caril de negócios, acompanhado de atitude positiva na carreira e polvilhado com humor
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“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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Caril de Negócios
acompanhado de atitude positiva na carreira
e polvilhado com humor
Patrícia Bento Araújo
PORTAL GESTÃO: www.portal-gestao.com
“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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Patrícia Bento Araújo
Patrícia Araújo é Escritora, Consultora de RH e Formadora.
Como escritora, colabora com diversas publicações, quer de
cariz científico quer literárias. No campo literário, lançou um
livro de Poesia denominado “Importunados – Poesia para
Revoltados com o Mundo” (Bubok Editora) e dedica-se agora,
essencialmente, à escrita de short-stories. Lançou o seu
primeiro livro “Ser Psicólogo” (HM Editora), em 2011.
Como formadora tem mais de 1500 horas de formação
ministrada. É Psicóloga (Membro n.º 269 da Ordem dos
Psicólogos Portugueses), Pós-graduada em Gestão de
Empresas e Mestre em Psicologia Organizacional pela
Universidade do Porto. Paralelamente é professora de Yoga
(Federação Portuguesa de Yoga), exerce consultas de
psicologia (orientação psicologia positiva-humanista), sendo
também docente universitária.
© 2012 Bubok Publishing S.L.
ISBN: 978-989-97592-1-3
Porto, Maio de 2012
Patrícia Bento Araújo: [email protected]
Respeite os direitos de autor. Cite esta obra da seguinte forma:
Araújo, P. (2012). Caril de Negócios acompanhado de atitude positiva na carreira e polvilhado com humor. Apoio: Portal Gestão [www.portal-gestao.com]. Bubok Publishing. Porto. [Versão Eletrónica]. Consultado em [Insira aqui a data em que fez download] e disponível em: http://paraujo.bubok.pt
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Ao Nuno Nogueira e à Ana Serafim,
pela sua coragem em criar e impulsionar o
PORTAL DE GESTÃO e por acreditarem em
mim. Obrigado.
Dedico também este livro a todos os
Leitores do PORTAL DE GESTÃO. Sem vocês,
este livro não seria possível.
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ÍNDICE
CAPÍTULO I . ETIQUETA ORGANIZACIONAL
1. Etiqueta Organizacional_ 11
2. Etiqueta Organizacional – “Não há amor como o primeiro”! 14
3. “Com o meu vestido preto, nunca me comprometo” 18
4. Caril de Negócios? 21
5. Etiqueta Empresarial: “É uma mesa portuguesa, com certeza!” 25
6. A Etiqueta e o fenómeno da “Bolha Pessoal” 29
7. Pare, escute e olhe! A arte de bem conversar em ambiente de negócios 33
8. Etiqueta para “tempos de crise” 37
9. Como o telemóvel pode acabar com o seu negócio! 40
CAPÍTULO II. EMPRESAS E NEGÓCIOS: CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO
1. Criatividade nas Organizações: Mais vale tarde do que nunca! 44
2. Mentoring: Relações Criativas nas empresas 48
3. Indústrias Criativas 51
4. Falta de tempo JÁ não é desculpa para não fazer formação: Viva o e-learning! 55
5. Teletrabalho: Que Vantagens e Desvantagens? 58
6. Empresas ecologicamente criativas 62
7. “Entre marido e mulher, podem patrões meter a colher???”
8. 66
9. Estabilidade ou estagnação? Empreendedorismo de geração em geração… 69
CAPÍTULO III. VOCÊ! MELHORE A SUA VIDA PESSOAL E PROFISSIONAL
1. Afinal…trabalhar para quê? 73
2. VIDA LEAN: Aplique o melhor modelo de Gestão à sua VIDA 77
3. Seja Voluntário 80
4. Ataque o mercado com “Cartas de motivação”
84
5. O Segredo das Cartas de motivação que conquistam empregos! 87
6. “Karoshi”: é possível matar-se a trabalhar 90
7. Tem a certeza que quer mesmo ser promovido? 93
8. 007- Agentes Secretos ao serviço das empresas! 96
9. Os “4 A’s” para se tornar um profissional de sucesso 99
10. Quer ser Teletrabalhador? 102
11. 21 Princípios essenciais de etiqueta em entrevistas de emprego 105
12. 20 Princípios essenciais de etiqueta para entrevistadores 109
13. Stress? Reduza a sua vida ao essencial! 113
14. Se você não arranja emprego, sorria! 118
15. Invista num PPR mas não esqueça do “PER”! 122
16. Novas Profissões! 125
17. Desemprego: AÇÃO ou PreocupAÇÃO? 128
18. Emprego: A “Técnica da Semente” e o FIO Vermelho do Destino! 130
19. Gerir o tempo no desemprego?! 132
20. Arranje trabalho já! 134
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Prefácio
Este livro nada tem que ver com caril. Ou se calhar tem muito!
Em primeiro lugar, eu sempre fui uma apaixonada por caril, desde a sua cor viva,
passando pelo cheiro exótico até chegar ao gosto fabuloso que ele oferece a qualquer prato.
Mas aí é que está: podemos fazer qualquer coisa com caril, que tudo se transformará
rapidamente…em caril! O caril absorve todos os sabores de alimentos que lá colocamos e
ultrapassa todos os outros condimentos que lá pomos. Não é maravilhoso?
Por um lado, penso que é o que está a acontecer no mundo do trabalho. Passámos de
uma sociedade centrada na família a uma sociedade centrada no trabalho. Somos
absorvidos pelo trabalho e pela ambição desmesurada de acumular dinheiro. O trabalho e o
dinheiro parece estar a transformar-se no nosso caril.
Um outro caril do dia-a-dia é a “crise”: inundou todas as notícias, todas as conversas e
anulou tudo o resto. Temos imensas outras coisas no nosso prato, mas só cheiramos caril. O
mal não será nosso? Eu acredito que sim.
Esta crise mundial, que as pessoas cismam em achar que e portuguesa, transformou
todos os portugueses em economistas de café, opinativos e participativos (essa é a parte
boa), mas negativos e facilmente manipuláveis (já ninguém vê o que é positivo e facilmente
conseguem transformar qualquer coisa em culpa de alguém).
Porém não foi por isso que dei este nome a este livro.
Em 2009 iniciei a colaboração com o Portal de Gestão, como escritora convidada. Todos
os capítulos que aqui encontra, estão lá publicados. Iniciei com temas da etiqueta
organizacional, da gestão, da inovação e fui terminar (para já!) na gestão pessoal da carreira
e nas novas abordagens perante a vida profissional e pessoal.
Sobrevoando todos estes temas, fui misturando os meus conhecimentos científicos, com
pitadas de opinião e salpicos de humor. Sempre de alguma forma conectada com os
negócios, as organizações e as pessoas, fui acarilando tudo isto numa obra que obra compilo
neste livro. Não almejo que sejam receitas (se não, teria chamado o livro de “Receitas e
negócios” ou algo assim), mas sim uma misturada de temas, de leitura calma ou consulta
ocasional.
Espero que, em cada artigo possa refletir sobre a sua carreira ou a sua empresa, sobre o
país e o mundo, sobre o passado e o presente e, quem sabe, que possa contribuir de alguma
forma para a melhoria da sua vida!
Patrícia Araújo
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"Elegância é a arte de não se fazer notar, "Elegância é a arte de não se fazer notar, "Elegância é a arte de não se fazer notar, "Elegância é a arte de não se fazer notar,
aliada ao cuidado aliada ao cuidado aliada ao cuidado aliada ao cuidado ssssuuuubtilbtilbtilbtil de se deixar distinguir."de se deixar distinguir."de se deixar distinguir."de se deixar distinguir."
Paul AmbPaul AmbPaul AmbPaul Ambroise Valeryroise Valeryroise Valeryroise Valery FrançaFrançaFrançaFrança
1871 /1871 /1871 /1871 / 1945194519451945 Poeta/Ensaísta/CríticoPoeta/Ensaísta/CríticoPoeta/Ensaísta/CríticoPoeta/Ensaísta/Crítico
CAPÍTULO I. ETIQUETA
ORGANIZACIONAL
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1. Etiqueta Organizacional_
No mundo empresarial, tudo acontece a 200km/hora. Essa azáfama de telefonemas, e-
mails, marcações, reuniões, lidar com colegas, fornecedores e clientes, atualizar-se nas
novas tecnologias, frequentar formação, etc. poderá fazer com que esqueçamos (caso
tenhamos aprendido!) algumas regras essenciais no quotidiano do trabalho. Todos corremos
riscos de descurar algo fundamental: a etiqueta.
Este é o primeiro de vários artigos dedicado à “Etiqueta nos negócios”. Ao longo destes
artigos traremos à luz temas que costumam estar na penumbra: Comunicação, postura e
comportamento, relacionamento entre empresas, relacionamento interpessoal,
indumentária empresarial, reuniões, cooperação empresarial, ética e responsabilidade
social, costumes internacionais, entre outros.
O tema da etiqueta nos negócios é, neste momento, transversal a toda e qualquer
organização e a todo e qualquer colaborador. Não há exceções! Qualquer setor ou área de
atividade tem relações internas e externas. As organizações são sistemas abertos, são
organismos vivos e, como tal, relacionam-se uns com outros, com a sociedade e com o
contexto histórico-espacial.
Este campo de atuação multidisciplinar aparece sob uma a panóplia de nomenclaturas. A
expressão “Etiqueta nos negócios” parece realmente ser a mais comum, porém diversos
autores utilizam outras expressões como, por exemplo, “Etiqueta Empresarial”, “Protocolo
Empresarial”, “Etiqueta Profissional”, “Etiqueta Corporativa”, entre outros. Na minha
opinião, nenhum dos termos é totalmente abrangente: a expressão que gosto de utilizar é
“Etiqueta Organizacional”, uma vez que a etiqueta aplica-se a todas as organizações, sejam
estas empresas ou não. Uma ONG, uma associação sem fins lucrativos ou uma instituição de
ensino não são empresas, mas têm de usar e abusar da “Etiqueta Organizacional”, se não,
poderão não atingir os seus objetivos.
Ao ler este artigo, é provável que pense que já domina a etiqueta organizacional, pois no
seu dia-a-dia não-profissional já usa a etiqueta ou, como diriam os nossos pais: as “boas
maneiras”. As tais “Boas maneiras” são nos transmitidas pelas gerações anteriores desde o
momento em que nascemos e é claro que qualquer um de nós poderá sentir que já sabe
como atuar em sociedade e, logo, resta transferir essas competências já adquiridas para o
contexto empresarial. Mas na realidade, não é assim tão simples. As boas maneiras que nos
ensinaram em casa aplicam-se a relações altamente informais e poderão até ser disruptivas
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em contexto empresarial. A correr bem, partimos para o mundo do trabalho com “noções de
boas maneiras” e com bom senso apurado na bagagem.
Raro é o ensino, secundário, profissional ou até universitário que nos prepara para gerir
os nossos próprios comportamentos e atitudes e, muito menos, que nos equipa com a
consciência necessária para lidar com os outros em contexto organizacional.
Presentemente, cada minuto em que estamos nesse contexto conta para a nossa
carreira e, cada vez que nos apresentamos como colaboradores da nossa empresa estamos a
representar a organização pela qual “vestimos a camisola”. Precisamos treinar-nos para
pensar que a cada minuto que passa, estamos a ser avaliados e analisados e,
consequentemente, precisamos treinar a forma como nos comportamos.
Para começar a compreender a Etiqueta Organizacional, precisamos compreender o seu
significado e um pouco da sua história.
Porquê a denominação de “Etiqueta”, já pensou nisso!? Etiqueta não é aquele papelinho
pendurado nas roupas ou colado em garrafas? Comecemos pela etimologia. Segundo o
dicionário da língua portuguesa (Priberam, 2010), a palavra etiqueta significa “um conjunto
de formas ou praxes cerimoniosas em uso na sociedade” e, em simultâneo, significa um
“Impresso que identifica o conteúdo, as características ou a composição (em frasco, garrafas,
etc.).”
É interessante explorar o porquê desta sobreposição de significados na mesma palavra.
Segundo Moreno (2010) a palavra etiqueta provem da língua francesa: etiquette, que
designava, um pedaço de papel afixado em algo para identificar o seu conteúdo. Passou ser
frequentemente usado na indústria têxtil, a partir do séc. XIX, figurando em cada peça de
roupa a fim de identificar o seu fabricante. Durante o Absolutismo na França, a burguesia
emergente começa a aproximar-se da aristocracia. Nessa altura, vigoravam regras rígidas
dentro do palácio do rei e, para que essas normas de conduta no palácio não fossem
infringidas era entregue aos visitantes um pedaço de papel — uma etiquette — para indicar
qual a conduta adequada para cada ocasião. Daí a pouco tempo o vocábulo passou a
designar um código de boas maneiras para a vida social.
A aplicabilidade deste código de boas maneiras à vida organizacional parece bastante
recente. Apesar de muitos conteúdos da etiqueta organizacional serem tão antigos como a
vida em sociedade, as obras com essa exata denominação parecem ter surgido apenas por
volta dos anos 90. A designação veio simplificar a abordagem e criar a possibilidade de
qualquer pessoa ou organização ter acesso a estes conteúdos e aplicá-los no seu dia-a-dia.
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Resta definir “Etiqueta Organizacional” propriamente dita. Podemos defini-la como um
conjunto de regras flexíveis, princípios e orientações a utilizar nas organizações em
determinado país e em determinado contexto histórico.
A etiqueta organizacional é, na realidade, uma série de recomendações de
comportamentos socialmente aceites, aplicados e aprofundados para o contexto
empresarial.
Apesar de algumas dessas recomendações ou linhas orientadoras serem comuns a todos
os colaboradores em todo mundo, algumas alteram-se de país para país (ou de cultura para
cultura), adaptam-se à localização no tempo (hoje as regras não são as mesmas de há 20
anos atrás) e no espaço (dentro da organização, num almoço de negócios, etc.), podem
variar também consoante o setor de atuação, ou pode variar de empresa para empresa, pois
cada empresa tem a sua cultura organizacional que poderá incluir também aspetos de
etiqueta organizacional recomendados aos colaboradores dessa mesma organização.
Referencias Bibliográficas
Dicionário da Língua Portuguesa. (2010). Disponível em http://www.priberam.pt
Moreno, Cláudio. (2010). Etiqueta. Consultado em Março de 2010 e Retirado da página internet
oficial do autor: http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/
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2. Etiqueta Organizacional – “Não há amor como o primeiro”!
A sabedoria popular costuma dizer que “não há amor como o primeiro”.
Em psicologia, este efeito é conhecido como o “efeito de primazia” e foi constatado por
investigadores da psicologia experimental em experiências de diversos tipos com seres
humanos, levadas a cabo em laboratórios específicos. Daí que facilmente tenha sido
aplicado a outras coisas como, por exemplo, às primeiras impressões.
È comum lembrarmo-nos da primeira vez que conhecemos uma pessoa (o local, a
situação, o que vestia, o que sobressaía, quer pela positiva quer pela negativa) e da ultima
vez que estivemos com ela (já agora, a tendência a lembrar das últimas experiências, é
chamado o “efeito de recência”), enquanto que as ocasiões em que nos encontramos com
essa pessoa entre estas duas situações, tendem a misturar-se na nossa memória.
Quando falamos de contactos, sejam pessoais ou profissionais, é costume dizer que "a
primeira impressão é a que fica". Obviamente, devemos evitar julgar os outros apenas pelo
que vestem ou usam naquele momento, mas claro que existe grande probabilidade desse
momento nos marcar…para sempre.
Quer seja uma entrevista de emprego, uma reunião, um encontro informal ou qualquer
outra situação, é importantíssimo ter alguma consciência de como agimos para causar uma
impressão positiva.
Por esse motivo, neste segundo artigo na sequência de artigos sobre Etiqueta
Organizacional, focamos as primeiras impressões.
1. O primeiro impacto: A imagem
O primeiro impacto quando nos encontramos com alguém em contexto de negócios
é a imagem da pessoa e boa parte dela é a indumentária. Aprofundaremos este assunto
noutro artigo especialmente dedicado a este assunto. Resumidamente, devemos
apresentar-nos devidamente limpos, ligeiramente perfumados e com uma indumentária
idónea. Tenha a certeza que a sua roupa está limpa e bem engomada, com todos os
botões e sem qualquer mancha (tudo isto é mais importante do que a marca da roupa
que está a usar!). Acima de tudo, seja congruente e use algo com que se identifique: se
tentar a toda a força encaixar-se noutro estilo que não seja harmonioso com a sua
personalidade ou que usa só para “estar na moda”, isso vai notar-se mais cedo ou mais
tarde.
2. Aperto de Mão ou Beijo na face
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Posteriormente, antes mesmo de falar, surge a comunicação não-verbal. Em grande
parte das culturas mundiais o primeiro campo de contacto são as mãos. Na cultura
Japonesa, por exemplo, não se usa o aperto de mão, pois os japoneses consideram que a
energia pessoal flui num ponto no centro da mão, chamado o ponto “Ki” (“Chi para os
chineses”). Os Japoneses curvam-se ao cumprimentar e devemos fazer o mesmo, com
um ângulo de curvatura idêntico, pois a medida em que nos curvamos indica o grau de
relacionamento entre nós. Se for alguém que consideramos num posto hierárquico
bastante superior, podemos curvar-nos um pouco mais do que a pessoa. Ao usar o aperto
de mão como cumprimento, nunca se deve esmagar a mão da pessoa ou simplesmente
deixar a mão mole.
Devemos também ter lavado as mãos antes e ter certeza de que não estão
transpiradas, pois além de falta de educação, denunciam ansiedade. Tanto homens como
mulheres devem arranjar as unhas. Elas devem ser devidamente cortadas e limadas.
Unhas roídas passam a imagem de uma pessoa nervosa (a dependência de roer unhas
denomina-se “onicofagia” e é uma psicopatologia).
O aperto de mão deve ser firme e demonstrar que tem prazer em estar ali, com
aquela pessoa. Uma opção ao aperto de mão, é o beijo na face. Na Rússia este é um
cumprimento frequente. Porém, em Portugal, o beijo na face é permitido apenas a
pessoas que já se conhecem há bastante tempo e é mais utilizado entre pessoas do sexo
feminino. Por vezes é utilizado entre um homem e uma mulher, se se conhecem muito
bem, mas deve ser ponderada a sua utilização. A utilização do beijo na face ou do aperto
de mão pode mudar consoante o setor de atividade: em organizações relacionadas com
moda ou televisão, é mais comum.
3. Que cheiro!
A partir do momento que cumprimentamos o nosso interlocutor, estamos expostos.
Iremos ficar, com certeza a cerca de um metro de distância e, por isso, os odores passam
a ser partilhados! Quer homens, quer mulheres devem ter cuidado com perfumes que
usam. Deixe o perfume forte e marcante para o fim-de-semana ou para momentos não
profissionais. O perfume não deve permanecer no ambiente segundos após a sua saída.
Ademais, algumas pessoas são alérgicas a perfumes (a alergia a flores é muito comum, e
a maioria dos perfumes contêm extratos de flores ou plantas), daí que o ideal seja evitar
fragrâncias fortes.
4. Os olhos são o espelho da Alma
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Um outro foco importantíssimo é o olhar. Mais uma vez, o saber popular avisa que
“os olhos são o espelho da alma”. Olhar nos olhos da pessoa é sinal de assertividade e
segurança. Não se deve desviar o olhar, correndo o risco de parecer tímido ou, por outro
lado, olhar para o lado contrário pode demonstrar desinteresse pela pessoa com quem
estamos. No caso das mulheres, cuidado com excessos de maquilhagem na zona dos
olhos, pois vai fazer com que o interlocutor se centre mais na maquilhagem do que na
expressividade.
5. “Say Cheese”
Todos sabemos que sorrir é fundamental. Sorrir é educado e assertivo e mostra que
está verdadeiramente motivado para estar ali. Não tente fingir um sorriso: um sorriso
falso ou chamado “sorriso amarelo” nota-se facilmente. Um observador treinado sabe
que quando o sorriso é falso, a zona dos olhos não acompanha o sorriso. Quando
sorrimos verdadeiramente, surgem pequenas rídulas na margem dos olhos. Quando
forçamos o sorriso, apenas mostramos os dentes e as maças do rosto elevam-se. Se tem
dificuldades em sorrir verdadeiramente, pense durante segundos num momento em que
esteve realmente feliz. Para sorrir bem, é necessário ter dentes cuidados: ir ao dentista
regularmente, fazer uma limpeza e, claro, ter os dentes bem escovados. Se algum dia lhe
aconteceu no primeiro encontro com uma pessoa, ela ter algo nos dentes, com certeza
nunca mais se esqueceu!
6. Finalmente, a palavra
Por fim, surgirá o cumprimento verbal inicial. Em contexto empresarial, este deverá
ser claro e conciso. Algo como "Bom dia", "Boa tarde" ou "Boa noite" pode parecer
parco, mas expressa simpatia e objetividade. Devemos tratar o nosso interlocutor
formalmente, seja por “Senhor”, “Doutor” ou “Engenheiro” até que a pessoa toque
nesse assunto. Se a pessoa não puxar pelo tema, poderemos fazê-lo nós, com bom
senso. Claro que se trata de uma avaliação subjetiva, porém se ambos os interlocutores
têm idade e formação aproximadas, pode sugerir “deixar cair os títulos”. Se a pessoa é
mais velha, tem mais formação académica ou é superior hierárquico, devemos deixar a
iniciativa para o outro interlocutor.
7. Bom Cartão, boa impressão!
Já não há motivos para não ter um cartão pessoal para entregar a quer que seja! As
desculpas “Acabaram os cartões ontem!” ou “Não tenho tido tempo para mandar fazer”
ou “Estão neste momento no Gabinete” já não “colam” nos dias de hoje! Numa gráfica
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não são caros e se preferir pode fazê-los ao seu gosto numa impressora qualquer,
comprando papel com gramagem superior. É ideal que a entrega do cartão seja feita no
início do contacto, porém, há quem preferia utilizá-lo como mote de despedida. Opte
por algo simples e elegante, com duas cores no máximo e coloque todos os seus
contactos. Em alguns casos, pode querer fazer dois tipos de cartões: um com todos os
contactos e outro apenas com os contactos que deseja dar a conhecer em determinada
situação (por exemplo, apenas os contactos eletrónicos, ou apenas os contactos
profissionais). Por último, invista num porta-cartões: é elegante, demonstra
planeamento e cuidado e mantém os cartões longe de sítios onde se possam danificar.
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3. “Com o meu vestido preto, nunca me comprometo”
Cada vez que saímos à rua, quer queiramos quer não, transmitimos algo aos outros
apenas pela forma como vestimos1. “O vestuário é comunicação”, afirmou Umberto Eco na
obra “A Psicologia do Vestir”.
Como indivíduos, podemos vestir-nos da forma que mais nos agrada e apetece, graças a
uma liberdade conquistada há algumas décadas. Relembremos que há apenas 40 anos
existiam fortes restrições em Portugal quanto à forma de vestir, principalmente no que
respeita às mulheres. Chegaram mesmo a existir documentos escritos e oficiais,
prescrevendo o tipo de apresentação física e os comportamentos sociais a ser seguidos, por
exemplo, por mulheres que exercessem função de professoras (Mónica, 1977). Além disso,
sabemos que noutros países algumas restrições ainda existem como, por exemplo, em
países de religião muçulmana é comum ser obrigatório (ou aconselhado, consoante a
cultura) que as mulheres (mesmo em contexto empresarial) usem um lenço curto na cabeça
(chamado hijab), ou um lenço comprido (chamado Chador), ou um tecido que cubra pés e
que só permita ver os olhos (o Niqab) ou em casos extremos, uma vez que tapa todo o corpo
e tapa também os olhos com uma rede, a atualmente famosa Burqa.
Muitas vezes as proibições não estão escritas mas são socialmente partilhadas, ou seja, é
socialmente aceite que todos se vistam de determinada forma e, logo, quem se veste
diferente é considerado “desviante” e assim surge a pressão social.
No mundo empresarial, isto também acontece, em parte. Existe realmente uma pressão
social para um “vestir executivo”. Em alguns países (por exemplo, nos Estados Unidos) essa
pressão chegou a um ponto tal que, para aliviar a tensão, foram criadas por exemplo, as
“Casual Fridays”: um dia, por semana, a organização liberta a/o colaborador/a da obrigação
de vestir formalmente!
Sem cair em pressões limitadoras da liberdade pessoal, vamos refletir sobre o código de
etiqueta de indumentária em vigor, ou seja, sobre o que é considerado adequado utilizar no
quotidiano profissional. Limpeza, perfume agradável e não demasiado forte, roupas sem
manchas e bem passada a ferro. Cabelos também bem lavados (brilhantes é sinal de saúde
capilar), bem cortados, penteados e que nunca tapem os olhos.
1. A escolha da indumentária, quer em homens quer em mulheres deve ser adequada a
cada ocasião. Avalie o tipo de compromisso que terá e depois escolha o conjunto adequado.
1 Para explorar mais sobre este assunto, poderá ler a famosa obra “Psicologia do Vestir” de Umberto Eco, Francesco Alberoni e Gillo
Dorfles (Editora: Assírio & Alvim – Reedição 1989 Coleção: Arte e Produção)
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2. A roupa de um profissional deve ter um aspeto semelhante até ao final do dia, por
isso, é importante dar preferência a tecidos que amarrotem pouco. Contudo, imprevistos
acontecem a toda a hora. No caso das mulheres, devem ter sempre uma blusa ou camisola
extra e no caso dos homens um blazer e uma gravata. Se não tem espaço no gabinete, pode
deixá-los na mala do carro, devidamente dobrados num saco ou porta fatos.
3. Obviamente, o essencial são os fatos! Quer homens quer mulheres devem possuir
pelo menos 3 a 4 fatos, preferencialmente de cores clássicas, como preto, cinzento, Bordeux.
Em caso de não ser uma pessoa de fatos, pode ter vários Blazer clássicos que combinem com
várias calças. Seja como for, os conjuntos devem ter poucos “rodriguinhos”, ter qualidade,
cair bem no corpo, serem confortáveis e funcionais e ter colarinhos impecáveis. O colarinho
enquadra o seu rosto, e é para o rosto que mais olhamos quando estamos a trabalhar com
outras pessoas.
4. As mulheres devem evitar cair em modas excessivas, decotes, transparências, roupas
demasiado justas ou excesso de acessórios (se vai sair socialmente a seguir ao horário de
expediente, deixe alguns acessórios no carro ou na carteira para os momentos informais). As
saias nunca devem cair acima dos joelhos, mas sim dois a três dedos abaixo. Deve-se ter
precaução na qualidade e quantidade de maquilhagem. Devem também ter cuidado com as
sandálias. As sandálias devem ser usadas por pessoas que tenham pés sem grandes
“defeitos”… digamos! Por certo não queremos ser rotulados por causa de determinada
característica dos nossos pés!
5. Os homens devem usar preferencialmente camisas de mangas compridas, dobradas
(só em caso de calor) e deixar as de manga curta para momentos informais. O punho da
camisa deve ficar dois dedos abaixo da manga do Blazer (mas não cair em cima da mão). As
calças, devidamente vincadas devem cobrir o peito do pé e não tapar o salto do sapato. A
gravata deve tocar o início da fivela do cinto e nunca deve ser usada dois dias seguidos. A
gravata de cor única demonstra segurança e estabilidade. Há quem defenda que o pregador
de gravata está “fora de moda”, mas quem gosta deve usar, desde que seja sóbrio (na
realidade, é um objeto funcional porque, por vezes, as gravastes são acessórios sujeitos a
acidentes, por exemplo, num jantar de negócios!). Em vez de usar camisa e gravata, podem
optar pela camisola de gola alta, de uma única cor, por debaixo do blazer. Devem usar-se
meias da cor do sapato ou das calças e de tamanho certo, de forma a que quando se sentar
não se veja a pele da perna. Por mais incómodo que seja, a barba deve ser feita todos os
dias. Se usar barba comprida ou bigode, deve fazer o contorno pelo menos dia sim, dia não.
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6. Há quem defenda que os Jeans são inadequados para o trabalho. Tudo depende da
organização em que nos inserimos ou do tipo de encontro/reunião. Se o ambiente geral não
é demasiado formal, podem ser usados, desde que devidamente equilibrados, com uma
camisa/blusa e um blazer, seguindo todos os restantes conselhos.
7. Não se deve descurar os sapatos. Apesar de ser a zona para a qual existe menos
probabilidade dos outros olharem, se os sapatos estiverem velhos, com saltos gastos ou mal
engraxados, podem comprometer a sua imagem.
8. Nunca parta do princípio de que gastar um ou dois salários num fato ou num
conjunto é bom! Existem realmente bons fatos de marcas caríssimas, mas que podem não
lhe cair bem. Além disso, itens que ostentem a marca demasiado visível não são adequados
para o ambiente profissional: podem denunciar ostentação e arrogância.
9. As pastas executivas, sejam de portátil ou outras, devem ser de boa qualidade e de
cor escura.
10. Observe a forma como os seus colegas e superiores vestem, sem julgar. Sem ser
escravo do Dress Code, tire algumas observações de forma a que nunca se sinta destoar. Se
estiver totalmente sem ideias, observe várias revistas com fotografias de homens e
mulheres de negócios e tire algumas ideias.
Vestir é comunicar. Ao vestir de determinada forma está a comunicar que tipo de
personalidade possui, por isso, esforce-se para que a sua indumentária esteja em harmonia
com o profissional quer ser e não com o que quer parecer.
Depois de interiorizar estes princípios, esforce-se por não julgar os outros apenas com
base no que vestem, pois também não gostaria que o julgassem. Se acha que a pessoa não
está a cumprir alguns princípios básicos e quer agir discretamente pode, por exemplo,
reencaminhar este artigo a todos os seus colegas!
Referências Bibliográficas
Mónica, F. (1977). Educação e Sociedade no Portugal de Salazar. Lisboa. Presença
“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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4. Caril de Negócios?
Cada vez mais empresas incentivam as refeições de negócios. Algumas reservam este
privilégio apenas para alguns colaboradores e para clientes especiais, mas se a prática tem
permanecido no tempo há tantas décadas (se não mesmo séculos!), então deve ter valor.
Atualmente, estes encontros à mesa são encarados com naturalidade. Mas será que não
vai desembocar num “sarrabulho de negócios”? Como em tudo, existem vantagens e
desvantagens e reflexões a fazer.
1. Perda de tempo e dinheiro ou investimento?
Com certeza há organizações que sentem que pagar almoços de negócios é um
desperdício de dinheiro (e de tempo): depende mesmo da política e da experiência da
empresa. Aparentemente, fechar negócio numa mesa numa sala de reuniões parece a
mesmíssima coisa que fechar negócio num restaurante, mas na realidade não o é. Já
veremos as vantagens e desvantagens.
Todavia, existem organizações que sentem que se trata de um investimento. Por um
lado se for um colaborador, este sentirá autonomia e confiança por parte da sua empresa, e
valorizará a carreira desenvolvida. Pelo lado do cliente, sentir-se-á mais acolhido e
“mimado”. Por último, a imagem da empresa sai reforçada, quer para clientes quer para a
sociedade em geral (o “palavra passa palavra” é a meçlhor publicidade que uma organização
pode ter).
Poderá tornar-se um desperdício se o colaborador se “esquecer” que está naquela
refeição de negócios para representar a empresa e não para se divertir à custa da empresa.
Por isso, a organização deve ter algumas linhas orientadoras para despesas bem como
controle, claro.
Em última análise, a longo prazo parece ter-se tornado numa estratégia eficaz de
captação e fidelização de clientes.
2. Vantagens e desvantagens?
A grande vantagem é a informalidade. É mais fácil falar de assuntos de trabalho no
ambiente descontraído de um restaurante. Numa refeição de negócios é possível avaliar o
comportamento da pessoa/cliente/parceiro fora do ambiente profissional, e tentar inferir
(com cuidado), algumas características personalísticas que poderão dar pistas para o tipo de
cliente que se poderá tornar.
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A maior desvantagem é ser-se avaliado enquanto se come! Por outro lado, pode correr o
risco de escolher um restaurante que não agrade ao convidado e, por exemplo, levá-lo a um
rodízio e descobrir na hora que ele é vegetariano…
Existe também a óbvia falta de privacidade, o inevitável barulho que pode ser uma barreira
na comunicação (e gerar até mal-entendidos) e o risco de ter “agentes” a tentar ouvir
detalhes confidenciais de ambas as empresas (a “espionagem industrial” veio para ficar).
Por outro lado, estará sempre a ser interrompido pelos empregados para fazer as
escolhas.
Por último, poderá encontrar a última pessoa que lhe convinha encontrar (um outro
cliente que nunca foi convidado para um almoço de negócios, a ex-mulher/marido, a
amigalhaço futebolístico, etc.) e isto poderá por em causa a sua imagem e a da empresa
perante o seu convidado.
3. Pequeno-Almoço, almoço ou jantar
O Pequeno-Almoço de negócios está a tornar-se bastante conceituado. É menos
complicado escolher o local (café, restaurante, hotel ou mesmo na empresa, por ser fácil de
servir), e costuma durar menos tempo que um almoço: no máximo 90 minutos (usualmente
entre as 07h30/08h até às 09h). É mais rápido, não afeta o tanto horário de expediente e…é
mais barato! Esse parece ter sido um motivo determinante para muitas empresas.
O almoço deve durar no máximo 2 horas. Tem a vantagem de não interferir tanto com a
vida privada dos convidados, são geralmente produtivos porque as pessoas ainda não estão
tão cansados como num jantar (partindo do principio que trabalharam o dia todo). Todos os
participantes devem ter cuidado de não escolher bebidas alcoólicas (ou beber pouco) e
escolher uma refeição leve se vão retornar ao trabalho.
O jantar nunca deverá ser a primeira vez que se leva um cliente a uma refeição de
negócios, pois trata-se de algo mais formal e por outro lado, um pouco mais intimo.
Embora o assunto predominante seja de cariz profissional, é uma excelente ocasião para
se estreitar relacionamentos. É adequado falar um pouco de trivialidades, criar o ambiente
(mais ou menos até ao momento em que chega o prato principal, depois pode-se entrar no
negócio puro e duro). Mas é necessário ter extremo cuidado com temas polémicos (sexo,
religião, política e futebol). Evite falar de assuntos pessoais, tentar ser muito engraçado e
fazer piadas (principalmente estereotipadas! Isso pode mesmo causar a perda de um
negócio).
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4. Como e quem Convidar
Pode-se convidar clientes, parceiros, fornecedores e até novos colaboradores (como
forma de acolhimento), etc.
É de mau tom convidar superiores hierárquicos, principalmente para jantares caseiros, a
não ser que esteja a retribuir uma jantar ou se já eram amigos de longa data antes de se
tornarem chefe/subordinado.
Em todos os casos, nunca convidar alguém sem motivo nenhum, seja que pessoa for.
Poderá passar a imagem de “graxista” ou de esbanjador do orçamento da empresa.
Durante o convite nunca esquecer de perguntar ao convidado se tem restrições
alimentares ou preferências.
Posteriormente, há que ter algumas atenções básicas:
� Escolher um restaurante cómodo, calmo e reservar com antecedência; como
anfitrião, sugira pelo menos duas opções de locais.
� Em caso de, no último momento, não poder comparecer, nunca mande ninguém
telefonar para a pessoa a dar o recado: ligar pessoalmente a desmarcar ou remarcar é
imprescindível.
� Apesar de poder parecer insignificante, a distribuição dos lugares é um fator
importante neste tipo de refeições. O anfitrião cede sempre o melhor lugar (por
exemplo, com vista para o mar, em vez de vista para a parede!). Dado que o anfitrião é o
primeiro a chegar (sem falta!) e que é ele que indica os lugares dos convidados, se
estiver neste papel reflita um pouco sobre as características das pessoas que vão
participar nessa refeição. Esforce-se por criar harmonia, por exemplo: (i) Se alguém é
estrangeiro, coloque ao seu lado alguém que fale a sua língua (ou pelo menos inglês,
pois é realmente a “língua mais universal”); (ii) Pessoas extrovertidas devem ser
estrategicamente colocadas para contribuir para a fluência da conversa; (iii) Alterne
Homens e mulheres. Se houver um casal, os cônjuges devem ficar frente a frente; (iv)
Alterne as pessoas tímidas com as conversadoras e as pessoas mais jovens com menos
jovens (afinal, os opostos atraem-se!).
� Durante a refeição não são adequados os comentários sobre preços de pratos.
Nunca chame o empregado de “amigo”, “chefe”, “rapaz”, não estale os dedos, não
assobie e não bata com um garfo no copo! Além disso, nunca se deve criticar empresa
ou colegas de trabalho.
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� Como convidado, nunca peça para levar a esposa/marido. se chegar mais cedo,
espere pelo anfitrião e não desarrume a mesa. Peça apenas água. Se estiver atrasado,
deve ligar a avisar, pois atrasos de mais de 15 minutos não são apropriados. O convidado
deve evitar escolher bebidas e pratos caros.
� Como anfitrião, fique atento para possíveis sinais de finalização do convidado,
como por exemplo, pousar o guardanapo, afastar-se da mesa, inquietação, olhar para o
relógio, etc. Se, pelo contrário, a pessoa não demonstra pressa e é um potencial ou atual
parceiro de negócios importante, saia da mesa por uns segundos e desmarque algum
compromisso que tenha, se puder.
A regra final é de ouro: É elevado carisma, sensibilidade e bom tom enviar um e-
mail personalizado (no próprio dia ou no dia seguinte) a agradecer a companhia dos
convidados.
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5. Etiqueta Empresarial: “É uma mesa portuguesa, com
certeza!”
Já tivemos oportunidade de refletir sobre as vantagens e desvantagens das refeições de
negócios. Agora, torna-se imperativo falar da etiqueta nessa mesa de negócios.
Influenciados também pela nossa atitude de “à moda portuguesa”, parece que os
empresários portugueses abraçaram esta prática de convidar clientes e parceiros para uma
refeição de negócios.
É um facto que Portugal é considerado um dos países com melhor gastronomia da
Europa (quiçá do mundo!) e estranho seria se esta tradição não penetrasse o mundo das
parcerias empresariais. Porém, as refeições de negócios são as que mais obrigam a um
comportamento adequado, inteligente e ponderado e, por isso, a “Mesa portuguesa”, exige
redobrada atenção...
1. À chegada
Quem convida deve chegar sempre primeiro. Ao chegar, não estenda a mão para quem
já estiver a comer: use apenas um cumprimento verbal.
Sente-se e tome consciência da sua comunicação corporal. Esforce-se por ter gestos
calmos, graciosos e elegantes.
Se encontrar pessoas conhecidas, cumprimente-os de preferência acenando em vez de
usar o aperto de mão (este só deve ser utilizado quando ambos têm as mãos lavadas). Não
se demore no cumprimento. Diga apenas: “Olá, como vai?”, “Prazer em vê-lo!”, “Depois eu
ligo para conversarmos!”.
Se o restaurante não tiver bengaleiro, peça uma cadeira extra para pousar bolsas,
casacos, etc.
Não peça nada senão água, até que todos comecem a fazer as suas escolhas.
2. Sentar e Escolher
Segure a cadeira firmemente e sente-se com um único movimento. Sente-se coma
coluna ereta e com os braços junto ao corpo. Na cultura oriental é aceitável curvar-se sobre
o prato. Caso o guardanapo seja de pano, coloque no colo na horizontal.
Por falar em oriental, se escolheu um restaurante oriental, por exemplo, chinês ou
japonês, deve saber comer com pauzinhos. Não que seja errado adotar os nossos talheres,
mas fica sempre bem mostrar que sabe um pouco de cada cultura, principalmente se o
convidado é dessa cultura. Caso o convidado corrija por exemplo a forma como manuseia os
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pauzinhos, aproveite para mostrar que quer aprender e peça conselhos (não se mostre
arrogante). Os chamados “Pauzinhos” são normalmente feitos em madeira, bambu, marfim
ou metal, e mais recentemente de plástico. São manuseados com a mão direita, entre o
dedo polegar e os dedos anelar, médio e indicador, e servem para apanhar pedaços de
comida ou empurrá-los diretamente da tigela para a boca. Segundo a Wikipedia, “a palavra
em mandarim para os pauzinhos é 筷子 (kuàizi), em que o caracter 筷 significa "objetos de
bambu para comer rapidamente". Sendo originários da China antiga foram no entanto
profusamente utilizados em todo o leste asiático”.
Nunca escolha o prato mais caro, caso seja o convidado. Não receie pedir
esclarecimentos ao empregado sobre o menu (atenção para os conselhos de empregados
insistentes: geralmente são pratos com pouca saída). Não chame o empregado com estalos
de dedos, gritando ou chamando “chefe”.
Pense duas vezes antes de pedir ou experimentar algo diferente, pois poderá meter-se
em grandes alhadas! Se tal acontecer, observe os outros calmamente e vá replicando os seus
movimentos discretamente.
Se não bebe, não há problema em recusar bebidas alcoólicas. Explique aos anfitriões:
“Obrigado(a), não bebo bebidas alcoólicas”. Se o emprego lhe serve uma bebida alcoólica,
diga apenas “Não, obrigado”. Quando recusar, não coloque a mão no copo, basta apenas um
dedo na borda do copo. Se bebe, peça o menos possível mas de preferência aguarde sempre
que quem convidou peça as bebidas… Ter alguns conhecimentos sobre enologia pode ser
uma mais-valia numa refeição de negócios.
No couvert, as azeitonas devem ser comidas com os dedos e para retirar o caroço da
boca devem ser usados os dedos também. Se estas vierem a enfeitar uma sala deve-se levar
o garfo à boca e retirar com o garfo. O pão é partido com as mãos, nunca com a faca ou com
a boca. Deve ser comido como entrada com manteiga, queijo ou patê e as migalhas devem
cair dentro do prato.
Muitas vezes as pessoas atrapalham-se e usam o pratinho à sua direita, ou seja, o do
vizinho. O correto é utilizar o pratinho do pão que fica à sua esquerda.
Não se penteie, maquie ou leve as mãos constantemente ao cabelo.
3. À mesa
Não se engane na qualidade de copos: Fino e alto é uma flute de champagne, o maior é
água ou sumo, o médio é de vinho tinto e o menor é de vinho branco. Saiba distinguir
talheres de peixe de talheres de carne.
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Se a comida estiver quente, não assopre: aguarde que ela esfrie normalmente.
Nunca comece a comer antes dos outros: espere que todos estejam servidos, e
comecem juntos (e deve esforçar-se para que terminem todos juntos).
Não se corta todo o alimento de uma só vez, corta-se em pedacinhos pequenos.
Leve a colher de sopa á boa pela lateral, não faça barulho ao comer sopa nem vire o
prato da mesma.
Conserve os cotovelos junto ao corpo, sem apoiá-los na mesa durante a refeição.
Antes de levar o copo à boca, passe o guardanapo pelos lábios mesmo que não sinta
essa necessidade.
Mastigue silenciosamente e de boca fechada e não gesticule com os talheres. A faca
serve apenas para cortar e depois de usá-la, pouse-a prato com a serrilha voltada para si.
Quando os pratos surgem bem decorados podemos pensar que as decorações não se
comem, mas grande parte dos legumes e outros elementos decorados são mesmo para
comer!
Não se estique por cima da mesa para chegar a algo: peça aos outros convidados para
fazer o favor de lhe passarem o que necessita.
4. Uma pausa?
Preferencialmente, não se sai da mesa antes de terminada a refeição, exceto se for
realmente inevitável.
Se fizer uma pausa, para ir à casa de banho por exemplo, deve deixar os talheres em
cima do prato em forma de acento circunflexo. Ao sair da mesa coloque o guardanapo em
cima da toalha, à esquerda do prato.
Não arraste a cadeira quando se levantar e coloque a cadeira no lugar sem arrastar.
Se fizer uma pausa sem sair da mesa, por exemplo, para prestar atenção a alguma parte
da conversa ou falar, se ficar com os talheres na mão, a ponta da faca e os dentes do garfo
devem sempre apontar para baixo.
5. Finalizar
Em princípio, todos conhecemos o código de comunicação que sinaliza que terminámos
aquele prato: colocar os talheres sobre o prato, juntinhos, à direita, na posição do relógio
das 15h00, o garfo com os dentes para cima e a faca com a lâmina voltada para nós próprios.
Nunca se deve deixar os talheres cruzados, nem empurrar o prato para a frente quando
se termina: deixe-o onde está.
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No final da sobremesa, os talheres devem ser postos no prato que vem por debaixo da
taça pois não é adequado deixá-los dentro da taça. Caso não haja prato, a colher fica sobre a
mesa mesmo, à direita da taça.
Não palite os dentes em público (se é uma pessoa que tem essa necessidade, traga fio
dental na carteira e vá ao W.C.);
Em caso de brinde, o convidado deve tomar pelo menos um gole antes de pousar a taça.
Deve-se brindar de preferência de pé. Se preferem brindar sentados, nunca se brinda com o
cotovelo pousado na mesa (isto acontece por vezes por distração, quando por exemplo, há
um discurso de brinde muito longo e o braço começa a cansar) Nunca se brinda com o copo
vazio.
Regra final: Quem convidou paga a conta. Não há exceções…mesmo para aqueles que
pensam que as mulheres estão sempre dispensadas de pagar. Se você já conhece o
convidado de contactos profissionais anteriores e ele insistir, não há problema se
concordarem em dividir a conta.
[Considerações quanto a Gorjetas: É internacionalmente de bom-tom deixar gorjeta em
quase todos os países e em alguns a gorjeta já vem incluída na conta. Porém, em países
como o Japão, por exemplo, dar gorjetas é um insulto. Na Áustria, Bahamas, Argentina,
Guatemala, etc., a média de gorjetas ronda os 10 %. Em países como Samoa, Omã,
Dinamarca, Singapura, Ilhas Fiji, Tailândia e Emirados unidos não é costume dar gorjeta.
Outros países parecem ter tradição de ir até aos 15% como é o caso da Irlanda, México,
Rússia e Canadá. Nos Estados Unidos a gorjeta pode ir até 20%! Em caso de dúvida, o melhor
é fazer uma pesquisa detalhada antes de ir para o país em causa. Mesmo na internet
encontra vários guias de viagens detalhados sobre este assunto.]
Por último, é de evitar fazer reclamações sobre o serviço ou sobre os pratos em voz alta.
Se for o caso, faça-as de forma discreta.
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6. A Etiqueta e o fenómeno da “Bolha Pessoal”
Já alguma vez lhe aconteceu sentir-se invadido no seu espaço? Já sentiu que alguém se
estava a aproximar em demasia de si? Alguém se debruçou sobre a sua secretária ocupando
o seu “espaço pessoal”? Já refletiu se tem uma “bolha” muito pequena ou muito grande?
Pois é, penso que todos nós, em certa altura nas nossas vidas já fomos confrontados
com uma situação semelhante. Talvez no trabalho, talvez num encontro social ou até numa
multidão como, por exemplo, um concerto ou um desfile na rua.
É uma questão de etiqueta organizacional saber manter as distâncias interpessoais
corretas para com os nossos interlocutores.
Foi o autor Edward Hall2 em 1966 que foi pioneiro na reflexão científica sobre o tema do
“espaço pessoal” ou distância interpessoal, ou se quisermos, em termos leigos, a nossa
“bolha”. Após vários estudos empíricos, Hall conclui que as distâncias sociais eram mais ou
menos regulares em todas as pessoas, mas posteriormente fez também estudos comparados
em diferentes culturas e países.
A “bolha” ou o espaço pessoal refere-se a uma área com limites invisíveis que cerca o
corpo de cada um de nós, sendo o nosso território portátil. Essa noção psicológica do nosso
espaço é óbvia para todos nós e quando essa “bolha” é invadida fisicamente, normalmente
recorremos a técnicas para afastar esse intruso.
Hall propôs quatro tipos de distâncias pessoais na interação humana: (1) Distância
íntima, (2) Distância pessoal, (3) Distância social e (4) Distância pública.
Os valores em centímetros abaixo apresentados são valores médios, pois cada pessoa
tem a sua distância ideal, por isso, há pessoas que tê uma “bolha pequena” ou uma “bolha
grande”. Contudo isso tem também relação direta com a cultura de cada país (que que
sabemos, influi depois na cultural organizacional)
A distância íntima (até aos cinquenta centímetros) é claramente uma distância de um
compromisso. Um casal de namorados, pais e filhos ou grandes amigos costumam conviver a
esta distância. Estamos completamente expostos: características do rosto, corpo, odor,
temperatura, etc. Só deixamos entrar nesta zona pessoas por quem temos afetos e quando
2 Para saber mais, poderá ler a obra original do autor: Hall, Edward T. (1966), A Dimensão Oculta, Lisboa: Relógio D'Água.
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esta distância é invadida usualmente as defendem-se com rigidez muscular, olhar
penetrante.
A distância pessoal (entre cinquenta centímetros e um metro e meio) não ocorre tanto
em formato de bolha, pois exige mais comprimento para a frente do que para os lados ou
para trás, pois é no “face a face” que nos sentimos mais invadidos. É a distância que
utilizámos quando estamos no elevador com alguém, quando esperamos pelo metro ou
numa sala de espera. Se nos sentirmos ameaçados temos tendência a afastarmo-nos um
pouco, nem que discretamente.
A distância social (entre um metro e meio e dois metros) é a mais comum em ambientes
profissionais, mas é gerida pela pessoa consoante o estatuto das pessoas com que interage.
Com chefias há tendência a aumentar o espaço, porém entre colegas de trabalho há
tendência a não ser tão grande.
A distância pública (mais de dois metros) é a que utilizamos para estar com
desconhecidos e onde agimos mais formalmente. É também utilizada por oradores, ou
personagens públicas ou oficiais. É através desta distância que podemos também perceber
se nos sentimos bem em multidões ou não.
Como já referimos, tudo depende de pessoa para pessoa. Por exemplo, há pessoas que
não se sentem bem na distância pública e desenvolvem até fobia a falar em público. Por
outro lado, há quem não se sinta bem com distâncias íntimos o que poderá indicar um medo
de compromissos.
A distância íntima ou até a pessoal podem ser condicionadas pelo sexo dos
intervenientes. Por exemplo, duas colegas de trabalho mulheres podem aproximar-se mais
do que uma colega do sexo feminino ou outro do sexo masculino.
Este assunto está em alta nos últimos anos no meio empresarial, principalmente no que
respeita ao assédio sexual no local de trabalho. Este assunto tem sido altamente debatido
principalmente nos Estados Unidos que apresentam elevada taxa de assédio.
A título de curiosidade, vejamos alguns estudos atuais. Por exemplo, em 2006, a
Comissão sobre Igualdade de Oportunidades dos Estados Unidos recebeu 12.025 queixas de
assédio sexual no local de trabalho, sendo que 15,4 % dessas queixas foram apresentadas
por homens. Na União Europeia, entre 40 e 50 % das mulheres denunciaram no passado
alguma forma de assédio sexual no local de trabalho. No outro lado do mundo, Comissão
Australiana de Igualdade de Oportunidades em 2004, mostrou que são as mulheres jovens,
solteiras ou divorciadas ou com status de emigrante que são mais vulneráveis ao assédio
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sexual, enquanto nos homens são os jovens, homossexuais e integrantes de minorias étnicas
ou raciais que sofrem mais assédio.
Outros estudos sobre o espaço pessoal mostraram que os homens respondem de modo
mais negativo à invasão do espaço pessoal frontal, ao passo que as mulheres respondem
mais negativamente às invasões do espaço pessoal provindas da lateral.
Além da distância podemos observar ainda a orientação das pessoas. Duas pessoas que
se conhecem há bastante tempo têm tendência a colocar-se lado a lado, enquanto que se
existe numa relação de hierarquia, o superior tende a colocar-se frente ao subordinado.
Todavia tudo pode variar de cultura para cultura. Podemos aplicar estes conhecimentos
aos cumprimentos para tentar perceber o tipo de distâncias pessoais que podemos utilizar
com pessoas estrangeiras.
Por exemplo, no cumprimento inicial de alguém que acabamos de conhecer deve deixar-
se uma distância de cerca de dois braços.
Em relações empresariais, os orientais sentem-se bem com cerca de 1 metro de
distância, mas por exemplo, os árabes e asiáticos gostam de uma distância maior, enquanto
que os latinos até gostam de uma distância menor.
Na maioria dos países, costuma utilizar-se o aperto de mão ou dois beijos na face
dependendo do grau de intimidade. Em África é mais comum o aperto de mão nos homens e
dois beijos na face entre nas mulheres. Porém, no caso de se tratar de mulheres viúvas não
se deve cumprimentar com beijo nem tocando, deve-se apenas acenar com a cabeça.
Em alguns países da Ásia, os cumprimentos fazem-se unindo as próprias mãos. No Japão,
país onde o espaço pessoal é muito valorizado, não se toca nos outros e saúda-se curvando a
coluna.
Entre árabes e também italianos, o cumprimento usual entre dois homens amigos é a
troca de beijos na face.
Na Índia o mais usual é unir as mãos e dizer “Namastê” pois abraços e beijos não são
comuns entre mulheres.
Homens árabes, indianos e também africanos que são amigos de longa data
frequentemente andam de mãos dadas ou abraçados, pois isso é sinal de grande amizade.
Os homens russos cumprimentam-se dando de 3 a 4 beijinhos na face.
Os esquimós cumprimentam-se esfregando o nariz um no outro enquanto sorriem.
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Utilizar distâncias inadequadas em relações laborais pode gerar uma sensação de
invasão, abuso e assédio se for usado menos distância do que a aconselhada e sensação de
frieza ou indiferença se a distância for demasiado grande.
Estes conceitos devem ser também aplicados à conceção e gestão do espaço dos
colaboradores.
As organizações devem refletir sobre a colocação de secretárias e da iluminação. Por
exemplo os chamados “open spaces”, muito em voga ultimamente, enfatizam a
comunicação entre colaboradores já que favorecem o contacto ocular, mas têm de ter em
alguma consideração as distâncias pessoais, por exemplo, colocando divisórias.
A poupança de espaço e colocação de secretárias demasiado próximas, pode criar a
sensação de ausência de identidade e invasão aos colaboradores e isto poderá gerar
conflitos no trabalho, insatisfação e menor produtividade.
Se em vez do “open space”, o colaborador está em zona de trabalho fechada, isto
representa um maior estatuto para quem lá trabalha. Daí o facto de se dar elevado valor às
promoções que implicam passar a ter um “gabinete próprio”! É sinal de que a pessoa
conquistou o “seu espaço” e por aqui conseguimos inferir o quanto valor tem para nós o
espaço pessoal!
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7. Pare, escute e olhe! A arte de bem conversar em
ambiente de negócios
Em todos os momentos negócios há o chamado “momento morto”.
É o momento que não é próprio para fazer negócios, mas sim para preparar o ambiente,
dar o tom certo, conquistar o convidado (que pode ser um cliente ou parceiro) e saber “fazer
sala”. Também se aplica como arte de finalização: no final de uma longa reunião, de
negociações detalhadas ou outras situações, é necessário imprimir um ambiente informal.
Noutras situações, por exemplo, numa fase inicial de uma entrevista de seleção, também
se aplica a arte de conversar.
Além de se aplicarem os princípios das técnicas da comunicação no trabalho, a arte de
conversar envolve o interlocutor e oferece um pouco da nossa personalidade. Isto porém
pode agir negativamente e o “feitiço pode virar-se contra o feiticeiro”. Todos pensamos que
somos bons conversadores, mas nem sempre é assim… Sem querer podemos transformar
uma oportunidade de negócios, num grande embaraço.
Jonathan Swift (1667-1745), autor irlandês mais conhecido pela obra “As Viagens de
Gulliver”, descreveu os dez pecados mortais contra a arte de bem conversar.
1 - A desatenção de quem ouve.
2 - O mau hábito de interromper e a de falar ao mesmo tempo.
3 - A precipitação de mostrar que se tem espírito ou cultura.
4 - A vontade de querer dominar a conversa e o assunto.
5 - Pedantismo.
6 - A falta de seguimento na conversa.
7 - O espírito de contradição.
8 - O vício de sempre querer fazer piadas.
9 - A falta de calma na apresentação de argumentos.
10 - Trazer a baila assuntos pessoais em detrimento dos de ordem geral.
Reflita um pouco sobre cada um deles.
Uma regra essencial é o “Pare, Escute e Olhe”. Pare uns segundos, reflita sobre quem é o
seu interlocutor, escute-o ativamente, olhe profundamente para ele, não se distraia, deixe-
se envolver realmente na conversa.
Além disso, no campo empresarial, é importante saber sempre um pouco acerca do seu
interlocutor: por exemplo, que desporto que pratica, qual o nome da esposa e dos filhos, a
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PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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sua formação de base, que literatura, programas de televisão ou tipos de cinema prefere,
etc. Nunca saiba muitos mais do que estes pormenores, pois pode estar a invadir a esfera
privada.
Há assuntos clássicos que servem como desbloqueadores ou “quebra-gelo”, por
exemplo, assuntos da atualidade, como notícias de catástrofes recente, grandes
campeonatos desportivos e o famoso cliché do tempo. Podem ser clichés, mas são menos
arriscados quando conhecemos a pessoa há pouco tempo. Nunca subestime o valor de um
bom cliché e só mais tarde, evolua para campos de conversa mais aprofundados.
A sinceridade ou honestidade é uma característica muito estimada na sociedade atual.
Todavia, em momentos de negócios, pode tornar-se o caminho mais rápido para se afundar.
Pense bem antes de começar uma conversa com “para ser totalmente sincero e direto ….”. É
bom guardar a sinceridade total para as relações interpessoais mais íntimas.
Outro princípio importante: Por norma, evite usar o calão. Pode usar uma outra
expressão para “testar” o interlocutor. Há pessoas para quem o uso de calão poderá
significar uma certa simplicidade e humildade e poderá funcionar até como um
desbloqueador de conversa.
As gafes podem acontecer a qualquer pessoa. Por muito que tente evitá-las, poderá
acontecer quando menos espera. Quando cometer uma gafe, tente deixá-la ficar no ar até
desaparecer, pois quanto mais tentar corrigir, pior! Na pior das hipóteses pense calmamente
uns segundos e tente fazer apenas uma observação (ponderada) para corrigir a gafe.
Pessoas que dominam a arte de conversar são capazes de falar sobre muitos assuntos
diferentes e são capazes de se mover habilmente em conversas sobre assuntos que não
dominam, por exemplo, usando a tática de deixar o outro brilhar (tática muito relevante
quando o interlocutor é um potencial ou atual cliente!).
Bons conversadores sabem mudar o rumo da conversa discretamente, para jogar a seu
favor.
Principalmente em conversas de negócios, nunca se deve corrigir a gramática ou o
vocabulário da outra pessoa, até conquistar mais a sua confiança.
Bons conversadores envolvem todos os interlocutores na conversa, em vez de se dedicar
apenas a uma pessoa e nunca recorrem ao boato ou coscuvilhice. Além disso, sabem dar e
receber elogios de uma forma elegante (em vez criticar.)
Porém, mesmo o melhor conversador do mundo não está livre de ter uma falha de
memória. Já lhe aconteceu estar a olhar para a pessoa e de repente, não se lembrar do
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nome?! Nesta situação o melhor a fazer é deixar a pessoa falar o máximo de tempo possível
enquanto tenta aceder à sua memória. Faça uma pergunta e deixe a pessoa responder até o
nome da pessoa voltar à sua memória! Deve evitar a todo o custo pergunta: "Peço desculpa,
esqueci-me do seu nome?". Para o interlocutor, isto representa uma grande falha, e pode
representar desinteresse, desatenção e para uma pessoa um pouco mais extremista, até
desrespeito.
Aprenda a ler a comunicação não-verbal da pessoa para saber quando finalizar a
conversa (por exemplo, a pessoa olha para longe de si, olha para o relógio ou para o
telemóvel, movimenta-se bastante em vez de ter um olhar atento, etc.).
Por último, surgem pequenos detalhes aos quais devemos dar atenção de vez em
quando. O volume da voz, o tom de voz, a taxa de palavras por segundo, a sua eloquência, o
sotaque, a riqueza vocabular. De preferência, vá treinando os seus dotes de conversador em
ambientes onde se sinta seguro.
Se não tem amigos com quem praticar e que sejam capazes de o criticar e ajudar a
melhor, existem vários clubes com esse objetivo.
Talvez o mais conhecido do mundo seja o Toastmasters International
(www.toastmasters.org). Trata-se de um clube, onde as pessoas se reúnem para treinar as
suas capacidades de comunicação, oratória, etc. É uma organização sem fins lucrativos que
começou em 1924, na Califórnia e, atualmente existem centenas de clubes espalhados um
pouco por todo o mundo incluindo Portugal (nomeadamente Porto e Braga).
Para ir praticando, sozinho, algumas destas competências, nada melhor que uns
exercícios caseiros!
Exercícios para coordenar voz e articulação das palavras
(Leia rapidamente, tentando não baralhar letras nem dizer a palavra de forma errada)
Exercício 1
O tempo pergunta ao tempo
Quanto tempo o tempo tem.
O tempo responde ao tempo
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo o tempo tem.
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Exercício 2
Um ninho de mafagafas
Tinha seis mafagafinhos.
Tinha também magafaças,
maçagafas, maçafinhos,
mafafagos, magaçafas,
maçafagas, magafinhos.
Isso além dos magafafos
E dos magafagafinhos.
Exercício 3
Feijão, melão, pinhão, mamão.
Meijão, malão, feinhão, pimão.
Pijão, feilão, manhão, memão.
Majão, pilão, menhão, feimão.
Exercícios para uma dicção mais perfeita - (repita três vezes cada frase sem se
enganar).
Exercício 1
Em rápido rapto, um rápido rato raptou três ratos sem deixar rasto.
Exercício 2
As pedras pretas da pedreira de Pedro Pedreiras são os pedregulhos com que
Pedro apedrejou três potras prenhas.
Exercício 3
Em três pratos de trigo comem três tristes tigres.
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8. Etiqueta para “tempos de crise”
Já sentiu que não há dia que não passe que não ouçamos a palavra crise? Faça essa
experiência no seu dia-a-dia e eu aposto que ouvirá a palavra “crise” várias vezes ao dia!
Ainda não lhe aconteceu estar no trânsito, à ida ou no regresso do trabalho e de repente
sentir uma vontade incontrolável de desligar o rádio por já não conseguir ouvir mais as
mesmas notícias?
Tenho a sensação que só ouço falar de crise e recessão económica desde 2003! Eu sei,
todos sabemos, não precisam de repetir! Longe vão os tempos em que ouvia as notícias na
rádio calmamente e estas ajudavam-se a ultrapassar os engarrafamentos diários.
Todos sabemos que a maior fase de recessão já foi ultrapassada (segundo alguns
especialistas) e Portugal já se encontra em fase de recuperação, mas essa ideia para não
entrar facilmente na nossa mente nem no nosso discurso diário.
O tema da crise domina as conversas já há alguns anos. Aliás, já conquistou o estatuto de
“cliché” garantido na conversação entre toda a gente. Acho que já nem conversas sobre o
tempo garantem a mesma fluência no diálogo. Parece já ser possível discordar sobre o
tempo, mas não sobre a crise.
Para mim, como profissional do comportamento humano, a palavra crise tem outro
significado, incutido a muito custo desde os tempos de faculdade.
Erik Eriksson (1902-1994) foi o primeiro autor a criar uma teoria psicossocial que explica
as várias fases pelas quais passa um ser humano ao longo de toda a sua vida. Ele foi discípulo
de Sigmund Freud (1856-1939), que também concebeu uma teoria de estádios, porém esses
estádios terminam na infância na perspetiva de Freud. Eriksson afastou-se bastante do seu
professor: chamou de “Crises” às oito fases pelas quais todos os seres humanos passam.
“Crise”, na perspetiva erikssoniana é um estádio que envolve um determinado conflito
que tem de ser resolvido. Durante a nossa vida, teremos de resolver 8 grandes crises e cada
um nós terá à escolha dois modos de lidar com essas crises: um modo adaptativo e outro
modo inadaptativo. À medida que vamos resolvendo essas crises vamos crescendo como
pessoas, definindo a nossa identidade e personalidade.
Foi graças ao trabalho de Eriksson que a sociedade de hoje está mais atenta aos
problemas que os “menos jovens” enfrentam, desde a “crise de meia-idade” até às
dificuldades da velhice, que começa a merecer hoje a devida atenção.
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Por isso, espero que entendam a minha hesitação quando ouço falar daquela crise do
dia-a-dia. Uma crise, para mim, continua a ser um conflito a ser resolvido, uma moeda de
duas faces e uma oportunidade de crescimento, seja de um ser humano ou de um país.
Mas então, ao nível da etiqueta organizacional…o que fazer com as conversas da crise?
Resposta: Não queira ser o mensageiro de péssimas notícias todos os dias, sejam qual for
a sua função. Pode utilizar o cliché da crise para quebrar o gelo numa conversa, pode
abordar uma ou duas vezes o assunto, mas não massacre.
Se tiver de falar de crise, opte por posições mais otimistas. Sim, eu sei que é difícil, como
tudo na vida, como diz o povo. Como profissional, aproveite o seu saber da sua área de
especialização para fornecer soluções aos outros, ao invés de debitar notícias e queixar-se
sobre a crise.
Faça um esforço por saber (e reter) factos positivos. Já reparou que se ouvir uma notícia
muito negativa nunca mais a esquece, mas se ouvir algo positivo, parece esquecer-se mais
depressa? Agora, tente reverter isso.
As pessoas com quem falar vão, por certo, resistir, e vão referir mais novidades
negativas. Porém, para a sua própria carreira e para a imagem da sua empresa, não deixe
transparecer demasiado que a crise está a afetá-lo.
Mostre aos outros que é capaz de manter uma atitude mental positiva, e à medida que
vai fazendo esse esforço, essa atitude vai acabar por ganhar lugar no seu cérebro. Sim, o
otimismo pode ser aprendido!
Uma pessoa que dedicou quase toda a sua vida a ensinar o otimismo, foi o professor e
investigador Martin Seligman (1942-), colaborador da Universidade da Pensilvânia, EUA.
No início da sua carreira, Seligman realizou uma série de estudos com animais e
desenvolveu a Teoria do Desânimo Aprendido (1975). Num dos estudos clássicos realizados
com cães verificou-se que os animais previamente sujeitos a choques elétricos a que não
conseguiam escapar tendiam subsequentemente a não fazer esforço para escapar de outros
choques elétricos que era possível evitar. Só mais tarde foi comprovada a existência deste
fenómeno também em humanos, quando se reúnem determinadas condições.
Porém, Seligman3 acabou por reorientar os seus estudos para o que poderá parece o
reverso da medalha - o Optimismo- tornando-se a maior autoridade no tema até ao dia de
hoje.
3 Para saber sobre o trabalho de Martin Seligman, visite o site oficial em: http://www.authentichappiness.sas.upenn.edu
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Seligman define otimismo como a forma como as pessoas explicam a si próprias os seus
sucessos e fracassos. Os otimistas atribuem um “fracasso” a alguma característica sua que
pode ser mudada, para que possam vencer na próxima vez, enquanto que os pessimistas
assumem e interiorizam a “culpa” pelo fracasso, atribuindo-a a uma característica que
acham que não pode mudar.
Para enquadramos o otimismo no contexto empresarial, vejamos um estudo de
Seligman, realizado numa das mais bem-sucedidas seguradoras do mundo: a MetLife.
Como sabemos, ser vendedor de seguros, é uma profissão exigente, ainda mais quando
falamos em vender seguros de vida (por esse motivo, cerca de 75 % dos vendedores de
seguros americanos desistem nos primeiros três anos). Seligman aplicou um teste
psicológico que visava avaliar o nível de otimismo a todos os vendedores recém-recrutados.
Descobriu que os novos vendedores que possuíam elevado nível de otimismo venderam 37
% mais seguros nos primeiros dois anos que os pessimistas. E no primeiro ano os pessimistas
desistiram duas vezes mais que os otimistas.
Penso que todos nós sabemos bem o poder do otimismo e da esperança, mas parece
que temos um grande caminho a percorrer quando falamos de incorporar esse sentimento
dentro de nós.
Se a leitura deste artigo fizer com que pelo menos uma pessoa consiga fazer um esforço
por lidar e falar da “crise” mais positivamente em próximas conversas, então já teria valido a
pena.
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9. Como o telemóvel pode acabar com o seu negócio!
Lembra-se do início do “boom” dos telemóveis? Longe vão os tempos em que
andávamos pela rua e, de repente, riamos por ver alguém que parecia andar a falar sozinho!
Pois é, esses tempos acabaram e, em 2009, já existiam mais telemóveis em Portugal …
do que portugueses!
De acordo com estimativas do setor os telemóveis são já utilizados por cerca de 2 mil
milhões de pessoas em todo o mundo. Desse total, mais de 500 milhões usam um aparelho
que emite campos eletromagnéticos conhecido como Global System for Mobile
Communications, ou seja, o GSM.
Atualmente, já se descreveu a noção de “Nomofobia”, ou seja o medo incontrolável de
ficar incontactável, seja por ficar sem bateria, sem rede ou sem saldo no telemóvel (Ferreira
& Balsinha, 2010). Este problema foi batizado de “Nomofobia” através das palavras inglesas
“No Mobile”, ou seja, sem telemóvel (funcional).
Uma pesquisa feita Reino Unido constatou que 58% dos homens e 48% das mulheres já
sofrem deste problema. Apesar de não ser considerado ainda uma fobia no termo
psicopatológico da palavra (para isso teria de ser incluída no Dicionário de Saúde Mental
[DSM]) muitos psicólogos e psiquiatras já acompanham clientes que convivem com esta
realidade. Os telemóveis invadiram os negócios e, com este fenómeno, surgem as questões
de ética e etiqueta.
Há bem pouco tempo, a norma de etiqueta básica era: Desligue o telemóvel se está
numa reunião, no cinema, no teatro, etc. Mas tudo se tornou mais complexo, à medida que
o telemóvel se tornou um meio de comunicação essencial para o mundo dos negócios.
Cada vez mais países estão a regulamentar o uso do telemóvel em diversos contextos
(espaços públicos, condução automóvel, etc.). Um restaurante em Chicago (Estados Unidos
da América) chegou ao extremo de afixar um cartaz que diz “restaurante livre de
telemóveis” e qualquer pessoa que use um telemóvel é imediatamente convidado a sair.
Apesar de lhe parecer a ferramenta mais importante para fazer negócios, pode também
ser o caminho mais rápido para lhe destruir um negócio ou mesmo a sua carreira!
Vejamos as regras essenciais de etiqueta do uso de telemóvel:
1. Use o seu telemóvel em público apenas quando absolutamente necessário.
2. Mantenha o telemóvel desligado ou em modo de vibrar em restaurantes, teatros,
edifícios institucionais e governamentais e em encontros sociais
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3. Desligue o telemóvel antes de entrar numa reunião. Se tem mesmo de o manter
ligado opte pelo modo de vibração e explique aos participantes o motivo pelo qual o vai
manter ligado logo no início da reunião (por exemplo, “se me permitem, vou manter o meu
telemóvel ligado, pois estou a aguardar uma chamada muito importante”). Este princípio
aplica-se a qualquer cargo ou função, seja qual for a hierarquia: ninguém está dispensado.
4. Se a tal chamada importante surgir, peça licença e afaste-se um pouco da mesa de
reuniões. Se as divisórias são de vidro poderá conversar fora da sala de reuniões.
5. De preferência, não atenda chamadas pessoais durante o horário de trabalho.
6. É inconsciente a tendência para aumentar o volume da voz, o que é totalmente
desnecessário com a tecnologia de hoje em dia. Seja discreto e fale baixo, pois a conversa só
interessa a quem está do outro lado da linha!
7. Principalmente em chamadas profissionais, assim que inicia o contacto, deve
perguntar se aquele é um momento oportuno para conversar.
8. No ambiente profissional utilize o telemóvel apenas efetuar e receber chamadas. As
funções de jogos, música e outras estão reservadas para os seus tempos livres.
9. A forma como atende o telemóvel (ou telefone) é determinante para a sua imagem e
reputação profissional. È usualmente aconselhado atender a chamada entre o segundo e
terceiro toque. Esforce-se sempre por usar de um tom de voz entusiasta e contente por
receber aquela chamada.
10. Se possível, memorize no telemóvel os números das pessoas a quem quer causar boa
impressão. Já há bastante tempo que não faz sentido atender e perguntar “Sim, quem
fala?”. Nunca se esqueça com quem está a falar e trate sempre as pessoas pelo nome e
título.
11. Se acha que se vai esquecer de algo, anote tudo. Para facilitar este processo, ande
sempre com um pequeno bloco e caneta no bolso, ou então, assim que desligar a chamada
coloque uma “lembrança/nota” na agenda do telemóvel. Em alguns modelos é possível
gravar lembranças de voz, o que é bastante útil.
12. Se está a conduzir, pare o carro de lado para falar calmamente. Mesmo com
auricular nunca estará concentrado plenamente na chamada e isso pode refletir-se
facilmente para a pessoa que está do outro lado.
13. Evite usar os contactos de telemóveis de clientes ou parceiros de negócios para
outros motivos que não motivos profissionais.
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14. Acidentes acontecem: Pegar num telemóvel de alguém sem querer por ser
exatamente igual ao seu, pedir a alguém emprestado o telemóvel e ver, sem querer alguma
informação, ligar para alguém com nome semelhante por engano, etc. Mantenha as mesmas
regras de respeito pelo outro, confidencialidade e ética como noutra qualquer situação.
15. Quando não pode atender chamadas ou quando tem o telemóvel desligado, as
mensagens seguem para a caixa de correio de voz, por isso, deve gravar a sua mensagem de
voz personalizada. Mantenha a mensagem simples, clara mas eloquente (a exceção a esta
regra existe apenas para profissionais do ramo criativo ou entretenimento: apesar de não se
dispensar a eloquência, poderá usar efeitos sonos ou algum humor!). Identifique-se
claramente e ofereça opções como, por exemplo, deixar mensagem, contactar mais tarde,
contactar outro número ou enviar email para o seu correio eletrónico (e relembre o
endereço!). Se realmente devolve as chamadas a quem lhe deixa mensagens diga isso, se
não tem por hábito devolver chamadas, não diga! Se vai de férias ou vai estar ausente,
atualize a mensagem de voz. E claro, nunca se esqueça de consultar o correio de voz.
16. Apesar de ainda polémicos, são muitos os estudos cientificos já alertaram para o
efeito das ondas eletromagnéticas no cérebro, já que estas sobrecarregam a parte do córtex
cerebral que fica mais próxima do equipamento. Sem querer assustá-lo, redigi um breve
resumo de algumas das conclusões desses estudos: (a)O uso de telemóveis por adultos
durante 10 anos ou mais duplica o risco do cancro de cérebro; (b) o uso do telemóveis antes
de dormir provoca insónias, dores de cabeça e dificuldades de concentração; (c) a ação das
ondas eletromagnéticas afetam as zonas do cérebro responsáveis pela coordenação e
ativação do estado de stress, crucial para o funcionamento do sistema nervoso central em
todas as situações; (d) regista-se aumento de ansiedade em jovens adolescentes; (e) pessoas
que sofrem de doenças como a epilepsia podem ser mais afetadas; (f) mulheres grávidas que
abusem do uso do telemóvel, poderão ter filhos com riscos acrescidos de problemas
emocionais, dificuldades em relacionamento, desordens de atenção/hiperatividade e
problemas comportamentais diversos; etc.
17. Lembre-se que o telemóvel foi criado para o servir e não o contrário. Não se deixe
escravizar pela tecnologia…
Referências Bibliográficas
Ferreira, A. & Balsinha, J. (2010). Medo de ficar sem telemóvel já é uma doença. Diário de Notícias:
10 de janeiro de 2010. Acedido em abril de 2010 e Disponível em http://maria-
jesuscandeias.blogspot.com/2010/01/dn-fobia-medo-de-ficar-sem-telemovel-ja.html
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"Todas as inovações eficazes são surpreendentemente simples. "Todas as inovações eficazes são surpreendentemente simples. "Todas as inovações eficazes são surpreendentemente simples. "Todas as inovações eficazes são surpreendentemente simples. Na verdade, Na verdade, Na verdade, Na verdade, o o o o maior elogio que uma inovação pode receber é maior elogio que uma inovação pode receber é maior elogio que uma inovação pode receber é maior elogio que uma inovação pode receber é
haver quem diga: isto é óbvio. Pohaver quem diga: isto é óbvio. Pohaver quem diga: isto é óbvio. Pohaver quem diga: isto é óbvio. Por que não pensei nissor que não pensei nissor que não pensei nissor que não pensei nisso antes?" antes?" antes?" antes?" Peter DruckerPeter DruckerPeter DruckerPeter Drucker
AústriaAústriaAústriaAústria 1909/20051909/20051909/20051909/2005
Escritor, Consultor/Gestor/ProfessorEscritor, Consultor/Gestor/ProfessorEscritor, Consultor/Gestor/ProfessorEscritor, Consultor/Gestor/Professor
CAPÍTULO II. EMPRESAS E NEGÓCIOS:
CRIATIVIDADE E INOVAÇÃO
ORGANIZACIONAL
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1. Criatividade nas Organizações: Mais vale tarde do que
nunca!
Nos últimos anos, tem crescido nas ciências empresariais um forte interesse pela
Criatividade. Procurando saberes diversos em variadas áreas científicas, os gestores
preocupam-se cada vez mais em inovar e gerir as organizações com criatividade, para que
essa criatividade aplicada se transforme numa vantagem competitiva.
Mas então, poderemos pensar…só agora? Dantes não havia criatividade? Apareceu
assim, de repente? Já diz a sabedoria popular que “A necessidade aguça o engenho”.
Sempre existiram gestores preocupados em inovar nas empresas, preocupados em trazer
práticas criativas, mesmo que não as chamassem por esse nome, fossem para fidelizar
clientes ou estimular colaboradores ou para enfrentar organizações concorrentes.
Atualmente, essa necessidade torna-se cada vez maior, daí que dediquemos uma série
de artigos à criatividade aplicada à gestão. Mas antes de perceber a aplicabilidade deste
campo nas organizações, há que explorar um pouco mais a criatividade por si só.
A palavra criatividade, provem do latim creare, que significa criar, sair do nada,
estabelecer relações até então não estabelecidas. A Nova Enciclopédia Portuguesa (1992)
define-a como a “faculdade ou atributo de quem é criativo. Capacidade de criar coisas novas.
Espírito inventivo, talento criador”-
Como quase todos os assuntos que se referem à alma humana, muitos filósofos já
refletiram sobre a criatividade. Foi Platão que defendeu que a criatividade era um dom
divino e seria uma inspiração enviada por um ser superior a apenas alguns seres humanos. E
foi apenas por volta dos anos 50 do século XX que o constructo da criatividade começou a
ser estudado cientificamente.
Hoje em dia, o estudo da criatividade é bastante multidisciplinar. Estudos no campo das
neurociências, da filosofia, da psicologia, do comportamento organizacional, do marketing e
outros ramos do saber têm ajudado a fortalecer o interesse por esse fenómeno exclusivo do
ser humano que é a capacidade de criar, inventar e inovar.
Todavia, durante centenas de anos subsistiram diversos mitos sobre a criatividade.
Numa primeira fase, como já dissemos, pensava-se que era algo que provinha de um ser
superior, depois subsistiu a ideia de que era algo inato, que tem de nascer connosco e,
portanto, acreditava-se que simplesmente não podia ser ensinada ou aprendida.
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Durante centenas de anos a criatividade foi abordada como apêndice da arte. Ser
criativo era quase sinónimo de ser artista. Mas a criatividade é algo que existe em todos nós,
é inerente ao ser humano, está guardada no fundo do nosso hemisfério direito (no caso de
sermos dextros) e aguarda, num cantinho bem profundo, ser estimulada e abraçada pelo
dono desse cérebro.
Nos dias de hoje, no entanto, o hemisfério racional é muito mais enaltecido. Fazer
raciocínios complexos é muito mais valorizado do que ser capaz de criar algo novo.
Os investigadores atualmente acreditam fortemente que o potencial criativo tem início
na infância. Quanto mais estimuladas são as crianças para desenvolverem esse potencial,
mais criativas serão e quanto menos estimuladas, menos criativas serão na idade adulta.
O que não quer dizer que, se não fomos crianças muito estimuladas estaremos
condenados para o resto da vida a ser adultos pouco criativos. Podemos continuamente
estimular o nosso potencial criativo.
Um outro grande mito era achar que, para se ser criativo tinha de se ser inteligente.
Foram os investigadores Wallach e Kogan que, depois de diversos estudos empíricos nos
anos 60, provaram que esta era uma ilação errada. Em diversos estudos com crianças,
concluíram a existência de diversas crianças criativas com baixo quociente intelectual e
encontraram também crianças inteligentes que não eram criativas.
A criatividade tem muito mais afinidade com a motivação de cada um do que
propriamente com o quociente de inteligência. Aliás, como psicóloga posso mesmo afirmar
que grande parte dos testes que medem (ou tentam medir!) o famoso QI, quase não têm
nenhum conteúdo de avaliação da criatividade.
No entanto, a cada minuto todos nós utilizamos pequenas doses de criatividade para a
resolução de problemas no nosso dia-a-dia, porém raramente reconhecemos isso como
potencial criativo.
Um outro mito associado à criatividade é o de que, quem consegue ser muito criativo,
consome substâncias. Talvez pelo facto da vida artística estar interligada com a boémia, este
mito prevalece ainda. Na realidade, não é mentira que a criatividade possa ocorrer em
estados alterados de consciência. Muitos escritores, pintores e outros profissionais da arte
recorriam a substâncias lícitas ou ilícitas para obter inspiração, desde o álcool, a drogas
naturais e drogas sintéticas. Mas hoje sabemos que o recurso a estas práticas, a longo prazo,
poderá levar à destruição parcial ou total do potencial criativo.
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Muitas vezes, somos nós próprios o grande obstáculo à descoberta e estimulação da
nossa criatividade, através do que alguns autores chamaram de “voz crítica”. Aquela
“vozinha” que vem do fundo de nós e enfraquece a nossa confiança, afirmando que afinal
não seremos capazes, que ninguém nos dá valor ou que a ideia que tivemos no passado foi
apenas sorte e não potencial criativo!
Se permitirmos que esta voz nos vença vezes demais, vamos nos tornando fechados e
desconfiados, até que desacreditamos totalmente as nossas ideias. Algum tempo depois a
insegurança será tal que deixaremos simplesmente de formular e apresentar novas ideias
aos outros, o que acontece frequentemente nas organizações.
Apesar das variadíssimas definições de criatividade, podemos simplificar definindo
criatividade como a emergência de algo novo, único e original e se virmos por este prisma,
isso é exatamente o que as empresas precisam.
Podemos considerar dois tipos de criatividade: a individual e a coletiva. Apesar de muito
interligadas, a individual é a expressão criativa de uma só pessoa, enquanto que a coletiva é
a expressão do potencial criativo de um grupo de pessoas, que surge da sua interação e
sinergia.
Nos artigos sob o tema da Criatividade Aplicada à Gestão, poderemos abordar mais
frequentemente a criatividade coletiva, porque grande parte das vezes as criações nascem
de equipas de trabalho.
O facto de, durante os anos 90, ter surgido a expressão “indústrias criativas” (que serão
tema de próximos artigos), impulsionou ainda mais a atenção de todas as organizações para
a criatividade. Além disso, a criatividade está altamente correlacionada com a inovação, que
apesar de ser um tema mais explanado quando se fala de tecnologia, acabou por
(felizmente!) invadir todo o espaço organizacional.
As organizações começaram finalmente a perceber que a formação dos seus quadros, se
não de todos os colaboradores, era quase “anticriativa”. A escola atual não promove a
criatividade. Todos sabemos, infelizmente, que desde os primeiros anos escolares como
alunos, aprendemos a repetir conceitos e verdades ditos “universais”, mas raramente nos
oferecem a oportunidade de participar criativamente. É solução deste problema passa por
práticas pedagógicas ativas como, por exemplo, a inovadora “PBL”, Problem Based Learning
(como é o caso dos casos práticos, estudos de caso, investigação, trabalho de projeto, etc.),
que sabemos que estimula a curiosidade e a criatividade.
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Face a esta constatação, começa a nascer uma forte necessidade das organizações de
preencher esta lacuna e estimular a criatividade dos seus colaboradores e, por isso,
dedicaremos neste Portal alguns artigos ao aprofundamento deste assunto.
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2. Mentoring4: Relações Criativas nas empresas
São muito populares as expressões como “o meu mestre”, “o meu guru” e “o meu
mentor”. Desde sempre estas relações existiram em todos os contextos da nossa vida, no
entanto, de há algumas décadas a esta parte parece que as palavras “mestre” ou “guru”
estavam a ser reservadas a artes ocultas, religiosas ou filosofias alternativas de vida.
Felizmente, essas relações estão a retornar e a ganhar cada vez mais espaço nas
empresas e nas carreiras profissionais.
O “Mentoring” ou se quisermos em Português a “Mentoria”, diz respeito a uma relação
pessoal de desenvolvimento, em que uma das pessoas – a mais experiente - promove a
evolução e desenvolvimento da pessoa menos experiente. O objetivo principal é motivar e
inspirar o mentorado (ou seja o aprendiz ou pupilo), aumentar o seu potencial e também
transmitir algum saber-fazer.
Historicamente são muitos os sistemas clássicos de Mentoring como, por exemplo, a
pederastia na Grécia, a adoção de um guru por um discípulo do Hinduísmo e Budismo, entre
outros. Os franceses costumam utilizar a expressão "Protégé" (ou seja, o meu protegido).
O termo Mentoring tem a sua origem na mitologia grega, mais concretamente na obra
“Odisseia” de Homero.
Quando o personagem Ulisses vai em viagem, pede a um sábio grego chamado Mentor
que se ocupe da educação do seu filho. O conceito de mentor ou mentora entrou
rapidamente na linguagem comum para simbolizar a pessoa estimada e culta que guia e
aconselha uma pessoa jovem e menos experiente.
O princípio do Mentoring existiu de forma bastante presente nas corporações de artes e
profissões nos tempos medievais. Os artesãos frequentemente aceitavam jovens aprendizes
que viviam e trabalhavam na sua oficina (muitas vezes na própria casa). Os aprendizes
aprendiam a “arte” para um dia serem capazes de assumir o negócio e através deste
sistema, as competências eram transmitidas de geração em geração, sem o risco de perder
“segredos do negócio” para a concorrência.
Este sistema simplista subsiste ainda hoje um pouco por todo o mundo em negócios
familiares.
4 Para descobrir mais sobre este assunto, é possível visitar os sites de alguns projetos de Mentoring em Portugal Projeto Mentor (www.anje.pt ): este projeto emparelha investidores (“Bussiness Angels”) com jovens empreendores, criando relações de Mentoring cm objetivo de criar parcerias empresariais de sucesso. Mentoring “Projeto De Mulher para Mulher” (http://redejovensigualdade.org.pt/dmpm1/Mentoring.html): baseado no projeto suíço “De Femme à Femme” , projeto de envergadura nacional visando formar e envolver politicamente as mulheres.
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Contudo, com a revolução industrial (iniciada na Inglaterra em meados do século XVIII)
surgiu a padronização do trabalho e da formação profissional e este tipo de relacionamento
que caiu em desuso, contudo os princípios básicos sobreviveram.
Podemos considerar que existe Mentoring informal e formal. No Mentoring informal,
ambas as partes não estão consciente que se trata de uma relação de Mentoring, no
entanto, retiram vantagens dessa relação. O Mentoring formal, por outro lado, refere-se a
um processo estruturado apoiado pela organização (se for o caso) e dirigido a determinados
colaboradores. Em programas formais de Mentoring, existem metas a atingir, horários,
formação (para ambos os mentores e protegidos), e avaliação.
É possível constatar três fases numa relação de Mentoring. Numa primeira fase, o
mentorado prova ser digno e capaz de acompanhar o seu mentor, percebendo-se aqui, num
curto espaço de tempo, se o “matching” é bem-sucedido. Numa segunda fase decorre então
o processo de Mentoring (a fase mais longa) e num último momento decorre a fase de
separação, na qual o mentorado demonstra ser autónomo.
Pode ocorrer, como sabemos, o fenómeno de “o aluno suplantar o mestre”, o que aliás,
pode ser uma das explicações para o facto desta estratégia ter sido um pouco esquecida,
pois o mentor tem de ser alguém muito seguro de si próprio e sem sentimentos de
competitividade.
O processo “matching” que referimos tem de ser cuidadosamente pensado, de forma a
evitar a criação de uma relação forçada e não-autêntica, que não trará os esperados frutos
(pode até ser contraproducente). Isto significa que, ao emparelhar um mentor e um
mentorado, tem de se ter em conta as suas características profissionais e pessoais bem
como os seus projetos futuros dentro da organização. Além disso, deve ser um processo em
que ambos ingressam de livre vontade.
Como diz o ditado popular de Kuan-Tzu “Se deres um peixe a alguém, ele comerá uma
vez; se o ensinares a pescar, comerá toda a vida” e com isto refletimos que o mentor não é
um professor: ele não age como um transmissor de conhecimentos.
Os mentores deverão então ser pessoas com experiência acumulada, de preferência com
influência e contactos diversificados, voluntariosos e disponíveis, com empatia e
assertividade para orientar o seu pupilo e acima de tudo com capacidade de promover a
reflexão.
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O mentor tem de ter uma sensibilidade especial para os momentos de excelência para a
aprendizagem que é costume chamar de "momentos ensináveis", ou seja, momentos ideais
para expandir as potencialidades do pupilo.
Muitas vezes ao pensar em Mentoring, podemos cair no erro de pensar no mentor como
alguém mais velho e no mentorado como alguém mais jovem. Apesar de ser a situação mais
frequente, pode acontecer o inverso. Por exemplo, um jovem colaborador que domina as
novas tecnologias pode mentorar alguém mais velho da organizar que pouco ou nada sabe
de tecnologia. É importantíssimo numa relação de mentoria, haver uma postura de
humildade (de ambas as partes) e de querer não só transmitir sabedoria mas também
recebê-la (há vantagens para ambos os papéis).
Um projeto de Mentoring promove o desenvolvimento do mentorado como pessoa,
apesar de grande parte das vezes o foco principal ser a carreira.
O Mentoring está a ser atualmente bastante utilizado como estratégia de acolhimento e
formação de novos colaboradores. À chegada à organização, os recém-recrutados são
emparelhados com mentores.
O projeto é estruturado de forma a que o novo colaborador se aproprie da cultura
organizacional, das competências e do compromisso para com aquela organização. Alguns
estudos consideraram que novos colaboradores que iniciam o envolvimento na organização
através de programas de Mentoring têm duas vezes maior probabilidade de permanecer em
seus empregos e ser “fiéis” à organização.
De facto, trata-se de uma estratégia que se baseia um pouco na aprendizagem por
modelagem, teoria criada pelo psicólogo Albert Bandura nos anos 60. Segundo Bandura,
aprendemos por imitação e observação de modelos competentes a desempenhar ações que
produzem resultados positivos. Quanto mais envolvidos estivermos com o mentor certo,
mais admiração teremos e, logo, quereremos tornarmo-nos semelhantes a ele.
Com isto se percebe facilmente a importância da escolha dos mentores, pois se
escolhermos um mentor que não possua comportamentos-modelo para com a organização
em causa, correremos o risco de perpetuar esses comportamentos.
Todavia, o Mentoring pode ser adaptado a imensos outros contextos que não a uma
organização. É uma estratégia com muito sucesso também em todos os níveis de educação,
em pessoas à procura de emprego ou em reformulação da sua vida e da sua carreira, etc.
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3.Indústrias Criativas
Já há algum tempo que tencionava escrever sobre as indústrias criativas e, de repente,
uma notícia no Jornal de Noticias fez-me antecipar a reflexão sobre este assunto.
Nessa notícia (uma excelente notícia para variar!), afirmava-se que as indústrias criativas
estão em grande desenvolvimento no Norte de Portugal, estimando-se que existam na
região norte cerca de 2823 empresas, dedicadas a 11 áreas de atividade, com um volume de
negócios aproximado dos 815 milhões de euros (Lima, 2010).
Um outro estudo realizado (apenas) no Norte de Portugal em 2008 pela Fundação de
Serralves, como o apoio da Comissão de Coordenação para o Desenvolvimento da Região
Norte (CCDR-N), concluiu que havia emprego nas indústrias criativas para cerca de 11 668
pessoas.
Confesso que fiquei especialmente contente pelo Norte de Portugal (sou nortenha e
logo, temos de ser um pouco “bairristas”!).
Então, umas indústrias são criativas e outras não? Realmente todas as indústrias podem
usar a competência de criatividade, porém a palavra-chave “Indústrias Criativas” surgiu para
designar especificamente setores nos quais a criatividade é uma dimensão essencial do
negócio (Bendassolli, Wood, Kirschbaum & Pina e Cunha, 2009).
Outros autores definem de outra forma (Howkins, 2005 cit in ibidem): “é mais coerente
restringir o termo ‘indústria criativa’ a uma indústria onde o trabalho intelectual é
preponderante e onde o resultado alcançado é a propriedade intelectual”.
Vejamos então um pouco da história. Em meados dos anos 40, autores alemães
utilizaram pela primeira vez a noção de “indústrias culturais”, para caracterizar as atividades
culturais que, apesar de não serem financiadas pelo sistema público, geravam empregos e
riqueza para o país. Com a ascensão da tecnologia nos anos 90, a noção de “indústrias
culturais” tornou-se insuficiente.
O conceito de “Indústrias Criativas” surgiu na Austrália, no início da década de do século
XX, porém foi na Inglaterra que ganhou maior impulso já que este país levou a cabo um
estudo detalhado das atividades criativas e tem presentemente um Ministério das Indústrias
Criativas (ibidem).
Na ausência de um estudo detalhado adequado a Portugal e de forma a exemplificar que
empresas são consideradas “Industrias criativas”, recorremos a esse mesmo estudo inglês. O
governo inglês considera indústrias criativas as seguintes: publicidade, arquitetura, mercado
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de artes e antiguidades, artesanato, design, design de moda, cinema, software, softwares
interativos para lazer, música, artes performativas, indústria editorial, rádio, TV, museus,
galerias e as atividades relacionadas às tradições culturais.
Ainda segundo os autores Bendassolli, Wood, Kirschbaum & Pina e Cunha (2009)
podemos considerar que as indústrias criativas reúnem algumas características particulares.
Em primeiro lugar, vivem essencialmente de criatividade.
Em segundo lugar há lugar a uma valorização da arte pela arte. Em relação a este ponto
é necessário refletir que nas industrias tradicionais dá-se mais valor à racionalidade, aos
instrumentos e ao resultado final, enquanto que nas industrias criativas o foco principal esta
nas conceções estéticas e artísticas. Como se poderá imaginar, isto pode originar situações
conflituantes, foi estas industrias vivem entre querer mostrar essa arte mas, ao mesmo
tempo, querer viver dessa arte (realizar capital) o que pode por vezes, não ser tarefa fácil.
Em terceiro lugar, predomina hoje em dia nas indústrias criativas um forte uso de novas
tecnologias, já que estas tiveram (e têm ainda) um papel importantíssimo na divulgação das
criações. Hoje é possível uma pequena companhia de teatro ou artista divulgar as suas obras
num nível semelhante a uma grande empresa.
Em quarto e último lugar, surge uma característica que é de enorme valor e que muitas
organizações inovadoras tentam também aplicar às indústrias tradicionais: o uso de equipas
multidisciplinares e polivalentes. Se pensarmos na produção filme ou de uma peça de teatro
facilmente conseguimos imaginar a quantidade de especialistas de diversas áreas que são
necessários a uma produção destas.
É relevante também refletir sobre o produto gerado pelas indústrias criativas. O que é
produzido por estas indústrias criativas tem características específicas e muito diferentes
dos produtos das indústrias tradicionais.
Por um lado existe, uma variedade infinita do que pode ser criado e, se quisermos
recriado. E mesmo um produto só, uma canção por exemplo, pode ser editada várias vezes
em diferentes alguns e em diferentes versões.
A diferenciação vertical é outra característica dos produtos das indústrias criativas. Os
autores querem que os seus produtos atinjam prestígio no mercado, logo acaba por haver
diferenciação vertical e os intermediários têm grande influência nestes produtos. Por
exemplo, um crítico de arte pode criar pintores de sucesso e também “rotular” outros
pintores de menos sucesso o que imediatamente diferencia o produto.
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A perenidade é a outra característica essencial. Os produtos criativos não morrem pelo
seu consumo. Por exemplo, os direitos de autor sobre músicas e livros podem beneficiar os
autores e seus herdeiros por muitos anos.
Por último, os consumidores dos produtos das indústrias criativas são também distintos
de outros. Todas as pessoas, à partida, necessitam de consumir agua e pão, mas nem todas
as pessoas consomem produtos criativos. Esta grande explosão das indústrias criativas
também só é possível há poucas décadas porque muitas pessoas já viram atendidas as suas
necessidades básicas, como comer, beber e ter habitação. Só depois disto é que os
indivíduos podem se “dar ao luxo” de ir ao cinema, ao teatro, comprar um CD ou comprar
um livro!
Não é fácil gerir uma organização que tem por base a criatividade criativo. Se pensarmos
bem, nem sempre o que é produzido vai de encontro ao que o consumidor quer (lembremo-
nos que fazem arte, pelo arte e não para colmatar lacunas detetadas no mercado como as
industrias tradicionais) e, no fundo, as exigências dos consumidores são também elas
ilimitadas!
Porém, parece que Portugal tem o mercado criativo em grande evolução. Já em 2006, o
Ministério da Cultura revelou que o setor cultural e criativo foi responsável por 2,8% do
Produto Interno Bruto (PIB), uma percentagem mais elevada que o contributo de indústrias
tradicionais como, por exemplo, o têxtil. A cultura e a criatividade garantiam naquele ano
127 mil empregos em todo o país (2,6% do total nacional).
As indústrias criativas fazem parte, também, das prioridades da União Europeia, que em
2004, no âmbito da Estratégia de Lisboa, as considerou essenciais para atrair investimento e
dar aos países vantagens competitivas.
Outros passos importante têm sido tomados em Portugal e que merecem louvor: em
2008 foi criado o Prémio Nacional de Indústrias Criativas, uma parceria entre a Fundação
Serralves e a Unicer, que visa apoiar projetos estruturantes que podem representar valor
acrescentado para a economia portuguesa. Por outro lado, na Fundação de Serralves existe
também uma incubadora de empresas criativas que pretende potenciar o aparecimento de
empresas nestas áreas.
Em conclusão, depois desta breve reflexão sobre as indústrias criativas, é muito positivo
ouvir uma notícia como esta nos dias de hoje. No meio de tantas notícias com teor negativo,
há um setor em amplo crescimento em Portugal e, uma honra maior ainda, é o
reconhecimento da criatividade (portuguesa) como grande motor deste desenvolvimento!
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Quem sabe se, com o tempo será possível eliminar o estereótipo de que “os artistas são
todos pobres” e de que “a arte não põe pão na mesa”…
Referências Bibliográficas Bendassolli, P., Wood Jr., T, Kirschbaum, C. & Pina e Cunha, M. (2009). Indústrias Criativas:
Definição, Limites e Possibilidades. RAE-Revista de Administração e Empresas. v. 49, n.º1, jan/mar Lima, A. (2010). Norte está a fomentar indústrias criativas. Jornal de Noticias.27 de abril. .Disponível
em: http://jn.sapo.pt/PaginaInicial/Nacional/Interior.aspx?content_id=1553941
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4.Falta de tempo já não é desculpa para não frequentar
formação: Viva o E-learning!5
Há uns dias trás, tive a oportunidade de frequentar um seminário da TecMinho,
denominado “VI Conferência e-learning” organização pela TecMinho (Universidade do
Minho).
O leitor já teve a possibilidade de frequentar alguma formação em e-learning? Não?
Então, está mesmo na hora.
O formato de aprendizagem totalmente online tem vindo a ganhar força na formação,
seja na formação profissional e orientada para o aperfeiçoamento contínuo, seja na
formação inicial, por exemplo, nas universidades.
Engana-se quem pensa que, por exemplo, a Universidade Aberta sempre funcionou por
e-learning. Aqui temos de marcar uma grande diferença. Já há bastantes décadas que existe
“formação à distância”, exemplo disso é a referida Universidade e ,por exemplo, os cursos
que funcionam por envio de manuais para casa. Só recentemente se fala em “formação a
distância”. Repare, “formação a distância”, sem acento no “a”. Pode parecer um
preciosismo, mas a diferença é enorme.
Na “formação à distância” em pessoas estavam mesmo à distância, os livros chegavam
no correio, ocasionalmente agendavam-se encontros pessoais com professores ou tutores e,
numa fase posterior, poderia realizar-se apoio/tutoria via telefone. Na “formação a
distância” as pessoas poderão estar geograficamente distantes, porém estão online, no
mesmo espaço, num espaço virtual.
As plataformas desenvolvidas especificamente para e-learning vieram possibilitar este
contacto no momento (sessões síncronas), num mesmo espaço virtual, de pessoas que se
encontram a quilómetros de distância.
O e-learning veio possibilitar a aprendizagem em qualquer sítio a qualquer momento,
poupando custos aos formandos e economizando tempo.
Devemos fazer ainda outra distinção: a diferença entre e-learning e b-learning. B-
Learning significa Blended-learning, ou seja, uma ação neste formato tem sessões
presenciais e sessões online, daí ser “blended”, ou se preferirmos, uma ação mista.
Obviamente, nada disto seria possível se não fosse pela evolução da tecnologia. Como
diz José Bidarra (cit in Dias & Gomes, 2008), “redes de banda larga, potentes
5 Para consultar o site da conferência de e-learning, visite: http://www.tecminho.uminho.pt/shownews.php?id=213
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microprocessadores e a vasta capacidade de armazenamento levam a crer que existe um
enorme potencial para aplicações multimédia interativas no ensino-aprendizagem em rede”.
Há uns meses atrás participei na minha primeira ação de formação por e-learning,
corretamente planeada e organizada. Estava, na altura, a trabalhar em Angola e a frequentei
essa ação de formação (para renovação do CAP [Certificado de Aptidão Profissional] de
formador) num instituto de formação em Braga e estava em rede com formandos de todo o
país (por acaso, eu era a única que me encontrava fora de Portugal!). Já no passado havia
frequentado outros formatos mais empobrecidos, mas agora finalmente é possível
encontrar formações ricas, com metodologias variadas. Há alguns anos, as ações de e-
learning que frequentei limitavam-se à simples “aprendizagem solitária”: o formando
descarregava uns manuais, estudava, e no final realizava uma sessão de avaliação online ou
redigia um trabalho reflexivo final.
Hoje em dia, podemos encontrar imensas atividades que podem ser desenvolvidas numa
ação de formação via e-learning. Compilei uma pequena lista baseada na obra de Dias &
Gomes (2008):
� Equipas de projeto, com objetivo definido
� Pesquisa de informação, guiada por objetivos
� Debates de ideias síncrono (através de chat)
� Debates de ideias assíncrono (através de fóruns de discussão)
� Atividades programadas (assignments)
� Videoconferências (Masterclass)
� Audioconferências (Masterclass)
� Geração de ideias (Brainstorming)
� Comunidade de prática (Networking)
� Resolução de problemas (PBL - Problem based Learning)
� Simulação ou jogo (Game Based Learning)
� Criação de um blog ou outro tipo de site (dirigido por objetivos)
� Estudo de caso (com ou sem PBL)
� Elaboração de um diário de aprendizagens
� Elaboração de um relatório (estado da arte, experiência, etc.)
� Preparação de uma análise crítica (de um livro, site, vídeo, etc)
� Elaboração de um plano ou proposta de trabalho científico
� Preparação de mapas conceptuais ou cognitivos
� Organização e apresentação de um portefólio para avaliação.
Muitos ainda são os resistentes, que lutam contra a aprendizagem através das
tecnologias. Durante muito tempo a pedagogia e a tecnologia pareciam ser as grandes rivais
deste novo tempo. Professores queixam-se constantemente que a tecnologia veio trazer aos
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alunos distração, formas avançadas de “copianço” e aprendizagem pouco fundamentada
(digamos, uma espécie de cultura via wikipedia!). Porém, cabe a nós, seres humanos em
constante adaptação, colocar a tecnologia ao serviço da pedagogia.
Tanto para formandos como para formadores, os tempos mudaram. Não basta aos
formandos sentarem-se na sala de formação e ficar lá “x” horas a ouvir e a realizar algumas
dinâmicas. Não basta aos formadores preparem uma sessão.
O e-learning incentiva ao contacto entre formandos e entre formador e formandos, a
qualquer hora do dia. Apesar de nunca ter sido e-formadora (note-se que para tal, convém
frequentar uma ação de formação especifica), como professora já criei um blogue de apoio
às aulas que tem feito bastante sucesso junto dos alunos. Diminuem as filas para tirar
fotocópias de elementos de estudo, poupa-se tempo e até se poupa o ambiente porque
existe uma seleção mais atenta do que realmente é necessário imprimir.
Desengane-se também quem pensa que frequentar ações de e-learning é mais fácil!
Num estudo apresentado na conferência de e-learning, foi feita uma avaliação da satisfação
dos alunos que frequentaram ações por e-learning. Curiosamente, envolviam-se tanto nos
assuntos em debate que acabavam por passavam até mais tempo do que o programado
para aquela ação de formação. As metodologias de avaliação também foram adaptadas a
estas ações. Avaliações ponderadas são bastante comuns: por exemplo, realização de testes
online, trabalhos finais e participação em fóruns de discussão poderão ser três elementos
que compõem uma média para a nota final do formando.
Se você é daquelas pessoas que está sempre a utilizar a desculpa do tempo para não se
atualizar, essa desculpa acabou. Existem diversas empresas de formação (em Portugal e no
estrangeiro) com ações em e-learning e b-learning, e algumas empresas só trabalham com
formação por e-learning. Algumas universidades (incluindo a Universidade Aberta) já
possuem plataformas de e-learning, sendo a mais comum a plataforma Moodle. Num outro
nível, também já existem mestrados e pós-graduações diversas neste formato. Assim, pode
gerir o seu tempo, realizar as tarefas de madrugada se preferir, poupar o seu carro e
gasolina e até frequentar aulas de pijama! Experimente!
Referências bibliográficas: Dias, A. & Gomes, M. Coord. (2008). E-conteúdos para e-formadores. TecMinho. Universidade do
Minho. ISBN 978-972-8600-21-1
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5.Teletrabalho: Que Vantagens e Desvantagens?
Em artigos anteriores, abordamos o tema do teletrabalho na perspetiva da grande
inovação que representa para o mercado de trabalho atual. Contudo, como em tudo o
resto, há duas faces para uma mesma moeda e é imperativo compreender que vantagens e
desvantagens poderá representar esta nova forma de organização do trabalho, quer para
teletrabalhadores quer para empregadores.
Comecemos pelas vantagens. Na perspetiva do teletrabalhador, existe uma maior
autonomia e gestão do tempo, a possibilidade de controlar o seu ritmo de trabalho e uma
provável diminuição de estresse, já que não está “exposto” aos constrangimentos de um
local de trabalho, chefias, etc. Uma boa gestão do seu tempo poderá inclusive trazer ao
teletrabalhador mais tempo livre para investir noutros campos da sua vida, daí que se
acredite que o teletrabalho poderá ser um grande contributo para uma melhor conciliação
familiar e profissional.
Por outro lado, dependendo da gestão pessoal de cada teletrabalhador, pode também
ocorrer o inverso: Uma vez que o trabalho e a família partilham o mesmo espaço, poderá
ocorrer alguma redução da qualidade de vida familiar. O trabalhador deve saber gerir esta
situação e a família deve também concordar com esta modalidade já que pode influir
diretamente na vida familiar.
Do ponto de vista económico, o teletrabalho poderá representar também poupanças:
redução de despesas em transportes, redução do desgaste do veículo próprio
(indiretamente, pode contribuir até para a menor poluição ambiental!), e diminuição de
gastos em despesas de alimentação.
Dado que o teletrabalhador domina as tecnologias, poderá até conhecer pessoas de
outros países e desenvolver os seus contactos profissionais, que num formato tradicional de
trabalho dificilmente viria a contactar (já sabemos do cliché “vivo a vida de casa para o
trabalho e do trabalho para casa”).
No que concerne a desvantagens para o teletrabalhador, talvez a primeira
desvantagem, que imediatamente nos “salta aos olhos” seja o isolamento social. O
trabalhador sofrerá de alguma falta de interação social e poderá enfrentar até alguma
solidão o que, a longo prazo, poderá causar eventuais impactos psicológicos (como, por
exemplo, a depressão ou a incapacidade de se relacionar socialmente) Esta perda de
competências sociais poderá até afetar negativamente a própria carreira da pessoa, pois
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quando tiver de regressar a um formato de trabalho tradicional, poderá ter grandes
dificuldades de adaptação.
Estreitamente relacionado com o isolamento social, surge o isolamento profissional:
pode gerar-se uma insegurança profissional e uma diminuição do autoconceito de trabalho
de si próprio, ou seja, sem feedback, o trabalhador poderá deixar de acreditar em si
próprio. Ainda consequência do isolamento profissional, surge a ausência de contactos
profissionais futuros, isto é, a pessoa não conhece pessoas novas no seu setor, o que
poderá levar até a perder oportunidades de trabalho.
Por outro lado, pode ocorrer uma diminuição da probabilidade de progressão na
carreira ou redução das oportunidades profissionais. Como diz o povo “longe da vista, longe
do coração”, e o teletrabalhador, afastado fisicamente do local onde a empresa labora,
pode ser “esquecido” e consequentemente penalizado em eventuais promoções, na
frequência de ações de formação, na atribuição de prémios, etc.
Outras desvantagens emergem do facto de ser um modelo de trabalho recente. Por um
lado, como abordamos noutro artigo, nem sempre existe contrato de trabalho, pois muitas
empresas vêm esta modalidade como muito próxima do trabalho freelancer, o que poderá
levar a condições precárias laborais. Caso exista um contrato de trabalho individual, como
ainda há algumas lacunas legislativas, o trabalhador poderá ter mais dificuldades em
efetuar reivindicações laborais, podendo mesmo não usufruir de todas regalias económico-
sociais.
Por último, uma desvantagem que na minha opinião e experiência acontece bastante é
o facto do teletrabalhador correr o risco de prolongar o tempo de trabalho diário, uma vez
que poderá não fazer uma separação clara do tempo de trabalho e tempo de lazer. Isto
poderá causar um aumento do estresse ocupacional e afetar bastante a vida familiar.
Passamos agora a tentar vislumbrar algumas desvantagens e vantagens do ponto de
vista das organizações.
Neste formato de trabalho, poderá existir uma dificuldade em supervisionar o trabalho,
por isso é necessário um planeamento mais atento ao implementar esta metodologia.
Como noutras situações, podem acontecer o famoso fenómeno da “resistência à
mudança”, tanto nos trabalhadores tradicionais como em teletrabalhadores, daí que seja
imprescindível que o teletrabalhador concorde com esta metodologia. Os trabalhadores
que permanecem no local de trabalho (se for o caso) podem sentir diferenças de
tratamento, logo é imprescindível promover a igualdade.
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As organizações podem ter dificuldade em realizar um processo de seleção ideal, pois
nem todos os trabalhadores tem esse perfil. Além doutras características, a disciplina e a
gestão pessoal são aspetos que contribuem largamente para que o teletrabalhador consiga
manter ou até mesmo melhorar a sua produtividade.
Ao nível da cultura organizacional existirá mudança e é necessário que a empresa
atualize e reforce até os seus valores e a sua missão, se não o fizer, poderá haver
diminuição da coesão no seio da empresa.
Grande parte das vezes, é à organização que são imputados os investimentos
associados ao teletrabalho (infraestruturas necessárias num escritório em casa, ligação à
internet, apoio técnico, configuração da plataforma informática da empresa, etc). Existem
também riscos de quebra de confidencialidade acrescidos: com o trabalhador fora das
instalações, o risco de uma fuga de informação, deliberada ou não, aumenta bastante.
Em termos jurídicos existem condições específicas para o teletrabalho, o que implica
que as organizações se atualizem neste assunto. Em Portugal o Código do Trabalho
considera teletrabalho “a prestação laboral realizada com subordinação jurídica,
habitualmente fora da empresa do empregador, e através do recurso a tecnologias de
informação e de comunicação”. O contrato de trabalho deve conter tudo o que um contrato
em trabalho tradicional já possui, com algumas adaptações: (a) identificação dos
contraentes; (b) funções a desempenhar, com menção expressa do regime de teletrabalho;
(c) duração do trabalho em regime de teletrabalho; (d) atividade antes exercida pelo
teletrabalhador ou, não estando este vinculado ao empregador, aquela que exercerá
aquando da cessação do trabalho em regime de teletrabalho, se for esse o caso; (d)
propriedade dos instrumentos de trabalho a utilizar pelo teletrabalhador, bem como a
entidade responsável pela respetiva instalação e manutenção e pelo pagamento das
despesas inerentes; (e) identificação do estabelecimento ou departamento da empresa ao
qual deve reportar o teletrabalhador bem como identificação do superior/interlocutor da
empresa com o qual o teletrabalhador pode contactar; (f) e ainda outros assuntos, que
poderão ser adendados como, por exemplo, volume de trabalho, localização do posto de
teletrabalho; dever de apresentação na empresa; utilização de sistemas de controlo à
distância; condições de acesso de representantes da empresa ao domicílio do
teletrabalhador; condições de seguro; condições de alteração do contrato; etc.
Uma vantagem para as empresas poderá ser o facto de utilizar o teletrabalho para dar
resposta a condições específicas, por exemplo, um trabalhador portador de deficiência
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poderá continuar a trabalhar em casa ou um trabalhador em licença de
maternidade/paternidade poderá rapidamente voltar ao trabalho “em casa” se tal lhe for
proporcionado.
Por outro lado, a empresa poderá poupar espaço físico, podendo até reduzir as
instalações ou rentabilizá-las de outra forma.
Por último, muitas são as empresas que encontraram neste formato, a possibilidade de
contratar trabalhadores em qualquer parte do mundo e com isso, reduzir custos associados
a remunerações.
Só com o passar do tempo, poderemos analisar mais vantagens e desvantagens do
teletrabalho, pois muitas outras irão, com certeza, surgir. Neste momento, na minha
opinião, este formato parece estar a proporcionar mais oportunidades de trabalho, maior
globalização e internacionalização das empresas e a possibilidade de flexibilização do
trabalho.
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6. Empresas ecologicamente criativas
A preocupação com o planeta já não é competência exclusiva das organizações
humanitárias ou das empresas excessivamente poluidoras.
Somos seres humanos a viver num local que muito breve não terá qualidade de vida.
Muitos países são já líderes em reciclagem: O Japão reutiliza 50% do seu lixo sólido! Os
Estados Unidos reciclam mais de um terço de seu lixo. A Suécia, a Dinamarca, a Noruega e a
Alemanha têm já práticas de reciclagem de diversos tipos. Em Portugal, recicla-se apenas
cerca 15% do lixo produzido, apesar da união Europeia ter estipulado a meta de 25%!
Como pessoa, despertei bastante cedo para este problema. Logo nos primeiros anos de
faculdade, estava rodeada de pessoas bastante sensíveis a questões ecológicas. Tive
também a sorte de trabalhar numa empresa que servia diretamente estes propósitos
através das estações de tratamento de águas (vulgarmente chamadas de Eta’s e Etar’s), e
apesar de esta empresa já estar sensibilizada para estas temáticas, foi-me dada autonomia,
por exemplo, para iniciar um programa interno de reciclagem de consumíveis.
Fui construindo o meu percurso profissional deixando em todas as empresas uma
pequena “pegada ecológica”.
Talvez o princípio primordial seja o facto de todos podermos e devermos deixar essa
pegada em todos os locais em que trabalhamos. Qualquer pessoa com preocupações
ambientais deve ter ser presente 3 R's: Reduzir, Reutilizar e Reciclar!
Nunca podemos pensar que uma só pessoa não fará a diferença, porque muitas vezes é
mesmo uma pessoa que acaba por ser o trampolim para fazer a diferença!
Claro que ser trampolim, pode não ser agradável. Provavelmente irá ouvir muitas
afirmações como eu ouvi “Isso não vale a pena! Afinal os outros poluem, por isso não
podemos fazer nada!”, “Para que te dás ao trabalho disso? É perda de tempo”, “O ecoponto
é muito longe, dá muito trabalho…se eles querem reciclagem que coloque um ecoponto aqui
ao lado!”, “és exagerada…não é o nosso papel que vai fazer a diferença no mundo inteiro!”,
“O planeta ainda vai durar muitos anos…não é no meu tempo que a poluição vai matar
ninguém”, etc, etc.
Agora imagine ouvir isto todos os dias durante anos da sua vida! Mas o momento de
sensibilização acaba por chegar, acredite! E as nossas pegadas ecológicas ficarão lá. Se acha
que não tem essa obrigação para com o seu planeta, veja algumas curiosidades
assustadoras:
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PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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� - Cada pessoa produz cerca de 180 quilos de lixo por ano!
� O papel e o papelão demoram de 3 a 6 meses a serem absorvidos. Uma pastilha
elástica pode levar 5 anos!
� As latas de refrigerantes demoram entre de 80 a 100 anos a ser absorvidas pelo
ambiente. O plástico pode levar até 500 anos. Mas alguns tipos, simplesmente, não se
decompõem.
� O vidro fica um milhão de anos na natureza sem de decompor!
Mas se reciclarmos…
� Podemos salvar cerca de 20 árvores se reciclarmos uma tonelada de papel!
� Podemos poupar 400 quilos de areia que se teria de retirar do solo para fabricar
uma tonelada de vidro, simplesmente colocando o vidro no ecoponto!
O importante para as empresas é começar por algum lado e pensar que há sempre algo
mais a fazer, há sempre evolução. Ser uma empresa ecológica faz parte da responsabilidade
social das empresas portuguesas.
Assim, vamos apresentar aqui uma Check List de práticas simples que todas as
organizações podem levar a cabo no sentido de se tornarem ecologicamente sensíveis:
1. Aproveite as horas de formação profissional anuais para os seus
colaboradores, para levar a cabo ações de sensibilização ambiental. Eles vão utilizá-los
na empresa e provavelmente irão levar esse conhecimento para suas casas. Em vez de
ações de formação clássicas, entre quatro paredes, pode optar por diversas quintas
ecológicas ou de turismo rural. Em algumas há inclusivamente programas de contacto
com a natureza orientados para empresas.
2. Substitua lâmpadas normais por lâmpadas de poupança de energia (poupa o
ambiente e a na fatura de eletricidade). Curiosidade: substituir uma lâmpada normal por
uma lâmpada florescente poupa 68 Kg de carbono por ano;
3. Faça back-up de informação em CD ou procure empresas especializadas em
back ups profissionais. Não imprima todos os documentos e guarde no arquivo!
4. Crie um programa de limpeza de arquivo antigo. Anualmente, contrate
colaboradores temporários ou contrate dentro da empresa colaboradores (com
possibilidade de ganhar horas-extra) que se dediquem à eliminação e reciclagem de
arquivos desatualizados. Documentos formais devem ser guardados 5 anos, mas tudo o
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resto pode ser reciclado. Não se esqueça de aproveitar o lado branco (de trás) de todas
as folhas para papel de rascunho ou notas.
5. Se tem muitos documentos confidenciais, invista numa máquina destruidora
de papel. Garante a confidencialidade e pode colocar o papel na reciclagem.
6. Existem empresas especializadas em gestão de resíduos eletrónicos. Reúna
computadores e eletrodomésticos velhos ou avariados e entregue-os nessas empresas.
(A título de exemplo, a empresa que eu uso tem sede na Póvoa de Varzim e chama-se
“LBNCar: Gestão global de resíduos”: http://www.lnbcar.com)
7. Muitas empresas já adotaram esta frase como a última linha de todos os seus
emails enviados “Antes de imprimir este e-mail pense bem se é necessário fazê-lo”.
Pode parecer uma pequena coisa a fazer, porém irá causar alguma reflexão em quem
recebe e nem que se poupe apenas uma folha de papel, já contribuímos.
8. Procure opções de energias renováveis para a sua empresa. Aerogeradores,
painéis solares ou fotovoltaicos, aproveitamento de águas da chuva e muitas outras
soluções, estão agora disponíveis, e muitos destes recursos têm até incentivos à compra
e benefícios fiscais.
9. Se a sua empresa tem jardins, incentive à poupança de água, regando
apenas quando já não há sol. Opte por candeeiros com células fotovoltaicas e
programador horário: poupa na fatura de luz, não necessita recursos humanos para
acender e desligar a luz, poupa em compra de lâmpadas, etc.
10. À medida que vai substituindo materiais e equipamento, opte por soluções
amigas do ambiente: papel reciclado, torneiras com sensor de ativação (não usar água
quente!), autoclismos com meia-carga, luzes no WC com sensor, fotocopiadores e outras
máquinas com stand-by, etc.
11. É um conselho óbvio, mas nunca é demais realçar: incentive à reciclagem.
Não chega incentivar verbalmente ou em documentos escritos, é necessário criar de
imediato condições concretas: colocar mini-ecopontos por toda a empresa (para recolha
seletiva). Neste caso é muito importante sensibilizar o pessoal da área de logística e
limpeza. Se recorre a outsourcing para alguns destes serviços, selecione uma empresa
com consciência ambiental! A corrente pode quebrar-se em vários momentos, e todos
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podem fazer reciclagem dentro da empresa, mas quem coloca os itens no lixo tem a
decisão final!
12. Escolha parceiros de negócios com preocupações ambientais. Poderão
até desenvolver projetos em conjunto. Uma ideia interessante é a realização de uma
festa anual para todos os colaboradores e seus filhos menores de 12 anos, com
animação e sensibilização ambiental. Este tipo de festa tem objetivos ambientais porém
que se misturam com outras políticas de recursos humanos (convivência entre
colaboradores, fidelização, aproximação das famílias, reforço/prémio anual pelo
trabalho desenvolvido na empresa, etc.)
13. Ao ter bar e/ou cantina na sua empresa, está a evitar que os
colaboradores tenham de se deslocar fora da empresa, poupando gasolina (diminui a
poluição) e tempo útil dos colaboradores. Não se esqueça de sensibilizar o pessoal da
cantina para a reciclagem.
14. Incentive o car-sharing. O car-sharing está a ganhar força um pouco por
todo o mundo empresarial. Pode implementar um programa de Car-sharing com poucos
recursos humanos e sem custos para a empresa. Alguém começa por fazer um mapa de
todos os colaboradores e suas moradas, dinamiza umas reuniões, divulga uma lista para
que as pessoas se inscrevam e já está! Para sensibilizar os colaboradores, nada melhor
que apresentar números concretos, por exemplo quanto gasta em gasolina por mês!
Redige-se um documento final em que todos assinam e concordam com o acordo (não
esquecer da rotatividade dos carros, da divisão igualitária do valor gasto em gasolina,
etc.). Em breve em vez de 10 carros para 10 pessoas, poderá conseguir que venham
todas em 5 carros apenas: menor poluição, menos custo de gasolina e desgaste de
carros para colaboradores, e boas práticas para a responsabilidade social da empresa! 6
6 Para saber mais sobre os impactos ambientais, aconselho vivamente que vejam o filme documental “An Inconvenient Truth” de
2006, com Al Gore (antigo vice-presidente norte-americano) realizado por Davis Guggenheim: (http://www.imdb.com/title/tt0497116/)
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7. “Entre marido e mulher, podem patrões meter a
colher???”
Há alguns meses atrás recebi um pedido de participação numa investigação de
doutoramento que questionava sobre este tema: Casais a trabalhar na mesma empresa.
Abri o endereço eletrónico do questionário e descobri que eu correspondia aos critérios
do estudo em questão. Um casal a trabalhar no mesmo local de trabalho, há mais de 6
meses consecutivos.
De facto, durante mais de três anos vivi essa situação na primeira pessoa. No meu caso
foi voluntária e conscientemente que optei por essa solução.
No seu caso, poderá ser uma situação involuntária. O meu conselho principal é: se puder
escolher, não queira trabalhar na mesma empresa do seu esposo/esposa!
Manter uma relação conjugal nos dias de hoje não é fácil, porém, manter um emprego
também não: juntar as duas opções pode transformar-se num pesadelo!
Um casamento de sucesso tem como base uma relação amorosa, baseada na confiança e
partilha. Uma relação de emprego, entre uma organização e um colaborador, tem, na sua
base os mesmos princípios. Juntar os colaboradores na mesma organização cria uma espécie
de triângulo amoroso complexo.
Se um dos elementos do casal perder o emprego, e o outro continuar a trabalhar no
antigo local, isso trará problemas conjugais.
Se a organização falir, ambos perdem o emprego!
Se casamento for afetado e terminar, voltará a trabalhar ao lado do seu/sua
esposo/esposa, 40 horas por semana?!
Foi numa perspetiva pessoal e subjetiva, por um lado, mas também de psicóloga
organizacional, por outro, que procurei escrever aqui as cinco vantagens e cinco
desvantagens de um casal trabalhar no mesmo local de trabalho.
Vantagens
1- Em nenhuma outra situação irá sentir tanta partilha entre o casal. O casal
conhece a organização, as pessoas e os problemas. Chegar a casa e conversar sobre tudo
isso traz uma catarse inigualável e um sentimento de compreensão profunda.
2- Passar tempo em conjunto não é um problema. O casal sabe sempre onde se
encontrar. O casal pode até aproveitar alguns momentos no trabalho para algumas
“brincadeiras” inocentes a dois!
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3- A partilha de projetos e reconhecimento mútuo é enorme. A possibilidade de
construir algo positivo no trabalho, além da relação, traz uma sensação de união.
4- Quando a organização enfrenta dificuldades, o casal luta em conjunto. Enfrentar
adversidades é, por excelência, uma das melhores situações para manter o casal unido.
5- Em caso de despedimento, espera-se que a organização tenha em conta a
situação de casal e, por exemplo, opte por despedir apenas um dos elementos.
Desvantagens
1- A organização sabe que o casal é um casal e tem dificuldade em separar “as
águas”. Vivi em primeira mão esta situação, sentido, por vezes, uma certa perda de
individualidade. Ser tratado como “a esposa de” ou “o esposo de” pode não ser benéfico
para a sua carreira. Muitas organizações, podem hesitar, por exemplo, em dar um
aumento ou fazer outra qualquer reformulação, com receio de afetar o casal. O casal é
muitas vezes tratado como casal, e não como dois colaboradores, duas pessoas únicas.
2- Quando se trabalha no mesmo local de trabalho, o tema de conversa
predominante entre o casal, obviamente, é…trabalho! Nos primeiros tempos, tudo isso
tem um cariz positivo e o casal entreajuda-se para atingir os objetivos, quer da
organização quer do casal. Porém, falar sobre os mesmos temas esgota a relação (vivi
isso na primeira pessoa, até à separação).
3- Passar 40 horas por semana ou mais ao lado do seu esposo/esposa, ao fim de
alguns anos, torna-se desgastante. O risco de separação eleva-se. O nosso tempo deve
ser dividido pelas várias áreas da nossa vida e, trabalhar ao lado do/a esposo/a acaba
por limitar a nossa vida.
4- É difícil manter o mistério e o romance necessário a uma relação amorosa de
sucesso. Todos os colegas de trabalho sabem da vida do casal. O casal sabe tudo sobre a
vida profissional um do outro. Dar conselhos de mariado para mulher ou vice-versa deixa
de ter o mesmo impacto do que os conselhos dados quando o casal trabalha em sítios
diferentes, fornecendo assim uma perspetiva externa e “fresca”.
5- O risco de desemprego total do agregado familiar é muito maior. Tem
acontecido bastante em Portugal, por exemplo, em caso de despedimentos coletivos.
Toda a vida do casal cairá por terra, e mais uma vez, terão de enfrentar juntos a
adversidade.
Casais a trabalhar na mesma empresa não me parece, quer no ponto de vista pessoal
quer da psicologia organizacional, um bom princípio. Aliás, existem já empresas,
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principalmente nos Estados Unidos da América que têm políticas rígidas quanto à
contratação de casais ou, pior, quanto ao desenvolvimento de relações amorosas nos locais
de trabalho. A experiência dos EUA relaciona-se, essencialmente, com a possibilidade de
processos judiciais no âmbito do assédio sexual e até assédio moral. Existem empresas que
obrigam já os colaboradores a assinar uma declaração em como não têm qualquer tipo de
relacionamento amoroso ou conjugal com outro elemento daquela empresa. Outras, mais
tolerantes, exigem a inclusão de uma cláusula no contrato de trabalho, em como a pessoa se
compromete a informar a empresa, caso assuma uma relação amorosa ou conjugal com um
colega de trabalho.
Por fim, se você é gestor na sua empresa, procure evitar a contratação de casais. Este é
um assunto muito mais complexo do que todos poderão pensar e, no sentido da eficiência e
eficácia, quer da organização, quer do casamento em causa, aconselho seriamente a evitar!
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9.Estabilidade ou estagnação? Empreendedorismo de geração em geração…
Recentemente, percebi que a minha avó, agora com 75 anos, afinal era uma
empreendedora.
Durante muitos e muitos anos, a geração anterior a mim chamava ao
empreendedorismo “estabelecer-se”, esse calão, de certa forma carinhoso, exclusivo de
uma época histórica particular.
Há uma semana atrás, quando uma pessoa contou-se que alguém “se ia estabelecer”, e
eu não percebi. Demorei alguns minutos a processar aquela gíria antiga, para pouco depois
encontrar a expressão certa geracional num cantinho da minha mente: estabelecer-se era
ser empreendedor.
Claro que o empreendedorismo de hoje é muito mais complexo e vai além do simples
“estabelecer-se por conta própria”. Abrir um negócio ou como diz o povo, “montar um
estaminé” é apenas uma pequena componente de ser empreendedor.
Há mais de trinta anos, a minha avó trabalhava num emprego que detestava, numa linha
de produção de uma fábrica. O meu avô, através de contactos, começou a criar a ideia de
abrir uma loja de “pronto-a-vestir”.
Durante a minha infância e minha adolescência sempre ouvi a minha avó dizer, com um
orgulho inchado mas honesto, que tinha um “pronto-a-vestir” e, essa sim, foi uma expressão
que me ficou gravada. Já nem sei o que é que se chama, atualmente, a uma loja que vende
roupa, mas sabia que o “pronto-a-vestir” advinha do “prêt-a-porter”.
Numa altura histórica em que alfaiates e costureiras, desenhavam e criavam de raiz
modelos originais, que exigiam criatividade, dedicação e tempo para chegar ao resultado
final, “à medida”, o “pronto-a-vestir” revolucionou uma época.
Forrar botões, forrar sapatos e carteiras, colocar tudo a fazer “pandan” era uma arte que
se unia a colocar os “pinchos” certos nos lugares certos, para que tudo caísse perfeitamente
no corpo daquela pessoa, única e irrepetível.
“Estabelecer-se” não foi fácil. Ouvi muito anos as queixas, as dificuldades, as vendas que
estavam a correr mal, ou o natal que vinha aí para que, finalmente, “se pudesse vender
bem”!
Numa altura em que a palavra empreendedorismo aparece quase todos os dias no
meu ecrã ou nos meus ouvidos, dei por mim a pensar que EU não devia ter “veia do
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empreendedorismo” na minha família…e foi então que me lembrei que a minha avó se
havia “estabelecido”…
O debate se o empreendedorismo é inato ou desenvolvido continuará eternamente.
Aliás, o debate em geral “influência do meio” versus “hereditariedade” é antigo e
irresolúvel para já.
Hoje em dia vivemos um mundo de extremos. Com apenas um historial de cerca de 200
anos, o contrato de emprego eliminou uma grande probabilidade de criarmos verdadeiros
empreendedores em Portugal.
Há dias, estava eu a visionar um destes debates horripilantes sobre o estado da
legislação laboral (que, confesso, grande parte das vezes, evito) e, em certo momento, no
meio da acesa discussão sobre indemnizações e despedimentos, o comentador (consultor
altamente especializado e cheio de títulos) diz, meio engasgado, envergonhado e com um
pequeno travo de orgulho “sim..não…eu não posso falar de mim porque …bem…eu sou
trabalhador independente”. “Ah”, disse a jornalista num certo desabafo, a preparar-se
para o “ataque” seguinte, contudo, com um tom de voz e um expressão fácil de admiração
e de um certo respeito.
Na minha tese de mestrado estudei isso: os trabalhadores que eu chamei de
“trabalhadores independentes involuntários” (grande parte deles na situação de “falsos
recibos verdes”, que todos com certeza conhecemos), realmente não eram
empreendedores, nem o queriam ser, e, por isso, obviamente, não se sentiam felizes.
E os trabalhadores independentes que realmente o querem ser? Existem? Estarão
satisfeitos? Não estarão mais satisfeitos do que os contratados sem termo?
Durante tantas gerações, não houve alternativa se não “estabelecer-se”. Não havia um
mágico poderoso patrão, de quem as pessoas ficavam à espera para ser contratadas. Herdar
o negócio de família era um grande orgulho e os irmãos, muitas vezes, lutavam por esse
autêntico trono.
Ninguém aguardava benefícios, não existiam subsídios e ninguém pensava “oh, não vale
a pena trabalhar porque vou para o Subsídio!”.
Numa reportagem recente, uns agricultores ingleses, julgo eu, foram afetados por uma
tempestade que lhes arruinou as colheitas. O jornalista pergunta, naquele inglês britânico
puro que eu admiro, se eles iam então recorrer a subsídios da união europeia. O agricultor,
que a falar inglês britânico, nem parece corresponder ao meu estereótipo de agricultor, de
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pessoa simples e com vocabulário limitado, levantou uma sobrancelha e respondeu
prontamente “no, of course not”.
Muitos estudos recentes demonstram grande estress ocupacional. As pessoas estão
estressadas com os seus empregos apesar de terem a estabilidade que tanto sonhavam! Não
é estranho?
Então será estabilidade ou estagnação?
As pessoas possuem um forte desejo de mudança, porém, quando aparecem
oportunidades, não sabem reagir. A mudança, atualmente, traduz-se simplesmente em um
salário maior ou mas benefícios.
Não estou, com esta afirmação a defender qualquer político ou política, entenda-se.
Estou a tentar formar uma ideia clara, cronologicamente fundamentada, da
personalidade de muitos trabalhadores atuais que, na minha teoria, passaram a procurar a
estabilidade à sua volta em vez de dentro de si próprios.
Se procurar a estabilidade dentro de si, dentro da sua personalidade, não terá de sentir a
necessidade extrema de estabilidade no resto da vida laboral. Se o seu autoconceito laboral
for elevado, nunca terá dúvidas que será capaz.
Para terminar a história, a minha avó foi empreendedora 3 décadas e continua a sê-lo
todos os dias. Porém, quando eu lhe digo que não tenho emprego e que me “estabeleci”, até
ela fica, hoje em dia, um pouco preocupada e até espantada. E eu respondo-lhe “Então…não
foi o que tu fizeste?”. Ela também levanta a sobrancelha e roda a cabeça para o lado e diz
“Sim, é verdade…é…”
O limite entre estabilidade e estagnação é ténue. Será que você é capaz de se
posicionar?
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""""Quem sabe concentrarQuem sabe concentrarQuem sabe concentrarQuem sabe concentrar----se numa coisa e insistir nela como único se numa coisa e insistir nela como único se numa coisa e insistir nela como único se numa coisa e insistir nela como único objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa." objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa." objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa." objetivo, obtém, ao cabo, a capacidade de fazer qualquer coisa."
"Sê a mudança que "Sê a mudança que "Sê a mudança que "Sê a mudança que queres ver no mundo". queres ver no mundo". queres ver no mundo". queres ver no mundo".
Mahatma Mahatma Mahatma Mahatma Gandhi Gandhi Gandhi Gandhi
ÍndiaÍndiaÍndiaÍndia 1869/19481869/19481869/19481869/1948
Pensador/Político /YogiPensador/Político /YogiPensador/Político /YogiPensador/Político /Yogi
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CAPÍTULO III. VOCÊ!
MELHORE A SUA VIDA
PESSOAL E PROFISSIONAL
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1. Afinal…trabalhar para quê?
Com certeza já reparou que dois minutos após o contacto outra pessoa, é inevitável que
surjam as perguntas: “Como te chamas...” e “O que fazes...”.
Há décadas que a profissão tem conquistado espaço nos componentes da nossa
identidade e é difícil, senão impossível, estabelecer uma conversação sem referir o que
fazemos profissionalmente.
Apesar de muitos países defenderem já a diminuição da carga horária semanal de trabalho,
Portugal situa-se ainda, em muitos casos, nas 40 horas, assim, trabalhamos cerca de 40 anos,
durante 11 meses por ano…é só fazer as contas!
Em quarenta anos de vida temos 350.000 horas para viver.
116.000 horas são reservadas ao sono (se dormir 8h/dia), só temos 30. 000 horas de férias
(30 dias de férias por ano) e trabalhamos aproximadamente 70. 000 horas nesses quarenta
anos! Isto o que significa que passamos mais tempo a trabalhar do que a descansar, a conviver
com família e amigos ou a dedicarmo-nos a nós próprios!
Mas como é que isto foi acontecer? Afinal, para quê trabalhar? Já pensou nisso? Talvez a
sua primeira resposta impulsiva seja “para ganhar dinheiro”! Mas vamos conhecer um pouco
da história do trabalho, para uma compreensão mais aprofundada do motivo pelo qual
trabalhamos.
Analisemos a palavra “trabalho”: esta deriva da palavra latina tripaliu (à letra “três
paus”) que designava um aparelho para sujeitar os cavalos que não se deixavam ferrar
(Priberam). O verbo tripaliare veio a significar também torturar em português.
Parece que o significado de algo penoso e difícil tem andado sempre associado ao
trabalho, porém os gregos possuíam outra palavra para designar “trabalho”: ergon, que
designa uma criação ou obra de arte. Assim, podemos compreender que o termo trabalho
tem, dois significados (Woleck, 2002): esforço, sofrimento (do grego “ponos”) e criação, obra
de arte (do grego “ergon”). Aliás, mais tarde Karl Marx considerou o trabalho como a única
fonte criadora da vida humana.
Na antiguidade, o trabalho era considerado a atividade dos que perderam a liberdade,
ou seja dos escravos, e considerava-se o ócio como uma virtude. Lembre-se que se não
tivesse sido cultivado o ócio (como ausência de trabalho), não teríamos hoje grandes
perspetivas da filosofia e grandes obras de literatura (que na altura, não era consideradas
“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
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trabalho). Foi apenas com a ascensão da burguesia no século XIX que o ócio começou a ser
condenado.
No final da idade média o trabalho passou a incorporar algum sentido positivo e a ser
encarado como uma ação criadora, um espaço de aplicação das capacidades humanas,
acompanhado pela noção de empenho, de esforço para atingir determinado objetivo
(Woleck, 2002).
Por vezes esquecemos que muitas atividades que são trabalho (trabalho doméstico,
jardinagem, estudar, etc.) não são consideradas emprego. Quando uma pessoa não tem
emprego, muitas atividades de trabalho continuam, por exemplo, familiares, parentais,
comunitárias, etc., e todas estas implicam determinados deveres e obrigações.
“Emprego”, por seu turno, é a troca contratual, institucionalmente regulamentada, entre
duas partes, em que uma vende, e a outra compra trabalho, normalmente por dinheiro, mas
também poderá ser por bens ou serviços.
O trabalho pode ser considerado como toda a atividade realizada, enquanto a relação
jurídica de emprego, tem de ser contratualizada através de um “contrato de trabalho”
(escrito ou oral).
A palavra emprego surge na língua inglesa em 1400 e, até ao início do século XVIII,
respeitava a uma determinada tarefa e nunca se referia a um papel ou a uma posição numa
organização. Só a partir do século XIX, passou a ser entendida como o trabalho realizado nas
fábricas ou nas burocracias das nações em fase de industrialização (Woleck, 2002).
Aproveitemos para definir desemprego. Desemprego é definido como a falta de
emprego (Priberam, s/d), enquanto que desempregado é definido como sem-emprego;
desocupado (ibidem).
O prefixo “des” faz-nos crer que se trata de uma pessoa que já teve emprego e que
deixou de o ter, mas na realidade, na língua portuguesa, designa indefinidamente quem
nunca o teve, pois não existe palavra para caracterizar “a pessoa que nunca teve relação de
emprego”.
A segunda definição de desempregado é “desocupado”, o que não está correto, pois ser
desempregado não é estar desocupado ou não ter trabalho, já que muitas atividades de
trabalho continuam.
Introduzi recentemente (Araújo, 2009) um outro fenómeno: o Inemprego ou não-
emprego. Defino-o como a situação em que se encontra a pessoa que nunca teve uma
relação jurídica de emprego (contrato de trabalho sem termo), seja porque sempre
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PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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trabalhou em situações precárias (estágios, contratos a prazo, prestação de serviços [recibos
verdes], bolsas de investigação, part-time, etc.), ou porque nunca trabalhou, ou já trabalhou
precariamente mas está sem ocupação laboral no momento. Estima-se que existam milhares
de inempregados em Portugal, que sem nunca parar de trabalhar, nunca tenham tido um
emprego!
Fizemos este breve percurso pela historio do trabalho e do emprego, para chegar à
carreira.
Etimologicamente, a carreira significava uma vereda, um caminho estreito e difícil de
percorrer (ainda persiste hoje o significado de um “carreiro”, ou até no espanhol, uma
“carretera”).
Até há pouco tempo, esse significado estava meio adormecido, já que há algumas
décadas encontrávamo-nos numa situação de quase “pleno-emprego”. Porém com a crise
económica mundial esse significado parece ter regressado para ficar.
Uma definição abrangente de carreira seria um conjunto de tarefas, papéis e
desempenhos prováveis, que requerem certas aptidões, conhecimentos, capacidades,
interesses e que produzem um conjunto de recompensas (Castro & Pego; 2000 cit in Araújo,
2009).
Simplificando, a carreira é a soma de todas as nossas experiências de trabalho.
Os autores Clarke e Critcher (cit in Araujo, 2009) esclarecem a importância do trabalho e
defendem cinco necessidades são satisfeitas pelo emprego: (a) a estruturação do tempo,
impondo um determinado grau de organização nos horários das pessoas; (b) a partilha de
experiências, fora do contexto familiar, ou seja, a possibilidade de construir amizades e
conhecimentos com outras pessoas que não fazem parte da família; (c) a união de indivíduos
em torno de objetivos que ultrapassam os seus próprios, ou seja, a colaboração com outros
para atingir fins que não atingiriam sozinhos; (d) a obtenção de status e identidade e, por
último, (e) o reforço da sua atividade, isto é, sentir que o que faz “vale a pena” e contribuir
para algo maior.
Com esta perspetiva é possível perceber que não se trabalha apenas para ganhar
dinheiro, apesar de essa ser a razão que, aparentemente, nos motiva mais.
Estes esclarecimentos poderão fazê-lo perceber que o trabalho tem muitas mais funções
do que simplesmente reunir capital financeiro.
É ainda mais fácil chegar a essa conclusão se pensar em alguns dos efeitos negativos de
não ter emprego (Araújo, 2009): ansiedade, sintomas psiquiátricos, diminuição da satisfação
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com a vida e da autoestima, agressividade, problemas conjugais, desânimo, desespero,
apatia, perda de identidade, stress, sentimentos de falhanço, etc.
Em conclusão, apesar de nem sempre termos plena consciência disso, o trabalho
enriquece a nossa vida de diversas formas. Assim, em vez de ver o trabalho como sofrimento
(ponos), encare-o como a sua criação (ergon), a sua oportunidade de criar algo na
humanidade!
Referências Bibliográficas
Araújo, P. (2009). Os “Inempregáveis”: Estudos de caso sobre os impactos psicossociais do não
emprego em licenciados portugueses. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Psicologia e de Ciências da
Educação da Universidade do Porto. Disponível em: http://repositorio-aberto.up.pt/handle/10216/9523
Priberam. Dicionário da Língua Portuguesa Online. Acedido em 2008 e Disponível em
http://www.priberam.pt/
Woleck, A. (2002). O Trabalho, a ocupação e o emprego. Uma perspetiva Histórica. Revista de Divulgação
Tecnico-Científica do Instituto Catarinense de Pós-Graduação. Acedido em fevereiro de 2009 e Disponível em:
http://www.ea.ufrgs.br/graduacao/disciplinas/adm01156/CONCEITOSDETRABALHOEMPREGO.pdf
“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
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2. VIDA LEAN: Aplique o melhor modelo de Gestão à
sua VIDA
Quer aplicar um dos modelos de gestão de empresas mais bem-sucedidas de sempre à
sua Gestão Pessoal? Quer viver uma vida LEAN? Esta pode ser a solução para si.
O Lean Thinking é um modelo de Gestão que tem origem nas filosofias Japoneses,
nomeadamente com o fundador da Toyota, Toyoda Sakichi. Os investigadores Womack &
Jones, depois de uma década de investigação sobre o êxito das empresas japoneses
publicam o livro “Lean Thinking: Banish Waste and Create Wealth in Your Corporation” em
1996.
À medida que fui aprofundando os meus conhecimentos sobre esta filosofia de gestão e
desenvolvendo investigação sobre este assunto (Araújo, 2011), comecei a perceber
rapidamente que já seguia muitos desses princípios na minha vida, quer como praticante,
quer como instrutora de Yoga. O Yoga, também uma filosofia integral de vida, com mais de 5
mil anos, fundou muitos dos princípios que o Lean veio mais tarde apregoar.
Mas o que lhe interessa essencialmente saber é: QUAIS são esses princípios básicos
deste modelo de gestão de sucesso em todo o mundo e COMO posso aplica-los à minha
vida?
Vou expor-lhe rapidamente, com exemplos, 3 princípios essenciais do Lean Thinking:
PRINCIPIO UM: ELIMINAR o MUDA da sua vida
Muda, significa, em Japonês, o Desperdício, ou qualquer atividade que é inútil ou não
traz mais valia. O Desperdício ou Muda é toda a “atividade humana, recursos ou materiais,
que fazem perder tempo, custam dinheiro e não contribuem para a satisfação” ou sucesso
da pessoa ou empresa.
Acredite! A sua vida está cheia de MUDA! Os ingleses também apelidam de Clutter, u
seja, excesso de tralha, tempo desperdiçado, etc.
Os desperdícios podem ser de muitos tipos: Coisas que não usa, tempo que desperdiça,
mau planeamento (de viagens, tempo, etc.), investimento em relações que não lhe trazem
satisfação, fazer algo por mera obrigatoriedade sem ver frutos, etc.
Reanalise a sua vida e elimine o MUDA. O Que é MUDA para mm, poderá não ser para si.
Tem de fazer uma análise muito pessoal, recorrendo a MEIOS VISUAIS (outro principio LEAN:
Registe nenhuma folha todo o MUDA, e vá eliminando da sua vida. Afixe num local visível
“CARIL DE NEGÓCIOS, ACOMPANHADO DE ATITUDE POSITIVA NA CARREIRA E POLVILHADO COM HUMOR”
PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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para si!) Este primeiro princípio é o essencial para o caminho de uma vida Lean. Deixe-me
acrescentar um exemplo concreto, que uso nas consultas de Gestão Pessoal e produtividade
com clientes, conteúdo este, específico da PSICOLOGIA DO CONSUMIDOR: Aprenda a
distinguir NECESSIDADE E DESEJO.
Se você seguir constantemente desejos, terá uma vida cheia de MUDA. Se seguir as suas
necessidades, terá uma VIDA LEAN.
Muitas vezes, ouço clientes dizerem “Mas eu preciso mesmo de comprar umas
calças…estou mesmo a precisar!”. “Ah, eu estou a precisar de uma plasma, a minha TV não
presta ”.
Analise: Você PRECISA ou você QUER?
Se você precisa, é uma necessidade. Se você quer, é um desejo.
Não há nada de errado com ter desejos e querer algo melhor na sua vida. Mas comece a
criar consciência de que não é uma necessidade, mas sim um desejo, e começará a triar o
Muda.
Quando vai às compras ou quando estiver a analisar a sua vida e os seus MUDAS,
pergunte-se a si próprio “Espera [respire fundo] isto é uma necessidade ou um desejo meu?
”. Depois, decida, se é um desejo, será o melhor momento (pessoal, familiar, económico,
etc.) para o satisfazer?
PRINCÍPIO DOIS: Viva o KAIZEN
Kaizen, significa a melhoria contínua. As empresas cada vez mais optam por este
princípio, combatendo a estagnação para melhorar a sua capacidade competitiva
Em Portugal, em particular, é com pena que o digo, muitas empresas e alguns “cidadãos
portugueses adormeceram à sombra do contrato de trabalho”.
Sim, está na hora de pensar que você não é estanque. Cada dia que passa você muda,
você reformula-se e até o seu sangue e o seu corpo se renova. De 7 em 7 Anos, todos nós
seres humanos, temos basicamente um corpo novo.
Resta você decidir que quer mudar para pior, igual ou melhor. Se incorporar o KAIZEN na
sua vida, cada momento que viver, vive para se tornar ainda melhor. Melhor pessoa, melhor
amigo, melhor filho, melhor pai, melhor colega de trabalho, melhor profissional.
KAIZEN não é tornar-se melhor ou evoluir porque alguém o pressiona ou exige, mas
porque você QUER, e você tem prazer em evoluir. Sim, poderão existir bloqueios e
dificuldades, existirão com certeza momentos em que você diz ou pensa: “Não sou capaz, é
muito difícil”, mas não seja duro consigo próprio. Permita-se evoluir calmamente!
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PRINCÍPIO TRÊS: APLIQUE a Técnica dos 5 “s”
O Programa “5S” consiste basicamente em cinco palavras japonesas que começam com
a letra S e que descrever as atividades que descrevem as atividades que se podem realizar
para ajudá-lo no processo de eliminação de desperdício.
(a) Seiri: Classificar os itens da sua vida (tempo, pessoas, atividades, coisas, etc.)
necessários e desnecessários para posterior eliminação dos últimos;
(b) Seiton: organizar o que é necessário e importante. “Um lugar para tudo e tudo no seu
lugar”. Isto aplica-se à sua casa, ao trabalho e até às pessoas. Pode parecer frio da mina
parte, classificar as pessoas da sua vida, mas é exatamente isso que nós fazemos
inconscientemente…agora traga à sua consciência e coloque as pessoas no lugar certo na
sua vida.
(c) Seiso: Limpeza. Pode parecer simplista, mas limpar e arrumar são essenciais à saúde
geral, quer física, familiar, psicológica, etc. Limpe a casa, arrume a mente. Limpe o seu
espaço de trabalho, tenha uma agenda clara.
(d) Seiketsu: Criar regras ou padrões baseados no sucesso dos primeiros “S” de forma a
conseguir manter a qualidade que conseguiu. Defina as regras da sua vida. Escreva-as
(MEIOS VISUAIS!), registando-as num local onde possa claramente ler, pelo menos todas as
semanas. Defina regras para os seus filhos e partilhe com eles (por exemplo, colando no
frigorifico). Nas empresas, muitas empresa afixam claramente as regas internas.
(e) Shitsuke: criar disciplina para manter em funcionamento os quatro primeiros ‘Ss”.
Por curiosidade, em inglês, a tradução é (a) Sort, (b) Straightcn, (c) Shine, (d) Standardize,
por último, (e) Sustain.
Pode não ser fácil começar a viver uma vida LEAN, no princípio. Parece que está a
ABDICAR de coisas ou a perder coisas que havia conquistado. O Povo costuma dizer “Isso é
descer de cavalo para burro”, quando de alguma forma parecemos perder algo. Você tem de
comer por mudar esta mentalidade! Não há cavalos nem burros, nem ninguém perde ou
ganha. Você decide eliminar o que é fútil e desnecessários. Com o tempo, tal como eu, verá
que começará finalmente a dar valor a tudo o que é importante na vida. E nunca se esqueças
as coisas importantes da vida são as que não se conseguem tocar…7
Referências Bibliográficas Araújo, P. (2011). “Universidades Lean?”: Contribuición para la reflexión para a reflexão. Revista de
la Educación Superior Nº. 160, Vol. XL (4), Octubre/Diciembre, pp. 135-154.
7 Para saber mais, consulte o meu artigo: http://www.4shared.com/office/AUBurixZ/Artigo_Rev_educ_superior_160.html
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3. Seja Voluntário
O Voluntariado8 tem um papel fulcral na sociedade há bastantes séculos. Confrarias e
associações diversas dedicaram-se durante séculos ao voluntariado religioso, ao resgate de
prisioneiros e escravos, ao apoio aos carenciados e doentes, etc.
A sociedade cada vez mais sensível às problemáticas sociais e face a isto, a ONU
(Organização das Nações Unidas) fixou o dia 5 de dezembro como o «Dia Mundial do
Voluntariado», considerando que o trabalho dos voluntários é uma importante contribuição
para as atividades socioeconómicas em todas as partes do Mundo.
Em Portugal, existem já diversas entidades dedicadas a este tema, nomeadamente o
Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado (CNPV), entidade a quem compete
desenvolver as ações indispensáveis à promoção, coordenação e qualificação do
voluntariado (criada pelo Decreto-Lei n.º 389/99, de 30 de setembro).
A palavra “Voluntariado” provém do Latim, da palavra vontade. O art.º 2.º da Lei n.º
71/98, de 3 de novembro, define-o como “o conjunto de ações de interesse social e
comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos,
programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da
comunidade, desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas. Não são
abrangidas pela presente Lei as atuações que, embora desinteressadas, tenham um caráter
isolado e esporádico ou sejam determinadas por razões familiares, de amizade e de boa
vizinhança”.
Todavia, a noção de voluntariado está cada vez mais rica e alargada.
Durante muito tempo o voluntariado foi pensado num nível altruísta, num dever ou
obrigação para com o outro, muito próximo da noção de caridade.
Porém, hoje em dia, observa-se uma feliz inversão: cada vez mais as pessoas que
participam em organizações como trabalhadores voluntários sentem esta experiência como
uma atividade que provoca bem-estar no voluntário, uma sensação de realização que muitas
vezes não é obtida no campo profissional ou familiar.
Cada vez mais, o voluntariado serve para colmatar lacunas nas duas partes envolvidas:
quem precisa de ajuda é ajudado, e quem ajuda o outro, a ajuda-se a si mesmo também.
8 Para pesquisas mais aprofundadas, visite estes sites portugueses: http://www.voluntariado.pt/ ;
http://juventude.gov.pt/Portal/Voluntariado/ ; http://www.bolsadovoluntariado.pt/
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Para muitas pessoas, o que começou por ser trabalho voluntariado acabou por se tornar
uma carreira e, muitas vezes, essa é uma expectativa de que inicia um projeto voluntario.
Porém, transformar o voluntariado numa forma de trabalho remunerada poderá fazer com
que perca a sua magia e os seus benefícios. A magia de se encontrar, de se descobrir como
ser humano, de encontrar gratificação e felicidade.
O Voluntariado sempre esteve correlacionado com as Organizações sem fins lucrativos,
ideia que está a ver os seus últimos dias. Cada vez mais empresas estão a aderir a um novo
tipo de formato: o Voluntariado Empresarial, englobado em iniciativas de Responsabilidade
Social das Empresas.
Por outro lado, cada vez mais países estão a adaptar o sistema judicial. Ao invés de
condenar pessoas que cometeram crimes ou ilegalidades a penas de prisão ou de multa,
condenam-nas a “serviço voluntário á comunidade”. Claro que, neste caso não existe um
pleno voluntariado, pois isso implica sempre que a pessoa esteja envolvida no processo com
total e plena vontade. Porém, além de ajudar a comunidade, a própria pessoa vai
confrontar-se consigo própria e muitas vezes, este processo poderá provocar uma mudança
nas atitudes. Para que isto funcionasse plenamente, seria necessário um acompanhamento
reflexivo do “voluntário” forçado, para que este refletisse sobre a ilegalidade que cometeu e
sobre a experiência de serviço à comunidade.
Provavelmente, neste momento, estará a pensar: “mas, se for voluntário, isso faz parte
da minha carreira?”. Na minha opinião, sim. Eu sou a favor da colocação de todas as
experiências no CV. Aliás, Curriculum Vitae, significa a história da sua vida, o seu percurso e,
eu pessoalmente, coloco todas as experiências de voluntariado no meu CV. Pode criar um
espaço especial para essas experiências, ou colocá-lo normalmente na experiência. Apesar
de não remunerada, são experiências de trabalho!
Ao contrário do que se pensa, nem sempre o voluntariado é “grátis”. Não existe salário
ou remuneração, mas em muitos casos existem pequenas bolsas para os voluntários, de
forma a cobrir despesas básicas.
Neste campo, falo por experiência própria: Há mais de 15 anos tive oportunidade de
viver a minha primeira experiência num programa de voluntariado do Instituto Português da
Juventude, através de uma associação juvenil.
Tínhamos como objetivo promover iniciativas nessa associação, desde festas convívio de
idosos e outras populações, sensibilização, promoção do desporto nos jovens, apoio
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administrativo, etc. Recebia na altura uma pequena bolsa que, bem gerida, pagava as
minhas despesas de deslocação, alimentação e pessoais.
Graças a esse primeiro contacto de voluntariado, acabei por participar noutros eventos,
por exemplo, em intercâmbios educativos na Áustria e na Estónia, dirigir um jornal
associativo e ser eleita para os corpos gerentes dessa associação, depois de frequentar uma
ação de formação para dirigentes associativos. Engraçado é dizer que, enquanto estive no
programa de voluntariado, recebia uma bolsa, depois participei muitos mais anos nessa
associação como voluntária sem receber qualquer bolsa, mas com muito gosto! Essa
experiência marcou-me como pessoa, alargou a minha rede de contactos, forneceu-me
competências que eu não possuía bem como experiências inesquecíveis.
Pondere se não seria bom experimentar. Existem muitos sites onde se pode inscrever e
participar e muitos deles respeitam a disponibilidade horária dos voluntários. Escolha um
projeto que lhe agrade. Se desejar poderá usar as suas competências profissionais, se achar
melhor contribuir numa outra área isso será muito enriquecedor.
É provável que pessoas mais materialista do seu círculo o julguem, por estar a fazer
trabalho voluntário, pois ainda existe esse preconceito.
E note que, deve dedicar-se a um trabalho voluntário se realmente o desejar e se tem
condições para tal. O trabalho voluntário pode substituir em parte as vantagens de um
emprego remunerado, mas não se aliste como voluntário enquanto estiver desempregado,
ou pelo menos não faça voluntariado 40h por semana. Sou da opinião que só deve pensar
em ser voluntário, quando tiver um posicionamento mental de alguma estabilidade. Por
outro lado, nunca encare as pessoas que vai ajudar como “coitadinhos”: eles são seres
humanos a precisar de apoio e ajuda naquele momento das suas vidas.
Uma outra nota: Nem todo o voluntariado se dirige a seres humanos e ser voluntário em
associações de proteção dos animais é também muito gratificante!
Poderá ser surpreendido pelo facto de muitos programas de voluntariado terem listas de
espera. É verdade! O campo da saúde parece ser um dos mais concorridos. Por exemplo, são
vários os hospitais que têm um processo rigoroso na admissão de voluntários e cujas vagas
estão sempre preenchidas.
Se este tema lhe interessa, poderá participar nas conferências e workshops que são
organizados todos os anos quando se comemora o Dia do Voluntario da Universidade do
Porto.
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4. Ataque o mercado com “Cartas de motivação”
Já todos nós tivemos de redigir uma carta para concorrer a um emprego. Durante muitos
anos chamamos a essas cartas, as cartas de apresentação. Hoje em dia é costume
chamarmos de “cartas de motivação”. Em primeiro lugar, porque soa francamente melhor!
Em segundo lugar, porque o nosso objetivo não é somente apresentarmo-nos mas sim,
desde logo, afirmar fortemente a nossa motivação para ingressar naquele cargo ou naquela
empresa.
Então, pergunta você…o que muda, além do nome? Podem parecer pequenas coisas,
mas são de extrema importância. Vejamos de forma pragmática, alguns princípios:
1. Todos aqueles modelos que tem guardados no seu computador, que iniciam a carta
por “Venho por este meio, responder ao seu anúncio xpto” devem ir já para uma pasta
chamada “reciclagem”!
2. Por outro lado, por muito úteis que sejam outros modelos que tenha, evite sempre
usar modelos. No mundo do trabalho queremos marcar pela diferença e usar modelos é um
facilitismo e é ser igual a outros (a probabilidade de outras pessoas usarem exatamente o
mesmo modelo é muito elevada…pense nisso!)
3. Repare: A carta é o elemento que chega primeiro ao alcance visual do recrutador,
mesmo antes do CV. A carta de motivação vai permitir-lhe apresentar a candidatura, anexar
o CV, descrever as suas motivações e habilitações profissionais e solicitar a realização de
uma entrevista. A carta de motivação é o seu primeiro espaço de marketing pessoal!
4. Use papel A4 liso e branco e tinta preta para a impressão. Não use “macaquinhos” ou
“rodriguinhos”, nem qualquer tipo de floreado. Utilize uma letra standard (Arial, Times New
Roman ou semelhante), num tamanho entre 11 e 12 e texto devidamente justificado, com
um espaçamento entre linhas de 1,5.
5. Uma “carta de apresentação”, de resposta a um anúncio, antigamente, teria apenas
duas linhas. Uma carta de motivação pode ter 2 a 3 parágrafos. Deve evitar ao máximo
utilizar mais de uma página. Se puder use apenas 75% de área útil de uma página, mantendo
as margens em branco e o espaçamento agradável à leitura. Lembre-se que o recrutado
poderá ter centenas de páginas para ler e se lhe aparecer uma carta sobrecarregada poderá
causar uma péssima primeira impressão! A capacidade de síntese, o pragmatismo e uma
visão clara são imprescindíveis e dizem muito acerca da pessoa em causa.
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6. O formalismo deve constar em qualquer tipo de carta. Não usar calão, formas
gramaticais complexas ou expressões estrangeiras. Manter o “Exmo(a) Sr. (a)”, se possível
personalizando a carta (com o título académico da pessoa, o cargo ou o nome). Obviamente,
deve rever atentamente a carta e verificar se tem erros ortográficos (não acredite apenas no
corretor ortográfico!).
7. Em resumo, uma carta de motivação de resposta a um anúncio de emprego, tem
sempre de conter os seguintes elementos: (1) a identificação do candidato; (2) identificação
do anúncio, data, fonte e respetiva referência; (3) Deve ser endereçada à pessoa certa e
indicar como soube da vaga a que está a concorrer; (3) Deve demonstrar as suas motivações,
qualificações, competências e aspirações para fundamentar a candidatura, (4) deve
referenciar que o C.V. segue em anexo; (5) quase no final da carta, o candidato deve
manifestar disponibilidade para a prestação de provas ou entrevistas, (6) Antes ou depois da
assinatura, deve colocar-se a data e local onde está a redigir a carta e, por fim, (7), redige-se
a despedida e a assinatura (elemento imprescindível e que deve ser sempre manuscrito!).
8. Os seus preciosos 2 a 3 parágrafos têm de dizer o mais importante sobre si próprio: o
que tem feito, que sucesso tem tido e para onde quer levar a sua carreira. Ressalte os seus
feitos e pontos fortes bem como duas ou três características pessoais marcantes (nunca
minta!). Exponha as suas competências e motivações sem medo, dando à carta um tom
positivo a seu respeito (nunca caia no erro de dizer “Estou mesmo muito motivado porque
estou desempregado há muito tempo”!). Apresente argumentos diferenciais, ou seja, em
que é que a empresa ganhar por contratar a si e não a outros! Se tiver espaço, apresente
algumas das suas experiências anteriores e respetivos resultados (um exemplo “Em 2005, fui
coordenador no Projeto “Subir na Vida” que obteve uma taxa de 90% de inserção profissional
dos formandos”).
9. Principalmente em cartas de motivação espontâneas, deve mostrar algum
conhecimento acerca da empresa (e/ou do setor) para a qual está a enviar a carta. Use
apenas uma a duas linhas para este assunto, logo no início da carta.
10. Em vez de usar cartas em papel, poderá enviar a carta via e-mail. No caso das
candidaturas espontâneas, há quem defenda que têm maior probabilidade de ir
rapidamente para o lixo. A decisão é sua: com o e-mail poupa o ambiente e poupa alguns
cêntimos mas usar a carta em papel não impede desta ir para o lixo na mesma. Tudo
depende do tipo de empresa. Se se trata de uma empresa com site na internet e com
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endereços de e-mail bem sinalizados, penso que o mais acertado é enviar por email (se
possível, pedindo confirmação da receção).
11. Se decidir usar então o correio eletrónico, coloque a referência do anúncio no
assunto, para evitar extravios. A partir daqui pode agir de duas formas: ou coloca o texto da
carta de motivação no e-mail ou faz um documento anexo em Word. Pessoalmente, prefiro
a primeira opção, ou seja, inserir a carta no corpo do e-mail, enviando apenas o CV em
Anexo, mas mantendo todos os elementos da carta já referidos acima. No caso de enviar por
e-mail não poderá assinar a carta de forma manuscrita. Pode optar por colocar o seu nome a
itálico para um “ar mais manuscrito”. Se utilizar a opção de anexar uma carta, poderá
digitalizar a sua assinatura e colocá-la na carta, porém, neste caso, opte por transformar o
documento num PDF (com as opções de segurança no máximo, permitindo apenas a
impressão): desta forma não corre o risco da sua assinatura, que está em formato de
imagem, mudar de sítio e, por outro lado, protege que alguém use a sua assinatura
indevidamente (os crimes de roubo de identidade são muito frequentes!).
12. Existem ainda muitas empresas e consultoras de recrutamento e seleção que gostam
de ver uma carta manuscrita. Apesar de não estar devidamente fundamentada
cientificamente, alguns profissionais poderão até ter formação em Grafologia (arte que se
dedica a correlacionar a escrita com a personalidade da pessoa). Se lhe for pedida a carta
manuscrita, envie. Não pense que é apenas um capricho do recrutador, pois este pode ser
considerado um fator eliminatório. Faça alguns testes sobre uma folha de linhas (para que as
frases não surjam “tortas”) e depois redija a carta final numa folha A4 branca. No final, tem
de aparecer um formato muito semelhante ao que surgiria se a carta fosse feita no
computador, mantendo o espaço das margens vazio. Não tente falsear a sua letra em
demasia, tente apenas escrever a carta calmamente. Como é óbvio, não utilize
“desenhinhos” como, por exemplo “smiles” (:-)) ou corações nos “i”! Evite também
abreviaturas ou “neologismos da internet”.
13. Se se considera uma pessoa criativa e divertida, poderá refletir isso na sua
despedida, ao invés de optar pelo clássico “Melhores Cumprimentos” ou “Atentamente”.
Por exemplo, se está a concorrer a uma empresa que opera no ramo ambiental, poderá
despedir-se com “Saudações Ecológicas”. Sem cair em exageros, uma linha simpática poderá
animar e recrutador e fazer com que não se esqueça de si!
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5. O Segredo das Cartas de motivação que conquistam
empregos!
Se você exercesse a profissão de Técnico/a de Recrutamento e Seleção, você perceberia
o que é ler cartas de apresentação ou cartas de motivação sem graça, todo o dia, semanas a
fio! Só assim você compreenderia como uma carta de motivação pode, em apenas 3 a 4
minutos, “Matar uma candidatura”!
Vejamos os erros mais comuns de candidatos/as que o recrutador imediatamente coloca
de lado:
1- Referir imediatamente que foi despedido.
2- Implorar por uma oportunidade.
3- Dizer que tem muitas contas para pagar e família para sustentar e, por isso,
precisa de trabalhar urgentemente.
4- Utilizar palavras como “crise”, “dificuldades”, “privações”.
5- Cometer erros ortográficos.
6- Misturar tipos de letra ou, no geral, a apresentação da carta ser uma
lástima (má formatação, desenhos e bonecos, manchas no papel, má impressão
ou, no caso da carta manuscrita, letra nada legível)!
7- Discurso “monocórdico” e sem brilho ou que parece copiado de outra
situação (por exemplo, “Venho por este meio candidatar-me a esta vaga, em
resposta ao vosso anuncio….blá, blá, blá”)…
Se em tempos este tipo de discurso era aceitável, esses tempos já lá vão. Nesses
momentos, o mercado de emprego era vasto e procurava-se alguma formalidade, lealdade e
um discurso quase aristocrático igual para todos.
Hoje em dia os valores são outros: tudo é rápido e marcado pela diferença e criatividade.
Se há 20 anos um discurso de “Implorar por uma oportunidade” podia fazer vacilar uma
micro-empresa ou tocar o coração de um “patrão” de uma pequena cidade, hoje em dia,
acontece exatamente o contrário.
Por muito que nos custe aceitar, muitas vezes, implorar ou usar o discurso da crise, faz o
recrutador pensar em certo tipo de características psicológicas daquele candidato: “se está
mal e com dificuldades, deve ser uma pessoa com pouca capacidade de adaptação às
mudanças, ou não soube fazer a sua gestão pessoal, ou foi despedido porque é um
trabalhador que se deixou ultrapassar”….etc. etc.
Esta não é a imagem que você quer passar e não deve ser a sua narrativa pessoal.
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Nas primeiras sessões de Coaching de Carreira com clientes meus, além de trabalhar a
programação neurolinguística, assim que começamos a planear candidaturas (quando é esse
o caso), revemos algumas características de uma carta de motivação:
1. Apresentação impecável. O mesmo tipo de letra em toda a carta. Margens
mínimas de 2.5 pontos e tamanho de letra mínimo de 12. Sem manchas, sem falhas de
impressão e com espaçamento que permita ao recrutador sublinhar e tirar notas entre
as linhas (1.5 pontos é ideal).
2. Não use declinações verbais imperfeitas ou que criam dúvida. “Eu gostaria”, “eu
queria”, “o que eu precisava”, “no fundo, vinha propor-lhe”, “eu aceitaria um salário
de…”. Utilize as declinações certas e positivas: EU QUERO PROPOR. EU GOSTO DE…. EU
ACEITO. Sempre no presente.
3. Evite usar quantificadores universais, ou seja, sempre, tudo, nunca, qualquer um.
Particularize o seu caso e não se compare aos outros nem compare empresas ou setores.
4. Use palavras positivas. Evite a palavra Não. Para isto, leia a carta pelo menos duas
vezes. Por vezes, estamos tão habituados ao discurso com teor negativo que só
conseguimos detetar essas palavras negativas quando lemos a segunda ou terceira vez a
carta.
5. Destaque a negrito duas ou três expressões que ache que o identificam e
valorizam. Esta é a sua “Mission Statement”, ou seja, o que o diferencia dos outros, o seu
valor.
6. Utilize palavras como: Desafio, Oportunidade, Crescimento, Inteligência,
Versatilidade. Veja a diferença entre as duas frases abaixo:
FRASE 1: Eu aceitaria um desafio, pois gostava de dar o meu melhor para esta
oportunidade.
FRASE 2: EU gosto de desafios, sou versátil e aceito oportunidades que me
pareçam opções inteligentes.
Apesar de dizerem coisas diferentes mas ligeiramente semelhantes, se ler ambas as
frases em voz alta, verá que uma delas tem muito mais impacto positivo. Qual acha que
é?
7. Assine sempre a carta. Mesmo que não seja a sua assinatura oficial (do banco,
etc.), crie uma assinatura com “personalidade”, com variabilidade (duas grandes letras,
por exemplo, dois sarrabiscos, alongamentos, etc.) ao invés de usar o seu nome escrito
como se estivesse na escola.
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8. Não faça da carta um “apanhado” do que diz no CV. Aproveite para dizer
exatamente o que não diz no CV. Por exemplo, você foi Diretor durante X tempo em X
empresa: isso já esta no CV! Na carta, salte imediatamente para “Quando exerci funções
de direção, geri uma equipa de 33 pessoas”.
9. Se trabalhou no estrangeiro, inclua na carta, a negrito. Se fala bem uma língua
estrangeira realce na carta também. Cada vez mais se valoriza um colaborador versátil,
multicultural.
10. Se está a concorrer a uma função ou empresa criativa, opte por juntar um
Vídeo-CV. Pesquise na net exemplos de vídeo-cv impactantes e que realmente
demonstram criatividade. Por outro lado, se é uma empresa criativa, tente inovar e
mostrar que é criativo em todos os documentos (carta, Cv, etc.), não incluindo
“macaquinhos”, mas sim, optanto por um discurso positivo, ativo e inovador, que até
choque pela positiva o recrutador! Seja irreverente!
Estes são alguns segredos. No fundo, você precisa de se atualizar constantemente sobre
este assunto. Regularmente, procure informação na internet sobre cartas de motivação
inovadoras e, em breve, encontrará o seu lugar ao Sol!!!
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PATRÍCIA BENTO ARAÚJO
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6.“Karoshi”: é possível matar-se a trabalhar
Cada um vivencia o seu trabalho no seu dia-a-dia à sua maneira. Uns fazem do trabalho
apenas o instrumento para preencher a conta bancária, outros “até gostam” minimamente
do que fazem afastando pequenos constrangimentos e depois existem os sortudos que
adoram o que fazem e são pagos por isso!
Independentemente destas categorias, há quem se deixe afetar pelo trabalho e há quem
consiga sair do trabalho e viver a vida sem pensar mais nele.
Há algumas décadas surgiu a noção de “stress” causado pelo trabalho. Desde aí, a
palavra “stress” entrou no nosso vocabulário com um velocidade alucinante. Acho que não
há nenhum trabalhador português que não saiba o que significa a palavra “stress”! Surgiu
então a necessidade de traduzir este estrangeirismo para uma forma aceite pelos linguistas,
e apesar de poder parecer estranha, a forma correta de escrever “stress” é: estresse (que
passaremos a adotar).
Vejamos o que indica o Novo Prontuário Ortográfico (Pinto, 2005:pág. 222):
“Stress” (do Inglês): estresse, tensão: Palavra de
aparecimento recente que tem um conteúdo muito próprio,
ligado à pressão ou tensão a que hoje em dia estamos
submetidos. Cremos que é necessário oficializar o
neologismo, que já é de uso corrente no Brasil
Com a evolução do conceito, caiu em desuso a expressão “estresse no emprego” ou
outras semelhantes, e passou-se a utilizar a expressão correta de “estresse ocupacional”,
pois algumas pessoas podem não ter emprego, ou trabalho remunerado (ex. Serem
trabalhadores voluntários) e sofrerem igualmente de estresse ocupacional.
O estresse ocupacional pode estar relacionado com fatores externos à pessoa (ex. más
condições de trabalho), ou com fatores internos à pessoa e seu ambiente (ansiedade,
problemas familiares, etc.)
Em suma o estresse ocupacional surge quando surge uma diferença entre as exigências a
que uma pessoa é submetida e os recursos dispõe para atingir essas exigências, o que
poderá originar um desequilíbrio psicológico.
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Existem pessoas que desenvolvem competências de gestão do seu estresse e muitas
vezes conseguem pô-lo a seu favor, fazendo com que o estresse melhore o seu desempenho,
enfrentando essas situações como desafios a ultrapassar. Outras pessoas que não
conseguem enfrentar este obstáculo acabam por desenvolver piores desempenhos no
trabalho e até outras doenças (ex. dores de cabeça, dores lombares, ansiedade patológica,
etc.)
Também já há muitos anos que ouvimos a expressão americana “Workoholic”, ou seja
uma pessoa que é viciada em trabalho (adaptação da “alcoholic”, que significa alcoólico).
Depois de muito refletir, concluo que esta expressão não tem palavra equivalente na língua
portuguesa. Porém, os “workoholics” são usualmente pessoas que gostam muito do trabalho
que desenvolvem e acabam por menosprezar fortemente outras áreas das suas vidas. Talvez
sempre tenham existido pessoas viciadas em trabalho, porém nesta nova época de grande
competitividade e até ganância, o problema começa a agravar-se.
Recentemente, um outro conceito começou a atravessar o mundo. Outra palavra que
não tem equivalente na língua portuguesa: “Karoshi”, que em Japonês, significa “morte
causada por excesso de trabalho”.
Esta palavra apareceu pela primeira vez após a II Grande Guerra (Lima, 2008) durante a
reconstrução do país. Em 1969 (altura em que era comum o dia de trabalho no Japão ter de
12 horas ou mais!) surgiu o primeiro caso de “karoshi” num trabalhador com menos de 30
anos que morreu de repente como consequência de um enfarte cerebral depois de ter
estado mais de 40 dias consecutivos a trabalhar!
Nos anos 80 colaboradores trabalhavam sob enorme estresse e começaram a morrer de
forma imprevista e brusca nos seus postos de trabalho. Foi apenas nos anos 90 que alguns
familiares de vítimas de Karoshi começaram a interpor ações judiciais e em consequência
disso o governo criou legislação que penaliza empresas com jornadas de trabalho excessivas,
porém, muitas delas continuam com a prática de 12 ou mais horas por dia, e muitas vezes,
os trabalhadores não são remunerados!
As estatísticas indicam que, em 2006, 355 trabalhadores adoeceram gravemente por
sobrecarga de trabalho e cerca de 150 morreram. As indemnizações do governo para os
parentes de uma vítima de “karoshi” podem chegar a 20 000 dólares por ano, enquanto que
as empresas podem ter de avançar com uma compensação de um milhão de dólares.
Como ecologista convicta (o meu carro é um híbrido!), senti uma enorme sensação de
ironia e tristeza quando li que um trabalhador japonês chamado Uchino, morto por Karoshi,
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trabalhava no departamento responsável pela construção do Prius, o carro ecológico de
(híbrido) da Toyota.
O Japão é uma sociedade coletivista, marcado por características de sacrifício pessoal e
trabalho pelo bem de todos e do país, e o que parece ser uma excelente qualidade…pode
matar!
Mas não se pense que é fenómeno exclusivo do Japão. Na Coreia, onde parece estar a
emergir o mesmo problema também já existe palavra que para a morte por excesso de
trabalho: “Gwarosa”.
Os japoneses têm também uma outra expressão curiosa: “Gakurekibyo”, ou seja a
“doença do diploma”. Neste caso, é aplicável aos jovens e ao seu esforço excessivo de
obterem as melhores notas nos diplomas! Relatam-se consequências graves como por
exemplo, obesidade, hipertensão ou excesso de colestrol.
Resta refletir sobre Portugal. Haverá “Karoshi” em Portugal? Reparem que não falamos
em morte por acidente de trabalho, mas por excesso de trabalho que leva a derrames, AVC’s
e ataques cardíacos! Será que algum dia poderemos convencer o governo português que
algumnas ataques cardíacos se deveram a “Karoshi”?
Quanto ao “Gakurekibyo”, acredito realmente que este problema já existe em Portugal.
A luta pelas médias de conclusão do ensino secundário para aumentar a cada dia. Por um
lado, surgem jovens cada vez menos interessados em andar na escola e por outro, há
pessoas a terminar o ensino secundário com média de 20 valores (o que no meu tempo, não
existia!).
Estaremos a construir uma sociedade obsessiva? Onde os números conta demasiado?
Seja o número de horas que se trabalha seja a média que são impressa no diploma?
Já há muito tempo que temos no nosso vocabulário a expressão “matar-se a
trabalhar”…Alguém tem sugestões sobre qual seria uma boa palavra para “morte por
excesso de trabalho” em português?
Referências Bibliográficas
Lima, R. (2008). Karoshi: a morte por excesso de horas extra. 09 de janeiro. Acedido em abril de 2010 e disponível em: http://www.srcoronado.com/smf/index.php?PHPSESSID=e9e3063c431543c2e8a0c6618f065550&topic=8844.msg71105#msg71105
Pinto, J. (2005). Novo Prontuário Ortográfico.6ª Edição Revista. Lisboa: Plátano Editora
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7.Tem a certeza que quer mesmo ser promovido?
Quando falamos de carreira, a expressão mais positiva que pensamos é “progredir na
carreira”. Apesar de ser uma expressão muito utilizada em algumas profissões e pouco
noutras, é geralmente aceite por todos de que o objetivo de alguém é subir na carreira, seja
subir verticalmente, ou seja na hierarquia, seja subir no salário, ou ainda fazer uma
reconversão profissional, mudando de função, mas que isso represente para a pessoa uma
melhoria na carreira. Por vezes, ser promovido não é algo tão objetivo como pensamos,
afinal, a sensação de ser promovido depende somente de quem a sente…
Um dos piores momentos profissionais da minha vida decorreu quando fui promovida.
Podem não acreditar mas é a mais pura verdade. Ao receber a notícia, um misto de orgulho
e um medo terrível apoderou-se de mim. O medo é um alerta que temos dentro de nós e
que não podemos desligar, podemos enfrentá-lo e saber lidar com ele mas nunca devemos
colocá-lo de parte ou silenciá-lo.
Quando falamos em promoção, quase todas as pessoas ficam com aquele brilhozinho
nos olhos. Eu também devo ter ficado. E pronto, poderia ter ficado por aí. Tinha sido
escolhida e isso, por si só, já era uma grande satisfação! Mas com promoções na carreira
usualmente aparecem grandes responsabilidades.
A minha vida pessoal quase desapareceu por completo. O meu “eu” deixou de ser um eu
complexo, com família, amigos e tempos livres para se tornar apenas o meu eu profissional.
A cada minuto do dia eu era um “robot profissional”, em constante agitação, fosse física ou
mental. Aos 31 anos foi-me dada, em certa medida, carta-branca para gerir uma
organização. Que honra e que grande susto!
A variabilidade de trabalho era tal que tinha de estar constantemente a “resintonizar-
me” para o que iria fazer a seguir. Ainda por cima, era a altura ideal para colocar em prática
todos os conhecimentos de gestão eficaz de equipas, gestão de conflitos, promoção de uma
cultural organizacional, e todos aqueles conceitos e técnicas fantásticas que um profissional
envolvido na gestão de pessoas sonha aplicar. E tudo isso derrubou-me de tal forma, que
andava persistentemente em píncaros de stress.
O mais estranho é que, aparentemente, percorremos toda a nossa vida profissional a
trabalhar para aquele momento. Buscamos incessantemente aquele dia, aquela hora em
que alguém nos dará a notícia de que somos nós os escolhidos, não é? E de repente, tudo
isso cai por terra. O chamado “horário de trabalho” deixou de existir para mim: qualquer
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hora era hora de trabalho, a qualquer momento estava a criar novas iniciativas, a planear
projetos, a reestruturar departamentos que não funcionavam exatamente como eu queria.
Nunca nada estava bem. Talvez uma promoção seja a pior coisa que acontece a alguém com
um traço perfecionista. No entanto, adorei a experiência, contudo quando o projeto
(infelizmente) acabou, confesso que senti um certo alívio. Talvez não estivesse preparada
para gerir as minhas emoções, o meu tempo e o meu estresse.
Por isso, passo esta ideia para si, caro leitor: Pense bem se este é realmente o momento
certo para uma promoção. Pode até continuar a querer essa tal promoção, mas analise
calmamente se não existe o risco do “feitiço virar-se contra o feiticeiro” ou, se preferir, de “o
tiro lhe sair pela culatra”.
Vamos refletir um pouco sobre o que deve pesar na sua balança.
Se é uma pessoa que tem um hobbie que o motiva bastante e ao qual dedica umas horas
por semana, reflita como se sentirá se, de repente, ficar sem isso.
Se valoriza muito os seus tempos livres com amigos, por exemplo, jantares e fins de
semana em convívio, imagine o que seria não ter isso durante anos! Se é uma pessoa que
gosta muito de desporto e tem esse hábito de longa data, imagine-se a não ter tempo para
fazer desporto nenhum.
Se tem família com a qual gosta de passar tempo de qualidade, faça a mesma reflexão. A
conciliação familiar e profissional é uma questão recente que tem merecido muitos debates.
Com carreiras cada vez mais competitivas, é cada vez mais difícil conciliar a vida familiar e
profissional. Por exemplo, a média de idades dos casais quando decidem ter o seu primeiro
filho subiu para os 29 anos, enquanto que há alguns anos rondava os 24/25 anos.
Provavelmente deve estar a pensar…e o dinheiro? Ao ser promovido, irei ganhar mais.
Pense se vale a pena e faça mesmo as contas. Aconteceu a uma pessoa que conheço ser
promovida e ser aumentada. No fundo, as suas tarefas não mudaram muito, porém as suas
responsabilidades aumentaram. Essa pessoa passou a sentir uma certa obrigação de ficar
sempre mais um pouco de tempo além do horário de trabalho, por causa dessas obrigações.
Porém, só no primeiro recibo de vencimento, reparou que a diferença no salário final era
apenas de alguns euros. Porquê? Ao subir de salário subiu de escalão no IRS, e passou a ter
de descontar mais por mês. Conclusão: promoção na carreira, mais horas de trabalho, mais
responsabilidades e apenas mais uns euros por mês…
Por outro lado, costumo dizer “Se não se sabe delegar, não se queira liderar”. Agora
reflita sobre esta frase e sobre si próprio.
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Aqui ficam algumas perguntas que deve fazer a si próprio, com seriedade: Quais são
realmente os seus objetivos a 3 ou 5 anos? O que significa para mim o trabalho e quais são,
para mim, os critérios de ser uma pessoa com sucesso no trabalho? Quais são as atividades
de trabalho ideais para me sentir motivado, independentemente de ser promovido? Qual é
o perfil de pessoas com quem se sente mais “à vontade” e com quem gostaria de trabalhar?
São essas as pessoas que vai encontrar se for promovido? Você é uma pessoa que gosta de
desafios? Você consegue lidar bem com as dificuldades quotidianas? Você sente-se
verdadeiramente capaz de liderar pessoas? Você consegue gerir e reduzir o seu estresse
ocupacional? Sabe gerir bem o seu tempo? Pense no momento de maior stress profissional
da sua vida. Pense mesmo. Tire uns segundos para analisar o ritmo do seu coração e o seu
estado mental naquele momento. Agora imagine-se a viver nesse estado durante umas 40 a
50 horas por semana (para não dizer mais)!
Com isto não quero soar demasiado pessimista. Se assim fosse, ninguém quereria ser
promovido! O que quero alertar é que somos profissionais do século XXI, empurrados por
uma certa pressão social a desejar o que toda a gente parece querer, quando nem sempre
isso é o ideal para a nossa pessoa, para a nossa personalidade e para o nosso “eu”
profissional. Sei que cada tipologia de trabalho tem características diferentes, mas tenho a
sensação que nos dias de hoje poucas pessoas refletem realmente se valerá a pena uma
promoção. O senso comum costuma dizer “quanto mais subir…maior será a queda”, por
isso, vale a pena refletir se o que efetivamente quer é subir…
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8.007- Agentes Secretos ao serviço das empresas!
É indiscutível a crescente necessidade das organizações apurarem o desempenho dos
seus colaboradores. Novas formas de avaliação de desempenho e de levantamento de
necessidades dos clientes surgem todos os anos.
Numa perspetiva clássica e já um pouco ultrapassada, os colaboradores eram avaliados
pelo seu superior hierárquico. Posteriormente surgiram perspetiva mais integradoras, que
avaliam o colaborador a 360º à sua volta, recolhendo perspetivas de superiores, colegas de
trabalho e clientes. As entrevistas e os questionários são as metodologias mais utilizadas.
Atualmente, muitas empresas optaram por adicionar outros indicadores, incentivando
ao trabalho por objetivos previamente definidos.
Existem ainda outras ferramentas que as empresas utilizam para descobrir o que os seus
clientes pensam, o que querem, o que os satisfaz ou insatisfaz, o que estariam dispostos a
comprar mais ou menos, etc.!
Porém, uma outra metodologia, que na minha opinião consegue integrar bastantes
destas perspetivas, mas nem sempre aplicável a todos os ramos de negócio é a técnica dos
clientes-mistério.
Esta técnica consiste em contratar um cliente-mistério para fazer uma visita a um
colaborador de determinada empresa.
O profissional “cliente-mistério”, no meu ponto de vista, deve ter formação avançada
em comunicação, uma elevada sensibilidade e ética, capacidade de se adaptar a diferentes
situações, capacidade de trabalhar “à paisana”, gosto por visitar lojas de diversos tipos,
curiosidade e criatividade, logo, este trabalho não é para qualquer pessoa.
Foi em 2006 que me surgiu a oportunidade de trabalhar em avaliação de competências
de colaboradores da banca, como cliente-mistério. Confesso que foi uma das experiências
mais gratificantes da minha história profissional. Até hoje, manterei em segredo o ramo que
avaliei e a empresa para quem trabalhei, por uma questão ética.
Ser cliente-mistério não é um emprego, ainda! Na realidade, quase todos trabalham
como freelancers (a recibos verdes) e são pagos por visita realizada, recebem em muitos
casos algumas ajudas de custo. As deslocações são longas. No meu caso aceitei avaliações
num raio de 100 km de minha casa! Reservava então um dia ou uma manhã para fazer as
visitas.
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A formação inicial é usualmente ministrada pela empresa consultora sub-contratada.
Não conheço casos das próprias empresas terem um departamento de recursos humanos
que leve a cabo este tipo de avaliação, o que até é positivo, uma vez que a consultoria tem
assim alguma autonomia e distanciamento.
Depois o cliente-mistério tem de fazer as visitas e ter uma ótima memória para fazer um
relatório detalhado daquela visita. Parte desse relatório consiste em preencher um
questionário detalhado fornecido previamente que lista o perfil de competências que
aqueles colaboradores deveriam apresentar (alguns exemplos de resposta “SIM/NÃO”: 1. O
colaborador sorriu e convidou-o a sentar, 2. O colaborador perguntou o nome e tratou-o pelo
nome durante todo o atendimento, 3. No final o colaborador agradeceu, levantou-se da
cadeira e acompanhou-o à porta).
Por outro lado, dependendo do ramo da empresa, o cliente-mistério terá de começar a
perceber bastante dos produtos específicos que são vendidos, e perceber se o colaborador
que está a ser avaliado demonstra conhecimentos aprofundados sobre eles e conseguem
transmiti-los claramente ao cliente. Por último, é necessário fazer uma avaliação qualitativa,
tirar pequenos apontamentos, registar comportamentos do colaborador durante o
atendimento, etc.
Tudo isto, tem de ser realizado depois da visita e longe da loja onde decorreu a visita.
Todos estes questionários são depois enviados à consultora que conduz uma
investigação, realizado a análise dos dados seja quantitativa e qualitativa. Alguns meses
depois, o relatório é entregue à empresa.
É importante refletir que isto influi diretamente na avaliação de desempenho dos
colaboradores! Daí que seja da maior importância a formação ética de um cliente-mistério.
Usualmente, os processos de recrutamento exigem licenciatura ou, no mínimo, 12.º ano e
experiência profissional para ingressar na bolsa de clientes-mistério.
Como todas as técnicas de avaliação, esta técnica apresenta algumas vantagens e
desvantagens. Como vantagens temos: (1) a consultora externa permite distanciamento do
processo de avaliação de desempenho; (2) deixa de se basear a avaliação de desempenho
num superior hierárquico apenas, dando oportunidade de os clientes se pronunciarem, (3)
Com o tempo, a empresa poderá até transformar os clientes-mistérios em clientes
verdadeiros, se estes se sentirem acolhidos, (4) Com a análise qualitativa incluída no
relatório, o cliente-mistério irá contribuir para a deteção de problemas, quer no
atendimento quer nos produtos. Muitas vezes é este olhar fresco e externo que é capaz de
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constatá-los, ao invés da empresa, porque a empresa olha para si própria com algum viés e
subjetividade; (5) uma técnica utilizada é também ir criando alguma rotatividade nos
clientes-mistério, para que visitem sempre lojas novas, para que não sejam reconhecidos e
para que não haja “vicio” (por exemplo, o cliente-mistério simpatizar com quem o atende, e
tornar-se até amigo!)
Quanto a desvantagens: (1) Os custos de um processo destes numa consultora poderão
ser mais elevados do que um processo de avaliação de desempenho clássico; (2) é
necessário investir na formação dos clientes-mistério e num bom recrutamento e seleção
dos mesmos. Na minha opinião, a postura ética é o ponto essencial do perfil de
competências de um cliente-mistério, porém é também um construto bastante difícil de
apurar num processo de seleção. Os clientes-mistério têm de ser pessoas sérias e
cumpridoras que não caiam em tentação de falsificar dados. Penso que qualquer profissional
que possua uma licenciatura sabe os princípios da investigação científica, e esta investigação
tem de seguir todos eles!
Como perspetiva de carreira, quem sabe no futuro não haja possibilidades de integração
de clientes-mistério em consultorias de recursos humanos.
Como já disse, poderá não ser um trabalho para qualquer pessoa: a tensão de ter de
mentir algumas vezes (por exemplo, dizer que não sabe nada daquele produto!), usar o seu
carro e o seu computador para tudo, trabalhar em casa, a pressão de ter de memorizar
informação e comportamentos para posteriormente preencher relatórios, a adrenalina e o
rosto a suar ou a corar, conduzir todo o dia, etc.
Por outro lado, penso que não há melhor designação para os clientes-mistério do que
agentes secretos ao serviço das empresas, só que neste caso não têm licença para matar,
mas sim licença para avaliar!
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9.Os “4 A’s” para se tornar um profissional de sucesso
Recordam-se das piadas que nos contavam nos anos 90 sobre o melhor vendedor do
mundo? Que o melhor vendedor do mundo vendia até a própria mãe? Que costumava-se
sentar-se ao lado do Papá? Que conseguia vender um barco a quem entrava num
supermercado com intenção de comprar apenas um elixir bucal? Essas piadas marcaram
essa época para mim e assim, ao começar a escrever sobre promover-se a si próprio o que
pensei foi: “Se eu fosse e melhor vendedora do mundo, conseguiria vender as minhas
competências e capacidades muito facilmente”. Pois, mas não é preciso chegar a tanto.
Numa altura em que quase todos os artigos que se publicam referem a grande
competitividade nas carreiras das organizações atuais, é inevitável falar de como ganhar a
vantagem face aos outros. Claro que a nossa sensação de sucesso ou fracasso é também
relativa, pois o que significa para uma pessoa ser bem-sucedido pode não o ser para outra. O
nosso sucesso mede-se diretamente pela medida em que acreditamos em nós próprios: é
mesmo tão simples como isso.
Não é fácil autopromover-se se não acreditar realmente nas suas capacidades. Como
poderia ser fácil? Faça um exercício de marketing simples: Pense num prato gastronómico
que deteste. Já pensou? Imaginemos, por exemplo, “Favas estufadas” (que é algo que
pessoalmente não gosto). E agora, o exercício é: tente vendê-lo a um amigo, ou seja, tente
convencê-lo a todo o custo que “Favas estufadas” é o seu prato preferido e que é ótimo!
Difícil, não é?
Pois é, isso também acontece consigo. Como é que você pode fazer com que os outros
acreditem que você é um excelente profissional, se a aquela sua “voz crítica” continua a
aparecer de vez em quando a dizer que há sempre alguém melhor que você? A lembrá-lo
que você nunca fez isto ou aquilo muito bem e que, logo, não é merecedor de sucesso?
A mudança tem de começar por si. Quando você decidir que merece algo, passará a
merecê-lo. Numa primeira fase, comece por questões exteriores, já amplamente debatidas
como é o caso do marketing pessoal: cuidados na indumentária, na linguagem corporal, na
comunicação com os outros, na autoapresentação em geral. Depois, vem a tarefa mais
difícil. O seu interior. Mudar as suas crenças mais íntimas pois são elas os seus grandes
obstáculos. Tentar fazer os outros pensar que você é autoconfiante, ou seja, fingir que
acredita em si próprio não vai funcionar, a não ser que já tenha um Óscar ou um globo de
ouro na sua prateleira lá em casa!
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Depois de muito refletir a este respeito, no campo das ciências humanas, há quatro
conceitos essenciais que acho que devemos estar conscientes e aos quais decidi chamar dos
“4 A’s”: o autoconceito, a autoestima, a autoconfiança e a noção de autoeficácia.
O autoconceito é a noção que temos de nós próprios. Neste caso, temos de focar a nossa
atenção no autoconceito de trabalho. O nosso auto conceito vai sendo formado ao longo da
nossa infância e depende também da cultura e da sociedade em que estamos inseridos. O
autoconceito é, no fundo, um conjunto de ideias, crenças e imagens acerca de nós próprios e
do que somos capazes. O autoconceito de trabalho é composto pelas ideias que temos
acerca de nós próprios como profissionais, é o que forma o nosso “eu” profissional.
Obviamente, se eu acho (componente psicológica) que sou incompetente e incapaz, vou agir
(componente comportamental) dessa forma ou vou agir tentando constantemente
ultrapassar o que acho que sou.
A auto estima está interligada com o autoconceito, porém esta tem sempre uma
componente afetiva, ou seja, gostar ou não gostar. A autoestima é o conjunto de crenças
afetivas que temos acerca de nós próprios. Quanto mais “gostarmos” de nós próprios,
melhor nos sentirmos connosco próprios. No entanto, ter uma autoestima elevada pode ser
um traço de personalidade estável (que é o que mais interessa a todos nós) ou pode ser
apenas algo passageiro. Muitas vezes, em momentos de sucesso profissional, sentimo-nos
orgulhosos de nos próprios e a nossa autoestima sobe, porém, se esta autoestima for frágil,
terá tendência a baixar.
A autoconfiança é uma palavra mais conhecida por todos. Agir com verdadeira
autoconfiança implica ter construído um bom autoconceito e uma elevada autoestima. Ter
autoconfiança significa ter uma atitude positiva face às suas próprias capacidades e face ao
seu desempenho. É a convicção de saber que se consegue levar uma tarefa a cabo e de fazê-
la bem.
Por ultimo, um conceito mais invulgar, o de autoeficácia. Para Albert Bandura (1977),
reputado autor da psicologia, o conceito da autoeficácia refere-se à avaliação que uma
pessoa faz da sua capacidade de realizar uma determinada tarefa. Bandura defende que as
pessoas que se percecionam como capazes de realizar uma determinada tarefa (ou seja, que
possuem alta autoeficácia), fazem muito mais esforço para realizá-la, têm muito mais
motivação para concluí-la e persevera mais tempo na sua realização do que outras pessoas
com baixa autoeficácia.
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Bandura defendeu quatro fontes possíveis para a autoeficácia. A fonte mais importante
é o próprio desempenho da pessoa nas tarefas em um determinado domínio (ex. se você
realizou várias tarefas bem no trabalho, provavelmente irá incorporar este bom
desempenho na sua autoavaliação como trabalhador, e logo, a sua autoeficácia no trabalho
subirá). A autoeficácia também pode ser influenciada pela observação do desempenho de
outras pessoas, que nos podem fazer refletir que poderíamos fazer algo melhor ou pior do
que os outros. Uma outra fonte de autoeficácia é a persuasão verbal de outras pessoas, que
podem nos convencer que somos ou não capazes de realizar algo e, por fim, os estados
fisiológicos também pode afetar nossa autoeficácia (se nos sentimos ansiosos face a
determinada tarefas, podemos correr o risco de concluir que nos sentimos assim porque não
somos capazes de realizá-las, o que poderá sem sempre ser correto!).
Note-se que estamos a falar de trabalho. Uma pessoa pode ter excelente autoconceito,
autoestima, autoconfiança e julgar-se eficaz, por exemplo, como pai de família, e, no
trabalho, ter os níveis de todos estes constructos bastante baixos!
Em conclusão, o mais importante a reter, é que tem de acreditar em si próprio, com
consciência que cada momento de trabalho vai ser processado por si e vai ser incluído no
seu autoconceito, e você vai atribuir-lhe determinado valor (autoestima) e isso vai fazer com
que passe a acreditar que é mais capaz ou menos capaz (sensação de autoeficácia). Para
construir uma boa auto eficácia, tem de atribuir todos os seus sucessos a si próprio e deixar
frases como “foi sorte de principiante” ou “aconteceu-me a mim, poderia acontecer a
qualquer outro” de lado! E não se culpabilizar cada vez que acontece algo menos perfeito!
Referências Bibliográficas
Bandura, A. (1997). Self-efficacy: The exercise of control. New York: W.H. Freeman
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10.Quer ser Teletrabalhador?
Se pensarmos profundamente, pode parecer uma noção saída diretamente de um filme
de ficção científica de há vinte anos trás: alguém está em casa, rodeado de monitores e
tecnologias e aparelhos complicados, vestido de pijama e todo despenteado mas, na
realidade, está a contactar diretamente com o seu “local” de trabalho. Afinal, veio a ser
mesmo assim…
Corria o mês de outubro do ano de 2003, quando se inaugurou o primeiro Telecentro em
Portugal, mais concretamente em Vila do Conde. Criado no âmbito do Preamp (Plano
Regional de Emprego para a Área Metropolitana do Porto), com objetivo de permitir a
empresas, trabalhadores e estudantes a utilização das mais recentes tecnologias de
informação. Todos os teletrabalhadores que não tinham possibilidade de montar um
escritório em casa, passaram a ter o Telecentro.
O telecentro está apenas disponível para pessoas com idade superior a 16 anos e facilita
aos utilizadores a utilização de computadores, internet, impressoras, scanners, e plotter para
impressão de grandes projetos.
Alguns meses depois foi inaugurado o segundo Telecentro em Valongo. Curiosamente,
trabalhei nos dois! Em 2003, fui formadora no Projeto Pêndulo e tive o meu primeiro
contacto ativo com a temática do Teletrabalho, que desde essa data tem sido um tema
constante na minha prática profissional.
O Programa Pêndulo foi um projeto cofinanciado pela Iniciativa Comunitária EQUAL, e
o seu principal objetivo consistia na dinamização de iniciativas que contribuíssem para a
melhor conciliação da vida familiar com a vida profissional, através da promoção de novas
formas de organização do trabalho com recurso às novas Tecnologias da Informação e
Comunicação.
Apesar da excelente iniciativa, não foi um projeto fácil, e penso que apesar do grande
sucesso na sensibilização de todos para as novas tecnologias, penso que não foram muitos
os formandos a conseguir vingar no mercado de trabalho através do teletrabalho.
Definir teletrabalho não é tarefa fácil, dada a variedade de experiências existentes no
mundo. Abordaremos de forma simples o tema, definido como uma modalidade de trabalho
com características próprias, que usualmente implica trabalhar à distância e utilizando as
tecnologias.
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Há já bastantes décadas que existe trabalho à distância. Talvez até há séculos se
pensarmos por exemplo, que há centenas de anos que muitos escritores redigiam os seus
artigos e enviavam-nos por estafetas para o jornal ou boletim onde eram publicados!
Consensualiza-se atualmente que teletrabalho implica que exista distância, ou seja, o
teletrabalhador encontra-se num ponto geograficamente distinto do local para o qual o
trabalho é realizado e que exista tecnologia, isto é, o recurso intensivo a meios informáticos
e de telecomunicações para o suporte e/ou entrega de teletrabalho. Por outro lado, tem de
existir um acordo claro e contratado entre os intervenientes
(teletrabalhador/empresa/cliente) que estabelece e regula as condições laborais (como) e as
condições de trabalho (onde e quando) se desenvolve o teletrabalho. Nesse acordo ou
contrato deve ser definido claramente a forma organizativa (a partir de casa do trabalhador,
em centros de teletrabalho, escritórios satélite, etc.) e a modalidade (tempo inteiro, tempo
parcial, ocasional ou sazonal).
Não podemos induzir que ser teletrabalhador é ter um contrato de trabalho com
determinada organização: talvez a expressão correta para esta situação fosse
“teleemprego”, porém ainda não surgiu esta expressão.
O teletrabalho é, no entanto, uma forma de organização do trabalho em grande
crescimento nas últimas décadas!
Durante alguns anos, houve algum ceticismo da parte das empresas (e creio que ainda
há!), pois algumas chefias não conseguem se desvincular da ideia de “ver” as pessoas a
“picar o ponto”. À medida que o planeamento do trabalho foi mudando para um
“planeamento por objetivos” (ao invés de ser por horas de trabalho), esta metodologia foi
ganhando pontos.
Infelizmente, aconteceu também um efeito um pouco “perverso”: algumas organizações
chegaram à conclusão que poderiam poupar bastante recursos económicos, contratando
“freelancers” em regime de teletrabalho, sem qualquer contrato de trabalho (mas antes
contrato de prestação de serviços) em que o próprio trabalhador arranja os seus meios de
trabalho (computador, telefone, etc.) e, com isto, aumentou o trabalho precário.
Na perspetiva das organizações, para implementar um projeto de teletrabalho com
trabalhadores “da casa” não chega simplesmente oferecer um portátil. É necessário um
projeto complexo, que identifique potenciais teletrabalhadores de sucesso, que preveja
formação para os teletrabalhadores e os não-teletrabalhadores, bem como a identificação
das tarefas que podem ser realizadas neste regime.
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Na perspetiva do teletrabalhador, é necessário hoje em dia dominar bastantes
tecnologias, como o telefone e o telemóvel, os programas informáticos básicos e específicos
da profissão, o Skype ou outras ferramentas de conversação em tempo real, etc.
Por isso, ser teletrabalhador poderá não ser ideal para qualquer pessoa. Desde 2003 que
acabei por ser teletrabalhadora em diversas modalidades, e neste momento, continuo a ser,
na medida em que vos escrevo este artigo no conforto da minha casa!
Depois de tantos anos, continuo a adorar trabalhar neste formato. Para ser
teletrabalhador é necessário saber trabalhar bem sozinho, impor-se objetivos (e algum
disciplina) a si próprio mas também saber impor-se alguns limites (por exemplo, fazer
pequenos intervalos para descansar!). Por outro lado, existe a grande vantagem de gerir o
seu próprio tempo e até de poder compatibilizar atividades de teletrabalho com atividades
de trabalho tradicional.
O Teletrabalho parece também ser uma das vias para combater a elevada taxa de
desemprego em Portugal e noutros países, contudo, com o avanço rápido das tecnologias
parecem ter surgido diversas “ironias do destino”: parecem existir muitas ofertas em
teletrabalho para “freelancers”, mas a maior parte das pessoas querem empregos (contratos
de trabalho)! Por outro lado, existem ofertas, mas nem todas as pessoas têm competências
informáticas suficientes para se tornarem teletrabalhadores…
Num próximo artigo, falaremos com detalhe das vantagens e desvantagens do
teletrabalho para as organizações e para trabalhadores. Porém, se este artigo chamou a sua
atenção, não deixe de pesquisar um pouco mais sobre este assunto ou até visitar alguns sites
da Europa, sejam de instituições ou de associações de teletrabalhadores9.
9 Sites a visitar Para saber mais: Telecentro de Vila do Conde: http://www.cm-viladoconde.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=37558 Telecentro de Valongo: http://telecentrovalongo.com/ Associação Portuguesa para o Desenvolvimento do Teletrabalho http://www.apdt.org The International Homeworkers Association: http://www.homeworkers.org/ The Canadian Telework Association http://www.ivc.ca/ Teleworkers Resource Web Page/Institute for Computer Based Learning:http://www.icbl.hw.ac.uk Telecommuting Jobs http://www.tjobs.com/ Telework Analytics http://www.teleworker.com/
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11.21 Princípios essenciais de etiqueta em entrevistas de
emprego
Não há fórmulas mágicas para conseguir um emprego ou se destacar pela positiva numa
entrevista.
Mas numa economia tão competitiva como a atual, quem está consciente das normas de
etiqueta a utilizar num momento de entrevista de emprego pode ganhar uns pontos de
vantagem.
Neste artigo abordamos vinte princípios essenciais de etiqueta para que um
entrevistador seja bem-sucedido numa entrevista:
1. Como já falamos em artigos anteriores, analise bem a roupa que irá usar, cumprindo
todos os pressupostos que leu no artigo acima referido. Reflita se a escolha da roupa é
adequada à organização para a qual está a concorrer. No setor da moda, teatro, publicidade
e semelhantes deve usar algo criativo, enquanto no mundo corporativo deve cingir-se a algo
sóbrio e idóneo. É costume nos jovens caírem em tentação de usar algo demasiado
desportivo.
2. O seu CV chegou à entrevista antes de si. Prepare o CV conscientemente, fazendo
pesquisa e tentando que o seu CV se destaque dos outros. Se optar por colocar fotografia,
tenha especial cuidado para que seja uma fotografia agradável.
3. Nunca é demais reforçar: Nunca minta no CV! Aprenda a reformular ou a fazer a
escolha certa de palavras. Em última instância pode omitir algumas coisas mas lembre-se
“Apanha-se mais depressa um mentiroso do que um coxo” (provérbio popular)! Se omitiu
algo, pode ser descoberto facilmente e, por isso, deve preparar de antemão uma explicação
plausível (nunca diga “esqueci-me”, claro), e ao dar a explicação não pode hesitar (por
exemplo, “como estive nessa empresa pouco tempo, achei não que não era muito relevante”,
“como essa função não tinha relação com esta a que estou a concorrer, resolvi ter o cuidado
de adaptar o meu CV antes de vos enviar a minha candidatura a esta função”, “Queria tornar
o meu CV mais claro, ágil e conciso, e para isso tive de reduzir algumas partes”).
4. Não fume ou beba antes nem durante uma entrevista. Não vá a locais que tenham
mau cheiro, por exemplo, uma praça de alimentação de um centro comercial (irá cheirar a
“fritos” o tempo todo!) ou até uma perfumaria (irá misturar perfumes e pode ser uma má
mistura).
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5. Chegue sempre um pouco antes da hora marcada (10 minutos é o ideal, pois se chegar
cedo demais demonstra comportamento ansioso). Não se esqueça de fazer o trajeto uns
dias antes, para não se perder.
6. Faça uma pesquisa sobre a organização, não só na página oficial da internet, como
também em jornais e revistas online, pedindo opiniões a colegas e procurando na imprensa
especializada (por exemplo, jornais de negócios, etc.). Se tal for possível, tente descobrir
antecipadamente também um pouco sobre o(s) entrevistador (es) como, por exemplo,
nome, grau académico e função na empresa: saber alguns destes detalhes poderá deixá-lo
mais confiante e preparado.
7. Se encontrar outros entrevistados na sala de espera, converse mas não revele muito
sobre si nem sobre o seu currículo. Tenha apenas uma conversa cordial. Nunca diga que está
desesperado, ou que já foi a muitas entrevistas ou outros factos negativos. Nunca sabe com
que está a conversar e não interessa nada que você seja o tema da entrevista seguinte! O
mesmo se aplica a si: Não fale de outros candidatos durante a sua entrevista! Aliás, uma
nova técnica em grandes organizações e quando se trata da abertura de vaga para cargos
competitivos, é colocar alguém da organização a observar discretamente os
comportamentos de quem aguarda pela entrevista, para depois conferenciar com o júri! Se
na sala encontrar alguém muito conversador, não evite a conversa. Pelo contrário, tente
inverter a conversa a seu favor, tentando descobrir se a pessoa sabe algo mais do que você
acerca da vaga ou dos entrevistadores.
8. À entrada, pode iniciar por agradecer aquela oportunidade. Espere que o entrevistador
lhe diga para se sentar e lhe indique o local adequado para o fazer. Usualmente, aguarda-se
que o entrevistador estenda a mão para o aperto de mão, porém em profissões que exijam
grande capacidade de comunicação, extroversão e criatividade, até é de bom tom iniciar o
contacto (por exemplo, representantes de vendas, criativos, etc.).
9. Não coloque nada em cima da mesa do entrevistador: nem carteiras e pastas, nem
cotovelos, nem mãos ou pés. Não olhe para o relógio, não masque pastilha elástica e evite
ao máximo interromper o entrevistador.
10. Durante toda a entrevista esteja consciente da imagem que está a projetar. Eduque a
voz, evite calão e se possível use algumas palavras eruditas ou termos próprios da vaga a
que concorre.
11. Sente-se direito na cadeira, com as mãos colocadas nos apoios laterais da cadeira ou
sobre os joelhos, evitando posturas demasiado rígidas. Evite gesticular demasiado, baixar a
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cabeça, apoiar a cabeça com a mão e tapar a boca, fixar os olhos na mesa ou cruzar os
braços (postura defensiva e desconfiada).
12. Apesar de raro, pode acontecer que tenha de participar numa entrevista telefónica (é
mais comum, por exemplo, quando se recruta alguém para trabalhar no estrangeiro), e
neste caso a sua voz e todas as suas características (inclusive pausas e hesitações) são de
grande importância. Se tiver um gravador, pode gravar um pouco da sua voz e ver se acha
que está ideal (hoje em dia quase todos os portáteis e telemóveis têm essa funcionalidade:
aproveite-a!)
13. Se possível treine a sua postura num espelho ou, melhor ainda, encontre um bom
amigo (de preferência uma pessoa atenta a pormenores e crítica) que lhe faça uma
entrevista fictícia. Um outro excelente exercício é tentar imaginar que somos um operador
de câmara e que está a ver a sua entrevista numa televisão. Imagine a câmara a filmá-lo,
imagine-se a si próprio e reflita se acha que está a causar impacto nos entrevistadores.
14. Mentalize-se que naquele momento você é um vendedor a representar-se a si próprio.
O produto que irá vender são as suas qualidades, experiências, competências e a sua
personalidade.
15. Se se tratar de uma entrevista de painel (com mais do que um entrevistador), não se
assuste e não canalize o olhar para apenas um entrevistador. Distribua o olhar, a postura
corporal e a resposta igualmente pelos vários entrevistadores.
16. É útil saber que existe um tipo de entrevista chamado “Entrevista de stress”. Não é
muito comum porque exige bastante competência para o entrevistador. Este tipo de
entrevista é mais utilizado em profissões cujo perfil profissional da pessoa a recrutar
contenha competências de gestão de stress, lidar com a pressão e prazos e profissões que
exigem concentração e elevada resistência ao cansaço (ex. controlador de tráfego, bolsa de
valores, gestão de reclamações de clientes, etc.). Durante a entrevista de Stress o
entrevistador pressiona o entrevistado de todas as formas possíveis, sempre formulando
perguntas diretas e até insultuosas (por exemplo “Então você acha que é capaz de executar
esta função, eu acho que não!”, “Acho que você não tem competências nenhumas!”, “Você
foi despedido várias vezes não foi? Acho que você não é capaz de lidar com este cargo!”,
etc.). Solução: mantenha-se calmo, pense que o entrevistador está a fazer isso para medir as
suas competências de gestão de stress.
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17. Durante a entrevista deve demonstrar-se à vontade para discutir detalhadamente o
seu CV e responder a todas as perguntas. Nunca é demais relembrar que tenha uma atitude
positiva perante os entrevistadores e sobre si próprio (sem cair na arrogância).
18. Lembre-se que paralelamente aos elementos profissionais, estão a ser avaliadas outras
competências: a capacidade de comunicação, a autoconfiança e o auto conceito laboral, a
estabilidade emocional, a capacidade de compromisso com a empresa, a energia e
criatividade, etc.
19. O salário costuma ser tema tabu para o entrevistado. Alguns autores acham que é um
assunto que deve ser abordado pelo entrevistador. Se o entrevistado sentir que há
realmente interesse em ser contratado, poderá abordar discretamente, perguntando se é
possível saber mais detalhes sobre as condições de trabalho.
20. No encerramento da entrevistada, agradeça e cumprimente o entrevistador, dirigindo-
se-lhe pelo seu nome e título académico.
21. Porém, no final de tudo nunca se esqueça de si próprio. Reflita, quase no final da
entrevista, se aquela vaga realmente lhe parece interessante para si. Pode não corresponder
aos seus interesses e se forçar a admissão pode até estar a perder outras oportunidades!
Depois de terminar e sair, faça uma autoavaliação pessoal. Analise os seus pontos fortes e
pontos a corrigir para futuras entrevistas.
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12.20 Princípios essenciais de etiqueta para
entrevistadores
Se você foi incumbido de fazer uma entrevista de seleção, tem uma árdua tarefa pela
frente. Pode parecer fácil e simples, mas não é.
Se foi nomeado para tal tarefa, deve ter alguma formação específica, mas se não a tem,
apresse-se a inscrever-se numa formação urgentemente.
Caso a empresa esteja a necessitar de um processo de recrutamento e seleção
profissional é bom considerar a hipótese a sub-contratação de uma consultora externa.
Porém, a entrevista de seleção é uma condição sine qua non do processo de seleção e
logo não poderíamos deixar de enumerar os princípios essenciais para que você seja um
entrevistador de sucesso.
1. Se possível, antes do processo de seleção iniciar define um exaustivo “Perfil de
competências” para essa função.
2. Nunca inicie o processo de entrevistas, antes de uma atenta análise curricular.
Cardoso (2001), aconselha a elaboração de uma grelha de pré-seleção, já que esta permitirá
eliminar alguma subjetividade, sujeitando todos os candidatos aos mesmos critérios de
avaliação. A grelha incide sobre a carta de candidatura e sobre o CV, e deverá ser baseada
em questões fechadas, de resposta Sim ou Não, subdivididas nos seguintes pontos: (a)
requisitos de base do perfil (escolaridade, experiência profissional, etc.); (b) Requisitos
emergentes da análise da função (por exemplo, relações interpessoais, trabalho em equipa,
competências especificas, motivações, etc.); (c) Aspetos Formais (apresentação da carta,
ortografia correta, C.V. claro, explícito e bem estruturado, etc.); e, por último, (d) Questões
Suscitadas e Classificação, onde se regista as dúvidas após a análise curricular, e se classifica
a candidatura em (+), (+/-) e (-).
3. Depois das grelhas preenchidas irá decidir quem irá a entrevista. Usualmente são as
candidaturas votadas com (+) mas em caso de escassez de candidatos, deverá aceitar
também os votados com (+/-). Existem outros sistemas mas este é simples e eficaz. À medida
que for apurando as suas competências como entrevistador poderá evoluir para outros
sistemas.
4. Depois de apurar a lista de entrevistados, organize o seu dia, marcando horas certas
para entrevistas, e reservando uns minutos para reler rapidamente o CV do candidato que
irá entrar de seguida. Não se esqueça de marcar um intervalo para si próprio pelo menos de
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2 em 2 horas. Se não o fizer, estará mentalmente cansado e incapaz de ter um bom
desempenho, o que prejudicará o processo.
5. Para realizar a entrevista escolha um espaço insonorizado, adequadamente
iluminado onde não sejam permitidas interrupções. Não deixe documentos importantes e
confidenciais na mesa.
6. Se for possível, tenha uma garrafa de água de 1.5 litros e copos, tanto para si como
para o candidato (dependendo do orçamento que tiver, poderá também ter algumas
bolachas e agua na sala de espera, o que dará uma melhor imagem à empresa).
7. Todas as regras de etiqueta para o comportamento humano se aplicam aqui: o
entrevistador deve comparecer bem vestido, elegante, com postura idónea, não fumar nem
beber álcool durante a entrevista e tratar o candidato elegantemente. Uma entrevista é um
ato comunicacional com objetivos específicos, mas não se dispensam as características de
um bom comunicador: ser claro, assertivo, com boa colocação de voz e equilibrado.
8. O entrevistador deve ir ao encontro” ao candidato, onde quer que ele esteja e
acompanhá-lo à sala da entrevista. Deve tentar pôr à vontade o candidato (ajudar a tirar o
casaco, falar do tempo, usar o humor, etc.) e esforçar-se por se dirigir ao candidato pelo
nome próprio e título.
9. Dependendo do número de candidatos/as que tem para entrevistar num dia, a
duração de cada entrevista pode ser adaptada. Todavia, uma entrevista de seleção nunca
deve ter menos de 20 minutos, nem mais de uma hora.
10. Resumidamente, vejamos alguns momentos: (a) o entrevistador começa por
identificar claramente a organização (tempo existência; volume de negócios; n.º de efetivos;
localização, cultura organizacional, etc.) e apresentar-se como entrevistador (nome,
formação e profissão e papel naquele processo de recrutamento e seleção; (b) explicita as
fases anteriores do processo de seleção e breve resumo dos objetivos da entrevista; (c) de
seguida, pede ao candidato uma breve descrição do seu percurso profissional. Ao averiguar
estes antecedentes pessoais, também se exploram episódios concretos de trabalho (fáceis
ou difíceis) que estejam diretamente relacionados com a função em avaliação, para saber
como o candidato se integrou neles e como os resolveu; (d) O entrevistador poderá
questionar sobre a filiação e respetivas profissões, atual residência e relações interpessoais,
como amizades e relações amorosas (muito discretamente). A exploração destes campos
tem como principal objetivo a avaliação da estabilidade emocional do indivíduo.
Relembramos que é ilegal fazer questões demasiado pessoais ou discriminatórias (por
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exemplo, relacionados com sexo, raça ou religião, perguntar, quer a homens quer a
mulheres, se está a pensar ter filhos, etc.); (e) depois é possível colocar algumas questões
clássicas: “Se tivesse de referir algumas qualidades que valoriza em si, quais seriam?”e “Se
tivesse de referir alguns defeitos, aqueles que sente que por vezes o prejudicam, quais
seriam?”; “A curto-médio prazo, 5 ou 10 anos, como se imagina no futuro, a todos os níveis?”
e “Tem algum sonho, não tanto um projeto, mas um sonho que gostaria de ver realizado?”;
(f) Por fim, explicita-se ao candidato como decorrerá o resto do processo, quando seria
emitido o parecer, e quando (e através de quem) ele poderá ter acesso aos resultados. O
fecho da entrevista era realizado com os agradecimentos e as despedidas.
11. Um autor essencial para esta temática é Chiavenato (1985) que considera as
seguintes fases na realização de uma entrevista: (a) constelação familiar; (b) história
educacional; (c) experiência profissional; (d) aspirações e planos para o futuro; (e) condições
físicas (mais requerido para algumas profissões como motorista, taxista, etc.); (d) fluência
verbal; (e) segurança aparente; (f) auto julgamento; (g) situação financeira e (h)
comportamento durante a entrevista.
12. O entrevistador deve explicitar claramente os termos e condições daquela vaga. Não
é justo deixar questões pendentes.
13. Não é ético gravar entrevistas de seleção. Repare que mesmo que peça autorização
ao entrevistado, ele estará sempre pressionado a dizer que sim, pois ele quer o emprego!
14. O entrevistador deve tirar notas discretamente. Esta é uma arte difícil de aprender:
retirar o essencial e escrevê-lo rapidamente e em letra legível. Tirar notas em excesso
quebram o andamento da entrevista. Relembre-se que cada segundo que perde a escrever
está a perder informação sobre o comportamento do entrevistado.
15. Lembre-se sempre que as entrevistas são contaminadas pela perceção do
entrevistador e pelo seu próprio estado emocional. Além disso, o estatuto e o poder
associado ao entrevistador, juntamente com mensagens verbais e/ou não verbais que
transmite, poderão ser o maior emissor de parasitas, gerando no candidato
comportamentos como o mutismo, a tentativa de sedução ou cumplicidade, que poderão,
também mascarar a sua verdadeira face (Cardoso, 2001:75).
16. O entrevistador deve reservar os momentos finais para dar oportunidade ao
candidato de fazer perguntas adicionais.
17. Por outro lado, na conclusão/fecho da entrevista (Cardoso, 2001:114) sugere que se
informe o candidato da sua performance durante a avaliação já que isto “constitui um
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feedback importante para o candidato, tanto a nível da sua candidatura atual como nas
futuras”
18. Aqui apresentamos um breve exemplo de um guião de entrevista simplificado e bem
elaborado:
� Em breves minutos, fale-me de si e da sua história.
� Que competências adquiriu ao longo do seu percurso profissional?
� Quais as atividades mais relevantes em que participou?
� Porque se candidatou a este emprego?
� Quais os seus projetos no curto e médio prazo?
� Quais os seus pontos fortes e menos fortes?
� Quais as razões porque devo contratá-lo?
� Quais as condições remuneratórias que pretende?
� O que significa para si o emprego ideal?
� Como ocupa os seus tempos livres?
� Como projeta a sua vida daqui a 5 anos?
19. Para alguns autores como Cardoso (2001) quase todos os elementos recolhidos
através de avaliação psicológica, podem ser obtidos através de entrevistas individuais
altamente estruturadas, baseadas em perfis de competências, análises de funções, etc.
20. Caso ache realmente necessário realizar provas de avaliação psicológica, apenas os
profissionais inscritos na Ordem dos Psicólogos podem fazê-lo, pois são os únicos habilitados
para esse tipo de avaliação10. Neste momento existem provas aferidas e validadas para
imensos construtos importantes como, por exemplo, capacidade verbal e matemática,
liderança, otimismo, testes de aptidão específicos, testes de inteligência geral, concentração
e resistência ao stress, provas de avaliação de características de personalidade, etc.
Referências Bibliográficas Cardoso, A. (2001). Recrutamento e Seleção de Pessoal. Mafra: Lidel - Edições Técnicas, Lda. Chiavenato, I. (1985). Administração de Recursos Humanos. São Paulo: Editora Atlas, S.A.
10 Para saber mais Sobre profissionais credenciados para aplicação de provas psicológicas, visite o site oficial da Ordem dos Psicólogos Portugueses: http://www.ordemdospsicologos.pt/
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13. Stress? Reduza a sua vida ao essencial!
Se existe algum segredo para viver bem e feliz é este: Reduza a sua vida ao essencial!
Nos dias de hoje, o estresse é uma das maiores problemáticas que as pessoas
enfrentam, principalmente o estresse ocupacional, vulgarmente denominado “estresse
com o trabalho”.
Esta distinção é ténue mas importante. Se você não trabalha ou não tem um emprego,
isso não significa que não tem ocupações. Um pai ou uma mãe que passam o seu dia em
casa, vivem o estresse das suas ocupações: cuidar dos filhos, ajudá-los nos trabalhos da
escola, fazer o jantar, arrumar a casa, reparar eletrodomésticos avariados, pagar as contas, ir
ao banco ou tratar de recados que todos nós conhecemos, são também ocupações que
geram, digamos preocupações! (Reparem até, que a própria palavra preocupações, significa
exatamente isso, as dificuldades em enfrentar as ocupações, se quisermos simplificar!).
Atualmente, a sociedade rápida e consumista em que vivemos, “consome-nos” mais
depressa do que nós conseguimos reagir à pressão.
Há algumas décadas atrás, vivíamos numa sociedade centrada na família e,
recentemente, passamos a viver numa sociedade centrada no trabalho e, na minha opinião,
numa sociedade cada vez mais centrada no dinheiro e nos bens materiais.
Esta minha opinião não é nova, partilho-a com dezenas ou centenas de pessoas que se
têm dedicado à procura da felicidade, em geral, ou a linhas específicas como, por exemplo,
religiões, movimentos ou filosofias, etc.
Se você sente que o estresse está a consumir a sua vida, está na altura de reduzir a sua
vida ao essencial.
Este texto não é escrito apenas na perspetiva de psicóloga que sou, mas também de um
ponto de vista da minha segunda carreira, a de instrutora de Yoga. Juntando estas duas
perspetivas com a da gestão organizacional (pois se reduzir o seu stress individual, terá
maior produtividade e mais elevados níveis de satisfação no seu trabalho), com o Coaching e
com a minha experiência subjetiva, enumero aqui alguns passos que deverá tomar para
reduzir a sua vida ao essencial.
1- Pondere o que é para si essencial. Parece fácil mas não é. Um exercício
simples é olhar à sua volta, refletir e fazer uma lista. Pense assim “Se eu não
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tivesse ISTO, vivia bem? Fazia realmente falta?”. Assim chegará ao que é mesmo
importante para si, no entanto, veja os pontos abaixo.
2- Não acumule objetos de que não necessita ou dos quais não gosta.
Garagens atafulhadas com coisas velhas são “energias paradas”, passados mal
resolvidos que o impedem de andar para a frente com a sua vida. Existem imensos
sites na internet onde pode vender coisas usadas e realizar capital para comprar
outra coisa que goste.
3- Olhe para todos os seus armários com “olhos críticos”. Observe a
quantidade de roupa que possui, as peças de loiça, eletrodomésticos, etc. Pense na
quantidades de coisas que tem, para as quais não tinha necessidade ou aplicação
há 10 anos atrás! Livre-se delas ou venda-as.
4- Repense as suas despesas mensais. Recentemente reduzi o meu pacote
de TV por cabo e acabei por pagar menos e encontrar mais tempo disponível para
outras coisas (ler, fazer uma caminhada, etc.). Analise bem as suas faturas de
eletricidade e outros serviços. Aproveite estes momentos para tomar decisões
familiares e não individuais. As crianças devem ser envolvidas desde pequenas na
educação financeira, permitindo com isto gerar participação e harmonia familiar e,
ao mesmo tempo, promover aprendizagens.
5- Quanto ao dinheiro, quer a falta quer o excesso, causa stress. O dinheiro
é um ACESSÓRIO que lhe permite viver. Não tenha dinheiro parado, nem em
contas bancárias nem debaixo do colchão! Aplique-o. Gaste o essencial, poupe
sempre uma parte e reserve um luxo por mês para si própria ou para a família
toda.
6- Seja solidário. Digo-lhe para poupar, mas também lhe digo para gastar.
Faz parte do bom Karma, ajudar os necessitados. Guarde o que puder para
contribuir para quem precisa, nem que seja um euro por mês.
7- Ginásios, cabeleireiros, depilações, lavagens de carros e outros gastos
supérfluos, guarde para ocasiões especiais. Procure um ginásio que não a penalize
por não ir lá um mês. Faça caminhadas ao ar livre ou compre uma bicicleta para
realmente percorrer as ruas! Claro que, se no ponto 1. Deste artigo, avaliou algum
destes itens como essenciais, pode mantê-los, mas pelo menos, conclua, sozinha e
depois de refletir, se são realmente essenciais.
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8- Uma boa parte das pessoas gosta de acumular bens e dinheiro. Talvez
isso lhes traga de alguma forma, um conforto para lidar com as incertezas que
enfrentamos na vida. Mas isso é adiar isso mesmo: a aprendizagem que todos
temos de fazer que a vida é incerta e está sempre a mudar.
9- Ande a pé. Conheço pessoas que se deslocam uns metros ou 1 km de
carro! Vá pelas escadas, vá a pé, estacione o carro longe da entrada do
supermercado!
Iremos agora abordar outras técnicas para reduzir a sua vida ao essencial. Se até aqui
estivemos a falar de aspetos mais materiais, na segunda parte abordaremos aspetos
psicológicos, sociais e laborais.
Nesta segunda parte, iremos abordar questões mais centradas na sua
disponibilidade mental, ambientes sociais e laborais.
1- Elimine o excesso de notícias. É importante estar a par do que acontece
no país e no mundo, mas dou-lhe um conselho: COMANDE a sua própria vida. Não
se deixe invadir por telejornais televisivos. Procure VOCÊ as notícias na internet ou
na rádio ou na imprensa escrita (esta última é a que eu prefiro pessoalmente!).
Quando eu era criança dizia-se, antes das refeições “vamos jantar. O ‘comer’ esta
na mesa…vá acabou a televisão”. As pessoas demonstram hoje traços de
personalidade realmente MASOQUISTAS! Queixam-se da vida mas querem ouvir
mais e mais notícias de teor negativo. A comunicação social descobriu que é fácil
“vender” notícias trágicas e dramáticas e, por isso, empurra-as pelos olhos dos
telespectadores.
2- Seja crítico. Se não consegue viver sem ver todas as notícias, pelo menos
reflita. Pense que a comunicação quer vender tempo de antena, logo, muitas vezes
deturpa ou enaltece notícias para conseguir chamar a atenção. Não tome
quaisquer decisões com base no que vê na televisão.
3- Metade das complicações ou problemas que você sente na sua vida, são
gerados por si. Assim, reduzir a sua mente ao essencial é imprescindível. Não é
fácil nem rápido. Centrar-se no presente é bastante complexo, porém, com o fluir
da vida, irá cada vez mais aperceber-se que uma boa parte dos seus pensamentos
dizem respeito ao futuro e ao passado, e não ao presente. Eliminar o “lixo” que
popula as nossas mentes atualmente é o topo da prioridade de qualquer pessoa
que realmente deseja ser feliz. Pode começar por pesquisar técnicas de meditação,
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aulas de yoga online ou se preferir, seguir à risca alguns dos conselhos da sua
religião, pois grande parte dos princípios religiosos apelam à paz de espírito, à
solidariedade e à busca pela harmonia.
4- Elimine tudo o que é “tóxico” para si. Relações, hábitos, sítios, tudo.
Pode começar com coisas simples: por exemplo, há uma pessoa que você não
suporta, mas sente algum tipo de obrigação moral de a “aturar”. Pondere se essa
obrigação é real e se vale a pena sofrer com essa convivência. Se chegar à
conclusão que não…corte imediatamente. Todas as relações que o fazem sentir
mal consigo próprio, fazem-no exatamente sentir mal, PORQUE não é suposto
estarem na sua vida. Deixe-as ir.
5- No que respeita a relacionamentos, quer amorosos quer de amizade,
esta lei aplica-se claramente: A lei do menor esforço. Você não pode estar a fazer
um esforço enorme para estar com determinada pessoa. As pessoas que o
rodeiam influenciam fortemente a sua vida, muito mais do que você possa pensar.
Rodeie-se de pessoas positivas. Elimine as pessoas pessimistas da sua vida. Elimine
as pessoas materialistas, que só pensam em bens e dinheiro. Ainda voltando ao
dinheiro (tema do artigo anterior), uma boa parte do dinheiro é gasto em
ambientes sociais. Se você está numa fase de poupança, repense as saídas sociais,
e substitua-as por convívios em casa de um amigo ou na sua.
6- Livrar-se do stress é livrar-se de tudo o que é tóxico. Resta então falar
da sua situação laboral em concreto. Se o seu trabalho atual lhe causa stress,
então procure alternativas imediatamente. Esqueça a crise ou tudo o resto que
ouve nas notícias ou em rumores. Procure na mesma melhorar a sua vida laboral!
Se o seu trabalho lhe causa stress, mas você acha que ainda há algo a fazer, então
comece por si próprio. Não fique à espera que a sua entidade patronal faça algo.
Você também faz parte do problema, está tudo na mesma equação! Algumas
técnicas para reduzir o seu stress no trabalho são: (a) fazer pequenos intervalos
durante o dia. Não precisa sair do seu lugar. Simplesmente pare, esvazie a sua
mente e tente retornar ao que é essencial na sua vida. Pense nos seus filhos, no
amor, em momentos que o relaxam; (b) muitas pessoas têm por habito colocar
uma fotografia na secretaria ou no wall paper do computador. Esta é uma ótima
ideia, se realmente parar para as fixar durante um minuto. Pode ser uma foto dos
seus filhos, uma praia agradável, uma foto romântica, ou uma foto da casa dos
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seus sonhos ou de outro qualquer objetivo que quer atingir; (c) o corpo é
responsável por uma boa parte do seu stress mental no trabalho. A ergonomia é a
ciência que se dedica, em parte, a ajustar os postos de trabalho a posturas
corporais humanas mais confortáveis. Analise o seu posto de trabalho e a sua
postura, ponderando se a sua coluna, pescoço, mãos etc, estão em posições
ergonómicas; (d) ao fim de longas horas de trabalho é essencial fazer exercícios de
alongamento ou yoga.11
7- Por fim, o Stress gerado pelas tecnologias. Pode parecer estranho para
alguns, já que as tecnologias parecem o milagre que veio salvar as nossas vidas.
Mas pense bem: já sentiu que “tem de ir ver o seu email”? Já pensou que tem de ir
ver o Facebook? TEM DE ir mesmo? Então, você pode estar dependente. AS
teconologias são um acessório apenas. Não adira a demasiadas coisas, sites,
promoções, logins, etc. o ua sua vida vai começar a ficar ais complicada ainda! Não
permanece no facebook horas a fio, ou em qualquer outro site. Se você fica mais
do que 10 a 15 minutos no mesmo site o use não consegue passar 2 ou 3 dias sem
ir “à net”, então repense se isso não estará a ser tóxico para si.
Depois deste segmento de dois artigos sobre reduzir a sua vida ao essencial, esperamos
que pelo menos consiga dar pequenos passos neste sentido.
Não se culpabilize se não conseguir abraçar várias “reduções”. Celebre as que conseguir.
Aceite a sua mudança e congratule-se pelo primeiro passo: querer realmente viver uma vida
mais simples!
11 Existem muitos sites na internet que poderá consultar para aprender alguns exercícios ideais para realizar no seu local de trabalho, um dos quais, donde retirei esta imagem, exemplificativa. Visite este link: http://3.bp.blogspot.com/_UVwTpt-5TMw/TTTVLV0nseI/AAAAAAAAABA/idU386q_tMA/s1600/alongamento%2Btrabalho.jpg
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14. Se você não arranja emprego, sorria!
Eu sei que ao ler o título deste artigo o leitor ficou imediatamente indignado! Mas talvez
o ajude a começar a compreender o que lhe quero hoje aqui expor, se eu lhe disser que o
título alternativo deste artigo era “Sorria … para arranjar emprego”
O poder do sorriso nas nossas vidas é indiscutível. Existem milhares de investigações
científicas, em múltiplas culturas, etnias e raças do mundo, em áreas do saber tão variadas
como a neuroanatomia, a fisiologia, a psicologia e a antropologia, que estudaram a origem
do sorriso, as interpretações e as reações dos outros ao sorriso, e muitos outros subtemas.
O Sorriso é, por excelência, uma das primeiras formas de comunicação do bebé humano.
Com pouco tempo de vida, qualquer bebé saudável comunica através do sorriso, mesmo
que, muitas vezes, o sorriso seja involuntário. O sorriso é inato e até bebés que nascem
cegos e que nunca viram um sorriso, conseguem sorrir!
A nossa programação genética tem o sorriso na sua base de dados e, é por isso, que dou
por mim a ficar muito preocupada com estudos recentemente revelados que concluíram que
os portugueses sorriem cada vez menos.
Aliás, mesmo na minha rede de contactos pessoais, ao escrever este artigo, dei por mim
à procura de fotografias recentes de pessoas com quem me relaciono, nas quais essas
pessoas estivessem a rir ou a sorrir e tive de ir procurar fotos com mais de 3 anos. Será que
as pessoas se esqueceram do poder do sorriso? Será que pensam que não há motivos para
sorrir?! Será que estamos a perder uma das formas mais básicas de comunicar connosco
próprio e com os outros? Há quanto tempo você não sorri, sozinho, para si próprio no seu
espelho? Tanto o sorriso como o riso pessoal são assinaturas de marca da nossa imagem e,
por isso, temos de reconquistar esse poder.
Segundo o Prof. Freitas-Magalhães, um psicólogo que se tem dedicado à investigação
das expressões faciais nas últimas duas décadas, o sorriso tem dois componentes essenciais:
a estrutura (conjunto de músculos necessários para sorrir) e a funcionalidade (utilidade
prática do sorriso).
A investigação revela três tipos de sorriso: o fechado, o superior e o largo, em contraste
com a face neutra.
Recentemente com o auxílio de ecógrafos a três dimensões até já é possível verificar o
sorriso do feto. Não é pacífica, ainda, a explicação da função daquele sorriso.
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O Sorriso é uma das principais formas de criar vinculação, logo, como espera arranjar
emprego, se você não sorri? A sua foto do seu Curriculum Vitae está a sorrir para o
empregador? A foto que coloca nas redes sociais, tem o seu sorriso? Quando vai a
entrevistas, você sorri?
Se neste momento você está a pensar “Mas sorrir porquê?. Estou desempregado, sinto-
me deprimido…não tenho motivos para sorrir…”. Então você é quem mais precisa de sorrir!
A Risoterapia esforça-se por colocar as pessoas a sorrir, pois o sorriso, por si só,
contribuiu para a recuperação de estados depressivos e fortalece os pensamentos positivos.
Encare o seu ritual diário como equiparado a comer de forma saudável ou a ir ao ginásio
ou até a ir às compras. Você não pode ser feliz, se sorrir.
Não pense que vai encontrar um emprego fantástico e só depois poderá sorrir, porque é
exatamente o contrário. Se você quer arranjar emprego, sorria. Sorria já, não deixe para
amanha o que pode fazer hoje.
Aqui vão alguns exercícios.
Todos os dias olhe-se ao espelho. OU de manha ou à noite, fique um minuto da sua vida
a observar o seu rosto e sorria forçadamente.
Quando está em situações de espera, na fila de um supermercado ou de um serviço,
reflita e recupere a sua consciência de sorrir.
Introduza em si próprio este comando “Sempre que sentir os meus músculos a fazer cara
neutra ou má, aí, vou imediatamente sorrir”. Depois de se programar desta forma, você vai
abrir as portas das relações interpessoais.
Se você faz yoga, meditação ou exercício físico, durante todos estas atividades sorria.
Existe mesmo a meditação do sorriso: Sente-se calmamente, observando a sua respiração
em silêncio e sorrindo com os lábios. À medida que vai acalmando o seu corpo, vá
espalhando o sorriso por todo o corpo, meditando nas seguintes palavras “sorrio, o meu
coração sorri, os meus pulmões sorriem, os meus músculos sorriem, os meus rins sorriem”, e
assim por diante, até sentir que todos os seus órgãos e músculos sorriem…
Por fim, incorpore o sorriso nas suas atividades diárias: cozinhar, arrumar a casa, tomar
banho, etc, são momentos excelentes para intencionalizar o seu sorriso.
Depois de fazer este percurso, o sorriso voltará a fazer parte de si. Quando se candidatar
a um emprego sorria ao ler o anúncio, sorria ao enviar o CV e sorria na entrevista.
Quando você acreditar que o sorriso é a chave para conseguir o seu emprego, esse
emprego aparece para si!
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Iremos dedicar alguns artigos para que, passo-a-passo você largue o desemprego, se é
isso que realmente você quer!
Na minha tese de mestrado, denominada “Os Inempregáveis”12, tive a oportunidade de
desconstruir uma serie de ideias preconcebidas e mitos acerca do desemprego.
Em termos científicos, a investigação no campo dos impactos do desemprego procura
encontrar as estratégias de coping com o desemprego, ao invés de andar atrás das queixas
rotineiras e clichés habituais que as pessoas parecem adorar calcar e mastigar todos os dias!
(Por exemplo “Isto é uma desgraça”, “Está muito mau!”, “Ninguém me contrata”, etc.).
Há uns meses atrás estava a dar uma aula, no ensino superior, e falei sobre os impactos
positivos do desemprego. A maioria dos alunos ficou calado e com ar intrigado enquanto eu
desenvolvia o assunto, mas um aluno sentiu uma necessidade incontrolável de falar,
dizendo: “Como assim, professora? Positivos? Como assim?”
Até a morte tem impactos positivos! O universo equilibra-se, temos de morrer para dar
lugar ao próximo…como é que o desemprego não havia de ter impactos positivos?
Portanto, primeira tarefa que você tem a realizar é DESCONTRUIR algumas ideias que
você tem acerca do desemprego!
Grande parte das pessoas pensam que estão sem emprego por culpa de alguém, e
procuram colocar essa responsabilidade em governos, patrões ou noutra pessoa qualquer.
Aprenda desde já que as responsabilidades são partilhadas.
Uma boa parte dos problemas associados ao desemprego estão relacionados com um
DESJUSTE do mercado de trabalho.
A modalidade de contrato de trabalho sem termo (o que vulgarmente chamamos de “ser
dos quadros da empresa” ou “ser efetivo”) tem apenas 200 anos de história.
Porém, parece que uma boa parte da humanidade gostou desta modalidade. Um dos
desajustes e exatamente esse: você quer um emprego só, mas existem milhares de
trabalhos à sua espera, ou até existem milhares de oportunidades de criar os seu próprio
negócio e você não as consegue ver. Existe um ditado popular que eu gosto muito que diz:
“Procure oportunidade e não a segurança. Um barco parado no porto, está seguro, mas ira
apodrecer”. Um outro desajuste relaciona-se com as qualificações. Cada vez mais são
procuradas pessoas com qualificações elevadas (12.º ano) e com especialização profissional.
12 Poderá fazer o download gratuito da versão integral da Tese neste link: http://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/23703/2/68009.pdf
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Depois, desconstrua outra ideia: a taxa de desemprego. A comunicação social, quando
não tem outros assuntos a noticiar, adora ir remexer na taxa de desemprego, nem que esta
tenha variado uma décima apenas.
Vejamos: a taxa de desemprego, em média, em 2007 era de 8%, em 2009 era de 9,5%,
em 2010 era de 10,8% e em 2011 esteve um pouco acima (FONTE: www.pordata.pt).
Você tem de relativizar estas taxas! Em 2010, 526.382 de pessoas recebiam rendimentos
sociais de inserção da segurança social portuguesa. Se juntarmos aos que recebem outros
incentivos e aos que não querem trabalhar ou que tem trabalhos ilegais, a taxa de
desemprego nunca será a que é noticiada.
Não se deixe assustar por taxas, nem taxas de desemprego, nem taxas de outra coisa
qualquer. Estes são meros indicadores estatísticos que não representam a realidade.
Posso dizer-lhe que a situação é bem mais complexa e até lhe posso dar exemplos
pessoais: durante muitos anos que não tive emprego, mantive-me inscrita nos centros de
emprego e logo, fui contabilizada para as taxas! Nunca parei de trabalhar e sempre
apareceram mais e mais trabalhos, que hoje apelidamos de precários.
O limite entre precariedade e flexibilidade é ténue. No fundo, relaciona-se mais com a
sua vontade do que com qualquer outra coisa. A verdade é que comecei por ser
trabalhadora independente porque fui obrigada pelas ofertas que recebia. Mais tarde, presa
a uma secretaria, a um salário mensal, a um horário e a uma hierarquia, percebi que não era
nada disso que eu desejava para a minha carreira profissional e voltei a ser independente.
Não feche portas nenhumas. Livre-se de preconceitos e ideais feitas. Nunca recuse uma
oportunidade de trabalhar, seja em que formato for. Atualmente, tenho ouvido expressões
do tipo “Nem vale a pena trabalhar, vou pagar muitos impostos”, “Mais vale estar a receber
o subsídio e depois logo se vê”, “Oh, é muito longe, não vou andar todos os dias 100 km só
para ir trabalhar” e isto demonstra que as pessoas realmente não querem trabalhar.
Você não deve trabalhar para enriquecer, deve trabalhar para viver, e trabalho gera
trabalho. Se você fica parado, só gerará estagnação na sua vida.
Espero que com este artigo você comece a operar a mudança em si, enquanto ainda está
desempregado. É você que tem de se abrir ao mundo, e construir o mercado de trabalho
como você quer, mas para si, você tem de estar aberto às possibilidades que o mercado lhe
trás! Termino lembrando uma citação muito importante sobre a qual gostaria que refletisse
uns minutos: “Quando o trabalho é prazer, a vida e uma grande alegria. Quando o
trabalho é um dever a vida é escravidão”. Máximo Gorki
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15. Invista num PPR mas não esqueça do “PER”!
Durante as nossas vidas passam por nós milhares de pessoas. Entre familiares, família
afastada, colegas de escola, colegas de trabalho e outros breves conhecimentos, não sente
estranho quando pensa que, em média, só se encontra regularmente com 3 a 5 amigos?
Nos últimos meses a quantidade notícias sobre idosos isolados que morrem sozinhos
tem aumentado. Como sempre, a comunicação social dá atenção ao que vende e ao que
choca os espectadores, porém, mesmo não sabendo se o número real de idosos
abandonados, tem ou não aumentado, em todo o caso, a situação é preocupante!
Muitos de nós já temos um PPR – Plano de Poupança Reforma, você tem? Se não tem,
devia ter. Não há desculpas para não ter. Pequenos montantes por mês não custam nada a
poupar.
Durante toda a nossa vida como trabalhadores, de alguma forma ansiamos pelo
descanso, por essas tais ferias que chegaram no fim de uma vida inteira de trabalho, a
reforma!
No entanto, é elevado o número de pessoas para quem a reforma é sinónimo de uma
pequena morte.
Ao fim de 40 ou mais anos a trabalhar, trabalhar passa a ser sinónimo de viver, sem que
notemos. Vivemos a vida a correr, a ganhar dinheiro, a remodelar a casa, à procura de
promoções, a correr pela vida fora e, quando chegarmos ao fim? O que acontece?
Simplesmente, nada.
A reforma traz a muitas pessoas um forte sentimento de inutilidade, pior do que o
desemprego. Estar desempregado é (possivelmente) provisório, mas a reforma é um
atestado de incapacidade. Não sou útil, já sou velho, ninguém me quer, agora já sou “burro”,
são frases que, mesmo não ditas, existem na mente de reformados.
E não se iluda, todos iremos chegar lá!
Mahatma Gandhi costuma dizer que o desenvolvimento e evolução de uma sociedade
se mede ela forma como esta trata as minorias e os mais frágeis.
Todos seremos velhos, em breve! Mais 30 ou mas 50 não há grande diferença!
Por isso, é durante a sua vida que tem de investir num PPR, mas não esquecer o seu PER!
Considero o PER- Plano Emocional de Reforma, o seu plano de como irá ser a sua vida
social, amorosa e familiar, quando o trabalho acabar!
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Numa sociedade extremamente centrada no trabalho, as pessoas descuram os amigos,
os colegas e a família. Acham que tudo isso tem tempo, mais tarde. De repente, vêm-se
sozinhos, aos 40, 50 ou mais anos de idade, sem uma companhia sequer. Isto pode
acontecer a qualquer um de nos que não crie o PER.
A quantidade de pessoas que eu conheço que cortou laços com algum familiar é imensa.
Já para na falar na quantidade de pessoas eu se zangou com amigos por pequenas coisas. Se
a relação era tóxica, fez bem em afastar-se, mas não afaste outras novas amizades!
Passos para começar a criar o seu PER-Plano Emocional de Reforma:
1- Em primeiro lugar, está você. Se você não gosta de si ou não se sente
bem sozinho, então você não está em harmonia. Procure ajuda já.
2- Mantenha amizades. As amizades desfazem-se se você não mantiver
contacto. Ligue a antigos amigos, reate relações, enterre o passado.
3- Manter amizades implica que você faça algo. Ouço, muitas vezes,
pessoas dizerem “oh, ele nunca mais ligou”. E você? Fez algo? Porque é que as
pessoas ficam sempre à espera que os outros deem o primeiro passo?
4- Lembre-se desta frase “VOCÊ VAI MORRER”. Pode parecer mórbido, eu
sei, e muitas pessoas não sabem aceitar a morte, preferindo adiar o assunto. Se
você aceitar que vai morrer em vez de disfarçar o assunto, você começará a viver.
Pense como quer que seja o seu fim. Quer ficar sozinho, sem ninguém? Como
imagina o seu funeral…vazio ou cheio de amigos e família a honrá-lo?
5- Pense na quantidade de familiares com os quais já não fala há anos.
Pense porquê. Lembra-se? Provavelmente já nem se lembra porque é que não fala
com eles ou provavelmente, não existe nenhum motivo concreto! Tente reatar
contactos pelo menos com um ou dois familiares, já!
6- Use o facebook. Apesar de ter muitas desvantagens, tem essa vantagem.
Reencontre antigos amigos e contacte-os. Nunca pense que isso é perda de
tempo!
7- Tenha amigos próximos. Um ou dois amigos próximos são um elemento
saudável da vida humana. Alem da sua família, seu cônjuge e seus filhos, deve ter
amigos. O ser Humano é um animal gregário, precisa viver em grupo.
8- Grande parte das pessoas que sofrem de depressão, patologia que tem
crescido bastante em Portugal, não tem rede social de apoio, não fala, não tem
alguém de confiança com quem se abrir e, logo, o isolamento e os pensamentos
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destrutivos começar a ganhar terreno. Investir no seu PER é viver uma vida
saudável e prevenir psicopatologias.
9- Ao longo da sua carreira teve muitos colegas de trabalho. Ficou amiga de
algum? Talvez não. Então pense nisso. EM cada colaboração, formação, emprego
ou outra oportunidade de conhecer pessoas, tente pelo menos, manter contacto
com uma pessoa.
10- Não faça este PER com as pessoas que aparecem. Você tem direito a ter
pessoas que o fazem sentir bem e não a simplesmente acomodar-se a quem
apareceu. Existem milhões de pessoas em Portugal, com certeza, encontrará um
bom amigo.
11- Quando a sua reforma chegar, você tem de ter história em comum com
estas pessoas. Relembrar “Os bons velhos tempos” é uma atividade ótima e feliz,
desde que tenha vivido a sua vida sem arrependimentos e tenha aceitado que o
passado passou. Revisitar momentos felizes faz-nos sorrir e reviver o sentimento
de felicidade. Não reviste momentos infelizes ou miseráveis…simplesmente não
tem qualquer utilidade, a não ser que queira reviver a miséria…
12- Associações, clubes e hobbies são atividades a manter toda a vida, para
que na sua reforma possa continuar com esses entretenimentos.
Para avaliar se está no bom caminho a construir o seu Plano Emocional de Reforma,
imagine um mealheiro gigante e contabilize: (1) quantos amigos estarão lá, neste momento?
E daqui a 10 anos?; (2) quantos familiares próximos estarão vivos para conviver consigo
quando você envelhecer; (3) quantos ex-colegas de trabalho tem para tomar um chã ou
jogar um jogo de vez em quando?; (4) quantos hobbies tem? A quantos clubes ou
associações pertence?
Se o seu Plano Emocional de Reforma está fraco, comece já a investir nele. Lembre-se, o
trabalhão acabará, a reforma chegará, e esse deve ser um momento de descanso e
felicidade, e não de solidão de arrependimentos!
Boa sorte com o seu PER!
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16. Novas Profissões
Uma das coisas que você tem obrigatoriamente de fazer enquanto (AINDA) está
desempregado, é estar alerta e atento a tudo o que se passa a sua volta.
Neste artigo, queremos chamar a sua atenção para as Novas Profissões.
Como sabemos, o ser humano é “um animal de hábitos”, logo, muitas vezes as pessoas
simplesmente ficam fortemente apegadas (às vezes até obsessivas), com a profissão ou
função que exerceram no passado.
O mercado, tal como você, está constantemente em evolução! Não é fácil interiorizar
esta frase, mas você tem de se convencer de uma vez por todas que o passado não é
presente!
As novas tecnologias, as mudanças laborais e muitos outros fatores contribuem
constantemente para a criação de novas vagas e, para que você as fique a conhecer
facilmente, vamos enumerar, de forma rápida e fácil, algumas das Novas Profissões.
Para isto, realizamos algumas pesquisas e consultamos o recentemente lançado Guia das
Novas Funções 2012 da Michael Page.
Este guia identificou 15 novas profissões em oito setores de atividade diferentes! Em
suma, as profissões listadas neste guia são: (1) Atuário Especialista em Solvência II; (2)
Restructuring Manager; (3) In House Lawyer; (4) Diretor/Coordenador de RH; (5) HR Business
Partner; (6) Responsável de Formação; (7) Gestor de Desenvolvimento de Negócios
Internacionais; (8) Marketing Online Manager; (9) Community Manager; (10) Loyalty
Program Manager; (11) Medical Manager; (12) Medical Scientific Liaison (MSL); (13) Diretor
de Obras Internacional; (14) Diretor de Desenvolvimento de Negócio Internacional (15)
Delivery Manager (Information Technology).
Então, vamos resumir rapidamente, para si, algumas das profissões de futuro:
1. Diretor de obras internacional: O discurso da crise, deturpa a realidade. É muito
positivo descobrir que apesar da crise na construção civil, os recrutamentos da Michael Page
para funções de engenharia dispararam 140% em 2011 face a 2010! Logo, a primeira função
a referir é a de Diretor de obras internacional. Trata-se de um profissional responsável pela
gestão de empreitadas da empresa fora de Portugal (Brasil, Angola, etc). Os/as
candidatos/as devem ter perfil de ex-patriado, entre outras características, ser orientado
para os resultados, competências linguísticas (dos países que vai gerir) e com grande
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capacidade de adaptação multicultural (como eu vivi e trabalhei em Angola 4 anos, sei que é
bastante mais fácil dizer que realmente conseguir recrutar pessoas com estas
características!). A formação de base deve ser em Engenharia civil com experiência mínima
de cinco anos como diretor de obra no estrangeiro. A remuneração pode rondar os 60 a 80
mil euros/ano (aos quais se adiciona complementos pela expatriação, como por exemplo,
habitação, viagens, etc.).
2. Gestor de Comunidades: Este colaborador irá gerir a marca das empresas online.
Reporta ao diretor de marketing online (outra nova função) e é responsável pelo controlo e
monitorização da imagem da empresa na Internet. Preferencialmente deve ter Licenciatura
em Marketing, formação em plataformas online, fluência em inglês e abertura a novas
tendências. A remuneração pode rondar os 35 a 45 mil euros por ano (pode ter também
direito a retribuição variável).
3. Diretor/coordenador de Recursos Humanos. Este profissional deve ter experiência
em relações laborais e conhecimento da legislação. Nos últimos dois anos, têm sido exigidas
novas competências ao diretor de recursos humanos, nomeadamente no comando de
negociações coletivas, demissões ou assessoria jurídica. A licenciatura em Gestão de
Recursos Humanos ou similar, MBA ou pós-graduação na área, a experiência mínima de
cinco anos, fluente em inglês, com conhecimento das leis laborais e do mercado de trabalho
temporário, são competências essenciais. A remuneração oscila entre 65 e 75 mil euros por
ano, dependendo da experiência e da indústria.
4. Diretor de reestruturação de dívidas: As equipas de reestruturação de dívida vão ser
importantíssimas nos próximos anos, principalmente nas empresas da banca e setor
financeiro. Com Licenciatura em Gestão e Administração de Empresas, em Economia ou até
em Engenharia, estes profissionais devem ter também com pós-graduação em Finanças e
experiência em áreas de risco de crédito. A remuneração pode variar entre60 mil e 80 mil
euros (pode acrescer parte variável).
5. Advogado interno: Com a expansão internacional as empresas precisam cada vez mais
de contratar advogados com alto grau de conhecimento do setor e da empresa. Este
colaborador irá selecionar e coordenar as relações com sociedades de advogados. Deve ter
Licenciatura em Direito, experiência em operações internacionais ou no exterior, excelentes
conhecimentos de inglês e eventualmente de outras línguas e experiência de vários anos
numa sociedade internacional. A remuneração pode variar entre 35 e 45 mil euros por ano.
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6. Loyalty program manager / Gestor de programas de fidelização de clientes: Cada vez
mais retalhistas criam cartões de fidelização de clientes e a complexidade de alguns
programas exige que haja alguém que faça um acompanhamento permanente. O loyalty
program manager é uma figura essencial quando passamos a tentar conquistar a relação a
longo prazo com os clientes. A posição requer uma forte capacidade de coordenação
interdepartamental e sólidos conhecimentos de Marketing relacional. Considera-se ainda
uma mais-valia, a detenção de bons conhecimentos na língua inglesa. A licenciatura em
gestão e marketing é essencial e a remuneração varia entre 45 e 55 mil euros anuais.
7. Atuário especialista em Solvência II: A Diretiva de Solvência II - Diretiva 2009/138/CE do
Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de novembro de 2009, é dirigida aos seguros de
vida e ao acesso à atividade de seguros e resseguros e ao seu exercício. O Atuário é uma
função crítica na implementação dos objetivos estratégicos de uma seguradora ou corretora.
Tem a responsabilidade técnica de mitigar financeiramente todos os riscos incluídos numa
determinada apólice de seguro, através da análise estatística do levantamento histórico dos
sinistros relevantes, pela tarifa que lhe é atribuída. Em Portugal, já existem licenciaturas
orientadas especificamente para o Actuariado (Licenciatura em Matemática Aplicada às
Ciências Atuariais ou Ramo das Ciências Atuariais), mas, por ser recente, também são
requisitadas as Licenciaturas em Matemáticas Aplicadas às Ciências Económicas e
Empresariais, em Estatística e Investigação Operacional e em Economia. A remuneração
pode oscilar entre 30 a 45 mil euros por ano.
Além das profissões acima referidas a produção de conteúdos para a internet continua
em grande crescimento, bem como todas as profissões relacionadas com as Novas
Tecnologias. É nossa opinião que as profissões ambientais irão crescer fortemente nos
próximos anos. Com o envelhecimento da população portuguesa, cada vez é mais
importante a abertura de mais lares de idosos e, para tal, são indispensáveis os profissionais
de todos os níveis de formação nos ramos de Geriatria e gerontopsicologia.
Procure você novas profissões! Explore os campos que estão em crescimento, ao invés
de ficar a guardar candidaturas apenas da função que exercia no passado!
Para Ler ou fazer o download integral gratuito do GUIA completo visite o
link:http://www.michaelpage.pt/productsApp_pt/comunicacion/guia_novas_funcoes.pdf
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17. Desemprego: AÇÃO ou PreocupAÇÃO?
TUDO o que você precisa de fazer enquanto ainda esta desempregado-Parte III
Obviamente, se você está desempregado, fica preocupado. Todos compreendemos isso.
Porém, o limite tem de ser delineado fortemente, quando a sua preocupação o leva à
depressão, à baixa autoestima e, muitas vezes, à inação.
Como diz Karen Horney “A preocupação deve levar-nos à ação e não a depressão”.
Aliás, como vê pela própria palavra, a palavra AÇÃO, existe dentro da palavra preocupação!
Portanto, preocupar-se, é fazer algo, é agir, é lançar-se urgentemente para a frente.
Vejamos alguns passos importantes para conseguir fazer isto.
1- Um dos aspetos essenciais que a investigação científica no campo do
desemprego demonstra, é um forte sentimento de inutilidade da parte dos
desempregados. Você tem de urgentemente combater isso. Faça algo. Incentive-
se à ação. Não fique no sofá a lamentar-se que ninguém lhe dá emprego, esse
comportamento não resolve, em nada, a sua situação. AGIR significa mexer-se,
fazer algo. Inscreva-se num curso grátis, por exemplo.
2- Uma outra forma de combater a inação, é fazer exercício. Coloque um
desafio a si próprio de realizar pelo menos uma caminhada por dia. Não precisa de
ingressar no melhor ginásio da cidade! Saia à rua. Ao fazer isso, está fazer muito
por si. Está a por o corpo em andamento, a manter a forma, a apanhar sol e ar
fresco, a ver pessoas a rua, e quem sabe, a travar conhecimentos no café, na rua,
etc. As vantagens de uma caminhada de 5 a 20 minutos por dia são imensas! Até o
seu humor melhorará. Em cada caminhada que faz, imagine-se e visualize-se a
conhecer alguém que lhe pode abrir portas. Passe para a sua consciência que cada
pessoa com que cruza na sua vida inteira, terá um determinado papel. Todas, sem
exceção! Por isso, ficar em casa faz com que não encontre pessoas e, logo, poderá
estar a perder contactos e oportunidades!
3- Encontrar uma atividade de voluntariado será ótimo para si. Dirija-se a
uma associação, perto da sua residência e procure uma forma de contribuir. Não
se comprometa em demasia: 1 a 2 tardes por semana é o ideal, pois tem de
manter algum tempo livre para fazer candidaturas e marcar entrevistas.
4- O escritor Gustave Flaubert dizia “Talento significa uma enorme
paciência”. O próprio ato de estar desemprego, não é estar desocupado. Pelo
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contrário, estar desempregado é muito mais cansativo e trabalhoso! Mas a arte da
Paciência é uma arte difícil. Entretanto, as suas funções são muitas. Reorganizar o
seu CV, estar alerta, ler os jornais e revistas, pesquisar na internet (não só
oportunidades de emprego, mas novas abordagens, cursos grátis, e tudo o que
puder aprender de novo, sem investimento económico), manter-se ativo, arriscar
ir pessoalmente a empresas, marcar entrevistas, etc.
5- Mantenha uma BASE de DADOS de Candidaturas. Aproveite para fazer
disto a sua principal tarefa. Crie uma folha Excel onde deve listar, (a) todas as
candidaturas que fez, (b) para onde enviou o CV (morada ou email); (c) função a
que se candidatou, (d) coluna para colocar o feedback da candidatura, etc. Pode
incluir todos os dados que quiser. Além disso, se você adaptou o seu CV
devidamente, deve indicar na sua base de dados, que CV enviou, para evitar
confusões. Você deve sempre ter um CV muito resumido e um CV muito
detalhado, prontos a enviar. Depois pode ter Um CV para diferentes ramos/áreas
de atividade a que se candidata, potenciando e realçando as funções que
desempenhou que mais se adequam à vaga em causa.
6- Internamente, você estará agitado e nervoso, mas externamente, os
desempregados tendem a ficar imóveis, quase congelados! Tem de se esforçar
fortemente para não cair nessa imobilidade. Portanto, internamente você tem de
se autoprogramar para a Ação. Você tem de dizer a si próprio “Tenho de agir”.
“Não ficarei quieto”. “Com certeza existe algo a fazer, só tenho de descobrir o
quê”.
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18. Emprego: A “Técnica da Semente” e o FIO Vermelho
do Destino!
TUDO o que você precisa de fazer enquanto ainda esta desempregado-Parte IV
Posso garantir-lhe pessoalmente que esta técnica é infalível. Não existe melhor técnica
para arranjar emprego do que a Técnica da Semente. Tenho-a utilizado ao longo de toda a
minha carreira, e ainda ando a colher flores de sementes que plantei há vários anos!
Vou guiá-lo, passo a passo, para que você, no final deste artigo perceba perfeitamente
esta técnica que eu desenvolvi e denominei de “Técnica da Semente”, para que consiga
aplicá-la a si próprio.
1. Imagine que a sua vida é um jardim e você é o seu jardineiro. Só você planta o seu
jardim. Como é óbvio, não fique à espera que outra pessoa venha plantar o seu Jardim.
Esta metáfora é ótima, exatamente por causa deste ponto em particular! Não se esqueça:
Ninguém vem plantar o seu jardim!
2. Apesar de eu perceber pouco de jardinagem, é um facto de nem todas as
sementes irão vingar. A morte é uma realidade. Há sementes que nunca germinarão. Mas
é certo que, as mais fortes, sobreviverão ao excesso de sol, chuva, tempestades e outros
obstáculos.
3. Agora imagine que, cada vez que você se cruza por alguém na sua vida, está
plantar uma semente. Aqui, estamos a falar especificamente de relações laborais e
procura de emprego, mas isto poderia ser aplicado a imensas outras áreas da sua vida.
Atenção! Visualize isto já: Cada vez que encontrar alguém no seu caminho, você vai plantar
uma semente.
4. O Que é uma semente com potencial para crescer? Uma semente é plantar na
mente da pessoa com quem está a interagir, uma ideia de quem você é e do que você quer
exatamente para a sua vida profissional.
5. O Que é uma semente que vai morrer quase de certeza? Uma semente que vai
morrer na mente das pessoas é: entrar num discurso de crise, dizer que tudo lhe corre mal
na vida, pedir por amor de Deus que o ajude porque está desempregado, chorar à frente
da pessoa, mostrar-lhe as fotos dos filhos ou da família toda e contar o quão mal está a
passar, contar detalhes sobre patrões anteriores, etc., etc.
6. Uma FRASE-CHAVE: A semente é plantada com intenção, mas sem expectativa.
Diga às pessoas o que você quer, e não o que não quer. Diga que agora que está entre-
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empregos vai aproveitar para melhorar a sua formação, praticar algumas línguas ou
competências informáticas, e outras ações positivas. Ao dizer isto, mostra à pessoa que
você não é um desgraçado que toda a gente despede, você é uma pessoa que transformar
crises em oportunidades! Mas a frase-chave diz também que não crie expectativas. As
expectativas são a causa principal de todos os seus problemas! Não termine a conversa
com “fico à tua espera, hã!”, “Estou a contar contigo para me ajudares”. Não vá para casa
imaginar que aquela pessoa (a semente que você plantou hoje!), vai ser a sua salvação,
porque ela conhece alguém, que conhece o não-sei-quantos, etc., etc. Isso já são as
expectativas, que irão destruir o seu futuro.
7. Tente plantar pelo menos 1 a 2 sementes por semana.
8. IMPORTANTE: NÃO JULGUE, NÃO SEJA PRECONCEITUOSO, PLANTE A SEMENTE
EM TODO O SEU JARDIM. O Jardim é todo seu. Não evite os cantinhos, plante ao sol e à
sombra, plante aqui e ali. Traduzindo: não seja preconceituoso quando planta a semente.
Uma pessoa que conhece num café, quando vai comprar pão, a sua empregada de casa, o
carteiro, o diretor geral de uma empresa, pessoas que aparentemente você pode pensar
que “não tem nada que ver com a sua área”, podem ser a MAIS forte Semente que você já
plantou.
9. A Lenda do Fio vermelho do Destino. Para melhor clarificar a minha teoria da
Técnica da Semente, quero apresentar-lhe a Lenda do Fio vermelho. Esta lenda japonesa
diz que, todas as pessoas que se cruzam nesta vida, ficam unidas por um fio vermelho.
Imagine um fiozito vermelho de lã, atado ao seu pé direito e conectado a todas as pessoas
que tiveram um papel na sua vida. A Lenda diz que o Fio pode esticar milhares de
quilómetros, estreitar, torcer, mas nunca se quebrará. Estaremos eternamente unidos pelo
fio vermelho. Quando você planta uma semente, ela ficará para sempre à espera de uma
oportunidade de florescer. Quando você menos esperar, alguém lhe vai ligar!
10. A chave desta técnica é a paciência. Se você plantar muitas sementes, poderá
esperar menos tempo, mas todas as sementes demoram o seu tempo a germinar e
florescer. Pratique a arte da paciência. Não pressione as pessoas onde plantou sementes. E
acima de tudo, quando alguém lhe ligar com uma proposta, diga SIM. Sem dúvidas. Uma
porta abrirá outras portas. Não entre em discursos do tipo “Não era bem isso que eu
queria”, “Ah, não a recibos verdes não…”, “Ui, a proposta é para tão longe…”. Nada disso.
Esforce-se por colher essa semente, pois a partir dessa, germinarão muitas mais pois você
terá oportunidade de mostrar o seu melhor!
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19. Gerir o tempo no desemprego?!
Sim, Você precisa de gerir o tempo no seu desemprego. O Poeta alemão Goethe,
costumava afirma o seguinte “Quem é firme nos seus propósitos, molda o mundo a seu
gosto”. Se você está firme em arranjar emprego vai arranjá-lo, não duvide. Se não arranja,
talvez não esteja tão firme. O desemprego – ou entre empregos, como é mais correto
chamar se você está realmente firme – é apenas uma situação na sua vida, não é você. Daí
que a narrativa pessoal seja muito importante: você não É desemprego, você está
desempregado. Não inclua o verbo ser, mas sim o verbo estar.
Nas sessões de coaching de carreira que faço com os meus clientes, este é o primeiro
passo. Depois, um dos aspetos mais importantes é a Gestão do Tempo. Nesta situação em
que se encontra, é essencial tomar consciência da sua gestão do tempo porque: (1) em
primeiro lugar, irá aprender mais uma competência nova para valorizar as suas candidaturas
e para o seu próximo emprego; (2) em segundo lugar, porque o vai treinar para sentir menos
efeitos dos impactos negativos do momento entre-empregos.
Então vejamos os princípios ideias de Gestão do tempo para quem está desempregado:
1. Não deixe de formular objetivos. Os objetivos devem ser divididos em curto,
médio e longo prazo. Além disso devem ser realistas, mas não tão realistas que sejam
demasiado fáceis de atingir. Coloque-se desafios a si próprio todos os dias!
2. Mantenha uma agenda. Pode parecer estranho, mas a sua vida continua a precisar
de ser gerida. Não se livre dos pequenos rituais que você mantinha quando estava a
trabalhar. Escreva na sua agenda todos os seus compromissos de todos os tipos.
3. Gira o tempo do seu dia, distribuindo-o pelas diferentes áreas: pessoal, familiar,
desportiva, profissional. Na área familiar, procure visitar parentes ou estar mais tempo
com os seus filhos. Na área desportiva, inclua caminhadas ou algum tipo de exercício. Na
área pessoal, procure estar sozinho uma hora por dia para refletir e delinear objetivos.
Na área profissional, o seu trabalho principal é agora encontrar um novo emprego, por
isso, dedique entre no mínimo 2 e no máximo 8 horas por dia para esta tarefa.
4. O tempo é relativo. O tempo é subjetivo. A forma como você distribui o seu
tempo e como você fala sobre o tempo, influi na sua vida. Quando trabalhamos,
usualmente, grande parte das pessoas utiliza discursos como “Não tenho tempo para
nada”, “Agora já não dá tempo”, “o tempo passa tão a correr”. De repente, as mesmas
pessoas desempregadas, mudam drasticamente a sua perceção do tempo: “Já estou há
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muito tempo à espera”, “já devia ter aparecido um emprego qualquer”, “tenho excesso
de tempo e nada que fazer”. Evite estes dramatismos. O tempo é o mesmo e quando
você é firme nos seus propósitos, como diz Goethe, você molda o mundo a seu gosto.
5. Dedique tempo suficiente na procura ativa de emprego, mas não com os mesmos
métodos. Reserva um momento do dia para espalhar sementes (Leia o artigo anterior
AQUI), dirija-se pessoalmente ao centro de emprego ou a uma empresa onde queira
deixar o seu CV, vá à internet fazer pesquisa, leia o Jornal no café para verificar os
classificados, etc. Como diz o povo, há bastante tempo “Nunca coloque todos os ovos na
mesma cesta”, ou seja, para potenciar cada vez mais o surgimento do seu novo desafio
profissional, tenha muitas cestas, com vários ovos!
6. Invista em si. Pelo menos 2 horas por dia, tem de se dedicar a aprender algo novo.
Este aspeto é importantíssimo. Na sua agenda, sempre que ouvir alguém dizer algo que
você não faz a mínima ideia o que é, registe! Podem ser empregos, novas funções,
palavras que você não conhece ou tecnologias com as quais nunca trabalhou. Se você
não cumprir este ponto, você está a ficar para trás e NÃO Arranjará emprego tão cedo.
Feliz ou infelizmente o mercado de trabalho quer hoje pessoas atualizadas e curiosas
perante a vida!
7. Atente ao seu discurso. Você só ficou livre 8 horas por dia! O seu dia continua a ter
24 horas e por mais longas que lhe possam parecer estas 8h que você estaria a trabalhar,
elas são as mesmas 8h. E são exatamente as horas que você precisa para reformular
objetivos, procurar emprego, espalhar sementes, realizar candidaturas organizadas e cm
impacto, passar mais tempo com pessoas e passar mais tempo consigo próprio!
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20. Arranje trabalho já!
O pleno emprego acabou. É verdade, não é emprego para todos. Mas há trabalho para
todos, acredite.
Então o que quero dizer com isto? É simples. Um emprego é um contrato de trabalho
sem fim à vista. Se é isso que está à procura, é você que tem de mudar de uma vez.
Há um desencontro na sociedade portuguesa: há empregos para determinadas
profissões, que não coincidem com as competências de quem está sem emprego!
Só existem empregos como você os conhece há cerca de 200 anos. Dantes, grande parte
das pessoas tinham o seu próprio negócio.
Hoje em dia, são tantas as variedades de organização do trabalho, que talvez você nem
imagine!
Assim, vamos arranjar trabalho para si:
1. Adapte-se. Não parta do princípio que é o estado ou as instituições que são
obrigadas a arranjar-lhe trabalho. O trabalho é para si! Lute por ele e não desista.
2. Não se encaixe numa “caixa”. Há um ditado inglês que diz “Think outside the box”,
ou seja, pense sempre para além da caixa. Isto significa que, quando você exerce
determinada profissão ela mescla-se com a sua personalidade e você fecha-se numa
caixinha, rotulando-se (ex. “eu sou secretária”, “eu sou assistente de escritório”, etc.) e
esquece-se que pode desempenhar muito mais funções. Não negue oportunidades à
partida.
3. Consulte um especialista. No IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) e
nos serviços privados existem psicólogos ou conselheiros de orientação profissional que o
podem ajudar na sua reconversão profissional. A reconversão profissional ajudá-lo-á a
encontrar compatibilidade entre competências que possui de uma anterior profissão e que
se ajustam a novas profissões que queira prosseguir. Neste processo terá oportunidade de
realizar um balanço de competências, um portefólio de competências e, por fim, um bom
Curriculum Vitae.
4. Não coloque de lado a possibilidade do trabalho a tempo parcial ou até do
trabalho temporário. O trabalho temporário é, muitas vezes, um trampolim para um
emprego. Procure empresas devidamente acreditadas: é necessário ter Alvará para ser uma
empresa de trabalho temporário. Neste tipo de trabalho existem três partes: O trabalhador
exerce funções numa determinada empresa (empresa “X”) mas possui um contrato a prazo
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com a empresa de trabalho temporário (empresa “Y”). É uma oportunidade ótima para
novas aprendizagens e se se demonstrar um trabalhador competente, a empresa de
trabalho temporário poderá arranjar-lhe muitos outros contratos.
5. Reflita se não é capaz de criar o seu próprio emprego. Pode ser um pouco
assustador, mas existem profissionais que o podem aconselhar em diversas instituições e
existem diversas organizações que o fazem gratuitamente em programas de apoio ao
empreendedorismo. Além disso, existem programas específicos para isso, e um dos mais
bem sucedidos de todos os tempos é o incentivo ao micro-crédito para criar o seu emprego.
Inscreva-se num curso de empreendedorismo: mesmo que não chegue a criar o seu próprio
emprego, essa formação tem a tendência para lhe abrir os horizontes.
6. Não se assuste com os famosos “recibos verdes”. É verdade que o trabalho
independente ou o contrato de prestação de serviços, conhecido no senso comum como os
“recibos verdes” (que nem são bem verdes) são situações precárias. Não terá direito a
subsídios de férias ou subsídio de natal e outros benefícios sociais conquistados em Portugal
há bastantes décadas. Mas pense antes nesta oportunidade como uma situação flexível, pois
poderá despedir-se a qualquer momento que lhe surja outra oportunidade mais
interessante. Ademais é uma oportunidade de manter-se ocupado e ganhar algum dinheiro
e, muitas vezes, através dela conseguirá os contactos necessários para um emprego no
futuro (até falo por experiência própria neste caso!).
7. Caso semelhante acontece com o trabalho voluntário. É verdade que não ganhará
dinheiro, mas poderá escalar para um emprego. Apenas deve ter em atenção que nunca
deve realizar voluntariado mais do que 8 a 10 horas por semana e, se possível, evite fazê-lo
no âmbito do que considera ser a sua profissão principal. Esteja atento às promessas de ser
integrado num emprego na organização: se lhe prometem isso mais do que 3 meses, na
minha opinião, deve desistir ou diminuir a sua colaboração voluntária. Entretanto, criará
contactos, sentir-se-á útil e ganhará novas competências (ao invés de ficar sentado em casa).
8. “Aprende-se até morrer”. Nunca se julgue incapaz de aprender algo novo. Seja
paciente consigo próprio e permita-se experimentar. Inscreva-se em ações de formação:
existem muitas gratuitas e algumas que até pagam pequenos subsídios. Aproveite para
alargar (e manter) a sua rede de contactos. Vá trocando emails com conhecidos e nunca
tenha vergonha de admitir que está “entre-empregos” ou à procura de novas oportunidades
profissionais (evite a palavra desempregado, além de ter um teor mais negativo para os
outros também o tem para si!)
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9. Obviamente, leia todos os classificados de jornais e revistas que encontrar. Além
dos classificados, leia também outras notícias: esteja atento a empresas em expansão e
funções que recentemente surgiram no mercado de trabalho (por exemplo, toda a panóplia
de novas funções ligadas às energias renováveis). Se encontrou notícias sobre empresas em
expansão, envie uma candidatura espontânea, referindo essa leitura que fez na sua carta de
apresentação/motivação.
10. Inscreva-se em todos os sites de emprego que encontrar e noutros sites (por
exemplo, o Linked In, o Facebook, etc.). Marque presença nesses sites. Alguns permitem até
triar as ofertas e recebê-las diretamente no seu e-mail (mas não “feche” demasiado a busca,
pois poderá perder oportunidades). Se não percebe muito de tecnologias, está mesmo na
hora de se inscrever numa formação neste ramo. Não se deixe tornar obsoleto, pois também
é seu dever atualizar-se e acompanhar as mudanças no mundo do trabalho.
11. Vá a encontros, seminários e congressos da sua profissão ou de profissões
semelhantes. Muitos destes eventos têm um custo baixo e poderá passar o dia a conhecer
pessoas e, claro, a atualizar conhecimentos.
12. O teletrabalho chegou para ficar. Pode parecer invulgar no início, para quem
sempre trabalhou num determinado local de trabalho, agora ter de trabalhar na sua própria
casa, mas esta nova forma de organização do trabalho tem diversas vantagens. Tenha
cuidado com algumas ofertas que podem demonstrar-se “enganadoras” principalmente
aquelas que pedem que você faça um investimento inicial.
13. Aproveite oportunidades de realizar estágios profissionais. O plano nacional de
estágios do IEFP foi alargado para pessoas até aos 35 anos (esperemos que um dia alarguem
ainda mais a faixa etária admissível!). Além disso, existem imensos outros programas de
estágios, quer para a administração pública quer programas específicos de grande empresas.
É possível realizar um estágio quer tenha o 12.º ano quer tenha uma licenciatura. Se não
encontrar ofertas de estágio, você também pode pegar nas rédeas da situação: procure nos
seus contactos pessoais se não conhecerá nenhuma empresa a quem possa propor essa
oportunidade.
14. Nunca é demais aconselhar para investir num bom Curriculum Vitae. Tenha
sempre três versões à mão: Um CV detalhado em português, um CV resumido (de
preferência com 1 página) e um CV resumido em Inglês. O CV em inglês é mais adequado a
quem procura empregos no estrangeiro, mas lembre-se que cada vez mais multinacionais
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estrangeiras se instalam em Portugal e, muitas vezes, quem vem fazer a prospeção e o
recrutamento precisa CV’s em Inglês.
15. No CV nunca menospreze os passatempos. Pode parecer-lhe estranho que se dê
tanta importância a isso, mas esses detalhes contribuem para a compreensão de si como
pessoa e você não se divide em “pessoa” versus “trabalhador”! Uma pessoa sem
passatempos indicia ao recrutador que se pode tratar de alguém sem iniciativa, sem
criatividade, “pobre de espírito”, sem vida além do trabalho.
16. Além disso, um passatempo pode transformar-se num emprego: nunca se esqueça
disso. Pense bem se não gostaria de transformar esse hobbie numa oportunidade de
trabalho e faça pesquisas na internet sobre esse assunto. Caso decida concorrer a uma vaga,
diga na sua carta que apesar de nunca ter realizado essa função de forma remunerada, já se
dedica a essa área de trabalho há muitos anos nos seus tempos livres, o que demonstra o
seu gosto e paixão por esse ramo.
17. Envie candidaturas espontâneas bem elaboradas. Crie uma folha de Excel onde
controla as candidaturas que faz. Será terrível se alguém lhe telefonar e você já se recordar
para onde enviou candidaturas.
18. Esteja atento às iniciativas de promoção de emprego. Caso numa entrevista o
assunto venha à baila, fica sempre bem você mostrar conhecimentos sobre isto, por
exemplo, indicando à empresa que tem vantagens em contratá-lo devido ao facto de ser
desempregado, ou descontos dos impostos em caso de contratos específicos. Muitos
pequenos empresários não estão a par destas iniciativas (visite o site governamental em:
http://www.emprego2010.gov.pt/)
19. Se puder, não se limite a Portugal. Existem muitas ofertas de emprego para o
estrangeiro e será sempre uma experiência única na sua vida. Mais uma vez, deve ter alguns
cuidados como, por exemplo, pesquisar exaustivamente a empresa anunciante, questionar
com detalhe sobre as condições de trabalho e nunca ir para o estrangeiro completamente
desprevenido (por exemplo, levar telemóvel com roaming ativo, ter algum dinheiro na conta
e levar um cartão Visa).
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Caril de Negócios acompanhado de atitude positiva na carreira
e polvilhado com humor
Patrícia Bento Araújo
PORTAL GESTÃO: www.portal-gestao.com