artistas contemporâneos e escultura da antiguidade clássica/contemporary artists and sculpture of...

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Ficha técnica

TítuloActas do Encontro Arqueologia e Autarquias

EdiçãoCâmara Municipal de Cascais

EditoresMaria José de AlmeidaAntónio Carvalho

Design e paginaçãoDelfim Almeida

ImpressãoDPI Cromotipo

Tiragem1000 exemplares

ISBN978-972-637-243-1

Depósito Legal332691/11

Local | DataCascais, 2011

CapaFotografia de Danilo Pavone

Encontro Arqueologia e Autarquias

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Artistas contemporâneos e escultura na Antiguidade Clássica

Conceição NorbertoPós-graduada em Museus e Educação; Mestre em Museologia.

[email protected]

Panagiotis SarantopoulosCâmara Municipal de Évora

[email protected]

Resumo: Através do presente será possível estudar o passado? Apesar de não podermos comunicar/interagir com os protagonistas de dois milénios atrás, pensamos que sim. Mas, dada a impossibilidade de comunicar directamente com os criadores/construtores, na área da escultura, do mundo helénico-romano, recorremos aos escultores que vivem e/ou trabalham na região de Évora. Esquecemos por momentos a nossa formação na área das Humanidades e procurámos aprender como se esculpe hoje o mesmo mármore de outrora. A adesão ao nosso desafio foi entusiástica e nós reaprendemos a apreciar a arte antiga através da arte contemporânea. Aqui damos conta de algumas das experiências que partilhámos com os nossos convidados e o público que assistiu/frequentou a exposição “Imagens e Mensagens” no recém recuperado Convento dos Remédios, localizado junto da Porta de Alconchel, em Évora.

Palavras-chave: Antiguidade Clássica, Arqueologia Viva, Educação Museal, Liberaliatas Iulia Ebora.

Na Actualidade reconhece-se que museus e outras instituições culturais devem ter um papel específico na formação dos públicos, contribuindo para tornar as obras mais acessíveis e para estimular a aquisição de hábitos de fruição cultural.

Hoje não se pode ser estático, tem-se que criar lugares de confronto dos públicos com as suas expectativas e crenças sobre a arte, a sociedade, a criação e a imaginação que possam tornar cada um mais consciente na sua relação com os outros (GUIMARÃES 2002).

A aprendizagem, actualmente, é percebida como um processo activo, mas

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também, como uma actividade social com contexto específico. Esta nova teoria de aprendizagem, construtivismo, pode constituir uma oportunidade para se repensar as linhas de actuação. As pessoas são vistas como interpretes que negoceiam valores e produzem conhecimento. E, como refere Silva (2001), esta interpretação será capaz de criar desafios que conduzam os sujeitos à resolução de problemas que permitam reelaborar e acomodar os conhecimentos prévios, construindo novos significados e aprendizagens.

A instituição museológica deve assumir que o seu público é diverso e que tem diferentes expectativas e necessidades enquanto visitante ou utilizador da instituição. Desta forma é necessário desenvolver acções orientadas para “grupos-alvo” específicos e a utilizar mecanismos que permitam a comunicação nos dois sentidos; o feedback1 passa a ser o objectivo principal do trabalho de comunicação. (GARCIA 2003: 74). E para que essa comunicação tenha sucesso é cada vez mais importante que se conheça com profundidade o perfil dos seus públicos2. Só com este conhecimento se poderá conceber uma mensagem e escolher a melhor forma de transmissão.

A partir do momento em que se reconhece o seu carácter educativo passa-se a planear, conceber e produzir exposições comprometidas com “como os museus ensinam” e “como as pessoas aprendem”. Neste momento, surgem as exposições interactivas, aquelas comprometidas com a inteligibilidade e com a participação cognitiva do público. Passa-se, então, a adoptar como ponto de partida o modelo construtivista3, aquele é entendido como um fórum onde existem muitas oportunidades de aprender para os diferentes públicos. A aprendizagem é, então percebida como um processo activo, mas também, como uma actividade social com contexto específico. Esta nova teoria de aprendizagem, construtivismo, pode constituir uma oportunidade para os museus repensarem as suas linhas de actuação. Os visitantes são vistos como interpretes que negoceiam valores e produzem conhecimento (PADRÓ 2006: 16-17). Esta interpretação será capaz de criar desafios que conduzam os sujeitos à resolução de problemas que permitam reelaborar e acomodar os conhecimentos prévios, construindo novos significados e aprendizagens (SILVA 2001:115). Agora, o museu ou núcleos expositivos são lugares de encontro onde não se vai apenas ver, mas dialogar com o exposto e onde o público dá sentido ao objecto, interpreta seu significado e descodifica a informação.

A finalidade principal de uma exposição é criar condições idóneas para que se produza um diálogo visitante-objecto (FERNÁNDEZ 1993: 203). Independentemente do objectivo proposto em cada exposição, esta representa o principal veículo de comunicação entre o museu e o público.

Assim, numa exposição deve-se ter em conta a que público se dirige, para que se possam estabelecer as condições de diálogo entre os visitantes e objectos expostos. Da mesma forma que o público-alvo deve estar definido também deve existir uma 1 O feedback revela as dificuldades com a recepção da mensagem (HOOPER-GREENHIL 1994: 68).

2 Todos os indivíduos chegam ao museu com uma série de interesses e motivações prévias, baseadas na sua experiência de vida, na sua idade, nos

seus conhecimentos, na sua posição social, económica e social (…) Assim, os esforços do Museu devem centrar a sua atenção nos interesses e

necessidades dos visitantes.

3 O construtivismo tem a sua origem no campo das ciências cognitivas, particularmente nos trabalhos de Jean Piaget, nas obras sócio-históricas de

Lev Vygosty e nos trabalhos de Jerome Bruner, Howard Gardner e Nelson Goodman, entre outros. “O construtivismo é uma teoria psicológica pós-

estruturalista, uma teoria que constrói a aprendizagem como um processo de construção interpretativo e recursivo (…)” (FOSNOT 1996).

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programação de serviços educativos4. Tendo em conta todas as prerrogativas enunciadas as pessoas que dinamizaram

a exposição tentaram captar a atenção do público através de actividades e soluções expositivas diferentes, talvez inovadoras, para o espaço museológico que albergou a Exposição “ Imagens e Mensagens5”.

Na “Exposição Imagens e Mensagens” os seus dinamizadores procuram que a mesma estivesse sempre em “movimento”, com programas que convidassem a aprender e a reflectir. Neste sentido foram elaboradas uma série de actividades com vista a abordagem de diferentes tipos de público. Enumeramos de seguida as actividades realizadas.

A actividade “(ES)Cultura à Mesa” foi uma das actividades que tinha como objectivo apresentar a obra do ponto de vista do artista actual, fazendo um paralelismo entre o artista do passado e o artista do presente. Nesta actividade todas as quintas-feiras um convidado do meio artístico dava o mote para uma conversa informal realizada à volta da mesa (no espaço-café do Convento dos Remédios) tendo por ponto de partida a Exposição Imagens e Mensagens. No final de cada tertúlia os participantes visitavam a exposição e o convidado seleccionava uma peça explicando as razões dessa mesma opção. Assim, cada artista escolheu uma peça de referência e deu a conhecer às demais pessoas o motivo dessa escolha. De entre as 53 peças expostas foram escolhidas 9 peças. A artista plástica Mathi escolheu o Leão; João Cutileiro a Bailarina; Gonçalo Jardim o fragmento de Torso de Eros; João Sotero o Fragmento de Togado; Camol o Retrato de Mulher; Pedro Fazenda a Estatua com Patera; Luís Afonso a Estatua de Figura Feminina sentada num Trono; Susana Piteira a Ara Funerária de Canidia Albina; Gabriel Seixas o Friso Dórico com Paterae e Bucrâneos. No final de cada sessão era produzido um folheto onde se apresentava a peça da semana e a opinião do artista que a tinha escolhido, parte desta informação era divulgada através do guia da semana. A actividade iniciada com a artista Mathi e encerrada com o escultor Gabriel Seixas permitiu uma nova visão, uma nova interpretação da exposição “Imagens e Mensagens”.

Uma outra actividade que aqui partilhamos foi construída a pedido do público que participou na actividade “(ES)cultura à Mesa”, foi realizada todas as quartas-feiras, pelas 10.30 horas e denominava-se “Como nasce uma escultura”. Este programa consistia em Visitas a Ateliers de Escultores e observação da elaboração de esculturas.

Para além das actividades já enumeradas, importa referir as que foram realizadas no espaço da exposição Imagens e Mensagens estamos a referirmo-nos aos espectáculos de Marionetas (bonecos de Santo Aleixo e outros). Esta actividade captou público de

4 Apesar de no folheto disponível aos visitantes estar enunciado uma série de actividades, nada foi programado com a devida antecedência. De

salientar que a preocupação com os Serviços Educativos surge após a exposição estar aberta ao público.

5 A Exposição “Imagens e Mensagens” foi uma exposição de carácter temporário que esteve patente ao público desde de 25 de Novembro de 2006

até Setembro de 2007 no Convento dos Remédios em Évora. Resultou de uma colaboração entre o Museu de Évora e o Museu Nacional de Arte

Romana de Mérida. Esta exposição apresentou esculturas de diversas proveniências e de diversas funções: “Espaços Públicos e Mensagens em

Pedra”, com as esculturas do Templo e do seu fórum; “O Universo dos Defuntos: as mensagens eternas”, que apresenta as esculturas e epígrafes

fúnebres; “Vida privada e deleite das imagens”, com esculturas de ambiente doméstico; “Esculturas de pequeno formato da vida familiar”, em bronzes

e terracota; e a colecção de antiguidades romanas de Frei Manuel do Cenáculo, com um acervo que documenta a actividade deste coleccionador,

que fundou o Museu de Évora.

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todas as idades desde juvenis até público adulto.Através das actividades realizadas nos fizemos questão de existir sempre uma

interdisciplinaridade de saberes e de termos nas nossas actividades todo o tipo de convidados, desde de pessoas do meio académico até pessoas do meio artístico como pintores, escultores, poetas, professores, botânicos entre outros.

Em termos expositivos apresentamos no espaço uma solução provocadora para uns e inovadora para outros. O discurso expositivo foi alterado, ou seja optou-se em conjunto com CENDREV E CME6 por inserir no discurso expositivo outros elementos (marionetas). Desta colaboração resultou uma nova concepção expositiva que foi recebida com muito entusiasmo pelo público assim como pelos técnicos de museologia que nos visitaram.

Desta forma, como refere Stöger et al (2001) a acção do museu deve basear-se na convicção de que a compreensão do passado facilita a resolução de questões presentes, além de preparar o Futuro. Há, então, que aproveitar o Museu na sua essência para o projectar no mundo actual. Conceber e utilizar colecções e museus como peças chave da nova sociedade do conhecimento para não só acumular e transmitir informações e dados, mas também transforma-los segundo as necessidades de toda a sociedade, ou seja, dar-lhes maior utilidade e versatilidade no tempo e espaço.

Podemos concluir que hoje em dia é necessário compreender que vivenciar é mais importante que informar. As exposições podem desenvolver-se como poderosos espaços vivenciais, ajudando cada visitante a o olhar o mundo “com olhos de ver”. Pois é o olhar que nos permite ver as coisas e para além das coisas, buscar por detrás delas o oculto, o invisível, o essencial.

6 Responsáveis pela exposição de Marionetas Portuguesa.

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Fig. 1 Folheto de divulgação da Actividade “Cultura à Mesa” (frente/verso).

Fig. 2 Espectáculo de Marionetas no Convento dos Remédios.

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Fig. 3 Exposição “Imagens e Mensagens” com um novo discurso expositivo.

Fig. 4 Grupo de crianças explorando e manipulado os equipamentos dos escultores.

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Fig. 5 Actividade com o Escultor João Cutileiro.

Fig. 6 Visita ao Atelier do Escultor Pedro Fazenda.

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Bibliografia

ALONSO FERNANDEZ, Luis (1993) Diseño de exposiciones: concepto, instalación y montaje. Madrid: Alianza Editorial S.A.

CAETANO, Joaquim Oliveira, BASARRATE, Trinidad Nogales (Coord.) (2005) Imagens e Mensagens: Escultura Romana do Museu de Évora. [Évora?]: Instituto Português de Museus. Museu de Évora.

GARCIA BLANCO, Ângela (1997) Aprender com los objectos. Madrid: Ediciones El Visa, S.A.

GUIMARÃES, Samuel; LEITE, Elvira (2002) Habitares Serralves: 2001 e 2002 Porto: Fundação de Serralves.

HEIN, George E. (1999) The Constructivist Museum in The Educational Role of the Museum, HOOPER-GREENHILL, Eilean. London and New York: Routledge, 2ª ed.

JUANOLA, Roser; COLOMER, Anna (2005) Museos y Educadores: perspectivas y retos de futuro in HUERTA, Ricard (2005) La mirada inquieta – educación artíticay museos I. Valência: Romá.

LEITE, Elvira; VICTORINO, Sofia (2006) Arte e paisagem. Porto: Fundação Serralves.

PADRÓ, Carla (2005) Learning Theories Employed within Museum & Gallery Education: A Short Overview in Collecting and sharing good practice for lifelong learners in art museums and galleries in Europe, Collect & Share.

SILVA, Susana Gomes da (2001) “O valor educativo do Museu” in Educar Hoje-Enciclopédia dos Pais, vol. IV, Lexicultural-activ. Editoriais, Amadora, pp.112-115.

SILVA, Susana Gomes da (2006) “Museus e Públicos: estabelecer relações, construir saberes” in Revista Turismo e Desenvolvimento, 5/2006, Universidade de Aveiro, Aveiro, pp 161-167.

STÖGER, Gabriele; STANNETT, Annette (2001) “Museus, mediadores e educação de adultos: Práticas partilhadas em cinco países”, Viena, Büro für Kulturvermittung.