cultura bíblica

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Indaial – 2009 CULTURA BÍBLICA Prof. Lécio Contu 1 a Edição

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Page 1: Cultura BíBliCa

Indaial – 2009

Cultura BíBliCa

Prof. Lécio Contu

1a Edição

Page 2: Cultura BíBliCa

Copyright © UNIASSELVI 2009

Elaboração:

Prof. Lécio Contu

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

Impresso por:

220 C765c Contu, Lécio. Caderno de estudos : cultura bíblica / Lécio Contu, Centro Universitário Leonardo da Vinci. – Indaial : ASSELVI, 2009. x ; 121 p. : il.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-080-7

1. Bíblia. 2. Antigo e novo testamento. 3. Religião. I. Centro Universitário Leonardo da Vinci. Núcleo de Ensino a Distância. II. Título.

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apresentaçãoCaro(a) Acadêmico(a)!

Vamos iniciar uma nova etapa no curso de Teologia. Será uma jornada pela disciplina de Cultura Bíblica. Esta disciplina, juntamente com as línguas originais e as matérias que estudam a natureza literária dos livros da Bíblia, constitui importante recurso para o(a) acadêmico(a) que deseja percorrer os caminhos da exegese bíblica. Trata-se do conjunto de elementos históricos, geográficos e culturais presentes no cenário dos grandes eventos narrados na Bíblia e por trás do pensamento do escritor sagrado.

O propósito desta disciplina não é fornecer todas as informações disponíveis sobre os elementos geográficos, históricos e culturais dos escritos bíblicos, mas iniciar o estudioso da Bíblia na pesquisa destes elementos tão cruciais ao exegeta. Nosso objetivo é ajudar o(a) acadêmico(a) a enxergar os fatos e valores bíblicos, dentro de seu espaço e tempo e a partir dos elementos culturais, políticos, éticos e religiosos vigentes.

A Unidade 1 trata do mundo da Bíblia, levando-nos ao conhecimento de vários aspectos, como: geográficos, históricos e sociais. Vamos ver, também, aspectos da escrita utilizada no Antigo Oriente.

Na Unidade 2 estudaremos o mundo do Antigo Testamento quanto à formação da escritura hebraica, aos usos e costumes, aos sistemas políticos vigentes, à arqueologia e historicidade dos eventos veterotestamentários.

A Unidade 3 trata da apresentação do Novo Testamento, sobre suas instituições e seus movimentos religiosos.

Sinto-me honrado em contribuir em sua formação como Bacharel em Teologia. Desejo a você uma ótima jornada pelo mundo da Bíblia.

Bom estudo!

Prof. Lécio Contu

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Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novi-dades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagra-mação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilida-de de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assun-to em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

NOTA

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Olá, acadêmico! Iniciamos agora mais uma disciplina e com ela um novo conhecimento.

Com o objetivo de enriquecer seu conhecimento, construímos, além do livro que está em suas mãos, uma rica trilha de aprendizagem, por meio dela você terá contato com o vídeo da disciplina, o objeto de aprendizagem, materiais complemen-tares, entre outros, todos pensados e construídos na intenção de auxiliar seu crescimento.

Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

Conte conosco, estaremos juntos nesta caminhada!

LEMBRETE

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sumário

UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA ............................................................ 1

TÓPICO 1 — ELEMENTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS DO CENÁRIO BÍBLICO ..... 31 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................... 32 O MUNDO BÍBLICO – ASPECTOS GEOGRÁFICOS ................................................................. 3

2.1 O RELEVO ....................................................................................................................................... 32.2 O CLIMA .......................................................................................................................................... 52.3 A VEGETAÇÃO .............................................................................................................................. 5

3 O MUNDO BÍBLICO – ASPECTOS HISTÓRICOS ..................................................................... 73.1 O ORIENTE ANTIGO .................................................................................................................... 7

3.1.1 Os sumerianos ........................................................................................................................ 83.1.2 Ninrode ................................................................................................................................... 83.1.3 Ur dos caldeus ........................................................................................................................ 93.1.4 Genealogia de Israel .............................................................................................................. 9

RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 11AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 12

TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO.................... 131 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 132 ASPECTOS SOCIAIS ........................................................................................................................ 13

2.1 A FAMÍLIA .................................................................................................................................... 132.2 O CASAMENTO ........................................................................................................................... 152.3 AS CLASSES SOCIAIS ................................................................................................................. 16

2.3.1 Os notáveis ............................................................................................................................ 162.3.2 O “povo da terra” ................................................................................................................ 172.3.3 Ricos e pobres ....................................................................................................................... 172.3.4 Os estrangeiros ..................................................................................................................... 172.3.5 Os assalariados ..................................................................................................................... 172.3.6 Os artesãos ............................................................................................................................ 172.3.7 Os comerciantes ................................................................................................................... 17

3 ASPECTOS ECONÔMICOS ........................................................................................................... 183.1 A AGRICULTURA ........................................................................................................................ 183.2 A PECUÁRIA ................................................................................................................................ 193.3 O COMÉRCIO ............................................................................................................................... 20

4 ASPECTOS POLÍTICOS .................................................................................................................. 214.1 AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS........................................................................... 214.2 ISRAEL – DA TRIBO À NAÇÃO ............................................................................................... 21

4.2.1 No Egito ................................................................................................................................ 224.2.2 No deserto ............................................................................................................................. 224.2.3 Em solo palestino ................................................................................................................. 23

5 A RELIGIÃO ....................................................................................................................................... 235.1 O MITO EXPLICANDO O MUNDO E SEUS FENÔMENOS ................................................ 235.2 O POLITEÍSMO ............................................................................................................................. 245.3 O MONOTEÍSMO HEBRAICO .................................................................................................. 25

Page 8: Cultura BíBliCa

5.4 A REVELAÇÃO ............................................................................................................................ 265.4.1 Revelação progressiva ......................................................................................................... 275.4.2 A queda do homem ............................................................................................................. 275.4.3 O plano de redenção ........................................................................................................... 285.4.4 O método divino .................................................................................................................. 28

RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 29AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 30

TÓPICO 3 — A ESCRITA NO ANTIGO ORIENTE ...................................................................... 311 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 312 O SISTEMA EGÍPCIO ...................................................................................................................... 313 A ESCRITA CUNEIFORME ............................................................................................................. 31

3.1 O SISTEMA SUMERIANO .......................................................................................................... 313.2 O SISTEMA ACADIANO ............................................................................................................ 323.3 O SISTEMA ELAMITA................................................................................................................. 323.4 O HITITA........................................................................................................................................ 323.5 O UGARÍTICO .............................................................................................................................. 323.6 O URATIANO ............................................................................................................................... 323.7 O HURRIANO ............................................................................................................................... 323.8 O PERSA ......................................................................................................................................... 33

4 A ESCRITA SEMÍTICA .................................................................................................................... 334.1 O HEBRAICO ANTIGO ............................................................................................................... 334.2 O ARAMAICO .............................................................................................................................. 34

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 35RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 37AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 38

UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO ........................................................ 39

TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO DA ESCRITURA HEBRAICA ..................................................... 411 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 412 OS ANTIGOS MANUSCRITOS .................................................................................................... 413 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO .................................................................................... 42RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 44AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 45

TÓPICO 2 — USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTO ........................................... 471 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 472 A SOCIEDADE PATRIARCAL ....................................................................................................... 47

2.1 A GUERRA .................................................................................................................................... 482.2 A HOSPITALIDADE .................................................................................................................... 48

3 A SOCIEDADE LEVÍTICA .............................................................................................................. 483.1 A LEI MORAL (O DECÁLOGO) ................................................................................................ 483.2 A LEI CERIMONIAL ................................................................................................................... 50

3.2.1 A circuncisão ........................................................................................................................ 503.2.2 A ablução .............................................................................................................................. 503.2.3 O sacrifício ............................................................................................................................ 51

3.2.3.1 O holocausto ............................................................................................................ 513.2.3.2 O sacrifício de comunhão ...................................................................................... 513.2.3.3 O sacrifício expiatório ............................................................................................ 51

3.2.4 As festas ................................................................................................................................. 523.2.4.1 A Páscoa ................................................................................................................... 52

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3.2.4.2 A Festa das Semanas (Colheita) Ex 23:16 ............................................................. 523.2.4.3 A Festa dos Tabernáculos ....................................................................................... 53

3.2.5 O calendário.......................................................................................................................... 533.2.5.1 O dia .......................................................................................................................... 533.2.5.2 A semana .................................................................................................................. 533.2.5.3 O mês ........................................................................................................................ 533.2.5.4 O ano ......................................................................................................................... 54

3.2.6 O Tabernáculo ..................................................................................................................... 553.2.7 O templo ................................................................................................................................ 563.2.8 A Arca da Aliança ............................................................................................................... 58

4 USOS E COSTUMES ........................................................................................................................ 584.1 SISTEMAS DE HABITAÇÃO ...................................................................................................... 584.2 O VESTUÁRIO .............................................................................................................................. 594.3 ALIMENTAÇÃO ........................................................................................................................... 614.4 EDUCAÇÃO ................................................................................................................................. 634.5 DEVERES CÍVICOS ...................................................................................................................... 63

4.5.1 O serviço militar ................................................................................................................... 634.5.2 Os impostos .......................................................................................................................... 644.5.3 A submissão às leis .............................................................................................................. 64

RESUMO DO TÓPICO 2..................................................................................................................... 66AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 67

TÓPICO 3 — OS SISTEMAS POLÍTICOS DOS HEBREUS E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS .................................................................................................. 69

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 692 A POLÍTICA INTERNA ................................................................................................................... 69

2.1 NO PATRIARCADO ..................................................................................................................... 692.2 COM MOISÉS ................................................................................................................................ 692.3 OS JUÍZES ...................................................................................................................................... 702.4 OS REIS ........................................................................................................................................... 702.5 O REINO DIVIDIDO .................................................................................................................... 71

3 ISRAEL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS ......................................................................... 713.1 OS GRANDES INIMIGOS ........................................................................................................... 71

3.1.1 Os midianitas ........................................................................................................................ 723.1.2 Os amonitas .......................................................................................................................... 723.1.3 Os amalequitas ..................................................................................................................... 723.1.4 Os moabitas .......................................................................................................................... 723.1.5 Os filisteus ............................................................................................................................. 733.1.6 A Síria .................................................................................................................................... 733.1.7 A Assíria ................................................................................................................................ 733.1.8 Babilônia ................................................................................................................................ 74

4 A DIPLOMACIA ................................................................................................................................ 744.1 A RELAÇÃO COM OS GRANDES IMPÉRIOS ........................................................................ 75

RESUMO DO TÓPICO 3..................................................................................................................... 76AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 77

TÓPICO 4 — A ARQUEOLOGIA E HISTORICIDADE DOS EVENTOS VETEROTESTAMENTÁRIOS .................................................................................. 79

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 792 LUGARES BÍBLICOS CONFIRMADOS ...................................................................................... 79

2.1 UR DOS CALDEUS ...................................................................................................................... 792.2 SODOMA E GOMORRA ............................................................................................................. 79

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2.3 SIQUÉM ......................................................................................................................................... 802.4 JERICÓ ............................................................................................................................................ 80

3 DOCUMENTOS IMPORTANTES – CONFIRMANDO OS GRANDES EVENTOS DA BÍBLIA ..................................................................................................................................................... 80

3.1 AS PLACAS DE TEL-EL-AMARNA .......................................................................................... 813.2 O SINETE DA TENTAÇÃO ........................................................................................................ 813.3 A PEDRA ROSETA ....................................................................................................................... 81

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................ 82RESUMO DO TÓPICO 4..................................................................................................................... 83AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 84

UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO .......................................................... 85

TÓPICO 1 — O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO ................................................................ 871 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 872 O NOVO TESTAMENTO ................................................................................................................ 873 A CONTRIBUIÇÃO GREGA PARA A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO .................... 88

3.1 A DOMINAÇÃO GRECO-MACEDÔNICA ............................................................................. 883.1.1 O período macabeu ............................................................................................................ 90

3.2 A LÍNGUA ..................................................................................................................................... 913.3 A FILOSOFIA ................................................................................................................................ 923.4 ELEMENTOS DA MITOLOGIA ................................................................................................. 93

4 A CONTRIBUIÇÃO ROMANA ...................................................................................................... 944.1 ROMA NA PALESTINA .............................................................................................................. 944.2 A LEGISLAÇÃO ROMANA ....................................................................................................... 944.3 A PAX ROMANA ......................................................................................................................... 954.4 AS ESTRADAS .............................................................................................................................. 95

RESUMO DO TÓPICO 1..................................................................................................................... 97AUTOATIVIDADE .............................................................................................................................. 98

TÓPICO 2 — GRUPOS E INSTITUIÇÕES JUDAICAS ............................................................... 991 INTRODUÇÃO .................................................................................................................................. 992 PRINCIPAIS GRUPOS RELIGIOSOS E POLÍTICOS ............................................................... 99

2.1 OS FARISEUS ................................................................................................................................ 992.2 OS ESCRIBAS .............................................................................................................................. 1002.3 OS SADUCEUS ........................................................................................................................... 1012.4 OS ZELOTES ............................................................................................................................... 1022.5 OS ESSÊNIOS .............................................................................................................................. 1022.6 OS HERODIANOS ..................................................................................................................... 103

3 OS SAMARITANOS ....................................................................................................................... 1033.1 SUA ORIGEM .............................................................................................................................. 1033.2 A TEOLOGIA SAMARITANA ................................................................................................. 1043.3 A GÊNESE DO CONFLITO ENTRE JUDEUS E SAMARITANOS...................................... 105

4 PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES ....................................................................................................... 1054.1 O TEMPLO ................................................................................................................................... 1064.2 O SINÉDRIO .............................................................................................................................. 1064.3 AS SINAGOGAS ......................................................................................................................... 1074.4 A IGREJA...................................................................................................................................... 108

RESUMO DO TÓPICO 2................................................................................................................... 110AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 111

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TÓPICO 3 — MOVIMENTOS RELIGIOSOS IDENTIFICADOS ............................................ 1131 INTRODUÇÃO ................................................................................................................................ 1132 O GNOSTICISMO CRISTÃO ...................................................................................................... 113

2.1 A ÉTICA ....................................................................................................................................... 1142.2 O NOVO TESTAMENTO E O GNOSTICISMO ..................................................................... 114

3 O MOVIMENTO JUDAIZANTE .................................................................................................. 1154 ELEMENTOS DO FOLCLORE...................................................................................................... 116LEITURA COMPLEMENTAR .......................................................................................................... 118RESUMO DO TÓPICO 3................................................................................................................... 119AUTOATIVIDADE ............................................................................................................................ 120REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 121

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UNIDADE 1 —

CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• conhecerosprincipaisaspectosgeográficosdoCrescenteFértil,doqualacivilizaçãoemergiu;

• conhecerosprincipaiselementosdahistóriadacivilizaçãoedeIsrael;• compreenderasestruturassociais,políticaseculturaisdocenáriobíblico;• conheceragênesedaescritaesuaimportânciaparaoestudodaculturabíblica.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidadevocê encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdoapresentado.

TÓPICO1–ELEMENTOSGEOGRÁFICOSEHISTÓRICOSDOCENÁRIOBÍBLICO

TÓPICO2–ASPECTOSGERAISDASOCIEDADENOCENÁRIOBÍBLICO

TÓPICO3–AESCRITANOANTIGOORIENTE

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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TÓPICO 1 — UNIDADE 1

ELEMENTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS DO CENÁRIO

BÍBLICO

1 INTRODUÇÃO

ConhecerocenáriododramabíblicosefazcrucialaopesquisadordaBíblia.Umajornadabreveepanorâmicapelomundobíblicoeseuselementosgeográficose históricos possibilitará boas condições para uma melhor compreensão doseventosbíblicos.

2 O MUNDO BÍBLICO – ASPECTOS GEOGRÁFICOS

2.1 O RELEVO

Neste item trataremosde aspectos relacionados à geografiadomundobíblico, taiscomo:orelevo,oclimaeavegetação.Conhecendoestesaspectos,entenderemosmelhorosfatoseosacontecimentosnarradosnaBíblia,tantodoAntigocomodoNovoTestamento.

O Crescente Fértil da Ásia Ocidental, uma área de aproximadamente2.184.000km,entreosparalelosdelatitude38ºe28ºNemeridianos30ºe50ºEdeGreenwich,queseestendeemformadearcodoSuldaPalestinaatéoGolfoPérsico,éocenárioondesederamoseventosnarradosnaBíblia.

OslimitesdoCrescenteFértilsãoconstituídosaLesteeNordestepelascordilheirasdeZagroseArmêniaeaOestepelomarMediterrâneoeodeltadorioNilo,tendoaocentrodoarcoodesertodaArábia.

APalestina, cenáriodamaiorpartedodramabíblico, localizadanumafaixa estreita junto ao mar Mediterrâneo, pode ser dividida em três regiõesdistintas:AJudeia,situadaaoSul,numaterraáridaformadaporcamposligadosàsencostasdascolinas;aoNorte,Samaria,caracterizadapelapresençadealuviaisdebasaltoeondeaplaníciedeEsdraelonfazligaçãoentreovaledoJordãoeomarMediterrâneo;eGalileia,formadaporcolinas;aterceiraregião,situadanumadepressãooufenda,comopreferemosgeólogos,queseestendedesdeosopédomonteHermomatéaIdumeia.Nestaregiãoencontra-seomarMorto,umlagosalgadoqueficaa369metrosabaixodoníveldomaresuaprofundidadechegaa410metros,emseupontomaisprofundo.Sobreestaregião,tambémchamadadeGhor,Rops(1991,p.15)fazoseguintecomentário:

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

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Trata-se de uma ferida misteriosa na carne de nosso planeta, e ageologiamostraqueprossegue,flanqueadaporvulcões,paraonorte,entrandoemCoele-Siriaemuitoalém,paraosul,atravésdoGolfodeÁgabaeoMarVermelho,afimdealcançarocoraçãodaÁfrica,noslagosNiasaeTanganica.

Sendo uma região montanhosa, é importante destacar alguns montesimportantesdoCrescenteFértil:

• Ararate - nomedadoàcadeiademontanhastambémchamadadeCordilheiradaArmênia, especialmente aosdoispicos separadosumdooutroporumadistânciadeonzequilômetros,com5.182me4.265mdealtura,respectivamente.Nestaregião,aarcadeNoéteriaencalhado,apósodilúvio.

• Monte Tabor -com552metrosevertentesmuitoinclinadas,ofereceexcelentespaisagensemváriospontos.NestemontefoiconstruídoumtemploidólatranosdiasdeOseias.LocaiscomoomonteTaboreramfrequentementeconsideradospropíciosparaoculto.AlideveteracontecidoatransfiguraçãodeJesusdiantedePedro,TiagoeJoão.

• Monte Gerizim -omontepossui868metrosdealtura.Deseucumeépossíveldivisar grande parte da Palestina.O local era considerado sagrado para ossamaritanos.Próximodali,emSicar,Jesusteriaconversadocomumamulhersamaritana.NosdiasdeAlexandre,Manasses erigiuum templonoqual ossamaritanosadoravam.

• Monte Ebal - atualmente chamado de Jabel Eslamieh, com 924 m, ficapróximodomonteGerizim.DeacordocomolivrodeJosué,sobreeleforampronunciadasmaldições,enquantodeGerizim,bênçãos.

• Monte Gilboa -com504mdealtura,testemunhouamortetrágicadeSauleseusfilhosembatalhacontraosfilisteus.

• Monte Carmelo -narealidade,umacadeiademontanhasrepletasdecavernas,nasquaisosprofetasteriamseescondidonosdiasdoreiAcabe.Doseusopé,oprofetaEliasteriachamadoopovoasedecidirentreBaaleoSenhor.

• Monte Sinai - tambémchamadoHorebe, sagradoparaos israelitas epalcode importantes eventos do Antigo Testamento, não pode ser identificadogeograficamente. Sempoder identificar sua localização, estudiosos sugeremque omonte Sinai seja a designaçãode alguns picos situados na região deCadesBarneia,enquantooutrospreferemaregiãonoroestedaArábia,antigaterradeMídia,naqualMoisésseexilou.

Por ser uma região bastante acidentada,muitos são os vales, entre osquaisdestacamos:

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TÓPICO 1 — ELEMENTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS DO CENÁRIO BÍBLICO

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• Siquém −desolofértil,localiza-seentreosmontesGerizimeEbal.

• Aijalom −a18quilômetrosdeJerusalém,foipordiversasvezesdevastadoporfilisteusecananeus.

• Escol − pequeno trecho de terra, porém extremamente fértil. Dele, espiõesenviados porMoisés teriam trazido cachos de uvas como evidência de suafertilidade.

2.2 O CLIMA

O clima possui características subtropicais, marcado por grandescontrastes. No clima do oriente é possível experimentar, em pouco tempo,variaçõesquevãodotórridocalordesértico,causadordeincêndios,àsgrandesgeadasenevascas.

Existem duas estações bem definidas, caracterizadas por um verãoextensoeuminvernodeduraçãonormal.Umacaracterística típicadomêsdeAdar (março)éagrandevariaçãodetemperatura,indodeextremocalorduranteodiaaofrioexcessivoànoite.

Ventosocidentaisedosudoestesãoconsideradosbenéficos,poistrazemnuvensnooutonoeminimizamasaltastemperaturasnoverão.

No inverno, o vento vindo do leste, denominado qadem, é frio e seco.Vezououtrasetransformaemtempestade,comoaqueosdiscípulosdeCristoenfrentaramnomardaGalileia,fazendo-osacharquemorreriam.

Existe também o vento do deserto, chamadoKhamsin e que “deixa ohomemsemforça,cobreocéudeumcinzapesadoenumúnicodiatornaáridososcamposdurantemeses”(ROPS,1991,p.18).

Aschuvassãopoucas.Choveoequivalentea16,3polegadasporanoe,aproximadamente,23polegadasnaGalileia.Pareceumbomíndice,porémessevolumedeprecipitaçãoocorreapenasnumcurtoperíododoano,nosmesesdeoutubroemarço.EstaschuvassãochamadaspelaBíbliadechuvatemporã,aqueocorreemoutubro,etardiaouserôdia,aqueocorreemmarço.

2.3 A VEGETAÇÃO

AvegetaçãodaTerraSantanãopodeserdescritapeloqueseencontranosdiasdehoje.É fatoquesériasalteraçõesocorreramao longodo tempo.Adestruição,pelohomem,dafloranativaedasespéciestrazidasdeoutroslugares,como a figueira-da-Índia e algumas variedades de cactos trazidos doMéxico,eucaliptos importadosdaAustrália, que jamais foramvistasporMoisés,Davi

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

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ouJesus,porexemplo,sãoalteraçõesqueprecisamserconsideradas.Assim,ébomfrisarqueageografiaqueestamosanalisandoéadocenáriobíblicoenãodaPalestinadenossosdias.

Épossível,apartirdotextobíblico,inferirque,apesardoclimaserseco,aocorrênciadeflorestaseracomum.Florestasdeciprestes,comoaqueSalomãoutilizouparaochãodotemplo,ouconíferas,comoozimbro,quechegavamaatingir19metrosdealtura,eramfrequentes.

Comalturaquevariavaentre15e19metros,carvalhoseterebintoseramabundantesnasflorestasdaPalestinaeseespalhavamdesdeomonteCarmeloatéBasã.FoinosgalhosdeumterebintoqueAbsalãoteriaficadopresoaotentarfugirdeJoabe.

Os cachos de flores vermelhas da alfarrabeira também podiam serapreciadosportodaextensãodaPalestina.Suasvagensserviamdealimentoparaogado.

Plátanos orientais, oliveiras bravas, azinheiros e pistácias ajudavam acomporosbosqueseflorestasdaTerraSanta.

Entre plantas pequenas, podemos destacar murtas, giestas, lenticos,acanto, asfódelo e o absinto.A amendoeira, amostarda, o aneto, a hortelã, ocominhoeacamomilaeramcomunseutilizadosabundantementecomotempero.Ohissopo,umarbustonãomuitoabundante,tinhaseusfeixesutilizadoscomoinstrumentodeaspersãonascerimôniasreligiosas.

A arruda amarga e o anis serviam como digestivo e amanjerona e ooréganoeramutilizadostantocomocondimentoquantocomoaromatizantes.

Indo em direção ao Vale de Ghor, a vegetação tornava-se desértica.Aparecem,então,asplantasespinhosas,comoumavariaçãodamirra,apreciadacomoaromatizante.AmirrafoiumdospresenteslevadospelosmagosaJesus,emseunascimento.

JuntoaomardeTiberíades,poderíamosencontrartamargueiraseloureiros.OOásisdeJericóerarepletodebálsamo.Asacáciasearvoredosde jujuba,decujosespinhospodetersidofeitaacoroacolocadasobreJesus,ocorriamportodaaregião.MaçãsdeSalomão,salgueirosdeJericó,bambus,ocálamodoce,usadocomocomponentedoóleosagradodaunção,epapiros,completavamafloradaPalestina.

NãopodemosdeixardemencionarafortealusãoqueaBíbliafazàsflores.Jacintos,narcisose tulipasespalhavam-sepelos campose colinas.Os líriosdocampo,tãoabundantesnasplanícies,tiveramsuaformosuracitadaporJesusnofamosopronunciamentodomonte.

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TÓPICO 1 — ELEMENTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS DO CENÁRIO BÍBLICO

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A rosa, citada no Antigo Testamento, parece ser apenas uma plantaornamental.Entreasplantascultivadas,trêssãoasmaisimportantes:aoliveira,que,apesardenativa,eraobjetodecuidados;afigueira,defolhagemabundanteedensa,muitocultivada,parafornecersombra,eavideira.Apereira,amacieiraeaameixeira,emboramenoscultivadas,eramtambémtratadascomcuidado.AstamareiraspodiamserencontradasnaregiãodeGhor.

3 O MUNDO BÍBLICO – ASPECTOS HISTÓRICOS

3.1 O ORIENTE ANTIGO

Estudandoosaspectoshistóricosdomundobíblico,vamoscaminharporregiõesecidadesdecivilizaçõesantigas,conhecendopovosligadosdiretamenteàhistóriadopovodeDeus,comseuscostumese,principalmente,suareligião.

É no final da Idade da Pedra, entre 7000 e 8000 a.C., que podemosidentificarosprimeirosaldeamentos.

Atransiçãodavidaemcavernaparaosaldeamentosocorreuporvoltade8.000anosa.C.Ohomemcomeçavaaperceberqueosgrãoscolhidosnocampopoderiamsercultivados,eanimais,antescaçados,poderiamsercriadoscomofontedealimentação.Eraoiníciodacivilização.

OaldeamentomaisantigodequesetemnotíciaéodeJericó,colonizadojáhá8000a.C.Descobertasrecentesdemonstramque,jánosétimomilênioa.C.,aldeias estavam estabelecidas por toda a Ásia Ocidental. NaMesopotâmia jáeramcomunscriaçõesdeanimaisecultivodosolo.

No capítulo quatro do livro de Gênesis, no texto que arrola osdescendentesdeCaim,éditoquehomenspassaramaseocupareseespecializaremcertosofícios.Apecuária,ametalurgia,aarteeoartesanatoestavamsendosistematicamente introduzidos no cotidiano do homem pré-diluviano. Parecequeosrelatosbíblicos,desdeAdãoeEvaatéodilúvio,sãoambientadosnaregiãodaMesopotâmia.ValesalientarqueosriosTigreeEufratessãocitadoscomoriosquebanhavamoÉden.NãorestadúvidadequeacivilizaçãotemseuberçonaMesopotâmia.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

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FONTE: Disponível em: <www.bibliapage.com/mapas.html>. Acesso em: 10 fev. 2009.

FIGURA 1 – MAPA DA ÁSIA OCIDENTAL - REGIÃO DA MESOPOTÂMIA

3.1.1 Os sumerianos

Nestaregião,maisoumenosondehojesesituaamodernaBagdá,surgiramasprimeirasnações.Amaisantigadequesetemregistroéadossumerianosousumérios.Seu idiomaédesconhecido,emborasejapossível conjecturarquesetratassedeumalínguauniversal,faladaantesdaconfusãodaslínguas,emBabel.Ossumerianossãoretratadosemmonumentoscomohomensmusculosos,sembarba,edecabeçagrande.Outrofatoquemereceregistroéqueostextosmaisantigosconhecidosestãoemsumério,oquenospermiteconcluirqueforamelesosinventoresdaescrita.

3.1.2 Ninrode

Apósodilúvio,descendentesdeCãoeSem,filhosdeNoé,estabeleceram-senasplaníciesdaMesopotâmia.Ninrode,netodeCão,tornou-senotávelguerreiroecaçador.Taisqualidadeslhederamstatusdelíderentreseuscontemporâneos,tornando-o o primeiro rei de que se tem notícia. Seu reino abarcava grandescidades,comoBabel,ErequeeAcade.OreinodeAcadetornou-se,maistarde,oprimeiroimpériodahistória.

Assur,filhodeSem,teriaseestabelecidonaregiãoocidentaldoRioTigre.SeusdescendentesderamorigemàAssíriae,posteriormente,fundaramacidadedeNínive.OsassíriosvieramasetornarumapotênciatemidapelosvizinhosdoCrescenteFértil.

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TÓPICO 1 — ELEMENTOS GEOGRÁFICOS E HISTÓRICOS DO CENÁRIO BÍBLICO

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3.1.3 Ur dos caldeus

3.1.4 Genealogia de Israel

SobreacidadedeUrnãosetemmuitainformação.TalvezficassenoSuldoatualIraque.Sabe-sequefoiumametrópolecaldeiaesuaimportânciaresidenofatodeque,delá,AbraãofoichamadoporDeusparainiciaranaçãohebreia.AsruínasdeUrforamescavadasentre1922e1934peloarqueólogobritânicoSirCharlesLeonardWooley.

AhistóriadeIsraelteminícionaMesopotâmia,onde,deUrdosCaldeus,DeuschamouAbraãopara,apartirdele,constituirumanação.

AbraãodeveriaseestabeleceremCanaã,ondeosdesígniosdeDeusseconcretizariam.AhistóriadeAbraãogravitaemtornodestatentativadechegareseestabeleceremCanaãdesdeapartidadeUr.

Desdeentão,aperegrinaçãopelasterrastórridasdaPalestinaocupouotempodeAbraãoeseusdescendentes,IsaqueeJacó,chamadosdepatriarcas.

OspatriarcaseramchefesdeclãsseminômadeseacreditamosqueAbraão,IsaqueeJacósãopersonagenshistóricosqueviveramentreosséculosXXeXVIIa.C.

Eram chefes de tribos que se estabeleceram em solo palestino e cujareligião,baseadanomonoteísmo,contrastavatantocomopoliteísmocaldeucomocomosistemaimoralcananeu.Suareligiãoserviutambémcomoreferênciaparaaformaçãodeumaéticaquesedesenvolveucomumasolidezqueinfluenciou,posteriormente,todamoralidadeocidental,duranteatéosnossosdias.

EmAbraão e Isaque temos um período probatório, em que,medianteexperiênciasmísticas,apromessafeitaporDeusdetransformá-losnumagrandenaçãoerafrequentementerenovada,começandoaserealizarnavidadeJacó.

OnomedeIsrael,dadoemsubstituiçãoaJacó,naexperiênciadeJaboque,quando o patriarca travou luta corporal com um anjo, foi transferido para oconjuntodeclãsformadospelosseusdozefilhos,asaber:Ruben,Simeão,Levi,Judá, Zebulon, Issacar, Dã, Gade, Aser, Naftali, José (Efraim e Manasses) eBenjamim.

O modelo tribal de cada clã liderado pelos filhos de Israel (Jacó) erasemelhante ao dos antepassadosAbraão e Isaque. Um clã era composto pelafamília do patriarca e pelos familiares de parentes próximos, empregados eescravos sob a responsabilidadedo chefeda família.Assim, em certa ocasião,Abraãopôdecontarcom318homenstreinadosporele,numempreendimento

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

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militarcontraalgunslíderesrivaisquemantinhamseusobrinhoLócomorefém.GrupossemelhanteslideraramIsaqueeJacó.Os12filhosdeJacóformaram,comsuastribos,umaconfederaçãochamadadefilhosdeIsrael,ouisraelitas.

Éestegrandeefortegrupo,formadonasdificuldadesdavidaseminômade,de religião enriquecida e confirmada em experiências místicas e relação comDeus,queocuparáaPalestinadostemposehistóriabíblicos.

Em adição às experiências probatórias citadas acima, mencionamos,ainda,quatroséculosdecativeironoEgito,quetestemunhouamultiplicaçãodopovo,equarentaanosdeperegrinaçãonodeserto.Eraagênesedeumaaçãodecujaculturanosocuparemos.

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Neste tópico você estudou que:

OseventosnarradospelaBíbliasederamnafaixadeterraemformadearco,partindododeltadoNiloatéoGolfoPérsico.

NaMesopotâmia, a transição das cavernas para os primeiros aldeamentosocorreuem8.000a.C.

Jericójáeracolonizadahá8000a.C.

ASumériaéamaisantiganaçãodequesetemnotícia.

Ninrodefoioprimeiromonarcadahistória.

DeUrdosCaldeus,AbraãofoichamadoparaformaranaçãodeIsrael.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Construaumtextopontuandoosaspectoshistórico-geográficosquemaislhechamaramaatençãoediscutacomalguminterlocutor.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2 — UNIDADE 1

ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

1 INTRODUÇÃO

2 ASPECTOS SOCIAIS

2.1 A FAMÍLIA

Constitui importante recursoaoestudantedaTeologiaoconhecimentodaestruturasocialedosvaloresdasociedaderetratadosnaspáginasdaBíblia.Compreenderossistemassociaisdomundobíblicoé,portanto,umdosmisteresdafidelidadehermenêutica.

Aspectossociaiscomoafamília,ocasamentoeasclassessociaissãodesumaimportânciaparaumentendimentodospovosquefazempartedomundobíblico.

Comoprimeiroagentedesociabilizaçãodoindivíduo,afamíliacumpriaum papel relevante na estrutura da sociedade bíblica. O termo pátria comosinônimodepaís,nação,éumexemplodestaimportância.

No tópicoanterior foiditoque Israel teve suaorigemapartirdos clãsfamiliares(patriarcado).Noentanto,afamílianãoeraumaestruturadepadrõesuniformes. Na estrutura do tipo fratiarcado, a autoridade era exercida peloprimogênito.Estaestruturaerafrequenteentrehititasehurritas,naAssíriaeemElam.ÉpossívelqueaposiçãodeLabão,comrelaçãoaopedidodecasamentofeito à sua irmãRebeca e a vingançade Simeão eLevi aoultraje feito aDinátenhamsidoinfluenciadaspelohábitoassírio.

Mais frequentemente,omatriarcadoconstituíaumsistema familiar,noqualamãeeraareferência.OcasamentodeSansãocomumamulherdeTimnatepareceseguirestaforma,emqueamulhernãodeixaseuredutofamiliar,porém,incluiomarido.Afamíliaisraelita,noentanto,seguiaopadrãopatriarcal.Suabase,pai,mãeefilhos,admitiaoscônjugesdosfilhosetodosquecompartilhassemamesmahabitação.

Rops (1991, p. 81) afirma que: [...] “os membros da família sentiam-se realmente como sendo damesma carne; e ter omesmo sangue significavater a mesma alma”. Esta consideração pelos laços familiares fica evidente naexclamaçãodeLabãoaoverJacó:“émeuossoeminhacarne”.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

Nafamíliaisraelita,asfunçõesdecadamembroestavambemdefinidas.Ohomem,comomaridooupai, exerciaautoridade total sobreosdemais.Erasuaresponsabilidadeprovertodasasnecessidadesdacasa.Anegligênciaaestemistereratidacomoumatodeincredulidadeetornavaohomempiordoqueuminfiel.PauloafirmaaTimóteoque:“sealguémnãotemcuidadodosseuseprincipalmentedosdasuafamília,negouaféeépiordoqueoinfiel”(BÍBLIA,ITimóteo5:8).

Aochefedafamíliacabiadareducaçãoaosfilhoseistoincluíaaorientaçãoprofissional,moralepolítica.Sendoafamíliatambémumacomunidadereligiosa,cabia ao pai o papel de celebrante. A observação da Páscoa, importante ritoreligiosoemIsrael,eraessencialmenteumaatividadefamiliar,conduzidapelomaridoepai.

AfunçãoreligiosadopainosajudaacompreenderporqueadecisãodocarcereirodeFilipos,emcreremJesus,influenciariatodaafamília.

Amulherisraelitaerapreparadaparasetornaresposaemãe.Deviasabercozinhar,costurar,cuidardomarido,dosfilhosedacasa.Nãorecebiamomesmotratamentodadoaoshomens.Nãoerameducadasdamesmamaneiraetinhamdireitosdiferentes.Umhomem,porexemplo,poderiaterváriasmulheres,masamulhernãopoderia terváriosmaridos.Ohomempodiapedirodivórcio, amulhernão.

Osfilhos,quandopequenos,ficavamsoboscuidadosexclusivosdamãe.Quando cresciam,passavama receber instruçõesdopai, que os encaminhavaà vida responsável.Não ensinar um ofício aos filhos era considerado um atodemaldição. Sendo assim, as crianças tinham que executar pequenas tarefas,adquirindo, aos poucos, o senso de responsabilidade.Asmeninas aprendiamcomamãeastarefasdomésticaseosmeninoseraminiciadosemumofício.

Erainteressedospaisteremmuitosfilhos.Famíliasnumerosaseramtidasporprivilegiadas.Eramconsideradasbeneficiadaspelaaçãodivina.IstoexplicaodesesperodeRaqueledeAna,mulherdeElcana,quetiveramproblemasparateroprimeirofilho.

Éimportantedestacarqueonascimentodemeninoerapreferidoaodemeninas.WilliamColeman(1991,p.35)asseveraque:[...]haviaatéumaoraçãoqueosjudeuscostumavamrecitar,daqualconstavaumafrasedeagradecimentoaDeuspornãoteremnascidomulher”.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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2.2 O CASAMENTO

Desdeo iníciodas relaçõeshumanas,o acordomonogâmicoédescritocomoaformaescolhidaporDeus.Afórmula“doisnumasócarne”nãopermiteoutrainterpretação.

Foi a partir de Lameque que a poligamia começou a ser praticada,tornando-secomumtantonassociedadesvizinhascomoemIsrael.

Quanto ao número de esposas, sempre houve a preocupação de seestabelecerlimites.OCódigodeHamurábi(1700a.C.)dava,aomarido,odireitode ter uma segunda esposa, se a primeira não pudesse ter filhos.O Talmudeestabeleceuonúmerodequatromulheresparacadahomem.Ahistóriabíblica,noentanto,mostraqueasregrasnãoforamobservadas.Gideão,segundoolivrodeJuízes(Bíblia,Jz,8:30-31),tinhamuitasmulheres.Seguiram-noDavi,Salomãoe outros.A Lei deMoisés reconhecia a bigamia como um ato legal (BÍBLIA,Deuteronômio,21:15-17).

Apesar da poligamia ser uma prática comum na cultura bíblica, amonogamiaseapresentaidealeafórmulaapresentadaporDeus.EmGênesis,é reafirmadapor Jesus emMateus (BÍBLIA,Mateus, 19:46). Portanto, a formamonogâmica passou a ser exigida no cristianismo e influenciou todo sistemafamiliarocidental.

As Concubinas - eram mulheres que mantinham uma relação conjugal com o chefe da casa, sem, contudo, serem esposas. Eram geralmente escravas ou criadas dadas como dote pelos pais às noivas. Algumas concubinas eram providenciadas pela esposa, quando esta era estéril, como meio de prover filhos ao marido.

NOTA

NaMesopotâmia, o casamento era um ato laico, não trazia nenhumaconotação religiosa. Já entre os israelitas, cumpria umpapel sagrado. Tanto afamíliacomoanaçãofundiam-secomareligião.

Em Israel o casamento acontecia muito cedo. É possível que Mariafosse adolescentequando Jesusnasceu.Aescolhado cônjuge era, geralmente,decididapelospais.Istonãosignificavaqueointeressadonãopudesseobjetar.Apreferênciadospaiseraqueocasamentoserealizasseentreparentes.

Ocasamentoarranjadonãosignificavaqueoamorestivessedescartado.Comovirtudemaisdoquesentimento,oamorpodiaserconstruídoaolongodorelacionamento.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

O período de noivado durava um ano. Uma cerimônia oficializava ocompromisso.Onoivodeveriapagaraopaidanoivaumaquantiaemdinheiro.O valor era estabelecido pelo pai e deveria ser compatível com as condiçõeseconômicasdafamíliadonoivo.Estedoterepresentavaumacompensaçãodadaàfamíliadanoiva.Odinheiro,nofuturo,deveriaretornaràfilhacomoherança.

Acerimôniaeraumacelebraçãoalegre,queconsistianaentradadanoivanacasadonoivo.Onoivoseadornavacomumdiademae,acompanhadodosamigos,dirigia-seàcasadanoiva.Estaoaguardavacomricasvestimentasejoiasesobreacabeçatraziaumvéuquesóseriaretiradonoaposentonupcial.Talvez,foi por isso que Labão conseguiu enganar Jacó, dando-lhe Lia por Raquel.Anoiva,juntocomasamigas,eralevadaparaacasadonoivo.Oshomensbrandiamumaespadacomomeiodeafugentaromal.Apósesterito,seguia-seobanquetenacasadonoivo,numa festade setedias,quepodia serestendidaporváriassemanas.Noentanto,oatoconjugalsedavajánaprimeiranoite.Desteprimeiroatodeveriaviraprovadavirgindadedanoivaepossíveldefesadonoivoemcasodecalúnia:otecidomanchadodesangue.

2.3 AS CLASSES SOCIAIS

2.3.1 Os notáveis

Noinício,emvirtudedeIsraelserumatribonômade,nãohaviadiferençasdeclassessociais.Algumasfamíliaserammaisricasqueoutras,masistonãoasdividiaemclasses.Mesmoosescravoseramtidoscomomembrosdafamília.

Namedidaemqueasaldeiassetornavampequenascidades,aconteciamtambém as transformações sociais. Com a instalação da monarquia, estastransformaçõesseconcretizaramedelasemergiramasclasses.Asclassessociaispoderiamassimser classificadas:notáveis, opovodaTerra, ricos epobres,osestrangeiros,osassalariados,osartesãoseoscomerciantes.

Formado por funcionários públicos, eram, originalmente, homens quecompunham, em cada cidade, uma espécie de conselho. Na monarquia, osnotáveiseramosoficiaisoualtosfuncionáriosdorei.Algunseramcomandantesmilitaresouchefedetodooexército.Estavamincluídososoficiaisciviseministrosdeestado.Eramosquepodiamserconsideradoscomonobres.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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2.3.2 O “povo da terra”

2.3.3 Ricos e pobres

2.3.4 Os estrangeiros

2.3.5 Os assalariados

ABíbliadádiversossignificadosparaaexpressão“povodaterra”.AbraãousouaexpressãoparadesignaroshititasdeHebrom.Comela,Jacódiscriminaosegípcios.Osprópriosisraelitassãoassimchamadosporfaraó.Apesardeotermoreceber diferentes significados, predomina a opinião de que “povo da terra”representaapenasoconjuntodecidadãos,comodãoaentendertextoscomoIIRe14:21-23;21:24e11:14-18(BÍBLIA,1999).

Esta classificação segue mais ou menos uma tendência universal. Nocontextobíblico,osricosestãoentreosnotáveis,favorecidospelaherançafamiliarouméritospessoais.Ospobres,achadosentreindivíduosisoladosdasociedade,eramdesfavorecidospelasorte.

Eram pessoas de outras etnias ou nação, que podiam contar com ahospitalidade da sociedade, sem usufruir dosmesmos direitos. Eram pessoaslivres,mas,nãosendopossuidoreslegaisdaterra,nãopossuíamtodososdireitoscivis.Nesteaspecto,distinguiam-sedosescravos.

Diferentemente dos escravos, havia homens que trabalhavam porremuneração. Geralmente, estrangeiros residentes ou israelitas pobrescompunham esta classe, que podia ser vista trabalhando, principalmente, naagriculturaoucomopastores.Trabalhavampordiaoueramcontratadosporumano.

2.3.6 Os artesãos

2.3.7 Os comerciantes

Eram trabalhadores autônomos que se especializavam em ofíciosespecíficos, como: barbeiros, joalheiros, carpinteiros, metalúrgicos, tecelões,padeiros etc. e que mantinham em casa sua oficina de trabalho. Estes,frequentemente,empregavamalgunsassalariados.

Mercadoresambulantes,costumavamcortaremcaravanasasestradasdaPalestina.O vocábulo cananeu, cujo significado é comerciante, comunica bemestarealidade.Eramhomensquecirculavamcommercadoriasdeumlugarpara

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

outro,disponibilizando,paraapopulação,benscomoiguarias,tecidos,perfumesetc.Osjudeus,comvocaçãopastoril,foramforçados,nadiáspora,asetornaremcomerciantes.

3 ASPECTOS ECONÔMICOS

3.1 A AGRICULTURA

Neste item você estudará vários aspectos relacionados às atividadeseconômicasdospovosbíblicos, taiscomo:agricultura,pecuáriaecomércioemgeral.

AsparábolasdeJesus,comoadosemeador,dãoprovasdafamiliaridadedo povo da Palestina com a agricultura.A agricultura, na Palestina, era tidacomoumaatividadequehomemeDeusexerciamemparceria.Ohomemarava,adubavaaterraesemeava,naesperançadequeDeusmandassechuvaefizessegerminarasemente.Paraoisraelitadostemposbíblicos,obrotardasementeeraconsideradoummilagredeDeus.Oagricultorera,portanto,uminstrumentodagenerosidadedeDeus.

OsolodeIsrael favoreciavários tiposdecultura.Plantavam-secereais,verduras, legumes, linho e frutas. O trigo e a cevada eram os cereais maiscultivados,pois opão eraumdos alimentosprincipais.NaGalileia enoValedoJordão,concentravam-seasprincipaisplantaçõesdetrigo.Entreoslegumes,omaisconsumidoeraofeijão.Ricoemproteínas,substituíaacarneemmuitasmesasdepessoascompoucopoderaquisitivo.Ofeijãoeraplantadoempequenashortasnopróprioquintal.AlentilhatambémeramuitocultivadaejáemGênesisseuconsumoédescrito;Esaú terianegociadocomJacó suaprimogenituraemtrocadeumprato feito com lentilhas.A terra naPalestina, pormuito tempo,produziualho,cebolas,melõesepepinos.Emboraemmenorquantidade,eramtambémcultivadas:abóbora,alface,pimentãoeberinjela.

As frutas também eram igualmente apreciadas e a uva reinava quaseabsoluta.Desde queNoéplantou a vinha, a planta vem sendo cultivadapelohomembíblico.Foi auvaagrandeprovada fertilidadeda terra trazidapelosespiasdeMoisés.EmIsaías(BÍBLIA,Isaías,28:1),oterritóriodeEfraiméretratadocomoterrafértilparaasvinhas.

Juntocomauvaeramplantadasfigueiraseoliveiras.Estasárvores,alémdeproduziremseufruto,serviamcomobaseparaqueemseustroncosegalhosavideiratrepasse.Osfigoseramcolhidos,secadoseprensados.Asazeitonaseramcolhidasduasvezesporanoeesmagadasparaseextrairoazeite.Asazeitonaspodiamserconsumidascruasoucozidaseoazeiteeratambémempregadocomoelemento ritual, pois com ele seministrava a unção. Tâmaras, romãs emaçãstambémeramcultivadas.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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O plantio era feito respeitando duas etapas, que consistiam na araçãodo terreno, feita geralmente com arados puxados por uma junta de bois, e asemeadura. Ométodoerasimples:osemeador,levandoumembornalatiracolo,cheiodesementes,pegavaumpunhadodesementeseasespalhavapeloterrenoarado.

Comofertilizante,ocamponêsisraelitausavapalhacomestercodeovelhaoudeboi.Osalinsípidotambémerausado,juntamentecomoesterco,paraseadubaraterra.

3.2 A PECUÁRIA

ImportanteatividadeeconômicaemIsrael,apecuáriafoi,talvez,amaisantiga forma de subsistência do povo hebreu. DesdeAbraão, a preocupaçãocom rebanhos ocupava substancial tempo do criador. Por séculos, a pecuáriafoiaprincipalatividadeentreosisraelitas.Dorebanho,sobretudodeovelhas,oisraelitaobtinharoupasealimentos.ABíbliadizquequandoSalomãodedicouotemploaDeus,120milovelhasforamsacrificadas.Istodáumaideiadequãonumerososeramessesrebanhos.

Comoelementodesacrifício,tantoasovelhascomooboieoutrosanimais,osmaissaudáveiseperfeitoseramcriadosexclusivamenteparaseremoferecidosem sacrifício aDeus. Jesus se comparou a um bom pastor e aos crentes comovelhas.Aimportânciadaovelhaparaavidadoisraelitaressaltavaafiguradopastor.SãoinúmerasasreferênciasbíblicasquecomparamDeuscomumpastor.

A tarefa do pastor era árdua. As ovelhas precisavam do pastor parase alimentar e para saciar a sede. Se estivesse perdida ou fosse atacada, suasobrevivênciadependiadaeficiênciadotrabalhopastoral.Nãoraramentepastoresenfrentavamataquesdeleões,lobos,ursoseladrões.ForamestesenfrentamentosqueDaviusoucomoargumentoparaconvencerSauldequepodiavencerGolias.

Tanto como as ovelhas, as cabras eram numerosas e sua carne muitoapreciada,aproveitando-seoleitetantoparaconsumocomumcomonaproduçãodequeijo.

Oboi,alémdeforneceralimentoeservirdeelementoparaoferendas,erautilizadocomoinstrumentodetrabalho.Constituíaaforçamotoradaagriculturacomopuxadordearado,eraanimaldecarga,puxavacarroçaeerautilizadonadebulha.

Ojumentoeamulaeramúteisnaexecuçãodetarefaspesadas.Eramrarososproprietáriosruraisquenãoospossuíssem.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

Eocavalo?Esteseramcriadosparafinsmilitares,estavamrelacionadosmaisàsegurançadoqueàeconomia.Avestambémeramcriadaspelosjudeus.Galinhas,patos,gansoseatépomboseramencontradosemcriadourosruraisemesmoempropriedadesurbanas.

Oporco,animalconsiderado imundopelo israelita, tinhasuautilidadequasenula,masserviacomoalimentoparaestrangeirosehabitantesdenaçõesvizinhas.

3.3 O COMÉRCIO

AtéadeportaçãoparaaBabilônia,ocomércionãoera,definitivamente,umavocaçãoisraelita.Estepovoagropastorilnuncasepreocupouemaprimoraraartedenegociar.

Foiduranteoexíliobabilônicoqueos judeusdescobriramsuavocaçãoparaocomércio.Nosdiasdecativeiro,aBabilôniaeraumdosmaisimportantescentroscomerciaisdomundoe, apesardeestaremdistantesdaterranatal,osjudeusnãoseabateram.Sempoderlevaravidacomoaquetinhamemterritóriopalestino,aprenderamedesenvolveramaartedenegociar.

NosdiasdeJesus,osjudeusmantinhamcontatosportodoomundoatravésdascomunidadesdadiáspora,tantoquantotinhamrelaçõescomcomerciantespagãos.Asmaiorestransaçõesenvolviamaimportaçãoeexportaçãodecereaisetransaçõesfinanceiras.Comerciantesjudeuscompravamassafrasagrícolasdecamponeses indispostosa transportarseuprodutoàscidadesepovoados,poratacado, e vendiam nos grandes centros.Uma vez o produto beneficiado nascidades,estescomerciantesiamaoscampos,onde,porexemplo,opadeironãopodiair.Negociantesjudeustambémexportavamartigosraros,comoocaríssimobálsamodeJericóeoutrosperfumes,alugaresremotoscomoRomaeEgito.

Estas negociações favoreciam outro tipo de atividade: as transaçõesfinanceiras.Aintensaatividadecomercialexigiacapital,portanto,homenscomelevadassomasemdinheirodispunhamseusrecursosparaqueestastransaçõesfossemviabilizadas. Surge, então, a figurado banqueiro, que também exerciaa função de operador de câmbio, uma atividade necessária nomeio de umaenormeconfusãodemoedasemqueseenvolviam.Foi tambémnesteperíodoqueapráticadeemprestardinheiroajurossetornouumhábito.FatocitadoporJesus,naparáboladostalentos.

A pesca também fazia parte do sistema econômico, assim como oartesanato,emquesedestacavamaourivesaria,olaria,ouoofíciodecarpinteiro,exercidoporJoséeJesus.Entreosjudeus,entretanto,ocomérciosedestacou.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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3.3 O COMÉRCIO

4 ASPECTOS POLÍTICOS

4.1 AS PRIMEIRAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

Neste item, vamos ver como viviam estes povos e como era suaorganização,nosaspectospolíticoesocial.

As primeiras organizações políticas se deram com os primeirosaldeamentos.Ocompartilhamentodeumterritóriopordiversasfamíliasexigiuqueestasseorganizassememsistemasquegarantissemaosseus indivíduosaprovisãoeproteçãoparaavida,bemcomo,ajustiça.

A organização da vida em sociedade devia ser pautada em princípiosnormativoseestestransformadosemleis.Outrossim,aexistênciadeleisexigiaa instrumentalidade de alguém com capacidade física, intelectual, moral evoluntária,quepudesserealizaraoperaçãodegovernar.Surgeopoderpolítico.

Aogovernantecaberiaaresponsabilidadederepresentaracomunidade,promoverapazeajustiçaegerenciarasatividadesdeinteressecoletivo.

4.2 ISRAEL – DA TRIBO À NAÇÃO

A origem da nação de Israel está na família de Abraão. Ao deixar aestabilidadedavidaurbanaemUrdoscaldeusparamigraraumaterraqueDeuslhemostraria,Abraão cumpria assimodesígniodivinode formarumanação(BÍBLIA,Gn12:1-2).

ABíbliadizque“tomouAbrãoaSarai,suamulher,eaLó,filhodeseuirmão,etodaasuafazendaquehaviamadquiridoeasalmasquelhenasceramemHarã;esaíramparairàterradeCanaã”(BÍBLIA,Gn12:5).Ficaclaro,nestetexto,queAbraãocapitaneavaumclã.Emboranãoexistanastraduçõesbíblicasotermoclã,aindaassimépossívelafirmarqueoconceitoestápresente.Ovocábulogaélicoclann significagrandefamília.Comotermosociológico,veioadesignartodoagrupamentosocialformadoporindivíduosunidosporlaçosdeparentescoe dependentes, que incluíam escravos, concubinas, servos assalariados e seusfamiliares,ligadosporinteressescomunseparticulares,emoposiçãoàsociedadeglobal.

Este conceito é compatível tanto com os conceitos em hebraico eleph (mil)quantoemportuguêsse traduzpor família;bayth (casa),queocorrecomfrequência noAntigo Testamento, referindo-se sempre à família, emishpachah (família),presentecercade300vezesnoAntigoTestamento,comoogregopatriá (família),presentetrêsvezesnoAntigoTestamento.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

Todosestes conceitos tratam família comogrupodepessoas compostoporumafamíliaimportanteepessoasquenãotinhamvínculodesangue,masdependiamemantinhaminteressecomumaela.AbraãoenfrentoualgunsreisoponentesquemantiveramLócomorefémcom318homenstreinadosemsuacasa.Éumbomnúmero,emsetratandodeumafamília.

Isaque e Jacó mantiveram esta estrutura. A partir dos filhos de Jacó,a grande família começou a adquirir umnovo formato. Já não seriamais umclã,masdozeclãsconfederados,unidospelamesmaorigemgenéticaemesmodesígniodivino: formarumanação.Apartirdasdoze tribos,vamosmanter aideiadeumaconfederaçãoedescreverosurgimentodanaçãodeIsrael.

4.2.1 No Egito

Antesdemorrer,JacóeseusfilhosforamparaoEgitoe,nestetempo,onúmerodemembrosdoseuclãoutriboeradesetentapessoas,conforme(BÍBLIA,Gn,46:27).NoEgito,permaneceramporcercade400anoselásemultiplicarame se fortaleceram (BÍBLIA,Ex 1:7). Estima-sequequando saíramdoEgito emdireçãoaodeserto,osisraelitasformavamumgrupodecercadeummilhãodepessoas.

No eventoda libertaçãodoEgito surgeMoisés.Omaior legisladordanaçãoeseuprimeirojuiz,emboraotextosagradotratecomopatriarca(designaçãodoslíderestribais).

4.2.2 No deserto

OÊxodoétidopelosisraelitascomoeventoqueosconstituiucomonação.Oseventosextraordinários(pragas,omarseabrindo,omanádiárioetc.)servirampara fortalecer o senso de povo escolhido, aceitando todo sistema legislativopromulgadonoSinai.

Nodeserto,entreoEgitoeCanaã,Israelseorganizoudeformaque,antesdapossedaterradeCanaã,jáeraumanaçãocomleis,religião,tradiçõeseumapolíticadecaracterísticasteocráticasemqueMoisésfiguracomorepresentante(mediadordireto).AfunçãoqueMoisésrecebeucomoestadistadeuaeleeseussucessoresatitulaçãodejuízes.

Os juízes, título aplicado principalmente aos líderes que presidiam anação,desdeamortedeJosuéatéacoroaçãodeSaul,duraramaproximadamente350anos.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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4.2.3 Em solo palestino

5 A RELIGIÃO

Soba liderançade Josué,os israelitas tomarampossesobreo territórioPalestino,não semmuitos confrontos comapopulaçãonativa.O território foidivididoentreas12tribos;iniciandoaconstruçãodanação.Comonação,Israelalternoualtosebaixosmomentosemsuahistóriapolítica.OLivrodeJuízes,umanarrativa dos grandes feitos de alguns líderes nacionais, resume este períodoinstávelnasrelaçõesinternaseexternas.

SegundoBright(1980,p.22):“[...]aocupaçãoisraelitanaPalestinaficouconcluídaeaconfederaçãotribalformadaaproximadamentenofinaldoséculoXIII”.

Noaspectoreligião,vamosverificarquedivindadesestespovosadoravamecultuavam,paramelhorentendermoscertoscostumese tradiçõespraticadosporeles.

5.1 O MITO EXPLICANDO O MUNDO E SEUS FENÔMENOS

Derivadodotermogrego“múthos”(palavra,narrativa),omitoconstitui,talvez, aprimeiramanifestaçãodo saber.Trata-sedeumahistória criada como escopode explicaros fenômenos.Pelas comparações commuitas realidadesdomundo,como:climáticas,adoençaouamortesãoexplicadas.Nomito,asforçasdanaturezasãoencarnadasnafiguradosdeuses.Destaforma,emtodosossistemasmíticos,osfenômenossãopersonalizados:sol,lua,estrelas,ovento,oraioouotrovãorecebemstatusdedivindade.Navariedadedefenômenos,nasceavariedadededeuses.

Alémdeservircomomeiodeseexplicaromundo,omitoservetambémcomomotivadordeatoshumanos.Medianteoperaçãodedeusesquepunemoupremiamestesatos.

Nomundobíblico,omitoestápresentenabasedasreligiõespraticadasnaMesopotâmia,EgitoePalestina.AfertilidadedaregiãodoCrescenteFértil,explicadaporestaforma,assimcomoascheiasperiódicasdoNilo.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

5.2 O POLITEÍSMO

Acrençanaexistênciademitosedeuses,certamente,tempredominadonagrandemaioriadasreligiõesdomundo.Emtodososcontinentes,panteõesforamcriados.Noentanto,investigamosareligiãopraticadanomundobíblico.

TrêssistemaspoliteístassãoimportantesnoA.T.:oBabilônico,oEgípcioeoCananeu.ÉcorretoafirmarqueAbraãofoiretiradonãosódeumterritório,naMesopotâmia,comotambémdesuareligião.Oscaldeuserampoliteístas,comotodosospovosdaMesopotâmia.ABíbliamencionaalgunsdeuses:

• Adrameleque:adoradoanoroestedaMesopotâmia.ABíbliaafirmaque,aele,criançaseramsacrificadas(BÍBLIA,IIReis17:31).

• Anameleque: Deus babilônico, senhor do firmamento, exigia tambémsacrifíciosdecrianças(BÍBLIA,IIReis17:36).

• Nabu ou Nebo: consideradodeusdesabedoria,eracultivadonaBabilôniaeseumaiorcentrodeadoraçãoeraBorsipe,próximoàBabilônia.

• Nergal: osBabilônicosoassociavamaoSol.AcidadedeCutáeraograndecentrodecultoaestadivindade.Nergaleraodeusdaguerraedasenfermidades.

As descrições de deuses são feitas em termos antropomórficos, o que lhes confere qualidades humanas.

ATENCAO

Nisroque:adoradoentreosAssírios.TinhaumtemploerguidonacidadedeNínive(BÍBLIA,IIReis19:37-38).

Tamuz: era o deus das pastagens, dos rebanhos, da fertilidade entre osbabilônicos.

DosdeusesCananeus,podemosdestacar:

Baal:deusdafertilidadeedanatureza,erafilhodeElcom Aserá.

Aserá:SenhoradomaremIsrael,podecontarcomprofetasconformeaBíbliaIReis15:13eIIReis21:7.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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El:emboraotermotenhasidoemprestadopeloshebreusparadesignarDeus,sua origemépagã, semelhante àdeZeus. EL era a principal divindadedopanteãoCananeu.EraimaginadocomoprogenitordetodososdemaisdeusesdamitologiaCananeia.

Moloque: as mais horripilantes cerimônias eram realizadas em honra aMoloque.Criançaseramatiradasemfogueiras,emsacrifícioaodeus.Acrençaeraadequegrandesbenefíciosseobteriam juntoaestadivindade,quandoumacriançalheeradedicada.

Dagon: deusdaagricultura,eracultuadoentreosFilisteus.FoinumtemplodedicadoaodeusCananeuqueSansãofoihumilhadoesereabilitou,fazendovirabaixooedifício,matandoosFilisteusalipresentes.

DeusesEgípcios:

Apis:odeusboiegípcio,simbolizavaaforça.Estadivindadefoiadotadapelosisraelitas, que lhe fizeramuma imagemde ouro no deserto, despertando areaçãoviolentadeMoisésedoslevitas,quemataramtodososisraelitasquenãosearrependeramdetalpecado.

Anúbis: umdeuscomcabeçadechacal,eraprotetordosmortos.

Rá (Atom):oSol.EraareligiãonacionalechegouaserconsideradodeusúnicoporAmenópofis,entre1375e1358a.C.

Hórus:tinhaacabeçadefalcão.

Hopi:orioNilo.

Num:eraoceano.SouOar e Gebe,aTerra.

Osíris:filhododeusNilo.Eraodeusdosmortosde Ísiseera tambémseuirmão. O culto aOsíris apresenta alguns paralelos ao cristianismo, quandosugerearessurreiçãocomorecompensaparaaquelesqueviveramempiedade.

Ísis:deusadanatureza,eraesposadeOsíriseeraadoradanoEgitodesde1700a.C.Conformeosegípcios, ÍsisseriaaestrelaSériaFielaoladodeOsíris(Orion).

5.3 O MONOTEÍSMO HEBRAICO

Omonoteísmohebraicopareceserumaevoluçãodeumhenoteísmo.

É possível que, originalmente, a religião dos hebreus fosse henoteísta.Henoteísmoé a crençana existênciadeváriosdeuses,masqueapenasumseinteressapelohomem.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

Abraãoviveu,antesdoseuchamado,numcontextopoliteístaemUrdosCaldeuse,provavelmente,ohenoteísmoservissedeponteentreopoliteísmoeomonoteísmoposterior.

TextoscomoGn35:2,Dt4:7ouJó24:2(BÍBLIA,1999)podemsugerirestarealidade.Existiamdeuses,massomenteumpodiaseradorado.

Henoteísmo - doutrina que sugere a existência de vários deuses, mas que apenas um é cultuado.

NOTA

A consolidação do monoteísmo se dá, primeiro, com a promulgaçãodos 10 mandamentos. “Não terás outros deuses diante de mim”, ordenou oSenhor; também a disputa entre Elias e os profetas de Baal ajuda a construiro culto monoteísta hebraico. Somados a estes grandes escritos, em apologiadomonoteísmo aparecemmensagens proféticas que proíbem cultos a deusesestranhos,salmosqueridicularizamaidolatrianoN.T.Paulodizque:“oshomenssãoindesculpáveisporsetornaremidólatras”(BÍBLIA,Rm1:20).

OtextodaCartadePauloaosCoríntios(BÍBLIA,ICo8:6)constituiumadeclaraçãoempovosdomonoteísmo.

5.4 A REVELAÇÃO

Diferentementedomito,queconsisteemficçõesdramáticascontadascomoescopodeexplicaragêneseeoperaçãodosfenômenos,arevelaçãoseapresentacomo fatordistintivoda religiãohebraica, emcomparaçãoàspraticadaspeloscaldeusedemaispovosdoorienteocidental.

Trata-se da comunicação por parte de Deus das realidades espirituaiseverdadesconcernentesaSieàcriação.Éodesvendamentodemistériosquetratam deDeus, o surgimento do universo, os anjos, o homem, a história darelaçãoentreDeuseohomemeoplanodivinoparaeste.

Todo sistema religioso de Israel foi elaborado a partir da revelação.AimportânciadesecompreenderestacaracterísticadareligiãohebraicaresidenofatodequeaBíbliaéseuprincipalproduto.

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TÓPICO 2 — ASPECTOS GERAIS DA SOCIEDADE NO CENÁRIO BÍBLICO

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5.4.1 Revelação progressiva

Desde a advertência que Deus deu a Adão, acerca do perigo de seconsumirofrutoproibido,ohomemvemtendoexperiênciasmísticas(sonhos,visões,profecias, teofanias etc.), pormeiodasquais é instruído sobreoque écerto e errado. Podem ser considerados exemplos de experiências místicas(revelações):oanúnciododilúvio;ochamadodeAbraão;ossonhosdeJosé;asarçaardenteeaentregadosmandamentosaMoisés;osonhodeNabucodonosore sua interpretaçãoporDaniel etc.ABíblia é o registrodestas informações, aconcretizaçãodarevelação.

É comum ouvir críticos afirmarem que o Deus descrito no AntigoTestamento difere do descrito no Novo Testamento. Confrontam fatos eensinamentos do A.T. com os do N.T. Para citar um exemplo, o sermãoda montanha parece dar evidências de que há distinção entre a éticaveterotestamentáriaeaéticacristã.Sónocapítulo5,doEvangelhodeMateus(BÍBLIA,1999),acombinaçãodasfrases“ouvistesoquefoiditoaosantigos”e“eu,porém,vosdigo”apareceseisvezes(vs21-22;27-28;31-32;33-34;38-39;43-44).Perguntascomo:porqueAbraão,DavieSalomãopuderamserpolígamoseos cristãosnão?Porqueos antigoshebreusdeviamser circuncidados eoscristãosnão?PorqueforapermitidoquehomensdeDeususassemdaviolência,comoofizeramJosué, Jefté,Sansão,Samuel,Davi,entreoutros,ealgunsporordem direta de Deus, e os cristãos não?A resposta está no fato de que asescriturasconstituemumarevelaçãoqueforadadaaospoucos.

Asescriturasforamproduzidasduranteumperíododeaproximadamente1500anosealgunsfatoresprecisamserconsideradosparafinsdecompreensãodarevelaçãoprogressiva.Sãoeles:aquedadohomem,oplanoderedenção,ométododivino.

5.4.2 A queda do homem

Adesobediênciadohomemno JardimdoÉden resultouna total cisãoentreeleeDeus.Essacisãofoitotal,deformaquetodooconhecimentoquetinhafoianiquilado.Bonhoeffer(1995,p.16)asseveraqueapartirdaqueda:

[...]emvezdeconhecerapenasobondosoDeusetudonEleentendeasimesmocomofontedobemedomal;emvezdeaceitaraescolhaeeleiçãodivinas,desejaescolhermesmo,seraorigemdaescolha[...]EmvezdesaberdesitãosomentenarealidadedesereleitoeamadoporDeus, temque entender-senapossibilidadede escolher,de serorigemdobemedomal.Tornou-secomoDeus,mascontraDeus.

Uma tragédia. O homem caído mergulhou nas trevas da ignorância,dependendodesimesmonabuscadoconhecimento,ávidoporsalvaçãoecarentedeajudaexterna.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

5.4.3 O plano de redenção

5.4.4 O método divino

Embora Deus tivesse expulsado o homem do Éden, contudo, não oexcluiriadeseuprojeto.OhomemfoicriadoparaserelacionarcomseuCriadoreédesdeaeternidadealvodeseuamor.OantídotoparacombaterosefeitosletaisdadesobediênciaestavanaprópriaPalavradeDeus.E,poralgumarazão,Deusnãoareveloudeumasóvez.

Arevelaçãocomeçouaserdadalogoapósaquedadohomemeterminoucom a encarnação de Cristo e seu sacrifício vicário. Até que pudéssemoscompreenderereceberaCristo,foinecessárioprogredirmoraleespiritualmente.Deus,aospoucos,foisubsidiandoohomemderecursos,paraqueestepudessefazerumaescolhamelhordoqueaque fora feitanoÉden.Ahumanidade foilentaecuidadosamentepreparadaparareceberseuSalvador.

Estes fatores devem ajudar a compreender porqueDeus não exigiu asmesmascoisasdosantigoscomofazcomoscristãos.Écomoseahumanidadefossecomoumindivíduoquerecebeumtipodeinstruçãoecobrançacompatíveiscomasuaidade.Amenosqueumindivíduoadultosofradeproblemasmotoresoumentais,nãoobservaríamos,semcensura,atitudesinfantiscomoengatinhar,serconduzidonocolooureceberpapinhanaboca.Igualmente,éverdadequenãoobservaríamossemcensuraumpaiouumamãeexigindodeumbebêatitudesprópriasdeadolescentesouadultos.NinguémingressaemumafaculdadesemantespassarpeloEnsinoFundamentaleMédio.Assim,Deuscobroudohomemposturaséticasnamedidaemquearevelaçãoeradada.Abraão,Moisés,Sansão,Davi eoutrosheróisdoAntigoTestamento sabiammenos sobreDeusdoquenós.Nãoé semrazãoqueCristo ensinouquehaveriamaior tolerâncianodiadojuízoparacidadescomoSidondoqueparaCorazim,BetsaidaeCafarnaum,onderealizouamaiorpartedeseusmilagresepronunciougrandepartedosseusdiscursos.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você estudou que:

Afamíliacumpriaumpapelrelevantenaestruturadasociedadebíblica.

Sendoafamíliaumacomunidadereligiosa,cabiaaopaiopapeldecelebrante.AobservaçãodaPáscoa,importanteritoreligiosoemIsrael,eraessencialmenteumaatividadefamiliar,conduzidapelomaridoepai.

A poligamia, ainda que fosse frequente, tinha como preocupação oestabelecimentodelimitesparaonúmerodeesposas.

Noperíodopatriarcal,emvirtudedeIsraelserumatribonômade,nãohaviadiferençasdeclassessociais.

AvocaçãoeconômicadeIsraeleraagropastoril.

Omonoteísmohebraicoearevelaçãodistinguiamareligiãodoshebreusdadosseusvizinhos.

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Respondaasseguintesquestões:

1 Comoeraconsideradoochefedefamíliaquenãoprovessesuafamíliadosrecursosnecessários?

2 PorqueadecisãodocarcereirodeFilipos,emcreremJesus,influenciariatodaafamília?

3 Comoaatividadecomercialfoiinseridanaeconomiajudaica?

4 QualéadiferençaentreMonoteísmoeHenoteísmo?

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3 — UNIDADE 1

A ESCRITA NO ANTIGO ORIENTE

1 INTRODUÇÃO

2 O SISTEMA EGÍPCIO

3 A ESCRITA CUNEIFORME

Oberçodacivilizaçãoétambémoberçodaescrita.Considerandoqueaescritaconstituielementofundamentaldaculturabíblica,umajornadaaindaquepanorâmicaemsuainfânciasefaznecessária.Umexegetaresponsávelnãodevenegligenciarestemister.

Osistemaegípciodeescritaeraohieroglífico.Deorigemgrega,apalavrahieróglifosignifica“esculturasagrada”.Consistiaemdesenhosquerepresentavamhomens,animais,insetoseseuscomportamentos.Umolho,outraspartesdocorpohumano,figurasgeométricaseobjetosdeusodiárioserviamcomoalfabeto.

Oempregodoshieróglifoscomoformadecomunicaçãoeraconsideradosagrado.Assim,oseditosdoFaraó,consideradodivino,eramescritosporestesistemaesópodiamserlidospelossacerdotes.

Oshieróglifoscomeçaramaserempregadospelosegípciosentre3110e2880a.C.eparecemtersealicerçadonaescritasumeriana.

Nesteitemvamosconhecerosistemadeescritapraticadopelospovosqueviveramnostemposbíblicos.

3.1 O SISTEMA SUMERIANO

Ostextosmaisantigoseconhecidos,comojáfoiditonoTópico1destaunidade,estãoescritosemsumeriano,oquepermiteinferirqueforamossumériososinventoresdaescrita.

Foramencontradosno templodeUruquemaisdemil tabletes escritoscomumsistemacompostodemaisdesetecentossinais.

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

3.2 O SISTEMA ACADIANO

3.3 O SISTEMA ELAMITA

3.4 O HITITA

ComeçouaserusadoapartirdeSargão,oprimeirograndeconquistadormundial.Eraumalínguapolissilábicadedifícilcombinaçãodesonsconsonantais.A escrita acadiana sofreu variações, comona Babilônia, cuja característica erapossuir poucos logogramas com palavras escritas silabicamente, e naAssíria,ondeos símbolos escritos erammelhores adaptados ao seudialetodoquenobabilônico.Antesde670a.C.,osreismantinhamohábitodoestudodaescritacuneiforme. Com este sistema,Assurbanípal reuniu textos que descreviam osperíodos anteriores. Reis do século VI a.C. eram capazes de decifrar osmaisantigostextosemcuneiforme.

Escritapictográficausadaaté2500a.C.ebaseadanoacadiano,osistemaeraumdosoficiaisduranteoimpériopersa.Possuía,originalmente,131sinaissilábicose25logogramas.

Alínguaempregavatantoosistemacuneiformecomoohieroglífico,cadaqualcomseusconjuntosdesinais.OHititaéamaisantigalínguaindo-europeia.

3.5 O UGARÍTICO

3.6 O URATIANO

3.7 O HURRIANO

Assemelha-seàescritaCananeia.ArqueólogosdescobriramnaSíria,entre1929e1939,centenasdeplacasdeargilacomtextosemugarítico,queinformavamsobreocotidianodasociedadedecercade1400a.C.Sãotextosdecaráterreligioso,queprojetamluzaoestudodaslínguassemíticas,principalmenteohebraico.

FloresceunaAnatólia,nonortedaAssíria,entre1100e600a.C.Éumtipodeescritaneoassírio,comgrandefrequênciadecaractereslogográficos.

Falada desde 2000 a.C., desenvolveu uma escrita quase inteiramentesilábica.Textosnesteidiomatêmsidoencontradosemlocaisantespovoadosporhititas,ugaríticosemesopotâmicos.

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TÓPICO 3 — A ESCRITA NO ANTIGO ORIENTE

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3.8 O PERSA

4 A ESCRITA SEMÍTICA

Foi o idioma dominante durante o impériomedo-persa. Possuía umaescrita cuneiforme silábica, que começouadesaparecer após as conquistasdeAlexandre.Posteriormente,estudiososhelenistas tentaramressuscitá-la,masalínguaficouconfinadanoscírculosreligiosos.Ostextosmaisrecentes,empersa,datamde75d.C.

Línguas como o hebraico e o aramaico, bem como seu sistema deescrita, tornam-se fundamentais para ummelhor estudo dos tempos bíblicos,principalmente,naépocadeJesus.

4.1 O HEBRAICO ANTIGO

É uma forma muito semelhante ao fenício, contemporâneo a ela. Foiutilizada nas inscrições veterotestamentárias e falada até a deportação para aBabilônia.

Originária do ugarítico, língua falada em Ugarite, cidade ao norte daSíria,ohebraicoantigoeraumalínguasemíticafaladapeloscananeus.Otermohebraicofoiutilizadopelaprimeiravez,comodesignaçãodalínguaCananeia,porBem-Siraque,em130a.C.

Com 22 letras, todas consoantes, possuíam também valor numérico(observeafigura).Apesardeseudesusoapósocativeirobabilônico,ohebraicoantigocontinuousendousadocomolíngualitúrgicanosritosdassinagogas.

FONTE: CHAMPLIM; BENTES. (1997, p. 43).

FIGURA 2 − O ALFABETO HEBRAICO

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

4.2 O ARAMAICO

Eraumdialetosemita, faladopeloscaldeusnosdiasdeDaniel (siríacoemBÍBLIADn2:4;7:28).Nosdiasdadominaçãopersa,oidiomaerafaladoemtodo sudoeste da Ásia. Era a língua do comércio, espalhada por negociantesque cortavam o império. Entre os documentosmais importantes, escritos emaramaico,estãoospapirosdatadosentre500e400a.C.,emElefantina,noEgito.

DuranteoexílionaBabilônia,osjudeusaprenderamalínguaepassaramaescrevê-lacomcaractereshebraicos.Comopassardotempo,ousodoaramaicosubstituiuohebraico,tornando-seoidiomacomumdosjudeus.

OaramaicoeraalínguafaladaemtodaPalestina,nosdiasdeJesus.

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TÓPICO 3 — A ESCRITA NO ANTIGO ORIENTE

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LEITURA COMPLEMENTAR

NOMEN NUMEN

PedroSanches(1580)

Estamos, portanto, continuamente encontrando o forte elo que existiaentre a teoria histórica, espiritual e a realidade; nós achamos que em todosos aspectos característicosdoPovoEscolhido. Isto tem início comosprópriosnomesqueusavam.Ostrêsmaiscomunsaludiamcomgrandeprecisãoacertosacontecimentosimportantesemsuahistóriasagrada:eleseramhebreus,israelitasejudeus.Sejáhouvecasoemquesepudesseaplicarorótulolatinonomen numen foicomcertezaeste,poiscadaumdessesnomestemaplicaçãodiretanumdadoaspectododestinodeles.

Deve ser, porém, observado que uma expressão que agora usamos,com sentido restritivo (e algumas vezes com certo tom de desprezo) para anaçãodeAbraão,deMoisés edosprofetas,quando falamos,por exemplo,deantissemitismo,nãotinhaentãoamenoraceitação.OscontemporâneosdeJesussabiamevidentementequeeramsemitas,desdequedescendiamdeSem,ofilhomaisvelhodeNoé.ElesnãohaviamesquecidoodécimocapítulodeGênesisesualistadasgeraçõesdepoisqueafamíliadeNoésaiudaarca.MenosaindaseesqueceramdononoquecontavacomoSem,juntamentecomseusdescendentes,ocupouaposiçãomaiselevadadevidoaoseucomportamentoretoparacomopai,quandoNoéestavabêbado.Masapalavra“semita”eradesconhecida,elanãoseencontranaBíblia.FoiumtermoinventadoemlinguísticaporSchözer,em1781.Umpalestinodedoismilanosatrástinhaconhecimentodequeosbeduínosdodesertoeramseusprimos,poisdescendiadeAbraãoesuaconcubinaHagar.Masteriamficadomuitosurpresosaoverem-seclassificadosna“raçasemítica”juntamentecomoscaldeuseassírios.

Os termos mais comuns no uso erudito ou literário eram hebreus eisraelitas. Haja vista famosa passagem na segunda Epístola aos Coríntios, naqualPaulo,parasedefenderdasacusaçõesdosinimigos,clama:“sãohebreus?tambémeu.Sãoisraelitas?tambémeu.SãodadescendênciadeAbraão?tambémeu.”UmfilhodeAbraão,ummembroverdadeiro,legítimo,doPovodaAliançadeclarou-seassimtantohebreucomoisraelita,asexpressõesnãoeramsinônimas,correspondendoadetalheshistóricoseespirituaisdiferentes.Apalavra“hebreu”naBíbliaestavaligadaaumhomemdenomeEber,tataranetodeSem.Eladerivadeabar, cruzar,umradicalencontradonovamentenaMesopotâmiacomohabiru enoEgitocomoApiru, umtermoparaossaqueadoresquevinhamdasestepes.Ohebreu,então,é“aquelequeCruza”,ohomemdegrandesperegrinações.OtermofazlembrarasjornadasprodigiosasdeUrparaCanaãnosdiasdeAbraãoedopaísdoNiloaodoJordãonaépocadeMoisés,quandooPovoEscolhidoveioa terconhecimentodesimesmoedoseudestino.Osverdadeirosfiéis tinhamretidoumsentimentoparticularporaqueleperíodo:odesertoeraaindaolugar

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UNIDADE 1 — CONHECENDO O MUNDO DA BÍBLIA

emque,“comoperegrinodaterra”,comoJesusviriadizer,ohomempodiaseaproximarmaisdeDeus.Paraoscrentes,a tendadonômadepermaneceuumsímbolo tão beloda vida espiritual que ela erade novo erguidana Festa dosTabernáculos.EtudoistoseachavaimplícitoquandoumindivíduodaépocadePauloafirmavaserhebreu.

Quandosedizia israelita, talvez implicasseaindamaiscoisas.SabemosqueJacórecebeuonomedeIsraeldadopeloanjodoSenhor–quesemdúvidasignificaopoderdivino–nofinaldanoiteextraordináriaemquelutouomaisestranhodoscombatesjuntoaovaudoJaboque.Abaladoecomaarticulaçãodacoxaforadolugar,masorgulhosodeterlutadosemdesistiratéoromperdodia,opatriarcareceberaessenomecomoumarecompensaepenhor.Alutaespiritual,“tãofuriosacomoumabatalhaentrehomens”,naspalavrasdopoeta,ocombatecorpoacorpocomopoderdodestinoquetodohomemdevetravaremsuacarneeemsuaalma,tinhasidodisputadoporIsrael,tantoporsimesmocomoporseusdescendentes.SerisraelitaeraserpartedeumanaçãoqueficavafaceafacecomDeus.

Otermo“judeu”,queéencontradoapenasnoNovoTestamentoenosdoislivrosdosMacabeus,foiadotadopelaadministraçãoromana,tendosetornadocomum.Éaquelemaiscorrente,hoje,comoinadequadoedesagradávelsentidosugeridoqueosescritosantissemíticoslhederam.Estenometambémpossuíaumsignificadohistóricoeespiritualadmirável.Eledatadaépocadavoltadoexílio.A triboprincipal, cujosmembros tinhamsidodeportadosporNabucodonosorparaaBabilônia(juntamentecomadeBenjamim),eraJudá.ForamosfilhosdeJudá,portanto,quepreservaramintactosotesourodaféeastradiçõesancestrais,enquantonaPalestinaosremanescentesdasoutrasdeztribostinhamcedidoemparteàstentaçõesdopaganismo.Aovoltar,elesseestabeleceramnaJudeia,querecebeuoseunome,próximoàcidadesantadeJerusalém.Aliestabeleceramareligião sobre fundamentosmais seguros. Jacó, agonizandona terra doEgito,tinhapreditoqueo cetronão seria tomadode Judá; éumabênçãoparticular,dadaaessatriboséculoapósséculo.Aderivaçãoeraemsimesmaumsímbolo:oshomensdeJudá,daJudeia,osjudeus,eramoshomensdeféperseverante.

FONTE: Arquivo do Autor

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você estudou que:

Oshieróglifoseramumsistemaconsideradosagrado.

Ossumerianosforamosinventoresdaescrita.

OhebraicoantigofoialínguausualdeIsrael,atéocativeirobabilônico.

OaramaicopassouaseralínguausualdeIsrael,apartirdocativeirobabilônico.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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38

Responda:

1 Qualéadefiniçãoetimológicadehieróglifos?

2 Qualéaorigemdaescritahebraica?

3 Quandooaramaicosetornouoidiomausualdosjudeus?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2 —

O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender melhor a formação da Escritura veterotestamentária e seu Cânon;

• conhecer as principais características da sociedade israelita dos dias bíblicos;• entender os processos de mudanças sociopolíticos e culturais de Israel no

período que vai de Abraão ao cativeiro babilônico;• conhecer melhor o homem dos tempos bíblicos;• conhecer o contexto histórico dos grandes eventos do Antigo Testamento;• reconhecer o estudo da cultura bíblica e arqueologia como instrumentos

auxiliares da exegese bíblica.

Esta unidade está dividida em quatro tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado.

TÓPICO 1 – A FORMAÇÃO DA ESCRITURA HEBRAICATÓPICO 2 – USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTOTÓPICO 3 – OS SISTEMAS POLÍTICOS DOS HEBREUS E SUAS

RELAÇÕES INTERNACIONAISTÓPICO 4 – A ARQUEOLOGIA E HISTORICIDADE DOS EVENTOS

VETEROTESTAMENTÁRIOS

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 1 —

A FORMAÇÃO DA ESCRITURA HEBRAICA

2 OS ANTIGOS MANUSCRITOS

Como o Antigo Testamento chegou até nós? Por que acreditamos que ele é a Palavra inspirada de Deus? Que fatores nos dão segurança quanto à preservação da originalidade de seu conteúdo? Merece confiança o Antigo Testamento? Normalmente, estas questões assaltam a mente do estudante da Bíblia. Há, porém, recursos que podem elucidá-las. A análise desses recursos é imprescindível na interpretação de textos bíblicos, seja para a elaboração de sermões ou estudos específicos. Estes recursos são os registros sobre a história e cultura dos povos da Bíblia e a arqueologia, com seus achados que confirmam tanto a história quanto a cultura.

Os escritos originais do Antigo Testamento já não existem mais. Tudo o que temos são cópias das quais os mais antigos foram produzidos mil anos depois dos originais. No entanto, nenhuma grande obra literária possui tantas cópias e tão antigas como as escrituras veterotestamentárias.

A existência deste acervo deve muito, entre outros fatores, à descoberta, em 1947, de uma biblioteca formada ainda nos dias de Jesus. Trata-se dos Manuscritos do Mar Morto. O fato se deu quando Muhammad Dib, pastor beduíno, saiu à procura de uma cabra. Ao avistar uma fenda numa rocha através da qual imaginou que a cabra pudesse ter passado, atirou uma pedra que, ao chegar ao destino, ao invés de produzir o som seco característico esperado, o que se ouviu foi um ruído abafado. A pedra acertara rolos de papiro e pergaminho enrolados em tecidos de linho.

Entre os documentos encontrados havia um rolo de sete metros, com o texto integral do livro do profeta Isaías. Exames comprovaram que o texto datava de mais ou menos 100 a.C. Talvez fosse um destes pergaminhos que Jesus manuseara em Nazaré (BÍBLIA, Lc 4:16).

O texto completo de Isaías não era o único. A região abrigava várias cavernas nas quais foram encontrados centenas de fragmentos de textos do Antigo Testamento e literatura comum, escritos em hebraico, grego e aramaico. Entre os textos bíblicos encontrados vale destacar:

O Comentário de Habacuque – cap. 1 e 2 com anotações.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

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O Rolo de Isaías. Partes dos capítulos 41 – 66.

Fragmentos de Levíticos. Precisamente os capítulos 19 -22.

Parte de Deuteronômio. Capítulo 32, versículos 41 ao 43, escrito na forma de poesia.

Os capítulos 1 e 2 de I Samuel.

Os capítulos 16, 19, 21 e 23 de I Samuel, datado de aproximadamente 225 a.C.

Jeremias.

Eclesiastes.

O capítulo 1 de Êxodo.

Fragmentos dos capítulos 7, 29, 30 e 32 de Êxodo.

Números.

Deuteronômio. Capítulo 32 (O Cântico de Moisés).

Salmos.

Os manuscritos do Mar Morto representam o que há de melhor e mais remoto em escritos antigos.

3 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

A palavra Cânon, do grego kanõn, significa vara. Refere-se a uma vara de medir (régua), dando conotação de padrão. Aplicado à Bíblia, indica os livros que foram medidos e achados satisfatórios e aprovados, como tendo sido inspirados por Deus.

Talvez você pergunte: que critério foi adotado para se estabelecer o Cânon como o conhecemos? Com relação ao Antigo Testamento, mais precisamente o Pentateuco, por exemplo, pesou o fato de ter sido escrito por Moisés.

O pronunciamento dos líderes religiosos israelitas também foi fundamental para o reconhecimento do Cânon como o conhecemos. O Cânon das Escrituras veterotestamentárias foi elaborado a partir do reconhecimento de sua autoridade espiritual pelos líderes israelitas, incluindo Jesus e os apóstolos. Textos como Mateus 5:17-19 ou João 10:35 (BÍBLIA, 1999), por exemplo, constituem evidências

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TÓPICO 1 — A FORMAÇÃO DA ESCRITURA HEBRAICA

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à autoridade do Antigo Testamento, confirmada por Deus na pessoa de Jesus Cristo. Todavia, como observa Archer (1979, p. 168): “[...] o único teste de canonicidade que permanece de pé é o testemunho que Deus, o Espírito Santo, dá à autoridade da sua própria Palavra”.

O Cânon do Antigo Testamento é composto de 39 livros divididos por categorias e corresponde ao Cânon Judaico, como se segue:

O Pentateuco: formado pelos livros de Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

Livros Históricos: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester.

Livros Poéticos: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de Salomão.

Profetas Maiores: Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias, Ezequiel e Daniel.

Profetas Menores: Ozeias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

O Cânon Católico Romano inclui ainda: I Esdras, II Esdras, Tobias, Judite, adições ao livro de Ester (O sonho de Mardoqueu, O Edito de Assuero, As Orações de Mardoqueu e Ester, Ester e o Rei, O segundo Edito de Assuero), Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, a Carta de Jeremias, acréscimos ao livro de Daniel (A Oração de Azarias, A Canção dos Três Jovens, A História de Suzana, Bel e o dragão), A oração de Manasses e I e II Macabeus.

Em 1592 saiu a primeira edição da Bíblia Católica Romana com a inclusão dos apócrifos, sob o papado de Clemente VIII.

3 O CÂNON DO ANTIGO TESTAMENTO

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Neste tópico você viu que:

Em 1947, um pastor beduíno encontrou, em uma caverna próxima ao Mar Morto, um acervo de escritos antigos, alguns com mais de 2100 anos.

Entre os rolos descobertos estava um texto integral do livro de Isaías.

A importância do escritor bíblico para os líderes israelitas, incluindo Jesus, foi um fator determinante na canonização das escrituras veterotestamentárias.

Os Apócrifos foram textos traduzidos para o grego, juntamente com as Escrituras Sagradas, para compor a Biblioteca de Alexandria.

RESUMO DO TÓPICO 1

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Responda as seguintes questões:

1 Que importância teve a descoberta dos rolos do Mar Morto?

2 O que significa Cânon?

3 Que critério foi adotado para se definir o Cânon do Antigo Testamento?

4 Como se chamou o período em que foram escritos os livros Apócrifos?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Isolar um texto de seu contexto é um dos erros mais comuns da hermenêutica bíblica. Exigir, por exemplo, que uma mulher use véu ou deixe de usar calças compridas ou que o homem use ou deixe de usar barba, creditando à Bíblia tal autoridade, é, no mínimo, falta de bom senso. Não é possível querer vestir o homem do século XXI com o figurino utilizado por Abraão, Moisés ou Elias. Eu, particularmente, não me sentiria muito bem dormindo ou fazendo minhas refeições sobre esteiras. É igualmente errado julgar ou interpretar o homem dos tempos bíblicos pelos valores de nossa época. Somente a compreensão da mentalidade e estilo de vida dos israelitas daquela época nos permitirá entender e interpretar a Bíblia com clareza. Como era o cotidiano de Abraão? Como era a relação familiar? O que comiam? Como se vestiam? De onde vinha o sentimento patriótico de Josué ou Davi? Estudar a cultura do homem da Bíblia é crucial na tarefa hermenêutica.

TÓPICO 2 —

USOS E COSTUMES NO ANTIGO

TESTAMENTO

2 A SOCIEDADE PATRIARCAL

Desde Abraão até a formação da confederação das doze tribos de Israel, o sistema prevalecente de sociedade era a tribal nômade. Uma tribo reunia famílias em torno de um antepassado comum.

A sociedade patriarcal tinha como unidade básica a família. Da união de famílias oriundas de um mesmo antepassado surgia o Clã. Compartilhavam o mesmo território, dividiam as mesmas pastagens e se reuniam para as atividades religiosas.

A sociedade era governada pelo chefe de família, o ancião, que, em tempo de conflito, arregimentava homens para a batalha, conduzindo, ele mesmo, a campanha ou designando um líder (juiz) aceito por todos. O sistema era semelhante ao modelo árabe em que o sheik exercia sua autoridade, unindo os principais chefes de família.

Na organização de Israel, cada tribo possuía seu próprio território e nele suas terras eram cultivadas; as pastagens, porém, deviam ser compartilhadas. Não poucas vezes surgiam conflitos por disputa de pastos, semelhante ao que separou Abraão e Ló.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

2.1 A GUERRA

2.2 A HOSPITALIDADE

3 A SOCIEDADE LEVÍTICA

Os conflitos bélicos eram, geralmente, causados por interesses territoriais, e estes, pelos recursos que ofereciam, como água, pastos etc. A guerra era decidida pelo juiz e os anciãos. Após as batalhas, o despojo era repartido entre os guerreiros. Ao chefe era dada a quarta parte dos despojos. Nos dias de Davi, a metade dos despojos era dos combatentes e a outra metade ficava com o comandante (BÍBLIA, I SM 30:20-25).

Em marcha ou acampados, os grupos se abrigavam sob estandartes que também os identificavam. No deserto, cada tribo possuía seu próprio estandarte. Eram emblemas feitos de madeira ou metal, suspensos em mastros.

Considerada uma virtude entre os nômades, a hospitalidade era uma necessidade para a vida no deserto. O hóspede podia desfrutar da hospitalidade por três dias e ainda gozava de proteção ao partir. Exemplos bíblicos não faltam: Abraão e os varões em Membré (BÍBLIA, Gn 18:1-8); Labão ao receber Eliezer (BÍBLIA, Gn 24:28-32) ou a história do crime em Gibea (BÍBLIA, Jz 19:16-24).

O modo de vida tribal, característica da sociedade patriarcal, é mais bem notado no Livro de Juízes, quando ações nacionais ou isoladas constituem a história de Israel em seus altos e baixos, na relação com Deus, no penoso período que se estende entre o estabelecimento das tribos em solo palestino e a instituição da monarquia.

Vamos chamar de sociedade levítica a sociedade organizada a partir das regras estabelecidas no deserto, com a entrega da lei a Moisés. A experiência do Sinai deu a Israel signos de uma identidade vinculada a um propósito de Deus.

3.1 A LEI MORAL (O DECÁLOGO)

Os Dez Mandamentos, dados por Deus a Moisés, no Sinai, constituem a base de todo o sistema legislativo da sociedade israelita. Não significa que antes disso não houvesse lei em Israel. Todo sistema de vida em sociedade exige a observação de princípios normativos, sem os quais a vida em sociedade seria impossível.

Foi, porém, o Decálogo que deu a Israel um status moral jamais observado em outras civilizações. O mundo inteiro, sobretudo o ocidente cristão, é, até os dias de hoje, influenciado pela moralidade herdada do povo judeu.

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TÓPICO 2 — USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTO

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Também existiam, entre as nações mais antigas e desenvolvidas, excelentes sistemas legislativos. O Código de Hamurábi, o mais extenso e bem conservado documento sobre leis, achado em 1901 em Susã, antecede os escritos bíblicos. Ele apresenta leis que normatizam questões civis, criminais e comerciais e que dão testemunho da bem elaborada legislação babilônica.

Entretanto, não é possível comparar, em toda a história, qualquer sistema legislativo como o de Israel. Nenhum sistema foi tão bem elaborado, levado a sério ou teve tanta duração como o de Israel.

Os Dez Mandamentos, que formavam uma espécie de Leis Cardeais, é mais do que mero Código de leis. Para Israel, eram as regras de um pacto com Deus. Seu conteúdo se encontra em Êxodo 20:2-7 (BÍBLIA, 1999):

“Não terás outros deuses diante de mim”. Exige o monoteísmo (ou henoteísmo?).

“Não farás para ti imagens de escultura”. Proíbe a idolatria.

“Não tomarás o nome do senhor teu Deus em vão”. Proíbe a profanação e blasfêmia.

“Lembra-te do sábado para o santificar”. Exige a guarda do sábado.

“Honra teu pai e tua mãe”. Exige respeito e consideração aos pais. É o primeiro mandamento relacionado ao trato com o próximo, indicando que o respeito à autoridade paterna iniciará o indivíduo ao respeito a toda e qualquer autoridade. A família sempre será o principal agente de sociabilização do indivíduo.

“Não matarás”. Exige respeito e valorização à vida do semelhante – é um mandamento contra o assassinato.

“Não adulterarás”. Exige pureza nos relacionamentos.

“Não furtarás”. Exige honestidade.

“Não dirás falso testemunho contra teu próximo”. Proíbe a mentira.

“Não cobiçarás”. Exige respeito à propriedade alheia.

Os quatro primeiros mandamentos tratam das responsabilidades e deveres do homem para com Deus, e os seis mandamentos seguintes atribuem ao homem responsabilidades para com seu próximo. Certa ocasião, questionado por um intérprete da Lei sobre qual seria o grande mandamento da Lei, Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma,

3.1 A LEI MORAL (O DECÁLOGO)

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

de todo o teu entendimento. Este é o grande primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. A resposta parece reiterar o valor dos Dez Mandamentos sob a elevada condição de amar a Deus e ao próximo, e este amor, o único meio de cumpri-lo.

3.2 A LEI CERIMONIAL

3.2.1 A circuncisão

Trata-se da Lei que normatizava as práticas da religião. As festas, os sacrifícios, a circuncisão, o calendário litúrgico, as obrigações rituais, enfim, todo procedimento de natureza religiosa regulamentado por esta lei. Serviam para comunicar as convicções espirituais de Israel. Não vamos tratar de todas as práticas neste caderno, mas podemos destacar as mais importantes e significativas.

A remoção do prepúcio passou a ser praticada desde quando Abraão entrou na Terra Prometida. Deus fizera tal exigência como sinal do pacto estabelecido com Abraão. Na verdade, todos os homens que acompanhavam Abraão tiveram que se circuncidar. Isaque foi circuncidado ao oitavo dia de nascimento e assim o costume foi adotado pelos demais patriarcas.

A circuncisão, como prática religiosa, significou a aliança existente entre Deus e Israel, e todos os meninos deveriam passar por ela ao oitavo dia. Estrangeiros e escravos também deviam ser circuncidados, caso contrário, não poderiam participar da Páscoa.

3.2.2 A ablução

Tanto como a circuncisão, as abluções eram igualmente exigidas aos israelitas, como meio de manutenção da boa espiritualidade. Consistia em lavagens ou banhos cerimoniais de purificações. Nas páginas do Antigo Testamento, podemos encontrar pelo menos quatro tipos de abluções:

Lavagem das mãos (BÍBLIA, Lv 15:11; Mc 7:3; MT 15:2); Lavagem dos pés.

Lavagem dos pés e das mãos como rito de preparação para o ofício do sacerdote.

Imersão do corpo inteiro, simbolizando a purificação do ser total como meio de tornar o homem apto à adoração. O rito era exigido ao novo convertido (estrangeiro prosélito) como forma de remoção de toda impureza do paganismo. Pessoas que tivessem tido contato com qualquer coisa imunda (cadáver, animais, alimentos, leprosos etc.), mulheres em fase de menstruação

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TÓPICO 2 — USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTO

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3.2.3 O sacrifício

3.2.3.1 O holocausto

Constitui a parte principal do culto. Trata-se de um animal ou vegetal levado ao altar para ser destruído em honra a Deus. Os rituais de sacrifícios eram variados. A seguir verificamos a sua classificação.

O termo significa subir, numa alusão à fumaça que sobe quando a oferta é queimada. O animal oferecido deveria ser macho e sem defeito. Poderia ser um boi ou uma rola. O ofertante impunha as mãos sobre a cabeça da vítima (menos as que fossem aves), significando que a mesma pertence a ele (ofertante) e também procedia a degola do animal. Os sacerdotes faziam a imolação. O sangue era espalhado em torno do altar, onde um fogo queimava perenemente.

ou que acabaram de dar à luz e leprosos curados também precisavam passar pelo rito de purificação. A recusa em aceitar essas obrigações fazia o imundo réu de morte.

Lavagem de objetos (residência, utensílios, roupas etc.).

São estas abluções judaicas que inspirarão o batismo de João Batista e, posteriormente, o batismo cristão.

3.2.3.2 O sacrifício de comunhão

3.2.3.3 O sacrifício expiatório

Este se dividia em três ritos: o sacrifício de louvor; o sacrifício espontâneo e o sacrifício votivo, em que o ofertante assume com Deus um compromisso mediante um voto. No sacrifício de comunhão, as fêmeas também eram aceitas, mas não as aves. Sua carne era repartida entre Deus, o sacerdote e o ofertante, que a comiam em refeições rituais. A parte de Deus era queimada sobre o altar. A Deus cabia toda a gordura e as vísceras; o sacerdote ficava com o peito e a coxa direita e o ofertante com o que restava. A parte do ofertante seria consumida com a família e convidados que estivessem em condição de pureza ritual.

O sacrifício expiatório tinha a função de restabelecer a comunhão com Deus rompida pelo pecado. Eram duas as suas formas:

O sacrifício pelo pecado: a vítima deveria ser de acordo com a condição do pecador. Assim, um sumo sacerdote que pecasse deveria oferecer um touro; um príncipe ou ancião oferecer um bode, um indivíduo comum, uma cabra, um indivíduo pobre, duas rolinhas.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

No sacrifício expiatório, o valor do sangue era acentuado e a carne não era consumida pelo ofertante, ficando tudo com os sacerdotes.

O sacrifício de reparação: semelhantemente ao sacrifício pelo pecado, era oferecido pelo ofensor a Deus, acompanhado de uma indenização paga ao sacerdote, quando Deus era o ofendido ou a pessoa lesada.

Juntamente com os sacrifícios eram também previstas as ofertas de vegetais oferecidos em ocasiões especiais, os pães da oblação, que eram colocados sobre uma mesa que ficava no Santo dos Santos em número de 12, simbolizando as 12 tribos. Eram comidos pelos sacerdotes e repostos a cada sábado, e as ofertas de incenso, oferendas aromáticas que perfumavam o ambiente de culto. O pó aromático era queimado com as brasas retiradas do altar de sacrifício.

3.2.4 As festas

3.2.4.1 A Páscoa

3.2.4.2 A Festa das Semanas (Colheita) Ex 23:16

Anualmente, os israelitas realizavam três grandes festas. Todas relacionadas à religião.

Comemorada na primeira lua cheia do ano, cada família separava um cordeiro para ser imolado. O sangue era aspergido nas vergas e batentes das portas das casas e a carne comida. Os ossos da vítima não podiam ser quebrados e o que sobrasse da carne deveria ser queimado. Acompanhavam a refeição: pães sem fermento e ervas amargas. Os participantes deveriam estar prontos para partir. A festa teve origem quando Deus orientou os hebreus no Egito de como se livrar da ação do anjo que matou os primogênitos do Egito. Servia para lembrar a ação de Deus em favor de Seu povo escravizado.

Celebrava a colheita do trigo. Era uma comemoração alegre, realizada na sétima semana após a colheita dos primeiros feixes de trigo. Havia muita comida, bebida, músicas; cordeiros, novilhos e bodes eram sacrificados. A cerimônia oficial consistia na oferta de dois pães feitos com a farinha nova, cozida com fermento. Era a dedicação a Deus das primícias das colheitas de trigo.

Acontecia 50 dias após a Páscoa, daí o nome Pentecostes.

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TÓPICO 2 — USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTO

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3.2.4.3 A Festa dos Tabernáculos

Era realizada em Jerusalém e atraía peregrinos de todas as partes. Durante o dia, trombetas chamavam o povo para ver a procissão dos sacerdotes, que no tanque de Siloé enchiam recipientes de água com que molhavam o altar. Era um agradecimento a Deus pela água e pedido de chuvas. À noite, o povo dançava, cantava e comia, tudo regado com muito vinho. Durante as celebrações, o povo habitava em tendas, relembrando as condições em que Israel teve que viver, durante a peregrinação pelo deserto.

3.2.5 O calendário

3.2.5.1 O dia

3.2.5.2 A semana

3.2.5.3 O mês

A unidade básica do calendário bíblico é o dia. Para os judeus, o dia se iniciava às 18h, no momento do pôr do sol, e durava até o outro pôr do sol. Os dias da semana não recebiam nomes, eram designados apenas por primeiro, segundo, terceiro dia etc. Os dias eram divididos em horas e vigílias e havia mecanismos (relógios) para medi-los, como o que está descrito em Isaías 38:8 e II Reis 20:11 (BÍBLIA, 1999).

A noite era dividida em três vigílias: a primeira, das 18h às 22h; a segunda vigília das 23h às 03h e a vigília da manhã das 03h às 06 horas. As formas mais comuns para se designar as partes do dia eram: manhã, meio-dia e tarde.

A semana bíblica é de sete dias, conforme se pode verificar em Gênesis 1 (BÍBLIA, 1999), na narrativa da criação. Como já foi citado, os dias da semana não recebiam nome. O sábado, por exemplo, era um adjetivo do sétimo dia. O termo comunicava sua importância e não o seu nome.

O mês hebraico seguia a tendência dos povos antigos, de medir o tempo pelas fases da lua. Como o ciclo lunar dura 29 dias e 12 horas, os meses tinham 29 e 30 dias alternadamente. Eram 12 no total e o nome de cada um deles estava relacionado às atividades agrícolas e ao tempo. Alguns nomes foram tomados dos cananeus e fenícios, como, por exemplo, o mês de Abide ou Zive, substituídos mais tarde por Nisã e Iyyar, respectivamente.

A seguir, indicamos como o calendário daquela época era dividido e qual a sua importância.

3.2.4.2 A Festa das Semanas (Colheita) Ex 23:16

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

3.2.5.4 O ano

Os judeus observavam dois anos concorrentes: um ano religioso e outro civil. O religioso começava com o mês de Nisã (março/abril) e foi instituído por Moisés, após a saída do Egito.

O ano civil é anterior ao ano religioso, cujo início é datado de 3760 a. C. Começava no mês de Tisri (setembro/outubro), no outono.

ABIBE OU NISÃ. Com 30 dias, é o 1º mês do ano sagrado e 7º do ano civil. Corresponde ao período de março e abril.

ZIFE OU IYAR. Com 29 dias, é o 2º mês do ano sagrado e 8º do ano civil. Corresponde a abril e maio.

SIVÃ. Com 30 dias, é o 3º mês do ano sagrado e 9º do ano civil. Corresponde a maio e junho.

TAMUZ. Com 29 dias, é o 4º mês do ano sagrado e 10º do ano civil. Corresponde a junho e julho.

ABE. Com 30 dias, é o 5º mês do ano sagrado e o 11º do ano civil. Corresponde a julho e agosto.

ELUL. Com 29 dias, é o 6º mês do ano sagrado e o 12º do ano civil. Corresponde a agosto e setembro.

ETANIM ou TISRI. Com 30 dias, é o 7º mês do ano sagrado e o 1º do ano civil. Corresponde a setembro e outubro.

HESVAN. Com 29 dias, é o 8º do ano sagrado e o 2º do ano civil. Corresponde a outubro e novembro.

KISLEU. Com 30 dias, é o 9º do ano sagrado e o 3º do ano civil. Corresponde a novembro e dezembro.

TABET. Com 29 dias, é o 10º do ano sagrado e o 4º do ano civil. Corresponde a dezembro e janeiro.

QUADRO 1 − TABELA DO CALENDÁRIO HEBREU COMPARADO

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TÓPICO 2 — USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTO

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SEBAT. Com 30 dias, é o 11º do ano sagrado e o 5º do ano civil. Corresponde a janeiro e fevereiro.

ADAR. Com 29 dias, é o 12º do ano sagrado e o 6º do ano civil. Corresponde a fevereiro e março do nosso calendário.

FONTE: O autor

3.2.6 O Tabernáculo

Nos dias dos patriarcas, alguns lugares foram escolhidos como santuários, nos quais altares foram construídos. Em Siquém, “sob o carvalho”; Betel, no qual Jacó fez, da pedra que usou como travesseiro, uma coluna sagrada; Mambre, “sob o carvalho” no qual Abraão levantou um altar; em Berseba, Isaque edificou um altar e ali Deus reafirmou as promessas feitas a Abraão. Foi, porém, no deserto, com Moisés, que a ideia de santuário ganhou contornos mais litúrgicos.

O Tabernáculo, uma tenda concebida como tendo forma retangular, ornamentada com cortinas. O ambiente dentro da tenda era dividido em duas partes: o lugar Santo e o Santo dos Santos.

No Santo dos Santos ficavam a arca do concerto e o propiciatório. A tampa da arca era feita de ouro, com a imagem de dois querubins, um diante do outro, com as asas abertas. Sobre ele (o propiciatório), o sangue dos sacrifícios era derramado uma vez por ano. O Santo dos Santos era o lugar mais sagrado do Tabernáculo. Ali, uma vez por ano, uma grande solenidade marcava o dia da expiação. Sobre o propiciatório Deus habitava simbolicamente.

No lugar Santo, no qual diariamente os sacerdotes trabalhavam, havia três móveis: a mesa dos pães da proposição; o candeeiro de ouro e o altar do incenso.

Na mesa dos pães da proposição eram colocadas duas pilhas de pães ázimos, com 12 pães cada, simbolizando cada uma das 12 tribos de Israel. Os acessórios usados nos rituais sobre a mesa (taças, travessas, talheres) eram feitos em ouro.

O candeeiro de sete braços (a menorah) era todo feito em ouro maciço e ficava do lado oposto da mesa dos pães ázimos. Representava a presença da luz divina. Para alguns estudiosos, a luz acesa do candeeiro nunca se apagou enquanto esteve no Tabernáculo e depois no templo.

O altar de incenso ficava em frente à cortina que separava o Santo lugar do Santo dos Santos. Era feito com madeira de acácia e recoberta de ouro. Media aproximadamente 50 centímetros de comprimento com 1 metro de altura. Seus

3.2.5.4 O ano

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acessórios também eram feitos de ouro. Sobre ele eram queimados incensos aromáticos, pela manhã e ao entardecer.

A construção do Tabernáculo narrada em Êxodo 25-29 (BÍBLIA, 1999) aconteceu nove meses depois que Israel chegou ao sopé do monte Sinai. Deus teria vindicado sua construção e revelado sua planta. Sobre o Tabernáculo pairava a nuvem que anunciava a presença de Deus: quando ela parava era sinal de que Israel deveria armar acampamento, quando se retirava, então o Tabernáculo deveria ser desmontado e Israel partir.

O Tabernáculo foi destruído em Silo, pelos Filisteus, e a arca removida para Quiriate-Jearim (BÍBLIA, I Sm 4:3-12). Davi mandou edificar outro Tabernáculo, para colocar a Arca da Aliança, que depois seria levada para o templo construído por Salomão.

FONTE: Disponível em: <]www.br.geocities.com>. Acesso em: 10 fev. 2009.

FIGURA 3 − O TABERNÁCULO

3.2.7 O templo

Com a transferência da Arca da Aliança, resgatada por Davi, para Jerusalém, esta se tornou o centro religioso de Israel. Era desejo de Davi construir um templo para abrigar a arca (BÍBLIA, II SM 7:1-7). No entanto, por determinação do Senhor (BÍBLIA, II Sm 7:13), a missão fora dada a Salomão. Contudo, Davi deixou tudo preparado. Elaborou a planta, relacionou o mobiliário, reuniu o material necessário, recrutou operários e artífices, e, principalmente, fez de Salomão seu sucessor. Este concretizaria o sonho do grande monarca.

O templo era um edifício imponente. Dividia-se em três compartimentos: o primeiro, chamado ULAM, o átrio, era um vestíbulo no qual ficava o marco de fundição, um lavatório feito de bronze, uma grande bacia redonda de cerca de 2,22 metros de altura e 4 metros de diâmetro, cheia de água. Em sua base ficavam 12 bois feitos de bronze, simbolizando as doze tribos de Israel. O aparato

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era usado no rito de purificação para os sacerdotes, antes das ministrações no santuário. Ainda no átrio ficava o altar de bronze ou dos holocaustos e bacias adicionais nas quais as vítimas eram lavadas.

O segundo compartimento era o HEKAL ou lugar Santo. Constitui a parte interna do templo junto com o lugar Santíssimo ou Santo dos Santos. Nele encontravam-se o altar de incenso (BÍBLIA, I Re 6:20-21), o altar de ouro, o altar dos sacrifícios, a mesa dos pães da proposição e dez candeeiros.

O terceiro compartimento era o DEBIR ou Santíssimo. Ali ficava a Arca da Aliança, simbolizando a presença de Deus.

O Debir (Santo dos santos) era separado do Hekal por uma cortina espessa e, nele, somente o sumo sacerdote podia ter acesso. No Debir, apenas uma vez por ano era feito o sacrifício expiatório por toda a nação, na forma como se fazia no Tabernáculo.

O Templo construído por Salomão foi destruído por Nabucodonosor, rei da Babilônia, e todos os seus utensílios levados. Mais tarde, o templo foi reconstruído por Zorobabel, com a ausência da arca e algumas modificações.

Nos dias de Salomão, o Templo transformou a cidade de Jerusalém na Cidade Santa e ele mesmo passou a ser o grande monumento da unidade nacional. Um símbolo da presença de Deus na nação e sinal da eleição de Israel.

FIGURA 4 − PLANTAS DO TEMPLO

FONTE: Disponível em: <www.osantuario.com.br/tempsalao.php>. Acesso em: 10 fev. 2009.

3.2.7 O templo

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3.2.8 A Arca da Aliança

4 USOS E COSTUMES

4.1 SISTEMAS DE HABITAÇÃO

A arca era uma caixa feita de madeira de acácia, medindo aproximadamente 1,25 metro de comprimento com 0,75 metro de largura e altura. Era a mais sagrada peça do Tabernáculo e, posteriormente, do templo.

Era totalmente revestida de ouro e ladeada por argolas, pelas quais passavam os varões utilizados para o seu transporte.

Em seu interior eram guardadas as tábuas da Lei. Mais tarde, passaram a compor seu conteúdo: um recipiente de ouro contendo uma porção do maná e a vara de Aarão que floresceu.

A arca simbolizava a presença de Deus no meio do arraial israelita. No deserto, transformou-se no principal instrumento de culto e o Tabernáculo foi construído para abrigá-la.

Sobre a arca era colocada uma tampa de ouro, chamada de propiciatório. Sobre ela era derramado o sangue do animal sacrificado no dia da expiação. Por este rito, os pecados de toda a nação eram perdoados. Sobre o propiciatório estavam dois querubins, cujas asas abertas se tocavam, representando guardiões dos atos de Deus.

Neste item você vai se inteirar de como viviam os israelitas em terras palestinas, como se vestiam, se alimentavam, que tipo de educação era dada, seus direitos e deveres, leis etc.

Diferentemente do período patriarcal, em que a vida nômade forçava o israelita a habitar em tendas, a partir do seu estabelecimento em terras palestinas, os descendentes de Abraão passaram a habitar em moradias mais seguras e resistentes. A maioria das moradias na Palestina era modesta. O tamanho das casas variava de acordo com o poder aquisitivo de seu proprietário. Como grande parte das atividades acontecia ao ar livre, a função da casa era somente servir de abrigo para dormir e na qual se faziam as refeições.

Os telhados eram planos e acessíveis. Em dias quentes, mulheres trabalhavam sobre eles. Em algumas residências, o telhado servia como sala de estar.

Tâmaras e figos sobre ele se espalhavam para secagem, bem como roupas lavadas. Em função do seu variado emprego, a lei exigia que nele fossem colocados parapeitos (BÍBLIA, Dt 22:8). Conhecer estas características das casas palestinas,

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dos tempos bíblicos, ajuda-nos a compreender hábitos como o de orar no telhado (BÍBLIA, At 10:9) ou o pronunciamento de Jesus sobre a proclamação dos eirados, do que foi dito ao ouvido (BÍBLIA, MT 10-27).

Sobre o telhado de algumas construções, pequenos cômodos podiam ser construídos. Estes eram usados como quarto de hóspedes ou sala de oração. Em casas de proprietários mais abastados, estas construções serviam também como refeitório (o cenáculo). Foi num lugar assim que Jesus realizou a última Páscoa com seus discípulos e aconteceu o fenômeno do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes. A grande maioria das casas possuía, em seu interior, apenas uma divisão: um cômodo para as pessoas e outro reservado para pequenos animais.

As paredes eram feitas de taipas e os mais favorecidos as faziam de tijolos de barro. Alguns poucos ricos chegavam a habitar em casas feitas com pedra calcárea. O chão variava entre terra batida e lajotas de argila cozida.

As portas, em sua maioria, eram pequenas e estreitas. A soleira era tida como sagrada, pois nela o Senhor ordenou que Sua Palavra fosse fixada (BÍBLIA, Dt 6:4-9). Também na ocasião da Páscoa passava-se sangue na soleira, como lembrança da libertação do cativeiro egípcio.

As janelas eram poucas e serviam também como chaminé. Em noites frias, as janelas eram fechadas com sistema de persianas.

Não existiam muitos móveis. As refeições eram realizadas sobre esteiras ou pele. Mesas e cadeiras eram móveis escassos. Os suprimentos eram guardados em baús. Camas não existiam, não na forma como conhecemos. Geralmente, utilizavam-se de esteiras, peles ou colchonetes que durante o dia eram enrolados e guardados.

A iluminação durante o dia procedia das janelas. À noite, o fogão provia calor e iluminação. Em algumas casas utilizavam-se lâmpadas; eram pequenos recipientes nos quais se colocava o azeite. Um pavio imergia no azeite e queimava durante a noite.

4.2 O VESTUÁRIO

O vestuário do homem bíblico consistia basicamente das seguintes peças:

A capa: uma peça exterior, usada sobre as demais vestimentas e cuja finalidade era servir de agasalho. Geralmente traziam estampas coloridas e vibrantes. Era uma peça de tecido inteira, quadrada, com uma abertura no meio, pela qual passava a cabeça. Era a peça mais valiosa do vestuário de um israelita. Algumas dessas túnicas traziam franjas na bainha, com significado religioso; serviam como lembrete dos mandamentos de Deus. São muitas as citações bíblicas sobre esta peça do vestuário israelita.

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A Túnica: feita de linho ou lã, era a peça principal. Trata-se de uma camisa parecida com um camisolão ou vestido.

O Cinto: usado para prender a túnica ao corpo, o cinto era apenas uma tira de pano que se ajustava à cintura. Alguns usuários de maior poder aquisitivo usavam cintos feitos de couro ou seda, ornados, às vezes, com fivelas de ouro. A expressão bíblica “cingir os lombos”, por exemplo, significa enfrentar dificuldades.

O Manto: era uma peça quadrada para se utilizar em torno dos ombros e, às vezes, como cobertor nas noites frias.

O Calção: era uma espécie de cueca, a peça parecia uma calça curta. Era usada somente por sacerdotes.

O Véu: tanto homens como mulheres usavam o véu. Um lenço sobre a cabeça, firmado com uma corda. O lenço era grande o suficiente para, durante o dia, proteger o pescoço e o rosto das agressões do sol e tempestades de areia. Para as mulheres, o véu trazia um valor adicional; significava submissão ao homem. Era imoral uma mulher exibir os cabelos. Somente prostitutas ou viúvas o faziam. Quando uma mulher era flagrada em adultério, o véu lhe era arrancado e os cabelos raspados, como meio de expor seu vitupério.

As roupas masculinas e femininas eram praticamente iguais, as diferenças ficavam por conta do comprimento (nas mulheres, maiores) e dos adornos; as mulheres se enfeitavam mais.

Os Calçados: a grande maioria das pessoas usava sandálias, porém, sapatos, que se assemelhavam a botas feitas de couro de chacal ou camelo, também serviam no inverno, ou quando se fazia longas jornadas.

O hábito de rasgar as vestes era uma forma de comunicar pesar, ira ou consternação, principalmente diante do óbito de um ente querido. Era um gesto de lamentação.

NOTA

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4.3 ALIMENTAÇÃO

A Bíblia é pródiga em referências ao hábito da refeição. Para qualquer judeu piedoso, tudo o que se referia à manutenção da vida humana, como o abrigo e a alimentação, era considerado sagrado. Não orar antes das refeições era o mesmo que amaldiçoá-las.

As refeições eram, com frequência, feitas ao ar livre. Muitas vezes, no eirado das casas. No inverno, eram forçados a se recolher.

Geralmente faziam duas refeições diárias. A primeira era feita logo pela manhã, antes do trabalho, e a segunda ao anoitecer. Ao meio-dia o israelita fazia uma refeição leve, seguida de um período de descanso.

As principais comemorações, como o casamento e a circuncisão, eram sempre motivos para se reunir os parentes e amigos em torno de banquetes. Não se admitia iniciar uma refeição sem lavar as mãos. Também não era permitido comer em pé.

Os banquetes eram tidos como ótimas oportunidades de estreitar os laços familiares e fortaleciam o senso de comunidade. Entretanto, o que servia-se na mesa do israelita?

O Pão: o pão era o alimento básico do homem bíblico. O trigo e a cevada eram usados na sua preparação. A oração do “Pai Nosso”, quando Jesus nos ensina a incluir em nossas petições “o pão nosso de cada dia”, revela o status que este alimento possuía para representar todo o bem essencial à manutenção da vida. O pão era branco e arredondado.

O Peixe: em geral, era salgado e desidratado antes de ser comercializado ou ingerido. Era um meio de se evitar sua deterioração, uma vez que não havia meios de refrigeração. As principais fontes de peixes eram o mar da Galileia, o mar Mediterrâneo e o rio Jordão. O peixe era mais consumido do que a carne vermelha, em função do preço ser mais acessível. Peixes sem escamas não podiam ser comidos (BÍBLIA, Lv 11:9-12).

Talvez pela importância que o peixe tinha no cardápio do israelita, Jesus tivesse, a exemplo do pão, empregado este alimento na realização de milagres, como no milagre da multiplicação de pães e peixes ou o dinheiro encontrado na boca do peixe, com o que Jesus pagou impostos.

O Mel: o seu consumo era variado. Servia como adoçante para o leite e o vinho; era usado como ingrediente de bolos e era também usado como remédio. A terra de Canaã é descrita pelo Senhor como uma terra que “mana leite e mel”. A expressão seguramente servia para se referir à prosperidade e potencialidades do local. O mel era um dos alimentos preferidos de João Batista.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

O Leite: era apreciado, assim como todos os seus derivados. Além de ser consumido naturalmente, era transformado em queijo, coalhada e manteiga. Os principais fornecedores de leite, para o israelita dos tempos bíblicos, eram a vaca, a cabra, as ovelhas e as camelas.

O Gafanhoto: não era nenhuma esquisitice de João Batista comer gafanhotos. Era comum encontrar essa iguaria no prato do israelita, nos dias de Jesus. O gafanhoto, parecido com o que conhecemos, tinha suas patas, asas e cabeças removidas e em seguida era assado, ferventado ou refogado. Alguns preferiam saboreá-lo cru ou desidratado, com mel. Ainda hoje, pessoas apreciam o gafanhoto, assim como João Batista.

Frutas e verduras: figos e tâmaras não faltavam na mesa palestina. Eram cultivados ou extraídos de plantas nativas. Eram consumidos ao natural e desidratados. Quanto à azeitona, seu emprego já foi mencionado na primeira unidade. A lentilha, o alho, o pepino e a beterraba eram largamente consumidos.

A Carne: não fazia parte do cardápio diário do judeu. Sua presença na mesa era mais frequente em ocasiões especiais, como: casamentos ou banquetes específicos e festas litúrgicas. Seu baixo consumo era decorrente da importância que os animais tinham para a produção de outros alimentos, como o leite, e também, porque deles se extraíam a lã e precisavam ser preservados para a reprodução. Em síntese, não era um produto barato. Só os mais ricos a consumiam com mais frequência.

O Vinho: o israelita, tanto no Antigo como no Novo Testamento, era um apreciador do vinho. Bebiam o vinho vermelho e seguramente fermentado. Rops (1991, p. 136) afirma que:

[...] Em termos gerais, era um vinho vermelho-escuro, denso, rico em álcool e tanino, sendo bebido em mistura com água, e não puro. Os judeus estavam familiarizados com a prática da mistura, isto é, melhorar um vinho fraco pela adição de outro mais agradável. Eles guardavam o vinho em jarras grandes e altas ou em frascos de pele: as peles eram de pelo de cabra muito bem curtido e tinham rolhas de madeira. Os melhores odres eram obtidos em Hebrom e com eles não se corria o risco do vinho novo rebentar o recipiente e derramar-se durante a fermentação. (HOPS, 1991, p.136).

Bem! Não podemos encerrar esta sessão sem fazer menção ao sal. Sua utilização é ampla e diversificada. Além da propriedade que o sal possui de realçar o sabor dos alimentos, também pode ser usado como conservante. Assim, o israelita dos tempos bíblicos conservava peixes, carnes vermelhas etc., através do sal.

A Bíblia (1999) revela, ainda, outra aplicação para o sal; deveria ser passado no corpo do recém-nascido (BÍBLIA, Ez 16:4), talvez, por sua propriedade antisséptica. O sal era usado ainda nos holocaustos (BÍBLIA, Lv 13; Ez 43:24). No entanto, o maior emprego do sal, naqueles dias, assim como hoje, era na culinária.

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4.4 EDUCAÇÃO

4.5 DEVERES CÍVICOS

As primeiras instruções dadas a um israelita eram de natureza moral. Da mãe, a criança recebia as primeiras orientações sobre os deveres sociais (BÍBLIA, PV 1:8; 6:20).

Quando jovens, cabia aos pais a tarefa da educação. A orientação paterna deveria incluir assuntos da vida religiosa (BÍBLIA, Ex 10:2; 12:26; 13:8; Dt 4:9; 6:7, 20), dar a eles conhecimentos gerais de história (BÍBLIA, Jz 6:13) e prescrições da Lei. Cabia também aos pais iniciar o jovem à vida profissional. Geralmente, os filhos herdavam o ofício de seus genitores.

Existiam também mestres que ensinavam o povo em geral. Estes eram sacerdotes e instrutores da Lei. Algumas vezes, os profetas faziam o papel de professores.

Havia sábios que ensinavam a arte de bem viver. As lições eram sempre de natureza ética e as reuniões aconteciam nos encontros dos anciãos (BÍBLIA, Ec 6:34), ao ar livre (BÍBLIA, PV 1:20; 8:2) etc. Somado a estes métodos, havia, ainda, os grupos formados por profetas e mestres que reuniam discípulos em torno de si, como mais tarde Jesus faria com os doze apóstolos.

Assim era a educação oferecida ao homem. As mulheres, desde meninas, eram instruídas para serem esposas, mães e donas de casa. Não aprendiam a ler ou escrever.

O assunto é extenso e não temos condições de observar todos os detalhes da rica e complexa legislação judaica, entretanto, observaremos três das grandes obrigações cívicas do mundo antigo: o serviço militar; os impostos e submissão às autoridades.

4.5.1 O serviço militar

Durante o período do patriarcado não existia o serviço militar, todavia, todo homem devia estar pronto para lutar em defesa dos bens e segurança da tribo. Apenas inválidos estavam isentos da guerra.

Em situação de conflito, os homens da tribo eram capitaneados pelo próprio patriarca, como na ocasião em que Abraão comandou uma campanha em defesa de Ló.

Com as doze tribos organizadas, cada tribo podia agir por conta própria em defesa dos seus interesses, no entanto, uma ação conjunta era sempre preferida. De acordo com Vouz (2008, p. 252-253):

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

[...] as tribos, unidas pelo pacto selado em Siquém, Js 24, engajaram-se por vezes em empreendimentos militares comuns. Gideão convoca não só Manasses, sua própria tribo, mas Aser, Zebulon e Naftali, Jz 6:35, por fim Efraim, Jz 7:24, que reclama de não ter sido chamada desde o início, Jz 8:1. Segundo o relato em prosa de Jz 4.6s., Baraque mobilizou Zebulon e Naftali contra os cananeus, mas o cântico de Débora, Jz 5:14s, enumera, além dos contingentes de Efraim, os de Benjamim, Maqujir e Isacar e reprova Ruben, Gileade, Dã e Aser por ficarem neutros. Para vingar o crime de Gibeá, toda a federação israelita pega em armas, Jz 20, exceto o povo de Jabes em Gileade, Jz 21.8s.

Durante a peregrinação no deserto, Israel começa a organizar um exército. Afinal, além da necessidade de prover proteção contra o assalto de inimigos, a conquista de Canaã não se daria sem incursões militares. Com Josué, o exército já é uma realidade. Durante o período de Juízes, torna-se comum encontrar jovens israelitas sendo chamados para defender a nação.

Com a instalação da monarquia, o exército passa a ser uma instituição melhor organizada e estável. Os oficiais são profissionais, como: Abner e Joabe, porém, os jovens ainda são recrutados em caso de necessidade, como aconteceu com os irmãos de Davi (BÍBLIA, I SM 17:13).

Embora o exército não fosse profissional, portanto, não permanente, o jovem israelita , apesar de não ter a obrigação com o serviço militar em tempos de paz, não podia recusar um chamado em tempos de guerra. Na iminência de uma guerra, os homens eram recrutados. A isenção acontecia somente para inválidos, noivos e proprietários de imóveis novos. Os recém-casados ganhavam licença. A idade para a convocação era de 20 anos para cima (BÍBLIA, II Cr 25:5) e o alistamento fazia-se nos grupos de famílias.

A Bíblia não oferece muitas informações sobre o sistema tributário em Israel, no Antigo Testamento. Alguns textos sugerem a instituição de impostos em circunstâncias específicas e excepcionais, como aparece em II Re 15:19-20 e II Re 23:33-35 (BÍBLIA, 1999). Quando a monarquia foi instituída, ficou estabelecido que o rei (a receita do rei era a mesma do estado) receberia o dízimo de toda produção de um israelita. Ezequiel (BÍBLIA, Ezequiel, 45:13-16) afirma que todo súdito devia ao rei contribuições em trigo, cevada e azeite.

4.5.2 Os impostos

4.5.3 A submissão às leis

Por se tratar de um estado teocrático, a lei representava mais do que simples códigos. A Lei, para o israelita, era também uma doutrina e sua função ia além dos direitos e deveres do cidadão. Ela ajustava a vida dos israelitas, na esfera moral, social e espiritualmente, às elevadas exigências de Deus.

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TÓPICO 2 — USOS E COSTUMES NO ANTIGO TESTAMENTO

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No Pentateuco encontram-se, basicamente, todos os códigos que orientaram a vida cívica e religiosa da nação escolhida:

O Decálogo: representa o fundamento de toda regra moral e espiritual. São imperativos sem os quais nenhum outro código é válido.

O Código da Aliança: que agrupa as exigências e juízos de caráter civil e criminal (BÍBLIA, Ex 20:22-23,33).

O Código da Santidade: preocupa-se com o rito e o sacerdócio e se funde com o código sacerdotal, no qual as regras para o exercício do ofício sagrado são prescritas.

É de bom alvitre mencionar que, em tempos de cativeiro, nem sempre o israelita foi leal às leis. Entenderam que tais leis não harmonizavam com a aliança entre Deus e Israel. Assim, Joquebede, mãe de Moisés, não respeitou a lei de Faraó, que mandava matar os recém- -nascidos do sexo masculino, salvando Moisés. Também Mesaque, Sadraque e Abde-Nego se recusaram a adorar a estátua de Nabucodonosor e Daniel desobedeceu ao edito de Dario, sendo lançado na cova dos leões.

4.5.3 A submissão às leis

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

Inicialmente, os hebreus formavam uma sociedade tribal nômade.

O Decálogo era a base de toda a constituição israelita.

A Lei Cerimonial normatizava toda a religião dos hebreus.

A transição da vida nômade para uma sociedade estável alterou os costumes dos hebreus.

Os principais deveres cívicos do homem da Bíblia eram: o serviço militar, pagar impostos e obedecer às Leis.

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Escolha um texto bíblico, cuja interpretação tenha sido facilitada pelas informações trazidas por este tópico, redija um texto e compartilhe com um colega.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 3 —

OS SISTEMAS POLÍTICOS DOS HEBREUS E SUAS

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

2 A POLÍTICA INTERNA

2.1 NO PATRIARCADO

Como um clã familiar dos dias de Abraão se transformou no império de Salomão? Que caminhos foram percorridos pelo pequeno grupo de peregrinos liderados por Abraão, desde a saída de Ur dos Caldeus, até a entrada avassaladora da multidão liderada por Josué, em território Cananeu? Como Israel sobreviveu a tantas hostilidades das nações vizinhas? Entender a construção da nação de Israel e sua sobrevivência em território palestino é o desafio deste tópico.

Na política interna do povo hebreu, você terá a oportunidade de estudar o sistema familiar e seus líderes.

Não é possível identificar uma política complexa no sistema patriarcal nômade. Sabe-se que a autoridade, tanto civil quanto religiosa, era exercida pelo patriarca, e os direitos e deveres variavam de acordo com a condição do indivíduo (esposa, filho, escravo, concubina etc.), no clã.

2.2 COM MOISÉS

Durante o Êxodo, a multidão de ex-escravos precisava de punho firme para se transformar em cidadãos livres e adquirir contornos de uma nação. Como primeiro passo, o povo assiste às ações portentosas de Deus, que começam com as pragas enviadas sobre os egípcios e continuam durante a marcha. Assegurados da direção e proteção divina, recebem a Lei que dará ao povo o status de uma nação.

Neste contexto, Moisés figura como o grande líder, Arão como seu auxiliar imediato e, no decorrer do drama, novas funções vão surgindo e instituições criadas. Através de Jetro, sogro de Moisés, surge o primeiro tribunal, e com Josué e Calebe as primeiras vocações para o serviço militar.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

2.3 OS JUÍZES

2.4 OS REIS

Estabelecido em territórios conquistados, Israel se desorganiza politicamente. No capítulo 24, do livro de Josué, somos informados de que as doze tribos de Israel se reuniram sob convocação de Josué para o selamento de um pacto que consolidou a unidade nacional. Pelo texto é possível ter ideia de uma estrutura política formada por conselheiros, líderes, juízes e oficiais de Israel. A princípio, como nação, esta seria a estrutura que administraria a vida da nação, orientada por um estatuto e um direito comum (BÍBLIA, Js 24:25).

Este estado de direito, contudo, não vigora, e conforme é possível observar no livro de Juízes, Israel se desorganiza e com isso se fragiliza, favorecendo a ação de tribos inimigas que se alternarão em ataques a Israel. Neste tempo, líderes como Moisés ou Josué não passam de meras lembranças, entretanto, em momentos críticos, surgirão líderes, os juízes, que aglutinarão algumas tribos ou a nação em torno de suas proezas militares. Esta liderança, porém, não irá além de ações militares, ficando a política sem uma representação estável.

O último grande juiz de Israel foi Samuel. Seus filhos Joel e Abias chegaram a ser nomeados juízes, porém, não possuíam o carisma dos juízes anteriores, eram corruptos e foram rejeitados pelos líderes da nação.

Ameaçados pelos Filisteus e assistindo ao envelhecimento de Samuel, os líderes, representantes tribais, se reuniram, pedindo um rei a Samuel. O apelo era por uma política mais consistente, que desse a Israel segurança e unidade nacional. É assim que nasce a monarquia, com Saul, escolhido de Deus (BÍBLIA, I SM 9:16; 10:1).

Após a vitória contra os amonitas, Saul foi aclamado rei. A novidade transformou a liga tribal num estado nacional, com o rei reconhecido por todo o povo.

O reinado de Saul, entretanto, exceto por unir militarmente a nação, não alterou muito o quadro político e a confederação continuou sem um governo central, mantendo, cada tribo, sua autonomia administrativa. A autoridade do rei não ultrapassava a função militar.

Com Davi, a monarquia realizou o sonho israelita de um governo central. Neste tempo, Israel prospera, Jerusalém é tomada e se transforma na capital do novo estado. O templo é arquitetado e abre-se o caminho para o reinado de Salomão, que dará a Israel status de império.

Salomão conseguiu realizar as potencialidades criadas por Davi. Com a segurança consolidada, Salomão não precisou se preocupar com a defesa do estado.

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TÓPICO 3 — OS SISTEMAS POLÍTICOS DOS HEBREUS E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

71

Sem muitos problemas, Salomão modernizou seu exército, fortaleceu relações diplomáticas com grandes nações, solidificou a unidade nacional, construiu uma frota mercante, fortalecendo o comércio exterior, e desenvolveu a indústria de mineração, com a extração do cobre. A grande realização, porém, foi a construção do templo. Definitivamente, a antiga liga tribal dava lugar a um estado dinástico, com todas as instituições civis organizadas.

2.5 O REINO DIVIDIDO

Apesar do êxito político, Salomão não foi perfeito. Durante seu reinado, alienou as tribos do norte do governo de Jerusalém. Judá, devido a suas terras fecundas e por ser a sede da capital, tornou-se mais independente que as outras tribos. Este fato gerou descontentamento das demais tribos, em especial a de Efraim.

Com a morte de Salomão, Jeroboão lutou pelo poder, defendendo os interesses das tribos do norte, sobretudo de Efraim. Roboão, filho e sucessor de Salomão, não se esforçou muito na tentativa de manter a unidade do estado e não impediu o cisma. Assim, Judá ficou com o rico território do sul, com a capital em Jerusalém e Israel (como passou a se chamar o reino do norte) com a capital em Samaria, governado por Jeroboão. Nos dois reinos, alternaram-se bons e maus reis, até a destruição e deportação das tribos do norte pelos assírios e de Judá para a Babilônia, sob Nabucodonosor.

3 ISRAEL E AS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

3.1 OS GRANDES INIMIGOS

Neste item você perceberá como o povo de Israel teve que enfrentar muitos povos inimigos, para conquistar a Terra Prometida.

As primeiras guerras que Israel teve que enfrentar foram em função da conquista de Canaã. Na medida em que encontravam resistência, tomavam posse do território pela força das armas. Não é sem motivo que, após se instalarem no território conquistado, vieram a ter problemas com seus vizinhos.

Durante o período dos juízes até o governo de Saul, Israel precisou se defender das contínuas hostilidades de povos vizinhos. Com Davi, as guerras tinham fins expansionistas. Os principais inimigos de Israel foram: os midianitas, os amonitas, os amalequitas, os moabitas e os Filisteus.

2.4 OS REIS

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

3.1.1 Os midianitas

3.1.2 Os amonitas

Habitavam ao sul e leste da Palestina. O nome pode estar relacionado a Mídia, filho de Abraão com Quetura. Foi em Mídia que Moisés se refugiou do Faraó, depois de ter matado um oficial egípcio; ali, também, conheceu sua mulher.

Durante a passagem pelo deserto, ao transitar no território fronteiriço entre Mídia e Moabe, os líderes destas nações tentaram contratar Balaão, um falso profeta, para que amaldiçoasse Israel. Outro incidente marcante é o do israelita que teve relações sexuais com uma midianita, trazendo uma praga sobre toda a nação.

Eram descendentes de Amon, o filho mais novo de Ló. Este povo tratou Israel com muita hostilidade, ainda que os israelitas fossem orientados a não molestá-los, por serem descendentes de Ló. No livro de Juízes, somos notificados de que os amonitas se reuniram com outros povos para atacar Israel. A animosidade de Amon para com Israel só cessou quando, muito tempo depois, os romanos dominaram a região.

3.1.3 Os amalequitas

3.1.4 Os moabitas

Habitavam o sul da Palestina, entre a Idumeia e o Egito. Assim que Israel saiu do Egito, os amalequitas foram os primeiros inimigos a empreender campanha contra os hebreus. Em todo o Pentateuco eles são citados, juntamente com os moabitas e amonitas, em conspiração contra Israel. Possuíam um poderoso e numeroso exército. Foram eles que intimidaram os dez espias que Moisés enviou para ver a terra. Até os dias do rei Ezequias, quando foram definitivamente derrotados no monte Seir, os amalequitas nutriram seu ódio contra Israel.

Também eram descendentes de Ló. Viviam num pequeno território a leste do Mar Morto. Foram eles que negaram Moisés e o povo que com ele estava, passando por seu território. Foi Balaque, rei de Moabe, que tentou convencer Balaão a amaldiçoar Israel. (BÍBLIA, Nm 22:1).

Nos dias de Eglom, rei dos moabitas, Israel ficou subjugado até que Eude, da tribo de Benjamim, libertou os hebreus deste cativeiro (BÍBLIA, Jz 3:12-30). Ainda durante a monarquia, Moabe mostrou-se disposto a furtar a tranquilidade de Israel.

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TÓPICO 3 — OS SISTEMAS POLÍTICOS DOS HEBREUS E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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3.1.5 Os filisteus

Os filisteus eram guerreiros que se instalaram ao sudoeste da Palestina, dominando as costas marítimas de Jope, ao norte, até a cidade de Gaza, ao sul. Foram as constantes ameaças dos filisteus que levaram os líderes de Israel a desejarem um rei. É do termo Filistia, dado por eles ao território ocupado, que deriva o nome Palestina.

Não se tem muitas informações sobre a origem desse povo. Sabe-se, ao menos, que não eram semitas. Talvez fossem o que os egípcios chamavam de povo do mar.

Os inúmeros conflitos entre filisteus e israelitas nos oferecem as mais notáveis narrativas de combates da história: As façanhas de Sansão e a contenda entre Davi e Golias.

As incursões de Nabucodonosor aniquilaram este povo, que nunca mais se soergueu.

3.1.6 A Síria

3.1.7 A Assíria

Situada na costa oriental do Mediterrâneo, era também chamada de Arã nos dias do Antigo Testamento. Sua capital, Damasco, juntamente com Zabá, foi conquistada por Davi. Anteriormente, já havia sido combatida por Saul. As hostilidades entre Síria e Israel se estenderam por cerca de cento e cinquenta anos após o reinado de Salomão. Bem-Hadade I de Damasco, por duas ocasiões, tentou dominar Israel, porém, não obteve êxito. Com eles, Acabe tentou estabelecer aliança contra os assírios. Com a derrota dos assírios, Bem-Hadade traiu a aliança com Acabe e empreendeu nova investida contra Israel, sendo derrotado por Judá e Israel, unidos em Ramote de Gileade (BÍBLIA, I Re 22:1-35).

Localizada entre a Armênia ao norte e Babilônia ao sul, tinha no meio o Rio Tigre. Sua capital é Assur, da qual vinha o nome do país. Assurnasirpal II (875-860 a.C.) lutou contra Israel em Carcar. Julgava-se um rei sem rival. Salmaneser V (726-722) atacou a capital de Israel, Samaria, e Senaqueribe, seu filho, marchou sobre Judá nos dias de Isaías, mas foi detido pelo Senhor e acabou assassinado por seu filho Esar-Hadon.

Esar-Hadon conquistou o Egito, porém, este se libertou, cabendo, mais tarde, a Assurbanípal reconquistar o Egito. Os assírios se mantiveram como império até a ascensão do Império Babilônico.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

3.1.8 Babilônia

Fundada por Ninrode, na terra de Sinear, sul do Iraque. Teria sido o mesmo lugar no qual foi edificada a Torre de Babel. A região banhada pelos Rios Tigre e Eufrates não apresenta um histórico de perseguição a Israel ou Judá. No entanto, sob o reinado de Nabucodonosor, que havia conquistado todo o sudoeste da Ásia, a Babilônia subjugou Jerusalém, levando cativos os judeus e Zedequias, seu rei.

É no contexto do cativeiro babilônico que se darão os eventos narrados por Jeremias e Daniel.

4 A DIPLOMACIA

A ideia de Israel ser a nação escolhida de Deus transformou todas as nações gentílicas em suas inimigas e adversárias militares. Contudo, a política diplomática de Israel seguiu os padrões comuns, servindo de instrumento na busca da solução de conflitos ou prevenção dos mesmos, mediante relações amigáveis, sobretudo com países potencialmente perigosos.

Acordos diplomáticos podem ser observados desde que Abraão construiu seu plano. Em Gn 12:12 (BÍBLIA, 1999), por exemplo, Abraão faz aliança com três príncipes amorreus. Isaque faz o mesmo com Abimeleque. Também Moisés estabelece acordo com os queneus e Josué aceita aliança com seis tribos cananeias e também os gibeonitas.

Durante o reinado, Davi estabelece relações diplomáticas com Tiro e com o rei de Hamati (BÍBLIA, II Sm 5:11; 8:9-12). Foi, porém, Salomão quem mais se dedicou às alianças diplomáticas. Mais pacífico do que Davi, seu pai, procurou manter relações amistosas com todos os seus vizinhos. Em seu templo, a fama da sua sabedoria atraía o interesse de monarcas estrangeiros. Vale destacar a visita da rainha de Sabá.

Tanto Davi quanto Salomão valeram-se do casamento com mulheres importantes de nações vizinhas, como meio de estabelecer relações de concórdia com elas. Com esta prática, Salomão chegou a admitir cultos pagãos em Jerusalém.

A diplomacia também foi usada como tentativa de evitar conflitos armados. Jefté, antes de empreender campanha militar contra os amonitas, tentou o diálogo (BÍBLIA, Jz 11:2-33). Também Ezequias tentou as vias do acordo com Senaqueribe, sendo salvo do líder assírio, apenas por uma intervenção divina.

De forma geral, a diplomacia como manobra de política externa teve a finalidade única de dar a Israel alguma vantagem ou favorecimento, sem maiores interesses, para cumprir sua missão de nação sagrada.

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TÓPICO 3 — OS SISTEMAS POLÍTICOS DOS HEBREUS E SUAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

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4.1 A RELAÇÃO COM OS GRANDES IMPÉRIOS

Como nação, sua relação com as grandes potências imperiais do Antigo Testamento foi, quase sempre, a de um povo vassalo. Com exceção do período de Reino Unido, a condição de Israel nunca foi confortável. No Egito, foram escravos. Em Canaã, como povo livre, tiveram, por diversas vezes, suas produções pilhadas pelo inimigo, ainda que estes não fossem impérios.

Em relação aos assírios, os reis Manaem e Ozeias tiveram que reconhecer sua dominação. Mais tarde, os reis de Judá, a partir de Acaz, foram vassalos da Assíria até a invasão babilônica. Este estado se manteve sob os persas, de quem Zorobabel e Neemias foram meros vassalos. Finalmente, após um período de liberdade sob os macabeus, os judeus foram subjugados pelos romanos.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

Desde o patriarcado ao tempo dos Juízes, Israel teve uma política descentralizada e desorganizada.

As doze tribos formadas pelos descendentes dos doze filhos de Jacó formavam uma liga tribal que durou de Josué até a coroação de Saul, como primeiro rei, dando assim à federação das doze tribos status de estado monárquico.

A monarquia deu a Israel uma unidade política com todas as instituições organizadas: civis, militares e religiosas.

Nos dias de Davi, Israel expandiu suas fronteiras após sucessivas vitórias militares.

Salomão consolidou a nação como potência e deu-lhe contornos de um império.

Após Salomão, o reino se dividiu, fazendo desmoronar o império, permanecendo nesta condição até a deportação de Israel pelos assírios, de Judá para a Babilônia.

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Responda as questões a seguir:

1 Qual foi a principal causa de conflito entre Israel e as nações vizinhas?

2 Que motivos levaram os líderes tribais a pedirem um rei?

3 Que benefícios a monarquia trouxe para Israel?

4 Quais foram as grandes realizações do reinado de Salomão?

5 Que fatores levaram à divisão do Reino?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 4 — A

ARQUEOLOGIA E HISTORICIDADE DOS EVENTOS

VETEROTESTAMENTÁRIOS

2 LUGARES BÍBLICOS CONFIRMADOS

2.1 UR DOS CALDEUS

Um dos grandes desafios do exegeta tem sido enfrentar a oposição de céticos que questionam a historicidade dos eventos do Antigo Testamento. No entanto, a arqueologia, como ciência auxiliar na reconstrução da história, tem sido determinante na confirmação dos fatos narrados nas escrituras. Além de testemunhas da história, lugares e objetos descobertos têm lançado luz ao cenário dos episódios bíblicos, revelando-nos hábitos e valores que nos ajudam a compreender melhor os relatos sagrados. Não vamos nos aprofundar muito no estudo da arqueologia. O que pretendemos é, através de uma breve abordagem, despertar seu interesse pela matéria.

Obviamente, não vamos listar todos os achados arqueológicos que confirmam os lugares mencionados na Bíblia, porém, podemos destacar alguns, que estudaremos a seguir.

Suas ruínas foram escavadas por Sir Charles Leonard Woolley, entre 1922 e 1934. As descobertas de Woolley foram registradas no livro UR OF THE CHALDEES, publicado em 1929.

2.2 SODOMA E GOMORRA

Wilian F. Albright e M. Kyle descobriram uma cidade ao sudoeste do Mar Morto, em 1924, em Bab-ed-Dra. As descobertas davam indícios de uma grande população que desapareceu repentinamente. Em alguns locais foram encontradas camadas de cinzas com vários metros de espessura, resultado, talvez, de um grande cataclismo. O local, possivelmente, seria a região onde estaria Sodoma e Gomorra.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

2.3 SIQUÉM

2.4 JERICÓ

3 DOCUMENTOS IMPORTANTES – CONFIRMANDO OS GRANDES EVENTOS DA BÍBLIA

Foi descoberta a sudoeste de Samaria, pelos arqueólogos John Garstang e Wilian Albright. Ali foram encontrados fragmentos de louças de barro, datadas de 2000 anos a.C. Havia inscrições pré-israelitas e indícios de uma destruição como a que está narrada em Juízes capítulo 9 (BÍBLIA, 1999).

Doutor John Garstang escavou as ruínas de Jericó, entre 1929 e 1936, e descobriu escombros do muro que, de fato, veio abaixo. Os muros eram duplos, separados 5 m um do outro, e existiam moradias entre eles. Foi constatado que os muros caíram para o lado de fora, colina abaixo, em consequência de um possível terremoto. Nos escombros foram encontrados gêneros alimentícios carbonizados, confirmando o relato de Josué de que nada foi tocado.

Estes e quase todos os demais locais citados na Bíblia já foram descobertos e suas ruínas pesquisadas, provendo um testemunho da historicidade dos fatos narrados no Antigo Testamento.

À semelhança dos sítios arqueológicos existentes, que confirmam os vários cenários do drama bíblico, documentos encontrados têm contribuído para avalizar a história veterotestamentária. Gênesis 6 – 9 (BÍBLIA, 1999) conta a história de como Deus puniu a corrupção humana com um dilúvio. Graças à arqueologia, a asseveração bíblica não é um pronunciamento isolado.

No final do século XIX, no Museu Britânico, placas encontradas em meados da década de cinquenta daquele século, escritas em acádico, começaram a ser decifradas. Era uma epopeia escrita em doze placas de barro, narrando as experiências de um suposto rei Gilgamés. O texto, escrito há cerca de 2500 anos a.C., passou a ser chamado de EPOPEIA DE GILGAMÉS. Em sua décima primeira placa, traz uma narrativa babilônica do dilúvio. Keller (2002, p. 46) afirma que “o texto era assombroso”. Gilgamés falava, exatamente como a Bíblia, sobre um homem que viveu antes e depois de uma gigantesca catástrofe das águas.

Como a epopeia de Gilgamés, outros documentos têm autenticado a história dos hebreus, dos quais citamos alguns a seguir.

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TÓPICO 4 — A ARQUEOLOGIA E HISTORICIDADE DOS EVENTOS VETEROTESTAMENTÁRIOS

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3.1 AS PLACAS DE TEL-EL-AMARNA

3.2 O SINETE DA TENTAÇÃO

3.3 A PEDRA ROSETA

Do tempo de Moisés, foram cartas escritas por príncipes palestinos aos faraós, encontradas em 1888, reclamando da invasão dos Hapiru (Hebreus) e descrevendo as características sociopolíticas da Palestina nos dias de Moisés, exatamente como na Bíblia. Uma das placas chega a citar o nome de Josué.

É uma placa de barro cuja gravura retrata o que diz o texto de Gênesis acerca da tentação. Os elementos estão todos lá. Um casal tirando fruto de uma árvore e atrás da mulher uma serpente que parece dar-lhe sugestões. Em 1932, Speiser encontrou outra gravura semelhante, a que chamou de O Sinete de Adão e Eva, que apresenta um casal despido curvado e uma serpente. Ambas as placas concordam com Gênesis 3.

Descoberta em 1799, por Boussard, e escrita na antiga língua egípcia, dá testemunho da escrita nos dias de Moisés, em detrimento dos eruditos que afirmam que a escrita surgiu muito depois do êxodo.

Somados a estes documentos, poderíamos citar ainda achados como:

As ruínas dos templos de Dagon e Astarote, escavadas entre 1921-1930, em Bete-Seã.

O palácio de Onri, em Samaria.

A casa de marfim de Acabe (BÍBLIA, I Rs 22:39). Dentro dela havia pires para mistura de cosméticos.

Ruínas da antiga Siquém e nela um templo de Baal, escavada entre 1913 e 1928, com evidências de uma destruição ocorrida por volta do século XII a.C., o que harmoniza com Juízes 9: 4 (BÍBLIA, 1999).

Uma inscrição de Tiglat-Pileser, confirmando que Oseias matou Peca.

Uma inscrição em placa babilônica, citando Joaquim como rei de Judá.

É evidente o valor apologético de tais descobertas. A arqueologia tem dado credibilidade às narrativas bíblicas e facilitado o trabalho exegético, por fornecer detalhes extrabíblicos, interpretando e confirmando o que a Bíblia afirma.

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UNIDADE 2 — O MUNDO DO ANTIGO TESTAMENTO

LEITURA COMPLEMENTAR

A TRAVESSIA DO MAR VERMELHO

O texto a seguir foi extraído de um artigo escrito por Adailton Savioli e publicado na revista Stylo Gospel nº 002, sobre achados arqueológicos do Mar Vermelho.

Ao mergulhar no leito do Mar Vermelho, em 1978, Ron Wyatt e seus dois filhos encontraram e fotografaram numerosas partes de carruagens incrustadas de corais. Muitos mergulhos têm sido feitos desde então e isso tem revelado mais e mais evidências. Um de seus achados inclui uma roda de carruagem de oito raios, a qual Ron levou para o Diretor de Antiguidades Egípcias, Dr. Nassif Mohammed Hassan. Após examiná-la, ele imediatamente anunciou que era uma roda da Décima Oitava Dinastia, datando o Êxodo para 1446 a.C. Quando perguntamos como ele sabia isso, Dr. Hassan explicou que as rodas de oito raios somente foram usadas durante aquele período, o tempo de Ramases II e Tutmoses (Moisés). Caixas de carruagens, esqueletos remanescentes de cavalos e seres humanos, rodas de carruagens de 4, 6 e 8 raios, tudo isso permanece dormente, como um testemunho silencioso do milagre da divisão das águas do Mar Vermelho.

FONTE: Arquivos do Autor

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RESUMO DO TÓPICO 4

Neste tópico você viu que:

A Arqueologia, como ferramenta para reconstrução da história, tem sido excelente instrumento auxiliar da exegese bíblica.

Locais descritos pela Bíblia têm sido confirmados pela arqueologia.

Eventos narrados no Antigo Testamento têm sido confirmados por textos e objetos descobertos.

Ficou alguma dúvida? Construímos uma trilha de aprendizagem pensando em facilitar sua compreensão. Acesse o QR Code, que levará ao AVA, e veja as novidades que preparamos para seu estudo.

CHAMADA

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Construa um texto sobre “O valor apologético das descobertas arqueológicas”.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3 —

O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de:

• compreender melhor a formação do Novo Testamento;• conhecer os principais eventos que contribuíram para a construção do

cenário neotestamentário;• identificarelementossocioculturaispresentesnaspáginasdoNovoTes-

tamento;• terumavisãopanorâmicadocontextopolíticoereligiosodaJudeiadosdiasdeJesus;

• conheceroselementosqueinfluenciaramaIgrejaemsuaorigem.

Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidadevocê encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdoapresentado.

TÓPICO1–OPERÍODOINTERTESTAMENTÁRIO

TÓPICO2–GRUPOSEINSTITUIÇÕESJUDAICAS

TÓPICO3–MOVIMENTOSRELIGIOSOSIDENTIFICADOS

Preparado para ampliar seus conhecimentos? Respire e vamos em frente! Procure um ambiente que facilite a concentração, assim absorverá melhor as informações.

CHAMADA

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UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 1 —

O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO

O período intertestamentário é o período que começa com o fim daatividade profética do Antigo Testamento e se estende até a composição doprimeirolivrodoNovoTestamento.Emboraoperíodointertestamentáriotenhasidoumtempodesilêncioprofético,sóquebradocomospronunciamentosdeJoãoBatista,constituiumpontodahistóriaextremamenterelevanteparaoadventodo cristianismo. Os acontecimentos deste período serviram para preparar ocenárioparaamanifestaçãodoMessiaseparaaproclamaçãodoEvangelhopelomundodeentão.OapóstoloPaulodenominouestemomentode“aplenitudedostempos”(BÍBLIA,Gl4:4).

2 O NOVO TESTAMENTO

Escritototalmenteemgrego,oNovoTestamentoéasegundaporçãodaBíbliaSagrada.Trata-sedeumacoletâneade27 livrosescritospelosapóstolosediscípulosdeJesus.Seuconteúdoécompostobasicamentede:relatossobreavidaeosensinamentosdeJesus(Mateus,Marcos,LucaseJoão);relatossobreosurgimentodaIgrejaeoestilodevidadosprimeiroscristãos(Atos);doutrinas− princípiosnormativosdecondutaeprocedimentosdevocionais–(asEpístolas);erevelaçõesmísticas(Apocalipse).

O Cânon do Novo Testamento é composto pelos livros que a IgrejaprimitivareconheceucomoliteraturainspiradaporDeus.ONovoTestamentoé,deacordocomGundry(1987,p.63-64):

[...]o registroea interpretaçãoautoritativosda revelaçãoqueDeusfezdeSimesmopormeiodeJesusCristo–umregistrointerpretativoautenticado pelo nosso Senhor em pessoa, cuja perspectiva acercadeSuasprópriaspalavraseações,agoraescritaseexplanadaspelosapóstolos e seus associados, certamente não era menos que SuaperspectivaacercadoAntigoTestamentocomoaPalavradeDeus.

Jesus Cristo asseverou que seus discípulos seriam lembrados peloEspíritoSantoacercade seusensinamentos.Emprincípio, essesensinamentosforamtransmitidosoralmentepelosseusdiscípulos,oqueLucasdescrevecomoa“doutrinadosApóstolos” (BÍBLIA,At 2:42), e,mais tarde, foramescritosnaformadoslivrosqueformamoNovoTestamento.Sobreoconteúdodosescritosde Paulo, este afirma ter recebido de Jesus o ensinamento transmitido aos

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

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Coríntios(BÍBLIA,ICo11:23).Destaforma,acanonicidadedoNovoTestamentosedápelaharmoniadeseuconteúdocomaspalavrasdeCristoretransmitidaseinterpretadaspelosapóstolos.

De acordo com Henry Clarence Thiessen, quatro fatores foramdeterminantesnaformaçãodoCânondoNovoTestamento:

A Apostolicidade do livro:ouseja,seolivrofoiescritoporumapóstolooualguémassociadoaeste.

Conteúdo: seoconteúdoapresentanaturezaespiritualna formadoensinocristão-apostólico.

Universalidade:seolivrofosserecebidouniversalmentenaIgreja.

Inspiração:seenvolveaçãodoEspíritoSantonoprocessodecomposição.

O processo de reconhecimento do Novo Testamento, como EscrituraInspirada(canonização),duroucercadetrezentosanos.

3 A CONTRIBUIÇÃO GREGA PARA A PROCLAMAÇÃO DO EVANGELHO

É inegável a participaçãodos gregos e dos romanos napreparaçãodocenárioemqueoMessiassemanifestou.Ocupar-nos-emos,agora,emconhecercomo estes impérios tornaram possível a rápida difusão do Evangelho pelomundodeentão.

3.1 A DOMINAÇÃO GRECO-MACEDÔNICA

Em334a.C.,AlexandredesembarcounaÁsiaMenorcomumpequenoexército formado por uns 35.000 homens, com que derrotou o mais eficienteexércitodeDarioIIIdaPérsia,àsmargensdoGrânico.Ainda,conquistouaLídia,aFrígiaeaCilícia.

Mais tarde, derrotou outro grande exército persa, comandadopessoalmenteporDario,naPlaníciedeIssus.Vencido,Dariofugiudeixandosuamãe,esposaefilhasparatrás.EraofimdadominaçãopersaeoflorescimentodoImpérioGreco-Macedônico.

Alexandre,emsuasincursões,nãosepreocupouapenascomasconquistasmilitares. Admirador da cultura grega (ele era macedônico) e discípulo deAristóteles, dedicou especial esforço na propagação da cultura helênica pelomundoconquistado.

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TÓPICO 1 — O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO

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Emsuasexpediçõeslevavanãosomentesoldados,masmestreseartistas,divulgandoassimopensamentoeaculturadacivilizaçãogrega.AsconquistasdeAlexandrenãotinhamapenasfinsdeexpansãopolítica,masobjetivavamtambémafixaçãodaculturagreganospaísesdominados.Esteprocessose chamoudehelenização.

Emváriospontosdosterritóriosconquistados,Alexandrefundoucidades,algumasdasquaistornaram-seimportantescentroscomerciais,comoAlexandria.

AlexandremorreuemBabilôniaaos33anosdeidade,em323a.C.,vitimadopeloalcoolismoeosdesgastesprovocadospelaintensaatividademilitar.

Comsuamorte,oimpériofoidesmembrado.Osdiádocos,seusgenerais,emdisputapelo poder, desintegraramo império, transformando-o emquatroreinos: odaMacedônia edaGrécia, sobo reinadodeCassandro; odaTráciae parte daÁsiaMenor, sob Lisímaco; aMesopotâmia e parte daÁsiaMenorenortedaSíria, sobSeleuco, eodoEgito, incluindoaPalestina e aSíria, sobPtolomeu.EstedesmembramentorealizouaprofeciadeDaniel(Dn11:4-5)e,dosquatro generais que sucederam aAlexandre, Seleuco e Ptolomeu se tornaramimportantespersonagensdahistóriaintertestamentária,poisestariamenvolvidosdiretamentenahistóriadaPalestina.

Comoimpériodividido,aJudeiaficousobodomíniodePtolomeuSoter,quesubjugouJerusalémem320a.C.SoterestabeleceuacapitaldeseureinoemAlexandria,naqualfundouummuseueumagrandebiblioteca.

SeusucessorfoiPtolomeuFiladelfo.Foibondosocomos judeusefoioresponsávelpelatradução,paraogrego,dasescriturashebraicas.

Em 198 a.C., após várias disputas territoriais, os Ptolomeus foramderrotados eAntíoco, o Grande, assumiu o controle da Palestina, sendo bemrecebidopelosjudeus.Entretanto,entre175e164a.C.,osjudeusforambrutalmenteperseguidosporAntíocoEpifânio,quedesejavaexterminá-los.Sobsuasordens,milharesdejudeusforamassassinados.

OtemplodeJerusalémfoiprofanadopelopróprioEpifânio,queofereceuneleumaporca,consideradoumanimal imundopelos judeus,comosacrifíciosobreoaltar.

AcondutadeAntíocoEpifânioprovocourevoltanosjudeus,quereagiramviolentamente sob a liderança de JudasMacabeu, que, pela força das armas,conseguiuaindependênciadosisraelitas.

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

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FONTE: Arquivo do Autor

FIGURA 5 − O IMPÉRIO DE ALEXANDRE

3.1.1 O período macabeu

A resistência judaica contra Epifânio teve início quando oficiais do reichegaramaModein,paraaliinauguraremumcultopagãocomopartedoplanodeAntíocoEpifâniodehelenizaraJudeia.Osacrifíciopagãodeveriaseroferecidoporumsacerdotejudeu.

Matatiasfoiescolhido.Aexpectativaeraadequeovelhosacerdotejudeuexercesse seu ofício oferecendo resignadamente sacrifícios a deuses pagãos.No entanto,Matatiasmatou o emissário deAntíoco e umoficial judeu que oauxiliaria na cerimônia e fugiu.Dasmontanhas da Judeia,Matatias liderou arevolta,usandotáticasdeguerrilha.

Após a morte de Matatias, Judas, chamado Macabeu (que significamartelador),terceirofilhodeMatatias,assumiualiderançadaguerrilha.

Deelevadacapacidademilitar,Judaslogrouinúmerasvitóriascontraosdestacamentos de Epifânio. Este, como escopode pôr fim à revolta, nomeouLísiaspara conduzirumgrande exército em campanha contra Judas. Este, noentanto,surpreendeuLísiasemEmaús,impondo-lheseveraderrota.Combatesse repetiramemBete-ZureemAcvra, resultandosempreem impressionantesvitóriasparaJudas.Finalmente,em165a.C.,JudasentrounotemplodeJerusalém,retirandodeletodoaparatodoscultospagãosinstituídosporEpifânio.Sentindo-se ainda ameaçadopelos sírios, JudasMacabeupediu ajuda aos romanos.Noentanto,morreuemcombate,antesqueaajudachegasse.

Jônatas tomou o seu lugar e depois Simão, ambos irmãos de Judas,tornando-segovernadoresdaJudeia.Simãotambémpediuaintervençãoromana.OsromanosderamaSimãoostatusderei,comcaracterísticasdinásticas.

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TÓPICO 1 — O PERÍODO INTERTESTAMENTÁRIO

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Comoamonarquiaerahereditária,SimãofoisucedidoporJoãoHircano.AfamíliadeMacabeuseratambémchamadadeHasmomeadinastiadosreis-sacerdotes(osacerdóciojudaicotambémerahereditário)macabeusficoutambémconhecidacomohasmoneana.

Asucessãodereis-sacerdotes,apartirdeJoãoHircano, teveaseguinteordem:

Aristóbulo:filhodeJoãoHircano.ComAristóbulo,aimoralidadeseinstalouna linhagem hasmoneana. Mandou prender sua mãe e seus irmãos, quemorreramnaprisão.Morreujovem,vitimadopeloalcoolismo.

Alexandre Janeu:irmãodeAristóbulo,foisoltodaprisãoporSaloméAlexandra,viúvadeAristóbulo,comquemsecasou.Tornou-setiranoeprovocador.Quasefoimortonotemplo,porzombardosfariseusemumacelebraçãoduranteafestadosTabernáculos.Morreuem78a.C.

Alexandra:começouareinarcomquasesetentaanos.SaloméAlexandraeraviúvadeAristóbuloedeAlexandreJaneu.Manteve-senopoderporseteanos.Nestetempo,nomeouseufilhoHircanoIIcomosumosacerdote.

HircanoII.FilhodeAlexandraesumosacerdote,tornou-sereicomamortedesuamãe,em67a.C.FoidestronadoporseuirmãoAristóbuloII.

Aristóbulo II: por um tempo, Aristóbulo e Hircano fizeram as pazes,estruturaramoslaçosfraternoseviveramcomoamigos.Entretanto,aamizadenãoduroumuitoe,apósváriosconflitos,Hircanofugiu.Nestetempo,Antipater,umidumeuqueserviaaosromanos,aproveitando-sedaconfusãogeradacomalutapelopoder,tomouocontroledaJudeia,comaanuênciadosromanos,que,comPompeu,tomaramdefinitivamenteaJudeia,encerrando-se,assim,aeradosMacabeus.

3.2 A LÍNGUA

OsonhodeAlexandredeuniversalizaraculturagregafoilevadoadiantepelosseussucessores.TantoosSelêucidascomoosPtolomeusseempenharamem espalhar a cultura grega pelomundo conquistado.A língua originada naliteraturagregaclássica,faladaporAlexandreeseuscomandados,foiadaptadaedifundidaportodoomundomediterrâneo.

Alínguagregatornou-seumalínguauniversale,nosdiasdeJesus,quasetodapopulaçãodomundocivilizadosecomunicavaatravésdela.Tornou-seovernáculodoimpérioromano.Ogregofaladopelovastoterritórioromanoficoumais tarde conhecido como koiné,ouseja,comum.

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

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É importante salientar que quando Ptolomeu Filadelfo patrocinou atraduçãodasescriturashebraicasparaogrego,naversãoqueficouconhecidacomoSeptuaginta, colocouomundogentílicoemcontatocomaRevelaçãodeDeus.Apartirdeentão,omundoconhecidoestariafamiliarizadocomaverdadecuja Revelação, iniciada com o Antigo Testamento, seria concluída, naquelemomentohistórico,comoNovoTestamento.

Ogrego falado e escrito nosdias de Jesus é omesmoquePaulousouem suas pregações entre os gentios e empregado pelos demais discípulos nacomposiçãodoNovoTestamento.

Para muitos teólogos, a expansão do império Greco-macedônico e oempenhodeAlexandreeseussucessoresemdivulgaraculturagregapelomundoforam atos daprovidência divina, quandodetermina o caminhodos homens,atravésdascircunstânciasecondiçõeshistóricas.AlgunsacreditamqueopróprioDeuscriouogrego koiné,paranoscomunicaroEvangelho.

Quando Jesus nasceu, o cenário estava preparado. Em qualquer partedo império romano, os ensinamentos de Cristo podiam ser comunicados ecompreendidos,semasvariaçõesprovocadaspelastraduções.

Os escritos neotestamentários saíram de seus autores em grego e emgrego foram lidos por seus destinatários. Foi o grego que possibilitou a fácilcompreensãodoEvangelhoquetãoeficienteerapidamenteseespalhoudesdeJerusalématéosconfinsdaTerra.

3.3 A FILOSOFIA

A Filosofia também deu sua contribuição para o advento do Cristo,quandoenfraqueceuasantigasreligiõesdomundogentílico,sobretudoagrega.Seus questionamentos colocaram em xeque os postulados dos mitos. O forteapeloàrazãoeàdisciplinaintelectualdafilosofiafaziacomqueosindivíduos,quecomelativessemcontato,abandonassemsuareligião.

Com Sócrates e Platão, os gregos aprenderam, com cinco séculos deantecedênciadocristianismo,queexisteummundoeternoeperfeito,doqualomundotemporalesensíveléapenasumacópiapálida.Nãoconseguiramcolocaroshomenslá,masdespertaramodesejo.

Antes de Sócrates e Platão, Parmênides descobriu um princípio cujoconceitoaproximou-semuitodoqueforadadopelopróprioDeusemrespostaaMoisésacercadesimesmo.Esteprincípiopassouasechamar“princípiodeidentidade”.Oprincípiodeidentidadedizque:o ser é; o não ser não é. Parece muitoóbvio,não?Mas,oquedizerdarespostaqueDeusdeuaMoisés?–Eu Sou o que Sou.Tambémnãopareceóbvio?

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ParaParmênides,oSEReraoprincípiodetodasascoisaseaconcepçãodeSerdofilósofoeraaseguinte:

Oseré eterno.ParaParmênides,osernãopodeterprincípio,nemfim,ouseja,nãopodenãotersidoouviradeixardeser.

Oseré imutável.Todamudançaimplicaemdeixardeser.

Oseré infinito.Ouseja,nãopodeterlimites.Terfiméomesmoquedeixardeser.Istoseaplicaaotempoeaoespaço.

Oseré imóvel.Significaqueoserémaisextensodoqueoespaço.Nãohálugarondeosernãoesteja.Umaformadeonipresença.

AdiferençaentreaconcepçãodeSERdeParmênideseadescriçãodoSER

bíblicoéqueofilósofonãodeuaoserumanaturezapessoal.

Outroresultadoqueafilosofiaproduziu,nosdiasdeJesus,foiapercepçãodaspessoasacercadainsuficiênciadareligiãoedarazãocomomeiosdeaplacarasinquietudesdocoraçãohumano.Aristótelestratousobreafelicidade,masnãodissecomoobtê-laoupelomenosquemteveacessoaoseutratadonãoconseguiuporelealcançarafelicidade.Emsíntese,produziu,nohomemdeentão,fomedeumarelaçãorealeconsistentecomDeus.Afilosofiadestruiuopanteãomitológicodosgregos(Sócratesfoiacusadodeserateu),evocouousodarazãoedeixounocoração do homem uma lacuna existencial capaz de ser preenchida somente pelo Evangelho.EstafoiarazãodeoEvangelhotersidotãobemaceitopelosgentiosnosdiasdePaulo.Afilosofia serviu comoumaradoque, revolvendo a terra,preparou-aparaasemeadura.

3.4 ELEMENTOS DA MITOLOGIA

Ideias como a imortalidade da alma, de premiação ou punição apósamorte, como recompensapelos atospraticados emvida,mulheres virtuosasgrávidasdedeuses eheróis semideusesgeradosdessas relações,damitologiagrega, fizeram com que o mundo gentílico, familiarizado com estas crenças,compreendessemelhoroEvangelho.Destaforma,onascimentodeJesus,oDeushomemnascidodeumavirgemnãopareceutãoestranhoaonãojudeu.Alémdassimilaridades,entreoutrascitadas,ocristianismoemprestoualgunstermosdamitologiapararepresentardoutrinas,comoThéos(deus),daimonion(divindades,espíritos),Thánatos(deusdamorte),Hades(deusdasprofundezasetambémlugardosmortos),Tártaro(inferno)etc.

Enfim,quandoJesusnasceu,omundoestavaprontopararecebê-locomonunca esteve antes ou depois. Foi por isso que o apóstolo Paulo denominouaquelesdiasde“Aplenitudedostempos”.

3.3 A FILOSOFIA

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4 A CONTRIBUIÇÃO ROMANA

4.1 ROMA NA PALESTINA

4.2 A LEGISLAÇÃO ROMANA

Diferentementedosgregosesuacontribuiçãointelectual,aparticipaçãodosromanosnapreparaçãodomundoparareceberaCristofoiessencialmentepolítica.Nãoobstantetambémfossemumpovopagão,serviramparaconcretizaropropósitodeDeus.

ONovoTestamentofoiescritonumtempoemqueomundoseuniasobumaúnicabandeira,adeRoma.Fundadaem753a.C.,naPenínsulaItálica,Romadesenvolveu-seenãotardouemsubstituiraGréciacomoimpériouniversal.

Sua interferência na Palestina se deu quando emissários de Israel,cansadosdeveraJudeiamergulhadaemsangueporcausadeumaguerracivilquenãocessava,foramaDamasco,em63a.C.,pedirainterferênciamediadorade Pompeu, que lá se encontrava.Assim, cumprindo a princípio umamissãopacificadora,osromanosseapossaramdaPalestinacomaanuênciadosjudeus.Desdeentão,aPalestinatornou-seumreinovassalodeRoma.

OsbenefíciosqueosromanostrouxeramparaapregaçãodoEvangelhonão favoreceram apenas os palestinos, o mundo todo pôde receber as BoasNovascomrapidezeeficáciapelascondiçõesqueRomalhesdavaecujosfatoresprincipaisenumeramosaseguir.

O direito está para os romanos como a filosofia está para os gregos.Entretanto,nãoéobjetivodestecadernoexaminarocomplexosistemalegislativoromano, mas somente aqueles aspectos que facilitarão nossa compreensãodo Evangelho e de como sua propagação foi favorecida. Assim, para citarumexemplo,a leidaadoção,quedavaao indivíduoodireitodeseradotado,tornando-o, consequentemente, herdeiro legítimodopai adotivo, é usadoporPaulo para explicar aos romanos a condição que o crente adquire em relação a Deus,quandoseconverte(BÍBLIA,Rm8:17;IOF3:6).OutrosexemplosemquePaulomencionaa legislaçãoromanaestãoemRomanos8:15,23;Romanos9:4;Colossenses4:5eEfésios1:5(BÍBLIA,1999).

Auniversalidadedas leis romanasdeuaPauloapossibilidadede,pormeiodeanalogias,explicarsuateologiaesercompreendidoemtodosospontosdoimpérioporondepregou.

Foi a cidadania romana, uma concessão que os romanos faziam aindivíduos ilustres da sociedade ou a cidadãos nascidos em determinadas cidades,portanto,umlegadododireitoromano,quedeuaPauloascondições

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deapelarparaCésaretersuaintegridadepreservadadiantedaameaçadeumasessãodeaçoites.AidadePauloaRomacumpriuodesígniodeDeusdefazeroEvangelhochegaraosconfinsdaTerra.

Outro fatordodireito romanoque facilitouaveiculaçãodoEvangelhoeapráticadocristianismo foi a liberdade religiosaqueos súditosdo impériogozavam.Valetambémressaltarquealeiuniversaldosromanos,quedavaaseussúditosdireitosiguais,criouumambientepropícioàpregaçãodoEvangelhoque,segundoCairns(1995,p.29):

[...]proclamavaaunidadeda raçahumana,baseadano fatodequetodos os homens estavam sob a pena do pecado e no fato de que a todos eraoferecidaa salvaçãoqueos integranumorganismouniversal, aIgrejaCristã,oCorpodeCristo.

4.3 A PAX ROMANA

Romaaniquilouascidades-estadoseospequenosreinos.Comisso,varreudomundoantigoasguerrasedisputasentrenações.Omundotornou-sepacíficoedeuliberdadedemovimentoemtornodetodoomarMediterrâneo.

Esta paz que se instalou no mundo foi outro fator que contribuiu com a difusão da mensagem de Cristo. Num mundo totalmente subjugado porumsó império,nãoeradifícil encontrardevotosdesiludidoscomseusdeusesnacionais.Assim, religiõesqueofereciamumdeus-salvadorerambemaceitas.IstoaconteceucomocultoaCibeledaFrígia,cujadoutrinacontemplavaaideiaderessurreição;ÍsisdoEgito,queseassemelhavaaocultodeCibeleequetambémenfatizavaamorteeressurreição;eMitra,umdeuspersaquetinhanascidodeformaportentosa.

Estas religiões foramdifundidas e aceitas por quase todo o império e,emborarivalizassemcomocristianismo,muitosdeseusaspectos favoreceramaaceitaçãodafécristã.TudoissofoioprodutodaunidadepolíticaqueRomaimpôsaomundocivilizado.

Sob a mesma bandeira, com liberdade de trânsito, e diante de umahumanidadecarentedeverdadesespirituais,ficoufácilotrabalhoapostólico.

4.4 AS ESTRADAS

Apaz,presenteemcadacantodoimpério,trouxetambémprosperidade.Grandescentroscomerciaiseramencontradosportodoomundoeodeslocamentode caravanasdemercadores, tropasdo exército e viajantesdiversos exigiudeRomaaconstruçãodeestradas.

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

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Romaasconstruiu.Muitasdelaseramdeconcretoepodemserutilizadasaindahoje.Estasestradasintegravamtodososgrandescentrosdoimpério.Elaseramvigiadasporsoldados,queinibiamaaçãodeladrõeseassaltantes.Europa,ÁsiaeÁfricaestavaminterligadasePaulo,porexemplo,fezusodestasviasemsuasperegrinaçõesmissionárias.

FONTE: Disponível em: <www.historiadomundo.com.br>. Acesso em: 10 fev. 2009.

FIGURA 6 − MAPA DO IMPÉRIO ROMANO

Gentio. Do hebraico goyim, quer dizer estrangeiro. Serve para designar todo aquele que não é israelita ou judeu.

NOTA

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Neste tópico você viu que:

Chama-se“intertestamentário”operíodoentreoencerramentodaatividadedosprofetasnoAntigoTestamentoeoiníciodoNovoTestamento.

Os eventos do período intertestamentário serviram para criar o contextopolítico/cultural que tanto favoreceu a pregação do Evangelho no mundogentílico.

AhelenizaçãodoimpérioconquistadoporAlexandredeucomocontribuiçãoà pregação do Evangelho: a língua, a filosofia e alguns elementos de suamitologia.

Osromanoscontribuíramcomsualegislação,comoestabelecimentodapazemseusdomíniosecomaconstruçãodeestradaspavimentadas.

RESUMO DO TÓPICO 1

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Respondaasseguintesquestões:

1 OqueéoPeríodoIntertestamentário?

2 EmqueamitologiagregaajudounapreparaçãodomundoconhecidoparaarecepçãodoEvangelho?

3 QualfoiacontribuiçãodosromanosnapreparaçãodomundoparareceberoEvangelho?

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 2 —

GRUPOS E INSTITUIÇÕES JUDAICAS

2 PRINCIPAIS GRUPOS RELIGIOSOS E POLÍTICOS

2.1 OS FARISEUS

Nãoseriadebomalvitrequeumexegetatentassecompreenderumtextobíblicosemconheceromínimonecessáriodasinstituiçõesporelecitadas.Nestetópico vamos conhecer, pelomenos panoramicamente, asmais importantes efrequentesinstituiçõesdoNovoTestamento.

OsdiasdecativeironaBabilônia,acondiçãodepovovassalodeimpériosque se seguiram, os conflitos internos que furtavam a paz dos judeus, nocurtoperíodode independência sobosMacabeus,fizeramcomqueos judeusbuscassem,emgruposmenores,algumconfortoeproteção,oumesmoalgoquelhesdessealgumadignidadenacional.EstesgruposirãopermeartodooNovoTestamento,porissovamosconhecê-los.

Procedentedotermogregopharisaios(separados),osfariseusformavamumgruporeligiosodegrandeprestígiopopularnosdiasdeJesus.

Surgiramporvoltade140a.C.eeramchamadosdehassidim, que quer dizer piedososousantos.Onomepharisaios(fariseu)veiodepois,dado,possivelmente,comoalcunhapelosoponentesdomovimento.

FoinotempodeJoãoHircanoqueonomefariseuapareceupelaprimeiravez, designando omembro da sociedade que se formou com o propósito deresistiràculturagregaquetomavacontadomundo.

Pretendiam ser reformadores com vistas na apologia do judaísmoortodoxo.

Noinício,quandoserfariseusignificavaestarexpostoàsatrocidadesdeseusoponentese,comosubprodutodarevoltadosmacabeus(opróprioHircanoera fariseu), os fariseus eram de fato homens piedosos e de firme convicçãoreligiosa.Noentanto,quandolemososEvangelhos,nãofazemosbomjuízodestegrupo.Ocorreque,comotempo,osfariseusabandonaramopropósitooriginale tornaram-se legalistas e orgulhosos. É comumencontrarmos, nos textos dos

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

Evangelhos, Jesuscondenandosuasações.Todavia,nemtodosos fariseusdosdias de Jesus eram hipócritas. Nicodemos, José de Arimateia, Simão, o queofereceuaJesusumarefeição,ouGamaliel,quesugeriutolerânciaparacomosseguidoresdeCristo,eramfariseusenãopareciamhipócritas.Paulopareceterditosemnenhumsensodeculpa,mascomcertoorgulho:“eusoufariseu,filhodefariseus”(BÍBLIA,At23:6).

Osfariseus,comoinstituição,eramportadoresdevirtudese,dentreestas,podemosdizerque:erampatriotas,poisdefendiamcomcoragemojudaísmoeestavam sempreprontos a resistir às forças externas; fundaramescolas comopropósitodeorientarosjovens,segundoasEscrituras;erammissionáriose,comumaeficienteatividadeproselitista,converterammuitosgentiosaojudaísmo.

Ultrarritualistas,observavamcomrigoraguardadosábado,entregavamodízimoatédecoisasinsignificantes,comodeporçõesdecondimentos,ejejuavampelomenosduasvezesporsemana.

Dacrençadosfariseuspodemosdestacarospontosmaisrelevantes:

Acreditavamnavindadeummessias,queoslibertariadaopressãoestrangeira.

Acreditavamem todo o conjuntodoAntigoTestamento como aPalavradeDeus(osSaduceussóadmitiamoPentateuco).

Acreditavamnaimortalidadedaalma.

Acreditavamnumjuízoapósamorte,comacondenaçãodosmausaoinfernoerecompensadosjustos.

Acreditavamtantonareencarnação(paraosbons)comonaressurreição.

Acreditavamnaexistênciadeanjoseespíritos.

2.2 OS ESCRIBAS

EramperitosnasEscrituraseencarregadosdecopiá-las.OmaisnotáveldelesfoiEsdras,osacerdote.Eramaltosfuncionáriosdacorte,nostemposáureosdeIsrael.Aclassedosescribascresceumuitonotempodosmacabeuse,nosdiasdeJesus,possuíamgrandeprestígio.OsescribaspertenciamtantoaogrupodosfariseuscomodossaduceusemuitosdeleserammembrosdoSinédrio.

Umescribapoderiavir tantoda classe alta (os ricos) comoda camadamaispobredasociedade.Deviam,noentanto,passarporumintensoprocessodeformação.EstudavamexaustivamenteasEscrituras,acompanhavamumrabinoemseusdebateseatuações,comointérpretedaLei,atéqueestejulgassequeseudiscípulopudesseseguiremfrente,porsuaprópriaconta.

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TÓPICO 2 — GRUPOS E INSTITUIÇÕES JUDAICAS

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2.3 OS SADUCEUS

Distinguiam-se do povo comum, usando roupas que comunicassemgravidadeespiritual.Usavamfilactérios(franjascontendoporçõesdasEscrituras)maislargasqueosdemais,nasvestesenacabeça.

Maistarde,osescribasoudoutoresdalei,comotambémeramconhecidos,passaramaserchamadosderabinos.

À semelhança dos fariseus e até porque muitos deles eram tambémfariseus,nãovemoscomsimpatiaafiguradoescriba.IstosedeveàforteoposiçãoqueestesfizeramaosensinosdeJesus.

Não existem informações precisas sobre a origem dos saduceus.Conjectura-seque suaorigem teve iníciona constituiçãodoprimeiroSinédriodeIsrael,antesdarevoluçãodosmacabeus.Supõe-sequeonomeSaduceuestáassociadoaZadoque,sacerdotedadescendênciadeArão,nosdiasdeDavi,equesetornouosumosacerdoteduranteoreinadodeSalomão.Alinhagemsacerdotalde Zadoque teria vigorado até o cativeiro babilônico, sendo, posteriormente,reconstituídaporJosué,noretornodocativeiro.

Oponentesdos fariseus, os saduceusnegavam:a ressurreiçãoeo juízodivino,aimortalidadedaalma,apredestinaçãofatalistaeaexistênciadeanjose espíritos. Diferentemente dos fariseus, admitiam apenas o Pentateuco comoEscriturasenãomantinhamqualquerexpectativaquantoàmanifestaçãodeummessias.

Eram ricos, de boa formação e pertenciam à aristocracia judaica,estreitamenteligadaaosacerdócio.

Comrelaçãoàsuateologia,dispomosdepoucasinformações.Oquesesabesobreosseusensinamentoséoquederivadesuasrefutaçõesàsdoutrinasdosfariseus,cujospontosforamacimacitados.Alémdasdoutrinasnegadas,jápontuadas,ossaduceusnãoadmitiamastraduçõesorais,comofaziamseusrivaisfariseus.AjustificativaéqueelasnãoseencontravamnosescritosdeMoisés.

Para os saduceus, a sorte ou infortúnio eram meros resultados dasdeliberações pessoais. Todas as coisas estavam diretamente ligadas ao livrearbítrio do homem. Desta forma, negavam também a providência de Deus.Podemosatédizerqueaprincipalcaracterísticadossaduceuseraaincredulidade.Que turminha, heim! E eram sacerdotes! Não é de se estranhar que tambémseopusessema Jesus.Amantesdasdiscussões,não se saírambemcomnossoMestre.Aleluia!

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

2.4 OS ZELOTES

Formavam um grupo político-teocrático que lutava pela libertaçãonacional.SuaorigemestánarevoltalideradaporJudas,oGalileu,que,indignadocomosromanosqueconvocaramosjudeusparaumrecenseamento,omesmoaqueLucasfazmenção(BÍBLIA,Lc2:2),paracadastramentodapopulação,comobjetivodefixarovalordosimpostosaserempagos.Judas,enfurecido,tentouconvenceros judeusaserebelaremcontraaimposiçãoromana.Suamilitânciaresultounummovimentosubversivocomcaracterísticasdeguerrilha,chegandoapatrocinaratividadesterroristascontraautoridadesromanas.EstavamsempredispostosaomartírioparadefenderosideaisdeIsrael.

Opartidodos zelotes ofereceu suaúltima resistência aosdominadoresromanosemMassada,noano74d.C.Massadaeraumafortalezaadaptadanumarochade402metrosdealtura,localizadanodesertodaJudeia.Narevoltaqueculminoucomadestruiçãode Jerusalémem70d.C., a comunidade refugiadaemMassadafoiaquemaistemporesistiuaosítioromano.Quandoosromanostomaram a fortaleza, encontraram apenas duasmulheres e cinco crianças.Osdemaisrevoltososhaviamcometidosuicídio.

Do partido dos zelotes, Jesus recrutou um de seus discípulos, Simão,cognominadooZelote.Merece especial consideraçãoque Jesusmantivessenocolégioapostólicodois inimigosmortais:Simão,oZelote,eLevi,umcobradorde impostos. Os zelotes recusavam-se a pagar impostos aos romanos, nãoadmitiamqueumpovopagãorecebessetributosdo“povodeDeus”;imagineoquepensavamdospublicanos.Contudo,comochamadodeumpublicanoeumzeloteparacomporogrupodosapóstolos,Jesuscomeçavaaensinarocaminhodaconcórdiaeaalinhavaroscontornosdoseureino.

2.5 OS ESSÊNIOS

Assemelhavam-seaoszeloteseaosfariseusquantoaopatriotismoepelasualutacontraacontaminaçãodojudaísmopelaculturahelenista.Rigorososnadefesadosvaloresmoraisedefensoresdapurezaespiritual,formavamumgrupoquasemonástico.Viviamemcomunidadesisoladase,juntamentecomosfariseusesaduceus,compunhamogrupodastrêsmaioresseitasdojudaísmo.

Osessêniosacreditavamqueavidanoisolamentoeraaúnicaformadeselivraremdacorrupçãopromovidapelainfluênciagentílica.

Mantinhamaesperançanavindadeummessias,aquemaguardavamem santidade. Os essênios não concordavam com a escravidão e pregavam anecessidade da vida comum. Entre eles, os bens eram compartilhados. Nãoadmitiam com facilidade novos adeptos. Os interessados em se tornar umessênioenfrentavamumlongoperíodoprobatório(maisoumenosumano)e,seaceitos,vendiamseusbenseentregavamodinheiroaogrupo.Aquelesquenãoconseguissemsatisfazerasrigorosasexigênciasdacomunidadeeramexpulsos.

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TÓPICO 2 — GRUPOS E INSTITUIÇÕES JUDAICAS

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2.6 OS HERODIANOS

Não há menção dos essênios no Novo Testamento, no entanto, elesestavamlá.MuitosestudiososacreditamqueJoãoBatistafaziapartedestegrupo,pois, amaneira comovivia, como sevestia e como se alimentava era a formacomoviviam,sevestiamesealimentavamosessênios.

ForamelesqueorganizaramabibliotecapreservadaemQunrã,descobertaem1947,trazendoparanossosdiasascenasdocotidianodosdiasdeJesus.

Era um partido político formado por simpatizantes da dinastia dos Herodes. Acreditavam que o Messias surgiria dessa dinastia. Concordavamcomosfariseusquantoànecessidadedosjudeussemanteremunidoscontraasinfluênciaspolíticasdeumgovernopagãoopressor,osromanos.Todavia,nãoseopunhamaopagamentodeimpostos.Nesteaspectodivergiamdosfariseus.

Osherodianos,comoosfariseuseoutrosgrupos,tambémfizeramoposiçãoaJesus,cujoensinoacercadoSeureinocontrariavaaspretensõesherodianas.

3 OS SAMARITANOS

3.1 SUA ORIGEM

Neste item você conhecerá quem eram os samaritanos e por que eram odiadospelosjudeus.

AcidadedeSamariafoiedificadaporOnri,paraseracapitaldoreinodoNorte,constituídopelastribosdeIsrael.OstatusdecapitaldeIsraeldurouatéoataquedeSalmaneser,em721a.C.Apósadeportaçãodastribosdoreinodonorte,o reidaAssíria trouxeparaSamaria, queficouquase totalmentedespovoada,estrangeirosdeBabilônia,Cuta,Ava,HamateeSefarvaim.

Os samaritanos dos dias de Jesus eram, portanto, descendentes dessepovo,comgrandespossibilidadesdehaveremsemisturadocomjudeus,mediantecasamentosmistos.

Duasteoriassãodefendidasacercadaraçadossamaritanos.Aprimeira,sustentadapelamaioriadosestudiosos,afirmaqueossamaritanoseramumaraçamista,constituídaporgentiosejudeus.Asegunda,consideraossamaritanosumaraça,noinício,genuinamentegentílica,tendoadquiridocaracterísticasreligiosasdosjudeus,comoacircuncisão,aadoraçãoaYavéeasesperançasmessiânicas.Ocertoéquesetratavadeumpovodeculturaereligiãohíbridos,quedespertavanosjudeusreaçõesviolentas,tantoquantoeramradicaiseviolentoscomeles.

2.4 OS ZELOTES

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

Oquesesabeéque,apósadeportaçãodastribosdonorte,Samariapassoua ser considerada pelos judeus da Judeia como uma região estrangeira, cujoshabitanteseramchamadosdecuteanos.OreidaAssíriateriaenviadoaSamariaumsacerdotecomamissãodeensinaraopovoareligiãodeIsrael(BÍBLIA,IIRe17:27-28).Apesardeossamaritanosteremmantidoseuscultospagãos,passaramtambémaadoraraYavé(BÍBLIA,IIRe17:41).Posteriormente,quandoastribosdeBenjamimeJudáretornaramdocativeiro,ossamaritanostentaramseraceitoscomo correligionários dos judeus na reconstrução do templo de Jerusalém eassimgozaremdosmesmosprivilégios na adoração. Todavia, a reivindicaçãosamaritanafoirejeitadaeemrepresáliaconseguiram,sobaliderançadeManasses–umsacerdotequeforaexpulsodeJerusalémporNeemias,porhaversecasadocomafilhadeSambalate,umhoronita–,permissãodeDárioNato,reidaPérsia,paraaconstruçãodeumtemplonomonteGerizim.

3.2 A TEOLOGIA SAMARITANA

A questão trazida pelamulher samaritana, em diálogo com Jesus, emtornodolugardeadoração(BÍBLIA,Jo4),eraocentrodasinúmerasdiscussõesteológicas,envolvendojudeusesamaritanos.Seossamaritanosfossempagãos,talvez fossem menos hostilizados pelos judeus. O fato é que a teologia dossamaritanospossuíamuitospontosemcomumcomadosjudeus.AmbosadoravamaYavé; consideravam a autoridadedoPentateuco e alimentavam a esperançanamanifestaçãodeumMessiasqueoslivrassedocetrodeseusdominadores.Tantojudeuscomosamaritanosobservavamapráticadacircuncisão,aguardadosábadoealeiacercadoconsumodesangueeesperavamarealizaçãodeumjuízofinal,emquetodosseriamjulgadospeloMessias,quegalardoariaoupuniriaoscrentes,deacordocomassuasobras.Assemelhanças,porém,cessamaqui.

Diferentemente dos judeus, a perspectiva messiânica dos samaritanosorbitavaemtornodeMoisés.Umreinadodavídicoestavaforadecogitação,vistoque os samaritanos só admitiam o Pentateuco, de todo oAntigo Testamento.PrivadosdegrandepartedasEscriturasqueosjudeuspossuíam,ossamaritanosviam-sesubmersosnumaignorânciaqueosimpossibilitavadepraticarareligiãoverdadeira.“Vósadoraisoquenãoconheceis”,enfatizouJesusemseudiálogocomamulhersamaritana.PorrejeitarpartedoAntigoTestamento,ossamaritanospossuíammenosconhecimentosobreDeuseseupropósito.Comafrase–“Nósadoramosoqueconhecemos”–Jesusfalacomoumjudeuepelosjudeus.Alémdoconhecimentoteológicodestes,CristodestacaqueeraplanodeDeusqueoMessiasfossedescendentedeDavi,segundoacarne.

Para justificar o monte Gerizim como lugar sagrado, os samaritanosfizeramalteraçõesnosDezMandamentos,adicionandoumdécimoprimeiro,querequeriaaconstruçãodeumaltaremGerizimecelebraçõesdeholocaustosnestelugar.

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TÓPICO 2 — GRUPOS E INSTITUIÇÕES JUDAICAS

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3.3 A GÊNESE DO CONFLITO ENTRE JUDEUS E SAMARITANOS

Outracaracterísticadateologiasamaritanaerasuatolerânciacompráticasdemodonenhumadmitidaspelosjudeus,como,porexemplo:casamentosmistoscom estrangeiros. A religião dos samaritanos permitia que crentes, inclusivesacerdotes,secasassemcommulherespagãs.Umareligião,segundoaopiniãodealguns,livredatiraniateocrática.

Embora,aparentemente,osconflitosentresamaritanosejudeustivessemsuagênesenoretornodosjudeusdocativeiro,quandoestesserecusaramadarigualdadedeprivilégiosaossamaritanossobNeemias,pode-seafirmarqueasrelaçõesentreosdoispovossempreforamdetensão,desdequeSimeãoeLeviexterminaramoshomenseescravizaramasmulheresecriançasdeSiquém,emvingançaporterSiquémdesvirginadoDiná,filhadeJacó.OutrofatoimportanteaserlembradoéqueSiquémnãoapenasfoipalcodadivisãodoreinodeIsrael,comosetornouacapital(edepoisSamaria)donovoReinodoNorte.Sobreestefato,Rops(1991,p.83)argumenta:

[...]De fato, a inimizade entre os homens de Judá e os de Samariadatavamuito antes do império do grande rei Salomão ter divididoemduaspartes,SamariaeJudá.DesdeessaépocaSiquémeJerusalémdiscordaramsempre.Oimpurocontraopuro.FoiassimqueosaltaresdeJeroboãoforamprofanadospelosbezerrosdeourocolocadosjuntoàs colinasdeSião; e foi contra Jezabel, aquelavelha rainha idólatrado norte, que o profeta Elias veio do sul. Samaria, a capital dessaprovíncia,foiconstruída,emuitobem,peloreiOmricercadoano880.Elafoisempreconsideradacomoumarivaldacidadesanta.

Houve tambémum fato, entre os sucessivos eventos quedeterioraramas relações entre judeus e samaritanos, que contribuiu para o aumento doressentimentodosjudeus.Areconstrução,em30a.C.,sobHerodes,dacidadedeSamaria,quehaviasidodevastadaporJoãoHircano,em182a.C.Herodes,queeraidumeu,portanto,tambémpertencenteaumaraçarivaldesdeoconflitoentreEsaú(paidosidumeus)eJacónadisputapelopratodelentilhas,reconstruiuacidadedeformaesplêndidaebatizou-adeSebaste(termogregoparaAugusto),emhomenagemaoseuprotetorCésarAugusto.

4 PRINCIPAIS INSTITUIÇÕES

Nesteitemanalisaremososlocaisemqueopovojudeurealizavaseucultoeasfunçõesquedesempenhavamnascelebrações.

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

4.1 O TEMPLO

OtemploondeJesusforavistocomosdoutores,aosdozeanosdeidade,e que, posteriormente, purificou, expulsando mercadores e cambistas de seuinterior,nãoeraomesmoqueSalomãoconstruiu.OtemplodeSalomãohaviasidodestruídoporNabucodonosor,em586a.C.

Quando os judeus receberamdeCiro a autorização para reconstruir acidadedeJerusalémeotemplo,estefoiedificadoporZorobabelentre537e516a.C.ABíblianãoserefereaestetemplo.Sabe-se,porém,quefoiprofanadoporAntíocoEpifânioem168a.C.,quando,natentativadehelenizaropovojudeu,edificouneleumaltaraZeus.FoiJudasMacabeuque,maistarde,teriadestruídooaltarpagãoepurificadootemplo.

O templo onde Jesus pisou foi, talvez, omaismagnífico deles. Em 37a.C.,quandoHerodes tomou Jerusalém,o templo foiparcialmentedanificado.Herodes,noentanto,oreconstruiudeformamagnânima.Emboratodorevestidodemármoreeouro,suaarquiteturaseguiaasformasdoTabernáculo.

OsofícioseramosmesmosdosdiasdeSalomão.Umavezporano,osumosacerdoteentravanoSantodossantosparafazer,comsangue,apropiciaçãodospecadosdopovo.UmgrossovéuseparavaolugarSantodoSantodosSantos.OmesmovéuqueserasgounomomentodamortedeCristo,nocalvário.

Havia guardas que tomavam conta do templo. Estes guardas eramincumbidosdemanteraordememseurecinto.Foramelesque,juntamentecomossoldados,fizeramaabordagemnoGetsêmani,quandoJesusfoipreso.

Otemplo,comonosdiasdeSalomão,eraagrandereferênciadaféjudaicae principal centrode culto dos judeus.Nele, Jesus pregou e,mais tarde, seusdiscípulospregaram.Nele,PedroeJoãoiamorar.EletestemunhouoministériodeCristoeoiníciodaIgreja.Foidestruídonoataqueromano,noano70daeracristã.

4.2 O SINÉDRIO

Do grego sunedrion (sentado em concílio), era o supremo tribunal dosjudeus.InspiradonainstituiçãocriadaporMoisés,queformouumtribunalcom70homensescolhidosdentreos líderes (BÍBLIA,Nm11:16),oSinédrio surgiuduranteoperíodointertestamentário.

Com 71 membros, era composto dos principais sacerdotes, escribas(fariseusesaduceus)eanciãosdopovo.Tinhaacompetênciadeumasupremacortedejustiça.Todavia,maisdoqueumacortelegal,comoobservaRops(1991,p.43),“desempenhava tambémopapeldeumcolégiopontifício,encarregadodo estudo das questões religiosas e de um conselho político”. Ali, leis eramelaboradasevotadas,etinhasuaprópriapolícia.

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Sabe-se também que, embora Estevão tenha sido executado porapedrejamento,os romanosnãopermitiamque tribunaisnativosaplicassemapenacapital.Nãoera,então,competênciadoSinédrioexecutarcondenados.Elesmesmosadmitiramestelimite,quandodeclararam“anósnãonosélícitomataraninguém”(BÍBLIA,Jo18:31).Quantoaocasodeapedrejamentocitado,podemosatribuiràtendênciajudaicadedesobedeceraordensgentílicas,poissomenteosromanostinhamaprerrogativadeexecutarcondenados.

4.3 AS SINAGOGAS

Apalavrasinagogasignificaassembleia.Eraminstituiçõesreligiosasquecongregavam comunidades judaicas tanto na Judeia como em todo territórioromano.No local emquehaviauma comunidadede judeus, fundava-seumasinagoga.

Assinagogassurgiramnoperíododocativeirobabilônicocomosubstitutasdotemploquefoidestruído.Dispersos,osjudeussentiramnecessidadedeexercersuareligiãoedeumlugarnoqualosjovenspudessemaprendersuaculturaecrençadosancestrais.

Funcionavam em prédios retangulares, feitos de pedras. As divisõesseguiamasdo temploecoma fachadavoltadaemdireçãoa Jerusalém,comoorientaoTalmude.

Estasinstituiçõesserviamcomolocaldeculto,escolaepequenostribunais.Como local de culto, cumpria seu papel principal. As celebrações oficiaisaconteciamaossábados,mas,nosegundoenoquintodiaeramabertasparaaoraçãoeleituradasEscrituras.Oscultosdosábadoobedeciamàseguinteliturgia:AShema,oudeclaraçãodefédosjudeus,erarecitadaeminíciodeculto.Seguia-seumaoraçãocoletiva(ritual)e,posteriormente,umaoraçãoindividualsilenciosa.Emseguida,erafeitaaleituradeumtrechodasEscrituras,seguidadeumsermãocombaseno texto lido.Quandohouvesse,noculto,alguémquepertencesseàclassesacerdotal,esteencerravaacerimôniacomopronunciamentodebênçãos,casocontrário,ocultoeraencerradocomumaoração.

Estaliturgiafoi,emgrandeparte,seguidapelaIgrejaprimitiva,umavezqueopróprioJesuseseusdiscípulosfrequentavamregularmenteassinagogas.

Foi também nas sinagogas espalhadas pelo império que Paulo iniciouseutrabalhomissionário.Muitosdosprimeiroscultoscristãosforamrealizadosnessasinstituições.Comopassardotempo,emfunçãodaresistênciadosjudeusaoEvangelho,sinagogaeIgrejasesepararam,mantendoestamuitascaracterísticasdaquela.

Como escola, funcionava emdias alternados comos dias de culto.NasinagogameninoseramensinadosalereconheceraTorá.Aprendiamtambémosaspectosdaculturajudaica,comomeiodepreservaçãodaidentidadenacional.

4.2 O SINÉDRIO

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

A sinagoga também servia como um pequeno tribunal, no qual eramjulgados pequenos delitos. Se o crime fosse de difamação ou insulto à Lei,castigoscomaçoiteseramaplicadosporummembrodesignadoparatalfunçãonapresençadojuiz.Pauloteriasofridoumapuniçãosemelhante(BÍBLIA,IICo11:24).

Asinagogaerapresididaporumpríncipe(chefe)eleitopelosmembros.Oficiaissubalternosdividiamoutrastarefasdispostasdestaforma:

Presbíteros (anciãos):formavamumconselho.

Legatus:eramosresponsáveispelaleituradostextossagradoseexposiçãodosermão.

Assistentes: cuidavam dos livros. Eram eles que entregavam a Bíblia aoslegatusearecolhiamduranteoscultos.Encarregavam-sedalimpezadorecintoe preparavam o ambiente de culto.Abriam e fechavam as portas. Era umafunção semelhante à dos que os diáconos fazem hoje emmuitas de nossasigrejas.

Intérpretes:comoasleituraseramfeitasemhebraicoclássico,osintérpretesseencarregavamdastraduçõesparaoaramaico,queeraalínguacomumfaladanaJudeiadosdiasdeJesus.

4.4 A IGREJA

A palavra Igreja deriva do vocábulo grego ekklesia, que quer dizer chamados para fora. No grego clássico, o termo indicava simplesmente umaassembleia.NoNovoTestamento,otermonuncaéempregadocomodesignaçãodelugaroutemplo.

Comoconceitoneotestamentário,IgrejaéacongregaçãodoscrentesemJesusCristo, “tirados para fora domundo”, para compor o reinodeDeus naTerra.Oscrentessãoosremidosque,peloprocessodonovonascimento(BÍBLIA,Jo3:3),passamaparticipardanaturezametafísicadeJesusCristo.

A congregação em questão refere-se tanto à associação de crentes emumdeterminadolocalcomoaoconjuntototaldoscrentesdetodosostemposelocais,formandoumgrandeorganismo,comoobjetivodedarcontinuidadeaoministériode Jesus. Igrejaéocorpodediscípulosde Jesus,designadosparaoexercíciodaadoração,comunhãoeevangelizaçãodomundo.

AIgrejanãoera,nocontextodoNovoTestamento,umainstituiçãoformalouorganização,comoeramosgruposdosfariseusesaduceus,aindaquefossemconsideradosumadas seitasdo judaísmo.Tambémé fatoque Jesusnão foi o

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seufundador.EmseuministérionãoháqualquerindíciodequeJesushouvesseorientado seus discípulos a organizá-la. Tudo o que Jesus propôs aos seusseguidoresfoiumnovomododevida,pautadonoamoraDeuseaopróximo.

AIgrejaéapresentadaporCristonãocomoseufundador,mascomoseufundamento(BÍBLIA,MT16:16-18).AIgrejatevesuagênesenodiadePentecostes,quandooEspíritoSantodeuaogrupodediscípulostodoodinamismodescritonolivrodeAtosdosApóstolosefoiseestruturandoduranteoprocessohistórico.OlivrodeAtosdescrevepartedesseprocessohistóricoe,antesdeserencerrado,nosinformaqueaIgrejajácontavacomumaorganização,tendoTiago,irmãodoSenhor,comoseulídermáximoemJerusalém.Comonãoeraapóstolo,deduz-sequetivessealcançadoaposiçãodebispodeJerusalém(BÍBLIA,Gl1:19;21:18;At12:17;15:13).ContavacomumcorpodiaconaleumprogramademissõesqueespalhoueficazmenteoEvangelhoporterrasgentílicas.

O apóstolo Paulo destaca, em Efésios, pelo menos cinco funçõesespecíficasdasimpleseeficazestruturaeclesialdeseusdias:apóstolos,profetas,evangelistas,pastoresemestres(BÍBLIA,Ef4:11).Títuloscomobispoepresbítero(ancião)eramlargamenteusadosparadesignaraliderança,eaordenaçãoparamembros doministério já era praticada.Umpresbitério formado por anciãosconduziaoritodeordenaçãomedianteaimposiçãodemãos(BÍBLIA,ITm4:14).Nodecorrerdahistória, a Igreja adquiriuuma estruturamais complexa. Isso,porém,nãoestádescritonaspáginasdoNovoTestamento,pois jáestáforadaculturabíblica.

4.4 A IGREJA

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você viu que:

Fariseus, saduceus e essênios eram grupos originados no períodointertestamentário,comfinsdepreservaçãodaculturaereligiãojudaica.

Zeloteseherodianosformavamgrupospolíticostambémoriginadosnoperíodointertestamentário.Osprimeirostinhamcaráterrevolucionário,osherodianoserammaisdiplomáticos.

Excetoosessênios,estesgruposofereceramforteoposiçãoàpregaçãodeJesus.

Ossamaritanosconstituíamumaraçamista,comquemosjudeusmantinhamumarelaçãobeligerante.

Nos dias de Jesus, o templo mantinha seu status de símbolo da religião eunidadenacional.

OSinédrioeraasupremacortedejustiçadeJerusalém.

Assinagogaseraminstituiçõesqueserviamcomolocaldeculto,escolae,àsvezes,funcionavamcomopequenostribunais.

AIgrejaéoconjuntodosremidosdetodosostemposelugares.

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1Relacionepelomenosquatropontosdacrençadosfariseus.

2AssinaleaalternativaCORRETA :

I−OsEscribas:()Erampatriotasedefendiamcomcoragemojudaísmo.()EramperitosnasEscrituras,encarregadosdecopiá-las.()Negavamaressurreição,aimortalidadedaalmaeojuízodivino.()Lutavampelalibertaçãonacional.II−AcreditavamqueoMessiassurgiriadadinastiadosHerodes:()OsSamaritanos.()OsFariseus.()OsZelotes.()OsHerodianos.III−Comoconceitoneotestamentário,aIgreja:() ÉacongregaçãodoscrentesemJesusCristodetodosostemposelugares.()Éolocalondecristãossereúnemparaaadoração.()Éotemplodosjudeus.()Éaassembleiaqueformavaotribunaldosjudeus.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

TÓPICO 3 —

MOVIMENTOS RELIGIOSOS IDENTIFICADOS

2 O GNOSTICISMO CRISTÃO

BoapartedoNovoTestamentoe,parasermaisespecífico,dasepístolas,foi escrita como objetivo de corrigir distorções doutrinárias dentro da Igreja.Semumadeclaraçãodeféescritaesemumateologiasistematizada,osprimeiroscristãos sofrerampesadas incursõesdegrupos e ideiasheréticas.Neste tópicovamostratar,pelomenos,dostrêsmovimentosmaisimportantes.

O nome vem do grego gignoskein, saber. De características esotéricas,a religiãoensinavaqueasalvaçãoseriapossível somentemedianteosaberouconhecimentoqueapenasosgnósticospossuíam.

Esta doutrina foi introduzida no cristianismo, provocando imediatareação apostólica, que resultou, em parte, na produção doNovo Testamento.Suasdoutrinasbásicaseram:

Sobre a salvação:asalvaçãoconsistianatotalseparaçãoentreoespíritoeocorpo.Este,consideradomauporpertenceraomundomaterial.Paraosgnósticos,amatériaerairreversivelmentemáeimperfeita.Noentanto,nãobastavaapenasdesencarnarparaobterasalvação;aalmaprecisavaseraperfeiçoada,afimdequeoprocessodesalvação fosseconcluído.Oprocessodeaperfeiçoamentodaalmasedavamedianteabusoscomousodocorpo,sejapelalicenciosidadeouascetismoorientadoporritos,observaçãodesacramentosetc.Sóassimaalmateria,pelosconhecimentosgnósticosadquiridosemvida,condiçõesdeseorientarpelocaminhodasalvação,noinstantedadesencarnação.

Sobre Deus: eramdeístas.Nadoutrinagnóstica,Deusnãomantinhaqualquerrelação comomundomaterial e nempoderia tê-la, umavez que omundomaterialimpuropoderiacontaminaradivindade.Bem,seissofosseverdade,comoDeus teria criadoomundo?A respostadadaéqueDeusnão criouomundo.Omundoforacriadopelodemiurgo (artesão),aúltimadas30emanações(aeons)quepartiramdadivindade,cadaumagerandoaoutra.

Sobre Cristo: era um aeon,masnãoeraDeus.Digamosqueumserangelicaldos menos elevados, razão por que podia se envolver com a matéria. Noentanto, estenãopoderia se tornarmatéria.Paraosgnósticos,Cristonunca

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

foi humano,pois, se o tivesse sido, teria se corrompido.Então, quemera oserqueosdiscípulosvirame tocaram?Osgnósticosexplicavamque,oquepareciaumcorpo, eraapenasum fantasmae todososatosdeCristo foramapenassimulações.Emoutraspalavras,JesusCristonãoeraenemfaziaoqueparecia.Daíaorigemdotermodocetista(dogregodokeo –parecer),aplicadoaosseguidoresdestadoutrina.Outraexplicaçãoqueosgnósticosdavameradeque,seJesuseraumsercarnal,oCristonão.Paramuitosgnósticos,Jesuseraumentecarnal,enquantoCristoeraumespíritoquepossuiuohomemJesus,quandofoibatizadoporJoãoBatistanorioJordão,eoabandonounomomentodacrucificação.Qualquerdospostuladosacimafazdognósticoumdocetista,ouseja,umadeptodaideiadequeCristoeseusfeitosnãoeramreais.ContraessaheresiafoiescritaaprimeiraepístoladeJoão,omaiorapologetaentreosapóstolosdafécristã.

2.1 A ÉTICA

2.2 O NOVO TESTAMENTO E O GNOSTICISMO

Para os gnósticos, pelo fato de a matéria ser inerentemente má, nadapoderiaserfeitopararedimi-la.Comofoiditonopontoquetratadasalvação,essasópoderiaseralcançadaatravésdeumaequaçãoenvolvendoconhecimento/desencarnação.Comoocorpoéconstituídodematéria,osgnósticosentendiamquedeviamabusardocorpoatravésdalibertinagemouacessadapelaabstinênciadeprazeresouflagelação.

Para os gnósticos, nada do que se fazia com o corpo poderia afetar arealidade espiritual, nemaobra espiritualpoderia alterar anatureza corruptaqueseriaaniquiladapelamorte.Nãoédifícilconcluirqueosadeptosdestacrençaeramdevassoseindisciplinados.

SãomuitosostextosdoNovoTestamentoquecombatemognosticismo.João,alémdededicarpartesubstancialdesuasepístolas,sobretudonaprimeira,àdefesadaverdadecontraognosticismo,oiníciodeseuEvangelhopareceumarespostaànegaçãognósticadequeCristotivessequalqueratributodadivindade:“O verbo era Deus”, afirma. Mais adiante, para os que negavam qualquerparticipaçãodeCristonamatéria,assevera:“eoverbosefezcarne”.

OapóstoloPaulotambémcombateognosticismoempassagensnasquais:

CristoéapresentadoperfeitoeemunidadecomoPai (BÍBLIA,Colossenses1:13-15).

CristoédescritocomotendoosmesmosatributosdeDeusPai(BÍBLIA,Cl1:19e2:9).

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TÓPICO 3 — MOVIMENTOS RELIGIOSOS IDENTIFICADOS

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ACristoédadoosenhoriosobretodaacriação(BÍBLIA,Cl1:16).

Cristoestáacimadosanjos(BÍBLIA,Cl2:18).

Recomenda que Timóteo evite doutrinas inúteis (BÍBLIA, I Tm 1:4) ou quecondeneofalsoascetismo(BÍBLIA,ITm4:3).

AepístoladeJudasocupa-seinteiramenteemalertaraIgrejacontraaaçãodefalsosmestres,estimulando-aadefenderafé.

Duranteumperíododequase100anos,ognosticismoassediouaIgreja.Neste processo, produziu literatura da qual podemos citar grande parte daprodução apócrifa do primeiro século da era cristã.O Evangelho de Tomé, oEvangelhodeMaria,oEvangelhodePedro,oApócrifondeJoão,oEvangelhodeFilipe,AtosdeTomé,SofiadeJesus,entreoutros,fazempartedesseacervo.

3 O MOVIMENTO JUDAIZANTE

Os judaizantes formavamumgrupo,dentrodo cristianismoprimitivo,quedefendiaamanutençãodecertosritosjudaicoscomoformadesealcançarasalvação.Paraumjudaizante,nãobastavacreremCristo,tanto judeuscomogentiosprecisavamsesubmeteràsleisdojudaísmo.

Estes grupos se dedicavam exaustivamente à tarefa de infiltrar suasideias, principalmente, nas Igrejas gentílicas, e, comoobservaHalley (1978, p.537),“estavamapenasresolvidosarotularCristocomomarcadafábricajudaica”.

Paraquesecompreendamelhoroquefoiomovimento judaizante,faz-senecessáriolevaremcontaqueocristianismoseoriginounojudaísmo.Jesuserajudeu,circuncidado ao oitavodia, frequentou sinagogas e o templo, observou a Páscoaetc.Seusseguidoreseram judeuseentreseusdiscípuloshaviaalguns fariseus.Areferênciaescriturísticaerajudaicaeassimpordiante.Eranatural,portanto,queosprimeiroscrentestrouxessemparaocristianismoelementosdojudaísmo.

No entendimento dos judaizantes, todo homem que se convertesse aCristodeveria,pelomenos,submeter-seàcircuncisãoeguardarosábado,alémdeoutraspráticasvinculadasàlei.

Pelo livro de Gálatas, somos informados de uma situação deconstrangimentovividaporTito,pornãosercircuncidado.Oquemostraque,mesmopróximodocírculoapostólico,opensamentojudaizantesefaziapresente.PedrotevequeenfrentaraoposiçãodestesquandotrouxeaJerusalémorelatóriosobreaconversãoebatismodeCornélio,umcenturiãoromano.ABíbliadizque“subindoPedro a Jerusalém, disputavam com ele os que eramda circuncisãodizendo:Entrasteemcasadevarõesincircuncisosecomestecomeles”(BÍBLIA,At11:3-4).

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

Seriaseverodemaiscondenarosjudaizantesaodegredodocristianismoprimitivo, pois estiveram envolvidos num período de transição, quando oscristãos ainda iam ao templo e frequentavam as sinagogas. Estas, emmuitasocasiões, foramlocaisdereuniãoparaapregaçãodoEvangelho.FoisócomadestruiçãodeJerusalémedotemplopelosromanosqueaIgrejaeojudaísmosesepararam.

O apóstolo Paulo foi omaior oponente domovimento judaizante. Porisso,escreveuolivrodeGálatase,emtodososseusescritos,quandocombateaguardadosábadoouaprescriçãodacircuncisãoparaosnovosconvertidos,éomovimentojudaizantequeestácombatendo.AjustificaçãodocrenteéprodutoúnicoeexclusivamentedagraçadeCristo.EstaéatemáticaconstantenascartasdePaulo.

4 ELEMENTOS DO FOLCLORE

Nas caminhadas pela Palestina, Jesus não pregou para uma sociedadesem religião. Tanto quanto hoje, as pessoas nutriam suas crenças, ainda queestapafúrdias. Mesmo os seus discípulos alimentavam superstições. Em certaocasião,chegaramapensarqueJesusfosseumfantasma(BÍBLIA,Mc6:49).

NosdiasdeJesus,eracrençacomumentreos judeusqueumdemôniofeminino chamadoLilith vagavapelanoite embuscade jovens incautos, comquem mantinha relações sexuais. Assim explicavam os casos de poluçõesnoturnas.Ascrianças,Lilithroubavaeasmatava.

UmapassagembíblicaquereproduzpartedofolclorepopularéocasodahistóriadoparalíticodeBetesda.EmtornodotanquedeBetesdareuniam-seinúmerosenfermos,acreditandoque,devezemquando,umanjodesciadocéueagitavaaáguaeoprimeirodoentequealidesciaeracurado(BÍBLIA,Jo5:1-5).Nãohá,emnenhumoutrolugarnasEscrituras,qualquerpalavraqueendosseeste fatoenemJesus,que láestevecurandooparalítico,deuseuaval àquelasuperstição.Purofolclore.Aliás,estetextonosdáagrandeliçãodeque, tantoareligiãooficial(representadapeloclérigo,quecensurouohomemcuradoportransportar seu leito no sábado) quanto a crendice popular são inúteis comomeiodesuprirasnecessidadeshumanas,aopassoqueagraçadeCristosalvaincondicionalmente.

PortrásdetodamísticajudaicadosdiasdeJesusencontra-seaCabala.Umsistemamístico-esotéricoquemisturavainterpretaçõesdaTorácomescritosapócrifos.Sistematizadaduranteocativeirobabilônico,misturavajudaísmocomgnosticismo, zoroastrismo, neoplatonismo, neopitagorismo, entre outros. Seusistema doutrinário inclui:

Acrençanumahierarquiadeanjos.

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TÓPICO 3 — MOVIMENTOS RELIGIOSOS IDENTIFICADOS

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Acrençaemanjosdaguarda.AssimteriamanifestadosuacrençaRode,umameninaque,aoouviravozdePedro,pensouquefosseseuanjo.(BÍBLIA,At12:13-15).

Acrençanaexistênciadeespíritosefantasmas.

Doutrinadareencarnação.

CrençaemAdãoKadman,umhomemprimordial,queexistiuantesdoAdãobíblico.

Usodeamuletosesistemasdeadivinhação.

Mudançadenomeem temposde criseoumudanças significativasdavida,combasenovalornuméricodasletrasqueformamonome.

Numerologia – as palavras podiam ocultar revelações que poderiam serdecifradasporcombinaçõesnuméricas.

TantoosmovimentosgnósticosejudaizantescomoascrençasderivadasdacabalaestãopresentesnocenáriodoNovoTestamento.Conhecê-losécrucialpara o melhor entendimento dos textos neotestamentários, até porque foramestascrençasquemotivaramgrandepartedacomposiçãodoNovoTestamento.

Tudoaquiloque foiescritopelosapóstolos, comoescopodecombaterfalsascrenças,podeserusadohoje,comamesmaeficácia,emdefesadafécristã.Ascrençaspopularessempreexistirão.Modificadas,masexistirão.

O texto que leremos a seguir, na leitura complementar, foi extraído do livro: HALLEY, Henry H. Manual Bíblico. São Paulo, 1975, p. 469. Trata-se de parte de uma carta apócrifa escrita, possivelmente, pelo senador romano Públio Lêntulo ao Senado romano.

ATENCAO

4 ELEMENTOS DO FOLCLORE

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UNIDADE 3 — O CENÁRIO DO NOVO TESTAMENTO

LEITURA COMPLEMENTAR

Atualmente apareceu um homem revestido de grandes poderes. SeunomeéJesus.Seusdiscípuloschamam-noFilhodeDeus.Édeestaturanobreebemproporcionada,seurostocheiodebondade,todaviafirme,demodoqueosqueoveem,amam-no.Seuscabelostêmacordovinho,estiradosesemlustro,masapartirdoníveldosouvidossãoaneladosebrilhosos.Suatesta,lisaemacia;suas facesnão têm falha, realçadasporum rubormoderado; seu semblante éfrancoebondoso.Onarizeabocanãotêmdefeitoalgum.Suabarbaécheia,damesmacordoscabelos;seusolhos,azuisebrilhantesemextremo.Reprovandoou censurando, é formidável; exortando e ensinando, é gentil ede linguagemafável.Ninguémotemvistorir,porémmuitos,aocontrário,têm-novistochorar.Esbeltoealtodeporte,suasmãossãobelasefinas.Nofalaréponderado,grave,poucodadoàloquacidade;excedeàmaioriadoshomensembeleza.

FONTE: HALLEY, Henry H. Manual Bíblico. São Paulo, 1975, p. 469.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você viu que:

O gnosticismo era um movimento esotérico, de origem grega, que tentouintroduzirsuasideiasnocristianismodoprimeiroséculo.

OMovimentojudaizantetentouadicionarritosjudaicosaocristianismo.

Parte do Novo Testamento foi escrita com o escopo de combater as ideias gnósticasejudaizantes.

Jesuspregouparaumasociedadesupersticiosainfluenciadapelacabala.

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CHAMADA

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Apartirdoestudodestetópico,respondaasseguintesquestões:

1 Que importância tiveram os eventos do período intertestamentário naformaçãodoNovoTestamento?

2 Como a Filosofia contribuiu com a difusão do Evangelho pelo mundoromano?

3 Comoasdoutrinasgnósticase judaizantes influenciaramnacomposiçãodoNovoTestamento?

4 Identifique, noNovoTestamento, duas passagens emque elementos dofolclorejudaicopodemserverificados.

AUTOATIVIDADE

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REFERÊNCIAS

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