a inseparabilidade entre decisão e acção: uma proposta para o treino do comportamento decisional...

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1 A inseparabilidade entre decisão e acção: uma proposta para o treino do comportamento decisional no Basquetebol Pedro Esteves & Duarte Araújo Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal Introdução A realização de tarefas aparentemente simples como atravessar uma passadeira, ou mais complexas como realizar um ataque no basquetebol, têm na sua base o processo de tomada de decisão. À medida que as condições do contexto e do próprio indivíduo se alteram, o atleta bem sucedido decide continuamente de modo a atingir o objectivo da tarefa com que se depara. Num jogo de basquetebol, por exemplo, será de todo infrutífero que um atleta realize um ressalto defensivo, mesmo que atinja uma elevação de 70 cm, se não atender à informação relativa ao deslocamento da bola, e o salto não lhe permitir agarrar a bola. Isto indica que o comportamento do atleta no jogo é eminentemente decisional. Foi a partir do relevante contributo de Mahlo (1969), com a noção de “acto táctico”, que se passou a valorizar o processo de tomada de decisão no quadro multi-factorial do desempenho desportivo. Não obstante este progresso substantivo, prevalece ainda uma separação teórica entre a decisão e a acção, ou se quisermos uma separação entre percepção, tomada de decisão e acção. A divisão destes aspectos do comportamento remontam à teoria do processamento de informação de Claude Shannon e Warren Weaver (1949), que concebe uma sequência de fases correspondentes à discriminação do estímulo, programação da resposta e realização motora. Perante este referencial teórico, entende-se que as decisões do basquetebolista se processam ao nível do sistema nervoso central, menorizando o papel do ambiente, e do corpo na selecção de um curso de acção. Realçamos que esta teoria de Shannon e Weaver foi inicialmente proposta com o intuito de explicar os aspectos formalmente definidos da comunicação em sistemas de

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A inseparabilidade entre decisão e acção: uma proposta para o treino do

comportamento decisional no Basquetebol

Pedro Esteves & Duarte Araújo

Faculdade de Motricidade Humana, Universidade Técnica de Lisboa, Portugal

Introdução

A realização de tarefas aparentemente simples como atravessar uma

passadeira, ou mais complexas como realizar um ataque no basquetebol, têm

na sua base o processo de tomada de decisão. À medida que as condições do

contexto e do próprio indivíduo se alteram, o atleta bem sucedido decide

continuamente de modo a atingir o objectivo da tarefa com que se depara.

Num jogo de basquetebol, por exemplo, será de todo infrutífero que um

atleta realize um ressalto defensivo, mesmo que atinja uma elevação de 70

cm, se não atender à informação relativa ao deslocamento da bola, e o salto

não lhe permitir agarrar a bola. Isto indica que o comportamento do atleta no

jogo é eminentemente decisional. Foi a partir do relevante contributo de

Mahlo (1969), com a noção de “acto táctico”, que se passou a valorizar o

processo de tomada de decisão no quadro multi-factorial do desempenho

desportivo. Não obstante este progresso substantivo, prevalece ainda uma

separação teórica entre a decisão e a acção, ou se quisermos uma separação

entre percepção, tomada de decisão e acção.

A divisão destes aspectos do comportamento remontam à teoria do

processamento de informação de Claude Shannon e Warren Weaver (1949),

que concebe uma sequência de fases correspondentes à discriminação do

estímulo, programação da resposta e realização motora. Perante este

referencial teórico, entende-se que as decisões do basquetebolista se

processam ao nível do sistema nervoso central, menorizando o papel do

ambiente, e do corpo na selecção de um curso de acção. Realçamos que esta

teoria de Shannon e Weaver foi inicialmente proposta com o intuito de

explicar os aspectos formalmente definidos da comunicação em sistemas de

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controlo (p.ex., envio e recepção de mensagens de telégrafo) e não os aspectos

subjacentes às interacções informacionais entre um indivíduo e o ambiente

onde se insere.  

Na prática, o processo de treino no basquetebol tende a reflectir este

constructo teórico, o qual apresenta uma visão limitada das capacidades

humanas. Embora acreditemos que a organização do treino se tem vindo a

alterar, nomeadamente pela proposta de processos de treino baseados em

princípios comportamentais adaptativos (e.g., Wissel, 2006), é frequente

observar a exercitação de um conjunto de soluções rígidas que tendem a

constituir-se como um “programa de acção”. Por norma, prescrevem-se

exercícios, de carácter mais ou menos fechado, orientados para a repetição

sistemática de uma solução que se associa a um determinado juízo perceptivo.

Nesta perspectiva, em situação de jogo, a identificação de estímulos

específicos deverá desencadear a realização das respostas motoras,

previamente trabalhadas no treino, para resolver a tarefa em causa. Os

comportamentos em competição que não correspondem a um modelo

normativo são qualificados como erros por parte do treinador. Neste sentido,

procura-se consolidar os “programas motores” e eliminar os comportamentos

desviantes de forma a criar no atleta um repertório motor, (i.e., programas

motores gravados no Sistema Nervoso Central) cada vez mais vasto (Schmidt

& Wrisberg, 2008).

Acontece que esta perspectiva exibe um conjunto de fragilidades de vária

ordem. Os desportos colectivos com bola, tal como o jogo de basquetebol, são

caracterizados por uma grande dose de variabilidade e instabilidade.

(McGarry, Anderson, Wallace, Hughes, & Franks, 2002). Se observarmos o

desenrolar de uma qualquer partida verificamos uma sucessão de ocorrências

variadas e inesperadas que desencadeiam múltiplos efeitos. Logo, a adopção

de uma abordagem linear de causa-efeito ao jogo revela-se incompatível com

a sua própria natureza, quer seja ao nível do constructo teórico, como ao nível

prático. No limite, poderemos incorrer na contradição de treinar os jogadores

a repetir e a estabilizar soluções, quando afinal o jogo é caracterizado pela

variabilidade, pela colocação de novos problemas e pela incerteza. Ou seja, ao

invés de treinar para a variabilidade (do jogo) mecanizando ou estabilizando,

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deveremos optar por uma abordagem que potencie a capacidade de lidar com

a incerteza e com o imprevisível, descobrindo soluções para o desconhecido

(Araújo, Davids, Bennett, Button, & Chapman, 2004).

Para este efeito, iremos debater ao longo deste capítulo a concepção

dominante na psicologia cognitiva que se encontra directamente associada a

princípios estruturais da metodologia de treino vingente. Em alternativa,

proporemos a abordagem da dinâmica ecológica ao comportamento decisional

(Araújo, Davids, & Hristovski, 2006; Davids, Button, Araújo, Renshaw, &

Hristovski, 2006), acompanhada de uma proposta para o treino da tomada de

decisão no basquetebol.

O fluxo informacional resultante da interacção jogador-jogo

Com a evolução do jogo de basquetebol, tem sido progressivamente

exigido aos jogadores uma capacidade de decidir e agir numa janela temporal

cada vez mais limitada. Como exemplo destacamos a alteração da regra de 8

segundos para efectuar a transição defesa-ataque para lá da linha de meio-

campo ou a redução do tempo de ataque de 30 para 24 segundos. Alguns

estudos (e.g., Fotinakis, Karapidis, & Taxildaris, 2002) têm demonstrado uma

importância crescente desta característica no basquetebol actual. Na prática,

estes dados traduzem uma velocidade de jogo superior com alternâncias mais

frequentes de posse de bola. Dado que as situações de contra-ataque estão

associadas a uma eficácia mais elevada que as situações de ataque organizado,

a equipa que consiga explorar as transições ofensivas poderá ganhar vantagem

no curso da partida (Silva, 1998).

Este quadro evolutivo marcado pela necessidade de identificar

informação relevante para a acção num intervalo de tempo mais curto,

configura uma exigência crescente sobre o processo de tomada de decisão.

Assim sendo, para que o atleta atinja patamares de desempenho de nível

superior terá de desenvolver uma capacidade de adaptação à complexidade e à

dinâmica inerentes ao jogo moderno. Neste enquadramento complexo e

dinâmico do basquetebol, as situações de jogo não definem à partida as fontes

 4  

de informação relevantes, nem pressupõem uma resposta linear do tipo

“lançar após recepção da bola” ou “penetrar para o cesto após bloqueio

indirecto”, características da perspectiva computacional do processamento de

informação.

O argumento para a existência de estruturas cognitivas, à imagem do

computador, fundamenta-se na premissa de que a percepção é indirecta ou

mediada, ou seja a percepção dos estímulos tem de ser interpretada pela

mente/mediador para se tornar compreendida pelo sujeito. Partindo da

premissa que a selecção entre diferentes programas mentais possa ser

informativa sobre o que é o estímulo, o conjunto de opções tem de ser, por

princípio, previamente conhecido, o que não tem manifestamente uma

correspondência com a realidade: a maioria dos estímulos existentes no

mundo nunca foi percepcionado por nenhum de nós. Por sua vez, o

reconhecimento desse estímulo depende de um processo perceptivo

empobrecedor já que o estímulo, segundo a perspectiva computacional, não

tem valor informativo por si só (Gibson, 1966). Contrariamente a esta

perspectiva, Gibson defendeu que para o atleta, os objectos, pessoas ou

eventos do jogo oferecem-lhe possibilidades de acção bem distintas consoante

o contexto. Com isto não queremos desvalorizar a importância da memória de

experiências passadas. O que queremos defender é que o processo de treino

devidamente orientado deverá gerar o potencial de expressar padrões de acção

robustos e flexíveis ao longo do tempo, e não padrões robotizados e

desconectados da informação que os influenciam.

Consideramos que o enfoque deve ser colocado sobre a relação que se

estabelece entre o indivíduo e o ambiente que o rodeia (Araújo & Davids,

2009). A psicologia ecológica Gibsoniana assume a reciprocidade atleta-

ambiente, na qual ambos se combinam para formar um ecossistema. De

acordo com esta perspectiva o indivíduo tem acesso directo ao mundo, logo a

percepção é directa e não mediada (Gibson, 1979). Partindo deste princípio a

informação percepcionada é uma parte integrante da escolha das acções

necessárias para a resolução de uma tarefa específica (Fajen, Riley, & Turvey,

2009). Neste sentido, a percepção é específica das propriedades ambientais

que são percepcionadas, i.e., a informação especifíca as propriedades

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ambientais. Para que a informação seja percepcionada, o indivíduo utiliza os

padrões de energia que o rodeiam, nomeadamente através do potencial de

estimulação sensorial (i.e, visual, táctil, auditiva). Por exemplo, a reflexão da

luz numa bola e consequente captação pela retina informam directamente o

indivíduo que o objecto com que se defronta tem uma forma arredondada, da

mesma forma que o som de uma bola a contactar com o piso do pavilhão,

percepcionado pelo sistema auditivo, especifica o movimento ascendente da

bola. A hipótese da especificidade sugere então que os objectos, as superfícies

e os eventos disponibilizam informação que “indica” o que estes são ou

possibilitam para o indivíduo que os percepciona.

De acordo com Gibson (1979) os seres humanos e os outros animais

percepcionam e agem em substâncias (e.g., borracha da bola de basquetebol),

superfícies (e.g., piso de um pavilhão), lugares, (e.g., pavilhão), objectos (e.g.,

tabela de basquetebol) e acontecimentos (e.g., transição defesa-ataque no jogo

de basquetebol) existentes no ambiente. Neste sentido, a informação

percepcionada é também especificadora da acção possível de ser realizada

pelo indivíduo na relação complementar com o ambiente. Estas

oportunidades, ou possibilidades para a acção, conhecidas como affordances

(Gibson, 1966, 1979) não são nem fenomenológicas, nem subjectivas. São,

isso sim, possibilidades definidas pelas relações complementares entre

propriedades físicas do ambiente e do indivíduo, mediante uma especificação

em padrões de energia ambiental (Fajen et al., 2009). As affordances não

dependem de nenhum processo de construção mental, sendo percepcionadas

directamente pelo indivíduo. Logo, um basquetebolista pode percepcionar o

espaço livre perto do cesto como uma possibilidade de entrada em drible, sem

necessidade de recorrer a estruturas mentais mediadoras, já que o contexto

encerra em si informação verídica e significativa para o objectivo a atingir.

É importante clarificar que as affordances não são propriedades dos

objectos ou do ambiente, mas são propriedades do ambiente definidas em

função das características do indivíduo (Turvey & Shaw, 1999). Isto implica

que as possibilidades de acção dependem das propriedades ambientais

percepcionadas, mas sobretudo das capacidades de acção de um dado

indivíduo. Portanto, o ambiente promove ou inibe certos comportamentos,

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dependendo das capacidades de acção de cada indivíduo. Implícito a esta

proposição encontra-se uma afirmação de individualidade: o que constitui

uma determinada affordance para uma pessoa pode não constituir uma

affordance para uma outra pessoa. Por exemplo, no basquetebol, uma bola de

tamanho 3 sugere a um indivíduo de 5 anos uma pega de bola com duas mãos

enquanto que a um atleta de 20 anos pode proporcionar uma pega com uma

mão. Perante uma mesma situação diferentes indivíduos detectam informação

diferente, de acordo com a suas próprias características morfológicas,

fisiológicas, mentais, entre outras.

Em coerência com a realidade do jogo, as affordances são também elas

dinâmicas. Isto implica que as oportunidades de acção podem surgir e

desaparecer com os movimentos dos jogadores, mesmo sabendo que os

indivíduos, as superficies e os objectos no ambiente se podem manter

(permanentemente ou pontualmente) estáticos. Ao basquetebolista cabe

detectar a existência de janelas temporais de oportunidade para realizar acções

funcionais. Por exemplo, os atacantes numa situação de 2x1 defensor podem

agir de forma a perturbar o sistema defensivo adversário e assim concretizar

um lançamento. Contudo, se os seus deslocamentos forem demasiado

próximos ou se um outro defesa entretanto surgir nesse espaço de acção, a

possibilidade de converter um cesto pode esfumar-se.

As affordances permitem ainda o controlo prospectivo da acção, que

diz respeito ao ajustamento da acção aos constrangimentos do indivíduo e do

ambiente. A percepção de affordances implica a disponibilização de

informação relativa ao futuro estado de relação do indivíduo com o ambiente.

A percepção assume assim uma função de controlo do movimento à medida

que este decorre. Por exemplo, um basquetebolista num deslocamento

rectilíneo para o cesto obtém informação cinemática a partir do foco de

expansão do fluxo óptico que o circunda e que lhe permite coordenar o seu

movimento de forma a fazer coincidir o centro do foco de expansão com o

referencial cesto. Na ausência de controlo prospectivo a acção seria reduzida a

mera reacção, o que seria insuficiente para corresponder ao carácter dinâmico

e proactivo dos jogadores em competição (Montagne, 2005).

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Ao abrigo da perspectiva ecológica o desafio passa por compreender a

capacidade de cada indivíduo para percepcionar a configuração envolvente do

ambiente onde actua, à escala do seu corpo e potencialidades de acção

(Turvey & Shaw, 1995). A relevância da informação no processo de tomada

de decisão e no controlo da acção implica uma progressiva sensibilização do

indivíduo ao ambiente que o rodeia. Na prática, para que um basquetebolista

seja capaz de detectar a informação relevante do jogo é necessário promover

em contexto de treino a afinação do seu sistema perceptivo a variáveis

relevantes do ambiente, que se relacionem com a acção subsequente. No jogo

de basquetebol a colocação dos braços de um defensor num plano superior

pode proporcionar ao atacante a realização de um passe picado enquanto que a

colocação num plano inferior pode proporcionar um passe por cima do

defensor. Contudo, se o atacante não estiver afinado a essa informação o passe

terá uma maior probabilidade de ser interceptado pelo defensor. Defendemos

que a afinação perceptiva é um dos aspectos essenciais do comportamento

decisional do jogador e um predicado indispensável para o desenvolvimento

de atletas eficazes no seu desempenho.

Para além da afinação à informação contextual, é necessário o

escalonamento do sistema de acção do indivíduo a essa mesma informação.

Este processo, denominado de calibração, permite que o acoplamento entre

informação e movimento seja mais ajustado, isto é, que permita ao indivíduo

expressar uma acção adequada à informação, de modo a resolver com sucesso

as situações de jogo com que se depara. Desta forma, após o indivíduo revelar

acuidade na detecção de informação relevante do ambiente, poderá evoluir no

sentido de escalonar o movimento a essa informação. Este processo expressa-

se por uma organização e controlo espácio-temporais do movimento mais

evoluída (Araújo, Davids, & Hristovski, 2006). Recorrendo ao exemplo

anterior, o basquetebolista consegue detectar informação relacionada com a

postura do seu adversário directo mas para além disso executa um passe

perfeitamente calibrado (i.e., um passe ajustado à informação espácio-

temporal) que lhe permite atingir o objectivo da tarefa.

A tomada de decisão no basquetebol: revisão de estudos

 8  

Quando um basquetebolista percepciona um colega livre para receber

uma bola e realiza o passe, essa acção proporciona imediatamente um novo

ciclo de percepção. Neste caso, pode ocorrer que o atacante que recebeu a

bola lance ao cesto e o jogador que acabou de efectuar o passe participe no

ressalto ofensivo. Por sua vez, a direcção do próprio passe pode ser alterada

enquanto o mesmo está a decorrer, a partir da detecção pelo jogador em posse

de bola de um outro colega em melhores condições para a recepção. Logo,

percepções, decisões e acções formam relações circulares de influência mútua

que caracterizam o processo de interacção que o basquetebolista estabelece

com o contexto de jogo.

No que respeita ao processo de tomada de decisão este pode ser

entendido como o processo de agir para seleccionar affordances que, por sua

vez, seleccionam e controlam modos de acção. No cerne desta nossa análise

está, portanto, aquilo que Laguna (2002) define como táctica individual: a

capacidade do jogador para tomar decisões, expressas por acções, durante o

jogo. Podemos assim afirmar que, em última análise, a tomada de decisão só

pode ser avaliada pela própria acção uma vez que é através dela que se

expressa. A análise da literatura existente sobre tomada de decisão permite-

nos distinguir duas tendências distintas. A primeira tendência, que congrega a

maioria dos estudos existentes, enquadra-se numa perspectiva que destaca a

importância do sistema neuronal, enquanto processador de informação, para a

definição do comportamento. Uma segunda tendência, mais recente, procura

utilizar metodologias dinâmicas, à escala ecológica, para a análise de padrões

de coordenação inter-pessoal.

Um exemplo do primeiro caso é o estudo levado a cabo por French e

Thomas (1987). Estes autores examinaram o contributo do conhecimento

específico das habilidades motoras para o desenvolvimento do processo de

tomada de decisão. A avaliação do conhecimento sobre o jogo foi realizado

através de um teste escrito com 50 questões de escolha-múltipla relacionado

com o conhecimento específico da modalidade. Por sua vez, a avaliação da

tomada de decisão foi executada mediante observação quantitativa da

performance do indivíduo em situação de jogo: “0” para decisões qualificadas

como incorrectas e “1” para as correctas. Outro tipo de estudos recorrentes

 9  

neste paradigma cognitivo utilizam imagens vídeo com sequências de acções

de jogo de forma a sugerirem ao atleta a selecção de uma de várias opções

para resolver um problema. Nesta linha, Tavares (1997) analisou a velocidade

e precisão da tomada de decisão mediante a apresentação de imagens num

computador e consequente selecção de uma acção correspondente a uma tecla

do teclado.

No âmbito da dinâmica ecológica identificam-se um conjunto de

estudos que caracterizam uma segunda tendência da literatura de

especialidade. Como exemplo indicamos o trabalho realizado por Araújo e

colegas (Araújo et al., 2004; Davids et al., 2006) que objectivaram a descrição

do sistema atacante-defesa numa situação de um-contra-um. Foi investigada a

variação da distância inter-pessoal da díade associada a períodos de

estabilidade e instabilidade do sistema mediante uma análise dinâmica. Com

recurso a esta metodologia foi possível identificar padrões de coordenação

diferenciados, bem como transições entre padrões, mediante determinados

valores críticos de distância inter-pessoal. Cordovil e colegas (2009)

analisaram a influência da manipulação de constrangimentos organísmicos e

da tarefa sobre a dinâmica relacional numa situação de um-contra-um.

Enquanto no primeiro estudo utilizaram instruções direccionadas para o

comportamento do atacante (risco, neutra e contenção), no segundo

combinaram atletas de diferente estatura. Desta forma foi possível verificar a

influência de constrangimentos como a altura e a instrução sobre o

comportamento decisional. Numa perspectiva de análise da equipa

Bourbousson, Sève e McGarry (2010) investigaram os padrões espácio-

temporais dos jogadores de basquetebol em situação de jogo. O seu foco de

interesse foi o estudo da dinâmica da coordenação intra e inter-equipa, de

forma a identificar propriedades dos sistemas dinâmicos como transições de

fase e emergência. Recorreram a variáveis como o centróide da equipa e o

índice de expansão para estudar a dinâmica colectiva.

A dinâmica ecológica da tomada de decisão no basquetebol

 10  

Como já vimos, cada acção gera nova informação que influencia

futuras decisões. À medida que a informação percepcionada se torna cada vez

mais especificadora sobre as acções a realizar, ocorre um afunilamento das

vias de acção possíveis e disponíveis para o jogador, até que finalmente, no

momento da obtenção do objectivo, a via para o atingir torna-se unicamente

definida (Kugler, Shaw, Vicente, & Kinsella-Shaw, 1990; Shaw, 2001). A

tomada de decisão é vista como um processo funcional e emergente no qual a

selecção é feita entre vias convergentes para o objectivo pretendido. As

escolhas são feitas em pontos de bifurcação onde informação mais específica

se torna disponível, constrangendo o sistema atleta-ambiente a passar para a

via mais funcional. No momento da decisão o atleta usa as suas fontes de

energia interna para influenciar as interacções contextuais conducentes à

obtenção de um objectivo específico. Esta transição no curso de acção ocorre

em resultado do tipo de interacções estabelecidas à escala ecológica, onde um

leque alargado de variáveis pressiona o sistema indivíduo-contexto para um

determinado estado de relação (Araújo, Davids, Chow, & Passos, 2009). A

tomada de decisão não depende assim de um processo de selecção racional de

uma entre diversas pré-disposições, mas da identificação de informação

contextual que contribua directamente para a escolha e regulação do curso de

acção, na relação indivíduo-contexto (Araújo et al., 2006).  

O facto do basquetebol implicar a coordenação de um grupo de

indivíduos em interacção acrescenta uma dose de complexidade à análise dos

processos decisionais de cariz individual e colectivo. O sistema jogo é

constituído por dois sub-sistemas equipas, onde um conjunto de atletas

coordena as acções entre si para criar perturbações no sistema adversário e

assim obter vantagem no marcador (Davids, Button, & Benett, 2008; Schmidt,

O’Brien, & Sysko, 1999). Para que isto aconteça é indispensável haver

coordenação intra-equipa e coordenação inter-equipa, embora com propósitos

diferenciados. Isto porque a lógica do jogo pressupõe que uma equipa

coopere, defendendo quando não tem a posse de bola, e atacando quanto tem

a posse de bola.

Perante este quadro, inúmeras decisões individuais (i.e., acções

tácticas individuais) influenciam-se entre si, como também são influenciadas

 11  

por decisões de índole colectiva. Por exemplo, as decisões individuais e

colectivas de uma equipa que repõe a bola pela linha de fundo após ter sofrido

cesto são influenciadas pela implementação súbita de um sistema defensivo da

equipa adversária com pressão imediata sobre a reposição da bola. Segundo

Gréhaigne, Bouthier e David (1997), a evolução de um sistema complexo

(i.e., composto com inúmeras variáveis de comportamento não-linear) como o

jogo de basquetebol processa-se a partir das modificações ocorridas nos

diferentes sub-sistemas. Além de que, dentro de cada sub-sistema equipa,

ocorrem organizações locais a um nível mais micro. É o caso de uma situação

de isolamento ofensivo dos dois basquetebolistas mais competentes da equipa,

numa das metades do meio-campo, enquanto os outros três jogadores se

afastam, para retirar as ajudas defensivas, e abdicam de intervir directamente

na sub-unidade functional que entretanto se criou.

A obtenção de um nível de coordenação colectivo que permita

concretizar o objectivo associado a uma situação de jogo não decorre a partir

de uma pré-definição de acções, dado que a resposta do adversário não é

necessariamente como a equipa pretenderia que fosse. O “veículo” que

possibilita a exibição de padrões comportamentais funcionais assenta numa

dependência informacional entre os diferentes atletas (Schmidt et al., 1999).

A informação disponível no meio circundante, por exemplo relacionada com

o comportamento do colega ou com as indicações do treinador, concorre para

a regulação da acção intencional, dos praticantes, em cada momento e ao

longo do jogo. Neste sentido, a ordem, ou seja os padrões organizacionais

colectivos, emergem espontaneamente a partir da afinação perceptiva que os

diferentes jogadores têm a variáveis informativas relevantes para o objectivo

de cada equipa para o jogo. Podemos assim afirmar que a criação e

manutenção de um dado padrão (p.ex., transição defesa-ataque) depende de

tendências autónomas de emergência e organização, e não de um supra-

organizador que controla os diversos intervenientes.

A auto-organização é o processo que explica o facto das partes se

ajustarem espontaneamente umas às outras, ou seja tenderem para um estado

de organização estável. Contudo, os padrões não são infinitamente estáveis.

Antes pelo contrário, estabilidade e instabilidade são princípios

 12  

complementares que caracterizam a dinâmica de um sistema (Kelso &

Engstrom, 2006) como é o caso do jogo de basquetebol. Ao passo que a auto-

organização mantém os padrões na sua dinâmica, a transição entre padrões

ocorre essencialmente devido a um fenómeno chamado emergência. Este

conceito está relacionado com a dependência que o todo tem das partes, com a

interdependência das partes, e com a especialização das partes. Da emergência

resulta a manifestação de propriedades que estão para além das características

dos elementos do sistema. As transições entre padrões comportamentais e a

coordenação entre jogadores são manifestações de emergência que desafiam a

ideia do jogo estar representado nas cabeças de cada jogador. Constata-se, em

cada jogo, que as soluções da equipa (todo) não derivam da cabeça de cada

um dos atletas (elementos), incluindo os adversários.

A canalização do comportamento pela acção dos constrangimentos

O comportamento intencional do indivíduo no ambiente onde se insere

envolve uma interacção entre um conjunto de variáveis, denominadas de

constrangimentos. Por constrangimentos entendemos as ligações que se

estabelecem entre elementos que influenciam a acção de um indivíduo. No

desporto, o comportamento ocorre sob a influência de diferentes categorias de

constrangimentos que interagem entre si:

a) Tarefa – relacionados com a tarefa em causa, nomeadamente com

os objectivos, regras e materiais utilizados;

b) Indivíduo – relacionados com aspectos estruturais e funcionais do

indivíduo;

c) Ambiente – relacionados com o contexto que o rodeia (Newell,

1986; Araújo et al., 2004).

Sejam eles aspectos tão diversos como a quantidade de adversários

numa determinada área do campo, o seu nível de auto-confiança ou o grau de

luminosidade ambiente, a confluência deste leque de constrangimentos

conduz o sistema indivíduo-contexto a um determinado estado de

organização, mais ou menos estável (Warren, 2006). Tendo como base a

 13  

constatação da variabilidade de acções existentes num jogo de basquetebol,

anteriormente referenciada, percebemos agora que a origem desse leque muito

vasto de possibilidades de resolver uma tarefa deriva da influência de

constrangimentos de natureza diversa. Logo, se a variabilidade se encontra

embutida no comportamento funcional do jogador ela deverá ser potenciada e

não eliminada. Consideramos assim que o treinador, no contexto de treino,

deverá criar condições para a promoção de uma variabilidade funcional. Uma

variabilidade funcional dependente da tarefa que assegure ao indivíduo ser

flexível na resolução eficaz dos problemas emergentes do jogo.

Associado ao conceito de variabilidade está o de graus de liberdade. O

número de graus de liberdade implicados num sistema tem uma relação

inversa com os constrangimentos que influenciam esse sistema. Se

atendermos a um exemplo do basquetebol verificamos que na primeira

tentativa de um atleta realizar um lançamento na passada o padrão exibido é

bastante imperfeito e instável. A sua organização espácio-temporal é

desajustada face ao objectivo de lançar a bola ao cesto. Na sua base encontra-

se a necessidade do indivíduo gerir imensos graus de liberdade, numa situação

onde o sistema de movimento do indivíduo pode fazer muito mais acções que

a de lançar na passada. Dado que o sistema-jogo de basquetebol é

caracterizado por um conjunto de elementos em interacção, os inúmeros graus

de liberdade à escala individual são exponenciados pela infinidade de

combinações que os indivíduos podem estabelecer com os colegas e

adversários.  Sendo assim, ao indivíduo é-lhe requerida a capacidade de

ajustamento às condições envolventes, gerindo eficazmente os graus de

liberdade e estabilizando padrões de coordenação funcionais (Newell &

Vaillacourt, 2001). Recordamos que este processo resulta de ciclos contínuos

de percepção de informação contextual, reportada à organização funcional do

sistema de acção.

Previamente à implementação de tarefas de treino é imprescindível que

o treinador realize um diagnostico das debilidades e potencialidades do(s)

atleta(s) que o treinador tem a seu cargo. Neste âmbito, a sua análise deverá

centrar-se nos seguintes pontos:

 14  

a) Quais as características da tarefa (objectivo, regras) em que se pretende

ter um desempenho eficaz?

b) A que fontes de informação dessa tarefa deve o atleta estar afinado?

c) O atleta tem movimento funcional acoplado a essas fontes de

informação?

d) Como se caracteriza o acoplamento informação-acção neste atleta?

e) O atleta pode antecipar mais cedo de modo a tornar as suas acções mais

fluidas?

Importa sublinhar que tanto na fase de diagnóstico como na fase que se

segue – intervenção - deverá ser possível reavaliar e reajustar os processos

tendo em conta a evolução da equipa. Sendo assim, após num primeiro

momento ter recolhido a informação considerada relevante é prioritário que o

treinador identifique os métodos que possam induzir adaptações no

comportamento decisional dos seus atletas.

A implementação de exercícios para a melhoria da capacidade

decisional passa por uma criteriosa gestão dos constrangimentos relativos à

tarefa, ao jogador e ao ambiente. Importa destacar que a sua intervenção no

treino deverá ser caracterizada por uma perspectiva complementar, sem

priveligiar uma das categorias em detrimento de outras. É precisamente pela

confluência de constrangimentos de diferente ordem que se dá a emergência

de padrões de coordenação direccionados para um objectivo.  Nesta fase de

intervenção o objectivo do processo de treino deverá passar tanto pelo

reajustamento das acções associadas a insucesso (i.e, afinação) como pela

potenciação de acções que permitem atingir os objectivos a elas implícitos

(i.e., calibração). Sendo o basquetebol um desporto onde um grupo de

indivíduos coordena as suas acções para atingir um objectivo, existe espaço

para o desenvolvimento de aspectos de índole mais individual, mas sobretudo

da aplicação desses aspectos num quadro de coordenação inter-pessoal. Neste

sentido, a intervenção do treinador deverá atender a aspectos mais

relacionados com a dinâmica individual de um determinado atleta (e.g.,

desmarcar-se para o cesto sem mudança de direcção e/ou velocidade) como

 15  

também à dinâmica colectiva (e.g., penetração em drible para o cesto sem que

os atacantes sem bola mais próximos constituam linhas de passe disponíveis).

A opção por uma exercitação em que o atleta mecanize uma acção sem

a sua componente perceptiva, não produz adaptações no tipo de relações

circulares entre percepção e acção que caracterizam o comportamento do

basquetebolista. Por oposição, o atleta deverá ser incentivado a agir no

contexto de forma a identificar informação que guie as suas acções

direccionadas para um objectivo. Logo, o ênfase deverá ser colocado no

objectivo a atingir, de forma a que o processo que o atleta adopta seja

eminentemente auto-organizado, por oposição a um processo prescritivo e

mecanizado.

Ainda no que respeita às tarefas propostas existe um princípio que

assume especial relevância. Na construção de situações proporcionadoras de

perícia, os constrangimentos nelas implicados deverão ser representativos do

contexto para o qual se pretende generalizar, isto é, o jogo (Araújo, Davids, &

Passos, 2007). Ou seja, as tarefas deverão conter em si informação disponível

a ser detectada pelo indivíduo que revele correspondência com o contexto

competitivo. Deste modo, é sugerido ao atleta que demonstre uma progressiva

sensibilidade à informação contextual que lhe reclama uma acção eficaz para

atingir um dado propósito. Isto porque, tal como foi anteriormente

referenciado, as variáveis informacionais possuem uma função canalizadora

para a emergência de modos de comportamento específicos para atingir um

dado objectivo (Turvey & Shaw, 1999). Ao invés de perseguir uma

reprodução fac-simile de um dado contexto de competição importa manter a

funcionalidade do jogo. Para isso, o treinador deverá assegurar que as

condições que possibilitam o funcionamento do jogador em competição

estejam presentes na tarefa proposta. Por outras palavras, o treino deve conter

affordances semelhantes às da competição. Este tipo de abordagem pode

contemplar, em algumas situações, a imposição de regras que não sejam

exactamente aquelas que o basquetebolista encontra no jogo formal. Por

exemplo, a possibilidade de realizar um exercício de 5x5, em meio-campo,

com duas bolas em simultâneo, poderá proporcionar à equipa em fase

defensiva um refinamento do seu potencial em realizar ajudas com rotação

 16  

defensiva. Embora a competição nunca proporcione a vivência de uma

situação com duas bolas em simultâneo, os benefícios que advêm da tarefa

atrás descrita poderão permitir à equipa resolver com maior proficiência as

perturbações provocadas na sua organização defensiva.

Os constrangimentos da tarefa assumem-se, provavelmente, como a

categoria mais relevante a ser manipulada pelo treinador no processo de

treino. O objectivo da tarefa normalmente é estabelecido numa ou mais

dimensões (espaço, tempo e número), mas a forma de se atingir esse objectivo

está constrangida pelas regras do desporto (e.g., regra de 3 segundos no

basquetebol), pelas regras apresentadas pelo treinador (e.g, a bola tem de

entrar pelo menos uma vez dentro da área restritiva antes da equipa poder

lançar ao cesto) e pelo material utilizado (e.g., aro de um cesto que não tem a

si associado uma mola). No capítulo seguinte iremos propor algumas tarefas

onde a concretização destas dimensões poderá tornar-se mais evidente.

O princípio de criar em treino situações favoráveis à ocorrência de

variabilidade funcional auto-organizada não pode ser confundida com uma

disponibilidade total para o jogador agir aleatoriamente. Isso seria ignorar,

entre vários aspectos, um dos elementos fulcrais do processo de treino: o

treinador. Aliás, a intervenção do treinador mediante instrução prévia à acção,

as informações verbais na acção ou as alterações de natureza organizacional

são considerados como constitutintes da própria dinâmica da tarefa e

indutores de comportamentos adaptativos. Para além destes métodos, o

treinador poderá também utilizar:

1)  Amplificação das fontes de informação presentes no contexto. Por

exemplo, alguns treinadores poderão realçar com um colete de cor

diferenciada um ou mais jogadores em particular para que a equipa se torne

sensível ou “afinada” para detectar affordances para o passe.  

2) Realização de gestos e acções não verbais. Por exemplo, a

associação entre um apito e a necessidade da equipa finalizar a acção ofensiva

com apenas 5 segundos remanescentes para o tempo de ataque poderá induzir

adaptações significativas no processo ofensivo da equipa.

 17  

3) Utilização de linguagem verbal. Este é um dos vectores

fundamentais da intervenção do treinador que corresponde ao feedback

aumentado, ou informação de retorno extrínseca verbal, e que pode

contemplar o método interrogativo. Contudo, a informação emitida deverá

centrar-se numa perspectiva de direccionar para o objectivo da tarefa.

A ideia a reter é que as informações suscitadas pela manipulação de

constrangimentos da tarefa não deverão ser passivamente recebidas pelos

jogadores e desencadeadoras de comportamentos estereotipados. Mas antes

deverão tornar-se disponíveis no contexto para o jogador explorar no treino,

tal como este explora a competição. Desta forma treina-se para o jogo, como

também o desempenho em jogo influencia o modo como se treina. Ao

treinador cabe estruturar tarefas de treino que promovam uma detecção

selectiva, por parte do atleta das fontes de informação contextual relevantes.

Mais do que verbalizar para o atleta o comportamento a realizar no momento

futuro, o treinador deverá recorrer à criatividade para construir tarefas de

treino que desenvolvam comportamentos decisionais autónomos (i.e., agir

para compreender).

O treinador poderá ainda intervir directamente no jogador, antes,

durante, ou após este realizar a tarefa representativa. Um exemplo de uma

intervenção fora da tarefa representativa (antes ou depois) é uma conversa no

balneário relativa à forma como o atleta lida com as decisões da arbitragem.

Ainda nesta categoria, o treino dos processos indirectos da tomada de decisão

(meta-decisionais) poderá assumir algum destaque. Este tipo de trabalho

consiste no desenvolvimento da compreensão estratégica do jogo (i.e.,

compreender para agir) com base em indicações que conduzam o jogador a

percepcionar uma fonte de informação mais relevante.  Normalmente, utiliza-

se o visionamento de jogos ou a simulação de situações de jogo para

amplificar as fontes críticas de informação  (e.g., posicionamento no ressalto

ofensivo tendo em conta a trajectória da bola no lançamento).

Adicionalmente é também possível intervir nos constrangimentos

estruturais do indivíduo. Por exemplo, pode-se colocar em confronto uma

equipa composta por atletas com estatura e robustez inferior e outra composta

 18  

por atletas de estatura e robustez mais elevada (i.e., ênfase na morfologia).

Trata-se assim de suscitar adaptações na coordenação colectiva que resultam

da necessidade de resolver uma série de problemas que a equipa adversária

lhe poderá colocar pela morfologia diferenciada, tanto nas suas acções

defensivas como ofensivas.

No que respeita à categoria “ambiente” a possibilidade de manipulação

é bastante mais limitada. Ainda que o leque de exploração possa ser diminuto,

com recurso a alguma criatividade é possível manipular constrangimentos

sociais (p.ex., presença de familiares ou de público no treino), factores

relacionados com as condições do recinto (p.ex., a temperatura ou a

luminosidade) ou até a dimensão organizacional da competição (p.ex., jogos

amigáveis, torneios regionais). Mas é importante notar que os

constrangimentos exercem a sua influencia em interação uns com os outros e

não por categorias.  

Como promover no basquetebolista a descoberta de soluções que o

próprio treinador desconhece?

Ao longo deste capítulo foi nossa intenção enquadrar os conceitos da

dinâmica ecológica da tomada de decisão com exemplos práticos do

basquetebol. Importa agora centrarmo-nos nos processos de desenvolvimento

do comportamento táctico (i.e., decisional) do basquetebolista que, quanto a

nós, deverá passar pela promoção de uma variabilidade motora funcional que

lhe permita resolver com sucesso as tarefas emergentes do jogo. O treino da

tomada de decisão em contextos marcados por transições súbitas de padrões e

por alternância entre períodos de estabilidade e instabilidade, característicos

do jogo de basquetebol, favorece métodos de treino que promovam a

variabilidade (e não a estabilidade inerente a uma solução “óptima”). Ao

determinar-se previamente o comportamento do atleta num exercicio de

treino, com uma solução pré-determinada, inibe-se a descoberta de soluções

mais ajustadas de acordo com as características do atleta e da situação, obtidas

através da exploração do contexto. O basquetebolista formatado para

reproduzir acções ”pré-fabricadas”, que o treinador tendencialmente procura

 19  

complexificar com o intuito de se aproximarem ao jogo, não consegue

identificar o essencial do fenómeno, isto é, os factores críticos para que o

sistema defensivo adversário esteja a impedir o sucesso de uma “jogada

estudada” no ataque. Mais do que treinar o aperfeiçoamento de um conjunto

de soluções pré-concebidas importa conduzir a acção dos atletas mediante

uma manipulação criteriosa de constrangimentos diversificados. É da

interacção entre os constrangimentos implicados no sistema indivíduo-

ambiente que são definidas as vias de acção que permitem atingir o objectivo

da tarefa. A tarefa deve asssim proporcionar uma afinação progressiva do

atleta a variáveis perceptivas relevantes, para que as soluções ajustadas às

circunstâncias emirjam. Para que o objectivo seja atingido, a tarefa concebida

pelo treinador deverá respeitar os princípios da representatividade do jogo já

referidos.

Em seguida, apresentamos um conjunto de tarefas que pretendem

ilustrar como a manipulação de constrangimentos poderá criar condições para

a emergência de determinados padrões colectivos de organização, focados na

obtenção de objectivos previamente diagnosticados, sem que o treinador

determine o processo de os atingir. Destacamos que estas propostas não

deverão ser entendidas como uma “receita”, à semelhança dos manuais de

“1001 exercícios”, mas sim como veículos indutores de uma reflexão que

permita aos treinadores construir tarefas de treino onde a manipulação dos

constrangimentos considerados pertinentes concorra para a obtenção de um

determinado objectivo.

A estrutura destas propostas assenta num diagnóstico inicial onde

simulamos uma problemática frequente em equipas de basquetebol, seguindo-

se a definição de objectivos a serem cumpridos pelos jogadores, a descrição

da tarefa proposta e um conjunto de regras adicionais que poderão vir a ser

incluídas à medida que os atletas vão resolvendo a tarefa. Posteriormente,

apresentamos as características dos comportamentos teoricamente esperados

pelos jogadores na realização da tarefa, tendo em conta os objectivos

propostos, e uma descrição funcional que visa clarificar o processo de

adaptação suscitado pela tarefa aos atletas que a executam.

 20  

Tarefa 1

Diagnóstico

Uma equipa na fase defensiva ganha o ressalto e não consegue realizar

uma transição defesa-ataque que permita tirar vantagem da desorganização

momentânea do opositor e criar situações de superioridade numérica perto do

cesto adversário. Apresenta acções desfazadas das oportunidades oferecidas

pelos adversários e criadas pelos próprios colegas, o que conduz à perda

frequente da posse de bola. Adicionalmente, a aglomeração excessiva dos

jogadores em torno da bola ou atrás da linha da bola diminui,

respectivamente, a ocupação horizontal do campo (movimentos direccionados

para a linha lateral) e a ocupação vertical do campo (movimentos

direccionados para a linha final).

Possíveis causas

Coordenação desajustada da abertura de linhas de passe nos espaços

livres, próximos ou distantes da zona de conquista do ressalto defensivo, com

as acções dos colegas de equipa e dos adversários. Adaptação insuficiente da

velocidade de circulação e de progressão da bola, respectivamente, por

intermédio do passe ou do drible, às acções dos colegas de equipa e dos

adversários. Leitura desajustada das possibilidades decorrentes das acções dos

colegas e dos adversários.

Descrição da tarefa

Situação de 4x2 que tem início com quatro defesas (a azul) dentro da

área restritiva e dois atacantes (a verde), ambos com bola, na zona de lance

livre. Após lançamento ao cesto pelos atacantes a equipa que defende disputa

o ressalto e realiza a subsequente transição para o ataque (no sentido das setas

azuis) com ocupação obrigatória dos 4 corredores de transição (delimitados

pelas linhas a tracejado vermelhas) para converter um cesto. Os jogadores que

lançaram, recuperam defensivamente para o seu meio-campo. O jogador com

 21  

bola não pode realizar mais de 3 dribles enquanto que o jogador sem bola tem

de se deslocar à frente da linha da bola. Não são permitidos passes para trás da

linha da bola (linha que intersecta a bola perpendicular à linha lateral). Após

terem atingido o final do corredor de transição os atacantes deixam de estar

condicionados pelos corredores na sua movimentação (Figura 1).

Figura 1 – Situação de 4x2, em campo inteiro, característica de uma transição defesa-ataque.

A equipa representada pelos círculos azuis disputa o ressalto defensivo e ataca na direcção

das setas azuis; a equipa representada pelos trapézios verdes defende, após ter lançado ao

cesto; a bola está representada pelo círculo castanho; os corredores de transição estão

representados pelas linhas a tracejado vermelhas.

Pretende-se:

- Sincronizar os padrões de coordenação colectiva de forma a que os

deslocamentos de aproximação ou de afastamento em relação à bola

(i.e., em direcção ao cesto adversário) se realizem de acordo com as

possibilidades decorrentes da movimentação dos colegas e

adversários;

- Percepcionar as possibilidades decorrentes das acções dos colegas de

equipa e dos adversários, para circular a bola de forma oportuna,

evitando a sua perda, e assim criar situações de finalização;

- Percepcionar as possibilidades decorrentes das acções dos colegas de

equipa e dos adversários, para progredir a bola através do drible,

evitando a sua perda, e assim criar situações de finalização.

 22  

Comportamentos esperados

- Coordenar as acções dos atacantes no espaço e no tempo, evitando a

perda de bola e explorando as situações de finalização;

- Utilizar o drible e o passe de forma oportuna para aproximar

rapidamente a bola do cesto adversário e assim explorar a vantagem

numérica para converter lançamentos;

- Criar linhas de passe nos espaços livres próximos e distantes da bola

para assegurar uma distribuição horizontal do campo (movimentos

direccionados para a linha lateral) e uma distribuição vertical do

campo em termos ofensivos (movimentos direccionados para a linha

final) que permita circular a bola, explorar a vantagem numérica e

converter lançamentos.

Constrangimentos adicionais a manipular na tarefa

- Colocação de mais defensores e/ou atacantes;

- Limitar o tempo máximo para a conclusão da transição (e.g., 9

segundos);

-Variar a posição dos defensores criando duas ou mais linhas

defensivas, por exemplo, uma sobre a linha de meio-campo e outra

sobre a linha de 3 pontos no meio-campo da equipa que defende.

Descrição funcional

Esta tarefa permite que os atacantes realizem a transição defesa-ataque

explorando a vantagem numérica em relação ao defensores. A existência

simultânea de duas bolas obriga a que o jogador em posse detecte e realize as

affordances de passe para um colega, para que possa receber a segunda bola

num momento imediato. Dado que existe um limite de 3 dribles para o

jogador com bola progredir, a continuidade do movimento ofensivo depende

também da detecção de affordances para a recepção, à frente da linha da bola,

 23  

por parte dos outros elementos. Logo, criam-se condições para a progressão

rápida da bola, mediante a utilização oportuna do drible ou do passe com uma

distribuição horizontal e vertical no campo que permita criar situações de

finalização. Isto porque tanto o portador da bola como os restantes jogadores

são induzidos a explorar as variáveis perceptivas existentes no contexto para

atingir os objectivos a que se propõem. Para que a detecção das affordances

aconteça, os jogadores devem estar afinados à informação relacionada com a

velocidade relativa e com o posicionamento no espaço dos jogadores. Por

último, a existência de corredores que condicionam o deslocamento dos

jogadores favorece a circulação da bola à largura do campo (em direcção à

linha lateral), o que possibilita a criação e o aproveitamento de situações de

finalização.

Tarefa 2

Diagnóstico

Uma equipa ao jogar na fase ofensiva desenvolve um ataque

posicional (i.e., uma situação ofensiva no meio-campo adversário

normalmente em igualdade numérica com o opositor) em que a circulação da

bola é realizada predominantemente em zonas afastadas do cesto, embora

pretenda aproximar-se do cesto, e consequentemente lançar com sucesso.

Dado que a equipa que ataca raramente realiza lançamentos exteriores (perto

da linha de 3 pontos), a defesa não tem necessidade de se expandir para longe

do cesto (o que resultaria na criação de mais espaço livre em zonas próximas

do cesto) de forma a impedir esse tipo de lançamentos. Por sua vez, esta

elevada concentração de defensores em zonas próximas do cesto impede a

ocorrência de penetrações em drible e de lançamentos bem sucedidos.

Possíveis causas

Coordenação desajustada dos deslocamentos dos atacantes nos espaços

livres próximos do cesto. Incapacidade em detectar e agir sobre possibilidades

de execução de passes para zonas próximas do cesto. Incapacidade em

detectar e agir sobre possibilidades de execução de penetrações em drible para

 24  

zonas próximas do cesto. Insuficiente eficácia de lançamento em zonas

distantes do cesto.

Descrição

Situação de ataque posicional 4x3+1 onde a equipa que ataca tem

quatro jogadores (a azul) e a equipa que defende (a verde) quatro defensores,

embore um deles se encontre momentâneneamente fora do campo no início da

tarefa. A equipa que ataca procura converter um lançamento e a que defende

recuperar a posse de bola, impedindo lançamentos com sucesso. Esta tarefa

decorre em meio-campo em que o espaço correspondente à área restritiva é

alargado (área a vermelho), tendo em conta as medidas oficiais (ver figura 2).

A permanência de defensores nessa área é restringida a um limite temporal de

3 segundos, à semelhança do que as regras prevêem para os atacantes. O 4º

defensor aguarda 4 segundos antes de entrar no campo e participar na tarefa.

Figura 2 – Situação de 4x3+1, em meio-campo, característica de um ataque posicional. A

equipa que ataca está representada pelos círculos azuis; a equipa que defende está

representada pelos trapézios verdes; a bola pelo círculo castanho; a área a vermelho

representa o alargamento da área restritiva (delimita uma zona onde o atacante não pode

permanecer mais do que 3 segundos) para dimensões superiores ao que as regras oficiais

determinam.

Pretende-se:

 25  

- Percepcionar posssibilidades de acção relativas ao desenvolvimento

de situações de jogo interior à defesa (passes, desmarcações ou

penetrações em drible em zonas próximas do cesto) de forma a criar

situações de lançamento com maior eficácia ofensiva;

- Detectar possibilidades de acção relativas ao desenvolvimento de

situações de jogo exterior à defesa (passes, desmarcações ou

penetrações em drible em zonas afastadas do cesto) de forma a criar

situações de lançamento sem oposição.

Comportamentos esperados

- Realização de passes que aproximam a bola da linha final, em zonas

próximas do cesto, de forma a criar situações de finalização;

- Execução de desmarcações (i.e., afastamento do adversário) em

espaços livres próximos do cesto que permitam a recepção de passes

que conduzam a situações de finalização;

- Procura activa da expansão (aumento da distância inter-pessoal

defensiva) e contracção da defesa (diminuição da distância inter-

pessoal defensiva) em resultado da alternância entre situações de jogo

exterior à defesa e situações de jogo interior à defesa, para assim criar

situações de finalização.

Constragimentos adicionais a manipular na tarefa

- Aumentar o número de atacantes e/ou defensores;

- Premiar com 1 ponto adicional a situação ofensiva em que a bola

tenha circulado em zonas próximas do cesto (área a vermelho

assinalada na figura 2), antes de um lançamento bem sucedido;

- Premiar com 2 pontos adicionais a conversão de um lançamento

realizado em zonas próximas do cesto (área a vermelho assinalada na

figura 2).

 26  

Descrição funcional

Pelo facto desta tarefa apresentar uma área próxima do cesto

condicionadora da presença de atacantes com dimensões superiores às

formais (ver figura 2), ocorre uma amplificação dos aspectos contextuais

relevantes para a detecção de affordances relacionadas com passes para

atacantes sem bola desmarcados. Paralelamente, a regra que condiciona a

presença dos defensores nessa área por um período superior a 3 segundos

provoca uma diminuição do número de defesas em zonas próximas do

cesto, o que releva a informação necessária para a percepção das

affordances atrás descritas bem como para a penetração em drible do

atacante para o cesto. Assim sendo, criam-se condições para uma maior

frequência de desmarcações, de passes bem sucedidos para jogadores em

zonas próximas do cesto e de penetrações em drible. Adicionalmente, a

inferioridade numérica defensiva, de carácter temporário, cria mais espaços

livres, o que convida a equipa que ataca a explorar o contexto (onde as

possibilidades de acção se encontram mais evidentes) para encontrar as

soluções mais eficazes.

Conclusão

Os atletas decidem o que fazer e onde fazer pela percepção de

variáveis contextuais disponíveis em cada momento. As decisões pré-

fabricadas são úteis nas situações em que o adversário “concorda” em fazer a

coreografia treinada. Mas, provavelmente isso acontece poucas vezes no jogo!

Por outro lado, o modo como se regula o comportamento para detectar e

realizar affordances é dinâmico e adaptativo, o que indica que há múltiplas

formas (muitos comportamentos) de se atingir o mesmo fim.

O processo de treino deverá ter um enfoque no promoção de

comportamentos robustos, suportados na estabilização de padrões acoplados a

informação contextual relevante, e flexíveis, onde a variabilidade auto-

organizada converge para o cumprimento dos objectivos da tarefa.

O progressivo afunilamento das vias de acção disponíveis para atingir

um dado objectivo decorre pela utilização de informação especificadora e pela

 27  

canalização promovida por constrangimentos de diversa ordem. Neste sentido,

o treinador assume um papel determinante na construção de tarefas de treino

que amplifiquem determinada informação contextual e que, pela influência

dos constrangimentos nela implicados, contribuam directamente para a

regulação do processo decisional dos atletas. Logo, mais do que verbalizar ou

mecanizar uma solução importa criar condições para que os atletas detectem

as affordances disponíveis, como meio de seleccionar modos de acção. Para

que isto aconteça, o atleta deverá desenvolver uma afinação perceptiva à

informação que o rodeia de forma a acoplar soluções motoras que lhe

permitam agir de forma eficaz. Assim sendo, as tarefas de treino devem

proporcionar acoplamentos percepção-acção que sejam representativos

daqueles que os atletas encontram na competição.

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