cuidado de enfermagem à saúde da mulher à luz dos programas governamentais

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NÚCLEO TEMÁTICO I - UNIDADE DE ESTUDO 2 O PLANEJAMENTO FAMILIAR, CONTRACEPÇÃO E INFERTILIDADE Caro colega Nesta unidade, vamos discutir as atividades educacionais do enfermeiro relacionadas à utilização dos métodos contraceptivos. Tema de grande interesse, não é mesmo? No Brasil, o planejamento familiar 1 é assunto do nosso cotidiano e freqüentemente aborda temas como: mortalidade materna, abortamento, infertilidade, reprodução assistida. Sendo assim, cabe ao enfermeiro, educador em potencial, discutir o saber e o fazer na área da saúde sexual e reprodutiva. .1 Se pensarmos primeiramente no conceito de planejamento familiar, precisamos incluir moradia, alimentação, educação, lazer, entre outros. Por isso, é preciso que nós enfermeiros, nos reportemos ao todo, sem nos restringirmos ao aspecto procriativo, por entendermos que a reprodução está ligada às ações de controle, fecundidade e contracepção. O Sistema Único de Saúde e as conquistas para a saúde da mulher brasileira, como falamos na unidade de

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Page 1: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

NÚCLEO TEMÁTICO I - UNIDADE DE ESTUDO 2

O PLANEJAMENTO FAMILIAR, CONTRACEPÇÃO E

INFERTILIDADE

Caro colega

Nesta unidade, vamos discutir as atividades educacionais do

enfermeiro relacionadas à utilização dos métodos contraceptivos.

Tema de grande interesse, não é mesmo?

No Brasil, o planejamento familiar 1 é assunto do nosso cotidiano e

freqüentemente aborda temas como: mortalidade materna, abortamento,

infertilidade, reprodução assistida. Sendo assim, cabe ao enfermeiro,

educador em potencial, discutir o saber e o fazer na área da saúde sexual e

reprodutiva. .1

Se pensarmos primeiramente no conceito de planejamento familiar,

precisamos incluir moradia, alimentação, educação, lazer, entre outros. Por

isso, é preciso que nós enfermeiros, nos reportemos ao todo, sem nos

restringirmos ao aspecto procriativo, por entendermos que a reprodução

está ligada às ações de controle, fecundidade e contracepção.

O Sistema Único de Saúde e as conquistas para a saúde da mulher

brasileira, como falamos na unidade de estudo anterior, busca a

implementação dos direitos da autonomia reprodutiva conquistados pela

população brasileira a partir da promulgação da Constituição de 1988.

No plano internacional, a partir das Conferências de População

(Cairo - 1994) e da Mulher (Beijin - 1995) surge o conceito de saúde

reprodutiva, que diz respeito a ações amplas no campo da reprodução

envolvendo o homem e a mulher. Embora reconhecendo o avanço que

representa esta nova abordagem, há que se ter cautela visto o consenso

estabelecido em torno da integralidade assistencial à mulher, em todas as

Page 2: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

suas fases e necessidades de saúde. Estes princípios estão contidos na

Política de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

(IBGE, 2000), o Brasil tem 180 milhões de habitantes. Se o crescimento da

população permanecesse no mesmo ritmo dos anos 50, seríamos uma

população de 262 milhões de brasileiros. Entretanto, a taxa de fecundidade

diminuiu, devido às transformações ocorridas na família brasileira, tais

como: a entrada da mulher no mercado de trabalho e a popularização dos

métodos anticoncepcionais. Em 2000, o Brasil estava na 75ª posição entre

os 192 países ou áreas comparados pela ONU, com uma média de 2,39

filhos por mulher. .1

Mesmo com a taxa de fecundidade diminuída atualmente, sabemos

da grande dificuldade de famílias menos favorecidas economicamente para

a criação dos seus filhos. Muitas dependem exclusivamente de ajuda do

governo e organizações não-governamentais para “garantir” as

necessidades mínimas de sobrevivência, tais como: alimentação, moradia,

educação e saúde. É neste sentido que os enfermeiros precisam estar

atentos e engajados para universalizar esse acesso para todas as classes

sociais.

Um grande avanço relacionado ao direito reprodutivo foi a

regulamentação da Lei 9.263 de 12 de janeiro de 1996, que estabelece o

planejamento familiar como direito garantido pela Constituição Federal.

Define que só é permitida a esterilização voluntária nos seguintes casos:

mulheres e homens com capacidade civil plena e maiores de 25 anos de

idade; com pelo menos dois filhos vivos; após 60 dias entre a manifestação

da vontade e o ato cirúrgico; após aconselhamento e conhecimento de todos

os métodos, risco de vida à mulher ou futuro concepto.

Percebe, agora, a importância de nossas ações? 

Podemos, portanto, perceber o reforço que esta Lei garante aos

Page 3: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

usuários do sistema de saúde público e privado, ao ressaltar informações

dos métodos e técnicas para a regulação da fecundidade de forma livre e

esclarecida e a não realização da cirurgia durante o parto e aborto.

Esta determinação faz com que também diminuam as cesarianas

pré-agendadas para a realização da esterilização. Cabe ressaltar que a

mulher ou o casal deverão manifestar sua vontade da laqueadura

tubária/vasectomia através de documento escrito e registrado em cartório.

Para que possamos ter sucesso em nossas ações, nos grupos de

planejamento familiar, é preciso que a metodologia utilizada seja de caráter

participativo e que possibilite à mulher ou ao casal, a troca de

vivências/experiências com outros participantes individualmente nas

consultas.

Assim, colega,  vale lembrar que quando trabalhamos com

grupos educativos em saúde não podemos esquecer que a

comunicação é o nosso maior instrumento de informação e que é

preciso ajustar a linguagem técnica para coloquial.

Durante as práticas educativas para a escolha dos métodos de

contracepção, temos a grande oportunidade de mostrar à população em

idade fértil as vantagens e desvantagens, contra-indicações, benefícios,

eficácia, aceitabilidade.

É preciso deixar sempre bem claro que não existe um método

perfeito, eficaz e de fácil uso, e de custo acessível para todos. A sua

adequação vai ao encontro da história de vida da mulher ou casal, bem

como sua realidade econômica e religiosa, sem discriminação, coerção ou

violência.

O Brasil disponibiliza uma série de métodos contraceptivos tanto para

mulher quanto para homens, que podem variar desde os métodos

chamados comportamentais até os mais complexos quando envolvem

Page 4: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

cirurgia.

Lembramos que os métodos contraceptivos são destinados à

prevenção de uma gravidez indesejada com todas as suas vantagens de

segurança. O único método, mundialmente conhecido que evita gravidez e

protege ao mesmo tempo a população para uma doença sexualmente

transmissível é a popularmente chamada camisinha, atualmente disponível

na versão masculina e feminina.

A anticoncepção no Brasil tem sido feita quase que exclusivamente

pelo uso do contraceptivo hormonal oral e pela laqueadura tubária.

O problema do aumento do uso da esterilização feminina no país é

de interpretação complexa, atinge todos os estratos da sociedade e está

relacionado a outros fatores ainda não bem compreendidos e

dimensionados, como o nível socioeconômico e o aumento do número de

cesáreas.

Desta forma, a Agência Nacional de Saúde (ANS) lança uma grande

campanha em rede nacional intitulada – Parto normal está no meu plano .  Este

movimento está ganhando adesão de operadoras de planos de saúde e de

entidades representativas do setor.

É preciso mudar o panorama atual que confere ao setor suplementar

brasileiro o indesejável título de campeão mundial de cesarianas que estão

ligadas à esterilização e, portanto, planejamento familiar. Você também

pode fazer parte desta campanha divulgando o material através do site da

Agência Nacional de Saúde Suplementar.

Estudos apontam que a laqueadura tubária se deve a uma série de

fatores; um deles está diretamente ligado ao desconhecimento dos outros

métodos. A mulher deve receber todas as informações dos riscos e

conseqüências desse procedimento cirúrgico, deverá ser discutida, também,

com o profissional de saúde habilitado a possibilidade de escolher outros

Page 5: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

métodos, já que dependendo da técnica utilizada, o processo é irreversível.

A reanastomose microcirúrgica tem sido realizada para a reversão de

esterilização tubária nas mulheres que manifestam arrependimento e

interesse por novas gestações.

A cirurgia permite engravidar mais de uma vez sem a necessidade de

realizar qualquer outro procedimento. Entretanto a reversão é cara, e

atualmente no Brasil são raros os hospitais públicos que fazem a cirurgia

gratuitamente.

Você conhece alguém que tenha feito a laqueadura tubária e

tenha se arrependido?

Clique aqui para saber mais sobre o assunto.

Caro colega, nesta unidade discutimos a anticoncepção de

emergência, que vem sendo atualmente utilizada erradamente por

muitas mulheres, principalmente as adolescentes.

Nesse método contraceptivo é preciso alertar a população para o que

o próprio nome diz: somente em casos de emergência com indicação

médica, ou seja: rompimento da camisinha, esquecer de tomar pílula, ou

estupro.

Esta chamada “anticoncepção de emergência” se baseia em utilizar

altas doses hormonais para evitar uma gravidez indesejada, após uma

relação desprotegida, isto é, sem uso de método contraceptivo. .2

Estudos recentes revelaram que a utilização freqüente deste método

pode interferir na ovulação, motilidade tubária, efeito adverso no endométrio

dificultando a fixação do embrião.

Pensando nas ações de saúde do enfermeiro, uma das nossas

prioridades é a prática educativa em saúde, que pode ser desempenhada

Page 6: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

em toda sua área de atuação quer seja em nível ambulatorial ou hospitalar.

A respeito da prática educativa, os profissionais de saúde devem

empenhar-se em bem informar as usuárias e os usuários, para que tenham

conhecimento sobre todas as alternativas de anticoncepção e possam

participar livre e ativamente da escolha do método, utilizando sempre uma

linguagem adequada ao nível do usuário para que ao final das orientações

tenham compreendido a importância do conhecimento sobre métodos de

anticoncepção.

Para finalizar esta unidade de grande importância para a saúde

reprodutiva da mulher é preciso reforçar que a educação em saúde

pressupõe uma combinação de oportunidades que favoreçam a promoção

da saúde e não somente a transmissão de conteúdos, comportamentos e

hábitos.

Também, a adoção de práticas educativas que busquem, de forma

crítica e reflexiva, considerar as particularidades de cada ser, a troca de

informações e experiências, tanto no âmbito grupal como no individual.

A qualidade da atenção em planejamento familiar tem sido

reconhecida como fator fundamental para o início e a continuidade do uso

do método contraceptivo, especialmente entre mulheres com menor nível

educacional.

A grande variedade de métodos contraceptivos ofertados, juntamente

com a qualidade da comunicação interpessoal e da orientação

proporcionados, precisam estar dentro dos padrões ideais, assegurando a

liberdade de escolha da mulher ou do casal.

Portanto, só o acesso à informação dos métodos não é

suficiente para a segurança de uma gravidez indesejada,

concorda?

Page 7: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Gostaria de dar algumas dicas para quando falarmos nos grupos

educativos ou também quando trabalharmos individualmente com as

mulheres e/ou casal a temática do planejamento familiar:

Ensinar de forma clara e objetiva o uso adequado dos contraceptivos

disponíveis na sua Unidade e descrever com o máximo de exatidão o

método escolhido;

Ressaltar sempre a importância de manter as consultas de

acompanhamento, reforçando para a mulher e/ou casal que elas

podem esclarecer  suas dúvidas;

Reforçar sempre que possível, as vantagens, as desvantagens e as

reações adversas de cada método.

Precisamos recordar:

Durante as práticas educativas para a escolha dos

métodos de contracepção, temos a grande oportunidade de

mostrar à população em idade fértil as vantagens e

desvantagens, contraindicações, benefícios, eficácia,

aceitabilidade desses métodos.

Para tanto, devemos orientar a mulher sobre todos os

métodos adotados pelo Ministério de saúde, para garantir a

escolha livre e esclarecida.

Ao final de cada grupo educativo, você profissional de

enfermagem poderá solicitar à mulher e/ou casal que descrevam

corretamente o uso do método escolhido, para que a usuária possa

expressar qual o método atual de controle da sua natalidade.

Alguns casais passam por problemas de infertilidade, devemos ficar

atentos também para estes casos quando atendemos a mulher e/ou casal

nas Unidades Básicas de Saúde e fazer os encaminhamentos para os

Page 8: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

serviços de referência, para a realização de exames e tratamentos

específicos. É preciso nestes casos uma parcela de solidariedade entre

profissionais de saúde e os usuários demonstrando que eles não estão

sozinhos e que existem vários casais nesta mesma situação.

A infertilidade é definida como a incapacidade de conceber após um

ano  de tentativas consistentes sem usar contraceptivo e pode ser

classificada como primária quando acontece em casais que não tiveram

concepção prévia e secundária, quando ocorre em casais que conceberam

anteriormente.

Durante a realização de grupos educativos – consultas ginecológicas

– podemos estar atentos nos casos em que as mulheres desejam muito

engravidar e possuem histórias como: ciclos menstruais ausentes ou

irregulares, dor durante a relação sexual e cirurgias ginecológicas e/ou

abdominais.

Podemos citar alguns fatores impeditivos:

Envelhecimento - cada vez mais casais adiam a reprodução até os 30

anos ou mais, permitindo que a idade e os processos patológicos

concomitantes afetem a fertilidade;

Fatores ambientais, como as toxinas;

Doenças sexualmente transmissíveis – podem ser responsáveis por

até 20% dos casos de infertilidade;

Dispositivo intra-uterino (DIU) – pode provocar doença inflamatória

pélvica (DIP);

Complicações de gravidez ectópica, aborto ou parto.

Os casais inférteis precisam de comunicação aberta para ajudar a

sentirem-se confiantes e seguros com a equipe de saúde. De modo

compreensível, por questões culturais e tabus, os casais podem se sentir

desconfortáveis quando se discute vida sexual e os horários rígidos

idealizados sobre os dias de pico de fertilidade. Portanto, pode ser um cabo-

Page 9: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

de-guerra emocional para o casal e muitas das vezes para a família.

Finalizando, deixamos uma síntese dos dois documentos

básicos já ressaltados nesta unidade.

Conferência do Cairo (1994)

A Plataforma de Ação do Cairo foi o primeiro documento que a

Organização das Nações Unidas (ONU) selecionou formalmente para

embasar discussão dos direitos reprodutivos e, conseqüentemente, a

necessidade de melhoria da atenção à saúde reprodutiva, bem como de

disseminação de informações nesse campo para que os indivíduos -

homens e mulheres – possam exercer livremente os direitos reprodutivos e

pela nova concepção de saúde reprodutiva que não se preocupa apenas

com o corpo feminino, mas também com a gravidez, o parto e a lactação.

Conferência de Beijing (1995)

Foi a IV Conferência Mundial sobre a Mulher e aprovou a Declaração

de Beijing, sendo a sua Plataforma de Ação a elaboração de um documento

consensual adotado pelos Estados partes, visando à igualdade entre

homens e mulheres no plano da cidadania; bem como o desenvolvimento e

a paz da população feminina. Enfatizou a necessidade de garantia e

autodeterminação; de igualdade e a segurança sexual e reprodutiva das

mulheres para as mulheres.

Os Estados devem esforçar-se para tornar possível o acesso de

todas as pessoas à saúde reprodutiva até o ano de 2015, ou mesmo antes,

por meio do sistema de cuidados primários à saúde. Esses cuidados devem

incluir:

1. Aconselhamento; 2. Informação;3. Educação;4. Comunicação e serviços;5. Educação e serviços para os cuidados seguros no pré-natal,

Page 10: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

parto e período pós-natal, especialmente durante o aleitamento materno;6. Cuidados de saúde materno-infantil;7. Prevenção e tratamento de esterilidade;8. Atenção à saúde nos casos de aborto;9. Tratamento das infecções do trato reprodutivo, das doenças

sexualmente transmissíveis (DST’s) e outros estados de saúde reprodutiva.

Para melhor aprofundamento desta temática não deixem de consultar

a série do MS sobre Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. Essa

publicação é uma cartilha que tem por objetivo oferecer a homens e

mulheres, adolescentes e adultos informações básicas dos métodos

contraceptivos, além de ser um excelente material didático para você

trabalhar o te .3Gostaria de finalizar esta Unidade de Estudo, reforçando

que o Planejamento Familiar envolve questões éticas, físicas, emocionais,

religiosas e legais e que cabe a cada casal ou indivíduo decidir sobre a sua

escolha em relação ao número de filhos.

Nós somos apenas o veículo de informação!

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE. Disponível em:  

  <http://www.ans.gov.br/portalv4/site/home/default.asp#> Acesso em: 18 ago.

2008.

ALVES, Aline Salheb; LOPES, Maria Helena Baena de Moraes. Conhecimento,

atitude e prática do uso de pílula e preservativo entre adolescentes

universitários. Revista Brasileira de Enfermagem. Brasília, v.61, n.2, mar/abri.

2008.

ANTICONCEPÇÃO de Emergência: Conhecimento, Atitudes e Práticas entre

Ginecologistas-Obstetras no Brasil. Disponível em:

<http://www.guttmacher.org/pubs/journals/2702001P.pdf>  Acesso em: 18 ago.

2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos.

Disponíveis em:

<http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/cartilha_direitos_sexuais_2006.pdf>

Acesso em: 18 ago. 2008.

BRASIL. Ministério da Saúde. Lei n. 9.263. Regulamenta o § 7º, do art. 126, da

Constituição Federal, que trata do planejamento familiar. Disponível em:

Page 11: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

<http://www.providafamilia.org.br/doc.php?doc=doc29935> Acesso em: 18 ago.

2008

CONFERÊNCIA MUNDIAL DE POPULAÇÃO E DESENVOVOLVIMENTO, 1994,

Cairo.

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censos Demográficos.

Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/default_censo_2000.shtm>

Acesso em: 18 ago. 2008.

FIGUEIREDO, Nébia Maria Almeida de. Ensinando a Cuidar da Mulher, do

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LAQUEADURA - Esterilização e Reversão. Disponível em:

<http://www.copacabanarunners.net/laqueadura.html > Acesso em: 18 ago. 2008.

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Acesso em: 18 ago. 2008.

IV CONFERÊNCIA MUNDIAL SOBRE A MULHER, 1995, Beijing.

RICCI, Susan Scott. Enfermagem materno-neonatal e saúde da mulher.

Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Disponível em:

<http://www.editoraguanabara.com.br/> Acesso em: 01 jul. 2008.

SOUZA, Kleyde Ventura: TYRREL, Maria Antonieta Rubio. Os fatos & atos

relacionados ao (difícil) exercício dos direitos sexuais e reprodutivos: em

recortes, o processo de viver de um grupo de mulheres de classes populares. Texto

Contexto Enfermagem. Florianópolis, v.16, n.1, Jan./Mar. 2007.

(6081) São considerados métodos contraceptivos de barreira:

 A) temperatura basal, dispositivo intra-uterino, anticoncepcional oral.

 B) billings, camisinha masculina, anticoncepcional injetável.

 C) diafragma, LAM e camisinha feminina.

 D) condon, camisinha feminina, diafragma.

2. (6083) Quais as diferenças fundamentais entre planejamento familiar e controle de

6081

Page 12: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

natalidade?

 

A) O planejamento familiar possibilita a decisão livre e responsável de ter ou não filhos ou

de quando tê-los e o controle de natalidade não é uma decisão do indivíduo, que é

obrigado a obedecer às políticas governamentais de limitação da natalidade.

 

B) O controle de natalidade possibilita a decisão livre e responsável de ter ou não filhos

ou de quando tê-los e o planejamento familiar não é uma decisão do indivíduo, que é

obrigado a obedecer às políticas governamentais de limitação da natalidade.

 

C) Ambos são políticas públicas que não dão ao indivíduo liberdade de escolha, porém

no planejamento é usado para o indivíduo que quer ter filhos e o controle de

natalidade é usado para os indivíduos que não querem filhos.

 D) São conceitos sinônimos, que refletem as decisões governamentais sobre as políticas

de natalidade, abortamento e contracepção.

3. (6079) O dispositivo intra-uterino deverá ser removido em caso de

  A) doença tromboembólica em atividade.

  B) hipertensão arterial grave.

  C) doença inflamatória pélvica em tratamento.

  D) ciclos ovarianos irregulares.

NÚCLEO TEMÁTICO I - UNIDADE DE ESTUDO

3

ACOLHIMENTO À MULHER EM SITUAÇÃO DE

ABORTAMENTO

Caro colega

Entre os desafios com que nos defrontamos no exercício de

nossa profissão está o acolhimento à mulher vítima de aborto e o

estabelecimento de possibilidades  e limites para esse cuidado de

enfermagem. .1

Vamos discutir um pouco sobre tema: Mulheres em

6083

Page 13: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Situação de Abortamento - polêmico tanto no Brasil, como

em outros países.

Sabemos que muitas mulheres vítimas de abortamento

buscam atendimento nas emergências e maternidades. Entretanto, o

aborto é considerado crime previsto no Código Penal Brasileiro – em

nosso país ele só é permitido em duas circunstâncias: no caso de

violência sexual (estupro) ou riscos à vida da mulher (Artigo 128, I e

II do Código Penal).

Além do aspecto legal, a cultura e a religião inibem muitas

mulheres a declararem seus abortamentos, quer seja no ambiente

público ou privado, dificultando o cálculo da sua magnitude.

Muitas vezes, quando buscam o atendimento institucional,

precisam omitir sua real situação por medo de represálias por parte

dos profissionais de saúde, dificultando assim, um diagnóstico

preciso, o que, na maioria das vezes, poderá levar a histerectomia

total.

Você sabe quantas mulheres são vítimas de aborto em

todo o mundo?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), milhões

de mulheres no mundo inteiro colocam em risco sua saúde e muitas

das vezes suas vidas para interromper uma gravidez indesejada. As

últimas estatísticas mostram que, a cada dia são realizados 55.000

abortos inseguros, sendo que 95% ocorrem em países em

desenvolvimento. .1

No Brasil, o aborto é a 4ª causa de morte em mulheres e,

portanto, um grave problema de saúde pública.  Você, como

profissional de saúde,  precisa saber disso. O Painel de Indicadores

do Sistema Único de Saúde (2007) nos informa que 686 mulheres

Page 14: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

são internadas pelo SUS a cada dia, em decorrência de

complicações e que  250.447 foram internadas no ano de 2006,

representando mais de 4 abortos para cada mil mulheres em idade

fértil.

Surpreendente, não?

Sabemos que o aborto é uma das principais causas da

mortalidade materna. Nas regiões mais carentes, como o Norte e o

Nordeste do Brasil, é grande o índice de mortes decorrentes do

aborto inseguro. Desde o início da década de 90, o Ministério da

Saúde (2004) registra que em Salvador a primeira causa da

mortalidade materna é o aborto inseguro. .2

Tendo como referência os indicadores de mortes ligadas à

gravidez, parto, puerpério e aborto, o Ministério da Saúde traçou

como objetivo:

Apoiar profissionais e serviços de saúde; e introduzir novas

abordagens no acolhimento e tratamento com dignidade, com vistas

a estabelecer e consolidar padrões culturais de atenção, com base

nas reais necessidades, buscando assegurar a saúde e a vida.

Temos conhecimento de uma pesquisa realizada pelas

Universidades de Brasília e Federal do Rio de Janeiro coordenada

por Deborah Diniz e sua equipe, que aponta que quatro milhões de

mulheres fizeram aborto no Brasil nos últimos 20 anos:

O levantamento é fruto da análise de todos os estudos científicos

publicados no país sobre o assunto nesse período.  Mostra que são

mulheres de 20 a 29 anos, mais de dois terços já têm filhos e a maior parte

optou pelo aborto como forma de planejamento familiar, já que têm

relacionamento estável e o parceiro costuma participar ativamente da

decisão. (NOSSA VIA).

Page 15: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Observa-se ainda que:

Ao contrário do que reza o senso comum (e o preconceito social),

que imagina a opção do aborto sendo feita por mulheres solteiras, jovens

demais, com múltiplos parceiros e poucas condições financeiras ou

psicológicas para ter um filho, o perfil é quase oposto. (NOSSA VIA).

Lembramos que o momento de hospitalização na vida das

mulheres em processo de abortamento é muito delicado. Nesta

situação, e em especial nos casos de abortamento provocado,

devemos cuidar dos ferimentos físicos e da alma sem fazer

comentários desaprovadores ou desrespeitosos ou mesmo tirar

conclusões precipitadas.

Percebe então, a importância das ações dos

profissionais de saúde e do desafio ao lidar com essas

mulheres?

Sabemos que a mortalidade causada pelo aborto representa

apenas uma pequena parcela do processo. O Ministério da Saúde

aponta dados referentes à hospitalização por abortamento que

confirmam a magnitude desse problema.

É de seu conhecimento que a curetagem pós-abortamento

representa o segundo procedimento obstétrico mais realizado nas

unidades de internação da rede pública de serviços de saúde,

superada apenas pelos partos normais?

Recomendamos que acesse o mais recente documento da

IPAS - uma organização não-governamental internacional que

trabalha há três décadas com o objetivo de reduzir o número de

mortes e danos físicos associados a abortamentos.

Nesse contexto, clique aqui para ler o texto em que Beatriz

Galli e Maria Elvira Vieira de Mello descrevem a morte de uma

Page 16: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

adolescente de 13 anos por complicações pós-curetagem.

Essa leitura vale a pena!

A BIOÉTICA NO ABORTAMENTO

A atenção humanizada às mulheres em situação de

abortamento pressupõe o respeito aos princípios fundamentais da

bioética e, portanto, todos os profissionais de saúde que cuidam

desta clientela precisam conhecê-los e aplicá-los:

a) Autonomia: direito da mulher de decidir sobre as questões

relacionadas ao seu corpo e a sua vida;

b) Beneficência: obrigação ética de se maximizar o benefício

e minimizar o dano (fazer o bem);

c) Não-Maleficência: a ação deve sempre causar o menor

prejuízo à cliente, reduzindo os efeitos adversos ou indesejáveis de

suas ações (não prejudicar);

d) Justiça: o profissional de saúde deve atuar com

imparcialidade, evitando que aspectos sociais, culturais, religiosos,

morais ou outros interfiram na relação com a mulher.

Do que dissemos, até aqui, fica a importância de nosso

atendimento a esses princípios. A garantia prioritária da atenção à

saúde da mulher em caso de abortamento se revela com o

conhecimento e mudanças de atitude em nossas  práticas

profissionais.

O exercício dessas práticas precisa promover a atuação

multiprofissional e, acima de tudo, respeitar a mulher na sua

liberdade, dignidade, autonomia e autoridade moral e ética para

decidir, afastando-nos dos preconceitos, estereótipos e

Page 17: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

discriminações de qualquer natureza, que possam negar e

desumanizar esse atendimento.

Nesse sentido, diante de um caso de abortamento inseguro

convém “Não fazer juízo de valor e não julgar”, uma vez que,

nosso dever como profissionais do cuidado é acolher condignamente

e envidar esforços para garantir a sobrevivência da mulher e não

causar quaisquer transtornos e constrangimentos.

Mas, o que entendemos sobre ACOLHIMENTO?

“Acolher é dar acolhida, admitir, aceitar, dar ouvidos, dar crédito a,

agasalhar, receber, atender, admitir.” (Ferreira, 2001).

O acolhimento, como ato ou efeito de acolher, expressa em

suas várias definições uma ação de aproximação: um “estar com” e

um “estar perto de”, ou seja, uma atitude de inclusão que precisa ser

realizada no âmbito hospitalar com o compromisso e o

reconhecimento de suas diferenças, suas dores e modos de vida.

Todas as mulheres, independentemente de credo, raça,

educação, têm o direito a um tratamento digno e respeitoso, com

escuta atenta e aceitação das diferenças.

Portanto, não realizar pré-julgamentos e imposições de

valores e saber lidar com conflitos e a identificação das

necessidades é o mínimo que a equipe de enfermagem deverá

realizar em casos de mulheres em processo de abortamento.

Para melhor aproveitamento de nossa

unidade de estudo, não deixe de aprofundar

conhecimentos analisando o Manual do MS

intitulado Acolhimento nas Práticas de Produção de

Page 18: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Saúde, disponível em nossa biblioteca on-line.

RESPONSABILIDADE DA EQUIPE EM CASO DE

MULHERES EM PROCESSO DE ABORTAMENTO

1) Respeitar a fala da mulher, lembrando que nem tudo é dito

verbalmente, auxiliando-a a expressar seus sentimentos e elaborar a

experiência vivida, buscando a autoconfiança;

2) Organizar o acesso da mulher, priorizando o atendimento

de acordo com necessidades detectadas;

3) Identificar e avaliar as necessidades e riscos dos agravos à

saúde em cada caso, resolvendo-os, conforme a capacidade técnica

do serviço, ou encaminhando-a para serviços de referência, grupos

de mulheres e organizações não-governamentais (ONG) feministas;

4) Dar encaminhamentos aos problemas apresentados pelas

mulheres, oferecendo soluções possíveis e priorizando o seu bem-

estar e comodidade;

5) Garantir a privacidade no atendimento e a

confidencialidade das informações;

6) Realizar os procedimentos técnicos de forma humanizada

e informando às mulheres  sobre as intervenções necessárias.

ENTENDENDO O PROCESSO DE ABORTAMENTO

O abortamento é o término da gestação, antes do feto ter

atingido a viabilidade (até 20/22 semanas de gestação e peso

inferior a 500g). As etiologias mais comuns para aborto no primeiro

trimestre são anomalias genéticas fetais. Os abortos podem ser

classificados como:

Page 19: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

O aborto espontâneo ocorre geralmente antes da 8ª semana

de idade gestacional devido a causas naturais como óvulo ou

espermatozóides defeituosos, fatores maternos como condições

crônicas, infecções agudas e deficiências nutricionais, anormalidade

nos órgãos reprodutores, incompatibilidade sanguínea,

incompatibilidade istmo-cervical. As causas do aborto espontâneo

são variadas e, com freqüência desconhecidas.

O aborto provocado é a separação deliberada do produto da

concepção (feto, placenta e membranas) do útero, por razões

clínicas (terapêuticas) ou sociais (eletivas).

AS FORMAS CLÍNICAS DO ABORTO

Ameaça de Abortamento Abortamento Inevitável Abortamento Infectado Abortamento Habitual Abortamento Retido Abortamento Eletivo Previsto em Lei.

É muito importante que você conheça os

principais sinais e sintomas das diferentes formas

clínicas de aborto, portanto não deixe de ler o

Manual Técnico do Ministério da Saúde – Parto,

Aborto e Puerpério, disponível em nossa biblioteca on-

line.

É preciso lembrar que, em alguns casos, durante o processo

de abortamento, os  abortos são provocados com o uso de

instrumentos rígidos (tipo agulha de crochê, sondas vesicais, talo de

mamona), o que aumenta a possibilidade de perfuração uterina ou

de fundo de saco e que algumas substâncias químicas instiladas

dentro da cavidade uterina podem provocar necrose miometrial.

Page 20: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Lembramos, também, que a infecção por Clostridium

perfringens pode levar a um quadro de anemia hemolítica fulminante

e insuficiência renal aguda, com a descrição de uma tríade

sintomática clássica: hemoglobinúria, anemia e cianose perioral.

(MS, 2003)

ORIENTAÇÕES GERAIS DO ENFERMEIRO PARA ALTA

HOSPITALAR PARA A MULHER VÍTIMA DE ABORTAMENTO:

Recomendar a comunicação de qualquer sangramento

abundante, profuso, vermelho-claro;

Tranqüilizar quanto à eliminação de uma secreção vaginal

escura e escassa que pode persistir por 2 semanas;

Informar sobre a rotina de higiene pessoal, reinício da

atividade sexual, volta da menstruação e planejamento

reprodutivo. O retorno da atividade sexual pós-abortamento

não complicado pode ocorrer tão logo a mulher assim o

desejar;

Orientar que a fertilidade retornará logo após o procedimento,

de forma que é necessária a orientação de planejamento

familiar e o acesso a métodos contraceptivos;

Agendar retorno para no máximo 15 dias para revisão pós-

abortamento;

Oferecer todos os locais de atendimento de emergência;

Esclarecer complicações como sinais e sintomas de infecções

(odor, febre, calafrios) e hemorragias;

Recomendar a terapêutica prescrita pelo profissional médico –

antibióticos e analgésicos.

Fonte: Deitra Leonard Lowdermilk et all. O cuidado em

enfermagem materna. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Vamos agora recordar alguns dos sinais e sintomas

Page 21: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

que requerem atendimento de emergência.

SINAIS E SINTOMAS QUE REQUEREM ATENDIMENTO DE

EMERGÊNCIA

Cólicas por tempo prolongado; Sangramento prolongado (mais de duas semanas); Sangramento mais abundante do que uma

menstruação normal; Dor intensa ou prolongada; Febre, calafrios ou mal-estar geral; Desmaios.

PLANEJAMENTO REPRODUTIVO PÓS-ABORTO

O Ministério da Saúde em sua norma técnica - Atenção

Humanizada ao Abortamento (MS, 2005) indica que toda a mulher

após processo de abortamento, quer seja espontâneo ou por

decisão pessoal, necessita de cuidado/acompanhamento para

orientá-la sobre sua saúde reprodutiva.

As pesquisas sobre o tema indicam que as mulheres

precisam se proteger de uma nova gravidez até serem

encaminhadas a uma Instituição de Saúde com o objetivo de orientá-

las para a escolha dos métodos contraceptivos.

Vale ressaltar, também, que o atendimento da mulher com

complicações de abortamento só será completo se acompanhado de

orientação sobre anticoncepção e de oferta de métodos no pós-

abortamento imediato.

Por tudo isso, veja o quanto os profissionais de saúde

precisam fazer. Quantas aprendizagens precisam ser

vencidas e mostradas para que se tenha um conhecimento

crítico sobre o tema, você não acha?

Page 22: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Leia com muita atenção o Manual do MS que fala sobre Atenção Humanizada ao Abortamento, disponível em nossa biblioteca on-line.

Já nos encontramos na Unidade de Estudo quando

abordamos à temática Planejamento Familiar, certo? Mas

sempre é bom reforçamos as orientações das  questões do

planejamento reprodutivo pós-abortamento.

ORIENTAÇÃO EM PLANEJAMENTO REPRODUTIVO

Todas as mulheres deverão:

Ser acolhidas e receber orientação anticoncepcional;

Ser Informadas de que a recuperação da fertilidade pode ser

quase imediata;

Informadas reiteradamente que a mulher pode engravidar

caso reinicie sua vida sexual no primeiro mês pós-

abortamento e não esteja protegida por algum método

contraceptivo;

Em caso de indecisão de método, orientar a mulher e se

possível o casal para a utilização de método de barreira como

preservativo, promovendo o conceito de dupla proteção,

contra a gravidez e as infecções de transmissão sexual.

No Brasil, o dispositivo intra-uterino (DIU) com

cobre e os hormonais injetáveis trimestrais ou mensais

têm demonstrado mais eficiência  por não haver o risco

de esquecimento.

OFERTA DE MÉTODOS ANTICONCEPCIONAIS

A literatura especializada nos informa que todos os métodos

devem estar disponíveis nas Instituições de Saúde. É preciso dar

oportunidades às mulheres de iniciar seu uso antes de receber alta

Page 23: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

hospitalar.

Em que pese a obrigatoriedade da orientação e oferta de

métodos contraceptivos, as mulheres devem ter absoluta liberdade

de aceitar ou não os métodos contraceptivos. Quando a mulher

aceita um método, esse pode ser iniciado de imediato.

No caso do DIU, deve-se oferecer a inserção no fim do

esvaziamento uterino (AMIU ou curetagem) nas mulheres sem

nenhum sinal ou suspeita de infecção, na alta hospitalar ou no

retorno ao hospital ou à unidade de saúde dentro dos primeiros 15

dias pós-abortamento ou logo depois da primeira menstruação após

o esvaziamento.

Em se tratando do método injetável mensal ou trimestral,

esse pode ser administrado entre o dia do esvaziamento e o 5º dia

pós-abortamento, da mesma forma que o anticoncepcional hormonal

oral.

Como sabemos, muitas mulheres terão dificuldades em

retornar a Unidade de Saúde dentro destes prazos. É necessário,

portanto, que os métodos estejam disponíveis no

hospital/maternidade que atende o abortamento para que as

mulheres possam iniciar o método escolhido dentro do prazo

recomendado.

ABORTAMENTO ESPONTÂNEO E ORIENTAÇÃO

CONCEPCIONAL

Entendemos que, apesar de ser difícil distinguir se um

abortamento é espontâneo ou provocado, sempre há que se

considerar que a mulher tem direito a opção de ter um filho algum

tempo após o abortamento. Por essa razão, é necessário que a

mulher também receba orientação sobre o planejamento de uma

Page 24: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

nova gravidez.

A completa recuperação da mulher após um abortamento é

relativamente rápida, sendo mais demorada se o abortamento

ocorreu no 2º trimestre da gestação. O retorno das relações sexuais,

pós-abortamento não complicado, pode ocorrer tão logo à mulher

deseje. Portanto, ela deve ser orientada a usar um método

contraceptivo por três meses para então iniciar uma próxima

gravidez em melhores condições físicas e emocionais.

Apesar de toda a visibilidade adquirida em relação ao

atendimento à mulher no ciclo gravídico-puerperal, por forças de Leis

restritivas, muitas ainda recorrem ao aborto clandestino, tendo por

conseqüência mortes maternas.

O Brasil ainda precisa avançar e discutir muito em relação ao

aborto e sua legalidade. Conforme nos fala o Ministro da Saúde, Dr

José Temporão:

...“isso me preocupa muito, porque essa é uma decisão

extremamente grave e muito complexa, que pode afetar muito a vida futura

das pessoas, de homens e mulheres. E não acho que essa seja uma

solução para a questão do planejamento familiar. A solução para a questão

do planejamento familiar é mais informação, mais educação e mais acesso

aos métodos anticoncepcionais”. .4 Complementamos sua fala,

dizendo que a qualidade na atenção ao abortamento e pós-aborto

deve ser compreendida como um conjunto de ações oferecidas à

mulher durante e após a interrupção da gravidez, quer seja

espontâneo ou induzido. Precisa, portanto, garantir mais do que

cuidado: sensibilidade, acolhimento, competência profissional, com

toda tecnologia apropriada, pautando-se no respeito à dignidade e

aos direitos sexuais e reprodutivos.

Page 25: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

(6093) Caracteriza-se abortamento habitual quando ocorrem 3 ou mais abortamentos espontâneos, sendo a sua principal causa

 A) Hipovitamoniose B12.

 B) Cervicite de repetição.

 C) Incompatibilidade istmo-cervical.

 D) Útero bicorno.

2. (6091) Gestante, 19a semana de Idade Gestacional, foi admitida na maternidade com pequeno sangramento vaginal, queixa-se de cólicas espassas. Ao exame gineco-obstétrico apresentou altura uterina compatível com a idade gestacional e colo uterino fechado. Este quadro é denominado abortamento

  A) habitual.

  B) infectado.

  C) evitável.

  D) inevitável.

3. (6089) Segundo o Ministério da Saúde denomina-se abortamento o produto da concepção pesando menos de 500 g e idade gestacional até

  A) 14-16 semanas.

  B) 16-18 semanas.

  C) 18-20 semanas.

  D) 20-22 semanas.

O CUIDADO DO ENFERMEIRO À MULHER VÍTIMA DE

VIOLÊNCIA

Caro colega

Nosso objetivo é instrumentalizar os profissionais de

enfermagem para identificar sinais e sintomas de violência contra a

mulher para o cuidado de enfermagem. Vamos ao desafio?

O 3° milênio traz consigo antigas preocupações das autoridades

sanitárias - índices alarmantes de mortalidade materna e infantil. As mulheres

representam a maioria da população brasileira (57%) e são as maiores

6093

6091

Page 26: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

usuárias do Sistema Único de Saúde em que buscam atendimento gineco-

obstétrico, além de acompanhar seus filhos nos serviços de puericultura.

Entretanto, o direito à saúde, pressuposto básico de cidadania, tem sido

oferecido de modo parcial à grande parte de nossa população feminina.

Quantas mulheres são vítimas de violência quer seja no ambiente

privado ou público e necessitam de cuidado especializado? É neste sentido

que vamos discutir nessa unidade – as diversas formas de violência contra a

mulher, identificando os principais sinais e sintomas e o cuidado de

enfermagem. .1

A violência está presente na nossa história há séculos. Na época da

escravidão, enquanto os negros eram explorados e maltratados pelos seus

senhores, muitas escravas eram violentadas sexualmente pelos homens

brancos. Hoje, o Brasil é considerado um dos países mais violentos do mundo

e a sua causa principal é a má distribuição de renda – ou seja, os ricos cada

vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.

Os avanços da cidadania têm a ver com a riqueza do país e a própria

divisão social. Ao falar de cidadania não se pode defini-la como estanque –

como aprendemos ao longo de nossas vidas: “ser cidadão é ter direito à vida, à

liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei”.

No Brasil, a questão da cidadania enfrenta a segregação da pobreza de

um enorme contingente da população. Curiosamente, somos uma das dez

maiores economias do mundo e, ao mesmo tempo, um dos quatro países com

maior desigualdade social. (PINSKY & PINSKY, 2003:456).

Segundo a socióloga Maria Cecília Minayo, a violência é um fenômeno

que deve ser reconhecido e integrado à área da saúde, pois afeta as condições

de vida, as relações interpessoais e a qualidade de vida da população.

Entretanto, na maioria das vezes, quando a mulher vítima de violência procura

o serviço de saúde para atendimento, em sua maioria, já necessita de

reabilitação física e psicológica. Neste sentido, cabe ao profissional de saúde

Page 27: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

reconhecer este grave problema de saúde pública e desenvolver estratégias

para o cuidado.

Não deixem de ler o artigo desta grande socióloga brasileira Laços

perigosos entre o machismo e a violência.

Portanto, a violência é um problema multifacetado com raízes

biológicas, psicológicas, sociais, ambientais e culturais. Faz-se necessário

confrontarmos simultaneamente esses fatores e adotar medidas para

transformá-la. Uma das primeiras medidas, segundo a Organização

Panamericana de Saúde (OPAS) e Organização Mundial de Saúde (OMS) é

acabar com o descompasso entre o rico e o pobre e garantir um acesso

igualitário aos bens, serviços e oportunidades.

O tema violência contra a mulher é tão amplo, que diversos termos são

usados para designá-la, como: violência intrafamiliar, doméstica e de gênero.

Todo dia, tomamos conhecimento de atos de total violência: doméstica, infantil,

extermínios, seqüestros, assaltos e outras mais. Em se tratando de violência

contra a mulher, estima-se que 25% das mulheres do planeta sofrem algum

tipo de violência de seus maridos/companheiros, uma em cada quatro

mulheres é agredida, física, psicológica e sexualmente, dentro do próprio lar.

Esse fenômeno perpassa sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento,

onde metade das mulheres assassinadas foi morta pelos companheiros.

A violência responde por aproximadamente 7% de todas as mortes de

mulheres entre 15 a 44 anos em todo mundo. Em alguns países como Canadá

e Japão, 69% das mulheres relatam terem sido agredidas fisicamente e 47%

declaram que sua primeira relação sexual foi forçada.  Entretanto, uma

pesquisa do Ibope para o Instituto Patrícia Galvão, perguntando O que a

sociedade pensa sobre a violência contra as mulheres, revelou que 82%

dos entrevistados responderam que “não existe nenhuma situação que

justifique a agressão do homem a sua mulher”. Além disso, 91% dos

entrevistados consideram muito grave o fato de mulheres serem agredidas

por companheiros e maridos. Ao mesmo tempo, prevalece o velho ditado

Page 28: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

que afirma: “em briga de marido e mulher não se mete a colher”, ainda com

boa aceitação, vejam, só, 66%! .1

A violência física e sexual contra a mulher é a que mais chama a

atenção das autoridades públicas e está intimamente ligada às relações de

gênero, que dizem respeito ao poder e à distinção entre as características

culturais. Vem sendo atribuída aos sexos e as suas peculiaridades biológicas

como base de uma constante explicação a respeito da violência do homem

contra a mulher.

O Relatório Mundial sobre Violência e Saúde organizado pela OPAS no

ano de 2003 informa que o fato de as mulheres, em geral, estarem

emocionalmente envolvidas com quem as vitimiza e dependerem

economicamente deles, faz com que elas não denunciem seus companheiros e

passem a ser vítimas passivas. Na verdade, utilizam esta estratégia para

maximizar a sua segurança e a de seus filhos, cedendo aos desejos do

companheiro.

Atualmente, o Modelo Ecológico da OPAS para essa compreensão vem

sendo utilizado por diversos especialistas da área de saúde e cientistas sociais.

Este modelo é dividido em quatro níveis – individual, relacional, comunitário e

social, explicando que nenhum fator é isolado, sendo a violência o resultado de

uma ação recíproca e complexa.A seguir apresentamos diferentes quadros que

possibilitam a visualização do Modelo Ecológico para compreender a violência.

Quadro 1 - Fatores de Risco do Modelo Ecológico da OPAS

 

Primeiro NívelINDIVIDUAL

Identifica os fatores biológicos e a história pessoal que influenciam o comportamento do indivíduo e consideram fatores como a impulsividade, o baixo nível educativo, o abuso de álcool e drogas e os antecedentes de comportamento agressivo e maus tratos como pré-disponentes. É centrado na atenção no indivíduo, em suas características que podem aumentar a probabilidade de ser vítima ou perpetrador de atos de violência.

Page 29: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

 

Segundo NívelRELACIONAL

Discute como as relações sociais aumentam o risco de se converter em vítimas os perpetradores dos atos violentos. São exemplos, os casos onde a violência ocorre no seio familiar, ou entre amigos; em relações que exigem certa interação entre os indivíduos.

 

Terceiro NívelCOMUNITÁRIO

Examina o contexto de toda a comunidade e os que se filiam nas relações sociais, como a escola, o ambiente de trabalho e/ou vizinhança. Identifica as características dos ambientes que possam se associar com o fato de um indivíduo ser vítima ou perpetrador de atos violentos. Exemplifica que em zonas de pobreza ou deterioração física o apoio institucional é ínfimo.

 

Quarto NívelSOCIAL

Examina os fatores sociais gerais que determinam as taxas de violência. Estão incluídos aqui os fatores que criam um clima de aceitação da violência, os que reduzem as inibições contra esta e os que criam e mantém as frestas entre segmentos distintos da sociedade.

 Fonte: OPAS/OMS. Informe Mundial sobre la violência y la salud. Genebra: 2003, p.5.

 

Ao conceituar a violência contra a mulher, concluímos que o termo é

polissêmico e multifacetado. Sua definição varia de pessoa para pessoa e em

cada país ela é expressa de uma determinada forma. Segundo a Convenção

de Belém do Pará, 1995, “a violência contra mulher é toda ação ou conduta,

baseada no gênero, que causa morte, dano físico, sexual ou psicológico, tanto

no âmbito público quanto privado”. .2

Em geral, os casos de violência no Brasil são registrados em situações

policiais, tratando-se, portanto, de casos de violência explícita, facilmente

constatada. Porém, existem casos de violência psicológica, difíceis de serem

percebidas e diagnosticadas, tanto em nível institucional quanto pela própria

vítima. A constante desmoralização do outro, agressão verbal, tortura

psicológica são exemplos emblemáticos. Os efeitos morais da desqualificação

freqüente de uma pessoa, principalmente nas relações familiares, representam

outras formas perversas e cotidianas de abuso, cujos efeitos são tanto ou mais

Page 30: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

perniciosos que qualquer outro, já que podem promover distúrbios graves de

conduta. Na maioria das vezes, sem proteção, a vítima estará cada vez mais

exposta aos atos violentos do agressor.

O delito que faz a mulher procurar uma delegacia especializada com

mais freqüência é a violência sexual, definida como “toda ação na qual uma

pessoa usa a força ou a intimidação psicológica para obrigar uma outra ao ato

sexual contra a sua vontade”. A mulher é submetida a diversas agressões

físicas que comprometem a sua saúde e, geralmente, são ocasionadas pelo

estupro, atentado violento ao pudor, sedução, ato obsceno, rapto ou seqüestro.

Muitas vezes, a mulher considera ser sua obrigação satisfazer a

vontade do marido, companheiro ou namorado, mesmo que ela não queira.

Pelo agravante de ser considerada culpada pela violência sofrida, invertendo

os papéis de vítima e agressor no processo de vitimação. Por isso, a violência

sexual contra a mulher é muito difícil de ser combatida.

Geralmente, a violência psicológica está associada à violência física

e/ou sexual e inclui toda conduta que tem como objetivo diminuir a auto-estima,

ofender, desvalorizar e explorar a vítima. Também a privação arbitrária da

liberdade (proibindo de trabalhar, estudar, de ser vaidosa), além de

constrangimento na rua, controle da autonomia feminina para vedar a essa

mulher um crescimento profissional. O maior problema é que esse tipo de

conduta violenta não é tipificado criminalmente, não possuindo um artigo

específico no Código Penal.

Outra realidade é a violência contra a mulher grávida. Alguns

pesquisadores afirmam que a gestante que sofre violência tem o dobro do

número de abortos espontâneos. As agressões podem levar ao parto

prematuro, ao aborto ou causar malformações no feto. Além disso, a violência

na gravidez acontece por “inveja” da maternidade e por ciúme do homem,

inseguranças e responsabilidade que acarretam brigas do casal, além do novo

interesse da mulher sobre seu corpo e no futuro bebê levando a incapacidade

de enfrentar os fatores estressantes.

Page 31: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

A agressão física, psicológica e sexual pode então ser entendida como

um ciclo de violência que inclui três fases distintas iniciadas em um período de

brigas, gerando alto nível de tensão.

No quadro 2, você analisa as diferentes etapas em busca da

reconciliação.

Quadro 2 - CICLOS DA VIOLÊNCIA

1ª FASE – O Processo de Acúmulo da Tensão Emocional

Geralmente é a mais longa fase, o que leva a tensão entre o casal. O excesso de bebida alcoólica, ciúmes, problemas financeiros ou outros fatores podem levar a xingamentos, atrito, hostilidade. Neste momento, a mulher pode se sentir frágil, acuada e sentir que o parceiro nervoso reage negativamente contra ela. Acaba por levar para si a responsabilidade tentando acalmar o agressor.

2ª FASE – Espancamento Agudo

Caracteriza-se pela explosão de violência onde o agressor perde o controle emocional e físico, período em que a vítima pode ser atacada ou morta. Destaca-se que após o episódio de espancamento, as vítimas se consideram com grande sorte por não ter acontecido nada pior, não importando a gravidade dos ferimentos. Geralmente não procuram assistência médica e legal.

3ª FASE – Reconciliação

Corresponde a um período de calma, amor e comportamento de arrependimento pela dor que causou a sua parceira tentando compensar seu comportamento violento, com posturas diferentes de carinho e conciliação. A vítima acredita na mudança, sente-se em parte culpada pelo incidente e promove o bem-estar do parceiro.

 Fonte: Watts, N. (2004) Screning for domestic violence: a team approach for maternal/newborn nurses. AWHONN Lifelines, 8(3), p. 210-219.

 

RECONHECENDO OS SINAIS E SINTOMAS DE VIOLÊNCIA

CONTRA A MULHER

Os profissionais de enfermagem são importantes na assistência às

mulheres que sofrem de violência. Muitas vezes, pela confiança demonstrada à

Page 32: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

cliente e a sensibilidade do profissional durante as consultas de ginecologia e

de pré-natal é que temos a oportunidade de identificar alguns sinais e

sintomas. Vale lembrar que somos os primeiros profissionais a atender a

mulher nas emergências quando realizam o exame físico. Daí a importância de

reconhecer os sinais e sintomas como fatores de riscos de alerta para a

violência.

Vale destacar: não há um sinal único de violência e sim um conjunto de

sinais objetivos e subjetivos! As intervenções imediatas e o reconhecimento

das lesões reduzem significativamente a morbi-mortalidade nesta parcela da

população.

Alguns sinais de alerta podem ser de grande ajuda para os enfermeiros

no momento da detecção da violência à mulher:

1. Surgimento de ferimentos clássicos que podem ser bem visíveis como:

contusões, cicatrizes de traumas não-penetrantes no rosto, pescoço e

cabeça;

2. Queixas constantes durante a consulta como cefaléia intensa, dor nas

articulações, traumatismo dental, dor pélvica principalmente durante a

palpação, falhas no couro cabeludo, ferimentos nas mamas e/ou

genitália do tipo beliscão e mordida;

3. Queixas de distúrbios do sono, alimentação, utilização de substâncias

psicoativas, estresse, distúrbios gastrintestinais, angústia e dor no peito;

Muitas vezes, a presença do agressor impede o atendimento do

profissional, não permitindo que a mulher responda aos questionamentos que

levem aos sinais de alerta.

O profissional de enfermagem, detectando sinais e sintomas de

violência, deve tentar uma aproximação de confiança com a cliente com

intervenções e aconselhamentos imediatos, além de oferecer referências de

encaminhamentos para continuidade de tratamento.

No quadro 3, apresentamos os principais aspectos psicológicos, físicos

e sexuais de violência:

Page 33: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Quadro 3 – Sinais e Sintomas de Violência a partir do Tipo Violência

Tipo de Violência Sinais e Sintomas

 

Psicológica

insônia, pânico, pesadelos, falta de concentração, irritabilidade, baixa auto-estima, ansiedade, medo, confusão, fobias, auto-reprovação, sentimentos de inferioridade, fracasso, insegurança, culpa, comportamento auto-destrutivo, depressão, tentativas de suicídio.

 

Física

contusões, hematomas, equimoses em várias partes do corpo ou ainda fraturas de ossos da face, costelas, mãos, braços e pernas, dor no baixo ventre ou infecções, transtornos digestivos como inapetência, náuseas, vômitos, cólicas e dores de estômago, perda de peso, cefaléias e mialgias, chutes, socos, tapas, espancamentos, mordidas, estrangulamento, queimaduras.

 Sexual

lesões na mucosa oral, anal e vaginal que envolvem inflamação, irritação, arranhões, edema, perfuração ou ruptura, e também, doenças sexualmente transmissíveis, infecções urinárias, vaginais e gravidez são conseqüências que podem se manifestar posteriormente.

 

Fonte: BRASIL, Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes. Normas e Manuais Técnicos Série Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos – caderno no 6, Ministério da Saúde: Brasília, DF, 2007.

 

Além de estar atento a todas as manifestações que a mulher possa

apresentar, deve-se colher a sua história de vida para saber se ela apresenta

algum dos fatores de risco já descritos.

Não podemos deixar de mencionar também o impacto provocado na

saúde das crianças que presenciam a violência contra suas mães, irmãs, tias

ou vivem em um ambiente hostil regido pelas agressões. Diferentes

especialistas afirmam que as crianças podem apresentar alguns sinais de

sintomas de alerta como: pesadelos, chupar dedo, enurese, ser tímido ou

Page 34: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

agressivo, repetência escolar ou abandono da escola, baixa auto-estima,

dificuldade de concentração, insegurança, medo e ansiedade. As crianças por

muitas vezes apresentam sentimento de culpa, mais extremos que podem levar

a tentativa de suicídio, pois acreditam que sendo bons filhos, irmãos e

sobrinhos podem controlar o estado do agressor. Diante disso, podemos

perceber como uma criança, ao conviver com a violência, fica comprometida

em sua área emocional, cognitiva e comportamental para o resto de sua vida.

CENÁRIOS DO CUIDADO DE ATENDIMENTO À MULHER

O atendimento às mulheres vítimas de violência deve contar com uma

rede multidisciplinar: médicos, enfermeiros, psicólogos, delegados de polícia,

advogados, assistente social, químicos e técnicos em criminalística para que as

mulheres possam ser cuidadas na sua integralidade diminuindo desta forma a

revitimização.

A emergência na sua grande maioria é porta de entrada para as

mulheres vítimas de violência de qualquer natureza. Com isso, o profissional de

saúde que atua neste setor está em local estratégico, onde pode identificá-las a

partir dos sinais e sintomas já descritos. Todos os profissionais precisam estar

capacitados pelas Secretarias de Saúde do Município e do Estado para

poderem encaminhar à mulher vítima de violência a fim de que ela continue o

seu acompanhamento.

Portanto, o papel da rede hospitalar como um todo é fundamental para a

prevenção de reincidências de violência. Desse modo é importante a

sensibilização dos profissionais de saúde para o acompanhamento adequado

dessas mulheres. Elas precisam ser bem acolhidas para que não tenham

receio de denunciar o seu caso.

Os profissionais precisam estar preparados para entender a violência,

também, como um agravo à saúde e não unicamente como um caso policial.

Este entendimento contribui para os problemas de sub-notificação e ocultação

dos casos. Possivelmente, esses problemas advêm do receio dos profissionais

Page 35: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

em denunciar a violência. Receio este, completamente compreensível uma vez

que a legislação não é tão veiculada como deveria acontecer.

Depreende-se, assim, como é fundamental o papel do profissional de

saúde, no combate à violência contra a mulher. É imprescindível a implantação

de um sistema de notificação dentro de emergências, assim como o

treinamento de profissionais capazes de entender a relação de violência e

saúde. É necessário acolher essa mulher e orientá-la, mostrar-se disponível a

ouvi-la e ajudá-la, conhecer a sua história, os riscos potenciais a que ela está

exposta e traçar um plano de emergência. A partir daí fornecer informações

sobre a rede intersetorial que poderá assisti-la, como, por exemplo,

delegacias de defesa da mulher, psicólogos, advogados, Organizações Não-

Governamentais (ONG).

Síntese:

Consideramos que o cuidado integral deve estar baseado em uma ação

articulada e sistematizada. A mulher deve ser assistida psicológica, biológica e

socialmente, ou seja, ela deve ser bem atendida em uma unidade de saúde ou

instituição hospitalar, maternidade, de forma emergencial por todos os

profissionais. É importante que ela seja encaminhada, quando for o seu desejo,

para Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (DEAM), Núcleos

Integrados de Atenção à Mulher (NIAM), abrigos para as mulheres vítimas de

violência, como, por exemplo, no Rio de Janeiro, a Casa Viva Mulher.

Lembramos que as Delegacias de Atendimento à Mulher não são

incumbidas da apuração dos casos de homicídio. Sua atuação se restringe aos

delitos definidos segundo o Código Penal: lesão corporal dolosa, aborto

provocado por terceiros, abandono de incapaz, maus-tratos, constrangimento

ilegal, ameaça, estupro, atentado violento ao pudor, corrupção de menores,

sedução, rapto, seqüestro e cárcere privado. Com a divulgação das leis de

proteção à mulher, vieram à tona todos os tipos de maus-tratos sofridos e

denunciados pelas mulheres e o que surpreendeu foi o número crescente de

procura pelo atendimento.

Page 36: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

As dificuldades enfrentadas pelos serviços públicos, entre eles a falta de

recursos e pessoal, não devem impedir que essas mulheres sejam atendidas

com dignidade. Esperamos que esse olhar crítico sobre a situação contribua de

alguma forma para minimizar os episódios de violência praticada contra a

mulher.

Observamos finalmente que muito embora cada profissão tenha sua

especificidade, toda e qualquer atividade deve ser desenvolvida articulada a

outros saberes.

BASES PARA O CUIDADO À MULHER VÍTIMA DE VIOLÊNCIA

SEXUAL

Devemos como profissionais de enfermagem e até mesmo como

cidadãos, sempre ter em mente que o mais importante nos casos de violência é

reconhecer a percepção que a mulher tem da violência, bem como suprir suas

necessidades imediatas.

No acolhimento à mulher vítima de violência sexual é preciso cumprir as

etapas de atendimento e preenchimento dos registros. O primeiro passo é a

realização do exame físico completo, exame ginecológico, coleta de amostras

para diagnóstico de infecções genitais e coleta de material para identificação

do agressor. A primeira entrevista com a mulher deve atentar para um registro

preciso de alguns dados específicos conforme evidencia o quadro 4.

Quadro 4 – Registro de Encaminhamento

HISTÓRIA DE VIOLÊNCIARegistrar em prontuário:

1. Local, dia, hora aproximada da violência sexual; 2. Tipo de violência sexual sofrida;3. Forma de constrangimento utilizada;4. Tipificação e número de agressores;5. Órgão que realizou o registro

PROVIDÊNCIAS INSTITUÍDAS

Page 37: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Verificar eventuais medidas prévias:

1. Atendimento de emergência em outro serviço de saúde e medidas de proteção realizadas;

2. Realização do Boletim de Ocorrência Policial;3. Realização do exame pericial de Corpo de Delito e Conjunção

carnal;

OBS: O atendimento médico não se vincula ao Boletim de ocorrência e exame pericial.

ACESSO À REDE DE APOIO

Verificar o acesso e a necessidade da mulher às diferentes possibilidades de apoio familiar e social, incluindo-se abrigos de proteção.

Para melhor entendimento das formas de

atendimento à mulher vítima de violência sexual consulte a

Norma Técnica de Prevenção e Tratamento dos Agravos

Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e

Adolescentes (BRASIL, 2007), disponível em nossa biblioteca on-

line.

Para finalizar esta unidade, foi montado um caso clínico de violência

sexual (estupro) e o possível cuidado de enfermagem:

Luz, 25 anos, estudante universitária, moradora da zona

sul do Rio de Janeiro, procurou a emergência próxima de sua

residência muito nervosa, acompanhada de um familiar,

informando que foi atacada por um homem de meia idade.

Vítima de violência sexual (estupro), quando retornava para

casa, após um dia de aula, aproximadamente às 21 horas. O

primeiro exame revelou que a blusa e a calça estavam rasgadas

e a existência de equimoses em algumas partes do corpo

principalmente pescoço e períneo e lesões na região anal e

mucosa vaginal.

Page 38: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Intervenções de Enfermagem – Rotina de Atendimento

 

 

 

1

 

 

 

Acolhimento

Acolher a cliente por todo o tempo, a fim de proporcionar confiança/segurança.

Encorajar as expressões dos sentimentos, sendo uma ouvinte ativa, oferecendo apoio sem julgamentos, dando à mulher condições de descrever o evento.

Explicar a importância dos procedimentos necessários para o exame físico/ginecológico com detalhes, adequando as palavras técnicas.

Facultar, desde que a mulher permita, a presença do acompanhante no momento dos exames.

 

2

 

Exames

Realizar exame físico/ginecológico minucioso e coletar amostras cervicais para obter evidências para os procedimentos médico-legais.

Coletar sangue para provas laboratoriais para detecção de doenças sexualmente transmissíveis (HIV, hepatite, sífilis) e gravidez, segundo protocolo da Instituição.

 

 

 

3

 

 

Cuidados

Cuidar dos ferimentos com o intuito de diminuir os riscos de infecções.

Proporcionar higiene conforme necessário a fim de estimular a auto-estima.

Administrar medicação profilática, conforme protocolo da Instituição, a fim de evitar gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.

 

 

 

4

 

 

Rede de Apoio

Agendar consulta de acompanhamento com o profissional de saúde, a fim de dar continuidade aos tratamentos físicos e apoio psicológico.

Fornecer o número do telefone de aconselhamentos e grupos de apoio da região com a finalidade de ajudar a enfrentar a situação.

Page 39: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

Dar instruções por escrito, relativas às consultas de agendamento, tratamentos e exames.

Apesar de sua magnitude, é raro a violência tornar-se visível, tal como

as altas estatísticas de violência doméstica. Um dos passos a ser dado para

reverter essa situação é conscientizar os profissionais de saúde sobre a

importância do encaminhamento das fichas de notificação e o seu

preenchimento correto, além da obrigatoriedade de atenção para o cuidado à

mulher vítima de violência. É preciso discutir alternativas assistenciais de

acolhimento e propostas eficazes aos casos identificados, não somente

na atenção primária, mas também na secundária e terciária.

Assim, colega, a temática “violência contra a mulher” busca

torná-lo agente multiplicador e não somente “cuidador”.

Na Instituição, cuidamos do corpo físico pautado no modelo biológico,

mas é preciso trabalhar de forma  atrelada à visão antropossocial, com o olhar

do cuidado sensível humanitário que pode deixar marcas na alma.

Para finalizar esta Unidade de Estudo, sugerimos a leitura de um artigo

de reflexão, elaborado pela Socióloga e Antropóloga Maria Cecília Minayo do

Centro Latino Americano Sobre Violência e Saúde (Claves) da Fundação

Osvaldo Cruz (FIOCRUZ/ RJ) –

(6101) A primeira fase do ciclo de violência contra a mulher e caracterizada por

  A) episódio agudo de espancamento.

  B) acúmulo de tensão emocional e agressão verbal.

  C) período de lua de mel que leva a vítima a perdoar.

  D) descontrole físico por parte do companheiro.

2. (6103) Segundo o Ministério da Saúde, a profilaxia do HIV com o uso dos anti-retrovirais para as mulheres vitimas de violência sexual deverá ser mantida obrigatoriamente a terapêutica por

  A) 2 semanas consecutivas.

  B) 4 semanas consecutivas.

6101

Page 40: Cuidado de Enfermagem à Saúde da Mulher à Luz dos Programas Governamentais

  C) 6 semanas consecutivas.

  D) 8 semanas consecutivas.

3. (6099) Segundo o Ministério da Saúde, nas situações de violência sexual (estupro) a profilaxia das doenças sexualmente transmissíveis e a prevenção de uma gravidez indesejada se faz necessária nas primeiras

  A) 24 horas.

  B) 36 horas.

  C) 48 horas.

  D) 72 horas

6103