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O Evangelho Essênio da Paz

2012

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�OTA EDITORIAL:

HAILE I SELASSIE I JAH RASTAFARI!

Bendito o Amor de Deus Conosco e Seus ensinamentos que dão orientação a Eu&Eu para como seguir na caminhada terrena.

Está é a segunda edição do livro O Evangelho Essênio da Paz publicada pelo Eu&Eu Realidade Rasta. Parte da série Escrituras Sagradas, que tem o objetivo de divulgar e popularizar grandes escritos sagrados que por muito tempo ficaram ocultos e desconhecidos, que, porém, trazem imensuráveis contribuições para a compreensão da vida, dos ensinos de Cristo e das Leis divinas e naturais.

A primeira edição deste livro teve muita procura e grande repercussão, seu conteúdo fascinou os leitores e inspirou muitos a alterarem seu antigo modo de vida e buscarem uma purificação de seus templos-corpos através de novos hábitos de conduta.

É nesse intento que trazemos essa nova edição revisada e também incluindo alguns textos de apresentação dos manuscritos de seu primeiro tradutor do hebraico e aramaico para uma língua moderna, Edmond Bordeaux Székely, o mesmo que os encontrou guardados nas bibliotecas do vaticano, ocultos do público em geral. Como profundo estudioso desses manuscritos, consideramos que suas contribuições são de grande valor para o estudo das escrituras dos Essênios.

Para Eu&Eu, os textos que se seguem são de tamanha importância por trazerem o ensinamento vivo daqueles que por milhares de anos representaram o povo que opta por uma vida separada do mundo ordinário, buscando um contato mais profundo e natural com Deus, a Natureza, os seres divinos, ou anjos, e a irmandade, os Essênios que também foram conhecidos como Nazireus. Jesus e São João são os conhecidos praticantes e difusores dessas práticas e ensinos.

Nesta compilação de textos sagrados chamada de O Evangelho Essênio da Paz, Jesus traz aspectos fundamentais para a vivência Cristã que pouco ou nada são mencionados em outros escritos mais populares. Em especial o contato com o aspecto Omega-feminino de JAH RASTAFARI (Deus-Chefe Criador), a Mãe Terrena, e Suas leis naturais e universais. A importância da Alimentação VIVA, sem morte e sem cozimento, faz parte desses ensinos de harmonia com Nossa Mãe. É somente estando em

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perfeita harmonia e equilíbrio com nossa Mãe e suas leis, que poderemos então almejar conhecer nosso Pai.

Em anexo, trazemos alguns textos que falam da origem desses manuscritos e um breve resumo de quem são os Essênios.

Assim como ensina Jesus nesses manuscritos, Eu&Eu deseja que essas palavras escritas sejam experienciadas como Palavra Viva na prática das Eu&Eu vidas.

Luísa Benjamim – editora Eu&Eu Realidade Rasta

Projeto Omega Nyahbinghi:

omeganyahbinghi.blogspot.com

Contatos: [email protected]

Ilustração da capa: Alemayehu Bizuneh - artista etíope

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SUMÁRIO

LIVRO 1 – O Evangelho Essênio da Paz ................................................. 7 Prefácio ....................................................................................................... 9 O Evangelho Essênio da Paz ................................................................... 11 LIVRO 2 – Os Livros Desconhecidos dos Essênios .............................. 43 Prefácio ..................................................................................................... 45 Introdução ................................................................................................ 47 A Visão de Enoque ................................................................................... 51 O Livro Essênio de Moisés ...................................................................... 53 As Comunhões ......................................................................................... 57 Do Livro Essênio de Jesus ....................................................................... 67 Fragmentos Idênticos aos Manuscritos do Mar Morto ........................ 73 Do Livro Essênio do Mestre da Virtude ................................................ 77 Fragmentos do Evangelho Essênio de João ........................................... 81 Fragmentos do Evangelho Essênio do Apocalipse ................................ 83 LIVRO 3 – Manuscritos perdidos da Irmandade Essênia ................... 91 Prefácio ..................................................................................................... 93 Introdução ................................................................................................ 95 O Voto Sétuplo ......................................................................................... 99 O Culto Essênio ...................................................................................... 100 O Anjo do Sol ......................................................................................... 101 O Anjo da Água ..................................................................................... 103 O Anjo do Ar .......................................................................................... 105 O Anjo da Terra .................................................................................... 107 O Anjo da Vida ...................................................................................... 109 O Anjo da Alegria .................................................................................. 111 A Mãe Terrena ....................................................................................... 113 O Anjo do Poder .................................................................................... 115 O Anjo do Amor .................................................................................... 117

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O Anjo da Sabedoria ............................................................................. 118 O Anjo da Vida Eterna ......................................................................... 120 O Anjo do Trabalho .............................................................................. 123 O Anjo da Paz ........................................................................................ 125 O Pai Celestial ........................................................................................ 127 A Lei Sagrada ........................................................................................ 130 Os Anjos ................................................................................................. 132 A Irmandade .......................................................................................... 135 Árvores ................................................................................................... 138 Estrelas ................................................................................................... 140 A Lua ...................................................................................................... 142 Salmos de Louvor e Ação de Graças ................................................... 144 Lamentações .......................................................................................... 148 Profecias ................................................................................................. 151 LIVRO 4 – Os Ensinamentos dos Eleitos ........................................... 157 Prefácio .................................................................................................. 159 As Comunhões Essênias ....................................................................... 161 O Dom da Vida na Relva Humilde ...................................................... 169 A Paz Sétupla ......................................................................................... 177 As Correntes Sagradas .......................................................................... 187 A�EXOS ................................................................................................ 191 Os Essênios ............................................................................................ 193 A Doutrina do Deserto .......................................................................... 195

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LIVRO 1

O EVA�GELHO ESS�IO DA PAZ

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PREFÁCIO

Quase dois mil anos se passaram desde que o filho do Homem ensinasse o caminho, a verdade e a vida à humanidade. Levou saúde ao enfermo, sabedoria ao ignorante e felicidade àqueles que estavam na desgraça.

Suas palavras quase foram esquecidas, e não foram copiadas até algumas gerações depois de que foram pronunciadas. Foram mal entendidas, mal anotadas, centenas de vezes reescritas e centenas de vezes transformadas, mas mesmo assim sobreviveram quase dois mil anos.

E mesmo suas palavras, como as temos hoje em dia no novo testamento, foram terrivelmente mutiladas e deformadas, conquistaram meia humanidade e a totalidade da civilização ocidental. Este feito prova a eterna vitalidade das palavras do Mestre, e seu valor supremo e incomparável.

Por esta razão decidimos publicar as palavras de Jesus, puras e originais, traduzidas diretamente da língua aramaica falada por Jesus e seu amado discípulo João, quem, único entre os discípulos de Jesus, anotou com exatidão perfeita os ensinamentos pessoais de seu Mestre.

É uma grande responsabilidade anunciar o Novo Testamento atual, que é a base de todas as Igrejas Cristãs, como deformado e falsificado, porém não há mais alta religião que a verdade.

Este livro contém só um fragmento – digamos que uma oitava parte – dos manuscritos completos que se conservam em aramaico, na Biblioteca do Vaticano, e em antigo eslavo na Biblioteca Real dos Habsburgo, atualmente propriedade do governo austríaco.

Devemos a existência de ambas as versões aos monges nestorianos, aqueles que, antes do avanço das hordas de Gengis Khan, se viram forçados a fugir do Leste até o Oeste, trazendo consigo todas as suas antigas escrituras e ícones.

Os antigos textos em aramaico datam do primeiro século depois de Cristo, enquanto que a versão em eslavo é uma tradução literal daquele. A arqueologia ainda não pôde reconstruir exatamente como viajaram esses textos desde a Palestina até o interior da Ásia, chegando às mãos dos monges nestorianos.

Atualmente está em preparação uma edição contendo o texto completo com todas as referências e notas explicativas (arqueológicas,

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históricas e explicativas) necessárias. A parte publicada trata dos trabalhos curadores de Jesus. Emitimos primeiro essa parte antes que o resto, porque é a qual a humanidade sofredora tem hoje mais necessidade.

Nada teremos a adicionar a este texto. Ele fala por si próprio. O leitor que estude as páginas que se seguem com concentração, sentirá a vitalidade eterna e a poderosa evidência destas verdades profundas que a humanidade necessita hoje mais urgentemente do que nunca.

“E a verdade se demonstrará por si mesma”

Edmond Bordeaux Székely, Londres, 1937

(primeiro tradutor do Evangelho Essênio da Paz)

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O EVA�GELHO ESS�IO DA PAZ

E, então, muitos doentes e aleijados se aproximaram de Jesus,

perguntando-lhe: “Se conheces todas as coisas, dize-nos: Por que nós sofremos com estas penosas calamidades? Por que não estamos sadios como os demais homens? Mestre, cura-nos, para que nos também possamos tornar-nos fortes e não tenhamos que viver por mais tempo nosso sofrimento. Sabemos que tu tens o poder de curar todo tipo de enfermidade. Livra-nos de Satã e de todas as suas grandes aflições. Mestre, tem compaixão de nós”.

E Jesus respondeu: “Felizes sois vós que tendes fome da verdade, pois eu vos satisfarei com o pão da Sabedoria. Felizes sois vós que bateis, pois eu vos abrirei a porta da vida. Felizes sois vós que rechaçais o poder de Satã, pois eu vos conduzirei ao reino dos anjos de nossa Mãe, onde o poder de Satã não pode entrar”.

E eles perguntaram-lhe, pasmados: “Quem é nossa Mãe e quais são seus anjos? E onde se encontra seu reino?”

“Vossa Mãe está em vós, e vós n’Ela. Ela vos deu à luz e Ela vos dá vida. Foi Ela quem vos deu vosso corpo, e a Ela devolvereis algum dia. Felizes sereis vós quando chegardes a conhecê-la, assim como a Seu reino; se receberdes os anjos de vossa Mãe e cumprirdes Suas leis. Em verdade vos digo, quem fizer isso nunca conhecerá enfermidade. Pois o poder de nossa Mãe está acima de tudo. E destrói Satã e seu reino, e tem governo sobre todos os vossos corpos e todas as coisas vivas.”

“O sangue que corre em vós nasceu do sangue de nossa Mãe Terrena. Seu sangue cai das nuvens, brota do ventre da terra, murmura nos córregos das montanhas, flui amplamente nos rios das planícies, dorme nos lagos e se enfurece poderosamente nos mares tempestuosos.”

“O ar que respiramos nasceu do alento de nossa Mãe Terrena. Sua respiração é azul-celeste nas alturas dos céus, silva nos cumes das montanhas, sussurra entre as folhas do bosque, ondeia sobre os trigais, descansa nos vales profundos e abrasa no deserto.”

“A dureza de nossos ossos nasceu dos ossos de nossa Mãe Terrena, das rochas e das pedras. Erguem-se desnudas aos céus no alto das montanhas; são como gigantes que jazem adormecidos nos pés das montanhas, como ídolos erguidos no deserto, e estão ocultos nas profundidades da terra.”

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“A delicadeza de nossa carne nasceu da carne de nossa Mãe Terrena; cuja carne amadurece amarela e vermelha nos frutos das árvores, e nos alimenta nos sulcos dos campos.”

“Nossas entranhas nasceram das entranhas de nossa Mãe Terrena, e estão ocultas de nossos olhos como as profundidades invisíveis da terra.”

“A luz de nossos olhos e o ouvir de nossos ouvidos nascem ambos das cores e dos sons de nossa Mãe Terrena, que nos envolve como as ondas do mar a um peixe, como o ar em redemoinho a um pássaro.”

“Em verdade vos digo, o Homem é Filho da Mãe Terrena, e d’Ela o Filho do Homem recebeu todo o seu corpo, assim como o corpo do bebê recém-nascido nasce do ventre de sua mãe. Em verdade vos digo, vós sois um com a Mãe Terrena; Ela está em vós e vós, n’Ela. D’Ela nascestes, n’Ela viveis e a Ela de novo retornareis. Guardai, portanto, Suas leis, pois ninguém pode viver por muito tempo, nem ser feliz, ao menos que honre sua Mãe Terrena e cumpra Suas leis. Pois vossa respiração é a Sua respiração; vosso sangue, Seu sangue; vossos ossos, Seus ossos; vossa carne, Sua carne; vossas entranhas, Suas entranhas; vossos olhos e vossos ouvidos, Seus olhos e Seus ouvidos.”

“Em verdade vos digo, se deixardes de cumprir uma só de todas estas leis, se prejudicardes um só dos membros de vosso corpo, ficareis totalmente perdido em vossa dolorosa enfermidade e haverá choro e ranger de dentes. Eu vos digo que, a menos que seguis as leis de vossa Mãe, não podereis de nenhum modo escapar à morte. E aquele que é fiel às leis de sua Mãe é fiel à sua Mãe também. Ela curará todas as suas pragas e ele nunca ficará enfermo. Ela lhe dá longa vida e lhe protege de toda a aflição; do fogo, da água, da mordida das serpentes venenosas. Pois vossa Mãe vos deu à luz, conservai a vida em vós. Ela vos deu Seu corpo, e ninguém senão Ela vos cura. Feliz é aquele que ama sua Mãe e repousa sossegadamente em Seu seio. Porque vossa Mãe vos ama, mesmo quando vos afastais d’Ela. E quanto mais Ela vos amará, se regressardes de novo a Ela? Em verdade vos digo, muito grande é Seu amor, maior que a maior das montanhas e mais profundo que o mais fundo dos mares. E aqueles que amam sua Mãe Ela nunca os abandona. Como a galinha protege a seus pintinhos, como a leoa a seus filhotes, como a mãe a seu bebê recém-nascido, assim protege a Mãe Terrena ao Filho do Homem de todo perigo e de todo mal.”

“Pois em verdade vos digo, males e perigos inumeráveis estão à espreita dos Filhos dos Homens. Belzebu, príncipe de todos os demônios, a fonte de todo mal, está à espreita no corpo de todos os Filhos dos Homens.

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Ele é a morte, o senhor de toda peste, e, pondo uma vestidura agradável, ele tenta e seduz aos Filhos dos Homens. Promete riqueza e poder, e esplêndidos palácios, e adornos de ouro e prata, e numerosos servos. Promete glória e renome, luxúria e fornicação, embriaguez e gula, vida desenfreada, preguiça e ócio. E seduz a cada qual por aquilo pelo que mais se inclina seu coração. E no dia em que os Filhos dos Homens se tornarem escravos de todas essas vaidades e abominações, então, em retribuição, ele arrebata dos Filhos dos Homens tudo o que a Mãe Terrena lhes deu em abundância. Arrebata-lhes sua respiração, seu sangue, seus ossos, sua carne, suas entranhas, seus olhos e seus ouvidos. E a respiração do Filho do Homem torna-se curta e sufocada, penosa e mal-cheirosa, como a respiração das bestas imundas. E seu sangue torna-se espesso e fétido como a água dos pântanos; coagula-se e escurece como a noite da morte. E seus ossos tornam-se rígidos e nodosos; dissolvem-se por dentro, quebram-se em pedaços, como uma pedra caindo sobre uma rocha. E sua carne torna-se graxenta e aquosa; apodrece e putrefaz com feridas e furúnculos que são uma abominação.”

“E suas entranhas se enchem de uma imundície abominável, escorrendo rios de deterioração, e nelas habitam inúmeros vermes abomináveis. E seus olhos se escurecem, até que a noite escura os recobre; e seus ouvidos se fecham, como o silêncio da tumba. E, por último, o errante Filho do Homem perderá a vida. Pois não manteve as leis de sua Mãe, mas somou um pecado a outro. Por isso são arrebatados dele todos os dons da Mãe Terrena: a respiração, o sangue, os ossos, a carne, as entranhas, os olhos e os ouvidos e, depois de todo o mais, a vida com que a Mãe Terrena coroou seu corpo.”

“Porém, se o errante Filho do Homem se arrepende de seus pecados e os desfaz, e regressa à sua Mãe Terrena; e se ele cumpre as leis de sua Mãe Terrena e se liberta das garras de Satã, resistindo a suas tentações, então a Mãe Terrena recebe novamente a Seu Filho pecador com amor e lhe envia Seus anjos para que possam servi-lo. Em verdade vos digo, quando o Filho do Homem resiste a Satã que habita nele e não faz sua vontade, na mesma hora se encontram ali os anjos da Mãe para que possam servi-lo com todo seu poder e libertar por inteiro o Filho do Homem do poder de Satã.”

“Pois nenhum homem pode servir a dois senhores. Porque ou ele serve a Belzebu e a seus demônios ou serve à nossa Mãe Terrena e a seus anjos. Ou serve à morte ou serve à vida. Em verdade vos digo, felizes são

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aqueles que cumprem as leis da vida e não vagam pelos caminhos da morte. Pois neles as forças da vida se fortalecem, e eles escapam das pragas da morte”.

E todos aqueles que o rodeavam escutavam suas palavras com espanto, pois sua palavra tinha poder, e ele ensinava de maneira bem distinta da dos sacerdotes e escribas.

E, embora o sol já tivesse se posto, eles não se foram para suas casas. Sentaram-se ao redor de Jesus e lhe perguntaram: “Mestre, quais são essas leis da vida? Fica conosco um pouco mais e ensina-nos. Gostaríamos de escutar teus ensinamentos para que possamos ser curados e nos tornarmos corretos”.

E Jesus sentou-se no meio deles e disse: “Em verdade vos digo, ninguém pode ser feliz, ao menos que cumpra a Lei”.

E os demais lhe responderam: “Todos cumprimos as leis de Moisés, nosso legislador, tal como estão escritas nas sagradas escrituras”.

E Jesus respondeu: “Não busqueis a lei em vossas escrituras, porque a Lei é a vida, enquanto o escrito está morto. Em verdade vos digo, Moisés não recebeu de Deus suas leis por escrito, mas através da Palavra Viva. A Lei é a Palavra Viva do Deus Vivo, dada aos profetas vivos para os homens vivos. Em tudo o que há vida, está escrita a lei. Podeis encontrá-la na erva, na árvore, no rio, na montanha, nos pássaros do céu, nos peixes do mar; porém buscai principalmente em vós mesmos. Pois, em verdade vos digo, todas as coisas vivas encontram-se mais perto de Deus que a escritura que está desprovida de vida. Deus fez a vida e todas as coisas vivas para que pudessem, por meio da palavra eterna, ensinar as leis do Deus verdadeiro ao homem. Deus não escreveu as leis nas páginas dos livros, mas em vosso coração e em vosso espírito. Encontram-se em vossa respiração, em vosso sangue, em vossos ossos, em vossa carne, em vossas entranhas, em vossos olhos, em vossos ouvidos e em cada pequena parte de vosso corpo. Estão presentes no ar, na água, na terra, nas plantas, nos raios do sol, nas profundidades e nas alturas. Todas falam convosco para que possais compreender a língua e a vontade do Deus Vivo. Porém vós cerrais vossos olhos para não ver, e tapais vossos ouvidos para não ouvir. Em verdade vos digo, a escritura é a obra do homem, porém a Vida e todas as suas hostes são obra de nosso Deus. Por que não escutais as palavras de Deus que estão escritas em Suas obras? E por que estudais as escrituras mortas, que são a obra das mãos do homem?”

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“Como podemos ler as leis de Deus em algum lugar, a não ser nas escrituras? Onde estão escritas? Lê-as para nós de onde tu as vês, pois nós não conhecemos mais que as escrituras que herdamos de nossos antepassados. Conta-nos das leis de que falas, para que as ouvindo sejamos sanados e justificados”.

Jesus disse: “Vós não entendeis as palavras da Vida, porque estais na morte. A escuridão obscurece vossos olhos, e vossos ouvidos estão surdos. Pois vos digo, de nada vale que vos debruceis sobre as escrituras mortas se, por vossos atos, negais àquele que vos entregou as escrituras.

Em verdade vos digo, Deus e Suas leis não estão no que vós fazeis. Não estão na gula nem na embriaguez, nem em uma vida desregrada, nem na luxúria, nem na busca de riquezas, nem muito menos no ódio de vossos inimigos. Pois todas essas coisas estão longe do verdadeiro Deus e de Seus anjos. Mas todas essas coisas vêm do reino da escuridão e do senhor de todos os males. E todas essas coisas carregais em vós mesmos; e, por isso, a palavra e o poder de Deus não entram em vós, pois em vosso corpo e em vosso espírito habitam todos os tipos de males e abominações. Se desejais que a palavra e o poder do Deus Vivo entrem em vós, não profaneis vosso corpo e vosso espírito; pois o corpo é o templo do espírito, e o espírito é o templo de Deus. Purificai, portanto, o templo, para que o Senhor do templo possa habitar nele e ocupar um lugar digno d’Ele.”

“E afastai todas as tentações, que vêm de Satã, de vosso corpo e de vosso espírito, sob a sombra do céu de Deus.”

“Renovai-vos e jejuai. Pois em verdade vos digo, Satã e suas pragas somente podem ser expulsos por meio do jejum e da oração. Vai por vossa conta e jejuai a sós, sem mostrar vosso jejum a homem algum. O Deus Vivo o verá e grande será vossa recompensa. E jejuai até que Belzebu e todos os seus demônios vos abandonem, e todos os anjos de vossa Mãe Terrena venham e sirvam a vós. Pois em verdade vos digo, a não ser que jejueis, nunca estareis livres do poder de Satã nem de todas as enfermidades que vêm de Satã. Jejuai e orai fervorosamente, buscando o poder do Deus Vivo para vossa cura. Enquanto jejuardes, eviteis aos Filhos dos Homens e buscai os anjos de nossa Mãe Terrena, pois aquele que busca, encontrará.”

“Buscai o ar fresco da floresta e dos campos, e em meio deles encontrareis o Anjo do Ar. Tirai vossos calçados e vossas roupas e permiti que o Anjo do Ar abrace todo o vosso corpo. Respirai então longa e profundamente, para que o Anjo do Ar penetre dentro de vós. Em verdade vos digo, que o Anjo do Ar expulsará de vosso corpo toda imundície que o

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profane por fora e por dentro. E assim sairá de vós todas as coisas sujas e malcheirosas, como a fumaça do fogo que ascende em ondas e se perde no oceano do ar. Pois em verdade vos digo, sagrado é o Anjo do Ar, que limpa tudo o quanto está impuro e confere a todas as coisas fétidas um odor agradável. Nenhum homem pode chegar diante da face de Deus, se o Anjo do Ar não lhe deixar passar. Verdadeiramente, tudo deve nascer novamente pelo ar e pela verdade, pois vosso corpo respira o ar da Mãe Terrena, e vosso espírito respira a verdade do Pai Celestial.”

“Depois do Anjo do Ar, buscai o Anjo da Água. Retirai vossos calçados e vossas roupas e permiti que o Anjo da Água abrace todo vosso corpo. Lançai-vos por inteiro em seus braços envolventes, e, com a frequência que moveis o ar com vossa respiração, movei também a água com vosso corpo. Em verdade vos digo, o Anjo da Água expulsará de vosso corpo toda imundície que o profane por fora e por dentro. E todas as coisas sujas e malcheirosas fluirão para fora de vós, assim como as imundícies das vestimentas lavadas nos rios se vão e se perdem na correnteza do rio. Em verdade vos digo, sagrado é o Anjo da Água que limpa tudo o quanto está impuro, e confere a todas as coisas fétidas um odor agradável. Nenhum homem pode chegar diante da face de Deus, se o Anjo da Água não lhe deixar passar. Em verdade, tudo deve nascer novamente da água e da verdade, pois vosso corpo se banha no rio da vida terrena e vosso espírito se banha no rio da vida eterna. Pois recebeis vosso sangue de nossa Mãe Terrena e a verdade de nosso Pai Celestial.”

“Não penseis que é suficiente que o Anjo da Água vos abrace somente por fora. Em verdade vos digo, a imundície interna é muito maior que a externa. E aquele que se limpa por fora, permanecendo sujo em seu interior, é como as tumbas que são pintadas belamente por fora, mas que por dentro estão cheias de todo tipo de imundícies e abominações horríveis. Por isso, em verdade vos digo, permiti que o Anjo da Água vos batize também por dentro, para que possais vos libertar de todos os vossos antigos pecados, e para que internamente, da mesma forma, possais vos tornar tão puros quanto a espuma do rio brincando à luz do sol.”

“Buscai, portanto, uma grande cabaça com um talo do comprimento de um homem; retirai seu interior e enchei com a água do rio acalentada pelo sol. Pendurai em um galho de árvore e ajoelhai-vos no solo diante do Anjo da Água, e fazei com que o extremo do talo da cabaça penetre em vossas partes ocultas, para que a água flua através de vossos intestinos. Em seguida, permanecei de joelhos no solo diante do Anjo da Água e orai ao

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Deus Vivo para que Ele perdoe todos os vossos antigos pecados, e orai ao Anjo da Água para que ele liberte vosso corpo de toda imundície e enfermidade. Deixai então que a água saia de vosso corpo, para que possa levar para fora de vosso interior todas as coisas sujas e fétidas de Satã. E vereis com vossos olhos e cheirareis com vossos narizes todas as abominações e imundícies que profanavam o templo do vosso corpo; bem como todos os pecados que residiam em vosso corpo, atormentando-vos com todo tipo de dores. Em verdade vos digo, o batismo com água vos liberta de tudo isto. Renovai vosso batismo com água em cada dia de vosso jejum, até o dia em que vejais que a água que expulsais de vós é tão pura quanto a espuma do rio. Entregai então vosso corpo ao rio que corre e, estando nos braços do Anjo da Água, dai graças ao Deus Vivo por vos haver libertado de vossos pecados. E este batismo sagrado pelo Anjo da Água é o renascimento para a nova vida. Pois vossos olhos verão, a partir de então, e vossos ouvidos escutarão. Não pequeis mais, portanto, após o vosso batismo, para que os anjos do ar e da água possam eternamente habitar em vós e servir-vos para sempre.”

“E se depois ainda permanecer dentro de vós algo de vossos antigos pecados e imundícies, buscai ao Anjo da Luz do Sol. Retirai vossos calçados e vossas roupas e permiti que o Anjo da Luz do Sol abrace todo vosso corpo. Respirai então longa e profundamente para que o Anjo da Luz do Sol vos penetre. E o Anjo da Luz do Sol expulsará de vosso corpo todas as coisas fétidas e sujas que o profanem por fora e por dentro. E todas as coisas impuras e malcheirosas sairão de vós, assim como a escuridão da noite se dissipa diante do brilho do sol nascente. Pois, em verdade vos digo, sagrado é o Anjo da Luz do Sol, quem limpa toda imundície e confere a todas as coisas fétidas um odor agradável. Ninguém pode chegar diante da face de Deus, se o Anjo da Luz do Sol não lhe deixar passar. Em verdade, tudo deve nascer novamente do sol e da verdade, pois vosso corpo se aquece na luz do sol da Mãe Terrena, e vosso espírito se aquece na luz do sol da verdade do Pai Celestial.”

“Os anjos do ar, da água e da luz do sol são irmãos. Eles foram entregues ao Filho do Homem para que possam servi-lo e para que ele possa ir sempre de um a outro.”

“Sagrado, da mesma forma, é o abraço deles. Eles são filhos indivisíveis da Mãe Terrena, assim não separeis aqueles a quem a terra e o céu uniram. Deixai que esses três anjos irmãos vos envolvam todos os dias e habitem convosco durante todo vosso jejum.”

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“Pois em verdade vos digo, o poder dos demônios, todos os pecados e as imundícies partirão rapidamente do corpo que é abraçado por estes três anjos. Como os ladrões fogem de uma casa abandonada ao chegar o senhor da casa, um pela porta, outro pela janela e o terceiro pelo telhado, cada um onde se encontra e por onde pode, da mesma forma, fugirão de vossos corpos todos os demônios do mal, todos os antigos pecados e todas as imundícies e as enfermidades que profanavam o templo de vossos corpos. Quando os anjos da Mãe Terrena entrarem em vossos corpos, de modo que os senhores do templo tomem posse novamente dele, então partirão rapidamente todos os maus odores através de vossa respiração e de vossa pele, e as águas corrompidas através de vossa boca, de vossa pele e de vossas partes ocultas e íntimas. E todas essas coisas vereis com vossos olhos, cheirareis com vossos narizes e tocareis com vossas mãos. E quando todos os pecados e as imundícies tiverem abandonado vosso corpo, vosso sangue se tornará tão puro quanto o sangue de nossa Mãe Terrena e quanto a espuma do rio brincando à luz do sol. E vosso alento se tornará tão puro quanto o alento das flores perfumadas; vossa carne, tão pura quanto a carne dos frutos corando sobre as folhas das árvores; a luz de vossos olhos, tão clara e luminosa quanto o brilho do sol que resplandece sobre o céu azul. E então todos os anjos da Mãe Terrena vos servirão. E vossa respiração, vosso sangue e vossa carne serão um com a respiração, com o sangue e com a carne da Mãe Terrena, para que vosso espírito também possa se tornar um com o espírito de vosso Pai Celestial. Pois, em verdade, ninguém pode alcançar o Pai Celestial a não ser através da Mãe Terrena. Assim como um bebê recém-nascido não pode entender os ensinamentos de seu pai até que sua mãe o tenha amamentado, banhado, cuidado, posto para dormir e alimentado. Enquanto a criança ainda é pequena, seu lugar é junto à sua mãe e a ela deve obedecer. Quando a criança já está crescida, seu pai a leva para trabalhar ao seu lado no campo, e a criança regressa para junto de sua mãe somente quando chega a hora do jantar e da ceia. E então seu pai a instrui, para que possa se tornar hábil nas obras de seu pai. E quando o pai vê que seu filho entende seu ensinamento e faz bem seu trabalho, lhe dá todas as suas posses, para que elas pertençam a seu amado filho e para que o filho continue a obra de seu pai. Em verdade vos digo, feliz é o filho que aceita o conselho de sua mãe e segue por ele. E cem vezes mais feliz é o filho que aceita e segue também pelo conselho de seu pai, pois vos foi dito: ‘Honra teu pai e tua mãe, para que teus dias possam ser longos por esta terra’. Mas eu vos digo, Filhos do Homem: Honrai vossa Mãe Terrena e

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mantende todas as Suas leis, para que vossos dias sejam longos nesta terra, e honrai vosso Pai Celestial, para que a Vida Eterna seja vossa nos céus. Pois o Pai Celestial é uma centena de vezes maior do que todos os pais pela semente e pelo sangue, e maior é a Mãe Terrena do que todas as mães pelo corpo. E mais querido é o Filho do Homem aos olhos de seu Pai Celestial e de sua Mãe Terrena do que o são os filhos aos olhos de seus pais pela semente e pelo sangue e de suas mães pelo corpo. E mais sábias são as palavras e as leis de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena que as palavras e a vontade de todos os pais pela semente e pelo sangue, e de todas as mães pelo corpo. E de maior valor também é a herança de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena, o reino perpétuo da vida eterna e celestial, do que todas as heranças de vossos pais pela semente e pelo sangue, e de vossas mães pelo corpo.”

“E vossos verdadeiros irmãos são todos aqueles que fazem a vontade de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena, e não vossos irmãos pelo sangue. Em verdade vos digo que vossos verdadeiros irmãos na vontade do Pai Celestial e da Mãe Terrena vos amarão um milhão de vezes mais que vossos irmãos pelo sangue. Pois desde os dias de Caim e Abel, quando os irmãos pelo sangue transgrediram a vontade de Deus, não existe uma verdadeira irmandade de sangue. E os irmãos agem entre si como estranhos. Por isso eu vos digo, amai vossos verdadeiros irmãos na vontade de Deus um milhão de vezes mais que vossos irmãos pelo sangue.”

POIS VOSSO PAI CELESTIAL É AMOR. POIS VOSSA MÃE TERRENA É AMOR. POIS O FILHO DO HOMEM É AMOR.

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“É pelo amor que o Pai Celestial, a Mãe Terrena e o Filho do Homem se tornam um. Pois o espírito do Filho do Homem foi criado do espírito do Pai Celestial, e seu corpo do corpo da Mãe Terrena. Tornai-vos, portanto, perfeitos como perfeitos são o espírito do vosso Pai Celestial e o corpo de vossa Mãe Terrena. E assim amai vosso Pai Celestial, como Ele ama vosso espírito. E assim amai vossa Mãe Terrena, como Ela ama vosso corpo. E assim amai vossos verdadeiros irmãos, como vosso Pai Celestial e vossa Mãe Terrena os amam. E então vosso Pai Celestial vos dará Seu

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espírito santo, e vossa Mãe Terrena vos dará Seu corpo santo. E então os Filhos dos Homens, como verdadeiros irmãos, darão amor uns aos outros, o amor que receberam de seu Pai Celestial e de sua Mãe Terrena; e todos eles se tornarão consoladores uns dos outros. E então desaparecerá da terra todo mal e toda tristeza, e haverá amor e alegria sobre a terra. E então a terra será como os céus, e virá o reino de Deus. E então virá o Filho do Homem em toda sua glória, para herdar o reino de Deus. E os Filhos dos Homens dividirão sua herança divina, o reino de Deus. Pois os Filhos dos Homens vivem no Pai Celestial e na Mãe Terrena, e o Pai Celestial e a Mãe Terrena vivem neles. E então com o reino de Deus virá o fim dos tempos. Pois o amor do Pai Celestial dá vida eterna a todos no reino de Deus. Pois o Amor é eterno. O Amor é mais forte que a morte.”

“Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tenho amor, serei como o som do bronze ou como o tinido de um címbalo. Ainda que diga o que há de vir e conheça todos os segredos e toda a sabedoria; e ainda que tenha uma fé tão forte como a tempestade que ergue as montanhas de seu lugar, se não tenho amor não sou nada. E ainda que doe todos os meus bens para alimentar ao pobre e lhe entregue todo o meu fogo que recebi de meu Pai, se não tenho amor, não sou de proveito algum. O amor é paciente e o amor é gentil. O amor não é invejoso, não faz mal, não conhece o orgulho; não é rude nem egoísta; tarda em irar-se, não imagina a malícia; não se regozija na injustiça, mas se deleita na justiça. O amor defende tudo, o amor crê em tudo, o amor espera tudo, o amor suporta tudo; nunca se esgota; mas, quanto às línguas, elas cessarão, e quanto ao conhecimento, ele desaparecerá. Pois nós possuímos a verdade em parte e o erro em parte, mas quando chegar a plenitude da perfeição o parcial será eliminado. Quando um homem era criança, falava como criança, entendia como criança, pensava como criança; mas quando se tornou homem abandonou as coisas de criança. Pois agora nós vemos através de um vidro e através de enigmas. Agora nós conhecemos parcialmente, mas quando chegarmos diante da face de Deus, não conheceremos em parte, visto que seremos ensinados por Ele. E agora restam três coisas: fé, esperança e amor; porém a maior delas é o amor.”

“E agora eu vos falo na língua viva do Deus Vivo, através do espírito santo de nosso Pai Celestial. Não há ainda nenhum dentre vós que possa entender tudo quanto digo. Quem vos explica as escrituras vos fala em uma língua morta de homens mortos, por meio de seu corpo enfermo e mortal. A ele, portanto, todos os homens podem entender, pois todos os homens estão

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enfermos e todos estão na morte. Nenhum vê a luz da vida. O cego guia aos cegos nos caminhos escuros dos pecados, das enfermidades e dos sofrimentos; e no final todos caem no abismo da morte.”

“Eu fui enviado a vós pelo Pai, para que eu pudesse fazer a luz da vida brilhar diante de vós. A luz ilumina a si mesma e a escuridão, mas a escuridão só conhece a si mesma e não conhece a luz. Eu ainda tenho muitas coisas para vos dizer, mas ainda não podeis suportá-las. Pois vossos olhos estão acostumados com a escuridão, e a plena Luz do Pai Celestial vos cegaria. Portanto, não podeis entender ainda o que vos falo acerca do Pai Celestial, quem me enviou a vós. Segui, portanto, primeiro somente as leis de vossa Mãe Terrena, de quem eu vos falei. E, quando os anjos d’Ela tiverem limpado e renovado vossos corpos e fortalecido vossos olhos, sereis capazes de suportar a luz ofuscante de vosso Pai Celestial. Quando fordes capazes de contemplar o brilho do sol do meio-dia com os olhos fixos, podereis então mirar a luz ofuscante de vosso Pai Celestial, a qual é um milhão de vezes mais brilhante que o brilho de um milhão de sóis. Mas como olharíeis para a luz ofuscante de vosso Pai Celestial, se não podeis suportar sequer a luz do sol radiante? Crede-me, o sol é como a chama de uma vela comparado ao sol da verdade do Pai Celestial. Tenhais, porém, fé, esperança e amor. Em verdade vos digo, não perdereis vossa recompensa. Se acreditais em minhas palavras e acreditais naquele que me enviou, que é o Senhor de tudo, e para quem todas as coisas são possíveis. Pois o que é impossível para os homens, é possível com Deus. Se acreditais nos anjos da Mãe Terrena e cumpris Suas leis, vossa fé vos sustentará e nunca conhecereis a enfermidade. Tende esperança também no amor de vosso Pai Celestial, pois quem n’Ele confia nunca se enganará, tampouco conhecerá a morte.”

“Amai-vos uns aos outros, pois Deus é amor, e assim Seus anjos saberão que ides pelos Seus caminhos. E então todos os anjos virão diante de vossas faces e vos servirão. E Satã partirá de vosso corpo com todo pecado, enfermidade e imundície. Ide, renunciai a vossos pecados; arrependei-vos; batizai-vos; para que possais nascer de novo e não mais pecar”.

Então Jesus se levantou. Porém os demais permaneceram sentados, pois cada homem sentia o poder de suas palavras. E então a lua cheia apareceu entre as nuvens e envolveu Jesus em seu resplendor. E fagulhas esvoaçavam pelos seus cabelos, e ele permaneceu entre eles sob a luz da lua, como se pairasse no ar. E ninguém se moveu, nem tampouco se ouviu a

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voz de ninguém. E ninguém sabia quanto tempo havia passado, pois o tempo parecia parado.

Então Jesus estendeu suas mãos até eles e disse: “A paz esteja convosco”. E assim ele partiu, como a brisa balança as folhas das árvores.

E ainda por um bom tempo o grupo permaneceu imóvel, e então despertaram do silêncio, um após o outro, como voltando de um longo sonho. Porém ninguém desejava ir, como se as palavras de quem lhes havia deixado soassem em seus ouvidos. E permaneceram sentados como se escutassem alguma música maravilhosa.

Mas um deles, finalmente, como se estivesse um pouco amedrontado, disse: “Como é bom estar aqui!”. Outro disse: “Oxalá esta noite fosse eterna!”. E outros: “Oxalá ele possa estar conosco sempre!”. “Verdadeiramente, ele é o mensageiro de Deus, pois plantou a esperança em nossos corações”. E ninguém queria voltar para casa, dizendo: “Eu não vou para casa, onde tudo é escuro e triste. Por que temos de ir para casa, onde ninguém nos ama?”

E deste modo falaram, pois eram quase todos eles pobres, coxos, cegos, aleijados, mendigos, sem-teto, desprezados em sua miséria, que só eram suportados por piedade nas casas em que encontravam alguns dias de refúgio. Até mesmo alguns que tinham tanto casa como família disseram: “Também nós ficaremos convosco.” Pois todos sentiam que as palavras daquele que se havia ido unia o pequeno grupo com fios invisíveis. E todos sentiam que haviam nascido de novo. Viam diante de si um mundo iluminado, mesmo quando a lua se ocultou nas nuvens. E nos corações de todos se abriram flores maravilhosas, de uma beleza admirável, as flores da alegria.

E quando os brilhantes raios de sol apareceram sobre o horizonte, todos sentiram que aquele era o sol da vinda do reino de Deus. E, com semblantes alegres, foram ao encontro dos anjos de Deus.

E muitos sujos e enfermos seguiram as palavras de Jesus e buscaram as margens dos riachos murmurantes. Tiraram seus calçados e suas vestimentas, jejuaram e entregaram seus corpos aos anjos do ar, da água e da luz do sol. E os anjos da Mãe Terrena lhes abraçaram e possuíram seus corpos por dentro e por fora. E todos eles viram todos os males, pecados e imundícies lhes abandonarem rapidamente.

E o alento de alguns se tornou tão fétido quanto o odor que soltam os intestinos, e alguns babavam e de suas partes internas surgia um vômito malcheiroso e sujo. Todas estas imundícies saíram por suas bocas. Em

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alguns pelo nariz, e em outros pelos olhos e pelos ouvidos. E muitos tinham um suor fétido e abominável saindo por todo seu corpo sobre toda sua pele. E em muitos de seus membros se abriram furúnculos grandes e quentes, dos quais saíam imundícies malcheirosas, e de seus corpos fluía urina em abundância; e em muitos sua urina foi-se toda e quase secou, tornando-se espessa como o mel das abelhas, a de outros era quase vermelha ou preta e quase tão dura como a areia dos rios. Muitos expeliam fétidos gases de seus intestinos, semelhantes ao alento dos demônios. E seu fedor tornou-se tão grande que ninguém podia suportá-lo.

E quando eles se batizaram, o Anjo da Água entrou em seus corpos, e deles saíram todas as abominações e imundícies de seus antigos pecados, e como um rio desce de uma montanha, transbordou de seus corpos grande quantidade de abominações duras e moles. E a terra onde caíram suas águas tornou-se contaminada, e o fedor tornou-se tão grande que ninguém podia permanecer ali. E os demônios abandonaram suas entranhas na forma de numerosas larvas que se retorciam no solo com ira impotente, depois que o Anjo da Água lhes expulsou das entranhas dos Filhos dos Homens. E então desceu sobre eles o poder do Anjo da Luz do Sol, e eles ali pereceram em suas contorções desesperadas, pisoteados pelos pés do Anjo da Luz do Sol. E todos estremeceram aterrorizados ao olhar todas aquelas abominações de Satã, das quais os anjos lhes haviam salvado. E deram graças a Deus, quem enviou Seus anjos para sua libertação.

E havia alguns atormentados por grandes dores, que não lhes abandonavam; e, não sabendo o que deveriam fazer, decidiram enviar alguns deles a Jesus, pois desejavam muito tê-lo entre eles.

E, quando dois estavam indo buscá-lo, viram o próprio Jesus aproximando-se pelas margens do rio. E seus corações se encheram de esperança e de alegria quando ouviram sua saudação: “A paz esteja convosco”. E muitas eram as perguntas que desejavam fazer-lhe, mas em sua surpresa não conseguiam começar, pois nada ocorria a suas mentes. Disse-lhes então Jesus: “Vim porque necessitais de mim”. E um gritou: “Mestre, te necessitamos de verdade. Vem e livra-nos de nossos sofrimentos.”

E Jesus lhes falou em parábolas: “Vós sois como o filho pródigo, que durante muitos anos comeu e bebeu, e passou seus dias no desenfreio e na luxúria com seus amigos. E toda semana, sem que seu pai soubesse, contraía novas dívidas, desperdiçando o quanto tinha em poucos dias. E os credores sempre lhe emprestavam, pois seu pai possuía grandes riquezas e sempre pagava pacientemente as dívidas de seu filho. E em vão admoestava

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seu filho com boas palavras, pois ele nunca escutava as advertências de seu pai, quem lhe suplicava em vão que abandonasse suas depravações sem fim, e que fosse a seus campos vigiar o trabalho de seus servos. E o filho sempre lhe prometia tudo, se ele pagasse suas antigas dívidas, mas no dia seguinte começava de novo. E durante mais de sete anos o filho continuou em sua vida desregrada. Porém, ao fim, seu pai perdeu a paciência e não pagou mais aos credores as dívidas de seu filho. ‘Se as sigo pagando sempre – disse – não acabarão os pecados de meu filho’. Então os credores, que se viram enganados, em sua ira, levaram o filho como escravo para que, com seu trabalho diário, pudesse lhes pagar o dinheiro que havia tomado de empréstimo. E então se acabou o comer, o beber e todos os excessos diários. Da manhã à noite molhava os campos com o suor de seu rosto, e todos os seus membros doíam com o trabalho desacostumado. E vivia de pão seco, não tendo mais que suas próprias lágrimas para umedecê-lo. Ao terceiro dia, havia sofrido tanto pelo calor e pelo cansaço que disse a seu mestre: ‘Não posso trabalhar mais, porque me doem todos os meus membros. Por quanto tempo mais me atormentarás?’ ‘Até o dia em que, pelo trabalho de tuas mãos, me tiver pago todas as dívidas, e, quando tiver passado sete anos, serás livre’. E o filho desesperado respondeu chorando: ‘Mas eu não posso suportar nem sequer sete dias! Têm piedade de mim, pois todos os meus membros doem e ardem’. E o malvado credor gritou: ‘Segue com teu trabalho! Se pudeste, durante sete anos, gastar teus dias e tuas noites no desenfreio, agora terás que trabalhar durante sete anos. Não te perdoarei até que me tenhas pago todas as tuas dívidas até o último dracma’. E o filho regressou desesperado aos campos, com seus membros atormentados pela dor, para seguir com seu trabalho. Já dificilmente podia ficar em pé devido ao cansaço e às dores, quando chegou o sétimo dia, o dia de Shabat, no qual ninguém trabalha no campo. O filho então reuniu o resto de suas forças e se arrastou até a casa de seu pai. E lançou-se aos pés de seu pai, e disse: ‘Pai, crê-me pela última vez e perdoa todas as minhas ofensas contra ti. Juro-te que nunca mais voltarei a viver desenfreadamente, e que serei teu filho obediente em tudo. Liberta-me das mãos de meu opressor. Pai, olha para mim e para meus membros enfermos e não endureças teu coração’. Então brotaram lágrimas dos olhos de seu pai, que tomou seu filho nos braços, e disse: ‘Alegremo-nos, porque hoje me foi dada uma grande alegria, pois reencontrei meu amado filho que estava perdido’. E vestiu-lhe com as melhores roupas, e durante todo o dia fizeram festa. E na manhã seguinte ele deu a seu filho uma bolsa de prata para que

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pagasse a seus credores tudo quanto lhes devia. E quando o filho regressou, lhe disse: ‘Meu filho, vês quão fácil é, com uma vida desenfreada, contrair dívidas por sete anos, porém difícil é pagá-las com o trabalho duro de sete anos’. ‘Pai, de fato é duro pagá-las mesmo por sete dias!’ E o pai lhe advertiu, dizendo-lhe: ‘Só por esta vez te foi permitido pagar tuas dívidas em sete dias ao invés de em sete anos, o resto te está perdoado. Porém, cuida de não contrair mais dívidas no tempo vindouro. Pois em verdade te digo que ninguém além de teu pai perdoa tuas dívidas, porque tu és seu filho. Pois, com todos os demais, tu terias que trabalhar duro por sete anos, como está ordenado em nossas leis’. ‘Meu pai, a partir de agora serei teu filho amado e obediente, e nunca mais contrairei dívidas, pois sei que pagá-las é duro’.”

“E ele foi ao campo de seu pai e todos os dias vigiava o trabalho dos lavradores de seu pai. E nunca tornava seu trabalho demasiado duro, pois recordava de seu próprio trabalho pesado. E passaram os anos e as possessões de seu pai aumentaram mais e mais sob suas mãos, pois a benção de seu pai estava sobre seu trabalho. E lentamente devolveu a seu pai dez vezes mais do que havia desperdiçado naqueles sete anos. E quando seu pai viu que o filho tratava bem seus servos e todas as suas possessões, lhe disse: ‘Meu filho, vejo que minhas possessões estão em boas mãos. Dou-te todo o meu ganho, minha casa, minhas terras e meus tesouros. Que tudo isso seja tua herança; continua aumentando-a para que eu tenha alegria em ti’.”

“E quando o filho recebeu a herança de seu pai, perdoou as dívidas de todos os seus devedores, que não podiam pagá-lo, pois não esquecera que sua dívida também havia sido perdoada, quando não pôde pagá-la. E Deus lhe abençoou com uma vida longa, com muitos filhos e com muitas riquezas, pois era amável com todos os seus servos e com todo seu gado.”

Jesus então se virou para o povo enfermo e disse: “Eu vos falo em parábolas para que entendais melhor a palavra de Deus. Os sete anos de comer e beber e de vida desenfreada são os pecados do passado. O malvado credor é Satã. As dívidas são as enfermidades. O trabalho duro são as dores. O filho pródigo sois vós mesmos. O pagamento das dívidas é a expulsão de vós dos demônios e das enfermidades e a cura de vosso corpo. A bolsa de prata recebida do pai é o poder libertador dos anjos. O pai é Deus. As possessões do pai são o céu e a terra. Os servos do pai são os anjos. O campo do pai é o mundo, que se converte no reino dos céus, se os Filhos do Homem trabalham junto aos anjos do Pai Celestial. Pois eu vos

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digo que é melhor que o filho obedeça a seu pai e vigie os servos de seu pai no campo, a converter-se em devedor do malvado credor, e trabalhar e suar na servidão para pagar suas dívidas. De igual modo, é melhor que os Filhos do Homem também obedeçam às leis de seu Pai Celestial e trabalhem com Seus anjos em Seu reino, a tornarem-se devedores de Satã, o senhor da morte, de todos os pecados e de todas as enfermidades, e a sofrerem com dores e suor até haverem reparado todos os seus pecados. Em verdade vos digo que grandes e muitos são os vossos pecados. Durante muitos anos haveis cedido às tentações de Satã. Haveis sido glutões, beberrões e prostitutos, e vossas antigas dívidas se multiplicaram. E agora deveis repará-las, e o pagamento é duro e difícil. Não vos impacienteis, no entanto, no terceiro dia, como o filho pródigo, mas esperai pacientemente pelo sétimo dia, que é santificado por Deus, e então ide com coração humilde e obediente diante da face de vosso Pai Celestial, para que Ele possa perdoar vossos pecados e todas as vossas antigas dívidas. Em verdade vos digo, vosso Pai Celestial vos ama infinitamente, pois Ele também vos permite pagar em sete dias as dívidas de sete anos. Daqueles que devem pecados e enfermidades de sete anos, mas pagam honestamente e perseveram até o sétimo dia, nosso Pai Celestial perdoará as dívidas de todos esses sete anos.”

“E se nós pecamos por sete vezes sete anos?” Perguntou um homem enfermo que sofria terrivelmente.

“Até mesmo nesse caso o Pai Celestial vos perdoa todas as vossas dívidas em sete vezes sete dias.”

“Felizes são aqueles que perseveram até o fim, pois os demônios de Satã escrevem todas as vossas más ações em um livro, o livro de vosso corpo e de vosso espírito. Em verdade vos digo, não há uma só ação pecaminosa, desde o início do mundo, que não esteja escrita diante de nosso Pai Celestial. Pois podeis escapar das leis feitas por reis, mas das leis de vosso Deus, dessas não pode escapar nenhum dos Filhos do Homem. E quando chegais diante da face de Deus, os demônios de Satã testemunham contra vós por meio de vossos atos, e Deus vê vossos pecados escritos no livro de vosso corpo e de vosso espírito, e entristece-se em Seu coração. Mas se vos arrependeis de vossos pecados e buscais aos anjos de Deus por meio do jejum e da oração, então, cada dia que seguis jejuando e orando, os anjos de Deus apagam um ano de vossas más ações do livro de vosso corpo e de vosso espírito. E quando a última página é apagada e limpa de todos os vossos pecados, vós estais diante da face de Deus, e Deus se alegra em Seu

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coração e perdoa todos os vossos pecados. Ele liberta-vos das garras de Satã e do sofrimento; faz-vos entrar em Sua casa e ordena que todos os Seus servos, todos os Seus anjos vos sirvam. Vida longa Ele vos dá, e nunca vereis enfermidade. E se, daí em diante, ao invés de pecar, passardes vossos dias fazendo boas ações, então os anjos de Deus escreverão todas as vossas boas ações no livro de vosso corpo e de vosso espírito. Em verdade vos digo, nenhuma ação boa permanece sem ser escrita diante de Deus, desde o início do mundo. Pois de vossos reis e de vossos governantes podeis esperar em vão por vossa recompensa, mas vossas boas ações nunca deixarão de ser recompensadas por Deus.”

“E quando vós chegais diante da face de Deus, Seus anjos testemunham a vosso favor por meio de vossas boas ações. E Deus vê vossas boas ações escritas em vossos corpos e em vossos espíritos, e se alegra em Seu coração. Ele bendiz vosso corpo e vosso espírito, e todas as vossas ações, e dá a vós por herança Seu reino Terreno e Celeste, para que nele possais ter vida eterna. Feliz é aquele que pode entrar no reino de Deus, pois nunca verá a morte.”

***

E um grande silêncio se fez após suas palavras. E aqueles que

estavam desanimados obtiveram nova força de suas palavras, e continuaram jejuando e orando. E aquele que falou primeiro exclamou: “Perseverarei até o sétimo dia”. E o segundo igualmente disse: “Eu também perseverarei até sete vezes o sétimo dia”.

Jesus lhes respondeu: “Felizes são aqueles que perseveram até o fim, pois eles herdarão a terra”.

E havia entre eles muitos enfermos atormentados por fortes dores, e eles arrastaram-se com dificuldade até os pés de Jesus. Pois já não podiam caminhar sobre seus pés. E disseram: “Mestre, a dor nos atormenta intensamente, diz-nos o que devemos fazer.” E mostraram a Jesus seus pés, cujos ossos estavam retorcidos e nodosos, e disseram: “Nem o Anjo do Ar, nem o da Água, nem o da Luz do Sol aliviaram nossas dores, apesar de termos nos batizado, jejuado e orado e seguido suas palavras em tudo”.

“Em verdade vos digo, vossos ossos sanarão. Não desanimeis, antes buscai a cura próximo ao curador dos ossos, o Anjo da Terra. Pois dela saíram vossos ossos, e para ela retornarão”.

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E apontou com sua mão para onde a corrente de água e o calor do sol haviam amaciado a terra dando um barro argiloso, à beira da água. “Afundai vossos pés na lama, para que o abraço do Anjo da Terra extraia de vossos ossos toda imundície e toda enfermidade. E vereis Satã e vossas dores fugirem do abraço do Anjo da Terra. E desaparecerão as nodosidades de vossos ossos, e eles serão endireitados, e todas as vossas dores desaparecerão”.

E os enfermos seguiram suas palavras, pois sabiam que seriam curados.

E havia também outros enfermos que sofriam muito com suas dores, todavia, persistiam em seu jejum. E suas forças se esgotavam, e um calor intenso lhes atormentava. E, quando se levantaram de seu leito para irem até Jesus, suas cabeças começaram a girar, como se um forte vento lhes sacudisse, e todas as vezes que tentavam se levantar, caíam de costas no chão.

Então, Jesus foi até eles e disse: “Sofreis porque Satã e suas enfermidades atormentam vossos corpos. Mas não temais, pois o poder deles sobre vós terminará logo. Pois Satã é como um vizinho colérico que entrou na casa de seu vizinho enquanto ele estava ausente, pretendendo levar seus bens para sua própria casa. Porém, alguém avisou ao outro que seu inimigo estava saqueando sua casa, e ele regressou a ela correndo. E quando o malvado vizinho, tendo reunido tudo o que lhe agradava, viu de longe o dono da casa retornando de pressa, ficou furioso, pois não poderia levar tudo, e se pôs a quebrar e estragar tudo o que havia ali, para destruir tudo. Assim, ainda que essas coisas não pudessem ser suas, o outro não teria nada. Porém o dono da casa chegou imediatamente, e antes que o malvado vizinho concluísse seu propósito, agarrou-o e expulsou-o da casa. Em verdade vos digo, de igual modo Satã entrou em vossos corpos, que são a morada de Deus. E ele tomou em seu poder tudo o que desejou roubar: vossa respiração, vosso sangue, vossos ossos, vossa carne, vossas entranhas, vossos olhos e vossos ouvidos. Mas por meio de vosso jejum e de vossa oração chamastes de volta o senhor de vosso corpo e seus anjos. E agora Satã vê que o verdadeiro senhor de vosso corpo retorna e que é o fim de seu poder. Por isso, em sua ira, ele reúne suas forças mais uma vez para destruir vossos corpos antes da chegada do senhor. É por isso que Satã vos atormenta tão intensamente, pois sente que seu fim chegou. Mas não deixeis que vossos corações se estremeçam, pois logo aparecerão os anjos de Deus para novamente ocupar suas moradas e consagrá-las como templos

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de Deus. E eles prenderão Satã e o expulsarão de vossos corpos, junto com todas as suas enfermidades e todas as suas imundícies. E felizes sereis vós, pois recebereis a recompensa de vossa perseverança, e nunca mais vereis enfermidade.”

E havia entre os enfermos um a quem Satã atormentava mais que a todos os outros. Seu corpo estava seco como um esqueleto e sua pele amarela como uma folha seca. Ele estava já tão fraco que nem sequer sobre suas mãos podia arrastar-se até Jesus, e só de longe pôde gritar-lhe: “Mestre, tem piedade de mim, pois nunca nenhum homem sofreu, nem sequer desde o princípio do mundo, como eu sofro. Eu sei que tu és de fato enviado por Deus, e sei que, se desejares, podes expulsar imediatamente Satã de meu corpo. Não obedecem os anjos de Deus ao mensageiro de Deus? Vem, Mestre, e expulsa agora Satã de mim, pois ele se enfurece com raiva em meu interior e doloroso é seu tormento.”

E Jesus lhe respondeu: “Satã te atormenta tanto porque já tens jejuado muitos dias, e não pagas a ele seu tributo. Não lhe alimentas com todas as abominações com as quais até agora profanavas o templo do teu espírito. Atormentas Satã com a fome, e por isso, em sua raiva, ele também te atormenta. Não temas, pois te digo, Satã será destruído antes que teu corpo seja destruído; pois enquanto jejuas e oras, os anjos de Deus protegem teu corpo para que o poder de Satã não te destrua. E a ira de Satã é impotente contra os anjos de Deus.”

Então vieram todos a Jesus, e com altos clamores lhe suplicaram, dizendo: “Mestre, tem compaixão dele, pois sofre mais que todos nós, e, se tu não expulsares rapidamente Satã de seu corpo, tememos que ele não sobreviva até amanhã”.

E Jesus lhes respondeu: “Grande é vossa fé. Seja segundo vossa fé, e logo vereis, face a face, o horrível semblante de Satã e o poder do Filho do Homem. Pois expulsarei de vós o poderoso Satã, por meio da força do inocente cordeiro de Deus, a mais fraca criatura do Senhor. Pois o Espírito Santo de Deus torna o mais fraco mais poderoso do que o mais forte.”

E Jesus ordenhou uma ovelha que estava pastando na relva. E pôs o leite sobre a areia iluminada pelo sol, dizendo: “Eis que o poder do Anjo da Água já entrou neste leite. E agora também entrará nele o poder do Anjo da Luz do Sol”.

E o leite aqueceu com a força do sol. “E agora os anjos da água e do sol se unirão ao Anjo do Ar”.

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E eis que o vapor do leite quente começou a levantar-se lentamente pelo ar.

“Vem e aspira pela boca a força dos anjos da água, da luz do sol e do ar, para que ela entre em teu corpo e expulse de ti Satã.”

E o enfermo a quem Satã atormentava aspirou, profundamente, para seu interior o vapor branqueado que ascendia.

“Satã abandonará imediatamente teu corpo, já que fazem três dias que ele não come e não encontra nenhum alimento dentro de ti. Ele sairá de ti para satisfazer sua fome com o leite quente e fumegante, pois esse alimento é de seu agrado. Ele cheirará seu aroma e não será capaz de resistir à fome que o atormenta já há três dias. Porém o Filho do Homem destruirá seu corpo para que não atormente a ninguém mais”.

Então o corpo do homem doente foi tomado por calafrios e ele ansiava como se fosse vomitar, porém não podia. E ele aspirava o ar, pois sua respiração estava esgotada. E desmaiou no colo de Jesus.

“Agora Satã abandona seu corpo. Vede-o.” E Jesus apontou para a boca aberta do homem enfermo.

E então todos eles viram com espanto e terror como Satã saia de sua boca, na forma de uma larva abominável, em direção ao leite fumegante. Então Jesus pegou duas pedras pontiagudas com suas mãos e esmagou a cabeça de Satã e extraiu do homem enfermo todo o corpo do monstro, que era quase tão comprido quanto o homem. Quando a larva abominável saiu da garganta do enfermo, ele recuperou imediatamente o fôlego, e então cessaram todas as suas dores. E os demais olharam com terror para o abominável corpo de Satã.

“Olha que besta abominável carregou e alimentou em teu corpo durante tantos anos. Expulsei-a de ti e matei-a para que nunca mais possa te atormentar. Dá graças a Deus por Seus anjos terem te libertado, e não peques mais, para que Satã não retorne a ti novamente. Deixa que teu corpo seja, de agora em diante, um templo dedicado a teu Deus.”

E todos eles ficaram abismados por suas palavras e seu poder. E disseram: “Mestre, verdadeiramente tu és o mensageiro de Deus, e conhece todos os segredos.”

“E vós – replicou Jesus – sejais verdadeiros Filhos de Deus, para que possais também participar de Seu poder e do conhecimento de todos os segredos. Pois a sabedoria e o poder somente podem provir do amor de Deus. Amai, pois, vosso Pai Celestial e vossa Mãe Terrena com todo vosso coração e com todo vosso espírito. E servi-os, para que Seus anjos possam

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servir-vos também. Deixai que todos os vossos atos sejam sacrificados a Deus. E não alimenteis a Satã, pois a retribuição do pecado é a morte. Mas com Deus está a recompensa do bem, Seu amor, que é o conhecimento e o poder da vida eterna”.

E todos eles ajoelharam-se para dar graças a Deus por Seu amor. E Jesus partiu, dizendo: “Virei novamente a todos aqueles que

persistirem na oração e no jejum até o sétimo dia. A paz esteja convosco.” E o homem enfermo de quem Jesus havia expulsado Satã se pôs em

pé, pois a força da vida havia regressado a ele. Respirou profundamente e seus olhos clarearam-se, pois toda dor havia lhe abandonado. E atirando-se ao solo onde Jesus havia estado, beijou a marca de seus pés e chorou.

***

E foi no leito de um rio que muitos enfermos jejuaram e oraram com

os anjos de Deus durante sete dias e sete noites. E grande foi sua recompensa, pois seguiram as palavras de Jesus. E com o passar do sétimo dia, todas as suas dores lhes abandonaram. E, quando o sol se levantou sobre o horizonte, viram que Jesus vinha até eles desde a montanha, com o esplendor do sol nascente ao redor de sua cabeça.

“A paz esteja convosco”. E eles não disseram nenhuma palavra, mas somente se prostraram

diante dele e tocaram a borda de sua vestimenta, em agradecimento por sua cura.

“Dai graças não a mim, mas à vossa Mãe Terrena, que vos enviou Seus anjos curadores. Ide, e não pequeis mais, para que possais nunca mais voltar a ver enfermidade. E deixai que os anjos curadores sejam vossos guardiões.”

Porém eles lhe responderam: “Para onde iremos, Mestre? Pois contigo estão as palavras da vida eterna. Diz-nos quais são os pecados que devemos evitar, para que nunca mais vejamos enfermidade”.

Jesus respondeu: “Assim seja segundo vossa fé”, e sentou-se no meio deles, dizendo:

“Foi dito àqueles dos tempos antigos: ‘Honra teu Pai Celestial e tua Mãe Terrena e cumpre Seus mandamentos, para que teus dias possam ser muitos sobre a terra’. E em seguida lhes foi dado este mandamento: ‘Não matarás’, pois a vida é dada a todos por Deus e o que Deus dá não deve o homem arrebatar. Pois em verdade vos digo, de uma mesma Mãe procede

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tudo o que vive sobre a terra. Portanto, quem mata, mata a seu irmão. E dele a Mãe Terrena se afastará e retirará Seus seios vivificadores. E serão evitados por Seus anjos, e Satã fará sua morada em seu corpo. E a carne dos animais mortos em seu corpo se converterá em sua própria tumba. Pois, em verdade vos digo, quem mata, mata a si próprio, e quem come a carne de animais mortos come do corpo da morte. Pois, em seu sangue, cada gota do sangue deles torna-se veneno; em sua respiração, a respiração deles torna-se mal cheiro; em sua carne, a carne deles torna-se furúnculos; em seus ossos, os ossos deles tornam-se gesso; em seus intestinos, os intestinos deles tornam-se decomposição; em seus olhos, os olhos deles tornam-se crostas; em seus ouvidos, os ouvidos deles tornam-se fonte de cera. E a morte deles será a sua morte. Pois somente no serviço de vosso Pai Celestial são vossas dívidas de sete anos perdoadas em sete dias. Enquanto que Satã não vos perdoa nada e deveis pagar-lhe tudo. ‘Olho por olho, dente por dente, mão por mão, pé por pé; queimadura por queimadura, ferida por ferida, vida por vida, morte por morte’. Pois a recompensa do pecado é a morte. Não mateis, nem comeis a carne de vossa inocente presa, para que não vos torneis escravos de Satã. Pois esse é o caminho dos sofrimentos e conduz à morte. Mas fazei a vontade de Deus, de modo que Seus anjos possam servir-vos no caminho da vida. Obedecei, portanto, as palavras de Deus: ‘Eis que vos dei toda a erva que produz semente, que há sobre a face de toda a terra, e toda a árvore em que há fruto que dá semente. Para vós, esse será o alimento. E a todo animal da terra, e a toda ave do céu, e a tudo o que se arrasta sobre a terra, em que há o alento da vida, dou toda erva verde como alimento. Também o leite de tudo que se move e que vive sobre a terra será alimento para vós, assim como dei a eles toda erva verde, dou a vós o seu leite. Mas a carne, e o sangue que a aviva não comereis. E, seguramente, eu requererei vosso sangue que jorra, vosso sangue no qual está a vossa alma; requererei todos os animais assassinados e as almas de todos os homens assassinados. Pois Eu, o Senhor teu Deus, sou um Deus forte e zeloso, e visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam; e mostro misericórdia aos milhares daqueles que me amam e cumprem meus mandamentos. Ama ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com toda tua alma e com toda tua força; este é o primeiro e maior mandamento’. E o segundo é este: ‘Ama a teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes.”

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E após essas palavras todos permaneceram em silêncio, exceto um que disse: “O que devo fazer, Mestre, se ver uma besta selvagem atacar meu irmão na floresta? Devo deixar meu irmão perecer ou matar a besta selvagem? Não transgrediria assim a lei?

E Jesus lhe respondeu: “Foi dito àqueles dos antigos tempos: ‘Todos os animais que se movem sobre a terra, todos os peixes do mar e todas as aves do ar estão entregues a teu poder’. Em verdade vos digo, de todas as criaturas que vivem sobre a terra, só o homem Deus criou à Sua imagem. Por isso, os animais são para o homem, e não o homem para os animais. Não transgredireis, portanto, a lei se matardes o animal selvagem para salvar a vida de vosso irmão. Pois em verdade vos digo, o homem é mais que o animal. Porém aquele que mata o animal sem causa alguma, sem que este lhe ataque, pelo desejo por matança, ou por sua carne, ou por sua pele, ou até mesmo por suas presas, malvada é a ação que comete, pois ele próprio se converte em um besta selvagem. Portanto seu fim há de ser também como o fim dos animais selvagens.”

E outro disse então: “Moisés, o maior de Israel, consentiu a nossos antepassados comer a carne de animais limpos, e proibiu somente a carne dos animais impuros. Por que, então, nos proíbes a carne de todos os animais? Que lei vem de Deus, a de Moisés ou a tua?”

E Jesus respondeu: “Deus entregou, através de Moisés, dez mandamentos a vossos antepassados. ‘Estes mandamentos são rigorosos’, disseram vossos antepassados e não puderam cumpri-los. Quando Moisés viu isto, teve compaixão de seu povo e não quis que perecessem. Em verdade vos digo, se vossos antepassados houvessem sido capazes de seguir os dez mandamentos de Deus, Moisés não haveria tido nunca necessidade de seus dez vezes dez mandamentos. Pois aquele cujos pés são fortes como a montanha de Sião, não precisa de muletas; enquanto que aquele cujos membros fraquejam, chegam mais longe com muletas que sem elas. E Moisés disse ao Senhor: ‘Meu coração está cheio de tristeza, pois meu povo se perderá. Pois eles não têm conhecimento, nem são capazes de compreender Teus mandamentos. São como filhos pequenos que não podem entender ainda as palavras de seu pai. Consente, Senhor, que eu lhes dê outras leis, para que eles não pereçam. Se eles não podem estar contigo, Senhor, que ao menos não estejam contra ti; para que possam se manter, e quando chegar o momento, e eles estiverem maduros para Tuas palavras, revela a eles Tuas leis’. Por isso Moisés quebrou as duas tábuas de pedra em que estavam escritos os dez mandamentos, e entregou a eles dez vezes

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dez em seu lugar. E destes dez vezes dez, os escribas e os fariseus fizeram cem vezes dez mandamentos. E colocaram insuportáveis cargas sobre vossos ombros, que eles próprios não aguentam. Pois quanto mais próximos estão os mandamentos de Deus, de um mínimo precisamos, e quanto mais longe eles estão de Deus, então precisamos de uma quantidade maior. Por isso inumeráveis são as leis dos escribas, sete as leis do Filho do Homem, três as dos anjos, e uma a de Deus.”

“Por isso somente vos ensino as leis que podeis compreender, para que possais vos tornar homens e seguir as sete leis do Filho do Homem. Então os anjos desconhecidos do Pai Celestial também vos revelarão suas leis, para que o Espírito Santo de Deus desça sobre vós e vos guie até sua lei”.

E todos estavam admirados com sua sabedoria, e pediram-lhe: “Continua, Mestre, e ensina-nos todas as leis que podemos receber.”

E Jesus continuou: “Deus ordenou a vossos antepassados: ‘Não matarás’. Porém, seus corações estavam endurecidos e eles mataram. Então Moisés desejou que pelo menos não matassem homens, e permitiu-lhes matarem animais. E então o coração de vossos antepassados se endureceu ainda mais, e mataram homens e animais por igual. Mas eu vos digo: Não mateis nem homens nem animais, nem mesmo o alimento que entra na vossa boca. Pois se comeis alimento vivo, o mesmo vos vivificará; porém, se matais vosso alimento, o alimento morto vos matará também. Pois a vida vem só da vida, e da morte vem sempre a morte. Porque tudo que mata vossos alimentos, mata também vossos corpos. E tudo que mata vossos corpos, mata também vossas almas. E vossos corpos se convertem no que são vossos alimentos, assim como vossos espíritos igualmente se convertem no que são vossos pensamentos. Portanto, não comais nada que o fogo, o gelo ou a água tenham destruído. Pois alimentos queimados, congelados ou apodrecidos queimarão, congelarão e apodrecerão também vosso corpo. Não sejais como o agricultor insensato que semeou em seu campo sementes cozidas, congeladas e podres, e chegou o outono e seus campos não deram nada. E grande foi sua aflição. Mas sede como aquele agricultor que semeou em seu campo semente viva, e cujo campo deu espigas de trigo vivas, pagando-lhe cem vezes mais pelas sementes que plantou. Pois em verdade vos digo, vivei somente do fogo da vida, e não prepareis vossos alimentos com o fogo da morte, que mata vossos alimentos, vossos corpos e também vossas almas”.

“Mestre, onde está o fogo da vida?”, perguntaram alguns deles.

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“Em vós, em vosso sangue e em vossos corpos”. “E o fogo da morte?”, perguntaram outros. “É o fogo que arde fora de vossos corpos, que é mais quente do que

vosso sangue. Com esse fogo da morte vós cozinhais vossos alimentos em vossas casas e em vossos campos. Em verdade vos digo, é o mesmo fogo que destrói vosso alimento e vossos corpos, assim como o fogo da maldade que devasta vossos pensamentos, devasta vossos espíritos. Pois vosso corpo é o que vós comeis, e vosso espírito é o que vós pensais. Não comais nada, portanto, que um fogo mais forte que o fogo da vida tenha matado. Portanto preparai e comei todas as frutas das árvores, todas as ervas dos campos e todo leite dos animais para o alimento. Pois tudo isto é nutrido e maturado pelo fogo da vida; todos são dádivas dos anjos de nossa Mãe Terrena. Mas não comais nada a que somente o fogo da morte tenha dado sabor, pois tal é de Satã”.

“Como cozinharíamos nosso pão de cada dia sem fogo, Mestre?”, perguntaram alguns com grande espanto.

“Deixai que os anjos de Deus preparem vosso pão. Umedecei vosso trigo, para que o Anjo da Água possa entrar nele. Colocai-o então ao ar, para que o Anjo do Ar lhe abrace também. E deixai-o da manhã à tarde sob o sol, para que o Anjo da Luz do Sol possa descer sobre ele. E a bênção dos três anjos fará com que o gérmen da vida brote em vosso trigo. Em seguida, triturai vossos grãos e fazei finas hóstias, como fizeram vossos antepassados quando partiram do Egito, a casa da escravidão. Ponde-as novamente sob o sol no seu aparecimento, e, quando ele estiver erguido no seu ponto mais alto no céu, virai-as do outro lado para que também possa ser envolvido pelo Anjo da Luz do Sol, e deixai-as assim até que o sol se ponha. Pois os anjos da água, do ar e da luz do sol nutriram e maturaram o trigo no campo, e eles devem igualmente preparar também vosso pão. E o mesmo sol que, com o fogo da vida, fez o trigo crescer e madurar deve cozer vosso pão com o mesmo fogo. Pois o fogo do sol dá vida ao trigo, ao pão e ao corpo. Porém o fogo da morte mata o trigo, o pão e o corpo. E os anjos vivos do Deus Vivo somente servem a homens vivos. Pois Deus é o Deus dos vivos e não deus dos mortos.”

Assim, comei sempre da mesa de Deus: os frutos das árvores, o grão das ervas do campo, o leite dos animais e o mel das abelhas. Pois tudo além disso é de Satã e conduz pelos caminhos do pecado e das enfermidades até a morte. No entanto, os alimentos que comeis da abundante mesa de Deus dão força e juventude a vosso corpo, e nunca vereis enfermidades. Pois a

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mesa de Deus alimentou Matusalém de outrora, e em verdade vos digo, se viveis como ele viveu, então o Deus dos vivos também vos dará uma longa vida sobre a terra como a dele.”

“Pois em verdade vos digo, o Deus dos vivos é mais rico que todos os ricos da terra, e Sua mesa abundante é mais rica que a mais rica mesa de festa de todos os ricos da terra. Comei, portanto, durante toda vossa vida na mesa de nossa Mãe Terrena, e nunca vereis escassez. E quando comerdes em Sua mesa, comei tudo tal como são encontrados na mesa da Mãe Terrena. Não cozinheis nem mistureis todas as coisas umas com as outras, para que vossos intestinos não se convertam em lodaçais fumegantes. Pois em verdade vos digo, isto é abominável aos olhos do Senhor.”

“E não sejais como o servo ganancioso que sempre comia a porção dos outros na mesa de seu senhor. Devorava tudo sozinho e misturava tudo em sua gula. E, vendo aquilo, seu senhor irou-se com ele e expulsou-o da mesa. E, quando todos acabaram suas refeições, mesclou tudo o que restara sobre a mesa e chamou o servo guloso, e disse-lhe: “Toma e come tudo isso junto aos porcos, pois teu lugar está entre eles, e não em minha mesa.”

“Cuidai, portanto, e não profaneis com todo tipo de abominações o templo de vossos corpos. Contentai-vos com dois ou três tipos de alimentos, que sempre encontrareis na mesa de nossa Mãe Terrena. E não desejeis devorar tudo quanto vedes ao vosso redor. Pois em verdade vos digo, se misturais em vossos corpos todo tipo de alimento, então a paz de vossos corpos cessará e se travará em vós uma guerra interminável. E vosso corpo se aniquilará como as casas e os reinos que, divididos entre si, causam sua própria destruição. Pois vosso Deus é o Deus da paz, e nunca ajuda a divisão. Não desperteis, portanto, contra vós a cólera de Deus, para que Ele não vos expulse de Sua mesa e não sejais compelidos a irdes à mesa de Satã, onde o fogo dos pecados, da enfermidade e da morte corromperá vossos corpos.”

“E quando comeis, não comais até estar cheio. Fugi das tentações de Satã e escutai a voz dos anjos de Deus. Pois Satã e seu poder vos tentarão sempre a comerdes mais e mais. Porém vivei pelo espírito e resisti aos desejos do corpo. E vosso jejum é sempre agradável aos olhos dos anjos de Deus. Assim prestai atenção ao quanto comestes quando vosso corpo estiver saciado, e comei sempre menos de um terço disso.”

“Que o peso de vosso alimento diário não seja menor que o de uma mina, porém vigiai que não exceda o de duas. Então vos servirão sempre os anjos de Deus, e nunca caireis na escravidão de Satã e de suas

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enfermidades. Não dificulteis as obras dos anjos em vosso corpo comendo muitas vezes ao dia. Pois em verdade vos digo, aquele que come mais de duas vezes no dia faz em si a obra de Satã. E os anjos de Deus abandonam seu corpo, e rapidamente Satã toma posse dele. Comei somente quando o sol estiver mais alto nos céus, e novamente quando ele se pôr. E nunca vereis enfermidade, pois desse modo encontrareis favor aos olhos do Senhor. E se desejais que os anjos de Deus se alegrem em vosso corpo, e que Satã vos evite de longe, sentai então uma só vez ao dia à mesa de Deus. E então muitos serão vossos dias sobre a terra, pois isto é agradável aos olhos do Senhor. Comei sempre em que a mesa de Deus for servida diante de vós, e comei sempre daquilo que encontrardes sobre a mesa de Deus. Pois em verdade vos digo, Deus sabe bem o que vosso corpo necessita e quando o necessita.”

“Com a chegada do mês de Iyar comei cevada; no mês de Sivan comei trigo, a mais perfeita dentre todas ervas que dão semente. E que vosso pão de cada dia seja feito de trigo, para que o Senhor cuide de vossos corpos. No mês de Tammuz comei a uva verde, para que vosso corpo possa reduzir-se e Satã possa abandoná-lo. No mês de Elul, colhei a uva para que seu suco possa vos servir como bebida. No mês de Marcheshvan, colhei a uva doce, seca e adoçada pelo Anjo da Luz do Sol, para que vossos corpos possam aumentar, para os anjos do Senhor habitarem neles. Deveis comer os figos ricos em sumo nos meses de Ab e de Shebat, e o que sobrar, deixai que o Anjo do Sol guarde-os para vós; comei-os com amêndoas em todos os meses em que as árvores não derem frutos. E as ervas que brotam depois da chuva, comei-as durante o mês de Thebet, para que vosso sangue possa ser purificado de todos os vossos pecados. E no mesmo mês começai também a beber o leite de vossos animais, pois para eles o Senhor deu as ervas dos campos, para todos os animais que dão leite, para que eles possam alimentar ao homem com seu leite. Pois em verdade vos digo, felizes são aqueles que comem somente na mesa de Deus, e abstêm-se de todas as abominações de Satã. Não comais alimentos impuros trazidos de países distantes, mas comei sempre daquilo que produzirem vossas árvores. Pois vosso Deus sabe bem o que é necessário para vós, e onde e quando. E Ele dá a todos os povos de todos os reinos os alimentos mais adequados para cada um deles. Não comais como os pagãos, que fartam-se com pressa, profanando seus corpos com todo tipo de abominações.”

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“Pois o poder dos anjos de Deus entra em vós junto com o alimento vivo que o Senhor vos proporciona de Sua mesa real. E, quando comeis, tende sobre vós o Anjo do Ar, e abaixo de vós o Anjo da Água. Respirai longa e profundamente em todas as vossas refeições para que o Anjo do Ar possa abençoar vosso alimento. E mastigai bem o vosso alimento com vossos dentes, para que se torne água e para que o Anjo da Água converta-o em sangue dentro de vosso corpo. E comei lentamente, como se fosse uma oração que fazeis ao Senhor. Pois em verdade vos digo, o poder de Deus entra em vós se comeis de tal maneira em Sua mesa. Mas Satã converte em um lodaçal malcheiroso o corpo daquele sobre cujos alimentos não descem os anjos do ar e da água. E o Senhor não lhe permite permanecer por mais tempo em Sua mesa. Pois a mesa do Senhor é um altar, e quem come na mesa de Deus está em um templo. Pois em verdade vos digo, o corpo do Filho do Homem converte-se em um templo, e suas entranhas em um altar, se ele cumpre os mandamentos de Deus. Portanto, não ponhais nada sobre o altar do Senhor quando vosso espírito estiver atormentado, nem penseis de alguém com ira no templo de Deus. E entrai sozinho no santuário do Senhor quando sentirdes em vós a chamada de Seus anjos, pois tudo o que comeis com tristeza, ou com ira, ou sem desejo, converte-se em veneno em vosso corpo. Pois o alento de Satã contamina tudo isso. Ponde com alegria vossas oferendas sobre o altar de vosso corpo, e deixai que todos os maus pensamentos afastem-se de vós quando receberdes em vosso corpo o poder de Deus procedente de Sua mesa. E nunca vos senteis à mesa de Deus antes que ele vos chame por meio do anjo do apetite.”

“Regozijai, portanto, sempre com os anjos de Deus em sua mesa real, pois isto é agradável ao coração do Senhor. E vossa vida será longa sobre a terra, pois o mais valioso dos servos de Deus vos servirá todos os dias: o Anjo da Alegria.”

“E não esqueçais que cada sétimo dia é santo e está consagrado a Deus. Durante seis dias alimentai vosso corpo com os dons da Mãe Terrena, mas no sétimo dia santificai vosso corpo para vosso Pai Celestial. No sétimo dia não comais nenhum alimento terreno, mas vivei somente das palavras de Deus, e permanecei o dia inteiro com os anjos do Senhor no reino do Pai Celestial. E no sétimo dia deixai que os anjos de Deus construam o reino dos céus em vosso corpo, como trabalhastes durante seis dias no reino da Mãe Terrena. E não deixeis que nenhum alimento dificulte a obra dos anjos em vosso corpo ao longo do sétimo dia. E Deus vos concederá vida longa sobre a terra, para que tenhais vida eterna no reino

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dos céus. Pois em verdade vos digo, se não verdes mais enfermidades sobre a terra, vivereis para sempre no reino dos céus.”

“E Deus vos enviará a cada manhã o Anjo da Luz do Sol para vos despertar de vosso sono. Obedecei, portanto, a chamada de vosso Pai Celestial e não permaneçais ociosos em vossos leitos, pois os anjos do ar e da água já vos aguardam afora. E trabalhai durante todo o dia com os anjos da Mãe Terrena para virdes a conhecer eles e suas obras cada vez mais e melhor. Mas quando o sol se pôr e vosso Pai Celestial vos enviar Seu anjo mais precioso, o do sono, ide descansar e permanecei toda a noite com o anjo do sono. E então vosso Pai Celestial vos enviará Seus anjos desconhecidos para que possam permanecer convosco ao longo da noite. E os anjos desconhecidos do Pai Celestial vos ensinarão muitas coisas sobre o reino de Deus, assim como os anjos que conheceis da Mãe Terrena vos instruem nos assuntos do Seu reino. Pois em verdade vos digo, vós sereis toda noite os convidados do reino de vosso Pai Celestial, se cumpris Seus mandamentos. E, quando vos despertardes na manhã seguinte, sentireis em vós o poder dos anjos desconhecidos. E vosso Pai Celestial os enviará a vós todas as noites, para que possam edificar vosso espírito, assim como todos os dias a Mãe Terrena envia Seus anjos, para que edifiquem vosso corpo. Pois em verdade vos digo, se durante o dia vossa Mãe Terrena acolhe-vos em Seus braços, e se durante a noite o Pai Celestial sopra em vós o Seu beijo, então os Filhos dos Homens se tornarão os Filhos de Deus.”

“Resisti de dia e de noite às tentações de Satã. Não vos desperteis à noite, nem durmais de dia, para que os anjos de Deus não vos abandonem.”

“Não tenha prazer em nenhuma bebida, nem em nenhum fumo de Satã, que vos desperte à noite e vos faça dormir de dia. Pois em verdade vos digo, todas as bebidas e fumos de Satã são abominações aos olhos de vosso Deus.”

“Não cometais prostituição, nem de dia nem de noite, pois a prostituição é como uma árvore cuja seiva escorre para fora do tronco. Árvore que secará antes do tempo e não chegará a dar fruto. Portanto, não vos prostituais para que Satã não seque vosso corpo e o Senhor não torne vossa semente infrutífera.”

“Evitai tudo que estiver demasiado quente ou demasiado frio. Pois é a vontade da vossa Mãe Terrena que nem o calor nem o frio danem vosso corpo. E não deixeis que vossos corpos fiquem mais quentes ou mais frios do que os anjos de Deus os aqueçam ou esfriem. E se cumpris os mandamentos da Mãe Terrena, então, toda a vez que vosso corpo se tornar demasiado

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quente, ela vos enviará o anjo do frescor para que vos refresque, e, toda a vez que vosso corpo se tornar demasiado frio, vos enviará o anjo do calor para vos aquecer novamente.”

“Segui o exemplo de todos os anjos do Pai Celestial e da Mãe Terrena, que trabalham dia e noite, sem cessar, nos reinos dos céus e da terra. Portanto, recebei também em vós mesmos o mais poderoso dos anjos de Deus, o Anjo dos Atos, e trabalhai todos juntos sobre o reino de Deus. Segui o exemplo da água corrente, do vento como ele sopra, do nascente e do poente do sol, do crescimento das plantas e das árvores, dos animais quando correm e saltam, do minguar e do crescer da lua, das estrelas em seu ir e vir; todos se movem e realizam suas tarefas. Porque tudo o que tem vida se move, e só o que está morto permanece imóvel. E Deus é o Deus dos vivos, e Satã é o dos mortos. Servi, portanto, ao Deus Vivo, para que o eterno movimento da vida vos sustente e para que escapeis da eterna imobilidade da morte. Trabalhai, portanto, sem cessar para edificar o reino de Deus, para que não sejais jogados no reino de Satã. Pois uma alegria eterna abunda no reino vivo de Deus, enquanto que uma quieta tristeza escurece o reino da morte de Satã. Sejais, pois, verdadeiros Filhos de vossa Mãe Terrena e de vosso Pai Celestial, para que não vos torneis escravos de Satã. E vossa Mãe Terrena e vosso Pai Celestial vos enviarão Seus anjos para que ensinem, amem e sirvam a vós. E Seus anjos escreverão os mandamentos de Deus em vossa cabeça, em vosso coração e em vossas mãos, para que possais conhecer, sentir e cumprir os mandamentos de Deus.”

“E orai todos os dias ao vosso Pai Celestial e à vossa Mãe Terrena para que vossa alma se torne tão perfeita quanto o espírito santo de vosso Pai Celestial é perfeito, e para que vosso corpo se torne tão perfeito quanto o corpo de vossa Mãe Terrena é perfeito. Pois se entendeis, sentis e cumpris os mandamentos, então tudo quanto pedirdes ao vosso Pai Celestial e à vossa Mãe Terrena vos será dado. Porque a sabedoria, o amor e o poder de Deus estão acima de tudo.”

“Orai, portanto, do seguinte modo ao vosso Pai Celestial: ‘Pai nosso que estás nos céus, santificado seja Teu nome. Venha o Teu reino. Tua vontade seja feita na terra assim como nos céus. O pão nosso de cada dia dá-nos hoje. E perdoa nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. E não nos deixes cair em tentação, mas livra-nos do mal, pois Teus são o reino, o poder e a glória para sempre. Amém’.”

“E orai do seguinte modo à vossa Mãe Terrena: ‘Mãe nossa que estás na terra, santificado seja Teu nome. Venha o Teu reino, e Tua vontade seja

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feita em nós assim como se faz em ti. Assim como Tu envias todos os dias os Teus anjos, envia-os também a nós. Perdoa os nossos pecados, pois nós expiamos todos os nossos pecados contra Ti. Não nos deixes cair em enfermidade, mas livra-nos do mal, pois Teus são a terra, o corpo e a saúde. Amém’.”

E todos eles rezaram junto a Jesus ao Pai Celestial e à Mãe Terrena. E depois Jesus lhes falou assim: “Assim como vossos corpos

renasceram por meio dos anjos da Mãe Terrena, vosso espírito pode, de igual modo, renascer por meio dos anjos do Pai Celestial. Tornai-vos, portanto, verdadeiros Filhos de vosso Pai e de vossa Mãe, e verdadeiros Irmãos dos Filhos dos Homens. Até agora estivestes em guerra com vosso Pai, com vossa Mãe e com vossos Irmãos. E tendes servido a Satã. A partir de hoje, vivei em paz com vosso Pai Celestial, com vossa Mãe Terrena e com vossos Irmãos, os Filhos dos Homens. E lutai unicamente contra Satã, para que ele não vos roube vossa paz. Eu dou a paz de vossa Mãe Terrena a vosso corpo, e a paz de vosso Pai Celestial a vosso espírito. E que a paz de ambos reine entre os Filhos dos Homens.”

“Vinde a mim todos que estejais cansados e que sofrais em conflitos e aflições! Pois minha paz vos fortalecerá e vos confortará. Porque minha paz está repleta de alegria. Por isso eu sempre vos cumprimento dessa forma: ‘A paz esteja convosco!’ Portanto, sempre vos cumprimentai uns aos outros assim, para que sobre vosso corpo possa descer a paz de vossa Mãe Terrena, e sobre vosso espírito, a paz de vosso Pai Celestial. E então encontrareis a paz também entre vós, pois o reino de Deus estará dentro de vós. E agora regressai a vossos Irmãos, com quem até agora estivestes em guerra, e dai a eles também vossa paz. Pois felizes são aqueles que lutam pela paz, pois encontrarão a paz de Deus. Ide, e não pequeis mais. E dai a todos a vossa paz, assim como eu vos dei a minha paz. Pois minha paz é de Deus. A paz esteja convosco”.

E lhes deixou. E sua paz desceu sobre eles; e com o Anjo do Amor em seus

corações, com a sabedoria da lei em suas cabeças e com o poder do renascimento em suas mãos, dispersaram-se entre os Filhos dos Homens, para levar a luz da paz àqueles que guerreavam na escuridão.

E separaram-se, desejando uns aos outros: “A paz esteja convosco”.

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LIVRO 2

OS LIVROS DESCO�HECIDOS DOS ESS�IOS

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PREFÁCIO Eu tenho que começar este prefácio com uma grande confissão: esta

não é minha primeira tradução do Livro Dois do Evangelho Essênio da Paz; é minha segunda. O primeiro esforço levou muitos anos para ser concluído, e foi composto cuidadosamente e literalmente, com centenas de referências cruzadas e muitas notas de rodapé filológicas e exegéticas. Quando ele foi finalizado, eu estava muito orgulhoso dele, e, com um entusiasmo de autossatisfação realizada, eu dei para meu amigo, Aldous Huxley, ler. Duas semanas depois, eu perguntei a ele o que ele achou de minha monumental tradução. “É muito, muito ruim”, ele respondeu. “É ainda pior do que os tratados mais chatos dos patrísticos e dos escolásticos, que ninguém lê hoje em dia. É, de fato, tão seco e desinteressante que eu não tenho vontade de ler o Livro Três”. Eu fiquei sem palavras, então ele continuou: “Você deveria reescrevê-lo e dar-lhe algo da vitalidade de seus outros livros – torná-lo literário, legível e atrativo para os leitores do século vinte. Eu tenho certeza de que os Essênios não falavam uns com os outros em notas de rodapé! No formato em que ele está agora, os únicos leitores que você terá para ele serão uns poucos dogmáticos em seminários teológicos, que parecem ter um prazer masoquista em ler esse tipo de coisa. No entanto”, ele acrescentou com um sorriso, “você pode achar algum valor nele como uma cura para a insônia; cada vez que eu tentava lê-lo, eu adormecia em poucos minutos. Você pode tentar vender alguns exemplares, dessa maneira, anunciando como um remédio novo de sono em revistas de saúde – sem produtos químicos nocivos, e tudo mais.”

Levei um bom tempo para me recuperar desta crítica. Deixei de lado o manuscrito por anos. Entretanto, eu continuei a receber milhares de cartas de muitos leitores, de todas as partes do mundo, da minha tradução do Livro Um do Evangelho Essênio da Paz, pedindo pelos segundo e terceiro livros prometidos no prefácio. Finalmente, eu tive a coragem de começar de novo. O passar dos anos tinha amadurecido a minha postura e eu vi as críticas do meu amigo sob uma nova luz. Reescrevi todo o manuscrito, tratando-o como literatura e poesia, confrontando com grandes problemas da vida, tanto antigos quanto contemporâneos. Não foi fácil ser fiel ao original, e, ao mesmo tempo, apresentar as verdades eternas de um modo atrativo para o homem do século vinte. E, no entanto, era de vital importância que eu tentasse; pois os Essênios, acima de todos os outros,

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esforçaram-se para conquistar os corações dos homens através da razão, e do poderoso e vívido exemplo de suas vidas.

Infelizmente, Aldous não está mais aqui para ler a minha segunda tradução. Eu tenho a sensação de que ele teria gostado (nem uma nota de rodapé!), mas eu terei que deixar o julgamento final para meus leitores. Se os Livros Dois e Três se tornarão tão populares como o Livro Um, meus esforços de muitos, muitos anos serão amplamente recompensados.

Edmond Bordeaux Székely

San Diego, Califórnia 1º de Novembro, 1974.

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I�TRODUÇÃO

Há três caminhos que levam à Verdade. O primeiro é o caminho da

consciência, o segundo é o da natureza, e o terceiro é o da experiência acumulada de gerações passadas, que nós recebemos em forma de grandes obras de todas as épocas. Desde tempos imemoriais, o homem e a humanidade têm seguido todos os três caminhos.

O primeiro caminho para a Verdade, o caminho da consciência, é o seguido pelos grandes místicos. Eles consideram que a consciência é a realidade mais imediata para nós e é a chave para o universo. É algo que está em nós, que somos nós. E, através das eras, os místicos têm descoberto que as leis da consciência humana contêm um aspecto não encontrado nas leis que governam o universo material.

Uma certa unidade dinâmica existe na nossa consciência, na qual um é ao mesmo tempo muitos. É possível para nós termos simultaneamente diferentes pensamentos, idéias, associações, imagens, memórias e intuições ocupando a nossa consciência em frações de minutos ou segundos, contudo toda esta multiplicidade ainda constituirá apenas uma única unidade dinâmica. Portanto, as leis da matemática, que são válidas para o universo material e são uma chave para sua compreensão, não serão válidas no campo da consciência, um domínio onde dois e dois não necessariamente são quatro. Os místicos também descobriram que as medições de tempo, espaço e peso, universalmente válidas na natureza e todo o universo material, não são aplicáveis à consciência, na qual, às vezes, alguns segundos parecem horas, ou horas parecem um minuto.

A nossa consciência não existe no espaço e, por conseguinte, não pode ser medida em termos espaciais. Tem seu próprio tempo, que é muito frequentemente atemporal, assim medições temporais não podem ser aplicadas à verdade alcançada por este caminho. Os grandes místicos descobriram que a consciência humana, além de ser a mais imediata e a mais profunda realidade para nós, é, ao mesmo tempo, nossa mais próxima fonte de energia, harmonia e conhecimento. O caminho para a Verdade, levando para e através da consciência, produziu os grandes ensinamentos da humanidade, as grandes intuições e as grandes obras-primas através das eras. Tal é o primeiro caminho ou fonte da Verdade, como as tradições Essênias compreendem e interpretam-na.

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Infelizmente, as magníficas intuições originais dos grandes mestres muitas vezes perdem sua vitalidade à medida que passam as gerações. Elas são muitas vezes modificadas, distorcidas e transformadas em dogmas, e muito frequentemente seus valores tornam-se petrificados em instituições e organizados em hierarquias. As intuições puras são sufocadas pelas areias do tempo e, eventualmente, tem que ser escavadas pelos buscadores da Verdade capazes de penetrar em sua essência.

Outro perigo é que as pessoas que seguem este caminho para a Verdade – o caminho da consciência – podem cair em exageros. Eles chegam a pensar que este é o único caminho para a Verdade e ignoram todos os outros. Muitas vezes, também, eles aplicam as leis específicas da consciência humana para o universo material, no qual elas não têm validade, e ignoram as leis próprias da última esfera. O místico muitas vezes cria para si um universo artificial, cada vez mais distante da realidade, até que ele termina por viver em uma torre de marfim, tendo perdido todo o contato com a realidade e a vida.

O segundo dos três caminhos é o caminho da natureza. Enquanto o primeiro caminho da consciência começa do interior e penetra daí para a totalidade das coisas, o segundo caminho toma o caminho oposto. Seu ponto de partida é o mundo externo. É o caminho do cientista, e foi seguido em todas as eras através da experiência e da experimentação, através da utilização de métodos indutivos e dedutivos.

O cientista, trabalhando com medidas quantitativas exatas, mede tudo no espaço e no tempo, e faz todas as correlações possíveis.

Com seu telescópio, ele penetra muito distante do espaço cósmico, para os vários sistemas solares e galácticos; através de análise de espectro, ele mede os componentes dos diversos planetas do espaço cósmico; e, pelo cálculo matemático, ele estabelece antecipadamente os movimentos dos corpos celestes. Aplicando a lei de causa e efeito, o cientista estabelece uma longa cadeia de causas e efeitos que o ajudam a explicar e medir o universo, assim como a vida.

Mas o cientista, como o místico, às vezes cai em exageros. Embora a ciência tenha transformado a vida da humanidade e criado grandes valores para o homem em todas as eras, não conseguiu dar inteira satisfação na solução dos problemas finais da existência, da vida e do universo. O cientista tem a longa cadeia de causas e efeitos seguras em todas as suas partículas, mas ele não tem idéia do que fazer com o final da cadeia. Ele não tem nenhum ponto sólido em que possa conectar o final da cadeia, e

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assim, pelo caminho da Verdade através da natureza e do universo material, ele é incapaz de responder às grandes e eternas questões a respeito do início e do fim de todas as coisas.

Os maiores cientistas reconhecem que, no campo metafísico, além da cadeia científica existe algo mais – continuando a partir do final dessa cadeia. No entanto, existem também os cientistas dogmáticos que negam qualquer outra abordagem da Verdade além da sua própria, que se recusam a atribuir realidade para os fatos e fenômenos que não se encaixem perfeitamente em suas próprias categorias e classificações.

O caminho para a Verdade através da natureza não é o dos cientistas dogmáticos, assim como o primeiro caminho não é o do místico unilateral. A natureza é um grande livro aberto, no qual tudo pode ser encontrado, se nós aprendermos a extrair dela a inspiração que ela tem dado para os grandes pensadores de todas as eras. Se nós aprendermos a sua linguagem, a natureza nos revelará todas as leis da vida e do universo.

É por esta razão que todos os grandes mestres da humanidade ao longo do tempo retiraram-se para a natureza: Zaratustra e Moisés para as montanhas, Buda para a floresta, Jesus e os Essênios para o deserto – e assim seguiram esse segundo caminho, bem como o da consciência. Os dois caminhos não se contradizem, mas se completam harmoniosamente com todo o conhecimento das leis de ambos. Foi dessa maneira que os grandes ensinadores alcançaram verdades maravilhosas e profundas que deram inspiração para milhões através de milhares de anos.

O terceiro caminho para a Verdade é a sabedoria, conhecimento e experiência adquiridos pelos grandes pensadores de todas as eras e transmitidos a nós na forma de grandes ensinamentos, os grandes livros ou escrituras sagrados, e as grandes obras-primas da literatura universal, que juntos formam o que hoje chamaríamos de cultura universal.

Em síntese, portanto, nossa abordagem da Verdade é uma tríplice em um: através da consciência, da natureza, e da cultura.

Nos capítulos seguintes, nós iremos seguir esse tríplice caminho que leva à Verdade e examinaremos e traduziremos alguns dos grandes escritos sagrados dos Essênios.

Existem diferentes maneiras de estudar estes grandes escritos. Uma maneira – a maneira de todos os teólogos e das Igrejas organizadas – é considerar cada texto literalmente. Esta é a maneira dogmática resultante de um longo processo de petrificação, pela qual verdades são inevitavelmente transformadas em dogmas.

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Quando o teólogo segue este caminho mais fácil, mas parcial, ele segue em contradições e complicações sem fim, e ele chega a uma conclusão tão longe da verdade como a do intérprete científico desses textos que os rejeitam como totalmente sem valor e sem validade. As abordagens do teólogo dogmático e do cientista exclusivista representam dois extremos.

Um terceiro erro é acreditar, como fazem certos simbolistas, que esses livros não têm mais do que um conteúdo simbólico e não são nada mais que parábolas. Com sua própria maneira de exagero estes simbolistas fazem milhares de interpretações diferentes e bastante contraditórias desses grandes textos.

O espírito das tradições Essênias é oposto a todas estas três formas de interpretar esses textos perenes e segue uma abordagem totalmente diferente.

O método Essênio de interpretação destes livros é, por um lado, colocá-los em relação harmoniosa com as leis da consciência humana e da natureza, e, por outro, considerar os fatos e as circunstâncias da época e do ambiente em que eles foram escritos. Essa abordagem também leva em conta o grau de evolução e compreensão das pessoas a quem o singular mestre dirigia a sua mensagem.

Visto que todos os grandes mestres tiveram que adaptar seus ensinos ao nível do seu público, eles consideravam necessário formular tanto um ensinamento exotérico como esotérico. A mensagem exotérica era compreensível para o povo em geral e era expressa em termos de várias regras, formas e rituais correspondentes às necessidades básicas do povo e da era em questão. Paralelamente a isso, os ensinamentos esotéricos sobreviveram através das eras em parte como escritas e em parte como não escritas tradições vivas, livres de formas, rituais, regras e dogmas, e, em todos os períodos, foram mantidas vivas e praticadas por uma pequena minoria.

É neste espírito de interpretação da Verdade que o Evangelho Essênio da Paz será traduzido nas páginas seguintes. Rejeitando os métodos dogmáticos de interpretação literal e puramente científica, bem como o exagero dos simbolistas, tentaremos traduzir o Evangelho Essênio da Paz à luz da nossa consciência e da natureza, e em harmonia com as grandes tradições dos Essênios, a cuja irmandade pertenciam os próprios autores dos Manuscritos do Mar Morto.

Edmond Bordeaux Székely

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A VISÃO DE E�OQUE

Deus fala ao homem a mais antiga revelação Falo contigo. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus. Falei contigo quando nasceste. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus. Falei contigo em tua primeira contemplação. Serena-te. Reconhece.

Eu sou Deus. Falei contigo em tua primeira palavra. Serena-te. Reconhece. Eu sou

Deus. Falei contigo em teu primeiro pensamento. Serena-te. Reconhece. Eu

sou Deus. Falei contigo em teu primeiro amor. Serena-te. Reconhece. Eu sou

Deus. Falei contigo em teu primeiro cântico. Serena-te. Reconhece. Eu sou

Deus. Falo contigo através do pasto das pradarias. Serena-te. Reconhece.

Eu sou Deus. Falo contigo através das árvores dos bosques. Serena-te. Reconhece.

Eu sou Deus. Falo contigo através dos vales e das colinas. Serena-te. Reconhece.

Eu sou Deus. Falo contigo através das Montanhas Sagradas. Serena-te. Reconhece.

Eu sou Deus. Falo contigo através da chuva e da neve. Serena-te. Reconhece. Eu

sou Deus. Falo contigo através das ondas do mar. Serena-te. Reconhece. Eu sou

Deus. Falo contigo através do orvalho da manhã. Serena-te. Reconhece. Eu

sou Deus. Falo contigo através da paz do entardecer. Serena-te. Reconhece. Eu

sou Deus. Falo contigo através do esplendor do sol. Serena-te. Reconhece. Eu

sou Deus. Falo contigo através das estrelas brilhantes. Serena-te. Reconhece.

Eu sou Deus.

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Falo contigo através das nuvens e das tormentas. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falo contigo através do trovão e do relâmpago. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falo contigo através do arco-íris misterioso. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falarei contigo quando estiveres só. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falarei contigo através da Sabedoria dos Anciões. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falarei contigo no final do tempo. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falarei contigo quando tiveres visto meus Anjos. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falarei contigo por toda a Eternidade. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

Falo contigo. Serena-te. Reconhece. Eu sou Deus.

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O LIVRO ESSÊ�IO DE MOISÉS

Os Dez Mandamentos

E o Monte Sinai estava envolto por uma nuvem, porque o Senhor descia sobre ele em fogo; e a fumaça que dali subia era como a de uma fornalha e toda a montanha tremeu fortemente.

E o Senhor desceu ao Monte Sinai, sobre o topo do monte, e o Senhor chamou Moisés ao topo do monte, e Moisés subiu.

E o Senhor chamou Moisés para fora do monte, dizendo: “Vem a mim, que Eu te darei a Lei para teu povo, a qual será uma aliança com os Filhos da Luz.”

E Moisés foi junto a Deus. E Deus falou nessas palavras, dizendo: “Eu sou a Lei, teu Deus, quem te resgatou das profundezas da

escravidão das trevas. Não terás nenhuma outra lei fora de Mim. Não construirás para ti nenhuma imagem da Lei nem acima no céu,

nem abaixo na terra. Eu sou a Lei invisível, sem princípio e sem fim. Não criarás para ti falsas leis. Porque Eu sou a Lei e a Lei total de

todas as leis. Se renuncias a Mim, tu serás visitado por desastres de geração em geração.

Se guardas meus mandamentos, entrarás no Jardim Infinito onde está a Árvore da Vida, em meio ao Mar Eterno.

Não violarás a Lei. A Lei é teu Deus, quem não te considerará inocente.

Honra tua Mãe Terrena para que teus dias possam ser longos sobre a terra e honra teu Pai Celestial para que tenhas vida eterna nos céus, pois os céus e a terra te são dados pela Lei, que é teu Deus.

Saudarás a Mãe Terrena na manhã do Shabat. Saudarás o Anjo da Terra na segunda manhã. Saudarás o Anjo da Vida na terceira manhã. Saudarás o Anjo da Alegria na quarta manhã. Saudarás o Anjo do Sol na quinta manhã. Saudarás o Anjo da Água na sexta manhã. Saudarás o Anjo do Ar na sétima manhã. Todos estes Anjos da Mãe Terrena saudarás e te consagrarás a eles

para que possas entrar no Jardim Infinito onde está a Árvore da Vida.

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Adorarás a teu Pai Celestial no entardecer do Shabat. Comungarás com o Anjo da Vida Eterna no segundo entardecer. Comungarás com o Anjo do Trabalho no terceiro entardecer. Comungarás com o Anjo da Paz no quarto entardecer. Comungarás com o Anjo do Poder no quinto entardecer. Comungarás com o Anjo do Amor no sexto entardecer. Comungarás com o Anjo da Sabedoria no sétimo entardecer. Com todos os anjos do Pai Celestial comungarás para que teu

espírito possa purificar-se na Fonte de Luz e entrar no Mar da Eternidade. O sétimo dia é o Shabat, o comemorarás e o guardarás como dia

santo. O Shabat é o dia da Luz da Lei, teu Deus. Nele não farás nenhum tipo de trabalho, exceto buscar a Luz, o Reino de Deus, e todas as coisas te serão dadas.

Sabei pois que trabalhareis durante seis dias com os anjos, mas no sétimo dia habitareis na Luz de vosso Senhor que é a Lei Santa.

Não tomarás a vida de qualquer coisa vivente. A vida vem unicamente de Deus quem a dá e a tira.

Não degradarás o Amor. É esse o dom sagrado do Pai Celestial. Não negociarás tua alma, o dom imensurável do Deus amoroso, pois

as riquezas do mundo, que são as sementes que caem em terreno pedregoso, não criam raízes e vivem muito pouco tempo.

Não darás falso testemunho da Lei para utilizá-la contra teus irmãos; unicamente Deus conhece o princípio e o fim de todas as coisas, pois Seu olho é único e Ele é a Lei Santa.

Não cobiçarás os bens de teu próximo. A Lei te dá dons muito maiores, nos céus e na terra, se guardas os Mandamentos do Senhor teu Deus”.

E Moisés ouviu a voz do Senhor e selou dentro de si a aliança que era entre o Senhor e os Filhos da Luz.

E Moisés virou-se e desceu do monte, com as duas tábuas da Lei em suas mãos.

E as tábuas eram a obra de Deus e a escrita era a escrita de Deus gravada sobre as tábuas.

E o povo não sabia o que havia acontecido com Moisés, e reuniram-se e fundiram todos seus artefatos de ouro e construíram um bezerro. E adoraram ao ídolo e ofereceram-lhe sacrifícios.

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E eles comeram, beberam e dançaram diante do bezerro de ouro, o qual eles haviam feito, e abandonaram-se à corrupção e à perversidade diante do Senhor.

E ocorreu que, assim que chegou perto da aldeia, ele viu o bezerro, as danças e a maldade do povo. E Moisés se encheu de fúria e jogou as tábuas da lei de suas mãos e quebrou-as contra o monte.

E na manhã seguinte Moisés disse ao povo: “Vós haveis cometido um grande pecado. Vós haveis negado a vosso Criador. Eu subirei até o Senhor e implorarei por vosso pecado”.

E voltando Moisés até o Senhor, disse: “Senhor, Tu viste a profanação de Tua Santa Lei. Pois Teus filhos perderam a fé e adoraram as trevas e fizeram para eles um bezerro de ouro. Senhor, perdoa-os, pois eles estão cegos para a luz”.

E o Senhor disse a Moisés: “Eis que no princípio dos tempos houve uma aliança feita entre Deus e o homem, e a chama sagrada do Criador entrou nele. E ele foi feito Filho de Deus, e foi dado a ele que guardasse sua herança de primogênito, e fizesse frutífera a terra de seu Pai e mantivesse-a Santa. E ele expulsou o Criador de si mesmo, rechaçando sua primogenitura. Não existe pecado mais grave aos olhos de Deus”.

E o Senhor falou, dizendo: “Unicamente os Filhos da Luz podem guardar os Mandamentos da Lei. Escuta, pois te falo assim: as tábuas que tu quebraste nunca mais serão escritas nas palavras dos homens. Como tu as converteste em terra e fogo, assim elas viverão, invisíveis, nos corações daqueles que sejam capazes de seguir sua Lei. À tua gente de pouca fé, que pecou contra o Criador, mesmo quando estava no solo sagrado diante de teu Deus, Eu lhes darei outra Lei. Será uma Lei severa, sim, lhes compelirá, pois eles não conhecem ainda o Reino da Luz”.

E Moisés guardou a Lei invisível dentro de seu peito e manteve-a como um sinal aos Filhos da Luz. E Deus deu a Moisés a lei escrita para o povo, e ele voltou a eles, e falou-lhes com um coração abatido.

Moisés disse ao povo: “Estas são as leis que vosso Deus vos tem dado:

Não terás outro Deus além de mim. Não farás para ti nenhuma imagem esculpida. Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão. Recordarás do dia do Shabat e o manterás santo. Honrarás teu Pai e tua Mãe. Não matarás.

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Não cometerás adultério. Não roubarás. Não levantarás falsos testemunhos contra teu próximo. Não cobiçarás a casa de teu próximo, nem sua esposa, nem nada que

seja de teu próximo”. E houve um dia de dor e arrependimento pelo grande pecado contra o

Criador, que não terminou. E as tábuas quebradas da Lei Invisível viveram ocultas no peito de Moisés, até que sucedeu que os Filhos da Luz apareceram no deserto e os anjos caminharam sobre a Terra.

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AS COMU�HÕES

E era nas margens de um rio que os fatigados e aflitos vinham buscar

a Jesus. E, como crianças, eles haviam esquecido a Lei; e, como crianças, buscavam a seu pai para que lhes mostrasse onde haviam errado, e colocasse seus passos novamente no caminho. E, quando o sol apareceu no horizonte, eles viram Jesus, que vinha em sua direção desde a montanha, com o brilho do sol nascente sobre sua cabeça.

E ele levantou sua mão e sorriu para eles, dizendo: “A paz esteja convosco”.

Porém eles estavam envergonhados para retornar-lhe a saudação, pois cada um a sua maneira havia dado às costas aos sagrados ensinamentos, e os anjos da Mãe Terrena e do Pai Celestial não estavam com eles. E um homem, olhando com angustia, falou: “Mestre, estamos necessitados desesperadamente de tua sabedoria. Pois nós sabemos o que é bom e ainda seguimos o mal. Sabemos que para entrar no reino dos céus devemos caminhar com os anjos do dia e da noite, e entretanto nossos pés transitam pelos caminhos dos ímpios. A luz do dia brilha unicamente sobre nossa busca por prazer, e a noite cai sobre nossa letargia negligente. Diz-nos, Mestre, como podemos falar com os anjos e permanecer dentro de seu santo círculo, para que a Lei possa arder em nossos corações com uma chama constante?”

E Jesus falou-lhes: “Levantar vossos olhos ao céu, quando os olhos de todos os homens

estão no chão, não é fácil. Adorar os pés dos anjos, quando todos os homens adoram somente

fama e riquezas, não é fácil. Mas o mais difícil de tudo é pensar os pensamentos dos anjos, falar

as palavras dos anjos, e agir como os anjos”. E um homem falou: “Mas, Mestre, nós somos apenas homens, não

somos anjos. Como então podemos esperar andar nos seus caminhos? Diz-nos o que devemos fazer”.

E Jesus falou: “Como os filhos herdam a terra de seu pai, assim nós herdamos uma

Terra Santa de nossos Pais. Esta terra não é um campo para ser arado, mas um lugar dentro de

nós, em que podemos construir um Templo Santo.

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E como um templo deve ser levantando, pedra sobre pedra, assim eu darei a vós essas pedras para a construção do Templo Santo; aquele que temos herdado de nossos Pais e dos Pais de seus Pais.”

E todos os homens reuniram-se ao redor de Jesus, e seus rostos brilhavam com o desejo de ouvir as palavras que vinham de seus lábios. E ele levantou seu rosto para o sol nascente e o esplendor de seus raios encheu seus olhos quando falou:

“O Templo Santo pode ser construído unicamente com as antigas Comunhões, aquelas que são faladas, aquelas que são pensadas e aquelas que são vividas.

Pois se elas forem faladas unicamente com a boca, são como uma colméia inutilizada que as abelhas abandonaram e não dá mais mel.

As comunhões são como uma ponte entre os homens e os anjos, e, como uma ponte, pode ser construída unicamente com paciência, assim como a ponte sobre o rio é construída pedra por pedra, como são encontradas nas margens da água.

E as comunhões são catorze em número, como os anjos do Pai Celestial são em número sete e os Anjos da Mãe Terra são em número sete.

E, assim como as raízes das árvores cavam a terra e são nutridas, e os ramos das árvores levantam seus braços ao céu, assim é o homem, como o tronco da árvore com suas raízes profundas no coração da Mãe Terrena, e seu espírito ascendendo às estrelas brilhantes de seu Pai Celestial.

E as raízes da árvore são os Anjos da Mãe Terrena, e os ramos da árvore são os anjos do Pai Celestial.

E esta é a Sagrada Árvore da Vida que está no Mar da Eternidade.”

*** “A primeira Comunhão é com o Anjo do Sol. O Anjo do Sol, que vêm cada manhã, como uma donzela de sua

câmara, para derramar sua luz dourado sobre o mundo. Ó tu, imortal, brilhante, corcel veloz, Anjo do Sol! Não há calor sem ti, não há fogo sem ti, não há vida sem ti. Como as folhas verdes das árvores adoram-te, e é através de ti que o

diminuto grão de trigo se converte em um rio de espigas douradas balançando ao vento.

Através de ti se abre a flor no centro de meu corpo. Por isso eu nunca me esconderei de ti.

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Anjo do Sol, santo mensageiro da Mãe Terrena, entra no Templo Santo dentro de mim e dá-me o Fogo da Vida!”

***

“A segunda Comunhão é com o Anjo da Água. O Anjo da Água, que faz com que a chuva caia sobre as planícies

áridas, quem enche a fonte seca até transbordar. Sim, nós te adoramos, Água da Vida. Desde o mar celestial, as águas

correm e fluem das fontes inesgotáveis. Em meu sangue fluem mil fontes puras, vapores, nuvens e todas as

águas que se espalham sobre os Sete Reinos. Todas as águas que o Criador fez são santas. A voz do Senhor está sobre as águas: o Deus de Glória troveja; o

Senhor está sobre muitas águas. Anjo da Água, santo mensageiro da Mãe Terrena, entra no sangue

que flui através de mim, lava meu corpo com a chuva que cai do céu e dá-me a Água da Vida.”

***

“A terceira Comunhão é com o Anjo do Ar. O Anjo do Ar quem espalha o perfume de campos de doces aromas,

de ervas primaveris após a chuva, do botão que se abre da Rosa de Saron. Nós adoramos o Sopro Sagrado que está acima de todas as coisas

criadas. Pois eis que o eterno e soberano espaço luminoso onde governam as

incontáveis estrelas é o ar que nós respiramos e é o ar que nós exalamos. E no instante entre a aspiração e a exalação estão ocultos todos os

mistérios do Jardim Infinito. Anjo do Ar, santo mensageiro da Mãe Terrena, entra profundamente

dentro de mim, como a andorinha despenca do céu, para que eu possa saber os segredos do vento e a música das estrelas.”

***

“A quarta Comunhão é com o Anjo da Terra.

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O Anjo da Terra, quem produz o cereal e as uvas da plenitude da terra. Quem traz os filhos dos lombos do esposo e da esposa.

Aquele que cultiva a terra com o braço direito e com o braço esquerdo; a ele, ela trará uma abundância de frutos e grãos, plantas douradas crescendo da terra na primavera, tanto quanto a terra se estende, tanto quanto os rios se expandem, tanto quanto o sol se levanta, para conceder seus dons de alimento aos homens.

Esta vasta terra que eu louvo, expandida com caminhos, a produtiva, a plenamente fértil, Tua Mãe, santa planta!

Sim, eu louvo as terras onde tu cresces, aromática, espalhando-se rapidamente, o bom desenvolvimento do Senhor.

Ele, quem semeia cereal, ervas e frutas, semeia a Lei. E sua colheita será abundante e sua safra maturará nos montes, Como uma recompensa para os seguidores da Lei, o Senhor enviou o

Anjo da Terra, santo mensageiro da Mãe Terrena, para fazer as plantas crescerem e tornar fértil o ventre da mulher, porque a terra nunca pode ficar sem o sorriso das crianças. Adoremos ao Senhor nela.”

***

“A quinta Comunhão é com o Anjo da Vida. O Anjo da Vida, quem dá força e vigor ao homem. Pois eis que, se a cera não é pura, como pode então a vela dar uma

chama firme? Ide então até as árvores que crescem altas, e diante de uma delas que

seja formosa, alta e forte, dizei estas palavras: ‘Salve a ti! Ó boa árvore viva, feita pelo Criador!’. Então o Rio da Vida fluirá entre vós e vossa irmã, a Árvore, e a

saúde do corpo, a agilidade do pé, a agudeza dos ouvidos, a força dos braços e a visão da águia serão vossas.

Assim é a Comunhão com o Anjo da Vida, santo mensageiro da Mãe Terrena.”

***

“A sexta Comunhão é com o Anjo da Alegria. O Anjo da Alegria, quem desce sobre a terra para dar beleza a todos

os homens.

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Pois o Senhor não é adorado com tristezas, nem com gritos de desespero.

Deixai vossos gemidos e lamentações, e cantai ao Senhor um novo cântico: cantai ao Senhor toda a terra.

Que os céus regozijem, que a terra se alegre, que os campos jubilem, que as águas aplaudam, que todos os montes jubilem diante do Senhor.

Para que sigais com alegria e vades adiante em paz: as montanhas e as colinas se irromperão diante de vós em cânticos.

Anjo da Alegria, santo mensageiro da Mãe Terrena, cantarei ao Senhor enquanto eu viver: entoarei louvores ao meu Deus em toda minha existência.”

***

“A sétima Comunhão é com nossa Mãe Terrena. Nossa Mãe Terrena. Ela, quem envia Seus anjos para guiar as raízes

do homem e as envia profundamente ao solo abençoado. Invocamos a Mãe Terrena! A Santa Preservadora! A Mantenedora! É Ela quem restabelecerá o mundo! A terra é d’Ela, e a plenitude do mundo, e dos que moram nele. Nós adoramos a boa, a forte, a bondosa Mãe Terrena e todos os Seus

anjos generosos, valentes e plenos de força; concedendo bem-estar, dócil, e doando saúde.

Através de Seu brilho e glória, as plantas crescem na terra nas eternas primaveras.

Através de Seu brilho e glória, os ventos sopram, precipitando as nuvens até as fontes inesgotáveis.

A Mãe Terrena e eu somos Um. Eu tenho minhas raízes n’Ela e Ela se compraz em mim, de acordo

com a Lei Santa.”

*** E houve um grande silêncio, enquanto os ouvintes refletiam sobre as

palavras de Jesus. E havia neles uma força nova, e o desejo e a esperança brilhavam em seus rostos. E então um homem falou: “Mestre, estamos

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cheios de ansiedade por iniciar nossas Comunhões com os anjos da Mãe Terrena, que plantaram o Grande Jardim da Terra. Mas e os anjos do Pai Celestial, que governam a noite? Como nós falaremos com eles, que estão tão acima de nós, e são invisíveis aos nossos olhos? Pois podemos ver os raios do sol, podemos sentir a água fria do rio em que nos banhamos, e as uvas são quentes ao nosso toque enquanto se crescem púrpuras nos vinhedos. Mas os anjos do Pai Celestial não podem ser vistos, nem ouvidos, nem tocados. Como, então, poderemos falar com eles e entrar no seu Jardim Infinito? Mestre, dize-nos o que precisamos fazer.”

E o sol matutino cercou sua cabeça de glória quando Jesus olhou para eles e falou:

“Meus filhos, não sabeis que a Terra e tudo o que nela habita é apenas um reflexo do Reino do Pai Celestial?

E assim como sois amamentados e confortados por vossa mãe quando crianças, mas vão juntar-se ao vosso pai nos campos depois de crescidos, assim os anjos da Mãe Terrena guiam vossos passos para Ele que é o vosso Pai, e todos os Seus santos anjos, para que possais conhecer o vosso verdadeiro lar e tornar-vos verdadeiros Filhos de Deus.

Enquanto formos crianças, veremos os raios do sol, mas não o Poder que o criou; enquanto formos crianças, ouviremos os sons do córrego que flui, mas não o Amor que o criou; enquanto formos crianças, veremos as estrelas, mas não a mão que as espalha pelo céu, como o lavrador espalha sua semente.

Somente através das Comunhões com os anjos do Pai Celestial, nós aprenderemos a ver o invisível, a ouvir o que não pode ser ouvido, e a falar a palavra não pronunciada.”

***

“A primeira Comunhão é com o Anjo do Poder. O Anjo do Poder, que enche o sol de calor e guia a mão do homem

em todas as suas obras. Teu, ó Pai Celestial! era o Poder, quando determinaste um caminho

para cada um de nós e para todos. Através do teu poder, meus pés trilharão o Caminho da Lei; através

do teu poder, minhas mãos executarão tuas obras. Que o rio dourado do poder sempre flua de ti para mim, e que o meu

corpo sempre se volte para ti, como a flor se volta para o sol.

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Pois não há poder senão o do Pai Celestial; tudo o mais é apenas um sonho de poeira, uma nuvem que passa sobre a face do sol.

Não há homem que tenha poder sobre o espírito; tampouco tem ele poder no dia da morte.

Somente o poder que vem de Deus pode levar-nos para fora da Cidade da Morte.

Guia nossas obras e nossas ações, ó Anjo do Poder, santo mensageiro do Pai Celestial!”

***

“A segunda Comunhão é com o Anjo do Amor. O Anjo do Amor, cujas águas curadoras fluem em uma corrente

infindável desde o Mar da Eternidade. Amados, amemo-nos uns aos outros: Pois o amor é do Pai Celestial,

e todo aquele que ama nasceu da Ordem Celestial e conhece os anjos. Pois sem amor o coração do homem resseca e racha no fundo de um

poço seco, e suas palavras são vazias feito uma cabaça oca. Mas as palavras de amor são como um favo de mel doce para a alma;

palavras de amor na boca de um homem são como águas profundas, e a nascente do amor, como um arroio que flui.

Sim, dizia-se nos dias de outrora, amarás teu Pai Celestial com todo o teu coração, e com toda a tua mente, e com todos os teus atos, e amarás teus irmãos como a ti mesmo. O Pai Celestial é amor; e aquele que habita no amor habita no Pai Celestial, e o Pai Celestial nele.

Aquele que não ama é como um pássaro errante banido do ninho; para ele a relva se acaba e o córrego tem um gosto amargo.

E se um homem diz, ‘Eu amo o Pai Celestial, mas odeio o meu irmão’, ele é um mentiroso: Pois quem não ama seu irmão, quem tem visto, como pode amar o Pai Celestial, quem ele não viu?

Por isto conhecemos os Filhos da Luz: Aqueles que caminham com o Anjo do Amor, pois amam o Pai Celestial, e amam seus irmãos, e guardam a Lei Sagrada.

O amor é mais forte que as correntezas de águas profundas: O Amor é mais forte que a morte.”

***

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“A terceira Comunhão é com o Anjo da Sabedoria. O Anjo da Sabedoria, quem faz o homem livre do medo, tolerante de

coração e tranquilo de consciência: Santa Sabedoria, a Compreensão que se desdobra, continuamente, como um pergaminho sagrado, e, no entanto, não vem por meio do aprendizado.

Toda sabedoria provém do Pai Celestial, e com Ele permanece para sempre.

Quem pode contar a areia do mar, as gotas da chuva, e os dias da eternidade?

Quem pode descobrir a altura do céu, e a largura da terra? Quem pode revelar o começo da sabedoria? A sabedoria foi criada antes de todas as coisas. O destituído de sabedoria é como aquele que diz à madeira,

‘Acorda’, e diz à pedra muda, ‘Levanta-te e ensina!’ Assim são vazias as suas palavras, e nocivos os seus atos, como a

criança que brande a espada do pai e não conhece seu gume cortante. Mas a coroa da sabedoria faz paz e perfeita saúde florescerem. Ambas as quais são as dádivas de Deus. Ó tu, Ordem Celestial! E tu, Anjo da Sabedoria! Eu adorarei a ti e ao

Pai Celestial, por quem o rio do pensamento dentro de nós corre para o Mar Sagrado da Eternidade.”

***

“A quarta Comunhão é com o Anjo da Vida Eterna. O Anjo da Vida Eterna, quem traz a mensagem da eternidade ao

homem. Pois quem caminha com os anjos aprenderá a voar acima das nuvens,

e seu lar será no Mar Eterno onde está a sagrada Árvore da Vida. Não espereis a morte revelar o grande mistério; se não conheceis teu

Pai Celestial enquanto vossos pés calcam o solo empoeirado, não haverá para vós nada além de sombras na vida que há de vir.

Aqui e agora o mistério é revelado. Aqui e agora se abrem as cortinas. Não temas, ó homem! Agarra-te às asas do Anjo da Vida Eterna, e voa pelos caminhos das

estrelas, da lua, do sol, e da Luz sem fim, movendo-se entorno de seu circuito para sempre, e voa para o Mar Celestial da Vida Eterna.”

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*** “A quinta Comunhão é com o Anjo do Trabalho. O Anjo do Trabalho, quem canta no zunido da abelha, que não pára

no fabrico do mel dourado; na flauta do pastor, que não dorme para seu rebanho não se perder; na canção da donzela quando leva a mão ao fuso.

E se pensais que estas não são tão belas aos olhos do Senhor quanto a mais sublime das preces ecoada desde as montanhas mais altas, enganais-vos de fato.

Pois o trabalho honesto de mãos humildes é uma oração diária de agradecimento, e a música do arado é um cântico alegre para o Senhor.

Quem come o pão da ociosidade morrerá de fome, pois um campo de pedras só pode dar pedras.

Para ele o dia não tem sentido e a noite é uma jornada amarga de sonhos maus.

A mente do ocioso está cheia das ervas do descontentamento; mas aquele que caminha com o Anjo do Trabalho tem dentro de si um campo sempre fértil, onde trigo, uvas e toda a sorte de perfumadas ervas e flores crescem em abundância.

Assim como semeardes, assim colhereis. O homem de Deus que descobriu sua tarefa não pedirá outra

bênção.”

*** “A sexta Comunhão é com o Anjo da Paz. O Anjo da Paz cujo beijo confere calma, e cujo rosto é como a

superfície de águas tranquilas, em que a lua se reflete. Invocarei a Paz, cujo hálito é amistoso, cuja mão suaviza a fronte

conturbada. No reinado da Paz, não há fome nem sede, nem vento frio nem vento

quente, nem velhice nem morte. Mas, para quem não tem paz em sua alma, não há lugar para

construir dentro de si O Templo Sagrado; pois como pode o carpinteiro edificar no meio de um furacão?

A semente da violência só pode oferecer uma colheita de desolação, e do barro seco não cresce coisa viva.

Procurai, portanto, o Anjo da Paz, que é como a estrela matutina no

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meio de uma nuvem, como a lua cheia, como a formosa oliveira da qual crescem os frutos, e como o sol que brilha sobre o templo do Altíssimo.

A paz habita no coração do silêncio: Serena-te, e reconhece que Eu sou Deus.”

***

“A sétima Comunhão é com o Pai Celestial. O Pai Celestial que é, foi e sempre será. Ó Grande Criador! Criaste os anjos Celestiais, e revelaste as Leis

Celestiais! És meu refúgio e minha fortaleza, Tu és desde a eternidade. Senhor, tens sido a nossa habitação em todas as gerações. Antes que as montanhas fossem geradas, ou antes de Tu teres

formado a terra, mesmo da eternidade para a eternidade, Tu és Deus. Quem fez as águas, e quem faz as plantas? Quem ao vento uniu as nuvens de tempestade, as ligeiras e até as

mais velozes? Quem, ó Grande Criador! é a fonte da Vida Eterna dentro de nossas

almas? Quem fez a Luz e a Escuridão? Quem fez o sono e o gosto das horas de vigília? Quem propagou os meio-dias e a meia-noite? Tu, ó Grande Criador! Tu fizeste a terra pelo Teu poder, estabeleceste o mundo pela Tua

sabedoria, e estendeste os céus pelo Teu amor. Revela-me, ó Pai Celestial, a Tua natureza, que é o poder dos Anjos

do Teu Reino Sagrado. Imortalidade e Ordem Celestial determinaste, ó Criador, e a melhor

de todas as coisas, Tua Lei Sagrada! Louvarei Tuas obras com cânticos de agradecimento, continuamente,

em todas as gerações do tempo. Com a vinda do dia, abraço minha Mãe, com a vinda da noite, junto-

me a meu Pai, e com a partida da noite e da manhã eu respirarei Sua Lei, e eu não interromperei estas Comunhões até o fim dos tempos.”

E sobre o céu e a terra fez-se um grande silêncio, e a paz do Pai

Celestial e da Mãe Terrena brilhou sobre as cabeças de Jesus e da multidão.

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DO LIVRO ESS�IO DE JESUS

A Paz Sétupla

E, vendo a multidão, Jesus subiu a uma montanha, e seus discípulos foram a ele, e todos aqueles que tinham fome de suas palavras. E, vendo-os reunidos, ele abriu sua boca e ensinou-lhes, dizendo:

“Paz vos trago, meus filhos, a Paz Sétupla da Mãe Terrena e do Pai Celestial. Paz eu trago para vosso corpo, guiado pelo Anjo do Poder; Paz eu trago para vosso coração, guiado pelo Anjo do Amor; Paz eu trago para vossa mente, guiado pelo Anjo da Sabedoria. Através dos Anjos do Poder, do Amor e da Sabedoria, percorrereis os Sete Caminhos do Jardim Infinito, e vosso corpo, vosso coração e vossa mente juntar-se-ão em Unicidade no Vôo Sagrada para o Mar Celestial da Paz.

Sim, em verdade vos digo, os caminhos são sete através do Jardim Infinito, e cada um deles deve ser percorrido pelo corpo, pelo coração e pela mente como um só, para não tropeçardes e cairdes no abismo do vazio. Pois assim como um pássaro não pode voar com uma asa, assim também o vosso Pássaro da Sabedoria precisa das duas asas do Poder e do Amor para voar por sobre o abismo até a Sagrada Árvore da Vida.

Pois o corpo sozinho é como uma casa abandonada vista de longe: O que supúnhamos belo não passa de ruína e desolação quando nos aproximamos. O corpo sozinho é como uma biga feita de ouro, cujo construtor a coloca num pedestal, relutante em sujá-la com o uso. Mas como um ídolo de ouro, é feia e sem graça, pois somente em movimento revela o seu propósito. Como a escuridão vazia de uma janela quando o vento lhe apaga a vela, é o corpo só, sem coração e sem mente para enchê-lo de luz.

E o coração sozinho é como um sol sem terra sobre a qual brilhe, uma luz no vácuo, uma bola de calor afogada num mar de escuridão. Pois quando um homem ama, o amor se volta somente para a sua própria destruição quando não há mãos para estender em boas obras, nem mente para tecer as chamas do desejo em uma tapeçaria de salmos. Como um furacão no deserto é o coração só, sem corpo e sem mente que lhe conduzam cantando por entre ciprestes e pinheiros.

E a mente sozinha é como um manuscrito sagrado desgastado pelos anos, que precisa ser enterrado. A verdade e a beleza de suas palavras não

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se modificaram, mas os olhos já não podem ler as letras desbotadas, e ele se despedaça nas mãos. Assim é a mente sem o coração que lhe dê palavras, e sem o corpo que lhe execute as obras. Pois de que vale a sabedoria sem um coração para sentir e sem uma língua para dar-lhe voz? Estéril como o ventre de uma mulher idosa é a mente só, sem coração e sem corpo que a encham de vida.

Pois eis que em verdade vos digo, o corpo, o coração e a mente são como a biga, o cavalo e o cocheiro. A biga é o corpo, forjado em força para fazer a vontade do Pai Celestial e da Mãe Terrena. O coração é o corcel ardente, glorioso e corajoso, que conduz a biga bravamente, quer a estrada seja plana, quer pedras e árvores caídas estejam em seu caminho. E o cocheiro é a mente, segurando as rédeas da sabedoria, vendo de cima o que há no horizonte distante, traçando o curso de cascos e rodas.

Dai-me ouvidos, ó céus, e eu falarei; e escuta, ó terra, as palavras da minha boca. Minha doutrina cairá como chuva, minha fala destilará como orvalho, como a chuva miúda sobre a erva tenra, e como aguaceiros sobre a relva.

Bem-aventurado é o Filho da Luz que é forte no corpo, pois ele terá unidade com a terra. Celebrareis um festim diário com todos os presentes do Anjo da Terra: O trigo e o milho dourados, as uvas púrpuras do outono, os frutos maduros das árvores, o mel âmbar das abelhas. Buscareis o ar fresco da floresta e dos campos, e ali, no meio deles, encontrareis o Anjo do Ar. Tirai os sapatos e a roupa e permiti que o Anjo do Ar envolva todo o vosso corpo. Então respirareis longa e profundamente, para que o Anjo do Ar possa ser trazido para dentro de vós. Entrai no rio fresco que flui e permiti que o Anjo da Água envolva todo o vosso corpo. Lançai-vos inteiramente em seus braços envolventes, e com a mesma frequência com que moveis o ar com a vossa respiração, movei com vosso corpo a água também. Buscareis o Anjo do Sol, e entrareis no abraço que purifica com chamas sagradas. E todas essas coisas são da Lei Sagrada da Mãe Terrena, Ela que vos deu à luz. Aquele que encontrou paz com o corpo construiu um templo santo, no qual pode habitar para sempre o espírito de Deus. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Bem-aventurado é o Filho da Luz cuja mente é sábia, pois ele criará o céu. A mente do sábio é um campo bem arado, que dá abundância e fartura. Pois, se mostrardes um punhado de sementes a um sábio, ele verá, com os olhos de sua mente, um trigal dourado. E se mostrardes um

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punhado de sementes a um tolo, ele só verá o que está diante dele, e as chamará de pedrinhas sem valor. E assim como o campo do sábio dá grãos em abundância, e o campo do tolo é uma colheita só de pedras, assim é com os nossos pensamentos. Como o feixe de trigo dourado repousa escondido na minúscula semente, assim é o reino do céu escondido em nossos pensamentos. Se eles se encherem com o Poder, o Amor e a Sabedoria dos Anjos do Pai Celestial, então eles nos conduzirão para o Mar Celestial. Mas maculados com a corrupção, o ódio e a ignorância, eles acorrentarão nossos pés a pilares de dor e sofrimento. Ninguém pode servir a dois senhores; tampouco maus pensamentos podem habitar na mente cheia da Luz da Lei. Quem encontrou paz com a mente aprendeu a voar além do Reino dos Anjos. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Bem-aventurado é o Filho da Luz que é puro de coração, pois ele verá Deus. Pois como o Pai Celestial vos deu Seu espírito santo, e vossa Mãe Terrena vos deu Seu corpo santo, assim dareis amor a todos os vossos irmãos. E vossos verdadeiros irmãos são todos aqueles que fazem a vontade de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena. Seja o vosso amor como o sol que brilha sobre todas as criaturas da terra e não favorece uma folha de relva em detrimento de outra. E este amor fluirá como uma fonte de irmão para irmão, e à medida que se esgotar será reabastecido. Pois o amor é eterno. O amor é mais forte que as correntezas de águas profundas. O amor é mais forte que a morte. E se um homem não tem amor, ele constrói um muro entre ele e todas as criaturas da terra, e assim viverá na solidão e na dor. Ou poderá tornar-se como um irado redemoinho que suga para suas profundezas tudo o que flutua demasiado perto. Pois o coração é um mar de poderosas ondas, e o amor e a sabedoria precisam moderá-lo, como o sol quente surge através das nuvens e aquieta o mar agitado. Quem encontrou paz com seus irmãos entrou no reino do Amor e verá Deus face a face. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Bem-aventurado é o Filho da Luz que constrói sobre a terra o Reino do Céu, pois habitará nos dois mundos. Seguireis a Lei da Irmandade, segundo a qual ninguém terá riqueza, e ninguém será pobre, e todos trabalharão juntos no jardim da Irmandade. Todavia, cada um seguirá seu próprio rumo, e cada um comungará com seu próprio coração. Pois no Jardim Infinito há muitas e diversas flores: Quem dirá que uma é melhor porque sua cor é púrpura, ou que uma é favorecida porque seu talo é longo

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e fino? Embora os irmãos sejam de aparências diferentes, todos labutam na vinha da Mãe Terrena, e todos erguem juntos suas vozes em louvor ao Pai Celestial. E juntos partem o pão sagrado, e em silêncio compartilham a sagrada refeição de ação de graças. Não haverá paz entre os povos até existir um jardim da irmandade sobre a terra. Pois como poderá haver paz quando cada homem busca o seu próprio ganho e vende sua alma à escravidão? Vós, Filhos da Luz, juntai-vos aos vossos irmãos e então saí para ensinar os caminhos da Lei àqueles que quiserem ouvir. Quem encontrou paz com a irmandade do homem fez-se colaborador de Deus. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Bem-aventurado é o Filho da Luz que estuda o Livro da Lei, pois ele será como uma vela na escuridão da noite, e uma ilha de verdade num mar de falsidade. Pois sabei que a palavra escrita que vem de Deus é um reflexo do Mar Celestial, como as estrelas brilhantes refletem a face do céu. Como as palavras dos Anciões são gravadas com a mão de Deus nos Manuscritos Sagrados, assim é a Lei gravada nos corações dos fiéis que os estudam. Pois se dizia em tempos antigos que no princípio havia gigantes na terra, e homens poderosos de tempos antigos, Homens de renome. E os Filhos da Luz guardarão e preservarão sua palavra escrita, para não voltarmos a ser como animais, e conhecermos o Reino dos Anjos. Sabei também que só através da palavra escrita encontrareis a Lei que não foi escrita, como a fonte que mana do solo tem uma nascente escondida nas profundezas secretas da terra. A Lei escrita é o instrumento pelo qual a Lei não escrita é compreendida, como o galho mudo da árvore se converte em uma flauta cantante nas mãos do pastor. Muitos são os que se agradariam em ficar no tranquilo vale da ignorância, onde brincam as crianças e as borboletas dançam ao sol em sua curta hora de vida. Mas ninguém pode permanecer ali por muito tempo, e à frente se erguem as sombrias montanhas do saber. Muitos são os que temem cruzá-las, e muitos são os que caíram contundidos e ensanguentados de suas encostas íngremes e escarpadas. Mas a fé é a guia sobre o abismo escancarado, e a perseverança é o apoio para os pés nas rochas pontiagudas. Além dos picos gelados de luta existem a paz e a beleza do Jardim Infinito do Conhecimento, onde o sentido da Lei é dado a conhecer aos Filhos da Luz. Aqui no centro da sua floresta está a Árvore da Vida, Mistério dos mistérios. Quem encontrou a paz com os ensinamentos dos Anciões, através da luz da mente, através da luz da natureza, e através do estudo da Palavra Sagrada, adentrou no anuviado Salão dos Anciões,

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onde habita a Sagrada Irmandade, da qual homem algum pode falar. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Bem-aventurado é o Filho da Luz que conhece sua Mãe Terrena, pois Ela é a doadora de vida. Conhecei que vossa Mãe está em vós, e que vós estais n’Ela. Ela vos deu à luz e Ela vos deu vida. Foi Ela quem vos deu vosso corpo, e a Ela, um dia, o devolvereis. Sabei que o sangue que circula em vós nasceu do sangue da Mãe Terrena. O sangue d’Ela cai das nuvens, salta do ventre da terra, murmura nos riachos das montanhas, corre amplo nos rios das planícies, dorme nos lagos, range fortemente nos mares tempestuosos. Sabei que o ar que respirais nasceu da respiração de vossa Mãe Terrena. O hálito d’Ela é límpido nas alturas dos céus, sussurra no topo das montanhas, murmura nas folhas da floresta, ondula sobre os trigais, cochila nos vales profundos, incandesce no deserto. Sabei que a dureza dos vossos ossos nasceu dos ossos de vossa Mãe Terrena, das rochas e das pedras. Sabei que a delicadeza da vossa carne nasceu da carne de vossa Mãe Terrena, cuja carne se torna amarela e vermelha nos frutos das árvores. A luz dos vossos olhos, a audição dos vossos ouvidos nasceram das cores e dos sons de vossa Mãe Terrena, que vos envolvem como as ondas do mar envolvem um peixe, como o ar agitado envolve um pássaro. Em verdade vos digo, o homem é o Filho da Mãe Terrena, e d’Ela o Filho do Homem recebeu todo o seu corpo, assim como o corpo de um bebê recém-nascido nasceu do ventre de sua mãe. Em verdade voz digo, vós sois um com a Mãe Terrena; Ela está em vós, e vós estais n’Ela. D’Ela nascestes, n’Ela viveis, e a Ela regressareis novamente. Mantende, portanto, as Suas leis, pois ninguém pode viver muito tempo, nem ser feliz, a não ser que honre sua Mãe Terrena e mantenha Suas leis. Pois vossa respiração é a Sua respiração, vosso sangue, Seu sangue, vossos ossos, Seus ossos, vossa carne, Sua carne, vossas entranhas, Suas entranhas, vossos olhos e vossos ouvidos, Seus olhos e Seus ouvidos. Quem encontrou a paz com sua Mãe Terrena jamais conhecerá a morte. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Bem-aventurado é o Filho da Luz que procura seu Pai Celestial, pois ele terá a vida eterna. Aquele que habita no lugar secreto do Altíssimo habitará sob a sombra do Todo-Poderoso. Pois Ele vos confiará aos Seus Anjos, para que vos guardem em todos os vossos caminhos. Sabei que o Senhor tem sido o nosso domicílio em todas as gerações. Antes que as

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montanhas fossem geradas, ou que Ele tivesse formado a terra e o mundo, mesmo da eternidade para a eternidade, já havia amor entre o Pai Celestial e Seus filhos. E como se poderá romper esse amor? Desde o começo até o final dos tempos a chama sagrada do amor circunda as cabeças do Pai Celestial e dos Filhos da Luz: Como, então, se poderá extinguir esse amor? Pois ele não arde feito vela, nem feito incêndio que devasta a floresta. Eis que ele queima com a chama da Luz Eterna, e essa chama não se consome. Vós que amais vosso Pai Celestial, fazei, pois, o que Ele vos ordena: Caminhai com os Seus Santos Anjos, e encontrai vossa paz com a Sua Lei Sagrada. Pois Sua Lei é toda a Lei: Sim, é a Lei das leis. Por meio da Sua Lei, Ele fez a terra e os céus serem um; as montanhas e o mar são os Seus escabelos. Com Suas mãos Ele nos fez e nos modelou, e nos deu entendimento para aprender Sua Lei. Ele cobre-se de Luz como de um vestuário: Estende os céus que nem uma cortina. Faz das nuvens a Sua carruagem; caminha sobre as asas do vento. Envia as fontes para os vales, e o Seu hálito está nas árvores frondosas. Em Sua mão estão os lugares profundos da terra: A força das colinas também é Sua. O mar é Seu, e Suas mãos formaram a terra seca. Todos os céus proclamam a Glória de Deus, e o firmamento mostra a Sua Lei. E para Seus filhos Ele legou o Seu Reino, àqueles que caminham com os Seus Anjos, e encontram a Sua paz com a Sua Lei Sagrada. Quereis saber mais, meus filhos? Como podemos dizer com nossos lábios o que não pode ser dito? É como a romã comida por um mudo: Como poderá ele exaltar-lhe o sabor? Se dissermos que o Pai Celestial habita em nós, os céus se envergonharão; se dissermos que Ele vive sem nós, será uma falsidade. Os olhos que esquadrinham o horizonte remoto e os olhos que vêem o coração dos homens Ele os faz como um olho só. Ele não é manifesto, não está escondido. Não é revelado e tampouco é irrevelado. Meus filhos, não há palavras para dizer o que Ele é! Sabemos apenas isto: Somos os Seus filhos, e Ele é o nosso Pai. Ele é o nosso Deus, e nós somos os filhos do Seu pascigo, e os carneiros de Sua mão. O que encontrou a paz com o seu Pai Celestial penetrou no Santuário da Lei Sagrada, e fez uma aliança com Deus que durará para sempre. Conhecei esta paz com vossa mente, desejai esta paz com vosso coração, realizai esta paz com vosso corpo.

Embora o céu e a terra possam passar, nem uma letra da Lei Sagrada mudará ou passará. Pois no começo era a Lei, e a Lei estava com Deus, e a Lei era Deus. Que a Paz Sétupla do Pai Celestial esteja sempre convosco.”

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FRAGME�TOS ID�TICOS AOS DOS MA�USCRITOS DO

MAR MORTO

E Enoque caminhou com Deus;

e ele não estava;

pois Deus o levou.

Gênese Essênio 5:24

A Lei foi plantada no jardim da Irmandade para alumiar o coração do homem e tornar retos diante dele todos os caminhos da verdadeira virtude, um espírito humilde, um temperamento sereno, uma natureza livremente compassiva, bondade, compreensão e introvisão eternas, e uma sabedoria poderosa que acredita em todas as obras de Deus, uma confiança segura em Suas muitas bênçãos e um espírito de conhecimento de todas as coisas da Grande Ordem, sentimentos leais para com todos os filhos da verdade, pureza radiante que detesta o que é impuro, discrição relativa a todas as coisas ocultas da verdade e aos segredos do conhecimento interior.

Do Manual de Disciplina dos Manuscritos do Mar Morto

Tu me fizeste conhecer todas as coisas profundas, misteriosas. Todas as coisas existem através de Ti e não há ninguém além de Ti. Com a Tua Lei dirigiste o meu coração para que eu dê meus passos à frente sobre estradas retas e me encaminhe para onde está a Tua presença.

Do Livro de Hinos VII dos Manuscritos do Mar Morto

A Lei foi instituída para premiar os filhos da luz com a cura e a paz

abundante, com vida longa, com semente frutuosa de bênçãos duradouras, com eterna alegria na imortalidade da Luz eterna.

Do Manual de Disciplina dos Manuscritos do Mar Morto

Eu Te agradeço, Pai Celestial, porque Tu me puseste na cabeceira de

correntezas que fluem, na fonte viva de uma terra de seca, regando um

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jardim eterno de maravilhas, a Árvore da Vida, mistério dos mistérios, deita galhos perenes para o plantio eterno que fincam raízes na corrente da vida de eterno manancial. E Tu, Pai Celestial, protege-lhes os frutos com os anjos do dia e da noite e com as chamas da Luz eterna que arde de todas as maneiras.

Dos Salmos de Ação de Graças dos Manuscritos do Mar Morto

Eu Te sou grato, Pai Celestial, porque Tu me elevaste a uma altura eterna e eu caminho nos milagres da planície. Tu me deste orientação para eu alcançar Tua eterna companhia desde as profundezas da terra. Purificaste-me o corpo para juntar-me ao exército dos anjos da terra e para meu espírito atingir a congregação dos anjos celestiais. Deste eternidade ao homem para que louve, na alvorada e no crepúsculo, Tuas obras e Teus prodígios em cântico jubiloso.

Dos Salmos de Ação de Graças dos Manuscritos do Mar Morto

Louvarei Tuas obras com cânticos de Ação de Graças continuamente,

era após era, nos circuitos do dia, e em sua ordem fixa; com a vinda da luz da sua fonte na virada da noite e na partida da luz, na partida da treva e na vinda do dia, continuamente, em todas as gerações do tempo.

Dos Salmos de Ação de Graças dos Manuscritos do Mar Morto

Que Ele te abençoe com todo o bem, que Ele te preserve de todo o

mal e te ilumine o coração com o entendimento da vida e te favoreça com a sabedoria eterna. E derrame sobre ti Suas bênçãos Sétuplas da Paz eterna.

Do Manual de Disciplina dos Manuscritos do Mar Morto

Com a vinda do dia abraço minha Mãe, com a vinda da noite junto-

me a meu Pai, e com a partida da noite e da manhã respirar-lhes-ei a Lei, e não suspenderei essas Comunhões até o final dos tempos.

Do Manual de Disciplina

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dos Manuscritos do Mar Morto Ele mostrou ao homem dois espíritos com os quais poderia caminhar.

São os espíritos da verdade e da falsidade; a verdade nascida da fonte da Luz, a falsidade nascida do poço da escuridão. O domínio de todos os filhos da verdade está nas mãos dos Anjos da Luz para que eles trilhem as sendas da Luz. Os espíritos da verdade e da falsidade se digladiam dentro do coração do homem, procedendo com sabedoria e com loucura. E assim como o homem herda a verdade, assim evitará a escuridão. Bênçãos a todos os que partilham sua sorte com a Lei, e percorrem realmente todos os seus caminhos. Que a Lei os abençoe com todo o bem e os preserve de todo o mal e lhes ilumine o coração com a introvisão das coisas da vida e os agracie com o conhecimento das coisas eternas.

Do Manual de Disciplina dos Manuscritos do Mar Morto

Atingi a visão interior e, através do Teu espírito em mim, ouvi o Teu

segredo maravilhoso. Através da Tua introvisão mística, fizeste uma fonte de conhecimento brotar dentro de mim, uma fonte de poder, que jorra águas vivas, uma torrente de amor e sabedoria que tudo abarca como o esplendor da Luz.

Dos Livro de Hinos dos Manuscritos do Mar Morto

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DO LIVRO ESS�IO DO MESTRE DE VIRTUDE

E o Mestre encaminhou-se para as margens de um curso d’água,

onde se haviam reunido os que tinham fome de suas palavras. E ele os abençoou e perguntou-lhes por que estavam perturbados. E um deles falou: “Mestre, quais são as coisas que devemos considerar de grande valor, e quais as que devemos desprezar?”

E o Mestre respondeu, dizendo: “Todos os males de que o homem padece são causados por coisas que estão fora de nós; pois o que está dentro de nós nunca poderá fazer-nos sofrer. Uma criança morre, perde-se uma fortuna, a casa e os campos se queimam, e todos os homens, sentindo-se desamparados, põem-se a bradar: ‘Que farei agora? Que é que vai acontecer-me agora? Que mais pode suceder-me?’ E estas são as palavras dos que se afligem e regozijam com os acontecimentos que lhes sobrevêm, acontecimentos que não são provocados por eles. Mas se nós pranteamos pelo que não está em nosso poder, somos iguais à criancinha que chora quando o sol se ausenta do céu. Dizia-se antigamente: nada cobiçarás que pertença ao teu próximo. E agora vos digo: não desejarás coisa alguma que não esteja em teu poder, pois somente o que está dentro de ti te pertence; e o que está fora de ti pertence a outrem. Nisto reside a felicidade: saber o que é teu e o que não é teu. Se quiseres ter a vida eterna, agarra com força a eternidade dentro de ti e não procures alcançar as sombras do mundo dos homens, que encerram as sementes da morte.”

“Tudo o que acontece fora de ti não está fora do teu poder? Está. E o teu conhecimento do bem e do mal não está dentro de ti? Está. Não está, pois, em teu poder tratar todas as ocorrências à luz da sabedoria e do amor, em vez de tratá-las à luz da tristeza e do desespero? Está. Pode algum homem impelir-te de proceder assim? Nenhum. Portanto, não gritarás: ‘Que hei de fazer? Que é que vai acontecer-me agora? Isso vai acontecer?’ Pois o que quer que possa sobrevir, tu julgarás à luz da sabedoria e do amor, e verás todas as coisas com os olhos dos anjos.”

“Pois avaliar a tua felicidade segundo o que possa acontecer-te é viver como escravo. E viver de acordo com os anjos que falam dentro de ti é ser livre. Viverás em liberdade como verdadeiro filho de Deus, e só inclinarás a cabeça diante dos mandamentos da Lei Sagrada. Dessa maneira viverás, para que, quando o anjo da morte vier buscar-te, possas estender as mãos a Deus e dizer: ‘Não descurei das Comunhões que recebi de Ti por

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conhecer a Tua Lei e por trilhar os caminhos dos anjos; não Te desonrei pelos meus atos: vê como tenho usado o olho que enxerga por dentro; acaso Te censurei algum dia? Gritei contra o que me aconteceu, ou desejei que as coisas fossem diferentes? Desejei transgredir a Tua Lei? Tu me deste a vida, e eu Te agradeço o que me deste: enquanto usei as coisas Tuas, estive contente: leva-as de volta e coloca-as onde Te aprouver, pois Tuas são todas as coisas, até a eternidade’.”

“Sabe que homem nenhum pode servir a dois amos. Não podes desejar possuir as riquezas do mundo e ter também o Reino do Céu. Não podes desejar possuir terras e poder sobre os homens e ter também o Reino do Céu. Riquezas, terras e poder são coisas que não pertencem a nenhum homem, pois são do mundo. Mas o Reino do Céu é teu para sempre, pois está dentro de ti. E se desejares e buscares o que não te pertence, perderás, por certo, o que é teu. Sabe, pois em verdade te digo, que nada é dado nem obtido a troco de nada. Pois cada coisa no mundo dos homens e dos anjos tem o seu preço. Quem quiser acumular riqueza e grandes cabedais terá de correr para cá e para lá, beijar as mãos dos que não admira, desgastar-se fatigosamente às portas de outros homens, dizer e fazer muitas coisas falsas, dar presentes de ouro, prata e óleos perfumados; tudo isso e mais ainda precisa fazer o homem para juntar riqueza e boas graças. E quando o tiveres conseguido, que terás em mãos? Essa riqueza e esse poder te assegurarão a libertação do medo, a mente em paz, um dia passado na companhia dos anjos da Mãe Terrena, uma noite passada em comunhão com os anjos do Pai Celestial? Esperas obter de graça coisas tão grandes? Quando tem dois amos, o homem ou odiará um e amará o outro; ou se agarrará a um e desprezará o outro. Não podes servir a Deus e também servir ao mundo. Pode ser que o teu poço seque, que o óleo precioso se derrame, que tua casa se queime, que tuas safras murchem: mas tu tratarás o que te acontece com sabedoria e amor. As chuvas voltarão a encher o poço, as casas podem ser reconstruídas, novas sementes podem ser semeadas: todas essas coisas poderão desaparecer, e voltar, e tornar a desaparecer. Mas o Reino do Céu é eterno e não desaparecerá. Por conseguinte, não troques o eterno pelo que morre em uma hora.”

***

“Quando os homens te perguntarem a que país pertences, não digas

que és deste ou daquele país, eis que, na verdade, foi apenas o pobre corpo

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que nasceu num cantinho qualquer desta terra. Mas tu, ó Filho da Luz, pertences à Irmandade que abrange todos os céus e além deles, e do teu Pai Celestial provieram as sementes não só do teu pai e do teu avô, mas também de todos os seres gerados na terra. Na verdade, és filho de Deus, e todos os homens são teus irmãos: e, porventura, teres a Deus por criador, pai e guardião não te liberta de todas as tristezas e de todos os medos?”

“Por consequência te digo, não penses em ajuntar bens e propriedades mundanas, ouro e prata, que só trazem corrupção e morte. Pois quanto maior for a tua reserva de riquezas, tanto mais grossas serão as paredes do teu túmulo. Escancara as janelas da alma e respira o ar fresco do homem livre! Por que te preocupas com o que vais vestir? Pensa nos lírios do campo e em como crescem: eles não trabalham, nem fiam; e, no entanto te digo, nem Salomão em sua glória se vestia como um deles. Por que pensas no que vais comer? Pensa nos presentes de tua Mãe Terrena: os frutos maduros de Suas árvores e o grão dourado do Seu solo. Por que pensas em casas e terras? Um homem não pode vender-te o que não possui, e não pode possuir o que já pertence a todos. Esta terra vasta é tua e todos os homens são teus irmãos. Os anjos da Mãe Terrena caminham contigo durante o dia, e os anjos do Pai Celestial te guiam durante a noite, e dentro de ti está a Lei Sagrada. Não fica bem ao filho de um rei cobiçar uma quinquilharia na sarjeta. Toma o teu lugar, portanto, à mesa da comemoração e administra a tua herança com honra. Pois em Deus vivemos e nos movemos e temos o nosso ser. Em verdade, somos seus filhos, e ele é nosso Pai.”

***

“Só é livre quem vive como deseja viver; quem não é estorvado em

seus atos e cujos desejos atingem seus propósitos. Quem não é reprimido é livre; porém, quem pode ser reprimido ou estorvado é, sem dúvida, escravo. Mas quem não é escravo? Somente o que nada deseja que pertença a outrem. E quais são as coisas que te pertencem? Meus filhos, somente o reino de Deus, que está dentro de vós, onde habita a Lei do vosso Pai Celestial, vos pertence. O reino do céu é como um mercador, que procura pérolas vistosas, o qual, ao dar com uma pérola de grande preço, saiu, vendeu tudo o que tinha e comprou-a. E se essa pedra preciosa for vossa para todo o sempre, por que haveis de barganhá-la por calhaus e pedras?

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Sabei que vossa casa, vossa terra, vossos filhos e filhas, todas as alegrias da fortuna e todas as tristezas da tribulação, sim, até a opinião que os outros fazem de vós, nada disso vos pertence. E se cobiçardes essas coisas, e vos agarrardes a elas, e vos afligirdes e exultardes por causa delas, na verdade sereis escravos e na escravidão permanecereis.”

“Meus filhos, não deixeis que as coisas que não são vossas vos penetrem. Não deixeis que o mundo cresça em vós, como a trepadeira rastejante cresce depressa no carvalho, para não sofrerdes dor quando ela vos for arrancada. Despidos saístes do ventre de vossa mãe e despidos para lá voltareis. O mundo dá e o mundo tira. Mas nenhum poder no céu nem na terra pode tirar de vós a Lei Sagrada, que reside em vós. Podeis ver vossos pais mortos e podeis ser banidos do vosso país. Ireis, então, de coração alegre, viver em outro, e olhareis com piedade para o matador de vossos pais, sabedores de que, por esse ato, ele matou-se a si mesmo. Pois conheceis vossos verdadeiros pais e viveis seguros em vosso verdadeiro país. Vossos pais verdadeiros são o vosso Pai Celestial e a vossa Mãe Terrena, e o vosso verdadeiro país é o Reino do Céu. A morte nunca poderá separar-vos de vossos verdadeiros pais e do vosso verdadeiro país não existe exílio. E, dentro de vós, uma rocha que resiste a todas as tormentas, a Lei Sagrada, é o vosso baluarte e salvação”.

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FRAGME�TOS DO EVA�GELHO ESSÊ�IO DE JOÃO

No princípio era a Lei, e a Lei estava com Deus, e a Lei era Deus. A

mesma estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele; e sem Ele nada foi feito do que se fez. N’Ele estava a vida; e a vida era a luz dos homens. E a luz brilhou na escuridão, e a escuridão não a conteve.

De um lugar remoto no deserto vieram os Irmãos para dar testemunho da Luz, a fim de que todos os homens, através deles, caminhassem na luz da Lei Sagrada. Pois a verdadeira luz ilumina todo homem que vem ao mundo, mas o mundo não a conhece. Como muitos, porém, recebem a Lei, a eles é dado o poder de se tornarem Filhos de Deus e entrarem no Mar Eterno, onde se ergue a Árvore da Vida.

E Jesus ensinou-os, dizendo: “Em verdade, em verdade vos digo: a não ser que nasça de novo, o homem não poderá ver o Reino do Céu.”

E um homem perguntou: “Como há de um homem nascer se já está velho? Pode ele entrar, pela segunda vez, no ventre de sua mãe, e nascer?”

E Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, se um homem não nascer da Mãe Terrena e do Pai Celestial, e não caminhar com os anjos do Dia e da Noite, não entrará no Reino Eterno. O que nasce da carne é carne; e o que nasce do Espírito é espírito. E a carne do teu corpo nasceu da Mãe Terrena, e o espírito dentro de ti nasceu do Pai Celestial. O vento sopra onde bem entende, e tu lhe ouves o som, mas não podes dizer de onde vem. O mesmo sucede com a Lei Sagrada. Todos os homens a ouvem, mas não a conhecem, pois desde o seu primeiro sopro ela está com eles. Quem, porém, nasceu de novo do Pai Celestial e da Mãe Terrena ouvirá com novos ouvidos, e verá com olhos novos, e a chama da Lei Sagrada será acesa dentro dele.”

E um homem perguntou: “Como pode ser isso?” Jesus respondeu e disse-lhe: “Em verdade, em verdade vos digo:

falamos o que sabemos e testificamos o que vimos; e não recebeis o nosso testemunho. Pois o homem nasceu para caminhar com os anjos, mas, em vez disso, procura jóias no lodo. A ele legou o Pai Celestial sua herança, para que construísse o Reino do Céu na terra, mas o homem voltou as costas para seu Pai e adora o mundo e seus ídolos. E esta é a condenação: a luz veio ao mundo e os homens preferiram a escuridão, porque suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal odeia a luz e tampouco vem para a luz. Somos todos Filhos de Deus e Deus em nós é glorificado. E a

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luz que brilha em torno de Deus e de Seus filhos é a Luz da Lei Sagrada. E quem odeia a luz, nega seu Pai e sua Mãe, dos quais nasceu.”

E um homem perguntou: “Mestre, como podemos conhecer a luz?” E Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos dou um novo

mandamento: amai-vos uns aos outros, como eles vos amam a vós, que trabalhais juntos no Jardim da Irmandade. Por isso todos os homens saberão que vós também sois irmãos, como todos nós somos Filhos de Deus.”

E um homem disse: “Só falas em irmandade e, no entanto, nem todos podemos pertencer à irmandade. Todavia, gostaríamos de adorar a luz e evitar a escuridão, pois ninguém entre nós deseja o mal.”

E Jesus respondeu: “Não se perturbe o vosso coração: acreditai em Deus. Sabei que na casa de nosso Pai há muitas mansões, e a nossa irmandade é apenas um vidro escuro que reflete a Irmandade Celeste, à qual pertencem todas as criaturas do céu e da terra. A irmandade é a vinha, e nosso Pai Celestial é o lavrador. Ele arranca de nós todo galho que não dá fruto; e limpa todos os galhos que dão frutos, a fim de que produzam mais frutos ainda. Permanecei em nós, e nós em vós. Como o galho não dá fruto por si só, a não ser que permaneça na vinha, tampouco o daremos nós, a não ser que permaneçamos na Lei Sagrada, que é uma rocha sobre a qual se assenta a nossa irmandade.”

“Quem permanece na Lei produz muitos frutos: pois sem a Lei não podeis fazer nada. Se um homem não permanecer na Lei, será arrancado como um galho e secará; e os homens os juntarão e lançarão ao fogo e eles se queimarão.”

“E assim como os irmãos permanecem no amor uns dos outros e o Anjo do Amor lhes ensina, assim pedimos que vós ameis uns aos outros. Nenhum amor tem o homem maior do que este, qual seja, ensinar a Lei Sagrada uns aos outros, e amarem-se uns aos outros como a si mesmos. O Pai Celestial está em nós, e nós estamos n’Ele, e estendemos as mãos com amor e pedimos que vos identifiqueis conosco. A glória que ele nos deu nós vos daremos: para que sejais um, como nós somos um. Pois vosso Pai Celestial vos amou antes mesmo da fundação do mundo.”

E dessa maneira ensinaram os Irmãos a Lei Sagrada aos que quiseram ouvi-la, e diz-se que fizeram coisas maravilhosas e curaram os enfermos e os aflitos com diversas ervas e com os usos prodigiosos do sol e da água. E também muitas outras coisas fizeram eles, as quais, se as tivessem escrito uma por uma, nem mesmo o mundo conteria os livros que seriam escritos. Amém.

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FRAGME�TOS DO LIVRO ESS�IO DO APOCALIPSE

Eis que o Anjo do Ar o trará, e todos os olhos o verão, e a

irmandade, toda a grande irmandade da terra, erguerá sua voz uníssona e cantará, por causa dele. Assim seja. Amém.

Eu sou Alfa e Ômega, princípio e fim; que é, que foi e que será. E a voz falou, e eu voltei-me para ver a voz que falava comigo. E,

tendo-me voltado, vi sete velas de ouro; e no meio da sua luz fulgurante vi alguém parecido com o Filho do Homem, vestido de branco, branco como a neve. E sua voz enchia o ar como o som da água aos borbotões e em suas mãos havia sete estrelas, cheias da luz flamejante dos céus, de onde procediam. E quando ele falou, de seu rosto jorrava luz, fulgurante e dourada qual um milhar de sóis.

E ele disse: “Não temas: Eu sou o primeiro e o último; Eu sou o princípio e o fim. Escreve as coisas que viste, e as coisas que são, e as que serão doravante; o mistério das sete estrelas que me enchem as mãos, e as sete velas de ouro, que fulguram com luz eterna. As sete estrelas são os anjos do Pai Celestial, e as sete velas são os anjos da Mãe Terrena. E o espírito do homem é a chama que flui entre a luz da estrela e a vela cintilante: Uma ponte de santa luz entre o céu e a terra”. Essas coisas disse ele que trazia sete estrelas nas mãos, que caminhava no meio das chamas das sete velas de ouro. Quem tiver ouvidos ouça o que diz o Espírito: “Para o triunfador darei de comer da Árvore da Vida, que se ergue no meio do resplandecente Paraíso de Deus.” E então olhei e eis que uma porta se abriu no céu: E uma voz que soava de todos os lados, como se fosse uma trombeta, falou-me: “Sobe até aqui, que te mostrarei as coisas que terão de ser daqui por diante.”

E imediatamente me vi lá, em espírito, no limiar da porta aberta. E entrei pela porta aberta num mar de luz resplandecente. E no meio do oceano de resplendor ofuscante havia um trono; e no trono sentava-se alguém de rosto escondido. Um arco-íris envolvia o trono, semelhante a uma esmeralda. Em volta do trono havia treze assentos: e nos assentos avistei treze anciões abancados, envoltos num trajo branco; e seus rostos estavam ocultos por nuvens turbilhonantes de luz. E sete lâmpadas de fogo ardiam defronte do trono, o fogo da Mãe Terrena. E sete estrelas do céu brilhavam diante do trono, o fogo do Pai Celestial. E à frente do trono havia um mar de vidro feito cristal: E, refletidos nele, todas as montanhas, vales e oceanos da terra, e

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todas as criaturas que neles habitam. E os treze anciões se inclinavam diante do esplendor de quem se sentava no trono, com o rosto escondido. E rios de luz jorravam de suas mãos, de uma para a outra, e eles clamavam: “Santo, santo, santo, Senhor Deus Onipotente, que era, é e será. És digno, Ó Senhor, de receber glória, honra e poder: pois criaste todas as coisas.”

E vi, então, na mão direita de quem se sentava no trono, e cujo rosto estava escondido, um livro escrito dentro e atrás, selado com sete selos. E vi um anjo que proclamava em altas vozes: “Quem é digno de abrir o livro; e soltar-lhe os selos?”

E nenhum ser no céu, na terra, nem mesmo debaixo da terra, foi capaz de abrir o livro, nem de olhar para ele. E eu chorei, porque o livro não podia ser aberto, nem fui capaz de ler o que nele estava escrito. E um dos anciões me disse: “Não chores. Estende a mão e pega o livro, sim, o mesmo livro dos sete selos, e abre-o. Pois ele foi escrito para ti, que és, ao mesmo tempo, o mais baixo dos baixos, e o mais alto dos altos.”

Estendi a mão e toquei o livro. E eis que a capa se levantou, e minhas mãos tocaram as páginas de ouro, e eu contemplei o mistério dos sete selos.

E vi e ouvi a voz de muitos anjos à volta do trono, e o número deles era dez mil vezes dez mil, e milhares de milhares, que diziam a brados: “Toda glória, sabedoria, força e poder para todo o sempre a ele que revelará o Mistério dos Mistérios.” E vi as nuvens turbilhonantes de luz dourada esticando-se qual ponte ígnea entre minhas mãos, e as mãos dos treze anciões, e os pés do que estava sentado no trono, cuja face se escondia.

Abri o primeiro selo. E vi e contemplei o Anjo do Ar. Por entre os lábios fluía-lhe o sopro da vida, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao homem os ventos da Sabedoria. E o homem aspirou-os. E, quando expirou, o céu escureceu, o ar perfumado se tornou viciado e fétido, nuvens de fumaça má pairaram baixas sobre toda a terra. E eu desviei o rosto, envergonhado.

Abri o segundo selo. E vi e contemplei o Anjo da Água. Por entre os lábios fluía-lhe a água da vida, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao homem um oceano de Amor. E o homem entrou nas águas claras e brilhantes. E, quando tocou a água, as correntes claras escureceram, as águas cristalinas engrossaram, cheias de limo, os peixes passaram a ofegar na escuridão lodosa, e todas as criaturas morreram de sede. E eu desviei o rosto, envergonhado.

Abri o terceiro selo. E vi e contemplei o Anjo do Sol. Por entre os lábios fluía-lhe a luz da vida, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao

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homem os fogos do Poder. E a força do sol penetrou o coração do homem, que tomou o poder e fez com ele um sol falso, e eis que ele espalhou os fogos da destruição, queimando florestas, devastando vales verdejantes, deixando apenas ossos calcinados de seus irmãos. E eu desviei o rosto, envergonhado.

Abri o quarto selo. E vi e contemplei o Anjo da Alegria. Por entre os lábios fluía-lhe a música da vida e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao homem o cântico da Paz. E paz e alegria, como música, fluíam através da alma do homem. Mas ele ouviu apenas a áspera discordância da tristeza e do descontentamento, e ele ergueu a espada e cortou as mãos dos pacificadores, e voltou a erguê-la mais uma vez e cortou a cabeça dos cantores. E eu desviei o rosto, envergonhado.

Abri o quinto selo. E vi e contemplei o Anjo da Vida. Por entre seus lábios fluía a santa aliança entre Deus e o Homem, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao homem o dom da Criação. E o homem criou uma foice de ferro em forma de serpente, e a safra que colheu foram a fome e a morte. E eu desviei o rosto, envergonhado.

Abri o sexto selo. E vi e contemplei o Anjo da Terra. Por entre os lábios fluía-lhe o rio da Vida Eterna, e ele se ajoelhou sobre a terra e deu ao homem o segredo da Eternidade, e ordenou-lhe que abrisse os olhos e observasse a misteriosa Árvore da Vida que se ergue no Mar Infinito. Mas o homem ergueu a mão e lançou fora os próprios olhos, e disse que não havia eternidade. E eu desviei o rosto, envergonhado.

Abri o sétimo selo. E vi e contemplei o Anjo da Mãe Terrena. E ele trouxe consigo uma mensagem de Luz ardente do trono do Pai Celestial. E a mensagem era só para os ouvidos do homem que caminha entre a terra e o céu. E aos ouvidos do homem sussurrou-se a mensagem, e ele não a ouviu. Mas não desviei o rosto, envergonhado. Eis que estendi a mão para as asas do anjo e dirigi minha voz para o céu, dizendo: “Dizei-me a mensagem. Pois me agradaria comer do fruto da Árvore da Vida que cresce no Mar da Eternidade.”

E o anjo olhou para mim com grande tristeza, e houve silêncio no céu. Então ouvi uma voz, que era como a voz que soava qual trombeta e dizia: “Ó Homem, houvesses tu olhado para o mal que fizeste quando desviaste o rosto do trono de Deus, quando não fizeste uso dos dons dos sete anjos da Mãe Terrena e dos sete anjos do Pai Celestial?”. E uma dor terrível me dominou ao sentir dentro de mim as almas de todos os que se haviam cegado, de modo que só viam os próprios desejos da carne. E vi

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sete anjos postados diante de Deus; e a eles foram dadas sete trombetas. E veio outro anjo e quedou-se no altar, trazendo um turíbulo de ouro; e foi-lhe dado muito incenso, para que ele o oferecesse com as preces de todos os anjos sobre o altar de ouro que defrontava o trono. E a fumaça do incenso elevou-se diante de Deus, saída da mão do anjo. E o anjo tomou o turíbulo, encheu-o do fogo do altar e arremessou-o dentro da terra, e houve vozes e estrondear de trovões, e relâmpagos, e terremotos. E os sete anjos que tinham as sete trombetas prepararam-se para soá-las.

O primeiro anjo soou, e seguiram-se o granizo e o fogo misturado com sangue, que foram lançados sobre a terra: e as florestas verdes e as árvores se queimaram, e toda a relva verde murchou, incinerada.

E o segundo anjo soou e, por assim dizer, uma grande montanha que se abrasava foi jogada ao mar: e o sangue ergueu-se da terra como um vapor.

E o terceiro anjo soou, e eis que houve um grande terremoto; e o sol tornou-se tão escuro quanto um burel de pêlos, e a lua ficou como sangue.

E o quarto anjo soou, e as estrelas do céu caíram sobre a terra, como a figueira deixa cair seus figos prematuros, quando a sacode um vento poderoso.

E o quinto anjo soou, e o céu se partiu como pergaminho enrolado. E sobre toda a terra já não havia uma só árvore, nenhuma flor, nenhuma haste de relva. E eu deixei-me ficar sobre a terra, e meus pés afundaram-se no solo, macio e grosso de sangue, que se prolongava até onde a vista alcançava. E sobre toda a terra havia silêncio.

E o sexto anjo soou. E eu vi um ser imenso descer do céu, vestido com uma nuvem: Um arco-íris encimava-lhe a cabeça, e seu rosto era como se fosse o sol, e seus pés eram pilares de fogo. Ele tinha na mão um livro aberto: e colocou o pé direito sobre o mar, e o esquerdo sobre a terra, e gritou em voz alta, maravilhosa de se ouvir: “Ó Homem, gostarias que esta visão passasse?” E eu respondi: “Tu sabes, Ó Santíssimo, que eu faria o que quer que fosse para que tais coisas terríveis não viessem a passar.”

E ele falou: “O homem criou esses poderes de destruição. E os forjou com a própria mente. Ele desviou o rosto dos anjos do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e talhou a própria destruição.”

E eu falei: “Não há esperança, anjo brilhante?” E uma luz resplandecente escorria-lhe das mãos como um rio quando ele respondeu: “Sempre há esperança, ó tu para quem o céu e a terra foram criados.”

E então o anjo, que estivera com um pé sobre o mar e um pé sobre a

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terra, ergueu a mão para o céu, e jurou por aquele que vive para todo o sempre, que criou o céu e as coisas que estão dentro dele, e a terra e as coisas que estão dentro dela, e o mar e as coisas que estão dentro dele, que já não haveria tempo: Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele principiar a soar, o mistério de Deus será revelado aos que comeram da Árvore da Vida que se ergue para sempre no Mar Eterno. E a voz falou de novo, dizendo: “Vai e pega o livro aberto na mão do anjo que está sobre o mar e sobre a terra.” E eu me enderecei ao anjo, e disse-lhe: “Dá-me o livro, pois quero comer da Árvore da Vida que se ergue no meio do Mar Eterno.” E o anjo me deu o livro, e eu o abri e nele li o que sempre fora, o que era agora, e o que viria a acontecer.

Vi o holocausto que engolfaria a terra, e a grande destruição que afogaria todos os seus habitantes em oceanos de sangue. E vi também a eternidade do homem e a clemência infindável do Onipotente. As almas dos homens eram como páginas em branco do livro, sempre prontas para que nele se inscrevesse um novo cântico.

E eu ergui o rosto para os sete anjos da Mãe Terrena e para os sete anjos do Pai Celestial, e senti que meus pés tocavam a santa fronte da Mãe Terrena, e que meus dedos tocavam os santos pés do Pai Celestial, e entoei um hino de Ação de Graças:

“Agradeço-te, Pai Celestial. Porque me colocaste numa fonte de águas correntes, Na fonte viva numa terra de seca, Que rega um eterno jardim de maravilhas. A Árvore da Vida, Mistério dos Mistérios, Que brota galhos perpétuos para o eterno plantio Penetrando raízes na corrente da vida Que mana de uma fonte eterna. E tu, Pai Celestial. Protege-lhes os frutos Com os anjos do dia e da noite E com chamas da Luz Eterna que arde de todas as maneiras.” Mas a voz tornou a falar, e mais uma vez meus olhos se desviaram

dos esplendores do reino da luz. “Presta atenção, ó Homem! Podes parar no caminho certo e caminhar na presença dos anjos. Podes cantar sobre a Mãe Terrena de dia e sobre o Pai Celestial à noite, e através do teu ser pode seguir a corrente de ouro da Lei. Mas deixarias teus irmãos mergulharem no abismo hiante de sangue, enquanto a terra, destroçada pela dor,

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estremece e geme debaixo das suas correntes de pedra? Podes beber da taça da vida eterna, quando teus irmãos morrem de sede?”

Com o coração pesado de compaixão, olhei, e eis que apareceu um grande prodígio no céu: Uma mulher vestida com o sol e com a lua debaixo dos pés, que trazia sobre a cabeça uma coroa de sete estrelas. E conheci que ela era a fonte dos cursos d’água velozes e a Mãe das Florestas.

E quedei-me sobre a areia do mar, e vi erguer-se do mar uma besta, cujas narinas lançavam um ar imundo e asqueroso, e, no lugar em que ela se ergueu do mar, as águas se transformaram em lodo, e cobria-lhe o corpo uma pedra escura e fumegante. E a mulher vestida com o sol estendeu os braços para a besta, e a besta se aproximou e abraçou-a. E eis que sua pele de pérola emurcheceu sob o hálito impuro da besta, que lhe quebrou as costas com braços de rocha trituradora, e, com lágrimas de sangue, ela deixou-se cair na poça de lama. E da boca da besta saíram exércitos de homens, que brandiam espadas e lutavam entre si. Eles combatiam com uma fúria terrível, e decepavam os próprios membros e arrancavam os próprios olhos, até caírem na voragem de lama, berrando de agonia e de dor.

Caminhei até a borda do abismo e estendi a mão para baixo, e pude ver o redemoinho turbilhonante de sangue, e os homens dentro dele, presos feito moscas numa teia. E falei em voz alta, dizendo: “Irmãos, largai as espadas e segurai a minha mão. Deixai o aviltamento e a profanação daquela que vos deu à luz, e daquele que vos deu a herança. Pois se acabaram para vós os dias de comprar e vender, como se acabaram também os dias de caçar e matar. Pois quem leva ao cativeiro será levado ao cativeiro, e quem mata pela espada, pela espada morrerá. E os mercadores da terra se carpirão e lamentarão, pois nenhum homem voltará a comprar-lhes a mercadoria: Os mercadores de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho fino, de púrpura, de seda e de escarlate, de mármore, de animais, de gado e de cavalos, de carros, de escravos e de almas de homens, nenhuma dessas coisas podereis comprar e vender, porque todas estão sepultadas num mar de sangue, porque destes as costas ao vosso pai e à vossa mãe, e adorastes a besta que teria construído um paraíso de pedra. Largai as espadas, meus irmãos, e segurai a minha mão.”

E enquanto nossos dedos se agarravam, vi na distância uma grande cidade, alva e brilhante no horizonte afastado, de alabastro luzente. E havia vozes, trovões e raios, e um grande terremoto, que nunca se vira, desde que os homens habitaram a terra, tão vigoroso e tão violento. E a grande cidade dividiu-se em três partes, e caíram as cidades das nações: e a grande cidade

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lembrou, na presença de Deus, para que ele lhe desse a taça do vinho da veemência da sua ira. E todas as ilhas se evadiram, e não se encontraram as montanhas. E caiu do céu sobre os homens um furioso granizo, cada uma de cujas pedras pesava, mais ou menos, um talento. E um anjo vigoroso tomou uma pedra semelhante a uma grande mó e jogou-a no mar, dizendo: “Assim com violência a grande cidade será derrubada, e nunca mais será encontrada. E a voz dos harpistas, músicos, gaiteiros, cantores, e trombeteiros, nunca mais será ouvida em vós; e nenhum artífice, seja qual for a sua arte, nunca mais será encontrado em vós; e o som de uma mó de moinho não será ouvido nunca mais em vós. E a luz de uma vela não brilhará nunca mais em vós; e a voz do noivo e da noiva não será ouvida nunca mais em vós; porque os vossos mercadores foram os grandes homens da terra; porque enganastes, com vossas bruxarias, todas as nações. E nela se encontrou o sangue dos profetas e dos santos e de todos os que foram mortos sobre a terra.”

E meus irmãos agarraram a minha mão, e lutaram por sair do abismo de lama e ficaram atônitos no mar de areia, e os céus se abriram e com chuva lhes lavaram os corpos nus. E ouvi uma voz que vinha do céu, como a voz de muitas águas, e como a voz de um grande trovão; e ouvi a voz de harpistas que harpejavam, com suas harpas, e cantavam, por assim dizer, um cântico novo perante o trono.

E vi outro anjo voar no meio do céu, com os cânticos do dia e da noite e o evangelho eterno para pregar aos que habitavam a terra, aos que tinham conseguido sair do abismo de lama e se achavam nus e lavados pela chuva diante do trono. E o anjo clamava: “Temei a Deus, e glorificai-o; pois chegou a hora do seu julgamento: E adorai aquele que fez o céu e a terra e o mar e as fontes de águas.”

E vi o céu aberto, e avistei um cavalo branco; e quem o montava se chamava Fiel e Verdadeiro, e com Virtude ele julga. Seus olhos eram como chama de fogo, e em sua cabeça havia muitas coroas, e ele trazia uma capa de luz ofuscante e seus pés estavam nus. E seu nome é a Palavra de Deus. E a Santa Irmandade o seguia montando cavalos brancos, vestida de linho fino, branco e limpo. E eles entraram no eterno Jardim Infinito, em cujo meio se erguia a Árvore da Vida. E as multidões nuas, lavadas da chuva, entravam à presença dos Irmãos, trêmulas, para lhes receberem o julgamento. Pois seus pecados eram muitos, e elas tinham conspurcado a terra, sim, tinham destruído as criaturas da terra e do mar, empeçonhado o solo, viciado o ar, e enterrado viva a Mãe que os dera à luz.

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Mas não vi o que lhes aconteceu, pois minha visão mudou, e vi um novo céu e uma nova terra: Pois o primeiro céu e a primeira terra haviam passado; e já não havia mar.

E vi a cidade sagrada da Irmandade descendo de Deus para fora do céu, preparada qual noiva adornada para o marido. E ouvi uma grande voz saída do céu, que dizia: “Eis que a montanha da casa do Senhor, firmada no topo das montanhas, é exaltada acima das colinas; e todo o povo acorrerá a ela. Vinde, e subamos para a montanha do Senhor, para a casa de Deus; e Ele nos ensinará Seus caminhos, e nós palmilharemos Suas sendas: Pois da Santa Irmandade sairá a Lei. Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, e ele habitará com eles, e eles serão o Seu povo, o próprio Deus está com eles, e será o Deus deles. E Deus lhes enxugará todas as lágrimas dos olhos; e já não haverá morte, nem tristeza, nem choro, nem haverá dor alguma: Pois as coisas anteriores terão findado. Os que fizeram guerra transformarão suas espadas em relhas de arado, e suas lanças em podadeiras: Nação alguma levantará a espada contra outra nação, pois elas tampouco aprenderão a guerra: Pois as coisas anteriores terão passado.”

E ele tornou a falar: “Eis que farei novas todas as coisas. Sou Alfa e Ômega, princípio e fim. Darei ao que tem sede da fonte da água da vida livremente. O que triunfar herdará todas as coisas, e Eu serei o seu Deus, e ele será o meu filho. Mas os medrosos e os incrédulos, e os abomináveis, os assassinos e todos os mentirosos, cavarão sua própria fossa, que queima com fogo e enxofre.”

Mais uma vez minha visão mudou, e ouvi as vozes da Santa Irmandade erguidas em cântico, dizendo: “Vinde e caminhemos na luz da Lei.” E vi a cidade sagrada, e os Irmãos que corriam para ela. A cidade não precisava do sol nem da lua para nela brilhar: Pois a glória de Deus a iluminava. E vi o rio puro da Água da Vida, claro como cristal, saído do trono de Deus. E no meio do rio se erguia a Árvore da Vida, que produzia catorze tipos de frutos, e dava seu fruto a quem quisesse comê-lo, e as folhas da árvore se destinavam à cura das nações. E ali não haverá noite; e eles não precisaram de velas, nem da luz do sol, pois o Senhor Deus lhes dará luz: e eles reinarão para todo o sempre.

Alcancei a visão interior e, através do Teu espírito em mim, ouvi o Teu segredo maravilhoso. Através da Tua mística introvisão, fizeste uma fonte de conhecimento brotar dentro de mim, uma fonte de poder, que mana águas vivas; um dilúvio de amor e de oniabrangente sabedoria como o esplendor da Luz Eterna.

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LIVRO 3

MA�USCRITOS PERDIDOS DA IRMA�DADE ESS�IA

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PREFÁCIO

Neste momento, nós temos orgulho de nos separarmos da Natureza, e o espírito de Pan está morto. As almas dos homens estão espalhadas para

além da esperança de unidade, e as espadas dos credos formais estão drasticamente separando-os em toda parte. Viver em harmonia com o

Universo torna a vida a performance de uma cerimônia majestosa; viver contra ele é rastejar de um lado a outro em um beco sem saída. No entanto, mesmo agora, sussurros de mudança estão tomando a face do mundo mais uma vez. Como outro grande sonho iniciando-se, a consciência do homem

está lentamente expandindo-se mais uma vez. Algumas vozes de tempos atrás estão divinamente anunciando através de nosso pequeno globo. Para

estas vozes, eu dedico este livro. E.B.S.

Este terceiro livro do Evangelho Essênio da Paz é uma coleção de

textos de grande valor espiritual, literário, filosófico e poético, criados por duas poderosas e entrelaçadas correntes de tradições.

Cronologicamente, a primeira corrente de tradições, a qual o povo hebreu foi exposto na prisão babilônica, data do Épico de Gilgamesh ao Zend Avesta de Zoroastro. A segunda é a corrente de tradições que fluem com poética majestade através dos Antigo e Novo Testamentos, desde a época do eterno Enoch e outros Patriarcas, passando pelos Profetas até a misteriosa Irmandade Essênia.

Na biblioteca enterrada da Irmandade dos Essênios no Mar Morto, onde o maior número de pergaminhos foi encontrado, os textos destas duas correntes de tradições eram muito entrelaçados. Eles seguem uma à outra em uma estranha sucessão: a poderosa simplicidade cubista da primeira justaposta com a majestosa poesia expressionista da segunda.

Os textos originais desta coleção podem ser classificados em três grupos aproximados: cerca de setenta por cento deles são completamente diferentes dos antigos Livros Sagrados dos Avestas e dos Antigo e Novo Testamentos; vinte por cento são semelhantes, e dez por cento são idênticos.

Meu desejo em apresentar esta coleção foi de abster-me de secas interpretações filológicas e exegéticas, e, ao contrário, concentrar-me em

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seus valores espirituais e poéticos, mais atraentes para o homem do século vinte. Tentei seguir o estilo da minha tradução francesa do primeiro livro do Evangelho Essênio da Paz, que já foi publicado em dezessete idiomas, e foi distribuído em mais de 200.000 cópias*.

Espero que este Livro Três seja tão bem sucedido como o Livro Um, e, assim, continue a trazer estas inspirações eternas ao nosso século desorientado, guiando-nos, através dos tempos, em direção à luz maior.

Edmond Bordeaux Székely

* A partir desta impressão, em 1986, o Livro Um de O Evangelho Essênio da Paz foi publicado em vinte e cinco línguas e distribuído em mais de um milhão de cópias.

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I�TRODUÇÃO

Desde os tempos remotos da antiguidade, um ensinamento notável existiu que é universal em sua aplicação e atemporal em sua sabedoria. Fragmentos dele são encontrados em hieróglifos Sumérios e em cerâmicas e pedras que datam de cerca de oito ou dez mil anos atrás. Alguns dos símbolos, como o sol, a lua, o ar, a água e outras forças naturais, são de uma época anterior precedente ao cataclismo que encerrou o período Pleistoceno. Quantos milhares de anos antes o ensino existia é desconhecido.

Estudar e praticar esse ensinamento é despertar no coração de cada homem um conhecimento intuitivo que pode resolver seus problemas individuais e os problemas do mundo.

Vestígios desse ensinamento apareceram em quase todos os países e religiões. Seus princípios fundamentais foram ensinados na antiga Pérsia, Egito, Índia, Tibete, China, Palestina, Grécia e muitos outros países. Mas foi transmitido em sua forma mais pura pelos Essênios, esta misteriosa irmandade que viveu durante os últimos dois ou três séculos a.c. e no primeiro século da era Cristã no Mar Morto na Palestina e no Lago Mareotis no Egito. Na Palestina e na Síria os membros da irmandade eram conhecidos como Essênios e no Egito como Therapeutae, ou curandeiros.

A parte esotérica do seu ensino é dada na Árvore da Vida, nas Comunhões Essênias com os anjos, na Paz Sétupla, entre outros. O ensino exotérico ou exterior aparece no Livro Um de “O Evangelho Essênio da Paz” e nos recentemente descobertos Manuscritos do Mar Morto.

A origem da irmandade é dito ser desconhecida, e a derivação do nome é incerta. Alguns acreditam que vem de Esnoch, ou Enoch, e alegam ser ele o fundador, tendo suas comunhões com o mundo angélico sido dadas primeiro a ele.

Outros consideram que o nome vem do Esrael, os eleitos do povo a quem Moisés levou as Comunhões no Monte Sinai, onde foram reveladas a ele pelo mundo angélico.

Mas, qualquer que seja sua origem, é certo que os Essênios existiram, por um longo período, como uma irmandade, talvez com outros nomes em outras terras. O ensinamento aparece no Zend Avesta de Zoroastro, que traduziu-o em um modo de vida que foi seguido por milhares de anos. Ele contém os conceitos fundamentais do Bramanismo, os Vedas e os Upanishads; e os sistemas de Yoga da Índia surgiram da mesma fonte. Buda,

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mais tarde, passou essencialmente as mesmas idéias básicas, e sua árvore Bodhi sagrada está relacionada com a Árvore da Vida Essênia. No Tibete o ensinamento mais uma vez encontrou expressão na Roda da Vida Tibetana.

Os pitagóricos e estóicos da Grécia antiga também seguiam os princípios Essênios e muito do seu modo de vida. O mesmo ensinamento era um elemento da cultura Adonica dos fenícios, da Escola de Filosofia de Alexandria, no Egito, e contribuiu grandemente para muitos ramos da cultura ocidental, a Maçonaria, a Gnose, a Cabala e a Cristandade. Jesus interpretou-o em sua forma mais sublime e bela nas sete bem-aventuranças do Sermão da Montanha.

Os Essênios viviam nas margens de lagos e rios, longe de cidades e vilas, e praticavam uma forma comunal de vida, partilhando igualmente em tudo. Eles eram principalmente agricultores e arboricultores, tendo um vasto conhecimento de cultivo, solo e condições climáticas, o que lhes permitiu fazer crescer uma notável variedade de frutas e vegetais em áreas relativamente desertas e com um mínimo de trabalho.

Eles não tinham servos ou escravos e teriam sido o primeiro povo a condenar a escravidão, tanto na teoria como na prática. Não havia ricos e pobres entre eles, ambas as condições eram consideradas por eles como desvios da lei. Eles estabeleceram o seu próprio sistema econômico, baseado inteiramente na Lei, e mostraram que todos os alimentos do homem e as necessidades materiais podem ser alcançados sem esforço, através do conhecimento da Lei.

Eles passavam muito tempo em estudo, tanto de escritos antigos e ramos especiais de aprendizado, como de educação, cura, e astronomia. É dito que eles são os herdeiros da astronomia caldéia e persa e das artes de cura egípcias. Eles eram peritos na profecia para qual se preparavam pelo jejum prolongado. No uso de plantas e ervas para a cura de homens e animais eles eram igualmente proficientes.

Eles viviam uma vida simples comum, levantando-se a cada dia antes do nascer do sol para estudar e comungar com as forças da natureza, banhando-se em água fria como um ritual e vestindo roupas brancas. Depois de seu trabalho diário nos campos e vinhedos, eles partilhavam suas refeições em silêncio, precedendo e terminando-as com orações. Em seu profundo respeito por todas as coisas vivas, nunca tocavam em alimentos cárneos, nem bebiam líquidos fermentados. Suas noites eram dedicadas ao estudo e à comunhão com as forças celestiais.

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A noite era o início de seu dia, e seu Shabat, ou dia santo, começava na noite de sexta-feira, o primeiro dia de sua semana. Este dia foi dado para estudo, discussão, entretenimento dos visitantes e reprodução de certos instrumentos musicais, cujas relíquias foram descobertas.

Seu modo de vida permitia-lhes viver até idades avançadas de 120 anos ou mais e diz-se que eles tinham força e resistência maravilhosas. Em todas as suas atividades eles expressavam o amor criador.

Eles enviavam curadores e professores das irmandades, dentre os quais estavam Elias, João Batista, João, o Amado, e o grande Mestre Essênio, Jesus.

Ser um membro da irmandade era atingível apenas após um período probatório de um ano, e três anos de trabalho iniciático, seguido por mais sete anos antes de serem admitidos no integral ensino interior.

Registros do modo Essênio de vida chegaram até nós a partir dos escritos de seus contemporâneos. Plínio, naturalista romano, Filo, filósofo de Alexandria, Josefo, o historiador romano, Solanius e outros falaram deles várias vezes como “uma raça por si só mais notável do que qualquer outra no mundo”, “os mais antigos dos iniciados, recebendo os seus ensinos da Ásia Central”, “ensino perpetuado através de um imenso espaço de eras”, “santidade constante e inalterável”.

Alguns dos ensinamentos estão preservados no texto Aramaico, no Vaticano, em Roma. Alguns no texto eslavo, que foi encontrado na posse dos Habsburgos na Áustria e disseram ter sido trazido da Ásia no século treze por sacerdotes nestorianos fugindo das hordas de Genghis Khan.

Ecos do ensinamento existem hoje em muitas formas, em certos rituais da ordem maçônica, no símbolo do candelabro de sete braços, na saudação “A paz esteja convosco”, usada desde a época de Moisés, e até mesmo nos sete dias da semana, que há muito tempo perderam o seu significado espiritual original.

Por sua antiguidade e sua persistência através dos tempos, é evidente que o ensinamento não poderia ter sido o conceito de qualquer indivíduo ou qualquer povo, mas é a interpretação, por uma sucessão de grandes Mestres, da Lei do universo, a Lei básica, eterna e imutável como as estrelas em seus cursos, a mesma agora como dois ou dez mil anos atrás, e tão aplicável hoje como então.

O ensinamento explica a Lei, mostra como os desvios do homem dela são a causa de todos os seus problemas, e dá o método pelo qual ele pode encontrar seu caminho para fora de seu dilema.

Edmond Bordeaux Székely

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O VOTO SÉTUPLO

Eu quero fazer e farei o meu melhor para viver como a Árvore da

Vida, plantada pelos Grandes Mestres da nossa Irmandade, com meu Pai Celestial, que plantou o Jardim Eterno do Universo e me deu o meu espírito; com minha Mãe Terrena, que plantou o Grande Jardim da Terra e me deu o meu corpo; com meus irmãos que estão trabalhando no Jardim da nossa Irmandade.

Eu quero fazer e farei o meu melhor para manter todas as manhãs minhas Comunhões com os anjos da Mãe Terrena, e todas as noites com os anjos do Pai Celestial, como estabelecido pelos Grandes Mestres da nossa Irmandade.

Eu quero fazer e farei o meu melhor para seguir o Caminho da Paz Sétupla.

Eu quero fazer e farei o meu melhor para aperfeiçoar meu corpo que age, meu corpo que sente, e meu corpo que pensa, segundo os Ensinamentos dos Grandes Mestres da nossa Irmandade.

Eu sempre e em toda a parte obedecerei, com reverência, Meu Mestre, que me dá a Luz dos Grandes Mestres de todos os tempos.

Eu me submeterei a meu Mestre e aceitarei sua decisão sobre quaisquer queixas ou diferenças que eu possa ter contra algum dos meus irmãos que trabalham no Jardim da Irmandade; e jamais levarei alguma queixa contra um irmão ao mundo exterior.

Eu sempre e em toda parte manterei secretas todas as tradições de nossa Irmandade que meu Mestre me revelar; e nunca mostrarei a ninguém estes segredos sem a permissão de meu Mestre.

Eu nunca reivindicarei como meu o conhecimento recebido de meu Mestre, e sempre lhe darei o crédito por todo esse conhecimento.

Eu nunca usarei o conhecimento e o poder que eu tiver obtido, através da iniciação de meu Mestre, com propósitos materiais ou egoístas.

E adentro o Jardim Eterno e Infinito com reverência ao Pai Celestial, à Mãe Terrena e aos Grandes Mestres, reverência ao Sagrado, Ensinamento Puro e Salvador, reverência à Irmandade dos Eleitos.

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O CULTO ESS�IO

Prólogo

Quando Deus viu que o seu povo pereceria porque não via a Luz da

Vida, escolheu os melhores de Israel, para que pudessem fazer a Luz da Vida brilhar diante dos filhos dos homens, e os escolhidos foram chamados Essênios, porque ensinavam os ignorantes e curavam os enfermos, e se reuniam na véspera de cada sétimo dia para alegrar-se com os anjos.

Culto

ANCIÃO: Mãe Terrena, dá-nos o Alimento da Vida! IRMÃOS: Nós comeremos o Alimento da Vida! ANCIÃO: Anjo do Sol, dá-nos o Fogo da Vida! IRMÃOS: Nós perpetuaremos o Fogo da Vida! ANCIÃO: Anjo da Água, dá-nos a Água da Vida! IRMÃOS: Nós nos banharemos na Água da Vida! ANCIÃO: Anjo do Ar, dá-nos o Sopro da Vida! IRMÃOS: Nós respiraremos o Ar da Vida! ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos o Teu Poder! IRMÃOS: Nós construiremos o Reino de Deus com o Poder do Pai Celestial! ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos o Teu Amor! IRMÃOS: Nós encheremos nossos corações com o Amor do Pai Celestial! ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos a Tua Sabedoria! IRMÃOS: Nós seguiremos a Sabedoria do Pai Celestial! ANCIÃO: Pai Celestial, dá-nos a Vida Eterna! IRMÃOS: Nós viveremos como a Árvore da Vida Eterna! ANCIÃO: A paz esteja convosco! IRMÃOS: A paz esteja convosco!

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O A�JO DO SOL

Eia! Levanta-te e segue! Tu, imortal, cintilante, velocíssimo Anjo do Sol! Acima das Montanhas! Produz Luz para o Mundo! Anjo do Sol, tu és a Fonte de Luz: tu rompes a escuridão. Abre a porta do horizonte! O Anjo do Sol habita muito acima da terra e, no entanto, seus raios

enchem nossos dias com vida e calor. A carruagem da manhã traz a luz do sol nascente e alegra os

corações dos homens. O Anjo do Sol ilumina nosso caminho com raios de esplendor. Anjo do Sol! Arremessa teus raios sobre mim! Deixa que eles me toquem; deixa que eles me penetrem! Entrego-me a ti e ao teu abraço, abençoado com o fogo da vida! Uma enxurrada de santa alegria flui para mim vinda de ti! Avante, Anjo do Sol! Como nenhum homem pode fitar o sol a olho nu, assim também

nenhum homem pode ver Deus face a face, para que não seja consumido pelas chamas que guardam a Árvore da Vida.

Estuda, então, a Lei Sagrada: Pois a face do Sol e a face de Deus só podem ser vistas por alguém que tenha dentro de si a Revelação da Lei.

Acreditas que a morte é um fim? Teus pensamentos são tolos como os de uma criança que vê o céu

escuro e a chuva que cai e chora porque já não há sol. Queres fortalecer-te na Lei? Sê, então, como o sol no meio-dia. Que brilha com luz e calor sobre todos os homens e distribui livre e

abundantemente sua glória de ouro. Então a Fonte da Luz fluirá de volta a ti, assim como o Sol nunca se

desprovê de luz, pois flui livremente, sem restrições. E quando o Sol nasce, então a Terra, feita pelo Criador, torna-se

limpa, as águas correntes purificam-se, as águas dos poços purificam-se, as águas do mar purificam-se, as águas paradas purificam-se, todas as Criaturas Sagradas purificam-se.

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É através do brilho e da glória que nasce o homem que ouve bem as Palavras Sagradas da Lei, que a Sabedoria tanto preza.

Através do seu brilho e da sua glória o Sol segue seu caminho, através do seu brilho e da sua glória a Lua segue o seu caminho, através do seu brilho e da sua glória as estrelas seguem o seu caminho.

Ao imortal, cintilante e velocíssimo Sol haja invocação com sacrifício e prece.

Quando a Luz do Sol se torna mais brilhante, quando o brilho do Sol se torna mais quente, então surgem as forças celestiais.

Elas vertem sua Glória sobre a Terra, feita pelo Pai Celestial, para o crescimento dos Filhos da Luz, para o crescimento do imortal, cintilante e velocíssimo Sol.

Ele quem oferece um sacrifício ao imortal, cintilante e velocíssimo Sol, para resistir à escuridão, para resistir à morte que se arrasta no invisível, oferece-o ao Pai Celestial, oferece-o aos anjos, oferece-o à sua própria alma.

Ele regozija com todas as forças celestes e terrestres que oferecem um sacrifício ao imortal, cintilante e velocíssimo Sol.

Eu sacrificarei a essa amizade, a melhor de todas as amizades, que reinam entre o Anjo do Sol e os filhos da Mãe Terrena.

Eu bendigo a Glória e a Luz, a Força e o Vigor, do imortal, cintilante e velocíssimo Anjo do Sol!

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O A�JO DA ÁGUA Do Mar Celestial as Águas correm e fluem avante vindas das Fontes

inesgotáveis. Ao deserto seco e infecundo os Irmãos trouxeram o Anjo da Água:

Para que pudesse produzir um jardim e um recanto verde, cheio de árvores e da fragrância das flores.

Atira-te nos braços envolventes do Anjo da Água: Porque ele expulsará de ti tudo o que é impuro e mau.

Que o meu amor flua para Ti, Pai Celestial, como o rio flui para o mar. E que o Teu amor flua para mim, Pai Celestial, como a chuva gentil beija a terra.

Qual rio que atravessa a floresta, é a Lei Sagrada. Todas as criaturas dependem dela, e ela nada nega a nenhum ser. A Lei é para o mundo dos homens o que um grande rio é para

córregos e riachos. Como rios de água em um local seco são os Irmãos que trazem a Lei

Sagrada ao mundo dos homens. Na água podes te afogar, e na água podes saciar tua sede. Dessa maneira é a Lei Sagrada uma espada de dois gumes: Pela Lei

tu podes destruir-te, e pela lei tu podes ver a Deus. Pai Celestial! Do Teu Mar Celestial fluem todas as Águas que se

espalham pelos sete Reinos. Somente este Teu Mar Celestial continua trazendo Águas tanto no

verão como no inverno e em todas as estações. Esse Teu Mar purifica o sêmen nos machos, o ventre nas fêmeas, o

leite nos seios das fêmeas. O Mar Celestial flui, desimpedido, para os grandes campos de

trigais, para os pequenos campos de pastagem, e para todo o Mundo Terrestre.

Mil Fontes puras correm para os pastos a fim de alimentar os Filhos da Luz.

Se alguém sacrificar a ti, ó sagrado Anjo da Água! A ele tu dás tanto esplendor como glória, com a saúde e o vigor do corpo.

A ele dás vida longa e duradoura, e o Mar Celestial, em seguida. Nós adoramos todas as águas sagradas que saciam a sede da terra,

todas as águas santas feitas pelo Criador, e todas as plantas feitas pelo

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Criador, todas as quais são sagradas. Nós adoramos a Água da Vida, e todas as águas sobre a terra,

paradas, correntes, de poço, águas de nascente que fluem permanentemente, ou as benditas gotas das chuvas, nós sacrificamos às boas e santas águas que a Lei criou.

Ruja o mar e todas as águas, o mundo e os que nele habitam. Batam palmas as enxurradas, rejubilem-se juntas as colinas. A voz do Senhor paira sobre as águas: O Deus da Glória troveja. Pai Celestial! E tu, Anjo da Água! Nós te agradecemos e bendizemos

o teu nome. Uma enxurrada de amor irrompe dos lugares ocultos debaixo da

terra: A Irmandade é abençoada para sempre na Santa Água da Vida.

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O A�JO DO AR

Nós adoramos o Sopro Sagrado, posto mais alto que todas as outras

coisas criadas; e nós adoramos a mais verdadeira Sabedoria. No meio do ar fresco da floresta e dos campos, encontrarás o Anjo

do Ar. Pacientemente, ele espera que tu deixes os buracos abafados e

abarrotados da cidade. Procura-o, então, e suga em grandes tragadas, profundamente, a

corrente de ar curativa que ele te oferece. Respira longa e profundamente, para que o Anjo do Ar possa ser

levado para dentro de ti. Pois o ritmo de tua respiração é a chave do conhecimento que revela

a Lei Sagrada. O Anjo do Ar voa em asas invisíveis: Contudo, deves caminhar em

seu caminho invisível se quiseres ver a face de Deus. Mais doce do que o mais fino néctar de romã adocicada é a

fragrância do vento no bosque de ciprestes. Mais agradável ainda que o aroma dos devotos, que veneram e

ensinam a Lei Sagrada. Santo é o Anjo do Ar, que limpa tudo o que é impuro e dá a todas as

coisas malcheirosas um agradável perfume. Vinde, vinde, ó nuvens! De cima a baixo sobre a terra, por milhares

de gotas, através do seu brilho e glória, sopram os ventos, precipitando as nuvens, em direção às fontes inesgotáveis.

Sobem os vapores dos vales das montanhas, fomentados pelo vento ao longo da trilha da Lei que aumenta o reino da Luz.

O Pai Celestial fez a terra com o seu poder, ele estabeleceu o mundo pela sua sabedoria, e estendeu os céus pela sua vontade.

Quando ele emite sua voz, há uma multidão de águas nos céus, e ele faz subir os vapores desde os extremos da terra; faz relâmpagos com chuva, e produz o vento com o seu sopro.

Como o mar é o ponto de encontro das águas, que sobem e descem, sobem para o ar e caem sobre a terra, e sobem de novo para o ar: Assim levanta e segue! Tu, para cujos ascensão e crescimento, o Pai Celestial fez o eterno e soberano Espaço luminoso.

Nenhum homem pode chegar diante da Face de Deus se o Anjo do

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Ar não o tiver deixado passar. Teu corpo precisa respirar o ar da Mãe Terrena, e teu espírito precisa

respirar a Lei Sagrada do Pai Celestial.

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O A�JO DA TERRA

Nós invocamos a Terra Abundante! Que possui Saúde e Felicidade e é mais poderosa do que todas as

suas Criaturas. Louvamos esta terra ampla, expandida com caminhos, a produtiva, a

plenamente capaz de gerar, tua mãe, planta sagrada! Louvamos as terras onde cresces, perfumosa, espalhando-te depressa,

o bom crescimento da Mãe Terrena. Louvamos o bom, o forte, o beneficente Anjo da Terra, que se

regozija no orvalho do céu, na opulência da terra, e na colheita farta do trigo e das uvas.

Louvamos as altas montanhas, ricas em pastos e em águas, sobre as quais correm os muitos córregos e rios.

Louvamos as plantas sagradas do Anjo da Terra, que brotam do solo, para alimentar animais e homens, para nutrir os Filhos da Luz.

A terra é a forte Preservadora, a santa Preservadora, a Mantenedora! Louvamos a força e o vigor da poderosa Preservadora, a terra, criada

pelo Pai Celestial! Louvamos os curadores da terra, eles que conhecem os segredos das

ervas e das plantas; para os curadores o Anjo da Terra revelou seu conhecimento antigo.

O Senhor criou remédios da própria terra, e aquele que é sábio os utilizará.

Não foi a água feita doce com madeira, para que a sua virtude pudesse ser conhecida?

E a certos irmãos ele conferiu habilidade, para que a Lei pudesse ser honrada e cumprida.

Com essas coisas eles curam os homens, e lhes tiram as dores, e para as suas obras não há fim; e deles emana a paz que cobre a terra.

Dá lugar, portanto, aos curadores e honra-os, pois o Pai Celestial os criou: Não deixes que se afastem de ti, pois tu precisas deles.

Louvamos os lavradores do solo, que trabalham juntos no Jardim da Irmandade, nos campos que o Senhor abençoou: àquele que lavra a terra, com o braço esquerdo e com o direito, ela produzirá abundância de frutos, plantas verdes saudáveis e grãos dourados.

Doçura e opulência fluirão dessa terra e desses campos, junto com a

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saúde e a cura, com a plenitude, o incremento e a abundância. Aquele que semeia trigo, relva e frutos semeia a Lei Sagrada: ele faz

progredir a Lei do Criador. Quando toda a terra for um jardim, então todo o mundo corpóreo se

tornará livre da velhice e da morte, da corrupção e da podridão, para todo o sempre.

A misericórdia e a verdade se juntarão, a virtude e a paz beijarão uma a outra, a verdade saltará da terra, e a glória habitará em nossa terra.

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O A�JO DA VIDA

Não sejas ingrato ao teu Criador, pois Ele te deu a Vida. Não busques a lei em tuas escrituras, pois a lei é Vida, ao passo que

as escrituras são apenas palavras. Em verdade te digo, Moisés não recebeu suas leis de Deus por

escrito, mas através da palavra viva. A lei é a palavra viva do Deus Vivo, dos profetas vivos para os

homens vivos. Em tudo o que é vida a lei está escrita. Ela é encontrada na relva, nas árvores, no rio, nas montanhas, nos

pássaros do céu, nas criaturas da floresta e nos peixes do mar; mas é encontrada sobretudo em vós mesmos.

Todas as coisas vivas estão mais perto de Deus que as escrituras, que são sem vida.

Deus fez a vida e todas as coisas vivas para que elas pudessem, pela primeira palavra eterna, ensinar as leis do Pai Celestial e da Mãe Terrena aos filhos dos homens.

Deus não escreveu as leis nas páginas dos livros, mas em teu coração e em teu espírito.

Elas estão em teu alento, em teu sangue e em teus ossos; em tua carne, em teus olhos, em teus ouvidos, e em cada pequena parte do teu corpo.

Estão presentes no ar, na água, na terra, nas plantas, nos raios de sol, nas profundezas e nas alturas.

Todas falam contigo para que tu possas compreender a língua e a vontade do Deus Vivo.

As escrituras são obras do homem, mas a vida e todas as suas hostes são obras de Deus.

Primeiro, Ó Grande Criador! Tu criaste os Poderes Celestiais e Tu revelaste as Leis Celestiais!

Tu nos deste entendimento de Tua própria mente, e fizeste nossa vida corpórea.

Nós somos gratos, Pai Celestial, por todas as Tuas inúmeras dádivas de vida: pelas preciosidades do céu, pelo orvalho, pelos preciosos frutos produzidos pelo sol, pelas preciosidades apresentadas pela lua, pelas grandiosidades das montanhas antigas, pelas preciosidades das colinas

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duradouras, e pelas preciosidades da terra. Nós somos gratos, Pai Celestial, pelo vigor da saúde, saúde do corpo,

sábio, brilhante e lúcido, com pés velozes, rápida audição, força nos braços e visão de águia.

Por todas as inúmeras dádivas de Vida, nós adoramos o Fogo da Vida, e a Santa Luz da Ordem Celestial.

Adoramos o Fogo, o bom e o amistoso, o Fogo da Vida! O mais benéfico e o mais prestativo, o Fogo da Vida! O maior apoiador, o mais generoso, é o Fogo que é a Casa do

Senhor! Eis agora o Filho da Luz que comunga com o Anjo da Vida: Ei-lo

agora, sua força está em seus lombos, e sua força está nos músculos de seu peito.

Ele move suas pernas como um cedro: os tendões de suas coxas estão entrelaçados.

Seus ossos são como tubos de bronze, seus membros são como barras de ferro.

Ele come da mesa da Mãe Terrena, a relva do campo e as águas do córrego alimentam-no; as montanhas, sem dúvida, lhe produzem alimento.

Abençoadas são a sua força e a sua beleza, porque ele serve à Lei. Um Santuário do Espírito Santo é o corpo em que o Fogo da Vida

arde com Luz eterna. Nós Te agradecemos, Pai Celestial, pois Tu nos colocaste em um

manancial de córregos, numa fonte viva em uma terra de seca, regando um eterno jardim de maravilhas, a Árvore da Vida, mistério dos mistérios, cultivando perpétuos ramos para o eterno plantio, para penetrar suas raízes no córrego da Vida de uma fonte eterna.

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O A�JO DA ALEGRIA Os céus sorriem, a terra celebra, as estrelas da manhã cantam juntas,

e todos os Filhos da Luz gritam de Alegria. Entoai ao Pai Celestial um novo cântico: Cantai à Mãe Terrena, toda

a terra. Regozijem-se os céus, alegre-se a terra, ruja o mar, e a plenitude da

Vida Eterna. Jubile-se o campo, e tudo o que nele existe: então todas as árvores da

mata regozijarão diante da Lei Sagrada. Cantai para o Pai Celestial, todos vós, céus dos céus, e vós, águas

que estais acima dos céus, todas as montanhas e todas as colinas, vento tempestuoso que cumpre sua palavra, árvores frutíferas e todos os cedros, animais e todo o gado, répteis e aves que voam, reis da terra e todo o povo, príncipes e juízes da terra: Rapazes e donzelas, velhos e crianças, cantem eles ao Pai Celestial com Alegria.

Cantai para o Senhor com a harpa e a voz de um salmo. Com trombetas e o som de flautas produzi um som alegre diante dos

anjos. Que as enxurradas batam palmas: que as colinas jubilem-se juntas na

presença do Senhor. Fazei um som alegre para o senhor, vós, todas as terras. Servi ao Pai Celestial e à Mãe Terrena com prazer e alegria: Vinde

diante da presença deles com cânticos. O espírito da Lei Sagrada está sobre mim, porque os Anciões

ungiram-me para pregar as boas novas aos humildes. Eles enviaram-me para atar os corações partidos, para proclamar a

liberdade dos cativos, e a abertura da prisão daqueles que estão confinados; consolar todos que lamentam, e enviar-lhes o santo Anjo da Alegria, para dar-lhes beleza em troca das cinzas, o óleo da alegria em troca das lamentações, vestes de Luz em troca do espírito da opressão, porque o choro pode durar a noite inteira, mas a alegria chega pela manhã.

As pessoas que caminhavam na escuridão verão uma grande luz, e sobre os que habitam na terra da sombra da morte brilhará a luz da Lei Sagrada.

Descei, ó céus, do alto, e deixai que os céus derramem felicidade. Que o povo saia da tristeza com alegria, e seja conduzido com paz:

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que as montanhas e colinas rompam em cânticos diante deles, para que possam participar da santa celebração, e comer do fruto da Árvore da Vida, que está no Mar Eterno.

O sol não será mais a sua luz de dia, e tampouco pelo seu brilho a lua iluminará a eles: mas a Lei será para eles uma luz permanente, e o Pai Celestial e a Mãe Terrena serão a sua glória eterna.

O seu sol não mais se porá, nem a sua lua se recolherá: pois a Lei será a sua luz permanente, e os dias de suas lamentações estarão findados.

Eu regozijarei grandemente na Lei Sagrada, minha alma se alegrará nos anjos; pois eles me vestiram com trajes de luz, e me cobriram com mantos de alegria.

Como a terra gera seu broto, e como o jardim faz brotar suas sementes, assim o Pai Celestial fará a Lei Sagrada brotar, com alegria e contentamento, diante de todos os Filhos da Luz.

No Jardim da Irmandade, toda a terra brilha com santidade e alegria abundantes, pois lá se semearam as sementes da Lei Sagrada.

A Lei é o melhor de todos os bens para os Filhos da Luz: Dá-lhes brilho e glória, saúde e força do corpo, vida longa em comunhão com os anjos, eterna e infindável Alegria.

Nós cantaremos para o Pai Celestial, e para a Mãe Terrena, e para todos os anjos, enquanto vivermos no Jardim da Irmandade: cantaremos louvores à Lei Sagrada para todo o sempre.

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A MÃE TERRE�A

Honra tua Mãe Terrena, para que teus dias possam ser longos sobre a

terra. A Mãe Terrena está em ti e tu estás n’Ela. Ela te deu à luz; Ela te deu a vida. Foi Ela quem te deu teu corpo, e a Ela tu, um dia, o devolverás. Feliz serás tu quando chegares a conhecer a Ela e a Seu reino. Se receberes os anjos de tua Mãe e cumprires as Suas leis, quem faz

essas coisas nunca verá a doença. Pois o poder de nossa Mãe está acima de tudo. Ela tem domínio sobre todos os corpos dos homens e de todas as

coisas vivas. O sangue que corre em nós nasceu do sangue de nossa Mãe Terrena.

O sangue d’Ela cai das nuvens, salta do ventre da terra, murmura nos riachos das montanhas, corre amplo nos rios das planícies, dorme nos lagos, range poderosamente nos mares tempestuosos.

O ar que nós respiramos nasceu do sopro da nossa Mãe Terrena. Seu alento é puro nas alturas dos céus, suspira no topo das montanhas, sussurra nas folhas da floresta, eleva-se sobre os trigais, descansa nos vales profundos, arde quente no deserto.

A dureza dos nossos ossos nasceu dos ossos de nossa Mãe Terrena, das rochas e das pedras. Elas estão nuas debaixo dos céus no topo das montanhas, são quais gigantes adormecidos nas encostas dos morros, como ídolos erguidos no deserto, e estão escondidas nas profundezas da terra.

A maciez da nossa carne nasceu da carne de nossa Mãe Terrena, cuja carne se torna amarela e vermelha nos frutos das árvores, e nos alimenta nas leiras dos campos.

A luz de nossos olhos, a audição de nossos ouvidos, nasceram ambas das cores e dos sons de nossa Mãe Terrena; que nos envolvem como as ondas do mar envolvem o peixe, como o ar que turbilhona envolve o pássaro.

O Homem é o Filho da Mãe Terrena, e d’Ela o Filho do Homem recebeu todo o seu corpo, assim como o corpo do bebê recém-nascido nasce do ventre de sua mãe.

Tu és um com a Mãe Terrena; Ela está em ti e tu estás n’Ela. D’Ela tu nasceste, n’Ela tu vives, e a Ela tu voltarás novamente.

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Mantenha, portanto, as Suas leis, pois ninguém pode viver muito, nem ser feliz, ao menos que honre sua Mãe Terrena e realize Suas leis.

Pois o teu alento é o alento d’Ela, o teu sangue é o sangue d’Ela, os teus ossos são os ossos d’Ela, a tua carne é a carne d’Ela, teus olhos e teus ouvidos, são os olhos e os ouvidos d’Ela.

Nossa Mãe Terrena! Somos sempre abraçados por Ela, sempre cercados pela Sua beleza.

Nunca poderemos separar-nos d’Ela; nunca poderemos conhecer-lhe as profundezas.

Ela está sempre criando formas novas: o que agora existe nunca existiu antes. O que existia não retorna novamente.

Em Seu reino tudo é sempre novo e sempre velho. Vivemos no meio d’Ela e ainda não a conhecemos. Continuamente Ela fala conosco, mas nunca trai os Seus segredos

para nós. Sempre lavramos o Seu solo e apanhamos as Suas colheitas, no

entanto, não temos poder nenhum sobre Ela. Ela constrói sempre, Ela destrói sempre, e Seu local de trabalho está

escondido dos olhos dos homens.

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O A�JO DO PODER Teu, Ó Pai Celestial! era o Poder quando ordenaste um Caminho

para cada um de nós e para todos. O que é a ação bem praticada? É aquela praticada pelos Filhos da

Luz que consideram a Lei antes de todas as outras coisas. A melhor de todas as dádivas, portanto, eu imploro a Ti, ó melhor

dos seres, Pai Celestial! Que a Lei Sagrada governe dentro de nós através do Teu Anjo do Poder!

Aproximo-me de Ti com minhas invocações, para que Tuas grandes dádivas de poder protejam Tua Ordem Celestial e Tua mente criativa dentro de nós, para sempre.

Nós Te exaltaremos, Pai Celestial, Rei Todo Poderoso! E bendiremos o Teu poder para todo o sempre. Enquanto formos capazes e pudermos ter o poder, ensinaremos o

povo a respeito desses atos que devem ser praticados por eles com fé no Pai Celestial, na Mãe Terrena, nos santos anjos, em todos os Filhos da Luz, que lavram o solo do Jardim da Irmandade, e no desejo do advento da Ordem Celestial em suas almas e seus corpos.

Teu, Ó Pai Celestial! era o Poder, sim, Teus, Ó Criador do Amor! eram o entendimento e o espírito, quando ordenaste um caminho para cada um de nós e para todos.

Através do Teu Poder iremos para o meio do povo, e ensinaremos a eles, dizendo: Confiai na Lei, e caminhai nos caminhos dos santos anjos, assim habitareis na terra, e, em verdade, sereis alimentados da mesa do festim da Mãe Terrena.

Deliciai-vos também no Poder do Pai Celestial, e Ele satisfará os desejos do vosso coração.

Não deixeis que a arrogância saia de vossa boca: pois o Pai Celestial governa segundo a santa Lei, e por Ele as ações são pesadas.

Ele leva para o túmulo e leva para cima. O Poder da Lei empobrece e enriquece: seu Poder derruba e eleva. Ele ergue o pobre do pó, e levanta o mendigo da esterqueira, e os faz

herdar o trono da glória. Com estrondo expulsa do céu os filhos da escuridão: O Senhor

julgará com Poder os confins da terra. Ouvi as vozes dos Irmãos que clamam no ermo e no deserto

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infecundo: Preparai o caminho da Lei, endireitai as veredas do Pai Celestial, da Mãe Terrena, e de todos os santos anjos do dia e da noite.

Todos os vales serão aterrados, todas as montanhas e colinas serão abatidas; o torto será endireitado, os caminhos acidentados serão aplanados, e toda a carne verá o Poder da Lei.

Nós Te exaltamos, Pai Celestial, pois Tu nos levantaste. Ó Senhor, nosso Onipotente e Poderoso Pai, nós clamamos a Ti e Tu

nos curaste. Do túmulo ergueste as almas das pessoas; e as mantiveste vivas, para

que não caíssem no abismo. Ó Pai Celestial, Tu és a Lei; cedo e tarde buscaremos os Teus anjos:

nossas almas têm sede da Lei, nossa carne anseia a Lei. A Lei é um rio de santo Poder numa terra seca e sedenta, onde não

existe água. Nossos lábios louvarão o Teu Poder enquanto vivermos, nós

ergueremos nossas mãos em Teu nome. Nós preservaremos, nós alimentaremos Tua Ordem Celestial através

do cumprimento de Atos. Nós invocaremos e proclamaremos de dia e de noite Teu santo

Poder, e esse Poder virá nos ajudar; será como se houvesse mil anjos empenhados em vigiar um homem.

A Ti, Pai Celestial, pertence todo o Poder, como a Ti também pertence a misericórdia: Pois a santa Lei retribuirá a cada homem segundo a sua obra.

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O A�JO DO AMOR O Amor é mais forte que as correntezas de águas profundas. O Amor é mais forte que a morte. Amados, amemo-nos uns aos outros; pois o amor é do Pai Celestial:

E todo aquele que ama nasceu do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e conhece os anjos.

Vós vos amareis uns aos outros, como o Pai Celestial vos tem amado. Pois o Pai Celestial é amor; e quem habita no amor habita no Pai

Celestial, e o Pai Celestial habita nele. Que aquele que o ama seja como o sol quando se apresenta em sua força. Irmãos, tende todos o mesmo propósito, com amor e compaixão

infinitos uns pelos outros. Não exercerás vingança, nem nutrirás rancor contra os filhos do teu

povo, mas amarás o teu próximo como a ti mesmo. Se um homem disser: ‘Eu amo o Pai Celestial, mas odeio meu

irmão’, ele é um mentiroso: pois se ele não ama a seu irmão, a quem viu, como pode amar o Pai Celestial a quem não viu?

Quem ama o Pai Celestial ama também seu irmão. Amai também o estrangeiro: pois vós fostes estrangeiros na terra do

Egito. O povo costuma dizer: É melhor um jantar de ervas onde está o

amor, do que um boi gordo e com ele o ódio. As palavras de amor são qual favo de mel, doce para a alma e

saudável para os ossos. As palavras da boca de um homem são como águas profundas, e a

fonte do amor é como um córrego que flui. O que a Lei requer de ti é apenas que procedas com justiça, ames a

misericórdia, e caminhes humildemente com os anjos. Por isso nós sabemos que o Anjo do Amor habita em nós, quando

amamos o Pai Celestial e mantemos a sua Lei. Gracioso Amor! Criador do Amor! Revela as melhores palavras

através da Tua mente divina que vive dentro de nós. Dize aos Filhos da Luz que lavram o solo no Jardim da Irmandade: Honrai todos os homens. Amai a Irmandade. Obedecei à Lei.

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O A�JO DA SABEDORIA

Seguir o Senhor é o princípio da Sabedoria: E o conhecimento do

Santíssimo é entendimento. Pois por meio dele, teus dias serão multiplicados, e os anos de tua

vida serão acrescentados. Toda Sabedoria provém do Pai Celestial, e está com Ele para sempre. Através da Lei sagrada, o Anjo da Sabedoria guia os Filhos da Luz. Quem pode contar a areia do mar, as gotas da chuva, e os dias da

eternidade? Quem pode encontrar a altura do céu, a largura da terra, o abismo, e

a sabedoria? A sabedoria foi criada antes de todas as coisas. Pode-se curar com bondade, pode-se curar com justiça, pode-se curar

com ervas, pode-se curar com a Palavra Sábia. Entre todos os remédios, curativo é aquele que cura com a Palavra

Sábia. Este é o que melhor expulsa a doença dos corpos dos fiéis, pois a

Sabedoria é a cura mais eficiente de todos os remédios. Seguir a Lei Sagrada é a coroa da Sabedoria, fazendo florescer a paz

e a saúde perfeita, ambas as quais são dádivas dos anjos. Nós nos aproximamos de Ti, Ó Pai Celestial! Com a ajuda do Teu

Anjo da Sabedoria, que nos guia por intermédio da Tua Ordem Celestial, e com ações e palavras inspiradas pela Tua santa Sabedoria!

Vem a nós, Pai Celestial, com a Tua mente criativa, e Tu, que conferes dádivas através da Ordem Celestial, confere igualmente a dádiva duradoura da Sabedoria aos Filhos da Luz, para que esta vida possa ser vivida em santo serviço no Jardim da Irmandade.

No reino da Tua boa mente, encarnado em nossas mentes, o caminho da Sabedoria flui da Ordem Celestial, na qual habita a sagrada Árvore da Vida.

De que modo se manifesta a Tua Lei, Ó Pai Celestial! O Pai Celestial responde: Pelo bom pensamento em perfeita unidade

com a Sabedoria, ó Filho da Luz! Qual é a palavra bem falada? É a palavra da Sabedoria que confere bênçãos. Qual é o pensamento bem pensado?

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É o que pensa o Filho da Luz, aquele que considera ser o Pensamento Santo mais valoroso do que todas as outras coisas

Assim o Filho da Luz crescerá em concentração e comunhão, e ele poderá desenvolver a Sabedoria, e assim ele continuará até que todos os mistérios do Jardim Infinito, onde está a Árvore da Vida, sejam-lhe revelados.

Então ele dirá estas palavras vitoriosas: Ó Pai Celestial! Dá-me a minha tarefa para a construção do Teu Reino na terra, através de bons pensamentos, boas palavras, boas ações, que serão para o Filho da Luz o seu dom mais precioso.

Ó tu Ordem Celestial! E tu Mente Universal! Eu vos adorarei e adorarei o Pai Celestial, graças a quem a mente criativa dentro de nós leva o imperecível Reino a progredir!

Santa Sabedoria, liberta todos os homens do medo, e faze-os sábios de coração e leves de consciência.

Santa Sabedoria, o entendimento que se desdobra para sempre, continuamente, sem fim, e não é adquirido através dos manuscritos sagrados.

A ignorância arruína a maioria das pessoas, tanto entre as que morreram, quanto entre as que morrerão.

Quando a ignorância for substituída pela Santa Sabedoria, então a suavidade e a abundância voltarão novamente à nossa terra e aos nossos campos, com saúde e cura, com plenitude e progresso, e crescimento e abundância de trigo e relva, e rios de Paz fluirão pelo deserto.

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O A�JO DA VIDA ETER�A

E Enoque caminhava com Deus; e ele não estava; pois Deus o levara. Sobre a terra nenhum homem foi criado como Enoque, pois ele foi

tirado da terra. Ele era como a estrela da manhã no meio de uma nuvem, como a lua

cheia, como o sol que brilha sobre o templo do Altíssimo, como o arco-íris que dá luz às nuvens brilhantes, como a flor de rosas na primavera do ano, como lírios à beira dos rios, como os galhos da árvore de olíbano na época do verão, como uma formosa oliveira brotando frutos, e como o cipreste que cresce até chegar às nuvens.

O primeiro seguidor da Lei foi Enoque, o primeiro dos curadores, dos sábios, dos felizes, dos gloriosos, dos fortes, que repeliu a doença e repeliu a morte.

Ele obteve uma fonte de remédios para resistir à doença e resistir à morte; para resistir à dor e resistir à febre; para resistir ao mal e à infecção que a ignorância da Lei criou contra os corpos dos mortais.

Nós invocamos Enoque, o mestre da vida, o Fundador da nossa Irmandade, o homem da Lei, o mais sábio de todos os seres, o que melhor governa entre todos os seres, o mais brilhante de todos os seres, o mais glorioso de todos os seres, o mais digno de invocações entre todos os seres, o mais digno de glorificação entre todos os seres, quem primeiro pensou o que é bom, quem primeiro falou o que é bom, quem primeiro fez o que é bom.

Que foi o primeiro Sacerdote, o primeiro Lavrador do Solo, que primeiro conheceu e primeiro ensinou a Palavra, e a obediência à Lei Sagrada.

A todos os Filhos da Luz ele deu todas as coisas boas da vida: Ele foi o primeiro portador da Lei.

Estão escritas as palavras do Pai Enoque: Nós sacrificamos ao Criador, ao Pai Celestial, aos brilhantes e gloriosos anjos.

Nós sacrificamos aos céus resplandecentes, nós sacrificamos à brilhante, feliz, bem-aventurada sabedoria dos Santos anjos da Eternidade.

Concede-nos, Pai Celestial! o desejo e o conhecimento do caminho mais reto, mais reto por razão da Ordem Celestial da Vida, a Melhor Vida dos anjos, brilhante e toda gloriosa.

Assim como a saúde é excelente, assim também é a Vida Eterna,

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ambas emanam da Ordem Celestial, a criadora da bondade da mente, e das ações da vida realizadas por devoção ao Criador da Vida Eterna.

Nós sacrificamos ao céu soberano, nós sacrificamos ao tempo sem limites, nós sacrificamos ao mar sem fim da Vida Eterna.

Nós invocamos a Lei mais gloriosa. Nós invocamos o Reino do Céu, o tempo sem limites e os anjos. Nós invocamos a eterna e santa Lei. Nós seguimos os caminhos das Estrelas, da Lua, do Sol e da Luz sem

fim, que se movem entorno de seu círculo giratório para sempre. E a veracidade em Pensamento, Palavra e Ação colocará a alma do

homem fiel na luz sem fim da Vida Eterna. O Pai Celestial me dominou no começo do Seu caminho, antes de

Suas obras mais antigas. Fui criado desde a eternidade, desde o princípio, ou desde que a terra

existiu. Quando não havia profundezas, eu fui gerado: quando Ele ainda não

havia feito a terra, nem os campos, nem o começo do pó do mundo. Quando Ele estabeleceu os céus, eu estava lá; quando Ele pôs um

círculo sobre a face do abismo; quando Ele firmou os céus no alto; quando a fonte do abismo tornou-se forte; quando Ele deu ao mar os seus limites, para que as águas não transgredissem Sua Lei; quando Ele demarcou as fundações da terra: eu estava ao Seu lado, como mestre operário; e eu era diariamente o Seu deleite, regozijando-me sempre diante d’Ele, regozijando-me em Sua terra habitável, e o meu deleite está com os filhos dos homens.

Por toda a eternidade reina o Pai Celestial, que se veste com majestade e força.

Ele é o Eterno! As enxurradas se ergueram, Ó Senhor, as enxurradas ergueram sua

voz, as enxurradas ergueram suas ondas. O Pai Celestial nas alturas é mais forte do que o som de muitas

águas, sim, do que as poderosas ondas do mar. Seu nome durará para sempre, Seu nome será mantido por toda a

eternidade, e todos os Filhos da Luz serão abençoados n’Ele, e todos os homens o chamarão bendito.

Que a terra inteira seja preenchida com a glória do Pai Celestial, da Mãe Terrena, e de todos os santos anjos.

Eu alcancei a visão interior e, através do Teu espírito em mim, eu ouvi o Teu segredo maravilhoso.

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Através da Tua mística introvisão, fizeste uma fonte de conhecimento brotar dentro de mim, uma fonte de poder, que verte águas vivas, uma enxurrada de amor e sabedoria abrangente como o esplendor da Luz Eterna.

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O A�JO DO TRABALHO Quem mediu as águas na concavidade de sua mão, e distribuiu o céu

com um palmo, e conteve o pó da terra em uma medida, e pesou as montanhas e as colinas numa balança?

O sol nasce, e os Irmãos se reúnem, eles saem para seu trabalho nos campos; com dorsos fortes e corações alegres partem para trabalhar juntos no Jardim da Irmandade.

Eles são os Trabalhadores do Bem, porque trabalham o bem do Pai Celestial.

Eles são o espírito, a consciência e a alma dos que ensinam a Lei e lutam por ela.

Com o braço direito e o esquerdo, eles lavram o solo, e o deserto irrompe em cores, em verde e ouro.

Com o braço direito e o esquerdo, eles assentam as pedras que edificarão na terra o Reino do Céu.

Eles são os mensageiros do Anjo do Trabalho: neles se revela a Lei sagrada.

Pai Celestial! Quão múltiplas são as Tuas obras! Com sabedoria fizeste todas elas; a terra é repleta das Tuas riquezas. Tu enviaste as fontes para os vales, que correm entre colinas. Tu dás de beber a todos os animais do campo, e fazes crescer o

capim para o gado. Tu colocaste as árvores poderosas em seus lugares, para que as aves

do céu possam ter sua morada, e cantem suavemente entre os ramos. Tu dás as ervas para o serviço do homem, para que ele possa retirar o

alimento da terra. Nas mãos dos Irmãos todos os Teus dons dão fruto, pois eles constroem

na terra o Reino do Céu. Tu abres as Tuas mãos, elas estão repletas com o bem. Tu envias o Teu espírito, eles são criados e, juntamente com os Teus

santos anjos, eles renovarão a face da terra. Ó Pai Celestial, Tu que és um só! Revela aos Filhos da Luz: Qual é o

lugar principal, no qual a terra sente a maior alegria? O Pai Celestial, respondendo, disse: É o lugar em que um dos Irmãos, que seguem a Lei sagrada, dá um

passo à frente: com seus bons pensamentos, boas palavras e boas ações!

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Cujo dorso é forte no serviço, cujas mãos não são ociosas, que eleva sua voz em pleno acordo com a Lei.

Este lugar é santo, onde um dos Irmãos semeia a maior parte de trigo, capim, e frutas: onde rega o solo seco, ou drena o solo demasiado úmido.

Pois a terra foi entregue à guarda dos Filhos da Luz, para que eles a estimem e zelem, e tirem das suas profundezas somente aquilo que for para a alimentação do corpo.

Bem-aventurados são os Filhos da Luz cuja alegria está no trabalho da Lei, que laboram no Jardim da Irmandade de dia, e juntam-se aos anjos do Pai Celestial à noite.

Seus lábios contam a história que serve de ensinamento aos filhos dos homens:

Diz-se que as árvores partiram, em um momento, para ungir um rei sobre elas; e disseram à oliveira:

“Reina tu sobre nós.” Disse-lhes, porém, a oliveira: “Deveria eu deixar minha fartura que, por meu intermédio, honrou a

Deus e ao homem, e ser promovida acima das árvores?” E as árvores disseram à figueira: “Vem tu, e reina sobre nós.” Mas a figueira disse-lhes: “Deveria eu abandonar minha doçura e meus bons frutos, e ser

promovida acima das árvores?” Disseram, então, as árvores à vinha, “Vem tu, e reina sobre nós.” E a vinha lhes disse: “Deveria eu deixar o meu vinho, que alegra a Deus e ao homem, e

ser promovida acima das árvores?” O homem da Lei que cumpre suas tarefas não necessita de outras

bênçãos.

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O A�JO DA PAZ Pois a terra será preenchida com a Paz do Pai Celestial, como as

águas cobrem o mar. Eu invocarei o Anjo da Paz, cujo alento é amistoso, cujas mãos se

vestem de poder. No reino da Paz não há fome nem sede, nem vento frio nem vento

quente, nem velhice nem morte. No reino da Paz, tanto os animais como os homens serão imortais, as

águas e as plantas serão inesgotáveis, e o alimento da vida nunca faltará. Diz-se que as montanhas trarão paz ao povo, e as pequenas colinas,

virtude. Haverá paz enquanto o sol e a luz perdurarem, do princípio ao fim de

todas as gerações. A Paz cairá como chuva sobre a relva aparada, como aguaceiros que

irrigam a terra. No reinado da Paz a Lei crescerá forte. E os Filhos da Luz terão domínio de mar a mar, até os confins da

terra. O reinado da Paz tem sua fonte no Pai Celestial; pela Sua força Ele

estabeleceu rapidamente as montanhas, Ele faz a partida da manhã e da noite regozijarem-se na Luz, Ele traz à terra o rio da Lei, para aguá-la e enriquecê-la, Ele amacia a terra com as chuvas; elas caem sobre os pastos do deserto, e as pequenas colinas regozijam-se de todos os lados.

As pastagens estão vestidas com rebanhos; os vales também estão cobertos com trigo; eles gritam de alegria, e cantam também.

Ó Pai Celestial! Traz à Tua terra o reinado da Paz! Então nós nos lembraremos das palavras daquele que ensinava

outrora aos Filhos da Luz: Eu dou a paz de tua Mãe Terrena ao teu corpo, e a paz de teu Pai

Celestial ao teu espírito. E que a paz de ambos reine entre os filhos dos homens. Vinde a mim todos que estais cansados, e que sofreis em disputas e

aflição! Pois a minha paz vos fortalecerá e consolará. Pois a minha paz está excedente, plena de alegria. Por isso eu sempre vos saúde desta maneira:

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A paz esteja convosco! Saudai sempre assim, portanto, uns aos outros, para que sobre o

vosso corpo possa descer a Paz de vossa Mãe Terrena, e sobre o vosso espírito, a Paz de vosso Pai Celestial.

E então encontrareis paz também entre vós, pois o Reino da Lei está dentro de vós.

E voltai para os vossos Irmãos e daí a vossa paz também a eles, pois felizes são aqueles que lutam pela paz, pois eles encontrarão a paz do Pai Celestial.

E dai a cada um a vossa paz, assim como eu vos dei a minha paz. Pois a minha paz é de Deus. A paz esteja convosco!

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O PAI CELESTIAL

No Reino Celestial há obras notáveis e maravilhosas, pois, pela Sua

palavra, todas as coisas consistem. Existem ainda escondidas coisas que são maiores do que estas, pois

só vimos apenas algumas de Suas obras: O Pai Celestial fez todas as coisas. A beleza do céu, a glória das estrelas, emite luz nos lugares mais

altos do Mar Celestial. Sentinelas do Altíssimo, elas estão em sua ordem, e nunca

desfalecem em sua vigília. Olha para o arco-íris e louva aquele que o fez; lindíssimo é ele em

seu resplendor. Ele circunda o céu com um círculo glorioso, curvado pelas mãos do

Altíssimo. Pela Sua Lei, Ele faz a neve cair célere, e envia velozmente os raios

do Seu julgamento. Através disto os tesouros são abertos, e as nuvens voam como aves. Pelo Seu grande poder, ele firma as nuvens, e quebra em pedacinhos

o granizo. À Sua visão, abalam-se as montanhas, e, à Sua vontade, sopra o

vento do sul. O rugido do trovão faz a terra tremer, assim fazem a tempestade do

norte e o tufão; como aves que voam, Ele dispersou a neve, e os olhos maravilham-se diante da beleza da sua alvura, e o coração pasma diante da sua precipitação.

Assim os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento mostra sua obra.

Quem fez as águas? E quem faz as plantas? Quem ao vento atrelou as nuvens de tempestades, as rápidas e até as

mais velozes? Quem, Ó Pai Celestial, é o Criador da Lei sagrada dentro de nossas

almas? Quem fez a luz e a escuridão? Quem fez o sono e o prazer das horas de vigília? Quem deu ao sol e às estrelas recorrentes o seu caminho invariável?

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Quem estabeleceu o porquê a lua cresce, e porquê ela míngua? Quem, senão Tu, Pai Celestial, fez estas coisas gloriosas! Senhor, Tu tens sido o nosso refúgio em todas as gerações. Antes que as montanhas fossem criadas, ou antes de formares a terra

e o mundo, desde toda a eternidade, Tu és a Lei. Teu nome é Entendimento, Teu nome é Sabedoria, Teu nome é o

Beneficentíssimo, Teu nome é o Invencível, Teu nome é Aquele que dá o verdadeiro relato, Teu nome é Aquele que tudo vê, Teu nome é Aquele que Cura, Teu nome é o Criador.

Tu és o Guardião, Tu és o Criador e o Mantenedor; Tu és o Discernidor e o Espírito, Tu és a Lei Sagrada.

Estes nomes foram pronunciados antes da Criação deste Céu, antes da feitura das águas e das plantas, antes do nascimento do nosso santo Pai Enoque.

Antes do princípio do tempo, O Pai Celestial plantou a sagrada Árvore da Vida, que está para todo o sempre no meio do Mar Eterno.

No alto de seus galhos canta um pássaro, e somente aqueles que viajaram até lá, e ouviram o canto misterioso do pássaro, somente eles verão o Pai Celestial.

Eles lhe perguntarão o Seu nome, e Ele responderá: Eu sou o que Eu sou, sendo sempre o mesmo como o Eterno Eu sou.

Ó Tu, Pai Celestial! Quão excelente é o Teu nome em toda a terra! Colocaste Tua glória acima dos céus. Quando nós consideramos os Teus céus, a obra dos Teus dedos, a lua

e as estrelas, que Tu ordenaste, o que é o homem para que Tu te lembres dele?

Entretanto, Tu fizeste uma aliança com os Filhos da Luz, e eles caminham com os Teus santos anjos; Tu os coroaste com glória e honra, Tu fizeste-os ter domínio sobre as obras de Tuas mãos, e deste-lhes a tarefa de nutrir e proteger todas as vidas e crescimentos sobre a Tua terra verde.

Ó Pai Celestial! Quão excelente é o Teu nome em toda a terra! Ouve a voz daquele que clama por Ti: Aonde eu me esconderei do Teu espírito? Ou onde eu fugirei da Tua presença? Se eu subir ao céu, lá Tu estarás; se eu fizer minha cama no inferno,

eis que lá Tu estarás. Se eu tomar as asas da manhã, e for morar nas partes mais remotas

do mar, até lá Tua mão me guiará, e Tua mão direita me sustentará.

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Se eu disser: “Certamente a escuridão me cobrirá”, mesmo a noite será clara sobre mim; Sim, a escuridão não me ocultará de Ti, mas a noite brilhará como o dia: a escuridão e a luz serão ambas iguais para Ti, pois Tu tomaste minhas rédeas.

Como o veado anseia pelos ribeiros de água, assim minha alma anseia por Ti, Ó Deus.

Minha alma tem sede do Pai Celestial vivo. A Lei é a minha luz e a minha salvação; a quem eu temerei? A Lei é a rocha e a força da minha vida; de quem eu terei medo? Uma coisa eu tenho desejado da Lei, que eu buscarei: Que eu possa habitar na casa da Lei todos os dias da minha vida,

para contemplar a beleza do Pai Celestial. Aqueles que habitam no esconderijo do Altíssimo habitarão sob a

sombra do Todo Poderoso. Nós diremos da Lei: “Tu és o nosso refúgio e a nossa fortaleza; nós

confiaremos na Lei Sagrada”. E o Pai Celestial nós cobrirá com Suas penas, e debaixo de Suas asas

nós estaremos confiantes; Sua verdade será nosso escudo e nosso broquel. Não teremos medo do terror à noite, nem da seta que voa de dia, nem

da peste que rasteja no escuro, nem da destruição que assola ao meio-dia. Pois de dia nós caminharemos com os anjos da Mãe Terrena, e à

noite comungaremos com os anjos do Pai Celestial. E quando o sol chegar ao seu zênite no meio-dia, nós ficaremos em

silêncio diante da Paz Sétupla: E nenhum mal nos sucederá, nem praga alguma se aproximará de nossa morada, pois Ele conferiu nossa custódia aos Seus anjos, para nos manter em todos os Seus caminhos.

O Pai Celestial é o nosso refúgio e a nossa força. Portanto, não temeremos. Ainda que a terra seja mudada de lugar, e ainda que as montanhas

sejam carregadas para o meio do mar, ainda que águas dele rujam e se perturbem, ainda que os montes se abalem pela expansão dele, há um rio que flui para o Mar Eterno.

E à sua beira está a sagrada Árvore da Vida. Ali habita o meu Pai, e o meu lar está nele. O Pai Celestial e eu somos Um.

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A LEI SAGRADA Tu, Ó Lei Sagrada, a Árvore da Vida que está no meio do Mar

Eterno, que é chamada a Árvore da Cura, a Árvore da Cura poderosa, a Árvore de todas as Curas e sobre a qual repousam as sementes de tudo o que nós invocamos.

Vós não conhecestes? Vós não ouvistes? Acaso não te foi contado desde o princípio? Ergue os olhos para o alto e contempla a Lei Sagrada, que está

estabelecida antes do eterno, soberano e luminoso espaço, que criou as fundações da terra, que é a primeira e a última, que vive no coração dos Filhos da Luz.

Pois a Lei é grande, como é grande o Pai Celestial acima dos Seus anjos: É Ele quem nos dá a Lei, e Ele é a Lei:

Em Sua mão estão os lugares profundos da terra; a força das colinas é Sua também.

O mar é Seu, e Ele o fez, e Suas mãos formaram a terra seca. Vamos, adoremos e prostremo-nos, ajoelhemos diante do Pai Celestial,

pois Ele é a Lei, e nós somos o povo de Sua pastagem e as ovelhas de Sua mão.

Com cânticos de alegria os Filhos da Luz invocam a Lei Sagrada: A moléstia foge diante dela, a morte foge, a ignorância foge. O orgulho, o desprezo e a febre alta, a calúnia, a discórdia e o mal,

toda a raiva e toda a violência, e as palavras mentirosas de falsidade, todas fogem diante do poder da Lei Sagrada.

Aqui está a Lei que derrotará todas as moléstias, que derrotará toda a morte, que derrotará os opressores dos homens, que derrotará o orgulho, que derrotará o desprezo, que derrotará as febres altas, que derrotará todas as calúnias, que derrotará todas as discórdias, que derrotará o pior do mal, que banirá a ignorância da terra.

Nós bendizemos a invocação e a prece, a força e o vigor da Lei Sagrada.

Nós invocamos o espírito, a consciência e a alma dos Filhos da Luz que ensinam a Lei, que lutam no reino da escuridão para trazer a luz da Lei aos filhos dos homens.

Nós bendizemos a vitória dos bons pensamentos, das boas palavras e

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das boas ações, que fortalece as fundações do Reino da Luz. Que os filhos dos homens, que pensam, falam e fazem todos os bons

pensamentos, palavras e ações, habitem o céu como seu lar. E que aqueles que pensam, falam e fazem maus pensamentos,

palavras e ações habitem no caos. A pureza é para o homem, depois da vida, o maior dos bens: Essa pureza está na Lei Sagrada, que faz crescer a relva sobre os

montes, e limpa o coração dos homens. Com bons pensamentos, boas palavras e boas ações, será limpo o

fogo, limpa a água, limpa a terra, limpas as estrelas, a lua e o sol, limpo o homem fiel e a mulher fiel, limpa a Luz eterna e sem limites, limpo o Reino da Mãe Terrena e limpo o Reino do Pai Celestial, limpas as boas coisas feitas pela Lei, cuja prole é a Criação Divina.

Para obter os tesouros do mundo material, ó filhos dos homens, não renuncieis o mundo da Lei.

Pois aquele que, para obter os tesouros do mundo material, destrói em si o mundo da Lei, não possuirá nem a força da vida nem a Lei, nem tampouco a Luz Celestial.

Mas aquele que caminha com os anjos, e segue a Lei Sagrada, obterá tudo o que é bom: Ele entrará no Mar Eterno onde está a Árvore da Vida.

As Comunhões da Lei são perfeitas, convertem a escuridão da alma em luz; o testemunho da Lei é seguro, torna sábios os simples.

Os estatutos da Lei são corretos, alegram o coração; o mandamento da Lei é puro, e ilumina os olhos.

A verdade da Lei é limpa, e dura para sempre. Que os Filhos da Luz triunfem em toda parte entre os Céus e a Terra! Respiremos a Lei Sagrada em nossa prece: Quão belos são os Teus tabernáculos, Ó Pai Celestial! Minha alma anseia, sim, e até desfalece pela Árvore da Vida que está

no meio do Mar Eterno. Meu coração e minha carne clamam pelo Deus Vivo. Sim, o pardal encontrou um lar, e a andorinha um ninho para si, onde

pode deixar os seus filhotes. Os Filhos da Luz que trabalham no Jardim da Irmandade

permanecem na Lei Sagrada: Bem-aventurados são os que nela habitam.

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OS A�JOS O Pai Celestial confiou aos seus Anjos a tua guarda: E em suas mãos eles te sustentarão, até a Árvore da Vida que está no

meio do Mar Eterno... Pela sabedoria da Lei, pelo poder incomparável da Lei, e pelo vigor

da saúde, pela Glória do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e por todos os benefícios e remédios da Paz Sétupla, nós adoramos os Santos Anjos.

Nossos esforços por eles e nossas Comunhões com eles fazem-nos bons aos olhos do Pai Celestial.

A Lei é cumprida de acordo com os Anjos, os Brilhantes e Santos, cujos olhares executam a sua vontade, fortes, senhoris, que são imperecíveis e sagrados, que são sete e todos de um só Pensamento, que são sete e todos de um só Discurso, que são sete e todos de uma só Ação.

Cujo Pensamento é o mesmo, cujo Discurso é o mesmo, cuja Ação é a mesma, cujo Pai é o mesmo, ou seja, o Pai Celestial!

Os Anjos que vêem as almas uns dos outros, que trazem o Reino da Mãe Terrena e o Reino do Pai Celestial aos Filhos da Luz que trabalham no Jardim da Irmandade.

Os Anjos que são os Fabricantes e os Governantes, os Modeladores e os Supervisores, os Guardiões e os Preservadores da Terra abundante! E de todas as Criações do Pai Celestial.

Nós invocamos os bons, os fortes, os benéficos Anjos do Pai Celestial e da Mãe Terrena!

Da Luz! Do Céu! Das Águas! Da Terra! Das Plantas! Dos Filhos da Luz! Da Eterna e Sagrada Criação! Nós adoramos os Anjos que primeiro escutaram o pensamento e o

ensinamento do Pai Celestial, de quem os Anjos formaram a semente das nações.

Nós adoramos os Anjos que primeiro tocaram a fronte de nosso Pai Enoque, e guiaram os Filhos da Luz pelos sete vezes sete Caminhos que conduzem à Árvore da Vida que se ergue para sempre no meio do Mar

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Eterno. Nós adoramos todos os Anjos, os bons, heróicos e generosos Anjos,

do mundo corpóreo da Mãe Terrena, e os dos Reinos Invisíveis, aqueles dos Mundos Celestiais do Pai Celestial.

Nós adoramos os sempre benditos imortais Anjos, os brilhantes de semblante esplendoroso, as criaturas sublimes e devotadas do Pai Celestial, que são Imperecíveis e Santas.

Nós adoramos os resplandecentes, os gloriosos, os generosos Santos Anjos, que governam justamente e que ajustam todas as coisas corretamente.

Ouvi as vozes alegres dos Filhos da Luz, que entoam louvores aos Santos Anjos enquanto trabalham no Jardim da Irmandade:

Nós cantamos com alegria para as águas, o solo e as plantas, para a terra e para os céus, para o santo vento e para o santo sol e a santa lua, para as estrelas eternas sem começo, e para todas as santas criaturas do Pai Celestial.

Nós cantamos com alegria para a Lei Sagrada, que é a Ordem Celestial, para os dias e para as noites, para os anos e para as estações, que são os pilares da Ordem Celestial.

Nós adoramos os Anjos do Dia, e os Anjos do Mês, os dos Anos e os das Estações, todos os bons, heróicos, sempre benditos imortais Anjos que mantêm e preservam a Ordem Celestial.

Nós desejamos nos aproximar dos Anjos poderosos, de todos os Anjos da Ordem Celestial, por causa da Lei Sagrada, que é o melhor de todos os bens.

Nós apresentamos estes pensamentos bem pensados, estas palavras bem faladas, estas ações bem executadas, aos Anjos generosos e imortais, que exercem corretamente o seu governo.

Nós apresentamos estas oferendas aos Anjos do Dia e aos Anjos da Noite, os sempre vivos, os sempre úteis, que habitam eternamente com a Mente Divina.

Que os bons, heróicos e generosos Anjos do Pai Celestial e da Mãe Terrena caminhem com os seus santos pés no Jardim da Irmandade, e andem de mãos dadas conosco com as virtudes curativas dos seus dons benditos, tão difundidos quanto a terra, tão espalhados quanto os rios, tão alto quanto o sol, para favorecer o aprimoramento do homem, e o crescimento abundante.

São eles, os Santos Anjos, que restaurarão o Mundo!

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Que a partir daí jamais envelhecerá e jamais morrerá! Jamais decairá e sempre viverá e aumentará. Então a Vida e a Imortalidade virão, e o Mundo será restaurado! A Criação crescerá imortal, o Reino do Pai Celestial prosperará, e o

mal terá perecido!

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A IRMA�DADE Vede, quão bom e quão agradável é para os Filhos da Luz habitar

juntos em unidade! Para a Irmandade O Pai Celestial ordenou a Lei. E a vida para todo o sempre. A Lei foi plantada no Jardim da Irmandade para iluminar os corações

dos Filhos da Luz, para endireitar diante deles os sete vezes sete caminhos que conduzem à Árvore da Vida, erguida no meio do Mar Eterno; A Lei foi plantada no Jardim da Irmandade, para que eles pudessem reconhecer os espíritos da verdade e da falsidade.

A verdade nasceu da fonte da Luz, a falsidade, do poço da escuridão. O domínio de todos os Filhos da Verdade está nas mãos dos

poderosos anjos da Luz, para que eles trilhem nos caminhos da Luz. Os Filhos da Luz são os servos da Lei, e o Pai Celestial não os

esquecerá. Ele apagou-lhes os pecados, qual densa nuvem; Ele acendeu a vela

da Verdade dentro de seus corações. Cantai, ó céus, gritai, ó partes baixas da terra, rompei em cânticos, ó

montanhas, ó florestas, e cada árvore que há nelas: Pois o Pai Celestial acendeu Sua chama nos corações dos Filhos da

Luz, e glorificou-se neles. A Lei Sagrada do Criador purifica os seguidores da Luz de todos os

maus pensamentos, palavras e ações, como um vento poderoso veloz que limpa a planície.

Que ao Filho da Luz, que assim desejar, seja-lhe ensinada a Palavra Sagrada, no primeiro período do dia e no último, no primeiro período da noite e no último, para que sua mente possa crescer em inteligência e sua alma se fortaleça na Lei Sagrada.

No momento da aurora, ele olhará para o sol que nasce e saudará com alegria sua Mãe Terrena.

No momento da aurora, ele banhará o corpo na água fria e saudará com alegria sua Mãe Terrena.

No momento da aurora, ele respirará o ar fragrante e saudará com alegria sua Mãe Terrena.

Durante o dia, ele trabalhará com seus irmãos no Jardim da Irmandade.

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No descer do crepúsculo, ele se juntará a seus irmãos, e todos, reunidos, estudarão as palavras sagradas de nossos pais e dos pais de seus pais, até as palavras do nosso Pai Enoque.

E quando as estrelas estiverem altas nos céus, ele comungará com os santos anjos do Pai Celestial.

E sua voz será erguida com alegria até o Altíssimo, dizendo: Nós adoramos o Criador, o feitor de todas as coisas boas:

E da Boa Mente, da Lei, da Imortalidade, e do Sagrado Fogo da Vida. Nós oferecemos à Lei a Sabedoria da Língua, o Discurso Sagrado, as

Ações, e as Palavras corretamente proferidas. Concede-nos, Pai Celestial, que possamos trazer abundância ao

mundo que criaste, para podermos eliminar a fome e a sede do mundo que criaste, para podermos eliminar a velhice e a morte do mundo que criaste.

Ó bom, beneficentíssimo Pai Celestial! Concede-nos que possamos pensar segundo a Lei, para que possamos

falar segundo a Lei, para que possamos agir segundo a Lei. Ó Pai Celestial, qual é a invocação mais meritória em grandeza e

bondade? É aquela, ó Filhos da Luz, que oferecemos ao acordar e levantar do

sono, ao mesmo tempo professando bons pensamentos, boas palavras e boas ações, e rejeitando maus pensamentos, más palavras e más ações.

O primeiro passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o no Paraíso do Bom Pensamento, o Reino Sagrado da Sabedoria.

O segundo passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o no Paraíso da Boa Palavra, o Reino Sagrado do Amor.

O terceiro passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o no Paraíso da Boa Ação, o Reino Sagrado do Poder.

O quarto passo dado pela alma do Filho da Luz colocou-o na Luz Infinita.

O Pai Celestial conhece os corações dos Filhos da Luz, e sua herança será para sempre.

Eles não sentirão medo nos maus tempos: E, nos dias de fome, eles serão saciados. Pois com eles está a Fonte da Vida, e o Pai Celestial não desampara

Seus filhos. Suas almas respirarão para todo o sempre, e suas formas serão

dotadas de Vida Eterna. Abençoados sejam os Filhos da Luz que seguem com a Lei, que

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caminham verdadeiramente em todos os seus caminhos. Que a Lei abençoe-os com todo o bem e guarde-os de todo o mal, e

ilumine seus corações com visão sobre as coisas da vida, e agracie-os com o conhecimento das coisas eternas.

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ÁRVORES Vai até as Árvores altaneiras e, diante de uma delas, que seja bela,

alta e poderosa, dize estas palavras: Eu te saúdo! Ó boa Árvore viva, feita pelo Criador. Antigamente, quando a Criação era nova, a terra estava cheia de

árvores gigantescas, cujos galhos pairavam acima das nuvens, e nelas habitavam nossos Antigos Patriarcas, os que caminhavam com os anjos e viviam segundo a Lei Sagrada.

À sombra dos seus ramos todos os homens viviam em paz, e a sabedoria e o conhecimento estavam neles, e a revelação da Luz Infinita.

Através das suas florestas fluía o Rio Eterno, em cujo centro se erguia a Árvore da Vida, que não se escondia deles.

Eles comiam da mesa da Mãe Terrena, e dormiam nos braços do Pai Celestial, e sua aliança era pela eternidade com a Lei Sagrada.

Naquele tempo as árvores eram irmãs dos homens, e muito longa era a duração de sua vida na terra, tão longa quanto o Rio Eterno, que fluía sem cessar desde a Fonte Desconhecida.

Agora o deserto varre a terra com areia ardente, as árvores gigantescas fizeram-se poeira e cinzas, e o vasto rio é uma lagoa lodosa.

Pois a sagrada aliança com o Criador foi rompida pelos filhos dos homens, e eles foram banidos de seu lar nas árvores.

Agora o caminho para a Árvore da Vida esconde-se dos olhos dos homens, e a tristeza enche o céu vazio onde antes pairavam os galhos altaneiros.

Agora ao deserto ardente chegaram os Filhos da Luz, para trabalhar no Jardim da Irmandade.

A semente que eles plantam no solo árido transformar-se-á em uma floresta poderosa, e as árvores se multiplicarão e estenderão suas asas de verde até que toda a terra seja coberta outra vez.

A terra toda será um jardim e as altas árvores cobrirão a terra. Nesse dia, os Filhos da Luz entoarão um novo cântico: Minha irmã Árvore! Não deixes que eu me esconda de ti, mas partilhemos o alento de

vida que nos deu nossa Mãe Terrena. Mais bela que a jóia mais fina da arte do tapeceiro, é o carpete de

folhas verdes sob os meus pés nus; mais majestosa que o dossel de seda do

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rico mercador, é a tenda de galhos acima da minha cabeça, através dos quais as estrelas brilhantes dão luz.

O vento entre as folhas dos ciprestes faz um som como o de um coro de anjos.

Através do robusto carvalho e do cedro real, a Mãe Terrena enviou uma mensagem de Vida Eterna ao Pai Celestial.

Minha prece segue até as altas árvores: E os seus ramos erguidos em direção ao céu carregarão minha voz

até o Pai Celestial. Para cada filho tu plantarás uma árvore, para que o ventre de tua Mãe

Terrena produza vida, como produz vida o ventre da mulher. Aquele que destrói uma árvore corta seus próprios membros. Assim cantarão os Filhos da Luz, quando a terra voltar a ser um

jardim: Árvore Sagrada, dom divino da Lei! Tua majestade reúne todos aqueles que se desgarraram do verdadeiro

lar, que é o Jardim da Irmandade. Todos os homens se tornarão irmãos novamente debaixo dos teus

ramos espalhados. Como o Pai Celestial tem amado todos os seus filhos, assim

amaremos e cuidaremos das árvores, que crescem na nossa terra, assim nós as guardaremos e protegeremos, para que possam crescer altas e fortes, e encham de novo a terra com sua beleza.

Pois as árvores são nossas irmãs, e como irmãos nós nos amaremos e guardaremos uns aos outros.

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ESTRELAS

As brancas, cintilantes, Estrelas vistas ao longe! As penetrantes, saudáveis, Estrelas que penetram longe! Seus raios brilhantes, seu esplendor e sua glória são todos, através da

Tua Lei Sagrada, os Oradores do Teu louvor, Ó Pai Celestial! Sobre a face do céu o Pai Celestial lançou Seu poder: E eis que Ele deixou um Rio de Estrelas em Seu rastro! Nós invocamos as Estrelas luzentes e gloriosas que purificam todas

as coisas do medo e trazem saúde e vida a todas as Criações. Nós invocamos as Estrelas luzentes e gloriosas às quais o Pai

Celestial deu um milhar de sentidos, as Estrelas gloriosas que têm dentro de si a Semente da Vida e da Água.

Às Estrelas luzentes e gloriosas nós oferecemos uma Invocação: Com sabedoria, poder e amor, com discurso, ações e palavras

corretamente proferidas, nós sacrificamos às Estrelas luzentes e gloriosas que voam em direção ao Mar Celestial, tão rapidamente quanto a seta cruza o Espaço celestial.

Nós invocamos as Estrelas luzentes e gloriosas, que belas se destacam, espalhando conforto e alegria ao comungarem dentro de si.

As Obras Sagradas, as Estrelas, os Sóis e a Aurora multicolorida que traz a Luz dos Dias, são todos, através da Ordem Celestial, Oradores do teu louvor, ó tu, grande doadora, a Lei Sagrada!

Nós invocamos o Senhor das Estrelas, o Anjo da Luz, o sempre desperto! Que toma posse da bela Lei de ampla expansão, grande e poderosamente, e cuja face olha sobre todos os sete vezes sete Reinos da Terra; célere entre os céleres, generoso entre os generosos, forte entre os fortes, doador de Crescimento, doador de Soberania, doador de Contentamento e Bem-aventurança.

Nós invocamos o Senhor das Estrelas, o Anjo da Luz, que fala a verdade, com um milhar de ouvidos e dez milhares de olhos, com pleno conhecimento, forte e sempre desperto.

A Ordem Celestial permeia todas as coisas puras, dela são as Estrelas, em cuja luz se vestem os anjos gloriosos.

Grande é o nosso Pai Celestial, e de sumo poder: Seu entendimento é infinito. Ele diz o número das estrelas; e chama todas pelos seus nomes.

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Contemplai a altura das estrelas! Como são altas! No entanto, o Pai Celestial as segura na palma das mãos, como

peneiramos a areia nas nossas. Aquele que não conhece a Lei Sagrada é como uma estrela errante na

escuridão de um céu desconhecido. Pensas tu que existe apenas uma forma de ver o firmamento? Imaginai que as estrelas são apenas lugares partidos no firmamento,

através dos quais a glória do céu se revela em fragmentos de luz resplandecente!

Na noite purpúrea, atravessada pelas Estrelas contínuas, as almas dos Filhos da Luz criarão asas e se juntarão aos anjos do Pai Celestial.

Então o Mar Eterno refletirá a glória deslumbrante dos céus, e os ramos da Árvore da Vida alcançarão as Estrelas.

Então o Reino do Céu encherá a terra de Glória, e as Estrelas brilhantes do Altíssimo arderão nos corações dos Filhos da Luz e aquecerão e confortarão os filhos dos homens que buscam.

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A LUA Para a Lua luminosa, que guarda dentro de si a semente de muitas

espécies, haja uma invocação com sacrifício e prece. Quando a Luz da Lua fica mais quente, plantas de matizes dourados

brotam da terra durante a estação da Primavera. Nós sacrificamos às Luas Novas e às Luas Cheias; o crescente da

Lua Nova está repleto de santa Paz. Nós sacrificamos ao Anjo da Paz. A Lua radiante e luminosa guarda a semente dentro de si: a brilhante,

a gloriosa, a que nos dá a água, a que nos dá o calor, a que nos dá a sapiência, a que nos dá a meditação, a que nos dá o frescor, a curadora, a Lua da Paz!

Com luz silenciosa e doadora de Paz a Lua brilha sobre pastos, moradias, águas, terras e plantas do nosso jardim terreno.

A Lua e o Sol, o Vento sagrado e as Estrelas sem começo, autodeterminados e automovidos, são todos reguladores da Ordem Sagrada, dos dias e das noites, dos meses e dos anos.

A face da Lua muda seu aspecto e, no entanto, é sempre a mesma. Assim como a Lei Sagrada revela uma face diversa a cada um dos

Filhos da Luz, mas não se altera em sua Essência. Nós invocamos a Lua Nova e a Lua que míngua, e a Lua Cheia que

dispersa a Noite, e os festivais e as estações anuais do Pai Celestial. Pois foi Ele quem deu à lua o seu aumento e a sua diminuição, para

que através dela conheçamos os movimentos do dia e da noite. Tu, lua prateada e luminosa! Nós somos gratos por podermos contemplar-te, e ver no teu reflexo a

face abençoada de nossa Mãe Terrena. No mundo dos filhos dos homens, os Irmãos da Luz são chamas de

esplendor, como as estrelas empalidecem na presença da lua brilhante e resplandecente.

A lua move-se iluminada, cruzando o céu, e o deleite na Lei Sagrada enche nossos corações.

Paz, Paz, Paz, Santo Anjo da Paz, ilumina a lua de prata com a tua santidade, para que todos possam contemplar sua beleza e sentir tua Paz eterna.

O céu deserto é azul à noite, e nós vemos o primeiro raio da Lua

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Nova, casta e formosa. Então os Irmãos saúdam-se um ao outro com amor e agradecimento,

dizendo: “A Paz esteja contigo! A paz esteja contigo!”

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SALMOS DE LOUVOR E AÇÃO DE GRAÇAS

Eu sou grato, Pai Celestial, por me haveres elevado a uma altura

eterna, e eu ando pelas maravilhas da planície. Tu me deste orientação para alcançar a Tua eterna companhia desde

as profundezas da terra. Tu purificaste meu corpo para juntar-me ao exército dos anjos da

terra e para meu espírito alcançar a congregação dos anjos celestiais. Tu deste eternidade ao homem para exaltar, na aurora e no

crepúsculo, Tuas obras e maravilhas em cântico jubiloso. Ó vós, todas as obras da Ordem Celestial, bendizei a Lei: Louvai e exaltai a Lei acima de tudo, para sempre. Ó vós, céus, bendizei a Lei: Louvai e exaltai a Lei acima de tudo, para sempre. Ó vós, anjos do Pai Celestial, e vós, anjos da Mãe Terrena, bendizei

a Lei: Louvai e exaltai a Lei acima de tudo, para sempre. Ó vós, todas as águas que estão acima dos céus, bendizei a Lei. Ó vós, todos os poderes dos Santos Anjos, bendizei a Lei. Ó vós, sol e lua, bendizei a Lei. Ó vós, estrelas do céu, bendizei a Lei. Ó vós, chuviscos e orvalhos, bendizei a Lei. Ó vós, todos os ventos, bendizei a Lei. Ó vós, fogo e calor, bendizei a Lei. Ó vós, inverno e verão, bendizei a Lei. Ó vós, luz e treva, bendizei a Lei. Ó vós, orvalhos e tempestades de neve, bendizei a Lei. Ó vós, noites e dias, bendizei a Lei. Ó vós, relâmpagos e nuvens, bendizei a Lei. Ó vós, montanhas e pequenas colinas, bendizei a Lei. Ó vós, o que cresceis na terra, bendizei a Lei. Ó vós, fontes, bendizei a Lei. Ó vós, mares e rios, bendizei a Lei. Ó vós, baleias e tudo que se move nas águas, bendizei a Lei. Ó vós, todas as aves do ar, bendizei a Lei. Ó vós, animais e gado, bendizei a Lei. Ó vós, filhos dos homens, bendizei a Lei.

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Ó vós, espíritos e almas dos Filhos da Luz, bendizei a Lei. Ó vós, santos e humildes trabalhadores do Jardim da Irmandade,

bendizei a Lei. Que toda a terra bendiga a Lei! Dai graças ao Pai Celestial, e bendizei a Sua Lei. Ó todos vós que adorais a Lei, louvai o Pai Celestial e a Mãe

Terrena, e todos os Santos Anjos, e dai-lhes graças, porque a Lei dura para sempre.

Nós adoramos a Lei de dia e de noite. Salve o Pai Celestial! Salve a Mãe Terrena! Salve os Santos Anjos! Salve os Filhos da Luz! Salve nosso santo Pai Enoque! Salve toda a Santa Criação que foi, que é e que sempre será! Nós sacrificamos às estrelas luzentes e gloriosas, sacrificamos ao céu

soberano, sacrificamos ao tempo sem limites, sacrificamos à boa Lei dos adoradores do Criador, dos Filhos da Luz que trabalham no Jardim da Irmandade; sacrificamos ao caminho da Lei Sagrada.

Nós sacrificamos a todos os Santos Anjos do mundo invisível; Nós sacrificamos a todos os Santos Anjos do mundo material.

Dai graças ao Pai Celestial, pois Ele é bom, dai graças ao Deus dos Anjos, dai graças ao Senhor da Luz, pois a Sua misericórdia dura para sempre.

A Ele que por si só opera grandes maravilhas, a Ele que, pela sabedoria, fez os céus, a Ele que estendeu a terra acima das águas, a Ele que fez grandes luzes nos céus, a Ele que fez o sol para reinar de dia, e a lua e as estrelas para reinarem à noite, entoai infinitos louvores e agradecimentos, pois a Sua misericórdia dura para sempre.

E nós adoramos a antiga e santa religião, instituída na Criação, que estava na terra no tempo das Grandes Árvores; a santa religião do Criador, a resplandecente e gloriosa, revelada a nosso Pai Enoque.

Nós adoramos o Criador, e o Fogo da Vida, e as boas Águas que são Santas, e o resplandecente Sol e a Lua, e as Estrelas lustrosas e gloriosas; e sobretudo nós adoramos a Lei Sagrada, que o Criador, nosso Pai Celestial, nos deu.

É a Lei que santifica o nosso lugar de morada, que é a terra extensa e verde.

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Louvai a Lei! A Lei cura o coração partido, e cura-lhe as feridas. Grande é a Lei, e grande é o seu poder; infinita é a compreensão da

Lei. A Lei eleva os humildes, e arremessa ao solo os iníquos. Cantai para a Lei em agradecimento, harpeai louvores à Lei, que

cobre o céu de nuvens, que prepara a chuva para a terra, que faz crescer a relva nas montanhas.

Nós louvamos em voz alta o Pensamento bem pensado, a Palavra bem falada, a Ação bem executada.

Nós iremos a vós, ó generosos imortais! Nós iremos a vós, enaltecendo-vos e invocando-vos, anjos do Pai

Celestial e da Mãe Terrena! Nós adoramos o Santo Senhor da Ordem Celestial, o Criador de

todas as boas criaturas da terra. E nós adoramos as elocuções do nosso Pai Enoque, e sua religião

antiga e pura, sua fé e seu saber, mais velhos que o início do tempo. Nós cantaremos para a Lei enquanto vivermos, entoaremos louvores

ao nosso Pai Celestial enquanto existirmos, enquanto durar o Jardim da Irmandade.

Nossas comunhões com os anjos serão doces; estaremos contentes na Lei.

Bendize a Lei, ó minha alma. Louva a Lei Sagrada. Os Filhos da Luz amam a Lei, porque a Lei ouve as nossas vozes e

nossas súplicas. Um ouvido que tudo ouve tem a Lei inclinada para nós, portanto nós

invocaremos a Lei enquanto vivermos. A Lei livrou nossas almas da morte, nossos olhos das lágrimas e

nossos pés de cair. Nós caminharemos diante da Lei na terra dos vivos: Nos caminhos

do Infinito Jardim da Irmandade. Os dias dos filhos dos homens são como a relva; como as flores do

campo, assim eles florescem; e o vento passa por eles, e eles se vão; mas a misericórdia da Lei é de eternidade a eternidade para aqueles que a seguem.

Bendizei o Pai Celestial, todos vós, Seus anjos; vós, Seus ministros, que executais a Sua vontade.

Bendizei o Senhor, todas as Suas obras, em todos os lugares do Seu

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domínio: Bendize o Senhor, ó minha alma. Ó Pai Celestial, Tu és imenso! Tu estás vestido de honra e majestade. Quem te cobriu de luz como de uma veste, quem descerrou os céus

como uma cortina, quem colocou as vigas de Suas câmaras nas águas, quem fez das nuvens Sua carruagem, quem caminhou sobre as asas do vento, quem fez dos Seus anjos espíritos, de Seus Filhos da Luz um fogaréu chamejante para acender a Verdade no coração dos filhos dos homens, quem assentou os fundamentos da terra.

Bendize o Pai Celestial, ó minha alma!

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LAME�TAÇÕES

Das profundezas eu clamei a ti, Ó Senhor. Senhor, ouve a minha voz! Ouve a minha oração, Ó Senhor, e deixa que o meu clamor chegue a

ti. Não escondas Tua face de mim no dia em que eu estiver em

tribulação; inclina Teu ouvido para mim; no dia em que eu clamar, responde-me depressa.

Pois meus dias se consomem qual fumaça, e meus ossos estão queimados qual lareira.

Meu coração está ferido e seco como a relva; tanto que me esqueço de comer o meu pão.

Por causa da voz dos meus gemidos, meus ossos se colam à minha pele.

Eu sou como um pelicano do ermo; sou como a coruja do deserto. Eu vigio, e sou como um pardal, sozinho no telhado da casa. Meus dias são como uma sombra que declina; e estou seco como a

relva. Ó meu Deus, não me leves embora no meio dos meus dias: Os céus

são obra de Tuas mãos. Eles perecerão, mas Tu permanecerás. O primeiro passo dado pela alma do homem perverso deixou-o no

inferno dos maus pensamentos. O segundo passo dado pela alma do homem perverso deixou-o no

inferno das más palavras. O terceiro passo dado pela alma do homem perverso deixou-o no

inferno das más ações. O quarto passo dado pela alma do homem perverso deixou-o na

escuridão sem fim. Eu sei que Tu podes fazer todas as coisas, e que nenhum propósito

Teu pode ser impedido. Meus olhos agora te vêem, e por isso eu abomino a mim mesmo, e

me arrependo no pó e nas cinzas. Pois os filhos iníquos dos homens pecaram contra si próprios, e o seu

inferno de maus pensamentos, más palavras e más ações é o inferno que eles próprios fizeram.

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Mas minha angústia e minhas lágrimas amargas são pelos meus antigos patriarcas, que pecaram contra o Criador e foram banidos do Reino Sagrado das Grandes Árvores.

Por isso eu choro e escondo meu rosto na tristeza, pela beleza do Jardim Perdido, e pela doçura desaparecida do canto do Pássaro, que cantava nos galhos da Árvore da Vida.

Tem misericórdia de mim, Ó Deus, e limpa-me do meu pecado. Acabou-se a alegria dos nossos corações, nossa dança transformou-

se em lamento. A coroa caiu de nossas cabeças: Ai de nós, que pecamos! Por isso nosso coração está fraco, por essas coisas nossos olhos estão

turvos. Tu, Ó Pai Celestial, permaneces para sempre em Teu trono de

geração a geração. Por que Tu nos esqueces para sempre, e nos desamparas por tanto

tempo? Volta-nos para ti, Ó Senhor, renova nossos dias como outrora. Onde não há virtude nem compaixão, jazerão os animais selvagens

do deserto; e suas casas estarão cheias de criaturas lastimosas. E ali corujas morarão, e ali sátiros dançarão. E os animais selvagens chorarão em suas casas desoladas. Lava-me, Ó Senhor, e eu serei mais alvo do que a neve. Faze-me ouvir a alegria e o contentamento; afasta o Teu rosto dos

meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades. Cria em mim um coração limpo, Ó Deus; e renova dentro de mim um

espírito reto. Não me expulses da Tua presença; e não tires de mim Teu espírito

santo. Restaura para mim a alegria do Jardim Infinito e sustenta-me com os

Teus Santos Anjos. Deixa-me afastar todas as coisas más e todas as impurezas do fogo,

da água, da terra, das árvores, do homem fiel e da mulher fiel, das estrelas, da lua, do sol, da Luz sem limites, e de todas as coisas boas feitas por ti, Ó Pai Celestial, cujo fruto é a Lei Sagrada.

Pelos rios da Babilônia, lá nós nos sentamos, sim, e choramos quando lembramos de Sião.

Nós penduramos nossas harpas nos salgueiros.

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Como entoaremos o cântico do Senhor em uma terra iníqua? Se eu te esquecer, ó Jerusalém, que a minha mão direita esqueça a

sua destreza. Se eu não me lembrar de ti, que minha língua una-se ao céu da minha

boca; pois a Babilônia é a escravidão do mundo, e Sião é a liberdade da Irmandade.

Ó Senhor, a ti clamarei! Pois o fogo devorou as pastagens do deserto, e a chama abrasou

todas as árvores do campo. Os animais do campo também clamam a ti: pois os rios de água

secaram e o fogo devorou as pastagens do ermo. Tremam todos os habitantes da terra: Pois o dia do Senhor vem, pois está próximo; um dia de escuridão e

melancolia, um dia de nuvens e densa escuridão, um dia em que a terra tremerá, e os céus tremerão.

O sol e a lua escurecerão, e as estrelas retirarão o seu brilho. Das profundezas nós clamaremos a ti, Ó Senhor! Senhor, escuta as

nossas vozes!

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PROFECIAS

Ouvi-me, meu povo, dai ouvido ao que digo! Erguei os olhos para os céus, e olhai para a terra embaixo: pois os céus

desaparecerão como fumaça, e a terra envelhecerá como uma vestimenta, e os que habitam nela morrerão da mesma maneira:

Meu Reino, porém, durará para sempre, e minha Lei não será abolida.

E nesse dia o inferno se alargará, e abrirá sua boca sem medida: e a glória, o orgulho e a pompa dos ímpios cairão dentro dela.

E o homem mesquinho será abatido, e o homem poderoso será humilhado, como o fogo devora o restolho, e a chama consome a palha; assim sua raiz será qual podridão, e sua floração subirá como poeira.

Porque eles rejeitaram a Lei Sagrada da Ordem Celestial e desprezaram a palavra dos Filhos da Luz.

E nesse dia, quem olhar para a terra verá apenas trevas e tristeza, e a luz nos céus terá escurecido.

Os líderes do povo o levarão a errar, e os conduzidos por eles serão destruídos.

Pois todos são hipócritas e malfeitores, e todas as bocas dizem disparates.

A maldade queima como o fogo: devorará arbustos e espinhos. Incendiará nas moitas da floresta e subirá como a elevação da fumaça. Por causa da cólera da Lei, a terra escurecerá, pois isto o homem

forjou para si mesmo. E as pessoas serão como combustível do fogo: nenhum homem

poupará seu irmão. Ai daqueles que não tiverem guardado a Lei Sagrada! Ai da coroa de orgulho! Ai daqueles que cobiçam as coisas do mundo, e se corrompem com

injustiças, que erram na visão e tropeçam no julgamento: Pois são um povo rebelde, um povo mentiroso, um povo que não

ouvirá a Lei do Senhor: Que diz aos videntes, não vejais, e aos Profetas, não nos profetizeis

as coisas certas, mas dizei-nos coisas agradáveis, profetizai falácias. Ai daqueles que decretam leis injustas, e que escrevem as desgraças

que prescreveram.

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Ai daqueles que juntam casa com casa, que acrescentam campo com campo, até não haver lugar em que o homem possa estar só no meio da terra!

Ai daqueles que se levantam de manhã cedo, não para comungar com os anjos, mas para perseguir bebidas fortes e continuam até a noite, até que os vapores do vinho os inflamem!

Ai de todos os que chamam bem ao mal e mal ao bem, que passam a escuridão por luz e a luz por escuridão.

Ai daqueles que desviam os necessitados do juízo, e arrebatam o direito dos pobres, que fazem das viúvas sua presa e roubam os órfãos!

Por essa razão sucederá que a mão do Senhor podará os galhos com o julgamento da Lei, e os altos serão cortados e os soberbos serão humilhados.

Gemei, pois o dia da Lei está próximo; ele virá como destruição do Todo Poderoso.

Por isso todas as mãos serão fracas, e o coração de cada homem derreterá.

E eles terão medo: dores e sofrimentos se apossarão deles, sentirão dores como a mulher em trabalho de parto; surpreenderão uns aos outros; seus rostos serão como chamas.

Eis que chega o dia do Senhor, cruel tanto com ira quanto com ardente furor, para deixar a terra desolada: e Ele expulsará os pecadores dela.

Sucederá nesse dia que o Senhor castigará a hoste dos arrogantes, e os reis da terra sobre a terra.

E eles serão reunidos, como se reúnem os prisioneiros no poço, e encerrados na prisão.

E o Senhor sairá do Seu lugar, e descerá, e pisará nos lugares altos da terra.

E as montanhas se derreterão debaixo d’Ele, e os vales se fenderão como cera no fogo, como as águas derramam de um despenhadeiro.

Então a lua desaparecerá e o sol se obscurecerá. E as estrelas dos céus e as suas constelações não darão sua luz: O sol será escurecido em seu andamento, e a lua não fará a sua luz

brilhar. E o Senhor sacudirá os céus, e a terra será removida do seu lugar, no

dia da ira da Lei, e no dia do ardente furor do Senhor. E as cidades brilhantes serão devastadas, e nelas viverão os animais

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selvagens do deserto; o feno murchará, a relva faltará, e em toda a terra não haverá uma só coisa verde.

Nesse dia, as cidades fortes serão como um galho abandonado, e uma tempestade de granizo varrerá o refúgio das mentiras, e as águas enfurecidas inundarão o esconderijo dos iníquos.

E haverá sobre toda alta montanha, e sobre toda alta colina, rios e cursos de água no dia da grande mortandade, quando as torres cairão.

Nesse dia, a luz da lua será como a do sol, e a luz do sol será sétupla. Eis que o nome da Lei vem de longe, queimando com raiva ardente,

e o seu fardo é pesado: Os lábios do Senhor estão cheios de indignação e Sua língua é como

um fogo devorador. Ele mostrará a força do Seu braço, com a chama do fogo consumidor,

com dispersão, tempestade e granizo. A terra será totalmente esvaziada, totalmente arruinada, pois os

filhos dos homens se afastaram da Lei. A cidade da confusão é derrubada: Todas as casas estão fechadas, para que nenhum homem possa entrar

nelas. Há choros e lamentos nas ruas: Toda a alegria escureceu, a alegria da terra se foi. E sucederá que aquele que foge do ruído do medo cairá no poço; e

aquele que sobe e sai do meio do poço será tomado pelo laço: Pois as janelas do alto estão abertas, e as fundações da terra tremem. A terra está completamente arruinada, a terra está totalmente

dissolvida, a terra está excessivamente alterada. Então a lua se confundirá, o sol se envergonhará, e a terra vacilará de

um lado para outro, que nem um bêbedo, e cairá, e não tornará a levantar-se.

E toda a hoste do céu será dissolvida, e os céus serão enrolados como um pergaminho: e toda a sua hoste cairá, como cai a folha da parreira, e como cai o figo da figueira.

As águas do mar se extinguirão, e os rios se esgotarão e secarão. As correntezas de água se transformarão em piche, e o pó dele em

enxofre, e a terra se tornará em piche ardente. E a fumaça não será suprimida nem de noite nem de dia, e nenhum

homem a transpassará. Mas o corvo marinho e o ouriço possuirão a terra; também a coruja e

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o corvo habitarão nela. E ali se estenderão sobre ela a linha da confusão e as pedras da

vacuidade. Eles chamarão seus nobres ao reino, mas nenhum estará lá, e todos

os seus príncipes serão nada. E espinhos crescerão em seus palácios, urtigas e sarças nas suas

fortalezas. E eles serão morada de dragões, e corte de avestruzes. Os embaixadores da paz chorarão amargamente, e as estradas serão

assoladas. A glória das florestas será consumida, e a dos campos produtivos;

sim, as árvores serão tão poucas que uma criança poderá contá-las. Eis que chegará o dia em que tudo o que estiver na terra, e tudo o que

vossos pais armazenaram, será levado como fumaça, pois vós esquecestes vosso Pai Celestial e vossa Mãe Terrena, e infringiram a Lei Sagrada.

Oh, Tu rasgaria os céus, Tu descerias, para que as montanhas derretessem em Tua presença.

Quando Tua mão exibiu o poder da Tua Lei, Tu desceste em fúria: As montanhas derramaram-se na Tua presença, e os fogos que

derretem arderam. Eis que Tu estás irado porque nós pecamos. Nós somos como o mar conturbado, quando não pode repousar, cujas

águas atiram para cima lama e lodo. Nós confiamos na vaidade e falamos mentiras; nossos pés seguem

para o mal, ruína e destruição estão em nossos caminhos. Nós tateamos pelas paredes como os cegos, tropeçamos ao meio-dia

como se fosse de noite, estamos em lugares desolados como homens mortos.

Mas agora, Ó Pai Celestial, Tu és o nosso pai: Nós somos o barro e Tu és o oleiro, e nós somos todos o Teu povo. Tuas cidades santas são um ermo, Tuas florestas estão consumidas,

toda a Tua terra é uma desolação. Nossa santa e bela casa, onde nossos pais te louvavam, foi queimada

pelo fogo. Até o antigo saber de nosso Pai Enoque é pisoteado no pó e nas

cinzas. E eu avistei a terra, e eis que ela era sem forma e vazia; e os céus não

tinham luz.

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E eu avistei as montanhas, e eis que elas tremiam, e todas as colinas estremeciam.

Eu avistei, e eis que não havia nenhum homem, e todas as aves dos céus tinham voado.

Eu avistei, e eis que o lugar produtivo era um deserto, e todas as suas cidades foram derrubadas na presença do Senhor, e pelo seu furor ardente.

Pois dessa maneira disse o Senhor, a terra inteira ficará desolada; entretanto, não acabarei com tudo.

Eis que a mão da Lei não está reduzida, que ela não possa salvar; tampouco está pesado o ouvido da Lei, que ela não possa ouvir:

Do deserto eu trarei uma semente, e a semente será plantada no Jardim da Irmandade, e florescerá, e os Filhos da Luz cobrirão a terra infecunda com capim alto e árvores frutíferas.

E eles reconstruirão os antigos lugares arruinados: consertarão as cidades devastadas, as desolações de muitas gerações.

Eles serão chamados de os reparadores da ruptura, e restauradores dos caminhos para morar.

Eles serão uma coroa de glória na cabeça do Senhor, e um diadema real na mão da Lei.

O ermo e o local solitário se alegrarão por eles, e o deserto regozijará e florescerá como a rosa.

Florescerá abundantemente, e regozijará com alegria e cânticos. Os olhos do cego se abrirão, e os ouvidos do surdo se destamparão. Então o coxo saltará como um veado, e a língua do mudo cantará. Pois as águas irromperão no ermo, e fontes de água fluirão no

deserto. E o solo ressequido se converterá em lagos, e a terra sedenta, em

fontes de água. E uma estrada haverá ali, e um caminho, e será chamado de o

Caminho da Lei: O impuro não passará por ele, mas ele será para os Filhos da Luz,

que cruzarão o Rio Eterno para chegar ao lugar escondido, onde se ergue a Árvore da Vida.

E os filhos dos homens regressarão à terra, e virão ao Jardim Infinito com cânticos e eterna alegria sobre suas cabeças:

Eles obterão alegria e contentamento, e o pesar e os suspiros desaparecerão.

E sucederá nos últimos dias, que a montanha da casa do Senhor será

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estabelecida no topo das montanhas, e exaltada acima das colinas; e todos os filhos dos homens da terra afluirão a ela.

E muitas pessoas irão e dirão: Vinde e subamos à montanha do Senhor, até o tabernáculo da Lei Sagrada, e os Santos Anjos nos ensinarão dos caminhos do Pai Celestial e da Mãe Terrena, e trilharemos os caminhos da retidão:

Do Jardim da Irmandade sairá a Lei e a palavra do Senhor dos Filhos da Luz.

E o Senhor julgará entre as nações, e repreenderá muitos povos: E eles converterão as espadas em enxadas, e as lanças em foices: Nações não erguerão a espada contra nações, e tampouco aprenderão

mais a guerrear. Ouvi as vozes dos Irmãos, que gritam a brados no ermo: Preparai o caminho da Lei! Endireitai no deserto uma estrada para o nosso Deus! Todo vale será exaltado, e todas as montanhas e colinas serão

abaixadas: O torto será endireitado, e os lugares ásperos aplainados: E a voz do Pai Celestial será ouvida: Eu, sim, Eu sou a Lei; e além de mim não há nenhum outro. Sim, antes que o dia fosse, Eu sou: E não há ninguém que possa livrar-se da minha mão. Ouvi-me, ó Filhos da Luz! Eu sou ele; Eu sou o primeiro, e também sou o último. Minha mão também assentou os alicerces da terra, e minha mão

direita mediu palmo a palmo os céus. Ouvi-me, ó Filhos da Luz! Vós que conheceis a retidão, meus filhos em cujos corações está a

minha Lei: Vós saireis afora com alegria, e sereis conduzidos em paz: As

montanhas e as colinas irromperão em cânticos diante de vós, e todas as árvores do campo baterão palmas.

Levantai-vos, brilhai, ó Filhos da Luz! Pois minha Luz desceu sobre vós, e vós fareis a Glória da Lei erguer-se sobre a nova terra!

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LIVRO 4

OS E�SI�AME�TOS DOS ELEITOS

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PREFÁCIO

Foi em 1928 que Edmond Bordeaux Székely publicou pela

primeira vez sua tradução do Livro Um de O Evangelho Essênio da Paz, um antigo manuscrito que ele encontrara no Arquivo Secreto do Vaticano como resultado de paciência ilimitada, erudição impecável, e intuição infalível, uma história contada em seu livro: ‘A descoberta do Evangelho Essênio da Paz’. A versão em Inglês deste antigo manuscrito surgiu em 1937, e, desde então, o pequeno volume viajou por todo o mundo, aparecendo em diferentes idiomas, e ganhando a cada ano mais e mais leitores, até agora, mesmo sem nenhuma propaganda comercial, mais de um milhão de cópias foram vendidas somente nos Estados Unidos. Foi quase cinquenta anos depois que a primeira tradução francesa do Livro Dois e Livro Três apareceu, e estes também já se tornaram clássicos da literatura Essênia.

O Livro Quatro, Os Ensinamentos dos Eleitos, chegará como uma surpresa para os leitores que estão cientes da morte do Dr. Székely em 1979. Se eu fosse também um filólogo, ou erudito, ou arqueólogo, eu poderia ser capaz de fornecer uma explicação. Mas eu sou apenas o seu fiel servo escriturário, e as instruções que ele me deixou foram claras e explícitas: “Dois anos após a minha morte, você publicará o Livro Quatro de O Evangelho Essênio da Paz”. Isso foi tudo, e agora eu estou realizando seu desejo.

Este Livro Quatro, Os Ensinamentos dos Eleitos, representa ainda um outro fragmento do manuscrito completo que existe em aramaico no Arquivo Secreto do Vaticano e em antigo eslavo na Biblioteca Real dos Habsburgos (hoje propriedade do governo austríaco). Quanto à razão para o atraso na sua publicação, só posso supor que o Dr. Szekely queria que a vivida realidade dessas verdades imutáveis permanecesse única, desobscurecida até mesmo pela presença do tradutor. Ele disse em seu prefácio à primeira edição de Londres do Livro Um, em 1937, que “nós publicamos esta parte antes do resto, porque é a parte da qual a humanidade sofredora tem mais necessidade hoje”. Talvez, da mesma forma, o mundo conturbado de quarenta e quatro anos mais tarde, precisa deste quarto volume de O Evangelho Essênio da Paz.

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Mais uma vez as palavras do Dr. Szekely: “Nada teremos a adicionar a este texto. Ele fala por si próprio. O leitor que estude as páginas que se seguem com concentração, sentirá a vitalidade eterna e a poderosa evidência destas verdades profundas que a humanidade necessita hoje mais urgentemente do que nunca.”

“E a verdade dará testemunho de si mesma.”

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AS COMU�HÕES ESSÊ�IAS

E sucedeu que Jesus reuniu os Filhos da Luz junto à margem do

rio, a fim de revelar-lhes o que estivera oculto; pois havia transcorrido o espaço de sete anos, e cada um deles estava maduro para a verdade, como a flor se abre do botão, quando os anjos do sol e da água levam-na para o seu tempo de florescimento.

E todos eles eram diferentes uns dos outros, pois alguns já tinham idade avançada, ao passo que outros ainda conservavam nas faces o orvalho da juventude, e outros ainda haviam sido educados segundo as tradições de seus pais, e outros não sabiam sequer quem eram seu pai e sua mãe. Todos, porém, partilhavam de clareza de visão e agilidade de corpo, sinais de que, durante sete anos, haviam caminhado com os anjos da Mãe Terrena e obedecido às suas leis. E, por sete anos, os anjos desconhecidos do Pai Celestial haviam os ensinado durante suas horas de sono. E esse era o dia em que entrariam para a Irmandade dos Eleitos e aprenderiam os ensi-namentos ocultos dos Anciões, incluindo os de Enoque e os anteriores a ele.

E Jesus conduziu os Filhos da Luz a uma árvore anciã ao lado do rio, e ali ele ajoelhou-se no lugar em que as raízes, torcidas e grisalhas da velhice, espalhavam-se pela margem do rio. E os Filhos da Luz ajoelharam-se também, e tocaram com reverência o tronco da árvore anciã, pois lhes fora ensinado que as árvores eram Irmãs dos Filhos dos Homens. Pois sua mãe é a mesma, a Mãe Terrena, cujo sangue corre na seiva da árvore e no corpo do Filho do Homem. E seu pai é o mesmo, o Pai Celestial, cujas leis estão escritas nos galhos da árvore, e cujas leis estão gravadas na testa do Filho do Homem.

E Jesus estendeu suas mãos para a árvore, e disse: “Eis a Árvore da Vida, que se ergue no meio do Mar Eterno. Não olheis apenas com os olhos do corpo, mas vede com os olhos do espírito a Árvore da Vida em uma fonte de córregos; em uma fonte viva numa terra de seca. Vede o eterno jardim de maravilhas e no seu centro a Árvore da Vida, mistério dos mistérios, brotando ramos imortais para o eterno plantio, para penetrar suas raízes na corrente da vida de uma fonte eterna. Vede com os olhos do espírito os anjos do dia e os anjos da

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noite que protegem os frutos com chamas de Luz Eterna, que ardem de todos os modos.”

“Vede, ó Filhos da Luz, os ramos da Árvore da Vida estendendo-se em direção ao reino do Pai Celestial. E vede as raízes da Árvore da Vida descendo ao seio da Mãe Terrena. E o Filho do Homem é elevado a uma altura eterna e caminha entre as maravilhas da planície; pois somente o Filho do Homem carrega em seu corpo as raízes da Árvore da Vida; as mesmas raízes que mamam no seio da Mãe Terrena; e apenas o Filho do Homem carrega em seu espírito os galhos da Árvore da Vida; os mesmos galhos que atingem o céu, até o reino do Pai Celestial.”

“E por sete anos, vós trabalhastes durante o dia inteiro com os anjos da Mãe Terrena; e por sete anos vós dormistes nos braços do Pai Celestial. E agora será grande a vossa recompensa, pois vos será dado o dom das línguas, para que possais atrair para vós o pleno poder de vossa Mãe Terrena e ter o comando sobre os Seus anjos e o domínio sobre todo o Seu reino; e para que possais atrair para vós a glória ofuscante de vosso Pai Celestial, a fim de comandardes os Seus anjos e entrardes na vida perpétua dos reinos celestiais.”

“E por sete anos essas palavras não vos foram dadas, pois quem usa o dom das línguas para buscar riquezas ou para dominar seus inimigos, deixa de ser um Filho da Luz para converter-se em filhote do diabo e em uma criatura das trevas. Pois somente a água pura pode refletir como um espelho a luz do sol; e a água escurecida pela sujeira e pela treva não reflete coisa alguma. E quando o corpo e o espírito do Filho do Homem tiverem caminhado com os anjos da Mãe Terrena e do Pai Celestial por sete anos, então ele passa a ser como o rio que corre debaixo do sol do meio-dia, que espelha as luzes deslumbrantes de jóias luminosas.”

“Ouvi-me, Filhos da Luz, pois eu vos concederei o dom das línguas, para que, falando com vossa Mãe Terrena pela manhã, e com vosso Pai Celestial à noite, vós possais chegar cada vez mais perto da unidade com os reinos da terra e do céu, unidade para qual o Filho do Homem está destinado desde o princípio dos tempos.”

“Eu vos farei conhecerdes coisas profundas e misteriosas. Pois, em verdade vos digo, todas as coisas existem através de Deus e não há ninguém além d’Ele. Portanto encaminhai vossos corações para que

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possais caminhar nos caminhos certos, onde está a presença d’Ele.” “Quando abrirdes vossos olhos de manhã, antes mesmo de

vosso corpo ter sido chamado pelo Anjo do Sol, dizei a vós mesmos estas palavras, deixando-as ecoar em vosso espírito; pois as palavras são como folhas mortas quando não há nelas a vida do espírito. Dizei, portanto, estas palavras: ‘Eu entro no jardim eterno e infinito do mistério, meu espírito em unidade com o Pai Celestial, meu corpo em unidade com a Mãe Terrena, meu coração em harmonia com os meus Irmãos, os Filhos dos Homens, dedicando meu espírito, meu corpo e meu coração ao santo, puro e salvador Ensinamento, o Ensinamento que outrora fora conhecido como de Enoque’.”

“E depois que essas palavras tiverem entrado em vosso espírito, na primeira manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘A Mãe Terrena e eu somos um. Seu hálito é meu hálito; Seu sangue é meu sangue; Seus ossos, Sua carne, Suas vísceras, Seus olhos e Seus ouvidos são meus ossos, minha carne, minhas vísceras, meus olhos e meus ouvidos. Eu nunca a abandonarei, e Ela sempre alimentará e sustentará o meu corpo’. E sentireis o poder da Mãe Terrena fluindo através do vosso corpo como o rio quando está cheio pelas chuvas e corre poderosamente com grande estridor.”

“E na segunda manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da Terra, torna frutífera a minha semente, e com o teu poder dá vida ao meu corpo’. Assim como a vossa semente cria nova vida, assim percorre a terra a semente do Anjo da Terra: na relva, no solo, em todas as coisas vivas que brotam do solo. Sabei, ó Filhos da Luz, que o mesmo Anjo da Terra, que transforma a vossa semente em filhos, também transforma a minúscula glande neste poderoso carvalho, e faz a semente fértil do trigo crescer para o pão do Filho do Homem. E a semente do vosso corpo não precisa entrar no corpo da mulher para criar vida; pois o poder do Anjo da Terra pode criar a vida do espírito interior, bem como a vida do corpo exterior.”

“E na terceira manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da Vida, entra com força nos membros do meu corpo’. E com estas palavras abraçai a Árvore da Vida, assim como eu abraço este irmão carvalho, e vós sentireis o poder do Anjo da Vida fluir para os vossos braços, para as vossas pernas e para todas as partes do vosso corpo, como a seiva flui na árvore na primavera, e assim como ela escorre

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para fora do tronco, assim o Anjo da Vida inundará vosso corpo com o poder da Mãe Terrena.”

“E na quarta manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da Alegria, desce à terra e derrama beleza e satisfação sobre todos os filhos da Mãe Terrena e do Pai Celestial’. E vós saireis para os campos de flores depois da chuva e dareis graças à vossa Mãe Terrena pelo doce aroma das florescências; pois em verdade vos digo, um flor não tem outro propósito senão o de trazer alegria ao coração do Filho do Homem. E vós ouvireis com novos ouvidos o canto dos pássaros, e vereis com novos olhos as cores do sol no nascente e no poente; e todos esses dons da Mãe Terrena farão a alegria brotar dentro de vós, como brota uma fonte subitamente em um lugar improdutivo. E sabereis que ninguém chega à presença do Pai Celestial se o Anjo da Alegria não o tiver deixado passar; pois na alegria a terra foi criada, e na alegria a Mãe Terrena e o Pai Celestial deram à luz ao Filho do Homem.”

“E na quinta manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do Sol, entra em meu corpo e deixa que eu me banhe no fogo da vida’. E sentireis os raios do sol nascente penetrarem no ponto central do vosso corpo, no centro em que os anjos do dia e da noite se misturam, e o poder do sol será vosso para dirigir a qualquer parte do vosso corpo, pois os anjos habitam nele.”

“E na sexta manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da Água, entra no meu sangue e dá a Água da Vida ao meu corpo’. E vós sentireis, como a correnteza célere do rio, o poder do Anjo da Água entrar em vosso sangue e, como os riachos de um córrego, enviar o poder da Mãe Terrena, através do vosso sangue, a todas as partes do vosso corpo. E será para a cura, pois o poder do Anjo da Água é muito grande e, quando lhe falardes, ele enviará o seu poder para onde vós comandardes, pois quando os anjos de Deus habitam no interior do Filho do Homem, todas as coisas são possíveis.”

“E na sétima manhã após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do Ar, entra com a minha respiração e dá o Ar da Vida ao meu corpo’. Sabei, ó Filhos da Luz, que o Anjo do Ar é o mensageiro do Pai Celestial, e ninguém chega diante da face de Deus se o Anjo do Ar não o tiver deixado passar. Nós não pensamos no Anjo do Ar quando respiramos, pois respiramos sem pensar, como os filhos das trevas

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vivem sua vida sem pensar. Mas quando o poder da vida entra em vossas palavras e na vossa respiração, então, todas as vezes que invocardes o Anjo do Ar, estareis invocando também os anjos desconhecidos do Pai Celestial; e assim chegareis cada vez mais perto dos reinos celestiais.”

“E na noite do Shabat, dizei estas palavras: ‘O Pai Celestial e eu somos Um.’ E fechai os vossos olhos, Filhos da Luz e, no sono, adentrai os reinos desconhecidos do Pai Celestial. E vós vos banhareis na luz das estrelas, e o Pai Celestial vos segurará em Sua mão e fará uma fonte de conhecimento manar dentro de vós; uma fonte de poder, despejando águas vivas, um dilúvio de amor e sabedoria oniabrangente, como o esplendor da Luz Eterna. E um dia os olhos do vosso espírito se abrirão e vós conhecereis todas as coisas.”

“E na primeira noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da Vida Eterna, desce sobre mim e dá vida eterna ao meu espírito!’ E fechai os vossos olhos, Filhos da Luz e, no sono, contemplai a unidade de toda a vida em toda parte. Pois em verdade vos digo, nas horas diurnas nossos pés estão no chão e nós não temos asas com as quais voar. Mas os nossos espíritos não estão atados à terra e, com a chegada da noite, nós superamos nosso apego à terra e nos juntamos com o que é eterno. Pois o Filho do Homem não é tudo o que ele parece, e somente com os olhos do espírito nós podemos ver os fios de ouro que nos ligam a toda vida em toda parte.”

“E na segunda noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do Trabalho Criativo, desce à terra e confere abundância a todos os Filhos dos Homens’. Pois este mais poderoso dentre os anjos do Pai Celestial é a causa do movimento, e só no movimento há vida. Trabalhai, Filhos da Luz, no jardim da Irmandade a fim de criar o reino dos céus na terra. E como vós trabalhais, assim o Anjo do Trabalho Criativo alimentará e amadurecerá a semente do vosso espírito, para que possais ver a Deus.

“E na terceira noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Paz, paz, paz, Anjo da Paz, esteja sempre em toda parte’. Procurai o Anjo da Paz em tudo o que vive, em tudo o que fazeis, em cada palavra que pronunciais. Pois a paz é a chave para todo conhecimento, para todo mistério, para toda vida. Onde não há paz, reina Satã. E, acima de tudo, os filhos das trevas cobiçam roubar dos Filhos da Luz a sua paz.

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Ide, portanto, nessa noite, à corrente dourada de luz que é a vestimenta do Anjo da Paz. E trazei de volta para a manhã a paz de Deus que ultrapassa o entendimento, para que com essa paz perfeita vós possais confortar os corações dos Filhos dos Homens.”

“E na quarta noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do Poder, desce sobre mim e enche de poder todos os meus atos’. Em verdade vos digo, assim como não há vida na terra sem o sol, não há vida no espírito sem o Anjo do Poder. O que pensais e o que sentis são como as escrituras mortas, apenas palavras em uma página, ou discursos mortos de homens mortos. Os Filhos da Luz, todavia, não somente pensarão, não somente sentirão, mas também agirão, e seus atos cumprirão os seus pensamentos e sentimentos, como o fruto dourado do verão dá sentido às folhas verdes da primavera.”

“E na quinta noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo do Amor desce sobre mim e enche de amor todos os meus sentimentos’. Pois é pelo amor que o Pai Celestial, a Mãe Terrena e o Filho do Homem tornam-se um. O amor é eterno. O amor é mais forte que a morte. E todas as noites os Filhos da Luz devem banhar-se na água santa do Anjo do Amor, para que com a manhã ele possa batizar os Filhos dos Homens com atos amáveis e palavras gentis. Pois quando o coração do Filho da Luz é banhado no amor, só profere palavras gentis e amáveis.”

“E na sexta noite após o Shabat, dizei estas palavras: ‘Anjo da Sabedoria desce sobre mim e enche de sabedoria todos os meus pensamentos’. Sabei Filhos da Luz, que os vossos pensamentos são tão poderosos quanto o raio que apunhala a tempestade e despedaça a árvore poderosa. Por isso vós esperastes sete anos para aprender como falar com os anjos, pois vós não conheceis o poder dos vossos pensamentos. Usai, portanto, a sabedoria em tudo o que pensais, dizeis e fazeis. Pois em verdade vos digo, o que é feito sem sabedoria é como um cavalo sem cavaleiro, com boca espumando e olhos selvagens, correndo enlouquecido na direção de um abismo. Mas quando o Anjo da Sabedoria governa os vossos atos, então o caminho para os reinos desconhecidos é estabelecido, e a ordem e a harmonia governam vossas vidas.”

“E estas são as comunhões com os anjos que são dadas aos Filhos da Luz, para que, com os corpos purificados pela Mãe Terrena

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e os espíritos purificados pelo Pai Celestial, eles possam comandar e servir os anjos continuamente, de um período a outro, nos circuitos do dia e em sua ordem fixa; com a vinda da luz de sua fonte e na virada da noite e na saída da luz, na saída da escuridão e na vinda do dia, continuamente, em todas as gerações do tempo.”

“A verdade nasceu da fonte da Luz, a falsidade proveio do poço da escuridão. O domínio de todos os filhos da verdade está nas mãos dos Anjos da Luz, de modo que eles possam caminhar pelos caminhos da Luz.”

“Benditos sejam todos os Filhos da Luz que traçam a sorte pela Lei, que caminham verdadeiramente em todos os seus caminhos. Que a Lei vos abençoe com todo o bem e vos guarde de todo o mal, e ilumine vossos corações com visão sobre as coisas da vida e vos agracie com o conhecimento das coisas Eternas.”

E a lua crescente da paz ergueu-se sobre a montanha e lascas de luz brilharam nas águas do rio. E os Filhos da Luz, como um homem, ajoelharam-se em reverência e agradecimento pelas palavras de Jesus, visto que ele os ensinava à maneira antiga de seus pais, assim como Enoque outrora foi ensinado.

E Jesus disse: “A Lei foi plantada para recompensar os Filhos da Luz com cura e paz abundante, com vida longa, com semente fecunda de bênçãos eternas e com eterna alegria na imortalidade da Luz Eterna.”

“Com a vinda do dia eu abraço minha Mãe, com a vinda da noite me junto ao meu Pai, e com a saída da noite e da manhã eu respirarei sua Lei, e eu não interromperei essas Comunhões até o fim do tempo.”

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O DOM DA VIDA �A RELVA HUMILDE

Foi no mês de Tébet, quando a terra estava coberta com brotos

de relva nova depois das chuvas, e a cobertura de verde-esmeralda era tenra como a fina lanugem de um pintinho. E foi numa bela manhã ensolarada que Jesus reuniu os novos Irmãos dos Eleitos à sua volta, para que eles pudessem ouvir com seus ouvidos e compreender com seus corações os ensinamentos de seus pais, assim como outrora foram ensinados a Enoque.

E Jesus sentou-se debaixo de uma árvore antiga e retorcida, segurando nas mãos um pequeno pote de barro; e no pote crescia uma tenra relva de trigo, a mais perfeita dentre todas as ervas portadoras de sementes. A tenra relva dentro do pote estava radiante de vida, como a relva e as plantas que revestiam as colinas nos campos mais distantes e além. E Jesus acariciou a relva no pote com as mãos, tão suavemente quanto acariciaria a cabeça de uma criancinha.

E Jesus disse: “Felizes sois vós, Filhos da Luz, pois ingressastes no caminho sem morte, e andais pelos passos da verdade, assim como fizeram vossos pais outrora, ensinados pelos Grandes. Com os olhos e ouvidos do espírito vedes e ouvis as imagens e os sons do reino da Mãe Terrena: o céu azul onde habita o Anjo do Ar, o rio espumoso onde flui o Anjo da Água, a luz dourada que escorre do Anjo do Sol. E em verdade vos digo, tudo isso está dentro e fora de vós; pois o vosso alento, o vosso sangue, o fogo da vida dentro de vós, estão todos unidos à Mãe Terrena.”

“Mas de tudo isso, e mais, o dom mais precioso de vossa Mãe Terrena é a relva debaixo de vossos pés, a mesma relva que vós pisais sem pensar. Humilde e manso é o Anjo da Terra, pois não tem asas para voar, nem raios dourados de luz para penetrar a neblina. Grande, porém, é a sua força e vastos são os seus domínios, pois ele cobre a terra com o seu poder e, sem ele, os Filhos dos Homens já não existiriam, já que nenhum homem pode viver sem a relva, as árvores e as plantas da Mãe Terrena. E estes são os dons do Anjo da Terra aos Filhos dos Homens.

“Mas agora vos falarei de coisas misteriosas, pois em verdade vos digo, a relva humilde é mais do que alimento para o homem e para

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o animal. Ela esconde sua glória sob um aspecto modesto, como se contava de um soberano de outrora que visitava as aldeias dos seus súditos disfarçado de mendigo, sabendo que eles diriam muitas coisas a um homem assim, mas cairiam amedrontados diante do seu Rei. Da mesma forma, a relva humilde esconde sua glória debaixo de uma capa de verde modesto, e os Filhos dos Homens andam sobre ela, aram-na, dão-na como alimento aos animais, mas não conhecem quais segredos estão escondidos em seu interior, mesmo aqueles segredos da vida imortal nos reinos celestiais.”

“Mas os Filhos da Luz saberão o que está oculto na relva, pois foi entregue a eles levar conforto aos Filhos dos Homens. Assim também nós somos ensinados pela Mãe Terrena com este punhadinho de trigo num pote singelo, o mesmo pote de barro que usais para tomar leite e juntar o mel das abelhas. O pote, agora, está cheio com terra preta, rica de folhas velhas e úmida pelo orvalho da manhã, o dom mais precioso do Anjo da Terra.”

“E eu umedeci um punhado de trigo, para que o Anjo da Água penetrasse nele. O Anjo do Ar também o abraçou, e o Anjo do Sol, e o poder dos três anjos despertou também o Anjo da Vida dentro do trigo, e em cada grão nasceram broto e raiz.”

“Então eu coloquei o trigo despertado no solo do Anjo da Terra, e o poder da Mãe Terrena e de todos os Seus anjos entraram no trigo, e, depois do sol ter se erguido quatro vezes, os grãos tornaram-se relva. Em verdade vos digo, não há maior milagre do que este.”

E os Irmãos olharam com reverência para as tenras folhas de relva nas mãos de Jesus, e um deles perguntou-lhe: “Mestre, qual é o segredo da relva que tens nas mãos? Em que difere ela da relva que recobre as colinas e as montanhas?”

E Jesus respondeu: “Ela não é diferente, Filho da Luz. Todas as relvas, todas as árvores, todas as plantas, em todas as partes do mundo, todas são parte do reino da Mãe Terrena. Mas eu separei neste pote uma pequena porção do reino de vossa Mãe, para poderdes tocá-la com as mãos do espírito, e para que o poder dela possa entrar em vosso corpo.”

“Pois em verdade vos digo, existe uma Corrente Sagrada da Vida que deu à luz a Mãe Terrena e a todos os Seus anjos. Essa Corrente da Vida é invisível aos olhos dos Filhos dos Homens, pois

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eles caminham na escuridão e não vêem os anjos do dia e da noite que os cercam e pairam sobre eles. Mas os Filhos da Luz tem caminhado por sete anos com os anjos do dia e da noite, e agora lhes foram entregues os segredos da comunhão com os anjos. E os olhos do vosso espírito serão abertos, e vereis, ouvireis e tocareis a Corrente da Vida que gerou a Mãe Terrena. E vós entrareis na Corrente Sagrada da Vida, que vos carregará, com infinita ternura, à vida eterna no reino de vosso Pai Celestial.”

“Como faremos isso, Mestre?”, indagaram alguns, atônitos. “Que segredos precisamos conhecer para ver, ouvir e tocar essa Corrente Sagrada da Vida?”

E Jesus não respondeu. Mas colocou suas duas mãos em torno das folhas de relva que cresciam no pote, delicadamente, como se fosse a testa de uma criancinha. Fechou seus olhos e, ao seu redor, ondas de luz cintilavam ao sol, como o calor do verão faz tremer a luz debaixo de um céu sem nuvens. E os Irmãos se ajoelharam e inclinaram suas cabeças em sinal de reverência diante do poder dos anjos, que vertia da figura sentada de Jesus; e ele permaneceu sentado em silêncio, com as mãos fechadas, como que em oração, em torno das folhas de relva.

E ninguém sabia se havia se passado uma hora ou um ano, pois o tempo parou e era como se toda a criação tivesse prendido sua respiração. E Jesus abriu seus olhos, e um aroma de flores encheu o ar quando ele falou: “Aqui está o segredo, Filhos da Luz; aqui na relva humilde. Aqui está o ponto de encontro da Mãe Terrena e do Pai Celestial; aqui está a Corrente da Vida que deu à luz a toda a criação; em verdade vos digo, somente ao Filho do Homem é dado ver, ouvir e tocar a Corrente da Vida que flui entre os Reinos Terreno e Celestial. Colocai vossas mãos em torno da tenra relva do Anjo da Terra e vereis, ouvireis e tocareis o poder de todos os anjos.”

E, um a um, cada um dos Irmãos sentou-se com reverência diante do poder dos anjos, segurando em suas mãos a tenra relva. E cada um sentiu a Corrente da Vida entrar em seu corpo com a força de uma correnteza após uma tempestade de primavera. E o poder dos anjos fluiu em suas mãos, até os seus braços, e sacudiu-os poderosamente, assim como o vento do norte sacode os galhos das árvores. E todos admiraram-se com o poder da relva humilde, capaz

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de conter todos os anjos e os reinos da Mãe Terrena e do Pai Celestial. E sentaram-se diante de Jesus e foram ensinados por ele.

E Jesus disse: “Contemplai, Filhos da Luz, a modesta relva. Vede dentro do que estão contidos todos os anjos da Mãe Terrena e do Pai Celestial. Pois agora entrastes na Corrente da Vida, e suas correntes vos carregarão em tempo para a vida imortal no reino de vosso Pai Celestial.”

“Pois na relva estão todos os anjos. Aqui está o Anjo do Sol, no brilho da cor verde das folhas de trigo. Pois ninguém pode olhar para o sol quando ele está alto nos céus, pois os olhos do Filho do Homem são ofuscados pela sua luz radiante. E é por isso que o Anjo do Sol torna verde tudo aquilo que ele dá vida, para que o Filho do Homem possa olhar para os muitos e variados tons de verde e neles encontrar força e conforto. Em verdade vos digo, tudo o que é verde e com vida tem o poder do Anjo do Sol dentro de si, incluindo essas tenras folhas de trigo novo.”

“E assim o Anjo da Água abençoa a relva, pois em verdade vos digo, há mais do Anjo da Água dentro da relva do que de qualquer outro anjo da Mãe Terrena. Pois se esmagardes a relva com as mãos, sentireis a água da vida, que é o sangue da Mãe Terrena. E, todos os dias em que tocardes a relva e entrardes na Corrente da Vida, dai ao solo umas poucas gotas de água, para que a relva possa ser renovada pelo poder do Anjo da Água.”

“Sabei também que o Anjo do Ar está dentro da relva, pois tudo o que está vivo e verde é o lar do Anjo do Ar. Colocai o vosso rosto perto da relva, respirai profundamente e deixai o Anjo do Ar entrar fundo no interior do vosso corpo. Pois ele habita na relva, como o carvalho habita na glande, e como o peixe habita no mar.”

“O Anjo da Terra é o que dá à luz a relva, e como o bebê no útero vive da alimentação de sua mãe, assim também a terra dá de si própria ao grão do trigo, fazendo-o brotar para abraçar o Anjo do Ar. Em verdade vos digo, cada grão de trigo que irrompe para cima na direção do céu, é uma vitória sobre a morte, onde reina Satã. Pois a Vida sempre recomeça.”

“É o Anjo da Vida quem flui através das folhas da relva para o corpo do Filho da Luz, sacudindo-o com o seu poder. Pois a relva é Vida e o Filho da Luz é Vida, e a Vida flui entre o Filho da Luz e as

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folhas da relva, fazendo uma ponte para a Corrente Sagrada da Vida, que deu origem a toda a criação.”

“E quando o Filho da Luz segura entre as mãos as folhas da relva, é o Anjo da Alegria que enche seu corpo com música. Entrar na Corrente da Vida é ser um com o canto do pássaro, as cores das flores silvestres, o cheiro dos feixes de grãos, recém devolvidos aos campos. Em verdade vos digo, quando o Filho do Homem não sente alegria no seu coração, ele trabalha para Satã e traz esperança aos filhos das trevas. Não há tristeza no reino da Luz, apenas o Anjo da Alegria. Aprendei, portanto, com as tenras folhas da relva, o canto do Anjo da Alegria, para que os Filhos da Luz possam caminhar sempre com ele, e então confortar os corações dos Filhos dos Homens.”

“A Mãe Terrena é quem provê a subsistência para nossos corpos, pois nascemos d’Ela e n’Ela temos a nossa vida. Assim Ela provê para nós alimento nas mesmas folhas de relva que tocamos com nossas mãos. Pois em verdade vos digo, não é apenas como pão que o trigo pode nos alimentar. Podemos comer também das tenras folhas da relva, para que a força da Mãe Terrena possa entrar em nós. Contudo, mastigai bem as folhas, pois os dentes do Filho do Homem são diferentes dos dentes dos animais, e somente quando mastigamos bem as folhas da relva o Anjo da Água entra em nosso sangue e dá-nos força. Comei, pois, Filhos da Luz, da erva mais perfeita da mesa de nossa Mãe Terrena, para que os vossos dias sejam longos sobre a terra, pois assim encontrareis graça aos olhos de Deus.”

“Em verdade vos digo, o Anjo do Poder entra em vós quando tocais a Corrente da Vida por intermédio das folhas da relva. Pois o Anjo do Poder é como uma luz brilhante que envolve todas as coisas vivas, assim como a lua cheia é rodeada de anéis de resplendor, e como a névoa sobe dos campos quando o sol se ergue no céu. E o Anjo do Poder entra no Filho da Luz quando seu coração é puro e seu desejo é apenas confortar e ensinar os Filhos dos Homens. Tocai, pois, as folhas da relva, e senti o Anjo do Poder entrar pela ponta de vossos dedos, fluir, subindo pelo vosso corpo, e sacudir-vos, até tremerdes com admiração e reverência.”

“Sabei também que o Anjo do Amor está presente nas folhas da relva, pois o amor está no doar, e grande é o amor dado aos Filhos da Luz pelas tenras folhas da relva. Pois em verdade vos digo, a Corrente

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da Vida corre através de todas as coisas vivas, e tudo o que vive se banha na Corrente Sagrada da Vida. E quando o Filho da Luz toca com amor as folhas da relva, as folhas da relva lhe retribuem seu amor e conduzem-no à Corrente da Vida, onde ele encontra a vida eterna. E esse amor nunca se esgota, pois a sua fonte está na Corrente da Vida, que flui para o Mar Eterno, e não importa o quanto o Filho do Homem tenha se distanciado de sua Mãe Terrena e de seu Pai Celestial, o contato com as folhas da relva sempre trará uma mensagem do Anjo do Amor; e seus pés se banharão novamente na Corrente Sagrada da Vida.”

“Eis que é o Anjo da Sabedoria que governa o movimento dos planetas, o ciclo das estações e o crescimento ordenado de todas as coisas vivas. Assim o Anjo da Sabedoria ordena a comunhão dos Filhos da Luz com a Corrente da Vida, por intermédio das tenras folhas da relva. Pois em verdade vos digo, vosso corpo é santo porque se banha na Corrente da Vida, que é a Ordem Eterna.”

“Tocai as folhas da relva, Filhos da Luz, e tocai o Anjo da Vida Eterna. Pois, se olhardes com os olhos do espírito, vereis verdadeiramente que a relva é eterna. Agora ela é jovem e tenra, com o brilho de uma bebê recém-nascido. Logo ela será alta e graciosa, como a árvore nova com seus primeiros frutos. Em seguida, ela amarelará com a idade, e inclinará sua cabeça com paciência, como o campo depois da colheita. Finalmente, ela murchará, pois o pequeno pote de barro não pode conter todo o período de vida do trigo. Mas ela não morre, pois as folhas marrons voltarão para o Anjo da Terra, e ele a mantém em seus braços e a faz dormir, e todos os anjos trabalham nas folhas murchas, e eis que elas se modificam e não morrem, mas erguem-se novamente em uma outra forma. E, assim, os Filhos da Luz nunca vêem a morte, mas encontram-se alterados e ressurgidos à vida eterna.”

“E assim o Anjo do Trabalho nunca dorme, mas penetra as raízes do trigo profundamente no seio do Anjo da Terra, para que os rebentos de verde tenro possam superar a morte e o reinado de Satã. Pois vida é movimento, e o Anjo do Trabalho nunca pára, trabalha sem cessar no vinhedo do Senhor. Fechai os olhos quando tocardes a relva, Filhos da Luz, mas não adormeçais, pois tocar a Corrente da Vida é tocar o ritmo eterno dos reinos imortais, e banhar-se na

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Corrente da Vida é sentir, cada vez mais, o poder do Anjo do Trabalho dentro de vós, criando na terra o reino do Céu.”

“A Paz é a dádiva da Corrente da Vida aos Filhos da Luz. Por isso nós sempre nos saudamos uns aos outros dizendo: ‘A Paz esteja convosco’. Assim mesmo a relva saúda vosso corpo com o beijo da Paz. Em verdade vos digo, a paz não é somente a ausência de guerra, pois muito rapidamente pode o rio pacífico transformar-se em torrente veloz, e as mesmas ondas que embalam o barco podem, num instante, despedaçá-lo de encontro às rochas. Assim a violência jaz à espera dos Filhos do Homem, quando eles não mantém a vigília da Paz. Tocai as folhas da relva, e desse modo tocai a Corrente da Vida. Nisso encontrareis a Paz, a Paz construída com o poder de todos os anjos. E, assim, com essa Paz, os raios da Luz Sagrada expelirão toda a escuridão.”

“Quando os Filhos da Luz são um com a Corrente da Vida, o poder das folhas da relva os conduz ao reino imortal do Pai Celestial. E sabereis mais a respeito desses mistérios, que ainda não é o momento para vós ouvirdes. Pois existem outras Correntes Sagradas nos reinos imortais; em verdade vos digo, os reinos celestiais são cruzados e recruzados por correntes de luz dourada, que formam arcos muito além da abóbada do céu e não têm fim. E os Filhos da Luz viajarão por essas correntes para sempre, sem conhecer a morte, guiados pelo amor eterno do Pai Celestial. E em verdade vos digo, todos esses mistérios estão contidos na modesta relva, quando a tocais com ternura e abris vosso coração para o Anjo da Vida internamente.”

“Juntai, portanto, os grãos de trigo e plantai-os em pequenos potes de barro; e, todos os dias, com o coração alegre, comungai com os anjos, para que eles possam guiar-vos à Corrente Sagrada da Vida, e vós possais trazer de volta de sua fonte eterna o conforto e a força para os Filhos dos Homens. Pois em verdade vos digo, tudo o que vós aprendeis, tudo o que os olhos do vosso espírito vêem, tudo o que os ouvidos do vosso espírito ouvem, tudo isso é como uma cana oca no vento se não enviardes uma mensagem de verdade e luz aos Filhos dos Homens. Pois pelo fruto conhecemos o valor da árvore. E amar é um ensinar sem fim, sem cessar. Pois assim foram vossos pais ensinados outrora, até mesmo nosso pai Enoque. Ide agora e que a paz esteja convosco.”

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E Jesus mostrou o pequeno pote com as folhas de relva nova, como num gesto de bênção, aos Irmãos e caminhou em direção às colinas ensolaradas, ao longo da margem do rio, como era costume de todos os Irmãos. E os outros o seguiram, cada um guardando em si as palavras de Jesus, como se fossem uma jóia preciosa dentro de seu peito.

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A PAZ SÉTUPLA

“A paz esteja convosco”, disse o Ancião saudando os Irmãos

reunidos para ouvir-lhe os ensinamentos. “A paz esteja contigo”, responderam eles; e caminharam juntos

ao longo da margem do rio, pois assim era o costume quando um Ancião ensinava os Irmãos, para que eles pudessem partilhar os ensinamentos com os anjos da Mãe Terrena: do ar, do sol, da água, da terra, da vida e da alegria.

E o Ancião disse aos Irmãos: “Eu queria falar-vos hoje da paz, pois de todos os anjos do Pai Celestial o da paz é aquele pelo qual o mundo mais almeja, como um bebê cansado anseia colocar sua cabeça no seio de sua mãe. É a ausência de paz que perturba os reinos, mesmo quando não estão em guerra. Pois a violência e a guerra podem imperar em um reino mesmo quando não se ouve o tinir das batidas das espadas. Embora os exércitos não marchem uns contra os outros, ainda assim não há paz quando os Filhos dos Homens não caminham com os anjos de Deus. Em verdade vos digo, muitos são os que não conhecem a paz; pois estão em guerra com seu próprio corpo; estão em guerra com os seus pensamentos; não têm paz com seus pais, suas mães, seus filhos; não têm paz com os amigos e vizinhos; não conhecem a beleza dos Manuscritos Sagrados; não trabalham durante o dia no reino de sua Mãe Terrena; tampouco dormem à noite nos braços do seu Pai Celestial. A Paz não reina dentro deles, pois estão sempre sedentos daquilo que no fim só traz miséria e sofrimento, até mesmo daqueles ornamentos de riquezas e fama que Satã se utiliza para tentar os Filhos dos Homens; e vivem na ignorância da Lei, mesmo da Lei Sagrada segundo a qual vivemos: o caminho dos anjos da Mãe Terrena e do Pai Celestial.”

“Como, então, podemos levar a paz a nossos irmãos, Mestre?” perguntaram alguns ao Ancião, “pois desejaríamos que todos os Filhos dos Homens compartilhassem das bênçãos do Anjo da Paz”.

E ele respondeu: “Em verdade, somente aquele que está em paz com todos os anjos pode derramar a luz da paz sobre outros. Portanto, em primeiro lugar, estai em paz com todos os anjos da Mãe Terrena e do Pai Celestial. Pois os ventos de um temporal agitam e perturbam as

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águas do rio, e somente o silêncio que se segue pode serená-las outra vez. Quando vosso irmão vos pedir pão, cuidai de não lhe dar pedras. Vivei primeiro em paz com todos os anjos, pois então vossa paz será como uma fonte que se reabastece ao doar, e quanto mais doardes tanto mais vos será doado, pois essa é a Lei.”

“Três são as moradas do Filho do Homem, e ninguém pode chegar perante a presença de Deus sem que conheça o Anjo da Paz em cada uma das três. Estas são o seu corpo, os seus pensamentos e os seus sentimentos. Quando o Anjo da Sabedoria guia os seus pensamentos, quando o Anjo do Amor purifica os seus sentimentos e quando os atos do seu corpo refletem tanto o amor quanto a sabedoria, então o Anjo da Paz o guia, infalivelmente, ao trono de seu Pai Celestial. E ele deve rezar sem cessar para que o poder de Satã com todas as suas moléstias e impurezas seja expulso de todas as suas três moradas; para que o Poder, a Sabedoria e o Amor reinem no seu corpo, nos seus pensamentos e nos seus sentimentos.”

“Primeiro que tudo o Filho do Homem procurará a paz com seu próprio corpo; pois o seu corpo é como o lago de uma montanha que reflete o sol quando está parado e claro; mas quando se enche de lodo e pedras, não reflete coisa alguma. É preciso, primeiro, que Satã seja expelido do corpo, para que os anjos de Deus possam entrar novamente e habitar dentro dele. Em verdade, nenhuma paz pode reinar em um corpo ao menos que ele seja um templo da Lei Sagrada. Portanto, quando aquele que padece com sofrimentos e tormentos atrozes pedir a vossa ajuda, dizei-lhe que se renove com jejum e orações. Dizei-lhe que invoque o Anjo do Sol, o Anjo da Água e o Anjo do Ar, para que eles possam entrar em seu corpo e expulsar dele o poder de Satã. Mostrai-lhe o batismo interno e o batismo externo. Dizei-lhe sempre que coma da mesa de nossa Mãe Terrena, repleta de seus dons: os frutos das árvores, a relva dos campos, o leite dos animais bom para consumo e o mel das abelhas. Que ele não invoque o poder de Satã comendo a carne dos animais, pois quem mata, mata seu irmão, e quem come a carne de animais mortos, come o corpo da morte. Dizei-lhe que prepare seus alimentos com o fogo da vida e não com o fogo da morte, pois os anjos vivos do Deus Vivo só servem a homens vivos.”

“E, embora ele não os veja, não os escute e não os toque, ele

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está, a todo o momento, cercado pelo poder dos anjos de Deus. Enquanto seus olhos e seus ouvidos estiverem fechados pela ignorância da Lei e sedentos pelos prazeres de Satã, ele não os verá, não os ouvirá e não os tocará. Porém, quando ele jejuar e orar ao Deus Vivo para expulsar todas as moléstias e impurezas de Satã, então seus olhos e seus ouvidos se abrirão, e ele encontrará a paz.”

“Pois não somente sofre o que abriga em si as moléstias de Satã, como também sofrem sua mãe, seu pai, sua esposa, seus filhos e seus companheiros, pois nenhum homem é uma ilha em si mesmo, e os poderes que fluem por ele, seja dos anjos seja de Satã, em verdade, fluem para os outros para o bem ou para o mal.”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao nosso corpo o Anjo da Vida, para habitar nele para sempre!’”

“Então o Filho do Homem buscará a paz com os seus próprios pensamentos; que o Anjo da Sabedoria possa guiá-lo. Pois em verdade vos digo, não há maior poder no céu e na terra do que os pensamentos do Filho do Homem. Embora invisível aos olhos do corpo, cada pensamento tem uma poderosa força, uma força capaz de sacudir os céus.”

“Pois a nenhuma outra criatura do reino da Mãe Terrena é dado o poder do pensamento, pois os animais que rastejam e as aves que voam não vivem do seu próprio pensamento, mas da Lei que a todos governa. Somente aos Filhos dos Homens foi concedido o poder do pensamento, incluindo o pensamento que pode romper os laços da morte. Não penseis que, por não poder ser visto, o pensamento não tenha poder. Em verdade vos digo, o raio que fende o carvalho poderoso, ou o terremoto que abre rachaduras na terra, são brincadeiras de crianças comparados ao poder do pensamento. Na verdade, cada pensamento de treva, seja de maldade, raiva ou vingança, provoca destruição semelhante à do fogo que se alastra por gravetos secos sob um céu sem vento. Mas o homem não vê o massacre, nem ouve os gritos lastimosos de suas vítimas, pois está cego para o mundo do espírito.”

“Mas quando esse poder é guiado pela santa Sabedoria, então os pensamentos do Filho do Homem conduzem-no aos reinos celestiais e

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dessa maneira se constrói o paraíso na terra; então é que vossos pensamentos elevam as almas dos homens, como as águas frias de um córrego reanimam vossos corpos no calor do verão.”

“Quando o passarinho que acaba de empenar-se tenta o primeiro vôo, suas asas não podem sustentá-lo, e ele cai repetidas vezes no chão. Mas ele torna a tentar e, um dia, ele voa bem alto, deixando a terra e o ninho para trás. O mesmo acontece com os pensamentos dos Filhos dos Homens. Quanto mais eles caminham com os anjos e mantém sua Lei, tanto mais fortes se tornam seus pensamentos na santa Sabedoria. E, em verdade vos digo, dia virá em que os seus pensamentos superarão até o reino da morte e subirão à vida imortal nos reinos celestiais; pois, com seus pensamentos guiados pela santa Sabedoria, os Filhos dos Homens constroem uma ponte de luz pela qual chegam a Deus.”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia aos nossos pensamentos o Anjo do Poder, para que possamos romper os laços da morte.’”

“Então o Filho do Homem buscará a paz com os seus próprios sentimentos; para que sua família possa se alegrar com a sua afetuosa bondade, incluindo seu pai, sua mãe, sua esposa, seus filhos e os filhos de seus filhos. Pois o Pai Celestial é cem vezes maior do que todos os pais pela semente e pelo sangue, e a Mãe Terrena é cem vezes maior do que todas as mães pelo corpo, e vossos irmãos verdadeiros são todos aqueles que fazem a vontade de vosso Pai Celestial e de vossa Mãe Terrena, e não vossos irmãos pelo sangue. Mesmo assim, vereis o Pai Celestial em vosso pai pela semente, e vossa Mãe Terrena em vossa mãe pelo corpo, pois não são eles também filhos do Pai Celestial e da Mãe Terrena? Mesmo assim, amareis vossos irmãos pelo sangue como amais os vossos verdadeiros irmãos que caminham com os anjos, pois não são eles também filhos do Pai Celestial e da Mãe Terrena? Em verdade vos digo, é mais fácil amar os que recém encontramos do que os de nossa própria casa, que conhecem nossas fraquezas, ouviram nossas palavras de cólera e nos viram em nossa nudez, pois eles nos conhecem como nós nos conhecemos, e isso nos deixa envergonhados. Chamaremos, então, o Anjo do Amor para entrar

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em nossos sentimentos, para que eles sejam purificados. E tudo o que antes era impaciência e discórdia se transformará em harmonia e paz, como o solo ressequido bebe a chuva mansa e passa a ser verde, suave e tenro com sua nova vida.”

“Pois muitos e dolorosos são os sofrimentos dos Filhos dos Homens quando não abrem caminho para o Anjo do Amor. Em verdade, um homem sem amor lança uma sombra escura em todas as pessoas que encontra, principalmente naquelas com as quais ele vive; suas palavras ásperas e iradas caem sobre seus irmãos como o ar fétido que exala de uma poça de água estagnada. E sofre mais o que as profere, pois a treva que o envolve é um convite a Satã e seus demônios.”

“Todavia, quando ele chama o Anjo do Amor, a treva é dissipada, a luz do sol flui dele, as cores do arco-íris giram ao redor da sua cabeça, uma chuva suave cai dos seus dedos e ele traz paz e força a todos aqueles que se aproximam dele.”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia aos da nossa semente e do nosso sangue o Anjo do Amor, para que a paz e a harmonia possam habitar em nossa casa para sempre.’”

“O Filho do Homem buscará, então, a paz com outros Filhos dos Homens, até mesmo com os fariseus e os sacerdotes, os mendigos e os desabrigados, os reis e os governantes. Pois todos são Filhos dos Homens, seja qual for a sua posição, seja qual for a sua vocação, quer seus olhos tenham sido abertos para ver os reinos celestiais, quer continuem eles a andar no escuro e na ignorância.”

“Pois a justiça dos homens pode recompensar os indignos e punir os inocentes, mas a Lei Sagrada é a mesma para todos, sejam mendigos ou reis, pastores ou sacerdotes.”

“Buscai a paz com todos os Filhos dos Homens e deixai chegar aos Irmãos de Luz o conhecimento de que nós temos vivido segundo a Lei Sagrada desde o tempo de Enoque de outrora e antes dele. Pois não somos ricos nem pobres. E compartilhamos todas as coisas, mesmo as vestimentas e as ferramentas que usamos para cultivar o solo. E juntos trabalhamos nos campos com todos os anjos, produzindo as dádivas da Mãe Terrena para todos comerem.”

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“Pois o mais forte dos anjos do Pai Celestial, o Anjo do Trabalho, abençoa todo homem que trabalha da melhor maneira para ele, pois desse jeito não conhecerá escassez nem excesso. Em verdade, há abundância para todos os homens nos reinos da Mãe Terrena e do Pai Celestial quando cada homem trabalha em sua tarefa; e quando um homem foge da sua tarefa, outro precisa assumi-la, pois nos são dadas todas as coisas nos reinos do céu e da terra ao preço do trabalho.”

“Os Irmãos da Luz sempre viveram onde se alegram os anjos da Mãe Terrena: perto de rios, de árvores, de flores, da música dos pássaros; onde o sol e a chuva podem abraçar o corpo, que é o templo do espírito. Também não temos dever para com os decretos dos governantes; tampouco mantemo-los, visto que a nossa lei é a Lei do Pai Celestial e da Mãe Terrena; tampouco nos opomos a eles, pois ninguém governa senão pela vontade de Deus. Em vez disso, nos esforçamos por viver de acordo com a Lei Sagrada e reforçamos sempre o que é bom em todas as coisas; então o reino da treva será transformado em reino da luz; pois onde há luz, como pode subsistir a escuridão?”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia a toda a humanidade o Anjo do Trabalho, para que, tendo uma tarefa sagrada, não peçamos por nenhuma outra bênção.’”

“O Filho do Homem buscará, então, a paz com o conhecimento dos tempos passados; pois em verdade vos digo, nos Manuscritos Sagrados há um tesouro cem vezes maior do que qualquer uma das jóias e do ouro do mais rico dos reinos e mais precioso, pois eles contêm seguramente toda a sabedoria revelada por Deus aos Filhos da Luz, incluindo as tradições que chegaram a nós através do antigo Enoque e, antes dele, em um caminho sem fim ao passado, os ensinamentos dos Grandes. E estes são a nossa herança, assim como o filho herda todas as propriedades do pai quando se mostra digno da bênção paterna. Em verdade, estudando os ensinamentos da sabedoria imortal, chegamos a conhecer Deus, pois em verdade vos digo, os Grandes viam Deus face a face; assim mesmo, quando lemos os Manuscritos Sagrados, tocamos os pés de Deus.”

“E quando vermos com os olhos da sabedoria e ouvirmos com

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os ouvidos do entendimento as verdades imortais dos Manuscritos Sagrados, temos de ir para o meio dos Filhos dos Homens e ensiná-los, pois se escondermos ciosamente o santo conhecimento, alegando que ele pertence unicamente a nós, seremos como aquele que encontra uma fonte no alto das montanhas e, em vez de deixá-la escorrer para o vale, a fim de saciar a sede do homem e do animal, enterra-a debaixo de rochas e terra, privando-se também de água como aos outros. Ide para junto dos Filhos dos Homens e falai-lhes da Lei Sagrada, para que eles possam, por esse meio, salvar-se e entrar nos reinos celestiais. Falai-lhes, contudo, com palavras que eles compreendam, em parábolas da natureza, que falam ao coração, pois a ação precisa primeiro viver como desejo no coração despertado.”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao nosso conhecimento o Anjo da Sabedoria, para podermos percorrer os caminhos dos Grandes que viram o rosto de Deus.’”

“O Filho do Homem buscará, então, a paz com o reino de sua Mãe Terrena, pois ninguém pode viver muito nem ser feliz ao menos que honre sua Mãe Terrena e cumpra Suas leis. Pois a vossa respiração é a Sua respiração; o vosso sangue é o Seu sangue; os vossos ossos são os Seus ossos; a vossa carne é a Sua carne; as vossas entranhas são as Suas entranhas; os vossos olhos e os vossos ouvidos são os Seus olhos e os Seus ouvidos.”

“Em verdade vos digo, vós sois um com a Mãe Terrena; Ela está em vós e vós estais n’Ela. D’Ela nascestes, n’Ela viveis e a Ela retornareis. É o sangue da nossa Mãe Terrena que cai das nuvens e corre nos rios; é a respiração da nossa Mãe Terrena que sussurra nas folhas da floresta e sopra desde as montanhas com um vento poderoso; suave e firme é a carne de nossa Mãe Terrena nos frutos das árvores; fortes e inabaláveis são os ossos de nossa Mãe Terrena nas gigantescas rochas e pedras que se erguem como sentinelas dos tempos perdidos; em verdade, nós somos um com nossa Mãe Terrena, e aquele que se apega às leis de sua Mãe, a ele sua Mãe se apegará também.”

“Mas chegará um dia em que o Filho do Homem desviará o rosto de sua Mãe Terrena e a trairá, chegando a renegar sua Mãe e o seu direito de primogenitura. Então ele a venderá como escrava, e a

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carne d’Ela será devastada, Seu sangue poluído, Sua respiração sufocada; ele levará o fogo da morte a todas as partes do reino d’Ela, e sua fome devorará todas as Suas dádivas e deixará em seu lugar apenas um deserto.”

“Todas essas coisas ele fará por ignorância da Lei, e como um homem que morre lentamente não sente seu próprio mau-cheiro, assim o Filho do Homem será cego à verdade: e como ele saqueia, devasta e destrói sua Mãe Terrena, assim também saqueia, devasta e destrói a si mesmo. Pois ele nasceu de sua Mãe Terrena, e ele é um com Ela, e tudo o que ele faz à sua Mãe, faz também a si mesmo.”

“Há muito tempo, mesmo antes do Grande Dilúvio, os Grandes andavam na terra, e as árvores gigantes, incluindo as que hoje não são mais do que lendas, eram o seu lar e o seu reino. Eles viveram grande número de gerações, pois comiam da mesa da Mãe Terrena, dormiam nos braços do Pai Celestial e não conheciam moléstia, nem velhice, nem morte. Aos Filhos dos Homens eles legaram toda a glória dos seus reinos, até o conhecimento oculto da Árvore da Vida, que se ergue no meio do Mar Eterno. Mas os olhos dos Filhos dos Homens estavam ofuscados pelas visões de Satã e por promessas de poder, inclusive o poder que conquista pela força e pelo sangue. O Filho do Homem rompeu, então, os fios de ouro que o ligavam à sua Mãe Terrena e ao seu Pai Celestial; ele saiu da Corrente Sagrada da Vida em que o seu corpo, seus pensamentos e seus sentimentos eram um com a Lei, e começou a usar apenas seus próprios pensamentos, seus próprios sentimentos e suas próprias ações, fazendo centenas de leis onde antes só havia Uma.”

“E, desse modo, os Filhos dos Homens exilaram-se do seu lar e, a partir de então, amontoaram-se atrás dos seus muros de pedra e deixaram de ouvir o sussurro do vento nas altas árvores das florestas, para além de suas cidades.”

“Em verdade vos digo, o Livro da Natureza é um Manuscrito Sagrado e, se quiserdes que os Filhos dos Homens se salvem e encontrem a vida eterna, ensinai-os mais uma vez a ler nas páginas vivas da Mãe Terrena. Pois em tudo o que é vida a lei está escrita. Está escrita na relva, nas árvores, nos rios, nas montanhas, nos pássaros do céu e nos peixes do mar; e, sobretudo, no interior do Filho do Homem. Somente quando retornar ao seio de sua Mãe Terrena ele encontrará a

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vida imortal e a Corrente da Vida que conduz ao seu Pai Celestial; somente dessa maneira a visão escura do futuro não subsistirá.”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao reino de nossa Mãe Terrena o Anjo da Alegria, para que os nossos corações possam se encher de cânticos e júbilos, à medida que nos aninhamos nos braços de nossa Mãe.”

“Por fim, os Filhos do Homem buscarão a paz no reino do seu Pai Celestial; pois, em verdade, o Filho do Homem somente nasceu de seu pai pela semente e de sua mãe pelo corpo, para que pudesse encontrar sua verdadeira herança e saber, por fim, que é o Filho do Rei.”

“O Pai Celestial é a Lei Única, que formou as estrelas, o sol, a luz e a escuridão, e a Lei Sagrada dentro das nossas almas. Ele está em toda parte, e não há lugar algum em que Ele não esteja. Tudo em nosso entendimento e tudo o que não sabemos é governado pela Lei. O cair das folhas, o fluir dos rios, a música dos insetos à noite, tudo é governado pela Lei.”

“No reino do nosso Pai Celestial existem muitas mansões e muitas são as coisas ocultas que ainda não podeis conhecer. Em verdade vos digo, o reino do nosso Pai Celestial é vasto, tão vasto que nenhum homem pode conhecer seus limites, pois eles não existem. Entretanto, todo o Seu reino pode ser encontrado na menor gota de orvalho sobre uma flor silvestre, ou no aroma da relva recém-cortada nos campos debaixo do sol de verão. Em verdade, não existem palavras para descrever o reino do Pai Celestial.”

“Gloriosa, de fato, é a herança do Filho do Homem, pois só a ele é dado entrar na Corrente da Vida que o conduz ao reino do seu Pai Celestial. Mas antes disso ele deve procurar e encontrar a paz com o seu corpo, com os seus pensamentos, com os seus sentimentos, com os Filhos dos Homens, com o conhecimento sagrado e com o reino da Mãe Terrena. Pois em verdade vos digo, esta é a embarcação que carregará o Filho do Homem pela Corrente da Vida até seu Pai Celestial. Ele precisa ter a paz que é sétupla antes que possa conhecer a paz que sobreleva o entendimento, incluindo o de seu Pai Celestial.”

“Dessa maneira, portanto, orai para o vosso Pai Celestial quando

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o sol estiver no alto ao meio-dia: ‘Pai nosso, que estás no céu, envia a todos os Filhos dos Homens o Teu Anjo da Paz; e envia ao Teu reino, nosso Pai Celestial, o Teu Anjo da Vida Eterna, para que nós possamos voar além das estrelas e viver para sempre.’”

E então o Ancião se calou e um grande silêncio recaiu sobre os Irmãos, e ninguém desejava falar. As sombras do entardecer brincavam sobre o rio sereno e prateado como vidro, e no céu que escurecia podia lentamente ser vista a filigrana da lua crescente da paz. E a grande paz do Pai Celestial envolveu a todos em amor imortal.

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AS CORRE�TES SAGRADAS

Chegastes ao círculo mais íntimo, ao mistério dos mistérios, àquele que era velho quando nosso pai Enoque era jovem e andava pela terra. Voltas e voltas destes em vossa jornada de muitos anos, sempre seguindo o caminho da retidão, vivendo de acordo com a Lei Sagrada e com os votos sagrados de nossa Irmandade, e fizestes do vosso corpo um templo sagrado onde moram os anjos de Deus. Durante muitos anos compartilhastes a luz do dia com os anjos da Mãe Terrena; durante muitos anos dormistes nos braços do Pai Celestial, ensinado pelos seus anjos desconhecidos. Aprendestes que as leis do Filho do Homem são sete, as dos anjos três, e a de Deus, uma. Agora vós sabereis das três leis dos anjos, o mistério das três Correntes Sagradas e o modo antigo de percorrê-las; assim vos banhareis na luz do céu e, por último, contemplareis a revelação do mistério dos mistérios: a lei de Deus, que é Uma.

Agora, na hora que antecede o nascimento do sol, pouco antes dos anjos da Mãe Terrena inspirarem vida na Terra ainda adormecida, vós entrareis na Corrente Sagrada da Vida. É a vossa Irmã Árvore que mantém o mistério dessa Corrente Sagrada, e é a vossa Irmã Árvore que abraçareis em vosso pensamento, assim como durante o dia vós a abraçais em saudação quando caminhais pela margem do lago. E sereis um com a árvore, pois, no princípio dos tempos, todos nós assim compartilhávamos da Corrente Sagrada da Vida que deu origem à toda a criação. E à medida que abraçais a vossa Irmã Árvore, o poder da Corrente Sagrada da Vida preencherá o vosso corpo inteiro e estremecereis diante da sua força. Então inspirai profundamente do Anjo do Ar, e dizei a palavra “Vida” ao exalares o ar. Então vos tornareis, em verdade, a Árvore da Vida, cujas raízes penetram profundamente na Corrente Sagrada da Vida de uma fonte eterna. E como o Anjo do Sol aquece a Terra, e todas as criaturas da terra, da água e do ar regozijam com o novo dia, assim vosso corpo e vosso espírito se regozijarão na Corrente Sagrada da Vida que flui para vós através de vossa Irmã Árvore.

E quando o sol estiver alto nos céus, vós buscareis a Corrente Sagrada do Som. No calor do meio-dia, todas as criaturas estão

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quietas e buscam a sombra; os anjos da Mãe Terrena ficam em silêncio por um tempo. É quando deveis permitir entrar em vossos ouvidos a Corrente Sagrada do Som; pois ela só pode ser ouvida no silêncio. Pensai nas correntes que nascem no deserto depois de uma tempestade repentina, e no rugido das águas quando elas passam ligeiras. Verdadeiramente, essa é a voz de Deus, caso vós ainda não a conheceis. Pois, como está escrito, no princípio era o Som, e o Som estava com Deus, e o Som era Deus. Em verdade vos digo, quando nós nascemos, entramos no mundo com o som de Deus nos nossos ouvidos, até mesmo com os cantos dos vastos coros do céu, e o cântico sagrado das estrelas em suas órbitas fixas; e é a Corrente Sagrada do Som que atravessa o firmamento das estrelas e cruza o reino infinito do Pai Celestial. Ela está sempre nos nossos ouvidos, por isso nós não a ouvimos. Escutai a ela, então, no silêncio do meio-dia; banhai-vos nela, e deixai o ritmo da música de Deus bater em vossos ouvidos até serdes um com a Corrente Sagrada do Som. Foi este Som que formou a terra e o mundo, gerou as montanhas e pôs as estrelas em seus tronos de glória nos mais altos céus.

E vós vos banhareis na Corrente Sagrada do Som, e a música das suas águas fluirá sobre vós; pois, no princípio dos tempos, todos nós assim compartilhávamos da Corrente Sagrada do Som que deu origem à toda a criação. E o poderoso rugido da Corrente do Som preencherá o vosso corpo inteiro, e tremereis diante da sua força. Então, respirai profundamente do Anjo do Ar, e tornai-vos o próprio som, para que a Corrente Sagrada do Som possa levar-vos ao reino infinito do Pai Celestial, lá onde todo o ritmo do mundo sobe e desce.

E quando a escuridão gentilmente fechar os olhos dos anjos da Mãe Terrena, então vós também dormireis, para que o vosso espírito possa juntar-se aos anjos desconhecidos do Pai Celestial. E nos momentos antes de dormirdes, pensai nas estrelas brilhantes e gloriosas, nas estrelas brancas, brilhantes, distantes e penetrantes. Pois os vossos pensamentos antes do sono são como o arco do arqueiro habilidoso, que envia a sua flecha para onde ele desejar. Deixai que vossos pensamentos antes de dormir estejam com as estrelas; pois as estrelas são Luz, e o Pai Celestial é Luz, essa mesma Luz que é mil vezes mais brilhante do que o brilho de mil sóis. Entrai na Corrente Sagrada da Luz, para que os grilhões da morte possam perder seu

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domínio para sempre e, libertando-vos dos laços da Terra, ascendais à Corrente Sagrada da Luz através do brilho resplandecente das estrelas, até o reino infinito do Pai Celestial.

Abri vossas asas de luz e, com os olhos do vosso pensamento, voai com as estrelas até os confins do céu, onde incontáveis sóis ardem com sua luz. Pois no princípio dos tempos, a Lei Sagrada disse: ‘Haja Luz’, e houve Luz. E sereis um com ela, e o poder da Corrente Sagrada da Luz preencherá o vosso corpo inteiro, e estremecereis diante da sua força. Dizei a palavra “Luz”, ao respirardes profundamente do Anjo do Ar, e vos tornareis a própria Luz; e a Corrente Sagrada vos carregará ao reino infinito do Pai Celestial, perdendo-se no eterno Mar de Luz que deu origem à toda a criação. E sereis um com a Corrente Sagrada da Luz, sempre antes de dormirdes nos braços do Pai Celestial.

Em verdade vos digo, o vosso corpo não foi feito apenas para respirar, comer e beber, mas ele também foi feito para entrar na Corrente Sagrada da Vida. E os vossos ouvidos não foram feitos apenas para ouvir as palavras dos homens, o canto dos pássaros e a música da chuva caindo, mas eles também foram feitos para ouvir a Corrente Sagrada do Som. E os vossos olhos não foram feitos apenas para ver o nascer e o pôr do sol, a ondulação dos feixes de trigo, e as palavras dos Manuscritos Sagrados, mas eles também foram feitos para ver a Corrente Sagrada da Luz. Um dia o vosso corpo retornará à Mãe Terrena; assim como os vossos ouvidos e os vossos olhos. Mas a Corrente Sagrada da Vida, a Corrente Sagrada do Som e a Corrente Sagrada da Luz, estas nunca nasceram e nunca morrerão. Entrai nas Correntes Sagradas, nessa mesma Vida, nesse mesmo Som e nessa mesma Luz que te deram origem; para que possais alcançar o reino do Pai Celestial e vos tornardes um com Ele, assim como o rio deságua no mar distante.

Mais do que isto não pode ser dito, pois as Correntes Sagradas vos levarão ao lugar onde não existem mais palavras, e cujos mistérios nem mesmo os Manuscritos Sagrados podem registrar.

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A�EXOS

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OS ESS�IOS

Eram originários do Egito, e durante a dominação do Império

Selêucida, em 170 a.C., formaram um pequeno grupo de judeus, que abandonou as cidades e rumou para o deserto, passando a viver às margens do Mar Morto, e cujas colônias estendiam-se até o vale do Nilo. No meio da corrupção que imperava, os essênios conservavam a tradição dos profetas e o segredo da Pura Doutrina. De costumes irrepreensíveis, moralidade exemplar, pacíficos e de boa fé, dedicavam-se ao estudo espiritualista, à contemplação e à caridade, longe do materialismo avassalador. Segundo alguns estudiosos, foi nesse meio onde passou Jesus, no período que corresponde entre seus 13 e 30 anos. Os essênios suportavam com admirável estoicismo os maiores sacrifícios para não violar o menor preceito religioso. Procuravam servir a Deus, auxiliando o próximo, sem imolações no altar e sem cultuar imagens. Eram livres, trabalhavam em comunidade, vivendo do que produziam. Em seu meio não havia escravos. Tornaram-se famosos pelo conhecimento e uso das ervas, entregando-se abertamente ao exercício da medicina ocultista. Em seus ensinos, seguindo o método das Escolas Iniciáticas, submetiam os discípulos à rituais de Iniciação, conforme adquiriam conhecimentos e passavam para graus mais avançados. Mostravam então, tanto na teoria quanto na prática, as Leis Superiores do Universo e da Vida, tristemente esquecidas na ocasião.

Vivendo em comunidades distantes, os essênios sempre procuravam encontrar na solidão do deserto o lugar ideal para desenvolverem a espiritualidade e estabelecerem a vida comunitária, onde a partilha dos bens era a regra. Rompendo com o conceito da propriedade individual, acreditavam ser possível implantar no reino da Terra a verdadeira igualdade e fraternidade entre os homens. Consideravam a escravidão um ultraje à missão do homem dada por Deus. Todos trabalhavam para si e nas tarefas comuns, sempre desempenhando atividades profissionais que não envolvessem a destruição ou violência. Não era possível encontrar entre eles açougueiros ou fabricantes de armas, mas sim grande quantidade de mestres, escribas, instrutores, que através do ensino passavam de

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forma sutil os pensamentos da seita aos leigos. O silêncio era prezado por eles. Sabiam guardá-lo, evitando discussões em público e assuntos sobre religião. A voz, para um essênio, possuía grande poder e não devia ser desperdiçada. Através dela, com diferentes entonações, eram capazes de curar um doente.

Cultivavam hábitos saudáveis, zelando pela alimentação, físico e higiene pessoal. A capacidade de predizer o futuro e a leitura do destino através da linguagem dos astros tornaram os essênios figuras magnéticas, conhecidas por suas vestes brancas. Eram excelentes médicos também.

Em cada parte do mundo onde se estabeleceram, eles receberam nomes diferentes, às vezes por necessidades de se proteger contra as perseguições ou para manter afastados os difamadores. Mestres em saber adaptar seus pensamentos às religiões dos países onde se situavam, agiram misturando muitos aspectos de sua doutrina a outras crenças. O saber mais profundo dos essênios era velado à maioria das pessoas. É sabido também que liam textos e estudavam outras doutrinas.

Para ser um essênio, o pretendente era preparado desde a infância na vida comunitária de suas aldeias isoladas. Já adulto, o adepto, após cumprir várias etapas de aprendizado, recebia uma missão definida que ele deveria cumprir até o fim da vida. Vestidos com roupas brancas, ficaram conhecidos em sua época como aqueles que “são do caminho”. Foram fundadores dos abrigos denominados “beth-saida”, que tinham como tarefa cuidar de doentes e desabrigados em épocas de epidemia e fome. Os beth-saida anteciparam em séculos os hospitais, instituição que tem seu nome derivado de hospitaleiros, denominação de um ramo essênio voltado para a prestação de socorro às pessoas doentes. Fizeram obras maravilhosas, que refletem até os nossos dias.

(pegue.com/religiao/osessenios.htm - trecho adaptado)

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A DOUTRI�A DO DESERTO

Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para pesquisar os arquivos secretos do Vaticano. Estava à procura de livros que teriam influenciado São Francisco de Assis. Curioso e encantado, vagou pelos mais de 40 quilômetros de estantes com pergaminhos e papiros milenares. Viu evangelhos nunca publicados e manuscritos originais de muitos santos e apóstolos, condenados a permanecer escondidos para sempre. De todas essas raridades, uma obra em especial lhe chamou a atenção. Era o Evangelho Essênio da Paz. O livro teria sido escrito pelo apóstolo João e narrava passagens desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado ali como o principal líder de uma seita judaica até então pouco comentada – os essênios. Szekely não perdeu tempo. Traduziu o texto e o publicou em quatro volumes. Sentindo-se traída pelo pesquisador, a Igreja o excomungou.

Não foi uma punição tão grave. Considere o que aconteceu com o reverendo inglês Gideon Ouseley. Em 1880, ele achou um manuscrito chamado O Evangelho dos Doze Santos em um monastério budista na índia. O texto em aramaico – a língua que Jesus falava – teria sido levado para o Oriente por essênios refugiados. Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha descoberto o verdadeiro Novo Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta, pois Cristo era um essênio que defendia a reencarnação e o vegetarianismo. Se hoje essa tese soa estranha, dizer isso na Inglaterra vitoriana do século XIX era blasfêmia da pior espécie. Resultado: os conservadores atearam fogo na casa de Ouseley e o original foi destruído.

O mistério que envolve esses dois textos e o tom místico que os descobridores deram aos seus achados acabaram manchando seu crédito diante dos historiadores.

Para os historiadores, os essênios seriam até hoje uma nota de rodapé na História se, em 1947, dois pastores beduínos não tivessem por acidente levado a uma das maiores descobertas arqueológicas do século.

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Escondidos em cavernas próximas ao Mar Morto, em Israel, 813 manuscritos redigidos pelos essênios entre 225 a.C. e o ano 68 da nossa era guardavam as mais antigas cópias do Antigo Testamento, calendários e textos da Bíblia.

Perto das cavernas, em Qumran, estavam as ruínas de um monastério essênio e um cemitério com cerca de 1200 esqueletos, quase todos masculinos.

O achado deu início a um longo e árduo esforço de tradução dos manuscritos por teólogos e cientistas de várias universidades no mundo. Milhares deles estavam em pedaços minúsculos, menores do que uma unha. “Hoje, 90% dos textos já foram transcritos”, diz o teólogo Geza Vermes, da Universidade de Oxford, que pesquisa os manuscritos. O que já é suficiente para moldar uma imagem mais precisa da história, da doutrina, da crença e dos hábitos essênios, que ficaram séculos a fio esquecidos nas ruínas daquele monastério.

O surgimento da doutrina essênia aconteceu em tempos conturbados. Os judeus viveram sob dominação de diversos povos estrangeiros desde 587 a.C., quando Jerusalém foi devastada pelos babilônios, habitantes da atual região do Iraque. Por volta do século II a.C., o domínio era exercido pelos selêucidas, um povo grego que habitava a Síria. A cultura helenista proliferava e a tradição hebraica sofria fortes ameaças. Para recuperar o judaísmo, os israelitas acreditavam na vinda do Messias que chegaria ao final dos tempos para exterminar os infiéis e salvar os seguidores das Escrituras. A chegada do Salvador poderia se dar a qualquer instante.

Os mais ortodoxos seguiam tão à risca os preceitos religiosos e buscavam a ascese e a pureza com tal fervor que ficavam chocados com os hábitos mundanos dos gregos. Entre eles estavam os essênios. Um dia boa parte deles, liderados por um sacerdote, partiu para o Deserto da Judéia (atual Israel) para orar, meditar e estudar as leis sagradas. Longe, bem longe, de tudo o que eles consideravam impuro. Surgia assim o monastério de Qumran.

A região escolhida para a construção do monastério é a de menor altitude no planeta – 400 metros abaixo do nível do mar. As chuvas são raras e o mar é tão salgado que é impossível mergulhar nele, pois a enorme densidade da água mantém o banhista na superfície. Para prosperar, os bens individuais e as tarefas foram

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divididos entre toda a comunidade e regras de disciplina e de hierarquia foram instituídas.

É possível conhecer o dia-a-dia dos essênios a partir do legado do historiador judeu Flávio Josefo (37-100). Aos 16 anos Josefo recebeu lições de um mestre essênio, com quem viveu durante três anos. Os essênios acordavam antes do nascer do sol. Permaneciam em silencio e faziam suas preces até o momento em que um mestre dividia as tarefas entre eles de acordo com a aptidão de cada um. Trabalhavam durante 5 horas em atividades como o cultivo de vegetais ou o estudo das Escrituras. Terminadas as tarefas, banhavam-se em água fria e vestiam túnicas brancas. Comiam uma refeição em absoluto silêncio, só quebrado pelas orações recitadas pelo sacerdote no início e no fim. Retiravam então a túnica branca, considerada sagrada, e retornavam ao trabalho até o pôr-do-sol. Tomavam outro banho e jantavam com a mesma cerimônia.

Os essênios tinham com o solo uma relação de devoção. Josefo conta que um dos rituais comuns deles consistia em cavar um buraco de cerca de 30 centímetros de profundidade em um lugar isolado dentro do qual se enterravam para relaxar e meditar.

Diferentemente dos demais judeus, a comunidade usava um calendário solar de 364 dias, inspirado no egípcio. O primeiro dia do ano e de cada mês caía sempre um uma quarta-feira, porque de acordo com o Gênesis, o Sol e a Lua foram criados no quarto dia. O calendário diferente trouxe vários problemas para os essênios. Outros judeus poderiam atacar o monastério no shabbath – o dia sagrado reservado ao descanso, no qual era proibido qualquer esforço, inclusive o de se defender.

A correta observação das regras garantiria a salvação dos essênios quando chegasse o apocalipse, que seria a vitória dos puros “filhos da luz” contra os “filhos das trevas”.

Graças a essa organização toda, Qumran produzia tudo de que precisava. A dieta era vegetariana. Os essênios tinham um enorme respeito pela natureza. Nenhum homem poderia sujar-se comendo qualquer criatura morta.

No ano de 68 o monastério de Qumran foi aniquilado numa devastadora investida do exército romano que arrasou a Judéia e destruiu Jerusalém. O ataque era dirigido principalmente aos judeus

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zelotes, que se insurgiram contra o domínio romano. Qumran, que não era nenhuma fortaleza, foi presa fácil para as legiões do César. Mas nem todos os essênios morreram aí. Alguns fugiram para Massada onde, aí sim, no ano de 73, descobriram o que é um final trágico. O esconderijo, uma fortaleza zelote ao sul de Qumran, localizada no alto de uma colina, parecia impenetrável. Mas 15000 romanos fizeram um cerco que durou dois anos e metodicamente construíram uma rampa de terra e areia para alcançar o topo da fortaleza. Quando os soldados finalmente invadiram Massada tiveram uma surpresa: todos os 1000 rebeldes estavam mortos. Em um sorteio, os zelotes haviam escolhido um grupo de soldados para assassinar todos os habitantes da fortaleza e, em seguida, cometer suicídio. Eles preferiram morrer entre os judeus a se tornar escravos dos romanos. Sobraram para contar a história apenas duas mulheres e cinco crianças, que haviam se escondido nos reservatórios de água. O episódio foi relatado por Josefo e provou ser verdadeiro em 1965, quando arqueólogos pesquisaram a região. Eles acharam as marcas dos oito acampamentos romanos e pedaços de cerâmica com inscrições dos nomes dos zelotes, utilizados no dramático sorteio.

Um pouco antes do ataque romano destruir o monastério de Qumran, os essênios esconderam seus manuscritos em potes de cerâmica e os enterraram em cavernas.

“Eles viviam em tendas, que mudavam de lugar frequentemente, pois construções permanentes matariam a relva”, afirma Fernando Travi. Ele acredita que Jesus, apesar de ter passado por Qumran, viveu muito mais tempo em Monte Carmel. A região em que teria existido essa comunidade está próxima ao local em que Jesus nasceu e realizou muitos de seus milagres. Afirma também que Cristo não era conhecido como “Jesus de Nazaré”, mas sim como “Jesus, o Nazareno”.

Algumas dessas comunidades essênias existem, de certa forma, até hoje.

Szekely pesquisou o pensamento dos essênios durante toda a vida. Uma de suas principais obras é a tradução de um manuscrito encontrado em 1785 pelo historiador francês Constantine Volney em viagens pelo Egito e pela Síria. É um diálogo entre Josefo e o mestre essênio Banus a respeito das leis da natureza.

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A alimentação possui um papel central na doutrina encontrada nos evangelhos de Szekely e Ouseley. Ao afirmarem que Jesus era frugívero, ou seja, que ingeria apenas alimentos que não significavam a morte de nenhum ser vivo, como folhas e frutos, eles pregam que as refeições devem ser um momento de compaixão e comunhão com Deus. O contato com a natureza é essencial.

Os essênios permanecem como um assunto vivo. Os pergaminhos e evangelhos que eles deixaram são exaustivamente estudados por cientistas e religiosos do mundo inteiro. Seus ensinamentos recrutam milhares de fiéis e, qualquer que seja a relação que mantiveram com Cristo, deixaram, sem dúvida, sua influência impressa no coração e na mente do cristianismo.

(espacoholistico.com.br/essenios.htm - texto adaptado)

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