controle litolÓgico e dinÂmica fluvial em unidades …...a geologia. foram definidos quatro tipos...

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 CONTROLE LITOLÓGICO E DINÂMICA FLUVIAL EM UNIDADES DE RELEVO NA BACIA DO MÉDIO/BAIXO RIO PARAOPEBA E ÁREAS ADJACENTES, MINAS GERAIS Alex de Carvalho (a) , Antônio Pereira Magalhães Junior (b) Letícia Augusta Faria de Oliveira (C) (a) Coordenadoria do Curso de Geografia/Instituto Federal de Minas Gerais, [email protected] (b) Departamento de Geografia/Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected] (c) Prog. Pós-Graduação em Geografia/Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected] Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas Resumo/ Este trabalho apresenta o mapeamento das unidades de relevo da bacia do médio/baixo rio Paraopeba e áreas vizinhas e discute o papel do controle litológico e da dinâmica fluvial na configuração geomorfológica. O mapeamento geomorfológico e as discussões sobre o papel do controle litológico e da dinâmica fluvial consideraram a interpretação de bases cartográficas, mapas temáticos e trabalhos de campo. As serras correspondem aos interflúvios. Os planaltos possuem topografia elevada, elaborados sobre o embasamento cristalino, preservados pela atuação dos níveis de base locais (diques básicos e veios de quartzo) que controlam a intensidade da erosão. As depressões elaboradas sobre as rochas do Grupo Bambuí caracterizam-se pela superfície suavizada. As depressões elaboradas sobre o embasamento possuem cristas finas e alongadas sustentadas pelos diques e veios. As áreas de influência fluvial, possuem espessos depósitos sedimentares fluviais localizados principalmente na bacia do rio Paraopeba, cuja deposição é controlada pelos níveis de base locais. Palavras chave: unidades de relevo; bacia do rio Paraopeba; controle litológico; dinâmica fluvial. 1. Introdução A bacia hidrográfica do rio Paraopeba, situada na porção central de Minas Gerais, é uma das mais importantes do estado. Seus cursos d’água contribuem com o abastecimento hídrico na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A extração de areia e a mineração de ferro estão entre as principais atividades da região. Ainda que próxima a Belo Horizonte e importante do ponto de vista dos recursos hídricos e minerais, a área possui raros estudos geomorfológicos, destacando-se os de Saadi (1991), Valadão (2009), Moreira (1997) e Marques (1997).

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Page 1: CONTROLE LITOLÓGICO E DINÂMICA FLUVIAL EM UNIDADES …...a geologia. Foram definidos quatro tipos de unidades de relevo com as seguintes definições básicas: (i) Planaltos –

ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1

CONTROLE LITOLÓGICO E DINÂMICA FLUVIAL EM UNIDADES

DE RELEVO NA BACIA DO MÉDIO/BAIXO RIO PARAOPEBA E

ÁREAS ADJACENTES, MINAS GERAIS

Alex de Carvalho(a), Antônio Pereira Magalhães Junior (b) Letícia Augusta Faria de Oliveira (C)

(a) Coordenadoria do Curso de Geografia/Instituto Federal de Minas Gerais, [email protected] (b) Departamento de Geografia/Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected] (c) Prog. Pós-Graduação em Geografia/Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]

Eixo: Dinâmica e gestão de bacias hidrográficas

Resumo/

Este trabalho apresenta o mapeamento das unidades de relevo da bacia do médio/baixo rio Paraopeba e

áreas vizinhas e discute o papel do controle litológico e da dinâmica fluvial na configuração geomorfológica. O

mapeamento geomorfológico e as discussões sobre o papel do controle litológico e da dinâmica fluvial

consideraram a interpretação de bases cartográficas, mapas temáticos e trabalhos de campo. As serras

correspondem aos interflúvios. Os planaltos possuem topografia elevada, elaborados sobre o embasamento

cristalino, preservados pela atuação dos níveis de base locais (diques básicos e veios de quartzo) que controlam a

intensidade da erosão. As depressões elaboradas sobre as rochas do Grupo Bambuí caracterizam-se pela superfície

suavizada. As depressões elaboradas sobre o embasamento possuem cristas finas e alongadas sustentadas pelos

diques e veios. As áreas de influência fluvial, possuem espessos depósitos sedimentares fluviais localizados

principalmente na bacia do rio Paraopeba, cuja deposição é controlada pelos níveis de base locais.

Palavras chave: unidades de relevo; bacia do rio Paraopeba; controle litológico; dinâmica fluvial.

1. Introdução

A bacia hidrográfica do rio Paraopeba, situada na porção central de Minas Gerais, é

uma das mais importantes do estado. Seus cursos d’água contribuem com o abastecimento

hídrico na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A extração de areia e a mineração de ferro

estão entre as principais atividades da região. Ainda que próxima a Belo Horizonte e importante

do ponto de vista dos recursos hídricos e minerais, a área possui raros estudos geomorfológicos,

destacando-se os de Saadi (1991), Valadão (2009), Moreira (1997) e Marques (1997).

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Este trabalho apresenta o mapeamento das unidades de relevo da bacia do médio/baixo

rio Paraopeba e das áreas vizinhas, pertencentes às bacias dos rios Pará e das Velhas, e discute

o papel do controle litológico e da dinâmica fluvial na configuração das unidades de relevo. O

mapeamento dessas unidades considerou uma área com 10.157 km², englobando partes das

bacias supracitadas (Fig. 1). Grande parte da área mapeada pertence à bacia do médio/baixo rio

Paraopeba. A incorporação de parte das outras bacias buscou auxiliar na compreensão das

características da área e no estabelecimento de relações entre as unidades de relevo e os

condicionantes litoestruturais e/ou tectônicos que podem ter influenciado na morfogênese.

Figura 1: Localização da área investigada.

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2. Materiais e Métodos

O mapeamento das unidades de relevo ocorreu em três etapas: elaboração do mapa

preliminar de unidades de relevo utilizando as bases cartográficas digitais e os mapas temáticos

produzidos; trabalhos de campo para o ajuste das unidades; e delimitação final das unidades de

relevo. A reunião das bases realizada no início dos trabalhos também permitiu o conhecimento

das principais características regionais e a escolha de pontos estratégicos para visitar em campo.

Inicialmente, as unidades foram definidas de acordo com os mapas de declividade e

de hipsometria e os perfis topográficos, elaborados a partir das curvas de nível equidistantes em

20 m, produzidas a partir das imagens SRTM. As classes de declividade foram definidas de

acordo com a proposta da EMBRAPA (2005). As unidades foram adaptadas aos limites das

principais litologias da área, conforme o mapa geológico. O mapa de densidade de drenagem

considerou a identificação e a individualização das subbacias de quarta e terceira ordem,

conforme a Strahler (1956) e realização do cálculo desse parâmetro segundo Horton (1945). As

subbacias de quarta ordem foram priorizadas e as áreas associadas aos canais principais que

não eram de terceira ou quarta ordem foram desconsideradas.

Foram realizados trabalhos de campo para observar e compreender melhor as unidades

de relevo e promover ajustes. As campanhas de campo permitiram a identificação e o

mapeamento dos depósitos sedimentares fluviais nos fundos de vales. As informações foram

confrontadas com os dados obtidos em campo através da marcação de pontos com o uso de um

GPS e da descrição e elaboração de perfis transversais dos depósitos sedimentares. Com a

integração dessas informações, foi elaborado o mapa com a espacialização dos depósitos

fluviais de fundo de vale, que correspondem às áreas de influência fluvial.

Por fim, esse conjunto de mapas foi analisado de modo integrado. A reunião dos mapas

e os trabalhos de campo permitiram a elaboração do mapa final de unidades de relevo.

O mapeamento considerou as instruções do Manual Técnico de Geomorfologia do

IBGE (2009) para a classificação das unidades do relevo de acordo com o terceiro táxon, no

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qual as unidades geomorfológicas possuem formas semelhantes em seus tipos de modelado e

de processos originários. A delimitação das unidades considerou principalmente a topografia e

a geologia. Foram definidos quatro tipos de unidades de relevo com as seguintes definições

básicas: (i) Planaltos – unidades com relevo plano ou dissecado, de alturas elevadas, limitadas,

pelo menos em um lado, por superfície mais baixa, onde os processos erosivos superam os de

sedimentação (adaptado de IBGE, 2009); (ii) Serras – unidades de topos elevados, com relevos

acidentados, que formam cristas e cumeadas ou as bordas de um planalto, altimetricamente

realçadas em relação aos demais planaltos (MARENT, SALGADO, 2010; IBGE, 2009); (iii)

Depressões – unidades de relevo plano ou ondulado, cuja altimetria é inferior às unidades de

relevo ao seu redor (adaptado de MARENT, SALGADO, 2010 e IBGE, 2009); (iv) Áreas de

influência fluvial (fundo de vale) – áreas topograficamente rebaixadas e suavizadas, embutidas

nos planaltos, serras e/ou depressões, cuja gênese está relacionada a processos fluviais e as

formas elaboradas em material predominantemente aluvial.

3. Resultados e Discussões

3.1. Unidades de Relevo na Bacia do Médio/Baixo Rio Paraopeba e Áreas Adjacentes e

Relações com Controle Litológico e Dinâmica fluvial

Neste trabalho, destacam-se o detalhamento do mapeamento, sua caracterização e a

identificação das áreas de influência fluvial, que auxiliam na compreensão da importância da

relação entre a dinâmica fluvial, a litoestrutura na evolução geomorfológica da área. A extensão

das unidades de relevo é variada, distribuindo-se da seguinte forma: serras – 6,28%, planaltos

– 15,5%, depressões – 71,57% e áreas de influência fluvial – 6,65% (Tab. 1; Fig. 2). Parte da

área que corresponde às depressões coincide com a Depressão Periférica do São Francisco e

parte das áreas de serras correspondem aos Planaltos Residuais do São Francisco, conforme

mapeamento do IGA/SETEC (1977). Na Tabela 1 constam os nomes e siglas das unidades.

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Tabela 1: Área ocupada por unidade de relvo.

Unidade do Relevo Área (km²) Área %

Serra Mucambinho – SM 17,314 0,18

Serra da Onça – SO 228,299 2,26

Serra de Santa Helena – SSH 143,084 1,42

Serra do Rio do Peixe – SRP 244,621 2,42

Planalto de Esmeraldas-Contagem – PEC 1.129,570 11,13

Planalto de Pará de Minas-Itaúna – PPMI 442,559 4,37

Depressão Periférica do São Francisco – DPSF 2.984,413 29,41

Depressão do Rio Pará – DRP 2.172,936 21,41

Depressão da Zona de Cristas do Paraopeba – DZCP 1.740,940 17,16

Depressão de Sete Lagoas – DSL 104,771 1,80

Depressão do Ribeirão da Mata – DRM 180,568 1,79

Fundo de Vale – FV 634,068 6,65

TOTAL 10.157,384 100

Figura 2: Mapa de unidades de relevo da bacia do médio/baixo rio Paraopeba e áreas adjacentes.

As unidades de relevo mapeadas possuem forte relação com a litologia (Fig. 3) e a

hipsometria (Fig. 4 e 5). Observa-se que a litologia é composta de três compartimentos distintos:

no sul, rochas meso e neoarquenas do Embasamento Cristalino (EC); em parte do sul e oeste,

rochas neoarqueanas do Supergrupo Rio das Velhas (SGRV) e paleoproterozoicas do

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Supergrupo Minas (SGM); em praticamente todo o norte predominam as rochas

neoproterozoicas do Grupo Bambuí (GB). A altitude varia de 600 a 1260 m, com amplitude

altimétrica de 660 m. As Serras (SSH, SRP, SO e SM) e os Planaltos (PPMI e PEC) são as

unidades que possuem as maiores altitudes, quase sempre representando os interflúvios das

principais bacias hidrográficas. Tais unidades se situam entre 820 e 1260 m. As áreas mais

elevadas se concentram na porção sul da área mapeada, moldadas sobre as rochas do EC

(granitos, gnaisses e migmatitos) e sobre as rochas do SGRV, e, ao norte, no interflúvio entre

os rios Paraopeba e das Velhas, moldadas sobre as rochas do GB.

Figura 3: Mapa geológico da área investigada.

As Depressões (DRP, DZCP e DRM) situadas na parte sul da área investigada foram

moldadas sobre as rochas do EC e variam de 710 a 820 m, alcançando até 930 m em alguns

pontos. Ao norte, localiza-se a DPSF, moldada sobre as rochas do GB, que se situa entre 600 e

710 m de altitude. Apenas a DSL apresenta características distintas desses dois conjuntos de

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depressões. Apesar de sua superfície ter sido elaborada sobre as rochas do GB, como a DPSF,

sua cota altimétrica é similar à das depressões intermediárias (DRP, DZCP e DRM), moldadas

sobre as rochas do EC. Por fim, os FV podem ocorrem embutidos em todas as outras unidades

do relevo e, por isso, possuem altitudes que variam de 600 m nas depressões a 900 m nos

planaltos. Na Figura 5 estão dispostos os perfis topográficos elaborados para a região e a

identificação das unidades do relevo.

Figura 4: Mapa hipsométrico da área investigada.

As classes de relevo plano, suave ondulado e ondulado ocupam a maior parte das

depressões e dos fundos de vale. Na DPSF e na DSL, elaboradas sobre as rochas do GB, e nas

FV predominam segmentos de relevo plano (53,44%, 50,36% e 76,70%). Nas depressões

elaboradas sobre o EC se observa o aumento da área ocupada pelos segmentos de relevo suave

ondulado e ondulado em detrimento dos segmentos de relevo plano. Nas serras e nos planaltos

destacam-se os percentuais mais elevados de área ocupada pelos segmentos de relevo ondulado

e forte ondulado, variando entre 6,6% e 11,48% (Tabela 2).

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Figura 5: Perfis topográficos elaborados a partir do Modelo Digital de Elevação do Projeto Topodata – INPE.

Tabela 2: percentual da área ocupada pelas classes de declividade em cada unidade do relevo.

Unidade

do relevo

Declividade (%)

0-3% - Plano 3-8% - Suave ondulado 8-20% - ondulado 20-45% - forte-

ondulado

> 45% -

montanhoso/escarpado

área (%) área (%) área (%) área (%) área (%)

SM 18,11 33,98 41,31 6,60 -

SO 19,22 24,22 49,35 7,21 -

SSH 19,22 21,76 50,45 8,57 -

SRP 14,90 15,21 56,18 13,70 0,01

PEC 32,43 20,38 43,61 3,57 0,01

PPMI 19,64 13,73 55,13 11,48 0,02

DPSF 53,44 39,40 6,46 0,70

DRP 32,19 29,45 35,50 2,85 0,01

DZCP 35,13 31,46 31,35 2,04 0,01

DSL 50,36 38,47 10,73 0,44 -

DRM 37,27 16,84 41,68 4,20 -

FV 76,70 18,88 4,01 0,41 -

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Os valores da densidade de drenagem (Dd) são bastante diversificados. Na porção

sudeste, a Dd alcança até 5,00 km/km² (Fig. 7), onde predominam rochas do EC e também as

maiores declividades. Essa área coincide com o interflúvio dos rios Paraopeba e das Velhas. Os

menores valores de Dd (mínimo de 0,36 km/km²) são observados principalmente ao norte, nas

bacias dos rios Paraopeba e Pará, onde afloram as rochas do GB, com declividades menores.

Figura 7: Mapa de densidade de drenagem da área investigada.

A Dd verificada nas serras varia de 0,73 a 3,00 km/km², apresentando-se mais elevados

nas serras moldadas o GB (SM, SO e SSH) e mais baixos na SRP moldada sobre o SGRV (Fig.

8A). Entre as litologias encontradas nas serras sustentadas por rochas do GB encontram-se

siltitos, arenitos, calcarenitos e calcários. Nas serras sustentadas pelas rochas do SGRV

encontram-se o metaconglomerado, xistos e filitos. Nos planaltos, a Dd varia bastante. No PEC,

elaborado sobre as rochas do Complexo Belo Horizonte (EC), a Dd varia de 0,96 a 5,00 km/km².

No PPMI elaborado sobre as rochas do Complexo Divinópolis, Granito Pará de Minas e

Granitoide de Florestal (EC) esses valores variam de 1,04 a 4,17 km/km² (Fig. 8B).

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Figura 8: Gráficos com a densidade de drenagem por unidade de relevo.

As depressões elaboradas sobre as rochas do EC apresentam Dd que varia de 0,81 a

5,0 km/km² (Fig. 8C). Nesse grupo, as unidades do relevo associadas ao Complexo Belo

Horizonte e ao Granitoide de Maravilhas-Cachoeira da Prata (DZCP e DRM) possuem os

maiores valores de Dd, enquanto a unidade associada ao Complexo Divinópolis (DRP) possui

valores mais baixos. As depressões elaboradas sobre rochas do GB possuem Dd entre 0,53 e

4,89 km/km², apresentando valores mais elevados na DSL e mais baixos na DPSF (Fig. 8D).

As FV se distribuem por praticamente todas as unidades de relevo e correspondem a

pequenas áreas que margeiam os cursos d’água. Nos planaltos, as FV se concentram no PPMI,

sobretudo nos afluentes do rio São João, afluente do rio Pará. Entre as depressões, os depósitos

mais significativos se distribuem pela DPSF, DRM e DZCP. Na DPSF, as FV se concentram

nas margens do rio Paraopeba, a jusante da DZCP. Na DRM e na DZCP, as FV devem estar

condicionadas aos diques e veios, que atuam como níveis de base locais e controlam tanto a

incisão fluvial como a sedimentação nos segmentos fluviais a montante de onde ocorrem. Nas

bacias dos afluentes do rio Paraopeba (DZCP) encontram-se a maior parte das áreas de FV.

A litologia e a estrutura têm papel importante na evolução geomorfológica regional e

na configuração das unidades de relevo. Ao apresentar resistências diferenciadas aos processos

erosivos e intempéricos, as rochas definem a evolução geomorfológica e condicionam a

dinâmica fluvial. Na Tabela 3 está a síntese das principais características das unidades de relevo.

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Tabela 3: Síntese das principais características das unidades de relevo mapeadas.

Nome Classe de relevo

(declividade %) Litologia

Dd km/km²

(média)

Altimetria

(m)

Fundos de Vale Plano Sedimentos fluviais - 600-900

Depressão Periférica do São

Francisco Plano; suave ondulado

Coberturas eluvionares e Formação

Serra de Santa Helena 1,73 600-710

Depressão do Rio Pará Plano; suave ondulado; ondulado

Complexo Divinópolis e Supergrupo Rio das Velhas

1,85 710-820

Depressão de Sete Lagoas Plano; suave ondulado Formação Sete Lagoas 2,09 700-820

Depressão do Ribeirão da Mata Suave ondulado; ondulado Complexo Belo Horizonte e diques 3,17 710-820

Depressão da Zona de Cristas do Paraopeba

Plano; suave ondulado; ondulado

Complexo BH, granitoides, diques básicos e veios de quartzo

2,66 710-820

Serra Mucambinho Ondulado Formação Serra da Saudade 2,06 820-940

Serra da Onça Ondulado Formação Serra da Saudade 1,92 820-1020

Serra do Rio do Peixe Ondulado Supergrupo Rio das Velhas 1,72 820-1200

Serra de Santa Helena Ondulado Formação Serra de Santa Helena 1,98 820-1060

Planalto de Esmeraldas-

Contagem Ondulado Complexo BH 3,01 820-1140

Planalto de Pará de Minas-Itaúna Ondulado Complexo Divinópolis, Granito Pará

de Minas, SGRV, Granitoide Florestal 2,22 820-1260

4. Considerações Finais

A identificação das unidades de relevo e o respectivo mapeamento realizados neste

trabalho auxiliam na complementação da lacuna de estudos sobre a bacia do rio Paraopeba e

áreas vizinhas, uma vez que amplia o conhecimento sobre as relações existentes entre os

diferentes elementos naturais envolvidos na elaboração das formas do relevo. É possível

destacar o papel da litoestrutura na evolução geomorfológica, controlando a morfogênese e a

dinâmica fluvial. Nota-se ainda a significativa relação entre a altimetria, a litologia e a

densidade de drenagem na área, importantes para a delimitação das unidades de relevo.

É possível constatar que: (i) de modo geral, as áreas mais elevadas e com maiores

valores de densidade de drenagem, correspondentes aos planaltos (PEC e PPMI) e a algumas

depressões (DZCP, DRP e DSL), estão associadas às rochas do EC; (ii) as áreas mais rebaixadas

estão associadas às litologias do GB (DSL e DPSF); (iii) as serras (SM, SO, SSH e SRP),

embora representem as áreas mais elevadas, são formas residuais encontradas nos interflúvios,

associadas a diferentes litologias, tanto do GB, quanto do SGRV; e (iv) o conjunto de diques

básicos e veios de quartzo encontrados na DZCP e em parte da DRM possuem características

morfológicas, litológicas e visuais que indicam seu relevante papel tanto na imposição de

barreiras naturais à incisão fluvial e, consequentemente, ao rebaixamento das respectivas

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unidades de relevo, como na manutenção de condições que tem permitido a acumulação de

sedimentos fluviais nos afluentes dos rios Paraopeba e das Velhas em altitudes intermediárias

(entre 710 e 820 m), influenciando na configuração espacial das unidades de relevo.

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