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A Cena da EnunciaçãoD. Maingueneau
ARIANE P. MARIA FORTESELISÂNGELA DE BRITTO PALAGEN
Universidade de Passo FundoPrograma de Pós Graduação em LetrasTópicos em Teoria da EnunciaçãoProf. Pós-Doutor Ernani Cesar de Freitas
A CENOGRAFIASituação de enunciação,Situação de ComunicaçãoMaingueneau aponta três campos teóricos que atribuem papel
relevante à situação de enunciação:
Teoria da Enunciação : considera as coordenadas pessoais, espaciais e temporais implicadas no ato da enunciação.
Semântica: acentua o papel do contexto no processo interpretativo da enunciação.Disciplinas do Discurso: considera as articulações entre os gêneros do discurso e as situações nas quais estão introduzidas
Essas 3 perspectivas estão mutuamente ligadas, fazendo com que noções como “situação de comunicação”, “situação de enunciação” e “contexto” sejam confundidas umas com as outras.
Equívoco: a noção de situação de enunciação vista como entorno físico ou social no qual estão os interlocutores
Culioli/Benveniste: “a situação de enunciação não é uma situação de comunicação socialmente descritível, mas o sistema no qual se definem as três posições fundamentais do enunciador, do co-enunciador e da não-pessoa”
Ex: “Pedro te esperei no IFCH ontem. ElisEnunciador: ElisCo-enunciador: PedroTempo: ontemEspaço: IFCH
Não pode-se reduzir a situação de enunciação de uma obra às circunstâncias de sua produção (data e lugar de publicação)
Situação de comunicação: considera-se o processo “exterior” de um ponto de vista sociológico.
Situação de enunciação: considera-se o processo “do interior”, mediante a situação que a fala pretende definir, o quadro que ele mostra no próprio movimento que se desenrola.
Questão da obra literária: como todo enunciado, implica uma situação de comunicação. Qual é a situação de comunicação de uma obra?
“Um texto é na verdade o rastro de um discurso em que a fala é encenada”
AS TRÊS CENASCena Englobante: Tipo de texto (político, publicitário, científico, relioso etc)
Cena Genérica: gêneros do discurso
Cena englobante: discurso políticoCena genérica: santinho ou outdoor partidário
As duas cenas, a englobante e a genérica, definem o espaço estável no interior do qual os enunciados ganham sentido. Em muitos casos são essas duas dimensões que compõem a cena de enunciação. Em outros, outra cena pode intervir: trata-se da cenografia, que não é imposta pelo tipo ou pelo gênero do discurso, mas pelo próprio discurso.
A CenografiaLiteratura: é muito comum que o leitor ou ouvinte não veja diante de si uma cena englobante, mas uma cenografia.
Da mesma maneira, um texto membro de uma cena genérica romanesca pode ser enunciado por meio da cenografia do diário íntimo, relato de viagem, da conversa ao pé da fogueira, etc.
Exemplo: uma novela pode ser contada de múltiplas maneiras: um marujo contando suas aventuras a um estrangeiro, um viajante que narra uma carta a um amigo, etc.
Em todos os casos, a cena na qual o leitor vê atribuído a si um lugar é uma cena narrativa construída pelo texto, uma CENOGRAFIA.
A Cenografia é ao mesmo tempo a origem do discurso e aquilo que engendra esse mesmo discurso;
Ela forma unidade com a obra a que sustenta e que a sustenta
A Cenografia legitima um enunciado que em troca deve legitimá-la, estabelecer que essa cenografia de onde vem a fala é precisamente a cenografia necessária para enunciar como convém
(Exemplos Pág 254, 255)
Cenas validadas : a cenografia que o torna possível. Já instalado no universo de saber e de valores do público.Exemplo: as Fábulas não “dizem” explicitamente que são sustentados por uma cenografia mundana, mas mostram isso por meio de variadas marcas textuais.
A CenografiaÉ tanto condição como produto da obra, que ao mesmo tempo está na obra e a constitui, que são validadas os estatutos do enunciador e do co-enunciador e também o espaço (topografia) e o tempo (cronografia) a partir dos quais a enunciação de desenvolve.
* ENLAÇAMENTO ENUNCIATIVO *
FUNÇÃO INTEGRADORA: MAIS DE UMA CENOGRAFIA – NARRAÇÃO INTRADIEGÉTICA O narrador delega sua função a uma personagem da narrativa – Cenografia Delegada.
Modo pelo qual se articulam diferentes cenografias
Conclusão:
A Cenografia não é um simples alicerce, mas o centro em torno do qual gira a enunciação.A Cenografia de uma obra deve, portanto, corresponder ao mundo que ela torna possível.A Cenografia é igualmente a articulação entre a obra considerada um objeto autônomo e as condições de seu surgimento.
O Ethos Ethos Retórico – Aristóteles “O que é persuasivo para cada TIPO de indivíduo” Consiste em causar uma boa impressão por meio do modo como se
constrói o discurso, em dar de si uma imagem capaz de convencer o auditório a ganhar sua confiança.
Para dar essa imagem positiva de si mesmo, o orador pode mobilizar três qualidades fundamentais:- A phronesis – prudência- A arete – virtude- A eunoia - benevolência
“O ethos retórico está ligado à própria enunciação, não a um saber extradiscursivo sobre o locutor”
Barthes: “ São os traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório para causar boa impressão (...) Sou isso, não aquilo “Ducrot: Locutor (enunciador) x Locutor (ser do mundo)“O ethos se mostra no ato de enunciação, mas não se diz no enunciado”Mostrar X Dizer
Segundo a Retórica de Aristóteles: - o ethos é uma noção discursiva, ele se constrói através do discurso, não é uma ‗imagem‘ do locutor exterior a sua fala; - o ethos é fundamentalmente um processo interativo de influência sobre o outro; - é uma noção fundamentalmente híbrida (sócio-discursiva), um comportamento socialmente avaliado, que não pode ser apreendido fora de uma situação de comunicação precisa, integrada ela mesma numa determinada conjuntura sócio-histórica.
Maingueneau: O Ethos está crucialmente ligado ao ato de enunciação, mas não
pode-se negar que o público constrói representações do ethos antes mesmo de ele começar a falar.
Faz-se necessário distinguir Ethos discursivo x Ethos pré-discursivo
Ethos discursivo: Aristóteles (ethos mostrado)Ethos pré-discursivo: o simples fato de estar vinculado a um gênero específico ou a certo posicionamento ideológico, faz com que tenhamos uma noção de ethos.
O ethos de um discurso resulta de uma interação de diversos fatores: o ethos pré-discursivo, o ethos discursivo (ethos mostrado) e também o ethos dito (fragmentos do texto em que o enunciador evoca sua própria enunciação)
Ethos efetivo: contruído pelo destinatário
Além do Ethos Retórico A retórica vincula Ethos essencialmente à oralidade
Todo texto escrito possui uma vocalidade específica que permite remetê-lo a uma caracterização do corpo do enunciador, a um fiador, que por meio de seu tom, atesta o que é dito.
Essa concepção “encarnada” de Ethos abrange não apenas a dimensão verbal, mas igualmente o conjunto de determinações físicas e psíquicas vinculados ao fiador pelas representações coletivas. Este vê atribuído a si um caráter (compleição física e maneira de se vestir) e uma corporalidade (conjunto de características psicológicas)
INCORPORAÇÃO: maneira como o destinatário (ouvinte ou leitor) se apropria do ethos
A Incorporação ocorre em três registros:
A enunciação da obra confere uma corporalidade ao fiador, dá-lhe corpo
O destinatário incorpora, assimila um conjunto de esquemas que correspondem a uma maneira específica de se relacionar com o mundo
Essas duas primeiras incorporações permite a constituição de um corpo, o da comunidade imaginária daqueles que aderem ao mesmo discurso.
A incorporação vai além da identificação com o fiador, mas implica um mundo ético de que esse fiador participa e dá acesso.Mundo ético : conjunto de situações estereotípicas associadas a comportamentos – comum na publicidade contemporânea
Conclusão: O Ethos não pode ser limitado, ao contrário da retórica
tradicional, a um “meio de persuasão”, pois é parte integrante da cena da enunciação
Os enunciados suscitam a adesão do leitor através de um modo de dizer que é igualmente um modo de ser
Capturados por um Ethos envolvente e invisível de um fiador, não apenas deciframos conteúdos, mas participamos de um mundo configurado pela enunicação
Cena Englobante: Cena de um anúncio publicitário
Cena Genérica: Anúncio em uma revista feminina
Cena de enunciação: Uma mulher considerada símbolo sexual mostrando o uso de um produto