dissertação-paula moreira 2005

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  • 7/25/2019 Dissertao-Paula Moreira 2005

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    Paula Cristina da Rocha Pinto Moreira

    As fontes de poder

    dos

    gestores de recursos humanos portugueses

    Um estudo exploratrio

    Dissertao apresentada na Universidade do Minho para obteno do grau

    de Mestre em Gesto de Recursos Humanos

    Orientador:

    Prof. Dr. Carlos Cabral-Cardoso

    Universidade do Minho

    Escola de Economia e Gesto

    Braga, 2005

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    AsFontes de Poder dos gestores de recursos humanos portugueses: estudo exploratrio

    ii

    Agradecimentos

    Chegar ao momento de entrega e defesa da tese de um Mestrado de facto

    algo que provoca um misto de emoes: alegria por ter alcanado a meta

    estabelecida, alvio das angustias e esforo at ento dedicado, expectativa quanto

    ao resultado, avaliao, e relativamente ao passo seguinte, prxima meta.

    tambm momento para reflectir e lembrar todos aqueles que

    contriburam para que tal fosse possvel. A todos eles deixo aqui o meu muito

    obrigada, esperando corresponder confiana e apoio que todos me prestaram.

    Em primeiro lugar agradeo ao Prof. Carlos Cabral-Cardoso a forma como

    orientou o meu trabalho. As notas dominantes da sua orientao foram a utilidade

    das suas recomendaes e a disponibilidade com que sempre me recebeu. Estou

    grata por ambas e tambm pela liberdade de aco que me permitiu, que foi

    decisiva para que este trabalho contribusse para o meu desenvolvimento pessoal.

    Deixo tambm uma palavra de agradecimento aos professores do Mestrado

    em Gesto de Recursos Humanos na E.E.G., pela forma como leccionaram as

    aulas, em particular ao Prof. Chris Brewster que, apesar da distncia, sempre

    respondeu com prontido s questes que lhe fui colocando.

    So tambm dignos de uma nota de apreo os meus colegas de edio de

    mestrado pelo companheirismo, a solidariedade e a boa disposio com que em

    conjunto fizemos este percurso, em particular a Mrcia, o Paulo Moreira e o Paulo

    Silva com quem mais partilhei angustias, estmulos e alegrias.

    Gostaria ainda de agradecer s minha empresas (a actual e a anterior)

    terem-me disponibilizado tempo para a frequncia deste mestrado, investindo

    deste modo na minha formao.

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    iii

    Um obrigada muito especial a todos os gestores de recursos humanos que

    aceitaram participar neste estudo, partilhando comigo as suas experincias, e sem

    os quais este trabalho no teria sido possvel.

    Ao Joo Ribeiro, sempre presente em todos os momentos: lanando-me o

    desafio para esta viagem, estimulando-me quando por vezes nada parecia valer o

    esforo, dando-me sempre a sua opinio critica e palavra amiga. Para ele um

    muito obrigada, com muito carinho e o desejo de que continue sempre a acreditar

    em mim.

    minha famlia, me, irms, sogros, cunhados e sobrinhos agradeo todo

    o apoio e disponibilidade de tempo que me deram, fazendo com que toda minha

    vida domstica e o acompanhamento das minhas filhas fosse minimamente

    afectados por esta dedicao acadmica. No podia deixar aqui de salientar a

    ajuda sempre amiga da minha irm Clara, que me apoiou em toda a logistica que

    a realizao deste curso exigiu.

    s minhas filhas, Ana Rita e Sofia Miguel, um beijo enorme, agradecendo

    do fundo do corao toda a pacincia que tiveram, deixando muitas vezes para o

    dia seguinte o mimo ou a ateno que precisavam na altura, porque a me estava

    a estudar. Espero que este esforo sirva de estmulo para os desafios escolares que

    agora vocs comeam a enfrentar.Ao meu marido, Z. impossvel traduzir por escrito quanto agradeo

    tudo: todo o companheirismo, pacincia, ajuda, as explicaes de Economia, o

    estmulo e palavra certa nos momentos mais difceis, todos os fins de dia e fins de

    semana solitrios, o desdobramento em pai e me para que eu pudesse me dedicar

    ao mestrado, j para no falar na colaborao cuidada na transcrio de algumas

    das entrevistas. Obrigada, muito obrigada!

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    Resumo

    No presente trabalho procurmos fazer, com base numa abordagem

    funcionalista do poder, uma primeira tentativa de identificao das fontes de

    poder dos gestores de recursos humanos a trabalhar em Portugal, com base nas

    percepes dos prprios sobre a prtica e o enquadramento organizacional da sua

    funo. Em termos genricos, pretendemos fazer um estudo exploratrio com o

    qual vismos obter junto de gestores de recursos humanos portugueses um

    conjunto de elementos que nos permitissem desenhar uma primeira imagem sobre

    quais as fontes de poder que consideram mais vlidas e eficazes na conquista do

    seu reconhecimento como parceiros estratgicos da gesto, e como percepcionam

    o poder que tm nas organizaes.

    Trs grandes grupos de factores potenciadores de poder foram

    identificados: um primeiro grupo constitudo por aspectos inerentes ao indivduo

    que desempenha a funo, outro resultante de caractersticas da prpria empresa e

    do negcio em que actua e, por ltimo, so apontados factores inerentes prpria

    funo.

    Quanto avaliao que fazem do poder percebido, encontramos equilbrio

    entre a proporo de profissionais que percepcionavam ter uma funo com poder

    e a daqueles que consideram no possurem essa capacidade de influncia.

    Contudo, mais uma vez ressaltamos que os gestores de recursos humanos da nossa

    amostra atribuem ao poder nas organizaes um caracter dinmico, contnuo,

    que se conquista, ou que se aprende a conquistar.

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    Abstract

    With the present work we attempted to identify, within a functionalist

    perspective of power in organizations, the power sources of human resources

    managers working in Portugal, from the viewpoint of their perceptions on the

    practice and the organizational framing of its function. In generic terms it is

    intended to make an exploratory study, in which we aimed to draw a first image of

    what were the power sources they consider more valid and efficient in the

    conquest of their recognition as management strategical partners, and of how they

    conceived the power they have in their organizations.

    Three groups of factors that harness power have been identified: a first

    group consisting of inherent aspects to the person that plays the function, another

    resultant of characteristics of the proper company and the business it runs, and

    finally, some inherent factors to the Human Resources function are pointed out.

    As for the question of how much was the perceived power of their

    function, we found balance between the ratio of professionals who perceived to

    have a powerful function, and the ones who considered not possessing this

    capacity of influence.

    However, it stands out that the human resources managers of our sample

    consider their power in organizations' as something dynamic, in a continuous

    conquest that they are learning to conquer.

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    ndice Geral

    Introduo...................................................................................................4

    Captulo 1. A Gesto de Recursos Humanos ................................10

    1.1.Uma nova abordagem ................................................11

    1.2.Evoluo entre paradigmas organizacionais..............16

    1.3.A evoluo do papel do gestor de pessoas.................22

    1.4.A Gesto de Recursos Humanos em Portugal ...........31

    Captulo 2. O Poder nas organizaes ...........................................37

    2.1.Conceito de poder e sua caracterizao .....................38

    2.2.As fontes de poder ou o poder potencial ...................42

    2.3.A investigao emprica sobre as fontes de poder.... 49

    2.4.Gerir com poder......................................................... 55

    Captulo 3. O Estudo Emprico....................................................... 61

    3.1.Objectivo do estudo................................................... 62

    3.2.Metodologia............................................................... 66

    3.2.1. Recolha de dados.............................................. 69

    3.2.1.1.O guio da entrevista...................................... 71

    3.2.1.2.O processo de entrevista................................. 74

    3.2.1.3.A transcrio dos dados das entrevistas......... 77

    Captulo 4. Anlises de dados e resultados.................................... 79

    4.1.Caracterizao da amostra......................................... 80

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    4.1.1. Caractersticas das empresas............................ 81

    4.1.2. Dados biogrficos dos participantes................. 82

    4.1.3. Caracterizao genrica da funo exercida.. 83

    4.2.Os resultados.......................................................... 87

    4.2.1. O processo de anlise.................................... 87

    4.2.2. Anlise dos resultados.................................. 89

    4.2.2.1. Fontes de poder.......................................... 89

    4.2.2.2.Percepo do poder da funo................... 120

    Captulo 5. Discusso e limitaes do estudo........................... 123

    5.1.Discusso dos resultados...................................... 124

    5.2.Limitaes do estudo realizado............................ 135

    Captulo 6. Concluses e recomendaes................................. 138

    6.1.Concluses........................................................... 139

    6.2.Implicaes prticas............................................ 142

    6.3.Recomendaes para futuras investigaes......... 143

    Referncias bibliogrficas........................................................................... 145

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    ndice de Figuras

    Quadro 4.1 Caractersticas das empresas ...............................................82

    Quadro 4.2 Dados biogrficos dos participantes................................... 83

    Quadro 4.3 Numero de participantes por designao de funo........... 84

    Quadro 4.4 Sntese de resultados.......................................................... 90

    Quadro 4.5 Subcategoria Competncias de gesto............................... 92

    Quadro 4.6 Subcategoria Competncias tcnicas de gesto em recursos

    humanos................................................................................................................ 96

    Quadro 4.7 Subcategoria caracteristicas pessoais................................ 103

    Quadro 4.8 Subcategoria Proximidade e participao nas estruturas de

    deciso................................................................................................................. 106

    Quadro 4.9 Subcategoria Maturidade de gesto de recursos

    humanos.............................................................................................................. 110

    Quadro 4.10 Subcategoria Caracteristicas do negcio e da

    actividade............................................................................................................ 112

    Quadro 4.11 Subcategoria Caracter transversal ...................................117

    Quadro 4.12 Subcategoria Intangibilidade.......................................... 118

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    Introduo

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    Num artigo de opinio da Revista Pessoal com o ttulo Dicas para o

    sucesso dos novos profissionais de Recursos Humanos, surgia em destaque a

    seguinte afirmao: A mudana aquilo que temos de mais certo. Os novos

    profissionais de Recursos Humanos que agora entram para o mercado de trabalho

    devero estar apetrechados com uma poderosa ferramenta que se chama poder de

    persuaso e influncia. (Mendes, 2004)

    Ao longo do texto o autor ressalta a importncia do gestor de recursos

    humanos assumir um papel pr-activo, identificar e desenvolver as competncias

    que ele considera importantes para o desempenho da funo, entre as quais o

    poder de persuaso e a influncia, de modo a promover a mudana no sentido

    de uma gesto de recursos humanos que situe as pessoas como um factor singular

    para o sucesso da organizao.

    Este artigo escrito numa revista dirigida para, e editada por, gestores de

    recursos humanos portugueses, no foi escrito h 20 anos atrs, mas em Maro de

    2004, chamando a ateno para duas questes que consideramos importantes:

    para a actualidade do debate sobre o poder e influncia da funo

    de gesto de recursos humanos nas organizaes,

    e para facto de que, tal como afirma Pfeffer (1992), os processos de

    inovao e mudana envolvem comportamentos polticos, exigindo o

    desenvolvimento de competncias de poder e influncia para que as coisas se

    faam.

    De facto, apesar de vrios autores referirem que o ambiente de competio

    e mudana rpida dos negcios vivida actualmente, ter feito sobressair um

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    discurso que reala a gesto de recursos humanos enquanto funo importante

    para a promoo da competitividade das empresas e do seu desempenho,

    colocando os departamentos de recursos humanos, e o papel desempenhado pelo

    responsvel mximo desse departamento o gestor de recursos humanos -, numa

    posio de destaque (Galang & Ferris, 1997; Welbourne & Cyr, 1999; Buyens &

    De Vos, 2001), outros chamam a ateno para o facto de a realidade evidenciar o

    contrrio do que se poderia esperar face a este enquadramento. Isto , que o papel

    e a posio do departamento de recursos humanos nas organizaes mantm-se

    envolvido num debate contnuo que deixa sobressair lamentaes sobre o seu

    limitado poder e influncia (Purcell, 2001), indiciando alguma falta de confiana

    na profisso (Brewster, 1997).

    Por outro lado, enquanto que nos passados anos 70 o poder ainda era

    considerado uma palavra feia nos estudos organizacionais, pese embora j se

    reconhecesse que o poder e a poltica eram fenmenos importantes na vida das

    organizaes (OByrne & Leavy, 1997), muito se tem evoludo desde essa poca.

    As sucessivas mudanas de paradigma permitiram uma leitura da realidade das

    organizaes que retirou alguma da carga pejorativa atribuda ao poder e

    poltica, e o conflito actualmente visto como uma das fontes de energia das

    organizaes. Actualmente a linguagem da vida organizacional rica noreconhecimento dos aspectos mais positivos do poder e da poltica, e no campo da

    teoria e prtica da gesto j no se procura demover os actores de actuarem

    politicamente, mas sim ajud-los a faz-lo de um modo mais eficaz e positivo

    (Pfeffer, 1992, 1994a; LeNoble, 1993; Blanchard, 1995; OByrne & Leavy, 1997;

    Vecchio, 1997). Vrios estudos empricos tm ressaltado a importncia do poder

    em diferentes contextos e processos da vida organizacional tais como na tomada

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    de decises estratgicas (Finkelstein, 1992) e na inovao na gesto (Ibarra,

    1993).

    O poder passa a ser concebido como a oportunidade de construir, de criar,

    e levar a histria para uma direco diferente (Pfeffer, 1994a), surgindo como um

    factor importante no papel desempenhado pelos gestores nas organizaes,

    nomeadamente dos gestores de recursos humanos.

    Os acadmicos que se tm debruado sobre o poder defendem ento, ser

    fundamental que os gestores compreendam como o poder actua nas organizaes,

    e aprendam a enfrent-lo e a utiliz-lo adequadamente e com percia. Sendo a

    compreenso deste fenmeno importante, no apenas para o sucesso individual

    mas tambm para o xito e eficcia do departamento pelo qual so responsveis

    neste caso o de recursos humanos - e da prpria organizao.

    Neste contexto, surgem naturalmente as questes sobre o modo como os

    gestores de recursos humanos lidam com o poder nas organizaes e sobre quais

    as fontes de poder que suportam a conquista do seu reconhecimento como

    parceiro estratgico da gesto.

    Em Portugal, contexto no qual nos situamos, a funo de gesto de

    recursos humanos passou por um processo evolutivo, tal como nos restantespases, o qual tem sido descrito e analisado por alguns acadmicos. Contudo,

    pouco ou nada se conhece sobre as condies objectivas ou fontes de poder que

    sustentam este desenvolvimento que, tal como refere Cabral-Cardoso (2004),

    ainda se encontra em processo de construo dinmico.

    Tal permanece ainda por investigar, sendo o objectivo deste trabalho fazer,

    com base numa abordagem funcionalista do poder, uma primeira tentativa de

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    identificao das fontes de poder dos gestores de recursos humanos portugueses,

    com base nas percepes dos prprios sobre a prtica e o enquadramento

    organizacional da sua funo.

    Neste contexto, no construmos hipteses a testar, tendo decidido fazer

    um estudo exploratrio que visa contribuir com uma primeira imagem sobre como

    o poder percepcionado por parte destes gestores de recursos humanos e como

    estas percepes se relacionam com a literatura acadmica sobre o assunto.

    A opo por este tema e a sua relevncia esto ligadas em grande medida

    s reflexes e preocupaes que tm acompanhado a nossa experincia de alguns

    anos como profissional desta rea, reforadas pelo nvel de responsabilidade

    assumida nesta etapa da nossa carreira enquanto directora de recursos humanos.

    O trabalho que aqui apresentamos est organizado em cinco captulos. No

    primeiro (captulo 1) apresentamos um resumo da reviso literria efectuada sobre

    a gesto de recursos humanos, a evoluo do conceito ligada evoluo dos

    paradigmas organizacionais, e as consequncias ao nvel do papel do responsvel

    por esta funo. Depois debruamo-nos sobre os estudos que abordaram o modo

    como esta evoluiu no contexto da realidade portuguesa at aos nossos dias.

    Posteriormente (captulo 2) revemos, tambm, a literatura sobre o poder,definindo as diferentes fontes de poder identificadas pelos acadmicos, as suas

    interdependncias, e relembrando alguns dos estudos que se debruaram sobre o

    fenmeno poder no contexto da gesto de recursos humanos.

    Para o enquadramento do estudo emprico, - que constitui o captulo 3 -,

    retomamos os estudos que se debruaram sobre a realidade portuguesa, no mbito

    dos quais levantamos as questes que orientam o nosso trabalho. Nesta fase,

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    justificamos a nossa opo metodolgica e fazemos a descrio do estudo, bem

    como a apresentao e anlise de resultados, que sero discutidos no captulo 4.

    Finalmente, no captulo 5, apresentamos as principais concluses do

    estudo, bem como aquelas que nos parecem ser as suas implicaes prticas e

    sugestes de maior aprofundamento emprico sobre o tema.

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    Captulo 1. A Gesto de Recursos Humanos

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    1.1. Uma nova abordagem

    A gesto de recursos humanos aparece nos Estados Unidos nos anos 80,

    assumindo-se enquanto conceito distinto em termos de filosofia e abordagem da

    gesto das pessoas nas organizaes (Cabral-Cardoso 1999; Buyens & De Vos,

    2001). Acompanhando as mudanas de paradigma do mundo dos negcios, ela

    surge associada a uma mudana para uma estratgia baseada no empenhamento

    dos trabalhadores, caracterizando-se por uma nova abordagem em termos de

    qualidade, flexibilidade da fora-de-trabalho, reforo do trabalho em equipa,

    processos de recrutamento e seleco criteriosos e forte investimento em

    formao e desenvolvimento (Cabral-Cardoso, 2004).

    Credibilizando-se (em termos acadmicos e prticos) enquanto domnio da

    gesto e situando-se para alm de um modelo de interveno reactivo, meramente

    operacional e administrativo, a gesto de recursos humanos surge como uma etapa

    evolutiva, que alguns autores consideram at de ruptura, relativa Gesto de

    Pessoal.Todavia, aps vinte anos de prtica nas organizaes, ainda se mantm

    actual o debate sobre se existem de facto diferenas entre a gesto de pessoal e a

    gesto de recursos humanos (Legge, 1989; Torrington, 1998; Guest, 1998; Cabral-

    Cardoso, 1999; Hoque & Noon, 2001; Purcell, 2001), sendo ambas as designaes

    utilizadas, por vezes, indiferentemente para designar a mesma realidade (Cabral-

    Cardoso, 2004).

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    designao de gestores de recursos humanos, comparativamente com os gestores

    de pessoal (Hoque & Noon, 2001), dando fora tese de que estas diferenas

    tambm se confirmam nos modelos descritivos.

    Por outro lado, e pese embora a dificuldade em se estabelecer uma relao

    causa-efeito entre o desenvolvimento de prticas de gesto de recursos humanos e

    o desempenho das organizaes (Guest, 2001), so cada vez mais as evidncias de

    que esta relao existe, nomeadamente no que concerne a resultados econmicos

    (Becker & Gerhart, 1996; Huselid, Jackson & Schuler, 1997). Estudos empricos

    recentes tm demonstrado que a implementao de prticas e polticas de recursos

    humanos consistentes esto associadas a elevados nveis de empenhamento

    organizacional e ao desenvolvimento de atitudes e comportamentos exigidos em

    organizaes de elevada performance (Cabral-Cardoso, 2004). Chang e Chen

    (2002) constataram que prticas de gesto de recursos humanos como a formao

    e desenvolvimento, trabalho em equipa, benefcios, planeamento de recursos

    humanos e avaliao de desempenho tinham um efeito significativo na

    produtividade dos trabalhadores de empresas de alta tecnologia na Tailndia. Pelo

    contrrio, o planeamento de recursos humanos e a existncia de um sistema de

    benefcios estavam negativamente associados ao turnover. Por sua vez, Guest

    (1999b), ao auscultar o veredicto dos trabalhadores relativamente gesto derecursos humanos, constatou, tambm, que aqueles que declaravam terem sido

    afectados por um maior nmero de prticas de gesto de recursos humanos

    tendiam a descrever um contrato psicolgico mais positivo e, consequentemente

    maior satisfao, segurana no emprego e motivao, bem como menores nveis

    de tenso no trabalho.

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    A questo que se coloca agora a de se saber se existem grupos de boas

    prticas de gesto de recursos humanos universais claramente identificveis que

    possuem efeitos positivos aditivos no desempenho das organizaes, ou se estas

    so contingenciais, dependendo de uma diversidade de factores e da sua

    adequao interna e externa, havendo, tambm, autores que consideram que

    ambas as perspectivas so compatveis (Becker & Gerhart, 1996; Purcell, 1999;

    Guest, Conway & Dewe, 2004). Independentemente da perspectiva adoptada e

    das respostas ainda por encontrar quanto a que combinao, ou combinaes, de

    prticas mais eficazes, o trabalho conceptual e emprico que tem vindo a ser

    desenvolvido sobre este tema, constitui j um corpo de conhecimento que permite

    afirmar que as prticas de gesto de recursos humanos influenciam a criao de

    valor nas empresas (Becker & Gerhart, 1996).

    Em oposio a uma gesto de pessoal percepcionada como administrativa

    e operacional, desligada da gesto estratgica e como tal incapaz de demonstrar a

    sua contribuio para o sucesso organizacional, sofrendo em consequncia baixos

    nveis de credibilidade e estatuto, sendo colocada numa posio de

    marginalidade relativamente gesto , a gesto de recursos humanos procura,

    assim, assumir uma orientao mais direccionada e integrada nas polticas e

    estratgias da organizao (Legge, 1989, 1995; Becker & Gerhart, 1996; Cabral-Cardoso, 1999).

    Esta integrao faz-se a dois nveis (Legge, 1989, 1995; Purcell, referido

    por Buyens & de Vos, 2001): ao nvel externo atravs do alinhamento das

    polticas de recursos humanos com a estratgia do negcio e o mercado em que

    actua (modelo hard ou best-fit) e, ao nvel interno, que assenta no

    desenvolvimento alinhado e ajustado das prticas de gesto de recursos humanos

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    entre si, na promoo de condies que promovam o contributo dos recursos

    humanos para o sucesso do desempenho do negcio.

    A evidncia emprica mostra que a valorizao de um ou outro tipo de

    integrao depende em grande medida das condies do mercado em que a

    organizao se insere, tendendo a optar-se por uma perspectiva mais softquando

    em momentos de maior crescimento, que propender a ser substituda por uma

    gesto de recursos humanos hard quando perante perodos de reduo de lucros e

    margens (Cabral-Cardoso, 1999).

    Todavia o sucesso desta integrao afecta e afectado pela posio que a

    funo recursos humanos ocupa no processo de deciso estratgica e, por outro,

    pela prpria orientao estratgica da funo recursos humanos e das prticas que

    desenvolve.

    Mas nem sempre se pensou assim. Pese embora actualmente as

    organizaes requeiram uma gesto de recursos humanos participativa e pr-

    -activa na batalha pela conquista e manuteno da vantagem competitiva,

    durante muitos anos (e, no presente, isso ainda acontece nalgumas empresas) ela

    era totalmente excluda dos processos de tomada de deciso estratgica do

    negcio (Brewster et al., 2003). Mudanas ocorridas no ambiente de negcios e

    das organizaes levaram a mudanas de paradigma de gesto e,consequentemente, no modo como se gerem as pessoas.

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    1.2. Evoluo entre paradigmas organizacionais

    Embora a literatura acadmica identifique algumas actividades orientadas

    para a gesto das pessoas j nos incios do sc. XIX, em reas tais como a

    agricultura e negcios familiares de pequena dimenso, com a Revoluo

    Industrial, e a consequente complexificao da fora-de-trabalho, que os

    estudiosos consideram terem comeado a emergir as primeiras prticas mais

    formais consideradas como razes da evoluo histrica da actualmente designada

    Gesto de Recursos Humanos (Legge, 1995; Losey, 1998; Cabral-Cardoso, 1999;

    Brewster et al., 2003).

    Esta evoluo desenvolveu-se intimamente ligada s mudanas de

    paradigma vigentes no mundo dos negcios e nas alteraes sofridas pelo

    contexto em que estes se desenvolvem, nomeadamente ao nvel das condies

    econmicas e sociais, bem como de inovao tecnolgica (Losey, 1998; Brewster

    et al., 2003).

    O conhecimento do modo como essa evoluo se fez e influenciou a forma

    como se geriam as pessoas nas organizaes surge, assim, como importante, tal

    como ressaltado por McKee (1997), para a compreenso da prpria evoluo

    histrica da gesto de recursos humanos e do papel desempenhado pelos seus

    especialistas a qual, na perspectiva de Legge (1995) e Torrington (1989),

    reflecte uma tenso entre duas orientaes potencialmente incompatveis entre si:

    a do controle e o cuidar.

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    Kathryn D. McKee, no seu trabalho de 1997, descreve as mudanas de

    paradigmas que tm ocorrido na vida dos negcios nas ltimas seis dcadas,

    identificando quatro grandes perodos evolutivos:

    Perodo Mecanicista (anos 40-50): Estvamos numa poca, tpica do

    perodo imediatamente anterior II Grande Guerra Mundial, em que a

    manufactura ainda dominava a Industria e em que as relaes laborais eram

    bastante conflituosas. O paradigma vigente era o do desempenho eficiente do

    trabalhador e da mquina.

    Os modelos clssicos da gesto dominam o pensamento da poca, os

    quais, pese embora distintos nas suas orientaes e princpios bsicos, a

    racionalidade e a eficincia ressaltadas pela Organizao Cientfica do

    Trabalho e pela Gesto Administrativa, em contraste com a preocupao com

    o trabalhador enquanto pessoa, caracterstica do Movimento de Relaes

    Humanas , so passveis de ser enquadrados numa lgica comum de

    promoo da eficincia e produtividade ao mais baixo custo (Legge, 1995).

    O modo como se desempenhavam as tarefas relacionadas com a gesto

    das pessoas era bastante mecanizado e rotineiro. Era uma funo

    essencialmente administrativa, de interpretao de contratos, manuteno de

    dados em arquivo e contratao de pessoas. As prticas de remunerao erampouco inovadoras, se bem que comeassem a aparecer os primeiros sistemas

    de benefcios e os programas de desenvolvimento organizacional eram

    praticamente inexistentes. Os responsveis pela funo de gesto de

    pessoal/relaes industriais no eram reconhecidos ao mesmo nvel que a

    restante equipa de gesto, no participando na definio da estratgia do

    negcio.

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    Perodo Legalista: Situado, segundo Mckee (1997), nas dcadas de

    1960-70, caracterizou-se por uma grande produo legislativa nas reas social

    e do trabalho, a qual procurou regular as relaes laborais para alm da

    contratao colectiva e das normas das empresas.

    O especialista de pessoal(recorrendo terminologia de Legge, 1995)

    procura nesta altura ajudar a organizao a navegar numa rede de

    regulamentos, ordens executivas e decises jurdicas que incorporavam

    nesta poca valores sociais da sade e segurana no trabalho, bem como de

    igualdade de oportunidades , e, em simultneo, tornando-se responsvel por

    motivar as pessoas e desenvolver uma cultura organizacional mais aberta e

    flexvel capaz de se adaptar ao mundo exterior em contnua mudana, ao

    surgimento das novas tecnologias, das expectativas dos trabalhadores e dos

    consumidores (Legge, 1978; Losey, 1998).

    Coloca-se agora a nfase na eficcia, e no na eficincia (Legge,

    1978).

    nesta altura que comeam a emergir as reas de formao,

    desenvolvimento e mudana organizacional (Legge, 1995; Brewster et al.,

    2003), procurando-se a aceitao de diferentes critrios de sucesso assentes

    em valores sociais em paralelo com valores de negcio.As novas tecnologias invadem tambm a prpria funo de pessoal

    com o aparecimento dos primeiros sistemas de informao aplicados gesto

    de pessoal, mais propriamente as bases de dados de processamento de salrios

    (Brewster et al., 2003).

    Perodo Organicista Globalizao, fuses, aquisies, reengenharia e

    downsizing so termos que esto associados s grandes mudanas que tm

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    lugar no mundo dos negcios e das organizaes nos anos 80, criando um

    ambiente em que a competitividade empresarial se tornou no paradigma

    dominante colocando inmeros desafios aos profissionais responsveis pela

    gesto das pessoas (Brewster et al., 2003; Cabral-Cardoso, 1999).

    Em que medida o pessoal pode contribuir para reforar a posio

    competitiva da empresa ou constituir uma barreira a essa competitividade,

    [tornam-se] preocupaes centrais da gesto (Cabral-Cardoso, 1999, : 228),

    colocando a gesto das pessoas numa posio de maior parceria na discusso

    dos objectivos e polticas da empresa.

    , nesta poca que a gesto de recursos humanos, enquanto conceito

    aparece nos Estados Unidos, diferenciando-se da tradicional Gesto de Pessoal

    em termos de filosofia e abordagem da gesto das pessoas nas organizaes

    (Cabral-Cardoso, 1999; Buyens & De Vos, 2001), assumindo o seu nvel mais

    elevado de especializao (Brewster et al., 2003).

    Para alm da gesto de uma fora-de-trabalho cada vez mais

    diversificada e a tomada de conscincia dos problemas ligados com a

    conciliao do trabalho e famlia, a gesto de recursos humanos passa a ter

    que se organizar volta dos conceitos de centro de custo e de centro de lucro

    (Brewster et al., 2003).Perodo Estratgico Durante os anos 90 surgem novas estruturas

    organizacionais em rede (web, networks) e matriciais que procuram

    melhor se adequar crescente competitividade dos mercados em que actuam,

    emergindo o pensamento e o planeamento estratgico como a actividade mais

    proeminente para lidar com este contexto (Brewster et al., 2003).

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    Podemos encontrar diversas definies para os termos

    estratgia/estratgico, consoante optemos por uma perspectiva mais normativa

    ou comportamental (cf. Legge, 1995), contudo, para o presente efeito ficar-

    nos-emos pela sugerida por J. Kay que considera que a estratgia consiste na

    anlise da relao da empresa com o seu ambiente, da qual resultam esquemas

    desenhados para lidar com esta relao estratgia do negcio e que

    procuram a obteno e manuteno de vantagem competitiva.

    Neste enquadramento, as pessoas passam a ser vistas como um activo

    nico e mais difcil de imitar do que os tradicionais e o modo como ele

    gerido assume uma importncia cada vez maior enquanto fonte de vantagem e

    sucesso competitivo (De Sa-Prez & Garca-Falcn, 2002; Pfeffer, 1994;

    Pfeffer & Veiga, 1999; Cabral-Cardoso, 1999).

    A gesto de recursos humanos passa a estar integrada no planeamento

    estratgico da empresa, e a ser ela mesma estratgica, pr-activa e

    desenvolvida numa perspectiva de mais longo-prazo (Guest, 1999a). Por sua

    vez, os gestores de recursos humanos passam a participar na tomada de

    deciso estratgica ao mesmo nvel de parceria que os seus colegas de gesto

    (Cabral-Cardoso, 1999; Brewster et al., 2003).

    Quanto ao ps ano 2000, perodo a que McKee (1997) designa de PerodoCataltico, a autora, partindo do conhecimento das tendncias actuais, chama a

    ateno para vrias questes que ela considera relevantes enquanto desafios para a

    gesto de recursos humanos. Ela alerta para o aumento do emprego entre

    fronteiras, aumento da procura de uma fora-de-trabalho capaz de se adaptar a

    diferentes culturas e de se mover entre elas, a cada vez maior introduo e

    desenvolvimento de modalidades de trabalho flexvel, o aumento da

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    subcontratao de funes e da procura de profissionais just-in-time, que, por

    sua vez, perspectivam a sua carreira de uma forma mais selectiva. A existncia de

    um nmero cada vez menor de organizaes como resultado da continuao de

    fuses e aquisies inerentes globalizao, maior relevo do trabalho em equipa,

    maior diversidade de prticas e sistemas de remunerao e compensao.

    O trabalho e o modo como este se organiza actualmente esto a ser

    reconstitudos em novas modalidades, renovando as relaes que se desenvolvem

    a vrios nveis: entre empresa e trabalhador, entre o indivduo e o conceito de

    trabalho, situao de emprego ou desemprego, e na relao com os outros

    trabalhadores em termos de tempo e espao (Sparrow & Marchington, 1998). As

    relaes entre os principais stakeholders com os governos, sindicatos e outras

    instituies externas esto tambm em mudana.

    O desafio para a gesto de recursos humanos coloca-se agora na

    capacidade de dar resposta a estas novas modalidades de organizao de trabalho

    e de contrato psicolgico, procurando o desenvolvimento de novas modalidades

    de parceria na relao de trabalho e de novas flexibilidades dentro das

    organizaes (Sparrow & Marchington, 1998).

    Enquanto as organizaes mudavam de um paradigma assente numa lgica

    produtivista para outro de competitividade e flexibilidade, a gesto das pessoasque nelas trabalhavam sofreu um processo de evoluo, enriquecendo a sua

    funo em conhecimento especializado, actividades, responsabilidades e

    influncia (Torrington, 1989; Cabral-Cardoso, 1999), com reflexos naturais no

    papel desempenhado pelo seu titular.

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    1.3. A evoluo do papel do gestor de pessoas

    Vrias tipologias tm sido propostas sobre o papel desempenhado pelos

    gestores de recursos humanos.

    Uma das mais referidas na literatura a de Torrington (1989), que traa

    uma linha evolutiva histrica e sequencial da funo pessoal (tal como este autor

    prefere chamar-lhe) atravs da sugesto de esteretipos dominantes dos

    especialistas de pessoal em diferentes perodos. De acordo com este autor as

    origens da funo pessoal tm as suas razes nas actividades dos reformistas

    sociais que procuravam chamar a ateno para as condies desumanas e

    degradantes em que se trabalhava em meados do sc. XIX, aquando da Revoluo

    Industrial. A sua influncia induziu a necessidade de se introduzir nas empresas

    (j no incio do sc. XX) uma funo especfica com a responsabilidade de

    promover e zelar pela manuteno do bem-estar dos trabalhadores as aclitas da

    benevolncia (mulheres que forneciam alguns benefcios sociais, nomeadamente:

    cantina, cuidados de sade, pagamento de salrios em situao de doena a quem

    o merecesse) a qual assentava bastante numa motivao de caridade crist por

    parte de empregadores de esprito paternalista.

    No perodo entre Grandes Guerras, a ligao entre bem-estar e eficincia

    alargou-se passando a incluir, para alm dos aspectos fsicos do ambiente de

    trabalho, actividades que visavam a adequao entre trabalhador e posto-de-

    -trabalho. Comea-se a procurar no conhecimento das Cincias Sociais

    (Organizao Cientfica do Trabalho, Gesto Administrativa e Movimento de

    Relaes Humanas) ideias teis para a gesto das pessoas, dando-se os primeiros

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    passos no sentido de orientar a actividade dos especialistas na funo de pessoal

    para fins organizacionais e j no apenas objectivos paternalistas. Para Torrington

    (1989), durante este perodo (Mecanicista, segundo McKee, 1997) que muito do

    trabalho tcnico e ferramentas de gesto de pessoal ainda em voga (por exemplo

    em termos de seleco, formao e descrio de funes) foram desenvolvidos.

    Aps a II Grande Guerra Mundial (perodo Legalista de McKee, 1997)

    vive-se uma poca de pleno emprego e de produo de muita legislao laboral,

    durante a qual os sindicatos alargaram a sua representatividade e influncia. Em

    resposta a este contexto emerge um papel administrativo, legalista e de

    negociao para aqueles que assumiam a funo pessoal e a que Torrington

    (1989) designa de negociador de consensos.Numa fase final deste perodo, quase

    como em reaco predominncia do papel negociador exigido pelo contexto de

    conflito laboral que caracterizou os incios dos anos 60, o especialista de pessoal

    procura o desenvolvimento de uma cultura organizacional mais aberta e efectiva

    entre gestores e trabalhadores, promotora da flexibilidade organizacional exigida

    pelo mundo em mudana (Legge, 1995: 12). Surge, ento, na terminologia de

    Torrington (1989) o papel do homem da organizao, preocupado com a

    eficincia da organizao no seu todo, com a clarificao dos seus objectivos

    gerais volta dos quais se pretendia envolver os seus membros de todos os nveis. neste contexto que se realizam os primeiros programas de desenvolvimento

    organizacional, muitos deles promovidos com vista ao desenvolvimento e

    reteno de uma elite de profissionais considerados nucleares para prossecuo

    com sucesso dos objectivos organizacionais.

    Finalmente, aps o choque de petrleo que caracterizou os anos 70, o

    consequente aumento da inflao fez vir ao de cima, novamente, preocupaes

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    com os custos e com a eficincia de curto-prazo, a maior responsabilidade dos

    gestores de pessoal passa a ser a procura da melhor relao entre nmeros e

    competncias (Legge, 1995). neste contexto que surge o ltimo papel

    identificado por Torrignton (1989) e designado por ele de analista da fora-de-

    trabalho1, cuja actividade de planeamento das necessidades futuras de

    trabalhadores nesta altura, bastante facilitada pelo aparecimento do computador

    que possibilitou a realizao de clculos e medidas at a irrealistas de concretizar.

    Estamos, nesta altura, nos anos 80, poca a que McKee (1997) designa como

    Organicista e onde grande parte dos autores situa o aparecimento da gesto de

    recursos humanos enquanto filosofia de gesto distinta.

    Pese embora apresente estes tipos de papel de um modo sequencial e

    evolutivo, Torrington (1989) afirma que eles se encontram presentes em diversos

    nveis em muitas das actividades desempenhadas pelos gestores de pessoal nas

    organizaes actuais, fazendo parte da complexidade que caracteriza a funo no

    presente.

    Uma outra tipologia, tambm muito referida (eg. por Torrington, 1989;

    Legge, 1995; Caldwell, 2001) a proposta por Tyson & Fell no seu trabalho de

    1986. Estes autores identificaram trs papeis-tipo ideais que se espera que os

    especialistas de pessoal desempenhem em diferentes contextos organizacionais(Legge, 1995). Estas expectativas esto relacionadas com quatro parmetros da

    funo, nomeadamente: o modo como se tomam decises ao nvel da gesto

    snior, o horizonte de planeamento adoptado para as actividades de pessoal, o

    poder de deciso que permitido ao especialista de pessoal e o grau com que este

    envolvido na criao da cultura organizacional (Tyson & Fell, referidos por

    1Traduo do termo manpower analyst

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    Legge, 1995:45). Estes parmetros, por sua vez, esto relacionados com as

    principais actividades em que os especialistas de pessoal esto envolvidos:

    representao do sistema central dos valores da organizao, manuteno das

    fronteiras da organizao, promoo da estabilidade e da continuidade

    organizacional, bem como a adaptao mudana. Surge, assim, o clerk of

    works, caracterizado por baixo nvel de poder de deciso, horizontes de curto-

    prazo ou imediatos, sendo subserviente relativamente aos gestores de linha; um

    papel reactivo e com pouca autoridade (Torrington, 1989). Por sua vez o contract

    manager tambm reactivo, porm, trabalha num horizonte de mdio-longo

    prazo, assessorando e aconselhando os gestores de linha e actuando geralmente

    como um agente da gesto snior (Legge, 1995). Todavia no assume papel de

    destaque na gesto da mudana. Em contraste, o architect combina o poder de

    deciso a um planeamento perspectivado num horizonte de mais longo-prazo. Ele

    assume um papel pr-activo no desenvolvimento de politicas que promovem e

    gerem a mudana organizacional, actuando como parceiro da gesto de topo.

    Tyson e Fell (in Caldwell, 2001) ao analisarem o modo como a gesto das

    pessoas tem evoludo no contexto actual da Europa Comunitria, afirmam que a

    complexidade da legislao laboral e a reorganizao das estruturas sindicais

    revitalizaram o papel do contract manager entretanto em declnio nos finais dosanos 80, enquanto que, por outro lado, a cada vez maior delegao de

    responsabilidades de gesto dos recursos humanos aos gestores de linha tenha

    relanado novamente o papel administrativo e de prestador de servios do clerk

    of works. Todavia, a incorporao da gesto de recursos humanos ao nvel da

    gesto geral, desnudou o papel de architect do prprio gestor de recursos

    humanos.

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    Ao procurar um paralelo entre estas duas tipologias Legge (1995),

    considera que o clerks of works ao derivar de uma tradio de proteco do

    bem-estar social possui tonalidades dos aclitos da benevolncia e do homem

    burocrata; por sua vez o contract manager, pela sua vertente de relaes

    laborais e controle da fora-de-trabalho, reflecte o negociador de consensoscom

    traos de analista da fora-de-trabalho; finalmente, o architect incorpora traos

    do homem da organizaoe do analista da fora-de-trabalhoao assentar a sua

    actividade na estratgia e clima organizacional (p:14).

    Partindo da tipologia de Tyson e Fell, Storey (referido por Legge, 1995 e

    referido por Caldwell, 2001), por sua vez, props uma outra assente no trabalho

    emprico que publicou em 1992. Esta tipologia desenvolvida com base num

    modelo definido em dois eixos: interventivo versus no-interventivo e estratgico

    versus tcito. Do cruzamento destes eixos resultam quatro papis : os advisors

    (estratgico no interventivo), handmaidens (tcito no interventivo),

    regulators (tcito interventivo) e o changemaker (estratgico e interventivo).

    Segundo Legge (1995), e fazendo o paralelo com a tipologia de Tyson e

    Fell anteriormente descrita, os handmaidens so uma variante do papel

    desempenhado pelo clerk of works, os advisors apesar de possurem a viso

    estratgica dos architect no so pr-activos, por sua vez os regulators podemser considerados como uns contracts manager pr-activos, enquanto os

    changemaker se assemelham ao architect. Todavia para Storey (referido por

    Caldwell, 2001) apenas os advisors, os handmaidens e os regulators se

    aproximavam dos tipos definidos por Tyson e Fell, enquanto os changemakers

    estariam a um nvel diferente. Estes eram interventivos, possuindo uma agenda

    estratgica que se focalizava nas duras realidades do desempenho do negcio sem

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    descurar intervenes soft de gesto de recursos humanos com vista promoo

    do envolvimento e motivao dos trabalhadores. Constatou, porm, no estudo de

    caso que efectuou em empresas do Reino Unido e que publicou em 1992, que este

    papel raramente era exercido na sua essncia, pese embora fosse o aspirado pela

    maioria dos gestores com responsabilidades pela gesto de pessoal.

    Ulrich (1997), por sua vez, defende que o gestor de recursos humanos deve

    desempenhar quatro papeis pr-activos importantes, atravs dos quais dever

    apresentar resultados e criar valor para a organizao. Estes quatro papis

    definem-se atravs de um modelo de dois eixos que representam a focalizao e

    as actividades dos profissionais de recursos humanos. Afocalizaopode evoluir

    num contnuo entre o plo estratgico/longo-prazo at ao plo operacional/curto-

    prazo, ambos importantes para a actividade do gestor de recursos humanos. As

    actividades podero ir desde a gesto de processos (ferramentas e sistemas de

    gesto de recursos humanos) gesto das pessoas. Do cruzamento destes dois

    eixos resultam quatro papis principais: de gesto estratgica dos recursos

    humanos (parceiro estratgico); gesto das infra-estruturas da empresa, atravs do

    desenvolvimento e aplicao de um conhecimento especializado sobre

    organizao do trabalho, procurando a eficcia e eficincia administrativas

    (especialista administrativo); gesto da contribuio dos trabalhadores (campeodos empregados traduo literal de employee champion), representando os

    seus interesses junto da gesto, promovendo simultaneamente a sua motivao e

    envolvimento, melhorando o seu desempenho e obtendo resultados; e, finalmente,

    a gesto da mudana (agente de mudana), moldando processos e uma cultura

    organizacional adaptvel mudana e s exigncias do meio.

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    Estes papis so apresentados por Ulrich (1997 e 1998) como um ideal

    prescritivo que os gestores de recursos humanos devero seguir no sentido de

    quebrarem com a imagem negativa e pela postura de ausncia da realidade do

    mundo empresarial que lhes atribuda.

    Porm, de acordo com este autor, esta evoluo no papel do gestor de

    recursos humanos s poder ser potenciada na existncia de algumas condies

    fundamentais. Elas passam em primeiro lugar pelos prprios responsveis

    mximos das organizaes, que devero ser os primeiros a incorporar a gesto dos

    recursos humanos nas prioridades estratgicas da organizao, levando a que os

    gestores operacionais assumam tambm essa responsabilidade, trabalhando em

    parceria com os gestores de recursos humanos (Ulrich, 1997 e 1998). Por outro

    lado, o gestor de recursos humanos dever possuir todo um conjunto de

    competncias, como o conhecimento do negcio em que a sua actividade est

    integrada, dominando tanto a teoria como a prtica da gesto de recursos humanos

    (especializao funcional em gesto de recursos humanos), e, principalmente,

    sabendo gerir a cultura organizacional e promover a mudana (Ulrich et al.,

    1989a, 1989b; Ulrich et al., 1995; Ulrich & Eichinger, 1998; Ulrich,1998a). A

    capacidade de demonstrar a mais valia da sua interveno na empresa, definindo

    medidas adequadas e integradas na linguagem dos negcios, auto-avaliando-se eactualizando-se continuamente, so tambm referidas por este autor como

    importantes contributos para o processo de construo da credibilidade da

    profisso recursos humanos, e seu reconhecimento enquanto parceiro da gesto

    (Ulrich, 1989, 1997b).

    Vrias so as vozes que se levantam reclamando uma reflexo profunda

    sobre o papel do gestor de recursos humanos no contexto actual e futuro,

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    enquadrando-o num contexto de crise de credibilidade e (re)definio da sua

    identidade (Ulrich, 1987, 1997, 1997a, 1998a e 1998b; Flood, 1998; Herriot,

    1998; Sparrow & Marchington, 1998; Torrington, 1998; Ulrich & Eichinger,

    1998; Purcell, 1999 e 2001). Debate-se e procura-se definir quais as competncias

    e conhecimento especializado a desenvolver, bem como qual o tipo de interveno

    adequado, mais ou menos operacional, interno organizao ou em outsourcing

    e qual o relacionamento a ter com os diferentes stakeholders no novo milnio e

    num mundo cada vez mais global.

    Todavia, esta globalidade no de todo equivalente a homogeneidade,

    levantando questes no apenas relacionadas com a gesto de uma fora-de-

    -trabalho diversificada, mas ressaltando tambm as diferenas que o prprio

    conceito e as prticas de gesto de recursos humanos assumem consoante os

    contextos em que esta se desenvolve em todo o mundo. Referimo-nos discusso

    sobre o carcter universal ou contextual da gesto de recursos humanos, a qual

    tem dominado a literatura internacional (Sparrow & Hiltrop, 1997; Brewster,

    2000).

    Os defensores da contingencialidade referem que a gesto no deve ser

    culturalmente cega, ressaltando que vrios factores entre os quais os econmicos,

    culturais, legais, padres de propriedade empresarial e influncia sindicalcondicionam os modelos de gesto de recursos humanos adoptados nas

    organizaes, e, consequentemente as prticas e papis desempenhados pelos

    gestores de recursos humanos em todo o mundo.

    nestes argumentos que assenta o debate sobre a existncia de um

    modelo de gesto de recursos humanos Europeu, distinto do que nos prescrito

    pela literatura de gesto norte-americana, a qual tem como base pressupostos de

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    autonomia organizacional muito diferentes da realidade europeia (Brewster, 1993;

    Brewster & Hegewisch, 1993a, 1993b; Brewster & Mayrhofer, 2000). As

    organizaes na Europa vem a sua autonomia condicionada a nvel nacional pela

    sua cultura e legislao, ao nvel organizacional pelas modalidades de gesto e

    posse, e ao nvel da gesto de recursos humanos pelo envolvimento dos sindicatos

    e acordos colectivos.

    Por outro lado, os dados recolhidos pelo Price Waterhouse Cranfield

    Project2, embora identifiquem preocupaes comuns ao nvel da gesto de

    recursos humanos entre as empresas na Europa nomeadamente, quanto a

    mudanas no relacionamento com os sindicatos, implementao de sistemas

    variveis de remunerao e de modalidades de trabalho flexvel, bem como com a

    formao, comunicao, igualdade de oportunidades e dificuldade no

    recrutamento de gestores de topo e tcnicos especializados de qualidade -,

    revelam, tambm, que o modo como estas so tratadas distinto, evidenciando

    um cariz fortemente nacional (Brewster & Hegewisch, 1993a e 1993b). A

    organizao, bem como o prprio papel, estatuto e funo do Departamento de

    recursos humanos diferente de pas para pas europeu, reflectindo a sua cultura,

    tradio, legislao e mercado de trabalho, indo de encontro s constataes de

    Hofstede (1983) da relatividade cultural das teorias e prticas de gesto.

    2projecto que visa a recolha e anlise de dados sobre polticas e prticas de gesto de recursoshumanos na Europa (Brewster & Hegewisch, 1993a), cobrindo actualmente 22 pases.

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    1.4. A Gesto de Recursos Humanos em Portugal

    Geert Hofstede (1983) no seu trabalho de investigao sobre culturas

    nacionais, no qual Portugal estava includo, identificou quatro dimenses que

    constatou ocorrerem em todas as culturas, se bem que em diferentes combinaes,

    constituindo critrios de diferenciao inter cultural no modo como influenciam o

    pensamento e a prtica de gesto de cada pas, nomeadamente em termos de

    organizao, liderana e motivao. Estas dimenses so: Individualismo Vs

    Colectivismo, Distncia ao Poder, Evitamento da Incertezae MasculinidadeVs

    Feminilidade. Segundo estes critrios a cultura portuguesa descrita como

    Colectivista(sociedade onde a pertena e a fidelidade a um grupo/colectividade

    valorizada) e com um elevado ndice de Distncia ao Poder (o qual constatou

    estar relacionado, ao nvel das organizaes, com a centralizao da autoridade e

    com a liderana autocrtica) caractersticas comuns a pases economicamente

    mais pobres, distinguindo-se a estes nveis da cultura norte-americana com baixo

    ndice de Distncia ao Poder e Individualista, mas tambm de pases europeus

    latinos tais como a Frana, Itlia e Espanha, que combinam um elevado ndice de

    Distncia ao Poder com valores Individualistas. Quanto s outras dimenses

    revela um nvel elevado no ndice de Evitamento da Incerteza, isto , um

    colectivo receio do desconhecido de que exemplo o nvel de religiosidade

    caracterstica comum aos pases latinos deste e do outro lado do Atlntico, mas

    em contraste com pases como o Reino Unido, Irlanda, Dinamarca e Sucia ,

    revelando-se uma cultura moderadamente Feminina tal como outras culturas

    latinas e mediterrnicas onde prevalecem valores tradicionalmente associados aos

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    papeis femininos, em contraste com o que acontece noutros pases europeus como

    os de lngua germnica.

    Constituindo uma cultura com caractersticas prprias e distintas dos

    restantes pases europeus (Hofestede, 1983), Portugal e as organizaes

    portuguesas fizeram o seu prprio percurso de adaptao s mudanas vividas

    pelo mundo dos negcios, e, consequentemente de evoluo nas polticas e

    prticas de gesto das pessoas que nelas trabalham, construindo aquilo a que

    Cabral-Cardoso (2004) diz serem evidncias da existncia de um modelo

    portugus de gesto de recursos humanos.

    Todavia, rara e recente a literatura acadmica sobre a prtica da gesto

    de recursos humanos em Portugal, sendo ainda mais escassa a que se debrua

    sobre o papel desempenhado pelos responsveis pela sua implementao nas

    empresas portuguesas.

    Existe desde 1964 uma associao de profissionais desta rea a

    Associao Portuguesa dos Gestores e Tcnicos dos Recursos Humanos,

    (inicialmente designada dos Directores e Chefes de Pessoal), com cerca de 1500

    membros associados em 2004, entre os quais Directores de Recursos Humanos,

    Chefes de Pessoal, Administradores de empresas de vrios sectores, assim como

    formadores, consultores e estudantes universitrios de vrios cursos,nomeadamente de Gesto, Psicologia do Trabalho e Sociologia (APG, 2004) , o

    que indicia que nos anos 60 a funo pessoal j estava bem identificada em

    algumas empresas portuguesas, organizando-se enquanto grupo profissional.

    Contudo, tal como refere Cunha & Obeso (2004), nessa poca a sua funo

    era essencialmente administrativa e de baixo estatuto, a no ser em alguns

    departamentos de pessoal de multinacionais que investiam j em actividades de

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    Desenvolvimento. O pas encontrava-se sob um regime ditatorial fascista, em que

    os sindicatos oficiais desempenhavam um papel importante de controlo sobre os

    trabalhadores, sendo poucas e fracas as suas reivindicaes (Fonseca, 1982), pelo

    que as empresas no sentiam necessidade de especialistas de pessoal e nem as

    universidades promoviam cursos nesta rea (Cunha & Obeso, 2004).

    Com a revoluo de Abril de 1974 e os primeiros anos de governao pr-

    -comunista em que empresas dos principais sectores da economia foram

    nacionalizadas, os sindicatos passaram a assumir uma grande fora reivindicativa

    e confrontativa nas relaes laborais (Noronha et al., 1993; Cerdeira, 1997). Neste

    contexto, a negociao colectiva assumiu papel importante nas organizaes,

    lanando consigo os departamentos de pessoal e os seus responsveis

    maioritariamente Licenciados em Direito para uma posio de maior relevo nas

    organizaes.

    Os departamentos de pessoal tornaram-se mais centralizados, aumentando

    em nmero de pessoas, e ocupando-se, para alm das questes laborais, com

    actividades de planeamento complexas mas, segundo Cunha & Obeso (2004) de

    praticamente nenhuma relevncia para a estratgia do negcio, ou desempenho da

    organizao , criando novos servios em reas como a seleco, avaliao do

    desempenho e formao, este ltimo como forma de colmatar a lacuna deixadapelo encerramento dos cursos tcnico-profissionais no ensino oficial.

    Com a adeso de Portugal Comunidade Europeia em 1986 vive-se um

    processo de transformao das condies de funcionamento e desenvolvimento da

    sociedade e da economia portuguesa (Cerdeira, 1997). Por um lado, passou-se de

    um quadro de referncia marginal relativamente aos restantes pases europeus,

    para o centro das decises, e, por outro, o acrscimo de competitividade entretanto

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    vivido (devido a esta integrao mas tambm a outros factores da economia

    mundial) reflectiu-se num perodo de recuperao econmica, aumento de salrios

    reais e diminuio do desemprego. O sindicalismo de negociao reforado em

    detrimento do sindicalismo de classe, realizando-se o primeiro acordo de

    concertao social na histria das relaes laborais portuguesas, o qual se

    desenrola num contexto de paz social (Lima, 2000).

    Com o programa de privatizaes entretanto em curso, muitas empresas

    passam por grandes reestruturaes que fazem ressaltar a importncia do factor

    humano na conquista de vantagem competitiva (Cunha & Obeso, 2004), criando a

    necessidade de gestores de recursos humanos mais especializados e preocupados

    com a competitividade e a flexibilidade (Cunha e Marques referido por Cabral-

    Cardoso, 2004). A designao Gesto de Recursos Humanos substitui

    gradualmente a Gesto de Pessoal, novas prticas tais como a remunerao

    associada ao desempenho passaram a ser adoptadas pelas empresas e o recurso a

    consultores externos tornou-se comum. Desde essa altura a formao de base dos

    gestores de recursos humanos diversificou-se, comeando a aparecer os primeiros

    cursos de gesto de recursos humanos em vrias instituies de ensino superior

    durante os anos 90.

    No incio de sc. XXI, de acordo com o trabalho de Cabral-Cardoso(2004), constatam-se mudanas quer ao nvel da composio demogrfica, como

    no papel desempenhado pelos directores de recursos humanos em Portugal,

    acompanhando as transformaes que todo o contexto nacional em que se inserem

    tem sofrido nos ltimos vinte anos. Uma nova gerao maioritariamente feminina

    e com um nvel de formao mais elevado, nomeadamente em reas de gesto,

    parece estar a substituir gradualmente a velha-guarda de directores de recursos

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    humanos, homens, maioritariamente Licenciados em Direito, optando por

    desempenhar aquilo a que o autor chama de papel de especialista e centralizador

    na conquista de uma maior credibilidade enquanto parceiros de gesto. Este papel

    envolve uma maior integrao estratgica, maior influencia junto do topo, maior

    alinhamento das polticas e prticas de recursos humanos com o negcio, mas,

    tambm, menor delegao de responsabilidades de gesto de recursos humanos

    para as chefias de linha e restantes colegas de gesto.

    A centralizao das decises de gesto de recursos humanos constatada

    por Cabral-Cardoso (2004) tem vindo a aumentar desde o incio dos anos 90, tal

    como evidenciam os resultados dos inquritos realizados pelo Cranet Project

    (Larsen & Brewster, 2003). Em 1992, Portugal era um dos pases europeus que se

    situavam no plo extremo de maior delegao frente da Espanha e apenas

    suplantado pela Finlndia e a Dinamarca (Brewster & Sderstrm, 1993), porm

    os dados referentes a 1999/2000 situam a gesto de recursos humanos do nosso

    pas numa posio intermdia, mas a tender para o extremo oposto no contnuo de

    delegao (Larsen & Brewster, 2003).

    Este movimento contrrio tendncia global de grande parte dos pases

    europeus para uma cada vez maior delegao das questes de recursos humanos

    para as chefias de linha, , todavia, interpretado como um indicador docrescimento do reconhecimento profissional da funo de gesto de recursos

    humanos no nosso pas (Larsen & Brewster, 2003; Cabral-Cardoso, 2004) tanto

    mais que os dados inicialmente recolhidos suscitavam dvidas junto dos

    investigadores sobre se tal derivaria da centralizao destas questes por parte das

    chefias de linha devido falta de credibilidade dos seus colegas do departamento

    de recursos humanos (Brewster & Mayrhofer, 2000) , contribuindo para ressaltar

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    o carcter nacional/cultural deste aspecto (Brewster & Sderstrm, 1993; Larsen

    & Brewster, 2003).

    Cunha & Obeso (2004) tambm reconhecem ter existido uma evoluo no

    sentido de um maior envolvimento da funo recursos humanos no processo de

    formulao estratgica, afirmando ser cada vez menor a percentagem de empresas

    onde este envolvimento se fica apenas ao nvel operacional. Contudo, ressaltam

    que ainda muito pequena a proporo de empresas que apresentam uma

    estratgia de recursos humanos formal ou em que a funo recursos humanos se

    encontre representada ao nvel do seu Conselho de Administrao, aspectos em

    que pouco evoluiu na ltima dcada (Brewster, 1993b; Brewster & Mayrhofer,

    2000), concluindo que em Portugal a funo no ainda considerada um factor

    crtico de sucesso.

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    Captulo 2. O poder nas organizaes

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    2.1. Conceito de poder e sua caracterizao

    Aps um primeiro perodo de alguma estagnao em que o poder e a

    poltica eram considerados fenmenos negativos (OByrne & Leavy, 1997), o

    estudo do poder nas organizaes tem vindo a sofrer uma evoluo crescente nas

    ltimas duas dcadas, com contributos quer de natureza meramente especulativa,

    quer de investigao terica e emprica (Cunha et al., 2003).

    Na base deste interesse crescente est, por um lado, a entrada no mercado

    de trabalho de uma gerao de pessoas familiarizada com a actividade poltica,

    gerao essa muito ligada ao movimento estudantil francs nos anos sessenta e,

    em Portugal, aos acontecimentos posteriores revoluo de Abril de 1974 (Cunha

    et al., 2003) e por outro, a uma mudana de paradigma nas cincias

    organizacionais (OByrne & Leavy, 1997). Ultrapassou-se o paradigma da

    organizao racional que no tinha em considerao a multiplicidade de interesses

    e de objectivos dos diferentes actores organizacionais, em cuja lgica

    interpretativa, toda a aco destinada a influenciar processos ou decises em prol

    do interesse prprio resultava ilegtima (Cunha et al., 2003: 660).

    O conhecimento cientfico sobre este tema tem sido desenvolvido com

    base numa multiplicidade de teorias e abordagens (Handy, 1976; Cabral-Cardoso,

    1996), o que para Brass & Burkhard (1993) pode ser considerado como uma

    praga mas, tambm como uma beno. Se, por um lado, esta diversidade de

    perspectivas torna difcil a convergncia numa imagem coerente do fenmeno,

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    permite, no entanto, ressaltar a subtileza da sua complexidade e,

    consequentemente, levar a uma abordagem mais abrangente e ampla do poder

    (Brass & Burkhard, 1993).

    Cabral-Cardoso (1996) identifica quatro paradigmas tericos segundo os

    quais o estudo do poder nas organizaes se tem desenvolvido: a perspectiva

    funcionalista/racionalista, a interpretativa, a estruturalista e a humanista radical -

    esta ltima ainda numa fase embrionria. A mais dominante, a perspectiva

    funcionalista/radical, concebe o poder como uma realidade objectiva, em que a

    identidade dos actores principais conhecida, concentrando a sua ateno no

    estudo das variveis de tipo estrutural, na avaliao do poder de cada um dos

    actores e nas fontes do seu poder, no controlo dos diversos actores sobre os

    recursos disponveis, em particular sobre aqueles que se podem considerar como

    vitais para a organizao (p. 408). Por sua vez, a perspectiva interpretativa v o

    poder como uma realidade socialmente construda, analisando-o atravs dos

    significados e interpretao de smbolos, enquanto a abordagem estruturalista

    radical considera que o poder determinado pela estrutura social, focalizando-se

    nas tcticas de manuteno ou obteno revolucionria do poder nas organizaes

    e nas implicaes que tal poder ter para a sociedade no seu todo.

    Por outro lado, esta proliferao de subtilezas conceptuais teve tambmcomo consequncia a fragmentao da investigao emprica (Brass & Burkhard,

    1993; Ibarra, 1993; Atwater, 1995; Katz, 1998). A pesquisa cientfica sobre o

    poder tem sido desenvolvido a diferentes nveis de anlise: ao nvel macro,

    focalizada no largo contexto organizacional (no poder potencial, isto , sobre as

    bases de poder), e ao nvel micro, centrada no comportamento dos indivduos (no

    uso do poder enquanto aco, tcnicas de negociao, tcticas).

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    Esta diversidade de perspectivas e nveis de anlise contribui para

    aumentar a dificuldade em se encontrar uma definio consensual de poder

    (Hickson et al., 1971; Astley & Sachdeva, 1984), havendo ainda investigao

    mais recente que chama a ateno para complementaridade destas duas

    perspectivas. Segundo estes autores no possvel compreender o fenmeno

    poder na sua complexidade atravs do estudo separado das suas bases/potencial e

    da aco/comportamento (Brass & Burkhard, 1993; Atwater, 1995). Uma

    completa compreenso do poder nas organizaes requer a ateno quer do nvel

    macro, quer do micro, dado que a estrutura que fornece o contexto no qual os

    actores operam para adquirir e exercer o seu poder. Ressaltam, porm, que so

    raros os estudos sobre poder nas organizaes que fazem a ponte entre estas duas

    vertentes.

    OByrne & Leavy (1997) afirmam que muitas das dificuldades e

    complexidades sentidas pelos investigadores nos seus primrdios do estudo do

    poder, ao tentarem encontrar uma definio consensual, permanecem actualmente,

    acompanhando a contnua procura de um conhecimento mais integrado do

    conceito. Ele refere, por exemplo, que j nos anos 60, Emerson reflectia sobre a

    confuso que existia volta do conceito de poder, French e Raven reconheciam a

    sua natureza complexa e por vezes disfarada e Wrong ressaltava os problemas dasua definio.

    Como consequncia co-existem actualmente diversas definies de poder.

    Vrios autores definiram-no como potencialpara influenciar o comportamento, as

    atitudes de outro (Handy, 1976; Pfeffer, 1994a; French & Raven, referidos por

    Aguinis et al., 1998; Fiol, OConnor & Aguinis, 2001), de alterar o curso dos

    acontecimentos, de vencer a resistncia e de pr as pessoas a fazerem coisas que

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    de outro modo no fariam (Pfeffer 1994). Outros, por sua vez, concebem-no como

    uma fora que resulta num comportamento que no ocorreria se esta no estivesse

    presente (Mechanic, in Ibarra, 1993), outros ainda como a capacidade para

    influenciar outros (Galang & Ferris, 1997; Welbourne & Trevor, 2000) afectar

    resultados (Ibarra, 1993), ou de mobilizar pessoas e recursos para fazer com que

    as coisas se faam (Kanter, in Katz, 1998).

    Outro aspecto que contribui para agravar ainda mais a dificuldade do seu

    estudo cientfico, o facto de o poder ser um tema que suscita opinies

    ambivalentes (Handy, 1976; Pfeffer, 1992 e 1994a; Kanter, referido por Pfeffer,

    1994a; Cabral-Cardoso, 1996). As conotaes negativas que este termo carrega

    consigo, tm levado a que alguns investigadores recorram a termos que de algum

    modo lhe esto associados. Como consequncia, o construto poder muitas vezes

    confundido com outros como, por exemplo, dominao, que implica fora, e

    estatuto, que para Aguinis et al. (1998) apenas uma parcela da

    multidimensionalidade do poder, autoridade e influncia (Vecchio, 1997; Katz,

    1998), bem como com poltica (Cabral-Cardoso, 1996).

    As relaes de poder apresentam, todavia, alguns aspectos que lhe so

    caractersticos e as definem como tal. Um desses aspectos o seu carcter

    relativo, dependente do contexto (Handy, 1976; Emerson, referido porFinkelstein, 1992; Pfeffer, 1994a). Isto , se a fonte de poder de A no for saliente

    perante B, ento essa fonte ineficaz para essa situao e A no ser capaz de

    influenciar B (Handy, 1976). Para alm disto, Pfeffer (1994a) ressalta a

    necessidade de existir um nvel moderado de interdependncia na relao entre A

    e B para que se possa falar de uma relao de poder. Outra caracterstica, que

    advm do facto de o poder ser raramente unilateral, o de muitas das

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    relaes/situaes de influncia estarem equilibradas numa equao de poder,

    sendo este mais chocante e mais extremo quando a equao de poder mais

    desequilibrada (Handy, 1976). A posse de uma base de poder no significa

    automaticamente que se pode influenciar algum, estando isso dependente de

    quanto poder se pode pr em equilbrio, recordando sempre que um tipo de poder

    pode anular outro.

    Por outro lado, o poder exercido atravs de diferentes

    tcticas/estratgias, assentando num nmero especfico de fontes, bases ou tipos

    de poder (Handy, 1976; Vecchio, 1997; Astley & Sachdeva, 1984 ) - o poder

    potencial, sobre o qual este estudo se debrua.

    2.2. As fontes de poder ou o poder potencial

    Donde vem o poder? Segundo Pfeffer (1994a) para sermos eficazes

    precisamos saber desenvolver fontes de poder e a maneira de empregar esse poder

    estratgica e tacitamente, bem como compreender de onde vem o poder dos outros

    intervenientes.

    Existe acordo entre os acadmicos de que o poder um construto

    multidimensional (Handy, 1976; Finkelstein, 1992; Ibarra, 1993; Pfeffer, 1994a;

    Vecchio, 1997; Aguinis et al., 1998).

    Neste contexto, tm-se desenvolvido vrias tentativas de categorizao

    das diferentes dimenses de poder (Astley & Sachdeva, 1984), das quais a

    taxonomia de French e Raven, proposta no seu artigo The bases of social power

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    publicado em 1959, o modelo mais frequentemente utilizado (Aguinis et al.,

    1998; Cunha et al., 2003). Esta taxonomia distingue cinco bases de poder que

    contribuem para a capacidade do agente influenciar o alvo: poder de recompensa,

    poder coercivo, poder legtimo, poder de referncia e poder de especializao:

    Poder de recompensa (tambm designado de recursos ou

    compensatrio. Designado por Vecchio (1997) como a cenoura, esta base de

    poder assenta na percepo de que o agente tem a capacidade de dar ao alvo o seu

    objectivo, tangvel ou intangvel (Aguinis et al., 1998). Isto , este tipo de poder

    ocorre quando algum possui um recurso que outro deseja e que est disposto a

    transaccionar por um certo comportamento. A sua eficcia depende da medida em

    que os indivduos valorizam essas recompensas (Cunha et al., 2003: 664).

    Poder coercivo (ou fsico). Este tipo de poder no necessita ser

    exercido para ser eficaz, baseia-se nas percepes por parte do alvo de que o

    agente tem a capacidade de o punir. Cunha et al. (2003:664) ressaltam que a

    aplicao deste tipo de poder requer alguns cuidados para ser eficaz, dado que

    tende a ter um impacto negativo no receptor da penalizao, particularmente se for

    percebida como inqua.

    Poder legtimo(de posio ou legal), assenta na vontade de outros

    aceitarem a orientao de algum (Vecchio, 1997) ou na percepo de que o

    agente de influncia tem o direito de o fazer e que o alvo dessa influncia tem a

    obrigao de lhe obedecer (Aguinis et al., 1998). Este tipo de poder apenas

    eficaz se realmente aceite pelas pessoas que pretende controlar (Vecchio, 1997). A

    posio hierrquica, uma das modalidades deste que considerado por Brass &

    Burkhardt (1993) como das fontes de poder potencial mais forte e um dos

    constrangimentos mais imutveis no poder, resultando do papel ou da posio

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    ocupada no organograma formal da empresa, a que os tericos definem como

    autoridade (Handy, 1976; Ibarra, 1993; Finkelstein, 1992).

    Poder referente. Tambm designado de carisma, popularidade ou

    centralidade sociomtrica (Handy, 1976), este tipo de poder reside na pessoa, nas

    suas caractersticas pessoais, na sua personalidade, levando o alvo a identificar-se

    com o agente ou a desejar associar-se a ele (Handy, 1976; Vecchio, 1997; Aguinis

    et al., 1998). Este tipo de poder psicomtricamente diferente do poder de

    posio (Yukl & Fable, referidos por Welbourne & Trevor, 2000) sendo acessvel

    a qualquer indivduo nas organizaes independentemente da sua posio na

    estrutura hierrquica (Cunha et al., 2003).

    Poder de especializao (informacional e do conhecimento).

    Atribudo a quem considerado conhecedor ou competente em determinado

    tema/rea, nomeadamente por se possuir uma qualificao superior num

    determinado campo, reconhecido por aqueles sobre os quais vai ser exercido

    (Handy, 1976; Vecchio,1997; Aguinis et al., 1998), ou do acesso a informaes

    que so vitais para a organizao (Cunha et al., 2003). Esta base de poder tem

    uma vertente de comparao, isto , algum considerado especialista porque

    sabe mais do que outro. Mesmo que essa diferena seja pequena, se for num

    campo fortemente valorizado ela pode ser uma fonte de poder, existindo, porm,

    sempre a possibilidade de se perder essa fonte se algum entretanto desenvolver

    um nvel de conhecimento/especializao superior. Da que este tipo de poder se

    refora quanto mais difcil se tornar a sua substituio (Cunha et al., 2003). Ao

    nvel da gesto de topo, este tipo de poder assenta na habilidade em lidar com as

    contingncias ambientais e contribuir para o sucesso organizacional (Finkelstein,

    1992). Os gestores com conhecimento relevante numa rea crtica para a

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    organizao, so os que tm maior poder e influncia em escolhas estratgicas. O

    valor crtico desse conhecimento depende de quais os elementos do ambiente que

    a organizao considera problemticos.

    Alguns investigadores incorporaram na taxonomia de French e Raven a-

    cima referida uma sexta fonte de poder, a credibilidade (Aguinis et al., 1998).

    Este construto definido como a verdade objectivamente determinada, ou a

    perseverana de uma fonte de poder e muitas vezes considerada uma base de

    poder adicional porque vrios autores concluram que esta promove o poder de

    outras, constatando-se que os alvos de uma tentativa de influncia tendem a

    obedecer mais a solicitaes de comunicadores de alta credibilidade do que s de

    comunicadores de baixa credibilidade (Heilman, referido por Aguinis et al.,

    1998), bem como gestores de maior credibilidade so percepcionados como mais

    poderosos, isto , com maior poder de referncia, especializao, legitimo e de

    recompensa. Todavia, esta credibilidade por um lado um aspecto potenciador e,

    por outro, o resultado do papel desempenhado pelo gestor e do modo como ele

    gere as fontes de poder que tem disponveis, bem como das tcticas de influncia

    que pe em aco.

    Por sua vez, Handy (1976) ressalta tambm que todas as fontes de poderpodem ser usadas legitima ou ilegitimamente, mais propriamente que podem ser

    utilizadas ou no de maneira considerada correcta e no seu domnio adequado.

    Quando utilizado de modo contrrio prtica geralmente aceite ou fora do seu

    domnio o poder considerado disruptivo e ilegtimo, sendo designado de Poder

    Negativo.

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    Outros autores agrupam as vrias fontes de poder em dois grandes grupos:

    as pessoais (ou interpessoais) e as estruturais e contextuais (eg. Ibarra, 1993;

    Pfeffer, 1994a; Cunha et al., 2003).

    No grande grupo das fontes pessoais incluem, para alm de caractersticas

    inerentes personalidade do indivduo, a especializao resultante de atributos

    tais como a experincia, senioridade, educao e actividade profissional,

    considerando-as caractersticas de estatuto e importantes fontes de poder,

    particularmente em nveis organizacionais de menor autoridade formal (Ibarra,

    1993).

    As fontes estruturais reflectem as propriedades do sistema social e no os

    atributos ou comportamentos de um indivduo ou interaco em particular (Brass

    & Burkhardt, 1993). Elas derivam das estruturas formais (nvel hierrquico) e

    informais das organizaes (posicionamento na rede), assentando, por sua vez, no

    lugar que cada pessoa ocupa na diviso do trabalho e no sistema de comunicao

    da empresa (Brass & Burkhardt, 1993; Ibarra, 1993). Isto , a estrutura , em si

    mesma, uma fonte de poder (Cunha et al., 2003: 670).

    O poder associado com o nvel hierrquico na organizao, atrs referido

    como poder legtimo, assenta na posio e no na pessoa incumbida dele, sendo

    um dos constrangimentos estruturais de poder mais imutveis (Brass & Burkhardt,1993). Por sua vez, as interaces sociais que emergem ao longo do tempo, e que

    se vo tornando relativamente estveis e institucionalizadas, no obstante o seu

    caracter informal, podero interferir nas relaes de autoridade, bem como no

    prprio fluxo de trabalho formalmente definido, constituindo fontes de poder

    constrangedoras de comportamentos.

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    Esta abordagem est muitas vezes associada a modelos de dependncia e

    controlo de recursos, em que o poder est inversamente relacionado como a

    dependncia (Brass & Burkhardt, 1993; Cunha et al., 2003). O controlo de

    contingncias estratgicas tambm uma fonte de poder que aqui se enquadra,

    sendo estas elementos essenciais para o desempenho e eficcia de uma unidade

    que se encontram dependentes da eficcia das outras unidades (Cunha et al.,

    2003). O poder destas fontes reforado por factores tais como a centralidade,

    escassez e insubstituabilidade do recurso. Nomeadamente, o posicionamento

    central na rede de interaces funcionais resultante do fluxo de trabalho inerente

    organizao Centralidade na Rede - considerado uma importante fonte de

    poder (Astley & Sachdeva,1984), na medida em que os actores agem como

    veculos integradores de contribuies isoladas de outros no directamente

    relacionados, tornando-se indispensveis para o funcionamento da organizao

    como um todo.

    Cunha et al. (2003:671) chamam a ateno para o papel que a cultura

    organizacional pode ter enquanto fonte de poder contextual potenciadora ou

    redutora de outras fontes, dado que ao representar o conjunto de significados

    partilhados de uma organizao que se traduz em padres de comportamento e

    numa certa tradio de fazer as coisas nessa organizao est a potenciar asrelaes de poder que esto na base desses comportamentos.

    Yukl (referido por Cunha et al, 2003: 666) considera outras fontes de

    poder contextual, tais como as resultantes da actividade poltica dos diferentes

    actores nas organizaes (nomeadamente atravs do controlo de processos

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    decisrios, coligaes, cooptao e institucionalizao). Para alm destas, ele

    identifica duas grandes categorias de bases de poder individuais:

    - O poder de posio que inclui a autoridade formal, o controlo

    sobre as recompensas, o controlo sobre os recursos e recompensas, o controlo

    sobre as punies, o controlo sobre a informao, o controlo ecolgico (controlo

    sobre o ambiente fsico, a tecnologia e a organizao do trabalho).

    - O poder pessoal [que] abarca as competncias especializadas, a

    amizade/lealdade e o carisma.

    de notar que diferentes fontes de poder podem coexistir em simultneo

    no mesmo indivduo