curso de especializaÇÃo em terapia cognitivo ... · as emoções e mantê-las de uma forma...
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CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM TERAPIA
COGNITIVO COMPORTAMENTAL
ANA CLAUDIA ERTHAL
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL - MANEJO
E TRATAMENTO DO ESTRESSE OCUPACIONAL
SÃO PAULO
2016
ANA CLAUDIA ERTHAL
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL - MANEJO
E TRATAMENTO DO ESTRESSE OCUPACIONAL
SÃO PAULO
2016
Monografia apresentada como requisito
para obtenção do título de Especialização
do Curso de Terapia Cognitivo-
comportamental do CETCC tendo como
orientadora a Profª. Drª. Renata T.
Alarcon e coorientadora a Profª. Msc.
Eliana Melcher Martins.
Fica autorizada a reprodução e divulgação deste trabalho, desde que citada a
fonte.
Erthal, Ana Claudia
TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – MANEJO E TRATAMENTO
DO ESTRESSE OCUPACIONAL
Ana Claudia Erthal, Renata Trigueirinho Alarcon, Eliana Melcher Martins – São
Paulo, 2016.
33f + CD-ROOM
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) – Centro de Estudos em
Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC).
Orientação: Prof.ª Drª Renata Trigueirinho Alarcon
1. estresse 2. terapia cognitivo-comportamental 3. manejo do estresse. I Erthal,
Ana Claudia. II Alarcon, Renata Trigueirinho. III Martins, Eliana Melcher
Ana Claudia Erthal
TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL – MANEJO E TRATAMENTO
DO ESTRESSE OCUPACIONAL
Monografia apresentada ao Centro de Estudos em Terapia Cognitivo-
Comportamental como parte das exigências para obtenção do título de
Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental.
BANCA EXAMINADORA
Parecer : _______________________________________________________
Prof.º : _________________________________________________________
Parecer : _______________________________________________________
Prof.º : _________________________________________________________
São Paulo, ____ de ________________________de _________
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pela sabedoria que me concedeste para iniciar
este curso e esse trabalho, pois sem Ele nada sou, nada possuo, por me
capacitar para que com meu conhecimento eu possa contribuir com a melhora
de muitas pessoas.
Agradeço aos meus pais Gilberto e Claudia e meu irmão Gilberto que sempre
me apoiaram e me incentivaram a estudar, acreditando em mim e sempre
esperando o meu melhor, serei eternamente grata a vocês.
Agradeço ao meu marido Paulo, por sempre me apoiar, ajudar, incentivar, por
entender, as muitas horas dedicadas para realização desse curso e deste
trabalho, por acreditar em minha capacidade. Obrigada!
Agradeço aos professores que tanto nos ensinaram, tanto contribuíram para
nossa formação, pelo conhecimento compartilhado de maneira tão rica e
satisfatória. E em especial a Eliana e Élcio por abrirem turma de especialização
na terça-feira e assim eu e minha amiga e companheira de curso Renilda
pudéssemos complementar o curso de TCC que já havíamos realizado, muito
obrigada.
Agradeço a orientadora Renata pela ajuda, paciência e disponibilidade para que
esse trabalho fosse concluído, obrigada!
Agradeço aos colegas que sempre estão à disposição para contribuir com suas
experiências e dividir conhecimento. Todos contribuíram com suas vivências
proporcionando um conhecimento riquíssimo que não se encontra em livros,
nem em teses, mas que só compreendemos no dia-a-dia. Obrigada por essa
troca.
Resumo
Sintomas de estresse na maioria das vezes afetam significativamente a
qualidade de vida do indivíduo, seus efeitos nas empresas são notados pelas
licenças médicas, pressões para prazos e metas e o trabalho em equipe. O
objetivo desta revisão foi identificar técnicas de intervenção, tratamento e manejo
de estresse ocupacional em terapia cognitivo-comportamental. Quatro artigos
sobre o tema foram encontrados através de banco de dados eletrônicos. Os
resultados indicaram que a terapia cognitivo-comportamental é a mais eficaz
para o tratamento e manejo do estresse no ambiente de trabalho. Foram
encontradas evidências de que as técnicas do modelo cognitivo como a
reestruturação cognitiva e exercício de relaxamento reduziram as queixas de
estresse.
Palavras-chave: estresse ocupacional, terapia cognitivo-comportamental.
Abstract
Stress symptoms most often significantly affect the individual's quality of life, their
effects on business are noticed by medical licenses, pressure to deadlines and
targets and teamwork. The objective of this review was to identify intervention
techniques, treatment and management of occupational stress on cognitive
behavioral therapy. Four articles on the topic were found through electronic
database. The results indicated that cognitive-behavioral therapy is the most
effective for the treatment and management of stress in the workplace. Evidence
that the techniques of the cognitive model as cognitive restructuring and
relaxation exercise reduced stress complaints were found.
Keywords: occupational stress, Cognitive-behavioral Therapy
SUMÁRIO
1 Introdução.........................................................................................................7
2 Objetivo...........................................................................................................10
3 Metodologia....................................................................................................11
4 Resultados......................................................................................................12
4.1 Estresse.......................................................................................................13
4.2 Terapia cognitivo-comportamental e manejo do estresse...........................15
4.3 Regulação emocional..................................................................................23
4.4 Enfrentamento e manejo do estresse através de técnicas de regulação
emocional...........................................................................................................24
5 Discussão.......................................................................................................30
6 Conclusão.......................................................................................................31
7 Referências bibliográficas...............................................................................32
7
1 INTRODUÇÃO
Atualmente tem crescido o número de afastamentos dos profissionais devido
estresse no ambiente laboral, decorrente de diversas atividades e do lidar com as
relações interpessoais, o que pode, se não tratado ou prevenido, desencadear um
transtorno mental.
A maioria dos profissionais trabalham muitas horas por dia, não restando tempo
para momentos prazerosos, dependendo do local onde trabalhem, passam anos
realizando a mesma função. Muitos não possuem autonomia para a resolução de
problemas e tomadas de decisões. Há também o fator má remuneração e as pressões
psicológicas sofridas relacionadas aos prazos da entrega dos serviços e a
produtividade, são fatores que podem desencadear o adoecimento.
Lipp (2000) refere que a palavra “stress” é de origem latina, utilizada na área
da saúde desde o século XVII, mas em 1926 o médico Hans Selye a usou para
descrever o estado de tensão patológico do organismo. Ultimamente já existe na
língua portuguesa a palavra “estresse”, mas alguns especialistas usam a forma
“stress”.
O estresse é um estado de tensão que causa um desequilíbrio interno do
organismo. O indivíduo em momentos de conflitos muito difíceis de lidar sente o
coração bater de forma acelerada, o estômago tem dificuldade para digerir a refeição,
podendo ocorrer também a insônia. De um modo geral o corpo todo funciona em
sintonia, como uma banda, de maneira equilibrada, dessa forma, o coração bate num
ritmo apropriado às suas funções, pulmões, fígado, pâncreas e estômago tem seu
próprio compasso que trabalha em harmonia com os demais órgãos. A banda do
organismo toca o compasso da vida com equilíbrio preciso, mas quando o estresse
acontece, esse equilíbrio chamado de homeostase, é quebrado e não há mais a
sintonia entre os vários órgãos do corpo. Cada órgão trabalha em ritmo diferente
devido fato de que alguns necessitam trabalhar mais e outros menos para
conseguirem lidar com o problema. Assim, ocorrendo o estresse inicial (LIPP, 2000).
8
A resposta de estresse possui dois elementos, um psicológico e outro
fisiológico. O elemento psicológico da resposta de estresse abrange as emoções
como ansiedade e tensão. Em consequência da natureza desagradável destas
emoções o indivíduo é levado a reduzi-las. O elemento fisiológico envolve mudança
corporais, como tensão muscular, frequência cardíaca e pressão sanguínea
aumentada, estas alterações preparam a pessoa para a ação de luta ou fuga. Elas
também são desagradáveis e o indivíduo tende a reduzi-las. (HOLMES, 2001).
Os prejuízos causados pelo estresse são percebidos através das licenças
médicas, queda de produtividade, desmotivação e problemas nas relações
interpessoais.
Pesquisa da representação brasileira da International Stress Management
Association (Isma – BR), associação internacional, mostra que 70% da população do
Brasil está estressada. No ano de 2011 a Previdência Social prestou 109 mil auxílios-
doença a profissionais que sofreram efeitos do estresse. Em 2010 foram mais de 85
mil casos, havendo aumento de mais de 28%. (OLIVETTE, 2011).
Sintomas de depressão, ansiedade e estresse, na maioria das vezes tem
efeitos negativos, o que afeta de forma significativa a qualidade de vida do indivíduo.
Borges, Luiz e Domingos (2009) realizaram uma pesquisa com a finalidade de
avaliar a intervenção para manejo de estresse, nível de ansiedade, depressão e dor
crônica e comparar os resultados pré e pós-intervenção. Foram utilizados Inventário
de Sintomas de Stress para Adultos Lipp, Inventário Beck de Depressão e Inventário
Beck de Ansiedade. Na intervenção foram realizadas estratégias e técnicas cognitivo-
comportamentais.
A terapia cognitivo-comportamental se baseia em dois princípios básicos: a
cognição tem influência sobre as emoções e comportamentos; e os comportamos
podem afetar intensamente os padrões de pensamento e emoções. (WRIGHT,
BASCO E THASE, 2008).
A abordagem cognitivo-comportamental visa realizar mudanças cognitivas
através dos pensamentos disfuncionais e crenças irracionais, emoções e
comportamentos, duradouros. Destaca a aliança terapêutica, é educativo baseando-
se na resolução das dificuldades atuais do paciente.
Grande número de estudos demonstrou que a terapia cognitivo-
comportamental é um tratamento eficaz para estresse, depressão e transtornos de
ansiedade. (WRIGHT, BASCO E THASE, 2008).
9
Define-se a desregulação emocional como a dificuldade de lidar com as
experiências ou processar as emoções. Pode se manifestar tanto como intensificação
excessiva quanto como desativação excessiva das emoções. A intensificação
excessiva inclui qualquer aumento de intensidade de uma emoção que seja sentida
pelo indivíduo como indesejada, intrusiva, opressora ou problemática. A desativação
excessiva de emoções inclui experiências dissociativas, como despersonalização e
desrealização, cisão ou entorpecimento emocional em situações na quais
normalmente se esperaria que as emoções fossem sentidas em alguma intensidade
ou magnitude. Por exemplo, ao confrontar uma situação de perigo de vida, um
indivíduo reage com entorpecimento emocional e relata ter se sentido como se
estivesse em outra dimensão de tempo e espaço, observando o que parecia ser um
filme. (LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
A regulação emocional é como um termostato homeostático capaz de regular
as emoções e mantê-las de uma forma “controlável” para que se possa lidar com elas.
(LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
Este trabalho visa apresentar técnicas da terapia cognitivo-comportamental e
regulação emocional para manejo e tratamento do estresse laboral, através de uma
revisão bibliográfica.
10
2 OBJETIVO
O principal objetivo deste trabalho foi verificar manejo e tratamento ao estresse
ocupacional, através de avaliação e técnicas da terapia cognitivo-comportamental e
regulação emocional, contribuindo para o enfrentamento do sofrimento emocional no
ambiente profissional.
11
3 METODOLOGIA
Para esse trabalho foi realizada uma pesquisa bibliográfica em livros de
referência sobre estresse, manejo do estresse e terapia cognitivo-comportamental e
artigos científicos pesquisados nas bases de dados Scielo, Google Acadêmico, com
as palavras-chave estresse, terapia cognitivo-comportamental, manejo do estresse.
Foram incluídos somente trabalhos em língua portuguesa que trouxessem
técnicas de manejo de estresse.
12
4 RESULTADOS
Para esta revisão bibliográfica foram encontrados quatro artigos em português
abordando o tema de avaliação, intervenção, tratamento e manejo do estresse
baseados na terapia cognitivo-comportamental. O que mostra a escassez de
pesquisas referentes ao tema a nível nacional.
13
4. 1 O Estresse
Conforme Murta e Tróccoli (2004) o trabalho é uma das fontes de satisfação de
diversas necessidades do homem, de auto realização e mantenedor das relações
sociais. Porém, também pode ser causa de adoecimento quando existem fatores de
risco para a saúde física ou mental. Fatores de risco psicossociais podem causar
estresse, compreendido como uma reação complicada com componentes físicos e
psicológicos resultantes a acontecimentos que vão além dos recursos de
enfrentamento do ser humano.
Atualmente tem crescido o número de afastamentos dos profissionais devido
estresse no ambiente laboral, decorrente de diversas atividades e do lidar com as
relações interpessoais, o que pode, se não tratado ou prevenido, desencadear um
transtorno mental.
Segundo Sadir e Lipp (2013) o estresse vem se tornando um importante
problema de saúde, ocorre na área profissional como no âmbito pessoal, tem
aumentado nos últimos anos na cidade de São Paulo o número de pessoas com
estresse, aumento de 3% entre os anos de 1996 e 2004.
De acordo com Mello (2002) tudo que ameaça a vida gera estresse e respostas
de adaptação, das quais participa o corpo como um todo. Selye chamou o estresse
de síndrome geral de adaptação e escreveu sobre três fases consecutivas, de alarme,
resistência e esgotamento.
Durante a fase de alarme, o corpo reage tanto lutando quanto fugindo, por meio
da ativação do eixo hipotalâmico-hipofisário-suprarrenal (HHSR) e da secreção de
cortisol. Ocorrendo taquicardia, diminuição do tônus muscular e da temperatura. Se o
agente estressor continuar agindo, o organismo entra para a segunda fase, de
resistência, onde o corpo tenta lidar com o estresse, encontrando soluções, energia e
comportamento para resolver dificuldades enfrentadas (MELLO, 2000).
Na terceira fase, de esgotamento, pode ocorrer uma falha nos mecanismos de
adaptação a estímulos constantes e excessivos, o corpo pode iniciar um processo de
desequilíbrio durante a fase de exaustão, caracterizada por erros de respostas para
14
defender e manejar, problemas no estômago, cansaço, irritabilidade e agitação.
(MELLO, 2000).
A Organização Mundial de Saúde alega que o estresse é uma "epidemia
global", e está associado a sete entre cada 10 das causas de morte em países
desenvolvidos. (World Health Orzanization, 1994; Quick, Cooper, 2003 citado por
NEVES NETO, 2011).
Vive-se numa época de grandes exigências de atualização, frequentemente o
indivíduo é chamado a lidar com novos dados. O ser humano necessita adaptar-se,
diante de demandas e pressões vindas da família, do meio social, do trabalho e meio
ambiente. Diversos fatores aos quais precisa habituar-se são as responsabilidades,
autocrítica, dificuldades físicas e psicológicas.
O quadro de estresse não desenvolve repentinamente, ocorre num processo
gradativo de resposta a experiências e situações vividas, em geral que são
desagradáveis e difíceis de lidar.
De acordo com Souza, Campos e Silva (2002) saber o que é o estresse,
conhecer os sintomas e suas fases, auxilia o indivíduo a usar sua força a seu favor, já
que, é quase impossível evitá-lo durante nossa vida, contudo, modificar os
comportamentos mediante os acontecimentos do dia-a-dia e adotar hábitos
saudáveis, como, a prática de exercícios físicos regularmente, alimentação adequada,
momentos de relaxamento, são formas de encará-lo de maneira mais adequada,
equilibrada e inteligente.
As técnicas da terapia cognitivo-comportamental têm se mostrado bastante
eficazes no tratamento e manejo do estresse, muitos estudos estão comprovando os
benefícios para a qualidade de vida do indivíduo.
15
4.2 TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL E MANEJO DO
ESTRESSE
Beck, Judith (2013) afirma que Aaron Beck, seu pai, desenvolveu uma
psicoterapia no ano de 1960, a qual chamou inicialmente de terapia cognitiva. Beck
criou uma psicoterapia estruturada, de curta duração, voltada para o momento atual
do indivíduo, direcionada para a solução das dificuldades atuais e mudanças dos
pensamentos e comportamentos disfuncionais e inadequados.
Aaron T. Beck foi a primeira pessoa a desenvolver teorias e métodos para
aplicar as técnicas cognitivas e comportamentais a transtornos emocionais, sua
finalidade era de uma terapia cognitivamente orientada com o objetivo de modificar
pensamentos disfuncionais e foi testada em muitas pesquisas (BECK, Judith, 2013).
Segundo Alford e Beck (1997) citado por Beck, Judith (2013) todos os formatos
de terapia cognitivo-comportamental provenientes de Beck, o tratamento está
fundamentado em uma estruturação cognitiva, as crenças e estratégias de
comportamento que distinguem um transtorno específico. O tratamento está baseado
em uma conceituação, de cada paciente - crenças e modelos de comportamento.
Terapeuta busca causar de diversas maneiras uma mudança cognitiva no
pensamento e na estrutura de crenças do paciente, para produzir uma alteração
duradoura.
A terapia cognitivo-comportamental se baseia em dois princípios: a cognição
tem influência sobre as emoções e comportamentos; e os comportamos podem afetar
intensamente os padrões de pensamento e emoções (WRIGHT, BASCO E THASE,
2008).
De acordo com o modelo cognitivo, identifica-se três níveis de cognição:
pensamentos automáticos disfuncionais, nível pouco profundo e espontâneo que
aparece na mente perante várias circunstâncias do dia-a-dia causando sofrimento
emocional; as crenças intermediárias, conteúdos cognitivos que surgem sob a forma
de normas e suposições unidas ao nível mais profundo, que são as crenças centrais
sobre si mesmo, os outros e o mundo, que se desenvolve a partir de experiências
vividas na infância (BECK, 1997, citado por ARAÚJO E SHINOHARA, 2002).
O objetivo da terapia cognitivo-comportamental é causar mudanças cognitivas
através dos pensamentos disfuncionais e das crenças, emoções e comportamentos,
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assim, flexibilizando a maneira de pensar sobre si e sobre as situações da vida.
Valoriza o vínculo terapêutico sólido, tem como finalidade treinar o paciente a ser seu
próprio terapeuta. Ressalta também a prevenção de recaída, baseando-se na
resolução das dificuldades atuais do paciente, destaca a cooperação e a participação
em equipe, entre paciente e terapeuta.
Durante o tratamento, usa-se uma abordagem colaborativa e psicoeducativa,
com experiências de aprendizado delineadas com o objetivo de treinar os pacientes
a: identificar e monitorar pensamentos automáticos; distinguir as relações entre
pensamento, emoção e comportamento; avaliar a validez de pensamentos
automáticos e crenças; ajustar conceitualizações tendenciosas, substituindo
pensamentos distorcidos por pensamentos mais realistas; e identificar e alterar
crenças, pressupostos ou esquemas subjacentes a padrões disfuncionais de
pensamento. (KNAPP e BECK, 2008).
Um amplo número de pesquisas confirmou que a terapia cognitivo-
comportamental é um tratamento efetivo para estresse, depressão, transtornos de
ansiedade e outros quadros clínicos (WRIGHT, BASCO E THASE, 2008).
A terapia cognitivo-comportamental tem sido ajustada a pacientes de várias
condições socioeconômicas, diferentes culturas e faixa etária, desde crianças até
adultos na terceira idade. Utilizada atualmente em cuidados primários da saúde e nas
formas de família, casal e grupo (BECK, Judith, 2013).
O modelo cognitivo sugere que o pensamento disfuncional influencia as
emoções e comportamentos do indivíduo, é usado no tratamento de todos os
transtornos psicológicos. Quando as pessoas aprendem a identificar seu pensamento
e questioná-lo de forma adaptativa e realista, elas conseguem uma melhora em seu
quadro emocional e comportamental (BECK, Judith, 2013).
Para que haja melhora duradoura no humor e no comportamento do paciente,
os terapeutas cognitivos trabalham mais profundamente na cognição: as crenças
básicas do paciente sobre si mesmo, seu mundo e as outras pessoas. A modificação
das crenças produz uma mudança importante e sólida. (BECK, Judith, 2013).
Os principais elementos do modelo cognitivo-comportamental estão
estruturados a seguir:
Evento Avaliação cognitiva Emoção Comportamento
(Pensamento)
17
Segundo Wright, Basco e Thase (2008, p. 17)
o processamento cognitivo recebe um papel central nesse modelo, porque o ser humano continuamente avalia a relevância dos acontecimentos internamente e no ambiente que o circunda (p. ex., eventos estressantes, comentários ou ausência de comentários dos outros, memórias de eventos do passado, tarefas a serem feitas, sensações corporais), e as cognições estão frequentemente associadas às reações emocionais. As emoções e as respostas psicológicas são estimuladas por essas cognições desadaptativas.
Pensamentos automáticos passam por nossas mentes quando nos
encontramos em situações problemáticas. Mesmo que, estejamos conscientes da
presença dos pensamentos, geralmente não estão sujeitos à avaliação racional
atenta. A terapia cognitiva-comportamental treina os pacientes a “pensar sobre o
pensamento” para chegar ao objetivo de trazer às cognições autônomas à atenção e
ao domínio conscientes (WRIGHT, BASCO E THASE, 2008)
Os pensamentos automáticos podem gerar emoções desagradáveis e
comportamentos inadequados, um dos sinais para identificar que os pensamentos
estão acontecendo são as emoções intensas. Ao identificar seus próprios
pensamentos, o terapeuta pode aperfeiçoar sua compreensão de conceitos básicos,
aumentar a sua empatia com os pacientes e a compreender sua estrutura cognitiva e
comportamental que podem influenciar a relação terapêutica (WRIGHT, BASCO E
THASE, 2008).
Esquemas são princípios de pensamento que iniciam na infância e são
influenciados pelas experiências de vida, abrangendo o exemplo dos pais, as
atividades educativas, as experiências de seus pares e os traumas psicológicos.
Crenças intermediárias são normas condicionadas como afirmações do tipo se-então,
que influenciam a autoestima e as emoções. Exemplo: “Tenho de ser perfeito para ser
aceito”. Crenças nucleares sobre si mesmo são normas para interpretar os dados do
ambiente relacionadas à autoestima. Exemplo: “Não sou digna de amor” (WRIGHT,
BASCO E THASE, 2008).
O registro de pensamentos disfuncionais (RPD) é uma das técnicas
fundamentais para o tratamento na terapia cognitivo-comportamental, este exercício
é muito válido para ajudar o paciente a identificar estes pensamentos que geram
emoções intensas e desagradáveis e comportamentos inadequados. Ensina-se o
paciente a técnica e ele posteriormente anota durante sua rotina as situações que
ocorrem esses pensamentos e emoções. Após o treino do registro ocorrerá a
18
flexibilização do pensamento através do questionamento socrático, tem o objetivo de
ajudar eles a identificarem e mudar o pensamento disfuncional.
O treinamento de RPD pode habilitar os pacientes a encontrar, explicar e mudar
os sentidos que atribuíram a acontecimentos intrigantes e compor uma resposta
alternativa (KNAPP e BECK, 2008).
O questionamento socrático são questões feitas ao paciente que excitem o
interesse e o anseio de investigar, são questionamentos para a reflexão e
enfrentamento do pensamento, desenvolvendo um jeito mais benéfico de pensar,
ideal e realista, melhorando a situação emocional e comportamental (WRIGHT,
BASCO E THASE, 2008).
As técnicas comportamentais podem ser utilizadas nos casos de depressão nos
quais há necessidade da ativação comportamental do paciente. Quando não
necessita de ativação comportamental, métodos mais voltados à cognição podem ser
realizados. Para pacientes com transtorno de ansiedade o modelo cognitivo será
necessário antes do ensaio comportamental. Entre as técnicas comportamentais
estão a agenda de atividades, avaliações de prazer, prescrições comportamentais de
exercícios graduais, treinamento de habilidades sociais e técnicas de solução de
problemas. (KNAPP e BECK, 2008).
Essas técnicas podem ser utilizadas no manejo do estresse, pois, em situações
estressantes, conflitos no trabalho, estes pensamentos disfuncionais podem gerar
dificuldades para lidar com a pressão, metas a serem cumpridas, lidar com equipe de
trabalho, que se trabalhados e encontrados pensamentos mais realistas auxiliará o
indivíduo a enfrentar situações estressantes de uma maneira mais benéfica e
equilibrada.
Muitos estudos comprovam que a terapia cognitivo-comportamental é bastante
eficaz em tratamentos para transtornos mentais, porém é de muita valia para qualquer
pessoa, administrando melhor os pensamentos e as emoções, automaticamente nota-
se uma melhora na qualidade de vida, no modo de lidar com os conflitos.
Segundo Wright, Basco e Thase (2008) a tática de reestruturação cognitiva é
identificar pensamentos automáticos e esquemas nas sessões, treinar capacidades
para modificar os pensamentos e, em seguida, fazê-los concretizarem treinamentos
planejados para aumentar os aprendizados da terapia para as situações do dia-a-dia.
É necessária a prática recorrente até que os pacientes modifiquem os pensamentos
disfuncionais.
19
Murta e Tróccoli (2004) realizaram estudo de avaliação de intervenção em
estresse laboral com a finalidade de identificar fontes de satisfação e insatisfação
sobre o programa em manejo de estresse ocupacional fundamentada na terapia
cognitivo-comportamental. Duzentos e dez profissionais de um hospital participaram
de 24 atendimentos grupais conduzidos ao desenvolvimento de enfrentamento ao
estresse, por meio de treino comportamental, técnica de relaxamento, reestruturação
cognitiva, solução de problemas e automonitoramento. Os relatos verbais dos
participantes indicaram que as fontes de satisfação foram em relação a técnicas e
instrumentos utilizados, temas discutidos, suporte social, treino de habilidades sociais,
sentimentos agradáveis e solução de problemas.
Neste estudo constatou-se que os resultados tiveram várias fontes de
satisfação, tanto quanto a questão terapêutica quando ao impacto dos atendimentos
sobre o bem-estar dos participantes, o que mostra quão benéfico é o treino do manejo
adequado do estresse laboral, onde os profissionais tiveram um espaço de
aprendizado, treino das habilidades sociais, assim, lidando com as adversidades do
contexto ocupacional com mais equilíbrio físico e mental. (MURTA e TRÓCCOLI,
2004).
Realizada revisão que procurou identificar as características metodológicas e
de intervenção de programas de manejo de estresse ocupacional, os resultados
indicaram que os programas têm sido implementados sobretudo junto a profissionais
de saúde e educação, com amostras pequenas, experimentais, avaliação de variáveis
dependentes individuais e técnicas cognitivo-comportamentais. A finalidade deste
trabalho foi identificar as situações ocupacionais em que são realizados os programas
de manejo de estresse laboral com foco na pessoa, as intervenções, características
da avaliação e as evidências da eficácia destes programas. Identificou-se que um
grande número das intervenções em manejo de estresse ocupacional fazem uso de
técnicas de terapia cognitivo-comportamentais, como fornecimento de instruções
sobre causas e consequências de estresse, relaxamento, treino de assertividade,
reestruturação cognitiva e treino em resolução de problemas (MURTA, 2005).
Conclui-se neste trabalho que os dados mostram evidências de que as
intervenções em manejo de estresse ocupacional com foco no indivíduo produzem
efeitos benéficos sobre a saúde do profissional. Estes efeitos encontrados, sobretudo
em estudos com conteúdo multimodal, e as variáveis que foram afetadas foram
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variáveis verbais, tais como sintomas de estresse e queixas somáticas (MURTA,
2005).
Borges, Luiz e Domingos (2009) realizaram relato de caso, com uma paciente
do sexo feminino, 28 anos, submetida a 35 atendimentos. A finalidade foi avaliar a
intervenção para manejo de estresse, nível de ansiedade, depressão e dor crônica e
comparar os resultados pré e pós-intervenção. Utilizaram-se Entrevistas, Inventário
de Sintomas de Stress para Adultos Lipp, Inventário Beck de Depressão e Inventário
Beck de Ansiedade. Na intervenção foram feitas técnicas cognitivo-comportamentais.
Os resultados confirmaram a diminuição das queixas de estresse, ansiedade,
depressão e dor, e obtenção de repertório comportamental e cognitivo. Os dados
obtidos são compatíveis com a literatura referente ao manejo de estresse e dor
crônica.
Neste trabalho foi utilizado o Treino de Controle do Stress (TCS) que é uma
modalidade da terapia cognitivo-comportamental, que visa mudar costumes de vida e
de comportamento, em quatro áreas do Treino do Controle do Stress: nutrição anti-
stress, relaxamento da tensão mental e física, prática de exercício físico e
modificações cognitivas e comportamentais. Os atendimentos envolvem técnicas de
resolução de problemas, administração do tempo, modificação do comportamento,
treinamento de assertividade, domínio da ansiedade através de respiração profunda
e reestruturação cognitiva. Essencial a identificação e a alteração das fontes internas
de estresse através da reestruturação e fontes externas. Assim, se a interpretação for
disfuncional pode desencadear dificuldades emocionais. Portanto, é importante a
reestruturação de crenças no controle do stress (BORGES, LUIZ e DOMINGOS,
2009).
Porém, tão importante quanto a identificação dos estressores, são as táticas de
enfrentamento usadas pelo paciente para diminuir o impulso do stress sobre o corpo.
O uso de estratégias de enfrentamento pode contribuir para o sucesso dos agentes
estressores (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
A literatura descreve enfrentamento ou coping como a maneira que o indivíduo
lida com recursos internos ou externos, para enfrentar e diminuir as consequências
do estresse sobre seu estado físico e emocional. O coping apresenta dois papéis:
modificar as relações indivíduo-ambiente controlando a circunstância geradora de
tensão; ou modular a resposta emocional evocada pela situação-problema. Outras
21
estratégias de enfrentamento são apontadas, como: o suporte religioso e o suporte
social (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
A participante desse estudo apresentava queixa principal de cansaço físico
excessivo, tensão muscular, dificuldade de concentração e sono, mudanças do
apetite, choro fácil, preocupação excessiva com o trabalho e dificuldade de
relacionamento social, além de sintomas físicos de dor crônica na coluna cervical e
tendinite no ombro direito (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
Para avaliação foram usados os instrumentos: Inventário Beck de Depressão
(BDI), Inventário Beck de Ansiedade (BAI) e Inventário de Sintomas de Stress para
adultos de Lipp (ISSL). Foram realizadas 35 sessões semanais de terapia cognitivo-
comportamental. O procedimento inclui avaliação inicial (pré-intervenção),
intervenção e avaliação final (pós-intervenção). Foram sadas técnicas como
registro de pensamentos disfuncionais; reestruturação cognitiva; treino do controle do
estresse e ansiedade (nutrição anti-stress, respiração profunda, relaxamento, ensino
do uso de exercícios físicos e mudanças cognitivo-comportamentais); treino de
assertividade (expressão de sentimentos e pensamentos adequadamente, ensaio
comportamental – role play); treino da habilidade social; parada de pensamento
(interrupção de pensamento indesejável em relação ao trabalho), distração cognitiva,
visualização e gerenciamento do tempo (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
De acordo com os dados obtidos nos instrumentos, pode-se averiguar um
prejuízo importante no funcionamento biopsicossocial, a confirmação de um quadro
de estresse na fase de exaustão (ISSL) com predominância de sintomas psicológicos
(72%). Quanto aos sintomas físicos o comprometimento foi de (41%). Apresentou
depressão e ansiedade moderada nos Inventários (BDI= 19 pontos) e (BAI= 21
pontos). (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
Na avaliação pós-intervenção paciente apresentou sintomas de estresse na
fase de resistência com predominância de sintomas físicos (30%), e sintomas
psicológicos (20%). Verificou-se uma diminuição do estresse na fase de resistência,
reduzindo o risco de desenvolver doenças mais graves. Nas fases de exaustão e
quase-exaustão, há possibilidade do aparecimento de doenças em função da queda
da imunidade. Houve redução dos sintomas cognitivos, permanecendo a queixa de
cansaço físico, característicos da fase de resistência. Sugere-se que isso tenha
ocorrido devido sobrecarga de trabalho e a dificuldade da cliente em praticar mais
atividades de lazer. Após avaliação pós-intervenção a cliente não apresentou
22
sintomas de estresse, apresentou mudanças na forma de lidar com as dificuldades no
trabalho, familiares e sociais, o que mostra aquisição de repertório cognitivo e
comportamental (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
Os dados adquiridos são compatíveis com a literatura referente ao manejo do
estresse. Importante destacar que são necessários outros estudos para permitir
generalização desses resultados (BORGES, LUIZ e DOMINGOS, 2009).
Neves Neto (2011) revisou as principais técnicas de respiração usadas para
diminuição de estresse e aumento do bem-estar. O exercício de respiração é uma das
práticas mais frequentes utilizadas na terapia cognitivo-comportamental. São
fundamentadas nas medicinas tradicionais, mas a medicina e a psicologia atuais têm
uma significativa contribuição ao examinar os mecanismos psicofisiológicos destas
práticas, voltadas a redução do estresse. Durante a respiração diafragmática o
objetivo é treinar a utilização do músculo diafragma durante a respiração. O paciente
pode ser treinado a colocar uma das mãos na região do tórax e outra na região
abdominal, ele deve influenciar o movimento conscientemente, até notar que a mão
próxima a região umbilical é a que mais se mexe durante a respiração. O fundamento
é aprofundar e diminuir o ciclo respiratório, que pode estar sofrendo influências do
neurohormônios do estresse e da ansiedade. Os benefícios dos exercícios de
respiração são: estabilização do sistema nervoso autonômico, aumento da
variabilidade da frequência cardíaca, diminuição da pressão arterial, aumento da
função pulmonar, aumento da função imune, aumento do fluxo de sangue, melhora
na digestão, melhora da qualidade do sono, aumento do bem-estar e qualidade de
vida.
23
4.3 REGULAÇÃO EMOCIONAL
Segundo Leahy, Tirch e Napolitano (2013) os indivíduos que lidam com
experiências estressantes vivenciam as emoções em intensidade crescente, o que,
por si só, pode ser mais uma causa de estresse e intensificação das emoções. Uma
vez que as emoções de ansiedade, tristeza ou raiva surgem, formas problemáticas de
lidar com sua intensidade podem determinar se as experiências estressantes vão
leva-lo a novos comportamentos disfuncionais. A desregulação emocional pode incitá-
lo a queixar-se, provocar e atacar ou afastar-se dos outros. Ele pode ficar ruminando
sobre suas emoções, tentando descobrir o que está acontecendo, o que o faz
mergulhar ainda mais na depressão.
Define-se a desregulação emocional como a dificuldade de lidar com as
experiências ou processar as emoções. Pode se manifestar tanto como intensificação
excessiva quanto como desativação excessiva das emoções. A intensificação
excessiva inclui qualquer aumento de intensidade de uma emoção que seja sentida
pelo indivíduo como indesejada, intrusiva, opressora ou problemática. A desativação
excessiva de emoções inclui experiências dissociativas, como despersonalização e
desrealização, cisão ou entorpecimento emocional em situações na quais
normalmente se esperaria que as emoções fossem sentidas em alguma intensidade
ou magnitude. Por exemplo, ao confrontar uma situação de perigo de vida, um
indivíduo reage com entorpecimento emocional e relata ter se sentido como se
estivesse em outra dimensão de tempo e espaço, observando o que parecia ser um
filme. (LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
Para Leahy, Tirch e Napolitano (2013) essa desativação emocional,
caracterizada por desrealização, é vista como uma reação atípica a um evento
traumático. A desativação excessiva de emoções impede o processamento emocional
e faz parte de um estilo de enfrentamento caracterizado por esquiva. A regulação
emocional pode incluir qualquer estratégia de enfrentamento (seja ela problemática
ou adaptativa) que o indivíduo usa ao confrontar a intensidade emocional indesejada.
A regulação emocional é como um termostato homeostático capaz de regular
as emoções e mantê-las de uma forma “controlável” para que se possa lidar com elas.
Ou a modulação para mais ou para menos, pode desequilibrar as coisas de forma
extrema. (LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
24
Segundo os autores acima a regulação emocional é como qualquer estilo de
enfrentamento, depende do contexto e da situação.
Folkman e Lazarus (1988) citados por Leahy, Tirch e Napolitano (2013)
identificaram oito estratégias para lidar com as emoções: confrontação (p. ex.,
assertividade), distanciamento, autocontrole, busca de apoio social, aceitação de
responsabilidade, fuga-esquiva, resolução planejada dos problemas e reavaliação
positiva. Lidar com experiências faz parte da regulação emocional. Se o indivíduo lida
melhor - por meio da resolução de problemas, sendo assertivo, adotando ativação
comportamental para buscar experiências mais gratificantes ou reavaliando a situação
-, suas emoções têm maior probabilidade de se exacerbar. As estratégias adaptativas
podem incluir exercícios de relaxamento, distração temporária durante as crises,
exercício físico, conectar emoções a valores maiores, substituir uma emoção por outra
mais agradável ou apreciada, consciência atenta (mindful awareness), aceitação,
atividades prazerosas, momento íntimos compartilhados e outras estratégias que
ajudem a processar, lidar, reduzir, tolerar ou aprender com emoções intensas.
4.4 ENFRENTAMENTO E MANEJO DO ESTRESSE ATRAVÉS DE
TÉCNICAS DE REGULAÇÃO EMOCIONAL
De acordo com Leahy, Tirch e Napolitano (2013) um considerável número de
pesquisas apoia a visão de que há diferenças significativas na reação ao estresse,
incluindo vulnerabilidade a uma criação problemática dos pais, agentes estressores
ambientais e reação a ambientes solidários.
Lazarus e Folkman (1984) citados por Leahy, Tirch e Napolitano (2013)
expandiu o modelo do estresse, incorporando as avaliações cognitivas implícitas no
comportamento. De acordo com esse modelo, há avaliações primárias e secundárias
de manejo. A avaliação primária refere-se à avaliação da natureza da ameaça,
enquanto a secundária reflete a avaliação da própria habilidade de lidar com a
situação. Por exemplo, digamos que alguém tivesse de levantar um objeto de 25 kg.
O indivíduo pode reconhecer que o objeto a ser levantado pesa 25 kg, mas ele
também reconhece que é capaz de levantar uma carga de 50 kg. Nesse exemplo, o
estresse resultante seria baixo. Contudo, se avaliasse que só conseguiria levantar 20
kg, ele experimentaria um estresse maior.
25
Uma parte integral da regulação emocional é a habilidade e capacidade de
tolerar, saber lidar, enfrentar e reduzir o estresse.
Reduzir o estresse por meio de uma variedade de técnicas cognitivo-
comportamentais pode ter um impulso positivo nesse processo, indicando ao indivíduo
que as emoções podem ser controladas, elas não são definitivas, são inofensivas e
não prejudiciais.
Para Leahy, Tirch e Napolitano (2013) o estresse pode ser gerado
cognitivamente, antecipando-se experiências negativas e interpretando as
experiências atuais de forma ameaçadora ou negativa. O estresse pode também ser
o resultado de demandas externas, problemas e conflitos de relacionamento.
Condições fisiológicas, como falta de sono ou enfermidade, e condições ambientais,
como barulho ou multidões, podem causar estresse. Com a ativação do sistema
nervoso simpático, um indivíduo apresenta aumentos no ritmo respiratório, na tensão
muscular, nos batimentos cardíacos e na pressão sanguínea, enquanto o fluxo de
sangue para as extremidades é reduzido. O processo que compete dentro do corpo
com a reação de estresse é a reação de relaxamento. A reação de relaxamento ativa
o sistema nervoso parassimpático, colocando efetivamente um freio nas mudanças
fisiológicas que acompanham a reação de luta ou fuga. A reação de relaxamento pode
ser ativada por exercícios de relaxamento.
Segundo Riskind, Black e Shahar (2009) citado por Leahy, Tirch e Napolitano
(2013) outro componente crucial do estresse é a administração do tempo e a
percepção cronológica do indivíduo.
Riskind (1997) citado por Leahy, Tirch e Napolitano (2013) propôs que a
percepção do tempo é um fator da percepção de ameaças e da habilidade de manejo.
De acordo com o seu “modelo de vulnerabilidade iminente” os indivíduos ansiosos
percebem um estímulo ameaçador como se ele estivesse se aproximando
rapidamente, reduzindo a habilidade de adaptar o seu comportamento, resolver
problemas ou simplesmente “sair da frente”. A ansiedade pode ser reduzida pela
avaliação da velocidade do estressor “iminente”, identificando cada evento que teria
de acontecer antes do “impacto” e considerando estratégias alternativas de manejo
que possam mitigar e efeito do estímulo ameaçador.
26
O senso de urgência pode ter um impacto grave no quadro de estresse.
Sobrecarregar-se de compromissos, ter dificuldade para priorizar tarefas no ambiente
de trabalho, múltiplos afazeres e enxergar o tempo como insuficiente pode afetar
significativamente o estresse.
Para tratar dessas questões de urgência e do senso de estar sobrecarregado,
é indicado que os pacientes reavaliem o senso de pressão do tempo e reduzir o
estresse por meio de um gerenciamento realista do tempo.
As técnicas de regulação emocional, podem ser utilizadas para manejo e
tratamento do estresse laboral, pois, auxilia o indivíduo a administrar o tempo, lidar
melhor com suas emoções, técnica de respiração e relaxamento são fundamentais no
manejo das situações estressantes, autotranquilização pode trazer muitos benefícios
às pessoas com quadro de estresse. (LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
Técnica: Relaxamento muscular progressivo
Assim como o corpo tem uma reação de estresse, há também a capacidade
de reação para relaxamento. Uma das habilidades fundamentais de relaxamento é o
relaxamento muscular progressivo, desenvolvido por Edmund Jacobson há mais de
60 anos (E. Jacobson, 1942, citado por Leahy, Tirch e Napolitano, 2013).
O estresse psicológico é acompanhado por um aumento na tensão física.
Entretanto, a maioria das pessoas não têm consciência da tensão corporal. Cultivando
primeiramente essa consciência da tensão e então aprendendo a relaxar os músculos
do corpo, os pacientes podem reduzir o estresse.
No relaxamento muscular progressivo, os pacientes tensionam e relaxam cada
um dos principais grupos musculares em sequência no corpo, da cabeça até os pés:
testa, olhos, boca, mandíbula, pescoço, ombros, costas, tórax, bíceps, antebraços,
mãos, abdome, quadríceps, panturrilhas e pés. Cada um dos músculos é tensionado
por 4-8 segundos, com a plena consciência da tensão por parte dos pacientes. O
grupo é então relaxado, e os pacientes focam sua consciência plena na sensação de
relaxamento. Este exercício deve ser praticado duas vezes ao dia, por 10 a 15
minutos, o terapeuta deve enfatizar que o relaxamento é uma habilidade que requer
prática, uma vez que é desenvolvida em situações relativamente de pouco estresse,
27
ela pode ser usada de modo mais efetivo em situações de estresse elevado. (LEAHY,
TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
Técnica: Respiração diafragmática
Quando o corpo experimenta estresse, a respiração é rápida e superficial,
ocorrendo no tórax em vez de no abdômen, e quando isso ocorre, mais oxigênio é
“soprado para fora”, e a concentração de oxigênio no sangue e no cérebro é reduzida,
resultando em mais tentativas de ganhar oxigênio por uma respiração profunda e
intensa. Isso pode resultar na síndrome da hiperventilação e aumentar ainda mais a
ansiedade. Alguns pacientes de forma inadequada acreditam que precisam “respirar
profundamente”, o que apenas aumenta o ciclo de hiperventilação, com frequência
resultando em tontura, sensação de asfixia e de pânico e maior agitação ansiosa.
(LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
A respiração superficial e rápida estimula o sistema nervoso simpático, que é
ativado quando estamos nervosos. Em cada inspiração o tórax e as costelas se
expandem, já a respiração lenta a partir do abdômen ou diafragma ativa o sistema
nervoso parassimpático, o que traz uma reação de relaxamento, a cada inspiração o
diafragma se expande e o tórax permanece relativamente parado. (LEAHY, TIRCH e
NAPOLITANO, 2013).
Esse tipo de relaxamento é uma habilidade, deve ser realizada juntamente com
o paciente, e posteriormente deve ser praticada diariamente, por 10 minutos pelo
menos, quanto mais o paciente respirar desta maneira, mais efetivamente consegue
usá-la para se acalmar.
Técnica: Autotranquilização
Segundo Leahy, Tirch e Napolitano (2013) a capacidade de se autotranquilizar
é uma habilidade de regulação emocional. Ela envolve usar os cinco sentidos
(paladar, tato, audição, olfato e visão) para ajudar o paciente a tornar toleráveis as
emoções negativas intensas. Por exemplo, o estresse que um indivíduo experimenta
quando trabalha para cumprir um prazo pode ser atenuado ouvindo música clássica e
tomando uma xícara de chá. Muitos pacientes com dificuldade de regulação
28
emocional não aprenderam a se tranquilizar ao vivenciar emoções negativas intensas,
particularmente se a expressão das emoções negativas na infância era desprezada
ou punida pelos pais. Carecendo dessas habilidades, eles podem depender dos
outros para tranquiliza-los ou buscar escapar do sofrimento emocional de formas
disfuncionais. (LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
Nesta técnica utiliza-se os cinco sentidos para diminuir a dor emocional, ou
seja, quando se autotranquiliza, o paciente traz a consciência para os seus sentidos
de paladar, tato, olfato, audição e visão. O paciente faz consigo o que poderia fazer
por um amigo que estivesse irritado. Por exemplo, o paciente poderia se
autotranquilizar descansando em uma cadeira confortável, sentado num parque em
meio a natureza, escutando música relaxante, afagando seu animal de estimação,
colocando flores perfumadas em sua mesa e uma loção aromática no seu ambiente
de trabalho ou em sua casa.
O paciente pode realizar junto ao terapeuta uma lista de atividades
autotranquilizantes sugeridas e praticá-las, o terapeuta deve deixar claro que a técnica
não vai eliminar o estresse, mas vai diminuir um pouco e tornar a dor tolerável.
Técnica: Gerenciamento do tempo
Muito do estresse que uma pessoa vivencia pode ser resultado do sentimento
de falta de controle sobre o tempo e as suas atividades. Os pacientes estressados
queixam-se frequentemente de que não têm tempo para fazer as coisas ou que não
há tempo para atividades prazerosas. Por exemplo, o paciente vai ao trabalho e se
envolve com a primeira atividade que lhe vêm à cabeça. O tempo não é planejado ou
controlado e nada é priorizado. Também não é incomum o paciente escolher por se
dedicar a atividades com prioridade relativamente baixa porque são mais fáceis ou
agradáveis.
Para Leahy, Tirch e Napolitano (2013) o gerenciamento do tempo o ajuda a
estabelecer prioridades, identificar o desvio de seu comportamento, realizar
automonitoramento e autocontrole, designar um tempo adequado para os trajetos e
tarefas, planejar com antecedência e obter tempo para autorrecompensas. A primeira
coisa a se descobrir é o que é muito importante, razoavelmente importante e pouco
importante. Precisamos, primeiro, estabelecer estas prioridades. Então, precisamos
29
identificar o que você está fazendo que é pouco importante, ou seja, o “desvio” das
atividades de maior importância. Finalmente, precisamos estabelecer a quantidade
adequada de tempo para cada atividade, permitindo algum tempo compensador e livre
de estresse entre elas.
Além de identificar as atividades de prioridade alta, média e baixa e prescrevê-
las, o terapeuta poderá perguntar se o paciente está se dando tempo suficiente e
realista para fazer suas atividades ou se deslocar do trabalho, portanto, reservar
tempo suficiente para trajetos e atividades pode auxiliar a gerenciar melhor o tempo.
Nesta técnica utiliza-se quatro formulários, o de lista de prioridades, o de
automonitoramento de comportamentos desviados das tarefas, o de planejamento e
o de antiprocrastinação.
O paciente pode preencher uma lista de atividades de prioridade alta, média e
baixa, examinar sua programação de atividades para ver como está de fato usando o
tempo e identificar e eliminar comportamentos que o desvie das tarefas. Além disso,
é possível identificar atividades divertidas do menu de recompensas, que podem ser
usadas para compensar o envolvimento com comportamentos de prioridade mais alta.
(LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
Estas técnicas apresentadas são específicas para manejo e tratamento do
estresse, muitos pacientes são beneficiados quando apresentados à estas técnicas e
se praticadas adequadamente, os resultados de redução do estresse são
significativos. Podem ser úteis na regulação emocional e para reduzir a probabilidade
de eventos estressantes no futuro. (LEAHY, TIRCH e NAPOLITANO, 2013).
30
5 DISCUSSÃO
Os dados desta revisão mostram evidências sólidas de que as intervenções,
tratamento e manejo de estresse em terapia cognitivo-comportamental, produzem
efeitos benéficos na redução de estresse ocupacional, e apresentam resultados mais
eficazes na qualidade de vida e equilíbrio mental e físico dos profissionais. As técnicas
do modelo cognitivo utilizadas trouxeram benefícios à vida do indivíduo, em especial
a reestruturação cognitiva e exercício de relaxamento.
Porém, poucos artigos foram encontrados sobre o tratamento e manejo do
estresse, com relatos de caso, ou intervenção, alguns dos artigos encontrados eram
revisão bibliográfica, o que mostra que faltam estudos que explorem mais este tema
tão estudado que é o tratamento do estresse e pouco se tem sobre ele na prática.
31
6 CONCLUSÃO
Conclui-se com este trabalho de revisão bibliográfica que as técnicas de terapia
cognitivo-comportamental são muito eficazes no manejo e tratamento dos quadros de
estresse.
As técnicas de respiração e relaxamento contribuem de maneira significativa
para a redução do estresse e manejo nas situações estressantes no ambiente de
trabalho e na vida pessoal.
Os estudos mostram que se os pacientes com quadros de estresse forem
tratados adequadamente com a terapia cognitivo-comportamental é possível reduzir
de maneira importante o sofrimento emocional mediante as questões laborais, com as
técnicas de regulação emocional, onde o indivíduo aprende a lidar melhor com suas
emoções e pensamentos disfuncionais, gerando assim, mais qualidade de vida, bem-
estar, conforto aos clientes.
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34
Termo de Responsabilidade Autoral
Eu Ana Claudia Erthal, afirmo que o presente trabalho e suas devidas partes são de
minha autoria e que fui devidamente informada da responsabilidade autoral sobre seu
conteúdo.
Responsabilizo-me pela monografia apresentada como Trabalho de Conclusão
de Curso de Especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental, sob o título
“TERAPIA COGNITIVO COMPORTAMENTAL – MANEJO E TRATAMENTO DO
ESTRESSE OCUPACIONAL”, isentando, mediante o presente termo, o Centro de
Estudos em Terapia Cognitivo-Comportamental (CETCC), meu orientador e
coorientador de quaisquer ônus consequentes de ações atentatórias à
"Propriedade Intelectual", por mim praticadas, assumindo, assim, as
responsabilidades civis e criminais decorrentes das ações realizadas para a
confecção da monografia.
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