artigo lara sirlei cobragen
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O INTERPRETACIONISMO NA TEORIA ORGANIZACIONAL:
INTERAÇÃO E RELAÇÕES SOCIAIS ENTRE FUNCIONÁRIOS DE
UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR PÚBLICA NO PARANÁ.
Área: Administração
Luiz Fernando Lara (Unicentro) [email protected]
Sirlei Terezinha Gadomski (Unicentro) [email protected]
Resumo
No campo da teoria das organizações no Brasil existe grande predominância dos estudos
funcionalistas de abordagem dos fenômenos organizacionais, até o momento. A partir da década
de 1980 outras formas de interpretação desses fenômenos passaram a ser levadas em
consideração, dividindo-se em duas correntes: de um lado os interpretacionistas e do outro os
críticos ou pós-modernos. O presente artigo se insere no campo da teoria organizacional
interpretacionista em razão de estar ancorado, principalmente, em Erving Goffmann para analisar
a interação e relações existentes entre colegas de trabalho. Dentro desse direcionamento, o
principal objetivo deste artigo é investigar o processo de interação e as relações decorrentes entre
os integrantes do quadro técnico-administrativo de uma Universidade Pública no Estado do
Paraná, a partir do desenvolvimento de dois Processos Seletivos de Promoção (PSP), nos anos de
2008 e 2010, respectivamente, e que estavam previstos na Lei Estadual 15.050 de 12 de abril de
2006 que regulamentava a Carreira Técnico-Administrativa nas universidades estaduais
paranaenses. A pesquisa, ainda em fase de desenvolvimento, já aponta que, principalmente logo
após os resultados dos PSPs, houve uma divisão entre aqueles que obtiveram êxito na promoção, e
aqueles que não foram promovidos, causando celeumas e fraturas nas relações cotidianas.
Palavras chave: Teoria Organizacional. Interpretacionismo. Gestão de Pessoas.
1 Introdução
O estado do Paraná é um dos estados que mais investem na educação superior no
Brasil, pois dispõe de sete universidades estaduais: Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO), Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Universidade Estadual de
Londrina (UEL), Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Estadual do Norte
Pioneiro (UENP), Universidade Estadual do Oeste (UNIOESTE) e Universidade Estadual de
Ponta Grossa (UEPG). Neves (2012) informa que outros estados que dispõem de
universidades estaduais são: Bahia com 04 instituições, Ceará, São Paulo e Santa Catarina,
com 03 cada um, Rio de Janeiro com 02.
De acordo com dados da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior do
Paraná (SETI, 2012), a rede estadual de ensino superior do Paraná oferece 376 cursos
presenciais, 21 cursos a distância. Dispõem de 60.272 alunos matriculados nos cursos
presenciais e 14.910 alunos matriculados nos cursos a distância. Seu quadro de pessoal é
formado por: 7.408 professores, em que 5.889 são efetivos e 1.519 são temporários; 8.928
funcionários, em que 8.589 são efetivos e 340 são temporários.
Com a edição da Lei 15.050, de 12 de abril de 2006, ficou previsto o desenvolvimento
profissional na carreira dos Agentes Universitários que integram a estrutura organizacional
das instituições de ensino, públicas, do estado do Paraná. A UNICENTRO foi a primeira
instituição a realizar o Processo Seletivo de Promoção (PSP).
O Regulamento do PSP foi aprovado pela Resolução 260/2007 - CAD/UNICENTRO
e segundo esse Regulamento "o Processo Seletivo de Promoção é o procedimento por meio do
qual se implementa a movimentação funcional vertical na carreira, que se efetiva mediante
promoção interclasse, e pode ocorrer da classe III para as classes II ou I, e da classe II para a
classe I."
Durante o ano de 2008, mais especificamente no dia 17 de fevereiro de 2008, ocorreu
na UNICENTRO o primeiro Processo Seletivo de Promoção (PSP), quando foram ofertadas
81 vagas, na Classe I (nível superior), previstas no rol de funções do cargo, para a função de
Técnico em Assuntos Universitários. Nesse processo se inscreveram 74 Agentes
Universitários, e foram aprovados 48 (sendo 15 funcionário do campus de Irati onde a
pesquisa motivo deste artigo foi desenvolvida).
Em abril de 2010, no dia 25 de abril, ocorreu o segundo Processo Seletivo de
Promoção. Naquela oportunidade foram ofertadas 35 vagas para Classe II (nível técnico) e 34
Classe I (nível superior). Nesse processo, 88 funcionários se inscreveram para Classe I e 23
para Classe II. Como resultado, 10 funcionários se classificaram na Classe II (os quais foram
todos enquadrados), e 58 se classificaram na Classe I (desses, 31 funcionários foram
enquadrados conforme as vagas ofertadas).
O PSP foi composto das seguintes etapas: prova de conhecimentos específicos da
função de destino (60% do conteúdo) e de conhecimetnos gerais (40% do conteúdo), de
caráter eliminatório; prova de títulos, de caráter classificatório.
Os avanços funcionais do seu pessoal técnico-administrativo, promovido pela
UNICENTRO, foi contestado e alegado como inconstitucional. Os funcionários que lograram
exito de acordo com as especificações dos editais, entraram na justiça para terem seus direitos
reconhecidos, e após algum tempo obtiveram ganho de causa, mas isso ocasionou em
mudanças na Lei 15.050, de 12 de abril de 2006 (Plano de Carreira do Pessoal Técnico das
Universidades Estaduais). Nessa lei, que previa a promoção interclasses, existia um único
cargo na carreira. A partir da Lei 17.382 de 06 de dezembro de 2012 os dispositivos da Lei
15.050 foram alterados e a Carreira Técnica Universitária passou a ser composta por 3 cargos.
Entre outras alterações, não há mais promoção interclasses, somente intraclasse,
obedecendo os critérios estipulados nesta nova Lei.
Como decorrência dos dois PSPs ocorridos em 2008 e 2010, as relações internas entre
os funcionários, no processo de interação diária, não foram mais as mesmas. Conforme aponta
em entrevista a responsável pelo RH do Campus de Irati, pois o PSP “gerou muita
insatisfação entre os agentes que não foram aprovados no processo. Penso que seria
importante uma pesquisa junto aos servidores que participaram do PSP para melhor definir
essa insatisfação. As relações não são mais as mesmas, ficou prejudicado o relacionamento
interpessoal.”
Em função disso, nasceu um projeto de pesquisa visando identificar os pontos
negativos da interação entre os funcionários da Universidade Estadual do Centro-Oeste
(UNICENTRO), Campus de Irati-PR, decorrentes da experiência de participação nos dois
PSPs. Dessa forma, o presente artigo se desenvolve à luz da Teoria Organizacional do
Interacionismo Simbólico, usando como referencial maior o processo de interação
desenvolvido pelo sociológico Erving Goffman, em que nas relações entre grupos, poderá
existir até processos de agudização das relações deterioradas, quando um grupo passa a
hostilizar o outro, principalmente por meio do estigma que cria para identificar esse grupo que
lhe é, no mínimo, estranho. Na compreensão dessa intereção grupal, muitas vezes hostil,
utiliza-se, ainda, como referencial apontamentos de Elias e Scotson (2000). Visando alcançar
o objetivo principal e proposta deste trabalho: identificar como se desenvolveram as
interações entre os funcionários da UNICENTRO Campus de Irati-PR, a partir da sua
participação no dois PSPs, o presente artigo está dividido em: introdução, embasamento
teórico, metodologia, resultados iniciais e conclusão, além das referências.
2 Embasamento Teórico
Os estudos interpretacionistas em organizações estão inseridos no campo da teoria
organizacional que a partir da década de 1980 vieram se contrapor, como uma das correntes
opositoras, ao paradigma funcionalista que até entao vingava. (CALDAS; VERGARA, 2005).
Dessa forma, [...] a essência da crítica interpretacionista foca-se no objetivismo exacerbado, e até
certo ponto limitante, do funcionalismo. Para os funcionalistas, as organizações são
objetos tangíveis, concretos e objetivos. Para os interpretacionistas, as organizações
são processos que surgem das ações intencionais das pessoas, individualmente ou
em harmonia com outras. Elas interagem entre si na tentativa de interpretar e dar
sentido ao seu mundo. A realidade social é, então, uma rede de representações
complexas e subjetivas. (CALDAS; VERGARA, 2005, p.67).
Nesse sentido, os estudos de Erving Goffman procuram visualizar as representaçoes,
os fatores subjetivos das intereções sociais que ocorrem entre os invidivuos, em qualquer
contexto, principalmente os organizacionais.
O estudo das interações e relações sociais presentes em um grupo é levado em
consideração por Goffman (2008a, p.8), que assinala: “[...] qualquer grupo de pessoas
desenvolve uma vida própria que se torna significativa [...]” como é o caso de grupos de
pessoas que trabalham durante oito horas diárias quando desenvolvem interações sociais das
mais diversas, principalmente face a face. Ainda, segundo Goffman (2008a, p.8) “[...] uma
boa forma de se conhecer qualquer desses mundos é submeter-se à companhia de seus
participantes, de acordo com as pequenas conjunturas a que estão sujeitos”, de forma a
compreender as estruturas e significados de suas interações e relações. Isso possibilita
entender os processos dessa interação e o porquê da sua deterioração entre os funcionários
que foram promovidos e os que não lograram êxito.
A convivência dos indivíduos em um grupo inserido em uma organização, constitui o
que Goffman denomina como uma situação social, na verdade uma relação específica, que
“[...] emerge a qualquer momento em que dois ou mais indivíduos se encontram na presença
imediata um do outro e ela dura até que a penúltima pessoa saia”. (GOFFMAN, 2008b, p.13-
14). Nessas situações cria-se “[...] um ambiente que proporciona possibilidades mútuas de
monitoramento, qualquer lugar em que um indivíduo se encontra acessível aos sentidos nus de
todos os outros que estão ‘presentes’ e para quem os outros indivíduos são acessíveis de
forma semelhante”. (GOFFMAN, 2008b, p.13-14).
Indo mais além do que Goffman (2008b) especifica, pode-se dizer que nessas
situações, também são desnudadas e expostas as vilanias, as mazelas, defeitos e demais
elementos que depõem contra as atitudes e ações de muitos sujeitos que não se encontram
presentes no contato direto. O contato direto se dá entre participantes daquela interação, face a
face. Mas há uma combinação, um direcionamento de ações quando o assunto é de interesse
mútuo. São representações criadas e exteriorizadas em um mundo social pelos sujeitos que
dele fazem parte, e nessas representações se incluem imagens de si e dos outros, nas quais
fazem parte suas atitudes e formas de agir, seus méritos ou não. Nesse ínterim, situações são
comparadas e analisadas proporcionando, em muitos casos, insatisfações.
No jogo das representações diárias, bem como das interações, está presente outro
conceito de Goffman (2009), o de fachada pessoal que inclui os elementos fixos de
expressividade, próprios do ator social e compostos pelo sexo, idade, raça etc., e os
transitórios compostos pela expressão facial e composição corporal que podem variar num
processo de interação, ou numa representação, de um para outro momento.
Importante ressaltar que nas representações diárias elaboradas e expressas pelos
sujeitos, está presente um aspecto muito interessante, o status do sujeito, que de acordo com
Fernandes (1999) está associado à classe social, definida pela riqueza material. No caso das
interações entre os funcionários da UNICENTRO, pode-se dizer que o status está relacionado
ao nível e ao cargo que o indivíduo passa a ocupar na estrutura de cargos da instituição o que
lhe corresponde certa condição de riqueza material. Portanto o resultado de status na
hierarquia de cargos e o resultado financeiro advindo da nova posição que passa ou passaria a
ocupar interfere no resultado das interações sociais cotidianas de trabalho predispondo ao
conflito, ou pelo menos a um estranhamento.
Nota-se que a condição de status e de riqueza material coloca em confronto dois
grupos que fazem parte de uma mesma carreira, a de técnicos administrativos ou agentes
universitários e que deveriam estar em um mesmo direcionamento em prol das atividades que
desenvolvem pela instituição à qual estão vinculados. Há de se perguntar até que ponto o
fracionamento das relações causa rupturas, e se chega ao processo de estigmatização de um
grupo (os que não conseguiram a ascensão ou promoção esperada) e aqueles que lograram
esse objetivo, o que configuraria um estigma social?
Há de se registrar que o estigma, para Goffman (2008b) tem três tipos de natureza:
aqueles ligados às abominações do corpo, que dizem respeito às variadas deformidades
físicas; aqueles de caráter individual que levam o indivíduo aos vícios e a determinadas
práticas e condições condenadas pela sociedade, como os distúrbios mentais, os vícios de toda
ordem, o homossexualismo, o desemprego, tentativas de suicídio, e o comportamento político
radical; aqueles de origem tribal, raça, nação e religião, transmitidos por meio da linhagem e
que podem contaminar todos os membros de uma família.
Na concepção de Ribas (1986 p.16 apud LARA, 2012, p.50) o estigma se constituiria
como uma pré-noção que estabelece a estigmatização sobre uma pessoa que traz no corpo
uma determinada limitação, ou uma marca que a distingue pejorativamente das demais
pessoas. “Na realidade, é importante perceber que o estigma não está na pessoa ou, neste caso,
na deficiência que ela possa apresentar. Em sentido inverso, são os valores culturais
estabelecidos que permitem identificar quais pessoas são estigmatizadas.”
De acordo com Lara (2012, p.50) a “[...] explicação de Ribas (1986) é importante para
esclarecer que os estigmas são valores culturais criados pelos grupos sociais e que variam em
uma mesma sociedade, de acordo com seu período histórico, e de uma sociedade para outra; a
obesidade é um exemplo a ser considerado”. Pode-se acrescentar as marcas lançadas sobre os
elementos que distingue-os como integrantes de um grupo ou de outro.
Para Ribas (2000, p.117 apud LARA, 2012, p.158) o estigma “[...] é uma marca
infame, uma mancha na reputação um desdouro, uma desonra decorrente de uma opinião sem
maior ponderação ou conhecimento dos fatos. É ainda a etiqueta que aparece primeiro aos
nossos olhos e nos faz desconsiderar todos os elementos da identidade pessoal e social.”
Assim, passa-se a denominar o outro pela sua marca ou qualificativo. O que deve ser
destacado é que no caso de estigmatização entre grupos, essas marcas que são conhecidas em
um processo de interação, deixa de ser quando os indivíduos estão inseridos em outros
contextos.
Considerando o processo de interação apontado por Goffman (2009), a estigmatização
entre grupos foi estudado por Elias e Scotson (2000) que retratam todo o ritual e processo de
estigmatização entre residentes de uma comunidade e os que chegam tardiamente, e que
passam a ser denominados de outsiders.
Segundo Elias e Scotson (2000) os dominantes em uma dada situação social, se
sentem mais poderosos na maioria dos casos e se veem como pessoas ‘melhores’ portadoras
de um carisma de cunho grupal, uma virtude específica compartilhada pelos membros daquele
grupo e que faltam aos demais estranhos àquele grupo.
Para Lara (2012) o processo de estigmatização de um grupo lançado contra outro,
apresentado por Elias e Scotson (2000) pode ser aplicado nas várias situações em que os
grupos se estigmatizam. Nas relações em que se encontram os grupos que se pretende estudar
na UNICENTRO Campus de Irati, os que de um lado conseguiram sucesso no PSP e do outro,
os que não tiveram êxito. Partiu-se do pressuposto que existe um processo de estigmatização
de um grupo (os que não subiram de nível) contra aqueles que passaram para outro patamar
na carreira universitária. Mediante esse processo sseriam lançados estereótipos que permitem
distinguir os membros de um e de outro grupo. Para melhor compreensão das relações entre
estigma social e estereótipo, Lara (2012) sugere a seguinte relação:
FIGURA 1 – Relações entre Preconceito, Estereótipo, Discriminação e entre Atributo, Estereótipo e
Estigma.
Fonte: O autor.
Fonte: Lara (2012, p.66).
A respeito das relações existentes entre preconceito, atributos, estereótipos, estigmas e
discriminação, é importante o que Lara (2012) coloca:
PRECONCEITO
Uma ideia preconcebida que se constrói a respeito de algo ou alguém, de
caráter avaliativo, infundado, com conteúdo emocional, e que pode se
estender a todo um grupo ou categoria. Pode ser negativo ou positivo.
Diz respeito ao comportamento das pessoas. Por isso pode-se punir a
discriminação, ato expresso do preconceito, mas não se consegue punir o
preconceito.
DISCRIMINAÇÃO
Em sua forma
negativa é a
efetivação prática
do preconceito, por
meio de atitudes e
ações que visam
impedir pessoas e
grupos a gozarem
de direitos e
igualdade à que
fazem jus por força
de lei.
A agudização da
discriminação se
faz presente nas
práticas de
segregação e
extermínio.
ATRIBUTO
Caracteriza e
distingue o
indivíduo.
Nasce com ele ou é
adquirido ao longo
de sua vida.
ESTEREÓTIPO
Padrões mentais com os quais um grupo procura
qualificar outro grupo como tentativa de justificar as
diferenças existentes entre eles.
Nasce por meio de caracterizações que são repetidas
via automatismo.
De cunho cognitivo, de forma racional, tem a função
de fundamentar e justificar os preconceitos, que
estão na base (Allport, 1962).
ESTIGMA
Surge a partir de uma relação entre atributo e estereótipo (Goffman, 2008).
São valores culturais criados e estabelecidos que permitem identificar as pessoas e
estigmatizá-las (Ribas, 1986).
A demarcação entre um grupo e outro pelo processo de estigmatização social nasce a
partir do preconceito, de conteúdo emocional, que surge desde a avaliação de
alguém com base em suas ideias preconcebidas, sendo lançado a uma pessoa ou
grupo. Está ligado ao comportamento dos indivíduos. O preconceito quando
negativo, e crescente, se transforma em discriminação que se corporifica em ações
práticas com o objetivo de impedir que pessoas ou grupos desfrutem de direitos aos
quais fazem jus. Além dessa fase, a discriminação evolui para a segregação e
extermínio dos desiguais, como no regime nazista. O preconceito, em outro
direcionamento, possibilita a criação de estereótipos que são os qualificativos, a
racionalização na tentativa de justificar o preconceito, mediante os quais um grupo
procura justificar as diferenças postas como demarcações com relação a outro grupo
social. Por meio do automatismo da repetição os estereótipos passam a ser
considerados padrões de distinção entre grupos sociais. Os estereótipos aliados aos
atributos que nascem com os indivíduos ou são adquiridos por eles ao longo de sua
trajetória de vida, dão origem aos estigmas, a marca social, criada culturalmente e
lançada contra os indivíduos ou grupos, mediante os quais passam a ser
identificados na sociedade. (LARA, 2012, p. 66).
3 Metodologia
A proposta de estudo está inserida na metodologia qualitativa de pesquisa. Oliveira
(2005) destaca que uma pesquisa qualitativa se caracteriza por ser um estudo detalhado de um
fato, objeto, grupo de pessoas ou, ainda, ator social e fenômenos da realidade. A pesquisa
qualitativa tem a função de encontrar informaçoes fidedignas que visam explicar com
profundidade o significado e as características de cada contexto, em que se encontra o objeto
que está sendo pesquisado. Os dados, que alimentam a análise de uma pesquisa qualitativa,
poderão ser encontrados desde uma pesquisa bibliográfica, entrevistas, questionário, planilhas
à todos os instrumentos ou técnicas que são utilizadas com vistas à obtençao das informações.
Deslandes et al. (1994) coloca a pesquisa qualitativa como aquela que tem como
preocupação uma realidade a qual que não pode ser quantificada, em razão de ter como foco a
busca de respostas para questões por demais particulares, ao lançar mão de um universo de
significados, de crenças e valores ligados a um espaço mais profundo das relações e
fenômenos os quais não se reduzem à operacionalização de variáveis quantificáveis.
Como estratégia de ação, buscou-se identificar os funcionários participantes dos dois
PSPs, com vistas a se chegar a uma amostra de sujeitos com os quais se iniciou a coleta dos
dados relacionados aos pontos elencados nos objetivos, por meio de entrevistas semi-
estruturadas. Do Campus de Irati, da UNICENTRO foram 16 funcionários aprovados no PSP
de 2008 (15 para cargos de nível de ensino superior e 01 para cargo de nível de ensino
médio); 11 funcionários aprovados no PSP de 2010 (08 para cargo de nível de ensino superior
e 03 para cargos de nível de esino médio). A amostra, aleatória e não probalistica, para as
entrevistas consta de: 07 aprovados e 02 não aprovados no PSP de 2008; 06 aprovados e 05
não aprovados no PSP de 2010; 02 indíduos não participantes de nenhum desses processos,
perfazendo um total de 22 indivíduos. Até o presente momento ja foram entrevistados 50%
dos elementos da amostra. Pretende-se, em uma segunda etapa da pesquisa aplicar um
questionário com perguntas fechadas, com escala Likert, com uma amostra a ser definida,
para contrapor os dados e aprofundar a análise.
Para Haguette (1997), a entrevista se constitui de grande importância em estudos nas
ciências sociais, em razão de se constituir em um processo de interação social no qual o
entrevistador visa obter informações do entrevistado. Boni e Quaresma (2005) indicam que a
entrevista como técnica de coleta de dados, se constitui como a ferramenta mais utilizada no
trabalho de campo dos cientistas sociais, por meio da qual se busca obter dados,
principalmente subjetivos.
4 Resultados
Por meio dos dados coletados, é possível verificar que o PSP representou uma
oportunidade de desenvolvimento de carreira, com reflexos na autoestima dos participantes.
Com relação ao PSP de 2008, identificou-se que as dissensões forem mínimas em razão de
que foram ofertadas 80 vagas para os diferentes cargos e se inscreveram 74 pessoas que
reuniam os requisitos necessários. Já para o PSP de 2010 foram ofertadas 38 vagas para os
diferentes cargos, e se inscreveram 67 pessoas que preenchiam os requisitos exigidos, a
própria disputa e o resultado incidiram em dissensões entre os funcionários, o que gerou um
clima bastante difícil de convivência, principalmente em razão de que aqueles que foram e os
que não foram enquadrados em um novo cargo continuaram desenvolvendo as mesmas
atribuições. Isso gerou certa resistência e esfriamento nas relações, principalmente logo após
o resultado desse PSP.
Para se ter uma ideia da contraposição entre grupos, no início do processo de 2010
ocorreu a disseminação de emails informando que o PSP não teria lisura, ocorreram acusações
de alguns funcionários descontentes expondo que o PSP vinha apenas para auxiliar alguns em
detrimento de outros. Além disso, por parte daqueles que não participaram dos dois PSPs,
pois entraram depois na UNICENTRO, existe o registro de que ocorrem entre os funcionários
que não lograram êxito nos PSPs e os que lograram, formas de resistência ou de
relacionamento fracionado pelo meio da expressão do descontentamento, por meio de
apelidos, ou de respostas: “faça você, ora, afinal ganha mais”, ou, “ué, você não e técnico de
nível superior, deveria saber disso?”. Afora esses aspectos, a visibilidade de fratura nas
relações está presente nos contatos diários, muitas vezes frios, um pouco desconfiados, como
aponta Goffman (2008b) a respeito do monitoramento, bem como, de Elias e Scotson (2000)
quando abordam sobre as características que geram a sensação de pertencimento de grupo.
Talvez pela situação de não sucesso no PSP, o descontentamento, a não ascensão de status, a
sensação de insucesso tenha aproximado os indivíduos e lhes conferido uma sensação de
semelhança, de igualdade, de grupo dentro de um grupo maior que deveria ser a dos
funcionários da UNICENTRO Campus Irati.
4.1 Importância dos PSPs
Tanto para os que participaram no PSP de 2008 quanto para aqueles que participaram
no PSP de 2010, estes representaram uma oportunidade de crescimento na carreira,
valorização profissional e também de ganhar mais, consequentemente de “status” dentro da
própria instituição, bem como, da comunidade externa da qual fazem parte, uma cidade
pequena em que os salários não são lá muito elevados. Isso fica evidente nos depoimentos
coletados:
Uma oportunidade né, de até, de repente ter oportunidade de ver como eu me sairia
no outro sistema de avaliação [...]. (ENT.1, PSP-2008).
O PSP representou uma oportunidade, digamos singular dentro da instituição, de
poder, como já era alvejado, obter uma ascensão profissional, é... acho que isso foi
significativo pra mim tanto pra quanto os demais, as demais pessoas que
participaram do processo e foram contempladas com essa promoção [...].(ENT.2,
PSP-2010).
4.2 Critérios dos PSPs
Para participação nos PSPs foram estabelecidos alguns critérios obedecendo aos previstos
na Lei 15.050, de 12 de abril de 2006, Art. 27:
§ 2º A promoção interclasses ocorrerá exclusivamente por titulação e ocorrerá quando houver necessidade de preenchimento de vagas de funções de classes superiores, identificada através de sistema de dimensionamento de tarefas, na referência salarial imediatamente superior na série de classes de destino, na forma do Anexo IV desta lei e obedecendo: I. existência de vaga livre na classe de destino; II. existência de funções nas Classes I e II, previstas no rol de funções do cargo; III. exercício efetivo de, no mínimo, 7 (sete) anos na carreira; IV. prova de conhecimentos da função de destino, de caráter eliminatório; e V. prova de títulos, de caráter classificatório.
Com relação ao PSP de 2008, o edital previa os seguintes critérios:
Pode se inscrever o servidor que satisfazer as exigências do §2º do art.27 da Lei
Estadual nº 15.050/2006 e do §2º do art.4º da Resolução nº 260/2007 –
CAD/UNICENTRO, a saber:
Ser ocupante do cargo de agente universitário na Unicentro;
Possuir sete anos, no mínimo, de efetivo exercício na carreira Técnica
Universitária;
Possuir os requisitos para ingresso na função, previstos no Perfil
Profissiográfico da Função;
Não ter sofrido sansão disciplinar com pena de suspensão nos últimos doze
meses anteriores à data de inscrição.
Além desses itens, o edital previa critérios específicos por cargos envolvendo
requisitos pessoais, escolaridade e requisitos para o ingresso no cargo postulado.
Quadro 1 – Exigências para participação no PSP de 2008.
Cargo Requisitos Pessoais Escolaridade Requisitos para ingresso
Técnico
Administrativo Demonstrar atenção
Iniciativa
Trabalhar em equipe
Flexibilidade
Criatividade
Dinamismo
Comunicar-se
Autocontrole
Capacidade de observação
Senso de organização
Ensino Médio
Completo
Existência de vaga no cargo e na
classe.
Aprovação em concurso público
de provas ou provas e títulos.
Inspeção e avaliação médica de
caráter eliminatório.
Podem ser solicitadas outras
exigências vinculadas ao exercício
do cargo/função contempladas no
edital de regulamentação do
concurso público.
Técnico em
Assuntos
Universitários
Iniciativa
Trabalhar em equipe
Relacionar-se com flexibilidade
Capacidade de organização
Administrar conflitos
Capacidade de negociação
Visão crítica
Capacidade de comunicação
Capacidade de análise
Liderança
Curso de Graduação
em qualquer área.
Não haverá ingresso nesta função.
Extinta ao vagar.
Não haverá ingresso nesta função.
Extinta ao vagar.
Fonte: Elaborado pelos autores a partir do Edital Nº 01-2007/PSP
PSP 2010 Pode se inscrever o servidor que satisfazer as exigências do §2º do art.27 da Lei Estadual nº 15.050/2006 e do §2º do art.4º da Resolução nº 260/2007 – CAD/UNICENTRO, a saber: - Ser ocupante do cargo de agente universitário na Unicentro; - Possuir sete anos, no mínimo, de efetivo exercício na carreira Técnica Universitária; - Possuir os requisitos para ingresso na função, previstos no Perfil Profissiográfico da Função; - Não ter sofrido sansão disciplinar com pena de suspensão nos últimos doze meses anteriores à data de inscrição. Cargo Requisitos Pessoais Escolaridade Requisitos para ingresso
Técnico em
Biblioteca
Demonstrar atenção
Paciência
Iniciativa
Trabalhar em equipe
Flexibilidade
Criatividade
Senso de Organização
Capacidade de
observação
Dinamismo
Cordialidade
Capacidade de
localização
Comunicar-se
Ensino Médio
Completo.
Existência de vaga no cargo e na
classe.
Aprovação em concurso público
de provas ou provas e títulos.
Inspeção e avaliação médica de
caráter eliminatório.
Podem ser solicitadas outras
exigências vinculadas ao
exercício do cargo/função
contempladas no edital de
regulamentação do concurso
público.
Técnico em
Laboratório
Demonstrar atenção
Iniciativa
Trabalhar em equipe
Discriminar cores
Discriminar odores
Habilidade tátil
Capacidade de
comunicação
Senso de organização
Concentração
Dinamismo
Ensino médio
Completo ou Pós-
médio ou
Profissionalizante.
Existência de vaga no cargo e na
classe.
Aprovação em concurso público
de provas ou provas e títulos.
Registro profissional no órgão de
classe para as funções cujo
exercício profissional seja
regulamentado por Lei.
Inspeção e avaliação médica de
caráter eliminatório.
Podem ser solicitadas outras
exigências vinculadas ao
exercício do cargo/função
contempladas no edital de
regulamentação do concurso
público.
Técnico em
Assuntos
Universitários
Iniciativa
Trabalhar em equipe
Relacionar-se com
flexibilidade
Capacidade de
organização
Administrar conflitos
Graduação em
qualquer Área.
Não haverá ingresso nesta
função. Extinta ao vagar.
Capacidade de
negociação
Visão crítica
Capacidade de
comunicação
Capacidade de análise
Liderança
5 Conclusão
Apesar dos estudos estarem em sua fase inicial, já é possível confirmar o que aponta a
literatura utilizada como base para a pesquisa empírica. Os dados coletados nessa primeira fase da
pesquisa já permitem indicar isso. Dessa forma, o presente estudo possibilita uma contribuição à
gestão de pessoas dessa unidade em específico, pois a partir dos dados coletados poderá
desenvolver ações que visem minimizar os problemas relacionais nascidos da interação entre os
membros do grupo estudado, agora fracionado em dois grupos menores. Além disso o estudo
permite aprofundar as considerações de Erving Goffman no contexto das interações sociais
presentes no interior das organizações, indicando ainda, que a teoria organizacional de viés
interpretacionista poderá ser testada empiricamente.
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