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Daniela Viana Costa
A Marcha Forçada Sob a Perspectiva Neoclássica
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em
Economia da Universidade de Brasília como requisito à
obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas.
Orientador: Roberto Ellery Jr.
Maio de 2011
Daniela Viana Costa
A Marcha Forçada Sob a Perspectiva Neoclássica
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em
Economia da Universidade de Brasília como requisito à
obtenção do título de Mestre em Ciências Econômicas.
Banca Examinadora
Professor Dr. Roberto Ellery Jr. (orientador)
Professor Dr. Victor Gomes
Dr. Adolfo Sachsida
Maio de 2011
Epígrafe
Não leio ficção.
Mario Henrique Simonsen, respon-
dendo sobre o que achava do texto do
II PND
Agradecimentos
Esta dissertação é, em boa parte, fruto da contribuição e compreensão de algumas pessoas às quais
sou eternamente grata por terem me amparado ao longo desta etapa árdua. Portanto, cabem aqui os
meus mais sinceros agradecimentos.
Em primeiro lugar, à minha família que, com amor e paciência, sempre me apoiou nos meus
objetivos e nos meus momentos mais difíceis, valorizando meus potenciais e retificando meus erros.
Em especial aos meus pais e ao meu irmão que, por participarem tão intensamente deste projeto,
podem considerar esta conquista tão deles quanto minha.
Ao Marcos por estar ao meu lado nos momentos mais críticos, assim como nos mais felizes, destes
anos de mestrado. Por me ensinar que um relacionamento se constrói sob bases sólidas e por me fazer
uma pessoa melhor a cada dia.
Ao professor Dr. Roberto Ellery Jr., que me orientou pacientemente ao longo da execução desta
dissertação e me proporcionou proveitosas discussões que efetivamente elevaram a qualidade deste
trabalho, assim como a da minha formação acadêmica.
Ao professor Dr. Victor Gomes, pela intensa participação enquanto co-orientador, pelo interesse,
pelas discussões e pelas críticas, fundamentais para o desenvolvimento do estudo.
Ao corpo docente do curso de Ciências Econômicas da Universidade de Brasília, em particular, aos
coordenadores do Programa, Dr. Joaquim Andrade e Dra. Adriana Amado, pela oportunidade de
crescimento, aprendizado, realização profissional e pessoal e pela confiança em mim depositada.
Por fim, aos meus amigos, que me proporcionaram a diversão, as risadas e o apoio essenciais
para amenizar o estresse desta jornada. Em especial, aos amigos da UnB, verdadeiros parceiros de
guerra: Alexandre Sarquis, Guilherme Resende, Iona Stevens, Luís Fernando Brand, Marcos Marcolino,
Mariana Fialho, Raquel Araújo e Vinícius Brandi.
Resumo
O trabalho visa avaliar em que medida as políticas econômicas governamentais implementadas no
período de transição entre o "milagre" e as "décadas perdidas" foram capazes de influenciar de fato o
desempenho da economia brasileira naquele momento. Imediatamente após o fim do "milagre", o gov-
erno nacional lançou o Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), que tinha por objetivo
maior a manutenção do acelerado ritmo de crescimento. Como consequência, este momento da história
econômica brasileira é conhecido como "a marcha forçada". Adota-se a metodologia de Conesa, Kehoe
e Ruhl (2007) para simular a trajetória de uma economia artificial com as características da economia
brasileira de acordo com o modelo de crescimento neoclássico e busca-se explicar as divergências entre
os dados e os resultados do modelo a partir da análise da política econômica implementada no período.
Argumenta-se que o Estado teve papel preponderante na determinação das trajetórias de produto e in-
vestimento, desviando a economia das condições de otimalidade do modelo. Assim, o modelo descreve
melhor a economia brasileira quando deduzimos a ação interventora do governo.
Palavras-chave: crescimento econômico, produtividade total dos fatores, ciclos reais, contabilidade
do crescimento.
Classificação JEL: O47, C61, C63.
Abstract
This work studies how economic policies implemented by the Brazilian government during the tran-
sition period between the "Brazilian miracle" and the "lost decades" affected the country’s economic
performance. Soon after "the miracle", the government created the "Second Development National
Plan", known as II PND, which aimed to sustain the accelerated growth rates. Consequently, this
moment in Brazilian economic history is known as the "forced march". We follow the methodology
proposed by Conesa, Kehoe and Ruhl (2007) to simulate, according to the neoclassical growth model,
the growth path of an artificial economy similar to the Brazilian one. Divergencies between the data
and the model’s results are then explained by the analysis of the economic policy implemented in that
period. It is argued that the state had a capital role in the determination of product and investment’s
behaviour, thus diverting the economy from the optimality conditions of the model. In conclusion,
we find that the Brazilian economy is best described by the model when the government’s distortive
action is deduced from it.
Keywords: economic growth, total factor productivity, real business cycles, growth accounting.
JEL Classification: O47, C61, C63.
Sumário
1 Introdução 1
2 A Economia Brasileira na Década de 70 6
2.1 Os Anos do Milagre . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 O Primeiro Choque do Petróleo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
2.3 O Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.3.1 As Críticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.3.1 A Racionalidade Econômica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.3.1 A Racionalidade Política . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
3 Modelo de Crescimento 21
4 Contabilidade do Crescimento 25
5 Simulação do modelo básico: a economia artificial com governo 30
5.1 Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
5.2 Calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
5.3 Código . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.5 Avaliando a possível influência do governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
6 Simulação do modelo básico: a economia artificial sem governo 42
6.1 Dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6.2 Calibração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
6.3 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
7 Conclusão 50
8 Bibliografia 53
Lista de figuras
Figura 1 - Taxa de crescimento do PNB por população em idade ativa no Brasil, 1951-1998 . . . 1
Figura 2 - Evolução do PNB por PIA no Brasil, com e sem tendência, 1950-1998 . . . . . . . . 2
Figura 3 - PNB por população em idade ativa descontada a tendência no Brasil, 1970-1983 . . 4
Figura 4 - PNB e investimento real por PIA no Brasil, 1968-1973 . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Figura 5 - Contabilidade do crescimento para o Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Figura 6 - PNB por população em idade ativa sem tendência, PTF sem tendência e razão capital-
produto para o Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
Figura 7a - PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil . . . . . . . . 33
Figura 7b - PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil . . . . . . . . 34
Figura 8a - Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 8b - Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 9a - Razão capital-produto no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 9b - Razão capital-produto no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 10 - Estoque de capital no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
Figura 11 - Taxa de investimento da economia brasileira, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 12 - PTF e taxa de investimento no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
Figura 13 - Contabilidade do crescimento do modelo básico para o Brasil, 1970-1983 . . . . . . 39
Figura 14 - Taxa de investimento e da FBKF do governo no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . 40
Figura 15 - Evolução da FBKF das estatais e do governo na FBKF total no Brasil, 1970-1983 . 40
Figura 16a - PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil, 1970-1983 . 44
Figura 16b - PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil, 1970-1983 . 44
Figura 17a - Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil, 1970-1983 . . . . . . 45
Figura 17b - Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil, 1970-1983 . . . . . . 46
Figura 18a - Razão capital-produto no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 18b - Razão capital-produto no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Figura 19 - Modelo básico: estoque de capital no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 20 - Taxa de investimento da economia brasileira, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Figura 21a - Contabilidade do crescimento para o Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . . . . . . 48
Figura 21b - Contabilidade do crescimento do modelo básico para o Brasil, 1970-1983 . . . . . 48
Figura 22 - Investimento total e subsídios à produção no Brasil, 1970-1983 . . . . . . . . . . . 49
Lista de tabelas
Tabela 1 - Produção industrial: taxas médias anuais de crescimento real segundo categorias de uso
e subperíodos selecionados, 1968-1982 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Tabela 2 - Valor e estrutura das importações brasileiras (FOB), 1964-1982 . . . . . . . . . . . . . 11
Tabela 3 - Capital estrangeiro: demanda e oferta, 1970-1977 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Tabela 4 - Contabilidade do crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
Tabela 5 - Contabilidade do crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Tabela 6 - Contabilidade do crescimento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
Tabela 7 - Contabilidade do crescimento sem governo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
1 Introdução
Normalmente o estudo da economia brasileira no século XX, após a II Guerra Mundial, é dividido em
dois subperíodos, usando como marco divisório a década de 80. A figura 1 nos dá uma idéia de um
critério normalmente usado para se chegar a esta divisão: no primeiro subperíodo, de 1950 a 1979, o
Brasil apresentou altas taxas de crescimento e se consolidou como uma das economias de crescimento
mais acelerado do mundo. Em especial, os anos de 1968 a 1973 são chamados de "milagre econômico
brasileiro", quando a taxa média de crescimento anual do produto nacional bruto (doravante PNB)
por população em idade ativa (doravante PIA) foi de quase 9%. Esse primeiro subperíodo teve fim
com a recessão da década de 80; pois a economia brasileira entra em estagnação já nos primeiros anos
desta década, passando, assim, para o segundo subperíodo: de 1980 a 1998, que ficaria conhecido
como "décadas perdidas"1 . Entre 1980 e 1998, a taxa de crescimento médio do PNB por PIA sequer
alcançou 1% ao ano, ficando em 0,62%.
Figura 1 Taxa de crescimento do PNB por população em idade ativa no Brasil, 19511998
15%
10%
5%
0%
5%
10%
15%
20%
1951
1953
1955
1957
1959
1961
1963
1965
1967
1969
1971
1973
1975
1977
1979
1981
1983
1985
1987
1989
1991
1993
1995
1997
Percentual
Bonelli (2005b) também destaca essa mudança no ritmo de crescimento da economia do país na
década de 1980. O autor usa, porém, o produto interno bruto (PIB) per capita, indicador de produto
mais amplamente empregado pela literatura econômica brasileira, além de um período mais longo.
"Dados relativos a períodos ainda mais longos revelam que o Brasil é um dos países
que mais cresceu no mundo, até 1980, tanto em termos totais quanto per capita: o PIB
per capita passou de cerca de R$500 em 1900 (a preços de 2000) a cerca de R$6100 em
1Apesar de normalmente apenas a década de 1980 ser classificada como "década perdida", Bugarin et al. (2007, p.287) incluem os anos 90 nessa denominação ao estudar a depressão por que o país passou nessas décadas. Por outra parte,Bonelli (2005a, p. 4) considera que um epíteto mais adequado para esta última seria "a década da reforma incompleta".
1
1980 - daí resultando uma taxa média de aproximadamente 3,2% ao ano. O desempenho
subsequente foi muito pior, como mencionado: cerca de 0,3%, em média, de crescimento
do PIB per capita anual, até 2003." (BONELLI, 2005b, p. 307).
Este padrão também pode ser verificado ao se examinar o comportamento do PNB por população
em idade ativa descontada a tendência2 (figura 2). Note que até 1973 este indicador passa de 100
no ano-base (1950) para 180. A partir de 1974, ele se mantém estável ao redor de 170-180 por
aproximadamente dez anos, passando a um patamar mais baixo a partir de 1990, na casa dos 140,
terminando a série em 139,45 em 1998. A figura 2 permite também a comparação com o PNB/PIA
sem que se tenha descontado a tendência.
Figura 2 Evolução do PNB por população em idade ativa no Brasil, com e semtendência, 19501998
50
100
150
200
250
300
350
400
1950
1952
1954
1956
1958
1960
1962
1964
1966
1968
1970
1972
1974
1976
1978
1980
1982
1984
1986
1988
1990
1992
1994
1996
1998
Base (100 = 1950)
PNB/PIA
PNB/PIA descontada a tendência
Com relação às políticas econômicas adotadas na segunda metade do século XX no Brasil, o primeiro
subperíodo foi caracterizado por tentativas de conciliar crescimento e estabilidade, tendo como re-
strições o financiamento do setor público e desequilíbrios do Balanço de Pagamentos, além de crises
políticas. Este subperíodo também foi marcado por profundas mudanças estruturais na economia com
significativa diversificação da gama de bens produzidos. Sob o impulso da política de industrialização
por substituição de importações, o país reduziu o peso do seu setor primário em benefício do desen-
volvimento dos setores secundário e terciário. O Brasil buscava, com isso, se aproximar dos padrões de
consumo e de tecnologia vigentes nos países de ’primeiro mundo’e, para tanto, recorreu intensamente
ao financiamento externo e à intervenção estatal na economia. Como exemplo, podemos citar controles
2Como em Kehoe e Prescott (2007, p. 9), define-se a tendência com relação à taxa média de crescimento secularda economia líder, no caso, os Estados Unidos da América (EUA). Como a taxa de crescimento dos EUA ao longo doséculo XX foi de 2%, estabelece-se gUS = 0, 02. Assim, para se retirar a tendência das séries, estas são corrigidas peloseguinte fator: (1 + gUS)
t−1950, em que t = 1950, 1951, ..., 1998. Note que, aqui, são apresentados dados do ano de 1950até 1998. Entretanto, ao longo do trabalho nosso foco será o período de 1970 a 1983 e, portanto, as séries das seçõesseguintes serão corrigidas pelo fator (1 + gUS)
t−1970, em que t = 1970, 1971, ..., 1983.
2
cambiais, concessão de subsídios, criação de empresas estatais, políticas de importação que favoreciam
determinados setores industriais e estímulos ao setor exportador.
De 1980 a 1998, o país pagou pelas extravagâncias cometidas nos anos anteriores. Logo no início
do subperíodo, a economia não teve saída a não ser se ajustar aos diversos choques internacionais: o
segundo choque do petróleo, o acentuado crescimento das taxas de juros internacionais e a recessão
mundial de 1980-82. Para um país como o Brasil, com uma grande dívida externa cujas taxas de
juros eram flutuantes, esses eventos se materializaram na recessão do triênio 1981-83, "iniciada por um
conjunto de medidas visando contrair a absorção interna e incentivar as exportações" de acordo com
Bonelli (2005b, p. 317). Mas a questão do endividamento externo teve também outras implicações
que se estenderam por mais tempo. Destaca-se a forte aceleração inflacionária que assolou a economia
brasileira até meados de 1994, quando, após sucessivas tentativas de estabilização da economia via
planos heterodoxos, foi implementado o Plano Real. Desde então até o último ano do período analisado,
1998, a inflação se manteve sob controle, mas o crescimento do produto foi comprometido por crises
internacionais diversas.
O foco deste trabalho é analisar os anos da transição brasileira de uma economia de acelerado cresci-
mento para uma economia estagnada, empregando para tanto o modelo de crescimento neoclássico.
Adota-se a metodologia de Conesa, Kehoe e Ruhl (2007) para simular a trajetória de uma econo-
mia artificial com as características da economia brasileira de acordo com o modelo de crescimento
neoclássico e busca-se explicar as divergências entre os dados e os resultados do modelo a partir da
análise da política econômica implementada no período. O objetivo é mostrar que a passagem entre
o milagre econômico e a recessão da década de 1980 não ocorreu de forma abrupta, pois a segunda
metade da década de 1970 correspondeu a uma fase de transição em que o crescimento atingiu níveis
progressivamente mais baixos até chegar aos níveis negativos da década de 1980.
A figura 3 mostra um período de quase cinco anos, em que essa fase de transição fica bastante
evidente: entre 1974 e 1979, o PNB por PIA (descontada a tendência) oscila dentro da estreita faixa
que vai de 131 a 133. Antes disso, há o fim do período do "milagre", em que este indicador cresce,
e depois disso, há o prelúdio da recessão da década de 1980, em que este indicador começa a cair (a
despeito da leve recuperação em 1980).
3
Figura 3 PNB por população em idade ativa descontada a tendência no Brasil, 19701983
90
95
100
105
110
115
120
125
130
135
140
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Outros autores também já enfatizaram a existência dessa fase de desaceleração do crescimento, por
exemplo Bonelli:
"Any characterization of the period 1968-1980 should distinguish two sub-periods. The
first one, to 1973-74, was an epoch in which GDP grew on average at very high rates: a
little more than 10% yearly. This sub-period has been christened as the ’Brazilian Economic
Miracle’. The second one, to 1980, was characterized by slower growth and high variability
of growth rates. This relatively good performance could only be achieved, however, due to
a steeply increasing foreign debt, which complemented domestic savings in financing strong
capital formation acceleration. Foreign indebtedness was pursued especially after the first
oil shock in 1973, as the government refused to adjust the economy to the prevailing new,
and much less favorable international conditions. In a period marked by international
recession, as the mid-1970s, Brazil continued to grow at fast rates - although not as fast as
before - due to increasing foreign indebtedness.
This represented an effort to postpone the cost of adjustment throughout the 1974-80
period, therefore keeping high both consumption and investment levels. This phase has
been coined ’the forced march’period." (BONELLI, 2005a, p. 3-4).
Ademais, o trabalho visa avaliar em que medida as políticas econômicas governamentais imple-
mentadas neste período de transição foram capazes de influenciar de fato o desempenho da economia
brasileira. Imediatamente após o fim do "milagre", o goveno nacional lançou o Segundo Plano de
Desenvolvimento (II PND), que tinha por objetivo maior a manutenção do acelerado ritmo de cresci-
mento. Discutem-se as diretrizes do plano e em que medida ele foi bem-sucedido em seus objetivos.
4
Para isto, analisa-se uma economia artificial semelhante à brasileira, mas em que não haja investimen-
tos ou gastos do setor público. Em seguida comparamos esses resultados com aqueles obtidos para a
economia artificial com governo a fim de identificar as diferenças entre eles, que podem ser atribuídas
à exclusão desses agregados do governo.
Nossa investigação conclui que, durante essa fase de transição, o motor do crescimento brasileiro
deixa de ser a produtividade total dos fatores e passa a ser a razão capital-produto. Ademais, atribui-
se essa mudança na composição do produto brasileiro à implementação do II PND, cujas motivações
foram mais políticas do que econômicas. Desde 1964, o Brasil vivia sob uma ditadura militar que
baseava sua legitimidade na incapacidade dos governos anteriores em conduzir a economia brasileira,
acusando-os de práticas populistas. Deste modo, o regime militar prezava pelo desempenho econômico
para se manter legitimamente no poder (Fonseca e Monteiro, 2007). Contudo o período do "milagre" foi
interrompido pelo primeiro choque do petróleo de 1973. Dada essa conjuntura de crise, todo o esforço
do governo voltou-se à implementação de um plano capaz de amortecer o choque do petróleo. Mas
apesar de a política econômica ter sido deliberadamente orientada para manter as taxas de crescimento
compatíveis com as do período anterior (isto é, tão altas quanto as do "milagre"), o crescimento
econômico no período subsequente não foi alto como o anterior (como ilustrado nas figuras 1 e 3). Na
verdade, a real contribuição do II PND foi a de evitar o ajuste recessivo por causa do choque externo,
e não a de manter o crescimento econômico. Assim, o II PND constitui o ponto de inflexão entre
esses dois períodos da história econômica do Brasil. Além disso, como era de se esperar, os resultados
indicam que a economia brasileira teria apresentado uma trajetória mais próxima ao previsto pelo
modelo de crescimento neoclássico caso o governo não tivesse interferido na atividade econômica,
principalmente no que diz respeito à evolução do produto nacional bruto por população em idade ativa
e ao comportamento do investimento.
Este trabalho está organizado da seguinte maneira: além desta introdução, no capítulo 2, descreve-
se a economia brasileira ao longo da década de 1970 e são discutidas as diretrizes gerais do II PND,
bem como o ambiente e as motivações por trás de sua formulação. No capítulo 3, apresenta-se o modelo
de crescimento neoclássico e, no capítulo seguinte, a contabilidade do crescimento. Nos capítulos 5 e
6, realiza-se a simulação de uma economia artificial de acordo com o modelo básico com e sem governo
respectivamente, com a discussão sobre os dados utilizados, a calibração e seus resultados. No capítulo
7, são realizadas as considerações finais.
5
2 A Economia Brasileira na Década de 70
2.1 Os Anos do Milagre
A economia brasileira entrou na década de 1970 em pleno "milagre" econômico: o período entre 1968
e 1973 recebeu essa designação por conciliar ritmo de crescimento acelerado com queda da inflação
e melhora do saldo do Balanço de Pagamentos. Para alcançar objetivos tão conflitantes, até mesmo
excludentes, é consenso na literatura que a economia brasileira contou com os seguintes fatores: ex-
istência de capacidade ociosa, expectativas favoráveis aos investimentos e situação externa propícia.
Ademais, ela foi beneficiada pela herança da administração anterior que, sob as diretrizes do PAEG
(Plano de Ação Econômica do Governo), promoveu significativas reformas; restaurando a credibilidade
da política econômica e impactando positivamente em diversas áreas da economia (LAGO, 1990, p.
234).
Diante deste cenário, a estratégia que ditou a política econômica durante o "milagre" apresentava
um viés nitidamente "desenvolvimentista", tendo se baseado na promoção do crescimento via inves-
timentos públicos e políticas voltadas à recuperação dos investimentos privados (HERMANN, 2005a,
p. 89). Além disso, o combate gradual à inflação permaneceu como um dos focos do governo, muito
embora se admitisse um certo nível de inflação (na faixa de 20 a 30%) em nome da ênfase dada ao cresci-
mento econômico3 . Ainda com relação à inflação, esta foi diagnosticada como sendo essencialmente de
custos (notadamente o custo do crédito) o que, aliado à existência de significativa capacidade ociosa
na indústria4 , justificou a adoção de políticas monetária, creditícia e fiscal expansionistas, capazes de
fomentar a demanda agregada. Assim:
"Foi particularmente notável a expansão do crédito, e especialmente do crédito ao con-
sumidor e à agricultura. A concessão de isenções fiscais e de juros favorecidos ao setor
agrícola aliada a um maior volume de crédito tinha entre outros objetivos o de assegurar
uma oferta adequada de alimentos (cujo impacto sobre os índices de inflação era significa-
tivo).
(...) Nesse contexto, diante do maior equilíbrio das contas públicas, o governo não
3Vale lembrar que a queda registrada pelos índices de inflação é, ao menos, questionável pois "desde meados de 1973,o controle de preços efetuados pelo CIP (Conselho Internacional de Preços, criado em 1968) retirou parte da credibilidadedas pesquisas de preços, reprimindo artificialmente a inflação então existente" (CYSNE, 1993, p. 297).
4De acordo com Malan e Bonelli (1983, p. 5): "Os anos de 1963 a 1967, em particular, caracterizaram-se por recessãoda atividade industrial, que implicou o surgimento de capacidade ociosa em toda a economia, especialmente na indústria.Assim, do lado da oferta, um dos fatores que contribuíram para o boom econômico que se inicia em 1968 foi uma altataxa de capacidade de produção não utilizada, a qual permitiu a expansão acelerada da produção sem grande esforçoem inversões fixas."
6
hesitou em lançar mão de um amplo esquema de subsídios e incentivos fiscais para promover
setores e regiões específicas, e que passaram a fazer parte da política industrial do governo."
(LAGO, 1990, p. 237).
O vigoroso crescimento do PIB no período do "milagre" se traduziu em uma taxa média da ordem
de 11% ao ano (HERMANN, 2005a; LAGO, 1990; CYSNE, 1993), sendo o crescimento da indústria o
grande destaque (12,9% entre 1968 e 1974, MALAN e BONELLI, 1983), em especial o setor de bens de
consumo duráveis (22,5% entre 1968 e 1974, MALAN e BONELLI, 1983). Como mostrado na tabela 1,
o setor industrial de bens de consumo duráveis cresceu a 22,5% ao ano durante o milagre, seguido pelo
setor de bens de capital que cresceu 18,3%. Também é fundamental ressaltar a trajetória ascendente
do investimento, uma vez que o crescimento generalizado da economia foi acompanhado pela crescente
utilização da capacidade instalada.
"Porém, no início dos anos 1970, quando diversos setores se aproximaram da plena
capacidade, ocorreu um importante aumento de investimentos tanto no setor público como
no setor privado, que beneficiou diversos ramos industriais e impulsionou a indústria de bens
de capital, mas que exigiu também significativas importações de máquinas e equipamentos."
(LAGO, 1990, p. 240).
Segundo Hermann (2005a), a participação da formação bruta de capital fixo (FBKF) no PIB chegou
a 19,5% no período 1968-73, sendo que o setor privado respondeu por 66,9% da FBKF, enquanto o setor
público, por 33,1%. A figura 4 traz a evolução do produto nacional bruto e do investimento (ambos
por população em idade ativa), onde se constata o expressivo desempenho de ambos no período.
1968/74 1975/78 1979/80 1981/82 Total 1968/82Total 12,9 6,7 7,0 5.0 7,9Bens Intermediários 13,3 8,3 8,3 5.2 8,6Bens de Capital 18,3 6,0 5,8 14.9 8,3Bens de Consumo Duráveis 22,5 6,0 9,2 11.3 11,2Bens de Consumo NãoDuráveis 8,8 5,1 4,8 0.2 6,0Fonte: Bonelli e Malan (1983)
Produção Industrial: taxas médias anuais de crescimento real segundo categorias deuso e períodos selecionados 19681982 (em % ao ano)
Tabela 1
7
Figura 4 Produto Nacional Bruto e Investimento Real por População em Idade Ativa,19681983
90
110
130
150
170
190
210
230
250
1968 1969 1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
PNB/PIA
Base (100 = 1970)
investimento/PIA
Ressaltam-se dois elementos essenciais à viabilização do "milagre": a atuação das empresas estatais
e a captação de recursos no exterior. O período do "milagre" testemunhou uma verdadeira proliferação
de empresas estatais5 , notadamente em setores cruciais para o crescimento, mas onde a iniciativa
privada não avançava. Deste modo, as empresas estatais se consolidaram num relevante papel dentro
do modelo brasileiro de desenvolvimento, papel este que seria ainda mais explorado nos anos seguintes
com a etapa de substituição de importações de insumos e de bens de capital durante a segunda metade
da década de 1970. De acordo com Lago (1990, p. 244), o investimento das estatais cresceu a uma taxa
de quase 20% ao ano em termos reais e uma das fontes de financiamento de destaque deste investimento
foram os recursos externos, o que nos leva ao próximo elemento.
"(...) a forte expansão econômica em 1968-73 no Brasil refletiu também a forte entrada
de capital no país: os investimentos externos diretos (aqueles aplicados diretamente à
produção de bens e serviços) e os empréstimos em moeda cresceram continuamente no
período (exceto em 1972, no primeiro caso, e em 1973, no segundo). Esses recursos foram
os grandes responsáveis pelo "milagre" brasileiro em relação ao BP, já que a tendência
à deterioração das contas externas, sugerida nos modelos teóricos, foi confirmada para a
conta de transações correntes." (HERMANN, 2005a, p. 87).
Deste modo, a captação de recursos no exterior, facilitada pela abundante liquidez internacional5"(...) aquele período caracterizou-se como o de maior intensidade de criação de novas empresas públicas no Brasil.
Examinando-se o conjunto de empresas federais e estaduais, constata-se que foram criadas, entre 1968 e 1974, 231novas empresas públicas (sendo 175 na área de serviços, 42 na indústria de transformação, 12 em mineração e 2 naagricultura)." (LAGO, 1990, p. 268).
8
a juros baixos e pelo mercado de "eurodólares", garantiu o equilíbrio das contas externas brasileiras
mesmo em um momento de elevação das importações (sobretudo em bens de capital e matérias-
primas)6 . Cabe ressaltar que as exportações também cresceram vigorosamente no período, contando
inclusive com estímulos concedidos pelo governo.
Apesar de ser um período marcado pela aceleração do crescimento, o "milagre" econômico brasileiro
se encerra em 1973 deixando como herança alguns problemas em potencial que acabaram por impor
conseqüências onerosas para a administração seguinte. O aprofundamento da dependência externa,
tanto em relação à dependência tecnológica (bens de capital), quanto à dependência financeira (au-
mento do nível de endividamento externo), passando pela dependência energética (petróleo), trouxe
graves desafios com os choques internacionais que vieram a seguir.
2.2 O Primeiro Choque do Petróleo
"O fato de o período 1968/73 ter sido excepcionalmente favorável para o setor externo
da economia brasileira, e que o crescimento real a 10%, a inflação sob relativo controle
e o balanço de pagamentos superavitário provavelmente não poderiam ter sido obtidos
não fora a maior articulação da economia brasileira com os mercados internacionais de
capitais e bens e serviços, não deve obscurecer um fato fundamental: os benefícios dessa
integração talvez tenham aparecido antes de alguns de seus custos; na verdade haviam
também fatores endógenos de caráter cíclico operando para gerar os desequilíbrios atuais,
expressos em inflação e variações indesejadas nas reservas internacionais." (BONELLI e
MALAN, 1976, p. 401).
Como já foi discutido, o crescimento econômico do período do "milagre" esteve associado à ca-
pacidade de importar da economia brasileira. Além disso, sendo liderado pelo setor industrial de bens
de consumo duráveis, o "milagre" não apresentou soluções no que tange à dependência externa de
matérias-primas e bens de capital. Pelo contrário, o país se aproveitou da abundante oferta de liquidez
no mercado internacional para financiar o seu "milagre" e acumular reservas. Foi nessas circunstâncias
que, em dezembro de 1973, o país se deparou com o primeiro choque do petróleo: episódio em que o
preço desse insumo subiu bruscamente de US$3,29 para US$11,58 (HERMANN, 2005b, p. 96).
6De acordo com Batista (1987, p. 67): "A característica interna do crescimento brasileiro foi a liderança do setor debens de consumo duráveis, que se expandiu à taxa de 22,9% ao ano na média do período. Entretanto, se por um lado estesetor puxou o crescimento em 1968-1973, por outro, sua rápida expansão relativamente ao setor de bens intermediáriosprovocou um crescimento violento do volume de importações de bens intermediários, devido ao descompasso entreprodução e demanda interna por certos insumos, como aço, petróleo, diversos metais, químicos, etc.".
9
Por se tratar de um insumo cuja importação respondia por 80% do consumo nacional e cujas
possibilidades de substituição eram bastante limitadas, sobretudo no curto prazo (BATISTA, 1987),
a conta corrente do balanço de pagamentos passou a registrar significativos déficits7 . Segundo Cysne
(1993, p. 207), o déficit desta conta em 1974 foi superior ao déficit acumulado ao longo de todo o
período do "milagre". Bonelli e Malan (1976, p. 356) enfatizam que, nos anos imediatamente após o
choque, 1974 e 1975, o Brasil apresentou a pior relação déficit em conta corrente como proporção do
PIB observada internacionalmente. Isto equivale a dizer que, nesses anos, o país consumiu e/ou investiu
aproximadamente 7% a mais que sua capacidade doméstica de produção (BONELLI e MALAN, 1976,
p.356). Fica clara, portanto, a necessidade de recursos externos a fim de compensar os déficits correntes
com superávits na conta de capital.
"A partir de 1974, ao contrário do período imediatamente anterior, o financiamento
externo deixa de ser um mecanismo estritamente voltado à captação de poupança externa,
para adquirir também a feição de instrumento que permitia a convivência com desequi-
líbrios. Torna-se, então, necessário assegurar, a cada ano, um volume mínimo de financia-
mento externo para sustentar o nível esperado de déficit em conta corrente." (LANGONI,
1985, p. 14).
De acordo com Bacha (1986, p. 135), o déficit de US$ 6,2 bilhões em conta corrente no ano de
1974 exigiu um aumento de 170% da demanda de capital externo com relação a 1973. Portanto, a
conseqüência do choque do petróleo que se fez sentir imediatamente nas contas externas brasileiras
foi a maior necessidade de divisas para cumprir seus compromissos diante do mercado internacional.
Ademais, como enfatizam Bonelli e Malan (1976), a dependência tecnológica se impunha ao país
sob a necessidade de volumosas importações de bens de capital e matérias-primas (tabela 2), que se
acentuaram com o objetivo de crescimento econômico dos anos do milagre. Esse é um dos fatores
endógenos de caráter cíclico que esses autores afirmam estar operando na economia brasileira naquele
momento: com a expansão verificada nos primeiros anos do milagre, recrudesceu a capacidade ociosa da
economia e, desta forma, a continuação do crescimento dependeu da expansão da capacidade produtiva;
o que se fez mediante vultosas importações de insumos e de bens de capital.
De maneira geral, como expôs Hermann (2005b, p. 95), uma economia possui duas potenciais fontes
7Os dados apresentados em Bonelli e Malan (1976, p. 363) indicam que "a importação de petróleo bruto passou de78,2 milhões de barris em 1967 para 227,2 milhões em 1973, enquanto que a produção doméstica passou de apenas 54,3para 63,5 milhões no período". Diante disso, Hermann (2005, p.96) afirmou que "esse choque converteu uma situaçãode dependência externa em um quadro de restrição externa a partir de 1974" (itálicos da autora).
10
Bens deCapital MatériasPrimas Bens de
ConsumoPetróleo e Produtos
de Petróleo1965 941 25,2 45,6 11,4 17,71966 1303 28,1 45,6 12,0 14,31967 1441 31,9 41,2 15,0 11,91968 1855 33,7 41,6 13,8 10,91969 1993 37,0 38,4 14,0 11,61970 2507 37,7 37,0 14,4 10,91971 3245 41,3 40,5 7,9 10,31972 4235 41,0 38,1 10,9 10,01973 6192 34,6 42,1 11,6 11,71974 12641 24,8 45,2 7,6 22,41975 12210 32,3 35,6 6,8 25,31976 12347 28,7 33,7 6,4 31,21977 12023 25,8 32,5 7,8 33,91978 13639 25,8 33,1 8,2 32,91979 18084 20,9 32,9 8,7 37,51980 22955 19,1 39,7 5,7 44,41981 22091 18,2 26,0 4,5 51,31982 19397 16,9 24,0 5,2 53,9
Fonte: Bonelli e Malan (1983)
Tabela 2Valor e estrutura das importações brasileiras (FOB) 19651982 (milhões de US$correntes e %)
AnosValor das
Importações(US$ milhões)
Estrutura (%)
de divisas para honrar seus compromissos externos: a primeira é a partir da geração de superávits
comerciais e a segunda, por meio do refinanciamento da sua dívida. Tanto uma quanto a outra estão
condicionadas ao desempenho do mercado internacional: esta por causa da disponibilidade de liquidez
e aquela por depender da demanda externa. Contudo, o choque externo desfavorável representou uma
desvalorização das exportações brasileiras vis-à-vis a suas importações (LAGO, 1990, p. 299), ou seja,
no curto prazo, o equilíbrio das contas externas parecia irremediavelmente atrelado à maior captação
de recursos no exterior.
No médio prazo, as conseqüências se mostraram ainda mais complexas: era necessário ajustar a
economia a um equilíbrio de longo prazo que fosse consistente com o novo preço do petróleo. Essa
política de ajustamento deveria levar em consideração que as economias importadoras desse insumo
sofreriam uma queda das taxas de crescimento da renda e do consumo; que a produtividade marginal do
capital investido nessas economias se reduziria frente à taxa de juros internacional; e que, obviamente,
haveria um aumento generalizado dos custos de produção de todos os itens que empregassem petróleo
(MARTINS, 1977, p. 1). Assim sendo, passemos à análise da política econômica adotada pelo governo
brasileiro frente ao choque do petróleo.
11
2.3 O Segundo Plano Nacional de Desenvolvimento
"Se os desequilíbrios ocorrem, é preciso ter um modelo e uma estratégia que permitam
manter a rota desejada, com a necessária flexibilidade tática. (...) Tal modelo, para o
Brasil, deve, em síntese, ser capaz de realizar o desenvolvimento, mesmo nas presentes
circunstâncias de crise mundial, com o máximo de justiça social e com o aumento da
independência em relação a fatores externos." (VELLOSO, 1978, p. 69).
Já foi exposto de que forma o primeiro choque do petróleo impôs um quadro de dependência
estrutural e restrição externa à economia brasileira. Como reação aos desequilíbrios externos, tornava-
se imperativa a adoção de algum plano de ajuste dos desequilíbrios externos por parte do presidente
Ernesto Geisel, recém empossado. Castro e Souza (1985, p. 27) sintetizam em duas as opções de que
dispunha o país para realizar esse ajuste: o ajustamento e o financiamento. A primeira opção prevê o
realinhamento de preços relativos, em conformidade com o choque exógeno, por meio de desvalorização
cambial. Essa solução, baseada na sinalização do mercado via preços, implicaria a imediata queda de
importações e atrelaria o crescimento a um eventual aumento das exportações líquidas; promovendo,
portanto, a redução da absorção interna. Em outras palavras, essa opção corresponde a um ajuste
recessivo.
Por outro lado, a escolha do financiamento compreende a captação de recursos externos a fim de
restaurar o equilíbrio no balanço de pagamentos e, assim, distender o tempo de adaptação da economia
à nova realidade imposta pelo choque. Fica claro que a opção pelo financiamento só está disponível
mediante oferta de recursos no mercado internacional e que, caso esta oferta de fato exista, a economia
aumentaria o montante de sua dívida externa. Tal endividamento visaria promover projetos capazes de
mudar a estrutura da economia, sendo assim justificado pela futura superação da dependência externa.
Por fim, Carneiro (1990, p. 300) ressalta que essa última opção envolve o risco de elevação da inflação,
dada a maior dificuldade do controle de demanda numa situação em que o governo é abertamente
avesso ao ajuste recessivo.
Diante dessas possibilidades, foi concebido o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND): um
plano de ajuste estrutural que buscava superar a dependência externa através de investimentos na
ampliação da capacidade de produção doméstica (Hermann, 2005b, p.98). Desta forma, o II PND se
alinhou à opção de ajuste via financiamento, mais especificamente, financiamento de uma nova etapa
de substituição de importações e de estímulos às exportações. Subjacente ao plano, estava o diagnóstico
segundo o qual a dificuldade de transformação de recursos domésticos em divisas era uma característica
12
estrutural da economia brasileira8 . Anunciado em 10 de setembro de 1974 pelo presidente ao congresso
e promulgado como lei em 4 de dezembro de 1974; o plano consistia em uma estratégia de promoção
do crescimento, apesar da crise energética mundial que encerrou o período do "milagre" econômico
brasileiro.
Os principais objetivos do II PND eram: i) manter o crescimento acelerado dos anos anteriores;
ii) conter a inflação de forma gradual; e iii) manter o balanço de pagamentos em relativo equilíbrio
(BRASIL/PRESIDÊNCIA, 1974, p.21). Para realizar este último ponto, intimamente relacionado ao
choque do petróleo, pretendia-se: i) promover uma acelerada substituição de importações no setor de
bens de capital e de insumos básicos (química pesada, siderurgia, metais não ferrosos e minerais não
metálicos); ii) desenvolver grandes projetos de exportação de matérias-primas (celulose, ferro, alumínio
e aço); e iii) aumentar intensamente a produção interna de petróleo e a capacidade de geração de energia
hidrelétrica (SERRA, 1982, p.119).
"Quanto a Insumos Básicos e Bens de Capital, o grande problema era: como obter que o
empresário, principalmente nacional, se engajasse em grandes projetos de investimento, em
áreas pesadas, no meio de uma grande recessão mundial, e diante de evidentes dificuldades
da economia interna? A solução foi orientar todo o sistema de incentivos do Governo para
esses setores, considerados da mais alta prioridade, jogar toda a constelação de instrumentos
do BNDE nesse esforço, e, até, utilizar mecanismos excepcionais, como a limitação da
correção monetária a 20%, nos financiamentos oficiais de longo prazo, em 1975 e 1976."
(VELLOSO, 1978, p. 124).
Portanto, o alcance das metas dependia maciçamente dos financiamentos público e externo. Para
tanto, designou-se o BNDE como responsável pelo financiamento dos investimentos privados, com base
em linhas especiais de crédito a juros subsidiados9 ; enquanto que os investimentos públicos seriam
8Note que este diagnóstico confere ao II PND um caráter gradualista; pois, ao exigir investimentos capazes de alterara estrutura econômica do país, o plano só se concretizaria de fato terminado o prazo de maturação desses investimentos.Como bem sublinhou Batista (1987, p. 68): "Esta opção justificava-se, em grande medida, pelas expectativas de retornono longo prazo dos projetos de investimento relativamente às taxas de juros do mercado internacional." Assim, ficamevidentes os riscos intrínsecos da estratégia de financiamento, sobretudo quando o custo do financiamento externo éflutuante e quando seus prazos iniciais não são compatíveis com os prazos de maturação dos investimentos. Outrasindicações claras do gradualismo inerente ao II PND são enumeradas por Langoni (1985, p. 14): "as importações foramestabilizadas em novo e bem mais elevado patamar, deixando exclusivamente ao crescimento das exportações a tarefa deequilibrar a balança comercial; a política cambial permaneceu inalterada; os investimentos públicos foram aumentadospara compensar a queda dos investimentos privados, agora afetados por maior grau de incerteza; iniciou-se amploprograma de substituição de importações; e, finalmente, a taxa de inflação acomodou-se em novo degrau, insinuandocerta neutralidade da política monetária".
9João Paulo dos Reis Velloso (1977) dedica todo um capítulo em seu livro "Brasil: A Solução Positiva" à análise doBNDE como o "banco da empresa privada nacional". Quanto a isto, ele escreve (1977, p. 147): "Para a consolidaçãodo modelo, que consagra a política de fortalecimento da empresa privada nacional, e para a execução da estratégia de
13
financiados por recursos do orçamento e por empréstimos externos captados pelas empresas estatais
(Hermann, 2005b, p.100). Mais uma vez a conjuntura internacional viabilizou o financiamento externo:
os "petrodólares", que invadiram o mercado financeiro internacional a partir de 1974, garantiram a
abundante liquidez e migraram para os demais países importadores de petróleo em busca de retorno
financeiro.
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977Demanda de capital estrangeiro 1234 2157 2691 3361 9043 8873 9022 8385Serviço da dívida e envio de lucros 1025 1270 1722 2385 2821 3818 5026 6800Hiato de recursos 209 887 969 976 6222 5055 3996 1585
Oferta de capital estrangeiro 1779 2687 5130 5539 8106 7923 10214 8845Investimento direto 132 168 318 940 887 895 1010 800Empréstimos e financiamentos 1433 2037 4299 4495 6891 6530 7921 8345Capital de curto prazo 214 482 513 104 328 498 1283 300
Variação de reservas 545 530 2439 2178 937 950 1192 460Fonte: Bacha (1986)
Capital Estrangeiro: Demanda e oferta, 19701977 (US$ milhões)
Tabela 3
Na tabela 3, são apresentadas a demanda e a oferta de capital estrangeiro entre 1970 e 1977. Ali,
percebe-se o crescimento de ambas: a primeira, demanda por capital estrangeiro, tem seu crescimento
impulsionado a partir de 1974 pelo hiato de recursos (definido pelo investimento menos poupança
doméstica). Já a oferta de capital estrangeiro tem o item referente a empréstimos e financiamentos
como seu componente de maior peso ao longo de todo o período analisado e em volume sempre crescente.
Por fim, a tabela 3 indica uma mudança na estratégia econômica a partir de 1973 de forma mais clara
por meio da análise do item reservas internacionais. Até o ano do primeiro choque do petróleo, parcela
considerável da captação de recursos no exterior era destinada ao acúmulo de reservas, porém, em 1974
e em 1975, as reservas são consumidas a fim de financiar o déficit. Ou seja, os dados apresentados
estão de acordo com a estratégia do II PND: com o choque de 1973, adotou-se o financiamento externo
para cobrir o hiato de recursos e manter a economia aquecida10 . Cabe destacar a demanda crescente
de divisas destinadas ao gasto com o item de serviço da dívida e envio de lucros.
Ressalta-se a intensa atuação das empresas estatais, muitas delas responsáveis integrais pelo cumpri-
mento dos programas de investimento e produção em seus respectivos setores de atividade. Fishlow
médio prazo, que confere prioridade aos Insumos Básicos e Bens de Capital, o Governo tem utilizado como principalinstrumento o BNDE, e toda a sua constelação de mecanismos. (...) Os desembolsos do sistema BNDE atingirão Cr$47,6 bilhões, no corrente ano [1977]. Em 1963, os desembolsos do BNDE alcançaram Cr$ 2,7 bilhões (a preços de 1977).".10Como Fishlow (1986, p. 517) bem descreveu: "a poupança externa resolveu o dilema do financiamento insuficiente
para as elevadas taxas de crescimento no momento em que tinha se esgotado a margem ociosa da capacidade instalada.Ambiciosas metas de crescimento ficaram compatíveis com elevações continuadas do consumo, já que não exigiam grandesaumentos da poupança doméstica: ao contrário, pôde ser imaginada a correção dos baixos padrões de consumo dos pobres,através de uma política salarial mais liberal".
14
(1986, p. 520) aponta essa atuação como uma das contradições mais mais marcantes do plano: se,
no projeto, previa-se um setor público forte, com relações construtivas com o setor privado nacional;
na prática, o que se viu foi uma descontrolada expansão do setor público, que se tornava mais e mais
dependente de recursos externos para financiar seu crescente déficit. Ademais, o Estado ampliado
acabou por desempenhar tarefas tradicionalmente da iniciativa privada, comprometendo o objetivo de
fortalecimento da empresa privada nacional.
"As estatais tornaram-se a forma típica de engajamento produtivo nos novos setores,
em freqüente associação com o capital estrangeiro. Os investimentos das maiores estatais
passaram de uma média de 4% do PIB no período 1970/73 para 5,4% no período 1974/78 e,
igualmente significativo, elevaram-se de 17 para 23% de investimento total." (FISHLOW,
1986, p. 522).
Com relação a seus objetivos de mudança estrutural, pode-se argumentar que o II PND obteve
grande êxito: o crescimento médio anual do PIB brasileiro foi de 7%, houve uma queda tanto em valor
quanto em participação na pauta de importações dos setores mais favorecidos pela política industrial,
as exportações passam de 7,5% do PIB em 1974 para 8,4% do PIB em 1980 (CARNEIRO, 1990,
p.313), além disso, a composição da pauta de exportações brasileira sofreu mudanças estruturais com
o aumento do peso relativo dos bens manufaturados. Entretanto, esse êxito não se deu sem custos,
como a elevação do endividamento do setor público, a deterioração da posição financeira do país11
e a incapacidade de conter a inflação via política fiscal por causa da atuação das empresas estatais.
Desta forma, o II PND ao cumprir seus objetivos deixou como herança boa parte das dificuldades que
marcaram a economia brasileira na década de 80 (HERMANN, 2005, p.107).
Contudo, mais do que enumerar seus instrumentos e objetivos e avaliar seus resultados, deve-se
atentar para o que, de fato, o II PND representou para a economia brasileira: a implementação do
modelo growth-cum-debt até as últimas conseqüências. Num primeiro estágio, Castro e Souza (1985,
p. 102) caracterizam esse modelo pela insuficiência de poupança interna, de modo que cabe ao capital
estrangeiro a tarefa de cobrir o hiato de recursos (ou seja, de financiar os investimentos que não são
atendidos pela débil poupança interna), bem como a tarefa de pagar o serviço da dívida contraída no
período. Portanto, neste primeiro momento, o passivo externo líquido cresce a uma taxa superior à
11Nas palavras de Bonelli e Malan (1983, p. 18): "Em parte como conseqüência desta tentativa de ajuste via elevaçãosignificativa do investimento sem redução do consumo real, a dívida externa líquida passou de US$ 6,2 bilhões em finsde 1973 (igual ao valor das exportações naquele ano) para US$ 40,2 bilhões em deezembro de 1979 (o equivalente a 2,6vezes o valor das exportações naquele ano, US$ 15,2 bilhões).".
15
de juros. O segundo estágio tem início quando a taxa de poupança se iguala à taxa de investimento;
remanejando, assim, os recursos externos para a rolagem das amortizações. Finalmente, no último
estágio, o excedente de recursos gerado pela economia se iguala ao valor dos juros e, com a ampliação
desse excedente, a dívida declina. Em outras palavras, a política econômica brasileira passou a basear-
se no endividamento externo comandado pelo crescimento (FISHLOW, 1986, p. 523), sustentando
o antigo modelo de industrialização por substituição de importações e postergando o ajuste para o
futuro12 .
Vale lembrar que o endividamento não torna o ajustamento desnecessário, apenas o transfere para
o futuro. E, nesse sentido, Cysne (1986, p. 527) alerta para a existência de um potencial problema
de endividamento no futuro do país, independentemente do comportamento futuro das taxas de juros
internacionais. Um indício disso é que a participação brasileira no total mundial da dívida passa a ser
maior do que a sua participação no comércio internacional.
2.3.1 As Críticas
"Uma combinação de menor crescimento, mudanças de preços relativos e intervenções
diretas teria sido desejável na acomodação ao primeiro choque: qualquer que fosse a rigidez
do consumo de petróleo no curto prazo, havia alguma elasticidade a mais longo prazo. Out-
ros países fizeram muito mais em termos de conservação. O crescimento das exportações,
ainda que rápido, exigia estímulos adicionais, em função das mudanças no contexto inter-
nacional. As importações deveriam ter sido tornadas consistentemente mais caras, ao invés
de rigidamente controladas quando necessário. O endividamento era um componente dese-
jável do ajustamento, mas não como um resíduo, eventualmente desordenado, do balanço
de pagamentos." (FISHLOW, 1986, p. 539).
Embora o II PND tenha sido concebido a partir de um diagnóstico incontestável da economia
brasileira13 ; o plano foi duramente criticado por inúmeras camadas da sociedade, sobretudo por econo-
mistas contrários às teses cepalinas e que não viam aquele momento como oportuno para a implemen-
tação de uma nova etapa de industrialização por substituição de importações. Quanto a isso, Fonseca e
Monteiro (2007, p.29) afirmam: "Parecia extemporâneo e fora de propósito acelerar a economia a partir
12"Assim, o Brasil transferiu durante muitos anos, para gerações futuras, o pagamento do preço real da revolução dospreços do petróleo e ainda a decisão sobre a distribuição desse encargo entre os diversos setores e grupos sociais" (BAER,1985, p. 412).13Nas palavras de Serra (1982, p.118): "atraso no setor de bens de produção e de alimentos, forte dependência do
petróleo e tendência a um elevado desequilíbrio externo"
16
de megaprojetos, sob a forte liderança estatal, justamente quando vários países ajustavam-se, através
da recessão, à nova realidade advinda da quadruplicação do preço do petróleo.". Ademais, havia a
necessidade de uma política de controle da inflação, pois a manutenção do ritmo do crescimento era
acompanhada pela ameaça de descontrole inflacionário.
Bonelli e Malan (1976, p. 357) acusam o plano de ter interpretado a situação de desequilíbrio
externo pós-milagre como um problema meramente conjuntural de balanço de pagamentos. Deste
modo, no que se refere ao desequilíbrio do balanço de pagamentos, teria-se dado demasiada atenção
aos efeitos do maior gasto com petróleo, em detrimento das crescentes importações de bens de capital
e insumos14 . Além disso, insistiu-se na atipicidade dos anos imediatamente após o choque, mantendo
a ilusão de que a economia brasileira voltaria logo a crescer a taxas semelhantes as do "milagre", com
a inflação sob controle e o balanço de pagamentos equilibrado (BONELLI e MALAN, 1976, p. 361).
Note que, de acordo com essa leitura, fica implícito que o plano interpretou o choque externo como
sendo temporário. Esses autores criticam ainda a não utilização do câmbio como um instrumento
capaz de conter as importações, ao invés da adoção de restrições quantitativas que eles classificaram
como uma solução ad hoc15 .
No que concerne à inflação, o próprio plano foi executado com certo grau de vacilação, evidente
pelo que ficou conhecido por política do stop and go. Ou seja, quando a recessão ameaçava, pisava-
se no acelerador monetário; e quando a inflação pressionava, pisava-se no freio. E mesmo quando
o governo acionava uma política monetária contencionista, a frouxa política creditícia e os vultosos
investimentos das empresas estatais amorteciam seus efeitos (HERMANN, 2005b, p. 102). Além disso,
como se considerava a recessão o principal obstáculo à estabilização da economia, o plano subordinou,
de certa forma, o controle inflacionário às metas de longo prazo (CARNEIRO, 1990, p. 306).
Por fim, uma das principais fontes de críticas ao II PND foi o seu próprio legado.
"O quadro de desequilíbrio macroeconômico com que a economia brasileira defrontou-se
14Apesar de reconhecerem que a elevação dos preços do petróleo contribuiu enormemente para agravar o processode deterioração das contas externas brasileiras, os autores enfatizam a existência de um movimento cíclico inerenteà economia brasileira já em marcha devido à sua dependência de bens de capital importados e à natureza cíclica dademanda por estes itens, relacionada à utilização da capacidade produtiva (BONELLI e MALAN, 1976, p. 384).15A adoção de uma política mais intervencionista, em detrimento de uma solução de mercado, também contribuiu
para a deterioração das contas públicas. Na avaliação de Carneiro (1990, p. 315): "A decisão de não desvalorizar ocâmbio, símbolo do pessimismo de elasticidades e do modelo de inflação que instruía a política econômica de curto prazo,teve como contrapartida uma decisão de promover maior intervenção direta no processo econômico, seja através dosmecanismos de incentivos fiscais e creditícios, seja através da participação direta dos investimentos públicos no processode redirecionamento da oferta. Os primeiros dois instrumentos, no entanto, representam na prática deterioração dareceita pública, na medida em que o Estado abre mão de coletar impostos e faz empréstimos com encargos financeirosabaixo da inflação. Este efeito é ainda agravado pela prática de reajustes de preços públicos abaixo da inflação. Poroutro lado, o aumento da responsabilidade do setor público pelos investimentos requer maior poupança pública ou maiorendividamento do setor público".
17
na década de 80, caracterizado por elevado endividamento externo, desestruturação do setor
público, inflação explosiva e perda de dinamismo, teve sua origem em grande medida em
erros de diagnóstico bem como na timidez que caracterizou o uso de instrumentos de política
após o primeiro choque do petróleo. De um modo geral pode-se afirmar, com o benefício
do julgamento a posteriori, que tais erros decorreram de percepção deficiente acerca tanto
das alternativas quanto da potencialidade dos instrumentos de política econômica, agravada
por uma visão algo paroquial acerca do ambiente econômico mundial." (CARNEIRO, 1990,
p. 300).
2.3.2 A Racionalidade Econômica
Alguns autores afirmam que o objetivo do II PND ia além do ajuste dos desequilíbrios externos que
vieram à tona com o primeiro choque do petróleo. Cysne (1986, p. 209) e Castro e Souza (1985, p. 33)
sustentam que, além de superar a crise, o plano visava superar a barreira do subdesenvolvimento16 .
Para tanto, fazia-se indispensável uma reforma estrutural capaz de corrigir as insuficiências produtivas
brasileiras e de reorientar o processo de crescimento da economia. Contudo, a condução de tal reforma
exigia uma conjuntura estimulante; pois, caso contrário, se os volumosos investimentos que ainda se
encontravam em curso em 1974 - ou como denominado por Castro e Souza (1985, p. 35): a "safra
do milagre" - sofressem os impactos de uma recessão, a reversão cíclica teria conseqüências de enorme
gravidade.
Uma vez que o cerne da estratégia consistia na superação das dependências características do
subdesenvolvimento, optou-se por lançar um novo bloco de investimentos de maneira a ganhar tempo,
com um processo de retração o mais gradual possível, para alterar a estrutura da economia. Desta
forma, percebe-se que "a sorte da safra do milagre determinaria a possibilidade de um resposta ’positiva’
à crítica situação a que fora levada a economia" (CASTRO e SOUZA, 1985, p.36) já que esse novo
bloco de investimentos precisaria da adesão dos capitalistas para ser lançado.
"Em 1974, grande parte desses investimentos estava incompleta, ou tinha sido recente-
mente concluída. Uma forte desaceleração econômica naquele momento implicaria riscos e
custos elevados para as empresas investidoras, bem como para os bancos envolvidos no fi-
nanciamento dos novos empreendimentos. Havia, portanto, uma forte demanda empresarial16Castro e Souza (1985, p. 33) argumentam que "a nova política escolhia superar a atrofia dos setores de insumos
básicos e de bens de capital. Ocorre, porém, que o atraso relativo destes setores constitue o próprio estigma, no planoindustrial, do subdesenvolvimento. Neste sentido, reiteramos, o II PND se propunha superar, conjuntamente, a crise eo subdesenvolvimento".
18
pela continuidade do crescimento." (HERMANN, 2005b, p. 101).
Então, diante da recessão mundial, o Estado, através do II PND, atuou de forma anticíclica, ex-
pandindo o investimento público e incentivando o investimento privado. Assim, foi possível sustentar
o ritmo de crescimento acima de sua tendência natural (ainda que abaixo do desempenho do período
1968/73); assegurar o espaço necessário à absorção do surto anterior de investimentos; e, claro, mod-
ificar, a longo prazo, a estrutura produtiva (LANGONI, 1985, p. 119; CASTRO E SOUZA, 1985, p.
37).
2.3.3 A Racionalidade Política
Contudo, há de se indagar qual a motivação política, senão econômica, que justifique a adoção do
II PND. É consensual atualmente na literatura a visão segundo a qual a priorização do crescimento
econômico naquele momento constituiu elemento indispensável, ou ao menos facilitador, do projeto
de distensão política e legitimação do regime, ambos comprometidos após a crise do petróleo. Dado
que o projeto de abertura gradual do regime era objetivo explícito do presidente Geisel desde seus
primeiros pronunciamentos (GEISEL, 1975, v.2) e que, até a deflagração da crise do petróleo, não
existem registros de nenhum projeto de crescimento acelerado; pode-se concluir que a conjuntura
econômica mundial, ao esbarrar nos projetos programados para a política interna brasileira, forçou a
implementação do II PND17 . O próprio Geisel, em discurso de abertura da sessão legislativa de 1975,
no Congresso Nacional, reconhece que:
"Penso justificar, assim, a intenção manifesta, desde a primeira hora, em meu governo,
de dedicar maior atenção ao campo político - não só externo como, sobretudo, interno - e de
cuidar com toda a objetividade do campo social, através de medidas a ele especificamente
destinadas. Com isso, todavia, não se deixará de reconhecer a importância crítica do campo
econômico, fortemente condicionante dos demais, pelos recursos que só ele lhes poderá
oferecer, mas afirma-se a prioridade instrumental do desenvolvimento político" (GEISEL,
1975, v.2, p.18).
Inclusive, o projeto do plano afirma já no primeiro capítulo que, diante daquele cenário, as distensões
no domínio político se misturavam às inquietudes no domínio econômico (BRASIL/PRESIDÊNCIA,17Para que fique clara a sequência temporal desses fatos, atente que: "a definição do nome de Geisel para presidente
ocorreu nos primeiros meses de 1973, ano em que o PIB cresceu 14%, portanto no auge do ’milagre’. A crise do petróleo,estopim do final do ciclo de crescimento iniciado em 1968, só ocorrerá no último trimestre de 1973, período no qual opreço do barril salta de US$2,90 para nível próximo a US$12,00" (Fonseca e Monteiro, 2007, p.37). Lembrando, por fim,que o II PND foi publicamente anunciado em setembro de 1974, seis meses após a posse de Geisel na presidência.
19
1974).
O choque do petróleo representava um entrave ao objetivo nacional de distensão política pois, ao
reduzir o nível de atividade econômica mundial, frearia também o crescimento nacional; enterrando
a ideologia do "Brasil Potência", símbolo do ufanismo militar e concessora de legitimidade ao regime
(FONSECA e MONTEIRO, 2007). Vale ressaltar que a ditadura militar prezava pela legitimidade de
seu governo, legitimidade esta apoiada no caráter transitório do regime e na sua concepção restauradora
da ordem com a finalidade de combater a "demagogia populista" do governo anterior. Percebe-se,
assim, o quão próxima da legitimidade do regime está a política econômica nacional: o ambiente
propício ao golpe em 1964 adveio, em boa parte, da conjuntura econômica de baixo crescimento e altas
taxas de inflação.
A parte a distensão política, havia também o fortalecimento da frente oposicionista, que passou
a contar com todos os recuros permitidos pela distensão para fazer oposição ao governo; revelando,
assim, a aberta contestação ao regime militar (CARNEIRO, 1990, p. 303). Neste contexto, o governo
passa a utilizar as altas taxas de crescimento para desviar a atenção dos excessos do autoritarismo e da
repressão do regime militar, numa tentativa de amenizar a oposição e institucionalizar a "Revolução"
(golpe) de 1964. Uma evidência disto ocorre em 1975: com a derrota do governo nas urnas, este recua
na sua política de contenção de demanda.
Conclui-se com as palavras de Fonseca e Monteiro (2007):
"Não há dúvidas de que o II PND é um plano ’politicamente determinado’, se por isto
se entender seus condicionantes políticos - no caso, principalmente o fato de ter sido for-
mulado e implementado em um contexto no qual o governo que ora assumia presenciava o
fim do ’milagre brasileiro’e, com ele, inviabilizava-se a retórica da busca de coesão através
do expressivo desempenho da economia. O plano, neste aspecto, prestava dupla colabo-
ração: alentava a possibilidade de manter o crescimento e, ao mesmo tempo, contribuía
para propiciar um clima favorável às mudanças políticas pretendidas, consubstanciadas no
projeto de distensão política." (FONSECA e MONTEIRO, 2007, p.45).
20
3 Modelo de Crescimento
Fundamentado na abordagem de Conesa, Kehoe e Ruhl (2007), este capítulo apresenta o modelo de
crescimento de equilíbrio geral, em que os agentes representativos das famílias escolhem suas trajetórias
de consumo, lazer e investimento a fim de maximizar sua utilidade conforme o seguinte problema:
maxE
{ ∞∑t=0
βt[γ ln (Ct) + (1− γ) ln
(hNt − Lt
)]}(1)
em que Ct representa o consumo, Lt são as horas trabalhadas no período t e Nt é a população
em idade ativa18 no período t19 . O parâmetro γ, 0 < γ < 1, corresponde a parcela do consumo e β,
0 < β < 1, é o fator de desconto, ambos precisam ser calibrados. h é a dotação de horas disponíveis
para atividades de mercado de cada indivíduo, logo, hNt indica o número total de horas disponíveis
para o trabalho na economia. A exemplo de Conesa, Kehoe e Ruhl (2007), especifica-se h como 100
horas por semana.
A cada período, os agentes representativos estão sujeitos a seguinte restrição orçamentária:
Ct +Xt = wtLt + rtKt (2)
Esta restrição nos diz que o consumo total somado aos gastos totais com investimento, Xt, não
podem exceder a renda total da economia: wt corresponde ao salário; rt, a taxa de juros e Kt, ao
estoque de capital no período t. Há também as restrições de não-negatividade em Ct e Xt e a restrição
sobre o valor inicial do capital, KT0 = KT0 . A lei de movimento do estoque de capital é dada por:
Xt = Kt+1 − (1− δ)Kt (3)
onde δ é a taxa de depreciação, 0 < δ < 1.
As firmas operam em um mercado perfeitamente competitivo de acordo com uma função de pro-
dução, F (Kt, Lt), com retornos constantes de escala. Haja vista que a participação dos fatores de
produção no produto é estável ao longo do tempo, supõe-se uma função de produção Cobb-Douglas.
Das condições de minimização de custos e lucro zero das firmas depreende-se que:
wt = (1− θ)AtKθt L−θt (4)
18Assume-se população em idade ativa como a população entre 10 e 69 anos.19Um período representa um ano.
21
e
rt = θAtKθ−1t L1−θt (5)
Em que as equações 4 e 5 são as expressões para os preços dos fatores de produção, At é a pro-
dutividade total dos fatores (PTF) e θ corresponde à participação do capital no produto, tal que
0 < θ < 1.
Por fim, esta economia não tem distorções por hipótese e assim sendo vale o Segundo Teorema do
Bem-Estar, isto é, a alocação de equilíbrio competitivo equivale à solução do problema do planejador
central. Invocando esse teorema, podemos maximizar (1) sujeito a seguinte restrição de factibilidade:
Ct +Xt = Yt (6)
em que Yt = AtF (Kt, Lt) é o produto agregado.
Além disso, assume-se que as trajetórias da PTF e da população são determinadas exogenamente
e que os agentes formam previsões perfeitas (perfect foresight) sobre seus valores. Inicia-se o modelo
na data T0 = 1970 e realiza-se a simulação para infinitos períodos.
Definição: Equilíbrio Dadas as séries de produtividade, At, e de população em idade ativa, Nt,
t = T0, T0 + 1, ... e o valor do estoque de capital inicial, KT0 , um equilíbrio é as sequências de salários,
wt, de taxas de juros, rt, de consumo, Ct, de trabalho, Lt, e de estoque de capital, Kt, tais que:
1. dados os salários e as taxas de juros, o agente representativo das famílias escolhe consumo,
trabalho e capital de forma a maximizar a função de utilidade (1) sujeito a restrição orçamentária (2),
as restrições de não-negatividade e ao valor inicial do estoque de capital;
2. os salários e as taxas de juros juntamente com a escolha de trabalho e capital das firmas
satisfazem a minimização de custos, a condição de lucro zero e as expressões (4) e (5); e
3. consumo, trabalho e capital satisfazem a condição de factibilidade (6).
Para encontrar o equilíbrio, resolve-se um sistema de equações que sintetiza as condições de equi-
líbrio acima. Assim, as condições de primeira ordem do problema das famílias devem ser combinadas
com as condições de ótimo da firma (4) e (5) e com a condição de factibilidade (6), donde se obtém o
seguinte sistema de equações:
22
Ct+1Ct
= β[θAt+1K
θ−1t+1 L
1−θt+1 + (1− δ)
](7)
(1− θ)AtKθt L−θt
(hNt − Lt
)=
1− γγ
Ct (8)
Ct +Kt+1 − (1− δ)Kt = AtKθt L
1−θt (9)
Deste modo, a solução do equilíbrio se reduz a escolha de seqüências de consumo, estoque de
capital e horas trabalhadas tal que esse sistema seja satisfeito, dadas a condição inicial, KT0 = KT0 , e
a condição de transversalidade, para os infinitos períodos t = T0, T0+1, ..., o que envolveria um número
infinito de equações e de variáveis. Contudo, a computação de um tal equilíbrio não seria viável, então
assume-se que a economia converge para a trajetória de crescimento equilibrado em uma data T1.
Definição: Trajetória de Crescimento Equilibrado Assumindo que a produtividade, At,
cresce a uma taxa constante g1−α − 1 e que a população em idade ativa, Nt, cresce a uma taxa
constante n− 1, então uma trajetória de crescimento equilibrado é os níveis de salários, w, de taxas de
juros, r, de consumo, C, de trabalho, L, e de estoque de capital, K, tais que:
1. wt = gt−T0w;
2. rt = r;
3. Ct = (gn)t−T0 C,
4. Lt = nt−T0L;
5. Kt = (gn)t−T0 K; e
6. Yt = (gn)t−T0 Y
satisfazem as condições de equilíbrio quando o estoque inicial de capital é KT0 = K.
Para encontrar a solução da trajetória de crescimento equilibrado, calcula-se a razão capital-produto
K/Y a partir das equações 5 e 7.
g = β
(1 + θ
Y
K− δ)
(10)
Com essa relação, pode-se calcular as horas trabalhadas L, usando as equações 4 e 6 para reescrever
a 8:
23
(1− θ)(hNT0
L− 1
)=
1− γγ
[1− (gn− 1 + δ)
K
Y
](11)
Por fim, usamos a função de produção para encontar K e Y e usamos as condições de ótimo da
firma juntamente com a condição de factibilidade para encontrar C, w e r.
Desta forma, o sistema de equações anterior, resultante das condições de equilíbrio, pode ser escrito
como:
(1− θ)AtKθt L−θt
(hNt − Lt
)=
1− γγ
[AtK
θt L
1−θt −Kt+1 + (1− δ)Kt
](12)
At+1Kαt+1L
1−αt+1 −Kt+2 + (1− δ)Kt+1
AtKαt L
1−αt −Kt+1 + (1− δ)Kt
= β[θAt+1K
θ−1t+1 L
1−θt+1 + (1− δ)
](13)
para t = T0, T0 + 1, ..., T1 − 1 e KT1+1 = gnKT1 .
Seguindo a proposta de Conesa, Kehoe e Ruhl (2007), T1 é escolhido de forma que T1 − T0 = 60,
isto é, que o intervalo entre o período inicial e o período final seja suficientemente longo.
24
4 Contabilidade do Crescimento
A análise da economia brasileira para o período segue a metodologia de contabilidade do crescimento
proposta por Kehoe e Prescott (2002). Como foi visto, adota-se uma função de produção Cobb-Douglas,
tal que o produto seja dado por:
Yt = AtKθt L
1−θt (14)
Lembrando que At designa a PTF. Com esta forma funcional para a função de produção, tem-se
que o progresso técnico é do tipo Hicks neutro, ou seja, o progresso técnico deixa inalterada a taxa de
substituição entre os fatores de produção. Em outras palavras, a neutralidade no sentido de Hicks é
aquela em que o progresso técnico é igualmente aumentador de capital e de trabalho.
A partir da função de produção, prossegue-se com a contabilidade do crescimento que, segundo
Conesa, Kehoe e Ruhl (2007, p.2), nos permite decompor as alterações do produto em três componentes:
o primeiro devido a mudanças no insumo trabalho, o segundo devido a mudanças no insumo capital
e o último devido a alterações na eficiência com que esses dois fatores são empregados no processo
produtivo, ou seja, na PTF. A vantagem dessa metodologia é que cada um destes componentes nos leva
a examinar diferentes classes de choques e políticas econômicas na determinação do produto. Tomando
o logaritmo natural da função acima e rearranjando os termos, chegamos a seguinte expressão:
ln
(YtNt
)=
1
1− θ ln (At) +θ
1− θ ln
(Kt
Yt
)+ ln
(LtNt
)(15)
em que Nt, como no capítulo anterior, denota a população em idade ativa. A partir da equação
acima, a variação real do PNB por população em idade ativa entre os períodos t e t+s pode ser obtida
da seguinte maneira:
[ln(Yt+sNt+s
)− ln
(YtNt
)]s
= (16)
1
1− θ[ln (At+s)− ln (At)]
s+
θ
1− θ
[ln(Kt+sYt+s
)− ln
(KtYt
)]s
+
[ln(Lt+sNt+s
)− ln
(LtNt
)]s
A equação acima nos fornece a decomposição do crescimento do produto em termos da contribuição
das mudanças na PTF, na razão capital-produto e nas horas trabalhadas por população em idade
25
ativa respectivamente. Ao longo da trajetória de crescimento balanceado, os dois últimos termos
dessa expressão são iguais a zero, uma vez que a intensidade do capital e as horas trabalhadas por
PIA mantêm-se constantes. Sendo assim, atribui-se todo o crescimento à variação da PTF, mais
especificamente a tendência de crescimento desta20 .
Para realizar a contabilidade do crescimento para a economia brasileira, calibra-se o valor da
participação do capital conforme estudos anteriores - Gomes, Lisboa e Pêssoa (2003); Gomes, Bugarin
e Ellery Jr (2005); e Ferreira, Ellery Jr e Gomes (2008). Essas evidências são obtidas a partir da
metodologia proposta por Gollin (2002), que visa justamente corrigir possíveis erros na mensuração
da participação do capital. Assim, adota-se θ = 0, 40.
Tendo como foco as fases de elaboração, execução e abandono do II PND, que coincidem com o
período pós-milagre, chega-se aos resultados da tabela 4. Note que, o período de 1974 a 1983 foi
caracterizado por uma quase estagnação do produto e que, apesar do pequeno crescimento positivo do
produto por população em idade ativa, o crescimento da produtividade foi negativo. A contribuição
dos fatores capital e trabalho foram positivas, sendo que o crescimento da parcela correspondente à
intensidade do capital foi o mais alto. Deste modo, a retração da PTF foi mais que integralmente
compensada pelo crescimento referente às razões capital-produto e horas trabalhadas por PIA.
Período Y/N PTF K/Y L/N19741983 0,19% 4,55% 3,88% 0,86%
Tabela 4Contabilidade do crescimento (%), 19741983
Esses resultados nos levam a crer que, caso a economia já estivesse numa trajetória de crescimento
balanceado e dada a evolução da PTF, o período seguinte ao "milagre brasileiro" seria de recessão; o
que nos fornece indícios de que o II PND pode ter surtido algum efeito no que tange à manutenção
do crescimento ou, melhor dizendo, na evasão de uma recessão. Vale lembrar que o II PND valeu-
se de investimentos públicos e subsídios a investimentos privados21 para reestruturar todo um setor
produtivo, o de bens de capital, fato que contribuiu para a elevação da razão capital-produto.20De fato, se assumirmos que a PTF seja descrita pela expressão abaixo, isto pode ser melhor verificado como segue:
At = zt (1 + γ)(1−θ)t
zt = 1− ρ+ ρzt−1 + εt
em que zt representa o componente aleatório da PTF e (1 + γ)(1−θ)t, sua taxa de crescimento. Como na trajetóriade crescimento balanceado, zt = 1, a contribuição desse termo é nula e resta apenas a contribuição advinda da taxa decrescimento da PTF. Observe ainda que com esta especificação, pode-se definir (1 + gz) = (1 + γ)(1−θ)t, em que gz é ataxa de crescimento do produto em equilíbrio.21Para consultar os dados relativos a subsídios, veja Bugarin, Ellery, Gomes e Teixeira (2005).
26
Realiza-se procedimento análogo para subperíodos do período analisado, bem como para alguns
anos do milagre, para comparar a evolução dessas taxas de crescimento (tabela 5).
Período Y/N PTF K/Y L/N19701973 10,56% 9,55% 2,43% 3,43%19741978 1,58% 4,97% 4,22% 2,33%19791983 1,77% 5,18% 4,04% 0,63%
Tabela 5Contabilidade do crescimento (%), 19701983
A partir da tabela 5, percebe-se que houve uma transição entre um crescimento liderado pela
produtividade e uma recessão suavizada pela intensidade do capital. Os subperíodos escolhidos nos
mostram respectivamente o momento em que o país ainda vivia o "milagre" do crescimento, o período
em que o II PND estava sendo implementado e, por fim, a fase de abandono do plano coincidindo com
a retração do produto. Contudo, note que a redução do ritmo da atividade entre os períodos é bastante
severa e, deste modo, reforça-se a conclusão obtida a partir da tabela anterior: o II PND parece ter sido
eficaz no sentido de retardar o ajuste recessivo e manter taxas de crescimento, senão altas, ao menos
positivas. Ademais, essa manutenção do crescimento deu-se, em boa parte, graças à contribuição do
fator capital; novamente evidenciando que o plano, ao adotar medidas visando uma intensificação dos
investimentos públicos e privados, foi de fato decisivo para o desempenho da economia entre 1974 e
1978.
Outra importante conclusão a que chegamos a partir da tabela 5 diz respeito ao período do milagre
e nos posiciona em linha com a recente literatura de crescimento econômico brasileiro que, nas palavras
de Veloso, Villela e Giambiagi (2008, p.225): "fornece sólidas evidências de que o ’milagre’brasileiro
foi um ’milagre’de produtividade".
Ilustrando os resultados da tabela 5, a figura 5 expõe graficamente a contabilidade do crescimento
e exibe o descompasso entre produto e produtividade no período 1974-83. Por meio dela percebe-se
que, até o final do "milagre", o produto acompanhou ano a ano a evolução da PTF de forma bastante
próxima. A partir de 1975 até 1979, a relação entre eles deixa de ser positiva, isto é, mesmo com uma
PTF declinante, o produto mantém sua trajetória ascendente. Vale lembrar que nesse período estão os
anos de forte implementação do II PND, ou seja, devemos procurar a explicação para este crescimento
na relação capital-produto, que de fato cresce durante todo esse período. A partir de 1980, o produto
volta a reproduzir o movimento da PTF, que passa a alternar períodos de crescimento e de queda.
Ressalta-se que a PTF termina o período de análise em um nível inferior ao inicial.
27
Figura 5 Contabilidade do crescimento para o Brasil, 19701983
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
180
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982
Index (1970 = 100)
Y / N
A ^ (1/(1alpha))
(K/Y) ^ (alpha/(1alpha))
L / N
Para a elaboração da tabela 5, utilizou-se a seguinte expressão também derivada da função de
produção após algumas manipulações:
YtNt
= A1
1−θt
(Kt
Yt
) θ1−θ Lt
Nt(17)
Por último, apresenta-se na figura 6 a evolução do produto por PIA e da razão capital-produto,
onde se pode ver que a partir de 1973 o crescimento deste último é ininterrupto, o que explica boa
parte do desempenho daquele. Na mesma figura também ilustra-se o desempenho da PTF descontada
a tendência. Fica claro, então, que a combinação entre o forte crescimento da razão capital-produto e
a queda acentuada da PTF teve como resultado a estagnação do produto por PIA.
28
Figura 6 PNB por população em idade ativa sem tendência, PTF sem tendência erazão capital produto, 19701983 (100=1970)
70
85
100
115
130
145
160
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
PNB/PIA
capital/produto
PTF
Para aprofundar a investigação acerca da eficácia do II PND, prossegue-se nos próximos capítulos
com a simulação do modelo neoclássico de crescimento. Este instrumental identifica qual teria sido a
trajetória ótima do produto, dadas as condições iniciais e os parâmetros para a economia brasileira, na
ausência de distorções. Caso a nossa suspeita acima esteja correta, espera-se encontrar uma queda do
produto simulado durante o período de vigência do II PND; pois isso confirmaria a hipótese de que o
plano possa ter impedido essa retração, provavelmente através de incentivos a investimentos de forma
a levar a economia brasileira artificialmente a uma superacumulação de capital.
29
5 Simulação do modelo básico: a economia artificial com
governo
5.1 Dados
Para realizar os exercícios de contabilidade do crescimento e de simulação de uma economia artificial
são utilizados os dados das Contas Nacionais do Brasil fornecidos pelo IBGE, a exceção do IPA - origem
(índice de preços por atacado), calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV)22 . Foram utilizadas
as seguintes séries construídas por Bugarin, Ellery Jr., Gomes e Teixeira (2007): produto nacional
bruto, consumo de bens duráveis, formação bruta de capital fixo, formação bruta de capital, variação
de estoques, formação bruta de capital fixo do governo, população em idade ativa, total de horas
trabalhadas e deflator implícito do PIB. Todas as séries estão em R$ de 1998, deflacionadas pelo
deflator implícito do PIB.
A série de investimento foi construída somando-se as séries de formação bruta de capital, variações
de estoque e consumo de bens duráveis. A partir da série de investimento e de um ’chute inicial’para
o valor do capital, foi construída a série de estoque de capital pelo método do inventário perpétuo, de
acordo com o qual tem-se:
Xt = Kt+1 − (1− δ)Kt (18)
Como ’chute inicial’para o valor do capital, foi adotado o valor do estoque líquido de capital fixo
em 1950 da série disponibilizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), qual seja,
K1950 = 93.553.141, 85 em R$ de 199823 . Ao se estabelecer o valor inicial do estoque de capital para
o ano de 1950, associado a uma taxa de depreciação de 5%24 , tem-se que aproximadamente 70% do
capital inicial já se deteriorou até 1970 (ano em que iniciamos a análise); reduzindo, assim, o impacto
do valor escolhido para o ’chute inicial’. Vale lembrar que, por iniciarmos a simulação em 1970, K1970
é o valor do estoque inicial no código.
Como no trabalho de Conesa, Kehoe e Ruhl (2007), assume-se para o modelo básico uma economia
fechada e sem governo, resultando na condição de factibilidade já apresentada (equação 6):
22O livro "Great Depressions of the Twentieth Century" (Kehoe e Prescott, 2007) possui um capítulo dedicado àrecessão brasileira das décadas de 1980-90 de autoria de Bugarin, Ellery Jr., Gomes e Teixeira, cujos dados estãodisponíveis em apêndice estatístico virtual, na página www.greatdepressionsbook.com. A autora agradece aos autorespela disponibilização.23Essa série de estoque líquido de capital fixo foi construída por Morandi e Reis (2004) e estava originalmente em R$
de 2000 (bilhões). Para compatibilizá-la com as demais séries que estão em R$ de 1998, utilizou-se o IPA da FGV.24Discute-se a calibração dos parâmetros na próxima subseção.
30
Ct +Xt = Yt (19)
A partir dessa condição e dos dados de PNB e investimento, calcula-se o consumo como resíduo,
isto é, o consumo corresponde não apenas ao consumo privado de não-duráveis, como também ao
consumo do governo.
Finalmente, a série de produtividade é calculada de acordo com a função de produção do modelo,
a partir dos dados de produto, capital e horas trabalhadas e do parâmetro de participação do capital,
θ, cuja calibração será discutida adiante. Ou seja, constrói-se a série da PTF com a seguinte equação:
At = YtK−θt L
−(1−θ)t (20)
Esta série é incorporada à economia artificial tal qual calculada, pois a produtividade não é expli-
cada pelo modelo; constituindo, assim, uma variável exogenamente determinada. O mesmo tratamento
é dado às séries de população em idade ativa e de dotação de horas.
5.2 Calibração
Segundo Cooley e Prescott (1995, p.15), calibração é o processo de escolha de valores para os parâmetros
de um modelo de forma que ele corresponda à economia real nas dimensões associadas ao crescimento
de longo prazo.
Os valores da participação da renda do capital na renda nacional, θ, e da taxa de depreciação, δ,
são calibrados de acordo com a literatura recente de Ciclos Reais no Brasil. Seguindo a metodologia
proposta por Gollin (1998), Gomes, Bugarin e Ellery Jr. (2005) apontam uma superestimação da
participação do capital na renda pelas Contas Nacionais Brasileiras, uma vez que estas consideram a
renda de trabalhadores autônomos e a renda de empresários como sendo renda do capital. Sendo assim,
adota-se aqui o valor corrigido, θ = 0, 40, a exemplo de Gomes, Pessôa e Veloso (2003) e Ferreira, Ellery
Jr. e Gomes (2008). Com relação à taxa de depreciação, tomamos δ = 0, 05 conforme Ferreira, Gomes
e Ourives (2009), que justificam esse valor por ele "não superestimar a depreciação caso a economia se
desviasse da trajetória balanceada de crescimento" (FERREIRA, GOMES e OURIVES, 2009, p. 4).
Uma vez determinados os valores de α e δ, usa-se a condição intertemporal de equilíbrio (13) para
se calibrar o fator de desconto intertemporal, β, como:
31
β =Ct+1
Ct
(1− δ + α Yt+1
Kt+1
) (21)
Para a simulação, tomamos β como seu valor médio entre 1960 e 1970, período fora do nosso
interesse; prosseguindo, desta forma, como Conesa, Kehoe e Ruhl (2007). Obtemos β = 0, 91.
Realiza-se procedimento análogo para calibrar γ, porém tomamos desta vez o valor médio entre
1970 e 1980 por causa da indisponibilidade da série de horas trabalhadas no Brasil durante a década
de 1960. Assim, usando a condição intratemporal de equilíbrio (12):
γ =CtLt
Yt(hNt − Lt
)(1− α) + CtLt
(22)
tem-se γ = 0, 227 como a participação média do consumo no período 1970-80.
Por fim, determinam-se os valores das taxas médias de crescimento das séries exógenas ao modelo:
a taxa média de progresso tecnológico, g, e a taxa média de crescimento da população, η. Entre
1960 e 1998, a taxa de crescimento populacional foi η = 2, 5% e, entre 1970 e 1998, a taxa média de
crescimento do progresso técnico foi g = 0, 2%.
5.3 Código
A economia artificial foi simulada por meio dos programas do MATLAB utilizados por Conesa, Kehoe
e Ruhl (2007)25 de modo a reproduzir o equilíbrio do modelo, descrito pelo sistema de equações
(12) e (13). A solução deste sistema requer que se escolham valores para KT0+1,KT0+2, ..., KT1 e
LT0 , LT0+1, ..., LT1 que satisfaçam (12) para t = T0, T0 + 1, ..., T1 e (13) para t = T0, T0 + 1, ..., T1 − 1,
o que implica resolver 2 (T1 − T0) − 1 equações em 2 (T1 − T0) − 1 variáveis. Aplica-se o método de
Newton para resolver esse problema, um método de rápida convergência para solucionar sistemas de
equações não-lineares26 .
5.4 Resultados
As figuras 7, 8 e 9 trazem os principais resultados da simulação do modelo básico para o período de
interesse, de 1970 a 1983. As figuras com o índice ’a’exibem a trajetória dos agregados, considerando-
se os valores verificados na economia real em 1970 como a base para os dados e os valores simulados
25Os programas do MATLAB utilizados estão disponíveis em www.greatdepressionsbook.com.26Para detalhes acerca da implementação do método de Newton, ver Conesa, Kehoe e Ruhl (2007).
32
pelo modelo em 1970 como a base para os resultados do modelo. Ou seja, nestes gráficos podemos ver
claramente a que taxa cada agregado cresceria caso a economia fosse regida inteiramente pelo modelo
de crescimento neoclássico e a taxa que efetivamente foi realizada. Já as figuras indexadas por ’b’
permitem a comparação entre os níveis reais e simulados, pois estão em valores absolutos. A exceção é
a figura 7b, em que tanto os dados quanto a simulação tiveram como base os dados verificados de fato
na economia em 1970, ficando assim preservado o diferencial entre os níveis do produto por população
em idade ativa na economia artificial e na real, mas em base 100.
Note que o modelo prevê uma relevante queda do produto por população ativa exatamente a
partir de 1974; voltando a crescer em um ano apenas, 1980, e caindo novamente em seguida. Em
contraste, a economia brasileira foi capaz de sustentar níveis bastante semelhantes ao de 1974 até o
início da década de 1980. Fica claro pela análise da figura 7b que, desde o "milagre", o país vinha
apresentando um patamar do produto por população em idade ativa acima do previsto no modelo,
entretanto cabe ressaltar que essa diferença se acentua a partir da segunda metade da década de 1970
com a manutenção deste agregado num patamar estável na economia real. Este fato nos conduz a duas
conclusões. Primeiramente, vemos que um "milagre" de crescimento, embora um pouco mais modesto,
também é reproduzido na economia artificial. Por exemplo, em 1970, o produto simulado corresponde
a 95,6% do produto da economia real e, em 1973, o índice do produto simulado é igual a 119, enquanto
que o do produto verificado é igual a 129, valores razoavelmente próximos. Fortalece-se, com isso, a
hipótese de que o "milagre" de crescimento tenha sido, na realidade, um "milagre" de produtividade.
Nesse sentido, as políticas implementadas no período não foram os reais responsáveis pelo "milagre"
brasileiro, mas sim fatores que contribuíram para intensificar um processo já em curso.
Figura 7a PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil
70
80
90
100
110
120
130
140
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Modelo básico
Dados
33
Figura 7b PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil
70
80
90
100
110
120
130
140
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (1970 = 100)
Modelo básico
Dados
A segunda conclusão é que a análise à luz da teoria de crescimento neoclássica constitui um forte
indício de que o II PND foi bem sucedido na tarefa de evitar uma recessão, ainda que com relação a
suas metas de crescimento o plano tenha falhado em manter as altas taxas vividas durante o "milagre".
Essa conclusão se justifica pela acentuada queda que se verifica no modelo, mas que foi driblada pela
economia brasileira.
No caso de horas trabalhadas (figura 8), o modelo não descreve a elevação das horas trabalhadas
ocorrida entre 1973 e 1979, nem a verificada entre 1980 e 1982. Inclusive, de 1979 para 1980, as horas
trabalhadas na economia artificial sobem enquanto acontece exatamente o contrário na economia real.
A incapacidade do modelo de crescimento neoclássico em captar os movimentos no mercado de trabalho
brasileiro já foi documentada em trabalhos anteriores (Bugarin et al., 2007; Ellery et al., 2002) e pode
estar relacionada com variáveis não incluídas no modelo, como a forte migração para as grandes cidades
decorrente do processo de urbanização por que passava o país naquele período.
Figura 8a Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil
80
90
100
110
120
130
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Dados
Modelo básico
34
Figura 8b Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil
14
16
18
20
22
24
26
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Horas por semana
Dados
Modelo básico
A relação capital-produto prevista pelo modelo apresenta comportamento bastante próximo dos
dados, mas, em geral, em nível um pouco inferior como se pode ver na figura 9. Por exemplo, em
1975, o modelo indica uma razão capital-produto de 1,96 e a economia real, de 2,06; uma diferença
de apenas um décimo. Essa diferença só passa a ser significativamente maior do que isso em 1980,
quando a razão capital-produto da economia chegou a 2,5, enquanto a da economia artificial ficou em
2,07. Se levarmos em conta que, como foi visto, o produto do modelo está num nível inferior ao dos
dados da economia, concluímos que o estoque de capital no modelo também é inferior ao dos dados.
Definindo-se o estoque de capital da economia em 1970 como a base tanto para a série de dados quanto
para a série simulada27 , confirma-se essa última afirmação (figura 10). De acordo com o modelo, um
ano após o choque, em 1974, a razão capital-produto deveria ter se reduzido em aproximadamente 20%
em comparação com seu valor inicial. No entanto, o que ocorreu na economia brasileira foi exatamente
o contrário: o estoque de capital se expandiu em 50% de 1970 a 1974. Percebe-se, então, que a evolução
da razão capital-produto esconde essa discrepância, que não pára de crescer ao longo de todo o período,
entre o modelo e a realidade.27K1970 é também, como visto anteriormente, nosso valor inicial para a simulação, fato que explica por que ambas as
séries de estoque de capital se iniciam em 100 ao se adotar o ano de 1970 como a base.
35
Figura 9a Razão capitalproduto no Brasil
70
80
90
100
110
120
130
140
150
160
170
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Dados
Modelo básico
Figura 9b Razão capitalproduto no Brasil
1
1.5
2
2.5
3
3.5
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Razão
Dados
Modelo básico
Figura 10 Estoque de capital no Brasil, 19701983
40
70
100
130
160
190
220
250
280
310
340
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
dados
modelo básico
Outro indicador que revela a inconsistência entre a economia brasileira e o modelo neoclássico é
a taxa de investimento, apresentada na figura 11. Como se pode ver, já no primeiro ano da série, a
economia real investe o dobro do percentual do produto que é investido na economia simulada. Até
1973, essa diferença se reduz para 0,32 nos dados e 0,29 no modelo, mas logo depois essa razão cai
bastante na economia artificial e fica estável nos dados brasileiros, indicando que alguma distorção
36
impediu que a taxa de investimento se ajustasse nesse período como previsto pela teoria neoclássica.
É interessante notar o quão bem a razão investimento-produto da economia artificial acompanha a
produtividade total dos fatores (figura 12), ao passo que os dados só parecem refletir o comportamento
da PTF apenas a partir de 1980, já no final da série, no fase de abandono do II PND.
Figura 11 Taxa de investimento da economia brasileira, 19701983
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
0.40
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Razão
Modelo básico
Dados
Figura 12 PTF e taxa de investimento no Brasil, 19701983
90
95
100
105
110
115
120
125
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 19830
0.05
0.1
0.15
0.2
0.25
0.3
0.35
0.4
0.45
Dados: taxa de investimento
PTF
Modelo: taxa de investimento
PTFBase (100 = 1970)
Taxa de investimentoRazão
A tabela 6 resume essas diferenças entre a economia real e a simulada trazendo a contabilidade do
crescimento para cada uma delas. Pode-se ver que, nos anos finais do ’milagre’, a economia artificial
também apresenta crescimento substancial; entretanto, a participação do fator capital é ainda menor
do que na economia real, em oposição à participação do fator trabalho, que é maior na economia
artificial.
Já para o período de forte implementação do II PND, observa-se uma forte queda do produto
no modelo; o que contrasta com o crescimento, ainda que tímido, observado na economia brasileira
37
no período. Curioso notar que, segundo a contabilidade do crescimento, o fator capital teria con-
tribuído ainda mais para o crescimento do produto na economia artificial do que na real. Ademais,
a contribuição do fator trabalho passa de 2,33% na realidade para -3,14% no modelo. Uma possível
explicação para esse fato é dada por Bugarin, Ellery Jr., Gomes e Teixeira (2005). Esses autores afir-
mam que, como o estoque de capital cresceu mais do que o declínio da PTF durante esse período, a
produtividade marginal do trabalho foi crescente ao longo da década de 1970. Logo, o incremento de
horas trabalhadas também pode ser explicado pelo incremento do investimento.
Período Dados Modelo básico
Fim do "milagre"19701973
Y/N 10,56% 9.27%PTF 9,55% 9.55%K/Y 2,43% 4.95%L/N 3,43% 4.67%
II PND19741978
Y/N 1,58% 3.19%PTF 4,97% 4.97%K/Y 4,22% 4.92%L/N 2,33% 3.14%
Abandono do II PND19791983
Y/N 1,77% 4.56%PTF 5,18% 5.18%K/Y 4,04% 3.69%L/N 0,63% 3.07%
Elaboração própria
Contabilidade do crescimento (%), 19701983Tabela 6
Para a fase de abandono do II PND, temos que, apesar da redução do produto verificada nos
dados, essa redução foi ainda mais acentuada no modelo. Embora a contribuição do capital tenha sido
ligeiramente menor no modelo do que nos dados, nota-se que o fator de produção realmente decisivo
para que a economia artificial apresentasse tamanha redução do PNB foi o trabalho.
Ainda com relação à contabilidade do crescimento, a figura 13 mostra com clareza como o desem-
penho da economia artificial está associado à trajetória da PTF, como prevê o modelo, em contraste
com a figura 5 que reproduz a contabilidade do crescimento para a economia real.
38
Figura 13 Contabilidade do Crescimento do Modelo Básico para o Brasil,19701983
80
90
100
110
120
130
140
150
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
A ^ (1/(1alpha))
(K/Y) ^ (alpha/(1alpha))
Y / N
L / N
5.5 Avaliando a possível influência do governo
Tendo conhecimento dos objetivos e instrumentos do II PND, ao identificarmos a divergência entre os
resultados do modelo básico e os dados, naturalmente se fortalece a suspeita de que o setor público
impôs de fato distorções à economia brasileira. Assumindo-se que o comportamento do mercado de
trabalho é primordialmente influenciado por fatores não contemplados pelo modelo, devemos buscar
os indícios dessa distorção causada pelo governo no mercado de capital. Além disso, a adoção deste
direcionamento não vai de encontro às diretrizes do plano, pois ele próprio foi deliberadamente funda-
mentado em investimentos públicos e das empresas estatais, bem como na concessão de subsídios e de
crédito subsidiado, como já foi exposto em seção anterior.
Investigando o comportamento da formação bruta de capital fixo do governo, pode-se identificar
na figura 14 que sua trajetória se assemelha bastante à da taxa de investimento da economia. Vale
lembrar que a figura 11 trazia uma semelhança entre a evolução da taxa de investimento do modelo e
o comportamento da PTF, resultado esperado do modelo de crescimento neoclássico.
39
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 19830
0.05
0.1
0.15
0.2
0.25
0.3
0.35
0.4
0.45
Figura 14 Comportamento da taxa de investimento e da formação brutade capital fixo do governo no Brasil, 19701983
FBKF do governo
FBKFBase (100 = 1970)
Taxa de investimentoRazão
Modelo: taxa de investimento
Dados: taxa de investimento
Todavia, faz-se necessário ir além da formação bruta de capital fixo do governo, pois sabe-se que o
governo lançou mão das empresas estatais para alcançar muitas das metas setoriais do II PND. Her-
mann (2005, p.103) ressalta, inclusive, que ao dispor desse subterfúgio, o governo foi capaz de elevar
os investimentos públicos "com a manutenção de superávits primários nas contas públicas e com uma
carga tributária estável durante toda a fase de implementação do II PND". Assim sendo, a figura 15
apresenta tanto a evolução da participação da formação bruta de capital fixo das empresas estatais,
quanto da administração pública na FBKF total da economia. Nesta figura, vê-se claramente a substi-
tuição da intervenção direta do governo pela atuação das empresas estatais na tarefa de impulsionar a
acumulação de capital. Tomando como exemplo o ano de 1976, a FBKF das empresas estatais atinge
32,25% e a FBKF do governo, 18%, ou seja, neste ano, o setor público foi responsável por metade da
formação bruta de capital fixo no país.
Figura 15 Evolução da participação da FBKF das estatais e do governo na FBKF totalno Brasil, 19701983
0
0.05
0.1
0.15
0.2
0.25
0.3
0.35
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
razão
FBKF do governo/FBKF total
FBKF das estatais/FBKF total
40
Tais fatos não deixam duvidas quanto ao peso do setor público na manutenção do crescimento
durante a fase de implementação do II PND. O próximo passo agora é mensurar qual teria sido esse
peso, isto é, analisar uma economia artificial, em tudo igual à brasileira, à exceção do setor público e
comparar suas trajetórias. Esse exercício é desenvolvido no capítulo seguinte.
41
6 Simulação do modelo básico: a economia artificial sem
governo
6.1 Dados
Este capítulo baseia-se em uma estratégia alternativa, proposta por Conesa, Kehoe e Ruhl (2007), para
adequar os agregados do modelo às séries estatísticas disponíveis. Essa estratégia consiste em ignorar
o governo, de modo que Ct corresponda ao consumo privado verificado pelas Contas Nacionais e Xt
corresponda ao investimento privado. O produto é, então, a soma dessas duas categorias. Os autores
apontam, contudo, que esta estratégia deixa uma parcela considerável do PNB fora da análise. Por-
tanto, não faremos aqui comparações entre os níveis de produto, consumo ou investimento alcançados
a partir desta estratégia e a do capítulo anterior, ao invés disso, analisaremos o quão melhor ou pior o
modelo descreve os respectivos dados para cada uma das estratégias.
Para analisar as políticas econômicas adotadas pelo governo, são utilizadas as seguintes séries em
adição às anteriores: subsídios à produção, obtida do Sistema de Contas Nacionais do IBGE; estoque
líquido de capital fixo da administração pública, do IPEA; formação bruta de capital fixo das empresas
estatais, série da Regionalização das Transações do Setor Público do IBGE; e, por fim, formação bruta
de capital fixo da administração pública, do IPEA. Todas essas séries foram transformadas para R$ de
1998 usando o IPA - origem da FGV. Além dessas, também são usadas as séries de consumo privado
e de consumo do governo disponibilizadas em apêndice virtual de Bugarin et al. (2007).
Como nosso objetivo é retirar o setor público da economia brasileira para analisar como seria seu
comportamento de acordo com a teoria neoclássica de crescimento, foi descontada de todas as séries
a sua parcela relativa à atividade do governo. Com relação ao investimento, o cálculo permanece o
mesmo: somatório das séries de formação bruta de capital, variações de estoque e consumo de bens
duráveis. A diferença é que deste total se deduziram as séries de FBKF do governo e FBKF das
empresas estatais.
Ressalta-se que a série de formação bruta de capital fixo da administração pública do IPEA, foi
utilizada apenas para complementar a série de formação bruta de capital fixo do governo disponibilizada
por Bugarin et al. (2007) para o período de 1950 a 1969. A importância de estender a série de
investimento (sem governo) nesses 19 anos é para a obtenção de um novo valor para o capital inicial
em 1970; e, por conseguinte, para a construção da série de capital.
A escolha do ’chute inicial’ do capital segue a mesma lógica: tomou-se o mesmo valor da série
42
de estoque líquido de capital fixo usado como ’chute inicial’ na outra seção e descontou-se o valor
para aquele mesmo ano (1950) do estoque líquido de capital fixo da administração pública. Deste
modo, a série de estoque de capital é agora determinada por este novo ’chute inicial’e pela nova série
de investimento, de acordo com o método do inventário perpétuo (18). Em 1970, temos K1970 =
441.144.360.719.
O consumo é agora calculado como a série de consumo privado menos o consumo de bens duráveis,
que já foi contabilizado como investimento. Por conseguinte, a condição de factibilidade (19) é agora
utilizada para se obter o produto, dados o consumo e o investimento.
Finalmente, a PTF é construída como resíduo da função de produção, segundo a equação (20), e
das novas séries calculadas. Novamente a PTF, a população em idade ativa e as horas trabalhadas são
exogenamente impostas ao modelo, sendo que estas duas últimas permanecem as mesmas da economia
artificial com governo.
6.2 Calibração
Todos os parâmetros foram calibrados como na seção anterior, mas devido às novas séries alguns
tiveram seus valores alterados. Mantiveram-se constantes a participação do capital, θ = 0, 40, a taxa
de depreciação, δ = 0, 05, e a taxa de crescimento da população em idade ativa, n = 2, 5%.
A equação de Euler nos dá como valor médio do fator de desconto entre 1960 e 1970 β = 0, 901.
Por sua vez, a participação do consumo é obtida por meio da condição de equilíbrio intratemporal,
seu valor médio entre 1970 e 1980 é γ = 0, 238. Por último, calibra-se a taxa de progresso tecnológico
como a média entre 1970 e 1998, o que nos dá g = 0, 18% aproximadamente.
O algoritmo computacional utilizado para descrever o novo equilíbrio é o mesmo da seção anterior.
6.3 Resultados
Os resultados para a economia artificial sem governo são apresentados nos mesmos moldes que do que
foi feito para a economia artificial com governo, de modo a facilitar a compreensão e a comparação
entre eles. Destarte, as figuras 16, 17 e 18 estão indexadas por ’a’e ’b’segundo os mesmos padrões
das figuras 7, 8 e 9.
43
Figura 16a PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil
80
90
100
110
120
130
140
150
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Modelo básico
Dados
Figura 16b PNB descontada a tendência por população em idade ativa no Brasil
80
90
100
110
120
130
140
150
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (1970 = 100)
Modelo básico
Dados
No que diz respeito ao produto por população em idade ativa, o comportamento da economia
brasileira sem governo e o da economia artificial sem governo são praticamente idênticos durante toda
a fase final do ’milagre’. Por exemplo, em 1970, a economia artificial sem governo alcançou um nível
de produção equivalente a 97% do que foi registrado pelos dados. Ainda em 1974 a proximidade entre
o patamar dessas séries é significativa: a economia real atinge o nível de 144; enquanto a economia
artificial, de 140. Nota-se que ambas as economias sem governo também apresentam um ’milagre’,
isto é, um episódio de rápido crescimento entre 1970 e 1973. Contudo vale ressaltar que, ao excluir
o governo, tanto os dados quanto a simulação foram capazes de crescer mais do que quando não se
retirou o governo da economia. Por exemplo, em 1973, a economia real sem governo era 34,5% maior
do que em 1970; enquanto a economia real com governo era 29% superior. O mesmo padrão se repete
para as simulações: sem governo, a economia artificial cresce 27,9% entre 1970 e 1973; ao passo que,
com governo, ela cresce 19%. Esses resultados parecem nos indicar que a ação do governo, no que
diz respeito a consumo e FBKF da administração pública e das estatais, durante o ’milagre’, teve um
44
impacto negativo sobre o crescimento do produto brasileiro; constituindo, pois, mais um indício de que
a produtividade foi o motor do ’milagre’.
É a partir de 1974, porém, que os resultados passam a ser substancialmente diferentes do que
havia sido encontrado anteriormente à exclusão do governo. De imediato, vê-se que a retirada do
governo faz o modelo descrever melhor a trajetória da economia brasileira. Assim, conclui-se que neste
segundo exercício a economia real aloca mais eficientemente seus recursos, acompanhando com maior
consonância o previsto pelo modelo de crescimento neoclássico. Além disso, no que concerne o primeiro
momento após o choque de 1973, os próprios dados da economia sem governo indicam a realização de
um ajustamento recessivo entre 1974 e 1977. Todavia esse ajuste se mostra mais brando e mais curto
do que o previsto pelo modelo básico. De qualquer forma, o comportamento da economia real sem
governo diverge bastante daquele com governo, em que se realizou um esforço de política econômica
para manter estável o nível do produto (na verdade, na vã esperança de que ele ainda pudesse crescer
a taxas vertiginosas). É ainda intrigante o fato de a economia real sem governo esboçar uma tímida
retomada do crescimento já a partir de 1978, mesmo após serem descontados os maciços investimentos
do setor público. Esse fato se torna ainda mais curioso pois, além de não estar previsto no modelo,
também não ocorreu na economia real com governo.
Figura 17a Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil
80
90
100
110
120
130
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Dados
Modelo básico
45
Figura 17b Horas trabalhadas por população em idade ativa no Brasil
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Horas por semana
Dados
Modelo básico
Mais uma vez o modelo básico não obteve sucesso em descrever o comportamento do mercado de
trabalho no Brasil para o período considerado. Mantêm-se, assim, a suposição de que fatores alheios ao
modelo tenham gerado tais distorções. Cabe ressaltar que a retirada do governo não provocou alterações
expressivas no nível de horas trabalhadas na economia artificial, o que significa que a atuação direta
do Estado por meio de seus gastos e investimentos não gerou substantivas perturbações no mercado
de trabalho.
Figura 18a Razão capitalproduto no Brasil
70
80
90
100
110
120
130
140
150
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
Dados
Modelo básico
Figura 18b Razão capitalproduto no Brasil
1
1.5
2
2.5
3
3.5
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Razão
Dados
Modelo básico
46
No mercado de capital, observa-se ligeira redução da razão capital-produto quando subtraímos o
governo da economia, tanto real quanto simulada; contudo o modelo continua descrevendo bem essa
razão. Ademais, o estoque de capital simulado continua apresentando enorme discrepância em relação
ao verificado nos dados (figura 19). Os resultados para o comportamento do investimento também
não se alteraram muito (figura 20), com taxas de investimento muito superiores nos dados do que na
economia artificial em boa parte do período considerado. Apesar disso, a economia real sem governo
exibe taxas de investimento levemente inferiores às da economia real com governo, enquanto a economia
artificial sem governo revela taxas maiores nos picos de 1973-74 e 1980-81.
Figura 19 Modelo básico: estoque de capital no Brasil, 19701983
40
70
100
130
160
190
220
250
280
310
340
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
dados
modelo básico
Figura 20 Taxa de investimento da economia brasileira, 19701983
0.00
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Razão
Modelo básico
Dados
A tabela 7 e a figura 21 trazem os resultados para a contabilidade do crescimento da economia
sem governo (economia real indexada por a e economia artificial indexada por b no gráfico). Podemos
ver que o desempenho de ambas economias sem governo acompanha a trajetória da PTF com maior
47
exatidão do que para as economias com governo. No mais, os diferenciais entre as trajetórias da razão
capital-produto e das horas trabalhadas por população em idade ativa permanecem semelhantes aos
diferenciais verificados para a economia com governo.
Figura 21a Contabilidade do crescimento para o Brasil, 19701983
80.00
90.00
100.00
110.00
120.00
130.00
140.00
150.00
160.00
170.00
180.00
1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982
Index (1970 = 100)
Y / N
A ^ (1/(1alpha))
(K/Y) ^ (alpha/(1alpha))
L / N
Figura 21b Contabilidade do Crescimento do Modelo Básico para o Brasil,19701983
80
90
100
110
120
130
140
150
160
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
Base (100 = 1970)
A ^ (1/(1alpha))
(K/Y) ^ (alpha/(1alpha))
Y / N
L / N
No caso sem governo, a PTF também é substituída pela razão capital-produto como o motor do
crescimento de 1974 em diante e novamente o modelo básico apresenta quedas mais intensas do produto
do que nos dados. Cabe ressaltar, contudo, que ao desconsiderarmos a ação do governo, verificamos
nos dados um crescimento negativo da economia real durante o período de implementação do II PND
(-0,29%). Ainda que pequeno, esse decréscimo contrasta com o crescimento de 1,58% verificado na
economia real com governo; evidenciando que o plano pode sim ter feito a diferença no que tange a
manutenção do crescimento do produto.
48
Período Dados Modelo básico
Fim do "milagre"19701973
Y/N 11.87% 11.18%PTF 12.07% 12.07%K/Y 3.63% 6.42%L/N 3.43% 5.54%
II PND19741978
Y/N 0.29% 5.28%PTF 7.24% 7.24%K/Y 4.62% 6.38%L/N 2.33% 4.41%
Abandono do II PND19791983
Y/N 1.96% 4.05%PTF 5.58% 5.58%K/Y 4.26% 4.63%L/N 0.63% 3.09%
Elaboração própria
Tabela 7Contabilidade do crescimento sem governo (%), 19701983
Por fim, vale mencionar que há ainda outro artifício amplamente empregado pelo governo na
execução do II PND, cujo impacto na economia não foi descontado: os subsídios. A figura 22 mostra
como a evolução do investimento total (incluindo o investimento referente ao governo e às empresas
estatais) acompanhou a evolução dos subsídios à produção; sugerindo que estes estiveram longe de ser
irrelevantes no estímulo dado ao crescimento do produto nos anos 1970.
Figura 22 Investimento total e subsídios à produção no Brasil, 19701983
0
200
400
600
800
1,000
1,200
1,400
1970 1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983
SubsídiosBase (100 = 1970)
90
110
130
150
170
190
210
230
250
InvestimentoBase (100 = 1970)
investimento total
subsídios à produção
49
7 Conclusão
Este trabalho avalia em que medida o modelo de equilíbrio geral dinâmico é capaz de explicar o compor-
tamento da economia brasileira ao longo da década de 1970, dando destaque à fase de implementação
do II PND, período conhecido como "marcha forçada". A motivação por trás desta investigação é o fato
de que, após uma crise energética mundial, o Brasil ficou conhecido como "uma ilha de prosperidade
num mar em recessão"28 . A literatura é unânime em apontar o arrojado programa de investimentos
públicos e privados alavancados pelo II PND como o responsável pela manutenção do crescimento,
ainda que em patamar mais baixo. Também é amplamente conhecido o fato de que grande parte das
demais nações optou por se ajustar ao choque via recessão, o que seria mais esperado dados os novos
preços relativos. Neste sentido, a conclusão que emerge naturalmente é a de que este plano submeteu
a economia brasileira a posições subótimas de produto, trabalho, consumo e investimento por causa
da ação estatal distorciva. Em outras palavras, as condições de otimalidade previstas pelo modelo não
teriam sido satisfeitas, em parte, por causa da distorção imposta pelo plano.
Com base nessas considerações, propôs-se aqui analisar a trajetória de crescimento do país sob
a perspectiva neoclássica exatamente para nos certificar da existência desta distorção e mensurá-la
à luz do modelo básico de crescimento. Para tanto, instituímos uma economia artificial nos moldes
da economia brasileira, isto é, com uma calibração que reflete os aspectos da economia real naquele
período. Nesta economia artificial, operam agentes otimizadores - firmas maximizadoras de lucros e
famílias maximizadoras de utilidade - condicionados por uma restrição de recursos.
Os resultados confirmam o crescimento creditado ao plano por parte da literatura, pois se verificou
que a economia real avançou a uma taxa de 1,58% ao ano, enquanto a artificial retrocedeu a 3,19% ao
ano. Logo, os resultados corroboram a afirmativa de que, sem o II PND, a economia teria entrado em
recessão, com o produto da economia artificial declinando continuamente a partir de 1974 até o último
ano do período analisado, 1983, em que 1980 figura como única exceção com um ligeiro crescimento.
Uma vez que os dados revelam que o nível do produto se manteve estável até 1980, a explicação
para essa divergência entre a realidade e o modelo deve ser buscada em fatores exógenos ao modelo
capazes de alterar os incentivos dos agentes. Além disso, o comportamento do investimento e das horas
trabalhadas também se mostra destoante do previsto pela teoria: ambos apresentam uma trajetória
ascendente na economia real, enquanto na artificial verificam-se níveis progressivamente inferiores.
Como o período de 1975 a 1979 corresponde à fase de forte implementação do plano, isto é, esse
28Expressão cunhada pelo economista Roberto Campos (BATISTA, 1987).
50
período foi caracterizado por volumosos investimentos do setor público, sobretudo das empresas es-
tatais, e por aumento substantivo da concessão de subsídios e crédito, voltamos nossa atenção para
a evolução da participação do governo nas atividades econômicas. Ao fazermos isso, verificamos que
os dados seguem uma trajetória semelhante a indicadores tais como formação bruta de capital fixo do
governo e subsídios à produção. Inclusive, a evolução de indicadores relacionados à intervenção estatal
apresenta maior concordância com as séries de investimento do que os resultados para a economia
artificial.
A partir dessas constatações, realiza-se um segundo exercício, em tudo análogo ao primeiro, mas em
que se procura descontar ao máximo a intervenção do Estado da economia. Neste caso, consideram-se os
dados da economia brasileira subtraídos os gastos públicos e os investimentos do governo e das empresas
estatais. Simula-se novamente uma economia artificial, compatível com estes dados sem governo, e os
resultados indicam um maior poder de explanação do modelo de equilíbrio geral dinâmico. Quando
excluímos o governo, tanto a economia real quanto a artificial reagem à crise de 1973 com queda do
produto a partir de 1974. Muito embora o modelo calcule uma recessão mais aguda, as trajetórias de
produto evoluem de forma mais harmoniosa do que no primeiro exercício. Essa melhora no resultado
também é evidenciada pelo fato de o produto passar a refletir mais proximamente o comportamento
da PTF, como previsto pela teoria.
Contudo, três fatos devem ser ressaltados. O primeiro é que apenas a ação direta do Estado na
economia foi retirada, mas ainda restam os efeitos dos subsídios e do crédito sob condições facilitadas.
Esses fatores não foram deduzidos no exercício sem governo porque sua interferência é de mais difícil
mensuração, exatamente por serem mecanismos indiretos de estímulo à atividade econômica. O se-
gundo fato a se ressaltar é que a descrição do mercado de trabalho no exercício sem governo também
falha em reproduzir a realidade, o que indica que mesmo se descontando a ação direta do Estado, o
incentivo das famílias a ofertar trabalho é maior na economia real. Isso reforça o argumento de que
fatores exógenos, como migração, estão por trás dessa elevação das horas trabalhadas não capturada
pelo modelo. Por último, vale lembrar que, em ambas as simulações está presente o impacto do governo
enquanto empregador na economia. Dado o porte do setor público e das empresas estatais, é razoável
supor que considerável parcela dos trabalhadores está empregada pelo governo e que, sendo assim, este
fato pode sim gerar alterações no mercado de trabalho quando comparado com o modelo.
Nossos resultados também vão ao encontro de trabalhos anteriores no que diz respeito à contabili-
dade do crescimento para o período, pois vasta literatura documenta a substituição da PTF pela razão
51
capital-produto como o motor do crescimento durante a "marcha forçada". Deste modo, pode-se clas-
sificar o II PND na classe de políticas econômicas que visam a acumulação de capital, em detrimento
da PTF. Ademais, o fato de estímulos a investimentos terem sido concedidos sem levar em conta a
PTF aprofundou ainda mais a queda desta última: ao subsidiar empresas privadas sem um critério
de produtividade e eficiência (e que, além disso não enfrentavam competição externa), o estoque de
capital da economia aumentava enquanto a PTF caía. Com a queda da PTF, o produto também se
reduzia, tornando necessários maiores esforços de investimento para manter o crescimento em patamar
satisfatório para o governo. Em decorrência disso, novos subsídios eram concedidos a fim de alavan-
car o crescimento e, assim, alimentava-se um ciclo vicioso. É importante lembrar que o investimento
público, que chegou a responder por metade dos investimentos da economia, também eram conduzidos
sem que se considerasse a produtividade.
Ao analisar as grandes depressões do século XX, Kehoe e Prescott (2007) concluíram que políticas
que afetam negativamente a PTF e as horas trabalhadas foram cruciais na determinação dessas de-
pressões. As conclusões desses autores foram pautadas nas experiências de diversos países, incluindo
o Brasil, e implicam que a quantidade de poupança não é o real problema a ser enfrentado e que
subsídios ao investimento não são a solução (KEHOE e PRESCOTT, 2007, p. 17).
O período da "marcha forçada" aqui analisado precedeu a recessão das "décadas perdidas", 1980-
90, estudada no livro de Kehoe e Prescott, citado acima. Quando da segunda crise do petróleo e da
alta dos juros internacionais, a economia brasileira não foi capaz de sustentar a política de estímulo
ao crescimento do II PND baseada em acumulação de capital. Portanto, concluímos que o II PND
se constitui numa política econômica que não poderia ser bem-sucedida no longo prazo porque um
elemento essencial do produto foi sumariamente negligenciado: a produtividade total dos fatores.
"Studying the experience of countries that have experienced great depressions during
the twentieth century teaches us that massive public interventions in the economy to main-
tain employment and investment during a financial crises can, if they distort incentives
enough, lead to a great depression. Those who try to justify the sorts of Keynesian policies
(...) often quote Keynes’s dictum from A Tract on Monetary Reform: ’The long run is a
misleading guide to current affairs. In the long run we are all dead.’ Studying past great
depressions turns this dictum on its head: ’If we do not consider the consequences of policy
for productivity, in the long run we could all be in a great depression.’" (CÓRDOBA e
KEHOE, 2009, p. 7).
52
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