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Discurso em homenagem ao Coronel Fernando Belo no encontro de turma realizado em 31 de julho de 2012, na sede da AME/RJ Rio de Janeiro, 31 de julho de 2012 No dia 20 de Março de 1970, há quarenta e dois anos, ingressávamos nas fileiras desta gloriosa Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, corporação bicentenária, herdeira do legado histórico e das tradições da DIVISÃO MILITAR DA GUARDA REAL DE POLÍCIA DA CORTE, fundada em 13 de Maio de 1809 pelo Príncipe Regente D. João VI, um ano após desembarcar na Cidade do Rio de Janeiro, em 1808. Éramos então todos jovens, a grande maioria saída da adolescência, mas cheios de sonhos e esperanças, de idéias, e mal sabíamos o que nos aguardava na Escola de Formação de Oficiais, atual Academia Policial Militar D. João VI. Passamos 1460 dias juntos, entrando e saindo da EsFO juntos dormindo e acordando juntos, nos alimentando e estudando juntos. Fazendo provas, exercícios físicos militares, tirando serviços e até cumprindo punições disciplinares ou recebendo trotes dos veteranos, juntos. E foi nesse período que nossa têmpera foi forjada, nosso caráter foi moldado e o amor pela Corporação Policial Militar foi malhado a ferro, água e a fogo, bebíamos comíamos e respirávamos a cultura - “interna corporis” – éramos os orgulhosos Cadetes da Polícia Militar do Estado da Guanabara - e tudo fazíamos para honrar aquele juramento proferido no agora longínquo dia 13 de Maio de 1971 quando recebemos o ESPADIM DE TIRADENTES repetindo em uníssono os 77 Cadetes numa só voz:” Recebo o Espadim de Tiradentes, símbolo de idealismo e destemor”. Concluímos o Curso, devolvemos o Espadim de Tiradentes e recebemos a Espada, símbolo maior do Oficialato e fomos trabalhar espalhados pelos batalhões da Corporação que na época estava inaugurando o 12º BPM, em Jacarepaguá. Como foi bom aquele tempo em que éramos Tenentes ou Capitães, quando reclamávamos de “barriga cheia”, quando tudo era bom e não sabíamos, quando tínhamos o tesouro mais inestimável que o DEUS CRIADOR nos concedeu: a vida repleta de saúde, a juventude o vigor físico, a disposição para o que desse e viesse. O tempo passou melhor dizendo voou, constituímos família, tivemos filhos. Éramos Tenentes, mas queríamos o posto de Capitão e depois ambicionávamos o

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Discurso em homenagem ao Coronel Fernando Belo no encontro de turma realizado em 31 de julho de 2012, na sede da AME/RJ

Rio de Janeiro, 31 de julho de 2012

No dia 20 de Março de 1970, há quarenta e dois anos, ingressávamos nas fileiras desta gloriosa Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, corporação bicentenária, herdeira do legado histórico e das tradições da DIVISÃO MILITAR DA GUARDA REAL DE POLÍCIA DA CORTE, fundada em 13 de Maio de 1809 pelo Príncipe Regente D. João VI, um ano após desembarcar na Cidade do Rio de Janeiro, em 1808.

Éramos então todos jovens, a grande maioria saída da adolescência, mas cheios de sonhos e esperanças, de idéias, e mal sabíamos o que nos aguardava na Escola de Formação de Oficiais, atual Academia Policial Militar D. João VI.

Passamos 1460 dias juntos, entrando e saindo da EsFO juntos dormindo e acordando juntos, nos alimentando e estudando juntos. Fazendo provas, exercícios físicos militares, tirando serviços e até cumprindo punições disciplinares ou recebendo trotes dos veteranos, juntos.

E foi nesse período que nossa têmpera foi forjada, nosso caráter foi moldado e o amor pela Corporação Policial Militar foi malhado a ferro, água e a fogo, bebíamos comíamos e respirávamos a cultura - “interna corporis” – éramos os orgulhosos Cadetes da Polícia Militar do Estado da Guanabara - e tudo fazíamos para honrar aquele juramento proferido no agora longínquo dia 13 de Maio de 1971 quando recebemos o ESPADIM DE TIRADENTES repetindo em uníssono os 77 Cadetes numa só voz:” Recebo o Espadim de Tiradentes, símbolo de idealismo e destemor”.

Concluímos o Curso, devolvemos o Espadim de Tiradentes e recebemos a Espada, símbolo maior do Oficialato e fomos trabalhar espalhados pelos batalhões da Corporação que na época estava inaugurando o 12º BPM, em Jacarepaguá.

Como foi bom aquele tempo em que éramos Tenentes ou Capitães, quando reclamávamos de “barriga cheia”, quando tudo era bom e não sabíamos, quando tínhamos o tesouro mais inestimável que o DEUS CRIADOR nos concedeu: a vida repleta de saúde, a juventude o vigor físico, a disposição para o que desse e viesse.

O tempo passou melhor dizendo voou, constituímos família, tivemos filhos. Éramos Tenentes, mas queríamos o posto de Capitão e depois ambicionávamos o

oficialato superior, e agora que nós chegamos lá, já não existe nada mais para almejar a não ser boa saúde para criar os filhos e os netos.

Muitos companheiros ficaram pelo caminho, alguns tragicamente, e consternados tivemos que chorar diante das suas sepulturas e rezar para que suas almas imortais encontrassem o descanso eterno nos braços de DEUS.

- TENENTE CORONEL PM PAULO SÉRGIO DOS SANTOS- MAJOR PM ALVAREZ APOLINÁRIO SABINO- MAJOR PM SIDNEY CRESPO ZUMA- MAJOR PM LUCIUS CLAY DE MATOS BESSA- TENENTE CORONEL PM EUVALDO DE SOUZA NOBRE FILHO- TENENTE CORONEL PM IVAN GOMES DA SILVA- TENENTE CORONEL PM PAULO SÉRGIO TAVOLARO- CORONEL PM PEDRO DE CASTRO LIMA FILHO

E POR ELES EU PEÇO UM MINUTO DE SILÊNCIO.

Mas hoje também é um dia de imensa alegria quando retornamos a esta ASSOCIAÇÃO DE MILITARES ESTADUAIS – AME/RJ de tantas lutas e glórias, uma casa cujo principal objetivo consubstancia-se na defesa dos interesses da classe mister que vem executando com muito denodo, coragem e competência ao longo de todos esses anos.

Fundada em 18 de setembro de 1917, com a denominação de Fraternidade Auxiliadora dos Oficiais Reformados da Brigada Policial e Corpo de Bombeiros do então Distrito Federal, seu principal sócio-fundador e primeiro Presidente, considera-se como Patrono da Associação o Tenente-Coronel PM PEDRO ALEXANDRINO DE ANDRADE.

E a alegria torna-se maior ainda quando reencontramos um ilustre e querido companheiro não só da Corporação, mas integrante também da TURMA TENENTE CORONEL PM JORGE MARTINS: o CORONEL PM CARLOS FERNANDO FERREIRA BELO, atual Presidente da AME/RJ.

Este nosso companheiro de fato honrou as melhores tradições Policiais Militares e construiu uma carreira brilhante com muita honradez, probidade e competência, de Aspirante à Coronel, tendo comandado o Regimento de Cavalaria Enyr Cony dos Santos, o 19º BPM, o Comando de Policiamento da Capital por duas vezes, o Comando das Unidades Operacionais Especiais, foi Sub Chefe de Relações Públicas, Chefe do Gabinete do Comando Geral e finalmente ocupou o cargo de Subchefe do Estado Maior Geral da PMERJ, só para citar as missões mais importantes.

FORA DA PMERJ: - Ex-Presidente do Conselho Comunitário de Segurança de Copacabana/Leme (6 anos)- Conselheiro do Conselho Superior Empresarial de Segurança, Cidadania e Ética da Associação Comercial do RJ- Assessor Especial do Ministro do STJ Waldemar Zveiter (Grão Mestre da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio de Janeiro)- Diretor do Departamento de Transportes do TJRJ- Diretor da 3C (Confraria dos Camaradas de Cavalaria)- Assessor Especial da Governadora do Lions RJ

Agora que poderia estar descansando junto aos seus familiares decidiu o Coronel PM Fernando Belo prestar mais uma contribuição à causa da nossa Instituição em detrimento da sua vida particular e numa campanha democrática enfrentou nas urnas outro candidato de igual prestígio e história na Corporação, nada mais nada menos do que o Deputado Estadual e Major PMERJ Paulo Ramos, e venceu.

E eu quero prestar um testemunho a todos os aqui presentes, pois tenho acompanhado de perto e porque não dizer, colaborado e prestigiado a administração do nosso companheiro de farda e amigo Coronel Fernando Belo, usando os meios que a tecnologia pôs a nossa disposição.

Desde o momento que assumiu a Presidência desta casa o Coronel Belo vem sendo incansável na busca e na luta pelos nossos direitos e eu concito aos amigos aqui se encontram e que dispõem de computador para que procurem consultar o site da AME/RJ na Internet porquanto a publicidade que a Associação vem dando a todos os seus atos é um dos pontos fortes da gestão do nosso companheiro.

Dentre outras ações eu destaco em particular a luta pela impugnação da venda do nosso amado QUARTEL GENERAL DA PMERJ, o antigo QUARTEL DOS BARBONOS, a nossa morada espiritual e também dos nossos antepassados Policiais Militares desde a criação da DIVISÃO MILITAR DA GUARDA REAL DE POLÍCIA DA CORTE no século 18.

Infelizmente autoridades governamentais que deveriam ter maior zelo com a história das Instituições públicas, mas não fazem a menor idéia do que isso significa, querem simplesmente vender um patrimônio que não pertence nem a eles e nem a ninguém, mas ao povo do Rio de Janeiro e porque não dizer, do Brasil, pois constitui um bem histórico cultural, um legado herdado daqueles que nos antecederam, com mais de duzentos anos de gloriosa e sofrida história.

Mas o que essas autoridades não sabiam é que a reação “interna corporis” e a fantástica e bem vinda mobilização das entidades civis da sociedade organizada comprometidas com a conservação do patrimônio histórico nacional, tornaria mais difícil levar adiante os mesquinhos interesses de um governo transitório que passa como a água dos rios.

Cito aqui a mobilização do Sindicato dos Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro – SEAERJ, que abraçou a causa, o empenho dos Deputados Estaduais Paulo Ramos e Luiz Paulo Corrêa da Rocha, e do Vereador Carlos Caiado e finalmente o engajamento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional- IPHAN através da sua Superintendente Regional no Rio de Janeiro, além da boa vontade da Petrobras que recebeu em audiência o Presidente da AME/RJ e os demais setores que se opõem a venda do nosso sagrado aquartelamento.

E o fato é que a AME/RJ congregando todas estas correntes intentou uma Representação ao Ministério Público que acatou e julgou ilegal o Parecer da PGE que equivocadamente apontou ao Governador que a venda do QG/PMERJ poderia ser consumada.

No dia 14 de junho, data do meu aniversário, foi marcado o evento denominado ”ABRAÇO AO QG”, quando comparecemos em significativo número, levantamos uma enorme faixa azul, da Rua Senador Dantas à Lapa, e realizamos o abraço simbólico, num ato singelo porém cheio de emoção, o Coronel PM Carvalho Brito à frente com quase noventa anos, de bengala, ao lado do Coronel Belo e dos demais Oficiais presentes.

Portanto, meus amigos, devemos ter esperança, a “ÚLTIMA QUE NÃO MORRE”!

Ou conforme os versos de Píndaro citados por Céfalo a Sócrates, in A República, de Platão:

“A esperança acalenta a almado que vive em justiça e santidade

e é-lhe nutriz da velhice e companheira de jornada;a esperança, que rege soberana a alma inquieta dos mortais”.

Muitos anos atrás quando li o livro do Coronel PM Ferrúcio Fabri, o seu título nunca mais saiu da minha cabeça: “ERGUE-SE E FALA O PASSADO DA PMERJ”.

Ainda Cadete e muito jovem aquela frase não parecia fazer muito sentido, entretanto hoje, quarenta e dois anos depois, faz todo o sentido do mundo.E foram proféticas as palavras do grande escritor à respeito do Quartel General quando disse:

“Em seu derredor, rugem as vozes agressivas da era atômica.”“E as forças da evolução ameaçam a cada instante transformá-lo em pó”.

Mas no que depender de nós Policiais Militares, cumpridores dos nossos deveres e amantes da Corporação, não será tão fácil, porque não entregaremos o jogo no segundo tempo e tudo faremos para que a tentativa do governo de efetuar esta transação ilegal, imoral e inconveniente seja ela sim transformada em pó.

PAULO ROBERTO DOS SANTOS FONTES – TENENTE CORONEL PMERJ RR

EM NOME DA TURMA CORONEL PM JORGE MARTINS

Foto: Ângela Gastaldi