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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA E DE MATERIAIS FLÁVIO MARCOS DE MELO PEREIRA ESTUDO DA DEGRADAÇÃO DO ÓLEO LUBRIFICANTE EM MOTORES ALIMENTADOS COM BIODIESEL B100 DISSERTAÇÃO CURITIBA 2015

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  • UNIVERSIDADE TECNOLGICA FEDERAL DO PARAN

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA E DE MATERIAIS

    FLVIO MARCOS DE MELO PEREIRA

    ESTUDO DA DEGRADAO DO LEO LUBRIFICANTE EM MOTORES

    ALIMENTADOS COM BIODIESEL B100

    DISSERTAO

    CURITIBA

    2015

  • FLVIO MARCOS DE MELO PEREIRA

    ESTUDO DA DEGRADAO DO LEO LUBRIFICANTE EM MOTORESALIMENTADOS COM BIODIESEL B100

    Dissertao apresentada como requisito parcial

    para a obteno do ttulo de Mestre em Engenha-

    ria, do Programa de Ps-Graduao em Engenha-

    ria Mecnica e de Materiais, rea de Concentra-

    o em Engenharia Trmica, do Departamento

    de Pesquisa e Ps-Graduao, do Cmpus de

    Curitiba, da UTFPR.

    Orientador: Prof. Jos A. A. Velsquez Alegre, Dr.

    CURITIBA

    2015

  • Dados Internacionais de Catalogao na Publicao

    P436e Pereira, Flvio Marcos de Melo

    2015 Estudo da degradao do leo lubrificante em motores

    alimentados com biodiesel B100 / Flvio Marcos de Melo Pereira

    .-- 2015.

    145 f.: il.; 30 cm

    Texto em portugus, com resumo em ingls.

    Dissertao (Mestrado) - Universidade Tecnolgica Federal do

    Paran. Programa de Ps-graduao em Engenharia Mecnica e de

    Materiais, Curitiba, 2015.

    Bibliografia: f. 126-131.

    1. Biodiesel. 2. leos lubrificantes - Biodegradao. 3.

    leos lubrificantes - Viscosidade. 4. Motor diesel - Desempenho.

    5. Desgaste mecnico. 6. leos vegetais como combustvel. 7.

    Impacto ambiental. 8. Transportes coletivos - Curitiba (PR)

    Estudo de casos. 9. Engenharia mecnica - Dissertaes. I.

    Velsquez Alegre, Jos Antnio Andrs, orient. II. Universidade

    Tecnolgica Federal do Paran - Programa de Ps-graduao em

    Engenharia Mecnica e de Materiais. III. Ttulo.

    CDD 22 620.1

    Biblioteca Central da UTFPR, Cmpus Curitiba

  • TERMO DE APROVAO

    FLVIO MARCOS DE MELO PEREIRA

    ESTUDO DA DEGRADAO DO LEO LUBRIFICANTE EM MOTORESALIMENTADOS COM BIODIESEL B100

    Esta Dissertao foi julgada para a obteno do ttulo de Mestre em Engenharia, rea de

    concentrao em Engenharia de Cincias Trmicas e aprovada em sua forma final pelo

    Programa de Ps-Graduao em Engenharia Mecnica e de Materiais.

    Prof. Paulo Csar Borges, Dr.

    Coordenador do Programa

    Banca Examinadora

    Prof. Jos A. A. Velsquez Alegre, Dr. Eng.

    UTFPR

    Prof. Ricardo Diego Torres, PhD.

    PUC-PR

    Prof. Cludio R. vila da Silva Jr, Dr. Eng.

    UTFPR

    Curitiba, 27 maio de 2015

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus por me proporcionar sade e fora para concretizar mais esta etapa de minha

    vida.

    minha querida esposa Glria pelo apoio e incentivo a cada escolha tomada.

    Aos meus queridos filhos Flvio e Camilla por simbolizarem a necessidade das decises

    tomadas.

    Aos meus pais Marina (in memoriam) e Accio, que com gestos e atitudes simples

    indicaram para mim os caminhos da oportunidade na vida.

    Ao meu orientador Prof. Dr. Jos A. A. Velsquez Alegre pela maturidade expressa na

    conduo de sua orientao e simplicidade na transmisso de seus conhecimentos.

    Ao Professor Jorge Luiz de S Riechi pelo incentivo e auxlio no step inicial deste

    trabalho.

    Aos meus amigos: Jairo Lavarda e Leon Peres pelo companheirismo e amizade, que

    contribuem com o meu crescimento de diferentes maneiras.

    Auto Viao Redentor Ltda, em especial aos colaboradores Jos Carlos Travain e

    Ricardo Alexandre Magalhes de Abreu.

    Chevron do Brasil lubrificantes Ltda., em especial ao colaborador Silvio Riolfi Junior.

    Nrdica Veculos S.A., em especial ao colaborador Valdecir de Oliveira.

    URBS - Urbanizao de Curitiba S.A., em especial ao colaborador Elcio karas.

    Volvo do Brasil Ltda., em especial aos colaboradores Andr Klostermann, Juscelino A.

    Teixeira e Lus Ronconi.

    Meus agradecimentos tambm a todos os colegas de trabalho da AGERGS, familiares,

    amigos e alunos que, de alguma forma, contriburam e torceram pela concluso deste

    trabalho.

  • RESUMO

    A crescente preocupao com a poluio ambiental nos centros urbanos tem motivado

    a adoo de medidas que visam a reduzir o impacto que os agentes poluidores causam.

    Na cidade de Curitiba, PR, esta preocupao levou os rgos reguladores do transporte

    urbano a fomentar o uso do biodiesel B100 como combustvel para um conjunto de 34

    nibus da frota da cidade. Entretanto, a adoo desta medida trouxe a necessidade de

    garantir a vida til dos motores, o que foi feito definindo-se um plano de manuteno

    muito mais conservador que o usual, e que previa a troca do leo lubrificante com o

    dobro da frequncia normalmente praticada. A proposta deste trabalho de mestrado foi

    a de fazer um estudo que possa subsidiar cientificamente a definio da frequncia de

    troca do lubrificante nos veculos abastecidos com biodiesel B100 no transporte urbano

    de Curitiba. Para isto, ao longo de um perodo de 18 meses, o lubrificante desses veculos

    foi periodicamente analisado, a fim de caracterizar a evoluo de seu estado, bem como

    a degradao de seu desempenho pelo o uso em conjunto com o biodiesel B100. Para

    obter uma representatividade estatstica, tais anlises foram feitas em uma populao de

    sete veculos, quatro dos quais eram alimentados com biodiesel B100 e trs com leo

    diesel convencional, sendo que estes ltimos serviam como referncia para comparao.

    As caractersticas do lubrificante que foram levadas em conta durante o estudo incluem a

    viscosidade, a basicidade, a acidez, a oxidao, a contaminao por fuligem, a contaminao

    por compostos nitrogenados, a contaminao por gua, bem como os teores de ferro,

    chumbo, alumnio, cobre, cromo, silcio e molibdnio, elementos estes que tipicamente

    provm do desgaste de componentes do motor. O estudo permitiu identificar a viscosidade

    como a caracterstica que mais se degrada com o envelhecimento do lubrificante pelo seu

    uso concomitante com o combustvel B100. Assim, este parmetro foi o fator determinante

    para caracterizar, com base nos resultados obtidos no estudo, que a vida til do lubrificante

    deve ser de 9.900 km para o caso de veculos biarticulados, e de 13.100 km para os veculos

    articulados. Cumpre ressaltar que a realizao deste estudo s foi possvel pelo interesse

    e pela colaborao das empresas que juntamente com a UTFPR fizeram parte do projeto

    LUB-B100: Chevron Brasil Lubrificantes (fabricante de leos lubrificantes), Volvo do Brasil

    (montadora de nibus), Auto Viao Redentor (permissionria do transporte urbano de

    Curitiba), Nrdica Veculos S. A. (concessionria de veculos) e URBS Urbanizao de

    Curitiba S. A. (fiscalizadora e reguladora do transporte urbano coletivo de Curitiba).

    Palavras-chave: Biodiesel B100; Degradao do leo lubrificante em motores diesel; An-

    lise do desempenho de lubrificantes para motores; Vida til do lubrificante para motores.

  • ABSTRACTA STUDY OF LUBRICANT OIL DEGRADATION IN ENGINES FUELED WITH BIODIESEL

    B100.

    The increasing levels of pollution in urban centers have induced the adoption of mitigating

    measures in order to reduce negative consequences. In Curitiba, Southern Brazil, the office

    that regulates urban passenger transport in the city has promoted the use of pure biodiesel

    (B100) as fuel for a fleet of 34 buses. However, as this measure was put into practice,

    concerns related to a possible reduction of engine service life were raised, thus forcing

    the vehicles-owner companies to adopt a conservative maintenance plan, which doubled

    the frequency of lubricant oil replacement. This was the opportunity for the present study,

    which aimed to define on a scientific basis the frequency of lubricant oil replacement in

    engines fueled with biodiesel B100. In order to characterize both the evolution of lubricant oil

    degradation, as well as the deterioration of lubricant performance due to the use of biodiesel

    B100, samples of engine lubricant were collected and analyzed along 18 months. Additionally,

    aiming to confer statistical representativeness to collected data, a population of 7 buses was

    considered, four of these being fueled with biodiesel B100, while the other 3 with conventional

    diesel fuel, thus the latter group served as a reference for comparisons. The following

    parameters of the lubricant oil were measured and analyzed: viscosity, basicity, acidity,

    oxidation, contamination by soot, contamination by nitrogenous substances, contamination by

    water, as well as contents of iron, lead, aluminum, copper, chrome, silicon and molybdenum,

    which are elements typically originated from the wear of metallic components. The conducted

    study allowed to point out the viscosity as the lubricant parameter that is most sensitive to

    concomitant use with biodiesel B100. Thus, this parameter was decisive to conclude that

    based on measured data the service life of the lubricant should be 9900 km for bi-articulated

    buses, and 13100 km for the articulated ones. It is worth mentioning that the completion of

    this study became possible by virtue of the collaboration with those companies that took part

    of the project named LUB-B100, together with the Federal University of Technology - Parana.

    These companies are Chevron Brasil Lubrificantes (a lubricant maker company), Volvo do

    Brasil (a bus manufacturer company), Auto Viao Redentor (a company that operates the

    passenger urban transport in Curitiba), Nrdica Veculos S. A. (a Volvo dealership company)

    and URBS Urbanizao de Curitiba S. A. (the office that regulates the urban passenger

    transport in Curitiba).

    Key-words: Biodiesel B100; Lubricant degradation in diesel engines; Analysis of lubricant

    performance in diesel engines.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 2.1 Reao de transesterificao do biodiesel. . . . . . . . . . . . . . . . . 25

    Figura 2.2 Emisses mdias do impacto do biodiesel para motores de servio pe-

    sado em rodovias, em comparao ao diesel. . . . . . . . . . . . . . . . 33

    Figura 3.1 Coeficiente de atrito vs. parmetro de filme e regimes de lubrificao. . . 41

    Figura 3.2 Os tipos de lubrificao encontradas em vrias partes de um motor. . . 42

    Figura 3.3 A origem dos diferentes leos bsicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

    Figura 3.4 Representao esquemtica de um fludo separando duas superfcies. . 54

    Figura 3.5 Curvas lineares e duplas logartmicas da relao viscosidade-temperatura

    Ubbelohde-Walther . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    Figura 3.6 Viscosidade temperatura (ASTM D341) . . . . . . . . . . . . . . . . . 57Figura 3.7 Representao do indicador de viscosidade (IV). . . . . . . . . . . . . . 58

    Figura 3.8 Variao linearizada da viscosidade com a temperatura para trs leos

    lubrificantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59

    Figura 3.9 Equivalncia aproximadas de viscosidade cinemtica e Saybolt de lubrifi-

    cantes industriais e automotivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69

    Figura 3.10Motores de ignio por compresso 4 tempos. . . . . . . . . . . . . . . 71

    Figura 3.11Combusto e contaminantes do leo lubrificante. . . . . . . . . . . . . . 71

    Figura 3.12Produo de borras na tampa de vlvulas. . . . . . . . . . . . . . . . . 72

    Figura 3.13Depsitos de pisto e travamento de anis. . . . . . . . . . . . . . . . . 73

    Figura 3.14Problemas do motor relacionado a seu sistema de lubrificao. . . . . . 74

    Figura 4.1 Percurso das linhas de nibus pela cidade de Curitiba. . . . . . . . . . . 79

    Figura 4.2 Etiqueta para rtulo da amostra coletada. . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

    Figura 4.3 Frasco para coleta de amostra com tampa adicional. . . . . . . . . . . . 85

    Figura 4.4 Conjunto Frasco, mangueira e bomba de suco para coleta de amostra

    de leo lubrificante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85

    Figura 4.5 Etiqueta de identificao da amostra. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

    Figura 4.6 Amostra de leo lubrificante identificada. . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

    Figura 4.7 Planilha de acompanhamento de coletas. . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

    Figura 4.8 Lubrificador preenchendo planilha de acompanhamento de coleta. . . . 87

    Figura 4.9 Viscosmetro capilar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    Figura 4.10Espectros gerais de leo lubrificante novo e usado. . . . . . . . . . . . . 92

    Figura 4.11Principio de funcionamento do RDE-AES. . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

    Figura 5.1 Mdia de fuligem encontrada em leos lubrificantes. . . . . . . . . . . . 101

    Figura 5.2 Mdia da anlise da viscosidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102

    Figura 5.3 Mdias de TAN e TBN na anlise do leo lubrificante. . . . . . . . . . . 103

  • Figura 5.4 Mdia da formao de nitratos no leo lubrificante. . . . . . . . . . . . . 104

    Figura 5.5 Mdia da oxidao do leo lubrificante. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

    Figura 5.6 Mdia do teor de ferro encontrado no leo lubrificante. . . . . . . . . . . 106

    Figura 5.7 Mdia do teor de cobre encontrado no leo lubrificante. . . . . . . . . . 107

    Figura 5.8 Mdia do teor de chumbo no leo lubrificante. . . . . . . . . . . . . . . 108

    Figura 5.9 Mdia do teor de silcio nas amostras de leo. . . . . . . . . . . . . . . 108

    Figura 5.10Mdia do teor de alumnio no leo lubrificante. . . . . . . . . . . . . . . 109

    Figura 5.11Mdia do teor de cromo encontrada nas amostras de leo. . . . . . . . 110

    Figura 5.12Mdia do teor de molibdnio encontrado nas amostras de leo. . . . . . 110

    Figura 5.13Valores mdios de contaminao e degradao do leo do ciclo estendido

    e normal para veculos biarticulados B100. . . . . . . . . . . . . . . . 112

    Figura 5.14Valores mdios de elementos de desgaste do leo do ciclo estendido e

    normal para veculos biarticulados B100. . . . . . . . . . . . . . . . . 113

    Figura 5.15Valores mdios de contaminao e degradao do leo do ciclo estendido

    e normal para veculos articulados - B100. . . . . . . . . . . . . . . . . 114

    Figura 5.16Valores mdios de elementos de desgaste do leo do ciclo estendido e

    normal para veculos articulados - B100. . . . . . . . . . . . . . . . . . 115

    Figura 5.17Veculo HE701 durante inspeo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

    Figura 5.18Viso geral do cabeote do motor do veculo HE701. . . . . . . . . . . . 119

    Figura 5.19(a) roletes do comando de vlvulas; (b) engrenagem do comando de

    vlvulas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

    Figura 5.20Vlvulas e injetores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

    Figura 5.21Tampa do crter do motor. Pequena quantidade de fuligem acumulada

    no lado direito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

    Figura 5.22Virabrequim e parte das bielas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

    Figura 5.23Vista inferior do pisto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

    Figura 5.24Linearizao e projeo da tendncia de valores de (a) TBN e de (b)

    viscosidade 100C nos veculos articulados abastecidos com biodiesel. . 122

    Figura 5.25Linearizao e projeo da tendncia de valores de elementos de des-

    gaste nos veculos articulados abastecidos com biodiesel. . . . . . . . . 122

    Figura 5.26Linearizao e projeo da tendncia de valores de (a) TBN e de (b)

    viscosidade 100C nos veculos biarticulados abastecidos com biodiesel. 123

    Figura 5.27Linearizao e projeo da tendncia de valores de elementos de des-

    gaste nos veculos biarticulados abastecidos com biodiesel. . . . . . . . 123

    Figura 5.28Linearizao e projeo da tendncia de valores de viscosidade a 100oC

    para os veculos abastecidos a biodiesel. . . . . . . . . . . . . . . . . . 124

    Figura A.1 Representao de curva de distribuio F . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 2.1 Resumo dos problemas conhecidos do uso direto de leos vegetais como

    combustvel em motor diesel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    Tabela 2.2 Especificao do Biodiesel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

    Tabela 2.3 Anlise comparativa entre o diesel e o biodiesel. . . . . . . . . . . . . . 27

    Tabela 3.1 Principais propriedades dos leos bsicos. . . . . . . . . . . . . . . . . 46

    Tabela 3.2 Tipos de leos base. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47

    Tabela 3.3 Classificao e propriedades dos leos bsicos (API e ATIEL) . . . . . 47

    Tabela 3.4 Composio tpica dos lubrificantes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51

    Tabela 3.5 Propriedades de grande importncia dos lubrificantes para vrias aplica-

    es. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52

    Tabela 3.6 Efeito dos aditivos sobre diferentes propriedades dos leos bsicos. . . 53

    Tabela 3.7 Caractersticas da relao viscosidade-temperatura de diferentes leos. 59

    Tabela 3.8 Especificaes de leos parafnicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63

    Tabela 3.9 Classificao API dos leos lubrificantes para motores gasolina . . . . 64

    Tabela 3.10Classificao API dos leos lubrificantes para motores diesel . . . . . 65

    Tabela 3.11Graus de viscosidade SAE para leos de motor. . . . . . . . . . . . . . 68

    Tabela 4.1 Caractersticas tcnicas dos nibus utilizados nos ensaios. . . . . . . . 77

    Tabela 4.2 Veculos identificados e respectivas quilometragens. . . . . . . . . . . . 78

    Tabela 4.3 Caracterizao do biodiesel B100. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

    Tabela 4.4 Boletim de conformidade do leo diesel B S10. . . . . . . . . . . . . . . 81

    Tabela 4.5 Anlise de amostra de leo sem uso. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82

    Tabela 4.6 Coleta de leo projeto LUB B100. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

    Tabela 4.7 Faixas do nmero de comprimento de onda em que os contaminantes

    absorvem luz infravermelha. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91

    Tabela 4.8 Indicao de origem/causa desgaste no motor e concentraes limites

    encontradas na anlise leo lubrificante . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

    Tabela 4.9 Ensaios de leo lubrificante usado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

    Tabela 4.10Equipamentos para anlise de leos lubrificantes. . . . . . . . . . . . . 98

    Tabela 5.1 Coletas realizadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100

    Tabela 5.2 Consumo mdio de combustvel dos veculos monitorados. . . . . . . . 116

    Tabela 5.3 Limites de degradao e de elementos de desgaste do leo lubrificante. 121

    Tabela A.1 Resumo dos parmetros da ANOVA. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134

    Tabela A.2 Nmero de amostras, mdias e varincia para viscosidade a 100C, TBN

    e TAN resultantes da anlise do leo usado. . . . . . . . . . . . . . . . 136

    Tabela A.3 Nmero de amostras, mdias e varincia para oxidao, nitrao e fuli-

    gem resultantes da anlise do leo usado. . . . . . . . . . . . . . . . . 137

  • Tabela A.4 Nmero de amostras, mdias e varincia para alumnio, chumbo e cobre

    resultantes da anlise do leo usado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138

    Tabela A.5 Nmero de amostras, mdias e varincia para cromo e ferro resultantes

    da anlise do leo usado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

    Tabela A.6 Nmero de amostras, mdias e varincia para molibdnio e silcio resul-

    tantes da anlise do leo usado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140

    Tabela A.7 Resultados da ANOVA para o ciclo inicial para elementos de desgaste. . 141

    Tabela A.8 Resultados da ANOVA para ciclo inicial para parmetros de degradao

    e contaminao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

    Tabela A.9 Resultados da ANOVA para o ciclo estendido dos veculos abastecidos

    com biodiesel, para elementos de desgaste. . . . . . . . . . . . . . . . 143

    Tabela A.10Resultados da ANOVA para o ciclo estendido dos veculos abastecidos

    com biodiesel, para degradao e contaminao. . . . . . . . . . . . . 144

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ANFAVEA Associao Nacional dos Fabricantes de Veculos Automotores

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AES Espectroscopia de Emisso Atmica

    AGMA American Gear Manufacturers Association

    AAM Alliance of Automobile Manufacturers

    ANP Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Biocombustveis

    APROBIO Associao dos Produtores de Biodiesel do Brasil

    API American Petroleum Institute

    ASTM American Society for Testing and Materials

    ASR Acceleration Slip Regulation

    ATIEL Association Technique de LIndustrie Europenne des Lubrifiants

    B100 Biodiesel puro

    B100P Biodiesel de leo de palma

    B100SAS Biodiesel de soja, algodo e sebo, nas propores de 70%, 20% e 10%,

    respectivamente

    BX Diesel com X% de volume de biodiesel em sua composio.

    B/d Barris por dia

    BEA2 Bus Electronic Architecture

    CCD Charge Coupled Device

    CCS Cold Crancking Simulator

    Cofins Contribuio para o Financiamento da Seguridade Social

    CG Cromatgrafo Gasoso

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CVT Constante de viscosidade-temperatura

  • DIN Deutsches Institut fr Normung

    EMA Engine Manufacturers Association

    EU European Union

    FAME Fatty Acid Methyl Ester

    FETRANSPOR Federao das Empresas do Transporte de Passageiros do Estado

    do Rio de Janeiro

    FTIR Fourier Transformed Infra Red

    GTL Gas-to-liquid

    HC Hidrocarbonetos Totais

    HVO Hydrotreated Vegetable Oil

    ICC ndice de consumo de combustvel

    ICP Inductively Coupled Plasma

    ILSAC International Lubricant Specification Advisory Committee

    ISO International Organization for Standardization

    IV ndice de viscosidade

    LOME Linseed Oil Methil Ester

    MP Material Particulado

    MRV Mini-rotary Viscometer

    NC Nmero de cetano

    NBR Normas Brasileira Registradas

    OLUC leo usado ou contaminado

    OPEP Organizao dos Pases Exportadores de Petrleo

    Pasep Programa de Formao do Patrimnio do Servidor Pblico

    PAO Polialfaolefinas

    PIS Programa de Integrao Social

    PIO Poli-interma-olefina

  • PBS leo Parafnico Bright Stock

    PNL leo Parafnico Neutro Leve

    PNM leo Parafnico Neutro Mdio

    PNP leo Parafnico Neutro Pesado

    PROCONVE Programa de Controle da Poluio do Ar por Veculos Automotores

    RDE AES Rotating Disc Electrode Atom Emission Spectrometry

    RMC Regio Metropolitana de Curitiba

    RME Rapeseed Methyl Ester

    SAE Society of Automotive Engineers

    SETI/PR Secretaria de Cincia, Tecnologia e Ensino Superior do Estado do Paran

    SIMEA Simpsio Internacional de Engenharia Automotiva

    SME Soybean methyl ester

    SUS Saybolt Universal Seconds

    TAN Total Acid Number

    TBN Total Base Number

    TECPAR Instituto de Tecnologia do Paran

    UFPR Universidade Federal do Paran

    URBS Urbanizao de Curitiba S.A.

    VT Viscosidade-temperatura

    VHVI Very high viscosity index

    XRF X-Ray fluorescence

    ZDDP Dialquilditiofosfatos de zinco

  • LISTA DE SMBOLOS

    A rea [m]

    C Constante []

    F Fora [N ]

    h Espessura [m]

    K Constante []

    R Rugosidade [mm]

    T Temperatura [mm]

    u Velocidade [m/s]

    Letras gregas

    Tenso de cisalhamento [Pa]

    Viscosidade dinmica [Pa.s]

    Densidade [kg/m3]

    Viscosidade dinmica [Pa.s]

    Viscosidade cinemtica [m2/s]

    Parmetro de filme []

    Subscritos

    ( )A Superfcie A

    ( )B Superfcie B

  • SUMRIO

    1 INTRODUO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

    1.1 Objetivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

    1.2 Organizao do trabalho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22

    2 BIODIESEL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    2.1 Vantagens da utilizao do Biodiesel . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27

    2.2 Propriedades e caractersticas do biodiesel . . . . . . . . . . . . . . 28

    2.3 Alguns trabalhos sobre utilizao de biocombustveis . . . . . . . . 31

    3 LEO LUBRIFICANTE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    3.1 Degradao dos componentes mecnicos . . . . . . . . . . . . . . . 39

    3.1.1 Atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    3.1.2 Desgaste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    3.1.3 Taxa de desgaste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

    3.1.4 Regimes de lubrificao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

    3.1.5 Funes dos leos lubrificantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42

    3.2 Constituintes dos leos Lubrificantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    3.2.1 leos Bsicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

    3.2.2 Aditivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

    3.3 Propriedades dos leos lubrificantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

    3.3.1 Cor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

    3.3.2 Viscosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

    3.3.2.1 Viscosidade dinmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54

    3.3.2.2 Viscosidade cinemtica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    3.3.3 Relao da viscosidade e temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    3.3.3.1 Grficos ASTM D341 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    3.3.3.2 CVT . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56

    3.3.3.3 ndice de Viscosidade (IV) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

    3.3.3.4 Medio de viscosidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    3.3.3.5 Ponto de fulgor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    3.3.3.6 Ponto de Fluidez . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60

    3.3.3.7 ndice de Acidez Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    3.3.3.8 ndice de Basicidade Total . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    3.3.3.9 Cinzas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

    3.3.3.10 Resduo de carbono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

  • 3.3.3.11 Corrosividade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

    3.3.3.12 Estabilidade oxidao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

    3.3.3.13 Emulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

    3.3.3.14 Evaporao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62

    3.3.3.15 Caractersticas e tipos de ensaios de leos bsicos parafnicos da ANP . . . . . . . 62

    3.3.4 Classificao dos leos lubrificantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

    3.3.4.1 Classificao API . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

    3.3.4.2 Classificao SAE . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67

    3.4 Desgaste de componentes do motor . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70

    3.5 Interaes lubrificantes e componentes do motor . . . . . . . . . . . 74

    4 ORGANIZAO E METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76

    4.1 Caracterizao dos veculos monitorados . . . . . . . . . . . . . . . 76

    4.2 Caracterizao do combustvel utilizado . . . . . . . . . . . . . . . . 79

    4.2.1 Caracterizao do leo lubrificante utilizado e frequncia de troca de leo 81

    4.2.2 Mtodo de coleta de amostras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84

    4.3 Anlise de leo usado do motor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

    4.3.1 Ensaios realizados em leos lubrificantes usados . . . . . . . . . . . . . 88

    4.3.1.1 Avaliao do estado do leo lubrificante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88

    4.3.1.2 Verificao do leo lubrificante para predio das condies do motor . . . . . . . . 93

    4.3.2 Interpretao dos resultados e consideraes . . . . . . . . . . . . . . . 94

    5 ANLISES E DISCUSSO DOS RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . 99

    5.1 Apresentao dos resultados para o ciclo inicial . . . . . . . . . . . 100

    5.1.1 Resultados da anlise dos contaminantes e da degradao do leo lubrifi-

    cante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

    5.1.2 Resultados dos elementos de desgaste presentes nas amostras de leo

    lubrificante . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105

    5.2 Apresentao dos resultados para o ciclo estendido . . . . . . . . . 111

    5.2.1 Resultados da anlise dos contaminantes, da degradao e dos elementos

    de desgaste presentes no leo lubrificante para os veculos biarticulados

    abastecidos com B100 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

    5.2.2 Resultados da anlise dos contaminantes, da degradao e dos elementos

    de desgaste presentes no leo lubrificante para os veculos articulados

    abastecidos com B100. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112

    5.3 Consumo de combustvel e manuteno dos veculos abastecidos

    com biodiesel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

    5.3.1 Consumo de combustvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116

    5.3.2 Aspectos importantes da manuteno dos veculos abastecidos com

    biodiesel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117

  • 5.3.3 Inspeo visual do motor de veculo abastecido com biodiesel . . . . . . 117

    5.4 Projeo dos resultados para troca de carga de leo dos veculos

    B100 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120

    6 CONSIDERAES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

    6.1 Sugestes para trabalhos futuros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126

    REFERNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127

    APNDICE A ANOVA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133

    A.1 Teste ANOVA para o ciclo inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

    A.2 Teste ANOVA para ciclo estendido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142

    ANEXO A RELATRIO DE ENSAIO 051/2014 . . . . . . . . . . . . 145

  • 18

    1 INTRODUO

    O consumo anual de energia no mundo cresceu, em mdia, 2, 5% nos ltimos 10 anos,

    sendo que em 2013 o crescimento comparado a 2012 foi de 2, 31%. Neste perodo, a

    quota-parte do petrleo caiu continuamente, mas ainda representa a maior fonte primria

    de energia utilizada, por outro lado o consumo de energia de fontes renovveis cresce

    rapidamente, mas em pequena base. A China vem reduzindo seu consumo de energia a

    cada ano que passa, mas ainda o pas que mais consome energia no mundo, importando

    58% do petrleo e 30% do gs que utiliza. Estados Unidos, ndia, Alemanha e Brasil vm

    em seguida na lista dos maiores consumidores de energia do mundo (BP, 2014)1.

    Nos pargrafos a seguir apresentada uma perspectiva panormica sobre as questes

    mais importantes que motivam a busca, o desenvolvimento e a utilizao de novas fontes

    de combustveis. As consideraes que sero aqui apresentadas servem como justificativa

    para a realizao deste trabalho de mestrado.

    Ao final de 2013, o mundo possua reservas comprovadas de 1.687, 9 bilhes de barris

    de petrleo, suficientes para 53,3 anos de produo, considerando o nvel de produo

    daquele ano que foi 86, 754 milhes de B/d (barris por dia). Os pases membros da OPEP

    continuam a deter a maioria das reservas, o que representa 71, 9% do total global. No Brasil

    as reservas comprovadas de 15, 6 bilhes de barris seriam suficientes para satisfazer a

    demanda do pas por 20,2 anos. Os Estados Unidos e a Unio Europeia esto em posio

    mais crtica, pois suas reservas para consumo, sem importao, durariam 12,1 e 13 anos

    respectivamente (BP, 2014).

    Preocupados com a depleo das reservas de petrleo, em junho de 2004, os delegados

    de 154 pases reuniram-se em Bonn, Alemanha para a primeira conferncia internacional

    sobre energias renovveis, organizada por um governo. Nessa conferncia ficou claro que

    as percepes globais em relao s energias renovveis se modificaram e que hoje elas

    so vistas como ferramenta para tratar necessidades como (REN21, 2014)2:

    a) A melhoria da segurana energtica;

    b) A reduo dos impactos na sade e no meio ambiente associados aos combustveis

    fsseis e energia nuclear;

    c) A mitigao das emisses dos gases de efeito estufa;

    d) A melhoria das oportunidades educacionais;1 A BP Statistical Review of World Energy fornece dados sobre os mercados mundiais de energia2 A REN21 uma rede internacional, multisetorial, que rene governos, organizaes no governamentais,

    de pesquisa e instituies acadmicas, organizaes internacionais e da indstria, cujo objetivo facilitar atroca de conhecimentos, desenvolvimento de polticas e ao conjunta no sentido de uma transio globalrpida para energia renovvel. A REN21 auxilia a tomada de deciso poltica atravs do fornecimentode informaes, catalisando discusses e debates e apoiando a expanso das energias renovveis nomundo.

  • Captulo 1. Introduo 19

    e) A criao de postos de trabalho;

    f) A reduo da pobreza.

    Em 2012 os combustveis fsseis representaram 78, 4% do consumo global de energia

    (na sua forma final) e, embora esta participao venha sendo reduzida ao longo dos ltimos

    anos, esses combustveis ainda respondem pela maior parcela do consumo de energia final.

    Por outro lado, a energia renovvel representa 19% do consumo mundial de energia final e

    esta parcela vem crescendo rapidamente ano aps ano (REN21, 2014). O Brasil tem uma

    participao relevante nesta estatstica, sendo que em 2013 o pas produziu 24, 3% de todo

    o biocombustvel do mundo, ficando atrs somente dos Estados Unidos (BP, 2014).

    Em 2013, o consumo e a produo globais de biocombustveis aumentaram 7% em

    relao ao ano anterior, atingindo a marca de 116, 6 bilhes de litros. A produo de biodiesel

    no mundo cresceu a uma taxa mdia de 11% entre 2008 e 2013, alcanando o volume de

    26, 3 bilhes de litros em 2013. Desse total, o Brasil respondeu por 2, 9 bilhes de litros,

    aparecendo como o terceiro maior produtor de biodiesel, atrs dos Estados Unidos e da

    Alemanha (REN21, 2014).

    O Brasil apresenta algumas caractersticas que favorecem expanso de sua oferta de

    biocombustveis. Uma delas refere-se ao fato de ter um enorme contingente de empregados

    atuando direta ou indiretamente na indstria de biocombustveis, sendo que em 2012, eram

    820.000 pessoas, de um total de 1.453.000 empregados nesta indstria no mundo inteiro. O

    contingente brasileiro inclui 33.000 postos de trabalho no plantio da cana-de-acar, 208.000

    no processamento de etanol, 200.000 na fabricao de equipamentos para a produo de

    biocombustveis, 81.800 na produo do biodiesel, entre outros. Alm disso, de acordo com

    o relatrio REN21 (2014), o Brasil o pas que mais investe na Amrica Latina em energias

    renovveis, tendo alcanado em 2013 a marca de US$ 3, 1 bilhes, dos quais US$ 2, 1

    bilhes foram investimentos em projetos de energia elica e a maior parte do restante foi

    investida no aumento da capacidade das plantas de biocombustveis.

    No incio de 2014, 144 pases possuam polticas de utilizao de fontes energticas

    renovveis e, dentre eles, 33 pases tinham polticas especficas para o setor de transportes.

    Tais polticas visam dar apoio produo e utilizao de biocombustveis, tanto atravs

    da concesso de subsdios e incentivos fiscais para os produtores, como pela obrigao,

    atravs de mecanismos legais, da adio de biocombustveis aos combustveis tradicionais

    (mandatos). A ttulo de exemplo pode-se citar que em 2013 o Equador adotou um mandato

    para o uso do B5 (5% de biodiesel misturado ao diesel), com planos para introduzir o B10

    no futuro. Ainda em 2013, a Malsia estendeu para mais regies do pas o mandato de B5

    que j tinha. No mesmo ano a Argentina trocou seu mandato de mistura B7 para um de

    mistura B10. A frica do Sul definiu outubro de 2015 como a data de entrada em vigor de

    um mandato de mistura B5(REN21, 2014).

    O governo brasileiro tem incentivado a produo e o uso do biodiesel atravs de

    programas e legislaes especficos (BRASIL, 2011). Em 2008, a adio de biodiesel ao

  • Captulo 1. Introduo 20

    leo diesel passou a ser obrigatria no Brasil. Entre janeiro e junho de 2008, a mistura era

    de 2%; entre julho de 2008 e junho de 2009, de 3%, e entre julho e dezembro de 2009, de

    4%, exceto o leo diesel para uso aquavirio. A partir de 1/1/2010, o biodiesel passou a ser

    adicionado ao leo diesel na proporo de 5% em volume (ANP, 2014a). Posteriormente,

    com a promulgao da Lei no 13.033 este percentual mudou novamente passando a ser

    de seis por cento a partir de 1o de julho de 2014; e de sete por cento, a partir de 1o de

    novembro de 2014 (BRASIL, 2014).

    Alm dos percentuais para a adio, a Lei no 13.033 tambm estabeleceu que o biodiesel

    para a adio obrigatria ao leo diesel dever ser fabricado, preferencialmente, a partir

    de matrias-primas produzidas pela agricultura familiar. Este estmulo incluso social da

    agricultura ocorre atravs do programa Selo Combustvel Social, que concede uma reduo

    nas alquotas de impostos, como o PIS/Pasep e Cofins, para as empresas produtoras de

    biodiesel que adquirirem matria prima da agricultura familiar.

    Estimulado pela legislao, houve um aumento da utilizao do biodiesel automotivo,

    e o consequente aumento da produo brasileira, que passou de 0, 07 milhes de m3 em

    2006 para 2, 72 milhes de m3 em 2012 e 2, 92 milhes de m3 em 2013. A capacidade

    instalada de produo de biodiesel no pas, de acordo com a ANP, de 21957, 8 m3/dia,

    o que seria suficiente para atender a demanda nacional correspondente a uma adio de

    10% de biodiesel ao leo diesel (APROBIO, 2014).

    Diversas matrias primas so utilizadas na produo do biodiesel, tais como leos

    vegetais, gorduras animais (bovina, de frango e porco) e leo de fritura usado. De acordo

    com a (ANP, 2014a), o biodiesel produzido no Brasil proveniente do leo de soja (76, 4%),

    gordura animal (19, 8%), leo de algodo (2, 2%), e de outros leos vegetais como os de

    palma, girassol e mamona (1, 6%). Alm de ser proveniente de matrias primas renovveis,

    o biodiesel um combustvel biodegradvel, no txico, que pode ser produzido com

    tecnologia simples e de fcil transferncia para o setor produtivo (FETRANSPOR, 2011)

    virtualmente livre de compostos sulfurados e aromticos e apresenta maior lubricidade que

    o leo diesel mineral (FARIAS et al., 2010). Entretanto, a maior vantagem do biodiesel reside

    no fato de permitir uma queima mais limpa, resultando em menores nveis de emisso de

    poluentes quando comparado ao leo diesel mineral.

    As questes ambientais relacionadas ao setor de transportes entraram em pauta no Bra-

    sil ainda na dcada de 1980. Em 1986, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),

    instituiu o Programa de Controle da Poluio do Ar por Veculos Automotores (PROCONVE),

    o qual imps um cronograma para a reduo gradual da emisso de poluentes para veculos

    leves e pesados. Em particular, a busca pela reduo das emisses associadas ao leo

    diesel estimula o uso de combustveis menos poluentes. O biodiesel tem se apresentado

    como uma boa alternativa utilizao do diesel seja pela sua caracterstica renovvel ou

    pela possibilidade que ele oferece para a reduo da emisso de poluentes.

    Com a utilizao do biodiesel surge naturalmente a preocupao com a possibilidade de

  • Captulo 1. Introduo 21

    que resduos da combusto contaminem o leo lubrificante, influenciando negativamente o

    desempenho tanto do lubrificante como o do motor como um todo, o que em ltima instncia

    acabaria reduzindo a vida til do motor. Para evitar esta reduo da vida til do motor e

    na falta de um plano de manuteno especfico que leve em conta os efeitos decorrentes

    da utilizao do biodiesel, comum adotar uma postura mais conservadora, efetuando

    a troca de lubrificante com maior frequncia daquela que tpica para o funcionamento

    do motor com leo diesel mineral. importante ressaltar, no entanto, que tal atitude

    implica em um aumento do impacto ambiental produzido pelo uso do biodiesel, o que pode,

    se no eliminar, ao menos reduzir significativamente os efeitos positivos mencionados

    anteriormente. Assim, a correta avaliao dos benefcios ambientais trazidos pelo uso do

    biodiesel deve necessariamente considerar os efeitos de seu uso sobre o lubrificante.

    Poucos so os estudos reportados na literatura que abordam os efeitos que o uso do

    B100 causa sobre o lubrificante. Talvez a principal razo para esta carncia esteja no fato

    de que a abrangncia de tais estudos resulta bastante restrita, j que esses efeitos so

    bastante influenciados pelas particularidades do uso do motor. Isto, por sua vez, explica

    o fato de em geral tais estudos tratarem de frotas com caractersticas de operao bem

    definidas.

    Estudos anteriores realizados no Brasil sobre os efeitos da utilizao do biodiesel em

    frotas so restritos a misturas de biodiesel com diesel em concentraes de at 20% em

    volume (FETRANSPOR, 2011; LASTRES, 2011). Tais estudos constataram alteraes

    nas caractersticas fsico-qumicas do lubrificante e o consequente maior desgaste dos

    componentes do motor. Contudo, o uso de misturas biodiesel-diesel com percentuais de

    biodiesel superiores a 20% j uma realidade no transporte urbano brasileiro, com destaque

    para o transporte pblico de Curitiba, onde atualmente circulam 32 nibus convencionais

    abastecidos exclusivamente com biodiesel puro (B100) (KARAS, 2013), alm de outros

    dois nibus hbridos que tambm so abastecidos com B100, o que totaliza uma frota de

    34 veculos. Atualmente, o plano de manuteno dessa frota prev a troca de lubrificante

    com metade da quilometragem recomendada pelo fabricante para funcionamento com leo

    diesel mineral.

    Com base nestas consideraes fica evidente a necessidade de conduzir estudos

    tcnicos que possam dar suporte ao desenvolvimento de planos de manuteno adequados

    para frotas como esta, que usam biodiesel puro como combustvel. Conforme mencionado

    anteriormente, tal plano de manuteno pode servir de base para avaliar corretamente os

    benefcios ambientais decorrentes da utilizao do biodiesel como combustvel no transporte

    urbano.

  • Captulo 1. Introduo 22

    1.1 Objetivos

    O objetivo geral do trabalho aqui apresentado foi o de estudar os efeitos que o uso

    do combustvel B100 causa sobre o leo lubrificante e as consequncias disto sobre o

    desgaste de peas e componentes do motor, tendo os seguintes objetivos especficos:

    a) Avaliar a degradao e contaminao do leo lubrificante, atravs da anlise do leo

    lubrificante amostrado.

    b) Estabelecer uma quilometragem adequada para troca do leo lubrificante em nibus

    de transporte coletivo da RMC abastecido com B100.

    Cumpre ressaltar que este trabalho de mestrado s pde ir adiante pelo interesse

    demonstrado por um grupo de empresas que gentilmente possibilitaram o levantamento

    de informaes: Chevron (empresa fornecedora de leos lubrificantes), Volvo (montadora

    de nibus), Redentor (permissionria do transporte urbano de Curitiba), Volvo Nrdica

    (concessionria de veculos) e URBS (fiscalizadora e reguladora do transporte urbano

    coletivo na RMC).

    1.2 Organizao do trabalho

    Para cumprir os objetivos descritos, apresenta-se no Captulo 2 uma descrio da

    utilizao de leos vegetais como combustvel, a caracterizao do biodiesel com vantagens

    e limitaes de sua utilizao e uma reviso bibliogrfica do uso de misturas diesel x

    biodiesel, e de biodiesel puro como combustvel.

    No Captulo 3 ser apresentado um estudo sobre os leos lubrificantes, inserindo os

    conceitos de atrito, desgaste e descrevendo as suas funes de lubrificao, assim como

    uma reviso de seus parmetros caractersticos, classificao e especificaes. Neste

    captulo tambm so abordadas as condies de uso do lubrificante no motor que levam

    sua degradao, com a consequente perda progressiva de funcionalidade.

    No Captulo 4 ser descrita e definida a metodologia do trabalho, indicando a sua

    estruturao, como a escolha da frota, a caracterizao do combustvel e o leo lubrificante

    utilizado, o mtodo de coleta e identificao das amostras , descrevendo os tipos de ensaios

    realizados em leos usados. Os resultados dos ensaios das amostras de leo lubrificante

    sero apresentados e discutidos no Captulo 5.

    No Captulo 6 sero apresentadas as consideraes finais do trabalho e as sugestes

    para trabalhos futuros.

  • 23

    2 BIODIESEL

    Neste captulo apresenta-se uma reviso bibliogrfica abrangendo assuntos como a

    influncia do biodiesel nas emisses dos motores, a influncia deste combustvel sobre o

    desgaste de componentes do motor, a diluio do leo lubrificante, a presena de metais

    nas amostras de lubrificantes retirados de motores que utilizam biodiesel e sobre a adio

    de biodiesel ao leo diesel em propores maiores que 20%.

    Os leos vegetais e as gorduras animais vm sendo estudados como combustveis

    para motores de ciclo diesel desde antes da dcada de 70. Entretanto, os motores hoje

    disponveis exigem a utilizao de combustveis com viscosidade inferior dos leos

    vegetais (KNOTHE et al., 2006). A Tabela 2.1, compilada a partir de Harwood (1984)

    lista alguns dos problemas operacionais que o motor pode apresentar em decorrncia da

    utilizao de leos e gorduras in natura como combustveis.

    Tabela 2.1 Resumo dos problemas conhecidos do uso direto de leos vegetais como

    combustvel em motor diesel.

    Problema Provvel causa Possvel soluo

    Curto prazo

    1. Dificuldade de

    Partida a frio

    Alta viscosidade, baixo nmero

    de cetano, e alto ponto de

    fulgor dos leos vegetais.

    Preaquecer o combustvel antes

    da injeo. Alterar quimicamente o

    combustvel para um ster (biodie-

    sel).

    2. Gomas e

    entupimento de

    filtros, linhas e

    injetores.

    Gomas naturais (fosfatdeos)

    em leos vegetais. Outras

    cinzas.

    Refinar parcialmente o leo para

    remover as gomas. Filtrar o leo

    com 4 m.

    3. O motor

    batendo (batida

    diesel).

    Nmero de cetano de alguns

    leos muito baixo. Tempo de

    injeo inadequado.

    Ajuste do tempo de injeo. Usar

    maior relao de compresso no

    motor. Mesmo que (1).

    Longo prazo

    4. Carbonizao

    dos bicos

    injetores.

    Alta viscosidade de leo

    vegetal, incompleta combusto.

    Combusto pobre para cargas

    parciais.

    Preaquecer o combustvel antes

    da injeo. Trocar o combustvel

    do motor para diesel, quando ope-

    rado em cargas parciais. Alterar

    quimicamente o combustvel para

    um ster (biodiesel).

    (continua)

  • Captulo 2. Biodiesel 24

    (continuao)

    Problema Provvel causa Possvel soluo

    5. Depsitos de

    carbono no

    pisto e

    cabeote do

    motor

    Mesmo que (4). Mesmo que (4).

    6. O desgaste

    excessivo do

    motor

    Mesmo que (4). Possibilidade

    de cidos graxos livres no leo

    vegetal. Diluio do leo

    lubrificante do motor, devido a

    contaminao pelo leo

    vegetal.

    Mesmo que (4). Aumentar a

    frequncia das trocas do leo lubri-

    ficante. Utilizar aditivos ao leo de

    motor para inibir a oxidao (antio-

    xidantes).

    7. Falha do leo

    lubrificante do

    motor devido

    polimerizao.

    Aglomerao de leos vegetais

    poli-insaturados no crter,

    ponto onde polimerizao

    ocorre.

    Mesmo que (4) e (6). Usar leos

    vegetais com baixos cidos graxos

    poli-insaturados.

    A elevada viscosidade do leo vegetal puro reduz a atomizao do combustvel e

    aumenta a penetrao de jato de combustvel. A maior penetrao de jato de combustvel

    em parte responsvel pela aparecimento de depsitos no motor e espessamento do leo

    lubrificante (DE ALMEIDA et al., 2002).

    Quatro mtodos tm sido tradicionalmente utilizados para reduzir a alta viscosidade de

    leos vegetais e assim permitir o seu uso em motores diesel sem problemas operacionais:

    uso de misturas binrias com o petrodiesel (diluio), pirlise, formulao de microemulses

    ou misturas de co-solventes atravs da utilizao de lcoois de baixo peso molecular e a

    converso para biodiesel atravs da transesterificao (SCHWAB; BAGBY; FREEDMAN,

    1987; KNOTHE et al., 2006).

    Dentre os diversos mtodos disponveis para a produo de biodiesel, a transesterifica-

    o de leos e gorduras naturais o mais comumente utilizado. O objetivo do processo o

    de diminuir a viscosidade do leo ou da gordura (MA; HANNA, 1999).

    Geralmente, o metanol o lcool preferido para a transesterificao, devido facilidade

    com que este lcool produz a reao de transesterificao (GRABOSKI; MCCORMICK,

    1998). No Brasil, onde o etanol mais barato, steres etlicos so utilizados como combust-

    vel (KNOTHE et al., 2006).

    O biodiesel um nome aplicado aos combustveis renovveis produzidos pela este-

    rificao de leos vegetais, gorduras e cidos graxos. Por renovveis entende-se que o

    abastecimento dessas matrias-primas pode ocorrer pelo crescimento das plantas e pro-

    duo de gado. A fonte ltima do contedo energtico destes combustveis o sol. Os

  • Captulo 2. Biodiesel 25

    termos methylsoyate, soyate, soyester (para steres metlicos de leo de soja), tallowate

    (para os steres de sebo), e muitos termos semelhantes so usados para descrever esses

    combustveis (GRABOSKI; MCCORMICK, 1998).

    A Fig. 2.1 representa a reao de transesterificao que origina o biodiesel. Nesta

    reao uma molcula de trister (ou triglicerdeo) reage com um lcool (metanol ou etanol)

    formando outro ster (biodiesel) e outro lcool (glicerol).

    Figura 2.1 Reao de transesterificao do biodiesel.

    Os steres alqulicos produzidos nesta reao exibem caractersticas como nmero

    de cetano, calor de combusto, ponto de fluidez, viscosidade, estabilidade oxidao e

    lubricidade, que os tornam combustveis adequados para os motores diesel (KNOTHE et

    al., 2006). Entretanto, para garantir o bom funcionamento dos motores, as caractersticas

    do biodiesel so especificadas atravs de normas tcnicas e legislaes. Assim, nos

    Estados Unidos ele deve atender a norma ASTM D6751 (DEMIRBAS, 2008), nos pases da

    Unio Europeia ele deve atender a norma EU 14214, e no Brasil, a Resoluo 45/2014 da

    Agncia Nacional do Petrleo, Gs Natural e Combustveis (ANP). A Tabela 2.2 mostra a

    especificao utilizada no Brasil.

    A ANP 45/2014 define trs tipos de leo diesel. O leo tipo A o combustvel de uso

    rodovirio e no rodovirio, destinado a veculos e equipamentos dotados de motores do

    ciclo Diesel e produzido por processo de refino de petrleo e processamento de gs natural,

    sem adio de biodiesel. Quando, de acordo com a legislao vigente, o leo tipo A contm

    biodiesel em sua composio, ele chamado leo tipo B, j o leo tipo BX o leo tipo A

    que contm biodiesel no teor superior ao estabelecido pela legislao vigente em proporo

    definida (X%). Neste ltimo caso a ANP precisa autorizar o uso especfico ou experimental

    do leo diesel. Na Tabela 2.3 apresentada uma anlise comparativa entre o leo diesel e

    o biodiesel e suas caractersticas em diversas propriedades, segundo Dabdoub (2003 apud

    HINRICHS; KLEINBACH, 2003).

  • Captulo 2. Biodiesel 26

    Tabela 2.2 Especificao do Biodiesel.

    Caracterstica Unidade Limite

    Aspecto - Lmpido e isento de impurezas (LII)a

    Massa especfica a 20C kg/m3 850 a 900Viscosidade Cinemtica a

    40Cmm2/s 3, 0 a 6, 0

    Teor de gua, mx. mg/kg 200, 0

    Contaminao Total, mx. mg/kg 24

    Ponto de fulgor, mn. C 100

    Teor de ster, min. %, massa 96, 5

    Cinzas sulfatadas, mx. %, massa 0, 020

    Enxofre total, mx. mg/kg 10

    Sdio + Potssio, mx. mg/kg 5

    Clcio + Magnsio. mg/kg 5

    Fsforo, mx. mg/kg 10Corrosividade ao cobre, 3h

    a 50C, mx.a- 1

    Nmero de Cetanoa - AnotarPonto de entupimento de

    filtro a frio, mx.C b

    ndice de acidez, mx. mg KOH/g 0, 80

    Glicerol livre, mx. %, massa 0, 02

    Glicerol total, mx. %, massa 0, 25

    Monoacilglicerol, mx. %, massa 0, 7

    Diacilglicerol, mx. %, massa 0, 20

    Triacilglicerol, mx. %, massa 0, 20

    Metanol e/ou Etanol, mx. %, massa 0, 20

    ndice de Iodo g/100g AnotarEstabilidade oxidao a

    110C, mn.H 6

    a Estas caractersticas devem ser analisadas em conjunto com as demais constantes da Tabela deEspecificao a cada trimestre civil. Os resultados devem ser enviados ANP pelo Produtor debiodiesel, tomando uma amostra do biodiesel comercializado no trimestre e, em caso de nesteperodo haver mudana de tipo de material graxo, o Produtor dever analisar nmero de amostrascorrespondente ao nmero de tipos de materiais graxos utilizados.

    b Limite mximo de 14C para o estado do Paran nos meses de novembro a maro, 10C para abril eoutubro e de 5C para meses de maio a setembro.

    (continua)

  • Captulo 2. Biodiesel 27

    Tabela 2.3 Anlise comparativa entre o diesel e o biodiesel.

    Propriedades Biodiesel Diesel

    Cetanagem 51 62 44 47

    Lubricidade

    Maior que o diesel

    quando comparado com

    leos lubrificantes

    Baixo fator de lubricidade

    Biodegradabilidade Alta Muito baixa

    Toxidade No txico Altamente txico

    Oxignio 11% de oxignio livre Muito baixo

    Aromticos No possui 18 22%

    Enxofre Nenhum 0, 05%

    Contaminao por

    derramamentoNenhum Muito alto

    Ponto de ignio 148 204C 52CCompatibilidade com

    outros materiais

    Degradao natural de

    polmeros butlicos

    Efeito no natural em polme-

    ros butlicos

    Transferncia e

    estocagem

    Nenhum risco em

    nenhuma das atividadesAltamente perigoso

    Valor calorfico 2% menor que o diesel

    Suprimento renovvel Renovvel No renovvel

    Combustvel alternativo Sim No

    Processo produtivo Reao qumicaReao qumica e fraciona-

    mento

    Composio qumicasteres de alquila (metila,

    etila)Hidrocarbonetos

    2.1 Vantagens da utilizao do Biodiesel

    O biodiesel traz algumas vantagens comparativamente ao diesel, que aqui so relaci-

    onadas de acordo com Fontana (2011), Rakopoulos et al. (2006) e Knothe et al. (2006).

    Vantagens:

    a) derivado de matrias-primas renovveis de ocorrncia natural, reduzindo a depen-

    dncia de fontes de petrleo;

    b) biodegradvel, possuindo a capacidade de regenerao de cidos graxos e lcool

    por ao de enzimas microbianas;

  • Captulo 2. Biodiesel 28

    c) Possui toxicidade nula;

    d) Possui alto ponto de fulgor. O que o torna mais seguro para manuseio, armazena-

    mento e transporte;

    e) Alto nmero de cetano;

    f) Como o biodiesel oxigenado, ele apresenta uma combusto mais completa;

    g) Apresenta mnimo teor de enxofre;

    h) Apresenta mnimo teor de substncias aromticas;

    i) Biodiesel funciona em motores convencionais sem qualquer necessidade de modifi-

    caes no sistema de injeo ou no motor de combusto propriamente dito;

    j) Gera reduo nas emisses de gases de escapamento, com exceo do NOx;

    k) A sua excelente lubricidade importante para o aumento da vida til dos motores.

    Este fato vem ganhando importncia com a reduo dos teores de enxofre no diesel

    de petrleo, pois a sua lubricidade perdida durante o processo de produo, que

    pode ser restaurada com adio de baixos teores de biodiesel (1 2%).

    l) O biodiesel tem aplicao, alm do transporte rodovirio, em motores acoplados para

    gerao de energia eltrica e tambm em sistemas de aquecimento e calefao;

    m) Pode ser usado puro (B100) ou em mistura de diferentes propores com o leo

    diesel convencional, de B1 a B99.

    n) Quando queimado, substitui o odor do diesel queimado, o que pode ser um benefcio

    real em espaos fechados, pelo cheiro de batatas fritas; no foram noticiados casos

    de irritao nos olhos;

    2.2 Propriedades e caractersticas do biodiesel

    A seguir so descritas as propriedades do biodiesel que so mais relevantes para sua

    utilizao como combustvel nos motores diesel.

    Lubricidade: O sistema de injeo dos motores diesel, diferentemente dos motores

    movidos a gasolina, exigem que o combustvel tenha propriedades de lubrificao. Os

    componentes deste sistema trabalham sob tenso elevada exigindo que o lquido que

    escoa lubrifique adequadamente as suas peas em movimento e assim reduza o desgaste

    prematuro. A propriedade de lubrificao do combustvel dada pela Lubricidade do mesmo

    (KNOTHE et al., 2006; PARENTE, 2003). De acordo com Fontana (2011), a adio de 2%

    de biodiesel ao diesel aumenta em duas vezes a taxa de lubricidade do diesel.

    Nmero de Cetano (NC): Uma das mais importantes propriedades do leo diesel a

    sua caracterstica de autoignio nas temperaturas e presso presentes no cilindro, quando

    o combustvel injetado. Esta caracterstica medida atravs do teste do nmero de cetano

  • Captulo 2. Biodiesel 29

    (NC). Combustveis com altos NC tero pequeno retardamento de ignio. O biodiesel de

    soja tem normalmente um NC entre 48 a 52, que um valor maior do que o petrodiesel

    (KNOTHE et al., 2006). De acordo com Van Gerpen (1996) o NC geralmente depende da

    composio do combustvel e pode afetar a capacidade de arranque do motor, o nvel de

    rudo, e as emisses de gases de escapamento.

    Os compostos oxigenados produzem uma reduo significativa das emisses de

    materiais particulados a partir de motores diesel, mas na maioria dos casos tambm

    causam o aumento das emisses de NOx (MCCORMICK; ROSS; GRABOSKI, 1997). A

    reduo do material particulado um aspecto associado baixa emisso de fumaa do

    biodiesel.

    Atraso de ignio: O atraso de ignio a definio dada ao tempo decorrido entre

    o incio da injeo do combustvel e o incio da sua combusto. Tat, Van Gerpen e Wang

    (2007) estudaram a relao entre as propriedades do combustvel e o tempo de injeo

    e atraso de ignio. Eles concluram que as propriedades do biodiesel afetam o sistema

    de injeo de combustvel e podem causar um avano no ponto de injeo do mesmo.

    Cerca de 50% deste avano devido ao aumento do dbito de biodiesel, com menor teor

    energtico, suficiente para manter a potncia exigida, o restante deste avano devido aos

    efeitos da menor compressibilidade e maiores viscosidade e massa especfica do biodiesel.

    Como possui o maior nmero de cetano, o biodiesel de soja reduz o atraso de ignio e

    avana o incio da combusto, e isso tambm contribui para o aumento das emisses de

    NOx.

    Poder calrico: Outra limitao do biodiesel que ele cerca de 12, 5% menos ener-

    gtico do que o diesel. O biodiesel de soja tem poder calorfico inferior de 37, 2 MJ/kg, j o

    diesel possui 42, 6 MJ/kg. Para a mesma injeo volumtrica de combustvel, a perda de

    potncia da ordem de 8, 4% (KNOTHE et al., 2006). Na mdia, entretanto o biodiesel re-

    sulta na perda de uns 5% de potncia, torque e eficincia quando comparado ao diesel. Fato

    que se explica pela maior viscosidade do biodiesel, o que reduz as perdas de vazamento e

    aumenta o volume injetado (FONTANA, 2011).

    Oxidao: Van Gerpen et al. (1997) descreveram a oxidao como uma importante

    fonte de contaminao do biodiesel. O leo de soja tem um nvel de compostos insaturados

    mais elevados do que muitos outros leos e tambm do que o diesel de petrleo. Assim pode

    ocorrer a auto-oxidao durante o armazenamento. Aps a oxidao, a composio qumica

    dos steres metlicos pode ser alterada e isso pode, por sua vez, alterar as propriedades de

    biodiesel. A maioria dos leos vegetais, assim como a soja, contm antioxidantes naturais,

    tais como a vitamina E (tocoferol), que inibem a oxidao at que o antioxidante consumido.

    Quando os antioxidantes naturais esto esgotados, oxidao prossegue rapidamente. O

    perodo de oxidao lenta que antecede a oxidao rpida muitas vezes chamado o

    perodo de induo.

    Todo biodiesel que no for consumido dentro de um curto perodo de tempo dever

  • Captulo 2. Biodiesel 30

    receber tratamento com biocida para prevenir crescimento de micro-organismos. Estes

    crescem com maior facilidade no biodiesel do que no petrodiesel (VAN GERPEN et al.,

    1997). Para armazenamento do biodiesel por um perodo longo, dever ser utilizado um

    aditivo anti-oxidante apropriado (KNOTHE et al., 2006).

    Higroscopia: Cuidado especial deve existir com a rede de distribuio e armazenamento

    do biodiesel. A entrada em contato com a gua tornar o combustvel saturado. Quando

    saturado, o biodiesel pode conter cerca de 1500 ppm, trs vezes mais gua do que o

    estabelecido na norma ASTM D975, como limite para o diesel de petrleo - 500 ppm. O

    diesel de petrleo usualmente absorve apenas 50 ppm (VAN GERPEN et al., 1997). A

    gua pode estar presente no combustvel em duas formas: a dissolvida pode afetar a

    estabilidade do biodiesel; a gua livre est mais associada aos efeitos de corroso, o que

    pode afetar algumas partes do sistema de injeo diesel que so construdas em ao com

    alto teor de carbono (KNOTHE et al., 2006). No Brasil, a especificao atual de teor de gua

    no biodiesel de 200 mg/kg, de acordo com a Resoluo ANP 45/2014.

    Os filtros diesel retm partculas da ordem de unidades de m. Quando o combustvel

    submetido a altas temperaturas e na presena de oxignio do ar, ocorre a formao de

    insolveis e a produo de depsitos de verniz, que pode obstruir orifcios (entupimentos) e

    colar em partes mveis, causando engripamento. Para evitar o entupimento dos filtros, ser

    necessrio substitu-los com frequncia maior que a que utilizada quando o combustvel

    o diesel de petrleo puro (KNOTHE et al., 2006).

    A presena de materiais inorgnicos no combustvel produz cinzas que podem ser

    abrasivas e contribuir para o desgaste do pisto e do cilindro. Estas cinzas sulfatadas so

    provenientes, provavelmente, do catalisador usado no processo de produo do biodiesel

    (KNOTHE et al., 2006).

    Viscosidade: Com relao a viscosidade do biodiesel, se esta for alta, a bomba injetora

    no ser capaz de fornecer combustvel suficiente para a cmara de bombeamento. Se for

    extremamente alta ocorrer a degradao da pulverizao do cilindro, reduzindo a eficincia

    da atomizao e promovendo a contaminao do leo lubrificante e a produo de fumaa

    preta (KNOTHE et al., 2006).

    Volatilidade: O biodiesel pouco voltil, e por isso uma pequena quantidade de com-

    bustvel no queima na combusto e, provavelmente, acaba se depositando nas paredes do

    cilindro durante o processo de expanso do ciclo diesel (KNOTHE et al., 2006).

    Ponto de nvoa e ponto de fluidez: Existe uma preocupao com relao a operao

    em baixas temperaturas com o biodiesel. A temperatura em que um lquido que est sendo

    resfriado, comea a ficar turvo denominada ponto de nvoa, e o ponto de fluidez a tem-

    peratura em que o lquido no mais escoa livremente. Assim, em locais onde a temperatura

    baixa pode ocorrer a cristalizao do combustvel. Estes valores de temperatura variam

    de acordo com origem da matria prima do biodiesel e com o lcool utilizado na reao de

    transesterificao. Para metil ster de soja, o valor fica prximo de 0C, e para biodiesel de

  • Captulo 2. Biodiesel 31

    sebo entre 13 a 15C (PARENTE, 2003; KNOTHE et al., 2006).

    Compatibilidade ao elastmero: O biodiesel pode atacar os elastmeros encontrados

    em algumas mangueiras e vedaes no sistema de combustvel do veculo (VAN GERPEN

    et al., 1997). Com o passar do tempo, este processo de ataque se acentua, corroendo as

    conexes de borracha e provocando o ressecamento de mangueiras, que so usualmente

    empregadas num motor a diesel (FONTANA, 2011; HINRICHS; KLEINBACH, 2003). Este

    efeito mais notvel aps rodagens de 100.000 km. Como precauo motores utilizando

    biodiesel puro (B100) dever ter as conexes (mangueiras) de borracha substitudas por

    outras de Viton R, Teflon R ou outros fluoroelastmeros. O biodiesel, at o limite de 20%

    (B-20), praticamente no corrosivo para borracha (FONTANA, 2011).

    Poder de solvncia: O biodiesel, por ser uma mistura de steres de cidos carboxlicos,

    solubiliza um grupo muito grande de substncias orgnicas, incluindo-se as resinas que

    compem as tintas. No manuseio do biodiesel devem ser tomados cuidados para evitar

    danos pintura dos veculos, nas proximidades do ponto ou bocal de abastecimento

    (PARENTE, 2003). O poder solvente do biodiesel pode causar deteriorao da pintura a

    menos que o combustvel derramado seja imediatamente removido. O Biodiesel tambm

    pode desprender os depsitos que se acumularam no tanque de combustvel e causar

    entupimento do filtro (VAN GERPEN; PETERSON; GOERING, 2007).

    2.3 Alguns trabalhos sobre utilizao de biocombustveis

    Nesta seo sero apresentados alguns estudos que descreveram sobre: emisses da

    queima do combustvel, preocupao com desgaste prematuro de componentes do motor,

    diluio do leo lubrificante, presena de metais no biodiesel e a preocupao na utilizao

    de misturas de biodiesel em proporo maior do que 20% no diesel.

    de Almeida et al. (2002) investigaram e discutiram o desempenho, as caractersticas de

    emisso e a contaminao do leo lubrificante de um motor diesel estacionrio, abastecido

    com leo de palma 100% puro, que acoplado a um gerador de corrente alternada, produz

    energia eltrica para a populao ribeirinha de pequenas aldeias da regio Amaznica

    brasileira. O artigo cita a necessidade de limpeza dos injetores aps 150h de operao e

    utilizao de filtros de leo de 3 m. Menciona-se ainda que a partida a frio precisava ser

    feita com a utilizao de diesel mineral e que as conexes de cobre sofreram ataque pelo

    leo de palma quando a temperatura de trabalho foi superior 50C, da a necessidade de

    substituio das tubulaes e conexes de cobre por outras de ao inoxidvel. As anlises

    do leo lubrificante mostraram uma reduo da viscosidade e indicaram que os limites

    aceitveis para este parmetro seriam atingidos aps 100h de trabalho, enquanto que com

    o uso de diesel mineral puro, a troca de leo lubrificante s era feita aps 200h de operao.

    A diluio do leo foi devido combusto incompleta causada pela m atomizao e no

    volatilidade do leo de palma. de Almeida et al. (2002) relataram tambm que o consumo

  • Captulo 2. Biodiesel 32

    especfico do leo de palma foi ligeiramente maior do que o diesel em 10%. Uma adaptao

    do sistema de injeo, alm da utilizao de um leo lubrificante especial com aditivos

    apropriados foram as recomendaes dos autores.

    Rakopoulos et al. (2006) conduziram testes para avaliar e comparar o uso de diferentes

    combustveis analisando o desempenho e as emisses de gases de escape de um motor

    aspirado de injeo direta diesel, acoplado a um dinammetro, com motor trabalhando

    a 2000 RPM de velocidade e operando com de mdia e alta carga. Foram utilizados o

    diesel, o biodiesel e misturas de leo vegetal na proporo de 10 e 20%. Foram utilizados

    steres metlicos de algodo, de soja, de semente de girassol, de colza e de palma. Os

    leos vegetais utilizados foram: leo de semente de algodo, leo de soja, de girassol, de

    milho e leo de caroo de azeitona. Os autores descrevem os problemas ocasionados por

    uma operao por perodos mais longos utilizando leos vegetais, que devido ao aumento

    da viscosidade de at 10 a 20 vezes comparativamente ao diesel, ocasionam: formao

    de carvo nos injetores, depsitos de carbono e travamento de anis do pisto de leo

    bem como o espessamento e a gelificao de leo lubrificante do motor. Os resultados

    mostraram que as misturas de biodiesel emitiram o menor nvel de fuligem e emisses de

    CO, seguido de misturas de diesel convencional com leo vegetal in natura. Os autores

    apontaram as seguintes desvantagens do biodiesel: viscosidade mais elevada, maior ponto

    de fluidez, menor valor calrico e menor volatilidade. Alm disso, a sua estabilidade

    oxidao menor, higroscpico e age como solvente, podendo provocar a corroso

    de componentes, atacando alguns materiais usados para vedaes, mangueiras, tintas e

    revestimentos. Eles mostram um aumento de diluio e polimerizao do leo do crter do

    motor, exigindo, portanto, mudanas de leo mais frequentes. Os autores enfatizam que

    que as misturas de leo diesel com at 20% de leos vegetais ou de biodiesel pode ser

    usado em motores existente, sem qualquer modificao. Entretanto, eles mencionam que a

    utilizao de percentuais maiores que 20% pode provocar mau funcionamento do motor.

    Os autores concluram em seu estudo que a utilizao de leo vegetal in natura e biodiesel

    (B100) no seria uma opo vivel.

    Demirbas (2008) afirma que as misturas biodiesel/diesel contendo at 20% de biodiesel

    podem ser utilizadas em quase todos os motores diesel modernos, sendo tambm compat-

    veis com os equipamentos de distribuio e armazenamento de combustveis.Esse autor

    ainda afirma que as misturas com maior teor de biodiesel tambm poderiam ser usadas em

    muitos motores com pouca ou nenhuma modificao, mas pondera que cuidados especiais

    devem existir para o transporte e estocagem,e salienta que as questes relacionadas a

    compatibilidade de materiais e questes relacionadas a garantia no esto resolvidas para

    elevadas misturas, incluindo o B100.

    A EPA (KOROTNEY, 2002), realizou uma pesquisa de reviso das emisses de gases

    para uma variedade de misturas de biodiesel chegando at B100. A Fig. 2.2 mostra a

    mdia das emisses nas diferentes concentraes progressivas de biodiesel misturadas ao

  • Captulo 2. Biodiesel 33

    diesel. Ocorre uma reduo de CO, HC e MP para concentraes crescentes de Biodiesel,

    enquanto as emisses de NOx continuam a aumentar.

    Figura 2.2 Emisses mdias do impacto do biodiesel para motores de servio pesado emrodovias, em comparao ao diesel.

    Fonte: Korotney (2002)

    A fabricante nacional de tratores Valtra liberou o uso de seus motores tanto com diesel

    puro como com biodiesel B100, afirmando que a mudana de combustvel no requer

    qualquer modificao no motor (FONTANA, 2011).

    Fontana (2011) cita uma srie de experimentos realizados na cidade de Curitiba, no

    mbito de uma parceria realizada entre o TECPAR Instituto de Tecnologia do Paran,

    rgo da Secretaria de Cincia, Tecnologia e Ensino Superior do Paran (SETI/PR), e a

    Universidade Federal do Paran (UFPR). Nesses experimentos avaliou-se o desgaste de

    cilindros, pistes e anis de segmento de um motor de 1,9 litros que equipou um veculo Golf

    VW, o qual rodou 160.000 km sendo abastecido com B20. Durante o exame conduzido pela

    prpria montadora comparou-se o desgaste desse motor com o de outro que foi utilizado em

    condies similares, mas alimentado com leo diesel convencional. A comparao mostrou

    que os desgastes foram menores no motor alimentado com B20. Outro estudo realizado

    pelo TECPAR, sob a coordenao do professor Jos Carlos Laurindo, avaliou o consumo de

    biodiesel de soja B100 em um conjunto moto-gerador estacionrio, ao longo de 3.000 h de

    operao. Os resultados apontaram que o volume consumido de biodiesel foi 8% maior que

    o de leo diesel. O mesmo estudo apontou a diluio do leo lubrificante pelo combustvel

    B100, o que levou a trocas de carga de leo com o dobro da frequncia estabelecida para o

    diesel mineral.

    De acordo com Chevron (2013), muitos metais podem estar presentes no biodiesel. O

    clcio, potssio, magnsio e o sdio podem estar presentes no biodiesel em duas maneiras

    diferentes: como slidos abrasivos que podem contribuir para desgastes de injetores, bomba

  • Captulo 2. Biodiesel 34

    de combustvel, pisto e anis; e/ou como sabes metlicos solveis, que apesar de terem

    pouco efeito sobre o desgaste, eles podem contribuir para a obstruo de filtros e depsitos

    no motor. Altos nveis destes metais tambm podem ser coletados em filtros de partculas

    do diesel. Eles podem reduzir o perodo do servio de manuteno para os componentes

    citados.

    Schumacher, Peterson e Van Gerpen (2001) conduziram uma pesquisa durante 10 anos

    de acompanhamento de doze picapes, com quilometragens diferentes, motorizao de

    5, 9 L para onze dos doze veculos. Os motores foram abastecidos com diesel puro e com

    compostos de 1%, 2%, 20%, 50% e 100% de biodiesel. Os resultados das anlises do leo

    lubrificante dos motores indicaram que a taxa de desgaste dos motores abastecidos com

    diferentes tipos de biodiesel no resultaram em taxas de desgaste que fossem piores do que

    o diesel. Os componentes de desgaste analisados foram o alumnio, ferro, cromo, chumbo,

    cobre e silcio. No estudo realizado, a substituio do leo diesel para o biodiesel reduziu o

    desgaste dos quatro primeiros elementos. Os veculos analisados rodaram em condies

    diferentes de carga e tempo.

    Agarwal, Bijwe e Das (2003) analisaram amostras de leo lubrificante para determinar

    desgaste de metais em motores diesel. Os ensaios foram realizados utilizando dois motores

    semelhantes operados com biodiesel B20 de leo de linhaa linseed oil methil ester

    (LOME) e diesel mineral, que foram submetidos a testes de resistncias de longo prazo.

    Foram coletadas amostras de leos para cada 128 h de operao do motor. Em toda a faixa

    de operao do motor de 512 h no havia constatao de grande avaria do motor. Para

    cada amostra do leo lubrificante foram realizadas anlises de vrios elementos, tais como

    Fe, Cu, Zn, Cr, Mg, Co e Pb e quantificao destes fragmentos metlicos atravs da

    espectroscopia de absoro atmica. Partculas de desgastes metlicos foram encontradas

    como sendo de 30% menor para o motor operado com biodiesel. O leo lubrificante do motor

    operado a biodiesel tem desgaste pouco menor de metais e menor taxa de aumento na

    concentrao de desgaste de metais. Para estudar o tamanho dos fragmentos de desgaste

    e concentrao, foi realizada a ferrografia sobre as amostras do leo lubrificante de ambos

    os motores depois de 128 e 512 horas de funcionamento, indicando partculas de menores

    tamanhos e menores concentraes de partculas de desgaste para o motor operado com

    biodiesel. No entanto a concentrao de partculas de desgaste aumentaram para os dois

    sistemas estudados. De acordo com os autores, o menor desgaste e previso de maior vida

    til dos componentes mveis no motor movido a biodiesel foi por causa da propriedade de

    lubrificao adicional do LOME presente no combustvel.

    Silva (2006) utilizou um dinammetro para estudar os efeitos do uso de uma mistura

    combustvel B10 na degradao do leo lubrificante de um motor de ignio por compresso,

    aspirado, de 1, 9 L e de injeo indireta. O motor foi abastecido com trs combustveis

    diferentes: leo diesel puro, B10 de biodiesel de soja e B10 de biodiesel de soja e nabo

    forrageiro. Aps rodar 30 horas com cada tipo de combustvel, as anlises realizadas no

  • Captulo 2. Biodiesel 35

    leo lubrificante revelaram que o uso B10 no causou variao significativa na concentrao

    de elementos e nas propriedades fsico-qumicas do leo lubrificante.

    Oliveira Filho et al. (2012) realizaram uma investigao em duas frotas de nibus

    sediadas na cidade de Natal - RN, uma composta de 41 veculos da linha urbana e outra de

    13 veculos da linha interurbana. Os veculos possuam de 1 a 23 anos de uso. Foi realizada

    uma caracterizao fsico-qumica dos combustveis para os combustveis que abasteciam

    as duas frotas, com B5, e tambm para o diesel puro, utilizado como referencial padro.

    Foram avaliadas planilhas das duas frotas com dados referentes ao ndice de Consumo

    de Combustvel (ICC) para os 54 nibus, em um perodo compreendido entre setembro

    de 2008 e julho de 2010. Todos os nibus estudados utilizavam motores com sistema de

    admisso/intercooler. As duas frotas estudadas rodavam em mdia 9000 km por ms, com

    frequncia de troca de leo de 20.000 km, e praticavam somente a manuteno corretiva.

    Os autores encontraram um aumento de consumo do combustvel para a frota urbana de

    aproximadamente 5%. Alm disso, o estudo mostrou que 9 veculos do mesmo modelo e

    que foram incorporados na frota em 2009, apresentaram em 2009 consumo de 2, 2 km/L

    e de 2, 21 km/L em 2010. O supervisor de manuteno relatou que houve um aumento

    moderado de falhas no sistema de injeo desses nibus, mas isto no foi atribudo

    mudana de combustvel. Para a frota interurbana estudada, embora os dados levantados

    no correspondam a um perodo contnuo, foi observado que o ICC mdio aumentou de

    1, 38 km/L para 1, 42 km/L. Os motoristas que operavam os veculos no perceberam

    diferenas no desempenho decorrentes da mudana de combustvel. Os autores concluram

    que existe a necessidade de estudos que permitam avaliar os efeitos da mudana de

    combustvel sobre o desgaste das peas do motor.

    Silva (2013) estudou o comportamento de um motor diesel operando tanto com biodiesel

    puro de leo de palma (B100P ) como com um biodiesel proveniente de soja (70%), algodo

    (20%) e sebo (10%), denominado de B100SAS. O combustvel utilizado como referncia

    foi o leo diesel comercial (B5) e foram avaliados o desempenho do motor, o desgaste, a

    contaminao do leo lubrificante e o acmulo de resduos tanto na cmara de combusto

    como nos sistemas de alimentao e de lubrificao. O perodo de operao avaliado foi

    de 50 h tanto para B5 como para o B100P , e de 300 h para o B100SAS . No final do perodo

    de operao com cada combustvel, o motor era aberto para anlise visual e controle

    dimensional. Alm disso, o leo lubrificante foi examinado para a verificao da presena

    de metais e gua para 0 h, 150 h e 300 h de uso. Verificou-se que com o uso de B100SAS , o

    leo lubrificante apresentou alteraes expressivas na viscosidade, na presena de gua

    e no teor de ferro. De uma maneira geral, entretanto, o uso dos biodieseis no provocou

    aumento significativo do desgaste de componentes como virabrequim, cilindros, anis de

    pisto e bronzinas. Em comparao com o diesel comercial (B5), o consumo especfico de

    combustvel foi maior em 11, 58% para o B100P e de 8 11% para o B100SAS. O autorconcluiu que os testes confirmaram a viabilidade de uso dos combustveis estudados.

  • Captulo 2. Biodiesel 36

    Cuerva (2013) usou um equipamento pino-no-disco para avaliar os efeitos de possveis

    contaminaes do lubrificante causados por B5 comercial, de fonte animal (sebo), de fonte

    vegetal (girassol) e de fonte mista animal e vegetal. Com o tribmetro pino-no-disco, foi

    simulado o atrito entre um copo de ao ABNT 8640 e um pino de ao ABNT 4140, materiais

    amplamente utilizados em construo mecnica. Foram utilizadas duas velocidades do

    equipamento pino-no-disco, e para cada velocidade foram usadas duas cargas diferentes.

    O lubrificante utilizado foi o API CF SAE 40, sendo que os testes foram realizados com

    percentuais de contaminao do lubrificante de 2% e de 5%, em volume. A contaminao

    com 5% de biodiesel de sebo gerou a maior viscosidade observada nos ensaios. Tanto o

    teste de disperso como os ensaios de ferrografia no apontaram alteraes significativas

    no lubrificante com as contaminaes analisadas. Os experimentos com o espectrmetro

    de raios-X mostraram que a amostra contaminada com 2% de biodiesel vegetal apresentou

    uma quantidade maior de partculas de ferro, de mangans e de titnio, e uma presena

    menor de cobre e chumbo, sendo que a quantidade de partculas de chumbo foi a mesma

    observada na amostra contaminada com 5% de B5 vegetal. A maior quantidade de magn-

    sio foi encontrada nas amostras contaminadas com 5% de biodiesel vegetal. Nas amostras

    contaminadas com biodiesel misto foram encontradas as menores quantidades de ferro,

    cromo e molibdnio. Nquel, estanho, cobalto e cobre foram encontrados em maior quanti-

    dade nas amostras contaminadas com biodiesel de sebo, e com biodiesel misto. O teste

    de alcalinidade mostrou que as contaminaes analisadas no alteram significativamente

    o leo lubrificante original, sendo que a amostra contaminada com 2% de biodiesel ve-

    getal apresentou a menor alterao. O autor concluiu que as contaminaes tm efeitos

    diferentes, podendo melhorar algumas propriedades do leo lubrificante e piorar outras.

    Kovac, Sarvan e Sikuljak (2013) analisaram dois leos lubrificantes multiviscosos com

    graus e classe de servios diferentes, contaminados com biodiesel 5%, 10% e 20%. Eles

    avaliaram a estabilidade oxidativa dos lubrificantes com base nas alteraes da viscosidade

    a 100C, TAN, TBN e na medio do nvel de oxidao atravs de FTIR. Os ensaios para

    avaliao da oxidao foram feitos pelos mtodos IP-48 e ASTM D2272 (modificado). Os

    autores concluram que a presena de biodiesel tem influencia negativa sobre a estabilidade

    qumica de leos lubrificantes do motor e que o mtodo modificado ASTM D2272 tem

    requisitos de teste muito severos e no adequado para esta aplicao.

    Shetye et al. (2013) mediram a viscosidade do leo lubrificante de um motor alimentado

    com diesel mineral (B00) e biodiesel B20 de pinho manso. Eles concluram que aps 30

    horas de operaes no houveram diferenas significativas e que o biodiesel B20 de pinho

    manso pode ser usado no motor sem nenhuma modificao.

    Stepien, Urzedowska e Czerwinski (2014): estudaram a influncia das misturas de leo

    diesel com steres metlicos de colza (RME, do ingls Rapseed Metil Ester ) sobre as

    emisses do motor e, tambm, sobre a deteriorao do leo lubrificante. Para a anlise das

    emisses eles utilizaram misturas B7, B20, B30 e B100, encontrando que ao aumentar o

  • Captulo 2. Biodiesel 37

    teor de biodiesel maior a reduo das emisses de CO e HC, e maior o aumento das

    emisses de NOx.

    A influncia do biodiesel sobre a deteriorao do lubrificante foi avaliada em dois motores

    rodando em uma bancada de testes: um submetido a cargas elevadas e o outro a cargas

    leves. Em cada motor foram avaliados dois leos lubrificantes de bases sinttica e mineral,

    e com diferentes graus e classes de servios. Foi medida a viscosidade cinemtica, TBN,

    TAN, o grau de disperso dos produtos da degradao, o nvel de desgaste de metais e

    a diluio do leo de crter pelo combustvel. Os autores encontraram que o aumento do

    percentual de biodiesel acelera a degradao de leo do motor. Outras concluses dos

    autores sobre a degradao do lubrificante foram:

    a) Os fatores que mais afetam a degradao do lubrificante so a intensidade de

    diluio do combustvel no leo e percentual de biodiesel no combustvel.

    b) O tipo de leo base do lubrificante, os aditivos usados no lubrificante e as condies

    de operao do motor tambm influenciam a degradao do desempenho do leo

    lubrificante.

    c) O envelhecimento do lubrificante reduz as j limitadas chances de evaporao dos

    bio-componentes que contaminam o leo lubrificante e isto acelera ainda mais a

    oxidao e degradao do leo lubrificante.

    d) O envelhecimento do lubrificante diminui a vida til do motor atravs da formao

    de depsitos nos pistes, na cmara de combusto e nas vlvulas. Estes depsitos

    podem causar o travamento dos anis e o polimento da camisa do cilindro.

    Corra et al. (2008) avaliaram o desempenho em bancada dinamomtrica, de um motor

    alimentado com misturas de diesel e biodiesel etlico de girassol. Os testes foram realizados

    com as misturas B5, B10, B20 e B100, e acusaram maior consumo especfico de combustvel

    para B100. Alm disso, foram comparadas amostras do leo lubrificante retiradas do motor

    antes e aps 96 horas de operao com B100. Os autores no detectaram alteraes

    significativas no lubrificante, mas ressaltaram que a viscosidade, o teor dgua e o teor de

    ferro foram os parmetros mais afetados.

    Petraru e Novotny-Farkas (2012) estudaram os efeitos causados no lubrificante pelo

    uso de combustveis contendo steres metlicos de cidos graxos (FAME) e leos vegetais

    hidrotratados (HVO). As misturas testadas foram o B30 e o B5X25 (5% de FAME, 25%

    de HVO e 70% de diesel). Aps 50 horas de operao do motor com cada combustvel,

    amostras do leo lubrificante foram analisadas, acusando que os valores de viscosidade,

    TAN e TBN do lubrificante no sofreram alteraes crticas. Alm disso, foi encontrado que

    a oxidao do lubrificante foi maior com o uso de B30 do que com o uso de B5X25. J a

    nitrao do lubrificante no caso do B5X25 foi maior que para o B30 que, por sua vez, foi

    maior que para o diesel puro.

  • Captulo 2. Biodiesel 38

    Manieniyan, Senthilkumar e Sivaprakasam (2015) compararam amostras de lubrificante

    retiradas de um motor alimentado tanto com B20 como com diesel puro. Em cada caso,

    o motor foi testado a velocidade de rotao constante e seguindo um ciclo de carga pr-

    determinado durante 75 horas. Durante os testes, amostras do lubrificante foram retiradas

    do motor a cada 25 horas de operao para avaliar a presena de resduos de desgaste de

    cobalto, cobre, ferro, magnsio, chumbo e zinco. A avaliao foi feita em um equipamento de

    plasma indutivamente acoplado por espectroscopia de emisso atmica (ICP-AES) e seguiu

    a norma ASTM D5185. Os autores encontraram que, para todos os elementos analisados,

    a presena de resduos de desgaste foi menor quando o motor operou com B20.

    Kimura (2010) utilizou trs motores diesel idnticos para verificar a influncia do uso do

    biodiesel sobre as propriedades fsico-qumicas do lubrificante. Os combustveis estudados

    foram um biodiesel B100 de origem animal, um biodiesel B100 de fonte mista (com 90%

    de origem vegetal e 10% de origem animal) e o B3, que em 2010 era o diesel comercial

    no Brasil. Os motores rodaram 20 horas como perodo de amaciamento, antes de passar

    por uma sequncia de quatro ensaios nos quais o motor