de tecelagem de limÕes saberes e aprendizagens...

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Cooperativa Grupo de Tecelagem de Limões COOPERATIVA GRUPO DE TECELAGEM DE LIMÕES SABERES E APRENDIZAGENS DO CICLO DO LINHO Hugo Ferrão* Cada vez mais a comunicação entre seres humanos é cortada. O mundo dos objectos que nos cercam, sempre tentadores e na maioria das vezes inúteis, vão lentamente provocando o monólogo. Vive-se excessi- vamente em função deles. O contraste entre a vivência numa aldeia transmontana e uma grande cidade desencadeia enumeras interrogações. Não foi na tentativa de obter respostas tranquilizadoras que parti. Queria sobretudo ver este outro lado do mundo. Queria empreender expedições a esse "reino maraviihoso", provando talvez, que é possível viver, projectar e concretizar sonhos; que é possfvel envolver-se no espaço dos outros, de personagens s6 conhecidas através de simulacros ou de imagens retocadas. Devido h minha formação artística, encaminhei a investigação para o campo da arte popular-tecelagem, área rica em ligações com um todo vivencial contraponto da sectorização-fragmentação a que obriga a espe- cialização - onde o ser por vezes se reduz na visão do todo e perde o contorno relevante da existência. Ao desvendar as múltiplas aparências de uma realidade, fui aprofundando os meus conhecimentos nesta área. Das recolhas feitas e do reflectir nelas surgiu este trabalho. LIMÕES Paraíso Perdido ou Restos... Limões 6 uma pequena aldeia situada em Trás-os-Montes, distrito de Vila Real, concelho de Ribeira de Pena. (fig. 1) * Assistente na Faculdade de Belas Artes Tecnologia da Tapeçaria e Desenho

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Cooperativa Grupo de Tecelagem de Limões

COOPERATIVA GRUPO DE TECELAGEM DE LIMÕES SABERES E APRENDIZAGENS DO CICLO DO LINHO

Hugo Ferrão*

Cada vez mais a comunicação entre seres humanos é cortada. O mundo dos objectos que nos cercam, sempre tentadores e na maioria das vezes inúteis, vão lentamente provocando o monólogo. Vive-se excessi- vamente em função deles.

O contraste entre a vivência numa aldeia transmontana e uma grande cidade desencadeia enumeras interrogações. Não foi na tentativa de obter respostas tranquilizadoras que parti. Queria sobretudo ver este outro lado do mundo. Queria empreender expedições a esse "reino maraviihoso", provando talvez, que é possível viver, projectar e concretizar sonhos; que é possfvel envolver-se no espaço dos outros, de personagens s6 conhecidas através de simulacros ou de imagens retocadas.

Devido h minha formação artística, encaminhei a investigação para o campo da arte popular-tecelagem, área rica em ligações com um todo vivencial contraponto da sectorização-fragmentação a que obriga a espe- cialização - aí onde o ser por vezes se reduz na visão do todo e perde o contorno relevante da existência.

Ao desvendar as múltiplas aparências de uma realidade, fui aprofundando os meus conhecimentos nesta área. Das recolhas feitas e do reflectir nelas surgiu este trabalho.

LIMÕES Paraíso Perdido ou Restos...

Limões 6 uma pequena aldeia situada em Trás-os-Montes, distrito de Vila Real, concelho de Ribeira de Pena. (fig. 1)

* Assistente na Faculdade de Belas Artes Tecnologia da Tapeçaria e Desenho

Fomm Sociológico

Fig. 1 - ALDEIA DE LIM~ES - Localizapo: Trás-oa-Montes, Distrito de Vila Real, Concelho de Ribeira de Pena

A documentação existente sobre Limões é escassa, assim como as fontes para o estudo de Trás-os-Montes são poucas e dispersas. Inventariar a documentação é tarefa morosa mas urgente1.

Etimologicamente Limões provém de Limãos segundo Pinho Leal; refere-se este autor à aldeia como fazendo parte do Concelho de Cerva até 1855 e desde então ao Concelho de Ribeira de Pena Na realidade, o marco entre o Antigo Regime e o Estado Liberal é o ano de 1836, que dá inicio a novas estruturas, período rico em reformas2. É ainda Pinho Leal que vem destrinçar a diferença entre Limoes-Limãos dizendo: " O nome d'esta freguezia sempre foi Limãos, e assim se acha escrito em todos os livros antigos. Modemaniente julgaram êrro escrever Limãos e mudaram para Limões, no que commetteram um verdudeiro êrro - porque Limãos no

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antigo portuguez, não significa Limões @to - mas sim Limães, terra pantanosa, coberta de limos. Vide lima ou murujemW3.

Manuel Pinheiro Chagas e Esteves Pereira referem-se a Limões mas pouco adiantam h revelações de Pinho Leal4.

A população registada no censo de 1981 era apenas de 576 habi- tantes. O número médio de pessoas por fogo era de 3 a 9. As epidemias de cólera, tifo e febre amarela. em especial os surtos do século passado, e mais tarde as duas grandes levas da emigração, primeiro para o Brasil, depois para a Europa Central, são indicadores do ruir dum mundo do qual temos presenças silenciosas, testemunhas de outras formas de estar. Neste momento. o regresso dos emigrantes na sua grande maioria provenientes da Europa, e fico surpreendido (interrogo-me como observador) perante um fenómeno de aculturação que se retrata na vivência híbrida traduzida na perca de identidade regional, tão característica de Trás-os-Montes.

Desde tempos muito recuados os habitantes desta zona estão direc- tamente dependentes da exploração da terra. A agricultura, de técnicas arcaicas, envolve, como principais cereais, o centeio, o milho, o trigo, a cevada, a aveia, a batata foi introduzida (via Galiza) no século XVIII, como complemento alimentar e sem grande expressão a nivel de produção. Deve referir-se ainda a ervilha, o grão de bico, o tremoço, o feijão, assim como as leguminosas. A fruticultura, também para consumo próprio, in- tegra o castanheira, a oliveira, a laranjeira, o limoeiro, a videira e a figueira.

O gado, funcionando como verdadeiro símbolo de poder, e mõstrando a riqueza e a forma de trabalho do proprietário, apresenta alguma varie- dade nesta região, sendo o mais comum o bovino seguido pelo suino, além do lanigero, caprino e vacum. Contrabandiados de Espanha, vinham a cavalar, muar e assínio.

Ainda encontramos em Limões certas formas de comunitarismo nos trabalhos agricolas, entreajuda essa imposta pela escassez de braços. Pas- sam por aí algumas tarefas pesadas, da competência dos homens, definidoras da divisão do trabalho pelo sexo, embora tivessem de ser alargadas, depois h mulheres pela necessidade da manutenção de algumas terras. Infelizmente deparamos com o abandono dos campos, não por falta de vontade de os amanhar mas sim pela saída dos braços vigorosos da juventude. Uma juventude que parte iludida por falsas quimeras injectadas através dos "mass media". São assim impostos e normalizados comportamentos, com destruição das nuances subtis de "povo para povo".

Neste momento a aldeia é habitada por uma geração que se situa na casa dos 60 anos, muito ligada h terra, e outra de 20 anos, esperando ansiosamente a oportunidade para abandonar uma vida dura e difícil. São jovens projectando nas grandes urbes o mito da abundância, desejando

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emigrar no seu próprio país e denunciando uma economia de subsistência- sobrevivência, tantas vezes tangencial à fome de quase tudo.

Nos bons anos agrícolas, quando a teimosia de permanecer na al- deia parecia ser compensada, as feiras e mercados eram de importância capital, pois garantiam o escoamento dos excedentes cuja troca directa permitia manter um equilíbrio frágil entre quem vende e quem compra. Os intervenientes eram profundos conhecedores do real valor da mercadoria, anulando ou minimizando o papel de intermediário, estabelecendo muitas vezes uma relação de amizade que se sobrepunha ao próprio negócio. Essa realidade encontra-se em vias de desaparecimento ou as relações torna- ram-se impessoais e normalizadas.

A industrialização lenta selvagem, porque apela para um "progres- so" que chega depois, esmagando quotidianos, tecendo imagens sedutoras à medida do presente, sempre novas no futuro, foi penetrando os tecidos sociais, alterando-os. Espaços ditos polivalentes, conhecidos por super- mercados, onde polulam as imensas famílias de objectos, "logicamente" interdependentes, auxiliados pelas redes de intermediários e ligações es- tritamente funcionais, procuram obter a todo o custo o máximo lucro; essa situação amplia-se e agrava-se com pequenos núcleos de fabriquetas nascidas sem qualquer planeamento, locais onde se cega a vida, deter- minando em grande parte o desabar de uma estrutura que não tinha possibilidades de resistir ou de se adaptar a tão rápida transformação.

As bolsas sobreviventes como Limões devem a sua perenidade aos maus acessos que tornaram o isolamento uma realidade tão evidente que quem chega do exterior julga-se perante um "Paraíso Perdido" ...

Limões faz parte de um conjunto de aldeias situadas ao longo de um caminho medieval que passa por Cerva, Alvite e penetra no Alvão em direção a Vila Real. Ali s6 o Concelho de Ribeira de Pena é rico em vestígios deste periodo e anteriores5.

Zona abundante em água, tem o rio Poio que passa por Cerva fazendo parte da bacia hidrográfica do Tâmega; as suas águas cristalinas são prova do respeito existente por esse bem universal.

Quando entramos em Limões deparamos com um grupo de casas datadas dos séculos XVII e XVIII, formando um núcleo considerado pelo Instituto Português do Património como "conjunto arquitectónico de in- teresse pbbli~o"~. Da rua principal que atravessa a aldeia inteira partem todas as outras, intencionalmente estreitas e pavimentadas com lajes, hoje removidas, lembrando as calçadas romanas. As casas formam uma massa em pedra, e a pedra é um dos elementos que mais impressionou o homem desde sempre, simboliza unidade, força, coesão. A casa e a famíiia dese- jam-se com os mesmos atributos constroi-se com os materiais da região,

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testados por invernos duros e verões escaldantes. São blocos altamente funcionais, espelhando uma economia de esforços na qual o inútil e o supérfiuo não têm cabimento, fazendo da aldeia um espaço protector, com alguns sinais-pistas que desenham o imaginário do homem rural. Esse imaginário revela-se no quotidiano, está presente nos gestos subtis de mãos calejadas que serenamente tecem, dando corpo a um longo ciclo de fabrico. Fechada-aberta sobre a mesa, uma toalha de linho parece repousar, interroga- nos com o seu cheiro-perfume, com a frescura e toque de algo denso, espesso em memórias.

LEVANTAMENTO Tecelagem de Limões

Os contactos que estabeleci com a Da. Ana Er6nia Gonçalves e a Da. Maria Joaquina Fernandes Pires iniciaram-se no ano de 1983.

Os objectivos da primeira fase foram de uma maneira sumária os seguintes: calendário de visitas periódicas, criação de uma ficha para a inscrição das aprendizas, registos fotográficos e outros das voltas do ciclo do linho. sensibilização das mestras, aprendizas e familiares, mostras de diapositivos alargadas à aldeia, reinício da cultura do linho, trabalho de grupo entre aprendizas, levantamento de teares e equipamento adjacente em Limões e zonas limitrofes, recolhas de cantares e contos relacionados com o ciclo do linho.

Numa segunda fase procurou-se estruturar o grupo em forma de cooperativa. Organização dos estatutos, acta dos fundadores, pedido de legalização e escritura, contactos com os poderes locais, presidente da Câmara Municipal de Ribeira de Pena e Presidente da Junta de Freguesia de Limaes, pedidos de subsídios para a legalização e arranque da coo- perativa.

Na aldeia de Limões vivem duas Mestras no ofício da tecelagem do linho. Como já foi dito C graças a elas que não desapareceu este pequeno núcleo de arte popular.

Pouca gente sabe que a tecelagem de Limões foi e ainda C muito cotada pelo alto índice de perfeição na execução. Das pesquisas realizadas encontrei um autor, Manuel de Me10 Nunes Geraldes, que na "Monografia sobre a Indústria do Linho no Distrito de Braga de 1913"' nos diz: "Ainda se encontram trabalhos do mesmo g6nero no distrito de Vila Real, em Limões, pequena aldeia situada nos altos pincaros da encosta esquerda do Târnega, na região de Basto.

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Os atoalhados e colchas de Limões, ou de Basto (designação esta por que também são conhecidos) diferem no entanto dos fabricados no concelho de Felgueiras; o seu aspecto é o do felpo mecânico e são sem dúvida os mais perfeitos que se fazem no gCneroWs.

Este comentário é revelador não só de um elevado ntímero de tecedeiras como do alto domínio tkcnico. Peças ainda existentes do século XVm e XiX são testemunhas indesmentíveis dessa capacidade.

APRENDIZAGEM

Nos momentos em que as tarefas agrícolas permitiam uma certa disponibilidade, especialmente nos longos serões de inverno, as moças desde muito cedo (7 anos) eram responsabilizadas por determinadas tarefas como a tecelagem e a costura. A sua aprendizagem era considerada elemento valorizador da mulher. Se tivermos em conta que no dote da noiva estava incluido o enxoval composto por diízias de lençois, fronhas de travesseiros e almofadas, toalhas de rosto bordadas a vermelho com monogramas, toalhas de mesa, camisas de mangas largas e compridas, colecções de saias, aventais, coletes, calças, fatos de trabalho e festa, percebemos a importância atribuida à tecelagem e o tempo que ele ocupava no quadro comunitáno9.

O adágio que se segue ilustra bem não s6 a distribuição de tarefas mulher-homem como também o seu significado na economia do agregado familiar.

"À mulher, roca e ao marido espada. Não há casa farta onde a roca não anda. Toma casa com lar e mulher que saiba fiar. Mal vai a casa em que a roca manda mais que a espada. Dizem em Roma que a mulher fie e coma".

A aprendizagem na aldeia de Lim6es era feita em casa, havia todo o equipamento preciso às voltas do linho; a mãe ensinava as filhas repetindo gestos e frases aprendidas com os antigos. Quando se queria executar uma peça mais complexa recorria-se h ajuda de uma mestra, pessoa entendida no ofício, de preferência uma parente. Os "riscos" ou desenhos, constituiam o maior problema na feitura; são uma espécie de mapas por onde a tecedeira se guia para os executar no tecido, guardados religiosamente na tentativa de um secretismo quase iniciático.

Nos nossos dias, por causas jã apontadas, as moças ainda encon- tram vestígios, objectos relacionados com a tecelagem; contudo, a rotura

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operada foi tão grande e profunda que provocou uma alteração de valores, cavando um abismo entre gerações.

A tecelagem, como qualquer tecnologia artesmal, requer uma prática constante. O abandono dessa prática, adormecimento e esquecimento de pequenos saberes, reflecte-se na qualidade da peça.

A desertificação das aldeias é o reflexo de um todo caótico acen- tuado nas Últimas décadas. Uma das possibilidades de fmação 6 fazer notar

pessoas que podem ganhar a vida sem sairem do seu espaço. As Mestras Da. Ana e Da. Joaquina prestaram-se ao ensino da tecelagem como forma de perpetuar uma arte em desaparecimento e simultaneamente cativarem as camadas mais jovens de raparigas que se deslocam para o Porto, Co- imbra, Lisboa ou Espanha como criadas, assim como para a apanha da resina, provando que ao atingirem uma prática-destreza que Ihes permita fazer um produto com o mínimo de qualidade isso significar dinheiro, tomando possível conjugar diversos interesses como o amanho das terras e outras actividades similares da tecelagem.

Como elemento exterior-observador, acabei por ter papel funda- mental nesse processo, pois reforcei tal posiçáo estabelecendo comparaç6es entre a vivência rural e urbana. Ajudei assim 3 construção do sonho que equilibre tempos, culturas e amanhãs.

Actualmente o quadro de aprendizagem modificou-se. As aprendizas deslocam-se a um espaço provisório onde são iniciadas pelas mestras. Com base em ficha distribuida moças é possivel elaborar os seguintes graficos.

IDADES DE APRENDIZAGEM

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APRENDIZAGEM Aprendias por ano

- . Ano Q Ano 82 Ano Ana M Ano @ü Ano #

APRENDIZAGEM Na Família/Fora da Famíiia/Com Mestras

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TECEDEIRAS Tempo disponívevEquipamento

PEÇAS - EXECUÇÃO Capacidade de execução de peças

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DIA DE TRABALHO - PREFERÊNCIAS Coexistência com outras actividades

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ACÇÃO DE TECER Estrutura do imaginário

Ao iniciar a descodificação das operações que levam ao tecido de linho não deixei de ficar admirado com a aparente simplicidade do ciclo aos olhos do leigo.

O percurso é longo, cheio de uma comunhão feita de observação da natureza, perto de um processo alquírni~o'~ que esquecemos. Apenas al- guns aspectos para nos apercebermos do domínio-conhecimento implica- dos: a temperatura da água, a qualidade desta, (não alcalina) as luas, as orvalhadas, as cores e as alturas das plantas.

Apercebemo-nos então do quanto nos afastámos de algo que envolve o fascínio de redescobnr, a urgência de ligar tempos e tarefas.

A acção de tecer está intimamente relacionada com aspectos de conservação, multiplicação e crescimento; da mesma maneira, o trabalho agrícola projecta a imagem do nascimento e morte. Era prática corrente que o primeiro punhado de sementes lançado à terra fosse oferecido aos entes queridos desaparecidos. Um simples gesto pode conter todas as sig- nificações dum rito-técnica de produzir efeitos benéficos sobre as culturas.

Da 0bSe~açã0 das fases lunares e dos seus efeitos notou o homem que há um crescendo e um decrescendo, um aparecer e desaparecer, uma morte e um renascimento, um ciclo. O retorno às formas iniciais, a periocidade, os ritmos, as cadências, a medida, o "pulsar do tempo", deram esperança e espiritualidade ao homem do campo. Normalmente, quando a lua muda, chove - lá dizem os antigos; daqui a associação estabelecida entre lua-água, vegetação e fertilidade. As chuvas dão, tiram uma boa colheita, ligam homens, vegetação, animais. Regeneram.

A lua tem um papel fundamental na organização do calendário agrícola". No meio rural o tempo desenrola-se numa espécie de espiral, transparecendo a ideia de repetição cíclica. Nada é definitivo, pode repetir- se mas sempre numa escala apocalíptica. Esta noção de tempo deixa o homem impotente perante o destino. A transcendência desse estado s6 é possível mediante a ordenação do caos, dos sinais dos deuses. As nuvens cinzentas e escuras querem dizer chuva-tempestade. Essa transcendência cristaliza-se em formas-ritos, actividades-atitudes dominadoras, f6mulas que podem provocar os deuses, favorecendo os homens. Quanto mais longe nos encontramos dos valores do homem rural, mais perto estamos das visões apocalípticas, marcadas por sinais que assinalam o fim dos tempos. Os seres de hoje são pálidas imagens dos seus antepassados.

Náo será difícil encontrar semelhanças entre os atributos da lua- chuva e condensá-10s na imagem da mãe. É a terra-mãe auxiliada pela

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regedora lua que proporciona uma boa colheita. É da terra que vem a riqueza. Tudo dá ...

Desde os mais recuados tempos que na ideia do povo o linho é detentor de poderes ocultos, benéficos mediante determinados ritos. Para os egípcios o linho tinha uma origem divina, foi o suor da deusa Ísis que ao correr pela terra fez crescer o linho, portanto parte da divindade. Não é por acaso que na liturgia o linho está associado à ideia de pureza mística, ritual purificador, em contacto com o corpo eucarístico de Cristo. O branco- cor do linho simboliza o estado celeste, o branco é totalidade, síntese. Tal como para Ísis, no ocidente encontramos vestígios desses atributos através do Mito das Parcas; no caso dos Gregos, as deusas que tecem o véu-tecido, aspiração de unidade. Também a Virgem Maria reúne em si as mesmas associações. Todas elas divindades femininas tendo profundas raízes no culto da lua.

O linho, tecido-véu, funciona como envolucro-envolvência, contacto directo, protecção. A repetição cadenciada da tecedeira que ano após ano sublima a sua técnica, os seus gestos, cumprindo um ritual, espécie de envolvência, transporta-se para actos que pressupõem uma realidade abso- luta, acontecendo a imitação de um modelo, de um arquétipo. (Mito das Parcas-orgãos do tear) Tenta-se recriar algo de primordial-original, embora o todo nos escape.

Vejamos não só a presença do tecido de linho mas também a equivalência de actos (fórmulas de cumprimento do rito) ou regras através das quais se poder ficar em graça-contacto. É muito provável que presida a estas simulações arquetípicas uma estrutura cujo entendimento transcende o discurso racional. Não será dificil encontrar pontos de ligação entre o nascimento-baptismo, casamento e morte. Comecemos pelo baptismo, espécie de segundo nascimenio, onde após o rito eclesiástico a criança é envolvida-embrulhada nas toalhas de um altar mariano, "a fim de não sofrer as dores", toalhas essas do mais fino linho. Na morte, estado de transição, a mortalha deve ser de linho virgem, envolvendo o corpo. Por fim, no casamento, os noivos devem dormir ein lençois de linho especi- almente preparados para esse momento. Fica a ideia base: linho virgem, contacto com o corpo, envolvência, branco, pureza e sagrado.

Da progressiva dessacralização dos gestos-actos, passámos ao ab- surdo da vida em função da produção-acumulação.

Na transmissão da dcnica da tecelagem de geraçiio em geração, espécie de iniciação. no garantir a presença nos nossos dias embora com características de cerimónia, o ciclo do linho renasce todos os anos na aldeia de Limões e arrasta consigo fragmentos de um passado feito pre- sente, sedutor pelo desconhecido-conhecido do imaginário rural.

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CICLO DO LINHO - TERRENO Grau de conhecimento e participação

CICLO DO LINHO - FIBRA Grau de conhecimento e participação

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CICLO DO LINHO - FIO Grau de conhecimento e participação

CICLO DO LINHO - TECIDOITEAR Grau de conhecimento e participação

Ficha utilizada na recolha de dados com o fm de melhor orientar os esforços a desenvolver

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CICLO DO LINHO FICHA INDIVIDUAL

Nome Data 2 - 1 -

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Aclivu Tempo inteiro Esporodicarnente

Teor_proprie - n Teor- &h- -- €k --

APRFNDIZAGFM

IniUo/ ano Nu familia O Quem?

Idade / / Fora do familia Quem?

. PFCAS QUF EXECUTA

Tecido/pano Toalha de rosto Toalha demeso Colcha O Camisa de trabalho Camisa de festa Lençol Lenço • Saco Meia Outrus

DISPONIBILIDADE

Diuitodo) Manhã Tarde • Noiteiserüo) .

. LOCA1 DE TRABAI HOIPRFFFRF

Em casa O Nu cooperativa Peqwnu fábrica • Outro

VENDA DOS TRABALI-105

Directamente Atravds do Intermediário ao comprador suo cooprotiva qualquer

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Ficha utilizada para inscrição das aprendizas

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TECELAGEM DE LIMÕES

Fundamentalmente, o tecido obedece aos princípios gerais da feitura de um tecido simples de tafetá; todavia, neste momento o linho-tecido, pelo abandono de parte do circuito do ciclo do linho que começa agora a ser reactivado sofreu algumas transformações.

O linho que era usado, conhecido por "linho da casa", foi substituido pelo de fabrico industrial em bobine; não é de espantar pois já no século passado era muito procurado o "linho estrangeiro ou do mar", não s6 pelos anos de má produção como pela facilidade da sua aquisiçáo, contraposta ao grande esforço dispendido nas voltas a dar ao linho até concretizar o fio, assim como a penetração de novas tecnologias. (mecanização da tece- lagem) Hoje a teia C de algodão industrial e a trama de linho também industrial. A feitura mantêm-se por processos artesanais.

A particularidade mais interessante da tecelagem de Limões C não s6 o elevado grau de qualidade de acabamento de cada peça como os motivos decorativos usados, que têm sido preservados de uma adulteração acelerada via artesanato, pelo carácter iniciático, pelo secretismo manifes- to na relutância que as mestras demonstram quando se pretende abordar este assunto, preferindo apenas revelar esses "mapas-riscos" nas suas obras.

A peça a realizar segue um determinado desenho-mapa. Por baixo da teia, acompanhando a obra, é posto um "risco-mapa", que dá indicações h tecedeira, somando dificuldade é morosa arte de fazer tecido.

Anteriormente focado, o linho é um tecido simples, tipo tafetá, cruzamento teia-trama. A tecedeira, para executar os elementos decorati- vos (riscos) solucionou este problema com uma dupla trama, correspon- dente a um cabo de trama de algodão que 6 "puxado" com uma agulha nos locais em que se necessita seguir os desenhos que esao por baixo, formando um "relevo" que vai dando pistas ao observador de algo que fascina pela execução primorosa.

As toalhas de rosto, constituidas por um "pano", o que quer dizer uma largura do tear (75cm aproximadamente) têm um risco-barra no topo e base da peça. É usada aqui a mesma técnica do puxado (também conhecida por "rifado"). No caso das colchas, há a de 2 panos e a de 3 panos, obras que têm de ser feitas por duas e três vezes, com um centro e uma cercadura onde encontramos desenhos de jarrbes com flores ou a coroa (escudo nacional), par- reiras, aves, flores, cachos de uvas, espigas e outros motivos de inspiração local.

As colchas e as toalhas de rosto são os produtos mais vendáveis mas ainda se produz o pano liso, lindas toalhas de mesa e lençois, isto de linho; mas há as mantas de trapos, mantas de lã e uma raridade que são as mantas e tapetes de penas.

Motivos empregues em barras e centros de toalhas e colchas. Utilização de letras iniciais das famílias como elemento decorativo

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Mapas - Desenhos: A - Centro de colcha de 3 panos. B - Fragmento, motivos naturalistas. C -

Fragmento de uma barra de toalha de um pano

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Tal como aconteceu para a teia e trama, os "puxados" também foram adulterados. Eram de linho mais branquiado e de grande qualidade, muitíssimo fino, e passou a ser de algodão industrial. Outro aspecto tem a ver com o menor número de cabos de teia empregues, reflectindo-se em pentes de pouco conto, mais abertos e pelo puxado próprio, saltando dois ou três cabos de teia. Os desenhos-riscos, na sua maioria baseados em motivos naturais recolhidos na região, curvilíneos por expressão gráfica, desenhados com penas e canetas de aparo, vão perdendo essa característica devido a alterações técnicas introduzidas. Como resultado final, um pro- duto menos vivido, um corpo menos autêntico.

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Ao chegar a Limões deparei com a vontade de trabalhar e uma tentativa embrionária de se organizar esse esforço de sobrevivência da arte de tecer tão querida às Mestras Da.Ana e Da.Joaquina, mas não se sabia bem como nem quando.

Das longas conversas tidas com as mestras fui anotando num "diário de bordo" os aspectos que considerei importantes, especialmente os que tinham directa ou indirectamente a ver com o ciclo do linho. Lentamente ganhei a confiança das mestras e aprendizas; tenuamente, esboçoii-se uma possível estruturação para o núcleo de moças. Formaram-se dois grupos de raparigas que aos sábados, quando o tempo e a disponibilidade o permi- tiam, juntavam-se na casa da Da.Ana onde existem três teares operacionais, sendo inicíadas na tecelagem umas de manhã com a Da.Ana e outras de tarde com a Da.Joaquina.

Envolvi-me, não só pela frescura do querer construir algo em que se acredita, como pelo saborear de uma realidade profunda, uma outra "margem".

Elaborei um calendário de visitas periódicas, estabeleci um plano de serisibilizaçáo que tentaria fazer perceber, através de alguém vindo do exterior, que era possível e importante preservar aquela arte-mem6ria, ganhar dinheiro com esses trabalhos sem ser arrastada para o estrangeiro, sem ir servir para Lisboa ou Porto, nem abandonar as terras, sein esquecer os seus. Desenhei fichas pelas quais fiquei a conhecer melhor a situação que analisava e o seu evoluir, dados que me permitiram actuar com maior segurança. Incrementei, incentivei o trabalho de gmpo entre as moças, as quais fizeram um levantamento dos teares operacionais e não operacionais em Limões e zonas limítrofes, bem como o material periférico indispen- sável h feitura do tecido, recolhas de histórias e cantares da aldeia rela-

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cionados com o linho, recuperação dos teares próprios, compra ou enco- menda de peças para a sua manutenção.

Tive sempre o cuidado de mostrar tudo o que fizera na última "incursão". Servindo-me de diapositivos, construi um diaporama mostrando o trabalho realizado, apontando pistas para uma congregação objectiva de esforços.

Primeiro e com o apoio das mestras e aprendizas fez-se uma sessão de diapositivos para os pais das raparigas, focando o empenho e metas atingidas e o seu real valor na economia do agregado familiar e a pos- sibilidade de se vir a ter uma fonte de rendimento e uma profissão. Mais tarde realizou-se outra mostra de diapositivos, desta vez alargada à aldeia, na Escola Primária. O fruto deste trabalho manifestou-se numa maior adesão e consentimento por parte dos pais, beneficiando a aprendizagem, aquisição, montagem e recuperação de teares. Inclusivamente houve libertação de algumas tarefas caseiras e semearam-se pequenos campos de linho, o que não acontecia vai para 20 anos. E isso é prova do entusiasmo conseguido. Fora despoletado um processo que libertara tanta energia que já não se podia parar.

Numa outra fase, iniciaram-se os contactos com o poder local, caso da Câmara Municipal de Ribeira de Pena e Junta de Freguesia de Limões: visava-se informar e expôr os objectivos que se queriam atingir. A Câmara Municipal de Ribeira de Pena, na pessoa do seu Presidente Sr. João José Alves Pereira, de uma abertura enorme, aderiu de imediato. Como prova o edifício comprado pela Câmara para albergar a cooperativa-escola que se viria a formar com os elementos que ate então compunham o grupo de aprendizas.

A ideia de formação de uma cooperativa de tecelagem foi amadu- recendo, contendo as alegrias e tristezas de um futuro incerto para jovens ignoradas. Não sem dificuldade, seleccionaram-se de entre as aprendizas aquelas que ofereciam melhores condições de continuidade para serem as fundadoras da cooperativa.

O Instituto António Sérgio teve um papel insubstituível no enca- minhamento e progressão do grupo.

Apresentados os estatutos, discutidos e aprovados pelos presentes, elaborada a acta dos fundadores, fora dado o primeiro passo para um longo esquema burocrático no sentido da legalização da existência do grupo. Novamente a Câmara Municipal de Ribeira de Pena teve papel decisivo quando atendeu um pedido de subsidio sem o qual não teria sido possivel concretizar este projecto.

Paralelamente, enquanto estes assuntos eram tratados em Lisboa, continuou-se a infraestruturação e estruturaçáo da cooperativa. Ficharam-

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se as famílias que queriam semear o linho, pessoas que pudessem receber visitantes, espécie de turismo rural, alargou-se a aprendizagem a outras moças.

Actualmente o processo burocrático de legalização da cooperativa está concluido. Ficaram responsáveis pelo arranque do grupo cujo nome é G.T.L. Cooperativa de Artesanato, Grupo de Tecelagem de Limões, C.R.L., os seguintes associados: Ana Erénia Gonçalves, Maria Joaquina Femandes Pires, Hugo Martins Gonçalves Ferrão, Maria Delmira Fernandes da Costa, Mana Agostinha Tavares Dinis, Annindo Tavares, Laurinda Teixejra Gonçalves, Fernanda de Fátima Gaspar Ribeiro, Maria Ester Gomes Ta- vares, Maria Mota Gomes, Natália de Fátima da Costa Ralo, Maria Augusta Pereira e Maria de Fátima Teixeira Faria.

Considerou-se de máxima urgência o cumprimento de uma produção mínima de peças supervisionadas pelas mestras, para que todos os produtos saídos da cooperativa, além de convenientemente identificados por uma etiqueta, garantia da origem do produto, cobrissem mínimos de produção mensal.

Os principais objectivos a atingir neste momento são: ministrar cursos intensivos aos orgãos directores da cooperativa para a sua correcta gestão; compra de matérias para a produção; aquisiçáo de equipamento indispensável; escoamento a nível de vendas; divulgação-publicidade da cooperativa, isto de imediato. Para superar a questão do espaço por recons- truir, equipamento e matérias primas, cada uma das tecedeiras reparou ou comprou tear, trabalhando em teias suas o que denota o grande interesse das gentes implicadas no processo.

Futuramente entendem os associados que se poder programar cursos de verão, frequentados por pessoas provenientes dos grandes centros ou não, criar uma biblioteca, um museu local, e reactivar outras técnicas tradicionais como seja a cestaria e a carpintaria. Resumindo, criar um p61o cultural na aldeia que concretize actividades que minirnizem o isolamento de maneira esclarecida, ajudando a fixação, projectando as reais capacidades das gentes de Limões.

A concretização destes planos s6 será uma realidade se abandonar- mos o individualismo feroz, que impossibilita a progressão em estruturas frágeis, inviabilizando qualquer esforço de organização. Um forte espírito de grupo é condição indispensável para se enfrentarem as muitas difi- culdades que venham a surgir. A não existência de quadros médios e superiores, que facilitariam um planeamento faseado, terá de ser compensado pela participação activa de todos os associados tentando cobir a falta de tecnicidade fundamental à construção e crescimento da cooperativa. Não tenho dúvidas que a sobrevivência ou desaparecimento duma experiência

Cooperativa Grupo de Tecelagem de Limões

deste tipo passa pelo envolvirnento do grupo e por um enorme espírito de sacrificio cujos resultados serão aparentemente diminutos, no entanto julgo que merece apena investir, projectando melhores dias, reencontrando o sonho.

NOTAS

No Boletim informativo Municipal de Ribeira de Pena, No 1. Fev., 1985, pp. 6-7-8 há um artigo sobre o Projecto da Biblioteca Municipal cujo espólio proveniente duma biblioteca particular de António Canavarro de Valladares, é composto por obras de história e literatura dos séculos XIX e XX e uma importante colecção de periódicos dos últimos 100 anos produzidos na região de Vila Real, Cabeceiras e Figueira da Foz. Tem ainda documentaçao que remonta aos séculos XV e XVI.

Publicaç30 de grande interesse são os Estudos Transmontanos. editados pela Biblioteca Pbblica e Arquivo Distrital de Via Real.

' Pinho Leal, Poriugd Antigo e Moderno, Dicionário (Geográfico, Estatfstico, Chorográfico, Heráldico, Arqueológico, Histórico, Bibliográfico e Etymológico de todas as Cidades. Villas e Freguezias de Portugal de grande de aldeias. Lisboa, Liv. Editora de Manos Moreira e Companhia, 1874.

' Referencias são feitas aldeia de Limões por: Manoel Pinheiro Chagas, Diccionário Popu- lar, Histórico, Geográphico, Mythológico, Biográfico, Artístico, Bibliográfico e Litterário. Typ. do Diário ilustrado, 1880, (7'. vol), e Esteves Pereira e Guilherme Rodrigues, Portugal Ilustrado. Lisboa, João Romano Torres e C'. Editores, Vol N -L a M., s.d..

' Tenente ~ a r l o s Palmeira, Monografía de Ribeira de Pena. Ribeira de Pena, Impressos Explicativos, Tarouca, Reedigo, 1982, e Manuel José Carvalho Martins, O Santuário Rupestre de Lamelas, Ribeira de Pena, Publicação da C. M. de R i b e i i de Pena, Impressos Explica- tivos, Tarouca, 1981.

NOS tennos dos número 1 e 2 do art" 3" do Decreto-Lei no 181 70, de 29 de Abril, faço público que, por Despacho Superior. foi determinada a classificação wrno imóvel de interes- se público o conjunto arquitectónico existente na Freguezia de Limões, Conceiho de Ribeira de Pena~Boletim da C. M. de Ribeira de Pena.

Manuel de Melo Nunes Geraldes, Monografia sobre a Indóstria do Linho no Distrito de Braga. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1913, pp. 20 a 22.

A mesma fonte da nota n0.7.

Benjamin Enes Pereira, A tecelagem manual e o traje popular em Portugal. Separata do Colóquio 2 - Tomo I11 -Das publicações do XXIX Congresso Luso-Espanhol, Lisboa, 31 de Março a 4 de Abril de 1970, pp. 9-10, descreve o enxoval de uma lavadeira remediada, surpreendendo pela quantidade e qualidade das peças.

'O Mircea Eliade. Ferreiros e Alquimistas, Rio de Janeiro, ColecçHo Espírito e Matéria, Zahar Editores, 1979, esclarece sobre a Alquimia: "É certo que as operaçóes alqufmicas náo eram

Forum Sociológico

simbólicas: tratava-se de oprerações materiais preticadas em laboratórios, mas que colimavam um fim diferente do da alquimia. O quimico pratica a observação exata dos fenómenos fisico- quimicos e das experimenta@es sistemfiticas, a fim de penetrar a estrutura da matéria, ao passo que o alquimista se dedica h "paixão", ?i "morte" e ao " ~ a m e n t o " das substâncias. enquanto destinadas h transmutação da Matéria (a Pedra Filosof'al) e da vida humana (Elixir Vitae)."

I ' Calendário-Mariano. A Lua e o periodo menstmal das mulheres e restantes fêmeas. O número 7 - de sete em sete dias muda a lua, sete dias da semana, sete anos "idade da razão", 14 a puberdade, 21 maior idade. Igreja Católica - sete sacramentos, sete pecados capiíais, sete cCus, dia da Páscoa é o 7" domingo depois do começo da Quaresma, sete altares, i4 estações da Paixão de Cristo, sete dores-alegrias de Maria.

BIBLIOGRAFIA CITADA

CHAGAS, Manoel Pinheiro - Diccionário Popular, Histórico, Geográfico, Mithológico, Biográfico. Bibliogriífico e Literário, Typ., do Diário Ilustrado, 7" vol, 1880

ELIADE, Mircea - Ferreiros e Alquimistas, Rio de Janeiro, Colecção Espfrito e Materia, Zahar Editores, (Forgerons et Alchimistes, IdCes et Recherches, Flammarion Editeur. T.ed., 1977) 1979

GERALDES, Manuel de Melo Nunes - Monograjia sobre a Industria do linho no Distrito de Braga, Coimbra, 1913

LEAL, Pinho - Porticgal Antigo e Moderno Diccionário (Geomco, Estatístico Chorofico, Heraldico, Arqueol6gico. Histórico, Biogr5fico e Etymológico de todas as Cidades, Vilias e Freguesias de Portugal e de grande nilmero de aldeias), Lisboa, Liv. Editora de Mattos Moreira e Companhia, 1874

MARTINS, Manuel Jose Carvalho - O Sanruário Rupestre de h e l a s , Ribeira de Pena, Publicaçiío da C. M. de Ribeira de Pena, Impressos Explicativos, Tarouca, 1981

PALMEIRA, Tenente Carlos - Monograjia & Ribeira de Pena, Publicação da C. M. de Ribeira de Pena, Impressos Explicativos, Tarouca, reedição, 1982

PEREIRA, Benjamim Enes - A tecelagem manual em Terroso, Separata do Boletim Cultural, Póvoa de Varzim, Vol no 2, 1971

PEREIRA, Esteves e Guilherme Rodrigues - Portugal Ilustrado, Lisboa, João Romano Toms e Lda Editores, Vol 11- L a M, S. d.