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Parece que foi ontem Experiências de vida Maria José Amorim

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Parece que foi ontem

Experiências de vida

Maria José Amorim

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Parece que foi ontem

Experiências de vida

Maria José Amorim

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Maria José Amorim 53

CONCLUSÃO

Não poderia esquecer de falar de meus pais. Ele chama-

va-se José da Silva Fonseca e minha mãe, Maria José de Amorim.

Ela veio a conhecer Jesus através de um dentista que, assoviando

um hino em seu gabinete, chamou a atenção de minha mãe. Ela,

então, o convidou, juntamente com a sua esposa, para cantar em

sua casa. Naquela noite, após cantarem e lerem a Bíblia, minha

mãe converteu-se a Cristo, passando a freqüentar a Igreja

Presbiteriana com fidelidade e alegria, até que Deus a chamou

com apenas trinta e seis anos de idade. Ela ganhou muitas almas

para Jesus. Ensinou o evangelho para todos de sua família. Meus

avós paternos chamavam-se José Silvério e Rita da Silva. Meus

avós maternos chamavam-se Joaquim Caetano e Francisca Ma-

ria de Amorim. É com saudades que cito estes nomes.

Quero encerrar este livro, agradecida a Deus pelos mui-

tos anos que Ele tem me concedido com saúde e alegria. Tem

sido uma longa vida na presença de Deus. Momentos de alegria

e, também, momentos de tristeza. Mas, em todas as situações,

somos mais do que vencedores por meio daquele que nos amou. Peço

perdão pelas minhas falhas e pelos meus esquecimentos. Muita

coisa poderia ainda ser acrescentada, mas falha-me a memória.

Tudo o que foi escrito, fiz com muito amor, na direção de Deus e

de Jesus Cristo. Obrigada Senhor! A Ele toda a glória, eterna-

mente, amém!

Parece que foi ontem

Maria José Amorim

1 a edição – julho/2007

Produção:

Editora Cobertura Cristã - Tel. 31.4062-7631

CNPJ 07.893.911/0001-34

Belo Horizonte/MG

Impressão e acabamento:

Promove Artes Gráficas e Editora - Tel. 31.3486-2696

Capa: Hugo Leonardo

Assunto: Vida cristã e testemunho

Todos os direitos reservados © por:

Maria José Amorim

Para entrar em contato com a autora:

Editora Cobertura Cristã

Caixa Postal 88

Cep 30123-970 Belo Horizonte/MG

Tel. 31.4062-7631

E-mail: [email protected]

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ÍNDICE

Prefácio – 7

Introdução – 9

Capítulo um – 11

Capítulo dois – 15

Capítulo três – 19

Capítulo quatro – 25

Capítulo cinco – 29

Capítulo seis – 35

Capítulo sete – 39

Capítulo oito – 43

Capítulo nove – 47

Conclusão – 53

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Maria José Amorim 51

minha alegria, vida e esperança estão em Jesus Cristo, meu Re-

dentor e Salvador.

Eu hoje fiquei muito alegre em saber que a esposa de meu

filho adotivo está grávida. Ela se chama Lígia. Minha oração é

que essa criança possa ser uma bênção na vida de seus pais.

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Maria José Amorim 7

50 Parece que foi ontem

PREFÁCIO

Antes de tudo, fico honrado e constrangido por ser um

parceiro neste livro. Parceiro de forma diferente. Primeiro, porque

nenhuma das experiências aqui relatadas faz parte do meu

mundo. Elas pertencem a um outro. No caso, uma outra. A minha

parceria é apenas didática, organizacional. Tentar narrar de forma

mais precisa e verdadeira aquilo que chamamos de experiências

de vida. O meu esforço é ser fiel ao original, não retirando nem

acrescentando nada de sua verdade fundamental. Afinal, a vida

vivida é tudo o que temos para influenciar as próximas gerações.

Há muito, aprendi que o grande legado que deixamos para

os outros não consiste em bens materiais. Estes são perenes, pas-

sageiros. Facilmente nos esquecemos deles, pois são incorpora-

dos apenas ao nosso mundo de fora, e não no de dentro. Pena

que hoje isso está sendo esquecido. Lutamos para construir cas-

telos de areia que, ao menor sussurro do vento, desabam sem

deixar vestígio algum e a memória nunca mais se lembra deles.

A simplicidade deu lugar à busca por muitas coisas. O mundo

de hoje é comparado a um grande self service no qual teimamos

em entulhar nossos pratos para depois não sentirmos mais o seu

gosto. E a vida ficou assim, exigente, mas, sem gosto, sem ale-

gria, sem beleza, sem simplicidade.

Estes relatos são responsáveis por trazer de volta aquilo

que perdemos e não estamos conseguindo resgatar. Logicamente,

eles não foram feitos por alguém do nosso tempo, pois tivessem

sido não teriam a beleza da sabedoria. A sabedoria é filha do

Maria José AmorimMaria José AmorimHoje são 30 de setem-

bro de 2005. Quero agradecer a Deus pela passagem de mais um

aniversário meu, no dia 14. Foi uma data muito especial e alegre

para mim e para meus filhos. Pela manhã, quando me levantei, li

o Salmo 90. Suas palavras foram para mim consolo e

encorajamento. Senhor, tu tens sido nosso refúgio de geração em ge-

ração. Ensina-nos a contar os nossos dias para que alcancemos coração

sábio. Seja sobre nós a graça do Senhor, nosso Deus. Confirma sobre

nós as obras das nossas mãos. Sim, confirma as obras das nossas mãos.

Houve um culto de gratidão a Deus, dirigido pelo meu

bisneto Samuel e sua querida esposa. Eu lhe pedi que lesse o

evangelho de João, capítulo 15. Fala sobre a videira verdadeira

e os ramos. Ele leu, explicou e aplicou uma linda mensagem ao

nosso coração. Recebi também a visita de dois pastores: o pastor

Luciano, da nossa igreja Betel, com sua família; o pastor Rômulo

e sua família; presbíteros e diáconos da igreja Betel. Vieram tam-

bém várias irmãs da SAF, netos, bisnetos, trinetos, amigos, pa-

rentes e vizinhos. Ao todo, penso que compareceram umas du-

zentas pessoas. Durante todo o dia, a minha casa ficou cheia.

Glória a Deus!

Recebi um telefonema de meu filho Rony, de Goiânia, e

de minha neta Maria José, de Brasília. Ela mandou-me um lindo

ramalhete de flores amarelas e rosas. Todos se admiraram de tanta

beleza. Recebi muitos presentes. Magda filmou. Samuel tirou

várias fotos. Terezinha presenteou-me com um lindo bolo, além

dos salgadinhos e das lembrancinhas dos meus noventa anos que

tive a alegria de completar. Ganhei também dinheiro de várias

pessoas. Minha neta Agda me deu os doces. Quando anoiteceu,

o sono me fugiu de tanto contentamento. Na velhice, ainda darão

frutos e serão cheios de seiva e de vigor (Salmo 71:9). Deus merece

toda a honra e glória por me proporcionar momentos tão mara-

vilhosos como estes que vivi no dia dos meus noventa anos. A

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Maria José Amorim 49

8 Parece que foi ontem

tempo e sem ela haveria apenas recordações, não ensinamentos.

Não espere, portanto, um relato cronológico dos fatos.

Relatos cronológicos são frutos da razão. O que experimentare-

mos aqui é fruto do coração, por isso, dispersos, assim como

nossa lembrança das coisas que passaram e ficaram grudadas

em nós. Alguém já escreveu que saudade é aquilo que a vida

experimentou e gostou. Riobaldo, personagem de Guimarães

Rosa, no seu eternizado Grande Sertão, também pensava assim,

quando escreveu:

Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se pas-

saram. Mas pela astúcia que têm certas coisas passadas

de fazer balancê, de se remexer dos lugares. A lembrança

da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com

os outros acho que nem não se misturam. Contar segui-

do, alinhavado, só mesmo sendo coisas de rasa impor-

tância. Tem horas antigas que ficaram muito mais perto

da gente do que outras de recente data. Toda saudade é

uma espécie de velhice.

É assim que você deve ler estas recordações, com o cora-

ção, pois, como dizia Pascal: “O coração tem razões que a pró-

pria razão desconhece”.

Luciano Rocha Guimarães

Pastor presbiteriano

dre, Elias, Eliezer, Eunice e Ester. O terceiro foi o Paulo, pai de

cinco filhos: Maria José, Paulinho, Lucas, Leopoldo e Samuel, o

caçula. O quarto filho foi o Silas, pai de quatro filhos: Elizabete,

Silas Filho, Ana Maria e Moisés, o caçula. O Rony Marcos nasceu

no dia 17 de março de 1967. Adotei-o quando tinha quarenta e

três dias de vida. Cuidei dele com muito carinho até completar

vinte e cinco anos. Eu oro em favor de todos eles, diariamente.

Os nomes das minhas queridas noras são: Albertina, Vaina,

Edilma e Terezinha. Elas são como minhas filhas. O Davi tem

ainda mais dois filhos com a Dejanira: Saulo e Agda.

Não vou citar os nomes de meus bisnetos, trinetos e

tataranetos. São tantos, que nem me lembro. Peço desculpas, mas

a minha memória já está fraca.

Certa vez, fiz um passeio com a minha neta Magda. Nes-

sa ocasião, ela só tinha seis anos. Foi em 1959. Fomos à casa de

minha irmã Corina, onde morava com os seus filhos: Vanderlei,

Lilita, Zezé e Milton. Morava lá também minha irmã Arlêta com

seu marido, Sebastião, e seus filhos: Laurenita, Laurimar e

Laurício. Fui também visitar meus dois filhos que trabalhavam

em São Paulo, Jonathas e Silas. Conhecemos várias igrejas evan-

gélicas: a igreja Unida, a Independente, uma outra no bairro da

Lapa. Esta tinha um versículo escrito na entrada: Guarda o teu pé

quando entrares na casa de Deus. Tive um prazer enorme em co-

nhecer essas igrejas. Conheci também o Ibirapuera, o museu do

Ipiranga, o túmulo da princesa Isabel, as praias de Santos. Foi

muito divertido. Tiramos várias fotos com minhas irmãs, seus

filhos e a Magda.

Passados alguns anos, conheci também a praia de Itaoca e

Guarapari, no Espírito Santo. Em Itaoca, íamos à igreja ouvir a

Palavra de Deus. Minha irmã Arlêta mora lá até hoje. Tenho sau-

dades dela, pois fomos boas amigas.

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Maria José Amorim 9

48 Parece que foi ontem

INTRODUÇÃO

Vovó,

Este dia foi o dia de seu aniversário, minha avó.

Existem pessoas que vivem muitos anos e cada um deles

é vivido muitas vezes intensamente. E são dias felizes. São dias

melhores, quando são desfrutados na presença de Deus. São me-

lhores ainda quando são vividos segundo a vontade de Deus e

para servi-Lo.

Neste caderno, acredito, serão registrados esses dias, como

também muitas experiências que a senhora teve com o Senhor

Jesus.

Que cada palavra escrita aqui, fique como um legado para

os que virão e seja dedicado Àquele que merece toda honra, toda

glória e todo louvor.

De sua neta,

Marta

misericórdia de Jesus. Não sei como agradecer, pois esta é a

maior bênção que uma pessoa pode receber, a de dizer como

Josué: Eu e a minha casa serviremos ao Senhor (Josué 24:15). Glorifi-

cado seja o Senhor!

De hoje a dezesseis dias, completo noventa anos pela gra-

ça e misericórdia do nosso Deus. E o mais importante, com saú-

de e na presença do Senhor. Peço-lhes ao lerem este livro um

coração compreensivo. As histórias, embora todas verdadeiras,

aparecem fora de ordem cronológica. É que estou já esquecida

devido à idade. São lembranças que brotam à medida que o co-

ração traz a superfície. Portanto, tenham paciência comigo.

Lembrei-me de uma festa ocorrida em Carmo do

Paranaíba. Já era noiva. Foi a esposa do pastor americano quem

a organizou. Dona Tereza fez um livro de estudos e perguntas

para o estudo bíblico daquela noite. O salão da igreja ficou reple-

to de gente. Ela, então, preparou uma caixa cheia de presentes

para aqueles que respondessem às perguntas. Foi uma ocasião

muito divertida, pois todos responderam a várias perguntas e

ganharam os presentes. Eu, muito alegre, queria responder to-

das, mas era impossível. Mesmo assim, nossa professora tirou-

me do meio das outras pessoas porque já havia respondido vári-

as perguntas e ganho muitos presentes.

Dona Tereza foi uma pessoa muito especial para mim. Jun-

tamente com seu marido, fizeram minha festa de casamento que

durou apenas vinte e cinco anos. Aos quarenta e quatro anos,

conforme já relatei, Leopoldo faleceu. Tudo passa tão rapidamen-

te. Parece que foi ontem.

Quero, agora, escrever os nomes dos meus filhos. O

primogênito Davi, pai de cinco filhos com a querida nora,

Albertina: Magda, Marta, Marcos, Davi Filho e Lídia, a caçula. O

segundo foi o Jonathas, pai de sete filhos: Daniel, Davi, Alexan-

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Maria José Amorim 47

CAPÍTULO nove

Quero relatar um fato ocorrido há uns vinte anos. Naque-

la época, eu morava em Venda Nova, região metropolitana de

Belo Horizonte. Nossa casa ficava próxima a Igreja Presbiteriana

Nova Jerusalém, da qual era membro. Um casal mudou-se para

a casa ao lado da minha. Logo, fiz amizade com eles. Aprovei-

tando a oportunidade, falei do amor de Cristo a eles, já que eram

católicos. Como eu tinha uma Bíblia católica, perguntei se dese-

javam estudá-la comigo. Eles aceitaram e mostraram-se inte-

ressados em saber onde estava escrito sobre imagens e ido-

latria. Então, marquei vários textos para eles mesmos lerem. Fi-

caram espantados, pois a Bíblia condena o culto e a adoração

às imagens de qualquer tipo e natureza. Tornaram-se, pois,

meus amigos.

Num dia, fiz um convite para irem à igreja comigo. Eles

aceitaram o convite e as visitas tornaram-se freqüentes. O casal

acabou se convertendo a Cristo, o que foi uma grande alegria

para todos nós. Eles são membros daquela igreja até hoje. Eles se

chamam Lincoln e Geralda. Foi uma grande bênção que Deus

me concedeu. Trazer vidas tão preciosas ao conhecimento do

Senhor e à salvação em Cristo Jesus. Quem sai andando e chorando

enquanto semeia, voltará com júbilo trazendo os seus feixes (Salmo 126).

Meu filho Jonathas fez aniversário no dia 27 de julho. Ele

estava desviado, aprisionado pelo pecado. Mas ele foi encontra-

do e restaurado. Agora, é um verdadeiro cristão pela graça e pela

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Maria José Amorim 11

46 Parece que foi ontem

CAPÍTULO um

Quero escrever este livro com a direção do Senhor, pois

sou uma anciã em quem o tempo se encarregou de produzir os

seus esquecimentos, por isso conto com a sua ajuda. Tudo posso

naquele que me fortalece (Filipenses 4:13). Se o meu povo que se chama

pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus

maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus e perdoarei os seus pecados e

sararei a sua terra (2Crônicas 7:14). O meu povo está sendo destruído

porque lhe falta conhecimento. Porque tu, ó sacerdote, rejeitaste, tam-

bém eu te rejeitarei, para que não seja sacerdote diante de mim, visto

que tu esqueceste a lei do meu Deus, também eu esquecerei dos teus

filhos (Oséias 4: 6-19).

Eu, Maria José, nasci no distrito de Patos de Minas, Mi-

nas Gerais. Meus pais mudaram-se para Carmo do Paranaíba,

cidade boa. Minha bondosa mãe, lá chegando, colocou-me na

escola em que estudei até o 4º ano, tirando o diploma. Apesar

disso, sofri muito no grupo em que estudei, pois naquela época

ser protestante gerava preconceito e perseguições. Mas, apesar de

tudo, as professoras gostavam de mim.

Continuei meus estudos de uma forma diferente. Havia

por lá dois servos de Deus vindos de outras terras. Eles eram dos

Estados Unidos da América, o reverendo João e sua amável es-

posa Tereza. Foi ela a responsável pela continuidade do meu

ensino. Apegou-se a mim como a uma filha, manifestando até o

desejo de levar-me para o seu país, o que os meus pais impedi-

nos amou até o fim – a cruz. E continua nos amando... Portanto,

para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Filipenses 1:21).

Hoje, 17 de junho, tive uma linda surpresa. Meu filho ado-

tivo Rony e sua companheira Lígia chegaram aqui em minha casa.

Passaram três dias comigo. Oramos juntos. Fomos à igreja na

noite de domingo. Ele deu uma oferta ao Senhor. Sua filha Jéssica

também veio e nos acompanhou. Eu agradeci muito a Deus por

esta tão grande bênção. Foram dias maravilhosos na presença

do Senhor. Como falei, eles moram em Goiânia, mas estão plane-

jando mudar-se para Belém. Deus é quem sabe. Pedi aos dois

que lessem juntos o capítulo 7 da epístola de Paulo aos Coríntios,

que fala sobre o casamento. Gostei muito da Lígia, pois ainda

não a conhecia pessoalmente. Ela tem tudo para ser uma serva

de Deus e boa esposa. Ele deu-me uma cesta básica muito boa.

Que Deus lhe retribua em dobro.

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Maria José Amorim 45

12 Parece que foi ontem

ram. Guardo tantas recordações dela! Certa vez, preparou-me

uma festa de despedida de solteira, pois me agradei de um moço

que acabou sendo meu marido. Nessa época, eu tinha apenas

doze anos e nosso namoro continuou até os dezesseis, idade de

meu casamento com o jovem Leopoldo Gomes Batista, mas não

sem antes fazermos a nossa profissão de fé e batismo.

O grande e esperado dia deu-se em 24 de setembro de

1931 com uma linda festa, patrocinada pelos meus pais e tendo

como celebrantes o reverendo João e sua esposa. Hoje, tantos

anos se passaram desde aquele glorioso dia. Estou com 90 anos,

um pouco trêmula e um pouco esquecida, tentando, com a ajuda

do Senhor Jesus, recordar fatos tão distantes e, ao mesmo tempo,

tão presentes em minha vida.

Pouco tempo depois do casamento fiquei grávida. Levei

um susto tão grande com o meu marido que tive um aborto.

Quase morri. Devido à vergonha, não contei a ninguém. Minha

mãe, como todas as boas e zelosas mães, desconfiou. Chamou

uma parteira, já que naquela época não havia as facilidades que

encontramos em nossos dias, que me deu um banho com folhas

de algodão e fiquei curada.

Passado o susto, em quatro meses fiquei novamente grá-

vida, e veio o Davi, uma alegria só. Ele nasceu no dia 30 de de-

zembro de 1933. Eram três horas da tarde de um sábado

ensolarado e quente. Foi um parto muito difícil em que, nova-

mente, quase morri. Mas, pela misericórdia de Deus, fui

restabelecida e com muita alegria pelo querido filho que é uma

bênção para mim até hoje, já com 73 anos.

Após seis anos, no dia 27 de julho de 1939, nasceu o nosso

segundo filho, Jonathas. Em seguida veio o Paulo, nascido em 10

de abril de 1941, às 19:30hs de uma quinta-feira. Passados mais

dois anos, um outro homem alegrou a minha vida. No dia 22 de

Há uns vinte anos, conheci uma jovem por nome Josefina. Ela

era paralítica e tinha um filhinho de apenas dois meses. Pedi para

cuidar do menino em minha casa enquanto ela se tratava. O seu

marido, sendo crente, confiou em mim. Cuidei com muito amor

daquela criança que, muito doente, veio a falecer. Depois disso,

mudei para Patos de Minas e fiquei sabendo que Josefina recu-

perou-se pela graça de Deus, mudando-se para Uberaba. Foi dela

a visita que recebi. Como de costume, ela visitava os doentes

daquele hospital, trazendo-lhes um pouco de consolo. Quando

me viu não pôde acreditar. Foi um momento de muita alegria

para nós duas, encontrarmo-nos depois de tantos anos numa vi-

sita em um hospital. Deus tem os seus planos. Ele cuida de nós.

Após receber alta, procurei uma pensão para ficar até com-

prar uma passagem de volta para minha cidade. Surpresa tive

ao encontrar uma prima de meu marido que, mostrando-se ami-

ga, não permitiu que eu viajasse de ônibus devido ao pós-opera-

tório. Comprou-me uma passagem de avião. Parecia um sonho.

Seu nome é Nair. Chegando em casa, foi uma alegria só para o

meu marido e para os meus filhos. Quando o Senhor restaurou a

sorte de Sião, ficamos como quem sonha. Então a nossa boca se encheu

de riso e a nossa língua de júbilo; e então entre as nações de dizia: Gran-

des coisas o Senhor tem feito por eles, com efeito, grandes coisas o Se-

nhor tem feito por nós, por isso estamos alegres (Salmo 126:1-3).

No dia das mães, 8 de maio de 2005, fiquei sabendo que

minha inesquecível irmã Corina faleceu no asilo em Lagoa For-

mosa. Antes de morrer, cantou hinos de louvor ao Senhor du-

rante toda a manhã. À noite, Deus a levou. Não pude vê-la. Fi-

quei muito triste, pois fomos criadas muito unidas. Mas, a pala-

vra de Deus diz: Em tudo dai graças, pois esta é a vontade de Deus em

Cristo Jesus (Efésios 5:20). Nossa vida neste mundo é passageira.

Um dia, Deus nos levará. Devemos, pois, estar preparados. Ele

sabe todas as coisas e tudo foi feito por meio dele e para Ele. Ele

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44 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 13

junho de 1943, às 5:30hs de uma terça-feira, nasceu o Silas, na

cidade de Patos de Minas. Deus havia me concedido quatro ho-

mens, mas outro ainda viria mais tarde.

Mudamos para Belo Horizonte e eu, com meus 52 anos,

adotei um menino de um mês e treze dias que tomei por filho.

Seu nome era Rony Marcos, já registrado pela mãe verdadeira

que o negou. No dia em que o tomei em meus braços, o filho da

minha velhice, foi uma grande alegria em minha vida. Cuidei

dele até os seus 25 anos, ocasião em que conheceu uma moça,

Alexandra, e com ela teve uma menina de nome Jéssica. Desde

que eles se separaram, eu a vi poucas vezes. Tenho saudades dela.

Minha linda netinha que entreguei a Deus, pois Ele é o melhor

para todos nós. Hoje, ele é pai de mais três meninas. Uma, com

dezessete anos, foi mãe. Por ocasião de meu aniversário, pude

vê-las aqui em casa e meu coração encheu-se de alegria por co-

nhecer pessoalmente netas tão bonitas. Uma delas, Limara, é da

igreja evangélica, o que muito me consolou. Hoje, Rony mora

em Goiânia, capital de Goiás, trabalhando com os meus netos,

filhos do Jonathas. Todos eles constituíram suas famílias e vivem

bem, pela graça de Deus.

Moro no bairro Planalto, em Belo Horizonte, nos fundos

de um prédio que meus queridos filhos Silas e Davi construíram.

Eles estão sempre se preocupando comigo. Cuidam de mim com

muito zelo, mas em primeiro lugar, vivo debaixo da poderosa

mão de Deus que nunca me desamparou. Ele tem cuidado de

mim, de meus filhos e de suas distintas famílias. Tudo posso na-

quele que me fortalece (Filipenses 4:13). O Senhor é o meu refúgio e

fortaleza, socorro bem presente nas tribulações, por isso não temeremos,

ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares

(Salmo 40:1-2). Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida (Apocalipse

2:10). Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: o vencedor de

nenhum modo sofrerá dano da segunda morte (Apocalipse 2:1-29).

mais bonito que o outro e, o mais importante, ovelhas do Senhor

Jesus. Em tudo daí graças, porque esta é a vontade de Deus, em Cristo

Jesus, para convosco (1 Tessalonicenses 5:18).

Lídia, minha querida neta, que já é mãe de uma linda me-

nina chamada Rebeca, viajou para Portugal a trabalho. Veio des-

pedir-se de mim e de seu pai, Davi.

Lembro-me de quando morava em Patos de Minas, levei

meu cunhado José Batista para ser internado em Uberaba. Ele

não estava bem da cabeça. Nesta época, eu tinha uns trinta e cin-

co anos. Orei, pedindo a direção de Deus e tudo deu certo. Na

volta do hospital, passando por certa rua, notei um outro hospi-

tal, do Dr. José Humberto Filho. O Espírito Santo tocou-me para

que entrasse e fizesse uma consulta. Entrei e fui conduzida por

um enfermeiro ao consultório médico. Após alguns exames, o

médico diagnosticou que o meu estado não estava bom. Precisa-

va ser operada com urgência. Levaram-me para a mesa de cirur-

gia. Neste intervalo, perguntaram-me pela minha família. Res-

pondi que não havia ninguém naquela cidade, pois morávamos

em Patos de Minas. “Sua operação é muito séria. Você pode até

morrer na mesa de cirurgia”, disse o médico. Dito isso, ele me

trouxe um livro no qual escrevi o meu nome, o nome de meu

marido e o nosso endereço. Depois, pedi um momento para orar

a Deus. Orei por todos que ali estavam e entreguei-me ao Se-

nhor. “Que Deus fizesse a sua vontade”. Após a cirurgia, fiquei

sabendo que retiraram três quistos em meu ovário, fizeram perino

e levantaram meu útero e bexiga que estavam prejudicados. Os

médicos ficaram espantados com a minha coragem. Submeter-

me àquilo tudo sozinha.

Fiquei de cama por uns dois dias, tomando soro e com

bolsa de gelo. Nada comi nesse período. Recebi a visita de meu

filho Davi. Após ir embora, Deus enviou-me uma outra visita.

Page 14: dª maria josé livreto

Maria José Amorim 43

14 Parece que foi ontem

CAPÍTULO oito

Hoje estou muito alegre. É o aniversário de meu filho Rony,

17 de março. Estou com saudades dele. É o filho da minha velhi-

ce que adotei quando tinha apenas quarenta e três dias de vida.

Que Deus multiplique os seus anos nos caminhos do Senhor e

lhe dê livramento de todo o mal. Que a mão de Deus esteja

estendida sobre você e sobre todos os seus familiares. Bem-

aventurado aquele que anda nos caminhos do Senhor. Ele será como

árvore plantada junto as correntes das águas, e no devido tempo dá o

seu fruto. Suas folhas não caem e tudo o que fizer será bem sucedido

(Salmo 1). Esta leitura é para você, meu filho. Que Deus o aben-

çoe e o abrace em meu lugar, até que chegue o dia em que po-

derei, eu mesma, abraçá-lo.

No dia 27 de março, minha neta Agda levou sua filhinha,

Geovana, para ser apresentada na igreja e a Deus. Foi uma gran-

de bênção para mim e, ao mesmo tempo, resposta de oração. Na

sua angústia clamaram ao Senhor e ele os livrou das suas tribulações.

Fez cessar a tormenta e as ondas se acalmaram, então se alegraram com

a bonança, e assim, os levou ao desejado porto (Salmo 107:28-30).

Estamos muito gratos a Deus, eu, Davi e Dejanira pela chegada

da Geovana.

Paulinho, meu querido filho, fez aniversário no dia 10 de

abril. Convidei-o para almoçar comigo, juntamente com a sua

esposa, Terezinha. Agradeci em oração pelos momentos tão ale-

gres que passamos juntos. Meus outros filhos não puderam vir.

Quero citar os nomes de alguns de meus netos: Maria José, mé-

dica psicóloga; Paulinho; Lucas; Leopoldo e Samuel. Seus pais

são muito cuidadosos com eles. Tanto as minhas noras, quanto

os meus netinhos e bisnetos são especiais para mim. Cada qual

Na ocasião em que mudamos do Carmo do Paranaíba para

Patos de Minas fomos morar em uma casinha na praça do

boiadeiro. Foi lá que nasceu o meu filho Jonathas. Eu, meu mari-

do, Davi já com seis anos e o bebê voltamos para a cidade de

Carmo do Paranaíba onde moramos numa casa que era nossa.

Após vendê-la e mudar para um bairro de nome Niterói, nasceu

o Paulo, sendo batizado pelo pastor Joaquim Lourenço, esposo

de Dª Maria. Meu filho, Jonathas, também foi batizado por um

pastor que se chamava reverendo Antônio Nunes de Carvalho,

esposo da Dª Olinda, presidente da Sociedade Auxiliadora Fe-

minina (SAF) da Igreja Presbiteriana de Carmo do Paranaíba.

Neste meio tempo, voltamos a nos mudar para Patos de

Minas, pois eram cidades próximas uma da outra. Lá, nasceu o

meu caçula, o Silas, às 5:30hs da manhã, como já relatei. Há um

fato interessante que me lembro nessa ocasião. Quando o Silas

ainda não tinha dois aninhos, meu marido resolveu ir para um

lugar chamado Capelinha do Chumbo para garimpar. A nossa

situação financeira estava ruim. Fomos de carona em um cami-

nhão e pelo caminho chegamos a uma fazenda, já cansados da

viagem. Pedimos ao proprietário para que pudéssemos descan-

sar um pouco no seu paiol. Os meninos pequenos estavam fa-

mintos. Sua esposa, muito bondosa, nos levou para dentro de

sua casa e com todo conforto nos acolheu e alimentou. Não me

lembro mais o nome dela, mas certamente era uma mulher de

Deus. Como seus filhos eram todos analfabetos, ela insistiu para

que eu ficasse com ela, a fim de instruí-los. E assim aconteceu.

Ficamos alguns dias naquela fazenda com aquela bondosa mu-

lher. Eu costurava, bordava e ensinava seus filhos até que um dia

mandou arriar os cavalos e nos levar ao nosso destino. Quando

chegamos a Capelinha do Chumbo nos hospedamos na casa da

Tia Maria, esposa do Sr. Cristiano, por mais ou menos um mês.

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42 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 15

CAPÍTULO dois

Estávamos, enfim, no garimpo. Foi um tempo de penúria

e dificuldade. Somente Deus pode avaliar o que passamos. Mo-

ramos em um paiol de um fazendeiro, homem ruim. Sempre que

podia, ameaçava mandar-nos embora. Tinha de cozinhar com

muito cuidado num fogão de pedra improvisado, pois do con-

trário, poderia colocar fogo na palha seca. Isto, sem contar com

as pulgas e com os bichos-de-pés que infestavam o paiol. Sofría-

mos também com a carestia de alimento, principalmente para as

crianças. A esposa do fazendeiro, Rosa, retirava o leite todas as

manhãs e eu, providencialmente, colocava o Silas na porta do

paiol com um copinho nas mãos a fim de angariar um pouquinho

de leite. Quando ela passava, enchia o copinho. Era uma festa!

Eu agradecia.

Passados uns dois meses de muito sofrimento, Leopoldo,

meu marido, comprou um pequeno rancho coberto de capim,

feito de pau-a-pique. Chovia muito lá dentro e o frio era intenso,

já que se localizava perto de um córrego. Custou na época 150

mil réis. Mas a situação não melhorou. Nós já não agüentávamos

mais. Os meninos pequenos não tinham leite. Nosso alimento

era angu com feijão, e quando muito, serralha (uma planta pare-

cida com a couve). Um dia, Jonathas, já com seis aninhos, chorou

por causa da comida. Ele não a queria mais. Ele queria comer

arroz. Mas, o que fazer? Não tínhamos outra coisa em casa! Foi

aí que enxergamos o cuidado providencial de Deus. E o meu Deus,

segundo a sua riqueza em glória, há de suprir em Cristo Jesus, cada

uma das vossas necessidades (Filipenses 4:19).

Por volta do meio-dia, eu estava em frente ao rancho chu-

pando côco com os meus quatro filhos quando, de repente, avis-

amparam (Salmo 23). Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto

na vide, e o produto da oliveira minta, e os campos não produzam

mantimento, e as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais

não aja gado; todavia eu me alegro no Senhor e exulto no Deus da mi-

nha salvação. O Senhor é a minha salvação e fortaleza. Ele faz os meus

pés como os da corça, e me faz andar altaneiramente (Habacuque 3:17-

19).

É isto que Deus requer de nós, que sejamos pessoas sem-

pre alegres e com iniciativa na vida. Prepare-se e arrependa-se.

Coloque a sua vida no altar e na presença do Senhor para fazer

parte de sua mesa, a Santa Ceia, com singeleza de coração e dig-

nidade de alma. Ela é vida e saúde para com os limpos de cora-

ção. Eu sempre falo, e agora escrevo estas palavras aos meus fi-

lhos, aos meus familiares e à Igreja do Senhor na face da terra.

No dia dez de março minha irmã Corina fez aniversário.

Ela está internada em um asilo. Há mais de vinte anos que é do-

ente. Ficou viúva há quarenta anos. Seus filhos, já idosos, tam-

bém necessitam de nossas orações. Eu, como a mais idosa dentre

eles, sinto o peso da oração em favor de todos. Eu sei que o Espí-

rito Santo, o Consolador, está sempre ao lado de minha irmã.

Porque eu sou o Senhor teu Deus, eu te fortaleço, e te ajudo, e te susten-

to com a minha destra fiel (Isaías 41:10). Não vos inquieteis com o dia

de amanhã, pois o amanhã trará os seus cuidados, basta o dia o seu

próprio mal (Mateus 6:34).

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Maria José Amorim 41

16 Parece que foi ontem

tei dezenas de lagartas enormes subindo pelas paredes, pelas

portas e pelo capim do telhado. Quero confessar o meu pavor

por esses bichos. Durante toda a minha vida, esse era o meu ponto

fraco. Quando vi esse horror, corri desabalada para a estrada

carregando os meninos e chorando. Pedi, então, ao Davi, que era

o mais moço (ele já tinha 12 anos), para ir atrás do seu pai e trazê-

lo com o carro de boi do fazendeiro a fim de sairmos daquele

lugar. No mesmo instante, Leopoldo veio com o carro de boi.

Nem a mudança entrei para arrumar. Foram eles quem arruma-

ram tudo. Quando atravessamos o córrego, subindo um morro

muito íngreme – eu carregando o Silas e o pai o Paulinho, todos

a pé – avistamos um cavaleiro. Penso que ele foi enviado por

Deus.

Leopoldo, muito aflito e preocupado, perguntou-lhe se,

porventura, conhecia alguma casa para ficarmos, pois não co-

nhecíamos nada naquele lugar e não tínhamos para onde ir. Tão

logo perguntou, ele apontou para uma porteira e, ao fundo, uma

casa que era um retiro para os seus empregados na ocasião da

ordenha das vacas. “Podem ficar naquela casa”, ele disse. O lo-

cal estava abandonado, os bezerros adoecendo por falta de pes-

soas para fazer as ordenhas nas vacas. Tão logo chegamos, Davi

foi buscar as vacas no pasto e os bezerros. Tirou o leite e foi uma

festa. Com ele, fazia requeijão, queijo e manteiga que aprendi

antes com a Tia Maria sem, contudo, imaginar o que o futuro

nos reservaria. Todos os dias, pela manhã, uníamos as mãos e

orávamos agradecendo a Deus pela Sua maravilhosa bênção, pois

já havia quase oito meses que meus filhos não bebiam leite, mas

o Senhor providenciou tudo, usando as lagartas para nos fazer

sair daquele lugar. As suas misericórdias duram para sempre. Invo-

ca-me no dia da angústia e eu te livrarei e tu me glorificarás (Salmo

50:15).U

m dia, porém, Davi chegou em casa com o pé machuca-

um custo ir à igreja. Quando o pastor Luciano não vem, torna-se

muito difícil para mim. Mas, apesar disso tudo, mantenho fir-

mes meus compromissos com o Senhor. Ele é quem sustenta mi-

nha fé e meu fraco corpo.

Isto que acabei de dizer fez-me lembrar de uma amiga de

muitos anos atrás. Éramos companheiras na igreja desde a infân-

cia. Crescemos juntas até chegar à mocidade. Participávamos do

coral da igreja, cuja regente era a esposa do pastor americano

que, além disso, nos ensinava a Bíblia. Passados alguns anos, após

ter ficado viúva com quatro filhos para criar, ela mandou-me um

recado através de um evangelista nosso amigo. Disse para eu

não ir mais à igreja, pois não suportava a minha presença. Res-

pondi a ele que Deus é o Juiz. Se realmente eu era a causa de seu

tropeço, Deus resolveria o caso e, se fosse ela, que Deus fizesse a

Sua soberana vontade. Aconteceu que esta irmã ficou doente e

não foi mais à igreja. Seu nome era Geralda.

Passado algum tempo, ela veio a Belo Horizonte a fim de

tratar de sua doença. Descobri onde estava e, na companhia de

duas sobrinhas, fui visitá-la. Ao ver-nos, ela chorou de alegria.

Oramos por ela e por sua filha. Cantamos alguns corinhos jun-

tas. Ela me disse que foi a melhor visita que já tinha recebido.

Voltei para casa alegre. Ela, infelizmente, veio a falecer. O final

de tudo isto é que até hoje eu nunca deixei de ir à igreja, mesmo

já com noventa anos, graças a Deus. Meus filhos ficam apreensi-

vos quando eu saio de casa. Eles temem acontecer alguma coisa

comigo. Mas, apesar de tudo, vou à igreja e ainda faço algumas

visitas, enquanto Deus me der força e coragem para prosseguir.

No ano passado, em 2004, eu não falhei em nenhuma es-

cola dominical. Vou confiada em Deus, pois o justo viverá pela

sua fé. Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei

mal algum, porque tu estás comigo, o teu bordão e o teu cajado me

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40 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 17

do. Ele o havia estrepado numa farpa pontiaguda. Um pensa-

mento ruim tomou conta de mim. Era, certamente, o início de

um mal maior. Mas, como tratá-lo adequadamente, se naquelas

bandas não havia nada, senão solidão e dependência de Deus?

Fiz meus filhos urinarem numa lata e coloquei folhas de fumo

para ferver. Passei a noite toda banhando o seu pé e a sua perna,

em oração, com aquela infusão. Pela manhã, estava completa-

mente curado. Assim, continuou o seu trabalho de buscar as va-

cas com as suas crias e levar alimento para o seu pai no garimpo.

Descobrimos certo dia que havia um pregador do Evan-

gelho naquele lugar. Para nossa alegria, era nosso conhecido, in-

clusive seus pais e avós. Íamos todos os dias de culto ouvi-lo,

pois a Palavra de Deus nos fazia muita falta. Passados uns dias,

tive vontade de comer carne, mas não tínhamos dinheiro para

comprá-la. Falei, então, ao Davi, a respeito de uma vaca que ti-

nha uma estranha mancha na cara e não enxergava muito bem.

Arquitetei um plano de levá-la a um barranco profundo, a fim

de que caísse. Teríamos, assim, carne à vontade. Mas, algo estra-

nho aconteceu. Apesar de nós a apertarmos contra o barranco,

ela não caiu. Imediatamente, senti que cometera um grande erro.

O diabo fez a minha cabeça. Senti que era pecado comer qual-

quer coisa mal adquirida, dos outros, e doeu-me a consciência.

Neste momento, ouvi o latido insistente de nossa cadelinha. Ela

estava em luta com um tatu-galinha. Tão logo percebi, Davi foi

correndo ao local e trouxe o tatu, e era dos grandes. Lá estava a

carne que tanto gostaria de comer. Preparei-o para saborearmos,

mesmo sem o arroz, pois não havia mais nada em nossa casa

para comer. Somente Deus conhecia a nossa situação. Mas, como

a Bíblia diz que o Senhor é o nosso pastor e nada nos faltará (Salmo

23:1), chegou a nossa casa o pregador a cavalo, no exato momen-

to em que cozinhava o tatu, trazendo arroz, farinha e outros ali-

mentos. Diante de tamanho milagre, eu, o pregador, meu mari-

do e meus filhos, oramos agradecidos por tantas bênçãos que

Hoje são dezesseis de fevereiro de dois mil e cinco. Minha

pressão está um pouco alta. Mas, graças a Deus já estou bem.

Antes do Natal senti um desejo de contribuir com a igreja

além do que faço normalmente com meus dízimos e ofertas. Não

podendo, tomei a iniciativa de falar com meu neto, filho do

Jonathas, ao telefone: “Ao invés de vocês fazerem uma festa em

comemoração ao meu aniversário, dê-me uma oferta para aju-

dar na construção da igreja em Curvelo”, foi o meu pedido. Será

uma alegria para mim, e muito mais para o Reino de Deus. En-

tão, um deles mandou-me uma oferta. Fiquei radiante de ale-

gria. Mas, eles disseram que não desistirão da festa que será no

dia 14 de setembro, se Deus quiser. Residem em Goiânia com as

suas famílias. São eles: Daniel, David, Elias, Alexandre e Eliezer,

todos crentes, nascidos e criados no evangelho, graças a Deus.

É com muita alegria que dou mais uma boa notícia. Mi-

nha neta Agda ganhou uma filha no dia 2 de fevereiro de 2005.

Esta sendo uma alegria para todos da família. Ela vai apresentar

a menina na igreja. Seu nome é Geovana. Agda é ainda mãe sol-

teira. Deus está no controle de tudo. É verdade que o rapaz dese-

ja casar-se com ela, mas é Deus quem dirige todas as coisas. Ben-

dize ó minh’alma ao Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu

santo nome (Salmo 103:1).

Com a graça de Deus, contemplo a quarta geração de mi-

nha família. Diz a Palavra de Deus que ainda na velhice darão fru-

tos e serão cheios de seiva e de verdor para anunciar que o Senhor é reto.

Ele é a minha rocha, e nele não há injustiça. O justo crescerá como a

palmeira, plantados na casa do Senhor, florescerá nos átrios do nosso

Deus (Salmo 93:12-15). Já estou na casa dos noventa anos, graças

a Deus. Meu prazer é, e sempre foi, estar na presença do meu

Deus, lendo a Bíblia. Ela me sustenta. Ela é a minha esperança,

alegria e paz. É verdade que estou idosa e cansada. É para mim

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Maria José Amorim 39

18 Parece que foi ontem

tínhamos recebido das mãos de nosso Pai tão bondoso, que vê

todas as nossas necessidades. Ele não permitiu que sujássemos

nossas consciências com o sacrifício de um animal que não era

nosso. Ele proveu o livramento e saciou a nossa fome.

O nome desse pregador que Deus usou para nos aben-

çoar era João Branquinho. Morava em Carmo do Paranaíba com

sua esposa Geny e seus filhos Rubem, Renilda, Zilá e Helena.

Passados uns anos, ele mudou-se para Brasília onde faleceu, dei-

xando esposa e filhos. Já se passou muito tempo desde que tudo

ocorreu, mas ainda tenho saudades pelo bem que fizeram a mim

e a minha família.

CAPÍTULO sete

Querido Rony,

Recebi sua carta, que me encheu de alegria em saber que você

está bem, juntamente com sua companheira. O Jonathas gostou muito

dela. Pena que eu esqueci o seu nome. Fiquei sabendo também que vocês

trabalham juntos. Estou muito alegre em saber que você trabalha com o

meu neto Alexandre. Ele é um bom moço. Ainda não sei o seu endereço.

Espero que, quando vier, possa dar-me. Estou esperando por vocês.

O pessoal daí vem a Belo Horizonte, mas não me visita. Eu acho

falta de amor para comigo, afinal, estou velha, mas não estou senil.

Ainda amo a todos de minha família. Meu amor veio de Deus.

Falaram-me que você comprou um carro. Fiquei muito alegre e

oro para que Deus livre você de todos os perigos e acidentes. Eu desejo

tudo de bom a você e à sua querida esposa, bem como a todos os meus

netos e meus bisnetos. Saiba que sua mãe nunca se esquecerá de você.

Seu aniversário está chegando e eu quero ver você nesse dia, se Deus for

servido.

Que Deus te abençoe!

Abraços e beijos,

Sua mãe.

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Maria José Amorim 19

CAPÍTULO três

Por aquele tempo, tomei conhecimento através do Sr.

George Venerozo, pessoa de Deus, de uma mulher que andava

pelas bandas do arraial. Ela sofria de um terrível mal. Tinha em

sua perna uma ferida incurável e crônica que cheirava mal. Nin-

guém a acolhia devido ao seu mau cheiro. Era realmente insu-

portável. Até que um dia chegou ao nosso retiro, pedindo qual-

quer auxílio que fosse. Da porteira onde estava, chamei-a para

que se achegasse a casa, o que ela recusou, acostumada a ser

escorraçada pelos outros devido à sua ferida. Após muita insis-

tência de minha parte, aproximou-se. Devagar. Temerosa. Sua

perna estava enfaixada em um trapo imundo. Tocada pelo Espí-

rito de Deus, perguntei-lhe se podia fazer um novo curativo, o

que ela recusou. Insisti que se assentasse e perguntei nova-

mente, dizendo-lhe que não temesse. Ela, enfim, cedeu. Fervi água

em uma panela, coloquei-a numa grande bacia e acrescentei

creolina e desinfetante. Retirei o trapo imundo de sua perna. Es-

tava necrosada e cheia de pus. Lavei o ferimento abundantemente,

retirando toda aquela sujeira acumulada e todo o pus e enfaixei

com um pano limpo. Em seguida, dei-lhe algo de comer. Os que

a viam na rua, perguntavam-lhe se havia ido ao médico, ao que

ela respondia: “Não, fui a uma mulher de Deus que me fez este

curativo”. Passados alguns dias, o ferimento estava curado. “Eu

fiquei curada em nome de Jesus; antes, todos me fechavam as

portas, agora tudo mudou”, dizia ela.

Alguns dias depois, pegamos uma carona em um cami-

ficou muito alegre ao saber da história do sapato. Deus sabe to-

das as coisas. Ele conhece as minhas necessidades. Ruth ficou

alegre em presenciar o quanto Deus cuida daqueles que o bus-

cam de todo o coração.

Recebi uma carta com uma foto de meu filho Rony e de

sua namorada, dizendo que iriam se casar. Como eu fiquei feliz!

O filho de minha velhice finalmente havia encontrado uma boa

moça e de boa família. Creio que ele está sendo iluminado por

Deus. É resposta das minhas orações por ele.

No dia 30 de janeiro fui à casa de minha irmã Ruth. Era

aniversário de seu esposo, Salviano. Foi uma noite muito alegre.

Todos se abraçavam por se reencontrarem, pois a família é muito

grande. Perguntaram-me se ia bem de saúde. Respondi que sim,

pois havia feito na época vários exames, e todos deram negativo.

Meu sobrinho, médico, filho de minha irmã Ruth, mediu minha

pressão. Para minha surpresa deu dezoito por dez, já que nor-

malmente era de treze por nove. Recebi dele algumas instruções

como diminuir o sal, evitar as gorduras e fazer uso de um remé-

dio para baixar a pressão. Quando cheguei em casa, peguei a

Bíblia e li o Salmo 90. Orei e me entreguei ao Senhor. Passados

uns três dias, pedi a minha neta Agda que medisse a minha pres-

são. Estava como de costume, treze por nove. Agradeci muito a

Deus. Ele cuida de mim.

38 Parece que foi ontem

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Maria José Amorim 37

20 Parece que foi ontem

nhão para Patos de Minas. Iniciamos uma nova vida. Deixamos

para trás as dificuldades e as provações do garimpo. Leopoldo

construiu um cômodo no quintal de meu querido irmão Geraldo

e nos instalamos lá. Com o tempo, compramos um lote na beira

do córrego do Mijolo e construímos uma casinha de cinco cômo-

dos. Neste lote, havia um olho d’água no qual meu irmão cons-

truiu um tanque para nos abastecer. Foram tantas as bênçãos de

Deus que eu nem sabia como agradecer.

Retornei à igreja, para a Sociedade de Senhoras. Davi, já

com seus quatorze anos, voltou a estudar e a trabalhar com o

Geraldo. Tomei emprestada uma máquina de costura para auxi-

liar nas despesas em casa. Meu marido, Leopoldo, fazia colchões

para vender. A vida começara a melhorar. Vendemos aquela casa

e construímos uma bem melhor, com água e iluminação elétrica.

Parecia estar no céu. Surgindo um bom negócio, vendemos a casa

e compramos um outro lote, bem maior, e construímos outra casa.

Davi, neste meio tempo, conheceu a Tina, uma linda menina da

roça e resolveu casar-se. Construiu sua casinha no mesmo lote

de nossa casa. Terminada a construção, casou-se na igreja evan-

gélica.

Passado algum tempo, Leopoldo fechou um negócio, tro-

cando a casa por uma fazenda no município de Mata-Burro. No-

vamente nos mudamos. A fazenda ficava a uns vinte quilôme-

tros da cidade e parecia um pedacinho do céu. Tinha água, va-

cas, porcos, galinhas e muita fartura. A única dificuldade, depois

de tantas já vivenciadas, era que o Silas, pela distância da escola,

ficou morando com o Davi e a Tina na cidade. Sentia também

falta da igreja, mas estava feliz com aquilo que Deus havia nos

concedido.

Retornamos à cidade um tempo depois, pois Leopoldo

trocou a fazenda por uma bela casa na Avenida Brasil, perto da

não estivermos conectados na videira, que é Jesus, o ramo seca.

Para nada mais presta. Em seu sermão profético (Mateus 24), Je-

sus fala do princípio das dores, da grande tribulação, da vigilân-

cia e da oração que devem acompanhar todo cristão.

Estamos vivendo em um mundo muito difícil. Maremo-

tos, terremotos, fome, miséria, falta de amor uns pelos outros.

Mas, apesar de todas estas dificuldades, Jesus disse para termos

bom ânimo, pois Ele venceu o mundo. Hoje, último dia do ano,

estarei na igreja durante a passagem do ano velho para o ano

novo, sempre vigiando e orando, na presença do Senhor. Prepa-

ra-te ó Israel para encontrares com o teu Deus (Jeremias 33.1-3).

De uns dois anos para cá, estou sentindo muitas dores

nas pernas. Mesmo assim, faço todo o trabalho da casa. Vou à

igreja. Não desanimo nunca, embora chore de dor às vezes. O

Senhor está me sustentando, mesmo não sendo merecedora, mas

Ele prometeu que nos ajudaria e nos sustentaria com a sua des-

tra fiel. Deus tem um tempo determinado para todas as coisas. O

que devemos é esperar no Senhor e Ele satisfará os desejos do

nosso coração (Salmo 37:4). Estou ligada na videira, portanto,

seja feita a vontade de Deus. Eu choro, é verdade, mas sou con-

tente com o meu Senhor. Ele tem suprido as minhas necessida-

des, por isso quero ser sempre fiel nos dízimos e nas ofertas. O

meu compromisso é com Ele, pois tomou conta de mim desde a

minha viuvez. Glórias sejam dadas a Ele durante toda a minha

vida. Ele me faz andar altaneiramente (Habacuque 3:19).

Vejam um pequeno exemplo. Minha irmã Ruth veio visi-

tar-me neste mesmo mês de dezembro. Mostrou-me um sapato

que estava usando e perguntou-me se gostaria de ganhar igual.

Eu respondi que não precisava se incomodar. Passados uns cin-

co dias, minha neta Magda, sem saber, trouxe para mim o sapa-

to. O mesmo modelo de minha irmã Ruth. Contei para ela, que

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36 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 21

Igreja Presbiteriana, na qual eu trabalhava como professora da

classe dos juniores na Escola Dominical. Como sempre, fiquei

muito alegre.

Não demorou muito, meu marido ficou doente. Estava,

infelizmente, viciado em bebida. Inchou bastante a ponto de pro-

curar um médico, diagnosticando doença de chagas. Seu quadro

foi piorando aos poucos. Abandonou a bebida e tudo o que desa-

gradava a Deus. No mês de março, num domingo, depois do

culto, ele disse: “Mais perto quero estar de ti, meu Deus”, e fale-

ceu. Tínhamos vinte e cinco anos de casados. Na segunda-feira,

ele foi sepultado. Foi muito triste a separação. Fiquei ainda cinco

anos em Patos de Minas após a morte de Leopoldo, depois nos

mudamos para Belo Horizonte.

Davi e Tina já tinham cinco filhos: Magda, Martinha,

Marquinhos, Davi Filho e Lídia, a caçula. Todos nós fomos mo-

rar em um apartamento do Jair e da Noeme por um período de

cinco meses. Meus filhos, Davi e Paulo, compraram um lote per-

to do viaduto São Francisco e construíram uma casa com dois

pavimentos para onde nos mudamos e moramos por algum tem-

po. O Paulo casou-se com a Terezinha e, passados alguns meses,

venderam a casa, construindo um prédio no qual moramos por

pouco tempo, pois meus filhos o trocaram por uma fazenda em

Mateus Leme. Era uma linda fazenda com várias casas para to-

dos, carro, telefone, gado, um pomar com várias frutas e muitas

benfeitorias. Tinha também cabras, porcos, galinhas, água e luz

elétrica. Os empregados cuidavam de tudo. Eu fazia queijos e

doces com as frutas. Freqüentemente orava e agradecia a Deus,

pois tudo parecia um sonho. Um sonho que desvaneceu.

Certo dia apareceu na fazenda um homem, penso eu, en-

viado pelo diabo. Ele e sua mulher, vendo as belezas e a fartura

do lugar, se interessaram em comprá-la. Com lisonjas e promes-

bons e outros agrados que o Senhor me proporcionou.

Desde que fiquei viúva tão jovem, Deus tomou conta de

mim. Ele tem me abençoado sem medida. Alguns de minha fa-

mília perguntam a razão de eu ganhar tanta coisa. Eu sempre

respondo: “É porque eu joguei o pão sobre as águas” (Eclesiastes

11:1,2). Levai as cargas uns dos outros, e assim, cumprireis a lei de

Cristo. Ajudem os necessitados, os de nossa casa e os de nossa

igreja. Este foi o ensino e o exemplo que Cristo nos deu como

mandamento.

Quero falar sobre o aniversário de meu filho Davi. É uma

data muito importante em minha vida e motivo de grande ale-

gria para mim. Ele está completando setenta e um anos pela gra-

ça de Deus, nosso Pai. Desde o dia 25 de dezembro até o dia 30,

passei mal no seu nascimento. Nós dois escapamos por um mila-

gre de Deus. Eu não te deixarei, te ajudarei, te sustento com a minha

destra fiel (Isaías 41:10). Não temas, pois Eu estou contigo, e te seguro

pela minha mão direita e te digo, outra vez, não temas (Isaías 41:1-29).

O Senhor é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribu-

lações (Salmo 46:1-3).

Hoje é dia 30 de dezembro. Estou com muitas dores nas

pernas, a ponto de até chorar. Mas sei que Deus está cuidando de

mim. Eu sei em quem tenho crido (Filipensis 4:13-20). Tudo posso na-

quele que me fortalece (Filipensis 4:13).

Hoje é o último dia do ano, 31/12/2004. Estou muito feliz.

É um dia especial para darmos muitas graças a Deus. Agradeço

a Ele pelos meus filhos, netos, bisnetos, trinetos. São tantos que

até perdi a conta. Oro por todos diariamente, e também pelas

minhas noras, pelas igrejas, pois foi Jesus quem disse: “Sem mim

nada podeis fazer” (João 15:5). Ele, e somente Ele, é a videira ver-

dadeira e todo o ramo que estiver nele, este dá muito fruto. Se

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22 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 35

sas mentirosas, convenceu meus filhos a vendê-la. Passaram até

a dormir na fazenda para observarem melhor os trabalhos. Por

fim, acabaram vendendo com muito prejuízo para todos nós. Este

é um assunto que nem gosto de me lembrar, e nem os meus fi-

lhos, de tão frustrante que foi para todos nós. Não usamos a sa-

bedoria de Deus e do Espírito Santo e nos deixamos enganar pelo

diabo. Deixamos a propriedade com quase nada, chorando e cla-

mando a Deus. Mas, como está escrito o que Deus falou ao seu

povo Israel: Os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem

com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se

fatigam (Isaías 41:31). Não temas porque eu sou contigo, não te assom-

bres, porque eu sou teu Deus. Eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento

com a minha destra fiel (Isaías 41:10). Meus filhos lutaram muito.

Ficaram em uma situação financeira difícil, mas Deus tem sem-

pre as mãos estendidas para nos abençoar.

Após este mau negócio, meus filhos trabalharam muito e

começaram a comprar lotes. Neles, construíam casas e vendiam.

Construíram pequenos prédios, mansões e até depósitos de ma-

teriais de construção. Um deles, na cidade de Santa Luzia, cau-

sou um grande aborrecimento ao meu filho Paulo. Coisas de fa-

mília. Nesta ocasião, foi morar comigo no bairro Letícia. Eu orei

muito para que as coisas melhorassem para ele, e assim aconte-

ceu. Comprou uma casa com um depósito num bairro perto do

zoológico e fui morar com ele. Passado algum tempo, resolveu

vender tudo. Como meu filho Silas possuía duas casas no bairro

Planalto, ele me trouxe para morar em uma daquelas casas que

também foram vendidas para comprar um prédio em constru-

ção com um barracão nos fundos. E aqui estou até hoje, pela gra-

ça de Deus.

Por todos os lugares e casas em que morei sempre estive

alegre, porque Deus está sempre ao meu lado. Como diz a Pala-

vra de Deus: Entristecidos, mas sempre alegres. Pobres, mas enrique-

CAPÍTULO seis

Hoje é Natal. Dia 25/12/2004. Estou alegre por ser come-

morado o dia do nascimento do nosso Salvador Jesus Cristo. Está

narrado na Bíblia este acontecimento (Lucas 2:1-35).

Recebi muitas visitas. Minhas queridas netas e netos. Até

um tetraneto veio me ver. Betinha e seu esposo, com Ana Maria.

Lídia e sua querida filha, Rebeca. Magda e seu netinho, João Vitor.

Todos estavam alegres e eu, muito mais, pois Deus sabe o quan-

to amo a minha família.

Hoje é o último domingo do ano. O diabo não queria que

eu fosse à Escola Dominical. Sabem por quê? Porque eu não

falhei um domingo sequer. Senti uma dor muito grande nas

pernas que somente Deus sabe. O pastor Luciano tinha viajado.

Então, orei, repreendi em nome de Jesus aquela dor e fui com

muita dificuldade. Quando cheguei à igreja, fiquei muito grata a

Deus porque completei o ano com a ajuda do Senhor. Marta, uma

irmã em Cristo, trouxe-me de volta para casa após a escola em

seu carro. Cheguei toda feliz da vida.

Com as visitas que recebi, ganhei muitos presentes. Até o

que eu não precisava. É como diz a Palavra de Deus: Honra o

Senhor com os teus bens e com as primícias de toda a tua renda, e se

encherão fartamente os teus celeiros (Provérbios 3:8-10). Ainda nesta

tarde, recebi a visita da Conceição. Ela trouxe-me um vaso de

flores. Oramos juntas pelos nossos filhos e por todos da família.

Foi uma alegria muito grande para nós duas. Dei-lhe alguns bom-

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34 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 23

cendo a muitos. Nada tendo, mas possuindo tudo (2Coríntios 6:10).

Glória a Deus por tudo. Hoje, vivo perto da Igreja Presbiteriana

Betel. Sou membro dela com muita alegria, desde que o reveren-

do Obedes ainda era o seu pastor. Lembro-me com carinho de

sua esposa Senir, uma mulher de Deus, filha do Pastor Joaquim

Lourenço e Dona Maria. Ela fora presidente da Sociedade

Auxiliadora Feminina naquela época, sociedade da qual faço par-

te até hoje, mesmo com idade tão avançada.

Após o reverendo Obedes, pastoreou a Betel o reverendo

Hamilton. Homem manso e querido, casado com a Lóide, tendo

duas filhas adoráveis. Vencido o seu prazo pela vontade de Deus,

mudou-se para Brasília. Tenho saudades deles, mas sei que vão

bem, graças ao nosso bom Deus. Em tudo dai graças, pois esta é a

vontade de Deus em Cristo Jesus (Efésios 5:20). Hoje, a Betel é

pastoreada pelo querido reverendo Luciano Rocha, casado com

a Tereza. Eles têm uma linda filha chamada Alissa. Ele tem sido

uma bênção para mim e para toda a igreja. Ela tem crescido a

cada dia em tudo e para todos os membros. Lembro-me que co-

mecei a sentir uma dor nas pernas e ele, com toda a bondade,

vem todas as manhãs de domingo buscar-me de carro para a

Escola Dominical. Sinto-me tão agradecida que nem sei como

retribuir, mas sei que a retribuição vem Daquele que tudo sabe e

tudo vê. Deus mesmo é testemunha da minha fidelidade em meus

compromissos para com a sua igreja. Eles são muito estimados

na igreja e por todos aqueles que amam o Reino de Deus. Cons-

truíram uma linda igreja no sertão do nordeste. Estão construin-

do outra na cidade de Curvelo, perto de Belo Horizonte. Todos

estão empenhados no trabalho da construção, com a ajuda de

Deus, pois Ele supre as nossas necessidades (Filipenses 4:19). Je-

sus está ao nosso redor, velando pelo nosso pastor e pelas suas

ovelhas. Ele está mandando recursos e ofertas para sustentar a

família de obreiros que cuidam do trabalho no sertão: João Mar-

ques, Vildete, sua esposa, e seus filhos Carol e João Henrique. De

bém mora em Goiânia. Conversei com ele ao telefone. Ele disse

que vinha me ver no carnaval. Eu o espero todos os dias, pois

não me esqueço dele, o filho da minha velhice. Sei que Deus está

cuidando dele como tem cuidado até aqui. Que darei ao Senhor

pelos teus benefícios (Salmo 116). Agrada-te do Senhor e Ele satisfará

os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia nele

e o mais Ele fará (Salmo 34:4-7). Colocamos tudo no altar de Deus.

Jesus é a nossa esperança e nossa salvação. Só Ele é fiel.

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Maria José Amorim 33

24 Parece que foi ontem

vez em quando, o pastor Luciano viaja até lá, levando ofertas,

apoio e encorajamento aos nossos amados missionários. Eu, na

minha humildade, faço a minha parte, orando cem cessar, bus-

cando o Senhor em todo o tempo e contribuindo com meu dízimo

e as minhas ofertas, graças a Deus. Foste fiel no pouco, sobre o mui-

to te colocarei. Entra no gozo do teu Senhor (Mateus 25:23).

frer. Sua própria mulher aconselhou-o a amaldiçoar a Deus. Ao

que respondeu: Tu falas como louca. De Deus temos recebido o bem e

não o mal. Em tudo isto não pecou Jó com a sua boca. Mas chegou

o dia em que Deus mudou a sua sorte, quando ele orava pelos

seus amigos. E o Senhor lhe deu em dobro tudo o que antes pos-

suía. Viveu ainda muitos anos e pôde ver seus filhos e os filhos

de seus filhos até a quarta geração. Então morreu velho e farto

de dias.E

u agradeço a Deus pela minha vida, pois apesar da ida-

de avançada vivo alegre porque entreguei meu corpo, minha

mente e meus sentimentos ao Senhor Jesus ainda jovem. Tinha

trinta e cinco anos. Caí em muitas tentações, mas Deus me ama-

va sendo eu uma pecadora. Em lágrimas e pranto, arrependi-me.

Ele levantou-me e deu-me de volta o amor, a paz, a alegria e me

fez feliz. Glorificado seja o Senhor Jesus Cristo que se compade-

ceu desta pecadora!

Nunca abandonei a igreja de Jesus. Ainda faço parte da

SAF, até hoje há setenta e cinco anos, jogando o meu pão sobre as

águas, exercendo a fidelidade no dízimo e nas ofertas, pela mise-

ricórdia de Deus.

Hoje, véspera do Natal, tive um alegria. Chegou o

Vandinho com a notícia que minha irmã Corina está em um asilo

em Lagoa Formosa-MG. Ela é muito bem tratada e todos a esti-

mam muito por lá. Também me disse que ela chora muito. Só

Deus sabe o porquê. Eu oro ao meu Deus para que Ele faça o

melhor por ela, pois é uma serva do Senhor. Eu sei que Deus há

de suprir todas as suas necessidades em Cristo Jesus.

Tive ainda mais uma alegria. Alexandre, filho do Jonathas,

chegou a minha casa. Veio de Goiânia com a esposa Vilma e sua

filhinha, minha bisneta. Trouxe-me notícias de todos e no mes-

mo momento falou ao telefone com meu filho Rony, que tam-

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32 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 25

CAPÍTULO quatro

Em certa ocasião há muito tempo, estávamos muito mal

financeiramente; foi quando nasceu o meu querido filho Paulo.

Meu tio José convidou-nos para trabalhar com ele em sua fazen-

da. Partimos para aquele lugar, eu, meu marido, Davi, Jonathas,

o pequeno Paulinho e minha irmã Arlêta. Moramos em uma ca-

sinha no meio do mato, longe da sede da fazenda. Eu e minha

família sofremos muito. Só Deus sabe o que passamos. Isso foi

em 1941. O Paulinho ainda estava com três meses de idade. Para

se ter uma idéia das dificuldades, passei dezesseis dias sem cozi-

nhar nada, pois não havia o que comer. Comíamos apenas pal-

mito com sal e banana que buscávamos no mato. Até o sal era

retirado do cocho das vacas, tamanha era a nossa penúria. Meu

estômago já rejeitava aquelas coisas. Meu leite secou. Não rece-

bemos uma visita sequer dos moradores da fazenda. Foi um des-

prezo total. Meu marido, Leopoldo, trabalhava na roça e tinha a

sua marmita do almoço, nada mais.

Um belo dia pela manhã, tomei a enxada nas mãos e fui

limpar o veio d’água que as vacas haviam sujado na noite ante-

rior. Debrucei-me no cabo da enxada, chorando e orando, “Meu

Deus, se for da tua vontade que eu sofra isso tudo, que o Senhor

me dê forças para suportar ou então me tira daqui em nome de

Jesus”. No mesmo instante, a oração foi ao encontro do meu tio

que veio naquela mesma hora e viu a minha situação. “Amanhã”,

disse ele, “eu vou com o carro-de-boi no arraial buscar algumas

coisas, se você não quiser ficar mais aqui eu a levo comigo e tam-

bém a sua mudança até o arraial de Lagoa Formosa”. Lá, fica-

mos em uma serraria de meu tio. Em meio a tantas madeiras,

passamos a noite praticamente sem dormir. Nossas primas não

Ao chegar, viu a cama nova e notou que estava toda arra-

nhada pelo serviço feito as pressas. Mas, nesse meio tempo, meu

marido chegou da roça trazendo carne, pinga e fumo, as três coi-

sas que meu pai mais apreciava. Preparei o jantar. Comemos to-

dos e papai gostou muito, graças a Deus. No outro dia, após a

noite de sono na cama nova, perguntei-lhe com certo receio se

dormiu bem. Ele me respondeu: “Minha filha, já faz muitas noi-

tes que não durmo tão bem”. Passados uns dias, meu pai man-

dou-me uma cama novinha. Fiquei muito agradecida pelo pre-

sente de meu pai, agora já saudoso, pois está na glória com o

Senhor. Junto com ele, minha querida mãe. Ela era uma serva de

Deus que, na hora da partida, morreu louvando a Deus. Lem-

bro-me até hoje do hino que cantou: “Depois que Cristo me sal-

vou; não sei por que de Deus o amor a mim se revelou. Eu bem

sei em quem tenho crido e estou bem certo que é poderoso, para

guardar o meu tesouro, até o dia final”. Antes de partir, reuniu

todos os filhos, o marido, e falou com toda a autoridade de uma

serva de Deus: “Nunca irão deixar a Igreja”, e cantou o hino.

Era um domingo. Partiu para o Senhor ainda jovem. Tinha ape-

nas trinta e seis anos e onze filhos. Foi muito triste a dor da

separação.

Alguns dias antes de sua morte, ela orou que não levasse

a sua caçulinha, pois ainda não havia completado um ano. Pas-

sados dois meses, a criança faleceu. Chamava-se Marta. Mais uma

separação e muita tristeza. Porém, meu irmão Geraldo, um ho-

mem de muita fé, dizia como Jó: Deus deu e Deus o tomou, bendito

seja o nome do Senhor. Todos nós demoramos a ser consolados,

mas sempre na igreja e na presença de Deus, pois lá até a tristeza

é mais suave. Este fato deu-se em Carmo do Paranaíba.

O livro de Jó é um testemunho que serve para todos aque-

les que experimentam um sofrimento prolongado e provações

na vida. Ele sofreu as piores dores que um homem poderia so-

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Maria José Amorim 31

26 Parece que foi ontem

quiseram nem nos cumprimentar. Pela manhã, meu marido saiu

bem cedo e encontrou um caminhão que iria para Patos de Mi-

nas, pois naquela cidade tínhamos um lugar para morar. Porém,

em tudo isso, eu sentia a mão de Deus estendida sobre nós. Por

um milagre, meu leite voltou e meu filho escapou da morte, pois

segundo um diagnóstico médico ele não sobreviveria. Mas o

milagre aconteceu e ele mamou avidamente o quanto quis.

Penso que não deve haver ninguém que tenha mudado

de um lugar para o outro mais do que eu. Devo ter feito, mais ou

menos, se não me falha a memória, umas cem mudanças até os

oitenta anos. Somente com o meu marido, quando ainda estava

vivo, mudamos umas sessenta vezes. Ele não era um marido ruim.

Era bom. O fato é que éramos muito provados, até que Deus com-

padeceu-se de nós e chegamos a possuir uma bela fazenda no

Mata-Burro, perto de Patos de Minas. Sobre isso já falei.

Jesus nos tem livrado, pois ainda que andemos pelo vale da

sombra da morte, não temerei mal algum, porque o Senhor está comigo,

o teu bordão e o teu cajado me consolam. Ele nos preparou uma mesa na

presença dos nossos adversários e nos ungiu a cabeça com óleo, e o nos-

so cálice transborda. Certamente a bondade e a misericórdia do Senhor

me acompanharão todos os dias de minha vida e habitarei em sua casa

para todo o sempre (Salmo 23). Deus nunca falha, pois Ele é fiel.

Tem me dado vida com abundância e, na presença de Deus, sem-

pre contente, ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide,

o produto da oliveira minta e os campos não produzam mantimentos,

as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco e nos currais não haja gado.

Todavia, eu me alegro no Senhor, e exulto no Deus da minha salvação.

Deus é a minha fortaleza e faz os meus pés como os da corça, e me faz

andar altaneiramente (Habacuque 3:1-19).

Já em Belo Horizonte, começamos a freqüentar a igreja

em outras denominações até que meu inesquecível irmão Geral-

Eu nunca mais a vi. Ficou apenas a lembrança daquela

amizade sincera. Sinto saudades dela e oro, sempre que me lem-

bro, por ela. Uma boa amiga e irmã em Cristo. Jesus disse em sua

Palavra: Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras jamais passa-

rão. Na casa de meu Pai há muitas moradas, se assim não fora eu vo-lo

teria dito. E quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e os levarei

para mim mesmo, para que onde eu estiver, estejais vós também (João

14:1-4).N

a verdade, eu já estava cansada de tanto mudar. Morei

em três ou quatro fazendas do Paulinho ou do Silas. Éramos como

ciganos, aquele povo que não habita em lugar fixo; vivem se mu-

dando. Peregrinos. Assim, éramos nós. Até que contraí uma aler-

gia na cabeça. Sofria com a coceira. Utilizei vários remédios, cre-

mes e pomadas, mas nada valeu. Sinto-me bem quando oro em

nome de Jesus. Certamente Ele tomou sobre si as nossas enfermidades

e as nossas dores, levou sobre si. E nós o reputávamos por aflito, ferido

de Deus e oprimido (Isaías 53:1-4). Vinde a mim vós que estais cansa-

dos e sobrecarregados e eu vos aliviarei (Mateus 11:28-30).

Quando tinha dezoito anos, apenas o Davi como filho, deu

vontade de ter uma cama a mais em nossa casa. Tínhamos so-

mente uma cama de casal e o bercinho do Davi. Combinei com

minha irmã Arlêta, que na época morava comigo e com Leopoldo,

a confecção da cama. Entramos numa matinha próxima da nossa

casa e, munidos de um facão, cortamos quatro forquilhas e ou-

tros pedaços de pau. Com este material, mais bambus, fizemos a

cama que eu desejava. Fiz também um colchão que enchi de pa-

lha e estendi sobre a cama. Fiquei muito feliz, pois uns dias antes

meu pai avisou-me que dormiria em minha casa. Ele sabia que

eu não possuía outra cama. Disse que dormiria em minha cama

junto com meu marido. Fiquei preocupada! Por isso fabricamos

a cama.

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Maria José Amorim 27

30 Parece que foi ontem

do construiu uns bancos para nos reunirmos numa garagem. Ele

era um pregador leigo que tocava e cantava com a sua sanfona.

Era tudo pela causa do Reino de Deus. Tempos depois, comprou

um lote no bairro São Francisco. Sempre animado, promoveu

várias campanhas, com todos da nossa família e, finalmente, cons-

truímos a Nona Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte em meio

a muita dificuldade. Ele foi o construtor. O Dr. Éber, o engenhei-

ro responsável, que projetou tudo de bom coração. Eu, na oca-

sião, não possuía dinheiro algum para ajudar na construção. Lem-

brei-me, então, de um anel que recebi de meu marido com muito

amor. Coloquei-o na caixinha e o doei para ajudar um pouco na

construção da amada igreja de Jesus. O pastor na época era o

amado reverendo Américo Coelho. Hoje, nosso amado irmão Ge-

raldo já está na glória com o Senhor, como também a sua querida

esposa Gersonita. Deus deu, Deus tomou, bendito seja o nome do

Senhor. Quando me lembro de meu irmão Geraldo, sempre uma

palavra me vem à mente: Tudo quanto vier as tuas mãos para fazer,

faze-o conforme as suas forças, porque no além, para onde tu vais, não

há obras, nem projetos, nem conhecimentos, nem sabedoria alguma

(Eclesiastes 9:10). Quem o conheceu saberá o que isto quer dizer!

Não sei o motivo, mas lembrei-me da aliança que foi de

meu marido. Usava-a na mão esquerda, após mandar apertar

um pouco para ficar ao lado da minha. Aconteceu, porém, que

engordei e ela ficou muito apertada. O dedo inchou tanto que

quase não permitia mais enxergar a aliança. As dores logo come-

çaram, talvez prendendo a circulação do dedo. Já não sabia o

que fazer. Eu orava e nada acontecia. Numa tarde, durante o pre-

paro do jantar para os meus netos, enquanto comiam, fui ao quin-

tal e, em lágrimas, comecei a orar. Fiz um voto a Deus: se Ele

retirasse a aliança de meu dedo eu nunca usaria mais nada em

meus dedos, nem brincos e nem colares. Nada de vaidades, em

agradecimento e consagração a Ele. Enquanto eu orava, passan-

do a mão no dedo inchado e tocando os anéis, eles saíram em

beiros, pois no fundo queria vê-los apagar o fogo. Nessa época,

ele tinha apenas oito anos. Tudo acabou bem, graças a Deus, sem

precisar do auxílio dos bombeiros.

A vida no campo é muito agradável. Vivíamos lendo a

Bíblia e orando. À noite, íamos debulhar o milho para alimentar

os porcos, as galinhas e os marrecos. Os meninos brincavam

livres... tão diferente dos dias de hoje. O Marquinhos gostava

de brincar de soldado. Enchia o cinto de paus, dizendo que eram

as suas armas. Corria atrás dos outros meninos para prendê-los.

Era um divertimento tanto para eles quanto para mim, vê-los

alegres e saudáveis. Na cozinha, eu assava bolinhos que eram

uma alegria para a meninada. Quando a noite caía, líamos a Bí-

blia e orávamos antes de dormir.

Tempos depois, meu filho vendeu o sítio e nos mudamos

para o bairro Santa Amélia, em Belo Horizonte. A casa era boa,

graças a Deus. Fiz amizade com a nova vizinha de nome Ângela,

que se apegou muito a todos nós. Freqüentemente me chamava

para ir à sua casa fazer os bolinhos e ensinar-lhe como fazer.

Aproveitando a oportunidade, falei de Jesus com ela. Ela era ita-

liana e mostrou-me algumas fotos do marido e dos filhos já casa-

dos. Vivia sozinha e, com a nossa amizade se fortalecendo, con-

videi-a para ir à igreja comigo. Em pouco tempo, ela recebeu Je-

sus como seu Senhor e Salvador, convidando o reverendo

Américo, pastor da Nona Igreja Presbiteriana, para fazer uma

oração em sua casa. Como sofria de uma dor de cabeça crônica, o

pastor orou por ela e ficou curada. Foi uma grande alegria para

todos nós. Eu lhe presenteei com uma Bíblia e a ensinei a lê-la.

Fiquei sabendo, tempos depois, que viajou para a Itália para en-

contrar-se com o marido, pois eram separados. Quando se reen-

contraram, a emoção foi tanta que ele sofreu um ataque e veio a

falecer. Não muito tempo depois, ela recebe a notícia que seu

filho mais velho havia falecido, deixando esposa e duas filhas.

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28 Parece que foi ontem

Maria José Amorim 29

minha mão. Foi algo tão espetacular que eu até levei um susto, e

meus netos também. Eu pude glorificá-Lo com todas as minhas

forças. Dei a aliança de presente para a minha querida neta Ma-

ria José, que nessa ocasião tinha somente sete anos. Ela cresceu.

Ficou adulta. Estudou. Formou-se e mandou fazer um lindo anel

de formatura com aquelas alianças que Deus retirara dos meus

dedos. Hoje, ela exerce seu trabalho em Brasília. É solteira, boni-

ta e uma ótima filha para seus queridos pais. A bênção do Senhor

dura de eternidade a eternidade sobre os que o amam. Os olhos do Se-

nhor estão sobre os justos e os seus ouvidos estão abertos ao seu clamor

(Salmo 34:15,16). Mesmo hoje, com noventa anos, ainda vivo ale-

gre e contente e, pela graça de Deus, cumpro os meus votos ao

meu Criador e Salvador Jesus, o Filho de Deus.

CAPÍTULO cinco

Também morei em Sete Lagoas. Meu querido neto

Marquinhos foi morar conosco. Quando chegamos, procuramos

uma igreja e passamos a freqüentá-la. Era uma igreja

Presbiteriana. Entrei para a Sociedade de Senhoras e sentia-me

muito feliz. Moramos em um sítio que pertencia ao meu filho

Paulinho. O pastor da igreja sempre nos visitava e orávamos jun-

tos. Na mesma semana, matriculei o Marquinhos e o Roninho,

meu filho, no grupo Escolar. Todos os dias levavam flores para a

professora a meu pedido, pois tínhamos um lindo jardim de ro-

sas, margaridas e outras flores. Marquinhos, muito esperto, fez

uma grande amizade com a sua professora. Até o prefeito e sua

esposa repararam nele, comentando sua simpatia e beleza. Eu

fazia questão de arrumá-los bem bonitos para irem à escola.

Um dia, o Marquinhos resolveu dar uma de agricultor.

Plantou milho, couve, cebola, alho, abóbora e várias outras plan-

tas. Todas germinaram e cresceram fortes e vigorosas. Além dis-

so, tínhamos também muitas galinhas, patos, marrecos e até uma

cobra que um dia apareceu por lá. Foi o Rony quem livrou o

Marquinhos de ser picado por ela, puxando-o vigorosamente pela

mão.

Mas menino é menino. Apronta de vez em quando as suas

travessuras. Numa delas, Rony resolveu colocar fogo nas bana-

neiras que se alastrou e quase incendiou a casa. Como ele ficou

apertado! Pediu-me insistentemente para chamar o corpo de bom-