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AVALIAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL EM MUNICÍPIOS POR MEIO DE
INDICADORES
DIONYSIO BORGES DE FREITAS JUNIOR
2009
DIONYSIO BORGES DE FREITAS JUNIOR
AVALIAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL EM MUNICÍPIOS POR MEIO DE INDICADORES
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras como parte das exigências do Curso de Mestrado em Administração, área de concentração Gestão Social, Ambiente e Desenvolvimento, para a obtenção do título de “Mestre”. Orientador Prof. Dr. José Roberto Pereira
LAVRAS MINAS GERAIS - BRASIL
2009
Freitas Junior, Dionysio Borges de. Avaliação da administração pública gerencial em municípios por meio de indicadores / Dionysio Borges de Freitas Junior. – Lavras : UFLA, 2009. 139 p. : il. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Lavras, 2009.
Orientador: José Roberto Pereira. Bibliografia.
1. Administração Pública . 2. Gerencialismo. 3. Indicadores. 4. Municípios. I. Universidade Federal de Lavras. II. Título. CDD – 351.1
Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da Biblioteca Central da UFLA
DIONYSIO BORGES DE FREITAS JUNIOR
AVALIAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL EM MUNICÍPIOS POR MEIO DE INDICADORES
Dissertação apresentada à Universidade Federal de Lavras como parte das exigências do Curso de Mestrado em Administração, área de concentração Gestão Social, Ambiente e Desenvolvimento, para a obtenção do título de “Mestre”.
APROVADA em 27 de fevereiro de 2009 Prof. Dr. Elias Rodrigues de Oliveira UFLA Prof. Dr. Ricardo Corrêa Gomes UFV
Prof. Dr. José Roberto Pereira
UFLA (Orientador)
LAVRAS MINAS GERAIS – BRASIL
2009
Ao meu paizinho, que foi morar no céu... E também àquele que desde cedo me fez ouvir a sua voz. Que desde cedo me mostrou o seu chamado e a sua escolha. Que desde cedo se importou e me ensinou e me levou por vales, montanhas, desertos e rios. Àquele que era antes de tudo e que sempre será. Àquele que me conhece, em tudo o que me desconheço. Àquele cujo entendimento é incompreensível, cuja força é sem medida e cujo amor tende ao infinito é que dedico todos os meus dias, na vida e na morte, no rir ou no chorar, no triunfo ou na derrota, porque Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
AGRADECIMENTOS Agradeço ao Dionysio e à Maria José, meu pai e minha mãe, por um dia terem se encontrado e se amado, e por terem me desejado. Agradeço por tudo de bom que me legaram e por todo o esforço e luta que tiveram e que me proporcionaram chegar até aqui. Agradeço a minha avó Amélia, que partiu há pouco tempo, pelo carinho que me dispensou durante toda a minha vida. Agradeço a minha irmãzinha Danyela que, antes de ser gerada, já havia nascido no meu coração e que me deu duas lindas sobrinhas, Deborah e Damaris, de cujo futuro e sucesso me considero um guardião. Agradeço àqueles que, em todos os momentos difíceis, sempre estiveram presentes e cujo incentivo ao estudo e às letras foi decisivo para mim: meus tios Rubens e Damaris, Afrânio e Neuza, Luiz Alfredo e Terezinha. Agradeço a três anjos que encontrei aqui em Lavras, amigos de todas as horas e parceiros em artigos e trabalhos: Alex Borges, Carolina Lescura e Daniel Leite. Agradeço ao Pedro Baratti, pelas leituras e por todo o intercâmbio de ideias, durante o desenvolvimento de nossas dissertações. Agradeço aos demais amigos e colegas de mestrado e doutorado do PPGA/UFLA, pela convivência e bons momentos. Agradeço aos companheiros da República Bat-Caverna, pela acolhida, pelas brincadeiras e pelo tempo que passamos juntos. Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela concessão da bolsa que possibilitou a realização deste mestrado. Agradeço ao Prof. Dr. José Roberto Pereira, idealizador e orientador desta dissertação. Agradeço ao Prof. Dr. Elias Rodrigues de Oliveira, pelas sugestões na banca de qualificação, na apresentação dos resultados e na banca defesa deste trabalho. Agradeço ao Prof. Dr. Ricardo Corrêa Gomes, pelas considerações e sugestões apresentadas na defesa deste trabalho. Agradeço ao Prof. Dr. Juvêncio Braga de Lima, pelas sugestões na banca de qualificação deste trabalho. Agradeço aos demais professores e funcionários do PPGA/UFLA, em especial a Jaqueline Mello da Silva, secretária, por toda a atenção dispensada.
“…all I wanna do is ride bikes with you, and stay up late and watch cartoons…” (Trecho da música Nothing Came Out, da banda The Moldy Peaches)
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS..................................................................................... i
LISTA DE TABELAS.................................................................................... iii
RESUMO........................................................................................................ v
ABSTRACT.................................................................................................... vi
1 INTRODUÇÃO........................................................................................... 1
2 HISTÓRICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL............... 5
2.1 O patrimonialismo.................................................................................... 5
2.2 A reforma burocrática............................................................................... 7
2.3 Antecedentes da reforma gerencial........................................................... 8
2.4 A reforma gerencial.................................................................................. 10
2.5 Perspectivas: em direção à administração pública societal...................... 17
3 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA....................................... 19
3.1 A administração pública patrimonial........................................................ 20
3.2 A administração pública burocrática........................................................ 23
3.3 A administração pública gerencial............................................................ 25
3.4 A administração pública societal.............................................................. 30
4 GERENCIALISMO E ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL........................ 34
4.1 Tema “gerencialismo” na produção científica nacional........................... 34
4.2. A produção científica sobre gerencialismo no âmbito municipal............ 37
5 INDICADORES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA............................... 48
5.1 Indicadores e desempenho dos governos regionais da Itália.................... 48
5.2 Forças e fraquezas dos municípios mineiros............................................ 52
5.3 O ZEE-MG e seu componente institucional............................................. 56
5.4 A pesquisa de informações básicas municipais – IBGE........................... 60
5.5 O índice mineiro de responsabilidade social............................................ 61
63
6 METODOLOGIA DE PESQUISA.............................................................
6.1 Universo de pesquisa................................................................................ 65
6.2 Definição dos indicadores......................................................................... 66
6.2.1 Indicador recursos humanos.................................................................. 68
6.2.1.1 Quantidade de funcionários para cada 100 habitantes........................ 68
6.2.1.2 Percentual de funcionários com ensino superior................................ 69
6.2.1.3 Percentual de funcionários com pós-graduação................................. 70
6.2.1.4 Existência de administração indireta.................................................. 70
6.2.2 Indicador instrumentos de gestão.......................................................... 71
6.2.2.1 Existência de código de obras............................................................. 71
6.2.2.2 Existência de lei de parcelamento do solo.......................................... 72
6.2.2.3 Existência de lei de zoneamento......................................................... 72
6.2.2.4 Existência de plano diretor................................................................. 72
6.2.2.5 Existência de cobrança de IPTU......................................................... 73
6.2.3 Indicador articulações institucionais e participação do cidadão............ 74
6.2.3.1 Quantidade de conselhos gestores existentes...................................... 75
6.2.3.2 Existência de consórcio público com outros entes federativos........... 75
6.2.3.3 Existência de convênio ou parceria com o setor privado.................... 75
6.2.3.4 Existência de apoio do setor privado ou de comunidades na
administração municipal.................................................................................
76
6.2.3.5 Participação em comitê de bacia hidrográfica.................................... 76
6.2.4 Indicador responsabiliade fiscal e aplicação dos recursos..................... 77
6.2.4.1 Aplicação de recursos em saúde – % previsto em lei........................ 78
6.2.4.2 Aplicação de recursos em educação – % previsto em lei.................. 78
6.2.4.3 Despesas com pessoal – cumprimento do % máximo previsto em
lei....................................................................................................................
79
6.2.4.4 Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal............................... 80
6.2.4.5 Cumprimento de limites legais para o endividamento do município. 80
6.2.4.6 Indicador de desenvolvimento tributário e econômico....................... 80
6.2.4.7 Participação da dívida na receita corrente líquida.............................. 81
6.2.4.8 Esforço orçamentário em educação e saúde - % investido do
orçamento........................................................................................................
81
6.3 Método de coleta de dados........................................................................ 81
6.4 Tratamento estatístico utilizado................................................................ 83
7 A REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS...................................................... 84
8 INDICADORES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL........ 88
8.1 Indicador recursos humanos..................................................................... 90
8.2 Indicador instrumentos de gestão............................................................. 94
8.3 Indicador articulações interinstitucionais e participação do cidadão........ 99
8.4 Indicador responsabilidade fiscal e aplicação dos recursos ..................... 104
8.5 Classificação geral do índice de administração pública gerencial........ 111
9 A AUSÊNCIA DO GERENCIALISMO NOS MUNICÍPIOS
SULMINEIROS..............................................................................................
117
9.1 Gerencialismo e filiação partidária........................................................... 118
9.2 Gerencialismo e porte do município......................................................... 123
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................... 125
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 129
i
LISTA DE FIGURAS Página
FIGURA 1 Dinâmica entre os modelos de administração pública................. 2
FIGURA 2 Setores do Estado......................................................................... 11
FIGURA 3 Princípios norteadores e tipos de administração pública............. 12
FIGURA 4 Objetivos dos setores do Estado e tipos de administração
pública.............................................................................................................
14
FIGURA 5 Articulações entre os órgãos públicos na reforma gerencial....... 16
FIGURA 6 Características da administração pública patrimonialista.......... 23
FIGURA 7 Características da administração pública burocrática.................. 25
FIGURA 8 Características da administração gerencial.................................. 30
FIGURA 9 Características da administração societal..................................... 33
FIGURA 10 Quantidade de artigos gerencialistas publicados no
EnANPAD......................................................................................................
35
FIGURA 11 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD 2004............... 38
FIGURA 12 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD 2005............... 40
FIGURA 13 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD 2006............... 42
FIGURA 14 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD 2007............... 43
FIGURA 15 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD 2008............... 45
FIGURA 16 Modelo de desempenho institucional......................................... 49
FIGURA 17 Indicadores de desempenho dos governos regionais
italianos...........................................................................................................
51
FIGURA 18 Linha do tempo e evolução dos indicadores de desempenho.... 53
FIGURA 19 Indicadores – forças e fraquezas dos municípios de MG.......... 55
FIGURA 20 Detalhamento do IQIM.............................................................. 56
FIGURA 21 Fatores condicionantes do componente institucional do ZEE-
MG..................................................................................................................
59
FIGURA 22 Informações – Pesquisa de informações básicas municipais
ii
IBGE............................................................................................................... 61
FIGURA 23 Indicadores da dimensão gestão do IMRS................................. 62
FIGURA 24 Plano de análise.......................................................................... 65
FIGURA 25 Índice de administração pública gerencial municipal................ 67
FIGURA 26 Fontes dos dados que compõem o IAPG-M.............................. 82
FIGURA 27 Mesorregioões do estado de Minas Gerais................................ 84
FIGURA 28 As 10 regiões de planejamento do estado de Minas
Gerais..............................................................................................................
85
FIGURA 29 Regiões de Minas Gerais segundo o ZEE.................................. 86
FIGURA 30 Existência de administração indireta nos municípios sul-
mineiros..........................................................................................................
92
FIGURA 31 Existência de código de obras nos municípios sul-mineiros..... 94
FIGURA 32 Existência de lei de parcelamento do solo nos municípios........ 95
FIGURA 33 Existência de lei de zoneamento nos municípios sul-mineiros.. 96
FIGURA 34 Existência de plano diretor nos municípios sul-mineiros.......... 97
FIGURA 35 Existência de cobrança de IPTU nos municípios sul-mineiros.. 98
FIGURA 36 Participação em comitê de bacia hidrográfica........................... 103
FIGURA 37 Recursos em saúde – cumprimento do % previsto em lei......... 105
FIGURA 38 Recursos em educação – cumprimento do % previsto em lei.... 105
FIGURA 39 Despesas com pessoal – cumprimento do % previsto em lei..... 106
FIGURA 40 Cumprimento da lei de responsabilidade fiscal......................... 107
FIGURA 41 Cumprimento de limites legais para o endividamento
municipal........................................................................................................
108
FIGURA 42 Coligações partidárias nas eleições (FHC e Aécio Neves)........ 118
FIGURA 43 Partidos políticos e gerencialismo no sul de Minas................... 120
FIGURA 44 Coligações partidárias e gerencialismo no sul de Minas........... 121
iii
LISTA DE TABELAS Página
TABELA 1 Número de artigos do EnANPAD por temáticas
gerencialistas...................................................................................................
36
TABELA 2 Pesos dos indicadores e variáveis na formação do IAPG-M...... 89
TABELA 3 Pontuação da quantidade de funcionários para cada 100
habitantes........................................................................................................
90
TABELA 4 Pontuação do percentual de funcionários com ensino superior.. 91
TABELA 5 Pontuação do percentual de funcionários com pós-graduação... 92
TABELA 6 Pontuação do indicador recursos humanos................................. 93
TABELA 7 Pontuação do indicador instrumentos de gestão......................... 99
TABELA 8 Pontuação da quantidade de conselhos gestores existentes........ 100
TABELA 9 Pontuação da existência de consórcio público............................ 101
TABELA 10 Pontuação de convênio ou parceria com o setor privado.......... 101
TABELA 11 Pontuação do apoio do setor privado ou de comunidades........ 102
TABELA 12 Indicador articulações institucionais e participação do
cidadão............................................................................................................
103
TABELA 13 Pontuação do ITDE................................................................... 108
TABELA 14 Pontuação da participação da dívida na receita corrente
líquida.............................................................................................................
109
TABELA 15 Pontuação do esforço orçamentário em educação.................... 110
TABELA 16 Pontuação do esforço orçamentário em saúde.......................... 110
TABELA 17 Indicador responsabilidade fiscal e aplicação dos recursos...... 111
TABELA 18 Classes de muniípios em relação à administração pública
gerencial..........................................................................................................
112
TABELA 19 IAPG-M – Categoria B............................................................. 113
TABELA 20 IAPG-M – Categoria C............................................................. 114
TABELA 21 IAPG-M – Categoria D............................................................ 115
iv
TABELA 22 Partido político e gerencialismo................................................ 122
TABELA 23 Porte do Município e gerencialismo......................................... 124
v
RESUMO
FREITAS JUNIOR, Dionysio Borges de. Avaliação da administração pública gerencial em municípios por meio de indicadores. 2009. 139 p. Dissertação (Mestrado em Administração) – Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.1
Este trabalho foi realizado com o objetivo de verificar a adoção da administração pública gerencial nos municípios. Para tanto, realizou-se uma avaliação por meio de indicadores representativos da administração pública gerencial nos municípios da região sul do estado de Minas Gerais. Nesse sentido, foi, primeiramente, realizada uma revisão bilbiográfica sobre o tema, possibilitando caracterizar e identificar os temas centrais na administração pública gerencial. Foi também realizado um breve histórico da administração pública brasileira, que permitiu conhecer melhor a dinâmica e a interação entre os tipos de administração pública, bem como o estágio em que se encontra o gerencialismo no país. No intuito de validar e trazer maior consistência aos temas centrais do gerencialismo, revelados pela revisão bibliográfica, foi realizado um levantamento da produção científica nacional, por meio da análise dos artigos publicados nas cinco últimas edições do EnANPAD. Assim, emergiram as categorias de análise utilizadas na construção dos indicadores. Uma vez realizada a identificação dos temas centrais do gerencialismo e construídos os indicadores, foi realizada uma classificação dos municípios do sul de Minas, quanto à adoção do modelo gerencial de administração pública. Verificou-se que a adoção do gerencialismo nos municípios da região ainda é bastante incipiente e nenhum município pode ser considerado gerencialista. Apenas 39 municípios, cerca de 22%, podem ser considerados portadores de um gerencialismo intermedário, segundo o modelo de indicadores aplicado. Foi, ainda, estudada a relação entre gerencialismo e partidos políticos, considerando-se os partidos que sustentaram as reformas gerenciais em âmbito federal e estadual, bem como a relação entre gerencialismo e porte populacional dos municípios.
1 Orientador: Prof. Dr. José Roberto Pereira – DAE/UFLA
vi
ABSTRACT
FREITAS JUNIOR, Dionysio Borges de. Managerialism in local government an indicators analysis. 2009. 139 p. Dissertation (Master in Management) - Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG.2 The present study intends to verify the adoption of managerialism at local government. Therefore, we produce an indicators analysis in the public local government at Minas Gerais State south cities. By the way, we effect an bibliographical review to identify the main themes of managerialism. We fulfill an historical briefing of the Brazilian public management, that enables its dynamics, interaction of the four models of public management and the status of managerialism in Brazil. We produce a gathering of the national papers published on EnANPAD, to validate the efforts of bibliographical review. Thus, we find the categories and we build the indicators for the analysis. Thereafter, we classify the cities of Minas Gerais south respecting the adoption of managerialism. We conclude the managerialism is very incipient there is no municipalities may be counted as managerialists, and barely 39 municipalities, about 22%, may be counted as half managerialists, according this indicators model. We still study the relationship among managerialism and political parties, observing the parties who support the managerialists reforms on Federal Brazilian government and Minas Gerais state government. We still study too the relationship among managerialism and populational size of the cities. .
2 Orientador: Prof. Dr. José Roberto Pereira – DAE/UFLA
1
1 INTRODUÇÃO
Houve um tempo em que o Estado era confundido com a figura de seu
governante. Orientada pela tradição, a administração era exercida em função do
pleno direito pessoal, o poder do governante extrapolava as fronteiras do que é
público e o que era de sua propriedade confundia-se com o que era de
propriedade do Estado. A esta prática deu-se o nome de patrimonialismo.
Com o desgaste do patrimonialismo, ao longo do tempo, surgiu uma
nova forma de administrar o Estado, com regras universais e Estado igualmente
acessível a todos, não apenas aos que fossem parentes ou amigos do governante.
Sob esse princípio nasceu a burocracia, que buscava combater o
patrimonialismo. Privilegiando uma dimensão racional-legal, a burocracia
propunha normas claras, profissionalização do funcionalismo público,
impessoalidade e formalismo.
Tudo ia bem, até que a impessoalidade ignorou o cidadão e o formalismo
gerou montanhas e montanhas de papéis, paralisando a administração pública e
dando ao termo ‘burocratizar’ uma conotação diferente daquela proposta
inicialmente. Com o passar do tempo, pensou-se que a solução para a
administração pública poderia ser imitar a maneira como as empresas privadas
são geridas. Surgiu, então, o gerencialismo, que buscava dar maior agilidade à
gestão pública, ‘desburocratizando-a’, mesmo mantendo uma estrutura
burocrática. O Estado tenta se tornar uma ‘empresa’ e o cidadão vira seu
‘cliente’ ou ‘consumidor de serviços públicos’.
Tudo novamente ia bem, até o ponto em que foi questionado se o
cidadão deveria ser visto apenas como um ‘cliente’, ou se ele não seria, na
realidade, o próprio ‘patrão do Estado’, pois o poder emana do povo. Assim, o
cidadão deveria ter voz ativa nas decisões do Estado e sua participação seria
fundamental. Esta é a nascente Administração Pública Societal.
2
Mas, enquanto emergia a forma Societal de administrar e a forma
Gerencial ainda não se consolidara, o patrimonialismo mostrava que não havia
acabado e que suas raízes permaneciam. A burocracia, por sua vez, avisou que
continuava forte e que nada, seja Gerencial ou Societal, se construiria fora da
estrutura que ela criara.
De fato, o modelo gerencial desenvolveu-se a partir da estrutura criada
pela burocracia e com ela coexiste. Gerencialismo e burocracia, cada um com as
suas armas, buscaram extirpar o patrimonialismo e suas manifestações, como o
nepotismo e o personalismo da administração pública. A Administração Societal
buscava conquistar o seu espaço, partindo, primordialmente, da gestão local,
criando mecanismos para uma participação cidadã efetiva. Toda esta dinâmica
entre os modelos de administração pública está ilustrada na Figura 1.
FIGURA 1 Dinâmica entre os modelos de administração pública.
Dessa forma, considerando-se que a Administração Pública Gerencial é
o modelo dominante na literatura, mas que se verifica uma dinâmica de
coexistência entre os diferentes modelos, inclusive nas gestões municipais, a
BUROCRACIA-GERENCIALISMO Patrimonialismo Administração
Societal
3
questão que emerge diz respeito à possibilidade de identificar gestões municipais
que possam ser caracterizadas como gerenciais. Dito de outro modo, os
municípios têm adotado, na íntegra ou mesmo parcialmente, o modelo de
administração pública gerencial?
Dessa forma, o objetivo central desta dissertação foi verificar, dentre as
administrações dos municípios do sul de Minas Gerais, aquelas que adotam o
modelo gerencial.
Tendo em vista este objetivo geral, os objetivos específicos consistiram
em: (1) caracterizar e detalhar o modelo gerencial de administração pública; (2)
identificar e analisar indicadores para traçar um perfil gerencial de administração
pública e (3) classificar os municípios do Sul de Minas Gerais, em termos da
adoção do modelo gerencial de administração pública.
O argumento central que justifica o objetivo proposto é que a
identificação e a análise dos tipos de administração pública por meio de
indicadores adequados podem contribuir para a definição de políticas públicas
mais eficientes e adequadas a cada realidade local. Podem ser também de grande
importância para a identificação dos níveis de eficiência, eficácia e efetividade
nas administrações municipais, discutindo-se, inclusive, a validade destes
conceitos, contrapondo-os com questões como democratização e participação
popular.
Para a consecução do objetivo proposto foram utilizados dados
secundários provenientes, principalmente, do Zoneamento Ecológico-
Econômico do Estado de Minas Gerais – ZEE-MG, do Índice Mineiro de
Responsabilidade Social – IMRS e da Pesquisa de Informações Básicas
Municipais do Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
Dessa forma, esta dissertação é composta pela seguinte estrutura, além
desta introdução: nos capítulos 2, 3, 4 e 5 construiu-se o referencial teórico, por
meio de um breve histórico da administração pública no Brasil, pela
4
apresentação dos quatro modelos de administração pública, por uma revisão
bibliográfica sobre a produção acadêmica brasileira em relação à utilização do
gerencialismo em âmbito municipal e pela utilização de indicadores na
administração pública. No capítulo 6 trata-se da metodologia utilizada nesta
dissertação e, no capítulo sétimo, apresenta-se uma breve caracterização da
região sul de Minas Gerais. No capítulo 8 mostram-se os indicadores construídos
e os resultados encontrados na pesquisa. No capítulo 9 discute-se a ausência de
gerencialismo nos municípios sulmineiros e, por fim, no capítulo 10, encontram-
se as considerações finais deste trabalho, seguindo-se as referências
bibliográficas.
5
2 HISTÓRICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL
Neste capítulo, o objetivo é resgatar, historicamente, a trajetória da
administração pública brasileira, retratando desde o Patrimonialismo, passando
pela Administração Burocrática e pela Administração Pública Gerencial e a
Reforma Gerencial empreendida em 1995, finalizando com a Administração
Pública Societal.
2.1 O patrimonialismo
Desde o início da colonização brasileira reproduzia-se aqui a estrutura de
poder da administração de Portugal. Martins (1997) aponta algumas
características dessa administração portuguesa: (1) sua estrutura de poder era
baseada na monarquia absolutista que se mantinha por meio do monopólio
exercido sobre o comércio e (2) sua administração caracterizava-se por um
enorme aparelho estatal, composto por uma elite improdutiva, formada por
antigos nobres. Este autor lembra também que o Brasil era uma colônia de
exploração e, como tal, a ocupação das terras e as primeiras atividades
econômicas encontravam-se submetidas à concessão do Estado e eram atribuídas
de maneira clientelista. A legislação da colônia era formada por determinações
de cunho particular. Ocorria também a invasão do Estado pela família e os
sentimentos relativos a esta predominavam em toda a vida social (Hollanda,
1995). Em outras palavras, todo o universo social era hierarquizado em termos
de relações familiares (Damatta, 1997).
Após a independência, a herança colonial de mais de três séculos
perpetuou um conglomerado de estruturas oligárquicas de poder pelo país. Tais
estruturas eram baseadas na administração política de favores aos clientes locais
e baseavam-se na propriedade dos grandes latifúndios, na escravidão e na regra
6
senhorial (Martins, 1997), bem como na presença de certo aparato burocrático
do Estado (Torres, 2004).
Sorj (2001) afirma que, ao final do século XIX, o sistema político
brasileiro consolidava-se em torno de duas instituições: (1) o poder local dos
grandes proprietários de terra, que dominavam suas regiões por meio de relações
clientelísticas e de laços de sangue, controle das instituições locais de
administração, justiça e voto, e (2) um Estado central, cuja estrutura remontava à
Colônia e ao Império e que funcionava como uma espécie de árbitro entre os
interesses das diversas regiões e grupos sociais.
Ainda para Sorj (2001), com os processos de urbanização e
transformação das relações sociais no campo, reduziu-se o poder dos grandes
proprietários de terra e ganhou corpo um novo patrimonialismo, de base urbana.
Nesse contexto, pode-se dizer que, ainda durante o período da República
Velha (1889-1930), a situação do Estado clientelista perdurou e que tanto as
iniciativas manufatureiras no sul do país quanto as atividades agrícolas de
exportação encontravam-se bastante dependentes de favores do Estado, tais
como a manipulação das taxas de câmbio e a definição de tarifas protecionistas
(Martins, 1997).
Torres (2004) sintetiza o panorama da administração pública desde o
Brasil Colônia até a Revolução de 1930, afirmando que o Estado pode ser
descrito como uma grande instituição garantidora dos privilégios sociais e
econômicos, cujos beneficiários eram, essencialmente, a elite rural e
aristocrática do país. Este autor cita, ainda, a existência de uma relação
incestuosa e predatória de tal elite com a administração pública brasileira e,
fazendo referência a Faoro (2001), caracteriza o período como dominado pela
centralização, pelo caráter patrimonial, pelo burocratismo e pelo
intervencionismo estatal, controlados por uma elite encastelada no poder. Sorj
(2001) acrescenta a este cenário a associação do patrimonialismo com uma
7
extrema desigualdade social, a impunidade das elites e o abandono dos setores
mais pobres da população – situação que perdura até os dias de hoje.
2.2 A reforma burocrática
Com a Revolução de 1930 e a ascensão de Getúlio Vargas ao poder,
ocorreu a primeira grande tentativa de se reformar a administração pública
brasileira. Três principais diretrizes foram propostas naquele momento: (1) o
estabelecimento de critérios profissionais para o ingresso no serviço público; (2)
o desenvolvimento de planos de carreira e (3) promoções baseadas em critérios
de meritocracia. Houve, ainda, a criação de um novo órgão da administração
pública, o Departamento de Administração do Serviço Público, ou DASP,
responsável não apenas pela implementação de tais diretrizes, mas por
supervisionar a administração pública e pela formação de recursos humanos para
os altos escalões do serviço público (Martins, 1997).
Cabe dizer que a administração burocrática foi implantada buscando
suplantar o patrimonialismo reinante no país, no entanto, práticas clientelistas e
fisiológicas ainda mantinham sua força no quadro político brasileiro (Brasil,
1995). Houve certo avanço do Estado na criação de modernas instituições de
administração, no entanto, as camadas dirigentes e os políticos utilizaram suas
posições no intuito de garantir vantagens econômicas para si próprios e
conseguir apoio político por meio da oferta de empregos públicos e do
favorecimento de suas bases (Sorj, 2001).
Este ponto de vista de Sorj (2001) pode ser corroborado por Martins
(1997), pois, segundo este autor, ocorreu no período o estabelecimento de um
duplo padrão. Enquanto os altos escalões da administração pública eram regidos
pelas normas burocráticas de critérios profissionais para o ingresso na carreira e
promoção por méritos, os escalões inferiores continuavam sob o critério
8
clientelista de admissão de pessoal por indicação. Este autor também indica que
a reforma foi sendo transformada em um misto de modernização e “síndrome
cultural-populista”.
Durante as décadas que se seguiram à reforma burocrática implementada
pela ditadura Vargas, esse duplo padrão no funcionalismo público permaneceu e
o DASP passou a ocupar-se meramente de tarefas rotineiras e de controle.
Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1955-1960), por exemplo, tais
disparidades ainda permaneciam: enquanto existiam equipes altamente
capacitadas para a implementação de seus projetos desenvolvimentistas, os
serviços públicos do dia-a-dia continuaram a apresentar padrões extremamente
baixos (Martins, 1997).
Abrúcio (1997) destaca que o modelo burocrático tradicional encontra-se
voltado para si mesmo e, dessa forma, caminhando do lado contrário dos anseios
dos cidadãos. É nesse contexto que o modelo de administração pública gerencial
começa a ganhar espaço, buscando preencher necessidades como o controle dos
gastos públicos e a demanda por maior qualidade nos serviços prestados.
2.3 Antecedentes da reforma gerencial
Após o golpe militar de 1964, o governo ditatorial buscou realizar uma
reforma no aparelho burocrático do Estado, que pode ser considerada a primeira
tentativa, no Brasil, da implementação de uma reforma gerencial na
administração pública (Bresser-Pereira, 1996).
Em 1967, por meio do Decreto-Lei no200, foi possível implementar a
reforma sem que esta fosse submetida à apreciação do Congresso Nacional
(Martins, 1997). A reforma tinha dois aspectos. O primeiro envolvia a
centralização das estruturas do núcleo central do governo, por meio da
instituição de um plano de governo, de planos plurianuais e de maior rigor
9
orçamentário. Já o segundo aspecto relacionava-se à diversificação dos órgãos
estatais, promovendo descentralização funcional na prestação dos serviços
públicos, mediante a delegação de autoridade a tais órgãos, o que implicou em
certo tipo de divisão do trabalho entre agências e estruturas do Estado (Martins,
1997).
No entanto, os resultados pretendidos não foram plenamente alcançados
por esta reforma de 1967, que foi chamada de ‘a revolução silenciosa’ pelo então
ministro Hélio Beltrão, seu idealizador e executor. A tencionada divisão de
trabalho entre o núcelo central do governo e os demais órgãos estatais acabou
por transformar-se em um tenso relacionamento e na perda de controle por parte
do governo (Martins, 1997).
Com a redemocratização do país, em 1985, algumas ideias reformistas
que foram colocadas ganharam força, tais como: (1) a descentralização da
administração pública, promovendo maior autonomia e agilidade às instituições
locais; (2) a desburocratização da administração pública, com o objetivo de
alcançar maior eficiência e efetividade e (3) a democratização do setor público
por meoio da construção de mecanismos que conferissem a este maior
transparência, ampliando o controle social sobre a gestão pública (Melo, 2002).
A Constituição Federal promulgada em 1988 atendeu a alguns desses
anseios. O Poder Executivo perdeu um pouco de sua autonomia, com a
delegação para o Congresso Nacional da autorização para organização, criação,
transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas. A nova
Constituição também promoveu a descentralização de recursos orçamentários e
a transferência de serviços públicos, tais como a educação e a saúde para os
estados e municípios (Melo, 2002).
O governo de Fernando Collor, a partir de 1990, foi bastante
influenciado por uma “primeira onda de reformas administrativas” e
10
implementou ações de downsizing, com demissões e extinções de órgãos da
administração direta e indireta, bem como das empresas estatais (Melo, 2002).
2.4 A reforma gerencial
No ano de 1995 ocorreu uma reforma efetiva de cunho gerencial no
Estado brasileiro, implementada durante o governo Fernando Henrique Cardoso
e baseada nos pressupostos da política da Terceira Via e nas ideias de Osborne e
Gaebler (1995) e o movimento “Reinventando o Governo”. A reforma primava
por fornecer ao Estado uma orientação pelos valores de eficiência e qualidade na
prestação de serviços públicos, além do desenvolvimento de uma cultura
gerencial na administração pública (Brasil, 1995).
Segundo o texto dessa Reforma Administrativa, é possível distinguir
quatro setores dentro do aparelho do Estado, conforme a Figura 2.
11
Setor Descrição N
úcl
eo
estr
atég
ico
Corresponde ao governo, em sentido lato. É o setor que define as leis e as políticas públicas, e cobra o seu cumprimento. É, portanto, o setor no qual as decisões estratégicas são tomadas. Corresponde aos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério Público e, no Poder Executivo, ao Presidente da República, aos ministros e aos seus auxiliares e assessores , responsáveis pelo planejamento e formulação das políticas públicas.
Ativ
idad
es
excl
usi
vas
É o setor em que são prestados serviços que só o Estado pode realizar. São serviços em que se exerce o poder extroverso do Estado - o poder de regulamentar, fiscalizar, fomentar. Como exemplos temos: a cobrança e a fiscalização dos impostos, a polícia, a previdência social básica, o serviço de desemprego, a fiscalização do cumprimento de normas sanitárias, o serviço de trânsito, a compra de serviços de saúde pelo Estado, o controle do meio ambiente, o subsídio à educação básica, a emissão de passaportes.
Ser
viço
s n
ão-e
xclu
sivo
s Corresponde ao setor no qual o Estado atua simultaneamente com outras organizações públicas não-estatais e privadas. As instituições desse setor não possuem o poder de Estado. Este, entretanto, está presente porque os serviços envolvem direitos humanos fundamentais, como os da educação e da saúde, ou porque possuem "economias externas" relevantes, na medida em que produzem ganhos que não podem ser apropriados por esses serviços por meio do mercado. As economias produzidas imediatamente se espalham para o resto da sociedade, não podendo ser transformadas em lucros. São exemplos desse setor: as universidades, os hospitais, os centros de pesquisa e os museus.
Pro
du
ção
de
ben
s e
serv
iço
s p
ara
o m
erca
do
Corresponde à área de atuação das empresas. É caracterizado pelas atividades econômicas voltadas para o lucro que ainda permanecem no aparelho do Estado como, por exemplo, as do setor de infra-estrutura. Estão no Estado seja porque faltou capital ao setor privado para realizar o investimento, seja porque são atividades naturalmente monopolistas, nas quais o controle via mercado não é possível, tornando-se necessária, no caso de privatização, a regulamentação rígida.
FIGURA 2 Setores do Estado. Fonte: (Brasil, 1995).
Corroborando a visão de que a Administração Gerencial constrói-se
dentro de uma estrutura burocrática, a Reforma mencionada relaciona cada um
dos setores do Estado, seus princípios norteadores e o modelo de administração
que mais se adapta a tais objetivos (Figura 3).
12
Setor Princípio norteador Tipo de administração Núcleo estratégico Efetividade Misto (burocrática e
gerencial) Atividades exclusivas Eficiência Gerencial Serviços não-exclusivos Eficiência Gerencial Produção de bens e serviços para o mercado
Eficiência Gerencial
FIGURA 3 Princípios norteadores e tipos de administração pública. Fonte: (Brasil, 1995).
No que se refere ao Núcleo Estratégico do Estado, considera-se a
importância de que as decisões tomadas pelo Governo atendam eficazmente ao
interesse nacional, e que sejam efetivamente cumpridas. Assim, a efetividade é
mais importante do que a eficiência e um misto entre a Administração
Burocrática e a Gerencial é considerado o ideal pelo Plano Diretor da Reforma
do Estado (Brasil, 1995).
Nos demais setores, considera-se a importância da relação entre a
qualidade e o custo dos serviços prestados aos cidadãos. Dessa forma, a
eficiência é o princípio direcionador, sendo mais adequado para estes setores a
utilização da Administração Pública Gerencial (Brasil, 1995).
A Reforma traz também a relação de propriedade de cada um dos setores
do Estado. No núcleo estratégico, a propriedade deve ser necessariamente
estatal, da mesma forma que no setor das Atividades exclusivas do Estado. No
setor de serviços não-exclusivos do Estado, a propriedade considerada ideal é a
pública não-estatal, que favorece a parceria entre sociedade e Estado. No setor
de produção de bens e serviços para o mercado, a propriedade privada é a mais
indicada, acompanhada por um sistema de regulação, só se justificando a
propriedade estatal quando não existirem capitais privados disponíveis ou
quando exista um monopólio natural (Brasil, 1995).
13
Após estabelecer a necessidade de divisão do Estado em setores e
estabelecer os princípios norteadores de cada um deles e o tipo de propriedade
mais adequado, o Plano Diretor da Reforma do Estado estabelece os objetivos
globais da reforma adminsitrativa e os objetivos específicos para cada um dos
quatro setores (Figura 4).
14
Objetivos globais
Aumentar a governança do Estado (efetividade e eficiência), direcionando a ação dos serviços para o atendimento dos cidadãos. Limitar a ação do Estado àquelas funções que lhe são próprias. Transferir da União para os estados e municípios as ações de caráter local. Transferir parcialmente da União para os estados as ações de caráter regional, de forma a permitir maior parceria entre os estados e a União.
Objetivos para o núcleo estratégico
Aumentar a efetividade do núcleo estratégico, de forma que os objetivos democraticamente acordados sejam adequada e efetivamente alcançados. Modernizar a administração burocrática, por meio de uma política de profissionalização do serviço público, além de introduzir no sistema burocrático uma cultura gerencial baseada na avaliação do desempenho. Dotar o núcleo estratégico de capacidade gerencial para definir e supervisionar os contratos de gestão dos serviços realizados em parceria com a sociedade.
Objetivos para as atividades exclusivas
Transformar as autarquias e fundações que têm poder de Estado em agências autônomas, administradas segundo um contrato de gestão, devendo atingir os objetivos qualitativos e quantitativos acordados. Substituir a administração pública burocrática pela administração pública gerencial, e o controle dos processos pelo controle dos resultados. Fortalecer práticas que privilegiem a participação popular, viabilizando o controle social dessas atividades.
Objetivos para os serviços não-exclusivos
Transferir para o setor público não-estatal esses serviços, por meio de um programa de "publicização", transformando as atuais fundações públicas em organizações sociais. Lograr, assim, maior autonomia e maior responsabilidade para os dirigentes desses serviços. Lograr, adicionalmente, um controle social direto desses serviços por parte da sociedade por meio dos seus conselhos de administração. Lograr, finalmente, maior parceria entre o Estado, que continuará a financiar a instituição, a própria organização social e a sociedade. Aumentar, assim, a eficiência e a qualidade dos serviços, atendendo melhor o cidadão-cliente, a um custo menor.
Objetivos de produção para o mercado
Dar continuidade ao processo de privatização. Reorganizar e fortalecer os órgãos de regulação dos monopólios naturais que forem privatizados. Implantar contratos de gestão nas empresas que não puderem ser privatizadas.
FIGURA 4 Objetivos dos setores do Estado e tipos de administração pública. Fonte: (Brasil, 1995).
15
A estratégia de implementação da Reforma Gerencial foi concebida
considerando-se três dimensões: (1) uma dimensão institucional-legal, que trata
da reforma do sistema jurídico e das relações de propriedade; (2) uma dimensão
cultural, visando à transição de uma cultura burocrática para uma cultura
gerencial e (3) uma dimensão que aborda a gestão pública, levando-se em conta
o aperfeiçoamento da Administração Burocrática em paralelo com a introdução
da Administração Pública Gerencial, tendo em vista a modernização da estrutura
organizacional e dos métodos de gestão (Brasil, 1995).
A dimensão institucional-legal possui sua importância na medida em que
foi necessária a introdução de mudanças legais, notadamente constitucionais,
com o intuito de viabilizar a reforma no Estado (Brasil, 1995). Nesse sentido, a
Reforma Administrativa foi aprovada em junho de 1998, após 34 meses de
tramitação no Congresso Nacional (Melo, 2002).
Cabe destacar, na dimensão institucional-legal, além das emendas à
Constituição, a importância da legislação infraconstitucional, composta,
principalmente, por medidas provisórias e pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
A Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 18/99) foi
inspirada no Fiscal Responsability Act, da Nova Zelândia, e estabeleceu
parâmetros para o endividamento do setor público (Melo, 2002). A lei também
estipulou critérios para a demissão de servidores, extinção de cargos e redução
de vencimentos, nos casos em que as despesas ultrapassem 60% da receita
líquida. Ficou também proibido o início de obras públicas que não puderem ser
completadas na administração corrente e a concessão de benefícios fiscais sem
comprovação de fontes de receitas que os compensem (Melo, 2002).
A dimensão cultural tem sua importância na necessidade de mudança
administrativa do serviço público. Tal cultura é notadamente marcada pelo
Patrimonialismo com forte caráter Burocrático. Segundo o texto do Plano
Diretor da Reforma do Estado, de nada adiantariam as mudanças institucionais-
16
legais se a cultura da administração pública não permitisse a sua efetiva
implementação (Brasil, 1995).
Quanto à terceira dimensão, foi destacada a necessidade da
implementação gradual das mudanças na administração pública, considerando-se
ações de curto, médio e longo prazo. Para tanto, foram estipulados três projetos
básicos a serem conduzidos pelo então Ministério da Administração Federal e
Reforma do Estado (Brasil, 1995). O primeiro projeto foi o de Avaliação
Estrutural, que buscou examinar de forma global a estrutura do Estado. O
segundo foi o projeto das Agências Autônomas, no nível das atividades
exclusivas do Estado, e o terceiro foi o projeto das organizações sociais,
acompanhado pelo programa de publicização, no âmbito dos serviços não
exclusivos (Brasil, 1995).
Por fim, o Plano Diretor da Reforma do Estado previa a articulação de
vários órgãos da administração pública federal, prevendo a necessidade de
interação e cooperação, a fim de lograr êxito. As articulações foram assim
definidas como consta na Figura 5.
Órgão Descrição Câmara da Reforma do Estado
Responsáveis pela dimensão político-estratégica, aprovando, acompanhando e avaliaando os projetos da reforma.
Conselho da reforma do Estado
Órgão consultivo e de articulação, perante a sociedade civil, dos programas propostos.
Casa Civil (Presidência da República)
Responsável pela coordenação geral de todas as atividades do Estado, não apenas relativas à reforma.
Min. da Adm. Federal e Reforma do Estado
Responsável pela formulação, proposição e negociação das ações e projetos da reforma do aparelho do Estado.
Min. do Planejamento e Orçamento
Responsável pelo planejamento das atividades do Estado e por uma sistemática orçamentária compatível com a administração pública gerencial.
Ministério da Fazenda Responsável pelo controle efetivo das despesas e pelo controle interno.
FIGURA 5 Articulações entre os órgãos públicos na reforma gerencial. Fonte: (Brasil, 1995).
17
2.5 Perspectivas: em direção à administração pública societal
Paula (2003), em sua tese de doutorado, aborda a questão de uma nova
perspectiva de administração pública, surgida entre as mobilizações populares
que reemergiram na década de 1970, após a repressão do golpe de 1964. Tornar
a administração pública mais popular era um ideal pertinente a essas
mobilizações. Assim, na década de 1980, emergiu uma nova alternativa para a
gestão do Estado, chamada, pela autora, de gestão pública democrática.
O ápice dessas mobilizações ocorreu, segundo Paula (2003), durante a
Assembleia Nacional Constituinte, responsável pela elaboração da Constituição
promulgada em 1988. Os movimentos populares e sociais, o movimento
sindical, as pastorais sociais, os partidos políticos de esquerda e de centro-
esquerda e as organizações não governamentais foram os grandes atores dessas
movimentações (Paula, 2003).
Paula (2005) passa a referir-se a essa vertente alternativa como
administração pública societal.
Com a eleição de Luís Inácio Lula da Silva, em 2002, esperava-se que
as experiências de Administração Societal empreendidas pelos governos
populares de diversos estados da federação e municípios, tais como o orçamento
participativo, os fóruns temáticos e os conselhos gestores, fossem levadas para o
governo federal. No entanto, de acordo com Paula (2005), “o que se observa é
uma continuidade das práticas gerencialistas em todos os campos, inclusive nas
políticas sociais”.
Dessa forma, com base no histórico da administração pública brasileira,
pode ser observada a coexistência de dois ou mais modelos: uma administração
patrimonialista, sob a estrutura burocrática do Brasil Colônia, Império e
República Velha; as práticas clientelistas em meio à burocracia de Vargas e os
primeiros arremedos de administração gerencial e uma estrutura gerencial
construída em meio a uma burocracia consolidada, na qual o patrimonialismo
18
nunca deixou de existir. Observa-se, ainda, segundo Martins (1997), que a
cultura brasileira se encontra bastante enraizada em uma cultura patrimonialista,
pois, mesmo com todas as mudanças ocorridas no país e em sua administração
pública, práticas como o nepotismo, o favoritismo e o clientelismo tornaram-se
características culturais persistentes e relacionadas ao fenômeno do populismo.
19
3 MODELOS DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Conforme exposto na introdução deste trabalho, podem ser considerados
quatro tipos de administração pública: patrimonial, burocrática, gerencial e
societal, os quais se manifestaram em maior ou menor grau ao longo do tempo,
sucedendo-se, sem que, no entanto, qualquer uma delas fosse abandonada
(Brasil, 1995). Para que seja possível compreender as particularidades
específicas a cada modelo, este capítulo se ocupa de um breve resgate de suas
características principais. Ao final do tópico referente a cada modelo, poderá ser
encontrado um quadro resumo de tais características, cuja construção obedeceu a
regras diferentes para cada um dos quatro tipos de administração pública.
Em relação ao Patrimonialismo, a ênfase foi nas características deste
modelo, que têm se perpetuado na administração pública brasileira. Em relação à
Burocracia, dá-se destaque às características deste modelo que permaneceram
como base da Administração Pública Gerencial. Em relação à Administração
Societal são apontadas as características inovadoras deste modelo, que podem
agregar uma dimensão esquecida ao Gerencialismo.
Em relação à Administração Pública Gerencial, as características
apontadas são as mesmas utilizadas na construção dos indicadores a que se
propõe este trabalho (capítulo oito), considerando-se uma dimensão econômico-
financeira e uma dimensão institucional-administrativa.
Tais dimensões são estabelecidas por Paula (2005) que considera a
existência de três dimensões necessárias à consolidação de uma gestão pública
efetivamente democrática. São elas: (1) a dimensão econômico-financeira; (2) a
dimensão institucional-administrativa e (3) a dimensão sociopolítica. Estas
dimensões são conceituadas pela autora como:
20
• dimensão econômico-financeira: envolve questões fiscais,
tributárias e monetárias, colocando-se no âmbito das finanças
públicas e investimentos estatais;
• dimensão institucional-administrativa: relaciona-se à
organização e à articulação do aparato estatal, e a questões como
planejamento, direção, controle, profissionalização dos
servidores e desempenho;
• dimensão sociopolítica: abrange as relações entre Estado e
sociedade, direitos dos cidadãos e participação na gestão pública
(Paula, 2005).
Pode-se dizer, com base no pensamento da autora, que a Administração
Pública Gerencial baseia sua atuação nas dimensões econômico-financeira e
institucional-administrativa, motivo pelo qual são utilizadas neste trabalho.
Ainda para a mesma autora, a Administração Pública Gerencial relega a um
segundo plano a dimensão sociopolítica, lacuna esta que pode vir a ser
preenchida pela Administração Societal.
3.1 A administração pública patrimonial
A administração patrimonial remete ao conceito weberiano de
patrimonialismo, o qual constitui uma forma de dominação exercida com base
no direito pessoal, orientada, originariamente, pela tradição, em que a tônica é a
falta de distinção entre o âmbito público e o privado. A administração pública é
tratada como sendo um assunto pessoal do governante e, de igual modo, a
propriedade pública é considerada parte de seu patrimônio pessoal (Weber,
2005). Faoro (2001) afirma que, em um estágio inicial, o domínio patrimonial,
nesta confusão entre o público e o privado, se apropria das oportunidades
econômicas relacionadas ao desfrute dos bens, concessões e cargos. Com o
21
desenvolvimento de um Estado moderno e de uma aristocracia autônoma, o
patrimonialismo pessoal se converte em um patrimonialismo estatal.
Nesse sentido, e remetendo-se ao pensamento weberiano, Schwartzman
(1988) propõe o conceito de neopatrimonialismo, que se refere à dominação da
estrutura do Estado pela classe política e pela tecnocracia. Este conceito está
relacionado à sobrevivência do patrimonialismo em meio a uma estrutura
burocrática, o que é chamado por Weber de ‘patrimonialismo burocrático’,
conforme apontado por Schwartzman (1988). O neopatrimonialismo ocorreria
nas sociedades que se burocratizaram à margem de uma revolução burguesa
clássica. A revolução burguesa clássica, para Bresser-Pereira (1997), conduziria
a um capitalismo autossuficiente e autônomo, ao passo que uma revolução
burguesa dependente, como a brasileira, segundo este autor, marcaria apenas a
superação do capitalismo comercial e financeiro pelo capitalismo industrial.
Fedozzi (1997) corrobora este pensamento, acrescentando que, no caso
brasileiro, tal fato se deve aos condicionamentos impostos pelo modelo de
dominação herdado da colonização portuguesa.
O patrimonialismo pode ainda ser apontado como um traço cultural de
algumas sociedades, especialmente as sociedades ibéricas ou mediterrâneas,
como aponta Sorj (2001). No entanto, este autor considera que a sua perpetuação
vai além da questão cultural, reproduzindo-se de acordo com a vontade de
grupos sociais específicos e envolvendo diferentes situações de articulação entre
os poderes político e econômico. Em outras palavras, consiste em uma estratégia
deliberada de grupos sociais dominantes, pautada pela apropriação dos recursos
econômicos e privilégios por meio do uso do poder.
Sorj (2001) ainda argumenta que, no patrimonialismo, o espaço público
é visto não apenas como extensão do espaço privado, mas como uma espécie de
“terra de ninguém, espólio a ser capturado ou bem que pode ser dilapidado”
(Sorj, 2001, p. 30).
22
Paula (2005) afirma que, no Brasil, em razão da tradição patrimonialista,
os empregos e benefícios que auferem o Estado costumam estar relacionados aos
interesses pessoais e não aos interesses públicos. É partindo deste pressuposto
que o nepotismo surge como uma prática inerente ao patrimonialismo, dado que
a escolha dos indivíduos que irão exercer as funções públicas faz-se de acordo
com questões pessoais e não com base na meritocracia.
O nepotismo pode ser entendido como o favorecimento de parentes ou
amigos, especialmente no que se refere à ocupação de cargos públicos, não
baseada no mérito ou em critérios de justiça (Macmullen, 1999). Bobbio et al.
(1998) consideram o nepotismo como um tipo de corrupção, em que o
funcionário público age favorecendo interesses particulares em troca de uma
recompensa.
Borja (1996) refere-se à origem do termo como uma aglutinação de
“nepote + ismo”, cujo significado faz menção aos favores concedidos por alguns
papas aos seus sobrinhos. Este autor afirma que a prática teve início com o papa
Alfonso Borgia, ou Calixto III, cujo sobrinho, Rodrigo Borgia, foi por ele
beneficiado e também veio a se tornar papa, sob a alcunha de Alexandre VI.
Rodrigo Borgia possuía várias amantes e muitos filhos, aos quais atribuiu vários
territórios da Igreja.
No Brasil, o mais antigo registro de nepotismo data da ocasião do
descobrimento, quando Pero Vaz de Caminha, em sua carta ao rei de Portugal,
pede a este uma colocação para seu genro: “por me fazer singular mercê, mande
vir da ilha de São Tomé a Jorge de Osório, meu genro” (Caminha, 2008)3.
Tendo em vista estas considerações a respeito do patrimonialismo,
podem-se apresentar, na Figura 6, as principais características da administração
pública patrimonialista. 3 Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha, escrita ao rei de Portugal por ocasião da descoberta do Brasil, em 1500. Disponível em: <http://www.zaz.com.br/voltaire/ 500br/carta_caminha.htm>.
23
CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS 1. Personalismo Administração pública tratada como sendo assunto
pessoal do governante ou dos grupos que dominam o poder.
2. Propriedade Propriedade pública considerada parte do patrimônio pessoal dos que governam.
2. Nepotismo Favorecimento de parentes ou amigos, especialmente no que se refere à ocupação de cargos públicos, não baseada no mérito ou em critérios de justiça.
FIGURA 6 Características da administração pública patrimonialista.
3.2 A administração pública burocrática
O conceito de administração burocrática possui em Weber um de seus
principais ideólogos e pode ser definida como um modelo em que vigora o
princípio da competência, dada por meio de regras, estatutos, regulamentos,
documentação, hierarquia funcional, especialização profissional, jornada de
trabalho definida e subordinação dos cargos às normas estabelecidas (Ramos,
1966).
Tragtenberg (2006) aponta também Hegel como um dos primeiros
estudiosos da burocracia, em que o Estado aparece em sua forma acabada,
realizando a união entre o universal e o individual.
Ainda para Tragtenberg (2006), a burocracia weberiana caracteriza-se
por aspectos como: predomínio do formalismo, existência de normas escritas,
estrutura hierárquica, divisão horizontal e vertical do trabalho e impessoalidade
no recrutamento de funcionários.
Para Tragtenberg (2006), Weber considerava a expansão da burocracia
no sistema social como fonte de grande perigo para o homem. Por isso, seus
estudos visavam à criação de mecanismos de defesa contra a burocracia. Weber
não nega sua importância e função necessária, mas apenas combate o domínio
absoluto do modelo burocrático sobre a sociedade (Tragtenberg, 2006).
24
Bresser-Pereira (1996) relata que a administração burocrática foi
implantada nos principais países europeus ainda no século XIX e, no Brasil, a
partir da década de 1930. De acordo com esse autor, sua adoção ocorreu em
substituição à administração patrimonialista, incompatível com o capitalismo
industrial e as democracias parlamentares, que se consolidavam à época na
Europa. Em contraponto, prossegue demonstrando algumas disfunções da
burocracia – suficiente para o pequeno Estado liberal do século XIX, porém,
limitada para o grande Estado social e econômico do século XX. Dentre tais
disfunções, Bresser-Pereira refere-se ao fato de a administração burocrática ser
lenta, onerosa e pouco orientada para o atendimento das necessidades dos
cidadãos.
Paralelamente ao esforço de racionalização da administração pública
realizado por meio da implantação das burocracias, o Estado nunca chegou a
livrar-se totalmente do patrimonialismo, pelo menos no que se refere ao caso
brasileiro. Enquanto a administração estatal avançava na criação de instituições
modernas, as camadas dirigentes e a classe política utilizavam suas posições
privilegiadas no intuito de assegurar vantagens econômicas pessoais e garantir
apoio político por meio do favorecimento de sua própria base política (Sorj,
2001).
Tendo em vista estas considerações teóricas e históricas sobre a
administração pública burocrática, podem-se traçar suas principais
características, conforme a Figura 7.
25
CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS 1. Formalidade Existência de regras escritas, estatutos, regulamentos,
documentação, dentre outras. 2. Impessoalidade Igualdade de acesso e tratamento das pessoas em relação
ao Estado. 3. Hierarquia Hierarquia funcional, especialização profissional, jornada
de trabalho definida e subordinação dos cargos às normas estabelecidas.
4. Disfunções Lentidão, onerosidade e pouco orientada para o atendimento das necessidades dos cidadãos
FIGURA 7 Características da administração pública burocrática.
3.3 A administração pública gerencial
O movimento gerencialista surge com o objetivo de suplantar a
administração burocrática e suas disfunções. Segundo Hood & Lodge (2004),
alguns autores apontam a administração pública gerencial como sendo a
transposição de práticas das empresas privadas para o setor público; outros, no
entanto, afirmam que esse processo é bem mais complexo, e que as grandes
reformas no setor público emergem a partir de pequenas reformas que
funcionam como uma espécie de “laboratório”, dentro de um complexo sistema
de governo, em que a transferência de práticas do setor privado para o público é
apenas uma das variáveis (Hood & Lodge, 2004).
Os dois principais exemplos da ascensão da administração pública
gerencial são os governos de Margareth Thatcher (1979-87), na Inglaterra, e o de
Ronald Reagan (1980-88), nos Estados Unidos. Tanto o modelo neoliberal de
administração de Thatcher quando o de Reagan podem ser caracterizados pela
utilização de ideias e ferramentas gerenciais com origem no setor privado.
O governo de Thatcher, por exemplo, tomou medidas relacionadas à
redução do número de funcionários públicos, com a consequente redução do
custo da administração; introduziu maior controle das melhorias e implantou
sistemas de avaliação de desempenho dos funcionários. Seu governo também
26
levou a cabo a privatização das empresas estatais, criou agências executivas e
terceirizou os serviços públicos, descentralizando, dessa forma, as atividades do
Estado e estabelecendo divisão entre o planejamento e a execução no governo. O
modelo britânico se tornou um referencial para as reformas realizadas em outros
países a partir dos anos 1980 e foi chamado de “Nova Administração Pública”
(Paula, 2005). Ao mesmo tempo, nos Estados Unidos, o governo de Ronald
Reagan deu continuidade à ruptura com o modelo keynesiano iniciada por seu
antecessor, Jimmy Carter, que implementou políticas monetaristas
antiinflacionárias e iniciou a desregulamentação da economia. Reagan também
promoveu uma maior descentralização do Estado, realizando privatizações e
terceirizações (Paula, 2005).
De maneira geral, as principais doutrinas da ‘Nova Administração
Pública” podem ser citadas como: (1) maior independência da gestão pública;
(2) maior participação de organizações privadas na gestão; (3) delegação de
atividades; (4) separação entre administração e política; (5) maior autonomia na
tomada de decisões; (6) suprimento de recursos entre e intra organizações; (7)
valorização das habilidades gerenciais; (8) contratação via terceirização; (9)
meritocracia; (10) preferência por remuneração variável ou por resultados; (11)
estrutura pluriforme e (12) utilização de medidas de desempenho para controle
(Hood & Jackson, 1991 citado por Barzelay, 2000).
Em relação aos pontos acima expostos, pode-se observar certa
continuidade de princípios em relação à Administração Burocrática e suas
características.
A “Nova Administração Pública”, ao absorver, na esfera pública, uma
mistura de ideias advindas da administração empresarial e da economia
institucional, encontra-se como em um casamento entre indivíduos com
diferentes atitudes, crenças e, assim, pontos de vista frequentemente sob tensão
(Aucoin, 1990 citado por Hood, 2001).
27
Hood (2001) vai além ao afirmar que existem diferentes nuances no
significado do termo “Nova Administração Pública”, fazendo uma analogia
interessante: “Just as Eskimos are said to have many different terms to
distinguish different types of snow, we need more words to describe the cultural
and technical variety of contemporary managerialism” (Hood, 2001, p. 12555).
Assim, o termo “Nova Administração Pública” pode ser utilizado não
apenas em relação às reformas empreendidas por governos neoliberais, mas
também em relação às reformas posteriormente empreendidas pelos governos de
cunho social-democratas (Hood, 2001). Nesse sentido, o modelo neoliberal
passa por um movimento de evolução, com a ascensão ao poder, na década de
1990, de políticos social-democratas, tanto na Europa (Lionel Jospin, na França,
Wim Kok, na Holanda e Romano Prodi, na Itália) quanto nos Estados Unidos
(Bill Clinton). Além desses nomes, a vitória do Partido Trabalhista na Inglaterra,
com Tony Blair, foi de grande importância para a consolidação de uma nova
política, chamada de Terceira Via (Giddens, 1999).
Giddens (1999) considera estes dois modelos de governo, a social-
democracia e o neoliberalismo, e propõe uma alternativa em relação a eles: a
Terceira Via. Enquanto a social-democracia considerava importante a segurança
econômica e o neoliberalismo buscava competitividade na geração de riqueza, a
Terceira Via ocupa-se em aliar o dinamismo do mercado com a questão do
interesse público. Ainda para este autor, enquanto os neoliberais defendem um
Estado mínimo e os sociais-democratas desejam expandir o poder do Estado, a
política da Terceira Via se propõe a reconstruí-lo.
Giddens (2001) coloca a Terceira Via como uma tentativa de
modernização do Estado, diferente do neoliberalismo. Em oposição, Paula
(2005) afirma que a Terceira Via preserva as premissas econômicas e morais
idênticas às do neoliberalismo, guardadas as devidas proporções. Para esta
autora, Giddens “converte as recomendações neoliberais em políticas
28
progressistas” (Paula, 2005, p. 75), sendo, assim, assimiláveis pela “nova
esquerda”4.
Em paralelo ao desenvolvimento da Terceira Via na Europa, surgiu, nos
Estados Unidos, o movimento “Reinventando o Governo”, baseado nas ideias
contidas no livro homônimo de Osborne & Gaebler (1995), que propunha um
conjunto de ideias e práticas para a administração pública, inspiradas no
gerencialismo.
Osborne & Gaebler (1995) estabelecem um conjunto de dez princípios
que levariam a uma reinvenção do governo, a saber: (1) um governo catalisador,
que assegure a prestação de serviços aos cidadãos; (2) um governo que pertence
à comunidade, dando responsabilidades aos cidadãos em vez de meramente
servi-los; (3) um governo competitivo, que incentiva a competição na prestação
de serviços públicos; (4) um governo orientado por missões, transformando os
órgãos burocráticos; (5) um governo de resultados, financiando resultados e não
recursos; (6) um governo que atenda às necessidades de seus clientes e não da
burocracia; (7) um governo empreendedor, que gere receitas ao invés de
despesas; (8) um governo preventivo, que se antecipe estrategicamente; (9) um
governo descentralizado, que vá da hierarquia à participação e ao trabalho em
equipe e (10) um governo orientado para o mercado.
Paula (2005) afirma que este movimento possui o mesmo conjunto de
ideias e práticas do neoliberalismo. Para essa autora, o “Reinventando o
Governo” enfatiza a questão da eficiência, em detrimento de aspectos
sociopolíticos, além de ajudar a enfatizar algumas crenças, como a de que o
setor privado é mais eficiente e, outrossim, suas técnicas e práticas devem ser
4 “Do mesmo modo que os conservadores [na Inglaterra] adotaram as ideias liberais para fundar uma ‘nova direita’, os trabalhistas as acolheram para fundar uma ‘nova esquerda’, inaugurando o novo trabalhismo” (Paula, 2005, p. 71) “Giddens também coloca em questão a distinção entre direita e esquerda, mas não a descarta, pois caracteriza a terceira via como centro-esquerda ou esquerda moderna, ou ainda como uma manifestação da ‘nova esquerda’” (Paula, 2005, p. 72)
29
aplicadas no setor público. A autora também enfatiza o caráter de continuidade
entre as práticas do neoliberalismo e o movimento “Reinventando o Governo” e
a política da Terceira Via.
Segundo o texto do Plano Diretor da Reforma do Estado Brasileiro, de
1995, uma estratégia de administração pública gerencial relaciona-se
diretamente a três pontos. O primeiro refere-se à definição de objetivos que o
administrador público deverá atingir em sua unidade. O segundo ponto foca a
garantia de autonomia para o administrador público no que tange à gestão dos
recursos humanos, materiais e financeiros à sua disposição para a consecução
dos objetivos fixados. O terceiro faz menção ao controle a posteriori dos
resultados. São ainda de suma importância para uma estratégia de Administração
Pública Gerencial a competição administrada no interior do próprio Estado, a
descentralização e a redução dos níveis hierárquicos da estrutura organizacional,
a maior participação dos agentes privados ou organizações da sociedade civil e o
deslocamento da ênfase dos processos para os resultados (Brasil, 1995).
O gerencialismo fundamenta-se, dessa forma, na descentralização das
decisões e funções, exigindo maior flexibilidade da gestão, maior
horizontalização de estruturas e incentivo à criatividade. Considerando-se esses
pontos, contrapõe-se ao formalismo e ao rigor técnico da burocracia. Preserva,
no entanto, algumas de suas características, tais como a avaliação sistemática, a
meritocracia e a capacitação permanente, acrescentando a estas novos valores,
como orientação para o cidadão, controle por meio dos resultados e competição
administrada (Brasil, 1995).
Na Figura 8 estão resumidas algumas categorias, a partir das quais pode
ser evidenciada a atuação do gerencialismo, com base na revisão desenvolvida
neste tópico e também no item 2.1.4. Tais categorias serão utilizadas no desenho
dos indicadores a que se propõe esta pesquisa.
30
CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS 1. Recursos humanos Maior flexibilidade, downsizing, terceirizações,
capacitação dos recursos 2. Modernização da gestão
Descentralização, flexibilidade na gestão, horizontalização das estruturas, orientação para o cidadão
3. Orientação para o cidadão
Prestação de contas ao cidadão, accountability
4. Articulações interinstitucionais
Privatização, publicização, terceirizações, organizações sociais e conselhos, parcerias público-privadas
5. Equilíbrio fiscal Adequação dos custos às receitas, limites estabelecidos para o endividamento
6. Capacidade de aplicação eficiente dos recursos
Redução dos custos e aumento na qualidade; eficiência; controle a posteriori dos resultados
FIGURA 8 Características da administração gerencial.
3.4 A administração pública societal
Em meio à tentativa de superação da burocracia pela administração
pública gerencial, surgiu uma nova perspectiva de administração, com origem
nos movimentos populares que emergiram no Brasil, durante a década de 1970 e
1980 e cujo ideal era tornar a administração pública mais popular e participativa
(Paula, 2003). Tais movimentos, apesar de bastante heterogêneos, reivindicavam
a ampliação da cidadania e o fortalecimento do papel da sociedade nas decisões
da vida política do país, rejeitando a ideia de ‘público’ como sinônimo de
‘estatal’ (Paula, 2005).
Esta vertente alternativa, chamada de administração pública societal
(Paula, 2005), tem por objetivo a ampliação da participação dos atores sociais na
definição de políticas, ampliando o controle social sobre as ações dos
governantes ( Paula, 2005). A administração pública societal possui os principais
exemplos de sua aplicação por meio de instrumentos como o orçamento
participativo, os fóruns temáticos e os conselhos gestores, instrumentos de uma
31
democracia participativa de cunho local, consistindo um desafio à
implementação de tais políticas em âmbito nacional (Paula, 2005).
Os fóruns temáticos constituem um novo tipo de espaço para a discussão
política. Surgiram no final da década de 1980, dando continuidade às
experiências proporcionadas pelas antigas Comunidades Eclesiais de Base
(CEB). Entre os fóruns, destacam-se: Fórum da Reforma Urbana, Fórum
Nacional da Participação Popular nas Administrações Municipais, Fórum
Intermunicipal de Cultura, Fórum Ação da Cidadania, Fórum Brasileiro de
ONGs, Movimentos Sociais para o Meio Ambiente e o Fórum Social Mundial,
por exemplo, de acordo com (Paula, 2005).
Os fóruns proporcionam a discussão de questões políticas com maior
fluidez e dinamismo, por meio de uma troca livre e aberta de ideias, pois inexiste
a pressão pela tomada de decisões (Paula, 2005).
Os conselhos gestores estão previstos na Constituição de 1988 e
possuem um papel deliberativo, inserindo a sociedade na formulação e na
implementação de políticas públicas (Paula, 2005). Os conselhos têm atuação
específica em uma determinada área, como educação, saúde, cultura, meio
ambiente etc.
O orçamento participativo consiste na participação da população em
discussões e na definição da destinação de recursos do orçamento público.
Vários municípios, como Mauá, SP; Ribeirão Pires, SP; Santo André, SP;
Recife, PE; Belo Horizonte, MG e o Distrito Federal, foram pioneiros na sua
utilização, quando governados por partidos ligados às frentes populares. No
entanto, a experiência mais emblemática e amadurecida é a do município de
Porto Alegre, RS (Paula, 2005).
Fedozzi (1997) descreve com detalhes a experiência do orçamento
participativo de Porto Alegre. De maneira geral, o município é dividido em 16
regiões geográficas e são estabelecidos espaços temáticos, como transporte e
32
circulação; educação, lazer e cultura; saúde e assistência social;
desenvolvimento econômico e tributação, e organização da cidade e
desenvolvimento urbano. Numa primeira rodada de discussões, realizam-se uma
prestação de contas, por parte do município, dos investimentos realizados no ano
anterior e sua avaliação pelos participantes. São também eleitos os delegados
que coordenarão os trabalhos. Em seguida, é realizada uma rodada preparatória
intermediária, em que cada região define suas prioridades, por meio de
negociação e votação. Finalmente, em uma segunda rodada, o governo
municipal apresenta sua previsão de despesa e receita e compõe-se um conselho
do orçamento participativo. O conselho, então, passa a se reunir para a
aprovação do orçamento (Fedozzi, 1997).
Observa-se a importância da participação popular nos instrumentos de
gestão Societal, bem como a necessidade de combinação entre democracia
deliberativa e participativa, como aponta (Paula, 2005).
No tocante à questão da participação popular, Bordenave (1986) afirma
que esta emerge devido ao descontentamento com a marginalização do povo em
relação aos assuntos de interesse da coletividade. Este autor afirma ainda que,
para os setores mais progressistas, a participação possibilita o crescimento da
consciência crítica da população, ao passo que fortalece seu poder de
reivindicação e a prepara para adquirir mais poder na sociedade. A participação
garante, ainda, maior controle e fiscalização das autoridades por parte dos
cidadãos.
Ao mesmo tempo, Bordenave (1986) conceitua democracia participativa
como aquela em que os cidadãos sentem que, por fazerem parte de uma
sociedade, têm parte real na condução de tal sociedade e, por conseguinte,
tomam parte, cada qual em seu próprio ambiente, na construção de uma nova
sociedade da qual se sentem parte. Tal visão corrobora as iniciativas locais da
administração pública societal, pois, segundo este autor, a construção de uma
33
sociedade participativa é formada por um conjunto de microparticipações, desde
os grupos familiares, escola, trabalho, esporte, até a comunidade, constituindo o
caminho para uma participação em nível macro na sociedade.
Demo (1993) propõe a construção de uma política social vista sob a ótica
dos interessados, ou seja, da população em geral, organizada politicamente para
tal construção. Este autor ainda traz à discussão a questão da precariedade da
cidadania, que pode ser um entrave para esta participação popular.
Uma das limitações na implantação da administração pública societal
pode relacionar-se com a visão de Dallari (1994) sobre a participação política.
Este autor afirma que, comumente, concede-se à população a possibilidade de
participar em atividades políticas secundárias, mas que em nada afetam o poder
de decisão do grupo dominante e que, por outro lado, nega-se a esta mesma
população o direito de participar daquilo que é, de fato, importante para a
sociedade. Tendo em vista estas considerações acerca da administração pública
societal, apresentam-se, resumidamente, suas principais características na Figura
9.
CATEGORIAS CARACTERÍSTICAS 1. Orçamento participativo
Participação popular na definição de prioridades e destinação de recursos do orçamento municipal
2. Fóruns temáticos Participação popular na discussão política, por meio da troca livre e aberta de ideias
3. Conselhos gestores Inserção da sociedade na formulação e na implementação de políticas públicas, com papel deliberativo
FIGURA 9 Características da administração societal.
34
4 GERENCIALISMO E ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL
Neste capítulo, o objetivo é apresentar um panorama atual da utilização
do gerencialismo na experiência administrativa dos municípios brasileiros. Para
tanto, utiliza-se como base a produção científica nacional, representada pelo
Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação em Administração, ou
EnANPAD, congresso de maior expressão nacional da área de administração,
segundo a classificação Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES). O Qualis apresenta uma lista dos veículos
utilizados para a divulgação da produção científica dos programas de pós-
graduação strictu sensu, classificando-os quanto à circulação (local, nacional ou
internacional) e quanto à qualidade (A, B ou C).
Foram analisados os artigos publicados na divisão acadêmica
Administração Pública e Gestão Social, entre 2005 e 2008, e nas divisões Gestão
Pública e Governança e Políticas Públicas, em 2004, procurando abranger os
últimos cinco anos do encontro. Tal análise foi empreendida utilizando-se três
filtros: (1) leitura do título e resumo dos artigos, visando identificar a presença
da temática gerencialista; (2) classificação dos artigos entre as categorias de
análise do gerencialismo, levantadas na seção 3.3 e (3) análise dos artigos com o
objetivo de verificar quais deles se referem à temática no âmbito municipal,
descrevendo experiências e resultados encontrados.
4.1. O tema “gerencialismo” na produção científica nacional
Considerando-se o primeiro filtro, pode-se dizer que a temática
gerencialista encontra-se bastante presente na produção nacional. Temáticas
como responsabilidade fiscal, modernização da gestão, accountablility,
planejamento estratégico, eficiência, gestão de resultados, redução de custos,
qualificações dos funcionários e avaliação de desempenho, articulações com a
35
iniciativa privada e qualidade na prestação de serviços são algumas das quais se
ocupam artigos publicados nos anais do EnANPAD entre 2004 e 2008.
O gráfico da Figura 10 ilustra a quantidade e o percentual de artigos
identificados com temática gerencialista publicados no período especificado, em
face do total de artigos das áreas analisadas:
Artigos Publicados com Temática Gerencialista - EnANPAD 2004 a 2008
100 101
16 21 30 32
8 8 7 9 9
797687
28
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2004 2005 2006 2007 2008
Municipal
Gerencial
Total
FIGURA 10 Quantidade de artigos gerencialistas publicados no EnANPAD.
Observou-se que 32% dos artigos publicados em 2004 possuem temática
gerencialista, assim como 21% dos publicados em 2005, 26,5% dos de 2006,
30% dos de 2007 e 31,6% dos de 2008.
No tocante aos artigos de temática gerencialista que abordam o tema em
âmbito municipal, o percentual em relação ao total de artigos publicados ficou
em 9% em 2004, 10,5% em 2005, 8,8% em 2006 e 9% em 2007 e 2008, quando
relacionados com o total de artigos. Em relação ao total de artigos com temática
36
gerencialista, esse percentual gira em torno de 30%, exceção feita ao ano de
2005, em que 50% dos artigos com temática gerencialista prendem sua análise
ao âmbito municipal.
Considerando-se o segundo filtro empreendido, os artigos puderam ser
classificados segundo as temáticas gerencialistas utilizadas como base neste
trabalho, especificadas no item 3.3. Cabe observar que alguns artigos puderam
ser classificados em mais de uma delas. A classificação obtida é apresentada na
Tabela 1.
TABELA 1 Número de artigos do EnANPAD por temáticas gerencialistas 2004 2005 2006 2007 2008 TOTAL % 1. Recursos humanos
5 0 6 3 5 19 12,93
2. Modernização da gestão
6 4 4 8 11 33 22,45
3. Orientação para o cidadão
3 3 2 5 6 19 12,93
4. Articulações institucionais
5 3 4 5 2 19 12,93
5. Equilíbrio fiscal 8 8 3 8 7 34 23,13 6. Capacidade de aplicação dos recursos
5 4 6 3 2 20 13,61
TOTAL 32 22 25 32 33 147 100
Os artigos da categoria Recursos humanos estão relacionados à questão
da qualificação dos funcionários públicos, à avaliação de desempenho,
treinamento e terceirização, enquanto na categoria Modernização da gestão os
temas mais recorrentes são maior agilidade da administração pública e mudanças
na estrutura organizacional.
Quanto à categoria Orientação para o cidadão, a quase totalidade dos
artigos refere-se à accountability, ou seja, à transparência e à prestação de contas
dos atos públicos à sociedade e também ao e-governo.
37
Os artigos da temática referente a Articulações interinstitucionais
referem-se a parcerias público-privadas, parcerias com organizações não-
governamentais e agências reguladoras.
Quanto ao equilíbrio fiscal, a temática privilegiada nos artigos
encontrados refere-se à discussão e aplicação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Os artigos pertencentes à temática capacidade de aplicação eficiente dos
recursos fazem referência à eficiência no setor público, à gestão de resultados,
ao incremento nas receitas públicas e à qualidade na prestação de serviços.
Desse modo, as categorias utilizadas na construção dos indicadores do
presente trabalho, apresentadas no Capítulo 6, encontram-se em harmonia com
as características do gerencialismo levantadas na revisão bibliográfica e também
com a produção científica nacional vinculada ao gerencialismo.
4.2 A produção científica sobre gerencialismo no âmbito municipal
O terceiro filtro aplicado, cujo intuito é a análise dos artigos
gerencialistas focados nos municípios, permitiu que fosse encontrada a
quantidade total de 41 artigos, compreendidos entre 2004 e 2008.
Os quadros seguintes têm por objetivo dar uma visão geral de tais artigos
em cada um dos encontros, permitindo visualizar o caminho o qual tem seguido
a produção científica nacional.
No encontro de 2004, foram encontrados oito artigos com temáticas
gerencialistas em âmbito municipal. Os títulos de cada trabalho, que serão em
seguida resumidos, encontram-se na Figura 11.
38
Título/Autores 1 “Conhecimento e mecanismos de defesa como variáveis interventivas na prática de
competências gerenciais no setor público” (Felix, 2004) 2 “Coalisão entre a sociedade e a Câmara Mun. de Florianópolis, através da melhoria
da prestação de serviços: um estudo de caso” (Alves; Costa; Cardoso, 2004) 3 “Uma análise para definição de condições mínimas de gestão financeira/contábil de
municípios no estado de Pernambuco/Brasil” (Santos; Fragoso; Vasconcelos, 2004) 4 “Alinhamento da tecnologia da informação ao planejamento municipal: análise da
prática de gestão de uma prefeitura” (Rezende, 2004) 5 “A relação (in)existente entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social nos
municípios paulistas” (Ortolani; Campello; Matias, 2004) 6 “Qualificações e competências básicas dos servidores públicos das cidades do
estado de São Paulo” (Saikovitch; Monobe; Beviláqua Filho, 2004) 7 “A parceria do poder público com as associações de coleta seletiva analisada sob a
ótica dos custos de transação: um estudo de caso na cidade de Londrina-PR” (Souza et al, 2004)
8 “Atrair empresas industriais: um desafio para os municípios da região metropolitana de Campinas” (Alves, 2004)
FIGURA 11 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD (2004).
Felix (2004) fez uma avaliação do programa de desenvolvimento de
gestores da Prefeitura Municipal de Curitiba, em que buscou verificar o impacto
de tal programa, no que se refere à aquisição de conhecimento por parte dos
gestores, bem como sobre a prática da gestão.
Alves et al. (2004) apresentam, em trabalho realizado junto à Câmara
Municipal de Florianópolis, ações capazes de proporcionar maior integração
entre a Câmara e a sociedade, buscando a melhoria na prestação de serviços por
parte da instituição.
Santos et al. (2004) preocuparam-se com as condições financeiras e
contábeis mínimas necessárias para a existência de municípios e desenvolveram
um modelo quantitativo para os municípios do estado de Pernambuco.
Rezende (2004) verificou o alinhamento da tecnologia da informação ao
planejamento estratégico de um município de grande porte, desenvolvendo a
aplicação de um modelo através de análises quantitativas e qualitativas.
39
Ortolani et al. (2004), tomando como objeto de pesquisa os municípios
paulistas, debateram sobre a Lei de Responsabilidade Fiscal, explorando a
questão da relação entre responsabilidade fiscal e responsabilidade social. Foram
coletados dados dos municípios, no intuito de verificar a identificação entre
indicadores fiscais e sociais.
Saikovitch et al. (2004) realizaram pesquisa com os funcionários
municipais graduados em 349 municípios do estado de São Paulo, buscando
verificar suas qualificações e competências básicas. O trabalho contém um
conjunto de questões que versam sobre qualificações importantes para o
atendimento das necessidades da população.
Souza et al. (2004) analisaram a parceira da Prefeitura Municipal de
Londrina com as associações de coleta seletiva do lixo, sob a ótica dos custos de
transação. Os resultados encontrados pelos autores apontam ganhos econômicos
oriundos das mudanças nos arranjos institucionais do processo de coleta seletiva,
a partir da parceria.
Alves (2004) avaliou a efetividade das estratégias formuladas e
implementadas nos municípios da região metropolitana de Campinas, com o
objetivo de atrair empresas industriais, identificando aquelas que obtiveram
melhor resultado. O artigo almeja ser um instrumento útil para formulações de
planejamento estratégico e decisões locacionais dos municípios, no tocante à sua
política industrial.
No ano de 2005, novamente foram encontrados oito artigos que
satisfizeram o requisito de abordar temáticas gerencialistas em âmbito
municipal. Na Figura 12 são apresentados os títulos de cada trabalho que, em
seguida, são resumidos.
40
Título/Autores 1 “Audiências Públicas: Local possível para Avaliação de Serviços e Exercício da
Cidadania? Convênios entre o Gov. Mun. de SP e as Organizações Sociais” (Ramos, 2005).
2 “Instituições e Gasto Público: Um Estudo das Despesas com o Poder Legislativo nos Municípios Mineiros” (Nascimento, 2005).
3 “O Impacto da LRF sobre as Despesas Municipais para os Municípios do Sudeste” (Toneto Junior; Menezes, 2005).
4 “Governo Eletrônico, Transparência e Democracia: A Publicização das Contas Públicas das Capitais Brasileiras” (Prado; Loureiro, 2005).
5 “Uma classificação dos municípios no Estado de SP de acordo com o desempenho fiscal” (Calife, 2005).
6 “A Economia dos Custos de Transação na Análise da Coleta Seletiva em Londrina: um Estudo de Caso” (Reis et al, 2005).
7 “Percepção de Administradores Públicos da Região do Grande ABC Paulista em Relação às Parcerias Público-Privadas” (Silva; Okabayashi; Gil, 2005).
8 “O Emirado Fluminense: Novos Desafios para a Gestão dos Recursos Advindos da Exploração e Produção de Petróleo nos Municípios Confrontantes da Bacia de Campos” (Alves; Zamot, 2005).
FIGURA 12 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD (2005).
Ramos (2005) considera os convênios entre o governo municipal de São
Paulo e as organizações sociais, por meio do processo adotado pela Secretaria
Municipal de Assistência Social do município, as audiências públicas.
Nascimento (2005) realizou um estudo sobre as despesas dos municípios
mineiros com o Poder Legislativo. O autor investiga o porquê do sucesso da
emenda constitucional que limita as despesas nos legislativos municipais, apesar
dos incentivos ao aumento do gasto destacados pela literatura sobre o tema.
Toneto Junior & Menezes (2005) analisam o impacto da Lei de
Responsabilidade Fiscal sobre as despesas dos municípios da região sudeste.
Para tanto, baseiam sua análise na descrição dos dados de receita, despesa e
resultado.
Prado & Loureiro (2005) consideraram a publicização das contas
públicas a partir do governo eletrônico nas capitais estaduais brasileiras. Os
autores analisam, de maneira especial, as informações disponíveis nos websites
41
governamentais relativas à prestação de contas, considerando o cumprimento da
Lei de Rersponsabilidade Fiscal e leis relativas às contas púbicas.
Calife (2005) considerou o universo dos municípios do estado de São
Paulo de acordo com o seu desempenho fiscal, procurando identificar a
existência de grupos homogêneos de municípios.
Reis et al. (2005) realizaram um estudo de caso no município de
Londrina, PR, analisando a parceria entre a administração pública municipal e as
organizações do terceiro setor, sob a ótica dos custos de transação, na coleta de
lixo seletiva.
Silva et al. (2005) realizaram estudo buscando verificar a percepção de
gestores públicos da região do Grande ABC paulista, no que se refere às
parceiras público-privadas. As PPPs são aceitas pelos gestores por constituírem
a única opção viável diante do alto nível de endividamento do setor público e o
desafio consiste na escolha de parceiros adequados ao muncípio.
Alves & Zamot (2005) buscaram verificar em que medida os royalties do
petróleo têm contribuído para o desenvolvimento dos municípios da bacia de
Campos. O aumento da arrecadação municipal poveniente dos royalties tem sido
utilizado para o provimento dos serviços municipais, no entanto, inexiste uma
estratégia a longo prazo que garanta uma atividade econômica sustentável após a
exaustão das reservas petrolíferas.
No EnANPAD (2006), sete artigos foram classificados como abordando
temáticas gerencialistas em âmbito municipal. Na Figura 13 são apresentados os
títulos de cada trabalho e, em seguida, mostra-se uma visão geral de cada um
deles.
42
Título/Autores 1 “Lei de Responsabilidade Fiscal, Transferências e a Arrecadação Própria dos
Municípios Brasileiros” (Moura Neto & Palombo, 2006). 2 “Governo Eletrônico: Uma Análise Quantitativa do Uso de Sistemas de Informação
em Prefeituras” (Oliveira, 2006). 3 “Resultados Notáveis na Adm. Pública: Avaliação de Programas Utilizando Mapas
Estratégicos e o Balanced Scorecard” (Silva Neto et al., 2006). 4 “Mapeamento da Eficiência do Investimento em Educação: uma tentativa de
avaliação para municípios” (Alves et al., 2006). 5 “Percepção de Gestores Públicos Brasileiros Acerca da Aplicabilidade do Study 12
do IFAC na Administração Pública Gerencial” (Diniz et al., 2006). 6 “Efeitos dos Gastos Públicos sobre o PIB: um teste empírico nos Municípios do
Estado do Espírito Santo” (Santana &Teixeira, 2006). 7 “Desenvolvimento metodológico e aplicação de um índice de accountability aos
municípios catarinenses” (Silveira & Silveira, 2006). FIGURA 13 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD (2006).
Moura Neto & Palombo (2006) exploraram os impactos da Lei de
Responsabilidade Fiscal e das transferências intergovernamentais federais e
estaduais sobre a arrecadação própria dos municípios brasileiros.
Oliveira (2006) estudou os municípios do estado do Rio Grande do Sul,
no que se refere ao uso de sistemas de informação nas prefeituras, considerando
alguns aspectos e premissas contidas nos conceitos de e-governo.
Silva Neto et al. (2006) propõem um mapa estratégico a partir da
metodologia do Balanced Scorecard, para o programa Morar Melhor, da
Prefeitura Municipal de Porto Velho (RO), buscando avaliar este programa com
a premissa de agregação de valor à sociedade.
Alves et al. (2006) analisaram a eficiência dos investimentos em
educação em 241 municípios do estado de Goiás, considerando o processo de
descentralização, democratização e municipalização que o Brasil vem sofrendo
desde a Constituição de 1988.
43
Diniz et al. (2006) consideram a percepção de prefeitos e assessores
contábeis dos municípios do estado da Paraíba acerca da aplicação do sistema de
custo do Study 12 do IFAC, na administração pública gerencial.
Santana & Teixeira (2006) realizaram sua pesquisa nos municípios do
estado do Espírito Santo, buscando analisar a relação entre o PIB per capita e os
gastos sociais de cada município.
Silveira & Silveira (2006) desenvolveram um índice municipal de
accountability e o aplicaram experimentalmente nos municípíos do estado de
Santa Catarina. Os resultados obtidos pelos pesquisadores revelam aspectos
relacionados à transparência das ações públicas, ao exercício da cidadania e ao
controle social.
No encontro de 2007, a análise apontou nove artigos cuja temática pode
ser enquadrada como gerencialista e o objeto de estudo refere-se ao âmbito
municipal. Tais artigos encontram-se dispostos na Figura 14.
Título/Autores 1 “Instrumentos que Regulam a Prestação de Serviços realizada em parceria com o
Gov. Mun. de SP e as Organizações Sociais: Avanços e Desafios” (Ramos, 2007) 2 “Ajustes e tendências no comportamento fiscal dos municípios paulistas: a Lei de
Responsabilidade Fiscal ‘pegou’?” (Vazquez, 2007). 3 “Eficácia Orçamentária Municipal: Os Impactos Produzidos Pela LRF” (Santana et
al., 2007). 4 “O Processo de Implantação da Gestão de Projetos em Órgãos Públicos: um Estudo
de Caso na Prefeitura Municipal de Dourados, MS” (Cintra & Vieira, 2007). 5 “O Impacto da LRF nos Orçamentos: Uma Análise do Desempenho Financeiro dos
Municípios no RS de 1997 a 2004” (Santos & Alves, 2007). 6 “Captura dos recursos públicos por meio do gasto com pessoal: evidências e
reflexões para o caso dos municípios mineiros” (Campos, 2007). 7 “Descentralização e Gestão Local: uma Análise do Desenho e Implementação do
Programa SOMMA em Municípios Mineiros” (Carneiro & Brasil, 2007). 8 “Esforço de Arrecadação Tributária nos Municípios da Zona da Mata Mineira”
(Souza et al., 2007). 9 “Cenários e Planejamento Municipal” (Gouvêa, 2007). FIGURA 14 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD (2007).
44
Ramos (2007) analisou os instrumentos que regulam a parceria entre a
Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social do Município de
São Paulo e as organizações sociais, para a prestação de serviço à população
cuja execução seja realizada por meio da celebração de convênios.
Vazquez (2007) parte de um questionamento interessante: “a Lei de
Responsabilidade Fiscal ‘pegou’?”, para avaliar a gestão fiscal dos municípios
do estado de São Paulo, verificando se houve convergência em direção a um
ajuste fiscal e em que momento tal ajuste ocorre.
Santana et al. (2007) também trabalharam com a recorrente Lei de
Responsabilidade Fiscal, objetivando desenvolver uma proposta metodológica
de análise dos impactos gerados por esta lei, no que diz respeito à eficácia
orçamentária municipal, em 24 municípios do estado da Paraíba.
Cintra & Vieira (2007) realizaram um estudo de caso na Prefeitura
Municipal de Dourados (MS), buscando levantar o processo de implantação da
gestão de projetos, como ferramenta de gestão municipal.
Santos & Alves (2007) empreenderam uma análise descritiva e
econométrica dos resultados anuais dos orçamentos e do desempenho financeiro
dos municípios do estado do Rio Grande do Sul, avaliando o impacto da Lei de
Responsabilidade Fiscal.
Campos (2007) analisou as finanças dos municípios do estado de Minas
Gerais, buscando identificar as transferências intergovernamentais como um
componente majoritário da receita destes. O autor aponta o FUNDF como um
modelo que gera externalidade positiva, reduzindo a captura de recursos
públicos no gasto com pessoal.
Carneiro & Brasil (2007), também estudando os municípios do estado de
Minas Gerais, abordaram o Programa de Saneamento Ambiental, Organização e
Modernização (SOMMA) dos municípios mineiros. Este programa busca a
45
promoção do fortalecimento das finanças municipais, intervindo no
desenvolvimento institucional, na infraestrutura e no meio ambiente.
Souza et al. (2007) objetivaram, por meio de seu trabalho, estimar o grau
de dependência financeira em relação às transferências intergovernamentais e
mensurar o esforço de arrecadação tributária dos municípios da região da Zona
da Mata Mineira.
Gouvêa (2007) descreve a técnica de planejamento municipal com a
utilização de cenários, apresentando suas principais vantagens e um estudo de
caso em dois municípios: Vitória (ES) e Piracicaba (SP).
Por fim, no encontro realizado em 2008, mais nove artigos se enquadram
na temática gerencialista, tendo por objeto de estudo a esfera municipal,
conforme a Figura 15.
Título/Autores 1 “Sociedade da Informação e Democracia: Procurando a Accountability em Portais
Municipais da Bahia” (Amaral & Pinho, 2008). 2 “Organizações Públicas Governamentais em processo de mudança e seu quadro de
funcionário: Incentivos, Motivações e Desmotivações” (Ramos & Silva Junior, 2008). 3 “Transposição de Tecnologias de Gestão para a Administração Pública: o Processo de
Implementação do Planejamento Estratégico em um Município de Médio Porte “(Bergue, 2008).
4 “Gestão Pública Municipal: Análise do Processo de Mudança Estratégica de um Mun. da Reg. Noroeste do Estado do RS” (Marin Filho et al., 2008).
5 “O impacto da LRF sobre os pequenos municípios: o caso do PR” (Gerigk et al., 2008).
6 “Análise das Deficiências e Possibilidades de Melhorias na Gestão Pública Social: uma Experiência na Secretaria Municipal de Assistência Social de Viçosa – MG” (Ferreira et al., 2008).
7 “Planos e Planejamentos Municipais Integrados com Sistemas de Informação e Tecnologia da Informação em 101 Municípios Brasileiros” (Rezende, 2008).
8 “Eficiência Econômica de Municípios Paulistas na Área da Saúde e o Perfil dos Financiamentos dos Gastos Públicos: uma abordagem com o uso de Data Envelopment Analysis (DEA) e Regressão Tobit” (Varela et al., 2008).
9 “A Utilização de Sistemas de Custos na Administração Pública Municipal: um estudo sob o enfoque comportamental” (Diniz et al., 2008).
FIGURA 15 Artigos gerencialistas municipais – EnANPAD (2008).
46
Amaral & Pinho (2008) estudaram casos de 20 websites de municípios
do estado da Bahia, investigando o nível de accountability promovido por cada
um dos municípios.
Ramos & Silva Junior (2008) estudaram a Supervisão de Assistência
Social/Penha e seu quadro de funcionários, como organização pública
responsável pela execução da Política de Assistência Social na região Penha, em
São Paulo (SP). Os autores fazem uma reflexão sobre a importância de estudar
os sentimentos e as reações dos funcionários públicos em períodos nos quais
propostas de trabalho podem alterar as formas de sua inserção nas organizações
e as condições concretas em que o trabalho é desenvolvido.
Bergue (2008) considera a implementação do planejamento estratégico
em um município de médio porte, a partir de uma ótica da transposição de
técnicas de gestão para a administração pública.
Marin Filho et al. (2008) analisaram as mudanças organizacionais pelas
quais passou um município da região noroeste do estado do Rio Grande do Sul,
identificando as estratégias envolvidas em tais mudanças.
Gerick et al. (2008) verificaram o impacto da Lei de Responsabilidade
Fiscal sobre os municípios de pequeno porte (população até 20 mil habitantes)
do estado do Paraná, considerando-se indicadores financeiros, econômicos,
sociais e de gestão.
Ferreira et al. (2008) buscaram levantar a situação da Secretaria
Municipal de Assistência Social de Viçosa (MG) em relação à sua gestão e às
possibilidades de melhoria.
Rezende (2008) analisou a integração, o alinhamento e as contribuições
dos sistemas de informação e da tecnologia de informação no planejamento e
gestão municipal, considerando-se o universo de 101 municípios brasileiros.
Varela et al. (2008) realizaram levantamento e explicaram as diferenças
de desempenho de municípios do estado de São Paulo quanto à eficiência na
47
aplicação de recursos públicos nas ações de saúde, em função do perfil de
financiamento dos gastos nessa área.
Diniz et al. (2008) verificam a percepção dos prefeitos dos municípios
do estado da Paraíba quanto à utilização de sistemas de custos na administração
dos municípios, considerando-se a sua concepção conceitual e sua aplicação.
48
5 INDICADORES NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Neste capítulo são referenciadas as pesquisas que serviram de inspiração
e base teórica para este trabalho, a saber: (1) Comunidade e democracia, de
Robert Putnam, cuja metodologia foi de particular importância; (2) Forças e
fraquezas dos municípios de Minas Gerais, de Paulo Haddad, com papel
fundamental no entendimento da região e na definição dos indicadores; (3) O
Zoneamento Ecológico-Econômico de Minas Gerais, ZEE-MG, de onde foram
retiradas as principais variáveis e indicadores e que também trouxe respaldo
metodológico a esta pesquisa; (4) a Pesquisa de Informações Básicas
Municipais, do IBGE, importante fonte de alimentação dos dados do ZEE-MG e
(5) o Índice Mineiro de Responsabilidade Social, elaborado pela Fundação João
Pinheiro e cuja relevância reside no fato de conter dados específicos sobre os
municípios mineiros.
5.1 Indicadores e desempenho dos governos regionais da Itália
Putnam (2007) conduziu, por mais de vinte anos, uma pesquisa juntos
aos governos regionais na Itália, desde a sua criação, em 1970, apurando como
estas instituições se desenvolveram e se adaptaram à sociedade, avaliando seu
desempenho e efetuando comparações entre elas.
Este autor analisou o processo de criação e desenvolvimento dos vinte
governos regionais italianos que, com o tempo e a promulgação de leis
específicas, haviam se tornado responsáveis por áreas como assuntos urbanos,
agricultura, habitação, saúde, obras públicas, educação e desenvolvimento
econômico. Para tanto, tomou por base alguns dos pressupostos da nova teoria
institucional, a saber: (1) as instituições moldam a política; (2) as instituições
são moldadas pela história e (3) o desempenho das instituições é moldado pelo
contexto social em que elas atuam (Putnam, 2007).
49
O autor aponta que a diferença de desempenho entre cada governo
possuía profundas raízes históricas, remetendo a questões mais amplas, como
desenvolvimento econômico, concepções da democracia e aspectos da vida
cívica local (Putnam, 2007). Nesse sentido, o autor pergunta se o simples
transplante de uma instituição democrática de um ambiente para outro garantirá
o seu pleno funcionamento ou se este deverá ser fruto de questões muito mais
amplas, sejam elas históricas, culturais ou cívicas.
O conceito de desempenho institucional desenvolvido por Putnam
baseia-se no seguinte modelo (Figura 16):
FIGURA 16 Modelo de desempenho institucional. Fonte: Adaptado de Putnam (2007).
Segundo esse modelo, as instituições governamentais recebem as
demandas do meio social e geram reações a ela. Quando o governo delibera
sobre o que fazer, isso gera uma opção de política que deve ser implementada, a
menos que o governo decida não fazer nada em relação à demanda da sociedade
(Putnam, 2007).
Putnam passa a questionar, então, quais seriam os critérios a nortearem
uma avaliação do desempenho dessas instituições para, em seguida, afirmar que,
em se tratando de um governo representativo, deveriam ser avaliadas a
Demandas sociais
Interação política
Governo Opção de política
Implementação
50
sensibilidade às demandas do eleitorado e a eficiência na gestão pública
(Putnam, 2007).
Nesse sentido, o autor estabelece quatro critérios que direcionam a
avaliação do desempenho das instituições públicas: (1) abrangência, pois uma
avaliação deve abranger todo o leque de atividades governamentais; (2)
coerência interna, referindo-se à compatibilidade dos indicadores às diversas
regiões; (3) confiabilidade, pois um conjunto de indicadores deve ser
razoavelmente duradouro ao longo do tempo e não refletir instabilidades e (4)
correspondência com os objetivos, referindo-se à comparação do desempenho
das instituições com a opinião de eleitores e líderes comunitários das regiões
estudadas (Putnam, 2007).
Foram, dessa forma, estabelecidos doze indicadores, procurando avaliar
a continuidade administrativa, as deliberações sobre as políticas e a
implementação das políticas em cada um dos governos regionais italianos. E,
sobre o conjunto de indicadores, Putnam (2007, p. 80) afere:
Tomado isoladamente, nenhum indicador é suficiente para estabelecer uma classificação imparcial das regiões. Conjuntamente, porém, os indicadores propiciam uma sólida avaliação do êxito ou fracasso das instituições.
Na Figura 17 são descritos os indicadores utilizados no estudo sobre os
governos regionais italianos.
51
Indicador/Variáveis Descrição 1. Estabilidade do gabinete
Número de diferentes gabinetes constituídos nas legislaturas 1975-80 e 1980-85
2. Presteza orçamentária
Data de aprovação pelo conselho regional, em média, do orçamento no período 1979-85
Co
ntin
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ade
adm
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roce
dim
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s
3. Serviços estatísticos e de informação
Classificação das regiões, de acordo com o nível de seus serviços estatísticos e de informação, incluindo postos de coletas de dados locais, processamento de estatísticas e análise por computadores
4. Legislação reformadora
Exame da produção legislativa no período 1978-1984, nas áreas de desenvolvimento econômico, planejamento territorial e ambiental e serviços sociais, buscando avaliar a abrangência da legislação, sua coerência e criatividade
Del
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ob
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5. Inovação legislativa
Tempo, em média, após o surgimento de uma lei modelar, que a região leva para adotar tal lei, considerando-se doze diferentes tópicos de análise
6. Creches Número de creches mantidas pela região, que estavam em funcionamento até dezembro de 1983
7. Clínicas familiares Número de clínicas familiares que estavam em funcionamento até maio de 1978, em relação à população regional
8. Instrumentos de política industrial
Quantidade de instrumentos de política industrial efetivamente utilizados, tais como: plano regional de desenvolvimento econômico, plano regional de utilização da terra, parques industriais, agências de financiamento do desenvolvimento regional, consórcios de desenvolvimento e comercialização industriais e programas de capacitação no emprego
9. Capacidade de efetuar gastos na agricultura
Parcela de recursos destinados à região pelo governo central e recursos efetivamente utilizados, entre 1978-80
10. Gastos com unidade sanitária local
Gastos per capita com Unidade Sanitária Local, em 1983, cinco anos após sua instituição por lei
11. Habitação e desenvolvimento urbano
Capacidade de efetuar gastos nessa área
Imp
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enta
ção
das
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as
12. Sensibilidade da burocracia
Qualidade e solicitude da resposta a um cidadão fictício sobre três problemas específicos, através de correio, contatos telefônicos e visitas pessoais
FIGURA 17 Iindicadores de desempenho dos governos regionais italianos. Fonte: Adaptado de Putnam (2007).
52
Putnam encerra a apresentação dos seus indicadores ressaltando suas
limitações, afirmando que nenhum indicador, isoladamente, seria capaz de
refletir todas as diferenças no desempenho institucional. Ressalta também
possíveis imprecisões na mensuração, diferenças de prioridades entre as regiões
e as múltiplas influências exercidas em cada uma das atividades institucionais
(Putnam, 2007).
No entanto, observa que, estatisticamente, o conjunto de indicadores se
mostra válido, efetuando-se uma análise fatorial dos componentes principais, na
qual se baseia seu índice de desempenho dos governos regionais italianos,
método estatístico muito semelhante ao utilizado pelo Zoneamento Ecológico-
Econômico do Estado de Minas Gerais.
5.2 Forças e fraquezas dos municípios mineiros
Haddad (2004) também desenvolveu um trabalho com indicadores de
desempenho, buscando identificar forças e fraquezas dos municípios do estado
de Minas Gerais, constituindo fonte de inspiração para esta pesquisa e que será
referenciado neste tópico, no que diz respeito aos indicadores por ele utilizados.
Haddad (2004) faz referência a três gerações de indicadores de desempenho
governamentais, conforme ilustrado na Figura 18.
53
FIGURA 18 Linha do tempo e evolução dos indicadores de desempenho. Fonte: Adaptado de Haddad (2004).
A primeira geração de indicadores surgiu a partir da necessidade de
maior acompanhamento das economias nacionais, nascida com a crise
econômica de 1929. Dessa forma, foram surgindo em diversas partes do mundo
indicadores de acompanhamento da conjuntura e do ambiente macroeconômico,
até que, na década de 1950, a Organização das Nações Unidas assumiu a
responsabilidade técnica para a normatização desses indicadores e sua
disseminação nos países menos desenvolvidos (Haddad, 2004).
A segunda geração de indicadores teve desenvolvimento de forma
intensa e rápida, a partir da institucionalização de organismos, tanto públicos
quanto privados, de coleta sistemática de dados até o início da década de 1960.
A motivação política para a criação de indicadores sociais surgiu com a
constatação de que os ciclos de crescimento econômico, a partir do final da
Segunda Guerra Mundial, haviam gerado desigualdades entre grupos sociais e
regiões. A Organização das Nações Unidas, por meio do PNUD, organizou o
1929
Primeira geração: indicadores de acompanhamento da conjuntura e do ambiente macroeconômico
Década de 1960
Segunda geração: indicadores relacionados à concepção e implementação de políticas públicas de natureza redistributiva de renda
Década de 1990
Terceira geração: indicadores relacionados ao desenvolvimento científico e tecnológico e às relações entre crescimento econômico e sustentabilidade ambiental
54
Índice de Desenvolvimento Humano, estimulando a utilização de indicadores
sócio-econômicos por todo o mundo (Haddad, 2004).
No que se refere à terceira geração de indicadores de desempenho
governamental, pode-se dizer que seu desenvolvimento está relacionado com a
maior necessidade de conhecimento do grau de desenvolvimento científico e
tecnológico, e também com a equalização de forças entre o crescimento
econômico e a sustentabilidade ambiental. Tais indicadores procuram conciliar
competitividade sistêmica, equidade social e qualidade do meio ambiente
(Haddad, 2004).
Haddad passa, então, a apresentar os indicadores que utiliza em seu
trabalho, preferencialmente relacionados com os propósitos da terceira geração e
cujos dados puderam ser obtidos para os municípios do estado de Minas Gerais.
Estes indicadores são relacionados na Figura 19.
55
Indicador Descrição 1. IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
Mede o nível de desenvolvimento sócio-econômico de cada município, considerando-se a longevidade da população, seu nível educacional e sua renda.
2. IDHM Renda Considera apenas o componente do IDHM referente à renda real per capita
3. IDHM Longevidade Considera apenas o componente do IDHM referente à longevidade da população, medida pela esperança de vida ao nascer
4. IDHM Educação Considera apenas o componente do IDHM referente ao nível educacional da população, medido pela taxa de alfabetização de adultos e a taxa combinada de matrícula nos três níveis de ensino
5. PIB per capita Mede o valor total de bens e serviços finais produzidos, por habitante
6. Índice de Qualidade Institucional Municipal (IQIM)
Composto por três conjuntos de subindicadores: grau de participação, capacidade financeira e capacidade gerencial. Quanto maior o grau de participação comunitária, a capacidade financeira do município e a capacidade gerencial do município, maior será o valor do IQIM
7. Índice do Potencial de Desenvolvimento do Município (IDPM)
Mede o potencial de desenvolvimento dos municípios, com base em 21 variáveis, agrupadas em conjuntos, como: variáveis inerentes aos setores industrial, comercial e a condicionantes urbanos; variáveis relacionadas às condições de vida; variáveis relacionadas com o setor agrícola, etc.
8. Índice de Exclusão Social
Mede qual o grau de inclusão/exclusão social em cada município. Quanto maior o índice, melhor a condição social do município
9. Índice de Pobreza Mede o percentual de chefes de família com rendimentos abaixo da linha que define a pobreza. Estabelece como parâmetro um valor monetário associado ao custo do atendimento das necessidades médias de uma pessoa
10. Índice de Desigualdade
Calculado por meio da razão entre a quantidade de chefes de família que ganham acima de dez salários mínimos e o número de chefes de família que ganham abaixo desse valor
FIGURA 19 Indicadores – forças e das fraquezas dos municípios de MG. Fonte: Adaptado de Haddad (2004).
É de particular interesse para a presente pesquisa o Índice de Qualidade
Institucional Municipal, o IQIM, desenvolvido, inicialmente, como referência
(Haddad, 2004), para o projeto de “Atualização dos Eixos Nacionais de
56
Integração e Desenvolvimento”, pelo Consórcio Monitor/Boucinhas e Campos
para o Ministério do Planejamento. Como descrito, anteriormente, no Quadro
10, este índice é composto por três conjuntos de subindicadores, que são
detalhados na Figura 20.
Existência de conselhos (4%) Conselhos instalados (4%) Conselhos paritários (7%) Conselhos deliberativos (7%)
Grau de participação (33%)
Conselhos que administram fundos (11%) Existência de consórcios (11%) Receita corrente x dívida (11%) Capacidade financeira (33%) Poupança real per capita (11%) IPTU ano da planta (8%) IPTU adimplência (8%) Instrumentos de gestão (8%)
IQIM
Capacidade gerencial (33%)
Instrumentos de planejamento (8%) FIGURA 20 Detalhamento do IQIM. Fonte: Haddad (2004).
Haddad prossegue seu trabalho buscando a construção de arquétipos dos
municípios de Minas Gerais, classificando-os segundo os indicadores
econômicos, sociais e político-institucionais (Haddad, 2004).
5.3 O ZEE-MG e seu componente institucional
O governo do estado de Minas Gerais adotou, a partir da eleição de
Aécio Neves, em 2002, um programa de mudanças sobre os métodos de gestão
na administração pública, cuja concepção envolveu uma “adequação
institucional para o desenvolvimento” e uma “perspectiva integradora de
políticas” públicas (Vilhena et al., 2006, p. 27).
O governo do estado priorizou 30 projetos estratégicos, chamados
projetos estruturadores, a comporem um portfólio de projetos a serem
57
contemplados com os recursos do estado (Vilhena et al., 2006), buscando
fornecer direção estratégica ao governo e menor dispersão dos recursos escassos.
É neste contexto que se encontra o Zoneamento Ecológico-Econômico,
como parte de um dos projetos estruturadores (PE 17). Sua premissa é “subsidiar
o planejamento e orientação das políticas públicas e das ações em meio ambiente
nas regiões, por meio de um macrodiagnóstico do estado”, utilizando critérios de
sustentabilidade econômica, social, ecológica e ambiental. (Carvalho et al.,
2008, p. 4).
Em âmbito nacional, o ZEE surgiu com a regulamentação da Lei nº
6.938, de 31 de agosto de 1981, art. 9, inciso II, por meio do Decreto Federal no
4.297, que estabelece critérios para o ZEE do Brasil (Minas Gerais, 2008a).
O ZEE do estado de Minas Gerais obedeceu às diretrizes metodológicas
estabelecidas pelo Ministério do Meio Ambiente e foi realizado em parceria com
a Universidade Federal de Lavras – UFLA (Minas Gerais, 2008b).
O objetivo geral do ZEE, é “contribuir para a definição de áreas
estratégicas para o desenvolvimento sustentável de Minas Gerais, orientando os
investimentos do governo e da sociedade civil segundo as peculiaridades
regionais” (Carvalho et al., 2008, p. 6).
Ainda segundo estes autores, os objetivos específicos do ZEE
relacionam-se a:
Definir estratégias de implementação do ZEE; subsidiar a elaboração de macro-políticas territoriais, de acordo com as diretrizes de planejamento estratégico de Minas Gerais e do Brasil; apoiar os empreendimentos estaduais, na implantação de políticas setoriais e infra-estrutura conexa; fornecer as regiões e municípios diagnósticos gerais e uma perspectiva global sobre a realidade do estado; incentivar estudos qualitativos e quantitativos sobre os recursos para aumentar a capacidade de análise dos projetos; elaborar bases para os modelos ambientais (naturais e antrópicos) e os cenários exploratórios; elaborar diagnósticos ambientais e prognósticos de impactos positivos e negativos; montar um
58
Banco de dados, em linguagem universal, com amplo acesso e facilidade de uso, contendo as informações temáticas primárias e secundárias; espacializar todas as informações cartográficas em um Sistema de Informações Geográficas; avaliar estrategicamente o desenvolvimento das Políticas Setoriais do Estado; definir áreas prioritárias para desenvolvimento, conservação e preservação (Carvalho et al., 2008, p. 6).
Carvalho et al. (2008) relacionam, ainda, as variáveis utilizadas para a
montagem do banco de dados do ZEE, que foram estudadas nesta pesquisa. As
variáveis foram utilizadas na formação de indicadores e os indicadores
referentes à potencialidade social foram dispostos em quatro componentes:
produtivo, natural, humano e institucional (Carvalho et al., 2008). Para os fins
desta dissertação, é de particular importância o componente institucional.
O componente institucional da potencialidade social representa a
“capacidade institucional dos municípios de atender aos cidadãos em suas
demandas, sejam de caráter social, ecológico, econômico, político ou cultural”
(Salazar et al., 2008).
O componente institucional avalia a presença, nos municípios, de
instituições ligadas ao atendimento público nos setores de saúde, educação, meio
ambiente, cultura, lazer, segurança e economia, dentre outros. Dessa forma, a
presença de instituições significa potencialidade, no que tange ao
desenvolvimento sustentável de um município.
O componente institucional do ZEE-MG foi dividido em seis fatores
condicionantes e em onze indicadores, como pode ser observado na Figura 21.
59
Componente Fatores condicionantes Indicadores
Gestão municipal
Gestão do desenvolvimento rural
Gestão ambiental municipal Capacidade institucional
Gestão cultural
Organizações jurídicas Presença de organizações jurídicas
Organizações financeiras Presença de organizações financeiras
Organizações de fiscalização e controle
Presença de organizações de fiscalização e controle
Organizações de ensino superior e ensino profissionalizante Organizações de ensino e
pesquisa Organizações de pós-graduação stricto-sensu e pesquisa
Unidades de defesa social
INSTITUCIONAL
Organizações de segurança pública Capacidade de aplicação da lei
FIGURA 21 Fatores condicionantes do componente institucional do ZEE-MG. Fonte: Salazar et al. (2008).
O fator condicionante, referente à capacidade institucional dos
municípios, é de particular interesse para o presente trabalho, pois os indicadores
que o compõem auxiliarão na consecução do objetivo proposto.
Segundo Salazar et al. (2008), a capacidade institucional dos municípios
busca situar as administrações públicas em diversos aspectos de sua gestão,
considerando-se que haja esforço para a modernização administrativa, a
estruturação e a consolidação de práticas de planejamento participativo e gestão
eficiente das contas públicas. Ainda para estes autores, configura-se, por meio
deste fator condicionante, a necessidade de se identificar a capacidade
institucional de gestão do município, verificando-se a presença de uma
administração voltada para o interesse público. Pode-se dizer, dessa forma, que
60
os indicadores deste fator podem relacionar-se a um modelo de administração
pública gerencial, em que a população pode ser vista como “consumidor” dos
serviços públicos e a administração deve buscar conhecer e atender as
necessidades deste “consumidor”.
5.4 A Pesquisa de informações básicas municipais do IBGE
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE vem
desenvolvendo, desde 2001, a Pesquisa de Informações Básicas Municipais, na
qual são levantadas informações sobre existência de serviços municipais,
finanças públicas e aplicação dos recursos, existência de programas sociais,
infraestrutura urbana, estrutura administrativa e instrumentos de planejamento
adotados pelas prefeituras, para todos os municípios brasileiros (IBGE, 2006)
Os dados sobre gestão pública dos municípios envolvem informações
sobre a estrutura administrativa, instrumentos de planejamento, recursos para a
gestão municipal, articulações interinstitucionais, habitação, transporte, cultura e
variáveis externas (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, 2006).
As principais informações disponibilizadas em relação aos temas acima
descritos estão ilustradas na Figura 22.
61
Tipo de informação Descrição 1. Informações sobre o atual prefeito
Nome, sexo, idade, mandato, escolaridade, partido atual e partido pelo qual foi eleito
2. Estrutura administrativa
Composição do quadro de funcionários da administração direta e indireta
3. Legislação e instrumentos de planejamento do município
Conselho municipal de política urbana, desenvolvimento urbano, da cidade ou similar; instrumentos de planejamento municipal e de política urbana
4. Recursos para a gestão municipal
Cadastro do IPTU e taxas instituídas
5. Articulações interinstitucionais
Articulações interinstitucionais nas áreas de educação, saúde, assistência e desenvolvimento local, direito da criança e do adolescente, emprego e trabalho, turismo, cultura, habitação, meio ambiente, transporte, desenvolvimento urbano, saneamento e manejo de resíduos sólidos
6. Habitação Conselho municipal de habitação; programas ou ações na área de habitação e regularização fundiária
7. Transporte Serviços de transporte no município por barco, metrô, moto táxi, táxi, trem, van e ônibus exclusivamente municipal
8. Cultura Conselho municipal de cultura, equipamentos culturais, grupo artístico, principais atividades artesanais e principais festas populares
9. Variáveis externas Região geográfica, região metropolitana, população e faixa de população
FIGURA 22 Informações – pesquisa de informações básicas municipais IBGE. Fonte: IBGE (2006).
5.5 O índice mineiro de responsabilidade social
O Índice Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS) representa uma
iniciativa do governo do estado de Minas Gerais que busca expressar o nível de
desenvolvimento de cada município mineiro, considerando-se dimensões como
educação, saúde, segurança pública, emprego e renda, demografia, gestão,
habitação, infraestrutura e meio ambiente, cultura, lazer e desporto (Fundação
João Pinheiro - FJP, 2005). O grande desafio em relação à construção do
índice foi a busca de um grau de simplicidade coerente com o IDH-M, mas que
garantisse informação de qualidade. Na sua composição foram utilizados cerca
de 40 indicadores, dispostos em oito dimensões diferentes. Em cada uma das
62
oito dimensões foram selecionados temas relevantes que pudessem retratar: a
situação existente, a atuação da gestão pública e as iniciativas vinculadas à
participação nas decisões (FJP, 2005).
Para a presente pesquisa, foi fundamental a utilização da dimensão
gestão do Índice Mineiro de Responsabilidade Social. Os objetivos dessa
dimensão de indicadores são: (1) avaliar as prioridades do município na oferta
de políticas públicas; (2) avaliar a capacidade do município em cumprir as
exigências legais, no que se refere à provisão de educação e saúde, equilíbrio
orçamentário, limites de gasto com pessoal e endividamento; (3) avaliar a
capacidade potencial que o município dispõe para o financiamento das políticas
e responsabilidades dispostas no item anterior e (4) avaliar a participação da
sociedade na gestão, por meio da atuação dos conselhos municipais (FJP, 2005).
A Figura 23 elenca os indicadores da Dimensão Gestão:
Cumprimento da legislação fiscal Índice de desenvolvimento tributário e econômico Receita líquida per capita Conselho de educação atuante Conselho de saúde atuante
Indicadores da dimensão gestão
Existência de dois outros conselhos atuantes FIGURA 23 Indicadores da dimensão gestão do IMRS. Fonte: FJP (2005).
No capítulo seguinte é apresentada a metodologia utilizada nesta
dissertação e a maneira como os índices e os indicadores apresentados neste
capítulo foram utilizados.
63
6 METODOLOGIA DE PESQUISA
O processo metodológico de desenvolvimento desta dissertação
encontra-se dividido em etapas distintas e complementares. A primeira delas
envolveu a definição do problema de pesquisa, o objetivo geral e os objetivos
secundários. Em seguida, foi feito um processo de revisão bibliográfica; logo
após, foi desenvolvido um referencial teórico necessário à construção dos
indicadores, para, por fim, definir-se o processo de desenho, tratamento e análise
de tais indicadores.
Estas etapas encontram-se inseridas no modelo de estrutura de pesquisa
de Malhotra (2006). Este autor apresenta uma estrutura de pesquisa genérica e
que pode ser utilizada em qualquer área da administração, não obstante seu livro
versar sobre pesquisa de marketing. Segundo este autor, uma pesquisa deve
possuir os seguintes componentes ou tarefas: (1) definição do problema de
pesquisa e suas abordagens; (2) concepção das fases exploratória e descritiva da
pesquisa; (3) especificação do procedimento de coleta de dados; (4)
especificação do processo de amostragem e o tamanho da amostra e (5)
desenvolvimento do plano de análise de dados.
O problema de pesquisa foi definido na introdução deste trabalho e
consiste em saber se os municípios adotam, na íntegra ou mesmo parcialmente, o
modelo de administração pública gerencial. Em consonância, o objetivo geral
desta dissertação é analisar a administração dos municípios do sul de Minas
Gerais, no sentido de identificar aqueles que adotam o modelo.
Malhotra (2006) define a utilização da pesquisa exploratória em casos
nos quais existe a necessidade de maior precisão na definição do problema ou de
obtenção de dados adicionais. Pode ainda ser utilizada no desenvolvimento de
hipóteses ou no estabelecimento de prioridades de pesquisa. Caracteriza-se por
um processo de pesquisa flexível e não estruturado. A pesquisa exploratória,
64
nesta dissertação, é representada pelo desenvolvimento da revisão bibliográfica e
do referencial teórico.
Hair Jr. et al. (2005a) consideram a importância de uma revisão da
literatura, no que se refere a uma melhor compreensão da questão de pesquisa e
como parte inicial de um plano de pesquisa de natureza descritiva.
Neste trabalho, a revisão da literatura e o desenvolvimento de um
referencial teórico de suporte aos objetivos propostos consistiram em: (1)
histórico da administração pública no Brasil; (2) modelos de administração
pública; (3) gerencialismo nos municípios brasileiros e (4) indicadores na
administração pública.
Malhotra (2006) estabelece distinções entre a pesquisa exploratória e a
pesquisa descritiva. Entre os requisitos para a pesquisa descritiva, segundo este
autor, estão a formulação prévia de hipóteses específicas e a existência de
informações detalhadas sobre o problema de pesquisa. As hipóteses permitem
guiar um processo de pesquisa descritiva, sendo responsável por indicar aquilo
que necessita ser mensurado (Hair Jr. et al., 2005a).
Malhotra (2006) também classifica uma pesquisa descritiva em
transversal ou longitudinal. Os estudos transversais são efetuados com apenas
uma coleta de informações sobre os elementos de uma dada população –
definição esta que se aplica a esta pesquisa.
A etapa de pesquisa descritiva, neste trabalho, consiste em uma análise
quantitativa sobre os dados obtidos nas bases do ZEE-MG, IBGE e IMRS,
utilizando-se técnicas estatísticas de análise multivariada.
Quanto ao plano de análise de dados, pode-se dizer que seu primeiro
passo refere-se à geração de categorias de análise, por meio do estudo do modelo
gerencial e das temáticas gerencialistas encontradas no EnANPAD. Com base
nas categorias geradas, foram definidos os indicadores. Uma vez definidos os
indicadores, estes passaram por um tratamento estatístico multivariado, por meio
65
de uma análise fatorial dos componentes principais. Em seguida, puderam ser
estabelecidos grupos de municípios da população escolhida, classificados pela
adoção ou não adoção do gerencialismo nas suas administrações. O fluxo da
Figura 24 ilustra as etapas de análise utilizadas neste trabalho:
FIGURA 24 Plano de análise.
A seguir, neste capítulo, serão detalhados os procedimentos utilizados
quanto: (1) ao universo de pesquisa; (2) à definição dos indicadores; (3) ao
método de coleta de dados e (4) ao tratamento estatístico utilizado.
6.1 Universo de pesquisa
No tocante à definição do universo desta pesquisa, três critérios foram
considerados. Em primeiro lugar, esta pesquisa faz parte de um projeto de
pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) intitulado “Administração Pública em Municípios de
Estudo do modelo
gerencial
Categorias de análise
Estudo da produção nacional
Indicadores na administração
pública ZEE-MG,
IBGE e IMRS
Indicadores
Tratamento estatístico –
análise multivariada
Adoção do gerencialismo pelos municípios
66
Pequeno Porte do Sul de Minas Gerais”. Em segundo lugar, a localização da
Universidade Federal de Lavras na região de estudo, tendo em vista as
possibilidades de intervenção social para a promoção do desenvolvimento
sustentável na referida região. Em terceiro lugar, foram consideradas a
disponibilidade de informações e as facilidades de acesso aos municípios da
região.
No Capítulo 7 deste trabalho é feita uma breve descrição da região sul de
Minas Gerais, abordando algumas de suas características demográficas e
econômicas.
6.2 Definição dos indicadores
Os indicadores foram definidos com base nas categorias representativas
da administração pública gerencial, definidas por meio da revisão bibliográfica e
das temáticas gerencialistas encontradas no EnANPAD. Desse modo, para a
construção do Índice de Administração Pública Gerencial Municipal (IAPG-M),
foram consideradas as duas dimensões de atuação da administração pública
referenciadas por Paula (2005), institucional-administrativa e econômico-
financeira, as quais abrangem quatro indicadores (recursos humanos,
instrumentos de gestão, articulações institucionais e participação dos cidadãos;
responsabilidade fiscal e aplicação eficiente dos recursos) que, por sua vez,
abrangem 23 subindicadores. Esse esquema de construção do IAPG-M pode ser
melhor observado na Figura 25.
67
Quantidade de funcionários para cada 100 habitantes % de funcionários com ensino superior % de funcionários com pós-graduação
Recursos humanos
Existência de administração indireta Existência de Ccódigo de obras Existência de lei de parcelamento do solo Existência de lei de zoneamento Existência de plano diretor
Instrumentos de gestão
Existência de cobrança de IPTU Quantidade de conselhos gestores existentes Existência de consórcio público com outros entes federativos Existência de convênio ou parceria com o setor privado Existência de apoio do setor privado ou de comunidades na administração municipal
Co
mp
on
ente
inst
ituci
on
al-a
dmin
istr
ativ
o
Articulações interinstitucionais e participação do cidadão
Participação em comitê de bacia hidrográfica Aplicação de recursos em saúde – cumprimento do % previsto em lei Aplicação de recursos em educação – cumprimento do % previsto em lei Despesas com pessoal – cumprimento do % máximo previsto em lei Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal Cumprimento de limites legais para o endividamento do município Indicador de desenvolvimento tributário e econômico Participação da dívida na receita corrente líquida Esforço orçamentário em educação - % orçamento investido
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Responsabilidade fiscal e aplicação dos recursos
Esforço orçamentário em saúde - % orçamento investido
FIGURA 25 Índice de administração pública gerencial municipal.
Os indicadores e o IAPG-M possuem seus valores na faixa entre 0 e 1,
de modo que, quanto mais próximo de 1 o valor, maiores são os indícios de uma
administração gerencial no município. De forma análoga, um valor mais
68
próximo de 0 (zero) representa uma possibilidade menor de administração
gerencial no município.
Os pesos de cada indicador e variável foram estabelecidos a partir de
uma análise fatorial dos componentes principais, como será visto no item 6.4.
A seguir serão detalhados cada um dos indicadores, as variáveis
utilizadas e sua composição.
6.2.1 Indicador recursos humanos
Este indicador tem o objetivo de avaliar se a administração pública
municipal tende a seguir alguns dos pressupostos do gerencialismo para a área
de recursos humanos, tais como maior eficiência na prestação de serviços,
utilizando menor número de funcionários, além de uma administração indireta,
bem como a busca por maior qualificação do quadro de pessoal.
Nesse intuito, foram utilizadas as seguintes variáveis, cuja pontuação
varia de 0 a 1: (1) quantidade de funcionários para cada 100 habitantes
(QtFunc100Hab); (2) total de funcionários com ensino superior (TotFuncSup);
(3) total de funcionários com pós-graduação (TotFuncPós) e (4) existência de
administração indireta (ExAdmInd).
Desse modo, foi estabelecida a seguinte fórmula para o cálculo deste
indicador:
IRH = (QtFunc100Hab x Peso) + (TotFuncSup x Peso) + (TotFuncPós x Peso)
+ (ExAdmInd x Peso)
6.2.1.1 Quantidade de funcionários para cada 100 habitantes
Esta variável foi obtida por meio da razão entre a quantidade de
funcionários públicos do município e o número de habitantes. Levando-se em
conta a eficiência na prestação de serviços ao cidadão, considera-se mais
69
eficiente o município que consegue desenvolver suas atividades com um menor
número de funcionários por habitante.
Desse modo, o município com a menor quantidade de funcionários para
cada 100 habitantes recebeu pontuação 1, enquanto o município com maior
número de funcionários para cada 100 habitantes recebeu pontuação 0. Os
demais municípios tiveram sua pontuação estabelecida em função destes.
Considerou-se como parâmetro populacional nesta variável o universo dos
municípios do estado de Minas Gerais, de modo a evitar distorções sobre o
resultado para os municípios sulmineiros.
6.2.1.2 Percentual de funcionários com ensino superior
A utilização desta variável em relação à formação dos funcionários
municipais segue a justificativa de Salazar et al. (2008), em relação ao seu
aproveitamento no ZEE-MG. Segundo estes autores, esta variável permite
informar a existência de uma postura administrativa mais profissionalizada, bem
como se pode dizer que os funcionários que possuem formação no ensino
superior encontram-se mais qualificados que os demais e melhor habilitados
para exercer as diversar atividades requeridas pela administração pública.
Esta variável está em harmonia com as demandas da administração
pública gerencial por funcionários mais qualificados e a preocupação com a
profissionalização do quadro de pessoal.
Para a determinação da pontuação desta variável foi utilizado o número
total de funcionários municipais com ensino superior, na razão do número total
de funcionários, de modo que, quanto maior o percentual de funcionários com
curso superior, maior a pontuação do município. Esta variável possui valores
variando entre 0 e 1.
70
6.2.1.3 Percentual de funcionários com pós-graduação
A utilização desta variável obedece à mesma dinâmica descrita no item
anterior, referente ao total de funcionários com ensino superior. Na sua
composição foi utilizado o número total de funcionários municipais que
possuem pós-graduação, na razão do número total de funcionários, de modo que,
quanto maior o percentual de funcionários com curso de pós-graduação, maior a
pontuação do município. Esta variável também possui valores entre 0 e 1.
6.2.1.4 Existência de administração indireta
Salazar et al. (2008) estabelecem que, desde a Constituição Federal de
1988, os municípios passaram a ter competência de organizar e manter serviços
de interesse local, relacionados, por exemplo, a transporte coletivo, educação
fundamental, saúde, saneamento básico, patrimônio histórico e cultural, além de
serviços de controle do uso e parcelamento do solo. Tais serviços podem ser
prestados tanto diretamente, pelas prefeituras municipais quanto por terceiros,
por meio de concessões. Nesse contexto, têm papel fundamental os órgãos da
administração indireta, tais como autarquias, fundações, sociedades de economia
mista e empresas públicas. Estes órgãos são entidades dotadas de personalidade
jurídica própria e contribuem para o processo de descentralização das atividades
do município, representando maior autonomia administrativa e possuindo a
prerrogativa de serem passíveis de controle externo (Salazar et al., 2008).
Desse modo, para a sua utilização neste trabalho foi atribuído o valor 0
para os municípios que não possuem administração indireta e o valor 1 para os
municípios nos quais existe administração indireta.
71
6.2.2 Indicador instrumentos de gestão
Este indicador procurou agrupar variáveis do ZEE-MG, referentes a
planejamento urbano e instrumentos de gestão municipal, que serão definidos
com base em Salazar et al. (2008).
É importante salientar que as variáveis utilizadas na composição do IIG
referem-se à utilização de instrumentos legais que se encontram à disposição do
município, para facilitar e incrementar a sua gestão e não a instrumentos de
gestão de utilização particular, tais como o planejamento estratégico e os
sistemas balanceados de indicadores de desempenho, como será mais bem
discutido no tópico referente às limitações dos indicadores deste trabalho.
Dessa forma, serão utilizadas as seguintes variáveis para cálculo do
Índice de Instrumentos de Gestão, cuja pontuação varia de 0 a 1: (1) existência
de código de obras (ExCodObr); (2) existência de lei de parcelamento do solo
(ExLPS); (3) existência de lei de zoneamento (ExLZon); (4) existência de plano
diretor (ExPlDir) e (5) existência de cobrança de IPTU (ExCobrIPTU).
Foi estabelecida a seguinte fórmula para o cálculo deste indicador:
IIG = (ExCodObr x Peso) + (ExLPS x Peso) + (ExLZon x Peso) + (ExPlDir x
Peso) + (ExCobrIPTU x Peso)
6.2.2.1 Existência de código de obras
O código de obras é uma lei municipal que tem a finalidade de orientar
projetos de obras e a execução de edificações no âmbito do município,
estabelecendo critérios mínimos de segurança, higiene, salubridade e conforto
nas edificações do município (Salazar et al., 2008).
Dessa forma, consiste em um instrumento à disposição do município
para o estabelecimento de padrões, sendo a sua utilização um indicativo de uma
administração pública voltada para o atendimento das necessidades do cidadão
72
e, dessa forma, em consonância com as definições de uma administração
gerencial.
Para a pontuação desta variável, foi estabelecido o valor 1 para os
municípios que possuem a lei e o valor 0 para os municípios que não possuem a
lei.
6.2.2.2 Existência de lei de parcelamento do solo
A lei de parcelamento do solo estabelece, no município, o tamanho
mínimo dos lotes para construção, as declividades máximas de terrenos
permitidos para construções e a área mínima de espaços públicos que devem
existir em loteamentos. Essa lei tem importância na coibição do parcelamento do
solo em áreas de preservação ambiental (Salazar et al., 2008) e consiste em outro
instrumento de planejamento e gestão urbana à disposição do município.
Para a pontuação desta variável, foi estabelecido o valor 1 para os
municípios que possuem a lei e o valor 0 para os municípios que não possuem a
lei.
6.2.2.3 Existência de lei de zoneamento
A lei de zoneamento regulamenta a utilização do espaço territorial nas
cidades, dividindo-o em zonas residenciais, comerciais, de preservação, de
instalação de equipamentos sociais e logradouros públicos (Salazar et al., 2008).
Para a pontuação desta variável, também foi estabelecido o valor 1 para os
municípios que possuem a lei, e o valor 0 para os municípios que não possuem a
lei.
6.2.2.4 Existência de plano diretor
O plano diretor é um instrumento de intervenção urbana planejada,
obrigatório para cidades com mais de 20 mil habitantes, segundo a Constituição
73
Federal, em seu artigo 182 § 1º (Brasil, 2005), e regulamentado pela Lei 10257,
ou Estatuto das Cidades, que amplia a obrigatoriedade para municípios
integrantes de aglomerações urbanas ou regiões metropolitanas, áreas de
interesse turístico, inseridos em áreas de empreendimentos de grande impacto
ambiental ou aqueles que pretendam fazer uso de política urbana como o IPTU
progressivo (Brasil, 2001).
A finalidade do plano diretor é estabelecer diretrizes gerais para o
ordenamento do território, bem como o desenvolvimento econômico e social,
visando, em última instância, a qualidade de vida e o bem-estar dos cidadãos.
Alguns municípios que não possuem promulgadas as leis referentes ao Código
de Obras, Parcelamento do Solo e Zoneamento podem ter tais diretrizes em seu
plano diretor (Salazar et al., 2008).
Para a pontuação desta variável foi estabelecido o valor 1 para os
municípios que possuem a lei, e o valor zero para os municípios que não
possuem a lei.
6.2.2.5 Existência de cobrança de IPTU
O Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) consiste em uma
importante fonte de arrecadação própria dos municípios, motivo pelo qual foi
incluído como uma variável de gestão. O aumento de arrecadação própria por
parte dos municípios representa maior disponibilidade de recursos para
aplicação junto às demandas da sociedade.
Para a pontuação desta variável foi estabelecido o valor 1 para os
municípios que cobram IPTU e o valor zero para os municípios que não
arrecadam o imposto.
74
6.2.3 Indicador articulações institucionais e participação do cidadão
Neste indicador, tentou-se agrupar duas características da administração
pública gerencial apontadas no referencial teórico e no levantamento da
produção nacional: as articulações institucionais, tanto entre entes federativos
quanto em relação à iniciativa privada e à sociedade, e uma dimensão
relacionada à transparência da administração, governança, controle e
participação do cidadão.
Seguindo a definição de indicador semelhante originário do ZEE-MG,
foi levantada a existência de consórcio público nas áreas de educação, saúde,
assistência e desenvolvimento social, direito da criança e do adolescente,
emprego, cultura, habitação, meio ambiente, transporte, desenvolvimento urbano
e saneamento, dentre outros (Salazar et al., 2008).
De forma semelhante, buscou-se a existência de relações entre a
administração municipal e a iniciativa privada na forma de convênios de
parcerias em áreas como turismo, cultura, habitação, meio ambiente, transporte,
desenvolvimento urbano e saneamento (Salazar et al., 2008).
Nesse sentido, foram utilizadas cinco variáveis, cuja pontuação varia de
0 a 1: (1) quantidade de conselhos gestores existentes (QtCGest); (2) existência
de consórcio público com outros entes federativos (ConsPubl); (3) existência de
convênio ou parceria com o setor privado (ConvPriv); (4) existência de apoio do
setor privado ou de comunidades na administração municipal (ApoioAdm) e (5)
participação em comitê de bacia hidrográfica (ComBHidr).
Foi estabelecida a seguinte fórmula para o cálculo deste indicador:
IAP = (QtCGest x Peso) + (ConsPubl x Peso) + (ConvPriv x Peso) +
(ApoioAdm x Peso) + (ComBHidr x Peso)
75
6.2.3.1 Quantidade de conselhos gestores existentes
Nesta variável foi verificada a quantidade de conselhos gestores
existentes em cada município do sul de Minas Gerais, considerando-se doze
conselhos, a saber: assistência social, cultura, desenvolvimento econômico,
direitos da criança e do adolescente, educação, emprego e trabalho, habitação,
meio ambiente, política urbana, saúde, transporte e turismo.
Para a pontuação desta variável, foi estabelecido o valor 1 para os
municípios que possuíssem os doze conselhos e o valor 0 para os municípios nos
quais não existisse nenhum conselho. Desse modo, para cada conselho existente
foi atribuída a pontuação 1/12.
6.2.3.2 Existência de consórcio público com outros entes federativos
Buscou-se analisar a quantidade de consórcios públicos entre entes
federativos existentes nos municípios do sul de Minas Gerais, considerando-se
pontuação máxima (igual a 1) na variável para os municípios que possuíssem os
36 consórcios levantados pelo ZEE-MG e mínima (igual a zero) para os que não
tivessem nenhum consórcio. Assim, para cada consórcio existente, foi atribuída
a pontuação 1/36.
6.2.3.3 Existência de convênio ou parceria com o setor privado
Nesta variável, foi feito o levantamento da quantidade de convênios ou
parcerias existentes com o setor privado nos municípios, nas 12 áreas levantadas
pelo ZEE-MG, quais sejam: educação, saúde, assistência e desenvolvimento
social, direito da criança e do adolescente, emprego e trabalho, turismo, cultura,
habitação, meio ambiente, transporte, desenvolvimento urbano, saneamento e
manejo de resíduos sólidos. Para a pontuação desta variável, foi estabelecido o
valor 1 para os municípios que possuíssem convênios nas doze áreas, e o valor 0
76
para os municípios nos quais não existisse convênio em nenhuma área. Desse
modo, para cada convênio ou parceria existente foi atribuída a pontuação 1/12.
6.2.3.4 Existência de apoio do setor privado ou de comunidades na administração municipal Nesta variável foi feito o levantamento da quantidade de áreas com apoio
do setor privado ou de comunidades nos municípios, considerando-se um total
de 12 áreas levantadas pelo ZEE-MG, a saber: educação, saúde, assistência e
desenvolvimento social, direito da criança e do adolescente, emprego e trabalho,
turismo, cultura, habitação, meio ambiente, transporte, desenvolvimento urbano,
saneamento e manejo de resíduos sólidos.
Para a pontuação desta variável, foi estabelecido o valor 1 para os
municípios com apoio do setor privado ou de comunidades nas doze áreas e o
valor 0 para os municípios nos quais não existisse apoio em nenhuma das áreas.
Desse modo, para cada área com apoio do setor privado ou de comunidades foi
atribuída a pontuação 1/12.
6.2.3.5 Participação em comitê de bacia hidrográfica
Os comitês de bacia hidrográfica são órgãos colegiados compostos por
representates do poder público, da sociedade e dos usuários das águas, e
cumprem o papel de gerenciar as bacias de maneira participativa e
descentralizaada (Salazar et al., 2008).
Nesta variável foi atribuída pontuação igual a 1 para os municípios que
participam de comitês e pontuação igual a zero para os municípios que não
participam.
77
6.2.4 Indicador responsabiliade fiscal e aplicação dos recursos
Para a administração pública gerencial, o equilíbrio fiscal e a eficiência
na aplicação dos recursos são fatores primordiais. Nesse sentido, figura a
necessidade deste indicador, considerando-se a importância da chamada Lei de
Responsabilidade Fiscal e seu cumprimento por parte dos municípios, além da
questão da aplicação dos recursos, em que foram considerados os setores de
educação e saúde, por sua relevância.
A Lei de Responsabilidade Fiscal surgiu no intuito de impedir ou inibir a
geração de déficit nas contas públicas. A LRF estabelece que devem constar, da
Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), exigências em relação ao compromisso
da administração com o equilíbrio de suas receitas e despesas, o que indica uma
gestão responsável das contas públicas (FJP, 2005).
Para a composição deste indicador são levadas em conta as seguintes
variáveis: (1) aplicação de recursos em saúde – cumprimento do % previsto em
lei (AplRecSaúde); (2) aplicação de recursos em educação – cumprimento do %
previsto em lei (AplRecEduc); (3) despesas com pessoal – cumprimento do %
máximo previsto em lei (DespPess); (4) cumprimento da Lei de
Responsabilidade Fiscal (CumpreLRF); (5) cumprimento de limites legais para o
endividamento do município (CumpreEndiv); (6) indicador de desenvolvimento
tributário e econômico (ITDE); (7) participação da dívida na receita corrente
líquida (PartDiv); (8) esforço orçamentário em educação - % investido do
orçamento (EsfEduc) e (9) esforço orçamentário em saúde - % investido do
orçamento (EsfSaúde).
Foi estabelecida a seguinte fórmula para o cálculo deste indicador:
78
IRF = (AplRecSaúde x Peso) + (AplRecEduc x Peso) + (DespPess x Peso) +
(CumpreLRF x Peso) + (CumpreEndiv x Peso) + (IDTE x Peso) + (PartDiv x
Peso) + (EsfEduc x Peso) + (EsfSaúde x Peso)
6.2.4.1 Aplicação de recursos em saúde – % previsto em lei
A Emenda Constitucional nº 29, de 13 de setembro de 2000, conhecida
como a Emenda da Saúde, estabeleceu um percentual mínimo de gastos com as
ações da saúde para estados e municípios. A razão entre os gastos com saúde e a
receita de impostos e transferências deverá ser maior ou igual a 15% (FJP,
2005).
Isto posto, nesta variável, foi distribuída pontuação igual a 1 aos
municípios que atingiram este patamar e pontuação igual a zero àqueles que não
atingiram e que, portanto, não estão cumprindo o percentual de aplicação de
recursos previsto em lei.
6.2.4.2 Aplicação de recursos em educação – % previsto em lei
De forma análoga à área de saúde, uma disposição legal também
estabelece um patamar mínimo de aplicação de recursos em educação. Dessa
vez, a exigência vem da própria Constituição Federal, que estabelece, em seu art.
212, um limite mínimo de gastos a serem efetuados com a manutenção e o
desenvolvimento do ensino, em relação às receitas líquidas de impostos e
transferências, sendo este limite de 18% para a União e de 25% para os estados e
municípios (FJP, 2005).
A pontuação desta variável também foi de 1 para os municípios que
atingiram este percentual de investimento e de zero para aqueles que não o
fizeram.
79
6.2.4.3 Despesas com pessoal – cumprimento do % máximo previsto em lei
A LRF estabeleceu, para a União, estados e municípios, limites para os
gastos com pessoal, em proporção à receita corrente líquida (RCL), estendendo
esta exigência também para os poderes Legislativo, Judiciário e para o
Ministério Público (FJP, 2005).
No que se refere ao âmbito municipal, o limite estabelecido foi de 60%
da RCL, sendo este limite dividido entre os gastos do Legislativo e o Executivo,
em 6% e 54%, respectivamente (FJP, 2005).
São considerados gastos com pessoal, para a LRF, aqueles efetuados
com: (1) servidores ativos, civis e militares, ocupantes de cargos ou funções; (2)
aposentados e pensionistas; (3) membros de Poder; (4) vencimentos, vantagens
adicionais, gratificações, horas extras e quaisquer outras espécies
remuneratórias; (5) empregados das empresas estatais dependentes; subsídios
dos agentes políticos; (6) terceirização para substituição de servidores e (7)
encargos sociais e contribuições recolhidas pelo ente às entidades da previdência
(FJP, 2005).
A LRF fixou, ainda, um lmite equivalente a 95% do limite máximo para
a despesa com pessoal. Ao atingirem este limite, os entes ficam impedidos de:
(1) conceder vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração; (2)
criar cargo, emprego ou função; (3) alterar a estrutura de carreira que implique
em aumento de despesa; (4) prover cargo público, admitir ou contratar pessoal e
(5) contratar hora extra, salvo as situações previstas em lei (FJP, 2005).
À semelhança dos anteriores, esta variável também teve sua pontuação
em 1, para os municípios que se encontram em harmonia com o percentual
previsto em lei e zero para os municípios que ultrapassaram este percentual.
80
6.2.4.4 Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal
Considerando-se a LRF em seu bojo, induzindo ao equilíbrio
orçamentário dos governos, pode-se dizer que o seu cumprimento passa a figurar
como um importante indicador de avaliação de gestão e desempenho fiscal. O
cumprimento da LRF é atingido quando a receita orçamentária é maior ou igual
ao gasto orçamentário (FJP, 2005).
Esta variável também teve sua pontuação em 1, para os municpíos que
estão em consonância com os preceitos da LRF e zero, para os municípios cujo
gasto é maior do que a receita.
6.2.4.5 Cumprimento de limites legais para o endividamento do município
A Resolução nº 40, de 21/12/2001, do Senado Federal, estabelece que a
dívida consolidada líquida (DCL) dos municípios, não poderá exceder, ao prazo
estabelecido para a adequação, a 1,2 vez a receita corrente líquida – RCL (FJP,
2005).
Nesse contexto, esta variável verifica quais municípios encontram-se
dentro do pleno cumprimento desta lei e quais não estão, atribuindo pontuação
de 1 e 0, respectivamente.
6.2.4.6 Indicador de desenvolvimento tributário e econômico
Esta variável foi criada para a composição o Índice Mineiro de
Responsabilidade Social (IMRS) e indica a capacidade do município de
financiar os serviços que presta a partir de receitas originárias dos diversos
setores econômicos presentes e das atividades de consumo e, ainda, dos
rendimentos de seus habitantes. Valores reduzidos desta variável revelam baixo
desempenho econômico e tributário, indicando que a receita é bastante
dependente de transferências do Fundo de Participação dos Municípios, e não de
sua base econômica. Valor alto indica maior capacidade do município em
81
financiar seus gastos com recursos próprios (FJP, 2005). Esta variável também
tem sua pontuação variando de 0 a 1.
6.2.4.7 Participação da dívida na receita corrente líquida
Esta variável, também originária do Índice Mineiro de Responsabilidade
Social, indica em que proporção a dívida do município está excedendo a sua
receita.
Esta variável encontra-se disposta de maneira invertida e ponderada, de
modo que quanto maior a pontuação do município (mais próximo de 1), menor a
participação da sua dívida na RCL e, quanto menor sua pontuação (mais
próximo de zero), maior a participação de sua dívida.
6.2.4.8 Esforço orçamentário em educação e saúde - % investido do orçamento O esforço orçamentário, advindo do Índice Mineiro de Responsabilidade
Social, mede a participação efetiva de áreas ou de atividades que recebem
recursos do orçamento e é medido pela participação relativa de cada uma dessas
áreas no gasto total realizado pela administração (FJP, 2005).
A pontuação desta variável é dada no intervalo entre 0 e 1, indicando o
percentual do orçamento investido pelo município em educação ou saúde.
6.3 Método de coleta de dados
Conforme descrito nos itens 5.3, 5.4 e 5.5 deste trabalho, as fontes de
coleta de dados utilizadas na construção do Índice de Administração Pública
Gerencial Municipal foram o ZEE-MG, a Pesquisa de Informações Básicas
Municipais do IBGE e o IMRS. No tocante a este tópico, o objetivo é
documentar cada variável exposta nos tópicos anteriores, relacionando-a com a
base de dados em que foi coletada (Figura 26).
82
Variável Origem Quantidade de funcionários para cada 100 habitantes ZEE-MG/IBGE Total de funcionários com ensino superior ZEE-MG/IBGE Total de funcionários com pós-graduação ZEE-MG/IBGE Existência de administração indireta ZEE-MG/IBGE Existência de código de obras ZEE-MG/IBGE Existência de lei de parcelamento do solo ZEE-MG/IBGE Existência de lei de zoneamento ZEE-MG/IBGE Existência de plano diretor ZEE-MG/IBGE Existência de cobrança de IPTU ZEE-MG/IBGE Quantidade de conselhos gestores existentes IMRS Existência de consórcio público com outros entes federativos
ZEE-MG/IBGE
Existência de convênio ou parceria com o setor privado ZEE-MG/IBGE Existência de apoio do setor privado ou de comunidades na administração municipal
ZEE-MG/IBGE
Participação em comitê de bacia hidrográfica ZEE-MG Aplicação de recursos em saúde – cumprimento do % previsto em lei
IMRS
Aplicação de recursos em educação – cumprimento do % previsto em lei
IMRS
Despesas com pessoal – cumprimento do % máximo previsto em lei
IMRS
Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal IMRS Cumprimento de limites legais para o endividamento do município
IMRS
Indicador de desenvolvimento tributário e econômico ZEE-MG Participação da dívida na receita corrente líquida ZEE-MG Esforço orçamentário em educação - % orçamento investido
IMRS
Esforço orçamentário em saúde - % orçamento investido
IMRS
FIGURA 26 Fontes dos dados que compõem o IAPG-M5.
Conforme especificado no Quadro 21, os dados do ZEE-MG foram
utilizados e trabalhados a partir da Pesquisa de Informações Básicas Municipais
5 Os dados oriundos do ZEE-MG referem-se ao ano de 2007; os dados provenientes do IBGE e do IMRS são de 2005.
83
do IBGE. Os demais dados são provenientes da base de dados do Índice Mineiro
de Responsabilidade Social, da Fundação João Pinheiro.
6.4 Tratamento estatístico utilizado
De acordo com o que foi citado no início deste capitulo, os pesos
recebidos por variável na composição do respectivo indicador e os atribuídos aos
indicadores na composição do IAPG-M foram determinados por meio de análise
fatorial, na modalidade análise dos componentes principais, de maneira similar a
Puttnam (2007) e ao ZEE-MG.
Segundo Hair Jr. et al. (2005b), a análise fatorial se refere a toda uma
classe de métodos estatísticos multivariados, cuja função é definir a estrutura
subjacente em uma matriz de dados. Para os autores, a análise fatorial aborda a
análise das inter-relações entre um grande número de variáveis, definindo um
conjunto de fatores, permitindo determinar o grau em que cada variável
possibilita a explicação do fator. As duas principais utilidades da análise fatorial
são o resumo e a redução de dados.
A análise fatorial é uma técnica de interdependência em que a totalidade
das variáveis é considerada de modo simultâneo e as variáveis são inter-
relacionadas. Na análise fatorial, as variáveis estatísticas, ou fatores, são
formadas para maximizar seu poder de explicação do conjunto inteiro de
variáveis (Hair Jr. et al., 2005b).
Malhotra (2006) caracteriza dois tipos de abordagens para a dedução de
pesos ou coeficientes dos escores fatoriais: a análise dos componentes principais
e a análise fatorial comum. O método utilizado neste trabalho foi a análise dos
componentes principais, em que é levada em conta a variância total dos dados.
Foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS), para a execução da análise fatorial.
84
7 A REGIÃO SUL DE MINAS GERAIS
A região sul de Minas Gerais é composta por 177 municípios, assim
considerada pelos critérios do Zoneamento Ecológico-Econômico de Minas
Gerais (Minas Gerais, 2008b). Existem, no entanto, pelo menos mais duas
classificações diferentes da região, a do IBGE e a do governo do estado.
O IBGE divide o estado de Minas Gerais em 12 mesorregiões
geográficas, divididas em 66 microrregiões. Estas mesorregiões estão ilustradas
no mapa da Figura 27, com destaque para o sul/sudoeste:
FIGURA 27 Mesorregioões do estado de Minas Gerais. Fonte: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA (2008a).
85
Segundo esta classificação do IBGE, na região sul/sudoeste de Minas
estão incluídos 169 municípios, distribuídos em 12 microrregiões.
Já o governo do estado, para fins administrativos, divide o território
mineiro em 10 grandes regiões geográficas, dentre as quais a região Sul de
Minas, com 155 municípios, critério que passou a vigorar a partir de 1996
(Minas Gerais, 2008a).
FIGURA 28 As dez regiões de planejamento do estado de Minas Gerais. Fonte: Instituto de Geociências Aplicadas – IGA (2008b).
86
Considerando-se as regiões de planejamento da Figura 6, a região Sul de
Minas responde por 11,9% do PIB do estado, segundo o Plano Mineiro de
Desenvolvimento Integrado – PMDI (Minas Gerais, 2007, p. 38).
Uma terceira subdivisão da região é feita pelo ZEE, cujo critério
utilizado para estabelecer as fronteiras da região relaciona-se às bacias
hidrográficas que a cortam.
FIGURA 29 Regiões de Minas Gerais segundo o ZEE. Fonte: Minas Gerais (2008b).
Dentre os 177 municípios da região, apenas três têm população maior do
que 100 mil habitantes: Poços de Caldas, Pouso Alegre e Varginha.
87
A região é caracterizada pelo predomínio de municípios de pequeno
porte. Dentre os 177 municípios da região, 155 fazem parte desta classificação,
segundo a metodologia de Veiga (2005), que considera de pequeno porte os
municípios com menos de 50 mil habitantes e com densidade demográfica
menor do que 80 habitantes por quilômetro quadrado e, como de médio porte, os
que possuem entre 50 e 100 mil habitantes ou densidade superior a 80 habitantes
por quilômetro quadrado, ainda que tenham menos de 50 mil habitantes.
88
8 INDICADORES DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA GERENCIAL
O estabelecimento de um índice que permitisse identificar a presença do
gerencialismo nas administrações municipais foi o grande desafio deste trabalho.
Considerando-se as características chave da administração gerencial, expostas na
revisão bibliográfica, e os temas predominantes do gerencialismo na produção
científica nacional, a primeira observação a ser feita refere-se à limitação dos
indicadores obtidos nas bases de dados. O IAPG-M tem a capacidade de avaliar
o grau de aplicação do gerencialismo nos municípios. No entanto, é insuficiente
para afirmar, de modo objetivo, se a administração pública municipal é
integralmente ou não gerencialista, até porque a realiadade é muito mais
complexa do que objetiva, e muito mais interpretativa do que instrumental. Esta
limitação do IAPG-M será discutida com mais detalhes mais à frente. No
entanto, julgou-se necessária essa observação inicial na introdução deste
capítulo.
Neste capitulo são apresentados os resultados obtidos em cada indicador
para os municípios do Sul de Minas, bem como do Índice de Administração
Pública Gerencial Municipal, o IAPG-M.
Antes, contudo, cabe apresentar os pesos obtidos para cada indicador e
variável por meio da análise fatorial empreendida conforme especificado na
metodologia deste trabalho. Na Tabela 2 encontram-se os pesos obtidos.
89
TABELA 2 Pesos dos indicadores e variáveis na formação do IAPG-M.
Qtde de funcionários para cada 100 habitantes - 19%
% de funcionários com ensino superior – 27% % de funcionários com pós-graduação - 32%
Recursos humanos 19%
Existência de administração indireta - 22% Existência de código de obras - 17%
Existência de lei de parcelamento do solo - 39% Existência de lei de zoneamento - 20%
Existência de plano diretor - 13%
Instrumentos de gestão 42%
Existência de cobrança de IPTU - 11% Quantidade de conselhos gestores existentes - 11% Existência de consórcio público com outros entes
federativos - 19% Existência de convênio ou parceria com o setor
privado - 32% Existência de apoio do setor privado ou de
comunidades na administração municipal - 21% Co
mp
on
ente
inst
ituci
on
al-A
dmin
istr
ativ
o
Articulações interinstitucionais e
participação do cidadão
24% Participação em comitê de bacia hidrográfica -
18% Aplicação de recursos em saúde – cumprimento do
% previsto em lei - 15% Aplicação de recursos em educação – cumprimento
do % previsto em lei - 8% Despesas com pessoal – cumprimento do %
máximo previsto em lei - 8% Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal -
6% Cumprimento de limites legais para o endividamento do município - 10%
Indicador de desenvolvimento tributário e econômico - 11%
Participação da dívida na receita corrente líquida - 11%
Esforço orçamentário em educação - % orçamento investido - 18%
Índ
ice
de
adm
inis
traç
ão P
úb
lica
Ger
enci
al M
un
icip
al
Co
mp
on
ente
eco
nô
mic
o-f
inan
ceir
o
Responsabilidade fiscal e aplicação dos
recursos 15%
Esforço orçamentário em saúde - % orçamento investido - 13%
90
8.1 Indicador recursos humanos
Conforme especificado na metodologia deste trabalho (subseção 6.2.1), o
Indicador de Recursos Humanos – IRH é composto pelas seguintes variáveis: (1)
quantidade de funcionários para cada 100 habitantes; (2) total de funcionários
com ensino superior; (3) total de funcionários com pós-graduação e (4)
existência de administração indireta. Assim, os resultados obtidos para cada uma
destas variáveis podem ser observados a seguir.
A Tabela 3 ilustra a pontuação da variável IRH, considerando-se os dez
municípios com pontuação mais alta e os dez municípios com menor pontuação.
TABELA 3 Pontuação da quantidade de funcionários para cada 100 habitantes.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Monsenhor Paulo 0,93431 Tiradentes 0,68149 Madre de Deus de Minas 0,92333 Albertina 0,66885 Campestre 0,91791 Fortaleza de Minas 0,66338 Passos 0,91781 São João Batista do Glória 0,64806 Itajubá 0,91472 Olimpio Noronha 0,64640 Brazópolis 0,91333 Carvalhópolis 0,64276 Guaxupé 0,90699 São Sebastião do Rio Verde 0,63018 Caldas 0,90434 Arantina 0,54769 Santa Rita de Caldas 0,90432 Santana do Garembéu 0,51252 Bueno Brandão 0,90354 Seritinga 0,51181
Como exemplo, o município de Monsenhor Paulo foi o mais bem
colocado, possuindo 1,3395 funcionário para cada 100 habitantes, resultando em
uma pontuação de 0,93431 nesta variável, enquanto o município de Seritinga
ficou com a última posição, com 9,954 funcionários para cada 100 habitantes,
obtendo a pontuação de 0,51181.
Em relação ao percentual de funcionários com ensino superior, segue-se
a pontuação dos dez municípios sul-mineiros com maior e menor pontuação.
91
TABELA 4 Pontuação do percentual de funcionários com ensino superior.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Monsenhor Paulo 0,50000 Venceslau Brás 0,06644 Baependi 0,47297 Soledade de Minas 0,06329 Monte Sião 0,43053 Campo Belo 0,04701 Três Pontas 0,41764 Cruzília 0,02076 Machado 0,41761 Conceição da Aparecida 0,01351 Tocos do Moji 0,39860 Conceição das Pedras 0,01351 Ibiraci 0,37429 Campos Gerais 0,00000 Cássia 0,36066 Divisa Nova 0,00000 Capetinga 0,35455 São Lourenço 0,00000 Lavras 0,34978 Tiradentes 0,00000
O municipio mais bem pontuado é Monsenhor Paulo, onde 50% dos
funcionários possuem ensino superior. Os municípios de Campos Gerais, Divisa
Nova, São Lourenço e Tiradentes não dispunham de nenhum funcionário com
curso superior, segundo os dados da Pesquisa de Informações Básicas
Municipais do IBGE, replicados pelo ZEE-MG.
Na Tabela 5 é mostrada a pontuação dos dez municípios sul-mineiros
mais bem colocados em relação ao percentual de funcionários com pós-
graduação. Cabe dizer, quanto aos municípios com menor pontuação, que 80
deles, de um total de 177 municípios, obtiveram pontuação igual a zero nesta
variável, não possuindo nenhum funcionário com pós-graduação, o que
representa 45%.
O destaque nesta variável fica por conta dos municípios de Monte Belo,
São Gonçalo do Sapucaí, Madre de Deus de Minas e Ibitiúra de Minas, que
possuem mais de 10% do seu quadro de funcionários com curso de pós-
graduação.
92
TABELA 5 Pontuação do percentual de funcionários com pós-graduação.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Monte Belo 0,15737 São Gonçalo do Sapucaí 0,14359 Madre de Deus de Minas 0,12162 Ibitiúra de Minas 0,10191 São João Batista do Glória 0,09111 Baependi 0,08783 Santo Antônio do Amparo 0,08614 Campestre 0,08430 Nazareno 0,08275 Varginha 0,07902
Observa-se que a existência de administração indireta ainda é bastante
incipiente nos municípios do sul de Minas Gerais. Conforme ilustra o gráfico da
Figura 30, apenas 22% dos municípios possuem administração indireta.
Existência de Administração Indireta nos
Municíp ios Sulmineiros
Não Possuem
78%
Possuem22%
FIGURA 30 Existência de administração indireta nos municípios sul-mineiros.
93
Os municípios que possuem administração indireta obtiveram pontuação
igual a 1 nesta variável, enquanto aqueles que não possuem obtiveram pontuação
igual a zero.
Essas variáveis influenciaram a formação do Indicador de Recursos
Humanos modificando a classificação dos municípios em relação àquela
classificação observada para cada uma das variáveis. Na Tabela 6 são
apresentados os dez municípios com maior e menor pontuação no Indicador de
Recursos Humanos.
TABELA 6 Pontuação do indicador recursos humanos.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Monte Belo 0,50689 Venceslau Brás 0,17279 Machado 0,50530 Conceição da Aparecida 0,17157 Madre de Deus de Minas 0,50367 Seritinga 0,16452 Varginha 0,49879 Fortaleza de Minas 0,16003 Passos 0,47394 Cruzília 0,15758 Poços de Caldas 0,47209 Divisa Nova 0,15113 Paraguaçu 0,47001 Arantina 0,14570 Guaxupé 0,46996 Conceição das Pedras 0,14283 Maria da Fé 0,46398 Santana do Garambéu 0,13428 Poço Fundo 0,46077 Tiradentes 0,12948
Observa-se que os municípios de Monsenhor Paulo e de Lavras não
aparecem entre os dez melhores neste indicador, apesar de constarem nas duas
primeiras variáveis que o compõem. Pode-se observar, ainda, que a pontuação
dos municípios mais bem colocados em pouco ultrapassa os 50%, donde se pode
concluir que os municípios do sul de Minas Gerais estão longe de alcançar a
administração pública gerencial, se dependerem apenas deste indicador.
94
8.2 Indicador instrumentos de gestão
O Indicador de Instrumentos de Gestão (IIG) é composto pelas seguintes
variáveis, cujos resultados serão apresentados à semelhança da subseção
anterior: (1) existência de código de obras; (2) existência de lei de parcelamento
do solo; (3) existência de lei de zoneamento; (4) existência de plano diretor e (5)
existência de cobrança de IPTU.
Em relação aos municípios sul-mineiros, a situação da existência ou não
do código de obras é demonstrada no gráfico da Figura 31.
Existência de Código de Obras nos Municípios
Sulmineiros
Possuem57%
Não Possuem
43%
FIGURA 31 Existência de código de obras nos municípios sul-mineiros.
Pode-se observar que a maioria dos municípios da região conta com a
aprovação desta lei, no entanto, a parcela de municípios que ainda não possuem
o código de obras promulgado ainda é considerável.
A proporção de municípios do Sul de Minas que possuem e que não
possuem lei de parcelamento do uso do solo promulgada encontra-se no gráfico
da Figura 32.
95
Existência de Lei de Parcelamento do Solo nos
Municípios Sulmineiros
Não Possuem
61%
Possuem39%
FIGURA 32 Existência de lei de parcelamento do solo nos municípios.
Este resultado é indicativo de que a maioria dos municípios desta região
não está administrando de forma racional e gerencial o uso do solo de seus
municípios, o que poderá refletir decisivamente na composição do Indicador
Instrumento de Gestão, tendo em vista o peso de 39% desta variável.
Neste mesmo sentido da análise, pode-se observar o comportamento dos
municípios quanto à variável existência de lei de zoneamento municipal; apenas
15% dos municípios desta região possuem a referida lei, situação que pode ser
observada no gráfico da Figura 33.
96
Existência de Lei de Zoneamento nos Municípios Sulmineiros
Não Possuem
85%
Possuem15%
FIGURA 33 Existência de lei de zoneamento nos municípios sul-mineiros.
Cabe destacar que esta variável indica a porcentagem dos municípios do
Sul de Minas Gerais que possuem lei de zonemaneto aprovada, o que significa
que a situação poderá ser ainda pior se os municípios que possuem tal lei não a
colocarem em prática. Soma-se a esta situação a reduzida porcentagem de
municípios que possuem plano diretor aprovado, como mostrado no gráfico da
Figura 34.
97
Exis tência de P lano Diret or n os M unicíp ios Sulmineiros
Pos suem89%
Não Poss uem
11%
FIGURA 34 Existência de plano diretor nos municípios sul-mineiros.
Do total de municípios do sul de Minas, apenas vinte possuem plano
diretor, o que representa 11% dos municípios da região.
Por outro lado, a situação se inverte ao tratar da existência de cobrança
ou não de imposto territorial e predial urbano (IPTU), destacando-se apenas 1%
dos municípios que não cobram este imposto, como pode ser observado no
gráfico da Figura 35.
98
Existência de Cobrança de IPTU nos Municípios
Sulmineiros
Não Possuem
1%P ossuem
99%
FIGURA 35 Existência de cobrança de IPTU nos municípios sul-mineiros.
Apenas dois municípios não efetuam cobrança de IPTU no Sul de Minas,
segundo os dados do ZEE-MG: Arantina e Tocas do Moji, de modo que este
instrumento de arrecadação encontra-se bastante disseminado.
Tendo em vista o comportamento dos municípios em relação às variáveis
e seus respectivos pesos que compõem o Indicador Instrumentos de Gestão, na
Tabela 7 são apresentados os dez municípios com maior e menor pontuação em
relação a este indicador.
99
TABELA 7 Pontuação do indicador instrumentos de gestão.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Cambuquira 1,00000 Senador José Bento 0,11000 Caxambu 1,00000 Seritinga 0,11000 Itajubá 1,00000 Serranos 0,11000 Três Corações 1,00000 Soledade de Minas 0,11000 Boa Esperança 0,87000 Tiradentes 0,11000 Campo Belo 0,87000 Toledo 0,11000 Careaçu 0,87000 Três Pontas 0,11000 Itamoji 0,87000 Venceslau Brás 0,11000 Lavras 0,87000 Arantina 0,00000 Monsenhor Paulo 0,87000 Tocos do Moji 0,00000
Cabe destacar que quatro municípios obtiveram pontuação máxima:
Cambuquira, Caxambu, Itajubá e Três Corações, o que significa que fazem uso
de todos os instrumentos legais de gestão avaliados neste indicador. O destaque
negativo fica por conta dos municípios de Arantina e Tocos do Moji, que não
pontuaram.
8.3 Indicador articulações interinstitucionais e participação do cidadão
Nesta seção so apresentados os resultados referentes às cinco variáveis
que compõem o Indicador Articulações Interinstitucionais e Participação do
Cidadão, a saber: (1) quantidade de conselhos gestores existentes; (2) existência
de consórcio público com outros entes federativos; (3) existência de convênio ou
parceria com o setor privado; (4) existência de apoio do setor privado ou de
comunidades na administração municipal e (5) participação em comitê de bacia
hidrográfica.
Em seguida à apresentação do resultado das variáveis, será apresentado o
resultado do indicador para os municípios do Sul de Minas.
Destaca-se na região o município de Passos, no qual se encontram em
funcionamento dez conselhos gestores. De modo contrário, nos municípios de
Seritinga e Toledo, nenhum conselho gestor encontra-se em funcionamento,
100
segundo dados do ZEE-MG. Os municípios com maior e menor pontuação nesta
variável estão listados na Tabela 8.
TABELA 8 Pontuação da quantidade de conselhos gestores existentes.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Passos 0,83333 Pratápolis 0,08333 Areado 0,75000 Santa Cruz de Minas 0,08333 Pouso Alegre 0,75000 São José da Barra 0,08333 Campo Belo 0,66666 S. Sebastião do Rio Verde 0,08333 Cristina 0,66666 Senador Amaral 0,08333 Guaxupé 0,66666 Senador José Bento 0,08333 Ouro Fino 0,66666 Serranos 0,08333 São Sebastião do Paraíso 0,66666 Turvolândia 0,08333 Três Pontas 0,66666 Seritinga 0,00000 Andradas 0,58333 Toledo 0,00000
Com relação à existência de consórcio público com outros entes
federativos, destacam-se, na região, os municípios de Cabo Verde e São João
Del-Rei, com 26 e 22 consórcios, respectivamente. Entre aqueles com menor
pontuação, dezenove municípios da região não possuem nenhum consórcio
existente e obtiveram pontuação zero nesta variável.
Na Tabela 9 são mostrados os municípios com maior pontuação nesta
variável.
101
TABELA 9 Pontuação da existência de consórcio público.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Cabo Verde 0,72222 São João del-Rei 0,61111 Caxambu 0,47222 Lambari 0,41666 Lavras 0,38888 Alagoa 0,33333 Baependi 0,33333 Minduri 0,33333 Santana do Jacaré 0,30555 São Lourenço 0,30555
No que diz respeito à existência de convênio ou parceria com o setor
privado, destacam-se na região os municípios de Cristina e Alfenas, que
obtiveram a maior pontuação. Quanto aos municípios com menor pontuação,
110 não possuem nenhum convênio e obtiveram pontuação zero nesta variável.
Os dados referentes às maiores pontuações na região estão dispostos na
Tabela 10.
TABELA 10 Pontuação de convênio ou parceria com o setor privado.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Cristina 0,66667 Alfenas 0,58333 Botelhos 0,50000 Brazópolis 0,50000 Cambuquira 0,50000 Guaxupé 0,50000 Poços de Caldas 0,50000 Conceição do Rio Verde 0,41666 Monte Sião 0,41666 São Lourenço 0,41666
Em relação à existência de apoio do setor privado ou de comunidade na
administração municipal destaca-se, mais uma vez, o município de Cristina.
102
Quanto aos municípios com menor pontuação, 131 obtiveram pontuação zero
nesta variável, não possuindo apoio do setor privado ou de comunidades em
nenhuma das áreas avaliadas.
Os dados referentes às maiores pontuações na região estão dispostos na
Tabela 11.
TABELA 11 Pontuação do apoio do setor privado ou de comunidades.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Cristina 0,75000 Alagoa 0,66667 Conceição do Rio Verde 0,66667 Monte Santo de Minas 0,58333 Virgínia 0,58333 Itajubá 0,50000 Passa-Quatro 0,50000 São Lourenço 0,50000 Carmo de Minas 0,41667 Itamonte 0,41667
No que diz respeito à participação em comitê de bacia hidrográfica, 64%
dos municípios da região participam, enquanto 36% não participam deste tipo de
associação intermunicipal.
O gráfico da Figura 36 ilustra a proporção entre os municípios sul-
mineiros que participam e que não participam de comitês.
103
Participação dos Municípios Sulmineiros em Comitês
de Bacia Hidrográfica
P articipam64%
Não Participam
36%
FIGURA 36 Participação em comitê de bacia hidrográfica.
No que se refere ao indicador “ Articulações Interinstitucionais e
Participação do Cidadão – IAP”, observa-se, de maneira geral, que as
pontuações dos municípios mais bem colocados não ultrapassam 50%, estando
ainda incipiente quando se considera a administração pública gerencial como um
parâmetro. Na Tabela 12 são apresentados os dez municípios com maior e
menor pontuação neste indicador.
TABELA 12 Indicador articulações institucionais e participação do cidadão.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Conceição do Rio Verde 0,49222 Arantina 0,03167 Monte Sião 0,49222 Toledo 0,03167 Cristina 0,46444 Seritinga 0,02722 Botelhos 0,45056 Juruaia 0,01972 São Lourenço 0,44528 Santa Cruz de Minas 0,01972 Alagoa 0,44000 São Tiago 0,01972 Alfenas 0,41056 Senador Amaral 0,01583 Cambuquira 0,41000 Silvianópolis 0,01583 Itajubá 0,39389 Camanducaia 0,00389 Carmo da Cachoeira 0,38889 Piedade do Rio Grande 0,00389
104
8.4 Indicador responsabilidade fiscal e aplicação dos recursos
De maneira semelhante aos indicadores anteriores, nesta seção serão
apresentados os resultados de cada variável em separado, para, por fim, ser
apresentado o resultado do indicador.
As variáveis que compõem o Indicador Responsabilidade Fiscal e
Aplicação dos Recursos são: (1) aplicação de recursos em saúde – cumprimento
do % previsto em lei; (2) aplicação de recursos em educação – cumprimento do
% previsto em lei; (3) despesas com pessoal – cumprimento do % máximo
previsto em lei; (4) cumprimento da lei de responsabilidade fiscal; (5)
cumprimento de limites legais para o endividamento do município; (6) indicador
de desenvolv. tributário e econômico; (7) participação da dívida na receita
corrente líquida; (8) esforço orçamentário em educação - % investido do
orçamento e (9) esforço orçamentário em saúde - % investido do orçamento.
No que se refere à aplicação de recursos em saúde – cumprimento do %
previsto em lei, a maioria dos municípios da região cumpre o previsto em lei.
Apenas 12% dos municípios não cumprem, o que representa 21 municípios. No
gráfico da Figura 37 está ilustrada a situação desta variável em relação aos
municípios do Sul de Minas.
105
Aplicação de Recursos em Saúde – Cumprimento do % Previsto em Lei
Cumpre88%
Não Cumpre12%
FIGURA 37 Recursos em saúde – cumprimento do % previsto em lei.
A situação dos municípios sul-mineiros quanto ao cumprimento do
previsto em lei para investimentos em educação é demonstrada no gráfico da
Figura 38.
Aplicação de Recursos em Educação – Cumprimento do % Previsto em Lei
Não Cumpre11%
Cumpre89%
FIGURA 38 Recursos em educação – cumprimento do % previsto em lei.
106
Da mesma forma que em relação à variável anterior, a maioria dos
municípios da região cumpre o percencual de aplicação de recursos previsto em
lei. Apenas 11%, ou 19 municípios, não o cumprem.
Os municípios da região Sul de Minas que cumprem o percentual
máximo previsto em lei com despesas de pessoal e os que ainda não
conseguiram cumprir podem ser visualizados no gráfico da Figura 39.
Despesas com Pessoal – Cumprimento do % Máximo Previsto em Lei
Cumpre99%
Não Cumpre1%
FIGURA 39 Despesas com pessoal – cumprimento do % previsto em lei.
A quase totalidade dos municipios vem cumprindo o estabelecido em lei.
Apenas dois, Cambuí e Cambuquira, têm gastos com pessoal acima do que
propugna a lei.
No tocante ao cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, a
situação dos municípios sul-mineiros é ilustrada no gráfico da Figura 40.
107
Cumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal
Não Cumpre29%
Cumpre71%
FIGURA 40 Cumprimento da lei de responsabilidade fiscal.
Pode-se observar, pelo gráfico, que 29% dos municípios da região não
cumprem o que é estabelecido pela Lei de Responsabilidade Fiscal, o que
representa 51 municípios.
Com relação ao Cumprimento de limites legais para o endividamento do
município, 99% dos municípios do Sul de Minas cumprem os limites legais para
seu endividamento. Apenas o município de Pratápolis está mais endividado do
que a lei permite. O gráfico da Figura 41 ilustra a situação da região.
108
Cumprimento de Limites Legais para o Endividamento do Município
Não Cumpre1%
Cumpre99%
FIGURA 41 Cumprimento de limites legais para o endividamento municipal.
No que diz respeito ao Indicador de Desenvolvimento Tributário e
Econômico pode-se observar que a pontuação dos municípios da região, mesmo
os mais bem posicionados, ainda pode ser considerada baixa, tendo como
referência os parâmetros da administração pública gerencial. Na Tabela 13 estão
relacionados os dez melhores e piores municípios em relação ao ITDE.
TABELA 13 Pontuação do ITDE.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Varginha 0,22111 Córrego do Bom Jesus 0,00855 Extrema 0,21683 Seritinga 0,00855 Poços de Caldas 0,21611 Santana do Garambéu 0,00713 Pouso Alegre 0,20827 Dom Viçoso 0,00641 Itaú de Minas 0,20328 São José do Alegre 0,00641 São José da Barra 0,18544 S. Sebastião do Rio Verde 0,00641 São João Batista do Glória 0,17546 Serranos 0,00641 Fortaleza de Minas 0,15905 Venceslau Brás 0,00641 Itajubá 0,15763 Consolação 0,00570 Três Corações 0,14621 Marmelópolis 0,00570
109
Pelos dados da Tabela 14 pode ser visualizada a situação dos dez
melhores e piores municípios sul-mineiros com relação à participação da dívida
na receita corrente líquida.
TABELA 14 Pontuação da participação da dívida na receita corrente líquida.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Bocaina de Minas 1,00000 Lambari 0,71428 Camanducaia 1,00000 Bom Jardim de Minas 0,67567 Delfim Moreira 1,00000 Bom Jesus da Penha 0,67567 Guapé 1,00000 Andrelândia 0,67114 Jacuí 1,00000 São Tomás de Aquino 0,66667 Piedade do Rio Grande 1,00000 Cana Verde 0,64935 Sapucaí-Mirim 1,00000 Boa Esperança 0,63694 Aiuruoca 0,99009 Muzambinho 0,58139 Alfenas 0,99009 Poços de Caldas 0,57471 Baependi 0,99009 Pratápolis 0,39682
Cabe salientar que os municípios de Bocaína de Minas, Camanducaia,
Delfim Moreira, Guapé, Jacuí, Piedade do Rio Grande e Sapucaí-Mirim
obtiveram pontuação máxima nesta variável, o que significa que estes
municípios não possuem dívidas a comprometer sua receita corrente líquida.
Em relação ao esforço orçamentário em educação, na Tabela 15 está
ilustrado o posicionamento dos melhores e piores municípios sulmineiros.
110
TABELA 15 Pontuação do esforço orçamentário em educação.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Bocaina de Minas 0,39360 Lambari 0,18760 Campestre 0,33580 Coqueiral 0,17830 Camanducaia 0,33480 Passos 0,17540 São Sebastião do Rio Verde 0,33190 Oliveira 0,17290 Córrego do Bom Jesus 0,33110 Delfinópolis 0,17100 Cachoeira de Minas 0,32260 São João del-Rei 0,15580 Carmo da Cachoeira 0,32030 Ibiraci 0,14930 Conceição dos Ouros 0,31820 São João Batista do Glória 0,14550 Carmo do Rio Claro 0,31300 São José da Barra 0,13880 Claraval 0,31020 Albertina 0,00000
No tocante ao esforço orçamentário em saúde, a situação é expressa na
Tabela 16, que relaciona os dez melhores e os dez piores municípios da região.
TABELA 16 Pontuação do esforço orçamentário em saúde.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Santo Antônio do Amparo 0,43410 Três Corações 0,16260 Alfenas 0,39060 Pouso Alegre 0,16100 Cristais 0,35090 Ouro Fino 0,15940 Varginha 0,35060 Bandeira do Sul 0,15700 Estiva 0,34260 Liberdade 0,15320 Lavras 0,33900 Arantina 0,15240 Natércia 0,33830 Senador Amaral 0,14770 Madre de Deus de Minas 0,33790 Tocos do Moji 0,13260 São João del-Rei 0,33540 Bocaina de Minas 0,11500 Bom Jardim de Minas 0,33160 Albertina 0,00000
A pontuação dos dez melhores e os dez piores municípios, com relação
ao Indicador Responsabilidade Fiscal e Aplicação dos Recursos, encontra-se na
Tabela 17.
111
TABELA 17 Indicador responsabilidade fiscal e aplicação dos recursos.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação Alfenas 0,68843 Bocaina de Minas 0,44336 Itaú de Minas 0,67726 Ibitiúra de Minas 0,43553 Varginha 0,67684 Liberdade 0,42374 São Gonçalo do Sapucaí 0,67201 Guaranésia 0,42347 Bom Repouso 0,67139 Cambuquira 0,42234 Lavras 0,66969 Monte Santo de Minas 0,41835 Estiva 0,66770 Santana da Vargem 0,41306 Capetinga 0,66644 Três Corações 0,35274 Pedralva 0,66516 Juruaia 0,33577 Camanducaia 0,66491 Nazareno 0,33223
Observa-se que a pontuação dos municípios concentra-se, de maneira
geral, um pouco acima ou abaixo de 50%, mediana, portanto. No entanto,
quando se estabelece um padrão gerencial de administração, percebe-se que
ainda é preciso melhorar muito os indicadores.
8.5 Classificação geral do índice de administração pública gerencial
O Índice de Administração Pública Gerencial tem o objetivo de
classificar os municípios entre aqueles que apresentam indícios de uma
administração gerencial, ou que caminham em direção a ela, dos municípios que
ainda se encontram em um estágio inferior, no tocante à adoção de um modelo
gerencial de administração pública.
Dessa forma, foram utilizadas quatro classes como parâmetro para
avaliar o nível de apropriação de práticas e de valores da administração pública
gerencial, conforme a Tabela 18.
112
TABELA 18 Classes de muniípios em relação à administração pública gerencial.
A categoria A diz respeito aos municípios que conseguem colocar em
prática mais de 75% dos parâmetros utilizados para caracterizar uma
administração pública do tipo gerencial, enquanto a categoria B corresponde
àqueles municípios intermediários que se apropriam parcialmente dos elementos
gerenciais e conseguem aplicar um pouco mais do que 50% dos parâmetros do
gerencialismo. Para efeito desta dissertação, podem ser considerados
gerencialistas aqueles municípios que conseguem aplicar mais que 75% dos
parâmetros utilizados. Aqueles municípios que foram classificados nas
categorias C e D podem ser classificados em outro tipo de administração pública
que não seja a gerencial, dependendo, para isso, de análises específicas.
Com base nestes critérios não se constata nenhum município que adota a
administração pública gerencial na região Sul de Minas Gerais (Categoria A).
Apenas 39 municípios encontram-se na categoria B intermediária, ou seja,
sinalizando para um tipo de administração pública do tipo “híbrida”, com
elementos gerenciais, patrimoniais, burocráticos e societais. Os resultados
podem ser observados na Tabela 19.
CLASSE CATEGORIA ÍNDICE ALTA A >0,75
MÉDIA B >0,5 e <0,75
BAIXA C >0,25 e <0,5
MUITO BAIXA D <0,25
113
TABELA 19 IAPG-M – Categoria B. Municípios Pontuação Municípios Pontuação 1 Itajubá 0,66397 21 Monte Sião 0,54742 2 Caxambu 0,65312 22 Itanhandu 0,54693 3 Pouso Alegre 0,65027 23 S. Sebastião do Paraíso 0,54652 4 São João del-Rei 0,64042 34 Borda da Mata 0,54646 5 Cambuquira 0,63331 35 Carmo de Minas 0,54234 6 São Lourenço 0,62962 26 Machado 0,54206 7 Poços de Caldas 0,62571 27 Guapé 0,54159 8 Varginha 0,61536 28 Paraisópolis 0,53426 9 Lavras 0,59472 29 Arceburgo 0,53421 10 Boa Esperança 0,59385 30 São Francisco de Paula 0,53118 11 Três Corações 0,59371 31 Cristina 0,52823 12 Alfenas 0,59097 32 Andradas 0,52427 13 Pouso Alto 0,58849 33 Guaxupé 0,52379 14 Passos 0,58756 34 Santana do Jacaré 0,52033 15 Campo Belo 0,58496 35 Nepomuceno 0,51816 16 Monsenhor Paulo 0,57422 36 Passa-Quatro 0,51789 17 Careaçu 0,56164 37 S. J. Batista do Glória 0,51639 18 Itamoji 0,56149 38 Cabo Verde 0,51083 19 Paraguaçu 0,55596 39 Baependi 0,50561 20 Monte Belo 0,55223 40 Cássia 0,49270
Percebe-se, com base nos dados da Tabela 19, que nenhum dos
municípios da região Sul de Minas pode ser considerado gerencialista, dentro
dos critérios adotados nesta pesquisa. Apenas 39 municípios, de um total de 177,
representando 22%, têm administrações que podem ser consideradas com
tendência a ser gerenciais, classificadas na categoria B, como intermediárias,
segundo os indicadores utilizados nesta pesquisa. Pode-se dizer que, sendo o
gerencialismo um modelo bastante em voga, esta proporção de municípios
intermediários ainda é bastante incipiente.
Na Tabela 20 estão relacionados os municípios classificados na categoria
C, com IAPG-M abaixo de 0,5 e maior que 0,25, representando 86 municípios
do sul de Minas Gerais ou 48% dos que pretencem à região Sul de Minas. Esses
municípios, provavelmente, estão adotando um tipo “híbrido” de administração
114
pública, pois se apropriam de parte dos critérios gerenciais e de parte de outros
tipos de administração. Isto significa que eles merecem ser estudados em maior
profundidade.
TABELA 20 IAPG-M – Categoria C. Municípios Pontuação Municípios Pontuação
41 Itamonte 0,48929 81 Oliveira 0,34400 42 Ibiraci 0,48597 82 Conceição das Pedras 0,34368 43 Cachoeira de Minas 0,48577 83 Campos Gerais 0,33804 44 Itaú de Minas 0,48174 84 Sto Ant do Amparo 0,33213 45 Serrania 0,48130 85 Cambuí 0,32989 46 Carmo do Rio Claro 0,47979 86 Inconfidentes 0,32966 47 Olímpio Noronha 0,47917 87 Divisa Nova 0,32947 48 Muzambinho 0,47868 88 Pratápolis 0,32742 49 Carrancas 0,47720 89 Areado 0,32254 50 Botelhos 0,47615 90 Carvalhópolis 0,32229 51 Fortaleza de Minas 0,47006 91 Alpinópolis 0,32205 52 Lambari 0,45809 92 Capetinga 0,32187 53 Brazópolis 0,45357 93 Caldas 0,31612 54 Perdões 0,44610 94 Minduri 0,31548 55 Ilicínea 0,44552 95 Itumirim 0,31341 56 Elói Mendes 0,43621 96 Delfim Moreira 0,31150 57 Santa Rita de Caldas 0,43248 97 S Sebs do Rio Verde 0,31125 58 Cristais 0,42205 98 Delfinópolis 0,31089 59 Jacuí 0,42205 99 Ipuiúna 0,30937 60 Conc do Rio Verde 0,41586 100 Alagoa 0,30773 61 São Bento Abade 0,41356 101 Itapeva 0,30604 62 Mte Santo de Minas 0,40745 102 Campanha 0,30463 63 Santa Rita do Sapucaí 0,40072 103 Jacutinga 0,30364 64 São José da Barra 0,39176 104 Juruaia 0,30185 65 Ribeirão Vermelho 0,38762 105 Bom Sucesso 0,29805 66 Virgínia 0,38733 106 Nova Resende 0,28995 67 Conc da Aparecida 0,38281 107 Campestre 0,28927 68 Bom Jesus da Penha 0,38197 108 Candeias 0,28690 69 Extrema 0,37046 109 Liberdade 0,28418 70 Ouro Fino 0,37012 110 Alterosa 0,28289
...continua...
115
TABELA 20, Cont. 71 São José do Alegre 0,36420 111 Bom Jardim de Minas 0,26809 72 Conc Barra de Minas 0,36048 112 Três Pontas 0,26788 73 Poço Fundo 0,35970 113 Ritápolis 0,26554 74 Congonhal 0,35835 114 Piranguçu 0,26401 75 Maria da Fé 0,35803 115 Fama 0,26385 76 Carmo da Cachoeira 0,35612 116 Cruzília 0,26190 77 Bom Repouso 0,35181 117 Ingaí 0,25990 78 Coqueiral 0,35093 118 S Gonçalo do Sapucaí 0,25983 79 Bandeira do Sul 0,35024 119 Piranguinho 0,25905 80 Camanducaia 0,35014 120 São Pedro da União 0,25459
Na Tabela 21 são apresentados os 52 municípios da região Sul de Minas
que apresentam IAPG-M abaixo de 0,25, num total 29%, e que, provavelmente,
apresentam um tipo de administração patrimonial e/ou burocrática, pelo fato de
não adotarem, minimamente, critégios gerenciais de administração pública.
Esses municípios também merecem estudos em profundidade, pois são
indicativos de utilizarem práticas administrativas caracteristicamente
patrimoniais.
TABELA 21 IAPG-M – Categoria D.
Municípios Pontuação Municípios Pontuação 121 Albertina 0,25349 150 Tocos do Moji 0,21475 122 Aiuruoca 0,25333 151 Ibitiúra de Minas 0,21203 123 Piedade do Rio Gde 0,25259 152 São Vicente de Minas 0,20795 124 Andrelândia 0,25064 153 Senador José Bento 0,20769 125 M de Deus de Minas 0,24991 154 Dom Viçoso 0,20349 126 Ijaci 0,24957 155 Esp Sto do Dourado 0,20001 127 Soledade de Minas 0,24948 156 Conceição dos Ouros 0,19771 128 Heliodora 0,24640 157 Cordislândia 0,19590 129 Silvianópolis 0,24506 158 Prados 0,19387 130 Bueno Brandão 0,24414 159 Santa Cruz de Minas 0,19324 131 Turvolândia 0,24397 160 Aguanil 0,19178 132 Carvalhos 0,24336 161 Nazareno 0,19150 133 Itutinga 0,24228 162 Córrego do Bom Jesus 0,18770 134 Luminárias 0,24008 163 Marmelópolis 0,18729 ...continua...
116
TABELA 21, Cont. 135 Pedralva 0,24002 164 Cana Verde 0,18682 136 Estiva 0,23970 165 Tiradentes 0,18535 137 Santana da Vargem 0,23964 166 S Tomás de Aquino 0,18276 138 S. Seb. da Bela Vista 0,23879 167 Seritinga 0,18271 139 Munhoz 0,23820 168 Consolação 0,18004 140 Jesuânia 0,23812 169 Natércia 0,17978 141 Gonçalves 0,23673 170 Toledo 0,17857 142 Campo do Meio 0,23522 171 São Tiago 0,17856 143 Claraval 0,23467 172 Santana do Garambéu 0,17560 144 Ibituruna 0,23319 173 Sapucaí-Mirim 0,17359 145 Venceslau Brás 0,23282 174 Serranos 0,17219 146 Senador Amaral 0,23262 175 São João da Mata 0,17196 147 Cel Xavier Chaves 0,22622 176 Bocaina de Minas 0,16035 148 São Tomé das Letras 0,22564 177 Arantina 0,10474 149 Guaranésia 0,22541
No capítulo seguinte será feita uma breve discussão dos resultados
encontrados, buscando analisar a ausência do gerencialismo nos municípios sul-
mineiros.
117
9 A AUSÊNCIA DO GERENCIALISMO NOS MUNICÍPIOS SULMINEIROS
Dentre os 177 municipios da região sul de Minas Gerais, nenhum pode
ser caracterizado como gerencialista (Categoria A). Apenas 39 enquadraram-se
em um nível intermediário de gerencialismo, sinalizando para um tipo de
administração pública do tipo “híbrida”, patrimoniais, burocráticos e societais,
além dos elementos gerenciais. Dessa forma, tendo em vista a ausência de
municípios com administração pública gerencial, dentro dos indicadores
adotados nesta pesquisa, podem-se levantar várias questões, o que será feito de
maneira preliminar neste capítulo, considerando-se dois parâmetros. O primeiro
parâmetro refere-se à orientação política do governo de Minas Gerais, cujo
programa de reforma do estado, o “Choque de Gestão” (de cunho gerencialista),
teve início com o primeiro mandato do atual governador, Aécio Neves, a partir
de 2003, utilizando-se, para isso, o mapa político da região referente aos
prefeitos eleitos em 2004, com mandato entre 2005 e 2008, período equivalente
ao dos dados utilizados neste trabalho. O segundo parâmetro diz respeito a um
projeto de pesquisa maior, financiado pelo CNPq, do qual esta dissertação é uma
pequena parte, intitulado: “Administração pública em municípios de pequeno
porte do sul de Minas Gerais”.
Considerando-se, esses parâmetros, este capítulo se subdivide em duas
seções. Na primeira, verifica-se a existência ou não de ligação entre a corrente
político-partidária do governo do estado e a dos 39 municípios da categoria B
com tendências gerencialistas na região. Isso é feito por meio da filiação
partidária dos governantes. Na segunda seção, tais municípios são classificados
por seu porte populacional, buscando verificar se existe relação entre esta
classificação e a adoção do gerencialismo.
118
9.1 Gerencialismo e filiação partidária
A Reforma Gerencial de 1995, realizada no governo de Fernando
Henrique Cardoso e o chamado “Choque de Gestão”, realizado no governo de
Aécio Neves, a partir de 2003, podem ser considerados marcos da
implementação do gerencialismo na admistração pública em âmbito federal e no
estado de Minas Gerais, respectivamente. Tanto o governo de Fernando
Henrique Cardoso quanto o de Aécio Neves foram compostos por alianças
partidárias lideradas pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e pelo
Partido da Frente Liberal (PFL ), atualmente Democratas (DEM). Na Figura 42
estão relacionados os partidos que compuseram as coligações na eleição e na
reeleição do presidente FHC e do governador Aécio Neves.
Ano Eleição Coligação 1994 Fernando Henrique
Cardoso PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PFL – Partido da Frente Liberal PTB – Partido Trabalhista Brasileiro
1998 Fernando Henrique Cardoso
PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PFL – Partido da Frente Liberal PTB – Partido Trabalhista Brasileiro PPB – Partido Progressista Brasileiro
2002 Aécio Neves6 PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PFL – Partido da Frente Liberal PPB – Partido Progressista Brasileiro
2006 Aécio Neves7 PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PFL – Partido da Frente Liberal PTB – Partido Trabalhista Brasileiro PP – Partido Progressista PL – Partido Liberal
FIGURA 42 Coligações partidárias nas eleições (FHC e Aécio Neves). 6 Compuseram também a coligação: Partido Social Liberal (PSL), Partido Trabalhista Nacional (PTN), Partido dos Aposentados da Nação (PAN), Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB), Partido Humanista da Solidariedade (PHS), Partido Verde (PV) 7 Compuseram também a coligação: Partido Social Cristão (PSC), Partido Popular Socialista (PPS), Partido Socialista Brasileiro (PSB), PAN, PHS
119
Assim, considerando-se os principais partidos que ofereceram suporte a
estes governos, que introduziram reformas de cunho gerencial na administração
pública, pretende-se verificar a existência de relações entre estes e a
classificação do IAPG-M dos municípios do sul de Minas Gerais.
Para tanto, relacionou-se, primeiramente, o número de prefeituras por
partido, dentre os 39 municípios mais bem posicionados no IAPG-M (Classe B),
buscando verificar a existência do predomínio de algum partido. Nesse sentido,
também é relacionado o número de prefeituras, considerando-se os principais
partidos presentes nas coligações expostas no gráfico da Figura 43.
Em seguida, realizou-se uma tabulação cruzada entre os partidos e o
número de prefeituras em cada classe do IAPG-M, para todos os 177 municípios
do Sul de Minas, tecendo-se considerações sobre os resultados encontrados.
No gráfico da Figura 43 pode-se observar a distribuição de prefeituras
por partido, considerando-se o universo dos 39 municípios pertencentes à classe
B do IAPG-M. Constata-se que o PFL é o partido com mais prefeituras, no total
de 8, seguindo-se o PSDB e o PL, com 6 prefeituras cada. Não pode ser
observado o predomínio claro de nenhum partido político individualmente.
120
Prefeitura por Partidos - Classe B do IAPG-M
8
6
6
5
4
4
3
2
1
PFL
PSDB
PL
PTB
PT
PMDB
PP
PDT
PPS
FIGURA 43 Partidos políticos e gerencialismo no sul de Minas.
O gráfico da Figura 44 agrupa os resultados exibidos na Figura 43,
considerando-se os principais partidos integrantes das coligações que elegeram o
presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador Aécio Neves (PSDB,
PFL, PTB, PP, PL). Naturalmente, cada município elegeu seu respectivo prefeito
a partir de coligações diferentes, que refletem particularidades da política local.
No entanto, consideram-se os partidos acima por suas ligações com a eleição de
governamtes que conduziram as reformas gerencialistas em âmbito federal e
estadual.
121
Prefeitura por Grupos de Partidos - Classe B do IAPG-M
28
4
4
2
1
PFL/PSDB/PTB/PL/PP
PT
PMDB
PDT
PPS
FIGURA 44 Coligações partidárias e gerencialismo no sul de Minas.
Observa-se um claro predomínio dos partidos que compuseram a base de
apoio das reformas gerencialistas. No entanto, não se pode afirmar a existência
de relações diretas entre o IAPG-M e tal grupo de partidos, tendo em vista os
resultados apresentados em relação às classes C e D do índice, nas quais o
gerencialimo é baixo ou muito baixo.
Nesse sentido, na Tabela 22 está relacionado o partido pelo qual cada
prefeito municipal foi eleito, considerando-se as eleições de 2004 na totalidade
dos municípios sul-mineiros, distribuídos por classe do Índice de Administração
Pública Gerencial Municipal.
122
TABELA 22 Partido político e gerencialismo.
Classe B C D
Total
No prefeituras 2 3 1 6 % partido 33,3% 50,0% 16,7% 100% PDT % classe 5,1% 3,5% 1,9% 3,4% No prefeituras 8 8 6 22 % partido 36,4% 36,4% 27,3% 100% PFL % classe 20,5% 9,4% 11,3% 12,4% No prefeituras 6 9 6 21 % partido 28,6% 42,9% 28,6% 100% PL % classe 15,4% 10,6% 11,3% 11,9% No prefeituras 4 12 11 27 % partido 14,8% 44,4% 40,7% 100% PMDB % classe 10,3% 14,1% 20,8% 15,3% No prefeituras - 2 - 2 % partido - 100% - 100% PMN % classe - 2,4% - 1,1% No prefeituras 3 6 5 14 % partido 21,4% 42,9% 35,7% 100% PP % classe 7,7% 7,1% 9,4% 7,9% No prefeituras 1 2 2 5 % partido 20,0% 40,0% 40,0% 100% PPS % classe 2,6% 2,4% 3,8% 2,8% No prefeituras - - 1 1 % partido - - 100% 100% PSC % classe - - 1,9% 0,6% No prefeituras 6 19 13 38 % partido 15,8% 50,0% 34,2% 100% PSDB % classe 15,4% 22,4% 24,5% 21,5% No prefeituras - 1 1 2 % partido - 50,0% 50,0% 100% PSL % classe - 1,2% 1,9% 1,1% No prefeituras 4 10 2 16 % partido 25,0% 62,5% 12,5% 100% PT % classe 10,3% 11,8% 3,8% 9,0% No prefeituras 5 12 5 22 % partido 22,7% 54,5% 22,7% 100% PTB % classe 12,8% 14,1% 9,4% 12,4% No prefeituras - 1 0 1 % partido - 100% - 100%
Par
tidos
PTC % classe - 1,2% - 0,6%
TOTAL No prefeituras 39 85 53 177
123
Dessa forma, o grupo de partidos considerado no gráfico da Figura 45
(PSDB, PFL, PTB, PP, PL) possui 71,7% das prefeituras da classe B, mas
também possui 63,5% das prefeituras da classe C e 66% da classe D. Este grupo
de partidos apresentou, na eleição de 2004, predomínio na maioria dos
municípios da região – dos mais aos menos gerencialistas –, não podendo ser
estabelecida uma relação clara com a adoção da administração pública gerencial.
Consideram-se pertinentes, para melhor entendimento desta questão,
pesquisas teóricas e empíricas sobre a extrapolação da doutrina gerencialista
para além das fronteiras de um único partido político ou grupo de partidos,
pesquisas que estudem a relação entre o gerencialismo e a continuidade
administrativa, bem como aquelas a respeito do personalismo e o papel dos
partidos políticos na administração pública municipal. Isso tendo em vista que a
política brasileira é, tradicionalmente, mais centralizada na pessoa do candidato
ou do governante do que nos partidos políticos e sua ideologia.
9.2 Gerencialismo e porte do município
Como já foi visto neste trabalho, a região Sul de Minas caracteriza-se
pelo predomínio de municípios de pequeno porte, considerando-se dnsta ctegoria
aqueles com menos de 50 mil habitantes e densidade demográfica menor do que
80 habitantes por quilômetro quadrado (Veiga, 2005).
Dentre os 39 municípios sul-mineiros que podem ser considerados com
tendências gerencialistas, segundo o modelo desenvolvido neste trabalho, 15 são
considerados de médio ou grande porte. Para Veiga (2005), são considerados
municípios de médio porte aqueles que possuem entre 50 e 100 mil habitantes,
ou com densidade demográfica superior a 80 habitantes por quilômetro
quadrado, mesmo que com população inferior a 50 mil habitantes.
124
Isto posto, na Tabela 23 relaciona-se o porte do município (pequeno,
médio ou grande) com os 39 municípios com tendências gerencialistas apontada
neste trabalho.
TABELA 23 Porte do município e gerencialismo. Porte do município Quantidade total de
municipios Quantidade de municípios com
tendências gerencialistas
% de municípios com tendências gerencialistas
PEQUENO 155 24 15,48% MÉDIO 19 12 63,15% GRANDE 3 3 100% Total 177 39 -
Assim, pode-se observar que a administração pública com tendência
gerencial é menos disseminada ainda nos municípios de pequeno porte.
Considera-se um tema de pesquisa relevante para a compreensão da
adminstração dos municípios de pequeno porte investigar as razões pela
baixíssima penetração do gerencialismo, bem como entender o tipo de
administração pública mais adequado para os municípios deste porte. Estudos
comparativos entre os municípios de pequeno porte gerencialistas e não
gerencialistas podem trazer luz a esta questão.
125
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A administração pública gerencial tem sido considerada o modelo
dominante na atualidade. No entanto, a realidade aponta para um gerencialismo
que se constrói sobre a estrutura de um modelo burocrático e que o
patrimonialismo ainda é uma realidade a ser extirpada da administração pública
e a administração societal procura abrir espaço para a introdução de um novo
modelo mais democrático e participativo de administrar o que é público.
Nesse contexto, esta dissertação se propôs a investigar a adoção da
administração pública gerencial nos municípios do sul de Minas Gerais. Para
tanto, optou-se por empreender uma avaliação por meio de indicadores que
refletissem componentes-chave do gerencialismo. Nesse sentido, foi,
primeiramente, realizada uma revisão bilbiográfica sobre o tema, possibilitando
caracterizar e identificar os temas centrais na administração pública gerencial.
Foi também realizado um breve histórico da administração pública brasileira, o
que permitiu conhecer melhor a dinâmica e a interação entre os modelos, bem
como o estágio em que se encontra o gerencialismo no país
No intuito de validar e trazer maior consistência aos temas centrais do
gerencialismo, revelados pela revisão bibliográfica, foi realizado um
levantamento da produção científica nacional, por meio da análise dos artigos
publicados nas cinco últimas edições do EnANPAD. Assim, emergiram as
categorias de análise utilizadas na construção dos indicadores, permitindo
identificar e analisar as variáveis e os indicadores mais apropriados para traçar
um perfil gerencial de administração pública.
Foi apresentado um referencial teórico, envolvendo os trabalhos de
Putnam (2007), Haddad (2004) e ZEE-MG (2007), além de um levantamento
sobre o Índice Mineiro de Responsabilidade Social (FJP, 2005) e a Pesquisa de
Informações Básicas Municipais do IBGE. Este referencial permitiu a validação
126
da metodologia de análise estatística dos dados e o estabelecimento de pesos às
variáveis e aos indicadores.
Uma vez realizada a identificação dos temas centrais do gerencialismo e
construídos os indicadores, foi realizada uma classificação dos municípios do
Sul de Minas, quanto à adoção do modelo gerencial de administração pública.
Verificou-se que a adoção do gerencialismo nos municípios da região ainda é
bastante incipiente e apenas 39 municípios, cerca de 22%, podem ser
considerados com tendências gerencialistas, classificados na categoria B de
análise, segundo o modelo de indicadores utilizado nesta pesquisa. A
convivência e a interação entre os diversos tipos de administração pública em
uma gestão tornam a tarefa de uma caracterização objetiva bem mais complexa.
Estudos qualitativos nas gestões municipais poderão ajudar na
identificação e na criação de novos indicadores e dimensões de análise,
aumentando a precisão do Indicador de Administração Pública Gerencial
Municipal, o IAPG-M.
A incorporação de novas bases de dados ao modelo também poderá
permitir a criação de novos indicadores ou o aprimoramento dos indicadores já
existentes.
O modelo de indicadores ora criado, por trabalhar com boa parte dos
dados provenientes de bases públicas e nacionais, como a Pesquisa de
Informações Básicas Municipais do IBGE, pode ser replicado em outras regiões
do estado ou do país, permitindo a comparação entre as regiões e a ampliação do
universo estudado, além do aprimoramento do próprio modelo.
Outras possibilidades de estudos futuros referem-se aos parâmetros
desenvolvidos no capítulo 8: gerencialismo e partido político, e gerencialismo e
porte do município.
Quanto à relação entre gerencialismo e partido político, a análise dos
municípios da região revelou a inexistência de relações claras entre partidos e
127
coligações e o Índice de Administração Pública Gerencial Municipal, tendo em
vista que a política brasileira é, tradiconalmente, mais voltada para a pessoa do
candidato ou governante do que para uma ideologia partidária. Pesquisas futuras
poderão ajudar a responder se a adoção da administração pública gerencial nos
municípios está mais relacionada a ações empreendedoras dos governantes do
que a uma orientação ou filiação partidária.
Quanto à relação entre gerencialismo e porte do município, verificou-se
que este tipo de gestão pública encontra-se mais difundido entre os municípios
de médio e grande porte do que entre os municípios de pequeno porte. Estudos
futuros poderão ajudar a entender o porquê da menor incidência do
gerencialismo nesta categoria de municípios, bem como se as necessidades
administrativas desses municípios apontam realmente na direção do
gerencialismo ou se outros tipos de administração pública, como a societal,
seriam mais adequados à sua realidade.
Pesquisas semelhantes a esta, tendo como foco outros tipos de
adminstração pública, como o patrimonialismo, a burocracia e a administração
pública societal, poderão também ser empreendidas, complementando o foco
dado por este trabalho e caminhando em direção a um modelo de indicadores
mais completo, no qual seja possível discernir se a administração de um
município é mais patrimonialista, burocrática, gerencialista ou societal.
Crê-se, no entanto, que um modelo com esta plenitude poderia ser
construído de forma mais efetiva, por meio do empreendimento de estudos de
caráter mais qualitativo, considerando-se a complexidade da convivência e das
interações entre os diferentes tipos de gestão e julgando ser a realidade muito
mais subjetiva e interpretativa do que linear e objetiva.
Por fim, espera-se que esta dissertação e a criação deste modelo de
indicadores, ainda que incompleto e com muito campo a avançar, possam ajudar
128
a lançar luz nos estudos sobre o tema, proporcionando maior conhecimento
sobre o gerencialismo nos municípios sul-mineiros.
129
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