cooperaÇÃo e parceria: programa cordas da amazônia

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1 PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO DISSERTAÇÃO DE MESTRADO COOPERAÇÃO E PARCERIA NA GESTÃO SÓCIO-CULTURAL: O CASO DO PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA JULIANA DE OLIVEIRA TAVARES BELÉM-PARÁ 2010

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RESUMO O presente estudo tem como objetivo compreender como a cooperação entre organizações contribui para a formação de redes na gestão de programa de desenvolvimento sociocultural que visa à inclusão social. Para isso, buscou-se conhecer o PCA – Programa Cordas da Amazônia da Escola de Música da Universidade Federal do Pará, analisando seus princípios, objetivos e estrutura. Primeiramente, realizou-se uma pesquisa bibliográfica, com a finalidade de fundamentar as temáticas relacionadas com parceria e redes de cooperação. Explicou-se a evolução da cultura organizacional das organizações frente à mudança do cenário competitivo, apontando o desenvolvimento do relacionamento em redes desde os primórdios da Administração, onde as empresas buscavam o isolamento a fim de aumentar sua capacidade competitiva, até os dias atuais, em que o estabelecimento de parcerias tornou-se necessário para a sobrevivência das mesmas. Após a discussão sobre a problematização e a delimitação do objeto da pesquisa, partiu-se da hipótese de que o Programa Cordas da Amazônia possui uma complexa rede de interação que fortalece os interesses e benefícios comuns entre parceiros da sociedade civil, órgãos públicos e organizações particulares. O método de estudo será o estudo de caso citado, com a intenção de análise de discurso das entrevistas semi-estruturadas a serem feitas com os envolvidos no PCA, especialmente com gestor, professor Ph.D. Áureo DeFreitas. Para delimitar este estudo foram citadas as obras de autores relacionados com a temática: Redes de Cooperação, explicando que as redes de cooperação e estabelecimento de parcerias criaram novos valores na gestão de projetos e programas. Finalizando, são apresentadas sugestões para o fortalecimento de parcerias na Rede do PCA, bem como sugestões para estudos futuros.

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Page 1: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

1

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO, PESQUISA E EXTENSÃO

PROGRAMA DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

COOPERAÇÃO E PARCERIA NA GESTÃO SÓCIO-CULTURAL:

O CASO DO PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA

JULIANA DE OLIVEIRA TAVARES

BELÉM-PARÁ

2010

Page 2: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

2

JULIANA DE OLIVEIRA TAVARES

COOPERAÇÃO E PARCERIA NA GESTÃO SÓCIO-CULTURAL:

O CASO DO PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Mestrado em administração da Universidade da Amazônia - UNAMA, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Administração. Orientação: Profa. Dra. Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos.

BELÉM-PARÁ

2010

Page 3: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

3

DEDICATÓRIA

A todas as funcionárias públicas brasileiras que

dedicam ao Brasil um trabalho ético e de qualidade.

Seu empenho, motivação e profissionalismo

contribuem para a formação de um país mais justo,

onde todos os cidadãos brasileiros sejam atendidos

dignamente. Que a esperança de construir uma

nação próspera e segura continue a movê-las em

direção a um futuro plenamente feliz.

Page 4: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

4

AGRADECIMENTOS

Jamais conseguiria esta vitória, se não estivesse cercada de pessoas especiais as

quais Deus me presenteou. Agradeço a todos que contribuíram nesta conquista, a

destacar:

Inês, bela flor que me concedeu a existência. Como agradecer aos vinte e nove

anos de dedicação diária em prol de minha educação e felicidade? Creio que nunca

haverá palavra que possa traduzir a imensidão de meus sentimentos. Haja o que houver,

estaremos juntas: tu és minha música, letra e dança.

Ao amado Ismael, pelo apoio incondicional durante a trajetória do Mestrado.

Agradeço por compreender os momentos em que estive ausente, por me confortar nas

horas difíceis, por tolerar minha impaciência, por estar sempre disponível a me ajudar,

pela integridade de seu caráter, por sua lealdade e zelo. Ao meu noivo: obrigada por

você existir.

Às três mulheres de minha vida: Edileide, Lindinaura e Jasmim. Pelo incentivo,

pela ternura, por acreditarem em minha capacidade, pela paciência que sempre tiveram,

pelo respeito desta relação. A vocês, tia, avó e irmã, minha eterna gratidão e devoção.

Se eu tivesse mais alma para dar, lhes daria.

Ao paidrasto Armando, por trazer para nossas vidas sua alegria contagiante e

consagrar à nossa família tamanho afeto. Obrigada pela sua presença. Você se tornou

parte de nossos corações.

Às queridas amigas Katy, Natasha, Amanda e Andrea, pelos incontáveis

momentos de conforto e encorajamento. Nossos amigos formam a família que

escolhemos ter, e me sinto privilegiada em conviver com pessoas especiais como vocês.

Ao professor Dr. Áureo DeFreitas, meus agradecimentos especiais. Seu espírito

de liderança e habilidade de inovação me inspiram a prosseguir nos caminhos da

pesquisa. Sua disponibilidade durante esta dissertação foi vital, colaborando

concretamente para meu progresso acadêmico.

A equipe do Programa Cordas da Amazônia e a todos os entrevistados, obrigada

por disporem seu tempo, este trabalho não existiria sem a colaboração de vocês. Em

especial, a estimada professora Msc. Lúcia Uchôa, que sempre me animou nos

momentos mais difíceis, acreditando em meu trabalho e poder de superação.

Page 5: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

5

Às colegas de Mestrado: Aline, Rosa e Carmem. Juntas, compartilhamos a

estrada, muitas vezes tortuosa, em busca de um sonho comum. A felicidade de

concluirmos esta etapa transpõe a obtenção do título de mestre, demonstrando nossa

força interior e o sentimento de fraternidade que nos uniu ao longo do curso.

Finalmente, agradeço a todos os professores que tive, desde os primeiros passos

da alfabetização, até a formação atual como Mestre. Dentre todas as profissões, eis a

mais digna, pois não há de ter missão mais admirável do que educar um ser humano e

ajudá-lo a ser alguém melhor, em todos os sentidos. Meus agradecimentos aos

professores que Deus pôs em meu caminho, pois cada um, à sua maneira, ensinou

grandes lições. A orientadora desta pesquisa, professora Dra. Ana Maria Vasconcelos,

por ter acreditado em meu potencial.

Page 6: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

6

EPÍGRAFE

Se não houve frutos, valeu a beleza das

flores.

Se não houver flores, valeu a sombra das

folhas.

Se não houve folhas, valeu a intenção da

semente.

(Cecília Meireles)

Page 7: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

7

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo compreender como a cooperação entre

organizações contribui para a formação de redes na gestão de programa de

desenvolvimento sociocultural que visa à inclusão social. Para isso, buscou-se conhecer

o PCA – Programa Cordas da Amazônia da Escola de Música da Universidade Federal

do Pará, analisando seus princípios, objetivos e estrutura. Primeiramente, realizou-se

uma pesquisa bibliográfica, com a finalidade de fundamentar as temáticas relacionadas

com parceria e redes de cooperação. Explicou-se a evolução da cultura organizacional

das organizações frente à mudança do cenário competitivo, apontando o

desenvolvimento do relacionamento em redes desde os primórdios da Administração,

onde as empresas buscavam o isolamento a fim de aumentar sua capacidade

competitiva, até os dias atuais, em que o estabelecimento de parcerias tornou-se

necessário para a sobrevivência das mesmas. Após a discussão sobre a problematização

e a delimitação do objeto da pesquisa, partiu-se da hipótese de que o Programa Cordas

da Amazônia possui uma complexa rede de interação que fortalece os interesses e

benefícios comuns entre parceiros da sociedade civil, órgãos públicos e organizações

particulares. O método de estudo será o estudo de caso citado, com a intenção de análise

de discurso das entrevistas semi-estruturadas a serem feitas com os envolvidos no PCA,

especialmente com gestor, professor Ph.D. Áureo DeFreitas. Para delimitar este estudo

foram citadas as obras de autores relacionados com a temática: Redes de Cooperação,

explicando que as redes de cooperação e estabelecimento de parcerias criaram novos

valores na gestão de projetos e programas. Finalizando, são apresentadas sugestões para

o fortalecimento de parcerias na Rede do PCA, bem como sugestões para estudos

futuros.

Palavras-chave: Parceria, redes de cooperação, gestão sócio-cultural, inclusão social.

Page 8: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

8

ABSTRACT

This study aims to understand how cooperation among organizations contributes to the

formation of networks in the management of socio-cultural development program which

aims at social inclusion. With that Said, we sought to know the ASP – the Amazon

String Program of the School of Music of the University Federal of Pará., analyzing its

principles, goals and structure. First, we performed a literature search, in order to

substantiate the issues related to partnership and cooperation networks. He explained

the evolution of the organizational culture of organizations facing change the

competitive landscape, pointing to the development of relationship networks since the

beginning of Directors, where companies sought isolation in order to increase their

competitive edge, even today, in that the establishment of partnerships has become

necessary for survival. After discussion of the questioning and the delimitation of the

research object, we started with the hypothesis that the Amazon String Program has a

complex network of interaction that strengthens the common interests and benefits

among civil society partners, public agencies and private organizations. The method of

study is a case study cited, with the intention of the discourse analysis of semi-

structured interviews to be done with those involved in the ASP, especially with

manager, Ph.D. Aureo DeFreitas. To delimit this study we cite the works of authors

connected with the theme: Cooperation Networks, explaining that the cooperation

networks and partnerships created new values in the management of projects and

programs. Finally, suggestions are provided for the strengthening of partnerships in the

ASP Network, as well as suggestions for future studies.

Keywords: Partnership, collaborative networks, socio-cultural, social inclusion.

Page 9: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa conceitual das Redes de Cooperação..................................................29

Figura 2 - Redes de Fornecimento..................................................................................32

Figura 3 – Estrutura de Consórcio..................................................................................33

Figura 4 – Estrutura de Redes Associativas...................................................................34

Figura 5 – Objetivos, interação e ganhos competitivos..................................................44

Figura 6 – Apresentação dos métodos de pesquisa. ......................................................63

Figura 7 – Rede de Cooperação que envolve o Programa Cordas da Amazônia...........65

Figura 8 – Organograma de fluxo burocrático para fomento de projetos......................68

Figura 9 - Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas ..........................................102

Figura 10 - Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas ........................................102

Figura 11 - Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas ........................................102

Figuras 12 - Equipe de pesquisadores voluntários do PCA.........................................102

Figura 13 – Apresentação no programa global Gente Inocente.................................103

Figura 14- Publicação de sobre a turnê Holanda, em 2004.......................................103

Figura 15 - Banda Madame Saatan e Orquestra no Teatro da Paz em 2007................103

Figura16 - Juliana Sinimbú e Orquestra no Teatro da Paz........................................103

Figura 17 – Orquestra em show em cima do trio elétrico, no ENARTE 2009.............104

Figura 18 – Prof. Dr. Áureo DeFreitas em performance no Theatro da Paz................104

Figura 19 – Orquestra em show na Praça da República, em 2010..............................104

Figura 20 – Orquestra em show no evento Conexão Vivo, em 2010..........................104

Figura 21 – Orquestra de Violoncelistas da Amazônia no evento Fest Music.............105

Figura 22 – Orquestra em show no evento ENARTE Flutuante, em 2010.................105

Figura 23 – Balsa do ENARTE Flutuante, 2010.....................................................105

Figura 24 - Conferência Mundial de Educadores Musicais, em 2010.........................105

Figura 25 – Turnê China 2010...............................................................................106

Figura 26 – Show realizado em Pequim, ano de 2010..............................................106

Page 10: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

10

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Formas de relações econômicas que envolvem as redes de cooperação.....27

Quadro 2 – Evolução teórica sobre redes de cooperação...............................................28

Quadro 3 – Ganhos competitivos das redes de cooperação...........................................41

Quadro 4 – Ações Internacionais da Orquestra da OIJVA...........................................54

Quadro 5 - Pesquisadores do Projeto Transtornos do Desenvolvimento.......................60

Quadro 6 – Mapeamento dos entrevistados...................................................................64

Quadro 7 – Coletânea de TCCs produzidos pelos pesquisadores do PCA....................73

Quadro 8 - Coletânea de Dissertações produzidas pelos pesquisadores do PCA..........74

Quadro 9 – Artigos publicados pelos pesquisadores do PCA.......................................74

Quadro 10 – Projetos do PCA.......................................................................................75

Quadro 11 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas individuais......................81

Quadro 12 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas em grupo........................82

Quadro 13 – 1° fase de estruturação da OIJVA.............................................................83

Quadro 14 – 2° fase de estruturação da OIJVA.............................................................84

Quadro 15 – 3° fase de estruturação da OIJVA.............................................................85

Quadro 16 – Mobilidade Nacional e Internacional do integrantes da OIJVA...............87

Quadro 17 – Síntese da rede de cooperação que envolve o PCA..................................93

Page 11: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

11

SUMÁRIO

RESUMO..........................................................................................................................7

ABSTRACT.....................................................................................................................8

LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................9

LISTA DE QUADROS................................................................................................ 10

1.INTRODUÇÃO..........................................................................................................13

1.1 TEMA........................................................................................................................13

1.2. OBJETIVOS E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA...................13

1.3. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA............................................................16

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO.......................................................................22

2. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................23

2.1 COOPERAÇÃO INTERORGANIZACIONAL......................................................23

2.2 TIPOLOGIAS EM REDES DE COOPERAÇÃO...................................................29

2.3 PRINCIPAIS CONFIGURAÇÕES DAS REDES DE COOPERAÇÃO

ORGANIZACIONAL ...................................................................................................30

2.3.1 Redes de Fornecimento..........................................................................................31

2.3.2 Rede de Corsórcios................................................................................................32

2.3.3 Redes Associativas................................................................................................34

2.4 GANHOS COMPETITIVOS DAS REDES DE COOPERAÇÃO..........................37

2.5 ESTABELECENDO UMA REDE DE COOPERAÇÃO.......................................44

2.6. CONTEXTUALIZANDO O PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA..............47

2.6.1. Aspectos de liderança no PCA..............................................................................47

2.6.2. Surgimento da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia....................................50

2.6.3. Panorama atual do Programa Cordas da Amazônia..............................................55

2.6.4 Projetos que compõem o Programa Cordas da Amazônia.....................................58

3. METODOLOGIA DA PESQUISA..........................................................................62

3.1 TIPO DE COLETA DE DADOS..............................................................................62

Page 12: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

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4. ESTUDO EMPÍRICO:............................................................................................67

4.1 O SURGIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO NO PCA...............................67

4.1.1 Formação de Parcerias: Universidade Federal do Pará.........................................71

4.1.2 Formação de Parcerias: MEC – Ministério da Educação......................................76

4.1.3 Formação de Parcerias: MINC – Ministério da Cultura........................................77

4.1.4 Formação de Parcerias: EMUFPA- Escola de Música da UFPA.........................78

4.1.5 Formação de Parcerias: os alunos do PCA...........................................................80

4.1.6 Formação de Parcerias: mães de alunos...............................................................88

4.1.7 Formação de Parcerias: pesquisadores.................................................................90

4.1.8 Formação de Parcerias: pesquisadores.................................................................92

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS.....................94

6. REFERÊNCIAS BBLIOGRÁFICAS......................................................................97

7. ANEXOS...................................................................................................................101

Page 13: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

13

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho visa à investigação do processo de articulação de parcerias

como condição de sobrevivência para um programa de gestão sócio-cultural. Para isso,

explora elementos que permitem o entendimento do contexto em que o Programa

Cordas da Amazônia está inserido, identificando e analisando os princípios gerais de

cooperação aplicável na Universidade Federal do Pará e as formas e a natureza das

relações entre os parceiros do programa em foco.

1.1 TEMA

O tema deste trabalho é o estabelecimento das redes de cooperação entre

organizações, e como essa formação de redes pode contribuir para o desenvolvimento

de um programa de gestão sócio-cultural. A temática inclusão social também será

abordada, visto que está relacionada com o estudo de caso em questão. A pretensão é

analisar a interação existente entre parceria como condição de sobrevivência,

cooperação e inclusão social, já que não há estudos nesta área na região Norte do país.

Para isto, optou-se por realizar uma pesquisa qualitativa baseada na bibliografia

existente e nas entrevistas coletadas ao longo deste estudo.

1.2. OBJETIVOS E FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

A idéia do estabelecimento de redes foi consolidada em nossa sociedade através

de exemplos práticos desta parceria, vistos em: organizações públicas e privadas,

organizações não-governamentais, nas relações familiares, profissionais, em pesquisas

acadêmicas, inclusive na esfera política. Se tratando de dois ou mais agentes

interligados em prol de um objetivo comum, podemos firmar a idéia de cooperação. A

condução de negócios, outrora meramente competitiva, ganha nova roupagem neste

século, sendo abordada por diversos autores, especialmente nas dissertações de

Mestrado e teses de Doutorado dos cursos de Pós Graduação em Administração.

A concorrência, que no século passado era limitada a atores locais, globalizou-

se, como comprova os editais de projetos de extensão aos quais o objeto deste estudo, o

Programa Cordas da Amazônia, se submete. A orquestra paraense compete a nível

Page 14: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

14

nacional, com programas de gestão cultural do Brasil inteiro, na disputa de fomentos

advindos do Governo Federal. O programa precisa, portanto, utilizar-se de parcerias

para atender com rapidez às demandas que são colocadas em seu ambiente

organizacional.

O presente trabalho visa à investigação do processo de articulação de parcerias

como condição de sobrevivência para um programa de gestão sócio-cultural. Para isso,

explora elementos que permitem o entendimento do contexto em que o Programa

Cordas da Amazônia está inserido, identificando e analisando os princípios gerais de

cooperação aplicável na Universidade Federal do Pará e as formas e a natureza das

relações entre os parceiros do PCA.

O objetivo central da pesquisa consiste em compreender como a parceria e a

cooperação entre organizações contribuem para a gestão de programa de

desenvolvimento sociocultural que visam à inclusão social. E ainda, verificar as formas

de parcerias estabelecidas na gestão de programa de desenvolvimento sócio-cultural e

identificar como se apresentam os arranjos organizacionais para o estabelecimento da

cooperação e/ou articulações entre parceiros que promovam a valorização dos aspectos

sociais, culturais e ambientais na formação sociocultural e conhecimento local.

Os objetivos específicos da pesquisa são:

- Verificar as formas de parcerias estabelecidas na gestão de programa de

desenvolvimento sócio-cultural;

- Identificar como se apresentam os arranjos organizacionais para o

estabelecimento da cooperação;

- Identificar a ocorrência de formas de articulações entre parceiros visando à

cooperação e valorização dos aspectos sociais, culturais e ambientais na formação

sociocultural e conhecimento local.

- Verificar as diferentes motivações que levam empresários, voluntários e

executivos federais a realizar ações de cooperação com o programa, identificando os

possíveis ganhos de ambos neste processo.

A análise de novas formas de redes de cooperação tem sido objeto de

investigação em vários campos do conhecimento. Na tentativa de compreenderem o seu

impacto sobre a vida social, estes campos se desdobraram e originaram as diversas

metodologias de análise. Entende-se que as redes de cooperações consistem em sistemas

Page 15: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

15

compostos por conexões representados por sujeitos sociais entre indivíduos, grupos,

organizações etc. conectados por algum tipo de relação (MARTELETO, 2001).

Neste sentido a questão central da pesquisa é compreender como a cooperação

entre organizações contribui para o fortalecimento da gestão de programa Cordas da

Amazônia visando o desenvolvimento sociocultural com inclusão social. Com o

propósito de dar maior ênfase à discussão central, a pesquisa se desdobra em três

questões norteadoras da questão central, a saber:

1- Qual o tipo e concepção de cooperação que predomina nas ações articuladas entre o

programa Cordas da Amazônia, a Universidade e as empresas parceiras que se

envolvem com o programa?

2- Quais as ações desenvolvidas pelo programa que tem sido atrativas ao fortalecimento

da cooperação?

3- O programa apresenta propostas de inclusão e maior participação social através de

ações articuladas de valorização dos aspectos sociais, culturais e ambientais?

Parte-se da hipótese da existência de uma complexa rede de interação que atua

em diferentes níveis de cooperação e valorização das relações sociais construídas e

fortalecidas na relação de cooperação entre organizações e setores da sociedade civil.

Page 16: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

16

1.3. JUSTIFICATIVA TEÓRICA E PRÁTICA

No século passado, as organizações viviam basicamente preocupadas com a sua

própria produção; a coordenação deste processo possuía quase que exclusivamente uma

estrutura familiar e hierárquica, sem nenhuma preocupação em interagir com outras

organizações, quer fossem do mesmo segmento ou de diferentes ramos. Os modelos de

gestão baseados em parcerias sequer eram cogitados. Ser uma organização de sucesso

consistia, fundamentalmente, em lucrar oferecendo ao mercado consumidor um

produto/serviço com qualidade razoável, baixo preço e logística compatível com os

custos dispensados.

Porém, houve o surgimento de novos parâmetros de mercado, alterando o

cenário competitivo, exigindo das organizações a implantação de um novo modelo de

gestão, mais sustentável, pois as companhias não estavam preparadas para as novas leis

do mercado que se formavam graças aos significativos avanços de uma nova cultura

organizacional.

Entendendo o conceito de cultura no âmbito das organizações, segundo

Mintzberg (1999), a cultura significa a junção de modos de falar, agir, pensar, enfim,

atitudes e formas organizacionais de um grupo, pois à medida que as pessoas se reúnem

para fazer alguma coisa, aí está formada um estilo de agir, pensar e falar, portanto, uma

cultura própria do grupo. O autor apresenta outros conceitos mais simples de cultura

organizacional:

a) São os princípios e regulamentos que regem a cultura, fornecendo aos

grupos significado, direção e mobilização quanto à cultura organizacional vivenciada.

b) É a força social que move a aliança rumo ao alcance de objetivos.

c) É o modo pelo qual as tarefas são realizadas.

d) Uma moeda social.

e) O conhecimento adquirido e utilizado para interpretar experiências e

gerar desempenho social.

Porém, ao abordar a temática Cultura Organizacional, é imprescindível

conceituar o termo “organização”. Segundo Pires e Macedo (2006), pode-se afirmar que

organização é um conjunto de tarefas e atividades direcionadas por duas ou mais

pessoas onde, devido a entraves pessoais, os indivíduos são levados a cooperarem uns

Page 17: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

17

com os outros para alcançar certos objetivos que a ação individual isoladamente seria

incapaz de fazê-lo.

Chega-se à idéia de que o conjunto de organizações que constituem esta

interação é formado por sentimentos de dinamismo e complexidade, como se fossem

um organismo vivo, possuindo “vida própria”.

Na concepção de Pires e Macedo (2006, p.88), uma organização consiste em um

conjunto de preceitos, políticas públicas, valores e crenças que influenciam na forma

como as pessoas agem e interagem e colaboram para o estabelecimento de uma cultural

organizacional.

Observa-se nestes conceitos que a cultura organizacional varia de acordo com o

comportamento dos indivíduos que a compõem. As mudanças culturais entre gestores e

sociedade permitiram a abertura de mercados através de novas frentes de negócio, e

conseqüentemente, ocorreu à entrada de novos concorrentes, mão-de-obra mais

capacitada, consumidores mais exigentes e o surgimento de conceitos atrelados à

cooperação. Abordando os significados de cultura organizacional e de organização,

pode-se compreender o surgimento de novas concepções de modelos de gestão.

Putnam (1996, p.97) discorre sobre a evolução sofrida pelo mercado,

contextualizando sobre a Revolução Industrial, como o mais importante acontecimento

social e econômico verificados na sociedade ocidental nos últimos séculos, trazendo

como conseqüência, a partir da mudança de milhares de pessoas dos campos para as

cidades, a elevação do padrão de vida da sociedade: estruturas de classes sociais

transformadas, níveis de educação e padrões sanitários elevados, e capacidade

econômica e tecnológica multiplicadas.

Outro passo em discussão seria o surgimento da globalização econômica, que,

segundo Porter (1998), modificou drasticamente a conjuntura dos mercados, fazendo

com que estes ficassem mais competitivos e buscassem aperfeiçoar a produção e criar

diferenciais relacionados à qualidade de seus produtos / serviços. Ocorre que entre as

inúmeras dimensões humanas existentes, este estudo supõe como relevante a

sociabilidade da natureza humana. É esta dimensão que é responsável pela aproximação

do homem e de seus semelhantes, com a finalidade de criarem, unidos, associações

estáveis para agirem como membros de um mesmo grupo social.

Até a década de 70, a sociedade tinha como foco o meio econômico para

alcançar uma melhor qualidade de vida; com o passar do tempo, percebeu-se que o

Page 18: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

18

crescimento advindo do capital trazia benefícios estritamente nesta área, enquanto

outras – tais como a área social, cultural, ambiental e política – eram subjugadas pela

força da imposição monetária.

Barbieri (2007) discorre a respeito no que tange aos aspectos ambientais e

sociais, quando ainda não se percebia preocupação com a desenfreada degradação

ambiental ou com a exclusão social; as atividades comerciais motivadas pelo modo de

produção extrativista eram tidas como único modo de geração de lucro e riquezas, sem

importar-se com os impactos gerados por elas.

Seguindo essa lógica de estudo, o tema ‘parceria e cooperação’ exige uma

discussão prévia sobre a evolução da conduta de cada cidadão, que ultrapassam os

portões das fábricas e faz surgir uma sociedade preocupada com a inclusão social dos

menos favorecidos, a então chamada responsabilidade social. Assim, os próprios

gestores passam a vislumbrar, no estabelecimento de parcerias, uma oportunidade de

preservar o bem estar de suas futuras gerações.

Mintzberg (2009) afirma que o desgaste de capital intelectual voltado para a

inovação e aumento do lucro levou os gestores a perceberem que a estratégia acirrada de

competição os levaria a exaustão financeira e ao fracasso. Alertas e conferências de

caráter sócio-ambiental cujo objetivo era apontar a urgência em se tratar de inclusão e

eficiência incentivaram as organizações a preocuparem-se com sua sustentabilidade,

tornando possível a avaliação da temática parceria e cooperação.

À medida que crescem as organizações na sociedade civil, crescem as demandas

de cunho social e a precisão de intervenção na realidade (CASTELLS, 1999). Desta

forma, aumenta a importância do tema parcerias e alianças estratégicas. Em termos

legais do termo parceria, foi em 23/03/1999 foi aprovada uma Lei pelo Governo

Federal, a Lei n° 9.790, que regulamenta a existência das Leis da Sociedade Civil de

Interesse Público (OSCIP). Pois é justamente nessa Lei que foi criado o termo parceria,

que regula o relacionamento existente entre organizações públicas e privadas:

Art. 9o Fica instituído o Termo de Parceria, assim considerado o instrumento passível de ser firmado entre o Poder Público e as entidades qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público destinado à formação de vínculo de cooperação entre as partes, para o fomento e a execução das atividades de interesse público previstas no art. 3o desta Lei. (art.9° da Lei no 9.790, de 23 de março de 1999).

Page 19: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

19

Noleto (2000, p.15) afirma que a máxima de que somando esforços estaremos

mais aptos a enfrentar os problemas de toda ordem é verdadeira, pois a somatória de

recursos, conhecimentos e perfis multifuncionais ampliam admiravelmente as

possibilidades de atuação.

Segundo Noleto (2000, p.16), a construção de parcerias é uma verdadeira arte,

pois envolve habilidades de todos os envolvidos no processo de cooperação. A parceria

está atrelada às ações mais pontuais, como um projeto ou uma iniciativa em conjunto; já

a aliança estratégica abordará ações conjuntas de longo prazo, ou uma associação

ininterrupta, independentemente do projeto em questão.

O estabelecimento de parcerias resulta na formação de alianças estratégicas.

Estas ocorrem quando há cooperação entre duas ou mais entidades, em prol da mesma

finalidade representando um modo de transformar a sociedade. Assim, quando se fala de

aliança estratégica, é preciso que se pense em longo prazo, com ambas as partes

dispostas a investir em um relacionamento, sendo vistas como um modo de alcançar

resultados, e não o fim em si é uma união firme e durável, disposta a alterar uma

realidade vivenciada, a partir da somatória de forças (KAY, 1993).

Segundo Noleto (2000, p.17), são características das parcerias e alianças

estratégicas: é um compromisso que será desenvolvido em longo prazo, sendo que os

recursos humanos, financeiros e materiais serão compartilhados, além dos riscos e

sucessos; para isto, é preciso que haja um objetivo comum, mesmo que cada parceiro

mantenha suas habilidades e competências. A autora afirma sobre a acuidade que se

deve ter ao avaliar parceiros:

(...) um importante desafio consiste em selecionar parceiros, avaliar riscos e identificar os fatores que justificam e levam à parceria ou aliança. É preciso verificar: atuação, tempo de existência, credibilidade, imagem, missão, valores, intencionalidade ética, capacidade de investimento, saúde financeira, recursos humanos qualificados, projetos já desenvolvidos (NOLETO, 2000, p. 19).

Segundo Lewis (1992, p.3), uma aliança dura tanto quanto a necessidade mútua,

incluindo a eficácia com a qual os parceiros irão trabalhar em conjunto. Esta

Page 20: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

20

interdependência expõe os parceiros, que deverão buscar as soluções pertinentes,

compartilhando seu grau de controle sobre as atividades desenvolvidas da rede.

Faz-se necessário o estudo sobre a gestão de um programa de desenvolvimento

sócio-cultural, com o recorte teórico baseado na Teoria da Cooperação e no conceito de

parcerias, pois a formação de redes intra-organizacionais tornou-se uma nova realidade

no relacionamento outrora somente competitivo.

Tais conceitos surgiram em meio às organizações inovadoras sustentáveis. São

modelos organizacionais vistos como mais adequados para as novas exigências

mercadológicas e sociais, relacionadas com a temática em evidência, o desenvolvimento

sustentável, que teve início na CNUMAD, em 1992. E esta adequação é resultado da

busca pela eficiência técnica e simbólica. (BARBIERI, ANDREASSI,

VASCONCELOS, 2010).

Segundo Barbieri et al (2010, p.3), a necessidade de substituir os meios e

práticas antigas por outras que traduzam os princípios, diretrizes e objetivos de um novo

movimento é um aspecto central quando se pretende aderir a um movimento social. A

inovação deverá ser encarada de uma nova forma, levando a um tipo de inovação que

resulte em desenvolvimento sustentável: é esta a idéia de inovação sustentável.

O processo de institucionalização do termo inovação sustentável não teve

precedentes, sendo a popularização do conceito espalhada rapidamente. A possível

explicação para a adoção do comportamento voltado para a inovação sustentável derive

da teoria institucional, onde a própria sociedade adquire novos valores que serão seus

novos “mitos” a serem seguidos em um determinado setor. O sistema social pressiona a

organização para que ela adote o novo modelo de gestão. O modelo de gestão requerido

é baseado na busca pela eficiência simbólica – adoção de modelos institucionalizados

no setor e na sociedade, tidos como ideais – e a eficiência técnica, que é a busca por

produtividade, qualidade, eficácia . (BARBIERI, 2010, p.6).

Neste ínterim, organizações inovadoras, segundo Barbieri (2007, p.88), são

aquelas capazes de revelar a efetividade da adesão ao desenvolvimento sustentável,

dando uma efetiva contribuição para o planeta e suas futuras gerações. Este autor

apresenta dois conceitos essenciais para o entendimento necessário a proposta deste

trabalho: essencialmente, os esforços para inovar resultam, inicialmente, em idéias que

se transformam em inovações sustentáveis.

Page 21: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

21

É no contexto de organizações que utilizam a parceria e a cooperação como

modo de sobrevivência e aumento de competitividade, apresentado nos parágrafos

anteriores, que o Programa Cordas da Amazônia de insere, daí a importância deste

estudo. A cooperação visa solidificar e promover o PCA, promovendo a solidificação de

um processo integrado e auto-sustentável, aumentando o poder de barganha entre os

participantes de sua rede. A finalidade é sempre a alavancagem da competitividade.

Este trabalho caracteriza-se como um estudo teórico exploratório, a partir do

estudo de caso. A intenção desta parte do trabalho é apresentar o Programa Cordas da

Amazônia, e compreender as razões que influenciaram o estabelecimento de

relacionamentos interorganizacionais, investigando as peculiaridades inerentes ao

projeto.

Portanto, trata-se de pesquisa qualitativa, pois existe um vínculo ao qual não

podemos desassociar entre objetividade e subjetividade do cenário que está sendo

observado. Os fenômenos relacionados com o Programa Cordas da Amazônia serão

analisados, e significados auferidos para a construção da coleta e interpretação dos

dados. A pesquisa compreenderá as ações dos participantes da Rede de Cooperação.

Page 22: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

22

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Este trabalho tem o objetivo de apresentar elementos que auxiliem na

compreensão de conceitos sobre os fatores que colaboram na formação da concepção

sobre o fenômeno com as redes de cooperação.

Para o conseguimento deste objetivo, estruturamos o presente trabalho em sete

partes, seguindo uma apresentação lógica da evolução do tema delimitado no contexto

organizacional.

O capítulo 1, introdutório, é apresentado o tema de pesquisa, bem como os

objetivos específicos, contextualizando os questionamentos formulados pela

pesquisadora. Neste capítulo também é justificado a escolha teórica deste trabalho, além

de sua abordagem prática.

O capítulo 2 abrange o referencial teórico do trabalho, abordando os seguintes

temas: Cooperação Interorganizacional, Tipologias em Redes de Cooperação, as

Principais Configurações de Cooperação Organizacional, os Ganhos Competitivos das

Redes de Cooperação, e finalmente, o Processo de Estabelecimento de uma Rede de

Cooperação. Finalizando o capítulo 2, veremos a Contextualização do Programa Cordas

da Amazônia, como suporte teórico essencial para o entendimento do objeto de estudo.

O capítulo 3 discorre sobre a metodologia de pesquisa empregada, explicando o

motivo da adoção de procedimentos qualitativos, especificamente, de caráter descritivo.

Também é explicado o tipo de coleta de dados utilizado.

O capítulo 4 compreende a abordagem empírica deste estudo, descrevendo como

surgiu a rede de cooperação do Programa Cordas da Amazônia, bem como o processo

de estabelecimento de parceria dos pertencentes à Rede.

No capítulo 5 são apresentadas as conclusões da pesquisa, suas limitações e

sugestões para trabalhos futuros.

Os capítulos que se seguem comportam as referências bibliográficas e os anexos.

Page 23: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

23

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1. COOPERAÇÃO INTERORGANIZACIONAL

Os fundamentos das relações de cooperação ganharam importância da economia

atual, visando não somente a sobrevivência, mas real competitividade no mercado,

surgindo à temática “aliança estratégica”. Esta aliança pode ter a duração de um curto

período, como a exemplo as empresas que se unem em torno de um projeto, tendo esta

cooperação uma duração determinada para findar.

Verschoore (2006) exemplifica benefícios das empresas ao entrarem em rede:

a) A respeito do poder de mercado, onde as empresas em rede terão

melhores condições de barganharem e ampliarem seu portfólio de produtos e serviços.

b) Os serviços oferecidos através da rede tornar-se-ão mais especializados,

já que mais de uma organização estará somando forças, dando mais criatividade e

flexibilidade ao processo.

c) Os riscos são compartilhados e dispersos entre todos que pertencem à

rede, diminuindo as chances de fracasso do negócio e aumentando o nível de

responsabilidade sobre todas as etapas de comercialização.

d) Alta especialização gerada pelos membros da rede: cada um oferece ao

grupo o melhor de suas atividades dentro de sua especialidade. Por exemplo, uma

empresa de telefonia associada a uma de marketing; a de telefonia proverá a tecnologia

de comunicação necessária, enquanto a de marketing se encarregará do relacionamento

com o cliente.

e) Novos métodos de resolução das continências. Como existem mais de

uma equipe pensando em conjunto, há condições de se elaborar várias soluções para os

eventuais problemas que surgirem.

f) Os custos são reduzidos em função das economias apresentadas pelas

organizações da rede.

g) Os ativos (recursos financeiros disponíveis) e capital social são

compartilhados e postos à cooperação da rede no alcance de seus objetivos.

h) Gestão do conhecimento: diversos estilos de recursos humanos e

tecnológicos das cooperadas são somados em prol do atendimento de suas metas.

Page 24: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

24

i) Noção de coletivismo: ações antes individualistas e oportunistas cedem

lugar à colaboração mútua, oferecendo vantagens exclusivas para participantes da rede.

Grandori e Soda (1982 apud BECKER, 2007) referem-se ao tema não como

sendo uma noção abstrata, mas que:

‘O conceito de rede se relaciona com o conjunto de relacionamentos que se

conectam e modificam a constituição de nossa sociedade. Grandori e Soda

desenvolveram o estado da arte a respeito dos estudos sobre redes interorganizacionais,

e complementando que o tema não é utilizado somente na Teoria das Organizações;

conectam o termo com a Neurociência, Pesquisa Operacional, Teoria da Comunicação e

Teoria dos Pequenos Grupos.

Thorelli (1986 apud BECKER, 2007) define que de uma forma geral uma rede

pode ser vista como consistindo de nós ou posições (ocupadas pro empresas, lares,

unidades estratégicas de negócios dentro de um interesse diversificado, associações de

negócios e outros tipos de organizações) e ligações manifestadas por interações entre as

posições. O autor reconhece que a interdependência que os elementos de uma rede

possuem uns com os outros é necessária.

Estes autores afirmam que há, nos últimos anos, uma fragmentação do estudo de

redes, pois as redes existem há pouco tempo, enquanto são intensamente difundidas nas

empresas.

A busca pelo desenvolvimento do PCA revela que a forma de organização em

rede (network) promove sua sustentabilidade. São interações sociais em torno de um

projeto sócio cultural, que envolve um grupo de empresas com interesses comuns

(patrocinadores), além de pais, órgãos públicos federais, professores, trabalho

voluntariado. Essas ações são feitas em conjunto, em detrimento de ações individuais, e

buscam alcançar o sucesso do programa.

Em uma rede, segundo Pereira (2005), ocorrem dificuldades acarretadas pela

busca de maior poder, por exemplo, má gestão do negócio, entraves gerados pela

competição e falta de confiança entre os próprios parceiros da rede.

É através da rede de cooperação que o Programa Cordas da Amazônia encontra

espaço no acirrado mercado musical de Belém, pois graças às compartes, o grupo

consegue obter uma melhor troca de informações, contratos fechados para participações

em eventos, divulgação da imagem da orquestra, realização de lobbyng,

Page 25: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

25

desenvolvimento e execução de planos de marketing e patrocínio de órgãos federais e

empresas particulares.

Segundo Becker (2007), as redes têm formado uma nova constituição

recentemente, que é o resultado de uma forma diferente de compreensão de criação de

valor. As empresas se comportam dentro da rede segundo suas próprias perspectivas e

interesses, permitindo a sua sobrevivência e a de outras organizações, sendo que cada

organização fornece algo em troca de obter outra coisa de seu interesse.

Pode-se dar apoio quanto à tecnologia da informação (marketing) em troca de

equipamentos e matérias-primas, por exemplo. No intuito de atingir os objetivos

específicos lançados para este trabalho, foram considerados diversos autores que

discursem sobre Redes de Cooperação, ou seja, que abordem os motivos pelos quais as

organizações devem estar dispostas em redes.

Visto que um dos objetivos do Programa Cordas da Amazônia é promover o

estudo do violoncelo através da inclusão social e estabelecimento de parcerias, em prol

de uma estratégia de relacionamento em conjunto e não meramente individualista; este

trabalho poderá contribuir futuramente para futuros gestores que queiram formar redes

ou ingressar em uma já formada, nos diversos campos de atuação existentes, facilitando

este processo.

Segundo Peroni (2009), a cooperação não é tarefa fácil, mesmo todos estando

dispostos a construí-la. As experiências já existentes envolvendo processos cooperativos

provam que, para que haja a prática de projetos conjuntos, mesmo estes trazendo

incontáveis benefícios ao seu redor, se faz necessário um processo de coordenação

ajustado a cada situação. Este é justamente o desafio dos gestores, utilizarem a

cooperação como estratégia diante dos quadros de competitividade enfrentados pelas

organizações contemporâneas.

Segundo Balestrin e Verschoore (2008), a expansão tecnológica global permite a

ampliação das ações conjuntas, impulsionada através da expansão da capacidade

tecnológica. Os conceitos de cooperação atuais estão relacionados com a nova

configuração do mercado, balizados por corporações unidas através da rede da Internet.

A organização na forma de rede de cooperação aglomera projetos com objetivos

comuns, firmemente relacionados, cujo objetivo é manter a capacidade autônoma de

gestão e desenvolver vantagens coletivas.

Page 26: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

26

Segundo Peroni (2009), ao aliar complexas exigências competitivas, tais como:

flexibilidade, aprendizado contínuo e inovação, as redes de cooperação vêm sendo uma

solução eficaz para os problemas enfrentados por empresas do século XXI, e

gradativamente as temáticas pautadas na ascensão das redes conquistam seu espaço no

mundo empresarial e acadêmico, abordando temáticas pautadas. Em relação ao último

citado, comprova-se a relevância do tema nas preocupações demonstradas em revistas

nacionais e internacionais, bem como nas publicações em congressos.

O sentimento altruístico, ou seja, a capacidade de doar algo de si sem exigir nada

em troca, é a base para a existência da cooperação entre os homens. Este sentimento é

raro nas relações humanas, e, portanto igualmente raro nas relações empresariais.

A cooperação nasce do desejo de se obter algo em troca, mas como

entendimento de que é necessário dar também, para que haja recíproca, a recíproca

consiste no objetivo comum existente entre os indivíduos, e a partir daí ocorre à ação

coletiva. Assim, as empresas colaboram entre si buscando alcançar resultados que

certamente não conquistariam se trabalhassem de forma isolada.

Neste trabalho se faz necessária a conceituação do termo “rede”, que é bastante

utilizado na vida contemporânea, a partir do advento da internet, que, segundo Castells

(1999) é formada por um conjunto de computadores conectados.

Para compreender este termo dentro da esfera da cooperação, devemos pensar no

termo inglês network, nos remetendo a estrutura de cordas, o entrelaçamento de fios e

emaranhado de informações, nos remetendo ao relacionamento existente entre seres

humanos, objetos e situações de toda a ordem; sendo que as redes, nesse contexto,

seriam os próprios nós destas relações.

Balestrin e Verschoore (2008) afirmam que independentemente da forma como

rede é analisada, seja como relação entre pessoas ou relação entre organizações, as redes

são caracterizadas por três elementos distintos: (a) nós ou atores individuais, (b) as

interconexões que regem os atores, (c) a unidade formada pela conexão estabelecida

pelos mesmos. Pode-se afirmar que as redes são uma tentativa de unir forças

socioeconômicas, como forma de solucionar problemas enfrentados pelas organizações,

diante de novos paradigmas que são impostos diariamente.

Uma das propriedades fundamentais de cooperação em redes é o caráter

competitivo, ou seja, seus partícipes se pautam condicionados pela concorrência das

empresas que não estão abrangidas nas redes. Segundo as redes de cooperação são

Page 27: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

27

formadas por grupos de empresas conexas e amplamente inter-relacionadas, dirigidas a

gerar e oferecer soluções competitivas de caráter coletivo e coordenado. (BALESTRIN

E VERSCHOORE, 2008, p.79),

A coordenação é a maneira pela qual a rede de cooperação conseguirá destacar-

se perante o mercado competitivo em relação aos agentes externos; as empresas da rede

devem possuir objetivos comuns, prazo de existência ilimitado e escopo múltiplo de

atuação, sendo que cada participante da rede possui sua estrutura formal própria (como

capacidade legal), mas participa ativamente das decisões coorporativas.

No Quadro 1 é apresentada a forma de relações econômicas que envolvem as

redes:

Características Mercado Hierarquia Rede

Resolução de conflitos Lei e códigos Supervisão Reciprocidade

Flexibilidade Alta Baixa Média

Comprometimento Baixo Alto Médio

Comunicação Formal Burocrática Formal e Informal

Ênfase Indivíduo Indivíduo Coletivo

Estratégia Competição Competição Co-repetição

Relação entre

envolvidos Independência Dependência Interdependência

Determinação do poder Market Share Cargo Reputação

Quadro 1 – Formas de relações econômicas que envolvem as redes de cooperação. Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.79), a partir de Powell (1990) e Child et al. (2005).

Para Balestrin e Verschoore (2008), tem crescido no Brasil um interesse

crescente quanto ao papel das redes de cooperação para o processo de desenvolvimento

econômico e social. Este fato deriva de dois aspectos: em primeiro lugar, da

reciprocidade da comunidade acadêmica brasileira com as teorizações modernas sobre

os estudos organizacionais; em segundo lugar, do significativo volume econômico e

social que o desenvolvimento das redes brasileiras apresenta.

O Quadro 2 apresenta uma síntese entre a teoria, o contexto do período histórico

e as idéias centrais sobre Redes de Cooperação. A evolução teórica ocorre desde 1978,

Page 28: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

28

na Teoria de Dependência dos Recursos, quando se tentava compreender quais as

estratégias utilizadas pelas organizações para aumentar seu nível competitivo no

mercado, até estudos mais recentes, em 2007, sobre laços sociais em rede relacionados

com desempenho organizacional, debatidos na Teoria das Redes Sociais.

Teoria Idéias Centrais

Dependência dos Recursos

Pfeffer e Salancik

(1978)

Compreende o processo pelo qual as organizações

reduzem suas dependências ambientais, utilizando várias

estratégias para aumentar seu próprio poder no sistema.

Economia Industrial

Teece (1980)

Eccles (1981)

Esclarece de que modo os diferentes ganhos – de escala e

de especialização - econômicos de produção explicam a

eficiência das estruturas das redes.

Teorias Criticas

Whitt (1980)

Perucci e Potter (1989)

Entendem, sob a ótica do poder e da dominação, de que

forma as relações se estabelecem junto a uma estrutura

em rede.

Teoria Institucional

DiMaggio e Powell

(1983)

Compreende a dependência como conceito central na

configuração de redes, legitimando-a.

Teoria das Redes Sociais

Burt (1992)

Granovetter (2007)

Presta-se ao estudo de como os laços sociais entre os

autores de determinada rede poderão afetar o desempenho

da empresa.

Quadro 2 – Evolução teórica sobre redes de cooperação. Fonte: Elaboração própria, baseada no conteúdo de BALESTRIN e VERSCHOORE (2008, p.79-82).

A evolução do tema gerou novas formas de conceituação das tipologias de redes,

conforme se vê no subtópico a seguir.

Page 29: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

29

2.2 TIPOLOGIAS EM REDES DE COOPERAÇÃO

Segundo Vershoore e Balestrin (2008), o entendimento do termo redes sofre

ambigüidades, devido a sua amplitude. Visando compreender essa diversidade

conceitual, os autores formalizaram tipologias em redes de cooperação.

Na Figura 1, os autores estabelecem um mapa conceitual das redes de

cooperação, ilustrando exemplos normalmente encontrados que representam os

conceitos explanados a seguir.

Assimetria de poder

Figura xxx: Simetria de poder

Simetria de Poder

Figura 1 – Mapa conceitual das Redes de Cooperação. Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.86).

a) Redes Assimétricas: a dimensão da hierarquia. Algumas redes

apresentam clara configuração hierárquica da estrutura com poder centralizado, a

exemplo de conglomerações que seguem estratégias de redes verticais para tornarem-se

mais possantes e competitivas. Essa hierarquia pode ser observada na estrutura entre

matriz e filial, onde as filiais seguem uma linha autonômica parcial, já que suas ações

decisões administrativas são “vigiadas” de perto pela matriz.

For

mal

idad

e

Info

rmal

idad

e

Redes de fornecimento Empresas em

rede Crime organizado

Consórcios Centrais de compras Redes informais

Crime organizado

Joint-ventures

Page 30: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

30

b) Redes Simétricas: a dimensão da horizontalidade. Trata-se daquelas

redes que apresentam maior descentralização de poder, guardando sua independência e

optando por coordenar suas decisões e atividades específicas de maneira conjunta,

selecionando uma formalização mais flexível para melhor ampliar a natureza de suas

ações.

c) Redes formais: a dimensão contratual. Algumas redes estabelecem termos

contratuais para formalizar suas relações, assim cada membro da rede conhece seu papel

e tem legalmente formalizado o seu sript comportamental. A confiança exerce um papel

menos relevante do que em redes informais, já que as atitudes dos atores estão pautadas

em normas e regulamentos pré-estabelecidos. Consórcios e joint ventures são exemplos

desta realidade.

d) Redes informais: a dimensão a conivência. Estas redes permitem encontros

informais entre os atores econômicos, possibilitando o intercâmbio de experiências e

informações com base na livre participação. As redes são formadas sem estabelecimento

de eventuais condicionamentos de conduta entre os participantes. Neste tipo de rede o

sentimento de confiança entre parceiros é essencial para a boa convivência e sucesso do

grupo.

Quanto aos gestores das redes de cooperação, estes administradores exercerão as

funções clássicas de planejamento, organização, direção e controle. Mas diferentemente

das organizações que trabalham com uma configuração individual, estes gestores terão

que pensar nas práticas compartilhadas exigidas pela formatação das redes.

2.3 PRINCIPAIS CONFIGURAÇÕES DAS REDES DE COOPERAÇÃO

ORGANIZACIONAL

Conforme estudos de Vershoore e Balestrini (2008), para melhor compreender o

que é ou não redes de cooperação, se faz necessário o estudo das principais

configurações das redes de cooperação organizacional, sendo neste trabalho abordadas

as três formas mais comuns: as redes de fornecimento, as redes de consórcio e as redes

associativas. A seguir os autores dissertam acerca dos erros ocorridos na caracterização

de uma rede de cooperação:

Page 31: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

31

A amplitude da adoção das redes de cooperação no campo empresarial faz com que assumam diversas configurações, conforme os objetivos de seus membros e suas dimensões estruturais e formalizações de poder. Por conseguinte, algumas formas de organização empresarial notadamente hierárquicas, como as empresas multidivisionais ou de relações majoritariamente de mercado (franquias e licenciamentos), são erroneamente caracterizadas como redes de cooperação. (BALESTRIN E VERSCHOORE, 2008,p.90)

As três formas mais comuns de formação de redes de cooperação organizacional

são apresentadas a seguir.

2.3.1 Redes de Fornecimento

O modelo das Redes de Fornecimento apresenta um relacionamento colaborativo

entre a empresa central e suas empresas parceiras. O tipo de relacionamento é baseado

em autonomia e interdependência, sendo a meta principal o rendimento maximizado

proporcionado pelo estabelecimento da rede, buscado de forma incessante pelos agentes

envolvidos.

Segundo Balestrin e Verschoore, (2008) são quatro os benefícios que se

destacam ao adotar um modelo de redes de fornecimento entre empresas líder e as

empresas parceiras:

a) Concentração de investimentos e esforços no que a companhia faz de

melhor, buscando a maximização dos recursos internos.

b) O desenvolvimento de competências ergue uma barreira contra

concorrentes.

c) A habilitação da empresa líder em utilizar a plenitude de seus

investimentos em ativos de seus parceiros externos, incorporando inovações e

capacidades profissionais que seriam financeiramente inviáveis de duplicar

internamente.

d) As redes de fornecimento diminuem riscos nos mercados de rápida

mutação, encurtando o ciclo produtivo, minimizando os investimentos e gerando maior

receptividade às exigências dos clientes.

Segundo Verchoore (2006), a rede de cooperação é formada através da formação

da rede produtiva integrada, coordenada, e simultaneamente flexível ao ponto de se

adaptar às mudanças ocasionadas pelo meio ambiente, o qual o negócio se insere. Os

Page 32: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

32

mecanismos de coordenação dos processos entre empresa líder e fornecedores

despontam para o ganho relacional, formando uma estrutura positiva integrada.

Verchoore (2006) afirma que uma característica marcante deste tipo de rede de

cooperação é a sua organização estratégica, que é concentrada nas mãos de um número

pequeno de decisores. Isto gera um possível problema: existe a tendência de relações

assimétricas durarem entre a empresa líder e seus fornecedores, afinal, a motivação e as

ações das empresas fornecedoras acabam por serem inibidas devido à necessidade de

maior controle por parte da empresa central. A centralização é o maior desafio a ser

superados. A Figura 2 apresenta a estrutura que configura uma rede de fornecimento:

Figura 2 - Redes de Fornecimento Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.93).

2.3.2 Rede de Corsórcios

A segunda configuração das redes de cooperação amplamente adotada é o

consórcio de empresas. O consórcio é constituído por um grupo de empresas com o

objetivo de assumir um empreendimento acima dos recursos de qualquer um de seus

membros.

Empresa

Central

Prestador de serviços

Banco

Distribuidor

Exportador

FORN. 1 FORN.2

E

H

G F

FORN. 3

I

M

L J

A

D

C B

1

2 3 4

Page 33: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

33

Segundo Balestrin e Verschoore (2008), a formação dos consórcios é diversa,

pois depende dos objetivos que as empresas associadas pretendem alcançar. Neste

formato de rede, a competição é realçada pelo fato de que vários consórcios lutam por

projetos em licitações públicas, sendo que o quadro diretivo do consórcio deve ser

formado por seus próprios membros, respondendo os questionamentos de seus

participantes em assembléias gerais e periódicas.

A coordenação deve possuir um perfil democrático, e a presença de equipes que

dividam o trabalho internamente, promovendo o controle e o monitoramento da

performance, causando, de forma conseqüente, o fortalecimento dos laços sociais.

Exemplos deste tipo de empreendimento são as empresas italianas que criaram os

consórcios de exportação voltados para a área de bebidas e calçados, e os consórcios de

garantia de crédito.

Os autores afirmam que um ponto negativo a ser observado é a distribuição

geralmente desequilibrada das quotas entre os proprietários, pois este desequilíbrio gera

desmotivação e insatisfação dos proprietários que receberem a menor quantidade de

quotas, ficando desanimados na busca pelos ganhos de cunho coletivo. A Figura 3

representa esta tipologia de rede.

Figura 3 – Estrutura de Consórcio Fonte: Verschoore e Balestrini (2008, p.96).

Consórcio 2

Consórcio 1

Objetivo A Objetivo B

Objetivo C

Prestador de Serviços

A

B

D

C

E

H

G

F

Page 34: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

34

2.3.3 Redes Associativas

Vershoore (2006) relata que as transformações econômicas contemporânea

afetam especialmente as pequenas e médias empresas, causando maior enfrentamento

competitivo entre as mesmas. Movimentos inspirados no associativismo empresarial

pressupõem que as dificuldades comuns aos membros podem ser superadas com menos

dificuldades, graças à realização de ações colaborativas que permitam às empresas de

pequeno porte aumentar suas escalas de ganho com as redes associativas. A

visualização desse tipo de rede se apresenta na Figura 4.

Figura 4 – Estrutura de Redes Associativas Fonte: Balestrin e Verschoore (2008, p.98).

Conforme Balestrin e Verschoore (2008), diferentemente as duas redes

apresentadas anteriormente, as associativas possuem sua configuração concentrada em

uma única estrutura, a associação, promovendo a integração de seus participeis dentro

da própria rede e também como meio ambiente ao seu redor. Os membros esperam

através desta configuração, melhor posicionar-se no mercado, graças à redução das

dificuldades competitivas. Estas redes são encontradas no Brasil especialmente nas

regiões do Rio Grande do Sul, em formato de cooperativas, que buscam um meio de

Cliente 1

Cliente 2

Cliente 3

Cliente 4

A

E

D

C B

E

I

H

G F

J

O

N

M L

Page 35: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

35

sobreviverem em uma região onde as empresas de grande porte exercem forte

concorrência com as PMEs.

Estudos de Balestrin e Verschoore (2008) apontam que, neste tipo de

organização, as normas são definidas mediante estatuto e regimentos, com contratos

estabelecidos de modo mais flexível. Os ganhos gerados em conjunto são distribuídos

de forma mais igualitária possível. Os membros têm a opção de participarem ou não das

decisões, pois esta rede é regida por uma gestão absolutamente democrática, tendo em

sua equipe diretiva os próprios associados monitorando as atividades dos demais. A

propriedade da associação pertence a todos os envolvidos e nenhum deles tem a posse

individual dessa organização, sendo claros os deveres e direitos de cada um.

Seu principal benefício é a constituição de uma entidade formalizada e ganhos

distribuídos em conjunto de forma igualitária, e sua maior dificuldade, assim como nos

consórcios, é a conscientização de todos os associados de modo que efetivamente

contribuam para os ganhos de escala, promovendo a integração comercial com o

aumento de foco estratégico.

Levando em consideração os conceitos apresentados anteriormente, é possível a

identificação de duas concepções sobre redes de cooperação. Segundo Balestrin e

Verschoore (2008), a primeira concepção interpreta a organização como um arranjo

organizacional intermediário ou híbrido, sendo que características da subcontratação de

mercado se fazem presentes. Esta idéia é ratificada pelos autores:

Os teóricos desta linha de pensamento afirmam que as redes não constituem uma forma particular de organização da atividade econômica, mas uma combinação híbrida entre os elementos estruturais das relações de mercado e os elementos hierárquicos das empresas tradicionais. As redes estariam, na visão dessa corrente de análise, situadas em um espaço contínuo demarcado, em um extremo, pela coordenação solta de mercado e, em outro, pelo controle firme da hierarquia, conforme apresentado. (BALESTRIN E VERSCHOORE, 2008, p. 103)

Já a segunda concepção, segundo seus adeptos, afirma que nas redes de

cooperação não existe um meio termo: antes constituem uma terceira forma

organizacional, com suas características próprias e marcantes, de modo que a

subcontratação e a hierarquia possuam perfis completamente distintos. Alguns autores

afirmam que futuramente as redes organizacionais reinarão como o modelo

organizacional mais comum e forte.

Page 36: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

36

A concepção de rede como organização permite que possamos nos aprofundar

no tocante ao conhecimento sobre seus aspectos gerenciais, assim, será facilitado à

gestão do conhecimento e a criação de novas estruturas que enfrentarão as pressões e

contingências do meio ambiente.

Segundo Peroni (2009), no Brasil observam-se práticas de gestão relacionadas

com as redes de cooperação através de iniciativas da rede pública e privada, sendo a

maioria dos casos concentrados no Rio Grande do Sul. É neste estado que foi

estabelecido o Programa Redes de Cooperação (PRC), um programa de política pública

que tem o intuito de gerar desenvolvimento amparado em pequenas e médias empresas.

Suas ações são voltadas para o fomento da cooperação e a superação das dificuldades

que as redes encontram no decorrer de sua evolução.

Os autores Vershoore e Balestrini (2008) também abordam o Programa Redes de

Cooperação do Rio Grande do Sul, conforme destaque:

O PRC foi elaborado sob três pilares de sustentação: a) uma metodologia de formação, consolidação e expansão entre redes de empresas; b) uma estrutura regionalizada de apoio à implementação do modelo de rede proposto; c) uma coordenação estadual mantida pelo governo. (BALESTRIN E VERSCHOORE, 2008, pg. 110)

Iniciado no ano de 2000, o Programa Redes de Cooperação visa à sistematização

das principais etapas para que empresas com características afins consigam estabelecer

uma parceria, empreendendo um conjunto de ações realizadas em conjunto, objetivando

o atendimento de suas metas comuns.

Em suma, o PRC proporciona o surgimento e mantimento de redes. Idéias são

expostas, planos de atuação conjuntos são definidos e ações previstas no plano

operacional da rede são executadas, dentro do plano estratégico inicialmente traçado.

Um segundo pilar utilizado é são os núcleos de atuação regionais amparados por

universidades interessadas, imbuídas com o papel de prover à coordenação estadual o

respeito às especificidades locais, bem como a efetiva operacionalização da

metodologia acordada entre as empresas parceiras. Vershoore e Balestrin (2008)

discorrem sobre os resultados da pesquisa nesta rede de cooperação:

Page 37: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

37

Em 2006 realizou-se uma ampla pesquisa junto às redes desenvolvidas pelo PRC, a fim de avaliar o impacto de suas ações sobre as empresas associadas. Com uma amostra de oitocentos e dezesseis empresas, representativa de cento e dez redes de cooperação, os resultados indicaram a seguinte percepção dos empresários quanto aos benefícios das redes de cooperação: a) aumento médio de 23,64% no faturamento de 54,4% das empresas; b) redução média de 11,62% no custo das compras de 71,9% das empresas; c) redução média de 2,29% nos custos operacionais de 42,2% das empresas; d) aumento médio de 21,73% no número de novos clientes de 65% das empresas; e) aumento médio de 26,71% no número de novos fornecedores de 55% das empresas; f) aumento médio de 22,95% no nível de investimento de 53,95% das empresas; g) aumento médio de 3,71% no número de colaboradores de 36,3% das empresas. Os resultados também indicaram que, após seu ingresso na rede, após seu ingresso na rede, 73,4% das empresas adotaram, em média, quatro novas práticas de trabalho, e 47,1% delas apresentaram, com o lançamento de novos produtos e serviços, um faturamento médio de 14,54%. (BALESTRIN E VERSCHOORE, 2008, p. 111).

Com amostra considerável entre empresas inseridas em redes de cooperação

(oitocentas e dezesseis organizações), a pesquisa aponta resultados totalmente positivos

quando analisadas as vantagens de entrada em rede. Todos os percentuais apontam para

aumento de faturamento, de clientes, aumento de colaboradores, de produtividade e

competitividade, enquanto há gradativa redução em custos operacionais. Em suma, os

dados apontam somente ganhos competitivos na formação de uma rede de cooperação.

O subitem a seguir reforça a questão acerca destes ganhos.

2.4 GANHOS COMPETITIVOS DAS REDES DE COOPERAÇÃO

Becker (2007) expõe quanto aos ganhos competitivos das redes de cooperação,

afirmando que a lógica sugere que o estabelecimento de redes de cooperação gere

resultados de ganhos reais para todos os envolvidos na rede, caso contrário não havia

cooperação entre a rede. Seguindo esta linha de pensamento, o enfoque no ganho

coletivo é ressaltado perante o enfoque da empresa tradicional, onde a individualidade

prevalece.

Segundo Balestrin e Verschoore (2008), a expressão dominada ganhos

competitivos será empregada na indicação da natureza estratégica dos resultados

aspirados pela rede, objetivando o fortalecimento da competitividade das empresas

associadas. O termo remete que esse resultado possui essência naturalmente estratégica,

fortalecendo a competitividade das organizações associadas em rede, se comparadas

Page 38: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

38

com alguma organização meramente individualista. Segundo os autores, a expressão

dominada “ganhos competitivos” será empregada na indicação da natureza estratégica

dos resultados aspirados pela rede, objetivando o fortalecimento da competitividade das

empresas associadas.

Segundo estudos prévios de Vershoore e Balestrin (2008), são denominados seis

os ganhos competitivos das organizações participantes de redes: maior escala e poder de

mercado; geração de soluções coletivas; redução de custos e riscos; acúmulo de capital

social; conhecimento e aprendizagem coletiva; inovação por meio das redes de

cooperação, conforme explanações a seguir, baseadas no entendimento dos autores

citados.

O primeiro ganho percebido quando se trata de formação de redes de cooperação

é a maior escala de poder de mercado, conquistada através do crescimento do número

de associados na rede, já que a capacidade de ação de uma empresa é ampliada através

da aliança com outras organizações. A negociação feita em escala é vantajosa, pois

aumenta o poder de negociação junto aos fornecedores, e a maior possibilidade de

ganhos em descontos, prazos, condições de pagamento e modos de entrega (fretes).

Matérias-prima poderão ser adquiridas também em larga escala, ampliando os

benefícios citados anteriormente. Neste entendimento, as redes de cooperação

proporcionam o surgimento de marcas reconhecidas e expressivas, devido à exposição

pública obtida. Os benefícios mencionados não são garantidos devido ao simples

enfrentamento da concorrência, mas também a soma dos fatores: representatividade e

credibilidade junto ao público. (VERSHOORE, BALESTRIN, 2008, p.120)

Becker (2007) reforça esta idéia, afirmando que as ações empresariais destas

organizações dispostas em rede são legitimadas, desnivelando seu grau de importância

em comparação a outras empresas de menor porte existentes no mercado, já que o

ganho em maior escala permite, inclusive, o estabelecimento de parcerias com

universidades, institutos tecnológicos e agências estatais, órgãos de acesso limitado para

organizações comuns.

Vershoore e Balestrin (2008) citam o exemplo do Rio Grande do Sul, estudos

citam pesquisas realizadas junto à rede de mercados Redefort, onde se verificou que as

empresas associadas a esta rede colheram os louros as notoriedade pública que a marca

alcançou no Rio Grande do Sul, fato ocasionado pela sua exposição na mídia, e

especialmente sua exposição na fachada dos mais de cem mercados associados; este

Page 39: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

39

processo firma um vínculo de confiança entre a cartela de clientes já existente e atraindo

uma nova clientela.

O seguinte ganho competitivo é o denominado: geração de soluções coletivas.

Este termo refere-se aos serviços, produtos e infra-estrutura gerados e disponibilizados

para o atendimento das necessidades de seus associados. Exemplos de soluções

coletivas: maquinário adquirido coletivamente, aprimoramento de processos de

produção, elaboração de planos de investimento, oferta de planos de treinamento e

desenvolvimento para associados da rede e compartilhamento de conhecimentos nas

áreas de consultoria de reengenharia de processos, modernização administrativa e

sistemas informáticos. (VERSHOORE, BALESTRIN, 2008, p.122)

Outro ganho competitivo citado é a redução de custos e riscos. Os riscos

envolvem quaisquer tipos de negócios, tornando desafiadores os empreendimentos das

atividades, especialmente em setores dinâmicos. Embora não seja possível a completa

eliminação dos riscos, a configuração em redes permite a minimização deles através do

compartilhamento de custos, um dos principais motivadores para o ingresso em redes.

Compartilhar experiências técnicas com parceiros sobre processos do negócio, troca de

informações sobre clientes e fornecedores, empreendimento de ações conjuntas com

rateamento de custos e compartilhamento de recursos já existentes são demonstrativos

de diferenciais encontrados por empresas integradas em redes, fatores que certamente

diminuem a propensão ao risco e aumentam a capacidade competitiva destas

organizações. (VERSHOORE, BALESTRIN, 2008, p.123)

Estudos de Becker (2007) também apontam que um dos maiores e mais visados

ganhos competitivos é a redução de custos e riscos de determinadas ações e

investimentos que são comuns aos partícipes da rede. Tal redução é obtida por meio das

atividades participadas, da confiança em novos investimentos, e da facilidade

transacional que leva ao aumento de produtividade.

Vershoore e Balestrin (2008) definem outro ganho competitivo: o acúmulo de

capital social. Sabe-se que os laços fortes de relacionamentos entre empresas da mesma

rede podem estocar capital social, sendo que os ganhos relacionados ao acúmulo deste

capital são advindos do estreitamento das relações entre indivíduos, da evolução do

grupo com o sentimento de pertencimento. Neste contexto, há naturalmente inibição das

ações oportunistas, criando a necessidade de sansões severas para membros que

Page 40: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

40

insistem em querer apenas usufruir os benefícios da rede, sem contribuições mais

efetivas. Os autores reforçam o ganho competitivo atrelado ao capital social:

O capital social – modernamente definido como o conjunto de características de uma organização humana que englobam as relações entre os indivíduos, as normas de comportamento cívico, as obrigações mútuas e a credibilidade recíproca – torna possível o empreendimento de ações colaborativas complexas. Em face dessas características, a formação de uma rede de cooperação será influenciada pelo grau com que as pessoas de uma comunidade empresarial compartilham normas e valores e são capazes de subordinar os interesses individuais aos coletivos. Pode-se, pois, compreender o capital social como um potencializa dor da capacidade individual e coletiva mediante práticas colaborativas. (BALESTRIN E VERSCHOORE, 2008, p.125)

Segundo Becker (2007), o acúmulo de capital social é fator proeminente,

considerando o aprofundamento das afinidades entre os sujeitos, ao crescimento da

sensação de pertencer ao grupo, à evolução das relações sociais, além daquelas

meramente econômicas. Os benefícios para os associados são: limitação do

oportunismo, ampliação da confiança, reciprocidade e coesão interna. A socialização de

informações e experiências, o acesso as novas informações externas, benchmarking

interno e externo são ganhos competitivos da aprendizagem coletiva. Os membros da

rede socializam conhecimentos e fortalecem o processo de aprendizagem coletiva.

Segundo Balestrin e Verschoore (2008), um dos ganhos competitivos de maior

relevância é o atrelado ao papel das redes de cooperação no processo de criação do

conhecimento e aprendizagem coletiva, pois o verdadeiro diferencial estratégico da

organização está muito mais em gerenciar estes recursos do que propriamente em

empregá-los, gerando integração entre seus membros. A questão central da atualidade,

desafiando consultores e estudiosos da Administração, é saber como administrar da

melhor forma os recursos humanos da organização, em especial a capacidade que os

indivíduos possuem de assimilar, gerar e converter conhecimentos em ativos

econômicos.

Segundo Becker (2007), outro exemplo a fortalecer a concepção sobre geração

de soluções coletivas é a dificuldade dos concorrentes em imitar os avanços alcançados

rede, inclusive no conceito de marketing alcançado por ela. A função deste ganho é

aglutinar interesses, instaurando os padrões de qualidade e promovendo as campanhas

de divulgação da marca, amparando-se da contribuição do conjunto de seus associados

nos negócios em que atuam. Segundo o pesquisador, os benefícios da geração de ações

Page 41: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

41

coletivas são: capacitação do capital intelectual dos atores da rede, consultoria

empresarial formalizada em grupo, marketing compartilhando gerando redução de

custos, prospecção de oportunidades, inclusão digital, melhorias nas estruturas de

comercialização, além da ampliação de credibilidade no mercado devido à garantia ao

crédito.

O cenário executivo designa como principal fator de produtividade e

competitividade a habilidade para criar e empregar conhecimento. Conforme já foi

evidenciado anteriormente, a organização tem muito mais chances de ampliar seus

conhecimentos a partir das interações com outras empresas do que meramente

individualizada:

Para efetivar este processo de acúmulo de conhecimento, faz-se necessário um ambiente de sinergia e estímulo no qual as experiências, os sentimentos e as imagens mentais sejam compartilhados. Em vista disso, dificilmente ele poderá ser produzido pelo modelo tradicional hierárquico de comando e controle adotado pela grande empresa burocrática. (BALESTRIN E VERSCHOORE, 2008, p. 134)

Becker (2007) considera a inovação colaborativa como relevante ganho de

mercado. As ações de cunho inovador desenvolvidas em conjunto por empresas, centros

de pesquisas e demais agentes, por meio de um modelo de inovação aberto, integrado e

em rede. Os benefícios para associados são: novos produtos e serviços, adoção de novas

práticas organizacionais, acesso a novos mercados e desenvolvimento de novos modelos

de mercado. O Quadro 3 resume a definição e o respectivo benefício para o associado

de cada ganho competitivo apresentado. São estudados apenas os ganhos da inserção em

uma rede, pois os estudos atuais ainda não apontaram fatores negativos no

estabelecimento de parcerias.

Ganhos

Competitivos

Definição Benefícios para os

associados

Maior escala e

poder de

mercado

Benefícios obtidos em decorrência do

crescimento do número de associados

da rede. Quanto maior o número de

empresas, maior a capacidade na rede

de obter ganhos de escala e poder de

mercado.

Poder de barganha,

relações comerciais

amplas, representatividade,

credibilidade, legitimidade,

força de mercado.

Page 42: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

42

Geração de

soluções

coletivas

Os serviços, os produtos e a infra-

estrutura disponibilizados pela rede

para o desenvolvimento dos seus

associados.

Capacitação, consultoria

empresarial, marketing

compartilhado, prospecção

de oportunidades, garantia

de crédito, inclusão digital,

estruturas de

comercialização.

Redução de

custos e riscos

A vantagem de dividir entre os

associados os custos de riscos de

determinadas ações e investimentos

que são comuns a participantes.

Atividades compartilhadas,

confiança em novos

investimentos,

complementariedade,

facilidade transacional,

produtividade.

Acúmulo de

capital social

Diz respeito ao aprofundamento das

relações entre os indivíduos, ao

crescimento da sensação de pertencer

ao grupo, à evolução das relações

sociais, além daquelas puramente

econômicas.

Limitação do oportunismo,

ampliação da confiança,

laços familiares,

reciprocidade, coesão

interna.

Aprendizagem

coletiva

A socialização de conhecimentos entre

os associados e o acesso a

conhecimentos externos fortalecem o

processo de aprendizagem coletiva

entre empresas da rede.

Socialização de

informações e

experiências, acesso a

novos conhecimentos

externos, benchmarking

interno e externo.

Inovação

colaborativa

As ações de cunho inovador

desenvolvidas em conjunto por

empresas, centros de pesquisa e

demais agentes, por meio de um

modelo de inovação aberto, integrado

em rede.

Novos produtos e serviços,

a adoção de novas práticas

organizacionais, acesso a

novos mercados e

desenvolvimento de novos

modelos de negócios.

Quadro 3 – Ganhos competitivos das redes de cooperação Fonte: Vershoore e Balestrin (2008, p.120)

Page 43: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

43

As redes de cooperação representam a oportunidade onde a solidificação do

conhecimento poderá tomar forma, já que em um único espaço convivem culturas

organizacionais diversas, dotadas de valores diferentes, práticas diferenciadas,

competências e habilidades híbridas e demais recursos intangíveis, interligados em um

ambiente informal e de sinergia comum.

Os autores empregam o termo “efeito rede”, referindo-se a ampliação do

conhecimento. Balestrin e Verschoore (2008) exemplificam espaços e interação entre

empresas:

a) As visitas técnicas, onde os executivos percebem possibilidades de melhorias

nos processos produtivos e tecnológicos;

b) Assembléias ocorridas mensalmente, funcionando como um fórum formal de

tomada de decisão estratégica;

c) Confraternizações entre empresários, colaboradores e familiares envolvidos

com a rede, momento propício para conversas informais sobre a rede, de suma

importância para a solidificação de relações de confiança entre seus membros;

d) Viagens e visitas a feiras permitem a reflexão conjunta sobre as tendências e

os desafios do mercado, ampliando as vantagens competitivas da rede sobre os seus

concorrentes;

e) Cursos e palestras são eventos que reúnem empresários de todos os ramos,

permitindo fluir idéias e o desenvolvimento de novos conceitos e técnicas de gestão

empresarial;

f) Planejamento estratégico todos os associados da rede deverão ser

envolvidos, buscando o comprometimento na realização em equipe do que foi acordado

em conjunto, quanto à elaboração das estratégias, objetivos, metas e cronogramas da

rede;

g) Espaço eletrônico: são recursos eletrônicos tais como e-mail, intranet, sites

de relacionamento e internet que fortalecem a socialização de conhecimento entre os

participeis da rede.

Com o entendimento sobre os ganhos competitivos das redes de cooperação e os

espaços de interação entre as empresas, visando o compartilhamento de conhecimento,

o tópico a seguir falará sobre o processo de estabelecimento da rede.

Page 44: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

44

2.5 ESTABELECENDO UMA REDE DE COOPERAÇÃO

Segundo Vershoore e Balestrin (2008), ao responder sobre o que é necessário

para estabelecer uma rede de cooperação, estudos anteriores são levados em

consideração. Um deles é o de Castells (1999) que indica a conectividade e a coerência

como elementos essenciais no estabelecimento de parcerias em redes.

Outro estudo necessário para suportar a questão é o de Grandori e Soda (1995

apud BECKER 2007), que afirma a importância da existência de uma estrutura que

permita a coordenação entre os vários agentes da rede. Ambos concordam que as

pressões do ambiente são estimulantes à adoção de ações coletivas, que corroboram no

surgimento de três condições basilares para o estabelecimento de uma rede de

cooperação: objetivos comuns, interação e gestão.

Assim como para os autores citados no parágrafo anterior, para Castells (1999),

o estabelecimento de interação, de objetivos comuns, de ganhos competitivos e modelos

de gestão são condições essenciais para a formação de redes de cooperação, conforme

demonstra a Figura 5:

Figura 5 – Objetivos, interação e ganhos competitivos Fonte: Vershoore e Balestrin (2008, p.120).

Interação

conectividade, identidade, complexidade e autenticidade

Laços fortes e laços fracos Densidade, cliques e centralidade

Equivalência, buraco e autonomia estrutural Proximidade e poder de Bonacich

Objetivos comuns

Acessar recursos Exercer a simetria Buscar a reciprocidade Ganhar a eficiência Alcançar estabilidade Atingir legitimidade Possibilitar flexibilidade

Ganhos competitivos

Escala e poder de mercado Soluções coletivas Redução de custos e riscos Acúmulo de capital social Aprendizagem coletiva Inovação coloborativa

Gestão

Page 45: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

45

A interação dentro da rede ocorre quando dois ou mais participantes estão

conectados. O termo conectividade aqui é empregado no sentido de interligar os

participantes da rede; esta conectividade pode ser medida pelo grau de comunicação

existente na rede, obtido através dos instrumentos tecnológicos disponíveis como: e-

mails, internet, intranet, redes de relacionamento. Segundo Castells (1999), os atributos

para a conexão de uma rede são os seguintes:

a) Identidade: faz referências às imagens mentais que são criadas em torno de

outros participantes da rede;

b) Complexidade: grau de interação que ocorrem as conexões;

c) Autenticidade: trata da autenticidade e honestidade das relações da rede;

d) Laços fortes: são interações que ocorrem repetidamente por longos períodos

de tempo;

e) Laços fracos: interações pouco intensas, distantes e menos freqüentes;

f) Densidade: demonstra o grau de complexidade da rede;

g) Cliques: são os subgrupos fechados dentro das redes;

h) Equivalência estrutural: indica o grau de semelhança das influências

mútuas entre os participantes da rede;

i) Buraco estrutural: este termo indica as conexões onde existe pouca ou

nenhuma interação na rede;

j) Autonomia estrutural: é a capacidade do membro da rede de se beneficiar do

fluxo informacional existente;

l) Centralidade: indica o grau de conexão da empresa às demais;

m) Proximidade: indica o nível de acessibilidade da empresa, ou seja, a

distância média entre um participante e outro;

n) Poder de Bonacich: avalia a quantidade de conexões e a quantidade de

conexões que as empresas próximo a ela mantêm.

Os objetivos comuns são o marco inicial de qualquer fechamento de contrato,

por assim dizer, e funcionam como um antecedente facilitando o surgimento de um

ambiente de cooperação em torno dos interesses de todos os participantes da rede.

Castells (1999) afirma existirem as seguintes tipologias dos objetivos comuns:

Page 46: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

46

a) Acessar recursos: as organizações compartilham pela necessidade de ter

acesso a recursos tangíveis e intangíveis;

b) Exercer assimetria de poder: obter o empoderamento em potencial que a

rede apresenta ter no mercado;

c) Buscar reciprocidade: obter cooperação, colaboração e coordenação de

outras organizações em prol de negócios em comum;

d) Ganhar eficiência: conseguir o melhor desempenho organizacional;

e) Alcançar estabilidade: diminuir as incertezas de mercado;

f) Atingir legitimidade: participar de uma rede forte no mercado garante mais

credibilidade junto aos clientes, parceiros e fornecedores;

g) Possibilitar flexibilidade: apresentar a estrutura organizacional o mais

flexível possível, diante das inovações constantes do mercado e o engessamento

provocado pela burocracia.

Segundo Cândido e Abreu (2000), as redes de cooperação são definidas como

conjunto de empresas independentes que, agrupadas em uma única estrutura e operando

coletivamente, formam uma nova organização tão ou mais importante que as próprias

entidades envolvidas. Assim percebidas, as redes constituem organizações complexas,

que exigem um maior aprofundamento sobre sua gestão a fim de que seus objetivos

sejam alcançados. Logo, conceber a rede como uma organização complexa e entender

seu gerenciamento é crucial para a obtenção de ganhos competitivos.

A simples formação de uma rede não garante que ganhos competitivos sejam

gerados, pois o importante, além da gestão individual das empresas, é a gestão coletiva

da rede. Redes de cooperação são organizações complexas, e como tais, necessitam de

um modelo de gestão bem desenvolvido, capaz de suprir suas necessidades e garantir

sua sobrevivência no ambiente em que está relacionada.

Existem outras teorias que tentam ressaltar a teoria relacionada com a cultura da

cooperação. Segundo Mancur (1965 apud Olave, 2001), a idéia de que os empresários

cobicem lucros cada vez maiores é comum, assim como os trabalhadores em busca de

melhores salários e benefícios e clientes lutando por melhores condições de pagamento.

O autor assinala a incoerência lógica da teoria das classes sociais defendida por Karl

Marx, utilizada por muitos cientistas políticos, e afirma que, se tratando da lógica da

ação coletiva, os indivíduos de um grupo devem agir, mesmo que coagidos, em prol de

Page 47: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

47

um objetivo comum, embora racionalmente desejem a total satisfação de suas próprias

necessidades.

2.6. CONTEXTUALIZANDO O PROGRAMA CORDAS DA AMAZÔNIA

Antes de tomar conhecimento sobre o Programa Cordas da Amazônia, se faz

necessário compreender o perfil de seu gestor, atualmente, Ph D. em Educação Musical

Áureo DeFreitas. Afinal, é ele quem idealiza e lidera todas as ações do programa:

coordenando seus recursos humanos, fomentando idéias, arrecadando recursos,

orientando e co-orientando as pesquisas.

A seguir, o relato do professor Msc. Maurício Gouvêia, Pedagogo da Escola de

Música, sobre a liderança do programa:

“O professor Áureo é o grande articulador do programa, como vemos diariamente em seu relacionamento com os alunos, pesquisadores e pais integrantes do projeto (...) ele consegue estabelecer parcerias além dos muros da escola, como, por exemplo, a parceria com a iniciativa privada, através dos diversos patrocínios.” (ENTREVISTA PEDAGOGO DA EMUFPA, 03.02.2011).

A cultura organizacional existente no PCA é consolidada através da

personalidade deste líder, juntamente com sua forma de estabelecer a rede de

cooperação que o cerca, como veremos adiante.

2.6.1. Aspectos de liderança no PCA

Segundo Schein (2009), cultura é a construção de outros vários termos, como:

normas, valores, padrões de comportamento, rituais, tradições, e o acréscimo de

elementos relacionados com o compartilhamento, estabilidade estrutural, profundidade,

extensão e padronização ou integração.

Ao distinguir liderança de gestão ou administração, o argumento de

diferenciação é que a liderança cria e muda as culturas, enquanto a gestão e a

administração atuam na cultura. Cultura é o resultado de um processo de aprendizado

complexo, onde parte do grupo é influenciada pelo comportamento do líder. Caso este

grupo esteja sendo ameaçado em função de elementos de sua cultura estar mal

Page 48: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

48

adaptados, é o papel do líder ajustar tal situação. É neste ínterim que a cultura

organizacional e a liderança estão entrelaçadas.

Caso o indivíduo tente impor seu modo de ser, tentando obter a liderança “à

força”, a cultura não será produzida, pois a confiança é gerada quando os liderados o

seguem espontaneamente. No caso deste estudo, o processo de formação cultural do

programa gira em torno de seu líder, seu comportamento leva o grupo de professores,

alunos, pais e incentivadores ao sucesso dentro da rede, e o modo como este sucesso é

alcançado dentro da cultura criada.

A cultura é a aprendizagem acumulada e compartilhada pelo grupo,

direcionando o comportamento de seus membros. Estes membros convivem dentro de

uma unidade social, que é o próprio Programa Cordas da Amazônia, e dentro de um

espaço comum, ou seja, as instalações físicas da Universidade Federal do Pará. Mesmo

com a saída de alguns membros, dificilmente a cultura sofrerá mudanças, pois o sentido

de estabilidade do grupo é valorizado pela permanência da liderança e pela

profundidade de sua cultura.

Com o tempo que dispensam juntos, os membros do grupo criam sua própria

identidade, valores e crenças; caso estas crenças e valores do fundador não sejam

aceitos pelos membros do grupo, estes elegerão outra liderança, na tentativa de obterem

as atitudes que os levem ao sucesso pretendido (SCHEIN, 2009). A partir desta

afirmação do autor, os parágrafos que seguem buscam mostrar a formação profissional

do gestor do programa, que norteará todo o perfil das ações do Programa Cordas da

Amazônia, bem como de seus parceiros.

Aos dezesseis anos de idade, Áureo DeFreitas teve seu contato com o violoncelo

pela primeira vez, em 1980, sendo este o instrumento que o acompanharia em toda a sua

vida profissional. Esta imersão musical foi possível através de sua participação no

Projeto Espiral do Instituto Carlos Gomes, onde tinha como professora a norte-

americana Dra. Linda Kruger. Foi esta profissional que mais tarde o convidou para

estudar nos Estados Unidos. (FARIAS, 2009)

Em 1982, DeFreitas inicia o curso superior de Graduação em Educação Artística

na Universidade Federal do Pará, já que na época não existia em Belém um curso

específico para a área musical. Porém, decidido a construir uma carreira na Música, ele

transfere seu curso para o Rio de Janeiro, especificamente na Universidade Federal do

Estado do Rio de Janeiro, a UFRJ. Neste mesmo ano de início no curso de bacharelado

Page 49: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

49

brasileiro, recebe um telefonema da professora de violoncelo Linda Kruger, reforçando

o convite feito em 1980, incluindo uma bolsa de estudos para que se transferisse para o

curso de Bacharelado em Violoncelo na Universidade de Missouri, em Columbia

(FARIAS, 2009).

Deixou o Brasil em 1984, e iniciou o estudo superior especificamente de

violoncelo em 1985, o Bacharelado em Violoncelo, tendo com o professor Carleton B.

Spotts. Foi nesta universidade que houve o contato com o Projeto Cordas dos EUA; o

interesse foi imediato, e seu fascínio e dedicação foram tamanhos que culminaram na

premiação em 1988 de aluno revelação. Em 1990, o professor recebe bolsa integral para

cursar o Mestrado em Violoncelo Performance na Universidade de Louisiana, em Baton

Rouge, com o professor Denis Parker (FARIAS, 2009).

Dando continuidade no aperfeiçoamento da docência e desempenho do

instrumento de violoncelo, prestou concurso para o cargo de violoncelista na Orquestra

Sinfônica de Baton Rouge, onde passou em primeiro lugar. Concluindo o Mestrado em

1992, conquista uma bolsa de estudos para dar continuidade à formação, nos Estados

Unidos, especificamente no Doutorado em Arte Musical pela Universidade de Austin,

no Texas.

Contudo, ele opta pelo retorno ao Brasil, e em 1993 é aprovado no concurso

público para professor efetivo da Escola de Música da Universidade Federal do Pará.

Este foi o início de sua carreira no ensino de cordas friccionadas em Belém do Pará,

causando uma revolução no ensino desta área educacional. Iniciou sua carreira como

docente em 1994 na EMUFPA, e em 1997 foi contratado pelo Instituto Estadual Carlos

Gomes (IECG) para lecionar violoncelo (FARIAS, 2009).

Primeiramente, no período de 1998 a 2000, introduziu o estudo de violoncelo em

grupo com o Projeto Violoncelo em Grupo; nesta primeira etapa, as matrículas

apontaram um quantitativo de cerca de cem alunos, entre alunos da Escola de Música da

Universidade Federal do Pará - EMUFPA e da Fundação Carlos Gomes - FCG

(DEFREITAS, 2009).

Segundo Farias (2009), na época, a EMUFPA não tinha visibilidade no contexto

musical, não sendo concorrente para a Fundação Carlos Gomes, onde já havia

desenvolvida uma cultura do ensino musical erudito. A Fundação Carlos Gomes

convidou DeFreitas para desenvolver um trabalho na fundação, onde este conseguiu

Page 50: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

50

implantar uma escola de violoncelo, dotada de seu próprio uniforme, método de

trabalho, elementos chaves da cultura.

O respeito da comunidade surgiu, a partir de observações sobre comportamento

profissional dos participantes das aulas de violoncelo, o impacto gerado pela produção

musical do grupo. Foram insights adquiridos ao longo da formação americana do

coordenador do grupo, transferindo ao grupo todos os seus próprios valores construídos

a partir de sua forte liderança.

2.6.2. Surgimento da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia

Em 1998, foi criada a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia (Amazon Youth

Cello Choir). Através desta proposta, o grupo iniciou as primeiras turnês intituladas

Turnê Curitiba 1999 e Turnê Rio de Janeiro 2000 e 2001. As turnês promoveram a

orquestra e seus integrantes alcançando um reconhecimento dentre os especialistas da

área musical em nível nacional e internacional, favorecendo inclusão musical para

pessoas de classes sociais desfavorecidas de diversas faixas etárias, trazendo para

estudar violoncelo na cidade de Belém do Pará (DEFEITAS, 2009).

As crianças da primeira etapa do ensino básico não tinham oportunidade de

estudar violoncelo, e diante desta problemática, o professor criou uma nova proposta

metodológica de ensino. Esta metodologia mentalizada pelo gestor permitia ao aluno o

prazer da prática do violoncelo e a estratégia objetivava sua capacitação para o ingresso

no ensino formal de uma escola de música.

Assumindo a coordenação das turmas de violoncelo da Escola de Música da

UFPA e do Instituto Carlos Gomes no final da década de 90, DeFreitas agrupou certa

quantidade de alunos, atraindo-os com suas aulas convidativas, diferentes e criativas. O

primeiro resultado conseguido através desta nova metodologia educacional foi à

formação do Quarteto de Violoncelo de Belém, que era formado pelos alunos Diego

Carneiro, Orley Gordo, Eber Soares e Áureo DeFreitas. Este quarteto se apresentou em

vários Festivais, tais como o Festival de Juiz de Fora - MG, o Festival de Campos - RJ,

o Festival de Brasília – DF e o Festival Internacional de Música de Câmara – Pará, além

de participarem do Encontro de Arte da Universidade Federal do Pará.

Em 2001, retornou aos Estados Unidos com a finalidade de fazer o doutorado

em Educação Musical. Com essa exposição via BBC de Londres e residindo no exterior,

Page 51: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

51

iniciam-se as turnês internacionais dos Violoncelistas da Amazônia: Turnê USA 2002,

Turnê Holanda, e Turnê Rio de Janeiro 2004.

Em 2005, conclui seu doutoramento em Filosofia da Educação Musical. Após

defender a tese de doutorado, Áureo DeFreitas retorna ao Brasil visando implementar

uma proposta metodológica de ensino, em que mais tarde radicalizaria o ensino do

violoncelo na cidade de Belém do Pará.

Em 2006, DeFreitas idealiza um proposta de ensino, extensão e pesquisa,

intitulada de Programa Cordas da Amazônia. Inicialmente, conseguiu a mobilização de

indivíduos e instituições que doaram para o projeto noventa e cinco violoncelos e

trezentos violinos e violas, permitindo uma maior alcance de alunos por toda a cidade

de Belém. Parcerias com a Pró-Reitoria de Extensão da UFPA, Escola de Música da

Universidade Federal do Pará e Academia Cultural de Violoncelistas da Amazônia são

estabelecidas, criando um vínculo de cooperação entre estes elementos.

Na EMUFPA, o professor encontra um clima de desmotivação e total

desinteresse pelo instrumento violoncelo, e começa a implantar uma nova cultura

musical em torno do estudo do violoncelo em grupo, culminando, em 1997, com a

criação e coordenação do Projeto Violoncelo em Grupo, abrangendo desde o ensino

fundamental até o médio. Foi este grupo, composto por crianças e adolescentes, que

cresceu e resignificou a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia –

OIJVA, onde os músicos se destacavam como instrumentistas solistas e também como

cameristas e músicos de orquestras, formando a primeira – e até os dias atuais a única -

orquestra de violoncelistas do Brasil, na categoria profissional.

Farias (2009) afirma que a estratégia de ensino do gestor do projeto é manter o

nível motivacional de seus alunos. Uma estratégia de inovação adotada para atender a

motivação dos jovens é a inserção de um repertório polêmico e variado, incluindo, além

das tradicionais clássicas como Bach, Vivaldi, Saint-Saens, Villa Lobos, Haydn,

Piazzola, são apresentadas músicas da bandas de rock internacionais tais como

Metallica, Led Zeppelin, Beatles e também de compositores paraenses citando Edir

Proênça, Waldemar Henrique, e Edmar Rocha. Como resultado deste processo criativo,

surgiram os shows dos Violoncelistas da Amazônia que tiveram como convidados as

Bandas Madame Saatan, La Pupunã, e Álibi de Orfeu, além das cantoras Alba Maria,

Juliana Sininbú e Marcia Aliverti.

Page 52: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

52

Dentro do universo de pesquisa e atuação do Programa Cordas da Amazônia,

existem três gerações anteriores, atuando no âmbito das escolas de música oficiais de

Belém, que se assemelha por terem o mesmo formato do Projeto Cordas norte-

americano, onde o gestor do programa se inspirou.

A primeira geração é denominada Projeto Espiral do Instituto Carlos Gomes,

desenvolvido no período de 1977 a 1981, atuando em convênio com a Secretaria de

Desenvolvimento Tecnológico - SECDET. A segunda geração é o Projeto Cordas do

Instituto Carlos Gomes, iniciado em 1988 e concluído em 1990, gerenciado pela própria

FCG. Finalmente se destaca a terceira geração, atuando nos anos de 2006 e 2007, o

então Projeto Cordas da Amazônia: Violoncelo em Grupo, idealizado e gerenciado pelo

professor Áureo DeFreitas em convênio com a Escola de Música da UFPA. O Projeto

Cordas da Amazônia evoluiu, culminado, em 2008, no atual Programa Cordas da

Amazônia, objeto deste estudo (DEFREITAS, 2009).

Dentre as três gerações citadas, somente a terceira aplicou em sua metodologia

de estudo o ensino musical em grupo, trazendo para a cena musical paraense um tema

inédito: a educação inclusiva. Esta metodologia rompeu os paradigmas existentes acerca

do ensino musical tradicional, aplicado até então na cidade de Belém.

Sobre a primeira geração do Projeto Cordas, o gestor do atual Programa Cordas

da Amazônia iniciou em 1997 o Projeto Violoncelo em Grupo, objetivando ensinar

primeiramente os adultos a tocar violoncelo, e, posteriormente, inserir em suas aulas as

crianças matriculadas nas duas escolas de músicas oficiais de Belém: Fundação Carlos

Gomes - FCG e a Escola de Música da UFPA – EMUFPA.

Neste contexto, foi constituída a primeira leva de estudantes de violoncelo de

Belém, abrangendo o nível fundamental e médio de formação escolar, que tocavam em

grupo. Foi o marco inicial para a rede de alunos do instrumento violoncelo paraense,

que desde então nunca parou de crescer e desenvolver novos talentos.

Em 2007, durante uma apresentação para o 33° Encontro de Arte de Belém –

ENARTE, se apresentou a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia –

OIJVA, tendo seu repertório renovado pelo violoncelista coordenador do PCA. Durante

o 33º ENARTE o público paraense teve o privilégio de ver e ouvir no Teatro da Paz a

interação histórica dos Violoncelistas da Amazônia com a renomada banda de Hevy

Metal Madame Saatan.

Page 53: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

53

A inovação do repertório incluiu, além das tradicionais clássicas, músicas do

rock americano da Banda Metallica, músicas dos Beatles e também, visando valorizar a

cultura local, foram tocadas nesta apresentação as músicas populares de compositores

paraenses: Bom Dia Belém, de Edir Proença; e Belém-Pará- Brasil, de Edmar Rocha e

Prometeu, de Madame Saatan.

O resultado foi altamente positivo, sendo usado pela primeira vez no cenário

erudito paraense o termo show, em vez do tradicional termo concerto. A repercussão foi

tamanha que despertou a atenção de jornais e programas televisivos locais, como: TV

Cultura, TV Liberal e TV Record. Este episódio foi imprescindível para que o trabalho

desenvolvido pelo professor chamasse a atenção do público e das autoridades locais

(DEFREITAS, 2009).

O interessante é que o Programa Cordas da Amazônia é mais conhecido no

âmbito internacional do que dentro da região Norte do Brasil, sendo registrado por

jornais, programas e revistas internacionais, tal cronologia descrita a seguir.

Em 2002, o violoncelista inglês Richard Markson expressa sua admiração pela

então Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, produzindo a

veiculação de seu documentário na BBC de Londres, denominado Children from the

Rainforest. Em 2003, Markson repete o feito, apresentando também na BBC de Londres

o documentário denominado Children from the Rainforest: one year on (FARIAS,

2009).

Outras demonstrações da popularidade internacional da Orquestra Infanto-

Juvenil de Violoncelistas da Amazônia podem ser observadas nos jornais:

DeVolkskrant-Holanda; Patek Philippe International Magazine; Classic FM;

Entertainment Portfolio; Le Violoncelle; The Strad. Cita-se também as entrevistas

concedidas para a Rádio Internacional: BBC Radio 4-UK; BBC World Service-UK;

National Public Radio-USA e BBC Today., e se apresentou também no programas TV

24-UK. Até então, a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia passa era

conhecida internacionalmente como “Amazon Youth Cello Choir” (DEFREITAS,

2009).

No Quadro 4 se observa a síntese das ações internacionais da Orquestra Infanto

Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, comprovando o sucesso do grupo no cenário

internacional. Curiosamente, a orquestra chama mais atenção fora do Brasil do que em

seu próprio Estado de origem.

Page 54: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

54

Ano Ações Internacionais da OIJVA

2002

• Documentário da BBC de Londres: Children from the Rainforest.

• BBC World Service – UK.

• Participação em programa de rádio BBC Radio 4 – UK.

• National Public Radio – USA.

2003

• Documentário da BBC de Londres: Children from the Rainforest: one

year on.

• Artigo sobre a OIJVA na revista Patek Philippe International

Magazine.

• Participação em programa de rádio BBC Radio 4 – UK.

2004 • Artigo sobre a OIJVA na revista na Classic FM.

• Participação em programa de rádio BBC Radio 4 – UK.

2005 • Artigo sobre a OIJVA na revista Entertainment Portfolio.

2006

• Artigo sobre a OIJVA na revista The Strad Magazine.

• Participação em programa de rádio BBC Today.

• Participação em programa de TV BBC TV 24 – UK.

2007 • Artigo sobre a OIJVA na revista Le Violoncele.

Quadro 4 – Ações Internacionais da Orquestra da OIJVA Fonte: Dados coletados pela autora, 2011.

No âmbito nacional, são feitas algumas reportagens sobre a orquestra no Jornal

O Liberal, Diário o Estado do Pará, A província do Pará, O Globo e Jornal do Brasil. Na

televisão brasileira, são vinculadas matérias sobre o grupo: na TV Cultura (Programa

Sem Censura), TV Educativa (Programa Sem Censura), TV Globo (Programa Gente

Inocente), Sistema Brasileiro de Televisão SBT (Jô Soares Onze e Meia), TV Globo

(Programa Ação). Todo este cenário foi o alicerce para que afinal fossem unidos os

vários projetos existentes, oriundos do norte-americano Projeto Cordas, e criado o PCA.

Page 55: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

55

2.6.3. Panorama atual do Programa Cordas da Amazônia

O programa Cordas da Amazônia foi instituído em 2008, na Escola de Música

da UFPA, sendo caracterizado pelo atendimento dos três pilares da Universidade

Federal do Pará: ensino, extensão e pesquisa. Segundo o criador do programa, a partir

de uma equipe multidisciplinar é promovido o ensino do violoncelo em grupo. Estes

estudantes realizam pesquisas sobre como educar musicalmente crianças, adolescentes e

adultos com transtornos do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem.

O sucesso das pesquisas, comprovadas nas diversas aprovações de Trabalhos de

Conclusão de Curso, Dissertações, artigos e projetos de extensão pode ser explicado

através da linguagem inovadora promovida pelo programa, por intermédio da educação

musical, visando que os estudantes de cordas friccionadas sejam incluídos socialmente e

iniciados cientificamente nos cursos de graduação e pós graduação. Segundo DeFreitas

(2009), o programa é constituído de quatro projetos específicos:

(a) Projetos em Grupo: promover uma inovação de linguagem que fomente a

inclusão social de estudantes carentes por intermédio do aprendizado musical,

resgatando crianças e adolescentes em situação de risco dos bairros do Jurunas e Bengui

e oportunizando-os educação musical para que ingressem na Escola de Música da

Universidade Federal do Pará;

(b) Projeto Violoncelo em Grupo: promover uma inovação de linguagem que

fomente a inclusão social de crianças, adolescentes, e adultos em situação, da região

metropolitana de Belém, que estejam em situação de risco e/ou com dificuldades de

aprendizagem. Os coordenadores do Projeto Violoncelo em Grupo oportunizam a

iniciação musical dos alunos para que ingressem na Escola de Música da Universidade

Federal do Pará;

(c) Projeto Transtornos do Desenvolvimento e Dificuldades de Aprendizagem -

TDDA: coordenadores do projeto TDDA desenvolvem três ações distintas. (1)

promovem uma inovação de linguagem que fomente a inclusão social, através da

intervenção musical no violoncelo, envolvendo estudantes com TDDA – inicialmente

com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), Autismo, e Dislexia;

(2) promovem a iniciação cientifica de estudantes de graduação e pós-graduação que

compõem o grupo de pesquisa e a equipe de intervenção do Programa Cordas da

Amazônia; e (3) organizam reuniões com o grupo de cuidadores dos estudantes

Page 56: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

56

diagnosticados com TDDA, para avaliar os conhecimentos que eles possuem acerca do

transtorno apresentado pela criança/adolescente sob seus cuidados;

O reconhecimento do Programa Cordas da Amazônia através do público e dos

meios de comunicação (os meios de comunicação coletados ao longo da produção deste

estudo foram: matérias em jornais, revistas, televisão, apresentações em turnês

regionais, nacionais e internacionais) foi conquistado através da educação musical

inovadora e de qualidade que é oferecida para cerca quatrocentos alunos nas faixas

etárias entre seis a quarenta e cinco anos, demonstrando que a prática cultural independe

das circunstâncias e limitações.

O termo relacionado com inovação diz respeito ao caráter singular da

metodologia proposta pelo PCA de inserir crianças e adolescentes portadores de

transtornos tais como déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), autismo, e dislexia no

projeto. A proposta visa oportunizar melhoria de qualidade de vida e valorizar a auto-

estima por intermédio do ensino do violoncelo. A coordenação do projeto investiga os

efeitos da música no desempenho dos participantes, principalmente no que diz respeito

à inclusão social e equilíbrio emocional.

Os alunos portadores de transtornos tais como: déficit de atenção e

hiperatividade (TDAH), autismo e dislexia encontram no projeto uma oportunidade de

melhoria de sua qualidade de vida e valorização da auto-estima. A equipe do projeto

investiga os efeitos da música no desempenho dos participantes, principalmente no que

diz respeito à inclusão social e equilíbrio emocional.

O gestor do programa ressalta a relevância das pesquisas realizadas no PCA:

O PCA utiliza de metodologia educacional e pesquisa científica para oportunizar socialmente e culturalmente o aprendizado, desenvolvimento e a inclusão de diversas classes sociais, faixas-etárias, segmentos, performances e práticas educacionais. O Programa Cordas da Amazônia possibilitou, em 2009, a inclusão social de estudantes com necessidade educacional especial à formação musical técnica, tecnológica, universitária, e acima de tudo cidadã. Essas ações, também contemplaram os estudantes de graduação e pós-graduação visando integralizar a grade curricular de seus respectivos cursos. Com isso, permitiram à coordenação do programa cumprir um papel de fundamental importância: desenvolvimento da educação musical na área de instrumentos de cordas friccionadas por intermédio da inclusão social; e possibilidade de uma iniciação cientifica concomitante aos cursos técnicos, tecnológicos e universitários. (DEFREITAS, 2009, p.52)

Page 57: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

57

O programa criou, dentro da Escola de Música da UFPA, uma divisão

responsável por esta temática, a DIS – Divisão de Inclusão Social. Esta divisão tem a

função de preparar os professores e voluntários a lidar com os alunos e ministrar aulas

criativas e inovadoras. O repertório inclui músicas populares paraenses, de outros

estados do Brasil, música erudita, internacionais e rock. Os participantes continuamente

dividem o palco com artistas de estilo popular e erudito do cenário nacional e

internacional. O trecho a seguir ressalta a importância da educação musical para a

inclusão social:

(...) Educação musical como meio que tem a função de desenvolver a personalidade [do educando] como um todo; de despertar e desenvolver faculdades indispensáveis ao profissional de qualquer área de atividade, como, por exemplo, as faculdades de percepção, as faculdades de comunicação, as faculdades de concentração (autodisciplina), de trabalho em equipe, ou seja, a subordinação dos interesses pessoais aos do grupo, as faculdades de discernimento, análise e síntese, desembaraço e autoconfiança, a redução do medo e da inibição causados por preconceitos, o desenvolvimento de criatividade, do senso crítico, do senso de responsabilidade, da sensibilidade de valores qualitativos e da memória, principalmente, o desenvolvimento do processo de conscientização do todo, base essencial do raciocínio e da reflexão. (RODRIGUES, 2008, p.77)

O gestor do programa defende que o PCA não é uma simples procura por novos

talentos musicais, e sim uma aprendizagem diária dos alunos sobre os enfrentamentos

dos desafios diários da vida, respeitando as características individuais dos participantes,

e extraindo destes as suas melhores possibilidades de produção artística.

“Através das aulas conseguimos extrair o melhor dos alunos. Eles saem da sala de aula transformados em outras pessoas, mais seguros, confiantes, mais preparados para enfrentar os desafios da vida. Esse é o diferencial do PCA”. (ENTREVISTA PROFESSORA DO PROGRAMA, 17.10.2011).

O programa atinge não somente o educando, mas seus familiares e amigos,

melhorando seu desempenho em diversas áreas de atuação da sociedade: lar, escola,

trabalho. A troca de conhecimentos entre professor e aluno é valorizada e justifica o

trabalho inclusivo dentro da educação formalizada, fomentando a importância do

diagnosticado portador de necessidades especiais dentro da sociedade. Segundo

DeFreitas (2009, p.41) foi necessário algumas adaptações de dois métodos que serviram

como modelo para o modelo próprio a ser utilizado no PCA, idealizado pelo professor.

Um destes métodos foi o Método Suzuki, que idealiza a capacidade de

aprendizado de todos os alunos em geral, inserindo os alunos com transtornos do

Page 58: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

58

desenvolvimento e dificuldade de aprendizagem em turmas regulares de violoncelo. As

aulas são em grupo, e estes alunos têm contato com a prática musical antes da teórica.

Outra forte característica deste método é o comprometimento dos pais na educação

musical dos filhos. O método Suzuki de ensino é amplamente discutido por DeFreitas,

em seu livro ainda não publicado, intitulado Resignificando a História da Orquestra

Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia. Neste livro, o autor explica o contexto

histórico em que o método Suzuki foi trazido para o cenário musical paraense.

Segundo DeFreitas (2009), O outro método inspirador é o String Project,

adotando técnicas musicais em grupo, qualificando os alunos como assistentes do

professor, e permitindo o ingresso destes em orquestras sinfônicas.

A contribuição de pesquisadores de outras áreas de atuação como Psicologia,

Pedagogia, e Letras permitem o entendimento de que o método de ensino que utiliza as

duas bases apresentadas tem condições de promover o desenvolvimento musical de

crianças e adolescentes com qualidade, em atendimentos personalidades feitos na

Divisão de Inclusão Social.

Nobre (2011) relata a importância da formação da equipe de pesquisadores do

Programa Cordas da Amazônia:

“É justamente através da formação diversificada de nossos pesquisadores que conseguimos alcançar a qualidade de trabalho conquistada atualmente. É preciso ter um olhar sobre as outras áreas que tangem o ensino da música, tentando entender o participante do PCA como um ser integral”. (ENTREVISTA PESQUISADOR DO PROGRAMA, 19.02.2011).

2.6.4 Projetos que compõem o Programa Cordas da Amazônia

Um dos objetivos da coordenação do Programa Cordas a Amazônia é a educação

musical de crianças, jovens e adultos por meio de aulas de violino, viola, e violoncelo,

independentemente de sua idade ou condição social. Visando alcançar esta prática de

ensino, o Programa foi distribuído em três pólos:

a) Programa Cordas da Amazônia Cremação – Pólo EMUFPA,

b) Programa Cordas da Amazônia Benguí – Pólo EMAUS, e

c) Programa Cordas da Amazônia Jurunas – Pólo EMAUS.

Page 59: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

59

Nestes pólos, são agregados cinco projetos voltados para a pesquisa, ensino e

extensão. São eles:

a) Viola em Grupo,

b) Violino em Grupo,

c) Violoncelo em Grupo, e

d) Transtornos do Desenvolvimento e Aprendizagem, e

e) Orquestra de Violoncelistas da Amazônia

O Projeto Viola em Grupo iniciou em 04 de maio de 2009 e foi renovado até os

dias atuais, tendo como atual coordenador o professor da Escola de Música, Msc.

Antônio Batista de Pádua. Segundo Batista (2010), o método de seleção consiste em

formar um grupo de diversas origens sociais, sociais, étnicas e culturais, resgatando-as

de situações de risco. A idade mínima para inscrição (feita por ordem de chegada) é de

cinco anos de idade, não existindo idade de corte. Estes alunos são provenientes da

região metropolitana de Belém, mais concentrados nos bairros de Jurunas e Bengui,

chegando a cerca de sessenta alunos matriculados, atualmente.

O Projeto Violino em Grupo é gerenciado pela professora Msc. Tárcilla

Rodrigues. São ministradas aulas por duas vezes na semana, com noventa minutos de

duração, cada uma. O projeto contém quatro turmas de vinte e cinco participantes cada,

totalizando cem alunos. Sua metodologia se assemelha ao Projeto Viola em Grupo,

apresentada no parágrafo anterior, modificando apenas o critério idade, como destaca a

própria coordenadora, a seguir:

“O objetivo do “Projeto Violino em Grupo” como uma ferramenta de ensino é continuar fomentando a educação musical nos bairros do Jurunas e Benguí, visando promover a inclusão sócia - política e cultural de estudantes e professores de Violino na Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA). Serão selecionados estudantes de violino de diversas origens sociais, étnicas, e culturais de 06 a 09 anos de idade e por ordem de chegada dos bairros do Jurunas e Benguí”. (RODRIGUES, 2010, p.2)

Nos pólos do PCA Benguí – Pólo EMAÚS, e PCA Jurunas, o perfil dos

estudantes de viola e violino é voltado para o estudo instrumental prático, sem o

conhecimento teórico. Esta metodologia aplicada de forma diferenciada é necessária

para cativar o estudante, que em sua totalidade é muito carente, tanto em aspectos

financeiros quanto em conhecimentos escolares pregressos. Como veremos adiante, a

Page 60: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

60

evasão é maior nestes locais, devido especialmente às dificuldades financeiras

enfrentadas pelos estudantes.

No projeto do PCA Cremação – Pólo EMUFPA, os estudantes de violoncelo são

musicalizados por meio de vivência lúdica, aprendendo a ler partituras e obtendo noções

de teoria ao mesmo tempo em que inicia a prática instrumental, no entanto sem rigores

técnicos.

O primeiro projeto Transtornos do Desenvolvimento e Dificuldades de

Aprendizagem – TDDA, coordenado por DeFreitas, foi desenvolvido na Escola de

Música, com a participação de quarenta e nove alunos com transtorno de déficit de

atenção e hiperatividade - TDAH. Tem por objetivo comparar o aprendizado musical

entre crianças e adolescentes com TDAH e crianças e adolescentes sem o transtorno,

inseridas em uma turma de educação musical (estudo do instrumento violoncelo).

DeFreitas (2010) elenca os critérios de participação neste projeto: a criança deverá ter

entre nove e quatorze anos; possuir característica de risco para o TDAH; não ser

iniciado musicalmente e que sejam alfabetizadas e freqüentem aulas em instituição de

ensino regular.

Todos os projetos se estruturam a partir do trabalho voluntário de professores,

pesquisadores e bolsistas. Especificamente o projeto intitulado Transtornos do

Desenvolvimento e Aprendizagem conta com pesquisadores do comportamento

humano, tal demonstrado no Quadro 5 a seguir.

Transtorno

estudado Orientador (a) Bolsista Voluntário

Déficit de atenção /

Hiperatividade

Ph.d. em educação

musical

Graduando em

Música

Mestranda em

Música / Bacharel

em Psicologia

Autismo Doutoranda em

Psicologia

Graduando em

Letras

Graduanda em

Música

Dislexia Mestre em

Psicologia

Graduando em

Música

Graduanda em

Música

Síndrome de Down Pedagoga Sem bolsista Graduanda em

Música

Quadro 5 - Pesquisadores do Projeto Transtornos do Desenvolvimento e Aprendizagem.

Page 61: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

61

Fonte: LOPES (2008, p.18).

Apesar da parceria com a Escola de Música da Universidade Federal do Pará –

EMUFPA, que possui tradição com o ensino de instrumentos de cordas friccionadas, a

sistematização do método de inclusão desses estudantes não tem sido prioridade nesta

instituição de ensino. Desta forma, o ensino público está oportunizando apenas uma

parcela seleta da população que ingressa na EMUFPA para aprender a manusear os

instrumentos de cordas friccionadas. Por tal motivo, é necessária a promoção de

inclusão social nesta área.

Por enquanto não há um estudo efetivo sobre a evasão no Programa Cordas da

Amazônia, porém alguns depoimentos coletados afirmam que incompatibilidade com

atividades escolares, dificuldade financeira e problemas de ordem familiar são alguns

fatores que interferem no desenvolvimento dos alunos. A sugestão seria investigar as

características como situação econômica, qualidade de vida e características sócio-

culturais dos participantes, e como estes índices podem interferir no processo de

manutenção destes indivíduos na educação musical.

Os parceiros são agentes fundamentais neste contexto, pois a união de forças

estratégicas constitui a melhor maneira de assegurar a presença dos ingressantes no

programa, bem como seu efetivo desenvolvimento acadêmico, social e profissional. No

capítulo a seguir, veremos como se apresenta a rede de cooperação que envolve o PCA.

Page 62: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

62

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

A pesquisa adotou procedimentos qualitativos, especificamente, de caráter

descritivos. Primeiramente, a contextualização temática e a construção do referencial

teórico são baseadas em uma revisão de literatura acerca da temática redes de

cooperação e a legislação vigente sobre a área. Depois, realizou-se a pesquisa empírica,

adotando o estudo de caso como método de procedimento.

Na base teórico-empírica desse estudo, abordou-se o estabelecimento das redes

de cooperação como fator determinante para a obtenção de ganhos competitivos,

evidenciando vários conceitos sobre redes e parcerias. Com relação ao propósito da

teoria, a pesquisa pode ser classificada como exploratória, já que os estudos buscam

estabelecer uma relação entre teoria e prática.

O estudo de caso foi escolhido para pautar a pesquisa, tendo como foco o

Programa Cordas da Amazônia – PCA, que consiste em programa vinculado à

Universidade Federal do Pará, mas, ao mesmo tempo, mantém formas de cooperação

com outras organizações e empresas no Estado do Pará.

3.1 TIPO DE COLETA DE DADOS

A metodologia adotada para a coleta de dados é análise documental e entrevista.

O método de observação participante e a pesquisa bibliográfica reforçarão o estudo de

caso. O estudo foi elaborado com base em pesquisa bibliográfica acerca o tema Redes

de Cooperação, e também sobre material bibliográfico específico do Programa Cordas

da Amazônia; através da pesquisa bibliográfica é possível ter mais informações acerca

dos fatos pesquisados.

A análise documental deu-se em torno dos projetos, trabalhos de conclusão de

curso, dissertações, artigos, matérias publicitárias, editais e contratos intrínsecos ao

programa, envolvendo Ministério da Cultura, Ministério da Educação, Universidade

Federal do Pará, grupo de voluntariado, professores, alunos e patrocinadores, enfim,

toda a rede de relacionamento do PCA.

Outro método utilizado na pesquisa é a observação participante, onde, segundo

Vergara (2008), o observador tem uma participação real na vida da rede pesquisada;

Page 63: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

63

neste caso, a pesquisadora também atua como servidora pública da Universidade

Federal do Pará. Esta metodologia permite um acesso ao dia-a-dia do grupo observado

(a orquestra juvenil de violoncelo da Amazônia) de forma natural. Também é possível

ter acesso à documentação que se fizer necessária ao aprimoramento da pesquisa.

Conforme Vergara (2008), fazendo parte do grupo é possível perceber bem de perto,

como se comporta e o que pensam as pessoas observadas. Este método foi selecionado

pelo fato da pesquisadora estar presente, diariamente, na Universidade Federal do Pará.

A figura 6 demonstra a relação entre os métodos de pesquisa utilizados com o

estudo de caso em questão.

Figura 6 – Apresentação dos métodos de pesquisa. Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

As informações acerca da rede de cooperação estabelecida pelo Programa Cordas

da Amazônia foram obtidas através de entrevista semi-estruturada, com perguntas

abertas. Foram captadas as opiniões dos entrevistados, expectativas, frustrações,

informações diversas sobre o objeto do estudo de caso. Não houve rigidez de roteiro,

sendo que a pesquisadora conduziu as perguntas na direção desejada, para que o fio

condutor da entrevista não fosse perdido. Os entrevistados foram todos os envolvidos no

programa, incluindo, além do próprio coordenador do projeto, a Diretora da Escola de

Música da UFPA do ano de 2010 e o coordenador do núcleo de pesquisas do PCA,

conforme mostra o quadro 6:

Page 64: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

64

Mapeamento dos entrevistados

Nome do entrevistado Função Data da

entrevista

Tempo de

entrevista

Dr. Áureo DeFreitas

• Professor de violoncelo

da Escola de Música da UFPA.

• Idealizador do PCA.

• Coordenador Geral do

Programa.

15.10.2010 1h47min

20.01.2011 1h52min

Msc. Tárcilla Rodrigues

• Professora da Escola de

Música da UFPA.

• Professora de violino

voluntária e coordenadora de

projetos.

• Pesquisadora do PCA.

17.10.2010 18min

Msc. Maurício Gouvêia • Pedagogo da Escola de

Música da UFPA. 03.02.2011 24min

Msc. João Paulo Nobre

• Psicólogo voluntário do

PCA.

• Coordenador de

pesquisas do programa.

• Pesquisador do PCA.

19.02.2011 33min

Dra. Lia Braga

• Vice-diretora do Instituo

de Ciências da Arte no ano de

2010.

• Professora de piano e

teoria musical da EMUFPA.

05.02.2011 20min

Msc. Lúcia da Silva

Uchôa

• Diretora da EMUFPA no

ano de 2010.

• Professora de piano e

teoria musical da EMUFPA.

10.02.2011 41min

Quadro 6 – Mapeamento dos entrevistados Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

Page 65: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

65

Enfim, por concentrar-se na investigação de uma única organização, esta pesquisa

caracteriza-se como um estudo de caso. O ponto forte nesta tipologia é o de permitir o

estudo de um fenômeno em profundidade dentro de seu contexto, permitindo uma

análise processual à medida que eles ocorrem dentro das organizações.

Os fundamentos desta pesquisa foram compreendidos a partir do domínio dos

significados e conceitos apreendidos, baseados nos referenciais teóricos que dissertam a

respeito das contribuições sócio-culturais do PCA, sempre relacionados com a temática

Redes de Cooperação.

A intenção do estudo de caso é compreender como a gestão do Programa Cordas

da Amazônia consegue criar e manter sua network, uma rede de cooperação entre pais,

alunos, voluntários, patrocinadores, professores, e instituições públicas e privadas, em

prol dos projetos que dele se originam. Este estudo busca o entendimento sobre os tipos

de cooperações estabelecidas e a importância destas cooperações para o sucesso do

Programa.

A figura 7 demonstra a rede de cooperação estabelecida no Programa Cordas da

Amazônia: a Universidade Federal do Pará, o Ministério da Educação, patrocínio da

iniciativa privada, o voluntariado de pesquisadores, pais e alunos.

PROGRAMA

CORDAS DA

AMAZÔNIA

UFPA

MINC Patrocinadores

MEC Pesquisadores

Pais de alunos

Alunos

EMUFPA

Page 66: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

66

Figura 7 – Rede de Cooperação que envolve o Programa Cordas da Amazônia. Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

Os dados serão analisados através da análise do discurso. Este método visa não

somente a apreensão da mensagem transmitida pelos entrevistados, mas também

interpretar e explorar o seu sentido. Significa analisar o contexto ao qual o emissor da

mensagem está inserido, e compreender que aquela fala foi produzida mediante

determinado objetivo. Vergara (2008) discorre acerca deste método de pesquisa:

A análise do discurso presta ao leitor cujo objetivo de pesquisa não descarta o conteúdo, ou seja, o que está sendo dito sobre determinado tema, mas vai além. Investiga como o conteúdo é usado para o alcance de determinados efeitos. Assim, é importante verificar a forma pela qual se diz alguma coisa; a análise do discurso é recomendada como método de pesquisa; se, ao contrário, basta verificar o que se fala, a análise do conteúdo parece viável. Esta envolve categorias (processo mais ou menos mecânico de categorização), enquanto a análise do discurso busca identificar como os participantes constroem e empregam categorias em sua fala, já que o discurso pode ter múltiplas funções e significados. (VERGARA, 2008, p.27).

O método de análise de dados escolhido permitirá o importância do processo de

interação entre os envolvidos no Programa Cordas da Amazônia, bem como o

entendimento real do que está explicito e implícito nas falas dos entrevistados; as

manifestações de poder, as mensagens por trás da fala, o tom. Segundo Vergara (2008),

é importante que o pesquisador considere transcrições dos materiais provenientes de

entrevistas, bem como considerar as notas de campo advindas de suas observações.

Page 67: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

67

4. ESTUDO EMPÍRICO

Neste capítulo será apresentado o ciclo motivacional que envolve o

estabelecimento de parcerias do Programa Cordas da Amazônia, desde o momento em

que o gestor do programa percebeu a necessidade de se estabelecer o primeiro vínculo

de parceria, até o presente atual momento vivenciado pelo programa, analisando-se cada

parceiro envolvido.

4.1 O SURGIMENTO DA REDE DE COOPERAÇÃO NO PCA

Antes de conseguir estabelecer uma rede de cooperação, o gestor do programa,

professor Dr. Áureo DeFreitas, se viu obrigado a formalizar as ações que envolviam o

programa. Esta percepção ocorreu por volta do ano de 2006, quando os projetos do

gestor não possuíam o certificado nacional de assistência social, e esta ausência de

documentação o impedia de receber doações internacionais. A certificação nacional de

assistência social era concedida através de uma série de trâmites burocráticos,

anualmente, em uma reunião de conselheiros em Brasília. Esta situação culminou na

percepção de que, sozinho, não haveria como o grupo conseguir transpor as barreiras

burocráticas existentes.

A exigência burocrática em termos comprobatórios de que as doações seriam

utilizadas para fins sociais era tamanha devido à grande quantidade de projetos

“laranjas”, ou seja, projetos de fachadas de existem, somente para arrecadar fomento e

doações que jamais chegarão aos estudantes. Devido a este quadro, a idéia inicial do

professor de fundar uma ONG – Organização Não-Governamental não foi adiante.

Foi quando o líder do programa passou a refletir sobre as vantagens de

estabelecer parcerias, primordialmente com a Universidade Federal do Pará. Assim,

resolveu criar, em parceria com os pais dos alunos, a primeira estrutura formal

antecessora do Programa Cordas da Amazônia, uma associação chamada ACVA -

Associação Cultural de Violoncelistas da Amazônia, conforme relato abaixo:

Page 68: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

68

“Neste ano, tive uma luz: eu achei que se eu usasse a chancela da Universidade, eu lucraria muito mais; foi então que eu enterrei de vez a associação e passei a me dedicar a escrever projetos para a UFPA, foi quando o negócio de fato andou. Na verdade, a partir do momento em que decidi parar de lutar sozinho e estabeleci uma parceria com a UFPA, facilitou o processo. Foi neste momento que eu decidi que eu não tinha que ter filiação partidária com políticos, no âmbito do governo no caso; se eu me aliasse ao Governo Federal, ao MEC, ao MINC, a UFPA, as coisas andariam mais facilmente, o que ocorreu. Até então,eu ficava mendigando, pedindo favores para a Fundação Carlos Gomes, para a SECULT – Secretaria de Cultura, para o Governo Federal. Mas quando essa luz me iluminou em 2006, e eu tive a idéia de estabelecer parceiros de trabalho, tudo mudou”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Pode-se conferir na Figura 8, um organograma, o fluxo burocrático, representado

através da escala hierárquica governamental ao qual o envio do fomento de um projeto

aprovado é submetido:

Figura 8 – Organograma de fluxo burocrático para fomento de projetos Fonte: Elaborado pela autora, 2011.

Imagina-se, ao observar o organograma indicado, a dificuldade de transitar

sozinho neste fluxo administrativo. Daí a real necessidade de estabelecer uma rede de

cooperação.

A fundação da Associação Cultural de Violoncelistas da Amazônia permitiu que

fossem angariados fomentos para a turnê Holanda, e também para a turnê Rio de

Janeiro, já que através da ACVA o professor conseguiu fomento advindo da

GOVERNO FEDERAL MEC / MINC

UFPA

PROEX

ICA

EMUFPA

PCA

Page 69: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

69

Universidade Federal do Pará. O motivo desse estabelecimento cooperativo foi

recíproco: por um lado, o grupo precisava da chancela da Universidade, para conseguir

as documentações necessárias aos patrocínios pretendidos; e a UFPA apostava na

inclusão social que o professor pretendia alcançar com seus projetos.

Segundo Farias (2009), a promoção da inclusão social através da música, com a

utilização de uma linguagem musical inovadora e acessível é o fator que gera o

reconhecimento do programa. Crianças, jovens e adultos, incluindo os indivíduos que

possuam transtornos do desenvolvimento e dificuldades de aprendizagem, têm no

Programa Cordas da Amazônia a possibilidade de aprender a música erudita e popular,

tocando instrumentos de cordas friccionadas como o violino, a viola e o violoncelo.

O PCA viabiliza o desenvolvimento de seus participantes, independentemente se

estes possuem quaisquer tipos de transtornos. As pessoas querem e merecem usufruir do

sentimento de pertencimento a um grupo, esperam ser em valorizadas por sua

comunidade e úteis a sociedade.

Lopes (2008) também endossa a discussão, afirmando:

Outro ponto importante no PCA é o procedimento de investigação da qualidade de vida dos estudantes envolvidos no programa que está sendo desenvolvido. O que segue uma tendência de pesquisas realizadas na área da saúde. Em que, tradicionalmente se investiga a relação de características sócio demográficas, relacionadas à percepção de qualidade de vida de crianças e adolescentes (LOPES, 2008, p. 49).

Segundo Rodrigues (2009), neste ínterim, a inclusão social é agenciada através

das atividades musicais desenvolvidas no programa, ofertadas a pessoas de todas as

camadas sociais, proporcionando o atendimento às Leis Diretrizes e Bases da Educação,

como se explica a seguir.

(...) “no Art.59 da LDB 9.394/96 afirma a necessidade de se criar currículos, métodos, técnicas e recursos educativos em todas as áreas educacionais para atender as necessidades de alunos com deficiência, também, menciona a importância de haver professores com especialização adequada para a inclusão desses alunos” ( RODRIGUES, 2009, p.18).

Em 2010, o PCA abrangeu cerca de quatrocentos alunos em seu quadro estudantil,

divididos entre crianças, jovens e adultos. Para estes estudantes, o PCA é a porta aberta

para a chegarem a se tornar produtores de cultura. Com aulas ministradas de forma

inusitada, abrangendo diversos níveis de aprendizado técnico de instrumentos de cordas

friccionadas, até os iniciantes ganham a chance de se apresentar em dias de concertos de

grande porte, como é o caso das apresentações no Theatro da Paz, por exemplo.

Page 70: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

70

DeFreitas teve seu interesse despertado na área de pesquisa ao ouvir falar sobre

os editais de projetos da Pro - Reitoria de Extensão da Universidade Federal do Pará.

Segundo DeFreitas (2011), a servidora da UFPA e atual professora da EMUFPA,

professora Msc. Adriana Couçeiro, sempre teve por prática divulgar os referidos editais

da PROEX. Outros professores da Escola de Música também tinham acesso a estes

editais, que eram apresentados a todos, constantemente, em reuniões de Conselho;

porém, não existia ainda na EMUFPA a cultura de se trabalhar além da sala de aula, no

contexto de pesquisa e extensão.

Sua percepção foi que, se passasse a ganhar espaço com projetos de pesquisa,

aprovando em massa várias bolsas, seu trabalho teria um reconhecimento mais efetivo

na academia, e ganharia os fomentos que necessitava para seguir adiante. A falta de

concorrência também o ajudou a avançar, pois foi o único pesquisador a concorrer na

área musical às bolsas de extensão. Em síntese, a UFPA, através dos projetos de

pesquisa e extensão, abriria às portas para que DeFreitas pudesse ultrapassar os entraves

burocráticos que sozinho não havia como enfrentar.

Segundo Farias (2009), especialmente promovendo o ensino, a pesquisa e a

extensão em bairros da periferia de Belém, tais como Cremação, Jurunas e Bengui, onde

se concentra uma demanda carente em todos os aspectos, em especial em acesso a

educação musical, o PCA coloca seus projetos à disposição da sociedade, oportunizando

qualidade de vida aos seus participantes, e estendendo essa assistência às suas famílias.

O indivíduo poderá se desenvolver não somente como músico, mas também como

cidadão, contribuindo para a evolução da sociedade.

Atualmente, o Programa Cordas da Amazônia conta com um rede de cooperação

formada pelos parceiros: Ministério da Educação e Cultura, Ministério da Cultura,

Universidade Federal do Pará (incluindo Pro-Reitoria de Extensão e Instituto de

Ciências da Arte), Escola de Música da UFPA, alunos, pais de alunos, pesquisadores e

patrocinadores.

A seguir a descrição e análise sobre o que motiva cada parceiro a contribuir com

o programa.

Page 71: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

71

4.1.1 Formação de Parcerias: Universidade Federal do Pará

Perceber que o Programa Cordas da Amazônia poderia abranger os três eixos

que sustentam a Universidade Federal do Pará: ensino, pesquisa e extensão foi o marco

inicial para que o gestor do programa tivesse a iniciativa de estabelecer esta parceria.

Segundo Braga (2011), o PCA é coerente com o ambiente universitário, colaborando na

consolidação do conhecimento em artes social e na ampliação das atividades do

Instituto de Ciências da Arte junto à comunidade externa. É por esta razão que a UFPA

colabora com o programa, tanto com fomento, quanto com divulgação, incluindo a

doação de CDs e DVDs.

Rodrigues (2010), aponta, em relatório do Projeto de Extensão Violino em

Grupo, os objetivos do projeto, ratificando a contribuição do programa para o

desenvolvimento da pesquisa no Estado do Pará:

a) Qualificar e avaliar novos estudantes de violino dos Pólos Jurunas e

Benguí para que ingressem no curso Básico da Escola de Música da Universidade

Federal do Pará.

b) Qualificar e avaliar os estudantes de violino do curso Básico da

EMUFPA para que ingressem no curso Técnico da EMUFPA.

Segundo Gouveia (2011), a parceria da Universidade se dá através das

concessões de bolsas, conquistadas por meio de concurso público. Dentre essas bolsas,

as mais significativas para o PCA são: as bolsas provenientes do PIBEX- Programa

Institucional de Bolsa de Extensão e do PIBIC - Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação Científica, e também do PAPIM – Programa de Apoio a Projetos de

Intervenção Metodológica.

“A UFPA possibilita ao Programa Cordas da Amazônia a participação em vários editais, de incentivo a bolsas de extensão, e enfim, como o professor Áureo é um pesquisador de currículo internacional, ele tem como investir nessas pesquisas. Assim a UFPA também cumpre o papel dela”. (ENTREVISTA PEDAGOGO DA EMUFPA, 03.02.2011).

Nos parágrafos seguintes se verifica uma breve descrição sobre os programas

que o PCA tem aprovado fomento.

Page 72: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

72

Segundo informações provenientes da Universidade Federal do Pará, o PIBEX

visa estimular a comunidade acadêmica, ou seja, alunos, professores e técnicos -

administrativos a desenvolver ações voltadas para a melhoria da qualidade de vida da

população, ampliando a função social da universidade pública e gratuita e o seu

compromisso com a transformação da sociedade.

Já o PIBIC é o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica,

financiado pelo CNPq ou pela Universidade. Voltado para o aluno de graduação, tem

como principais objetivos: despertar vocação científica e incentivar talentos potenciais

entre estudantes de graduação universitária, mediante participação em projeto de

pesquisa, orientados por pesquisador qualificado, com vistas à continuidade de sua

formação, de modo particular na pós-graduação.

Conforme edital n° 001/2011 que regulamenta O Programa de Apoio a Projetos

de Intervenção Metodológica, o PAPIM objetiva incentivar e apoiar o desenvolvimento

de atividades e experimentos que acrescentem métodos e técnicas eficazes ao processo

de ensino-aprendizagem na educação básica, educação profissional e educação superior,

com a participação de docentes e discentes vinculados à Educação Básica e profissional,

aos cursos de Licenciatura ou aos Programas de Pós Graduação atuantes na área de

educação.

Os Quadros: 7, 8, 9 e 10 sintetizam os trabalhos publicados com conteúdo

baseado no Programa Cordas da Amazônia, em diferentes áreas do conhecimento. Estes

trabalhos, todos aprovados em bancas de conclusão de curso, de dissertação ou através

de editais de projetos de extensão, comprovam a contribuição do programa para a

finalidade de ensino, pesquisa e extensão da UFPA.

Coletânea de Trabalhos de Conclusão de Curso produzidos por pesquisadores do PCA

Orientador e co-orientador: Dr. Áureo DeFreitas

Ano Tema Acadêmico Instituição

2008

Educação Musical por meio de Cordas Friccionadas; Abrangência no Ensino de

Música: um estudo descritivo do Programa Cordas da Amazônia

Tárcila Castro

Rodrigues UEPA

Page 73: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

73

2008 A Evasão no Programa Cordas da Amazônia.

Társis Salmom

da Silva Lopes UEPA

2009

Musicalização de Crianças e Adolescentes

com Diagnostico

de Autismo.

Jessika Rodrigues

UEPA

2010

Mudanças Comportamentais a partir da Educação Musical: Comparação entre Criança com Avaliação Comportamental Sugestiva de

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Criança sem este

Transtorno.

Paulianne Nascimento

UFPA

2010

A Intervenção Musical Mediando O Processo de Aprendizagem de Alunos Diagnosticados com Perturbações do Espectro do Autismo –

PEA

Suene Ferreira da Silva

UFPA

2010 Memorial do Programa Cordas da Amazônia e

sua Contribuição Sócio-Cultural. Ulisses Wilson Vaz Farias.

UFPA

Quadro 7 – Coletânea de TCCs produzidos pelos pesquisadores do PCA. Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Coletânea de Dissertações produzidas pelos pesquisadores do PCA

Cursos de Mestrado da Universidade Federal do Pará

Áreas de pesquisa: Música e Psicologia

Ano Tema Pesquisador

2010 Ensino Coletivo de Instrumentos de Cordas

Friccionadas: Catalogação Crítica. Joziely Carmo de Brito*

2010 Educação Musical por meio de Cordas Friccionadas no Programa Cordas da

Amazônia Tarcilla Rodrigues

2011

Aprendizado do Violoncelo: Influência da Qualidade de Vida de Crianças e Adolescentes com Características de Risco para Transtorno

de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

Thaís Cristina Santana Carneiro

Page 74: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

74

2011 Programa Cordas da Amazônia: Transtorno de

Déficit de Atenção e Hiperatividade - intervenção a partir da educação musical.

João Paulo dos Santos Nobre

Orientadora:

Profª. Drª. Simone Souza da Costa Silva

Quadro 8 - Coletânea de Dissertações produzidas pelos pesquisadores do PCA. Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Resumos e Artigos Publicados pelos pesquisadores do PCA

Ano Título Pesquisador

2009

Educação em saúde com cuidadores de crianças e adolescentes com e sem Transtorno de Déficit

de Atenção e Hiperatividade

Thaciana Araújo da Silva

Yolanda Nobre

Onelma Lobato Lima

2009

Autismo e Desenvolvimento Infantil:

Interdisplinaridade e Inovação de Linguagem

Musical

Jessika Rodrigues,

Áureo DeFreitas

João Paulo Nobre

Suene Ferreira

2009 Práticas Pedagógicas do Programa Cordas da

Amazônia da Escola de Música da Universidade Federal do Pará: Interdisciplinaridade e Inovação

de Linguagem Musical

Jessika Rodrigues

Tarcilla Rodrigues

Áureo DeFreitas

João Paulo Nobre

2010 Autismo e desenvolvimento infantil: a música

como forma de intervenção.

Áureo Defreitas

Mariene da Silva Casseb

João Paulo Nobre

Jéssika Rodrigues,

Suene Ferreira

2010 Dislexia do Desenvolvimento: Intervenção a

partir da Educação Musical no Programa Cordas

Letícia Silva

Áureo Defreitas

Page 75: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

75

da Amazônia da Escola de Música da

Universidade Federal do Pará numa turma de

Violoncelo em Grupo

João Paulo Nobre

2010

Estudo Comparativo entre um Grupo de Alunos

com TDAH e um Grupo de Alunos sem o

Transtorno Submetidos à Intervenção a partir da

Educação Musical.

Áureo DeFreitas

João Paulo Nobre

Letícia Silva

Allana Vilhena

Paulyane Nascimento

2010 Contribuição Sócio-Cultural do Programa

Cordas da Amazônia Ulisses Wilson Vaz Farias

Quadro 9 – Artigos publicados pelos pesquisadores do PCA. Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Projetos Aprovados

Orientador: prof. Dr. Áureo DeFreitas

Ano Programa Título Bolsista

2009 PIBEX Dislexia do desenvolvimento:

intervenção a partir da

educação musical

Allana Cristine

Nascimento Vilhena

2010 PIBIC

Transtornos do

Desenvolvimento e

Dificuldades de Aprendizagem

Paulyane Silva do Nascimento

2010 PIBEX

Programa Transtornos do Desenvolvimento e

Dificuldades de Aprendizagem

Onelma Lobato Lima

2010 MEC Práticas pedagógicas do

Programa Cordas da Amazônia Sem bolsista.

Page 76: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

76

da Escola de Música da

Universidade Federal do Pará:

interdisciplinaridade e

inovação de linguagem

2010 MINC Turnê China

Pesquisadores da DIS

e Orquestra de

Violoncelistas da

Amazônia

2011 PIBEX Programa Transtornos do

Desenvolvimento e Dificuldades de Aprendizagem

Letícia Silva e Silva Onelma Lobato Lima

Niely Freitas

Quadro 10 – Projetos do PCA. Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

Com motivação de parceria recíproca: incentivo, divulgação e atendimento de

diretrizes, os projetos do Programa Cordas da Amazônia ganharam a chancela

universitária, conseguindo acessar setores que antes eram distantes, como o Ministério

da Educação e o Ministério da Cultura, conforme explicam os textos seguintes.

4.1.2 Formação de Parcerias: MEC – Ministério da Educação

Segundo as diretrizes do Governo Federal para o ano de 2011, o Brasil se

compromissa, através das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), a

erradicar a fome e a miséria, através da inclusão social. Neste plano, todos os brasileiros

deverão receber uma educação básica de qualidade.

Através do Programa Cordas da Amazônia, centenas de crianças são inseridas na

educação formal musical, tendo a oportunidade de serem educadas gratuitamente em um

instrumento de difícil acesso, e além disso, desenvolvem sua cidadania ao serem

incluídas socialmente. A inclusão social é promovida nos seguintes aspectos:

1) A inclusão de estudantes provenientes de características diversas na

formação musical. Pessoas de qualquer idade e classe social, interessados em tocar o

violoncelo, a viola ou o violino, podem ter acesso à educação musical através do

programa.

Page 77: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

77

2) A inclusão social de estudantes diagnosticados com Transtornos de

Desenvolvimento e Dificuldades de Aprendizagem – TDDA. Indivíduos que antes

encontravam em suas deficiências uma barreira ao aprendizado, enxergam no PCA uma

oportunidade de socialização.

3) A inclusão dos estudantes que desejam iniciar suas carreiras científicas e

pedagógicas, bem como possivelmente as de magistério. O PCA possibilita o acesso à

pesquisa e extensão, ajudando seus participantes a ingressarem no ensino básico,

técnico, de graduação e pós-graduação musical.

4) O acesso a cidadania oportunizado a estudantes de áreas de risco de

Belém, tais como o pólo dos bairros de Cremação, Jurunas e Bengui. O PCA colabora

na formação da cidadania, e de uma sociedade mais justa e igualitária, demonstrando

sua importância no contexto social.

Fortalecendo os laços de parceria, como o Ministério da Educação e Cultura, o

MEC também contribuiu com o fomento no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais)

para o Programa Cordas da Amazônia. Com esta ação, o Ministério da Educação e

Cultura pôs em prática os objetivos centrais de seu planejamento estratégico, que é

fomentar a inclusão social.

4.1.3 Formação de Parcerias: MINC – Ministério da Cultura

A diretriz central do ex-Governo Lula e do atual Governo Dilma Roussef, no

que diz respeito ao Plano Nacional de Cultura, visa à promoção do desenvolvimento

brasileiro com pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura

nacional, além da difusão e fomento de artes e do patrimônio brasileiro.

No âmbito da gestão sócio-cultural, o Programa Cordas da Amazônia contribui

para o processo democrático de prestação de serviços culturais, onde há participação da

sociedade civil, do Governo Federal e da iniciativa privada. Conseguindo, desta forma,

atender às necessidades do MINC, ao promover a circulação nacional e internacional de

seus projetos, todos atrelados à música brasileira.

DeFreitas afirma, em sua solicitação de patrocínio enviada ao MINC, em julho

de 2010, que a Sociedade Internacional de Educação Musical (International Society for

Music Education - ISME) foi criada em 1953 a partir de deliberações da Organização

Page 78: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

78

das Nações Unidas para a educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational

Scientific and Culture Organization – UNESCO), acreditando que todas as experiências

vivenciadas em música, configuram uma parte fundamental da vida humana. Nesse

contexto, se faz essencial o intercâmbio do grupo paraense, a fim de divulgar nossa

cultura e demonstrar que o Brasil compartilha das crenças da UNESCO.

No ano de 2010, apoiando os objetivos do Programa Cordas da Amazônia, o

Ministério da Educação contribuiu com o fomento de R$ 92.000,00 (noventa e dois mil

reais) para a turnê Pequim. Este fomento contribuiu para que os pesquisadores da

Divisão de Inclusão Social do Programa Cordas da Amazônia e integrantes da comitiva

da Orquestra Juvenil de Violoncelistas da Amazônia pudessem participar da 29ª

Conferência Mundial de Educadores Musicais que se realizará no período de 01 a 10 de

Agosto, de 2010, na cidade de Pequim, China. Durante esta conferência, foram

realizadas três apresentações envolvendo a Orquestra Juvenil de Violoncelistas da

Amazônia e oito comunicações científicas envolvendo os pesquisadores do Programa

Cordas da Amazônia. O grupo foi o único representante brasileiro neste evento,

promovendo o nome do Brasil na temática de educação inclusiva.

4.1.4 Formação de Parcerias: EMUFPA- Escola de Música da UFPA

Atualmente o Programa Cordas da Amazônia se desenvolve no espaço físico da

Escola de Música da Universidade Federal do Pará. Personificada na gestão da ex-

diretora da EMUFPA, a docente do núcleo de Piano e de Teoria, Profa. Msc. Maria

Lúcia Silva Uchôa, a EMUFPA colabora com o PCA no fornecimento da estrutura

física e equipamentos necessários ao desenvolvimento das atividades.

Segundo Uchôa (2011), na sua gestão foi implantada a Divisão de Inclusão

Social, e a EMUFPA forneceu todo o suporte de equipamentos impressora, aparelhos de

som, computadores, sala refrigerada, estações de trabalhos, móveis de escritório,

materiais de expediente, linha telefônica são exemplos de equipamentos destinados

especificamente aos cuidadores da DIS, que funciona inclusive aos sábados e feriados.

No pólo Bengui, por exemplo, os alunos de violoncelo, mesmo não sendo da EMUFPA,

assistiam às aulas em nosso prédio, usufruindo de nossas instalações. É um meio que a

ex-diretora da escola encontrou para contribuir com o PCA.

Page 79: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

79

Para a professora Lúcia Uchôa, a importância do estabelecimento de parceria

com o PCA se pelo fato de que, através do PCA, a escola abrange outros níveis sociais,

e consegue chegar até bairros mais distantes de Belém, onde as pessoas dificilmente

teriam acesso a estudar instrumentos de cordas friccionadas. Como exemplo, cita os

pólos existentes no Bengui e Jurunas, de modo que o PCA colabora para que outros

alunos tenham acesso a EMUFPA. Além disso, ano passado, a aprovação de projetos no

Ministério da Educação e também no Ministério da Cultura trouxe mais notoriedade

para o ensino musical paraense. A ex-diretora da EMUFPA afirma:

“Creio que a escola foi importante parceira do Programa Cordas da Amazônia no ano passado, pois viabilizou toda a estrutura física para que eles conseguissem se destacar na Pró - Reitoria de Extensão, por exemplo. É através destes tipos de aprovação de projetos que o PCA consegue financiamento para adquirir todo o instrumental utilizado por ele”. (ENTREVISTA EX-DIRETORA DA EMUFPA, 10.02.2011).

Segundo a opinião pessoal da professora Lúcia Uchôa e do coordenador de

pesquisa João Paulo Nobre, quando questionados sobre o fortalecimento da parceria

estabelecida entre o Programa Cordas da Amazônia e a EMUFPA, seria positivo ao

programa a lotação de um servidor da UFPA específico da área de Assistência Social.

Segundo o relato de ambos, o programa necessita urgentemente de um Assistente

Social, que possa dar suporte aos estudantes e respectivos familiares atendidos pela DIS

– Divisão de Inclusão Social. Já o gestor do programa afirma que a Escola de Música

lucra bastante com esta parceria, devido ao atendimento das instâncias superiores, que

exigem a inclusão social.

Ocorre que, sendo uma Escola Técnica vinculada a uma Universidade Federal, a

EMUFPA responde a três órgãos hierarquicamente superiores, respectivamente: ao

Conselho de Dirigentes das Escolas Técnicas Vinculadas, à própria Universidade

Federal do Pará, e ao Ministério da Educação. Desta forma, de acordo com as diretrizes

educacionais advindas destes três órgãos federais, a escola deverá propiciar a educação

inclusiva à comunidade, além de atuar nas esferas da pesquisa, ensino e extensão.

A análise é que o PCA colabora com a EMUFPA no sentido de ser o principal

programa com este caráter dentro da escola. Em toda a história da Escola de Música da

UFPA, o Programa Cordas da Amazônia é o maior aprovador de bolsas institucionais, é

o mais relevante fomentador de verbas e o único programa aberto integralmente à

Page 80: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

80

comunidade, permitindo a inserção de alunos que não estão formalmente matriculados

no curso Básico ou Técnico Instrumental. Esta notoriedade acadêmica alcançada pelo

programa, com o auxílio da chancela universitária, permite que o grupo consiga

formalizar as doações recebidas, já que todo o instrumental da Orquestra foi

conquistado dentro do Programa Cordas da Amazônia. Sobre o recebimento formal de

doações, segue o relato do gestor do PCA:

“Imagine que a maior parte do material que utilizamos, inclusive instrumentos, são bancados por nós mesmos, através de nossas apresentações e doações recebidas. Basta citar que recebi 200 instrumentos entre violoncelos e violinos, doados por uma instituição dos Estados Unidos”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Segundo a professora Dra. Lia Braga, que ano passado atuou como Vice

Diretora do Instituto de Ciências da Arte da UFPA, e pertence atualmente ao quadro

efetivo de docentes do núcleo de Piano e de Teoria da EMUFPA, o Programa Cordas da

Amazônia consegue abranger os três eixos que sustentam a Universidade Federal Do

Pará, que são: ensino, pesquisa e extensão. Ela afirma que essa abrangência torna o

programa coerente com o ambiente universitário, colaborando através de seu papel na

consolidação do conhecimento em artes social e na ampliação das atividades do

Instituto de Ciências da Arte, junto à comunidade externa:

“É esta promoção da música através do ensino, pesquisa e extensão que torna o Programa Cordas da Amazônia um programa de interesse para a EMUFPA, o ICA, enfim para a UFPA”. (ENTREVISTA VICE-DIRETORA DO ICA, 05.02.2011).

Braga (2011) discorre a respeito do envolvimento dos estudantes dos cursos de

graduação e técnico em música com o programa, afirmando que o PCA ajuda na

formação de futuros professores e pesquisadores da área musical, fortalecendo o ensino

formal da música, nos níveis básico, técnico e superior.

4.1.5 Formação de Parcerias: os alunos do PCA

Segundo o gestor do programa, o PCA oferece aos alunos participantes uma

oportunidade que eles não encontrariam em nenhum lugar. Afinal, o PCA está sempre

Page 81: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

81

de portas abertas, enquanto que, para se conquistar o direito de estudar na escola de

música, existe um acirrado processo seletivo, e nem sempre há vagas disponíveis. Os

alunos são verticalizados e inseridos num contexto musical. Como a música muitas

vezes não é vista como algo profissionalizante, em muitos momentos estes alunos

deixam o grupo, orientado por suas mães, que preferem optar por outras carreiras mais

convencionais, e por cursos livres como o Inglês e a prática de esportes. O esforço de

quebrar estes paradigmas é hercúleo, e por isso há um grande esforço em trazer os

alunos para o curso técnico e nível superior, culminado com a formação no curso de

Bacharelado em Música. Esta característica dos estudantes do Programa Cordas da

Amazônia agrada aos seus pais, que acabam incentivando sua permanência no PCA

(DEFREITAS, 2011).

De acordo com DeFreitas (2009), especificamente no ano de 1995, surge o

Quarteto de Violoncelistas de Belém, resultado concreto das aulas ministradas na Escola

de Música da Universidade Federal do Pará. Formado por Áureo DeFreitas, violoncelo

I; Diego Carneiro, violoncelo II; Eber Soares, violoncelo III, e Orley Gordo, violoncelo

IV, o grupo faz apresentações no Festival de Juiz de Fora - MG, Festival de Campos -

RJ, Festival de Brasília – DF, Festival Internacional de Música de Câmera – Pa, e

Encontro de Arte da Universidade Federal do Pará. Esta projeção nacional seria a

inspiração dos futuros violoncelistas da Orquestra de Violoncelistas da Amazônia.

O Quadro 11 a seguir, demonstra o progresso acadêmico de alguns alunos que se

destacaram nessa época. É a comprovação de que é a verticalização acadêmica e

profissional que motiva os integrantes do PCA.

Aulas de Violoncelo Individuais

Progresso acadêmico universitário dos estudantes de violoncelo

Integrante

do Projeto

Violoncelo

em Grupo

Nível Acadêmico alcançado

Educação

Artística

com

Habilitação

em Musica

Bacharelado em Música

Outras áreas de

conhecimento

Orquestra Semi-

profissional/ profissional

Ensinam violoncelo em escolas de música

e/ou studio

particular

7 alunos 2 alunos 3 alunos 5 alunos 6 alunos

Page 82: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

82

Quadro 11 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas individuais de violoncelo. Fonte: DeFreitas (2009, p.14)

Motivados pela excelente fase anterior, o Projeto Violoncelo em Grupo iniciou em

1997, coordenado simultaneamente pelo professor, no Instituto Estadual Carlos Gomes

(IECG) e na Escola de Música da Universidade Federal do Pará (EMUFPA). No

Quadro 12 está descrita a continuidade da verticalização profissional dos alunos

participantes das aulas de violoncelo em grupo, motivo de interesse da participação dos

alunos da Escola de musica da UFPA. Observa-se que a maioria desses alunos direciona

suas carreiras para a ministração de aulas de violoncelo.

Aulas de Violoncelo Individuais

Progresso acadêmico universitário dos estudantes de violoncelo

Integrante

do Projeto

Violoncelo

em Grupo

Nível Acadêmico alcançado

Educação

Artística

com

Habilitação

em Musica

Bacharelado em Música

Outras áreas de

conhecimento

Orquestra Semi-

profissional/ profissional

Ensinam violoncelo em escolas de música

e/ou studio

particular

2 alunos 13 alunos 8 alunos 16 alunos 13 alunos

Quadro 12 – Progresso acadêmico dos integrantes das aulas em grupo de violoncelo Fonte: DeFreitas (2009, p.24).

Outro fator que colabora para que os alunos se interessem em estabelecer

parceria com o Programa Cordas da Amazônia é a oportunidade de obter

reconhecimento nacional e internacional.

As viagens nacionais iniciaram em 1999 com a apresentação da Orquestra

Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, a OIJVA, na Oficina de Música de

Curitiba. O auge aconteceu no ano de 2000, com a turnê Rio de Janeiro, incluindo

apresentações em Cabo Frio, Petrópolis e Friburgo, onde, a convite do violoncelista

inglês David Chew, a Orquestra participou do Rio Cello Encounter.

Page 83: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

83

No mesmo ano, o grupo de apresentou na Temporada de Música de Inverno de

Petrópolis, repetindo o feito em 2001; neste mesmo ano, houve a participação da OIJVA

no Festival de Inverno de Friburgo. Em 2002, a violoncelista norte-americana Eva

Szekely possibilita a apresentação dos violoncelistas em Missouri, em uma turnê pelos

Estados Unidos. No ano de 2004, realizaram uma turnê pela Holanda. Em agosto de

2010, os participantes do Programa Cordas da Amazônia foram convidados pelo

governo chinês a se apresentarem em Pequim, já com o nome de Orquestra de

Violoncelistas da Amazônia.

A seguir são demonstradas, ainda pelo grupo anterior à formação atual da

Orquestra de Violoncelistas da Amazônia, as turnês realizadas pelos músicos da

Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, sob a direção do coordenador

do projeto. Essas turnês serviram de motivação para a geração vindoura, motivando os

estudantes a estabelecer a parceria com o programa.

O Quadro 13 aponta o quantitativo de alunos integrantes da orquestra, sendo que

alguns estudantes acompanham a orquestra no período de 1999 a 2002, evoluindo

individualmente, mas em colaboração com o grupo.

1º Fase - Estrutura de Formação da OIJVA

Integrantes da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia

Turnê Curitiba

1999

Turnê RJ

2000

Turnê RJ

2001

Turnê USA

2002

11 integrantes 15 integrantes 21 integrantes 13 integrantes

Antônia Coelho Antonio Coelho Antonio Coelho Bruno Valente

Bruno Valente Bruno Valente Bianca Camilla Santos

Camilla Santos Camilla Santos Bruno Valente Débora Borges

Débora Borges Débora Borges Camilla Santos Diego Cardoso

Diego Cardoso Diego Cardoso Débora Borges Diego Carneiro

Diego Carneiro Diego Carneiro Diego Cardoso Emilia Neves

Emilia Neves Emilia Neves Diego Carneiro Rebeca Cuima

Joás Cardoso Rebeca Cuima Emilia Neves Kalyne Valente

Kalyne Valente Kalyne Valente Jamile Karla Harada

Karla Harada Karla Harada Kalyne Valente Mayara Alencar

Page 84: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

84

Mayara Alencar Mayara Alencar Karla Harada Roberta Coelho

Roberta Coelho Leilane Valente Verena Abufaiadi

Verena Abufaiadi Marquinho Yasmim Alencar

Tayná Gama Mayara Alencar

Yasmim Alencar Rebeca Cuima

Roberta Coelho

Verena Abufaiadi

Verena Mendonça

Virginia

Yasmim Alencar

Quadro 13 – 1° fase de estruturação da OIJVA Fonte: DeFreitas (2009, p.30)

O Quadro 14 mostra a continuação da formação da orquestra. Observe que

alguns integrantes permanecem desde 1999, promovendo o progresso em equipe.

2º Fase - Estrutura de Formação da OIJVA

Integrantes da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia

Turnê Holanda 2004

Turnê RJ 2004

Concerto BBC 2006

Concerto ENARTE

2006

9 integrantes 17 integrantes 17 integrantes 18 integrantes

Bruno Valente Bruno Valente Bruno Valente Ariel Lima

Camilla Santos Camila Lucas Camila Lucas Camila Lucas

Conceição F. Camilla Santos Camilla Santos Daniela Abreu

Daniela Abreu Carlos Adolfo Conceição F. Eliete Amaral

Diego Cardoso Conceição F. Daniela Abreu Elisangela S.

Diego Carneiro Daniela Abreu Diego Cardoso Emilia Neves

Leno Yuri Diego Cardoso Erica Silva Fabrício

Mayara Alencar Kally Hugo Vaz Giovana B.

Wagner Mattos Leno Yuri Leno Yuri Hugo Vaz

Mayara Alencar Mayara Alencar Jonata Araújo

Olivia Pedro Henrique Leno Yuri

Rafael Coelho Rafael Coelho Patrick Wilson

Page 85: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

85

Thaciana Araújo Thaciana Araújo Sabrina Abreu

Tiago Imbiriba Tiago Imbiriba Sara M.

Ulisses Vaz Ulisses Vaz Suene Ferreira

Verena M. Verena M. Ulisses Vaz

Wagner Mattos Wagner Mattos Verena M.

Wagner Mattos

Quadro 14 – 2° fase de estruturação da OIJVA Fonte: DeFreitas (2009, p.32)

Na terceira fase da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia,

conforme aponta o Quadro 14, já se observa, além da presença de novos alunos, a

ausência de alguns integrantes da fase um e dois; ocorre que, em sua maioria, os

integrantes das fases anteriores foram chamados para tocar fora de Belém, em

orquestras nacionais e também internacionais, como mostrará o Quadro 15 adiante.

Nesta fase a orquestra já possui vários integrantes adultos. Foi um dos motivos que

levou o coordenador do programa a modificar o nome da orquestra para Orquestra de

Violoncelistas da Amazônia, retirando o termo “infanto-juvenil”.

3º Fase - Estrutura de Formação da OIJVA

Integrantes da Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia

ENARTE

2007

SHOW HANGAR

2008

ENARTE

2008

SHOW HANGAR

2008

30 integrantes 26 integrantes 26 integrantes 20 integrantes

Antonio Amilton Antonio Amilton Antonio Amilton Antonio Amilton

Ariel Lima Ariel Lima Ariel Lima Ariel Lima

Bruno Valente Clarissa Jucá Everson Assis Everson Assis

Clarissa Jucá Everson Assis Farid Kzan Farid Kzan

Everson Assis Farid Kzan Geovanna Bertazzo Geovanna Bertazzo

Farid Kzan Geovanna Bertazzo Gustavo Borges Jesimiel dos Santos

Fabrício Gustavo Borges Hugo Vaz Jéssika Rodrigues

Fernando Bahia Hugo Vaz Jesimiel dos Santos Jose Roberto

Gustavo Borges Jesimiel dos Santos Jéssika Rodrigues Lennon Yuri Soares

Hugo Vaz Jéssika Rodrigues Jose Roberto Lucas Borges

Page 86: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

86

Jesimiel dos

Santos Jose Roberto Lennon Yuri Soares Rafael Silva

Jose Roberto Lennon Yuri Soares Lucas Borges Robson Navegante

Lennon Yuri

Soares Lucas Borges Plínio Sergio Rodolfo Carvalho

Lucas Borges Patrick Wilson Rafael Silva Rodrigo Dias

Plínio Sergio Pedro Henrique Rebeca Lemos Sabrina Abreu

Patrick Wilson Rafael Silva Robson Navegante Sandro Roberto

Pedro Henrique Rebeca Lemos Rodolfo Carvalho Suene Ferreira

Rodrigo Dias Robson Navegante Rodrigo Dias Yan Felipe

Rebeca Lemos Rodolfo Carvalho Sabrina Abreu

Robson Navegante Rodrigo Dias Sandro Roberto

Sabrina Abreu Sabrina Abreu Suene Ferreira

Sandro Roberto Sandro Roberto Ulisses Vaz

Yan Felipe Suene Ferreira Yan Felipe

Jéssika Rodrigues Yan Felipe

Suene Ferreira*

Ulisses Vaz*

Rafael Silva

Isabel Bianca

Wagner Mattos

Quadro 15 – 3° fase de estruturação da OIJVA Fonte: DeFreitas (2009, p.34)

O gestor do programa relata, em entrevista, sobre o sentimento de orgulho que

seu trabalho proporciona, ao criar a expectativa dos alunos conseguirem lançar suas

carreiras como músicos profissionais:

“Imagina o que representa para mim, acompanhar um menino de oito anos de idade, ver seu crescimento profissional, vê-lo ingressando na Universidade. Os alunos têm um sonho de vencer, pois eles sabem que o que eu proponho é o sonho de que um dia um olheiro poderá levá-los para um lugar melhor, onde a própria família será beneficiada. Em um primeiro momento da orquestra, éramos entre doze a vinte músicos e vivíamos sempre viajando, como ao Rio de Janeiro por exemplo, parando em todas as cidades para tocar,estávamos em todos os teatros, foi uma exposição absurda.mas que aconteceu com a gente durante duas temporadas. Deste grupo, vários rapazes

Page 87: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

87

foram tocar no exterior, onde estão até hoje, enquanto as meninas, embora tivessem mais talento, conseguiram sair de Belém, mas ficaram no Brasil, no eixo Rio / São Paulo. Eu, por exemplo, fui coroado com uma bolsa de cento e vinte e quatro mil dólares com o Projeto Cordas da Amazônia”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Assim, observa-se que na rede de parcerias estabelecida pelo PCA, os alunos

contribuem com esforço, dedicação de tempo, árduo trabalho. E em contra partida

esperam receber do programa, além da formação profissional como musicistas, a

possibilidade de projeção nacional e internacional.

Dando continuidade às informações demonstradas anteriormente, o Quadro 16

sintetiza o período de 2004 a 2011, quando os integrantes da OIJVA e da sua próxima

geração, a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia conseguiram alçar novos vôos em

suas carreiras, através de projeções nacionais e internacionais. Compare nas tabelas

demonstradas anteriormente que alguns participantes saíram da Orquestra; eles serão

vistos a seguir, pois saíram do grupo a convite de outras orquestras, ganhando assim

verticalização em suas carreiras, fora do território paraense.

Mobilidade Nacional e Internacional dos Estudantes de Violoncelo

Participante Destino 1 Destino 2 Destino 3 Destino 4

Bruno Valente RJ - RJ

Camilla Santos Tatuí - SP SP - SP Alemanha

Conceição Fernandes

SP - SP

Daniela Abreu

Alemanha

Diego Carneiro Tatuí - SP

Columbia –

USA Londres - UK

Diego Felipe RJ - RJ Briançon - Fr Lion – Fr

Emília Neves

SP - SP Belo Horizonte

Joás Cardoso Tatuí - SP Londres - UK

Kalyne Valente

SP - SP Natal - RGN

Karla Tatuí - SP

Page 88: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

88

Harada

Mayara Alencar Tatuí - SP SP – SP

Mississipi -

USA Natal - RN

Samuel Ramiro Tatuí - SP SP – SP Suiça

Tiago Imbiriba

SP - SP

Ulisses Vaz RJ - RJ

Wagner Matos

Briançon - Fr

Yasmim Alencar Tatuí - SP SP – SP

Quadro 16 – Mobilidade Nacional e Internacional do integrantes da OIJVA. Fonte: DeFreitas (2009, p.37).

Segundo DeFreitas (2011), comparando os dados a seguir com as estatísticas

apresentadas no cenário musical paraense, o Programa Cordas da Amazônia consegue

um feito extraordinário, apresentando a escolas musicais do mundo inteiro os novos

talentos a serem profissionalizados musicalmente.

Atualmente, a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia é composta de dezoito

integrantes: Antonio Amilton, Everson Assis, Geovanna Carvalho, Jesimiel dos Santos,,

Lenno Yuri Soares, Lucas Borges, Luiz Gustavo, Rodrigo Dias, Robson Navegante,

Rafael Silva, Rodolfo Monteiro, Sandro Roberto, Yan Felipe, Hézio Saldanha, Cleiton

Satiro (Baixo Elétrico), Rafael Duarte (Baterista). Áureo DeFreitas. O grupo ensaia de

três a quatro vezes por semana, com ensaios de três horas de duração, na EMUFPA.

É justamente em busca da verticalização profissional que centenas de jovens

ingressam e estabelecem uma parceria no programa, mesmo sem terem qualquer tipo de

contrato formalizado, é o sentido de cooperação mútua que fortalece a rede do PCA.

4.1.6 Formação de Parcerias: mães de alunos

Segundo o próprio idealizador do programa, não haveria nenhum progresso no

Programa Cordas da Amazônia sem a ajuda das mães dos alunos, que atuam como

verdadeiras gestoras do PCA. As mães se doam assim porque acreditam na felicidade

do filho, sem seu talento, em seu desenvolvimento como instrumentista e também como

Page 89: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

89

pessoa. Pedagogo efetivo da EMUFPA, o professor Msc. Mauricio Gouveia, ao ser

questionado sobre quem seria a maior força parceira do PCA, opina:

“Além dos alunos, considero que seus pais sejam os principais parceiros do programa, pois são muito participativos, além das apresentações em público, estão sempre presentes nas aulas. Essa participação em sala de aula ajuda a escola a desenvolver estratégias pedagógicas de inclusão, e fortalece o programa”. (ENTREVISTA PEDAGOGO DA EMUFPA, 03.02.2011).

As mães crêem que os filhos têm, no PCA, a chance de se desenvolverem social e

profissionalmente, por isso investem investirem tempo, dedicação e recursos próprios

na divulgação do programa, ajudando as atividades a fluírem e fortalecendo a relação

com o empresariado. São as mães que trabalham voluntariamente em todas as

apresentações, vendendo objetos relacionados com o Programa Cordas da Amazônia:

camisas, canetas, DVDs, CDs, etc.

“Elas produzem CDs, DVDs, canetas, tudo que vendem elas produzem, correm atrás e vendem. Montam kits e enviam aos patrocinadores, atuando como verdadeiras divulgadoras. Elas que recebem o dinheiro com as vendas. Elas fazem isso porque faço questão de não pegar em dinheiro de jeito nenhum, pois acredito que a sociedade só espera um vacilo meu para me crucificar...é algo que desde 1998 coloco nas mãos de terceiros...não vou ao banco, não sei quanto existe minha conta. Porém, quando o grupo demonstra fraqueza financeira, é do meu salário como professor da UFPA que eu tiro o dinheiro para levantar o caixa, do meu bolso”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Esta parceria é positiva, pois não há arrecadação financeira suficiente para pagar

salários a trabalhadores. O trabalho voluntário das mães é essencial para que circule

capital no projeto, com a venda de material de divulgação da Orquestra. Outra curiosa

demonstração de apoio dessas mães consta no relato do gestor do programa:

“No ano de 2010, o MEC disponibilizou para o PCA cerca de 100 mil reais, e o MINC – Ministério da Cultura – mais 100 mil reais, para a turnê China, que ocorreu em agosto. Este recurso foi conseguido da seguinte forma: as mães dos alunos do PCA ficavam de vigília na Internet, e desta forma conseguiam promoções de passagens aéreas. Juntávamos dinheiro em pedágios, coletas, apresentações, com meus recursos próprios também...Eu ia para Brasília marcar território, ficava lá de plantão, pegava chá de cadeira para falar com alguém; foram três viagens até Brasília para que eu conseguisse patrocínio”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Um relato interessante sobre a força deste trabalho voluntário é o episódio

ocorrido no mês de julho de 2010, quando a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia

Page 90: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

90

fez um show acústico na Praça da República, organizado pelas mães dos integrantes.

Sem investimentos em divulgação, qualquer estrutura de iluminação ou palco, a

orquestra, em somente em uma hora de apresentação, conseguiu arrecadar cerca de mil

e quatrocentos reais, doados pelo público, que foram totalmente revestidos para a turnê

China.

“Após a turnê, entre agosto e dezembro, conseguimos arrecadar cerca de 30 mil reais em shows, visando recuperarmos os recursos investidos para que levássemos os vinte e um integrantes do PCA para a China, fato inédito na EMUFPA. Nunca um grupo arrecadou tantos fundos”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Segundo Nobre (2011), o pesquisador se interessa em realizar trabalho

voluntário para o PCA, pois encontra no programa a oportunidade de fortalecer seu

vínculo acadêmico, produzindo e publicando – em grupo - incontáveis trabalhos que

formarão seu currículo Lattes. Posteriormente, ao concorrer para um concurso público,

visando vínculo empregatício, financiamento de projetos ou mesmo bolsa de estudos, os

trabalhos publicados no PCA o ajudarão a compor a nota necessária para sua aprovação.

O Psicólogo cita, inclusive, que através do PCA conseguiu uma gama de clientes para

seu consultório particular, fortalecendo sua parceria com o programa, que, segundo ele,

elenca uma série de benefícios aos pesquisadores.

4.1.7 Formação de Parcerias: pesquisadores

João Paulo Nobre é Psicólogo e pesquisador da área de transtornos no

aprendizado. Atualmente assume a função de coordenador do departamento de pesquisa

do Programa Cordas da Amazônia. Segundo ele, o Programa Cordas da Amazônia é

composto por um grupo multidisciplinar de pesquisadores, das áreas de Psicologia,

Pedagogia, Música e Letras.

DeFreitas (2011) ressalta a importância dos pesquisadores para o PCA, como

agentes ativos na conquista de fomentos para o programa. É o grupo de pesquisadores

que consegue as bolsas e verbas federais, através dos múltiplos projetos que abarcam o

PCA, através da publicação de artigos, trabalhos de conclusão de curso, dissertações,

participações em congressos, projetos de extensão, conforme relato:

“Essa foi minha tacada de mestre dentro do PCA. Bem, eu sempre fui pago para estudar, mas essa cultura de pesquisa não havia na escola de música.

Page 91: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

91

Observei, no curso de Psicologia, que o voluntariado e as bolsas eram muito interessantes para os acadêmicos, já que as oportunidades de se receber para estudar são raras. Para a administração superior é fantástico, pois os jovens iniciam suas carreiras científicas. Então eu comecei a fazer campanha nas salas de aula, informando que eles seriam pagos para estudar, pois receberiam uma bolsa que na época era de duzentos e sessenta reais, hoje é de trezentos reais, eu entrava na sala e dizia: “pagos para escrever o TCC de vocês, desde o primeiro ano aqui na academia!” “Então eles se interessaram em fazer a parceria”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Neste ínterim relacionado ao vínculo com o Programa Cordas da Amazônia, o

gestor do PCA afirma que não há qualquer estabelecimento de contrato formal, mas

cada pesquisador possui seu horário de trabalho voluntário na DIS – Divisão de

Inclusão Social. Os horários são seguidos de maneira rigorosa, propondo o máximo de

qualidade no atendimento. Questionado sobre como consegue manter, de forma

voluntária, a parceria com os pesquisadores, o professor é enfático:

“Neste aspecto tem minha personalidade persuasiva, pois eu tinha que acorrentá-los de alguma forma ao projeto. Ao iniciar o TCC com nosso grupo de pesquisadores, acaba que o aluno só termina a graduação se pesquisar aqui no PCA. O resultado é que todos se envolveram e não puderam evadir, pois queriam finalizar seus trabalhos. Meus grandes parceiros são os pesquisadores”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

As ações dos pesquisadores podem ser conferidas no subitem anterior Ciclo

Motivacional dos Parceiros: UFPA, nomeadamente nas tabelas de síntese da produção

científica do Programa Cordas da Amazônia. Sobre a importância das pesquisas para o

desenvolvimento do Programa Cordas da Amazônia, estas pesquisas, o gestor ratifica:

“Para 2011 previstas de fato,temos quatro bolsas PIBEX (que é de extensão), nós temos dois prêmios PROEX no valor de cinco mil Reais cada, que serão integralmente revestidas em bolsas de estudos. Também teremos duas bolsas de iniciação científica. Estas bolsas garantem oito bolsistas garantidos no ano de 2011. Conseguimos todos estes recursos graças às publicações em grupo. Ainda aguardamos mais duas bolsas pelo menos, totalizando cerca de dez bolsas administradas, no valor de trezentos reais mensais cada. (...) Estas bolsas acabam obrigando a própria EMUFPA a nos dar espaço físico, pois seria problemático para a própria gestão da escola explicar ao MEC, caso o programa parasse por falta de espaço físico. (...) Também vamos submeter o projeto ao PAPIM (bolsa produtividade), pois ano passado aprovamos e este ano vamos dar continuidade”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Page 92: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

92

4.1.8 Formação de Parcerias: Patrocinadores

Os patrocinadores do Programa Cordas da Amazônia, todos paraenses, são:

a) REICON – Loja de informática e papelaria. O proprietário colabora

anualmente, entregando cheques nominais, de quantias não especificadas pelo

entrevistado, quando solicitada. Não exige prestação de contas, e cobra nenhum tipo de

relatório acerca a utilização do dinheiro. Segundo DeFreitas (2011), É parceira por um

sentimento fraternal, não exigindo nada em troca.

b) Y.YAMADA – Loja de móveis, eletrodomésticos e supermercados de Belém.

Doa dinheiro em espécie, regularmente. Exige que o grupo se apresente com as camisas

e bonés contendo o slogan institucional da loja, juntamente com o logotipo do Grupo

Y.Yamada. Além disso, exige a exposição no palco de dois banners da empresa, durante

suas apresentações. É parceira do PCA e em benefício obtém a divulgação de sua

marca.

“A Yamada foi propaganda mesmo. Ela fez camisas, orquestra gente boa, éramos obrigados a usar os bonés e as camisas com o logotipo da Yamada em todas as entrevistas, para que aparecesse na mídia, em todos os shows utilizávamos dois banners enormes da Yamada fazendo a propaganda. Enfim, puro marketing, empresariado radical que eles sempre tiveram. Eu te dou, mas quero algo em troca”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

c) Ná Figueiredo – Loja de roupas e acessórios estilizados, com a moda voltada

para o rock. É perfil notório da marca Ná Figueiredo colaborar com a divulgação da

cultura musical paraense. Sua parceria consiste em ajudar na divulgação dos shows da

Orquestra, através de cartazes, folders, sites, etc. não havendo qualquer acordo

financeiro ou de prestação de contas, de ambas as partes. Conforme análise de DeFreitas

(2011), este patrocinador se preocupa em atrelar seus produtos com a cultura local, por

isso divulga os shows do Programa Cordas da Amazônia. Não há nada formalmente

contratado.

d) Sol Informática – Loja de equipamentos e acessórios de informática. Apóia o

programa doando não exclusivamente dinheiro, mas CDs e DVDs, atuando na

divulgação da orquestra. DeFreitas (2011) acredita que a loja Sol é parceira do PCA por

conta do grande sucesso que a orquestra faz na Internet, em vídeos no youtube, por

Page 93: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

93

exemplo, que tem milhares de acessos. A marca da Sol está associada ao PCA, e ao

visualizar a apresentação da orquestra, simultaneamente ocorre o marketing da Sol.

Assim, a parceria se estabelece.

Não houve, nesta pesquisa, o aprofundamento sobre esta parceria, cabendo como

sugestão a trabalhos profundos. Segundo o gestor do projeto, a parceria com os

fornecedores se fortalece também mediante a divulgação do Programa Cordas da

Amazônia nas redes de relacionamento na Internet, tais como: facebook, orkut, twiter,

youtube. Em entrevista, é enfático sobre a importância da parceria com esta ferramenta:

“Este é um fenômeno mundial. Sempre tive sites pessoais, já tive um site de 25 mil dólares,criado para mim nos Estados Unidos, onde o mundo todo sabia o que eu estava fazendo. Depois criei um site mais barato, para a ACVA. (...) Mas em 2004, quando surgiram as redes de relacionamento eu abandonei os sites tradicionais, pois eu achava que o Orkut e facebook dariam bem mais acesso, se soubéssemos usar. (...) E foi o que aconteceu, me tornei um ser virtual, onde divulgo tudo o que acontece, foi com esta ferramenta que cheguei ao Jô Soares e ao programa do Serginho Groinsman. (...) Hoje tenho vídeo no youtube que possui 40 mil visitas, o que é considerado um fenômeno de sucesso no contexto paraense”. (ENTREVISTA GESTOR DO PCA, 05.02.2011).

Para finalizar este capítulo, o Quadro 17 demonstra a síntese da rede de

cooperação que envolve o Programa Cordas da Amazônia, destacando a contribuição

que cada parceiro fornece a rede, o benefício adquirido e a avaliação da parceria.

Síntese da rede de cooperação que envolve o PCA

Parceria Contribuição para a

rede

Benefício com a rede Avaliação

Alunos Dedicação de tempo e

esforço nas aulas, ensaios

e apresentações nas

orquestras.

Conhecimento musical,

ascensão profissional e

aquisição de cachês com

as apresentações.

Benefícios

recíprocos.

Pesquisadores Dedicação para as

pesquisas acadêmicas e

trabalho voluntário na

Divisão de Inclusão

Social.

Agregação de valor ao

currículo Lattes;

notoriedade acadêmica.

Benefícios

recíprocos.

Page 94: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

94

UFPA Participação em editais,

patrocínio e oferecimento

de bolsas de extensão e

iniciação científica.

Divulgação do nome da

instituição; atendimento

no âmbito de ensino,

pesquisa e extensão.

Benefícios recíprocos.

EMUFPA Concessão de espaço

físico e estrutura de

trabalho.

Divulgação do ensino

musical e apoio no

ingresso de alunos no

curso técnico da escola.

Benefícios recíprocos.

MEC Fomento através de

editais.

Inclusão social de classes

menos favorecidas.

Benefícios recíprocos.

MINC Fomento através de

editais.

Divulgação da cultura

paraense no cenário

nacional e internacional.

Benefícios recíprocos.

Pais Trabalho voluntário e

divulgação do programa.

Melhoria da qualidade de

vida de seus filhos.

Benefícios recíprocos.

Fornecedores Patrocínio financeiro e

apoio na divulgação da

orquestra.

Responsabilidade social e

divulgação da marca.

Benefícios recíprocos.

Quadro 17 – Síntese da rede de cooperação que envolve o PCA Fonte: Dados coletados pela autora, elaboração própria, 2011.

5. CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS

Este trabalho se propôs a investigar o processo de articulação de parcerias como

condição de sobrevivência para um programa de gestão sócio-cultural. Para tanto,

ponderou sobre a pesquisa bibliográfica coletada acerca do tema Redes de Cooperação,

e sobre o Programa Cordas da Amazônia, objeto deste estudo.

Através de entrevista semi-estruturada, coletaram-se informações sobre a

motivação do ingresso de parceiros na rede do PCA, chegando-se à conclusão que a

parceria é essencial ao desenvolvimento e sobrevivência do programa estudado, e que

cada parceiro envolvido tem motivação própria para colaborar com o programa,

conforme já discutido em capítulo anterior. O programa forma uma rede classificada

como Rede Associativa, com as seguintes características:

Page 95: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

95

a) Constitui-se como uma entidade formalizada;

b) A rede foi originada a partir das dificuldades encontradas quando o programa

ainda se estruturava de forma individualizada.

c) Todos os envolvidos participam nas decisões e ações da rede, sendo que os

ganhos gerados em conjuntos são distribuídos de forma mais igualitária possível.

Uma vez que este trabalho apresentou a rede de cooperação como uma nova

forma de estruturação organizacional, sugere-se que se constitua no PCA uma gestão

voltada para planejar, organizar, dirigir e avaliar os resultados coletivos que envolvam

os vários projetos inseridos no programa.

Para o fortalecimento da rede, a pesquisa aponta as sugestões a seguir:

a) Em termos de envolvimento de recursos humanos

A necessidade da presença de um profissional da área de Assistência Social no

PCA, para realizar atendimento aos integrantes do programa e seus familiares e, em

especial à comunidade atendida nos Pólos Bengui e Jurunas, devido às situações de

riscos sociais aos quais os alunos são expostos diariamente, que os levam a evadirem do

programa.

b) No âmbito da cultura organizacional observada na EMUFPA

Fora detectada, durante as entrevistas, a ausência de interesse em participar das

pesquisas do PCA, na grande maioria dos docentes que compõem a Escola de Música

da Universidade Federal do Pará. Esta realidade pode ser explicada pelo fato de a

EMUFPA trabalhar com o ensino de diversos instrumentos e performances musicais,

além dos instrumentos de cordas friccionadas (utilizadas no PCA), tais como:

instrumentos de cordas dedilhadas, piano, instrumentos de percussão, de sopro, teclado,

canto lírico, entre outros. A EMUFPA é subdividida em núcleos de ensino, e esta

divisão não favorece o trabalho em equipe, ao contrário, o que justifica a atual situação

do programa dentro deste contexto: cada docente atua de forma individualizada, dentro

de sua área de atuação.

Page 96: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

96

C) Maior divulgação do programa

O público paraense praticamente desconhece o Programa Cordas da Amazônia,

sendo que a Orquestra de Violoncelistas da Amazônia é mais conhecida

internacionalmente do que em nosso próprio Estado, como já foi dito anteriormente. A

sugestão é que se busque o estabelecimento de parcerias com programas televisivos, de

rádio e jornais locais, visando divulgar os shows e apresentações da orquestra; esta

exposição na mídia certamente permitirá a inserção de mais patrocinadores na rede, e

também notoriedade nas disputas de editais nacionais e internacionais.

O método utilizado nesse estudo de caso poderia ser empregado em pesquisas

com outras redes de gestão sócio-cultural, ou mesmo pertencente a outros segmentos. O

questionamento é o seguinte: existe diferença na estrutura estabelecida pela Rede de

Cooperação do Programa Cordas da Amazônia com a estrutura de outros programas?

Aspectos culturais e regionais poderiam definir processos diferenciados?

A limitação da pesquisa se deu em torno do fato de não haver publicado material

nesta área (gestão sócio-cultural); também não houve aprofundamento nas entrevistas,

sendo que o grupo de alunos, pais e fornecedores não foram entrevistados. Neste

ínterim, coube à pesquisadora a observação participante.

Ainda há muito a ser pesquisado sobre esta nova forma de gestão, o que sugere a

abertura de investigações que poderão contribuir para o aperfeiçoamento da

metodologia de formação, desenvolvimento e expansão de redes de empresas.

A cooperação é o que permite a sustentabilidade das ações do programa, a rede

de colaboradores oportuniza o suporte de que o PCA necessita para o ensino, a pesquisa

e a extensão dentro e fora da Universidade Federal do Pará. Ao mesmo tempo, essa rede

de relações colaborativas amplia a irradiação das ações do programa em vários âmbitos

– governamentais, não formais, institucionais, público e privado.

Page 97: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

97

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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VERGARA, Sylvia Constant. Métodos de Pesquisa em Administração. São Paulo:

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Page 101: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

101

ANEXOS

ANEXO A - PERGUNTAS DA ENTREVISTA

1) Em que contexto ocorreu o surgimento / nascimento do PCA – Programa Cordas

da Amazônia – dentro da Universidade Federal do Pará?

2) Qual foi a cultura organizacional percebida na UFPA / EMUFPA na época em

que o PCA ficou em evidência?

3) Qual o interesse do MEC / MINC no PCA? Posso chamar o MEC / MINC de um

parceiro do PCA?

4) Qual o interesse da UFPA no PCA? Posso chamar a UFPA de uma parceira do

PCA?

5) Quais são as bolsas que o Programa Cordas da Amazônia recebem do MEC

atualmente?

6) Qual o interesse da EMUFPA no PCA? Posso chamar a EMUFPA de uma

parceira do PCA?

7) Quem são os atuais patrocinadores do programa? Posso chamá-los de parceiros

do PCA?

8) Os veículos de comunicação que vocês usam como FACEBOOK, ORKUT,

YOUTUBE, TWITER, qual a força que eles têm? De que forma essa tecnologia é

parceira do PCA?

9) Falando em mães e pais de alunos, eles são considerados parceiros do programa?

Por quê?

10) Quanto aos alunos, por que eles dedicam seu tempo ao PCA?

11) E sobre os pesquisadores? Quantos são? Eles são seus parceiros por quê?

12) E quanto aos professores da EMUFPA, é observado um estabelecimento de

parceria?

13) Como essa rede de cooperação que envolve o programa poderia ser fortalecida?

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102

ANEXO B

FOTOS QUE APRESENTAM O OBJETO DE PESQUISA: PCA

Figura 9 Figura 10

Figura 11 Figura 12

Figuras 9, 10 e 11: Alunos dos pólos Cremação, Bengui e Jurunas em apresentação no Theatro da Paz. Figuras 12: Equipe de pesquisadores voluntários do PCA.

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Figura13 Figura 14 Figura 13 - Coordenador do programa juntamente com os músicos da AYCC, e Marcio Garcia no Gente Inocente (2001). Figura 14- Publicação de matéria sobre a Orquestra Infanto-Juvenil de Violoncelistas da Amazônia, no Jornal holandês De Volkskrant sobre a turnê Holanda, em 2004.

Figura 15 Figura 16

Figura 15 - Banda Madame Saatan e Orquestra de Violoncelistas da Amazônia no Teatro da Paz em 2007.

Figura16 - Juliana Sinimbú e Orquestra de Violoncelistas da Amazônia no Teatro da Paz.

Page 104: COOPERAÇÃO E PARCERIA: Programa Cordas da Amazônia

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Figura 17 Figura 18

Figura 17 – Orquestra em show em cima do trio elétrico, no ENARTE 2009.

Figura 18 – Prof. Dr. Áureo DeFreitas em performance no Theatro da Paz.

Figura 19 Figura 20

Figura 19 – Orquestra em apresentação na Praça da República, em 2010.

Figura 20 – Orquestra em apresentação no evento Conexão Vivo, em 2010.

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Figura 21 Figura 22

Figura 21 – Orquestra de Violoncelistas da Amazônia em show no Cidade Folia, em

2010, para o evento Fest Music.

Figura 22 – Orquestra em show no evento ENARTE Flutuante, em 2010.

Figura 23 Figura 24

Figura 23 – Balsa do ENARTE Flutuante, 2010.

Figura 24 – O gestor do PCA, juntamente com o coordenador da DIS, na Conferência

Mundial de Educadores Musicais, em Pequim, 2010.

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106

Figura 25 – O gestor do PCA, juntamente com sua equipe de músicos, em Pequim,

2010.

Figura 26 – Orquestra de Violoncelistas da Amazônia em show realizado em Pequim,

ano de 2010. O grupo paraense foi o representante o único brasileiro nesta conferência

mundial.