mikhail bakhtin e os primórdios da sociolinguistica soviética (2006)

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Carlos Alberto Faraco Cristovão Tezza Gilberto de Castro (organizadores) Vinte ensaios sobre Mikhail Bakhtin Marilia Amorim Rosse-Marye Bernardi Paulo Bezerra Beth Brait Craig Brandist Tatiana Bubnova Tim Herrick Ken Hirschkop Peter Hitchcock Brian Kennedy Mika Láhteenmâki David Shepherd Marlene Teixeira Galin Tihanov Clive Thomson N.L. Vasilev Anthony Wall Д EDITORA ▼ VOZES Petrópolis

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Carlos Alberto Faraco Cristovão Tezza

Gilberto de Castro (organizadores)

Vinte ensaios sobre Mikhail Bakhtin

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Д EDITORA ▼ VOZES

Petrópolis

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) _____________ (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)_______ __

Vinte ensaios sobre Mikhail Bakhtin / CarlosAlberto Faraco, Cristovão Tezza, Gilberto

de Castro (organizadores). - Petrópolis,RJ : Vozes, 2006.

ISBN 85.326.3387-0Vários autores.Bibliografia.1. Bakhtin, Mikhail Mikhailovitch, 1895-1975 -

Crítica e interpretação I. Faraco, Carlos Alberto.II. Tezza, Cristovão. III. Castro, Gilberto de.

06-5708 CDD-891-7

índices para catálogo sistemático:1. Escritores russos : Crítica e interpretação 891-7

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Mikhail Bakhtin е os primórdios da sociolinguística soviética

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Tradução do inglês por Carlos Alberto Faraco

O s ensaios de Mikhail Bakhtin sobre o romance na década de 1930 constituem talvez sua contribuição mais original, influente e valiosa para o estudo das línguas e literaturas européias. Contudo, raras vezes os ter­mos e limites dessa originalidade foram analisados sistematicamente. A maioria dos críticos sc contentou em admirar a ousada imbricação de te­mas sociolinguísticos e literários nesses ensaios. As fontes das idéias de Bakhtin sobre o romance começaram a ser reveladas gradualmente a par­tir dos anos 1980, mas as fontes das idéias sociolingiiísticas contidas nessas obras permaneceram inexploradas1, talvez porque seja premissa geral que as idéias são uma sequência das delineadas por Valentin Voloshinov em seu livro de 1929 Marxismo e filosofia da linguagem, muitas vezes atribuído ao próprio Bakhtin2.

Há, contudo, uma diferença qualitativa entre as idéias lingíiísticas nos textos de Voloshinov e nos ensaios de Bakhtin dos anos 1930, particular­mente a discussão do desenvolvimento histórico da língua e das relações

: discursivas na sociedade, além da moldagem dessas características no ro­mance como gênero. Enquanto o trabalho de Voloshinov facilitou a trans­formação da fenomenologia da intersuhjetividade inicial de Bakhtin no relato das relações discursivas que encontramos no livro deste último so-

: bre Dostoiévski de 1929, ambas as obras apresentam análises em grande l parte sincrônicas, bem distintas das encontradas no ensaio de 1934. Vo- I loshinov conseguiu transformar a “filosofia do ato” e da atividade estética 1 inicial de Bakhtin em termos discursivos, em grande parte por adotar o

“modelo do organon” do “evento do discurso” ou “ato da fala” proposto Ц por Karl Biihler, deixando intacta, porém, a fenomenologia estática da- jgquele trabalho inicial3. Da mesma forma, Voloshinov e Medvedev conse-

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68 guiram remodelar, em termos discursivos, o relato inicial de Bakhtin sobre visão de mundo, adotando e sociologizando o conceito de estilo presente nas obras de Leo Spitzer e Oskar Walzel. Aqui também, contudo, as trans­formações sistemáticas do ambiente discursivo se mantiveram além dos li­mites do Círculo de Bakhtin. De onde, então, Bakhtin, isolado desde 1929 em uma cidadezinha no Cazaquistão onde o acesso aos livros era muito li­mitado e o contato com seus antigos colegas escasso, extraiu as idéías his­tóricas e sociolingiiísticas que permeiam essas obras?

A partir desse momento, uma característica da obra de Bakhtin é um crescente embasamento no conhecimento soviético de então. As fontes já identificadas incluem o trabalho de importantes pensadores, como os estudiosos de folclore e literatura Viktor Zhirmunski e Olga Freidenberg, e Georg Lukács, o teórico húngaro do romance que se havia mudado re­centemente para a Rússia. O que não foi levado totalmente em conta, contudo, é que o trabalho soviético sobre língua e sociedade teve tam­bém grande influência, e aqui cabe salientar o papel de dois discípulos do linguista russo-polonês Jan Baudouin de Courtenay - Lev Iakubinski e Boris Larin. Juntamente com Zhirmunski e Lev Shcherba, a base desses estudiosos era o Instituto Estatal de Cultura Discursiva [GIRK, Gosu- darstvennyi Instituí Rechevoi KuVtury]; o antigo ILIaZV, Instituto de Estu­dos Comparados das Literaturas e Línguas do Ocidente e do Oriente (.Instituí Sravnitel’nogo hucheníia Uteratur i Iazykov Zapoda i Vostoka) em Leningrado, onde tanto Voloshinov como Pavel Medvedev estiveram lotados no final da década de 19204.

Nessa época, os estudiosos do ILIaZV mudaram o foco de sua aten­ção dos estudos literários, com os quais se ocupavam nos primeiros anos após a revolução, para a questão da língua, que dominava a política cul­tural soviética inicial. O estabelecimento de línguas-padrão para as mi­norias nacionais do antigo Império Russo, visando ajudá-las a atingir uma paridade formal com o russo, era uma prioridade, assim como a alfa­betização das massas de todos os grupos nacionais. A relação entre as lín­guas nacionais, entre a língua nacional e seus dialetos regionais, e a es­tratificação social das línguas nacionais ascenderam ao topo da agenda de pesquisa da maior parte dos linguistas soviéticos da época5. Dois pro­jetos de pesquisa no ILIaZV se relacionavam diretamente a essas ques­tões: a investigação por Larin da composição linguística pluralista (mno- goiazychie) das principais cidades e a pesquisa por Zhirmunski da língua das colónias alemãs na URSS.

Os linguistas pré-revolução haviam escrito muita coisa pertinente so­bre essas questões, e Baudouin, a quem Bakhtin considerava úm “eminen-

te estudioso”6, chegou mesmo a ser preso por escrever um folheto que de­fendia a democratização da política da língua. Baudouin e o outro profes­sor de Iakubinski, Aleksei Shakhmatov, haviam escrito muito, no período pré-Revolução, sobre a formação das línguas nacionais polonesa e russa, respectivamente, a partir dos dispersos dialetos eslavos, mas seu enfoque havia sido basicamente psicológico7. Baudouin havia argumentado que os fatores sociológicos deviam ser levados em conta, mas considerava que tanto a linguística como a sociologia estavam em nível de desenvolvimen­to rudimentar demais para levar a questão além de declarações programá­ticas8. Os estudiosos do ILIaZV conseguiram ir além, contudo, e visavam sociologizar inteiramente a dialetologia dos linguistas pré-revolucionários como Baudouin e Shakhmatov, aplicando as idéias encontradas nas obras históricas de Marx, Engels e, particularmente, Lênin. Nesse sentido, as re­ferências mais importantes foram o detalhado estudo de Lênin de 1899 (segunda edição em 1908) O desenvolvimento do capitalismo na Rússia e O direito das nações disporem de si próprias, de 1914, em que eram discutidas a transição parcial da Rússia de uma sociedade feudal para uma sociedade capitalista e a relação entre a língua e a identidade nacionais. O que Zhir- munski denominava de “formulação clássica da formação da língua co­mum-nacional da sociedade burguesa a partir dos dialetos da época feu­dal”, com base no “entendimento marxista do processo sócio-histórico”,

■ foi publicado por Iakubinski como uma série de artigos no destacado pe­riódico de Górki Literatumaia ucheba em 1930 e 1931, que receberam o tí­tulo coletivo “A estrutura de classes da língua russa contemporânea” (Klassovyi sostav sovremennogo russkogo iazyka). Um ano mais tarde, foram publicados na forma de livro, com o título Ocherld po iazyku9. É esta série de artigos que constitui a base do relato sociológico e histórico da lingua­gem nos ensaios de Bakhtin dos anos 193010.

Não é difícil explicar por que Bakhtin era tão favorável aos artigos de . Iakubinski nessa época. Em primeiro lugar, Literatumaia ucheba era facil- / mente encontrado em um período em que Bakhtin tinha acesso a poucas : outras publicações, e a sanção oficial aparente das idéias ali apresentadas : parecia indicar uma forma de um estudioso vulnerável recentemente preso trabalhar e publicar legitimamente. A essa altura Iakubinski já não

.mais era considerado um formalista, c sim companheiro de viagem de (Nikolai Marr, cujas idéias haviam se tornado então cânones na URSS. t Ainda que o Círculo de Bakhtin tivesse demonstrado considerável res-

Ípeito por Marr a partir do início dos anos 1920, e Bakhtin continuasse a fazê-lo mesmo no final dos anos 1930, é pouco provável que o extremo dogmatismo que emergiu nos anos 1930 fosse do gosto de Bakhtin11» A

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70 continuada fidelidade de Iakubinski às idéias de Baudouin e sua aceita­ção condicional de certos dogmas de Marr abriram caminho para uma abordagem mais construtiva da estratificação social da linguagem do que a própria correlação mecânica de Marr entre linguagem e classe. Além disso, Bakhtin tinha plena ciência de que o ensaio de Iakubinski de 1923, “Sobre o discurso dialógico” (O dialogicheskoi rechi), havia tido importan­te influência sobre Voloshinov quando ele conseguiu traduzir a intersub- jetividade em formas discursivas - relações dialógicas. Bakhtin também teria encontrado os últimos artigos de Voloshinov junto com os de Iaku­binski naquele mesmo periódico. Finalmente, a longa associação de Ia- kubinski e Zhirmunski, por quem, é sabido, Bakhtin e Medvedev tinham considerável respeito12, teria reforçado ainda mais a imagem de Iaku­binski aos olhos de Bakhtin.

Bakhtin viria a adotar o relato de Iakubinski da formação da língua nacional russa e separá-lo de suas coordenadas históricas. Livre de todas as amarras institucionais específicas e ligado ao relato de Cassirer do de­senrolar dialético das formas simbólicas13, o relato de Iakubinski da for­mação da língua nacional russa, estratificada por classe e ideologia, se tornou uma narrativa ideal do “processo glossogônico único”, através do qual todas as línguas se desenvolvem. De acordo tanto com a teoria de estágios de desenvolvimento da língua de Marr quanto com a teoria de es­tágios de surgimento da cultura crítica de Cassirer, todas as línguas e cul­turas atravessam os mesmos estágios, ainda que com velocidades diferen­tes. Este processo está na base do surgimento do romance, que acaba se tornando o órgão pelo qual a língua estratificada toma consciência de si própria como seu próprio objeto. A natureza neo-hegeliana dessa narra­tiva ideal é fácil de ver, mas, fundamentalmente, ao contrário de Marr e como Cassirer, Bakhtin não argumenta a favor da fusão final de todas as linguagens e perspectivas quando a cultura toma consciência de si pró­pria. O “valor independente e autónomo” de “várias formas culturais” é mantido, e não incorporado em uma única meta-forma que abrange tu­do14, e é o romance que permite que isto ocorra.

Na sequência, apresento um curto panorama geral dos pontos mais importantes dos artigos de Iakubinski e uma análise de como Bakhtin in­corporou essas características ao seu trabalho da década de 1930.

A língua como forma e ideologia

O ponto de partida de Iakubinski é o argumento de que a língua tem duas funções fundamentais, das auais todas as outras funções subsequen-

tes derivam: “1) a língua como meio de interação e 2) a língua como ideolo- 71 gia”. Ainda que tal distinção não deva ser apagada, “essas funções funda­mentais não devem ser jamais separadas uma da outra: em todos os seus fe­nômenos, a língua satisfaz essas duas funções de uma só vez”. Iakubinski argumenta que a aplicação do marxismo à ciência linguística revela que “uma língua é uma unidade dessas funções”, e permite ao linguista de­monstrar como, nos vários estágios de desenvolvimento de uma socieda­de, esses dois aspectos “entram em contradição”. Tal contradição é de­terminada por circunstâncias socioeconômicas e age como a “força mo­triz” interna do desenvolvimento da língua15.

Bakhtin adota a premissa metodológica de Iakubinski da linguagem como a unidade, mas não como identidade, da forma da comunicação e do conteúdo ideológico, abrindo seu ensaio sobre o romance de 1934-1935 com a afirmação de que seu objetivo fundamental c vencer a separação entre “o ‘formalismo’ e o ‘ideologismo’ abstratos no estudo do mundo artís­tico. Forma e conteúdo estão unidos na palavra, entendida como um fenô­meno social, em todas as esferas de sua vida e em todos os seus momentos - da imagem sonora aos estratos semânticos mais abstratos”. E dito que esta idéia define toda a sua ênfase na “estilística do gênero”, em que os fe­nômenos estilísticos devem ser relacionados aos “modos sociais em que a palavra vive” e aos “grandes destinos históricos dos gêneros”16.

Forças centrífugas e centrípetas

Bakhtin é particularmente bem conhecido por sua descrição da lín­gua unitária como uma “expressão do processo histórico de unificação e centralização lingiiística, uma expressão das forças centrípetas da lingua­gem”, mas destaca ele também que, em paralelo a esse processo, “per­duram processos contínuos de descentralização e desunificação”17. A idéia de forças contraditórias agindo dentro de uma língua e cultura nacionais era bastante comum no final dos anos 1920 em várias discipli­nas. Os dois mentores mais influentes de Iakubinski, Baudouin de Cour­tenay e Shakhmatov, discutiram a luta entre forças centrípetas e centrí­fugas como fator crucial na história de uma língua. Baudouin discutiu

• essa questão em sua aula inaugural na Universidade de São Petersburgo já em 1870, e Shakhmatov reviveu a idéia em 191518. Em sua Ética, de 1892, Wilhelm W undt celebrou o triunfo da centralização da língua, li-

: teratura, visão de mundo e vida social em uma nação sobre as forças “centrífugas” de diferentes classes e associações19. Em um artigo de 1929

I sobre a metodologia do folclore soviético, o veterano orientalista e foi-

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clorista Sergei Oldenburg argumentou que “interações entre diferentes meios sociais são fenômenos não menos importantes que aquelas entre raças ou povos” e que “as tendências de diferenciação sempre sofrem a ação contrária das tendências de unificação”. Além disso, Oldenburg ar­gumentou que a consciência desse fato estava levando a um esfacela­mento da “distinção artificial entre a literatura popular e não popular”20.

Bakhtin aliou essas forças contraditórias a uma sociologia da língua, de forma que:

Em qualquer dado momento de sua formação (stanovlc- nie) , uma língua é estratificada não só em dialetos lingiiís- ticos no estrito senso da palavra (de acordo com marca­dores linguísticos formais, espccialmente fonéticos), mas, e isso para nós é fundamental, em linguagens socioideoló- gicas: linguagens de grupos sociais, linguagens “profissio­nais”, linguagens “genéricas”, linguagens de gerações, e assim por diante21.

Aqui, o ponto crucial é que em uma língua nacional há dialetos lin­guísticos e discursos sociais simultâneos, que ele denomina, respectiva- mente, raznoiazychie e raznorechie. Estes últimos não são dialetos no sen­tido exato (lingíiístico), e sim relacionados à função social (profissão, classe, etc.), Infelizmente, o significado desta distinção foi obscurecido pela tradução tanto de raznoiazychie como de raznorechie por “hetero- glossia”. A título de exemplo, Bakhtin argumenta que “a diversidade dis­cursiva (raznorechivost) [.,.] não ultrapassa os limites da unidade linguís­tica (de acordo com características linguísticas abstratas) de uma lingua­gem literária, não se transforma em genuína raznoiazychie que exigiria “conhecimento de diferentes dialetos ou linguagens”22. As forças centra­lizadoras e descentralizadoras atuam, portanto, simultaneamente em uma língua no processo de formação, mas em eixos diferentes, na verda­de:, a homogeneização linguística (iazykovoi) ocorre ao mesmo tempo que a diferenciação discursiva (rechevoi). O “meio autêntico de uma elo­cução, èm que ela vive e é formulada” são, portanto, os “raznorechie dia- logizados”. Os vários discursos se tornam “dialogizados” somente por in­teragirem dentro do meio comum de uma única língua, o que não era pos­sível quando não havia língua comum (raznoiazychie) e as funções sociais permaneciam em isolamento (zamknutyi). Várias elocuções ocorrem dentro de uma única língua, sendo assim “anónimas e soCiais como lin­guagem”, mas em discursos diferenciados que são “concretos, plenos de conteúdo e acentuados”23. No processo de formação de uma língua, por­tanto, não temos tendências mecanicamente opostas e.siin uma contra-

dição dialética, na qual as mesmas mudanças históricas que dão origem à 73 unificação do meio de comunicação (iazyk) também dão origem à dife­renciação sociofuncional ou ideológica (raznorechie), que a língua unifi­cada deve lutar para conter. A língua, entendida como “ideologicamente saturada, como visão de mundo e mesmo como opinião concreta, assegu­rando um máximo de entendimento mútuo em todas as esferas da vida ideológica”24, se desenvolve assim em espiral, e não em linha reta.

A confusão sobre a natureza do argumento de Bakhtin é agravada pelo seu uso muito impreciso da terminologia nesse ponto. Esta é, in­questionavelmente, a marca de um filósofo ainda não familiarizado com os pontos mais refinados da teoria linguística. Seu emprego dessa termino­logia foi muito mais seguro no início dos anos 1950, quando Bakhtin evi­dentemente já tinha estudado a linguística contemporânea muito mais sis­tematicamente25. Outro problema nos ensaios dos anos 1930 é a falta de referência histórica concreta, e a tendência de Bakhtin de remodelar ma­terial de fontes históricas como parte de uma “história ideal” neo-hegelia- na dos modos de pensamento em que a “essência” de uma forma (particu­larmente o romance) necessariamente aparece no final de seu desenvolvi­mento. Esses problemas levaram os tradutores de Bakhtin para a língua in­glesa a não distinguirem os casos em que ele claramente está escrevendo sobre uma língua daqueles em que ele se refere à linguagem em geral. Há, contudo, muitas áreas imprecisas. Ao cortar as amarras históricas do rela­to do desenvolvimento da língua, Bakhtin é frequentemente levado a apresentar a estratificação social da língua e a presença simultânea de tendências contraditórias como um princípio eterno.

O argumento de Bakhtin fica consideravelmente mais claro quando reconhecemos que os artigos de Iakubinski são a fonte mais provável de suas formulações. Iakubinski trata as vicissitudes históricas da língua na­cional e a diferenciação ideológica como dois lados de um mesmo proble­ma. A forma de comunicação e o conteúdo ideológico devem ser enten­didos como unidos (mas não fundidos) na língua. É essa característica que distingue fundamentalmente o argumento de Iakubinski do reducio- nismo de classe de Marr. A “ampliação da esfera de uma língua como for­ma de interação”, argumenta Iakubinski, “é acompanhada por outro pro- cesso (melhor - são dois lados de um único e mesmo processo)”. O outro lado da unificação linguística é a “diferenciação de classe de uma língua

f como ideologia”:’ O mesmo capitalismo, que diferencia ao máximo a línguas como ideologia, tenta transformá-la em um meio de rela-

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ção interclasse para o conjunto da nação. Desse modo, a língua, que tomou forma em uma sociedade capitalista, é caracterizada pela intensificação da contradição interna que mencionamos acima. Esta contradição pode ser for­mulada como a contradição entre a comunalidade da lín­gua como meio de interação (forma), e a diferenciação de classe da língua como ideologia (conteúdo)26.

Essa dialética de “forma” e “conteúdo”, assim entendida, é a premis­sa metodológica do relato detalhado e sofisticado de Iakubinski da for­mação da língua nacional russa.

Para Iakubinski, a língua-como-ideologia em uma sociedade capita­lista tem traços característicos de todas as fases de seu desenvolvimento. Por um lado, a língua-como-ideologia é o domínio do que os neokantia- nos denominavam “validade objetiva”, ou seja, “a forma inescapável de nossa cognição”, mas desenvolvida “de acordo com o nível de formação (<obrazovanie) e diferenciação do mundo superestrutural”. Iakubinski apon­ta explicitamente para Marr nessa altura, argumentando que, no início de sua existência como “forma independente de ideologia”, a língua era “uma das formas de existência da maioria das outras ideologias (religiosa, jurídica, científica, política e assim por diante)”. Por outro lado, a língua-como-ideo- logia também é a incorporação de visões de mundo socioespecíficas de dife­rentes grupos sociais. A história da sociedade de classes é, portanto, a histó­ria de ideologias de classe engajadas em uma luta que atinge um pico no ca­pitalismo, quando uma língua-como-meio-de-interação comum se torna “a forma de existência de diferentes consciências (psicologias) de classe”27. Este processo é elaborado em uma história da formação da língua nacio­nal russa.

A formação da língua nacional russa

O relato histórico de Iakubinski começa com um exame da linguagem dos camponeses no feudalismo, quando a sociedade estava dividida em uma “serie de regiões linguísticas correspondentes aos estados feudais (£>o- mest’e)”. Esses dialetos regionais, contudo, não eram monolíticos, porque “a população de um estado feudal podia compreender, em sua estrutura, uma série de grupos económicos antigos”. As variações resultantes nos di­aletos feudais eram, e aqui Iakubinski segue Marr de perto, “relíquias do estágio anterior da sociedade”. De forma geral, contudo, as relações lin­guísticas feudais eram caracterizadas por “confinamento” e “encapsula­mento” regionais. Na sociedade feudal “os camponeses falavam de forma

diferente em diferentes regiões e, dentro de uma região, as características comuns emergiam naturalmente, ainda que pudessem também conservar características distintas, herdadas de épocas anteriores”28.

As relações linguísticas começaram a mudar com o desenvolvimento desigual das relações capitalistas no arcabouço dc uma sociedade feudal. Essas novas relações se tornaram inicialmente visíveis em uma cidade em crescimento onde, desde o início, a população era, até certo ponto, uma mistura de pessoas de vários feudos. Surgiu, conseqiientemente, uma certa “linguagem conversacional comum”, “refletindo as características dos vá­rios dialetos dos habitantes”. A linguagem de cada cidade individual era, porém, formada no bojo de relações interurbanas mais intensas, tendo como base a linguagem conversacional dos maiores centros da sociedade. Isto formou o núcleo da língua comum nacional (obshchenãtsionalnyi), que se desenvolveu à medida que a burguesia concentrava a riqueza em um número cada vez menor de mãos, centralizava a produção e, portanto, a população, causando a centralização política. Parafraseando Marx, Iaku- binski argumenta que a “socialidade linguística se torna cada vez menos parecida com aquele saco de dialetos que era na época do feudalismo”. Dando certa concretude sociológica aos relatos esquemáticos anteriores das forças centrífugas e centrípetas dentro da língua, Iakubinski argumen­ta que a formação da língua nacional é uma “tendência [tendentsiia] (esfor­ço [stremlenie]) para a comunalidade”, cujo progresso depende de fatores como a chegada de novos camponeses com seus próprios dialetos, o está­gio de desenvolvimento capitalista e o tamanho do centro capitalista. Mais importante, contudo, a população urbana está dividida em classes e um estrato de “intelectuais profissionais”: “o grau de comunalidade da lin­guagem das várias classes sociais [...] é diferente. Diferentes classes gene­ralizam sua linguagem em vários graus, dependendo da extensão em que são forçadas a fazê-lo por seus interesses objetivos de classe e de quanto a generalização é permitida pelas condições políticas objetivas em que a tal classe social se desenvolve”. O proletariado tem interesse em generalizar sua linguagem, mas sendo politicamente subordinado, explorado e oprimi­do, não é capaz de se tornar uma “classe para si”. As contradições do capi­talismo, consequentemente, tanto impulsionam como limitam o desen­volvimento de uma língua nacional comum29.

O discurso público e seus gêneros

Iakubinski argumenta que a “capitalização” das relações linguísticas está fundamentalmente ligada ao desenvolvimento do “discurso públi-

_ ubiiâh)iaia reck ), que deve ser distinguido da linguagem conversa- ã 1 ̂ Utérfhos-do possível número de participantes e tamanho da elo­

cução, Reiterando um ponto dc seu artigo de 192 3 sobre o discurso dialó- gico, Iakubinski argumenta que “a conversação é uma troca de réplicas curtas (diálogo)”, enquanto que elocuções de “discurso público” são “am­pliadas, longas, monológicas”30. O discurso público também tem mais pro­babilidade de ser escrito. As plataformas para o discurso público, na verda­de, somente surgem em decorrência da “capitalização” das relações lin­guísticas, pois o “discurso público começa a “florescer” no parlamento e na corte, em instituições de educação superior e em palestras públicas, em comícios e congressos; até a praça se torna sua plataforma”31:

O discurso parlamentar, o discurso de um diplomata em uma conferência, uma declaração em uma discussão ou co­mício, um discurso político, o discurso de um advogado ou promotor, uma peroração inflamada na rua, etc., etc., são gêneros de discurso público característicos do capitalismo, em contraste com o feudalismo, independente do fato de seus embriões estarem no feudalismo. O capitalismo fala em público incalculavelmente mais e de forma diferente do feudalismo. O discurso público no feudalismo é estreita.' mente especializado, engessado pelos estreitos domínios da socialidade; o discurso público no capitalismo tem preten­sões de universalidade; quer ser uma forma tão universal quanto a linguagem conversacional... A o acumular vários gêneros de discurso público oral, a socialidade capitalista também acumula gêneros escritos correspondentes.

Enquanto o capitalismo desenvolve uma ampla gama de gêneros de discurso público, simultaneamente restringe o acesso de grande parte da população a esses gêneros. Há, portanto, “uma tendência (esforço) ine­rente ao capitalismo para transformar o discurso público em uma forma tão universal de relação discursiva quanto a linguagem conversacional”, mas em virtude dos “limites e contradições” essenciais do capitalismo, “a uni­versalidade do discurso público continua sendo um mito no mundo capi­talista tanto quanto a liberdade, fraternidade e igualdade e tantas outras coisas boas”32.

Esta é, quase que certamente, a fonte mais imediata dos escritos de Bakhtin sobre “gêneros do discurso”. Nesses artigos, Iakubinski faz am­plo uso da expressão “gênero do discurso”, precisamente da mesma for­ma que Bakhtin a usaria, mais tarde, nos ensaios da década de 1930 e, depois, no início dos anos 1950. O que Iakubinski integrou em um relato sócio-histórico substantivo sobre a revolução nas relações discursivas re-

sultante do desenvolvimento do capitalismo na Russia, Bakhtin por sua 77 vez integrou em uma história literária “ideal”. Ainda que Voloshinov ti' vesse usado o termo com parcimónia em 192933, Bakhtin tratou a ques­tão historicamente em seus artigos dos anos 1930. Sua preocupação com esta categoria atinge um pico em 1951-1953, no ensaio “O problema dos gêneros do discurso” (Problemy rechevykh zhanrov), escrito em resposta ao ataque de Stalin a Marr em junho de 195034. Aqui ficamos sabendo que Bakhtin considera os gêneros do discurso como formas típicas de elocução. Ainda que Bakhtin tenha indubitavelmente desenvolvido a idéia recorrendo a seu conhecimento da teoria dos gêneros na literatura artística, manteve a força sociológica dada por Iakubinski em seu traba­lho dos anos 1930. Assim sendo, no ensaio de 1951-1953, ele argumenta que os gêneros do discurso são “correias motrizes (privodnye remni) da história da sociedade para a história da língua”, uma metáfora sobre a língua usada por Marr, mas aqui transferida à categoria de Iakubinski35.

Unificação linguística e diferenciação discursiva

Em seu artigo de 1940 “Da pré-história do discurso romanesco”, Bakh­tin descreve a deterioração do isolamento linguístico da cidade-estado de Atenas como a precondição para o surgimento dos gêneros paródicos, pre­cursores significativos do romance moderno. Somente com o advento da mnogoiazychie, um ambiente plurilíngíie (poliglossia), pode a “consciência ser totalmente liberada do poder (vlast’) de sua própria linguagem e mito linguístico. Formas paródicas-travestidas vicejam na mnogoiazychie, e so­mente nessas condições podem ser alçadas a alturas ideológicas completa- mente novas36. Esse relato é um exemplo claro de como Bakhtin integrou a sociologia da língua desenvolvida na Rússia nos anos 1920 e 1930 a uma história ideal da forma literária.

Ainda que o termo em si seja consideravelmente mais antigo, mno- goiazychie foi usado para designar a presença simultânea de diferentes línguas nacionais em uma única cidade por Boris Larin, colega de Iaku­binski, em um trabalho apresentado no ILIaZV em 1926 e publicado em 192837. Dois anos mais tarde, surgia a análise de Iakubinski de como a “linguagem urbana comum” penetrou as hostes camponesas e levou a uma abordagem da linguagem cônscia de si própria. Iakubinski também argumentou ali que a paródia linguística era uma forma crucial na luta das linguagens resultante da deterioração da “fixidez feudal”, lakubins-

|; ki investiga “1) como os camponeses se acomodam à linguagem con- | versacional surgida ria sociedade capitalista e 2) como os camponeses

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se integram ao processo de transformação do discurso público para a forma universal de interação baseada em seus novos gêneros (que são estranhos ao feudalismo) ”38.

Este duplo problema levou a três teses: a) A assimilação da lingua­gem urbana comum pelos camponeses é um processo irregular que de­pende da variedade de grupos sociais em um dado vilarejo, da distribui­ção e tipo de centros capitalistas e da penetração de forças de mercado nos lugarejos em geral; b) o processo de assimilação não é linear devido à resistência dos camponeses à linguagem urbana comum e, conseqúente- mente, c) a assimilação é, em grande parte, um processo consciente por parte dos camponeses. É a tese (c) que nos preocupa mais aqui. De acor­do com Iakubinski, o movimento dos camponeses em direção à lingua­gem urbana comum é um “ato consciente”:

Ao contrapor a linguagem urbana comum ao modo local dc falar [govor], o capitalismo introduz fatos lingtiísticos na consciência dos camponeses, forçando-os a notar, reco­nhecer c avaliar esses fatos. Ele [o capitalismo] transforma a linguagem inconsciente, linguagem-em-si em linguagem- para-si. Ao destruir a fixidez feudal, o tradicionalismo da interação lingiiística camponesa, através da estratificação de classe do vilarejo e da complexa contraposição da cida­de com o vilarejo, o capitalismo força os camponeses a op­tar entre sua antiga e local linguagem própria e a nova lin­guagem urbana, “nacional”. Nesse campo surgiu uma luta, c uma de suas armas é o escárnio, a paródia linguística do discurso dos atrasados ou dos inovadores39.

Bakhtin uma vez mais cortou as amarras históricas do argumento de Iakubinski, e o incorporou a um relato de história literária com diferen­tes origens e coordenadas históricas. Como Iakubinski, Bakhtin liga o surgimento dos gêneros paródicos à deterioração do isolamento linguís­tico, mas transpõe a formulação, passando-a da penetração das relações capitalistas no atrasado interior da Rússia para um relato da literatura no final da Antiguidade. O arcabouço no qual Bakhtin inseriu as idéias dos linguistas de Leningrado já tinha sido estabelecido por Aleksandr Vese- lovski e Georg Misch. Veselovski havia descrito o surgimento do roman­ce como produto da interação de culturas, enquanto Misch havia descri­to a “descoberta da individualidade” na autobiografia durante a expansão helénica como uma “súbita consequência da ampliação do campo de vi­são para povos até então desconhecidos, com diferentes estilos de vi­da”40. O atingir da autoconsciência linguística foi assim generalizado e

depois relacionado à prática literária em condições de mnogoiazychie. O resultado é que “no processo da criação literária, a iluminação mútua com uma língua estrangeira aclara precisamente o lado de “visão de mundo” da própria língua (e da estrangeira), sua forma interior, o siste­ma axiológico-acentuado a ela inerente41.

Dos raznoiazychie aos raznorechie42

Para Iakubinski foi o advento do capitalismo que levou a um reorde- namento das relações linguísticas. Enquanto o campesinato consistia de um agrupamento de comunidades geograficamente dispersas e socialmente isoladas, o proletariado urbano constitui um coletivo de grupos sociais que surgiu da divisão do trabalho. As especificidades lingiiísticas desses grupos sociais são agora subconjuntos de um padrão proletário abrangente:

Esses agrupamentos intraclasse não contradizem os inte­resses objetivos da classe trabalhadora enquanto o vocabu­lário profissional especializado for usado na estreita esfera de uma dada forma de produção, e não permeie toda a lin­guagem do operário, não o separe completamente, em rela­ções lingiiísticas, do operário de outro grupo profissional. As relações linguísticas entre grupos linguísticos profissio­nais na sociedade capitalista são, portanto, bastante distin­tas daquelas existentes entre grupos profissionais do feuda­lismo, cm que grupos “isolados” desenvolveram suas pró­prias línguas mutuamente incompreensíveis. A estratifica­ção profissional da língua no proletariado é, assim, bastan­te diferente dos raznoiazychie que o proletariado herda do campesinato. Estes últimos contradizem os interesses obje­tivos da classe trabalhadora e devem ser “liquidados” na formação de uma linguagem proletária independente43.

Em sua transformação de uma “classe em si” para uma “classe para si” o proletariado tem que desenvolver sua própria linguagem para se dis­tinguir da linguagem da burguesia. A manifestação desta distinção não está, e aqui Iakubinski mostra considerável distância de Marr, na pro­núncia, gramática ou vocabulário do proletariado, mas no “método dis­cursivo” do proletariado. Este consiste no “modo de usar o material da lín­gua nacional comum”, no “tratamento (obrashchenie)” de seu material, no “modo de seleção dos fatos necessários para fins concretos”, na “atitude em relação a esses fatos e sua avaliação”. Este “método discursivo proletário” é formado espontaneamente durante a luta do proletariado com a bur­guesia “na ordem da interação conversaeional diária e é organizado pelos

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80 mais avançados operários linguísticos, os ideólogos do proletariado (es­critores e oradores), nos vários gêneros de discurso público escrito”. De início, este método é formado principalmente nos “gêneros políticos, fi­losóficos e científicos do discurso público”, mas após a tomada do poder político pelo proletariado o processo adquire um “caráter de massa" e se espalha para “todos os gêneros do discurso”44.

A estratificação social da língua é agora entendida como estratificação ao nível do discurso, e argumenta-se que os trabalhadores tomam cons­ciência dessa estratificação na e pela democratização dos gêneros do dis­curso por uma liderança política. Aqui temos o germe da idéia de Bakhtin de que a democratização da cultura equivale à sua “romancização”. O lí­der político é substituído pelo romancista. Em vez de “gêneros políticos, fi­losóficos e científicos do discurso público”, provando o locus da democrati­zação, é no romance e através dele que assume esse papel. Assim como Bakhtin separa a narrativa histórica concreta de Iakubinski de suas coor­denadas institucionais e as absorve em uma narrativa ideal, ele também corta as amarras institucionais da literatura e incorpora a política na ética e na estética.

A série dc artigos de Iakubinski termina com uma caracterização da situação atual da “política linguística”. Argumenta que todo o vocabulá­rio desnecessariamente técnico relacionado aos “especialistas burgue­ses” deve ser abandonado em favor de uma “linguagem científica popular verdadeira” (nauchno-populiamyi iazyk)45. Sob a ditadura do proletaria­do, a língua nacional comum deve ser “comum em sua tendência em di­reção a todos os gêneros de discurso”. Será “tanto mais democrática quanto mais acessível às massas, e quanto menos diferenciada de acordo com o gênero”, superando as enormes diferenças da “assimilação da rea­lidade em gêneros do discurso” introduzida pelo capitalismo46. O desen­volvimento de uma língua nacional comum, e portanto a superação dos raznoiazychie (dialetos), pode dar frutos, porque a contradição do capita­lismo entre campo e cidade pode ser superada e a subordinação de clas­ses anteriormente oprimidas pode ter fim. Uma vez que o proletariado é uma classe universal, ela visa destruir a estrutura de classes de uma vez por todas, e assim a língua nacional pode agora se tornar “comum a todas as classes da sociedade”47.

Enquanto Iakubinski via a democratização final das relações linguís­ticas no futuro, Bakhtin parece endossar o presente como inteiramente “romancizado”. Enquanto para Iakubinski a Revolução de 1917 forne-

ceu a precondição final para a verdadeira democracia lingiiistica, Bakh­tin a recolocou no Renascimento:

Vivemos, escrevemos e falamos em um mundo de lingua­gem livre e democratizada: as velhas e complexas hierar­quias multiestratificadas de palavras, formas, imagens e es­tilos, que permeavam todo o sistema da língua oficial e cons­ciência lingiiística, foram varridas pelas revoluções linguísti­cas do Renascimento48.

É difícil saber como encarar esse texto, escrito no auge do terror stali- nista e da codificação do “realismo socialista”. Uma coisa é certa, contu­do. Esse julgamento só seria possível se sumissem da vista as instituições nas quais a cultura da língua é articulada. São essas as consequências da herança neokantiana de Bakhtin, que o levou a ver a cultura como um empreendimento ético, transferindo todas as questões da determinação externa para a esfera das ciências naturais. Uma apreciação dos artigos de Iakubinski, que constituíram uma importante fonte dessas obras, pode ajudar a resgatar esses fatores.

O rom ance

É crucial reconhecer que, na década de 1930, Bakhtin não era um linguista e sim um teórico do romance. Para ele o romance incorpora Uma imagem da sociedade, mas é uma imagem verbal da estrutura verbal da sociedade. O romance é um “microcosmo de raznorechie” (discursos sociais)49. Iakubinski equipou Bakhtin com um modelo coerente das re­lações sociolinguísticas, que são tanto precondição do romance como metagênero quanto um objeto de sua imagem artística. Essencialmente, Bakhtin se afastou do relato de Iakubinski da história recente da língua russa, tratando-a como um relato geral da história linguística européia, da Antiguidade até o Renascimento. Essa estratégia se enquadra no ar­gumento marrista de que todas as línguas sofrem um “único processo glossogônico”, passando pelos mesmos estágios de desenvolvimento, mas não necessariamente no mesmo ritmo50. Também nos lembra a adesão inicial do Círculo de Bakhtin à idéia do iminente “Terceiro Renascimen­to”, que teria início na Rússia e se alastraria pela Europa51, Esse uso abs­trato de categorias históricas, junto com o próprio idealismo filosófico de Bakhtin, leva a uma clara ambivalência quanto a se o romance é um fe­nômeno historicamente específico ou um princípio eterno.

A originalidade de Bakhtin nesses ensaios não reside em sua descrição da diversidade discursiva de uma língua nacional, mas em sua descrição de

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82 como o romancista explora essa diversidade. Assim, “o romance começa a usar todas as linguagens, maneiras e gêneros, compele todos os mundos exauridos e decrépitos, sociológica e ideologicamente estranhos e distan­tes, a falar de si próprios cm suas próprias linguagens e em seu próprio esti­lo”. O romancista desempenha um papel fundamental na democratização das relações linguísticas, fornecendo uma imagem da luta entre discursos que ocorre dentro dos “vários gêneros de discurso escrito e oral”. A natu­reza desse engajamento no romance é, contudo, não simplesmente polê­mica, mas sim artística e criativa. As palavras do autor e do herói se fun­dem e são transformadas em uma imagem artística, na qual é retratada uma não resolvida “interação mútua entre palavras, pontos de vista, sota­ques”52. Se a mnogoiazychie do período da expansão helénica foi uma pre- condição para o florescimento dos gêneros paródicos, tendo o uso da lin­guagem se tornado um ato consciente, os raznorechie do Renascimento, ponto de transição entre o feudalismo e o capitalismo, fornecem as condi­ções para o florescimento de gêneros paródicos em um nível mais elevado. Aqui não são só as línguas como tal que tomam consciência de si próprias, mas também os discursos socioespecíficos. O gênero paródico por excelên­cia é o romance. Não é meramente a língua como tal, mas os “raznorechie em si” que “se tornam, no romance e graças ao romance, “raznorechie para si”. Os romances do tipo mais avançado “se alçam das profundezas dos raz­norechie às mais altas esferas da linguagem literária e a subjugam”53.

Conclusão

Um exame da dívida de Bakhtin com os artigos de Iakubinski de 1930-1931 mostra a extensão em que o Bakhtin dos anos 1930 tentava integrar seu trabalho ao conhecimento soviético de então. A tentativa continuou por tempo considerável. O trabalho de Bakhtin seguiu de per­to as voltas e reviravoltas do conhecimento contemporâneo. Sem dúvi­da, esse fato não se limitou a idéias sociolingiiísticas, mas se estendeu por toda a sua obra e requer mais pesquisa. Contudo, como vimos no caso de Iakubinski, o idealismo de Bakhtin solapou parte do potencial radical das idéias que incorporou, ainda que no fim o tenha protegido de algu­mas das corrupções mais brutais do conhecimento no período de Stalín. Isto sugere que muitas outras dessas fontes esquecidas provavelmente merecem ser reexaminadas por seus próprios méritos, em vez de serem descartadas como trabalho mercenário stalinista.

As idéias mais originais e, penso eu, mais valiosas de Bakhtin são en­contradas em sua obra dos anos 1930 sobre o romance, mas essa origina­lidade não é encontrada em nenhum dos elementos específicos com os quais ele constrói seu edifício teórico. É, na verdade, a estrutura do edifí­cio em si. Vimos aqui que a sociologia da língua, que é central para sua teoria do romance, foi, em grande parte, derivada de Iakubinski, mas Bakhtin a integrou em um relato do romance que bebeu em muitas ou­tras fontes, incluindo os formalistas russos, Veselovski, Cassirer, Zhir- munski, Lukács, Hegel e os românticos alemães. A forma como a teoria de Bakhtin se desenvolve nesse período está intimamente ligada aos de­bates nos círculos estudiosos soviéticos da época, ficando ainda mais ín­tima com o crescente nacionalismo do final dos anos 1930. Assim, en­quanto a obra de Bakhtin continuou a ser moldada pela tradição idealis­ta alemã que formava a base de sua perspectiva filosófica, a forma como ele adaptou essa tradição em obras específicas foi moldada pelo contexto distintamente soviético em que ele atuou. Além disso, os pouco pesqui­sados estudiosos soviéticos com os quais Bakhtin esteve envolvido, como Mart, Freidenberg, Iakubinski, Zhirmunski e Larin, estavam eles próprios retrabalhando as idéias alemãs no contexto soviético. Para podermos en­tender a natureza dos artigos de Bakhtin da década de 1930, e apreciar em toda plenitude a extensão cm que ele fez uma contribuição original, precisamos estar cientes tanto das dimensões alemãs quanto das especifi- camente soviéticas de seu ambiente intelectual. Mas, se estivermos mais preocupados em entender os fenômenos discutidos nessas obras, e apre­ciar a contribuição dos estudiosos soviéticos, juntamente com seus con­tornos históricos, não devemos nos contentar em concentrar nossas atenções especialmente em Bakhtin. Seu trabalho deve ser tratado como apenas uma contribuição valiosa para um processo dialógico, cuja impor­tância supera, de longe, a de seus próprios escritos.

Notas

1. Talvez a primeira pessoa a dar início à análise das idéias de Bakhtin sobre o romance tenha sido Tzvetan Todorov em The Diahgiccd Principle. Trad. W. Godzich (Manches­ter: Manchester University Press, 1984), p. 86-93. Entre outras obras notáveis estão: N.D. Tamarchenko. “M.M. Bakhtin i A.N. Veselovski (metodologiia istoricheskoi po- etiki)”. Dialog Kamaval Khronotop, 4, 1998, p. 33-44. • Galin Tihanov. The Master and the Slave: Lukács, Bakhtin, and the Ideas of their Time. Oxford: Oxford University Press, 2000. • Craig Brandist. The Bakhtin Circle: Philosophy, Culture and Politics. Londres: Pluto Press, 2002. Uma exceção condicional da escassez de análises do pensamento lin­guístico de Bakhtin na época é V.M. Alpatov. “Problemy lingvistiki v tekstakh M.M.

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84 Bakhtina 1930-kh godov”. Dialog Kamaval Khronotop, 1, 2002, p. 4-20. Infelizmente, as \fontes sociolingiiísticas aqui continuam inexploradas.

2. V.N. Voloshinov. Marksizm i filosofiia iazyka. In: Valentin N. Voloshinov, Filosofiia i \ soisiologiiagumanitamykhnauk. S. Petersburgo: Asta Press, 1995, p. 216-380. • Marxism i and the Philosophy of Language. Trad. Ladislav Matejka e I.R. Titunik. Cambridge Mass.: Harvard University Press, 1973. Ver em Ken Hirschkop. Mikhail Bakhtin: An ; Aesthetic For Democracy (Oxford: Oxford University Press, 1999, p. 126-140) um le- : vantamento dos trabalhos recentes sobre a questão da autoria.

3. Craig Brandist. “Voloshinov’s Dilemma: On the Philosophical Sources of the Dialo-gic Theory of the Utterance”. In: Craig Brandist et al. (eds.). The Bakhtin Circle: In the j Masters Absence. Manchester: Manchester University Press (a ser publicada). '

4. Os discípulos de Baudouin de Courtenay dominavam os estudos linguísticos em Le- ]ningrado. Entre eles, temos Shcherba, Larin, Iakubinski e Evgenyi Polivanov, a quem ;; Bakhtin considerava “uma figura bastante significativa” (M.M. Bakhtin. Besedy s V.D. . Duvakinym. Moscou: Soglasie, 2002). Zhirmunski também assistiu às preleções de Bau- ; douin e se considerava seu discípulo. |

5. Ver, em particular, Michael Smith. Language and Power in the Creation of the URRS, J 1917-1953. Berlim: Mouton de Gruyter, 1998. Ainda que seja um estudo exemplarem | muitos aspectos, Smith aqui simplifica demais a relação entre os estudiosos do ILIaZV e os marristas, acabando por apresentar os membros do Círculo de Bakhtin como meros clientes do marrismo.

6. Bakhtin. Besedy s V.D. D uvakinym, 66.

7. A influência da Volkerpsychobgie de Steindhal e Wundt sobre esses pensadores foi particularmente significativa. A esse respeito, ver Arleta Adamska-Salaciak. “Jan Bau­douin de Courtenay’s Contribution to Linguistic Theory”. Historiographia Linguística, XXV (1/2), 1998, p. 25-60 (33-34).

8. Sobre o incipiente pensamento sociolingiiístico de Baudouin, ver: D.L. Olmsted. “Baudouin, Structuralism and Society”. • R.L. Lencek. “Language-Society Nexus in Baudouin’s Theory of Language Evolution: Language Change in Progress”. In: J.M. Ri­eger et al. (eds.). Jan Niecislaw Baudouin de Courtenay a lingwistylta swiatowa. Wroclaw: Zaklad Narodowy im. Ossolinskich, 1989, p. 26-34, 73-81.

9. Viktor M. Zhirmunski. “Marksizm i sotsial’naia lingvistika”. In: A.V. Desnitskaia;L.S. Kovtun; V.M. Zhirmunski (eds.). Voprosy sotsial'noiUngvistiki. Leningrado: Nauka, 1969, p. 5-25. Os artigos de Iakubinski, alguns dos quais tinham como co-autor seu dis­cípulo A.M. Ivanov, foram publicados em Uteratumaia ucheba (doravante Lu), 1, p. 31-43; 2, p. 32-47; 3, p. 49-64; 4, p. 80-96; 6, p. 51-66 (1930); 7, p. 22-33; 9, p. 66-76 e 1 (série nova), p. 82-106 (1931). O livro, atribuído a Ivanov e Iakubinski, foi publicado como ( kherkipo iazyku (Moscou/Leningrado: Khudozhestvennaia literatura, 1932). A respeito do significado histórico dessa obra, ver A.V. Desnitskaia. "Как sozdavalas teo- riia natsional’nogo iazyka”. In: N.F. Belchikova (ed.). Sovrernennye problemy literature- j vedeniia i iazykoznaniia. Moscou: Nauka, 1974, p. 398-415. j

10. O fato de os artigos publicados não fazerem referências diretas a Iakubinski não ■ constitui obstáculo aqui, uma vez que também não há referência às fontes bem estabe- í lecidas da obra de Bakhtin na época, como Lukács, Veselovski e Cassirer. Até que os j

pesquisadores tenham acesso aos manuscritos, provavelmente não saberemos se essas 3 5 referências foram removidas postumamente por editores com motivações políticas.

11. Sobre a complexa relação de Bakhtin com o marrismo, ver Brandist. The Bakhtin Circle, p, 109-115 e passim.

12. Ver, em particular, P.N. Medvedev. “Uchenyi Sal’erizm (O formaknom (morfologi- cheskom) metode”. Zvezda, 3, 1925, p. 264-276. Traduzido por Ann Shukman como “The Formal (Morphological) Method or Scholarly Salieri-ism”. in: Bakhtin School Pa­pers, Russian Poetics in Translation, 10, 1983, p. 51-65.

13. Sobre a dívida de Bakhtin com a dialética neo-hegeliana de Cassirer, ver Craig Brandist. “Bakhtin, Cassirer and Symbolic Forms”. Radical Philosophy, 85, 1997, p.20-27.

14. Ernst Cassirer, citado em Charles Hendel. “Introduction”. In: Ernst Cassirer. ThePhilosophy of Symbolic Forms - Vol 1: Language. Trad. R. Mannheim, New Haven CT/Londres: Yale University Press, 1955, p. 1-65 (34).

15. Ivanov e Iakubinskii. Ocherkipo iazyku, 62 (grifo no original).

16. “Discourse in the Novel” (doravante D N ). In: M.M. Bakhtin. The Dialogic Imagina­tion. Trad. M. Holquist e C. Emerson. Austin: University of Texas Press, 1981, p.259-422 (259), • “Slovovromane” (doravanteSR).In: Voprosy literatureiesteti/d.Mos­cou: Khudozhestvennaia Literatura, 1975, p. 72-233 (72-73). Tradução para o portu­guês: “O discurso no romance”. In: Questões de literatura e de estética: a teoria do roman­ce. São Paulo: Unesp/Hucitec, 1988, p. 71-210 (N.T.).

17. DN 271-272; SR 85.

18.1.A. Boduen de Kurtene (Baudouin de Courtenay). “Nekotorye obshchie zamech- niia o iazykovedenii i iazyke”. In: hbrannye trudy po obshchemu iazykoznaniiu. Moscou:Izd. Akademii nauk SSSR, p. 47-77 (58-60). • A.A. Shakhmatov. Ocherk drevneishego perioda istorii russkogo iazyka. Petrogrado: Imeratorskaia akademia nauk, 1915, p. xlvii-xlviii.

19. W. Wundt. Ethics. 3 vol. Trad. M.F. Washburn. Londres: Swan Sonnenschein, 1907-1908; I, p. 262-263; III, p. 269-272.

20. S.F. Oldenburg. “Le conte dit populate, problèmes et methodes”, Revue des “etudes , slaves, 9,1929, p. 221-236 (234-235). Apud Dana P. Howell. The Development of Soviet .FoMoristics (Nova York/Londres: Garland, 1992, p. 173.

21. DN 271-2; SR 85. A tradução para o inglês de “iazyk” nesta citação é “língua" e não “uma língua”. Uma vez que Bakhtin está falando de uma língua nacional, parece-me importante salientar que ele está falando da língua como um fato social.

. 22. DN 308; SR 121. A tradução publicada em inglês é particularmente confusa neste trecho: “a diversidade do discurso não excede os limites da linguagem literária concebi-

| da como um todo linguístico (ou seja, a linguagem definida por marcadores linguísticos abstratos), não avança para uma ‘heteroglossia’ autêntica”, Contudo, de maneira ainda

Unais desorientadora, a fusão de raznorechic e raznoiaychie em si não é uniforme na tra- ; dução, uma vez que há passagens, p. ex. DN 298; SR 111, em que raznoiazychie i razno- krechie foi traduzido como “heretoglossia e diversidade da linguagem”. Sou grato a Mika eLâhteenmãki por ter salientado o fato.

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23. DN 272; SR 86.

24. DN 271; SR 84. O uso de Bakhtin de “linguagem [...] como ideologicamente satu- \rada” aqui para significar ‘discurso’ é muito enganosa. No ensaio sobre gêneros discursi- t vos do início da década de 1950 sua distinção entre linguagem e discurso era muito ■ mais clara. )

25. Algumas das notas de Bakhtin de seu estudo de linguística no início da década de ■ 1950 foram publicadas como “Iz arkhivnykh zapisei к rabote ‘Problemy rechevykh ■ zhanrov’”. Sobraníe Sochinenii, 5, p. 207-286. Muito recentemente, foram complemen- \ tadas com algumas notas publicadas em 1957, em que Bakhtin tratava sistematicamen- ■] te da diferença entre discurso e linguagem: M.M. Bakhtin. “Iazyk i rech”. DiabgKama- | vai Khronotop, 1, 2001, p. 23-31.

26. Ocherki po iazyku, p. 62-63.

27. Ocherki po iazyku, p. 62. A referência é à correlação por Marr dos estágios de desen- 3 volvimento da língua com formas de diferenciação social. Para tanto, ver Lawrence i Thomas. The Linguistic Theories of N.Ja. Marr. Berkeley/Los Angeles: University of Ca- j lifornia Press, 1957, p. 117-134- Também corresponde à definição de ideologia de Buk- ' harin como “certos sistemas unificados de formas, pensamentos, regras de conduta, j etc.” como “ciência e arte, lei e moral, etc.”, adotada por Voloshinov e Medvedev. Ver | Nikolai Bukharin. Historical Materialism: A System of Sociology. Londres: Allen & Unwin, 1926, p. 208. Voloshinov e Medvedev encaram a filosofia da linguagem e estu- ; do literário como ramos de uma “ciência das ideologias”. Ver, por exemplo, P.N. Med- i vedev. Formal’nyi metod v literaturovedenii. Moscou: Labirint, 1993, p. 45. • P.N. Medve- ) dev c M.M. Bakhtin. The Formal Method in Literary Scholarship. Trad. Albert J. Wehrle. I Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1978, p. 37. Sobre a dívida de Voloshinov \ com Bukharin, ver Tihanov. Master and Slave, p. 85-95.

28. L.P. Iakubinsld. “Klassovyi sostav sovremennogo russkogo iazyka: iazyk krest’ians- j tva. Stat’ia chetvertaia”. Lu, 4, 1930, p. 80-92 (85).

29. “Klassovyi sostav”. Lit, 4, p. 86-88. ::

30. “O dialogicheskoi rechi’, In: Iazyk i ego funktsionirovanie, p. 17-58, § 4. Lev Shcherba, Jcolega dc Iakubinski no ILIaZV, havia salientado o mesmo ponto já em 1915: “Cada mo- . nólogo é, em essência, uma forma rudimentar da linguagem ‘comum’, normalizada, am- ) piamente disseminada; a linguagem ‘vive’ e muda, em grande parte, no diálogo” L.V. J Shcherba, “Nekotorye vybody iz moikh dialektologicheskikh luzhitskikh nabliudenii”. ; In: Izbrannye raboty po iazylwznaniiu i fonetike. Leningrado: Izd. Leningradskogo universi- - teta, 1958, p. 35-39 (36). Ver também Shcherba, “sovremennyi russkii literaturnyi : iazyk”, Izbrannye raboty po russkomu iazyku. Moscou: Uchpedgiz, 1957, p. 113-130. \

я31. “Klassovyi sostav”. Lu, 4, p. 89-90, Grifo no original. '

32. “Klassovyi sostav”. Lu, 4, p. 91-92. Grifo no original. )

33. Voloshinov usa brevemente o termo “gênero do discurso” em Marxismo e filosofia da ■ linguagem, mas ali este termo permanece relativamente sem desenvolvimento e certa- ; mente sem relação com considerações históricas (Marksizm, p. 314-315; MPL, p. 96-97). з

34- Em seu comentário detalhado sobre o ensaio, os editores da erudita edição da obra : de Bakhtin não identificam a fonte, alegando apenas que Bakhtin foi provavelmente influenciado pelo ensaio sobre o diálogo de Iakubinski de 1923, do qual ele extraiu o j

termo “rechevoe obscherúe” [relação discursiva]. M.M. Bakhtin. Sobranie sochinenii, t. 5. Moscou: Russkie Slovari, 1996, p. 543.

35. M.M. Bakhtin. “Problema rechevykh zhanrov”. Sobranie sochinenii, t. 5, p. 159-206 (165). • “The Problem of Speech Genres”. Speech Genres and Other Late Essays. Trad. Vern W. McGee. Austin: University of Texas Press, 1986, p. 60-102 (65). Marr argu­mentava que “a língua atua como uma correia motriz [privodnoi remen] no território das categorias superestruturais da sociedade”, citado em Alpatov. Istoriia, p. 35.

36. M.M. Bakhtin. “From the Prehistory ofNovelistic Discourse” (hereafter PND). The Dialogic Imagination, p. 41-83 (61). • “Iz predystorii romannogo slova” (doravante PRS). Voprosy literature i estetiki, p, 408-446 (426). Tradução para o português: “Da pré-histó­ria do discurso romanesco”, in: Questões de literatura e de estética: a teoria do romance. São Paulo: Unesp/Hucitec, 1988, p. 363-396 (N.T.).

37. Larin. “O lingvisticheskom izuchenii goroda”, § 4.

38. “Klassovyi sostav sovremennogo russkògo iazyka: iazyk krest’ianstva. Stat’ia chet- vertaia”, Lu, 6, p, 51-66 (51).

39. “Klassovyi sostav”. Lu, 6, p. 58-62. Grifo no original.

40. A.N. Veselovski. “Grecheskiiroman”. In: Izbrannye stat’i. Leningrado: Khudozhest- vcnnaia Literatura, 1939, p. 23-69. • A.N. Veselovski, Istoriheskaia poetika. Leningrado: Khudozhestvennaia Literatura, 1940. Pode ser significativo o fato dc que Veselovski era uma importante e reconhecida fonte da obra de Marr e que Zhirmunski era o editor e escreveu as introduções dessas edições. Georg Misch. A History of Autobiography in Antiquity. 2 vol, Trad. K.W. Dickes. Londres: Routledge &Kegan Paul, 1950, vol. 1, p. 69. Ver também Tihanov. Master and Slave, p. 149-150. • N. Tamarchenko. “M.M. Bakhtin i A.N. Veselovski”. • Craig Brandist. “Bakhtin’s Grand Narrative: The Signifi­cance of the Renaissance”. Dialogism, 3, 1999, p. 11-30 (19-24).

41. PND, 62; PRS, 427.

42. Dos dialetos aos discursos sociais. Em russo no original (N.T.).

43. “Klassovyi sostav sovremennogo russkogo iazyka: iazyk proletariata. Stat’ia piata- ia”.Lu, 7, 1931, p. 22-33 (24-25).

44- “Klassovyi sostav”. Lu, 7, p. 32-33.

45. Iakubinski. “O nauchno-populiarnom iazyke”. Lu, 1, 1931, p. 49-64.

46. L.P. Iakubinski. “Russkii iazyk v epokhu diktatury proletariata”. Lu, 9, 1931, p. 66-76 (74).

s 47. “Russkii iazyk”. Lu, 9, p, 71.

; 48. PND, 71; PRS, 435.

- 49. DN, 411; SR, 222.

; 50. Bakhtin poderia estar seguindo Zhirmunski no final da década de 1930, pois este úl- = timo havia tentado estabelecer uma metodologia para “estudos literários comparati- •• vos”, baseada na concepção de Marr do “processo glossogônico único” em um artigo

importante e influente “Sravnitel’noe literaturovedenie i problema literaturnykh vliia- I nii” Izvestiia academia nauk SSSR, otdelenie obshchestvennykh nauk, 3, 1936, p. 383-403 I'. (383-384). Sobre a importância deste artigo, ver A.V. Desnitskaia. “Na putiiakh к soz-

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daniiu istoriko-tipologicheskoi teorii eposa: stranitsy nauchnoi biografii V.M. Zhir- munskogo”. In: 1 ).S. Likhachev (ed.). Iazyk, literatura, epos (k lOOAetiiusudniarozhdenú iaakademika V.M. Zhirmunslwgo. S. Petersburgo: Nauka, 2001, p. 377-401 (380-385).

51. N.I. Nikolaev. “Sud’ba idei tret’ego vozrozhdeniia”. Moyseion: Professoru Aleksan- dru losifovichu Zaitsevu ho dniu semidesiatiletiia. S. Petersburgo, 1997, p. 343-350.

52. DN, 409; SR, 220-221.

53. DN, 400; SR, 211.