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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ - UEM

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE

2009

MARIA ANTONINA CALEFI UHDRE

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E ALFABETIZAÇÃO:

Comunicar e alfabetizar

IPORÃ - 2011

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO - SEED

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO - SUED

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ – UEM

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL PDE

2009

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E ALFABETIZAÇÃO:

Comunicar e Alfabetizar

ÁREA: EDUCAÇÃO ESPECIAL

PROFESSORA PDE: MARIA ANTONINA CALEFI UHDRE

Artigo apresentado ao Programa de

Desenvolvimento Educacional da Secretaria de

Estado de Educação – PDE/2009, requisito

parcial para conclusão da participação no

programa, sob a orientação da Ms. Gizeli

Aparecida Ribeiro de Alencar.

IPORÃ – 2011

1

COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA E ALFABETIZAÇÃO: Comunicar e

Alfabetizar

Autor: Maria Antonina Calefi Uhdre1

Orientador: Gizeli Aparecida Ribeiro de Alencar2

Resumo

Nos últimos anos, a presença de alunos com necessidades educacionais especiais nas classes comuns de ensino fundamental, tem se consolidado. Dentre as inúmeras patologias e necessidades educacionais dos alunos inclusos encontram-se os que se possuem dificuldades de comunicação ou ausência da mesma. A presente pesquisa teve por objetivo desenvolver um material pedagógico, utilizando os recursos da informática, para viabilizar a comunicação professor/aluno e, por conseguinte o processo de alfabetização; e específicos, compreender a Comunicação Alternativa e Ampliada, sua aplicabilidade e as possibilidades de uso para o processo de alfabetização. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa teórico empírica fundamentada nos estudos desenvolvidos por Deliberato (2009), Manzine (2009), Nunes (2003) Von Tetzchner (2000), dentre outros. O texto apresenta a fundamentação teórica seguido do trabalho de campo contemplando a elaboração de um material didático em CDroom, com o passo a passo para elaboração de um sistema de comunicação alternativa; seguido da descrição da intervenção realizada junto a 12 professores atuantes na rede de ensino no município de iporã/PR. Os resultados evidenciaram que a utilização de sistemas de CAA configura-se de suma importância para viabilizar elos comunicativos entre os alunos desprovidos de linguagem oral e seus interlocutores, bem como pré-requisito para a aquisição do código escrito, e que o mesmo pode ser elaborado pelo professor utilizando os recursos da informática.

Palavras-chave: Comunicação alternativa e ampliada; Alfabetização; Recursos de informática.

1 Pós-graduação em Deficiência Mental pelo Centro de Estudos Superiores de Londrina, Graduada em Matemática, Lotada na Escola de Educação Especial “Padre José Pascoal Busato” - APAE de Iporã. 2 Pós-graduação Stritu Sensu em Educação pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), graduada em Pedagogia. Docente no Departamento de Teoria e Prática de Educação/DTP, na Universidade Estadual de Maringá (UEM).

2

1 Introdução

A inclusão social e educacional é um movimento mundial e vem cada vez

mais se intensificando, tornando-se um dos grandes desafios do século XXI. Muitos

teóricos e pesquisadores têm voltado o olhar para as pessoas com necessidades

educacionais especiais, no intuito de contribuir para com que a escola respeite e

preserve o direito da criança participar do processo ensino-aprendizagem.

Nos últimos anos, a presença de alunos com necessidades educacionais

especiais nas classes comuns de ensino fundamental, tem se consolidado. Dentre

as inúmeras patologias e necessidades educacionais dos alunos inclusos

encontram-se os que se possuem dificuldades de comunicação ou ausência da

mesma.

Com o advento do parecer do Conselho Nacional de Educação - CNE

013/2009 que referenda a presença e a matricula dos alunos com necessidades

especiais no ensino comum e com atendimento educacional especializado em sala

de recursos multifuncionais ou centros especializados, urge a necessidade de

estudos e apropriação de conhecimentos para respaldarmos pedagogicamente os

alunos, nesse caso especifico os que não se comunicam devido a diferentes

patologias, seja no campo perceptível, motor e/ou cognitivo mesmo contando com a

instalação de sala de recursos multifuncionais equipados para atender alunos com

dificuldades de sinalização e comunicação. Sem uma orientação pedagógico-

metodologica que vá de encontro as suas especificidades esses educandos

misturam-se aos demais e por vezes desempenham papel de meros expectadores,

não tendo suas necessidades diferenciadas atendidas, nem sanadas as lacunas do

processo de desenvolvimento e apropriação de conhecimentos científicos

historicamente produzidos pela humanidade.

O uso da comunicação alternativa, por considerar as características

individuais, o desenvolvimento cognitivo, os aspectos sociais, configura como um

dos recursos capaz de prover interações comunicativas, promovendo ou

suplementando a fala, além de viabilizar a aprendizagem acadêmica.

Nesse prisma, a comunicação é concebida como comportamentos

sinalizadores que ocorrem na interação de duas ou mais pessoas e que propõe uma

3

forma de criar significados entre elas. (BRYEN E JOYCE, 1885, apud NUNES,

2003).

De acordo com Almeida (2007), a criança que não se comunica terá

prejuízos marcantes no seu desenvolvimento e dificilmente terá sucesso acadêmico,

pois necessita de algum tipo de comunicação. A luz das considerações

apresentadas, a presente pesquisa teve por objetivo desenvolver um material

pedagógico, utilizando os recursos da informática, para viabilizar a comunicação

professor/aluno e, por conseguinte o processo de alfabetização; e específicos,

compreender a Comunicação Alternativa e Ampliada, sua aplicabilidade e as

possibilidades de uso para o processo de alfabetização.

Para tanto, foi desenvolvido uma pesquisa teórico empírico fundamentada

nos estudos de Deliberato (2009), Manzine (2009), Nunes (2003) Von Tetzchner

(2000), dentre outros. O texto apresenta assim a fundamentação teórica seguido do

trabalho de campo contemplando a elaboração de um material didático em CDroom,

com o passo a passo para elaboração de um sistema de comunicação alternativa;

seguido da descrição da intervenção realizada junto ao professores participantes da

pesquisa e, as considerações finais.

Acredita-se que estudos dessa natureza configuram-se importantes, pois de

acordo com Pozzer e Alencar (2009), apesar dos avanços científicos, esses

recursos, sejam eles de baixa tecnologia ou de alta tecnologia, ainda são pouco

utilizados, devido aos altos custos. Espera-se, portanto, com esse estudo, contribuir

para com a formação e reflexão dos profissionais da educação que atuam com essa

especificidade.

2 Comunicar e registrar

Pensar a respeito da inclusão de pessoas com necessidades educacionais

especiais, nas diferentes atividades pedagógicas, requer identificação e

reconhecimento das especificidades do aluno para traçar adequações curriculares e

selecionar os recursos adequados para que a aprendizagem se efetive.

4

No que diz respeito a crianças deficientes e sem oralidade, pesquisas3

apontam que recursos de comunicação alternativa têm sido utilizados nas

instituições especializadas, em clínicas de reabilitação, escolas especiais e escolas

de ensino comum, com vista a possibilitar o processo comunicativo de alunos com

deficiência severa de comunicação oral com seus interlocutores.

2.1 Comunicação Alternativa

A Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA)4 é uma área na Educação

Especial com vistas a efetivação de elos comunicativos.de forma a favorecer a

interação social e o processo de inclusão. A CAA visa assegurar oportunidades e

meios para que os indivíduos desenvolvam o máximo possível de suas

potencialidades.

Quando uma criança apresenta dificuldade de comunicação verbal e

impossibilidade de usar a escrita e gestos, consequentemente seus parceiros de

comunicação terão dificuldades para compreendê-la. Para esses casos, a literatura

especializada tem apontado o emprego de sistemas de comunicação alternativa.

Assim, por comunicação Alternativa entende-se:

[...] qualquer forma de comunicação diferente da fala e usada por um indivíduo em contextos de comunicação frente a frente. Os signos gestuais e gráficos, o código Morse, a escrita, etc., são formas alternativas de comunicação para indivíduos que carecem da capacidade de falar. (VON TETZCHNER, MARTINSEN, 2000, p. 23)

De acordo com Nunes (2003), a comunicação é considerada alternativa

quando o indivíduo não é capaz de trocar ou discutir ideias por meio da fala ou da

escrita, e ampliada ou suplementar quando a comunicação que possui não é

suficiente para suas trocas sociais.

3 Von Tetzchner e Martinsen (2000); Nunes (2003); Manzine (2009), etc. 4 Alguns livros fazem inferência a essa nomenclatura como Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA). Para efeitos de padronização optou-se pela terminologia Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA).

5

Os símbolos utilizados representam o pensamento. Para a comunicação

alternativa são usados vários símbolos como: os objetos, a fala, os gestos, a

linguagem de sinais, as fotografias, os desenhos e a escrita. Vale esclarecer que

existem símbolos que não necessitam de recursos externos, ou seja, o indivíduo

utiliza apenas o seu corpo para se comunicar e existem símbolos que necessitam de

recursos externos, pois requerem instrumentos ou equipamentos além do corpo do

usuário para produzir uma mensagem.

Isso posto, segundo Von Tetzchner, Martinsen (2000) pode-se afirmar que

os indivíduos com necessidade de comunicação alternativa e ampliada dividem-se

em três grupos principais:

1. Grupo com necessidade de um meio de expressão;

2. Grupo com necessidade de uma linguagem de apoio;

3. Grupo com necessidade de uma linguagem alternativa.

O primeiro grupo, diz respeito aos indivíduos que não conseguem se

expressar por meio da fala, embora tenham compreensão da linguagem oral

necessitando de uma outra forma de comunicação. No segundo grupo se

enquadram indivíduos com atraso no desenvolvimento da linguagem e que podem

vir a fazer o uso da fala futuramente. No grupo com necessidade de uma linguagem

alternativa estão os indivíduos que sempre terão a necessidade de um sistema de

comunicação alternativa.

Assim sendo, os sistemas ou recursos utilizados na comunicação alternativa

são objetos ou equipamentos com intuito de transmitir mensagens, as quais podem

ser de baixa tecnologia ou de alta tecnologia. Os sistemas de baixa tecnologia, de

acordo com Alencar (2003), podem ser compostos por meio de cartões pictográficos

que o próprio professor confecciona, utilizando imagens diversas, desde que

contemple as reais necessidades dos alunos, de revistas, jornais, encartes de

supermercados, desenhos, dentre outros. Já os sistemas de alta tecnologia

compreendem programas e softwares.

Os principais sistemas ou recursos de comunicação alternativa descritos na

literatura são: Picsyms, (CARLSON, 1985) Rebus, (WOODCOCK; CLARK; DAVIES,

1968), Bliss, (Bliss, 1965; Hehner, 1980) o Pictogram Ideogram Communication

Symbols (PIC), (MAHARAJ, 1980) e o Picture Communication Symbols (PCS),

(JOHNSON, 1981, 1985).

6

O Sistema Picsyms, criado por Carlson é utilizado em idade infantil com

crianças que apresentam dificuldade de fala e contém aproximadamente 1800

símbolos. O Sistema Rebus é composto por 818 rébus ou logogrifos diferentes que

podem ser simples, ou complexos. No sistema simples é usado um pictograma para

representar uma palavra ou parte dela. No sistema complexo é utilizada a

combinação de pictogramas com letras, números, notas musicais, etc., e podem

representar mais de 2000 palavras. O sistema Bliss geralmente é utilizado por

pessoas com paralisia cerebral, déficit de linguagem, que não apresentem

comprometimento intelectual. Os símbolos que compõe o sistema são de três tipos:

pictográficos – desenhos parecidos com os objetos que representam; ideográficos -

sugestivos dos conceitos que representam; arbitrários – desenhos que simbolizam a

idéia de alguma coisa e são reconhecidos por convenção internacional. O sistema

PIC é destinado a pessoas com deficiência intelectual, estimulando habilidades

perceptuais e cognitivas. Os símbolos são constituidos de desenhos estilizados em

branco sobre o fundo preto, permitindo a comunicação por intermédio de 400

pictogramas. O sistema PCS, por sua vez, é composto de 1400 figuras iônicas,

desenhadas de forma estilizada e foi criado para pessoas com comprometimento em

sua comunicação oral. (MANZINE, 2009)

Vale frisar que como bem pontuado por Nunes (2003) e Manzini (2006), a

comunicação alternativa não pode ser confundida como um recurso que irá substituir

a fala, mas uma comunicação de suporte, um apoio suplementar à fala,

configurando-se um recurso para o aluno se expressar e ser compreendido.

2.2 A comunicação se concretizando via computador

O uso de tecnologias de informação e comunicação invade cada vez mais a

vida e o cotidiano das pessoas e o computador se torna um equipamento muito

utilizado em vários segmentos sociais. Assim sendo, a escola também não fica

alheia ao uso desta amplitude tecnológica.

Mediante os desafios marcados pela globalização e pelos avanços

tecnológicos a escola tem mostrado preocupação em modernizar-se, embora nem

sempre saiba como faze-lo. Na maioria das vezes a modernização é aparente. Em

7

muitas escolas e instituições o computador adquirido é usado em substituição a

maquina de escrever e mimeógrafo, ou serve para os alunos utilizarem-no como se

fosse vídeo game. Faz-se necessário transformar o conceito que se tem sobre o

computador para utilizarmo-o também como um recurso didático.

Para que isso aconteça, se faz necessário o professor aprimorar a sua ação mediadora, com importância relevante, no trabalho com pessoa com necessidades educacionais especiais, considerando que este aluno, geralmente, “apresenta dificuldades de usar as ferramentas mentais de que dispõe, precisando ser estimulado a mobilizar seus recursos intelectuais” (FERREIRA, 1998, apud FERREIRA E CRUZ, 2005, p. 36).

Isso posto, dentre muitos aspectos que envolvem o ato de ensinar, a

mediação é muito importante. O professor não pode e nem deve permanecer inerte

ao processo. Cabe a ele mediar o ensino aprendizagem com intencionalidade para

viabilizar a apropriação dos conteúdos científicos.

O professor deve refletir sobre a sua prática docente, se apropriar da

informática como recurso pedagógico, pois essa reflexão lhe permitirá usar o

computador como uma ferramenta a seu serviço.

A tecnologia, por si só, não provoca mudanças, ao contrário, como

instrumento criado e conduzido pelo ser humano, reforça seu comportamento. Um

professor fechado, centralizador, agirá desta forma com ou sem o computador, por

outro lado, um professor com propostas inovadoras encontrará recursos que

facilitarão as mudanças (MORAN, 2000, apud FERREIRA e CRUZ, 2005)

O computador, de acordo com Ferreira e Cruz (2005), pode ser uma ótima

ferramenta na hora de aprender, por disponibilizar recursos de áudio e vídeo que

estimulam a produção da escrita. O aluno quando apresenta dificuldades motoras

para o traçado das letras pode ser favorecido pela digitação por essa exigir menor

habilidade motora. Com o computador, a criança pode digitar ler e corrigir as

palavras quando necessário. O erro não deixa marcas, o que reforça o auto conceito

do aprendiz criando vínculos positivos com a sua produção final.

As várias formas de utilização da informática no ensino podem ser consideradas um ponto a favor deste recurso, contribuindo para a criação

8

de atividades mais variadas, para pessoas que, por sua vez, também possuem estilos diversos de aprender. No entanto, urge que o professor seja capacitado a usar a informática para que os recursos desta tecnologia possam ser amplamente explorados e potencializados através da mediação criativa. (FERREIRA E CRUZ, 2005, p. 148,)

Vale aqui destacar, que o computador é um excelente meio de comunicação,

comumente usado para troca de experiências, relacionamentos, assim como pode

auxiliar na construção e organização do conhecimento.

Os autores afirmam ainda que o computador quando utilizado para escrever,

reduz o trabalho motor que a grafia manuscrita exige. Assim, o aluno melhor

elabora, expressa e interage com a linguagem escrita.

2.3 Alfabetização para pessoas sem linguagem oral

O uso da linguagem oferece a criança, condições de expressar e internalizar

ações e informações que favorecem o desenvolvimento humano na sociedade. Para

que o ser humano se desenvolva, se faz necessário que ele aprenda, e esse

aprendizado ocorre por meio das interações vivenciadas no ambiente social. São

inúmeras as variáveis, de acordo com Deliberato (2009), que influenciam o processo

de alfabetização. Fatores pedagógicos, psicológicos, sociais, lingüísticos dentre

outros.

São muitos os benefícios que a leitura e a escrita podem oferecer às

pessoas com distúrbios de fala e também aos usuários da comunicação alternativa e

a alfabetização, no processo educativo da pessoa sem oralidade, é de suma

importância, pois, por meio da leitura e da escrita ela se integra efetivamente.

Por alfabetização entende-se “à aquisição da escrita enquanto

aprendizagem de habilidades para leitura, escritas e as chamadas práticas de

linguagem.” (TFOUNI, 1995, p. 9) A escrita dentro desse contexto resulta do

desenvolvimento da capacidade humana evidenciando a capacidade de expressar

emoções, sonhos, vontades, opiniões, dentre tantos outros, fazendo uso de letras e

palavras.

9

A linguagem escrita não é adquirida naturalmente pela espécie humana, o

que a diferencia da linguagem oral. Inúmeras pesquisas têm sido feitas, assim como

diferentes teorias são desenvolvidas para explicar a aquisição e os distúrbios da

linguagem escrita, assim como, são vários os programas de intervenção que se

mostram eficazes para desenvolver tal aquisição. (DELIBERATO, 2009.)

São vários os fatores que dificultam o processo de alfabetização da criança

desprovida de linguagem oral. Dentre eles vale destacar:

٠ A falta de experiência pré-escolar com material escrito – “o

engajamento na leitura de livros com os pais tem se mostrado uma forte

preditora do sucesso ulterior em leitura e escrita.”

٠ O rebaixamento em consciência fonológica – “refere-se à

habilidade de segmentar e manipular partes da fala, tais como sílabas, rimas,

aliterações e fonemas. A consciência de fonemas, nível mais refinado da

consciência fonológica, está relacionada a alfabetização em ortografias

alfabéticas.”

٠ O comprometimento de linguagem oral - “crianças usuárias de

comunicação alternativa podem apresentar diferentes comprometimentos

lingüísticos que, por sua vez, estão relacionados à função da comunicação

alternativa para elas”.

٠ O possível comprometimento intelectual que acomete as

crianças com distúrbio de comunicação – “preditor importante do sucesso na

alfabetização e também tende a estar mais frequentemente prejudicado em

crianças com distúrbios de comunicação do que em crianças sem tais

distúrbios”. (DELIBERATO, 2009, p. 216)

Contudo, além desses fatores não se pode negligenciar que o processo de

alfabetização só se concretiza quando o professor conhece as técnicas

pedagógicas, o aluno, as teorias que versam sobre apropriação de conhecimentos e

as especificidades da patologia ou necessidade apresentada pelo aluno.

Em se tratando de crianças desprovidas de linguagem oral faz-se necessário

conhecimento sobre os sistemas de comunicação alternativa e ampliada bem como

sua aplicabilidade.

Uma determinada pessoa pode ser tão inteligente quanto outra e ter a

mesma capacidade para assimilar conhecimentos. O que pode diferenciar seus

desempenhos provavelmente são as condições sociais de suas historia de vida, a

10

falta de acesso ou desconhecimento de recursos que possam subsidiar suas

aquisições e potencializar suas capacidades. “Quando dizemos que os processos de

aprendizagem são semelhantes, estamos nos referindo a mecanismos, o que é

diferente de desempenho; este significa o produto final que cada um alcança.”

(FERREIRA e CRUZ, 2005, p. 21)

Todavia, é inegavel que o professor deva ter domínio sobre as bases

teóricas que subsidiam sua prática educativa.

Se o professor não tem um domínio adequado do conhecimento a ser transmitido, ele terá grande dificuldade em trabalhar com a formação dos conceitos científicos e também com a zona de desenvolvimento próximo de seus alunos. Se o professor não realiza um constante processo de estudo das teorias pedagógicas e dos avanços das várias ciências, se ele não se apropriar desses conhecimentos, ele terá grande dificuldade em fazer de seu trabalho docente uma atividade que se diferencie do espontaneismo que caracteriza o cotidiano alienado da sociedade capitalista contemporânea. (FACCI, 2004, p. 244)

É importante destacar que um dos fatores importantes para o

desenvolvimento da criança com necessidades educacionais especiais é a influência

do meio em que essa criança vive.

3 METODOLOGIA

A pesquisa teve a duração de dois anos, dos quais, um ano fora destinado

aos estudos bibliográficos, seis meses destinados a elaboração do material

pedagógico de apoio (CDroom) utilizando recursos da informática, dois meses para

realização de um curso para capacitar e instrumentalizar 12 professores da rede de

ensino no municipio de Iporã/PR em suas práticas pedagógicas junto a alunos

desprovidos de linguagem oral, e por fim, quatro meses para analise dos dados

obtidos. Trata-se, portanto de um estudo teórico empírico respaldado nos estudos

desenvolvidos por Deliberato (2009), Manzine (2009), Nunes (2003) Von Tetzchner

(2000), dentre outros.

11

Instrumentos Utilizados

Para elaboração do material didático e do curso junto aos professores foram

utilizados computador; cdroom, desenhos e textos impressos.

Procedimentos

Após o levantamento bibliográfico organizou-se um CDroom (material

didático), com o passo a passo para elaboração de um sistema de comunicação

alternativa, o qual foi encaminhado para a Secretaria de Educação do Estado do

Paraná (SEED). Posteriormente ministrou-se um curso de capacitação para alguns

professores da rede de ensino, para instrumentalizá-los quanto ao uso e confecção

de sistemas para comunicação alternativa e ampliada.

O material didático referente à comunicação alternativa foi elaborado por

meio de tecnologia informatizada. O aplicativo foi o software Power Point, escolhido

por possuir recursos multimídia, edição de texto e animação de imagens e pela

possibilidade evidenciada sobre o controle que o aluno pode exercer sobre a

atividade.

Os slides montados contemplaram algumas imagens referentes a::

necessidades básicas do aluno em sala de aula, alimentação, vestuário, higiene,

ações, sensações, famílias silábicas.

Como sugestão, foi disponibilizado no material didático uma listagem com

nomes de algumas necessidades básicas, tais como:

ALIMENTAÇÃO VESTUARIO HIGIENE AÇÃO SENSAÇÔES Tomar água Lanchar Sopa Chá Bolacha Mingau Polenta Canjica Arroz Feijão Salada Frutas

Cueca Short Camiseta Meia Sapato Tênis Sandália Calça Camisa Blusa Vestido Calcinha

Lavar as mãos Tomar banho Papel higiênico Sabonete Lixo Creme dental Escova de dente

Esperar Sair Entrar Recortar Colar Desenhar Sim/querer Não/não querer

Calor Frio Cansado Positivo Negativo Fome Dor

12

Para além do uso nas interações sociais, por meio do sistema, apresentou-

se também algumas sugestões de slides, com imagens que podem ser utilizadas

para o comunicação e em atividades pedagógicas que se referem ao inicio da fase

de alfabetização.

Famílias silábicas:

LETRAS PALAVRAS LETRAS PALAVRAS LETRAS PALAVRAS A Árvore B Bolo C Casa D Dado E Elefante F Faca G Gato H Hospital I Igreja J Janela L Lápis M Melancia N Navio O Óculos P Pato Q Queijo R Rato S Sapo T Tesoura U Uva V Vaca X Xícara Z Zebra

Já o curso de capacitação contemplou estudos e discussões sobre os

temas:

• Recursos de informática e educação especial;

• Comunicação alternativa e ampliada; Sistemas de comunicação

alternativa;

• Grupos que necessitam de recursos de comunicação alternativa; Uso

da comunicação alternativa na alfabetização;

• Elaboração de sistemas de comunicação e alfabetização, utilizando o

aplicativo Power Point, para habilidades comunicativas e

pedagógicas.

Após a apresentação dos temas a serem abordados durante o curso, os

profissionais registraram em folha sulfite suas concepções e entendimentos sobre a

Comunicação Alternativa e Ampliada. Para cada temática foi solicitado antes do

contato com o conteúdo de referencia o registro do conhecimento imediato que cada

profissional possuía.

Ao termino dos estudos teóricos foi solicitado aos professores que

elaborassem um material em Power Point para subsidiar o trabalho com a

comunicação Alternativa e o processo de alfabetização culminando com seus

pareceres sobre o curso e o tema desenvolvido.

13

4 Resultados

O maior desafio da pesquisadora, na elaboração do CDroom, foi dar um

formato que pudesse ser compreensível, assimilável e reelaborável por qualquer

profissional da educação, de forma que este consiga montar um sistema próprio

caso não tenha a disposição um sistema de alta tecnologia. Não menos importante,

mas também desafiador, foi a criação das imagens para compor o material para que

a mesma possa ser reproduzida e disseminada sem restrições.

Em relação ao curso de extensão, o qual foi traçado com o objetivo de

instrumentalizar e oferecer ao profissional da educação um recurso que lhe

possibilite trabalhar com alunos desprovidos de linguagem oral; conhecer os

recursos de comunicação alternativa e ampliada e sua aplicabilidade; refletir sobre

os sistemas de comunicação alternativa comumente descritos na literatura; debater

e identificar as necessidades básicas dos alunos desprovidos de linguagem oral no

contexto de sala de aula e elaborar um sistema de comunicação usando o aplicativo

Power Point, foi possível verificar as seguintes concepções dos professores

participantes sobre CAA:

O que é comunicação alternativa? Qualquer forma de comunicação diferente da fala

Comunicação através de gestos

Não sabem ou não definiram

05 professores 01 professor 06 professores

No que diz respeito aos assuntos e maiores necessidades de se

comunicarem, os profissionais responderam que são as seguintes:

Emoções, fome, sono, higiene pessoal.

Interação com colegas e necessidades fisiológicas

Sentimentos Necessidades básicas diárias. (fome, sede, banheiro)

Questionar sobre o conteúdo, contar fatos vividos dentro e fora do ambiente escolar.

04 professores 01 professor 01 professor 05 professor 01 professor

14

Sobre as palavras mais relevantes utilizadas em sala de aula os professores

foram unânimes em pontuar as seguintes:

Não, sim, fome, banheiro, frio, calor, feliz, triste, raiva.

12 professores

Sobre as necessidades comunicativas básicas constatou-se que:

vestuário, higiene pessoal, AVDs.

Sentimentos. Sensações. pequenas palavras, como “ir ao banheiro”.

Expressão do de que mais necessita no momento.

06 professores 02 professores 02 professores 01 professor 01 professor

Quando levados à reflexão sobre as necessidades básicas de maior

relevância para que o elo comunicativo entre professor x aluno, aluno x aluno se

efetive, verificou-se:

Confiança e afetividade

Interação, confiança e força de vontade por parte de ambos (professor e aluno)

Vínculo afetivo Sensações térmicas, emoções, fome banheiro.

04 professores 05 professores 02 professores 01 professor

Dos alunos que necessitam de comunicação alternativa, pontuou-se:

Aquele que tem dificuldade de comunicar-se

Pessoas com paralisia cerebral

Aquele que necessita de gestos para comunicar-se

09 professores 01 professor 02 professores

Quando levados à reflexão sobre que tipo de alunos com necessidades

educacionais especiais, necessitam de comunicação alternativa:

Todas as patologias que altera e dificulta sua comunicação com o meio.

Aquele que não tem linguagem oral. Alunos desprovidos da fala.

Aluno com paralisia cerebral e múltiplas deficiências.

06 professores 03 professores 03 professores

Quanto a proposta de elaboração de um sistema de comunicação alternativa

os professores pontuaram que seria necessário.

15

Avaliar o aluno. Uso de alfabeto móvel; figuras de ações; objetos e utilização de pranchas.

Elaborar fichas com figuras e ou objetos que representem ações, necessidades, conceitos, etc., e também usando letras e palavras.

Usar figuras do dia a dia e várias outras.

Usar EVA, com recortes de palavras, imagens ou objetos que facilite a comunicação.

07 professores 03 professores 01 professor 01 professor

Finalizado os estudos teóricos e mediante as orientações de como proceder

para pesquisar na internet imagens para elaboração de um sistema de

comunicação. Os participantes escolheram categorias de imagens que julgassem

serem importantes para se estabelecer elos comunicativos com alunos desprovidos

de linguagem oral.

As categorias levantadas pelo grupo foram:

٠ alimentação (imagens de frutas, arroz, feijão, carnes, leite, chá,

café, etc.);

٠ vestuário (vestido, camiseta, calça, etc.,);

٠ ações (andar, correr, sair, pular, etc.,);

٠ higiene (sabonete, creme dental, papel higiênico, etc.,).

No material elaborado pelo grupo foram contempladas imagens para se

trabalhar também:

٠ Histórias;

٠ Sentenças enigmáticas;

٠ Sentenças matemáticas;

٠ Relação de quantidade;

٠ Problema matemático;

٠ Alfabeto ilustrado;

٠ Lista de compras;

٠ Receitas culinárias.

Foi realizado também orientação sobre outros programas de comunicação

alternativa, disponibilização de endereços eletrônicos para pesquisas sobre a

Comunicação Alternativa. Durante o desenvolvimento do curso foi possível constatar

o envolvimento dos professores, os quais demonstraram interesse em participar dos

16

estudos e compreensão da necessidade de se buscar meios para que a

comunicação das pessoas sem linguagem oral ocorra.

Finalizado o curso foi solicitada uma avaliação do mesmo, transcrita a

seguir:

Esta modalidade de capacitação atendeu as minhas expectativas?

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente

12 professores

Os encontros propiciaram subsídios teórico-praticos para o meu

enriquecimento pedagógico?

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente

12 professores

A carga horária disponibilizada foi adequada para a realização dos trabalhos?

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente

12 professores

Todos os participantes envolveram-se na elaboração das respostas dos

roteiros de estudo e da sistematização do trabalho ao final de cada encontro

conforme as orientações?

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente

11 professores 01 professor

Os horários de inicio e termino de trabalho foram respeitados?

Concordo totalmente Concordo parcialmente Discordo totalmente

12 professores

17

O que você achou de poder elaborar o próprio material, usando o aplicativo

power point?

Muito bom Bom Razoável Péssimo

12 professores

5 – Considerações Finais

Os resultados da pesquisa reforçaram o que a literatura tem pontuado, ou

seja, que a CAA configura-se de suma importância para o processo de

desenvolvimento da pessoa desprovida de linguagem oral.

As opiniões expressas pelos professores evidenciaram que a CAA pode

possibilitar maior participação dos alunos e professores em situações de

comunicação, contudo, “O uso de CAA não deve ser considerado uma opção – “ou

uso... ou não uso” -, mas sim uma forma suplementar para a comunicação”.

(SENNEYEY, MARTINS, 2009, p.145)

A Comunicação Alternativa e Ampliada enquanto etapa do desenvolvimento

psicolingüístico e educacional deve ser concebida e planejada, delimitando-se

objetivos para assim se circunscrever em intervenções que almejem a eficácia

pragmática da comunicação e os pré-requisitos para a aquisição do código escrito.

Para que o processo seja eficaz não basta simplesmente disponibilizar um

sistema de comunicação, e sim primeiramente conhece-lo, compreende-lo, para

torná-lo funcional para o aluno.

Se um programa de alta tecnologia, contendo um sistema de CAA, é

inacessível ao professor, este pode lançar mão de seus conhecimentos e elaborar

um sistema de baixa tecnologia utilizando os recursos da informática, com o Power

Point e a internet, por exemplo.

Quando o sistema tem funcionalidade a aceitação ocorre de forma mais

efetiva e, enquanto recurso didático, o professor pode melhor planejar suas aulas e

suas práticas pedagógicas pois terá condições de evidenciar não só as lacunas no

processo de desenvolvimento como as aquisições feitas pelo aluno uma vez que o

sistema permite a ele compreender as mensagens e respostas emitidas.

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Para finalizar, chamamos a atenção de que nem todos os aspectos da

comunicação verbal podem ser substituídos por um sistema de CAA, porém esse

vem conquistando cada vez mais espaço na área clinica e educacional, pois

evidencia-se como uma das possibilidades de se dar voz ao aluno silenciado e de

inseri-lo no contexto educacional e social.

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Referencias

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