da escola pÚblica paranaense 2008 · tradições que levam em consideração elementos saudáveis...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2008
Produção Didático-Pedagógica
Versão Online ISBN 978-85-8015-040-7Cadernos PDE
VOLU
ME I
I
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
Superintendência da Educação Diretoria de Políticas e Programas Educacionais
Programa de Desenvolvimento Educacional
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA
UNIDADE TEMÁTICA
DIETA ALIMENTAR E CÂNCER
Rozane Secchi
CASCAVEL
DEZEMBRO/2008
2
Professora PDE: ROZANE SECCHI
Área PDE: CIÊNCIAS
NRE: CASCAVEL
Professor Orientador IES: PROFª. DRA. LUCIANA PAULA GRÉGIO D’ARCE
RODRIGUES
IES vinculada: UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Escola de Implementação: COLÉGIO ESTADUAL DESEMBARGADOR
ANTONIO FRANCO FERREIRA DA COSTA
Público Objeto de Intervenção: 7ª série do Ensino Fundamental
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA: Dieta alimentar e Câncer 1 Introdução
Dentre todos os seres vivos presentes no meio ambiente, o ser humano
é o único que tem o privilégio de selecionar, combinar e transformar sua
alimentação, fator indispensável à sua existência. As culturas antigas têm
tradições que levam em consideração elementos saudáveis presentes na
composição dos alimentos. Assim, foram introduzidas na alimentação diária,
vegetais como frutas, legumes, verduras e alguns condimentos para propiciar o
bem-estar do homem.
Na atualidade, na maioria dos países industrializados, a vida moderna
levou o ser humano a mudar os hábitos alimentares ingerindo uma quantidade
maior de alimentos industrializados em detrimento de alimentos naturais. Mas
esta mudança não trouxe benefícios, pois os alimentos industrializados contêm
altos índices de aditivos químicos, como conservantes, corantes e
espessantes. Em conseqüência, estão crescendo os índices de doenças
provocadas por ingestão de alimentos industrializados como alguns tipos de
cânceres. Diante disso faz-se importante conhecer também as propriedades
fitoquímicas de alguns alimentos, para depois propor mudanças nos hábitos
alimentares como medida de prevenção ao desenvolvimento de diversos tipos
de doenças.
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Abordaremos especificamente alimentos que contém nutrientes com
propriedades funcionais anticarcinogênicas. Isto é relevante, pois se estima
que provavelmente 30 a 35% dos casos de morte por câncer estão associados
a dietas alimentares inadequadas.
2 O que é o câncer
Segundo Garófolo et al. (2004), o câncer é uma doença milenar, que
pode ser definida como uma doença multicausal crônica, caracterizada pelo
crescimento descontrolado das células, ou seja, ocorre desregramento das
funções da célula, que adquire progressivamente características que lhe
permitem multiplicar-se e invadir os tecidos do organismo.
2.1 A célula
A célula é a unidade básica de todos os seres vivos, desde uma bactéria
que contém uma única célula, até os seres mais complexos como o ser
humano, com aproximadamente 65 trilhões de células. Esta estrutura, de
apenas 5 a 100 µm (o micrômetro é um milésimo do milímetro) é muito
complexa. Já se conhece muito sobre a célula, mas ainda tem muito a ser
descoberto e entendido sobre o seu funcionamento. Sabe-se, porém, que é o
desregramento de algumas de suas funções que tem um papel essencial no
desenvolvimento do câncer.
Para compreender melhor o desenvolvimento do câncer, é necessário
estudar e conhecer mais sobre: o núcleo celular, proteínas, mitocôndria,
membrana plasmática e retículo endoplasmático.
a) Núcleo Celular
Os núcleos de todas as células eucarióticas possuem estruturas
semelhantes. O núcleo atua como central de comando para o funcionamento
de praticamente todas as atividades celulares. As instruções para este
funcionamento, estão inscritas, em código (genes) nas moléculas de Ácido
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Desoxirribonucléico (DNA). Quando a célula se reproduz, estas instruções são
duplicadas e herdadas pelas células-filhas. As células humanas apresentam
cerca de 32000 genes que formam o DNA, que é “regido” por um alfabeto
especial formado por quatro letras: A – adenina; T – timina; C – citosina; G –
guanina. A leitura destes códigos é de suma importância, pois determinam o
comportamento da célula, levando-a a produzir proteínas essenciais para o
funcionamento e para responder a quaisquer mudanças no ambiente,
garantindo assim a sobrevivência. Quando a leitura desses códigos ocorre de
forma incorreta, as proteínas formadas são incapazes de cumprir
rigorosamente sua função, podendo contribuir para o desenvolvimento do
câncer.
b) Mitocôndria
É a usina energética da célula. É na mitocôndria que ocorre a conversão
da energia presente nos nutrientes dos alimentos (glicídios, lipídios) em energia
celular (adenosina trifosfato - ATP). O oxigênio é o principal combustível para
esta conversão, mas como subproduto, ocorre a formação de substâncias
tóxicas chamados radicais livres (H2O2, O2, OH). Estas substâncias são
capazes de introduzir modificações nos genes, e em conseqüência disto,
provocar erros na fabricação das proteínas. Assim, o excesso de radicais livres,
dentre outras ações, pode desencadear o desenvolvimento do câncer.
c) Membrana plasmática
É uma fina película que envolve e protege a célula. Estrutura lipoprotéica
que age como um muro, uma barreira, destinada a manter o meio celular
equilibrado às necessidades da célula. A membrana plasmática tem função
seletiva, ou seja, ela controla a entrada e saída de substâncias na célula.
Formada por várias proteínas onde estão aderidos os receptores de membrana
que detectam sinais químicos presentes na circulação sangüínea, e transmitem
à célula, mensagens codificadas por esses sinais, possibilitando que a célula
reaja às variações do meio externo. Essa função é muito importante para célula
e um erro na leitura dos genes que controlam a produção dessas proteínas
pode ter conseqüências drásticas. Quando uma célula não consegue saber o
que está acontecendo ao seu redor, passa a ter um comportamento autônomo
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e é capaz de reproduzir-se mesmo na ausência de sinais químicos o que pode
se tornar perigoso e levar ao desenvolvimento do câncer.
d) Retículo Endoplasmático (RE)
É uma rede de bolsas e tubos membranosos presente no citoplasma da
célula. Devido ao seu aspecto, é classificado em granular (rugoso) e agranular
(liso). O retículo endoplasmático granular (REG) é formado por bolsas
membranosas achatas com grânulos, os ribossomos. Já o retículo
endoplasmático agranular (REA) é formado por tubos membranosos lisos, sem
ribossomos aderidos. Os tubos REA e as bolsas REG são interligados e ocorre
a circulação de substância entre eles, ou seja, uma de suas função do RE é
conduzir substância na célula. Outra função do REG, devido à presença de
ribossomos, é produzir diversos tipos de proteínas. E do REA é sintetizar
substâncias como lipídios (hormônios esteróides, fosfolipídios, colesterol) e
participar de processos de desintoxicação das células. Por exemplo, o REA das
células hepáticas modifica ou destrói diferentes substâncias tóxicas, entre elas
o álcool. O acúmulo de substâncias tóxicas no organismo pode levar ao
desenvolvimento do câncer.
e) Complexo de Golgi
Organela citoplasmática descoberta pelo cientista italiano Camilo Golgi
(1844-1926). O Complexo de Golgi é formado por bolsas membranosas
achatadas, empilhadas umas sobre as outras, encontradas no citoplasma
celular. Esta organela é o local onde substâncias são modificadas,
empacotadas e posteriormente enviadas para outros locais da célula ou de
meio extracelular onde desempenham funções específicas como, por exemplo,
a secreção de enzimas digestiva no canal do pâncreas. Através deste, as
enzimas chegam até o intestino delgado, onde participam do processo de
digestão dos alimentos.
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2.2 O que pode levar uma célula a tornar-se cancerosa?
Grande parte da população humana sabe que o câncer ocorre devido ao
crescimento excessivo das células, mas as razões que levam a tal
comportamento ainda são pouco explicadas.
A célula, como se apresenta atualmente, é resultado de um processo
evolutivo de 3,5 bilhões de anos. Durante este longo período, a célula ancestral
sofreu muitas interferências provocadas pelo meio ambiente e criou formas de
adaptação para sua sobrevivência. Essas adaptações ocorreram devido ao fato
do DNA ser suscetível a mutações. Os genes podem ter seu código modificado
e assim, produzir novas proteínas e essas modificações, que ocorrem ao
acaso, aleatoriamente, podem ser induzidas se houver um estímulo externo,
como o de agentes químicos, físicos ou biológicos. Havendo este estímulo, a
célula, agora com genes modificados, pode reproduzir-se de forma
desordenada e diferente das demais de seu grupo, realizando função diversa
do que normalmente realizava.
Aproximadamente há 600 bilhões de anos, surgiram os primeiros
organismos pluricelulares. A célula tem uma mudança radical em sua própria
“memória” para deixar de viver como um ser unicelular autônomo e
independente, para se tornar célula de um organismo pluricelular, passando a
terem função em grupos e a serem dependentes umas das outras, na busca de
melhor adaptação ao ambiente. Formando organismos pluricelulares, as
células tiveram maiores chances de sobrevivência, porém, perderam a
autonomia de ação e automaticamente especializaram-se para realizar
diversas funções, produzindo novas proteínas. Para ser saudável, esta
adaptação evolutiva aconteceu de maneira proveitosa para todas as células do
organismo pluricelular.
A especialização das células no organismo alcançou altos índices de
complexidade. Temos diferentes grupos de células, cada qual com uma função
específica. É difícil pensar que um neurônio possa ter o comportamento de
uma célula da pele e vice-versa. Porém, todas as células do organismo têm a
mesma bagagem genética, os mesmos genes no núcleo. Se os neurônios são
diferentes das células da pele é porque eles não usam os mesmos genes para
cumprir suas funções, porém esses dois tipos de células têm os mesmos genes
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no interior do núcleo. Toda célula do organismo usa os genes específicos para
desempenhar a função para a qual foi destinada e, em conjunto funcionam em
harmonia.
2.3 A insubordinação celular
Se o organismo humano para funcionar adequadamente necessita
anular completamente os instintos de sobrevivência ancestrais dos seres
unicelulares, a manutenção deste equilíbrio é bastante frágil e está sempre
sujeito a tentativa de “rebelião” por parte das células que tem em sua
“memória” o desejo de recuperar a liberdade de ação. Isso ocorre ao longo de
nossa existência. Assim que uma célula sofre uma agressão exterior, seja
causada por excesso de radicais livres, vírus, fumaça de cigarro, agentes
químicos, radiação solar, poluentes do ar, subprodutos do metabolismo ou
outras substâncias cancerígenas, os genes são agredidos, sofrendo mutação.
Essas agressões são comuns no cotidiano, fazendo com que as células
danificadas deixem de desempenhar com eficiência a sua função específica.
Entretanto, existem regras que garantem o comportamento social das células.
Normalmente, antes que uma célula danificada adquira autonomia excessiva,
ela é eliminada pelo próprio organismo a fim de garantir o equilíbrio das
funções vitais.
Como nem tudo é perfeito, algumas células com o DNA danificado
podem desobedecer as regras adquirindo autonomia para uma reprodução
descontrolada, levando ao desenvolvimento de um câncer. Em suma, a regra
que a célula deveria obedecer é a de não se reproduzir, exceto para substituir
uma célula morta ou danificada. Se houver danos na estrutura celular ou em
nível de DNA, o suicídio celular é obrigatório (apoptose celular).
Resumidamente, o câncer surge quando a célula pára de desenvolver
suas funções específicas e não aceita cooperar com as demais. Essa célula se
torna autônoma, se isola, não obedece a normas do sistema e só “pensa” em
assegurar sua própria sobrevivência e a de seus descendentes. É nesse
momento que volta aos instintos ancestrais.
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2.4 Desenvolvimento do câncer
É importante salientar, que a alteração de uma célula é um fenômeno
que ocorre com freqüência em nosso organismo, mas isto não determina que
imediatamente vá se desenvolver um câncer. Porém, quando se desenvolve,
isto ocorre de forma gradual podendo evoluir discretamente durante vários
anos antes de aparecer sintomas. Esta demora no desenvolvimento é de suma
importância porque nos dá a oportunidade para intervir e bloquear a evolução
da célula alterada para uma célula cancerosa.
Mesmo cada tipo de câncer apresentando especificidade própria, de um
modo geral, a maioria ou todos seguem o mesmo padrão de desenvolvimento.
O início de um processo canceroso pode ser quando ocorre a exposição das
células a agentes cancerígenos, tais como os aditivos químicos presentes nos
alimentos industrializados. Estes podem causar danos irreversíveis na
molécula de DNA e dar início ao desenvolvimento da doença.
Normalmente, no estágio inicial, as células danificadas ainda não estão
em um processo ativo para serem consideradas cancerosas. Elas têm o
potencial para formar tumores, os quais serão formados se as células
encontrarem condições para se desenvolverem e se multiplicarem.
2.5 Sugestões de atividades para os alunos
1. Desenhar no caderno uma célula animal e outra célula vegetal, com as
respectivas organelas. Pinte as estruturas de cores diferentes. Identifique cada
organela e descreva as funções que cada uma desempenha.
2. Atividade em Grupo: Utilizando massa de modelar, elabore um modelo de
célula animal representando as organelas citoplasmática em diversas cores.
Apresente o modelo aos seus colegas explicando a célula e a função de cada
organela. A massa de modelar pode ser encontrada em livrarias, bem como se
pode fazer seguindo a receita.
Massa de modelar
Ingredientes:
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2 xícaras de farinha de trigo (250 ml)
Meia xícara de sal (125 ml)
2 colheres de sopa de óleo
Água o suficiente para dar consistência de massa de pão (um pouco mais de
uma xícara).
Vários tipos de corantes, como anilina, anil e tinta guache.
Modo de preparo:
1 – Junte a farinha e o sal, obtendo uma mistura homogenia;
2 – Adicione corante à água que será usada para dar consistência á massa;
3 – Aos poucos, misture a água corada na mistura de farinha e sal, e vá
mexendo até obter um ponto de massa de pão;
4 – Se você quiser obter uma cor mais forte, adicione mais corante à massa.
5 – Por fim, adicione o óleo e misture bem a massa.
3. Atividade em grupo: monte uma célula animal em cartolina, fazendo as
membranas (plasmática, carioteca, REG, REA, CG) com tiras de cartolina de
0,5 cm, coladas na vertical; fazer as mitocôndrias com casquinha de
amendoim; representar a cromatina com lã de duas cores; os lisossomos e
ribossomos representar por bolinhas de isopor de tamanhos e cores diferentes.
4. Leia o texto e encontre as palavras em negrito no emaranhado de letras
abaixo. E após, dê o significado das palavras em seu caderno.
O câncer
O câncer é resultado de um erro genético, que transforma uma célula
normal em maligna, ou seja, é uma doença no gene responsável pela
reprodução das células, o oncogene. Os genes podem se alterar por fatores
hereditários, por mutações na divisão celular ligadas ao processo de
envelhecimento ou por fatores químicos, físicos e biológicos. Todos os dias, o
corpo humano produz células defeituosas; porém, ele possui um sistema de
controle de qualidade próprio. Quando ocorre um erro genético, durante a
multiplicação celular, esse sistema trata de reparar o lapso. Se a mutação é
grave, um mecanismo de autodestruição celular, denominado apoptose,
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entra em ação. O câncer surge quando a célula defeituosa escapa a esse
controle e começa a se reproduzir descontroladamente formando os tumores.
Se a doença progredir, as células malignas distribuem-se para outros pontos
do organismo. A isso se dá o nome de metástase.
3 Pirâmide Alimentar
A célula, unidade básica dos seres vivos é constituída por compostos
orgânicos e inorgânicos, sendo de 75-85% de água, 10-15% de proteínas, 2-
3% de lipídios, 1% de glicídios, 1% de ácidos nucléicos e 1% de outras
substâncias. Para manter o organismo em equilíbrio, a célula necessita
funcionar adequadamente. Para tanto, precisa destes compostos, dos quais a
grande maioria é ingerida na alimentação. Os nutrientes: glicídios, proteínas,
lipídios, água e sais minerais provêm da degradação dos alimentos que ocorre
no trato digestório e após são distribuídos para todas as células do organismo
através da circulação sangüínea. A célula precisa desta energia presente nos
nutrientes para repor perdas e produzir mais matéria orgânica, garantindo sua
sobrevivência. Essa energia presente nos nutrientes dos alimentos é
geralmente medida em quilocalorias (Kcal), embora normalmente se use o
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termo calorias. Cada pessoa precisa de um mínimo de energia (calorias) para
seu organismo manter-se em equilíbrio. Esta quantidade de energia vai
depender de alguns fatores, como a idade, a estatura, a estrutura óssea, a
atividade que desempenha, dentre outros fatores. Quando se ingere alimentos
acima das necessidades diárias, ou quantidade excessiva de alguns nutrientes,
o excesso, em grande parte, é transformada em gordura e acumulado nas
células adiposas, aumentando a massa corpórea e muitas vezes provocando
malefícios ao organismo.
Nas Diretrizes Alimentares para a População Brasileira definidas pelo
Ministério da Saúde, através da Resolução RDC nº 39, de 21 de março de
2001, a dieta ideal, saudável e equilibrada, para um adulto, foi fixada em 2500
calorias diárias.
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)1, a
pirâmide alimentar é um instrumento, sob forma gráfica, de orientação da
população para uma alimentação mais saudável. A pirâmide alimentar é
composta de quatro níveis com oito grandes grupos de produtos, de acordo
com a sua participação relativa no total de calorias de uma dieta saudável,
como a seguir:
Grupo 1 – caracterizado por conter alto teor de carboidratos complexos,
contribui 55% das colorias de uma dieta saudável.
Grupo 2 e 3 – são as verduras e frutas, caracterizam-se por seu maior aporte
de micronutrientes (vitaminas, minerais e fitoquímicos), devem contribuir para
uma dieta saudável, em média com 10% das calorias totais.
Grupo 4, 5 e 6 – caracterizam-se pelo seu aporte protéico. As proteínas devem
contribuir com 15% das calorias totais da dieta.
Grupo 7 e 8 – caracterizam-se pelo alto teor energético. Estes alimentos devem
ser consumidos com moderação. Em uma dieta saudável as gorduras devem
contribuir cerca de 20 a 25% do aporte calórico total, não excedendo 30%. Os
grupos de óleo e gordura contribuem aproximadamente com 10% deste aporte
diário total, tendo em vista que em outros grupos de alimentos como de carne,
ovos e leite, existe uma contribuição expressiva de gorduras.
1 http://www.anvisa.gov.br/legis/resol/39_01rdc.htm
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Figura 1 – Pirâmide Alimentar
Deve-se ficar atento aos Grupos 2 e 3 das frutas e verduras, e incluir no
cardápio diário uma grande diversidade delas, pois pesquisas realizadas
indicam a presença de substâncias importantes, com valor fitoterapêutico,
chamadas fitoquímicos. Estes protegem o organismo humano de algumas
doenças, dentre elas, o câncer.
4 Propriedades fitoquímicas dos alimentos
Estudos realizados nos últimos anos evidenciaram que um grande
número de alimentos vegetais, que fazem parte do cotidiano alimentar,
apresenta substâncias que tem capacidade de interferir nos processos de
desenvolvimento de várias doenças, inclusive o câncer. Dentre estas
substâncias, além daquelas que já conhecemos como os minerais, as
vitaminas e as fibras, existe outra classe importante que está sendo estudada
na atualidade, que são os fitoquímicos. Os fitoquímicos são substâncias
biologicamente ativas presentes em vegetais, que lhes proporcionam cor,
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sabor, odor e tem a função de protegê-los contra doenças causadas por
bactérias, fungos e vírus e tem função antioxidante nas plantas. Pesquisas
recentes descobriram que estas substâncias químicas também protegem o
organismo humano contra doenças.
Os vegetais contêm diferentes tipos de fitoquímicos como, por exemplo:
a maçã contém flavonóides; as frutas vermelhas tem ácido elágico; o brócolis
contém indóis e isotiocianatos; a cenoura e a batata doce tem carotenóides; o
soja contém isoflavonas; o alho tem alicina; o chá verde contém catequina; e, o
tomate tem licopeno.
As principais classes de fitoquímicos (pigmentos) presentes nos vegetais
são os carotenóides e os flavonóides.
Os flavonóides são pigmentos responsáveis pela coloração das flores,
mas também estão presentes nas folhas. Nas folhas, uma de suas funções é
bloquear a radiação ultravioleta extrema, que danifica proteínas e ácidos
nucléicos. As antocianinas pertencem a esta classe e são as principais
responsáveis pela coloração das flores. São solúveis em água e se encontram
nos vacúolos. A cor das antocianinas varia de acordo com a acidez da solução
encontrada nos vacúolos, podendo ser vermelha (solução ácida), azul (solução
básica) ou violeta (solução neutra). Outro grupo de flavonóides são os
flavonóis, encontrados em folhas e flores, normalmente quase não tem
coloração, mas podem participar dos tons de marfim e branco encontrado em
algumas flores.
Os carotenóides são solúveis em lipídios e encontrados nos plastos das
células vegetais. São pigmentos responsáveis pelas cores amarela, vermelha e
alaranjada de flores, folhas velhas, frutas e algumas raízes como a cenoura. Há
dois grupos de carotenóides, os carotenos e as xantofilas.
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4.1 Alimentos que contém fitoquímicos e suas propriedades anticancerí-
genas
Em pesquisas recentes para investigação de substâncias químicas
encontradas em alimentos vegetais e animais, contatou-se que muitas delas
têm efeito controlador e preventivo sobre as células cancerígenas.
A seguir, apresentamos alguns alimentos fazendo uma explanação do
tipo de fitoquímico encontrado bem como a ação deste no organismo.
a) Brassicáceas
A família das Brassicáceas, antes conhecida por crucíferas, compreende
muitos vegetais, dentre eles, a couve e o brócolis. A couve selvagem (Brassica
oleracea) é um dos legumes mais antigos cultivados pelo homem. Cresce em
estado selvagem na costa atlântica da Europa e do Mediterrâneo.
Aproximadamente há 4000 anos foi domesticada e selecionada, originando
outras variedades que tinham características bem definidas de acordo com o
gosto culinário daqueles povos. Por exemplo, os romanos desenvolveram o
brócolis e depois a couve-flor. A diversificação da espécie Brassica foi uma
atividade importante na Antiguidade, pois a maioria das variedades de couve
hoje conhecidas, já existiam três séculos antes de Cristo.
As principais couves consumidas são descendentes da espécie Brassica
oleracea que são: repolho de cabeça (Brassica oleracea capitata), brócolis
(Brassica oleracea itálica), couve-flor (Brassica oleracea botrytis), couve-de-
bruxelas (Brassica oleracea gemmifera) e as couves sem cabeça e folha
(Brassica oleracea acephala). Em outras épocas existiam muito mais
variedades de couve que hoje, provavelmente isso se deve aos interesses
comerciais da atualidade. Outros vegetais também fazem parte das
brassicáceas como a mostarda, agrião, rabanete e algumas espécies
oleaginosas como a canola.
a1) Propriedades anticarcinogênicas das brassicáceas
Elogiada por Pitágoras e batizada de “legume de mil virtudes” por
Hipócrates (460-377 a.C.), a couve e outras brassicáceas já eram utilizadas
para fins medicinais desde a antiguidade, porém sem ter o conhecimento de
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quais eram esses princípios ativos. Hoje sabemos que esses vegetais estão
entre os principais responsáveis por conter propriedades anticancerígenas.
Pesquisas realizadas mostraram que mulheres chinesas que ingeriram mais
brassicáceas têm metade do risco de desenvolver câncer de mama. Outros
estudos sugerem que o consumo de brassicáceas esta associado a diminuição
de outros tipos de cânceres como de bexiga, pulmão, útero, laringe, próstata e
do sistema digestório. Portanto recomenda-se a inclusão das brassicáceas na
alimentação como um meio de prevenção ao câncer.
Os legumes brassicáceos apresentam um grande número de moléculas
fitoquímicas com propriedades anticâncer em estado latente. Quando ingeridas
e digeridas liberam compostos ativos com funções anticancerígenas como os
glicosinolatos, que no processo de digestão, sobre a atuação de enzimas,
quebram e se transformam em compostos como os indóis, os sulforafanos e os
isotiocianatos, todos com potenciais anticancerígenos. Alguns deles bloqueiam
a ação dos hormônios que estimulam os tumores; outros inibem o crescimento
dos tumores ou estimulam a ação de enzimas protetoras.
Deve-se estar atento ao processo de preparo das brassicáceas, pois um
cozimento de 10 minutos em água abundante reduz em à metade a quantidade
de glicosinolatos presentes nesses legumes. Sugere-se técnicas de cozimento
a vapor ou refogado com pouquíssima água. Isso maximiza a quantidade de
moléculas anticâncer oferecida pelo legume e melhora seu sabor. O
congelamento desses vegetais também reduz a quantidade de glicosinolatos,
devido ao processo de “branqueamento” em temperatura elevada que são
submetidos antes do congelamento. Enfim, para aproveitar melhor os
Couve Flor Couve Manteiga
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fitoquímicos das brassicáceas é ideal ingerir legumes frescos e mastigá-los
bem para facilitar a atuação das enzimas no processo de transformação dos
glicosinolatos em substâncias derivadas.
O brócolis, que parece conter mais compostos anticancerígenos que as
demais brassicáceas, contém grandes quantidades de sulforafano (dentre os
compostos derivados do glicosinolatos é o que demonstra maior atividade
anticancerígena). Estudos realizados nos últimos anos indicam que o
sulforafano acelera consideravelmente a eliminação pelo organismo de
substâncias tóxicas que tem capacidade de induzir ao câncer. Acredita-se
também que o sulforafano é capaz de agir ao nível de células cancerosas e
induzir a apoptose celular. Este fitoquímico mostrou bons resultados em
estudos feitos para células cancerosas da próstata, cólon e leucemia
linfoblástica aguda.
Brócolis
O sulforafano também apresenta propriedades antibióticas bactericidas,
que atuam contra a bactéria Helicobacter pylori, causadora de úlceras
gástricas. Atualmente estima-se que as úlceras gástricas causadas por esta
bactéria aumentam consideravelmente o risco de desenvolver câncer de
estômago. A ingestão de brócolis pode prevenir o desenvolvimento da doença,
pois o sulforafano em contato direto com a H. pylori no estômago impede o
desenvolvimento da doença. Conforme a Revista Saúde (2008), estudos
mostram que o efeito do sulforafano pode ser potencializado à medida que
acrescentamos fibras no cardápio como rúcula ou espinafre, ou também
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quando ingerimos uma laranja como sobremesa. Os brotos de brócolis têm
aproximadamente 50 vezes mais sulforafano do que o brócolis maduro. O
brócolis apresenta grandes quantidades de bioflavonóides, incluindo a
quercetina e outras substâncias fitoquímicas que protegem as células contra
mutações e lesões causadas por moléculas instáveis. Apresenta ainda, uma
grande quantidade de vitaminas e minerais essenciais como cálcio, ferro, ácido
fólico, vitamina C, betacaroteno e proteínas.
Além do grande potencial do sulforafano na prevenção do câncer, não
podemos esquecer dos outros compostos derivados dos glicosinolatos como os
indóis e os isotiocianatos. Alguns isotiocianatos estão presentes em grande
quantidade no agrião-d´-água e na couve chinesa. O isotiocianato se
apresentou como substância tóxica para as células cancerosas derivadas de
leucemia, do cólon e da próstata, cultivadas em laboratório. Isto sugere que
esta substância pode prevenir o desenvolvimento de tumores e atuar em
tumores já existentes.
Em experimentos realizados com fumantes, aumentando a ingestão de
agrião na dieta alimentar, percebeu-se uma queda das formas tóxicas de
nitrosamina, substância altamente cancerígena do tabaco, o que mostra a
importância dos isotiocianatos na prevenção do desenvolvimento de cânceres
induzidos por estas substâncias cancerígenas.
Os indóis são substâncias encontradas em maior quantidade no brócolis
e na couve-de-bruxelas. Diferente dos outros glicosinolatos na sua estrutura
química e no modo de atuação na prevenção do câncer, os indóis parecem ter
a capacidade de induzir modificações na estrutura da molécula do estradiol
(hormônio), reduzindo assim o crescimento celular de tecidos presentes nas
mamas, cólo do útero e endométrio. Portanto, os indóis são ativos contra o
estrogênio, o hormônio que estimula o desenvolvimento de certos tipos de
cânceres de mama. A couve-de-bruxelas também apresenta alto teor de
bioflavonóides, que tem efeito antioxidante o que ajuda a prevenir os danos e
mutações celulares provocadas pelos radicais livres. Algumas pesquisas
mostram que os bioflavonóides e os indóis podem proteger contra os cânceres
de próstata e útero. Mesmo que o câncer se desenvolva estes fitoquímicos têm
a capacidade de retardar seu desenvolvimento e diminuir o processo de
disseminação.
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b) Tomate – fonte de licopeno O tomate2, assim como a berinjela, a batata doce e o pimentão fazem
parte da família das solanáceas. Mas algumas solanáceas contêm alcalóides
tóxicos, como o tabaco, beladona, mandrágora e a datura. As plantas jovens de
tomate contêm uma dessas substâncias, a tomatina, que está presente nas
folhas e nas raízes da planta, cuja quantidade diminui no fruto e desaparece
quando ocorre o amadurecimento. O mesmo ocorre com a batata doce, a
berinjela e pimentão.
A maioria dos botânicos atribui a origem e cultivo do tomate
(Lycopersicon esculentum) aos Incas, no antigo Peru, por ainda existir naquela
região, uma grande variedade de tomates no estado selvagem e algumas
espécies domesticadas, conhecidas apenas ali. Acredita-se que o tomate da
variedade Lycopersicum cerasiforme, que parece ser o ancestral da maioria
das espécies comerciais atuais, tenha sido levado do Peru e introduzido pelos
povos antigos na América Central, pois é encontrado amplamente cultivado no
México.
O tomate foi levado para a Europa pelos espanhóis que retornavam da
América, no século XVI. Era tido como venenoso pelos europeus e era
cultivado apenas como planta ornamental, supostamente por causa de sua
semelhança com a mandrágora e a beladona, variedades de solanáceas que,
quando ingeridas, tem efeito psicotrópico no organismo. A época em os
europeus passaram a consumir o tomate na alimentação não é clara, mas já
aparecia em livros de receitas italianas ainda no século XVII. A partir dai,
somente no século XIX é que o tomate passa a ser consumido e cultivado em
escala maior, principalmente na Itália, França e Espanha, sendo um dos
principais ingredientes da culinária mediterrânea.
b1) Propriedades anticancerígenas do tomate
A partir de 1995 surgiram as primeiras evidências científicas de que o
consumo de alimentos a base de tomate podiam prevenir o desenvolvimento
de câncer de próstata. Diversas pesquisas apontaram que homens que
ingeriam alimentos a base de tomate tinham menos chance de desenvolver
2 http://pt.wikipedia.org/wiki/Tomate
19
câncer de próstata, principalmente as formas mais agressivas da doença. Para
os pesquisadores, isso se deve a um fitoquímico chamado licopeno presente
em quantidade acentuada no tomate. O licopeno faz parte do grupo dos
carotenóides, uma classe variada de moléculas fitoquímicas responsáveis pela
cor amarela, laranja e vermelha de vários frutos e legumes. Como os seres
humanos são incapazes de fabricar carotenóides, devem ingeri-lo na
alimentação diária. Alguns carotenóides são precursores da vitamina A, como o
betacaroteno e a beta-criptoxantina, que mantém os tecidos epiteliais
saudáveis e agem sobre a visão. Outros carotenóides como a luteína,
zeaxantina e o licopeno têm outras funções para nosso organismo. A luteína e
a zeaxantina absorvem o comprimento de onda azul da luz e protegem os
olhos, reduzindo o risco de degenerescência macular relacionado com a idade,
como a formação da catarata. Estudos realizados com o licopeno sugerem que
dentre os carotenóides, ele contém mais propriedades na prevenção do câncer.
O licopeno é o pigmento vermelho que dá a coloração ao tomate. A quantidade
de licopeno presente nos tomates cultivados atualmente é muito menor que o
da espécie selvagem original, e essa diferença se deve ao processo de
hibridação que estas plantas sofreram para melhorar de tamanho, sabor e
textura. Sabendo da importância do licopeno na prevenção do câncer, é
interessante obter tomates com maior quantidade deste composto. Para tanto é
necessário re-introduzir bagagem genética de plantas selvagens às atuais.
Tomate
20
Observou-se também um efeito mais satisfatório do licopeno em
pessoas com 65 anos ou mais, quando o câncer de próstata esta associado ao
envelhecimento do que em pessoas por volta dos 50 anos, quando o câncer
parecer ter origem hereditário.
Pouco se conhece sobre o mecanismo do licopeno na prevenção do
câncer de próstata, mas se sabe que quando absorvido pelo organismo, se
acumula principalmente nos tecidos da glândula prostática, onde atua sobre
enzimas especificas responsáveis pelo crescimento deste tecido, interferindo
nos sinais do hormônio andrógeno, muitas vezes responsável pelo excesso do
crescimento prostático, o que pode originar células cancerosas.
O tomate e seus derivados, sem dúvida, são a melhor fonte de licopeno.
O processo de fabricação dos produtos industrializados a partir de tomates
cozidos, como molho e massa de tomate, aumenta a concentração do licopeno,
pois a alta temperatura e a adição de gorduras como o óleo de oliva, permitem
melhor extração da molécula e alteram sua estrutura, tornando-a mais
assimilável pelo organismo.
Em suma, pesquisas mostram que consumo de produtos derivados do
tomate é uma alternativa para prevenir e reduzir os riscos de desenvolver
câncer de próstata, porém é pertinente considerar que este fruto pode
contribuir também na prevenção de outros tipos de cânceres, tendo em vista a
semelhança do desenvolvimento entre eles.
c) Outras fontes de carotenos
A cenoura, a abóbora e a batata doce são vegetais ricos em
betacaroteno. Este fitoquímico é um poderoso antioxidante e atua na
restauração do DNA de células danificadas por agentes químicos, físicos ou
biológicos. Estudos evidenciaram que o betacaroteno age sobre vários tipos de
tumor, mas especificamente tem melhores resultados sobre o câncer de
próstata.
21
O caroteno está presente em frutas e legumes de cores laranja,
vermelha, amarela e verde. Outras fontes de caroteno: caqui, manga,
pêssegos, melão, mamão e maçã.
Os alimentos da Tabela 1, ricos em licopeno, no entanto, devem ser
consumidos com moderação, principalmente o ketchup, que apesar de rico em
licopeno, contém grande quantidade de açúcares e conservantes, que em
excesso são prejudiciais a saúde.
Tabela 1: Principais fontes alimentares de licopeno
Alimentos Conteúdo de licopeno (MG/100g) Massa de tomates 29,3 Molho para macarrão 17,5 Ketchup 17 Molho de tomate 15,9 Sopa de tomates condensada 10,9 Tomates em conserva 9,7 Suco de tomate 9,3 Melão d’ água 4,8 Goiaba 5,4 Tomate cru 3,0 Mamão Papaia 2,0 Grapefruit rosa 1,5 Fonte: USDA database for the carotenoid content of selected foods, 1998. (BÉLIVEAU; GINGRAS, 2007, p. 155)
d) O poder do Alho (Allium sativum)
O cultivo do alho teve sua origem, provavelmente, na Ásia Central e no
Oriente Médio depois, difundiu-se pelo Mediterrâneo, principalmente no Egito.
22
Na China era usado na culinária há mais de 2000 a.C. Há milhares de anos, os
adeptos da medicina caseira vêm utilizando o alho para tratar de inúmeras
doenças. Os antigos egípcios prescreviam o alho para aumentar a resistência
física. Já os gregos usavam-no como laxante e os chineses para controlar a
pressão arterial. Introduzido na Europa pelos romanos, seu uso se intensificou
na Idade Média porque se acreditava que ingerir grandes quantidades de alho
ajudaria na proteção contra a peste e outras doenças contagiosas, e mais
tarde, contra o escorbuto e a asma. Em 1858, Louis Pasteur confirmou as
propriedades anti-sépticas do alho. Durante a Primeira e a Segunda Guerra
Mundial, era amplamente usado em curativos de feridas e na prevenção de
infecções. Desde então, vários estudos confirmaram o poder medicinal do alho.
O alho pertence à família das liliáceas, a mesma da cebola, cebolinha e
alho poró. Nem todas as pessoas têm afinidade com o sabor e aroma do alho.
Porque o alho, um alimento aparentemente inodoro, quando amassado,
triturado ou mastigado, libera aquele aroma? O aroma e o gosto tão
característicos do alho se devem ao teor elevado de compostos fitoquímicos
sulfurados, isto é, a estrutura química das moléculas contém um átomo de
enxofre. Resumidamente, o alho acumula uma substância chamada aliína.
Quando amassamos um dente de alho, as células liberam uma enzima
chamada aliinase, que entra em contato com a aliína e a transforma em alicina,
uma molécula abundante, instável e muito odorífera, responsável pelo cheiro
do alho.
Alho Cebola
23
d1) Propriedades terapêuticas do alho contra o câncer
Pesquisas realizadas em vários países sobre o potencial
anticancerígeno do alho sugerem função importante na prevenção do câncer
do sistema digestório, especialmente de esôfago, estômago e cólon e até
mesmo da próstata, mama e pulmão. Nestas pesquisas foram analisadas as
quantidades de alho que a população ingeria e os resultados obtidos foram
significativos.
O potencial anticâncer do alho está nos compostos sulfurados formados
pela alicina. São pelo menos 20 compostos estudados, porém os mais
importantes são: ajoeno, dialil sulfido e dialil dissulfido. Vários estudos foram
realizados com estes fitoquímicos e observou-se que atuam contra o
aparecimento e a progressão de certos tipos de cânceres, principalmente
aqueles provocados por nitrosaminas, substâncias cancerígenas, que podem
provocar mutações no DNA das células e são formadas a partir da ação da
flora intestinal sobre os nitritos. Nitritos são conservantes usados em produtos
à base de carne, salsicha, bacon presuntos e outros embutidos.
Outra maneira do dialil sulfido e dialil dissulfido interferir no
desenvolvimento do câncer é inibindo as enzimas responsáveis pela ativação
de substâncias cancerígenas provenientes do meio externo e acelerando a sua
eliminação. A ação dos fitoquímicos do alho permite que a célula fique menos
tempo exposta a compostos cancerígenos, e consequentemente, diminua a
possibilidade de ter seu DNA danificado, bem como também podem induzir a
apoptose das células de alguns tipos de cânceres.
Não se pode esquecer que a cebola também faz parte da mesma família
do alho. Ela contém substâncias importantes na prevenção do câncer, como
certos polifenóis, por exemplo a quercetina. Alguns estudos mostraram que ela
pode impedir o crescimento de células cancerosas.
e) Frutas vermelhas na prevenção do câncer
As frutas vermelhas são, historicamente, símbolos de sensualidade e
beleza. Mas, além disto, frutas vermelhas são benéficas a nossa saúde porque
apresentam vários polifenóis com propriedades anticancerígenas. Os principais
polifenóis são: ácido elágico, antocianinas e proantocianinas.
24
Ameixa
e1) Framboesa (Rubus idaeus) e morango (Fragaria ananassa)
A framboesa e o morango contêm ácido elágico, um polifenol
relacionado às frutas vermelhas. É um composto fitoquímico que tem a
propriedade de interferir no desenvolvimento do câncer. Vários estudos
realizados em laboratórios com o ácido elágico comprovaram a sua capacidade
de prevenção contra a ativação das substâncias cancerígenas em tóxicos
celulares, que perdem a afinidade de reagir com o DNA e provocar mutações.
O ácido elágico também aumenta o potencial da célula de se defender contra
agentes tóxicos e agiliza a eliminação deles. Foi descoberto ainda, que o ácido
elágico é um inibidor das proteínas que estimulam a vascularização dos
tumores (angiogênese,- processo de formação de novos vasos sangüíneos) em
resposta às necessidades dos destes. Estes vasos transportam nutrientes às
células cancerosas.
Morango
25
Considerando a importância da angiogênese no desenvolvimento do
câncer, e a propriedade antiangiogênica do ácido elágico na redução do
desenvolvimento do tumor, é relevante incluir na alimentação a ingestão de
frutas vermelhas, especialmente morangos e framboesas.
e2) Antocianinas
São pigmentos antioxidantes da classe dos polifenóis, responsáveis pela
coloração vermelha, rosa, púrpura e azulada de vários frutos e vegetais.
Ocorrem em grande quantidade em frutas de pequeno porte, como mirtilo e
framboesa. Os efeitos anticancerígenos deste fitoquímico estão em fase de
estudos e seriam a inibição da angiogênese e da apoptose celular.
e3) Proantocianinas
Fazem parte de uma classe de polifenóis complexos, são polímeros de
função antioxidantes formados por monômeros de catequina. São encontrados
em abundância nas sementes e casca de vegetais como canela, cacau em pó,
feijão vermelho, avelã, mirtilo, morango, uva, framboesa e outras. Seu papel na
prevenção do câncer está relacionada ao processo de angiogênese e na
apoptose de células cancerosas. Agem na redução da síntese de estrógenos,
que em excesso podem levar ao desenvolvimento de cânceres.
Mirtilo
26
f) Frutas cítricas
A maioria das frutas cítricas são provenientes principalmente da Índia e
da China, onde eram cultivadas há aproximadamente 3000 anos. Elas
chegaram ao Ocidente somente após o descobrimento do Continente Asiático
pelos exploradores. Por muito tempo estas frutas eram consideradas exóticas.
Hoje, são usadas na alimentação diária pela maioria da população mundial,
porém, muitas vezes, sem o conhecimento do grande potencial nutritivo que
elas têm. Os cítricos mais populares fazem parte da família das Rutáceas,
como a laranja (Citrus sinensis), o limão (Citrus limon) e tangerina (Citrus
reticula).
Ricas em vitaminas, principalmente a Vitamina C, fibras e potássio, as
frutas cítricas contém vários fitoquímicos que, provavelmente, são os
responsáveis pela prevenção do câncer, principalmente os que ocorrem no
sistema digestório. Apresentam na sua composição, grande quantidade de:
polifenóis, os flavanonas; terpenos, responsáveis pelo aroma, como o
monoterpenos e limonemos; e, os carotenóides, principalmente a criptoxantina
e o ácido hidroxicinâmico.
Estudos realizados sugerem que os fitoquímicos cítricos agem
diretamente sobre as células cancerosas, diminuindo a capacidade de
reprodução, bloqueando o desenvolvimento do tumor e ainda, atuando na
redução da toxidade das substâncias mutagênicas, além de serem
antiinflamatórios naturais.
Limão Laranja
27
g) A soja
A soja (Glicyne max) é uma planta da família das Fabáceas, originária
da China. O período exato de seu cultivo é desconhecido, acredita-se ter
iniciado a cerca de 3000 anos atrás. A soja e seus derivados são utilizados em
larga escala como alimento em países asiáticos como o Japão, China e
Indonésia, porém, na culinária do Ocidente é pouco utilizada devido às
tradições culturais.
Soja
g1) Isoflavonas - Fitoquímicos da soja
Em pesquisas realizadas em toda a Ásia, onde a soja sempre foi
consumida como alimento básico, percebeu-se que os índices de câncer de
mama e de próstata são mais baixos em relação aos de países onde este
hábito alimentar não é comum, como os países do Ocidente. Estudos
epidemiológicos feitos com povos asiáticos revelaram que a ingestão de soja
desde o início da vida é responsável por este efeito protetor.
Os compostos fitoquímicos presentes nos alimentos a base de soja
fazem parte da classe dos polifenóis chamados isoflavonas. Estas são
moléculas que tem a capacidade de interferir em processos associados ao
crescimento descontrolado das células cancerosas. A genisteína e a daidzeína
são as principais isoflavonas encontradas na soja, enquanto que a gliceteína
está em menor quantidade. Muitas vezes as isoflavonas são chamadas de
28
fitoestrógenos pela semelhança com o estrógeno, o hormônio sexual feminino.
Devido a isto, acredita-se que as isoflavonas têm a capacidade de reduzir os
efeitos do estrógeno no tecido mamário, pois estudos indicaram que este
hormônio em excesso estimula o crescimento de tumores em pessoas
geneticamente suscetíveis.
Os cânceres de mama e de próstata normalmente são chamados de
cânceres hormodependentes, ou seja, dependem de hormônios sexuais para
seu crescimento. Uma das propriedades da genisteína é reduzir a resposta
desses tecidos glandulares ao estímulo dos hormônios. As isoflavonas são
consideradas receptores tanto do estrógeno como dos andrógenos. Apesar de
ainda serem necessárias muitas pesquisas sobre a forma com que atuam no
câncer de próstata e no câncer de mama, as pesquisas já realizadas apontam
resultados significativos e positivos deste fitoquímico na prevenção dos
cânceres.
Mesmo tendo evidências de que os compostos fitoquímicos presentes
na soja atuam na prevenção do câncer de mama, ainda se conhece pouco do
efeito sobre as mulheres que já tem a doença. Uma recomendação prudente é
limitar a ingestão de isoflavonas em mulheres que já tem diagnóstico desse
câncer.
Grande parte dos produtos derivados de soja que passaram por poucas
transformações durante o processo de industrialização contém isoflavonas de
forma acentuada, mas o óleo de soja e o molho de soja são desprovidos deste
fitoquímico, porque o processo de preparo degrada as moléculas de isoflavona.
Os derivados de soja que contém maior quantidade de isoflavonas são: farinha
de soja, grãos ao natural ou torrados, leite de soja, tofu (alimento chinês,
preparado a partir da coagulação do leite obtido pela compressão dos grãos de
soja) e o missô (alimento japonês que consiste numa pasta com grãos de soja,
sal e um fermento derivado do arroz).
h) Catequina presente no Chá Verde
Depois da água, o chá é a bebida não-alcoólica mais popular do mundo.
Os grandes produtores mundiais de chá são: Sri Lanka, China, Japão, Taiwan
e Indonésia. Os chás verde e preto são provenientes a partir das folhas do
arbusto Camellia sinensis, vegetal que provavelmente é originário da Índia
29
sendo mais tarde, levado para a China. Os chás de melhor qualidade são
aqueles plantados em lugares sombrios de altitude elevada, e as folhas
coletadas devem ser as mais jovens, pois elas contêm maior concentração do
princípio ativo, as catequinas. Apesar da origem comum dos chás verde e
preto, eles têm composição química diferente, caracterizada devido ao
processo de fabricação. O chá verde é o que sofre menos alteração no
processo de fabricação, por isso apresenta maior concentração de substâncias
anticancerígenas. O processo de fabricação do chá verde ocorre em três
etapas, iniciando pela torrefação que é rápida, seguida do enrolamento e da
secagem. A maneira como são realizadas estas etapas é que determinam a
qualidade do chá. Com o chá preto o processo é semelhante, porém a
torrefação é a última etapa. Durante o processo de fabricação ocorre uma
reação química provocada por enzimas que convertem os polifenóis em
pigmentos negros, as teaflavinas. Nesta conversão, grande parte das
propriedades anticancerígenas do chá preto se perdem. Tanto para o chá
verde quanto para o chá preto, a qualidade está relacionada ao processo de
cultivo e fabricação.
Camellia sinensis
As propriedades anticancerígenas do chá verde estão em um grupo de
polifenóis, chamados flavonóis, e, dentre eles, as catequinas: EGCG ou
epigalocatequina galato, epicatequina, galocatequina-3-galato e epicatequina-
3-galato. O chá verde de melhor potencial anticancerígeno é aquele que
apresenta maior quantidade de EGCG. Análises realizadas com diversos tipos
30
de chás verdes comprovaram que os chás japoneses têm maior concentração
desta catequina.
Apesar da grande variedade de chás existentes no mercado dificultarem
os estudos e as pesquisas, já são conhecidos os benefícios da ingestão do chá
verde na prevenção de cânceres de bexiga e da próstata, além da sua atuação
como antioxidante. Em estudos realizados com o chá verde, principalmente
envolvendo a EGCG, observou-se a redução no aparecimento de novos vasos
sangüíneos necessários ao desenvolvimento de tumores e o auxílio na indução
de apoptose.
No preparo do chá é ideal fazer a infusão durante 8 a 10 minutos para
haver maior liberação das moléculas de catequina, devendo ser ingerido logo
em seguida. Recomenda-se consumir ao menos três xícaras ao dia.
i) O resveratrol presente na uva
Acredita-se que a uva foi cultivada pela primeira vez aproximadamente
há 7000 anos pelos egípcios. Outras variedades desenvolvidas por gregos e
romanos, foram introduzidas na Europa. Uma das frutas cultivadas há mais
tempo é encontrada em seis dos sete continentes. A maior parte produzida é
fermentada e transformada em vinho. As uvas são frutas de baixo teor calórico,
e são apreciadas pelo sabor agradável. Na composição, apresentam
bioflavonóides e outros compostos fitoquímicos importantes na prevenção de
doenças, como as antocianinas, as quercetinas, o ácido elágico, o resveratrol e
os salicilatos. Todos são benéficos na prevenção e tratamento de doenças
cardiovasculares e câncer. Recomenda-se a ingestão de uvas roxas ou pretas,
por apresentarem maior concentração destes compostos.
31
O resveratrol é o fitoquímico mais importante presente na uva e está
relacionado com a prevenção ao câncer porque tem capacidade de interferir
em várias etapas do processo de desenvolvimento da doença. Está presente
na casca e nas sementes do fruto da uva. Em 1976 foi observada a presença
de resveratrol em vinhas, cuja função na planta é atuar no mecanismo de
defesa ao ataque de microorganismos. Esta substância é encontrada em maior
quantidade no vinho tinto devido ao processo de maceração da casca e ao
longo tempo de fermentação que permitem melhor extração da molécula do
resveratrol. Isto não ocorre com o vinho branco. Durante o processo de
fabricação, a semente e a casca da uva são retiradas logo no início do
processo. Também a conservação do vinho tinto na garrafa evita a oxidação da
substância propiciando maior concentração, o que não acontece com as uvas
passas (secas), que não contém resveratrol, pois as moléculas são oxidadas
pela exposição ao ambiente e aos raios do sol durante o processo de secagem.
Quando falamos das propriedades do vinho tinto não podemos esquecer
que estamos falando de uma bebida alcoólica e que só o seu consumo
moderado contribui na prevenção de doenças cardiovasculares e do câncer. É
o único alcoólico a ter efeito positivo em relação à prevenção do câncer, mas
se ingerido em pequenas quantidades, pois o excesso fará efeito contrário. Os
demais alcoólicos contribuem para o surgimento do câncer. Um estudo recente
mostra que consumir um copo de vinho por dia reduz em 40% o risco de
desenvolver câncer de próstata enquanto o consumo da mesma quantidade de
cerveja pode aumentar a possibilidade de desenvolver a doença.
Uva
32
No suco de uva ou de mirtilo, a quantidade de resveratrol é cerca de 10
vezes menos que no vinho tinto. Entretanto, é importante observar que o suco
de uva, mesmo contendo pouco resveratrol, é benéfico à saúde porque contém
alto teor de antocianinas, ácido fenólico e outros polifenóis com propriedades
quimiopreventivas e antioxidantes.
Quando ingerimos a uva com a casca e a semente, nosso organismo
não assimila o resveratrol de forma eficiente. Esta substância não é comum de
ser encontrada em outros alimentos. Além da uva, encontramos também no
amendoim. Porém, para obtermos uma quantidade satisfatória de resveratrol
no amendoim, precisamos ingerir grande quantidade. Como ele é rico em
gorduras saturadas, a grande quantidade ingerida causa mais prejuízos que
benefícios.
j) Sais minerais importantes na prevenção do câncer
j1) Selênio
É um micronutriente essencial relacionado às funções enzimáticas e
metabólicas da célula. Atua como antioxidante, decompõe o peróxido de
hidrogênio proveniente dos processos oxidativos da célula, evitando a
formação de radicais livres. Esta atividade reduz e retarda os processos de
envelhecimento da pele e protege contra lesões oxidativas. Tanto o selênio
como a vitamina E atuam como antioxidantes, protegendo as membranas
celulares. Auxiliam na síntese de DNA e RNA e estimulam a atividade das
células imunológicas. Como antioxidante é importante na prevenção dos
cânceres de colo do útero, de pulmão, do pâncreas, das mamas, do ovário, do
fígado e leucemia. Podemos encontrar selênio em alimentos como: nozes,
suco de laranja, brócolis, couve, gelatina, ovos, pepino, pescados, melado,
grãos integrais, cebola e fígado.
j2) Cálcio
O cálcio também é importante na prevenção do câncer. Inibe a
proliferação e aumenta a diferenciação de células intestinais do sistema
digestório e induz a apoptose de células tumorais. O cálcio é um mineral que
33
pode ser acrescentado na alimentação diária com facilidade, pois é encontrado
nos vegetais verdes, no leite e seus derivados, nas nozes e sementes.
l) Ômega 3
Ômega 3 é um ácido graxo poliinsaturado essencial para o organismo
humano. Estudos realizados evidenciam efeitos benéficos do ômega 3 sobre as
doenças cardiovasculares e o câncer. Pesquisas mostraram que o consumo de
alimentos ricos em ômega 3 diminuem as cardiopatias como arritmia cardíaca,
colesterol e placas de aterosclerose. No caso do câncer, estas pesquisas
apontaram que com a ingestão de ômega 3, houve redução no risco de
desenvolver câncer de mama, próstata, cólon e ovário. As fontes mais
importantes deste composto são os peixes como salmão, sardinha e anchova.
Os peixes marinhos sintetizam ômega 3 (ácido eicosapentaenóico-EPA e ácido
decasaexaenóico-DHA) a partir do ácido alfalinolênico (LNA) presente no
fitoplâncton, base de usa alimentação. Os peixes congelados, com o passar do
tempo, perdem progressivamente o ômega 3. Podemos encontrar o ômega 3
de origem vegetal, o ácido alfalinolênico (LNA), em certos alimentos como
nozes frescas, sementes de linhaça e em pequenas quantidades no óleo de
nozes e de canola. Porém, o organismo humano nem sempre consegue
sintetizar o EPA e o DHA a partir do LNA como os peixes fazem,
principalmente quando tem excesso de ômega 6, que são as gorduras
presentes na carne, ovos, óleos vegetais, que em geral, são consumidas com
exagero na alimentação. As enzimas que transformam o ômega 6 ou ácido
linolênico (LA) em moléculas inflamatórias são as mesmas que transformam o
LNA em EPA e DHA. Quando temos excesso de ômega 6 na circulação
sangüínea, estas enzimas não reconhecem mais o LNA, consequentemente
não temos ômega 3 suficiente para manter o equilíbrio da célula. Por este
motivo,devemos reduzir o consumo de produtos ricos em ômega 6 e substituí-
los por vegetais com elevado teor de ômega 3 (LNA) como a semente de
linhaça. Podemos adicionar uma colher de semente de linhaça (que é de baixo
custo) recém macerada em nossa alimentação diária e/ou ingerir peixes
“gordos” pelo menos duas vezes por semana. Assim, estaremos ingerindo
ômega 3 que irá contribuir na prevenção do câncer e das doenças
34
cardiovasculares. Pesquisas indicaram que o óleo de linhaça reduz a atividade
dos hormônios sobre o crescimento do câncer e talvez sobre a angiogênese
Na alimentação, o ideal é dar preferência aos peixes, tipo o salmão,
criados in natura, pois os cultivados são tratados com rações ricas em ômega 6
e automaticamente terão menos ômega 3.
Salmão Semente de Linhaça
5 Dicas que auxiliam na prevenção do câncer
Assim como temos estudos que indicam alimentos que contém
propriedades anticancerígenas, temos outros que nos alertam dos perigos de
certas atitudes que temos no preparo dos alimentos ou mesmo na ingestão de
alguns que contém substâncias que estimulam o desenvolvimento do câncer.
Cabe conhecer essas situações e criar hábitos saudáveis tanto no preparo
quanto na alimentação.
5.1 Gorduras e carnes
As gorduras são substâncias formadas por moléculas de ácidos graxos
mais um álcool, o glicerol. Podem ser classificadas como saturadas,
insaturadas e trans. As gorduras saturadas são aquelas que, em temperatura
ambiente, estão no estado sólido (manteiga, margarina, banha de porco)
devido a sua estruturação química. As insaturadas estão em estado líquido
(óleos vegetais). E as gorduras trans são encontradas em pequena quantidade
35
na natureza, porém se formam em grandes quantidades quando os óleos
insaturados são hidrogenados (processo industrial de adição de hidrogênio)
para a produção de margarinas ou submetidos a altas temperaturas sofrendo
isomeração.
Segundo Garófolo et al. (2004), a ingestão excessiva de gorduras
saturadas e trans pode promover o desenvolvimento do câncer por estimular a
divisão anormal das células devido ao aumento na produção de ácidos biliares
que são mutagênicos e citotóxicos. Algumas gorduras são suscetíveis a
produção de radicais livres, substância tóxica que pode danificar as células e
contribuir para o envelhecimento e desenvolvimento de câncer. À obesidade
esta associada ao desenvolvimento de câncer colorretal e outros tipos como o
de útero, de próstata e de pele.
Uma dieta saudável deve conter pequena quantidade de lipídios
(gorduras e óleos) e açúcares. Os lipídios são necessários para o organismo
absorver as vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). Também devemos ingerir
certos ácidos graxos essenciais que não conseguimos produzir, presentes nos
óleos vegetais e peixes marinhos. São importantes na construção das
membranas celulares além de outras funções.
Com atitudes simples, podemos reduzir a quantidade de gordura,
principalmente a saturada e trans, na alimentação diária. Não ingerir frituras,
utilizar pequenas quantidades de manteiga, margarina e óleos, não reutilizar
óleo aquecido, dar preferência para óleos poliinssaturados ou monossaturados
como óleo de oliva em saladas, consumir derivados do leite com baixo teor de
gorduras e retirar a pele das aves antes de cozinhá-las.
A quantidade de carne vermelha também deve ser limitada, pois
normalmente é rica em gordura saturada. Recomenda-se reduzir ou evitar o
consumo de carnes processadas como bacon, salsicha, presunto, defumados e
outros alimentos que usem conservantes como o N-nitroso e nitratos, pois
induzem a formação tumoral por meio da sua transformação em nitrito, um
óxido que provoca o aumento da produção de radicais livres, promovendo
lesão celular e redução na produção de muco, um fator de proteção da mucosa
gástrica. (GARÁFOLO et al., 2004). Os nitritos podem ser formados
endógenamente, e também pode ser provenientes de carnes curadas com
nitrito de sódio e embutidos. O nitrito reage com algumas proteínas formando a
36
nitrosamina, que é uma substância cancerígena. Quando se assa carne
diretamente no fogo, a gordura liberada pega fogo e produz substâncias
tóxicas, os hidrocarbonetos aromáticos, como o benzopireno, que aderem a
superfície, formando aquela casquinha crocante e podendo agir como
substâncias cancerígenas. O cozimento de proteínas animais em alta
temperatura também pode formar aminas heterocíclicas, outra substância
cancerígena que pode estar nas carnes “esturricadas”. Isso não significa que
não se deva comer mais o churrasco. Estudos recentes sugerem deixar a
carne marinar na presença de ácidos, como suco de limão, que podem reduzir
a formação de substâncias tóxicas.
Sal em excesso também faz mal. Além de reter mais água no
organismo, alterando a pressão arterial, irrita a mucosa do aparelho digestório,
podendo provocar lesões capazes de desenvolver um câncer. Deve-se evitar
também produtos industrializados que usam o sal como conservante. Países
que consomem excessivamente estes alimentos apresentam elevados índices
de câncer no estômago.
5.2 Fibras
A ingestão de fibras vegetais na dieta alimentar contribui para a
prevenção do câncer, pois elas aumentam o bolo fecal e a velocidade do
trânsito intestinal, reduzindo o tempo de contato de substâncias cancerígenas
com a mucosa do intestino. O ideal é consumir diariamente pelos menos cinco
tipos de frutas ou verduras, de preferência uma de cada cor devido à variedade
de fitoquímicos que elas apresentam, e várias porções de cereais integrais,
raízes e folhas.
37
Como as substâncias antioxidantes das frutas, verduras e legumes têm
efeito protetor na célula, não podem ser substituídas por suplementos
alimentares, pois estes não têm fibras e, não se sabe exatamente se o efeito
protetor é conferido apenas pelos antioxidantes ou se por eles combinados
com as fibras. Portanto, os suplementos podem não surtir o efeito esperado.
Podendo ser prejudiciais e perigosos se ingeridos em altas concentrações ou
até mesmo contribuir para o aparecimento de células cancerosas.
5.3 Bebidas alcoólicas
Diversos estudos associam o uso excessivo de bebidas alcoólicas ao
câncer de boca, esôfago, fígado, reto e, possivelmente, ao de mama. Acredita-
se que o álcool agride as mucosas do sistema digestório, bem como danifica a
molécula de DNA, aumentando as chances de surgirem células malignas e
desenvolver um tumor.
5.4 Varie a alimentação
Esta produção didático-pedagógica mostrou resultados de algumas
pesquisas realizadas referentes à prevenção do câncer através da
alimentação, porém deve-se ficar atento que não é só um alimento que fará a
diferença, mas sim um conjunto de atitudes que precisam ser tomadas em
38
relação aos hábitos alimentares. É necessário fazer modificações na dieta
alimentar para incluir certos alimentos que contém propriedades
anticancerígenas, de grande valia para prevenção do câncer. Ainda hoje, é
melhor prevenir do que remediar. Cada indivíduo reage de forma diferente
diante dos medicamentos oferecidos pela indústria farmacêutica e dos
tratamentos sugeridos pela medicina para combater o câncer. Cabe à
população ter hábitos e atitudes saudáveis para a prevenção à doença.
Deve-se valorizar a inclusão e a diversidade de vegetais e frutas em
nosso cardápio constantemente, pois o Brasil é um país privilegiado e com
grande variedade de frutas, verduras e legumes. Não é necessário memorizar
o nome de todos os fitoquímicos apresentados. Para organizar a dieta
alimentar, use a combinação de cores. Além de encantar os olhos, é uma
maneira fácil e eficiente de ingerir os principais compostos anticancerígenos
(fitoquímicos) presentes nos alimentos. Alguns especialistas dizem que quanto
mais intensa for a cor do vegetal, mais fitonutrientes protetores ele contém.
De acordo com Fernandes (2008), a Organização Mundial da Saúde
(OMS) recomenda a ingestão mínima diária de 400 g de vegetais e frutas. O
número de porções diárias de vegetais e frutas pode variar de 5 a 9 e irá
depender da necessidade energética diária de cada pessoa. Recomenda-se a
ingestão de uma variedade de pelo menos cinco cores de vegetais e frutas por
dia.
Em resumo, as cores identificam o tipo de fitoquímico presente no
vegetal, conforme segue:
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• Verde – clorofila, luteína, zeaxantina, indóis e isotiocianatos. Exemplos:
brócolis, espinafre, couve-manteiga, repolho, couve-de-bruxelas, almeirão,
mostarda, acelga, pimentão, kiwi e abacate.
• Laranja e Amarelo – caroteno, betacaroteno, vitaminas C e E, ácido fólico e
xantofila. Exemplos: mamão, damasco, maracujá, laranja, melão, abacaxi,
batata, pimentão, tangerina, morgota, abóbora, cenoura, batata-doce.
• Vermelho – caroteno, licopeno, flavonóides, ácido elágico, antocianina.
Exemplos: tomate, melancia, goiaba vermelha, aparece também no mamão
e damasco e pimentão.
• Azul púrpura – antocianina. Exemplos: berinjela, repolho roxo, amora,
cereja, nectarina, uva rosada e framboesa.
• Branco – flavonas e alicina. Exemplos: cebola, alho, cebolinha e alho poró.
• Marrom – isoflavonas, ácido oléico (gordura monoinsaturada) e ácido
linoléico (gordura poliinsaturada). Exemplos: frutos oleaginosos, como
castanha, nozes, amêndoas, avelãs, sementes de linhaça e outras
sementes. Este grupo ainda contém fibras insolúveis e vários minerais
como selênio, zinco, cálcio, ferro, magnésio, cobre, potássio, vitaminas E,
B1 e B2, niacina e ácido fólico.
6 Sugestões de atividades para os alunos
a) Anotar os alimentos ingeridos durante duas semanas e construir uma tabela
com os vegetais, frutas e legumes que consumiu durante a semana, agrupando
pelas cores e pelos fitoquímicos que apresentam.
b) Promover um debate com todos os alunos sobre os hábitos alimentares,
analisando as anotações feitas e discutindo o que a mudança para hábitos
alimentares saudáveis pode trazer, respeitando a diversidade cultural.
c) Em grupos de 4 a 6 alunos, coletar embalagens de produtos alimentícios
industrializados, tais como: embutidos, margarinas, gorduras, maioneses,
bolachas, iogurtes e bebidas lácteas, óleos vegetais, adoçantes, bolos e
massas, fermentos, dentre outros. Em classe, classificar essas embalagens por
grupos de nutrientes. Depois, procurar nos rótulos dos produtos, os que
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apresentam aditivos considerados cancerígenos. Promover um debate sobre a
dieta equilibrada buscando a prevenção de doenças, e os efeitos que o
consumo excessivo de alguns grupos alimentares pode ocasionar.
d) No laboratório de informática, realizar pesquisas no site do Instituto Nacional
do Câncer – INCA3 sobre os índices e os tipos de cânceres encontrados por
região e por Estado, anotando os dados mais relevantes, para realização de
um debate, bem como os comentários e análises feitos pelos especialistas.
Discutir com os alunos, o que pode estar relacionado com a incidência do
câncer em cada região, por exemplo: a economia e industrialização da região,
a renda per capita, o clima e a radiação solar, as etnias que formam a
população, os costumes alimentares regionais, o uso de agrotóxicos na lavoura
e a poluição.
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