discussÃo do termo novas economias - abepro.org.br · este artigo descreve uma pesquisa ... uma...

14
DISCUSSÃO DO TERMO NOVAS ECONOMIAS Luís Felipe Riehs Camargo (UNISINOS) [email protected] Christopher Rosa Pohlmann (UNISINOS) [email protected] Este artigo aborda um estudo cuja objetivo é apresentar e dicutir um novo conceito, o conceito de Novas Economias. A demanda para discussão do termo surgiu em um orgão governamental no estado do Rio Grande do Sul. O artigo propõem significaados para o termo Novas Economias a partir de distintos enfoques, entre eles, a inovação, empreendedorismo, orientação para o mercado, competitividade e sustentabilidade. O conceito proposto é então desdobrado em ações a serem desenvolvidas para que as novas oportuindades sejam absorvidas pelas empresas. Por fim, o artigo apresenta dois casos de sucesso onde Novas Economias foram desenvolvidas. Palavras-chaves: Novas Economias, Novas oportunidades, Desenvolvimento regional XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão. Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

Upload: dotram

Post on 13-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

DISCUSSÃO DO TERMO NOVAS

ECONOMIAS

Luís Felipe Riehs Camargo (UNISINOS)

[email protected]

Christopher Rosa Pohlmann (UNISINOS)

[email protected]

Este artigo aborda um estudo cuja objetivo é apresentar e dicutir um

novo conceito, o conceito de Novas Economias. A demanda para

discussão do termo surgiu em um orgão governamental no estado do

Rio Grande do Sul. O artigo propõem significaados para o termo

Novas Economias a partir de distintos enfoques, entre eles, a inovação,

empreendedorismo, orientação para o mercado, competitividade e

sustentabilidade. O conceito proposto é então desdobrado em ações a

serem desenvolvidas para que as novas oportuindades sejam

absorvidas pelas empresas. Por fim, o artigo apresenta dois casos de

sucesso onde Novas Economias foram desenvolvidas.

Palavras-chaves: Novas Economias, Novas oportunidades,

Desenvolvimento regional

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão.

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

2

1. Introdução

No vigente contexto dos mercados competitivos, as indústrias se esforçam a cada dia para

encontrarem novos caminhos e manterem e ampliarem sua participação no mercado. Neste

esforço algumas conseguem se destacar e outras sucumbem a exigências cada vez mais fortes.

E não raro muitas indústrias repetem velhas fórmulas de competitividade sem pensar em criar

alternativas mais inovadoras e desafiadoras.

Nesse contexto o desafio é pensar em uma Nova Indústria, uma indústria que esteja alinhada

ao mercado global e atenda às necessidades regionais e suas exigências, procurando novos

caminhos.

“Novas Economias” é uma expressão recente no cenário econômico mundial. Apesar de não

estar consolidada uma definição que detalhe essa nova forma de explorar o mercado, esta

pesquisa buscou discutir alguns conceitos sobre o tema proposto, na busca de novos

caminhos.

O termo Novas Economias é utilizado em diferentes contextos de discussão envolvendo a

temática de desenvolvimento sustentável do Brasil. Mas como se pode definir esse termo? O

que ele representa em termos de ações e possibilidades de mudança de visão frente à

perspectiva econômica vigente?

A indústria brasileira vem realizando esforços para sua inserção nos padrões de competição

nos mercados globais. Novos padrões derivam das novas regras de competição impostos pela

Nova Economia global. Essa Nova Economia prega o livre comércio e a ampla concorrência

entre os players mundiais. Ao mesmo tempo em que os níveis de competição são elevados,

oportunidades para novos negócios surgem, motivadas pelas peculiaridades, características e

incentivos governamentais, específicas de cada de região ou setor. Novos nichos surgirão em

todos os países e estão só esperando ser descobertos. Quantos setores que conhecemos hoje

eram desconhecidos 20 anos atrás? E quantos setores que não conhecemos hoje

provavelmente existirão em 10 anos?

Este artigo descreve uma pesquisa realizada em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi – RS,

para construção do termo Novas Economias e proposição de ações para a Nova Indústria do

Rio Grande Sul. Para tanto, descreve diferentes dimensões a serem consideradas e visa

estabelecer uma discussão inicial sobre esse conceito, junto à comunidade acadêmica, com

foco no papel dos sindicatos patronais neste contexto.

2. Novas Economias: Oportunidades em Modelos Econômicos

Uma Nova Economia deve ajustar-se aos elementos conceituais principais de um modelo

econômico. A Figura 1 apresenta elementos motivadores do surgimento de Novas Economias:

Novas oportunidades, que representam a centelha de geração de uma Nova Economia, pela

inovação em produtos, processos, gestão ou mercados. Quantas novas oportunidades de

produção de bens e serviços surgiram a partir do comércio virtual? E da telefonia celular?

A convergência tecnológica permitiu a comunicação e a troca de informações, de forma

rápida e confiável. A exploração desse meio para a geração de comércios eletrônicos e de

mercados de informação traz diversos exemplos de novas economias geradas a partir dessa

inovação (cybercafés, SMS, sebos virtuais, etc.).

Novos paradigmas e novas relações de produção e trabalho, ou seja, novas formas de ver a

realidade que nos cerca e as relações entre atores de uma cadeia. Por exemplo, substituir a

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

3

visão de fornecedor pela de cooperado ou parceiro, ou de concorrente por associado, bem

como, estabelecer uma nova relação com os colaboradores.

Geração de riquezas, materializada por índices econômicos expressivos, que permite a

formação de capital e investimentos, consolidando o modelo econômico.

Figura 1 – Os elementos motivadores de Novas Economias

3. Uma Proposição para o Conceito de Novas Economias

As Novas Economias podem ser exploradas pelo viés da inovação, da sustentabilidade, das

redes de cooperação e de novos mercados. Sua essência é a geração de oportunidades, pelo

repensar de práticas vigentes ou por implementar práticas de geração de valor não existentes

(BALESTRIN e VERSCHOORE, 2008). As Novas Economias encontram terreno fértil em

contextos onde políticas governamentais cooperam com ações empreendedoras e criam um

ambiente propício para a formação de novos mercados, novos produtos e novas cadeias de

produção.

Mas políticas governamentais adequadas são apenas parte do quadro. Elas podem contribuir

injetando recursos e ou concedendo benefícios, mas não serão capazes de gerar, por si, Novas

Economias. Os elementos do empreendedorismo e da articulação de atores são fundamentais

para o sucesso de uma Nova Economia. A partir das leituras de Kim (2005) e Friedman

(2007) os autores destacam, na Figura 2, alguns aspectos que envolvem o termo Novas

Economias.

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

4

Figura 2 – Aspectos do conceito de Novas Economias

3.1. Competitividade

Num cenário econômico onde a competição é mais acirrada as empresas começam a

considerar diferentes dimensões na formulação de suas estratégias de produção, procurando

tratar, de forma conjunta e simultânea, algumas das dimensões conforme Quadro 1.

Dimensões Descrição

Preço/custo Relação preço/custo de produção

Flexibilidade Adaptação do sistema de produção às

necessidades dos mercados

Mix de produção

Variedade de produtos

Volumes de produção

Produção em escala x Diferenciação

Qualidade Produtos sem falhas

Diferenciação dos produtos (níveis de

qualidade) para manter e conquistar

novos clientes

Agregação de valor

Prazos e Atendimento Definição de prazos de entrega de

produtos/serviços

Cumprimento de prazos de entrega

Gestão de pós-vendas

Lead-time Velocidade de respostas a mudanças

externas

Tempos de fabricação e entrega de

produtos/serviços

Inovação Necessidade de introdução de novos

produtos no mercado

Processos, materiais, mercados e gestão

Fonte: Adaptado de Hayes (2008)

3.2. Formulação de estratégias de produçãoEmpreendedorismo

Dentro de um contexto econômico, empreendedorismo pode ser visualizado como uma forma

de inovação que tenha uma relação com a prosperidade da empresa. Em empresas novas ou já

há algum tempo estabelecidas, é o fator que permite que os negócios sobrevivam e prosperem

num ambiente econômico de mudanças. Caracteriza-se como um processo contínuo:

conforme novas oportunidades apareçam na economia, os indivíduos com visão

empreendedora as percebem e as exploram.

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

5

Logo o empreendedorismo, entendido como a disposição para buscar novos desafios e

oportunidades, funciona como fator promotor para o desenvolvimento de Novas Economias.

Uma Nova Economia não pode ser criada sem a iniciativa de motivar e mover atores para a

geração de novas oportunidades de geração de valor ao produto/negócio. Essa mobilização

deve levar os atores a:

perceber e avaliar oportunidades de negócios;

prover recursos necessários para pô-los em vantagens; e

iniciar ações apropriadas para assegurar o sucesso.

Como fruto espera-se atores com espírito empreendedor orientados para a ação, altamente

motivados, capazes de assumir riscos para atingirem seus objetivos, através da articulação

pela representatividade (legitimidade) e pela liderança (visão de longo prazo e interlocução

setorial e social) junto ao segmento econômico em prospecção.

3.3. Sustentabilidade

A sustentabilidade é um conceito que busca o desenvolvimento harmônico e sistêmico entre

os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Novas Economias surgem buscando

dar nova inspiração para atividades econômicas. A inspiração pode se reverter em atividades

totalmente novas ou na renovação do que já existe, promovendo sustentabilidade. Desse ponto

de vista destaca-se:

Um modo diferente de olhar o mercado, identificando, avaliando e criando oportunidades

sustentáveis até então não-existentes, que propiciem uma nova agregação de valor;

A criação de espaços de mercado inexplorados, mobilizando e articulando atores em uma

cadeia de geração de valor.

3.4. Inovação

Novas Economias não dizem respeito apenas a aperfeiçoamentos no já conhecido. Podem

surgir de modos totalmente diferentes de dispor materiais e forças. A esses modos diferentes

chamou-se de inovações ou de „novas combinações‟, e referem-se a (ANTUNES et al., 2008):

Inovação de Produto/Serviço: Introdução de um novo bem - ou seja, um bem com que os

consumidores ainda não estejam familiarizados - ou de uma nova qualidade de um bem.

Desenvolver alimentos funcionais é um exemplo de uma Nova Economia baseada neste

tipo de inovação;

Inovação de Processo: Introdução de um novo método de produção ou distribuição de

bens ou de serviços, ou de novas tecnologias de processo. Novos métodos não precisam ser

baseados numa descoberta cientificamente nova; podem consistir apenas de uma nova

maneira de manejar comercialmente uma mercadoria ou ofertar um serviço. A co-produção

de leite e biocombustíveis geram uma inovação regional, transformando perdas em

vantagem do ponto de vista produtivo;

Inovação no Mercado: Abertura de um novo mercado, ou seja, de um mercado em que o

ramo particular da indústria de transformação ou de serviços em questão não tenha ainda

entrado, quer esse mercado tenha existido antes ou não. A exportação de vegetais

congelados, sem perda de propriedades funcionais, é um exemplo de Nova Economia

gerada por uma inovação de mercado;

Inovação de Materiais/Matérias-Primas: Conquista de uma nova fonte de matérias-

primas ou de bens semimanufaturados, mais uma vez independentemente do fato de que

essa fonte já existia ou teve que ser criada. A produção de plásticos de origem vegetal é um

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

6

exemplo de Nova Economia impulsionada por inovação em materiais;

Inovação de Gestão: Estabelecimento de novas formas organização hierárquica ou entre

atores de um segmento industrial ou de serviços, visando agregar valor ou reduzir riscos

por meio de ações coordenadas. A formação de redes de pequenas empresas constitui-se

em uma forma de inovação da gestão.

A Figura 3 mostra algumas características de inovação nas quais as Novas Economias podem

ser impulsionadas pela combinação de um ou mais tipos de estratégias de inovação.

3.5. Orientação ao Mercado

Novas Economias surgem da possibilidade de desenvolver e vislumbrar mercados não

acessados e não conhecidos, e de antecipar-se às mudanças que ocorrem nos mercados. A

identificação de diferentes preferências, diferentes perfis de consumidores, mudanças

culturais, etc. permite entregar produtos e serviços mais ajustados às preferências dos

diferentes segmentos de público.

Gerar inteligência de mercado promove a prospecção de novos mercados e identifica

mudanças pela observação de tendências e de variáveis mercadológicas. Compartilhar

informações com segmentos afins e identificar oportunidades de abrir novas frentes

comerciais são ações importantes ligadas ao conceito de Novas Economias. Trata-se da

geração de oportunidades pela constituição de elementos de inteligência de mercado e de

articulação setorial.

Figura 3 – O aspecto de inovação das Novas Economias

4. Ações e Possibilidades de Mudança a Partir Dessa Visão de Novas Economias

A construção de Novas Economias no Estado do Rio Grande do Sul é um meio para tornar a

indústria gaúcha de bens e serviços mais forte. Para isso, se faz necessário compreender:

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

7

O que se deseja com a difusão deste conceito?

Quais os potenciais deste conceito no Estado?

Com a difusão do conceito de Novas Economias deseja-se primeiramente estabelecer uma

visão comum sobre o tema, de modo a facilitar a comunicação e a articulação entre diferentes

atores e setores da economia do Estado.

O compartilhamento de informações e a discussão sobre esse tema catalisam a formação de

novas oportunidades. Na percepção atual do grupo de trabalho que originou este texto, a

constituição de Novas Economias emerge de iniciativas locais e compartilhadas. Essas

iniciativas podem ser beneficiadas de condições de contexto ou podem requerer ações

externas (por exemplo, articulação governamental) para serem bem sucedidas. Mas não

podem ser “importadas”, artificialmente, sem relação com os valores e potenciais de uma

região, um setor ou seus atores.

4.1. Qual o Papel dos Sindicatos Patronais Para Desenvolver Novas Economias?

O mercado está cada vez mais competitivo aumentando a necessidade e a velocidade na

implementação de novos caminhos.Para explorar novos caminhos a indústria deve estar

preparada, tanto no ambiente interno (contexto da indústria), como no ambiente externo

(articulações políticas). Isto significa que os aspectos de sustentabilidade, competitividade,

empreendedorismo, inovação e orientação ao mercado, ou seja, os aspectos que formam o

conceito proposto de Novas Economias, têm que ser olhados de forma sistêmica.

Os sindicatos patronais, como formadores de opinião e articuladores, possuem um potencial

estratégico na prospecção e formação de Novas Economias. O papel empreendedor e de

impulso ao aprendizado, pela articulação dos sindicatos, contribui para agregar visão

estratégica de atuação tanto no ambiente externo das indústrias como no ambiente interno, na

busca por novas oportunidades. Assim, o papel dos sindicatos patronais, no contexto de

Novas Economias, envolve:

Articular ações para a Nova Indústria;

Articular a busca de informações sobre novos mercados, nacionais e internacionais

(BRICS, etc.);

Estimular a análise das cadeias produtivas em que os setores industriais encontram-se

inseridos para identificar as suas necessidades;

Identificar os gargalos que afetam a competitividade dos setores e das cadeias e

desenvolver propostas de ações;

Atuar na defesa de interesses da indústria, promovendo ações para competitividade e

sustentabilidade;

Identificar financiamentos disponíveis e captar recursos;

Articular para permitir a busca de novas tecnologias e matérias-primas;

Promover ações de apoio ao desenvolvimento de indústrias de pequeno e médio porte,

buscando agregar valor a seus produtos;

Incentivar e atuar na busca da sustentabilidade, ou seja, na busca do desenvolvimento

harmônico e sistêmico entre os aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais.

O papel dos Sindicatos Patronais é “trazer as empresas para o jogo”, ou seja, tornar as novas

oportunidades conhecidas, oportunizar o acesso pelas empresas e atuar na defesa de

interesses. A defesa de interesses é o instrumento de articulação dos Sindicatos Patronais para

a Nova Indústria, um sindicalismo de geração de oportunidades econômicas e sociais. Os

modelos econômicos são subordinados a uma visão política construída a partir de interesses.

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

8

Em função disso, oportunidades em Novas Economias devem ser buscadas através da atuação

na defesa de interesses da indústria.

Figura 4 – Aspectos do conceito de Novas Economias

A proposta de atuação dos sindicatos patronais passa pelos seguintes direcionadores:

Mercado: Disponibilizar informações de mercado, auxiliando as empresas a encontrar

novas oportunidades

Tecnologia: Acessar a identificação de novos materiais, novos conceitos de produção,

distribuição, etc.

Educação: Acessar os caminhos para a qualificação da mão-de-obra e desenvolver

competências para as empresas competirem nas Novas Economias.

Gestão: Promover o acesso a novas ferramentas de gestão.

Esta proposta de atuação requer a gestão dos elementos apresentados, principalmente, através

da construção de parcerias estratégicas capazes de dar sustentabilidade e competitividade às

empresas envolvidas.

4.2. O que se Pode Fazer?

A seguir são apresentadas algumas sugestões de ações e articulações para promover Novas

Economias:

4.2.1. Constituir Observatórios Setoriais e de Tendências Mundiais

Os sindicatos podem atuar diretamente vinculados com as indústrias de seu setor,

acompanhando o desenvolvimento tecnológico e as movimentações do mercado. Podem

também identificar instituições e empresas que determinem tendências para as indústrias de

seu setor, nos países mais desenvolvidos ou em outros mercados potenciais, obtendo

indicadores para benchmarking.

O olhar sobre o mercado deve abranger as questões tecnológicas e inovações mundiais, de

modo que seja possível detectar que Novas Economias estão se formando. Para isso, é

necessário levantar as informações políticas, econômicas e sociais do setor em âmbito

nacional e internacional, analisá-las e identificar o que de diferente está sendo feito. Isso pode

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

9

ser realizado, por meio de uma equipe ou de uma rede de parceiros, por exemplo, com foco

em:

consultar e analisar fontes de informação: identificar sites que mostrem as tendências

mundiais em cada setor, sites de economia internacional e acompanhar indicadores

econômicos.

estabelecer contatos com instituições nacionais e internacionais de cada setor.

4.2.2. Fomentar a Interação entre Sindicatos Patronais

Em geral, a movimentação das Novas Economias envolve ou repercute em vários setores. A

interação entre os sindicatos dos setores envolvidos é fundamental. Também assim torna-se

possível potencializar a atuação individual dos sindicatos, ampliando sua visão sobre Novas

Economias. Neste sentido, possíveis ações são:

Promover ações que aproximem os sindicatos;

Mapear as cadeias produtivas;

Criar fóruns de discussão entre sindicatos para avaliar as inovações em cada setor.

4.2.3. Fomentar o Pensamento Estratégico

Descobrir uma potencial Nova Economia não é tarefa fácil, exige esforço e concentração. O

sindicato é o ambiente para este trabalho, afinal, congrega as indústrias e os líderes de seu

setor. O pensar estratégico pode ser realizado com o auxílio de diversas metodologias de

criatividade e análise. A função do sindicato seria propiciar estes momentos aos seus

associados. E junto com estudos, apontar as potenciais Novas Economias. Esses momentos

permitiriam, por exemplo, gerar oportunidades buscando a excelência no que se faz muito

bem.

O meio possível de difundir tais conceitos pode ocorrer pela organização de workshops com

as empresas do setor, utilizando ferramentas de análise, discutindo os caminhos do setor,

pensando em cases de sucesso.

4.2.4. Coletar e Compilar Dados e Informações de Mercado

Para toda e qualquer empresa é complexo estruturar e manter indicadores de desempenho

sobre o seu setor. Para o Sindicato Patronal é mais fácil, e a FIERGS junto com a CNI já

possui um sistema de coleta de dados para a elaboração do Indicador de Desempenho

Industrial. A partir desse ambiente pode-se pensar em ampliar o sistema de coleta e análise de

informações, com vistas a acompanhar as tendências positivas e negativas, gerar informações

que auxiliem articulações. Para isso, é necessário ampliar o sistema de coleta e análise de

informações existente no sistema FIERGS e divulgá-las por meio de relatórios setoriais.

4.2.5. Fomentar a Capacitação de Quadros

Conhecendo seu setor, cada sindicato sabe em que as empresas precisam se capacitar nas

Novas Economias. Essas capacitações que podem ser feitas pelo sindicato tendem a ser mais

eficazes, uma vez que abordam exemplos do próprio setor, e não de setores distintos. Além

disso, para as empresas é uma facilidade poder ter a capacitação que precisa sem ter que

montar o treinamento. O sindicato, sabendo o que as empresas precisam e tendo proximidade

com seus representados, pode criar um novo patamar de parceria e participação

empreendedora junto a seus afiliados, gerando oportunidades de integração e

compartilhamento de experiências. Além disso, pela consolidação de iniciativas similares no

ambiente do sindicato patronal, essa iniciativa pode representar, para as empresas, uma

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

10

oportunidade de redução de custos, e, para os sindicatos, uma fonte de arrecadação, gerando

uma relação de ganho mútuo.

Para programas de capacitação que atendam aos requisitos apresentados faz-se necessário

levantar as necessidades de treinamento das empresas (técnicos, comportamentais, visão de

cenários e tendências, Novas Economias e cases de sucesso). A partir da compilação de

necessidades das empresas, planejar treinamentos. O sindicato pode articular os cursos com

outras instituições, sendo um facilitador do processo de capacitação.

4.2.6. Agregar Valor a Visitas Técnicas e de Prospecção

A identificação de casos de referência e o compartilhamento de boas práticas podem

promover o desenvolvimento de Novas Economias. Nesse caso os sindicatos patronais

poderiam cumprir papel importante ao organizar visitas técnicas a empresas de sucesso e a

participação de empresas em feiras e congressos.

Identificar empresas de sucesso e que tenham movimentado Novas Economias, fazendo

contato e agendando visitas.

Articular com agentes públicos e privados para propiciar a participação, em feiras e

eventos, de seus associados.

4.2.7. Obter Verbas para Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação

Com foco em inovação, o sindicato pode prospectar verbas de pesquisa junto ao sistema de

federação de empresas ou ao Governo Federal. Pode divulgar as oportunidades junto aos seus

associados, articulando, para as empresas interessadas, a montagem de projetos. O sindicato

pode defender interesses de seus associados para o financiamento de linhas de pesquisa sobre

inovações que podem gerar Novas Economias, para isso o mesmo pode:

Identificar editais disponíveis para pesquisa, verificando quais editais podem atender às

demandas de seus associados.

Buscar empresas para participar do projeto, apontando as possibilidades de pesquisa

existente.

5. Casos de Sucesso

O case do Vale dos Vinhedos mostra como pequenas, médias e grandes empresas unidas

podem gerar resultados financeiros melhores ao cooperarem na construção de um selo de

procedência e na demarcação de um território como marca de referência. Essas empresas

souberam aumentar o valor agregado de seus produtos e aumento de seus ganhos via acesso a

novos mercados. Como conseqüência desta valorização dos vinhos, a certificação de origem

propiciou uma valorização das terras daquela região.

Não são apenas os produtores de vinho que buscam a indicação geográfica. Em janeiro, foram

os produtores de arroz do litoral norte gaúcho que entraram com um pedido de Denominação

de Origem (DO), uma espécie de indicação geográfica na qual características geográficas

influem nas características do produto. Caso tenham sucesso, eles vão conseguir a primeira

DO de brasileiros, já que os outros registros, como o do Vale dos Vinhedos, são de Indicação

de Procedência (IP), no qual não há necessidade de relacionar o produto com o clima ou a

geografia, apenas com o renome da região.

Este modelo de Nova Economia busca a diferenciação como forma de elevar o ganho da

empresa. Diferente da tradicional briga entre concorrentes, os mesmos se unem na busca de

uma marca e um selo de procedência que garantam reconhecimento do valor e da qualidade

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

11

dos produtos gerados pelos participantes da cadeia na região demarcada.

Este modelo de Nova Economia busca:

Competitividade, diferenciação como forma de elevar o ganho da empresa;

Empreendedorismo e Inovação de Gestão, diferente da tradicional briga entre concorrentes,

os mesmos se unem na busca de uma marca e um selo de procedência que garantam

reconhecimento do valor e da qualidade dos produtos gerados pelos participantes da cadeia

na região demarcada;

Sustentabilidade, através da valorização das terras, consolida o cultivo de uvas para fins

nobres, proporcionando o desenvolvimento socioeconômico e turístico da região;

Vislumbrar um olhar estratégico de um mercado consumidor disposto a pagar mais por um

produto cultivado e engarrafado na origem, além do desenvolvimento do potencial

turístico.

O exemplo do Vale dos Vinhedos demonstra como a tecnologia de produção dos vinhos, a

qualidade do produto e a articulação das empresas associadas, viabilizaram a organização da

cadeia do vinho no vale em direção a certificação de origem. A certificação de origem ao

mesmo tempo em que gerou novas riquezas para a região do Vale dos Vinhedos, gerou

oportunidades para outros elos da cadeia produtiva como o de rolhas, de garrafas, de

tecnologias de produção, de turismo e outros serviços.

A ação de articulação necessária entre empresas do segmento vitivinícola e entre os atores da

cadeia produtiva teve papel fundamental para a certificação do Vale dos Vinhedos e

exemplifica bem o modelo a ser seguido em outras regiões.

O papel do sindicato nesta modalidade de Nova Economia é articular as empresas e atores em

busca do objetivo comum da certificação de procedência dos produtos fabricados por elas.

Auxiliar os processos de reconhecimento junto ao INPI, através de busca de informações,

documentação necessária etc., é outro papel que pode ser executado pelos sindicatos

patronais.

A certificação de procedência dos produtos do Vale dos Vinhedos potencializou o turismo na

rota onde as empresas estão instaladas, gerando Novas Economias potenciais, especialmente

em outros produtos industriais e na prestação de serviços. Outras oportunidades são

identificadas na região da Serra, como os Caminhos de Pedra e a Estrada do Sabor. Outros

exemplos de certificação que podem ser exploradas no Estado do Rio Grande do Sul seriam a

Cachaça do Litoral Norte e o Morango de Bom Princípio e região, dentre outros.

Uma visão estratégica da ação dos sindicatos patronais na promoção de Novas Economias em

contextos similares pode ser vista na figura a seguir.

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

12

Figura 5 – Aspectos do conceito de Novas Economias

O exemplo do pólo naval de Rio Grande/RS alavancado pelos investimentos da Petrobras

gerou novas oportunidades, como a construção do dique seco e a construção de plataformas e

cascos de navio. O acesso a essas oportunidades pelas empresas requisitou, das empresas,

tecnologia e capacidade técnica para atender as especificações de projeto e qualificação de

mão-de-obra.

A fixação do Pólo Naval gera demandas por mão-de-obra qualificada que necessita ser

atendida. Na construção da primeira plataforma, o que a região não atendeu foi atendido por

mão-de-obra e empresas de outros estados. É necessário estruturar um sistema de formação e

capacitação de mão-de-obra para indústria naval (por exemplo, soldadores).

Este modelo de Nova Economia busca:

Apostar na competitividade do RS em suprir as diversas necessidades decorrentes do Pólo

Naval, impulsionando cadeias direta (como Construção Naval e Náutica, Marinha

Mercante, Apoio Marítimo e Offshor) e indireta como (Metal-mecânica, construção civil

etc.);

Vislumbrar um olhar estratégico de um mercado aproveitando o potencial portuário da

região de Rio Grande.

A constituição de pólos industriais pode ser incentivada por políticas públicas governamentais

e investimentos da iniciativa privada. Para identificar oportunidades de pólos industriais os

sindicatos podem articular atores integrantes das cadeias produtivas e as instituições de

pesquisa e centros de conhecimento, com representantes do setor público.

O fator motivador é o aspecto estratégico da constituição de um pólo de desenvolvimento, por

meio da articulação política consubstanciada numa robusta proposta técnica que demonstre a

geração de renda e de emprego.

Nesse caso, as empresas responderiam com capacidade, expertise e empreendedorismo para

atender às novas demandas dos pólos de desenvolvimento industrial.

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

13

Uma visão estratégica da ação dos sindicatos patronais na promoção de Novas Economias em

contextos similares pode ser vista na figura a seguir.

Figura 6 – Aspectos do conceito de Novas Economias

6. Conclusões

Os conceitos de Novas Economias aqui trabalhados procuram explorar os novos caminhos

que caracterizam novas oportunidades, a partir da sustentabilidade, competitividade,

empreendedorismo, inovação e orientação para o mercado. Esses conceitos são reflexões a

cerca de possíveis caminhos do pensar uma Nova Indústria, em alguns momentos

relacionados conjuntamente, outras relacionados parcialmente ou até mesmo isoladamente.

A Nova Indústria, preocupada em vislumbrar Novas Economias, passa por transformações

que envolvem o empreendedorismo na busca de novas oportunidades, novos paradigmas e

novas relações de produção e trabalho, bem como, a geração de riquezas. Tais transformações

refletem-se no papel dos Sindicatos Patronais para atender essa Nova Indústria, um

sindicalismo de geração de oportunidades econômicas e sociais, preocupado em consolidar o

papel dos Sindicatos para a Nova Indústria, através de sugestões de ações/articulações de

atuação junto ao empresariado.

Essas sugestões devem promover:

Representatividade: legitimidade dos dirigentes (sindical-setoriais) e a ampliação da base

representada;

Liderança: visão de longo prazo e a interlocução institucional com a sociedade;

Desenvolvimento: alcançar ferramentas de competitividade e atuação propositiva;

Inovação: disseminar a inovação e acessibilidade às fontes de suporte à inovação.

O presente trabalho é uma proposição conceitual, fruto de um trabalho realizado junto a

sindicatos patronais e à Federação de Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul. Visa

constituir uma discussão conceitualmente sustentada que abarque os conceitos anteriormente

XXIX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Engenharia de Produção e o Desenvolvimento Sustentável: Integrando Tecnologia e Gestão

Salvador, BA, Brasil, 06 a 09 de outubro de 2009

14

apresentados e promova desenvolvimento e novas oportunidades para empresas industriais e

de serviços, revertendo-se em bem para a sociedade.

Referências

ANTUNES, Junico et al. Sistemas de produção: conceitos e práticas para projeto e gestão da produção enxuta.

Porto Alegre: Bookman, 2008.

BALESTRIN, Alsones; VERSCHOORE, Jorge Renato S. Redes de cooperação empresarial: estratégias de

gestão na nova economia. Porto Alegre: Bookman, 2008.

COSTA, Achyles Barcelos da . O desenvolvimento econômico na visão de Joseph Schumpeter. São Leopoldo-

RS: Cadernos IHU Idéias, Ano 4, nº 47, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, 2006.

FRIEDMAN, Thomas L.. Serra, Cristiana de Assis. Duarte, Sergio. Casotti, Bruno. [The world is flat : a

brief history of the twenty-first century. Português] O mundo é plano : uma breve história do século XXI. 2. ed.

rev. atual. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.

HAYES, Robert; PISANO, Gary; UPTON, David; WHEELWRIGHT Steven. Produção, Estratégia e

Tecnologia em Busca da Vantagem Competitiva. Porto Alegre: Artmed, 2008.

KIM, W. Chan; MAUBORGNE, Renée. A estratégia do oceano azul: como criar novos mercados e tornar a

concorrência irrelevante. 16. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2005.

LANGE, O. Moderna Economia Política, Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 2a. ed. brasileira, 1967.