com duas bombas, é comum que elas operem de maneira
alternada e, para isto, instala-se um sistema de comando possibilitando o revezamento
automático das bombas quando o nível do esgoto atingir o nível superior.
Dimensionamento do poço de sucção
O Poço de sucção é o compartimento onde vai receber e acumular os esgotos
durante um dado período de tempo. Para o dimensionamento do poço de sucção o
volume útil utilizado é o volume líquido entre o nível máximo e o nível mínimo de
operação do poço que é a faixa de operação das bombas e é determinado observando-se
o intervalo de tempo entre partidas consecutivas do motor ou o tempo de ciclo, que vai
levar ao tempo de detenção do esgoto no poço. Outro ponto de conhecimento é a vazão
de bombeamento.
Volume útil do poço de sucção
Para o cálculo do volume útil do poço de sucção, e em relação às bombas, é de
conhecimento que o número de partidas por hora não vá ultrapassar 10 minuto e que
não aconteça mais do que 4 acionamentos por hora então, temos que o volume é dado
por:
V = (Q .T) / 4
Onde:
V = Volume útil do poço (m3)
Q = Vazão da maior bomba com velocidade constante. (m3 / minuto).
T = intervalo de tempo entre duas partidas consecutivas de uma bomba com o
mínimo de 10 minutos.
Volume efetivo
Para determinar o volume efetivo estabelece-se que o tempo de detenção
máximo do esgoto no poço esteja entre 10 e 20 minutos onde temos:
V1 = Q1 . T1
Onde:
V1 = Volume efetivo do poço de sucção (m3)
Q1 = Vazão média de projeto, afluente da elevatória (m3 / minuto)
T1 = Tempo de detenção no poço em minutos
Interceptores
De acordo com a NBR 12207, interceptores são canalizações cuja função
principal é a de receber e transportar o esgoto sanitário coletado, caracterizada pela
defasagem das contribuições, da qual resulta o amortecimento das vazões máximas.
Devem ter como requisitos o levantamento topográfico planialtimétrico dotados de
curvas de nível de metro em metro e pontos intermediários cotados nas depressões e
pontos altos, da faixa necessária ao projeto do interceptor possuindo escala mínima de
1:1000.
Deve-se fazer um levantamento cadastral de interferências, acidentes e
obstáculos, tanto superficiais como subterrâneos, na faixa da diretriz provável do
interceptor bem como as sondagens de reconhecimento da natureza do terreno e níveis
do lençol freático ao longo da diretriz provável do interceptor.
Deve-se ter, também, o estudo de concepção de acordo com a norma NBR 9648
e os relatórios de projeto das redes coletoras afluentes de acordo com a norma NBR
9649.
Em relação à avaliação das vazões, para cada trecho do interceptor devem ser
estimadas as vazões inicial e final, onde:
a) Qi, n = vazão inicial do trecho n;
b) Qi, n = Qi, n - 1 + ∑ Qi onde Qi = vazão inicial a jusante do último trecho de
uma rede afluente ao PV de montante do trecho n, calculada conforme critério da NBR
9649;
c) Qf, n = vazão final do trecho n; d) Qf, n = Qf, n - 1 + ∑ Qf onde Qf = vazão
final a jusante do último trecho de uma rede afluente ao PV de montante do trecho n,
calculada conforme critério da NBR 9649;
Aspectos como as populações ou as área de edificações, em casos de estiagem
ou tempo seco e contribuições pluviais conhecidas como parasitárias devem ser levados
em consideração.
As populações ou as áreas edificadas contribuintes a considerar na avaliação da
vazão final devem ser as do alcance do projeto. A contribuição de tempo seco lançada ao
interceptor, permanente ou temporariamente, deve ser adicionada à vazão inicial e,
quando for o caso, à vazão final.
A contribuição pluvial parasitária deve ser adicionada à vazão final para a análise
de funcionamento e para o dimensionamento dos extravasores em como deve ser
determinada com base em medições, locais. Em caso do não levantamento das
medições, pode ser adotada uma taxa cujo valor deve ser justificado e que não deve
superar 6 l/s.km de coletor contribuinte ao trecho em estudo.
O traçado do interceptor deve ser constituído preferencialmente por trechos
retos em planta e em perfil e, nos casos especiais justificados, podem ser empregados
trechos curvos em planta.
Interceptores
Foto: Sanepar/Foz
Quanto ao dimensionamento hidráulico, observa-se que o regime de escoamento
no interceptor é gradualmente variado e não-uniforme e o regime de escoamento pode
ser considerado permanente e uniforme.
Algumas condições específicas podem ser observadas como, para trecho com
grande declividade deve ser interligado ao de baixa declividade por um segmento de
transição com declividade crítica para a vazão inicial. As ligações ao interceptor devem
ser sempre através de dispositivo especialmente projetado para evitar conflito de linhas
de fluxo e diferença de cotas.
A admissão da contribuição de tempo seco no interceptor deve ser através de
dispositivo que evite a entrada de material grosseiro, detritos e areia e o dispositivo de
admissão de água no interceptor deve limitar esta contribuição, de modo a não superar
20% da vazão final do trecho a jusante do ponto de admissão.
Emissários
Dada a norma NBR 9649 (ABNT 1986), o emissário é a tubulação que recebe
esgoto exclusivamente na extremidade de montante. O caso mais comum de emissário é
que ele é o último trecho de um interceptor que precede e contribui para uma estação
elevatória ou uma ETE ou para descarga no destino final do esgoto. Os emissários são
projetados para funcionar como condutos livres e devem ser dimensionados atendendo
as situações extremas de projeto.
De acordo com a ocorrência nas localidades onde os coletores estão
impossibilitados de continuar ou descarregar o esgoto bruto tem-se que instalar
interceptores, bem como transportar vazões finais para longe da área de coleta será
obrigado a construção de um emissário.
Recomenda-se que em qualquer trecho, o menor valor de vazão a ser
utilizado nos cálculos seja de 1,5l/s, que está de acordo com o pico instantâneo
decorrente de descarga de um vaso sanitário.
Sifão Invertido
O sifão invertido é um trecho de tubulação rebaixado e com escoamento sob
pressão. Possui a finalidade de transpor depressões, algum obstáculo ou transpor rios,
valas, canais ou a maioria dos cursos de água.
Os sifões invertidos bem como as tubulações de recalque das estações
elevatórias são as poucas unidades que funcionam sob pressão nos sistemas de esgotos
sanitários. O escoamento acontece por gravidade muito embora estejam sob pressão,
diminuindo então o gasto com energia elétrica.
Sistema de disposição oceânica de esgotos sanitários
A resolução do Ministério do Meio Ambiente – MMA nº 430, de 13 de maio de
2011, informa que Emissário submarino é a “tubulação provida de sistemas difusores
destinada ao lançamento de efluentes no mar, na faixa compreendida entre a linha de
base e o limite do mar territorial brasileiro” visa promover o tratamento de efluentes
utilizando os processos naturais que dispersam, diluem e assimilam naturalmente os
efluentes após um pré-tratamento nas ETE’s com a finalidade de reduzir as
concentrações de poluentes tornando-as admissíveis em relação à legislação diminuindo
assim o impacto na saúde pública e no meio ambiente.
A disposição oceânica através de emissários submarinos possui algumas
vantagens como um menor custo operacional, afasta para longe o efluente e assim
promove melhoria da saúde pública, uma maior confiabilidade operacional, possibilita
menor geração de odor. Como desvantagens, podemos citar o custo elevado da obra e
tubulações, a possibilidade de causar impacto no ambiente bentônico, utilizar o efluente
para reuso não é aplicável e uma menor aceitabilidade da população.
Os materiais utilizados nas tubulações dos emissários submarinos variam em
função das características do ambiente, tais como batimetria e dinâmica das ondas em
função da agressividade deste ambiente no material das tubulações e estruturas de
ancoragens no leito marinho.
Para locais profundos e com marés muito fortes e grandes vazões de efluentes,
utiliza-se ferro aço revestido de concreto ou somete de concreto. Para menores vazões,
leito raso e menor incidência da força das marés utilizam-se materiais como o polietileno
de alta densidade.
Antes do lançamento, os efluentes devem passar por uma Estação de
Tratamento ou de Pré-Condicionamento com a finalidade de diminuir as concentrações
dos poluentes e contaminantes presentes nos esgotos brutos e pode ser planejada da
forma de realizar um tratamento preliminar, primário ou secundário de acordo com as
possiblidades econômicas e técnicas.
Para a implantação de um sistema de tratamento anterior ao lançamento nos
emissários , alguns aspectos devem ser levantados tais como a composição do esgoto, o
local de lançamento, a capacidade de difusão dos efluentes no corpo receptor bem como
os padrões de qualidade dele.
No Brasil, as estações responsáveis pelo tratamento dos efluentes antes do
lançamento nos emissários possuem apenas o tratamento preliminar, visando retirar os
sólidos grosseiros do efluente através de processos como gradeamento e caixas de areia.
Quando lançado no mar através, de emissário submarino, o processo de
dispersão dos efluentes possuem três fases. A primeira é a de diluição inicial onde a
energia mecânica do efluente e a dinâmica das correntes marítimas promove uma
diluição no corpo receptor. A segunda fase consiste na difusão horizontal e vertical do
efluente e a terceira fase consiste na difusão turbulenta promovida pelas correntes
marítimas região do lançamento.
Os emissários são utilizados em várias partes do mundo como uma alternativa
para o afastamento dos efluentes da população.
Como exemplos de emissários no Brasil, temos o de Ipanema/RJ, com uma
extensão de 4325m a uma profundidade de 26m e com uma vazão de 12m3/s; em
Maceió/AL possui 3100m a 15m de profundidade e com uma vazão de 4,2 m3/s, Em
Salvador/BA, possui 2350m a 28m de profundidade com uma vazão de 2 m3/s. Nos
Estados Unidos, em Boston/Massachusetts, o emissário possui 15000m a 30m de
profundidade e com uma vazão de 55,6m3/s.
Sistema de Disposição Oceânica Jaguaribe (Salvador)
Fonte: http://piniweb.pini.com.br/construcao/infra-estrutura/emissario-submarino-da-bahia-utiliza-metodos-
nao-destrutivos-240568-1.aspx
Emissário Ilha Deer, Boston, Mass (EUA)
Fonte: Marjari, 2008, p. 20.
A efetiva realização de um Sistema de Esgotamento Sanitário somente beneficia
as comunidades e o meio ambiente evitando que as águas servidas possam poluir o solo
e contaminando as águas superficiais e lençóis freáticos eliminando o escoamento pelas
valas a céu aberto e sarjetas que constitui em focos de disseminação de doenças.
Promove mudanças de hábito e aumento da expectativa de vida da população e melhoria
nas condições sociais e econômicas.
AULA 3
Tecnologias
A composição do esgoto é bastante variável, apresentando maior teor de impurezas
durante o dia e menor durante a noite. A matéria orgânica, especialmente as fezes
humanas, confere ao esgoto sanitário suas principais características, mutáveis com o
decorrer do tempo, pois sofre diversas alterações até sua completa mineralização ou
estabilização.
Enquanto o esgoto sanitário causa poluição orgânica e bacteriológica, o industrial
produz a poluição química. O efluente industrial, além das substâncias presentes na água
de origem, contém impurezas orgânicas e/ou inorgânicas resultantes das atividades
industriais, em quantidade e qualidade variáveis de acordo com o segmento industrial. Os
corpos d’água podem se recuperar da poluição, ou depurar-se, pela ação da própria
natureza.
O efluente pode ser lançado sem tratamento em um curso d'água, desde que a
descarga poluidora não ultrapasse cerca de quarenta avos da vazão: um rio com 120l/s de
vazão pode receber, grosso modo, a descarga de 3l/s de esgoto bruto, sem maiores
consequências.
Frequentemente, os mananciais recebem cargas de efluentes muito elevadas para
sua vazão e não conseguem se recuperar pela autodepuração, havendo a necessidade da
depuração artificial ou tratamento do esgoto. O tratamento do efluente pode, inclusive,
transformá-lo em água para diversos usos, como a irrigação ou a limpeza, por exemplo.
A escolha do tratamento depende das condições mínimas estabelecidas para a
qualidade da água dos mananciais receptores e em função de sua utilização. Em qualquer
projeto é fundamental o estudo das características do esgoto a ser tratado e da qualidade
do efluente que se deseja lançar no corpo receptor. Os principais aspectos a serem
estudados são vazão, pH e temperatura, demanda bioquímica de oxigênio - DBO,
demanda química de oxigênio - DQO, toxicidade e teor de sólidos em suspensão ou
sólidos suspensos totais - SST.
Ao definir um processo, deve-se considerar sua eficiência na remoção de DBO e
coliformes, a disponibilidade de área para sua instalação, os custos operacionais,
especialmente energia elétrica, e a quantidade de lodo gerado. Alguns processos exigem
maior escala para uma maior população atendida, apresentando custos per capita
compatíveis. Na implantação de um sistema de esgotamento sanitário, compreendendo
também a rede coletora, a estação de tratamento representa cerca de 20% do custo total.
O tratamento biológico é a forma mais eficiente de remoção da matéria orgânica
dos esgotos. O próprio esgoto contém grande variedade de bactérias e protozoários para
compor as culturas microbiais mistas que processam os poluentes orgânicos. O uso desse
processo requer o controle da vazão, a recirculação dos microorganismos decantados, o
fornecimento de oxigênio e outros fatores. Os fatores que mais afetam o crescimento das
culturas são a temperatura, a disponibilidade de nutrientes, o fornecimento de oxigênio, o
pH, a presença de elementos tóxicos e a insolação (no caso de plantas verdes).
A matéria orgânica do esgoto é decomposta pela ação das bactérias presentes no
próprio efluente, transformando-se em substâncias estáveis, ou seja, as substâncias
orgânicas insolúveis dão origem a substâncias inorgânicas solúveis. Havendo oxigênio livre
(dissolvido), são as bactérias aeróbias que promovem a decomposição. Na ausência do
oxigênio, a decomposição se dá pela ação das bactérias anaeróbias.
A decomposição aeróbia diferencia-se da anaeróbia pelo seu tempo de
processamento e pelos produtos resultantes. Em condições naturais, a decomposição
aeróbia necessita três vezes menos tempo que a anaeróbia e dela resultam gás carbônico,
água, nitratos e sulfatos, substâncias inofensivas e úteis à vida vegetal. O resultado da
decomposição anaeróbia é a geração de gases como o sulfídrico, metano, nitrogênio,
amoníaco e outros, muitos dos quais malcheirosos.
A decomposição do esgoto é um processo que demanda vários dias, iniciando-se
com uma contagem elevada de DBO, que vai decrescendo e atinge seu valor mínimo ao
completar-se a estabilização. A determinação da DBO é importante para indicar o teor de
matéria orgânica biodegradável e definir o grau de poluição que o esgoto pode causar ou
a quantidade de oxigênio necessária para submeter o esgoto a um tratamento aeróbio.
As tecnologias de tratamento de efluentes nada mais são que o aperfeiçoamento do
processo de depuração da natureza, buscando reduzir seu tempo de duração e aumentar
sua capacidade de absorção, com consumo mínimo de recursos em instalações e operação
e o melhor resultado em termos de qualidade do efluente lançado, sem deixar de
considerar a dimensão da população a ser atendida.
Existem alguns outros processos alternativos para tratamento de esgotos e de
águas residuais que são mais econômicos por serem processos naturais e sem
mecanização. Os principais são:
· Valos de Oxidação;
· Lagoas de Estabilização;
· Lançamento no Terreno.
Valo de Oxidação
Trata-se do mesmo princípio do processo biológico de lodos ativados, com períodos
de aeração maiores (aeração prolongada) que os comumente adotados nos processos
convencionais. Os Valos de Oxidação são unidades compactadas de tratamento por meio
de aeração prolongada. Logo são estações a nível secundário. O processo procura
reproduzir os fenômenos dos rios com velocidade abaixo de 0,5 m/s. Podem ou não ser
sucedidas de Decantadores Secundários.
Tanque de aeração
Fonte: http://www2.corsan.com.br/sitel/www/?page_id=54
Lagoas de Estabilização
São unidades de tratamento de águas residuárias vantajosas sempre que existir
disponibilidade de terreno e área suficiente, pois apresentam reduzidos custos de
implantação e operação. O processo é simples, de fácil operação e sem necessidade de
equipamentos elétricos e mecânicos. A área deve ser predominantemente plana.
Lagoa de estabilização
Fonte: http://www2.corsan.com.br/sitel/www/?page_id=54
Lançamentos no Terreno
Constituem-se normalmente em um misto de tratamento a nível secundário e
disposição final. É classificado como nível secundário devido à atuação de mecanismos
biológicos e à sua elevada eficiência na remoção de poluentes.
Graus de Tratamento
Usualmente, consideram-se os seguintes níveis para o tratamento de esgotos
domésticos, que compreendem normalmente processos físicos, químicos e biológicos,
atuando isoladamente ou concomitantemente:
· Preliminar;
· Primário;
· Secundário; e
· Terciário (apenas eventualmente).
Tratamento Preliminar
Destina-se principalmente à remoção de sólidos grosseiros que são substâncias de
maiores dimensões, tais como minerais na forma de areia, os materiais flutuantes e óleos
e graxas.
O tratamento preliminar possui como finalidades principais proteger as unidades de
tratamento que podem existir, prevenir e proteger os corpos receptores da poluição,
Prevenir a abrasão nos dispositivos de transporte do esgoto tais como as tubulações e as
bombas como também evitar o entupimento nas tubulações.
Tratamento Primário
Destinam-se à remoção de impurezas sedimentáveis, grande parte de sólidos em
suspensão sedimentáveis e sólidos flutuantes com a utilização de mecanismos físicos. Os
resultados obtidos geralmente estão compreendidos entre 30 e 40% de remoção da DBO,
dependendo das unidades constituintes.
A decantação é o processo primário básico. Os lodos retirados dos decantadores
são submetidos a tratamento próprio.
As instalações para tratamento primário normalmente são precedidas de unidades
de tratamento preliminar, e possuem dispositivos para tratamento do lodo decantado, que
se constitui na fase sólida do tratamento. Nos decantadores primários, ocorre o que se
denomina sedimentação floculenta, e onde são removidos Sólidos em Suspensão (SS). A
remoção do lodo acumulado será feita diretamente para os digestores, ou para
adensadores de lodo, por bombeamento.
Uma forma de tratamento a nível primário para pequenas vazões são as Fossas
Sépticas e os Tanques Imhoff.
Esquema de fossa séptica
Fonte: http://www.fkcomercio.com.br/dicas_de_fossa_septica.html
Tratamento Secundário
O processo de tratamento secundário destina-se principalmente a remoção de toda
a matéria orgânica fina e a matéria orgânica na forma de sólidos dissolvidos não
removidos no processo de tratamento primário. Ele reproduz os fenômenos naturais de
estabilização da matéria orgânica no corpo receptor, por isso também é conhecido como
Tratamento Biológico. Os resultados obtidos são entre 70 e 98 % da DBO, dependendo
das unidades constituintes
Normalmente, em grandes Estações de Tratamento de Esgotos, o tratamento
secundário envolve um Processo Biológico Aeróbio (Oxidação) seguido de Decantação
Secundária, e não necessariamente é antecedido por um Tratamento Primário, e pode
seguir diretamente de um Tratamento Preliminar.
Fonte: http://www.ufrrj.br/institutos/it/de/acidentes/esg4.htm
Decantador secundário
Fonte: http://www2.corsan.com.br/sitel/www/?page_id=54
Tratamento Terciário
São tratamentos para situações especiais, que se destinam a completar o
tratamento secundário sempre que as condições locais exigirem um grau de depuração
excepcionalmente elevado (devido aos usos e reúsos das águas receptoras) e também
para os casos em que seja necessária a remoção de nutrientes dos efluentes finais, para
evitar a proliferação de algas no corpo de água receptor (fenômeno da eutrofização).
Lago eutrofizado
Fonte: http://biocarthagenes.blogspot.com.br/2011/07/eutrofizacao-eutroficacao_12.html
Operações e Processos
O Tratamento de Esgoto e Efluentes compreendem normalmente os processos
Físicos-Químico e Biológicos.
Processo Físico-Químico
Este processo consiste na adição de soluções químicas, de composição e
concentração conhecidas, a um efluente de origem industrial, ou não, que possui
componentes na forma solúvel e na forma particulada, usado para remover poluentes que
não podem ser removidos por processos biológicos convencionais. Esse tipo de tratamento
também é usado para reduzir a carga orgânica antes do tratamento biológico. Com isso, a
carga orgânica da estação de tratamento de efluentes (ETE) biológica é também
diminuída.
Esquema ETE
Fonte: http://selmawebsite.blogspot.com.br/2009/04/esquema-de-uma-ete.html
Estações de Tratamento de Água (ETAs) utilizam do tratamento físico-químico para
poder tornar a água potável.
Esquema ETA
Fonte: https://aguapratodos.wordpress.com/author/wimacpp/
O processo Físico-Químico consiste das seguintes etapas:
· floculação;
· coagulação;
· decantação;
· separação.
Floculação
Nessa etapa, os flocos são agregados, por adsorção, às partículas dissolvidas ou em
estado coloidal. No Brasil, o coagulante mais utilizado é o sulfato de alumínio (Al2(SO4)3),
que é obtido por meio da reação química entre o óxido de alumínio (Al2O3) e o ácido
sulfúrico (H2SO4). O sulfato de alumínio é adicionado à água com o óxido de cálcio (CaO),
mais conhecido como cal virgem. Quando essas duas substâncias misturam-se na água,
ocorre uma transformação química que forma uma substância gelatinosa, o hidróxido de
alumínio (Al(OH)3).
Essa transformação química ocorre porque, em meio aquoso, o sulfato de alumínio
gera os seguintes íons:
Al2(SO4)3 → 2 Al3+ + 3 SO42-
Os íons Al3+ passam a atuar de duas formas: (1) a minoria desses cátions neutraliza
as cargas negativas das impurezas presentes na água, e (2) a maioria desses cátions
interage com os íons hidroxila (OH-) da água, formando o hidróxido de alumínio:
Al2(SO4)3 + 6 H2O → 2 Al(OH)3 +6 H+ + 3 SO42-
O hidróxido de alumínio está carregado positivamente e, por essa razão, consegue
neutralizar as impurezas coloidais carregadas negativamente que estão na água. O
resultado é que as partículas de sujeira sofrem aglutinação e se ligam ao hidróxido de
alumínio, formando “flocos” (ou flóculos) sólidos. Isso é feito para o controle do pH do
meio.
Note que a última equação química acima apresenta um excesso de H+. Isso
constitui um problema porque torna o meio ácido (pH < 7), o que impede a formação do
hidróxido de alumínio. Assim, quando a cal é adicionada à água, ela forma o hidróxido de
Cálcio (cal hidratada, cal extinta ou cal apagada):
CaO + H2O → Ca(OH)2
O hidróxido de Cálcio (Ca(OH)2) é uma base e, portanto, torna o meio alcalino ou
básico, aumentando o pH do sistema. Depois disso, essa água é levada para a próxima
etapa do tratamento, que ocorre nos tanques de decantação. Lá os flóculos (formados de
lama, argila e micro-organismos) sedimentam-se e são separados.
Etapa de floculação em Estação de Tratamento de Água Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/floculacao.htm
Coagulação
Nessa etapa, se resume na aglomera das impurezas que estão em estado coloidal e
algumas que se encontram dissolvidas, em partículas maiores que possam ser removidas
por decantação ou filtração. A coagulação usa produtos químicos como sais de alumínio e
ferro reagem com a alcalinidade da água formando hidróxidos desestabilizadores dos
colóides e partículas em suspensão.
O processo de coagulação pode ser, então, realizado por meio da adição de
Cloreto Férrico e tem a finalidade transformar as impurezas da água que se encontram em
suspensão fina em estado coloidal. Inicialmente, são adicionados no canal de entrada da
ETA a solução de Cal e o Cloreto Férrico. Em seguida a água é encaminhada para o
tanque de Pré-Floculação para que o coagulante e o cal se misturem uniformemente no
líquido, agindo assim de uma forma homogênea e efetiva.
Decantação
Nessa etapa, os flocos são sedimentados. As partículas são arrastadas até o fundo
do decantador, para constituírem lodo químico (formado pela adição de coagulantes,
geralmente não naturais)
Tanques de sedimentação em estação de tratamento de água
Fonte: http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/decantacao.htm
Separação
Esta etapa consiste na separação dos sólidos (lodo) do líquido (efluente bruto) por
meio da sedimentação das partículas sólidas através dos decantadores, permitindo que os
sólidos em suspensão, que apresentam densidade maior do que a do líquido circundante,
sedimentem gradualmente no fundo, dando origem ao Lodo Primário Bruto.
Processo biológico
O processo de digestão biológico consiste na redução da carga poluidora DBO e
DQO, contida em um efluente de origem sanitária. Ele ocorre no interior de reatores
anaeróbios ou reatores aeróbios que possuem em seu interior, microfauna anaeróbica ou
aeróbica. O resultado desta depuração é a obtenção de lodo anaeróbico ou lodo ativado,
além do efluente tratado com baixa carga de DBO e DQO que, atendendo os parâmetros
de emissão, pode ser descartado em corpo receptor ou utilizado como água de reuso.
Este processo reproduz, de certa forma, o que ocorre em um curso de água onde
são lançados despejos. No corpo d'água, a matéria orgânica é convertida em produtos
mineralizados inertes por mecanismos naturais – é o denominado fenômeno da
autodepuração.
Em uma estação de tratamento de esgotos ocorre o mesmo, mas com tecnologia se
consegue fazer com que o processo se desenvolva em condições controladas (controle da
eficiência) e em taxas mais elevadas, permitindo soluções mais compactas.
A remoção da matéria orgânica dos esgotos ocorre por dois tipos de processos, o
oxidativo (oxidação da matéria orgânica) ou o fermentativo (fermentação da matéria
orgânica). No processo oxidativo a matéria orgânica é oxidada por um agente presente no
meio líquido – oxigênio, nitrato ou sulfato.
No processo fermentativo ocorrem determinadas reações de forma que depois de
várias ocorrências sequenciais os produtos se tornam estabilizados, isto é, não mais
suscetíveis a fermentação.
Há organismos adaptados funcionalmente para as diversas condições de respiração
para o tratamento de esgotos. Os organismos aeróbios estritos utilizam apenas o oxigênio
livre na sua respiração; os organismos facultativos utilizam o oxigênio livre
(preferencialmente) ou o nitrato; os organismos anaeróbios estritos utilizam o sulfato ou o
dióxido de carbono, não podendo obter energia através da respiração aeróbia. As reações
de oxidação que ocorrem no tratamento de esgotos são, portanto, do tipo aeróbias,
anóxicas ou anaeróbias.
Os sistemas anaeróbios trazem como vantagem a reduzida mecanização e o baixo
consumo energético, com uma menor taxa de geração de lodo residual e uma menor área
de instalação, tendo custos de implantação e operação mais vantajosos. No entanto, os
tratamentos anaeróbios apresentam eficiência inferior aos aeróbios.
Uma desvantagem associada aos sistemas anaeróbios de tratamento de efluentes é
o risco de emissão de odores, dependendo do tipo de efluente a ser tratado e do nível de
controle operacional do sistema, pois o processo anaeróbio converte parte da matéria
orgânica em gás metano, o que o permite produzir um menor volume de lodo residual. O
uso de queimadores de gases, especialmente quando se trata de grandes unidades,
reduzem o risco operacional.
Os sistemas anaeróbios têm sido implantados com sucesso no tratamento de
esgoto sanitário de comunidades e indústrias, principalmente do ramo de alimentos e
bebidas, seguidos por um sistema aerado que os complementa.
Para o tratamento biológico das águas residuárias em cidades de pequeno e médio
porte, o tratamento anaeróbio é mais utilizado quando o processo aeróbio exigir a
alimentação de oxigênio com custos suplementares de energia elétrica. O que ocorre, na
maioria dos casos, é um consórcio entre estes processos, sendo destacados os reatores
anaeróbios (RAFA) associados a filtros biológicos e lagoas, com eficiência e baixo custo.
AULA 4.
Tratamento Preliminar
A primeira fase do tratamento nas estações é o preliminar. Destina-se à remoção de sólidos
grosseiros, que são substâncias de maiores dimensões, tais como minerais na forma de areia,
materiais flutuantes, óleos e graxas.
O tratamento preliminar possui, como finalidade principal, proteger as unidades de
tratamento, prevenir e proteger os corpos receptores da poluição, prevenir a abrasão nos
dispositivos de transporte do esgoto, tais como as tubulações e as bombas, e também evitar o
entupimento nas tubulações.
No Tratamento Preliminar, existem unidades ou dispositivos específicos que são
empregados, que são:
Gradeamento;
Caixas de areia;
Tanques para remoção dos sólidos flutuantes;
Tanques para remoção de óleos e graxas.
As unidades ou dispositivos se iniciam com o Gradeamento, destinado a reter os sólidos de
maior tamanho ou chamados sólidos grosseiro que não foram diluídos ou não constituem
elementos a serem tratados na estação.
Os tipos de grades no gradeamento podem variar em função da tecnologia especificada ou
com os investimentos disponíveis para o tratamento. As grades simples apresentam a utilização
de funcionários para a limpeza manual e são destinadas a pequenas instalações ou para pequenas
comunidades.
Gradeamento simples
Fonte: http://jorcyaguiar.blogspot.com.br/2011_05_01_archive.html?view=classic
As grades mecanizadas são mais sofisticadas, possuem limpeza mecânica e são indicadas
para grandes instalações. Por serem mais sofisticadas, necessitam de uma maior manutenção,
elevando o custo de sua instalação e, por isso, geralmente são adotadas em instalações cujas
características justifiquem o investimento.
Gradeamento mecanizado
http://www.sigma.ind.br/produtos/grades-mecanizadas
No gradeamento, levando-se em consideração o espaço entre as barras da grade, elas são
classificadas como grosseiras de 40 a 100mm, médias de 20 a 40mm, finas de 10 a 20mm e
ultrafinas de 3 a 10mm.
Os modelos de grades conhecidas são as grades para canais, com profundidade até 2,5m.
Existem as grades mecanizadas, normalmente utilizadas como grade média para canais com nível
líquido até 2,0m.
A remoção e destino final do material gradeado são uma preocupação diária no tratamento
primário. Não se pode obstruir a entrada do efluente e, assim, a limpeza se torna constante. Nas
pequenas instalações o trabalho de limpeza é feita manualmente pelos funcionários responsáveis,
utilizando ferramentas simples, como os rastelos manuais, e o material retirado é enviado para os
aterros sanitários ou, dependendo se a localidade possuir tecnologia, podem ser incinerados. Nas
instalações de grande porte, os detritos são removidos mecanicamente, podendo ser incinerados,
digeridos ou enviados para algum tipo de tratamento.
Para eliminar óleos, graxas, gorduras ou outros materiais com densidade menor do que a
da água, o que as faz permanecerem na superfície do esgoto, utilizam-se caixas de separação,
dimensionadas de acordo com a densidade do material a ser recolhido (a concentração de
gordura dos esgotos pode variar entre 6 e 70mg/l. Esse material é originado no esgotos
doméstico, nos postos de gasolina e pequenos estabelecimentos industriais, em curtumes e
frigoríficos .
Estas substâncias também são chamadas de sólidos flutuantes, escuma ou gorduras e os
principais dispositivos para removê-los, primeiramente quando analisamos as residências, são as
caixas de Gordura Domiciliares, utilizadas antes do lançamento na rede coletora. Temos também
em estabelecimentos como indústrias e postos de gasolina, o Separador de Óleo.
Em unidades como um conjunto de residências ou indústrias, pode-se constituir uma
unidade de tratamento com Caixas de Gordura Coletivas.
Os Dispositivos de Remoção de Gordura em Decantadores, para o tratamento primário em
geral, são adaptados nos decantadores que possibilitam recolher o material flutuante em lugares
especificados para depois serem levados às unidades de tratamento do lodo.
Em algumas estações ou indústrias, temos os Tanques Aerados que são dispositivos que
injetam ar comprimido ao tanque, para aumentar ou auxiliar a flotação, que veremos mais
adiante, e aumentar a eficiência de todo o processo, tornando mais rápida a retirada destas
substâncias. São dispositivos dispendiosos e que necessitam além da energia elétrica uma
manutenção periódica.
Fonte: http://pt.slideshare.net/grupoagua/saneamento-basico-5987397
Caixas de areia
A segunda unidade corresponde aos desarenadores ou caixas de areia que são unidades
destinadas a reter areia ou outros detritos minerais mais pesados ou os inertes presentes nas
águas dos esgotos.
Os desarenadores evitam o acúmulo dos sólidos nos tanques de tratamento diminuindo seu
volume útil e o tempo de reação biológica. Nas caixas de areia são removidas as partículas com
diâmetros entre 0,1 a 0,4mm e em geral obtém-se 30 litros de areia para cada 1000m³ de esgoto
sanitário. Geralmente esta areia pode ser removida por raspadores de fundo.
Desarenador Convencional
Fonte: http://jorcyaguiar.blogspot.com.br/2011/05/tratamento-primario.html
As caixas de areia mais usadas são construídas de forma quadradas com altura
compreendida entre 1,0 e 1,6m. Nas Estações de grande porte geralmente são construídas caixas
de areia tipo profunda e de forma retangular. Existe também um dispositivo conhecido por bomba
parafuso acionada por um moto redutor e montada em uma calha feita de aço carbono ou inox.
Esta areia é lavada posteriormente e a água volta para a estação para tratamento enquanto a
areia pode ser descartada.
O destino do material retido nas caixas de areia no caso de ocorrer uma grande quantidade
de matéria orgânica que são capazes de causar um odor muito forte, o material deve ser
imediatamente levado ao aterro sanitário. A areia com baixa percentagem de matéria orgânica
pode ser aproveitada para ser levada a aterros, por exemplo, ou utilizada em leitos de secagem
de lodo.
O Tratamento Primário
Esta fase e a que vem logo a suir ao tratamento preliminar. Este tratamento é destinado à
remoção das impurezas sedimentáveis, a maioria dos sólidos em suspensão sedimentáveis e os
sólidos flutuantes através de mecanismos físicos e removendo de 30 a 40 % da DBO.
O processo primário básico é a decantação e os lodos retirados dos decantadores são
submetidos a um tratamento próprio. É aconselhável que as instalações para tratamento primário
possuam antes, unidades de tratamento preliminar com tratamento do lodo decantado.
Geralmente, temos o tratamento preliminar com as grades e caixas de areia, depois a
sedimentação nos decantadores primários, depois a digestão e secagem e disposição final do
Lodo.
Para as médias e grandes vazões, o dispositivo mais utilizado nas estações de tratamento
são os Decantadores Primários. Eles são empregados para remoção de sólidos sedimentáveis
antes de haver qualquer tratamento biológico bem como, para evitar a formação de depósitos de
lodo nos corpos receptores, quando não se possui nenhum tipo de tratamento seguinte.
A sedimentação floculenta ocorre nos decantadores primários onde as partículas em
pequena concentração formam partículas maiores e aumentando gradativamente a velocidade de
sedimentação onde todo o processo depende das características de floculação e da sedimentação
das partículas.
Os Sólidos em Suspensão são removidos nos decantadores primários em torno de 40 a
60% e 25 a 35%.da DBO e geralmente, nos decantadores primários podem existir dispositivos
para remover a gordura e a escuma que não foram removidas no tratamento preliminar onde vai
para um poço de escuma e depois, é encaminhado para os digestores ou para adensadores de
lodo, por bombeamento.
Classificação dos Decantadores
Os decantadores podem ser construídos de diversas formas levando-se em consideração o
projeto e a área onde será construída a estação bem como os investimentos necessários.
Em geral são construídos de acordo com a forma do tipo circular e retangular. De acordo
com o fundo construído pouco inclinado, inclinado com 1 a 4% e fundo com poço. De acordo com
o sistema de remoção de lodos pode ser mecanizado ou de limpeza manual e, de acordo com o
sentido de fluxo, horizontal ou vertical.
O elemento mais importante para o dimensionamento dos decantadores é a taxa de
escoamento superficial dada em m3/m2.dia.
As taxas muito elevadas levam a pequenas taxas de remoção da DBO e de sólidos em
suspensão. As taxas mais baixas levam a decantadores antieconômicos.
Para as pequenas vazões uma forma de tratamento a nível primário muito utilizado no
Brasil são as Fossas Sépticas e, um pouco menos, os Tanques Imhoff .
Nestes tipos de tratamento, os sólidos sedimentáveis são levados para o fundo onde com o
tempo, serão estabilizados pela ação dos microorganismos responsáveis por sua digestão.
Tratamento físico químico
Flotação
A flotação ou flotação por ar dissolvido envolve a dissolução do ar nas águas de esgoto
através da pressurização em um vaso de pressão. Quando o ar pressurizado é liberada na água
para o tanque de flutuação, a súbita diminuição da pressão faz com que o ar ao sair do solução na
forma de micro bolhas vai se juntar às partículas sólidas presentes nas águas e fazê-las flutuar.
Neste processo, ao contrário do que acontece na sedimentação onde as partículas em
suspensão irão se depositar no fundo do recipiente pela ação da gravidade e depois retiradas por
decantação. A flotação leva as partículas até a superfície da mistura. O resultado é uma esteira
flutuante das partículas sobre a superfície que é retirada depois.
A flotação operando sem o uso de coagulantes, que promovem a formação de flocos,
remove de 40 a 80% de sólidos em suspensão e óleos e graxas e com o uso de coagulantes
podem retirar cerca de 80 a 93% dos sólidos e 85% dos óleos e graxas.
Os tanques podem ser circulares ou em forma retangular.
A flotação pode ser comumente aplicada rotineiramente para separação de sólidos e
líquidos em esgotos domésticos para o pré tratamento de efluentes, ou na remoção de gorduras,
óleos e graxas. Ela também permite o controle e a remoção de gases e odores no esgoto devido a
oxigenação.
Os flotadores são usados como pré tratamento dos esgotos para redução de carga orgânica
(DBO). Pode ser usado também em um pós tratamento para a remoção de nutrientes, algas, cor e
turbidez.
Tratamento químico
O tratamento químico dos efluentes é usado principalmente para controlar os poluentes que
não foram removidos pelos processos biológicos convencionais e reduzir a carga orgânica antes
do tratamento biológico possibilitando a menor dimensão de uma Estação de Tratamento de
Esgotos.
Coagulação
Grande parte dos colóides presentes na água possuem carga negativa, resultante da
adsorção preferencial de íons negativos ou da ionização das suas moléculas e essas partículas
muito pequenas não são removidas por decantação simples e, dotadas de mesma característica
elétrica, a força de repulsão não permite a aglomeração e, para retirada destas partículas tem que
neutralizar as cargas negativas e a posterior aglutinação para que elas fiquem mais densas e
maiores e assim decantar mais rapidamente. Os coagulantes são os agentes químicos geradores
de cargas positivas que neutralizam os colóides.
O objetivo do tratamento é formar flocos mais pesados aumentando a velocidade de
decantação ou flotação retirando assim de forma mais eficiente as partículas nos efluentes. As
substâncias comumente utilizadas para são os sais de ferro, o sulfato de alumínio e a cal para
fornecer alcalinidade ou algum fator requerido para o tratamento.
A especificação da substância utilizada para o tratamento depende da capacidade da
estação, das características do esgoto, o custo da substância e a facilidade de obtenção.
Algumas substâncias agem de maneira mais eficiente nos esgotos. Uma análise criteriosa é
necessária para estabelecimento de um parâmetro. Em instalações com grandes vazões o uso do
sulfato férrico é mais vantajoso já em instalações de pequeno porte é mais interessante
substâncias fáceis de manusear e aplicar.
O sulfato férrico pode ser preparado na forma granular para facilitar o manuseio e o
armazenamento. Ele forma flocos sobre uma grande variação de pH, então, não é tão afetado por
estas mudanças presentes nos esgotos. Ele pode ser aplicado de forma seca ou adicionado na
forma de solução. Também nos esgotos encontramos uma série de substâncias alcalinas que
reagem com o sulfato férrico. Caso não sejam detectados sinais de alcalinidade, há a necessidade
de correção, com o uso de hidrato de cal.
O sulfato de alumínio possui coagulação com valores de pH entre 6,5 e 8,5. Ele forma
flocos com menos eficiência que o sulfato férrico.
A mistura ideal das substâncias nos esgotos é essencial para se obter um bom resultado
bem como economizar as substâncias. A agitação do esgoto através de peneiras ou chicanas nem
sempre é eficiente. Há a necessidade de um misturador mecânico ou a insuflação de ar, pois
algumas substâncias exigem uma agitação mais violenta do que outras e assim, deve ter um
controle e monitoramento para regular a quantidade de substâncias a serem adicionadas ao
esgoto.
A quantidade e dosagem das substâncias químicas dependem dos resultados requeridos,
pois os esgotos variam tanto na composição que não há como se estabelecer uma regra definida.
Existe aí necessidade de análises laboratoriais para podermos saber a quantidade necessária.
A diminuição da quantidade de reagentes nas estações de tratamento faz com que o
tratamento preliminar seja necessário para uma maior efetividade no tratamento primário. Muito
embora a qualidade do esgoto após o tratamento preliminar seja melhor, ainda permanecem
inalteradas as características poluidoras do esgoto. As substâncias orgânicas ainda presentes
devem ser retiradas com um método mais eficiente e de acordo com cada tipo de esgoto.
Este tratamento permite uma eficiência na ordem de 60% ou até mais, dependendo de
fatores como características dos esgotos, tipo de unidade de tratamento e operação das estações.
Aula 5
Tratamento Secundário
Normalmente, nas grandes Estações de Tratamento de Esgotos, o tratamento secundário
envolve um Processo Biológico Aeróbio (Oxidação) seguido de Decantação Secundária, e não
necessariamente é antecedido por um Tratamento Primário, e segue diretamente de um
Tratamento Preliminar. Desse modo, o tratamento biológico é uma das alternativas mais
econômicas e eficientes para a degradação da matéria orgânica de efluentes biodegradáveis pela
ação de agentes biológicos como bactérias, protozoários e algas.
No processo Reator ocorre a transformação da matéria orgânica em novos produtos
através da ação dos microorganismos, estabilizando a matéria orgânica até que ocorra a síntese
ou produção de novas células. Além dos principais microorganismos responsáveis pelo processo
serem as bactérias, outros organismos também estão envolvidos e presentes, como os
protozoários, as algas e alguns fungos.
Os reatores biológicos para tratamento de efluentes podem ser aeróbios ou anaeróbios em
função da ausência ou presença de oxigênio que determina os microrganismos. Ambos são
usados para redução de poluentes orgânicos (DBO), Nitrogênio (N) e Fósforo (P). Um efluente é
considerado passível de tratamento biológico quando a relação entre DQO e DBO é menor que 2.
O tratamento dos efluentes gera uma água com qualidade variável de acordo com a necessidade
e legislação.
É necessário todo um ambiente adequado para os microorganismos possam agir, tais como
disponibilidade de Oxigênio Livre, Concentração adequadas de Nutrientes, Temperatura, pH, entre
outros fatores básicos. No interior da célula dos microorganismos irá ocorrer a transformação da
matéria orgânica, através de processos de oxidação e síntese.
Os microorganismos produzidos são as novas células sintetizadas e são aquelas que darão
origem aos chamados “flocos biológicos”, juntamente com as impurezas em suspensão que a eles
serão agregados. Os flocos serão retirados nos Decantadores Secundários, também chamados de
Decantadores Finais, formando consequentemente o lodo secundário.
Lagoas de Estabilização
As lagoas de estabilização são sistemas de tratamento biológico em que a estabilização da
matéria orgânica é realizada pela oxidação bacteriológica (oxidação aeróbia ou fermentação
anaeróbia) e/ou redução fotossintética das algas.
Estas são unidades de tratamento de águas residuais vantajosas sempre que existir
disponibilidade de terreno e área suficiente, pois apresentam reduzidos custos de implantação e
operação. O processo é simples, de fácil operação e sem necessidade de equipamentos elétricos e
mecânicos, e funcionam baseadas no processo biológico.
São os mais simples métodos que existem para tratamento de esgotos. São constituídas de
escavações rasas cercadas de taludes de terra. As principais vantagens de um sistema de lagoas
são a facilidade de construção, operação e manutenção e respectivos custos reduzidos, além da
sua satisfatória resistência a variações de carga. Uma grande desvantagem é a necessidade de
grandes áreas para a construção.
De acordo com a forma predominante pela qual se dá a estabilização da matéria orgânica,
e dependendo da área disponível, topografia do terreno e grau de eficiência desejado, podem ser
classificados em lagoas anaeróbias, facultativas, estritamente aeróbias ou de maturação.
Lagoas Anaeróbias
São projetadas sempre que possível em associação com lagoas facultativas ou aeradas.
Tem a finalidade de oxidar compostos orgânicos complexos antes do tratamento através de
lagoas facultativas ou aeradas. As lagoas anaeróbias não dependem da ação fotossintética das
algas, podendo assim ser construídas com profundidades maiores do que as outras lagoas,
variando de 2,0 a 5,0 metros. Removem cerca de 50% da DBO.
Lagoa anaeróbica seguida de lagoa facultativa (ao fundo)
Fonte: http://hidrocomeduardo.blogspot.com.br/2013/03/tratamento-de-esgoto-hidrocom-materiais.html
Lagoas Facultativas
Tem profundidades entre 1,0 a 2,0 metros e áreas relativamente grandes. Funcionam
através da ação de algas e bactérias sob a influência da luz solar (fotossíntese). São chamadas de
facultativas devido às condições aeróbias mantidas na superfície liberando oxigênio e às condições
anaeróbias mentidas na parte inferior onde a matéria orgânica é sedimentada. São as do tipo
mais usadas. O tempo de detenção é superior a 20 dias, e o processo se dá predominantemente
por bactérias facultativas. Removem cerca de 70 a 90% da DBO.
Lagoas Estritamente Aeróbias
O processo necessita de oxigênio e a profundidade das lagoas varia de 2,5 a 4,0 metros.
Os aeradores servem para garantir oxigênio no meio e manter os sólidos bem separados do
líquido (em suspensão). A qualidade do esgoto que vem da lagoa aerada não é adequada para
lançamento direto, pelo fato de conter uma grande quantidade de sólidos. Por isso, são
geralmente seguidas por outras, quando a separação dessas partículas pode ocorrer. Pela ação da
luz solar, transformam o gás carbônico em hidratos de carbono, libertando oxigênio, que é
utilizado de novo pelas bactérias e assim por diante. São, portanto, lagoas onde a oxidação e a
fotossíntese aparecem balanceadas ao limite de produzir completamente uma estabilização
aeróbia.
Lagoas de Maturação
Normalmente são empregadas como Tratamento Terciário. Servem como polimento para
efluentes das estações de tratamento de lodos ativados e lagoas facultativas. O principal objetivo
destas lagoas é a remoção de organismos patogênicos, e não da remoção adicional de matéria
orgânica. Diversos fatores contribuem para a remoção de patógenos, como temperatura,
insolação, pH, escassez de alimento, organismos predadores, competição, compostos tóxicos etc.
Vários destes mecanismos se tornam mais efetivos com menores profundidades da lagoa, o que
justifica o fato das lagoas de maturação serem mais rasas e consequentemente requererem
grande área de implantação. A eficiência das lagoas de maturação é expressiva principalmente em
termos de redução do número de bactérias (da ordem de 99%). Possui profundidade útil entre
0,80 e 1,20 metros.
Lodo Ativado
Lodo Ativado é o floco produzido num esgoto bruto ou decantado, pelo crescimento de
bactérias ou outros organismos, na presença de oxigênio dissolvido, e acumulado em
concentrações suficiente graças ao retorno de outros flocos previamente formados.
É um processo biológico no qual o esgoto afluente, na presença de oxigênio dissolvido,
pela agitação mecânica e pelo crescimento e atuação de microorganismos específicos, forma um
lodo biológico. Essa fase do tratamento objetiva a remoção de matéria orgânica biodegradável
presente nos esgotos. Após essa etapa, a fase sólida é separada da fase líquida em outra unidade
operacional denominada decantador.
Este processo de tratamento de esgotos apresenta vantagens como a exigência de pouca
área para implantação; maior eficiência e maior flexibilidade de operação; no entanto, apresenta
um custo operacional mais elevado; necessita de controle laboratorial diário, sendo uma operação
mais delicada.
O processo de lodo ativado é totalmente biológico, pois o esgoto afluente e o lodo ativado
são intimamente misturados, agitados e aerados em unidades chamadas tanques de aeração,
para logo após se separar o lodo tratado no decantador secundário. O lodo ativado separado
retorna para o processo ou é retirado para tratamento específico ou destino final, enquanto o
esgoto já tratado passa para o vertedor do decantador no qual ocorreu a separação. A aeração
pode ser por agitação mecânica por aeradores de superfície, dispersão de ar ou combinação dos
dois sistemas.
Tanque de Aeração - Lodos Ativados
Fonte: http://www.acquaeng.com.br/noticias/obra-em-turn-key-e-finalizada-no-nordeste/
Filtração Biológica Aeróbia
Na verdade, o processo não realiza qualquer operação de peneiramento ou filtração. No
interior da unidade vai existir um meio de enchimento, que pode ser de pedra britada, anel
plástico ou colmeia plástica, no qual os microorganismos que promovem a transformação da
matéria orgânica irão se fixar.
Essa matéria orgânica é estabilizada por via aeróbia, por meio de bactérias que crescem
aderidas ao suporte. Usualmente, o esgoto é aplicado por meio de braços giratórios. O fluxo
contínuo do esgoto, em direção ao fundo do tanque, permite o crescimento bacteriano na
superfície do meio suporte, possibilitando a formação de uma camada biológica, denominada
biofilme. O contato do esgoto com a camada biológica possibilita a degradação da matéria
orgânica. A aeração desse sistema é natural, ocorrendo nos espaços vazios entre os constituintes
do meio suporte.
O mecanismo do processo é caracterizado pela alimentação e percolação contínua de
esgoto através do meio suporte. A continuidade a passagem dos esgotos nos interstícios promove
o crescimento e a aderência da massa biológica na superfície do meio suporte. Esta aderência é
favorecida pela predominância de colônias gelatinosas, denominadas de “zoogleas”, mantendo
suficiente período de contato da biomassa com o esgoto.
É necessária a colocação de decantador secundário após o filtro biológico, uma vez que a
biomassa agregada ao material de enchimento se desprende com o tempo, devido ao próprio
aumento na espessura da camada biológica e também à ação do líquido sobre a camada.
Nos filtros biológicos, bem como nas estações de lodo ativado, ocorre normalmente a
recirculação do lodo. As vantagens da recirculação do lodo são:
· maior período de contato, semeando o Filtro Biológico completamente ao longo de sua
profundidade, com uma variedade de organismos;
· redução do odor e de moscas;
· redução da formação de escumas nos decantadores primários;
· maior qualidade do efluente após o decantador secundário.
Processos Anaeróbios
Aparentemente nova, a solução é considerada uma das mais antigas e surgiu com a
evolução dos filtros biológicos convencionais. O filtro anaeróbio está contido em um tanque de
forma cilíndrica ou prismática de seção quadrada, com fundo falso para permitir o escoamento de
efluente do tanque séptico.
O filtro anaeróbio é um processo de tratamento apropriado para o efluente do tanque
séptico, por apresentar resíduos de carga orgânica relativamente baixa e concentração pequena
de sólidos em suspensão. Consistem de tanques com leito de pedras ou outro material suporte
para desenvolvimento de microrganismos. Entre os fenômenos que ocorrem no filtro anaeróbio
temos a retenção por contato com o biofilme, sedimentação forçada de sólidos de pequenas
dimensões, partículas finas e coloidais e ação metabólica dos microrganismos do biofilme sobre a
matéria dissolvida. As pequenas britas que o compõem retêm em sua superfície as bactérias
anaeróbias (criando um campo de microrganismo), responsáveis pelo processo biológico,
reduzindo a Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO).
São indicados para esgotos com contaminantes predominantemente solúveis, pois quanto
maior a quantidade de contaminantes particulados, os sólidos suspensos, maior a possibilidade de
entupimento. Podem ser construídos com fluxo ascendente, descendente ou horizontal. A
eficiência de redução de DBO pode variar de 40 a 75%, para DQO de 40 a 70%; para sólidos
suspensos, de 60 a 90% e para sólidos sedimentáveis, 70% ou mais.
Os filtros anaeróbios apresentam efluentes clarificados e com baixa concentração de
matéria orgânica. Não consomem energia, removem matéria orgânica dissolvida, têm baixa
produção de lodo, a água tratada presta-se para disposição no solo, resistem bem às variações de
vazão afluente, a construção e operação são simples, não necessitam de lodo inoculador nem
recirculação de lodo. Entre as desvantagens citam-se a produção de um efluente rico em sais
minerais e risco de entupimento.
A fossa séptica serve como tanque de retenção/sedimentação para tratamentos
preliminares de água e os filtros anaeróbios como redutores de DBO (demanda biológica de
oxigênio), carga orgânica e nutrientes. São equipamentos que funcionam normalmente sem gasto
de energia, por gravidade. O filtro anaeróbio é uma tecnologia conhecida, eficiente e robusta,
capaz de obter reduções substanciais redução de DBO.
Tratamento do Lodo
Os sólidos suspensos, lodo produzido diariamente correspondente à reprodução das células
que se alimentam do substrato, devem ser descartados do sistema para que este permaneça em
equilíbrio. O lodo excedente extraído do sistema é dirigido para a seção de tratamento de lodo. O
lodo retido nas diversas fases dos Tratamentos Primário e Secundário, sofrem os seguintes tipos
de tratamento, na sequência:
· Adensamento do Lodo;
· Digestão Anaeróbia do Lodo;
· Secagem do Lodo;
· Disposição do Lodo.
Adensamento do Lodo
Etapa na qual ocorre a estabilização de substâncias instáveis e da matéria orgânica
presente no lodo fresco. Possui como principal finalidade reduzir o volume a processar, e
consequentemente reduzir os custos de implantação e operação das unidades de digestão e
secagem. O adensamento pode estabilizar total ou parcialmente as substâncias instáveis e matéria
orgânica presentes no lodo fresco, reduzindo o volume do lodo através dos fenômenos de
liquefação, gaseificação e adensamento, tornando suas características favoráveis em relação a
redução de umidade que permitir a sua utilização, quando estabilizado, como fonte de húmus ou
condicionador de solo para fins agrícolas.
A estabilização de substâncias instáveis e da matéria orgânica presente no lodo fresco
também pode ser realizada através da adição de produtos químicos. Esse processo é denominado
estabilização química do lodo.
Normalmente o líquido removido é retornado para o tratamento primário da ETE, em
alguns casos pode ser lançado a montante do tratamento biológico.
Digestão Anaeróbia do Lodo
Etapa na qual ocorre a estabilização de substâncias instáveis e da matéria orgânica
presente no lodo fresco. Corresponde a um processo de decomposição anaeróbia, conduzido sob
condições controladas onde a matéria orgânica é convertida principalmente em gás metano (CH4)
e gás carbônico (CO2). A digestão é realizada com as seguintes finalidades: destruir ou reduzir os
microrganismos patogênicos; estabilizar total ou parcialmente as substâncias instáveis e matéria
orgânica presentes no lodo fresco; reduzir o volume do lodo através dos fenômenos de liquefação,
gaseificação e adensamento; dotar o lodo de características favoráveis à redução de umidade e
permitir a sua utilização, quando estabilizado convenientemente, como fonte de húmus ou
condicionador de solo para fins agrícolas.
A estabilização de substâncias instáveis e da matéria orgânica presente no lodo fresco
também pode ser realizada através da adição de produtos químicos. Esse processo é denominado
estabilização química do lodo, e utiliza de produtos como: cloreto férrico, cal, sulfato de alumínio e
polímeros orgânicos. O condicionamento químico, usado antes dos sistemas de desidratação
mecânica, tais como centrifugação, filtração por filtro prensa ou belt press, resulta na coagulação
de sólidos e liberação da água adsorvida.
Os digestores são grandes tanques cobertos, geralmente de formato circular, onde ocorre a
estabilização do lodo pelo processo anaeróbio. Nos digestores o lodo é introduzido de forma
contínua ou intermitente e aí permanece durante certo tempo. O lodo estabilizado é retirado
também de forma contínua ou intermitente do digestor, sendo que os organismos patogênicos são
em grande parte removidos.
Tipos de Digestores
· Normal: onde não ocorre a mistura interna do lodo fresco com o existente, nem
aquecimento e com tempo de detenção que varia de 30 a 60 dias;
· Alta Taxa: onde ocorre a mistura interna do lodo fresco com o existente, com
aquecimento e o tempo de detenção é menor do que 15 dias.
As condições para uma boa digestão são:
· adição de lodos frescos;
· pH favorável (7,0 a 7,4);
· temperatura conveniente (ótima entre 30 e 35º C);
· agitação do lodo.
Secagem do Lodo
Após a digestão do lodo, este ainda possui teores de umidade em torno de 96 %, ou seja,
somente 4% de sólidos. Nesta etapa é feita a secagem do lodo, podendo ser feita através de meio
natural como os leitos de secagem localizados ao ar nos tanques retangulares ou artificial com o
uso de Secador Térmico, como um Filtros Prensa ou Centrífugas A Secagem do Lodo é um
processo de redução de umidade através de evaporação de água para a atmosfera com a
aplicação de energia térmica, podendo-se obter teores de sólidos da ordem de 90 a 95%. Com
isso, o volume final do lodo é reduzido significativamente.
Disposição do Lodo
O lodo tem como destino final normalmente os aterros sanitários, principalmente os
oriundos dos tratamentos primário e secundário. Alguns tipos de lodo já estabilizados que não
possuem patogênicos em abundância podem ser empregados para outros usos, como aterros de
parques e aplicação no solo, como fertilizantes.
AULA 6
Estabilização
Os sistemas de lagoas de estabilização naturais ou artificiais constituem-se na forma
mais simples para tratamento de esgotos, apresentando diversas variantes com diferentes
níveis de simplicidade operacional e requisitos de área através de processos naturais de
decomposição.
Bactérias e algas são os seres vivos que habitam as lagoas, coexistindo em um
processo de simbiose e, desta forma, tratando os esgotos através da decomposição da
matéria orgânica pelas bactérias. O processo se baseia nos princípios da respiração: as
algas existentes no esgoto na presença de luz produzem o oxigênio que é liberado através
da fotossíntese.
Esse oxigênio dissolvido é utilizado pelas bactérias aeróbicas (respiração) para se
alimentarem da matéria orgânica em suspensão e dissolvida presente no esgoto. O
resultado é a produção de sais minerais (alimento das algas) e de gás carbônico.
A DBO é a quantidade de oxigênio dissolvido, necessária aos microorganismos, na
estabilização da matéria orgânica em decomposição, sob condições aeróbias. Nas
condições normais de tratamento por lodos ativados, a biomassa retirada do sistema
contém grande quantidade de matéria orgânica, necessitando de uma etapa posterior
para sua estabilização.
Lagoa de estabilização
Fonte: http://o2engenharia.com.br/index.php/atuacao/projetos
Em geral, a eficiência do tratamento por lodos ativados depende da quantidade de
matéria orgânica contida no efluente, do tempo de contato do efluente com o lodo ativo e
do tempo de detenção hidráulico. Num efluente, quanto maior a quantidade de matéria
orgânica biodegradável maior é o índice de DBO, e este também é proporcional ao tempo,
ou seja, quanto maior o tempo, mais matéria orgânica biodegradável é decomposta pela
atividade aeróbica das bactérias. Cinco dias são usados como tempo padrão nas medidas
de DBO de uma água ou efluente. No teste de medição, a amostra deve ficar incubada a
20oC, durante cinco dias.
A matéria orgânica em suspensão (DBO particulada) tende a sedimentar, vindo a
constituir o lodo de fundo, na zona anaeróbia, que sofrerá processo de decomposição por
microorganismos anaeróbios, sendo convertido lentamente em CO2, água, metano e
outros. Após um período de tempo, apenas a fração inerte (não biodegradável)
permanece na camada de fundo. O gás sulfídrico gerado não causa problema de mau
cheiro, pelo fato de ser oxidado, por processos químicos e bioquímicos, na camada
aeróbia superior.
A matéria orgânica dissolvida (DBO solúvel), conjuntamente com a matéria orgânica
em suspensão de pequenas dimensões (DBO finamente particulada) não sedimenta,
permanecendo dispersa na massa líquida. Na camada mais superficial, tem-se a zona
aeróbia. Nesta zona, a matéria orgânica é oxidada por meio de respiração aeróbia. Há a
necessidade da presença de oxigênio, o qual é suprido ao meio pela fotossíntese realizada
pelas algas.
Tem-se, então, um perfeito equilíbrio entre o consumo e a produção de oxigênio e gás
carbônico. As bactérias consomem O2 e produzem CO2 e as algas através da fotossíntese
produzem O2 e consomem CO2. A zona facultativa é aquela intermediária onde pode
ocorrer a presença ou ausência de O2.
Digestão anaeróbia e aeróbia
Como também já mencionado em aulas anteriores, se tratando de reações de
natureza biológica, a velocidade de decomposição do esgoto aumenta de acordo com a
temperatura, sendo a faixa ideal para atividade biológica contida entre 25 e 35ºC, sendo
ainda 15ºC a temperatura abaixo da qual as bactérias formadoras do metano se torna
inativo na digestão anaeróbia. Dentro dos tanques sépticos (fossas), por exemplo, ocorre
a digestão anaeróbia.
Havendo oxigênio livre (dissolvido), são as bactérias aeróbias que promovem a
decomposição. Na ausência do oxigênio, a decomposição se dá pela ação das bactérias
anaeróbias. A decomposição aeróbia diferencia-se da anaeróbia pelo seu tempo de
processamento e pelos produtos resultantes.
Em condições naturais, a decomposição aeróbia necessita três vezes menos tempo
que a anaeróbia e dela resultam gás carbônico, água, nitratos e sulfatos, substâncias
inofensivas e úteis à vida vegetal. O resultado da decomposição anaeróbia é a geração de
gases como o sulfídrico, metano, nitrogênio, amoníaco e outros, geralmente, gases
malcheirosos.
A digestão anaeróbia (ou anaeróbica) é um processo de decomposição de matéria
orgânica por bactérias em um meio onde não há a presença de oxigênio gasoso. Este
método é usado há muito tempo pelo homem mesmo antes dele descobrir de que se
tratava ou mesmo de saber sobre a existência dos microorganismos responsáveis por isso.
Unidade de Digestão Anaeróbia
Fonte:
http://www.valnor.pt/AValnor/Interven%C3%A7%C3%A3o/UnidadedeDigest%C3%A3oAnaer%C3%B3bia/tabid/184/lan
guage/en-US/Default.aspx
Na digestão anaeróbia ocorrem diversos processos que juntos resultam na
decomposição da matéria: a primeira fase é a liquefação ou hidrólise onde o material
orgânico complexo é transformado em compostos dissolvidos ou matéria orgânica volátil;
a segunda fase é a gaseificação que pode ser subdividia em duas fases fermentação ácida
ou acidogênese, onde os compostos são transformados em ácidos orgânicos voláteis
(fórmico, acético, propiônico, butírico e valérico), e a fermentação acetogênica ou
acetogênese, onde os produtos da subfase anterior são transformados em acetato,
hidrogênio e monóxido de carbono; a terceira e última fase é a metanogênese, onde os
produtos da acetogênese são transformados, principalmente em metano (CH4), embora
também sejam gerados outros gases.
Alguns processos para a digestão anaeróbia em estações de tratamento de esgoto
são: lodo ativado, filtro biológico, lagoas anaeróbias e reatores anaeróbios, entre outros,
para a decomposição e tratamento de esgoto em primeiro plano, não para a obtenção de
biogás.
Biodigestor
Fonte: http://www.snatural.com.br/Bio-Digestores-Tratamento-Agua.html
Cabe lembrar que a digestão anaeróbica é uma reação biológica, realizada
basicamente em três estágios por bactérias, tais como Archeo-bacter, Suphovibryum,
Thiobacius Sulphuricans, Acetobacter e Metaníferas, e na total ausência de oxigênio. O
Grupo de bactérias fundamental nesse processo é o grupo de bactérias Metanogênicas,
que atuam na última etapa, metabolizando o Ácido Acético e excretando Metano (CH4). Os
estágios de produção do metano são:
Estágio 1 - Nesse primeiro estágio, a Matéria Orgânica é convertida em moléculas
menores pela ação de bactérias hidrolíticas e fermentativas. As primeiras quebram as
cadeias proteicas, em peptídeos e aminoácidos (originando amônia), monossacarídeos e
polissacarídeos; gorduras e fosfolipídios, em ácidos graxos, pela ação de enzimas
extracelulares, como a protease, a amilase e lípase. As segundas, bactérias fermentativas,
transformam esses produtos em ácidos solúveis (ácido propiônico e butílico, por exemplo),
álcool e outros compostos. Nessa etapa também são formados: dióxidos de carbono
(CO2), gás hidrogênio (H2) e ácido acético (CH3COOH).
Estagio 2 – Nessa etapa, bactérias Acetogênicas metabolizam os produtos obtidos na
primeira etapa, e excretam ácido acético (CH3COOH), hidrogênio (H2) e dióxido de
carbono (CO2). Essas bactérias são facultativas, ou seja, elas podem atuar tanto em meio
aeróbico, como anaeróbico. O oxigênio necessário para efetuar essas transformações, é
retirado dos próprios compostos que constituem o material orgânico.
Estagio 3 – A última etapa na produção do biogás é a formação de metano pelas
bactérias Metanogênicas, que transformam o hidrogênio (H2) e o ácido acético
(CH3COOII) em metano (CH4) e (CO2). Essas bactérias são obrigatoriamente anaeróbicas
e extremamente sensíveis a mudanças no meio, como temperatura e PH (sendo ideais
30ºC e PH 8). As bactérias envolvidas na formação do biogás atuam de modo simbiótico.
As bactérias que produzem ácido Acético (Acetobacteres) geram os produtos que serão
consumidos pelas bactérias Metanogênicas. Sem esse consumo, o acúmulo excessivo de
substâncias tóxicas (ácidos) afetará o metabolismo das bactérias produtoras de Biogás,
matando-as.
Alguns fatores influenciam na produção do biogás, uma vez que a produção de biogás
é toda feita por Bactérias, já que os fatores que afetam seu metabolismo, ou
sobrevivência das mesmas, irão afetar diretamente a produção do biogás. Alguns dos mais
importantes e que devem ser controlados são:
O processo desenrola-se na ausência de ar - as bactérias Metanogênicas são
essencialmente anaeróbias, portanto, o biodigestor deve ser perfeitamente
vedado. A decomposição de matéria orgânica na presença de ar (oxigênio) irá
produzir apenas dióxido de carbono (CO2).
Temperatura - as bactérias produtoras do biogás, em especial as que produzem
metano, são muito sensíveis a alterações de temperatura (são termosensíveis);
a Faixa ideal para a produção de biogás é de 30ºC a 45ºC (bactérias
mesofílicas). Também se pode obter biogás com biodigestores trabalhando na
faixa de 50ºC a 60ºC (bactérias termofílicas), mas a temperatura deve
permanecer constante. Não deve haver variações bruscas de temperatura, pois
as bactérias não sobrevivem ao choque térmico e, portanto, a produção de
biogás diminui consideravelmente.
Alcalinidade e PH - a acidez ou alcalinidade do meio é indicada pelo seu fator
PH; a alcalinidade é uma medida da quantidade de carbonato de cálcio,
carbonato de magnésio ou seus equivalentes na solução em digestão. É fator
importante porque, conforme as bactérias e fungos produzem ácidos, o que
implica em uma diminuição do PH, os carbonatos reagem com esses ácidos, o
que leva a uma neutralização da acidez (efeito tampão do carbonato).
As Bactérias que produzem o metano sobrevivem numa faixa estreita de ph (7 a 9).
Assim, enquanto as bactérias acidofilicas (estágios 1 e 2 da digestão anaeróbica)
produzem ácidos, as bactérias produtoras de metano, consomem esses ácidos, mantendo
o meio alcalino. Como as reações envolvidas nos estágios 1 e 2 são mais rápidas que a
produção do metano, ao se iniciar a produção do biogás, é necessário que já exista uma
população de bactérias metanogênicas presentes.
Os processos de biodigestão para geração do biogás, como forma de obtenção de
energia, podem ser divididos por biodigestores “em batelada” ou biodigestores
“contínuos”, que, por sua vez, se dividem em vários modelos dentre os quais podemos
citar: o modelo indiano, que foi o primeiro a ser usado, o modelo chinês, o modelo,
paquistanês, tailandês, coreano, filipino, o de deslocamento vertical e o modelo em
plástico flexível.
Em sistemas de digestão aeróbia são utilizados aeradores mecânicos ou difusos que
promovem a mistura e fornece o oxigênio necessário a biomassa, seu principal benefício é
o menor tempo requerido para o processo e, portanto apresenta menor volume do
tanque, porém deve-se mencionar que o custo energético é maior. Henrique explica que
em ambos os processos o fenômeno é muito similar, ou seja, o lodo ainda muito ativo e
com excesso de matéria orgânica é enviado ao digestor, ficando submetido à condição de
pouco alimento, no caso fazendo referência ao material presente na água residuária já
previamente removido no tratamento da fase líquida.
Lagoa aerada aeróbica – ETE Tambaú
Fonte: http://infraestruturaurbana.pini.com.br/solucoes-tecnicas/26/estacoes-compactas-280963-1.aspx
Desidratação
Os despejos industriais pós-tratamento produzem um lodo que deve ser disposto de
maneira que não afete o meio ambiente. Esse lodo possui grande teor de umidade a qual
deve ser removida para facilitar principalmente o transporte e destinação final. O processo
de desidratação serve para remover essa umidade relativa que se encontra presente no
lodo, com o uso de equipamentos tais como centrífuga, filtro prensa ou belt press.
Os processos mecânicos de desidratação do lodo necessitam de alguns pré-requisitos
para que o lodo seja convenientemente desidratado. Normalmente, o lodo, após passar
por um adensador, é encaminhado para o condicionamento químico, que deve ser
adaptado a cada tipo de lodo, em função da sua composição físico-química e estrutural e
da técnica de desidratação a ser utilizada; já os sistemas de processos naturais
constituídos, basicamente, de leitos de secagem e lagoas de secagem, são bastante
utilizados em sistemas de tratamento simplificados, situados em locais com clima
semelhante ao do Brasil.
Os leitos de secagem são unidades de tratamento, geralmente projetadas e
construídas em forma de tanques retangulares, que têm por objetivo desidratar, por meios
naturais, o lodo digerido. São operados em regime de batelada, sendo que a remoção do
lodo seco, antes da aplicação de cada nova batelada, é necessária para o bom
funcionamento do leito. Inicialmente, a percolação é o processo que mais contribui na
remoção da água; todavia, a percolação só é viável até que o lodo atinja,
aproximadamente, teor de sólidos de 20%, de modo que a evaporação é essencial para se
obter lodo com teor mais elevado de sólidos.
O emprego do processo de secagem do lodo a partir de leitos de secagem tem sido
considerado a alternativa mais coerente, por motivos técnicos e econômicos, quando
utilizada em estações de tratamento que empregam reatores UASB. Destaca-se, também,
que a secagem natural do lodo resulta em um produto com baixo teor de água, o que
facilita, sobremaneira, sua remoção e transporte, e possível ausência de patogênicos,
acarretada pela exposição ao sol.
Essas considerações possibilitam a alternativa de utilização do lodo seco na
agricultura; todavia, o processo de desidratação de lodo em leitos de secagem não é
muito bem definido, existindo uma lacuna quanto ao perfeito entendimento dos
fenômenos que englobam a secagem do lodo e dos parâmetros que possam ser tomados
para o dimensionamento do leito.
A própria Norma Brasileira 12209/90, que fixa as condições para o tratamento do
lodo, não possui critérios que levem em conta as características do lodo ou da região em
que o leito de secagem vai ser construído.
Para empresas que geram pequena quantidade de lodo, uma das alternativas mais
viáveis para redução da umidade é o sistema de leito de secagem. Os leitos de secagem
são de baixo custo de construção e destinam-se a receber o lodo oriundo de processos
biológicos, para promover a redução da umidade, através da drenagem e evaporação da
água liberada durante o processo de secagem.
O lodo biológico, após secagem, gera um resíduo sólido que, ao atender critérios
agronômicos, sanitários e de metais pesados, poderá ter como destinação final à
reciclagem agrícola.
A escolha dentre os métodos de secagem depende das características do lodo a ser
tratado, das vantagens e desvantagens de cada equipamento e do custo.
Dentre os diversos processos disponíveis de disposição do lodo, destaca-se o
encapsulamento com vias de desidratação, através do uso de tubos geotêxteis. Essa
solução resulta em benefícios técnicos, operacionais e econômicos, que viabilizam de
maneira limpa e sistemática a disposição dos resíduos dentro de tais tubos, capazes de
filtrar o líquido proveniente do lodo, tornando a parte sólida totalmente encapsulada e
passível de tratamento na condição de resíduo sólido.
Esses tubos geotêxteis são confeccionados em geotêxtil tecido de elevada resistência
mecânica, inerte à degradação biológica e resistente a ataques químicos (álcalis e ácidos)
com dimensões finais adequadas para atender à disponibilidade de espaço.
O processo de desidratação inicia com o bombeamento do lodo devidamente floculado
para o interior do tubo geotêxtil através de seus bocais de enchimento e o tubo, por sua
vez, permite o escoamento da fração líquida através de seus poros retendo a fase sólida
no seu interior; reduzindo assim o volume total do material inserido e aumentando a
porcentagem de matéria sólida desidratada.
Após atingir o teor de umidade desejado, o material sólido confinado no tubo geotêxtil
poderá ser disposto em aterros sanitários e/ou industriais para descarte final ou
reutilização como um subproduto. Caso os tubos geotêxteis, dispostos horizontalmente ou
em pilhas, ocupem grandes áreas, após o processo de desidratação e uma vez
consolidados, podem ser encapsulados definitivamente por uma camada espessa de solo,
a fim de criar uma área passível de remediação.
Tubos geotêxteis
Fonte: http://www.saneatech.com.br/servicos.php
A decomposição do esgoto é um processo que demanda vários dias, iniciando-se com
uma contagem elevada de DBO, que vai decrescendo e atinge seu valor mínimo ao
completar-se a estabilização. A determinação da DBO é importante para indicar o teor de
matéria orgânica biodegradável e definir o grau de poluição que o esgoto pode causar ou
a quantidade de oxigênio necessária para submeter o esgoto a um tratamento aeróbio.
Lodo consolidado após desidratação
Fonte: http://www.saneatech.com.br/servicos.php
Da mesma forma que ocorrem nas outras estruturas de tratamento, são realizados
vários tipos de análises, onde são levantados dados a respeito de PH, Temperatura,
Sólidos Totais, Sólidos Totais dissolvidos, Sólidos Suspensos, Sólidos Sedimentáveis,
DBO5, DQO, Coliformes Fecais e Coliformes Totais.
AULA 7
Tratamento local
No Brasil, temos boa parte da população sem rede de esgoto nas suas cidades. O método
tradicionalmente utilizado por estas populações é o tratamento local com o uso de fossas, filtros e
sumidouros.
Em comunidades pequenas e médias, onde não existe rede coletora de esgoto, as soluções
locais e individuais para tratamento e destino final dos esgotos domésticos são particularmente
adotadas.
O tratamento local pode ser assim chamado quando nas instalações individuais os
responsáveis pelo uso e manutenção é o próprio usuário. Muitas vezes, os próprios usuários não
possuem conhecimentos específicos sobre o funcionamento dos dispositivos que utilizam. Em
muitos casos, podem estar causando danos ao meio ambiente e à própria comunidade.
Quando não há um sistema de abastecimento, por exemplo, na zona rural dos municípios,
podem ser adotadas algumas soluções para que se resolva o problema do esgotamento sanitário.
Uma delas é a chamada Privada com Fossa Seca, que possui uma casinha e uma fossa seca
escavada no solo que vai receber somente as fezes sem o uso de água.
Com o passar do tempo, as fezes retidas no interior vão se decompondo através do
processo de digestão anaeróbia. Elas devem ser construídas em locais onde não possa haver
enchentes e desmoronamentos, o mais longe possível dos poços e fontes e sempre situadas em
uma cota inferior para que não exista a possibilidade de contaminação dos mananciais.
Corte de uma fossa seca tradicional
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/saneamento/SBER4.html
As vantagens do uso desta fossa é o baixo custo, não há o uso de água, a manutenção é
muito simples, pode ser construída em vários tipos de terrenos, pode ser construída com diversos
materiais e é aplicável para comunidades com média e baixa densidade. As desvantagens é que
ela pode contaminar o solo e não é aplicável para a alta densidade demográfica.
A massa orgânica dentro da fossa irá sendo consumida pelas bactérias até atingirem um
volume muito grande. Neste caso, o volume deverá ser retirado e levado para um destino final
apropriado ou em muitos casos simplesmente será tapado e construído em outro lugar.
Outra tipo é a Privada com Fossa Estanque que consiste em um tanque destinado a receber
os dejetos também sem a descarga de água porém, é indicada geralmente em locais onde o
lençol freático é muito superficial, também em terrenos rochosos ou muito duros. O tanque deste
tipo de fossa deverá ser construído em alvenaria ou concreto e devidamente impermeabilizado. A
vantagem em relação à fossa seca simples é que não há a possibilidade de contaminação do solo,
pois após algum tempo, o material é retirado do tanque e dado um destino adequado ao mesmo,
não havendo também necessidade de mudança de local.
Fossa estanque
Fonte: Manual de saneamento, 2006.
A Privada com fossa de fermentação conhecida também como tipo Cynamon, é projetada
com duas câmaras contíguas e independentes onde vão receber os dejetos da mesma forma que
ocorre nas privadas de fossa seca. Ela é indicada para outros tipos de terrenos onde a construção
de privada de fossa seca não é indicada.
De acordo com o tipo de solo, as privadas de fermentação poderão ter tanques enterrados,
semienterrados, ou totalmente construídos na superfície do terreno. O revestimento das câmaras
é em função das características do solo e da área de locação da privada e nos terrenos onde pode
haver alagamentos e perto de poços, as paredes e o fundo deverão ser construídos de concreto
ou de tijolos com impermeabilização feita de argamassa de cimento e a estrutura da casinha pode
ser do mesmo tipo da privada de fossa seca.
Como vantagem, ela pode ser aplicada em locais de lençol freáticos próximo da superfície,
porque a profundidade das câmaras é de apenas 1,00m e também pode ser aplicada em terrenos
rochosos em que a escavação poderá ser mais rasa com câmaras semienterradas e possui
duração maior que a fossa seca sendo uma solução praticamente definitiva.
O processo de tratamento se dá da seguinte maneira, observando-se a figura abaixo.
Especificando como sendo I e II as duas câmaras, primeiro isolar a câmara II, vedando a
respectiva tampa no interior da casinha e usar a câmara I, até esgotar a sua capacidade. Após a
câmara I ficar cheia, será isolada e o material acumulado sofrerá fermentação natural. Será usada
então a câmara II, até esgotar a sua capacidade. Durante o período de uso, o material da câmara
I terá sido mineralizado então, deve- se retirar o material da câmara I, removendo as respectivas
tampas externas recolocando-as após.
Durante a limpeza, deve-se deixar pequena quantidade de material já fermentado para
auxiliar o reinício da fermentação. Após isto, repetir o processo.
Fossa Cynamon
Fonte: Manual de saneamento, 2006.
Onde a comunidade possui água encanada, pode ser adotado o Tanque Séptico ou Fossa
Séptica cujo destino final do efluente pode ser para um Sumidouro, Vala de Infiltração ou Vala de
Filtração.
O Tanque Séptico também pode ter o efluente passando por um Filtro Biológico
antes de ir para o destino final.
O Tanque Séptico possui a uma ou mais câmaras fechadas para deter os esgotos
domésticos por um tempo estabelecido para permitir a decantação dos sólidos e a retenção do
esgoto tratando bioquimicamente e o modificando em substâncias e compostos mais simples e
estáveis.
Economicamente o tanque séptico é recomendado para até 100 habitantes e que as
unidades domiciliares possuam um suprimento de água. No processo de retenção, o esgoto passa
um tempo na fossa por um período determinado variando de 12 a 24 horas, mas depende das
contribuições de esgoto.
Ao mesmo tempo, durante a retenção ocorre uma sedimentação cerca de 60 a 70% dos
sólidos em suspensão formando-se o lodo.
Parte dos sólidos não decantados, formados por óleos, graxas, gorduras e outros materiais
misturados com gases é retida na superfície livre do líquido, no interior do tanque séptico
possuindo o nome de escuma. Já a digestão tanto o lodo como a escuma é efetuada pelas
bactérias anaeróbias e que promovem uma destruição total ou parcial dos organismos
patogênicos. Deste processo de digestão resultam gases, líquidos e uma grande redução de
volume dos sólidos retidos e digeridos que se estabilizam permitindo que o efluente líquido do
tanque séptico possa ser lançado em segurança bem melhores do que as do esgoto bruto.
O tanque séptico é feito para receber os despejos de cozinhas, lavanderias, vasos
sanitários, chuveiros, ralos de piso e outros. Para as canalizações provenientes de cozinhas é
necessária a instalação de caixa de gordura e não pode haver qualquer despejo que possa causar
condições problemas ao bom funcionamento dos tanques sépticos ou que possam ter um alto
índice de contaminação.
Tanque séptico
Fonte: ABNT NBR 7229/93
O Filtro anaeróbico é uma solução tradicional e aparece junto aos filtros biológicos
convencionais. Ele é formado por um leito de brita nº 4 dentro de um tanque geralmente de forma
cilíndrica ou prismática com seção quadrada e, com fundo vazado para permitir o escoamento de
esgoto do tanque séptico, O filtro anaeróbio é um processo de tratamento apropriado para os
esgotos do tanque séptico pois apresenta resíduos de carga orgânica e concentração de sólidos
em suspensão relativamente baixa.
Fonte: http://www.habitissimo.com.br/orcamentos/minas-gerais/santa-luzia/outros-trabalhos-construcao-fossas-septicas-58
É na superfície das britas que as bactérias anaeróbias, na forma de um conjunto de
microrganismos, que o processo biológico ocorre, reduzindo a Demanda Bioquímica de Oxigênio
(DBO).
Filtro anaeróbico Fonte: http://www.macae.rj.gov.br/midia/conteudo/arquivos/1397515917.pdf
Os poços absorventes ou sumidouros são escavações feitas no terreno para receber os
efluentes do tanque séptico, que vão se infiltrando no solo geralmente pelo fundo ou pelas
laterais. Para termos as dimensões dos sumidouros tem-se que saber a capacidade de absorção
do solo.
Eles devem ser construídos de alvenaria de tijolos ou de anéis pré moldados de concreto.
Podem ter enchimento de cascalho, coque ou brita no fundo com altura igual ou maior que 0,50m
e deve ficar ao nível do terreno, feito em concreto armado e com abertura de inspeção com
fechamento eficiente.
Sumidouro
Fonte: Manual de saneamento, 2006.
Os Valos de infiltração são um conjunto de canalizações colocadas a uma profundidade
determinada onde a absorção do esgoto efluente do tanque séptico se dará através do solo.
Quando o líquido infiltrar através do solo vai propiciar o processo de mineralização dos esgotos,
antes que se transformem em uma fonte de contaminação dos lençóis freáticos e superficiais.
Alguns fatores devem ser observados para a instalação de como por exemplos, devem ser
assentados em tubos de drenagem com no mínimo 100mm de diâmetro e a tubulação deve ser
envolvida em um material filtrante apropriado e deve haver pelo menos duas valas de infiltração
para disposição do efluente de um tanque séptico.
Valas de infiltração
Fonte: ABNT NBR 7229/93
Filtros anaeróbios
Consistem de tanques com leito de pedras ou outro material suporte para desenvolvimento
de microrganismos, nos quais ocorre a retenção por contato com o biofilme, sedimentação
forçada de sólidos de pequenas dimensões, partículas finas e coloidais e ação metabólica dos
microrganismos do biofilme sobre a matéria dissolvida.
São indicados para esgotos com contaminantes predominantemente solúveis, pois quanto
maior a quantidade de contaminantes particulados, os sólidos suspensos, maior a possibilidade de
entupimento. Podem ser construídos com fluxo ascendente, descendente ou horizontal. A
eficiência de redução de DBO pode variar de 40 a 75%, para DQO de 40 a 70%; para sólidos
suspensos, de 60 a 90% e para sólidos sedimentáveis, 70% ou mais.
Os filtros anaeróbios apresentam efluentes clarificados e com baixa concentração de
matéria orgânica. Não consomem energia, removem matéria orgânica dissolvida e têm baixa
produção de lodo. A água tratada pode ser reutilizada no solo. Vale lembrar que, como
consequência ocorre a produção de um efluente rico em sais minerais e se deve levar em conta o
risco de entupimento.
Fonte: http://www.naturaltec.com.br/Tratamento-Agua-Fossa-Filtro.html
Estações de tratamento compactas
Os sistemas de tratamento de esgotos compactos podem vir a ser em determinados casos
uma solução de baixo custo e de fácil implantação, pois os sistemas compactos de tratamento de
esgoto podem ser utilizados onde não existam redes de esgoto públicas. Elas são ideais para o
tratamento dos esgotos de residências, conjuntos residenciais, edifícios de escritórios, shopping
centers, chácaras, hotéis, motéis, pousadas, restaurantes, condomínios residenciais e comerciais,
pequenos bairros ou pequenos distritos urbanos.
Possuindo os mesmos módulos de uma Estação de Tratamento de Efluentes convencional,
porém em uma escala bem reduzida e adaptável, uma ETE compacta pode ser formada por tonéis
de PVC ou outro material resistente a corrosivos normalmente implantados em uma base
concretada fixa, podendo ser ampliada de acordo com o crescimento de sua demanda. Além
disso, é importante prever, na instalação, uma manutenção preventiva nas bombas, sistema de
aeração, filtros, na parte hidráulica, elétrica, e mecanismos de desvio do esgoto para um tanque
de armazenamento, que será usado caso haja um funcionamento inadequado da ETE.
Esquema de uma estação compacta
Fonte: http://ecosus.com.br/ete-compacta/
ETE compacta
Fonte: http://www.snatural.com.br/ETE-Estacao-Compacta-Tratamento-Efluentes-Esgotos.html
Assim, observa-se que os tratamentos individuais ou locais, ainda realizados
em grande quantidade no Brasil, em todos os estados, são necessários, sem
dúvida, uma vez que apenas parte das cidades brasileiras é contemplada por rede
de esgotamento sanitário.
Na verdade, esses tratamentos locais, muito embora pareçam ineficientes,
se devidamente projetados e com manutenção adequada, é uma opção muito
melhor do que esgotamento a céu aberto e lançamento de esgoto in natura nos
corpos receptores.
AULA 8
Efluentes industriais
A grande diversidade das atividades industriais ocasiona a geração
de efluentes, que podem contaminar o solo e a água, sendo preciso
observar que nem todas as indústrias geram efluentes com poder
impactante nesses dois ambientes. As diferentes composições físicas,
químicas e biológicas, as variações de volumes gerados em relação ao
tempo de duração do processo produtivo, a potencialidade de toxicidade e
os diversos pontos de geração na mesma unidade de processamento
recomendam que os efluentes sejam caracterizados, quantificados e
tratados e/ou acondicionados, adequadamente, antes da disposição final no
meio ambiente.
As características físicas, químicas e biológicas do efluente industrial
são variáveis com o tipo de indústria, com o período de operação, com a
matéria-prima utilizada, com a reutilização de água etc. Com isso, o
efluente líquido pode ser solúvel ou sólido, com ou sem coloração, orgânico
ou inorgânico, com temperatura baixa ou elevada.
Entre as determinações mais comuns para caracterizar a massa
líquida estão as determinações físicas (temperatura, cor, turbidez, sólidos
etc.), as químicas (pH, alcalinidade, teor de matéria orgânica, metais etc.) e
as biológicas (bactérias, protozoários, vírus etc.).
O conhecimento da vazão e da composição do efluente industrial
possibilita a determinação das cargas de poluição, o que é fundamental
para definir o tipo de tratamento, avaliar o enquadramento na legislação
ambiental e estimar a capacidade de autodepuração do corpo receptor.
Desse modo, é preciso quantificar e caracterizar os efluentes, para evitar
danos ambientais, demandas legais e prejuízos para a imagem da indústria
junto à sociedade.
O tratamento físico-químico apresenta maiores custos, em razão da
necessidade de aquisição, transporte, armazenamento e aplicação dos
produtos químicos. No entanto, é a opção mais indicada nas indústrias que
geram resíduos líquidos tóxicos, inorgânicos ou orgânicos não
biodegradáveis.
O tratamento biológico é menos dispendioso, baseando-se na ação
metabólica de microrganismos, especialmente bactérias, que estabilizam o
material orgânico biodegradável em reatores compactos e com ambiente
controlado. No ambiente aeróbio são utilizados equipamentos
eletromecânicos para fornecimento de oxigênio utilizado pelos
microrganismos, o que não é preciso quando o tratamento ocorre em
ambiente anaeróbio.
Apesar da maior eficiência dos processos aeróbios em relação aos
processos anaeróbios, o consumo de energia elétrica, o maior número de
unidades, a maior produção de lodo e a operação mais trabalhosa
justificam, cada vez mais, a utilização de processos anaeróbios. Assim, em
algumas estações de tratamento de resíduos líquidos industriais estão
sendo implantadas as seguintes combinações:
unidades anaeróbias seguidas por unidades aeróbias;
unidades anaeróbias seguidas de unidades físico-químicas.
Processos Físicos
Este costuma ser o primeiro dos estágios, pois remove a sujeira mais
grossa da água. No processo físico, são removidos sólidos em suspensão
sedimentáveis e, também, flutuantes, através de separações físicas —
como, por exemplo, peneiramento, caixas separadoras de óleos e gorduras,
gradeamento, sedimentação e flotação.
Também remove a matéria orgânica e inorgânica que está em
suspensão coloidal — reduzindo ou eliminando os microrganismos que
estejam presentes, através de processos de filtragem com areia ou
membranas (microfiltração e ultrafiltração). Nesse tipo de tratamento de
efluentes industriais, os processos também têm a finalidade de desinfecção,
como no caso de radiação ultravioleta.
Processos Químicos
Para este processo, utilizam-se agentes de coagulação, floculação,
neutralização de pH, oxidação e redução e desinfecção dos sistemas de
tratamento.
Processos Biológicos
O tratamento de efluentes industriais por processos biológicos tem o
objetivo de retirar a matéria orgânica que estiver dissolvida e em suspensão
para poder transformá-la em sólidos sedimentáveis ou gases. Esse
tratamento reproduz os mesmos fenômenos que acontecem na natureza,
só que em um tempo reduzido.
Tratamento de Compostos Voláteis
Extração de Voláteis e Amônia (Stripping)
Entre os sistemas de tratamento mais eficazes para a redução de
Compostos Orgânicos Voláteis - COVs, os sistemas de extração podem
representar uma solução financeira e técnica favorável. Comumente
utilizado dentro da indústria química, eles estão sendo amplamente
utilizados na área de remediação de águas subterrâneas contaminadas em
locais caracterizados por compostos orgânicos voláteis.
Tipos de sistemas de extração (Strippers)
A tecnologia de extração envolve basicamente a passagem do ar
pressurizado/oxigênio através de um dado volume de água contaminada
que extrai os contaminantes do líquido para a fase gasosa. Sistemas de
extração podem, essencialmente, ser divididos nos seguintes tipos:
• sistemas de placa horizontal;
• sistemas de torre convencionais;
• sistemas de circuito fechado de extração.
O sistema de extração com placas horizontais contém uma série de
placas onde o ar, gerado por um soprador, é introduzido sob pressão. A
turbulência criada pela pressão do ar em conjunto com os vórtices que são
produzidos pelo caminho forçado, dão origem a ciclones muito amplos que
eficazmente removem os voláteis presentes no líquido a ser tratado.
A placa de extração horizontal Geostream pode ser dividida em três
categorias de acordo com o fluxo do líquido a ser descontaminado (5m3/ h,
10 m3/ h, 15 m3/ h); o corpo do sistema de extração é feito de aço
inoxidável e as placas são dimensionadas de acordo com a capacidade. A
estrutura externa e interna é concebida para maximizar o espaço disponível
e permitir um bom acesso para limpeza de qualquer incrustação e para
permitir os trabalhos de manutenção em qualquer um dos componentes de
distribuição de ar.
Os sistemas podem ser montados em contentores normais e podem
ser equipados com monitoramento contínuo de COVs e de tratamento do
efluente gasoso usando tanto de carbono ativado quanto oxidantes
catalíticos.
A torre de extração (Packed Tower Aeration, PTA) executa um
processo de aeração em cascata, em que a água a ser tratada flui através
dos meios de suporte que aumentam a área de superfície para troca entre
o ar e a água. A aplicação dos sistemas de extração de torre e com placas
horizontais, produzidos pela Geostream, permitiu endereçar diferentes
requisitos de projetos através da implementação de tecnologias mais
adequadas para os diferentes tipos de contaminação. Torres de extração
tradicionais utilizadas em sistemas de vácuo foram refinadas para ajudar a
gerenciar o fluxo de água com uma baixa razão água/ar.
O sistema de circuito fechado de extração permite alcançar a
máxima eficiência no tratamento de efluentes gasosos. A recirculação do
fluxo de gás através do meio filtrante permite a saturação completa, sem a
necessidade de quaisquer emissões para a atmosfera.
Adsorção em Carvão Ativo
Dentre os vários adsorventes existentes no mercado, o experimento
de interesse utiliza o carvão ativo. Para compreender o fenômeno da
adsorção é necessário conhecer as propriedades físico-químicas do material
adsorvente, no caso carvão ativo.
As propriedades físicas do carvão ativo dependem dele estar sendo
utilizado na forma de carvão ativo em pó (CAP), utilizado quando se tem
fase líquida, ou na forma granular, utilizado para o adsorbato na fase
gasosa. Para o CAP as propriedades mais importantes são filtrabilidade e
densidade, enquanto na forma granular são a dureza e o tamanho das
partículas. Logo, as propriedades do carvão ativo vão influenciar a taxa e a
capacidade de adsorção sendo necessário levá-las em conta na escolha do
carvão e na concretização do projeto dos equipamentos.
A distribuição de tamanhos de poros e as atividades químicas
superficiais dos diversos tipos de carvão são bastante dependentes de sua
origem (coque de petróleo, carvão vegetal, carvão betuminoso, lignita,
entre outros). O carvão ativo pode apresentar caráter ácido ou básico,
relacionado com a oxidação na sua superfície. Este caráter é dependente
das condições de manufatura do carvão e da temperatura na qual se
processa a oxidação. Um carvão ácido apresenta comportamento ácido, ou
seja, adsorve quantidades apreciáveis de bases, tendo pouca afinidade por
ácidos, enquanto que o carvão básico apresenta comportamento oposto ao
carvão ácido.
Nitrificação e Desnitrificação
Nitrificação
A nitrificação é a primeira etapa do processo biológico de eliminação
do nitrogênio via nitrificação/desnitrificação e se baseia na oxidação
biológica do nitrogênio amoniacal por parte das bactérias amônio oxidantes
(AOB) e Bactérias nitrito oxidantes (NOB). Este grupo de bactérias se
caracteriza por: obter sua energia para crescer da oxidação de compostos
inorgânicos (NH4+ e NO2
-), utilizar o carbono inorgânico (CO2) como fonte
de carbono e o oxigênio (O2) como aceptor de elétrons.
As AOB oxidam o amônio a nitrito e dentro deste grupo podem ser
encontrados gêneros como Nitrosococcus e Nitrospira, sendo que as mais
estudadas são as Nitrosomonas. Continuando, as NOB oxidam o nitrito a
nitrato e dentro deste grupo se encontram os gêneros Nitrospira, Nitrospina
e Nitrococcus, sendo as mais estudadas as Nitrobacter.
Na nitrificação ocorre a produção de hidroxilamina (NH2OH) como
composto intermediário. No primeiro passo, as AOB transformam o amônio
em hidroxilamina por meio da enzima amônio mono oxigenase (AMO).
Posteriormente, convertem a hidroxilamina a nitrito, mediante a
enzima hidroxilamina óxido reductase (HAO), sendo este o passo que
permite extrair energia para as AOBs. A oxidação da hidroxilamina produz
4e-, único sítio redutor onde se gera energia, o que explica porque estas
bactérias têm um rendimento e crescimento tão baixo.
Estas reações tornam possível a oxidação de amônia a nitrito em
condições energeticamente favoráveis. No entanto, em condições de
oxigenação insuficiente, as AOB podem produzir óxidos de nitrogênio (NO e
N2O), diminuindo ainda mais o rendimento e crescimento bacteriano.
As bactérias nitrificantes, por serem autotróficas, se caracterizam por
ter velocidades de crescimento muito baixas em comparação com as
bactérias heterotróficas.
O processo de nitrificação é limitado pela concentração de OD e
temperatura, além de ser inibido pela concentração de amônia e ácido
nitroso. As expressões matemáticas que interpretam as velocidades de
crescimento específico das AOB e NOB são características da cinética de
Haldane. Na cinética da nitrificação se consideram os tipos de inibição: por
substrato e competitiva. Também está incluído o efeito produzido pela
limitação de substrato (nitrogênio) e OD. Isso mostra uma grande
sensibilidade das bactérias nitrificantes à concentração de seus substratos.
Desnitrificação
A desnitrificação é um processo respiratório anóxico, realizado por
bactérias heterotróficas. Os gêneros mais representativos incluem
Alcaligenes, Paracoccus, Pseudomonas, Thiobacillus e Thiosphaera. A
desnitrificação compreende uma série de passos até a formação de N2.
A capacidade de desnitrificar está relacionada com a quantidade de
substrato biodegradável presente (relação carbono orgânico/nitrogênio).
Geralmente, nos tratamentos biológicos de efluentes, a presença de
substrato facilmente degradável é baixa. Com uma relação
carbono/nitrogênio (C/N) maior do que 4, a taxa de desnitrificação se
incrementa de um fator 1,5 a 1,7; relações C/N menores do que 2,5 não
possibilitam uma desnitrificação satisfatória, portanto se necessita de uma
fonte externa de carbono.
De acordo com Cox (2009), a velocidade de crescimento das
bactérias desnitrificantes depende da presença de matéria orgânica e da
concentração de NOx (nitrito e nitrato, aceptores finais de elétrons)
Nitrificação e Desnitrificação Simultâneas
Uma alternativa de tratamento para otimizar o processo de
eliminação de nitrogênio corresponde à nitrificação e desnitrificação
simultânea (SND), onde a nitrificação e desnitrificação acontecem em um
mesmo reator, sem separação, nas mesmas condições e ao mesmo tempo.
Do ponto de vista físico, a SND ocorre dentro do biofilme ou flocos
microbianos, devido ao gradiente de oxigênio através da biomassa.
Bactérias nitrificantes se encontram ativas em áreas que possuem maior
concentração de oxigênio, enquanto que em áreas onde a concentração de
oxigênio é limitante, estão localizadas as bactérias desnitrificantes. A
distribuição desigual de oxigênio dentro da biomassa permite a proliferação
simultânea de bactérias nitrificantes e desnitrificantes.
Por outro lado, foi provada a capacidade de algumas bactérias,
especificamente Alcaligenes faecalis e Thiosphaera pantotropha
desenvolverem SND utilizando substratos orgânicos para transformar
aerobicamente amônia em gás nitrogênio. Além disso, algumas bactérias
nitrificantes podem realizar desnitrificação na presença de pequenas
concentrações de oxigênio.
Portanto, o nitrogênio amoniacal pode ser diretamente convertido
em nitrogênio gasoso (N2) sem acumulação de nitrito nem de nitrato. A
SND oferece vantagens sobre os tratamentos convencionais como
economias de espaço e infraestrutura. No entanto, as condições nas quais
ocorre uma eficiente SND ainda não estão totalmente esclarecidas.
Para obter uma SND completa, a taxa de oxidação de amônio deve
ser preferencialmente igual à taxa de desnitrificação. Como a nitrificação
autotrófica é geralmente mais lenta em comparação com a desnitrificação,
é necessário que haja um substrato orgânico lentamente degradável; este
substrato orgânico pode se encontrar intrinsicamente no efluente. A
conversão de carbono orgânico facilmente biodegradável em um polímero
de armazenamento bacteriano tal como Poli-β-hidroxibutirato, preserva o
carbono orgânico solúvel como substrato lentamente degradável.
Em um reator operado em modo SBR existem dois períodos de
acordo com a presença ou ausência de matéria orgânica facilmente
degradável:
1) Período de saciedade. Isto ocorre quando existe um excesso de
matéria orgânica exógena. Este substrato se difunde no biofilme, sendo
armazenado como uma reserva de substrato (lípidos de glicogênio e PHB)
em condições adversas. O substrato de reserva dominante é o PHB.
A penetração de oxigênio é baixa porque ele é rapidamente
consumido por bactérias autotróficas e heterotróficas. No período de
saciedade, o oxigênio é utilizado na nitrificação, oxidação do acetato e no
crescimento da biomassa aeróbia.
2) Período de fome. Quando não há matéria orgânica exógena.
Portanto, o PHB armazenado pode ser usado como uma fonte de matéria
orgânica para a desnitrificação, o que explicaria porque o fenômeno é típico
dos sistemas de SND operados em modo de SBR.
Stripping de Amônia Lixiviado
O lixiviado é um líquido altamente poluidor, haja vista, possuir altas
concentrações de nitrogênio amoniacal. Tratar lixiviado é uma tarefa muito
difícil devido a sua composição ser muito complexa. Um tratamento que
vem sendo desenvolvido é o stripping de amônia, onde a amônia vai ser
removida do lixiviado por transferência de massa da fase líquida para a fase
gasosa.
O stripping é o método mais usado para eliminar altas concentrações
de nitrogênio amoniacal, tanto no tratamento de esgotos quanto no
tratamento de lixiviado de aterros. O desempenho desse método pode ser
avaliado em termos de eficiência de remoção de nitrogênio amoniacal.
Neste método, além do nitrogênio amoniacal, medido na forma de amônia,
é possível remover outros gases e compostos orgânicos voláteis.
Dentre os gases que podem ser removidos por arraste, merecem
destaque alguns que sofrem ionização em meio aquoso: amônia (NH3), gás
carbônico (CO2) e gás sulfídrico (H2S). Somente a forma não ionizada pode
ser removida por arraste, pois é gasosa e pode ser volatilizada. As formas
ionizadas desses compostos são totalmente solúveis e não podem ser
removidas por arraste.
No caso da amônia o processo recebe o nome de “arraste de amônia
com ar” (air stripping of ammonia), podendo ser chamado resumidamente
de “arraste de amônia”. A forma em inglês ammonia stripping é incorreta,
pois literalmente significa que a amônia está sendo usada como gás de
arraste. Se esse fosse o caso, estaria aumentando a concentração de
amônia na fase líquida.
A dissolução da amônia livre em líquidos depende da pressão parcial
do gás amoníaco na atmosfera adjacente. Se essa pressão parcial for
reduzida, a amônia tenderá a sair da água. Então, é possível remover
amônia colocando gotículas do efluente em questão em contato com ar
livre de amônia. Nessas condições a amônia sairá da fase líquida numa
tentativa de restabelecer o equilíbrio. Caso o gás de arraste escoe
continuamente, em tese chegará um momento em que todo o composto
indesejado será removido da fase líquida.
A transferência de massa da fase líquida para a fase gasosa recebe o
nome técnico de dessorção, embora o termo mais utilizado na engenharia
sanitária e ambiental seja mesmo arraste (stripping).
Troca Iônica para Contaminantes de Nitrogênio
O Processo de troca iônica tem sido utilizado em sistemas de
tratamento de efluentes para a remoção de nitrogênio, metais pesados e
SDT. Para o controle de nitrogênio, os tons removidos da corrente de
efluentes são o amônio (NH4) e o nitrato (NO3-). O íon que o amônio
desloca na resina dependerá da solução utilizada para a regeneração do
leito.
Embora seja possível utilizar materiais naturais ou sintéticos para
essa aplicação, as resinas sintéticas são mais utilizadas em função da sua
maior durabilidade. Alguns materiais naturais, como as zeólitas, também
podem ser utilizadas para a remoção do amônio presente em efluentes. A
clinoptilolita, uma zeólita natural, demonstrou ser um dos melhores
materiais com capacidade de troca iônica e apresentar uma grande
afinidade com os tons amônio em comparação com outros materiais, bem
como baixo custo em comparação aos materiais sintéticos.
Uma das inovações em relação a esses materiais é o sistema de
regeneração empregado. Quando exaurida, a zeólita pode ser regenerada
com uma solução de hidróxido de cálcio [Ca(OH)2], ocorrendo a conversão
do íon amônio para o gás amônia, em decorrência do valor elevado do pH.
A corrente líquida da qual a amônia foi extraída é armazenada em um
tanque para posterior reúso.
Um problema a ser solucionado nesse sistema está relacionado à
precipitação de carbonato de cálcio no leito de zeólita, nas torres de
extração, nas tubulações e em outros equipamentos. O leito de zeólitas é
equipado com um dispositivo de contralavagem para remover os depósitos
de carbonato de cálcio que são formados durante a operação do sistema.
Quando se utilizam as resinas sintéticas para a remoção de nitrato,
dois problemas podem ocorrer. Primeiro, apesar de a maioria das resinas
aniônicas ter grande afinidade com o nitrato em comparação com o cloreto
ou o bicarbonato, elas apresentam uma afinidade significativamente maior
com o sulfato, o que limita a capacidade da resina para a remoção de
nitrato.
Fonte: http://www.naturaltec.com.br/Tratamento-Agua-Efluentes-Arraste-VOC-amonia.html
Tratamentos por Radiação
Ozonização
O Ozônio é uma molécula composta por três átomos de Oxigênio em
vez dos usuais dois átomos componentes do Oxigênio atmosférico. Ozônio
apresenta-se sob forma gasosa em condições ambientais normais, sendo
altamente reativo e instável, o que significa que não pode ser transportado
ou armazenado, tendo que ser produzido no local de aplicação.
O alto interesse no uso de Ozônio para desinfecção deve-se ao seu
poder oxidante pois trata-se de uma das substâncias de mais alto potencial
de oxidação (somente excedido pelo flúor e radicais OH- de vida curta)
aliado a outras características interessantes para esta aplicação: sua
pressão parcial é bastante inferior à do Oxigênio diatômico, sendo
facilmente absorvido pela água numa interface de bolhas (cinquenta vezes
mais rápido que Oxigênio diatômico).
Na água, o Ozônio realiza três funções: oxidação, precipitação, e
sanitização. Recentemente, as autoridades dos EUA tem recomendado a
ozonização das águas de abastecimento público, como substituição à
cloração e outros métodos de desinfecção.
No passado, o uso mais intenso do Ozônio foi inibido pelo alto
investimento de capital e custo operacional das instalações de produção,
bem como a elevada toxicidade do produto. Recentemente foram
desenvolvidas tecnologias muito econômicas de produção de Ozônio em
baixas concentrações (geração de ozônio em lâmpadas de luz ultravioleta),
tornando a sua aplicação altamente interessante.
Fonte: http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/03/15/ozonio-trata-residuos-de-mineracao/
Reações do Ozônio na Água
Quando aplicado na água, o Ozônio, como potentíssimo oxidante,
reage com contaminantes produzindo moléculas inócuas precipitadas,
gerando Oxigênio como subproduto. A ação do Ozônio é extremamente
rápida (< 1/10 s) e não-seletiva (mata todos micro-organismos: bactérias,
fungos, bolores, vírus, etc.). Segue um resumo das características do
Ozônio:
• Reduz metais à suas formas insolúveis (normalização);
• Destrói hidrocarbonetos por dissociação (quebra das cadeias);
• Solidifica (mineraliza) compostos orgânicos dissolvidos causando a
sua coagulação e precipitação;
• Eleva o potencial redox da água, causando microfloculação
(microprecipitação) dos patogênicos e pirógenos destruídos, que podem
facilmente ser removidos por filtração;
• O tempo de reação é tão reduzido que não há Ozônio residual
remanescente na água.
Geração de Ozônio
Para a geração do Ozônio são utilizadas três tecnologias diversas:
a) Por passagem de ar ou oxigênio através de uma descarga elétrica
voltaica silenciosa (efeito corona), sendo que o uso de Oxigênio resulta em
concentrações de Ozônio bem mais elevadas que o uso de ar (0,5 – 10 %
em peso).
A produção de Ozônio é de aproximadamente 150 g/kWh. Trata-se
de instalações complexas e caras tanto do ponto de vista do investimento
como do custo operacional. As altas concentrações e quantidades de
Ozônio produzidas requerem monitoramento cuidadoso e constante, bem
como eliminação do Ozônio residual no ar por catálise, irradiação UV ou
passagem por carvão ativado. Utiliza-se este tipo de instalação quando é
necessária a produção de grandes quantidades de Ozônio.
b) Por eletrólise direta da água: foram desenvolvidas células
eletrolíticas capazes de produzirem Ozônio diretamente no meio aquoso,
através de eletrólise. Estas instalações são mais econômicas que as
anteriormente descritas e capazes de produzirem altas concentrações de
Ozônio diretamente dissolvido na água.
A capacidade de produção é de até 5,0 g Ozônio/h, porém somente
em águas com características físico-químicas de potabilidade
(especialmente ausência de turbidez e coloração). A produção de Ozônio é
de aproximadamente 5 g/kWh. Em função destas limitações utiliza-se este
tipo somente para a desinfecção de águas potáveis ou de uso farmacêutico.
c) Por irradiação de uma corrente de ar atmosférico: a irradiação do
ar atmosférico por radiação UV-C com comprimento de onda de 185 nm
transforma uma parte do Oxigênio diatômico em Ozônio. A irradiação se dá
em lâmpadas fluorescentes de vapor de mercúrio similares às usadas para
a desinfecção por UV, porém com uma linha de radiação óptica
pronunciada no comprimento de onda de 185 nm.
Trata-se de equipamentos extremamente simples e econômicos,
tanto do ponto de vista de investimento como do de custo operacional. A
produção de Ozônio é limitada por motivos práticos a até 50 g/h, a
produtividade é de 4,0 – 5,0 g/kWh. Em função da excelente relação custo-
benefício, este tipo de equipamento tem sido usado com sucesso nas mais
diversas aplicações: desinfecção de águas e esgotos, tratamento de águas
industriais, de resfriamento, água de piscina etc.
Dosagem requerida
Diferentes aplicações requerem diferentes dosagens de Ozônio. Mais
que em qualquer outro sistema de tratamento, a aplicação da ozonização
requer um conhecimento preciso da qualidade da água a ser tratada para o
estabelecimento da dosagem adequada de Ozônio, e para a definição de
quaisquer outros pré-tratamentos necessários.
A presença simultânea de vários contaminantes tem que ser
considerada, além disso condições físicas tais como temperatura, pH e
tempo de residência afetam a operação do sistema.
Formas de aplicação do Ozônio
O Ozônio deve ser posto em contato com o meio aquoso sob a forma
de bolhas de gás de menor tamanho possível. Para tanto, existem diversos
sistemas utilizados isolada ou conjuntamente:
• Injeção por meio de difusores;
• Injeção por meio de ejetores;
• Injeção por meio de circuitos de injeção.
O tempo de residência necessário à aplicação é obtido pelo uso de
tanques de contato ou reatores. Em baixas concentrações de Ozônio tais
como as utilizadas no tratamento de água potável (até 1,5 mg/l) estes
podem ser construídos em PVC ou PP, porém nas aplicações que requerem
altas concentrações o material de construção do reator tem que ser
resistente à alta corrosividade do Ozônio, requerendo o uso de materiais
nobres tais como o aço inoxidável ou vitrificado. Neste caso há também a
necessidade de sistemas de destruição do ozônio residual que escapa do
reator pelo respiro.
Como vantagens deste processo de desinfecção, temos:
• Efetiva: todos os micro-organismos são suscetíveis à desinfecção
por Ozônio;
• Conveniente: além da desinfecção elimina contaminantes
orgânicos, metais oxidáveis, reduz a dureza;
• Ozônio não adiciona nada à água exceto Oxigênio;
• Econômica: apresenta baixo custo de capital e custos operacionais
baixos;
• Simples: instalação e operação descomplicadas.
Radiação UV
A Radiação Ultravioleta (R-UV) é a parte do espectro eletromagnético
referente aos comprimentos de onda entre 100 e 400nm. De acordo com a
intensidade que a R-UV é absorvida pelo oxigênio e ozônio e, também pelos
efeitos fotobiológicos costuma-se dividir a região UV em três intervalos:
• UV-C (Comprimento de onda entre 100nm e 280nm)
• UV-B (Comprimento de onda entre 280nm e 315nm)
• UV-A (Comprimento de onda entre 315nm e 400nm)
Instalação Industrial de Desinfecção de Água por Radiação Ultravioleta
Fonte: http://www.naturaltec.com.br/Ultravioleta-UV-Desinfeccao-Agua-Reuso.html
Modelos de Fonte Artificial de Radiação Ultra Violeta
As lâmpadas de baixa pressão de vapor de mercúrio
(monocromáticas) emitem de 80 a 90% da energia no comprimento de
onda de 253,4 nm. Deve ser observado que a energia emitida no
comprimento de onda de 253,4 nm representa de 30 a 50% da potência
nominal da lâmpada. O restante da energia é emitida em outros
comprimentos de onda e dissipada na forma de calor. A potência nominal é
indicativa do consumo de energia, não da energia emitida. As potências
variam de 11 a 325W.
As lâmpadas de média pressão de vapor de mercúrio
(policromáticas) emitem espectro mais amplo, variando de 180 a 1370 nm.
A potência nominal varia de 2 a 9,6kW. Com isso, o tempo de exposição e o
número de lâmpadas são muito menores do que os utilizados nas unidades
que empregam as lâmpadas de baixa pressão de vapor de mercúrio.
Desinfecção
A desinfecção é a redução na concentração de microrganismos
patogênicos para níveis não infecciosos. Os raios emitidos pelas lâmpadas
UV causam a destruição dos Microrganismos patogênicos de modo a
prevenir o alastramento de doenças presentes na água e no ar, provocando
a queima da membrana de proteção da célula destes organismos
inativando-os.
“Microrganismo" é um termo amplo que inclui vários grupos de
germes que provocam doenças. Diferem em forma e ciclo de vida, mas são
semelhantes em seu pequeno tamanho e simples estrutura relativa. Os
cinco maiores grupos são vírus, bactérias, fungos, algas e protozoários.
Focando-se numa célula básica de bactéria, interessa-nos a parede da
célula, a membrana citoplasmática e o ácido nucléico.
O alvo principal da desinfecção por luz ultravioleta é o material
genético - ácido nucléico. Os micróbios são destruídos por ultravioleta
quando a luz penetra através da célula e é absorvida pelo ácido nucléico. A
absorção da luz ultravioleta pelo ácido nucléico provoca um rearranjo da
informação genética, que interfere com a capacidade de reprodução da
célula. Os microrganismos são, portanto, inativados pela luz UV como
resultado de um dano fotoquímico ao ácido nucléico.
A desinfecção atinge vários níveis de redução:
1 log ............ 90%
2 log ............ 99%
3 log ............ 99,9%
4 log ............ 99,99%
5 log ............ 99,999%
A esterilização é quando se dá a total eliminação de microganismos
patogênicos abaixo de um nível de medição especificado. A esterilização é
definida como uma redução de contaminantes igual ou superior a 8 logs ou
99,999999%.
A radiação UV pode ser usada em:
• Desinfecção de água para abastecimento: municipal, hospitais,
consultórios odontológicos, escolas, quartéis, centros comunitários, hotéis,
residências, piscinas, poços artesianos, água da chuva para fins não
potáveis;
• Desinfecção de efluentes: esgotos sanitários de condomínios,
residências, indústrias e municípios;
• Comercial: aquicultura, hidroponia, laboratórios, aquários, piscinas,
restaurantes e padarias;
• Industrial: farmacêutica, água mineral, bebidas, eletrônica,
alimentícia, têxtil, cosméticos, gráfica etc;
• Proteção para outras tecnologias de tratamento de água:
membranas (osmose reversa e ultrafiltração), resinas de deionização, filtros
de carvão ativado.
• Aplicações de UV no ar: exaustão de tanques, ar comprimido
estéril, dutos de ar condicionado e ambientes com contaminação.
Tratamento para Sólidos Orgânicos Dissolvidos
Troca Iônica
O tratamento de água quer para uso humano quer para uso
industrial, requer tratamentos ou filtrações variáveis, de acordo com a
necessidade. Alguns usos industriais exigem tratamentos mais cuidadosos e
completos que o tratamento para uso humano (potabilidade). Empresas
como a indústria farmacêutica demandam água de alta qualidade e
necessitam água de alta pureza, com um polimento final e tirando todos os
sais presentes.
Em alguns casos, é preciso retirar um metal pesado especifico,
dificilmente conseguido com tratamento usual. Água de caldeira, por
exemplo, precisa de retirada de dureza (cálcio e magnésio) que poderia
entupir a tubulação e reduzir a capacidade de funcionamento. Para estas
aplicações mais específicas se desenvolveram as resinas de troca iônica
(aniônica e catiônica) que retira estes ions da água, seletivamente.
Resinas de troca iônica são grânulos que tem em sua estrutura
molecular radicais ácidos ou básicos passíveis de troca por outros íons em
solução. Os íons positivos ou negativos fixos nestes radicais são
substituídos pelos íons contaminantes na solução. A operação de troca
iônica é a troca entre estes íons presentes (contaminantes) e íons sólidos
presentes na resina.
As resinas de troca iônica podem ser tipo gel ou macroporos. A
estrutura molecular é obtida por polimerização e a diferença apenas em
porosidade. O tipo gel tem porosidade reduzida à distância intermolecular
(microporo) e o tipo macroporo é formada adicionando uma substância que
produz o efeito.
As resinas de troca iônica podem ser monofuncionais, se tiverem
apenas um tipo de radical, ou polifuncionais se a molécula tiver vários tipos
de radicais intercambiáveis.
Resinas catiónicas de ácido forte: são produzidas por sulfonação do
polímero com ácido sulfúrico, o grupo funcional é o ácido sulfônico, -SO3H,
estas resinas trabalham em qualquer pH, separam todas as sais e requerem
de uma quantidade elevada de regenerante. Esta é a resina que é escolhida
para quase todas as aplicações de abrandamento de água.
A resina catiônica forte (em ciclo sódio) habitualmente utilizada nos
abrandadores pode remover ferro e manganês quando presentes sob a
forma iônica (dissolvida). No entanto, só se deve utilizar este método se as
concentrações presentes forem reduzidas, tendo sempre o cuidado de
eliminar qualquer contato com o ar (para evitar formação de precipitados).
O sistema deve ser regenerado antes que atinja a exaustão da capacidade
de troca iônica do leito de resinas. Existem dados de fabricantes que
colocam o limite em 5ppm de ferro dissolvido (ou de ferro mais manganês).
Resinas catiónicas de ácido fraco: O grupo funcional é um ácido
carboxílico -COOH, presente em um dos componentes, principalmente o
ácido acrílico ou metacrílico. Este tipo de resina é altamente eficiente e não
precisa de uma quantidade elevada de regenerante, estas resinas tem uma
menor capacidade de troca iônica devido à variação na velocidade do fluxo
e a baixas temperaturas
Resinas aniônicas de base forte: São obtidas a partir da reação de
estireno-DVB com aminas terciárias. O grupo funcional é uma sal de
amônio quaternário. Os dois grupos principais destas resinas podem ser
Tipo 1 (tem três grupos metilo) e as de tipo 2 (um grupo etanol substitui
um dos grupos metil)
Resinas aniônicas de base fraca: Resinas funcionalizadas com grupos
de amina primária (NH4), secundária(NHR), e terciária (NR2). Podem ser
aplicadas na adsorção de ácidos fortes com boa capacidade, mas sua
cinética é lenta. Resinas Quelantes, são seletivas, mas são pouco utilizadas
por ser custosas e cineticamente lentas.
Resinas catiônicas e aniônicas fortes de leitos mistos
• polimento final da água desmineralizada;
• reter os cátions e os ânions que passam pelo sistema de osmose
reversa;
• garantir os limites de especificações da água para caldeiras.
Abrandador e Abrandamento de Água
Equipamentos utilizados para redução dos teores de cálcio e/ou
magnésio em água dura. É um processo parcial de troca iônica,
denominado de abrandamento, é obtido, quando a água bruta (potável)
passa em um leito de resina catiônica forte, no ciclo sódio. Os íons cálcio e
magnésio, Ca2+ e Mg2+, solúveis na água, são retidos no grupamento do
ácido sulfônico e os íons sódio, (Na+), da resina, liberados para a água.
Quando todos os íons sódio presos ao grupamento do ácido sulfônico foram
trocados por cálcio e magnésio, a resina se encontra no estado saturado e
necessita, então, ser regenerada.
A regeneração das resinas do abrandamento compreende quatro
estágios:
• Exaustão: saturação da resina com íons cálcio e magnésio;
• Expansão: contra-lavagem do leito saturado da resina, expandindo-
a até a parte superior do vaso. A finalidade da expansão ou contra-lavagem
é soltar as impurezas sólidas presas aos cristais e descompactação;
• Regeneração: é a rejeição dos íons de cálcio e magnésio (Ca2+ e
Mg2+) captados da água, por meio da passagem de uma salmoura a 10%
substituídos por íons de sódio que voltam a se prender ao grupamento do
ácido sulfônico;
• Enxágüe: o enxágüe lento completa a regeneração da resina e o
enxágüe rápido final remove todo o excesso da salmoura regenerante do
leito.
As resinas de troca iônica são utilizadas há décadas em processos de
desmineralização de água, abrandamento, polimento de condensado, pré-
tratamento de água para caldeiras, processos industriais etc. Resinas
trocadoras se deterioram naturalmente com o uso, mas o processo pode
ser acelerado por agentes externos tais como oxidantes ou outros
contaminantes. Práticas inadequadas de operação também podem acelerar
a deterioração da resina e diminuem a qualidade da água produzida.
A detecção de contaminantes microbiológicos, determinação da
capacidade total de troca e eficiência de regeneração para resinas
catiônicas e aniônicas, detecção de resina catiônica no leito de resina
aniônica, remoção de contaminação por óleo, determinação da capacidade
de retenção de água, determinação da capacidade total de troca de cisão
salina em resinas aniônica forte e básica, determinação da porcentagem de
quebra de esferas de resinas. Uma resina de troca iônica pode ter sua vida
útil superior a 10 anos, desde que o projeto e a operação dos sistemas
estejam adequados. Para o calculo da resina, da quantidade e do sistema
de regeneração é preciso conhecer a água que se vai tratar e a finalidade
ou uso a que se destina. As características mais importantes requeridas
para dimensionamento em mg/litro.
Osmose Reversa
A osmose é um fenômeno encontrado na natureza, que consiste na
difusão entre duas soluções de concentrações salinas diferentes, através de
uma membrana semipermeável. Membranas deste tipo são tecidos que
permitem a difusão preferencial da água e retêm sais minerais nela
dissolvidos, assim como colóides e bactérias.
Um sistema de osmose direta, contendo dois compartimentos
separados por membrana semipermeável, onde se encontra uma solução
diluída em um dos compartimentos e água salina no outro. Imediatamente,
observa-se, um fluxo preferencial da solução diluída difundindo-se através
da membrana, reduzindo a concentração salina da água, encontrada no
outro compartimento.
A passagem da água pura, através da membrana semipermeável,
provoca um aumento no volume da água salinizada, com a formação de
uma coluna de água. Este efeito físico é decorrente da pressão exercida
sobre a membrana, no lado da água salinizada. A pressão corresponde à
altura da coluna, que em situação de equilíbrio interrompe a difusão da
água pura para água salinizada, entrando então os sistemas em equilíbrio.
Esta pressão hidrostática de equilíbrio é denominada pressão osmótica da
solução salina em questão.
Na osmose reversa, o fluxo de água no sistema é invertido. A água
salina é pressurizada além da pressão osmótica natural e bombeada através
da membrana semipermeável. A membrana comporta-se como uma peneira
molecular, rejeitando seletivamente quase todas as moléculas dissolvidas e
permitindo somente a passagem de água pura. A osmose reversa tem a
capacidade de separar a água de seus contaminantes, tais como: sólidos
dissolvidos, colóides, sólidos suspensos, bactérias, vírus e matéria orgânica.
Mecanismo de Funcionamento
O mecanismo mais aceito, dentre outros, é o da solubilização e
difusão molecular. Cada molécula da solução a tratar, se dissolve na
membrana, segundo Leis de distribuição e equilíbrio, se difundindo através
dela, em função dos diferenciais de concentração e pressão, existentes em
cada lado da membrana.
Portanto, o bom funcionamento da osmose reversa é em função dos
gradientes de concentração e pressão, entre a água salinizada (denominada
rejeito) e a água produzida (denominada permeado).
Tipos de Membranas utilizadas
Existem vários tipos de membranas, podendo ser citados o Acetato
de Celulose, as Poliamidas Aromáticas-Aramidas e as Poliamidas Hidrazidas
(por serem fibras finas e ocas, possue uma estrutura, mas fechada,
possibilitando trabalhar com água do mar com salinidade de 45.000 ppm),
a Poliamida de composição avançada e as Polisulfonas.
Algums circunstâncias podem alterar o desempenho e o tempo de
vida das membranas utilizadas como osmose reversa, por exemplo:
• pH da água: a variação de pH nas faixas fortemente ácidas ou
fortemente alcalinas afeta as diferentes membranas utilizadas.
• Temperatura: As membranas de acetato de celulose se hidrolizam,
quando a temperatura da água excede 30º.
• Compactação ou Deformação Física: estes problemas podem
acontecer nas membranas, quando as pressões de bombeamento da água
bruta excedem de 90 kgf/cm2.
• Cloro livre: sendo o cloro livre um agente oxidante energético, ele
pode afetar a maioria das membranas, sendo nestes casos, necessária a
decloração da água bruta. – Fouling: É produzido no interior da membrana,
pela associação de sólidos suspensos e material biológico. Seria adequado
evitá-lo, utilizando cloração e posterior decloração da água bruta e filtrando
em malha de 0,2 µm.
• Incrustações: na malha de membrana, a água bruta precipita
dureza temporária, carbonato de cálcio e hidróxido de magnésio e dureza
permanente, sulfato de cálcio. A dureza temporária é impedida de
precipitar, trabalhando-se com valores de pH da água bruta, entre 4,5 –
5,0. A dureza permanente é impedida de precipitar, dosando-se
continuamente, um antiincrustante específico para sulfato de cálcio.
Os produtos químicos adequados à aplicação em sistemas de osmose
reversa são: Acidulantes/alcalinizantes, Inibidores de depósitos, Biocidas e
Seqüestrante de cloro.
Eletrodiálise
Eletrodiálise é uma técnica eletroquímica que utiliza membranas de
troca iônica para remoção de íons pela aplicação de um campo elétrico. É
uma operação unitária na qual a separação parcial dos componentes de
uma solução iônica é induzida por uma corrente elétrica em função da
quantidade de íons dissolvidos no meio.
O seu princípio baseia-se numa série de membranas catiônicas e
aniônicas arranjadas alternadamente entre dois eletrodos. Cada membrana
é separada, uma da outra, por espaçadores formando compartimentos
individuais. Quando uma solução iônica é bombeada através desses
compartimentos sob efeito de uma diferença de potencial entre os
eletrodos, os cátions migrarão para o cátodo, atravessando a membrana
catiônica e em seguida serão retidos pela membrana aniônica.
Esta técnica vem encontrando grande crescimento de aplicação no
polimento de água pré desmineralizada por troca iônica (cátion+ânion) ou
por osmose reversa, em substituição ao leito misto de troca iônica. Trata-se
de uma tecnologia de separação que, em geral, não envolve mudança de
fase, o que significa uma economia no consumo de energia, principalmente
se comparado aos processos tradicionais.
A dessalinização de águas através da eletrodiálise ocorre devido a
uma diferença de potencial elétrico nas superfícies de membranas
bipolares. Esse tipo de membrana promove eletricamente a difusão
acelerada de cátions e ânions através das superfícies das membranas
gerando durante o processo, dois efluentes: um com elevada concentração
de sais (água concentrada) e outro com uma baixa concentração de sais
(água diluída ou dessalinizada).
As vantagens deste processo são o fato de serem operações
contínuas, que não necessitam de regenerações periódicas, nem consomem
produtos químicos, sendo de fácil manuseio e instaladas em ambientes
fechados.
Há diversas soluções para a descontaminação do meio poluído pelos
efluentes industriais; algumas são mais radicais e definitivas do que outras,
porém mais dispendiosas e complexas, uma vez que a contaminação pode
possuir características distintas e atingir meios variados.