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Português como Língua de Herança Discursos e percursos

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Português como Língua de Herança Discursos e percursos

Português como Língua de Herança Discursos e percursos

Katia de Abreu Chulata [Org.]

ISBN volume 978-88-6760-312-1

2015 © Pensa MultiMedia Editore s.r.l.73100 Lecce • Via Arturo Maria Caprioli, 8 • Tel. 0832.23043525038 Rovato (BS) • Via Cesare Cantù, 25 • Tel. 030.5310994

www.pensamultimedia.it • [email protected]

Conselho Científico

Roberval Teixeira e Silva Universidade de MacauNilma Dominique

MITMarli Quadros Leite

Universidade de São PauloGláucia V. Silva

University of Massachusetts-DartmouthMadalena Teixeira

Politécnico de Santarém, PortugalMaria João Marçalo Universidade de ÉvoraSaulo César Paulino

Universidade de São Paulo/Universidade SumaréRenata Barbosa Vicente

Universidade Federal Rural de PernambucoTang Sijuan

Universidade de Estudos Estrangeiros de Sichuan - SISUMaria Antónia Espadinha

Universidade São José - Macau

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SUMÁRIO

07 ApresentaçãoPercursos de identificação e reconhecimento do valor cog-nitivo e afetivo do PLH: implicações éticas, teóricas e me-todológicasKatia de Abreu Chulata

Primeira parteCaminhos discursivos na reflexão sobre PLH

17 I. Língua de Herança: por uma política pública justaMaria Célia Lima-Hernandes e Karina Viana Ciocchi-Sassi

35 II. As Línguas de Herança no contexto finlandês – o casodo português na área metropolitana de HelsínquiaJarna Piippo

59 III. A Língua de Herança na fronteira Portugal x EspanhaElisangela Baptista de Godoy Sartin

79 IV. Ensino e formação de professores de português comoLíngua de Herança (PLH): revisitando ideias, projetandoaçõesEdleise Mendes

101 V. A musicalização: um meio para o ensino e desenvolvi-mento do português como Língua de HerançaFelicia Jennings-Winterle

121 VI. Conteúdos de PLHIvian Destro

137 VII. Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália):constituição, autoaceitação e hibridismoKatia de Abreu Chulata

149 VIII. Uma contribuição da descrição gramatical para o en-sino do português brasileiro em contexto de herança: usosdo verbo ter em construção suporteVânia Cristina Casseb-Galvão

167 IX. À procura da Língua de HerançaMaria José Grosso

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Segunda parteIniciativas de promoção e manutenção do PLH

183 I. Línguas de Herança dos migrantes da Comunidade dosPaíses de Língua Portuguesa em Itália: projetos para umacontinuidade culturalMariagrazia Russo

201 II. O cuidado com a Língua de HerançaFelicia Jennings-Winterle

211 III. 1, 2, 3 Vamos Falar PortuguêsBeatriz Cariello

217 IV. Educação e cultura brasileira para falantes de herançana região de VA, MD e DCAna Lúcia Lico

225 V. Português como Língua de Herança. A experiência do IBEC em São Francisco, CAValeria Sasser

231 VI. O Ensino de Português como Língua de HerançaArlete Falkowski

239 Biodata

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A presente comunicação tem como objetivo descrever uma co-munidade linguística do português-brasileiro presente na cidadede Pescara (Itália), segundo uma abordagem etnográfica (GeorgesLapassade, 1975).

Identificou-se na cidade de Pescara (Itália) uma comunidadede fala de português-brasileiro. A pesquisa inicial tentava iden-tificar falantes de PLH e constatou a presença de mais de 150pessoas entre brasileiros e filhos de brasileiros, além de italianosque viveram mais de 10 anos no Brasil e continuam a utilizar oportuguês-brasileiro em determinados contextos. Nossa intençãoé compreender: a) em que contextos e em que modalidades o por-tuguês-brasileiro é utilizado por essa comunidade; b) que varie-dades de português-brasileiro são utilizadas por essa comunida-de; c) como é constituída essa comunidade do ponto de vista daescolarização em língua portuguesa e em língua italiana; d)quanto essa comunidade está disponível a aprender outras varie-dades do português-brasileiro e a utilizar a própria variedade co-mo elemento identificador de cultura(s).

Constatamos que os falantes de diferentes variedades do por-tuguês-brasileiro que frequentam o curso de Letras da Universi-tà di Pescara resistem à aprendizagem da chamada norma cultabrasileira, além disso, não têm tendência a se constituírem comocomunidade. Apresentaremos, pois, alguns resultados da análise

VII.COMUNIDADE DE FALA BRASILEIRA EM PESCARA (ITÁLIA): CONSTITUIÇÃO, AUTOACEITAÇÃO E HIBRIDISMO

Katia de Abreu Chulata

Università “G. D’Annunzio”, Chieti-Pescara, Itália

das respostas escritas dadas pelos entrevistados dessa comunida-de de fala do ponto de vista da hibridação linguística (Maria Jo-sé Coracini, 2007), da variação linguística (Marcos Bagno, 2013)e do valor da língua como patrimônio adquirido ou a ser preser-vado (Stuart Hall, 2011; Charles Melman, 1992).

Introdução

Atualmente, assistimos a um crescente interesse pelo chamadoPLH, principalmente no contexto social dos EUA, com necessi-dade de novas didáticas específicas para as comunidades que le-varam consigo o português brasileiro para outras terras e que en-sinam (ou não) essa língua aos filhos. Num recente “Curso deCapacitação para a Elaboração de Materiais: Ensino de PortuguêsLíngua de Herança/Português para crianças”, realizado em Lis-boa, de 19 a 23 de maio de 2014, e organizado pelo IILP- CPLP,foram produzidas 45 unidades didáticas para crianças e adoles-centes que possuem o português como língua de herança. Assim,pareceu-nos, naquele contexto que o PLH se mostrasse como âm-bito ligado a uma “comunidade imaginada” (Stuart Hall, 2011),pois o material didático produzido era concebido segundo uma“ideia”, um “modelo” imaginado de aluno: filhos de brasileirosque moram com suas famílias (ou não) no exterior. Tal necessida-de de produzir material didático específico para crianças e ado-lescentes brasileiros ou filhos de brasileiros que vivem no exteriornasce, naturalmente, de uma necessidade concreta, de uma de-manda “real”, não “imaginada”, mas a produção de materialacontece de maneira descontextualizada.

O que começamos a questionar, quando a reflexão se fez ne-cessária, foi se podemos considerar o PLH somente como línguade brasileiros e filhos de brasileiros que vivem no exterior. Ini-ciamos, assim, nossa pesquisa partindo do pressuposto que a de-nominação “língua de herança” era algo que pertencia ao legadodeixado pelos pais. Quando começamos e tecer nossa rede de con-

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tatos ligados ao português brasileiro, na cidade de Pescara, per-cebemos que “língua de herança” estava se transformado numconceito muito mais amplo. Aquela que tínhamos identificadocomo “comunidade de fala brasileira”, em Pescara, possuía umaconstituição complexa: brasileiros migrantes, filhos de brasileirosnascidos em território italiano, filhos de mãe ou pai brasileiro emãe ou pai italiano, filhos de brasileiros trazidos pelos pais ain-da pequenos, italianos que viveram muitos anos no Brasil e vol-taram para Pescara. Apresentou-se diante nós uma situação deafetividade linguística que ia além da ligação de sangue: italia-nos que tinham uma ligação com a língua do Brasil como algo“herdado”, como patrimônio cultural, cognitivo e afetivo que seconfigurava como patrimônio eletivo (Charles Melman, 1992),uma espécie de herança conquistada e sem nenhum vínculo denascimento no território brasileiro. Decorre dessa constatação de“complexidade” do campo de pesquisa a necessidade de um olhar“complexo” por parte do pesquisador, que não visse essa “comu-nidade” como homogênea, que percebesse o português brasileirofalado por essa comunidade na(s) sua(s) singularidade(s).

1. Em busca de respostas

Após ter percebido uma presença significativa de falantes de por-tuguês brasileiro na cidade de Pescara, tentamos entrar em con-tato com esses falantes através do pequeno grupo por nós conhe-cido. Procedemos, inicialmente, na elaboração de um questióna-rio de 5 perguntas a ser entregue a todos aqueles que o nosso pe-queno grupo conseguisse contactar.

O questionário distribuído foi o seguinte:

Responda às seguintes perguntas de maneira simples, fiqueà vontade! É um questionário informal. Muito obrigada porcolaborar com nossa pesquisa. As respostas são anônimas, co-loque somente se é homem ou mulher e quantos anos tem.

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VII. Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália)

1. Onde você nasceu e há quanto tempo vive em Pescara?2. Você fala sempre português ou italiano com os brasileiros ou

filhos de brasileiros que conhece, por quê?3. Você estuda ou lê em língua portuguesa, gosta mais de ler

em português ou italiano e por quê?4. Você escuta música brasileira e/ou vê filmes ou novelas bra-

sileiras, quais são? 5. Você gosta de se encontrar com outros brasileiros para falar

português e de que assuntos vocês falam, geralmente?

É preciso sublinhar que o questionário foi distribuído não so-mente entre aqueles que conhecíamos, mas tentamos fazer comque o questionário chegasse a outros, para ampliar nossa rede depesquisa, com a intenção de compreender a dimensão dessa co-munidade e como ela se constituía.

Essa fase da pesquisa apresentava-se com duplo significado: 1.perceber se tínhamos identificado a existência de uma verdadeira“comunidade de fala brasileira”, em Pescara, e não alguns migran-tes brasileiros, podendo, assim, 2. estabelecer um plano de pes-quisa a ser desenvolvido com a colaboração da Universidade e deÓrgãos Administrativos da Prefeitura, do Município e da Região.

Inicialmente, pareceu-nos tudo muito simples: entregar váriascópias dos questionários a todos aqueles que conhecíamos que,por sua vez, se encarregariam de entregá-lo a outros conhecidos eassim por diante. Alguns questionários foram enviados por e-mail, mas era nosso interesse que todos escrevessem as respostasà mão: teríamos, com isso, mais elementos de análise quanto à es-colarização, quanto ao domínio escrito da língua, etc.

No entanto, muitos daqueles que pareciam colaborativos,quando se tratou de fornecer notícias sobre a comunidade brasi-leira em Pescara, diante da necessidade de escrever, de responderpor escrito às perguntas elaboradas por uma professora, se senti-ram sob exame. Até mesmo nossos alunos da Universidade, ita-lianos filhos de brasileiros, brasileiros que vivem há vários anosem Pescara, italianos que aprenderam português porque viveramno Brasil, se recusaram a preencher o questionário.

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Muitos deles não responderam porque tiveram “medo”. Medode serem julgados, medo da avaliação do seu modo de escreverem português. Identificamos, também, “preconceito”. Preconcei-to em relação ao escopo do questionário, em relação à utilizaçãoque teríamos feito de suas respostas. Outro comportamento pre-conceituoso que detectamos foi em relação à pertença ao grupo.Notamos um verdadeiro preconceito entre os componentes dessa“comunidade de fala brasileira”. Universitários italianos ou bra-sileiros, pertencentes à “comunidade de fala brasileira” evitam ocontato com outros brasileiros que vivem em Pescara porque con-sideram estes como “diferentes”, como pessoas com as quais nãotêm nada em comum. Isso acontece, muitas vezes, por causa dabaixa escolarização desses “outros” brasileiros, ou por causa dospassatempos e modos de socialização deles: encontros em bares erestaurantes, muitas vezes de propriedade de brasileiros, para co-mer pratos típicos da cultura brasileira e para cantar e dançarmúsicas do Brasil. Algumas das pessoas com as quais falamos eque não responderam ao questionário usaram a expressão “não memisturo com eles”.

Assim, como vemos, obtivemos respostas mesmo daquelesque decidiram não responder às perguntas que formulamos: acei-tar-se como pertencente a um grupo que tem em comum o pa-trimônio linguístico brasileiro não é, afinal, algo simples e natu-ral. Essa (não) aceitação passa por filtros culturais, estigmas lin-guísticos e culturais, que desprezam os elementos comuns em de-trimento das diferenças estigmatizadas (Miriam Chnaiderman,2006). Portanto, a “autoaceitação” como parte integrante de umgrupo com características comuns, e é claro, constituído de sin-gularidades, não se realiza como consequência natural, passa poruma decisão de ordem de classe, de nível social, de estigma e deprestígio dos comportamentos sociais e linguísticos (MarcosBagno, 2008; 2013).

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VII. Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália)

2. Interpretando as letras

Como primeira leitura das respostas, mas também como primei-ra tentativa de “dar a palavra” àqueles falantes de português-bra-sileiro que vivem na cidade de Pescara, constatamos que das 12pessoas que responderam aos questionários 2 delas responderamem italiano.

Temos, também, o caso de duas mulheres que responderam aoquestionário, mas cujos filhos ser recusaram e de outra que, alémde responder ao próprio questionário, também escreveu as res-postas da filha.

Fizemos uma observação linguística superficial somente paratentar identificar alguma regularidade subjetiva na escrita dosentrevistados. Não foi nossa intenção censurar ou verificar “er-ros”, mas, a partir do que ali estava escrito, sistematizar para,num segundo momento, confrontando com outros parâmetros,como faixa etária, nível de escolarização no Brasil e na Itália, há-bitos de leitura, etc, proceder a alguma análise mais ampla quelevasse à possibilidade de ação. Entendemos por “ação” o desen-volvimento de atividades de formação e informação linguísticainstrumental, além de outros recursos que, dada a verificação daprimeira fase da pesquisa, possam propiciar o bem-estar social,preservar o patrimônio linguístico adquirido e enriquecer comoutras variedades linguísticas a “Comunidade de fala brasileira”,presente na cidade de Pescara.

A partir de um primeiro olhar sobre elementos linguísticos,verificamos, já na resposta à primeira pergunta, elementos de hi-bridismo linguístico: mistura de português e italiano por meiodo uso de preposições da língua italiana colocadas no texto emportuguês. Além disso, apresentam-se vários casos em que, ape-sar de estar presente o verbo “haver”, utilizado como tempo pas-sado, já na pergunta, os participantes responderam utilizando “a”ou “à” para indicar o tempo passado.

Continuando com a observação linguística, a questão da acen-tuação gráfica ficou bastante saliente: não há textos completa-

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mente não acentuados e, mesmo aqueles que não utilizam a acen-tuação gráfica segundo a norma, acentuam sistematicamente al-gumas palavras, como acontece, por exemplo, com as respostas deum mesmo entrevistado :

A2 – “Falo mais portugues mas algumas vezes em italiano por-que alguns filhos de brasileiros não falam portugues”

A3 – “Leio em portugues jornais on line e também livros, leiotambém em italiano mas gosto mesmo de ler em portu-gues porque é a minha lingua”

A4 – Vejo filmes e novelas e escuto muita musica brasileira: bos-sa nova, samba, axé, MBP, rock, pop e etc... um pouco detudo. Assisto também a novela em familia”

Como podemos observar e depreender, pois a sistematici-dade continua no mesmo entrevistado, a palavra “também” ésempre acentuada graficamente, enquanto a palavra “portugues”(que está presente várias vezes nas perguntas) nunca é acentuadagraficamente.

Caso, diametralmente, oposto vemos em:

B2 – “Falo italiano e tambem português depende da lingua queeu quero falar

B3 – “estudo em italiano porque vou a escola. Em casa não leioportuguês porque não lembro de muitos vocabulos”

B4 – “Escuto musica brasileira, por exemplo bossa nova e vejo anovela “em familia””

Aqui a palavra “também” e outras palavras nunca são acentua-das, ao passo que “português”, palavra repetida várias vezes nasperguntas, é sempre acentuada. De fato, “português” vai ser a úni-ca palavra acentuada graficamente no texto do entrevistado.

Essas observações, como já explicitado, podem se caracterizarcomo elementos iniciais de uma reflexão básica que se destine auma “ação” prática cujo interesse exclusivo pertence à “comuni-dade de fala brasileira” presente em Pescara. Pensamos que essa

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VII. Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália)

primeira fase de “compreensão” das singularidades, do ponto devista instrumental da língua, se apresenta como decisiva: umaaproximação que estigmatize as marcas de uma frágil alfabetiza-ção e que não deixe claro que os objetivos dessa aproximação nãosão sublinhar “erros”, mas verificar os usos para que o próprio fa-lante reflita e adquira consciência linguística, pode ser destinadaao fracasso.

3. Interpretando as falas

Para demonstrar a potencialidade do material recolhido, procede-remos com uma amostra das respostas dadas pelos entrevistados.

No recorte seguinte, somos informados sobre o fato que al-guns filhos de brasileiros não falam português:

“Falo mais portugues mas algumas vezes em italiano por-que alguns filhos de brasileiros não falam portugues”

Pudemos identificar alguns sentimentos em relação à língua,assim como a demonstração de inclusão na comunidade brasilei-ra. Os entrevistados usaram verbos com alto grau de afetividadeem relação ao fato de estar com outros brasileiros, com amigosbrasileiros, e utilizaram a segunda pessoa do plural para se ex-pressar, como lemos nos seguintes recortes:

“Adoro encontrar outros brasileiros [...] falamos tam-bém das dificuldades que encontramos aqui na Italia”

“Quando encontramos brasileiros ou filhos normalmen-te falamos Portugues, so qdo alguns filhos não falam e fa-lamos pq é a nossa lingua.”

Além desse sentimento de prazer e de inclusão, identificamosaqueles sentimentos/estereótipos da constituição da identidade(Maria José Coracini, 2007) como: “nossa língua”, “nossa pá-

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tria”, “nossa madre língua”, “nossas raízes”, como elementos aosquais estamos ligados para sempre:

“[...] gosto de encontrar com meus amigos brasilei-ros para falar de tudo um pouco, assim sinto-me maispróxima à minha pátria.”

“Eu leio pela internet em Português e gosto muito de fa-lar português e sempre nossa madre lingua.”

Outro elemento que se repetiu frequentemente nas respostasfornecidas foi o esquecimento da língua, das raízes, numa relaçãodireta da língua com o passado, com a proveniência:

“Prefiro falar português para não esquecer”

“Depois de ter aprendido bem a língua italiana, eu prefi-ro e gosto mais de ler em português, principalmente pa-ra não esquecer minha língua materna.”

“Falo muito português com brasileiros e com os meus fi-lhos também, porquê penso que as nossas raizes nãopodem ser esquecidas.”

A “leitura” desses elementos pode nos ajudar a melhor com-preender a constituição identitária e as necessidades dos gruposidentificados e analisados. Com certeza, um material tão rico deanálise, deve poder se converter em benefícios para essa “Comu-nidade” que identificamos, quer em temos de uma eficaz inclu-são no meio social da cidade em que se estabeleceram quer emtermos de “reconhecimento” e autoaceitação.

4. Conclusão

Consideramos importante a discussão e o estudo sobre as impli-cações e impactos que os indivíduos sofrem ao entrar em outro(s)sistema(s) simbólico(s) quando aprendem a falar língua(s) estran-

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VII. Comunidade de fala brasileira em Pescara (Itália)

geira(s), não só do ponto de vista da constituição da subjetivida-de, mas também do consequente impacto social, do potencial quepode ser recuperado dessa experiência (falar várias línguas). As-sim, nosso projeto sobre a “Comunidade de fala brasileira”, emPescara, que está em fase embrionária, tem como objetivo colo-car em relação as singularidades dentro de um grupo e não estu-dá-las como fim em si, o que nos interessa são as subjetividadesque se confrontam na coletividade.

Gostaríamos de concluir, utilizando a resposta de um dos en-trevistados:

“[...] quando se aprende um outro idioma tudo se tornamais fácil.”

Nós acrescentaríamos, que, talvez, tudo se torna mais com-plexo.

Referências

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BAGNO, M. (2013). Preconceito linguístico: o que é, como se faz. São Pau-lo: Edições Loyola.

BOUMARD, P.; LAPASSADE, G.; LOBROT, M. (2006). Le mythe del’identité. Paris: Anthropos.

CHNAIDERMAN, M. (2006). Língua(s) – Linguagem(ns) – Identi-dade(s) – Movimento(s): uma abordagem psicanalítica. In I. Signo-rini (Org.), Lingua(gem) e identidade – elementos para uma discussão nocampo aplicado (pp. 47-67). Campinas: Mercado de Letras.

CORACINI, M. J. (2007). A celebração do outro: arquivo, memória e iden-tidade. Línguas (materna e estrangeira), plurilingüismo e tradução. Cam-pinas, SP: Mercado das Letras.

DERRIDA, J. (2001). O monolinguismo do outro – Ou a prótese da origem.Trad. Fernada Bernardo. Porto: Campo das Letras.

HALL, S. (2011). A identidade cultural na pós-modernidade, trad. bras.

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Tomaz Tadeu da Silva e Guacira Lopes Louro. Rio de Janeiro:DP&A.

LAPASSADE, G. (1975). Groupes, organisations, institutions. Paris: Gau-thier-Villars.

MELMAN, C. (1992). Imigrantes: Incidências Subjetivas das Mudanças deLíngua e País, trad. bras. Rosane Pereira. São Paulo: Escuta.

MILNER, JC. (1987). O amor da língua. Tradução de Angela C. Jesui-no. Porto Alegre: Artes Médicas.

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