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Essentials of Dental Caries (2nd Edition) - Tradução com fins didáticos por Prof.Dr. Rodrigo Murrer
4
Diagnóstico e sua importância para o tratamento da cárie
1.1 Introdução
1.2 Porque o diagnóstico da cárie no seu estágio ‘inicial’ é
importante?
1.3 Como pode se diagnosticar cárie no seu estágio ‘inicial’
1.3.1 Superfícies lisas livres
1.3.2 Fóssulas e fissuras
1.3.3 Superfícies proximais
1.4 Como o paciente em risco de cárie pode ser identificado?
1.4.1 História social
1.4.2 História médica
1.4.3 Hábitos dietéticos
1.4.4 Uso de flúor
1.4.5 Controle de placa
1.4.6 Saliva
1.4.7 Evidências clínicas
1.4.8 Avaliação dos dados
1.5 A relevância das informações do diagnóstico para o tratamento
do processo carioso
1.5.1 Superfícies lisas livres
1.5.2 Fóssulas e fissuras
1.5.3 Superfícies proximais
1.5.4 Cárie radicular
1.5.5 Dentes decíduos
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4.1 INTRODUÇÃO
O diagnóstico da cárie dental é fundamental para a prática da dentística. Este
capítulo irá discutir o problema do diagnóstico, concentrando-se na, assim
chamada, lesão de cárie ‘inicial’. A palavra ‘inicial’ foi escrita entre aspas pois essa
lesão pode ter estado presente na boca por muitos anos num estado paralisado
(ver Capítulo 1, p.10 e Capítulo 2, p.28). Será feita uma tentativa de responder
quatro questões, a saber:
1. Porque o diagnóstico de cárie no seu estágio ‘inicial’ é importante?
2. Como pode se diagnosticar cárie no seu estágio ‘inicial’
3. Como o paciente em risco de cárie pode ser identificado?
4. Qual é a relevância das informações do diagnóstico para o tratamentodo processo carioso
4.2 PORQUE O DIAGNÓSTICO DE CÁRIE NO SEU ESTÁGIO ‘INICIAL’ É
IMPORTANTE
O diagnóstico precoce das lesões cariosas é importante porque o processo
carioso pode ser modificado pelo tratamento preventivo de tal maneira que a lesão
não progrida. Se a cárie puder ser diagnosticada no estágio de mancha branca o
equilíbrio pode ser inclinado em favor da paralisação através de modificação da
dieta, melhor controle de placa e utilização sensata do flúor (ver Fig. 1.14, p.17).
Então qual é o ‘ponto sem volta’, a partir do qual não podemos mais ter
esperança de paralisação? O ponto onde a restauração do tecido danificado por
um material restaurador pode ser necessário. Talvez o ‘ponto sem volta’ seja
quando a cavidade está presente, já que não se espera que um buraco no tecido
dental calcifique a partir da base e a cavidade retenha placa. Portanto, uma
importante questão que o dentista deve responder é o que irá paralisar e o que
deve ser restaurado? Além disso, é sempre possível diagnosticar se uma cavidade
está presente e qual a relevância do dano para o tecido dental?
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4.3 COMO PODE SE DIAGNOSTICAR CÁRIE NO SEUA ESTÁGIO ‘INICIAL’?
O diagnóstico de cárie no consultório requer uma boa iluminação e um dente seco
e limpo. Se houver grandes depósitos de cálculo ou placa presentes, a boca
deveria ser limpa antes visando um diagnóstico acurado. Cada quadrante da boca
é isolado com rolos algodão para prevenir que a saliva molhe o dente após a
secagem. Uma secagem completa deve ser feita com uma suave jato de ar da
seringa tríplice (ver p.20).
Olhos treinados podem ser usados para procurar pelos sinais iniciais de
desmineralização. Tradicionalmente, sondas afiadas também têm sido usadas
para detectar a sensação ‘pegajosa’ de pequenas cavitações. Entretanto, esta
abordagem NÃO deveria ser usada porque a sonda afiada pode na verdadecausar danos em lesões de cárie incipientes (Fig. 4.1) e, por carregar
microorganismos para a lesão, pode facilitar a disseminação da cárie.
Boas radiografias interproximais também são essenciais para o diagnóstico.
Nesta técnica o feixe central de raios-X é posicionado para passar perpendicular
ao longo eixo do dente, e tangencialmente à área de contato. O filme é
posicionado num suporte na parte lingual dos dentes posteriores. O paciente
então morde o posicionador da radiografia. Uma guia no posicionador orienta a
posição do tubo (Fig. 4.2). Isso direciona o feixe perpendicular ao filme e às áreas
de contato do dente. O tipo de radiografia resultante pode ser visto na Fig. 4.3.
Para responder a questão se a cárie pode ser diagnosticada nos seus
estágio ‘inicial’ e, se pode, como isso seria feito, as áreas onde a cárie pode
ocorrer devem ser consideradas separadamente. São elas superfícies lisas livres,
fóssulas e fissuras e sperfícies proximais.
4.3.1 Superfícies lisas livres
A cárie em superfície lisas de esmalte pode ser diagnosticada com olhos treinados
no estágio de mancha branca ou marrom (Fig. 1.4c, p.6) antes da cavitação
ocorrer, desde que o dente esteja limpo, seco e bem iluminado. A secagem é
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muito importante pois, como explicado na p.20, isso dá ao clínico uma idéia da
porosidade da lesão. Lesões ativas tendem estar próximas à margem gengival e
podem ter um aspecto de mat indicativo de perda superficial de tecido (p.6).
Lesões paralisadas, por outro lado, podem estar distanciadas da margem gengival
e pode ter uma superfície brilhante e lustrosa. Algumas vezes estas lesões são
marrons devido a porosidade ter absorvido pigmentos exógenos da boca (Fig. 2.2,
p.21).
Cáries na superfície radicular, nos estágios iniciais, aparecem como uma ou
mais áreas pequenas, bem definidas, localizadas numa área de estagnação de
placa próximo à margem gengival (Fig. 4.4). As lesões podem variar de cor de um
amarelado ou marrom claro, até um marrom quase preto. Lesões ativas são
amolecidas ou com consistência de couro1 e podem cavitar. Lesões paralisadassão duras e freqüentemente localizadas numa área livre de placa, coronária à
margem gengival (Fig. 4.5). Lesões paralisadas podem estar cavitadas.
Embora a consistência da lesão seja importante para diagnosticar sua
atividade, muito cuidado deve ser tomado quando se utilizar um instrumento afiado
nessas superfícies. Uma sonda afiada poderia causar um pequeno buraco no qual
a placa irá se acumular, possivelmente protegida das cerdas da escova. Pode ser
mais seguro testar a consistência da lesão pelo uso de um escavador
suavemente. Deveria ser observado que a coloração não é um bom indicador da
atividade da lesão. É provável que a cor da lesão seja devido à pigmentação
exógena de itens como chá, café, vinho tinto e bochechos de clorexidina. Portanto
a cor pode refletir o uso desses itens ao invés da atividade da lesão.
Cáries radiculares se estendem apenas 0.25 a 1 mm em profundidade.
Nem sempre elas se estendem apicalmente conforme a margem gengival se
afasta, mas novas lesões podem se desenvolver ao nível da nova margem
gengival. Isto pode ocorrer independente de uma lesão paralisada localizada
coronariamente na junção cemento-esmalte do dente.
4.3.2 Fóssulas e fissuras
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Enquanto a cárie em superfície lisa livre é fácil visualizar, cárie em fóssulas e
fissuras é difícil de diagnosticar num estágio inicial. Uma fissura que clinicamente
parece hígida pode histologicamente mostrar sinais iniciais de formação de lesão.
Além disso, as fissuras que predem uma sonda afiada podem não estar cariadas
histologicamente. Esta apreensão da sonda pode resultar da anatomia da fissura
ou da pressão exercida ao invés de cárie, na verdade uma sonda afiada pode de
fato cavitar uma lesão de cárie incipiente. Por estas razões é sugerido que a
sonda deve ser utilizada para remover placa da fissura para permitir que olhos
treinados encontrem descoloração, cavitação e aparência acinzentada de esmalte
socavado pela cárie na dentina subjacente (Figs. 4.6, 1.2, p.5).
Além disso, radiografias interproximais são de grande importância na
detecção de cáries oclusais, embora no momento que a lesão pode ser vistaradiograficamente ela já esteja na dentina (Fig. 4.3). O esmalte oclusal pode
parecer livre de cárie clinicamente2 ou ligeiramente descolorado, sem cavidade
para ser vista ou sondada, mas a radiografia interproximal pode mostrar cárie em
dentina.
Então, para resumir, é difícil diagnosticar cm confiança cárie nas fóssulas e
fissuras nos estágios iniciais e a anatomia da área pode favorecer a expansão da
lesão ao invés da paralisação. Estes fatos de relevância considerável no
tratamento da cárie em fóssulas e fissuras e serão discutidos nos Capítulos 8 e
10.
No futuro um monitor eletrônico de cárie (Fig. 4.7) pode resolver este
problema de diagnóstico. Aferição da resistência elétrica3 é um método alternativo
promissor para o diagnóstico de cárie oclusal. O esmalte hígido é um bom isolante
mas, durante o processo carioso, forma-se uma porosidade no tecido que se
preenche de água e íons da saliva. Estas porosidades preenchidas por saliva
atuam como trilhas condutoras fazendo com que os valores de resistência caiam.
Pesquisas têm mostrado que essas aferições podem detectar lesões
desmineralizadas no esmalte oclusal. Seu valor é a possibilidade de repetir as
aferições na próxima visita do paciente e leituras comparativas podem indicar se
uma lesão está ou não progredindo.
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4.3.3 Superfícies proximais
Como na fissura, será difícil visualizar a lesão cariosa ‘inicial’ em esmalte nas
superfícies proximais. Isto porque a lesão forma-se logo abaixo da área de contato
e a visão é obliterada pelo dente adjacente. A lesão é descoberta visualmente
apenas em um estágio relativamente tardio quando ela já progrediu para a dentina
e é vista como uma área pinkish grey transparecendo pela crista marginal (Fig.
1.3, p.5). Deve ser enfatizado novamente que os dentes devem estar isolados,
limpos e secos para se visualizar isso.
Em contraste, uma lesão proximal na superfície radicular pode ser
diagnosticada visualmente mas a saúde gengival é obrigatória para este tipo dediagnóstico ser confiável. Portanto, se a gengiva estiver vermelha, inchada e com
tendência a sangrar, o diagnóstico de cárie nessas áreas deveria ser adiado para
depois da raspagem e alisamento radicular e que uma melhor higiene oral tenha
sido instituída e a inflamação solucionada.
Uma sonda afiada e curva (Briault) pode ser usada suavemente para tentar
determinar se uma superfície proximal está cavitada mas, se este instrumento for
usado de um modo exagerado, ele pode na verdade causar uma cavitação.
A radiografia interproximal é de suprema importância no diagnóstico de
lesões de cárie proximais (Fig. 4.8), embora deveria ser lembrado que a técnica é
relativamente insensível por não ser capaz de detectar desmineralizações
subsuperficiais iniciais. Como mostrado diagramaticamente na Fig. 4.9, a lesão
proximal em esmalte aparece como uma área triangular escura no esmalte da
radiografia interproximal. A lesão pode estar no esmalte externo ou ser vista ao
longo de toda a profundidade do esmalte. Lesões maiores podem ser vistas como
uma radiolucidez no esmalte e na metade externa da dentina ou uma radiolucidez
no esmalte alcançando a metade interna da dentina. A polpa freqüentemente está
exposta pelo processo carioso nesta última situação.
A cárie na superfície radicular proximal também é visível na radiografia
interproximal (Fig.4.10) embora esta aparência seja algumas vezes confundida
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com a radiolucidez cervical. Esta última é uma aparência normal causada pela
ausência da densa cobertura de esmalte na junção cemento-esmalte e ausência
do osso alveolar interdental. Felizmente, cárie radicular é visível clinicamente e um
re-exame clínico cuidadoso irá esclarecer qualquer confusão.
É óbvio que, para ter valor, a radiografia interproximal deve ser executada
cuidadosamente. Sobreposições do ponto de contato oculta o que o dentista está
tentando visualizar e, infelizmente, pequenas diferenças na angulação do filme ou
do feixe de raios-X irá afetar o que é visto na radiografia resultante. Portanto, as
radiografias deveriam ser tão reproduzíveis quanto possível, usando
posicionadores radiográficos com um hastes guias (Fig. 4.2) e estandardização do
tempo e dose de exposição. Além disso, as radografias devem ser avaliadas
secas, montadas e sob condições estandardizadas de iluminação.O exame com luz transmitida também pode ser de considerável ajuda no
diagnóstico de cáries proximais4. Esta técnica consiste em colocar uma luz através
do ponto de contato. Uma lesão cariosa tem um índice de transmissão da luz
diminuído e portanto aparece como uma sombra escura que segue o contorno da
cárie através da dentina. A técnica tem sido usada por muitos anos no diagnóstico
de lesões proximais em dentes anteriores. A luz é refletida através do dente pelo
refletor odontológico e as lesões cariosas são prontamente vistas no espelho (Fig.
4.11).
Nos dentes posteriores necessárias uma fonte de luz mais potente e um
feixe de fibra óptica de diâmetro reduzido a 0.5 mm tem sido usado (Fig. 4.12). É
importante que o diâmetro da fonte de luz seja pequeno de maneira que o
ofuscamento e a perda de detalhe da superfície estejam eliminados. A luz deve
ser usada com os dentes secos. A técnica é chamada trans-iluminação com fibra
óptica (FOTI, do inglês fibreoptic transillumination). Ela possui vantagens em
pacientes com apinhamentos posteriores onde as radiografias interproximais
produziriam imagens sobrepostas e em mulheres grávidas onde irradiação
desnecessária deve ser evitada.
Uma técnica adicional para auxiliar no diagnóstico de cáries proximais é o
uso da separação dental5. Esta técnica foi tomada emprestada dos ortodontistas
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que a tem usado por anos para separar dentes antes da colocação de bandas. Um
pequeno elástico circular é forçado entre o ponto de contato usando um dispositivo
de aplicação (Fig. 4.13a). Após alguns dias os dentes estão separados (Fig.
4.13b). Algumas vezes o dentista pode então ver a área proximal por visão direta
e sentí-la, suavemente, com a sonda para detectar se há cavidade presente. Uma
maneira melhor de detectar ma cavidade é injetar um pouco de material
elastômero de moldagem entre os dentes (Fig. 4.13c). Após alguns minutos o
material polimerizado pode ser removido com uma sonda e a moldagem
examinada para ver se há cavidade (Fig. 4.13d).
4.4 COMO O PACIENTE EM RISCO DE CÁRIE PODE SER IDENTIFICADO?
Já foi enfatizado que a cárie não deve ser considerada puramente como sendo um
processo de desmineralização mas como um processo alternado de destruição,
paralisação e reparo parcial. Se o processo puder ser diagnosticado
precocemente o dentista pode ajudar o paciente a instituir medidas preventivas
para inclinar o equilíbrio em favor da paralisação. Entretanto, diagnóstico implica
muito mais que o registro do número de cavidades, sua localização e aparência. O
dentista precisa saber se é provável que o paciente desenvolva novas cavidades
e/ou se é provável que as cavidades existentes progridam.
Este conceito pode ser ilustrado com dois exemplos. Imagine examinar uma
criança de cinco anos pela primeira vez. A dentição parece clinicamente livre de
cárie. Este paciente precisa de conselhos sobre prevenção da doença ou
meramente elogios pelos bons hábitos? Agora considere um paciente de 60 anos,
novamente visto pela primeira vez; a boca apresenta muitas restaurações e há
evidência de cárie radicular em alguns dentes. É provável que essas lesões
progridam ou elas já paralisaram? O dentista precisa saber isto antes de decidir
qual o melhor tratamento para o paciente. Portanto o clínico prudente irá realizar
uma avaliação do risco de cárie em todos os pacientes no início do tratamento.
Esta avaliação deve ser atualizada a cada visita de monitoramento, já que as
circunstâncias podem mudar. Avaliação do risco de cárie é um tema complexo. A
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Figura 4.14 lista alguns dos muitos fatores a serem considerados de maneira que,
através de um histórico cuidadoso, um exame clínico e testes especiais, esta
avaliação de risco de cárie possa ser feito.
4.4.1 História social
A cárie dental é hoje um problema principalmente de desprovidos sociais. Fatores
sociais serão avaliados, freqüentemente subconscientemente, logo que o paciente
entra na sala. Roupas, comportamento e origem racial serão aparentes para a
avaliação subjetiva, embora deva ser tomado cuidado para não se tirar conclusões
imprecisas e não comprovadas. Questões sobre o emprego, a rotina de trabalho
como o turno de trabalho e o padrão de freqüência de consultas de outrosmembros da família, extraem informações valiosas. Enquanto o paciente relata
sua história suas aspirações odontológicas se tornam aparentes e um plano de
tratamento pertinente irá abranger essas aspirações. Mudanças de vida como uma
mudança de casa ou entrada na escola ou universidade, uma mudança de
emprego ou desemprego, aposentadoria e perdas, tudo isso pode afetar os
padrões dietéticos do paciente e portanto sua atividade de cárie.
4.4.2 História médica
A história médica é sempre importante na prática odontológica e algumas
enfermidades específicas predispõe a um alto risco de cárie. Destes os mais
importantes são aqueles problemas médicos que deixam a boca seca (xerostomia)
como a radioterapia na região das glândulas salivares, síndrome de Sjögren (ver
Capítulo 5, p.69), e uso prolongado de medicações como tranqüilizantes, anti-
hipertensivos e diuréticos. Medicamentos de uso freqüente podem por si predispor
a um risco se contiverem açúcar.
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Hábitos dietéticos e as atitudes do paciente em relação a eles são imortantes.
Uma análise da dieta pode ser uma peça útil no jigsaw de informação e as várias
técnicas de análise de dieta serão discutidas em detalhe no Capítulo 6.
4.4.4 Uso do flúor
A história do uso do flúor também é importante já que o íon flúor retarda a
progressão da lesão. Os dentistas irão saber o conteúdo de flúor da água de
abastecimento público. Entretanto, apenas 10 por cento da população do Reino
Unido tem acesso a água fluoretada portanto o suplemento de flúor mais comum é
o dentifrício fluoretado. Embora o dentifrício fluoretado seja usado por muitas
pessoas, é sempre aconselhável checar. É surpreendente como freqüentementeum paciente com múltiplas lesões de cárie selecionou um tipo particular de
dentifrício, fabricado para dentes sensíveis, que não contém flúor.
4.4.5 Controle de placa
Como as bactérias são responsáveis pelo processo carioso, uma baixa higiene
oral é um fator de risco de cárie. Isto será discutido em detalhes no Capítulo 8.
4.4.6 Saliva
Em se tratando da boca, a saliva é um fluído protetor. Uma baixa taxa de secreção
leva a uma eliminação de microorganismos e resíduos alimentares reduzida, uma
neutralização dos ácidos prejudicada e uma habilidade reduzida de reparar lesões
em esmalte iniciais. Uma baixa taxa secreção salivar é geralmente acompanhada
por uma baixa capacidade de tamponamento e um aumento no número de
estreptococos mutans e lactobacilos. Portanto uma atividade de cárie aumentada
é verificada em pessoas com taxa de secreção salivar reduzida. Isto será discutido
em maiores detalhes no Capítulo 5.
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A taxa de secreção de saliva não estimulada pode ser determinada com o
paciente sentado em repouso na cadeira odontológica, sem mascar ou engolir,
mas cuspindo em um recipiente de coleta.
A taxa de secreção de saliva estimulada pode ser determinada da seguinte
maneira. É solicitado ao paciente para cuspir toda a saliva presente na boca e
então para mastigar um pedaço de parafina. A saliva formada nós próximos cinco
minutos é expectorada em um recipiente de coleta. O volume de saliva secretada
é medido se aspirando a saliva com uma seringa plástica graduada (Fig. 4.15). O
fluxo salivar é então expresso em mililitros por minuto. Quando o fluxo salivar é
muito baixo a saliva coletada pode ser também espumosa e difícil de medir.
Nestes casos a adição de uma quantidade conhecida de água irá eliminar a
espuma e portanto facilitar a aferição.
Taxa de secreção salivar não estimulada normal em adultos 0.3-0.5 ml/min
Taxa de secreção salivar estimulada normal em adultos 1-2 ml/min
Taxa de secreção salivar estimulada baixa em adultos < 0.7 ml/min
Boca severamente seca < 0.1 ml/min
Um pouco da saliva estimulada pela parafina pode então ser usada para dar uma
indicação da capacidade de tamponamento, desde que ela não tenha sido diluída.
Como a capacidade de tamponamento da saliva geralmente aumenta após as
refeições. Kits especiais estão disponíveis no mercado (Ivoclair Vivadent Ltda) que
são convenientes para o uso chairside . Um teste simples de litmus-type mede a
capacidade de tamponamento. O papel litmus é mergulhado na saliva do paciente
e a cor é comparada com uma tabela fornecida pelo fabricante para se ter a leitura
da capacidade de tamponamento do paciente (Fig. 4.16).
Capacidade de tamponamento normal final pH 5-7
Capacidade de tamponamento baixa final ph 4
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Se os testes salivares mostram valores baixos de fluxo salivar e capacidade de
tamponamento os testes devem ser repetidos para determinar se os valores foram
ocasionais ou são constantes. Se eles forem constantes o fator causal tem que ser
determinado (Capítulo 5).
Alguns microorganismos são mais importantes que outros na patogênese
da cárie dental. Há hoje alguma evidência com um baixo nível de estreptococos
mutans podem ser de baixo risco à cárie. Além disso, há evidências que um alto
nível de lactobacilos está associado com uma dieta cariogênica. Altos níveis
destes organismos também são associados com múltiplas cavidades abertas,
estas cavidades deveriam ser escavadas e seladas temporariamente (Capítulo 11)
antes de determinar o nível de infecção por lactobacilos. Há disponível no
comércio kits acessíveis para avaliar tanto estreptococos mutans comolactobacilos (Ivoclair Vivadent Ltda.). Os autores reservam a contagem bacteriana
para o tratamento de pacientes xerostômicos que possuem um alto risco de cárie.
Os kits comerciais usados para avaliar a contagem de lactobacilos
consistem de um slide inoculado com um meio especial para permitir o
crescimento dos lactobacilos. É coletada saliva estimulada do paciente e
derramada sobre o slide que é então incubado e todos os lactobacilos da saliva se
multiplicarão para formar colônias no slide . O número de colônias pode ser
estimada através de uma tabela de referência fornecida pelo fabricante (Fig. 4.17).
Um sistema similar está disponível para a estimação de estreptococos mutans,
embora neste caso a saliva é coletada passando um slide especial na língua do
paciente (Fig. 4.18).
4.4.7 Evidências clínicas
As evidências clínicas são os mais úteis indicadores de risco de cárie6. Uma
história de repetidas restaurações e re-restaurações, aliada a múltiplas novas
lesões verificadas no exame físico ou radiográfico, é um quadro óbvio de risco de
cárie. Se mucosa estiver seca e fosca pode-se suspeitar de um baixo fluxo salivar.
A presença de grandes quantidades de placa e o estado do periodonto também
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irão nos dar algumas pistas. Superfícies radiculares expostas em função de
doença periodontal podem ser susceptíveis à cárie. Áreas de estagnação, tais
como superfícies oclusais de dentes em erupção, fissuras profundas não seladas,
múltiplas bandas ortodônticas, prótese parciais e tratamento restaurador ruim
estimulam o acúmulo de placa e aumentam o risco de cárie.
É importante durante o registro de cárie que a localização e a aparência
sejam anotadas assim como sua prevalência. Por exemplo, se a cárie está
presente nos dentes anteriores inferiores, o risco de cárie é maior que se apenas
as fissuras dos dentes posteriores estiverem envolvidos. Lesões endurecidas não
devem preocupar o dentista tanto quanto lesões amolecidas. Cáries recorrentes
ao redor de restaurações também deveriam fazer soar o alarme.
4.4.8 Avaliação dos dados
Para se avaliar o risco de cárie real, as informações da história do caso e do
exame clínico e radiográfico, a história da dieta e os testes salivares devem ser
considerados. Nenhum fator negativo isolado deveria ser tomado como denotação
de alto risco. Uma superfície coberta por placa não desenvolverá inevitavelmente
uma cavidade. Embora o consumo de açúcar e o número de estreptococos
mutans estejam intimamente associados com a cárie, há muitas pessoas com
altas contagens que não desenvolvem cáries. Similarmente, algumas pessoas
podem comer açúcar freqüentemente e ser livre de cárie. O processo carioso é
causado pr vários fatores e deve ser tratado como tal.
4.5 A RELEVÂNCIA DAS INFORMAÇÕES DO DIAGNÓSTICO PARA O
TRATAMENTO DO PROCESSO CARIOSO
É importante lembrar que os diagnósticos clínico e radiográfico podem ser
imprecisos e contraditórios. Ninguém pode estar certo de registrar o mesmo
diagnóstico de cárie em ocasiões diferentes no mesmo paciente, e para
comprovar este fato o estudante pode pegar um determinado número de
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radiografias interproximais e anotar seus achados e então repetir este exercício
uma semana mais tarde. Os estudantes irão perceber que nem sempre eles irão
concordar com eles mesmos, quanto mais com os colegas. Entretanto eles não
devem se sentir desesperados com isso, já que epidemiologistas treinados tem
uma fidedignidade de apenas 70-80 por cento!
Quando lesões de cárie são diagnosticadas o clínico deve decidir como o
processo deveria ser tratado. Atualmente há duas abordagens possíveis:
1. Usar medidas preventivas na tentativa de paralisar o processo.
2. Remover cirurgicamente e substituir o tecido comprometido e prevenir a
recorrência.
Essas duas abordagens serão agora consideradas à luz das informações de
diagnóstico disponíveis.
4.5.1 Superfícies lisas livres
Cáries em superfícies lisas livres podem ser diagnosticadas no estágio de mancha
branca, ou seja antes da cavitação ocorrer. Entretanto, na primeira ocasião que o
dentista examina o paciente, pode não ser óbvio se tal lesão representa cárie ativa
ou uma lesão crônica paralisada que esteve presente por muitos anos. O dentista
perspicaz irá provavelmente discutir o problema com o paciente e conduzir uma
análise da dieta. Medidas preventivas como aconselhamento dietético (Capítulo
6), uso de flúor (Capítulo 7) e controle de placa aperfeiçoado (Capítulo 8) podem
ser instituídos e a lesão reavaliada em 6 meses.
4.5.2 Fóssulas e fissuras
Como é difícil diagnosticar cáries em fóssulas e fissuras nos estágios iniciais e
como as fissuras são áreas particularmente susceptíveis, o dentistas pode decidir
selar dentes susceptíveis logo que for possível após a erupção. Os selantes são
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materiais que cobrem e protegem a fissura e são discutidos em detalhes no
Capítulo 10.
A lesão oclusal que aparece em uma radiografia interproximal (Fig. 4.3)
deveria ser restaurada (Capítulo 11). Uma pequena restauração oclusal,
executada cuidadosamente, é preferível ao risco de esperar até uma exposição
que necessite tratamento endodôntico. A anatomia da fissura e conseqüentemente
o formato da lesão cariosa freqüentemente resultam num grande socavamento do
esmalte pelo processo carioso.
4.5.3 Superfícies proximais
Em estudos epidemiológicos, um sistema de ranking é utilizado que divide oesmalte e a dentina em metades internas e externas de maneira que uma
indicação mais precisa da profundidade da lesão é possível. Um desses sistemas
está ilustrado na Fig. 4.9 e será utilizado para discutir o problema clínico de
quando restaurar. Dentes que estão hígidos na radiografia (0) não sofrerão
intervenção, embora deva ser lembrado que manchas brancas iniciais ainda
podem estar presentes, sendo a técnica radiográfica menos sensível que o exame
a olho nu.
Uma lesão limitada ao esmalte na radiografia interproximal deveria ser
tratada preventivamente. Histologicamente estas lesões estão provavelmente em
dentina mas dificilmente cavitadas: portanto medidas preventivas deveriam
paralisar a lesão. O tempo está do lado do paciente a menos que o risco de cárie
seja muito alto. Pesquisas têm mostrado que a progressão de uma lesão no
esmalte, se ocorre, pode ser muito lenta, levando de dois a seis meses antes de
ser evidente radiograficamente em dentina7.
Restaurar ou tentar paralisar uma lesão que na radiografia está em todo o
esmalte e alcançando a dentina é uma decisão clínica muito mais difícil. Algumas
dessas lesões irão estar cavitadas mas outras não8 e esta ruptura na superfície do
esmalte não pode ser diagnosticada pela aparência radiográfica. Esta é a lesão
onde a separação dental e a moldagem (Fig. 4.13a-d) podem ser justificadas.
8/3/2019 _Diagnostico+de+carie+_+cariologia
http://slidepdf.com/reader/full/diagnosticodecariecariologia 16/17
Essentials of Dental Caries (2nd Edition) - Tradução com fins didáticos por Prof.Dr. Rodrigo Murrer
Saber onde há cavidade é importante porque cavidades não irão se preencher à
partir do fundo e a lógica sugere que a lesão não irá paralisar a menos que a placa
da cavidade possa seja removida. Uma cavidade será um nicho de acúmulo de
placa se não for acessível à escova e o fio ou fita dental não entrar no orifício.
Usualmente a decisão é tomada baseada somente na aparência radiográfica. EM
pacientes jovens ou em pacientes de alto ou médio risco os autores recomendam
tratamento restaurador. Em um paciente de baixo risco (como você, leitor
odontólogo!) nós sugeriríamos o tratamento preventivo, mostrando-o a imagem
radiográfica e sugerindo uma nova radiografia em seis meses.
Dentes que estão muito cariados na radiografia deveriam ser restaurados e
medidas instituídas para prevenir recorrência. Uma radiografia periapical deveria
ser feita para checar se o processo carioso resultou em necrose pulpar e numaárea de infecção periapical crônica. Se for este o caso, será necessário o
tratamento endodôntico para salvar o dente.
4.5.4 Cárie radicular
O diagnóstico precoce de cárie radicular é de particular importância clínica porque
quando estágio avançado a lesão é virtualmente impossível de ser tratada com
restauração. As lesões se fundem cercando a área cervical do dente e
eventualmente a coroa pode se quebrar.
Experiência prévia de cárie radicular e fluxo salivar têm mostrado serem
bons preditores de risco de cárie radicular. Uma combinação de um controle de
placa meticuloso, controle da dieta e utilização de flúor tópico (como verniz e/ou
bochechos) deveria ser usada para prevenir o desenvolvimento de novas lesões.
Usando esta abordagem, pode ser possível remineralizar mesmo lesões
extensas de cárie radicular. Em relação a isso deveria ser lembrado que embora
as lesões possam ser extensas, elas usualmente são rasas. Conforme as lesões
se tornam paralisadas pode haver também leves cavitações conforme o tecido
amolecido é abrasionado pela escova. Deveria ser evitada a sondagem vigorosa
de lesões de cárie radicular ativas para não causar danos à superfície do dente.
8/3/2019 _Diagnostico+de+carie+_+cariologia
http://slidepdf.com/reader/full/diagnosticodecariecariologia 17/17
Essentials of Dental Caries (2nd Edition) - Tradução com fins didáticos por Prof.Dr. Rodrigo Murrer
Cáries radiculares deveriam ser tratadas operativamente para permitir
controle de placa, para melhorar a aparência e, onde as lesões estão profundas,
para proteger a polpa.
4.5.5 Dentes decíduos
A maioria do que foi escrito sobre diagnóstico e tratamento de cáries em dentes
permanentes é aplicável para a dentição decídua. Por exemplo, é tão importante
usar radiografias interproximais para o diagnóstico de cáries em dentes decíduos
quanto é em dentes permanentes. Entretanto, há algumas diferenças óbvias que
vale a pena ressaltar:
1. Dentes decíduos são menores que os permanentes; as polpas sãorelativamente maiores em proporção ao esmalte e à dentina.
2. Por esta razão a lesão pode atravessar o esmalte e a dentina e afetar a
polpa mais rapidamente que na dentição permanente.
3. A criança susceptível à cárie deveria ser examinada freqüentemente e a
intervenção operatória pode ser indicada mais cedo que na dentiçaõ
permanente.
4. Como dentes decíduos são menores, o tratamento restaurador pode ser
difícil se as lesões são muito grandes. Por esta razão muitos
odontopediatras deveriam indicar tratamento operatório de lesões
proximais que atingiram a junção amelo-dentinária.
5. Dentes decíduos usualmente não desenvolvem cáries radiculares a
menos que sejam retidos na vida adulta quando suas raízes podem
tornar-se expostas e portanto vulneráveis.