recebo visitas: submergindo imaginários através da mediação de imagens
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RECEBO VISITAS:
SUBMERGINDO IMAGINÁRIOS ATRAVÉS DA MEDIAÇÃO DE
IMAGENS
Gustavo Reginato1
Orientadora: Cláudia Mariza Mattos Brandão2
RESUMO
Uma produção textual que convida o leitor a investigar os indícios referentes
a proposta de acolhimento ‘Recebo Visitas’ apresentada na sala expositiva do
Memorial Attilio Fontana em Concórdia, Santa Catarina. Busco através das
narrativas construídas neste trabalho, um modo de atestar a minha vivência em
dezesseis dias de imersão, em fevereiro e março de dois mil e quatorze, no espaço
citado. Na condição de espera, recebi visitas imprimindo encontros de submersão no
imaginário local, investigando as possibilidades da mediação de imagens como
espaço de entrelaçamento e contaminação de sensações, lembranças, afetos e estilos
de vida, inserindo-me portanto no imaginário local, o imaginário da fábrica no
coração da cidade.
Palavras-Chave: Mediação. Afeto. Experiência. Arte educação.
1 Licenciando em Artes Visuais –UFPel. Investiga as possibilidades da fotografia analógica e digital, arte
impressa, publicações de artista e da mediação. O artigo aqui apresentado contém recortes de uma pesquisa
maior apresentada no formato de Trabalho de Conclusão de Curso sob o Título: Dossiê Recebo Visitas;
Uma produção de imagens mediadoras de mundo. O Dossiê é formado por cinco pastas contendo diversos
indícios para a investigação do caso. E-mail: [email protected] 2 Professora adjunta do curso de Artes Visuais – Modalidade licenciatura, do Centro de Artes da UFPel,
doutora em Educação, coordenadora do PhotoGraphein – Núcleo de Pesquisa em Fotografia e Educação,
UFPel/CNPq.
Na busca pela reflexão em um exercício diário de auto-formação, Recebo Visitas
surgiu como uma proposta de acolhimento, um modo de compartilhar um intenso
caminhar de investigações em arte, sobre arte e o mundo, durante parte do curso de
graduação em Artes Visuais Licenciatura, na Universidade Federal de Pelotas. A
construção de um espaço de vivências, surgiu da necessidade de um contato mais direto
com o público que acessaria meu trabalho na sala expositiva do Memorial Attilio Fontana,
em Concórdia, Santa Catarina, minha cidade de origem. A partir dos encontros realizados
nesse espaço, consegui tecer uma melhor compreensão do imaginário social o qual estava
submergindo novamente.
O acolhimento na casatelier híbrido de sala expositiva, casa e atelier, foi um
processo de mediação que me aproximou dos visitantes, possibilitando a investigação de
indícios sensoriais resultantes da natureza incerta dos afetos (SPINOZA, 2010) e sua
tessitura nas malhas simbólicas da minha percepção. As narrativas aqui apresentadassão
resultantes dos afetos e sua posterior reflexão, na busca pela melhor compreensão do
Imaginário a partir de (WUNENBURGER, 2007) e suas Tecnologias (SILVA 2010). No
devaneio poético, essencial para reflexão dos afetos, tento compreender melhor a casa
onde submergi, antiga residência de uma das principais figuras públicas da cidade. A casa
simbólica foi lar de quem edificou a região, busco nessa permanência investigar a relação
dos visitantes com ela, o espaço expositivo, e os objetos-sujeito (BACHELARD, 1978)
presentes na casa, e como a mediação pode ativar estes campos imaginais. A partir de
Luiz Guilherme Vergara (2013) faço apontamentos sobre a ocupação dos espaços
públicos que carecem de interações sociais e sobre como a proposta de acolhimento
Recebo Visitas, a partir da mediação de imagens pôde contribuir para o estabelecimento
de diversas novas conexões dentro da malha simbólica da casa símbolo da cidade de
Concórdia, Santa Catarina.
O imáginário cria inventores e inventores criam imaginários. Recebo Visitas
constituiu-se como uma proposta de acolhimento, de entrelaçamento entre criação, obra,
artista, visitantes e o espaço, onde a criação de imagens transpassou o suporte e invadiu
a vida. Um estar presente do artista que pacientemente esperou visitas e criou uma
vivência do espaço que transformou a sala branca em casatelier. Aquele que vê com outro
olhar sente a necessidade de compartilhar com os demais seu encantamento de mundo.
Da relação íntima com a matéria e da sua compreensão parcial, fervilham possibilidades
diversas de uma manipulação regrada, que compreende os limites e bordas da existência
material. O artista manipula a matéria com o intuito de produzir ideias que atravessam o
outro num jogo de ressignificação existencial, através de suas criações ele media
sensações e percepções. A obra, após extraída da linguagem do pensamento e trazida a
matéria, sofre mutações constantes que transbordam o imaginário daquele que cria. Por
mais que esforços sejam feitos para a compreensão da obra criada, o artista se vê limitado
ao seu próprio olhar, quando no olhar do outro surge o impensável que reconstrói artista
e obra.
Nessa busca por conhecer melhor o próprio trabalho e consequentemente a si
mesmo, a submersão no imaginário social da casateliere sua permanência durante todos
os dias da ação expositiva, possibilitou com que eu acompanhasse o ritmo natural dos
acontecimentos e encontros que envolviam a casa que abriga o Memorial Attilio Fontana,
e como a própria população se apropria do espaço que lhes é de uso comum. Sem
vernissageou hora marcada, esperei de peito aberto sem saber o que estava por vir.
O isolamento traz ao ser pensante o espaço de reflexão tão importante para o ato
criativo, mas é a partir do compartilhar de ideias que a reflexão se potencializa. O outro
tem papel fundamental na construção de si. Promover um espaço de livre ser proporciona
ao outro diferentes possibilidades de leitura de obra e mundo. O artista mediador encontra
nas suas obras uma oportunidade e uma potência para promover encontros que constroem
e reconstroem, encontros que afastam da solidão. Posicionar obras em um espaço de
apreciação é dar a elas uma chance de continuarem vivas, obras engavetadas padecem na
mesmice.
Em toda experiência de imersão somos condicionados às afecções do espaço
sobre nosso corpo, que deixam rastros e criam, durante e após o encontro, ideias afeto
que merecem uma reflexão mais profunda para sua melhor compreensão. “Mas ninguém
que eu saiba determinou a natureza e a força dos afetos, nem por outro lado, que poder
tem a mente para regulá-los” (SPINOZA, 2010, p.161). Em um estado de ser arte e
imprimir situações, busco na permanência do espaço expositivo um meio a estar propício
a afecção do imaginário local observando as situações ocasionadas pelo devir,
construindo, portanto, um conjunto de ideias afeto resultantes dos encontros do caminhar
construtivo na exposição Recebo Visitas. A partir dos afetos, reconstruímos nós mesmos
quando agregamos uma nova realidade a nossa leitura de mundo.
Na busca pela materialização dos afetos em palavras, registrei dia-a-dia na
máquina de escrever posicionada na sala expositiva, o caminhar regado de encontros
dentro da casa. No fim de cada dia propus uma meditação, um tempo para refletir sobre
os acontecimentos, torná-los conscientes para então gravar as palavras no papel, com o
impulso de meus dedos. Os pequenos relatos datados foram cartas que escrevi para serem
lidas a posteriori, mentalmente endereçadas a mim, mas sem destinatário, onde os que
tivessem a oportunidade de lê-las, pudesse captar a essência dos afetos ainda frescos.
Compreendendo que os afetos registrados nas cartas diárias por sua brevidade não
compreendiam a toda complexidade da experiência de submersão, decidi durante o
período de abril a outubro de 2014, desdobrar as entrelinhas das cartas, construindo uma
Narrativa Imaginada do espaço com referência nos registros diários. No ato da escrita,
novamente na máquina de escrever, mas desta vez em contínuo, inventei um imaginário
a partir de minhas memórias e investigações.
Investigo, portanto, a partir da mediação de imagens e permanência no espaço
expositivo do Memorial Attilio Fontana (Fig. 1), em Concórdia/SC, a reflexão dos afetos
e a construção de uma Narrativa Imaginada, como um dos possíveis caminhos para a
reapresentação de um imaginário social o qual submergi, construindo em palavras uma
teia afetiva de relações, acontecimentos e situações, na busca por uma melhor
compreensão do espaço e de si a partir do devaneio poético da escrita em fluxo de
consciência em um hyperlink que conecta os espaços e os sujeitos imaginantes.
Fig. 1 – O Memorial Attilio Fontana, Gustavo Reginato, 2014.
A mediação de imagens, a partir da presença constante do
professorartistapesquisador no espaço expositivo, transforma-se em uma tecnologia de
pesquisa que se utiliza da experiência de encontro com o imaginário dos visitantes para
criar diversas narrativas a partir deste contato. Os encontros de mediação procuram
estabelecer uma relação mais íntima do ser humano com a natureza e a cultura,
ressignificando a matéria e as suas relações na era digital da virtualidade.
De acordo com Jean-Jacques Wunenburger (2007), em seu livro “O imaginário”:
Conviremos, portanto, em denominar imaginário um conjunto de
produções, mentais ou materializadas em obras, com base em imagens
visuais (quadro, desenho, fotografia) e linguísticas (metáfora, símbolo,
relato), formando conjuntos coerentes e dinâmicos referentes a uma
função simbólica no sentido de um ajuste de sentidos próprios e
figurados. (ibid. p.11)
A experiência de troca e afetos nos transforma a cada encontro, entrelaçando as
teias do imaginário dos indivíduos que partilham vivências do sensível, mantendo a arte
de intercambiar experiências a partir da faculdade da narração (BENJAMIN, 1987,
p.197), tendo a memória como agente de resistência e prolongamento do tempo. “É
também o território de recriação e de reordenamento da existência – um testemunho de
riquezas afetivas que o artista oferece ou insinua ao espectador[...]” (CANTON, 2009,
p.22).
Montei minha casa dentro do espaço expositivo e ali frequentei no meu período
de férias, transferi meus objetos narradores por setecentos e cinquenta quilômetros
empacotados em mais malas que eu poderia carregar. Nas paredes investigações gráficas,
no teto um fio de poliéster e uma lente convergente posicionada para projetar a imagem
do jardim, na estante alguns livros, discos de vinil, objetos curiosos, algumas esculturas
antigas, algumas câmeras fotográficas. Em uma mesa de madeira uma máquina de
escrever, sobre um cubo negro o Dispositivo Fotográfico Instantâneo (Fig.2) gerava
imagens de todos os visitantes frente a uma cadeira que veio da sala de jantar. Café, chá
de hibisco e anis estrelado, pastéis de goiabada. Eu quis habitar aquela sala, e queria
receber e conhecer os que buscavam habitar ela também.
Fig. 2 – O DFI em desenho, Gustavo Reginato, 2014.
Na relação de plantio e cultivo de relações é que surge a ruptura das possibilidades
antigas, o caos, o surgimento de novas possibilidades, e a reconstrução do tempo-espaço
provocados pelos encontros. É na ruptura de possibilidades em outras mais que surge a
mediação, dimensão onde os indivíduos que se encontram submergem e onde as
informações se entrelaçam. O exercício de mediação é uma equação quântica, por isto me
abstenho de prever possibilidades. Estabeleci uma condição de esperançar, a esperança
na condição de espera. Não existem receitas para um bom alquimista, todas as medidas
são feitas a partir da poesia de compreender como cada matéria se comporta umas com
as outras e seu todo com nossos sentidos. Comida é alquimia, gravura é alquimia, arte é
alquimia. Transformamos a matéria na preciosidade do seu encontro com o outro.
A mediação é algo latente ao espaço, tudo o que é e existe na sala e no imaginário
dela, só se revela no encontro onde há um rompimento na tessitura do espaço-tempo.
Onde o visitante submerge comigo em um tempo deslocado de uma realidade habitual,
imprimi situações que provocaram deslocamentos através de uma alteração das
possibilidades futuras, onde tudo o que poderia ser, pode ser ainda mais. “Com a casa
vivida pelo poeta, dirigimo-nos a um ponto sensível da atropocosmologia. A casa é um
instrumento de topoanálise” (BACHELARD, 1978, p. 228).
A impressão de situações provocadas pelo mediador enriquece e potencializa o
espaço com suas rupturas. Durante a mediação, as imagens despertam o imaginário que
envolve os visitantes, sendo ele decodificado pelo pensamento que imprime e materializa
uma ideia no formato da fala, instaurando uma memória que com o acúmulo de outras
mais lhe dará noção de tempo, passagens e conservação, um atestado de vivência na
exposição. As imagens mentais e signos gerados pelo visitante durante a ruptura,
novamente se reintegram a bacia semântica que perpassa o local. O imaginário assim
como o universo está em constante expansão, e sempre estará ligado a algo muito maior,
numa rede de incontáveis conexões. O acesso a informação sempre exigiu esforços
daquele que busca sintonizar a mesma frequência para poder compreendê-la.
Precisamos um do outro para iluminarmos nossos pontos obscuros que nos levam
a compreensão de certas coisas e mais dúvidas sobre outras. Precisamos socializar para
nos desenvolvermos como seres. “Podemos reconhecer um processo global de crise que
se amplia criticamente da carência de espaços públicos de interações sociais”
(VERGARA, 2013, p.61). Me propus a ouvir e a falar também, uma mediação em uma
exposição tem efeitos positivos tais quais a consulta a um profissional da psicologia ou
quem sabe a leitura de um mapa astrológico, um jogo de búzios ou de runas vikings. Uma
possibilidade de reflexão na presença do outro. Uma oportunidade de “[...] reversibilidade
entre futuro – presente e passado, através do acontecimento e territorialização do devir na
arte” (VERGARA, 2013, p.63).
Na casa, espelho construído do ser, pode-se reconhecer os habitantes pelos seus
objetos. São eles que ajudam a nos identificarmos com as formas assumidas pelos seres
no mundo. Nos objetos, a representação de ideias é feita pelo domínio do homem sobre a
matéria, onde o conhecimento domina e prevê ou não suas reações a fim de utilizar suas
propriedades para comunicar. Sendo assim o objeto, uma forma de matéria controlada
que compõe uma imagem ideia, e passa a aquele que o encontra toda energia de suas
propriedades físico-químicas, os signos vinculados a si durante o a caminhar da
humanidade e a leitura do indivíduo que o encontra, que o acessa a partir de suas
referências. Mas como sempre digo, os comprimentos de ondas das ideias não irão
sintonizar se você não quiser estar na mesma frequência, o campo de visão é sempre
definido pelo próprio observador. O pensamento é potência desmerecida, podemos sim
criarmos nossas próprias realidades de mundo.
Fig. 3 – Vista Parcial da casatelier, Gustavo Reginato, 2014.
Hoje a era da virtualidade possibilita a troca virtual de maneira eficaz através do
uso da palavra e da imagem digital. Mas não há como comparar o encontro de codificação
de dados transmitidos pela máquina ao encontro de corpos e seus campos imaginais. “Pois
a casa é nosso canto do mundo. Um verdadeiro cosmos.” (BACHELARD, 1978, p. 200).
Receber Visitas em casa é mostrar as suas entranhas (Figs. 3 e 4), o seu eu materializado
nos objetos que conserva e os organiza no espaço. “Os objetos são vivos no espaço que
são inseridos, representam algo ausente muito além da forma. São Objetos mistos,
objetos-sujeito. Tem, como nós, para nós, por nós, uma intimidade” (BACHELARD,
1978, p. 248). Doamos a nossa essência vital em forma de construção de uma ideia que é
projetada no objeto e inserida em seu imaginário, como um campo gravitacional que o
circunda, mantendo por uma união mútua de forças entre ideia e matéria onde um afeta o
outro, gerando a sua imagem virtual construída e suas diversas ressignificações. No
campo imaginal, diferente do campo magnético onde grandes massas possuem um campo
maior, as imagens são indiferentes a dimensões físicas no tecido imaginal. Dependendo
da força de sua ideia, os campos dos objetos próximos se fundem, formando um campo
de força imaginal maior que contamina o espaço. Nós seres, como agrupamento de
átomos também possuímos nosso campo imaginal de ideias, muito mais complexo e
enredado que o dos objetos. Mas a partir do encontro dos campos imaginais, é impossível
dizer onde começa um e termina o do outro.
Fig. 4 – Vista Parcial da casatelier. Gustavo Reginato. 2014
O campo imaginal dos objetos pode ser acessado a partir da mediação, e deixamos
de lado a ideia de que mediação só acontece em espaços expositivos. Encontros são
mediadores, e eles são imprevisíveis por mais que planejados. É o encontro, a afecção e
a ideia afeto que constituem a mediação. Ela abre espaço para a reflexão e pode ocorrer
entre uma pessoa e uma obra, duas pessoas e uma obra, uma obra por uma pessoa para
um grupo de pessoas, entre uma pessoa e ela mesma ou uma e outra pessoa com outra
pessoa, uma pedra, ou uma formiga que carrega um pedaço de folha muito maior que seu
peso corporal, ou entre o sol e nosso planeta, na luz projetada por uma lente, na percepção
das imagens produzidas pelos sentidos e interpretadas pelo corpo, na relação deste texto
contigo. As coisas não existem se não construirmos uma ideia imagem para que elas
existam de fato. Os objetos que produzimos, recebemos, que adquirimos ou nos
apropriamos recebem de nós um campo imaginal que se funde ao imaginário. “Uma aura
em constante mutação” (SILVA, 2006, p.17). A poesia se manifesta na fala e nos gestos,
contamina o outro que se interessado se conecta e submerge na bacia de signos.
“Imaginário em que o homem torna-se atributo do mundo (virtual) de sua própria
representação, numa fascinante rede de correspondência pelas quais encontram-se os
valores estéticos” (VENTURELLI, 2004, p.13). Na composição de sua matéria, os
objetos e sujeitos com suas formas e ideias preenchem o espaço e nos contaminam com
sua energia, compondo o imaginário da casatelier Recebo Visitas.
“Quando a imagem é nova, o mundo é novo” (BACHELARD, 1978, p. 228).
Pode-se também reconhecer os homens pelas imagens que produz. Utilizo objetos como
dispositivos narradores, assim como o faço com a minha produção de imagens gráficas,
com a criação de objetos, livros e toda sua disposição no espaço. A imagem de um espaço
híbrido de sala branca e casatelier, onde cada visita usufrui do espaço a partir de sua
vontade própria, com sua leitura íntima expressa pelo corpo ou pela fala. É inegável que
o poder das imagens afeta aquele que submerge no espaço. “Chamaremos imagens das
coisas as afecções do corpo humano cujas ideias representam os corpos exteriores como
se estivéssemos presentes... e, quando o espírito contempla os corpos sob essa relação,
diremos que ele imagina (DELEUZE, 2002, p.55). E nesse caminhar repleto de encontros,
cada imagem criada traz presente em si toda carga dos encontros anteriores a ela. O seu
exercício de leitura que está acontecendo neste momento, felizmente está mantendo vivo
e abastecido na Bacia Semântica, o imaginário construído de Recebo Visitas. Para que
nossos afetos ecoem pela eternidade.
A mediação dentro dos espaços expositivos configura-se como uma experiência
que ativa a potência das imagens do espaço. A minha permanência durante todo o período
na sala expositiva onde fundei a casatelier, colocou-me em situação de espera sem
perspectivas. Sem a menor ciência do futuro, entreguei-me ao devir e Recebi Visitas
respeitando suas vontades de permanência, estive aberto a ouvir histórias daqueles que
queriam ser ouvidos. Os que gostam de contar histórias demoraram a deixar o espaço. A
partir dos encontros surgiram os afetos, que aumentaram a minha potência de agir ao
ponto de criar este texto e a Narrativa Imaginada. Um exercício de escrita contínua na
máquina de escrever, buscando nos confins da memória indícios da construção dos afetos,
transformando as experiências em poesia.
Meu estado de permanência levou-me a refletir na ocupação de espaços formais e
não formais para pensar a educação pela arte através da mediação, na busca de uma
construção de si pelo encontro com o outro, induzindo ao devaneio a partir de minhas
leituras de mundo, acompanhadas dos conhecimentos que as circundam. A mediação e
permanência no espaço expositivo afetaram-me de tal modo que construí suas
reverberações neste formato de escrita. Deixo aqui portanto minha impressão resultante
do contato entre seres e objetos. No papel de mediador este artigo lhe convida a conhecer
melhor a Narrativa Imaginada, onde a partir da minha invenção literária você poderá
investigar com mais detalhes o caminhar de Recebo Visitas em
http://issuu.com/gustavoreginato/docs/narrativa_imaginada
Referências:
BACHELARD, Gaston. A poética do Espaço, Coleção Os Pensadores. São Paulo, Abril
Cultural,1978.
_______. A chama de uma vela. Rio de Janeiro, Bertrand,1989.
BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política, Ensaios sobre a literatura e a
história da cultura. 3ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1987.
BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber da experiência.
Disponível em: http://educa.fcc.org.br/pdf/rbedu/n19/n19a03.pdf acesso em: 7/2/2015
CANTON, Kátia. Tempo e Memória. São Paulo, Martins Fontes Vozes. 1980.
DELEUZE, Gilles. Espinosa: filosofia Prática. São Paulo, Escuta. 2002.
REGINATO, Gustavo. Narrativa Imaginada Recebo Visitas. Disponível em:
http://issuu.com/gustavoreginato/docs/narrativa_imaginada Acesso em 20/04/2015.
SILVA, Juremir Machado. As Tecnologias do Imaginário. Porto Alegre, Sulina. 2006.
SPINOZA, Benedictus de. Ética. 3ª ed. Bilíngue. Belo Horizonte, Autêntica. 2010.
VENTURELLI, Suzete. Arte: espaço_tempo_imagem. Brasília; Editora Universidade
de Brasília. 2004.
VERGARA, Dilemas éticos do lugar da arte contemporânea. Acontecimentos
solidários de múltiplas vozes. VISUALIDADES, Goiânia v.11 n.1 p. 59-81, jan-jun
2013.
WUNENBURGER, Jean-Jaques. O Imaginário. São Paulo; Edições Loyola. 2007