dinâmica do carbono nos solos da amazônia

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60 Solos da Amazônia RODRIGUES, T.E.: GAMA. J.R.N.F.; PEREIR:~.. L.c.; RÊGO, R.S.; MARTORANO.. L.G. USO e ocupação do Solo d;i Amazônia Brasileira. Belém, 1990. (EMBRAPA-SNLCS, Datilografado). RODRIGUES, T.E.; GAMA. J.R.N.F. & SANTOS, X.D. dos. Levantamento de reconhecimento de média intensidade dos solos e aptid'io agricola das terras do Polo Acre. Rio de Janeiro. EMBRAPA-SNLCS, 198.5. i5Op. (Relatório). . do Distrito AgropecuJrio da SUFRAhlA (trecho: lm1 30km 79 - Rod. BR- 174, Manaus-AM). IPEAOC. 197 I. 99p. (IPEAOC. Ske: Solos V.1 ( I)). RODRIGUES, T.E.: SILVA, B.N.R. da: MORIKAWA. LK.: VIANA. J.A. Solos da rodovia PA-70, trecho Bel6m-Brasilia Marabá. B-léni. IPEAN. 1974. GO: 1-192. (IPEAN - Boletim Tecnico. 60). SANTOS, P. L. dos. Zoneamento Agroclimático da bacia do Rio Candiru-Aqu - Pará. BelCm. FCAP. 1993. 153p. (DissertaGSo de Memadoi. SCHOBBENHAUS. C.; CAMPOS. D. de A.; DERZE. G.R. & ASMUS, H.E. Geologia do Brasil: Texto esplicativo do Mapa (;eolÓgico do Brasil e Brea oceiinica incluindo depósitos minerais, escala 1:3.5DO.i100. Brasilia, DNPM, 1984.50 1 p. SILVA. J.M.L. da Caracterizacão e classificaçIo de solas do terciário do nordeste do Estado do Pará. UFRRJ. 1989. 19Op. (Tese de Mestrado). SOMBROEK, W.G. Amazon soils: a rcconnaissancc of tlie soils of the Brazilian Amazon region. Wageningen. Center for Agriculture Publications and Documentation. 1966. 7 9 2 ~ . SOUZA. C.A. Estudo comparativo de propriedades de Latossolos do Brasil. Porto Alegre. Faculdade de Agronomia. UFRGS. 1979. 1050 p. (Tese de RODRIGUES, T. E.; MORIKAWA. I. K.: REIS. R. S. ~!\~~i 3: FALESI. I. C. SOIOS Mestrado). VIEIRA. L.S. & SANTOS. P.C.T. Amazônia: seus solos e outros recursos naturais. São Paulo. Ed. A p n h n i c a Ceres, 1987.4 1 Op. VOLKOFF. B. Os produtos ferruginosos que determinam a Lor dos Latossolos da Bahia. R. Bras. Ci. Solo. Campinas. 1( I C5-59. 197s. WEAVER. R.M. Soils of the Central platcan of Brazil Central and mineralogical properties. Ithaca. Cornell UniversitJt. 1974. 45p. (Agronomy, 74-70). Carlos C. CEM', Martial BEl?.NOUX2, Boris VOLKOFF' & Jener L. MOW2 ' Pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Piracicaba. SP. 'Doutorando do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Piracicaba, SP. Pesquisador do ORSTOM, Bondy, France INTRODUÇAO Existe grande semelhança nas características da matéria orgânica dos solos da Amazônia. Isto se deve, provavelmente, ao fato de que ela é formada a partir da decomposição de resíduos vegetais de mesma composição, originários da floresta tropical. Entretanto, devido as diversidades climáticas e pedoló,' oms, surgem diferenças no que diz respeito a quantidade e qualidade da matéria orgânica, pois clima e natureza do solo (especificamente pH, textura e drenagem) interferem nos processos de humificaçäo e na taxa de renovação do carbono do solo. O desmatamento e o cultivo alleram os equilíbrios naturais. e conseqüentemente modificam os estoques do solo e, até certo ponto, os mecanismos de incorporaçr?o-decomposição (Andreux et al., 1990; Diez et al., 1991). Do ponto de vista da agricultura e manejo do solo, as mudanças interferem na ciclagem dos numentes e conseqüentemente na fertilidade do solo. Com relação ao ambiente global, elas podem interferir de modo näo negligenciável no balanço do CO2 da atmosferae porranto no clima do planeta (Feamside, 1992) Nossos trabalhos sobre o estudo da matéria orgânica do solo na Amazônia foram desenvolvidos. tendo em vista dois critérios: um socio-econômico e outro pedo-climático. Em primeiro lugar, decidimos que as árcas de interesse deveriam ser obviamente as áreas de colonização. Em segundo, consideramos que a diniimica da matéria orgânica está fortemente marcada por dois fatores: a textura do solo e o clima. Em face a estes critérios selecionamos três árcas de atuaç- ao: Manaus. Leste do Pará e Rondônia (Quadro 1). Os solos dessas áreas sä0 Latossolos e Solos Podzólicos que juntos perfazem 60 % dos solos da bacia Amazônica. além de serem os mais utilizados para agricultura. Quadro 1 - Características da geologia. vegeta@o c clinxi Jas regifics estudadas Arnivdnia Centd Leste Sudoeste Geologia SkdimentoBarreins Scdimcnto Burreins Rochas Cristalinas Vegetacão Floresta densa Floresta dcnsd Floresta aberta - C[im--- " \ 2.200 2.500 2.100 Precipitaçiio anual (mm) Estação seca (meses) Oaté 1 o ari 3 3 atel

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60 Solos da Amazônia RODRIGUES, T.E.: GAMA. J.R.N.F.; PEREIR:~.. L.c.; RÊGO, R.S.;

MARTORANO.. L.G. USO e ocupação do Solo d;i Amazônia Brasileira. Belém, 1990. (EMBRAPA-SNLCS, Datilografado).

RODRIGUES, T.E.; GAMA. J.R.N.F. & SANTOS, X.D. dos. Levantamento de reconhecimento de média intensidade dos solos e aptid'io agricola das terras do Polo Acre. Rio de Janeiro. EMBRAPA-SNLCS, 198.5. i5Op. (Relatório). .

do Distrito AgropecuJrio da SUFRAhlA (trecho: l m 1 3 0 k m 79 - Rod. BR- 174, Manaus-AM). IPEAOC. 197 I . 99p. (IPEAOC. Ske: Solos V.1 ( I ) ) .

RODRIGUES, T.E.: SILVA, B.N.R. da: MORIKAWA. LK.: VIANA. J.A. Solos da rodovia PA-70, trecho Bel6m-Brasilia Marabá. B-léni. IPEAN. 1974. GO: 1-192. (IPEAN - Boletim Tecnico. 60).

SANTOS, P. L. dos. Zoneamento Agroclimático da bacia do Rio Candiru-Aqu - Pará. BelCm. FCAP. 1993. 153p. (DissertaGSo de Memadoi.

SCHOBBENHAUS. C.; CAMPOS. D. de A.; DERZE. G.R. & ASMUS, H.E. Geologia do Brasil: Texto esplicativo do Mapa (;eolÓgico do Brasil e Brea oceiinica incluindo depósitos minerais, escala 1:3.5DO.i100. Brasilia, DNPM, 1984.50 1 p.

SILVA. J.M.L. da Caracterizacão e classificaçIo de solas do terciário do nordeste do Estado do Pará. UFRRJ. 1989. 19Op. (Tese de Mestrado).

SOMBROEK, W.G. Amazon soils: a rcconnaissancc of tlie soils of the Brazilian Amazon region. Wageningen. Center for Agriculture Publications and Documentation. 1966. 7 9 2 ~ .

SOUZA. C.A. Estudo comparativo de propriedades de Latossolos do Brasil. Porto Alegre. Faculdade de Agronomia. UFRGS. 1979. 1050 p. (Tese de

RODRIGUES, T. E.; MORIKAWA. I. K.: REIS. R. S. ~ ! \ ~ ~ i 3: FALESI. I. C. SOIOS

Mestrado). VIEIRA. L.S. & SANTOS. P.C.T. Amazônia: seus solos e outros recursos

naturais. São Paulo. Ed. A p n h n i c a Ceres, 1987.4 1 Op. VOLKOFF. B. Os produtos ferruginosos que determinam a Lor dos Latossolos da

Bahia. R. Bras. Ci. Solo. Campinas. 1( I C5-59. 197s. WEAVER. R.M. Soils of the Central platcan of Brazil Central and

mineralogical properties. Ithaca. Cornell UniversitJt. 1974. 45p. (Agronomy, 74-70).

Carlos C. CEM', Martial BEl?.NOUX2, Boris VOLKOFF' & Jener L. M O W 2

' Pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Piracicaba. SP. 'Doutorando do Centro de Energia Nuclear na Agricultura, Piracicaba, SP. Pesquisador do ORSTOM, Bondy, France

INTRODUÇAO

Existe grande semelhança nas características da matéria orgânica dos solos da Amazônia. Isto se deve, provavelmente, ao fato de que ela é formada a partir da decomposição de resíduos vegetais de mesma composição, originários da floresta tropical. Entretanto, devido as diversidades climáticas e pedoló,' oms, surgem diferenças no que diz respeito a quantidade e qualidade da matéria orgânica, pois clima e natureza do solo (especificamente pH, textura e drenagem) interferem nos processos de humificaçäo e na taxa de renovação do carbono do solo. O desmatamento e o cultivo alleram os equilíbrios naturais. e conseqüentemente modificam os estoques do solo e, até certo ponto, os mecanismos de incorporaçr?o-decomposição (Andreux et al., 1990; Diez et al., 1991).

Do ponto de vista da agricultura e manejo do solo, as mudanças interferem na ciclagem dos numentes e conseqüentemente na fertilidade do solo. Com relação ao ambiente global, elas podem interferir de modo näo negligenciável no balanço do CO2 da atmosfera e porranto no clima do planeta (Feamside, 1992)

Nossos trabalhos sobre o estudo da matéria orgânica do solo na Amazônia foram desenvolvidos. tendo em vista dois critérios: um socio-econômico e outro pedo-climático. Em primeiro lugar, decidimos que as árcas de interesse deveriam ser obviamente as áreas de colonização. Em segundo, consideramos que a diniimica da matéria orgânica está fortemente marcada por dois fatores: a textura do solo e o clima. Em face a estes critérios selecionamos três árcas de atuaç- ao: Manaus. Leste do Pará e Rondônia (Quadro 1). Os solos dessas áreas sä0 Latossolos e Solos Podzólicos que juntos perfazem 60 % dos solos da bacia Amazônica. além de serem os mais utilizados para agricultura.

Quadro 1 - Características da geologia. vegeta@o c clinxi Jas regifics estudadas

Arnivdnia Centd Leste Sudoeste

Geologia Skdimento Barreins Scdimcnto Burreins Rochas Cristalinas Vegetacão Floresta densa Floresta dcnsd Floresta aberta - C[im--- " \

2.200 2.500 2.100 Precipitaçiio anual (mm) Estação seca (meses) Oaté 1 o ari 3 3 atel

em cada uma.

Quadro 2 - Áreas selecionadas de estudo e tipo de solo. -*

Municipio S d r I , codigo I d

CP AIT-Embrapn Faz. Bosque Faz. AguaPrrxh F x . Piquia Faz. Croand Faz. Nova Vida parte leste Faz. Nova Vida parte oeste . Faz. Benjamin Faz. Lenk Faz. Embrapa

Capitiio Poço (PA) Pangominas (PA) Parqgominas (PA) Ruqomiiias (PA) Pangominas (PA) Ariquemes (RO)

&¡quemes (ROI

Ouro Preto do Oeste (R01 Ouro Preto do Oeste (ROI Manaus (AM)

ESTOQUE DE CARBONO NOS SOLOS DA AiLIAZ6NIA

A principal Fontc de carbono para o solo é a liteira. sendo que o aporte anual pode ser estimado em 0.35 a 0.40 kg.m-'. H i ripida mineralizaç5o da matéria vegetal e humificnqiio de parte do carbono que é fixado. t depois se condensa como dcidos fúlvicos e dcidns húinicos. n a forma de cnnlplcxo argilo-húmico. A acumulaçiío do carbono no solo d compensada pela mincralizaqiío dc uma parte do carbono humiiicado. No equilillrio os p h o s sHo equivalente 5s perdas.

O carbono do solo Í ï H o se mineraliza na mesma velocidade. Certos constituintes da matéria organica tem duraç50 de vida muito curta e se renovam- rapidamente. Outras sií0 estivcis. e pcrmancccm mais tempo no solo possuindo um '

**turn-over** lento. Essa estabilidade 6 um dos principais critkrios da qualidade da malfria orgânica do solo. Ela se relaciona com a d inh ica d a matéria orgânica do solo e com algumas caractcrístic:ls bioquíinicns intrínsczas desse material. A matéria oryinica do solo pode ser caracterizada pnr dois dodos: o estoque de carbono no solo e a qualidade dos constituintes or@-nicos rich prcscntcs.

O estoque de carbono C. ein grande p;irte. determinado pelo tipo de solo. O pH, a drenagem e sobretudo 2 ext tura s50 as principais características que determinam a quantidade de carbono. O Quadro 3 mostra il variaçHo do estoque de corbono nas diferentes ireas estudadas na Ainaz6ni:i. Sem como a relação desse estoque com o tcor de argila do solo.

Os coniclidos globais de carbono c nitrhgcnio nos solos da Bacia Amazônica brasilcira foram estimados por Moracs ( I99 i ) c Moracs et al. (1995) a partir dc um:^ b : w (le dados form:icla pclos rcsultados a!:alíticos contidos no projeto RADAMBILZSIL. Ao todo csu txisc reúnc I . 161 perfis de solo representando

.

63 u w i u nub uranues Uominios Morfo-climaticod do Brasil e o ...

Quadro 3 - Estoque de carbono e teor de argila.

Local Codigo Estoque de carbono Argila

CPATU-Emb Faz. Bosque Faz. Agua Parada Faz. Piquia PA4 I ,89 4 27

Faz. Embrapa A M 1 1,94 4,40

13 , 8

15 I 30 20

*-' 26 75

5.560 horizontes. Estes horizontes apresentam resultados de análises física, química e notadamente de carbono do solo. Calculou-se os conteúdos de carbono para cada horizonte do solo, usando-se a densidade e a espessura da camada como coeficientes de ponderação. Obteve-se os conteúdos de carbono por perfil até I O0 cm de profundidade, e finalmente por tipo de solo (Quadro 4). Para obtenç30 do estoque de carbono do solo em termos de irea. calculou-se a área de cada solo através da digitalização do mapa de solos da Bacia Amazônica (EMBRAPA, 198 1) em um sistema de informação geográfica (ARCANFO).

Os conteúdos de carbono nos primeiros 100 cm, variaram e y e 7,3 e 2 I ,7 kg.m-'. Esta faixa de variação foi mais reduzida (8,j a I0,5 kg.m.-) para os Latossolos Amarelos, Latossolos Vermelho-Amarelos e Podzólicos Vermelho Amarelos distróficos. No total estão estocados 47 Pg ( IPg = 10"g) de Carbono para todos os solos da Bacia sendo 45 % deste total concentrado nos primeiros 20 cm de profundidade.

Para um mesmo solo situado numa mesma :írea. LI variabilidade espacial pode scr muito grande. Para estudar essa característica. realizou-se um experimento a 40 km ao norte de Manaus (AM) numa floresta primária dcsenvolvida sobre um Latossolo Amarelo com a finalidade de quantificar a variabilidade espacial do conteúdo de carbono num tipo de solo determinado e representativo da Bacia Amazônica (CEE, 1994). Coletou-se 325 amostras de solo nas profundidades 0 - IO, IO - 20 e 20 - 30 cm, distribuídas em malhas regulares de IO, 100 e 500 m de espaçamento.

64 Dinâmica do Carbono nos Solos da Amzzhia Quadro 4 - Conteúdos médios de carbono e nitrogênio por tipo de solo na Bacia

.:e,, T-

9,43 i 0.65 9.39 -s 1,64 6,77 -c 0,81 7,24 r 0.73 6,84 f 1,OS 7.75 * 0.54

Soios~Lit6licps Eutr6ficos 8.62 2 1,05 Solos Litólicos Distróficos 11.61 * 419

12,24 k 1,38 7,20 5 0.80

11,42 2.35 18,53 2 7.06 8,49 f 0.38

10.51 .c 0.39 9,30 -c 0,84

Latossblo Amarelo Distrófico Latossolo Vermelho Ama Latossolo Vermelho Escu

21,65 i 11,36 CO 9.51 -c 0.28

9.41 -t 0.91 7,77 -e 0,70

3.27 .c 1,13 Latossolo Roxo

Podzólico Verm-Amar. Eutrófico Ta 7.58 i 0.42 1.13 i 0,lO

Podzólico Vem-Amar. Eutrófico Tb 8.73 i OS7 Terra Roxa Distrófica 15.05 F 1,92

11.97 2 2.21 15.57 -c 2.85 9,47 i 2,62

2.32* Vertissolos Eutróficos I í,SI* Solos Concrecionários Indivisos 13.70 i I.6G 1.07 .c 0.14

* tipo de solo apresentando apenas um perfil.

Variabilidade Espacial

Os re?;il!:ados estão apresentados na Quadro S. A quantidade de carbono do primeiro.nível (O - 10 cm) aprcscnlou uma disuibuiq5o bimodal que não pode^ ser explicada pc10 tipo de vegcraq5o. relevo ou posiqlo relativa da amostra em relação a rede de drenagem (Grzebyk. Comunicaqio pessoal). Neste experimento 0 Latossolo apresentou um estoque de carbono de 4,40 kg.m-’ nos primeiros 30 cm, :...& :.;:ii:. ...il..... i

. L ’.-

.,p>.m <.z., .. ..

O Solo nos Grades Domínios Morfo-climáticod do Brasil e o ... 65 sendo 3,24 nos primeiros 20 cm, enquanto o valor é de 3,05 kg.m-2 usando-se a base de dados.

Diferenças de acordo com as variaçöes do clima, para um mesmo tipo de solo são pequenas quando comparadas com as variações devidas ao tipo de solo. Elas são dificilmente quantificadas. Por isso uma estimativa do efeito do clima necessitaria de um grande número de determinações, o que ainda não foi realizado.

Quadro 5 - Varibilidade espacial nos estoques de carbono

Profundidade (cm) o - IO IO - 20 20 - 30 0-30

Minimo 0,29 0.12 1.10 Maximo 9,43 3,45 4,74 13.91 Medi 1,16 . 4,41 Desvio Padräo 0,03 0,04 0,l I

Qualidade da Matéria Orgânica

A estabilidade e o grau de humificação podem ser estimados pela . combinação de vários métodos: fracionamento granulométrico, relação C/N do solo total, fracionamento químico e caracterizaç50 bioquímica dos 5cidos húmicos (E4E6, composição química elementar), mineralizaçiío in vitro. hidrólise ácida, entre outros. Os dados disponíveis se relacionam h poucas situações estudadas.

Considerando os resultados obtidos nas anrilises de solos da Amazônia, foi possível distinguir dois grupos de acordo com a textura e o conteúdo de matéria orgânica no horizonte superficial. O primeiro grupo apresenta uma textura argilosa (65 - 80 % argila e a relação argildareia = 7 a 14) e um conteúdo de matéria orgânica elevado (45 - 5,5 kg.m” de carbono para O - 30 cm), corresponde aos solos próximos a Manaus e das Fazendas Bosque e Agua Parada na região leste. O segundo grupo apresenta uma texturn silto arenosa (7 - 16 %

-argila; argildareia = 0.20 - 0.25) e um baixo conteúdo de matéria orgânica (3,O - 4,O kg.m-’ de carbono para O - 30 cm), pertencem a este grupo os solos do município de Capitão Poço e das fazendas Piquia e Croantã na região leste e das fazendas l3enjamin.e Nova Vida em Rondônia. Dentro do primeiro grupo. as diferenças podem estar relacionadas com a duração da estação seca: na fazenda ßosque, a estação seca é de 3 meses de duração e o solo apresenta indices de mineralizaçäo ativa da materia orgânica ( U N = 11.0: HA/FA = 0.93). em contraste com a região de Manaus onde a esta@) scca tein apenas um mès de duração (C/N = 14.0; H M A = 0,79).

66 Dinâmica do Carbono nos Solos da Amazônia DINAMICA DO CARBONO APóS DESMATAMENTO

E USO COMO PASTAGEM

Mudanças na Quantidade

Os resultados dos solos da região de Thnaus ( M ) mostram uma diminuição de 20 a 30 % de carbono total nos primeircs anos após O desmatamento e queima. Com o tempo de cultivo o carbono total I;emianence no mesmo nível, ou decresce um pouco. No pasto, há uma recuperaçiio progressiva do carbono total (Figura 1). Depois de 20 anos de pastagem bem manejada o carbono total ultrapassa o inicial em 5 a 15 % (Figura 2).

-

5.0

25

n " . O 4 6 8

Figura 1 - Dinamica do carbono após desmatamento e uso com pastagem

As técnicas isotópicas possibilitam acompanhar o desaparecimento gradativo do carbono inicial da mata e a incorporaç2o do carbono proveniente da pastagem (Figura 1). Constata-se que depois de 8 mos de pastagem após O desmatamento ainda há 50 8 do carbono do SOIO proveniente da mata. Isto demonstra que grande parte da matéria orgânica da floresta permanece sob forma estável com esse tipo de manejo.

É, por enquanto, difícil afirmar com precisão qual é o efeito do solo e do clima na dinâmica do carbono total em função do tempo de uso da terra. As queda e as consecutivas recuperações nos pastos, seriam mais esperadas nos solos de textura argilosa que nos de textura leve, e mais evidentes em condição de clima sem estaç30 seca quando comparada com estação seca prolongada.

67 O Solo nos Grandes Domínios Morfo-climáticod do Brasil e o ...

Figura 2 - Dinâmica do carbono (Início = 100 para todas as florestas).

8

Mudanças na Qualidade

A relação C/N da matéria orgânica do solo aumenta. a relação C/N dos ácidos húmicos também aumenta, o que indica um menor grau de humificação do que uma degradabilidade potencial mais alta da materia organica dos solos cultivados. Esses fatos são confirmados por vários outros métodos (hidrólise, incubação e E4E6 dos ácidos húmicos). A estabilidade decresce quanto mais leve for a textura e mais curta a estação seca.

GANHOS E PERDAS DE CARBONO NA CONVERSAO FLORESTA-PASTAGEM NA AMAZÔNIA

O Quadro 6 apresenta as informações preliminares sobre as perdas e ganhos líquidos de carbono no sistema solo-pastagcm-atmosfera na Amazônia. Definiu-se um período de trinta e cinco anos devido ;IO fato de que pastagens mais antigas são pouco representatiyas da situação atual. As informações da literatura (Cerri et al., 1991) nos leva a dividir o balanyo de carbono em três periodos principais. O primeiro se verifica durante o processo de queima da vegetação nativa. O segundo refere-se aos primeiros cinco anos de instalaçiío da pastagem, período onde ocorrem as principais mudanças nas propriedadcs e fluxo de gases no solo (Feig1 et al., 1995). O terceiro período se extende de cinco à trinta e cinco anos e 6 onde se verificam variações de menor amplitudc. Nota-se no Quadro 6 que há uma perda de 2,5 a 3,5 kg.mJ de carbono durmtc a combustiío da vegetaqiío natural correspondendo de 14 à 28 % das perdas totais durante o período completo. Nos cinco anos subseqiientes à queima, as perdas por mincraliza$ío dos resíduos vegetais e da matéria orgânica do solo siio superiores aos ganhos de carbono imobilizado pela gramínea durante a fotossíntcsc. Ncstc período. o sistema funciona como fonte de CO, para a atmosfcra. No tcrcciro poriodo (5 5 35 anos), o

68 Diniìmica do Carbono nos Solos da Amazônia solo atua como absorvedor de carbono da atinnsfera. mas n8o o suticiente para recuperar a IiberaçHo ocorrida durante o periodo antcrior (0 h 5 anos).

PERDA' Solo da Iloresla (0-20 cm) Biomassa aCria Biomassa no solo Total

GANHO LÍQUIDO solo da pasingem (0-20 cm) Biomassa aéria Biomassa no solo Total

PERDA-GANHO L~QUIDO

O 2.53 - 3.54

O 2.50 - 3,50

+2,5 - +3,5

I ,o0 - I ho 7.60 - 10.63 1.57 2.39

10,m - 13.7

1.36 - 133 0,45 - 0.68 0.67 - 1.44 2,50 - 4,O.

+6,2 - +12,2

O 1.00- 1.60 O 10.13 - 14,17 0 1.57 - 2,39

O 12,7 - 18,2 <-

..~ r

0.3 I - 0.38 I .67 - 2.32 o 0,45 - 0,68 0 0.67 - 1.44

&,

0,3 - 0,4 2,8 - 4,4 ~

-0,3 - -0,4 +8,4 - ;15$ ,

No periodo completo de O ;I 35 nnos o sístcma funciona -7 como fonte de carbono parn a atmosFela. Estinin-sc entre 8.4 :I 15.3 kg.ni- dc carbono o incremento para a atmosf'cra devido ao desmatamcnto. queima e utilizaçao do solo com pastagens bem manejadas. O incremento total C de 1.9 a 3.4 Pg de carbono, considerando que a metade das ireas desniatadas foram convertidas em pastagem (Serräo. comuniç50 pessoal) e supondo que elas tCm 35 anos de idade e nunca foram abandonadas. Esta suposiç5o. ciaranicntc superestima o real, mas permite obter um limite superior do incrcincnto de carbono para a atmosfera devido a utilizaç50 do solo com pastagem. Este limite representa 1.3 a 4,3 76 do carbono introduzido na atmosfera pela mudanqa globill no uso da terra durante o período 1850 B I985 (Houghton, 1986). Em termos de concentra$ío de COz da atmosfera, a conversão tloresta-pastagem contribui coni 0,9 ;I 1 .I) g.m-.' durante o período de 35 anos. Isto represente 0.25 55 a 0.54 % da conccntra@o total de CO? da atmosfera (354 g.m-' = 750 Pg de carbono). O impacto na concentraç50 de CO? na atmosfera devido a conversiio Iloresta-pastagem na Amazônia parece ser de pouca importância quando comparado com a einissso de CO? pela queima de combustiwis I'ósscis no mundo (5.5 Pg de cxhino por ano) o qual representa um auIiiento anual de 2.6 yii- ' .

- .. .;<, . . : .r;.... -; : .*,> I - ,1.

69 O Solo nos Grandes Domínios Morfo-climáticod do Brasil e o ... BIBLIOGRAFIA

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MORAES, J.F.L.; NEILL, C.: VOLKO.FF. B.: CERRI. C.C.: MELILLO. J.: LIMA. V.C. & STEUDLER, P.A. Soil Carbon stocks of thc Brazilian Amazon basin. Soil Sci. Soc. Am. J., 59:244-247, 1995.

CEE - COMUNIDADE ECONOMICA EUROPEIA - CONTRATO TS 22* -0301-

77-83, 1991.

1986. p.175-193.

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c O Solo nos Grandes Domínios Morfoclimáticos do Brasil e o Desenvolvimento Sustentado B

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Editores: Victor Hugo Alvarez V. I Luiz Eduardo F. Fontes 1 Maurício Paulo F. Fontes

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u ì $ kff 6 Asociedade Brasileira de Ciência do Solo -- CI - =+- ij j/-;;Oniversidade rrr Federal de Viqosa

1 Departamento de Solos Vigosa - MG

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Existiram dificuldades em relação a informação consistente e padronizada da bibliografia nos diferentes trabalhos.

Esta publicação, pela quantidade e qualidade de trabalhos, pela diversificação e qualidade dos autores, pela riqueza e variação das instituições de ensino, pesquisa e extensão, nacionais e estrangeiras representadas, traz importantes informações para o conhecimento da Ciência do Solo. Assim, é com grande satisfação que a colocamos à disposição da comunidade, em geral, e em especial, dos participantes do XXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo.

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Os editores.

Viçosa, Julho de 1996.

Título Autor( es) Pág.

1 Domínios Morfo-Climiíticos c Solos do Brasil Solos da Amazônia

Aziz Ab'Saber Tarcísio Ewerton

19 Rodrigues Carlos C. Cerri, Martial Bernoux, Boris Volkoff &

Dinâmica do Carbono nos Solos da Amazônia

Jener L. Moraes 61 Maneio da Fertilidade do Solo para Produção Sustentada de Cultivos na Amazônia T. Jot Smyth 71 Solos Sob Caatingas - Características e USO

Avaliação da Salinização dos Solos Sob

Paulo Klinger Tito Agrícola Jacomine 95

Caatinga no Nordestedo Brasil Luiz Bezerra de Oliveira 113 Desenvolvimento Sustentado da Caatinga João AmbrÓsio dc Araújo

Filho & Fabianno Cavalcante de Carvalho 125

135 Jamil Macedo Morethson Resende, Luiz Marcelo Sans & Frederico Ozanam M.

Os Solos da Região dos Cerrados Veranico e sua Inter-Relação com o Sistema Solo/ÁQua/Planta/Atiiiosfera nos Cerrados

Durãcs 157 Mauro Rcsende, João Desenvolvimento Sustcntado do Ccrrado Carlos Ker & Antônio F.C. Bahia Filho 165 Maria de Fátima S. O Plantio Direto na Região de Mata de

Araucária Ribeiro, Moacir Roberto Darolt, Dacio Antonio Benassi, Jovânia Muller & Losani Perotti 20 1 Geraldo Mosimann da O Dcscnvolvimcnto Sustcntado na Região do Silva 21; Eugênio Alvarenga

Dominio da Floresta com Arauckia Desenvolvimento da Agricultura Familiar: A

Ferrari 23: Renato Thomaz

Experiência do CTA-Z% Desenvolvimento da Cafeicultura de Montanha

25 Guimarães Sérvulo Batista de Solos dos Mares de Morros: Ocupação e Uso Resende & Mauro Resende 26

Solos dos Pampas Jaime A. de Almeida 28' . I

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Diagramação: Guilherme Barcellos Gjorup Márcia Yoshie Kasai

Editoração: Guilherme Barcellos Gjorup Mauro Martins Bafista Filho

Capa: Aguinaldo Pacheco

Tiragem: 2.000 exemplares

Execução: CIIARD

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Ficha catalográfica preparada pela seção de catalogação e Classificação da Biblioteca Central da UFV

S689 1996

O solo nos grandes domínios morfoclimáticos do Brasil e o desenvolvimento sustentado I [Editado por Victor Hugo Alvarez V., Luiz Eduardo F. Fontes, Maurício Paulo F. Fontes. - Viçosa, MG : SBCS; UFV, DPS, 1996. 9301’. : il.

1. Solos - Brasil. 2. Domínios morfoclimáticos - Brasil. 3. Desenvolvimento sustentável - Brasil. I. Alvarez V., Victor Hugo, 1938-. II. Fontes, Luiz Eduardo F., 1954-. III. Fontes, Maurício Paulo F. Fontes., 1951-. IV. Sociedade Brasileira de CiSncia do Solo. V. Universidade Federal de Viçosa. Departamento de Solos. VI. Título.

CDD.19.ed. 63 1.40981 CDD.20.ed. 63 1.4098 1

A Sociedade Brasileira de Ciência do Solo realizou o XXV Congresso Brasileiro de Ciência do Solo no período de 23 a 29 de julho de 1995, na cidade de Viçosa, Minas Gerais, sob a responsabilidade do Departamento de Solos da Universidade Federal de Viçosa, que acolheu o evento em seu campus.

O tema central do Congresso foi “O Solo nos Grandes Domínios Morfoclimáticos do Brasil e o Desenvolvimento Sustentado”. Tema que foi amplamente apresentado aos congrcssistas por mcio dc confcrencias c palcstras quc trataram dos Solos nos diferentes Domínios Morfoclimáticos brasileiros sob O

prisma de seu Desenvolvimento Sustcntado. Os Domínios MorSoclimilticos considerados foram: a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a Mata de Araucária, o Mar de Morros e os Pampas.

Além das palestras sobre o tema central foram apresentadas outras no Workshop: “A pesquisa em Ciência do Solo no Brasil”; da Mesa-Redonda: “O desenvolvimento Sustentado” e nas Sessões Técnicas de:: Física do Solo, Química e Mineralogia do Solo, Biologia do Solo, Fertilidade do Solo e Nutrição de Plantas, Gênese, Morfologia e Classificação do Solo, Manejo e Conservação do Solo e da Agua, Ensino de Ciência do Solo, Fertilizantes e Corretivos do Solo e, Poluição do Solo e Meio Ambiente.

Para a apresentação das palestras foram convidados professores, pesquisadores e técnicos de diferentes instituições do país e do exterior. Deles foi solicitada a entrega do material impresso e gravado em disquete. Durante O

congresso foram apresentadas 69 palestras, das quais 60 estão sendo publicadas.

Na edição procurou-se unificar a nomenclatura e o uso de unidades do Sistema Internacional em todos as palestras, entretanto buscou-se manter ao máximo a sua or-iginalidadc. Tcntou-sc, mclhorar a aprcscntação das figuras, gráficos, clcscnhos c ck . A ~ ~ L I I I S ;iincla ficalam col11 a qualirlatlc compromctida c111 Sunc;Ho tlc clcficiEncias nos originais nprcscnlndos.

Tambbm, Soi realizado u m grandc esforço para o uso adequado do termo parâmetro que se usa indistintamente, para critério, fator, variável, característica, dado, medida, conclusão, etc ... Exemplos: ~ parâmetros edáficos, parâmetros avaliados, o parâmetro matéria seca, processo de calibração do parâmetro, e, at6 chamar de parâmetros as áreas ou campos de conhecimento como: cibernética, informática, biologia molecular, física quântica, dentre outros. Este problema foi detectado, por igual, para os trabalhos em Português e em Inglês, Tecnicamente, este termo deve ser utilizado somente para as características de distribuição de probabilidades.