hiperplasia papilar inflamatória: relato de casos clínicos

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ano 1 - nº 2 - julho / dezembro 2003 ISSN 1678-054X Revista Brasileira de Ciências da Saúde

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ano 1 - nº 2 - julho / dezembro 2003

ISSN 1678-054X

Revista Brasileira de Ciências da Saúde

3Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

RBCSRBCSRBCSRBCSRBCS S U M Á R I O

EDITORIAL ........................................................................................................................................................... 5

ARTIGOS ORIGINAIS

Avaliação do consumo alimentar de pré-escolaresPreschoolers food consumption evaluationRita Maria Monteiro Goulart, Elaine Martins Bento, Renata Lira e Valéria Regina Miranda...................................... 7

Protocolo de preparo pré-operatório com uso do brinquedo terapêutico para criançasde 2 a 6 anos de idade que serão submetidas a adenoamigdalectomiaProtocol of prepare pre-operation using of therapeutical play for the children of two to six years old whichwould experience a surgical intervention of adenoamigdalectomiaNelma de Jesus Ferreira Silva e Allison Scholler de Castro.................................................................................... 14

Hiperplasia papilar inflamatória: relato de casos clínicosPapilar inflammatory hyperplasia: report clinical casesGustavo Ferri, Daniela Pereira Gomes, Manoela Domingues Martins, Marco Antonio Trevizani Martins,Ricardo Carneiro Borra e Ricardo Raitz............................................................................................................. 23

Análise eletromiográfica do levantamento de carga durante o movimento repetitivo com e semo uso do cinto pélvicoEletromiographic analysis related to a weight lifting repeated moviment with and without pelvic belt useAugusto César Ferreira Gauglitz, Mauro Gonçalves, Adalgiso Coscrato Cardozo, Bruno Marson Malagodi eSarah Regina Dias da Silva................................................................................................................................ 28

A importância da natação na adaptação cardiovascular: uma questão de qualidade?The importance of swimming upon cardiovascular adaptation: an approach to quality of life?Carlos Alexandre Felicio Brito, Roseli de Moraes e Fernanda A. Ferreira............................................................. 33

ARTIGOS DE REVISÃO

Osteoporose: causa, conseqüências e o papel do exercício físico na integridade ósseaOsteporosis: causes, consequences and physical exercise role on bone integrity.Luciano Pontes Junior, Mário A Charro, Reury F. Bacurau, Maria Cristina Mutarelli e Francisco Navarro................ 37

A família vivenciando a situação de ter um filho com câncerThe family’s experience towards a child with cancerAna Paula Zanelatto e Margareth Angelo........................................................................................................... 44

Leucemia mielóide crônica: estratégias terapêuticas atuais e mecanismos de resistênciaChronic myelogenous leukemia: uptodating therapeutic strategies and its resistance mechanismsIvanise M. M. Rebecchi.................................................................................................................................... 49

Efeitos do laser hene no tratamento da úlcera de pressãoLaser hene effects in pressure ulcer treatmentSandra Ferreira da Silva e Efraim Soares Santos.................................................................................................. 59

PONTO DE VISTA

Anorexia nervosa em paciente do sexo masculino: relato de casoNervous aneroxia in male patients: a case reportNúbio Chaves de Carvalho, Paulo A. Amaral Secches, Renata Rezende e Tobias Camargo Neto........................... 63

O desafio de se formar professoresThe challenge on teacher undergraduationIvo Ribeiro de Sá e Kathya Maria Ayres de Godoy.............................................................................................. 67

NOTÍCIAS DOS CURSOS E CENTRO DA SAÚDE ................................................................................... 72

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS (ATUALIDADES) ........................................................................ 74

EVENTOS CIENTÍFICOS ................................................................................................................................ 91

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 20034

S E X P E D I E N T E

S aúdeRevista Brasileira de Ciências da Saúde - Uma publicação do IMES - Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul

Ano I - no 2 - julho / dezembro 2003

Diretor da MantenedoraMarco Antonio Santos Silva

Vice-Diretor da MantenedoraMarcos Sidnei Bassi

ReitorLaércio Baptista da Silva

Pró-Reitor de GraduaçãoCarlos Alberto de Macedo

Pró-Reitor de Pós-Graduação e PesquisaRené Henrique Licht

Pró-Reitor Comunitário e de ExtensãoJoaquim Celso Freire Silva

Conselho EditorialEditores Nacionais

Amélia Pascal - USP Ana Campa - USP

Ana Lúcia da Silva - UNINOVECircéa Amália Ribeiro - UNIFESPDante de Rose Júnior - EEF-USP

Edson Luiz da Silva - UFSCIgnez Salas Martins - FSP-USP

José Roberto Jardim - UNIFESPLuiz Antonio Giorelli - USP

Luiz Marcos da Fonseca - UNESPMarcelo Velloso - UNIFESP

Marcia C.B. Cunha - UNIFESP

Markus Vinícios Nahas - FEF-UDESCMaria Carolina Gonçalvez Dias - HC-USP

Maria Beatriz Rocha Ferreira - FEF-UNICAMPMaria Tereza Laganá - UNINOVE/ SANTA CASA

Miguel de Arruda - FEF- UNICAMPMoisés Cohen - UNIFESP

Néia Schor - FSP-USPPaulo C. P. Deliberato - Univ. São Marcos

Suely Godoi Gimeno - UNIFESPThereza Christina V. Penna - USP

Turíbio Leite de Barros Neto - CEMAFE-UNIFESPZélia Nunes Huspel - UNICSUL

Editores InternacionaisHarold Kolh - CDC James Sallis - SDSUMichael Pratt - CDC

Steven Blair - Cooper InstituteSteven Fleck - University of Colorado

ProduçãoPró-Reitoria Comunitária e de Extensão

Coordenadoria de Comunicação

Coordenador da Área de SaúdeVictor K. R. Matsudo

Coordenador do Curso de Educação FísicaAylton Figueira Junior

Coordenadora do Curso de EnfermagemAllisson Scholler de Castro

Coordenador do Curso de FarmáciaBoni Yavo

Coordenador do Curso de FisioterapiaCarlos Eduardo Panfílio

Coordenador do Curso de NutriçãoCeleste Elvira Viggiano

Jornalista ResponsávelRoberto Elísio dos Santos - MTb 15637

Revisão TécnicaLídia Demboski

Nadia D. A. FuentesLígia Demboski - CRB 8/4939

Produção e Impressão GráficaHM Indústria Gráfica e Editora Ltda.

Tiragem: 1.500 exemplares

Revista Bras. de Ciências da SaúdeTel.: (11) 4239-3306Fax: (11) 4239-3216

Av. Goiás, 3.400CEP 09550-051 - Bairro Barcelona

São Caetano do Sul - SP - BrasilE-mail: [email protected]

[email protected] IMES, em suas revistas, respeita a liberdadeintelectual dos autores, publica integralmente osoriginais que lhe são entregues, sem com issoconcordar necessariamente com as opiniõesexpressas.

ASSINE JÁAssinatura Anual

BRASIL

Administração: R$ 30,00Comunicação: R$ 20,00

Direito: R$ 40,00Saúde R$ 20,00

Exterior (aérea)

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Centro Universitário Municipalde São Caetano do Sul

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5Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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É com grande satisfação que apresentamos o segundo número da Revista Brasileira de Ciênciasda Saúde. O Centro Universitário Municipal – IMES, embora tenha ingressado recentementena área da saúde, já se mostra bastante envolvido e familiarizado com os problemas a elainerentes, procurando aproveitar todo o seu aparato tecnológico, estrutural e pedagógico parasuprir as carências da região do Grande ABC.

Além disso, contamos em nossos quadros com o Professor Doutor Victor Keihan RodriguesMatsudo, profissional de prestígio internacional que, frente ao grupo de coordenadores, docentese estudantes, tem obtido notáveis resultados didático-pedagógicos nos cursos de Enfermagem,Educação Física, Farmácia, Fisioterapia e Nutrição.

Com o objetivo de ampliarmos cada vez mais nossa atuação na área da saúde, idealizamos aconstrução, já em fase final, de um novo campus. As novas instalações, situadas na regiãocentral da cidade, abrigarão salas de aula, biblioteca, administração, bem como um grandecomplexo de laboratórios e clínicas, dando suporte aos nossos estudantes no que se refere àexperiência prática em seus respectivos cursos e à promoção do atendimento à comunidade.

Além do novo campus, enfrentamos o desafio de, em convênio com a Diretoria de Saúde doMunicípio, implantar, até para atendimento à população carente, a Farmácia-Escola, projetoarrojado que permitirá a manipulação de medicamentos para a experiência prática de nossocorpo discente, possibilitando, também, a formação de profissionais dos mais competentes.

Temos ainda um longo caminho a percorrer, mas estamos confiantes de que nossa Instituiçãoem muito contribuirá para a excelência no setor da saúde na região do Grande ABC.

Prof. Marco Antonio Santos SilvaDiretor Geral da Mantenedora IMES

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, nº 1, vol. 1, jan. / jun. 2003

It’s a great pleasure to show our second number of Revista Brasileira de Ciências da Saúde(Brazilian Journal of Health Sciences). Although the Centro Universitário Municipal (MunicipalUniversity Center) - IMES - has ingressed recently in health area, it has already involvedd andfamiliarized with inhrent problems more than enough, searching to make good use of alltechnological, structural and pedagogic display to supply the necessities of Grande ABC (GreatABC region).

Moreover, we have in our staff the Professor Doctor Victor Keihan Rodrigues Matsudo, aprofessional of international reputation, who has got important didatic-pedagogical results inNursing, Physical Education, Pharmacy, Physiotherapy and Nutrition courses front of co-ordinators, teachers and students’ group.

As a purpose to increase more and more our actuation in health area, we idealize a newcampus building which is almost finished. The new installations, localized in downtown, willhave classrooms, library, administration, as well as a great system of laboratories and clinics,also giving support to our students in concerning to practical experience in their courses andgiving an attendance to the community.

Besides the new campus, in an association with the Diretoria de Saúde do Município (MunicipalHealth Administration), we have faced the challenge to implant, until to attend wantingpopulation, the School-Pharmacy which was a bold project that it will allow the manipulationof the medicines, to practical experience of our staff, also making possible the most competentprofessional formation.

We have a long way to explore yet, but we are trustful that our Institution will contribute toomuch to the supremacy in the health department in the Grande ABC (Great ABC region).

Prof. Marco Antônio Santos SilvaGeneral Director IMES

7Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Rita Maria Monteiro Goulart*, Elaine Martins Bento**, Renata Lira** eValéria Regina Miranda**

A R T I G O S O R I G I N A I SA R T I G O S E O R I G I N A I S

R E S U M O

Objetivo: Avaliar o consumo alimentar de criançasna faixa etária 2 a 6 anos freqüentadoras de umacreche na cidade de São Paulo. Metodologia: Osdados foram coletados durante o período de setembroa outubro de 2001, adotando-se o método depesagem direta dos alimentos durante 3 dias nãoconsecutivos com uma amostra de 127 crianças deambos os sexos. Para cálculo da adequaçãonutricional, utilizaram-se as médias de consumo deenergia e proteínas comparadas com a recomendaçãoda Organização Mundial da Saúde (1985), e osmicronutrientes como: cálcio, ferro, vitamina A,vitamina C com a Dietary Reference Intakes (2000) efibras através da American Academy of Pediatrics

(1993). Resultados: O estudo revelou um percentualde adequação insuficiente de energia (40,9 - 50,6%),cálcio (17,1 - 34,8%), ferro (49,0 - 75,7%) e fibras(20,6 - 40,8%), com um consumo protéico (124,5 -141,2%), vitamina A (66,2 - 226,1%) e vitamina C(376,8 - 1.170,6%), excedendo as recomendações.Apenas o grupo de 3-4 anos não atingiu asrecomendações de vitamina A. Conclusão: Ascarências e os excessos dos nutrientes demonstram anecessidade de uma reformulação nos cardápios epadronização dos per capitas com uma educaçãonutricional contínua entre crianças, pais e educadores.

Palavras-chave: consumo alimentar, pré-escolar

A B S T R A C T

Objective: Evaluate children´s food consumptionbetween two to six-years-old users of a day-carecenter at São Paulo City. Methodology. The data werecollected in 2001, from September to December with127 children of both sex within 3 non consecutivedays using the direct food weighting method. Thenutritional intake were evaluated by comparing theaverages of collected data with the internationalstandards as follow: energy consumption and proteinswith World Health Organization (1985), the micro-nutrients: calcium, iron and A and C vitamins withthe Diary Reference Intakes (2000) and fibers throughAmerican Academy of Pediatrics (1993). Results. The

study revealed an insufficient consumption of energy(40,9 - 50,6%), calcium (17,1 - 34,8%), iron (49,0 -75,7%) and fibers (20,6 - 40,8%). The consumptionof protein (124,5 - 141,2%), A vitamin (66,2 - 226,1%)and C vitamin (376,8 - 1.170,6%) exceeded therecommendations. Conclusion. The deficits andexcess values founded showed a necessity ofreviewing menus and standardizing the “per capita”intakes associated with continuous nutritionaleducation of children, parents and educators

Keywords: food consumption, preschoolers

Avaliação do consumo alimentar de pré-escolaresPreschoolers food consumption evaluation

* Nutricionista, Mestre em Saúde Pública, docente nas Universidades de Mogi das Cruzes, São Judas Tadeu eImes (Instituto Municipal de Ensino Superior - São Caetano)

** Nutricionistas

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 20038

SINTRODUÇÃO

A alimentação adequada é importante em qualquerfase da vida do ser humano, mas na infância ela desem-penha um papel decisivo. Nesta fase ocorre um acele-rado processo de crescimento e desenvolvimento, tantofísico como psicomotor, que dependem, juntamentecom outros fatores (sociais, ambientais, culturais), deuma alimentação nutricionalmente equilibrada para queocorram normalmente.

Segundo Ctenas e Vitolo (5), uma alimentação equili-brada é aquela cuja proporção dos alimentos que acompõe oferece qualitativamente todos os nutrientesnecessários para o bom desempenho das funçõesorgânicas. A carência de uma única vitamina, porexemplo, poderá afetar a formação dos tecidos dealguma forma.

No Brasil, a carência específica de alguns micronu-trientes constitui um importante problema de saúdepública. Entre estes micronutrientes está o mineral ferro,cuja deficiência acarretará em anemia ferropriva (3).

De acordo com Ctenas e Vitolo (5), “mais da metadedas crianças brasileiras têm deficiência de ferro”.

A anemia ferropriva ou anemia nutricional, como édenominada, ocorre quando há diminuição de glóbulosvermelhos causada pela deficiência de ferro noorganismo (2).

Segundo Giuliani (1997), citado por Cruz (3), emboraconscientes de que para a erradicação das deficiênciasnutricionais são necessárias mudanças na organizaçãopolítica, social e econômica do país, acredita-se quealgumas práticas alimentares simples, em especial paracrianças pequenas, possam minimizar o problema. Poroutro lado, os excessos alimentares, um problema quetende a crescer, não pode ser negligenciado. Nestecontexto, normas alimentares simples, porémcientificamente embasadas devem ser desenvol-vidas e amplamente divulgadas.

Através da avaliação de consumo alimentar, podemosobter informações quantitativas e qualitativas sobre aingestão dietética e, a partir destas informações, verificara adequação de macro e micronutrientes no valorcalórico total da dieta (Rodrigo e Bartina, 1995, citadopor Cruz) (3).

O meio familiar, social e ambiental em que a criançavive, é essencial para determinar o seu desenvolvimentoe capacidade mental, influenciando diretamente noaprendizado infantil. Neste sentido, a creche torna-separa a criança que a freqüenta, o espaço principal deformação, educação e convivência social, pois é nelaque elas permanecem a maior parte do dia (4).

Portanto, é principalmente na creche que a criançacomeçará a conhecer os alimentos e a desenvolver

hábitos alimentares, uma vez que fazem todas asrefeições na creche.

Para Lefèvre (9), “hoje, entre nós, a educação dacriança em estabelecimentos tipo creche constitui ummacro-ritual de inclusão social”.

Por isso, há algum tempo, a creche pode serconsiderada como uma necessidade para a população,tendo em vista as transformações socio-econômicas quea sociedade vem sofrendo, além das mudanças defunções realizadas pelas mulheres. A fim de contribuirpara a sobrevivência familiar ou pela realizaçãoprofissional, a mulher a cada dia está mais presente nomercado de trabalho e, portanto, tendo que se dividirnos papéis de profissional, esposa, dona de casa e mãe.Assim, a creche torna-se uma solução para os cuidadosda criança, fora do espaço familiar (13).

Quando surgiram no Brasil, há algumas décadas, asinstituições de atendimento às crianças tinham apenasum caráter assistencialista de combate à pobreza atravésde cuidados médico-higiênicos e alimentação (13, 14).

Através dos anos têm havido importantes transfor-mações no sentido de ampliar o número de creches eincluir no seu contexto a educação para as criançasatravés de projetos pedagógicos. Na ConstituiçãoNacional de 1988, o atendimento a crianças de 0 a 6anos foi incluído no capítulo da Educação e definidocomo um direito da criança, dever do Estado e opçãoda família, tirando assim, a conotação meramenteassistencial, típica anteriormente (13).

“O estímulo à escolha de alimentos novos e conse-quentemente a uma maior variedade na alimentação, éum fator importante na construção de bons hábitosalimentares” (14).

Lopes Cardona (10) em um estudo realizado em duascreches, observou a influência positiva do adulto sobreo consumo, através da ajuda deste, no ato das criançasem se alimentar e nas conversas sobre as característicase importância dos alimentos servidos.

Segundo Holland (7), além de ter um papel importantena educação, a creche ainda representa para a família aoportunidade de fornecer à criança uma alimentaçãoadequada e de boa qualidade em um ambiente seguro.

Porém, algumas investigações sobre o consumoalimentar de crianças matriculadas em creches e centrosinfantis, mostram a inadequação energética e de algunsmicronutrientes nas dietas.

Lopes Filho (11), em um estudo realizado com pré-escolares em dois centros infantis no Município deCampinas, concluiu que a ingestão protéica é adequada,porém o consumo energético e de ferro é insuficiente.

Em um estudo feito em duas creches municipais deSão Paulo, foi concluído que em ambas as creches a

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adequação energética não ultrapassou 60% dasrecomendações nutricionais e os nutrientes cálcio e ferroapresentaram valores abaixo do recomendado (10).

Holland (7), verificou que 48% das criançasapresentam dieta deficiente ou risco de deficiência deenergia, em duas creches em São Paulo.

Alguns trabalhos sobre avaliação do consumoalimentar indicam que entre as causas da ingestãoinsuficiente de nutrientes está o porcionamento incorretodos alimentos, a freqüência das refeições e os intervalosentre elas, a forma de preparo dos alimentos, a rejeiçãovoluntária da criança, falta de incentivo por parte doseducadores e ausência de atividades de educaçãoalimentar (4, 10, 11).

Baseando-se nestes estudos, pode-se perceberque existe a necessidade de mais investigações sobre oconsumo alimentar de crianças em creches, visandoidentificar e corrigir as causas do consumo inadequadoe/ou estabelecer programas de acompanhamentoalimentar e nutricional, de forma a minimizar riscos àsaúde e permitir que o potencial genético de cresci-mento e desenvolvimento das crianças seja atingido.

OBJETIVOS

• Avaliar o consumo alimentar de crianças na faixaetária 2 a 6 anos freqüentadoras de creche.

• Identificar excessos e carências nutricionais;• Avaliar adequação de macro e micronutrientes

de acordo com a faixa etária.

METODOLOGIA

O estudo foi realizado em uma creche localizada naCidade de São Paulo que funciona de segunda à sexta-feira em período integral, durante os meses de setembroe outubro de 2001.

A população estudada foi constituído por 127crianças de ambos os sexos, com faixa etária entre 2 e 6anos, pertencentes aos Berçários II, III, IV, V, Mini-Grupo,Maternais A e B, Jardins A e B, Pré A e B.

Diariamente são servidas na creche 4 refeições:colação, almoço, lanche e jantar. A partir das 08:00 horasé ofertada a colação constituída de suco de fruta ebiscoito doce ou salgado. É importante mencionar quea maioria das crianças, já vem alimentadas de casa, nãosendo necessário o fornecimento do desjejum.

O almoço começa a ser servido a partir das 10:00horas. São fornecidos arroz e feijão, acompanhados decarne bovina ou substituição alternada de frango, peixe,ovos ou embutidos, salada, guarnição e sobremesa (frutaou doce).

Por volta das 14:00 horas, as crianças recebem umlanche que geralmente é constituído por bolos, biscoitosou lanches, cereais, acompanhados de suco ou leite comcafé ou achocolatados.

A última refeição é distribuída a partir das 15:45horas, geralmente constituída por sopa ou arroz e feijão,guarnição, carne e sobremesa.

O sistema de distribuição das refeições é o conven-cional, ou seja, as crianças são servidas pelos funcionáriosda creche.

O consumo alimentar foi avaliado através do métodode pesagem direta dos alimentos durante 3 dias nãoconsecutivos da semana. De acordo com Rodrigo &Bartina (1995), o método de pesagem direta dos ali-mentos pode ser utilizado para estimar níveis médiosde ingestão alimentar de população e sua distribuição eobter a classificação relativa de cada indivíduo, incluindovalores médios de ingestão individual.

Segundo alguns autores, o método aplicado em 3dias não consecutivos da semana é suficiente para obtero consumo alimentar médio de um grupo de indivíduos(Flores 1972, Pearson e Garlgren 1984, Gunthrie eCrocetli 1985, Basiotis e col. 1987).

A pesagem de alimentos sólidos foi realizada com autilização de balança eletrônica digital portátil, marcaGehaka BG 1000, com capacidade de 1 Kg . Osalimentos líquidos foram medidos com o auxílio derecipiente graduado (copo plástico) com graduação de50 ml e capacidade para 1000 ml.

As refeições diárias foram registradas em formuláriodesenvolvido para este fim. Os alimentos e/ou prepa-rações foram pesados 3 vezes para se obter a quantidademédia servida às crianças. Essas informações foramregistradas em formulário próprio, juntamente com otipo de refeição, faixa etária e número de crianças porgrupo.

As quantidades servidas foram estabelecidas deacordo com o que as crianças costumavam consumir.Quando havia repetição da alimentação, esta eraanotada no formulário e os valores somados às quan-tidades consumidas.

Para obtenção dos restos alimentares, estes foramcoletados em sacos plásticos, por refeição e por grupo.Foi considerado como resto todo alimento e/ou prepa-ração que a criança deixava no copo ou prato, sendopesados sem separação dos alimentos.

A pesagem dos restos alimentares foi realizada coma utilização de balança de precisão Filizola com capa-cidade 20 kg e graduação de 200g.

Obtendo-se a média dos alimentos e/ou preparações,multiplicou-se o valor pelo número de crianças de cadagrupo. As repetições foram somadas ao valor total, sendoconsideradas a média dos alimentos e/ou preparações.

Chegou-se a porcentagem de resto pela seguinteformula:

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200310

S

Para o cálculo de energia e demais nutrientes, foramdescontados o percentual obtido do resto, proporcionalpara cada alimento servido.

Para cálculo do valor nutritivo das refeições, utilizou-se a Tabela de Composição de Alimentos - EstudoNacional da Despesa Familiar (ENDEF) e a Tabela paraAvaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras,avaliando os valores de energia, proteínas, cálcio, ferro,vitamina A, vitamina C e fibras.

Para o cálculo da adequação do cardápio quantoaos valores médios de 3 dias não consecutivos de energiae proteínas, utilizou-se como parâmetro as recomen-dações da Organização Mundial da Saúde (1985), paraos micronutrientes: cálcio, ferro, vitamina A e VitaminaC, utilizou-se o Dietary Reference Intakes - DRI (2000).Para adequação de fibras foi utilizada a recomendaçãoda American Academy of Pediatrics (1993).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A distribuição dos pré-escolares segundo sexo, faixaetária e classificação de grupo está apresentada natabela 1.

Quantidade Consumida(médias obtidas + repetições) - 100%

Resto

x = % resto

Observa-se na Tabela 1 maior freqüência de criançasna faixa etária de 5 a 6 anos (44,1%) e uma distribuiçãoequilibrada em relação ao sexo (54,3% feminino e 45,7%masculino).

Nem todos pré-escolares realizam todas as refeições,visto que alguns permanecem apenas meio período, emrazão de seus pais trabalharem 6 horas diárias (manhãou tarde).

A figura 1 descreve o percentual de pré-escolaresquanto a realização das refeições na creche.

Tabela 1: Distribuição dos pré-escolares segundo sexo, faixa etária e classificação por grupo. São Paulo, 2001Grupos Faixa Etária Sexo Total

(anos) Masculino Femininon % n % n %

Berçário 2-3 14 24,1 23 33,3 37 29,1Mini-Grupo 3-4 7 12,1 5 7,3 12 9,5Maternal 4-5 13 22,4 9 13,0 22 17,3Jardim e Pré 5-6 24 41,4 32 46,4 56 44,1Total 58 100,0 69 100,0 127 100,0

Tabela 2: Percentual de adequação energética e protéica, segundo faixa etária e classificação por grupos. São Paulo, 2001

Grupos Faixa Etária Energia (Kcal) Proteínas (g)(anos) a b c a b c

Berçário 2-3 1350 552,3 ± 40,9 19,6 ± 126,525,9 15,5 0,9

Mini-Grupo 3-4 1350 682,5 ± 210,7 50,6 19,3 ± 124,5210,7 15,5 4,0

Maternal 4-5 1550 688,9 ± 44,5 24,1 ± 132,16,9 18,2 4,8

Jardim e Pré 5-6 1800 874,8 ± 48,6 29,0 ± 141,2122,0 20,5 3,3

a. Recomendação da Organização Mundial da Saúde (1985)b. Valor Médio Consumido e Desvio-Padrãoc. % de Adequação

A distribuição dos valores médios e adequação obtidade energia e proteínas são apresentadas na tabela 2.Para os demais nutrientes, exceto as fibras, sãoapresentados na tabela 3.

Figura 1: Percentual dos pré-escolares, segundo a realização dasrefeições na creche. São Paulo, 2001

11Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

RBCSRBCSRBCSRBCSRBCS A R T I G O S E O R I G I N A I S

Através dos resultados apresentados na Tabela 2 épossível verificar que as proteínas ultrapassaram arecomendação do RDA com uma média de 132% deadequação (124,5 - 141,2%), enquanto o percentualde energia total atingiu valores mínimos de 40,9% emáximos de 50,6%.

Quanto ao consumo de energia, verificou-se que amédia de adequação não ultrapassou 51% em todas asfaixas etárias, sendo semelhante aos resultadosencontrados em diversos estudos conduzidos emcreches que também não atingiram a adequação de100% (3, 7, 10, 11, 14).

A deficiência energética da alimentação dos pré-escolares deste estudo, possivelmente está relacionadaao porcionamento não padronizado das preparaçõesservidas e a falta de estímulo por parte dos funcionáriosao servir a alimentação para as crianças.

Comparando-se o consumo protéico observado nesteestudo com outros similares, os resultados também sãoconcordantes, ou seja, sempre ultrapassam os 100% deadequação. Uma hipótese para os percentuais protéicosobtidos, pode ser em razão do número elevado derepetições de alimentos e/ou preparações fontes deproteína de alto valor biológico - PAVB (carnes bovinas,frango, ovos).

Tabela 3: Percentual de adequação de cálcio, ferro, vitamina A e vitamina C, segundo faixa etária e classificação por grupos.São Paulo, 2001

a. Recomendação da Dietary Reference Intakes - DRI (2000)b. Valor Médio Consumido e Desvio-Padrãoc. % adequação

Grupos Faixa Cálcio (mg) Ferro (mg) Vit. A (mcg) Vit. C (mg) Etária(anos) a B c a b c a b c a b c

Berçário 2 - 3 500 174,3 ± 5,8 34,8 7 5,3 ± 8,4 75,7 300 392,5 ± 1,8 130,8 15 175,6 ± 3,1 1170,6Mini-Grupo 3 - 4 500 142,8 ± 56,6 28,6 7 4,7 ± 0,8 67,1 300 198,7 ± 51,9 66,2 15 168,3 ± 176,6 1122,0Maternal 4 - 5 800 137,0 ± 5,8 17,1 10 4,9 ± 0,2 49,0 400 552,5 ± 353,8 138,1 25 133,4 ± 34,9 533,6Jardim e Pré 5 - 6 800 257,1 ± 84,6 32,1 10 6,4 ± 0,4 64,0 400 904,5 ± 106,1 226,1 25 94,2 ± 33,6 376,8

Observa-se que além da inadequação energética,existem nutrientes como o cálcio e o ferro (tabela 3)com valores abaixo do recomendado.

O ferro, como esperado, não chegou a atingir asrecomendações (49,0 a 75,7%), o que corrobora paraexplicar o alto índice de anemia ferropriva encontradaentre crianças de creche no Município de São Paulo(75%) conforme demonstrado no estudo de Fisberg (6).Ainda, este fato pode ser agravado considerando que aoferta de alimentos no domicílio dificilmente incluifontes de ferro ou estimulantes da sua absorção,conforme contatado por Holland (7) em crianças assistidasem duas creches no Município de São Paulo.

Lopes Filho (11) constatou uma adequação de 41%em relação ao ferro, em dois centros infantis deCampinas, para crianças de 4 a 6 anos de idade.

Lopes Cardona (10) verificou uma média de 59% deadequação desse mineral, estudando crianças de 2 a3 anos de idade em duas creches do Município deSão Paulo.

Zaccarelli (14) observou em seu estudo com criançasde 4 meses a 6 anos de idade, em três crechesmunicipais, um percentual de adequação para ferro de32 a 74%.

A inadequação no consumo de ferro pode terocorrido em razão da quantidade reduzida de alimentosingeridos, devido a rejeição voluntária das crianças.

Por ser bastante variado e incluir alimentos fonte deferro como carnes, feijão e vegetais folhosos, o cardápionão é deficiente neste mineral. Porém, alguns destesalimentos não são bem aceitos pelas crianças e asmesmas não são estimuladas para consumi-los.

É importante ressaltar que a deficiência de ferro podelevar a anemia e, conseqüentemente, afetar o cresci-mento e desenvolvimento infantil.

Duas importantes estratégias para a solução doproblema seriam a inclusão de alimentos fortificados comferro além de fígado pelo menos uma vez na semana e

um maior preparo dos funcionários responsáveis poralimentar as crianças, estimulando-as a consumirrefeições preparadas a fim de garantir a sua aceitação.

O consumo de cálcio mostrou-se insuficiente (17,1a 34,8%) para atender as recomendações estipuladasna DRI/2001. Os resultados obtidos em outros estudossobre a adequação da ingestão de cálcio foramsemelhantes, variando o percentual de adequação entre30 e 65% (3, 10, 14).

Lopes Filho (11) encontrou em seu estudo, que apenasas crianças na faixa etária de 4 a 5 anos alcançou orequerimento mínimo de 1 dia na recomendação decálcio.

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200312

SHolland (7) encontrou valores superiores a 90% da

recomendação, considerando o total da alimentaçãodo dia.

A recomendação de cálcio não foi atingidaprovavelmente pela não inclusão de leite e derivadosdiariamente no cardápio, visto que estes alimentos sãoas principais fontes deste mineral. Outro agravante éque alguns tipos de queijos presentes nas refeições nãosão aceitos pelas crianças, como por exemplo, oPolenguinho.

Acredita-se que este resultado deve ser analisado comcautela, uma vez que, conforme mencionado anterior-mente, as crianças não recebem o desjejum na creche.É provável que a criança receba em casa, como primeirarefeição, o leite junto a outros alimentos, o queevidentemente aumenta o consumo de cálcio diário.

A ingestão adequada de cálcio na infância éextremamente importante para a formação óssea e suadeficiência poderá causar problemas futuros, como porexemplo, a osteoporose.

Os níveis de ingestão de vitamina A verificados nacreche foram satisfatórios, sendo o percentual mínimode 66,2% e o máximo de 226,1% de adequação. Osresultados obtidos em outros trabalhos apresentam valoressemelhantes, variando de 71,6 a 150% (3, 7, 10, 11, 14).

Quanto a vitamina C foram encontrados valoresacima da recomendação, tendo o percentual deconsumo médio variado de 376,8 a 1170,6%. Verificou-se nos demais estudos que a adequação de vitamina Ctambém superou as recomendações em todas as faixasetárias (3, 10, 11, 14).

Os valores alcançados de vitamina A e C devem-seao fato dos cardápios serem enriquecidos de alimentose/ou preparações fontes destes nutrientes somado à boaaceitação por parte dos pré-escolares.

É importane ressaltar que a vitamina C obteve valoreselevados de adequação, devido ao grande número derepetições de alimentos e /ou preparações fontes destavitamina como, por exemplo, o suco de caju com acerola,suco de limão, suco de melão com acerola, suco degoiaba, suco de laranja com cenoura, entre outros.

As fibras são essencialmente importantes para mantero bom funcionamento intestinal, além de evitar outrasdoenças que costumam acometer adultos e idososcomo, câncer de intestino, diabetes e hemorróidas (5).

De acordo com a tabela 4, verificou-se que aadequação de fibras não atingiu as recomendações emnenhuma faixa etária (20,6 a 40,8%). É importantedestacar que este resultado pode estar subestimado emrazão da utilização de tabelas de composição dealimentos que apresentam informações muito pobresem relação ao teor de fibras presente nos alimentos.

Ainda deve-se levar em consideração que para ocálculo da adequação dos nutrientes, foram consideradasapenas as refeições feitas na creche, portanto, se fossemconsiderados o desjejum e o lanche noturno/jantar,ambos feitos em casa, talvez o consumo destes nutrientespudessem ser melhor avaliados.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos mostram que as criançasreceberam quantidades insuficientes de energia (40,9 -50,6%), mesmo com o consumo protéico elevado (124,5- 141,2%). O consumo das vitaminas A e C ficaram acimadas recomendações, com exceção do grupo de 3-4 anosque não atingiu 100% da adequação de vitamina A. Osnutrientes, cálcio, ferro e fibras não atingiram os valoresrecomendados em nenhuma faixa etária.

Através dos resultados obtidos, pode-se constatar anecessidade de reformulação no planejamento doscardápios e de padronização no porcionamento dosalimentos. É necessário também estimular a criança parao consumo de novos alimentos e/ou preparações.

Ressalta-se ainda a importância de se estabelecer umprograma de educação nutricional contínuo para ascrianças, pais e educadores.

Tabela 4: Percentual de adequação de fibras, segundo faixa etária e classificação por grupos. São Paulo, 2001

* American Academy of Pediatrics (1993).

Grupos Faixa Etária Fibras (g)(anos) Recomendado* Consumido (DP) % Adequação

Berçário 2-3 6,75 1,5 ± 0,1 22,5Mini-Grupo 3-4 6,75 1,8 ± 0,7 26,2MaternaL 4-5 8,25 1,7 ± 0,1 20,6

Jardim e Pré 5-6 10,25 4,2 ± 0,2 40,8

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1. American Academy of Pediatrics. Comitê de Nutrição.Manual de nutrição pediátrica. Brasília; 1993.

2. Bender AE. Dicionário de tecnologia de alimentos. 4ª ed.São Paulo: Roca: 1982.

3. Cruz ATR. O consumo alimentar de crianças: avaliaçãopelo método da pesagem direta em 3 creches nomunicípio de São Paulo [Dissertação de mestrado]. SãoPaulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2001.

4. Cruz GF et al. Avaliação dietética em creches municipais deTeresina, Piauí, Brasil. Revista de Nutrição PUCCAMP2001;14:21-31.

5. Ctenas MLB, Vitolo MR. Crescendo com saúde: o guia decrescimento da criança. São Paulo: C2 Editora eConsultoria em Nutrição; 1999.

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7. Holland CV. A creche e seu papel na formação depráticas alimentares [Dissertação de mestrado]. São Paulo:Faculdade de Saúde Pública da USP; 1999.

8. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Tabelade composição de alimentos: estudo nacional de despesafamiliar (ENDEF). 4ª ed. Rio de Janeiro: IBGE; 1996.

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10. Lopes Cardona CM. Avaliação de consumo alimentar decrianças freqüentadoras de creches municipais de SãoPaulo [Dissertação de mestrado]. São Paulo: Faculdade deSaúde Pública da USP; 1999.

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13. Rossetti - Ferreira MC et al. A creche enquanto contextopossível de desenvolvimento da criança pequena. RevistaBrasileira de Crescimento e Desenvolvimento Humano1994;IV(2):35-40.

14. Zaccarelli EM. Avaliação do estado nutricional decrianças e estrutura de funcionamento de creches nomunicípio de São Paulo [Dissertação de mestrado]. SãoPaulo: Faculdade de Saúde Pública da USP; 2001.

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200314

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Protocolo de preparo pré-operatório com uso dobrinquedo terapêutico para crianças de 3 a 6 anos deidade que serão submetidas a adenoamigdalectomia.

Protocol of prepare pre-operation using oftherapeutical play for children of three to six years old

which would experience a surgical intervention ofadenoamigdalectomia.

Nelma de Jesus Ferreira Silva* e Allison Scholler de Castro*** Enfermeira das unidades pediátricas do Hospital Cruzeiro do Sul e enfermeira chefe da clínica Nebel serviços

especializados S/A Ltda.* * Enfermeira. Mestre em Enfermagem Pediátrica. Docente e Coordenadora do Curso de Enfermagem do Centro

Universitário Municipal de São Caetano do Sul. Docente do Centro Universitário Nove de Julho

R E S U M O

Este trabalho do tipo exploratório-descritivo teve comoobjetivos elaborar um protocolo de preparo pré-operatório utilizando a técnica do brinquedo terapêuticopara a criança e família que experenciariam umaintervenção cirúrgica de adenoamigdalectomia atravésde um rigoroso levantamento bibliográfico; implementaro protocolo e verificar a influência da utilização domesmo sobre o comportamento e as reações emocionaisdestas crianças no pós-operatório imediato. Os resultados

demonstraram que as crianças que foram preparadastornaram-se mais cooperativas durante os procedimentospara a cirurgia, compreenderam a necessidade daoperação e conseguiram expressar seus sentimentos. Asautoras concluem ser possível e viável a implementaçãodo protocolo proposto e sugerem que o mesmo passe aintegrar o plano de assistência de enfermagem às crianças.

Palavras-chave: enfermagem pediátrica, brinquedoterapêutico, adenoamigdalectomia

A B S T R A C T

This study of type explore description the technique hasas objective to elaborate a housekeeping protocol ofprepare pre-operation using therapeutical play for thechild and family that would experencie a surgicalintervention of adenoamigdalectomia through a rigorousbibliographical survey; to implement the protocol and toverify the influence of the use of the same on the behaviorand the emotional reactions of these children inpostoperative the immediate one. During the session ofterapeutic play in the immediate postoperative arisedseveral emotion reactions related to the following feelings:

suffer, anxiety, tension, fear, anger, agressiveness, apathy,indifference, negation, escape desire, punishment. Theresults demonstrated that prepared children had becomemore cooperative during the surgery procedures, theyhad understood the necessity of the operation and puttheir feelings outside. The authores concludes to bepossible and viable the proposed protocol implementand suggest that the same one integrate the assistance´snurse plan to children.

Keywords: pediatric nursing , terapeutic play,adenotonsillectomy

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INTRODUÇÃOPara qualquer pessoa, de qualquer faixa etária, a

intervenção cirúrgica gera uma crise vital em sua vida eisto é particularmente amedrontador para a criança, poisdevido a seu desenvolvimento imaturo e recursos limi-tados para enfrentar situações desconhecidas e/oudolorosas ela recorre à fantasia para superar o medo, afrustração e a dor (1).

As reações da criança perante a cirurgia dependemde vários fatores como: idade, estágio do desenvol-vimento cognitivo e emocional, experiências anterioresde cirurgia e hospitalização, momento psicológico da cri-ança e da família, bem como as informações recebidas (2).Zuckerberg (3) relata que quando a criança sabe que vaiser operada, ela passa a experenciar sentimentos detensão e ansiedade e que estes aumentam quando elapercebe angústia nos pais ou que algo está sendoencoberto, podendo apresentar pensamentos, fantasiase medos a respeito do que vai acontecer na cirurgia.

De acordo com Anna Freud, citado em Castro (4) acriança reage muito mais à fantasia que envolve umprocedimento do que um procedimento em si. Destaforma, o que a experiência significa para a criança, nãodepende do tipo ou da importância do procedimentoque está sendo realizado no momento, mas, sim, dotipo e da profundidade das fantasias originadas por ela.

Sendo assim, torna-se imprescindível preparar acriança para os procedimentos e para a cirurgia, poisalém da criança ter direito de saber a verdade, o preparodiminui o impacto traumático de um procedimentocirúrgico, e assim, diminui o risco de sintomas/distúrbiosemocionais a ela associados, tais como: fobias, pesa-delos, insônia, enurese diurna e noturna, distúrbios delinguagem, temor de pessoas de branco, agressividade,incapacidade de interagir e brincar, bem como minimizao medo e ajuda a criança a experimentar um senso dedomínio da realidade de uma experiência potencial-mente traumática (5, 6).

O preparo da criança para a cirurgia tem por objetivoesclarecer, informar, aproximar e desmistificar o processocirúrgico e a internação hospitalar, integrando-os nomomento psicológico da criança, para que ela tenhacondições emocionais e intelectuais de lidar commomentos difíceis e dolorosos (7).

Para que o preparo pré-operatório seja eficiente,deve-se seguir os seguintes princípios gerais, conformeWu (8), Neira Huerta (5), Martins (6): usar uma abordageme um método de preparo de acordo com o nível dedesenvolvimento da criança; o preparo da criança deveser feito por alguém em que ela confie e de maneiragradual; as explicações devem ser curtas, honestas ediretas; deve-se repetir várias vezes a explicação; deve-

se deixar a criança manusear o equipamento; nuncamentir para a criança; nas repetições do preparo,observar quais fatos estão sendo negados e reforçá-los;os pais devem ser encorajados a permanecerem com acriança; permitir que algum objeto significativo para acriança o acompanhe; providenciar para que, dentrodo possível, a criança se recupere totalmente dos efeitosda anestesia ao lado de seus pais; enfatizar aos pais anecessidade constante de afeto no período pós-operatório; e comunicar à criança onde se encontrarãoseus pais enquanto ela estiver no centro cirúrgico.

Para preparar a criança, principalmente a de idadepré-escolar, recomenda-se o uso do brinquedo tera-pêutico que é um brinquedo estruturado para a criançaaliviar a ansiedade gerada por experiências atípicas parasua idade, que costumam ser ameaçadoras e requeremmais do que o brinquedo recreacional para resolver asansiedades associadas, devendo ser usado sempre queela tiver dificuldade em compreender ou lidar com aexperiência (9).

O brinquedo terapêutico pode ser classificado em:capacitador de funções fisiológicas, em que a criançaparticipa de atividades com o intuito de melhorar seuestado físico, através de brincadeiras engraçadas, quereforçam e envolvem seu próprio cuidado; instrucionalou preparatório, em que a criança é preparada por meiode uma brincadeira, para os procedimentos aos quaisserá submetida, a fim de aprimorar sua capacidade decompreensão do tratamento e de clarear conceitoserrôneos; e dramático, aquele em que a criança podedramatizar experiências novas, difíceis de seremverbalizadas e, com isso, tornarem-se emocionalmenteseguras.

O uso do brinquedo terapêutico também possibilitaà enfermeira estabelecer relacionamento com a criançae obter informações relativas aos conceitos e sentimentosda mesma, a fim de estabelecer metas para a assistênciade enfermagem (10).

Na literatura de enfermagem há vários traba-lhos (10,11,12,13) que discorrem sobre os benefícios dautilização desta técnica junto à criança hospitalizada,porém são poucos os estudos que discorrem sobre aimplementação do brinquedo terapêutico para opreparo de crianças para a cirurgia. Em virtude disto, éque as autoras se propuseram a desenvolver, nestetrabalho, um protocolo de preparo para a criança pré-escolar que será submetida à cirurgia eletiva deadenoamigdalectomia com o uso do brinquedoterapêutico e de utilizá-lo para verificar a influência douso do protocolo sobre o comportamento e reaçõesemocionais de crianças de 3 a 6 anos no pós-operatórioimediato desta cirurgia.

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200316

SOBJETIVOS

• Elaborar um protocolo de preparo pré-operatórioutilizando a técnica do brinquedo terapêutico para acriança pré-escolar e família que experenciarão umaintervenção cirúrgica eletiva de adenoamigdalectomia.

• Implementar o protocolo de preparo pré-operatóriocom quatro crianças e família.

• Verificar a influência da utilização do protocolo sobreo comportamento e reações emocionais de criançasde 3 a 6 anos de idade no pós-operatório imediato.

MATERIAL E MÉTODO

Este estudo, do tipo exploratório-descritivo, buscouprimeiramente a elaboração de um protocolo de preparoda criança pré-escolar e família para a cirurgia deadenoamigdalectomia, baseado numa ampla pesquisabibliográfica e, em seguida, através da análise de umasessão de brinquedo terapêutico realizada com criançasem idade pré-escolar em situação pré e pós-cirúrgicade adenoamigdalectomia, procurando identificar ossentimentos e as reações emocionais vivenciadas porestas crianças. Esta etapa do trabalho foi realizada emum hospital de médio porte da rede privada, localizadona cidade de Osasco-SP, após apreciação e aprovaçãodo estudo pela Comissão de Ética do Hospital. Apopulação foi constituída por quatro crianças pré-escolares na faixa etária de 3 a 6 anos, de ambos ossexos, assim distribuídas: uma de 03 anos, do sexomasculino e três de 04 anos, sendo uma do sexomasculino e duas do sexo feminino. Os critérios deseleção das crianças para integrarem a amostra foibaseada nos seguintes itens: terem entre 3 a 6 anos;

serem submetidas à cirurgia eletiva de adenoamigda-lectomia; estarem em condições de brincar, isto é,consciente e contatando com o meio ambiente; e nãoterem recebido medicação pré-anestésica. O materialutilizado para desenvolver o protocolo foi a história,anexo 1, (que explica e dramatiza o pré, intra e o póscirúrgico) e os brinquedos utilizados nas sessões debrinquedo terapêutico, (bonecos de pano de 10cm dealtura com características de médico, enfermeira, pai,mãe, avô avó, menino e menina; materiais hospitalares:frasco de soro com equipo, escalpe, jelco, seringa comagulha, gorro cirúrgico, máscara; material de usodoméstico: pratos, talheres, mamadeira, chupeta,carrinho, revólver).

Antes de iniciar a etapa mencionada anteriormente,o protocolo foi aplicado em duas crianças, com objetivode verificar a sua influência, treinar a atitude dapesquisadora durante a sessão do brinquedo terapêuticocomo também a sua capacidade de descrever oscomportamentos apresentados pelas crianças.

Modelo de Protocolo proposto para o preparo dacriança para cirurgia eletiva de adenoamigdalectomiacom utilização do brinquedo terapêutico.

Esse protocolo foi elaborado a partir dos trabalhospropostos por Wu (8), Schmidt (14), Martins (15), sobrepreparo de pré-escolares para procedimentos dolorosose baseado na experiência profissional das autoras emtrabalhar com crianças hospitalizadas. Ele contém ospassos a serem seguidos pelo enfermeiro que realizaráo preparo pré-operatório, descrevendo as ações a seremfeitas no pré, intra e pós-operatório, assim como asjustificativas para respectivas ações.

Pré-operatório Ação Justificativa

1. Realizar o preparo da criança se possível de 2 a 3dias antes da cirurgia.

2. Realizar o preparo numa área neutra.

3. A enfermeira deve realizar o preparo.

1. O momento mais adequado para o preparo variade acordo com o tipo de cirurgia, idade e com onível de desenvolvimento da criança. Devido aopensamento fantasioso e egocêntrico da criança pré-escolar, o preparo deve ser feito o mais próximodo evento, evitando com isso, o incremento defantasias, medos e ansiedades. (1,6,16).

2. O local deve ser livre de ameaças e transmitirtranqüilidade à criança, para que ela e seus paispossam estabelecer uma relação de afinidade econfiança com a enfermeira (5).

3. O preparo deve ser realizado pela enfermeira quepossui conhecimento sobre desenvolvimentoinfantil e sobre a utilização do brinquedo

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4. Apresentar-se aos pais da criança, escutar suasdúvidas, medos e preocupações e orientá-los sobreo que irá ser feito pedindo a sua colaboração.

5. Contar uma história envolvendo os brinquedos paraexplicar os procedimentos pré e pós-operatórios. Omodelo da estória que será contada está no anexo 1.

6. Permitir que a criança dramatize nos brinquedosos procedimentos demonstrados durante a história.

7. Observar os fatos que foram assimilados e quaisestão sendo negados, reforçando-os.

8. Visitar o Centro cirúrgico (C.C.) com a criança eos pais e apresentá-los à equipe da unidade.

terapêutico, para que ela, ao analisar as dramati-zações, consiga apreender o significado do com-portamento e dos objetos utilizados pela criançadurante a sua brincadeira e, assim, elaborarintervenções de enfermagem direcionadas àsnecessidades individuais da criança (16).

4. Ao conhecer os receios, medos e angústias dospais, a enfermeira pode dar-lhes informações eapoio de acordo com o foco de tensão manifestadapor eles, minimizando seus temores. Quando ospais estão seguros e confiantes em relação aotratamento, os seus filhos também estarão, poisos pais representam a fonte de apoio e segurançada criança (1).

5. Como a criança possui um pensamento fantasioso,a estória dramatizada é o meio mais fácil de informá-la sobre situações que não pode entender. Ao contara estória envolvendo os brinquedos, a criançavisualizará o que irá lhe acontecer, o que irá sentire como poderá ajudar, evitando que ela recorra àimaginação para descobrir porque passará pelosprocedimentos e o que lhe ocorrerá (5).

6. O medo da criança em relação aos equipamentoshospitalares é minimizado quando lhe é permitidomanusear e familiarizar-se com eles. Ao dramatizarno brinquedo o que irá lhe acontecer, a criançapassará de sujeito passivo para ativo,descarregando suas tensões para um meioconhecido e não ameaçador. (5,15).

7. Ao observar a brincadeira da criança poderemosperceber que etapas e/ou procedimentos dopreparo foram mal interpretados e o que estásendo negado, pois um dos mecanismos que acriança tem para defender-se é a negação de partesque não gostaria que acontecesse. É importantereforçar estes achados para ela compreender e nãointerpretar erroneamente o porquê da cirurgia. (1,5).

8. Ao visitar o C.C., a criança e seus pais têm aoportunidade de familiarizar-se com a unidade econhecer a equipe, propiciando desta forma, adiminuição da ansiedade e o estabelecimento deum vínculo de confiança com eles. Tocar nosequipamentos como máscara de anestesia,oxímetro de pulso, monitor cardíaco e equipa-mentos intravenosos, tornará os procedimentosmenos assustadores (17).

Ação Justificativa

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200318

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Ação Justificativa

Ação Justificativa

9. Explicar para a criança que seus pais estarão lheesperando no quarto enquanto estiver no C.C

10. Recepcionar a criança na porta do C.C.

11. Ficar com a criança até a indução anestésica.

12. A criança, ao acordar da anestesia, deve serimediatamente levada à presença dos seus pais.

13. Elogiar a criança pelos comportamentos quefacilitaram a realização do procedimento.

14. Fornecer os brinquedos anteriormente utilizados,para que a criança brinque, dramatizando oprocedimento, permitindo desta forma um meioda criança expressar os seus sentimentos.

15. Anotar o conteúdo e o comportamento da criançadurante a dramatização.

9. Ao explicar para a criança que seus pais lheesperam no quarto do hospital enquanto faz aoperação, permite que ela tenha segurança de quenão será deixada ou abandonada nesse localestranho; medo intensamente vivenciado pelo pré-escolar em virtude da hospitalização (1,6,16).

10. A mesma enfermeira que preparou a criança deverecebê-la no C.C, pois foi estabelecido um vínculode confiança entre elas e depois dos seus pais, aenfermeira passa a ser a pessoa conhecida para acriança, a sua fonte de segurança neste ambienteestranho (1).

11. A enfermeira deve permanecer com a criança atéa hora da indução anestésica, segurar-lhe a mão,tranqüilizá-la e passar confiança, para que estemomento seja o menos traumático e assustadorpossível (3).

12. Já em seu quarto, ao acordar da anestesia eperceber que seus pais estão ao seu lado, a criançase sentirá segura e não terá a percepção de quefoi enganada ou abandonada (5).

13. A criança deve ouvir de seus pais e da enfermeiraque ela fez o melhor que pôde na situação,independente de qual tenha sido seu com-portamento (5).

14. Ao fornecer novamente os brinquedos anterior-mente utilizados, a criança tem a oportunidade demanifestar suas tensões e medos, e de descarregartudo de negativo que ficou em sua mente devidoàs fantasias previamente elaboradas (15).

15. Anotar os comportamentos da criança e os con-teúdos da dramatização, permite não somenteverificar a influência da utilização do protocoloproposto como também identificar os sentimentose reações emocionais da criança que vivencia umacirurgia eletiva (6).

Intra-operatório

Coleta de Dados

A coleta de dados foi realizada de agosto a outubrode 2001. Uma vez por semana era conferida aprogramação cirúrgica para averiguar quais criançaspoderiam fazer parte do estudo. Selecionadas as crianças

de acordo com os critérios previamente estabelecidos,o serviço de Assistência Social da própria instituiçãoentrava em contato telefônico com o responsável dacriança, esclarecendo brevemente sobre os objetivos dotrabalho. Caso concordasse em participar, era marcado

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um encontro para o sábado que antecedesse a cirurgiaquando era feito o preparo pré-operatório proposto noprotocolo abordado anteriormente. Os pais eraminformados também que caso não quisessem participar,ficaria garantido a manutenção do tratamento. Nosábado, uma das autoras se encontrava com os pais ouresponsável na recepção da instituição, apresentava-sea eles e a criança, esclarecia os objetivos do trabalho eas etapas do protocolo a serem utilizados e solicitava aautorização para a aplicação, e se os mesmos aceitassem,era entregue uma carta de esclarecimento juntamentecom o termo de consentimento. O ambiente utilizadoera um quarto vago da unidade pediátrica para que nãohouvesse interferências, o que poderia atrapalhar aatenção da criança. Após esclarecer as dúvidas dos paisou responsáveis, a pesquisadora perguntava à criançase ela gostava de história. A mesma percebeu que todasas quatro crianças pesquisadas aguardavam ansiosas paraouvirem a narrativa. Após contar a história dramatizadano brinquedo terapêutico, a pesquisadora convidava acriança para brincar a fim de permitir verificar ainfluência da utilização do protocolo. Ao fim dadramatização da criança, ela, a pesquisadora e seusfamiliares iam até o C.C. para fazer uma visita àquelaunidade. Foram mostrados para a criança os aparelhosque seriam utilizados nelas como: monitor cardíaco,maca cirúrgica, refletor, máscara para anestesia etc. Erapermitido à criança manipular os equipamentos etambém ver seu coração batendo no monitor cardíaco.Terminada a visita, retornavam à recepção onde erasolicitado pela pesquisadora aos pais ou responsáveispara reforçarem as explicações fornecidas à criança. Nopós-operatório imediato era realizada uma nova sessãode brinquedo terapêutico para avaliar a influência doprotocolo no preparo das crianças para a cirurgia deadenoamigdalectomia.

Análise dos Dados

Os dados foram analisados através da discussãoindividual de cada sessão de brinquedo terapêutico,expressando a compreensão das autoras sobre oscomportamentos verbais e não-verbais manifestados pelacriança durante as sessões e também durante a suapermanência no centro cirúrgico antes da cirurgia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste capítulo será discutida individualmente aintervenção realizada com uma das quatro crianças queforam submetidas ao preparo pré-operatório paracirurgia de adenoamigdalectomia. Para a apresentaçãodos dados, a criança será identificada com suas iniciais.

Criança: W.G.F. Idade: 3 anos e 4 meses

Após terminar de contar a história W., demonstroumuita espontaneidade, característica que predominoudurante toda a sessão de brinquedo terapêutico, ondemanuseou e dramatizou várias situações com os objetoshospitalares. É interessante relatar que, à medida quedramatizava os procedimentos no boneco menino, eleverbalizava o nome do seu pediatra e do cirurgião, comose estivesse contando a sua própria história.

O fato de a criança pegar a seringa com agulha eperguntar: “O que é isso?”, sendo que logo depoisresponde “injeção”, demonstra a sua necessidade emafirmar sobre o que é e para que serve os materiaishospitalares. Um momento de grande expressão simbólicaé quando W. pega o revólver e atira em sua mãe, dizendo:“Eu vou acabar com você”, segundo Castro (4), esta atitudedemonstra raiva e mágoa dirigida à mãe, como se estafosse responsável pelo que irá vivenciar.

W. demonstra o desejo de fuga ao manusearconstantemente o carro e fazer movimentos de vai-e-volta. Ele reafirma este desejo ao colocar o bonecomenino dentro do carro e afastá-lo dos demaisbrinquedos, principalmente dos materiais hospitalares.

A criança dramatiza em algumas oportunidadesmétodos propedêuticos como auscultar o coração doseu avô, como se tentasse descobrir o motivo que olevou para o hospital, o que pode ser observado quandodiz com a campânula no peito o seu avô: “O vô pegou...está com febre”. De acordo com Ribeiro (18), a criançapassa por uma série de exames que não entende, o quefaz vivenciar uma história de mistério e terror propi-ciando, desta forma, o incremento de fantasias.

W. utilizou a mamadeira antes de inserir a seringacom agulha no braço do boneco menino, provavelmentequerendo acalmá-lo antes do que vai acontecer.

Após manipular alguns brinquedos, a criança auscultao peito do boneco menino e fala para sua mãe: “Tá bom,mãe... o menino, tá bom... já melhorou... é de mentirinha...está bem, não vai para o hospital”. W. procura de algumaforma mostrar para sua mãe que ele não precisa passarpor isso, expressando seus sentimentos de negação, comose ele não quisesse passar pelo procedimento, o quetambém é encontrado em Ribeiro (18).

Algo importante a ser observado é o fato dele associara ida ao médico com a enfermeira dando injeção“Porque o Kiko está doente e aí a mamãe dele o levouno Dr. Tomás... a enfermeira vai dar injeção”, isso denotaque para esta criança, a enfermeira e o médicoconspiram contra ele. No trabalho de Erickson (1958),citado em Castro (4) as crianças associam a figura domédico e da enfermeira como pessoas com autoridade,que puniam e os castigavam.

No dia da cirurgia, W. não deixou que os funcionáriosse aproximassem dele, chorando sempre que alguémtentava se aproximar. Quando a pesquisadora chegou ese aproximou, ele sorriu, porém não saiu de perto de sua

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Smãe, ficando o tempo todo em seu colo, reação que nãoteve durante o primeiro contato com a mesma. Ao serencaminhado para o Centro Cirúrgico, W. foi chorandodurante todo o trajeto, solicitando a presença de sua mãe.Ribeiro (18), relata que a mãe constitui um recurso de apoioe a maior fonte de segurança para a criança.

Enquanto esperava para começar a cirurgia, W. sóqueria ficar no colo da pesquisadora e, mesmo assim,chamava pela sua mãe. Quando foram colocá-lo na salaoperatória, W. não deixou que os funcionários seaproximassem dele, gritando e chorando constante-mente. Segundo Castro (4), essa reação diante dosfuncionários demonstra ansiedade e medo pelo que estápor acontecer. O choro constante pode estar relacionadoa alterações decorrentes do medo da separação/abandonoda mãe, de perder o afeto da família e da necessidadede amor e segurança não atendida na ausência da mãe,mesmo com a presença da pesquisadora. Provavelmenteesse tipo de reação foi mais intenso em W. em decorrênciada separação recente de seus pais.

No pós-operatório W. foi a única criança que semostrou disposto a brincar e com ego forte. Apósdramatizar alguns procedimentos no boneco menino,ele demonstrou preocupação em alimentá-lo,dizendo: “cadê o menininho?... ele está com fome...ele não podia comer comida”. Castro (4) comentaque o fato da criança alimentar os bonecos após umprocedimento doloroso pode s imbolizar umarecompensa e que o jejum o estava incomodando.

W. também foi a única criança que expressou deforma verbal a preocupação com a saída de seus fluídoscorpóreos: “Mãe, será que saiu sanguinho?” Isso podedenotar o medo inconsciente de perda ou morte (4).

Durante a brincadeira, mesmo estando dramatizandoe verbalizando algumas situações vivenciadas, W.permanece atento a tudo que se passa a sua volta. Aoperceber a figura da boneca enfermeira, a criança parecesentir-se ameaçada, não querendo mais brincar quandodiz: “Não quero brincar mais” e demonstra medo atravésdo evitar ou afastar equipamentos clínicos, como aopegar a seringa com agulha e jogá-la para longe de si.

Em mais uma situação demonstra ter ego forte,falando: “Eu coloquei isso” (soro com equipo), “...Querodescer!”.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A utilização do protocolo e do brinquedo terapêuticomostrou-se válido, uma vez que as crianças puderamexpressar diferentes reações e sentimentos, como asdescritas a seguir:

• tornaram-se mais cooperativas nas realizações dosprocedimentos, diminuindo seus medos rela-cionados com a equipe multiprofissional e com osprocedimentos.

• tiveram oportunidades de demonstrar ansiedade aopermanecerem atentas ao ambiente e em constanteestado de alerta, como também expressaram medo,principalmente de serem deixados pela mãe que sãofontes de segurança e apoio, quando choravampedindo por elas.

• tiveram oportunidades de manifestar sentimentos depunição e/ou castigo, de sofrimento e tensão, bemcomo de exteriorizar seus sentimentos de mágoa eraiva, apatia e indiferença contra as mães e a equipehospitalar ao apontarem o revólver, ao não quereremconversar e ao virarem os rostos, evitando-os e aodemonstrarem agressividade ao dramatizaremprocedimentos invasivos nos bonecos mãe, médicoe enfermeira.

• expressaram sentimentos de fuga ou negação perantea situação que iriam enfrentar, ao afastarem e/ousoltarem os materiais hospitalares.

• dramatizaram nos bonecos, situações que para elaseram semelhantes ao da história que era contadaantes de oferecerem-lhes os brinquedos.

• demonstraram ter compreendido a necessidade deserem submetidas à cirurgia, já que conseguiramatravés da técnica do brinquedo terapêutico,expressarem forma verbal ou dramatizarem bonecosprocedimentos que seriam feitos neles.Ao decidir-se por esse trabalho, a pesquisadora

procurava uma forma de minimizar o medo que a cirurgiadespertava nas crianças. Ao implementar o protocolo, amesma percebeu que no dia da visita elas mostravam-seapreensivas, achando que iriam passar por algumprocedimento doloroso como pode ser observado emuma das crianças que se dirigia à sua mãe, querendouma confirmação de que nada iria lhe acontecer. Comorealmente não acontecia nada, a criança tornava-se maisconfiante e, segundo as suas mães, aguardavam ansiosaspelo dia da cirurgia para irem ao hospital brincar e verema “tia” que havia contado a história para elas. SegundoRibeiro (18), quando há o estabelecimento de um vínculode confiança, as crianças conseguem enfrentar melhoras situações, pois terá alguém do seu lado que a protegerá.

Alguns dos funcionários do hospital onde foi realizadoeste estudo, perceberam a necessidade do preparo dascrianças para a cirurgia, pois ao realizarem osprocedimentos pré-operatórios, elas tornavam-secolaborativas com eles os quais diziam à pesquisadoraque só podia ser uma das suas crianças e isto faz as autorasacreditarem na viabilidade do protocolo. Anestesistas quenão entendiam e não viam a necessidade das criançasirem visitar o cento cirúrgico no pré-operatório mediato,começaram a verbalizar o quanto essas crianças tornaram-se mais colaborativas. Mesmo com a colaboração dascrianças, a equipe multiprofissional, na tentativa de ajudá-las ou acalmá-las, diziam-lhes inverdades (dizendo-lhes,

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por exemplo, que suas mães ficariam o tempo todo comelas), fazendo com que elas se sentissem enganadas pelamãe, o que ocorreu com duas crianças. Acreditam asautoras, que não só a mãe e a criança devem serpreparadas para a cirurgia como é encontrado no trabalhode Castro (2), mas também a equipe do centro cirúrgicodeve ser envolvida neste preparo para minimizar oimpacto da cirurgia sobre elas e evitar o desenvolvimentode distúrbios emocionais no pós-operatório.

Ao observar as reações, sentimentos e comporta-mentos expressos pelas crianças durante o brincar, asautoras puderam confirmar o que disseram autores comoWhaley; Wong (5), Castro (4), Maia; Guimarães (19), Ribeiro(18) entre outros, que é através do brinquedo que a criançaexpressa os seus sentimentos e trabalha com seus medos,receios, raivas e mágoas.

Em virtude desses comentários, acreditam as autorasque os objetivos pré-estabelecidos foram alcançados, umavez que foi elaborado e implementado o protocolo parapreparo pré-operatório para a criança e sua família,

utilizando-se do brinquedo terapêutico, bem comopermitiu as autoras apreender os sentimentos e reaçõesemocionais das crianças que vivenciaram esta experiência.

Ziegler e Prior (17)., Zuckerberg (3), Neira Huerta (5)

dentre outros discorrem que a criança tem o seu traumaminimizado quando pode familiarizar-se com osequipamentos hospitalares, antes de ser submetida aosprocedimentos e quando dramatiza no brinquedo o quelhe irá acontecer criando um vínculo com a equipeque a conhece em uma situação que não lhe éamedrontadora.

Assim consideram as autoras que a implantação doprotocolo e o uso do brinquedo terapêutico sãoinstrumentos imprescindíveis para minimizar o impactoemocional da criança frente aos procedimentos intrusivos,bem como para que ela torne-se mais segura e enfrentemelhor as situações. Cabe portanto ao enfermeiro e ainstituição incorporá-los no plano de cuidado à criançaque enfrentará um procedimento cirúrgico.

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200322

SAnexo 01

História utilizada para explicar e dramatizar o pré,intra e o pós-cirúrgico

Kiko é um menino muito forte, porém freqüente-mente tem dores de garganta, febre e ronca na horaque dorme. Quando sente dor, não consegue comer echora muito e precisa tomar remédios. Sua mamãe ficoupreocupada de ver o Kiko doente e o levou no médicopara examinar a garganta. O médico disse para a mamãeque era preciso tirar as amídalas e as adenóides do Kiko,para que ele não sentisse mais dor e conseguisse comer.Foi por isso que ela o levou no hospital para fazer aoperação.

Quando chegou no hospital, uma moça de branco,que é a enfermeira que cuida das crianças, levou o Kikopara uma sala onde verificou o seu peso e altura. A moçacolocou uma pulseira em seu braço onde estava escritoseu nome e deu para a mamãe uma roupa do hospitalpara colocar no Kiko. Além disto, a moça ficouconversando com a mamãe para saber porque ele iatirar as amídalas e as adenóides. Ela explicou a ela queera para o Kiko não ficar mais com dor de garganta efebre e também para não roncar quando dormir. Aenfermeira, ao conversar com o Kiko percebeu que eleestava com medo. Ela então lhe disse que ele iria até asala de operação deitado numa cama para o médicotirar as amídalas e a adenóide e que ela iria ficar juntocom ele todo o tempo e que se tivesse medo, poderiasegurar a sua mão. Contou-lhe que muitas crianças fazemesta operação e que assim como ele, elas também ficamcom medo. Kiko pediu para a mamãe ir junto com ele,porém a enfermeira explicou que ela só iria até a portaporque lá só pode entrar médico e enfermeira. A mamãe

do Kiko foi até a porta do centro cirúrgico, beijou-o edisse que estaria esperando por ele no quarto dohospital.

Chegando na sala de operação junto com aenfermeira, Kiko deitou em outra cama e colocou umamáscara no rosto. A enfermeira pediu para Kiko ficarassoprando porque ali tinha um remédio para ele nãosentir dor quando o médico tirasse as amídalas e asadenóides. A enfermeira falou para Kiko ficar calmoporque o médico só iria tirar as amídalas e as adenóidese com o “remedinho” ele não iria sentir dor.

Quando Kiko acordou da operação a enfermeiraestava do seu lado e disse que o levaria em breve paraa mamãe. Kiko viu que no seu braço tinha uma“mangueirinha” e perguntou para a enfermeira o queera. Ela lhe respondeu que a “mangueirinha” está ligadano frasco do soro (“água doce”) para que ele não sentissefome até que pudesse comer novamente e que o sorotambém era para dar remédio caso ele sentisse dor,vomitasse ou saísse um pouco de sangue pelo nariz. Elalhe disse que todas as crianças que tiravam as amídalase adenóides tinham dificuldades para comer porque agarganta ficava raspando e que também era comum elasvomitarem. A enfermeira conversou com o Kiko queisso também poderia acontecer com ele, mas que erapara ele não ficar preocupado porque quando istoacontecesse lhe daria um remédio. Explicou-lhe tambémque estes sintomas eram passageiros e que quandoconseguisse comer e não tivesse mais vômitos, iria paracasa. Kiko, depois da operação, sentiu a garganta raspare teve vômitos como a enfermeira havia lhe contado,porém ele melhorava quando lhe davam remédio. Kikoe a mamãe dormiram no hospital e quando o sol nasceu,ele já estava melhor e pôde ir embora para a sua casa.

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Hiperplasia papilar inflamatória:Relato de casos clínicos

Papilar inflammatory hyperplasia: clinical cases report

* Universidade Braz Cubas** Centro Universtitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES

Gustavo Ferri*, Daniela Pereira Gomes*, Manoela Domingues Martins*,Marco Antonio Trevizani Martins*, Ricardo Carneiro Borra* e Ricardo Raitz**

A B S T R A C T

Papilar inflammatory hyperplasia (PHI) is a lesion mostfrequently seen in the hard palate of patients bearingdental prosthesis with a removable acrylic base.Inadequate removable prostheses adaptation, presenceof vacuum camera, continuous use of dental prostheses,even at night, or oclusal alterations are involved in theetiopathogenesis of this lesion. The present paperdiscusses some characteristics of the lesion as follow:clinical and histological aspects, etiopathogenesis and

treatment, focusing different surgical techniques. Twocases of PHI were compared: in the first one the removalwas accomplished with electric bistoury, in the anotherone with cold bistoury.

Keywords: papilar inflammatory hyperplasia, nonneoplasic proliferative process, removable prosthesis, totalprosthesis, denture papilomatosis

R E S U M O

A hiperplasia papilar inflamatória (HPI) é uma lesão queacomete o palato duro em pacientes que utilizam prótesecom base acrílica removível. A etiopatogenia desta lesãoestá associada a próteses mal adaptadas ou com câmarade vácuo, uso contínuo das mesmas e alterações oclusais.Este estudo apresenta algumas características da lesãocomo: aspectos clínicos e histológicos, sua etiopatogeniae tratamento, com especial enfoque às diferentes técnicas

cirúrgicas destinadas à sua remoção, comparando doiscasos de HPI, sendo que em um foi realizada a remoçãocom bisturi elétrico e em outro com bisturi a frio.

Palavras chave: hiperplasia papilar inflamatória,processos proliferativos não neoplásicos, próteseremovível, prótese total, papilomatose por dentadura

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200324

SINTRODUÇÃO

A hiperplasia papilar inflamatória (HPI), tambémconhecida como papilomatose por dentadura, é umalesão proliferativa reacional observada no palato duroem pacientes que utilizam prótese com base acrílicaremovível. Clinicamente esta lesão apresenta-se comomúltiplas pápulas ou nódulos eritematosos que conferemà superfície um aspecto granular ou papilomatoso.Geralmente as lesões são assintomáticas, entretanto emalguns casos podem apresentar ardência e dor quandoocorrerem ulcerações. São mais freqüentes nas 3ª, 4ª e5ª décadas de vida. (Thwaites et al., 1990; Priddy, 1992;Antonelli et al., 1998) (1, 6, 9).

Os fatores etiológicos relacionados com a HPI são:próteses mal adaptadas ou com câmara de vácuo, usocontínuo das mesmas e alterações oclusais. Cândidaalbicans, péssima higiene bucal e outros fatores têm sidorelatados na literatura como coadjuvantes nodesenvolvimento dessa lesão (Ettinger et al., 1975;Salonen et al., 1996; Brown et al., 1997) (3, 4, 8).

Histologicamente a mucosa, na hiperplasia papilarinflamatória, exibe numerosos crescimentos papularesna superfície, cobertos por epitélio escamosoestratificado hiperplásico. O tecido conjuntivo podevariar de frouxo e edematoso a densamente colage-nizado. Usualmente é visto um infiltrado de célulasinflamatórias crônicas que consiste em linfócitos eplasmócitos (Neville et al., 1998) (5).

O tratamento dessa lesão consiste de modalidadesconservadoras utilizando o reembasamento comcondicionadores de tecido e/ou remoção cirúrgica totalutilizando várias técnicas tais como: bisturi a frio,criocirurgia, bisturi elétrico e uso de laser (Bergendal etal., 1980; Rathofer et al., 1985; Priddy, 1992; Salonenet al., 1996; Brown et al., 1997) (2, 3, 6, 7, 8).

Salonen et al. (1996) (8) avaliaram o uso deantifúngicos locais e sistêmicos (Miconazol e Fluconazol)no tratamento da HPI e verificaram que esta lesão nãodesaparece apenas com esta modalidade terapêutica,necessitando assim de excisão cirúrgica e confecção denova prótese.

O prognóstico da HPI é bom, sem recidiva da lesãoquando nova prótese for confeccionada.

O objetivo do presente trabalho é relatar e comparardois casos de hiperplasia papilar inflamatória causadospor prótese total com câmara de vácuo onde em umoptou-se pelo bisturi-elétrico e, no outro, bisturi a friopara remoção cirúrgica da lesão.

RELATO DE CASOS CLÍNICOS

CASO 01Paciente M. C. F., 52 anos, branca, compareceu à

Disciplina de Semiologia do Curso de Odontologia daUniversidade Braz Cubas para avaliação de lesão empalato duro.

Durante a anammese, a paciente não relatou nenhumantecedente médico importante e informou queapresentava a lesão há aproximadamente 20 anos,concomitantemente com o uso de prótese total superior.Subseqüentemente, estabeleceu-se a verificação domecanismo causa-efeito ao observar a presença de umacâmara de vácuo na área basal da prótese (Figura 1). Noexame extra bucal nada foi constatado.

Ao exame físico intra bucal, observou-se um aumentode volume de formato triangular, de aproximadamente30mm no seu maior diâmetro, localizado em palato duroque apresentava superfície papilomatosa de coloraçãoavermelhada (Figura 2). Foi sugerido como hipótesediagnóstica à hiperplasia papilar inflamatória.

Figura 1: Prótese total superior com câmara de vácuo naárea basal

Figura 2: Lesão triangular na região de palato durocom superfície papilomatosa deaproximadamente 30mm

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Para se tentar minimizar a lesão inflamatória antesde qualquer intervenção cirúrgica, o reembasamentoda câmara de vácuo foi realizado com pasta zincoenólicapor 15 dias; isso seguido de nova avaliação e outroreembasamento por mais 15 dias, sendo que ao finaldeste período, apesar da diminuição do processoinflamatório, ficou evidente a necessidade da remoçãocirúrgica.

A conduta adotada para esse caso foi a exéresecirúrgica da lesão utilizando bisturi elétrico com pontaromba, sob anestesia local (Figura 3 e 4). O tecido foiremovido em camadas, não ocorrendo sangramentodurante o ato operatório.

Figura 4: Ponta romba do bisturi

Figura 3: Aparelho de bisturi elétrico

No pós-operatório imediato foi observada umanecrose tecidual superficial da região sem sintomatologiadolorosa (Figura 5). O reembasamento da câmara devácuo foi feito com pasta zincoenólica e o uso da prótesefoi recomendado para proteção da ferida cirúrgica. Foiprescrita analgesia com paracetamol 500mg de 6/6 horaspor 5 dias, em caso de dor. A paciente relatousintomatologia leve, aliviada com o uso da prótese e doanalgésico.

Figura 5: Aspecto clínico do pós-operatório imediato.Oberva-se necrose tecidual superficial da região

No retorno, após 20 dias, observou-se a completacicatrização sem sinais de recidiva, sendo possível entãorealizar o encaminhamento da paciente para a confecçãode uma nova prótese total.

CASO 02

Paciente M. A. I. S., 42 anos, compareceu à Disciplinade Semiologia do Curso de Odontologia da UniversidadeBraz Cubas para avaliação de lesão em palato duro.

Durante a anamnese, a paciente não relatou nenhumantecedente médico importante e informou queapresentava a lesão há aproximadamente 15 anos,concomitantemente com o uso de prótese total superior.Subseqüentemente, estabeleceu-se a verificação domecanismo causa-efeito ao observar a presença de umacâmara de vácuo na área basal da prótese (Figura 6). Noexame extra bucal nada digno de nota foi constatado.

Figura 6: Câmara de vácuo na área basal da prótese

Ao exame físico intra bucal, observou-se um aumentode volume de formato triangular, de aproximadamente50mm no seu maior diâmetro, localizado em palato duroque apresentava superfície papilomatosa de coloraçãosemelhante à mucosa (Figura 7). Foi sugerido comohipótese diagnóstica à hiperplasia papilar inflamatória

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Se, frente a essa hipótese, optou-se pelo reembasamentoda câmara de vácuo com pasta zincoenólica por 30 dias.Na reavaliação, realizou-se outro reembasamento.

No retorno da paciente, observou-se diminuiçãoparcial do processo inflamatório, ficando evidente anecessidade da remoção cirúrgica.

A conduta adotada para esse caso foi a exéresecirúrgica da lesão utilizando bisturi a frio, sob anestesialocal (Figura 8). O tecido foi removido em camadas,ocorrendo sangramento abundante, o que dificultou otrans-operatório e a visualização dos limites da lesão.Ressalta-se também a limitação do pinçamento doespécime em função deste tecido encontrar-se muitofriável.

Figura 7: Aspecto clínico da hiperplasia papilar inflama-tória com formato triangular, de aproxi-madamente 50mm no seu maior diâmetro elocalizado em palato duro

A prótese foi novamente reembasada e mantida nacavidade bucal como auxiliar nos processos dehemostasia e cicatrização da região operada. Foi prescritaanalgesia com dipirona sódica, 35 gotas de 4 em 4 horas.

Ao retornar após 7 dias, a paciente apresentavasintomatologia dolorosa e relatou sangramento diário

Figura 8: Aspecto clínico do pós-operatório imediatoda cirurgia utilizando bisturi a frio

abundante. Após 15 dias, a paciente ainda relatavasintomatologia, procedendo-se então novoreembasamento, sendo

Após 30 dias foi realizado novo reembasamento,sendo novamente realizado um outro depois de 30 dias,mas somente após 60 dias, observou-se a reparação totalda região e foi realizado o encaminhamento para aconfecção de uma nova prótese (Figura 9).

DISCUSSÃO

A HPI é uma lesão benigna comum em palato, cujosfatores etiológicos são bem estabelecidos, entretantoainda despertam controvérsias por parte de algunsautores quanto a etiopatogenia.

Sabe-se que os principais fatores etiológicosrelacionados são: prótese mal adaptada e a câmara devácuo (Thwaites et al., 1990) (9); todavia ainda não sesabe se a infecção por Cândida albicans representapatologia secundária a HPI ou se pode ser consideradapré-requisito para a primeira ocorrer. Nosso caso númerodois vem corroborar com a segunda teoria, pois nãonotamos a presença de candidíase. Acreditamos queao formar projeções papilares pela pressão negativa dacâmara de sucção ou pela má adaptação da prótese,cria-se um microambiente extremamente favorável paraa instalação de hifas de cândida, principalmente nospacientes com deficiência de higienização.

Podemos considerar, portanto, que a terapiaantifúngica local antes da remoção cirúrgica da lesão,faz-se necessária, uma vez que retirado um dos agentesflogísticos, a lesão diminui bem como o sangramentotrans-operatório (Salonen et al., 1996) (8).

Apesar da manifestação clínica por vezes alarmante,a HPI não é uma lesão cancerizável, já que não podemoscientificamente associar trauma com alterações em genes

Figura 9: Aspecto clínico do pós-operatório de 60 dias.Nota-se reparação total da região operada

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relacionados com proliferação celular e sua ativaçãooncogênica. É, por isso, que a terapia consiste emremoção cirúrgica simples da lesão e confecção de novaprótese (Antonelli et al., 1998) (1).

A remoção cirúrgica pode ser realizada de diversasmaneiras, dentre elas principalmente: excisão por meiode uma lâmina (bisturi a frio); mucoabrasão; eletrocirurgia;criocirurgia e cirurgia a laser (Rathofer et al., 1985) (7).

Constatamos constatar em nosso estudo,comparando eletrocirurgia com a cirurgia com bisturi afrio, que, na primeira obtivemos, resultados superiores.Um dos maiores problemas encontrados na cirurgia afrio foi o sangramento excessivo, o que não ocorreu naeletrocirurgia onde os vasos, abundantes na lesãoinflamatória, são imediatamente cauterizados.

Não obstante a superioridade da eletrocirurgia nomomento cirúrgico, a mesma foi constatada no que dizrespeito à obtenção do espécime para análise histológica.Apesar de provocar destruição tecidual superficial, foipossível remover camadas intactas de tecido para análise,utilizando o bom manejo da argola do bisturi elétrico.Em contrapartida, a obtenção do espécime durante acirurgia a frio, pareceu-nos mais dificultosa pela difícilvisualização da lesão e pela friabilidade do tecido(Rathofer et al., 1985) (7).

Antonelli et al. (1998) (1) vêem a eletrocirurgia comressalvas, já que tanto a vasoconstrição como a necrosesuperficial com subseqüente reparação por segundaintenção, pode representar riscos de contaminação. Emnosso estudo, tal aparente desvantagem mostrou-separadoxalmente benéfica, pois a paciente, instruída arealizar excelente higienização, não só teve um pós-operatório pouco dolorido como também sem sangra-mento e com uma recuperação bem mais rápida do

que na cirurgia a frio, a despeito do correto seguimentodas instruções por parte da paciente.

O pós-operatório da cirurgia a frio, além de mostrar-se extremamente dolorido, foi marcado por vários diasde sangramento e conseqüente demora na reparação, oque aumentou em muito o risco de uma infecção(Rathofer et al., 1985; Antonelli et al.,1998) (1, 7).

Acreditamos, sobretudo, que o aspecto preventivodeve ser sobressaltado. Infelizmente, inúmerosprofissionais continuam confeccionando artifíciosretentores a despeito de provocarem a HPI. Observamos,na prática diária, também a falta de instruções por partedo cirurgião dentista ao paciente no tocante da remoçãoda prótese durante a noite, limpeza, armazenamento emsoluções de hipoclorito de sódio 2% e visita regular aocirurgião dentista (Ettinger et al., 1975) (4).

CONCLUSÃO

Com a revisão literária e a comparação dos dois casosapresentados, esse trabalho mostrou que a cirurgiarealizada com bisturi a frio obteve resultados inferioresquando comparada com a eletrocirurgia.

Os aspectos observados foram os seguintes:– A remoção cirúrgica realizada com bisturi a frio

apresentou dificuldades no trans-operatório, devidoao sangramento excessivo e a recuperação pós-operatória foi mais lenta e sintomática.

– Na eletrocirurgia foi possível contar com um campooperatório mais limpo, devido à ausência desangramento e a facilidade na remoção do tecidoexcisado. Também houve uma recuperação tecidualmais rápida e assintomática, diminuindo o riscode complicações, especialmente de infecçõessecundárias.

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A R T I G O S E O R I G I N A I S

Correspondência para / correspondence to:Ricardo Raitz (orientador): Rua Jorge Felipe Sabra, 65 - Lapa - São Paulo - SP - CEP 05468-110 - Tel: (11) 36735270 - e-mail: [email protected]

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200328

SAnálise eletromiográfica do levantamento de cargadurante o movimento repetitivo com e sem o uso do

cinto pélvicoEletromiographic analysis related to a weight liftingrepeated moviment with and without pelvic belt use

R E S U M O

O objetivo deste estudo foi avaliar eletromiograficamenteo músculo eretor da espinha dos lados esquerdo e direitodurante uma contração isotônica mecanicamenteresistida. Foram analisados dez voluntários do sexofeminino com 15%, 25%, e 50% do máximo de cargaindividual. Um sistema de polias duplas foi utilizado. Ovoluntário foi posicionado com tronco ereto e o quadrilestendido. O quadril fletiu até 45º no equipamentodenominado M.A. Isostation 2000. Eletrodos de superfície(Meditrace) foram colocados de ambos os lados em cimado músculo eretor da espinha de acordo com Kumar (9) eentão conectados em um módulo de aquisição de sinais

biológicos de quatro canais (Linx *). Por meio de umaanálise numérica em cada registro o valor RMS (RaizQuadrada Média) do sinal foi obtido. O valor do RMSestimado do músculo eretor da espinha dos ladosesquerdo e direito não só apresentou um aumento emtodas as fases como também a concentração da carga foiaumentada, apesar do uso ou não do cinto pélvico. Afase de levantamento desenvolve um aumento daatividade eletromiográfica no músculo eretor da espinhaesquerdo e direito em relação ao abaixamento.

Palavras-chave: eletromiografia, fadiga, levantamento decarga, ergonomia

A B S T R A C T

The aim of this study was to evaluate electromyo-graphically the left and right sides of the erector spinemuscle during a mechanically resisted isotoniccontraction. Ten female volunteers have been analyzedwith 15%, 25%, and 50% of individual maximum load.A double pulley system was used. The volunteer waspositioned with erect trunk and stretched hips. The hipswere inflected up to 45º in the equipment named M.A.Isostation 2000. Surface electrode (Meditrace) wereplaced over both sides of the erector spine muscleaccording to KUMAR (1997) and then connected to afour-channel biological sign acquisition module (Lynx*).

By means of a numerical analysis on each record theRMS (Root Mean Square) value of the signal wasobtained. The RMS values of the left and right sides ofthe erector spine muscle presented an increase in allphases as well as when the concentration of the loadwas increased in spite of the use or not of the pelvic belt.The phase of lifting develops a higher electromyographicactivity on the left and right sides of the erector spinemuscle in relation to the lowering one.

Keywords: electromyography, fatigue, lifting load,ergonomic

* Mestre em Biologia e Patologia Buco Dental FOP-UNICAMP e Docente IMES / FAPA /UNIBAN/ UniSantana/UNISANTA

** Prof. Adjunto Livre Docente - UNESPCoordenador do Laboratório de Biomecânica - Depto de Educação Física - UNESP

Augusto César Ferreira Gauglitz *, Mauro Gonçalves **, Adalgiso CoscratoCardozo **, Bruno Marson Malagodi ** e Sarah Regina Dias da Silva **

*Lynx Tecnologia Eletrônica Ltda. - Doado pela FUNDUNESP proc. 076/90-DFP e 384/90-DPE ao Laboratório de Biomecânica do Departamentode Educação Física da UNESP - Rio Claro.

29Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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INTRODUÇÃO

Um dos maiores problemas de saúde ocupacionalem todos os tipos de trabalho e nas atividades de vidadiária é o ato de levantar carga sem orientação econsciência, sendo, nos dias de hoje, um problemaque muito preocupa o sistema de saúde de qualquerpaís, devido aos altos níveis de afastamentos eincapacitações acompanhados principalmente pelasdores na região lombar.

Estudos retrospectivos das causas da dor lombaridentificaram como fatores de risco profissional: otrabalho físico pesado, o trabalho sedentário, as rotaçõese torções freqüentes da coluna, elevação freqüente decargas pesadas e vibrações com veículos motores (1).Frymoyer (1990) relatou que 25% das pessoas comidades entre 30 e 50 anos relataram sintomas de doresna região lombar, e que no ano de 1990, os custos diretoscom médicos excederam a cifra dos 24 bilhões dedólares nos Estados Unidos.

São muitas as variáveis estudadas no levantamentomanual de carga, por exemplo, o posicionamento dasarticulações no início e durante o levantamento (4, 6, 13, 14).

O uso da eletromiografia, para avaliar a ação dosmúsculos durante o levantamento manual de carga, permiteuma correlação entre o esforço muscular e as forças externasque atuam no ser humano durante esta atividade apresenta-se como uma constante na literatura (13, 18). O uso deacessórios com intuito de proteção da coluna vertebral,durante o levantamento manual de carga, tem sidoobjeto de estudo de alguns pesquisadores (10, 11) que alémda verificação da atividade eletromiográfica analisaramtambém o efeito produzido pelo cinto pélvico que foi amodificação da pressão intra-abdominal (7, 3, 5) sendoassociado a este, há outras variáveis que interferem naatividade muscular como as destacadas por Udo &Yoshinaga (17), que verificaram o efeito do cinto, daexperiência no seu uso e ao tipo de respiração naatividade eletromiográfica dos músculos reto doabdome, oblíquo externo do abdome e eretor daespinha ao nível de L1-2, L3-4, durante o levantamentomanual de carga, concluindo-se que o cinto, depen-dendo da experiência no seu uso, afeta a atividadeeletromiográfica.

Diante destas constatações de sobrecarga na colunavertebral, destaca-se o músculo eretor da espinha comofundamental para a estabilidade da coluna, princi-palmente durante o levantamento de carga. Nestesentido é que o presente estudo tem por objetivo analisareletromiograficamente o músculo eretor da espinha, du-rante uma coleta realizada em equipamento especifi-camente contruído para enfatizar a ação deste músculocontra resistência mecânica, com e sem o uso de umcinto pélvico.

MATERIAL E MÉTODOS

Participaram deste estudo 10 voluntários do sexofeminino, com idade média de 20±1 ano, universitários,sem antecedentes de doenças músculo-esqueléticas ede antropometria semelhante com peso médio de53,3±4,3Kg e altura média de 1,61±0,03m. Para acaptação dos sinais eletromiográficos, foram utilizadoseletrodos de superfície da marca MediTrace e posicio-nados sobre os músculos eretores da espinha bilateral-mente, segundo Kumar (9). Utilizou-se um módulo deaquisição de sinais biológicos marca Lynx de quatrocanais em que foram conectados os eletrodos, calibradocom a freqüência de amostragem de 1000Hz, ganhode 1000 vezes, filtro de passa alta de 20Hz e filtro depassa baixa de 500Hz, uma placa A/D com faixa deentrada de -5 a +5 Volts (CAD 1026-Lynx) e um“software” específico (Aqdados-Lynx).

Em cada registro obteve-se o valor de RMS (raizquadrada da média) de cada músculo, entre o tempoinicial e final do movimento, para uma posterior análiseestatística. A normalização do sinal eletromiográfico foirealizada pela contração isométrica voluntária máxima(CIVM=100%) realizada antes do início do teste.

Com o objetivo de controlar a manutenção da posturado voluntário durante o movimento de levantamentoda carga e para que fosse identificado o momento doinício e término do mesmo, realizou-se uma filmagemcom uma filmadora JVC com freqüência de aquisiçãode 30Hz. Para a execução dos testes de CIVM e isotônicofoi utilizado um equipamento denominado M.A.IsoStation 2000, projetado especificamente para esteestudo, cujas medidas são de 2m de base, 1m do apoiodo pé até o quadril, 0,5m de apoio do quadril até otronco, também uma haste de 1m e uma haste verticalanterior de 1m que segura esta haste perpendicular. Como intuito de padronizar o rítmo do movimento, utilizou-se um metrônomo digital calibrado em 20bpm.

O voluntário, antes da realização do movimento delevantamento e abaixamento de carga no equipamentoM.A. IsoStation 2000, realizou uma contração isométricamáxima de 5 segundos com objetivo de normalizar osinal e, em seguida, realizou contrações isotônicas comduração de 1 minuto com tração de um cabo acoplado aum sistema de polias duplas (Riguetto) com carga de 15%,25% e 50% da carga máxima de cada indivíduo obtidade acordo com o teste sugerido por Bittencourt (2), comintervalos de 1 hora a cada carga do teste proposto.

Para haver um sincronismo entre a aquisição doregistro eletromiográfico e a postura correspondentedurante o movimento, foi utilizado um sistema fotoele-trônico (16) que apresentando uma lâmpada no campofocal da filmadora, a mesma funcionou como uma marcaem cada fotograma, indicando o início da aquisição dosinal eletromiográfico. Com isso possibilitou fazer aanálise a partir do sinal da lâmpada em cada quadro defilme quando analisado no vídeo.

A R T I G O S E O R I G I N A I S

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200330

S

Ao analisar os músculos eretores da espinha do ladodireito e esquerdo durante levantamento manual decarga, verifica-se que com e sem o uso de cinto, existiuuma diferença desta atividade entre 15% e 50%, tendodesenvolvido maior atividade aos 50% como tambémdestacado por Burhule-Schmidtbleicher (1981) querelatou existir um aumento da atividade eletromiográficade acordo com o aumento da carga, podendo ser expli-cada especificamente pelo aumento do número deunidades motoras simultaneamente envolvidas no iníciodo movimento.

Particularmente durante o levantamento com o usode cinto, houve também uma diferença significativaentre 25% e 50% da carga máxima, sendo que o músculoeretor da espinha do lado direito apresentou sua maioratividade ao levantar os 50% da carga máxima, o quetambém pode ser explicado pela estabilização do tronco,que diminuindo a sua movimentação, requer uma maioratividade muscular com o mesmo objetivo, concordandoassim com estudos realizados por Lee & Chen (12),examinando indivíduos com uso do cinto pélvico,relatou o efeito do cinto em diminuir a movimentaçãolombar e conseqüente aumento da atividade mioelétricada região lombar, associado ao aumento das cargas.

No abaixamento manual de carga, o músculo eretorda espinha do lado direito e esquerdo, verifica-se quecom e sem o uso de cinto, existiu uma diferença destaatividade entre 25% e 50%, tendo desenvolvido maioratividade aos 50% justifica-se por existir uma contraçãoexcêntrica que de acordo com Smith et al. (15) produzuma força máxima maior, e que embora nem sempreseja linear, à medida que aumenta-se a força, pode haveruma aumento da atividade muscular. Embora nãoanalisado neste estudo, o cinto traz um grau deestabilidade do tronco de tal forma que a realização domovimento pode tornar-se mais rápida e, com isso,aumentar a atividade muscular, como citado por Landere col. (10) que verificaram que os movimentos realizados

com o cinto geralmente são mais rápidos do que quandorealizados sem cinto, tornando a pressão intra-abdominalmáxima e a atividade eletromiográfica diminuída como uso do cinto.

Durante o levantamento sem o uso de cinto, houvetambém uma diferença significativa entre 15% e 50%da carga máxima, sendo que o músculo eretor daespinha do lado direito apresentou sua maior atividadeao levantar os 50% da carga, o que se justifica pelanecessidade cada vez maior da coluna vertebral tornar-se mais estável durante toda a trajetória do movimento,ainda mais com uma carga crescente, fazendo com queo momento de resistência seja equilibrado pelomomento de força desenvolvido por esta atividademuscular aumentada.

Particularmente durante o levantamento com o usode cinto, houve também uma diferença significativa entre25% e 50% da carga máxima, sendo que o músculo eretorda espinha do lado esquerdo apresentou sua maioratividade ao elevar os 50% da carga máxima, concordandocom dados relatados por Carlsoo (1961) que demonstrouem seus estudos que a atividade mioelétrica do músculoeretor da espinha aumentava no levantamento e noabaixamento, porém durante o levantamento suaatividade era maior comparado ao abaixamento.

Durante o abaixamento dos 15%, 25% e 50% dacarga máxima, com e sem o uso do cinto pélvico, omúsculo eretor da espinha do lado esquerdo apresentouatividade semelhante e que, provavelmente a diferençaentre essas cargas testadas, não influenciaram nodesempenho do voluntário contrariando outrosresultados relatados por Dellito & Rose (4) os quaisverificaram que a atividade do músculo ER apresentouum aumento à medida que se administrou cargas,mesmo sendo durante o abaixamento, embora nesseprocesso a contração dos músculos eretores da espinhasejam do tipo excêntrica, ou seja, o músculo realiza umpapel de regulador do movimento.

Tabela I - Valores de RMS médios normalizados (U.A.) e desvios padrões dos músculos eretores da espinha direito (ER-D) eesquerdo (ER-E) durante o levantamento (L) e abaixamento (A) de 15%, 25% e 50% da carga máxima, sem (SC) ecom (CC) o uso de cinto pélvico

Teste de Friedman para p < 0,05 e teste DMS.a p < 0,05 em relação a carga de 50% - SC.b p < 0,05 em relação a carga de 50% - CC.

Teste de Wilcoxon para p < 0,05.c p < 0,05 em relação ao músculo EE na mesma fase - SC.d p < 0,05 em relação ao músculo EE na mesma fase - SC.e p < 0,05 em relação ao mesmo músculo na fase de ABAIX. - SC.f p < 0,05 em relação ao mesmo músculo na fase de ABAIX. - SC.g p < 0,05 em relação ao mesmo músculo na fase de ABAIX. - CC.h p < 0,05 em relação ao mesmo músculo na fase de ABAIX. - CC.

SEM CINTO - SC COM CINTO - CCMM. FASE 15% 25% 50% 15% 25% 50%ED LEV. 30,83 a, e ± 6,96 37,01 e ± 12,04 56,20 c, e±18,50 31,88 b, g ± 11,88 35,29 b, g ±11,22 53,81 g ± 18,20

ABAIX. 24,22 a ± 7,71 26,59 a ± 7,66 34,41 d ±10,24 23,87 ± 8,41 24,51 b ± 7,22 31,76 ± 11,32EE LEV. 31,01 a, f ± 9,14 35,42 f ± 13,10 48,03 f ±18,15 30,85 b, h ± 6,97 35,18 b, h ± 9,75 55,45 h ± 27,26

ABAIX. 23,07 ± 8,30 25,80 ± 10,04 28,86 ± 7,78 21,95 ± 6,91 22,58 ± 4,85 33,27 ± 15,67

31Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

RBCSRBCSRBCSRBCSRBCS

Ao analisar especificamente a atividade do músculoeretor da espinha do lado direito e esquerdo, verifica-seque existe uma diferença no levantamento e abaixamentodos 50% da carga máxima, sem o uso do cinto pélvico,onde a maior atividade do eretor da espinha ocorreu nolado direito, concordando com dados citados por Smithet al. (14, 15) pelo fato do voluntário poder ter deslocadoseu centro de gravidade e assim apresentar umdesequilíbrio muscular ou um aumento excessivo doestiramento dos ligamentos que não foi controlado noplano frontal no presente estudo, mas, sim, no planosagital através do “feedback” fornecido pela televisão.

O aumento da atividade eletromiográfica no eretor daespinha pode ter ocorrido devido aos indivíduos estaremcom seus joelhos imobilizados para manutenção da posturano equipamento e, ao mesmo tempo, realizarem somentea extensão do quadril, mantendo o tronco ereto,necessitando assim de uma ação importante do músculoeretor da espinha como já citado anteriormente, atividadeesta enfatizada ainda mais na tentativa de redução domomento flexor, como relatado por Hart e col. (6), queafirmaram este fato analisando a postura lombar emtrabalhadores durante o levantamento de peso.

Ao analisar a atividade do músculo eretor da espinhado lado direito, verifica-se que existe uma diferença nolevantamento e abaixamento dos 25% da carga máxima,sem o uso do cinto pélvico, onde a maior atividade doeretor da espinha ocorreu durante o levantamento destepercentual de carga em função de que neste existe umacontração concêntrica, fato que diminui as condiçõesmecânicas de produção de força muscular; neste sentido,o presente resultado concorda com Smith et al. (14, 15) quese refere à existência de um estímulo excessivo da cargasobre os componentes elásticos durante este tipo decontração e que toda a energia de contração muscularestá sendo dirigida na tentativa de aproximação da origemda inserção, promovendo assim um aumento da atividadeo que concorda com os achados de um estudoeletromiográfico realizado por Jonsson (8) o qual pesquisouo músculo eretor da espinha na região lombar durante oabaixamento e verificou que neste existe um relaxamentodos músculos eretores da espinha, enquanto que naextensão resistida do tronco, o músculo apresentou umaumento da atividade eletromiográfica.

Ao analisar a atividade eletromiográfica do músculoeretor da espinha do lado direito e esquerdo, durante olevantamento e abaixamento dos 15%, 25% e 50% dacarga máxima, com e sem o uso de cinto pélvico, verifica-se que a atividade eletromiográfica, embora não apresentediferença significativa, predominantemente diminui como uso do cinto pélvico. Udo & Yoshinaga (17), relataramuma diminuição da atividade eletromiográfica com o uso

do cinto, onde os voluntários com exercícios de baixafreqüência e a tensão pelo uso do cinto, oferece umefeito reverso na atividade eletromiográfica, que estáintimamente ligado às características da população aquiestudada.

Bearn (1961) relata que ao aumentar a pressão intra-abdominal existe um aumento da atividade dos eretoresda espinha, justificado pela tendência a flexionar acoluna durante este padrão de movimento, contrárioaos achados de Lander (10) que examinou o efetivo usodo cinto pélvico durante as múltiplas repetições deexercícios de levantamento examinando o músculoeretor da espinha em duas condições, com e sem o usodo cinto e verificou que este aumentou a pressão intra-abdominal e que não houve outras alterações com ouso do cinto nas oito repetições. Com esta observaçãode diminuição da atividade eletromiográfica com o usode cinto, verifica-se através de estudos como o deHodgson (7) e Creeswell & Thoertensson (1994) que ouso do cinto pode diminuir a carga na coluna vertebraldurante o levantamento manual de carga; diminui acompressão nos discos intervertebrais; aumenta a pressãointra-abdominal; atua na proteção da coluna, mesmolimitando o movimento da coluna no levantamentomanual de carga.

Verificou-se que na carga de 50% a atividade eletro-miográfica do músculo eretor da espinha aumentou, poishouve necessidade em manter o tronco na postura eretaaté o momento em que o indivíduo coloca-se na posturaortostática. Esta atividade ocorre também em função domúsculo eretor da espinha estar mantendo o tronco eretoe estabilizado durante toda trajetória do levantamento,como descrito por Winters e Woo (18) que verificaram aatividade do eretor da espinha até o tronco atingir apostura ereta, com uma maior atividade nos extremosdeste movimento.

CONCLUSÕES

Quanto ao comportamento cinesiológico, osmúsculos eretores da espinha do lado direito e esquerdoem todas as fases apresentaram aumento da atividadeeletromiográfica à medida que se aumenta aconcentração da carga independente do uso ou não docinto pélvico.

A fase de levantamento é aquela que desenvolvemaior atividade eletromiográfica nos músculos eretoresda espinha do lado direito e esquerdo em relação aoabaixamento.

O uso do cinto não apresenta efeito sobre a atividadeeletromiográfica dos músculos eretores da espinha dolado direito e esquerdo, durante o levantamento eabaixamento dos 15%, 25% e 50% da carga máxima.

A R T I G O S E O R I G I N A I S

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200332

S

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Correspondência para / correspondence to:

Prof. Msc. Augusto César Ferreira Gauglitz:e-mail: [email protected]

Prof. Dr. Mauro Gonçalves:e-mail: [email protected]

33Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

RBCSRBCSRBCSRBCSRBCS

A importância da natação na adaptaçãocardiovascular: uma questão de qualidade?

The importance of swimming upon cardiovascularadaptation: an approach to quality of life?

* Docente do Curso de Educação Física - IMES e UNISA(LAPHENE)** Faculdade de Educação Física, Ribeirão Pires, São Paulo

Carlos Alexandre Felicio Brito*, Roseli de Moraes** e Fernanda A. Ferreira**

R E S U M O

Este estudo teve como objetivo identificar as diferençaspossíveis entre os nadadores adultos, de ambos os sexos,na adaptação cardiovascular e de alguns parâmetroscinemáticos utilizados na prática da natação sistematizada.Foi observado, após a metodologia aplicada, umaadaptação cardiovascular melhor para o sexo feminino

nos momentos de recuperação (FC1 e FC2). Este resultadossugerem que o grupo feminino mencionado estava melhormais adaptado neste parâmetro investigado e discutido.

Palavras-chave: natação, adultos, adaptaçãocardiovascular

A B S T R A C T

This study had the objective to identify the possibledifferences between female and male swimmersconcearning the cardiovascular adaptation and somekinematics (biomechanics) patterns used in the practiceof systematic swimming . After the application of thismethodology we observed a better cardiovascular

adaptation of the females in the recuperation moments(FC1 and FC 2). These results suggest that the mentionedfemale group was better adapted to the studied anddiscussed pattern

Keywords: swimming, adults, cardiovascular adaptation

A R T I G O S E O R I G I N A I S

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200334

SINTRODUÇÃO

A “qualidade de vida” é hoje em dia um dos temasmais comentados, quer seja pelo meio acadêmico oupelas pessoas que compreendem que a atividade físicapode beneficiar ou promover a saúde.

Mas, para entendermos esta relação (qualidade devida x atividade física) devemos, inicialmente, definir eesclarecer o verdadeiro significado do que seja para nóso fenômeno esportivo no início deste milênio. E nestesentido, a atividade física se difere do exercício e doesporte. Portanto, segundo Matsudo in: Moreira eSimões (2000) (4) a “atividade física é qualquer movi-mento corporal produzido pelos músculos esqueléticosque resultam em gasto energético; exercício é umasubcategoria da atividade física planejada, estruturada erepetitiva, que resulta na melhora ou na manutenção deuma ou mais variáveis da aptidão física; e esporte é umaatividade que envolve competição e o seguimento dedeterminadas regras” (p.63).

Se observarmos o que foi exposto pela definiçãosobre atividade física, iremos notar que: há diferençassignificativas quanto à prática do movimento humano eque isto poderia mudar completamente os objetivosdaquelas pessoas que se envolvem em programasestabelecidos que são oferecidos em nossa sociedade.

Devemos justificar que a qualidade de vida, nemsempre, segundo algumas instituições, consideram quepara promover a saúde não haveria a necessidade dehoras e horas de exercícios intensos (Organização Mundialda Saúde - OMS; Colégio Americano de MedicinaEsportiva - ACSM; Federação Internacional de MedicinaEsportiva - FIME; Conselho Internacional de Ciências doEsporte e Educação Física - ICSSPE; dentre outros).

Na semana que se iniciou, no Instituto Municipal deEnsino Superior (IMES) - Centro Universitário de SãoCaetano do Sul, nos dias 9 a 13 de Setembro de 2002,nos esforçamos para discutir a respeito da prática daatividade física e sua possível contribuição às doençascrônicas degenerativas. Neste momento, em especial,tentarei abordar a importância do exercício na adaptaçãocardiovascular para ambos os sexos, em adultospraticantes da modalidade natação, em uma academiada região do Grande ABC e espero, desta forma,contribuir para o campo do conhecimento nas Ciências

do Esporte, enfatizando o significado e a importânciade nos mantermos ativos.

Portanto, este estudo teve como objetivo identificaras possíveis diferenças entre os nadadores adultos, deambos os sexos, na adaptação cardiovascular e de algunsparâmetros cinemáticos utilizados na prática da nataçãosistematizada.

MATERIAL E MÉTODO

Seleção dos sujeitosInicialmente devemos agradecer a academia de

ginástica e natação, localizada em São Bernardo doCampo na grande São Paulo, denominada “Tem Esporte”.O professor Carlos Galvani foi quem, gentilmente, nosajudou a realizar a coleta das informações necessáriaspara que este estudo pudesse ser realizado.

As características antropométricas estão descritas natabela 1. Os valores estão expressos em valores absolutospela análise descritiva (média aritmética e o desviopadrão).

Tabela 1. Idade (anos), peso (kg) e estatura (cm) do grupo denadadores de ambos os sexos, sendo expresso emmédia aritmética e desvio padrão

* p ≤ 0,05 entre os sexos feminino em relação ao masculino.Os nadadores participaram de 3 (três) sessões semanais com duraçãode 90 (noventa) minutos em cada uma delas.

Grupo Idade (anos) Peso (kg) Estatura (cm)Feminino 24,5 ± 6,02 63 ± 11,5 163,25 ± 9,42(n=4)Masculino 29 ± 4,93 66,16 ± 11,56 172,2 ± 6,49(n=6)

Tabela 2. Velocidade submáxima (m/s), Freqüência de braçadas (br.s-1) e Amplitude de braçadas (m.br-1) dos nadadores deambos os sexos, sendo expresso pela média aritmética e desvio padrão

Grupo Velocidade Freqüência Amplitude Velocidade Freqüência Amplitude(m/s) (br.s-1) (m.br-1) (m/s) (br.s-1) (m.br-1)

Feminino 0,96 ± 0,17 1,12 ± 0,41 0,9 ± 0,18 0,92 ± 0,17 1,12 ± 0,38 0,86 ± 0,17Masculino 0,86 ± 0,09 0,9 ± 0,13 0,83 ± 0,11 0,86 ± 0,07 0,9 ± 0,14 0,91 ± 0,14

* p ≤ 0,05 entre os sexos feminino em relação ao masculino.

MétodoPara determinação da velocidade submáxima foi

utilizado a velocidade encontrada no teste de 10 (dez)minutos (T-10, Brito, 1998) (1) - controle este realizadopelo professor, portanto esta velocidade já foiestabelecida anteriormente no momento da pesquisa.

Os valores encontrados após o teste de 200 metrospara determinação da velocidade submáxima estãodescritos na tabela 2. Pode-se observar que forammensuradas duas velocidades que representam aprimeira parte do trecho da piscina nos 75 metros e aos150 metros finais, respectivamente.

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Grupo FC0 FCF FC1MIN FC2MIN

Feminino 75 ± 8,7 136,2 ± 14,9 102,2 ± 9,9 92,5 ± 14,1Masculino 80,6 ± 16,5 150,8 ± 17,7 118,8 ± 12,6* 107,1 ± 7*

Tabela 3. Freqüência cardíaca inicial (FC0), final (FCF), após um minuto (FC1MIN) e após dois minutos (FC2MIN) do esforçosubmáximo em ambos os sexos, expresso pela média aritmética e desvio padrão

* p ≤ 0,05 entre os sexos feminino em relação ao masculino

Na tabela 3, está descrito o comportamento quantoà adaptação do sistema cardiovascular durante o testesubmáximo sendo realizado com auxilio dofreqüencímetro, da marca Polar. Os valores foramcoletados antes do início do exercício, ao final e emdois momentos após esforço, sendo todos realizadosna posição sentada.

Análise dos resultados

Os resultados foram analisados pela estatísticadescritiva (média aritmética e desvio padrão), t-Studentspara amostras não pareadas e utilizou-se do programaGraphPad Instat Tm V2 de 1990-1993 para verificaçãodas possíveis diferenças. Adotou-se como probabilidadeo valor de p=0,05 ou de 5% como valor de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Embora a literatura especializada (Maglischo, 1999) (3)

comente que há diferenças significativas nas implicaçõesfisiológicas para o trabalho no exercício físico aeróbico,entre nadadores, de ambos os sexos, as mulheres podemtrabalhar dentro das mesmas metragens semanaisdurante todo o decorrer de suas vidas. Porém, quandocomparadas aos homens, há mudanças que devemosacompanhar durante o processo do envelhecimento e,portanto, poderiam implicar numa menor adaptaçãodeste sistema.

Maglischo (1999) (3) comenta que a capacidadeaeróbica é acompanhada de algumas alterações noconsumo de oxigênio, no limiar anaeróbico, glicogêniomuscular e no metabolismo das gorduras. Isto ficaevidente principalmente a partir dos 30 anos de idadeem ambos os sexos, fundamentalmente em pessoas quenão praticam exercício físico. Podemos citar, comoexemplo, a redução da freqüência cardíaca de 10batimentos por minuto em média, a cada 10 anos, a partirdos 40 anos de idade. Esta adaptação é consideradanatural pelos especialistas, porém a atividade física podepromover algumas alterações que possam favorecer noprocesso da longevidade; mas não de evitá-las.

Em nosso estudo, tivemos como objetivo principalacompanhar as adaptações cardiovasculares após arealização do teste submáximo em nadadores de ambosos sexos. Inicialmente, podemos observar na tabela 3,o comportamento da Freqüência Cardíaca Inicial (FCI),Freqüência Cardíaca Final (FCF), Freqüência Cardíaca

após 1 minuto de esforço (FC1) e, finalmente, aFreqüência Cardíaca após 2 minutos (FC2).

Podemos observar que houve uma tendência emtodos os momentos descritos anteriormente que o sexofeminino foi inferior cerca de 7,5%, 10,7%, 16,2% e15,7%, respectivamente, quando comparamos os sexosfeminino em relação ao masculino, porém só foram

encontradas diferenças significativas nos momentos apóso esforço em FC1 e FC2 (p=0,0585, t = 2,205). Osvalores encontrados foram os mesmos no t-Students paraamostras não pareadas.

Uma possível explicação para este comportamentopode ser pelas diferenças encontradas na densidadecorporal que, segundo Onodera et alli (1999), aoanalisarem o custo de energia despendido durante anatação, puderam observar uma redução no consumomáximo de oxigênio e na redução da freqüênciacardíaca quando há uma melhor flutuação por partedos nadadores. Em nosso caso, especificamente, nãorealizamos o cálculo da densidade corporal, porémpodemos observar na tabela 1 que há diferenças nopeso corporal (5%, Não Significativo - N.S.) e na estatura(5,5%, N.S.) que poderia inferir numa possível vantagemdo sexo feminino no que diz respeito à adaptaçãocorporal para a flutuação.

A resposta cardiovascular, durante o exercíciomoderado na água, pode ser acompanhada durante oprocesso de recuperação - em nosso caso, nosmomentos FC1 e FC2. Para tanto, mencionaremos apesquisa realizada por Matsui et alli, (1999) (5), quetiveram como objetivo investigar a adaptaçãocardiovascular e as possíveis relações existentes entreFC, Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Pressão ArterialDiastólica (PAD), a Ativação do Sistema NervosoSimpático (ASNS) e Ativação do Sistema NervosoParasimpático (ASNP) durante o exercício físico na águae fora dela, e no período de intervalo - recuperação,em 7 nadadores treinados, com idades de 22 anos, dosexo masculino.

Estes pesquisadores concluíram que a pressão arteriale a freqüência cardíaca na água é favorecida pelo retornovenoso, sendo induzida pela pressão hidrostática e nãopelas mudanças ocorridas pela ASNS e ASNP.

Um outro fato interessante diz respeito à adaptaçãodo exercício realizado em hipóxia. Esta situação deextrema falta ou de uma menor quantidade de oxigênio

A R T I G O S E O R I G I N A I S

aúde

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Spara um determinado esforço é utilizada na nataçãocomo uma estratégia para aumentar a capacidade dotrabalho aeróbico, muito embora seja desnecessáriorealizarmos este tipo de trabalho para pessoas quefreqüentam uma academia ou em outro lugar para aprática desta modalidade.

Também, gostaríamos de mencionar uma pesquisafeita por Volkov e Smirnov (1999) (7), que tiveram comoobjetivo verificar e analisar o efeito da aplicaçãocombinada de 4 tipos de intervalos exercícios na bicicletaem nadadores de alta habilidade. Os pesquisadorespuderam observar, em condições laboratoriais, após 4semanas de trabalho, que os índices desta capacidadeaumentaram significativamente e que, portanto,poderiam implicar numa melhora da capacidadeaeróbica dos nadadores.

Foi possível verificar também que, em todos osmomentos, as mulheres nadaram em velocidade superiorquando comparados aos homens (tabela 2). Podemosobservar que no primeiro trecho dos 75 dos 200 metrosdo teste submáximo, o grupo feminino nadou a umavelocidade de cerca de 10,4% (N.S.) superior ao sexomasculino e esta foi mantida até o final do teste (nos 150metros, 6,5%, N.S.). Este fato contradiz a literatura devidoàs evidências apontarem para um valor na mesma taxasubmáxima em ambos os sexos, superior para os homens.Isto poderia ser explicado, segundo Maglischo (1999) ,devido às mulheres terem 50% menos de força absolutanos membros superiores, quando comparadas aoshomens, entretanto a força relativa é semelhante paraambos os sexos. O mesmo pesquisador considera que aforça dos membros superiores, na natação, é cerca de60-70% responsável pela ação propulsora (movimento)dependendo do nado a ser analisado.

A força específica do nado pode ser observada natabela 2, pelo indicador denominado Amplitude deMovimento (Am = m.br-1). A Amplitude de Movimentopode ser definida como sendo a força horizontal exercidapelo nadador numa determinada distância expressa em

metros. Esta força é a capacidade de locomover-se noplano horizontal, ou seja, quanto maior, melhor será acapacidade do nadador de se sustentar na água (forçachamada de Lift, GRIMSTON e HAY, 1986) (8).

Portanto, pode-se observar que nos trechos avaliadosde 75 metros, o sexo feminino foi superior em 7,7%(N.S.) e nos 150 metros houve uma redução de cercade -5,8% (N.S.) quando comparado ao sexo masculino,no teste de 200 metros.

Esta redução pôde ser observada neste caso mais porfalta de um instrumento preciso, utilizado em nossaproposta de investigação, do que um ajuste no movimentodurante o teste. Justificamos, portanto, este fato quandoacompanhamos o ritmo dos nadadores sendo observadospelo indicador da Freqüência de Movimento (Fr = br.s-

1). A Fr em todos os momentos, 75 e 150 metros, foisuperior em cerca de 19,6% (N.S.) quando comparadoao sexo feminino em relação ao masculino; muito emboraalguns estudos indiquem que a Fr é maior no sexomasculino e para tanto, Keskinen e Komi (1993) (2) aoexaminarem as diferenças entre as características de nadonas suas diferentes fases, observaram algumas relaçõesque poderiam mudar quando relacionadas à intensidadedo exercício. Os pesquisadores tiveram comoprocedimento metodológico a mensuração em duasdistâncias: 400 metros e 100 metros nado livre. Foramcoletadas a V, Fr e a Am. Dentro dos limites desteexperimento, os autores concluíram que os nadadores,em diferentes velocidades, conseguiam nadar com maiorAm. Um fato interessante é que a Fr seria determinada,primariamente, pela manutenção da ativação neural.

Embora os resultados possam fazer parte de umaminoria da população, ou seja, nadadores que tem oprivilégio de poderem estar praticando a natação numambiente como o que foi exposto anteriormente nametodologia, acreditamos que estes resultados possamcolaborar para futuras investigações na adaptaçãocardiovascular.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS1. Brito CAF. O aumento de 5% da potência aeróbica induz

a um aumento de 3% na velocidade máxima denadadores de 11 à 13 anos de idade (Resumo). In:Simpósio Metropolitano da Atividade Física; 1998 Mai29-31; São Paulo (SP): FMU; 1998.p.125.

2. Keskinen KL, Komi PV. Stroking characteristics of fontcrawl swimming during exercises. Journal of AplliedBiomechanics 1993;9:219-26.

3. Maglischo EW. Nadando ainda mais rápido. São Paulo:Manole; 1999.

4. Matsudo VKR. Sedentarismo, vida ativa e qualidade devida. In: Moreira WW, Simões R. Fenômeno esportivo e oterceiro milênio. Piracicaba (SP): UNIMEP; 2000.p.63-71.

5. Matsui T, Miyachi M, Saito T, Nakara H, Koeda M,Hayashi N, Onodera S. Cardiovascular responses during

moderate water exercise and following recovery. In:Biomeechanics and Medicine in swimming VIII.Departament of Biology of Physical Activity, University ofTyväskylä, Jyväskylä, Jyväskylä,Finland; 1999.p.345-50.

6. Onodera S, Miyachi M, Yano H, Yano L, Hoshijima Y,Harada T. Effect of buoyancy and body density on energycost during swimming. In: Biomechanics anda Medicinein Swimming VIII. Departament of Biology of PhysicalActivity, University of Jyväskylä, Jyväskylä, Finland;1999.p.355-8.

7. Volkov N, Smirnov V. Intermitent hypoxia and intervalhypoxic training in swimming. In: Biomechanics andMedicine in Swimming VIII. Departament of Biology ofPhysical Activity, University of Jyväskylä, Jyväskylä, Finland;1999.p.369-74.

8. Grimston SK, Hay JG. Relation ships among anthropometricand stroking characteristics of college swimmers. Medicineand Science in Sports and Exercise 1986;18(1):60-8.

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A R T I G O S D E R E V I S Ã OEDUCAÇÃO FÍSICA

Osteoporose: causas, conseqüências e o papel doexercício físico na integridade óssea

Osteporosis: Causes, consequences and physicalexercise role on bone integrity.

* Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas - UniFMU** Centro Universitário Municipal de São Caetano do Sul - IMES

Luciano Pontes Jr.**; Charro, Mario Augusto Charro**; Reury Frank Bacurau*;Maria Cristina Mutarelli e Francisco Navarro*

A B S T R A C T

Nowadays, approximatelly 2,5 millions of individuals withosteoporosis and every year 105 thousands fractures arereported. This problem is present mainly after menopausebecause there is an exacerbation of osteoporosis in thisperiod. Factors like white color, low stature, low adiposity,poor content of calcium in diet, sedentary lifestyle,utilization of some medicines, early occurence ofmenopause and lack of hormonal therapy are consideredrisk factors for osteoporosis. Physical activity stimulates

bone tissue due increased load and thus constitute a formto promote calcium incorporation in bones. However,the stimulus must be of high intensity because the lowintensity stimulus (load of low intensity) increases calciumreabsorption. Besides intensity, frequency which load isadministrated constitute an importante factor to increasecalcium depositon and bone mass maintenance.

Keywords: osteoporosis, physical activity, bone tissue

R E S U M O

Existem no Brasil, atualmente, cerca de 2,5 milhões deindivíduos com osteoporose e cerca de 105 mil fraturasdo quadril são registradas anualmente. A osteoporose éacentuada com o início da menopausa. Fatores comocor branca, baixa estatura, reduzida porcentagem degordura corporal, conteúdo reduzido de cálcio na dieta,sedentarismo, utilização de alguns tipos de medicamento,histórico familiar, ocorrência precoce da menopausa eausência de reposição hormonal são considerados derisco à osteoporose. O aumento da sobrecarga sobre o

esqueleto por intermédio de atividades físicas é umaforma de estimular a deposição de cálcio nos ossos. Oestímulo entretanto deve ser elevado uma vez que sóesses promovem aumento da formação osséa e reduçãona reabsorção enquanto que sobrecargas de baixaintensidade promovem o contrário. Além da intensidade,a freqüência de administração da sobrecarga bem comosua manutenção permitem a preservação da massa óssea.

Palavras-chave: osteoporose, exercício físico, tecidoósseo

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aúde

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SINTRODUÇÃO

O esqueleto humano tem três funções primárias:suportar sobrecargas contra a gravidade e ajudar nalocomoção por favorecer os locais de fixação dosmúsculos, em segundo lugar o osso age como barreirade proteção para os órgãos vitais e medula óssea e,finalmente, serve como um reservatório de mineral quemantém as concentrações sangüíneas de cálcio e fósforoquando necessário. O esqueleto pode ser dividido emapendicular (periférico) e axial (central). O esqueletoapendicular compreende aproximadamente 80% damassa esquelética total e consiste de osso cortical(compacto), aproximadamente 80 - 90% do volume totalde osso está calcificado. Por outro lado, o esqueletoaxial apresenta uma alta porcentagem de osso trabeculare apenas 15 - 25% do volume do osso trabecular estácalcificado e é metabolicamente mais ativo do que oosso cortical e, conseqüentemente, exibe uma grandefreqüência de turnover (renovação) (31). O osso está sub-metido a um processo dinâmico de quebra (reabsorção)e renovação (formação) chamado de remodelação. Aproposta da remodelação é manter a integridademecânica do tecido ósseo. Os osteoclastos (célulasmultinucleadas) desgastam regiões da superfície óssea,criando cavidades de reabsorção. Dentro das cavidades,os osteoblastos (células formadoras de osso) secretam amatriz de colágeno que por sua vez se tornamineralizada. A hipótese é que este processo éineficiente no esqueleto adulto e que pequenos déficitspermanecem na formação óssea durante o ciclo deremodelação. O acúmulo desses déficits podem serparcialmente responsáveis pela perda da massa óssearelacionada à idade e à atividade, relativamente maiora de turnover do osso trabecular predispõe a uma maiorfreqüência de perda do que o osso cortical e, destemodo, à fraturas.

A osteoporose é definida como uma doençaesquelética sistêmica caracterizada por uma diminuiçãoda densidade óssea e deteriorização da microarquiteturado tecido ósseo insuficientes para a sustentação, comconseqüentes aumentos na incidência de fraturas (2, 3, 5,

11, 13, 38, 40, 42), sendo a perda da massa óssea provocadapor um desequilíbrio entre a reabsorção e a formaçãoóssea durante o contínuo processo de remodelação. Apredominância dessa desordem entre os indivíduosidosos é duas vezes maior em mulheres do que emhomens; e as fraturas são mais freqüentes na coluna, noquadril, colo do fêmur e pulso (40, 42), sendo a fratura dequadril considerada de maior impacto na qualidade devida do portador da osteoporose, como a perda daindependência, imobilidade prolongada e, em casos

extremos, a morte, devido à falha múltipla dos sistemas.Segundo Cooper (7), em seu estudo com homens emulheres britânicos, existe um aumento exponencial naincidência de fratura de quadril com a idade em ambosos sexos, embora essa incidência seja maior nas mulheres(80%) resultando em metade de todas as fraturas emindivíduos acima de 80 anos. Estes achados estão emconcordância com o estudo realizado na populaçãooriental, (31) sendo essa condição muito menos freqüentena população negra. Dados do Brasil (34) demonstramque 2,5 milhões de indivíduos apresentam osteoporose,com diagnóstico de 105 mil fraturas de quadril ao ano.A perda da massa óssea tende a ser mais acentuada nosprimeiros anos de instalação da menopausa. Assim, adeficiência estrogênica representa fator de riscoindependente no desenvolvimento da osteoporose.Mulheres, em geral de raça branca, baixa estatura emagras, com história familiar, menopausa precoce eausência de terapia de reposição estrogênica sãoconsideradas fatores de risco para osteoporose. Outrosfatores podem acelerar a perda óssea, porém sendopassíveis de controle, como: fatores nutricionais,sedentarismo e outros hábitos de vida. Algumasdoenças e o uso de medicações também se associam aosteoporose (36).

Osteoporose e menopausa

A organização mundial de saúde define menopausacomo sendo a interrupção da menstruação resultantedo término da atividade folicular ovariana e aperimenopausa (ou climatério) como sendo o períodoem que se iniciam as manifestações endócrinas e clínicasimediatamente anteriores à menopausa e que se estendeaté o final do seu primeiro ano (1). A pós-menopausa é aépoca que começa a partir da menopausa, desde quetenha sido observado 12 meses de amenorréiaespontânea.

Fonseca (14) e colaboradores encontraram uma médiade 48,1 anos para o aparecimento da menopausa emmulheres brasileiras, e que 74,8% das mulheresapresentaram menopausa por volta de 50 anos oumenos, e 25,2% apresentaram com 51 anos ou mais.

Da puberdade até a idade adulta, os hormôniosreprodutivos assumem um papel fundamental noamadurecimento folicular com seleção do folículodominante, secreção apropriada de estrogênios,ovulação e adequada função lútea, observada nos anosreprodutivos, decrescendo gradualmente nos anos pré-menopausais, até que a amenorréia pós-menopausalesteja estabelecida, isto é especialmente evidente emmulheres jovens com disfunção do ciclo menstrual e namulher com menopausa precoce (30, 37). O FSH aumenta

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alguns anos antes da menopausa junto com umadiminuição de estradiol e progesterona. Segundo Lenton(28); Khaw (23) esse aumento no FSH acontece por voltados 40 anos de idade, com aumento mais significativoa partir dos 48 anos e o LH aumentando por volta dos46 anos de idade. Após a menopausa, as concentraçõesde FSH podem aumentar de 10 a 15 vezes, comparadascom mulheres jovens. O LH atinge uma concentraçãotrês vezes maior do que o normal na menopausa. Essasalterações parecem ser desencadeadas por hipofunçãoovariana que o torna menos responsivo às gonado-trofinas. A produção decrescente de estradiol, inibe aretroalimentação negativa dos estrogênios no eixohipotálamo - hipófise provocando aumento das gona-dotrofinas, provocando diminuição de fertilidade,alterações nos ciclos menstruais e amenorréia.

Por outro lado, Dilman (8) e Reyes (39) não acreditamque a retroalimentação negativa se deva à diminuiçãoda secreção estrogênica ovariana porque encontraramaumentos na concentração de estradiol na fase folicularinicial e tardia com o aumento da idade. Eles acreditamnuma diminuição da sensibilidade de todo o sistemaneuroendócrino. Embora não seja totalmente conhe-cido, o mecanismo da menopausa, a diminuição naconcentração de estrogênios está intimamente relacio-nada com a osteoporose pós-menopausal. Eriksen (12) eKomm (24) verificaram a presença de receptores paraestrogênios, progesterona e androgênios em célulasósseas humanas. Tem sido proposto que os hormôniosreprodutivos tenham um papel permissivo no aumentoda massa óssea (formação). Além do mais, esses autoresnão acreditam que uma carga adicional de exercíciopossa neutralizar os efeitos negativos do hipoestro-genismo observados em mulheres amenorréicas e commenopausa precoce.

Como citado anteriormente, o climatério corres-ponde à fase de vida da mulher em que é observado atransição entre o período reprodutivo e o não repro-dutivo. Tem início por volta dos 40 anos, terminando emtorno dos 50 anos. Nesse período ocorre a meno-pausa, representada pela última menstruação emdecorrência da interrupção da função ovariana. Asalterações fisiológicas características desse períodorelacionadas à perda da atividade folicular e deficiênciaestrogênica progressiva podem ser observadas a curto,médio e longo prazo, entre elas o surgimento daosteoporose (48). Na osteoporose, os sintomas aparecemquando a reabsorção e a fragilidade óssea estãoacentuadas e onde a dor constitui-se no principal sintoma.A massa óssea na perimenopausa, a insuficiência ovarianaperimenopausal e pós - menopausal e idade acima de50 anos são os principais fatores responsáveis pela

incidência de 30% de osteoporose nas mulheres pós -menopausais (10). A organização mundial de saúde propôsum limiar de densidade mineral óssea em mulherescaucasianas baseado no escore - t. O escore entre -1 até- 2,5 significa massa óssea diminuída ou osteopenia. Oescore de - 2,5 ou menos significa osteoporose.Osteoporose estabelecida é definida como um escore tde - 2,5 ou menos com uma ou mais fraturas porfragilidade óssea documentadas, geralmente no pulso,coluna ou quadril (21).

Exercício físico e osteoporose

Uma mudança deletéria ocorre na massa ósseaquando a sobrecarga que age no esqueleto é eliminadaou diminuída. O estudo realizado por Leblanc (27)

demonstrou que a massa óssea foi diminuída emindivíduos saudáveis que permaneceram no leitodurante 17 semanas. Foram encontradas reduçõessignificantes em todos os locais estudados (cabeça dofêmur, trocanter maior e coluna lombar), -3,6%, -4,6%e -3,9% respectivamente. Em algumas situações, aosteoporose é descoberta quando ocorre a primeirafratura espontânea. Em estudo mais recente Zerwekh(50) examinou os efeitos de 12 semanas de repouso noleito na massa óssea, histologia, marcadores bioquímicosdo “turnover” ósseo em nove homens e duas mulheres,com idades variando entre 20 a 53 anos. Ele observoudiminuição da massa óssea na cabeça do fêmur -1,1%,trocante maior -3,8% e coluna lombar -2,9%, além deaumento nos marcadores bioquímicos de reabsorçãoóssea que permaneceram elevados após 12 dias, emcontrapartida os marcadores de formação óssea nãosofreram mudanças significantes, sugerindo que asobrecarga mecânica é necessária para manter umaapropriada relação entre reabsorção e formação. ITO etal (19) encontrou também diminuição da massa óssea datíbia após a cirurgia do quadril e concluíram que énecessário mais de um ano para recuperar a massa óssea.A teoria da distribuição de tensão aplicada ao osso sugereque a tensão provocada pela locomoção das atividadesdiárias não é efetiva na promoção da formação da massaóssea. A tensão para causar resposta adaptativa é aquelaem que as células ósseas não estão acostumadas (26). Oexercício físico transmite sobrecarga mecânica aoesqueleto por meio da força gravitacional e pela traçãomuscular nos locais de união com o mesmo ou porinfluenciar a massa óssea, por causar compressão ousobrecarga, isto causa uma deformação temporária(tensão) no osso que por sua vez estimula sua formação.Esta resposta parece ser proporcional à sobrecargaaplicada (45). A proposta desta resposta parece fazer partede um mecanismo homeostático que ajuda na

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Sdeformação óssea (sobrecarga mecânica dentro delimites estreitos). Altas sobrecargas provocam umaumento na formação óssea e diminuição na perda, ebaixa sobrecarga provoca uma diminuição na formaçãoe aumento na reabsorção (15).

Os estudos realizados em animais por Turner (47)

suportam o conceito que o osso atua como um sensorde cargas mecânicas, ou seja, capaz de percebersobrecargas e se adaptar às mesmas. O autor afirma aindaque à relação tensão - deformação óssea é complexamas que a adaptação óssea à sobrecarga é determinadapor três regras básicas: 1) a sobrecarga dinâmica pareceser mais efetiva do que a estática; 2) apenas umasobrecarga mecânica de curta duração é necessária parainiciar uma resposta adaptativa; 3) a capacidade dotecido ósseo em responder ao estímulo num períodode tempo é saturado por poucos ciclos de sobrecarga,ou seja, as células ósseas acomodam - se a uma tensãohabitual, fazendo com que elas respondam menos àrotina de sobrecarga. A aplicação dessas regras básicasna prática, ou seja, durante o exercício físico deve incluirmovimentos que causem altas sobrecargas e altasfreqüências, isto é, elas devem ser vigorosas e rápidas.Além disso, a força aplicada precisa ter um focoespecífico para ser eficaz (49). A sobrecarga precisa serfreqüente e continuamente aplicada para que existamanutenção da massa óssea, além do mais é necessárioque exista um ajuste (aumento) periódico na carga queestá sendo aplicada no tecido ósseo a fim de que existaestímulo contínuo ao processo de remodelação óssea.Se estes achados também forem importantes para sereshumanos, deixa uma dúvida na eficácia da caminhadana promoção do aumento da massa óssea; por outrolado, espera-se que o treinamento de força estimule aformação óssea, porque envolve poucas repetições ealta intensidade.

A base para o uso do exercício como uma medidapreventiva primária e secundária na osteoporose foiinicialmente fornecida pela observação de estudostransversais em indivíduos fisicamente ativos e atletasque apresentavam massa óssea maior do que nosindivíduos de controles sedentários. Além do mais,estudos com atletas de alto nível sugerem que o efeitoosteogênico do exercício são específicos para as regiõesestressadas pela atividade, deste modo, indivíduosenvolvidos em esportes com atividade predominanteunilateral, como os tenistas, demonstraram maiordensidade óssea no braço dominante. Os corredores,por sua vez, aumentaram a massa óssea nas pernas, masnão nos braços (4, 22). Estudos realizados em grupos maisespecíficos de atletas, demonstraram que indivíduosenvolvidos em atividades que requerem muita forçamuscular e impacto (ginastas e fisiculturistas) têmdensidade óssea maior do que aqueles que participam

de treinamento de endurance (maratonistas), além disso,aqueles que participam de atividades caracterizadas porsubstancial envolvimento muscular sem ação da forçagravitacional ou impacto (nadadores) apresentam menordensidade óssea do que aqueles engajados em atividadescom o componente peso - dependente (41, 46). Estesestudos estão em concordância com os achados deMichel (33), que estudaram indivíduos participantes deexercícios regulares peso dependente ou treinamentode força e que apresentaram um conteúdo mineral ósseomais alto do que indivíduos sedentários.

Com o objetivo de avaliar a participação dotreinamento de força no ganho de massa óssea Heinrich(18); Conroy (6) encontraram maior densidade óssea noquadril e na coluna em participantes de treinamento deforça em comparação com indivíduos controles. Dadosde pesquisas longitudinal demonstram achadosequivocados nos estudos que induz sobrecarga mecânicadurante o exercício. Os resultados mostram um pequenoganho, manutenção ou diminuição da densidade óssea.As melhoras observadas na densidade óssea são muitomenores do que aquelas obtidas nos estudos transversais,os estudos que têm demonstrado significantes aumentosna massa óssea em resposta ao exercício, a magnitudede melhora tem sido pequena com média em torno de1 a 4%. Nas mulheres na pós-menopausa, a massa ósseapode diminuir por volta de 1 a 2% ao ano (35) e oexercício por sua vez pode dar uma contribuiçãoimportante na massa óssea dessas mulheres.

Michel (33) estudou indivíduos treinados (corredores)e sedentários por um período de 5 anos, ambos osgrupos apresentaram uma redução na densidade ósseada coluna lombar durante o período estudado; emboraao final do estudo os indivíduos treinados mantiveramuma maior densidade óssea do que os controles. Essesautores acreditam ainda que um volume excessivo detreinamento pode ter um efeito adverso na densidadeóssea. Sidney (43) estudou homens e mulheres com idademédia de 65 anos e que realizaram exercícios aeróbios4 vezes por semana durante 1 ano. Em contraste com odeclínio encontrado na densidade óssea por Michel (32,

33), a massa óssea era mantida durante o estudo.A densidade mineral óssea parece também sofrer

influência da intensidade do exercício. Hatori (17) estudoua densidade óssea da coluna lombar de mulheres entre45 e 67 anos durante 7 meses de exercício aeróbio dealta intensidade e encontraram um aumento nadensidade óssea naquelas que se exercitaram a 110%do limiar anaeróbio, enquanto que aquelas que seexercitaram a 80% do limiar anaeróbio, a densidadeóssea diminuiu. Em concordância com o estudo de Hatori(17), Martin e Notelovitz (29) também não encontraramdiferenças significantes na densidade óssea lombar e noantebraço em mulheres na menopausa que se exercitaram

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numa intensidade de 70 a 85% da freqüência cardíacamáxima em relação ao grupo controle. Os autoresargumentaram que a intensidade do exercício não foisuficiente para provocar alterações na densidade óssea.Em contraste, Grove e Londeree (16) não encontraramdiferenças significantes na densidade óssea da colunalombar em mulheres na menopausa submetidas aoexercício físico de alta e baixa intensidade.

Outra característica que pode influenciar a densidadeóssea é o tipo de exercício físico realizado. Em trabalhorealizado por Drinkwater (9) com mulheres no períodopós-menopausa, chegou-se à conclusão que a caminhadaem ritmo moderado pode ser suficiente para aumentar adensidade óssea e que os resultados mais satisfatóriospoderiam ser alcançados com exercícios de força e pesodependente de alta intensidade. Na mesma linha deraciocínio Krall e Dawson-Hughes (25) estudaram mulheresque caminhavam pelo menos 12 Km/ semana e possuíamdensidade óssea da região superior do tronco e densidadeóssea corporal total maior do que mulheres quecaminhavam 1,6 Km/ semana. Jorgensen (20) encontrouuma atenuação na perda de densidade óssea no ladoparalisado de pacientes acometidos de acidente vascularcerebral, submetidos durante 1 ano a um programa decaminhada. As razões para uma variedade de respostas(redução, manutenção e aumento) na massa óssea nãodeixam claro se o exercício é ineficaz ou se existiu errometodológico, o que deixa claro é que mais pesquisassão necessárias para determinar a intensidade, freqüência,duração e tipo de exercício necessários para prevenir aosteoporose.

CONCLUSÃO

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, aosteoporose é o resultado da interrupção dos ciclosmenstruais resultante do término da atividade folicularovariana e a perimenopausa (ou climatério) como sendoo período em que se iniciam as manifestaçõesendócrinas e clínicas imediatamente anteriores àmenopausa e que se estende até o final do seu primeiroano. O FSH aumenta alguns anos antes da menopausajunto com uma diminuição de estradiol e progesterona.Esse aumento no FSH acontece por volta dos 40 anosde idade, com aumento mais significativo a partir dos48 anos e o LH aumenta por volta dos 46 anos de idade.Após a menopausa, as concentrações de FSH podemaumentar de 10 a 15 vezes, comparado com mulheresjovens. O LH atinge uma concentração três vezes maiordo que o normal na menopausa. Essas alterações parecemser desencadeadas por hipofunção ovariana que o tornamenos responsivo às gonadotrofinas. A produçãodecrescente de estradiol, inibe a retroalimentação negativados estrogênios no eixo hipotálamo - hipófise provocando

aumento das gonadotrofinas, ocorrendo uma queda defertilidade, alterações nos ciclos menstruais e amenorréia.

Embora não seja totalmente conhecido o mecanismoda menopausa, a diminuição na concentração deestrogênios está intimamente relacionada com aosteoporose pós-menopausal.

Na osteoporose os sintomas aparecem quando areabsorção e a fragilidade óssea estão acentuadas e ondea dor é o principal sintoma. A massa óssea na perime-nopausa, a insuficiência ovariana perimenopausal e pós- menopausal e idade acima de 50 anos são os principaisfatores responsáveis pela incidência de 30% deosteoporose nas mulheres pós - menopausais.

O exercício físico transmite sobrecarga mecânica aoesqueleto por meio da força gravitacional e pela traçãomuscular nos locais de união com o mesmo ou por influ-enciar a massa óssea por causar compressão ou sobre-carga no osso, isto causa uma deformação temporária(tensão) no osso que por sua vez estimula sua formação.Esta resposta parece ser proporcional a sobrecargaaplicada.

O osso atua como um sensor de cargas mecânicas,ou seja, capaz de perceber sobrecargas e se adaptar asmesmas. Sendo que a relação tensão-deformação ósseaé complexa, mas que a adaptação óssea e a sobrecarga édeterminada por três regras básicas: 1) a sobrecargadinâmica parece ser mais efetiva do que a estática; 2)apenas uma sobrecarga mecânica de curta duração énecessária para iniciar uma resposta adaptativa; 3) acapacidade do tecido ósseo em responder ao estímulonum período de tempo é saturado por poucos ciclos desobrecarga, ou seja, as células ósseas acomodam-se a umatensão habitual fazendo com que elas respondam menosa rotina de sobrecarga. A aplicação dessas regras básicasna prática, ou seja, durante o exercício físico, deve incluirmovimentos que causem altas sobrecargas e altasfreqüências, isto é, elas devem ser vigorosas e rápidas.

As melhoras observadas na densidade óssea sãomuito menores do que aquelas obtidas nos estudostransversais, estudos que têm demonstrado significantesaumentos na massa óssea em resposta ao exercício, amagnitude de melhora tem sido pequena com médiaem torno de 1 a 4%.

A densidade mineral óssea parece também sofrerinfluência da intensidade do exercício. Outra caracte-rística que pode influenciar a densidade óssea é o tipode exercício físico realizado. As razões para umavariedade de respostas (redução, manutenção eaumento) na massa óssea não deixam claro se o exercícioé ineficaz ou se existiu erro metodológico, o que deixaclaro é que mais pesquisas são necessárias paradeterminar a intensidade, freqüência, duração e tipode exercícios necessários para prevenir a osteoporose.

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A família vivenciando a situação de terum filho com câncer

The family’s experience towards a child with cancer

* Mestre em enfermagem pediátrica. Docente do Centro Universitário de Ensino Superior de São Caetano do Sule do Centro Universitário São Camilo

** Professora Titular da cadeira de Pediatria da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

Ana Paula Zanelatto* e Margareth Angelo**

R E S U M O

Trabalhos na área da oncologia infantil evidenciam queo aparecimento de uma doença grave e crônica como ocâncer causa um impacto desestruturador na unidadefamiliar levando os pais a adotarem ações que objetivamtanto resgatar a saúde de seu filho bem como aintegridade familiar desde os primeiros sintomas da

doença até a finalização do tratamento. Este trabalhoteve como objetivo organizar dados bibliográficos queenfocam tal experiência em uma trajetória seqüencialde eventos.

Palavras-chave: oncologia pediátrica, câncer na família,câncer infantil

A B S T R A C T

Works on pediatric oncology make evident that theappearance of a serious and chronic disease as the cancercause an impact in the family unit and that the parentscontinue adopting actions that objectify the recovery oftheir child’s health as well as the family integrity sincethe disease first symptoms to the conclusion of therapeutic

interventions. The purpose of this research was to organizea literature review related to a sequential events on childwith cancer and family participation.

Keywords: pediatric oncology, familial aggregation,childhood cancer

ENFERMAGEM

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INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, trabalhos enfocando a família vêmsendo realizados na oncologia pediátrica, buscandoentender o significado e a influência da doença para afamília.

Apesar da evolução do conhecimento nesta área noque diz respeito aos avanços tecnológicos no tratamentoda doença (tais como combinações de drogas cada vezmais efetivas, técnicas cirúrgicas, entre outros), oaparecimento do câncer em uma família desencadeiaimediatamente uma sucessão desenfreada de aconteci-mentos e mudanças, arremessando seus membros frentea decisões e responsabilidades que jamais poderiamimaginar.

Reconhecendo cada vez mais a família como elementoa ser cuidado, os profissionais que atuam em contextosde oncologia pediátrica procuram continuamenteentender as mudanças que acometem a família desde odiagnóstico até o final do tratamento do câncer na criança.Possuem necessidade de compreender os fatos quepermeiam tal vivência, objetivando oferecer e ser apoionesta trajetória.

Frente a isto, este estudo bibliográfico baseou-se nosdados da literatura na família da criança com câncer,tendo como objetivo a organização destes em categoriasarticuladas numa trajetória seqüencial de eventos quepermeiam tal experiência.

1. Recebendo a notícia do câncer na criançaO diagnóstico de uma criança com uma doença grave

e crônica como o câncer representa um impactodesestruturador na vida, ameaçando o equilíbrio pessoale bem-estar familiar. A confirmação diagnóstica originanos pais sentimentos de angústia e negação, lançando-os à procura de confirmações, submetendo a criança aprocedimentos diagnósticos em hospitais, bombar-deadas por uma série de exames invasivos e dolorosos,cercadas por pessoas estranhas e em um ambientetotalmente estranho (1, 2).

O aparecimento do câncer na criança passa a servivido pela família como um momento de “catástrofe”e de “incertezas”, trazendo sentimento de dor e culpa,momentos estressantes, repletos de medo frente apossibilidade de morte (3, 4, 9).

Alguns pais assumem reações iniciais deincredibilidade, de indagações sobre a validade dodiagnóstico, podendo levá-los à procura de outrosmédicos para novos exames, buscando “confirmaçãoda doença” ou “reversão da realidade” (2).

Quando confirmado o diagnóstico inicial, os paismobilizam-se à procura de ajuda e do melhor tratamentopara seu filho. Essa busca compromete em grandes e

repetidos deslocamentos, busca de profissionais médicosmelhores qualificados e de instituições especializadas,levando essa família, muitas vezes, a procurar ajuda emoutras cidades, na tentativa de achar o melhor lugar parasocorrer seu filho (1, 2).

Um estudo traduz essa mobilização da família e dacriança que vivenciam o diagnóstico de câncer comosendo “vivendo uma maratona” (4), define essa fase comosendo “toda a movimentação desenfreada, desesperada,realizada pela criança e pela família em busca de umaajuda”. Mesmo não sabendo o que vão encontrar pelafrente, os pais sabem que precisam encontrar um lugarseguro e confiável para o tratamento da criança, sendoossível, somente após inúmeros obstáculos vencidos etendo percorrido vários locais diferentes. O encontrodesse lugar finaliza essa caminhada, porém ele tambémrepresenta o ponto de partida para uma nova trajetória:o tratamento.

Outro aspecto relacionado com o vivenciar da famíliafrente ao diagnóstico de câncer na criança é revelado poralguns autores como uma analogia entre o diagnóstico decâncer e a morte, remetendo a família cara a cara com adoença o que significa um dano à existência de seu filho(1). Esse impacto causado na família pela possível morte dacriança, leva os pais a iniciarem a elaboração da perda dofilho com câncer, é como se já ficasse promovida pelodiagnóstico a imagem da morte da criança, a doença éanunciada como potencialmente fatal, (3, 11) .

Essa comparação entre as palavras câncer e morte éevidente em nosso dia-a-dia. Isso se deve ao fato deque durante décadas presenciávamos nossos familiaresou conhecidos que, após serem diagnosticados com umcâncer, morriam rapidamente.

Com isso, receber a notícia de que seu filho temcâncer, faz a família viver períodos de revolta, afinal essacriança sentenciada com o fantasma da morte ainda nãocumpriu as fases de seu ciclo de vida, praticamenteacabou de nascer.

2. Enfrentando o tratamentoDesde o diagnóstico inicial, os pais precisam

desenvolver uma série de enfrentamentos* para lidaremcom os eventos de mudança que começam a surgiremcausados pela doença, visto que o câncer na criançareflete uma situação não esperada dentro do ciclo devida familiar, resultando em uma instabilidade erequerendo esforços de seus membros para lidarem comessa nova situação (1, 2, 3, 9, 10).

Para que isso ocorra, as famílias envolvidas no trata-mento do câncer de seu filho utilizam a adoção deestratégias para ajudá-las na resolução de problemas quesurgem frente a estas instabilidades, objetivando amor-tecer as conseqüências negativas de fatores estressantes

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Sdeste contexto e facilitar o ajuste familiar. Porém asfamílias não conseguem criar habilidades de enfrenta-mento em um rápido instante e, sim, desenvolvem estassomente com o tempo (7).

Autores na área da oncologia infantil, afirmam quese a família não assumir tais estratégias de enfrenta-mentos nesse novo contexto cercado por constantesmudanças desencadeadoras de uma cascata de perdas,tanto materiais como pessoais, ela poderá sofrerinterferências em ajustamentos futuros de todos os seusmembros, considerando, sobretudo, que hoje o câncerinfantil assume o patamar de uma doença crônica e essafamília irá vivenciar a situação de ter um filho com umadoença grave que pode se prolongar por diversos mesesou anos (2, 5, 6, 9).

Esses enfrentamentos* iniciam-se quando os pais sedeparam com a notícia do longo período de internaçãoda criança durante a primeira fase do tratamento e comas exigências criadas pela própria doença, mobilizando-os a determinarem como irão assumir essas novasatribuições. As estratégias mais comumente adotadaspela família, neste momento, são que a mãe assuma oacompanhamento do filho no hospital, enquanto o paiou os avós e tios tomam a responsabilidade de organizaras atividades da casa e o cuidado com os outros filhos.Esta nova organização do casal influencia desarranjosno orçamento familiar, principalmente quando a mãetrabalha e participa ativamente da renda familiar (2, 5, 6).

Simultaneamente, nesse início do tratamento, os paisrenunciam o controle da situação, assumindo somenteos cuidados com a criança referentes: à alimentação,ao conforto e à socialização.

Com o passar dos dias, uma das estratégias adotadaspela maioria dos pais é a aquisição de informaçõesamplas em literatura científica, revistas, conversas comos profissionais da equipe de saúde sobre a doença emseus diferentes momentos de trajetória, incluindo otratamento, o prognóstico e as possíveis complicaçõesque podem aparecer (2, 8).

Com isso, a maioria dos pais, em pouco tempo, iden-tifica o seu “inimigo potencial”, sendo este um dosmétodos mais utilizados para lidarem com o estresse dadoença. Este conhecimento gera, em alguns pais, umsenso de controle sobre sua situação, ajudando-os aterem acesso ao tratamento, atuando como membrocolaborativo na equipe multidisciplinar nas tomadas dedecisões, tornam-se hábeis para defender em nome deseus filhos, e a reclamar algum controle que antes eleshaviam renunciado (2, 8).

Cabe ressaltar que cada membro da família enfrentao contexto da doença de um modo diferente, conformeo papel que essa pessoa desempenhe nessa família. Aatitude dos pais depende também do tipo de câncer

que em seu filho foi diagnosticado, e, em especial, doesboço do prognóstico ofertado a eles pela equipemédica, criando diferentes preocupações e requerendoadaptações singulares. Portanto, o enfrentamento estáassociado com os distintos estados de estresse,perspectiva quanto à sobrevivência e influência dos paisno tratamento (2, 7).

Os pais vão desenvolvendo, durante o longo períodode tratamento, várias estratégias de enfretamento parapoderem gerenciar as dificuldades que o contextodesencadeia objetivando manter a integridade familiar.Frente a isto, eles direcionam esforços para aspectosque dizem respeito à: brigas entre marido e mulher,dificuldades ao lidar com os irmãos sadios, problemasou assuntos que não se resolveram, dificuldades sexuaisentre o casal, problemas na renda destinada a cuidadosmédicos. Porém nem sempre esses esforços sãosuficientes para manter satisfatória as condições internasdas famílias (3, 7).

As dificuldades do relacionamento entre os paisemergem da necessidade da separação forçada do casalem decorrência do tratamento do filho, fazendo comque eles permaneçam a maior parte do tempo sozinhos,das constantes decisões a respeito do tratamento, dasresponsabilidades no cuidado com o filho doenteinserido em protocolos de tratamento cautelosos. Issose reflete em uma grande carga para a maioria dos casais,modificando a sua estrutura e expondo a criança aorisco de tornar-se o foco principal das discordânciasmatrimoniais (3, 5, 7, 9, 10).

Frente a todo este contexto descrito até agora, surgeconcomitantemente a separação dos pais dos outrosfilhos. Estes, por sua vez, percebem a turbulência dosacontecimentos, sabem que algo de errado está aconte-cendo e iniciam uma peregrinação às casas dos avós,tios e amigos, favorecendo um distanciamento, tantofísico como emocional desses filhos com o irmão doentee com os pais, induzindo-os a se sentirem desprezadosou ignorados, porque a maior atenção é direcionada àcriança doente (2, 6, 7, 10).

Outro aspecto importante inserido neste contextofamiliar é o enfrentamento dos irmãos sadios frente atodo este processo de tratamento do irmão com câncer.Um estudo específico nessa temática revelou que, namaioria das vezes, esses irmãos passam a conviver comas dificuldades do doloroso tratamento do irmão doente,mobilizam-se no auxílio dos cuidados a ele, “procurandoatuar junto aos pais no que é exigido e executando commaturidade as recomendações médicas ao irmãodoente”, gerando alterações em sua vida emocional eem suas relações dentro e fora da família. Eles, em muitassituações, assumem também as funções da casa,sobretudo quando estão no período da adolescência,

* Segundo Thoma ME; et al, 1993, enfrentamento é uma interação entre a pessoa e o ambiente que requer repetitiva avaliação cognitiva, levandopara uma ação com propósito de lidar com resolução de problemas.

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na tentativa de auxiliar à mãe que se sobrecarrega comas funções assumidas. O estudo também demonstrou adificuldade que esses irmãos apresentam em dialogarcom os pais sobre suas angústias e preocupações. Essecomportamento assumido por eles deve-se ao fato deperceberem o dilema vivido pelos pais e não quereremque seus problemas transformem-se em mais um nocontexto familiar (6).

Outros estudos que retratam as mudanças na vida dafamília em decorrência da presença do câncer, reforçama situação dos irmãos sadios descritos no trabalho acima.Os irmãos sadios podem se sentir desprezados ouignorados, porque a maior atenção é direcionada à criançadoente. O irmão ressente a atenção que a criança doenterecebe e pode, também, ser escolhido pela família paraproteger ou cuidar do irmão doente (7, 9).

Durante todo o processo de tratamento, a famíliatenta manter a integridade familiar, a cooperação entreseus membros e uma visão otimista da doença com oobjetivo de ajudar a criança em seu trajeto, juntando-se a ela, “tornando-se” ambas, família e criança, umpaciente com câncer (3, 7).

No entanto, essas famílias, muitas vezes têm queencontrar sozinhas meios para enfrentar esse contexto.Uma pesquisa elaborada por enfermeiras americanasfundamentadas em pais de crianças com LeucemiaLinfoblástica de baixo risco descreve que, após oestadiamento da doença, as crianças são encaixadas emprotocolos cuidadosamente elaborados para otratamento dos diferentes tipos de neoplasias. Graças aesses esquemas de tratamentos, o câncer infantil vematingindo índices cada vez maiores de cura. Apesar daexistência de mapas de tratamento para as neoplasias,não há protocolos para ajuda das crianças e seus paisno processo de “tornar-se” um paciente com câncer (3).

3. Convivendo com a possibilidade de morte dofilho

Pesquisas relatam que, durante o tratamento, a famíliadefronta-se a todo instante com a doença, embora muitasvezes seja invisível, o câncer lança-os diante da morte. Acada dia, a família vive momentos de incertezas, vencepequenas batalhas diárias, compartilhando com a equipede saúde mais uma vitória e inicia novamente o medodo amanhã. Percebe que, em alguns momentos,diminuem seus horizontes, impedindo-a de visualizarpossibilidades e perspectivas de vida. Vida aquela que jáhaviam planejado e desejado para seu filho, mesmo, antesde sua concepção (3, 11).

Portanto, durante o tratamento, a possibilidade decura é incerta e, a todo instante, o medo da perda dofilho ronda a família. Autores na área da oncologia infantilafirmam que esse fantasma da morte que assombra afamília permite com que os pais, na maioria das vezes,

mudem seu comportamento com a criança, superpro-tegendo-as, aceitando comportamentos agressivos dosfilhos, sem fazerem qualquer tipo de repreensão (2, 10).

Os estudos destacam que, durante todo o contextoda doença, cercado pelo medo da possível morte dacriança que vivencia o câncer, cria-se uma superproteçãodos pais ao redor do filho doente, mimando-o, fazendotodas as suas vontades, aumentando cada vez mais amaneira de expressarem seu amor, ofertando carinho eatenção a todo instante, acreditando que, assim, irãominimizar o sofrimento que a doença e as constanteshospitalizações trazem a seu filho (2, 6, 7, 10).

4. Buscando alcançar o seu objetivo: a cura dacriança

Durante todo o tratamento, os pais almejam a curado filho, lutam com todas suas armas com a equipemédica contra a doença. Nesse momento, os pais nãodão ênfase às possíveis seqüelas, visíveis ou não, quepodem surgir decorrentes do tratamento. Estudosrevelam que a sobrevivência do câncer tem causado,em muitos casos, uma segunda doença, em conseqüên-cia da utilização de tratamentos agressivos, tais como:quimioterapia, radioterapia e cirurgias. Os estudosdestacam que, entre as seqüelas, surgem: as anorma-lidades endócrinas, disfunção cardíaca, doençapulmonar, disfunção gastrintestinal, renal e hepática,disfunção neurocognitiva, infertilidade e seqüelapsicológica (12). Mas, é comum ouvirmos dos pais duranteo agressivo tratamento:

- O que importa agora é tirá-lo dessa com vida, depoispensamos nas seqüelas!

5. A finalização do tratamentoUm contínuo acréscimo de tarefas acompanha essas

famílias, ao longo do tempo de espera da cura dadoença, elas continuam a experimentar um númerogrande de eventos estressantes em suas vidas, mesmoao final do tratamento, o que demanda uma novareorganização interna de papéis dentro da própriafamília, visto que o retorno para a casa coloca essa famíliae seus membros novamente juntos, cabendo aos paisassumirem o controle do lar e dos outros filhos que, nodecorrer da doença do irmão, ficaram afastados dessecontexto. É o momento da família encarar asconseqüências da doença e do seu tratamento até omomento, tanto financeiro como na vida de todos osseus membros (9, 12).

Entendendo que a família e a criança tornam-se,juntas, pacientes após a sentença: viver o tratamentocontra o câncer, esta pesquisa buscou nos dados daliteratura, estudos que descrevessem essas dificuldadesde ajuste após o tratamento nessas famílias, e, oreencontro entre seus membros dentro do convívio

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

familiar que pudessem visualizar a compreensão damobilização dos pais para juntos “colocarem a casa emordem”, partindo do pressuposto de que toda a famíliaque vivencia o tratamento de câncer do filho, depara-sea cada dia com uma tensão crescente, mesmo ao seutérmino e que lidam com o fantasma da doença, oraretornando aos centros de tratamento para examesperiódicos de controle, ora deparando-se com as seqüelasfísicas ou não, deixadas pelo câncer em seu filho.

Valle (2) em seu trabalho realizado para descrever osaspectos psicossociais do tratamento do câncer infantil,cita autores que descrevem que a parada do tratamentoé um momento vivido com sentimentos ambivalentespela criança e sua família. “A parada da quimioterapiaenvia uma dupla mensagem: por um lado significasucesso, que o tratamento chegou ao fim e a doença foivencida; mas, por outro, sem a proteção da medicação,há um grande medo de que o câncer possa voltar”.Encarar esse novo contexto, é re-adaptar o passadosituado em torno do câncer e seu tratamento. É fazeruma análise de ganhos e perdas que, freqüentemente,vem acompanhada de exigências de restaurar o passadodoloroso. É preciso um enorme esforço para retomaraspectos da normalidade (2).

Na França, foi realizado um estudo que descreve osriscos psíquicos da cura da criança com câncer, trazendouma análise da definição, que emerge nos pais, quandorecebem a notícia da cura de seu filho após o diagnósticoe tratamento do câncer infantil, contraditória, queconsiste no não poder alegrar-se com a cura da criançaque foi diagnosticada com câncer, os pais não admitemque a criança esteja curada, pois ao receber o diagnóstico

inicial de câncer, essa criança recebeu a imagem “dadapor morta” (11). No entanto, a vivência da família atéchegar ao momento da cura não é enfocada.

Considerações finais

É necessário notar que o câncer acaba se transfor-mando em um marco na vida das famílias, há sempreum antes e um depois dessa experiência, tanto para ascoisas boas como para as ruins, tanto para transformaçõespositivas como para as negativas que ocorrem na suahistória de vida.

A utilização de estratégias pelos pais é uma temáticamuito explorada nos estudos que enfocam a oncologiapediátrica. Vários são os trabalhos os quais descrevemque a família utiliza a adoção de estratégias para ajudá-las na resolução de problemas que surgem frente àsinstabilidades causadas pelo câncer, objetivandoamortecer as conseqüências negativas de fatoresestressantes deste contexto e facilitar o ajuste e apreservação da unidade familiar (1, 2, 3, 5, 7, 8, 9, 10).

Assim, este trabalho serve como um convite para queos profissionais que atuam na oncologia pediátrica ampliemtais conhecimentos, principalmente no que diz respeito àexperiência desta família após a finalização do tratamentocontra o câncer, visto que, paralelamente, estudoscomprovam o aumento da sobrevida de crianças comcâncer. Estes mesmos estudos afirmam que 1 a cada 350indivíduos desenvolve câncer antes dos vinte anos de idadee, com o avanço tecnológico, 70% desses indivíduos sãocurados. A estimativa é que atualmente 1 a cada 900indivíduos, com idade entre 16 a 44 anos, será umsobrevivente do câncer infantil, com uma expectativa deatingir 1 a cada 250 até o ano de 2010 (2, 13, 14).

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F A R M A C I A

Leucemia mielóide crônica: estratégias terapêuticasatuais e mecanismos de Resistência

Chronic myelogenous leukemia: up-to-datingtherapeutic strategies and its resistance mechanisms

Ivanise M. M. RebecchiMestre em farmácia e bioquímica - Profª. das disciplina de citologia e hematologia clínicas UNIMEP, Piracicaba

R E S U M O

A Leucemia Mielóide Crônica (LMC) foi o primeiroprocesso neoplásico associado com uma anormalidadegenética adquirida, a translocação entre os cromossomos9 e 22 resultando no cromossomo Philadelphia. Aconseqüência dessa translocação é o surgimento de umgene híbrido, o bcr-abl, que é traduzido em uma proteínade fusão, a BCR-ABL. Essa oncoproteína apresentaatividade tirosina quinase aumentada e é responsável peloprocesso oncogênico caracterizado por inibição daapoptose celular, modificações na matriz extracelular ealterações na sinalização celular.O regime quimioterápico para o tratamento dessa doençaapresenta caráter paliativo, sendo que, muitos pacientes

não respondem adequadamente ou após algum tempodo tratamento passam a apresentar uma resposta poucosatisfatória. A falha na resposta tem sido associada amecanismos de resistência celular, dentre essesmecanismos a expressão do fenótipo de resistência amúltiplos fármacos. A expressão dos genes MDR1(multidrug resistance gene 1), MRP1 (multidrug resistanceassociated porotein 1) e LRP (lung resistance protein/majorvault protein) já foi descrita e associada com a falha naresposta aos quimioterápicos.

Palavras-chave: leucemia, mecanismos de resistência,bcr-abl, STI-571, hidroxiuréia, bussulfan, interferon alfa

A B S T R A C T

Chronic Myelogenous Leukemia (CML) was the firstneoplastic process linked to a consistent acquired geneticabnormality. The event in CML is a reciprocalchromossomal translocation in a hematopoietic stem cellbetween chromosomes 9 and 22 resulting in thePhiladelpia (Ph) chromosome. The consequence of thistranslocation is the generation of a hybrid gene, bcr-abl,that is translated into a fusion protein, BCR-ABL.The BCR-ABL fusion protein is a constitutively activatedtyrosine kinase with increased activity as compared tothe related c-ABL tyrosine kinase.The increase of the tyrosine kinase activity is required forthe transforming ability of the BCR-ABL oncoprotein.The transforming ability has been associated withinhibition of apoptosis, modifications in cellular matrixand alterations in signaling network.

Even though several chemotherapy regimens can be usedfor CML treatment, many patients do not adequatelyrespond to the chemotherapy. The lack of response canbe related to the resistance cellular mechanisms asoverexpression of target proteins, or overexpression ofproteins related to the phenotype of multidrug resistance,or to the increase of metabolization of drugs forisoenzymes of citochrome P450. The expression of geneswhich are associated with the multidrug resistancephenotype, like MDR-1 (multidrug resistance gene 1), LRP(lung resistance protein/major vault protein) and MRP-1(multidrug resistance-associated protein 1) have alreadybeen described in the last few years.

Keywords: leukemia, resistance mechanism, bcr-abl,STI-571, hydroxiureia, bussalfan, alfa interferon

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SIntrodução

A Leucemia Mielóide Crônica (LMC) foi o primeiroprocesso neoplásico associado a uma anormalidadegenética adquirida. As atuais estratégias medicamentosasapresentam apenas caráter paliativo, sendo que, a únicamedida terapêutica curativa é o transplante de medulaóssea.

Dentre as estratégias medicamentosas paliativas, osquimioterápicos têm se mostrado, em um primeiromomento, eficazes. Porém, durante o curso dotratamento, para a manutenção da mesma respostaterapêutica, tem ocorrido a necessidade da administraçãode doses subseqüentemente maiores. O aumento da doseadministrada se associa com a exacerbação dos efeitosadversos e muitas vezes com a falta de resposta aomedicamento. A falha na resposta terapêutica pode serconseqüência de inúmeras variáveis, dentre elas odesenvolvimento de resistência medicamentosa.

Com os avanços moleculares sobre a fisiopatologia daLMC associados à sofisticada tecnologia bioquímica ebiofísica desenvolvida nas últimas décadas, inúmeraspropostas terapêuticas vêm surgindo e oferecerão para umfuturo não muito distante, o desenvolvimento de terapiascom alvos moleculares e efeitos terapêuticos mais eficazes.

Fisiopatologia Molecular da LMC:

A Leucemia Mielóide Crônica (LMC) é uma doençamieloproliferativa resultante de transformaçãooncogênica da célula primordial mulipotente, a stemcell hematopoiética ou célula tronco (1). A LMC acometecélulas da linhagem mielóide, eritróide, megacariocíticae linfóide B e mais raramente T, mas não afetafibroblastos medulares (2).

As células hematopoiéticas, na LMC, apresentam umatranslocação específica entre os braços longos doscromossomos 9 e 22, que transpõe o segmento 3’ dogene abl do cromossomo 9q34 ao segmento 5’ do genebcr (breakpoint cluster region) do cromossomo 22q11,gerando um cromossomo anormal, conhecido comocromossomo Philadelphia (Ph) (3, 4, 5, 6, 7, 8). A figura 1 ilustrao mecanismo de translocação na formação docromossomo Philadelphia.

A LMC é a única doença mieloproliferativa associadacom o cromossomo Philadelphia, identificada porNowell e Hungerford em 1960 (6, 9).

O cromossomo Philadelphia gerado pela translocaçãoculmina com a formação de um gene híbrido formadopela fusão dos genes c-abl do cromossomo 9 e bcr (breakpoint cluster region) do cromossomo 22 (8).

O gene abl codifica a proteína ABL que apresentaatividade tirosina quinase, fosforilando seus própriosresíduos de tirosina e os de outras proteínas, modulando,assim, a transdução de sinal (10). A proteína ABL apresentatrês domínios funcionais importantes, um domínio éresponsável pela fosforilação, um domínio SH2regulatório, que aumenta a atividade quinase e promovetransformação celular e um domínio SH3 com atividadeinibitória, que reduz a ação fosforilativa e a capacidadede transformação celular do domínio SH2 (10). Ao domínioSH3 também foi atribuída atividade regulatória da GTPaseque têm ação modulatória na ação do proto-oncogeneras, cuja expressão está associada com o desenvolvimentodo câncer (10). A proteína ABL apresenta outros doisdomínios importantes, sendo que um deles se liga aseqüências nucleotídeo específicas de DNA, sugerindoque a proteína atue como um fator de transcrição e ooutro domínio apresenta alta afinidade pela f-actinapresente no citoesqueleto celular, modulando a adesãocelular à matriz extra celular da medula óssea (10).

O gene bcr codifica a proteína BCR, cuja estrutura eatividade funcional não estão bem estabelecidas (10). Aproteína BCR parece ser uma serina/treonina quinase efoi proposto que esta proteína é homóloga às ciclinasque tem ação modulatória no ciclo celular (10).

O gene híbrido resultante da translocação, bcr-abl,é transcrito em mRNAs quiméricos (4, 11, 12), que servemde molde para a síntese de proteínas anormais p190,p210 e p230, cujo tamanho varia de acordo com alocalização da região de quebra dos genes envolvidos (4,

5, 6, 13, 14). A p210 foi detectada em 95% dos casos deLMC. A p190 foi observada em 15-25% dos casos deleucemia linfóide aguda (LLA) de latência curta e muitoagressiva. A p230 é a forma mais recentementedescoberta e associada à leucemia neutrofílica crônicade curso brando15. O gene bcr-abl codifica uma proteínahíbrida, com região N-terminal da proteína BCR e regiãoC-terminal da proteína ABL (10). A perda da região Nterminal da proteína ABL resulta em atividade tirosinaquinase aumentada, aumento da sua ligação à f-actinae diminuição da sua translocação nuclear (10).

A habilidade leucemogênica do gene híbrido bcr-abl é atribuída à atividade tirosina quinase aumentadada proteína de fusão BCR-ABL que foi associada àinibição da apoptose, à indução da proliferação, aalterações no citoesqueleto celular e a modificações dosprocessos de sinalização em células portadoras do genehíbrido (10, 16). A figura 2 ilustra a formação da proteínahíbrida traduzida a partir do gene bcr-abl.

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Figura 2: Região de quebra no gene c-abl do cromossomo 9 e no gene bcr no cromossomo 22.Formação do transcrito primário de RNA e tradução da proteína de fusão bcr-abl de 210 kDa e responsável pela leucemogênese

Figura 1: Translocação entre os braços longos dos cromossomos 9 e 22 gerando o cromossomo Philadelphia (Ph1). A figura mostra o ponto de quebrano cromossomo 9 correspondente a localização do gene c-abl e o ponto de quebra no cromossomo 22 correspondente a localização do gene bcr

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SCaracterísticas clínicas e laboratoriais da LMC:

Características laboratoriaisA história natural da LMC é caracterizada por

heterogeneidade na evolução da doença, apresentandocurso trifásico (2), sendo o evento primário a proliferaçãoclonal da stem cell pluripotente hematopoiética quecarrega o cromossomo Ph (7, 16).

Inicialmente a doença é caracterizada por uma fasecrônica, ou benigna, durante a qual a produção deprogenitores celulares da linhagem mielóide e,ocasionalmente, precursores de plaquetas está elevada.A cinética de proliferação e as necessidades de fatoresde crescimento destas células estão alteradas. Entretanto,elas chegam a se diferenciar gerando aumento nonúmero total de células maduras, que podem apresentaralterações funcionais (2, 10, 16, 17, 18).

O achado histológico mais importante na fase crônicada LMC é a leucocitose neutrofílica no sangue periférico,que pode variar de 20.000 a 500.000 leucócitos/mm3.Estão presentes células em todos os estágios maturativos,desde mieloblastos a neutrófilos segmentados, sendoque, os mieloblastos geralmente não excedem a 3% dototal da contagem de leucócitos. Basofilia, eosinofilia etrombocitose estão geralmente presentes. A basofilia temimportância diagnóstica, pois é um dos parâmetroshematológicos que aumenta com a progressão dadoença, já a eosinofilia, embora presente, não secorrelaciona positivamente com a evolução da doença.A trombocitose está presente em aproximadamente 50%dos casos de LMC em fase crônica, sendo que, o númerode plaquetas pode exceder a 1.000.000 de células/mm3.

A maioria dos pacientes com LMC em fase crônicaapresenta anemia normocítica e normocrômica, embora,tenham sido relatados casos de pacientes queapresentaram concentrações normais ou elevadas dehemoglobina. A gravidade da anemia é proporcionalao grau de leucocitose, como é observado em processosproliferativos. Anormalidades morfológicas na sérieneutrofílica, como pseudo Pelger-Huet, podem aparecerno curso da doença (16).

O mielograma da fase crônica apresenta-sehipercelular, com relação granulocítica: eritrocitária (G:E)entre 10:1 e 30:1. A eritropoiese está diminuída e onúmero de megacariócitos está normal ou aumentado.O número de eosinófilos e basófilos está normal oulevemente aumentado, de acordo com a proporção nosangue periférico, os mieloblastos não excedem 5% dototal de células (16).

O diagnóstico laboratorial da LMC é feito atravésexame citogenético ou exame molecular, como a reaçãode RT-PCR confirmatória para presença do cromossomo

Philadelphia do aspirado de medula óssea, associadoao mielograma. A imunofenotipagem para o diagnósticoda LMC não se apresenta como exame final para odiagnóstico.

Características Clínicas

A duração da fase crônica da LMC pode variar devários meses a muitos anos, sendo em média de quatroanos (2, 10, 16, 17, 18). Durante a fase crônica, podem ocorrermutações adicionais nos precursores hematológicos queculminam com uma forma mais aguda da doença (17).Essa nova fase pode ser classificada em fase acelerada ecrise blástica, de acordo com critérios clínicos elaboratoriais.

A fase acelerada é caracterizada pela presença de15% ou mais blastos ou 30% ou mais de blastos epromielócitos no sangue periférico, basofilia no sangueperiférico de 20% ou mais, trombocitopenia com valoresabsolutos menores que 100.000 plaquetas/mm3.

A crise blástica é caracterizada por uma rápidaproliferação de células blásticas imaturas, que sãofreqüentemente da linhagem mielóide, embora sejamencontrados blastos de origem linfóide em 30% doscasos. O aumento da proliferação de vários tipos decélulas hematopoiéticas na crise blástica da LMC éconsistente com o modelo de Ferrata, que propõe umaúnica célula progenitora multipotente originando aslinhagens linfóide (linfócitos T e B) e mielóide (eritróide,granulocítica e megacariocítica) (2, 10, 16, 18). As alteraçõeshematológicas da crise blástica são evidenciadas por 30%ou mais blastos, hipoplasia das séries eritróides emegacariocíticas na medula óssea, com alteraçõescorrespondentes no sangue periférico e, podendo,eventualmente, ser observadas alteraçõesextramedulares com presença de blastos imaturos emoutros órgãos (2).

Epidemiologicamente a LMC abrange cerca de 20%de todos os casos de leucemia e a taxa de mortalidadedesta patologia é de cerca de 1,5 para 100.000 pessoaspor ano (16). A doença ocorre com freqüênciadiscretamente maior em homens que em mulheres, masas manifestações clínicas e curso da doença sãosemelhantes em ambos os sexos. Ocorre raramente emcrianças e adolescentes, somente 10% dos casosacometem indivíduos entre 5 e 20 anos de idade, e suaincidência representa cerca de 3% de todas as leucemiasda infância (16).

A LMC, geralmente, é detectada por exameslaboratoriais de rotina, quando o paciente procura omédico por apresentar sintomas inespecíficos comofadiga, mal-estar, fraqueza, anorexia ou desconfortoabdominal. O diagnóstico é feito através da associação

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da história clínica, anamnese do paciente, resultadoslaboratoriais que incluem o hemograma, o mielogramae a confirmação diagnóstica através da análisecitogenética, que detecta a presença do cromossomoPhiladelphia, responsável pela proliferação mielóideanômala que é patognomônica da LMC (2).

Os critérios utilizados para caracterizar a fase da LMCtambém são utilizados para determinar o prognóstico,conjuntamente com outros parâmetros, como porexemplo, a dose do(s) medicamento(s) administrado(s),esplenomegalia, presença de fibrose medular; blastosperiféricos ou medulares acima de 10%, contagem globalde leucócitos superior a 50.000/mm3, hematócritoinferior a 25% e contagem de plaquetas inferior a100.000/mm3 (2).

Tratamento:

O tratamento da LMC não sofreu grandes alteraçõesnos últimos 40 anos e diferentes autores têm propostoa associação de quimioterápicos para minimizar osefeitos da doença durante a fase crônica (19, 20, 21). Em1983 foi relatado o uso do interferon alfa (IFN-α) notratamento de pacientes com LMC em fase crônica, cujotratamento demonstrou boas perspectivas (19, 20, 21).

A irradiação foi o primeiro tratamento para LMC,introduzida em 1902. Posteriormente foram utilizadosos quimioterápicos, que se apresentavam mais efetivosdo que a irradiação, dentre eles podemos citar obussulfam, a hidroxiuréia, o melfalam, 6-mercapto-purina, clorambucil, 6-tioguanina, ciclofosfamida,dibromomanitol, demecolchicina, tiotepa, uracilmostarda, arabinsídeo-citarabina (ara-C) e recentementeo STI571. Apesar de se mostrarem mais efetivos do quea irradiação, os quimioterápicos não são curativos, apenasminimizam a morbidade da doença. O tratamentoquimioterápico apresenta, portanto, caráter paliativo, emuitos pacientes não apresentam resposta ao tratamento.

Até 1980, o bussulfam e a hidroxiuréia eram os agentesterapêuticos para tratamento da LMC mais efetivos doque a irradiação e a outros medicamentos, como omelfalam, 6-mercaptopurina, clorambucil, 6-tioguanina,ciclofosfamida. Apresentavam menor toxicidade, menorcusto e facilidade de administração (via oral) (2,20).

O busulfam é um ácido sulfônico, com ação alquilante,que induz granulocitopenia e tem atividade antileucêmicaseletiva na LMC (20). A dose inicial de bussulfamadministrada é de 4 a 6 mg/dia, via oral, até que o númerode leucócitos se estabilize em 30.000/mm3. O efeito domedicamento persiste por dias a semanas, porém, onúmero de leucócitos pode se elevar. Portanto, énecessária a terapia de manutenção, que normalmente éde 2 mg, via oral, duas vezes por semana (16).

A sobrevida média de pacientes tratados combussulfam é de 30 a 42 meses (20). O bussulfam apresentasérios efeitos colaterais, quando administradoprolongadamente, como a insuficiência adrenal, queprovoca uma síndrome semelhante à Doença deAddison. Essa síndrome se manifesta por pigmentaçãoda pele, fraqueza, febre e diarréia, fibrose pulmonar eaplasia de medula, que é a principal causa de morteentre os pacientes com LMC. A terapia com bussulfamnão induz o desaparecimento do cromossomo Ph, nemé suficiente para causar supressão do clone anormal. Oobjetivo da terapia é controlar a fase crônica da doençae eliminar (ou pelo menos minimizar) a sua morbidade.Em alguns casos de sobrevida à aplasia medular, remissãoprolongada da LMC pode ocorrer com desaparecimentodo cromossomo Ph (2, 16).

A hidroxiuréia, introduzida em 1960, é um inibidorda ribonucleotídeo-difosfato redutase, que leva à inibiçãoda síntese de ácido desoxirribonucleico (DNA) seminterferir na síntese de ácido ribonucleico (RNA) ou deproteínas (20). Porém, como o bussulfam, a hidroxiuréianão leva à remissão citogenética da LMC (20).

No início do tratamento com hidroxiuréia, são admi-nistradas doses de 2 a 4 g/dia (40mg/Kg/dia), por viaoral, dependendo da contagem de leucócitos (16,21). Adose é diminuída quando a contagem atinge o valor de20.000 leucócitos/mm3. As doses de manutenção dahidroxiuréia durante a fase crônica da doença, geral-mente, estão entre 0,5 a 2,0 g por dia (10mg/Kg/dia),por via oral (16,21).

O tratamento com hidroxiuréia não apresenta osefeitos colaterais observados com o bussulfam e, poressa razão, a hiroxiuréia tem sido utilizada como terapiade escolha. O principal efeito colateral é a exacerbaçãoda supressão reversível da hemopoiese, freqüentementeacompanhada de eritropoiese megaloblástica (16).

Outros fármacos como dibromomanitol, melfalam,ciclofosfamida, 6-mercaptopurina, 6-tioguanina,demecolchicina, clorambucil, tiotepa e uracil mostardasão menos eficazes que o bussulfam e a hidroxiuréia (16,20).Porém, estes agentes podem ser utilizados emcombinação, ou em situações nas quais um doscomponentes da mielopoiese não é controlado.Ciclofosfamidas ou tiopurinas são seguras em pacientescom trombocitopenia exacerbada. Por outro lado,tioguanina ou tiotepa são eficientes em trombocitosedescontrolada (20).

O ara-C (arabinosídeo-citarabina) é um análogo dadesoxicitidina, compete com o substrato da enzima DNApolimerase, incorporando-se à cadeia de DNA einterrompendo a replicação do DNA (22). O ara-C temindicação como agente terapêutico da LMC, em especial,

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Sna crise blástica da LMC (22). O ara-C é administrado eminfusões subcutâneas, em dose diária de 20mg/m2 (23).

Outro agente terapêutico que tem sido usado notratamento de LMC é o IFN-α. Foi descrito que o IFN-αapresenta ação biológica antiproliferativa através docaminho da janus kinases (JAK) e signal transducers andactivators of transcription (STAT). Esse caminho leva aativação e a fosforilação das moléculas de STAT1 e STAT2e transcrição de genes que codificam as proteínas p21e caspase-1 que são responsáveis pela entrada das célulasem G0 e indução da apoptose (19).

O tratamento com IFN-α de pacientes com LMCpode levar a remissão hematológica, ou seja, diminuiçãoda contagem de leucócitos até valores normais, em 70-80% dos pacientes em fase crônica (16). Diferentemente,da hidroxiuréia e do bussulfam, o IFN-α pode resultarem diminuição do número de células portadoras docromossomo Ph, detectado por análise citogenética (16,20).Em 30% dos pacientes há diminuição na contagem decromossomo Ph e em cerca de 15% dos pacientes hámenos de 5% de células cromossomo Ph positivas,caracterizando, assim, resposta citogenética parcial.Resposta citogenética máxima, com ausência de célulascromossomo Ph positivas, requer 12 a 18 meses detratamento com IFN-α (16).

Em geral o tratamento com IFN-α é iniciado quandoo número de 10.000 leucócitos/mm3 é atingido, apóstratamento prévio com hidroxiuréia. A dose inicial deIFN-α é de 3 milhões de UI, três vezes por semana, porvia subcutânea. A dose diária pode chegar até a 9 milhõesde UI, dependendo da resposta do paciente, monitoradapela contagem total de leucócitos, que deve ser mantidaem valores abaixo de 5000 leucócitos/mm3. A respostacitogenética é melhor se a dose for ajustada para manteras contagens entre 2.000 a 4.000 leucócitos/mm3, quandohouver tolerância aos efeitos colaterais (16).

Os efeitos colaterais do tratamento com IFN-α incluemfebre, anorexia, fadiga, insônia, depressão, trombocito-penia e uma variedade de desordens imunes incluindohipotiroidismo, síndrome nefrótica, lupus sistêmico,artrite reumatóide, arritimias e insuficiência cardíacacongestiva (16). No curso do tratamento com IFN-α podemocorrer alterações de funções hepática e renal, comaumento da atividade sérica de transaminases (AST, ALT),aumento das concentrações séricas de bilirrubina total efrações, eletrólitos (sódio e potássio), uréia e creatinina.Esses parâmetros, avaliados antes e no curso do tratamentocom IFN-α podem ser utilizados para monitorar os efeitoscolaterais do medicamento sobre os pacientes (16).

O tratamento com IFN-α é descontinuado se éobservada resistência à terapia demonstrada pelaausência de remissão hematológica parcial, caracterizada

por diminuição em 50% no número de leucócitos, ouausência de remissão hematológica completa em 9meses de tratamento, caracterizada pela normalizaçãodo número e das populações de leucócitos periféricos,ou na presença de efeitos adversos intoleráveis (16,21).

O tratamento com IFN-α não é curativo e mesmopacientes com remissão citogenética completa sãomantidos em terapia de manutenção com o IFN-α emdoses de 3 milhões de UI três vezes por semana (16,21,24).

Estudo comparativo de Hehlmann e cols.(21) mostrouque a sobrevida relatada foi de 66 meses para pacientestratados com IFN-α, 56,2 meses para pacientes tratadoscom hidroxiuréia e 45,4 meses para pacientes tratadoscom busulfan. Outros estudos têm mostrado que o usoconcomitante de ara-C (arabinosídeo-citarabina) comIFN-α é muito promissor, melhorando a sobrevida dospacientes (23).

Recentemente foi descrita uma série de inibidores detirosina quinase, da classe 2-fenilaminopirimidina, comalta afinidade e especificidade para a proteína ABL. OSTI571 apresenta alta afinidade para proteína ABLquinase, e a dois outros receptores tirosina-quinaserelacionados, o receptor do fator de crescimento derivadode plaquetas (PDGFR) e o receptor de stem cell factor (c-Kit), e é essencialmente inativo contra serina-treonina-quinases e a maioria das tirosinas quinases (25).

Estudos in vitro com cultura de células portadorasdo gene bcr-abl demonstraram que o STI571 induz aapoptose destas células, por diminuição da expressão(down regulation) do Bcl-xL, um membro da família Bcl-2, com atividade anti-apoptótica. O STI571 inibetambém a atividade da proteína Akt quinase, responsávelpela fosforilação da proteína Bad, um membro da famíliaBcl-2 com atividade pró-apoptótica. A proteína Bad naforma fosforilada perde sua função impedindo, assim, aapoptose. O STI571 inibe também o fator de transcriçãoNFkB, ativado por fosforilação pela proteína Akt, cujafosforilação aumenta a expressão de genes queprolongam o tempo de vida da célula, pois interferemcom os mecanismos de morte celular, e à diferenciaçãodos blastos leucêmicos por mecanismos molecularesainda não elucidados (26,27).

O STI571 foi testado em avaliações pré-clínicas eclínicas para validar sua eficácia terapêutica e toxicidade,mostrando uso promissor como agente terapêutico paraLMC (25, 26, 27), porém o STI571 não se mostrou eficaz emtodos os pacientes tratados.

Outras formas de tratamento incluem a irradiaçãoesplênica, que pode ser usada alternativamente em paci-entes refratários a quimioterapia convencional e/ou empacientes que apresentam moderada ou extrema espleno-megalia e pressão do baço sobre o trato gastrointestinal (16).

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Uma possível medida cirúrgica é a esplenectomia,que não prolonga a fase crônica e aumenta asensibilidade à quimioterapia padrão e intensiva.Embora, seja indicada a esplenectomia em pacientescom trombocitopenia não responsiva à quimioterapia eum grande aumento no volume do baço, morbidadepós-operatória por infecção, trombose ou hemorragiatem sido freqüentes (16).

Outra opção de tratamento é a técnica deleucoaferese, que pode temporariamente controlar aLMC e é especialmente indicada para dois tipos depacientes: paciente com hiperleucocitose cujacitorredução rápida pode reverter sinais e sintomas deleucostasia e pacientes grávidas, principalmente, duranteos primeiros meses de gravidez em que osquimioterápicos constituem alto risco para o feto (16).

O transplante de medula óssea (TMO) é a únicaterapia, até o presente, adequada que oferece umapossibilidade de cura da LMC. É mais efetiva quandorealizada durante a fase crônica. Entretanto, entre ospacientes selecionados no estágio crônico, o TMOapresenta uma taxa de mortalidade precoce deaproximadamente 30%. Este risco só é aceitável parapacientes estadiados em categoria de alto risco comsubstancial perigo de transformação blástica e compossibilidade de morte em 2 anos (17). Em virtude disso, aanálise prognóstica, baseada nos diferentes achadosclínicos e laboratoriais, tem permitido estabelecer oestadiamento da doença e, conseqüentemente, fornecerembasamento para o planejamento racional do TMO (28).

O TMO de doadores HLA compatíveis resulta emenxertamento e sobrevida projetada de 45 a 70% dosreceptores. Entretanto, há o risco de recidiva em 20%dos casos. Como a mortalidade pós-transplante é alta(20-40%) a avaliação de indicadores prognósticos, comosexo, idade, tamanho do baço, entre outras, é necessáriapara a determinação do tempo ideal para o transplantena fase crônica (16).

Pacientes candidatos ao transplante de medula ósseadevem ser preferencialmente tratados com hidroxiuréiaou IFN-α, uma vez que o tratamento com busulfan foirelatado desfavorecer o transplante posterior (16).

Células precursoras (stem cells) ou medula autólogade pacientes com LMC têm sido usadas como terapiana crise blástica. Nesses casos a quimioterapia é utilizadapara induzir a hemopoiese de precurssores Ph negativos,na fase crônica da LMC, e stem cells normais são isoladaspara ser infundidas nos pacientes durante a crise blástica.Assim, a redução da proliferação de células cromossomoPh positivo in vivo com o tratamento com IFN-α e apossibilidade de cultivar e preservar células livres decromossomo Ph permitem a obtenção de stem cells

autólogas que pode ser fornecida ao paciente tratadona fase crônica (16, 17).

Mecanismos de resistência a fármacos:

A falta de resposta aos quimioterápicos tradicio-nalmete utilizados para a terapia da LMC pode estarrelacionada a mecanismos de resistência celular. Dentreos possíveis mecanismos de resistência, o aumento dametabolização dos fármacos, pelo aumento da expressãodas isoenzimas do citocromo P450, responsáveis peladetoxificaçào de xenobióticos (22, 29) pode estar envolvido.

A superexpressão de proteínas alvo do fármaco,reduzindo o efeito terapêutico devido ao aumento dadisponibilidade da proteína responsável pela patogêneseda doença (29, 30) pode ser outro mecanismo deresistência.

Outro possível mecanismo é a expressão fenotípicada resistência multi-fármaco, ou mutidrug resistance(MDR), definida como resistência cruzada a classes defármacos diferentes incluindo aqueles que atuam emdiferentes sítios-alvo (31). A base da MDR, em linhagensde células tumorais resistentes estudadas in vitro, foiatribuída a diminuição intracelular do fármaco devidoao aumento do seu efluxo através de proteínas demembrana celular (31). Foram descritas duas proteínas,em humanos, a glicoproteína P, de 170 kDa, codificadapelo gene MDR-1, localizado no cromossomo 7q31 e aproteína MRP, de 190 kDa, codificada pelo gene MRPlocalizado no cromossomo 16p13.1 (22, 29, 32, 33). Estasproteínas apresentam características comuns, poispertencem a superfamília das proteínas transportadorase utilizam a hidrólise do ATP para bombear seussubstratos através da membrana contra um gradientede concentração (31). Foi descrita em 1995 outra proteína,de 110 kDa, em cultura de células resistentes a fármacose codificada pelo gene LRP, localizado no cromossomo16p11.2 (34). A superexpressão desta proteína foiassociada a resistência, porém a amplificação gênica nãofoi detectada sugerindo que a superexpressão deve estarassociada a ativação transcricional ou a estabilização domRNA (34). Essa proteína é responsável pelo transportedo fármaco do núcleo ao citoplasma reduzindo suaatividade farmacológica (34).

O aumento da expressão de genes que codificamproteínas com alta afinidade pelo fármaco inibindo suaeficácia caracteriza-se como outro possível mecanismode resistência celular (30).

A resistência celular ao IFN-α tem sido atribuída àfalha na expressão dos receptores do IFN-α (IFNAR), aonível de mRNA, de síntese protéica ou de disponibi-lidade dos receptores na superfície celular, ou ainda,devido a presença de mutações ou a outras alterações

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Snos genes IFNAR (35,36,37). A presença de anticorpos anti-IFN-α no sangue circulante também pode estar associadacom a redução da eficácia terapêutica do IFN-α notratamento da LMC (38).

A falta de resposta ao tratamento com STI571 não éconhecida. Entretanto, estudos in vitro de indução deresistência a este inibidor, em células leucêmicashumanas em cultura, mostraram que a amplificaçãogênica do gene bcr-abl, com conseqüente superexpres-são da proteína de fusão foi a responsável pela induçãode resistência (30). Outros autores mostraram que alémda superexpressão da proteína BCR-ABL em célulasleucêmicas mantidas em cultura, ocorreu também aexpressão exacerbada da glicoproteína P, codificada pelogene MDR-1 (29). Esses autores sugeriram que o aumentoda expressão dos genes bcr-abl e MDR-1 estão associadosà falha na resposta ao tratamento com STI571.

A superexpressão do gene LRP com conseqüenteaumento da produção da proteína codificada por estegene foram associadas a MDR em vários tipos de tumoresmalignos (câncer de pulmão e mama, fibrossarcoma emieloma) (39). Outros autores, em investigações clínicas,sugeriram que a superexpressão do gene LRP estáassociada com prognóstico desfavorável em pacientescom leucemia mielóide aguda e carcinoma de ovário (40,41).

A proteína MRP é outra proteína de membranatransportadora de conjugados de glutationa e que confereresistência a terapia anticâncer, em células que apresentamessa proteína em sua membrana, por transportar osquimioterápicos para fora da célula (42). A maioria dosagentes que revertem a resistência à terapia anticâncermediada pela glicoproteína P (codificada pelo gene MDR)não reverte a resistência mediada pela MRP (32).

Discussão

Na atualidade a LMC é uma doença cuja terapiaainda é pouco eficaz. A única possibilidade de cura é otransplante de medula óssea, entretanto, dos pacientesdiagnosticados com LMC somente 30% conseguemdoador compatível, portanto 70% dos pacientesnecessitam de terapia alternativa, que possibilitem umamelhor qualidade de vida. Por outro lado, os quimio-terápicos utilizados apresentam graves efeitos colaterais,

aumentando, assim, a morbidade da doença. Aadministração de IFN-α tem sido utilizada comotratamento alternativo nos casos de LMC, com ou semindicação para transplante. É importante ressaltar que ouso de IFN-α tem-se mostrado eficaz na redução dascélulas cromossomo Ph positivo, porém os efeitoscolaterais, em alguns casos, são intensos levando àintolerância medicamentosa. Em outros casos, ospacientes não respondem ao tratamento e a resistênciapode ser atribuída a vários fatores, a falha na expressãodo gene ou variação na taxa de expressão dos receptoresde IFN-α, ou a presença de anticorpos anti-IFN-αpresentes no sangue periférico dos pacientes emtratamento.

Com base no fato de que 95% dos pacientesportadores de LMC apresentam células cromossomo Phpositivo, que forma o gene híbrido bcr-abl que codificaa proteína de fusão BCR-ABL com propriedade detirosina quinase aumentada, tem sido proposto otratamento alternativo com o inibidor de tirosina quinase,o STI571, já comercializado tendo como nomecomercial GLIVEC. Embora os protocolos de tratamentocom STI571 tenham mostrado remissão hematológicae citogenética da LMC, este resultado não ocorreu em100% dos pacientes. Portanto, estudos para avaliação eacompanhamento de pacientes tratados com STI571devem incluir a investigação de possíveis mecanismosde desenvolvimento de resistência a esse novo fármaco.O estudo da expressão de genes associados com omecanismo de ação do STI571 pode ser utilizado paracompreender a resposta biológica e os possíveismecanismos de resistência ao tratamento.

O aumento da expressão dos genes de resistência esua associação ao fenótipo MDR vem sendo descritosem diversos tipos de câncer, e estudos in vitro deresistência ao STI571 mostraram o aumento da expressãodo gene MDR-1. Portanto, a avaliação da expressãogênica dos genes envolvidos com o fenótipo MDR podeser útil na compreensão da ação do STI571. Essesparâmetros poderiam futuramente serem utilizadoscomo marcadores bioquímicos na indicação e nomonitoramento terapêutico dos pacientes com LMCtratados com STI571.

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Efeitos do laser hene no tratamentoda úlcera de pressão

Laser hene effects in pressure ulcer treatment

Fisioterapeuta, departamento de Fisioterapia da ANADSandra Ferreira da Silva e Efraim Soares Santos

R E S U M O

As úlceras de pressão constituem-se num sério problemaque possibilitam situações de difícil e angustiante manejopara seus portadores, além disso, está associada aos altosíndices de morbidade e mortalidade.Neste sentido, o presente trabalho tem como objetivoapresentar a contribuição da fisioterapia, não só revisando

os efeitos do laser HeNe na cicatrização da úlcera depressão, bem como contribuir ao resgate de informaçõesaplicados sobre o assunto, de grande importância einteresse para todos os profissionais da área de saúde.

Palavras-chave: úlcera de pressão, cicatrização, laser HeNe

A B S T R A C T

The pressure ulcers are constituted in a serious problemthat make possible difficult and distressing handlingsituations for their bearers, besides, it is associated to thehigh morbidity indexes and mortality.In this sense, the present work has as objective to presentthe physiotherapy contribution of the revising the effects

of the laser HeNe in the pressure ulcer cicatrization, aswell as, to contribute to the information applied rescueon the subject wich is the great importance and interestfor all health professionals.

Keywords: pressure ulcer, cicatrization, HeNe laser

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200360

SIntrodução

As úlceras de pressão, também conhecidas como úlcerade decúbito ou escara, são áreas localizadas de necrosecelular e destruição vascular que sofreram exposiçãoprolongada a compressões que excederam a pressãocapilar. Uma pressão de 70 mmHg aplicada por mais de 2horas, sem nenhum momento de alívio, pode provocardestruição dos tecidos ocasionando uma ferida (18).Pacientes confinados ao leito semicomatosos ouinconscientes, que apresentam áreas de analgesias ouparalisias de maneira que não possam mover-selivremente, são os mais acometidos (12, 13). Este tipo deúlcera é geralmente dolorosa e de difícil cicatrização ecomplicações como septicemia e osteomielite aumentama duração da internação hospitalar e o tempo necessáriopara a reabilitação ativa.

Quanto a sua fisiopatologia, a intensa pressão é ofator etiológico mais comum, porém a exposição àfricção e corte e umidade também contribui para o seudesenvolvimento. A fricção é o efeito da pele ao serareada por uma força externa, resultando em uma lesãosuperficial da pele, entretanto, se o trauma mecâniconão for removido, o dano pode progredir para camadastissulares profundas. Os cortes, são decorrentes dacombinação da gravidade e a fricção, ou seja, agravidade puxa o peso do esqueleto para baixo,enquanto a fricção entre a pele e a superfície externaprovocarão uma determinada lesão em alguma regiãodo corpo. A umidade induz à maceração cutânea eedema, além disso, a desnutrição e a excessivadesidratação causam diminuição da tolerância tissular,deixando o paciente mais susceptível aos efeitos dapressão, fricção e corte (1).

Conforme a classificação recomendada pela NationalPressure Ulcer Advisory Panel (NPUAP), as úlceras depressão são divididas em quatro estágios: I) a lesão inicia-se com o aparecimento de um eritema em pele íntegra;II) perda de fina camada da pele, envolvendo a epidermee/ou a derme; III) já ocorre perda significativa da pele,podendo se estender até a fáscia , a ferida apresenta-secom margens bem definidas, geralmente com exsudatopodendo estar presente tecido necrótico; IV) úlceraprofunda, com extensa lesão muscular ou óssea,freqüentemente com tecido necrótico, exsudato einfecção (11).

As localizações mais comuns das úlceras de pressãosão as regiões em que o corpo se apóia normalmentequando o paciente está deitado ou sentado (11). Decúbitoventral: espinhas ilíacas, patela e superfície interna dosjoelhos e tornozelos. Decúbito dorsal: sacro, escápula,calcâneo, cotovelo. Decúbito lateral: trocânter, cabeça

da fíbula e maléolo externo. Sentado: ísquio, superfícieinterna dos joelhos, artelhos. Em pé com órteses: ísquio,patela, maléolo interno, artelhos (14). Outros: atrás dacabeça, vértebras, costelas e côndilos medial e lateral (19).

Na fisioterapia, a utilização da laserterapia é um dosrecursos utilizados como forma de tratamento dacicatrização de úlceras compressivas. Laser (LightAmplification by Stimulated Emission of Radiation) é umasigla inglesa, que significa Amplificação da Luz pelaEmissão Estimulada da Radiação. A amplificação da luzé constituída por ondas eletromagnéticas, visíveis ou nãode acordo com o comprimento de onda das mesmasque de acordo com o tipo de substância estimulada sãoobtidos diferente tipos de radiação laser, ou seja, ondasde comprimento e freqüências diferentes, conseqüente-mente com mais ou menos energia (2, 24). Existem váriasformas de lasers disponíveis no mercado, porém, o laserdo tipo HeNe (Hélio Neônio 632.8 nm) é geralmente omais usado na cicatrização de feridas com resultadossatisfatórios já demonstrados por Mester no início dosanos setenta, sendo um dos pioneiros a realizar pesquisasexperimentais em humanos, tendo o laser HeNe (632,8nm) como tema central, utilizando dosimetria de 4 J/cm2 (joules) no reparo e cicatrização de feridas (16, 17).

O laser HeNe (632.8 nm) exerce um efeito positivono tratamento da úlcera de pressão, por auxiliar naresolução do processo inflamatório estimulando aliberação de substâncias pré-formadas como a histamina,serotonina e inibindo a formação de bradicinina atuandosimilarmente as drogas antiinflamatórias. Ao mesmotempo, atua na cicatrização através da reepitelização apartir de restos basais, melhora a troficidade tissular apartir do estímulo da produção de ATP. Secundariamenteproporcionam estímulo da microcirculação, devido à açãosobre os esfíncteres pré-capilares (válvulas que existemna entrada da rede capilar e ao final da rede arteriolar)que devido à liberação de histamina induzida pelaradiação laser, ocorre uma paralização desses esfíncteres,seguida pela vasodilatação capilar e arteriolar por umrecurso acalórico, proporcionado um maior aporte denutrientes, oxigênio, proliferação de fibroblastos econseqüentemente um aumento da síntese de colágeno,favorecendo a remodelação tecidual uma vez que é afase mais longa (podendo durar meses ou anos) dacicatrização do tecido frouxo (3, 4, 6, 9, 10, 20, 21, 23, 25).

Estudos recentes mostram que o laser HeNe (632.8nm) aumenta a proliferação de células satélites,promovendo a regeneração da musculatura esquelética,uma vez que essas células propiciam o suprimento denovas fibras em substituição às degeneradas, deste modoauxiliando no processo de cicatrização da úlcera depressão (5, 7).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Cuidados a serem tomados com autilização do laserQuando o contato não é desejado como no caso da

úlcera de pressão, para que haja a incorporação daradiação laser, é importante que a incidência da radiaçãoseja sempre perpendicular, mantido acima da superfícieda ferida, deste modo dificultando a reflexão (15, 21).

Para uma maior ação do laser, a úlcera deverá estarsem necrose e ou fibra, sem resíduos de pomadas esem tinturas que por sua vez, mudem a tonalidade dotecido, pois isto pode fazer um papel de filtro para afreqüência de luz útil na terapia.

É recomendável o uso de óculos protetores, que devemser apropriados para o(s) comprimento(s) de ondautilizada(s), tanto pelo operador como pelo paciente, poisesta radiação representa um risco potencial para os olhos,em decorrência do alto grau de colimação da luz laser (3, 4).O tratamento medicamentoso de uso interno, comopomadas (kolagenase, iruxol, trofodermim, fibrase)utilizadas nos vários tipos de úlceras não são fotossensíveisou sensíveis à freqüência e comprimento de onda dolaser, porém, deve-se estar sempre atento para qualquerresposta não desejada (8).

Como a luz laser tem a possibilidade de estimularbactérias (escherichia coli), é prudente recomendarcautela na aplicação da laserterapia ao tecidoinfeccionado e, em especial, na úlcera de pressãoinfeccionada, contudo esta situação não esta esclarecida,pois há estudos onde se obtiveram êxito, sendo que apresença da infecção foi considerada como umaindicação para este tratamento (3, 4). Porém, segundoCARVALHO & cols (2001) constataram em um estudoin vitro, redução média de aproximadamente 48% docrescimento bacteriano das culturas submetidas à

radiação do laser HeNe (sem cobertura previa de terapiaantibiótica), em relação ao grupo controle, este resultadoé de extrema importância, já que não é raro ofisioterapeuta receber em suas clínicas pacientes comúlceras infectadas, porque os mesmos não fazem ounão podem fazer uso de antibióticos, com isto, nãosendo beneficiados com o tratamento a laser, devido àfalta de estudos mais aprofundados neste aspecto.

Pacientes com fotossensibilidade (por exemplo,reações adversas à luz solar), neste caso, recomenda-seuma dose teste. A irradiação sobre útero grávido é umacontra-indicação prudente e rotineira, que se aplica atodas as modalidades da eletroterapia (3).

CONCLUSÃO

As úlceras de pressão colocam em risco a vida dopaciente, por este motivo deve ser de interesse de todosos profissionais da saúde que respeitam a arte do cuidar.Embora a sua profilaxia seja o melhor tipo de tratamento,não é uma realidade, nota-se em nossos dias um altopercentual de sua etiologia, sendo então necessárioconhecer um tratamento seguro e eficaz quandoinstaladas.

A utilização do laser HeNe (632.8 nm) mostra-seeficaz como forma de tratamento, seus efeitos fisiológicosaceleram o processo de cicatrização de maneiraimportante, podendo ser utilizado como terapêuticaprincipal ou coadjuvante, tornando-se, então, ummétodo viável e não invasivo. É importante ressaltarque existe a necessidade de estudos complementares,para que possam esclarecer de fato os efeitos do laser,diante de quadros infecciosos, uma vez que nosdeparamos rotineiramente com este tipo de situaçãoem se tratando de úlcera de pressão.

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A R T I G O S D E R E V I S Ã O

aúde

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Correspondência para / correspondence to:

Sandra Ferreira da SilvaRua Salete, 201 - sala 62 - 6º andar, SantanaSão Paulo - SP - CEP 02016-001Tel (11) 6978-3341e-mail: [email protected]

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Anorexia nervosa em paciente do sexo masculino:relato de caso

Nervous aneroxia in male patients: a case report

Núbio Chaves de Carvalho*, Paulo A. Amaral Secches** , Renata Rezende*** e TobiasCamargo Neto

* Médico** Médico, Especialista em Endocrinologia, Professor do Centro Universitário de Itajubá - UNIVERSITAS*** Nutricionista, Professor e Coordenador do curso de Nutrição do Centro Universitário de Itajubá - UNIVERSITAS

A B S T R A C T

In this reported case, the evolution of a 19-years-old malepatient who lost 20 Kg in three months is presented. It’sa rare case of anorexia that is seen mainly in women.The physiopathology, symptons and complications of thisdisease are discussed. Strong emphasis is placed on the

importance of an early diagnosis and a medical andpsychological long term follow-up due to the complexityof this disease.

Keywords: alimentary disturbances, anorexia, weight,adolescents

R E S U M O

No presente relato de caso, é apresentada a evoluçãode um paciente de 19 anos com perda ponderal de cercade 20 kg em 3 meses. É um caso raro de anorexia nervosa,pois esta entidade é descrita como predominante emmulheres. São discutidos os aspectos fisiopatológicos,sintomas e complicações da referida doença. É salientada

a importância de um diagnóstico precoce e de umacompanhamento médico e psicológico prolongadodevido à grande complexidade da patologia.

Palavras-chave: distúrbios alimentares, anorexia, peso,adolescentes

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S1. Introdução

Anorexia nervosa é um distúrbio caracterizado porum senso deturpado da imagem corpórea, acentuadaperda de peso, medo mórbido da obesidade eamenorréia em mulheres. É uma desordem alimentarna qual há uma severa e prolongada incapacidade decomer levando a uma marcada perda de peso. É umapatologia que apresenta maior incidência emadolescentes e adultos jovens, sendo a maioria dos casosrepresentados pelo sexo feminino.

Muitos dos pacientes são acometidos por distúrbioalimentar misto, manifestando características da anorexianervosa associadas à bulimia, na qual há um grandeconsumo alimentar seguido de vômito induzido, abusode laxantes, diuréticos ou exercícios físicos. Este grupode pacientes representa 50% dos anoréxicos. Arecuperação destes pacientes é mais lenta e eles sãomais susceptíveis ao suicídio.

2. Apresentação do Caso

Paciente: G.I.; Idade: 19 anos; Sexo: Masculino; Cor:Branca; Estado Civil: Solteiro; Naturalidade e Residência:Passa Quatro - MG.

Queixa principal e duração: Perda de peso há cercade 3 meses

História pregressa da moléstia atual: O paciente foiencaminhado, no dia 14/03/96, ao consultório médico,proveniente de Passa Quatro, com queixa de astenia ecaquexia. Referiu perda ponderal de cerca de 20 kgnum período de 3 meses. Afirmou ter boa alimentação.Relatou dificuldade de realizar atividades habituais.Referiu peso médio variável entre 55 a 57 kg.

Inquérito sobre diversos aparelhos: Aparelho gênito-urinário: referiu nictúria.

História patológica pregressa: Referiu alergia àacetona. Drenagem de abcesso na nádega há 2 meses.Negou história de transfusão e passado cirúrgico.

História cardiovascular: Negou tabagismo.O paciente fora encaminhado com os seguintes

exames laboratoriais:Hemograma: normal;Glicose: 71 mg/dl;Toxoplasmose: negativo;T3: 44 mg/dl;T4: 5,8 mg/dl;TSH: 4,28 mUI/dl.Exame físico:Altura: 172 cm;Peso: 36.300 g;Distensão abdominal e edema de membros inferiores

e maleolar.

Conduta: O paciente foi encaminhado para internaçãohospitalar; Dieta hiperprotéica e hipercalórica; Orientaçãodietética com nutricionista; Avaliação e psicoterapia compsicólogo; Orexígenos: Ciproheptadine 4 mg, Arginina100 mg, Carnitina 100 mg, Complexo B 100 mg, Ac.Glutâmico 100 mg; Antidepressivo: Clordiazepóxido.

Exames laboratoriais:

• Hemograma e Leucograma: normal• Bioquímica: Hipopotassemia: 3,2 mg/l• Hipofosfatemia: 2,3 mg/dl; TGO e TGP elevados• Proteínas: Totais: 6,1 g %• Albumina: 3,46 g %

• α1 globulina: 0,23 g %• α2 globulina: 0,57 g %• β globulina: 0,73 g %• γ globulina: 1,10 g %

• Relação A/G: 1,32• TSH: 1,76 mUI/l• T4 livre: 1,62 mg/dl• T3 livre: 0,29 mg/dl• Anti-HIV: negativo• Urina tipo I: normal• Bioimpedância: intensa desnutrição, alteração

grave de peso na antropometria e na bioimpe-dância.

• Densitometria: osteoporoseA avaliação psicológica revelou impressão diagnóstica

de depressão com comportamento esquizóide.Nova bioquímica foi realizada no dia 18/03/96, com

melhora dos níveis de potássio e diminuição dos níveisde magnésio, sendo instituída formulação com vitaminase magnésio. Antígeno Austrália: negativo.

No dia 20/03/96, o paciente apresentou um episódiode crise convulsiva com hipótese diagnóstica de criseconvulsiva metabólica (hipo-glicemia, hiponatremia,distúrbio neuro-vegetativo). Foram realizados exames deTomografia Computadorizada e EEG, ambos comresultados normais. Na avaliação neurológica, o pacienteapresentava Polineurite Periférica.

No dia 23/03/96, o paciente recebeu alta hospitalarcom diagnóstico de anorexia nervosa.

O paciente retornou mensalmente ao consultóriomédico por um período de 1 ano e meio (Gráfico 1). Apartir de 17/07/97, o paciente abandonou o tratamento.

No dia 16/07/98, o paciente foi a óbito, por suicídio.Diagnóstico diferencial à internação hospitalar: AIDS;

Neoplasia; Diabe-tes descompensado; Outras doençasconsumptivas.

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3. Discussão

A anorexia nervosa é uma entidade bastantecomplexa. Conse-qüentemente existem diversos fatoresque interagem na etiologia da doença.

A personalidade do paciente anoréxico é bastantepeculiar: baixa auto-estima, medo de engordar esentimento de desamparo. Raramente são desobe-dientes e tendem a ser perfeccionistas. Alguns estudiososacreditam que a restrição alimentar é uma forma deauto controle.

Fatores genéticos também são citados como compo-nentes da anorexia nervosa. Alguns achados sugeremque fatores genéticos podem predispor algumas pessoasa distúrbios alimentares. Recentes pesquisas têmdemonstrado que adolescentes do sexo feminino quepossuem familiares obesos ou cuja preocupação maternaquanto à obesidade é grande, são mais predispostas adesenvolver distúrbios alimentares.

A bioquímica do sistema neuroendócrino é outrofator de suma importância nos estudos das desordensalimentares. Os neurotransmissores serotonina e norepi-nefrina funcionam anormalmente em pessoas afetadaspela depressão. Esses neurotransmissores tambémapresentam baixos níveis em pacientes com anorexia ebulimia. Alguns cientistas acreditam que este seja o eloentre as duas patologias. Estes pacientes tambémexprimem elevados níveis de cortisol, um hormôniorelacionado à resposta ao estresse. A vasopressina, umoutro hormônio cerebral, foi encontrada em níveisanormais na anorexia e nas desordens obssessivo-compulsivas.

Os sintomas mais comuns da anorexia nervosa são aperda ponderal maior que 15% do peso corporal idealpara a idade ou altura, ou IMC igual ou inferior a 17,5,o medo intenso da obesidade e amenorréia em mulherespor pelo menos 3 meses consecutivos. Na maioria dasvezes, a menstruação cessa antes da diminuição gravede peso, ou seja, a desnutrição não é a única causa daamenorréia. Outros sintomas incluem restrição alimentare líquida, vômitos induzidos, uso de laxantes e diuréticose excesso de exercícios físicos. Ocorre uma grandevariedade de modificações físicas como baixa tempera-tura corporal, ritmo cardíaco e pressão arterial baixos,distensão abdominal e constipação, lanugem, alopecia,unhas quebradiças, cabelos secos, pele seca, desidra-tação, intolerância a baixas temperaturas, distúrbios dosono e alterações metabólicas. Mesmo quandocaquéticos, permanecem ativos. Há acidose metabólicae potássio sérico baixo. Pode ocorrer morte súbita,

provavelmente por taquiarritmias ventriculares. Oshormônios reprodutivos estão em baixa, mas os níveisnormais são restabelecidos quando instituída nutriçãoadequada. No homem, há impotência ou perda pelointeresse sexual. A desnutrição também tende aaumentar os sentimentos de depressão, ansiedade,irritabilidade e raiva.

Instalada a inanição, aparecem as alteraçõescerebrais. Os traçados eletroencefalográficos têm suaamplitude diminuída. Observa-se, através de tomografiacomputadorizada ou ressonância magnética, atrofiacortical, que pode ser revertida quando o estadonutricional do paciente for estabilizado. Por causas aindanão conhecidas, alguns pacientes não se recuperam daatrofia, o que traz grandes conseqüências.

As principais complicações são cardíacas, cerebraise ósseas. O ritmo cardíaco é irregular, podendo ocorrerfalência cardíaca, arritmias e morte súbita, princi-palmente devido à hipopotassemia. O uso de drogaspara induzir vômito, laxantes e diuréticos aumentam orisco de falência cardíaca. A atividade cerebral torna-semuito reduzida, sendo comum o surgimento dealterações comportamentais. Se a desordem for muitosevera, os pacientes podem perder cálcio dos ossos,levando à osteoporose. A diminuição da ingestão deproteínas e as alterações dos níveis de hormônioparatireoideano, vitamina D e hormônio do crescimentotambém contribuem para a osteoporose.

Outras complicações citadas são leucopenia e anemiaem graus variáveis, alteração da função digestiva,hipercolesterolemia e hipoglicemia. A desidrataçãocrônica e a hipocalcemia podem, a longo prazo, causardanos irreversíveis aos túbulos renais.

Um, em cada dez casos de anorexia nervosa, evoluipara óbito por inanição, por complicações cardíacas ousuicídio.

Distúrbios alimentares no sexo masculino sãorelativamente raros. Cerca de 5 a 10% da populaçãoanoréxica é masculina. A patologia inicia-se em idadesmais avançadas, em pacientes que apresentam umhistórico de obesidade e são extremamente relutantesao tratamento. O abuso de laxantes é menos freqüente.Homens anoréxicos exercitam-se vigorosamente paraalcançar a forma física.

4. Tratamento

O tratamento da anorexia terá sucesso quando odiagnóstico for precoce. Em homens, o problema é aindamaior, uma vez que falta experiência ao meio científico,por ser a anorexia relativamente rara no sexo masculino.

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S

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

O tratamento geralmente é a longo prazo e requerauxílio de amigos e familiares. Este é desenvolvido emvárias etapas:a) Ganho de peso: é iniciado com uma dieta líquida e

fracionamento das refeições. Com a evolução há umaumento progressivo da ingesta alimentar. Algunscasos requerem hospitalização: quando a perdaponderal for maior que 20% do peso ideal, ossintomas físicos forem graves ou quando houver riscode suicídio.

b) Psicoterapia: a terapia mais eficaz é a cognitiva-comportamental.

c) Uso de antidepressivos, medicamentos que corrigemo metabolismo dos neurotransmissores.

d) Internação hospitalar, com a finalidade de ganharpeso, tratar as intercorrências da desnutrição e salvara vida do paciente.

5. Conclusão

Mesmo com todos os avanços médicos alcançadosna área dos distúrbios alimentares, são necessárias maispesquisas com a finalidade de se estabelecer diagnósticopreciso, tratamento adequado e reconhecimento derecidivas. Por ser uma patologia complexa e de difícildiagnóstico, o acompanhamento do paciente deve serfeito a longo prazo para que sejam tomadas as medidasnecessárias para salvar a vida do anoréxico. Para isso, oapoio de amigos e familiares do paciente representamuma das principais formas de ajuda.

O tratamento pode salvar o paciente. Encorajamento,carinho, persistência, bem como informações sobre osriscos das desordens alimentares são necessários paraconvencer a pessoa enferma a procurar ajuda, iniciar,manter - ou recomeçar - o tratamento.

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O Desafio de se formar professoresThe challenge on teacher undergraduation

* Docente Curso de Educação Física - IMES e Deptº Educação Física e Esportes (PUC-SP)** Mestre PUC/SP; Deptº de Educação Física e Esportes (PUC-SP) e Instituto de Artes - UNESP

Ivo Ribeiro de Sá* e Kathya Maria Ayres de Godoy**

A B S T R A C T

This article tries to show a panorama about a very debatedtheme in the educational context: the teachers’ formation.Nowdays, the transformations that we have beenobserved with the technological progress of the communi-cation and information have made us reflect about thepedagogic practice, which aren’t exempt to thesetransformations.

The curricular reforms, and low implement, are indicativeof changes, for a social liability with the new and a politicsof teachers’ formation in Brazil.

Keywords: the teachers’ formation, education, physicaleducation

R E S U M O

Este artigo procura traçar um panorama a respeito deum tema que tem sido muito discutido no cenárioeducacional: a formação de professores.As transformações a que estamos assistindo, nos diasatuais, com o avanço das tecnologias de comunicação einformação, tem nos levado a repensar as práticaspedagógicas, que não ficam imunes a esse conjunto detransformações.

As reformas curriculares e a implementação de leisapontam para mudanças, para um compromisso socialcom o novo e para uma política de formação deprofessores no Brasil.

Palavras-chave: formação de professores, educação,educação física

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SINTRODUÇÃO

“As universidades podem ser fundadas por príncipes,cardeais, presidentes, alunos e professores, mas elas sópodem ser inventadas ao longo do tempo pela própriacomunidade acadêmica, em sua convivência com omundo inteiro e com a sociedade onde se situa”.

Cristovam BuarqueA universidade é uma instituição cujas finalidades e

estruturas refletem o momento de desenvolvimento deuma sociedade, nas suas coerências e contradições. Poroutro lado, é uma agência que pode desencadeartransformações nesta mesma sociedade, pela produçãoe socialização do conhecimento científico e pelaelaboração de valores numa perspectiva crítica eindependente, tanto quanto possível.

A academia serve, não somente para contemplar oaluno com o diploma, mas também se coloca enquantouma possibilidade de busca de informações queproporcione a geração de idéias, descobertas e prepareo mesmo para atuação no mercado de trabalho.

Entre os vários cursos oferecidos pelas universidades,nos debruçaremos sobre as licenciaturas, que tanto emnossa experiência profissional quanto na legislação ouna literatura educacional, sinalizam claramente apreocupação ao pensar na formação de professores que,hoje, vai muito além de oferecer a um licenciadoalgumas “disciplinas pedagógicas” ao final de seubacharelado. Formar professores na universidade implicaum projeto específico e partilhado por todos os docentesda licenciatura (não apenas os pedagogos). Implicaenvolver escolas, professores e a sociedade nesseprocesso de formação.

REVISÃO DE LITERATURA

Durante muito tempo, não existia nas universidadesuma preocupação com a especificidade da profissãodocente. Muitos compartilhavam da idéia de que àuniversidade cabia apenas a responsabilidade de garantiro conhecimento do conteúdo a ser ensinado. Ser umbom professor iria depender desse conhecimento e deum “dom pessoal” para “transmiti-lo” aos alunos. Assim,tradicionalmente, o currículo de licenciatura trazia umaforte ênfase no domínio do conteúdo específicoacrescido de algumas poucas disciplinas voltadas a algunsfundamentos educacionais (as chamadas disciplinaspedagógicas), constituindo o famoso modelo “3+1” -os três primeiros anos dedicados ao estudo do conteúdoespecífico e o quarto ano para as disciplinas pedagógicas.

Tal modelo recebeu críticas, não somente depesquisadores da área de Educação, mas também deegressos de cursos de licenciatura que, ao se iniciarem

no magistério, percebiam que sua formação inicial nauniversidade não garantia uma prática docentesatisfatória, seja porque não conseguiam transformar osconteúdos específicos em conhecimentos didaticamenteassimiláveis pelos alunos da escola básica, seja porquenão construíram um repertório social e interativo paralidar com jovens.

Essa preocupação contribuiu para que nas últimas duasdécadas houvesse um aumento considerável de pesquisassobre os professores e sua formação, que ocupam hojeum lugar estratégico nas reformas contemporâneas paratransformação dos sistemas educacionais. Os professoresnão podem ser mais concebidos como meros técnicos,executores de planos decididos por especialistas.Concebemos professores como intelectuais, profissionaissujeitos de seu próprio trabalho, construtores de suaprática pedagógica, portanto competentes para analisarema realidade e recriarem alternativas de ação político-pedagógica.

Para a formação desse profissional dotado demúltiplos saberes, esperamos a superação de antigascontradições/polarizações entre bacharelado elicenciatura, traduzidas em suas diversas interpretações,como “conteudismo e pedagogicismo”, “teoria eprática”, “formação geral e pedagógica”.

A literatura aponta que a formação de um professoré um processo que ocorre ao longo da vida, ou seja, oprofessor começa a ser formado antes da licenciatura econtinua a ser formado depois dela. É um processo deformação intelectual e cultural e que envolve aspectosde natureza ética e política. Dessa forma, é importanteque um curso de formação de professores ofereça aseus alunos, além de uma aproximação com o campoepistemológico da pedagogia e da área específica emque atua, experiências diversificadas de formação e decultura geral. Nesse sentido, um conjunto de expe-riências integradoras precisa fazer parte da formaçãodos licenciandos, seja no sentido de integrar um conheci-mento específico às preocupações educacionais eescolares, seja no sentido de integrar o profissional daeducação à sociedade em que está inserido. É funda-mental formar o futuro professor oferecendo-lhe instru-mentos para pensar no humano imerso nas relações sócio-político-cultural-históricas presentes no ato de educar.

Assim, os cursos de formação de professores precisampropiciar uma aproximação com os conhecimentosacumulados historicamente e uma discussão sobre osaspectos filosóficos, históricos, culturais, políticos, sociais,psicológicos e metodológicos que se relacionam com otrabalho do professor, com a gestão da escola, com aeducação de jovens cidadãos brasileiros e com aconstrução de uma sociedade democrática e includente.

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Esses princípios de formação de profissionais daeducação têm implicações decisivas em nosso cotidianona universidade. É necessário enfrentar as rupturas:bacharelado e licenciatura, pois tanto os professores dasdisciplinas de conteúdo pedagógico quanto osprofessores das disciplinas de conteúdo específicoformam professores; universidade e escola, porque tantoa universidade (e seus professores) quanto a escola deensino fundamental e médio (e seus professores) formamprofessores; e universidade e sociedade em que asexperiências culturais e políticas dos licenciandos sãotambém formadoras de seu trabalho docente. Enfrentaressas rupturas que fazem parte de nossa culturauniversitária, de nossa tradição acadêmica, não é tarefafácil e rápida. É preciso uma política de trabalho voltadapara formação de professores a fim de se discutir essasquestões.

A partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional em 1996, decretos, pareceres eresoluções buscam regularizar e finalizar uma etapa deproposição para a reforma educacional no campo daformação de professores.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a formaçãode professores da educação básica, em nível superior,em cursos de licenciatura de graduação plena, foraminstituídas pelo Parecer CNE/CP 09/2001 e ResoluçãoCNE/CP 01/2002. Tais documentos apresentam osprincípios orientadores amplos, as diretrizes para umapolítica de formação de professores que norteiam aorganização e a estruturação dos cursos de formação.Incluem a discussão de competências e de conheci-mentos necessários para o desenvolvimento profissional,a organização institucional da formação de professorese as diretrizes para a estruturação da matriz curricular.Essas diretrizes deverão ser aplicadas em todos os cursosde formação de professores em nível superior, qualquerque seja o lócus institucional, área de conhecimento e/ou etapa da escolaridade básica e, de acordo com elas,caberá a instituição, a construção do projeto políticopedagógico do curso, de modo a traduzi-las em umaproposta curricular que seja criativa e ousada.

Já o Parecer 28/2001 e a Resolução CNE/CP 02/2002instituíram a duração e a carga mínima dos cursos delicenciatura, indicando que o curso de formação deprofessores deverá ter o mínimo de 2800 horas, a seremdesenvolvidas, no mínimo, em três anos letivos, comduzentos dias letivos cada ano e com a preocupaçãoexplícita relativa à articulação entre teoria e prática. Destetotal da carga horária mínima, 1800 horas de aulasdevem ser reservadas para conteúdos curriculares denatureza acadêmico-científico-cultural; 400 horas deprática como componente curricular vivenciadas ao

longo do curso, 400 horas de estágio curricular supervi-sionado, a partir do início da segunda metade do cursoe 200 horas para outras formas de atividades acadêmico-científico-culturais. Como as resoluções permitemdubiedade de interpretação, é sempre importanteregistrar que conteúdos de natureza educacionalpresentes nas tradicionalmente chamadas disciplinaspedagógicas são decididamente conteúdos de naturezaacadêmico-científico-cultural.

Tendo clareza que a formação de professores precisaser realizada em curso específico, numa estrutura comidentidade própria, foi constituída na UniversidadeEstadual Paulista em 2002, uma comissão composta porseis professores dessa instituição, com a finalidade deestudar, discutir e interpretar as possibilidades deimplementação dessa resolução. Essa comissãoconsiderou insuficiente a duração mínima de três anose de 2800 horas para os cursos de formação deprofessores, prevista pela Resolução CNF/CES 02/02, queparece mais atender a formação aligeirada nos InstitutosSuperiores de Ensino. E ainda pontuou que o estabele-cimento da duração dos cursos, se em quatro anos oumais, está diretamente condicionado ao projeto político-pedagógico que cada licenciatura constituirá.

Com efeito, este é o panorama que se desenha paraos cursos de licenciatura. Procuraremos agora, focarnossa abordagem na concepção do professor como umprofissional do ensino.

O PROFESSOR REFLEXIVO: UM PROFISSIONALDO ENSINO

Nesta perspectiva Schön (in Castro, 2000) (12) salientaque o ensino universitário contemporâneo apresentauma grande defasagem entre o que procura ensinar eas situações em que os estudantes defrontam na práticaescolar. Esse autor procura responder a seguinte questão:que tipos de formação serão mais viáveis para equiparos professores com as capacidades necessárias aodesempenho do seu trabalho?

Esse questionamento nos pareceu bastante oportuno,pois o que vemos na educação reflete o que observamosem outras áreas: uma crise de confiança no conheci-mento profissional que provoca a busca de uma novaepistemologia da prática profissional. Schön (13) diz quena educação esta crise centra-se num conflito entre osaber escolar e a reflexão-na-ação dos professores e alunos.

Para o autor, saber escolar é um tipo de conheci-mento que os professores supõem possuir e transmitiraos alunos. É uma visão dos saberes como fatos e teoriasaceitas. O saber escolar é tido como certo, significandouma profunda e quase mística crença em respostasexatas. É molecular, feito de peças isoladas que podem

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200370

Sser combinadas em sistemas cada vez mais elaboradosde modo a formar um conhecimento avançado. Aprogressão dos níveis mais elementares para os níveismais avançados, é vista como um movimento dasunidades básicas para a sua combinação em estruturascomplexas de conhecimento.

Por outro lado, o saber escolar organiza-se emcategorias, pois aproxima as informações através de umsistema lógico de similaridade e não pela sua aplicaçãoprática, ou seja, procura organizar as informaçõesdesconsiderando a significação prática que essas possuem.

A significação prática aparece através de açõesespontâneas, intuitivas, experimentais e cotidianas queas pessoas vivenciam. Trata-se de um conhecimentogerado pela ação.

“A articulação desse conhecimento com o saberescolar proporciona a reflexão-na-ação, que exige doprofessor uma capacidade de individualizar, prestaratenção a um só aluno, tendo a noção do seu grau decompreensão e das suas dificuldades” (ibidem p. 82).

O professor deve desenvolver, em algumas etapassua prática de ensino. A primeira, permite que sejasurpreendido pelo que o aluno faz. Em seguida, refletesobre essa ação e procura não só compreendê-la, comotambém diagnosticar o porquê foi surpreendido. Depois,reformula o problema que exigiu a ação do aluno e,por fim, efetua uma experiência que permita testar umanova hipótese que formulou sobre o modo de pensardo aluno. Essas etapas devem levar o professor a refletirsobre o processo do aluno, o que lhe permite umareflexão-na-ação.

A reflexão-na-ação implica, segundo Schön (13), nasmúltiplas representações que os alunos possuem sobreas diversas situações e objetos. Para ele, essasrepresentações podem ser “figurativas” ou “formais”.Figurativas quando partem de um conhecimentocotidiano, implicando em agrupamentos situacionais econtextualizados e formais quando partem de umconhecimento que implique referências fixas, ou seja,o saber escolar. Cabe ao professor proporcionar ao alunoa articulação dessas representações múltiplas.

Segundo Scheffler (in Schön, 1997) (13), para que hajao processo de aprendizagem é necessário confusão eincerteza. Um professor reflexivo tem a tarefa deencorajar e reconhecer a confusão dos seus alunos, e,também, deve dar valor às suas próprias confusões.Nesse sentido, o grande inimigo da confusão é a repostaque se assume como verdade única. Esse conflito é umaoutra dimensão da reflexão-na-ação designada comoemoção cognitiva.

Não se pode desconsiderar no professor reflexivo, ainteração interpessoal que o mesmo constrói com umaluno ou com um grupo de alunos. Esta relação podeser muito estimulante e despertar o sentido da curio-sidade no professor.

Um outro dado importante, é que o professor estáimerso no universo escolar e, para que possa desenvolveruma prática reflexiva, deve possuir consciência docontexto em que está inserido, ou seja, não descon-siderar a estrutura burocrática da escola.

O processo de compreensão de conhecimentos, asrelações interpessoais entre professor e aluno, aconsciência da prática reflexiva e o contexto em queela ocorre (escola), constituem o que Schön denominacomo practicum.

Nas licenciaturas, espaço acadêmico que tem porfunção formar professores, “existem duas grandesdificuldades para a introdução de um practicum reflexivo.São a epistemologia dominante na universidade e o seucurrículo profissional normativo. Primeiro, ensinam-se osprincípios científicos relevantes, depois a aplicação destese, por último, tem-se um practicum cujo objetivo é aplicarà prática cotidiana os princípios da ciência aplicada. Mas,se o practicum quiser ter alguma utilidade, deveráenvolver sempre outros conhecimentos diferentes dosaber escolar” (Schön, 1997, p. 91) (13).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Assim podemos dizer que estes conhecimentos quebrotam da prática inteligente e refletida, que desafia osprofissionais a dar respostas à questões novas,problemáticas, por meio da invenção de novos saberese de novas técnicas produzidas no aqui e no agora,individual ou coletivamente, devem ser revalorizadosnas licenciaturas.

E as licenciaturas devem contemplar as especifici-dades de seu campo de atuação, pensando nas habi-lidades que devem ser desenvolvidas nas diversas áreas.

Sabemos que nos cursos de Educação Físicaencontramos características que permitem ao profissionaldessa área aliar o practicum reflexivo aos saberes dasexperiências acumuladas trazidas da prática, que muitasvezes foram determinantes para a escolha do curso. Porexemplo: é comum atletas de diferentes modalidades(judô, basquete, voleibol, etc) e com muita experiênciaprática, escolher o curso de Educação Física para setornarem professores do Ensino Fundamental e Médioou de Academias, Clubes e de outras instituições. E énesse sentido que devemos nos preocupar com aformação desses professores que podem se tornarprofissionais reflexivos.

Desta forma, gostaríamos de focar num próximoartigo, quais seriam as características encontradas noslicenciados em Educação Física, a fim de colaborarmoscom uma reflexão acerca dos profissionais que têm sidoe que serão formados para o ensino de nosso país.

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Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200372

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N O T Í C I A S D O S C U R S O S EC E N T R O D A S A Ú D E

EDUCAÇÃO FÍSICA

Alunos da Educação Física visitamfábrica de aparelhos de musculação

em São PauloNo último mês de março, os alunos do curso de Educação

Física visitaram a Empresa Righetto, em Campinas, uma dasmaiores no ramo de aparelhos de musculação.

A visita teve como objetivo demonstrar todas asetapas da produção dos equipamentos de exercícioscom pesos, desde a organização dos projetos, as etapasde pintura, montagem, embalagem e distribuição.

Após a visita na linha de produção,foi ministrada uma aula sobre os

aspectos biomecânicos dosdiferentes exercícios em cada

equipamento e os princípios dadistribuição de forças nos

movimentos em função dascaracterísticas técnicas dos

aparelhos.A participação dos alunos em atividades de extensão

e visitas técnicas é um importante indicador para a buscade uma formação mais holística e com qualidade.

Agita Mundo - Dia Mundial daAtividade Física - Uma Ação

ComunitáriaAs atividades do Dia Mundial da Atividade Física

realizadas em 06 de abril de 2003 contou com aparticipação da comunidade discente e docente doIMES, que organizaram em conjunto com o DETUR e aAcademia Ágilis, uma mega ação comemorativa em prolda saúde e da paz.

Foram organizadas várias atividades, incluindo umpasseio ciclístico e uma caminhada por São Caetano doSul, assim como atividades físicas no parque ChicoMendes. O Curso de Educação Física além de aplicaçãodo questionário de medidas de atividade física, tambémorganizou atividades em cama elástica; o curso de

enfermagem realizou medidas de pressão arterial; ocurso de fisioterapia, medidas de avaliação postural;enquanto o curso de nutrição elaborou diagnósticoantropométrico de peso e altura. O curso de farmáciaaplicou um questionário sobre os hábitos de consumode medicamentos da população. Essas atividades emconjunto permitiram atingir 600 participantes, com opropósito de estimular a prática regular de atividadesfísicas. Ao todo foram contempladas mais de 500pessoas, tanto nas orientações de atividade física, comonas ações em pareceria dos diferentes cursos da áreada saúde. O grande desafio é transformar essas atividadesem ações permanentes junto a nossa comunidade, poisainda há um pequeno número de ações em conjuntocom a comunidade. Certamente, o caminho é extrema-mente promissor.

Educação Física participa da IXSIPAT do IMES

Durante a ultima IX SIPAT do Centro UniversitárioMunicipal de São Caetano do Sul -IMES, várias palestrasforam oferecidas para a comunidade interna e externa.Vários professores da área da saúde estiveramministrando palestras, dentre eles o Prof. Aylton FigueiraJúnior, Coordenador do Curso de Educação Física doIMES, que apresentou a temática Qualidade de Vida eEstilo de Vida Ativo. Estiveram presentes na palestraalunos do centro da Saúde e professores de diferentesáreas, além de funcionários dos setores do IMES.

O desenvolvimento da temática trouxe apossibilidade de promover a conscientização dosbenefícios do estilo de vida ativo, além de apresentar orisco das doenças crônico-degenerativas associados aosedentarismo.

Em breve, um programa de atividades físicas estarásendo oferecido para a comunidade interna do IMES.

Novos docentes no Curso deEducação Física

O curso de Educação Física, iniciou em 2003, oterceiro ano de atividades acadêmicas, tendo umaumento significativo do número de alunos e docentes.

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Neste último item, em especial, há uma grandepreocupação da Universidade com a titulação dosdocentes. O corpo docente do Curso de Educação Físicapossui em sua composição por Especialistas (11,8%),Mestres e Doutores totalizando 88,2%.

A tendência é incremetar o quadro de titulaçãodocente nos próximos semestres, em função de novasdisciplinas oferecidas, o que permitirá um implementodas atividades de ensino, pesquisa e extensão.

Projetos de Pesquisa do Curso deEducação Física

Recentemente, atendendo as determinações deatividades de pesquisa da Pró-Reitoria do CentroUniversitário - IMES, 03 projetos de pesquisa realizados

por docentes do Curso de Educação Física foramrecomendados para iniciação científica, em conjuntocom alunos da graduação. Ao todo estão envolvidos:04 docentes (Prof. Ms. Edson Marcelo Húngaro, Prof.Ms. Eduardo Aguiar, Prof. Dr. Jose Luis Solazzi e Prof.Ms. Alexandre Leonarde). A supervisão dos alunos pelosdocentes do Curso de Educação Física visa implementaras atividades de pesquisa do Curso, levando a umdesenvolvimento científico, raciocínio metodológico dosalunos, produzindo trabalhos de pesquisa com relevantevalor para o Centro Universitário, com a possibilidadede apresentação e publicação em eventos científicos.Essa iniciativa certamente criará o espírito científico nosalunos, que em conjunto com as disciplinas dagraduação, outras experiências científicas serão atingidas.

ENFERMAGEM

12 de Maio - Dia da EnfermagemO curso de enfermagem comemorou o Dia da

Enfermagem com o evento “Enfermagem e Famílias”,no dia 12 de maio, onde foi realizado a palestra“Mobilizando-se para a família” com a Profª Ms MonikaWernet e o debate: “Aproximando-se da família nosdiferentes contextos de atuação da enfermagem” coma participação da Enfª Mariana Luccas da Rocha, EnfªLourdes Marci Reinerp Barros e a Enfª Fernanda Pitangarelatando as suas vivências no cuidar de famílias.

Alunos da Enfermagem Participamdo Plantão Itinerante do Juizado

Especial PrevidenciárioOs alunos do 1º e 2º ano do curso de Enfermagem

do IMES, supervisionados pela professora Gisele PuertaNogueira, participaram nos dias 23/03 e 24/05 doJuizado Especial Federal Previdenciário Itinerante dandoo atendimento de primeiros socorros à população, bemcomo palestras e orientações relativas à prevenção ecuidados com a Hipertensão Arterial.

Alunos Participam do Agita MundoOs alunos dos cursos da Saúde participaram do Dia

Mundial da Saúde, realizado em São Caetano do Sul noEspaço Verde Chico Mendes. Os alunos da Enfermagemverificaram a pressão arterial da população e forneceramorientações quanto a prevenção das doençascardiovasculares e prevenção de quedas nos idosos.

XII Seminário Nacional dePesquisa em Enfermagem; 48º

Congresso Brasileiro deEnfermagem e VIII Congresso

Paulista de Terapia Intensiva e VIIForum Latino Americano de

Ressuscitação Cardiopulmonar eEmergências

No período de 9 a 14 de novembro de 2002, a ProfªAllison Scholler de Castro participou do 54º CongressoBrasileiro de Enfermagem, promovido pela AssociaçãoBrasileira de Enfermagem (ABEn-Seção Ceará) erealizado em Fortaleza - Ceará, expondo três trabalhosna área da Saúde da Criança. No período de 27 a 30de abril de 2003 a Profª Allison também participou do12º SENPE sendo relatora de dois trabalhos. A ProfªGisele Puerta Nogueira participou do VIII COPATI, noperíodo de 9 a 12 de abril de 2003 com a apresentaçãodo trabalho “Indicadores de gravidade em unidade deterapia intensiva: estudo comparativo entre o therapeuticintervention scoring system-23 e sua versão reduzida”,selecionado entre os doze melhores trabalhos

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R E S U M O D E A R T I G O SC I E N T Í F I C O S

QUESTIONÁRIO INTERNACIONAL DE ATIVIDADE FÍSICA (IPAQ): ESTUDO DE VALIDADE EREPRODUTIBILIDADE NO BRASIL

Sandra Matsudo, Timóteo Araújo, Victor Matsudo,Douglas Andrade, Erinaldo Andrade, Luis Carlos Oliveira, Glaucia Braggion

Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde 6(2): 05-18,2001

Este estudo é parte de um esforço internacional para validar um questionário internacional de atividade física(IPAQ) proposto pela Organização Mundial de Saúde (1998) e que pretende servir como um instrumento mundialpara determinar o nível de atividade física em nível populacional. O objetivo deste estudo foi determinar a validadedo IPAQ em uma amostra de adultos brasileiros. A amostra foi constituída por 257 homens e mulheres queresponderam o IPAQ (versão da última semana, formas curta e longa) no início do estudo e após 7 dias. Para validaro instrumento, parte da amostra (n: 28) usou o sensor de movimento Computer Science & Aplications (CSA). Areprodutibilidade do questionário foi determinada depois de 7 dias e a correlação de Spearman foi significante ealta (rho=0,69 - 0,71: p<.01). A validade usando o CSA foi de 0,46 na forma longa e 0,75 na forma curta. Osresultados evidenciaram que as formas longa e curta são comparáveis e que os períodos de referência de semanausual e 7 últimos dias apresentam resultados similares. Concluímos que as formas de IPAQ foram aceitáveis eapresentaram resultados similares a outros instrumentos para medir nível de atividade física, no entanto, pela primeiravez, o estudo de validação de diversos países e culturas foram envolvidos na validação do instrumento.

Prevalência e fatores de risco para tabagismo em adolescentes

Maura C Malcon, Ana Maria B Menezes e Moema Chatkin

OBJETIVO: O tabagismo é uma das principais causas de enfermidades evitáveis e incapacidades prematuras.Nesse sentido, realizou-se estudo com o objetivo de medir a prevalência e estudar fatores de risco associados aotabagismo nos adolescentes. MÉTODOS: A partir de um delineamento transversal de base populacional, estudou-se uma amostra representativa de 1.187 adolescentes de 10 a 19 anos, da zona urbana de Pelotas, sul do Brasil.Todos os adolescentes da amostra, de cada domicílio, foram entrevistados por meio de questionário pré-codificado,individual e confidencial. Utilizou-se o teste de Kaplan-Meier para análise da curva de sobrevida.

RESULTADOS: A prevalência de tabagismo na amostra foi de 12,1% (IC95% 10,3%-14%). As prevalências foramsimilares para os sexos femininos e masculinos. Os fatores de risco para tabagismo na análise multivariada, porregressão logística, foram: maior idade, odds ratio (OR) de 28,7 (11,5-71,4), irmãos mais velhos fumantes, OR de2,4 (1,5-3,8), três ou mais amigos fumantes, OR de 17,5 (8,8-34,8) e baixa escolaridade OR de 3,5 (1,5-8,0).

CONCLUSÕES: A prevalência de tabagismo na adolescência mostrou-se alta, na cidade de Pelotas. Campanhasantitabágicas devem ser direcionadas à comunidade e à família tendo o adolescente como alvo. Medidas legaisadotadas pelo governo são importantes para impedir o acesso dos adolescentes ao cigarro.

EDUCAÇÃO FÍSICA

ATUALIDADES

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Musculação, exercício aeróbico e suas relações com o emagrecimento

Marcelo Guimarães Boia do Nascimento, 2001

O objetivo da pesquisa foi comparar a variação do peso gordo em indivíduos que praticam a musculaçãoprecedida do exercício aeróbico e seguida do exercício aeróbico. A musculação foi realizada em alta intensidade(acúmulo acima de 9 mmol/L de lactato). O exercício aeróbico consistiu de 30 minutos realizados ininterruptamenteem bicicleta ergométrica. Verificou-se a medida do peso gordo antes e depois do treinamento, que consistiu emum macrociclo de 12 semanas. A amostra estudada foi composta de 35 indivíduos do sexo masculino. Foramseparados aleatoriamente em 2 grupos: Grupo 1 - 17 indivíduos que realizaram o exercício aeróbico seguido damusculação; e o Grupo 2 - 18 indivíduos que realizaram a musculação seguida do exercício aeróbico. Os indivíduospertenciam a faixa etária de 25 a 30 anos, eram sedentários (mínimo de 6 meses sem atividade física regular) compercentual de gordura acima do normal , caracterizando algum grau de obesidade (acima de 20%). A ingestãocalórica foi controlada por dieta prescrita individualmente. Como resultados, através da análise de variância ANOVAtwo-way para dados repetidos, obtivemos os seguintes dados: a)Não houve uma diferença estatisticamente significativaentre o treinamento do grupo 1 (exercício aeróbico seguido de musculação) e do grupo 2 (musculação seguida doexercício aeróbico) quanto a perda de peso gordo para p< 0,05. b)Houve uma diferença estatisticamente significativana perda de peso gordo e aumento da massa isenta de gordura, com o treinamento em ambos os grupos. Apesardos resultados não se apresentarem estatisticamente significativos, os dados brutos (perda de 1,2 Kg a mais nogrupo 1) comprovam a hipótese experimental de que a musculação praticada em alta intensidade não favorece oemagrecimento. Há a necessidade de novos estudos, com uma amostra maior e mais homogênea.

A atividade aeróbica contra-resistência como atenuadora dos fatores de risco associados das doençascoronarianas: hipertensão e hiperlipidemias

Ronaldo Castrioto Lemos. Rio de Janeiro, 1999. 301p

Este estudo teve como objetivo investigar os aspectos relacionados à repercussão das modificações orgânicassobre as variações qualitativas e quantitativas do desempenho motor em grupos de Riscos Associados. A amostrateve a participação de vinte (n=20) sujeitos, divididos por dois grupos em dois tempos em um Universo Amostralestatisticamente pequeno. O Primeiro grupo denominou-se CONTROLE, formado por dez (n=10) indivíduos inativosfisicamente de ambos os sexos (05= feminino e 05=masculino) entre 25 e 51 anos; estatura entre 169 e 192 cm;peso atual entre 52,3 e 114,7 Kg e dobras Cutâneas entre 36,0 e 73,3 cm, portadores de Hipertensão Arterial eHiperlipidemias. O segundo, denominado grupo EXPERIMENTAL, formado por dez (n=10) indivíduos de ambosos sexos (06=feminino e 04=masculino) entre 21 e 54 anos; estatura entre 156 e 184 cm; peso atual entre 72,40e 93,20 Kg e dobras cutâneas entre 32,10 e 43,50 cm, com as mesmas características tensionais e bioquímicas dogrupo CONTROLE, sendo que sofriam ao longo da PESQUISA a influência da prática regular de exercícios aeróbicoscontra-resistência de forma controlada. O primeiro instrumento que é o QUESTIONÁRIO DE HISTÓRICA MÉDICA(The Aeróbics Center Dallas, 1986) foi utilizado para seleção da amostra. O segundo instrumento foi a AvaliaçãoFuncional Biológica verificando a idade, sexo, estatura, peso atual e somatório de dobras cutâneas. O terceiroinstrumento foram os Testes Bioquímicos Sangüíneos (Índice de CASTELLI) Lipidograma completo verificando ocolesterol total, as lipoproteínas de alta densidade (HDL), as lipoproteínas de baixa densidade (LDL), as lipoproteínasde muito baixa densidade (VLDL) e triglicerídeos sangüíneos. O quarto instrumento foi o Mapeamento Ambulatorialda Pressão Arterial (MAPA de 24 horas) e o quinto instrumento foi o Teste Progressivo de Resistência ao Esforço(ERGOMETRIA) utilizando-se o Protocolo de Bruce com 12 derivações de MASON e LIKAR. Para a programaçãoindividual foi utilizado o método de sistemas de trabalho com exercícios aeróbicos contra-resistência. A frequênciados exercícios foi de (05) vezes por semana, em um período total de 30’a 60’ diários. Foi utilizada a EstatísticaDescritiva e a Estatística e à Análise de Variância One Way. Face as limitações inerentes ao Universo Amostral, foiempregado o Teste de Inferência (t) e o Coeficiente de Correlação de Person. Ocorreram melhoras de 50% das

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200376

Svariáveis analisadas pela Avaliação Funcional Biológica com referência as Dobras Cutâneas; ocorreram melhoras de25% na variável Colesterol Total; de 35% no HDL-Colesterol; de 32% no LDL-Colesterol; de 28% no VLDL-Colesterole de 41% nos Triglicerídeos Totais (Índice de CASTELLI). No teste de Resistência Progressiva ao Esforço (Ergometria)ocorreram melhoras de 66,67% das variáveis analisadas pelo Protocolo de Bruce em Condições Basais eHiperventilatórias; Os valores também demonstraram que ocorreram melhoras significativas em Condições deEsforço (ERGOMETRIA) em 83,33% da variáveis analisadas. Ocorreram melhoras significativas também no Períodode Recuperação em 83,33% das variáveis analisadas. Ocorreram melhoras significativas em 100% das variáveisanalisadas (MAPA de 24 Horas). Estatisticamente podemos concluir que o Método Proposto, quando realizado deforma sistemática proposta pelo Design da Pesquisa no capítulo da Metodologia, foi capaz de melhorarsignificativamente em 83,33% das variáveis analisadas, 35 das 42 investigadas nesta Pesquisa.

Efeitos da atividade física em paciente diabético Mellitus do tipo II.

Eduardo Silveira Netto. Rio de Janeiro, 1999

O Diabete Mellitus acomete 7,6% da população brasileira entre 30 e 69 anos (VIVOLO, 1996). A prática deatividade física é frequentemente recomendada no tratamento do Diabetes Mellitus (TSUI & ZINMAN, 1995). Nopaciente não insulino-dependente, Tipo II (DMNID), a atividade física propicia melhora em vários aspectosrelacionados a sua fisiopatogênese decorrentes da resistência insulínica, sendo portanto um importante fator notratamento juntamente com dieta e/ou terapêutica medicamentosa indicada. Demonstrada por diversos estudosclínicos multicêntricos, a prevenção das complicações pode ser eficazmente obtida através do bom controlemetabólico do paciente. O objetivo do estudo é estabelecer normas e procedimentos para elaboração de subsídiosà implementação de um programa de atividades físicas. A estratégia proposta para a melhoria das condições desaúde deste paciente é possível, especialmente, pela educação dos diabéticos por equipes multidisciplinares,constituídas por médicos, nutricionistas e professores de educação física. Permitindo de uma forma eficaz a reduçãoou mesmo evitar a incidência das complicações crônicas do diabetes e das alterações metabólicas que necessitamde intervenção emergencial, bem como uma melhora do bem estar e da qualidade de vida do paciente. Através daidentificação e conhecimento do problema, proporcionando segurança e confiança, contribuindo para uma vidamais sadia, confiante, produtiva, feliz e de menor risco.

Efeitos do treinamento físico de alta intensidade sobre leucócitos de ratos diabéticos

Camila Aparecida Machado de Oliveira, Gustavo Puggina Rogatto e Eliete LucianoRevista Brasileira de Ciências do Esporte, 8(6): 2002

Estudos têm demonstrado que o exercício físico regular melhora as condições do diabetes, facilitando a captaçãoperiférica da glicose e o metabolismo de glicogênio, proteínas, etc. Por outro lado, pouco se conhece sobre osefeitos do exercício intenso em diabéticos, principalmente com relação ao sistema imune desses organismos. Opresente estudo teve como objetivo verificar os efeitos de um treinamento físico de alta intensidade sobre a contagemtotal e diferencial de leucócitos em ratos diabéticos. Ratos machos jovens Wistar foram distribuídos em 4 grupos:controle sedentário (CS), controle treinado (CT), diabético sedentário (DS) e diabético treinado (DT). O diabetes foiinduzido por aloxana (35 mg/kg de peso corporal). Durante 6 semanas os animais dos grupos CT e DT realizaramum protocolo de treinamento físico que consistiu na realização de 4 séries de 10 saltos (intercaladas por 1 minutode intervalo) em piscina, com o nível da água correspondendo a 150% do comprimento corporal e sobrecargaequivalente a 50% da massa corporal dos animais. Ao final do período experimental, amostras de sangue foramcoletadas para a contagem total e diferencial dos leucócitos. Os resultados foram avaliados estatisticamente porANOVA com um nível de significância de 5%. A glicemia foi aumentada entre os diabéticos e a insulinemia diminuída.Não foram observadas diferenças significativas na contagem diferencial dos linfócitos, neutrófilos, eosinófilos econtagem total de leucócitos entre os grupos estudados. Houve aumento dos monócitos entre os treinados

77Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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(CS=10,0+4,5, CT*=25,4+7,9, DS=19,75+7,4, DT*=25,8+4,4%). O peso relativo do timo foi reduzido pelotreinamento e pelo diabetes (CS=125,0+37,7, CT*=74,6+8,2, DS*=47,5+12,2, DT*=40,1+16,9 mg/100g).Estes resultados permitem concluir que o treinamento físico de alta intensidade não alterou o estado geral dodiabetes, mas aumentou os monócitos, o que pode representar um efeito positivo sobre a resposta imunológicadesses animais.

Considerações sobre a medida da pressão arterial em exercícios contra-resistência

Marcos Doederlein Polito e Paulo de Tarso Veras FarinattiRevista Brasileira de Medicina do Esporte, 9(1): 2003

A pressão arterial (PA) é uma variável cuja quantificação em sessões de treinamento é desejável, já que temrelação com as demandas cardiovasculares no esforço. No caso de exercícios contra-resistência (ECR), porém, osvalores obtidos estão sujeitos a erros, dependendo da técnica de medida adotada. Este texto teve por objetivorevisar os métodos de medida da PA no ECR, sugerindo formas de reduzir as discrepâncias das medidas indiretasquando comparadas com o método direto. A medida direta da PA é feita por cateterismo intra-arterial (CI). Estemétodo é tido como padrão-ouro mas, devido a sua natureza invasiva, é um procedimento pouco usual. Alémdisso, sua aplicação não seria indicada em indivíduos assintomáticos, uma vez associada a riscos de dor, espasmo eoclusão arterial, síncope vaso-vagal e sangramento. Dentre os métodos indiretos, destacam-se o fotopletismográfico(Finapres) e o auscultatório (MA). Poucos são os estudos comparativos entre estes procedimentos de medida duranteECR, a ênfase sendo maior em atividades aeróbias e no repouso. Dentre os estudos revisados, não foram localizadostrabalhos comparando o CI com Finapres durante ECR e apenas três com o método auscultatório. Em suma, o CIparece pouco viável e ético para quantificar a PA em ECR. O Finapres é considerado o melhor procedimentoindireto, mas depende de equipamento cujo custo é elevado e a fabricação suspensa. O MA pode subestimar ovalor real da PA, em função de limitações inerentes à técnica e das características dos exercícios observados. Noentanto, alguns procedimentos durante a mensuração podem reduzir estas diferenças, como realizá-la o maistardiamente possível, antes do término do exercício. Enfim, apesar das discrepâncias referentes aos valores absolutos,as medidas obtidas pelo método auscultatório podem ser sensíveis para identificar tendências do impacto sobre aPA, decorrentes de diferentes situações de prescrição de EC.

Crescimento físico e aptidão física relacionada à saúde em adolescentes rurais e urbanos

Maria Fátima GlanerRevista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, 4 (1) - 2002

Este estudo, caracterizado como transversal, teve por propósito comparar o crescimento físico e a aptidão físicarelacionada à saúde (AFRS) de adolescentes femininos e masculinos, residentes em áreas rurais e urbanas, bemcomo comparar os resultados com padrões critérios-referenciado estabelecidos por Marcondes (1982) para ocrescimento físico e pela AAHPERD (1988) para a AFRS. A amostra foi composta por estudantes voluntários dasredes públicas de ensino, totalizando 1420 sujeitos. Destes, 447 são moças urbanas e 252 rurais; 435 são rapazesurbanos e 286 rurais, com idades entre 10,50 a 17,49 anos. O crescimento físico foi analisado através da estatura,massa corporal, altura tronco-cefálica, comprimento de membros inferiores, perímetro do antebraço, diâmetrosbiestilóide e biepicondiliano do fêmur; e, a AFRS através do índice de massa corporal, somatório das dobrascutâneas, tricipital e panturrilha, aptidão cardiorespiratória, força/resistência da parte inferior do tronco e da partesuperior e braços, e flexibilidade. Todas as variáveis foram tratadas no Statistical Analysis System, por idade decimal,entre sexos e no mesmo sexo entre as áreas rural e urbana. Para comparar as variáveis com distribuição normal foiusada a estatística F de Fischer (p < 0,05) e, para as sem distribuição normal foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis(p < 0,05). Os resultados obtidos possibilitam concluir que: a partir dos 14 anos os rapazes apresentam médiassignificativamente (p < 0,05) maiores nas variáveis de crescimento físico do que as moças; o crescimento físico é

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200378

Ssemelhante no mesmo sexo entre rurais e urbanos; de modo geral, tanto as moças como os rapazes apresentamestatura e massa corporal superiores aos referenciais nacionais; a AFRS é superior (p < 0,05) nos rapazes em todasas idades em relação às moças; moças e rapazes rurais apresentam melhor (p < 0,05) AFRS do que seus paresurbanos; em torno de 85% das moças e rapazes rurais e, em torno de 93% das moças e rapazes urbanos, nãoatendem os critérios-referenciado, indicadores de uma recomendada AFRS.

Benefícios da atividade física em pessoas com transtornos mentais / Service of physicalactivity in people with mental disorders

Roeder, Maika Arno.Rev. bras. ativ. fis. saude;4(2):62-76, 1999.

Saúde e doença mental são processos particulares de expressão das condições de vida e do estilo de vida deuma sociedade, representando as diferentes qualidades do processo vital e as diferentes competências para enfrentardesafios, agressões, conflitos e mudanças, numa dupla e contraditória natureza: biológica e psicológica. Fatoresbiológicos, psicológicos e sociais, aliados à predisposição genética, são agentes causadores das doenças mentais.Qualidade de vida no contexto da saúde mental, significa algo mais do que a melhora dos sintomas. Consiste naestruturação de um conjunto de fatores necessários, como resgate das habilidades sociais, moradia, trabalho, educação,apoio comunitário, lazer e bem estar psicológico A medicina e as ciências do movimento vêm aperfeiçoando-se naexperimentação da atividade física, como procedimento eficaz tanto na prevenção quanto no tratamento e reabilitaçãodas pessoas com transtornos mentais. A participação em um programa de exercício regular é uma modalidade deintervenção efetiva para reduzir e prevenir um número de declínios funcionais associados à doença. Quanto aosfatores psicológicos, os maiores benefícios citados na literatura incluem aumento da alto-estima, da percepção decontrole, da eficácia e da percepção da imagem corporal, combate ao stress e redução de estados de depressão eansiedade.

Comparaçäo de indicadores antropométricos e da composição corporal: de escolares do sexo masculinoparticipantes e não-participantes de programas de treinamento / Compare anthromometric and body

composition variables of young athletes and non-athletes

Filardo, Ronaldo Domingues; Pires-Neto, Cândido Simöes; Rodrigues-Añez, Ciro R.Rev. bras. ativ. fis. saude;6(1):31-37, 2001

O objetivo deste estudo foi analisar indicadores antropométricos e da composição corporal entre grupos deescolares participantes e não-participantes de programas de treinamento. Para tanto foram avaliados dois grupos deadolescentes com idades entre 5,5 e 16,5 anos, G1(n=41), escolares que treinavam mais de 3 horas semanais, emfutsal, handebol, basquetebol e voleibol, e, por mais de dois anos; G2(n=41), escolares que participassem somentedas duas aulas de educação física semanais. Estes escolares foram pareados por igual estatura. Coletou-se dados damassa corporal (MC,kg), Estatura (EST,cm), perímetros(p,cm); diâmetros ósseos(DO,mm); e dobras cutâneas(DC,mm).Para a gordura relativa, utilizou-se a equação adaptada por LOHMAN (1986) além da massa óssea (MO), massaresidual (MR) e a massas muscular (MM). Para o tratamento dos dados utilizou-se a estatística descritiva e o teste tpara grupos independentes. Os grupos apresentaram diferenças significativas, sendo que os escolares em treinamentoapresentaram menores valores além de maiores perímetros devido ao maior volume muscular conseqüente dotreinamento. Pode-se concluir que esses escolares em treinamento apresentam melhores indicadores antropométricose da composição corporal do que os escolares envolvidos somente nas aulas normais de Educaçäo Física.

79Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Caracterização dos níveis de pressão sonora em academias de ginásticas e queixas apresentadas por seusprofessores / Characterization of sound pressure levels in fitness centers and complaints from instructors

Lacerda, Adriana B. M. de; Moratar, Thaís C; Fiorini, Ana C.Rev. bras. otorrinolaringol;67(5,pt.1):656-659, set.-out. 2001

Este estudo objetiva identificar as queixas auditivas e orgânicas dos professores de ginástica e avaliar os níveis depressão sonora (NPS) produzidos nas aulas de ginástica com música. A medição dos NPS foi realizada seguindo ascondições sugeridas pela Associação Brasileira dc Normas Técnicas (ABNT), na Norma 10151. Forma de estudo:Prospectivo clínico randomizado. Material e método: 32 professores de ginástica responderam a um questionáriocom questões referentes às queixas relacionadas aos NPS. Resultados: As queixas mais freqüentes foram: zumbidos(24 %), sensação de ouvido tampado (15 %) e baixa concentração (15 %). As modalidades de ginástica em querealizou-se a avaliação dos níveis de pressão sonora foram: Step, Body Pump e Aerofitness. Conclusão: Os resultadosdesta avaliação revelaram intensidades que variaram de 73,9 a 94,2 dBA e sugeriram presença de elevados níveisde pressão sonora em 66 % das aulas avaliadas.

Atividade física, processo saúde-doença e condições sócio-econômicas: uma revisão da literatura / Physicalactivity, health-disease process, and socioeconomic status: a review of the literature

Palma, Alexandre.Rev. paul. educ. fís;14(1):97-106, jan.-jun. 2000

Apesar da clareza, encontrada em diversos estudos a respeito dos benefícios que a atividade física regularproporciona à saúde, pode ser questionável a interpretação que se faz destes achados. De um modo geral, a visãohegemônica aponta para um viés biológico e individualizado da doença. Por outro lado, já existem em váriaspesquisas, fortes evidências das relações entre condições sócio-econômicas e estado de saúde. Dentro destasevidências, encontram-se também as associações com a prática de atividade física regular. O objetivo deste estudo,então, foi organizar uma revisão da literatura sobre as condições sócio-econômicas, o processo saúde-doença e aprática da atividade física. O trabalho, assim, chega à conclusão de que a atividade física está bastante associada aoestado sócio-econômico e que os programas de intervenção em Educação Física, no campo da saúde pública,devem ser revistos.

O conteúdo biomecânico na Educação Física escolar: uma análise a partir dos parâmetros curricularesnacionais / School physical education and biomechanics: an analysis from the national curricular parameters

Freitas, Fabiana Fernandes de; Costa, Paula Hentschel Lobo da.Rev. paul. educ. fís;14(1):65-71, jan.-jun. 2000

Os parâmetros curriculares nacionais para a Educação Física Escolar (1997) fazem menção à Biomecânica comoconteúdo que deve ser abordado de maneira simplificada no 2 ciclo do Ensino Fundamental, devendo ser aprofundadono final do Ensino Médio. No entanto, este documento não oferece referências suficientes que orientem o professorquanto a uma possível interação entre estas duas áreas, tratando-as como universo distintos do conhecimento,quase sem interseções possíveis no âmbito da prática escolar. Diante disto, propõe-se a discussão da concepção deBiomecânica apresentada na proposta dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) para a Educação Física Escolare, a partir daí, uma reavaliação do papel dos conhecimentos derivados da Biomecânica no contexto escolar. Opressuposto para a presente discussão é o de que as aulas de Educação Física proporcionariam um conjunto devivências motoras que podem ser aproveitadas para a assimilação de conceitos abstratos acerca do movimentohumano, contribuindo consideravelmente para a estruturação de uma aprendizagem que leva à autonomia doindivíduo quanto à sua prática de atividades físicas.

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200380

SA atividade física na adolescência / Physical activity in adolescence

Vieira, Valéria Cristina Ribeiro; Priore, Sílvia Eloiza; Fisberg, Mauro.Adolesc. latinoam;3(1), ago. 2002

A atividade física auxilia no desenvolvimento do adolescente e na redução dos riscos de futuras doenças, alémde exercer importantes efeitos psicossociais. Ainda existem, porém, vários mitos acerca da prática de exercíciosfísicos na adolescência e inúmeras dúvidas quanto à influência exata da mesma em fenômenos como o crescimentoesquelético e a maturação biológica. Por outro lado, ao contrário do que se pode pensar, a atividade física nestafaixa etária não é isenta de riscos, sendo que estes envolvem desde lesões corporais até deficiências nutricionais.Esta revisão objetivou reunir informações acerca dos efeitos da atividade física no adolescente, das especificidadesda atividade física dirigida a esta parcela da população, do panorama atual da prática de atividade física entreadolescentes e do papel da Educação Física para os mesmos.

Perfil do hábito de leitura de alunos do curso de Educação Física do Centro Universitário UniFMU / Profileof the reading habits of the Physical Education students at the UniFMU

Moura, Eduardo de Souza; Matsudo, Sandra Mahecha; Andrade, Douglas Roque.Rev. bras. ciênc. mov;9(2):29-37, abr. 2001

Este trabalho tem o objetivo de não só verificar o perfil do hábito de leitura de 233 alunos do curso de EducaçãoFísica do Centro Universitário UniFMU, bem como os instrumentos de leitura mais utilizados pelos mesmos. Foraminvestigados 233 alunos, sendo 76 de 1º ano, 47 de 2º ano, 47 de 3º ano e 63 de 4ºano. Os dados foram coletadosatravés de um questionário especificamente formulado para esse trabalho. Para analisar os dados coletados, utilizou-se: levantamento da freqüência, porcentagem, média, desvio-padrão e moda. Obteve-se, assim, que, em média,os 233 alunos investigados lêem 3,16 dias por semana. Nesses dias, lêem, em média, 1h 16 (ñ0,24). O veículo deleitura mais utilizado, para 133 alunos (57,1 %), é o jornal; em segundo, para 109 alunos (46,8 %), o caderno deanotaçöes e, em terceiro, para 108 alunos (46,4 por cento), as revistas näo técnicas. Esses alunos lêem, anualmente,uma média de 3,50 (ñ2,1) livros técnicos; 2,65 (ñ10,12) revistas técnicas; 2,01 (ñ1,84) livros näo técnicos 8,10(ñ13,9) revistas näo técnicas. Conclui-se, entäo, que esses alunos apresentam um baixo volume de leitura.

Atividade física no controle da hipertensão arterial / A physical activitysystematizatic in controlling arterial hypertension

Campane, Rafael Zoppi; Gonçalves, Aguinaldo.RBM rev. bras. med;59(8):561:566-564-567, ago. 2002

A hipertensão, presente neste século em proporções epidêmicas nos adultos de sociedades industrializadas, estáassociada ao aumento marcante do risco de desenvolver numerosas patologias cardiovasculares. Há discussõessobre a eficácia da terapia medicamentosa agressiva em indivíduos com elevações leves e moderadas da pressãoarterial (PA).Este fato tem conduzido estudos para a adequação de terapias não medicamentosas, como o exercíciofísico aeróbio. Várias evidências indicam que este não só reduz o aumento da pressão arterial, que ocorre com otempo, nas pessoas com alto risco de desenvolver hipertensão, bem como pode provocar reduções médias emhipertensos com hipertensão essencial leve (pressão arterial sistólica (PAS) 140-180 mmHg e pressão arterial diastólica(PAD) 90-105 mmHg) na ordem de 10mmHg e ajudar também no controle e na prevenção de outros fatores derisco para doenças cardiovasculares nos hipertensos e na diminuíção importante dos níveis tensóricos de pessoascom hipertensão secundária à disfunção renal. Para que tudo isso ocorra de forma eficiente, o treinamento físicodeve ser prescrito atentando ao tipo (atividades abrangendo grandes grupos musculares), duração (de 20 a 60minutos), freqüência (de 3 a 5 vezes por semana) e intensidade (de 40 a 70 % do VO2 máximo ou da freqüênciacardíaca de reserva) do exercício, aferindo a pressão arterial e freqüência cardíaca em tempos determinados durantesessões específicas.

81Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Comparação dos métodos de bioimpendância e equação de Faulkner para avaliação da composiçãocorporal em desportistas / Comparison of bioelectric impendance and Faulkner equation methods for the

evaluation of sportsmen body composition

Rossi, Luciana; Tirapegui, Júlio.Rev. bras. ciênc. farm;37(1):137-142, jan.-abr. 2001

O uso da bioimpendância elétrica (BIA) na avaliação da composição corporal vem crescendo nas academias,laboratórios e consultórios. Porém sua validação deve ser analisada primeiro em relação à populações específicas esegundo frente a outros métodos tradicionalmente empregados (equação de Faulkner). Nossos resultados, utilizandodesportistas, apontam diferenças estatísticas significativas (p<0,05) no percentual de gordura, quando utilizadosdois aparelhos diferentes de BIA e equação de Faulkner. Apesar de dispor de ampla literatura a respeito, no casoespecífico da população empregada em nosso estudo, não há um consenso científico acerca do método maisadequado para monitorização nutricional e física de indivíduos freqüentadores de academia e classificados comodesportistas.

Contribuição da fisioterapia para a odontologia nas disfunções da articulação temporomandibular / Thecontribution of the physiorapy to the temporo mandibular joint disorders in dentistry

Marzola, Fabíola Tedeschi; Marques, Amélia Pasqual; Marzola, Clóvis.Rev. odonto ciênc;17(36):119-134, abr.- jun. 2002

Este trabalho propôs-se a realizar uma revisão da literatura a fim de identificar qual o papel que a fisioterapiaexerce nas disfunções da articulação temporomandibular, contribuindo assim, de maneira eficiente para que hajauma participação mais harmônica entre essas duas especialidades, que devem conviver esplendidamente, poisuma dependa da outra. A metodologia empregada foi um levantamento bibliográfico realizado pelo sistema MEDLINEe LILACS, entre 1980 e 1999, além de outros artigos considerados de grande importância para este trabalho. Apósleitura crítica, foram identificadas três categorias: disfunções da articulação temporomandibular e a relação com apostura, recursos e técnicas fisioterápicas utilizadas nas difunções da articulação temporomandibular e o papel dafisioterapia nas intervenções cirúrgicas desta articulação. Os autores concluem que há uma grande relação entredisfunções da articulação temporomandibular e alterações posturais e ainda, que o tratamento fisioterápico é deextrema importância nestas disfunções e também após intervenções cirúrgicas. Salientam ainda a importância daequipe multidisciplinar, considerando o indivíduo globalmente.

Produção científica e atuação profissional: aspectos que limitam essa integração na fisioterapia e na terapiaocupacional / Scientific production and the professional practice: aspects that limit this integration in

physical and ocupational therapy

Sampaio, R. F; Mancini, M. C; Fonseca, S. T.Rev. bras. fisioter; 6(3):113-118, set.-dez. 2002

Profissões da área da reabilitação como a fisioterapia e a terapia ocupacional têm buscado fundamentaçãocientífica para nortear a prática clínica. Alguns fatores têm dificultado a integração da produção científica com aprática, entre eles estão o tecnicismo e o modelo médico. O impacto de cada um desses fatores na utilização deevidências científicas para nortear a prática desses profissionais e discutido, bem como as características do contextosócio-econômico e histórico que vem pressionando as profissões de saúde a buscarem informação científica para

FISIOTERAPIA

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200382

Ssubsidiar a escolha de intervenções. Além disso, discute-se que a adoção de um modelo funcional e que umamelhor sistematização da prática podem auxiliar terapeutas a buscarem evidências que sejam relevantes. Por fim, oconceito de prática baseada em evidências é definido e caracterizado, indicando-se ainda os caminhos necessáriospara sua implementação na prática de fisioterapeutas e de terapeutas ocupacionais.

O efeito osteogênico do ultra-som de baixa intensidade / The osteogenic effect of ultra-sound low intensity

Rennó, Ana Cláudia Muniz; Faganello, Flávia Roberta; Navega, Marcelo Tavella; Carvalho, Daniela Cristina Leite de.Fisioter. mov;14(2):52-57, out. 2001-mar. 2002

Atualmente, é crescente o interesse em desenvolver meios que auxiliem os processos de cicatrização e reparodos tecidos do organismo, que por algum motivo estão deficientes. Dentro deste contexto, vários estudos vêmtentando comprovar os efeitos do ultra-som de baixa intensidade na osteogênese e na consolidação das fraturasósseas. Sabe-se que sua aplicação gera modificações elétricas em nível celular, permitindo com isso, uma maiorcaptação de nutrientes e um maior influxo de íons cálcio no interior das células. Esse seria um dos processos queexplicariam a capacidade de aceleração do reparo ósseo em fraturas com a aplicação do ultra-som de baixaintensidade. Apesar de várias pesquisas já terem comprovado o efeito benéfico do ultra-som de baixa intensidadenas fraturas ósseas, ainda é necessário determinar quais os valores dos parâmetros, qual o tempo de estimulação eo número de sessões ideais para que a terapia com o ultra-som possa contribuir da melhor maneira no processo deaceleração do reparo ósseo.

Treinamento muscular respiratório em pós-operatório de cirurgia cardíaca eletiva / Muscular respiratorytraining in postoperative thoracic surgery

Gracia, R. C. P; Costa, D.Rev. bras. fisioter;6(3):139-146, set.-dez. 2002

Os objetivos deste estudo foram avaliar os efeitos do treinamento muscular respiratório (TMR) na evolução dosparâmetros das pressões respiratórias máximas (PImax e PEmax) e das amplitudes de movimento toraco-abdominalpor intermédio da cirtometria e dos valores de peak-flow em pacientes pós-operados de cirurgia cardíaca (CC) esubmetidos a circulação extracorpórea (CEC). Foram incluídos no estudo 60 pacientes submetidos a CC eletiva comCEC. Destes 40 participaram de um TMR, sendo que 20, 13 homens e 7 mulheres com idade de 56 + - 11 anos,treinaram uma vez ao dia, compondo o G1, os outros 20, 16 homens e 4 mulheres com idade de 58 + - 7,5 anos,treinaram duas vezes ao dia, compondo o G2. Um terceiro grupo de 20 pacientes, 11 homens e 9 mulheres comidade de 63 + - 9 anos, não participou do TMR, vindo a compor o grupo controle (G3). A todos os pacientes foiassegurada a fisioterapia respiratoria, seguindo protocolo próprio para pós-operatório de CC dos hospitais envolvidos.A coleta de dados de PImax, PEmax, peak-flow e cirtometria foi realizada em três momentos, a saber: no pré-operatório (um ou dois dias antes da CC), no pós-operatório (segundo dia apos a CC) e na alta (último dia deinternação). O TMR para G1 e G2 teve início no segundo dia pós-operatório e prosseguiu durante todo o períodode internação. O protocolo constou TMR 1 ou 2 vezes ao dia, respectivamente, para G1 e G2, com sessões de 3séries de 10 inspirações cada, no próprio manovacuomêtro, por intermédio de esforco inspiratório máximo possível.Comparando os resultados entre os três grupos nas fases pré, pós e alta, constatou-se aumento significativo (p<0,05)da PImax e PEmax, entre G1, G2 e G3, na fase alta. Os dados foram então ordenados pelo teste Post Hoc deDuncan, em que foram verificadas diferenças “flow” e cirtometria, as diferenças não foram significativas entre osgrupos. Constatou-se que, por intermédio de um TMR específico, ocorreu aumento da força muscular respiratória(FMR) tanto no grupo que treinou duas (G2) quanto no que treinou uma (G1) vez ao dia, em comparação com ogrupo controle (G3), que nao apresentou alterações.

83Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Análise do preparo do fisioterapeuta para atuar e intervir na área da reabilitação profissional /Analysis of physiotherapists preparation to act and intervene in area of professional rehabilitation

Carvalho, Cecília Barros.Salusvita;18(2):7-23, 1999

O estudo foi realizado com o objetivo de identificar pareceres de fisioterapeutas de diferentes instituições quese propõem a trabalhar com Reabilitação Profissional e o seu preparo para atuar e intervir em equipes de ReabilitaçãoProfissional. Teve também como objetivo caracterizar as atividades curriculares dos cursos de formação dofisioterapeuta no Estado de São Paulo, analisando a contribuição destas atividades curriculares para a formação doprofissional ao atuar e intervir em Reabilitação Profissional. Para tanto, foram contatados Chefes de Departamentoou Coordenadores de 20 cursos de Fisioterapia do Estado de São Paulo. Destes, 14 profissionais responderampositivamente ao contato e enviaram a estrutura curricular de seus cursos com ementas, conteúdo programático ecaracterização de estágios supervisionados. Foram também contatadas 14 fisioterapeutas que atuam em Serviços deFisioterapia em Instituições voltadas para a Reabilitação Profissional da pessoa com deficiência, também do Estadode São Paulo, os quais responderam a questionários fornecendo a identificação, com a sua experiência comReabilitação Profissional e o seu preparo para atuar nesta área. Através da elaboração de um sistema de categorias,a análise dos resultados demonstrou que onze profissionais (58 %) sentiram-se despreparados, dois profissionais(14,28 %) sentiram-se preparados e um profissional (7.14 %) preparou-se com estágios extra-curriculares para atuarna área. Dentre tantos resultados relevantes, também observou-se que 92.86 % dos sujeitos não consideram suficiente,para uma intervenção na Reabilitação Profissional, o embasamento teórico-prático oferecido pelo currículo mínimopelo MEC. Portanto, foi possível concluir que o fisioterapeuta não tem, em sua formação, a abordagem e intervençõessuficientes na área de Reabilitação Profissional.

Dilemas éticos presentes na prática do fisioterapeuta /Ethical dilemmas expirienced in physical therapy practice

Renner, A. F; Goldim, J. R; Prati, F. M.Rev. bras. fisioter;6(3):135-138, set.-dez. 2002

O fisioterapeuta, como todo profisional da saúde que toma decisões diante de situações de incerteza, estásujeiro a se deparar com dilemas éticos. Um dilema ético é uma situação na qual um profissional da saúde sedepara com duas alternativas de tratamento ou condução do caso que tenham justificativas técnicas, mas comalgum questionamento moral ou social. O objetivo deste estudo foi identificar os tipos de dilemas éticos presentesna prática do fisioterapeuta. Foi realizado um estudo transversal, tipo “survey”, com uma amostra de fisioterapeutasque trabalham em Porto Alegre. Para isso encaminhamos, pelo correio, uma carta informativa e um questionário.Os dados obtidos foram comparados com um estudo inglês semelhante realizado por Barnitt. Obteve-se retorno de37 (5,7 %), com a exclusão de 13 (35,0 %) por não se tratar de questões envolvendo dilemas éticos. A classificaçãodos dilemas de acordo om os princípios foi casual, apesar de as categorias autonomia, beneficência e justiça teremsido discriminadas no próprio material informativo. Quanto às situações dos dilemas, obtivemos as seguintes respostas:37,5 % relativas ao limite de atuação profissional, 25,0 por cento trataram da falta de recursos, e 4,2 % referentes aonao dizer a verdade, 4,2 % sobre a eficiência da terapia e 29,2 % dos fisioterapeutas relataram não ter se deparadocom situacoes referentes a dilemas éticos durante sua atuação profissional. O baixo índice de retorno dos questionárioscompomete a validade externa do trabalho. Contudo, com base nos dados obtidos com a presente amostra,estabelecemos algumas considerações. As questoes predominantes foram relativas às tomadas de decisões do dia-a-dia. A baixa taxa de devolução e o alto índice de respostas inadequadas podem indicar o pouco envolvimentodos profissionais, a pouca compreensão dos objetivos da pesquisa ou a falta de hábito de reflexão ética. Já o altoíndice de ausência de dilemas éticos surpreendeu os autores do presente trabalho, uma vez que o fisioterapeutatem contato direto com seu paciente, seu sofrimento e desconforto e é um profissional da saúde que toma decisõesdiante de situações de incerteza. As informações obtidas demonstram a necessidade de realização de mais estudosnessa área.

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200384

S

Contribuições para o cuidado emocional à criança hospitalizada

Bretas, José Roberto S.; Santos, Filadélfio Queiroz; Castro, Allison Scholler de; et al.Acta Paul. Enf., São Paulo, v.15, n.4, p.87-95, 2002.

Este artigo apresenta uma reflexão sobre as contribuições da Psicologia ao cuidado à criança hospitalizada, apartir da abordagem de algumas práticas recentes que pouco a pouco a enfermagem está desenvolvendo e assimilandoenquanto conceito.

Buscando a cura: a experiência da família da criança que sobrevive ao câncer. Searching for the Cure:the experience of the child’s family that survives cancer

Oliveira, Ana Paula ZanelattoDissertação (Mestrado). Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2002

Graças ao avanço tecnológico, o índice de cura do câncer infantil vem aumentando acentuadamente nos últimosanos. Este estudo tem como objetivo compreender a experiência dos pais que vivenciaram o tratamento do câncerde seu filho e aguardam pela cura. Foi utilizada a perspectiva do Interacionismo Simbólico como referencial teóricoe a Teoria Fundamentada, por meio da análise comparativa de entrevista com 7 pais que compunham 4 famílias.Foi possível identificar as seguintes categorias: Quebrando o vínculo com o hospital, Constatando a cura, Deixandoa sentença de morte para trás e Sendo grato. Os resultados obtidos neste trabalho contribuem com evidência deque o aparecimento de uma doença grave e crônica como o câncer causa um impacto desestruturador na unidadefamiliar, e, que os pais continuam adotando ações que não só objetivam resgatar a saúde de seu filho bem como aintegridade familiar mesmo após a finalização das intervenções terapêuticas.

Avaliaçäo diagnóstica de enfermagem na comunicação interatrial: relato de experiência / Nursing diagnosticevaluation in interatrium comunication: an experience report

Santoro, Deyse Conceição; Jesus, Jaqueline de; Guedes, Priscila.Esc. Anna Nery Rev. Enferm;6(2):319-325, ago. 2002

O presente estudo trata do interesse dos autores apresentarem um relato de experiência acerca da avaliaçãodiagnóstica e intervenção de enfermagem nos casos de comunicação interatrial. As causas desse tipo de cardiopatiacongênita permanece não totalmente elucidada. O diagnóstico da comunicação interatrial baseia-se na históriaclínica, no exame físico e exames complementares. O cuidado da enfermagem e o conhecimento específico doenfermeiro são fundamentais para o bem-estar do cliente e o diagnóstico precoce de distúrbios cardíacos. O casoclínico apresentado ilustra como o enfermeiro deve se inserir neste contexto como membro atuante, capaz derealizar um exame físico preciso e uma avaliação diagnóstica que permita a detecção de anormalidades que levema um diagnóstico definitivo e tratamento específico o mais precocemente possível, diminuindo os riscos decomplicação para o cliente.

ENFERMAGEM

85Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Novas tendências terapêuticas de enfermagem: terapias naturais: programa de atendimento / Newtherapeutic trends in nursing: natural therapies: assistance program

Tashiro, Marisa Toshiko Ono; Orlandi, Rosane; Martins, Rita de Cassia Tappie; Santos, Ednei dos.Rev. bras. enfermagem;54(4):658-667, out.-dez. 2001

O presente estudo relata a experiência vivenciada pelos enfermeiros na Clínica de Enfermagem do CampusUniversitário do Grande ABC (UniABC), utilizando as terapias naturais: balanceamento muscular, acupuntura ereflexologia como ações terapêuticas de enfermagem. Conclui ressaltando a relevância da aplicação técnico-científicano desenvolvimento das atividades de enfermagem e a sua conseqüente repercussão no cuidado de enfermagem.

Representações sociais da saúde e doença e implicações para o cuidar em enfermagem: uma análiseestrutural / Social representations of health and disease and the implications for

care taking nursing: a structural analysis

Oliveira, Denize Cristina de; Sá, Celso Pereira de.Rev. bras. enfermagem;54(4):608-622, out.-dez. 2001

Este estudo objetivou a caracterização das representações sociais do processo saúde-doença de indivíduosresidentes em dois municípios de São Paulo, com vistas à identificação das necessidades de saúde e à orientação daação de enfermagem. Foram coletadas evocações livres de 418 adultos sobre os temas “saúde” e “doença”. Realizou-se uma análise descritiva e estrutural das representações sociais, através da metodologia de construção do quadrode quatro casas, categorização e análise de similitude. Os resultados indicam como sentidos centrais da representação,a positividade da “saúde”, ancorada em uma entidade divina, acompanhada de noções que associam a saúde àprevenção de doenças, necessidades biológicas, atividade e a atitude assumida frente à doença. A estrutura darepresentação de “doença” apresenta-se semelhante, conquanto em sentido inverso, à da “saúde”: Deus é estruturadorda representação, em sua versão negativa, expressando-se no corpo através da dor, da morte e da inatividade e, noespírito, através da tristeza e do desânimo. Discute-se o caráter psicológico da saúde e da doença, que se expressasob a forma de necessidades psicossociais comprometidas, e a conseqüente necessidade de repensar o modelotecnológico de trabalho em enfermagem.

Produção do conhecimento em HIV/Aids: análise de pesquisas publicadas em dois periódicos científicos deenfermagem / Production of the knowledge in HIV/aids: analysis of published researches in two scientifc

newspapers of enfermagem

Damasceno, Marta Maria Coelho; Fraga, Maria de Nazare Oliveira;Miranda, Karla Correa Lima; Souza, Angela Maria Alves e.

J. bras. aids;3(4):11-16, dez. 2002

Este estudo teve como objetivo analisar as pesquisas sobre HIV/Aids realizadas por enfermeiros em dois periódicosnacionais quanto às temáticas investigadas e aos enfoques teórico-metodológicos utilizados. Em sua maioria, aspesquisas versam sobre as tematicas: conhecimento sobre a síndrome e a clientela e as experiências vividas pelapessoa infectada ou doente. Verificamos que as pesquisas sobre HIV/Aids só foram publicadas a partir de 1989, istoé, na terceira fase da epidemia, havendo um predomínio da abordagem quantitativa. Entretanto, também encontramostendência a estudos qualitativos com enfoques compreensivos.

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200386

S

Aspectos nutricionais relacionados ao ciclo menstrual / Nutritional aspects related to menstrual cycle

Rev. nutr;15(3):309-317, set.-dez. 2002.

O objetivo da presente revisão é apresentar os principais tópicos discutidos na literatura quanto à associação danutrição com o ciclo menstrual, contribuindo para a implementação do atendimento nutricional de mulheres. Sãorevisados aspectos referentes à fisiologia da menstruação, alterações metabólicas durante o ciclo menstrual ecomportamentos alimentares asssociados a ele. considerando o ciclo menstrual dividido em duas fases: a foliculare a lútea, é nesta última que são descritas mais alterações, como retenção de água, elevação de peso, aumento dedemanda energética, midificações no perfil lipídico e no metabolismo de vitamina D, cálcio, magnésio e ferro,hipersensibilidade emocional, dores generalizadas e mudança do comportamento alimentar. Em relação a esteúltimo ítem, pode ocorrer maior ingestão energética e o desenvolvimento de compulsões alimentares, principalmentepor chocolate, doces e alimentos muito salgados. É fundamental que todos os aspectos citados sejam investigadosdurante a consulta nutricional, a fim de serem adotadas condutas mais específicas.

Associaçäo entre o consumo precoce de dentifrício e outras variáveis com fluorose dentária: um estudotransversal retrospectivo / Association between the early use of toothpaste and other variables with dental

fluorosis: a transversal retrospective study

Buzalaf, Marília Afonso Rabelo; Bastos, José Roberto de Magalhães; Lauris,José Roberto Pereira; Almeida, Beatriz Simöes de; Aquilante, Aline Guerra.

Rev. Fac. Odontol. Bauru;10(3):196-200, jul.-set. 2002

O consumo excessivo de flúor durante o período de formação dos dentes pode causar fluorose dentária. Para osincisivos centrais superiores, a idade crítica da ingestão do flúor é entre 15 e 30 meses de idade. O consumo deleite em pó durante a infância tem sido relatado como fator de risco para fluorose dentária. Assim, este estudotransversal retrospectivo teve como objetivo relacionar a prevalência de fluorose (índice de DEAN), em incisivoscentrais superiores, de acordo com as várias fontes de flúor que crianças de 12 anos (n=101) estavam expostas nosseus primeiros três anos de vida. Também foram analisados prevalência de cárie dentária (CPOD), nível educacionale sócio-econômico dos pais e idade de início da escovação com dentifrício fluoretado, através de questionárioscompletados pelos pais. Os dados foram analisados por estatística descritiva e de correlação. O CPOD médio foi de1,81 (ñ2,02). Das crianças examinadas, 28,71 % apresentaram fluorose muito leve. Uma porcentagem de 42,57 %das crianças iniciaram a escovação com dentifrício fluoretado com 1 ano de idade e 35,64 % aos 2 anos. A relaçãoentre fluorose e o consumo de leite em pó e de suplementos não foi estatisticamente significante (p>0,05). Contudo,o início precoce da escovação com dentifrício fluoretado apresentou uma correlação positiva com a prevalência defluorose dentária (p<0,05). Concluiu-se que deve haver um melhor esclarecimento de pais e crianças quanto aouso de dentifrícios fluoretados e demais fatores de risco para fluorose dentária.

O programa saúde da família: contribuições para uma reflexão sobre a inserção do nutricionista na equipemultidisciplinar / The Brazilian family health program: contributions to a discussion about the inclusion of

the nutritionist in the multidisciplinary team

Assis, Ana Marlúcia Oliveira; Santos, Sandra Maria Chave dos; Freitas, Maria do Carmo Soares de;Santos, Joselina Martins; Silva, Maria da Conceição Monteiro da.

Rev. nutr;15(3):255-266, set.-dez. 2002

O Brasil experimenta hoje a implementação de um modelo diferenciado para prover atenção básica à saúde,orientado por uma ação multidisciplinar na direção de uma intervenção voltada para a promoção da saúde dapopulação e consubstanciada no Programa Saúde da Família. O objetivo de promover a saúde, especialmente no

NUTRIÇÃO

87Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Brasil, não será alcançado sem que ações efetivas na área da vigilância e assistência alimentar e nutricional sejamimplementadas de forma articulada a um sistema de vigilância à saúde. Assim, este trabalho traz à luz algumasreflexões sobre a transição epidemiológica vivenciada no país e situa a problemática alimentar e nutricional nesseprocesso. Coloca ainda em relevo algumas das proposições básicas do Programa Saúde da Família e da PolíticaNacional de Alimentação e Nutrição e argumenta como o nutricionista pode contribuir para a necessáriatransformação, operando nas práticas e nos resultados desse novo modelo de intervenção. Por fim, destaca aimpossibilidade de efetivamente transformar a atenção básica à saúde sem o apoio de profissionais que estudam,pesquisam e praticam cotidianamente a vigilância alimentar e nutricional e a assistência dietética e dietoterápica deindivíduos e populações.

Uso de probiótico composto por Lactobacillus acidophilus, Streptococcus faecium e Sacharomycescerevisae na dieta de vitelos bovinos: efeitos sobre o desempenho e a qualidade da carne / Use of probiotic

with Lactobacillus acidophilus, Streptococcus faecium and Sacharomyces cerevisae in veal calves diet:effects on performance and meat quality

Alves, Pedro Afonso de Preaulx Moreira; Campos, Oriel Fajardo; Almeida, Maria Izabel Vieira de; Lizieire, RosaneScatamburlo; Modesta, Regina Célia Della; Almeida, Fernando Queiroz de; Nascimento, Celso Gabriel Herrera.

Braz. j. vet. res. anim. sci;37(5):416-422, 2000

Este trabalho objetivou avaliar o desempenho e a qualidade da carne de vitelos bovinos em função da adição nadieta de probiótico composto por Lactobacillus acidophilus, Streptococcus faecium e Sacharomyces cerevisae.Foram utilizados 14 bezerros mestiços Holandês-Zebu, distribuídos em blocos, de acordo com o peso ao nascer,nos tratamentos, leite integral e leite integral adicionado de probiótico. A alimentação foi constituída exclusivamentepor leite integral. Os animais foram pesados quinzenalmente do nascimento ao abate, entre 160 e 190 kg de pesovivo. Avaliou-se o ganho de peso diário, consumo de matéria seca, conversão alimentar, rendimento da carcaça,escore fecal e análise sensorial da carne. Os resultados foram interpretados por análise de variância e as médiascomparadas pelo teste de F e os valores médios semanais de escore fecal foram analisados por análise não-paramétricautilizando o teste de Wilcoxon. Na análise sensorial nao foram observadas diferenças entre tratamentos e os resultadosindicaram coloração clara, compatível com a cor vermelha desejada pelo mercado. Os resultados do ganho diáriode peso vivo, conversão alimentar e peso e rendimento da carcaça dos animais para ambos os tratamentos foram de892 e 945 g; 1,41 e 1,30; 90,9 e 98,8 kg; e 57,1 e 58,3 %, respectivamente, para animais alimentados com leiteintegral e leite mais probiótico (p > 0,05).

Ampliando a compreensão do processo de vida do idoso e de suas necessidades / Amplifying theunderstanding of elderly´s life proccess and needs

Mendonça, Saraspathy N. T. G; Teixeira, Evanilda.Rev. bras. crescimento desenvolv. hum;12(2):67-71, jul.-dez. 2002

Contempla alguns aspectos psicossociais e fisiológicos do idoso, com a indicação de que esta população deveser privilegiada como um mercado consumidor específico pois, embora tenha havido um expressivo crescimentopopulacional desta faixa etária, no Brasil e no mundo, os idosos ainda se encontram discriminados como mercadode consumo. Aponta para a necessidade de haver uma adequação dos produtos alimentares oferecidos àespecificidade alimentar das pessoas idosas, explicitando algumas das características de seu status nutricional efisiológico ao qual deveria corresponder e dar suporte.

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200388

STratamentos não farmacológicos na estimulação da osteogênese / Non-pharmacological treatments

in the stimulation of osteogenesis

Carvalho, Daniela Cl; Rosim, Giovana C; Gama, Luiz Otavio R; Tavares,Marcelo R; Tribioli, Ricardo A; Santos, Irene R; Cliquet Júnior, Alberto.

Rev. saúde pública; 36(5):647-654, out. 2002.Projeto Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Processo n.96/12198-2.

A carga mecânica provoca microdeformações ósseas, que estimulam células osteoblásticas e, conseqüentemente,promovem adaptações nos ossos, muitas vezes relacionadas com uma menor reabsorção óssea e um aumento naformação óssea local. No entanto, o estímulo para formação óssea depende do número e freqüência das deformaçõesaplicadas no osso. Concomitantemente aos estímulos ósseos providos pelas cargas mecânicas, é importante umadieta rica em cálcio, o que também beneficia o aumento da massa óssea. Entretanto, existem também outrosmétodos não farmacológicos, como o ultra-som pulsado de baixa intensidade, a estimulação elétrica e o laser, quejá mostraram efeitos positivos na promoção da osteogênese. Assim, realizou-se um levantamento na literatura, noperíodo de 1982 a 2001, sobre esses métodos não farmacológicos com o objetivo de avaliar tais métodos alternativos,que ajudam no aumento da massa óssea ou no estímulo à osteogênese.

Consumo infantil de alimentos industrializados e renda familiar na cidade de Säo Paulo / Association ofchildren’s consumption of processed foods and family income in the city of Säo Paulo, Brazil

Aquino, Rita de Cássia de; Philippi, Sonia Tucunduva.Rev. saúde pública; 36(6):655-660, dez. 2002

OBJETIVO: Descrever o consumo infantil de alimentos industrializados e a relação com a renda familiar percapita, com base em inquérito domiciliar. MÉTODOS: O consumo alimentar de uma amostra probabilística dapopulação infantil residente na cidade de São Paulo, entre zero e 59 meses de idade (n=718), foi estudado em1995/1996 por meio de inquérito recordatório de 24h. Analisou-se a relação entre o consumo de 24 alimentosindustrializados e a renda familiar per capita, distribuída em quartis. RESULTADOS: O consumo de açúcar foi maiorentre as crianças de menor renda, enquanto achocolatados, chocolates, iogurte, leite em pó modificado e refrigerantesforam mais consumidos por crianças de maior renda familiar per capita (p<0,05). CONCLUSÕES: Concluiu-se quea renda familiar per capita influência o consumo de alguns alimentos industrializados.

O papel da Glumatina na terapia nutricional do transplante de medula óssea / The role of glumatine innutritional support of bone marrow transplantation

Albertini, Sílvia M; Ruiz, Milton A.Rev. bras. hematol. hemoter;23(1):41-47, jan.-abr. 2001

A glutamina (L-GLN) é um aminoácido que localiza-se preferencialmente no músculo esquelético e écondicionalmente essencial nas situações onde ocorre hipercatabolismo, como nos transplantes de medula óssea.Nestas situações, a suplementação com a L-GLN na terapia nutricional é segura e recomendada. O emprego doaminoácido com objetivo de reduzir os efeitos secundários no TMO como mucosite e manifestações digestivasparece existir. Existem dados que sugerem um efeito profilático da L-GLN em relação à doença veno-oclusivahepática nos pacientes transplantados. O emprego do aminoácido em combinação com anti-oxidantes, o uso domesmo via enteral e/ou parenteral, são respostas que devem ser obtidas através de estudos em grupos homogêneose selecionados de pacientes submetidos ao transplante de medula óssea.

89Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

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Levantamento epidemiológico da prática de atividade física na cidade de São Paulo / Epidemiologicalsurvey of the practice of physical activity in São Paulo city

Mello, Marco Tulio de; Fernandez, Ana Claudia; Tufik, Sergio.Rev. bras. med. esporte;6(4):119-124, jul.-ago. 2000

Estudos epidemiológicos conduzidos em geral ou em populações específicas são de vital importância para adeterminação e implementação de políticas públicas. Um dos problemas de saúde mais comuns que causa grandepreocupação é o crescente número de pessoas obesas e, conseqüentemente, os problemas de saúde advindos daobesidade. No entanto, as desordens de sono, como a insônia, e distúrbios no ciclo vigília-sono que resultam defatores psicológicos, neurológicos e sociais são também importantes problemas de saúde. Neste estudo, foi realizadoum levantamento epidemiológico da prática de atividade física e problemas de sono na população geral da cidadede São Paulo. Mil indivíduos de todas a regiões da cidade, representando todas as classes sociais, responderam aum questionário específico. Os resultados mostraram que somente 31,3 dos entrevistados estão engajados emalgum tipo de atividade física e somente 36,4 desses indivíduos têm supervisão de um profissional qualificado. Osdistúrbios de sono associados com a insônia foram reportados por 27,1 dos indivíduos fisicamente ativos e 35,9 dosnão ativos (p < 0,003). Dados de um estudo nacional em saúde e nutrição mostram um aumento na percentagemde indivíduos obesos no Brasil. Isto pode ser parcialmente explicado pelos nossos achados de baixos níveis deatividade física desta população pesquisada, o que pode levar a um aumento na incidência de doenças cardíacas emetabólicas (diabetes). Os resultados revelaram uma baixa percentagem de indivíduos engajados em atividadefísica regular.

Desenvolvimento de uma formulação de sabonete anti-séptico à base de triclosan / Development of aliquid antiseptic soap formulation containing triclosan

Pereira, Séfora Ribeiro; Souza, Eleni Márcia; Lima, Maria de Fátima;Yamaguchi, Alice Misae; Sugawara, Emília Emiko; Storpirtis, Sílvia.

Rev. med. Hosp. Univ;9(2):55-7, jul.-dez. 1999

O objetivo do presente trabalho foi o desenvolvimento de uma formulação para sabonete anti-séptico líquido,estável, de aspecto cosmético, não agressivo à pele, de custo compatível e adequado para fabricação em escalasemi-industrial, em farmácias hospitalares. Para tanto, selecionou-se uma formulação base, a partir da qual foramrealizados os ensaios para a obtenção da formulação mais adequada. Dois produtos similares do mercado foramcomparados ao produto em estudo através de testes físicos, fisico-químicos e microbiológicos. Elaborou-se, ainda,um protocolo para teste de uso do produto, avaliando-se sua aceitabilidade pelos usuários.

Contribuição para melhoria da prática farmacêutica no atendimento de pacientes com queixa referente àsDST em Campo grande - MS / Contribution to the improvement of pharmacy services at attendance of

patients with STD complants in Campo Grande - MS

Ajalla, Maria E. A; Castro, Lia L. C.DST j. bras. doenças sex. transm;13(2):5-17, 2001

As doenças sexualmente transmissíveis vem se mantendo ao logo do tempo como problema de saúde pública.Após o surgimento da aids tal situação agravou-se. É amplamente sabido que nossa população busca atendimentonas farmácias para seus problemas de saúde. Vários autores já constataram a indicação de medicamentos ilegal e

FARMÁCIA

RESUMO DE ARTIGOS CIENTÍFICOS

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200390

Sirracional praticada em farmácias de todo o Brasil. O presente trabalho visa contribuir para a melhoria da práticafarmacêutica no município de Campo Grande - MS. O universo estudado abrangeu todas as farmácias registradasno CRF/MS no momento da pesquisa. Na segunda fase do estudo procedeu-se uma intervenção educativa empequeno grupo de farmacêuticos e seus balconistas.

Estudos dos extratos de folhas de Averrhoa carambola e eugenia jambolana, obtidas em farmácia demanipulação, sobre o diabete experimental / Study

Damasceno, Débora C; Volpato, Gustavo T; Calderon, Iracema de M. P; Rudge, Marilza V. C.Rev. bras. toxicol; 15(1):9-14, jul. 2002

O objetivo deste trabalho foi investigar se os extratos das folhas de jambolão (Eugenia jambolana) e de carambola(Averrhoa carambola), comercializados em larga escala por farmácias de manipulação, realmente apresentam efeitohipoglicemiante quando testados em ratas com diabete induzido por streptozotocin. Cada extrato foi preparadocom as folhas secas de jambolão e de carambola por decocção (5g/1000mL), de forma semelhante ao método depreparação recomendado à população. Entretanto, as doses utilizadas foram seis vezes maiores que a consumidapopularmente. Foram utilizadas ratas Wistar divididas aleatoriamente em 3 grupos: diabéticas-controle que receberamágua destilada (C, n=7), diabéticas tratadas com 105,0mg/kg do extrato aquoso de carambola (DTC, n=7) e com50,0mg/kg do extrato de jambolão (DTJ, n=7), via oral (gavage).

91Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

RBCSRBCSRBCSRBCSRBCS

E V E N T O S C I E N T Í F I C O S

Nacionais

III Congresso Brasileiro de BiossegurançaIII Simpósio Latino-Americano de ProdutosTransgênicosRealização: Associação Nacional deBiossegurança24 a 27 de setembro de 2003 - Recife (PE)Informações: Telefone (21) 2220-8678/2229-8327,fax (21) 2215-8580e-mail: [email protected]: www.anbio.org.br

IV Simpósio Brasileiro de FarmacognosiaApoio: Sociedade Brasileira de Farmacognosia24 a 27 de setembro de 2003Pavilhão de aulas da Federação - Campus deOndina da UFBA - Salvador (BA) UFBAPeríodo de Inscrição: até 30/05/2003Informações: www.dff.uem.br/~sbfgnosia

Cursos na Área da FarmáciaRealização: Associação dos Farmacêuticos deLondrina

FARMÁCIAOrganização: Crescer Eventos e ConsultoriaApoio: Conselho Regional de Farmácia do Estado doParaná

Cursos: “Custo de Gestão Administrativa paraFarmacêuticas” e “Curso de Atualização emFarmácia Magistral”. No. 2º semestre, o Curso deFarmácia HospitalarLocal: Twin Bussines Tower - Av. Tiradentes,501 - Mezanino

Internacionais

XVIII Congresso Federación Panamericana deFarmaciaXXVIII Congresso Centroamericano Y El Caribe deCiencias FarmaceuticasRealização: Associação Farmacêutica Dominicana25 a 29 de novembro de 2003San Domingo, República DominicanaInformações: Telefone (809) 333-6473fax (809) 333-6473 - e-mail: [email protected]

Nacionais

Curso Terapia de Contagem de Carboidratos emDiabetes09 de agosto/ 04 de outubroInformações: www.racine.com.br

Curso Diabetes e Complicações na Criança,Adolescente e Adulto09, 10, 11, 12, 13, 23, 24, 25, 26, 27 de setembrode 2003Informações: www.racine.com.br

Curso Avaliação Nutricional na Prática: Clínica eEsportiva (Diferentes Faixas Etárias, PacientesCríticos, Esportistas)09 a 11 de outubro de 2003Informações: www.racine.com.br

VII Congresso da Sociedade Brasileira deAlimentação e Nutrição - Alimentação e Nutrição:Avanços Tecnológicos e Desafios Éticos

NUTRIÇÃO

15 a 18 de outubro de 2003Minascentro - Belo Horizonte - MGInformações: www.minasplan.com.br/nutricao

VIII Congresso Paulista de Saúde Pública Re-VendoTeorias e Práticas18 a 22 de outubro de 2003São Paulo - SPInformações: www.apsp.org.br

II Congresso Interdisciplinar De AssistênciaDomiciliar do Hospital das Clínicas - FMUSP21 e 22 de outubro de 2003Centro De Convenções RebouçasInformações: www.ffm.br

IV Congresso Internacional de Nutrição,Longevidade e Qualidade de Vida06 a 09 de novembro de 2003São Paulo - SPInformações: [email protected]

E V E N T O S C I E N T Í F I C O S

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200392

SII JONUB - Jornada de Nutrição da Unesp -Botucatu7 a 10 de novembro de 2003Casa Das Artes - Botucatu - SPInformações: www.ibb.unesp.br/eventos/jonub

PALESTRA GNUTI - Atuação do Nutricionistaatravés do Banco de Alimentos10 de novembro de 2003São Paulo - SPInformações: e-mail: [email protected]

EDUCAÇÃO FÍSICANacionais

XIII Congresso Brasileiro de Ciências do EsporteColégio Brasileiro de Ciências do Esporte/Caxambu-MG14 a 19 de Setembro de 2003Contato: [email protected]ço: Cidade Universitária Zeferino Vaz - CP 6134130810-970 Campinas - SPTelefone: (19) 3788-6622Fax: (19) [email protected]

MBA em Administração Esportiva30 de Setembro a 1 de Dezembro de 2003Fundação Getúlio Vargas / EBAPEContato: [email protected]ço: Praia de Botafogo, 19022253-900 Rio de Janeiro - Rio de JaneiroTelefone: (21) 2559-5902Fax: (21) [email protected] ou www.ebape.fgv.br

XXVI Simpósio Internacional de Ciências do EsporteAtividade Física: Construindo Saúde10 a 12 de Outubro de 2003CELAFISCS/ Centro de Convenções RebouçasContato: [email protected]ço: Caixa Postal 26809501-000 São Caetano do Sul - SPTelefone: (11) 4229.8980Fax: (11) [email protected]://www.celafiscs.com.br/simp.htm

II Congresso Brasileiro de Docência e Pesquisa emTurismo Refletindo sobre a Formação do Professorde Turismo22 e 23 de Outubro de 2003Faculdade Cenecista Presidente KennedyContato: ShigunovEndereço: Rua Rui Barbosa, 54183601-140 Campo Largo - ParanáTelefone: (41) 392-2211 Fax: (41) [email protected]/eventotur/index.html

VII Simpósio Internacional do Rio de Janeiro7 a 9 de Novembro de 2003Instituto de Pesquisa da Capacitação Física do ExércitoContato: CEL PASCHOALEndereço: Av João Luiz Alves s/nr, Forte São João, URCA22291-150 Rio de Janeiro - RJTelefone: 21 225433323Fax: 21 [email protected]

XV Enarel - Encontro Nacional de Recreação e LazerNovos Significados na Sociedade Contemporânea19 a 22 de Novembro de 2003FEFISA - Pref. de Santo André SP - SESC SPContato: [email protected]ço: Rua Tamarutaca 30209071-130 Santo André - SPTelefone: 11 4469 [email protected]

Internacionais

11th EASM Congress (The European Association ofSport Management)10a 14 de setembro de 2003Stockholm, SweedenEASM2003Stockholm University College of Physical Educationand SportsP.O. Box 5626SE-114 86 STOCKHOLMSwedenPhone and Fax: +46 8 402 22 92E-mail: [email protected]

30 Years of Pediatric Exercise Sciences PediatricOrigin of Medical Conditions17 a 21 de setembro de 2003Wingate Institute for Physical Education and SportNetanya, IsraelContact: Dinah Olswang/Conference SecretariatRibstein Centre for Sport MedicineSciences & ResearchWingate Institute, Netanya, Israel 42902Tel: 972 9 8639 400Fax: 972 9 8639 412Email: [email protected]

93Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 2003

RBCSRBCSRBCSRBCSRBCS

Motor Control Conference III20 a 24 de setembro de 2003Varna, BulgariaContact: Email: [email protected]://www.laps.univ-mrs.fr/~gantchev/

38th German Congress for Sports Medicine andPrevention Sport as Medicine25 a 27 de setembro de 2003Potsdam, GermanyContact: Email: [email protected]

8th International Congress of the EuropeanCommittee for Sport History (CESH)Theme: Ancient and Modern Olympic Games:Their Political and Cultural Dimensions25 a 28 de setembro de 2003.The International Olympic Academy (IOA) in AncientOlympia/GreeceContact: Dr. Evangelos ALBANIDIS, DemocritusUniversity of ThraceDept. of Phys. Ed. & Sport Science, Secretariat 8thInternational CESH KOMOTINIGR-69100 KomotiniGreeceTel: ++30-2531-039-663 and: ++30-25Fax: ++30-2531-039-623Email: [email protected]/cesh2003

7th Forum of ENSSEE Sport World and AcademicWorld - What Relationship?26 a 29 de setembro de 2003.Olympic Museum

Lausanne, Switzerlandwww.aists.org/ENSSEE.htmwww.aists.org/ENSSEE.htm%20

The Ultimate Women’s Sport and Leisure Show19 a 21 de setembro de 2003Toronto Congress CentreToronto, ONContact: Tel: 416 544-1888e-mail: [email protected]

CAHPERD/MPETA Conference A NationalConference promoting active, healthy lifestyles.23 a 26 de outubro de 2003University of Manitoba Winnipeg, MBContact: Grant McManes & Heather Willoughby / Co-ChairsLouis Riel School Division50 Monterey RoadWinnipeg, MBR2J 1X1 CanadaTel: (204) 253-2685 ext 226Fax: (204) 254-8854E-mail: [email protected]: www.mpeta.ca

2004 Pre-Olympic Congress Sport Science Throughthe Ages: Challenges in the new Millenium6 a 11 de agosto de 2004.Thessaloniki, Greecewww.preolympic2004.com

ENFERMAGEMNacionais

6º CBCENF - Congresso Brasileiro dos Conselhos deEnfermagem A Contemporaneidade dos Cenáriosde Cuidados08 a 12 de setembro de 2003Centrosul - Florianópolis-SCInformações: (48) 224-9091 ou 0800-6450090www.cbcenf.com.brwww.cbcenf.com.br*informações sobre a concessão de alojamentogratuito já estão disponíveis no site do CBCENF

I Congresso Brasileiro de Enfermagem Pediátrica eNeo-Natal/ 4 Congresso Paulista de EnfermagemPediátrica e 3 Encontro de Enfermagem Neo-natológica

Tema Central: A enfermagem e a criança -Conquistas e desafios para o terceiro milênio8 a 10 de outubroLocal: Ribeirão Preto - SPInformações: Séc Departamento Materno Infantil eSaúde Pública d EERP-USP(16)6023391E-mail: [email protected] Congresso Paulista de Saúde Pública18 a 22 de outubro de 2003Ribeirão Preto - SPInformações: www.fmrp.usp.br/rms/ ou congresso/index.htme-mail: [email protected]: VR Futura Eventos: (16) 623 9399

E V E N T O S C I E N T Í F I C O S

aúde

Revista Brasileira de Ciências da Saúde, ano 1, nº 2, jul. / dez. 200394

SII Congresso Brasileiro de Especialistas emEnfermagem O “ser” especialista em enfermagem20 a 24 de outubro de 2003Parlamento Latino-americano - SPInformações: www.abesenacional.com.br(11) 5507-7278

XVI Seminário Brasileiro de Endoscopia emconjunto com o Congresso Sul Brasileiro deGastroenterologia e Jornada de Enfermagem emEndoscopia Gastrointestinal23 a 26 de novembro de 2003Costão do Santinho - Florianópolis - SCInformações: Tel: (47) 326-1313www.praxis.srf. br

Internacionais

20th International Conference of the InternationalSociety for Quality in Health Care02 a 05 de novembro de 2003

Wyndham Anatole Hotel - Dallas - Texas-USAInformações: +61 3 9417 6971www.isqua.org.au

XVI International Symposium on Nigh and Shiftwork18 a 21 de novembro de 2003Santos-BrasilInformações: www.fsp.usp.br/ shiftwork2003e-mail: [email protected]: Eventus 11- 3361.3089

28º Congresso Internacional de Saúde OcupacionalICOHAgosto de 2006Milan - ItáliaInformações: www.icoh2006.it

FISIOTERAPIANacionais

Congresso Brasileiro de Ensino em FisioterapiaVIII Fórum Nacional de Docentes em FisioterapiaII Encontro Nacional de Coordenadores de CursoI Encontro Nacional de Ca’s e Da’s de FisioterapiaInformações: www.fisiobrasil.com.br/abenfisio.asp

Estabilização vertebral dinâmicaData: Setembro de 2003Local: Rio de JaneiroInformações: Fone: (21)9414.1410www.especializefisio.come-mail: [email protected]

X Curso Neuroevolutivo BobathMódulo I - Outubro de 2003Módulo II - Janeiro de 2004Carga Horária: 280 horas

Pós-Graduação - 2003 Faculdades IPAInformações matrículas: Coordenação de EducaçãoContinuadaFone: (51)3316.1178e-mail: [email protected] de Especialização em Fisioterapia IntensivaUnidades de Terapia Intensiva Geral, Neurológica eCoronariana do Hospital Santa Cruz.Data do Edital: Publicação em 06/junho/2003 paraano letivo 2004Prova: em dezembro de 2003

Início: Janeiro / 2004UTI: Centro Formador da AFIB - Associação deFisioterapia Intensiva Brasileira e AMIB - Associaçãode Medicina Intensiva Brasileira.

Congresso Brasileiro de Terapia IntensivaLocal: CURITIBA - PRData: 11 A 15 DE JUNHO DE 2004 - AMIBCurso: Fisioterapia Motora Hospitalar e AmbulatorialCoordenador: Mestre Giany Gonze Tellini Início eE-mail: [email protected]ções: (11) 5575-8702

II SIMPONEURO BRASILPublico alvo: Fisioterapeutas e outros profissionais daSaúde que lidam com o paciente neurológicoTipo: Simpósio internacionalDuração: 11/09/2003 até 13/09/2003Ministrante(s): Nacionais e internacionaisInformações: 51 3026-5448

Curso: Conceito MaitlandPeríodo: 24/11/02 até 06/12/03Informações: www.kinesisfisioterapia.com.br

Curso: Hemiplegia no adultoPeríodo: julho/2004Informações: www.kinesisfisioterapia.com.br

X Curso Neuroevolutivo BobathPeríodo: Módulo I:29.9.03 II: 05.01.04Informações: www.kinesisfisioterapia.com.br