diversidade cultural na práxis docente: uma proposta inclusiva
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RESUMO
O desenvolvimento desta pesquisa tem por objetivo observar a
relevância com a qual os docentes lidam com a diversidade de seus
alunos no dia a dia, considerando suas formações, embasamentos
teóricos e práticos, a respeito desta temática. A demanda é de
ampliação do olhar pedagógico durante a formação de educadores, para
que diante da pluralidade a qual se deparam diariamente, estes,
possuam embasamento suficiente para lidar e principalmente ensinar
aos seus educandos práticas de respeito às diferenças, cumprindo
assim o papel de formar seres críticos e aptos a exercerem a cidadania.
A proposta é de inclusão da diversidade cultural nas escolas, seja
através da arte, do esporte, da ciência, de forma interdisciplinar e
contínua, fazendo assim com que a diferença seja algo normal, rotineiro,
enriquecedor e valorizado por todos. Para isto, obviamente nos
deparamos com o despreparo, desconhecimento e muita resistência,
sendo proposto então, paralelamente, formações específicas sobre esta
temática, capacitando o docente não apenas a entender e trabalhar de
forma mais ampla e dinâmica o tema, como também o orientando
didaticamente a trabalhar a temática de forma interdisciplinar e contínua,
e não pontualmente em datas específicas como se faz normalmente.
PALAVRAS – CHAVE: Educação. Inclusão. Cultura.
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DIVERSIDADE CULTURAL NA PRÁXIS DOCENTE: UMA PROPOSTA
INCLUSIVA
Aryana da Silva Lima
Faculdade Capixaba da Serra -Multivix , Serra, ES, Brasil.
INTRODUÇÃO
Aceitar as diferenças e enriquecer-se com elas continua a ser um problema que hoje ninguém sabe resolver por que supõe o reconhecimento de alteridade (...).” (VALENTE, 1999)
Este artigo propõe discutir a diversidade cultural como ferramenta de
ensino/aprendizagem, bem como a construção de uma escola mais inclusiva,
que valorize e trabalhe as diferenças de maneira contextualizada.
Durante a graduação, tendo realizado pesquisas na prática docente, partimos
para uma reflexão da importância da utilização de contextos históricos e
práticas culturais locais no exercício do processo de ensino aprendizagem,
bem como o impacto desta contextualização no discente.
Fundamentamos teoricamente a pesquisa sob a perspectiva de autores
especializados no tema como Francois Dubet, que considera a escola principal
disseminadora da exclusão, Henry Giroux que destaca a importância do
domínio cultural para uma educação eficiente, Vera Maria Candau que retrata a
formação social do indivíduo à partir do seu meio, além de outros autores que
tratam a exclusão e o preconceito como provenientes muitas vezes do
desconhecimento do contexto cultural ao qual o aluno se origina.
Partindo do exposto, este artigo objetiva apresentar uma proposta de inclusão
da cultura local como metodologia de ensino e desenvolvimento de atividades
educacionais mais contextualizadas e prazerosas para crianças, propiciando a
efetivação da absorção do conteúdo através da vivência de experiências,
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baseado na pesquisa que realizamos durante a graduação em Pedagogia, sob
a orientação do Profo. Dro. Oscar Omar Delgado Carrasco e da Profa. Ms.
Silvana Santos, que originou a dissertação intitulada Diversidade cultural na
práxis docente.
Partindo da temática escolhida, determinamos o principal objetivo da pesquisa,
que era identificar se os docentes formados possuíam embasamento suficiente
para o cumprimento da lei 11.645/2008 que torna obrigatório o ensino da
história e cultura afro-brasileira e indígena.
Foram estabelecidos alguns objetivos específicos como: a observação no trato
da diversidade nos diferentes contextos educacionais, o cumprimento de leis
de inclusão cultural nas escolas formais, o trato diário com a diversidade pela
escola e a importância de uma formação docente que envolva aprendizado
prático.
Entendendo as relações entre cultura, educação e inclusão
De acordo com o artigo 1° da LDB 9394/96 define-se como sendo educação:
“[...] os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.”
Sendo assim educação e cultura estão diretamente ligadas. Uma depende da
outra, se complementam de forma a compor o cidadão completo, crítico e
pensante, proposto pela LDB.
A abordagem da diversidade cultural no contexto educacional, hoje, faz parte
de vários debates na sociedade. É comum nos depararmos com seminários,
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rodas de conversas e palestras voltadas para esta temática, e como destaque
é sempre exposta à necessidade de um currículo escolar voltado para este
pluralismo cultural.
Durante a formação docente, precisamos romper paradigmas, desconstruindo
e reconstruindo olhares diferenciados para uma prática multicultural inserida no
dia a dia de ensino. Infelizmente, somo carregados de conceitos pré
concebidos, que nos fazem formar em nossa mente um padrão de
normalidade, nos fazendo excluir voluntária ou involuntariamente tudo que fuja
deste padrão, e isto, remete-se não apenas a práticas culturais, como também
a tudo que nos rodeia, forma física, práticas religiosas, culturais, e até mesmo
tempo de desenvolvimento e aprendizagem. Ora, se não conseguimos romper
estes conceitos, como conseguiremos educar atendendo a especificidade de
cada aluno, como esta prática requer? Como poderemos formar cidadãos se
não conseguimos respeitar ou enxergar “o outro” em sua totalidade? De acordo
com Kant “só educa quem é educado”, portanto, é no processo de formação de
docente, que pode-se educar para a construção de um olhar mais amplo,
multidiverso.
François Dubet afirma que parte da exclusão escolar é originada “da distância
cultural e social que separa os professores e a sua clientela”, o que nos leva a
refletir na afirmação de Levi Vygostky de que "Na ausência do outro, o homem
não se constrói homem" entendendo que não participante ou mesmo
conhecedor da realidade e contexto ao qual o aluno pertence, o docente
dificilmente conseguirá atingir o discente com o reconhecimento de identidade
necessário para o estabelecimento de uma relação dialética e mediadora de
conhecimento.
Como fica claro, educação e cultura estão diretamente ligadas, e não sendo
consideradas, geram exclusão, que cria uma nova demanda de atuação por
parte dos docentes, de descontruir a vitimização e invisibilidade de certas
culturas, proporcionando a inclusão e o direito a cidadania.
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Metodologia, campo de atuação e os sujeitos observados
Nossa pesquisa foi qualitativa, baseada em observações, conversas e vivência
educacional em diferentes contextos, propiciando a construção de um
comparativo de posturas que impactam de forma diferenciada na formação do
docente e do discente por ele instruído. A escolha dos locais de
acompanhamento se deu à partir do contexto diferenciado que permitia uma
melhor análise da temática proposta e o envolvimento direto com o trato da
diversidade, além de observarmos a postura dos diferentes docentes diante da
diversidade, propondo uma reflexão frente os resultados.
Foram observadas aulas da escola indígena, na Aldeia Três Palmeiras, em
Coqueiral de Aracruz, Aracruz, ES; na ONG CAOCA em Maria Ortiz, Vitória,
ES e em uma escola privada com filiais no município de Serra e Cariacica, ES
e como exemplo de projeto de inclusão cultural, está sendo relatada prática
feita no Galpão das Paneleiras, localizado no bairro em Goiabeiras , Vitória,
ES, em setembro de 2013 com 6 crianças de 3 à 7 anos,.
A Aldeia Indígena
A primeira observação foi feita em uma escola formal, localizada na Aldeia
Indígena Três Palmeiras, em Coqueiral de Aracruz, Aracruz ES. Conversamos
com alguns funcionários, alunos, pessoas da aldeia e o cacique, com o
propósito de nos inteirarmos da realidade e principalmente “descontaminar”
nossos olhares em relação a cultura indígena.
A escola possui 2 salas, que atendem 3 Aldeias (Três Palmeiras, Piraqueaçu e
Boa Esperança). As salas são multi-seriadas, funcionando em um período com
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a educação infantil e no outro com ensino fundamental. As aulas são dadas em
português, entretanto eles estudam a língua guarani como se fosse segunda
língua. A maioria de docentes são índios(as), que com incentivo da FUNAI,
conseguiram obter formação para lecionarem. Os materiais utilizados, no geral
são produzidos por índios de uma aldeia no Rio de Janeiro, que possuem
contos e textos, contextualizados à realidade indígena. As salas são simples,
decoradas pelos próprios índios, com pinturas de imagens de animais, plantas
e objetos de sua cultura, como cocás e lanças.
Os professores são selecionados através de concurso, não há exigência de
origem ou fluência na língua Guarani, embora seja desejável. Foi explicado,
que como ainda é pequeno o número de índios com formação acadêmica (o
que pode ser entendido à partir da visão cultural dos mais antigos de que ao se
deslocarem da aldeia para este tipo de formação, o índio estaria se
“contaminando” e deixando de lado sua cultura), este critério acabaria por
impedir o funcionamento da escola por falta de número de docentes
condizentes à necessidade.
Durante as aulas, conhecemos uma professora não indígena, que chamaremos
aqui de Maria, para evitarmos constrangimentos, e dela ouvimos um relato que
poderia ter sido feito por qualquer um, bem interessante: “Em meu primeiro dia
em sala de aula na aldeia, me deparei com uma criança indígena saindo
durante a aula para fumar cachimbo, fiquei aterrorizada”. Esta situação ocorreu
à aproximadamente 4 anos, logo que Maria concluiu sua formação em
Pedagogia. Anteriormente a este momento, ela ministrava aula em uma aldeia
Tupinikim que já não possui hábitos tão tradicionais, como a utilização do
cachimbo, cerimônias no Opu ( casa de reza), quanto a Guarani. Quantos de
nós, sabemos que o “fumar cachimbo” na aldeia indígena é um ato de
purificação de si e do entorno, pois se acredita que a fumaça limpa o ambiente,
espantando maus espíritos? Quanto de nós, temos a informação de que a
fumaça não é tragada e que esse hábito é adquirido desde muito cedo com o
objetivo de espiritualização? A professora nos relatou também, que ainda
causa espanto, a quantidade de meninas grávidas ou já mães, na pré-
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adolescência (fato inclusive que visualizamos nos acompanhamentos, nos
deparando com uma menina de 13 anos amamentando dentro da sala de aula).
Ao conversarmos com os antigos da Aldeia, entendi que a prática do
casamento precoce é tida desde os primórdios para garantir que os índios não
se misturariam com os “não índios”. A professora em questão, hoje é casada
com um índio Tupinikim, e apesar da sua integração no meio indígena, ainda
não vê de forma natural as práticas culturais que eles possuem. Em sua
prática, pudemos perceber tolerância, porém, não respeito, considerando que
em muitos momentos em sala, a mesma tentou combater algumas destas
práticas, nomeando-as como errôneas, valorando a cultura do outro a partir de
sua própria cultura, e em certa medida impondo o que considera ser certo.
Outro relato na aldeia que nos chamou muita atenção, foi o da situação das
merendeiras. Como as contratações da escola são feitas pelo município, as
merendeiras são funcionárias públicas que devem bater ponto e se reportarem
à Prefeitura. Qualquer ausência não justificada é descontada, entretanto, mais
uma vez nos confrontamos com a invasão da formalidade sem a consideração
dos preceitos culturais ali vigentes. O índio acredita que a mulher menstruada
não pode cozinhar, deve ficar de repouso e em muitos casos não pode se quer
ser tocada, pois estaria em um momento de limpeza e purificação. Acreditam e
relataram, inclusive, que em algumas situações em que esta regra não foi
cumprida, índios que comeram alimentos preparados por estas mulheres
ficaram doentes. Mas, a menstruação, não se encaixa na justificativa aceita
pela CLT, e agora, o que fazer? A funcionária deve perder seus dias de
trabalho. Esta foi a única opção oferecida a aldeia, e por conta disto, hoje, as
mulheres da aldeia se revezam na preparação dos alimentos nos dias em que
as merendeiras estão menstruadas, em prol de protegerem as crianças e evitar
descontos nos salários das merendeiras, o que seria uma punição por suas
crenças.
Com todos esses exemplos, fica claro o quanto precisamos evoluir à respeito
de diversidade e inclusão. Respeitar a cultura alheia, é o princípio fundamental
para que iniciemos este trabalho. A LDB no artigo 79, prevê sim a introdução
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da escola formal em contextos indígenas, entretanto, sugere que sejam feitos
levantamentos e pesquisas, para que sua cultura seja respeitada, que os
currículos sejam adequados as suas necessidades e que os professores que
ali forem atuar, sejam conhecedores da prática cultural local, respeitando suas
práticas. Se a lei preconiza, onde está a falha? Porque não é cumprida? Muitas
são as justificativas dadas, ora falta de mão de obra especializada, ora a falta
de cursos específicos a esta realidade em nosso estado, ora o medo da
população indígena em romper os limites da aldeia para tais formações. Hoje,
no Espírito Santo, não há formação especificamente para índios ou que
condicione não índios à trabalharem suas temáticas. Os índios do Espírito
Santo que querem cursar uma graduação, vão para Santa Catarina, fazendo
uma formação de alternância. Na Universidade Federal do Espírito Santo -
UFES, há um projeto de abertura de curso específico, mas ainda não
aprovado. O fato é que algo precisa ser feito e começar por formar docentes
que conheçam esta realidade, que estejam preparados para respeitar essas
diferenças, sem querer impor a sua, pode ser o primeiro passo para a
mudança.
A Ong CAOCA
Surpreendente foi o acompanhamento feito na ONG CAOCA, localizada no
Bairro Maria Ortiz – Vitória ES. A ONG tem capacidade para atender 200
crianças. De 4 à 15 anos de idade. Hoje, possui 180 crianças e o seu principal
objetivo, é manter a criança fora da rua, diminuindo assim o risco de
envolvimento com as drogas e a criminalidade. Seu quadro é composto por 1
pedagoga, 2 assistentes sociais, 1 psicóloga, algumas funcionárias
administrativas e educadores sociais, que iniciaram o trabalho de forma
voluntária, mas que hoje são remunerados. As salas são divididas por faixa
etária, mas permanecem multi-seriadas. As crianças aceitas na ONG,
obrigatoriamente precisam que estar matriculada na escola. Em geral, são
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crianças de grande risco social. A escolha do projeto a ser trabalhado,
normalmente é feito à partir da observação e diagnóstico de necessidade. Se
há a percepção, de que há em meio as crianças, alguém fruto de abuso sexual,
por exemplo, a temática é escolhida para ser tratada de forma geral. Além dos
projetos em sala, é feito um trabalho de inclusão digital e cultural, onde são
desenvolvidas oficinas de capoeira, leitura, musicalização, proporcionando às
crianças atividades que misturam ludicidade e cultura, tornando o aprendizado
mais prazeroso. Conversando com o professor de capoeira, que dá aula na
instituição à 8 anos, ele explicou que nestas oficinas, além da prática de
capoeira, ele introduz a história do negro, a história da capoeira e os benefícios
de praticá-la. Relatou, embora sem constatação de dados, que em média, 80%
de seus alunos tiveram uma melhora no rendimento escolar após o início da
prática esportiva/cultural, e que ele assimila esta melhora à disciplina e
proximidade que esta prática proporciona aos alunos. As salas de aula são
cheias de diversidade, crianças portadoras de deficiência física e mental,
crianças que sofrem violência doméstica, crianças que sofrem abuso sexual,
crianças negras, asiáticas, brancas, e de forma impressionante, os professores
que não possuem sequer curso superior, lidam com estas diferenças de forma
magistral. Trabalham a diversidade, a inclusão, o respeito à diferença, se
atualizam. Essa postura chamou atenção, e conversando com alguns dos
educadores, percebemos algumas características que fizeram diferença nesta
atuação. Segundo a pedagoga, 80% dos educadores que atuam ali, tem
origem igual ou similar às crianças da ONG e se disponibilizaram a atuar para
estas crianças, com o objetivo de mostrar que eles tem outros caminhos além
do tráfico, crime, etc, que são oferecidos nas ruas. Naquele momento, nos
demos conta que a formação poderia sim ajuda-los a trabalhar aqueles
contextos de forma mais apropriada, didática, mas o que realmente fazia a
diferença era a contextualização. Conhecer a realidade e querer muda-la,
impulsiona aqueles educadores, fazendo com que mesmo sem recurso, eles
busquem subsídios pedagógicos e embasamento teórico com a ajuda da
pedagoga, possibilitando uma atuação inclusiva e mais próxima de democrática
possível. É o princípio de alteridade sendo vivido sem sequer ser conhecido,
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onde professores se colocam no lugar do outro porque já foram o outro em
algum momento e por isso os entendem e os atingem em sua prática.
Escola privada de Ensino Fundamental
Por questões burocráticas, nos referimos aqui a escola sem nomeá-la. É uma
escola de padrão bem elevado que atua da educação infantil ao pré vestibular,
entretanto as observações se deram entre alunos do 3° ao 5° ano. As crianças
são em geral de família de classe média E alta. Poucos são os alunos
portadores de deficiência. Nas 4 turmas observadas, apenas 2 crianças
possuíam laudo médico as caracterizando como especiais. Os negros também
são minoria, 6 em um total de 91 alunos, representando 6,6%. Observamos
unidades do município de Serra e Cariacica, e percebemos que no município
de Cariacica, a inclusão e respeito às diferenças é tratada de forma mais
latente. Em serra, é falado sobre a temática dA diversidade e respeito às
diferenças, nas aulas de filosofia, entretanto no dia a dia esta temática não é
introduzida ou contextualizada. A escola oferece aulas extra curriculares de
balé, ginástica e futebol. A temática negra e indígena é trabalhada
pontualmente na semana da consciência negra e no dia do índio. Ao conversar
com as crianças sobre a realidade indígena, um pequeno grupo disse já ter ido
à uma aldeia indígena, e quando questionados o que acharam quando
chegaram lá, unanimemente me responderam: “bem diferente dos livros tia”.
O que nos foi possível concluir durante a observação, é que a escola não
possui um trabalho voltado para a diversidade, reproduz conceitos históricos
pré existentes e não contextualizado, embora de 6 professores que observei, 2
quebrem as regras, relativizando o ensino diário com exemplos da cultura
africana e indígena. Os professores possuem formação de ensino superior e
pós graduação, e embora alguns até tenham afinidade com a temática, não
possuem muita liberdade de atuação nesta área, por não fazer parte da
proposta da escola.
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Comentando as diferenças
Foi inevitável traçar um comparativo entre os ambientes observados, e apesar
dos ambientes serem bem diferentes, envolviam personagens ( professores e
alunos) que cumpriam ou ao menos deveriam cumprir papeis similares.
Identificamos a importância da contextualização do ensino e a efetiva aplicação
do princípio de alteridade com seus devidos impactos.
Se pudessemos classificar a prática mais bem sucedida, a ONG CAOCA
levaria o troféu, pelo simples fato de conseguir estabelecer com seus alunos
uma relação mediadora, inclusiva e de total proximidade entre educadores e
educandos, fazendo-nos refletir sobre a formação dos professores hoje em dia.
Será que não construímos um muro entre o conhecimento teórico e prático em
nossas formações , nos esquecendo, que na prática desenvolvemos estes
sentimentos de identificação e proximidade social, gerando a contextualização
natural necessária à nossa formação? Experiências efetivam aprendizados e
não podemos continuar com a reprodução baseada na “decoreba”, sem
contextualização que produz educadores limitados e reprodutores deste
sistema educacional que cada vez mais legitima a exclusão dos diferentes.
Hoje, algumas leis existem para que a inclusão seja cumprida, mas nos
estabelecimentos que observamos, a lei obviamente é cumprida, porém em
alguns a inclusão não existe. Percebemos crianças integradas, mas não
incluídas, crianças que são diferentes, seja por uma característica física ou
mesmo cultural, que frequentam o mesmo ambiente, mas que não se sentem
pertencentes a ele, por ainda verem sua classificação exposta no quesito de
“feiúra social” ao qual estamos acostumados. Percebemos que nos educadores
destas instituições, pouca é a preocupação com a diversidade, como se tivesse
se estabelecido uma certa homogeneização e a demanda do trato diário da
diversidade não existisse.
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Considerações sobre as Leis
Dentre as principais leis , citamos as 10.639/03 e 11.645/08 que garantem a
inclusão das culturas e etnias consideradas não predominantes, mas que,
todavia são populosos e organizados politicamente, o que acaba por promover
a promulgação de leis específicas de respeito e aprendizagem das mesmas,
entretanto, não podemos deixar de citar, que além de negros e indígenas,
existem diversas culturas minoritárias, que precisam ser lembradas, estudadas
e trabalhadas em sala de aula, para que se desenvolva um olhar mais
respeitoso e tolerante com práticas que podem inclusive nos auxiliar no ensino
formal.
As leis hoje existentes, obviamente são um grande passo para uma educação
mais diversa, entretanto, é preciso estabelecer mais rigor em seus
cumprimentos, para que de fato se cumpra o predisposto. Nas locais
observados, percebemos claramente a falta de rigor na fiscalização de
cumprimento das leis de inclusão. No que tange a inclusão cultural, são feitos
projetos pontuais, em dias comemorativos, como no dia do índio, as crianças
são vestidas com tangas, tem o rosto pintado, fazem danças e pronto, é
considerada cumprida a missão de falar sobre a história e cultura indígena na
escola.
Temos que considerar que a falta de fiscalização não é a única culpada. As
leis, de certa forma, são evasivas, superficiais, não estabelecem detalhes sobre
o seu cumprimento, deixando a escolha da carga horária e a forma com que as
disciplinas de inclusão serão trabalhadas a cargo das instituições, que na
maioria das vezes optam pelo que é mais rápido e barato.
É preciso que nos incomodemos com esta realidade. Apenas o incômodo, será
capaz de gerar mudanças eficazes que motivem ao invés de amedrontar.
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Uma proposta inclusiva
Durante as pesquisas, em busca de efetivarmos o levantamento teórico , nos
propusemos a testar a inclusão cultural na prática. Reunimos um total de 5
crianças, de faixa etária de 5 à 7 anos, e preparamos um trabalho de
motricidade e coordenação motora à parir da confecção de panelas de barro.
As levamos ao Galpão das Paneleiras, localizado em Goiabeiras, Vitória – ES ,
dando início as atividades.
Inicialmente levamos as crianças para a etapa inicial do processo de confecção
de panelas, onde o barro passa por uma limpeza manual. Inicialmente o barro
é amontoado em uma lona, e o responsável pela limpeza começa a pisá-lo com
os pés descalços, separando toda impureza que sente. Para efetivarmos o
aprendizado, junto com as crianças, ficamos descalços e participamos
ativamente da atividade, pisando no barro, separando as impurezas e
trabalhando nosso equilíbrio. Após isto, lavamos os pés e fomos para a etapa
de confecção de panelas. Uma das paneleiras, além de nos ensinar como
fazer, ia contando a história da origem daquela atividade, da ancestralidade e
da importância desta atividade não apenas para o sustento das famílias
envolvidas mas também da importância cultural e regional. Percebemos o quão
difícil era a moldagem das panelas, e conseguimos detectar e trabalhar as
dificuldades de motricidade de algumas das crianças presentes. Após o
término, encaminhamos as panelas confeccionadas para queima, entregando-
as posteriormente para as crianças, como lembrança da “aula diferente” que
tiveram. Passamos aproximadamente 5 horas no galpão com as crianças e
semanas depois procuramos as famílias para saber a repercussão da
.atividade na rotina das crianças e o resultado foi bem surpreendente.
As crianças voltaram empolgadas, contaram todas as histórias contadas no
galpão para os pais e para os colegas da escola, despertando o interesse das
demais crianças em conhecer a atividade. Além de incluir o ensino de
ancestralidade, descendência e etnia, a atividade permitiu uma trabalho prévio
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de diagnóstico sobre motricidade das crianças, que permitiria um trabalho mais
específico e direcionado, em sala de aula, à partir das observações feitas. As
crianças conseguiram absorver a história, pelo prazer proporcionado pela
prática.
Considerações finais
Sendo a pedagogia uma ciência que tem como objetivo o estudo da educação
e seus processos, e sendo a educação feita em todo meio social, como é
possível limitarmos o estudo de formação do pedagogo a técnicas e ações
voltadas para a prática docente infantil?
Vasto e enorme é o campo que pode ser explorado em termos de atuação
pedagógica e formação de seres humanos críticos e desenvolvidos, tal qual
preconiza a lei, entretanto, se não conseguimos fazer cumprir nem mesmo a
inclusão da diversidade cultural já firmada legalmente, como partir para os
demais? E pior, como é possível não trata-la considerando a gama de
diversidade contida em nossa formação? Nem tudo que parece lógico, de fato
o é. Hoje percebemos que precisamos nos despir de nossa formação e
reconstruí-la considerando tudo que não foi possível em relação à diversidade.
Reconhecermo-nos em parte negros, em parte índios e em parte europeus, faz
com que tentemos identificar a influência de cada parte em nós, e a forma com
que cada uma destas etnias nos enriquece. Somente uma formação
contextualizada, abrangente, crítica e despida de preconceitos, tornará possível
uma formação de fato inclusiva que respeite e valorize as diferenças, sejam
elas culturais ou não.
Além, obviamente deste campo psicoemocional que precisa ser trabalhado, é
preciso cobrar das universidades, públicas e privadas, ações que incentivem e
direcionem esta mudança. O estabelecimento de carga horária fixa de matérias
que tratem esta temática, de atividades práticas que permitam o conhecimento
de realidades culturais diferentes, a inclusão de atividades lúdicas, que
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envolvam a temática afro-brasileira e indígena, de forma interdisciplinar, são
pequenas ações que podem efetivar o disposto nas leis. A diversidade cultural
deve ser parte integrante de nossa formação superior, para que quando
passemos a atuar como pedagogos ou docentes, possamos reproduzir uma
realidade diferente da que aprendemos na infância, propiciando assim a
formação de cidadão completos no que tange o desenvolvimento humano e
cultural.
A globalização dita as novas regras do mundo, e não podemos ficar para trás
no que se refere a formação de professores. Precisamos contextualizar o
ensino, incluindo práticas que nos façam adquirir novos olhares e assim novas
práticas educacionais.
Não acreditamos em uma ação única, que resolva a problematização
apresentada imediatamente, mas que pequenas ações, como as aqui
sugeridas, podem contribuir para uma prática próxima da desejável.
Em suma, experiências como esta são válidas e inclusivas, por permitirem que
crianças, adolescentes e os envolvidos no processo como um todo, conheçam
outras realidades rompendo desta forma com o ciclo de produção e reprodução
de histórias distantes de suas realidades.
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