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NORDESTE Ano 8 nº 86A abril 2008 NORDESTE EDIÇÃO ESPECIAL REGIONAL ENTREVISTA OSWALDO GUERRA: INFRA-ESTRUTURA TEM MAIOR PODER DE ATRAIR INVESTIMENTOS QUE INCENTIVO FISCAL PARA MANTER O RITMO ACELERADO, A REGIÃO CONTA COM EMPREENDIMENTOS NA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO, PETROQUÍMICA E SIDERURGIA CRESCIMENTO ACIMA DA MÉDIA DO PAÍS

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NORDESTE

Ano 8nº 86Aabril2008

NORDESTE

EDIÇÃO ESPECIAL REGIONAL

ENTREVISTA OSWALDO GUERRA: INFRA-ESTRUTURA TEM MAIOR PODER DE ATRAIR INVESTIMENTOS QUE INCENTIVO FISCAL

PARA MANTER O RITMOACELERADO, A REGIÃO CONTACOM EMPREENDIMENTOS NAEXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO,PETROQUÍMICA E SIDERURGIA

CRESCIMENTOACIMA DAMÉDIA DO PAÍS

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 3WWW.CNI.ORG.BR

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Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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NAS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS, O PRODUTO INTERNO

Bruto (PIB) dos estados da Região Nordestecresceu a taxas superiores à média brasileira. Emparte, isso tem sido resultado da desconcentra-ção dos investimentos da indústria brasileira,ocorrida especialmente nos últimos dez anos.Entre 1996 e 2005, a fatia que o Nordeste deti-nha na produção industrial do País ficou umquarto maior. É um resultado expressivo, masainda insuficiente para aplainar a disparidade emrelação às regiões mais favorecidas.

Muitos dos empreendimentos que permitiramo avanço econômico foram atraídos graças aincentivos que governos estaduais concederam.As iniciativas locais tornaram-se mais vitais depoisdo fechamento da Superintendência de Desenvol-vimento do Nordeste (Sudene) em 2001, decisãorevertida somente no ano passado.

Os estados enfrentam limites, porém, noesforço de fomentar o desenvolvimento.Primeiro, porque a renúncia de impostos causaconstrangimento às contas dessas unidades daFederação, já muito carentes de recursos paraenfrentar seus grandes desafios sociais. Segundo,e essa é a razão principal, porque falta aos esta-dos a visão necessária para a construção de umplano de desenvolvimento, que trate o Nordestecomo espaço integrado.

Estão em marcha fatores que ensejam maiorespreocupações quanto a esses pontos. Há sinais deesgotamento na tendência de o crescimento doPIB dos estados do Nordeste ser superior à médianacional. Segundo alguns especialistas, isso ficaráclaro já nas contas estaduais do PIB de 2007, a

serem publicadas em meados deste ano. A razãopara tal movimento é que os efeitos dos grandesprojetos atraídos pela renúncia fiscal já foramabsorvidos pela economia.

Em entrevista nesta edição de IndústriaBrasileira, o economista Oswaldo Guerra, pro-fessor da Universidade Federal da Bahia, explicaque há um modo muito mais poderoso de atrairinvestimentos do que incentivos fiscais. São osinvestimentos em infra-estrutura logística, queatingem número maior de empresas, combenefícios mais duradouros. Ele afirma que aunião entre logística e empreendimentos degrande porte já pode ser notada em alguns casosno Nordeste. Cita o Porto de Suape, emPernambuco, que abrigará a refinaria Abreu eLima, parceria entre a Petrobras e a Petroleos deVenezuela S.A. (PDVSA).

Há vários projetos que podem permitir aoNordeste alcançar um novo patamar de desenvol-vimento. A Ferrovia Transnordestina, por exem-plo, que levará a produção do cerrado no sul doPiauí e do sertão de vários estados para os portosde Pecém, no Ceará, e de Suape. Na Bahia tam-bém há planos de uma ferrovia que integre ooeste do estado, com dinâmica produção agroin-dustrial, aos portos marítimos.

O Nordeste precisa desses e de outros projetosestruturantes, que permitam pensar o crescimentoeconômico a longo prazo. Cabe ao governo fede-ral participar ativamente do processo de planeja-mento e execução de políticas e obras para aregião. Afinal, o desenvolvimento espacialmenteequilibrado é um objetivo de todo o País.

ARMANDO MONTEIRO NETO

POLÍTICAS EM PROL

DO DESENVOLVIMENTOPara continuar a crescer de forma robusta, reduzindo asdiferenças em relação às regiões mais favorecidas do País,o Nordeste precisa de um plano de longo prazo

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6 CapaNovos setores industriais renovam o fôlego para o crescimento do Nordeste, que recebeu investimentos maciços nos anos 1990

10 BahiaIndústria automotiva, petroquímica, celulose e agroindústria mudaram perfil da economia baiana na última década

14 SergipeIndústria espera diversificar a produção do estado, concentrada nas áreas de petróleo e cimento

18 AlagoasEstado busca avançar no setor químico, mantendo o desempenho favorável na área de açúcar e álcool

22 PernambucoRefinaria de petróleo, estaleiro e pólo petroquímico poderão dobrar o PIB industrial da economia pernambucana até 2011

26 ParaíbaTransposição do Rio São Francisco, porto e extração de petróleo podemestimular o crescimento industrial paraibano

30 Rio Grande do NorteIndústria potiguar registrou forte crescimento nos últimos dez anos e deve ter novo ciclo de investimentos com têxteis e frutas

34 CearáInfra-estrutura coloca economia cearense em vantagem para seinternacionalizar e receber empreendimentos, incluindo siderúrgica

38 PiauíAgroindústria da soja e produção de biodiesel em pequenas propriedades devem puxar o crescimento do estado

42 MaranhãoEconomia maranhense ganha valor agregado com os investimentos em siderurgia e fábrica de rodas de alumínio

46 EntrevistaO economista Oswaldo Guerra afirma que nova política dedesenvolvimento para o Nordeste deve focar infra-estrutura

www.cni.org.br

DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE);Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio GouvêaVieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José deFreitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures(PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), JorgeParente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis BenevidesGadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN),Antonio José de Moraes Souza (PI);1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO);2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL);1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT);2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de SouzaFlexa Ribeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge MachadoMendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Pradode Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), JoãoFrancisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio AndréGuareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), FranciscoRenan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco(SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio deBorges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCALTitulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC);Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP),Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IELGerente executivo - Marcus Barros PintoTel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550e-mail: [email protected]

ISSN 1519-7913Revista mensal do Sistema Indústria

Coordenação editorial IW Comunicações - Iris Walquiria Campos

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

RedaçãoEditor: Paulo Silva Pinto Editor-assistente: Enio VieiraEditor de arte: Flávio CarvalhoRevisão: Shirlei NatalineColaboraram nesta edição: Carlos Tavares, Cláudia Costa,Daniel Bramatti e Gilse Guedes

PublicidadeMoisés Gomes - [email protected].: (61) 3323-1072

Impressão - Gráfica Coronário

Capa - FSB DESIGN

As opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI.

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

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O Nordeste cresceu na última década com a indústriamanufatureira e o turismo. Agora petróleo, siderurgia,agronegócio e biodiesel vão contribuir mais para odinamismo da região

A ECONOMIA DA REGIÃO NORDESTE BENEFICIOU-SE TREMENDAMENTE NOS ANOS

1990 da desconcentração industrial ocorrida no Brasil. Empresas têxteis migraram umaparte de sua produção dos estados do Sul e Sudeste para o Ceará. A Bahia atraiu o inves-timento de expansão da Ford brasileira e criou um pólo automobilístico, com mais de30 produtores de autopeças. O impulso para buscar empreendimentos veio de incen-tivos fiscais concedidos pelos governos estaduais, que tomaram o lugar das políticasfederais da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), extinta em2001 e reativada em janeiro do ano passado. As iniciativas estaduais trouxeram bonsresultados, mas mostram sinais de esgotamento como estratégia econômica. “É precisoum novo projeto de desenvolvimento”, diz o economista Oswaldo Guerra (veja entre-vista na página 46), professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

O movimento da última década possibilitou uma elevação de 25,7% noValor da Transformação Industrial (VTI) do Nordeste, entre os anos de 1996 e2005. Com isso, a participação da indústria nordestina no VTI do Brasil subiude 7,5% para 9,3%. Essa mudança permitiu que a economia da região manti-vesse um crescimento um pouco acima da média brasileira de 1987 a 2005.Nesse período, os nove estados do Nordeste registraram crescimento doProduto Interno Bruto (PIB) de 2,7% ao ano, frente aos 2,2% do Brasil. A con-sultoria Datamétrica estima um crescimento de 4,9% para a região em 2008,acima da estimativa de 4,5% para a economia brasileira.

O desafio dos próximos anos, segundo especialistas, será estimular mais uma roda-da de investimentos baseados na qualidade da infra-estrutura (portos, estradas, ener-gia elétrica) e na formação de recursos humanos. São os chamados projetos estrutu-rantes, entre os quais está a Ferrovia Transnordestina, que correrá paralela ao rio SãoFrancisco, do cerrado no sul do Piauí e do sertão de vários estados para olitoral. Os baianos também querem implantar uma ferrovia para levar a produção dooeste do estado, na região de Barreiras, ao mar. Incentivos fiscais deixam de ser o focoda política de desenvolvimento. É o caminho que, por exemplo, já aparece claramen-te nos projetos industriais surgidos e em construção nas proximidades dos portos daSuape, em Pernambuco, e de Pecém, no Ceará.

CAPA

Novo viés dedesenvolvimento

POR ENIO VIEIRA

CAMAÇARI (BA)concentra hoje apetroquímica no

Nordeste, quedeverá crescer em

Pernambuco

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FORTALEZA eoutras capitais têm

desenvolvimentohumano alto, mas

o sertão puxa oindicador regional

para baixo

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

O novo momento significará, espera-se, umadesconcentração dos empreendimentos que prio-rizaram até agora a faixa litorânea. À beira do mar,estão as melhores condições de logística e asregiões metropolitanas com seus serviços qualifica-dos de educação e de medicina. A questão éencontrar a solução para o semi-árido, onde per-manecem os problemas de pobreza. “Com exce-ção das ilhas de prosperidade da fruticultura nosertão e da agricultura de grãos no cerrado [aoeste], predomina no interior a produção agrícolade subsistência, altamente vulnerável às secas”, dizo economista Gustavo Maia Gomes, professor daUniversidade Federal de Pernambuco (UFPE).

RIQUEZA NO LITORALA concentração econômica na faixa litorânea podese constatada no Índice de DesenvolvimentoHumano (IDH), da Organização das NaçõesUnidas (ONU), que mede o nível de renda, aescolaridade e a expectativa de vida da população.Quanto mais o IDH se aproxima de 1, maior odesenvolvimento humano. Salvador, por exemplo,tinha um IDH de 0,794 no ano de 2000, acimado indicador de 0,688 da Bahia e da média brasi-leira de 0,766. O Maranhão tinha um indicador

de 0,636, o que o colocava entre os piores estadosdo Brasil, mas a Grande São Luís alcançava 0,766.A faixa litorânea tem uma qualidade de vidamelhor do que o restante das cidades do interior.

O Nordeste continua com níveis acentuadosde desigualdade de renda, medida pelo índice deGini. Estudo do Programa das Nações Unidaspara o Desenvolvimento (Pnud) e da Prefeiturado Recife mostrou que as nove capitais da regiãoestavam no ano de 2000 entre as 14 sedes esta-duais de maior desigualdade de renda no Brasil.As capitais com maior iniqüidade eram o Recife,Maceió, Salvador e Fortaleza. Com tais problemassociais, a conseqüência é que está no Nordeste ametade das 11 milhões de famílias que recebembenefícios do Bolsa Família, do governo federal.Nos últimos anos, foi detectada uma elevação doconsumo na região associada ao dinheiro distri-buído pelo programa.

Em fevereiro, o governo federal lançou o pro-grama Territórios da cidadania, para atender 60regiões do País com as maiores carências de infra-estrutura e serviços. Desse total, 42 áreas situam-se no Nordeste, onde serão aplicados R$ 2,5 bi-lhões para compra de material de construção,implantação de cisternas e demarcação de assenta-

mentos. Mas, para receberinvestimentos de empresas, osemi-árido precisa de melho-rias de infra-estrutura. “Nãohá vantagens competitivas[nesses locais]. Uma empresasó se instala ali se receber umcaminhão de incentivos”,afirma Guerra, da UFBA.

As empresas apontam ainfra-estrutura como um dosprincipais desafios dos próxi-mos anos no Nordeste. O pre-sidente da Associação Brasileirada Indústria Têxtil (Abit),Aguinaldo Diniz, observa aescassez de energia elétrica acustos competitivos na região.Segundo ele, garantir energia éo caminho para receber novosinvestimentos e, assim, nãoA

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A MAMONA,matéria-prima dobiodiesel, pode seruma soluçãoeconômica paraagricultores dosemi-árido

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CAPA

depender tanto dos incentivosfiscais. Nos anos 1990, empresascomo Vicunha e Marisol expan-diram atividades no Nordeste,que aumentou a participação naindústria têxtil do Brasil de13,3% para 18,5% entre 1990 e2005. “Quase todo municípiodo Nordeste tem produção têx-til, mas precisamos de infra-estrutura”, diz.

A política de incentivos fis-cais terá um ponto final com aReforma Tributária, em discus-são no Congresso Nacional.Os estados do Nordeste e doCentro-Oeste foram os maisagressivos em conceder des-contos do Imposto sobreCirculação de Mercadorias eServiços (ICMS) e queremagora um modelo de transição que garanta os con-tratos de incentivos fiscais – alguns chegam a terprazo de 30 anos. Apesar de toda a polêmica queenvolve a guerra fiscal, são inegáveis alguns bene-fícios da redução de impostos. Criou-se um gran-de dinamismo na faixa litorânea do Nordeste,com montadoras de veículos (Bahia), petroquími-ca (Pernambuco e Alagoas) e fábricas de têxteis(Rio Grande do Norte e Ceará).

NOVOS EMPREENDIMENTOSNos próximos anos, as regiões próximas ao litoralcontinuarão a receber investimentos de peso. São oscasos da refinaria de petróleo e do estaleiro emPernambuco. A Bahia terá um grande projeto depapel e celulose na parte sul. No Ceará, após muitasidas e vindas, será construída a siderúrgica CearáSteel. O Maranhão quer aproveitar a disponibilida-de de minério de ferro para instalar uma usina desiderurgia e uma fábrica de rodas que utilize a pro-dução estadual de alumínio. Porém, um setor tradi-cional que está passando ao largo do boom de inves-timento no País é o do álcool e açúcar, que há qua-tro séculos fazia do Nordeste a região mais rica doBrasil. Os investidores concentraram seus projetosnas regiões Sudeste e Centro-Oeste.

No litoral, cresceram enormemente os serviçosde turismo, atividade altamente geradora de empre-gos e de divisas externas, pela atração de visitantesestrangeiros. Segundo o Anuário Exame 2007-2008, o Nordeste tem uma previsão de investimen-to de R$ 4,9 bilhões para 66 projetos de hotéis eresorts no período de 2007 a 2010. Os investidoressão principalmente espanhóis e portugueses. Masgrupos brasileiros também estão apostando nosegmento em Pernambuco, Bahia, Sergipe e Ceará.Os empreendimentos no litoral nordestino são boaparte da lista do Anuário de 150 projetos, quesomam R$ 6,8 bilhões em todo o Brasil.

Distante da região costeira, o Nordeste possuiáreas de cerrado onde cresceu nas últimas décadas aagroindústria, principalmente de soja. Cidadescomo Balsas (MA) e Luís Eduardo Magalhães (BA),além do sul do Piauí, seguem a trajetória bem-sucedida de complexos de grãos dos estados doCentro-Oeste, que tiveram investimentos pesadosde esmagadoras de soja, fábricas de ração animal efrigoríficos. No semi-árido, o potencial está no bio-diesel dos pequenos produtores familiares e na fru-ticultura irrigada voltada para exportação, que apre-sentou bons resultados às margens do rio SãoFrancisco, com destaque a Petrolina (PE).

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

O desafiode mantero ritmoCom o maior parque industrial daregião, a Bahia busca agora novosinvestimentos para manter ocrescimento da última década

POR DANIEL BRAMATTI

ENTRE 1996 E 2005, A BAHIA CONSTRUIU O SEXTO

parque industrial do País. Um indicador que contaessa história com clareza é o Valor da TransformaçãoIndustrial (VTI), calculado pelo Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se da medi-ção do que é efetivamente produzido em cada uni-dade da Federação, descontados os insumos.

Em 1996, a Bahia respondia por apenas 2,7%do VTI do País. Em 2000, passou para 4,1%.E, em 2005, chegou a 4,7%. Em dez anos, a varia-ção foi de 78%, o melhor desempenho entre osdez estados mais industrializados.

Na contramão desse processo, São Paulo teve suaparticipação reduzida de 49,4% para 40,2% noperíodo. O VTI da Bahia era, em 2005, superior aoda soma de todos os demais estados do Nordeste.É um panorama bem diferente do que se via em1996, quando os baianos produziam pouco mais dametade da soma dos demais estados nordestinos.

O problema é que o combustível para a expansãotem se mostrado escasso nos últimos anos. Em 2006,segundo o IBGE, a indústria baiana cresceu 3,2% emrelação ao ano anterior, um pouco abaixo da médiado Nordeste (3,3%) e um pouco acima da média doBrasil (2,8%). E, em 2007, o crescimento foi de ape-nas 2%, enquanto a média nacional saltou para 6%.

Não falta demanda: a indústria baiana está trabalhan-do muito perto do limite da capacidade instalada. Énecessário aumentar a capacidade de produção.

“A Bahia precisa de um novo ciclo de grandesinvestimentos”, afirma o presidente da Fieb, Jorge LinsFreire. Ele destaca que uma das características daindústria no estado é a excessiva concentração – ape-nas seis setores são responsáveis por 80% da produção.

Um desses setores, o automobilístico, é aomesmo tempo representativo do período de altaexpansão da indústria e das limitações do períodoatual. O complexo industrial da Ford emCamaçari foi inaugurado em 2001, trazendo umaonda de empregos e investimentos para a cidade,localizada na região metropolitana de Salvador.Mais de 30 fábricas de autopeças se instalaram emtorno na montadora, entre elas pesos-pesadoscomo Bridgestone, Continental e Firestone.

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A Ford logo alcançou sua plena capacidade, oque levou à implantação de um segundo turno detrabalho, em 2002. Em 2004, com a demandacrescente, foi preciso recorrer ao terceiro turno. Eé assim, no limite, que o complexo vem operandodesde então. Em média, nada menos do que 912carros saem da linha de montagem a cada dia –um automóvel a cada 80 segundos.

Também em Camaçari funciona outro dospilares do setor industrial baiano, o pólo petroquí-mico. Criado há 30 anos, com a instalação daCompanhia Petroquímica do Nordeste (Copene),concentra hoje cerca de 40 indústrias químicas.

O pólo representou o segundo grande salto daindustrialização baiana – o primeiro foi decorrente dadescoberta de petróleo e da instalação da refinariaLandulpho Alves, na década de 1950. Em 1970, antesda criação da Copene, o setor industrial respondia por

cerca de 12% do Produto Interno Bruto (PIB) baia-no. Em 1980, essa participação superou 31%.

Por conta do forte peso industrial de Camaçari,o município tem um PIB per capita seis vezes maiorque o de Salvador. Esse sucesso motiva o governoestadual a incentivar a criação de outros pólos regio-nais, como o pólo têxtil de Vitória da Conquista e opólo cerâmico de Alagoinhas, por exemplo.

A maior empresa do pólo de Camaçari é aBraskem, braço petroquímico do grupo Odebrecht.Foi criada a partir da reestruturação pela qual passouo setor petroquímico a partir do ano 2001, quandoo consórcio Odebrecht-Mariani assumiu o controleda Norquisa, holding que controlava a Copene.

A Braskem integrou empresas de primeirageração (que produzem petroquímicos básicoscomo eteno, benzeno e propeno) com as de segun-da geração (resinas como polietileno, polipropile-

DEPOIS DAFORD, 30indústrias deautopeças seinstalaram emCamaçari

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no, PVC e PET) e passou a investir na terceirageração: a fabricação de produtos finais para oconsumo, como embalagens, canos e autopeças.

Apesar do sucesso inegável do pólo, há dúvidassobre seu futuro. A competição é cada vez mais acirra-da, não apenas no cenário internacional. O temorprincipal é que a Petrobras, que recentemente voltouao setor petroquímico ao adquirir a SuzanoPetroquímica, direcione os novos investimentos empetroquímica para a região Sudeste – já há um póloem São Paulo e outro em instalação no Rio de Janeiro.

O setor de papel e celulose, outro em que aBahia se destaca, é uma exceção no panorama dosbaixos investimentos. No ano passado, o grupoSuzano investiu nada menos que US$ 1,3 bilhãona implantação de uma segunda linha de produ-ção em Mucuri. Já em operação, a unidade produ-ziu 137 mil toneladas de celulose em 2007, supe-rando a previsão inicial de 120 mil.

Na divulgação aos investidores dos resultadosde 2007, o grupo Suzano descreveu o chamadoProjeto Mucuri como “a maior linha única de pro-dução de celulose do mundo, referência mundialem termos de tempo de implantação, volume deprodução e tecnologia”.

Na área dos combustíveis, a Bahia conta cominvestimentos prometidos pela Petrobras de até US$ 1,5 bilhão nos próximos anos. Serão implanta-

das na refinaria Landulpho Alves – a segunda maiordo País – duas novas unidades de produção de die-sel e gasolina com menor teor de enxofre. A estataltambém investe na produção de biocombustíveis, oque movimenta a cadeia da agroindústria.

PERSPECTIVAS NA MINERAÇÃOPara o médio prazo, um setor com bons prognósti-cos é o de mineração. De 2007 para cá, foram licita-das 21 áreas de exploração, quase o mesmo númerodas três décadas anteriores. E uma novidade, explicao secretário estadual de Indústria e Comércio, RafaelAmoedo, é que empresas se comprometeram ainvestir também na verticalização da produção, ouseja, não apenas extrair matéria-prima, mas tambémbeneficiá-la para agregar valor. Se isso der certo, podeestar em gestação um pólo siderúrgico para a Bahia.

As licitações compreendem áreas de zinco,ouro, fosfato, níquel e minério de ferro, mas é nesseúltimo item que o estado pode se destacar. SegundoAmoedo, a Bahia tem reservas de mais de trêsbilhões de toneladas de minério de ferro, potencialque alimenta especulações sobre uma “novaCarajás” a ser explorada.

O secretário reconhece a existência de gargalosprodutivos para a indústria baiana e os credita a umafalta de planejamento de longo prazo. Mas tem umavisão otimista. Citando diversos investimentos pla-

nejados em mineração, têxteis,cerâmica, etanol e biodiesel, eleafirma que o setor tende a se des-centralizar e crescer mais pelo inte-rior do estado. “A Bahia é e conti-nuará sendo o grande portalindustrial do Nordeste”, afirma.

Amoedo também admite aexistência de alguns problemas deinfra-estrutura para as indústrias,mas afirma que tanto o governo doestado quanto o federal estão com-prometidos a saná-los. Nessa área,um dos projetos que ele vê comentusiasmo é o chamado Porto Sul,que será instalado no município deIlhéus, em uma área de 1.770 hec-tares que já foi desapropriada pelaadministração estadual. “Será o

O SETOR DE PAPELe celulose é o que

mais concentrainvestimentos, com

o projeto Mucuri da Suzano

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O presidente da Fieb, Jorge Lins Freire, afir-ma que a indústria baiana é muito concentra-da em setores que já estão com capacidademáxima de produção. Para ele, a atração denovos empreendimentos para o estadodepende de uma forte ação política.

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Indústria Brasileira – Em 2007 a indústria cres-ceu na Bahia menos do que a média nacional. Quaisforam os fatores determinantes para esse resultado?Jorge Lins Freire – A indústria baiana é comple-xa e muito concentrada. Apenas seis segmentosrepresentam cerca de 80% da indústria de trans-formação: refino, petroquímica, alimentos, celu-lose, automóveis e metalmecânica. E são setoresque já estavam produzindo a plena capacidade,com unidades já consolidadas. A única exceção éa celulose, que tem boa capacidade de expansão.

O grupo Suzano inaugurou uma fábrica novarecentemente. Mas não há grandes empreendi-mentos prestes a ser inaugurados. Com isso,vamos voltar a crescer abaixo da média do Paísem 2008.

IB – No médio prazo, quais são as perspectivas?JLF – Há investimentos anunciados na área demineração, no interior do estado. Dois grupos,um indiano e outro chinês, estão com projetosque envolvem a extração de minério de ferro.

IB – O que explica a escassez de grandes investi-mentos? Estão faltando incentivos?JLF – Creio que o problema não é só de incenti-vos, é uma questão política, também. Grandesinvestimentos estão vinculados a uma ação polí-tica mais forte. Creio que o governador JaquesWagner está se articulando para isso.

IB – Em que medida o real valorizado tem preju-dicado a indústria baiana?JLF – Prejudica alguns setores mais do queoutros. A indústria automobilística foi bastanteatingida. Apesar dessa dificuldade, a Bahia deuum salto de exportações.

IB – O setor de biocombustíveis representa oportu-nidades no estado?JLF – Sim, a Petrobras está investindo e estimu-lando a participação da agricultura familiar nosetor. Mas é um processo de longo prazo, isso vaicrescer aos poucos.

NOVOS EMPREENDIMENTOS

grande hub de exportação do Nordeste”, afirma.O edital de licitação do novo porto deve ser publi-

cado em maio. O investimento previsto – de respon-sabilidade da iniciativa privada, em regime de conces-são – é de cerca de R$ 4 bilhões. Segundo o secretá-rio, as instalações permitirão o estabelecimento de umnovo corredor de exportação entre o Centro-Oeste ea costa atlântica, além de beneficiar todo o oeste baia-no, principal pólo da agroindústria estadual.

Governo e empresários estão em sintoniaquando o assunto é infra-estrutura e desconcentra-ção da indústria. Os dois temas são listados como

prioritários no documento Uma Agenda para aIndústria da Bahia, da Fieb, que enumera projetosde desenvolvimento até o ano de 2010.

Na introdução do documento, Lins Freiremanda um recado para os formuladores de políti-cas públicas na Bahia e no governo federal: “Nossamensagem é clara: acreditamos que a agenda docrescimento deve se sobrepor à agenda da estabili-dade, pois o País encontra-se preparado para ocrescimento sustentado de longo prazo, commaior inclusão social, redução da pobreza e dadesigualdade na distribuição de renda”.

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

Aposta nadiversificaçãoCom grande peso do petróleo e cimento em sua economia, Sergipe buscafortalecer 50 novos negócios, da produção de álcool ao turismo

POR GILSE GUEDES

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O ESTADO DE SERGIPE COMEMORA OS RESULTADOS

positivos de sua economia sem deixar de olharpara um horizonte em que a ampliação dacadeia produtiva é necessária para garantir maiscrescimento. A meta é mudar a composição doProduto Interno Bruto (PIB), investindo emnovos empreendimentos, como os dos setoresde produção de etanol, bebidas e construçãocivil. Na busca de novas oportunidades empre-sariais, o menor estado do País busca reduzira grande dependência dos investimentos naextração do petróleo.

Como parte do plano de diversificação da

cadeia produtiva, estão em execução 50 novosempreendimentos privados com incentivos fiscaisdo governo do estado que totalizam investimentosde R$ 900 milhões com a geração de 7.000empregos. A lista inclui uma destilaria de álcool doGrupo Samam, tradicionalmente forte em Sergipeno ramo de revendedoras de automóveis. Serãoinvestidos R$ 200 milhões no empreendimento,que deverá gerar 3.000 novos postos de trabalho.É uma aposta no interesse de vários países em uti-lizar em suas matrizes energéticas um produtomenos poluente, que deverá aumentar a demandamundial pelo etanol.

Até o fim do ano será inaugurada uma fábricade produção de latas para cerveja e refrigerantes daCrown Embalagens, grupo com sede nos EstadosUnidos. Na área do turismo, outra aposta do esta-do, um investimento de R$ 100 milhões do grupoINVI, com sede na Polônia, vai possibilitar a cons-trução de grandes condomínios de luxo formadospor casas para estrangeiros interessados em teruma segunda residência para descansar nas praiasdo litoral sergipano. O megaempreendimentoINVI será na Ilha de Santa Luzia, em frente aAracaju. Na mesma ilha, foi inaugurado no anopassado o Resort Starfish, uma bandeira de origemjamaicana que já opera em 17 resorts no mundo.O investimento foi de R$ 35 milhões.

Para o economista Paulo Brandão, superinten-dente do IEL em Sergipe, os novos empreendi-mentos revelam o bom momento da economia doestado. Segundo ele, o marco dessa fase foi a inau-guração, em 2007, da nova plataforma de petróleoda Petrobras, o Campo de Piranema. “A explora-ção de petróleo é a nossa principal atividade indus-trial. A Petrobras responde por cerca de 20% doPIB do estado. Quando a Petrobras investe, anossa economia volta a crescer”, explica Brandão.

Fruto de um convênio de cooperação tecnoló-gica entre a Petrobras e a empresa norueguesaSevan Production AS, Piranema é o primeirocampo a produzir petróleo em águas profundas noNordeste. A plataforma levará Sergipe a sair dasexta para quarta posição no ranking de maior pro-dutor de petróleo do País. De 2001 até hoje,a Petrobras tem aumentado o seu volume anualde investimentos em Sergipe. Começou com

A EXPLORAÇÃODE PETRÓLEO

representa 20% doPIB sergipano

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

R$ 304,56 milhões em 2001, passou para R$ 780milhões em 2007 e deve atingir, segundo valoresprevistos, R$ 1,11 bilhão em 2008 e R$ 1,23 bi-lhão em 2009. A cada ano, a receita em royalties doestado também tem aumentado: em 2004 ficouem R$ 63,6 milhões, em 2005 R$ 74,6 milhões eem 2006 foi para R$ 90,6 milhões.

Na opinião de Brandão, do IEL, os investimen-tos da Petrobras devem ser festejados, mas, aomesmo tempo, devem servir de alavanca paraampliar a cadeia produtiva no estado. “Sergipedepende dos humores da Petrobras. Quando aempresa deixa de investir, nós entramos em declínio.Por isso, temos de criar várias frentes para que não

fiquemos dependentes apenas de uma com-modity”. Segundo ele, um sinal de que o esta-do tem buscado a diversificação de sua econo-mia é a pauta de exportações, que inclui 100produtos – há cinco anos eram apenas 20.

No topo da lista de exportações, estão osuco de laranja e o cimento, com númeroscompetitivos em relação ao restante do País.Graças ao desenvolvimento da fruticulturano estado com a introdução da irrigação e aoferta de mão-de-obra, Sergipe é o segundoprodutor de suco de laranja, atrás apenas de São Paulo. A produção de cimento é ou-tro ramo consolidado, com fábricas daVotorantim e do Grupo João Santos: o esta-do é o maior exportador do produto noBrasil. Representando 78,23% dos valoresexportados, cimento e laranja tiveram pesoforte no superávit de 2007 da balançacomercial de Sergipe (US$ 4,55 milhões).

Segundo Brandão, do IEL, a indústriada construção civil é um setor em cresci-mento. Três grandes construtoras sergipanas– a Norcon, Celi e Cosil – investem em lan-çamentos imobiliários para a classe médiano compasso do crescimento do PIB percapita. De acordo com Instituto Brasileirode Geografia e Estatística (IBGE), o PIB percapita de Sergipe registrou uma variação de8,5% de 2004 para 2005 e é o maior doNordeste (R$ 6.821). Aproveitando o bommomento da construção civil, três pólos decerâmica vermelha têm expandido seusnegócios e direcionam suas vendas para aBahia e Alagoas. Um pólo fica no municípiode Itabaianinha, no sul de Sergipe, e os doisoutros em Itabaiana, centro do estado, e nonorte sergipano.

Os investimentos em obras de infra-estrutura também fazem parte do plano para

EXPANSÃO DAFÁBRICA de

cimento do GrupoVotorantim:

crescimento daprodução

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atrair novos empreendimentos. “A equação para odesenvolvimento combina investimentos públicoscom privados, além de um rigoroso ajuste fiscal”,diz o secretário estadual de DesenvolvimentoEconômico, Jorge Santana de Oliveira. Sergipe vaiinvestir em obras R$ 2,5 bilhões de 2008 a 2011.Esse montante é parte dos R$ 6,9 bilhões em inves-timentos previstos para os próximos quatro anos, oque representa cerca de 30% do PIB do estado de2007, segundo estimativa do governo sergipano.

Entre as obras previstas estão a duplicação daBR-101 e a ampliação do Porto de Sergipe, emBarra dos Coqueiros, a 15 km de Aracaju. “Se não

Indústria Brasileira – O meio empresarial noestado está animado com o superávit da balançacomercial de 2007. O que tem sido feito na área decomércio exterior?Eduardo Prado de Oliveira – A vocação deSergipe para exportar despontou recentemente.Nós estamos nos capacitando, com a ajuda doprograma Exporta Brasil, da CNI, e pretende-mos ampliar as vendas para outros países tantoem diversidade de produtos quanto em escala.

IB – Quais são as atividades industriais que

O presidente da Fies, Eduardo Prado de Oliveira,afirma que os números da exportação em Sergipemostram que o estado passa por uma boa fase.“Estamos nos capacitando para exportar aindamais”, afirma.

se destacaram? EPO – Nós batemos recorde nas exportações. Ocimento e a laranja puxaram as nossas vendas. Asperspectivas são boas em várias áreas. A explora-ção do petróleo incentiva a produção em outrossetores, industriais e de serviços. Faz com quesejam necessárias várias obras: rodovias, redes degás, locais de armazenamento, entre outras.

IB – Quais os entraves para o desenvolvimentoeconômico?EPO – Precisamos de mais obras de infra-estru-tura. Já temos algumas sinalizações do que seráfeito. A BR-101 será duplicada e a BR-235 serárevitalizada. Isso é muito bom. Podemos dizerque a economia está aquecida e o governo doestado de Sergipe tem se mostrado um bom par-ceiro. Na área de exportações, temos de ampliaro Porto de Sergipe [em Barra dos Coqueiros, a 15 km de Aracaju].

IB – A economia pode avançar em que setores?EPO – Em vários setores. Vamos ter duas novasempresas produtoras de etanol. Na área do turis-mo, também há muitas oportunidades e novosempreendimentos.

IB – Quais os setores que enfrentam problemas?EPO – Nós temos um parque têxtil enorme,com seis empresas bastante modernas. A produ-ção pode crescer muito, mas tem sido muito difí-cil concorrer com o produto chinês.

FOCO NA EXPORTAÇÃO

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ampliarmos o porto, não haverá mais capacidade decarga, nem para exportar nem para importar”, ava-lia a secretária estadual de Planejamento, LúciaFalcón. Segundo ela, a implantação da Zona de Pro-cessamento de Exportação (ZPE) é outro caminhoa ser trilhado para atrair empresas exportadoras pormeio de incentivos fiscais. Entre as empresas quepoderão instalar-se no estado estão as do setormetalmecânico para abastecer a Petrobras e a mira-dora Vale, empresa que explora a única mina de clo-reto de potássio do País. “Precisamos aproveitar apresença da Petrobras e da Vale para formar umaampla cadeia produtiva”, afirma Falcón.

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A CANA-DE-AÇÚCAR, QUE JÁ FOI A PRINCIPAL

riqueza do Brasil, tem hoje Alagoas como expoentemáximo da produção nordestina. O estado possuiusinas eficientes, a no máximo 100 km de distânciado Porto de Maceió, garantindo a competitividadeno comércio exterior. Não é à toa que açúcar eálcool representaram 89% das exportações do esta-do no ano passado. Em tempos de grande demandamundial por combustível verde, os alagoanos saemna frente na disputa por nichos de mercado no exte-rior e planejam aumentar a produção.

A grande participação das usinas nas exporta-

ções alagoanas e na economia do estado como umtodo mostram, porém, as limitações que têm sidoimpostas para o crescimento de outros negócios.Como resposta a isso, o governo do estado prepa-ra o lançamento da Agência de Fomento deAlagoas (Afal), que tem o objetivo de estimularpequenas e médias empresas e garantir a amplia-ção da cadeia produtiva.

A Afal deverá entrar em operação neste semes-tre e funcionará inicialmente com um aporte de R$ 4 milhões, recursos reservados pelo TesouroNacional graças a um acordo de ajuste fiscal fecha-

Muito alémdos canaviaisSem deixar de lado sua excelênciana produção de açúcar e álcool, Alagoasbusca o crescimento com novas indústrias

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do com o governo alagoano. As negociações paracaptação de recursos também envolvem entendi-mentos com o Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES), o BancoInteramericano de Desenvolvimento (BID) e aAgência Espanhola de Desenvolvimento.

Ex-consultor do BID, o secretário estadualde Planejamento, Sérgio Moreira, explica que osR$ 4 milhões serão usados em projetos-pilotospara dinamizar a cadeia produtiva em áreas comopesca, plantação de algodão e turismo de pousa-das. “A Agência de Fomento vem para suprir uma

lacuna deixada pelo Banco de Produção do Estadode Alagoas (Produban, que pertencia ao governodo estado), extinto no final dos anos 1990”, diz osecretário. Ele afirma que o novo órgão é necessá-rio para suprir a carência de investimentos noestado nos últimos anos.

Moreira avalia que Alagoas dá sinais positivos deestar no caminho do desenvolvimento. A evoluçãopositiva do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,9%de 2004 para 2005 contra um porcentual negativode 2002 para 2003 de 7% está entre os sinais cita-dos pelo secretário. “Se essa tendência for mantida,

A PRODUÇÃODE ÁLCOOLcontinuará forteno estado, mastem a expansãolimitada pela faltade novas terraspara o cultivode cana

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O presidente da Fiea, José Carlos Lyra deAndrade, tem expectativas do surgimento denovos negócios no estado na cadeia produtiva doPVC. Mas afirma que é necessário criar novosincentivos para investimentos em outros setores.

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Indústria Brasileira – O que tem sido feito noestado na busca por novas indústrias?José Carlos Lyra de Andrade – Nós estamos pro-movendo mensalmente reuniões das forças produti-vas, incluindo comércio, indústria e agricultura, embusca da criação de incentivos para atrair empresas.Outro modo de conseguir isso é um convênio que aFiea já estabeleceu com a Caixa Econômica Federal(CEF), para oferecer R$ 300 milhões em financia-

mentos à habitação e à indústria.

IB – O que os empresários defendem como políticade incentivos?JCLA – Depois de conversas com a secretaria deFazenda de Alagoas, nós conseguimos alterar oprograma de benefícios para torná-lo mais atrati-vo. Uma das mudanças é a prorrogação por mais15 anos dos incentivos concedidos a empresas.

IB – Quais áreas deverão se expandir?JCLA – Nós acreditamos que o setor químicodeverá crescer. O nosso principal foco é o apro-veitamento do PVC da Braskem, que tem duasunidades no estado. O Pólo Multifabril deMarechal Deodoro, a 12 km do centro deMaceió, possui toda a infra-estrutura para atrairempresas, como energia e tratamento de efluen-tes. O setor estava estagnado, mas agora, graças àpolítica de incentivos fiscais e de crédito, deverãosurgir várias empresas da cadeira produtiva doPVC em Alagoas.

IB – Empresários do setor sucroalcooleiro estãoinvestindo em outros estados?JCLA – Com o esgotamento da fronteira agríco-la em Alagoas, os usineiros, que são muito capita-lizados, estão investindo na mesma atividade emoutros estados, como Minas Gerais e São Paulo.

PÓLO INDUSTRIAL DE PVC

considerando que o Nordeste (4,6%) e o Brasil(3,8%) cresceram a uma taxa menor neste período,podemos dizer que o estado de Alagoas deverá cres-cer mais que a região”, aposta Sérgio Moreira.

No setor sucroalcooleiro, 26 empresas garan-tem ao estado a liderança na produção nordestina.A previsão do Sindicato da Indústria do Açúcar edo Álcool de Alagoas (Sindaçúcar-AL) é de que apróxima safra de cana seja recorde, atingindo29,25 milhões de toneladas.

Segundo o empresário alagoano José CarlosMaranhão, dono das Usinas Santo Antônio eCamarajibe, o setor planeja ampliar a fatia da safradestinada à produção de etanol. Mas isto só deveráocorrer, caso os preços no mercado internacionalsejam mais atrativos. “Sempre temos de tomar as

decisões baseadas no preço lá fora”, afirma. A partirda última safra de cana, foram produzidos 637 milm3 de álcool e 2,22 milhões de toneladas de açúcar.Para a próxima, a expectativa é de aumento de 8%na produção de açúcar e de 18% na de álcool.

Outro setor que tende a crescer e se sofisticar éo químico, segundo o assessor econômico da Fiea,Francisco Braga. O plano estratégico para o setoré criar uma cadeia produtiva de derivados doPVC. Isso poderá ser feito a partir da integração denovas empresas às duas unidades da Braskem noPólo Multifabril de Marechal Deodoro, a 12 kmdo centro de Maceió.

Segundo o assessor econômico da FieaFrancisco Braga, o setor químico tem ofertas deincentivos fiscais do governo do estado, com redu-

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ção do Imposto sobre Circulação de Mercadoriase Serviços (ICMS) e de terrenos a valores 5% a10% do preço de mercado. “Poderemos ter umgrande parque químico com empresas que apro-veitem a produção da Braskem para fabricar plás-ticos e tinta, por exemplo”, diz Braga.

Com a instalação de novas unidades industriaisno Estado, a construção civil também deverá se bene-ficiar. Com capital para investimento por causa dobom momento para o setor, seis construtoras comsede em outros estados abriram filiais em Alagoas,atraídas pelos novos empreendimentos, na áreaindustrial, habitacional e no setor de turismo.

CONSTRUÇÃO CIVILA Gafisa, Cyrela e InPar (São Paulo), Norcon(Sergipe), WR (Ceará) e Moura Dubeaux (Per-nambuco) são as que fincaram suas bases no estado.Algumas já estão com obras em execução, como aCyrela. Diante da demanda por imóveis com preçosatrativos para a classe média baixa, a empresa paulistatem um projeto de construção de 4.500 apartamen-tos na chamada parte alta de Maceió. “A empresa estáde olho no crescimento do mercado nordestino e aCyrela tem tecnologia para fazer apartamentos para opúblico C cujos preços podem variar entreR$ 40 mil e R$ 80 mil”, diz o economista CíceroPéricles, professor da Universidade Federal de Alagoas

(Ufal). Segundo ele, algumasempresas já descobriram que emAlagoas há outro segmento quepode ser ainda mais explorado,não apenas na faixa de consumoda classe média baixa. São consu-midores de baixa renda com ocrescimento da chamada econo-mia popular.

Um estudo do economistacitado em reportagem na ediçãode 7 de fevereiro da revista ingle-sa The Economist procurou apre-sentar as razões para ampliaçãodesse mercado voltado para apopulação mais pobre. A pes-quisa mostra que o programafederal Bolsa Família tem injeta-do, por ano, na economia esta-

dual R$ 300 milhões, total de benefícios recebidospelas 350 mil famílias alagoanas.

Em termos comparativos, esse montante é qua-tro vezes maior que os R$ 75 milhões pagos pelosusineiros aos trabalhadores que colhem a cana-de-açúcar, fonte da principal produção industrial deAlagoas. Segundo o economista da Ufal, essa seriauma das razões para a explosão de consumo noestado verificada na Pesquisa Mensal do Comérciodo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE). A pesquisa do IBGE mostra em Alagoasque o consumo expandiu-se 19,2% em 2007,enquanto a média no País foi de 9,6%.

Nesse contexto de crescimento da renda entre osmais pobres, alguns empreendimentos têm redirecio-nado a produção para atender novas demandas. Nodistrito industrial Luiz Cavalcante, o maior deAlagoas, há 75 empresas instaladas, de pequeno emédio portes. Algumas delas como a Arasil Plásticos ea Replast têm aproveitado para aumentar sua produ-ção de sacolas plásticas e abastecer uma grande rede depequenos mercados e supermercados que vêm sendoinstalados. Segundo o professor Péricles, da Ufal, oque falta agora é o governo estadual e empresáriosaproveitarem o momento para executar projetos volta-dos para uma política de substituição de importações,garantindo que os consumidores adquiram mais pro-dutos fabricados em seu estado.

LAGOA JEQUIÁ: oturismo é um dos

setores que teráprojetos-piloto

graças a convênioentre estado e

governo federal

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O PORTO DE SUAPE TORNOU-SE NOS ÚLTIMOS ANOS

o centro dinâmico da economia de Pernambuco. Asfacilidades de logística e a proximidade com a regiãometropolitana do Recife atraíram 65 empresas parao local, sobretudo do setor químico. Nos próximosanos, a importância da região portuária será cada vezmaior considerando-se os projetos em andamento.Até 2011, três grandes pólos consolidarão a produ-ção industrial em volta do porto e resultarão eminvestimentos que chegarão, no total, a US$ 6 bi-lhões. O que se desenha em Suape é a mudança damatriz da indústria pernambucana, que ainda seconcentra no setor de alimentos devido ao peso doaçúcar na produção e nas exportações.

O maior empreendimento será a refinaria depetróleo Abreu e Lima, resultado de uma parceriade US$ 4 bilhões da Petrobras com a venezuelanaPetroleos de Venezuela S.A. (PDVSA). A previsãoé que comece a funcionar no segundo semestre de2010. O segundo empreendimento de grandeporte é o estaleiro Atlântico Sul, para fabricarnavios e plataformas de petróleo. É uma parceriados grupos Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez,Queiroz Galvão e Aker Promar. Por último, serácriado um pólo de poliéster de quatro empresas,cuja primeira unidade foi inaugurada em fevereirode 2007 pelo Gruppo Mossi & Ghisolfi (M&G)para fabricar garrafas PET.

Mudança estrutural Refino de petróleo, estaleiro, frigoríficos e indústria química dão novoperfil à economia pernambucana e deverão criar oportunidades paraempresas locais

POR ENIO VIEIRA

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Os três projetos são considerados estruturantespor estimular a demanda de recursos humanos,produtos e serviços de empresas locais. Com apoioda CNI, a Fiepe e o governo de Pernambuco rea-lizaram um estudo para identificar as oportunida-des de negócios. “É fundamental obter informa-ções que permitam avaliar novas oportunidades,tanto aquelas que derivam da demanda por pro-dutos, como as que se originam dos novos insu-mos que serão disponibilizados por esses projetos”,diz o economista Jocildo Bezerra, consultor daFiepe. Segundo ele, os projetos poderão adicionarR$ 5 bilhões de renda à indústria local e dobrar oProduto Interno Bruto (PIB) industrial do estado.

Na implantação dos projetos, o estudo da Fiepedetecta oportunidades para empresas de construçãocivil, montagem industrial e serviços. Quando esti-ver em operação, o estaleiro exigirá fornecedores debens de capital, mobiliário e gases industriais. A fasede instalação dos pólos deve gerar 438 mil empre-gos em suas diversas etapas. “Já há escassez de mão-de-obra com qualificação para montagem e opera-ção dos projetos”, observa o economista GustavoMaia Gomes, professor da Universidade Federal dePernambuco (UFPE). O governo estadual e oSENAI fizeram uma parceria para treinamento detrabalhadores com a ampliação de escolas técnicas,como a de Cabo de Santo Agostinho.

O PORTO DESUAPE éfundamentalpara a atraçãode novosinvestimentos

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PETROLINA,pólo dinâmico

do agronegóciono sertão, podeficar mais perto

do porto coma ferrovia

Transnordestina

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

Maia Gomes acredita que a indústria será a prin-cipal alavanca do crescimento econômico dePernambuco. Segundo ele, a década de 1990 teveum encolhimento do setor e perda de postos de tra-balho. Entre 1987 e 2005, o PIB pernambucanocresceu 1,8% ao ano, abaixo da média de 2,7% doNordeste e de 2,2% do Brasil. No ano passado, deacordo com a consultoria Datamétrica, a expansãoda economia de Pernambuco deve ter ficado em5,12%, próximo do resultado nacional de 5,4%.“No final da década de 1990, o setor de álcool e açú-car se recuperou. Há o peso de novos setores e daexportação da petroquímica”, nota o economista.

Com a refinaria, o setor químico deve ter umapresença maior daqui a dez anos e constituir umpólo, a exemplo do que ocorre em Camaçari (BA).Fora da faixa litorânea, que concentra 70% daprodução industrial, os principais aglomeradosestão em Petrolina (fruticultura), Garanhuns(indústria mais diversificada), Caruaru (têxteis) eAraripina (gesso). Um dos destaques tem sido adiversificação dos alimentos, que têm grande forçano tradicional açúcar. Em Recife, a empresa

Vitarella vem se expandido com massas. E, nospróximos anos, haverá um crescimento expressivocom a chegada de dois projetos de frigoríficos.

A Sadia vai instalar uma unidade na cidade deVitória de Santo Antão, ainda nas proximidades dolitoral, com um investimento de R$ 250 milhões.Será uma fábrica de mortadelas, salsichas e lingüi-ças. A concorrente Perdigão investirá R$ 280 mi-lhões em uma unidade de embutidos e lácteos nacidade de Bom Conselho, no chamado agrestemeridional. O presidente da Fiepe, Jorge CôrteReal, ressalta que esses investimentos fortalecerãoa indústria no interior do estado e, no caso daPerdigão, permitirão integrar a produção de leite,que cresceu muito nos últimos anos. É uma opor-tunidade para fortalecer empresas locais que façamparte dessa cadeia produtiva.

No interior de Pernambuco, um dos setoresindustriais mais importantes é o de confecções. Sãoarranjos produtivos locais (APLs) nas cidades deCaruaru, Santa Cruz do Capibaribe e Toritama.Essa última responde pelo consumo de 15% dotecido índigo no Brasil. “As empresas têm até dez

pessoas. Algumas famílias só cortamos tecidos, e outras finalizam aspeças. Até ficar pronta, uma roupapassa por cinco empresas”, conta opresidente do Sindicato das Indús-trias do Vestuário do Estado de Per-nambuco (Sindivest), Fredi Maia. O estado tem 14 mil confecções queempregam 150 mil pessoas e fatura-ram R$ 3,2 bilhões no ano passado.

A produção de roupas do agres-te atende os consumidores dasregiões Norte e Nordeste, princi-palmente por meio de sacoleirosque compram peças para revenderem outros estados. As roupas fabri-cadas no Recife são mais sofistica-das e conseguem entrar no circuitoda moda nacional. Porém, tanto aconfecção como a indústria têxtildo estado enfrentam um problemacomum: a concorrência dos produ-tos chineses. Segundo Maia, a saídaé aprimorar a qualidade das roupasFO

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O presidente da Fiepe, Jorge Côrte Real, defendea desconcentração dos investimentos em direçãoàs cidades do interior de Pernambuco e a criaçãode cadeias produtivas em torno de grandesempreendimentos industriais.

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Indústria Brasileira – Quais as perspectivas daindústria de Pernambuco com a implantação dosprojetos da refinaria de petróleo e do estaleiro?Jorge Côrte Real – Estamos extremamente oti-mistas com o horizonte de médio e longo prazo.A indústria será a alavanca do crescimento dePernambuco com dois investimentos estruturan-tes. O desafio é potencializar esse desenvolvimen-to para mudar o tecido empresarial e social.

IB – O que pode mudar?JCR – É fundamental que empresas, executi-vos e trabalhadores pernambucanos estejaminseridos nessas cadeias produtivas da refinariae do estaleiro. Para isso, devemos investir na

melhoria das empresas locais e no treinamentode mão-de-obra.

IB – Há recursos humanos qualificados para aten-der a demanda dos novos investimentos? JCR – Existe realmente uma escassez de qualifi-cação. Mas começamos a investir para mudar asituação. Na área do Porto de Suape, onde seconcentram os novos investimentos, triplicamosa capacidade da escola técnica de Cabo de SantoAgostinho e estamos modernizando o ensino.

IB – Os setores tradicionais como têxteis e açúcartêm se saído bem?JCR – O setor têxtil enfrenta uma concorrên-cia predatória por conta dos incentivos fiscaisdados pelos estados vizinhos a Pernambuco epela produção chinesa. Açúcar e álcool repre-sentam 20% do Produto Interno Bruto (PIB)local e podem ter uma melhoria de preços nomercado interno. O pólo de fármacos cresce, omercado imobiliário reage bem na regiãometropolitana do Recife. A indústria tradicio-nal está em trajetória ascendente.

IB – A faixa litorânea de Pernambuco vai bem.Como está o interior? JCR – Pernambuco não terá crescimento susten-tado se tiver 70% da produção industrial no lito-ral, como é hoje. Precisamos levar investimentospara todos os rincões do estado. Um caso impor-tante é a fábrica da Sadia na Zona da Mata, emVitória de Santo Antão. Outro é a Perdigão emBom Conselho, no agreste meridional. Vamoscriar uma cadeia produtiva de lácteos e embuti-dos em torno dessas duas plantas.

INTERIORIZAÇÃODO INVESTIMENTO

produzidas nos três pólos do interior. Com esseobjetivo, há investimentos do SENAI de Caruarue Santa Cruz do Capibaribe destinados à qualifi-cação de recursos humanos.

Em Pernambuco, o interior tem grande pers-pectiva de se tornar uma região mais dinâmica emfunção da melhoria de infra-estrutura. Segundoespecialistas, a logística será um dos pontos cen-trais do desenvolvimento regional. Um dos mais

importantes projetos é o da ferrovia Transnordes-tina, que ligará a cidade de Eliseu Martins (PI) aoPorto de Suape. No meio do caminho, na cidadede Salgueiro (PE), haverá um ramal que ligará ointerior pernambucano ao Porto de Pecém,no Ceará. Trata-se de uma ferrovia de 1.860 km,com investimento de R$ 4,5 bilhões, e que redu-zirá os custos de transporte dos atuais pólos de fruticultura e agroindústria.

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26 INDÚSTRIA BRASILEIRA ABRIL 2008

Aposta nocrescimentoCom a exploração do petróleo, a transposição do São Franciscoe obras no porto, a indústriaparaibana deverá liderar ocrescimento do estado

POR CARLOS TAVARES

ENTRE 1996 E 2005, O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA

paraibana empatou com a média nacional.Na expectativa de empresários do estado, porém,uma série de projetos em execução deverá aumen-tar vigorosamente o peso do setor, que hoje repre-senta 22,5% do Produto Interno Bruto (PIB)local. A lista inclui a ampliação do calado do Portode Cabedelo; a transposição do rio São Francisco;e a extração de petróleo, próxima de se concretizarem Souza, no sertão, e, em estágio um pouco maisprematuro, no litoral, perto da divisa comPernambuco. Mesmo antes de esses projetos setornarem realidade, a indústria paraibana registraboas notícias. Concentrada basicamente nos seto-res têxtil, alimentício e couro-calçadista, intensivosem mão-de-obra, contribuiu para o que o estadoatingisse o recorde de emprego no ano passado:foram criadas, em toda a economia, 12.157 vagascom carteira assinada. Nos últimos cinco anos,foram 45.811 vagas.

Os projetos em curso têm potencial para rever-ter a queda na importância econômica do estado nofinal do século passado, um processo apontado peloprofessor de economia Rômulo Polari, reitor daUniversidade Federal da Paraíba (UFPB). “AParaíba entrou em estado de involução relativa eco-nômica há 30 anos. De lá para cá fomos superadospelo Maranhão e Rio Grande do Norte e agora já

estamos disputando a sétima posição no ranking daregião.” No período de 1965 a 2004, o PIB paraiba-no cresceu a uma média anual de 3,7%, menos queo Maranhão, com 4,8%; Ceará, com 4,7%; Piauí eRio Grande do Norte, ambos com 5,1%.

Segundo Polari, a perda de importância econô-mica foi conseqüência da falta de recursos comopetróleo e minérios, que agora começam a serexplorados, e do fato de as terras férteis serem escas-sas – mais de 70% do estado está no polígono dassecas. “Com a exploração das jazidas em Souza e nolitoral, há grandes chances de o desenvolvimento seintensificar”, afirma Polari. A produção de minériode ferro e de calcários está crescendo com a reaber-tura de várias minas no interior, em particular noCariri e no Sertão. O estado possui também reser-vas identificadas de caulim, nióbio, bentonita, bau-xita, tungstênio, entre outros.

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O empresariado paraibano reconhece a exis-tência de limitações, mas vem enfrentando o pro-blema de modo ativo. Em 2005, a FiePB, a UFPBe o governo local se uniram para traçar um mapaestratégico do estado a partir de suas microrre-giões, com o objetivo de identificar potencialida-des econômicas e vocações econômicas. CampinaGrande, por exemplo, tem setor industrial conso-lidado: sedia o pólo têxtil e calçadista do estado eagora começa a despontar com investimentos eprodução no setor tecnológico. “Campina Grandejá se transformou em centro de exportação de pro-gramas de computador para Estados Unidos eChina, entre outros países, e a tendência é expan-dir a produção nessa área”, comemora o presiden-te da FiePB, Francisco Gadelha.

Exemplo de confiança nas potencialidadeseconômicas paraibanas é a chegada de grandes

empresas dos setores calçadista e têxtil, como aSão Paulo Alpargatas, que produz as sandáliashavaianas. Mas o presidente da FiePB defendeque a Paraíba seja proativa na atração de investi-mentos, em vez de esperar que as grandes indús-trias resolvam se instalar no estado. “Devemoslutar para atraí-las, oferecendo incentivos fiscais.Podemos fomentar o nosso próprio desenvolvi-mento”, afirma Gadelha.

MAIS ENERGIAA Coteminas, do setor têxtil, já instalada emCampina Grande, anunciou novos investimentosna cidade no início do mês passado. O empreen-dimento, cujas obras já começaram, consiste naimplantação de uma subestação abaixadora de230kV para 13.8 kV, que irá seccionar a linha detransmissão em 230kV da Companhia Hidroelé-

O SETOR TÊXTIL,que já é tradicionalno estado, crescecom novosinvestimentos

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Indústria Brasileira – Que peso tem a indústria naeconomia da Paraíba?Francisco Gadelha – A indústria paraibana estáconsolidada, as empresas têm um bom desempe-nho, embora saibamos que investimentos de gran-des empresas foram paralisados em razão da guer-ra fiscal com outros estados e países. A Chinaimporta nosso couro e algodão e nos vende produ-tos mais caros que incluem esses insumos. Mastemos vários indicadores sociais e econômicosimportantes. Na questão de cadastro de empregos,a Paraíba está entre os quatro estados da região quemais assinaram carteira em 2007.

IB – Que setores se destacam?FG – Estamos muito fortes no setor de calçados,com a São Paulo Alpargatas, que fabrica ashavaianas, já consolidada aqui. Também háavanços visíveis na indústria têxtil, com empre-

O presidente da Fiepb, Francisco Gadelha,afirma que a transposição do São Franciscovai favorecer a agricultura e a indústriada Paraíba.

BENEFÍCIOS DA TRANSPOSIÇÃO

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trica do São Francisco (Chesf). “Isso significaráuma ampliação considerável da disponibilidadede energia elétrica para o atual complexo indus-trial da Coteminas em Campina Grande, e muitomais empregos”, antecipa o diretor da Coteminasna Paraíba, Magno Rossi.

Com o investimento estimado na ordem de R$ 20 milhões, a subestação começará a funcionarem 2009. “Nesta fase de implantação da novasubestação, haverá geração de empregos diretos eindiretos, absorvendo aproximadamente 220 traba-lhadores das diversas áreas envolvidas neste projeto”,acrescenta Rossi. Ele também está animado com aperspectiva de transposição do rio São Francisco e apossibilidade de reabertura do segmento de fabrica-ção de tecidos planos da Coteminas, que exige umconsumo expressivo de água.

Atualmente a Paraíba já ocupa o nono lugarno Brasil em índice de conhecimento e inovação,comemora o secretário de Indústria do estado,Fabrício de Oliveira, que trabalha com a perspec-tiva da chegada de mais empresas de grande porteem breve. Ele também comemora o fato de aParaíba já ocupar o 15º lugar em infra-estruturae o 11º lugar em índice de competitividade esta-dual. Outro ponto positivo é o da redução dos

SOLDADOS TRABALHAMna obra de transposiçãodo rio São Francisco, que beneficiará aeconomia paraibana

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ÍBAsas de grande porte aqui instaladas, como a

Coteminas de Campina Grande que trabalhacom fiação e tecelagem e agora vai entrar naprodução de tecidos planos com a expectativada transposição de águas do rio São Francisco.Tem a Coteminas de João Pessoa, que opera nosetor de cama e mesa e emprega ao todo 2.600pessoas. Há também a Norfil, Brastex. Essa éuma área promissora.

IB – Em que outras áreas a Paraíba investe?FG – Estamos crescendo muito no setor mineral,por exemplo, na extração de calcário. Hoje abaste-cemos 25% do cimento do Nordeste e tambémcrescemos no segmento de granitos, porcelanas,bentonita, muito usada na construção civil e naprodução de porcelanas, em trabalhos de funda-ções de engenharia; o caulim, também muitousado na indústria de porcelanas, cerâmicas e tin-

tas; o nióbio, essencial na produção de tuboscondutores de fluidos. Enfim, temos um sítiomineralógico extremamente rico, ainda maisagora com a descoberta do petróleo em Souza,que deve ser a continuação do lençol daChapada do Apodi, no Rio Grande do Norte.

IB – Quais as perspectivas para os próximos anos?FG – Precisamos melhorar o setor agroindus-trial e isso só vai acontecer com a transposiçãodo São Francisco. A transposição é o projetomais seguro do mundo do ponto de vistaambiental porque considera a relação entrevazão transposta e o canal do rio, os pontos decaptação, os ciclos hidrográficos e a revitalizaçãode áreas danificadas. A geração de energia tam-bém não vai sofrer abalos. Para um estado comdificuldades hídricas como a Paraíba, a transpo-sição é fundamental.

índices de pobreza: a Paraíba aparece em primei-ro lugar no ranking dentre os nove estados nor-destinos. Mas o problema, nesse caso, é que oestado parte de um patamar baixo: tem o quartomenor Índice de Desenvolvimento Humano(IDH) do País, de 0,661.

Em qualificação da força de trabalho, a Paraíbaocupa um confortável nono lugar no rankingnacional. Mesmo assim, o estado se esforça paramelhorar sua posição. No ano passado o governolocal lançou o programa Capacitar, para jovensque ingressam no mercado de trabalho de todos ossetores produtivos – serviços, indústria, turismo,serviço público, tecnologia etc. Há também parce-rias do governo com o SENAI, SESI e o Serviçode Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae),para qualificação, sobretudo nas áreas de serviços eturismo, além dos cursos regulares de formaçãoprofissional do SENAI na área industrial, nos seto-res de vestuário, couro, alimentos e transferênciade tecnologia, entre outros segmentos.

No setor mineral, devem surgir novos cursos.Universidades paraibanas negociam com o gover-no estadual e a Prefeitura de Souza a criação deunidades de ensino no sertão voltadas para aextração de petróleo.

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

HÁ APENAS UMA DÉCADA, A ECONOMIA POTIGUAR

era associada apenas ao turismo, à produção de sale de petróleo. Hoje, é uma das mais dinâmicas e demais intenso crescimento no Nordeste. Ao longodesses dez anos, o Rio Grande do Norte ultrapas-sou três outros estados e chegou ao quinto lugar nopódio regional, graças a incentivos fiscais, à estabi-lidade da moeda e a investimentos estrangeiros.

Depois da decolagem, o estado se prepara paraalçar vôos mais altos. Uma das etapas para isso é ainauguração de um aeroporto internacional espe-cializado em cargas, o de São Gonçalo doAmarante, na região metropolitana de Natal, quedeverá entrar em operação em agosto deste ano.Especialistas afirmam que o novo aeroporto, jun-tamente com novos investimentos anunciados porempresas têxteis, do setor de cerâmicas, cimento,processamento de frutas, pescados, calcário indus-trial e turismo, tem grande potencial para alavan-car a economia do estado

Para o economista José Aldemir Freire, doInstituto Brasileiro de Geografia e Estatística(IBGE), a continuidade do crescimento depende,em grande medida, da estabilidade do cenário eco-nômico nacional. “Temos muitos gargalos logísticosa resolver no Rio Grande do Norte. Nosso porto éridículo para o tamanho das potencialidades daLA

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A estrutura produtiva do Rio Grande do Norte se transformou de modoradical nos últimos dez anos. E há expectativa de expansão aindamaior com obras em andamento e novos empreendimentos previstos

POR CARLOS TAVARES

Nova erade investimentos

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economia do estado, nosso aeroporto interna-cional já está saturado e temos de recuperar nos-sas estradas. No entanto, alguns investimentosem curso podem melhorar a infra-estrutura esta-dual de escoamento de mercadorias, como aduplicação da BR-101 e a construção da cidade-aeroporto de São Gonçalo do Amarante. Seminvestimentos, o ritmo de crescimento ficarácomprometido”, analisa Freire.

Mas as oportunidades também oferecemamplos horizontes de desenvolvimento. O RioGrande do Norte é rico em potencial eólico einveste para expandir a produção de minérios. AMhag Mineração se beneficia do aumento dopreço do minério de ferro, que exporta para aChina, Arábia Saudita e Japão desde 2005 porintermédio do porto de Suape, em Pernambuco.Até 2010 a empresa espera ampliar as vendasexternas de 3,6 milhões para 10 milhões detoneladas. Para isso, está investindo R$ 20 mi-lhões em seu projeto de expansão, cujo focoprincipal é a exploração de uma nova mina deminério de ferro em São Mamede (PB) e oaumento de 100 mil toneladas para 600 miltoneladas da mina de Jucurutu (RN).

O estado tem sido um dos destinos preferi-do de investidores estrangeiros na região. Opresidente da Fiern, Flávio Azevedo, acreditaque o desenvolvimento alcançado nos últimosanos é fruto exatamente do esforço coletivo doempresariado e governo local. Ele destaca comoum dos principais pilares a essa agenda decrescimento o Programa de Apoio ao Desen-volvimento Industrial (Proadi), criado em 1999.“O processo de interiorização da economiaindustrial ganhou impulso, com 30 indústriasinstaladas no interior e 20 na região da GrandeNatal nos últimos quatro anos. Desde 2003,121 empresas foram beneficiadas com incenti-vos do programa e 36 mil empregos diretosforam consolidados”, relata.

ESTADO JÁ FOI O MAIORprodutor de petróleo emterra, posição que poderáretomar com novosinvestimentos da Petrobras

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A INDÚSTRIA DEALIMENTOS é uma

das beneficiadaspor programa de

atração deinvestimentos

O Proadi foi instituído pelo governo do esta-do, oferecendo desconto de 75% do Impostosobre a Circulação de Mercadorias e Serviços(ICMS) para indústrias instaladas no interior doestado ou em distritos industriais. Na GrandeNatal, têm desconto de 60%, exceto para inves-timentos superiores a R$ 20 milhões. O prazo deconcessão é de dez anos e pode ser prorrogadopor igual período. Os principais segmentosbeneficiados com o programa são o têxtil e de

confecções, alimentos, mineração, calçados,bebidas, indústria química.

Empresários da construção civil, comoAzevedo, ou da indústria têxtil, como João Gomesde Lima, diretor geral da Coteminas IndústriasTêxteis e presidente do sindicato do setor, reco-nhecem a força do Proadi. “Novos investimentosdependem da manutenção de políticas fiscais”,observa Lima. “Não podemos perder a oportuni-dade que essa agenda de crescimento nos oferece,

com o Proadi e o esforço do empresaria-do”, avalia Azevedo.

Ao analisar a expansão do segmentoda construção civil, Freire afirma que foiconseqüência do aumento da renda dapopulação, da ampliação de crédito, deimportantes obras públicas e do boomimobiliário em Natal, onde estrangeirosque vieram pela primeira vez como turis-tas resolveram instalar uma segunda resi-dência. “O Rio Grande do Norte é umdos estados que mais atraem investimen-tos de pessoas físicas estrangeiras atual-mente”, conta Freire.

Segundo o empresário Pedro Terceirode Melo, presidente do sindicato dos pro-dutores de cerâmicas, o setor está emfranca expansão por conta dos investi-mentos de grupos estrangeiros em infra-estrutura de turismo. “Temos matéria-prima em abundância. O setor deverácrescer ainda mais este ano e em 2009abastecerá o Nordeste inteiro. Mas issotudo está condicionado ao apoio doProadi e de outros programas de incenti-vos fiscais e de financiamentos de proje-tos”, afirma Melo.

Outro setor que promete desenvol-ver-se ainda mais é o setor cimenteiro.A Votorantim Cimentos, por exemplo,está para iniciar a construção de umafábrica de cimentos com capacidade deprodução de 1,5 milhão de toneladaspor ano, três vezes maior que a deman-da e a oferta atuais no estado. “Temosgrandes obras públicas em andamento:duplicações de vias, obras de saneamen-D

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Indústria Brasileira – As perspectivas para aindústria potiguar são de expansão?Flávio Azevedo – O que nos favorece é ter umaeconomia bastante diversificada, ao contrário deoutros estados cuja economia se baseia na mono-cultura. Destacam-se aqui o petróleo, o gás, aindústria têxtil, o sal e agora também os miné-rios. E isso nos dá uma base de sustentação sem-pre crescente.

Grandes obras de infra-estrutura em anda-mento no estado são fatores que fazem opresidente da Fiern, Flávio Azevedo, ter con-fiança na expansão da taxa de crescimentoda economia potiguar, a despeito da crisefinanceira internacional.

IB – A indústria tem recebido apoio dos governosfederal e estadual para sua expansão?FA – Sim. O Programa de Apoio ao Desen-volvimento Industrial do Governo do Estado(Proadi) concedeu incentivos a 28 empresas, cominvestimentos totais de R$ 278,3 milhões no anopassado. É claro que essa política colabora com ocrescimento. Mas o desempenho positivo se deveprincipalmente ao espírito empreendedor dosrepresentantes do setor privado potiguar.

IB – Quais são os setores que mais crescem?FA – O turismo, a construção civil, frutas e cerâ-micas, que, aliás, estão tornando o crescimentoainda mais estável porque asseguram e ampliama geração de empregos. Agora mesmo oMinistério do Trabalho colocou o Rio Grande doNorte como o estado brasileiro com melhordesempenho em 2007. Foram 25,5 mil admis-sões com carteira assinada.

IB – Em que medida o novo aeroporto, de SãoGonçalo, amplia as perspectivas de exportações?FA – Esperamos exportar cerâmicas para aEuropa e para a Ásia, além de ampliar exporta-ções de frutas, pescados e produtos têxteis. Temostudo para ser a principal porta de entrada daAmérica Latina. O novo aeroporto terá a pistamais larga do País, de 60 metros, e não será estatal, algo inédito no País.

CONFIANÇA NA EXPANSÃO

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to e esgoto, além de construções de condomí-nios turísticos. Isso requer oferta maior de mate-riais de construção”, explica Freire. Há um con-domínio para estrangeiros com 30 mil unidadesem construção. Além do turismo, que tevereceitas de US$ 600 milhões em 2006, outrosetor tradicional que não pára de crescer é o daprodução de frutas, responsável por quasemetade das exportações.

A área de exploração de petróleo é uma daspoucas que caminhou na contramão do desen-volvimento, com queda na produção, algo que aPetrobras pretende reverter. O Rio Grande doNorte já foi o maior produtor de petróleo e degás natural em terra do País, com 115 mil bar-

ris/dia. Atualmente está em 85 mil barris. Novosinvestimentos permitirão que o estado retome opatamar anterior até 2011.

Ao falar de obstáculos para o crescimentoeconômico do estado, empresários das áreastêxteis, calçadista e de extração mineral recla-mam principalmente da pesada carga tributária.Segundo a economista Sandra Cavalcanti, daFiern, a saída para empresas dos segmentos têxtile calçadista, em particular, que enfrentam forteconcorrência com a China, seria, num primeiromomento, se associar a grandes grupos interna-cionais, algo que já vem acontecendo. Há expec-tativa também de que a Reforma Tributáriareduza a carga.

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Dono do porto mais próximo da Europa, o Ceará tem atraído investimentosestrangeiros com menos incentivos fiscais do que a média da região

POR CLÁUDIA COSTA

Em busca dainternacionalização

PORTO DE PECÉMaumentou acompetitividade doscalçados, têxteis efrutas do Ceará

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CONSTRUÍDO PARA VIABILIZAR DOIS PROJETOS DA

indústria de base que não se concretizaram, oComplexo Portuário de Pecém, no Ceará, acabouajudando as duas maiores indústrias consolidadasno estado: vestuário e calçados. Também aumen-tou muito a competitividade de outra atividadeque se destacou nos últimos anos: a fruticulturairrigada. O estado conta com a eficiência do porto,que vai ganhar novos investimentos, para a inter-nacionalização de sua economia, que já está entreas mais sofisticadas do Nordeste.

“Pecém se tornou um porto eficiente e competi-tivo e um terminal exportador de frutas a um custoatraente”, diz o economista Fernando CasteloBranco, da Fiec. Pecém foi criado como infra-estru-tura básica, para que o estado abrigasse uma refinariada Petrobras, que acabou indo para Pernambuco, e

para a siderúrgica Ceará Steel, uma parceria entre ogrupo sul-coreano Dongkuk, produtor de chapas deaço, a fabricante de equipamentos italiana Danieli ea Vale. Mas o investimento de US$ 760 milhões foicancelado devido a um desentendimento com aPetrobras em relação ao preço do gás natural, queseria fornecido pela estatal diretamente à siderúrgica.

Por causa do preço acertado para o gás, considera-do alto, o projeto perdeu o sócio italiano, mas acaboureformulado e ampliado. O montante de investimen-tos subiu para R$ 2 bilhões e, ao invés de 1,5 milhãode placas de aço por ano, a siderúrgica produzirá 2,6milhões. O combustível escolhido em substituição aogás será o carvão, o que aumenta a quantidade deempregos a serem criados em proporção ainda maiordo que a do investimento e da produção. Serão 5.000vagas diretamente ligadas a essa nova atividade indus-trial, no lugar das 1.600 previstas inicialmente.Organizações ambientalistas protestaram contra ouso do carvão, mais poluente que o gás, mas o proje-to já ganhou licença de funcionamento.

A produção da siderúrgica será destinada exclusi-vamente à exportação. Não poderá, ao menos ini-cialmente, servir de insumo para o pólo metalmecâ-nico cearense, que produz e exporta fogões, geladei-ras e botijões. Esse pólo se firmou no início da déca-da de 1970, graças à política de preço para a chapade aço adotada na época, que incluía o frete. O obje-tivo era garantir a venda do produto pelo mesmovalor em todo o País e, assim, limitar a concentraçãoda indústria que utiliza chapas como insumo noSudeste, sobretudo em São Paulo. Os fabricantes dopólo metalmecânico cearense terão, porém, de con-tinuar importando aço laminado de outros estadosou do exterior porque a Ceará Steel não vai produziraço laminado no início de suas atividades.

“A indústria metalmecânica cearense só poderáser beneficiada diretamente com a instalação de um

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REALVALORIZADO

não impediuo crescimentode 47,5% das

exportações detêxteis do Ceará

em 2007

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

Indústria Brasileira – O beneficiamento e aexportação da castanha-de-caju foi uma atividade

Para o presidente da Fiec, Roberto Macedo,o processo de desenvolvimento do estadodepende da intensificação de investimentospúblicos e privados

INVESTIMENTOSDE MAIOR PORTE

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IRApólo siderúrgico se houver produção de aço lamina-

do a frio e a quente, para uso final na indústria enão a produção de placas, que é um produto semi-acabado, para uso em outra usina siderúrgica quepossua laminadores”, explica o presidente da Fiec,Roberto Macedo. Para a Fiec, só quando houver aetapa de laminação no Ceará haverá estímulo parao crescimento de sua indústria. Embora os investi-dores não descartem a laminação local em umasegunda etapa, ainda não está claro quando issopoderá acontecer, afirma Castelo Branco, da Fiec.

Além da siderúrgica, há outros projetos em execu-ção no Ceará, sobretudo na área de energia. São 14projetos para a instalação de geradoras de energia eóli-ca nos 574 km do litoral cearense em que os ventospodem ser transformados em eletricidade. Apenasum desses projetos tem capital nacional. Os demaissão iniciativas de grupos de Portugal e Espanha.Também está para ser construída uma usina térmicade capital privado, do grupo do empresário EikeBatista, com capacidade para produzir o equivalentea 50% do consumo de energia do estado, que vai ali-mentar todo o sistema. A usina já vendeu energia para

2012, em leilão no ano passado.Em 2007, o Ceará reformou a

Lei de Incentivos Fiscais ao reduzirpara 75% o desconto sobre o ICMSconcedido a indústrias que se insta-lem no estado. Foi com descontosque chegavam a 100% que o estadoconseguiu atrair a Grendene e aVicunha, que são hoje dois dosmaiores empregadores locais, crian-do os pólos de têxteis e calçadista.“O Ceará tem vantagens compara-tivas muito interessantes, que vãoalém dos incentivos fiscais, comuma localização geográfica estraté-gica, próxima de mercados interna-cionais”, justifica o presidente daAgência de Desenvolvimento doCeará (Adesc), Antonio Balhmann.

No ano passado, o estado conse-guiu atrair a segunda maior produtoramundial de agroquímicos genéricos,a australiana Nufarm, que investiuV

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tradicionalmente importante para a economia doCeará. Ainda é? Roberto Macedo – O setor ainda é muitoimportante no aspecto econômico, pois em2006 exportou US$ 136 milhões e em 2007,US$ 180 milhões. O impacto econômico dessaatividade para o estado envolve 200 mil empre-gados na atividade de campo, indústria e correla-tos. Nosso principal produto de exportaçãoainda é a amêndoa da castanha-de-caju, 75%destinadas aos mercados dos Estados Unidos eEuropa e o restante ao mercado asiático.

IB – Como a internacionalização ajuda a indús-tria e a economia do Ceará?RM – O Ceará é um estado exportador basica-mente de produtos da indústria de bens queapresentam baixa elasticidade de renda e depreço. O mercado para seus produtos aindaestá muito concentrado nos Estados Unidos ena Europa. O Ceará não se beneficia dos acor-dos com o Mercosul.

IB – No ano passado, houve uma mudança napolítica de incentivos para atrair investimentos, queforam reduzidos. O que o estado pode fazer paraestimular a industrialização?RM – O Ceará precisa urgentemente reformu-lar sua política de incentivo à industrializaçãoe o Fundo de Desenvolvimento Industrial(FDI). Hoje, o estado apresenta os incentivoscom menor índice de atratividade de empreen-dimentos industriais.

IB – Quais são os planos para o futuro da econo-mia cearense? RM – O Ceará depende de investimentospúblicos federais e da implantação deindústrias intensivas em capital, comosiderúrgicas, refinarias e indústrias extrativasminerais existentes na região. Precisamosvencer a inércia do setor público federal e esta-dual. E para alguns ramos industriais, lutarcontra a falta de investimentos em infra-estrutura viária.

US$ 180 milhões para comprar a produtora brasi-leira de defensivos agrícolas Abripec, em Maraca-naú, região metropolitana de Fortaleza. O estadotambém tem investido em infra-estrutura para atrairmultinacionais produtoras de frutas. Desde 1999, oCeará recebeu quase US$ 200 milhões em investi-mentos em fruticultura irrigada, entre eles os dasamericanas Del Monte e Fyffes International, quefez parceria com a brasileira Nolem para criar aBananas do Nordeste S/A. Hoje o estado é o segun-do maior exportador de bananas e primeiro expor-tador de abacaxis do País.

Mesmo com o real valorizado, as indústriasexportadoras cearenses têm aumentado a produ-ção e os embarques. No ano passado, os setores devestuário e calçados cresceram 47,5% e 20,3%,respectivamente. Juntos, os dois representam 26%da pauta de exportações e renderam US$ 300milhões. Embora a produção industrial esteja cres-cendo, o beneficiamento da castanha-de-cajuainda é uma das atividades mais fortes no estado.As vendas da castanha cresceram 32,2% em 2007.

Segundo Balhmann, o governo está investindo

fortemente no complexo portuário de Pecém, paraampliar sua capacidade de processamento de car-gas, inclusive com a possibilidade de construçãode um aeroporto de cargas dentro do complexo.Os vôos para a Europa a partir do Ceará têmmenos de sete horas de duração, uma grande van-tagem comparativa em relação a outras regiões doPaís. “Estamos estudando a construção de seis ter-minais intermodais de cargas, distribuídos pelasregiões mais importantes do estado”, afirma.

Turismo é outro setor que tem atraído capitalportuguês e espanhol. Os investimentos se concen-tram em hotéis e resorts, favorecendo a construçãocivil. O grande desafio do Ceará, porém, é a capa-citação e qualificação profissional, para continuaratraindo investimentos voltados para o competiti-vo mercado internacional. Também é precisomelhorar a infra-estrutura viária, para escoar suaprodução e levar crescimento ao interior do estado.“Capacitação é uma preocupação constante. O pro-cesso crescente de implantação de novas indústriastem exigido profissionais cada vez mais qualifica-dos”, reconhece Balhmann.

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

Agroindústria emercado internoA agricultura do Piauí deixa para trás a fase de subsistência e passaa exportar para outros estados e para o exterior. E o fortalecimentodo mercado local atrai indústrias

POR CLÁUDIA COSTA

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PRIMEIRO ESTADO DO NORDESTE A TER UMA

usina comercial de biodiesel, em 2005, o Piauíaposta na produção do combustível renovávelpara agregar valor à atividade agrícola. No pas-sado, havia a dependência exclusiva da explora-ção de riquezas que brotam do solo, como acarnaúba, o coco de babaçu e a castanha-de-caju. Embora esses produtos continuemimportantes, a economia do Piauí vem ganhan-do sofisticação. Há hoje distritos industriais emTeresina, Parnaíba, Picos e Floriano. Tudo issotem ajudado a economia a crescer acima damédia nacional. Entre 2002 e 2005, enquantoo Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil variouem média 3,3% por ano e o do Nordeste 4,5%,no Piauí a taxa foi de 5,4%.

Vários fatores explicam o crescimento: oaumento da demanda por biodiesel e porgrãos, a aceleração de obras públicas e a inclu-são da população no mercado de consumo,por meio dos programas de transferência derenda do governo. Outra razão é o aumentoda oferta de crédito, que estimula a construçãocivil. O setor cresceu 3,15% em 2005, último

dado disponível. O Piauí também investe na con-solidação de outros setores, como o de vestuário,e na expansão do beneficiamento da castanha-de-caju, explorada comercialmente em 82 dos 223municípios do piauienses. Antes, o estado apenasfornecia a castanha a outras regiões. Hoje, a pro-dução da castanha-de-caju varia de 35 a 55 miltoneladas por ano e 25% são beneficiadas nascerca de 20 agroindústrias locais.

Em Picos, a 322 km de Teresina, destaca-se aprodução de mel. Graças a programas de qualifi-cação, o produto tornou-se o mais competitivo doPaís no mercado internacional, respondendo por8% das exportações do estado. Os apiários rendem4.000 toneladas por ano. A produção de frutastambém tem se ampliado, favorecida pelo climaquente e úmido. Mas é principalmente a produçãodo biodiesel na região semi-árida no sul do estadoque tem ajudado a organizar a agricultura familiar,uma atividade importante para o Piauí. O estadotem 40% dos habitantes em áreas rurais e é pionei-ro na criação de consórcios para a produção dobiodiesel. Cada um deles reúne famílias de agricul-tores e uma grande empresa, que usam comomatéria-prima a mamona e outras oleaginosas.

A usina da Ecodiesel, que fica em Floriano,244 km ao Sul de Teresina, foi o maior investi-mento que o estado já recebeu, de R$ 10 milhões.É a menor unidade da empresa, que é a principalesmagadora e produtora de biodiesel do País e pos-sui outras usinas no Norte e Nordeste. A unidadede Floriano tem capacidade para produzir44,5 mil m3 anuais do combustível, mas já templanos de aumentar a produção para 60 mil m3 atéo final deste ano. A atividade vem gerando desen-volvimento e renda no semi-árido.

O secretário de Planejamento do Piauí, SergioMiranda, explica que o estado adotou um modelode desenvolvimento que une a capacidade demobilizar capital e tecnologia de uma grandeempresa ao dinamismo de pequenos e médios esta-belecimentos. Esse padrão vale para a produção deoleaginosas no semi-árido, mas também para a pro-dução de etanol a partir da cana-de-açúcar planta-da em assentamentos de reforma agrária. SegundoMiranda, a perspectiva é levar o modelo para outrossetores, principalmente os agroindustriais.

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PRODUÇÃO de grãosno sul do estado, quepoderá ser ligada aos

portos pela ferroviaTransnordestina

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

De acordo com a Ecodiesel, a rede de integra-ção de agricultura familiar que está ligada ao com-bustível mobiliza famílias de agricultores para queutilizem a produção da mamona, do pinhão mansoou do girassol. As famílias recebem treinamento,assistência técnica, fornecimento dos insumosnecessários e garantia de compra da produção.“Essa inserção é fortalecida pelo Selo CombustívelSocial, do governo federal”, diz Miranda. “Comisso, há vantagens para produtores de biodiesel quepromovam a inclusão social e o desenvolvimentoregional, por meio de geração de emprego e rendapara os agricultores familiares.”

No Núcleo de Produção Comunitário deSanta Clara, em Canto do Buriti (a 414 km ao sulde Teresina), há 600 famílias assentadas e cerca de3.000 pessoas que contam com moradia, águaencanada, saneamento básico, eletricidade, espaçopara hortas, escola, posto de saúde e centrocomercial. Os contratos assinados com as famíliasgarantem a transferência das propriedades dos ter-renos e imóveis do Núcleo Santa Clara para osparceiros rurais depois de dez anos da primeiracolheita, que aconteceu entre 2003 e 2004. Essetipo de organização é o que tem garantido renda e

estimulado o desenvolvimento do mercadopiauiense para atrair indústrias.

A agricultura e a indústria do Piauí tentamaproveitar a proximidade de grandes centros consu-midores do Norte e do Nordeste. Teresina fica a634 km de Fortaleza, a 847 km de Belém, a 1.137km do Recife e a 1.163 km de Salvador. Para tor-nar o estado mais atrativo, o governo chega a con-ceder 100% de desconto no Imposto sobre aCirculação de Mercadorias e Serviços (ICMS) paraindústrias que se instalarem no estado. Mais do queoferecer incentivo fiscal, porém, o desafio do Piauíé desenvolver o mercado consumidor, para garantirprodução local. Prova disso é que, de acordo com aFiepi, o setor que mais cresce é o de prestação deserviços, à medida que aumenta a inclusão social.“Estão se instalando no estado indústrias de produ-ção de gases para uso hospitalar. Além disso, há for-talecimento da indústria gráfica, que dá suporte aboa parte dos serviços de educação. No interior, jávemos um segmento primário produtivo que nãotrabalha mais apenas em cultura de subsistência,mas no cultivo de produtos pecuários, agrícolas ede extração mineral”, afirma o presidente da Fiepi,Antonio José Moraes Souza.

PRODUÇÃO DEMEL responde

por 8% dasexportações doPiauí e tem boa

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O presidente da Fiepi, Antonio José de MoraesSouza, afirma que ainda é a oferta de serviçosbásicos que impulsiona a economia, mas desta-ca o crescimento da indústria de vestuário. Elelamenta, porém, que o País ainda penalize comaltos tributos quem emprega.

CONTRIBUIÇÃO DOSSERVIÇOS BÁSICOS

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Indústria Brasileira – Quais os setores que mais sedestacam na economia do Piauí?Antonio José de Moraes Souza – Temos setorespotenciais, como o de vestuário, grãos e biodiesel.Em termos industriais, somente no setor de ves-tuário o crescimento pode ser considerado signi-ficativo. Mas podemos falar da indústria semchaminé, pois a prestação de serviços básicoscontinua sendo a maior alavanca na capital, prin-cipalmente na área de educação e de saúde.

IB – O que o Piauí exporta?AJMS – A exportação é pequena, US$ 56 milhõesem 2007, mas significativa por ser quase totalmen-te nativa. Portanto, não pode ser substituída facil-mente por outros centros. É o caso da produção demel. Em novembro, a Fiepi, por meio dos depar-tamentos regionais do SESI e SENAI, inaugurouum Centro de Tecnologia de Alimentos no distri-to industrial de Teresina, onde desenvolve oPrograma de Apoio à Competitividade daProdução do Mel. Com arranjos produtivos, esseprograma beneficia mais de quarenta comunida-des piauienses e tem prestado consultoria paraoutros estados nordestinos.

IB – O que tem sido feito para atrair investimentos?AJMS – Desde 1995, o Piauí vem promovendomudanças na Lei de Incentivos Fiscais, que é de1992, para atrair indústrias de outras regiões.Isso funcionou, mas agora a estratégia precisa serrevista. A maioria dos estados abre mão de 75%do ICMS, mas o Piauí chega a oferecer isençãode 100% por 15 anos.

IB – Quais os planos para 2008?AJMS – É preciso fazer uma adequação no fomen-to financeiro dado pela rede bancária, como o cré-dito para a produção industrial. Outro desafio é aqualificação dos jovens. O problema é que noBrasil os impostos penalizam exatamente quememprega, portanto, as micro e pequenas empresas.A Reforma Trabalhista é algo urgente.

Os programas de transferência de renda do gover-no federal trazem um impacto importante na econo-mia do estado. “Esses programas são destinados àcompra principalmente de alimentos para o consu-mo das famílias, mas sabe-se que isso dinamiza ocomércio que, por sua vez, mobiliza o setor indus-trial, mas ainda não se sabe em que escala isso acon-tece”, diz Miranda. A inclusão no PAC (Programa deAceleração do Crescimento) de importantes obrasvoltadas para a melhoria da infra-estrutura prometeacelerar o crescimento da economia. São os casos daFerrovia Transnordestina, a conclusão da BR-135, aampliação dos aeroportos de Teresina e Parnaíba enovas linhas de transmissão de energia.

Enquanto no semi-árido o biodiesel promete tornar a economia mais organizada e sofisticada ena caatinga o beneficiamento da castanha-de-cajuse fortalece, no cerrado o governo estimula pro-gramas para fomentar a produção de grãos, prin-cipalmente soja. Estima-se que há na região cercade cinco milhões de hectares de terras para culti-vo de grãos, algodão e criação de gado de corte ede leite. Isso motivou a Bunge a instalar umaesmagadora de soja na região. Outra atividadeque se desenvolveu nos últimos anos foi a fruti-cultura, no Vale do Gurguéia e Baixo Parnaíba,além da aqüicultura e da pesca no litoral, com acriação de camarão em cativeiro.

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POR DANIEL BRAMATTI

Foi lançado com sucesso em julho do ano passadoda Base de Alcântara (MA) o foguete VSB-30.Ainda em fase experimental, o programa espacialbrasileiro promete levar o Brasil ao próspero mer-cado de lançamento de satélites de comunicação.Para o Maranhão, sediar parte de um programa detecnologia de ponta é algo que já proporcionaganhos simbólicos significativos. O estado brigapor agregar valor à sua produção em todos os seto-res. Exemplo disso já pode ser visto no agronegó-cio. Até 2006, as plantações de soja do Maranhãogeravam renda apenas para os agricultores e paraos caminhoneiros que transportavam o produtopara os portos de São Luís e do Itaqui, de onde eradespachado in natura. O panorama começou amudar com a instalação de empresas esmagadorasde soja, que transformam os grãos em óleo e fare-lo. A oferta deste último produto atraiu fábricas deração, que, por sua vez, incentivaram investimen-tos em avicultura e suinocultura. Agora, frigorífi-cos e novas indústrias de alimentos avaliam a pos-sibilidade de se instalar no estado.

É esse caminho – o do adensamento dascadeias produtivas – que o governo e empresáriosbuscam trilhar para tirar o Maranhão da condiçãode mero exportador de matéria-prima, desenvol-vendo a indústria local. O objetivo está detalhadono Plano Estratégico de Desenvolvimento Industrialdo Maranhão, estudo elaborado pela Fiema, queestabelece uma espécie de mapa a ser seguido até2020. “O plano ultrapassa os limites da indústria,é uma agenda de desenvolvimento para o estado”,afirma o economista Marco Antonio Moura da

Silva, coordenador do estudo. Entre os focos prin-cipais está, além da cadeia produtiva dos grãos, osetor minerometalúrgico, já razoavelmente desen-volvido no estado.

A Vale, a Alcoa e a Alcan estão investindo paraampliar a produção e agregar valor aos complexosde alumínio e minério de ferro. A Alcoa, porexemplo, obteve em janeiro um financiamento doBanco Nacional de Desenvolvimento Econômicoe Social (BNDES), no valor de R$ 650 milhões.Com isso, implantará uma segunda unidade deprodução de alumina na refinaria do consórcio

EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

Impulso tecnológicoMaranhão quer adensar as cadeias produtivas na indústria, com a instalação de siderúrgica e de fábrica de rodas de carro em alumínio

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Alumar, instalada em São Luís. Essa ampliaçãopermitirá mais que duplicar a produção de alumi-na, material utilizado na elaboração do alumínio.O BNDES participa de apenas parte do investi-mento, que deve chegar a quase R$ 5 bilhões.

Além do aumento na produção, a cadeia pro-dutiva do alumínio no Maranhão poderá ganharem breve um novo elo com a instalação de umafábrica de rodas de automóveis, segundo o secretá-rio adjunto de Indústria e Comércio, FernandoJosé Oliveira Duailibe Mendonça. “Estamos emnegociações”, afirma.

No caso do ferro, a Vale está investindo naampliação de sua usina de pelotização – uma dasprimeiras fases do beneficiamento do minério.A empresa investiu cerca de R$ 1 bilhão no Mara-nhão em 2007, principalmente em infra-estrutura.“Estamos ampliando nossas atividades no estadopara atender as demandas de nossos clientes”, afir-ma o gerente-geral de Relações Institucionais daVale no Maranhão, José Carlos Sousa.

Além da atividade de mineração, a Vale temuma grande estrutura de logística, incluindo aEstrada de Ferro de Carajás. Com 892 km de exten-

LANÇAMENTO DEFOGUETE emAlcântara:maranhensesquerem economiacom maior basetecnológica

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CRESCIMENTO DASOJA estimulou a

instalação defábricas de ração

animal e frigoríficosno Maranhão

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são, liga as minas no sul do Pará ao Porto da Pontada Madeira, em São Luís. É na ferrovia que se con-centra grande parte do investimento da empresa:estão sendo ampliados pátios de cruzamento detrens, o que possibilitará a duplicação de mais de400 km da ferrovia. Novos vagões e locomotivasestão sendo adquiridos. A frota da empresa fechou oano de 2007 com 10.155 vagões e 183 locomotivas.Estão sendo construídos novos pátios de estocagemde minérios e o Píer 4 no porto da Vale em São Luís.No ano passado, a movimentação de seus três píeresem São Luís foi de 615 navios. Com essa estrutura,a empresa terá um aumento de capacidade de 85,8milhões de toneladas em 2007 para 230 milhões detoneladas, em 2012, segundo Sousa.

Para coroar o processo de adensamento da cadeiaprodutiva dos minérios, empresários e políticos locaissonham com a implantação de um pólo siderúrgicoem solo maranhense. A Vale cogitou a possibilidadede construir uma siderúrgica nos arredores de SãoLuís, em parceria com a chinesa Baosteel, mas aca-bou levando o investimento para o Espírito Santo.No ano passado, o presidente da Vale, Roger Agnelli,

Indústria Brasileira – Quais são os principais entravespara o desenvolvimento da indústria no Maranhão?Jorge Machado Mendes – O estado possui van-tagens não encontradas em outras unidades daFederação, mas, apesar disso, tem dificuldadespara melhorar sua situação socioeconômica. Umdos principais entraves é a falta de investimentosem obras de infra-estrutura, vitais para a atraçãode novas indústrias. Outro fator desfavorável aosetor industrial e às demais atividades econômicasé a alta carga tributária, que acaba por inibir inves-timentos e aumenta a informalidade.

IB – Quais os atrativos que o Maranhão ofereceàs indústrias?JMM – O estado dispõe de grandes bacias hídricas,fundamentais para atender projetos agropecuários,clima favorável, energia e logística de transporteinvejável. Temos os modais portuário, ferroviário erodoviário. A grande aposta do Maranhão se chamaPorto do Itaqui, para onde devem convergir, numfuturo próximo, todas as cargas do corredor centro-

O presidente da Fiema, Jorge MachadoMendes, afirma que o Maranhão caminhapara o adensamento das principais cadeiasprodutivas do estado, com novos investi-mentos em alumínio e com perspectivas dacriação de um pólo siderúrgico.

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acenou com a possibilidade de instalar outra unida-de no Maranhão. “O estado poderá ser consideradonovamente se tiver o terreno e a infra-estrutura ade-quados para atrair mais uma siderúrgica para oBrasil”, disse ele ao jornal O Estado do Maranhão.Segundo o gerente de Relações Internacionais daempresa, o movimento político em defesa da criaçãodo pólo siderúrgico maranhense tem apoio até dopresidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Ele manifestouapoio ao pleito em uma reunião de governadores.Havendo interesse de alguma empresa em instalarprojetos siderúrgicos no Maranhão, a Vale, sem dúvi-da nenhuma, não medirá esforços para fomentar. O interesse é mútuo, do estado e da Vale, para que seconcretize o sonho de trazer uma siderúrgica para oMaranhão”, afirma Sousa.

O governo estadual negocia com o grupo Auri-zônia a instalação de uma siderúrgica no municípiode Bacabeira, a cerca de 50 km de São Luís. Mas difi-cilmente um investimento desse porte – cerca deUS$ 4,5 bilhões – se viabilizaria sem o apoio da Vale.A terceira aposta do setor industrial maranhense é oincipiente setor de biocombustíveis. “Além de ser

positivo para o meio ambiente, vemos o combustívelverde como uma grande oportunidade de cresci-mento para a agricultura maranhense, com absorçãode novas bases tecnológicas, mas principalmente pelainclusão dos pequenos produtores familiares nacadeia”, diz o presidente da Fiema, Jorge MachadoMendes. “O Maranhão dispõe de áreas enormes eaptas à expansão da cultura da cana-de-açúcar para aprodução de álcool, assim como para o cultivo deoleaginosas como soja, girassol e mamona, dentreoutras, para a produção de biodiesel. Somente para acana-de-açúcar, há disponibilidade de 1,2 milhão dehectares de alta aptidão agrícola."

No ano passado, o estado fez sua primeira expor-tação de etanol: uma carga de 4,5 milhões de litrospara os Estados Unidos. Investidores chineses, emparceria com empresários brasileiros, planejam insta-lar duas grandes usinas no Maranhão, com capacida-de de produzir cerca de 800 milhões de litros deálcool por safra a partir de 2010. A Comanche CleanEnergy, empresa norte-americana, vai investirUS$ 300 milhões na produção de etanol e biodiesel.

Todos esses investimentos demandam melho-ras na infra-estrutura do estado. O Programa deAceleração do Crescimento (PAC), do governofederal, prioriza a aplicação de recursos no Portodo Itaqui, a principal porta de saída das exporta-ções maranhenses. As obras previstas contemplamdesde dragagem até construção de novas instala-ções, ao custo total de R$ 216 milhões. Tambémestá na lista do PAC a duplicação de 18 km daBR-135, principal acesso rodoviário ao porto.

De acordo com o empresariado local, porém, oritmo das obras ainda deixa a desejar. “O PAC temuma proposta de investimentos a curto, médio elongo prazos que visa o crescimento, o desenvolvi-mento do País. Mas a burocracia da máquina estataltem sido uma força contrária. É preciso avançar maispara que os projetos do PAC, principalmente os vol-tados para a área de infra-estrutura, saiam o maisrapidamente possível do papel. O Maranhão precisaurgentemente de investimentos maciços no Porto doItaqui para que este não se torne um gargalo numfuturo próximo. Com o avanço da ferrovia Norte-Sul para a região central do Brasil, naturalmentehaverá um escoamento de cargas para o porto mara-nhense”, afirma o presidente da Fiema.

norte do País, por conta de sua localização geográ-fica privilegiada, próxima dos grandes mercadosinternacionais: Estados Unidos e Europa e agoraÁsia, com a expansão do Canal do Panamá.

IB – Quais os setores que se destacam positivamente? JMM – A minerometalurgia e a produção degrãos são as cadeias produtivas de maior desta-que no Maranhão, com foco nas exportações.Todo o minério de ferro produzido na mina deCarajás é escoado pelo Porto do Itaqui. Essacadeia produtiva é conduzida pela Vale, que estáagregando valor por meio da produção de ferro-gusa e pelotas. A próxima fase de adensamentodessa cadeia, e que está próxima, é a instalaçãode um pólo siderúrgico. Outra grande empresaé o Consórcio de Alumínio do Maranhão(Alumar), que tem como um dos sócios a gigan-te Alcoa. Com forte vocação agrícola, o estadotambém se destaca na produção de grãos, sobre-tudo de soja, na região sul do Maranhão e naregião de Chapadinha.

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A REGIÃO NORDESTE VEM APRESENTANDO TAXAS DE CRESCIMENTO ECONÔMICO

acima da média brasileira desde 2002. Mas isso não deverá se manter nos próxi-mos anos, segundo o professor Oswaldo Guerra, da Faculdade de CiênciasEconômicas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). A equiparação do cres-cimento da maioria dos estados nordestinos ao do País deverá ficar clara, segun-do ele, já em meados deste ano, quando o Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) divulgar os dados das contas estaduais de 2007.

Uma razão para o Nordeste se destacar menos é que o Brasil como um todoestá crescendo mais. A aceleração econômica do País é, em parte, resultado doBolsa Família. Das 11 milhões de famílias beneficiadas por esse programa dedistribuição de renda do governo federal, metade está no Nordeste. Isso temaquecido o comércio varejista da região, que aumentou as encomendas das indús-trias instaladas no Sul e Sudeste, onde se concentra a maior parte da produçãomanufatureira do País.

Outro fator desfavorável ao crescimento do Nordeste é que estão chegandomenos empreendimentos de impacto do que na década passada, quando a Fordinstalou uma fábrica em Camaçari (BA). A exceção regional é Pernambuco, ondea Petrobras e a venezuelana PDVSA constroem uma nova refinaria. SegundoGuerra, o estado acertou ao investir em infra-estrutura logística, algo que segun-do ele tem maior poder de atração de investimentos do que incentivos fiscais.

POR PAULO SILVA PINTO E ENIO VIEIRA

Professor de economia da UFBA afirma que são osinvestimentos em infra-estrutura logística e não osincentivos fiscais o principal fator de atração deempreendimentos industriais

Planejamentode longo prazo

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Indústria Brasileira – O Produto Interno Bruto(PIB) do Nordeste cresceu acima da média brasileiranas últimas duas décadas, mas de modo especialdesde 2002. Isso significa uma mudança de patamarde desenvolvimento para a região?Oswaldo Guerra – De fato, a maior parte das eco-nomias da região tem crescido a taxas superiores àmédia. A Região Nordesteteve capacidade de atrairalguns importantes empreen-dimentos na área industrial,de serviços e também deagronegócios. Ao mesmotempo, a economia brasileiracresceu pouco nesses últimosanos de um modo geral, oque ajudou o Nordeste a se destacar. Mas a tendên-cia esperada é que esse comportamento dos últimosquatro anos comece a se reverter. Para algumas eco-nomias já se reverteu, o que deverá ficar claro quan-do o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística] apresentar os dados dos estados.

IB – Por que há essa reversão?OG – A economia nordestina tem uma base pro-dutiva menor em comparação às regiões Sul e

Sudeste. Quando se traz um empreendimentoindustrial de porte, caso da Ford na Bahia, há umefeito estatístico. Em Minas Gerais ou em SãoPaulo, um empreendimento desses estaria diluído.Na Bahia, resulta em salto importante do PIB doestado. Mas à medida que o investimento matura,seus efeitos multiplicadores tendem a diminuir. A planta da Ford já está operando a plena capaci-dade. Por outro lado, a economia do Sudeste e doSul ganhou uma nova dinâmica, tanto na áreaagroindustrial como na manufatureira. O progra-ma Bolsa Família, o aumento do salário mínimo eo crédito consignado incentivaram muito o con-sumo, particularmente nas regiões mais pobres, ouseja, no Norte e no Nordeste. O comércio varejis-ta do Nordeste tem crescido muito, resultando emmaior demanda por uma série de bens de consu-mos duráveis e não-duráveis.

IB – Esse aumento do consumo no Nordeste favo-rece mais a indústria do Sul e do Sudeste do que a do Nordeste?OG – Sim, porque a maior parte da produção debens de consumos duráveis e não-duráveis locali-za-se nas regiões Sul e Sudeste, e não na RegiãoNordeste, a qual tem atraído investimentos principalmente na produção de bens intermediá-rios. Está começando uma mudança lenta e gra-

dual nesse processo, com adecisão de algumas empresasde instalarem plantas indus-triais no Nordeste, particular-mente para produzir bens deconsumo não-duráveis, comoalimentos, com a instalaçãode unidades da Nestlé naBahia e em Pernambuco, vol-

tadas principalmente para produtos mais popula-res. Há também produção de bens duráveis, aindaque localizada, como calçados e têxteis. São indús-trias que, pressionadas pela concorrência chinesa,fugiram dos custos salariais mais altos no Centro-Sul e foram para algumas áreas do Nordeste.

IB – O desenvolvimento do Nordeste tem se concen-trado no litoral, em detrimento do agreste e do sertão.Como mudar isso?

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EDIÇÃO ESPECIAL REGIÃO NORDESTE

O grande problema doNordeste é a ausênciade uma política dedesenvolvimento

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Pernambuco está atraindo um volume significati-vo de investimentos, porque apostou muito nalogística. O porto de Suape é uma coisa importan-te. A Bahia ainda responde por mais de 35% doPIB nordestino e é a sexta economia do Brasil, masPernambuco tem atualmente uma capacidademaior de atração de investimentos. Mercado con-sumidor amplo, um grande fator de atração no Sule Sudeste, o Nordeste não tem ainda, e vai demo-rar para ter. Guerra fiscal se exaure. Infra-estrutu-ra de logística, ao contrário, é uma fonte de com-petitividade muito grande.

IB – No caso de Salvador, o porto é um problema?OG – É caótico. A ferrovia está com problema.O porto de Aratu é melhor, mas ainda deixamuito a desejar. O governo da Bahia está comum projeto de construir um novo porto e fazeruma ferrovia ligando o oeste baiano, onde tem o

OG – O grande problema é a ausência de umapolítica de desenvolvimento regional. Assim, aforma de atrair investimentos, no comércio,indústria e serviços, de conceder incentivos fiscais,fez os estados nordestinos entrarem numa guerra.Mesmo com incentivos, a tendência das indústriasé de se instalar nas áreas que têm maior densidadepopulacional ou maior infra-estrutura de serviçoseducacionais e tecnológicos. Essas áreas estão nafaixa litorânea. Há exceções. Na Bahia, há a fron-teira dinâmica do agronegócio no oeste, no cerra-do, perto Brasília, graças à tecnologia desenvolvidapela Embrapa para a produção de soja. No miolãodo Nordeste, o semi-árido, há densidade popula-cional, mas não há vantagens competitivas. Umaempresa só se instala ali se receber um caminhãode incentivos. E quando acabam os incentivos,fecha a porta e vai embora. Como não há alterna-tivas econômicas, as pessoas migram para as cida-des médias do Nordeste, que são poucas, e a con-seqüência é a favelização.

IB – Qual a solução?OG – É preciso criatividade. Uma alternativa seriao programa de Biodiesel a partir da mamona, oque criaria alternativas econômicas e permitiriamàs pessoas deixarem o trabalho extremamente pre-cário que têm, além de conter a migração. Issoexige subsídios. A Alemanha tem um programaagressivo de biodiesel que, no primeiro momento,teve de ser subsidiado, porque a competitividadedo petróleo é maior.

IB – A transposição do rio São Francisco poderiaajudar na solução?OG – O projeto é cercado de polêmicas e dedivergências técnicas. Eu, sinceramente, não sou amelhor pessoa para falar disso. Até hoje não con-segui ter uma posição definitiva sobre o assunto.Li artigos de base aparentemente científica comargumentos poderosos, de um lado e de outro.

IB – Os incentivos fiscais podem não ser a melhorsolução, mas têm sido eficientes na atração deinvestimentos.OG – A guerra fiscal é uma maluquice, os estadosnão têm mais caixa para isso. Hoje, no Nordeste,

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ENTREVISTAOSWALDO GUERRA

Pernambuco atraimais investimentoshoje porque apostouna logística

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Page 48: CRESCIMENTO ACIMA DA MÉDIA DO PAÍSbibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/services/revistas_dig... · Estão em marcha fatores que ensejam maiores preocupações quanto a esses pontos

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pólo dinâmico do agronegócio, com o litoral.Mas são projetos que dependem de muitosrecursos, que só podem ser feitos com a ajudado governo federal. Os governos estaduais nãotêm como bancar sozinhos os grandes projetosde infra-estrutura.

IB – Há perspectivas de novos investimentos de gran-de porte, como foi a fábrica da Ford na Bahia?OG – Uma nova montadora, a Toyota, tem ace-nado com a proposta de instalar uma fábrica noBrasil, e já disse que não será em São Paulo. Osestados do Nordeste e do Sul estão numa novaguerra para ver qual estado vai sediar isso. Seriamuito bom para o Nordeste se a Toyota fizesse aopção de vir para Pernambuco ou Bahia. Há tam-bém um empreendimento na área de celulose deuma empresa sueco-finlandesa instalada no sul daBahia, que pretende duplicar a planta. Se issoacontecer, será a maior fábrica de celulose domundo. Mas é um investimento localizado, extre-mamente intensivo em capital e em terra, empre-gando poucas pessoas. Terá um efeito importantena economia da área onde está a empresa, mas nãotem a capacidade de mudar ou dar um novo dina-mismo à economia do estado, como têm umaplanta automobilística, um pólo petroquímico ouuma refinaria. Há uma série de projetos, como aSiderúrgica do Ceará, a refinaria da PetrobrasAbreu e Lima [em Pernambuco] e vários na áreade turismo que certamente darão impulso à eco-nomia nordestina. Mas tende a diminuir umpouco o ímpeto que levou o Nordeste a ser consi-derado a China brasileira em termos de cresci-mento nos últimos anos. O impacto dos progra-mas de distribuição de renda do Bolsa Famíliatambém tende a diminuir. A não ser que o gover-no aumente muito o valor do benefício.

IB – O governo deveria fazer isso?OG – Se tiver recursos no orçamento, deveria.Melhorar a distribuição de renda é um compro-misso que o Brasil deve ter, porque a dívida socialé muito grande. Se pudesse diminuir a corrupçãoe desperdícios e alocar dinheiro para isso, euacharia maravilhoso.

IB – Não seria melhor destinar mais dinheiroà educação?OG – Sem dúvida, o Nordeste tem uma carên-cia grande de educação e tecnologia. Mas issonão concorre com os programas de distribuiçãode renda. Deve-se apostar nas duas coisas. Asregras do Bolsa Família, obrigando crianças nafaixa de 7 a 14 a estar na escola, geram condiçõespara tirar as pessoas da pobreza. Com a educa-ção, elas poderão caminhar com as próprias per-nas. Haverá uma luz no fim do túnel para oBrasil quando os governos nordestinos de ummodo geral, e o País, de maneira mais ampla,entenderem que estabilização de preços, equilí-brio nas contas públicas e educação são priorida-des de Estado e não de governo.

O impacto econômicodo Bolsa Família tende

a cair, a menos queseja reajustado

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