crenÇas de professores do ensino fundamental i …seja na defesa final. e aos professores doutores...

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE UERN CAMPUS AVANÇADO “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA” – CAMEAM PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS PPGL DOUTORADO EM LETRAS CRENÇAS DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I SOBRE O DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO PAU DOS FERROS 2019

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Page 1: CRENÇAS DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I …seja na defesa final. E aos professores doutores João Bosco e Halysson Dantas, por terem aceitado, prontamente, participar da banca

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN

CAMPUS AVANÇADO “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA” – CAMEAM

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LETRAS – PPGL

DOUTORADO EM LETRAS

CRENÇAS DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL

I SOBRE O DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL

LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO

PAU DOS FERROS

2019

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LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO

CRENÇAS DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I SOBRE O

DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL

Tese apresentada como requisito para obtenção do título de Doutor em Letras, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado “Prof.ª Maria Elisa de A. Maia” – CAMEAM, Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL, sob orientação do Prof. Dr. Antônio Luciano Pontes. Área de concentração: Estudos do Discurso e do Texto. Linha: Texto e Construção de Sentidos.

PAU DOS FERROS

2019

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© Todos os direitos estão reservados a Universidade do Estado do Rio Grande do Norte. O conteúdo desta obra é de inteira responsabilidade do(a) autor(a), sendo o mesmo, passível de sanções administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n° 9.610/1998. A mesma poderá servir de base literária para novas pesquisas, desde que a obra e seu(a) respectivo(a) autor(a) sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.

Catalogação da Publicação na Fonte.

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

B862c Brito, Luan Talles de Araújo Crenças de professores do Ensino Fundamental I

sobre o dicionário escolar infantil. / Luan Talles de Araújo

Brito. - Pau dos Ferros - RN, 2019. 195p.

Orientador(a): Prof. Dr. Antônio Luciano Pontes. Tese (Doutorado em Programa de Pós-Graduação em

Letras). Universidade do Estado do Rio Grande do Norte.

1. Crenças de professores. 2. Metalexicografia

Pedagógica. 3. Práticas pedagógicas. 4. Dicionário escolar

infantil. I. Pontes, Antônio Luciano. II. Universidade do

Estado do Rio Grande do Norte. III. Título.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pela Diretoria de Informatização (DINF), sob orientação dos bibliotecários do SIB-UERN, para ser adaptado às necessidades da comunidade acadêmica UERN.

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A tese “Crenças de professores do Ensino Fundamental I sobre o dicionário escolar infantil”, autoria de Luan Talles de Araújo Brito, foi submetida à

Banca Examinadora, constituída pelo PPGL/UERN, como requisito parcial necessário à obtenção do título de Doutor em Letras, outorgado pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN

Tese defendida e aprovada em 14 de junho de 2019.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Antônio Luciano Pontes – UERN

(Presidente)

Prof. Dr. Ananias Agostinho da Silva – UFERSA (1º Examinador)

Prof. Dr. Halysson Oliveira Dantas – UniFanor WYDEN (2º Examinador)

Profa. Dra. Edmar Peixoto de Lima – UERN

(3ª Examinador)

Prof. Dr. João Bosco Figueiredo Gomes – UERN

(4ª Examinador)

Profa. Dra. Lílian Pereira Palácio – UECE

(Suplente)

Prof. Dr. Marcos Nonato de Oliveira – UERN

(Suplente)

PAU DOS FERROS

2019

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Dedico este trabalho à minha mãe, Maria

Luzenira de Jesus Araújo, pelo amor,

pelo cuidado e por ter me ensinado, com

seu exemplo de vida, que a paciência é

uma virtude que se deve cultivar, pois

“quem espera em Deus não cansa,

alcança”.

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AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, por ter me permitido a graça de chegar

a um patamar tão elevado da jornada acadêmica. Tenho certeza de que o Senhor

me sustentou durante todo o processo de escrita da tese e, por meio da ação do

Espírito Santo, guiou os meus passos, inspirando-me e renovando as minhas forças

quando eu me encontrava cansado e desanimado.

À minha mãe, Luzenira, por acreditar em mim e por sempre ter incentivado a

minha vida de estudos, preocupando-se comigo, zelando pelo meu bem-estar e

ajudando-me, até onde podia, na realização dos meus sonhos.

Ao meu pai, Sebastião, e ao meu irmão, Segislândio, por torcerem pelo meu

sucesso e pela minha conquista do título de doutor.

Aos meus sobrinhos Thaylan, José Rian e Maria Laura, que, embora tão

novos, também me motivaram a lutar pelas minhas conquistas profissionais, para

que, um dia, eu possa ajudá-los, de alguma forma, a concluírem seus estudos e,

quem sabe, a seguirem a carreira acadêmica.

O meu agradecimento especial ao meu orientador, o Prof. Dr. Luciano

Pontes, um verdadeiro “divisor de águas” na minha vida acadêmica. Com você,

Luciano, aprendi muito! Muito obrigado por ter me ensinado tantas coisas no

universo imenso da Linguística. Obrigado pela generosidade, pelos conselhos, pelos

momentos partilhados, pelos elogios certos nas horas certas, pela leitura atenta de

meus escritos e pela humildade com que apontava o que precisava ser melhorado.

Que Deus possa te recompensar por todo o bem que você me fez desde o momento

que entrou na minha vida, em 2012, por meio de uma conversa informal e

inesperada nos bastidores de um evento acadêmico da UERN.

Aos professores doutores Ananias Agostinho e Edmar Peixoto, pelas

grandes contribuições que deram à minha tese, seja no processo de qualificação,

seja na defesa final. E aos professores doutores João Bosco e Halysson Dantas,

por terem aceitado, prontamente, participar da banca de defesa final de minha tese.

Com certeza, o meu trabalho cresceu qualitativamente a partir da leitura crítica e dos

apontamentos certeiros de todos vocês.

Aos professores participantes da investigação, pela cooperação e

disponibilidade.

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A todos aqueles que torceram, oraram por mim e ouviram pacientemente

meus desabafos e angústias com relação ao doutorado e à escrita de minha tese.

Neste ponto, agradeço, especialmente, a Demóstenes Vieira e a Padre Francisco.

A todos os colegas de trabalho e alunos que tive pelas escolas onde

trabalhei durante o doutorado, seja na E. M. E. F. Terezinha Garcia Pereira, na E. M.

Evilásio Leão, e na E. E. E. F. M. Olívia Saraiva Maia. Obrigado pela torcida de

todos e pelas palavras de incentivo.

O meu muito obrigado a cada professor ou professora que passou pela minha

trajetória estudantil e que, de alguma forma, contribuiu para que eu tivesse

condições de chegar aonde hoje cheguei. Agradeço, em especial, aos docentes do

PPGL – UERN, por terem contribuído significativamente para o meu crescimento

enquanto estudante e pesquisador dos fenômenos da linguagem.

Aos técnicos administrativos do PPGL – UERN, pela eficiência e pela

disponibilidade em me ajudar sempre que precisei.

A todos os que aqui não foram mencionados diretamente, mas que torceram

pelo meu sucesso e se alegraram com as minhas conquistas.

A você que agora está lendo esta tese, concretizando meu intuito de contribuir

com a formação docente nos estudos do léxico e com a melhoria no que

corresponde ao uso escolar do dicionário como uma ferramenta a mais para o

desenvolvimento cognitivo de seus consulentes, quer seja pela concordância com as

nossas ideias, quer seja pelo contraponto tão necessário para a construção do

conhecimento científico.

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A minha pena é que não ensinem as crianças a amar o Dicionário. Ele contém todos os gêneros literários, pois cada palavra tem seu halo e seu destino — umas vão para aventuras, outras para viagens, outras para novelas, outras para poesia, umas para a história, outras para o teatro. E como o bom uso das palavras e o bom uso do pensamento são uma coisa só e a mesma coisa, conhecer o sentido de cada uma é conduzir-se entre claridades, é construir mundos tendo como laboratório o Dicionário, onde jazem, catalogados, todos os necessários elementos. Eu levaria o Dicionário para a ilha deserta. O tempo passaria docemente, enquanto eu passeasse por entre nomes conhecidos e desconhecidos, nomes, sementes e pensamentos e sementes das flores de retórica. Poderia louvar melhor os amigos, e melhor perdoar os inimigos, porque o mecanismo da minha linguagem estaria mais ajustado nas suas molas complicadíssimas. E sobretudo, sabendo que germes pode conter uma palavra, cultivaria o silêncio, privilégio dos deuses, e ventura suprema dos homens.

Cecília Meireles

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RESUMO

O estudo das crenças e de sua relação com o processo de ensino-aprendizagem continua em expansão no âmbito brasileiro. Dessa forma, esse campo de investigação necessita do desenvolvimento de novas pesquisas que discutam, por meio de uma abordagem contextual, aspectos da prática docente frente ao dicionário escolar infantil. Neste contexto, tornam-se pertinentes as discussões fomentadas pelos estudos do léxico, que apontam, de um lado, a importância do uso da obra dicionarista para o desenvolvimento cognitivo dos consulentes e, de outro, a falta de preparação docente para o uso produtivo desse material didático na escola. A partir deste cenário, a presente pesquisa teve como objetivo analisar as crenças de professores do ensino fundamental I acerca do dicionário escolar infantil e do seu uso em sala de aula. Desse modo, defende-se, neste trabalho, a tese de que as crenças de professores sobre o dicionário escolar infantil possuem dupla natureza, já que se manifestam não apenas discursivamente, mas também se materializam nas práticas pedagógicas desses sujeitos. Recorre-se, de modo geral, na fundamentação teórica, a dois campos de estudos da Linguística Aplicada. O primeiro refere-se à teoria de crenças de professores e está pautado em autores como: Barcelos (1995, 2001, 2004, 2006, 2007), Vieira-Abrahão (2001, 2004, 2006), Dufva (2003), Aparecido da Silva (2005, 2006, 2007), Pajares (1992), dentre outros. O segundo compreende os pressupostos do ramo da Metalexicografia Pedagógica, do qual foram utilizados principalmente Hernández (1989), Fajardo (1997), Sanromán (2000), Biderman (2001), Damin (2005), Pinto da Silva (2006), Pontes (2009, 2012, 2018), Pontes e Santiago (2009), Bugueño Miranda (2009) e Nascimento (2013, 2018). Trata-se de um estudo de natureza interpretativista em que analisamos qualitativamente dados provenientes de três instrumentos de pesquisa: questionário fechado do tipo Likert-scale; observação de aulas; e entrevista semiestruturada. O presente estudo contou com a participação de dois docentes de 5º ano do ensino fundamental, que lecionavam em uma mesma escola pública municipal da cidade de Brejo do Cruz – Paraíba. Os resultados mostram crenças convergentes e crenças divergentes em relação aos postulados lexicográficos. Nas crenças convergentes, destaca-se a criticidade docente em relação aos aspectos da microestrutura, do material interposto e da macroestrutura do dicionário escolar infantil. Nas crenças divergentes, encontram-se posições valorativas docentes que se configuram como inadequadas, uma vez que descartam a existência de dicionários específicos para as diversas etapas da educação básica, desconsideram aspectos discursivo-ideológicos da obra dicionarista e refutam a importância de atualização desse material didático frente aos novos usos linguísticos que emergem na sociedade ao longo dos anos. Por meio da análise dos dados, é possível perceber que a articulação entre crença e prática pedagógica envolvendo o dicionário escolar infantil configura-se por meio de três tipos de relação: causa-efeito, hermenêutica e interativa. No final, os resultados revelam, ainda, uma lacuna na formação inicial dos docentes investigados no que corresponde a uma base mínima de conhecimentos lexicográficos necessários ao uso produtivo do dicionário no processo de ensino-aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Crenças de professores. Metalexicografia Pedagógica. Práticas pedagógicas. Dicionário escolar infantil.

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ABSTRACT

The study of beliefs and their relationship with the teaching and learning process continues expanding in Brazilian scope. Thus, this investigation field needs new researches to be developed in order to debate, through a contextual approach, aspects of teaching practices towards the dictionary use in child education. In this context, it is relevant to instigate debates by the lexical studies, which point to the importance of the dictionary use on the consultants’ cognitive development on one hand and the lack of teachers’ preparation to its use in a productive way on the other. From this scenario, this research aimed to analyze basic education teachers’ beliefs concerning children’s school dictionary and its use in classroom. Thereby this work defends the thesis that teachers’ beliefs about the dictionary possess double nature, as these beliefs manifest not only on their speeches, but also on their pedagogical practices. For the theoretical foundation, we turn to two study fields in applied linguistics. The first one refers to teachers’ beliefs theory and it is based on authors such as Barcelos (1995, 2001, 2004, 2006, 2007), Vieira-Abrahão (2001, 2004, 2006), Dufva (2003), Aparecido da Silva (2005, 2006, 2007), Pajares (1992), among others. The second one is comprised by the assumptions of the Pedagogical Metalexicography branch, mainly used by Hernández (1989), Fajardo (1997), Sanromán (2000), Biderman (2001), Damin (2005), Pinto da Silva (2006), Pontes (2009, 2012, 2018), Pontes and Santiago (2009), Bugueño Miranda (2009) and Nascimento (2013, 2018). This is an interpretative nature study, whereupon we qualitatively analyzed data from three research instruments: closed-ended questions of the Likert-scale type; class observation; and semi-structured interview. This study counted on the participation of two 5th grade teachers, who taught in the same public school in Brejo do Cruz City in Paraiba State. The results show both convergent and divergent beliefs concerning the lexicographic postulates. In the convergent ones, it is highlighted the teacher’s criticality about the aspects of microstructure, interposed material and the macrostructure of children’s school dictionary. In the divergent ones, teaching valuation positions are found, which are understood as inadequate, since they discard the existence of specific dictionaries for the several stages of basic education, disregard discursive-ideological aspects of the dictionary and refute the importance of this courseware updating to the new linguistic uses that emerge in society over the years. By data analyzing, it is possible to see that the articulation between beliefs and pedagogical practice involving children’s school dictionary is set on three types of relation: cause-effect, hermeneutics and interactive. Finally, the results show a gap in the under-study teachers’ basic formation in what corresponds to a minimum base of lexicographic knowledge which are needed to the productive dictionary use in the teaching and learning process.

KEYWORDS: Teachers’ Beliefs. Pedagogical Metalexicography. Pedagogical

Practices. Children’s school dictionary.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 01: Características, vantagens e desvantagens das

abordagens de investigação das crenças .................................................

QUADRO 02: O dicionário escolar no PNLD – Dicionários 2006 .............

QUADRO 03: O dicionário escolar no PNLD – Dicionários 2012 .............

QUADRO 04: Dados pessoais e profissionais dos professores ...............

QUADRO 05: Siglas e sinais utilizados nas transcrições .........................

QUADRO 06: Síntese das crenças inferidas a partir das falas de P1 e

P2 ..............................................................................................................

QUADRO 07: Dicionários utilizados nas aulas observadas ......................

QUADRO 08: Síntese dos resultados envolvendo crenças e ações dos

professores investigados ..........................................................................

QUADRO 09: Resumo das possíveis origens das crenças de P1 e P2 ...

29

62

63

98

104

124

131

141

147

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: As relações entre crenças e práticas pedagógicas ..............

FIGURA 02: Microestrutura de dicionário .................................................

FIGURA 03: Dicionários escolares no contínuo de informatividade

visual..........................................................................................................

FIGURA 04: Contínuo da coerência intersemiótica entre imagem e

texto............................................................................................................

43

68

73

75

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AILA

ALAB

BALLI

FIP

IES

LA

LD

LE

MEC

PB

PIBID

PNLD

UEPB

UERN

Associação Internacional de Linguística Aplicada

Associação de Linguística Aplicada do Brasil

Beliefs About Language Learning Inventory

Faculdades Integradas de Patos

Instituições de Ensino Superior

Linguística Aplicada

Lexicografia Discursiva

Língua Estrangeira

Ministério da Educação

Paraíba

Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência

Programa Nacional do Livro Didático

Universidade Estadual da Paraíba

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................

2 CRENÇAS DE PROFESSORES ...........................................................

2.1 O ESTUDO DAS CRENÇAS E AS PRINCIPAIS ABORDAGENS ..... 2.2 DELIMITANDO O CONCEITO DE CRENÇAS ................................... 2.3 AS RELAÇÕES ENTRE CRENÇA E CONHECIMENTO ................... 2.4 AS RELAÇÕES ENTRE CRENÇA E PRÁTICA PEDAGÓGICA ........ 2.5 CRENÇAS E EXPERIÊNCIAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS ........

3 METALEXICOGRAFIA PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DOCENTE ....

3.1 AS CIÊNCIAS DO LÉXICO ................................................................. 3.2 A TIPOLOGIA E A ESTRUTURA DO DICIONÁRIO ESCOLAR ......... 3.3 A ARTICULAÇÃO VERBO-VISUAL NO DICIONÁRIO ESCOLAR .... 3.4 ASPECTOS DISCURSIVOS E IDEOLÓGICOS NO DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL ................................................................................ 3.5 A FORMAÇÃO DOCENTE E O DICIONÁRIO ESCOLAR: UM DIÁLOGO NECESSÁRIO ......................................................................... 3.6 O ENSINO DO USO E O USO DO DICIONÁRIO ESCOLAR EM SALA DE AULA .........................................................................................

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS .............................................. 4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PESQUISA .................................... 4.2 O PERFIL DOS PARTICIPANTES ..................................................... 4.3 A COLETA E O TRATAMENTO DOS DADOS ...................................

5 CRENÇAS DE PROFESSORES ACERCA DO DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL E DO SEU USO EM SALA DE AULA ..................

5.1 CRENÇAS SOBRE O DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL ................ 5.2 DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL E PRÁTICA PEDAGÓGICA ...... 5.2.1 O uso do dicionário escolar infantil no dizer docente ............... 5.2.2 A seleção dos dicionários usados em sala de aula .................... 5.2.3 O uso do dicionário escolar infantil em sala de aula ................. 5.3 CRENÇAS E EXPERIÊNCIAS DOCENTES .......................................

6 CONCLUSÃO ........................................................................................

REFERÊNCIAS ........................................................................................

APÊNDICES .............................................................................................

APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ............................................................. APÊNDICE B – PERGUNTAS PRÉVIAS PARA ENTREVISTA ............... APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO ........................................................................................

14

24 24 31 38 41 46

52 53 60 71 77 82 88

93 93 97 99

106 106 125 126 130 133 142

149

155

169 170 172 173

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APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO SUJEITO P1 ... APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO SUJEITO P2 ... APÊNDICE F – NOTAS DE OBSERVAÇÃO DAS AULAS DO SUJEITO P1 .............................................................................................................. APÊNDICE G – NOTAS DE OBSERVAÇÃO DAS AULAS DO SUJEITO P1 .............................................................................................................. APÊNDICE H – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO P1 .............................................................................................................. APÊNDICE I – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO P2...............................................................................................................

175 176 177 180 184 191

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1 INTRODUÇÃO

Na pesquisa cujos resultados são apresentados textualmente neste trabalho,

defendemos a tese de que, no processo de ensino-aprendizagem mediado pelo uso

do dicionário escolar infantil, as crenças de professores possuem dupla natureza, já

que se manifestam não apenas discursivamente, mas também se concretizam nas

práticas pedagógicas desses sujeitos, por meio de três tipos de relação: causa-

efeito, hermenêutica e interativa1.

O dicionário é um instrumento essencialmente pedagógico, haja vista sua

natureza didática. No entanto, existem dicionários especialmente produzidos para o

uso em sala de aula, que objetivam atender e adequar-se às necessidades de

aprendizagem do público discente. Apesar de ser crescente o número de trabalhos

no campo da Lexicografia Pedagógica, algumas pesquisas dessa área de estudo

têm apontado que o dicionário é pouco utilizado no processo de ensino-

aprendizagem ocorrido em determinadas escolas brasileiras (AMORIM, 2003;

DARGEL, 2011). Esse problema se agrava um pouco mais quando a obra

dicionarista está presente na escola, mas tem o seu potencial pedagógico limitado,

sendo utilizada tão somente para a busca do significado de palavras desconhecidas

ou para a resolução de dúvidas quanto à ortografia oficial.

Nos últimos anos, um número crescente de estudos tem investigado a

adequação pedagógica e o uso da obra dicionarista em sala de aula (AMORIM,

2003; GOMES, 2007; HEINRICH, 2007; SANTOS, 2009; DARGEL, 2011;

NASCIMENTO, 2013). De modo geral, essas pesquisas vêm apontando para uma

subutilização ou precariedade no que diz respeito à abordagem desse tipo de obra

no âmbito escolar. Este dado despertou-nos, a priori, o interesse em aprofundar a

discussão em torno desse assunto. Aliás, somou-se a isso o fato de já termos

experiência de investigação no âmbito de crenças de professores, iniciada com o

desenvolvimento de nossa pesquisa de graduação (BRITO, 2013) e aprofundada em

nossa dissertação de mestrado (BRITO, 2015).

Em vista disso, buscando fundamentação em pressupostos teóricos da

Linguística Aplicada, pretendemos, nesta tese, analisar as crenças de dois

professores de 5º ano do ensino fundamental acerca do dicionário escolar infantil e

1 Os referidos tipos de relação entre crença e prática pedagógica serão detalhados e discutidos no tópico 2.4 do presente trabalho.

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do seu uso em sala de aula. Em relação ao porquê dessa quantidade de

participantes, ressaltamos que os critérios utilizados para que a amostra bastasse

serão melhor explicitados no capítulo metodológico. Entretanto, gostaríamos de

destacar, desde já, que o principal deles é o fato de a presente pesquisa sobre

crenças seguir o paradigma investigativo da abordagem contextual.

Além disso, este estudo foi motivado ainda, do ponto de vista científico, pela

necessidade de aprofundar a discussão sobre o uso do dicionário escolar infantil,

por meio de uma interface entre os estudos de crenças de professores e a área da

Metalexicografia Pedagógica, levando em consideração o que acontece

efetivamente na prática diária de docentes de uma determinada realidade

educacional.

A elaboração de um trabalho científico implica o conhecimento daquilo que

já foi estudado acerca do tema investigado (ECO, 2010). Pensando nisso, desde o

nosso ingresso no curso de doutoramento, realizamos pesquisas no banco de dados

da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), na

tentativa de mapear um conjunto significativo de trabalhos acadêmicos relacionados

à nossa pesquisa. A partir daí, pudemos constatar que a presente investigação

surgiu de “lacunas” e possibilidades existentes no âmbito das discussões

acadêmicas, no que diz respeito ao estudo sistemático das crenças de professores

dos anos iniciais do ensino fundamental em relação ao dicionário escolar infantil,

uma vez que, dentre as pesquisas registradas no acervo digital da CAPES,

nenhuma correspondia necessariamente ao objeto de estudo aqui proposto.

Após a referida pesquisa, tornou-se possível o levantamento de sete (07)

trabalhos acadêmicos, cinco (05) dissertações e duas (02) teses, que mantêm

alguma relação com o presente trabalho: Amorim (2003), Pinto da Silva (2006),

Heinrich (2007), Dargel (2011), Nascimento (2013), Sousa (2014) e Nascimento

(2018). No entanto, é pertinente destacarmos que, através de outra pesquisa, em

um site de busca da internet, encontramos, ainda, um (01) capítulo de livro e dois

(02) artigos científicos relacionados com a nossa proposta investigativa, já que

problematizam crenças e usos do dicionário no processo de ensino-aprendizagem:

Pontes e Santiago (2009), Serra (2016) e Ferreira, Bonfim e Serra (2016),

respectivamente. Neste caso, foi levantado um total de dez (10) trabalhos científicos

que mantêm alguma relação com esta pesquisa, conforme explicitamos a seguir.

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Nesse âmbito, podemos citar a dissertação de Amorim (2003), O dicionário:

do livro didático à sala de aula, na qual a autora analisou como o minidicionário de

língua portuguesa era abordado em salas de aula do ensino fundamental I, seja pelo

professor ou pelo próprio livro didático adotado na escola. Ao final do trabalho, foi

concluído que, tanto na prática docente quanto na abordagem do livro didático,

prevalecia o uso da obra lexicográfica como material de consulta em momentos de

dúvida sobre o significado e a ortografia de palavras de um texto ou de uma frase

descontextualizada. Por outro lado, Amorim (2003) inferiu, ainda, que o dicionário

era também usado, com bem menos frequência, em exercícios envolvendo

interpretação e produção textuais.

A pesquisa de Heinrich (2007), cujo título é Dicionário e ensino de língua

materna: obras lexicográficas diferenciadas para necessidades distintas, investigou

o potencial didático do dicionário na aprendizagem de língua materna. Para tanto, foi

analisado um total de 13 dicionários pertencentes ao Programa Nacional do Livro

Didático, da edição de 2006, e direcionados aos anos iniciais do ensino fundamental.

Os resultados da análise identificaram elementos que integram a estrutura

organizacional desses objetos e que podem ser explorados didaticamente,

objetivando a ampliação da competência lexical e da competência em leitura dos

estudantes.

Na parte final da dissertação, Heinrich (2007) sugeriu algumas atividades

escolares envolvendo o uso do dicionário, as quais auxiliam os consulentes nos

seguintes aspectos: reconhecimento do alfabeto e da ordem alfabética; pesquisa de

vocábulos através de grupos de palavras, objetivando a familiarização com palavras

compostas, derivadas e plurais nas entradas do dicionário; compreensão de

expressões idiomáticas usuais presentes em textos populares; familiarização com os

usos figurados das palavras e com o uso de palavras homônimas.

Por sua vez, a tese de Dargel (2011), intitulada O ensino do vocabulário nas

aulas de língua portuguesa: da realidade a um modelo didático, deu ênfase ao

ensino do vocabulário a partir do uso do dicionário em sala de aula em atividades de

ensino da disciplina de língua portuguesa. Esse estudo diagnosticou um despreparo

docente com relação ao desenvolvimento do conhecimento lexical do aluno. A partir

disso, a autora abordou, ao longo de sua tese, aspectos da pedagogia do léxico e do

uso da obra lexicográfica em turmas do 6º ao 9º ano do referido componente

curricular, especialmente no que diz respeito às atividades de leitura e de escrita.

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Em resumo, os trabalhos de Amorim (2003) e de Dargel (2011) discutiram

como o dicionário era incorporado precariamente na prática pedagógica docente do

ensino fundamental I e II. Já a pesquisa de Heinrich (2007) sugeriu formas de

incorporar produtivamente esse material em sala de aula, o que, de fato, pode

interessar à nossa investigação. Em contrapartida, o entendimento de como o

docente incorpora didaticamente a obra dicionarista como um instrumento do

processo de ensino-aprendizagem ocorre, na presente pesquisa, a partir da teoria

de crenças de professores, segundo a qual estas podem influenciar diretamente no

agir docente em sala de aula, afinal é por meio de suas crenças que o sujeito

professor julga, decide e realiza sua prática pedagógica.

Nessa perspectiva, um trabalho do qual se aproxima esta pesquisa é o de

Pontes e Santiago (2009). Partindo das contribuições de autores da área da

Lexicografia Pedagógica, o estudo de Pontes e Santiago (2009), Crenças de

professores sobre o papel do dicionário no ensino de língua portuguesa, teve o

objetivo principal de desconstruir as crenças de docentes e de estudantes sobre o

dicionário. Em sua análise, foram levantadas e discutidas as seguintes crenças: 1 –

Um dicionário é para a vida toda; 2 – Um dicionário perfeito serve para tudo; 3 – O

bom dicionário é o mais conhecido; 4 – O dicionário com uma nomenclatura imensa

é o melhor; 5 - O dicionário representa uma única norma; 6 - O dicionário indica

competência intelectual de quem o lê; 7 - O dicionário é uma obra objetiva e neutra.

Apesar da importante contribuição dessa pesquisa, ao sinalizar problemas quanto ao

entendimento da obra dicionarista, ela tem como lacuna o fato de os seus resultados

não advirem de uma pesquisa de campo ou de um corpus construído a partir das

falas e das ações de professores e estudantes. De certa forma, nosso trabalho

dialoga com o de Pontes e Santiago (2009), complementando-o empiricamente, de

modo específico no que diz respeito às crenças docentes.

Outro trabalho que mantém certa relação com a presente proposta de

investigação é a dissertação de Nascimento (2013), nomeada de O uso do dicionário

escolar de língua materna por alunos do 5º ano de uma escola pública do município

de Palhano – CE. Nela, houve a investigação do uso que alunos de 5º ano do ensino

fundamental faziam de dicionários escolares de língua materna em sala de aula.

Para tanto, foram utilizados instrumentos variados de coleta de dados, como

questionários, testes, oficinas e entrevistas. Em suma, ele abordou, entre outros

aspectos, as dificuldades, hábitos e crenças dos discentes sobre a representação

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visual da obra dicionarista. Sua análise revelou que o potencial informativo e

cognitivo do dicionário era pouco ou nada explorado, já que essa obra era utilizada

de maneira tradicional, quando se pretendia sanar dúvidas de ortografia ou de

significado.

Em contraste ao trabalho de Nascimento (2013), a nossa pesquisa

interessa-se pelas crenças de docentes. Assim o é porque partimos de uma

constatação comum nos estudos supramencionados da área da Lexicografia

Pedagógica, que seria o uso limitado do dicionário em sala de aula, atribuído,

principalmente, à falta de uma adequada formação docente. Desse modo, o nosso

trabalho permite um diálogo entre os resultados de pesquisas da Lexicografia

Pedagógica e os dados fornecidos pelos professores pesquisados, em relação ao

dicionário escolar infantil e ao modo como suas crenças influenciam na proposição

de atividades relacionadas ao uso desse instrumento em sala de aula.

No artigo O ensino de língua portuguesa na educação básica: o papel das

obras lexicográficas, Serra (2016) reflete sobre o dicionário como ferramenta de

ensino, destacando que a sua exploração nas aulas de língua portuguesa possibilita

ao aluno o desenvolvimento de diferentes capacidades comunicativas. Para tanto, é

apresentada uma proposta de atividade na qual o dicionário é abordado como

gênero textual dotado de especificidades estruturais, semânticas e funcionais,

associando o seu uso à melhoria da produção de texto.

Por outro lado, o trabalho Crenças e atitudes quanto ao uso do dicionário em

sala de aula por parte dos professores de um bairro da cidade de Codó – MA, de

autoria de Ferreira, Bonfim e Serra (2016), investigou o uso do dicionário em sala de

aula a partir da aplicação de um questionário aberto junto a professores de escolas

públicas. Por meio desse instrumento, os autores puderam inferir que os professores

investigados reconheciam a importância da obra dicionarista para o processo de

ensino-aprendizagem das matérias escolares, porém, devido à falta de formação,

acabavam promovendo uma prática inadequada que fortalecia a ideia da utilização

do dicionário para consultas rápidas.

Mesmo apresentando pontos em comum com os artigos científicos

supramencionados, este trabalho se diferencia em relação à profundidade da

abordagem do uso da obra lexicográfica em sala de aula. O trabalho de Serra (2016)

fica no plano da sugestão de uma prática de ensino, como aconteceu também em

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Heinrich (2007). O nosso aprofunda, de forma complementar, o que de fato é

realizado pelos professores informantes em sua prática pedagógica.

A pesquisa de Ferreira, Bonfim e Serra (2016), ao contar com apenas um

instrumento de coleta de dados, o questionário aberto, recai na abordagem de

crenças denominada de normativa, a qual é considerada ultrapassada, pois apenas

sugere a relação entre crença e ação docente, uma vez que não possui dados da

prática dos professores (BARCELOS, 2006; MICCOLI, 2010). Em contrapartida,

nossa investigação é pautada em uma abordagem contextual das crenças, a qual

possibilita uma análise mais segura da relação entre crença e atitude dos

professores pesquisados, uma vez que fomos a campo observar as aulas destes.

Além disso, é importante referenciar alguns trabalhos que abordaram

aspectos da multimodalidade do dicionário escolar infantil, uma vez que essa

discussão também se relaciona com o nosso objeto de estudo. No trabalho de Pinto

da Silva (2006), Estudo crítico da representação visual do léxico em dicionários

infantis ilustrados, analisou-se o emprego da linguagem visual e de sua articulação

com a linguagem verbal em obras dicionaristas do PNLD (2006). Desse modo, a

autora teve por base os referenciais teóricos da Gramática do Design Visual, de

Kress e van Leeuwen (2006), bem como o conceito de coerência intersemiótica,

proposto por Camargo (1998). Seus resultados evidenciaram relações de

convergência, desvio e contradição entre a organização verbo-visual das obras

analisadas, apontando também que os recursos de ilustração assumiam propósitos

significativos para além de uma simples função lúdica ou decorativa.

Nessa mesma direção, a dissertação de Sousa (2014), intitulada Com a

palavra o consulente: as relações entre imagem e texto em verbetes ilustrados,

investigou a interpretação de alunos do 5º ano do Ensino Fundamental de uma

escola pública de Fortaleza – CE sobre a coerência intersemiótica e a modalidade

em verbetes ilustrados de dois dicionários infantis, de tipo 22, do PNLD – Dicionários

2012. A pesquisa contou com a participação de alunos que foram submetidos à

leitura de verbetes relacionados às áreas de Ciências Biológicas e de Geografia,

sendo entrevistados acerca da interação entre o visual e o verbal, bem como sobre a

relação entre ilustrações e realidade. Os resultados revelaram que os alunos

priorizaram a leitura do conteúdo verbal, porém conseguiram perceber quando os

2 A discussão sobre essa tipificação, bem como sobre a tipologia geral dos dicionários escolares, proposta pelo PNLD, será aprofundada no tópico 3.2 da presente tese.

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modos semióticos do verbete apresentavam coerência entre si e quando a imagem

representava de modo eficiente a palavra-entrada. Além disso, foi sugerido que a

imagem deve apresentar uma modalidade mais naturalística quando o conteúdo

verbal focaliza características reais daquilo que está sendo definido e modalidade

mais abstrata nos casos em que o texto verbal está voltado para informações

científicas do objeto definido.

Em sua tese de doutorado, denominada Lexicografia e semiótica social: uma

análise da representação, da composição visual e das relações texto-imagem nos

dicionários escolares tipo 2, Nascimento (2018) abordou os significados potenciais

produzidos por imagem, tipografia e cor, os critérios de seleção de palavras

ilustradas e a relação entre texto e imagem em dicionários escolares tipo 2. Os

resultados mostraram que o uso da multimodalidade proporcionava fluidez e

agilidade na localização de informações, bem como contribuía para a identificação e

o envolvimento por parte do consulente aprendiz através da construção de leiautes

limpos, modernos e agradáveis. Além disso, a análise dos dados revelou uma

complementaridade intersemiótica entre texto e imagem em quase 90% dos

verbetes ilustrados dos quatro dicionários analisados, especialmente pela relação de

sinonímia.

A partir das pesquisas apresentadas, percebemos a obra dicionarista como

um objeto multifacetado que proporciona diferentes perspectivas de estudo e, em

consequência, aspectos variados a serem explorados pedagogicamente, como é o

caso da natureza multimodal discutida em Pinto da Silva (2006), Sousa (2014) e

Nascimento (2018). Em consonância com esses estudos, destacamos a relevância

desta tese ao oportunizar uma discussão direcionada para a maneira que sujeitos

professores, os principais agentes responsáveis pelo planejamento do uso

pedagógico do dicionário, encaram a organização retórico-visual desse material e

trabalham-na em sala de aula.

Após a menção da relevância acadêmica a partir do preenchimento das

lacunas abrangendo nosso objeto de estudo, convém ainda esclarecer que esta tese

de doutorado sobre as crenças de professores de 5º ano do ensino fundamental

acerca do dicionário escolar infantil e do seu uso em sala de aula, está vinculada à

linha de pesquisa “Texto e Construção de Sentidos”, do Programa de Pós-

graduação em Letras, da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, que

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focaliza os fatores envolvidos na produção e na recepção dos sentidos textuais, com

o propósito de contribuir para o ensino do texto.

Em razão disso, gostaríamos de destacar que a realização deste estudo

também possui uma relevância pedagógica, pois, além de proporcionar uma

discussão relevante para a linha de pesquisa a que pertence, seus resultados

poderão contribuir para minimizar possíveis carências na formação docente de

professores dos anos iniciais do ensino fundamental em relação ao dicionário

escolar infantil. Por conseguinte, o estudo e a discussão das crenças de sujeitos

docentes sobre a obra lexicográfica possibilitam a esses profissionais uma revisão

acerca do que eles pensam sobre este material e uma posterior melhoria no seu uso

enquanto ferramenta auxiliar do processo de ensino-aprendizagem de língua

materna, no que se refere ao desenvolvimento da leitura e da produção de textos, da

análise linguística e do conhecimento do vocabulário.

Com base nas reflexões e achados resultantes dessa investigação,

esperamos poder fortalecer os estudos da Linguística Aplicada, especialmente no

que se refere à defesa e à prática de uma maior aproximação entre os saberes

produzidos nas ciências do léxico, a área da formação docente e,

consequentemente, o ensino linguístico. Nessa perspectiva, a presente investigação

poderá contribuir para a qualidade do ensino de língua portuguesa por meio do uso

didático-pedagógico do dicionário escolar infantil, sobretudo porque problematiza

diferentes aspectos desse material de consulta que podem ser explorados em

benefício da aprendizagem dos estudantes.

Além do mais, acreditamos que este trabalho se mostra relevante no campo

dos estudos do léxico, considerando que a presente pesquisa parte de crenças

previamente identificadas nessa área de estudo (PONTES; SANTIAGO, 2009) e, em

contrapartida, por meio dos resultados obtidos, acrescentamos ao conhecimento

científico já produzido novas crenças relacionadas ao dicionário, o que, a nosso ver,

expressa um avanço significativo para a Metalexicografia Pedagógica.

É relevante, ainda, porque representa, em última instância, uma oportunidade

de provocar o debate e ampliar a compreensão das crenças de professores para

além de um viés meramente discursivo que apenas aponta para a possibilidade de

as crenças desses sujeitos influenciarem as práticas pedagógicas, conforme tem

sido enfatizado em Brito (2013, 2015) e em outros autores que pouco têm

contribuído para a exploração sistemática da natureza prática que abrange esse

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conceito, principalmente no tocante à correspondência ou à dissonância entre

crença e ação docente.

Dentre as principais abordagens empregadas para o estudo das crenças de

professores, nossa pesquisa se situa na chamada abordagem contextual, a qual

considera, de modo especial, o contexto dos sujeitos investigados e o estudo

sistemático da inter-relação entre crença e ação, o que, como já dissemos, permite

um maior aprofundamento analítico das relações que se estabelecem em sala de

aula entre o que os professores pensam acerca do dicionário escolar infantil e o

modo como eles realizam suas práticas pedagógicas envolvendo o manuseio desse

material didático.

Assim delimitada, esta investigação busca responder às seguintes questões

de pesquisa: 1 – De que modo as crenças de professores do ensino fundamental I

sobre o dicionário escolar infantil podem ser interpretadas? 2 – Como as crenças de

professores do ensino fundamental I se relacionam às suas práticas de ensino

envolvendo o uso do dicionário escolar infantil? 3 – De que maneira as experiências

de professores do ensino fundamental I atuam na formação das crenças desses

sujeitos em relação ao dicionário escolar infantil?

Diante desse panorama, é que surge o objetivo geral desta pesquisa de

analisar as crenças de professores do ensino fundamental I acerca do dicionário

escolar infantil e do seu uso em sala de aula. Em decorrência dessa proposta central

e da tentativa de encontrar respostas para os referidos questionamentos,

delineamos como objetivos específicos:

1 – Interpretar as crenças de professores do ensino fundamental I sobre o

dicionário escolar infantil, na perspectiva da Metalexicografia Pedagógica;

2 - Averiguar a influência das crenças sobre o dicionário escolar infantil na

prática de ensino de docentes do ensino fundamental I;

3 - Explicar as possíveis origens das crenças de professores do ensino

fundamental I acerca do dicionário escolar infantil.

Para operacionalizar o alcance desses objetivos, fizeram-se necessários o

planejamento e a execução de uma pesquisa de campo. Por meio da aplicação de

questionários fechados em escala, de notas de campo provenientes de observações

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de aulas e de entrevistas semiestruturadas, nosso corpus foi construído e analisado

qualitativamente.

Para melhor organizar o relato de nossa pesquisa, estruturamos esta tese em

seis (06) capítulos, constituindo esta introdução o primeiro. Nela, é apresentado o

tema desta pesquisa, delimitado nosso objeto de estudo, justificada a investigação,

do ponto de vista pessoal, acadêmico e pedagógico, explicitados os objetivos e as

questões de pesquisa e exposto sumariamente todo o trabalho. Além da introdução,

a tese apresenta dois (02) capítulos de natureza teórica em que discutimos os

postulados que fundamentam o nosso estudo, um (01) capítulo destinado à

metodologia da pesquisa e outro, à apresentação e análise dos dados.

O segundo capítulo, nomeado Crenças de professores, discute e

apresenta o conceito de crenças aqui adotado, levando em conta as fases de

surgimento, consolidação e expansão desse campo de estudo da Linguística

Aplicada. Além disso, problematiza as relações entre crença, ação docente e

experiências pessoais e profissionais.

O terceiro capítulo, que denominamos Metalexicografia Pedagógica e

formação docente, discute os principais postulados da Metalexicografia

Pedagógica, possibilitando uma compreensão da tipologia, estrutura, da natureza

multimodal e de aspectos discursivos do dicionário escolar infantil. Aliás, há também

o debate sobre formação docente e uso produtivo do dicionário em sala de aula.

O quarto capítulo é intitulado Procedimentos metodológicos. Nele

descrevemos a natureza da pesquisa, o perfil dos sujeitos pesquisados, bem como

os procedimentos adotados na coleta e na análise dos dados.

No quinto capítulo, Crenças de professores acerca do dicionário escolar

infantil e do seu uso em sala de aula, como o próprio título sugere, analisamos e

discutimos os resultados acerca das crenças dos professores investigados sobre o

dicionário escolar infantil, sua prática pedagógica e as possíveis origens de suas

crenças.

Na parte final desta tese, apresentamos a Conclusão, bem como as

referências e apêndices que serviram de base para a realização do trabalho.

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2 CRENÇAS DE PROFESSORES

A formação de professores, seja a inicial ou a continuada, é um assunto que

vem sendo reiteradamente problematizado no meio acadêmico, haja vista a

necessidade de esses profissionais estarem preparados para atenderem às

demandas do processo de ensino-aprendizagem da atualidade.

Por seu turno, as pesquisas que focalizam a atividade docente do ponto de

vista das crenças dos próprios professores contribuem significativamente para esta

linha de investigação. É nessa perspectiva que o presente capítulo visa à discussão

do conceito de crenças adotado ao longo de nosso trabalho.

Inicialmente, é feito um apanhado das principais abordagens empregadas

desde o início até as fases de consolidação e expansão dessa área de estudo da

Linguística Aplicada. Na sequência, aprofundamos a discussão acerca da relação

entre crença e prática pedagógica e, em seguida, abordamos os fatores e as

experiências, apontados em algumas pesquisas, que atuam direta e indiretamente

na formação das crenças de docentes.

2.1 O ESTUDO DAS CRENÇAS E AS PRINCIPAIS ABORDAGENS

A discussão envolvendo as diferentes abordagens no estudo das crenças se

justifica, nesta seção teórica, pelo fato de que é por meio dessa explanação que

tencionamos proporcionar ao nosso leitor subsídios gerais para compreender os

encaminhamentos tomados na investigação, a qual é aqui caracterizada como

pertencente ao enfoque contextualizado, e mais atual, das pesquisas da área de

crenças e ensino linguístico, conforme detalhamos mais adiante.

A pesquisa acerca de crenças e de seu impacto no processo de ensino-

aprendizagem de línguas tem despertado cada vez mais a atenção de estudiosos,

seja no cenário científico do exterior, seja no do Brasil. As investigações sobre a

temática tiveram início entre as décadas de 70 e 80, no âmbito internacional, e na

década de 90, no âmbito nacional. Anteriormente à década de 70, o ensino era

concebido na perspectiva processo-produto e sua ênfase recaía “no comportamento

do professor e nos resultados da aprendizagem” (BARCELOS; KALAJA, 2013, p.

385). Só após essa época, o pensamento e os conhecimentos do professor foram

reconhecidos como elementos fundamentais que desempenham um papel relevante

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em toda a sua atividade, como apontam Barcelos e Kalaja (2013). Desde o ano de

1995, é notório, na academia brasileira, o crescente número de dissertações e teses

envolvendo essa temática, o que constata o potencial e a importância desse

conceito para a ciência aplicada brasileira, no que se refere ao âmbito da linguagem

(BARCELOS, 2004).

Para comprovar o crescente interesse pelo construto crenças, a autora

supracitada evidencia importantes conferências da área da Linguística Aplicada

(doravante LA). É o caso do Congresso da Associação de Linguística Aplicada do

Brasil (ALAB), o qual apresentou, em seus anais de 1997, quatro trabalhos que

discutem crenças acerca da aprendizagem linguística. Além disso, no ano de 1999,

a conferência da Associação Internacional de Linguística Aplicada (AILA)

apresentou, pela primeira vez, um simpósio acerca de crenças e ensino-

aprendizagem de línguas, havendo, ainda, nessa época, a publicação de um volume

no periódico System3, dedicado à discussão do assunto.

Para Barcelos (2004), o interesse pelo estudo das crenças originou-se de

uma mudança paradigmática na LA: de um olhar analítico sobre o ensino-

aprendizagem de língua do ponto de vista da linguagem (produto) para um olhar

analítico que enfatiza o processo, no qual os sujeitos envolvidos (professor e

aprendiz) ocupam um lugar de destaque. Neste sentido, percebemos, desde a

década de 70, alguns trabalhos que, embora não apresentem ou adotem a

designação de crenças, inserem-se nessa linha investigativa (BARCELOS, 2004;

SILVA, 2005). Em 1978, no artigo de Hosenfeld, por exemplo, é utilizada a

expressão “miniteorias de aprendizagem de línguas dos alunos” em referência ao

“conhecimento tácito dos alunos” (BARCELOS, 2004, p. 127); já no artigo de Breen

e Candlin (1980), há o emprego do termo “visão do aluno”. Por sua vez, o termo

crenças é usado pela primeira vez na LA por Horwitz (1985), a qual utilizou em sua

pesquisa um questionário fechado denominado de BALLI (Beliefs About Language

Learning Inventory) para a sondagem das crenças de aprendizes e professores.

Em relação ao cenário científico-linguístico da academia brasileira, o

interesse pelo conceito de crenças, de acordo com Barcelos (2004), é impulsionado

3 O periódico System é uma revista acadêmica internacional dedicada à publicação de trabalhos voltados para as aplicações de tecnologia educacional, bem como de estudos que se inserem no campo da LA, principalmente no que diz respeito à abordagem de problemas de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras. Seu acesso online se dá a partir do seguinte endereço eletrônico: https://www.journals.elsevier.com/system.

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pelos estudos de: Leffa (1991), com o termo “concepções de alunos”; e Almeida

Filho (1993), com os conceitos de “cultura de ensinar” e “cultura de aprender”; este

último conceito foi também abordado por Barcelos (1995). Sendo assim, é pertinente

explicar, mesmo que resumidamente, como esses autores delinearam os conceitos

acima mencionados em suas respectivas pesquisas, de modo que possamos

conjecturar as suas relações com o conceito de crenças em autores mais recentes,

como Barcelos (2006), Madeira (2005a), Santos (2007) e Bejarano e Soares (2008),

abordados na seção 2.2.

Leffa (1991) realizou uma pesquisa envolvendo alunos prestes a ingressar

na 5ª série do ensino fundamental (hoje, 6º ano) de uma escola pública da região de

Porto Alegre - RS. Em seu trabalho, o autor relaciona o termo concepções dos

alunos à compreensão e aos conhecimentos prévios que os sujeitos pesquisados

possuem acerca da língua estrangeira inglesa e do ensino desta, uma vez que Leffa

(1991, p. 58, tradução nossa) defende “que os alunos têm conceitos da linguagem e

da aprendizagem de línguas antes de começar a estudar Inglês como língua

estrangeira”4. Já a cultura (ou abordagem) de aprender é explicada por Almeida

Filho (1993, p. 13) como “maneiras de estudar e de se preparar para o uso da

língua-alvo consideradas ‘normais’ pelo aluno, e que são típicas de sua região, etnia,

classe social e até do grupo familiar restrito em alguns casos”.

Na investigação das crenças de formandos de Letras, Barcelos (1995, p. 40)

fez uso do conceito de cultura (ou abordagem) de aprender referindo-se ao

“conhecimento intuitivo implícito (ou explícito) dos aprendizes constituído de

crenças, mitos, pressupostos culturais e ideais sobre como aprender línguas”. Para

a autora, esse conhecimento relaciona-se com a idade e o nível socioeconômico de

cada formando e baseia-se também nas experiências educacionais anteriores, nas

leituras já realizadas e no contato com pessoas consideradas influentes.

Já o trabalho de Almeida Filho (1993, p. 20, grifo nosso) contribuiu

significativamente para a área de investigação de crenças e ensino de língua, por

meio da discussão do conceito de cultura (ou abordagem) de ensinar, que, segundo

o autor, refere-se a:

4 “what concepts students have of language and language learning before they start studying English as a foreign language” (LEFFA, 1991, p. 58).

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Um conjunto de disposições, conhecimentos, crenças, pressupostos e, eventualmente, princípios sobre o que é linguagem humana, LE e o que é aprender e ensinar uma língua-alvo, além de abranger também os conceitos de pessoa humana, sala de aula, e dos papéis representados pelo professor e aluno de uma nova língua.

A cultura de ensinar é concebida, então, como uma filosofia de trabalho por

meio da qual os sujeitos compreendem o seu ofício e desempenham o seu papel,

orientados pelos diferentes conceitos que se relacionam ao trabalho docente. Na

fase inicial da pesquisa acerca das crenças sobre ensino-aprendizagem de língua,

defendia-se que as crenças eram “estruturas mentais, estáveis e fixas” (BARCELOS,

2006, p. 18), diferentes do conhecimento e, geralmente, eram julgadas pelos

pesquisadores como certas ou erradas. Era comum, ainda, a defesa da relação de

causa e efeito entre as crenças dos sujeitos investigados e suas ações. Por

conseguinte, a autora mencionada denomina esse período de investigação de

abordagem normativa.

A abordagem normativa tem seu início com a pesquisa de Horwitz (1985), na

qual a autora deu ênfase à análise de crenças colhidas mediante o uso de

questionários fechados, em escala Likert, os quais demonstravam a concordância

dos sujeitos participantes em relação às proposições. Então, no período em questão,

“era importante apenas identificar as crenças [...] considerar suas experiências do

passado, ações e contexto social em que estavam inseridos” (MUKAI, 2014, p. 401).

Atualmente, esta abordagem, segundo Miccoli (2010), é comumente criticada nessa

área de investigação porque proporciona um estudo das crenças de modo

desvinculado do meio em que elas acontecem, impedindo, assim, a expressão

fidedigna das crenças. Apesar disso, Gimenez (1994) defende a validade dessa

abordagem em casos específicos de pesquisas que exigem um número

consideravelmente grande de sujeitos participantes, pois nesses casos a utilização

exclusiva de questionários facilita a organização dos dados.

Além da abordagem retratada anteriormente, existe também a abordagem

metacognitiva (BARCELOS, 2006), na qual se insere o trabalho de Wenden (1986).

Nesta pesquisa, a autora optou pelo uso de entrevistas semiestruturadas na coleta

dos dados, possibilitando a exposição pessoal das crenças dos sujeitos

entrevistados (neste caso, aprendizes), os quais eram estimulados a externar as

suas estratégias e seus processos de aprendizagem, bem como as suas crenças.

Entretanto, conforme aponta Miccoli (2010), essa abordagem também isola a crença

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da experiência do sujeito no ambiente de ensino e aprendizagem em que ele

participa.

Ambas as abordagens, normativa e metacognitiva, alinhavam-se à

perspectiva clássica do paradigma cognitivista, segundo o qual as crenças eram

consideradas “produções da mente de um sujeito consciente e autônomo em relação

ao contexto sócio-histórico em que vive” (ASSIS-PETERSON; COX; SANTOS, 2010,

p. 203, grifo nosso). Em outras palavras, essas abordagens cognitivistas isolavam,

abstraíam as crenças do contexto social e histórico em que os sujeitos pesquisados

estavam inseridos.

Em seguida, a pesquisa nessa área de investigação desenvolveu-se

possibilitando a compreensão contextual e situada da cognição humana, bem como

do conceito de crenças. Isso aconteceu, especialmente, devido à emergência da

perspectiva sociocultural no processo de ensino e aprendizagem linguística. Essa

fase mais recente é denominada por Barcelos (2006) de abordagem contextual e é

“avaliada como a mais completa em relação às anteriores por buscar entender a

crença como um fenômeno construído nas relações de natureza dinâmica que

acontecem em um determinado contexto de um meio maior” (MICCOLI, 2010, p.

140, grifo nosso). Daí que, segundo Barcelos (2006, p. 19-20, grifos da autora), essa

última abordagem possibilitou uma análise das crenças enquanto: “Dinâmicas [...].

Emergentes [...]. Socialmente construídas e situadas contextualmente [...].

Experienciais [...]. Mediadas [...]. Paradoxais e contraditórias [...]. Relacionadas à

ação de uma maneira indireta e complexa [...]. Não tão facilmente distintas do

conhecimento”.

A partir da abordagem contextual, depreendemos que as crenças não se

situam dentro de nossa mente, de forma estática e acabada, como propunha o

paradigma cognitivista (ASSIS-PETERSON; COX; SANTOS, 2010). Ao contrário,

são dinâmicas, pois estão sujeitas a mudanças, afinal são construídas e

reconstruídas à medida que o próprio ser humano é modificado por meio das

interações e experiências de que participa ao longo de sua existência. Por

conseguinte, as crenças de alunos ou professores medeiam e regulam o processo

de ensino-aprendizagem, solucionando ou criando obstáculos para a adequada

realização desse processo, justamente por serem paradoxais e contraditórias.

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No Quadro 01 são apresentadas as características, metodologia, vantagens e

desvantagens das três abordagens para a investigação de crenças, conforme

proposto por Barcelos (2001):

QUADRO 01: Características, vantagens e desvantagens das abordagens de investigação das crenças

Normativa Metacognitiva Contextual

Metodologia Questionários tipo Likert-scale.

Entrevistas Observações, entrevistas, diários, e estudos de caso.

Definição de crenças sobre aprendizagem

Crenças são vistas como sinônimos de ideias preconcebidas, concepções errôneas e opiniões.

Crenças são descritas com o conhecimento metacognitivo: estável e às vezes falível que os aprendizes possuem sobre aprendizagem de línguas.

Crenças são vistas como parte da cultura de aprender e como representações de aprendizagem em uma determinada sociedade.

Relação entre crenças e ações

Crenças são vistas como bons indicadores do comportamento futuro dos alunos, sua disposição para ensino autônomo e sucesso como aprendizes de língua.

Crenças são vistas como bons indicadores do comportamento futuro dos alunos, sua disposição para ensino autônomo e sucesso com os aprendizes de língua, embora admita-se a influência de outros fatores como objetivos, por exemplo.

Crenças são vistas como específicas do contexto, ou seja, as crenças devem ser investigadas dentro do contexto de suas ações.

Vantagens Permite que as crenças sejam investigadas com amostras grandes, em épocas diferentes e em vários contextos ao mesmo tempo.

Permite que os alunos usem suas próprias palavras, elaborem e reflitam sobre suas experiências de aprender.

Permite que as crenças sejam investigadas levando em consideração não só as próprias palavras dos alunos, mas também o contexto de suas ações.

Desvantagens Restringe a escolha dos participantes com um conjunto de afirmações predeterminadas pelo pesquisador. Os alunos podem ter interpretações diferentes sobre esses itens.

As crenças são investigadas somente através das afirmações dos alunos (não há preocupação com a ação dos alunos).

É mais adequada com pequeno número de participantes. Consome muito tempo.

Fonte: Barcelos (2001)

Assim, por meio do Quadro 01, observamos que o uso exclusivo de

questionários fechados, na abordagem normativa, possui um caráter mais restrito na

análise das crenças, pois não explora profundamente a interpretação dos sujeitos.

Além disso, as convicções dos sujeitos eram encaradas como ideias preconcebidas

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e erradas. Na abordagem metacognitiva, assim como na primeira, também não era

aprofundado o debate em torno da influência das crenças nas tomadas de decisão

em sala de aula. Foi somente a partir da abordagem contextual, marcada por uma

diversidade de metodologias na coleta e na análise dos dados, que a pesquisa sobre

crenças levou em conta o contexto e a ação dos sujeitos investigados.

Apesar da classificação apresentada anteriormente, Barcelos (2001) aponta

que essas três abordagens podem não ser excludentes e, além disso, a escolha

entre elas depende do tipo de pergunta da pesquisa que se pretende realizar, bem

como da quantidade de participantes e do contexto de realização da investigação.

Mais do que a simples repetição de um modelo investigativo preestabelecido, as

novas pesquisas da área de crenças requerem uma reflexão crítica de seus

pesquisadores, de modo que estes sejam capazes selecionar o que há de mais

produtivo em cada uma das abordagens aqui discutidas.

Na literatura atual da LA, existe uma série de artigos, dissertações, teses e

livros envolvendo o referido assunto. Mesmo assim, Silva (2007) destaca que grande

parte destes limita-se apenas à descrição das crenças de professores e alunos.

Neste sentido, torna-se admissível a crítica a seguir:

A pesquisa a respeito de crenças sobre aprendizagem de línguas precisa ir além da simples descrição de crenças como indicadores de um comportamento futuro. É preciso uma investigação contextualizada das crenças. É necessário entender como as crenças interagem com as ações dos alunos [e acrescentamos: dos professores] e que funções elas exercem em suas experiências de aprendizagem [e de ensino] dentro e fora da sala de aula (BARCELOS, 2001, p. 87).

Dessa forma, convergimos com Barcelos (2001) quando ela destaca a

necessidade de essas pesquisas ultrapassarem o exercício descritivo no qual os

pesquisadores apenas sugerem a relação entre crenças e ações, sem que se

desenvolva uma investigação no contexto onde atuam os sujeitos pesquisados. Por

esta razão, afirmamos, desde já, que o enfoque denominado de abordagem

contextual se caracteriza como o mais adequado para a obtenção de respostas ao

problema proposto e aos objetivos apresentados em nossa investigação, conforme

será aprofundado no subcapítulo 4.1.

Em continuidade, Silva (2005), referindo-se a alguns estudiosos que

pesquisaram nessa área mediante a abordagem contextual, evidencia que suas

pesquisas propuseram uma análise das crenças como formas de pensamento,

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sejam conscientes ou não, emergentes das experiências individuais ou coletivas do

ser humano, assumindo, assim, “a historicidade do homem [...] a constituição do

homem pelas relações e fatores sociais que definem uma época” (ASSIS-

PETERSON; COX; SANTOS, 2010, p. 203).

Pautando-se nos trabalhos até então referenciados, podemos corroborar que

a cognição e a interação social são fatores influentes nas opiniões, ideias e

percepção que o ser humano possui acerca da realidade ao seu derredor. Sendo

assim, a consciência individual possui um caráter socioideológico, uma vez que ela

não deriva de forma direta da natureza, mas “adquire forma e existência nos signos

criados por um grupo organizado no curso de relações sociais” (BAKHTIN, 2009, p.

36, grifo nosso).

Disto isto, discorremos sobre as especificidades das abordagens

empregadas, ao longo dos anos, nos estudos de crenças de professores, de modo

que pudemos situar a nossa pesquisa na abordagem contextual. Na seção 2.2, a

discussão versa sobre como o construto crenças é definido em nossa investigação.

2.2 DELIMITANDO O CONCEITO DE CRENÇAS

O conceito de crenças não é específico da LA (PAJARES, 1992;

BARCELOS, 2004). Ele tem sido discutido há muito tempo em outras áreas das

ciências humanas e sociais, como Antropologia, Sociologia, Psicologia, Educação e

especialmente Filosofia, uma vez que esta última busca, entre outras coisas, a

compreensão do significado atribuído às coisas. Por outro lado, é também conhecido

que “Não existe, em LA, uma definição única para esse conceito. Existem vários

termos e definições, e essa é uma das razões que torna esse um conceito difícil de

se investigar” (BARCELOS, 2004, p. 129, grifos nossos). Reconhecemos, pois, que

“uma definição para um conceito tão complexo e latente como as crenças é sempre

um desafio” (BERNAT, 2008, p. 9). Entretanto, essa dificuldade não impede que, nas

linhas seguintes, examinemos e conceituemos mais detalhada e profundamente

nosso objeto de estudo à luz de algumas pesquisas dessa área de investigação.

Para Silva (2000, p. 31), crenças constitui um conceito que circula em

diferentes enfoques teóricos, “significando a mesma coisa e, às vezes, ele vem

acompanhado de outros termos para explicar os comportamentos ou tipos de

pensamento”. Dessa forma, é pertinente considerarmos, também, as palavras de

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Silva (2007), o qual corrobora com o pensamento de Silva (2000) e Barcelos (2004)

ao elencar alguns dos termos mais frequentes nesse campo de estudo, a saber:

[...] opiniões, ideologia, percepções, conceituações, sistema conceitual [...] teorias pessoais [...] perspectivas [...] teorias populares, conhecimento prático pessoal, epistemologias, modos pessoais de entender, filosofias instrucionais, teorias da ação [...] autocompreensão prática, sabedoria prática, metáforas e crenças (SILVA, 2007, p. 241).

Por sua vez, Soares (2005) destaca que o uso desses termos como

correlatos da palavra crença constitui uma tentativa um tanto quanto complexa de

sistematizar o que seriam as crenças, pois os pesquisadores da área assumem

atitudes divergentes diante dessa utilização. Entretanto, o uso de diferentes termos

em referência a um mesmo conceito, conforme salienta Barcelos (2001), não é uma

prática exclusiva da LA, acontecendo também em outras áreas do conhecimento,

como Filosofia, Psicologia Cognitiva, Psicologia Educacional e Educação. Por isso,

“enquanto uns fundem os termos, outros optam por distingui-los” (SOARES, 2005, p.

45). Essa “floresta terminológica” (WOODS, 1993), porquanto, evidencia, de um

lado, a complexidade deste conceito e, de outro, atesta a sua importância conceitual

e o seu potencial para as pesquisas desenvolvidas na LA, conforme convergem

Barcelos (2004) e Silva (2007).

É necessário destacar que, em seus trabalhos, Soares (2005) e Bejarano e

Soares (2008) empregam as palavras “convicções” e “certezas” enquanto sinônimos

do termo crença, justificando que elas evocam um sentido de “credo intenso em

algo, mesmo quando não se tem um conhecimento mais sistematizado daquilo no

que se acredita” (SOARES, 2005, p. 45). Por seu turno, corroboramos com Soares

(2005) e Bejarano e Soares (2008) em relação a esse uso sinonímico, de modo que

empregamos também em nossa pesquisa os termos “convicções” e “certezas” em

referência às crenças perscrutadas.

No que tange à sua definição, consoante Silva (2007), o conceito de crenças

passou por uma ressignificação na LA e, por isso, nas pesquisas empreendidas

nessa área do conhecimento, sua conceituação não está relacionada à religião ou

superstição. Apesar de não haver uma uniformidade na definição do que são

crenças, em uma perspectiva geral, “elas podem ser definidas como opiniões e

ideias que alunos (e professores) têm a respeito dos processos de ensino e

aprendizagem de línguas” (BARCELOS, 2001, p. 72, grifos nossos).

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Assumindo o posicionamento de que não existe uma definição unívoca deste

constructo na sua aplicação e investigação sobre o ensinar e o aprender linguístico,

Silva (2005, p. 77, grifos nossos) define-o de modo semelhante a Barcelos (2001):

Ideias ou conjunto de ideias para as quais apresentamos graus distintos de adesão (conjecturas, ideias relativamente estáveis, convicção e fé). As crenças na teoria de ensino e aprendizagem de línguas são essas ideias que tanto alunos, professores e terceiros têm a respeito dos processos de ensino/aprendizagem de línguas e que se (re)constroem neles mediante as suas próprias experiências de vida e que se mantêm por um certo período de tempo.

É possível notar, portanto, o destaque dado por esse autor para o caráter

contextual, interativo e relativamente estável das crenças ao afirmar que elas são

emergentes, isto é, construídas e reconstruídas nos processos de ensino-

aprendizagem, influenciando e sendo influenciadas reciprocamente por tais

processos, uma vez que são também “vistas como social e, portanto, também

cultural e historicamente constituídas através da interação do sujeito com o contexto”

(SILVA, 2007, p. 250). No que lhe diz respeito, Barcelos (2006) aprofunda a sua

compreensão acerca dessa categoria analítica e assume uma postura convergente

com o pensamento de Silva (2007), compreendendo crenças como:

uma forma de pensamento, como construções da realidade, maneiras de ver e perceber o mundo e seus fenômenos, co-construídas em nossas experiências e resultantes de um processo interativo de interpretação e (re)significação. Como tal, crenças são sociais (mas também individuais), dinâmicas, contextuais e paradoxais (BARCELOS, 2006, p. 18, grifos nossos).

Soares (2005), convergindo com Barcelos (2006), auxilia a compreensão do

caráter ambivalente das crenças e explica o porquê de elas serem,

concomitantemente, sociais e individuais. São individuais tendo em vista que cada

pessoa é única e demonstra uma maneira própria de apreender experiências,

interpretar o mundo e posicionar-se frente aos acontecimentos. Porquanto, uma

mesma experiência poderá impulsionar “um professor a tomar uma atitude mais

inovadora”, bem como “poderá ser alvo de críticas e de resistências para o outro”

(SOARES, 2005, p. 50).

Por seu turno, Ramos (1997, p. 19, grifo nosso) adverte que

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a subjetividade também tem uma origem coletiva, pois a pessoa se desenvolve a partir das circunstâncias que vivenciou, isto é, dos valores, das crenças, dos usos e costumes do grupo à sua volta [...] há algo de coletivo em nossa individualidade – através das crenças e dos costumes que herdamos – como também existe uma individualidade nos valores coletivos – através das nossas verdades pessoais.

Neste ponto de vista, as crenças ultrapassam a dimensão do individual à

medida que são também construídas e reconstruídas na coletividade, nas interações

que o sujeito realiza com os demais membros do grupo ou da sociedade de que

participa. Dessa forma, as experiências idiossincráticas pelas quais passou ao longo

da vida, seja como filho ou filha, pai ou mãe, estudante dos diversos níveis de

escolaridade e de formação inicial ou continuada, as leituras que realizou, as

relações com os membros da instituição em que leciona, seja com o corpo

administrativo ou com os seus alunos, tudo isso, enfim, serve de base para o

pensamento e para a ação do docente em seu trabalho diário. Por conseguinte,

As suas crenças foram ao longo dessas experiências adquirindo significados; por isso ele muitas vezes faz como faz, acredita que deste modo é melhor, que é bom, porque aprendeu assim e porque pensa assim. Esse dado não pode ser esquecido: estudar as concepções do professor implica vê-lo nesse todo [...] (SILVA, 2000, p. 35).

Sob esse prisma, vale ressaltar que as práticas discursivas e, por

consequência, a linguagem assume um papel importantíssimo na formação das

crenças (DUFVA, 2003; SOARES, 2005; BEJARANO; SOARES, 2008). Essa

relação entre crenças e linguagem vai ao encontro da concepção de linguagem

atualmente defendida nos estudos de diferentes vertentes da Linguística Moderna,

especialmente naquelas vinculadas à Pragmática e à Filosofia5. Por isso, tornam-se

relevantes as palavras de Marcondes (1992, p. 41, grifos nossos), segundo o qual,

quando “a linguagem é adquirida, o que se adquire não é pura e simplesmente uma

língua, com suas regras especificamente linguísticas, mas todo um sistema de

práticas e valores, crenças e interesses a ele associados”. Ora, se subjacente à

língua existe todo um sistema de valores, crenças e interesses, estes passam por

uma espécie de negociação nas práticas sociodiscursivas de que os sujeitos

5 Estamos nos referindo à concepção de linguagem como “forma de interação” (GERALDI, 2002; TRAVAGLIA, 2009), segundo a qual, ao fazer uso da linguagem o indivíduo age e atua sobre o mundo e interage com o seu interlocutor provocando efeitos de sentido. Assim, essa visão dialógica leva em conta diferentes fatores sociais, históricos e ideológicos que permeiam o uso da linguagem.

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participam, de forma que eles concordam ou discordam, total ou parcialmente, com

esses valores e crenças.

De acordo com Brito (2015), a dimensão discursiva do conceito então

discutido possibilita um diálogo entre a teoria de crenças na LA e a teoria

sociointeracionista bakhtiniana da linguagem, segundo a qual a linguagem é, por

excelência, ideológica e, à medida que reflete e refrata ideologia, todo enunciado é

produzido “no diálogo com outros enunciados, por um sujeito em compreensão

responsiva das palavras do outro, que inicialmente são palavras alheias, e depois

são sentidas como palavras próprias” (MENDONÇA, 2012, p. 122). Desse modo, o

enunciado e, diríamos, ainda, as crenças são produzidas na cadeia ininterrupta da

comunicação verbal tendo em vista a memória do passado (MENDONÇA, 2012),

uma vez que, conforme o pensamento bakhtiniano, o enunciado é uma réplica, uma

resposta a um enunciado que o precedeu, diante do qual o sujeito assume uma

posição responsiva ativa, “concorda ou discorda dele (total ou parcialmente),

completa-o, aplica-o, prepara-se para usá-lo, etc.” (BAKHTIN, 1997, p. 271).

Nesse ponto de vista, Soares (2005), Silva (2007) e Barcelos (2006)

desenvolvem em seus trabalhos um conceito de crenças semelhante à perspectiva

adotada por Dufva (2003), que assume uma orientação bakhtiniana no entendimento

da cognição e, consequentemente, das crenças. Esta autora defende que as

crenças se manifestam por meio das práticas discursivas realizadas nos diferentes

grupos da sociedade. Porquanto, o outro, o nosso interlocutor assume grande

importância na construção de nosso pensamento e na forma como percebemos o

mundo à nossa volta, uma vez que pensamos, ativando e reativando nossas

crenças, tendo em vista os sentidos que construímos a partir das interações com os

nossos interlocutores, sejam eles reais ou presumidos (BAKHTIN, 2009). Desse

modo,

as crenças, sob um viés bakhtiniano, podem ser conceituadas como os diferentes modos, axiologicamente (leia-se ideologicamente) constituídos, de se interpretar o mundo, refletindo-o e, também, refratando-o. São, portanto, maneiras discursiva e socioculturalmente situadas de se pensar, viver e sentir o mundo, das quais dialogicamente nos apropriamos ao participarmos dos infinitos modos em que se dão as relações humanas. Pelas crenças, expressamos nossas valorações ou juízos de valor, quando enunciamos (ROCHA, 2010, p. 231-232, grifo nosso).

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Neste caso, as crenças são vistas como interpretações socioideológicas

valorativas da realidade e seus fenômenos, situadas temporal e historicamente. Elas

se materializam nas inúmeras práticas discursivas de que os sujeitos participam ao

longo da vida, através das quais manifestam princípios e juízos de valor. Isto posto,

é importante frisar que:

além de dialogicamente (re)construídas [...] são também heteroglóssica e polifonicamente constituídas na e pela linguagem e, assim, impregnadas pela diversidade e pelos conflitos, assumindo um caráter polissêmico e dinâmico, em uma sociedade marcada, por sua vez, por contradições e confrontos de interesses e valores (ROCHA, 2010, p. 232).

Além do mais, haja vista que a teoria bakhtiniana concebe a linguagem

enquanto heteroglossia, “conjunto múltiplo e heterogêneo de vozes ou línguas

sociais, isto é, um conjunto de formações verbo-axiológicas” (FARACO, 2008, p. 40),

o sistema de crenças (BEJARANO; SOARES, 2008) de cada sujeito, por

conseguinte, se constitui por meio da reflexão e refração dessas vozes sociais

heterogêneas. E, como bem nos lembra Bakhtin (2009, p. 32), nesse processo de

refletir e de refratar a realidade à nossa volta, os enunciados podem “distorcer essa

realidade, ser-lhe fiel, ou aprendê-la de um ponto de vista específico”.

Torna-se necessário ressaltar, ainda, o que teoriza Santos (1996, p. 10,

grifos nossos) a respeito da distinção entre “crença em” e “crença sobre”. Porquanto,

o autor advoga que:

A crença ou a descrença de um indivíduo na existência de um dado objeto dá, normalmente, pouca ou nenhuma informação a respeito da posição em que ele coloca o objeto dentro da dimensão avaliativa. [...]. Muito ao contrário, a crença que se elicita de um indivíduo sobre o objeto pode revelar, imediatamente, a posição em que esse indivíduo coloca o objeto dentro da dimensão avaliativa: a atitude em relação ao objeto [...].

Em conformidade com o autor supramencionado, a “crença em” diz respeito

ao fato de um sujeito acreditar ou não na existência de algo, o que não possibilita

uma compreensão clara a respeito de como esse sujeito avalia determinado objeto.

Já a “crença sobre” é passível de revelar a forma como o sujeito avalia o objeto.

Semelhante à distinção de Santos (1996) é a caracterização das crenças proposta

por Duque (2008), segundo a qual estas podem ser de dois tipos: informacionais ou

avaliativas. A primeira categoria diz respeito a tudo aquilo “que a pessoa acredita

sobre os fatos de uma situação”. Por sua vez, enquadra-se na segunda categoria o

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que “a pessoa acredita sobre os méritos, deméritos, bem, mal, justo, injusto,

benefícios ou custos de diferentes situações” (DUQUE, 2008, p. 2). Desse modo, as

categorias “crenças em” e “crenças sobre” (SANTOS, 1996) relacionam-se,

respectivamente, às crenças informacionais e crenças avaliativas (DUQUE, 2008).

Por seu turno, Dewey (1933) também evidencia a existência de dois tipos de

crenças. O primeiro tipo refere-se à crença que não necessita de confirmação ou

evidência para a fundamentação de sua existência. No segundo tipo, por sua vez,

enquadra-se aquela que apresenta necessidade de fundamentação para a sua

existência. Este último tipo, o autor denomina, ainda, de pensamento reflexivo, que,

como o próprio nome sugere, consiste em uma reflexão cognitiva ativa do sujeito à

luz das evidências e conclusões que lhe dão suporte.

A propósito, esclarecemos que a nossa pesquisa se direciona para o estudo

das crenças sobre a posição avaliativa assumida pelos sujeitos investigados frente

ao dicionário escolar infantil e ao seu uso em sala de aula, a qual os conduz,

necessariamente, a uma atitude em relação a esse material, de modo que possamos

verificar em que essas crenças docentes se fundamentam.

Neste momento, queremos destacar a nossa concordância com a ideia de

que a crença seria “uma posição verbo-axiológica assumida por um sujeito frente ao

mundo e seus fenômenos, situada no tempo e na história, manifestada discursiva e

dialogicamente nas interações da vida em sociedade” (BRITO, 2015, p. 27).

Ressaltamos, inclusive, que essa conceituação toma como referência os estudos

discutidos ao longo deste subcapítulo e fornece subsídios para a análise de nosso

objeto de estudo.

A partir desta definição e de toda a discussão traçada, torna-se necessário

apresentar a nossa compreensão responsiva ativa sobre o conceito de crença

adotado nesta pesquisa. Nesse ponto de vista, crenças de professores são posições

valorativas acerca de diferentes aspectos e elementos envolvidos no processo de

ensino-aprendizagem. Essas posições verbo-axiológicas são construídas e

reconstruídas na coletividade ao longo de um emaranhado de vivências. Embora

não sejam julgadas sob o status de certas ou erradas, as crenças de professores

podem configurar-se como adequadas ou inadequadas no que diz respeito a

determinadas teorias que contribuem para a organização e a oferta de um ensino de

qualidade.

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De modo específico, a crença é aqui entendida como uma posição valorativa

assumida pelo professor de 5º ano do ensino fundamental frente ao dicionário

escolar infantil e ao uso desse material em sala de aula. Por sua vez, essa crença

manifesta-se não apenas no discurso, mas também no exercício pedagógico desse

profissional, e é constituída dialogicamente tendo em vista sua formação e outros

fatores experienciais.

Neste sentido, reiteramos que as crenças possuem dupla natureza, uma mais

abstrata e outra mais empírica, já que, de um lado, manifestam-se discursivamente,

e por outro, materializam-se nas tomadas de decisões e ações executadas pelo

docente em sala de aula, conforme será aprofundado no capítulo analítico. Isto

posto, gostaríamos de ressaltar que, nesse ponto, reside uma importante

contribuição da presente pesquisa, no sentido de ampliar as discussões dessa área

de estudo para a definição do termo crenças de professores.

Após evidenciarmos algumas considerações sobre a conceitualização do

termo crenças, dentro de um campo específico de investigação da LA, discutimos, a

seguir, como se relacionam crença e conhecimento.

2.3 AS RELAÇÕES ENTRE CRENÇA E CONHECIMENTO

Não é uma tarefa fácil diferenciar precisamente o que é crença do que é

conhecimento, pois não existe um consenso entre os pesquisadores dessa área de

estudo da LA quanto a esta distinção (BEJARANO; SOARES, 2008). Por esse

motivo, é comum, em algumas pesquisas, a distinção entre crenças e conhecimento;

já em outras, os autores defendem uma similitude semântica ou uma correlação

entre os termos. Essa distinção é também encarada por Pajares (1992) como algo

complexo, haja vista a dificuldade existente em delimitar com precisão onde esses

domínios começam e terminam.

Para Santos (2007), apesar de esses dois domínios manterem, até certo

ponto, uma relação, eles apresentam também especificidades, uma vez que,

segundo o próprio, o conhecimento está relacionado ao que foi aprendido pelo

professor durante a sua formação e que lhe serve de base para o desempenho de

sua função, enquanto que as crenças se constituem mediante processos mentais

envolvendo o conhecimento específico de sua área matizado por fatores adicionais a

que o docente está sujeito:

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O conceito de conhecimento do professor está muito relacionado com a definição dos tipos de conteúdos e competências que o professor deverá dominar para desempenhar, adequadamente, as funções que lhe são confiadas, sendo portanto de extrema importância para o campo da formação de professores. Por outro lado, o conceito de crenças parece estar mais relacionado com os processos mentais que o professor coloca em prática no decurso da sua ação e que envolvem os conhecimentos específicos da sua profissão, matizados por todas as influências adicionais a que o professor está sujeito. (SANTOS, 2007, p. 34).

Em conformidade, Madeira (2005a) e Soares e Bejarano (2008) veem a

crença como destituída de cientificidade, uma vez que, segundo os autores, ela tem

por base um único aspecto da subjetividade do indivíduo, o achismo, na

interpretação da realidade e seus fenômenos. Daí que se justifica o posicionamento

crítico de Madeira (2005a, p. 19) em relação à definição de crença, a qual é

contraposta com a de conhecimento:

A explicação mais rápida e imediata é feita através da distinção entre crenças e conhecimentos. Em termos básicos, conhecimento é o que se tem como resultado de pesquisa cientifica, a partir de fatos provados empiricamente. Crenças, por sua vez, são o que se “acha” sobre algo – o conhecimento implícito que se carrega, não calcado na investigação sistemática.

Nesta mesma direção, Soares e Bejarano (2008, p. 59) convergem com

Madeira (2005a), pois consideram que o conhecimento constitui uma “forma de

crença hiperjustificada”, a qual foi estudada rigorosamente, validada e aceita por

uma comunidade, resultando da reflexão científica mediante constatações

empíricas, ao passo que a crença abdica de investigação sistemática ou de

justificações, mais próxima assim do senso comum e do universo dos “achismos”,

conforme indicado também por Madeira (2005a).

Em relação à diferenciação desses termos, Soares e Bejarano (2008)

proporcionam uma reflexão pertinente ao esclarecerem que o próprio conhecimento

científico surge das crenças aceitas por um dado momento na sociedade, podendo

ser, a qualquer momento, criticado, contestado e reformulado com o surgimento de

uma nova teoria. Quando “nos aproximamos de alguma forma de conhecimento o

fazemos imbuídos de nossas crenças, isso acaba causando a impossibilidade

prática da existência de um ‘conhecimento puro’ isento de crenças” (SOARES;

BEJARANO, 2008, p. 59).

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Percebemos, porquanto, a mesma impossibilidade da existência de crença

destituída da dimensão do conhecimento, uma vez que “todas as crenças possuem

um componente cognitivo que representa o conhecimento, um componente afetivo

capaz de produzir emoção e um componente comportamental ativado quando a

ação é exigida”6 (PAJARES, 1992, p. 314, grifo nosso, tradução nossa). Assim

sendo, o conhecimento também é visto como um componente da crença.

Através da perspectiva assumida nos trabalhos de Madeira (2005a) e

Soares e Bejarano (2008), as crenças em torno da aprendizagem de línguas se

relacionam ao termo mitos, os quais, por seu turno, dizem respeito aos estereótipos

e concepções errôneas “às vezes veiculadas pela mídia e passadas de geração

para geração sem que as pessoas parem para refletir ou mesmo buscar na literatura

especializada elementos que justifiquem ou não esses mitos” (CARVALHO, 2000, p.

85).

Nesta tese, concordamos com Barcelos (2006) quando esta concebe a

crença dentro do paradigma atual da área de cognição, destacando que a distinção

entre crenças e conhecimento é resquício do que a autora denomina de “abordagem

normativa” das crenças, a qual foi predominante nas pesquisas iniciais dessa área

de investigação, conforme já discutido. A partir do conceito de crenças delineado na

seção anterior, concordamos, neste estudo, com o ponto de vista da autora

supracitada, uma vez que as crenças “não são tão facilmente distintas do

conhecimento” (BARCELOS, 2006, p. 20), bem como com o de Garbuio (2006, p.

89-90, grifo nosso), que as compreende como

[...] um tipo de conhecimento, podem ser consideradas verdadeiras sem necessariamente haver uma base evidente [...] são construtos de verdades aos quais aderimos ou não e são construídas a partir da história do indivíduo e a partir de sua interação com o meio [...].

Sob essa perspectiva, partindo do pressuposto de que nossa a investigação

se insere na abordagem contextual do construto crenças de professores,

gostaríamos de destacar que, neste trabalho, entendemos crença como um tipo de

conhecimento, independentemente se ela está adequada ou inadequada em relação

aos postulados lexicográficos acerca do dicionário escolar infantil e do seu uso nas

6 All beliefs have a cognitive component representing knowledge, an affective component capable of arousing emotion, and a behavioral component activated when action is required.

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atividades escolares. Por conseguinte, defendemos uma visão integrada e não

dissociada entre esses elementos, uma vez que, segundo Machado (2018, p. 16), os

esforços dos primeiros estudos e pesquisas dessa área visando à distinção entre

crenças e conhecimento já “se esmaeceram”. É nessa linha de raciocínio que “na

mente do professor, componentes como conhecimento, crenças, concepções e

intuições estão inextricavelmente entrelaçados”7 (VERLOOP, VAN DIREL; MEIJER,

2001, p. 446, tradução nossa).

Expusemos, neste tópico, como a relação entre crença e conhecimento é

compreendida por alguns autores dessa área de estudo. Em vista disso, o

posicionamento teórico que assumimos em nossa pesquisa se filia às considerações

abalizadas em Barcelos (2006), Garbuio (2006) e Machado (2018), o que nos leva a

entender crença e conhecimento numa perspectiva não dicotômica, mas de

intersecção entre esses domínios. Seguimos nossa discussão apresentando, na

seção 2.4, ponderações sobre como se processa a relação entre crença e prática

pedagógica.

2.4 AS RELAÇÕES ENTRE CRENÇA E PRÁTICA PEDAGÓGICA

As crenças possuem uma importância significativa em relação à prática

pedagógica dos docentes, pois elas dão sentido ao trabalho que esses sujeitos

realizam em sala de aula, conferindo-lhes segurança na realização de uma

determinada ação (SOARES, 2005). Desse modo, a investigação acerca das

crenças torna-se relevante à medida que se pode perceber a interferência destas na

realidade educacional, pois é por meio delas que “os professores julgam, decidem,

enfim, vivem a sua prática pedagógica” (SOARES, 2005, p. 46).

Neste sentido, defendemos a necessidade de se investigar as crenças do

professor, possibilitando a este profissional conhecer e autoavaliar “as suas crenças

e teorias a respeito do processo ensino-aprendizagem. Assim, poderá buscar

transformar suas decisões a partir de reorganização de seu pensamento que poderá

estar fundamentado em um corpo sólido de conhecimentos” (SADALLA, 1997, p. 20-

21).

7 "in the mind of the teacher, components of knowledge, beliefs, concepts, and intuitions are inextricably intertwined"

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Sendo as crenças um tipo de conhecimento, conforme assumimos na seção

2.3 a partir de Barcelos (2006) e de Garbuio (2006), as palavras de Sadalla (1997)

coadunam-se com a ideia de que o docente poderá reorganizar o seu pensamento

através da tomada de consciência de suas crenças e do contato com outros

conhecimentos, o que, de fato, possibilita uma transformação das decisões

deliberadas em sua prática pedagógica. Convém acrescentar que a relação entre

pensamento e decisões aludida em Sadalla (1997) é fortemente discutida nos

estudos de crenças, principalmente a sua influência na ação ou comportamento dos

sujeitos, haja vista que “as crenças influenciam como as pessoas organizam e

definem suas tarefas” (BARCELOS, 2001, p. 73).

Em conformidade com Barcelos (2006, p. 25), podemos dizer que o

comportamento do ser humano sofre o impacto de suas crenças. Assim, de modo

mais específico, o docente que acredita que a sua função é de facilitador, tentará

chegar o mais próximo possível ou colocará em prática essa função, de modo a

interferir o mínimo possível nas atividades realizadas por seus alunos, para que

estes possam desempenhar uma maior autonomia nessas atividades, “criando um

ambiente favorável de aprendizagem onde sua interferência seja mínima”. Por isso,

nas primeiras pesquisas na área da educação, os comportamentos e características

da personalidade eram considerados como indicadores válidos das futuras ações

dos professores (BARCELOS, 2006).

Para a autora, é comum a pergunta, entre os pesquisadores iniciantes nessa

área de investigação, sobre o que avaliar como crenças: aquilo que é dito pelos

professores ou alunos investigados ou o que eles fazem na prática? Santos (1996,

p. 8, grifo nosso), em seu trabalho sobre crenças e atitudes escolares, auxilia na

compreensão dessa questão. Segundo ele: “Crença seria uma convicção íntima,

uma opinião que se adota com fé e certeza [...] Já atitude seria uma disposição,

propósito ou manifestação de intento ou propósito. [...] expressão de opinião ou

sentimento”. Neste sentido, o autor nos ajuda a compreender que as reações que

temos diante de algumas pessoas, situações ou coisas são atitudes que manifestam

nossas convicções pessoais, nossas crenças em relação ao que estamos nos

posicionando.

Por seu turno, Bonfim e Conceição (2009), bem como Barcelos (2006),

tomando por base Richardson (1996), defendem a existência de diferentes formas

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de se compreender a relação entre crenças e ação docente, conforme

apresentamos na Figura 01:

FIGURA 01: As relações entre crenças e práticas pedagógicas

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de Bonfim e Conceição (2009) e de Barcelos (2006)

De acordo com a Figura 01, o vínculo entre crença e prática pedagógica

pode ser compreendido sob três maneiras básicas: a relação causa-efeito; a relação

interativa; e a relação hermenêutica. Na relação causa-efeito, conforme discutem

Bonfim e Conceição (2009), as ações pedagógicas são influenciadas direta ou

indiretamente pelas crenças do professor, por meio das quais ele escolhe uma

abordagem de ensino que acredita ser a mais efetiva. Entretanto, como destaca

Barcelos (2006), é preciso ter em mente que crenças e ação não se relacionam de

modo tão simples assim. Por isso, dizemos, acompanhando o raciocínio da autora,

que é preciso levar em conta o fato de que existe uma gama de fatores experienciais

e contextuais repercutindo entre a crença do professor e a ação que, com efeito, ele

executa em sala de aula.

Na relação interativa, defende-se a ideia de que não apenas as crenças,

mas também as experiências8 e as reflexões em torno das ações passadas

8 Já que o propósito deste tópico é expor as características gerais de cada uma das relações envolvendo crença e ação docente (causa-efeito; interativa; hermenêutica), optamos por aprofundar

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influenciam no processo de mudança e de formação de novas crenças (BONFIM;

CONCEIÇÃO, 2009). A mudança, nesse caso, acontece “quando tomamos

consciência do que realmente acreditamos”, passamos a questionar a sua coerência

no nosso dizer ou no nosso fazer, “e vislumbramos uma possibilidade de

pensamento alternativo” (BARCELOS, 2006, p. 26).

Nesse segundo tipo de relação, há a defesa de que é possível uma

influência mútua entre crença e ação, afinal, “tanto as crenças podem influenciar as

ações, quanto as ações podem influenciar crenças” (BARCELOS, 2006, p. 26). Em

outras palavras, aquilo que os professores realizam em sala de aula e as constantes

decisões que tomam em relação à metodologia empregada diariamente “testam e

refinam muitos de seus princípios” (BARCELOS, 2006, p. 27).

Já a terceira relação, a hermenêutica, considera o vínculo entre o contexto, a

crença e a ação. Barcelos (2006, p. 27) destaca que há duas possibilidades nessa

relação: “a primeira corresponde ao desencontro entre crenças e ações, ou seja, as

crenças não correspondem necessariamente à ação; a segunda refere-se à

influência dos fatores contextuais”. Assim, na relação hermenêutica, torna-se mais

fácil o entendimento da interferência de fatores contextuais em casos de contradição

entre o que os sujeitos acreditam e o que fazem na prática (BARCELOS, 2006;

BONFIM; CONCEIÇÃO, 2009).

Convém esclarecer que essas relações não são excludentes. Cada qual

proporciona uma ampliação do olhar analítico para as crenças e ações apresentadas

pelos sujeitos investigados, no nosso caso, professores de 5º ano do ensino

fundamental. Neste contexto, trazer à baila as crenças desses professores,

“refletindo sobre elas, pode ser uma possibilidade de modificar ou, ao menos, tornar

mais conscientes algumas crenças que interferem nas decisões e atitudes tomadas

em sala de aula” (BEJARANO; SOARES, 2008, p. 69).

De acordo com Barcelos (2006), é bastante comum nas pesquisas sobre

crenças a discussão em torno da dissonância, isto é, da discrepância entre aquilo

que os sujeitos pesquisados dizem e aquilo que eles fazem na prática. A autora

adverte, inclusive, que não é sempre que agimos conforme aquilo que acreditamos,

por isso é possível a constatação de conflito ou divergência entre o discurso e a

prática.

somente no tópico seguinte a discussão acerca das experiências que interferem, direta ou indiretamente, na formação das crenças.

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Pautando-se no estudo de Gimenez (1994), Bonfim e Conceição (2009)

acreditam que inteligência e ação humanas devem ser analisadas enquanto

dependentes do contexto, tornando-se, pois, incongruente a análise da relação

crenças/ação que não considera o contexto situacional onde atuam os sujeitos

investigados. Logo, podemos afirmar, concordando com Barcelos (2006, p. 30), que

existe uma gama de

fatores contextuais que moldam a realidade das salas de aula, e consequentemente, podem inibir a habilidade do professor de adotar práticas que refletem suas crenças: exigências dos pais, diretores, escola e sociedade; arranjo da sala de aula; políticas públicas escolares; colegas; testes; disponibilidade de recursos; condições difíceis de trabalho (excesso de carga horária, pouco tempo para preparação).

Percebemos, pelas palavras da autora, que algumas crenças têm sua

permanência no plano abstrato e não se transformam em ações passíveis de serem

observadas por causa de algumas barreiras impostas pelo contexto. A incongruência

entre as crenças defendidas pelos professores e as suas ações pedagógicas pode

ser resultado não do pensamento incoerente dos sujeitos pesquisados, mas de

fatores impostos pela realidade em que eles se encontram inseridos.

Neste sentido, quando um sujeito atribui maior crédito aos fatores

situacionais, em detrimento de suas crenças, ele age de acordo com uma crença

diferente da sua e que apresenta maior coerência com o contexto a que ele está

submetido. Para as autoras, levar em conta o caráter contextual no estudo das

crenças de professores como elemento condicionante de suas ações em sala de

aula, permite aos pesquisadores da área a obtenção de uma análise global e, por

consequência, menos estereotipada em relação às práticas pedagógicas dos

docentes.

Bonfim e Conceição (2009, p. 63) argumentam que o estudo e a

compreensão das crenças de docentes podem contribuir para a formação de

educadores mais críticos e conscientes, pautados na autorreflexão de sua prática de

ensino. Pode favorecer, assim, “uma melhor adequação de objetivos, conteúdos e

procedimentos em sala de aula [...] redundando em maior eficácia no processo de

ensino e aprendizagem de línguas no contexto de ensino brasileiro”.

Por fim, destacamos a importância de se empreender uma discussão a

respeito das crenças de professores de 5º ano do ensino fundamental frente ao

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dicionário escolar infantil, partindo do pressuposto de que o sistema de crenças

(BEJARANO; SOARES, 2008) desses docentes pode influenciar as suas práticas

pedagógicas em relação ao uso desse material didático em sala de aula. Ancorando-

nos nesse pensamento, compartilhamos da premissa defendida por Barcelos (2007,

p. 112), para quem “a compreensão das crenças dos professores ajuda a entender

não somente suas escolhas e decisões, mas também a divergência entre a teoria e

a prática, e entre as crenças de formadores de professores e professores”.

Portanto, depreendemos que as crenças podem interferir diretamente na

prática de ensino dos sujeitos e que é necessário considerar, até mesmo, os fatores

experienciais e contextuais que explicam a ação pedagógica e possíveis

incoerências entre a posição valorativa do docente e a forma como ele age em sala

de aula. Na seção 2.5, trataremos especificamente das experiências pessoais e

profissionais que podem se relacionar às crenças de professores.

2.5 CRENÇAS E EXPERIÊNCIAS PESSOAIS E PROFISSIONAIS

Sabemos que “ninguém começa a ser educador numa certa terça-feira às

quatro horas da tarde. Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A

gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na

prática e na reflexão sobre a prática” (FREIRE, 2001, p. 58). Face a isso,

depreendemos que ser educador é um fazer-se, depende de um processo formativo

contínuo que se concretiza por meio da reflexão sobre as inúmeras experiências

pelas quais o sujeito docente passa no decorrer da vida e de sua profissão.

Pensando a articulação entre experiências e formação de professores, são

relevantes as palavras de Fávero e Tonieto (2009, p. 60), para quem “qualquer

processo que se diga formativo do profissional docente deve levar em consideração

que tal sujeito é portador de uma história de vida e que essa portabilidade influencia

na construção do profissional”. Nessa perspectiva, concordamos com os autores e

ressaltamos que a presente pesquisa leva em conta a historicidade de nossos

informantes, uma vez que partimos da premissa segundo a qual as fontes de suas

crenças relacionam-se às suas mais diversificadas vivências.

Segundo Dewey (1933), as experiências são interações e adaptações que

os sujeitos realizam nos contextos de que participam ao longo da vida. Sendo assim,

dois princípios são importantes e destacam-se na constituição das experiências: o

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princípio da interação e o princípio da continuidade. O primeiro diz respeito à

interação do sujeito com outros indivíduos e com o meio. Neste caso, o indivíduo

não apenas passa por transformações, mas também efetua mudanças. O princípio

da continuidade refere-se ao fato de que toda experiência possui uma conexão com

o que aconteceu no passado e modifica as experiências futuras.

No âmbito do ensino-aprendizagem de línguas, a experiência é definida

como:

um processo por ter a ver com relações, dinâmicas e circunstâncias vividas em um meio particular de interações na sala de aula, a qual ao ser narrada deixa de ser um acontecimento isolado ou do acaso. O processo reflexivo da narrativa oferece a oportunidade de ampliar o sentido dessa experiência e de definir ações para mudar e transformar seu sentido original bem como aquele que a vivenciou (MICCOLI, 2010, p. 29).

Em consonância com o ponto de vista exposto, entendemos a experiência

como um processo dinâmico, relacional e interacional e seu relato possibilita uma

mudança no sujeito que narra suas vivências, pois pode alterar sua forma de

interpretar aquilo que é relatado. Além disso, é necessário ressaltar que as

experiências não devem ser vistas como um fenômeno individual, uma vez que se

apresentam como “processos contínuos em constante evolução pela constituição

histórica dos indivíduos que, em meios compartilhados com outros seres, são

historicamente constituídos a partir das experiências que com eles compartilham”

(MICCOLI; VIANINI, 2012, p. 54).

Para as autoras, a experiência ultrapassa um dado evento isolado porque se

relaciona a outras vivências passadas, recentes ou futuras que o perpassam,

transcendendo assim o acontecimento por si só, conforme também é defendido em

Dewey (1933). Posicionamento semelhante é o de Mukai (2014, p. 401, grifo nosso),

para quem as crenças são “interativas e socialmente construídas a partir das nossas

experiências anteriores e presentes, sendo ininterruptamente configuradas com

base na ação, interação e adaptação dos indivíduos a seus contextos específicos”.

O mapeamento exato sobre as origens das crenças apresentadas pelos

professores de línguas é uma tarefa “difícil senão impossível” (VIEIRA-ABRAHÃO,

2004, p. 147). Essa empreitada é complexa porque “diversos fatores inter-

relacionados atuam na formação de crenças de aprendizes (e professores) [...] que

qualquer tentativa de expor ou delimitá-los seria praticamente inatingível”

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(MADEIRA, 2005b, p. 353). No entanto, isso não impediu que estudiosos do assunto

apresentassem em suas pesquisas possíveis origens das crenças dos sujeitos

investigados. Dessa forma, é importante considerarmos aqui as fontes de crenças já

problematizadas em algumas investigações do campo da LA.

Após a análise das crenças de um docente de uma escola de idiomas,

Garbuio (2006, p. 96) revela as suas possíveis origens, sublinhando que

as crenças são de naturezas diferentes e podem se originar a partir do livro didático utilizado pelo professor, de programas de treinamento, das experiências do professor enquanto aprendiz de uma língua, da influência de antigos professores, de preferências estabelecidas na prática etc.

Destarte, as fontes que incidem sobre as crenças docentes são inúmeras.

Elas vão desde a prática de antigos mestres, de quando o sujeito desempenhava o

papel de aprendiz, o manual didático adotado na escola, a troca de ideias em

treinamentos ou congressos de que participaram (RICHARDS; LOCKHART, 1994;

GARBUIO, 2006), à reflexão sobre os “erros” e “acertos” em sua própria prática de

ensino ao longo dos anos.

Nesse ponto, Aparecido da Silva (2006, p. 120, grifo nosso) converge com

Garbuio (2006), pois, ao investigar crenças e aglomerados de crenças de alunos

ingressantes no curso de Letras, ele apontou que “esses alunos-professores [...] de

ensino/aprendizagem de LE (inglês) tiveram como origem a sua experiência como

aprendizes na escola pública ou particular”. Sendo assim, tudo aquilo visto pelo

sujeito como tendo um resultado eficiente no processo de ensino-aprendizagem,

seja relacionado à época em que ele foi aluno ou às aulas por ele ministradas

enquanto agente mediador da aprendizagem linguística de estudantes, repercute

significativamente na sua forma de entender como este ensino deve ser posto em

prática.

Por seu turno, Vieira-Abrahão (2001, p. 153-154), baseando-se nos

educadores noruegueses Handal e Lauvas, concorda que as crenças e práticas

docentes podem estar relacionadas à experiência pessoal, ao conhecimento

transmitido e aos valores pessoais, o que será explicado a seguir. A primeira fonte

inclui as experiências vivenciadas por cada indivíduo, em especial aquelas

relacionadas à vida educacional, seja como aluno, como professor ou mesmo no

lugar de pai/mãe. A segunda fonte, “conhecimento transmitido”, é entendida como

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“aquele adquirido por meio da exposição às ações e discursos de outras pessoas e

por meio de livros, filmes e outros registros”. Ele se dá, principalmente, no contexto

dos cursos de formação docente mediante a participação nas aulas e em

conferências, além da leitura de textos e livros acadêmicos. A terceira fonte diz

respeito aos valores “sobre o que é bom e ruim, certo ou errado, na vida, e, em

especial, na educação” (VIEIRA-ABRAHÃO, 2001, p. 154), sendo estes adquiridos

socioculturalmente.

Tomando como referência os estudos de Richardson (1996), é possível dividir

em três categorias as experiências que influem sobre as crenças e práticas

pedagógicas de sujeitos docentes: experiência pessoal, experiência com

escolarização e instrução, e experiência com o conhecimento formal.

Gostaríamos de ressaltar agora a tríade de fontes de crenças discutidas por

Machado (2018, p. 20, grifo nosso). A partir da revisão de alguns dos trabalhos aqui

já citados e de outros, o autor dividiu didaticamente essas experiências em três

grupos básicos ao ressaltar que “as experiências de aprendizagem, a formação

docente e o contexto de atuação profissional influenciam as crenças dos professores

de línguas”.

No primeiro grupo, inserem-se as experiências de aprendizagem anteriores à

formação profissional, pois as “crenças dos professores de línguas não têm sua

origem apenas nas experiências formativas, como se pode pensar” (MACHADO,

2018, p. 20). Segundo Pajares (1992), tais experiências encontram-se bem

enraizadas e vívidas na mente dos docentes e traduzem-se na forma de crenças

que se formaram ao longo das vivências acumuladas enquanto aprendizes. Por sua

vez, Gabillon (2012) salienta, inclusive, que essas crenças estão fundamentas não

só nas experiências escolares, mas também nos diferentes contextos sociais.

Essas imagens, de acordo com Johnson (1994), podem auxiliar os

professores em formação a terem uma noção do funcionamento do contexto de sala

de aula, porém elas representam apenas uma perspectiva sobre a efetiva

experiência de ensino-aprendizagem, que seria a perspectiva do aprendiz. É por

esse motivo que muitos professores recém-formados costumam possuir uma visão

ingênua da dinâmica de sala de aula e do próprio trabalho docente, o que os leva,

muitas vezes, à perda de entusiasmo após o primeiro ano de exercício profissional

(PAJARES, 1992; JOHNSON, 1994). Sendo assim, as imagens e memórias

provenientes “das experiências de aprendizagem que integram os elementos que

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configuram as crenças dos professores de línguas funcionam, em princípio, como

uma espécie de guia, de fato, para os professores, em sua abordagem de ensinar

em sala” (MACHADO, 2018, p. 20).

Neste caso, um importante elemento do conjunto das experiências de

aprendizagem anteriores é a figura do professor, como é pontuado a seguir:

Muitas vezes, a qualidade das experiências que professores de línguas tiveram com seus próprios professores enquanto eram aprendizes pode orientar, por meio das crenças que se formam em decorrência de tais experiências, a prática de tais professores quando em atuação profissional nos mais diversos contextos (MACHADO, 2018, p. 21).

As palavras do autor ratificam, pois, a influência considerável que as atitudes

de antigos mestres podem exercer sobre as imagens e memórias, sejam elas

positivas ou negativas, que repercutem na formação das crenças dos docentes de

línguas. Seguindo a mesma linha de pensamento, Gilakjani e Sabouri (2017, p. 82)

estão de acordo que as experiências de aprendizagem precedentes dos educadores

“afetam suas crenças sobre a aprendizagem, dando forma aos fundamentos da sua

compreensão do ensino durante a formação docente”.

Além das vivências como estudantes de línguas, as experiências vivenciadas

no decorrer da formação (inicial e/ou continuada) também participam do conjunto de

fatores que originam e “orientam a natureza das crenças dos professores. Isso

significa que as crenças podem ser influenciadas por princípios fundamentados na

educação formal ou na pesquisa científica, uma vez que tais professores tenham

tido contato com tais princípios (MACHADO, 2018, p. 22, grifo nosso). O

conhecimento formal adquirido pelos professores nos diversos níveis de formação

profissional pode orientar e ajustar suas crenças preexistentes com relação ao tipo

de abordagem a ser empregada no processo de ensino-aprendizagem.

Assim sendo, acompanhando o raciocínio de Machado (2018), podemos dizer

que a reflexão sobre a própria prática docente em sala de aula também é um

elemento que se associa à formação das crenças de professores. É na vivência do

contexto de atuação profissional, sob a égide de certas condições e circunstâncias,

que a cognição docente é confrontada e, a partir disso, o professor desenvolve ou

atribui um novo significado para suas crenças, materializando-as em uma dada

abordagem de ensino.

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Para encerrar as discussões que permitiram a mobilização de conceitos da

área dos estudos de crenças na LA, retomamos a seguir alguns pontos até então

discutidos, como forma de reiterar o entendimento do percurso trilhado nesse

primeiro capítulo de fundamentação teórica.

Nesse sentido, contemplamos, no início deste capítulo, as diferentes

abordagens empregadas no campo das crenças de professores, para assim

inserirmos a nossa pesquisa na abordagem contextual. Logo depois, houve a

necessidade de discutirmos como os autores dessa área de estudos compreendem

as relações entre crença e conhecimento, o que nos levou a entender que a

dicotomia entre esses conceitos é resquício da já ultrapassada abordagem

normativa, pois o paradigma atual das pesquisas sobre crenças docentes as

compreende como um tipo de conhecimento. Além disso, estabelecendo um diálogo

com as conceitualizações de diferentes autores, expusemos o conceito de crenças

adotado em nossa pesquisa, as relações entre crença e ação docente, bem como

tratamos de experiências pessoais e profissionais tidas como possíveis origens das

crenças de professores.

De posse dessas considerações, passemos ao próximo capítulo de natureza

teórica de nossa tese, o qual problematiza aspectos da Metalexicografia Pedagógica

e, consequentemente, da organização e especificidades do dicionário escolar

infantil.

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3 METALEXICOGRAFIA PEDAGÓGICA E FORMAÇÃO DOCENTE

A ascensão de novas teorias no plano dos estudos linguísticos fez com que o

léxico despertasse cada vez mais o interesse de investigação no âmbito acadêmico-

científico. Nos últimos anos, princípios e métodos foram desenvolvidos, objetivando

a exploração do léxico a partir de aspectos e nuances variadas, o que repercutiu no

surgimento de algumas disciplinas denominadas de “ciências do léxico”.

Na seção 3.1 deste capítulo, discutimos as especificidades dessas disciplinas,

dando um maior destaque para a Lexicografia e, especialmente, para uma de suas

vertentes: a Metalexicografia Pedagógica.

Em seguida, abordamos, na seção 3.2, as principais características sobre a

tipologia e a organização estrutural do dicionário escolar, percebendo a

preocupação, no âmbito das políticas públicas nacionais, de assegurar a qualidade

no que diz respeito à produção e à distribuição de obras lexicográficas adequadas

às reais necessidades dos estudantes.

Na seção 3.3, é debatida a presença de aspectos multimodais no dicionário

escolar infantil, o qual se diferencia dos outros tipos de dicionários escolares devido

à sua informatividade visual, já que ele é geralmente formado por inúmeros

recursos, como imagens, ilustrações, cores e fontes diversas que instanciam

sentidos junto ao texto verbal na macro e na microestrutura.

Na seção 3.4, discutimos a questão da não neutralidade do dicionário escolar

infantil, levando-se em conta os aspectos ideológicos e discursivos que perpassam

esse material didático.

Já na seção 3.5, problematizamos a precariedade na formação docente, seja

a inicial, seja a continuada, no que diz respeito ao uso produtivo do dicionário em

sala de aula.

Para finalizar, a seção 3.6 discute a necessidade de os professores

ensinarem o uso do dicionário, para que, a partir daí, os alunos possam utilizá-lo de

modo proficiente na realização de exercícios linguísticos envolvendo a leitura, a

aquisição lexical e a produção de textos.

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3.1 AS CIÊNCIAS DO LÉXICO

Ao nomear os seres e objetos do universo, o ser humano também realiza a

classificação destes, pois os reúne em grupos a partir da identificação de

semelhanças e diferenças que individualizam esses seres e objetos em entidades

distintas, organizando, assim, o mundo circundante. Na verdade, os léxicos das

línguas naturais foram gerados graças a esse processo de nomeação, o qual é

retomado inclusive no relato bíblico de criação do mundo, presente no livro de

Gênesis, segundo o qual o primeiro homem teve como tarefa nomear toda a criação

divina e dominá-la. É possível entender, então, que a formação do léxico está

relacionada a um processo sucessivo de cognição da realidade e de categorização

da experiência por meio de palavras.

Nessa perspectiva, o léxico de uma língua natural configura-se como “o

patrimônio vocabular de uma dada comunidade linguística ao longo de sua história”

(BIDERMAN, 2001, p. 14). Assim, ele se relaciona a um objeto cultural abstrato

passado de geração em geração e formado por um conjunto de signos e modelos

categoriais preexistentes que permitem a formação de novas palavras, já que o

léxico das línguas vivas se expande permanentemente, a fim de designar novos

conceitos e invenções do mundo moderno.

Isso acontece devido às necessidades comunicativas dos diferentes

contextos interacionais da vida em sociedade, a partir dos quais surgem novas

palavras, enquanto outras caem em desuso, como bem salienta Brasil (2012, p. 17),

que reitera a ideia de dinamicidade do léxico, afinal “novas palavras surgem a todo o

momento, para suprir necessidades de expressão também novas; ao mesmo tempo,

outros vocábulos se despedem da cena cotidiana para entrar na história da língua

(palavras em processo de desuso e arcaísmos consumados)”. Isso provoca a

impossibilidade de determinar-se seu tamanho ou limites, pois “o léxico de uma

língua é um conjunto apenas virtual de unidades lexicais e, portanto, impossível de

descrever em extensão” (CORREIA, 2008, p. 3). Por esta razão, o léxico é tido como

um domínio linguístico aberto, diferentemente dos demais sistemas, fonético,

morfológico e sintático, que se configuram como sistemas fechados, conforme é

pontuado em Biderman (2001).

Pontes (2009) e Antunes (2012) convergem ao definirem léxico na

perspectiva de um conjunto de itens linguísticos. Pontes (2009, p. 18) define o léxico

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de uma língua como um “conjunto de palavras, vistas em suas propriedades, tais

como: categorias sintáticas, categorias morfossintáticas, aspectos pragmáticos

diversos, informações etimológicas”. Antunes (2012, p. 27) postula que o “léxico de

uma língua, numa definição mais geral, pode ser visto como o amplo repertório de

palavras de uma língua, ou conjunto de itens à disposição dos falantes para atender

às suas necessidades de comunicação”.

Além disso, torna-se relevante atentar, igualmente, para a relação do léxico

com a cultura, como bem ressalta Biderman (2001, p. 178, grifo nosso):

O Léxico de qualquer língua constitui um vasto universo de limites imprecisos e indefinidos. Abrange todo o universo conceptual dessa língua. Qualquer sistema léxico é a somatória de toda experiência acumulada de uma sociedade e do acervo de sua cultura através das idades. Os membros dessa sociedade funcionam como sujeitos-agentes, no processo de perpetuação e re-elaboração contínua do Léxico de sua língua.

Para a autora supracitada, o léxico se origina a partir da experiência humana

em sociedade. Sendo assim, os membros dessa coletividade assumem um papel

importante no processo de desenvolvimento do léxico. Isso acontece haja vista que

as mudanças socioculturais acarretam transformações nos usos vocabulares e, em

consequência, no sistema léxico.

Nesse sentido, reiteramos que, além de integrar um conjunto de palavras, o

léxico traduz e registra uma herança social e cultural de uma dada comunidade

linguística, perpassando todos os setores do conhecimento humano, pois, conforme

pontuam Hwang e Nadin (2010, p. 7), “o léxico é o registro, o recorte da organização

dos dados da experiência que, constantemente, reelabora e sustenta o sistema de

valores ou a visão de mundo do homem em sua comunidade”.

Por esse ângulo, é relevante destacar que o léxico pode ser classificado em

dois tipos: o geral e o especializado (ou de especialidade). Por consequência, o

primeiro é formado pelas “palavras que podem ser utilizadas em qualquer contexto

discursivo”. Já o segundo “encontra adequação no âmbito da comunicação

socioprofissional e no contexto técnico-científico” (PONTES, 2009, p. 18).

Dessarte, a língua pode ser entendida como “um sistema de signos vocais

utilizado como meio de comunicação entre os membros de um grupo social ou de

uma comunidade linguística” (CUNHA; COSTA; MARTELOTTA, 2008, p. 16). Ela se

sustenta sobre dois pilares: a gramática e o léxico. O primeiro foi amplamente

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discutido nos estudos linguísticos estruturalistas, por ser a gramática considerada aí

um sistema fechado, o qual favorecia o seu estudo científico. Por outro lado, o léxico

foi marginalizado no estruturalismo linguístico, que o entendia como um sistema

aberto e, por isso, caótico. Em consequência, as disciplinas voltadas para o estudo

do léxico, como a Lexicologia e a Lexicografia, não obtiveram reconhecimento

científico nessa época, sendo relegadas ao estatuto de “arte” ou de “técnica”.

No entanto, a ascensão de novas teorias no âmbito da linguagem fez com

que os estudos do léxico conquistassem cada vez mais espaço no âmbito da

Linguística Moderna, desenvolvendo princípios e métodos cientificamente aceitos e

reconhecidos. Nos dias atuais, o léxico é estudado por meio de diferentes

abordagens, principalmente por meio de sua interface com diferentes disciplinas

linguísticas (Semântica, Pragmática, Linguística Textual, Sociolinguística, etc.),

comprovando-se, assim, que os fenômenos lexicais não são tão caóticos quanto se

pensava outrora, pois seguem determinados princípios e possuem sistematicidade.

Já dissemos que o estudo do léxico pode acontecer por vários ângulos, haja

vista que, “no âmbito dos estudos linguísticos, tomar o léxico como objeto de estudo

linguístico, não significa uma homogeneidade investigativa” (KRIEGER; WELKER,

2011, p. 444). Por seu turno, as disciplinas que se encarregam desses estudos são,

em especial, a Lexicologia, a Lexicografia, a Terminologia e a Terminografia. Elas

são comumente denominadas de “ciências do léxico” (BIDERMAN, 2001, p. 15) e,

apesar de estudarem o léxico de modos diferentes, têm um ponto em comum, a

descrição desse léxico.

De modo geral, a Lexicologia estuda as palavras de uma língua, isto é, o seu

léxico geral, no que diz respeito às regras e aos princípios de categorização,

estruturação e criação lexicais. Sendo assim, seu objeto de estudo “compreende

questões relativas à morfologia lexical e à semântica, uma vez que o léxico não é

apenas uma lista de palavras, mas se organiza a partir de dois planos: o do sentido

e o da forma” (PONTES, 2009, p. 18).

No dizer de Krieger e Finatto (2004, p. 45), a Lexicologia

Relaciona-se intimamente com a gramática, em especial com a Morfologia, envolvendo a problemática da composição e derivação das palavras, da categorização léxico-gramatical; bem como vincula-se aos enfoques sobre a estruturação dos sintagmas; além das relações com a Semântica. Por isso, diz-se que a Lexicologia se ocupa de aspectos formais e semânticos das unidades lexicais de uma língua.

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Dessa maneira, percebemos que Pontes (2009) segue a linha de raciocínio

dessas autoras, sobretudo quando elas destacam que, por estudar os princípios de

funcionamento do léxico de uma língua, a Lexicologia está voltada para os aspectos

de ordem morfológica (formal) e semântica.

Por sua vez, a Lexicografia descreve o léxico geral mediante a atividade de

produção e crítica de dicionários (KRIGER; FINATTO, 2004). Em outras palavras,

esta disciplina é entendida por Hernández (1989, p. 8, tradução nossa) como

pertencente ao campo da Linguística Aplicada, uma vez que “se preocupa com os

problemas teóricos e práticos que dão suporte à elaboração de dicionários”9. Por

esta razão, ela é também conhecida atualmente como a “ciência dos dicionários”

(BIDERMAN, 2001, p. 17) e constitui uma atividade antiga.

Apesar de ter como precursores os glossários latinos medievais, o surgimento

da Lexicografia deu-se, de fato, em meados dos séculos XVI e XVII a partir da

produção de dicionários monolíngues e bilíngues. Por seu turno, a partir do

reconhecimento da Linguística como ciência (o que fez com que a língua se

tornasse alvo de um discurso científico oposto à perspectiva prescritiva

predominante ao longo da história) e do seu desenvolvimento, a disciplina

supracitada pôde incorporar os postulados linguísticos ao seu escopo. Dito de outra

forma, a Lexicografia se beneficiou com a apropriação dos saberes advindos de

diferentes teorias linguísticas. Em consequência, a forma de conceber e produzir a

obra dicionarista foi modificada ao longo dos anos, pois

Também o dicionário, repositório de saber lexical de uma língua, tem vindo a incorporar as realizações da linguística e o seu discurso científico próprio, predominantemente descritivo, tendo-se transformado, sobretudo ao longo da segunda metade do século passado, num objecto distinto daquele que conhecíamos e que consistia num instrumento por excelência de normalização linguística. Esta mudança de carácter do dicionário nem sempre tem sido entendida pela sociedade, alheia aos desenvolvimentos da própria linguística e da lexicografia (CORREIA, 2008, p. 2).

As palavras dessa autora corroboram, pois, a pertinência da discussão em

torno do dicionário, uma vez que postulados importantes acerca da mudança de

carácter desse instrumento podem ainda não serem, de fato, compreendidos pela

9 “La lexicografía es la disciplina de la lingüística aplicada que se encarga de los problemas teóricos y prácticos que plantea la elaboración de diccionarios”.

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sociedade. Isso, em consequência, pode repercutir socialmente na reprodução de

uma ideia estritamente normativa acerca do dicionário. Em contrapartida,

[...] aquilo que mais caracteriza a lexicografia moderna é o desenvolvimento de uma quantidade significativa de dicionários monolíngues [...] de pendor predominantemente descritivo (e não normativo), dando conta do uso real que é feito da língua, visando à descrição do vocabulário da chamada língua corrente, fornecendo informação pertinente não apenas para a função de compreensão linguística, mas também, e de forma significativa, informação pertinente para a função de produção e para o alargamento do vocabulário do consulente (CORREIA, 2008, p. 8).

Do que é exposto acima, depreendemos como a lexicografia não privilegia

mais o aspecto prescritivo que a caracterizou por muito tempo. Hoje em dia, ela

centra os seus esforços para a dimensão descritiva das unidades lexicais, na

perspectiva do registro do uso linguístico real. Nesse ponto de vista, o dicionário

configura-se como um instrumento pedagógico privilegiado de promoção da

comunicação linguística, no que diz respeito à compreensão, à produção e ao

enriquecimento vocabular de seus consulentes (CORREIA, 2008).

Por seu turno, a Terminologia surgiu por volta dos anos 30 do século XX, com

o austríaco Eugênio Wüster (KRIEGER, 2000), partindo do pressuposto de que não

existe conhecimento especializado que não apresente termos próprios. Daí que esse

campo de estudos interessa-se por “um subconjunto do léxico de uma língua, a

saber, cada área específica do conhecimento humano” (BIDERMAN, 2001, p. 19).

Portanto, essa disciplina investiga o léxico especializado, ou seja, o léxico de uma

determinada área técnico-científica.

Os primeiros princípios desse campo de conhecimento possuíam natureza

prescritiva e normalizadora, pois pretendiam “oferecer bases que orientassem o

estabelecimento ou escolha das formas linguísticas mais adequadas e corretas para

a expressão dos termos das técnicas e das ciências” (FINATTO, 2001, p. 54). No

entanto, em meados da década de 90, houve um redimensionamento dos estudos

terminológicos clássicos, passando-se a considerar, por exemplo, aspectos da

variação linguística na produção dos léxicos especializados (KRIEGER, 2000). De

modo geral, nesse rol de interesse investigativo, a Terminologia se ocupa do estudo

do termo técnico-científico, da fraseologia especializada e da definição

terminológica, segundo apontam Krieger e Finatto (2004).

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Por outro lado, a Terminografia diz respeito a um campo de aplicação do que

é teorizado na Terminologia, conforme explicam Bevilacqua e Finatto (2006). Em

concordância com o pensamento dessas autoras, Barros (2004, p. 68) assinala que

“a Terminografia pode ser definida como uma prática de elaboração de vocabulários

técnicos, científicos e especializados”. No entanto, é válido acrescentar às palavras

desses autores o fato de que essa disciplina não se resume à parte prática de

elaboração de obras de referência especializada, uma vez que os próprios “estudos

terminográficos oferecem subsídios para o estabelecimento de princípios

metodológicos e diretrizes para o fazer aplicado” (KRIEGER, FINATTO, 2004, p. 50).

Das disciplinas expostas anteriormente, Lexicologia, Lexicografia,

Terminologia e Terminografia, o foco da discussão proposta nesta tese adentra o

campo da Lexicografia, especialmente de uma de suas vertentes, a Lexicografia

Pedagógica, a qual busca a adequação da obra dicionarista, bem como sua

utilização produtiva nos diferentes projetos de ensino e aprendizagem linguística.

Segundo Krieger e Welker (2011), a Lexicografia Pedagógica pode ser vista como

uma área de investigação relativamente recente, até pouco tempo não tão explorada

no âmbito brasileiro. No entanto, ela vem ganhando espaço graças à importância

que tem sido atribuída aos dicionários para o processo de aprendizagem de línguas.

Para os autores, o seu objeto de estudo ainda está em plena fase de delineamento,

porém já é possível dizer que:

seu foco reside no estudo das várias faces que constituem e envolvem os dicionários destinados à escola, relacionados ao ensino quer de primeira, quer de segunda língua. Tal foco evidencia também que a lexicografia pedagógica é motivada pela consciência do potencial didático dos dicionários e, indissoluvelmente, com a preocupação da adequação e da qualidade das obras usadas no ensino de línguas (KRIEGER; WELKER, 2011, p. 103).

Nessa perspectiva, embora essa disciplina focalize aspectos qualitativos de

dicionários, objetivando a sua produtividade no ensino de línguas, ela tem uma

maior tradição no que se refere ao ensino de línguas estrangeiras, no qual o papel

da obra lexicográfica é socialmente mais evidente, haja vista a preocupação em

produzir dicionários que se adequem ao sujeito aprendiz de outro idioma. Por outro

lado, em relação ao ensino de língua materna, o desenvolvimento da Lexicografia

Pedagógica está relacionado a duas razões que serão retomadas e aprofundadas

mais adiante neste capítulo: “(a) à falta de consciência da escola de que o dicionário

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é um lugar de lições sobre a língua; (b) ao fato de que o dicionário de língua é pouco

e mal explorado pelos professores” (KRIEGER; WELKER, 2011, p. 104). Em

verdade, os autores apontam, inclusive, que a simples busca do significado de uma

palavra “é uma prática pouco comum no ensino da língua materna, contrariamente

ao que se passa com a aprendizagem das línguas estrangeiras”.

De acordo com Hernández (1989), como também Krieger e Welker (2011), a

Lexicografia Pedagógica apresenta duas vertentes, uma prática e uma teórica. A

Lexicografia Pedagógica Prática trata da produção de dicionários para aprendizes,

seja de língua materna, seja de língua estrangeira, enquanto a Lexicografia

Pedagógica Teórica ou Metalexicografia Pedagógica estuda e analisa essas obras

dicionaristas. A esse respeito, Pontes (2009, p. 20) assinala:

A Lexicografia Prática avançou muito graças às contribuições de novas disciplinas teóricas e tecnológicas. Por isso, os dicionários deixaram de ser essencialmente normativos, para serem mais descritivos, preocupados com os usos da língua e com a educação linguística do povo. [...] As pesquisas no âmbito da Lexicografia Teórica servem de fundamentos sólidos para o fazer lexicográfico e para as discussões relativas à Lexicografia Aplicada.

As palavras desse autor dialogam com o posicionamento de Krieger e Welker

(2011), pois estes autores também chamam atenção para a importante contribuição

dos estudos da Metalexicografia Pedagógica não só para a produção de dicionários

de qualidade adequados às reais necessidades e habilidades dos usuários a que se

destinam, mas também para a exploração produtiva da obra dicionarista enquanto

ferramenta pedagógica do ensino e da aprendizagem linguística. Nesse sentido,

reiteramos que a Metalexicografia Pedagógica discute não só aspectos relacionados

à qualidade ou adequação da obra lexicográfica, mas “abarca, inclusive, a

problemática da falta de formação dos professores para o conhecimento e o

aproveitamento pedagógico desse instrumento essencial para o ensino de línguas”

(KRIGER; WELKER, 2011, p. 104, grifo nosso), o que será aprofundado na seção

3.5 do presente capítulo.

Acerca do potencial didático da obra lexicográfica, Pontes (2009, p. 25, grifo

nosso) escreve ainda:

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o dicionário pode ser entendido como uma obra didática, cuja missão [...] é a de proporcionar informação ao usuário com o fim de facilitar a comunicação linguística [...] O didatismo do dicionário faz que este seja um instrumento pedagógico da maior importância, desde que cumpra convenientemente suas funções, entre tantas, a de auxiliar o aluno no desenvolvimento de habilidades de leitura, escrita e comunicação oral.

Nesta linha de raciocínio, o dicionário é de grande importância para o ensino

de língua materna, pois auxilia o estudo do léxico e a ampliação do conhecimento

gramatical e enciclopédico do aluno, já que o texto dicionarista é dotado de

informações gramaticais, enciclopédicas e pragmáticas. Porém, para que ocorra um

uso produtivo do dicionário no processo de ensino-aprendizagem é indispensável

que o docente, principal responsável por este processo, esteja capacitado e

“conheça a tipologia, a estrutura, a organização do dicionário e como usá-lo

adequadamente em sala de aula” (NASCIMENTO, 2013, p. 20). Em virtude desse

imperativo, discutiremos, na seção 3.2, as principais características sobre a

organização estrutural da obra dicionarista, bem como sobre a sua tipologia.

3.2 A TIPOLOGIA E A ESTRUTURA DO DICIONÁRIO ESCOLAR

No âmbito brasileiro, a Lexicografia Pedagógica está voltada essencialmente

para os dicionários escolares. De acordo com Brangel (2013), o crescimento do

número de pesquisas em torno desse tipo específico de obra lexicográfica ocorreu,

em grande medida, devido à inserção dos dicionários no Programa Nacional do Livro

Didático (PNLD), um programa do Ministério da Educação (MEC) que objetiva a

avaliação e distribuição de livros (e desde 2001, também de dicionários de língua

portuguesa) usados em sala de aula no processo de ensino-aprendizagem da rede

pública de ensino do Brasil. Acerca desse programa, em sua tese de doutorado,

Gomes (2007, p. 173) escreve:

O PNLD/Dicionários inaugura uma etapa de pesquisa e labor lexicográfico inéditos na tradição brasileira; começa-se a delinear critérios e paradigmas para a construção de propostas lexicográficas adequadas ao público e à realidade brasileiros, oferecendo como produto final dicionários, de fato, escolares e não meros recortes de obras mais amplas da língua portuguesa.

Santiago (2012) converge com o autor mencionado, destacando que essa

ação política foi essencial para o esclarecimento dos tipos de dicionários disponíveis

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na comunidade linguística brasileira, já que a norma presente neles está associada a

uma imagem ideal. Essa atitude revelou, portanto, “uma preocupação por parte do

MEC com os repertórios elaborados e colocados à disposição no país” (SANTIAGO,

2012, p. 3). Por conseguinte, desde sua inclusão no PNLD, esse instrumento

didático vem ganhando a atenção não apenas de diferentes pesquisadores,

empenhados em sua avaliação e aprimoramento, mas também de editoras

preocupadas na produção de dicionários escolares adequados à proposta

estabelecida pelo MEC. Dessarte, o pensamento do autor citado reitera o de Brangel

(2013, p. 219), para quem, antes do estabelecimento do PNLD – Dicionários, “o tipo

de obra lexicográfica utilizada em sala de aula não era necessariamente o dicionário

escolar, mas [...] dicionários do tipo mini ou conciso”. Isso acontecia porque, até

então, “não havia critérios específicos para a elaboração dos dicionários utilizados

na escola brasileira” (SANTIAGO, 2012, p. 3).

Pensando nisso, o MEC incluiu no PNLD 2004 a avaliação de dicionários

produzidos e/ou reformulados nacionalmente. Essas obras, quando aprovadas,

foram compradas pelo MEC e distribuídas nas escolas públicas de educação básica.

De início, as escolas adotaram o minidicionário, porque não havia a discussão

acerca da necessidade de um dicionário específico para ser utilizado em âmbito

escolar. Como consequência, “até hoje, muitos professores não sabem a diferença

entre ambos e, comumente, os dicionários escolares são chamados de

minidicionários” (SANTIAGO, 2012, p. 3).

No entanto, houve um esforço da comissão técnica de avaliação do PNLD

para modificar essa realidade e, em 2006, foram propostas novas diretrizes para a

seleção e aquisição dos dicionários escolares e a classificação dos repertórios em

acervos, cada qual direcionado para uma etapa determinada do processo de

alfabetização e letramento dos consulentes. Assim, os dicionários foram

classificados em função do público alvo e das séries do primeiro segmento do

ensino fundamental: o acervo 1 destinava-se às turmas em fase de alfabetização e o

acervo 2 às turmas em processo de desenvolvimento da língua escrita.

Nessa perspectiva, a avaliação feita pelo PNLD – Dicionários 2006 distinguiu

três tipos de dicionários10, levando em conta o público alvo a que se destinava cada

um e a sua quantidade de verbetes. Isso pode ser observado no Quadro 02:

10 Nessa classificação, a obra lexicográfica é tida como gênero. Isso fica nítido na caracterização dos dicionários de tipo 1. No entanto, gostaríamos de destacar nossa concordância com Bonini (2011),

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QUADRO 02: O dicionário escolar no PNLD – Dicionários 2006

Tipo de dicionário Caracterização

Dicionários de tipo 1

Mínimo de 1000, máximo de 3000 verbetes;

Proposta lexicográfica adequada à introdução do alfabetizando ao gênero dicionário.

Dicionários de tipo 2

Mínimo de 3.500, máximo de 10.000 verbetes;

Proposta lexicográfica adequada a alunos em fase de consolidação do domínio da escrita.

Dicionários de tipo 3

Mínimo de 19.000 e máximo de 35.000 verbetes;

Proposta lexicográfica orientada pelas características de um dicionário padrão, porém

adequada a alunos das últimas séries do primeiro segmento do Ensino Fundamental.

Fonte: Brasil (2005)

A avaliação pedagógica dos dicionários foi realizada por meio de critérios de

exclusão e de critérios classificatórios. Entre os primeiros estava a exigência de as

obras serem escritas em português contemporâneo do Brasil e não apresentar

preconceito relacionado à condição socioeconômica, cor, etnia, gênero, religião,

orientação sexual. Em relação aos critérios classificatórios, destacavam-se:

pertinência e representatividade do vocabulário para o público-alvo, qualidade das

definições, correção ortográfica, contextualização e informação gramatical. Ante o

exposto, vale ressaltar que o PNLD – Dicionários 2006 é tido como um marco para o

processo de avaliação e seleção de dicionários escolares no Brasil, haja vista que

“através de parâmetros e critérios pré-estabelecidos, delineia os dicionários

escolares brasileiros, dando uma função clara ao dicionário como recurso didático

pedagógico, qual seja, auxiliar no processo de desenvolvimento de leitura e escrita

na escola” (NASCIMENTO, 2013, p. 33).

Posteriormente, o PNLD – Dicionários apresentou uma nova proposta de

classificação para o material didático em debate que levasse em conta as

para quem o dicionário constitui, na verdade, um hipergênero, termo que designa uma unidade textual de interação formada por outros gêneros textuais. Neste sentido, o dicionário seria a unidade textual maior formada pelo agrupamento de gêneros textuais como prefácio, introdução, verbete, etc. Não é foco de nosso trabalho detalhar a natureza (hiper)genérica do dicionário, mas o leitor pode esclarecer esse assunto lendo os trabalhos do autor supramencionado.

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especificidades das diferentes etapas da educação básica. Desse modo,

sistematizamos, no Quadro 03, a classificação mais recente dos dicionários

escolares realizada pelo MEC no PNLD – Dicionários 2012:

QUADRO 03: O dicionário escolar no PNLD – Dicionários 2012

Tipos de dicionários Etapa de ensino Caracterização

Dicionários de Tipo 1 1º ano do Ensino Fundamental

- mínimo de 500 e máximo de 1.000 verbetes; - proposta lexicográfica adequada às demandas do processo de alfabetização inicial.

Dicionários de Tipo 2 2º ao 5º ano do Ensino Fundamental

- mínimo de 3.000 e máximo de 15.000 verbetes; - proposta lexicográfica adequada a alunos em fase de consolidação do domínio tanto da escrita quanto da organização e da linguagem típicas do gênero dicionário.

Dicionários de Tipo 3 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental

- mínimo de 19.000 e máximo de 35.000 verbetes; - proposta lexicográfica orientada pelas características de um dicionário padrão de uso escolar, porém adequada a alunos dos últimos anos do Ensino Fundamental.

Dicionários de Tipo 4 1º ao 3º ano do Ensino Médio

- mínimo de 40.000 e máximo de 100.000 verbetes; - proposta lexicográfica própria de um dicionário padrão, porém adequada às demandas escolares do Ensino Médio, inclusive o profissionalizante.

Fonte: Brasil (2012)

Acreditamos que o Quadro 03 torna-se elucidativo no que se refere à

diferenciação dos quatro tipos de dicionários escolares propostos pelo no PNLD –

Dicionários 2012. Como podemos perceber, o que caracteriza cada uma dessas

obras não é apenas a quantidade de verbetes, mas também a adequação desse

material às demandas estudantis de cada etapa da educação básica. Mas, o que

significa essa adequação? O que se quer dizer com isso?

Quando destaca o critério da adequação do dicionário, o PNLD – Dicionários

2012 chama atenção para que as obras lexicográficas escolares atendam ao grau

de instrução e às necessidades de aprendizagem dos consulentes. Assim, um

dicionário geral não se adequa a crianças, não só por ele ser mais volumoso, mas

também porque apresenta palavras não tão usuais para um aluno em fase de

alfabetização inicial ou em fase de consolidação da escrita. Além disso, essa

adequação se refere, igualmente, ao corpus usado na produção do dicionário. Nos

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dicionários de tipo 1 e tipo 2, por exemplo, é comum que seja compilado um corpus

a partir de livros da literatura infantil, pois espera-se que, desta forma, essas obras

sejam mais significativas para o público a que se destinam.

De modo geral, podemos perceber que a inclusão dos dicionários escolares

no PNLD, bem como o sucessivo aprimoramento dos critérios de avaliação desse

material, implica um avanço no âmbito da Lexicografia Pedagógica brasileira e das

políticas públicas dos órgãos governamentais em relação a esse material, no sentido

de assegurar a produção e a distribuição de obras lexicográficas voltadas para as

necessidades de aprendizagem dos estudantes da educação básica. Isso se

relaciona às duas grandes contribuições da inserção dos dicionários ao PNLD

pontuadas por Brangel (2013, p. 220):

A primeira delas remete à constatação de que o consulente do dicionário escolar, ao longo de sua formação na Educação Básica, apresenta distintas necessidades de consulta linguística [...]. A segunda contribuição, decorrente da primeira, está relacionada à compilação de obras lexicográficas específicas para diferentes estágios do Ensino Básico.

Nessa perspectiva, a classificação apresentada pelo PNLD veio de encontro

a uma crença equivocada rebatida criticamente por Pontes e Santiago (2009),

segundo a qual um dicionário é para a vida toda. Assim sendo, um dicionário não

pode ser tomado como uma obra atemporal, uma vez que ele deve levar em conta

as mudanças pelas quais passam as palavras e as suas acepções, como também o

perfil de seus consulentes, especialmente o nível de escolaridade.

No entanto, essa classificação do MEC, iniciada em 2005 e aprimorada em

2012, não se encontra isenta de críticas, como podemos notar nos trabalhos de

Damin e Peruzzo (2006) e de Brangel (2013). Damin e Peruzzo (2006, p. 96)

reconhecem que, embora a proposta avaliativa do MEC em relação aos dicionários

apresente um avanço, ela não é completamente satisfatória, pois uma taxonomia

baseada essencialmente no número de verbetes pode ser inicialmente útil, porém

ela apresenta alguns problemas, já que “a forma de contagem de entradas pode

variar, conforme o dicionário”. Para os autores, a avaliação do dicionário escolar

deve ser pautada em critérios como: “a adequação da proposta do dicionário às

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necessidades do usuário, a linguagem utilizada, a presença ou não de exemplos e

ilustrações, dentre outros” (DAMIN; PERUZZO, 2006, p. 96)11.

É a partir desses critérios que os autores analisam cinquenta exemplares de

dicionários escolares de Língua Portuguesa e propõem uma taxonomia própria para

essas obras, discriminando cinco tipos, a saber: infantil, para iniciantes, padrão, mini

e enciclopédico. Dessa forma, a classificação de Damin e Peruzzo (2006) é

considerada mais detalhada porque a definição dos tipos de dicionários escolares é

feita a partir de suas especificidades macro e microestruturais e pelo projeto gráfico.

Por seu turno, o PNLD – Dicionários 2012 classifica-os tendo em vista

principalmente a sua adequação ao nível de ensino e o número de verbetes, como já

assinalamos.

A crítica realizada por Brangel (2013) em relação à taxonomia do PNLD –

Dicionários 2012 volta-se, principalmente, aos dicionários dos tipos 1 e 2, que,

segundo a autora, não se alinham às propostas educacionais relacionadas ao

processo de alfabetização e de consolidação da escrita, especialmente no que diz

respeito ao momento mais apropriado para a substituição do dicionário de

alfabetização (tipo 1) por um dicionário intermediário (tipo 2), uma vez que “esta

substituição deve ocorrer em algum momento entre o início do segundo ano e o

término do terceiro ano do Ensino Fundamental, já que é neste período escolar que

o processo de alfabetização parece se consolidar” (BRANGEL, 2013, p. 227).

Após discutir as tipologias das diferentes obras dicionaristas escolares,

torna-se relevante apresentar ainda algumas especificidades estruturais desse

material didático, o qual, resguardadas as suas características tipológicas, segue a

estrutura das demais obras lexicográficas.

De acordo com Pontes (2009), o texto lexicográfico é organizado a partir de

diferentes níveis estruturais, constituindo-se de uma estrutura global chamada de

megaestrutura em que se encaixam as demais. Por conseguinte, o dicionário é

formado por meio de um conjunto de informações sucessivas marcadas por uma

dependência mútua, pois “as informações não aparecem na sua composição de

maneira aleatória ou ao acaso” (PONTES, 2009, p. 66).

Em resumo, o dicionário é constituído estruturalmente de: megaestrutura,

macroestrutura, medioestrutura (material interposto, sistema de remissivas) e

11 É importante destacarmos que, nas avaliações posteriores, o PNLD assume tais críticas para a evolução dos critérios.

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microestrutura. Para Damin (2005), a megaestrutura corresponde à estrutura geral

do dicionário: páginas iniciais (a apresentação, o prefácio, informações sobre o

público a que se destina, características técnicas, se é baseado em corpus,

instruções para o uso, explicação das abreviaturas), o corpo do dicionário (o

conjunto das palavras registradas) e as páginas finais (anexo, apêndices e

bibliografia).

Neste sentido, as páginas iniciais de um dicionário são de grande relevância,

uma vez que nelas “estão as chaves de suas características mais importantes,

apresentam-se os traços diferenciadores em relação às outras obras e observações

de uso [...]” (PONTES, 2009, p. 67). Geralmente, essa parte é formada por um

prólogo ou prefácio no qual o(s) autor(es) apresenta(m) informações sobre o

conteúdo da obra, bem como acerca de suas especificidades técnicas. Na

introdução, realiza-se uma apresentação da obra, “como seção à parte, salientando

sua importância e convidando o leitor a utilizá-la” (PONTES, 2009, p. 67). A

nomenclatura (ou corpo do dicionário) é formada não apenas a partir de

“substantivo, adjetivo, pronome, verbo, preposição, conjunção, mas também de

abreviaturas, prefixos, empréstimos, que podem funcionar como entrada” (PONTES,

2009, 71). Por seu turno, as páginas finais podem ser constituídas de materiais

opcionais, também denominados materiais pospostos, sendo formados por

apêndices ou anexos.

A macroestrutura refere-se ao conjunto de entradas dispostas de forma

vertical, compondo, assim, o corpo do dicionário ou a sua nomenclatura. Ela pode

ser semasiológica, ou seja, seguir a ordem alfabética, objetivando facilitar a leitura

realizada pelo consulente, ou ainda onomasiológica, isto é, organizada por campos

temáticos. Numa perspectiva macroestrutural, a descrição e análise de um dicionário

“implica centrar a atenção em aspectos fundamentais que constituem este nível

estrutural: a seleção do léxico, a ordenação das entradas, quantidade do conteúdo,

entre outros (PONTES, 2009, p. 73).

Por outro lado, a medioestrutura diz respeito ao sistema de referência entre

as partes constituintes da obra dicionarista. Nas palavras de Damin (2005, p. 89), o

plano medioestrutural designa

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um sistema de articulação entre a macro, a microestrutura e outros componentes do dicionário, como o material anteposto, o material posposto e o material interposto, e de todos esses elementos com o usuário. Tais relações podem ocorrer de diferentes maneiras: entre um artigo léxico e outro, entre um artigo e ilustrações (no material interposto), entre um artigo e a explicação da estrutura dos artigos (no material anteposto), entre um artigo e tabelas de numerais (no material posposto), dentre outras possibilidades.

Assim sendo, esse nível estrutural apresenta outras informações adicionais

acerca das palavras-entradas, esclarecendo, auxiliando e permitindo que o

consulente sane possíveis dúvidas a partir de outros recursos ou elementos

disponibilizados no próprio dicionário. Por seu turno, as remissões estão situadas

neste nível estrutural. Elas são bastante comuns nos dicionários de diferentes tipos

e possuem, segundo Pontes (2009), duas funções importantes. Em primeiro lugar,

seria impedir a repetição de uma mesma informação em palavras diferentes ou em

acepções que apresentam similitude semântica. Em segundo lugar, o sistema de

remissivas possibilita ao leitor a “ampliação de conhecimento em relação ao tema da

consulta, enviando-o a entradas ou a partes dos verbetes cuja leitura pode ilustrar-

lhe com mais precisão ou amplitude” (PONTES, 2009, p. 88).

Nessa perspectiva, o uso das remissivas é uma forma de interligar os termos

e conduzir o consulente, no momento da pesquisa, a outros verbetes que se

relacionam. Entretanto, ressaltamos que, em relação aos dicionários de tipo 1 e de

tipo 2, é preciso que o lexicógrafo tenha um cuidado especial quanto às remissivas,

já que essas obras se destinam a estudantes que ainda estão em um processo

inicial de formação e, sendo assim, o domínio de uma leitura mais dinâmica e não

linear, proporcionada pelas remissões, requer do aluno um grau maior de

proficiência no uso da obra dicionarista.

O quarto nível estrutural de descrição da obra dicionarista é o material

interposto, o qual designa o “conjunto de elementos complementares às informações

da microestrutrura e intercalados na macroestrutura” (DAMIN, 2005, p. 23). Dessa

maneira, esses elementos são associados a ilustrações, tabelas, mapas, diagramas

etc., e, se bem utilizados, auxiliam o consulente na construção do sentido

especificado no verbete. Além do mais, a autora destaca a necessidade da presença

de ilustrações em dicionários escolares, uma vez que elas podem ser facilitadoras

do entendimento do consulente, especialmente quando se trata de objetos

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desconhecidos. As palavras de Ezquerra (2003, p. 21, tradução nossa) são bem

pertinentes a essa discussão, pois, segundo ele,

[...] chega a ser necessária a presença de ilustrações que nos dizem sobre as coisas nomeadas a fim de compreendermos o seu significado e a sua aplicação. O conteúdo dos dicionários destinados ao ensino de língua tem que ser mais informativo que os demais dicionários por estarem orientados para um tipo de usuário, o aluno, cuja consciência linguística não é muito forte porque ele ainda está em formação.12

A partir disso, podemos perceber a importância não só das ilustrações, mas

também dos diferentes elementos do material interposto de um dicionário escolar, o

qual, conforme apontado por Ezquerra (2003), deve ser ainda mais informativo que

outros tipos de obras lexicográficas, haja vista ele estar direcionado para um público

que se encontra em um processo ainda inicial do desenvolvimento intelectual

proporcionado na educação básica.

Dando continuidade, a microestrutura diz respeito ao conjunto de informações

ordenadas constituintes do verbete ou palavra-entrada: informação gramatical,

definição, exemplos de uso e marcas de uso. A Figura 02 mostra, de forma didática,

os elementos da microestrutura:

FIGURA 02: Microestrutura de dicionário

Fonte: Rebouças (2015)

Em muitos dicionários, é comum que as palavras-entradas apareçam

lematizadas, em outras palavras, não sejam flexionadas. Além disso, elas podem

12 “[…] llega a hacerse necesaria la presencia de ilustraciones que nos hablen de las cosas nombradas para llegar a entender el significado y a qué se aplican. El contenido de los diccionarios concebidos para la enseñanza de la lengua tiene que ser más informativo que en los demás diccionarios por estar orientados hacia un tipo de usuario, el alumno, cuya conciencia lingüística no es muy firme pues todavía se encuentra en periodo de formación”.

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apresentar saliência visual devido aos recursos de cor e de negrito. Outros ainda

exibem, logo na entrada, a separação silábica da palavra e destacam por meio de

diferentes formas a sílaba tônica e a pronúncia do vocábulo, especialmente nos

denominados dicionários infantis (tipo 1 e 2, para o PNLD – Dicionários 2012), já que

se destinam a alunos em fase de alfabetização e de consolidação da atividade de

leitura.

A informação gramatical basicamente está presente em todos os dicionários

(WELKER, 2004). Ela diz respeito a uma série de conhecimentos morfológicos ou

sintáticos, de natureza normativa ou descritiva. Em relação à categoria gramatical,

Pontes (2009) salienta que pode apresentar ou não uma subcategoria (transitivo,

singular, masculino). Além do mais, a informação gramatical geralmente é grafada

de forma abreviada, excetuando-se alguns dicionários infantis, conforme pontua

Zavaglia (2010). No entanto, quando ela é composta de abreviaturas, o que se

espera é que seus significados sejam explicados nas páginas introdutórias da obra

(PONTES, 2009).

Para Fajardo (1997), a marca de uso é representada concretamente por meio

de etiquetas ou rótulos. De modo geral, ela é apresentada em forma de abreviatura,

localizando-se antes da definição. Segundo o autor, a marcação é um procedimento

empregado no dicionário para indicar a particularidade que restringe ou condiciona o

uso de determinada unidade lexical. De acordo com Zavaglia (2010), a indicação de

marca de uso é de suma importância, todavia o lexicógrafo pode ter dificuldades

para registrá-la nos verbetes, uma vez que, geralmente, existem divergências entre

as obras dicionaristas: “o que para um pode ser uma marca de brasileirismo familiar,

para outro pode ser considerado como uso informal ou coloquial” (ZAVAGLIA, 2010,

p. 87). A despeito dessas dificuldades, Welker (2004, p. 134) defende a necessidade

de que houvesse mais marcas de uso do que se constatam na maioria dos

dicionários, já que elas “são imprescindíveis quando se precisa de ajuda na

produção de textos, mas também são importantes na recepção, pois sem elas não

se alcança uma compreensão exata do texto”. Dessa maneira, Araújo e Santos

(2018) coadunam com o pensamento de Welker (2004) ao reconhecerem a

necessidade de o dicionário apresentar esse recurso, o qual orienta o consulente

sobre o contexto adequado ou inadequado de uso do léxico.

A definição é uma parte muito importante da microestrutura do dicionário

monolíngue e sobre ela muito se tem escrito no âmbito da Lexicografia teórica

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(SANROMÁN, 2000; LANDAU, 2001). De acordo com Bugueño Miranda (2009),

esse segmento informativo é muito procurado pelos consulentes nos dicionários.

Entretanto, Farias (2013) defende que, embora a definição seja o mecanismo

explanatório por excelência, existem outros recursos na obra lexicográfica que

também permitem apreender a significação de uma dada palavra, como as

ilustrações, exemplos e pós-comentários13.

Para Pontes (2009), a definição é uma paráfrase semanticamente equivalente

de uma dada unidade léxica. Nessa mesma linha de raciocínio e problematizando a

complexa natureza desse item informativo, Bugueño Miranda (2009, p. 243)

denomina-o de “paráfrase explanatória”, a qual se configura como o resultado de

uma “equação em que, de um lado, está o signo-lema, e, de outro, um comentário

sobre esse signo-lema”, além do padrão sintático empregado em sua redação e da

teoria semântica que orienta os traços semânticos relevantes em sua formulação.

Por conseguinte, Farias (2013) converge com o pensamento desse autor quando

sublinha que a paráfrase exploratória (ou paráfrase definidora) abrange “todas as

formas de ‘indicação parafrástica do significado’ [...] nos dicionários de língua,

estejam ou não formuladas de acordo com o esquema clássico [...]” (FARIAS, 2013,

p. 96).

Em relação ao exemplo de uso, esta parte diz respeito a “um enunciado que

se acrescenta à definição para comprovar, ilustrar ou abordar uma palavra-entrada”

(PONTES, 2009, p. 214). De acordo com Pontes (2012), há uma ausência quase

total de exemplos de uso nos dicionários escolares brasileiros, o que, para ele,

caracteriza uma das maiores insuficiências nesse material, já que esse é um recurso

lexicográfico multifuncional importante para os processos de leitura e de produção

textual. Além do mais, nem sempre o dicionário deixa clara em sua introdução a

origem dos exemplos, porém eles podem ser: autênticos, quando retirados de algum

corpus textual; fabricados, se forem criados pelo lexicógrafo; ou adaptados, quando

baseiam-se em um corpus, mas são modificados para atender aos propósitos

lexicográficos (NASCIMENTO, 2013).

Com efeito, tanto o exemplo de uso, bem como a marca de uso, discutida

anteriormente, são informações de ordem pragmática que visam auxiliar o aluno na

13 Não é nosso foco, neste tópico, aprofundar esta discussão. Para mais detalhes, torna-se interessante a leitura da tese de Farias (2013), na qual é proposta uma teoria geral dos mecanismos explanatórios.

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compreensão dos significados de dada palavra. Sendo assim, essas partes

garantem que o estudante utilize a palavra de forma apropriada nos diferentes

contextos linguísticos e comunicativos.

Por sua natureza didática, o dicionário é essencialmente um instrumento

pedagógico. Apesar disso, vimos, ao longo desta seção, que existem dicionários

especialmente produzidos para o uso em sala de aula, os quais objetivam atender e

adequar-se às necessidades de aprendizagem do público discente. Sabendo disso,

discutimos, na seção 3.3, algumas questões relacionadas à presença de diferentes

semioses no dicionário escolar infantil.

3.3 A ARTICULAÇÃO VERBO-VISUAL NO DICIONÁRIO ESCOLAR

Nos últimos anos, as sociedades ocidentais supervalorizaram o predomínio

da linguagem verbal no processo da comunicação humana, dando especial

destaque à escrita em detrimento da fala e de outros modos semióticos, como, por

exemplo, desenhos, fotos, imagens, etc. Todavia, essa noção de predominância do

texto verbal vem sendo, recentemente, modificada, principalmente, devido ao

incessante desenvolvimento das tecnologias, que possibilitou o surgimento de um

paradigma de comunicação segundo o qual a linguagem verbal e, especificamente,

a escrita, seria apenas um dos diferentes modos representacionais. Evidentemente,

é impossível interpretar textos focalizando exclusivamente a linguagem escrita, visto que esta consiste em apenas um dos modos dos elementos representativos de um texto, que por sua vez, é sempre multimodal e, por isso, deve ser lido a partir da conjunção de todos os modos semióticos nele configurados (SANTOS, 2009, p. 2).

Esse olhar para os variados modos semióticos que configuram os eventos

comunicativos coaduna-se com a teoria da multimodalidade14, desenvolvida por

Kress e van Leeuwen (2006), para quem, na composição de um texto, são

empregados, de forma intencional, várias semioses e, por consequência, será

14 Para este trabalho, não interessa discutir detalhadamente a teoria da multimodalidade, pois não iremos analisar o nosso objeto de estudo a partir de categorias conceituais dessa área do conhecimento. No entanto, ressaltamos a pertinência de dialogarmos, neste tópico, com os resultados de algumas pesquisas da Metalexicografia Pedagógica que focalizaram o estudo de aspectos da natureza multimodal dos dicionários escolares, uma vez que esse diálogo nos fornece subsídios para o debate de duas das crenças dos sujeitos aqui investigados, conforme será observado no capítulo de análise.

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insuficiente a leitura focada apenas na linguagem verbal, correndo-se o risco, nesse

caso, de se ter uma compreensão parcial da mensagem expressa no texto. Em vista

disso, é necessário destacar que o termo multimodalidade “denota o uso integrado

de diferentes recursos comunicativos, como a linguagem, imagem, som e música em

textos multimodais e eventos comunicativos”15 (VAN LEEUWEN, 2011, p. 668,

tradução nossa).

Do que foi discutido, já é possível perceber que a multimodalidade

caracteriza-se por ser um fenômeno notadamente presente nos gêneros textuais da

comunicação humana diária, sejam eles pertencentes à modalidade oral ou à

modalidade escrita (KRESS; VAN LEEUWEN, 2006). Desse modo, em consonância

com Dionísio (2006, p. 161-162), é possível dizer que “quando falamos ou

escrevemos um texto, estamos usando no mínimo dois modos de representação:

palavras e gestos, palavras e entonações, palavras e imagens, palavras e

tipografias, palavras e sorrisos, palavras e animações, etc.”.

Apesar de os gêneros textuais falados e escritos serem considerados

multimodais, reiteramos que a multimodalidade dos gêneros pertencentes à escrita

ocorre em diferentes graus, na perspectiva de um contínuo de informatividade visual.

Neste contínuo, de um lado, encontram-se os textos menos visualmente

informativos; de outro, os mais visualmente informativos (BERNHARDT, 2004;

DIONÍSIO, 2006; MOZDZENSKI, 2006). Assim sendo, os primeiros designam os

textos em que existe o predomínio do elemento verbal acrescido de outros recursos,

como paragrafação, tipo e tamanho de fonte, negrito, itálico, etc. Já os mais

visualmente informativos referem-se aos textos que apresentam diferentes modos

semióticos, como, por exemplo, cor, imagem, som, etc.

Em se tratando de dicionários escolares,

esse contínuo de informatividade visual vai do dicionário infantil, mais visualmente informativo (com imagem, ilustrações, mais cores, letras grandes, etc. compondo sentidos com o verbal) ao dicionário escolar (tipo 4), menos visualmente informativo (mais recursos verbais compondo sentidos com os símbolos convencionados no dicionário, cores e tipografia) (NASCIMENTO, 2013, p. 47).

Como podemos perceber, o autor caracteriza o dicionário infantil como

pertencente ao conjunto de textos com grande informatividade visual,

15 “denotes the integrated use of different communicative resources, such as language, image, sound and music in multimodal texts and communicative events”.

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posicionamento com o qual convergimos, uma vez que esse material didático (de

tipo 1 e tipo 2) apresenta um projeto gráfico diferenciado dos dicionários de tipo 3 e

de tipo 4. Por isso, acompanhando Nascimento (2013), sistematizamos, na Figura

03, o posicionamento que os dicionários escolares ocupam no contínuo de

informatividade visual:

FIGURA 03: Dicionários escolares no contínuo de informatividade visual

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Nascimento (2013)

Sob esse prisma, os dicionários infantis, aqui entendidos como os que

pertencem à classificação de tipo 1 e de tipo 2, são mais visualmente informativos

do que as outras obras lexicográficas escolares porque possuem um projeto gráfico

que intensifica o uso de imagens, ilustrações, cores e tipologias de fontes diversas

que instanciam sentidos junto ao texto verbal na macro e na microestrutura. Por

conseguinte, é preciso estar atento para o papel das imagens contidas em uma obra

dicionarista, porém, muitas vezes, elas

são subavaliadas quanto ao seu potencial definitório e, assim, a definição lexicográfica verbal – ou a representação intralinguística, já que se realiza no nível linguístico verbal – recebe a primazia na elucidação das palavras-entrada, enquanto a imagem – ou a representação extralinguística, já que se realiza no nível não verbal – é rebaixada ao status de elemento acessório, sendo considerada parte do material interposto na macroestrutura e não parte integrante da microestrutura (DUARTE, 2014, p. 22).

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Sendo assim, a autora chama a atenção para o potencial semântico que a

imagem possui no que diz respeito à definição lexicográfica, endossando, pois, o

pensamento de Pinto da Silva (2006), segundo o qual a linguagem não verbal que

se encontra nos dicionários infantis ilustrados está a serviço da garantia de uma

leitura significativa e consequente aprendizagem por parte do consulente iniciante,

fornecendo-lhe um recurso a mais para a clareza e apreensão do sentido de

determinada palavra. Nessa mesma linha raciocínio, encontram-se Rocha e Pontes

(2018, p. 217) ao apontarem que

quando não há a imagem, que ilustra o conteúdo das definições, ou quando se tem, mas com restrições, há um prejuízo na compreensão da informação, pois estamos nos referindo a alunos que já interagem muito rápido com os meios visuais, precisando, muitas vezes, deles para completar o entendimento sobre determinado vocábulo que ficou obscuro para sua percepção.

Segundo as palavras dos autores, os estudantes da atual sociedade

tecnológica em que vivemos já lidam diária e rapidamente com os meios visuais. Daí

a aplicabilidade do uso de imagens na obra dicionarista. No entanto, lembramos que

a relação entre texto (definição e exemplificação de uso) e ilustração em dicionários

infantis não é tão simples assim, conforme orienta Pinto da Silva (2006), podendo

ser classificada em três níveis: convergência, desvio e contradição. A relação de

convergência se dá quando a ilustração retrata visualmente, de forma clara e

coerente, traços semânticos do conteúdo referenciado verbalmente. Em

contrapartida, a relação de desvio é estabelecida devido à ineficiência da ilustração

em retratar graficamente os traços semânticos que compõem o conceito veiculado no verbete, seja por imprecisão, por apresentar grande complexidade de leitura, por apresentar apenas informações enciclopédicas que não auxiliam na compreensão da palavra ou ainda por retratar uma

imagem muito afastada do sentido expresso verbalmente (PINTO DA SILVA, 2006, p. 128).

Por fim, a relação de contradição entre texto e ilustração ocorre quando esta

última remete a um conteúdo ou informação diferente do que foi referido

verbalmente na definição ou na exemplificação de uso. Sendo assim, no que se

refere ao dicionário infantil, a ilustração e o texto verbal devem operar

conjuntamente, a fim de que seus sentidos possam convergir expressando

informação pertinente e compreensível para o consulente. Isso depende, portanto,

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da existência, no âmbito do dicionário, de algo denominado coerência intersemiótica,

a qual diz respeito à “relação de coerência, ou seja, convergência ou não-

contradição, entre os significados (conotativos e denotativos) da ilustração e do

texto” (CAMARGO, 1998, p. 28).

Por sua vez, Sousa (2014) entende a classificação discutida anteriormente,

proposta por Silva (2006), como algo estanque. Ela propõe, em contrapartida, uma

análise da relação entre texto e imagem num contínuo de coerência intersemiótica, o

qual vai do polo + convergente ao polo - convergente, situando o desvio na posição

intermediária, conforme é ilustrado na Figura 04:

FIGURA 04: Contínuo da coerência intersemiótica entre imagem e texto

Fonte: Elaborada pelo autor com base em Sousa (2014)

Na Figura 04, observamos a gradação da coerência intersemiótica entre texto

e imagem no dicionário escolar infantil. Desse modo, segundo a autora, quanto

maior for a convergência estabelecida entre texto verbal e imagético, maior será a

não-contradição entre os significados da ilustração e do texto escrito.

Além do mais, é preciso insistir que, embora estejam presentes no dicionário

infantil diversos recursos imagéticos, responsáveis por evidenciar a sua

multimodalidade, ele possui, ademais, inúmeros outros recursos não verbais que

auxiliam na leitura dos verbetes, principalmente a diferenciação quanto à tipologia

das letras, aos espaços, ao tamanho, às cores, aos símbolos e à pontuação, como

assinala Pontes (2018, p. 26):

[...] no texto-verbete, além do código escrito, outras formas de representação como a cor, a diagramação da página, a formatação da letra (tamanho da fonte, cor, estilo etc.), a presença de ilustrações visuais, símbolos não alfabéticos (marcadores numéricos), as iniciais maiúsculas e a pontuação interferem na mensagem a ser transmitida, assumindo várias funções e sentidos.

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A partir dessas palavras, ressaltamos a pouca produtividade de uma leitura da

obra lexicográfica focalizada apenas na mensagem escrita, afinal, como o próprio

autor ratifica, há um conjunto de outros elementos representacionais que incidem na

mensagem a ser transmitida. De modo geral, essa gama de recursos “faz com que a

criança reconheça no dicionário uma série de características que ela encontra em

outras obras que lhe são direcionadas, como os livros de historinhas e fábulas,

possibilitando uma leitura mais prazerosa e interessada” (SOUSA, 2014, p. 42).

Para um aprofundamento sobre a percepção discente acerca da

representação visual do dicionário escolar infantil, é relevante trazer à baila

Nascimento (2013), que entrevistou estudantes de 5º ano do ensino fundamental e

obteve o seguinte resultado:

Em geral, os alunos perceberam a maioria dos recursos visuais das páginas e opinaram que facilitam a leitura e ajudam na localização mais rápida das informações nas páginas dos dicionários. No entanto, é preciso que todos esses recursos sejam mostrados aos consulentes para que possam fazer uso em suas buscas e pesquisas no dicionário. Esse é um conhecimento imprescindível para usos mais efetivos e eficientes. Portanto, faz-se necessário acrescentar a seguinte habilidade de uso a ser desenvolvida pelos consulentes: entender a organização visual das páginas e os vários recursos de orientação dispostos nela, tais como, dedeiras, palavras-guia, recuos, cor, negrito, itálico (NASCIMENTO, 2013, p. 125).

Assumimos, em conformidade com o autor, o pressuposto de que a

representação visual não apenas atrai a atenção dos estudantes, mas também

colabora no processo de construção de sentidos do texto lexicográfico. Além disso,

ressaltamos que a leitura crítica dos sentidos instanciados pela multimodalidade é

uma habilidade que precisa ser desenvolvida nos estudantes. Se essa habilidade

não for trabalhada durante a trajetória escolar do aluno, a consequência será a

formação de leitores que focalizam o verbal, como é o caso dos estudantes de 5º

ano do ensino fundamental pesquisados por Sousa (2014), os quais percebiam as

relações entre os dois modos semióticos dos verbetes do dicionário escolar infantil,

porém priorizavam a leitura do conteúdo verbal.

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3.4 ASPECTOS DISCURSIVOS E IDEOLÓGICOS NO DICIONÁRIO ESCOLAR

INFANTIL

Durante muito tempo, defendeu-se o caráter imparcial do dicionário,

considerado assim uma obra objetiva e de sentidos transparentes. Isso está

associado, entre outros fatores, à aceitação social da autoridade linguística desse

objeto, bem como à sua organização técnica (CUADRADO, 2011). No entanto, o

desenvolvimento dos estudos lexicográficos provocou rupturas em relação a essa

concepção, pois, da análise aprofundada da tessitura lexicográfica,

sob a perspectiva de integração à sociedade, tendo em vista a conjuntura social e histórica, é possível compreender que os significados das palavras são construídos e naturalizados a partir de formações ideológicas que contemplam os interesses da classe dominante. Ou seja, por mais que pretenda se isentar acerca de suas declarações, procurando manter-se numa postura de neutralidade, o lexicógrafo/dicionarista produz seus discursos de acordo com a posição social que ocupa no sistema capitalista em que está inserido (REBOUÇAS, 2015, p. 35).

Assim, torna-se profícua uma leitura crítica dos verbetes que leva em conta os

significados naturalizados e legitimados a partir da reprodução de discursos, já que,

muito além de apenas descrever os significados das palavras, as definições lexicais

agenciam vozes sociais que evidenciam interesses e ideologias reconhecidos

socialmente. A esse respeito, Pascual (1996 apud PONTES; SANTIAGO, 2009, p.

117) assevera:

Embora hoje os dicionários sejam fabricados pelas máquinas, o homem está por trás, pensando os programas, administrando o processo de construção do dicionário. Este homem, o lexicógrafo, tem ideologia, orientação política e visão de mundo. [...] a produção do dicionário não é uma produção inocente, nem pode sê-lo, pois cada lexicógrafo é um porta-voz de uma classe e um ser inserido em seu tempo.

Nessa perspectiva, o dicionário é encarado como um objeto que possui

historicidade, ou seja, que reflete implícita ou explicitamente diferentes vozes

sociais, pois quem o produz assume sempre um dado posicionamento ideológico.

Por seu turno, esse posicionamento revela-se não apenas nas definições

lexicográficas, mas também “nos exemplos de uso e, inclusive, nas decisões

tomadas pelo lexicógrafo em relação à escolha dos itens lexicais que irão compor a

macroestrutura do dicionário” (PONTES; SANTIAGO, 2009, p. 118). Por

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consequência, é preciso estar atento para o fato de que ser reconhecido como

autoridade linguística não faz desse objeto um texto neutro. Pelo contrário, “apesar

das aparências, todo dicionário contém uma ideologia, na medida em que reflete

uma situação linguística”16 (CUADRADO, 2011, p. 40, tradução nossa).

Por esse motivo, torna-se importante pôr em evidência as contribuições da

Lexicografia Discursiva (doravante LD) para a já discutida Lexicografia Pedagógica,

uma vez que aquela “vê, nos dicionários, discursos. [...] podemos ler os dicionários

como textos produzidos em certas condições, tendo o seu processo de produção

vinculado a uma determinada rede de memória ante a língua” (ORLANDI, 2000, p.

97). Em outras palavras, ao analisar a obra dicionarista como discurso, a LD permite

a abordagem de aspectos discursivos e ideológicos que se fazem presentes nos

diferentes tipos de dicionários, inclusive no escolar infantil, como aponta a pesquisa

de Martins (2010). Além disso, Orlandi (2000, p. 99-100) pontua que, ao se abordar

o dicionário como instrumento discursivo, também é possível

[...] compreender o funcionamento da ideologia, pois ao tomar o dicionário como discurso, podemos ver como se projeta nele uma representação concreta da língua, em que encontramos indícios do modo como os sujeitos – como seres histórico-sociais, afetados pelo simbólico e pelo político sob o modo do funcionamento da ideologia - produzem linguagem.

Nesse ponto, em consonância com as palavras de Orlandi (2000) está o

posicionamento de Martins (2007), que entende o dicionário como objeto histórico, o

qual, ao ser produzido, é marcado pela conjuntura socioideológica em que está

inserido. Por isso, “não é jamais neutro, registra através da língua costumes, falares,

interesses, ideologias e discursos de uma determinada sociedade em um dado

espaço-tempo”. Em convergência com os autores mencionados anteriormente,

Yaguello (2002, p. 209-210, tradução nossa) concebe o dicionário como uma criação

ideológica, a qual “reflete a sociedade e a ideologia dominante. Como autoridade

indiscutível, como ferramenta cultural, o dicionário desempenha o papel de fixação e

de conservação não somente da língua, mas também das mentalidades e da

ideologia”17. Nesta linha de pensamento, algumas pesquisas voltadas para o estudo

16 “a pesar de las apariencias, todo diccionario encierra una ideología, en la medida en que refleja una situación linguística”. 17 “Le dictionnaire est une création idéologique. Il reflète la société et l‘idéologie dominante. En tant

qu‘autorité indiscutable, en tant qu‘outil culturel, le dictionnaire joue un rôle de fixation et de

conservation, non seulement de la langue mais aussi de mentalités et de l‘idéologie”.

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de aspectos ideológicos em dicionários escolares de Língua Portuguesa, como é o

caso de Rebouças (2015), pautam-se nos postulados da Análise de Discurso Crítica

(ADC), defendida por Norman Fairclough, para quem a ideologia pode ser vista

como:

[...] significações/construções da realidade (o mundo físico, as relações sociais, as identidades sociais) que são construídas em várias dimensões das formas/sentidos das práticas discursivas e que contribuem para a produção, a reprodução ou a transformação das relações de dominação (FAIRCLOUGH, 2001, p. 117).

Desta maneira, a ideologia configura-se como uma construção da realidade a

partir de determinadas posições valorativas, as quais repercutem na manutenção ou

transformação das relações sociais. Como já foi dito, a própria seleção dos verbetes

que formam a macroestrutura dicionarista rebate a ideia de neutralidade desse

material, uma vez que, segundo Yaguello (2002, p. 210), “o dicionário não é, em

nenhum caso, um inventário neutro de palavras da língua”18. Além disso, em

consonância com o que já foi apontado por Pascual (1996), no que diz respeito a

não neutralidade desse material, a autora pontua:

Por trás do dicionário, criação aparentemente anônima, se escondem autores, indivíduos. Ora, o lexicógrafo é submetido a tabus, a proibições, a modelos, conscientes ou não. Quando ele define homem e mulher, ele é influenciado fatalmente pelos estereótipos culturais e pelos constrangimentos sociais (YAGUELLO, 2002, p. 212)19.

Nessa linha de raciocínio, Ball (1997, p. 90-91) também refuta o estatuto de

neutralidade da obra lexicográfica, pois não se pode “esperar que os dicionários

descrevam um mundo ideal sem sexismo, sem racismo, sem homofobia, sem

preconceito de idade e sem xenofobia, isto não seria realista. O dicionário deve

descrever o uso da língua, e este uso reflete as atitudes da sociedade”20. Assim, o

autor sugere que se deve estar atento para os limites dos dicionários, em relação ao

18 “Le dictionnaire n‘est en aucun cas un inventaire neutre des mots de la langue”. 19 “Derrière le dictionnaire, création en apparence anonyme, se cachent des auteurs, des individus.

Or, le lexicographe est soumis à des tabous, à des interdits, à des modèles, conscients ou pas.

Lorsqu‘il a à définir homme et femme, il est influencé fatalement par les stéréotypes culturels et les

contraintes sociales”. 20 “Comment la lexicographie devrait-elle traiter le problème des valeurs dominantes? […] On ne peut

pas s‘attendre à ce que les dictionnaires décrivent un monde idéal sans sexisme, sans racisme, sans

homophobie, sans âgisme et sans xénophobie, ce ne serait pas réaliste. Le dictionnaire doit demeurer

descriptif de l‘usage de la langue, et cet usage reflète les attitudes de la société”.

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problema de possíveis preconceitos, além de ser importante uma leitura crítica e

reflexiva da informação veiculada nos verbetes, haja vista que “o lexicógrafo procede

necessariamente a escolhas [...] mas não é escolha neutra ou inocente, e é a

sociedade, com seus tabus e suas ideias, que se poderá ler nas entrelinhas do

dicionário” (DUPUY, 2010, p. 1-12)21.

Por isso, dizemos, acompanhando Ball (1997), Yaguello (2002) e Dupuy

(2010), que não se pode negar o conjunto de forças sociais que pressionam para

que o dicionário apresente alguma neutralidade, apesar de concordarmos com a

impossibilidade do alcance de uma total neutralidade quando se trata do uso da

linguagem. O dicionário descreve o uso da língua e este, por sua vez, reflete,

inevitavelmente, as atitudes sociais. No entanto, o esperado é que a obra

lexicográfica não seja usada como um mecanismo de reprodução de preconceitos.

A este respeito, convém ainda esclarecer que a própria produção discursiva

do dicionário escolar infantil é controlada por certos dispositivos e instituições que

regulam o que pode ou não ser dito e, aliás, como pode ser dito. É o caso do PNLD

– Dicionários. As obras produzidas para o programa levam em conta a política de

controle instituída pelo MEC, pelo governo, que, certamente, é ideológica, marcada

por posicionamentos políticos. O edital do programa, com todas as suas regras,

funciona como um mecanismo de regulação e controle da produção discursiva

lexicográfica.

É nessa direção de a escola desenvolver uma necessária criticidade leitora

ante esse material, que se pode pensar:

não bastassem as muitas funções que esse instrumento representa para a exploração de conhecimentos, eis que se destaca também por ser um fecundo material de análise crítica, haja vista o fato de que nada daquilo que nele está posto surgiu por acaso. E, em se tratando das definições dos vocábulos, é possível entrever, além das marcas enunciativas da linguagem, as ideologias impulsionadas pelos fatores de ordem social e da carga axiológica do sujeito enunciador. (REBOUÇAS; PONTES, 2014, p. 86).

Nessa linha de raciocínio, é possível dizer que o dicionário apresenta

inúmeras possibilidades para o desenvolvimento intelectual do ser humano, não

21 “[...] le lexicographe procède nécessairement à des choix [...] mais il n‘est pas de choix neutre ou

innocent, et c‘est la société, avec ses tabous et ses partis pris, que l‘on pourra lire entre les lignes du

dictionnaire”.

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apenas no que se refere ao domínio de um conjunto de conhecimentos lexicais, mas

também à sua leitura crítica, uma vez que as informações nele veiculadas não estão

ali por acaso. Portanto, é preciso ir além de uma leitura superficial que busca apenas

os possíveis significados de uma palavra, é preciso interpretá-los, vendo neles os

sentidos não tão aparentes que ali se encontram perpetuando uma dada visão de

mundo.

Diante desse contexto, os dicionários infantis podem ser vistos como objetos

discursivos que são construídos e sustentados a partir de uma determinada imagem

do sujeito-criança, conforme salienta Martins (2007, p. 11):

Sua constituição é atravessada por discursos que dizem respeito à infância (o familiar, o escolar, o gramatical, o moral), sua formulação se apresenta marcada por uma linguagem que põe em funcionamento processos de individualização do sujeito-criança, ao mesmo tempo em que as cores, as ilustrações, os personagens infantis vão compondo a especificidade dessa discursividade.

Muito além de veicular ideologia no que diz respeito aos significados

agenciados nos verbetes, de modo geral, o próprio dicionário infantil, sendo também

um objeto histórico, simbólico e ideológico, é atravessado por discursos que

apontam para uma determinada construção social da infância. Isso repercute,

necessariamente, no apagamento ou silenciamento de determinados sentidos, pois

como

recortam um público alvo específico, esses dicionários acabam também recortando sentidos: silenciam aqueles que podem ser considerados inadequados às crianças, a partir de uma visão pedagógica ou moral, como sexualidade, violência ou vocabulário chulo. Seria uma espécie de preservação do sentimento de inocência infantil (MARTINS, 2010, p. 113).

Em suma, os dicionários infantis não apenas adequam a sua proposta

lexicográfica ao perfil de seus leitores, como foi discutido na seção 3.3 deste

capítulo, mas também recortam, numa perspectiva pedagógica e moral, sentidos

considerados inadequados ao público-alvo a que se destinam. Isso acontece

porque, de modo geral, quem produz uma obra lexicográfica seleciona informações,

ao passo que “[...] esconde ou mostra o que acredita ser conveniente [...] Neste

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nível, muito significativas são as presenças e as ausências”22 (CUADRADO, 2011, p.

43). Em outras palavras, a presença e a ausência de determinadas palavras e

sentidos no dicionário escolar infantil não são aleatórias, pois respondem a

ideologias que sustentam e perpassam a produção desse material, sobretudo nos

dicionários de tipo 1 e tipo 2 do PNLD.

Após evidenciarmos algumas considerações sobre aspectos discursivos e

posicionamentos ideológicos que atravessam a tessitura dos dicionários, discutimos,

na seção 3.5, a formação inicial e continuada de professores envolvendo os

dicionários escolares.

3.5 A FORMAÇÃO DOCENTE E O DICIONÁRIO ESCOLAR: UM DIÁLOGO

NECESSÁRIO

Nas últimas décadas, o perfil docente tem sido redesenhado, sendo

associado a diferentes atribuições não consideradas anteriormente, haja vista as

novas exigências sociais e, consequentemente, educacionais. Daí o número

crescente de pesquisas em torno da formação de professores, as quais

problematizam a indissociabilidade entre formação docente e qualidade de ensino,

uma vez que a profissionalização do ensino exige, como contrapartida, a

necessidade de formar o principal sujeito responsável pelo seu planejamento e

execução, ou seja, o professor. No entanto,

Quando nos deparamos com as propostas de formação das instituições superiores (licenciaturas) direcionadas aos professores, nota-se a fragilidade dessas propostas educativas, especialmente pela intenção de fornecer um ensino aligeirado. É na saída dos bancos universitários e no ingresso do mercado de trabalho, que os professores se deparam com as dificuldades (CAMPOS, 2016, p. 44).

Apesar da crítica realizada pelo autor, é necessário frisar que não se pode

negar o esforço e o empenho das Instituições de Ensino Superior (IES) em reverter

esse quadro, sobretudo a partir do planejamento e execução de programas e

projetos voltados para a formação inicial de professores, como o Programa

22 “[...] oculta o descubre la que cree conveniente [...] En este nivel tan significativas son las presencias como las ausências”.

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Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID), o Programa de Residência

Pedagógica, dentre outros.

Por esse ângulo, reconhecemos que já existe uma política nacional

direcionada para a discussão e a melhoria no que diz respeito à formação docente.

Mas, o que seria, de fato, essa formação? De acordo com García (1999), o conceito

de formação está relacionado à ideia de construção de saberes a partir de um

processo de aprendizagem voltado para a reflexão em torno de um campo

profissional específico, objetivando o conglomerado de elementos teóricos e

práticos. Em consonância com o pensamento do autor referenciado, Imbernón

(2009) acrescenta o fato de que o referido conceito abarca determinadas

habilidades, como organizar, fundamentar e discernir. Assim sendo, a formação não

se restringe ao simples repasse de informações consideradas primordiais à

realização do exercício profissional, mas envolve também a reflexão sobre essas

informações. Neste sentido, a postura crítico-reflexiva é algo essencial “nesse

processo, porque permite relacionarmos teoria e prática, bem como as experiências

formativas do professor ocorridas em outros âmbitos, considerando que a

aprendizagem ocorre ao longo da vida” (CAMPOS, 2016, p. 45).

A formação inicial docente, segundo García (1999), está relacionada a um

conjunto de habilidades e competências que poderá sustentar a prática do professor

e, para o autor, a baixa qualidade profissional de um programa de formação inicial

docente pode estar relacionada ao modo como os formadores de professores

relacionam teoria e contextos reais de ensino. De modo mais específico, Campos

(2016, p. 49) é categórica ao dizer que, nessa perspectiva, “alguns cursos de

graduação em Pedagogia não estão conseguindo qualificar os profissionais com as

competências necessárias para o exercício profissional”. Em contrapartida, é válida

a contribuição de García (1999) a esse respeito, para quem não se pode conceber a

formação inicial como um processo cujo resultado é um produto pronto e acabado,

mas é preciso compreendê-la como uma fase inicial de um longo e complexo

processo de desenvolvimento profissional.

Por conseguinte, o passo primeiro para se ultrapassar as lacunas existentes

nos cursos de formação inicial seria investir cada vez mais na chamada formação

continuada, a qual, por muito tempo, não obteve tanto destaque, pois, quando se

falava em formação de professores, esse discurso restringia-se à formação inicial.

Entretanto, hoje em dia, “é impensável imaginar esta situação [...] a formação de

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professores é algo [...] que se estabelece num continuum” (NÓVOA, 2001, p. 1). Em

outras palavras, a formação docente ultrapassa o âmbito da academia, já que se dá

durante toda a vida profissional. Nessa perspectiva,

a formação continuada de professores aparece como uma das dimensões do processo formativo do professor, que poderá contribuir para que este se mantenha sempre numa postura constante de construção e reconstrução de seu próprio conhecimento, tendo em vista as rápidas e profundas transformações ocorridas em todos os setores da vida humana (VIEIRA, 2010, p. 33).

De fato, a formação continuada do docente possibilita o aperfeiçoamento de

seus saberes, o acesso a conhecimentos atualizados e a aproximação de outras

experiências profissionais, o que é essencial para a melhoria da prática pedagógica.

Segundo Campos (2016), em nível de governo federal, isso vem sendo feito, ou,

pelo menos, tentado ser feito, a partir de inúmeros programas voltados para a

formação continuada de docentes, como Pró-Letramento, e-Proinfo, Portal do

Professor, Proinfo Integrado e Gestar II23. Apesar disso, a autora acrescenta que

esses programas parecem não obter o resultado esperado. Mas, por qual razão isso

acontece?

Uma possível resposta a essa indagação pode estar relacionada ao modo como esses programas são idealizados, considerando apenas os aspectos técnicos da profissão, com a intenção de formar especialistas, o que desconsidera em muitos casos os sujeitos dessa profissão – os professores. Por isso, ao pensarmos na formação docente, precisamos ouvir o que os futuros ou já professores falam sobre as suas verdadeiras necessidades de formação (CAMPOS, 2016, p. 55, grifo nosso).

Por conseguinte, a pesquisa que ora se apresenta converge com o

pensamento dessa autora, no sentido de que discutir as crenças de professores dos

anos iniciais do ensino fundamental não deixa de ser uma forma de “ouvir” e, mais

precisamente, de identificar as necessidades de formação desses professores

acerca do dicionário escolar infantil e do seu uso em sala de aula.

Nos últimos anos, um número crescente de estudos tem investigado a

adequação pedagógica e o uso do dicionário em sala de aula (AMORIM, 2003;

GOMES, 2007; HEINRICH, 2007; DARGEL, 2011; NASCIMENTO, 2013). De modo

23 Em seu livro, Campos (2016) faz uma lista e explica sumariamente os referidos programas. Para

mais detalhes, sugerimos a leitura da obra dessa autora.

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geral, essas pesquisas vêm apontando para uma subutilização ou precariedade no

que diz respeito à abordagem desse tipo de obra no âmbito escolar.

Um dos fatores desse problema seria a ausência da Metalexicografia na

formação docente, como ratifica Damin (2005, p. 31):

No cenário brasileiro, a Lexicografia [...] e a Metalexicografia [...] não são consideradas como disciplinas na maioria dos cursos de graduação. [...] é uma tarefa que ainda precisa ser desenvolvida, especialmente para que os professores possam realizar suas atividades didáticas mais bem capacitados a utilizar dicionários em sala de aula.

A realidade apontada pela autora também é reforçada por Nascimento (2013,

p. 19), para quem, nos “currículos dos cursos de Letras não há disciplinas voltadas

especificamente para a Lexicologia, muito menos para a Lexicografia. Também, não

há cursos de formação continuada sobre como usar o dicionário em sala de aula de

forma mais proveitosa”. Por conseguinte, podemos perceber que o problema da falta

de formação docente acerca do uso produtivo do dicionário em sala de aula é algo

que atinge não só a formação inicial, como também a continuada.

Nesse aspecto, as pesquisas realizadas por Gomes (2007) e Dargel (2011)

coadunam-se com o pensamento de Damin (2005) e de Nascimento (2013), pois

seus resultados revelam uma carência na formação acadêmica docente, o que

acaba encaminhando para a escola um número considerável de professores que

não possuem saberes necessários para o uso didático-pedagógico da obra

lexicográfica. Isso pode repercutir diretamente na prática do docente, fazendo com

que ele utilize o dicionário como instrumento auxiliar do processo de ensino-

aprendizagem, porém, de forma superficial e limitada, marginalizando o potencial

informativo e cognitivo dessa obra. Notadamente,

o uso restrito a eventuais consultas para sanar dúvidas a respeito da ortografia ou de um uso semântico em especial não basta, pois seu campo de ação e eficácia é evidente no processo de aquisição lexical em fase escolar, tendo em vista a riqueza de informações propriamente lexicais ofertadas, além da variedade de informações gramaticais evidenciadas em cada verbete. (GOMES, 2007, p. 15).

Assim, a autora aponta para a necessidade de superação dessa prática

tradicional na qual o dicionário é usado apenas quando surgem dúvidas em relação

à ortografia ou ao significado de alguma palavra, especialmente em exercícios

descontextualizados que não levam em conta a gama de informações presentes

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nesse tipo de obra. Na prática de ensino, Nascimento (2013, p. 158) explica que a

ausência de orientação metodológica ou a orientação mal realizada pelo professor

não só limita a exploração do dicionário, como também sedimenta hábitos negativos

nos alunos, como “ler o verbete pela metade, pegar qualquer uma das acepções das

palavras e, o mais perigoso de todos, não usar o dicionário quando necessário para

sanar suas dúvidas”. Por conseguinte, ocorre a desvalorização de momentos de

autoaprendizagem e de crescimento da autonomia do aluno. Uma forma de

combater esse problema seria fazer que

o professor tenha uma formação adequada e conheça a tipologia, a estrutura, a organização do dicionário e como usá-lo adequadamente em sala de aula para que possa orientar seus alunos a usar o dicionário de forma eficiente, tirando proveito de todo o potencial desse tipo de obra, seja no esclarecimento de dúvidas de significado ou ortografia, seja para tirar proveito das informações enciclopédicas, gramaticais, pragmáticas, dentre outras (NASCIMENTO, 2013, p. 20).

Desse modo, uma formação lexicográfica de qualidade garante ao docente

realizar o seu papel de instrumentalizar o aluno no uso dessa ferramenta, levando-o

ao conhecimento do dicionário em sua organização e funcionalidade, já que o

domínio do dicionário, na condição de obra auxiliar no processo de leitura e de

aquisição lexical, requer muito mais do que uma simples decodificação. É pensando

o dicionário como uma ferramenta de utilidade no processo de ensino-aprendizagem

que se pode afirmar o seguinte:

seu manuseio requer muito mais do que simples decodificação. Ele exige do consulente um conhecimento específico, um pré-aprendizado, ou seja, é preciso que ele seja levado a conhecer o dicionário, aprenda a manuseá-lo, possa se tornar “íntimo” dele e, dessa forma, tirar o máximo de proveito (GONÇALVES, 2013, p. 170).

Daí a necessidade de um ensino preocupado com o uso da obra dicionarista,

para que, diante de certos exercícios escolares ou outras situações, o estudante

possa extrair o máximo de proveito que esse tipo de obra pode oferecer para o

sucesso de sua consulta e posterior aprendizagem. Nessa linha de pensamento, é

preciso um trabalho que propicie aprendizado, experiência, familiaridade e

autonomia, pois “o que está em jogo é a formação de leitores e futuros consulentes

capazes de realizar com proficiência e destreza sua pesquisa lexicográfica, com

vistas ao enriquecimento do vocabulário dos mesmos” (GOMES, 2007, p. 173).

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Além disso, Amorim (2003) destaca que, embora esse recurso didático

destine-se funcionalmente à consulta, seja de significado ou de ortografia, ele

proporciona outras possibilidades de utilização, como auxílio em atividades de

leitura, de produção de textos e de análise linguística, conforme argumentam

Amorim (2003) e Dargel (2011). Por seu turno, essas possibilidades incidem

diretamente no desenvolvimento do letramento do usuário do dicionário, pois o

conhecimento elaborado a partir de seu manuseio “será uma excelente ferramenta

para o desenvolvimento da competência leitora e do domínio do mundo da escrita”

(BRASIL, 2012, p. 16).

Nessa mesma perspectiva, Krieger (2007) defende que o uso do dicionário

beneficia o desenvolvimento cognitivo do consulente, conforme é exposto a seguir:

[...] o uso de dicionários de língua portuguesa, objeto aqui focalizado, auxilia, em muito, o desenvolvimento cognitivo do aluno. Entre outros aspectos, podemos destacar sua contribuição para ampliar o conhecimento: do vocabulário, dos múltiplos significados de palavras e expressões, da norma padrão da língua portuguesa, de aspectos históricos, bem como gramaticais dos itens léxicos, de usos e variações sociolinguísticas (KRIEGER, 2007, p. 298).

Desse modo, a autora pontua os aspectos que podem ser desenvolvidos no

estudante por intermédio da obra dicionarista, destacando o conhecimento do

vocabulário, bem como a ampliação do aprendizado e do uso dos diferentes

significados de palavras e expressões, da norma padrão e, inclusive, de informações

relacionadas ao uso e à variação linguística. Em outras palavras, esses aspectos, a

nosso ver, constituem uma bagagem cognitiva imprescindível para que o aluno

obtenha êxito nas práticas sociais de leitura e de escrita. Daí a importância de os

professores estarem cientes e colocarem em prática essas possibilidades de

desenvolvimento cognitivo subsidiadas pelo dicionário de língua portuguesa.

A esse respeito, Dantas (2014, p. 157) salienta que algumas pesquisas

desenvolvidas nos Estados Unidos analisaram a relação entre desenvolvimento do

vocabulário e capacidades cognitivas de dois grupos de estudantes colegiais, em

condições socioeconômico-culturais teoricamente homogêneas, submetidos a

metodologias distintas de trabalho com a obra dicionarista. Como resultado, foi

constatado que o grupo de alunos que havia passado por uma intervenção

envolvendo o uso de dicionários, a partir de “exercícios especiais de vocabulário”,

apresentou um desenvolvimento consideravelmente maior na aprendizagem

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linguística do que o outro grupo de estudantes submetido a uma “metodologia

tradicional” no trabalho com esse material didático, concluindo-se, por meio de

testes, que “o desenvolvimento da inteligência está proporcionalmente ligado ao

enriquecimento da bagagem lexical”. Isto posto, na seção 3.6, discorremos

especificamente sobre o trabalho com o dicionário em sala de aula.

3.6 O ENSINO DO USO E O USO DO DICIONÁRIO ESCOLAR EM SALA DE AULA

Ante uma atividade que requeira o uso de um determinado tipo de material

didático, o professor tem o papel de explicá-lo, bem como de deixar claros os

objetivos pelos quais se fará uso dessa obra (EZQUERRA, 2003). No caso do

dicionário, isso não é diferente, já que estamos pensando-o em sua natureza

didática, apontada anteriormente em Pontes (2009) e em Krieger (2006). Por seu

turno, esse didatismo favorece o emprego do dicionário em sala de aula, uma vez

que as “informações que disponibiliza, os verbetes e demais informações em

apêndice, constituem material que se presta à realização de exercícios linguísticos

pelos alunos” (CORRÊA, 2011, p. 156).

Nessa perspectiva, “o uso que os estudantes farão do dicionário durante a

aprendizagem da língua dependerá das instruções dadas pelo professor. Por isso, é

importante e faz-se necessário que o professor conheça os dicionários e saiba o que

poderá aproveitar deles”24 (EZQUERRA, 2003, p. 13). Mas, infelizmente, no que diz

respeito ao ensino do dicionário em sala de aula, existem professores que “ora não

sabem como ensinar tais habilidades, ora não consideram isso seu papel” (DURAN,

2008, p. 203).

Não há como discutir o uso do dicionário na sala de aula de língua materna e

desconsiderar processos essenciais que estão envolvidos nesse uso, em especial a

leitura, a aquisição lexical (incremento vocabular) e a produção de textos. Dessa

maneira, o processo de aquisição lexical não pode ser visto como “uma passagem

entre o não conhecido e o conhecido, mas um continuum de conhecimentos e

competências” (GOMES, 2011, p. 147) através do qual acontece a aprendizagem de

itens lexicais.

24 “El empleo que hagan del diccionario los estudiantes durante el aprendizaje de la lengua dependerá de las instrucciones que le dicte su profesor. Por eso es por lo que resulta importante y necesario que el profesor conozca los diccionarios y sepa qué partido puede sacar de ellos”.

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Assim sendo, a autora supramencionada enumera os procedimentos básicos,

de ordem cognitiva e pedagógica, que esclarecem o processo de incorporação de

novas palavras ao vocabulário do estudante: “(a) encontrar novos itens lexicais; (b)

fixar a forma do item lexical; (c) conhecer os significados do item lexical; (d) associar

forma e significados do item lexical; (e) usar adequadamente o item lexical em novos

contextos” (GOMES, 2011, p. 148).

O primeiro ponto relaciona-se diretamente à diversidade de textos oferecidos

em sala de aula, pois é o contato com diferentes fontes textuais que permite ao

estudante o encontro de novos itens lexicais. O segundo procedimento diz respeito

ao domínio da grafia da palavra, a qual é relacionada a outros itens lexicais já

conhecidos. O terceiro ponto está relacionado ao conhecimento dos significados

dicionarizados de uma palavra a partir de sua análise em contextos reais de uso

linguístico. A quarta etapa apresenta natureza mnemônica, pois envolve processos

de exploração da memória no que diz respeito à associação entre forma e

significados de palavras. No último passo, o aluno é levado a usar adequadamente

um item lexical, seja em relação à forma, seja em relação ao significado, em

atividades de produção ou recepção de textos orais ou escritos.

Por sua vez, faz-se necessário que sejam observados alguns procedimentos

básicos para que a criança em fase escolar empregue eficientemente o dicionário na

resolução de atividades, o que está relacionado a dois aspectos:

um é o desenvolvimento das habilidades de consulta, o ensino do uso; o outro é o uso integrado às demais atividades da sala de aula, o uso do ensino. A exploração desses dois aspectos, portanto, não depende do lexicógrafo, mas sim do professor. Ao ensinar sobre o uso do dicionário e ao contemplar o uso do dicionário no ensino, o professor cria a oportunidade para que os alunos aprendam a explorar melhor essa ferramenta tanto dentro quanto fora da sala de aula (DURAN, 2008, p. 201).

De um lado, quando se trata de alunos que não dominam conhecimentos

prévios ou sólidos acerca do funcionamento do dicionário, as atividades devem ser

direcionadas para o aprendizado do uso desse tipo de obra. Por outro lado, o

trabalho com a obra lexicográfica pode estar voltado para o seu manuseio como

material de consulta na resolução de diferentes atividades escolares. Em outras

palavras, a primeira tarefa está relacionada ao conhecimento sobre a estrutura e o

funcionamento do dicionário, ao treinamento para o uso desse material por meio de

atividades voltadas para essa finalidade. A segunda tarefa diz respeito ao emprego

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do dicionário como ferramenta de apoio que beneficia o estudante em suas

experiências de aprendizagem.

Embora concorde com o autor citado anteriormente, Nascimento (2013)

acrescenta algo importante a esse respeito:

não adianta nada treinar o uso, desenvolver habilidades de consulta, mas não introduzir o dicionário nas aulas com frequência, como também não adiantará usar frequentemente o dicionário sem um treinamento, sem conhecer todo o seu potencial, suas possiblidades de uso e limitações. Acreditar que isso possa acontecer espontaneamente é uma visão no mínimo ingênua. Enfim, é preciso aliar teoria e prática para que os aprendizes se beneficiem do uso do dicionário.

Desse modo, é possível perceber que os aspectos mencionados em Duran

(2008) também são tratados por Nascimento (2013) em uma dinâmica de

complementaridade. Pouco ou nada adianta propor atividades que requeiram o uso

do dicionário se o aluno não possui conhecimentos prévios acerca de como se

organiza esse tipo de obra. Daí a necessidade de o docente abrir espaço em sua

prática pedagógica para o ensino do uso do dicionário e, em seguida, oportunizar o

seu uso frequente nas atividades escolares. Além disso, é importante reconhecer

que, se comparado a outros textos correntes na mídia, “um dicionário representa um

desafio maior, mais sofisticado, especialmente por seu componente de descrição

linguística, que nele aparece de forma explícita, desafiando o leitor sem preparo

nesse campo de conhecimento” (CORRÊA, 2011, p. 157).

Em conformidade com a visão de Duran (2008) e de Corrêa (2011), Leffa

(2011) também defende a necessidade do ensino do uso do dicionário,

especialmente para que o aluno desenvolva a autonomia necessária para encontrar

a informação que procura, sem depender a todo instante do professor. Ele defende

que o uso produtivo do dicionário ultrapassa a simples busca de significados de

palavras alfabeticamente organizadas. Sendo assim,

é preciso ensinar ao aluno a não se desligar do texto quando vai ao dicionário à procura de uma palavra, retomando a leitura no ponto em que parou do modo mais rápido possível. A palavra tem o sentido que o texto lhe dá; não o significado sugerido pelo dicionário. Saber integrar o dicionário com o texto é uma habilidade importante na leitura. A palavra final na construção do sentido não está nem no dicionário nem no texto, mas no leitor (LEFFA, 2011, p. 127).

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É indispensável, portanto, que o aprendiz entenda que os verbetes nada mais

são do que possibilidades de significados atualizadas no uso real que se faz da

linguagem a partir de diferentes textos.

Em primeiro lugar, uma importante decisão a ser tomada antes de se

trabalhar uma obra dicionarista em sala de aula seria a escolha adequada do

dicionário, já que uma grande certeza que se tem no âmbito lexicográfico “é a de

que os dicionários não são todos iguais e a de que um mesmo dicionário não serve

para toda a vida escolar, porque as distintas fases da vida escolar são marcadas por

distintas necessidades de consulta linguística” (GOMES, 2011, p. 145), conforme a

discussão realizada na sessão 3. 2 deste capítulo.

Além disso, a autora supracitada coaduna com o pensamento de Duran

(2008) e destaca que o ensino do emprego do dicionário necessita de uma

abordagem sobre o que é e como ele é constituído. Em outras palavras,

Inicialmente, o estudante deve dominar a ordenação alfabética, uma vez que o acesso mais comum é a dicionários ordenados alfabeticamente. A par disso, é preciso promover a familiarização com todo o aspecto tipográfico do dicionário; com as marcações, a formatação, as indicações gráficas, a localização de informações, enfim, fornecer os subsídios necessários para que o estudante vislumbre a macroestrutura da obra (GOMES, 2011, p. 146).

As atividades devem ser preparadas objetivando fazer que o aluno seja

familiarizado em relação à organização e ao funcionamento desse material didático.

Dessa maneira, a importância do manuseio do dicionário no dia a dia da sala de aula

encontra respaldo, inclusive, em desenvolver no aluno a postura de reflexão sobre

as suas dúvidas em relação aos usos linguísticos. Isto se concretiza desde que o

estudante seja estimulado a

procurar metodicamente as soluções para seus problemas de vocabulário, manuseando adequadamente o dicionário e selecionando as informações relevantes entre as inúmeras que ele traz, pois se sabe que a consulta ao dicionário na fase escolar vai além das questões de grafia, sinonímia e significação, uma vez que conduz a descobertas sobre a própria linguagem, sobre os modos de dizer ou não dizer, sobre as relações que as palavras podem estabelecer entre si em determinados contextos (GOMES, 2011, p. 146).

Nessa conjuntura, é plausível um trabalho com o dicionário que ultrapasse

atividades de mera listagem de palavras. É preciso vê-lo como integrante de práticas

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discursivas, pois só assim ele se configurará como um instrumento produtivo do

fazer linguístico, tornando-se “mais um dos elementos simbólicos de que os

cidadãos leitores e produtores de textos dispõem para construir, e reconstruir, redes

de significação e construir sujeitos” (COROA, 2011, p. 67). Nada mais interessante,

então, do que fazer que o uso desse material no cotidiano escolar mantenha relação

com o seu papel nas práticas discursivas, como é o caso das atividades de

produção textual, especialmente as de reescrita, em que o dicionário se torna “uma

ferramenta didático-pedagógica que pode aperfeiçoar as versões de textos e auxiliar

nesse processo de descobertas da língua [...]” (BOLZAN, 2012, p. 120).

Ao longo deste capítulo, trouxemos à baila importantes postulados da

Metalexicografia Pedagógica. A princípio, foi realizada uma contextualização dessa

área de estudo dentro do paradigma geral das ciências do léxico (Lexicologia,

Lexicografia, Terminologia e Terminografia). Em seguida, fez-se necessária a

discussão sobre a tipologia dos dicionários escolares proposta pelo PNLD, bem

como o tratamento dos elementos estruturais, da natureza multimodal e de

particularidades discursivas e ideológicas do dicionário escolar infantil. Ao final,

problematizamos o debate acerca da formação de professores e do uso desse

material didático em sala de aula.

No capítulo 4, discorremos sobre os aspectos metodológicos da pesquisa de

que trata esta tese de doutorado.

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4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Neste capítulo, esclarecemos pontos essenciais a respeito do percurso

metodológico executado em nossa investigação. Dessarte, classificamos a pesquisa

de acordo com os objetivos, com os procedimentos técnicos adotados e com a

análise dos dados. Em seguida, apresentamos aspectos importantes sobre os

sujeitos pesquisados, como faixa etária, ano de conclusão do curso superior, nível

de formação acadêmica, tempo de experiência como docente dos anos iniciais do

ensino fundamental, etc. No final, descrevemos como aconteceu o levantamento dos

dados, destacando alguns aspectos dos instrumentos usados para a sua realização,

além dos procedimentos empregados na análise e interpretação do corpus.

4.1 CARACTERIZAÇÃO GERAL DA PESQUISA

A produção da ciência acontece por meio de pesquisa. De acordo com

Gressler (2004, p. 41, grifo nosso), pesquisa é “um inquérito ou exame cuidadoso

para descobrir novas informações ou relações, ampliar e verificar o conhecimento

existente”. Esse processo racional de ampliação de saberes se dá através de uma

sucessão de passos estruturados por meio de métodos, técnicas e outros

procedimentos científicos que imprimem precisão e validade aos resultados a que se

chega (GIL, 2002). Em vista disso, o presente estudo resulta de uma tentativa de

ampliar cientificamente as discussões em torno do construto de crenças, conforme já

assinalamos anteriormente.

Segundo Gil (2002), toda e qualquer classificação é feita por meio de

determinados critérios. Um deles diz respeito aos objetivos da investigação. De

acordo com o autor, bem como com Andrade (1993), as pesquisas podem ser assim

classificadas em exploratórias, descritivas e explicativas. Em relação a essa

tipologia, é importante reiterar que os objetivos deste trabalho visam ao estudo de

aspectos de um determinado grupo, mais especificamente das crenças de

professores do ensino fundamental I sobre o dicionário escolar infantil e sobre como

tratá-lo em sala de aula, considerando para isso a observação, o registro, a análise e

a interpretação do dizer e da ação docente. Entretanto, mais do que analisar e

interpretar essas crenças, pretendemos explicar seus fatores condicionantes, sejam

eles experiências pessoais, acadêmicas ou profissionais. Por isso, o nosso estudo

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pode ser classificado como pesquisa explicativa, a qual “é um tipo de pesquisa mais

complexo, pois, além de registrar, analisar e interpretar os fenômenos estudados,

procura identificar seus fatores determinantes, ou seja, suas causas” (ANDRADE,

1993, p. 98).

No que se refere aos procedimentos adotados para a coleta de dados,

convém destacar o seguinte:

O estudo de campo é um tipo de pesquisa que procura o aprofundamento de uma realidade específica. É basicamente realizado por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas com informantes que captam as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade (HEERDT, LEONEL, 2007, p. 83).

Seguindo essa metodologia, sentimos a necessidade de ir a campo, a fim de

que pudéssemos coletar dados que atendessem aos propósitos de nossa

investigação e assim foi feito. Já que coletamos dados junto aos informantes, seja

no local de trabalho, seja na residência de um deles, conforme explicaremos mais

adiante, nossa investigação pode ser caracterizada como pesquisa de campo

(ANDRADE, 1993) ou estudo de campo (GIL, 2002)25, uma vez que essa

classificação se baseia na maneira pela qual os dados são obtidos, assim como no

fato de que “o estudo de campo focaliza uma comunidade, que não é

necessariamente geográfica, já que pode ser uma comunidade de trabalho, de

estudo, de lazer ou voltada para qualquer outra atividade humana” (GIL, 2002, p. 53)

Desse modo, o período de execução da pesquisa de campo durou

aproximadamente cinco (05) meses, pois a coleta de dados empreendida aconteceu

de 07 de agosto de 2017 a 11 de janeiro de 2018.

No campo científico, existe um embate entre dois paradigmas que sustentam

a feitura da pesquisa científica no tocante à análise dos dados. Um deles valoriza os

métodos quantitativos que, segundo Oliveira (2008), adotam uma abordagem

positivista e focalizam o comportamento humano a partir da operacionalização e

quantificação de variáveis dependentes e independentes, especialmente através de

procedimentos estatísticos. Isso acontece porque a gênese da pesquisa quantitativa

25 A esse respeito, gostaríamos de esclarecer que Marconi e Lakatos (1996), por exemplo, usam o termo pesquisa de campo como uma classificação geral para designar diversas pesquisas que podem ser consideradas de campo. Todavia, para efeito de esclarecimento, ressaltamos nossa filiação aos autores Andrade (1993) e Gil (2002), que entendem pesquisa de campo/estudo de campo como uma tipologia específica das pesquisas científicas.

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pauta-se no pressuposto positivista de que o fazer científico, “diretamente adaptável

das ciências naturais, poderia prover os meios fundamentais tanto para desenvolver

o conhecimento acerca da condição humana, como para desenvolver formas mais

efetivas de lidar com essa condição” (MOREIRA, 2002, p. 45).

Por sua vez, há um outro posicionamento epistemológico acerca da

realização das pesquisas científicas que tem como objeto de estudo o ser humano, o

que enquadra na chamada pesquisa qualitativa. De acordo com Oliveira (2008),

essa abordagem parte da premissa de que o homem se difere dos demais objetos

do mundo físico e, assim, faz-se necessária uma metodologia que considere essa

diferença. Nesse ponto de vista, o estudo da experiência humana deve ser realizado

levando em conta que os sujeitos interagem, interpretando e construindo sentidos,

sendo “não apenas agentes interpretativos de seus mundos, mas também

compartilham suas interpretações à medida que interagem com outros e refletem

sobre suas experiências no curso de suas atividades cotidianas” (MOREIRA, 2002,

p. 51).

As palavras de Hancock (2002, p. 2, tradução nossa) contribuem nessa

discussão, uma vez que, ao diferenciar as pesquisas qualitativa e quantitativa, o

autor explica:

[...] a pesquisa qualitativa está relacionada a achar as respostas a perguntas com as quais começam: por quê? como? de que modo? Por outro lado, a pesquisa quantitativa está mais preocupada com perguntas aproximadamente: quanto? quando? com que frequência? até que ponto?26

Desse modo, a investigação qualitativa não se restringe à mera quantificação

de dados da experiência humana, pois é uma forma de estudo centrada no modo

como os indivíduos interpretam e atribuem sentido às suas experiências e ao mundo

em que eles vivem. Nesse ponto, convém acrescentar que as nossas questões de

pesquisa, já apresentadas na introdução, convergem para o posicionamento de

Hancock (2002), pois, ao buscarem a exploração de aspectos do “como” os

professores atribuem sentido ao dicionário escolar infantil, apontam para a adoção

de um tratamento qualitativo-interpretativista do objeto de estudo.

26 “Qualitative research is concerned with finding the answers to questions which begin with: why? how? in what way? Quantitative research, on the other hand, is more concerned with questions about: how much? how many? how often? to what extent?”

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Nessa perspectiva, a tarefa do pesquisador qualitativo direciona-se para uma

“dupla hermenêutica” advinda do fato de “os investigadores lidarem com a

interpretação de entidades que, por sua vez, interpretam o mundo que as rodeiam”

(OLIVEIRA, 2008, p. 7). No escopo da LA, no qual se insere a presente pesquisa,

essa natureza interpretativista, é tida como

mais adequada para tratar dos fatos com que o linguista aplicado se depara, além de ser mais enriquecedora por permitir revelar conhecimentos de natureza diferente devido ao seu enfoque inovador. Além disso, tendo trabalhado com a vertente positivista em pesquisas anteriores (como muitos pesquisadores em LA, minha iniciação em pesquisa foi feita com base no paradigma positivista), pude detectar como a interpretação de dados de natureza quantitativa fica completamente arbitrária ou especulativa se dados de natureza subjetiva e qualitativa forem ignorados (MOITA LOPES, 1994, p. 332).

Sabendo que foi indispensável para a abordagem de nosso objeto de estudo

a interpretação de dados de natureza subjetiva, tal qual afirmada pelo autor

supracitado, no que diz respeito às crenças dos participantes, podemos dizer que a

metodologia adotada ao longo de nossa investigação se situa dentro do paradigma

qualitativo de construção do saber científico. Aliás, a abordagem qualitativa aplica-

se, de modo satisfatório, ao conceito de crenças adotado neste trabalho, segundo o

qual elas possuem um caráter interpretativo da realidade e são construídas

dialogicamente nas interações de que as pessoas participam ao longo da vida

(DUFVA, 2003; SOARES, 2005; BARCELOS, 2006; SILVA, 2007; ROCHA, 2010;

BRITO, 2015).

Já discutimos no primeiro capítulo desta tese que, dentre as principais

abordagens sugeridas por Barcelos (2001) para o estudo das crenças, a presente

pesquisa se situa na abordagem contextual. Por seu turno, é válido lembrar que

Vieira-Abrahão (2006) enquadra essa abordagem dentro de uma perspectiva

qualitativa, o que ratifica ainda mais o que expusemos no parágrafo anterior. Sendo

assim, antes de aprofundarmos os procedimentos empregados, torna-se relevante

apresentarmos as principais informações acerca dos sujeitos que participaram de

nossa investigação.

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4.2 O PERFIL DOS PARTICIPANTES

Já dissemos, anteriormente, que as crenças analisadas em nossa pesquisa

pertencem a dois (02) professores de 5º ano do ensino fundamental I, da rede

municipal de educação, da cidade de Brejo do Cruz - Paraíba. Por questões éticas,

próprias do fazer científico, será mantido o sigilo quanto à identidade pessoal dos

professores participantes, bem como o nome da escola onde eles exercem o

magistério. Para tanto, será utilizada a codificação P1 e P2, em referência aos

informantes, dos quais apresentamos, a seguir, algumas informações relevantes

obtidas a partir da primeira parte do questionário por eles respondido.

De antemão, ressaltamos que os critérios de seleção/inclusão dos sujeitos a

serem pesquisados foram: 1 - ser docente do 5º ano do ensino fundamental I; 2-

pertencer ao quadro efetivo de funcionários da secretaria municipal de educação de

Brejo do Cruz – PB; e 3 - atuar na unidade escolar urbana com o maior número de

alunos matriculados na referida etapa de ensino no ano letivo de 2017. Nesse

ínterim, a escolha pelo 5º ano ocorreu devido ao fato de esta ser a série mais

avançada dos anos iniciais do ensino fundamental, pressupondo-se, assim, que os

seus alunos possuem um maior domínio no que se refere à leitura e à escrita,

permitindo aos docentes amplas possibilidades de inserção do uso do dicionário

escolar infantil nas atividades propostas em sala de aula.

O segundo critério levou em conta o fato de que, na época de realização do

estudo de campo, pertencíamos ao quadro de funcionários da referida rede

municipal de ensino, o que facilitou o contato com a diretora da escola onde a

pesquisa ocorreu, bem como com os docentes investigados. Além disso, optamos

por trabalhar com funcionários efetivos porque o estudo de campo com professores

contratados poderia ser comprometido em virtude de esses sujeitos não possuírem

estabilidade no cargo que ocupam e, às vezes, a depender das demandas da

secretaria de educação, são transferidos para outras escolas ou têm o seu contrato

encerrado.

O terceiro critério está relacionado à justificativa apresentada no primeiro. A

seleção de docentes que atuavam na escola da zona urbana com mais estudantes

matriculados reside na ideia de que um número maior de alunos implica,

consequentemente, uma maior diversidade de perfil estudantil e isso, a nosso ver,

exigiria que os professores propusessem metodologias diferenciadas para o uso do

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dicionário em sala de aula, a fim de atender às diferentes necessidades de

aprendizagem dos discentes.

Com relação ao levantamento do perfil dos participantes, a primeira parte do

questionário aplicado (APÊNDICE A) é constituída por dados pessoais e

profissionais dos informantes, como nome completo, idade, ano de conclusão da

licenciatura em Pedagogia, formação acadêmica, tempo de exercício docente nos

anos iniciais do ensino fundamental, nome da instituição e série em que o informante

leciona. As respostas fornecidas pelos professores foram sistematizadas

sumariamente no quadro 04:

QUADRO 04: Dados pessoais e profissionais dos professores

Código Idade Ano de conclusão

da licenciatura

Titulação máxima

Tempo de exercício docente

Série em que leciona

P1 32 anos 2010 Especialista 02 anos 5º ano

P2 52 anos 2005 Especialista 30 anos 5º ano

Fonte: Elaborado pelo autor

Percebemos, então, que o participante P1 tem 32 anos de idade e exerce há

apenas dois anos a função de docente nos anos iniciais do ensino fundamental. Em

relação à sua formação acadêmica, possui Licenciatura em Pedagogia, pela

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), concluída em 2010, bem

como pós-graduação lato sensu em Psicopedagogia Clínica e Institucional, pelas

Faculdades Integradas de Patos (FIP), concluída no ano de 2012. Além destes

dados, vale destacarmos, também, que o referido participante é ainda licenciado no

curso de Matemática, pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), concluído em

2016.

O informante P2 possui 52 anos de idade, tendo 30 anos de experiência de

ensino nos anos iniciais do ensino fundamental. É licenciado em Pedagogia, pela

Universidade do Vale do Acaraú (UVA), e possui Especialização em Psicopedagogia

Clínica e Institucional, pelo Instituto Superior de Educação São Judas Tadeu,

concluída no ano de 2015.

Não obstante a característica básica de atuarem no 5º ano do ensino

fundamental, verificamos, diante do exposto, algumas informações relevantes que

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remetem a uma discrepância significativa em relação ao perfil profissional dos

sujeitos pesquisados neste estudo.

No que tange à faixa etária, existe uma diferença máxima de 20 anos entre

os docentes investigados. Quanto ao término da licenciatura em Pedagogia,

percebemos que ambos os professores licenciaram-se no início da primeira década

do século XXI. Todavia, P2 expôs ter experiência de ensino antes mesmo de ser

licenciado no curso de Pedagogia, o que ocorreu devido ao fato de ele possuir o

curso Normal, antigo magistério.

Quanto ao tempo de exercício docente nos anos iniciais do ensino

fundamental, notamos um contraste expressivo, no qual podemos situar os sujeitos

investigados em polos diferentes que vão do docente que atua há mais tempo neste

nível de ensino, P2, àquele que atua há menos tempo, P1, totalizando, assim, uma

diferença máxima de 28 anos de experiência. Contudo, vale reiterarmos que as

informações pessoais e profissionais acerca desses sujeitos foram coletadas e

expostas nesta seção como uma forma de contextualizar os participantes da

pesquisa, situando, assim, o nosso possível leitor. Por conseguinte, frisamos que

elas não serão retomadas comparativamente na análise dos dados.

Na seção 4.3, descrevemos as técnicas de coleta de dados empregadas e

esclarecemos como ocorreu o tratamento desses dados.

4.3 A COLETA E O TRATAMENTO DOS DADOS

O estudo acerca de crenças e ensino-aprendizagem de línguas apresenta

múltiplas possibilidades de instrumentos de coleta de dados: questionários,

entrevistas, autorrelatos, observações de aulas, notas de campo, diários, gravações

de áudio e vídeo, sessões de visionamento e até mesmo desenhos (VIEIRA-

ABRAHÃO, 2006). Nesta investigação, utilizamos, em primeiro lugar, um tipo de

questionário fechado baseado na escala de Likert, a qual

é uma escala de classificação amplamente utilizada, que exige que os entrevistados indiquem um grau de concordância ou discordância com cada uma de uma série de afirmações sobre os objetos de estímulo. Tipicamente, cada item da escala tem cinco categorias de resposta, que vão de ‘discordo totalmente’ a ‘concordo totalmente (MALHOTRA, 2001, p. 255).

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Esse formato de questionário fechado é baseado em um outro questionário

chamado de inventário ou BALLI (Beliefs About Learning Inventory), que, conforme

Barcelos (2001), foi elaborado e desenvolvido por Horwitz (1985). É amplamente

empregado nos estudos de crenças e nele “são incluídas afirmações que devem ser

assinaladas dependendo do grau de concordância ou discordância do participante”

(VIEIRA-ABRAHÃO, 2006, p. 221).

Neste sentido, os dois participantes de nossa pesquisa responderam a um

questionário fechado do tipo Likert-scale (APÊNDICE B), o qual contém um total de

10 afirmações que evidenciam crenças acerca do dicionário escolar infantil,

identificadas a partir do trabalho de Pontes e Santiago (2009) e da leitura de outras

pesquisas da área da Metalexicografia Pedagógica. Conforme pode ser observado

no apêndice supramencionado, cada item/afirmação do questionário apresenta as

seguintes opções de respostas/marcação: 1) discordo totalmente; 2) discordo às

vezes; 3) não tenho opinião formada a respeito do assunto; 4) concordo às vezes; 5)

concordo plenamente. Nesse ponto, gostaríamos de acrescentar a complexidade de

diferenciar, de fato, as respostas 2 e 4. No entanto, elas foram assim formuladas

justamente como uma tentativa de instigar a tomada de posição e a argumentação

dos sujeitos investigados, uma vez que essas e as demais respostas foram

retomadas e explicadas no momento da entrevista, conforme será explicitado mais

adiante.

Para Andrade (1993) e Santos (2001), é importante que o questionário

utilizado em uma pesquisa científica seja submetido à chamada pilotagem ou pré-

teste, como forma de proporcionar sua melhoria e adequação aos objetivos, sujeitos

e fenômeno investigados. Por isso, no dia 10 de agosto do ano de 2017, foi

realizada a pilotagem do questionário preliminar junto aos sujeitos explicitados na

seção 4.2. Neste caso, acrescentamos uma terceira folha a esse instrumento, na

qual estava escrito: “A sua participação e opinião é muito importante para a

realização desta pesquisa. Portanto, caso você tenha alguma sugestão a dar em

relação ao questionário respondido (parte 1 e parte 2), escreva-a a seguir”. Os

professores responderam ao questionário fechado, porém não relataram dificuldade

de entendê-lo, nem sugeriram mudanças. Diante desse fato, o questionário aplicado

na data supracitada tornou-se o instrumento definitivo do primeiro momento da

coleta de dados.

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Acrescentamos que, com a anuência da diretora e da coordenadora

pedagógica, os docentes responderam aos questionários, sob a presença do

pesquisador, durante o horário do planejamento pedagógico semanal da unidade

escolar onde trabalhavam. Após essa etapa, as respostas dadas ao questionário

possibilitaram um diagnóstico preliminar das crenças dos docentes participantes de

nossa pesquisa. Entretanto, Vieira-Abrahão (2006, p. 221) argumenta que, para um

estudo adequado das crenças, “nenhum instrumento é suficiente por si só, mas a

combinação de vários instrumentos se faz necessária para promover a triangulação

de dados e perspectivas”. Por isso, as respostas dos questionários aplicados

serviram para a identificação de alguns dados relevantes a serem explorados e

contrapostos às informações obtidas nos outros dois instrumentos aplicados.

Num segundo momento, fizemos uso da observação de aulas. De acordo com

Bastos (2009), na técnica de observação, é feito o uso dos sentidos humanos para a

realização do registro de determinados parâmetros da realidade estudada, não se

restringindo a somente ver e ouvir esta, pois se apresenta enquanto um

procedimento de grande relevância para a análise crítica dos fatos investigados. Na

metodologia de investigação de crenças, a observação de aulas possibilita ao

pesquisador uma documentação sistemática de ações e ocorrências de relevância

para o seu problema e objetivos de investigação.

Neste sentido, a averiguação das práticas pedagógicas dos docentes frente

ao dicionário escolar infantil aconteceu mediante a observação de aulas. Essa

técnica, segundo orienta Vieira-Abrahão (2006, p. 225), “possibilita que os

pesquisadores documentem sistematicamente as ações e as ocorrências que são

particularmente relevantes para suas questões e tópicos de investigação”.

Existem diferentes nomenclaturas para os tipos de observação enquanto

técnica de coleta de dados da pesquisa científica. Em nosso trabalho, adotamos a

modalidade denominada de observação direta intensiva não-participante

(ANDRADE, 1993), uma vez que observamos e registramos de modo relativamente

objetivo o que aconteceu em sala de aula, em termos de prática pedagógica dos

professores pesquisados, sem que tenhamos participado ativamente nas atividades

realizadas nesse contexto. Além do mais, destacamos que o registro da observação

das aulas ocorreu mediante a elaboração de notas de campo, entendidas como

“descrições ou relatos de eventos no contexto de pesquisa que são escritos de

forma relativamente objetiva” (VIEIRA-ABRAHÂO, 2006, p. 226, grifos nossos).

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Desse modo, o procedimento técnico de observação de aulas assegurou-nos

a inserção de nossa pesquisa na chamada abordagem contextual (BARCELOS,

2001) das crenças de professores, a qual possibilita o exame mais fidedigno da

relação entre crenças e atitudes dos docentes investigados. A escolha pela

observação de aulas e, consequentemente, pela produção de notas de campo

(APÊNDICE F; APÊNDICE G) como um procedimento de coleta de dados justifica-

se devido ao “fato de a abordagem de ensinar revelar-se com maior intensidade e

clareza na prática do que no discurso do professor, haja vista nem sempre os

educadores agirem da maneira que eles consideram ideal para ensinar e aprender

uma língua” (ARAÚJO, 2006). Portanto, de 17 a 23 de agosto de 2017, observamos

um total de 10 aulas, de turmas do 5º ano do ensino fundamental, dos professores

participantes desta pesquisa.

Embora tenhamos adotado a técnica de observação caracterizada por

Andrade (1993) como não-participante, compreendemos que a própria natureza “da

pesquisa na escola ou no contexto organizacional, implica que o pesquisador seja

participante, embora na prática de observação participante possa haver diferentes

níveis de envolvimento na situação da pesquisa” (VIEIRA-ABRAHÃO, 2006, p. 226).

Por isso, acompanhando ainda Sant’Ana (2010, p. 370), podemos afirmar que toda

pesquisa de campo é participante,

mas com graus diferentes de participação dos sujeitos no universo pesquisado, pois, mesmo naquela baseada em contrato deliberado de não intervenção, a relação intersubjetiva pesquisador-pesquisado produz sempre alguma interferência no processo investigativo.

Em razão disso, reconhecemos que a dinâmica de sala de aula, bem como as

atitudes e, consequentemente, as práticas pedagógicas dos professores

pesquisados podem ter sido afetadas, de alguma forma, pela nossa presença em

suas aulas e pelo fato de estarem participando de uma investigação científica a nível

de doutorado. Aliás, para que pudéssemos analisar sistematicamente a relação

entre crenças e práticas de ensino, foi acordado com os docentes que, nas aulas

observadas, eles deveriam trabalhar o dicionário escolar infantil da maneira que

desejassem. Acreditamos, porém, que esses fatores não inviabilizam a validade dos

dados coletados, pois notamos que os docentes se empenharam e possivelmente

agiram pedagogicamente da maneira que eles consideravam ideal. A validação

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desses dados é feita, além do mais, por meio de sua triangulação com as

informações recolhidas nos outros instrumentos de coleta.

No terceiro momento da pesquisa de campo, fizemos uso da entrevista

semiestruturada. De acordo com Vieira-Abrahão (2006), nesse tipo de entrevista, o

pesquisador lida com questões que assumem o papel de orientar a entrevista, as

quais não são necessariamente propostas em uma ordem fixa, por serem marcadas

por uma flexibilidade, além de ser possível a adequação e a incorporação de novas

perguntas, conforme o feedback entre pesquisador e entrevistado e conforme as

singularidades das respostas colhidas nos questionários.

Esse tipo de entrevista é, pois, considerado um “instrumento que melhor se

adequa ao paradigma qualitativo por permitir interações ricas e respostas pessoais”

(VIEIRA-ABRAHÃO, 2006, p. 223). Nessa perspectiva, a execução dessa etapa

ocorreu mediante o contato preliminar por meio de ligação telefônica pouco tempo

depois de os docentes responderem ao questionário e terem sido observados,

sendo que deixamos esses sujeitos ficarem à vontade para decidir local e data das

entrevistas. Após esse contato, foi combinado com os dois informantes que as

entrevistas aconteceriam no dia 11 de janeiro de 2018 e, consequentemente, assim

foi feito. Esta última etapa de coleta aconteceu na própria residência de um dos

professores, no caso de P2, bem como em uma sala da instituição em que o outro

trabalhava, no caso de P1. Enfatizamos que a etapa da entrevista semiestruturada,

gravada em áudio, teve o intuito de esclarecer as respostas apresentadas nos

questionários aplicados e outras questões que se fizeram necessárias para o

cumprimento dos objetivos de nossa pesquisa.

Em seguida, as entrevistas realizadas foram transcritas totalmente

(APÊNDICE H; APÊNDICE I) e, tendo em vista nossas perguntas de pesquisa e

objetivos específicos, foram selecionados os trechos considerados mais

significativos que, somados às informações coletadas nos questionários e nas

observações de aulas, serviram de base para a análise apresentada no capítulo 5.

Para uma melhor compreensão das transcrições das entrevistas, ressaltamos que

tivemos como base os pressupostos da Análise da Conversação discutidos por

Marcuschi (2000), e empregamos a sinalização presente no Quadro 05:

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QUADRO 05: Siglas e sinais utilizados nas transcrições

Pesquisador ............................................................................................................... P Professor 1 ............................................................................................................... P1 Professor 2 ............................................................................................................... P2 Frase interrogativa ..................................................................................................... ? Frase exclamativa ....................................................................................................... ! Pausa breve ................................................................................................................ , Pausa final/longa ......................................................................................................... . Truncamento ............................................................................................................... / Alongamento da vogal ............................................................................................... :: Sobreposição de vozes ............................................................................................... [ Exemplificações ....................................................................................................... “ ” Comentário do pesquisador ...................................................................................... ( ) Ênfase na pronúncia ............................................................. LETRAS MAIÚSCULAS Supressão de trechos27 .......................................................................................... [...]

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Marcuschi (2000)

Isto posto, acentuamos que o nosso corpus é constituído por: a) respostas

obtidas em questionários fechados do tipo Likert-scale, as quais possibilitaram um

diagnóstico (descrição) preliminar das crenças investigadas; b) notas de campo, que

buscaram relatar minuciosamente as práticas docentes envolvendo o uso do

dicionário escolar infantil; e c) transcrições de entrevistas individuais

semiestruturadas, que visaram a esclarecer os dados obtidos nos outros

instrumentos, dentre outras questões que se fizeram necessárias.

Sendo assim, partimos do pressuposto de que a triangulação dos dados

obtidos nos três instrumentos aplicados (questionários, observação de aulas e

entrevistas) e o seu confronto com o referencial teórico construído fornecem

informações relevantes para refletirmos em torno das crenças dos professores do

ensino fundamental I sobre o dicionário escolar infantil e sobre o uso desse material

didático em sala de aula, no que se refere à realidade investigada nesta pesquisa

contextual.

A análise dos dados seguiu um enfoque qualitativo e foram consideradas as

teorias discutidas no referencial desta tese. Partindo do pressuposto de que as

crenças são “Ideias ou conjunto de ideias para as quais apresentamos graus

distintos de adesão” (SILVA, 2005, p. 77, grifo nosso), refletimos sobre as crenças

de professores do ensino fundamental I acerca do dicionário escolar infantil e do seu

27 É importante destacar que a supressão ou omissão de determinados trechos foi realizada, didaticamente, somente na etapa de análise, atentando-se para a não alteração do sentido das falas dos informantes.

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uso em sala de aula, tendo como critério analítico inicial os diferentes graus de

aceitação e não aceitação dos sujeitos investigados às declarações apresentadas no

questionário.

Por conseguinte, as respostas apresentadas pelos professores no

questionário foram analisadas comparativamente, sendo confrontadas com dados

coletados na etapa da entrevista. Em seguida, analisamos os momentos que

consideramos mais relevantes das aulas observadas, confrontando-os também com

informações obtidas nas entrevistas, a fim de discutirmos as posições valorativas

subjacentes às ações dos sujeitos investigados em relação ao uso da obra

dicionarista. Na terceira parte da análise, abordamos dados das entrevistas que

foram selecionados levando em conta algumas categorias tidas como fontes de

crenças: a própria prática pedagógica, a metodologia empregada por um colega de

trabalho, a formação inicial e continuada e a experiência como estudante.

Neste capítulo, focamos na metodologia da tese. Na seção 4.1, discorremos

sobre a caracterização deste estudo a partir de três critérios, a saber: quanto aos

objetivos, pesquisa explicativa; quanto aos procedimentos, pesquisa de campo; e

quanto à análise dos dados, pesquisa qualitativa. Em seguida, expusemos o perfil

dos dois professores informantes, no qual destacamos idade, ano de conclusão da

licenciatura, titulação acadêmica e tempo de exercício docente nos anos iniciais do

ensino fundamental. Na seção 4.3, elucidamos como ocorreu a coleta das

informações, explicitando os instrumentos usados para esse fim, além deixarmos

claros os procedimentos empregados no tratamento dos dados.

Após essas observações, passamos agora para o próximo capítulo em que

sistematizamos a análise e a discussão de nosso objeto de estudo.

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5 CRENÇAS DE PROFESSORES ACERCA DO DICIONÁRIO ESCOLAR

INFANTIL E DO SEU USO EM SALA DE AULA

Neste capítulo, analisamos e discutimos os resultados obtidos através da

análise do corpus28 levantado, levando em consideração as questões de pesquisa

propostas para o presente estudo. A princípio, discorremos sobre as crenças dos

professores acerca do dicionário escolar infantil. Pouco depois, analisamos como se

dá a relação entre crença e ação docente a partir do uso que os informantes fizeram

do dicionário em suas aulas. Por fim, apontamos alguns fatores e algumas

experiências pessoais que podem influenciar as crenças dos docentes acerca desse

material didático.

5.1 CRENÇAS SOBRE O DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL

Neste tópico, propomo-nos a responder à primeira questão de pesquisa, que

trata diretamente das crenças dos informantes: de que modo as crenças de

professores do ensino fundamental I sobre o dicionário escolar infantil podem ser

interpretadas? Para responder a essa pergunta, consideramos pertinente iniciar a

análise abordando o item um do questionário aplicado, sobre o qual destacamos as

seguintes informações em (01)29:

Crença P1 P2

(01) O bom dicionário é o mais conhecido concordo totalmente

concordo totalmente

É possível perceber que ambos os professores pesquisados concordaram

totalmente com a ideia segundo a qual “O bom dicionário é o mais conhecido”. No

entanto, conforme foi destacado no referencial teórico desta tese, embora as

crenças possuam uma natureza social, são marcadas pela individualidade, uma vez

28 Para efeito de esclarecimento, entendemos corpus conforme a perspectiva adotada na Linguística de Corpus, uma vez que os dados linguísticos aqui levantados encontram-se em formato eletrônico, possuem representatividade e tamanho finito, além de estarem disponibilizados (ver APÊNDICES) para reuso em futuras pesquisas. Cf. Aluísio e Almeida (2006).

29 Para evitarmos ambiguidade e facilitar a remissão, ressaltamos que numeramos sucessivamente as respostas do questionário, as amostras de fala e os trechos das notas de campo, à medida que são expostos ao longo da análise. Desse modo, os itens do questionário não são numerados conforme numeração apresentada no próprio instrumento de coleta de dados (APÊNDICE A).

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que cada sujeito é único e apresenta uma maneira própria de apreender

experiências, interpretar a realidade e posicionar-se frente aos acontecimentos do

mundo. Isso se relaciona ao carácter ambivalente das crenças (SOARES, 2005;

BARCELOS, 2006). Sendo assim, é oportuno destacarmos o que os docentes

argumentaram, durante a entrevista, em relação ao que foi afirmado no primeiro item

do questionário, como transcrevemos em (02) e (03):

(02) Isso, porque é o tipo da coisa, é:: a propaganda é a alma do negócio. Quando a gente vê um dicionário que não, é muito bom, os próprios professores eles conversam entre si, “ah, olhe, eu trabalhei com esse e não gos/faltou isso, faltou aquilo faltou aquilo”. E:: quando vê outros falando bem do dicionário, ele vai cada vez mais vai ficar muito mais utilizado. A gente sabe que a maioria das escolas tem o dicionário Aurélio, né?, e eu acredito que ele é um bom dicionário, certo?, um bom dicionário, o Aurélio, porque senão ele não taria em tantas escolas, né?, ele é muito conhecido o dicionário Aurélio (P1). (03) [...] eu entendi o mais conhecido, assim, que tem mais/mais usado na escola, o mais utilizado, no caso. Então é mais conhecido, já vem de outros anos, por exemplo, as meninas lá é:: do ciclo de alfabetização, elas já vem trabalhando com o dicionário, que como/no caso/eu tô no quinto ano, mas eles já têm uma vivência de dicionário, tem aquela sequência, então ele tá sendo o melhor assim porque já tem um conhecimento (P2).

P1 justifica sua crença dizendo, inicialmente, que “a propaganda é a alma do

negócio”. Neste caso, a “propaganda” a que ele se refere seria o diálogo entre

professores, os quais apontam para outros colegas as lacunas de determinados

dicionários, o que acontece tendo em vista uma reflexão proporcionada pelas suas

experiências de trabalho envolvendo o uso desse material em sala de aula,

conforme pontua P1. Mais adiante, o docente acrescenta que um grande número de

escolas possui em seu acervo didático o dicionário Aurélio, sobre o qual o sujeito

investigado afirma o seguinte: “eu acredito que ele é um bom dicionário, certo?, um

bom dicionário, o Aurélio, porque senão ele não taria em tantas escolas, né?, ele é

muito conhecido o dicionário Aurélio”.

De acordo com as palavras do docente, o fato de o dicionário Aurélio estar

presente em muitas instituições de ensino faz com que ele se apresente como um

bom dicionário. Porém, é preciso ter cuidado quanto a essa ideia, a qual está

relacionada a “uma boa publicidade e uma excelente reputação que uma obra tem

na história de um idioma” (PONTES; SANTIAGO, 2009, p. 111). Não é pelo motivo

de um dicionário ser muito conhecido, ser divulgado na mídia ou estar presente em

larga escala nas escolas, que o docente não deva analisá-lo criticamente, pois isso

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pode acarretar uma espécie de sacralização de um dicionário pela razão de ele

pertencer a determinada marca ou autor, o que não é interessante quando se busca

a qualidade do ensino ofertado. Em vista disso, o professor deve adotar,

constantemente, uma postura crítica ante o material didático por ele utilizado em sua

prática pedagógica, como bem exemplifica o trecho (02), no qual P1 faz referência

ao diálogo que acontece entre professores: “ah, olhe, eu trabalhei com esse e não

gos/faltou isso, faltou aquilo faltou aquilo”. Essa postura crítica docente é formada,

portanto, pela identificação e pela reflexão sobre possíveis incongruências na obra

dicionarista, afinal “há arbitrariedades manifestadas pelos dicionários, sobretudo

quando não baseados em corpora sistemáticos e representativos de uma língua”

(ALVES, 1990, p. 85).

Apesar de ter assinalado a mesma resposta que P1, no item um do

questionário, foi possível verificar que P2 apresentou outro raciocínio como

justificativa. O sujeito P2 acredita que o bom dicionário seria aquele mais conhecido

e usado no âmbito da escola, desde as séries anteriores ao 5º ano, como é

destacado nesta transcrição de sua fala: “é mais conhecido, já vem de outros anos,

por exemplo, as meninas lá é:: do ciclo de alfabetização, elas já vem trabalhando

com o dicionário [...] então ele tá sendo o melhor assim porque já tem um

conhecimento”. De acordo essa fala, o docente atribui como “sendo o melhor” a obra

lexicográfica que já é conhecida, trabalhada e utilizada pelos alunos desde o ciclo de

alfabetização.

No entanto, já discutimos na seção 3.2 de nosso referencial que, a partir do

PNLD – Dicionários, foram delineados critérios e paradigmas para a produção de

dicionários adequados às especificidades cognitivas e necessidades do público

discente de cada etapa de ensino (GOMES, 2007; BRANGEL, 2013). As palavras de

P2 parecem coadunar-se com um uso indistinto dos diferentes tipos de obra

dicionarista escolar apresentados em Brasil (2012), o que será esclarecido e

aprofundado mais adiante a partir da interpretação e análise das outras crenças

desse sujeito.

Em relação ao segundo item do questionário, P1 e P2 assinalaram respostas

antagônicas, como indicam os dados em (04):

Crença P1 P2

(04) Os dicionários são todos iguais discordo totalmente

concordo às vezes

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Podemos ver, em (04), que P1 discordou totalmente e P2 concordou às vezes

acerca do enunciado relacionado à igualdade de todos os dicionários. Vejamos,

agora, o que os docentes argumentaram durante a entrevista, em (05) e (06):

(05) Isso. Eu tive a experiência até lá da escola (citou o nome da escola onde trabalha) de ver isso, a gente tem lá vários dicionários, de editoras diferentes, e algumas palavras é:: não eram encontrada em alguns dicionários, e:: outras palavras que eram encontradas, mas apresentavam, assim, significados diferente, que daria até pra ter uma uma, assim, por mais que eles quisessem mostrar significados semelhantes, mas tinham ideias que podiam ter um entendimento diferente entre elas (P1). (06) [...] eles não são todos iguais. Tem alguns com algumas diferenças, como tem os ilustrados, né?, uns com/acho que depois a gente vai falar isso. Teve alguns lá nas nossas aulas que:: eles não encontravam todas as palavras, não era?, e tinha outros que “Ah, eu encontrei”, então há essa diferença (P2).

Mesmo apresentando um grau diferenciado de adesão ao item presente em

(04), ambos os professores justificam suas crenças a partir da experiência empírica

que tiveram em sala de aula envolvendo o uso do dicionário. P1 alude ao fato de o

acervo da escola onde trabalha ser formado por dicionários de diferentes editoras, o

que, para ele, já é um indício contrário à ideia de os dicionários serem todos iguais.

Em seguida, o docente fundamenta o seu ponto de vista dizendo que algumas

palavras pesquisadas pelos alunos eram encontradas em alguns dicionários e em

outros não, já quando uma mesma palavra era encontrada em duas ou mais obras

lexicográficas, ele observou diferenças semânticas quanto à microestrutura,

especialmente no que se refere à definição: “apresentavam, assim, significados

diferente [...] por mais que eles quisessem mostrar significados semelhantes, mas

tinham ideias que podiam ter um entendimento diferente entre elas”.

É oportuno destacarmos que essa crença em torno de uma suposta

univocidade do dicionário há tempos que já vem sendo rebatida pelos estudos da

Lexicografia Pedagógica, o que auxiliou, inclusive, na reflexão de que não bastaria

apenas recortar um número de palavras-entradas de um dicionário geral para se

obter um dicionário escolar. Ao contrário, a discussão sobre as diferenças e

especificidades das obras lexicográficas fez com que o MEC garantisse a

distribuição, nas escolas públicas, de “dicionários, de fato, escolares e não meros

recortes de obras mais amplas da língua portuguesa” (GOMES, 2007, p. 173).

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P2 também rebateu essa crença, afirmando que os dicionários apresentam

algumas diferenças entre si, destacando ainda o caso específico das obras

dicionaristas que possuem ilustração. Para ele, essa diferença pode ser explicada,

inclusive, pela seguinte situação ocorrida em suas aulas: “Teve alguns lá nas nossas

aulas que:: eles não encontravam todas as palavras, não era?, e tinha outros que

‘Ah, eu encontrei’, então há essa diferença”. Neste caso, ao ressaltarem a presença

e a ausência de verbetes e definições, bem como de ilustrações, P1 e P2

evidenciaram a diversidade micro e macroestrutural da obra lexicográfica escolar.

A propósito, é pertinente frisar que, se compararmos a resposta dada por P2

no questionário ao que ele argumenta na entrevista, é possível percebermos uma

espécie de contradição nos dados fornecidos pelo docente. No primeiro instrumento,

ele concorda parcialmente com a crença de que os dicionários são todos iguais. Em

contrapartida, a justificativa por ele apresentada, na entrevista, está mais

direcionada para uma discordância com relação à referida crença. Diante dessa

particularidade, torna-se oportuna a seguinte reflexão: o que poderia ter motivado

esse posicionamento, a nosso ver, antagônico?

Isso pode estar relacionado ao fato de que, quando respondeu ao

questionário, P2 ainda não havia ministrado as aulas observadas em nossa

investigação, as quais envolviam o uso do dicionário escolar. Assim, a experiência

vivenciada nessas aulas pode ter favorecido, de alguma forma, uma mudança na

crença desse docente, já que ele justifica o seu posicionamento pautando-se no que

ocorreu no contexto de sala de aula: “[...] Teve alguns lá nas nossas aulas que:: eles

não encontravam todas as palavras, não era?, e tinha outros que ‘Ah, eu encontrei’,

então há essa diferença”. Nesse caso, as palavras de Richardson (1996) e de

Barcelos (2006) são bastante esclarecedoras, já que, para os autores, não só as

crenças podem interferir nas ações, mas as experiências e reflexões acerca dessas

ações podem influenciar uma mudança nas posições valorativas dos sujeitos, bem

como favorecer a formação de novas crenças.

O terceiro item do questionário versava sobre a posição valorativa dos

professores quanto à objetividade e neutralidade do dicionário. Suas respostas estão

transcritas e analisadas em (07):

Crença P1 P2

(07) O dicionário é uma obra objetiva e neutra concordo às vezes

discordo às vezes

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Como vemos, enquanto P1 assinalou “concordou às vezes”, P2 respondeu

“discordo às vezes”. Por conseguinte, destacamos, em (08), a fala do informante P1

em relação a essa crença:

(08) Às vezes. É:: ela é objetiva, né?, porque ela tá diretamente com o significado [...] das palavras. Neutra porque ela não tem [...] um lado “a” nem um lado “b” pra dar o significado dela. Ela vai procurar demonstrar [...] a ideia, como diz assim, CRUA, daque/aquela palavra significa aquilo. Então ela é neutra. Não é a opinião de fulano, não é que sicrano acha que aquela palavra é isso, que é aquilo que é aquilo. Não, ela é neutra. Ela é de acordo com o significado real dela [...] (P1).

Notamos que, para o docente, o dicionário é objetivo por ser prático, direto no

seu papel de apresentar informação semântica sobre as palavras. Já em relação à

neutralidade desse material, o docente argumenta que, ao explicar semanticamente

uma palavra, o dicionário não apresenta um lado “a” ou um lado “b”, como se ele

conseguisse isentar-se de aspectos ideológicos próprios da linguagem. Essa crença

pode estar relacionada à aceitação social da autoridade linguística desse objeto ou

ainda à sua organização técnica, consoante é explicado por Cuadrado (2011).

Perante o exposto em (08), é possível afirmarmos que P1 não abordou a

neutralidade do ponto de vista ideológico, mas na perspectiva de um significado

“único”. Entretanto, as pesquisas acerca da relação entre ideologia e dicionário têm

comprovado a inviabilidade de uma leitura da obra lexicográfica que não leva em

conta os significados naturalizados e legitimados a partir da reprodução de

discursos, afinal, as definições lexicais não só descrevem os significados das

palavras, como também agenciam vozes sociais que evidenciam interesses e

ideologias reconhecidos na sociedade (MARTINS, 2010; REBOUÇAS, 2015).

Outro aspecto da fala de P1 que merece ser destacado diz respeito à defesa

do caráter imanente do dicionário. Após desconsiderar os fatores ideológicos da

obra dicionarista, o informante defende que esse material apresenta "o significado

real" das palavras. A crença de P1, que o dicionário é uma obra neutra, mantém

uma certa relação com o chamado estudo imanente da língua, no qual a

preocupação extralinguística é abandonada, “uma vez que a estrutura da língua

deve ser descrita apenas pelas suas relações internas" (COSTA, 2013, p. 115).

Desse modo, podemos inferir que a crença na imanência do dicionário, isto é, uma

crença que desconsidera fatores extralinguísticos implicados em sua tessitura,

responde à aceitação social da autoridade linguística desse material.

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Num dado momento da entrevista, o docente destacou o motivo de não ter

concordado totalmente com o item em análise, como vemos em (09):

(09) Eu não assinalei totalmente, pela questão que, é:: como eu generalizei, né?, a ideia do dicionário. Aí voltando ao tema antes, o dicionário ele é objetivo, mas alguns não apresentam essa ob/eu acredito que o dicionário ele era pra ser mais igual, porque se você tem uma/como é que é?/como se diz/de repente você tem uma cartilha de um, de um texto, se eu tenho lá um texto, quer dizer que um texto, pra um é de um jeito, pra outro é de outro?, não, então eu acho que o dicionário também [...] precisaria ser igual. Essa igualdade, é:: que vai trazer essa objetividade, né? E aí eu vejo isso aí, por isso que eu não assinalei o “totalmente” (P1).

Por conseguinte, o fato de os dicionários apresentarem diferenças entre si é

visto por P1 como algo que compromete a objetividade desse material didático. No

entanto, gostaríamos de frisar que a sua heterogeneidade em relação ao layout, à

definição lexicográfica e à estrutura em geral, na verdade, só evidencia, ainda mais,

que esse tipo de obra não é objetiva, no sentido de não ser neutra, pois por trás de

sua produção está o lexicógrafo, o qual é orientado política e ideologicamente por

uma dada visão de mundo (PASCUAL, 1996), que o influencia na escolha das

informações e “dos itens lexicais que irão compor a macroestrutura do dicionário”

(PONTES; SANTIAGO, 2009, p. 118). Muitas vezes, conforme já discutimos na

seção 3.4, não se trata apenas da escolha do lexicógrafo. É preciso considerar,

ademais, as pressões exercidas pelas políticas editoriais que regulam a produção

dicionarista.

Por outro lado, P2 respondeu “discordo às vezes”, no que se refere à ideia

segundo a qual o dicionário seria objetivo e neutro, e foi sucinto ao defender o seu

ponto de vista em (10):

(10) Ele é objetivo sim. Ele tem outras tendências, né?, porque a palavra ela não só tem um significado (P2).

Possivelmente, o informante entende que o dicionário é objetivo, no sentido

de ser claro e direto no que se refere à apresentação dos diversos significados de

cada palavra-entrada que compõe a sua microestrutura. A fim de esclarecer melhor

a opinião do docente sobre essa questão, ele foi indagado se achava que o

dicionário poderia apresentar alguma ideia preconceituosa. Apesar de a resposta

dada anteriormente por P2 não mencionar o problema do preconceito no dicionário,

essa indagação foi feita como uma tentativa de fazer com que o docente

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exteriorizasse mais o seu posicionamento sobre a crença em debate. Vejamos a

seguir o que ele disse em (11):

(11) Não. A questão do preconceito/eu vejo assim, que a palavra tem amplos sentidos, é de acordo com, com é:: o emprego ali do uso, do sentido daquela palavra que a gente tem que saber como colocar, fazer a sua colocação (P2).

A informação apresentada nessa resposta revela que o informante P2 não

acredita que o dicionário possa veicular algum tipo de preconceito, pois, segundo

ele, esse problema estaria no uso que se faz das palavras e não necessariamente

na obra dicionarista. Porém, na realidade não é bem assim. Martins (2007), por

exemplo, entende o dicionário como objeto histórico, o qual, ao ser produzido, acaba

sendo marcado pela conjuntura socioideológica a que pertence e, neste caso, o

lexicógrafo produz a sua obra procedendo a escolhas que não são neutras nem

tampouco inocentes. Isso corrobora o que Dupuy (2010) defende ao dizer que é a

própria sociedade, com seus tabus e suas ideologias que se pode ler nas entrelinhas

do dicionário. Nesse sentido, é necessário estar atento para os limites dos

dicionários, especialmente no que diz respeito ao problema de possíveis

preconceitos.

As respostas dos informantes em relação ao quarto item do questionário

podem ser observadas em (12):

Crença P1 P2

(12) O dicionário é destinado a quem tem pouco conhecimento sobre o funcionamento da língua

concordo às vezes

discordo totalmente

Notamos, assim, que P1 respondeu “concordo às vezes” e P2 optou pela

resposta “discordo totalmente”. Quando interrogados sobre essa questão durante a

entrevista, os professores relacionaram o uso do dicionário à melhoria do domínio da

semântica das palavras, bem como da escrita. Vejamos, pois, (13) e (14):

(13) [...] Assim, não concordei totalmente, concordei às vezes, porque ele, ele é destinado a todos, né?, a todos, mas principalmente/é a questão de, aquilo que você tem mais necessidade. Se o cara é fera no significado das palavras, no conceito das palavras, na utilização, ele não vai ter tanta necessidade do uso do dicionário, já que ele tem. Agora as pessoas que tem essa/esse pouco é/ele precisa se qualificar, ele precisa ter um entendimento. E o principal instrumento dele seria o dicionário, pra que ele pudesse ter/por isso que eu digo que o dicionário ele está MAIS destinado àquele que tem mais dificuldade (P1).

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(14) É:: porque não é, não é pra quem/é desconhecido, a gente precisa tirar essa ideia, que antigamente dizia assim que o dicionário é o pai dos burros, eu acho que não, né?, quem tem um bom conhecimento e que quer tá sempre melhorando a escrita e/tem que procurar o uso do dicionário, ele ajuda bastante (P2).

De acordo com as palavras do docente P1, não existe um público específico

ao qual o dicionário se destina, pois o que o caracteriza o seu uso é a necessidade

do consulente, principalmente no que diz respeito a dificuldades quanto ao

significado das palavras. Por esse motivo, ele afirmou que “o dicionário [...] está

MAIS destinado àquele que tem mais dificuldade”. De maneira semelhante a P1, o

docente P2 refuta a ideia de que o dicionário é produzido para quem conhece pouco

sobre o funcionamento da língua, e sublinha: “a gente precisa tirar essa ideia, que

antigamente dizia assim que o dicionário é o pai dos burros, eu acho que não”.

Nesse sentido, as crenças dos sujeitos investigados vão ao encontro dos

postulados de Biderman (1984, p. 8), para a qual “nenhum falante por mais

competente que seja em matéria vocabular, jamais conseguirá incluir no seu léxico

ativo e passivo grandes parcelas do léxico geral da língua”. Sendo assim, a autora

evidencia que, apesar de um indivíduo possuir um grande conhecimento referente

ao léxico geral de sua língua materna, ele pode, ainda, apresentar dúvidas,

especialmente em relação a vocábulos que ele conhece, mas não emprega

frequentemente, o que está associado ao denominado vocabulário passivo

(BEZERRA, 2004). Com efeito, podemos perceber o quanto a ideia apresentada no

item em análise limita o público consulente do dicionário e, em consequência, pode

acabar afastando as pessoas desse material de consulta deveras importante.

Do que foi exposto pelos informantes, vale destacarmos, enfim, o seguinte

comentário de P2: “quem tem um bom conhecimento e que quer tá sempre

melhorando a escrita e/tem que procurar o uso do dicionário, ele ajuda bastante”. É

possível perceber no discurso do informante o entendimento de que a obra

dicionarista auxilia quem está interessado em melhorar a habilidade de escrita. As

palavras do docente relacionam-se, portanto, ao que é defendido nas pesquisas de

Amorim (2003) e Dargel (2011), que apontam o potencial do dicionário como

material de auxílio em atividades de leitura, de análise linguística e, inclusive, de

produção de textos. Mas será, então, que essa crença influencia a prática

pedagógica do referido docente, de modo que ele aborda em sala de aula o

dicionário na perspectiva de uma ferramenta capaz de desenvolver o domínio da

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escrita? Isso será respondido na seção 5.2, no qual aprofundaremos a discussão em

torno das aulas observadas.

Os dados em (15) investigam, mais diretamente, se, para os professores, o

dicionário escolar constitui uma obra atemporal:

Crença P1 P2

(15) Um bom dicionário escolar é para toda a vida estudantil concordo totalmente

concordo totalmente

Dessa maneira, os dados apontam unanimidade do grau de concordância dos

professores com relação à crença supracitada. Observemos, nesse momento, o que

eles expuseram sobre essa questão, em (16) e (17):

(16) [...] ele é muito/ele é muito útil, né?, aí volto a dizer [...] a nossa língua, ela é muito complexa, e [...] apresenta constantemente mudanças, ela vai se aperfeiçoando, vai sendo modificada, e eu preciso estar em dia com a língua que falo, até de forma acadêmica, assim, dentro de um conceito científico, a gente precisa ter dimensão do significado das palavras, e da utilização delas. Então, eu vejo isso aí, se você, professores que de repente é:: gostaram daquele dicionário, às vezes o dicionário dele tem dez, quinze anos de duração, ele anda com aquele dicionarizim com as paginazinha amarela, guardado ainda porque ele gostou, o bom dicionário [...] ele foi tão bom que ao longo do tempo ele não pôde ter é:: discordância das palavras sendo utilizadas no dia a dia (P1). (17) Concordo totalmente, é, se o alunado, professor tiver sempre esse uso do dicionário, ele vai ajudar por toda vida (P2).

No início de sua fala, P1 afirma: “a nossa língua, ela é muito complexa, e [...]

apresenta constantemente mudanças, ela vai se aperfeiçoando, vai sendo

modificada”. Analisando esse trecho, podemos dizer que o informante reconhece a

variabilidade da língua portuguesa. Desse modo, concordamos com P1 e

acrescentamos que esse fenômeno é comum a outros sistemas linguísticos, afinal,

toda língua “é intrinsecamente heterogênea, múltipla, variável, instável e está

sempre em desconstrução e em reconstrução” (BAGNO, 2007, p. 36).

Posteriormente, ao afirmar “eu preciso estar em dia com a língua que falo”, o

docente aponta a necessidade de os falantes, de modo geral, estarem atentos às

transformações que ocorrem no âmbito linguístico ao longo do tempo. Entretanto,

seu discurso torna-se contraditório, quando ele defende que um dicionário

considerado “bom” por um determinado professor não se torna ultrapassado no

decorrer dos anos. Mas será que um dicionário impresso e publicado há dez ou

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quinze anos, tal como relatado por P1, conseguirá, de fato, abarcar a atual realidade

linguística, se nem mesmo a língua é definitiva, estável e homogênea? A partir do

ponto de vista de Bagno (2007, p. 36), acreditamos que não, uma vez que é

impossível registrar por inteiro um idioma em determinado dicionário, encerrando

“num único livro a verdade definitiva e eterna sobre uma língua”.

De acordo com (17), o docente P2 afirmou que o uso habitual do dicionário

beneficiará o consulente por toda a sua vida. A fim de elucidar a sua opinião acerca

do item em debate, perguntamos se o docente acreditava que os mesmos

dicionários trabalhados por ele em sala de aula com os seus alunos poderiam ser

ainda usados nas séries seguintes do ensino fundamental. Essa pergunta resultou

na resposta presente em (18):

(18) Pode, eles utilizam. Eles já vêm sendo utilizados desde a/da, da formação de/que as meninas tem/do ciclo, alguns ali eram do ciclo, eles já utilizaram até o terceiro ano, quarto ano, e outros que dão continuidade (P2).

Em (18), o informante defende que os dicionários trabalhados em suas aulas

podem sim serem empregados no processo de ensino-aprendizagem das séries

posteriores ao 5º ano do ensino fundamental. Além disso, ele relata que algumas

das obras dicionaristas usadas em suas aulas pertenciam ao ciclo de alfabetização,

ou seja, aos três anos iniciais do ensino fundamental. Porém, reiteramos o

posicionamento de Brangel (2013, p. 220), para quem “o consulente do dicionário

escolar, ao longo de sua formação na Educação Básica, apresenta distintas

necessidades de consulta linguística [...]”. Isso já vem sendo preconizado há alguns

anos na taxionomia dos dicionários escolares proposta no PNLD, a qual defende o

uso de dicionários de tipos diferentes nas diversas etapas da educação básica

(BRASIL, 2012), o que vai de encontro à crença e à prática relatada pelo docente

P2.

No sexto item do questionário, indagamos a respeito da quantidade ideal de

verbetes na composição do dicionário escolar infantil, como podemos ver em (21):

Crença P1 P2

(21) O dicionário com uma quantidade pequena de entradas é o melhor para os anos iniciais do ensino fundamental

concordo totalmente

concordo às vezes

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P1 apresentou total concordância, marcando “concordo totalmente”, já P2

respondeu que concorda às vezes com o referido enunciado. Seus argumentos

estão presentes em (22) e (23):

(22) Foi/aí eu volto àquilo que a gente falou antes, é:: como os alunos estão numa fase de entendimento, a gente não precisa dar toda [...] a contextualização, a complexidade das palavras. É preciso começar com calma, se não vai causar um distúrbio, né?, no entendimento das crianças. Então é preciso começar com palavras mais cotidianas, palavras que é:: uma ou outra, que se escuta falar, a gente pode ir inserindo, mas não dá pra trabalhar toda a grade de palavras, porque vai trazer problemas pra ela/pro entendimento delas (P1). (23) [...] como aqui já é quinto ano, eu quis me referir assim, às crianças que ela lê menos, o dicionário com menos palavras vai ajudar, um pouco mais, né?, porque quanto maior/daqui que elas vão naquela sequência, entendeu?, de ordem alfabética, dificulta mais, né? (P2).

Diante desses dados, podemos notar que os docentes defendem que o

melhor dicionário a ser usado nos anos iniciais do ensino fundamental seria

realmente o constituído por uma quantidade menor de entradas. P1 acredita nisso

levando em conta o fato de os alunos dessa etapa estarem “numa fase de

entendimento”, o que, segundo ele, faz com que o trabalho com o dicionário deva

partir de palavras mais comuns ao universo lexical desse público consulente. Neste

sentido, as palavras de P1 estão em consonância com o entendimento de Brasil

(2012), para o qual as obras dicionaristas destinadas ao 1º e do 2º ao 5º ano do

ensino fundamental devem ser formadas por um número menor de entradas, além

de apresentar propostas lexicográficas adequadas às reais possibilidades e

necessidades dos estudantes em formação.

Por outro lado, o sujeito P2 não pauta a sua crença nos aspectos próprios da

etapa de ensino de que os discentes participam, mas considerando a situação da

criança que “lê menos”, o que, possivelmente, refere-se à falta de frequência do

hábito da leitura ou, inclusive, a dificuldades no ato de ler. Quando menciona que “o

dicionário com menos palavras vai ajudar, um pouco mais, né?”, o docente salienta

que um dicionário mais sucinto ajudaria o estudante do ensino fundamental I a obter

sucesso em sua consulta. Embora os depoimentos dos informantes sejam

didaticamente coerentes, é oportuno reiterar que tão importantes quanto a

quantidade são os aspectos qualitativos da obra lexicográfica. Em vista disso,

retomamos Damin e Peruzzo (2006), para quem uma análise pautada no número de

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verbetes pode ser inicialmente útil, porém a avaliação do dicionário escolar deve

basear-se notadamente em critérios como “a adequação da proposta do dicionário

às necessidades do usuário, a linguagem utilizada, a presença ou não de exemplos

e ilustrações, dentre outros” (DAMIN; PERUZZO, 2006, p. 96).

Analisemos, nesse momento, a concordância dos professores pesquisados

com a crença apresentada no sétimo item do questionário aplicado, conforme

explicitamos em (24):

Crença P1 P2

(24) O dicionário adequado aos anos iniciais do ensino fundamental é aquele que apresenta cores e imagens diversas

concordo às vezes

concordo às vezes

Frente à ideia em debate, P1 e P2 foram unânimes em responder que

concordavam às vezes. Para melhor perscrutarmos as suas convicções, registramos

em (25) e (26) o que eles disseram na etapa da entrevista:

(25) Isso, assim, principalmente pela questão da ilustração, e de:: captar, de estimular o aluno, ele/como são crianças, elas/se você pegar o dicionário de [...] séries finais do fundamental, ensino médio, como ele tem mais palavras, isso aí vai gerar, assim, um desinteresse dos alunos. E quando a gente trabalha com, livros mais ilustrativos, eles vão/eles querem observar/analisar a imagem e, de repente, vai trazer contigo o significado das palavras. Então, isso é uma forma/a ilustração é uma forma de estimular ele a ter o interesse do uso do dicionário (P1). (26) É:: ele/é muito chamativo pras crianças o dicionário, tudo que ele for ler, que tiver ilustração, é bom pra criança ler, né?, então eu concordo, às vezes, que ele seja mais atrativo, não é nem a questão de adequado, mas é mais atrativo. E você que hoje a leitura tem que ter essa atração, né? (P2).

Por consequência, o item abordado em (24) também resultou em dados e

depoimentos interessantes para a nossa pesquisa. Segundo P1, a presença da

ilustração no dicionário escolar desperta o interesse da criança em entrar em contato

com esse objeto por meio de sua leitura, ao passo que a falta do recurso imagético,

comum no dicionário dos anos finais do fundamental e do ensino médio, provoca

“um desinteresse dos alunos”. Nessa perspectiva, vale ressaltarmos que a

multimodalidade dos textos pertencentes ao domínio da escrita apresenta graus

distintos, situando-se em um contínuo de informatividade visual (BERNHARDT,

2004; DIONÍSIO, 2006; MOZDZENSKI, 2006). Daí que, nos dicionários escolares,

esse contínuo de informatividade visual é assim explicado por Nascimento (2013): o

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dicionário infantil seria mais visualmente informativo, haja vista apresentar, além da

linguagem verbal, imagens, ilustrações, cores diversas, entre outros recursos

multimodais salientes. Já os dicionários do tipo 3 e 4, do PNLD 2012 – Dicionários,

seriam menos visualmente informativos, pois apesar de serem formados por cores e

tipografias, os recursos verbais são os mais sobressalentes em sua composição. As

palavras de P1 dialogam, portanto, com os estudos supramencionados acerca da

multimodalidade e de sua relação com a obra lexicográfica.

Em (25), o sujeito P1 também acrescentou que, quando trabalha com livros

de natureza ilustrativa, os estudantes apresentam motivação para “observar/analisar

a imagem e, de repente, vai trazer contigo o significado das palavras”. Neste caso, o

docente abordou a relação entre texto verbal e ilustração, afirmando que esta última

se relaciona aos significados das palavras. Por outro lado, P2 enfatizou que a

ilustração desperta a atenção da criança, mas, mesmo assim, ele questiona a sua

adequação, como mostra este trecho: “[...] então eu concordo, às vezes, que ele

seja mais atrativo, não é nem a questão de adequado, mas é mais atrativo”.

Com efeito, a fala de P2 corrobora o que Pinto da Silva (2006) tem defendido

ao dizer que a relação entre texto (definição e exemplo de uso) e imagem não é tão

simples assim. Na verdade, o que se espera de um dicionário infantil é que

ilustração e texto verbal operem conjuntamente, de modo que seus sentidos possam

convergir expressando informação pertinente e compreensível para o consulente,

porém, nem sempre, a ilustração retrata, de forma clara e coerente, o conteúdo

referenciado verbalmente. Sendo assim, ao selecionar o dicionário a ser trabalhado

em sala de aula, o docente deve analisar se o material escolhido apresenta

coerência intersemiótica, que seria a “relação de coerência, ou seja, convergência

ou não-contradição, entre os significados (conotativos e denotativos) da ilustração e

do texto” (CAMARGO, 1998, p. 28), já que a falta desse tipo de coerência pode até

mesmo confundir ou atrapalhar o consulente.

Apresentamos, em (27), as respostas dos sujeitos investigados no que se

refere ao oitavo item do questionário:

Crença P1 P2

(27) As imagens, cores e diferentes recursos não verbais presentes em um dicionário escolar infantil servem como acessórios de enfeite

discordo às vezes

discordo totalmente

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De acordo com os dados de (27), ambos os professores discordaram da ideia

segundo a qual as imagens, cores e diferentes recursos não verbais de um

dicionário escolar infantil servem como acessórios de enfeite. P1 assinalou “discordo

às vezes”; já P2 respondeu “discordo totalmente”. Analisemos a resposta dos

informantes presentes em (28) e (29):

(28) Discordo, é:: não é enfeite, né?, eu não vejo como um enfeite. É:: porque ela/as cri/muitas ainda, as crianças estão naquele momento de, de:: não vão conseguir entender diretamente por palavras, pela leitura. Mas ao ver a imagem, ela vai perceber, o significado, pra que se deve ser utilizado. Então, é muito importante essa questão da imagem, né?, pra que ela possa/às vezes ela não vai entender na leitura, mas vai, vai perceber na:: imagem (P1). (29) [...] eles não vão servir só de enfeite, vão ajudar a criança a:: até chegar aquela palavra ali, eles ajuda, não é que só vai servir de/de um enfeite, né?, discordo (P2).

P1 retoma o mesmo argumento exposto e já analisado em (25), direcionando

sua fala detidamente para o recurso da imagem, que, para ele, auxilia o aluno na

compreensão dos significados das palavras arroladas nesse material didático, o que

pode ser visto neste trecho: “[...] muitas [...] crianças estão naquele momento de,

de:: não vão conseguir entender diretamente por palavras [...] Mas ao ver a imagem,

ela vai perceber, o significado, pra que se deve ser utilizado”. Nessa mesma direção,

P2 rebate a crença em análise, afirmando que os recursos não verbais discutidos

ultrapassam a mera função de enfeites, uma vez que, no seu dizer, “vão ajudar a

criança a:: até chegar aquela palavra ali”. De modo geral, os docentes entendem

que as imagens, ilustrações, cores e tipologias de fontes diversas instanciam

sentidos junto ao texto verbal, configurando-se, assim, como elementos integrantes

não apenas da macroestrutura, mas, principalmente, da microestrutura do dicionário

(DUARTE, 2014).

Passemos, com (30), à discussão e análise da crença veiculada no nono item

do questionário:

Crença P1 P2

(30) Não existe um tipo específico de dicionário para ser explorado nos anos iniciais do ensino fundamental, pois o mais importante é a finalidade e o modo como o docente aborda esse material em suas aulas

discordo totalmente

concordo totalmente

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Como vemos em (30), as respostas dos informantes no item nove divergem

entre si, pois enquanto P1 discordou totalmente, P2 concordou completamente com

a crença de que não existe um tipo específico de dicionário para ser trabalhado nos

anos iniciais do ensino fundamental. Mostramos, em (31) e (32), outros dados sobre

essa questão, obtidos na segunda etapa de coleta:

(31) [...] Se a gente colocar o dicionário mais complexo, principalmente aqueles grandão, aqueles glossário grande mesmo, é:: o aluno [...] vai dizer “Não! Não quero trabalhar com isso aí, não”. Aí eu volto a dizer que:: existe o tipo específico [...] Não se pode trabalhar com qualquer dicionário em, em sala de aula, principalmente nas séries iniciais do fundamental (P1). (32) Não, não existe um tipo específico não. A gente utiliza, o que tem na escola, né?, e o que eles têm também, então não tem um específico, tem até diferentes formas/a gente utilizou ali, não foi?, diferentes dicionários (P2).

De acordo com o primeiro docente, o que define o dicionário adequado às

séries iniciais do ensino fundamental seria possivelmente a quantidade de verbetes,

pois, diante de uma obra dicionarista volumosa, o estudante demonstraria

desinteresse e diria “Não! Não quero trabalhar com isso aí, não”, conforme é

mencionado por P1. Já o docente P2, ao relatar “A gente utiliza, o que tem na

escola, né?, e o que eles têm também [...]”, deixa claro em seu discurso que ele não

segue critérios específicos para selecionar o material lexicográfico a ser trabalhado

em sala de aula.

Nesse caso, convém destacarmos que a fala de P2 deixa claro que os fatores

contextuais moldam, de certa forma, a crença desse sujeito, já que, para ele, a não

existência de um tipo de dicionário próprio para os anos iniciais do ensino

fundamental advém do fato de que ele usa a obra dicionarista disponibilizada no

acervo bibliográfico da escola onde trabalha. Aparentemente, pode parecer que a

colocação de P2 focaliza a precariedade de sua escola quanto à diversidade de

dicionários, principalmente quando ele menciona usar “o que tem”. Todavia,

ressaltamos que, por meio da pesquisa de campo, pudemos constatar que a

instituição educacional onde esse docente trabalhava, quando realizamos nossa

investigação, contava com diferentes dicionários escolares adequados ao 5º ano do

ensino fundamental, conforme será aprofundado na seção 5.2.

Perante esses dados, chama atenção o fato de os informantes em nenhum

momento mencionar ou fazer referência à taxionomia proposta pelo PNLD –

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Dicionários, como um dos critérios de seleção dos dicionários usados em sua prática

pedagógica. Afinal, como já dissemos, Brasil (2012) classifica esse material didático

em quatro tipos (1, 2, 3 e 4) que, dependendo de suas características, destinam-se

às sucessivas etapas da educação básica: 1º ano do Ensino Fundamental; 2º ao 5º

ano do Ensino Fundamental; 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental; e 1º ao 3º ano do

Ensino Médio.

Em (33), vejamos as respostas dadas pelos professores ao último item do

questionário:

Crença P1 P2

(33) O uso do dicionário escolar infantil restringe-se a momentos de dúvida em relação à ortografia ou ao significado de alguma palavra

concordo às vezes

concordo totalmente

Os informantes assinalaram graus distintos de concordância com a ideia de

que o uso do dicionário escolar infantil se limita aos casos de dúvida em relação à

ortografia ou ao significado de alguma palavra. P1 marcou “concordo às vezes” e

P2, “concordo totalmente”. Registramos, em (34) e (35), os comentários feitos pelos

sujeitos investigados:

(34) Isso, porque a:: o principal uso dela é o significado e a ortografia das palavras. Aí não falo “totalmente”, né?, não digo “concordo totalmente” porque:: possa ser colocado, de acordo com a criatividade do professor, eu posso colocar o uso do dicionário pra outras coisas, como a produção de textos, certo?, ele pode ser colocado, de repente o aluno tá escrevendo lá o texto e sentiu dúvida/quer colocar uma palavra e quer saber qual é a palavra que melhor caberia pra aquela frase/o entendimento dele, ela vai lá no dicionário e vê qual seria essa palavra. Mas o principal campo de acesso ao dicionário é esse, é observar a ortografia e o significado dela (P1). (35) [...] é:: em relação à ortografia e o significado da palavra. Concordo que eles utilizam pra isso aí. Assim, o incentivo que a gente faz, como professor, que eles utilizem o dicionário pra isso, tirar sempre essa dúvida, né?, que deve ser utilizado o dicionário porque é:: é o melhor recurso, mesmo que não seja o dicionário LIVRO, mas eles já sabem, né?, procurar também (faz gesto com a mão e aponta para o celular do pesquisador) (P2).

Para P1, o principal uso do dicionário está relacionado à semântica e à

ortografia das palavras. Esse mesmo ponto de vista é assumido por P2, em especial

quando relata que incentiva os estudantes a realizarem a pesquisa no dicionário

visando a solucionar as dúvidas que possuem relacionadas aos dois domínios

supracitados. Além disso, no trecho “é o melhor recurso, mesmo que não seja o

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dicionário LIVRO, mas eles já sabem, né?, procurar também (faz gesto com a mão e

aponta para o celular do pesquisador)”, o docente frisa o uso de celulares e de

recursos tecnológicos, por parte dos alunos, para sanarem essas dúvidas.

Neste sentido, é possível estabelecer um diálogo entre as palavras dos

informantes e alguns estudos da área da Metalexicografia Pedagógica, que

problematizam, entre outras coisas, o uso do dicionário em sala de aula (AMORIM,

2003; GOMES, 2007; HEINRICH, 2007; DARGEL, 2011; NASCIMENTO, 2013). Já

dissemos na seção 3.5 do referencial desta tese que, em geral, essas pesquisas têm

demonstrado uma subutilização ou precariedade quanto ao uso do dicionário no

âmbito da escola, sendo o seu potencial informativo e cognitivo marginalizado.

Gomes (2007), por exemplo, aponta para a necessidade de superação da

prática tradicional em que o dicionário é empregado somente quando surgem

dúvidas em relação à ortografia ou ao significado de alguma palavra, principalmente

em exercícios descontextualizados que não levam em conta a gama de informações

presentes nesse tipo de obra. O uso do dicionário em sala de aula será melhor

analisado na seção 5.2, mas, desde já, gostaríamos de destacar um ponto positivo

na fala de P1, quando acrescenta que, dependendo da criatividade do professor,

esse material didático pode apresentar outras finalidades dentro do processo de

ensino-aprendizagem: “[...] de acordo com a criatividade do professor, eu posso

colocar o uso do dicionário pra outras coisas, como a produção de textos [...]”. O

pensamento do docente coaduna-se com as pesquisas de Amorim (2003) e de

Dargel (2011), que defendem a possibilidade de o dicionário auxiliar atividades

envolvendo a leitura, a análise linguística e a produção textual. Ante o exposto,

reiteramos que o conhecimento produzido por meio do manuseio adequado desse

material constitui uma ferramenta a mais para o desenvolvimento de habilidades

leitoras e escritas, o que repercute de modo profícuo no letramento do consulente.

No Quadro 06, elaboramos uma síntese das crenças sobre o dicionário

escolar infantil discutidas nesta parte da análise e que foram reveladas por meio das

falas dos próprios professores pesquisados:

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QUADRO 06: Síntese das crenças inferidas a partir das falas de P1 e P2

Crença Docente

01. O dicionário Aurélio é um bom dicionário, já que ele está presente em muitas escolas. P1

02. O bom dicionário é aquele mais usado na escola desde o ciclo de alfabetização. P2

03. Os dicionários são diferentes, pois algumas palavras são encontradas em determinados dicionários e em outros não.

P1

04. Os dicionários são diferentes, uma vez que obras distintas apresentam significados também diferentes de uma mesma palavra.

P1

05. Os dicionários não são iguais, pois alguns possuem ilustração e outros não. P2

06. O dicionário é uma obra neutra porque não aborda a opinião de uma pessoa. P1

07. O dicionário é uma obra neutra porque não veicula ideia preconceituosa. P2

08. O dicionário é mais destinado a quem tem dificuldades quanto ao significado de palavras.

P1

09. O dicionário é destinado a quem deseja melhorar a sua escrita. P2

10. Um bom dicionário não se torna ultrapassado ao longo dos anos. P1

11. O dicionário usado por alunos de 5º ano pode auxiliá-los nas séries seguintes do ensino fundamental.

P1

12. O dicionário formado por palavras do cotidiano do aluno é mais adequado para os anos iniciais do ensino fundamental.

P1

13. Dicionários com poucas palavras são adequados para crianças que não leem com frequência ou que possuem dificuldades de leitura.

P2

14. Dicionários com pouca ou nenhuma ilustração provocam o desinteresse do aluno. P1

15. Dicionários com ilustrações atraem a atenção da criança e despertam o interesse pela leitura.

P2

16. As imagens presentes no dicionário escolar infantil auxiliam o aluno no entendimento dos significados das palavras.

P1

17. Não existe um tipo específico de dicionário para os anos iniciais do ensino fundamental, pois são utilizados os dicionários disponíveis na escola e pertencentes ao aluno.

P2

18. O dicionário auxilia o aluno quanto ao significado, ortografia das palavras e produção de textos.

P1

Fonte: Elaborado pelo autor

A partir do que foi discutido até o momento, podemos afirmar que a maioria

das crenças dos participantes de nossa pesquisa convergem com os postulados

teórico-metodológicos da Metalexicografia Pedagógica. Nessas crenças, há o

reconhecimento das diferenças estruturais dos dicionários, do uso desse material

didático para a aprendizagem da ortografia e dos significados das palavras e para o

desenvolvimento da produção textual. Além do mais, os docentes reconhecem a

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importância das ilustrações como forma de motivar os estudantes a lerem e a

consultarem o dicionário escolar infantil.

No entanto, torna-se necessário destacarmos o pensamento de Miccoli (2010,

p. 135), quando alerta que as crenças “são verdadeiras para quem nelas acredita,

embora, nem sempre todas sejam valiosas para o processo de ensino e

aprendizagem”. Dentro da perspectiva de posições valorativas que não são valiosas

para o trabalho com o dicionário em sala de aula, podemos inserir as seguintes

crenças do Quadro 06: “02. O bom dicionário é aquele mais usado na escola desde

o ciclo de alfabetização” (P2); "06. O dicionário é uma obra neutra porque não

aborda a opinião de uma pessoa” (P1); “07. O dicionário é uma obra neutra porque

não veicula ideia preconceituosa” (P2); “10. Um bom dicionário não se torna

ultrapassado ao longo dos anos” (P1); “17. Não existe um tipo específico de

dicionário para os anos iniciais do ensino fundamental, pois são utilizados os

dicionários disponíveis na escola e pertencentes ao aluno” (P2).

Neste sentido, as crenças 02, 06, 07, 10 e 17 podem ser vistas como

inadequadas, uma vez que descartam a existência de obras lexicográficas

específicas para as diversas fases da escolarização básica, conforme orienta o

PNLD – Dicionários, em Brasil (2012). Além disso, desconsideram as facetas

discursivo-ideológicas desse material didático, bem como a necessidade de

atualização da obra dicionarista defronte aos novos usos linguísticos que emergem

na sociedade ao longo dos anos.

Nesta seção, foram discutidas as crenças docentes sobre o dicionário escolar

infantil. Passemos, agora, à análise das relações entre crenças e práticas

pedagógicas dos professores investigados.

5.2 DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL E PRÁTICA PEDAGÓGICA

Nesta seção, propomos responder à nossa segunda questão de pesquisa, a

qual se relaciona ao objetivo de averiguar a influência das crenças sobre o dicionário

escolar infantil na prática educativa de professores do ensino fundamental I.

Inicialmente, faremos a análise de algumas falas docentes, já que elas abordam, no

plano discursivo, o uso escolar da obra lexicográfica. Em seguida, o outro momento

analítico está voltado para as crenças que emergem a partir das práticas dos

sujeitos pesquisados envolvendo o uso de dicionários em sala de aula.

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126

5.2.1 O uso do dicionário escolar infantil no dizer docente

Na entrevista, ambos os professores foram questionados se consideravam

importante o uso do dicionário nos anos iniciais do ensino fundamental. Suas

respostas a essa pergunta podem ser lidas em (36) e (37):

(36) É:: considero importante, é:: por quê? É:: nesse momento o aluno, ele está:: no momento de aprender a:: o conceito das palavras, né? E:: [...] a língua portuguesa ela é muito complexa e:: enriquece muito a maneira do aluno falar quando ele sabe o significado de cada palavra, que ele saiba pontuar aquela palavra dentro de uma frase que ele queira é é pronunciar. Então por isso que eu vejo e:: esse é o momento, é uma base de se ver [...] porque o aluno já vai se adaptando à maneira, e ele vai tendo o cuidado até da noção morfológica das palavras, que isso também se vê dentro do dicionário, se aquela palavra é um substantivo, se aquela palavra é um verbo. E mais na frente é que ele vai distinguir, vai ver com clareza, assim, de forma intensiva cada palavra dessa, mas o ideal seria que o básico ele visse já nas séries iniciais, e seria muito importante é:: o trabalho com o dicionário (P1). (37) Sim, muito importante o uso do dicionário no ensino fundamental, porque ajuda aos alunos em todos os aspectos, na leitura, na escrita, e desenvolve bastante o aluno, né?, dependendo de como vai ser bem trabalhado o dicionário, é uma ferramenta muito importante, ainda (P2).

Por meio dessas falas, vemos que P1 e P2 confirmaram a importância do uso

do dicionário na referida etapa da educação básica. De acordo com a fala de P1, a

importância do dicionário está no fato de ajudar o aluno no aprendizado do

significado e da pronúncia das palavras para que, a partir disso, ele saiba empregá-

las em sua fala. Além disso, o docente destaca que o trabalho com o dicionário

desde as séries iniciais auxilia o estudante no estudo de aspectos gramaticais das

palavras: “[...] porque o aluno já vai se adaptando à maneira, e ele vai tendo o

cuidado até da noção morfológica das palavras, que isso também se vê dentro do

dicionário, se aquela palavra é um substantivo, se aquela palavra é um verbo [...]”.

Nesse excerto, é possível perceber que o docente faz alusão a um dos elementos

da microestrutura da obra lexicográfica, que seria a informação gramatical, a qual

está presente em quase todos os dicionários (WELKER, 2004; PONTES, 2009)

sendo, geralmente, grafada de modo abreviado, excetuando-se as obras

lexicográficas infantis, como aponta Zavaglia (2010).

Por outro lado, na fala de P2, o dicionário é visto como uma ferramenta

importante para o desenvolvimento do estudante no ensino fundamental, no que diz

respeito às competências de leitura e de escrita. Portanto, suas palavras encontram-

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se em consonância com o que asseveram Gomes (2007) e Amorim (2003) ao

defenderem o uso desse material didático não apenas para a formação de leitores,

mas também para a produção de textos.

Vejamos, em (38) e (39), o que dizem os docentes, de modo mais específico,

sobre que habilidades o dicionário escolar infantil permite desenvolver nos

estudantes:

(38) [...] é:: com o dicionário, ele pode criar, ele pode ter/primeiramente/em primeiro lugar seria a dimensão do conceito da palavra, em que momento adequado eu/ele poderia utilizar aquela palavra e que palavras teriam significados semelhantes, que a gente chama de sinônimos, né? Seria e:: pra que enriquecesse o seu texto, a sua frase. E:: depois, você poderia trabalhar de forma é:: da:: o conceito morfológico das palavras, morfológi/pra se identificar o que seria um substantivo, um adjetivo. É:: daria pra trabalhar o gênero, o:: o número da palavra, plural, como trabalhar/como aquela palavra seria no plural, no singular, no:: é:: no feminino, no masculino, tudo isso se ver lá dentro do dicionário (P1). (39) A leitura, a escrita, desenvolve bastante, principalmente a ortografia, né?, porque o dicionário ele não vai trazer só a questão assim de, de uma é:: sequência assim da palavra, mas ele saber a ortografia, que tem muito essa dúvida, e a gente deve sempre recorrer ao dicionário pra tirar a dúvida na questão da ortografia. Da escrita correta, né?, da palavra (P2).

Esses trechos revelam uma forte preocupação de P1 e P2 em trabalhar a

obra dicionarista para desenvolver nos discentes o domínio da norma padrão ou

variedade culta da língua portuguesa. No início de sua fala, P1 deixa claro que o

dicionário pode ser trabalhado em sala de aula para desenvolver no aluno sua

adequação linguística. Entretanto, ao mencionar o uso do dicionário para o aluno

“identificar o que seria um substantivo, um adjetivo [...] o gênero [...] o número da

palavra [...]”, mais uma vez o docente associa o emprego desse material didático à

aprendizagem de aspectos normativos. De modo semelhante, P2 retoma a ideia de

usar a obra lexicográfica em atividades de leitura e de escrita, mas quando afirma

que “[...] a gente deve sempre recorrer ao dicionário pra tirar a dúvida na questão da

ortografia. Da escrita correta, né?, da palavra [...]”, esse sujeito também traz à baila

uma abordagem mais prescritiva do uso do dicionário.

É muito positivo que esses professores associem o uso do dicionário à

melhoria de tantas habilidades linguísticas, já que, conforme apontado em Krieger

(2007) e em Dantas (2014), o trabalho com esse material didático beneficia o

desenvolvimento cognitivo do consulente. Portanto, fica aqui a reflexão de que não

podemos ignorar, como sugerido pelos docentes, a importância do domínio da

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variedade culta da língua portuguesa, já que existem práticas sociais de leitura e de

escrita que exigem esse conhecimento. E é nesse ponto que entra em cena o

dicionário como uma ferramenta a mais, disponibilizada na escola, para que o aluno

se desenvolva cognitivamente, pois “o desenvolvimento da inteligência está

proporcionalmente ligado ao enriquecimento da bagagem lexical” (DANTAS, 2014,

p. 157).

Os informantes também foram questionados se encontravam alguma

dificuldade para planejar ou realizar atividades envolvendo o uso do dicionário

escolar infantil. Eles responderam o seguinte, conforme (40) e (41):

(40) [...] Não dá pra trabalhar em todos os conteúdo. E::, outro problema também que se vê, é:: as escolas não têm, o:: a quantidade de dicionário suficiente pra cada aluno. Isso gera um certo problema quando você trabalha em grupo, com um dicionário, você colocar [...] três crianças com um dicionário [...] talvez um aprenda mais do que o outro, é:: e dois de repente [...] possa ser que fique sem, sem entender direito, ou então tem aqueles que vão é:: COLAR pelo outro. Tem a questão do/deles que vão tentar ir pela/pelo número da página, não vão querer procurar, vão dizer assim “ei, qual é a página que tá aí?”, então isso aí, de repente, é:: causa é:: um problema na aprendizagem do aluno (P1). (41) Não, eu sempre procuro envolver nas minhas aulas o dicionário. Não todos os dias, mas português, principalmente, a língua, é:: o contexto [...] eu sempre procuro envolver o dicionário para esclarecer algumas palavras, porque sempre tem uma palavra que não é do conhecimento do aluno. Ou então a escrita e/como os alunos hoje eles já tão bem/é:: tem o uso da tecnologia, né?, então eles já têm um grande conhecimento, mas a escrita é:: ainda é:: deixa a desejar (P2).

Percebemos que os docentes relataram que nem sempre realizam atividades

que envolvem o uso do dicionário, pois embora, inicialmente, P2 tenha dito que

“sempre” procura envolver o dicionário em suas aulas, logo depois, ele modaliza sua

fala e afirma “Não todos os dias [...]”. Para P1, isso acontece por dois motivos. O

primeiro seria o fato de que existem conteúdos que não favorecem o uso desse tipo

de obra. O segundo motivo refere-se ao número insuficiente de dicionários na escola

onde trabalha, fazendo com que uma única obra seja usada por mais de um

estudante e, na visão do docente, isso atrapalha a aprendizagem do aluno, apesar

de essa realidade ser também, a nosso ver, uma oportunidade de estimular a

interação entre os estudantes. Em (40), fica evidente a precária disponibilidade do

dicionário na escola, uma vez que, segundo P1, não há uma quantidade de

dicionários suficiente para atender à demanda estudantil e, esse fator contextual,

dificulta o planejamento e o trabalho com a obra dicionarista em sala de aula.

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Por sua vez, P2 esclareceu que centraliza o trabalho com o dicionário no

componente curricular de Língua Portuguesa, especialmente no esclarecimento de

algumas palavras, pois, segundo ele, “[...] sempre tem uma palavra que não é do

conhecimento do aluno [...]”. Neste caso, a ação defendida pelo docente relaciona-

se ao processo de incorporação de novas palavras ao vocabulário do estudante.

Ainda no excerto em análise, P2 ressalta que os estudantes “[...] já têm um grande

conhecimento, mas a escrita é:: ainda é:: deixa a desejar [...]”. Ao dizer isso, o

docente converge com o pensamento de Gomes (2011, p. 147), para quem o

processo de aquisição lexical não é “uma passagem entre o não conhecido e o

conhecido, mas um continuum de conhecimentos e competências”.

Além desses questionamentos, perguntamos aos professores se antes de

participarem desta pesquisa já haviam trabalhado o dicionário na turma observada,

de que forma e com que objetivos. Registramos, em (42) e (43), trechos das

entrevistas em que essa questão é abordada:

(42) Sim, já tinha trabalhado [...] inicialmente pra que eles pudessem conhecer, né?, porque era uma turma que não tinha ainda um, o trabalho do dicionário. Então a gente vai ter que, o início, é:: a ordem alfabética de onde está as palavras, que:: existe a sequência das letras das palavras pra se trabalhar um dicionário. Então, o/as primeiras aulas foi em cima disso, e depois que no dicionário o:: objetivo encontrar o:: significado delas, então foi o:: principal ponto foi esse, as aulas anteriores, as não observadas foi isso, encontrar o significado das palavras e:: saber manusear, o dicionário (P1). (43) É::, nas aulas de língua portuguesa, foi que eu mais trabalhei naquela turma lá antes/antes da pesquisa [...] mas tava utilizando mais, na língua portuguesa, quando terminava um texto [...] Quando terminava o texto a gente utilizava duas três palavrinhas que tivesse desconhecida ali pra usar o dicionário (P2).

De acordo com P1, antes de iniciarmos nossa pesquisa, ele já havia

trabalhado o dicionário junto à turma observada. O docente afirma que, devido ao

fato de seus alunos não possuírem conhecimentos básicos sobre esse material

didático, ele desenvolveu um trabalho voltado para algumas especificidades

estruturais da obra lexicográfica escolar, destacando em sua fala a ordem alfabética

das palavras. Só depois foram propostas atividades em que os estudantes eram

solicitados a pesquisarem o significado de algumas palavras. A fala do informante

retoma a discussão realizada na seção 3.6, no que diz respeito ao ensino do uso,

que se refere ao desenvolvimento de habilidades de consulta, e ao uso efetivo do

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dicionário escolar, integrando-o às inúmeras atividades propostas em sala de aula

(DURAN, 2008).

Já P2 destaca que, antes de nossa pesquisa, ele intensificava o uso do

dicionário nas aulas do componente curricular de Língua Portuguesa. Segundo o

docente, após a leitura do texto “[...] a gente utilizava duas três palavrinhas que

tivesse desconhecida ali pra usar o dicionário”. Neste caso, o uso do dicionário

proposto pelo docente está a serviço do desenvolvimento da compreensão textual

de seus alunos e, além do mais, converge com o que é orientado por Gomes (2011),

para quem a aprendizagem dos significados dicionarizados de uma palavra deve

ocorrer a partir de sua análise em contextos reais de uso linguístico.

Acabamos de analisar como os professores investigados se posicionam, em

seu dizer, com relação ao uso do dicionário escolar infantil. Registramos, na seção

5.2.2, a análise de como isso se materializa na seleção do material lexicográfico

trabalhado nas aulas.

5.2.2 A seleção dos dicionários usados em sala de aula

Abordamos, nas seções anteriores deste capítulo, a interpretação e a análise

dos dizeres dos professores sobre como concebem e como dizem explorar o uso do

dicionário escolar infantil em sala de aula. Apresentamos, nesta seção, a descrição e

a análise de como essa abordagem acontece efetivamente na prática pedagógica

desses sujeitos. Para tanto, gostaríamos de discutir, nesse momento, alguns dados

relevantes que foram colhidos ao longo de toda a etapa de observação de aulas.

Esses dados se referem aos dicionários selecionados pelos professores e utilizados

nas atividades propostas em sala. Para uma melhor compreensão, sistematizamos

algumas informações no Quadro 07:

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QUADRO 07: Dicionários utilizados nas aulas observadas

Docente Dicionário usado em sala de aula

PNLD Quantidade de verbetes

Tipo

P1 Mini Aurélio Século XXI Escolar

PNLD 2004 - Dicionários

30.000 Minidicionário

P1 Minidicionário Antonio Olinto da Língua

Portuguesa

PNLD 2004 - Dicionários

27.000 Minidicionário

P1 Dicionário Júnior da Língua Portuguesa

PNLD 2012 - Dicionários

14.790 Tipo 2

P2 Dicionário Ilustrado de Português

PNLD 2012 - Dicionários

5.900 Tipo 2

P2 Palavrinha Viva: Dicionário Ilustrado da

Língua Portuguesa

PNLD 2012 - Dicionários

7.456 Tipo 2

P2 Dicionário Aurélio Ilustrado

PNLD 2012 - Dicionários

10.243 Tipo 2

P2 Caldas Aulete – Dicionário Escolar da Língua

Portuguesa: Ilustrado com a turma do Sítio do Pica-

Pau Amarelo

PNLD 2012 - Dicionários

6.183 verbetes

Tipo 2

P2 Dicionário Júnior da Língua Portuguesa

PNLD 2012 - Dicionários

14.790 Tipo 2

Fonte: Elaborado pelo autor

Os dados apresentados no Quadro 07, no que se refere ao PNLD, quantidade

de verbetes e tipo, foram coletados em Brasil (2003) e Brasil (2012). A partir do

exposto nesse quadro, podemos compreender que P1 selecionou e trabalhou com

três (03) obras lexicográficas diversas. Já P2 executou o seu trabalho docente a

partir do uso de cinco (05) dicionários. Notamos, ainda, que ambos os professores

fizeram uso do dicionário do tipo 2, o qual é adequado à série em que eles lecionam,

levando em consideração a taxonomia proposta em Brasil (2012). Neste documento,

dicionários desse tipo destinam-se aos estudantes do 2º ao 5º ano do ensino

fundamental, consoante já discutimos na seção 3.2 desta pesquisa. No entanto,

destacamos o fato de P1 ter selecionado e trabalhado com duas obras que destoam

estruturalmente das demais: “Mini Aurélio Século XXI Escolar” e “Minidicionário

Antonio Olinto da Língua Portuguesa”, que se configuram como minidicionários. Na

avaliação feita pelo PNLD 2004, o primeiro foi aprovado com distinção, porém o

segundo foi aprovado com ressalvas, haja vista os seguintes problemas:

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[...] o professor deverá estar atento às consequências de o dicionário dirigir-se a um usuário maduro, desejoso de aprimoramento, e não ao aluno do Ensino Fundamental. [...] muito embora o universo vocabular infanto-juvenil esteja relativamente bem representado, a seleção lexical não tem um planejamento cuidadoso: há saltos aleatórios na sequência alfabética, inclui-se um número excessivo de termos inusitados para um minidicionário de uso escolar, e a representação dos diferentes domínios deixa de lado, com frequência, palavras de uso corrente. Há, ainda, imprecisões e lacunas na formulação dos verbetes, o que, aliado à ausência de exemplos e abonações, dificulta a compreensão de algumas definições. Finalmente, o apêndice de exposição de conceitos de gramática e ortografia apresenta imprecisões e equívocos (BRASIL, 2003, p. 69).

Sendo assim, o minidicionário supracitado apresenta inúmeras falhas

estruturais que o faz ser considerado inadequado para o uso escolar, especialmente

para a aprendizagem de alunos dos anos iniciais do ensino fundamental. De modo

geral, isso acontece porque os minidicionários são apenas reduções de dicionários

gerais e sua produção não apresenta finalidade pedagógica. Foi por esta razão que

o MEC reformulou os seus critérios de avaliação dos dicionários escolares e, a partir

de 2006, o PNLD passou a priorizar “as necessidades dos estudantes como critério

central para a constituição dos dicionários e classificando-os por modalidade de

ensino, tamanho da nomenclatura e proposta lexicográfica adequada a cada uma

das etapas de ensino” (NASCIMENTO, 2018, p. 35).

Neste sentido, percebemos que a ação do sujeito P1 vai ao encontro da

crença apresentada por P2, discutida na seção 5.2.1, segundo a qual “não existe um

tipo específico de dicionário para os anos iniciais do ensino fundamental, pois são

utilizados os dicionários disponíveis na escola”. Ante essa realidade, podemos

refletir sobre o seguinte questionamento: será que durante a seleção dos dicionários

a serem usados em sala de aula, P1 estava atento aos problemas estruturais e à

inadequação do minidicionário que escolheu? Na primeira parte da análise, P1

reconheceu que o acervo de materiais didáticos da escola conta com dicionários de

diferentes editoras. Entretanto, a ação de selecionar e trabalhar com uma obra

dicionarista considerada já ultrapassada e inadequada atesta ainda mais a

necessidade de ele ser um pouco mais crítico e estar atento às especificidades do

dicionário que trabalha em sala de aula.

Agora que já discutimos como os docentes concebem o uso do dicionário em

sala de aula e selecionam esse material didático, vejamos, na seção 5.2.3, de que

forma esses sujeitos trabalham-no em sua prática de ensino.

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5.2.3 O uso do dicionário escolar infantil em sala de aula

Já dissemos que, conforme Barcelos (2006), o comportamento do ser

humano sofre o impacto de suas crenças e, nesse caso, aquilo que o professor

realiza em sala de aula revela a crença que ele possui acerca de algum elemento do

processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, a fim de facilitar a compreensão

das ações dos professores envolvendo o dicionário escolar infantil em sala de aula,

selecionamos alguns momentos relevantes das aulas observadas dos dois sujeitos

pesquisados, sistematizando-os nas seguintes categorias: 1- Crença sobre a

influência do contexto no sentido da palavra pesquisada no dicionário; 2- Crença

sobre o uso do dicionário como ferramenta de auxílio na escrita; 3- Crença sobre a

importância da informação gramatical do verbete; 4- Crença sobre a maior

completude de um dicionário em relação a outro; e 5- Crença sobre o uso do

dicionário em diferentes disciplinas.

No primeiro capítulo desta tese, discutimos que o vínculo entre crença e

prática pedagógica pode ser entendido por meio de três formas: a relação causa-

efeito; a relação interativa; e a relação hermenêutica (RICHARDSON, 1996;

BARCELOS, 2006; BONFIM; CONCEIÇÃO, 2009). Nesse sentido, com o intuito de

averiguar a influência das crenças na prática de ensino dos sujeitos pesquisados, ou

melhor, de esclarecer como se deu a inter-relação entre crenças e ações docentes,

consideramos pertinente confrontar os dados das notas de campo com o que P1 e

P2 expuseram nas entrevistas, já que, nesta etapa de coleta, eles responderam a

perguntas relacionadas justamente às práticas pedagógicas aqui discutidas.

Quando comparado a outros textos que circulam socialmente, “um dicionário

representa um desafio maior, mais sofisticado, especialmente por seu componente

de descrição linguística, que nele aparece de forma explícita, desafiando o leitor sem

preparo nesse campo de conhecimento” (CORRÊA, 2011, p. 157). Talvez por essa

razão, percebemos, em algumas aulas observadas, problemas quanto ao uso

proficiente do dicionário. Vejamos, em (44) e (45), o relato das ações de P1 e de P2

frente às dificuldades de seus alunos na realização da consulta lexicográfica:

(44) Durante a atividade, P1 auxiliou os alunos, especialmente os que estavam apresentando dificuldades. Para um discente que procurava o significado de “cismar”, ele explicou: “tem que ser no ‘c’”. Ele próprio indagou para a turma: “professor, é os 4 significados? Não, é aquele que se adequar ao contexto do poema” (AULA DE P1, 17/08/17).

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(45) Durante a atividade, P2 chamou a atenção de uma aluna para que esta procurasse as palavras tendo em vista a sequência alfabética, caso contrário ela demoraria muito para encontrar o que estava procurando. O docente olhou o resultado da consulta de um grupo [...] e pediu que os integrantes ficassem atentos para os acentos das palavras e disse-lhes: “Vamos corrigir” (AULA DE P2, 21/08/17).

Nos dois casos, vemos que os professores interviram tentando ajudar os

alunos a realizarem a consulta lexicográfica, alertando-os, principalmente, para a

ordenação alfabética das palavras: “[...] Para um discente que procurava o

significado de ‘cismar’, ele explicou: ‘tem que ser no ‘c’” (AULA DE P1, 17/08/17);

“Durante a atividade, P2 chamou a atenção de uma aluna para que esta procurasse

as palavras tendo em vista a sequência alfabética [...]” (AULA DE P2, 21/08/17). Em

relação à abordagem de P2, ressaltamos que, depois de olhar o resultado de um

grupo de alunos, o docente chamou a sua atenção para aspectos normativos das

palavras que eles haviam escrito na atividade. Isso se torna compreensível tendo em

vista que um dos procedimentos básicos para o processo de incorporação de novas

palavras ao vocabulário do estudante é a fixação da forma do item lexical (GOMES,

2011).

Além disso, o docente empregou a estratégia de se colocar no lugar dos

alunos e perguntou a si próprio e à turma “professor, é os 4 significados? Não, é

aquele que se adequar ao contexto do poema”. Ao fazer isso, notamos que P1

defende a necessidade de, durante a pesquisa ao dicionário, o aluno estar atento

para o contexto da palavra pesquisada. Nesse ponto, sua postura converge com o

pensamento de Nascimento (2013, p. 158), segundo o qual é papel do docente

orientar o uso do dicionário, de modo que o aluno não leia o verbete pela metade ou

selecione “qualquer uma das acepções das palavras”.

Quando alerta os estudantes a respeito da importância do contexto em que a

palavra pesquisada está inserida, a ação de P1 dialoga com o que é defendido em

Leffa (2011, p. 127): “é preciso ensinar ao aluno a não se desligar do texto quando

vai ao dicionário à procura de uma palavra, retomando a leitura no ponto em que

parou do modo mais rápido possível”. A postura defendida pelo autor também foi

verificada na prática pedagógica de P2, conforme é exposto em (46):

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(46) Após um tempo, finalizada a consulta, foi solicitado que os alunos lessem o que encontraram na consulta ao dicionário. E assim foi feito. Os alunos liam o significado encontrado, ele pedia para que voltassem o olhar para a parte do texto onde estava a palavra em debate, relia esse trecho e perguntava-lhes se tinha dado para entender melhor o sentido do texto (AULA DE P2, 18/08/17).

Desse modo, podemos perceber a preocupação do docente em fazer com

que os alunos não se desligassem do texto após a consulta lexicográfica, já que ele

insistia em que os alunos lessem os significados que encontraram, voltassem para o

texto estudado e respondessem se a partir de então eles haviam entendido melhor o

sentido do texto. Sendo assim, notamos que os sujeitos pesquisados buscam

desenvolver no estudante a capacidade de integrar o dicionário com o texto

trabalhado. Entretanto, é pertinente destacar que a palavra final na construção dos

sentidos textuais resulta da compreensão responsiva do consulente ao relacionar o

significado dicionarizado e o texto estudado (LEFFA, 2011).

Tendo em vista as práticas de P1 e de P2 ora debatidas, os informantes

foram questionados se, numa atividade de pesquisa no dicionário, seria importante

levar em conta o contexto da palavra pesquisada ou reler a parte do texto onde a

palavra se encontra. Suas respostas podem ser lidas em (47) e (48):

(47) [...] é muito importante [...] pela questão de, eu posso ter uma palavra, que ela está escrita, mas ela não possa ter o mesmo significado no contexto que ela tá inserida, né?, porque existe o sentido denotativo e o conotativo da palavra, o conotativo seria o mais/denotativo seria o real, e o conotativo seria, é:: a forma de repente que você pudesse, colocar, ou o sentido que queira dar, é:: e isso seria um problema/às vezes/o dicionário ele é direto, mas ele a/pode apresentar vários significados praquela palavra, e qual seria o significado, que mais caberia? Aí ele poderia ver lá no dicionário (P1). (48) Sim, muito importante, porque, como a palavra tem vários significados, eu sempre:: deixo isso bem claro pra os alunos, ela tem que tá de acordo com aquela parte do texto, porque ela não tem só um sinônimo. Então ela tem que tá lá com coerência, o que o texto está falando, pra poder eles saber é:: o significado naquele momento (P2).

Os docentes foram unânimes em concordar com o fato de que o dicionário

apresenta uma multiplicidade de significados de cada palavra-entrada que registra.

Daí que ambos acreditam na importância do contexto na construção do sentido da

palavra consultada no dicionário. Sendo assim, podemos dizer que as práticas

expostas anteriormente de P1 e de P2 são, consequentemente, uma materialização

das crenças desses sujeitos. Nos dois casos, em que P1 solicitou que os alunos

atentassem para o contexto do poema e P2 relia as partes do texto onde estavam as

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palavras consultadas no dicionário, verificamos a relação de causa-efeito

(RICHARDSON, 1996; BARCELOS, 2006), uma vez que, como mostramos, as

ações pedagógicas dos professores foram influenciadas direta ou indiretamente

pelas suas crenças.

No excerto (49), notamos que a prática pedagógica de P1 revela a crença

sobre o emprego do dicionário para o desenvolvimento da escrita:

(49) O docente iniciou a aula dizendo que iria escrever no quadro três palavras, para que os alunos pesquisassem seus significados em dicionários e, em seguida, escrevessem frases com essas palavras. Dito isto, o professor assim escreveu: denegrir, alameda, diplomata. P1 disse que antes de eles criarem a frase, precisariam saber o sentido da palavra e reiterou: “Leia a palavra, procure entender o que ela significa e, depois, crie a frase” (AULA DE P1, 17/08/17).

Conforme relatado, o docente listou na lousa as palavras “denegrir, alameda,

diplomata” e solicitou que, após consultarem o dicionário, os alunos criassem frases

com cada uma dessas unidades lexicais. Em nenhum momento, P1 justificou a

escolha das referidas palavras e, aliás, elas não pertencem ou dialogam com

qualquer texto trabalhado por ele nas aulas observadas.

O dicionário permite o acesso a conhecimentos relativos ao vocabulário de

um texto e ao léxico de uma língua. Sua presença em sala de aula pode

proporcionar ao aluno “subsídios e instrumentos para desenvolver a proficiência em

leitura e produção de textos (orais e escritos) (GOMES, 2007, p. 158). Sendo assim,

podemos dizer que a atividade proposta pelo sujeito P1 configura-se como

descontextualizada, uma vez que ela não está pautada nas práticas discursivas que

acontecem socialmente. Isso fica evidente sobretudo quando o docente associa o

uso do dicionário à produção de frases e não de um texto que pertença a algum

gênero textual.

Nessa perspectiva, é mister reiterar o pensamento de Coroa (2011, p. 67)

sobre a necessidade de perceber e usar o dicionário como integrante de práticas

discursivas, porque assim ele se configurará como um instrumento produtivo do

fazer linguístico, tornando-se “mais um dos elementos simbólicos de que os

cidadãos leitores e produtores de textos dispõem para construir, e reconstruir, redes

de significação [...]”. É preciso insistir, portanto, que a presença desse material

didático no cotidiano escolar está a serviço da aprendizagem linguística do aluno,

seja na aquisição lexical, na leitura e na produção textual, podendo, inclusive, tornar-

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se “uma ferramenta didático-pedagógica que pode aperfeiçoar as versões de textos

e auxiliar nesse processo de descobertas da língua [...]” (BOLZAN, 2012, p. 120).

Ante essa conjuntura, P1 foi confrontado, na etapa da entrevista, se

acreditava que o dicionário poderia ser usado para o trabalho da produção de texto.

Ele se posicionou conforme o exposto em (50):

(50) [...] é:: principalmente nessa ideia/a ideia, você lança um tema e o aluno ele, de repente não sabe, iniciar o seu texto, porque/eu acho o maior, o maior obstáculo pra iniciar pra eles é o início, “que palavrinha eu posso colocar?”, porque eles já tinham dimensão dentro das produções de texto, de fazer introdução, desenvolvimento e conclusão, mas como iniciar, eles tavam com um costume ainda de uma produção de texto começar sempre por “era uma vez”, que coisas ainda infantil, né?, e eles precisavam, mas qual seria, que palavra poderia ser colocadas?, então, com o dicionário eles poderiam ver ali, de repente, uma palavra que desse um entendimento de dá uma introdução àquele texto. Aí eu falo de introdução, pode/é:: desenvolvimento. Eu, tentei chamar muitas vezes a atenção de não repetir as palavras, é:: ou então colocar aqui “e aí, e aí, e aí”, essa repetição, e procurar palavras, conectivos que fizesse/que não pudesse ser repetidos, e o dicionário seria essencial pra isso (P1).

P1 acredita que o dicionário pode auxiliar os alunos na melhoria da escrita de

textos, especialmente no que diz respeito a evitar a repetição de determinadas

palavras que garantem a coesão textual. No entanto, como já foi exposto na aula

desse informante, sua crença sobre o uso do dicionário como ferramenta de auxílio

na escrita é materializada de uma forma descontextualizada, pois se restringiu à

escrita de frases. Notamos, pois, uma dissonância entre o que P1 afirma e aquilo

que ele praticou em sala de aula. Nesse caso, fica evidente a relação hermenêutica,

uma vez que ocorre uma espécie de “desencontro entre crenças e ações, ou seja,

as crenças não correspondem necessariamente à ação” (BARCELOS, 2006, p. 27).

Dando continuidade à discussão sobre a prática pedagógica dos informantes,

analisemos o registro (51) sobre uma aula de P1:

(51) [...] À medida que ia lendo e explicando a canção, ia também questionando o sentido de algumas palavras, das quais os alunos demonstraram não conhecer seus significados. Assim, ele escreveu na lousa as seguintes palavras: margem, engrenagem, vigilância, ignorância, contemplam, possibilidade, dirigível [...]. Para finalizar, solicitou que os alunos pesquisassem o significado e a classe gramatical das palavras escritas na lousa anteriormente, afirmando que esse exercício comporia o portfólio de atividades do projeto desenvolvido na escola sobre a vida e obra do cantor e compositor Zé Ramalho (AULA DE P1, 23/08/17).

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Esse excerto pertence a uma aula iniciada por P1 com a entrega da letra da

canção “Admirável gado novo”, de Zé Ramalho. Após os alunos ouvirem e cantarem

a referida música, o docente perguntou se havia no texto alguma palavra da qual

eles não entendiam o significado. Assim, os estudantes disseram algumas palavras

o docente as escreveu na lousa, como expusemos no trecho em análise. Nesse

sentido, verificamos, em (51), que os alunos foram orientados a pesquisarem em

dicionários o significado e a classe gramatical de cada palavra anotada no quadro.

Vale destacarmos que o docente explicou aos estudantes que a classe gramatical

seria encontrada de modo abreviado antes dos significados e expôs, ainda, como as

classes substantivo, adjetivo e verbo estariam grafadas na forma abreviada.

A informação gramatical é um dos aspectos considerados na avaliação do

PNLD e a sua qualidade depende do seguimento dos seguintes critérios: “• todas as

entradas têm a indicação da classe gramatical • a indicação da classe está correta •

a nomenclatura segue a NGB • indicação das irregularidades nos verbos • indicação

de irregularidades na flexão dos nomes” (BRASIL, 2004, p. 32). Sendo assim, a

informação gramatical é uma parte da microestrutura tida como importante pelo

sujeito P1, já que ele solicitou que os alunos voltassem a sua atenção para esse

aspecto. No entanto, percebemos que não ficou claro na orientação dada por P1 o

porquê de se enfatizar na atividade proposta essa parte microestrutural. Mas, pelo

que já foi discutido na seção 5.2.1, a prática desse professor reflete uma

preocupação com o uso do dicionário associado à ampliação do conhecimento

discente sobre a norma padrão da língua portuguesa (KRIEGER, 2007).

A fim de melhor analisarmos a posição valorativa do docente sobre essa

questão, foi feita a seguinte pergunta a ele: saber a classe gramatical de uma

palavra ajuda a entender o seu significado? Sua fala encontra-se transcrita em (52):

(52) Sim, é:: eu vejo pela questão da utilização dela, né?, principalmente na utilização dela dentro da frase. Se eu souber que aquela palavra é um substantivo, nós sabemos que o conceito de substantivo é o nome dado a todo ser, certo?, se ela tiver uma dimensão de verbo, se tiver lá como significado “verbo”, eu não vou ter o/a utilização daquela palavra sendo verbo a mesma como substantivo (P1).

Evidentemente, as palavras do informante revelam a crença na importância

da informação gramatical do verbete, pois, para ele, conhecer a classe gramatical de

uma palavra auxilia no seu uso “dentro da frase”. Assim, percebemos que essa

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crença influenciou a atividade proposta por P1, a qual solicitava que os alunos

pesquisassem não apenas os significados de algumas palavras do texto trabalhado,

mas também a informação gramatical de cada uma delas. Mais uma vez, é possível

verificar entre a crença e a ação docente em debate uma relação do tipo causa-

efeito, já que, nessa categoria, segundo Barcelos (2006, p. 25), as crenças “exercem

um forte impacto em nosso comportamento”.

Em (53), vejamos mais uma ação desenvolvida pelo informante P2 em sala

de aula:

(53) [...] Um aluno disse-lhe que os dicionários não continham determinada palavra e ele afirmou que era porque, no dicionário, essa palavra em questão estava no masculino. A outros grupos, P2 salientou: “Um dicionário pode ser mais completo do que outro”; “Olhe o Aurélio, o dicionário mais famoso”; “É ‘cifradas’ e não ‘cifrão’. ‘Cifrão’ é outra coisa”; “Não encontrou nada aí?” (AULA DE P2, 17/08/17).

Diante da dificuldade dos estudantes em encontrar determinadas palavras, o

docente afirmou em sala de aula que um dicionário pode ser mais completo do que

outro e, aliás, orientou-os a consultarem o Dicionário Aurélio, disponível no acervo

da escola. Desse modo, podemos afirmar que a referida postura assumida por P2

dialoga com a sua crença já discutida na seção 5.1 de nossa análise, quando o

docente deixou claro que acredita na diversidade estrutural da obra dicionarista,

rebatendo a ideia segundo a qual os dicionários são todos iguais.

Ao ser questionado se, para ele, um dicionário poderia ser mais completo do

que outro, P2 esclareceu em (54):

(54) Pode, tivemos essa oportunidade de ver lá na sala, uns dicionários com poucas palavras, e outros com mais palavras. Então/a gente comprovou isso, existem alguns mais completos (P2).

Para o docente, o fato de os dicionários apresentarem uma quantidade

diferenciada de palavras-entradas demonstra a maior completude de um dicionário

em relação a outro. Todavia, ressaltamos que essa ideia de completude é bastante

relativa, pois não é porque um dicionário contém poucas palavras que ele

necessariamente será incompleto. Na própria classificação do PNLD – Dicionários, a

quantidade de verbetes é um dos critérios de diferenciação, porém, como já

discutimos, cada obra atende a demandas estudantis diferentes ao longo da

educação básica (BRASIL, 2012).

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Ancorando-nos nas palavras de P2, podemos ainda afirmar que a sua crença,

de que existem dicionários mais completos, está fundamentada na reflexão sobre o

que aconteceu em sala de aula. Isso se torna perceptível, principalmente, quando

ele menciona: “[...] tivemos a oportunidade de ver lá na sala [...] Então/a gente

comprovou isso [...]”. Vemos configurar-se, então, a relação interativa

(RICHARDSON, 1996; BARCELOS, 2006), já que não apenas a posição valorativa

do docente influenciou a sua prática pedagógica, mas também a reflexão acerca da

ação passada reforçou a crença de P2.

Em (55), é possível perceber a prática de ensino do sujeito P2 envolvendo o

uso do dicionário em uma aula do componente curricular Geografia:

(55) O professor começou a aula dizendo que iriam dar continuidade a uma atividade iniciada em outra aula de Geografia. Em seguida, afirmou “Não só se pode usar dicionário na aula de Português”, em resposta a um aluno que havia questionado se eles iriam utilizar o dicionário. Posteriormente, ela expôs o seguinte: “Vocês vão procurar hoje só duas palavras: exportar e importar”; e, assim, distribuiu os dicionários aos alunos (AULA DE P2, 22/08/17).

Desse modo, vemos que o docente possibilitou um uso do dicionário que

ultrapassa os limites da disciplina de Língua Portuguesa. É pertinente notar que ao

agir assim sua prática de ensino vai de encontro ao que foi constatado por Duarte e

Silva (2017, p. 131), para quem “outras disciplinas, como geografia, ciências,

história, matemática, etc., deixam de explorar o potencial dessa obra tão significante

para todas as áreas do conhecimento”. Quando afirma “Não só se pode usar

dicionário na aula de Português”, a atitude de P2 converge com as palavras de

Bolzan e Durão (2011, p. 184), que defendem o uso da obra lexicográfica como

“instrumento de integração entre as disciplinas [...] já que todas se utilizam da língua

como meio de interação entre os indivíduos e focam seu trabalho no uso

efetivo/aperfeiçoamento da linguagem, veículo comum de transmissão dos

conhecimentos”.

Ao ser indagado se acreditava que o dicionário poderia auxiliar o processo de

ensino-aprendizagem de outras disciplinas, além de Língua Portuguesa, o professor

argumentou em (56):

(56) Sim, acredito, porque em todas as outras áreas existe palavras desconhecidas, que não é do uso deles, do cotidiano, e eles precisam saber é:: o sentido daquela palavra, em todas as áreas, concordo (P2).

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Nas palavras do informante P2, o uso da obra dicionarista não deve se

restringir a uma única disciplina, afinal, é possível que os alunos desconheçam

palavras que integram as diferentes áreas do saber. Em razão disso, torna-se

evidente a relação de causa-efeito (RICHARDSON, 1996; BARCELOS, 2006)

porque, conforme analisado, a atividade proposta por P2, em sala de aula, estava

relacionada à sua posição valorativa de que a consulta ao dicionário não deve ser

exclusiva de um determinado componente do currículo escolar.

Já discutimos que as crenças são relevantes no que concerne à prática

docente, uma vez que conferem segurança na realização da ação do sujeito

professor (SOARES, 2005). Nesse sentido, o Quadro 08 resume o que foi discutido

nesta parte da análise, relacionando as crenças com as ações de P1 e de P2:

QUADRO 08: Síntese dos resultados envolvendo crenças e ações dos professores investigados

Crenças Ações Relação

Crença sobre a influência do contexto no sentido da palavra pesquisada no dicionário

Depois de feita a consulta no dicionário, o docente: questiona qual significado selecionar e orienta que o aluno deve escolher o que se adequar ao contexto do texto estudado (P1).

Causa-efeito

Depois de realizada a consulta lexicográfica, o professor solicita que os estudantes leiam os significados encontrados e a parte do texto onde se localiza a palavra pesquisada, indagando qual o significado mais adequado àquele contexto (P2).

Crença sobre o uso do dicionário como ferramenta de auxílio na produção textual

O professor escreve no quadro palavras para que os alunos pesquisem seus significados no dicionário e, a partir daí, produzam frases contendo essas palavras (P1).

Hermenêutica

Crença sobre a importância da informação gramatical do verbete

O professor solicita que os alunos procurem não apenas o significado, mas também a classificação gramatical de algumas palavras de um dado texto (P1).

Causa-efeito

Crença sobre a maior completude de um dicionário em relação a outro

O docente orienta que o estudante troque de dicionário, sugerindo-lhe o uso do mais famoso (P2).

Interativa

Crença sobre o uso do dicionário em diferentes disciplinas

O professor propõe o uso do dicionário para a realização de uma atividade da disciplina de Geografia (P2).

Causa-efeito

Fonte: Elaborado pelo autor

Em suma, ao orientar o aluno para reler o texto ao qual a palavra pesquisada

pertence, os docentes frisaram a importância do contexto na construção dos

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sentidos. Apesar de associar o uso do dicionário à produção de frases, P1 apontou

em sua prática a contribuição desse material para o desenvolvimento da escrita.

Houve ainda atitudes docentes que revelaram preocupação quanto aos aspectos

gramaticais presentes no dicionário e quanto ao seu uso na disciplina de Geografia,

bem como a comparação crítica entre diferentes obras lexicográficas.

Ficou evidente, portanto, que a articulação envolvendo as crenças e as ações

realizadas pelos professores pesquisados se deu, em sua grande maioria, por meio

da relação de causa-efeito. A análise revelou que, geralmente, esses sujeitos agem

pautados em suas posições valorativas acerca do dicionário escolar infantil. No

entanto, não é sempre que isso acontece, pois também foi constatada a relação

hermenêutica, que apontou uma dissonância entre crença e ação docente no que se

refere ao uso do dicionário em benefício da escrita. Outro aspecto relevante diz

respeito à presença da relação interativa, a qual trouxe para o debate a influência

mútua entre prática pedagógica e crença docente.

Depois dessas considerações, passemos à análise mais aprofundada das

principais experiências pessoais e profissionais que atuam na formação das crenças

dos sujeitos pesquisados.

5.3 CRENÇAS E EXPERIÊNCIAS DOCENTES

Pretendemos abordar, nesta seção, a relação entre crenças e experiências de

professores acerca do dicionário escolar infantil. Isto se deve à finalidade de

respondermos à terceira questão de pesquisa, cuja intenção é explicar os possíveis

fatores que podem estar influenciando na formação das crenças dos sujeitos

investigados.

Respaldamo-nos no pressuposto de que “as crenças são pessoais,

contextuais, episódicas e têm origem nas nossas experiências, na cultura e no

folclore” (BARCELOS, 2001, p. 73, grifo nosso) e, em consequência, refletem a

história de vida e as experiências dos sujeitos. Além do mais, elas possuem

naturezas diferentes (GARBUIO, 2006). Sendo assim, em conformidade com as

pesquisas discutidas no segundo capítulo desta tese, especialmente na seção 2.5,

reiteramos que as “possíveis origens das crenças” de professores (GARBUIO, 2006,

p. 96) estão associadas a: experiência pessoal (RICHARDSON, 1996), influência de

treinamentos (RICHARDS; LOCKHART, 1994; GARBUIO, 2006), experiência com o

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que proporciona melhores resultados (GARBUIO, 2006) e conhecimento transmitido

(VIEIRA-ABRAHÃO, 2001).

A partir da análise dos dados produzidos na entrevista, pudemos perceber

que os docentes destacaram algumas experiências que se relacionam com as fontes

supracitadas, como por exemplo, a experiência com o que proporciona melhores

resultados (GARBUIO, 2006). Neste caso, destacou-se a experiência obtida por

meio de sua própria prática pedagógica, bem como a implementação e adaptação

da experiência de seus colegas de trabalho, conforme exposto em (57) e (58):

(57) [...] Como experiência profissional sim. [...] quando a gente vê um trabalho, do colega, que ele é adequado, que ele é bom, a gente copia. E eu já vi vários profissionais trabalharem é:: dicionário de maneiras diferentes. E isso fez com que eu pudesse é:: implementar essa prática dentro de sala de aula. Então foi uma experiência e:: assim a experiência que a gente copia, a gente, procura também trazer pra realidade de sala. Eu vejo da forma que o professor trabalhou, e eu vou ter a minha/a maneira de trabalhar, de acordo com a realidade da sala que eu esteja trabalhando. Então a experiência profissional com os anos, eu implemento aquele/aquela maneira que eu copiei, e de repente, vou é:: ao longo dos anos, vou colocando outras maneiras, outras atitudes, que possam, possam ser inseridas. Então, isso, como experiência profissional é:: já fiz, muito isso, o uso do dicionário [...] (P1). (58) [...] na experiência profissional sim, favorece bastante, desde que eu comecei a trabalhar [...] (P2).

Segundo P1, o trabalho que ele desenvolve em sala de aula com o dicionário

tem influência das experiências de ensino de seus colegas de trabalho, pois é por

meio de sua observação que ele avalia a validade pedagógica dessas práticas: “[...]

quando a gente vê um trabalho, do colega, que ele é adequado, que ele é bom, a

gente copia [...]”. Porém, ultrapassando a mera repetição da prática pedagógica de

um outro profissional, o docente destaca o fato de ele adaptar aquelas práticas de

outrem para a realidade de sua sala de aula, buscando, com o passar do tempo,

aprimorar sua metodologia de ensino, o que pode ser verificado neste trecho: “[...]

com os anos, eu implemento aquele/aquela maneira que eu copiei, e de repente,

vou é:: ao longo dos anos, vou colocando outras maneiras, outras atitudes, que

possam, possam ser inseridas [...]”. Apesar de ser mais conciso em sua fala, P2

também admite que a experiência profissional influencia no seu trabalho com

dicionário escolar infantil. Neste sentido, as palavras dos professores confirmam o

pensamento de Aparecido da Silva (2006), para quem a atividade vista pelo docente

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como eficiente no processo de ensino-aprendizagem linguística repercute

significativamente na sua forma de entender como o ensino dever ser realizado.

De acordo com Richards e Lockhart (1994) e Garbuio (2006), a experiência

oriunda de treinamentos é um fator importante que incide sobre as crenças de

docentes. Os informantes P1 e P2 trouxeram à tona esse ponto, conforme

percebemos nas seguintes transcrições (59) e (60):

(59) [...] Formação continuada sim. Como a formação continuada, eu já tive a experiência de ter, trabalhos é::, é:: com o Estado para trabalhar com o uso do dicionário, e assim, foi muito bom. E eu coloquei isso em sala de aula, e foi muito proveitoso. Uma formação dada pela UEPB aqui em Catolé do Rocha, cidade de Catolé do Rocha, que eu participei há, não sei se foi três quatro anos atrás, e foi um trabalho muito proveitoso em cima do uso do dicionário, lá [...] (P1). (60) [...] as formações continuadas também incentivam algumas vezes, né?, que ele deve sempre dizer que/diz sempre que a gente deve tá procurando inovar e:: fazer um bom trabalho [...] (P2).

Em (60), o sujeito P2 reconhece, de modo geral, que a formação continuada

incentiva o docente na inovação de sua prática pedagógica, possibilitando a oferta

de um trabalho de qualidade. Já o sujeito P1, em (59), aprofunda um pouco mais

essa questão ao citar o exemplo de uma formação de que participou e sobre a qual

ele afirma: “[...] eu coloquei isso em sala de aula, e foi muito proveitoso [...]”. Desse

modo, é relevante percebermos que mesmo não sendo algo tão comum, o que é

evidenciado pela fala de P2 “incentivam algumas vezes”, o trabalho com o dicionário

em sala de aula chegou a ser pauta de discussão nos treinamentos e nas formações

continuadas de que os sujeitos investigados participaram.

Se a discussão envolvendo o trabalho com o dicionário em sala de aula pouco

se fez presente na formação continuada dos sujeitos de nosso estudo, a situação se

torna ainda mais delicada em relação à sua formação inicial, já que os professores

expuseram o que consta em (61) e (62):

(61) Como formação acadêmica, formação acadêmica, é:: a gente/não teve nenhum trabalho, na minha faculdade, e eu sou formado em Pedagogia, sou formado em Matemática, licenciatura em Pedagogia, licenciatura em Matemática, tenho especialização em Psicopedagogia, em nenhuma delas, foi ensinado um trabalho de dicionário em sala de aula. Então, como formação acadêmica eu não tenho nenhuma qualidade, eu não tenho nenhum aproveitamento pra se dar [...] (P1). (62) É:: na:: formação acadêmica, assim, eu não tive muito a/esse/essa prática não, mas na experiência profissional sim [...] (P2).

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Ambos os entrevistados deixaram evidente em suas falas a falta de

preparação em suas licenciaturas para uma prática de ensino envolvendo o uso da

obra lexicográfica. Essa constatação vai ao encontro do que afirmam Damin (2005),

Gomes (2007), Dargel (2011) e Nascimento (2013), que, em suas pesquisas, já

apontavam a precariedade na preparação docente dos cursos de Pedagogia e

Letras, no que diz respeito a uma formação mínima acerca de conhecimentos

lexicográficos necessários ao uso produtivo do dicionário no processo de ensino-

aprendizagem.

As experiências, até o momento discutidas, relacionam-se ao que Vieira-

Abrahão (2001, p. 153-154, grifo nosso) denomina de conhecimento transmitido, o

qual é entendido pela autora como “aquele adquirido por meio da exposição às

ações e discursos de outras pessoas e por meio de livros, filmes e outros registros”.

Desta maneira, ressaltamos, em (63) e (64), o que P1 e P2 falaram ao serem

questionados sobre a categoria manual didático:

(63) [...] Manual didático, não vejo. Não vi assim, até em livros/a gente é:: se você tem percebido, os livros de português antigamente quando a gente estudava, existia um local lá le/logo depois dos textos, tinha lá, é:: dicionário/que colocava até o nome de glossário. E tinha o significado de todas as palavras do texto, palavras complicadas. Hoje a gente/dificilmente se vê isso nos livros. Muito difícil, às vezes eles colocam lá duas três palavras, mas não como antigamente. Então, como manual didático é muito complicado, essa questão do dicionário. Praticamente não se vê e não se ensina. A gente sabe, nós como professores, lá no final dos livros existe, assim, um sub/é/um subsídio para o professor trabalhar diversas maneiras determinado conteúdo, mas dificilmente você vai encontrar com o uso do dicionário. Dificilmente [...] (P1). (64) [...] O manual didático, é:: ele traz, alguns livros, né?, que traz ali aquele glossário, tem/é:: também eu planejo utilizando aquilo dali [...] (P2).

De modo geral, as falas dos participantes evidenciam que o uso do dicionário

é algo que se encontra silenciado no manual didático. P1 é enfático ao afirmar que

nem na parte final do livro (que é constituída por um subsídio teórico-metodológico)

a discussão acerca do dicionário escolar é encontrada. Além disso, ele problematiza

a presença de glossários nos livros didáticos, especialmente quando faz a seguinte

crítica: “[...] antigamente quando a gente estudava [...] tinha o significado de todas as

palavras do texto, palavras complicadas. Hoje a gente/dificilmente se vê isso nos

livros [...]”. Já o docente P2 deixa claro em sua fala que alguns livros ainda

apresentam glossário e que ele planeja suas aulas levando em conta essa lista de

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palavras. Sendo assim, suas palavras também confirmam uma lacuna em relação à

abordagem do uso do dicionário nos livros didáticos.

Entretanto, é pertinente destacarmos as palavras de Carvalho (2012, p. 30),

segundo o qual a presença de “um glossário acompanhando os textos impede o

leitor de percorrer seu próprio caminho de leitura, tirando-lhe a oportunidade de

processar e tentar resolver suas dúvidas, em função do contexto que tem diante de

si e de sua bagagem intelectual e pessoal”. Ressalta-se, assim, que a existência de

glossários dos textos do livro didático pode prejudicar de certa forma os estudantes.

Ao destacarem determinadas palavras, os autores presumem que os leitores saibam

as demais e, em alguns casos, as palavras selecionadas podem não corresponder

ao grau de dificuldade presumido.

Já dissemos que as crenças são (re)construídas ao longo das experiências de

vida dos sujeitos professores (SILVA, 2000; SILVA, 2005; BARCELOS, 2006). Por

esta razão, discutir as origens das crenças docentes requer o exame da influência

de sua experiência pessoal enquanto aluno na forma como ele interpreta e realiza o

processo de ensino-aprendizagem. Registramos, em (65) e (66), trechos das

entrevistas em que esse assunto é mencionado:

(65) [...] E:: outras experiências que eu tive com o dicionário, é:: como aluno não tive/eu não recordo algo que tenha me feito assim ter dado grande importância/o uso do dicionário [...] (P1). (66) [...] E também quando eu estudei, eu lembro muito, que bem antes, né?, antiga/meus professores primários eles utilizavam o dicionário, apesar que os recursos naquela época eram poucos, mas aí a partir daí eu vi a necessidade de trabalhar com o dicionário [...] (P2).

A fala de P1 evidencia que ele descarta a influência de sua experiência como

aluno na maneira que ele exerce o seu trabalho docente envolvendo o uso do

dicionário. Em contrapartida, P2 salienta que os professores do início de sua

escolarização usavam a obra dicionarista, apesar da escassez de recursos daquela

época. Ao afirmar “[...] mas aí a partir daí eu vi a necessidade de trabalhar com o

dicionário [...]”, o docente ratifica que a prática de antigos mestres (RICHARDS;

LOCKHART, 1994) pode ser vista como uma possível origem de suas crenças. Se

não influenciou diretamente no modo de planejar e executar o trabalho com o

dicionário em sala de aula, a repercussão dessa vivência se deu ao menos

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indiretamente ao fazer com que P1 percebesse a importância pedagógica do

referido material.

No Quadro 09, resumimos as experiências reveladas nas falas dos docentes

e discutidas ao longo deste tópico:

QUADRO 09: Resumo das possíveis origens das crenças de P1 e P2

Experiência

P1

P2

Não é uma

possível origem

Própria prática pedagógica

X

Prática de ensino de colegas de trabalho

X

Formação inicial X

Formação continuada X X

Manual didático X

Prática de antigos professores

X

Fonte: Elaborado pelo autor

Em vista disso, reiteramos o pensamento de Barcelos (2001, p. 73), quando

diz que as crenças são “pessoais, contextuais, episódicas” e têm como gênese a

historicidade humana e as experiências vivenciadas. As vivências relatadas por P1 e

P2 ratificam não só “possíveis origens” (GARBUIO, 2006) diferenciadas de crenças

em torno do dicionário escolar infantil, mas também mostram a necessidade de uma

abertura maior, no ambiente acadêmico, da discussão acerca dos conhecimentos

produzidos na área da Metalexicografia Pedagógica.

Ao longo deste capítulo, interpretamos e analisamos as crenças de dois

professores de 5º ano do ensino fundamental sobre o dicionário escolar infantil.

Vimos que, de modo geral, suas posições valorativas convergem com os postulados

da Metalexicografia, principalmente no que corresponde às diferenças estruturais

dos dicionários e à importante presença das ilustrações naqueles que se destinam

ao público infantil. Entretanto, também foram verificadas crenças que não são

valiosas para o trabalho com o dicionário em sala de aula, já que desconsideram a

classificação proposta pelo PNLD – Dicionários, as facetas discursivo-ideológicas da

obra dicionarista, entre outros aspectos.

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Em seguida, verificamos que os docentes reconhecem a contribuição do uso

do dicionário no desenvolvimento das habilidades linguísticas dos alunos, porém não

são estabelecidos critérios claros para a seleção dos dicionários trabalhados em

sala de aula. O uso efetivo desse material revelou que as crenças e práticas de

ensino de P1 e de P2 se articulam por meio das relações causa-efeito, hermenêutica

e interativa. Finalmente, foi constatado que as crenças dos professores pesquisados

têm como gênese diferentes experiências pessoais e profissionais, como a própria

prática pedagógica e as atividades desenvolvidas por colegas de trabalho ou por

antigos professores. Por outro lado, chamou atenção o fato de o uso do dicionário

escolar não ser contemplado na formação inicial desses sujeitos, nem no livro

didático adotado na escola.

A próxima seção trata da conclusão, em que fazemos uma breve retomada

do que foi discutido ao longo desta tese, dando ênfase aos principais resultados.

Além de trazer à baila os achados da pesquisa, explicitamos suas contribuições para

a área e vislumbramos possíveis propostas para futuras pesquisas.

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6 CONCLUSÃO

Neste trabalho, nosso principal objetivo foi analisar as crenças de

professores de 5º ano do ensino fundamental em torno do dicionário escolar infantil,

o que nos permitiu confrontar as convicções de dois docentes acerca desse material

didático e do seu uso em atividades escolares. Para tanto, formulamos e buscamos

respostas para três questões de pesquisa, apresentadas na introdução desta tese e

retomadas agora: 1 – De que modo as crenças de professores do ensino

fundamental I sobre o dicionário escolar infantil podem ser interpretadas? 2 – Como

as crenças de professores do ensino fundamental I se relacionam às suas práticas

de ensino envolvendo o uso do dicionário escolar infantil? 3 – De que maneira as

experiências de professores do ensino fundamental I atuam na formação das

crenças desses sujeitos em relação ao dicionário escolar infantil?

Para respondermos a essas perguntas, foram estabelecidos os seguintes

objetivos específicos: interpretar as crenças de professores do ensino fundamental I

sobre o dicionário escolar infantil, na perspectiva da Metalexicografia Pedagógica;

averiguar a influência das crenças sobre o dicionário escolar infantil na prática de

ensino de docentes do ensino fundamental I; e explicar as possíveis origens das

crenças de professores do ensino fundamental I acerca do dicionário escolar infantil.

Por conseguinte, a análise foi sistematizada didaticamente em três momentos, cada

qual destinado a atender um desses objetivos. Apresentamos, a seguir, os

resultados que encontramos para cada um dos objetivos/questões.

Sobre a questão 1, que trata especificamente das crenças de professores do

ensino fundamental I sobre o dicionário escolar infantil, observamos que a maior

parte das posições valorativas dos sujeitos de nossa pesquisa converge com os

postulados da Metalexicografia Pedagógica, o que evidencia um olhar atento desses

professores especialmente para aspectos que integram a micro e a macroestrutura

da obra lexicográfica. Ambos os professores explicitaram a certeza de os dicionários

serem diferentes, partindo do pressuposto de que algumas palavras e ilustrações

são encontradas em determinadas obras e em outras não, havendo ainda a

abordagem de significados diferentes de uma mesma unidade lexical nos

dicionários. Outro dado relevante foi a forma como os docentes encaram a natureza

multimodal desse material. P1 e P2 apontaram a importância da ilustração para

despertar o interesse dos discentes pela sua leitura e, ainda por cima, P1

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reconheceu o papel desse elemento do material interposto no que diz respeito à

elucidação e à compreensão dos significados das palavras.

Em contrapartida, a análise dos dados demonstrou, também, que tanto P1

quanto P2 possuem crenças que consideramos inadequadas a respeito do dicionário

escolar infantil. De um lado, P1 defendeu que a obra lexicográfica não se torna

ultrapassada ao longo dos anos e que ela é neutra, já que não aborda a opinião de

uma determinada pessoa. De outro, P2 deixou claro que acredita na ideia segundo a

qual a qualidade de um dicionário está no fato de ele ser usado na escola desde o

ciclo de alfabetização. Além do mais, o docente defendeu que esse material didático

possui neutralidade e não veicula preconceitos e, inclusive, desconsiderou a

existência de uma obra dicionarista específica para o público consulente dos anos

iniciais do ensino fundamental, salientando que, em sala de aula, são utilizados os

dicionários disponíveis na escola ou os pertencentes ao aluno.

Neste sentido, as referidas posições valorativas de P1 e de P2 são

inadequadas por três motivos básicos. Em primeiro lugar, por descartarem a

existência de dicionários específicos para as diversas etapas da educação básica,

como orienta a taxonomia do PNLD – Dicionários, em Brasil (2012). Em segundo

lugar, por desconsiderarem os aspectos discursivo-ideológicos da obra dicionarista.

Em terceiro lugar, porque marginalizam ou ignoram a necessidade de atualização da

obra dicionarista ante os novos usos linguísticos que emergem historicamente na

sociedade.

No que se refere à questão 2, que aborda como as crenças de professores do

ensino fundamental I se relacionam às suas práticas de ensino envolvendo o uso do

dicionário escolar infantil, a descrição e a análise dos dados demonstraram que, de

modo geral, o uso do dicionário defendido e praticado em sala de aula subsidiava

um processo de ensino-aprendizagem linguística pautado em contextos reais de uso

da língua. Em suma, as práticas de ensino observadas associavam a consulta

lexicográfica à construção dos sentidos de diferentes gêneros textuais (poema,

canção, biografia e conto).

No plano discursivo, isto é, no dizer, os informantes focalizaram o uso do

dicionário para o aprendizado do significado e da pronúncia das unidades lexicais,

bem como a incorporação de novas palavras ao vocabulário do estudante. Por seu

turno, a análise dos dados revelou ainda uma forte preocupação docente com o

trabalho da obra dicionarista visando ao domínio de noções gramaticais. Vale

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destacarmos que o número insuficiente de dicionários no acervo bibliográfico da

escola foi um dos motivos apontados por P1 que dificultam o planejamento e a

execução de atividades envolvendo o emprego desse material de consulta. Isso

aponta para uma necessidade de que as políticas públicas voltadas para a aquisição

e distribuição de materiais didáticos invistam um pouco mais no que corresponde ao

dicionário escolar infantil, de modo a atender a demanda real de alunos

matriculados.

Reportando-nos a alguns dos resultados, pudemos verificar que ambos os

professores executaram o seu trabalho docente por meio do uso de dicionários do

tipo 2, que são de fato adequados à série em que eles lecionam, se levarmos em

consideração a taxonomia proposta em Brasil (2012). Em contrapartida, verificamos

também que, no caso específico de P1, foram selecionados e trabalhados

minidicionários, um deles bastante criticado na própria avaliação do PNLD, haja vista

suas inúmeras falhas estruturais. Isso nos fez refletir se durante a seleção dos

dicionários a serem usados em sala de aula, P1 estava atento aos problemas

estruturais e à inadequação do minidicionário que escolheu. No entanto, esses

resultados possibilitam uma outra inferência. De acordo com os dados coletados em

sala de aula, uma das causas que fizeram com que o referido docente sugerisse que

seus alunos consultassem um minidicionário foi o fato de que eles não estavam

encontrando no dicionário de tipo 2 as palavras que buscavam. Isso nos leva a

ponderar até que ponto a quantidade de entradas dos dicionários desse tipo é

realmente representativa e suficiente para as necessidades de aprendizagem do

público-alvo a que se destinam.

No que diz respeito ao trabalho realizado em sala de aula, pudemos constatar

que as práticas pedagógicas dos sujeitos pesquisados se relacionaram direta ou

indiretamente com alguma das seguintes posições valorativas acerca do dicionário

escolar infantil e do uso desse material: 1- Crença sobre a influência do contexto no

sentido da palavra pesquisada no dicionário; 2- Crença sobre o uso do dicionário

como ferramenta de auxílio na produção textual; 3- Crença sobre a importância da

informação gramatical do verbete; 4- Crença sobre a maior completude de um

dicionário em relação a outro; e 5- Crença sobre o uso do dicionário em diferentes

disciplinas. Dentre outros aspectos, esses dados indicaram que, embora ambos os

docentes tenham admitido discursivamente, no início da análise, o papel da obra

lexicográfica como uma ferramenta importante para o desenvolvimento da escrita e

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da produção textual, isso ainda precisa ser repensado e melhorado na prática de

ensino desses sujeitos. No caso específico de P1, por exemplo, a atividade proposta

configurou-se como descontextualizada, já que não estava pautada nas práticas

discursivas que acontecem socialmente, mas simplesmente solicitava a produção de

frases a partir de palavras consultadas no dicionário.

Perante o exposto, reafirmamos a nossa tese de que as crenças de

professores sobre o dicionário escolar infantil manifestam-se não apenas

discursivamente, mas também se concretizam nas práticas pedagógicas desses

sujeitos. Pela leitura dos dados, chegamos ao entendimento de que a articulação

entre crença e prática pedagógica envolvendo o dicionário escolar infantil, no

contexto em que a pesquisa foi realizada, configurou-se, de modo geral, por meio da

relação de causa-efeito, na qual as posições valorativas dos sujeitos influenciaram

as tomadas de decisões ocorridas em sala de aula. Por sua vez, também foi

verificada a relação hermenêutica, uma vez que houve um desencontro entre a

crença e a prática de ensino do sujeito P1 em relação ao uso do dicionário como

ferramenta de auxílio na escrita. Além disso, a análise revelou, inclusive, a relação

interativa, pois a reflexão sobre a própria prática pedagógica serviu como base, ou

melhor, reforçou a crença de um dos sujeitos investigados, P2.

Em relação à atuação das experiências dos professores na formação de suas

crenças sobre o dicionário escolar infantil, questão 3 que norteou este estudo, os

resultados apontaram para as seguintes possíveis origens das convicções dos

informantes: a própria prática pedagógica; atividades desenvolvidas por colegas de

trabalho; treinamentos e formações continuadas; e a prática de ensino de antigos

mestres do início de sua escolarização. Por outro lado, de acordo com o relato feito

pelos professores, o uso do dicionário encontra-se silenciado nos livros didáticos

que utilizam. Por fim, a análise dos dados evidenciou a falta de preparação na

formação inicial de ambos os docentes no que se refere a uma base mínima de

conhecimentos lexicográficos necessários ao uso produtivo do dicionário no

processo de ensino-aprendizagem. A partir daí, pudemos compreender melhor

algumas crenças e atitudes desses professores, bem como o porquê de algumas

divergirem dos pressupostos lexicográficos.

Este trabalho não teve o intuito de esgotar as discussões em torno das

crenças de professores sobre a obra dicionarista escolar, mas sim contribuir com a

reflexão e o debate do referido assunto. Dados os recortes metodológicos

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necessários para a sua sistematização e realização, convém reconhecer as lacunas

deixadas pelo nosso estudo. Uma delas se refere ao nível de generalização de seus

resultados, uma vez que o universo pesquisado se restringiu a apenas dois

professores. Apesar do número limitado de participantes, os resultados

apresentados e discutidos ao longo da análise demonstraram uma diversidade

significativa de crenças e práticas pedagógicas envolvendo o dicionário escolar

infantil. Não podemos aqui, e não foi nosso interesse, generalizar as crenças e

práticas docentes abordadas, nem tão pouco correlacioná-las ao perfil profissional

de cada um dos sujeitos pesquisados, afirmando que todos os professores com o

perfil de P1 ou de P2, por exemplo, possuem as mesmas crenças e agem

igualmente em sala de aula. Outra lacuna deixada pela presente pesquisa diz

respeito a não termos abordado profundamente as crenças de professores com

relação à multimodalidade do dicionário escolar infantil, já que esse não era

necessariamente nosso objetivo, além do fato de nosso objeto de estudo focalizar

apenas dois dos quatro tipos de dicionários escolares da classificação mais recente

do PNLD – Dicionários.

Isto posto, defendemos a pertinência do desenvolvimento de pesquisas que

deem continuidade à discussão iniciada nesta tese, levando em conta um número

maior de participantes ou ainda professores das demais etapas de ensino da

educação básica. Aliás, poderiam ser investigados não somente os docentes de

língua portuguesa, mas também os das outras disciplinas do currículo escolar, já

que a possibilidade de uso da obra lexicográfica nessas áreas foi apontada e

debatida sumariamente em nossa pesquisa. Sabendo dos benefícios do uso do

dicionário para o desenvolvimento cognitivo do consulente e, consequentemente,

para a prática da produção de textos, é pertinente a realização de pesquisas que

investiguem esses aspectos e que proponham metodologias que não limitem o uso

da obra dicionarista à escrita de frases, como aconteceu na prática pedagógica de

P1.

No que se refere aos contributos da pesquisa para a Linguística Aplicada,

ressaltamos que os resultados aqui apresentados poderão ser retomados em

pesquisas vindouras, abrindo novos percursos especulativos acerca do uso do

dicionário em sala de aula. Acrescentamos, por exemplo, a pertinência de estudos

que focalizem a exploração da articulação verbo-visual da obra dicionarista no

processo de ensino-aprendizagem.

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Finalmente, ressaltamos a intenção de mostrar para os participantes os

resultados gerados por esta investigação e discutir possíveis desdobramentos.

Acreditamos, portanto, que esta seria uma forma de instigá-los a autoavaliarem suas

crenças e suas práticas pedagógicas em relação ao dicionário escolar infantil e ao

seu uso no âmbito da escola. Esperamos ainda que os resultados alcançados

inquietem outros sujeitos, subsidiando a sua formação docente no campo do léxico,

seja a inicial ou a continuada.

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APÊNDICES

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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE- UERN

Campus Avançado Profª. Maria Elisa de A. Maia – CAMEAM

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPEG

Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL

Curso de Doutorado em Letras

QUESTIONÁRIO: PARTE I

CÓDIGO DE IDENTIFICAÇÃO: __________________________________________ (esse Código de Identificação será preenchido pelo pesquisador)

NOME COMPLETO:___________________________________________________

IDADE:__________

FORMAÇÃO ACADÊMICA (GRADUAÇÃO/PÓS-GRADUAÇÃO, INSTITUIÇÃO,

ANO):

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

TEMPO DE EXERCÍCIO DOCENTE NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO

FUNDAMENTAL:_____________________________________________________

ESCOLA(S) EM QUE ENSINA:__________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

CIDADE(S):__________________________________________________________

ANO(S) EM QUE ENSINA:______________________________________________

BREJO DO CRUZ – PB, _____/_____/_____

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171

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE- UERN

Campus Avançado Profª. Maria Elisa de A. Maia – CAMEAM

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO – PROPEG

Programa de Pós-Graduação em Letras – PPGL

Curso de Doutorado em Letras

QUESTIONÁRIO: PARTE II

Circule abaixo a opção que corresponde à sua realidade:

1 discordo totalmente

2 discordo às vezes

3 não tenho opinião formada a respeito

4 concordo às vezes

5 concordo totalmente

1 O bom dicionário é o mais conhecido 1 2 3 4 5

2 Os dicionários são todos iguais 1 2 3 4 5 3 O dicionário é uma obra objetiva e neutra 1 2 3 4 5

4 O dicionário é destinado a quem tem pouco conhecimento sobre o funcionamento da língua

1 2 3 4 5

5 Um bom dicionário escolar é para toda a vida estudantil 1 2 3 4 5

6 O dicionário com uma quantidade pequena de entradas é o melhor para os anos iniciais do ensino fundamental

1 2 3 4 5

7 O dicionário adequado aos anos iniciais do ensino fundamental é aquele que apresenta cores e imagens diversas

1 2 3 4 5

8 As imagens, cores e diferentes recursos não verbais

presentes em um dicionário escolar infantil servem como acessórios de enfeite

1 2 3 4 5

9 Não existe um tipo específico de dicionário para ser explorado nos anos iniciais do ensino fundamental, pois o mais importante é a finalidade e o modo como o docente aborda esse material em suas aulas

1 2 3 4 5

10 O uso do dicionário escolar infantil restringe-se a momentos de dúvida em relação à ortografia ou ao significado de alguma palavra

1 2 3 4 5

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APÊNDICE B – PERGUNTAS PRÉVIAS PARA ENTREVISTA

a. Você considera importante o uso do dicionário nos anos iniciais do ensino

fundamental? Por quê?

b. Você utiliza algum critério para selecionar o dicionário a ser trabalhado em

sala de aula com sua turma? Explique.

c. Para você, o que é um bom dicionário escolar infantil?

d. O dicionário escolar infantil permite trabalhar/desenvolver que habilidades dos

alunos?

e. O uso do dicionário escolar infantil geralmente se faz presente em suas

aulas? Se sim, em que momentos e com que objetivos?

f. Você verifica alguma dificuldade, por parte dos alunos, de utilizar o dicionário

escolar infantil? Explique.

g. Você, na qualidade de docente, encontra alguma dificuldade para

planejar/realizar atividades envolvendo o uso do dicionário escolar infantil?

Explique.

h. Em que você se pauta para planejar/realizar atividades envolvendo o uso do

dicionário escolar infantil: formação acadêmica, experiência profissional,

manual didático, formação continuada ou outras experiências?

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APÊNDICE C - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Esclarecimentos

Este é um convite para você participar da pesquisa “CRENÇAS DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I SOBRE O DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL” orientada pelo (a) Prof. ANTÔNIO LUCIANO PONTES e que segue as recomendações das resoluções 466/12 e 510/16 do Conselho Nacional de Saúde e suas complementares. Sua participação é voluntária, o que significa que você poderá desistir a qualquer momento, retirando seu consentimento sem que isso lhe traga nenhum prejuízo ou penalidade.

Caso decida aceitar o convite, você será submetido aos seguintes procedimentos: questionário, observação de aulas e entrevista, cuja responsabilidade de aplicação é de LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO, o qual realiza o curso de Doutorado em Letras, no Campus Avançado “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA - CAMEAM”, da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. As informações coletadas serão organizadas em banco de dados de forma digitalizada e analisadas posteriormente.

Essa pesquisa tem como objetivo geral: “analisar as crenças de professores do ensino fundamental I sobre o dicionário escolar infantil”. E como objetivos específicos: “interpretar as crenças de professores do ensino fundamental I sobre o dicionário escolar infantil; averiguar a influência das crenças sobre o dicionário escolar infantil na prática de ensino de docentes do ensino fundamental I; explicar as possíveis origens das crenças de professores do ensino fundamental I acerca do dicionário escolar infantil.

O benefício desta pesquisa é a possibilidade de contribuir para a formação continuada de professores dos anos iniciais do ensino fundamental acerca do uso do dicionário escolar infantil como recurso didático em sua prática pedagógica.

Os riscos mínimos a que o participante da pesquisa estará exposto são de: cansaço ou aborrecimento pelo tempo exigido para responder o questionário e a entrevista; desconforto, constrangimento ou vergonha devido ao compartilhamento de suas crenças e práticas de ensino; quebra de sigilo quanto à identidade pessoal do participante. Esses riscos serão minimizados mediante: clareza e objetividade, no que diz respeito às perguntas do questionário e da entrevista; coleta de dados individual; garantia do anonimato/privacidade do participante durante a realização e divulgação dos resultados da pesquisa, não sendo preciso expor o nome do mesmo, já que será criado um código para mencioná-lo.

Para manter o sigilo e o respeito ao participante da pesquisa, apenas o discente LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO aplicará o questionário e somente o referido discente e o seu orientador poderão manusear e guardar os questionários. Reitera-se, assim, o sigilo das informações por ocasião da publicação dos resultados, visto que não será divulgado dado que identifique o participante, além de haver garantia de que o participante se sinta à vontade para responder aos questionários e a anuência das Instituições de ensino para a realização da pesquisa.

Os dados coletados serão, ao final da pesquisa, armazenados em CD-ROM e caixa arquivo, guardada por no mínimo cinco anos sob a responsabilidade do pesquisador responsável (orientador) no Departamento de Letras, a fim de garantir a confidencialidade, a privacidade e a segurança das informações coletadas, e a divulgação dos resultados será feita de forma a não identificar os participantes e o responsável.

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Você ficará com uma via original deste TCLE e toda a dúvida que você tiver a respeito desta pesquisa, poderá perguntar diretamente para o pesquisador LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN, Campus Avançado “PROFª. MARIA ELISA DE A. MAIA - CAMEAM”, no endereço BR 405, Km 153, Bairro Arizona, CEP 59900–000, Pau dos Ferros – RN. Tel: (84) 3351-2560. Dúvidas a respeito da ética desta pesquisa poderão ser questionadas ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UERN) - Campus Universitário Central - Centro de Convivência. BR 110, KM 48 Rua: Prof. Antonio Campos, S/N, Costa e Silva. Tel: (84) 3312-7032. e-mail: [email protected] / CEP 59.610-090.

Se para o participante houver gasto de qualquer natureza, em virtude da sua participação nesse estudo, é garantido o direito a indenização (Res. 466/12 II.7) – cobertura material para reparar dano – e/ou ressarcimento (Res. 466/12 II.21) – compensação material, exclusivamente de despesas do participante e seus acompanhantes, quando necessário, tais como transporte e alimentação – sob a responsabilidade do(a) pesquisador(a) LUAN TALLES DE ARAÚJO BRITO.

Não será efetuada nenhuma forma de gratificação por sua participação. Os dados coletados farão parte do nosso trabalho, podendo ser divulgados em eventos científicos e publicados em revistas nacionais ou internacionais. O pesquisador estará à disposição para qualquer esclarecimento durante todo o processo de desenvolvimento deste estudo. Após todas essas informações, agradeço antecipadamente sua atenção e colaboração.

Consentimento Livre

Concordo em participar desta pesquisa “_CRENÇAS DE PROFESSORES DO ENSINO FUNDAMENTAL I SOBRE O DICIONÁRIO ESCOLAR INFANTIL”. Declarando, para os devidos fins, que fui devidamente esclarecido quanto aos objetivos da pesquisa, aos procedimentos a que serei submetido. Foram garantidos a mim esclarecimentos que venham a solicitar durante a pesquisa e o direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que minha desistência implique em qualquer prejuízo a minha pessoa. Autorizo assim, a publicação dos dados da pesquisa, a qual me garante o anonimato e o sigilo dos dados referentes à minha identificação.

Cidade, ______/_______/_______.

__________________________________________

Assinatura do Pesquisador

___________________________________________

Assinatura do Participante

Luan Talles de Araújo Brito (Aluno-pesquisador) - Aluno do Curso de Doutorado em Letras, da

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado “Prof.ª Maria Elisa de A. Maia, no endereço Br 405, Km 153, Bairro Arizona, CEP 59900-000 – Pau dos Ferros – RN. Tel.(84) 3351-3909. Prof. Dr. Antônio Luciano Pontes (Orientador da Pesquisa) – Curso de Doutorado em Letras, da

Universidade do Estado do Rio Grande do Norte – UERN, Campus Avançado “Prof.ª Maria Elisa de A. Maia, no endereço Br 405, Km 153, Bairro Arizona, CEP 59900-000 – Pau dos Ferros – RN. Tel.(84) 3351-3909. Comitê de Ética em Pesquisa (CEP-UERN) -Campus Universitário Central - Centro de Convivência. BR 110, KM 48 Rua: Prof. Antonio Campos, S/N, Costa e Silva.Tel: (84) 3312-7032. e-mail: [email protected] / CEP 59.610-090.

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APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO SUJEITO P1

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APÊNDICE E – QUESTIONÁRIO RESPONDIDO PELO SUJEITO P2

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APÊNDICE F – NOTAS DE OBSERVAÇÃO DAS AULAS DO SUJEITO P1

DATA: 17/08/17 ANO E TURMA: 5º B Nº. DE AULAS: 1 O professor começou a aula apresentando o pesquisador e o propósito de

sua presença na sala. Depois entregou a cada aluno cópia do texto “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias. Explicou que se tratava de um poema e abordou o seu contexto de origem a fim de que a turma pudesse entendê-lo melhor.

Solicitou a leitura coletiva do poema e assim foi feito. Afirmou para os alunos que o texto em debate tinha informações implícitas e explícitas. Perguntou o que significava “explícito” e uma aluna respondeu que era “exposto”.

P1 foi discutindo dialogicamente as estrofes do poema e solicitando que os alunos sublinhassem algumas palavras: “gorjeiam”, “várzeas”, “primores”. Neste momento, ele disse que essas eram “palavras que não temos o hábito de usar e, por isso, o sentido pode não ficar tão claro. Daí a importância de se ter criado o dicionário, pois apesar de sermos falantes do Português, não sabemos o significado de todas as palavras”. Assim, o docente solicitou que os alunos pesquisassem em dicionários as palavras destacadas anteriormente e distribuiu-lhes os dicionários.

Ele chamou atenção para o fato de que os discentes deveriam procurar o significado e depois escrever o sentido que a palavra estava sendo empregada no poema. Além disso, ele orientou que no caso de verbos, os alunos não iriam encontrar na forma conjugada, e deu um exemplo para que pudessem entender melhor. Lembrou-os de que a palavra “gorjeiam” é um verbo e, por esta razão, estaria “gorjear’ no dicionário. Explicou que a palavra “várzeas”, por ser substantivo, seria encontrada na forma singular e disse também que poderia ter “gorjeio”, mas “a gente pode entender com o mesmo significado de ‘gorjear’”. O professor falou sobre a organização do dicionário, especialmente acerca da ordem alfabética na disposição das palavras, usando como exemplo a palavra “gorjear”, fazendo os alunos atentarem para a sequência das letras.

Em outro momento, pediu para prestarem atenção na classificação gramatical das palavras, que segundo ele, é mostrada no início do verbete, antes do significado. Para tanto, citou o exemplo de “gorjear”, que apresenta a letra “v”.

Durante a atividade, P1 auxiliou os alunos, especialmente os que estavam apresentando dificuldades. Para um discente que procura o significado de “cismar”, ele explicou: “tem que ser no ‘c’”. Ele próprio indagou para a turma: “professor, é os 4 significados? Não, é aquele que se adequar ao contexto do poema”.

Passado um tempo, o docente leu a primeira estrofe do poema e perguntou o que significava “gorjeiam” e os discentes responderam lendo o resultado da consulta realizada. O mesmo procedimento foi feito com a palavra “várzea”, sobre a qual os alunos apresentaram dois significados. Diante disso, P1 conduziu a turma a refletir sobre qual dos significados expostos estava mais adequado ao poema. Esse procedimento foi aplicado também em relação às palavras “cismar” e “primores”.

DATA: 17/08/17 ANO E TURMA: 5º B Nº. DE AULAS: 1

O docente iniciou a aula dizendo que iria escrever na lousa três palavras, para

que os alunos pesquisassem seus significados em dicionários e, em seguida, escrevessem frases com essas palavras. Dito isto, o professor assim escreveu:

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denegrir alameda diplomata P1 disse que antes de eles criarem a frase, precisariam saber o sentido da

palavra e reiterou: “Leia a palavra, procure entender o que ela significa e, depois, crie a frase”.

Depois de um tempo, ele leu em um dicionário a classificação e o significado da primeira palavra escrita no quadro branco, explicou seu significado, exemplificou com uma frase e questionou se os discentes haviam entendido.

Ele indagou qual era o significado da segunda palavra, os alunos leram e um deles disse a seguinte frase: “Maria participou de uma corrida na alameda”.

Em seguida, P1 questionou o significado da palavra “diplomata”, os alunos responderam e, com a sua ajuda, criaram uma frase. Por fim, solicitou que terminassem a tarefa e levassem o caderno até sua mesa para receberem o visto.

DATA: 18/08/17 ANO E TURMA: 5º B Nº. DE AULAS: 1

O professor iniciou a aula entregando aos alunos cópia da letra de uma

canção, “Festa do Boi-Bumbá”, da banda Carrapicho. Nesse momento, alguns alunos reclamaram ao perceberem que iriam novamente fazer uso de dicionários.

P1 falou sobre a culminância que se realizaria dia 26 de agosto sobre o folclore e questionou os alunos sobre o que eles entendiam por “folclore”. Eles não responderam e o professor dialogou um pouco a respeito do folclore.

Ele disse que a turma iria abordar a história do boi-bumbá na referida culminância e, por isso, relatou os acontecimentos dessa lenda. Posteriormente, solicitou a leitura coletiva da letra da canção que havia sido entregue no início da aula. Os alunos leram coletivamente e, depois, alguns também cantaram a canção.

Em outro momento, P1 perguntou à turma: “Eu posso utilizar o dicionário só para saber o significado das palavras? Não tem outras coisas mais?”. Assim, leu para os alunos uma HQ da Turma da Mônica, na qual o personagem Cascão descobre um apelido para a personagem Mônica, que seria Pipa.

Após essa leitura, o docente afirmou: “o significado vai estar dentro do contexto retratado”; “palavras podem ter mais de um significado. Como vou descobrir o correto? A partir do contexto”.

O docente solicitou que os alunos sublinhassem na letra da canção as palavras: galera, encantos e tribos. Quando ele foi entregar os dicionários, alguns estudantes disseram: “professor, me dê o pequeno”, “eu quero o pequeno”, “o grande não tem nada”. E assim, P1 foi auxiliando os alunos durante a consulta aos dicionários, lendo alguns significados encontrados por eles e indagando se determinados significados estavam condizentes à letra da música.

No momento da correção, solicitou a leitura dos diferentes significados encontrados pelos estudantes e, no decorrer da exposição, ia perguntando qual significado condizia com a letra da canção, e os alunos responderam coerentemente. Ao final da aula, P1 destacou que o dicionário pode ser usado para procurar o significado, mas as palavras podem ter mais de um significado, devendo-se olhar para o contexto da palavra consultada.

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DATA: 23/08/17 ANO E TURMA: 5º B Nº. DE AULAS: 2

A aula foi iniciada com a entrega da cópia da letra da canção “Admirável gado

novo”, de Zé Ramalho. Em seguida, o docente solicitou que os alunos cantassem. Eles cantaram, especialmente o refrão. Após esse momento, ele disse que a letra dessa música apresentava um vocabulário rico, e indagou: “Como fazemos para enriquecer nosso vocabulário? É lendo, estudando”. Perguntou ainda se tinha no texto alguma palavra da qual eles não entendiam o seu significado e os alunos apontaram, entre outras, as seguintes: ignorância, dirigível, engrenagem, contemplar, possibilidade, demonstrar, vigilância.

Depois, P1 leu um trecho que tinha a palavra “massa”, pegou um dicionário, leu os significados dessa palavra e perguntou qual daqueles significados se relacionava ao trecho lido. E assim o docente fez em relação a outras palavras: foi lendo trechos da canção e explicando-os, auxiliando os alunos a entenderem os sentidos da canção em estudo. À medida que ia lendo e explicando a canção, ia também questionando o sentido de algumas palavras, das quais os alunos demonstraram não conhecer seus significados. Assim, ele escreveu na lousa as seguintes palavras:

margem engrenagem vigilância ignorância contemplam possibilidade dirigível Um aluno questionou o que significava “vida de gado”. A partir dessa dúvida,

o professor explicou por meio de associações entre a vida humana e a vida do gado, partindo dos conhecimentos prévios dos alunos.

Para finalizar, solicitou que os alunos pesquisassem o significado e a classe gramatical das palavras escritas na lousa anteriormente, afirmando que esse exercício comporia o portfólio de atividades do projeto desenvolvido na escola sobre a vida e obra do cantor e compositor Zé Ramalho.

O professor entregou os dicionários aos alunos e estes iniciaram a consulta. Explicou que eles encontrariam a classe gramatical de forma abreviada antes dos significados e expôs ainda como as classes substantivo, adjetivo e verbo estariam na forma abreviada. Mais uma vez chamou atenção para o fato de que diante de uma palavra com vários significados, os alunos deveria olhar qual o significado que se encaixava na letra da canção em estudo. Assim, eles realizaram a atividade, entregaram ao professor e a aula foi finalizada.

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APÊNDICE G – NOTAS DE OBSERVAÇÃO DAS AULAS DO SUJEITO P1

DATA: 17/08/17 ANO E TURMA: 5º A Nº. DE AULAS: 1

No início da aula, a pedido do professor, apresentei-me aos alunos e expus o objetivo de eu estar ali realizando minha pesquisa.

Em seguida, P2 iniciou a aula apresentando a proposta de atividade envolvendo o uso do dicionário, relacionada a um projeto que estava sendo desenvolvido na escola, intitulado “40 anos de Avôhai”.

Ele entregou uma biografia de Zé Ramalho. Posteriormente, solicitou que os alunos fizessem a leitura silenciosa do referido texto, para que depois fossem destacadas algumas palavras que não fossem tão comuns no dia a dia deles.

Terminada a leitura silenciosa do texto, o docente perguntou aos discentes quais palavras da biografia lida eles desconheciam. Em resposta a esse questionamento, eles expuseram: “misticismo”, “visionário”, “polêmica”, “antologia”, “plágio”, “míticas”. Assim, P2 distribuiu diferentes dicionários do acervo da escola e solicitou que formassem duplas para procurarem o significado dessas palavras no dicionário.

Em seguida, sistematizou o seguinte na lousa:

vocabulário míticas polêmica plágio misticismo ostracismo antologia visionário cifradas Os alunos iniciaram a pesquisa nos dicionários e P2 chamou atenção para o

fato de que alguma palavra poderia não ser encontrada em um dicionário e, assim, eles deveriam procura-la em outro.

O docente auxiliou a sua turma ao longo da atividade. A dois alunos, em particular, ele chamou atenção para que olhassem para a letra inicial da palavra a ser pesquisada. Um aluno disse-lhe que os dicionários não continham determinada palavra e ele afirmou que era porque, no dicionário, essa palavra em questão estava no masculino.

A outros grupos, P2 salientou: “Um dicionário pode ser mais completo do que outro”; “Olhe o Aurélio, o dicionário mais famoso”; “É ‘cifradas’ e não ‘cifrão’. ‘Cifrão’ é outra coisa”; “Não encontrou nada aí?”.

Um aluno disse: “(nome do docente), não tem não aqui”. Ele indagou: “Nenhuma? Procurou todas? Vamos lá, deixe eu ajudar.”. Em seguida, alguns alunos pediram para trocar de dicionário, alegando que não estavam encontrando as palavras no dicionário que estavam consultando. O professor pediu a atenção dos alunos e explicou que possivelmente eles não estavam encontrando as palavras em alguns dicionários por causa da quantidade de verbetes, que era pequena em alguns. P2 comparou três dicionários de que os alunos dispunham naquele

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momento, afirmando que um tinha pouco mais de sete mil verbetes, outro tinha mais de 14 mil e o terceiro, cinco mil verbetes. DATA: 18/08/17 ANO E TURMA: 5º A Nº. DE AULAS: 1

P2 iniciou a aula entregando a cada aluno o texto “Teté, o anjo amigo”, de M.

L. R. A., e solicitou a leitura silenciosa. Logo depois, ocorreu a leitura coletiva desse texto, realizada primeiro pelas meninas e, depois, pelos meninos.

Em seguida, o docente questionou a turma de que tratava o texto lido, quais os seus personagens, o que anjinho havia feito, qual o desejo dele, entre outras perguntas às quais os alunos responderam prontamente. Após essa conversa, ele escreveu na lousa as seguintes palavras:

vocabulário

de bruços imaginando aproximar chance Após escrever isso, entregou um dicionário a cada discente e solicitou que

formassem duplas. Lembrou-os de que, no dicionário, eles iriam encontrar a palavra “debruçar” Questionou-os ainda se as palavras daquele exercício estavam mais fáceis de encontrar do que as do exercício da outra aula.

O professor auxiliou um aluno que lhe disse ter encontrado a palavra “imaginar” e explicou-lhe que era porque a palavra “imaginando” é um verbo e, por isso, estava daquela forma no dicionário. Ele afirmou também para a turma que não escrevessem todos os significados encontrados, mas que escolhessem dois ou três. Imediatamente, acrescentou que colocassem “sinônimos” que estivessem de acordo com o texto.

É importante destacar que, de modo diferente do primeiro dia de observação, os alunos não externaram verbalmente que não estavam encontrando as palavras ou que estavam com dificuldade de encontrá-las.

Após um tempo, finalizada a consulta, foi solicitado que os alunos lessem o que encontraram na consulta ao dicionário. E assim foi feito. Os alunos liam o significado encontrado, o professor pedia para que voltassem o olhar para a parte do texto onde estava a palavra em debate, relia esse trecho e perguntava-lhes se tinha dado para entender melhor o sentido do texto.

Ao discutir o significado de ‘imaginando”, em determinado momento o docente indagou: “Se fôssemos colocar um desses sinônimos no texto, qual ficaria melhor, de acordo com o texto?”. Foi então que uma aluna respondeu: “pensando”. A mesma pergunta foi feita acerca das palavras “aproximar” e “chance”, em relação às quais os alunos responderam “tornar-se perto” e “oportunidade”, respectivamente. A aula foi finalizada com uma atividade de interpretação textual copiada na lousa. DATA: 21/08/17 ANO E TURMA: 5º A Nº. DE AULAS: 1

De início, o professor solicitou que os alunos formassem duplas ou grupos.

Entregou a cada um o poema “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, e solicitou

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leitura silenciosa. Depois de um tempo, disse que se tratava de um poema, no qual “o poeta usa palavras novas, que não são muito do cotidiano, para dar vida ao poema”.

Em seguida, foi realizada a leitura coletiva do poema e, imediatamente, alguns alunos já foram expondo quais eram as palavras que eles desconheciam o significado. Posteriormente, P2 escreveu o seguinte no quadro branco:

vocabulário

gorjear várzea bosque cismar primor É interessante destacar que o professor escreveu as palavras na lousa da

forma como poderiam ser encontradas no dicionário e não como elas estavam flexionadas no poema lido.

Nessa aula, os alunos não explicitaram mais estarem com dificuldade em encontrar as palavras, todavia, foi perceptível a dificuldade que alguns demonstraram em realizar com êxito esse tipo de consulta. Vale lembrar que um aluno foi trocar o dicionário que estava usando por outro e disse ao professor “Eu tenho preguiça de olhar”.

Durante a atividade, P2 chamou a atenção de uma aluna para que esta procurasse as palavras tendo em vista a sequência alfabética, caso contrário ela demoraria muito para encontrar o que estava procurando. O docente olhou o resultado da consulta de um grupo e chamou e pediu que os integrantes ficassem atentos para os acentos das palavras e disse-lhes: “Vamos corrigir”.

No outro momento, o docente questionou aos alunos o que significava a palavra “gorjear” e eles responderam. Em seguida, solicitou que voltassem ao texto e substituíssem oralmente a palavra por um sinônimo, o que os alunos fizeram com êxito. Essa metodologia foi utilizada em relação às outras palavras consultadas.

Ao final do momento de socialização da consulta, P2 fez a seguinte pergunta: “Será, então, que esse lugar de que Gonçalves sente saudade era feio?”. Os alunos responderam que não e justificaram a resposta a partir do que encontraram na consulta realizada. DATA: 22/08/17 ANO E TURMA: 5º A Nº. DE AULAS: 1

O professor iniciou a aula dizendo que iriam dar continuidade a uma atividade iniciada em outra aula de Geografia. Em seguida, afirmou “Não só se pode usar dicionário na aula de Português”, em resposta a um aluno que havia questionado se eles iriam utilizar o dicionário. Posteriormente, ele expôs o seguinte: “Vocês vão procurar hoje só duas palavras: exportar e importar”; e, assim, distribuiu os dicionários aos alunos.

Em determinado momento, P2 atentou para o fato de um dos significados encontrados por um aluno não estava relacionado ao conteúdo do livro de Geografia, o que a levou a dizer: “Você tem que ver qual é o significado que está dentro do nosso conteúdo de Geografia”.

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Após um tempo, iniciou-se a correção da atividade do livro, seja oralmente, seja escrevendo no quadro branco. Ele corrigiu também a questão de número 4 do exercício, a qual se relacionava ao significado das palavras “exportar” e “importar”. P2 explicou as diferenças de sentido entre essas palavras a partir de exemplos práticos e, após a correção, a aula foi encerrada.

DATA: 23/08/17 ANO E TURMA: 5º A Nº. DE AULAS: 1

No início da aula, o professor entregou a cada aluno cópia do texto “A sementinha bailarina”, de I. R. de S., e solicitou leitura silenciosa, a qual foi seguida de leitura coletiva. Em seguida, propôs um breve momento de conversa sobre o texto lido, lançado perguntas como: “Esse texto falava de quê?”; “E quem estava ansiosa?”.

Após a discussão, perguntou aos alunos se o texto tinha algumas palavras que eram novas para eles e eles disseram que sim. Nesse momento, P2 afirmou: “Então a gente vai usar o dicionário para procurar justamente essas palavras que vocês disseram que não são tão conhecidas”. Depois disso, ele escreveu na lousa:

arrebatasse assopro atordoada rente Quando terminou de escrever essas palavras na lousa, um aluno perguntou-

lhe se se as palavras “arrebatasse” e “atordoada” poderiam estar no dicionário como “arrebatar” e “atordoado”. O docente respondeu que sim, entregou os dicionários às duplas e auxiliou os alunos durante a realização da atividade.

Em determinado momento, o docente perguntou a uma aluna com qual letra iniciava a palavra “arrebatar”, a aluna respondeu que era a letra “a” e o professor indagou-lhe por que, então, ela estava procurando a palavra “arrebatar” na parte da letra “r”.

Passados alguns minutos, P2 conduziu a socialização das consultas, solicitando que lessem o que encontraram e destacando que apesar de alguns terem encontrado ou escrito palavras diferentes, eram os mesmos significados.

Nesta aula, o professor não voltou a atenção dos alunos para o texto a fim de que eles associassem os significados das palavras na construção dos sentidos textuais. Isso aconteceu, possivelmente, devido ao fato de alguns alunos terem demorado a finalizar a consulta, levando mais tempo do que o previsto por ele, como ele próprio destacou pouco antes de iniciar a socialização das consultas. Por fim, P2 solicitou que guardassem os dicionários, pois iriam realizar o estudo do texto.

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APÊNDICE H – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO P1

P: Você considera importante o uso do dicionário nos anos iniciais do ensino fundamental? Por quê?

P1: É:: considero importante, é:: por quê? É:: nesse momento o aluno, ele está:: no momento de aprender a:: o conceito das palavras, né? E:: a gente que o nosso, o nosso idioma, o a língua portuguesa ela é muito complexa e:: enriquece muito a maneira do aluno falar quando ele sabe o significado de cada palavra, que ele saiba pontuar aquela palavra dentro de uma frase que ele queira é é pronunciar. Então por isso que eu vejo e:: esse é o momento, é uma base de se ver. A gente não vê com frequência isso em ensino infan/é:: nas séries iniciais do ensino fundamental, é:: vê mais pra séries finais e eu vejo isso como um atraso, porque:: o momento adequado seria o inicial/nas séries iniciais porque o aluno já vai se adaptando à maneira, e ele vai tendo o cuidado até da noção morfológica das palavras, que isso também se vê dentro do dicionário, se aquela palavra é um substantivo, se aquela palavra é um verbo. E mais na frente é que ele vai distinguir, vai ver com clareza, assim, de forma intensiva cada palavra dessa, mas o ideal seria que o básico ele visse já nas séries iniciais, e seria muito importante é:: o trabalho com o dicionário. P: Para você, o que é um bom dicionário escolar infantil?

P1: Assim, como é infantil ele:: pra captar a atenção dos alunos, ele teria que ter bastante ilustração, certo? E:: as ilustrações seria importante e/também pra o nível, né?, não colocar dentro desse dicionário palavras TÃO complexas, mas palavras que estejam mais presentes no cotidiano nela/delas, dessas crianças, já que elas possam ter, assim, é:: uma uma maneira de facilitar a vida delas mas não complicar, que às vezes a gente vai colocar dentro de um dicionário infantil palavras mais complexas, não vai ter condição dessa criança ter a dimensão do que seja cada palavra. Então seria importante palavras que estejam presente do/no cotidiano delas e palavras com bastante ilustrações pra que elas possam relacionar sempre a imagem com o significado. P: Em sua opinião, o dicionário escolar infantil permite trabalhar ou desenvolver que habilidades dos alunos? P1: Habilidades, é:: com o dicionário, ele pode criar, ele pode ter/primeiramente/em primeiro lugar seria a dimensão do conceito da palavra, em que momento adequado eu/ele poderia utilizar aquela palavra e que palavras teriam significados semelhantes, que a gente chama de sinônimos, né? Seria e:: pra que enriquecesse o seu texto, a sua frase. E:: depois, você poderia trabalhar de forma é:: da:: o conceito morfológico das palavras, morfológi/pra se identificar o que seria um substantivo, um adjetivo. É:: daria pra trabalhar o gênero, o:: o número da palavra, plural, como trabalhar/como aquela palavra seria no plural, no singular, no:: é:: no feminino, no masculino, tudo isso se ver lá dentro do dicionário. P: Você, na qualidade de docente, encontra alguma dificuldade para planejar ou realizar atividades envolvendo o uso do dicionário escolar infantil? Explique.

P1: Assim, DIFICULDADE não, não é que tenha uma dificuldade em planejar, mas como a gente tem que seguir um plano e esse plano está voltado pra:: conteúdos que não, que não dá muitas vezes pra você encaixar o uso do dicionário dentro de

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sala, e a gente, por mais que não teja entre linhas, mas a gente é OBRIGADO a dar aquele plano, né?, aquilo que é passado pra gente, e isso acaba é, prejudicando, o uso do dicionário dentro de sala, porque a gente começa a:: ter uma dimensão, começa a ter um olhar mais fixo em dar o conteúdo, e esse conteúdo é:: ele tem que ser de uma forma que não pode/uma/não/ele tem um tempo adequado pra ele, ele não pode ultrapassar aquele tempo. Se você ultrapassar aquele/dá aquele conteúdo/se aquele conteúdo tiver vinte dias pra você dar, você não pode dar aquele, não pode ultrapassar vinte cinco porque você vai se atrasando em conteúdos seguintes. Então por ter esse tempo e quando você olha de repente a dimensão/um conteúdo que:: é uma página por dia, e você, você tem que trabalhar. Aí de que maneira vou trabalhar? E:: não envolve somente o dicionário, tem que trabalhar outras coisas. É:: a ideia da leitura, é preciso muito trabalhar a ideia da leitura, pra:: uma/o português. A oralidade do aluno. Então por isso essa é a dificuldade. Não dá pra trabalhar em todos os conteúdo. E::, outro problema também que se vê, é:: as escolas não têm, o:: a quantidade de dicionário suficiente pra cada aluno. Isso gera um certo problema quando você trabalha em grupo, com um dicionário, você colocar que, é:: três crianças com um dicionário vai gerar/talvez um aprenda mais do que o outro, é:: e dois de repente, nesse exemplo que eu falei aqui, dois de repente possa ser que fique sem, sem entender direito, ou então tem aqueles que vão é:: COLAR pelo outro. Tem a questão do/deles que vão tentar ir pela/pelo número da página, não vão querer procurar, vão dizer assim “ei, qual é a página que tá aí?”, então isso aí, de repente, é:: causa é:: um problema na aprendizagem do aluno. Então tem que ter muito cuidado da maneira que trabalhar. Então, tendo esses grandes problemas, e essas, eu não chamo de dificuldade, mas também esse ATROPELAMENTO que tem no plano pra:: o ano letivo, causa assim um ESQUECIMENTO para o trabalho do dicionário em sala de aula. P: Em que você se pauta para planejar ou realizar atividades envolvendo o uso do dicionário escolar infantil em sala de aula? Na sua formação acadêmica, na própria experiência profissional, no manual didático, em formação continuada que você já participou ou participa, ou em outras experiências que não foram citadas anteriormente? P1: Como formação acadêmica, formação acadêmica, é:: a gente/não teve nenhum trabalho, na minha faculdade, e eu sou formado em Pedagogia, sou formado em Matemática, licenciatura em Pedagogia, licenciatura em Matemática, tenho especialização em Psicopedagogia, em nenhuma delas, foi ensinado um trabalho de dicionário em sala de aula. Então, como formação acadêmica eu não tenho nenhuma qualidade, eu não tenho nenhum aproveitamento pra se dar. Como experiência profissional sim. Eu já vi é:: praticamente quando a gente vê um trabalho, do colega, que ele é adequado, que ele é bom, a gente copia. E eu já vi vários profissionais trabalharem é:: dicionário de maneiras diferentes. E isso fez com que eu pudesse é:: implementar essa prática dentro de sala de aula. Então foi uma experiência e:: assim a experiência que a gente copia, a gente, procura também trazer pra realidade de sala. Eu vejo da forma que o professor trabalhou, e eu vou ter a minha/a maneira de trabalhar, de acordo com a realidade da sala que eu esteja trabalhando. Então a experiência profissional com os anos, eu implemento aquele/aquela maneira que eu copiei, e de repente, vou é:: ao longo dos anos, vou colocando outras maneiras, outras atitudes, que possam, possam ser inseridas. Então, isso, como experiência profissional é:: já fiz, muito isso, o uso do dicionário. Manual didático, não vejo. Não vi assim, até em livros/a gente é:: se você tem

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percebido, os livros de português antigamente quando a gente estudava, existia um local lá le/logo depois dos textos, tinha lá, é:: dicionário/que colocava até o nome de glossário. E tinha o significado de todas as palavras do texto, palavras complicadas. Hoje a gente/dificilmente se vê isso nos livros. Muito difícil, às vezes eles colocam lá duas três palavras, mas não como antigamente. Então, como manual didático é muito complicado, essa questão do dicionário. Praticamente não se vê e não se ensina. A gente sabe, nós como professores, lá no final dos livros existe, assim, um sub/é/um subsídio para o professor trabalhar diversas maneiras determinado conteúdo, mas dificilmente você vai encontrar com o uso do dicionário. Dificilmente. Formação continuada sim. Como a formação continuada, eu já tive a experiência de ter, trabalhos é::, é:: com o Estado para trabalhar com o uso do dicionário, e assim, foi muito bom. E eu coloquei isso em sala de aula, e foi muito proveitoso. Uma formação dada pela UEPB aqui em Catolé do Rocha, cidade de Catolé do Rocha, que eu participei há, não sei se foi três quatro anos atrás, e foi um trabalho muito proveitoso em cima do uso do dicionário, lá. E:: outras experiências que eu tive com o dicionário, é:: como aluno não tive/eu não recordo algo que tenha me feito assim ter dado grande importância/o uso do dicionário. Como professor, sim. Como professor eu já, eu já vi os benefícios que pode ter sido dado ao aluno, em sala de aula. P: Em relação ao questionário agora. O primeiro item do questionário afirmava o seguinte, “O dicionário/o bom dicionário é o mais conhecido”. E aí você marcou “concordo totalmente”.

P1: Isso, porque é o tipo da coisa, é:: a propaganda é a alma do negócio. Quando a gente vê um dicionário que não, é muito bom, os próprios professores eles conversam entre si, “ah, olhe, eu trabalhei com esse e não gos/faltou isso, faltou aquilo faltou aquilo”. E:: quando vê outros falando bem do dicionário, ele vai cada vez mais vai ficar muito mais utilizado. A gente sabe que a maioria das escolas tem o dicionário Aurélio, né?, e eu acredito que ele é um bom dicionário, certo?, um bom dicionário, o Aurélio, porque se não ele não taria em tantas escolas, né?, ele é muito conhecido o dicionário Aurélio. P: O item dois afirma o seguinte, “Os dicionários são todos iguais”. E você assinalou “discordo totalmente”. P1: Isso. Eu tive a experiência até lá da escola (citou o nome da escola onde trabalha) de ver isso, a gente tem lá vários dicionários, de editoras diferentes, e algumas palavras é:: não eram encontrada em alguns dicionários, e:: outras palavras que eram encontradas, mas apresentavam, assim, significados diferente, que daria até pra ter uma uma, assim, por mais que eles quisessem mostrar significados semelhantes, mas tinham ideias que podiam ter um entendimento diferente entre elas. P: Item três. “O dicionário é uma obra objetiva e neutra”. Você assinalou “concordo às vezes”. P1: Às vezes. É:: ela é objetiva, né?, porque ela tá diretamente com o significado, significado das palavras. Neutra porque ela não tem, ela ela/eu vejo ela/não tem um lado “a” nem um lado “b” pra dar o significado dela. Ela vai procurar demonstrar, demonstrar a ideia, como diz assim, CRUA, daque/aquela palavra significa aquilo. Então ela é neutra. Não é a opinião de fulano, não é que sicrano acha que aquela palavra é isso, que é aquilo que é aquilo. Não, ela é neutra. Ela é de acordo com o

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significado real dela. Eu não assinalei totalmente, pela questão que, é:: como eu generalizei, né?, a ideia do dicionário. Aí voltando ao tema antes, o dicionário ele é objetivo, mas alguns não apresentam essa ob/eu acredito que o dicionário ele era pra ser mais igual, porque se você tem uma/como é que é?/como se diz/de repente você tem uma cartilha de um, de um texto, se eu tenho lá um texto, quer dizer que um texto, pra um é de um jeito, pra outro é de outro?, não, então eu acho que o dicionário também seria, precisaria ser igual. Essa igualdade, é:: que vai trazer essa objetividade, né? E aí eu vejo isso aí, por isso que eu não assinalei o “totalmente”. P: O item quatro. “O dicionário é destinado a quem tem pouco conhecimento sobre o funcionamento da língua”. Você assinalou “Concordo às vezes”.

P1: A quem tem pouco conhecimento sobre o funcionamento da língua. Assim, não concordei totalmente, concordei às vezes, porque ele, ele é destinado a todos, né?, a todos, mas principalmente/é a questão de, aquilo que você tem mais necessidade. Se o cara é fera no significado das palavras, no conceito das palavras, na utilização, ele não vai ter tanta necessidade do uso do dicionário, já que ele tem. Agora as pessoas que tem essa/esse pouco é/ele precisa se qualificar, ele precisa ter um entendimento. E o principal instrumento dele seria o dicionário, pra que ele pudesse ter/por isso que eu digo que o dicionário ele está MAIS destinado àquele que tem mais dificuldade. P: O item cinco. “Um bom dicionário escolar é para toda a vida estudantil”. Você assinalou “concordo totalmente”.

P1: Concordo, é:: ele é muito/ele é muito útil, né?, aí volto a dizer, o nosso/a nossa língua, ela é muito complexa, e ela, assim, apresenta constantemente mudanças, ela vai se aperfeiçoando, vai sendo modificada, e eu preciso estar em dia com a língua que falo, até de forma acadêmica, assim, dentro de um conceito científico, a gente precisa ter dimensão do significado das palavras, e da utilização delas. Então, eu vejo isso aí, se você, professores que de repente é:: gostaram daquele dicionário, às vezes o dicionário dele tem dez, quinze anos de duração, ele anda com aquele dicionarizim com as paginazinha amarela, guardado ainda porque ele gostou, o bom dicionário, ele ele é::, ele foi tão bom que ao longo do tempo ele não pôde ter é:: discordância das palavras sendo utilizadas no dia a dia. P: O item seis. “O dicionário com uma quantidade pequena de entradas é o melhor para os anos iniciais do ensino fundamental”. Você assinalou “concordo totalmente”.

P1: Foi/aí eu volto àquilo que a gente falou antes, é:: como os alunos estão numa fase de entendimento, a gente não precisa dar toda a/todo o, a contextualização, a complexidade das palavras. É preciso começar com calma, se não vai causar um distúrbio, né?, no entendimento das crianças. Então é preciso começar com palavras mais cotidianas, palavras que é:: uma ou outra, que se escuta falar, a gente pode ir inserindo, mas não dá pra trabalhar toda a grade de palavras, porque vai trazer problemas pra ela/pro entendimento delas. P: Item sete. “O dicionário adequado aos anos iniciais do ensino fundamental é aquele que apresenta cores e imagens diversas”.

P1: Isso, assim, principalmente pela questão da ilustração, e de:: captar, de estimular o aluno, ele/como são crianças, elas/se você pegar o dicionário de forma já, que aquilo que se trabalha no fundamenta/na segunda fase, né?/fundamen/nas

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séries finais do fundamental, ensino médio, como ele tem mais palavras, isso aí vai gerar, assim, um desinteresse dos alunos. E quando a gente trabalha com, livros mais ilustrativos, eles vão/eles querem observar/analisar a imagem e, de repente, vai trazer contigo o significado das palavras. Então, isso é uma forma/a ilustração é uma forma de estimular ele a ter o interesse do uso do dicionário. P: Item oito. “As imagens, cores e diferentes recursos não verbais presentes em um dicionário escolar infantil servem como acessórios de enfeite”. Você assinalou “discordo às vezes”.

P1: Discordo, é:: não é enfeite, né?, eu não vejo como um enfeite. É:: porque ela/as cri/muitas ainda, as crianças estão naquele momento de, de:: não vão conseguir entender diretamente por palavras, pela leitura. Mas ao ver a imagem, ela vai perceber, o significado, pra que se deve ser utilizado. Então, é muito importante essa questão da imagem, né?, pra que ela possa/às vezes ela não vai entender na leitura, mas vai, vai perceber na:: imagem. P: O item nove. “Não existe um tipo específico de dicionário para ser explorado nos anos iniciais do ensino fundamental, pois o mais importante é a finalidade e o modo como o docente aborda esse material em suas aulas”. Você assinalou “concordo às vezes”. P1: Assim, eu não botei “totalmente”, aí eu volto, principalmente aqui tá voltado para as séries iniciais. Se a gente colocar o dicionário mais complexo, principalmente aqueles grandão, aqueles glossário grande mesmo, é:: o aluno ao se ver ele vai dizer “Não! Não quero trabalhar com isso aí, não”. Aí eu volto a dizer que:: existe o tipo específico. “Não existe um tipo espécifico” (lendo o questionário respondido), concordo às vezes pela questão de/isso aqui eu acho que eu não entendi direito, eu posso aqui não, posso? P: Pode sim, quer mudar pra qual? P1: Eu vou botar aqui o dois, “discordo”/aqui, não/”discordo totalmente”. Porque um tipo específico/“Não existe um tipo especifico” (lendo o questionário respondido), existe um tipo específico de dicionário, certo?. Não se pode trabalhar com qualquer dicionário em, em sala de aula, principalmente nas séries iniciais do fundamental. P: O item dez. “O uso do dicionário escolar infantil restringe-se a momentos de dúvida em relação à ortografia ou ao significado de alguma palavra”. Você assinalou “concordo às vezes”. P1: Isso, porque a:: o principal uso dela é o significado e a ortografia das palavras. Aí não falo “totalmente”, né?, não digo “concordo totalmente” porque:: possa ser colocado, de acordo com a criatividade do professor, eu posso colocar o uso do dicionário pra outras coisas, como a produção de textos, certo?, ele pode ser colocado, de repente o aluno tá escrevendo lá o texto e sentiu dúvida/quer colocar uma palavra e quer saber qual é a palavra que melhor caberia pra aquela frase/o entendimento dele, ela vai lá no dicionário e vê qual seria essa palavra. Mas o principal campo de acesso ao dicionário é esse, é observar a ortografia e o significado dela. P: Agora eu vou fazer algumas perguntas relacionadas às suas aulas que eu observei. E a primeira pergunta é a seguinte, “Antes de você participar desta pesquisa, você já havia trabalhado o dicionário na turma observada? Se sim, de que forma e com que objetivos?”.

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P1: Sim, já tinha trabalhado, mas, principalmente no trabalho do significado das palavras. Somente pra que eles pudessem entender, não tinha trabalhado ainda como:: ortografia ou outras coisas assim. Mas inicialmente pra que eles pudessem conhecer, né?, porque era uma turma que não tinha ainda um, o trabalho do dicionário. Então a gente vai ter que, o início, é:: a ordem alfabética de onde está as palavras, que:: existe a sequência das letras das palavras pra se trabalhar um dicionário. Então, o/as primeiras aulas foi em cima disso, e depois que no dicionário o:: objetivo encontrar o:: significado delas, então foi o:: principal ponto foi esse, as aulas anteriores, as não observadas foi isso, encontrar o significado das palavras e:: saber manusear, o dicionário. P: A pergunta seguinte é esta, “A que você atribuiria a dificuldade de alguns alunos em utilizar o dicionário?”.

P1: É, muitas vezes, é:: eu vejo o desestímulo, certo?, ou então a falta de atenção, porque às vezes a gente tá explicando/demonstrando várias ve/era uma turma muito grande, né?, uma turma de quase trinta e cinco alunos. Existem aqueles que não estão estimulados, não tem acompanhamento para se trabalhar aquilo ali, a gente não tem material fora da sala de aula, com o dicionário pra que trabalhe, né?. Alguns tinha, mas a grande maioria não tem dicionário em casa. Então, se você não tem a prática daquilo ali, muitas vezes você vai deixando aquele conhecimento pra lado. Então isso, e:: outra coisa, a gente/eu tava numa turma que muitos ainda tinha bastante dificuldade na leitura. A gente vê uma turma de quinto ano que tinha essa dificuldade. E:: quando se tinha palavras praque/pro dicionário, se você não souber ler, praticamente você vai ter um grande problema para encontrar as palavras. E isso foi uma consequência de/da leitura trazer esse desestímulo pra que o aluno não quisesse nem ter o trabalho de usar o dicionário. P: A próxima pergunta é a seguinte, “Você acredita que o dicionário pode ser usado para se trabalhar a produção de texto”? Você já até tocou nesse ponto e eu gostaria que você aprofundasse um pouco mais. P1: Pronto, é:: principalmente nessa ideia/a ideia, você lança um tema e o aluno ele, de repente não sabe, iniciar o seu texto, porque/eu acho o maior, o maior obstáculo pra iniciar pra eles é o início, “que palavrinha eu posso colocar?”, porque eles já tinham dimensão dentro das produções de texto, de fazer introdução, desenvolvimento e conclusão, mas como iniciar, eles tavam com um costume ainda de uma produção de texto começar sempre por “era uma vez”, que coisas ainda infantil, né?, e eles precisavam, mas qual seria, que palavra poderia ser colocadas?, então, com o dicionário eles poderiam ver ali, de repente, uma palavra que desse um entendimento de dá uma introdução àquele texto. Aí eu falo de introdução, pode/é:: desenvolvimento. Eu, tentei chamar muitas vezes a atenção de não repetir as palavras, é:: ou então colocar aqui “e aí, e aí, e aí”, essa repetição, e procurar palavras, conectivos que fizesse/que não pudesse ser repetidos, e o dicionário seria essencial pra isso. P: A próxima pergunta é a seguinte, “Numa atividade de pesquisa em dicionário, é importante levar em conta o contexto da palavra pesquisada?”. P1: Isso, é muito importante isso aí, é:: isso eu cheguei a trabalhar isso em sala, pela questão de, eu posso ter uma palavra, que ela está escrita, mas ela não possa ter o mesmo significado no contexto que ela tá inserida, né?, porque existe o sentido denotativo e o conotativo da palavra, o conotativo seria o mais/denotativo seria o

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real, e o conotativo seria, é:: a forma de repente que você pudesse, colocar, ou o sentido que queira dar, é:: e isso seria um problema/às vezes/o dicionário ele é direto, mas ele a/pode apresentar vários significados praquela palavra, e qual seria o significado, que mais caberia? Aí ele poderia ver lá no dicionário. P: A próxima pergunta é, “O que você entende por vocabulário rico?”. P1: Vocabulário rico é uma pessoa, de repente, ou, que tenha um, uma grade, vou dizer assim, palavras, que ele/ele possa falar, ter uma dimensão de explicar, falar, a oralidade com palavras que tenham um bom entendimento e palavras que tenham/e:: um/uma grade de palavras é:: de uma dimensão forte, não somente falar de repente, a gente sabe que existe as palavras mais utilizadas e são mais colocadas no dia a dia, e eu vejo a/uma pessoa que tem um vocabulário rico, pessoas que tenha é:: muitas palavras, a ser utilizadas, que não são muito vistas, mas que ele também possa ter o entendimento do significado delas, aí sim é uma pessoa que tem um vocabulário rico, saber falar uma grande, um grande número de palavras, e saber entender, saber bem utilizá-las dentro de uma frase. P: Em sua opinião, saber a classe gramatical de uma palavra ajuda a entender o seu significado?

P1: Sim, é:: eu vejo pela questão da utilização dela, né?, principalmente na utilização dela dentro da frase. Se eu souber que aquela palavra é um substantivo, nós sabemos que o conceito de substantivo é o nome dado a todo ser, certo?, se ela tiver uma dimensão de verbo, se tiver lá como significado “verbo”, eu não vou ter o/a utilização daquela palavra sendo verbo a mesma como substantivo. P: Só pra finalizar, mais uma. Em sua opinião, qual a importância de o aluno do quinto ano do ensino fundamental estudar o componente curricular Língua Portuguesa? P1: Ele, assim, é uma grande necessidade, Às vezes, a gente vê que as outras disciplinas, elas/é:: elas, geralmente é pra ter conhecimento, conhecimento, ou então conseguir ter uma, é:: um conhecimento pra você se dar melhor, chegar aos seus objetivos dentro de, de um caminho de estudo, né?, História, Geografia, eu vejo isso, só que Português e Matemática, além disso, ele é uma/um ensinamento de mundo. Como é que você conseguirá viver com facilidade se você não sabe ler, se você não sabe produzir, não sabe falar direito, não tem um bom entendimento das coisas?, então, é uma necessidade pro dia a dia.

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APÊNDICE I – TRANSCRIÇÃO DA ENTREVISTA COM O SUJEITO P2

P: Você considera importante o uso do dicionário nos anos iniciais do ensino fundamental? Por quê?

P2: Sim, muito importante o uso do dicionário no ensino fundamental, porque ajuda aos alunos em todos os aspectos, na leitura, na escrita, e desenvolve bastante o aluno, né?, dependendo de como vai ser bem trabalhado o dicionário, é uma ferramenta muito importante, ainda. P: A segunda pergunta. Para você, o que é um bom dicionário escolar infantil?

P2: Aquele dicionário, ilustrado, ele: favorece muito ao aluno, porque, principalmente nos anos iniciais. Ele tá vendo a gravura e já ajuda, é:: com a palavra. P: Terceira pergunta. Em sua opinião, o dicionário escolar infantil permite trabalhar ou desenvolver que habilidades dos alunos? P2: A leitura, a escrita, desenvolve bastante, principalmente a ortografia, né?, porque o dicionário ele não vai trazer só a questão assim de, de uma é:: sequência assim da palavra, mas ele saber a ortografia, que tem muito essa dúvida, e a gente deve sempre recorrer ao dicionário pra tirar a dúvida na questão da ortografia. Da escrita correta, né?, da palavra. P: A próxima pergunta. Você, na qualidade de docente, encontra alguma dificuldade para planejar ou realizar atividades envolvendo o uso do dicionário escolar infantil? Explique.

P2: Não, eu sempre procuro envolver nas minhas aulas o dicionário. Não todos os dias, mas português, principalmente, a língua, é:: o contexto, é importante que/eu sempre procuro envolver o dicionário para esclarecer algumas palavras, porque sempre tem uma palavra que não é do conhecimento do aluno. Ou então a escrita e/como os alunos hoje eles já tão bem/é:: tem o uso da tecnologia, né?, então eles já tem um grande conhecimento, mas a escrita é:: ainda é:: deixa a desejar. P: Próxima pergunta. Em que você se pauta para planejar ou realizar atividades envolvendo o uso do dicionário escolar infantil em sala de aula? Na sua formação acadêmica, na própria experiência profissional, no manual didático, em formação continuada que você já participou ou participa, ou em alguma outra experiência que não foi citada aqui?

P2: É:: na:: formação acadêmica, assim, eu não tive muito a/esse/essa prática não, mas na experiência profissional sim, favorece bastante, desde que eu comecei a trabalhar. E também quando eu estudei, eu lembro muito, que bem antes, né?, antiga/meus professores primários eles utilizavam o dicionário, apesar que os recursos naquela época eram poucos, mas aí a partir daí eu vi a necessidade de trabalhar com o dicionário. O manual didático, é:: ele traz, alguns livros, né?, que traz ali aquele glossário, tem/é:: também eu planejo utilizando aquilo dali. E as formações continuadas também incentivam algumas vezes, né?, que ele deve sempre dizer que/diz sempre que a gente deve tá procurando inovar e:: fazer um bom trabalho.

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P: Agora vamos para a parte do questionário. Eu vou ler e você pode comentar a resposta que você assinalou. O primeiro item do questionário é “O bom dicionário é o mais conhecido”. Você assinalou “concordo totalmente”.

P2: É, é:: aquele dicionário, o mais conhecido pra todos, né?, tanto para o aluno quanto para o professor. P: E por que seria que o mais conhecido é que é o bom? P2: Por/assim, eu entendi o mais conhecido, assim, que tem mais/mais usado na escola, o mais utilizado, no caso. Então é mais conhecido, já vem de outros anos, por exemplo, as meninas lá é:: do ciclo de alfabetização, elas já vem trabalhando com o dicionário, que como/no caso/eu tô no quinto ano, mas eles já têm uma vivência de dicionário, tem aquela sequência, então ele tá sendo o melhor assim porque já tem um conhecimento. P: O item dois diz o seguinte, “Os dicionários são todos iguais”. E você assinalou “concordo às vezes”. Qual a sua opinião a respeito disso?

P2: É:: eles não são todos iguais. Tem alguns com algumas diferenças, como tem os ilustrados, né?, uns com/acho que depois a gente vai falar isso. Teve alguns lá nas nossas aulas que:: eles não encontravam todas as palavras, não era?, e tinha outros que “Ah, eu encontrei”, então há essa diferença. P: O item três. “O dicionário é uma obra objetiva e neutra”. Você assinalou “discordo às vezes”. Qual a sua opinião a respeito disso? P2: Ele é objetivo sim. Ele tem outras tendências, né?, porque a palavra ela não só tem um significado. P: Você acha que ele pode apresentar alguma ideia preconceituosa, por exemplo? P2: Não. A questão do preconceito/eu vejo assim, que a palavra tem amplos sentidos, é de acordo com, com é:: o emprego ali do uso, do sentido daquela palavra que a gente tem que saber como colocar, fazer a sua colocação. P: O item quatro. “O dicionário é destinado a quem tem pouco conhecimento sobre o funcionamento da língua”. Você assinalou “Discordo totalmente”. P2: É:: porque não é, não é pra quem/é desconhecido, a gente precisa tirar essa ideia, que antigamente dizia assim que o dicionário é o pai dos burros, eu acho que não, né?, quem tem um bom conhecimento e que quer tá sempre melhorando a escrita e/tem que procurar o uso do dicionário, ele ajuda bastante. P: O item cinco diz, “Um bom dicionário escolar é para toda a vida estudantil”. Você assinalou “concordo totalmente”.

P2: Concordo totalmente, é, se o alunado, professor tiver sempre esse uso do dicionário, ele vai ajudar por toda vida. P: Por exemplo, aqueles dicionários que você utilizou em sala de aula com seus alunos, você acredita que eles possam ainda utilizá-los nos anos seguintes? P2: Pode, eles utilizam. Eles já vêm sendo utilizados desde a/da, da formação de/que as meninas tem/do ciclo, alguns ali eram do ciclo, eles já utilizaram até o terceiro ano, quarto ano, e outros que dão continuidade.

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P: Item seis. “O dicionário com uma quantidade pequena de entradas é o melhor para os anos iniciais do ensino fundamental”. Você assinalou “concordo às vezes”.

P2: É:: assim, eu poderia ter botado/poderia ser “totalmente”, né? P: Se quiser mudar a resposta, pode ficar à vontade, é só riscar a outra com a caneta e circular a que você realmente acha. P2: Porque aqui o dicionário/mas como aqui já é quinto ano, eu quis me referir assim, às crianças que ela lê menos, o dicionário com menos palavras vai ajudar, um pouco mais, né?, porque quanto maior/daqui que elas vão naquela sequência, entendeu?, de ordem alfabética, dificulta mais, né? P: O item sete diz, “O dicionário adequado aos anos iniciais do ensino fundamental é aquele que apresenta cores e imagens diversas”. Você assinalou “concordo às vezes”.

P2: É:: ele/é muito chamativo pras crianças o dicionário, tudo que ele for ler, que tiver ilustração, é bom pra criança ler, né?, então eu concordo, às vezes, que ele seja mais atrativo, não é nem a questão de adequado, mas é mais atrativo. E você que hoje a leitura tem que ter essa atração, né? P: Então essas cores e imagens diversas poderiam beneficiar a leitura? P2: A leitura, isso. P: O item oito. “As imagens, cores e diferentes recursos não verbais presentes em um dicionário escolar infantil servem como acessórios de enfeite”. Você colocou “discordo totalmente”.

P2: É/não/eles não vão servir só de enfeite, vão ajudar a criança a:: até chegar aquela palavra ali, eles ajuda, não é que só vai servir de/de um enfeite, né?, discordo. P: O item nove. “Não existe um tipo específico de dicionário para ser explorado nos anos iniciais do ensino fundamental, pois o mais importante é a finalidade e o modo como o docente aborda esse material em suas aulas”. Você assinalou “concordo totalmente”.

P2: Não, não existe um tipo específico não. A gente utiliza, o que tem na escola, né?, e o que eles têm também, então não tem um específico, tem até diferentes formas/a gente utilizou ali, não foi?, diferentes dicionários. P: O item dez. “O uso do dicionário escolar infantil restringe-se a momentos de dúvida em relação à ortografia ou ao significado de alguma palavra”. Você assinalou “concordo às vezes”. P2: Eu concordo totalmente aqui nessa/pode até mudar essa, que é, é:: em relação à ortografia e o significado da palavra. Concordo que eles utilizam pra isso aí. Assim, o incentivo que a gente faz, como professor, que eles utilizem o dicionário pra isso, tirar sempre essa dúvida, né?, que deve ser utilizado o dicionário porque é:: é o melhor recurso, mesmo que não seja o dicionário LIVRO, mas eles já sabem, né?, procurar também (faz gesto com a mão e aponta para o celular do pesquisador). P: Agora vamos para algumas perguntas relacionadas às suas aulas que eu observei. A primeira pergunta é a seguinte, “Antes de participar desta pesquisa, você já havia trabalhado o dicionário nesta turma? Se sim, de que forma e com que objetivos?”.

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P2: É::, nas aulas de língua portuguesa, foi que eu mais trabalhei naquela turma lá antes/antes da pesquisa. Quando você estava, cê viu que eu utilizei em outras áreas, não foi?, mas tava utilizando mais, na língua portuguesa, quando terminava um texto. P: De que forma?

P2: Quando terminava o texto a gente utilizava duas três palavrinhas que tivesse desconhecida ali pra usar o dicionário. P: Então o seu objetivo era? P2: Mostrar o significado da palavra. P: Para você um dicionário pode ser mais completo do que outro? Explique.

P2: Pode, tivemos essa oportunidade de ver lá na sala, uns dicionários com poucas palavras, e outros com mais palavras. Então/a gente comprovou isso, existem alguns mais completos. P: A próxima pergunta é esta, “Numa atividade de pesquisa em dicionário, é importante reler a parte do texto ou o texto onde está a palavra pesquisada? Explique”. P2: Sim, muito importante, porque, como a palavra tem vários significados, eu sempre:: deixo isso bem claros pra os alunos, ela tem que tá de acordo com aquela parte do texto, porque ela não tem só um sinônimo. Então ela tem que tá lá com coerência, o que o texto está falando, pra poder eles saber é:: o significado naquele momento. P: A próxima pergunta. “A que a você atribui possivelmente a dificuldade de alguns alunos em utilizar o dicionário?”. P2: É:: a/o:: o próprio interesse do aluno, que eles não querem tá ali é:: em grupos, né?, em grupos. Quando eles tavam sozinhos, eles tiveram mais facilidade, né?, “Ah, eu quero um dicionário só pra mim”. E também a questão da leitura, porque eles já tem que ver aquela sequência na ordem alfabética da/do dicionário, eles sentem essa dificuldade, apesar de ser trabalhado, mas eles sentem essa dificuldade. P: A próxima pergunta. “De modo geral, o que é importante o aluno saber para que ele tenha sucesso na consulta a um dicionário?”.

P2: Todo aqueles verbete que o dicionário precisa ter, né?, da palavra, que é por ordem alfabética, né?, primeira letra, segunda, terceira, tudo isso é muito importante, que ele tenha esse conhecimento pra ele não ficar tão perdido dentro do dicionário. Se for procurar só pela letra “a”, quantas letras vai ter depois do “a” pra ele saber qual é a palavra que ele quer encontrar, se é aritmético, então ele vai ter que procurar as três primeiras letras que é pra ele/letras pra poder ele chegar com sucesso mais rápido na palavra. P: A próxima pergunta. “Você acredita que o dicionário pode auxiliar o processo de ensino-aprendizagem de outras disciplinas, além de Língua Portuguesa?”. P2: Sim, acredito, porque em todas as outras áreas existe palavras desconhecidas, que não é do uso deles, do cotidiano, e eles precisam saber é:: o sentido daquela palavra, em todas as áreas, concordo.

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P: Agora a próxima pergunta. “Para uma aula envolvendo a consulta a dicionários, quem deve selecionar as palavras a serem pesquisadas, o professor ou os alunos?”.

P2: Os dois, eles po/os alunos podem ter o direito, hoje, de dizer que não sabe o/aquela palavra que não é do conhecimento, embora outros já tenham conhecimento, mas a gente adequa os dois, o professor, a palavra que o professor vai sentir necessidade, e a do aluno. P: Então só pra finalizar a entrevista, uma última pergunta. Em sua opinião, qual a importância de um aluno do quinto ano estudar a disciplina Língua Portuguesa?

P2: Ah, é muito importante, a língua portuguesa, ela é a nossa língua, né?, então, apesar da deficiência que existe hoje, o aluno lê pouco, mas é de muita importância, a língua portuguesa na/no quin/em todas as séries, mas no quinto ano é essencial, e uma boa leitura também.